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ARTIGO A SBPCE A INFORMAÇÃOAMBIENTALNO BRASIL: O PAPELDA REVISTACIÊNCIA HOJE' Antonio Teixeira de BARROS2 RESUMO Analisa a informaçÜo ambiental divulgada pela revista Ciência Hoje, editada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), desde o primeiro ntÍmero da revista até a realizaçÜo da Eco 92. A divulgaçÜo concentra-se nos estudos de avaliaçÜo de impactos e efeitos da degradaçÜo ambiental e nos temas globais da agenda ecolÓgica. O didatismo é uma das características principais de Ciência Hoje, COIllo intllito defacilitar a leitllra por parte do pÚblico leigo. Palavras-chave: inforlllaçÜo alllbiental; ecologia; revista Ciência Hoje; Sociedade Brasilei rapa rao Progrcsso da Ciência; cOlllllnicaçÜocientífica; inforlllação científica. ABSTRACT Tllis article analyzes the environlllental inforlllation disclosed by tllejollrJ/al "Ciência H()je ", pllblished by the "Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência" (SBPC), frolll the first nllmber of the jOllrJ/al to the accolllplishment of the "Eco 92 ". lt concentrates on studies of evaluation ofilllpacts, effects of environlllental degradation and global themes of the ecological calendar. The didactic aspect is one of the lIlain characteristics of "Ciência Hoje", lVith the aim of facilitating the reading to the publico Keywords: environmental information; ecology; jourJ/almagazine "Ciência Hoje "; "Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência"; scientific cOlllmllllication; scientific h!{orlllation. INTRODUÇÃO ambiental no Brasil, com base na trajetória da revista Ciência Hoje, criada em 1982, até 1992, quando aconteceu a Eco 92. Especificamente, pretendemos examinar o enfoque adotado, ou seja, o tipo de abordagem e as temáticas enfatizadas. o objetivo geral deste trabalho é analisar como se deu a atuação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em termos de divulgação científica, quanto à questão (I) Elaborado com base na Tese de Doutoramento do autor. intitulada "Atores e Discursos Ecológicos no Brasil: Ciência. Estado e Imprensa (1972- 92)". apresentada ao Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, sob a orientada da Profa. Dra. Fernanda Sobra!. em 1999. (2) Doutor em Sociologia, Professor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB. Transinformação, v. 12. nQ I. p. 31-47. janeiro/junho/2000

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ARTIGO

A SBPC E A INFORMAÇÃOAMBIENTALNO BRASIL:O PAPELDA REVISTACIÊNCIA HOJE'

Antonio Teixeira de BARROS2

RESUMO

Analisa a informaçÜo ambiental divulgada pela revista Ciência Hoje, editada pelaSociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), desde o primeiro ntÍmeroda revista até a realizaçÜo da Eco 92. A divulgaçÜo concentra-se nos estudos deavaliaçÜo de impactos e efeitos da degradaçÜo ambiental e nos temas globais daagenda ecolÓgica. O didatismo é uma das características principais de Ciência Hoje,COIllo intllito de facilitar a leitllra por parte do pÚblico leigo.

Palavras-chave: inforlllaçÜoalllbiental; ecologia; revista Ciência Hoje; SociedadeBrasilei rapa rao Progrcsso da Ciência; cOlllllnicaçÜocientífica; inforlllação científica.

ABSTRACT

Tllis article analyzes the environlllental inforlllation disclosed by tllejollrJ/al "CiênciaH()je ", pllblished by the "Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência" (SBPC),frolll the first nllmber of the jOllrJ/al to the accolllplishment of the "Eco 92 ". ltconcentrates on studies of evaluation ofilllpacts, effects of environlllental degradationand global themes of the ecological calendar. The didactic aspect is one of the lIlaincharacteristics of "Ciência Hoje", lVith the aim of facilitating the reading to thepublico

Keywords: environmental information; ecology; jourJ/almagazine "Ciência Hoje ";"Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência"; scientific cOlllmllllication;

scientific h!{orlllation.

INTRODUÇÃO ambiental no Brasil, com base na trajetória darevista Ciência Hoje, criada em 1982, até 1992,quando aconteceu a Eco 92. Especificamente,pretendemos examinar o enfoque adotado, ouseja, o tipo de abordagem e as temáticasenfatizadas.

o objetivo geral deste trabalho é analisarcomo se deu a atuação da Sociedade Brasileirapara o Progresso da Ciência (SBPC) em termosde divulgação científica, quanto à questão

(I) Elaborado com base na Tese de Doutoramento do autor. intitulada "Atores e Discursos Ecológicos no Brasil: Ciência. Estado e Imprensa (1972-

92)". apresentada ao Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, sob a orientada da Profa. Dra. Fernanda Sobra!. em 1999.(2) Doutor em Sociologia, Professor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB.

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32 A.T. BARROS

Partimos da hipótese geral de que adivulgação científica sobre meio ambiente,protagonizada pelacomunidade científica, em muitocontribuiu para que a ecologia se tornasse, nosúltimos anos, tema de amplo interesse social,deixando de ser objeto de estudo apenas de áreasespecíficas. As sociedades científicas começarama debater o assunto em congressos e conferências,alertando para a dimensão política e social doproblema; a imprensa passou aconferir importânciaa tais manifestações; os governos começaram asentir-se pressionados por organismosinternacionais para agirem de forma a coibir atosabusivos contra a natureza.

Outra hipótese é a de que os estudoscientíficos, mesmo aqueles dirigidos ao público denão produtores de conhecimento científico, como éo caso dos artigos publicados por Ciência Hoje,contribuem para que esse público interpreteadequadamente os fatos ecológicos. Isso porqueos cientistas estendem os questionamentos docampo ecológico a um contexto mais amplo,abrangendo todo o sistema mundial de produção.Esse discurso propõe-se ainda a criticar o modo devida e o modo de produção na sociedade industrial,como é o caso das Ciências Sociais. No casoespecífico do Brasil, foi desse ramo das ciênciasque surgiram relevantes contribuições relativas àsconseqüências da exploração indiscriminada derecursos naturais e acerca dos riscos da poluiçãourbana (Maculan, 1995).

No âmbito de um processo de revisão teóricae metodológica do campo das Ciências Sociais, apartir da década de 1980, amplia-se o interesseacerca dos fundamentos epistemológicos de umanova área: as ciências sociais do ambiente,entendidas como um novo domínio inter etransdisciplinar. As primeiras iniciativas situam-seno campo de investigação denominado ecológi-co-político, ou seja, uma tentativa de compreendero contexto que propiciou a formação doambientalismo no Brasil e na América Latina, bemcomo a instituição de suas estratégias, proce-dimentos e protocolos formais. A confluência daSociologia e da Ciência Política foi de grandeimportância nesse processo, gerando grandescontribuições teóricas. Partia-se do pressuposto deque para se compreender a crise ecológica globalseria necessário, antes, refletir à luz dos princípios

que regem a organização e o funcionamento dosistema sócio-político contemporâneo. A criseambiental, nesta perspectiva, era concebida comouma crise da forma de ocupação humana do planetaterra, devendo ser interpretada, portanto, comoparte de um horizonte mais amplo, ou seja, a crisedos fundamentosda vidapolíticae social (Leis, 1996).

Diante do exposto, cabe destacar opioneirismo da Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC), tanto no planocientífico como no político. Enquanto a temática sópassou a preocupar outras instituições científicasbrasileiras após a Conferência de Estocolmo, aSBPC, muito antes, desde 1965, já se ocupava coma questão, como registram Fernandes (] 990) eFerreira (1993), ano em que publicou um "Apeloaos governos, reitores e diretores de institutoscientificos": Uma moção, em número posterior,pedia acriação de umorganismo federal responsávelpor todos os aspectos de preservação da naturezae proteção dos recursos naturais do Brasil. Outracontribuição importante da SBPC diz respeito aoenvolvimento da comunidade científica brasileira

com a questão ecológica e ambiental, a partir dametade da década de 1980, principalmente no queconcerne à necessidade de uma abordageminterdisciplinar.

A SBPC contribuiu também para intensificaro debate acadêmico sobre a questão, por intermédiodos seminários nacionais "Universidade e MeioAmbiente", promovidos a partir de 1986, sempreuma vez a cada ano. Tal iniciativa representou umpasso importante para criar um fórum de debatecontinuado no âmbito da comunidade científicabrasileira sobre os temas atinentes à educaçãoambiental, à pesquisa científica e demais temas deinteresse acadêmico no âmbito da temáticaecológico-ambiental.

