a sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição...

182
Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Educação Programa de Pós - Graduação em Educação A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto do ProJovem de Brazlândia. MARLI VIEIRA LINS Brasília 2008

Upload: lemien

Post on 07-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Universidade de Brasília - UnB

Faculdade de Educação

Programa de Pós - Graduação em Educação

A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto

do ProJovem de Brazlândia.

MARLI VIEIRA LINS

Brasília

2008

Page 2: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Universidade de Brasília - UnB Faculdade de Educação

Área de concentração: Aprendizagem e Trabalho Pedagógico

A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto

do ProJovem de Brazlândia.

MARLI VIEIRA LINS

Brasília, DF

2008

Page 3: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição para o

desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto do ProJovem de Brazlândia.

MARLI VIEIRA LINS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília,

como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em

Educação, área de concentração: Aprendizagem e Trabalho

Pedagógico, sob orientação da Professora Doutora: Vera

Aparecida de Lucas Freitas.

Brasília, DF

2008

Page 4: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Marli Vieira Lins

A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto

do ProJovem de Brazlândia.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília,

como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em

Educação.

Banca Examinadora:

__________________________________________________

Profª. Drª. Vera Aparecida de Lucas Freitas (orientadora) (UnB)

__________________________________________________

Prof. Dr.Renato Hilário dos Reis (UnB)

__________________________________________________

Profª. Drª. Rosineide Magalhães de Sousa (FTB)

__________________________________________________

Profª. Drª. Stella Maris Bortoni-Ricardo (suplente) (UnB)

__________________________________________________

Brasília, DF

2008

Page 5: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Agradecimentos

A Deus, meu tudo, por ter me dado condições de realizar e de finalizar este trabalho.

À professora Vera Aparecida de Lucas Freitas, minha orientadora, pela condução

sempre firme e segura no decorrer deste trabalho.

À professora Lúcia Maria Gonçalves de Resende pela colaboração, em minhas

reflexões acerca da formação do profissional de educação.

Ao professor Renato Hilário dos Reis, por me mostrar o quão gratificante é contribuir

para a formação de um jovem e de um adulto.

À professora Stella Maris Bortoni-Ricardo, pelos seus ensinamentos, por sua

experiência e competência.

Aos responsáveis pelo ProJovem de Brasília, que gentilmente possibilitaram a

realização do meu trabalho.

Aos meus colegas de trabalho, principalmente àqueles do ProJovem de Brazlândia que

contribuíram para que minha pesquisa se efetivasse.

Aos meus alunos de Santa Maria e de Brazlândia, que venceram a vergonha e o medo

de aprender, no momento em que decidiram participar da minha pesquisa. Jamais esquecerei

os lindos momentos de aprendizagem e de companheirismo que tivemos juntos.Vocês sempre

farão parte do meu mais lindo capítulo nesse grande livro da educação.

A minha mãe (in memoriam) que, mesmo longe de nós, é minha força e minha fonte de

inspiração.

Ao meu pai, meus irmãos (Miriam e Marcondes), Mara e Mylena, pelo incentivo e pelas

orações.

De modo especial, agradeço ao meu noivo, Edvaldo: pelo amor, pela dedicação e pelo

apoio em todos os momentos. Obrigada amor, essa vitória é nossa!

Page 6: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Para finalizar esse momento, gostaria de deixar registrado um texto produzido por

Jorge Luiz P. dos Santos (aluno do ProJovem de Santa Maria), o qual põe em evidência a

importância da fala, no ambiente escolar, como uma necessidade dos jovens que fizeram parte

desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Falo tudo, se me deixarem falar.

Jorge Luiz P. dos Santos

Me expressar é o que eu sempre quis

Poder falar da importância que é falar

Dizer o quanto me engrandecer

O quanto é bom falar

Falar da minha vida

Falar da vida alheia

Do dia, da noite.

Dos problemas.

Falar que tem cura

Que pode ser salvo

Que é bom, é ruim.

Preciso falar, me deixe falar.

Necessito falar

Que falem não ligo!

Que liguem para eu falar

Posso não saber escrever

Mas sei falar

Falar em todos os sotaques

Nesse Brasil de várias línguas

Mas mesmo assim, eu sei falar,

Só sei falar.

Page 7: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A minha irmã pela compreensão e pela força nos momentos mais

difíceis.

Ao meu pai e ao meu irmão pela paciência que tiveram comigo no

decorrer deste trabalho.

Para Edvaldo, meu amor, companheiro de todas as horas.

E a Mylena Stephany, minha rainha...

