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1 SOCIABILIDADE, SOLIDARIEDADE E A FORMAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL EM BAIRROS RURAIS 1. Introdução Os estudos sobre comunidades rurais 1 têm demonstrado que este espaço é permeado por inúmeros elementos presentes no cotidiano rural. Em geral essas comunidades apresentam características que as diferenciam dos agrupamentos presentes no espaço urbano, em termos de organização e de valores culturais. São manifestações da cultura rural que, na maioria das vezes, permanecem nesse ambiente ou até mesmo são levados para a cidade. Dependendo da organização e das formas de articulação mantidas pelas comunidades rurais, as atividades desenvolvidas nestas despertam a atenção e o interesse dos habitantes do meio urbano. Os bairros rurais são organizados contemplando os grupos de vizinhança e as relações interpessoais, pautadas pela necessidade de ajuda mútua, atendida por práticas formais e informais, onde a participação coletiva em atividades lúdico-religiosas constitui a expressão mais visível da solidariedade grupal. Essa solidariedade grupal, através do trabalho na roça realizado pela família, garante a sustentabilidade econômica do grupo, permitindo a aquisição de objetos e mercadorias fabricados na cidade. Muitas vezes a forma de organização dessas comunidades é responsável pelo desenvolvimento de novos elementos e também pela continuidade desses grupos humanos. Nesse contexto, pesquisas desenvolvidas em diferentes regiões do Brasil demonstraram que peculiaridades das mais diversas estão presentes no universo rural. Essas singularidades foram encontradas nos trabalhos desenvolvidos por Candido (1971 2 ), Queiroz (1973 3 ), Carneiro (1999), Coelho (1991), Sant´Ana (2003), Bombardi (2004), entre outros pesquisadores. Considerando as diferenças regionais e locais de cada estudo realizado, procurar-se-á definir bairro rural , situando a importância deste local no contexto rural do município de Anhumas, região sudoeste do Estado de São Paulo (Figura 1). Para tanto serão utilizadas as definições de bairro de rural de Candido (1971), Queiroz (1973) e Bombardi (2004), pelo fato das pesquisas desses autores tratarem diretamente da temática bairro rural , enquanto os demais autores buscaram enfatizar as diferentes formas de articulação/organização social e econômica, presentes no meio rural em diferentes lugares do Brasil. Conforme Candido (1971), o bairro rural é entendido como uma unidade social intermediária entre o grupo familiar e outras formas mais complexas de solidariedade social. Esta unidade se caracteriza como um grupo de vizinhança que se reúne para trabalhos de ajuda mútua e participa de festejos religiosos locais, não compreendendo, necessariamente, uma divisão administrativa. Sob este aspecto poderíamos definir o bairro [...] como o agrupamento mais ou menos denso de vizinhança, cujos limites se definem pela participação dos moradores nos festejos religiosos locais. Quer os mais amplos e organizados, geralmente com o apoio na capela consagrada a determinado santo; quer os menos formais, promovidos em caráter doméstico. Vemos, assim, que o trabalho e a religião se associam para configurar o âmbito e o funcionamento do grupo de vizinhança, cujas moradias, não raro muito 1 As expressões Comunidade e Bairro Rural, serão utilizadas neste texto como sinônimos, referindo-se ambas, às localidades objeto deste estudo. 2 Embora a edição da obra utilizada neste texto seja de 1971, a primeira edição foi impressa em 1964. 3 A primeira edição desta obra foi impressa em 1967.

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SOCIABILIDADE, SOLIDARIEDADE E A FORMAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL EM BAIRROS RURAIS

1. Introdução Os estudos sobre comunidades rurais1 têm demonstrado que este espaço é permeado por inúmeros elementos presentes no cotidiano rural. Em geral essas comunidades apresentam características que as diferenciam dos agrupamentos presentes no espaço urbano, em termos de organização e de valores culturais. São manifestações da cultura rural que, na maioria das vezes, permanecem nesse ambiente ou até mesmo são levados para a cidade.

Dependendo da organização e das formas de articulação mantidas pelas comunidades rurais, as atividades desenvolvidas nestas despertam a atenção e o interesse dos habitantes do meio urbano.

Os bairros rurais são organizados contemplando os grupos de vizinhança e as relações interpessoais, pautadas pela necessidade de ajuda mútua, atendida por práticas formais e informais, onde a participação coletiva em atividades lúdico-religiosas constitui a expressão mais visível da solidariedade grupal. Essa solidariedade grupal, através do trabalho na roça realizado pela família, garante a sustentabilidade econômica do grupo, permitindo a aquisição de objetos e mercadorias fabricados na cidade. Muitas vezes a forma de organização dessas comunidades é responsável pelo desenvolvimento de novos elementos e também pela continuidade desses grupos humanos. Nesse contexto, pesquisas desenvolvidas em diferentes regiões do Brasil demonstraram que peculiaridades das mais diversas estão presentes no universo rural. Essas singularidades foram encontradas nos trabalhos desenvolvidos por Candido (19712), Queiroz (19733), Carneiro (1999), Coelho (1991), Sant´Ana (2003), Bombardi (2004), entre outros pesquisadores. Considerando as diferenças regionais e locais de cada estudo realizado, procurar-se-á definir bairro rural, situando a importância deste local no contexto rural do município de Anhumas, região sudoeste do Estado de São Paulo (Figura 1). Para tanto serão utilizadas as definições de bairro de rural de Candido (1971), Queiroz (1973) e Bombardi (2004), pelo fato das pesquisas desses autores tratarem diretamente da temática bairro rural, enquanto os demais autores buscaram enfatizar as diferentes formas de articulação/organização social e econômica, presentes no meio rural em diferentes lugares do Brasil.

Conforme Candido (1971), o bairro rural é entendido como uma unidade social intermediária entre o grupo familiar e outras formas mais complexas de solidariedade social. Esta unidade se caracteriza como um grupo de vizinhança que se reúne para trabalhos de ajuda mútua e participa de festejos religiosos locais, não compreendendo, necessariamente, uma divisão administrativa.

Sob este aspecto poderíamos definir o bairro [...] como o agrupamento mais ou menos denso de vizinhança, cujos limites se definem pela participação dos moradores nos festejos religiosos locais. Quer os mais amplos e organizados, geralmente com o apoio na capela consagrada a determinado santo; quer os menos formais, promovidos em caráter doméstico. Vemos, assim, que o trabalho e a religião se associam para configurar o âmbito e o funcionamento do grupo de vizinhança, cujas moradias, não raro muito

1 As expressões Comunidade e Bairro Rural, serão utilizadas neste texto como sinônimos, referindo-se ambas, às localidades objeto deste estudo. 2 Embora a edição da obra utilizada neste texto seja de 1971, a primeira edição foi impressa em 1964. 3 A primeira edição desta obra foi impressa em 1967.