A situação alarmante da cidade industrial deCubatão, no estado de São Paulo, fez com que aSBPC instituísse o ciclo de simpósios "Estocolmo72 X Cubatão 82", durante a 34a. Reunião Anual.Esta iniciativa oportunizou a discussão sobre "osresultados de dez anos da política ambienta Idesastrosa inaugurada pelo Brasil na Suécia"(Ferreira,1993, p.129). Como ressalta a mesmaautora, a SBPC exerceu relevante papel noprocessodepolitizaçãododescontentamento popularacerca da situação cubatense.

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Outra contribuição essencial da SBPC estána criação do Grupo Interdisciplinar de Estudossobre Cubatão, o que contribuiu sobremaneira paraque se debatesse não apenas o caso específico deCubatão, mas da região Sudeste e do Brasil, demodo gera\. É oportuno mencionar ainda acontribuição da entidade para a inclusão de umcapítulo sobre ecologia na Constituição Federal de1988.A Comissão Especial de Estudos sobre MeioAmbiente elaborou um texto e apresentou àAssembléia Nacional Constituinte, a qual acatou aproposta quase integralmente.

DESCRiÇÃO DA PESQUISAE DA METODOLOGIA

.

Para a consecução dos objetivos propostos,optamos pela análise de conteúdo (AC), entendidacomo "um conjunto de técnicas de análise dascomunicações" (Bardin, 1977, p.31). Por essarazão, alega o mesmo autor, deve-se entender aAC não como um instrumento, mas "um leque deapetrechos; ou, com maior rigor, será um únicoinstrumento, mas marcado por uma grandedisparidade de formas e adaptável a um campode aplicação muito vasto: as comunicações"(p.31). Aqui, adotamos um dos procedimentosespecíficos desse "conjunto de apetrechos", aanálise categorial, a qual, conforme a autora citada,

"pretende tomar em consideração atotalidade de um texto, passando-o pelocrivo da classificação e do recen-seamento, segundo a freqüência depresença (ou de ausência) de itens desentido. Isso pode constituir um primeiropasso, obedecendo ao princípio deobjetividade e racionalizando através denúmeros e percentagem, uma interpre-tação que, sem ela, teria de ser sujeita aaval.

É o método das categorias, espécie degavetas ou rubricas significativas quepermitem a classificação dos elementosde significação constitutiva, da mensa-gem. É, portanto, um método taxionômicobem concebtdo para (...) introduzir umaordem, segundo certos critérios, nadesordem aparente" (Bardin, 1977, p.37)

Para a análise utilizamos o conjunto total dostextos publicados por Ciência Hoje, periódico de

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divulgação científica publicado pela SBPC , o qualcobre diversas áreas científicas.

Após a catalogação de todos os textos sobreecologia emeio ambiente, publicados pelo periódico,totalizando 166 textos - entre notas, artigoscientíficos e comentários -, estabelecemos asseguintes categorias tematicas:

1- Agricultura e Meio Ambiente - enfoques querelacionam as práticas agrícolas com a ecologia;

2 - Amazônia - estudos que abordam especifi-camente a região amazônica;

3 - Devastação Desmatamento- exame dos efeitose conseqüências, fora do contexto amazônico;

4 - Eco-História - pesquisas que traçam umahistória dos desastres ambientais no Brasil;

5 - Ecossistemas Aquáticos - matérias referentesa mares, rios, lagos, lagoas e brejos, e os seresque neles habitam;

6 - Espécies em Extinção - artigos que abordam asituação das espécies animais e vegetaisameaçadas de extinção;

7 - Fauna/FIora - pesquisas sobre a vida animale/ou vegetal e sua importância no equilíbrioecológico;

8 - Informação Ambiental - aspectos atinentes aouniverso da informação e documentação nocampo da ecologia;

9 - Parques Nacionais/estações/reservasecológicas - textos que enfocam assuntosrelacionados com o mapeamento ecológico,diagnóstico ambiental e situação geral dosparques, reservas e estações ecológicas noBrasil;

10 - Política Ambiental - informações relativas àelaboração e implementação de políticaspúblicas "verdes";

11 - Poluição - temas centrados nas diversasformas de poluição ambiental, sobretudo aindustrial;

12 - Rio 92 - opiniões, dados e informações sobreos preparativos para a Rio 92;

CIÊNCIA HOJE E A DIVULGAÇÃO CIENTíFICASOBRE ECOLOGIA NO BRASIL

Há acentuado e crescente interesse darevista Ciência Hoje pela temática ambienta\.

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34 A.T. BARROS

Além disso, notamos que Ciência Hojeconcentrou-se em temas de maior interesse do

público geral, o que demonstra o quanto aproblemática ecológica deixou de ser deinteresse apenas de especialistas, uma vez que operiódico em questão tem como objetivo adifusão científica para um público mais amplo.Ciência Hoje atribuiu grande importância àAmazônia e aos problemas da poluição industrial.

AMAZÔNIA

No que diz respeito à categoria Amazônia, amais importante na cobertura de Ciência Hoje, com39,80% do total de textos, podemos observar naTabela 1 como se deu a distribuição dos textos aolongo do período estudado, por ordem deimportância. Merece destaque o fato de o ano de1991 apresentar o maior índice de textos, o que sejustifica pela publicação de um número especialsobre a Amazônia. A referida edição confirma aimportância que tem esta categoria no âmbito dodiscurso científico sobre meio ambiente. Desta-

ca-se a agressão aos recursos florestais, cujaanálise será apresentada a seguir considerando-seos aspectos gerais e específicos.

Tabela 1. Ciência Hoje - Classificação Temática

Recursos florestais amazônicos - plano geral

A questão relativa à floresta amazônica foio carro-chefe da cobertura de Ciência Hoje noperíodo.

Dos 66 textos atinentes aos ecossistemasamazônicos, 35 abordam aspectos florestais, dosquais 14 tratam de problemas gerais da regiãocomo um complexo ambiental e 21 se detêm aoexame de questões localizadas, de zonasfitogeográficas determinadas. No primeiro caso,temos como eixo a preocupação dos cientistas como equilíbrio da biodiversidade. A ameaça a esteequilíbrio, conforme os artigos examinados, provémprincipalmente da exploração da madeira. Dos]5 artigos que analisam esta questão (do total de35),12 enfatizam este argumento.

Outro texto ressalta que "... a açãocorrosiva de moto-serras nos troncos de suas

árvores" e os "incêndios criminosos engolemanualmente fatias expressivas de suasflorestas"; fazendo com que o seu futuro "sejatão preocupante quanto a ameaça de um desastrenuclear" ("Um Desafio para o Futuro" - Especia]Amazônia, ]991). Dez outros textos concen-tram-se no exame da ameaça à diversidade vegetal,

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CATEGORIAS / ANO 82 83 84 85 86 '67 88 89 <x> 91 92 Total %

Amazônia 01 - 01 03 01 02 <» (JJ 10 27 10 66 39,8

Poluição (JJ 01 02 01 03 02 02 02 02 03 27 16,0

Agricultura e Meio Ambiente 01 02 05 01 <» 02 15 9,0

Fauna / Flora 02 01 01 01 02 03 <» 14 8,4

Ecossistemas Aquáticos - - 02 01 01 01 - <» 09 5,4

Espécies em Extinção 01 01 02 01 02 02 - - 09 5,4

Eco-História - 01 - 01 02 - 02 - 06 3,6

Devastação/Desmatamento - 01 01 01 03 - - 06 3,6

Parques/Reservas/Estações Ecológicas 01 02 - - 02 - - - 05 3,0

PolíticaAmbiental - - 01 - - 03 04 2,4

Rio92 - - - - - - <» 04 2,4

TOTAL 05 ('f) (X) 00 00 11 13 19 15 34 30 156 100

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devido aos projetos de desenvolvime,nto baseadosna abertura de estradas, no extrativismo madeireiro

e na construção de hidrelétricas e barragens. Alémde ressaltar conseqüências específicas dodesflorestamento no complexo amazônico, algunscomentários de cientistas advertem para as questõesrelativas ao ecossistema em sua totalidade, uma

vez que a destruição progressiva de áreas florestaisimplica, inexoravelmente, nadizimação de espéciesanimais, cuja conseqüência direta é o desequilíbrioecológico da região, pois,

"... estima-se que a remoção da luxuriantecobertura vegetal alcanceaproximadamente quinhentas toneladaspor hectare. O desmatamento afeta odelicado equilíbrio da floresta. Entre asmuitas alterações gue provoca, uma dasmais sérias é a reduçÜo da diversidadebiológica, com a extinção de espécies. Aexploração de riquezas da regiüo vemsendo feita sem a preocupação depreservar as matas, a fatl1la, os rios..."("Maneje com cuidado: frágil", set.1989).

