a seleção - o principe

51

Upload: ludover

Post on 24-Jul-2016

220 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

  • Eu andava em crculos, como se isso pudesse aliviar a tenso do meu corpo. A Seleo pareciaemocionante quando estava l longe uma possibilidade futura. Mas agora? Bem, eu j no tinhatanta certeza.

    Censo compilado, nmeros checados mltiplas vezes. Os funcionrios do palcio estavam sendorealocados, e as roupas e os quartos das novas hspedes j estavam sendo preparados. A pressocrescia, empolgante e assustadora ao mesmo tempo.

    Para as garotas, o processo comeara com o preenchimento dos formulrios milhares a estaaltura. Para mim, comeou hoje.

    Completei dezenove anos. Agora, eu podia participar.Parei diante do espelho e conferi a gravata mais uma vez. Naquela noite haveria mais olhos sobre

    mim do que o normal; eu precisava parecer o prncipe autoconante que todos esperavam. Agravata estava impecvel, e eu segui para o escritrio do meu pai.

    No caminho, acenei com a cabea para os assessores e guardas conhecidos. Era difcil imaginar queem menos de duas semanas os corredores estariam abarrotados de garotas. Bati de maneira rme naporta, uma requisio feita pelo meu prprio pai. Parecia que eu sempre tinha uma lio a aprender.

    Bata com autoridade, Maxon.Pare de andar em crculos, Maxon.Voc tem que ser mais rpido, mais esperto e melhor, Maxon. Entre.Entrei. Meu pai desviou os olhos do espelho por um instante para me observar. Ah, que bom que voc chegou. Sua me vir logo. Est preparado? Claro respondi. Era a nica resposta plausvel.Ele esticou o brao e apanhou uma pequena caixa, que ps na minha frente, sobre sua

    escrivaninha. Feliz aniversrio.Desz o embrulho prateado e dei com uma caixinha preta. Dentro dela, um par de abotoaduras

    novas. Provavelmente ele estava atarefado demais para se lembrar de que j havia me dadoabotoaduras no Natal. Ou ento eram os ossos do ofcio. Quando eu fosse rei, talvez tambm desseum presente repetido para o meu lho sem querer. Mas claro que, para chegar a esse ponto,primeiro precisava de uma esposa.

  • Esposa. A palavra pendeu dos meus lbios por um instante, sem chegar a sair. Soava estranha. Obrigado, senhor. Vou us-las agora mesmo. Voc precisa dar o seu melhor esta noite ele disse, afastando-se do espelho. Todos esto

    com a Seleo na cabea.Dei um sorriso tenso. Eu tambm estou.Pensei em contar a ele como estava ansioso. Ele j havia passado por isso, anal. Deve ter tido suas

    prprias dvidas naquela poca.Mas claro que o nervosismo estava estampado na minha cara. nimo, Maxon. A ideia que seja emocionante ele me incentivou. E . S estou impressionado com a rapidez com que tudo tem acontecido respondi

    enquanto me concentrava em passar o metal pela casa da manga da camisa. Parece rpido para voc, mas para mim foram anos de preparao ele disse, rindo.Apertei os olhos e o encarei. Como assim?A porta se abriu e minha me entrou. Como sempre, o rosto do meu pai se iluminou com a sua

    presena. Amberly, voc est estonteante elogiou, caminhando para cumpriment-la.Ela sorriu com seu jeito de sempre, como se no acreditasse que algum havia reparado nela, e

    abraou meu pai. No estonteante demais, espero. No quero roubar a ateno.Ela se afastou do meu pai e veio na minha direo. Feliz aniversrio, filho. Obrigado, me. Seu presente vai chegar sussurrou, e depois se dirigiu ao meu pai. Estamos todos prontos,

    ento? Sim, certamente respondeu meu pai, oferecendo-lhe o brao, que ela agarrou. Eu caminhei

    sombra deles. Como sempre. Quanto tempo teremos, Alteza? um reprter me perguntou.A luz dos refletores queimava meu rosto. Os nomes sero sorteados nesta sexta-feira, e as garotas chegaro na sexta seguinte respondi. Est nervoso, senhor? outra voz indagou. Porque vou me casar com uma moa que ainda nem conheo? Tudo sob controle respondi,

    com uma piscadela que fez a plateia rir. Mas isso no o deixa nem um pouco nervoso, Alteza?Desisti de tentar identicar o rosto do meu interlocutor. Apenas respondi na direo de onde veio

    a pergunta.

  • Pelo contrrio. Estou muito empolgado.Mais ou menos. Sabemos que far uma excelente escolha, senhor.O flash de uma cmera me cegou. Aqui, aqui! outros chamavam.Dei de ombros. No sei. Qualquer garota que se contentar comigo s poder ser louca.Todos riram mais uma vez, e essa frase me pareceu uma boa deixa para ir embora. Com licena. Alguns parentes esto aqui de visita e no quero ser indelicado.Dei as costas para os jornalistas e fotgrafos e respirei fundo. Ser que a noite inteira seria assim?Corri os olhos pelo Grande Salo toalhas azul-marinho cobriam as mesas e velas brilhavam

    forte para realar o esplendor da decorao e vi que no tinha muita escapatria. Em um cantodo salo estavam as autoridades; no outro, os jornalistas. Nenhum lugar para eu car quieto etranquilo. Como eu era o aniversariante, algum poderia pensar que eu seria o responsvel pordefinir como tudo aconteceria. Mas no era desse modo que as coisas funcionavam.

    Assim que me desvencilhei da multido, senti o brao do meu pai nas minhas costas e a sua mo aapertar meu ombro. Aquela presso e aquela ateno sbita me deixavam tenso.

    Sorria ele ordenou, sem mover os lbios. Obedeci, e ele virou a cabea na direo de algunsde seus convidados especiais.

    Percebi o olhar de Daphne, que viera da Frana junto com o pai. Tivemos sorte: a data da festacoincidiu com a necessidade de nossos pais continuarem as discusses sobre um tratado comercial.Sendo ela lha do rei da Frana, nossos caminhos j haviam se cruzado algumas vezes, e talvez elafosse a nica pessoa fora da minha famlia com quem eu tinha um pouco de intimidade. Era bom verum rosto conhecido no salo.

    Acenei com a cabea, e ela ergueu sua taa de champanhe. Voc no pode ser to sarcstico em suas respostas. Voc o prncipe-herdeiro. Ns

    precisamos da sua liderana.A mo do meu pai apertava meu ombro mais do que o necessrio. Perdoe-me, senhor. uma festa. Pensei que... Pensou errado. Espero que na hora do noticirio voc leve as coisas mais a srio.Ele parou de andar e me encarou com seus olhos cinzentos e firmes.Sorri mais uma vez, sabendo que ele me pedia aquilo por causa da multido. Claro, senhor. Foi um lapso de julgamento temporrio.Ele abaixou o brao e levou a taa de champanhe aos lbios. Voc costuma ter muitos.Arrisquei lanar um olhar de enfado a Daphne, que riu, pois sabia muito bem como eu me sentia.

    Os olhos do meu pai seguiram meu olhar pelo salo.

  • Sempre muito bonita essa garota. Pena que no pode participar do sorteio.Dei de ombros. Ela simptica, mas nunca senti nada por ela. Que bom. Seria uma estupidez sem tamanho da sua parte.Ignorei a maldade do comentrio e continuei: Alm do mais, mal posso esperar para conhecer minhas verdadeiras opes.Meu pai vibrou com a ideia e voltou a me conduzir pelo salo. J hora de voc fazer algumas escolhas reais na vida, Maxon. Escolhas boas. Tenho certeza de

    que voc acha que meus mtodos so rgidos demais, mas preciso que voc enxergue a importnciade sua posio.

    Segurei um suspiro. Eu tento fazer escolhas. Voc que no confia em mim. No se preocupe, pai. Levo muito a srio a tarefa de escolher uma esposa respondi, na

    esperana de que o tom da minha voz confirmasse o quanto aquilo era verdade. Vai alm de encontrar algum com quem voc se d bem. Por exemplo, voc e Daphne.

    Muito amiguinhos, mas ela seria um completo desperdcio ele comentou antes de outro gole, eacenou para algum que estava atrs de mim.

    Mais uma vez, tive que controlar minha expresso. Desconfortvel com o rumo da conversa, metias mos nos bolsos e inspecionei o salo.

    Acho melhor comear a circular pelas mesas.Ele fez que sim com a mo e voltou a concentrar-se em sua bebida. Aproveitei para me retirar

    rpido. Por mais que tentasse, no conseguia entender o que ele queria com aquela conversa. Nohavia motivo para ele ser to grosseiro sobre Daphne se ela sequer era uma opo.

    O Grande Salo reverberava de entusiasmo. As pessoas diziam que toda a Illa esperava por aquelemomento: a emoo de uma nova princesa, a empolgao de ver que em breve eu seria rei. Pelaprimeira vez eu sentia toda aquela energia e receava que ela fosse me esmagar.

    Apertei diversas mos e aceitei com elegncia presentes de que no precisava. Pergunteidiscretamente a um fotgrafo sobre as lentes de sua cmera. Beijei as bochechas de familiares, amigose de uma boa parcela de completos estranhos.

    Por m tive um momento sozinho. Inspecionava a multido, certo de que havia algum lugar ondeeu deveria estar. Meu olhar parou em Daphne, que veio em minha direo. Estava ansioso para terpelo menos alguns minutos de conversa sincera, mas isso teria que esperar.

    Est se divertindo? minha me perguntou, ao se aproximar. O que parece?Ela correu as mos pelo meu terno j meio amarrotado. Que sim.Abri um sorriso. o que importa.

  • Ela inclinou a cabea levemente, com um sorriso terno nos lbios. Venha comigo por um minuto.Ofereci o brao a ela, que aceitou com alegria, e caminhamos pelo corredor ao som dos cliques

    das cmeras. Podemos fazer algo menor no ano que vem? Pouco provvel. quase certo que voc j estar casado. Sua esposa talvez queira uma

    comemorao bem sofisticada para o primeiro ano de vocs juntos.Franzi a testa, uma liberdade que podia ter na frente dela. Talvez ela tambm goste de tranquilidade.Minha me soltou uma risada mansa. Desculpe-me, querido, mas uma garota que se inscreve na Seleo quer um jeito de sair da

    tranquilidade. Voc tambm? pensei em voz alta.De fato, nunca tnhamos falado sobre a chegada dela ao palcio. Havia uma fronteira estranha entre

    ns. Uma fronteira que eu apreciava: fui criado no palcio, mas minha me havia escolhido vir parac.

    Ela parou e me encarou, com uma expresso calorosa. Fiquei encantada com o rosto que vi na tv. Sonhava acordada com seu pai, assim como

    milhares de garotas agora sonham com voc.Imaginava minha me jovem, em Hondurgua, com o cabelo tranado nas costas e o olhar ansioso

    fixo no televisor. Podia v-la suspirar a cada palavra dele. Todas as meninas imaginam como a vida de uma princesa prosseguiu. Se apaixonar

    perdidamente, usar uma coroa... Eu s conseguia pensar nisso na semana anterior divulgao dosnomes. No fazia ideia de que ia muito alm.

    O rosto dela ficou um pouco triste. Nem imaginava a presso a que estaria submetida ou como teria pouca privacidade. Ainda

    assim, ser casada com seu pai e ter voc como lho... a realizao de todos aqueles sonhos concluiu, acariciando minha bochecha.

    Ela mantinha os olhos nos meus e sorria, mas pude notar lgrimas brotando. Precisava puxar algumassunto.

    Ento voc no se arrepende?Ela balanou a cabea. Nem um pouco. A Seleo mudou a minha vida, e da melhor maneira possvel. E sobre isso

    que quero falar com voc.Arregalei os olhos. No sei se estou entendendo.Ela soltou um suspiro.