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afastadas umas das outras, constituem unidade, na medida em que participam no sistema destas atividades. (CANDIDO, 1971, p. 51)

Antonio Candido ainda define o bairro rural como um grupo formado por famílias que participam de trabalhos comunitários e de festas religiosas coletivas locais; sendo um agrupamento maior do que a família e menor do que uma vila. Deste modo, o bairro é uma unidade integrada, fazendo parte de um conjunto amplo, podendo ser de um distrito ou município. Dessa forma os laços de amizade e parentesco são elementos responsáveis pela organização, articulação e constituição das comunidades rurais, determinando as características locais e o maior ou menor nível de organização destas. A unidade social do bairro é dada por festas religiosas, podendo ser de alguma família, várias famílias ou de todo o bairro. Contudo, a festa é realizada em homenagem a um santo padroeiro, envolvendo em geral toda a comunidade. O bairro rural pode ser definido como um grupo de vizinhança de habitat disperso, tendo limites determinados de forma que os seus habitantes tenham a noção disso, de tal forma que são capazes de distingui-los da vizinhança. Esse sentimento de pertencer à mesma comunidade é elemento básico para delimitar a configuração de um bairro, seja no espaço geográfico ou social (QUEIROZ, 1973, p. 4)

Ainda na concepção de Queiroz, (1973):

Bairro rural é aquele cujos membros, estando à frente de empreendimentos rurais de que guardam responsabilidade (mesmo quando não conservam a totalidade da colheita), desenvolvem entre si relações de trabalho expressas na ajuda mútua, e conservam relações de vizinhança que se concretizam na participação, em nível social igualitário, das atividades quotidianas e festivas do grupo de localidade (QUEIROZ, 1973, p. 49).

De acordo com a definição de Maria Isaura Pereira de Queiroz, as comunidades rurais

são marcadas por diversos fatores que compõem esses espaços. Os bairros rurais são organizados enquanto grupos de vizinhança, onde predominam relações interpessoais pautadas pela necessidade de ajuda mútua, esta solucionada por práticas formais e informais e pela participação coletiva em atividades lúdico-religiosas, que constituem a expressão mais visível da solidariedade grupal. Essa solidariedade grupal, desenvolvida através do trabalho da roça realizado pela família, garante a sustentabilidade econômica do grupo, permitindo a aquisição de objetos e mercadorias fabricados na cidade.

Bombardi (2004) define bairro rural como uma unidade territorial criada a partir da identidade territorial, resultante da inter-relação estabelecida pelos elementos: espaço, tempo e relações sociais. Assim, a compreensão das relações sociais no campo serve de base para o entendimento do bairro rural.

Para Bombardi (2004):

O bairro rural se configura, assim, como a expressão da identidade territorial de um grupo de sitiantes que através do trabalho familiar transforma o meio natural, ou um território anterior, por meio de padrões culturais - estabelecendo uma rede de relações entre si que cria uma especificidade no território, que se caracteriza, por exemplo, através do tamanho semelhante dos sítios, de tipos de cultivo em comum, de técnicas de trabalho semelhantes, da semelhança na organização interna dos sítios etc. (BOMBARDI, 2004, p. 49-50)

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Então o bairro rural pode ser entendido como um lugar formado por elementos com características semelhantes, que podem ser o tamanho das propriedades, o cultivo desenvolvido, a forma de organização e as relações estabelecidas entre os moradores dessa localidade.

Figura 1 – Localização do Município de Anhumas na Microrregião Geográfica de Presidente Prudente

Tomando como suporte a definição de bairro rural dos autores citados anteriormente, esta pesquisa considera essa localidade como sendo um local que independente da extensão possui características próprias, com a intensa presença de contatos entre os moradores, cooperação, com o trabalho baseado na mão-de-obra familiar, embora algumas vezes se utilize trabalho assalariado, e diferentes formas de organização social. Essas diferentes formas de organização social são pautadas nas práticas religiosas, nos laços de parentesco e compadrio; e são responsáveis pela continuidade da comunidade e inserção desta na sociedade.

Tendo como referenciais os exemplos de pesquisa abordados anteriormente, o estudo que está sendo realizado nos bairros Palmitalzinho e Noite Negra apresenta a realidade dessas duas comunidades. O estudo sobre esses bairros justifica-se pelo fato de serem semelhantes entre si e, ainda, apresentarem um processo evolutivo diferente dos demais, situados no mesmo município, em termos da estrutura da propriedade, da produção e dos níveis de sociabilidade.

Localizados no município de Anhumas, numa região marcada pela concentração de terras4, Palmitalzinho e Noite Negra são bairros rurais que representam um exemplo de “resistência” das pequenas propriedades frente à tentativa de avanço do latifúndio.

O município de Anhumas possui uma extensão territorial de 321,7 Km2, com uma população de 3404 habitantes (FIBGE, 2000), sendo 2501 residentes na área urbana e 903 na rural. Esta última abriga 5 bairros rurais (Cavado, Palmitalzinho, Noite Negra, Paineiras e Vila Maria). Nesses bairros estão 324 propriedades rurais, com extensão que varia de 01 a 2100 hectares (INCRA, 1999). No entanto, as 110 propriedades rurais localizadas, 45 em Palmitalzinho e 65 em Noite Negra, apresentam tamanho inferior a 200 hectares.

Além da existência de propriedades menores, o ponto comum entre Palmitalzinho e Noite Negra e que os diferencia dos demais bairros do município, é a manifestação de

4 Maiores informações podem ser encontradas em Almeida, (1996) e Paulino, (1997).

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sociabilidade entre a população local, principal elemento objeto da investigação do presente trabalho. Essa sociabilidade foi entendida como a presença de redes sociais que reforçam a união do grupo, objeto do presente estudo.

Para Scherer-Wanen:

[...] a rede constitui-se por meio de interações que visam a comunicação, a troca e a ajuda mútua e emerge a partir de interesses compartilhados e de situações vivenciadas em agrupamentos locais – a vizinhança, a família, o parentesco, o local de trabalho, a vida profissional, etc..(SCHERER-WANEN,1997, p. 5)

Para atingir os objetivos propostos no presente trabalho, foi realizado um levantamento bibliográfico de caráter geral (obras com afinidade à temática) e específico (obras especificamente ligadas à temática), com a finalidade de aprofundar os conhecimentos sobre o universo a ser pesquisado e relacionados à questão da produção familiar, à pequena propriedade, aos valores materiais e culturais do mundo rural. Paralelamente a esse aprofundamento teórico, foram realizadas visitas periódicas aos bairros rurais, com o intuito de uma maior interação com a realidade estudada. Após o levantamento do número de propriedades existentes, através da Relação de Certificados de Cadastros, “Notificações de Imóveis Rurais Emitidos em Anhumas” do INCRA -2002, foi elaborado um formulário para ser aplicado junto aos moradores dos dois bairros rurais - pelo autor - com o objetivo de levantar dados demográficos; perfil imigratório e sócio-econômico; características da produção agrícola, da comercialização e da articulação com os setores urbanos; e formas locais de articulação. Além da aplicação do formulário, estão sendo realizadas entrevistas com moradores selecionados, objetivando o levantamento dos elementos culturais, religiosos e ideológicos, valendo-se de gravador, máquina fotográfica, além de anotações. Pelas entrevistas os moradores vão apresentando a suas concepções sobre as comunidades na qual estão inseridos e a importância que a religião e as festas ocupam neste espaço. Dentre os elementos apontados como importantes e positivos para a comunidade está a união, o respeito e a cooperação entre os moradores de Palmitalzinho e Noite Negra. Para a realização da pesquisa de campo foram selecionadas 40% das propriedades de cada bairro rural, sendo visitadas 18 propriedades em Palmitalzinho e 26 em Noite Negra, a partir das quais foi selecionada a amostra visando à investigação qualitativa da realidade.