Outro dado relevante é o confronto do

discurso científico com o discurso governamental.

Alguns pesquisadores questionam, por exemplo, avalidade dos dados ambientais divulgados porfontesoficiais sobre o desmatamento na Amazônia Legal,

a partir de imagens captadas pelo satélite Landsat."As informações que essas imagens fornecem,entretanto, são desatualizadas e pouco

confiáveis para desmatamentos mais antigos;além disso, sÜo geralmente apresentadas de um

modo que dá ênfase ao aspecto mais

tranqÜilizado r - mas menos importante - dos

resultados" (grifo nosso). Como exemplo, o mesmoestudo menciona o fato de que, em 1980, o Instituto

de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou um estudode interpretação das imagens da Amazônia tomadasem 1975 e 1978. A partir desse estudo, generalizou-se a impressão de que apenas 1,55 da AmazôniaLegal tinham sido desmatados, "subestimando-sesubstancialmente o desmatamento que vinha

entÜo ocorrendo - o que se pode facilmente

deduzir de uma comparaçÜo entre os valoresconstatados no estudo e o que se verifica por

observaçÜo direta, em terra..." ("A floresta vaiacabar?" - jan./fev .1984).

Outros artigos ressaltam dados estatísticos,como os que constatam que as florestas tropicaisúmidas da terra vêm sendo destruídas na velocidadede 20 hectares por minuto, por meio do extrativismoseletivo de madeiras e outras formas de

desmatamento. A preocupação com a extração demadeiras é justificada pelo fato de que, apesar doavanço continuado da devastação, a florestaamazônica, nos seus 260 milhões de hectares,ainda "guarda mais de 2.300 espécies vegetais,distribuídas em cerca de 700 gêneros e 120famílias", sendo a grande maioria dessas espéciesprodutoras de madeira ("Anatomia da Madeira",Especial Amazônia, 1991). Um aspecto enfatizadoé olento processo natural deconstrução do equilíbriobiológico, até atingir a maturidade ecossistêmica.O ceme da preocupação dos cientistas quanto aisso é que esse equilíbrio, sabiamente construídoao longo de tanto tempo, sofre cada vez maisameaças, tanto pela exploração continuada demadeira, como pela inundação de áreas florestais,resultado da construção de barragens ehidrelétricas, causan-do a expulsão de milharesde animais de seu habitat.

Apesar da devastação continuada e daameaça de extinção, um botânico salienta adificuldade de identificação das espécies vegetais,devido à "vastidão das terras e à heterogeneidadedas espécies", além da grande quantidade. O fatode serem identificadas corretamente e sua

exploração ocorrer com base na utilização de umanomenclatura vulgar, facilita a inclusão de espéciesdiferentes na mesma denominação.

Com isso, além do risco de comprometer abiodiversidade da região, há ainda o riscoeconômico, pois algumas espécies nobres podemser vendidas a preços subestimados.

Recursos florestais amazônicos - enfoquesespecíficos

A devastação no estado do Pará é o aspectomais abordado pela revista Ciência Hoje, noâmbito da categoria Amazônia, no que se refereaos recursos florestais, quando se trata deenfoques específicos. Em seguida estão odesflorestamento em Rondônia, Acre e Maranhão.

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A devastação no estado do Pará

o estado do Pará foi o que mais despertou ointeresse dos cientistas quanto à questão ambientalna revista Ciência Hoje. Dos 21 estudos sobrezonas fitogeográficas determinadas, dez referem-se ao Pará, seis dos quais ao município deParagominas. A primeira indagação que surge,após tal constatação é: por que esse Estado (e maisespecificamente esse município) tornou-se objetode estudo tão importante para a comunidadecientífica? O que há de especial nessa área?

Situado ao longo da rodovia Belém-Brasília,construÍda em 1960,no leste do estado, o municípiode Paragominas, com 22 mil km2, registrou umacelerado povoamento após a construção darodovia, contando com incentivos governamentais,além do baixo preço da terra, o que causou grandeinteresse de pecuaristas e especuladores dosestados de Minas Gerais e Goiás. Para obter o

título de posse da terra, o Instituto de Colonizaçãoe Reforma Agrária (INCRA) exigia que osocupantes desmatassem um sexto da área pleiteada.A partir de 1970,esse modelo de exploração entrouem crise. Além disso, os bancos reduziram o apoiofinanceiro aos pecuaristas. Com isso, implantou-seuma nova forma de exploração econômica: aindústria madeireira. Desde então, tal atividadetem causado danos permanentes às formaçõesflorestais da região. Em 1987, apenas na cidade,havia 400 serrarias. Hoje, este município é o maiorcentro madeireiro do País. Dados mencionados nos

artigos revelam que aexploração madeireira reduziua cobertura da floresta de 82% para 45%, empouco mais de duas décadas. Tudo porque

"pratica-se ali intensamente a extraçãoseletiva, atividade muito rentável, masirracional e sem futuro. Em cinco anos,pouco restará das madeiras nobres daregião. A remoção sistemática das árvoresque ostentam determinadas caracte-rísticas tende a causar gradativoempobrecimento no patrimônio genéticodas espécies madeireiras. Mas não é só:todas asflorestas do Parápoderão esgotar-se em duas ou três gerações... "("Seleçãopredatória", juI.1989).

Existem, ainda, na região outras atividadespredatórias típicas como a agricultura de corte,queimada e mineração. É por isso que Paragominasé caracterizado como "um microcosmo daAmazônia". Em um dos textos, lemos que "aslições extraídas do modelo Paragominas pode,portanto, influir nos rumos do desenvolvimentoda Amazônia ". É necessário esclarecer ainda queo ponto de vista que os pesquisadores defendemnão é o da intocabilidade conservacionista, mastão-somente um novo modelo econômico: a

exploração sustentada.

Vale ressaltarmos ainda que os artigos queenfocam as conseqüências da mineração no estadodo Pará enfatizam a "complexidade da questão",na qual estão envolvidos ao mesmo tempo"problemas de fluxo financeiro, dívida externa,mineração, ecologia, agropecuária, exploraçãoflorestal, antropologia, identidade cultural,energia, transportes e pesquisa científica"("Carajás: o grande desafio", nov.ldez.1982).

Mais uma vez constata-se o confronto com

o discurso oficial. Um dos textos afirma que oGoverno, quase sempre, é cúmplice da exploraçãoeconômica predatória na região, visto que rIosincentivos oficiais destinam-se mais a promoveras atividades extrativas do que a estimular aimplantação de formas racionais de manejo"("Seleção predatória" ,juI.1989).

Perdendo Rondônia

O estado de Rondônia figura em segundolugar, depois do Pará, com sete artigos. Aabordagem é similar à de Paragominas. A extraçãoseletiva de madeira e o desmatamento progressivosão os dois aspectos enfatizados. Tudo começoucom os incentivos governamentais a partir de 1960,fruto de programas de desenvolvimento comoPolamazônia e Polonoroeste, resultando emocupação humana desordenada e interferênciaagressiva no meio ambiente, processo que culminoucom a criação do Instituto Nacional de Colonizaçãoe Reforma Agrária (INCRA), em 1970. Tal órgãoé apontado como o responável por grande parte dacolonização inconseqüente de Rondônia, um"trabalho avassalador, brutal e irracional":Afinal, foi-lhe atribuída, pela ditadura militar, atarefa de promover o assentamento, naquele Estado,

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de milhares de famílias, em determinado período."Os custos sociais e ecológicos da empreitadanão deveriam ser considerados: o que contavaera, tão-somente, cumprir as metas... " ("Paranão repetir Rondônia", mar. 1988).

Atraídos pelo seu potencial econômico -terras férteis, disponíveis à agricultura, àagropecuária e à extração de madeira, além dacaça e da já tradicional extração de borracha, decastanha e das jazidas de minério - a região tornou-se um foco de exploração de recursos naturais.Concentradas sobretudo na bacia do Jamari, asatividades de extração de minérios, principalmentede cassiterita, envolvem grandes mobilizações deterra e rocha. Com isso, alteram a hidrodinâmicados rios, causam assoreamentos e perturbam ociclo de vida dos peixes migradores. "Toda cadeiatrófica, enfim, sofre alterações, comconseqÜências imprevisíveis. Além disso, oacÚmulo de sedimentos em determinadas áreascriaria ambientes de poças e águas paradas,nos insetos responsáveis pela transmissão damalária" ("Rondônia: artérias poluídas", ago.1988).