  • Eu era Quatro. Trabalhava em uma fbrica.Ela estendeu as mos, com as palmas para cima, e continuou: Meus dedos eram secos e rachados. A sujeira se acumulava debaixo das unhas. No tinha boas

    conexes nem status. Nada me fazia digna de ser princesa. E, no entanto, aqui estou.Encarei-a, ainda sem saber ao certo o que ela queria. Maxon, este o meu presente para voc: prometo me esforar para ver essas garotas atravs

    dos seus olhos. No com os olhos de rainha ou de me, mas com os seus. Mesmo que voc escolhauma moa de uma casta bem inferior, mesmo que os outros pensem que ela no tem valor, sempreescutarei seus motivos para quer-la. E farei o mximo para apoi-lo em sua deciso.

    Fiquei parado por um momento at compreender. O meu pai no teve esse apoio? Voc no teve?Minha me no respondeu diretamente. Toda moa que vier ter seus prs e contras. Algumas pessoas iro enfatizar o que h de pior

    em algumas de suas opes, e o que h de melhor nas outras. Essa intolerncia no far o menorsentido para voc, mas eu estarei ao seu lado, independentemente da sua escolha.

    Voc sempre est. Verdade armou tomando-me o brao. Sei que estou prestes a car em segundo plano

    em relao a outra mulher. Mas meu amor por voc nunca vai mudar, Maxon. Nem o meu por voc.Esperava que ela pudesse notar a sinceridade na minha voz. Era incapaz de imaginar uma

    circunstncia que ofuscasse minha completa adorao por ela. Eu sei disse, e com um gesto suave nos guiou de volta para a festa.Enquanto ramos recebidos por sorrisos e aplausos no salo, eu pensava nas palavras da minha me.

    Ela era, mais do que qualquer um que eu conhecia, incrivelmente generosa uma qualidade queeu me empenharia em adquirir. Assim, aquele presente devia ser mais necessrio do que eu podiaimaginar naquele momento. Minha me nunca me deu um presente que no fosse bem pensado.

  • As pessoas acabaram ficando na festa por muito mais tempo do que me parecia apropriado.Outro sacrifcio que vinha com o privilgio, pensei: ningum queria que uma festa no palcioacabasse. Nem o prprio palcio queria.

    Deixei o representante da Federao Alem, que estava bastante bbado, aos cuidados de umguarda, agradeci todos os conselheiros reais pelos presentes e beijei a mo de quase todas as damasque cruzaram as portas do palcio. A meu ver, tinha cumprido minha obrigao, e s queria passarumas horas em paz. S que um par de olhos azul-escuros me interrompeu enquanto eu tentavaescapar dos folies retardatrios.

    Voc tem me evitado armou Daphne, com a voz brincalhona e um sotaque cantado queme fazia ccegas no ouvido. Sempre havia um qu musical em suas palavras.

    Nem um pouco. que havia bem mais gente do que eu esperava repliquei, olhando paratrs, vendo o punhado de gente decidida a ver o sol nascer pelas janelas do palcio.

    Seu pai gosta de espetculos.Ca no riso. Daphne parecia compreender vrias coisas que eu nunca havia dito em voz alta.

    Quanto de mim ela compreendia sem que eu me desse conta? Acho que ele se superou comentei. S at a prxima festa ela respondeu, dando de ombros.Permanecemos calados por uns instantes, embora eu sentisse que ela queria falar mais. Mordendo

    os lbios, sussurrou: Poderia falar com voc em particular?Concordei, oferecendo-lhe meu brao, e a conduzi at uma das saletas no nal do corredor. Ela

    permanecia quieta, como se guardasse as palavras para depois que eu tivesse fechado as portas atrsde ns. Apesar de j termos conversado a ss muitas vezes, seu comportamento estava me deixandoapreensivo.

    Voc no danou comigo ela disse, parecendo magoada. No dancei com ningum.Meu pai tinha insistido em msicos eruditos dessa vez. Embora os Cinco fossem muito talentosos, a

    msica que tocavam pedia danas mais lentas. Talvez, se eu tivesse optado por danar, teriaescolhido Daphne. S que me parecia errado fazer isso enquanto todos me perguntavam sobre aminha futura e desconhecida esposa.

  • Ela respirou bem fundo e comeou a andar em crculos. Tenho um encontro assim que voltar para casa disse. Frederick o nome dele. J o vi

    antes, claro. Cavalga muito bem e tambm muito bonito. quatro anos mais velho, mas acho queesse exatamente um dos motivos para meu pai gostar dele.

    Ela olhou para mim por cima do ombro com um sorrisinho nos lbios.Respondi com um ar sarcstico: E onde estaramos ns sem a aprovao dos nossos pais?Ela achou graa. Perdidos, bvio. No faramos ideia de como viver.Tambm ri, grato por ter algum com quem fazer piada da situao. s vezes, essa era a nica

    maneira de lidar com a presso. Mas ento, meu pai aprova. Ainda assim, fico pensando...Ela baixou os olhos, tomada por uma timidez sbita. Em qu?Daphne permaneceu imvel por um segundo, ainda com o olhar no carpete. At que cravou

    aqueles olhos azul-escuros em mim. Voc a favor? A favor do qu? De Frederick.Comecei a rir. No d para falar, d? No o conheo. No ela disse, desanimada. No a pessoa, mas a ideia. Voc concorda que eu me

    encontre com esse homem? Que no fim me case com ele?O rosto de Daphne cou imvel, como se escondesse algo que eu ainda no entendia. Respondi

    um pouco conformado e confuso: No cabe a mim aprovar. Tampouco cabe a voc afirmei, um pouco triste por ns dois.Daphne esfregava as mos, talvez nervosa ou magoada. Eu era incapaz de entender o que estava

    acontecendo. Ento voc no se incomoda nem um pouco? Porque se no for Frederick, ser Antoine. Se

    no for Antoine, ser Garron. H uma la de homens minha espera, e nenhum deles tem comigometade da amizade que tenho com voc. Mas, no nal, terei que aceitar um deles como marido. Evoc no se importa?

    Era realmente deprimente. Dicilmente nos vamos mais do que trs vezes por ano. E eu tambma considerava minha melhor amiga. Como ns ramos patticos!

    Engoli em seco, procurando a melhor coisa a dizer. Tenho certeza de que no final tudo vai dar certo.Sem qualquer aviso, as lgrimas comearam a rolar pelo rosto de Daphne. Olhei minha volta, na

  • tentativa de encontrar uma explicao ou soluo, e me sentia mais desconfortvel a cada momento. Por favor, Maxon, diga que voc no se submeter a isso. Voc no pode implorou. Do que voc est falando? perguntei, desesperado. Da Seleo! Por favor, no se case com uma estranha qualquer. No me faa casar com um

    estranho qualquer. minha obrigao. assim que funciona para os prncipes de Illa. Casamos com plebeias.Daphne se lanou contra mim e agarrou as minhas mos. Mas eu te amo. Sempre amei. Por favor, no se case com outra garota sem ao menos perguntar

    ao seu pai se eu podia ser uma opo.Sempre me amou?Engasguei com as palavras. Tentava descobrir por onde comear. Daphne, como... No sei o que dizer. Prometa que voc vai perguntar para o seu pai ela implorou, secando as lgrimas dos olhos,

    esperanosa. Adie a Seleo ao menos por tempo suciente para descobrirmos se vale a penatentar. Ou deixe eu participar tambm. Eu abro mo da minha coroa.

    Por favor, pare de chorar sussurrei. No consigo. No agora que estou prestes a perd-lo para sempre disse, antes de enterrar a

    cabea entre as mos e comear a soluar baixinho.Fiquei ali, como uma esttua, com medo de piorar as coisas. Aps alguns momentos de tenso,

    Daphne ergueu a cabea e falou, com olhar perdido: Voc a nica pessoa que me conhece. A nica pessoa que sinto conhecer de verdade. Conhecer no amar repliquei. No verdade, Maxon. Temos uma histria juntos, e ela est prestes a ser destruda. Tudo em

    nome da tradio.Daphne continuava com os olhos xos no centro da sala, e eu continuava sem fazer ideia do que

    ela estava pensando. Era evidente que eu no costumava prestar ateno em seus pensamentos.Por fim, Daphne virou o rosto para mim. Maxon, eu suplico, pea ao seu pai. Mesmo que ele diga no, ao menos eu tentei tudo o que

    podia.Certo de que a minha resposta era a mais pura verdade, disse-lhe o que precisava ser dito: Voc j tentou, Daphne. Acabou.Cruzei os braos por um instante e depois soltei-os. Isso tudo que nossa histria poderia ser acrescentei.Seus olhos caram um bom tempo cravados nos meus. Ela sabia to bem quanto eu que um

    pedido to escandaloso estava muito alm das minhas possibilidades. Percebi que ela buscava em suamente um caminho alternativo, mas no havia sada. Ela servia sua coroa; eu, minha. E nossasdinastias nunca se cruzariam.

  • Concordando com a cabea, ela desabou em lgrimas mais uma vez. Caminhou at o sof esentou, abraando a si mesma. Fiquei parado na tentativa de no agravar seu sofrimento. Queriapoder faz-la rir, mas no havia qualquer graa na situao. No sabia que era capaz de partir umcorao.

    Com certeza, no gostei de saber.Foi ento que me dei conta de que isso logo se tornaria comum. Eu dispensaria trinta e quatro

    mulheres ao longo dos prximos meses. E se todas reagissem assim?Bufei de cansao s de pensar.Ao me ouvir, ela ergueu o olhar. Aos poucos, a expresso em seu rosto mudou. Isso no te magoa nem um pouco? perguntou. Voc no um ator to bom assim,

    Maxon. claro que me incomoda.Daphne se levantou e comeou a me examinar, em silncio. Mas no pelas mesmas razes que me incomodam ela disse baixinho.Ela caminhava pela sala, com olhos suplicantes. Maxon, voc me ama.Permaneci calado. Maxon ela afirmou, enftica , voc me ama. Ama.Desviei o rosto; a intensidade do brilho em seus olhos era forte demais para mim. Passei a mo

    pelo cabelo enquanto tentava colocar em palavras o que quer que eu sentia. Nunca vi algum expressar seus sentimentos como voc acabou de fazer. No duvido da

    sinceridade de cada uma de suas palavras. S que no consigo dizer o mesmo, Daphne. Isso no te impede de sentir. Voc s no sabe como expressar. Seu pai pode ser frio como o

    gelo, e sua me esconde-se em si mesma. Voc nunca viu as pessoas amarem livremente, e por issono sabe demonstrar amor. Mas voc sente. Sei que sente. Voc me ama como eu amo voc.

    Balancei a cabea devagar, temendo que qualquer slaba que sasse da minha boca trouxesse tudo tona novamente.

    Me beije ela ordenou. Qu? Me beije. Se voc for capaz de me beijar e ainda assim dizer que no me ama, nunca mais

    tocarei no assunto.Recuei. No. Sinto muito, mas no posso fazer isso.No quis confessar o quo literais eram minhas palavras. No sabia ao certo quantos garotos

    Daphne j beijara, mas tinha certeza de que mais que zero. Ela deixou escapar que fora beijada hum par de veres, quando estive na Frana em sua companhia. Bastava. Ela tinha mais experincia,e de maneira nenhuma eu iria bancar ainda mais o idiota naquele momento.

  • Sua tristeza transformou-se em raiva medida que se afastou de mim. Ela chegou a rir, mas nohavia sinal de humor em seus olhos.

    Ento essa a sua resposta? Voc est dizendo no? Voc prefere deixar que eu v?Encolhi os ombros. Voc um idiota, Maxon Schreave. Seus pais sabotaram completamente sua personalidade.

    Mesmo que voc tivesse mil garotas diante dos seus olhos, no importaria. Voc burro demais parareconhecer o amor a dois palmos do nariz.

    Ela secou os olhos e ajeitou o vestido. Rezo a Deus para nunca mais ver seu rosto novamente.O medo no meu corao se transformou e, quando ela comeou a sair, agarrei-a pelo brao. No

    queria que partisse para sempre. Daphne, sinto muito. No sinta muito por mim ela disse friamente. Sinta muito por voc. Voc encontrar

    uma esposa porque obrigado a isso, mas voc j conheceu o amor e o deixou partir.Ela soltou a mo num puxo e me deixou sozinho.Parabns para mim.