2. O desenvolvimento da Sociabilidade nas Comunidades Rurais e a sua importância

Sociabilidade é um atributo para a vida em sociedade e a maneira de estar integrado, por laços de diversas ordens numa comunidade. Sendo uma característica dos seres vivos é próprio de sua natureza viver em sociedade e ter uma existência social. A sociabilidade pode ser contextualizada tanto no âmbito geral, quanto tomando-se por referência as comunidades rurais, o que se aplica no caso especifico em discussão. O conceito de sociabilidade supõe ações onde os indivíduos não têm outra intenção, senão a de criar uma interação com os demais. Não se ingressa num ambiente de sociabilidade como homens completos, “fechados”, mas como homens despojados de fins e metas e de intenções rígidas. (Dicionário de Ciências Sociais, 1986).

Nas relações entre os sujeitos, quando a solidariedade se faz presente nos grupos sociais, ocorre o desenvolvimento da sociabilidade. Dessa forma a sociabilidade é encontrada tanto em comunidades rurais quanto urbanas. A sociabilidade se desenvolve no momento em que há uma neutralização das diferenças entre os indivíduos, mesmo que seja temporária. Esta

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cooperação e reciprocidade em servir ao outro leva ao agrupamento e à satisfação dos seus interesses, que muitas vezes favorece a coletividade.

No caso específico, interessa a aplicação desse conceito à comunidade, e ao grupo social, por se tratar de um estudo sobre duas comunidades rurais e ter objetivos direcionados ao entendimento das diferentes formas de organização social e econômica do grupo; bem como se dá esta articulação com a sociedade local. A solidariedade, enquanto elemento presente na sociabilidade é formada por ações de cooperação que combinam relações de valores solidários de ajuda mútua. Essas redes em busca de ações conjuntas são extremamente importante aos grupos sociais menos favorecidos, podendo ser uma comunidade rural, um bairro urbano, ou uma favela. No caso do bairro rural, enquanto um espaço da vida cotidiana, esse representa um local onde as formas de sociabilidade estão articuladas com a solidariedade. A sociabilidade é uma forma lúdica de associação, onde os indivíduos, no intuito de cooperarem mutuamente, desenvolvem ações práticas em favor do grupo do qual fazem parte. De certo modo, os indivíduos preocupados com a sua reprodução social, buscam a sobrevivência, via auxilio mútuo, formando redes de solidariedade. As ações integradas são organizadas dentro da lógica e identidade do grupo, deixando os interesses particulares de lado, favorecendo a coletividade e o desenvolvimento da sociabilidade. Numa comunidade, as relações são mais próximas e completas, enquanto na sociedade as relações são mais distantes, impessoais e baseadas em interesses particulares. Esse fato diferencia uma comunidade de uma sociedade. A sociabilidade pode ser facilmente desenvolvida numa comunidade, ao contrário da sociedade onde as relações são menos intensas. O individualismo dificulta o surgimento e o desenvolvimento da sociabilidade porque isola os indivíduos, levando-os a pensarem em objetivos particulares.

O exercício da sociabilidade eleva todos os participantes do convívio social a um mesmo patamar, deixando de lado as diferenças existentes.

A compreensão dos conceitos de sociedade e comunidade, requer o entendimento do conceito de sociabilidade, da mesma forma que o domínio deste último conceito, esclarece a compreensão das relações sociais no interior da comunidade e da sociedade.

A sociedade pode ser definida como um espaço público, onde as relações são mais distantes, enquanto a comunidade é formada pela vida comum, num ambiente mais restrito e onde se fazem presentes relações de confiança e reciprocidade em relação ao próximo.

Na sociedade moderna, por exemplo, o dinheiro é a base de quase tudo, onde os sentimentos de reciprocidade vão dando lugar aos valores materiais. Esse tipo de comportamento afasta os sentimentos de “pertencimento” a um grupo social, assim a comunidade perde espaço para a sociedade e a sociabilidade se torna cada vez mais distante.

No caso específico dos bairros rurais, foco desta investigação, a comunidade tem se mantido em função do contato estabelecido entre os moradores.

Ressalta-se que a comunidade é sustentada por laços de união e amizade entre os moradores dos bairros Palmitalzinho e Noite Negra, que por sua vez são reforçados pelo parentesco e o compadrio5. Tanto o parentesco quanto o compadrio demonstram a persistência de práticas que conservam elementos da cultura tradicional rural, explicitados durante a organização de festas religiosas, almoços beneficentes organizados com o objetivo de arrecadar recursos para reforma da capela, a ampliação do salão paroquial, a formação do mutirão para a realização de determinadas atividades no bairro ou para a conclusão de serviços que demandam urgência para o término, como, por exemplo, a colheita de determinados produtos agrícolas.

5 Esse tipo de relação social foi estudada por Tavares dos Santos (1984).

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De acordo com Queiroz (1973), o compadrio é muito importante no bairro, sendo na maior parte das vezes os compadres escolhidos entre os membros da própria família. Além disso, a vida religiosa é bastante intensa, momento em que os ofícios religiosos e as comemorações dos dias santificados são realizados na própria comunidade.

Essas reuniões religiosas exercem um papel muito importante para o continuidade e o desenvolvimento do bairro rural, pelo fato de propiciarem a aglomeração dos moradores da localidade e a discussão de assuntos referentes à comunidade, às diferentes formas de organização social e econômica e à inserção dos produtos agrícolas no mercado regional.

[...] As atividades religiosas, cujo momento de realização mais comum são as festas, servem para congregar os moradores de um bairro; as famílias dispersas no espaço geográfico se definem como grupos pelo fato de atenderem também a tais encontros periódicos. Além dessas ocasiões regulares, encontros informais e ocasionais também têm lugar, multiplicando as reuniões. A vida nos bairros se caracteriza por um ritmo que lhe é próprio, em que a dispersão habitual e cotidiana é alterada com momentos de aproximação, proporcionados ora pela necessidade de certos trabalhos em comum, ora pelas festas, tanto em sua função religiosa quanto em sua função recreativa. (Queiroz, 1973, p. 73).

Durante a prática das atividades religiosas são desenvolvidas também formas de solidariedade grupal que propiciam a articulação interna da comunidade.

Os recursos arrecadados nas festas rurais são utilizados para a manutenção das capelas locais, bem como contribuem beneficiando a população carente da sede do município de Anhumas, através de pastorais religiosas.

Partindo da capela como núcleo central, percebe-se qual o raio de abrangência do bairro e quais são os seus limites; no caso das comunidades Palmitalzinho e Noite Negra, pelas entrevistas e visitas de campo, é possível notar que quanto mais próximo da capela, maiores são os níveis de sociabilidade e solidariedade entre os moradores desses lugares.

Contudo, mesmo os moradores mais distantes da capela mantêm contato com os moradores do núcleo, e participam das atividades religiosas e de outras formas de organização social, como os almoços beneficentes e as festas dos santos padroeiros.