Page 8: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

...não posso de maneira alguma, nas minhas relações político-

pedagógicas com os grupos populares, desconsiderar seu saber de

experiência feito. Sua explicação do mundo de que faz parte a

compreensão de sua própria presença no mundo. “E com tudo isso vem

explicitado ou sugerido ou escondido no que chamo de “leitura de mundo”

que precede sempre a leitura da palavra”. (FREIRE,1998,p.90)

Page 9: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................

16

1 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: meu desafio..................................... 20

1.1 Introdução.................................................................................................... 20

1.2 Histórico da Educação de Jovens e Adultos................................................ 20

1.3 Jovens e Adultos e o ensino de língua materna.......................................... 25

1.4 Conhecendo o ProJovem............................................................................. 26

2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS........................................................... 31

2.1 Introdução................................................................................................... 31

2.2 Opções metodológicas: pesquisa qualitativa de cunho etnográfico........... 31

2.3 A etnografia de sala de aula....................................................................... 33

2.4 Perguntas Exploratórias............................................................................. 35

2.5 Objetivo Geral............................................................................................. 35

2.6 Objetivos Específicos.................................................................................. 35

2.7 Asserções................................................................................................... 35

2.7.1 Asserção Geral...................................................................................... 36

2.7.2 Subasserções....................................................................................... 36

2.7.3 Relação entre objetivos e asserções.................................................... 36

2.8 Contexto e cenário da pesquisa................................................................. 37

2.9 Procedimentos e instrumentos de pesquisa............................................... 38

2.10 O perfil dos participantes.......................................................................... 41

2.10.1 O perfil da professora - pesquisadora................................................. 42

2.10.2 O perfil dos alunos.............................................................................. 43

2.11 A trajetória de vida dos educandos jovens e adultos do...........................

ProJovem de Brazlândia 49

2.11.1 A história de vida de cada aluno participante da pesquisa................. 50

3 ORIENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA........................................................ 53

3.1 Introdução..................................................................................................... 53

3.2 A contribuição da Sociolingüística à Educação............................................ 53

3.3 A Sociolingüística Interacional...................................................................... 57

3.4 Letramento e oralidade................................................................................. 60

3.5 A sala de aula: um espaço para a oralidade................................................. 65

3.6 Conceituando estratégias............................................................................. 67

Page 10: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

3.7 O texto na sala de aula................................................................................. 69

3.8 A formação reflexiva do educador................................................................ 72

3.9 O professor - pesquisador: uma experiência pessoal I................................. 75

3.9.1 O professor - pesquisador: uma experiência pessoal II.......................... 88

3.9.2 Aplicação e discussão do questionário final........................................... 89

4 A PRODUÇÃO TEXTUAL NO AMBIENTE ESCOLAR: da fala para escrita. 95

4.1 Introdução..................................................................................................... 95

4.2 Análises de textos sobre aborto.................................................................... 95

4.2.1 Relações entre fala e escrita: Análise Documental................................. 96

5 O debate: uma contribuição para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto do ProJovem de Brazlândia.

117

5.1 Introdução..................................................................................................... 117

5.2 A realização do debate................................................................................. 117

5.3 A diminuição da idade penal: conversando com os alunos.......................... 118

5.4 Análise das informações obtidas no debate................................................. 118

5.5 Análise dos textos escritos............................................................................ 126

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 137

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 141

ANEXOS

Page 11: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Lista de Quadros e Figuras

Quadro 1 - Carga Horária do ProJovem de Brasília

Quadro 2 - Relações entre objetivos e asserções

Quadro 3 - Perfil social da turma

Quadro 4 - Motivos pelos quais os alunos deixaram de estudar

Quadro 5 - O que o aluno espera do programa

Quadro 6 - Dificuldades na produção escrita

Quadro 7 - Dificuldades na produção textual oral

Quadro 8 - Língua falada e escrita

Quadro 9 - Cultura oral e letrada

Quadro 10 - Oralidade e escrita na perspectiva variacionista

Quadro 11 - Condições para a formulação de textos orais e escritos

Quadro 12 - Textos do aluno Jeferson

Quadro 13 - Textos da aluna Laura

Quadro 14 - Textos da aluna Fernanda

Quadro 15 - Textos da aluna Janaína

Figura 1 - Instrumentos utilizados na pesquisa

Figura 2 - Fluxo das ações

Page 12: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

LISTA DE ANEXOS

Anexo A - Modelo de questionário de alunos (1º questionário) Anexo B - Modelo de questionário dos professores (1º questionário) Anexo C - Modelo de questionário aplicado aos professores (2º questionário) Anexo D - Modelo de questionário dos alunos (2º questionário) Anexo E - História de vida (oral) de cada aluno participante da pesquisa Anexo F - História de vida dos alunos participantes da pesquisa (textos escritos) Anexo G - O debate sobre diminuição da idade penal Anexo H - Textos reescritos sobre diminuição da idade penal

Page 13: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

CONVENÇÕES ADOTADAS PARA A TRANSCRIÇÃO

OCORRÊNCIAS SINAIS

Professora-pesquisadora Pp

Alunos (as) A

Pausas (pausa curta); (pausa média)

Incompreensão de palavra ou segmento (incompreensível)

Hipótese do que se ouviu (hipótese)

Comentário descritivo do professor-

pesquisador

((minúsculo))

Entonação enfática MAIÚSCULAS

Page 14: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

LINS, Marli Vieira. A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição para o

desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto do ProJovem de

Brazlândia.Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação da Universidade de

Brasília, 2008.