A partir de 1984, com uma nova onda demigração, conseqüência da pavimentação darodovia Marechal Rondon (BR 364), que liga acapital, Porto Velho, a Cuiabá, acelerou-se odesmatamento e a extração madeireira.Atualmente, embora os próprios pesquisadoresreconheçam que os dados estatísticos sej amdiscrepantes, aproximadamente 15% do Estado jáestá desflorestado.

Acre e Maranhão

o desmatamentoe o extrativismoseletivoda madeira continuam a ser o objeto da atenção dospesquisadores (principalmente biólogos ebotânicos)que estudam outras zonas fitogeográficas daAmazonia. Temos, assim, um texto sobre o estadodo Acre e dois sobre o Maranhão. No primeirocaso, os cientistas concentram-se no exemplopositivo de combate ao uso irracional dos recursosflorestais: o estabelecimento de seis reservasextrativistas no Acre, em 1988. No segundo caso,além de apresentar um panorama da devastaçãomaranhense, há um texto que enfoca outra iniciativapositiva, acriação daReserva Biológica do Gurupi,a leste do Tocantins, após expedições feitas por

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estudiosos do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ooutro artigo descreve a formação do fenômenohidrodinâmico da pororoca no sistema estuarinobaía de São Marcos-rio Mearim-Ponta da Madeira,a 40 km do oceano e a 2 km a jusante do porto deItaqui.

A natureza e os índios na Amazônia

A vida dos índios na Amazônia, em umaperspectiva etno-ecológica, constitui objeto devários artigos de antropólogos do Museu ParaenseEmilio Goeldi, do Museu Nacional e do Museu doÍndio.Dos66 textosincluídosnacategoria Amazônia,13tratam da questão indigenismo e meio ambiente.As eco-epidemias, o comportamento em relação ànatureza, os mitos, as crenças e símbolos, o dramados Yanomami nas áreas de garimpagem e asituação dos kayapó são os principais temasabordados.

As alterações ecológicas são apontadas porum epidemiologista como uma das causas doapareamento de freqüentes epidemias, provocandoa morte de muitos deles, uma vez que os efeitos deuma doença infecciosa são mais graves empopulações nunca expostas a ela. O comportamentoem relação à natureza é analisado sob a perspectivada busca do equilíbrio ecológico, apontandocomo os índios retiram seu sustento do solo semdanificá-Io: "aoplantar, os Kayapó parecem imitara natureza. Quando iniciam uma roça, introduzemgrande nÚmero de espécies e variedades"; oque favorece o equilíbrio da área explorada("Reflo-restamento indígena" - Especial Amazônia,1991). Mesmo quando se utilizam de queimadas, ofazem sabiamente, pois para eles, "o fogo temfunções definidas: controla a população de cobrase escorpiões e evita o crescimento excessivo degramíneas e cipós":

O universo simbólico é abordado em vários

artigos que descrevem as práticas "medicinais ", a"cura xamanística ", as noções de doença. Aliteratura oral indígena, suas lendas e mitos, e ocalendário econômico de algumas tribos tambémfazem parte desse universo cultural analisado pelosantropólogos.

A situação dramática dos Yanomami nasáreas de garimpo serviu de mote para o exame da

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invasão de áreas indígenas por garimpeiros. Aintervenção governamental, no caso, representadapela ação das Forças Armadas é o principal alvodas críticas dos antropólogos. Se antes, nos temposdo Marechal Rondon, os nativos eram vistos comoIrasmuralhas do sertão, indispensáveis para amanutenção e expansão da fronteira", hoje,são vistos como uma "ameaça à soberanianacional". E mais: "Os Yanomami foram (...)citados nominalmente no Projeto Calha Nortedentro dessa perspectiva" ("O Drama dosYanomami", Especial Amazônia, 1991).Apoluiçãoda bacia do rio Alalaú é apontada como outroproblema, responsável pela drenagem fluvial de55% do território habitado pela tribo dos Waimiri-Atroari, devido à extração de cassiterita,comprometendo a própria vida das comunidadeslocais, uma vez que é do rio que retiram seusustento e o substrato para a reprodução de suacultura.

Amazônia - ecossistemas aquáticos

A água aparece em terceiro lugar (depoisdas subcategorias recursos florestais e fauna/índios), no contexto da categoria AMAZÔNIA,com oito artigos. Dois deles abordam o problemada contaminação dos rios por mercúrio, o que vemse alastrando devido à disseminação das atividadesde garimpagem na região. Esse tipo decontaminação elimina não só muitas espécies depeixes, mas também quase toda a microfaunaaquática, essencial para oequilíbrio ecossistêmico,além de comprometer a saúde humana e animal.Cerca de 55% do metal utilizado entra diretamentena atmosfera, sob a forma de vapor, o qual, ao seroxidado, retorna ao solo pela chuva, contaminandorios, florestas e, conseqüentemente, animaisterrestres e aquáticos, além de pessoas.

Há ainda estudos sobre aecologia dos igapóse igarapés, que contribuem para a formação dasbacias dos maiores rios da região, isto é, o Solimões,o Negro e o próprio Amazonas. Ao estudar 15igarapés de águas claras e 20 de águas escuras, umecólogo esmiúça as características físicas equímicas de cada um e sua contribuição paramanter a biodiversidade no complexo ambientalamazônico. O Rio Negro, em particular, é alvo deduas pesquisas que tentam desvendar os mistériosde suas águas escuras, efeito de um pigmento

denominado violaceína, que possui ação antibiótica,eliminando a microfauna aquática, o que dificultaa pesca e compromete a sobrevivência daspopulações ribeirinhas, razões que justificam otítulo internacional de hungry river (rio da fome).

O impacto ambiental provocado pelaconstrução de hidrelétricas também desperta ointeresse de Ciência Hoje. No caso específico dahidrelétrica de Balbina, construída no centro daAmazônia, dois artigos avaliam esse projeto,considerado questionável do ponto de vista técnicoe econômico, e desastroso quanto ao aspectoecológico. Os erros técnicos são apontadosminuciosamente, tais como a diferença entre acapacidade nominal de produção da hidrelétrica ea quantidade real de energia que vai gerar. Oprojeto prevê cinco turbinas, mas a vazão médiaanual do rio, no local da barragem é suficiente paragarantir o funcionamento de apenas duas. Alémdisso, a decomposição da floresta inundada formaácidos que corroem os equipamentos da usina eprovocam a morte dos peixes, no reservatório e aolongo trecho do rio, abaixo da barragem.

Do ponto de vista econômico, vários dadostambém são apresentados, confirmando os pontosdiscutíveis do projeto. Ocusto inicial de 383 milhõesde dólares quase dobrou, atingindo a cifra de 750milhões. Finalmente, do ponto de vista ambiental,destaca-se o desaparecimento de grandes áreas defloresta, que contribui para alterar o equilíbrio dafauna local e causar graves danos à saúde daspopulações ribeirinhas. A água tornou-seinapropriada para consumo humano, causandodiarréia, febre, coceiras e feridas na pele; edesapareceram o pescado e os animais de caça.

o MEIO AMBIENTE ALÉM DA AMAZÔNIA EMCIÊNCIA HOJE

Analisamos, a partir de agora, os textos deCiência Hoje que tratam da questão ambiental, forado contexto amazônico. Alguns estão emolduradospela mesma orientação ecológica geral, mastambém nos deparamos com outras categoriastemáticas:

POLUiÇÃO

Este tópico aparece em segundo lugar, com27 dos 166artigos de Ciência Hoje. Predominam os

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A sBPe E A INFORMAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL: O PAPEL...

estudos sobre poluição industrial, destacando-se ocaso de Cubatão, com 11 textos. Trata-se de umaampla abordagem, incluindo histórico da "primeiragrande batalha ecológica nacional", efeitosgerais da poluição na saúde da população, bemcomoefeitos específicos: malformações congênitas,hidrocefalia, hipotiroidismo, deficiência mental,intoxicação sangüínea e mortalidade infantil.Enfocam-se ainda assuntos como ''formasdefeituosas de organização humana do espaço ",condições climáticas versus concentração deindústrias na bacia do rio Cubatão, excesso deelementos poluentes nas águas da região e naatmosfera e levantamento da poluição química,seus efeitos e sua relação com os fatoresdeterminantes de anomalias nos seres humanos,além de evasão e morte de espécies da avifaunaregional.

O número inaugural de Ciência Hoje (agostode 1982) dedica boa parte de sua edição aosproblemas desencadeados pela poluição industrialem Cubatão, com sete textos de cientistas dediferentes áreas: Genética, Embriologia,Epidemiologia, Biologia, Demografia, Geografia eBotânica. Ricos em dados estatísticos, os quaisrelatam que, das indústrias que constituem a basedo complexo agroindustrial paulista, saem,diariamente, um milhão de quilos de poluentes pordia, além de 20 mil toneladas de resíduos sólidosdeixados nos lixões a céu aberto.