  • Daphne cheirava a cerejeiras e amndoas. Seu perfume era o mesmo desde os treze anos. Ela ousava na noite anterior e eu ainda podia senti-lo, apesar de ela desejar no me ver nunca mais.

    Ela tinha uma cicatriz no pulso, de um arranho que fez ao tentar subir em uma rvore aos onzeanos. Foi culpa minha. Ela no era to feminina na poca, e eu a convenci ou melhor, a desafiei a apostar uma corrida at o topo de uma das rvores que cercavam o jardim. Ganhei.

    Daphne tinha pnico do escuro, e como eu tambm tinha meus medos, nunca caoei dela por isso.E ela tampouco caoava de mim. Pelo menos no quando as coisas eram importantes.

    Ela era alrgica a frutos do mar. Sua cor preferida era amarelo. Por mais que tentasse, era incapazde cantar, mesmo que sua vida dependesse disso. S que ela sabia danar, ento no a ter tirado parauma dana na noite passada significou mais do que uma simples decepo.

    Quando eu tinha dezesseis anos, Daphne me mandou um estojo novo para a minha cmera, comopresente de Natal. Apesar de eu nunca ter dado qualquer indcio de querer me livrar do estojoantigo, signicou tanto para mim saber que ela prestava ateno nas coisas que eu gostava que passeia usar o presente. Eu ainda o usava.

    Eu me espreguicei sob os lenis e virei a cabea na direo do estojo. Perguntei-me quantotempo ela teria gasto para escolher o modelo certo.

    Talvez Daphne tivesse razo. Tnhamos mais histria do que eu havia percebido antes.Mantnhamos uma relao atravs de visitas espaadas e telefonemas espordicos. Por isso, nuncapassou pela minha cabea que aquilo tinha tanto peso.

    E agora ela estava no avio rumo Frana, onde Frederick a aguardava.Arrastei-me para fora da cama e arranquei a camisa amassada e a cala do terno para tomar uma

    ducha. Tentava silenciar meus pensamentos enquanto a gua lavava os resqucios do meu aniversrio.Mas no conseguia pr de lado a denncia perturbadora que ela havia feito sobre os meus

    sentimentos. Ser que eu no conhecia o amor? Ser que eu o havia provado e descartado? Se sim,como lidaria com a Seleo?

    Conselheiros corriam pelo palcio com pilhas de formulrios de inscrio para a Seleo; todossorriam para mim como se soubessem de algo que eu ignorava. De tempos em tempos, um deles medava tapinhas nas costas ou cochichava palavras de incentivo, como se sentissem que eurepentinamente comeara a duvidar da nica coisa com que sempre havia contado e que tinhaaguardado minha vida inteira.

  • O lote de hoje muito promissor dizia um deles. O senhor um homem de sorte assegurava outro.Mas enquanto as pilhas de formulrios cresciam, eu s conseguia pensar em Daphne e em suas

    palavras afiadas.Eu deveria estar estudando os nmeros do relatrio nanceiro que tinha na minha frente. Em vez

    disso, estudava o meu pai. Por acaso ele havia me sabotado? Havia me criado de forma que eu notivesse qualquer noo do que signicava um relacionamento amoroso? J havia reparado no modocomo tratava minha me. Havia afeto entre eles, seno paixo. No seria isso o bastante? No teriaque ser esse o meu objetivo?

    Olhava para o nada, perdido em pensamentos. Talvez, na cabea dele, buscar algo alm disso fariacom que eu tivesse muita diculdade em enfrentar a Seleo. Ou talvez eu casse decepcionado porno encontrar algo que mudasse a minha vida. Ento era melhor mesmo eu nunca mencionar queessa era minha nica esperana.

    Por outro lado, talvez no fossem esses seus planos. As pessoas so o que elas so. Meu pai erargido, era como uma espada aada pela presso de governar um pas que sobrevivia a guerras eataques rebeldes constantes. Minha me era como um cobertor, compassiva devido infnciacarente e sempre buscando proteger e reconfortar.

    Eu sabia que, no fundo, era mais parecido com ela do que com ele. No que isso me incomodasse,mas incomodava meu pai.

    Assim, talvez o seu plano fosse mesmo fazer de mim uma pessoa incapaz de expressar ossentimentos, parte do processo para me endurecer.

    Voc burro demais para reconhecer o amor a dois palmos do nariz. Acorde, Maxon.Virei rpido a cabea na direo da voz do meu pai. Sim, senhor?Sua expresso era de cansao. Quantas vezes preciso dizer? A Seleo consiste em uma escolha slida e racional. No mais

    uma oportunidade para voc ficar sonhando acordado.Um engravatado entrou na sala e entregou uma carta para o meu pai. Eu ajeitava uma pilha de

    folhas batendo-as contra a mesa. Sim, senhor.Ele leu a carta enquanto eu o observava.Talvez.No.No final das contas, no. Ele queria fazer de mim um homem, no uma mquina.Bufando, ele amassou o papel e o atirou no lixo. Malditos rebeldes.

  • *Passei a maior parte da manh seguinte trabalhando em meus aposentos, longe de olhares curiosos.Eu me sentia muito mais produtivo quando cava sozinho. E se no conseguisse ser produtivo, aomenos no havia quem me castigasse. Suspeitei que aquilo no duraria o dia inteiro diante dochamado que recebi.

    O senhor me chamou? perguntei ao cruzar a porta do gabinete de meu pai. A est voc ele disse com os olhos arregalados. Esfregou as mos e continuou: Amanh o grande dia.Tomei flego. Sim. Precisamos repassar o formato do noticirio? No, no ele apoiou a mo nas minhas costas, fazendo com que me endireitasse

    imediatamente, e me conduziu em frente. Ser bastante simples: introduo, um papo rpidocom Gavril e depois transmitimos os nomes e os rostos das moas.

    Concordei com a cabea. Parece... fcil.Quando nos aproximamos da escrivaninha, ele ps a mo sobre uma grossa pilha de pastas. Aqui esto elas.Olhei para baixo. Encarei a pilha. Engoli em seco. Agora, mais ou menos umas vinte e cinco entre elas possuem qualidades evidentemente

    perfeitas para uma nova princesa. Famlias excelentes, laos valiosos com outros pases. Algumas soapenas exuberantes.

    Estranhamente, ele me deu uma cotovelada brincalhona no peito, e me afastei para o lado. Nadadaquilo era brincadeira.

    Infelizmente, nem todas as provncias tinham algo digno de nota a oferecer. Ento, para que ascoisas parecessem mais aleatrias, inclumos essas regies para dar um pouco mais de diversidade Seleo. Voc ver que temos at algumas Cinco no pacote. Nada abaixo disso, porm. Precisamoster alguns parmetros.

    Repeti mentalmente suas palavras. Todo esse tempo eu pensei que a escolha seria feita pelo acasoou ento pelo destino... E era apenas o meu pai.

    Ele correu o polegar pela pilha com tanta fora que as bordas das pastas se curvaram para cima. Quer dar uma espiada? props.Olhei novamente para a pilha. Nomes, fotos e qualidades. Todos os detalhes essenciais estavam ali.

    Ainda assim, eu sabia que o formulrio no dizia o que as fazia rir ou pr para fora seus segredos maisobscuros. Ali estava uma compilao de atributos, no de pessoas. E, com base naquelas estatsticas,eram minhas nicas opes.

    Foi voc quem as escolheu? perguntei, desviando o olhar da papelada e encarando-o.

  • Sim. Todas elas? Basicamente disse com um sorriso. Como falei, h algumas a apenas pelo espetculo,

    mas acho que voc tem uma leva bastante promissora. Bem melhor do que a minha. Seu pai tambm escolheu as suas opes? Algumas delas, mas naquela poca a coisa era diferente. Por que pergunta?Puxei pela memria. Ento era isso que voc queria dizer, no ? Quando falou que a Seleo consumiu anos de

    trabalho da sua parte? Bem, precisvamos garantir que certas garotas teriam a idade adequada, e tnhamos vrias

    opes em certas provncias. Em todo caso, confie em mim, voc vai am-las. Vou?Am-las? Como se ele se importasse. Como se aquilo no fosse apenas mais uma maneira de a

    coroa, o palcio e ele prprio prevalecerem.De repente, seu comentrio infeliz sobre Daphne ser um desperdcio fez sentido. Para ele, no

    importava se eu era prximo de Daphne por ela ser encantadora ou uma boa companhia; para ele,ela era a Frana. No era sequer um ser humano. E como meu pai j tinha o que precisava daFrana, Daphne era intil aos seus olhos. Ainda assim, se ela tivesse se mostrado valiosa, estou certode que ele jogaria fora toda aquela amada tradio para obter seus ns. Mas como isso noaconteceu, ele quis manter todo o processo em suas mos.

    Ele soltou um suspiro. Que cara essa? Pensei que voc fosse ficar entusiasmado. No quer nem dar uma olhadinha?Endireitei o palet e respondi: Como voc disse, no hora de car sonhando acordado. Verei as garotas junto com todos os

    demais. Com a sua licena, preciso terminar de ler seu projeto de emenda.Parti sem esperar sua aprovao, mas tinha certeza de que minha resposta era justicativa suciente

    para que me deixasse sair.Talvez no fosse exatamente uma sabotagem, mas com certeza parecia uma armadilha. Encontrar

    uma garota de quem eu gostasse de verdade entre as dzias que ele escolheu a dedo? Qual era achance de isso acontecer?

    Tentei me acalmar. Anal, ele escolhera a minha me, e ela uma mulher maravilhosa, linda einteligente. Mas isso aconteceu aparentemente sem tanta interferncia. Mas as coisas eram diferentesagora, segundo ele.

    Entre as palavras de Daphne, as intromisses do meu pai e meus prprios medos, cada vez maiores,passei a lamentar a Seleo como nunca.

  • Faltavam apenas cinco minutos para o meu futuro se desenrolar diante dos meus olhos, e euestava prestes a vomitar a qualquer momento.

    Uma maquiadora muito gentil secava o suor da minha testa. O senhor est bem? perguntou enquanto agitava o leno. Estou apenas chateado porque nenhum dos tons de batom que voc tem ali combina comigo.Minha me s vezes dizia: no meu tom. No sabia bem o que significava aquilo.Ela achou graa, assim como minha me e sua maquiadora. Acho que estou bem falei moa, ao me olhar no conjunto de espelhos atrs do estdio.

    Obrigado. Eu tambm minha me disse, e com essas palavras as duas maquiadoras se retiraram.Eu brincava com um dos potinhos de maquiagem na tentativa de no pensar sobre o que se

    aproximava. Maxon, meu amor, voc est bem mesmo? minha me perguntou sem olhar para mim,

    vendo meu reflexo no espelho.Devolvi o olhar. s... que... Eu sei. estressante para qualquer um, mas no m das contas, s ouvir os nomes de um

    punhado de garotas. Apenas isso.Respirei fundo e z que sim com a cabea. Era uma maneira diferente de encarar as coisas: nomes.