Dessa forma, é possível definir que a sociabilidade presente em Palmitalzinho e Noite Negra retrata a formação da Comunidade Cívica, presente em comunidades urbanas ou rurais, discutida por Putnam (1996), na qual é possível observar elevados níveis de cooperação, confiança, reciprocidade, civismo e bem estar coletivo, entre indivíduos, cada um deles com consciência de seu papel e de seus deveres dentro do grupo. Ainda de acordo com as reflexões de Putnam, o capital social é formado por aspectos da organização social, sendo ainda estruturado enquanto redes, normas e laços de confiança que facilitam a coordenação bem como a cooperação para benefícios mútuos.

Esse fato demonstra que as comunidades são caracterizadas pela natureza das necessidades de seus grupos e os recursos de que dispõem para satisfazê-las. Ao cooperarem entre eles, os moradores dessas comunidades rurais contribuem para o êxito dos seus empreendimentos, seja da família ou de toda a coletividade.

“Esta é a estrutura fundamental da sociabilidade [...], consistindo no agrupamento de algumas ou muitas famílias, mais ou menos vinculadas pelo sentimento de localidade, pela convivência, pelas práticas de auxílio mútuo e pelas atividades lúdico-religiosas”. (CANDIDO, 1971, p. 44).

São diferentes práticas de solidariedade que favorecem a toda a comunidade. Essa solidariedade propicia a formação do capital social. Conforme Fernandes, “o capital social de uma associação, grupo ou comunidade amplia sua capacidade de ação coletiva e facilita a

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cooperação mútua necessária para a otimização do uso de recursos materiais e humanos disponíveis”. (FERNANDES, 2002, p. 379).

Em relação às atividades econômicas presentes em Palmitalzinho e Noite Negra, nota-se que, diferentemente dos demais bairros rurais do município - que desenvolvem atividades de pecuária extensiva, com a existência de alguns latifúndios - nessas comunidades os produtores/proprietários, utilizam formas diversificadas de produção, como a prática da pecuária leiteira, fruticultura, cultivo de hortaliças e agricultura em geral. São diferentes formas de exploração da terra, adotadas num contexto onde a pequena produção não recebe apoio, conta com menor volume de incentivos por parte do governo, uma vez que os financiamentos são sempre destinados às grandes propriedades monocultoras.

Contudo, a pequena produção familiar tem demonstrado sinais de permanência em toda a região, garantindo o fornecimento da maioria dos gêneros alimentícios que chegam ao mercado regional e até mesmo nacional, caso de frutas como o abacaxi e o tomate (HESPANHOL, 2000).

Segundo Coelho:

A permanência do regime de economia familiar num grande número de propriedades, mesmo aquelas onde a pecuária se faz presente, leva a pensar de um lado na tradição e resistência cultural, de outro, na capacidade de adaptação da agricultura familiar a uma nova situação (COELHO, 1999, p. 139).

A sondagem desses lugares revelou inúmeras práticas como: cooperação entre

vizinhos, mutirão para realização de determinadas obras no bairro, associativismo e festas religiosas, que revelam diferentes formas de organização familiar desses sujeitos.

De acordo com Putnam (1996), as pessoas organizadas em grupos em diferentes partes do mundo conseguem cooperar, rumo a uma ação coletiva, havendo vários exemplos de associações, com esse intuito.

2.1. A apreensão da Sociabilidade no universo investigado

A análise do histórico de formação dos dois bairros, dos valores culturais, bem como das diferentes formas de organização social e econômica, engendradas pelo grupo, propiciaram a compreensão da dinâmica interna da comunidade. O entendimento dos mecanismos presentes nesses bairros facilita a identificação das diferentes formas de organização dos sujeitos, no que se refere à permanência no meio rural; à forma de produção agrícola, à manutenção de costumes, de idéias, de valores materiais, religiosos e à ampliação da consciência política.

Cabe ressaltar, ainda, que ambos os bairros rurais são habitados por um número expressivo de descendentes de imigrantes italianos e espanhóis, que exploram suas propriedades com mão-de-obra basicamente familiar.

Essa singularidade diferencia mais uma vez os dois bairros das demais localidades rurais do município. A semelhança quanto à origem dos moradores dessas comunidades (presença intensa de descendentes de italianos6), além de diferenciar a realidade das duas localidades em relação aos outros bairros rurais do município, aproxima os moradores, aumentando a sociabilidade dos indivíduos. Há ainda vários outros aspectos da vida do grupo, enquadrados no plano de valores e das relações que são definidos como específicos dos bairros tradicionais, ou seja, pequena diferenciação interna do grupo em termos hierárquicos,

6 Essas famílias são compostas em sua maioria pela terceira geração de imigrantes italianos que ao chegarem na Região de Presidente Prudente, se instalaram no local, na condição de pequenos proprietários.

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configuração do grupo como um grupo de vizinhança, importância dos laços de parentesco e grande significado das atividades lúdico-religiosas. (QUEIROZ, 1973).

Os valores religiosos e culturais estão bastante presentes nesse universo rural. Anualmente, são realizadas festas de santos padroeiros, como a festa de Santo Antônio na capela do Bairro Noite Negra, momento em que as comunidades são prestigiadas com a visitação de indivíduos provindos da área urbana ou até mesmo de outros municípios. Durante a realização da Festa de Santo Antônio (padroeiro da capela de Noite Negra), no mês de junho, é comum a presença de ex-moradores do bairro e membros de outras comunidades ou municípios, que freqüentam essa festa no intuito de rever o espaço onde moraram, parentes, conhecidos, ou até mesmo de usufruírem momentos de lazer e descontração, sem deixar de apreciar os rituais religiosos e as comidas que são servidas durante as comemorações.

As relações sociais, que se dão no âmbito dessa articulação rural/urbano, interferem na forma de compreender a realidade que esses sujeitos vivem, levando os moradores de Palmitalzinho e Noite Negra a repensarem a sua condição de produtores rurais, buscando novas formas de articulação e organização social e econômica. Essas reflexões resultam em ações praticadas por esse grupo de indivíduos, através de organizações como associações de produtores rurais, pastorais religiosas, fabricação de doces, massas caseiras e grupos de costureiras. Embora tenham interesses individuais, essas pessoas se organizam de modo coletivo.