RESUMO

Esta dissertação apresenta um estudo sobre a importância da oralidade no contexto escolar

em uma turma do ProJovem de Brazlândia. A pesquisa fundamenta-se nos princípios de uma

metodologia qualitativa e nos pressupostos etnográficos para a construção dos dados. A base

teórica forma-se a partir dos estudos da Sociolingüística Interacional, do Letramento e da

Oralidade, da Lingüística Textual, do Professor Reflexivo e, por fim, das contribuições trazidas

pelos estudos realizados sobre Educação de Jovens e Adultos. Neste trabalho são analisados

textos orais e escritos desenvolvidos em sala de aula, objetivando conhecer: as estratégias

utilizadas pelos alunos nessas produções, o papel do professor nesse processo de construção

do saber e importância do texto oral para a construção do texto escrito. Espera-se, dessa

forma, contribuir para que o professor de educação de jovens e adultos perceba que,dentro de

uma sociedade letrada como a nossa,a oralidade e a escrita dão-se em um continuum e que a

sua participação nesse processo é de fundamental importância.

Palavras-chave: letramento; oralidade; textos; estratégias; ProJovem; reflexão.

Page 15: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

LINS, Marli Vieira. The classroom: a space for the oral and a contribution to the development of

communicative competence of the youth and adult student of Brazlândia ProJovem.

Dissertation (Master of Education) - Faculty of Education at the Brasília University, 2008.

ABSTRACT This dissertation presents a study on the importance of oral school in the context of a class of

Brazlândia ProJovem. The research is based on the principles of a qualitative methodology and

assumptions for the construction of ethnographic data. The theoretical basis so it is from the

studies: the sociolinguistic interactional, Literacy and the Oral of Linguistics Textual, Reflexive

Teacher and finally with the contributions brought by the studies under the Education for Youth

and Adults. In this work are examined oral and written texts developed in the classroom, the

strategies used by the students in these productions and the role of the teacher in this process

of construction of knowledge. It is expected, thus contributing to the professor of education of

youth and adults understand that within a literate society like ours, the oral and the written offer

to a continuum and that their participation in this process is vital.

Keywords: literacy; oral; texts; strategies; ProJovem; reflection.

Page 16: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

INTRODUÇÃO

Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia.

Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já

estamos “lendo” bem ou mal, o mundo que nos cerca. Mas este

conhecimento que ganhamos de nossa prática não basta. Precisamos de

ir além dele. Precisamos de conhecer melhor as coisas que já

conhecemos e conhecer outras que ainda não conhecemos. Paulo Freire

(2005, p. 71)

Pesquisas atuais (Alarcão, 2005) destacam a relevância de desenvolver nos alunos

competências que atendam às necessidades da sociedade moderna e informatizada. Essas

competências se assentam num conjunto de capacidades que requerem dos cidadãos de

maneira geral um conjunto de ações, tais como: utilizar e recriar o conhecimento, questionar,

indagar, ter um pensamento próprio, desenvolver mecanismos de auto-aprendizagem,

trabalhar individual e coletivamente, adaptar-se sem perder suas características individuais,

lidar com situações inesperadas, tomar decisões apropriadas para determinada situação, gerar

conhecimentos a partir de suas curiosidades intelectuais, etc.

Alarcão (2005, p.13) afirma que o “desenvolvimento dessas competências e os

contextos formativos que permitirão desenvolvê-las exigem novas atitudes dos alunos, dos

professores e das escolas como organizações vocacionadas para ensinar”. Assim, professores

e alunos são estimulados a buscar novos conhecimentos que atendam às exigências propostas

pela era tecnológica.