    Era esse o acontecimento do dia. Uma lista de nomes, nada mais.Respirei fundo outra vez.Ainda bem que eu no tinha comido muito naquele dia.Dei meia-volta e caminhei at meu assento no estdio, onde meu pai j me aguardava.Ele balanou a cabea. Recomponha-se. Voc parece pssimo. Como voc conseguiu passar por isto? perguntei em tom de splica. Encarei tudo com conana, porque eu era o prncipe. E voc far o mesmo. Por acaso preciso

    lembr-lo de que voc o prmio?Seu rosto manifestava o mesmo enfado de antes, como se eu j devesse ter entendido a situao. So elas que competem por voc continuou. No o contrrio. Nada mudar em sua

  • vida, apenas ter de lidar com um punhado de garotas eufricas por algumas semanas. E se eu no gostar de nenhuma? Ento escolha a que odiar menos. De preferncia, alguma que seja til. No se preocupe

    quanto a isso. Vou ajud-lo.Se a inteno dele era me tranquilizar, no deu certo. Dez segundos veio o anncio. Minha me tomou seu assento e deu uma piscadela

    reconfortante. Lembre-se de sorrir meu pai pediu, e se virou para as cmeras com ar confiante.De repente, o hino estava tocando e eu ouvia as pessoas falarem. Tinha conscincia de que devia

    prestar ateno, mas todo o meu esforo se concentrava em manter uma expresso calma e alegre.No entendi muita coisa at escutar a voz familiar de Gavril. Boa noite, Majestade cumprimentou, e senti um frio na barriga at me dar conta de que ele

    se dirigia ao meu pai. Gavril, sempre um prazer v-lo. Ansioso por causa do anncio, Majestade? Ah, sim. Ontem estive no salo onde o sorteio foi realizado e vi algumas das escolhidas. So

    todas adorveis.Meu pai agia to naturalmente, to vontade. Ento Vossa Majestade j sabe quem so? perguntou Gavril, eufrico. S algumas, s algumas.Uma mentira completa tirada da manga com uma facilidade incrvel. Por acaso ele compartilhou essas informaes com Vossa Alteza?Agora Gavril falava comigo. A luz refletida em seu broche piscava medida que ele gesticulava.Meu pai se virou para mim, pedindo com os olhos para que eu sorrisse. Foi o que fiz, e respondi: No, de jeito nenhum. Vou conhec-las ao mesmo tempo que as pessoas em casa.Droga. Deveria ter dito vou conhecer as senhoritas, no conhec-las. Elas eram hspedes, no animais de

    estimao. Mereciam destaque. Sequei discretamente o suor das mos nas calas. Majestade Gavril voltou-se para a Rainha , algum conselho para as Selecionadas?Observei minha me. Quanto tempo levou para ela adquirir tanta compostura e car to

    impecvel? Ser que sempre foi assim? Com um nico gesto ela era capaz de derreter at Gavril. Aproveitem a ltima noite como uma garota normal. Amanh, independentemente do que

    vir, a vida de vocs mudar para sempre. E um conselho antigo, mas valioso: sejam vocs mesmas. Sbias palavras, minha rainha, sbias palavras. E agora vamos revelar as trinta e cinco jovens

    escolhidas para a Seleo. Senhoras e senhores, unam-se s minhas felicitaes para as seguintes lhasde Illa!

    Observei os monitores. O emblema nacional apareceu na tela e um pequeno quadrado no cantomostrava meu rosto ao vivo. O qu?! Minhas reaes seriam vistas o tempo todo?

  • Minha me segurou a minha mo, fora do ngulo da cmera. Inspirei. Expirei. Inspirei de novo.S um bocado de nomes. Nada de mais. No como se estivessem anunciando uma garota s e

    pronto. Senhorita Elayna Stoles, de Hansport, Trs.Gavril lia os nomes em uma ficha, enquanto eu me empenhava em abrir mais o sorriso. Senhorita Tuesday Keeper, de Waverly, Quatro continuou.Ainda com cara de eufrico, eu me inclinei para meu pai. Estou passando mal cochichei. Apenas respire ele respondeu entre os dentes. Voc devia ter olhado ontem. Eu sabia. Senhorita Fiona Castley, de Paloma, Trs.Olhei para minha me, que sorriu: Muito bonita comentou. Senhorita America Singer, de Carolina, Cinco.Ouvi a palavra Cinco e me dei conta de que aquela era uma das escolhas aleatrias do meu pai.

    Nem consegui ver a foto, j que o meu plano era apenas olhar na direo dos monitores e sorrir. Senhorita Mia Blue, de Ottaro, Trs.Era muita coisa para absorver. Memorizaria seus nomes e rostos mais tarde, quando a nao inteira

    no estivesse vendo. Senhorita Celeste Newsome, de Clermont, Dois.Levantei as sobrancelhas, mesmo sem ver a foto dela. Se era Dois, devia ser uma das importantes,

    ento eu precisava parecer impressionado. Clarissa Kelley, de Belcourt, Dois.Sustentei o sorriso enquanto a listagem avanava, a ponto de minhas bochechas doerem. S

    conseguia pensar o quanto aquilo era importante para mim uma grande parte da minha vidaestava tomando rumo agora e eu no conseguia me sentir feliz. Se eu mesmo tivesse sorteado osnomes de um saco em uma sala fechada e visse seus rostos sozinho, antes dos demais, as coisas seriammuito diferentes.

    Aquelas garotas seriam minhas, a nica coisa no mundo que poderia me dar essa sensao.Mas elas no eram. A esto elas! anunciou Gavril. Essas so as nossas belas candidatas para a Seleo. Ao

    longo da prxima semana, elas sero preparadas para a viagem ao palcio, e todos aguardaremosansiosos por essa chegada. Sintonizem no noticirio da semana que vem, uma edio especialdedicada exclusivamente a apresentar essas mulheres espetaculares. Prncipe Maxon ele disse,voltando-se para mim , meus parabns. So jovens estonteantes.

    Estou sem palavras comentei, absolutamente sincero. No se preocupe, senhor. Estou certo de que as garotas iro falar muito quando chegarem na

    prxima sexta-feira.

  • Gavril ento encarou a cmera e exclamou: E voc em casa, no se esquea de car ligado nas ltimas notcias da Seleo aqui, no canal da

    rede pblica. Boa noite, Illa!Tocaram o hino, apagaram as luzes, e eu finalmente pude relaxar.Meu pai se levantou e deu uma palmada firme nas minhas costas. Bom trabalho. Voc se saiu infinitamente melhor do que eu esperava. No fao ideia do que aconteceu.Ele riu, junto com um punhado de conselheiros que permaneciam no estdio. Eu disse, filho, voc o prmio. No h motivo para estresse. No concorda, Amberly? Garanto, Maxon, que as moas tm muito mais com que se preocupar do que voc minha

    me confirmou, acariciando meu brao. Exatamente meu pai disse. Estou morrendo de fome. Vamos desfrutar das nossas ltimas

    refeies tranquilas.Levantei-me e comecei a caminhar devagar. Minha me acompanhou meu passo. Que confuso sussurrei. Vamos pegar as fotos e formulrios para voc estudar vontade. como conhecer qualquer

    outra pessoa. Encare a situao como se voc fosse passar o tempo com algum de seus outros amigos. No tenho muitos amigos, me.Ela deu um sorriso compreensivo. Eu sei, ficamos um pouco confinados aqui concordou. Bem, pense em Daphne. O que tem ela? perguntei, um pouco impaciente.Minha me no notou. uma garota, e vocs sempre foram amigos. Finja que a mesma coisa.Olhei para a frente. Sem perceber, minha me aliviou um dos grandes medos no meu corao, ao

    mesmo tempo em que despertou outro.Desde nossa briga, sempre que pensava em Daphne, no queria saber se ela e Frederick estavam se

    dando bem ou se eu sentia falta da sua companhia. S conseguia pensar em suas acusaes.Se eu fosse apaixonado por ela, com certeza estaria pensando em todas as suas qualidades. Ou

    ento, durante o programa, enquanto Gavril anunciava as Selecionadas, eu teria desejado que seunome aparecesse ali de algum jeito.

    Talvez Daphne tivesse razo, e eu era mesmo incapaz de demonstrar amor de verdade. Ainda quefosse o caso, estava cada vez mais certo de que no a amava.

    Uma parte de mim se alegrou por saber que eu no estava perdendo uma oportunidade. Poderiacomear a Seleo de corao aberto. S que outro pedao de mim lamentava. Se eu de fato notivesse compreendido meus sentimentos, ao menos poderia me gabar de um dia ter amado algum,de ter conhecido o amor. Mas eu ainda no fazia ideia. Imaginei que essa fosse a inteno desde oincio.

  • No fim das contas, no vi os formulrios. Tinha muitos motivos para no fazer isso, mas o que meconvenceu de verdade foi achar que seria melhor comearmos da estaca zero quando nosconhecssemos. Alm disso, se meu pai havia se preocupado tanto com os detalhes de cadacandidata, talvez eu no quisesse fazer a mesma coisa.

    Mantive uma distncia confortvel entre mim e a Seleo... at o evento cruzar a minha porta.Enquanto circulava pelo terceiro andar na sexta de manh, ouvi o riso musical de duas garotas na

    escadaria principal do segundo andar. Uma voz empolgada exclamou: Voc acredita que estamos aqui? e ambas riram.Soltei um palavro e corri para o cmodo mais prximo. Haviam me dito algumas vezes que eu

    conheceria todas as garotas de uma s vez, no sbado. No explicaram a importncia disso, mas eususpeitava que tinha a ver com a maquiagem. Se uma Cinco pusesse os ps no palcio sem qualquerajuda... bom, eu acho que ela no teria grandes chances. Talvez isso deixasse as coisas mais justas. Sadiscretamente do meu esconderijo e voltei para o quarto, tentando esquecer aquele episdio de umavez.

    Mas, de novo, enquanto eu caminhava para deixar algo no escritrio do meu pai, ouvi a vozoscilante de uma garota que eu no conhecia, causando um sobressalto por todo o meu corpo.Voltei para o quarto e limpei meticulosamente todas as lentes da minha cmera, e organizei todo omeu equipamento. Pretendia me manter ocupado at o cair da noite, quando eu sabia que as garotasestariam em seus dormitrios e eu poderia circular livremente.

    Essa era uma das minhas caractersticas que dava nos nervos do meu pai. Ele dizia que eu odeixava nervoso por andar tanto pra l e pra c. O que eu poderia fazer? Eu penso melhor de p.

    O palcio estava quieto. Se eu j no soubesse, no poderia adivinhar que tnhamos tamanhacompanhia. Talvez as coisas no parecessem to diferentes se eu no focasse nas mudanas.

    Enquanto caminhava at o m do corredor, fui interrompido por vrios e se? que meatormentavam. E se eu no conseguisse amar nenhuma das garotas? E se nenhuma delas me amasse?E se minha alma gmea no tivesse sido escolhida para participar, em favor de uma garota mais tilde sua provncia?

    Sentei nos degraus da escada e apoiei a cabea sobre as mos. Como eu poderia fazer isso? Comopoderia encontrar algum que eu amasse, que me amasse, que meus pais aprovassem e o povoadorasse? Sem contar que ela precisava ser inteligente, atraente e talentosa; precisava ser algum que

  • eu poderia apresentar a todos os presidentes e embaixadores com quem cruzssemos.Repeti a mim mesmo que devia me recompor, e pensar nos e se? positivos. E se fosse

    maravilhoso conhecer essas garotas? E se todas fossem encantadoras, divertidas e lindas? E seexatamente a garota que eu quisesse agradasse ao meu pai, superando todas as nossas expectativas? Ese meu par perfeito estivesse naquele momento deitada em sua cama, desejando o melhor para mim?

    Talvez... Talvez a Seleo pudesse se tornar tudo aquilo com que havia sonhado antes, quando elaainda no era to real. Era minha chance de encontrar uma companheira. Por muito tempo, Daphnefora a nica pessoa em que podia conar. Ningum mais entendia bem nossas vidas. Mas, agora, eupoderia compartilhar meu mundo com outra pessoa, e seria a melhor experincia de todas, porque...porque essa pessoa seria minha.

    E eu seria dela. Estaramos sempre juntos. Ela seria para mim o que minha me para meu pai:seu porto seguro, a calma que o mantm com os ps no cho. E eu poderia ser seu guia, seuprotetor.

    Levantei e comecei a descer as escadas, conante. S precisava me agarrar a esse sentimento. Dissea mim mesmo aquilo que a Seleo seria para mim: esperana.

    J estava sorrindo quando cheguei ao primeiro andar. No estava exatamente relaxado, masdeterminado.