3. O Capital Social e o desenvolvimento das Redes de Cooperação nas Comunidades Rurais Aliado à sociabilidade, será considerado o capital social como elemento responsável pelos avanços sociais presentes nas duas comunidades. Embora não seja um termo novo, o capital social ganhou importância a partir de 1993, com a publicação dos estudos de Robert Putnam, a partir do livro (Making Democracy Work: Civic Traditions in Modern Italy- Comunidade e Democracia: A experiência da Itália Moderna), numa pesquisa sobre a realidade das regiões norte e sul da Itália, quando este autor faz uma comparação entre as duas regiões daquele país e as diferentes formas de envolvimento entre o setor público e a sociedade italiana. Quando na década de 1970, o governo italiano divide a Itália em regiões administrativas, com o intuito de descentralizar a administração publica, Putnam inicia uma ampla pesquisa naquele país, apoiado por um grupo de pesquisadores italianos. Durante vinte anos Putnam e um grupo de pesquisadores acompanharam o processo de descentralização do governo na Itália, a partir da divisão em vinte regiões administrativas autônomas. Ao final da pesquisa foi constatado que a região norte, mais desenvolvida, aproveitou melhor as vantagens da descentralização, enquanto o sul, embora tivesse melhorias, não acompanhou o avanço do norte, muito menos corrigiu as desigualdades econômicas entre as duas regiões. Utilizando técnicas e metodologias variadas, Putnam concluiu que a diferença no desempenho institucional entre o norte e o sul da Itália estaria ligada à cultura cívica, à cultura política, às tradições republicanas, ao civismo e a fatores que são responsáveis pelo desenvolvimento do capital social. Deste modo, instituições bem estruturadas, concebidas e planejadas não são capazes de desenvolver uma boa sociedade, pelo contrário, uma boa sociedade forma boas instituições. Segundo D`Araujo (2003), “[...] cultura cívica, associada à confiança interpessoal, traduz-se em um recurso fundamental de poder para os indivíduos e para as sociedades, em

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um capital – capital social – cujos benefícios são comuns a todo o grupo ou a toda a sociedade” (D`ARAUJO, 2003, P .15) Tomando como suporte as concepções de D`Araújo, numa sociedade onde há confiança interpessoal, fica mais fácil desenvolver o bem comum e esta sociedade prosperar. Uma cooperação voluntária, pautada pela sociabilidade, impulsiona a formação do capital social e estimula a formação de um sistema de participação cívica. Portanto, em sociedades com acúmulo de capital social é mais fácil à sociedade atingir objetivos que tragam benefícios para a coletividade.

Capital social está definido aqui por três fatores inter-relacionados: confiança, normas e cadeias de reciprocidade e sistemas de participação cívica – sistemas que permitem às pessoas cooperar, ajudar-se mutuamente, zelar pelo bem público, promover a prosperidade. Diferentemente de outros capitais, constitui um bem público, não é apropriado privadamente nem produz resultados individuais. (D`ARAUJO, 2003, P .19-20)

Nesta perspectiva será utilizada a presença do capital social como um dos elementos responsáveis pela forma de organização das comunidades Palmitalzinho e Noite Negra. Capital social esse que foi gerado a partir de práticas religiosas, níveis de parentesco, compadrio, amparado por uma sociabilidade intensa.

A importância nuclear que a religião ocupa na vida desses moradores já foi demonstrada em estudos semelhantes, em bairros rurais de outras regiões do Estado de São Paulo. É o caso do trabalho de Coelho, estudando o conjunto de práticas responsáveis pelo processo de resistência do bairro rural dos Machados, município de Araraquara-SP, onde constatou que “A união, que pouco a pouco se reforçava dentro de um próprio aprendizado, partindo do campo da religiosidade, abre seu leque e chama os sujeitos para outras dimensões que não estavam dissociadas do processo” (COELHO, 1991, p. 218). Essas evidências encontram-se presentes também em Anhumas. As reflexões que surgem no âmbito religioso contribuem para iniciativas de outras práticas sociais e econômicas a serem desenvolvidas nas comunidades. Exemplos dessas iniciativas são encontrados em Palmitalzinho e Noite Negra.

Como conseqüência das reflexões no âmbito religioso, no caso de Anhumas, surgiu a Associação de Produtores Rurais do Bairro Palmitalzinho, primeira associação de produtores rurais do município. Essa associação tem por finalidade a compra de insumos agrícolas por um preço inferior ao de mercado e a venda de produtos agrícolas, com intuito de eliminar a ação dos “atravessadores”, que durante as trocas comerciais acabam ficando com a maior parte dos lucros dos pequenos produtores.

De certo modo, a organização desses agricultores em associação acaba por substituir a ação de cooperativas agrícolas.

Inicialmente a Associação de Produtores Rurais de Palmitalzinho era mantida com recursos dos associados que residiam naquele bairro. Assim sendo, aqueles que dispunham de máquinas, tratores e implementos recebiam ajuda financeira – daqueles que não dispunham – para a manutenção desses bens. Após uma melhor estruturação da associação, esta passou a contar com uma sede e tem adquirido implementos e equipamentos que são utilizados pelos associados. Com o decorrer do tempo, essa iniciativa despertou o interesse do poder público municipal e, por meio de um convênio com a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, foi estruturada a Associação de Produtores Rurais de Anhumas.

Com a formação da Associação de Produtores Rurais de Anhumas, os membros desta associação tentaram fazer uma fusão entre as duas associações; fato que não ocorreu por uma questão de falta de entendimento. Pode-se considerar que a explicação para a resistência em não aceitar a fusão das duas associações, por parte dos agricultores de Palmitalzinho, deve-se

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à ausência de capital social entre os membros das duas associações. Esse capital social só pode ser gerado quanto há confiança, cooperação e reciprocidade entre os sujeitos de uma comunidade ou associação.

Nota-se, então, que uma associação que se encontrava restrita a uma comunidade rural, tem sua área de influência estendida a todo o município, despertando o interesse do poder público e de outros agricultores que seguem o mesmo modelo de associativismo.

A forma como foi articulada e estruturada a Associação de Produtores de Palmitalzinho - com cooperação, confiança, reciprocidade e articulação - foi capaz de conquistar o respeito e a confiança de outros produtores do município, fossem da área rural ou urbana. Assim eles seguiram o modelo de associação, contando para isso com o apoio do poder público municipal e estadual, a assistência técnica da Casa da Agricultura do Município, bem como adquiriram, recentemente, um trator (via convênio com o governo do Estado), e alguns implementos que foram comprados com recursos da Prefeitura.

De acordo com as formulações de Scherer-Wanen (1997), as redes sociais foram se tornando cada vez mais locais e globais, deixando o âmbito de uma comunidade rural, sendo reconhecidas em todo o município. Novamente o capital social produzido no espaço das comunidades rurais é expandido e acaba envolvendo outros setores da sociedade, no caso, externos ao grupo.

O apoio dado pela Prefeitura à Associação de Produtores Rurais de Anhumas gerou aspectos efeitos não só aos moradores dos outros bairros rurais, bem como a todos os pequenos produtores da municipalidade, uma vez que estimulou a pequena produção familiar e também comercial, gerando renda, empregos e, automaticamente, arrecadação de impostos, canalizados aos cofres públicos.

Diante disso é possível observar a ação de políticas públicas que foram implementadas a partir de uma cooperação entre poder público e entidade civil. Partindo do pressuposto de que um bom governo pode ser melhor estruturado a partir do conhecimento da realidade social da comunidade, foi possível haver essa interação.

Para Putnam: “[...] As associações civis contribuem para a eficácia e estabilidade do governo democrático, não só por causa de seus efeitos internos sobre o indivíduo, mas também pelos seus efeitos externos sobre a sociedade. No âmbito interno, as associações incutem, com seus membros, hábitos de cooperação, solidariedade, senso de responsabilidade comum em relação a empreendimentos coletivos, bem como espírito público. No âmbito externo, a articulação e agregação de interesses são intensificadas com uma rede de associações secundárias” (PUTNAM, 1996).

