a sociedade pós-moralista. trad. armando braio ara. barueri_ manole, 2005. p. 258

Upload: jonatas-lessa

Post on 07-Jul-2018

225 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 8/18/2019 A Sociedade Pós-moralista. Trad. Armando Braio Ara. Barueri_ Manole, 2005. p. 258

    1/3

    07/04/2016 LIPOVETSKY, Gill es. A sociedade pós-moralista. O crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Trad. Arm ando Braio A…

    http://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-d… 1/3

    LIPOVETSKY, Gilles. A sociedade pós-moralista. O crepúsculo dodever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Trad.Armando Braio Ara. Barueri: Manole, 2005. p. 258.[1]

    Guilherme Camargo Massaú  – Professor das Faculdades Atlântico Sul-Pelotas/Anhanguera Educacional;

    Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra; Especialista em Ciências Penais PUCRS.

    E-mail: [email protected] ;

    Lipovetsky inicia destacando a ascensão da Ética nas relações sociais, fundamentalmente na composição do

    mundo-da-vida. Aspecto contrário da tendência da total liberdade, vigora ao mesmo tempo que a

    hiperindividualização com o culto do ego. No entanto, a força da Ética impele à revisão dos conceitos

    individualistas sem Ética. Embora pareça paradoxal, é o surgimento de um novo paradigma. Essa nova moral se

    distancia da velha moral nos preceitos básicos, no meio de uma sociedade enaltecedora dos direitos subjetivos

    e enfraquecedora do sentido heróico do dever. O sentido principal da sociedade encontra-se no bem-estar individual, acompanhado de uma Ética exsurgente do vazio. Implica assumir uma posição receptiva de visões

    antagônicas.

    1. Nas épocas pré-modernas, a Moral era teológica, ou seja, a Moral era Deus, tendo a fé como atribuidora da

    virtude. Assim, o homem estava a serviço de Deus e não da humanidade, a qual ficava em segundo plano –

    isso no século XVII. A partir de então foi desencadeado um processo de desvinculação moral da religião, um

    ponto marcante no desenvolvimento secularizador. O indivíduo passa a ser o valor soberano da Moral/Ética

    laica.

    Com o foco no indivíduo, o Direito (não o dever) encontra-se na posição absoluta e preponderante. Logo, o autor 

    destaca a elevação do dever justificado pelo surgimento do Estado-nação como pontificador do exemplo da

    virtude em todos os campos.

    2. Ainda é destacada a mudança de papel do dever com o seu gradual enfraquecimento impositivo. Ele busca

    mostrar a passagem para uma sociedade pós-moralista[2] contemporânea. Nela também se apresentam fatores

    éticos de contraposição ao pós-dever incrustado na tendência pós-moralista preponderantemente de prazer. Isso

    foi levantado, nos meados do século XX, pela idéia consumista e seu incentivo pela prevalência do ter. Por conseqüência, esse contexto carrega o sentimento de felicidade. Está-se diante da sociedade hedonista[3]. O

    autor aborda tendências moralizantes, principalmente na seara do comportamento sexual. Muitos dos

    comportamentos aceitos como normais, apenas efetuados pelos homens, são, agora, praticados pelas mulheres

    e constituem objeto de tutela jurídica, podendo chegar às portas dos tribunais.

    Outro aspecto importante está focalizado na fidelidade, cada vez mais essencial, ao contrário de tempos

    passados, em que a infidelidade no casamento afirmava a idéia de liberdade no sexo. Tudo isso são marcas de

    um atual individualismo politicamente correto[4].