    ... sair clamava uma voz frgil, que ecoava pelo corredor. O que estava acontecendo? Senhorita, v para seu quarto agora.Espiei o m do corredor e vi, graas luz da lua, um guarda bloqueando a passagem de uma

    garota uma garota! para o jardim. Estava muito escuro, ento eu no pude distinguir muitobem suas feies, mas seus cabelos eram vermelhos e brilhantes, como uma mistura de mel, rosas esol.

    Por favor.Sua angstia parecia crescer a cada momento e seu corpo tremia. Ento me aproximei, ainda

    tentando decidir o que fazer.O guarda disse algo que no pude compreender. Continuei a avanar, sem entender muito toda

    aquela cena. Eu... no consigo respirar ela disse antes de cair nos braos do guarda, que precisou soltar

    seu basto para segur-la. Ele parecia um pouco irritado. Deixem-na sair! ordenei assim que cheguei at eles.Danem-se as regras. Eu no podia permitir que aquela garota sofresse daquela maneira. Ela desmaiou, Alteza explicou o guarda. Queria sair.Eu sabia que os guardas estavam apenas tentando nos manter em segurana, mas o que eu podia

    fazer? Abram as portas ordenei. Mas... Alteza...

  • Encarei-o com o olhar srio. Abram as portas e deixem-na sair. Agora! Imediatamente, Alteza.O guarda ao lado da porta a destrancou. Notei ento a moa oscilar nos braos do outro guarda, na

    tentativa de se reerguer. Assim que as portas se abriram, uma lufada do vento morno e doce deAngeles nos envolveu. Quando a moa sentiu o vento em seus braos, comeou a se mexer.

    Cruzei a porta e observei-a cambalear pelo jardim. Seus ps descalos produziam sons secos aobater no cho de cascalho. Nunca havia visto uma garota de camisola antes. Embora aquela jovemem particular no estivesse muito graciosa no momento, ainda assim ela me fascinava de um modoestranho.

    Percebi que os guardas tambm a observavam e fiquei incomodado. Voltem aos seus postos disse em voz baixa.Os dois limparam a garganta e viraram-se de costas, para o corredor. Fiquem a at que eu os chame instru-os antes de avanar pelo jardim.Mal podia v-la, mas era capaz de ouvi-la. Ela arfava; dando a impresso de estar soluando. Tive

    esperana de que no fosse esse o caso. Por m, ela deixou-se cair sobre a grama, com a cabea e osbraos apoiados em um banco de pedra.

    Ela no pareceu notar minha aproximao, ento esperei ali por uns momentos at que elalevantasse o olhar. Depois de um tempo, comecei a me sentir um pouco constrangido. Imaginandoque ela ao menos gostaria de me agradecer, tomei a palavra:

    Est tudo bem, querida? Eu no sou sua querida ela replicou, lanando um olhar de raiva. As sombras ainda a

    ocultavam, mas seu cabelo brilhava ao facho de luar que escapara das nuvens.Entretanto, rosto visvel ou no, captei plenamente suas intenes com aquela frase. Onde estava a

    gratido? O que eu fiz para ofender a senhorita? Por acaso no lhe dei exatamente o que queria?Ela no respondeu. Deu-me as costas e retomou o choro. Por que as mulheres demonstravam

    tamanha propenso s lgrimas? No quis ser grosseiro, mas tive que perguntar: Com licena, querida, mas voc vai continuar chorando? No me chame assim! No sou mais querida para voc do que as outras trinta e quatro

    estranhas que voc mantm aqui nessa jaula.Sorri comigo mesmo. Uma das minhas maiores preocupaes era a de que aquelas garotas

    tentassem o tempo todo me mostrar suas virtudes, na tentativa de me impressionar. Atormentava-me a possibilidade de passar semanas conhecendo uma garota, escolh-la e, depois do casamento,descobrir uma personalidade nova e insuportvel.

    E ali estava algum que no dava a mnima para quem eu era. Ela estava me dando uma bronca!Caminhei ao seu redor enquanto pensava em suas palavras. Perguntei a mim mesmo se minha

  • mania de circular a incomodava. Se sim, ser que ela diria? Sua afirmao falsa. Todas vocs so queridas por mim.Sim, eu estava tentando me esquivar de tudo relacionado Seleo, mas isso no queria dizer que

    aquelas garotas no fossem especiais aos meus olhos. Trata-se simplesmente de descobrir quem h de ser a mais querida completei. Voc disse mesmo h de ser? perguntou ela, ctica. Receio que sim respondi com um risinho. Perdoe-me. fruto da minha educao.Ela murmurou algo ininteligvel. Perdo? ridculo! gritou.Cus, como ela era geniosa. Meu pai no devia saber muito a seu respeito. Com certeza, nenhuma

    garota com tal determinao entraria no grupo se ele soubesse. Sorte dela que fui eu e no ele a vir ajud-la. Ela j teria sido mandada para casa cinco minutos atrs.

    O que ridculo? indaguei, embora estivesse certo de que ela se referia quela situao.Nunca tinha visto algo assim.

    O concurso! Tudo! Voc nunca amou ningum na vida? assim que quer escolher sua mulher?Voc baixo a esse ponto?

    Aquilo doeu. Baixo? Sentei no banco para facilitar a conversa. Queria que aquela garota quemquer que ela fosse compreendesse o meu lado, como as coisas eram pela minha perspectiva.Tentei no me distrair com as curvas da sua cintura, quadris e pernas, ou mesmo com a aparncia deseus ps descalos.

    Entendo que possa dar essa impresso, que tudo possa ser visto como entretenimento barato disse, concordando com a cabea. Mas meu mundo muito fechado. No conheo tantasmulheres. As poucas que conheo so lhas de diplomatas, e geralmente temos pouqussimosassuntos em comum. Isso quando falamos a mesma lngua.

    Sorri lembrana dos momentos constrangedores durante os longos jantares sentado ao lado deuma jovem a quem teria que fazer sala, mas com quem no podia conversar porque os intrpretesestavam ocupados tratando dos negcios. Olhei para a garota, esperando que ela risse comigo dosmeus problemas. Como seus lbios se recusaram a se mexer, limpei a garganta e continuei:

    Sendo essas as circunstncias disse, esfregando as mos de nervosismo , nunca tive aoportunidade de me apaixonar.

    Ela pareceu se esquecer de que eu no tinha autorizao para me envolver com ningum ataquele momento. Fiquei curioso. Na esperana de no estar sozinho, articulei minha pergunta maisntima.

    E voc? Tive ela respondeu, com uma mistura de orgulho e tristeza na voz. Ento voc teve muita sorte.

  • Fixei o olhar na grama por uns instantes. Prossegui, pois no queria prolongar aquela situao quedeixava clara a minha vergonhosa falta de experincia.

    Minha me e meu pai se casaram assim e so muito felizes. Tenho esperana de alcanar afelicidade, de encontrar uma mulher que toda a Illa possa amar, algum que possa ser minhacompanheira e me ajude a receber os lderes de outras naes. Algum que seja amiga dos meusamigos e minha confidente. Estou pronto para encontrar minha esposa.

    At eu notava o desespero, a esperana e o desejo em minha voz. A dvida voltou a se insinuar. Ese ningum ali pudesse me amar?

    No, disse a mim mesmo, isto vai dar certo.Observei a garota, que sua maneira tambm parecia desesperada. Voc realmente acha que aqui uma jaula? Sim, eu acho retrucou. E acrescentou, um segundo depois: Majestade.Achei graa. Eu mesmo j pensei nisso mais de uma vez. Mas voc deve admitir que uma jaula muito

    bonita. Para voc ela emendou rapidamente. Encha sua jaula com mulheres brigando pela

    mesma coisa e veja que legal . Mas j ocorreram discusses por minha causa? Ser que vocs no percebem que sou eu que

    fao a escolha?No sabia se devia me sentir animado ou preocupado. Em todo caso, era interessante pensar nisso.

    Talvez, se eu conhecesse uma moa que me desejasse muito, acabaria desejando-a tambm. Na verdade, no bem assim. Elas brigam por duas coisas. Algumas por voc, outras pela

    coroa. E todas pensam j saber o que falar e fazer para que sua escolha seja bvia. Ah, sim. O homem ou a coroa. Receio que algumas no saibam ver a diferena comentei,

    balanando a cabea e baixando o olhar para a grama. Boa sorte com isso foi seu comentrio cmico.S que no havia nada cmico na situao. Era a conrmao de outro dos meus maiores temores.

    Mais uma vez fui vencido pela curiosidade, embora tivesse certeza de que ela mentiria. E voc, pelo que luta? Na verdade, estou aqui por engano. Engano?Como era possvel? Se ela tinha se inscrito, se fora escolhida e viera por livre e espontnea

    vontade... , mais ou menos. Bem, uma longa histria...Uma histria que eu precisaria conhecer mais cedo ou mais tarde. ... Estou aqui. E no estou lutando. Meu plano aproveitar a comida at voc me chutar

    completou.

  • No pude evitar. Explodi em gargalhadas. Aquela garota era a anttese de tudo o que esperava. Atser chutada? Estava ali pela comida? Por incrvel que parea, eu estava gostando daquilo tudo.Talvez as coisas fossem simples como minha me dissera; eu conheceria as candidatas aos poucos,como tinha sido com Daphne.

    O que voc ? perguntei. Ela no devia ser mais do que Quatro, visto seu entusiasmo pelacomida.

    Como? ela perguntou, sem entender o que eu quis dizer.No quis insult-la, de modo que comecei pelo alto. Dois? Trs? Sou Cinco.Ento essa era uma das Cinco. Sabia que meu pai no caria muito feliz em saber da minha

    gentileza com ela, mas foi ele quem a deixou entrar, afinal. Ah, sim. Ento a comida deve ser um bom motivo para ficar.Soltei mais uma risada e tentei descobrir o nome daquela jovem to divertida. Sinto muito, no consigo ler seu broche no escuro.Ela inclinou levemente a cabea. Para o caso de ela perguntar por que eu no sabia seu nome

    ainda, comecei a pensar o que soaria melhor: uma mentira dizer que tinha muito trabalho e nohavia conseguido memorizar todos os nomes ou a verdade dizer que estava to nervoso comtoda a situao que adiei aquilo at o ltimo segundo.

    Que, por acaso, tinha acabado de passar. Meu nome America. Muito bem, perfeito disse, com um sorriso. Se dependesse do nome, no acreditava que ela

    pudesse servir. Era o nome do antigo pas, uma nao teimosa e problemtica que transformamos emalgo mais forte. Mas, pensando bem, talvez tenha sido esse o motivo de meu pai deix-la entrar: paramostrar que no tinha medo ou preocupaes com nosso passado, mesmo que os rebeldes seapegassem tolamente a ele.

    Para mim, a palavra tinha um qu musical. America, minha querida, espero muito que encontre algo nesta jaula por que valha a pena lutar.

    Depois de tudo isso, no posso deixar de imaginar como seriam as coisas se voc realmente seesforasse.

    Levantei do banco, ajoelhei-me a seu lado e tomei sua mo. Felizmente, seu olhar estava xo emnossos dedos, no em meus olhos. Se ela visse meu rosto, notaria como quei boquiaberto quandoeu enm a vi pela primeira vez. As nuvens se abriram no momento exato, e a lua iluminoucompletamente seu rosto. E como se no bastasse ela ser capaz de me enfrentar e no ter medo deser ela mesma, America tinha uma beleza impressionante.

    Sob seus clios grossos surgiam olhos azuis como o gelo, uma cor fria para balancear as chamas deseus cabelos. Suas bochechas eram macias e estavam um pouco coradas por causa do choro. Seus

  • lbios, suaves e rosados, abriram-se um pouco enquanto ela inspecionava nossas mos.Senti uma palpitao estranha no meu peito, como a luz de uma lareira ou o calor da tarde.