Todavia o desempenho de políticas públicas depende das características das agências

que as implementam, das condições políticas, econômicas e sociais e da forma como são executadas as atividades. No caso em discussão é possível notar que a ação pública seguiu o modelo de uma associação existente em uma comunidade rural e resolveu dar suporte a formação de uma entidade semelhante. A associação estruturada por iniciativa do poder público, embora disponha de maior volume de recursos econômicos, não possui a mesma organização e êxito da associação de produtores de Palmitalzinho, uma vez que nesta associação não foi formado o capital social construído na comunidade rural ao longo de vários anos.

A associação de produtores rurais, estruturada a partir de uma iniciativa do poder público municipal de Anhumas, surge como uma entidade construída por “agentes estranhos” ao agricultores, no caso funcionários da Prefeitura, contando para isso com o apoio financeiro da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. Os laços de entendimento e

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confiança ainda estão sendo constituídos entre os associados, isso é algo que ainda precisa ser construído.

Para Riedl e Vogt “o capital social é uma forma de capital que exige investimentos para que o seu estoque seja aumentado. Se ele pode ser acumulado, o reverso da moeda também deve ser encarado como sendo verdadeiro. Ou seja o seu estoque pode diminuir.” (RIEDL e VOGT, 2003, p 205).

A garantia da renovação do estoque de capital social só poderá ocorrer enquanto houver confiabilidade entres os membros das associações e grupos sociais.

No caso do Bairro Noite Negra, um grupo de mulheres residentes próximo à capela Santo Antônio se reuniu e está desenvolvendo um trabalho coletivo, que embora ainda não tenha se estruturado de maneira formal, tem desenvolvido atividades informalmente. As atividades vão deste a confecção de uniformes para uma empresa da vizinha cidade de Presidente Prudente à fabricação de doces e massas caseiras que são comercializadas na cidade de Pirapozinho.

As atividades desenvolvidas pelo grupo de mulheres de Noite Negra demonstram o importante papel que as reflexões surgidas durante as práticas religiosas desempenham em algumas comunidades rurais. Embora todas essas mulheres desempenhem as suas funções domésticas e algumas delas até mesmo afazeres agrícolas, se envolvem em outras atividades como a costura e a culinária. Aliado ao fato de neste bairro estar bastante presente a cultura da batata doce, no setor da culinária estão manipulando doces e massas a partir desse produto, sendo a massa de nhoque de batata doce um dos produtos mais requisitado pelos comerciantes de Pirapozinho (bares, lanchonetes, panificadoras e pizzaria).

Em Palmitalzinho, além da Associação de Produtores Rurais do Bairro Palmitalzinho, essa localidade abriga duas indústrias de processamento e torrefação de café: as indústrias de Café Malacrida e Conal. Esses dois empreendimentos são frutos de iniciativas de famílias residentes no local. O beneficiamento do café nos dois casos é feito nesta área rural e levado para cidade de Regente Feijó, distante de Palmitalzinho 8 quilômetros.

Esses empreendimentos são iniciativas provenientes de discussões sobre a realidade dos produtores na área rural, quando buscam agregar valor aos seus produtos agrícolas e eliminarem os “atravessadores”, mas que acabaram conquistando um espaço maior na sociedade, no caso outro município, pelo fato de desenvolverem outras atividades naquela cidade e também no momento da iniciativa dos empreendimentos terem recebido mais apoio e incentivos fiscais por parte do poder público de Regente Feijó.

O grupo Malacrida possui uma empresa em Regente Feijó que, além da moagem e distribuição do café, beneficia e comercializa arroz e feijão. Contudo, os membros dessa família residem em Palmitalzinho e participam de todas as atividades religiosas e sociais do bairro e também de Anhumas.

A família Colnago, proprietária do grupo Conal, desenvolve todo o processo de industrialização do café em Palmitalzinho e comercializa na região de Presidente Prudente. Contudo, possui em Regente Feijó um supermercado e, embora parte da família resida em Palmitalzinho, os membros da família pensam em mudar para essa cidade em função das atividades de comércio desenvolvidas que demandam uma presença intensa no local.

No que se refere às iniciativas de organização social e econômica nos bairros Palmitalzinho e Noite Negra, nota-se que essas duas comunidades estão articuladas e inseridas na sociedade local e regional.

O histórico de formação dos dois bairros, os valores culturais, bem como as diferentes formas de organização social e econômica engendradas pelo grupo propiciaram a compreensão da dinâmica interna dessas comunidades. Assim, o entendimento dos mecanismos presentes nesses bairros facilita a identificação das diferentes formas de organização dos sujeitos, no que se refere à permanência no meio rural; à forma de produção

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agrícola, à manutenção de costumes, idéias, valores materiais, religiosos e à ampliação da consciência política.

Em Bandeira (2003), podem ser encontrados indicadores que também contribuem para a compreensão desse universo investigado, onde este autor estuda a realidade do sul do Brasil, portanto diferente do universo analisado, mas com semelhança na forma de organização.

[...] provavelmente está associada ao fato de que essas áreas [estudadas pelo autor] têm seu perfil fortemente marcado por raízes culturais que remontam à imigração e a colonização européia, bem como pela presença expressiva - mesmo pelo predomínio, em algumas zonas - da pequena propriedade e da agropecuária familiar. (BANDEIRA, 2003, p. 28)

Aliado ao fato das pequenas propriedades e da agropecuária familiar, a realidade investigada por Bandeira (2003) na região sul do Brasil e as comunidades objeto de estudo nessa pesquisa possuem em comum a semelhança das origens étnicas e culturais – formadas por descendentes de italianos e espanhóis. 4. As Comunidades Rurais Palmitalzinho e Noite Negra: aspectos físicos e econômicos A forma como estão estruturadas as comunidades de Palmitalzinho e Noite Negra apresenta-se de modo bastante interessante. Localizadas na direção norte do município de Anhumas, essas comunidades estão interligadas por vias de acesso não pavimentadas. Em função da proximidade geográfica, há ainda ligações por laços consangüíneos (parentesco), entre os moradores. A configuração geográfica (relevo, fertilidade do solo, recursos hídricos disponíveis e culturas vegetais cultivadas) constitui elemento diferenciador que interfere nas formas de organização da produção dos dois bairros rurais, em relação aos demais (Cavado, Paineiras e Vila Maria) existentes no município de Anhumas. O relevo desses dois bairros configura-se como sendo ondulado, com a presença de vales e colinas. Nos fundos de vale é comum a presença de mananciais d´água (nascentes e rios), que favorecem a irrigação e o abastecimento das propriedades para o consumo humano e de animais. Embora a irrigação seja pouco praticada, a oferta de água favorece aqueles proprietários que pretendem utilizar-se desta. De acordo com a formação geológica da região, predomina em Anhumas o latossolo vermelho escuro, portanto susceptível à erosão, requerendo para isso certos cuidados no manuseio do solo durante a prática da agricultura7. No que se refere à exploração das terras das comunidades rurais investigadas, a agricultura se faz presente em quase todas as propriedades, havendo ainda a presença de atividades voltadas ao lazer, como é o caso do pesque pague existente em Palmitalzinho. Esta atividade caracteriza o desenvolvimento da pluriatividade8.