    3. A moral individual são deveres para si mesmo. Essa moral convoca a idéia tópica do século XVIII de

    dignidade humana, reforçando primeiramente os deveres para consigo e afasta condutas consideradas imorais

    como o suicídio, a preguiça … Ou seja, visa ao aperfeiçoamento pessoal, realçando a autonomia individual.

    http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftn2http://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-do-dever-e-a-etica-indolor-dos-novos-tempos-democraticos-trad-armando-braio-ara-barueri-manole-2005-p-2581-http://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-do-dever-e-a-etica-indolor-dos-novos-tempos-democraticos-trad-armando-braio-ara-barueri-manole-2005-p-2581-http://www.sociologiajuridica.net.br/component/mailto/?tmpl=component&link=d82a5fd17ba774ad4f9eeb0d603eff3868179c3dhttp://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-do-dever-e-a-etica-indolor-dos-novos-tempos-democraticos-trad-armando-braio-ara-barueri-manole-2005-p-2581-http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftn4http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftn3http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftn2mailto:[email protected]://www.sociologiajuridica.net.br/component/mailto/?tmpl=component&link=d82a5fd17ba774ad4f9eeb0d603eff3868179c3dhttp://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-do-dever-e-a-etica-indolor-dos-novos-tempos-democraticos-trad-armando-braio-ara-barueri-manole-2005-p-2581-

  • 8/18/2019 A Sociedade Pós-moralista. Trad. Armando Braio Ara. Barueri_ Manole, 2005. p. 258

    2/3

    07/04/2016 LIPOVETSKY, Gill es. A sociedade pós-moralista. O crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Trad. Arm ando Braio A…

    http://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-d… 2/3

     Ainda se encontra salientado que essa autonomia não autoriza atitudes sem restrições, pois isso implica

    restrições éticas restabelecidas sob a égide da normatização da ética individualista. O autor continua nessa

    linha de visão em discussões concernentes ao Direito à eutanásia, à transexualidade, ao comércio de órgãos e

    do corpo, à higiene e à estética do corpo, ao desempenho esportivo, ao uso de produtos nocivos e ao trabalho

    disciplinado, além de outras questões derivadas desses temas.

    4. As novas democracias estão baseadas no amor próprio, deixando os sentimentos de altruísmo das épocaspassadas. A moral estabelecida não contém sanções nem obrigações, pelo contrário, objetiva estruturar o

    individualismo hedonista-democrático. A moral aqui é indolor, pois é encarnada no tempo presente e conforme o

    desejo de seus seguidores. Ela também faz parte de um show  de comunicação, quando veiculada pelos meios

    midiáticos. Isso implica uma benevolência não vinculativa e distante, nada que ocupe e se torne um peso para

    o ego. Uma outra demonstração encontra-se na beneficência midiática compositora de uma nova forma de

    consumo.

    Outro aspecto destacado é a configuração econômica, ela criou uma nova forma de racismo, diferente da

    passada. Não é mais a cor da pele ou a religião, a origem do estímulo do racismo está vinculada às correntes

    migratórias relativas à economia.

    5. O trabalho, na época industrial, estimulava-se pela Moral; era uma questão de dever moral, pois consistia no

    movimento contra a preguiça, ou seja, a propaganda estava concentrada na exaltação do trabalho e na

    depreciação do ócio. Aqueles considerados indolentes eram depreciados em relação ao modelo de virtude,

    constituído pela imagem do trabalhador mais produtivo. O sentido da propaganda estava nucleado no estímulo à

    produção. Por óbvio que essa época foi substituída pela concepção de felicidade não só no lazer, mas no

    trabalho. Para não perder o estímulo ao trabalho e causar prejuízo à produção, as empresas estabelecem

    normas morais de relacionamento e de conduta diante da produção. Em suma, o trabalho deixou de ser dever 

    moral com a sociedade e foi ligado à satisfação pessoal, ao reconhecimento profissional de um plano de carreira

    para o futuro.

    Os efeitos do neo-individualismo estão presentes na seara do trabalho com sentimento de mais direitos e menos

    deveres. Por conseguinte, um mínimo considerável de trabalhadores tem faltado ao emprego sem justificativa

    ou com atestados médicos forjados. Aí existe o confronto entre o individualismo responsável, incutidor de regras

    morais e o irresponsável, aquele que busca fugir das regras responsabilizantes: justamente é esse que está ainfluir na desmoralização do trabalho.

    Outra observação interessante do autor é a edificação pós-nacional relacionada ao espaço da União Européia de

    adesão condicionada pelo aumento do bem-estar e da satisfação com o consumo, com relações sociais, com

    viagens pelo continente etc.