Dos 27 textos, quatro enfocam as novastécnicas de mensuração e controle de poluentesindustriais e a análise de seus efeitos no ar, na águae no solo.

A chuva ácida - causada pela acumulaçãode gases, cinzas e efluentes líquidos decorrentes dacombustão de metais tóxicos - é um dos efeitosdesse tipo de poluição que mais despertou interessedos pesquisadores, com três artigos. Um delesexamina o fenômeno em termos globais,apresentando dados relativos a países comoInglaterra, Noruega, Alemanha e Brasil. O outroconcentra-se no caso Candiota, no estado do RioGrande do Sul. A região de Cubatão, no estado deSão Paulo, e de Criciúma, em Santa Catarina,também são mencionadas como áreas críticas noBrasil, onde há registros de elevados índices deacidez das águas, cujas causas são combustão demetais nas indústrias petroquímicas e metalúrgicas

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e a combustão de carvão com alto teor de enxofre.O outro texto relaciona o fenômeno da chuva ácidacom a queima de florestas, destacando a Américado Sul como foco de tal problema.

A questão do efeito estufa é mencionada emdois artigos e duas notas - uma bibliográfica e umainformativa - todos sob o enfoque do "aquecimentoglobal". Um dos artigos reporta-se ao histórico daconcentração de gases-estufa na atmosfera desdea Revolução Industrial, destacando seus impactossobre o aquecimento do planeta, fator resultantedos obstáculos à dissipação da radiação. Outrostextos apresentam conotação mais didática.Explicam o que é o efeito estufa, como e porqueocorre e quais seus efeitos físicos e biológicos.

A questão do lixo atômico também faz parteda agenda científica de Ciência Hoje. A principalindagação dos pesquisadores é o que fazer comesse tipo especial de lixo, uma vez que seus resíduossão portadores de alto teor de radioatividade. Talcaracterística exige seu isolamento da biosfera,"por prazos cuja duração ainda não está fixadae é objeto de intensa discussão nos dias dehoje. De gualquer modo, são prazos extensos,podem atingir dez mil anos, ou até mais" ("LixoAtômico: o que fazer?", maio 1984). Outro artigodiscorre sobre a radioatividade atmosfér.icanatural,em suspensão no ar, nas águas e no solo.

A ênfase da revista em apreço à poluiçãoindustrial no município de Cubatão, na BaixadaSantista, merece algumas considerações. A primeiradelas diz respeito ao engajamento da comunidadecientífica brasileira, sob os auspícios da SBPC, nadenúncia e na elaboração de diagnósticos sobre apoluição ambiental no País. Outro dado é que em1982,ano em que a revista começou a ser publicada,fez dez anos de realização da Conferência deEstocolmo. A SBPC incluiu uma avaliação daConferência em sua Reunião Anual, além de terpromovido um seminário, enfocando especifi-camente a situação de Cubatão. Outro fator a serconsiderado diz respeito à expressiva participaçãode associações comunitárias, sindicatos e outrasentidades associativas, as quais juntaram-se àsmanifestações de ativistas ecológicos e dacomunidade científica na denúncia dos índicesalarmantes de poluição na Baixada Santista.Percebe-se, assim, a conotação política atribuídaao assunto pela SBPC.

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AGRICULTURAE MEIO AMBIENTE

o terceiro item no elenco temático deCiênciaHoje (com 15 textos) prioriza os processosbiológicos de controle de pragas na agricultura,como alternativa isenta de poluição química e seusconseqüentes riscos à saúde humana, da fauna,flora e rios. Grande parte dos estudos enfatiza asconseqüências do modelo agrícola baseado namonocultura, resultado do chamadodesenvolvimento agroindustrial, o qual acarretou eacarreta danos contínuos aos agroecossistemas,frutos da quebra do equilíbrio biológico, uma vezque

"... havendo grande densidade de uma oude poucas espécies de plantas, é maior adisponibilidade de alimento para apenasalguns insetos, ftcando prejudicada asobrevivência de outros, inclusiveparasitóides (insetos que parasitam outros)e predadores. Nisto reside a principalorigem das pragas florestais e agrícolas"(Insetos X insetos: nova alternativa parao controle de pragas", maio/jun.1983).

Assim, um determinado tipo de inseto, útil aoequilíbrio ecológico, torna-se nocivo, como é ocasodas espécies fitófagas, que se alimentam de plantas.Ao serem levadas, sem seus respectivos inimigosnaturais, para uma região ou país onde antes nãohavia populações de sua espécie, é comum queesses seres se tornem pragas perigosas, conformeconsta do mesmo texto analisado:

"Desse modo, pode-se dizer que as pragassurgiram com a agricultura e aumentaramcom a monocultura, e assim como aagricultura é uma antiga conquista dohomem, também são antigas as tentativasque este tem feito para eliminar as pragasou pelo menos mantê-Ias sob controle".

Apesar de não ser tão recente, o controlebiológico de pragas ainda não é empregado emlarga escala na maioria dos países do mundo.Tornou-se mundialmente conhecido ainda no final

do século XIX, quando, na Califórnia (EUA),pesquisadores conseguiram controlar o pulgão--branco em áreas de cultivo intensivo. Entretanto,trata-se, ainda, de uma prática arrolada comoalternativa no contexto da agricultura mundial.

De modo geral, todos os textos que abordamo assunto salientam as vantagens da utilização debioinseticidas, entendidos principalmente comoreguladores naturais da densidade populacional deinsetos por meio de outros insetos consideradospatógenos, parasitas ou predadores - relaçõesecológicas consideradas naturais nos ecossistemase fundamentais para o estabelecimento do equilíbriobiológico.

Além da ênfase ao assunto mencionado,Ciência Hoje dedicou uma edição (jan.lfev.1986)à análise minuciosa dos perigos da utilização dedefensivos ou agrotóxicos, salientando que

"registram-se no Brasil, até hoje, produtosbanidos de outros países; vendem-se, semrestrições, substâncias proibidas; usam--se, fora dos padrões, venenos perigosos. Epouco se conhece sobre as conseqüências;acidentes e casos de intoxicação sãoacompanhados de forma assistemática;existem apenas pistas sobre os níveis decontaminação de alimentos; falta um centrode referência que defina padrões analíticosaceitos em todo o País. A legislação federalsobre o assunto data de 1934, e as atividades

de pesquisa concentram-se em empresasestrangeiras. É, pois, hora de reavaliar ascondições de uso desses produtos, cujoconsumo, altamente estimulado porsucessivos governos, saltou, em dez anos,de 27.728,8 para 80.968,5 toneladas"("Defensivos agrícolas ou agrotóxicos?",jan./fev.1986).

Os cinco artigos da citada edição apresentamclassificação toxicológica dos produtos utilizadosno Brasil; estatísticas hospitalares dos casos deatendimento por intoxicação; índices decontaminação da carne bovina; evolução da vendade agrotóxicos no País; e evolução do número deinseticidas e de espécies resistentes. Enfim, trata--se de um quadro sobre os usos e abusos do consumode defensivos agrícolas no Brasil, alertando apopulação para os riscos desses produtos para asaúde e a qualidade de vida do homem, bem comopara a poluição tóxica dos mananciais, da fauna eflora.

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FAUNA/FLORA

Esta categoria figura em quarto lugar, com14 artigos (Tabela 1). Estudos sobre a riqueza dadiversidade animal e vegetal estão em primeiroplano, seguidos de pesquisas acerca de aspectosespecíficos da flora, e, finalmente, particularidadesda fauna. Predominam, portanto, as áreas deBiologia e Botânica.

O principal artigo relativo à biodiversidade,O País da Megadiversidade (maio/jun.1992),compara o Brasil com vários países do mundo.Concluem os pesquisadores que, ao contrário doque se pensa, não é nas minas de ferro e alumínio -

nem na indústria de aço que se concentra a riquezado Brasil. Seu maior patrimônio está "em seusvariadíssimos ecossistemas, que, por reunir omais elevado número de espécies de organismosdo planeta, fazem do Brasil um campeão emmatéria de biodiversidade ".

Os aspectos específicos da flora estão emseis artigos, que estudam a vegetação costeira noextremo sul do País; a flora de manguesais,restingas e pradarias da América Latina; o potencialde uma planta ornamental no controle daesquistossomose, a "coroa-de-cristo"; a palmeirababaçu; a flora do Pantanal e os distúrbiosambientais. Este último analisa as perturbações,em um ecossistema, causadas pela invasão deplantas exóticas, o que constitui ameaça às espéciesnativas, podendo levá-Ias à extinção.