Em geral, nas propriedades são desenvolvidas lavoura e pecuária leiteira. Essas duas atividades funcionam como rendas complementares no sustento das famílias. Mesmo nas

7 O latossolo vermelho escuro - fase arenosa é caracterizado por ter uma textura fina a média, alta porosidade e permeabilidade, teores de argila em torno de 15 %, com tendência a aumentar em profundidade, podendo chegar a 26%, com mais de 70% de areia. São, portanto, solos arenosos, profundos, com boa drenagem. Estas características conferem a estes solos grande sensibilidade à erosão, embora ocupem posição preferencial em relevo de colinas amplas, que não favorecem o escoamento e compensam a fragilidade dos mesmos. (BOIN, 2000, p. 16) 8 Para maiores informações sobre este assunto ver CARNEIRO, 1999. p.323-45.

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propriedades onde a pecuária leiteira não é desenvolvida, no caso de famílias onde a renda agrícola é complementada por aposentadorias, há sempre presentes alguns bovinos, que servem de fundo de reserva ou poupança, no caso de alguma eventualidade ou dificuldade financeira por parte desses agricultores.

As diferentes formas de organização desses agricultores familiares revelam estratégias de ligação com a terra e com o patrimônio; estratégias de produção e comercialização; estratégias intra-familiares de gestão da unidade familiar; cooperação, alianças e outras formas de organização comunitária. Esse tipo de organização garante a sustentabilidade econômica e o patrimônio da família.

Essas estratégias dos produtores familiares, que buscam dentro do circuito da produção agropecuária a sua reprodução, incluem, além da tecnificação e da integração à agroindústria, a diversificação da produção, a introdução de inovações no processo de comercialização, a participação em mercados diferenciados ou especializados e formas de organização criativas que procuram superar as dificuldades do cooperativismo e associativismo tradicional. (SANT`ANA, 2003, p. 32-33).

Dentre as estratégicas identificadas nas comunidades rurais de Palmitalzinho e Noite Negra estão: a prática de policultura, a pecuária leiteira, a utilização da ordenhadeira mecânica e dos resfriadores de leite para agregar valor a esse produto, o pesque pague, a associação de produtores, o beneficiamento, a industrialização e a comercialização do café, a manipulação de massas e alimentos por parte das mulheres e a confecção de roupas.

Dentre as culturas plantadas nas duas localidades encontra-se o café, que embora tenha reduzido cada vez mais a sua área de cultivo, se faz presente em quase todas as propriedades, mesmo que seja para o consumo doméstico. Além do café são cultivados: a batata doce, o milho, o feijão, o amendoim, o abacaxi, a mandioca, o limão e a ponkan. No caso do milho, este é cultivado para o consumo de animais e como forrageira que, juntamente com a cana-de-açúcar e as rações balanceadas, é utilizado para a alimentação dos animais leiteiros, principalmente no período da estiagem, quando a pastagem fica mais escassa.

Os produtos agrícolas são: a batata doce, a laranja, a mandioca, o limão e a ponkan9 (Figuras 2A e 2B).

4.200 4000

1000

4000

Produção Palmitalzinho (caixas)

Batata DoceLaranjaLimãoPonkan

48.225

300

Produção Noite Negra (caixas)

Batata Doce

Mandioca

Figuras 2A e 2B: Produção de Cereais e Frutas nas Comunidades Rurais

Fonte: Pesquisa de Campo – Fev/2005

9 Esses produtos são comercializados em caixas de 30 Kg.

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As Figuras 2A e 2B demonstram que no Bairro Palmitalzinho predomina a produção de frutas cítricas, enquanto em Noite Negra a presença da cultura da batata doce é mais expressiva.

O café, o feijão, o milho são os cereais apresentados nas Figuras 3A e 3B10.

3940

138

1230

300

Produção Palmitalzinho (sacas)

CaféFeijãoMilhoAmendoim

61

1220

Produção Noite Negra (sacas)

CaféMilho

Figuras 3A e 3B: Produção de Cereais nas Comunidades Rurais

Fonte: Pesquisa de Campo – Fev/2005

Dos cereais cultivados, o café está presente em maior quantidade em Palmitalzinho, apesar do número inferior de propriedades pesquisadas, em relação à Noite Negra. O feijão não foi encontrado em Noite Negra, assim como o amendoim. Pela pesquisa foi constatado que os cultivos agrícolas são distintos nas duas localidades, em função da maior ou menor dificuldade de escoamento da produção e da capacidade de resistência dos produtos quanto à ação do tempo, alguns mais perecíveis e outros menos.

O milho e a cana11, que são utilizados como forrageiras, serão analisados ao lado do abacaxi. Pela pesquisa de campo, constatou-se que o abacaxi é cultivado somente em Noite Negra, por apenas um produtor. Enquanto a cana e o milho, utilizados como forrageira, estão presentes nas duas localidades. Esses produtos são cultivados em maior quantidade em Palmitalzinho, devido ao fato desse bairro praticar com maior intensidade a pecuária leiteira e serem esses vegetais a base de alimentação e sustento dos animais, (Figuras 4A e 4B).

1680

420

Produção Palmitalzinho (ton)

Milho (silagem)Cana

480

256 230

Produção Noite Negra (ton)

AbacaxiMilho (silagem)Cana

Figuras 4A e 4B: Produção de Forrageiras e Frutas nas Comunidades Rurais

Fonte: Pesquisa de Campo – Fev/2005

10 Esses produtos são comercializados em sacas de 60 Kg. 11 O milho forrageiro e a cana-de-açúcar, juntamente com o abacaxi são comercializados em toneladas.

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Devido ao tamanho das propriedades, a presença da pecuária de corte extensiva é inexistente, de modo que os poucos bovinos de corte presentes são criados com a finalidade de manter o espaço não cultivado, ocupado com algo que representa um investimento, para possíveis eventualidades financeiras.

No entanto, a pecuária leiteira é praticada em 12 das 18 propriedades visitadas em Palmitalzinho e em 19 das 26 propriedades do bairro Noite Negra.

Provavelmente, por se encontrar mais próxima das vias de acesso pavimentadas, na comunidade de Palmitalzinho é mais intensa a prática da pecuária leiteira mecanizada, com a presença de resfriadores, bem como matrizes de linhagem melhor selecionadas. A utilização do tanque resfriador facilita o trabalho da produção de leite, porque através do processo de resfriamento e armazenagem esse produto é coletado em dias alternados pelo caminhão tanque que faz a coleta nas propriedades. (Figura 5).

Figura 5 – Tanque Resfriador de Leite – Bairro Palmitalzinho

Fonte: Pesquisa de Campo – Fev/2005

A pecuária leiteira está presente tanto em Palmitalzinho quanto em Noite Negra, contudo a produção na primeira comunidade é muito superior à da segunda em quantidade e produtividade, em razão do maior volume de investimentos. A figura 6 demonstra essa diferença, um exemplo de investimento na atividade presente em Palmitalzinho.

16

75450

10650

PalmitalzinhoNoite Negra

Figura 6: Produção Leiteira Mensal

Fonte: Pesquisa de Campo – Fev/2005

Assim, a pesquisa realizada em Palmitalzinho e Noite Negra apresenta semelhanças quanto às formas de articulação e sociabilidade e diferenças no tipo de cultivo praticado. São diferentes formas de exploração familiar, adotadas por esses agricultores que visam garantir a continuidade das atividades agrícolas, a manutenção do patrimônio e o sustento da família.