    Aquela sensao permaneceu alguns momentos comigo, brincando com as batidas de meu corao.Critiquei a mim mesmo mentalmente. Que previsvel era eu car to encantado pela primeira

    garota pela qual tinha autorizao de nutrir algum sentimento. Era tolice, rpido demais para serverdade. Expulsei o calor de mim. Ao mesmo tempo, porm, no queria dispens-la. O tempo diriase ela era digna de estar no preo. Evidentemente, America era algum que eu precisaria conquistar,e isso levaria tempo. Mas eu comearia naquele exato momento.

    Se isso a deixar feliz, posso informar aos funcionrios que voc prefere car no jardim. Assim,voc pode vir aqui noite sem ser incomodada pelos guardas. No entanto, acho que seria bom sehouvesse sempre um deles por perto.

    Eu no precisava importun-la revelando a frequncia dos ataques rebeldes. Se ela mantivesse umguarda por perto, ficaria bem.

    No... no sei se quero algo que venha de voc ela soltou a mo gentilmente e cravou osolhos na grama.

    Como quiser.Fiquei um pouco decepcionado. Que coisa horrvel eu teria feito para que ela me rejeitasse

    daquele jeito? Talvez aquela garota fosse inconquistvel. Voc vai voltar para dentro daqui a pouco? Sim sussurrou. Ento vou deix-la com seus pensamentos. Haver um guarda perto da porta esperando.Queria que ela tivesse o tempo que fosse necessrio, mas temia que um ataque inesperado ferisse

    alguma das meninas mesmo aquela, que parecia nutrir uma verdadeira averso a mim. Obrigada, errr... Alteza.Sua voz deixava entrever certa vulnerabilidade, e ento percebi que o problema talvez no fosse

    eu. Talvez ela s estivesse sobrecarregada com todos os acontecimentos a seu redor. Como culp-lapor isso? Decidi me expor outra vez rejeio.

    Querida America, voc poderia me fazer um favor? perguntei, tomando novamente suamo. Ela me lanou um olhar ctico. Algo em seus olhos me dizia que ela procurava a verdade emmim, e que no desistiria at conseguir.

    Talvez.Seu tom me deu esperanas e abri um sorriso. No conte isso s outras. Tecnicamente, no devo conhec-las at amanh. No quero irritar

    ningum.Funguei um pouco, e logo me arrependi. s vezes, minha risada era a pior. Embora no possa dizer que seus gritos tenham qualquer semelhana com um encontro

    romntico, no acha? conclu.

  • Enfim America sorriu para mim, brincalhona. Nem de longe! disse, para depois respirar fundo e afirmar: No contarei. Obrigado.Deveria ter me contentado com seu sorriso e ido embora. Mas algo em mim talvez minha

    criao, sempre voltada a avanar, a conquistar me forava a dar um passo a mais. Ergui sua moat meus lbios e beijei-a.

    Boa noite.Parti antes que ela tivesse chance de me criticar ou que eu fizesse qualquer burrice.Quis olhar para trs e ver sua reao, mas seria incapaz de suportar se me deparasse com qualquer

    indcio de desgosto. Se meu pai pudesse ler meus pensamentos naquele momento, caria bastanteinsatisfeito. quela altura, depois de tudo, eu precisava ser mais duro.

    Ao chegar porta, dirigi-me aos guardas: Ela precisa de um tempo sozinha. Se no entrar em meia hora, peam-lhe delicadamente para

    entrar.Olhei ambos nos olhos para ter certeza de que haviam captado a mensagem. Tambm seria conveniente que vocs evitassem falar disso com as pessoas. Entendido?Os dois zeram que sim com a cabea, e eu segui para a escadaria principal. Enquanto caminhava,

    ouvi um dos guardas cochichar: O que significa conveniente?Soltei um suspiro e continuei a subir as escadas. Quando cheguei ao terceiro andar, praticamente

    corri at meu quarto. Eu dispunha de uma imensa sacada, que dava para os jardins. No arrisquei saire ser pego no flagra, espionando, mas fui at as portas de vidro e puxei a cortina.

    America permaneceu l por cerca de dez minutos, e foi acalmando-se aos poucos. Observei-asecar o rosto, limpar a camisola e entrar. Considerei a possibilidade de dar um pulo at o corredorpara que nos encontrssemos outra vez sem querer querendo. Mas pensei melhor. Ela estavanervosa e provavelmente fora de si. Se eu queria ter ao menos uma chance, teria que esperar pelodia seguinte.

    O dia seguinte... quando trinta e quatro outras garotas seriam postas diante de mim. Ah, como fuiburro de esperar tanto. Fui at a minha mesa e desenterrei a pilha de chas para estudar as fotosdelas. No sei quem teve a ideia de pr os nomes no verso, era completamente intil. Peguei umacaneta e transcrevi os nomes na frente. Hannah, Anna... Como seria capaz de decorar tudo aquilo?Jenna, Janelle, Camille... Sinceramente? Seria um desastre. Precisava aprender pelo menos algunsnomes. De resto, confiaria nos broches at memorizar todos.

    Porque eu ia conseguir fazer isso. E direito. Era minha obrigao. Precisava provar que podia serum lder e tomar decises. Do contrrio, quem conaria em mim como futuro rei? Como o prpriorei confiaria em mim?

    Detive-me nos destaques. Celeste... Lembrei-me do nome. Um dos meus conselheiros mencionara

  • que ela era modelo e at chegou a me mostrar uma foto dela de mai nas pginas reluzentes de umarevista. Tratava-se provavelmente da candidata mais sexy, e eu certamente no a julgaria mal porcausa disso. Lyssa saltou aos meus olhos, mas no de uma maneira positiva. A no ser que ela tivesseuma personalidade campe, no estava no preo. Talvez fosse uma atitude medocre da minha parte,mas era to ruim assim querer isso? Ah, Elise. Pelos traos exticos de seus olhos, ela devia ser agarota que meu pai disse ter familiares na Nova sia. S por isso j era forte na disputa.

    America.Detive-me sobre sua foto. Seu sorriso era absolutamente radiante.O que lhe fez abrir um sorriso to luminoso naquele dia? Eu? Ser que os sentimentos que nutria

    por mim naquele dia fossem quais fossem j tinham passado? Ela no pareceu muito feliz emme conhecer. Mas... at que sorriu ao final.

    Recomearia com ela pela manh. Eu no sabia bem o que buscava, mas muito do que me pareciacerto estava presente naquela foto. Talvez sua fora de vontade ou sua honestidade; talvez a pelesuave das costas de sua mo ou seu perfume... O que eu sabia com certeza que queria que elagostasse de mim.

    Como exatamente conseguiria isso?

  • Segurei a gravata azul. No. A creme? No. Ser que todos os dias eu teria esse trabalho para mevestir?

    Queria passar uma boa primeira impresso s garotas e uma boa segunda impresso a uma delas, e aparentemente estava convencido de que tudo dependia de escolher a gravata certa. Deixeiescapar um suspiro. Aquelas garotas j estavam me transformando em um poo de estupidez.

    Tentei seguir o conselho da minha me e ser eu mesmo, com os defeitos e tudo. Escolhi aprimeira gravata que tinha pego, terminei de me vestir e ajeitei o cabelo para trs.

    Sa do quarto e dei com meus pais cochichando junto escadaria. Considerei a possibilidade de irpela escada dos fundos, para no os interromper, mas minha me fez um gesto para que meaproximasse.

    Assim que cheguei at eles, minha me comeou a esconder as mangas da minha camisa e mevirou de costas para ajeitar a parte de trs do palet.

    Lembre-se de que elas esto com os nervos or da pele ela disse. O melhor a fazer deix-las se sentindo em casa.

    Aja como um prncipe insistiu meu pai. Lembre-se de quem voc . No h pressa para decidir minha me comentou, e tocou minha gravata. Bela escolha. Mas no mantenha aqui ningum que no queira. Quanto mais rpido chegarmos s verdadeiras

    candidatas, melhor. Seja educado. Seja confiante. Apenas converse.Meu pai bufou. Isso no uma brincadeira. Lembre-se disso.Minha me se distanciou um pouco para me olhar de cima a baixo. Voc vai ser timo.Em seguida, ela me puxou para si e me abraou. Depois se afastou de novo para ajeitar minha

    roupa. Muito bem, filho. V em frente meu pai disse, apontando para as escadas. Estaremos sua espera na sala de jantar.Senti uma tontura.

  • Ah, sim. Obrigado.Fiz uma breve pausa para tomar flego. Sabia que eles queriam ajudar, mas conseguiram

    desmantelar toda a tranquilidade que eu havia construdo. Repetia a mim mesmo que se tratavaapenas de um ol, e que as garotas tinham as mesmas expectativas que eu.

    E ento me lembrei de que encontraria America mais uma vez. No mnimo, seria divertido. Comisso em mente, avancei escada abaixo rumo ao primeiro andar e ao Grande Salo. Respirei fundo ebati porta antes de abri-la.

    L, atrs dos guardas, o bando de garotas me esperava. Os ashes das cmeras espocavam medidaque cada reao minha e delas era captada. Sorri para seus rostos esperanosos. Fiquei mais calmo sde notar que todas pareciam contentes por estar ali.

    Majestade.Olhei para trs e me deparei com Silvia, que terminava sua reverncia. Quase me esquecera de

    que ela estaria presente para instruir as garotas sobre o procedimento, como zera comigo quandoeu era mais jovem.

    Ol, Silvia. Se no se importa, gostaria de me apresentar a essas jovens. Absolutamente ela disse quase sem flego, antes de fazer uma nova reverncia. s vezes ela

    era to dramtica.Inspecionei os rostos em busca do fogo daqueles cabelos. Demorou um pouco, por causa da

    distrao que o brilho de praticamente todos os pulsos, pescoos e orelhas do salo causava. Anal aencontrei, em uma das leiras mais ao fundo; ela me olhava de um jeito diferente das outras. Sorri,mas em vez de devolver o gesto ela pareceu confusa.

    Senhoritas comecei , se no lhes incomodar, chamarei cada uma de vocs para meconhecer individualmente. Estou certo de que esto com fome, assim como eu, de modo que notomarei muito do seu tempo. Por favor, perdoem-me se demorar para gravar seus nomes. que hmuitas de vocs.

    Algumas riram. Fiquei feliz por perceber que era capaz de identicar mais garotas do que tinhaimaginado. Caminhei em direo jovem na ponta da primeira leira, e estendi a mo. Ela a tomouentusiasmada, e ambos fomos para os sofs que eu sabia que estavam l exatamente para aquele fim.

    Infelizmente, Lyssa no era mais atraente pessoalmente do que na foto. Ainda assim, ela merecia obenefcio da dvida, ento conversamos mesmo assim.

    Bom dia, Lyssa. Bom dia, Alteza.Ela abriu um sorriso to largo que fiquei com a impresso de que suas bochechas deviam doer. O que est achando do palcio? lindo. Nunca vi algo to lindo. Aqui muito lindo. Poxa, j tinha dito isso, n?Respondi com um sorriso. Est tudo bem. Fico feliz por voc estar to encantada. O que voc faz em casa?

  • Sou Cinco. Toda a minha famlia trabalha exclusivamente com esculturas. H esttuas incrveisaqui. Muito lindas.

    Tentei ngir interesse, mas ela no me empolgava nem um pouco. Ainda assim, no podia abrirmo de uma delas sem um bom motivo.

    Obrigado. Hum, quantos irmos voc tem?Aps alguns minutos de conversa em que ela usou a palavra lindo no menos do que doze vezes,

    sabia que no havia mais nada que eu queria saber sobre aquela menina.Era o momento de seguir em frente, mas sabia que seria crueldade mant-la ali sabendo que no

    havia chance alguma para ns. Decidi que comearia a fazer os cortes j no salo. Seria mais justocom as garotas. E talvez impressionasse o meu pai. Anal, ele queria que eu zesse algumas escolhasde verdade na vida.

    Lyssa, muito obrigado por seu tempo. Assim que eu terminar de falar com todas, voc poderiaficar um pouco mais para conversarmos de novo?