    6. A renovação ética acontece no sentido de recuperar parâmetros perdidos com a falta de paradigmas. No

    entanto, essa renovação liberta-se do peso da antiga idéia de Ética, para adotar o modelo inteligente de Ética

    que busca uma medida justa à época histórica e às circunstâncias de fato.

    Diante disso, surgem questões como a consciência verde, a bioética e tudo aquilo vinculado às novas

    tecnologias na consciência humana. Logo, o tema sobre a mídia (“o quarto poder”) surge nas linhas

  • 8/18/2019 A Sociedade Pós-moralista. Trad. Armando Braio Ara. Barueri_ Manole, 2005. p. 258

    3/3

    07/04/2016 LIPOVETSKY, Gill es. A sociedade pós-moralista. O crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Trad. Arm ando Braio A…

    http://www.sociologiajuridica.net.br/lista-de-publicacoes-de-artigos-e-textos/82-resenhas/141-lipovetsky-gilles-a-sociedade-pos-moralista-o-crepusculo-d… 3/3

    subseqüentes, pois ao invocar a Ética no meio midiático, conjuntamente se encontram os efeitos que essa

    Ética está a provocar na relação da mídia com os seus profissionais e demais indivíduos. Simultaneamente

    cresce a imprensa sensacionalista, surgem matérias de pouca qualidade, escândalos e imagens de todo o tipo.

    Os dois lados da moeda midiática se apresentam no mesmo espaço.

    7. O avanço da Ética atinge o mundo dos negócios, já com a concepção de responsabilidade social da empresa.

    Isso é notório na forma como a empresa lida com o mundo de hoje, pois a organização moderna era cercadapelo anonimato, disciplina, tecnocracia e mecanicismo, enquanto a empresa pós-moderna busca divulgar 

    mensagens de sentido e valor humano[5]. Essa Ética, nesse momento, caracteriza-se por configurar um bom

    negócio, perfazendo-se em uma Ética instrumental.

     A atuação ética da empresa está ligada ao seu produto e ao consumidor-alvo. Isso significa admitir a existência

    de uma Ética completamente endereçada à propaganda (capacidade de comunicação). No entanto, fica aí

    destacada uma atuação ética desenvolvida em todas as dimensões culturais. Em suma, o autor destaca essa

    nova tendência eticizante como adjetivadora da sociedade pós-moralista.

    [1]  Título original: Le crépuscule du devoir. L’éthique indolore des nouveaux temps démocratiques , Éditions

    Gallirmard, 1992.

    [2]  “Na era pós-moralista, o que campeia é uma demanda social por justos limites, um senso calculista do

    dever, algumas leis específicas para defender os direitos de cada um – jamais, o espírito de fundamentalismo

    moral. Pleiteamos, claro, o respeito à ética, contanto que isso não demande a imolação de nós mesmos ou umencargo de execução árdua. Espírito de responsabilidade, sim; dever incondicional, não! Após o ritual mágico do

    dever demiúrgico, eis a fase do minimalismo ético.” LIPOVETSKY, Gilles.  A sociedade pós-moralista. O

    crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Trad. Armando Braio Ara. Barueri:

    Manole, 2005. p. 27.

    [3] “A época da felicidade narcisista não se equipara à da máxima ‘é proibido proibir’, mas sim a uma ‘moral sem

    obrigações nem sanções’.” LIPOVETSKY, A sociedade pós-moralista. p. 36.

    [4]  “A hiperpermissividade não se descortina na linha do horizonte, nem tudo é igualmente legítimo. Também oindividualismo pós-moralista fabrica regras que embora menos moralizantes, menos draconianas, menos

    seguras de si, nem por isso deixam de articular e organizar como que uma nova convenção social em torno das

    sensações carnais.”LIPOVETSKY, A sociedade pós-moralista.p. 58.

    [5] LIPOVETSKY, A sociedade pós-moralista. p. 224.

    http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftnref5http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftnref4http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftnref3http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftnref2http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftnref1http://www.sociologiajuridica.net.br/antigo/tamassauresenha2.htm#_ftn5