5. Considerações Finais

A forma como se encontram estruturados os bairros rurais, Palmitalzinho e Noite Negra, deixa claro que é possível desenvolver laços de confiança e reciprocidade na sociedade atual.

Diante das dificuldades de organização e permanência da pequena produção na economia atual, a formação de redes sociais não deixa de ser uma opção de sobrevivência. Essas redes, por terem um caráter de cooperação entre os indivíduos, apresentam uma forma espontânea de organização, resultando na interação de participantes que buscam o bem estar coletivo do grupo.

Os exemplos de organização e associação, formação das redes de cooperação, existentes nos dois bairros rurais demonstrados neste trabalho, ressaltam a importância das organizações sociais para uma comunidade rural ou urbana.

Considerando uma rede como um tipo de organização informal, formadora de capital social, isso culminará numa relação moral de confiança.

A rede social pode ser formada porque é baseada em normas e valores informais, podendo ser de caráter religioso, parentesco ou compadrio, onde não há a presença de um poder centralizado. Os membros de uma rede fazem parte desse grupo, em função da identidade existente entre os participantes, onde através de um esforço individual buscam alcançar objetivos coletivos.

Apesar dos elementos positivos apresentados pela formação das redes sociais, conseqüentemente, o capital social, há alguns fatores que precisam ser considerados e discutidos. Esse capital social pode ser destruído facilmente quando os laços de confiabilidade, reciprocidade e respeito são rompidos ou elementos estranhos passam a interferir no grupo

A formação do capital social abre a possibilidade para que os problemas existentes no interior de uma comunidade possam ser resolvidos, via o desenvolvimento das redes de cooperação entre os moradores desse grupo social. As redes de cooperação só podem se formar quando os sujeitos passam a buscar a construção de projetos coletivos, deixando de

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lado interesses individuais. O prolongamento das redes de cooperação pode trazer benefícios para a sociedade, auxiliando na melhor aplicação das políticas públicas.

Reconhece-se que o desempenho de políticas públicas depende das características das agências que as implementam, das condições políticas, econômicas e sociais e da forma como são executadas essas atividades. No caso em discussão é possível notar que uma ação pública seguiu o modelo de uma entidade que já se encontrava estruturada, (Associação dos Produtores Rurais de Palmitalzinho), montando uma associação de produtores rurais semelhante.

Um bom governo poderá ser melhor implementado quando aqueles que conduzem os setores públicos recebem o apoio e interagem com a sociedade civil. As associações civis contribuem para a eficácia e a estabilidade do governo democrático, não só por causa de seus efeitos internos sobre o indivíduo, mas também pelos seus efeitos externos sobre a sociedade. No âmbito interno, as associações incutem, com seus membros, hábitos de cooperação, solidariedade, senso de responsabilidade comum em relação a empreendimentos coletivos, bem como espírito público. No âmbito externo, a articulação e agregação de interesses são intensificadas com uma rede de associações secundárias. Assim a parceria entre público e privado pode trazer maiores benefícios para a coletividade desde que haja uma ampla rede aberta à discussão.

A realidade presente em Palmitalzinho e Noite Negra demonstra que a organização da Associação de Produtores Rurais do Bairro Palmitalzinho surge como resultado da rede de confiança, formada ao longo do tempo naquela localidade, que inicialmente se encontrava interligada por laços de parentesco e compadrio, envolvendo práticas religiosas e culturais.

A forma como se deu a organização da Associação de Produtores de Palmitalzinho e as demais formas de associativismo presentes na comunidade Noite Negra sugere que o capital social surge em decorrência da organização e da confiança entre os membros dessas comunidades.

Quanto à associação de produtores formada pelo poder público municipal, é necessário ressaltar que as decisões políticas são tomadas por grupos que ocupam este cenário e que possuem interesses particulares. É possível que os atores envolvidos nessa área interfiram na organização e na ação das entidades que produzem o capital social. Ao não aceitarem a fusão das associações de Palmitalzinho e a do município de Anhumas, esses agricultores querem apenas garantir que a rede de confiança construída ao longo do tempo não seja desgastada ou destruída por agentes externos ao grupo.

A presença de indivíduos externos ao grupo dificilmente propiciaria o desenvolvimento de ações coletivas em comunidades rurais, já que nessas comunidades, membros do bairro são aqueles que residem no local ou estão ligados a este de alguma forma. Além disso, nessas comunidades a religião tem um papel expressivo e decisivo na maior parte das atividades desenvolvidas e que envolvem a comunidade ou os membros desta.

Por outro lado, a proximidade das moradias, em função do tamanho reduzido das propriedades, facilita a organização social do grupo e as articulações entre os moradores de Palmitalzinho e Noite Negra. Dessa forma, mesmo os participantes das atividades que não moram no bairro onde a atividade se desenvolve podem dela participar, desde que estejam sempre presentes no local, como por exemplo: moradores de Palmitalzinho ajudam na preparação da festa de Santo Antonio em Noite Negra ou moradores de Noite Negra são filiados à Associação de Produtores Rurais de Palmitalzinho.

No que se refere à associação de produtores montada na sede do município de Anhumas, por enquanto tem funcionado com o apoio idealizado pelo poder público. Embora o apoio da Prefeitura seja importante para a implementação de melhorias, dentro do grupo de agricultores de Anhumas, fica a questão referente a se esse apoio não vai gerar conflitos internos num futuro próximo, entre os associados daquela entidade. O que acontecerá quando

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esta gestão municipal terminar e o chefe do executivo for substituído por outro? Ressalta-se que o apoio dado à associação é dado pela administração atual (o atual prefeito exerceu um mandato de 4 anos e foi reeleito nas ultimas eleições municipais). Outro fato que deve ser considerado, e não pode ser ignorado, é que o prefeito atual é um produtor rural; e que ao longo de sua gestão tem investido um volume considerável de recursos em melhorias na área rural do município: construção de bacias de contenção de águas pluviais, pontes metálicas, terraplanagem e conservação de estradas; obras essas que, sem dúvida, contribuem para o transporte e o escoamento da produção agrícola deste local.

Essas questões são pertinentes porque o exemplo da gestão municipal anterior deixou claro que o apoio recebido pela associação situada na cidade de Anhumas está ligado ao atual prefeito, que exerce seu segundo mandato, já que o prefeito anterior não investia nesse setor. Deve-se considerar que a interação entre os agricultores e o poder público foi um fato bastante importante na implementação das ações desenvolvidas por esses produtores. O equilíbrio de interesses entre o grupo está determinando a existência da Associação de Produtores Rurais de Anhumas. Se esses produtores, em sua totalidade, conseguirão algum dia atingir o nível de capital social existente nos bairros rurais de Palmitalzinho e Noite Negra, ainda é uma questão que não foi confirmada. Qualquer elemento que provoque divergências entre esses produtores, com certeza ameaçará a existência do grupo e destruirá o capital social formado. Esse fato, no entanto, somente no futuro poderá ser objeto de investigação.

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