    Ela corou. Com certeza.Levantamos. Eu me sentia pssimo por ela ter entendido errado meu pedido. Poderia chamar a prxima moa, por favor? pedi.Ela fez que sim com a cabea e inclinou o corpo em uma reverncia, para depois chamar a moa

    ao seu lado. Reconheci de imediato que se tratava de Celeste Newsome. Um homem precisava sermuito tapado para esquecer aquele rosto.

    Bom dia, senhorita Celeste. Bom dia, Alteza ela disse, fazendo uma reverncia.Sua voz era doce, e logo me dei conta de que muitas daquelas garotas podiam me deixar fascinado.

    Talvez aquela preocupao de no amar nenhuma delas no fosse o verdadeiro problema. Talvez euficaria apaixonado por todas elas e seria incapaz de escolher.

    Apontei-lhe o assento frente do meu. Parece que voc modelo. Sim ela respondeu animada, radiante por ver que eu j sabia algo sobre ela.

    Principalmente de roupas. Dizem que tenho um bom corpo para isso.Naturalmente, essas palavras me levaram a conferir o tal corpo. No havia como negar que era

    incrvel. Gosta do seu trabalho? Ah, sim. fantstico como a fotograa consegue capturar uma frao de segundo de algo

    maravilhoso.Fiquei animado. Com certeza. No sei se voc sabe, mas eu sou um grande f de fotografia. mesmo? Precisamos fazer uma sesso de fotos um dia desses.

  • Seria timo.Ah, as coisas estavam indo melhor do que o esperado. Em dez minutos eu j havia eliminado uma

    candidata absolutamente sem chances, e encontrado outra com um interesse comum.Poderia ter continuado com Celeste por mais uma hora, mas se quisssemos comer, eu realmente

    precisava me apressar. Minha querida, sinto muito interromper nossa conversa, mas preciso conhecer todas esta manh

    justifiquei-me. Claro.Ela levantou-se e prosseguiu: Estou ansiosa para terminar nossa conversa. Espero que em breve.O jeito que ela me olhou... No sabia explicar. Fiquei vermelho na hora, de modo que precisei

    abaixar um pouco a cabea para esconder a cor das minhas bochechas. Tive que respirar fundoalgumas vezes para me concentrar na prxima garota.

    Bariel, Emmica, Tiny e tantas outras passaram batidas. At o momento, a maioria tinha semostrado agradvel e bem portada. S que eu esperava muito mais que isso.

    Foram necessrias mais cinco garotas at que algo realmente interessante acontecesse. Quando deium passo para cumprimentar a morena esbelta que vinha na minha direo, ela estendeu a mo.

    Ol, meu nome Kriss.Olhei para sua mo aberta e estava a ponto de apert-la quando ela recuou. Ah, no! Era para eu ter feito uma reverncia o que ela fez, balanando a cabea

    inconformada enquanto levantava.Eu ri. Me sinto to idiota. Fui capaz de errar a coisa mais bsica.Seu sorriso ofuscou a gafe, e devo reconhecer que era bem charmoso. No se preocupe, minha querida assegurei, enquanto indicava seu assento. J zeram

    muito pior. Mesmo? sussurrou, empolgada com a notcia. No darei detalhes, mas sim. Pelo menos voc tentou ser educada.Seus olhos se arregalavam medida que ela inspecionava as outras moas, imaginando quem teria

    sido grossa comigo. Fiquei feliz por ter optado pela discrio, j que algum me chamara de baixona noite anterior, e ningum poderia saber disso.

    Ento, Kriss, me conte sobre sua famlia.Ela deu de ombros. Normal, acho. Vivo com minha me e meu pai, e ambos so professores universitrios. s

    vezes penso em lecionar tambm, embora erte com a literatura. Sou lha nica, condio que sagora comeo a aceitar melhor. Por anos implorei por um irmo aos meus pais. Eles nuncaquiseram.

  • Sorri. Era difcil ser sozinho. Tenho certeza de que queriam concentrar todo o amor em voc.Ela achou graa. Foi isso que os seus pais lhe disseram?Congelei. Ningum ainda havia feito uma pergunta sobre mim. Bom, no exatamente. Mas entendo sua sensao contornei.Estava a ponto de retomar as questes que havia preparado quando ela foi mais rpida. Como est se sentindo hoje? Tudo bem. Um pouco sobrecarregado deixei escapar, talvez com honestidade demais. Pelo menos no precisa usar vestidos ela comentou. Mas pense em como seria divertido se eu os usasse.Ela soltou uma gargalhada e eu me juntei a ela. Imaginei Kriss ao lado de Celeste, comparando-as.

    Kriss tinha um ar muito positivo. Terminei nossa entrevista sem formar uma ideia completa dela,uma vez que ela sempre me punha no foco da conversa. Mas notei que era uma pessoa boa, namelhor acepo da palavra.

    Passou-se quase uma hora at chegar a vez de America. No intervalo entre as primeiras garotas eela, eu j havia conhecido trs candidatas bem fortes Celeste e Kriss entre elas, as quais eu sabiaque seriam as preferidas do pblico. Porm, a garota logo antes de America estava to longe deservir para mim que acabou por apagar essas boas impresses. Quando America se levantou e veioem minha direo, era a nica pessoa que eu tinha em mente.

    Algo em seus olhos revelava certa malcia, proposital ou no. Pensei no seu comportamento nanoite anterior e percebi que ela era uma revoluo ambulante.

    America, certo? brinquei quando ela se aproximou. Sim, sou eu. E sei que j ouvi seu nome antes, mas poderia refrescar minha memria?Achei graa e a convidei para sentar. Inclinei-me para ela e sussurrei: Voc dormiu bem, minha querida?Seu olhar me dizia que eu estava brincando com fogo, mas seus lbios traziam um sorriso. Ainda no sou sua querida. Mas dormi. Assim que me acalmei, dormi muito bem. Minhas

    criadas tiveram que me derrubar da cama. Estava confortvel demais ela confessou essa ltimaparte como se fosse um segredo.

    Fico feliz em saber que voc estava confortvel, minha... ah, eu precisava romper com essamania ao lidar com ela ... America.

    Deu para notar que ela gostou do meu esforo. Obrigada.O sorriso ento sumiu do seu rosto e ela se entregou aos seus prprios pensamentos, enquanto

    mordia o lbio e dava voltas com as palavras em sua cabea. Mil desculpas por ter sido grossa ela disse anal, desviando os olhos dos meus. Enquanto

  • eu tentava dormir, tomei conscincia de que, embora a situao me parea estranha, no possoculp-lo. No sua culpa que eu tenha me metido em tudo isso, e essa histria de Seleo no ideia sua.

    Que bom que algum percebeu. Alm disso continuou , voc me tratou com simpatia naquele momento de dor, enquanto

    eu fui, bem, pssima.Ela balanou a cabea para si mesma e eu senti meu corao acelerar. Poderia ter me expulsado ontem mesmo, mas no o fez. Obrigada concluiu.Sua gratido me comoveu, porque eu sabia que ela estava muito longe de ser mentirosa. E isso me

    levou a um tema que eu teria que abordar se quisesse fazer algum progresso. Inclinei-me ainda maisem sua direo, apoiei os cotovelos sobre os joelhos, em uma postura mais vontade e mais intensada que adotara com as outras.

    America, voc tem sido muito sincera comigo at agora. uma qualidade que admiroprofundamente. Vou pedir-lhe que responda uma pergunta, se no for um incmodo.

    Ela aquiesceu com a cabea, embora hesitasse. Voc diz que est aqui por engano. Isso me faz supor que no quer car. H alguma

    possibilidade de nutrir qualquer tipo de... sentimento amoroso por mim?A sensao foi de que ela brincou com as ondas em seu vestido por horas antes de responder.

    Aguentei aquilo convencido de que ela no queria parecer afoita demais. Vossa Majestade muito gentil Sim. e atraente... Sim! e atencioso SIM!Eu sorria feito um idiota, isso era certo, de to feliz que estava por saber que ela havia visto algo

    positivo em mim depois da noite passada.Ela continuou em um tom de voz mais baixo: Mas tenho motivos muito pertinentes para achar que no.Pela primeira vez, agradeci meu pai por ter me treinado a no perder a compostura. Soei bastante

    razovel ao perguntar: Poderia explic-los?Ela hesitou novamente. Acho... acho que meu corao est em outro lugar.E as lgrimas despontaram em seus olhos. Por favor, no chore! implorei em voz baixa. Nunca sei o que fazer quando as mulheres

    choram!Ela riu da minha falta de jeito e limpou o canto dos olhos. Fiquei feliz em v-la assim, aliviada e

    autntica. claro que havia algum sua espera. Uma garota to real fatalmente seria logoarrebatada por um jovem esperto. Eu no conseguia imaginar como ela tinha vindo parar no palcio,mas tampouco aquilo era problema meu.

    Tudo o que sabia era que, mesmo se ela no fosse se tornar minha, gostaria de deix-la com um

  • sorriso no rosto. Voc quer que eu lhe deixe voltar para seu amado hoje? propus.Ela abriu um sorriso amarelo. Esse o problema... No quero ir para casa. Mesmo?Recostei-me na poltrona e passei a mo no cabelo enquanto ela ria mais uma vez de mim.Se America no queria estar comigo nem com o outro, ento o que queria? Posso ser totalmente sincera com voc?Por favor. Fiz que sim. Preciso car aqui. Minha famlia precisa de mim aqui. Mesmo que me deixasse car apenas

    uma semana, j seria uma ddiva para eles.Ento ela no lutava pela coroa, mas eu ainda possua algo que lhe interessava. Voc quer dizer que precisa do dinheiro? Sim.Pelo menos ela teve a decncia de se envergonhar. Tambm h... certas pessoas na minha provncia prosseguiu com um olhar cheio de

    significado que eu no aguentaria ver no momento.Precisei de um segundo para me dar conta do sentido daquilo tudo. Os dois no estavam mais

    juntos. Ela ainda gostava dele, mas ele no lhe pertencia mais. Assenti com a cabea diante dasituao. Se eu pudesse escapar das presses do meu mundo por uma semana, certamente faria omesmo.

    Se me permitir ficar, mesmo que por pouco tempo, podemos fazer um trato.Eis uma coisa interessante! Um trato?O que diabos ela poderia me dar em troca?Ela mordeu os lbios. Se me deixar car... ela fez uma pausa e respirou. Tudo bem, veja s. Voc o prncipe.

    Fica ocupado o dia inteiro ajudando a administrar o pas e tal, e agora tem que encontrar tempo paraescolher uma entre trinta e cinco, ou melhor, trinta e quatro garotas. pedir muito, no acha?

    Embora soasse como uma piada, ela acertou em cheio as minhas preocupaes, com uma precisoabsoluta. Concordei com suas palavras.

    No acha que seria muito melhor se tivesse algum aqui dentro? Algum para ajudar? Tipo...uma amiga?

    Uma amiga? Sim. Se me deixar car, posso ajudar. Serei sua amiga. No precisa se incomodar em correr

    atrs de mim. J sabe que no sinto nada por voc. Mas pode falar comigo a qualquer momento etentarei ajudar. Ontem noite voc disse que estava em busca de uma condente. Bem, posso ser

  • essa pessoa enquanto no encontrar a definitiva. Se quiser...Se eu quiser... Eu no parecia ter muita opo, mas ao menos poderia ajudar aquela garota. E talvez

    desfrutar um pouco mais de sua companhia. E, claro, meu pai caria pasmo se soubesse que eu usavauma das garotas para tal finalidade... o que me fez gostar muito, mas muito mais daquela proposta.

    Conheci quase todas as garotas deste salo e no penso em outra que seria uma amiga melhorque a senhorita. Ser um prazer deix-la ficar.

    Notei a tenso se desfazer em seu corpo. Apesar de saber que seu carinho estava fora de meualcance, no podia deixar de tentar.

    Voc acha que eu ainda posso cham-la de minha querida? perguntei em tom deprovocao.