A fauna silvestre constitui o alvo do interesse

da comunidade científica, no que se refere àdiversidade animal. As aves do cerrado e os mímicossão mencionados nos dois artigos sobre a questão.O cerrado é caracterizado como umhabitat sazonal,

que abriga aves que estão de passagem na épocada migração, as quais aproveitam para se reproduzire depois prosseguem para a Amazônia e outrasregiões. O mimetismo entre animais silvestres éestudado como fenômeno ecológico de granderelevância porque está diretamente relacionadocom às estratégias de sobrevivência e decomunicação intra e inter-espécies.

ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS

Esta categoria figura em quinto lugar, comnove artigos. Contemplam-se os ecossistemas

fluviais e marítimos, abrangendo áreas como lagoascosteiras dos estados do Rio de Janeiro e SãoPaulo, além do Pantanal Mato-Grossense, litoral doRio Grande do Sul, particularidades das algascarrageanas e o fenômeno da variação relativa donível do mar. A derrubada da mata de restinga éapontada como- uma das maiores ameaças aoequilíbrio ecológico das lagoas costeiras no estadodo Rio de Janeiro. A devastação ocorre em funçãoda obtenção de lenha e de áreas livres para olançamento de vinhoto. Além do diagnóstico dasituação, os cientistas apresentam um elenco desugestões que, ao serem implementadas, podemgarantir a preservação das áreas em referência.

O Pantanal e o litoral gaúcho sãomencionados em diversos textos sobre macrófitos

aquáticos, aguapés e lagoas costeiras, consideradoscentros de diversidade biológica. O conteúdo dostextos éaltamente técnico, consistindo, por exemplo,na descrição dos macrófitos específicos de cadaum dos ecossistemas mencionados. As algascarrageanas são estudadas mais do ponto de vistado seu potencial econômico, como matéria-primapara a fabricação de sorvetes, tintas, ceras ecreme dental. Além disso, abordam-se os critériosbiológicos de identificação das algas, as diversasfamílias, a reprodução e a composição físico-química básica das espécies citadas, consideradaspolivalentes, devido às possibilidades múltiplas deaproveitamento industrial.

A variação relativa do nível do mar éestudada a partir das previsões de que, no decorrerdo próximo século, o nível dos oceanos terá umaelevação global de cerca de 60 cm. Porém, alertamos pesquisadores, uma previsão global não temsustentação científica, uma vez que se trata de umfenômeno complexo, que depende de muitos fatores,sendo necessário considerar os aspectos regionais,os quais exercerão mais influência no processo.Dados citados pelos pesquisadores confirmam estapremissa, apontando diferentes taxas deafundamento do litoral de deltas e estuários em

várias partes do mundo, conforme as característicasde cada local. Daí porque a conclusão científicarefuta o aumento relativo do nível do mar como um"fenômeno óbvio ", sendo necessário moni-toramento regional para busca de soluçõessingularizadas.

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ESPÉCIESEM EXTINÇÃO

A preocupação da comunidade científicacom as espécies ameaçadas de extinção figura emsexto lugar no ranking dos temas cobertos pelarevista Ciência Hoje. As espécies da faunasilvestre constituem o foco do interesse dospesquisadores, com seis dos nove artigos,destacando-se mico-Ieão-dourado, ouriço-preto,baleias, macacos mono-carvoeiros ou muriquis,tartarugas marinhas, sagüis, mico-Ieão vermelho,macaco-da-noite e outros primatas.

O enfoque dos estudos é essencialmentedescritivo e didático, com a preocupação básica defornecer o máximo de informações ao leitor sobreas espécies ameaçadas. Destacam-se ainda asiniciativas de instituições para preservar taisanimais, bem como o trabalho de pesquisadorescom o objetivo de reintroduzir tais seres em seuhabitat original ou sua reprodução em reservasbiológicas. É oportuno ressaltar ainda a conotaçãode denúncia no discurso dos cientistas, salientandoo descaso das instituições responsáveis pelapreservação do patrimônio natural do País, bemcomo acaça predatória ou a matança indiscriminadaem quase todas as regiões do Brasil.

Estudos sobre espécies ameaçadas da florae da avifauna aparecem em segundo plano, comapenas um texto, respectivamente. No primeirocaso, o alvo são as bromeláceas; no segundo, aararinha-azul. Apesar da riqueza de espécies, comoo abacaxi e as ornamentais, alguns tipos encontram-se ameaçados pela relação agressiva do homemcom a natureza. Tais plantas sofrem face à açãoindireta do homem, pois com o desflorestamento ea devastação, as bromeláceas tendem adesaparecer, junto com as árvores derrubadas ouas queimadas. O mesmo ocorre com a ararinha-azul, por serumtipo de ave muito ligadoàs palmeiras.Assim, com a destruição dos palmeirais, como porexemplo, para a fabricação de celulose, os ninhossão destruídos e as aves sobreviventes tendem afugir. A reprodução em cativeiro ou reservasbiológicas é apontada como uma das alternativaspara a preservação das ararinhas.

A contribuição daPaleontologia para oestudoda preservação de espécies ameaçadas dedesaparecimento provocado é outro tema queconstitui objeto de análise de Ciência Hoje. Afinal,

"a origem e a extinção das espéciescostumam ser vistas como duas faces deum mesmo problema: as relações que elasmantêm entre si e com o ambiente

selecionarão aquelas que sobreviverãono período seguinte e as que seextinguirão. Há muito os paleontólogosperceberam que, em determinadas épocasdo passado, ocorreu maior nÚmero deextinç6es que em outras, consideran-do-as como 'crises' na história da vida"

(Padrões de Extinção no registro Fóssil,ju1.l989).

ECO-HISTÓRIA

A categoria Eco-História registrou seisartigos - cada um sobre temas distintos - naperspectiva de uma história dos desastresambientais, cujo objetivo é "rastrear o passadoem busca das mudanças climáticas, dasalterações no curso dos rios, no regime dosventos, na estrutura do solo" ("DesastresAmbientais naCapitaniade Goiás",jan./fev.199l).No caso desse artigo, a análise remete a 1773, paradescrever o processo predatório de extraçãomineral, que causou o assoreamento dos ribeirõese a impossibilidade de cultivo agrícola em algumasregiões, onde o solo tornou-se "desnudado eabrasado". Outro texto, Uma História da Caça àBaleia (maio/jun. 1992), historiaesse tipo de pesca,a partir de 1602, no litoral sul do estado da Bahia,introduzida no Brasil depois que Felipe m, rei deEspanha e Portugal, concedeu alvará a um grupode marinheiros, permitindo o privilégio de caçarbaleias nas costas brasileiras. Com riqueza dedados estatísticos, históricos e ainda com fotos e

ilustrações, o texto apresenta de forma minuciosaa evolução dessa atividade, a qual constitui, hoje, acausa principal da ameaça de extinção a váriasespécies desse mamífero marinho.

O artigo "[taparica: novos destinos"(ago.1989), apesar de remeter a um período históricorecente - a década de 1970 -, faz referência a uma

época bem anterior, como se vê desde a introdução:

"[taparica desafiou a história quando aságuas do São Francisco inundaramvestígios de dez mil anos atrás. O riolevou a maioria das 'itacoatiaras',

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inscrições de homens pré-históricos feitasnas suas margens. Um imenso tesouroarqueológico permanece submerso comos sonhos de milhares de gerações que opresente teima em ignorar".

Ainda relacionado com o rio São Francisco,

o texto " O Arapaçu-do-São-Francisco 60 anosdepois" Uu1.1988) trata de descoberta de umaespécie da avifauna brasileira ainda não identificadapela ciência. Tal descoberta ocorreu em 1926, pelaomitóloga alemã Emilie Snethlage, no Brejo Jamaria,no estado de Minas Gerais, à margem esquerda dono.

Entre os outros temasabordados, destacam--se as empreitadas de naturalistas e botânicositalianos no Brasil, no período de 1800 a 1850 esuas contribuições para a classificação das plantastípicas da flora nativa e um estudo sobre aoriginalidade da terra na região de Os Sertões.

DEVASTAÇÃO/DESMATAMENTO

A inundação de áreas florestais ehabitacionais é o carro-chefe dos estudos sobredevastação publicados por Ciência Hoje (três dosseis textos). Destacam-se as inundações provocadaspela construção de represas e barragens, como arepresa de Itaparica no rio São Francisco e represasda Barra Bonita e do Lobo, ambas no estado de SãoPaulo.