    Sem chance cochichou.No sei se ela estava falando srio ou no, mas tomei suas palavras como um desafio. Continuarei tentando. No costumo desistir.A expresso em seu rosto parecia quase irritada, mas no era bem isso. Voc chamou todas de minha querida? perguntou apontando para o resto das garotas com

    a cabea. Sim, e todas parecem ter gostado respondi com ar alegre e orgulhoso.O desafio ainda estava presente em seu sorriso quando ela falou: exatamente por isso que eu no gostei.America se levantou, pondo m entrevista. No pude deixar de car impressionado com ela

    mais uma vez. Nenhuma das outras quis acabar logo com a conversa. Inclinei a cabea, gesto que elaretribuiu com uma reverncia malfeita antes de seguir seu caminho.

    Sorria comigo mesmo pensando em America. Comparava-a com as outras. Ela era linda, ainda queum pouco rstica. Era uma beleza incomum, e pude reparar que ela no tinha conscincia disso. Elano parecia ter nenhum ar de realeza, embora talvez houvesse algo de nobre em seu orgulho. E,claro, ela no nutria qualquer desejo por mim. Ainda assim, no conseguia me livrar do impulso deir atrs dela.

    E foi assim que a Seleo me prestou seu primeiro favor: com America no palcio, eu teria achance de tentar.

  • No perca o lanamento de A elite no dia 23/04!

  • A atmosfera de Angeles estava tranquila. Permaneci imvel por uns instantes, ouvindo o som darespirao de Maxon. Estava cada vez mais difcil encontr-lo em um momento calmo e feliz deverdade. Aproveitei aquela ocasio ao mximo, agradecendo por ele estar, aparentemente, em suamelhor forma enquanto estvamos a ss.

    Desde que a Seleo conta com s seis garotas, ele tem estado mais ansioso que no comeo,quando as trinta e cinco chegaram de uma vez. Imaginei que talvez ele tivesse pensado que teriamais tempo para fazer suas escolhas. E devo reconhecer, apesar de me sentir culpada, que era porminha causa que ele tinha esse desejo.

    Prncipe Maxon, herdeiro do trono de Illa, gostava de mim. Ele me falou na semana passada quese eu dissesse, sem nenhuma ressalva, que me importava com ele assim como ele se preocupavacomigo, toda essa histria de competio estaria acabada. Eu at considerava essa ideia, cavaimaginando como seria pertencer a Maxon.

    Mas o problema : Maxon no me pertencia, para comeo de conversa. Havia mais outras cincomeninas comigo meninas com quem ele saa e cochichava coisas , e eu no sabia o que pensardisso. E tambm havia o fato de que aceitar Maxon signicava ter que aceitar uma coroa, uma ideiaque eu tendia a ignorar, at por no saber ao certo como isso me afetaria...

    E, claro, havia Aspen.Tecnicamente, ele no era mais o meu namorado terminou comigo antes de o meu nome ser

    sorteado para a Seleo , mas quando surgiu no palcio como um dos guardas, todos ossentimentos que eu tinha tentado deixar para trs encheram meu corao. Aspen era meu primeiroamor. Bastava olhar para ele para saber... que eu era dele.

    Maxon no sabia que Aspen estava no palcio, mas sabia bem que havia algum da minhaprovncia que eu desejava esquecer, e estava, muito gentilmente, dando-me tempo para superar asituao enquanto tentava encontrar outra pessoa com quem ele pudesse ser feliz, caso eu nuncafosse capaz de am-lo.

    Conforme ele mexia a cabea devagar, respirando sobre meus cabelos, eu pensava: como seria seeu simplesmente amasse Maxon?

    Sabe quando foi a ltima vez que olhei de verdade para as estrelas? perguntou ele.Estvamos deitados sobre uma toalha no jardim. Aconcheguei-me mais para o lado dele, tentando

    me manter aquecida naquela noite fria de Angeles.

  • No fao ideia. Um tutor me fez estudar astronomia h alguns anos. Quando vemos as estrelas mais de perto,

    percebemos que na verdade elas tm cores diferentes. Calma l. A ltima vez que voc olhou para as estrelas foi para estud-las? E a diverso?Maxon riu. Diverso. Vou ter que esprem-la entre as votaes do oramento e as reunies do comit de

    infraestrutura. Ah, e a definio das estratgias militares, no que, alis, eu sou pssimo. E no que mais voc pssimo? perguntei, passando a mo em sua camisa engomada.Meu carinho encorajou Maxon a mudar de posio e fazer pequenos crculos em meu ombro. Por que quer saber isso? perguntou, fingindo irritao. Porque ainda sei to pouco sobre voc. E voc parece ser perfeito em tudo. bom ter uma

    prova do contrrio.Ele se apoiou sobre um cotovelo e fixou os olhos no meu rosto: Voc sabe que no sou. Mas est quase l respondi.Nossos corpos se tocavam de leve. Joelhos, braos, dedos.Maxon balanou a cabea com um sorriso nos lbios. O.k., o.k. No consigo planejar guerras. Sou pssimo nisso. E acho que seria um cozinheiro

    horrvel. Nunca cozinhei, logo... Nunca? Talvez voc j tenha notado a multido de pessoas que trabalham para manter a sua barriga

    cheia de bolos e doces... Por acaso, so eles que me alimentam tambm.Achei graa. Em casa, eu ajudava a preparar praticamente todas as refeies. Mais pedi. No que mais voc ruim?Ele me abraou forte, e pude ver um segredo brilhar em seus olhos castanhos. Descobri uma coisa recentemente... Conte. Descobri que sou um completo fracasso em ficar longe de voc. Um problema muito grave.Sorri. Voc j tentou?Maxon fingiu pensar. Bem, no. E no espere que eu v comear.Rimos baixo, abraados. Era to fcil, nesses momentos, me imaginar assim pelo resto da vida.O farfalhar das folhas e da grama anunciava a chegada de algum. Embora nossa situao fosse

    completamente aceitvel, quei um pouco encabulada e me sentei rapidamente. Maxon fez omesmo assim que o guarda contornou a cerca para chegar at ns.

    Alteza disse, inclinando a cabea. Perdo pela intromisso, senhor, mas imprudente

  • permanecer do lado de fora por muito tempo a essa hora da noite. Os rebeldes podem... Compreendo concordou Maxon, com um suspiro. J entraremos.O guarda nos deixou, e Maxon virou-se para mim. Outro defeito meu: estou perdendo a pacincia com os rebeldes. Estou cansado de lidar com

    eles.Maxon se levantou e me ofereceu a mo. Segurei a mo dele e reparei na frustrao em seus

    olhos. Passamos por dois ataques de rebeldes desde o comeo da Seleo: um dos nortistas, que eramapenas baderneiros, e outro dos sulistas, que eram assassinos. Mesmo com minha experinciamnima, eu podia compreender seu cansao.

    Maxon recolheu a toalha e comeou a sacudi-la. Era claro que ele no estava feliz com aquele mantecipado da noite.

    Ei eu disse, fazendo-o olhar em meus olhos. Eu me diverti.Ele concordou com a cabea. srio continuei, me aproximando. Ele segurou a toalha com uma das mos e passou o

    brao livre em volta da minha cintura. Devamos fazer isso outras vezes. Voc podia me dizerquais so as cores de cada estrela, porque eu realmente no consigo ver diferena de uma para outra.

    Maxon sorriu, triste. Gostaria que as coisas fossem mais fceis s vezes. Normais.Virei para ele e o abracei. Maxon soltou a toalha e retribuiu o gesto. Odeio ter que lhe revelar isso, Alteza, mas mesmo sem os guardas voc est bem longe de ser

    normal.Sua expresso ficou mais relaxada, mas ainda sria. Voc iria gostar mais de mim se eu fosse normal falou. Sei que difcil para voc acreditar, mas eu realmente gosto de voc do jeito que voc . S

    preciso de mais... Tempo. Eu sei. E estou pronto para dar o tempo necessrio a voc. S gostaria de ter certeza

    de que voc vai mesmo querer estar ao meu lado quando esse tempo acabar.Desviei o olhar. Aquilo eu no podia prometer. Toda hora, eu olhava para o meu corao e

    comparava Maxon e Aspen, mas nenhum deles se sobressaa. A no ser, talvez, quando eu estavasozinha com um deles. Neste exato momento, por exemplo, eu estava tentada a prometer a Maxonque ficaria a seu lado no final.

    Mas eu no podia. Maxon sussurrei, aps notar que ele estava se sentindo rejeitado por eu no ter respondido.

    No posso dizer isso. Mas o que posso dizer que quero estar com voc. Quero saber se hpossibilidade de... de... gaguejei, sem saber ao certo como me expressar.

    Ns? Maxon sugeriu.

  • Sorri, feliz por ver como tinha sido fcil para ele me entender. Sim prossegui. Quero saber se h a possibilidade de existir um ns.Ele ajeitou meus cabelos para trs dos ombros. Penso que as chances so bem altas afirmou, sem rodeios. Tambm penso. S... tempo, tudo bem?Maxon fez que sim com a cabea. Parecia mais feliz. Era assim que eu queria terminar nossa noite,

    com esperana. Bem, talvez com algo mais. Mordi os lbios e me virei para ele com olhos desejosos.Sem hesitar nem um segundo, ele se inclinou e me beijou. Foi um beijo terno e suave, que me

    deixou com a sensao de ser adorada, e com vontade de outro. Eu poderia ter cado ali por horas,s para ver se conseguia aplacar aquela sensao, mas Maxon recuou cedo demais.

    Vamos disse ele em tom de brincadeira, enquanto me puxava para o palcio. Melhorentrar antes de os guardas virem atrs de ns com cavalos e lanas.

    Assim que Maxon me deixou nas escadas, o cansao tomou conta de mim. Eu praticamente mearrastava at o segundo andar e ao canto onde estava meu quarto quando, de repente, queitotalmente desperta de novo.

    Ah! disse Aspen, tambm surpreso em me ver. O fato de eu ter pensado que voc estavano seu quarto esse tempo todo provavelmente faz de mim o pior guarda do mundo.

    Sorri. As garotas da Elite eram obrigadas a dormir com pelo menos uma de suas criadas no quarto.Eu no gostava muito da ideia, de modo que Maxon insistiu em manter um guarda de vigia minhaporta para o caso de uma emergncia. O problema era que, na maioria das vezes, esse guarda eraAspen. Saber que quase todas as noites ele estaria bem ali na minha porta me dava uma sensaoestranha de alegria misturada com terror.

    Aquela tranquilidade momentnea logo desvaneceu quando Aspen se deu conta de por que eu noestava s e salva enrolada nos cobertores. Ele limpou a garganta, tenso:

    Vocs se divertiram? Aspen cochichei, olhando em volta para ter certeza de que ningum estava perto , no

    fique bravo. Fao parte da Seleo e as coisas so assim. E como eu vou ter chance desse jeito, Meri? Como posso competir com ele se voc raramente

    fala com os guardas como eu?Fazia sentido, mas o que eu podia fazer? Por favor, no se irrite comigo, Aspen. Estou tentando resolver tudo isso. No, Meri ele disse, retomando a voz terna de antes. No estou irritado com voc. Eu

    tenho saudade de voc.Ele no ousou pronunciar as palavras, mas seus lbios se mexeram: eu te amo.Me derreti. Eu sei respondi, pondo a mo em seu peito e me permitindo esquecer por um instante tudo

    o que estvamos arriscando ali. S que isso no muda o lugar onde estamos nem o fato de eu ser

  • da Elite agora. Preciso de tempo, Aspen.Ele ergueu a mo at a minha e assentiu com a cabea. Isso eu posso dar. S... tente encontrar um tempo para mim tambm.Eu no queria comear a explicar como isso seria difcil. Apenas abri um sorrisinho antes de

    recolher a mo. Preciso ir.Ele me observou caminhar at o quarto e fechar a porta.Tempo. Eu vinha pedindo muito tempo ultimamente. Tinha a esperana de que, se tivesse tempo

    suficiente, tudo ia se resolver.

  • No, no respondeu a rainha Amberly, rindo. Tive apenas trs madrinhas apesar de a mede Clarkson ter sugerido qu