A barragem de Itaparica foi objeto de doisartigos minuciosos, abrangendo não só os impactosambientais, mas outros fatores, como a interferêncianas relações sociais dos sertanejos e as alteraçõesna economia local e nas relações de trabalho:

- tInas bordas do grande lago da represa

de !taparica a vida mudou. Os sertanejosque viram suas terras desaparecerem sobas águas agora compreendem a urgênciade se ter uma organizaçÜo sindicalatuante. O grande lago sacudiu velhoshábitos e conscientizou o pequenoagricultor. Ele aprendeu depois dainvasão da velha caatinga a lutar pelosseus direitos";

"as repercussões causadas pelaconstruçÜo da Usina Hidrelétrica de!taparica atingiram, além do meio ambiente,

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as relações sociais na regiiio sertaneja,alterando tanto a economia local como omodo de vida dos habitantes";

- "... se em algumas áreas a implantaçiio deagroindÚstrias modifica o quadro local,tornando predominante o trabalhoassalariado, em outras maisdistanciadas da influência direta dessescomplexos empresariais - as antigasrelações, como a parceria. o comodato,se incorporam à produçiio, emboraredefinidas pelo patamar de exigênciascompatível com a acumulaçiio de capitalem seu novo estágio" (Terra por terra nabeira do grande lago. ago.1989).

Um dos estudos, contudo, concentra-se nodiagnóstico da devastação nas áreas adjacentes tárepresa, ressaltando que, deliberadamente,"optou_se, porém, por desmatar toda a vegetaçãodo núcleo de colonização de Petrolândia". Com isso,

-"0 lago de ltaparica provocou ainundaçiio das cidades de Petrolândia e!tacuruba (PE), de rodelas e do distritode Barra do Tarrachil (BA). Foramsubmersas 4.160 moradias, com o que sedesalojaram 36 mil habitantes, dos quais55% na zona rural e 45% nas áreasurbanas".

- a inundaçiio do reservatório trouxeinevitáveis prejuízos à fauna terrestre,típica de clima semi-árido("Bichos e plantasno doce mar do sertão", ago.1989);

O estudo sobre a construção de represasartificiais no estado de São Paulo, apesar de analisardois casos determinados, a Represa de Barra Bonitae a Represa do Lobo, traz dados sobre o impactogeral do crescimento de tal empreitada, resultandona inundação de 15 mil km de terra firme, nosúltimos anos. Ressalta que:

- "0 manejo correto de várias represas de

uso mÚltiplo e localizadas ao longo de ummesmo rio é um verdadeiro desafio, poisprecisa levar em conta as caracteristicasdos ecossistemas envolvidos";

- "a rápida inundação dos reservatórios eas grandes dimensões assumidas por essesecossistemas artificiais têm produzidoinÚmeras alterações nos sistemas

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hidrológico, atmosférico, biológico e socialnas regiões em que são construidos e nasáreas atingidas pelos lagos artificiais"(Ambiente, represas e barragens, nov./dez. 1986 ).

O fenômeno das enchentes no Sul do Paíscompleta o quadro de Ciência Hoje sobre adevastação causada pelas inundações, do prontode vista das Geociências. Além dos aspectosgeológicos, destacam-se os impactos das enchentessobre áreas habitadas, principalmente os sítiosurbanos, destacando casos específicos comoBlumenau e Joinville ("Enchentes em SantaCatarina: o fenômeno vira rotina", jun.1988).

A devastação de sítios arqueológicos e seupatrimônio de inscrições rupestres é noticiada naseção "É Bom Saber", citando o caso da destruiçãodo Arco do Calcário, em Minas Gerais, por umaempresa extratora de cal, que dinamitou o local.Este texto foge totalmente ao padrão editorial dosdemais, pois apresenta caráter jornalístico, típicoda seção da revista.

PARQUES/ESTAÇÕES/ RESERVAS ECOLÓGICAS

Cinco grandes Parques Nacionais Brasileiros(PNB's) foram contemplados pelos estudospublicados porCiência e Cultura: Parque Nacionaldas Emas, Parque Nacional do Itatiaia, ParqueNacional da Serra do Cipó, Parque Nacional doAraguaia e Parque Nacional de Abrolhos. In-clui-se ainda a Reserva Biológica do Gurupi.

Um dos primeiros artigos da série mencionadiversos aspectos da definição, caracterização eobjetivos legais dos Parques, com base na legislaçãoque os regulamenta. São definidos pelo regulamentodos Parques Nacionais Brasileiros, aprovado peloDecreto no. 84.07 I, de 21/09/1 979, como "áreasgeográficas extensas e delimitadas, dotadas deatributos naturais excepcionais, objeto depreservação permanente, submetidas à condiçãode inalienabilidade e indisponibilidade no seutodo" (Art.l Q)que se destinam a "fins científicos,culturais, educacionais e recreativo"; cabendoàs autoridades "preservá-los e mantê-los intocáveis(Art. 2Q). O mesmo documento enuncia ainda que"0 objetivo principal dos parques nacionais residena preservação dos ecossis-temas naturaisenglobados contra quaisquer alterações que o

desvirtuem" (Art. IQ), e que o "uso e a destinaçãodas áreas que constituem os parques nacionaisdevem respeitar a integridade dos ecossistemasnaturais abrangidos" (Art. 3Q).

Além dessa preocupação didática, os demaistextos, de modo geral, apresentam umacaracterização minuciosa dos PNB 's, tanto emseus aspectos positivos como negativos.Predominam os primeiros, com estudos da área deBiologia Marinha, Zoologia e Botânica, nos quaissão ressaltados a riqueza e a grandeza de algunsPNB's:

- "a região de Abrolhos, no litoral do sul da

Bahia, apresenta uma das áreas de maiorriqueza e diversidade de vida marinha nolitoral brasileiro"( Um parque nacional paraAbrolhos - set./out., 1982);

- "... para os cientistas, existe ali umlaboratório natural. Para os turistas, um

imenso jardim. Para todos nós, uma regiãopropícia ao desenvolvimento de programasde educação sobre o meio ambiente"("Campos Rupestres, jul.lago.1986).

A criação da Reserva Biológica do Gurupi,no oeste do Maranhão, também é saudada comotimismo, com ênfase para a riqueza natural doecossistema contemplado pela citada reserva, aprimeira do Estado:

"0 Maranhão é particularmente rico emecossistemas. Ao longo da costa, estendem--se mangues, dunas de areia e restingas. Asbacias inferiores de seus principais riosformam cadeias de lagoas com extensospântanos e campos inundados

sazonalmente" ("Uma reserva biológicapara o Maranhão", juI.l986).

Entretanto, apesar do encanto dos Parques,ressaltado sobretudo pelos botânicos, os biólogosmanifestam-se com indignação acerca dadepredação do patrimônio natural dos PNBs:

"... mas a depredação continua: mais da

metade da área do Parque Nacional daSerra do Cipó (MG) está em mãos departiculares e 'caçadores de orquídeas'derrubam plantas que, às vezes, têm mais de500 anos de idade. Até quando?" ("Camposrupestres", jul.lago.1986).

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POLíTICAAMBIENTAL

o item política ambiental aparece basica-mente sob a forma de notas e comentáriosbibliográficos.Háapenas umestudo maisdetalhado,que enfoca a situação brasileira em face da questãonuclear. Grande parte do texto limita-se a repetir oschavões apocalípticos de uma possível catástrofeatômica, assemelhando-se a um ensaio de ficçãocientífica, ao descrever o cenário hipotético dobombardeamento, a partir do Pólo Norte.Entretanto, questiona o alheamento do Brasil emrelação ao tema, salientando o fato de que, em casodequalquer acidente nuclear nos países da AméricadoNorte, aAmazônia brasileira seria drasticamenteprejudicada pela radioatividade, afetando aatmosfera, os rios, a vegetação e a fauna. Apesarde todos esses riscos, o Governo brasileiropermanece indiferente a tal problema, na visão dospesquisadores.

Quanto aos comentários e notas bibliográ-ficas, das três obras enfocadas, duas abordam apolítica brasileira de meio ambiente no contextointernacional, tendo como parâmetro as reco-mendações do relatório Nosso Futuro Comum e ascríticas do Greenpeace. A outra analisa as posiçõesdo Governo, com base nos pronunciamentos emeventos nacionais. Percebe-se, assim, a nítidarelação entre o internacional e o nacional, no que serefere à abordagem dos temas concernentes àpolítica ambiental. Também são enfocados outrosatores, considerados importantes no cenário dapolítica ambiental brasileira, tais como: industriaise empresários, cientistas, meios de comunicaçãopública e Organizações Não Governamentais(ONGs). O conteúdo dos textos é mais informativoque analítico. Os cientistas, contudo, mesmo sendoapontados como atores da política ambiental, peloque se pode inferir da cobertura de Ciência Hoje,mantêm certa distância em relação ao tema. Aamostra examinada não registra um só artigo acercadesse tópico. Nem mesmo os cientistas sociais semanifestaram, ao longo dos 30 meses em estudo.

RIO 92

Quanto à Conferência da Organização dasNações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, a revista Ciência Hoje

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publicou quatro textos, todos no primeiro semestrede 1992. Deste total, temos apenas um artigoopinativo, assinado por um cientista. Os demaissão um editorial, uma entrevista e um artigo. Todossão relevantes e oportunos, mas podem serconsiderados mais jornalísticos do que dedivulgação científica. Mesmo o artigo de autoriade um cientista, sobre "Mineração, Meio Ambientee a Rio 92", tem essa característica. Assemelha-seao formato de uma grande reportageminterpretativa, ou seja, apresenta dados, fatos etece considerações de cunho opinativo.

O editorial, "Um Futuro Pouco Comum"(maio/jun.1992), comenta o fato de os EstadosUnidos e outras potências terem se recusado aassinar a Convenção sobre Biodiversidade, sinalclaro do desejo de continuar controlando osinstrumentos da biotecnologia para aexploração derecursos naturais. Discorre ainda sobre outrospontos de divergência entre as nações, como aproteção à propriedade intelectual e industrial,manifestações de abuso de poder econômico e asexpectativas da comunidade científica e dasociedade brasileira em relação ao evento.

A entrevista, realizada com um representantedo Brasil na Organização das Nações Unidas paraa Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), traçaum paralelo entre a concepção da Conferência deEstocolmo, realizada em 1972 e da Rio 92,destacando, no primeiro caso, a importância datomada de consciência e no segundo, oamadurecimento dessa consciência social. Já o

deputado Fábio Feldman, presidente da Comissãode Meio Ambiente da Câmara dos Deputados esócio da SBPC, que assina o artigo, destaca aatuação das ONG's no processo preparatório daConferência e da relação da problemática ambientalcom outros temas sociais igualmente importantes.Afinal, "não existirá solução para a degradaçãodo meio ambiente sem justiça social eredistribuição de renda em nível mundial"; afirmao deputado, em seu artigo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes dos comentários finais propriamenteditos, retomaremos a hipótese central que norteouessa pesquisa, ou seja, a de que a divulgaçãocientífica contribuiu para que o tema adquirisse

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46 AT. BARROS

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mais repercussão pública, passando a despertarmais interesse social, fazendo com que a Ecologiadeixasse de ser assunto de especialistas, à medidaque outros ramos do saber passaram a se dedicarao estudo do fenômeno, sobretudo com as

contribuições oriundas do campo das CiênciasSociais, como foi o caso da Antropologia,inicialmente, e, depois da Ciência Política SociologiaeEconomia. Esse foi, a nosso ver, um dos fatores

importantes para a passagem da ciênciaecológica, produzida por especialistas, para aconsciência ecológica, quando se passou a debaterpublicamente o assunto, uma vez que o laboratóriodos cientistas sociais é a discussão acadêmica, emprimeira instância, e o debate público, o qualretroalimenta a discussão e fornece elementos paraque as idéias sejam repensadas, aprimoradas enovas questões sejam incorporadas. O segundo,decorrente do primeiro, baseia-se na idéia deque esse feedback oferecido pela sociedadetambém é importante para a produção deconhecimentos sobre meio ambiente, uma tentativanatural da comunidade científica de atender às

demandas emergentes da sociedade. Com isso, nãosó as Ciências Sociais, mas todas as áreas científicaspassaram a realizar estudos que tentassemresponder a essas demandas, direta ouindiretamente.

Entretanto, o que podemos inferir, depoisda análise apresentada, é que nossos pressupostosiniciais não se confirmam totalmente. A divulgaçãocientífica realizada pela SBPC também apresentasuas vicissitudes, como a hegemonia das CiênciasNaturais; a pouca expressividade das CiênciasSociais; o caráter diagnosticador; o tom denuncista,em alguns momentos; e a fragilidade na politizaçãodo assunto.

É necessário, portanto, relativizar aimportância da divulgação científica sobre meioambiente, tendo em vista os dados acimaapresentados e discutidos.

Entre as características gerais do conteúdoda revista Ciência Hoje destacam-se:

1 - Concentração nos estudos de ava-liação de impactos e efeitos da degradaçãoambiental- é o que observamos na grande maioriados estudos, de diversas áreas. Categorias como

poluição, devastação, fauna/flora, espéciesameaçadas de extinção, desertificação e eco-história exemplificam tal tendência.

2 - Atenção às tendências da divulgaçãocientífica internacional - é o que observamosprincipalmente no que se refere aos "temas globais",como efeito estufa, mudanças climáticas etc. Ointeresse é de acompanhar o que a comunidadecientífica internacional está produzindo sobre taisassuntos.

3 - Ampla agenda temática - em relação àCiência e Cultura, apresenta um enfoque maisamplo, abordando temas ecológicos sob aperspectiva de diferentes áreas científicas, inclusiveas sociais, como Antropologia;

4 - Didatismo - até por ser dirigida ao"público leigo", inclusive a estudantes do ensinomédio, procura apresentar os textos de formadidática, dividindo-os em partes, além da utilizaçãode quadros, gráficos e outras ilustrações; com ointuito de facilitar a compreensão da leitura.

S - Preocupaçãocom o conteúdoinformativo - devido a seu caráter de periódico dedivulgação científica, Ciência Hoje não priorizatanto os cânones científicos no estudo de temasecológicos, mas a informação em si, o que a faz seaproximar do enfoque jornalístico.

Após a análise, podemos afirmar queCiênciaHoje não possui uma agenda própria, ou seja, seuconteúdo é pautado por outro periódico da SBPC:Ciência e Cultura'. Na realidade, são doisperiódicos distintos, com objetivos diferentes, masque o segundo constitui uma extensão do primeiro.As diferenças estão mais na forma com que ostemas são abordados do que no conteúdo em si.Grosso modo, poderámos afirmar que CiênciaHoje é uma espécie de "tradução" de Ciência eCultura para o público leigo. Entretanto, apesardessa característica geral comum, não podemosignorar as particularidades de cada um dosperiódicos em exame. Para tanto, consideramosque a melhor alternativa é a comparação entrealgumas das categorias comuns às duas revistas, acomeçar pela categoria Amazônia, a principal emambas as revistas.

Aliás, a revista Ciência Hoje é que revelamaior sintonia com as questões ecológicas globais,

(J) A pesquisa original que deu origem a este artigo também analisou os textos publicados por Ciência e Cultura.

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comdestaque para os seguintes temas: aquecimentoglobal, mudanças climáticas, destruição dacamadade ozônio, biodiversidade e desflorestamento. Oque podemos inferir é que a globalização do debateecológico, no que concerne aos estudos dacomunidade científica brasileira sobre a Amazônia,constitui mais uma tentativa de atender a eventuais

demandas externas do que a um interesse própriodo campo científico em si. O que nos leva a essaconclusão é o fato de que quanto maior o interessededivulgaçãocientífica do periódico,maiora relaçãocom as questões globais. Ciência e Cultura, quenão tem o objetivo de divulgação científica, é operiódico que menos se volta para a agendaecológica planetária. Já a revista Ciência Hoje,dirigida a um público mais amplo, apresentavinculação maior com a agenda global.

Em Ciência Hoje, percebemos que oespectroda divulgação científica sobre ecologia éabrangente. Entretanto, igualmente, predomina oolhar das Ciências da Natureza. As CiênciasSociais aparecem quase exclusivamente sob oenquadramento da Antropologia, que se interessabasicamente pela questão indígena. Mesmo setratando de um veículo considerado de difusão

científica, voltado para o grande público, há quaseuma reedição da orientação editorial geral deCiência e Cultura. Autores como Edgar Morin(1973, 1991,1992) apontam para uma significativacontribuição das Ciências Sociais na passagem deuma ciência ecológica (produzida por e paraespecialistas) para uma consciência ecológica, queimplicanoenvolvimento de vários segmentos sociaisno debate sobre o assunto. Contudo, isso ainda nãose reflete na forma como a SBPC realiza sua

divulgação científica, pelo menos em seusinstrumentos institucionais de divulgaçãocientífica, como a revista Ciência Hoje.

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