Para atender às necessidades da sociedade atual, o aluno deve se assumir como um

ser que observa o mundo e se observa, se questiona, atribui sentido aos objetivos, aos

acontecimentos e às interações. O professor tem a função de orientar, de mediar o aluno em

sua formação. Mas é o aluno que tem que descobrir o prazer de uma mente ativa e não

somente receptiva. Tavares e Alarcão (2001 apud. ALARCÃO, 2005) defendem que:

As aprendizagens na sociedade emergente terão de se desenvolver de

uma forma mais ativa, responsável e experienciada ou experencial, as

quais façam apelo a atitudes mais autônomas, dialogantes e colaborativas

em busca da dinâmica de investigação, de descoberta e de construção de

saberes alicerçada em projetos de reflexão e pesquisa, baseada em uma

idéia de cultura transversal que venha ao encontro da interseção dos

saberes, dos conhecimentos, da ação e da vida. É preciso valorizar a

criação de ambientes estimulantes para a aprendizagem e incentivar o

Page 17: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

desenvolvimento da criatividade, da inovação e da sua divulgação. Deverá

destacar-se a explicitação de uma dinâmica espiralada ou biimbicada

entre reflexividade e autonomia que deverá animar a ação educativa (p.

27).

Fundamentados pela pedagogia da autonomia (FREIRE, 1998), os professores devem

atuar como estruturadores e animadores das aprendizagens, mas para que isso aconteça, é

preciso uma redefinição de sua identidade e de suas responsabilidades profissionais. É

importante que a escola acredite em novas formas de educação voltadas para o ensino, para a

pesquisa e para a reflexão (ALARCÃO, 2005; FREIRE, 1998). Essas três formas de construção

do saber trazem para a escola, de maneira geral, muitas contribuições e muitos

questionamentos, tais como: que tipo de ensino está sendo oferecido aos alunos? Eles estão

de fato construindo um conhecimento? O que a comunidade escolar como um todo pode fazer

para que os alunos tenham uma aprendizagem mais significativa? Para que serve a pesquisa

em sala de aula? Em que ela contribui para a efetivação do saber do aluno? Que tipo de

reflexão é proposta pela escola? O que se pretende com essa reflexão?

Nos últimos anos, muitos estudos têm sido realizados no Brasil e no mundo em busca

de encontrar respostas para essas e outras perguntas, bem como para as causas das

dificuldades referentes às questões de leitura e escrita e para propor atividades pedagógicas

que realmente insiram o educando no mundo letrado1.

No entanto, esses esforços ainda não deram o resultado esperado, pois estudos

realizados por Ribeiro (2004) e outros estudiosos da língua revelam que ainda muito se tem a

refletir e a fazer no âmbito da linguagem, seja ela escrita ou oral.

Ribeiro (2004) documenta os resultados do Indicador Nacional de Alfabetismo

Funcional (INAF), em uma iniciativa do Instituto Paulo Montenegro – Ação Educativa, em 2001.

Esses resultados revelam que 9% da população de 15 a 64 anos de idade encontram-se numa

situação de total analfabetismo. Outras pesquisas realizadas pelo Instituto Paulo Montenegro

constataram uma queda desse percentual de 9% (em 2001), para 8% (em 2003) e para 7%

(em 2005). Apesar da redução do número de analfabetos, acredita-se que se juntando esse

percentual ao de pessoas que são tidas como analfabetos funcionais (que têm pouco domínio

da leitura e da escrita) verifica - se um aumento do número de indivíduos que chegam à vida

adulta sem sequer ter terminado o ensino fundamental, deixando, assim, de atender ao que

determina a Constituição Brasileira em relação ao tema em pauta.

1 Letrado, segundo CARVALHO (2005, p. 66), é alguém que se apropriou suficientemente da escrita e da leitura a ponto de usá-las com desenvoltura, com propriedade, para dar conta de suas atribuições sociais e profissionais.

Page 18: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Esse é o caso dos alunos que participam do Programa de Inclusão de Jovens e Adultos

- ProJovem, que acontece em muitas cidades e agora também na capital do Brasil. Esses

jovens, em grande maioria, já estão na vida adulta, ou seja, têm mais de 18 anos e ainda não

conseguiram terminar o ensino fundamental e, por esse motivo, estão inseridos no programa.

A necessidade de realizar um estudo voltado não só para a escrita como ocorre

tradicionalmente, mas também para a oralidade no âmbito escolar advém, inicialmente, de

minha prática como professora de língua portuguesa. Nessa prática, tenho observado as

dificuldades que meus alunos têm de se colocar oralmente para expor seus pensamentos, suas

opiniões, suas críticas. De modo geral, isso acontece motivado possivelmente pelo medo que

eles sentem de errar e de sofrer alguma forma de preconceito. Além disso, pode-se claramente

observar que tais dificuldades não se restringem à linguagem oral. Elas estão evidentes

também na produção de textos escritos. Os alunos sempre argumentam que têm as idéias,

mas que não conseguem organizá-las e pô-las no papel de forma coerente. Isso vem reforçar a

idéia de que escrever um texto depende mais de técnica, desenvolvimento habilidades, de

estratégias do que propriamente de inspiração. Mais grave ainda é a situação daqueles alunos

que dizem que não produzem textos, porque não sabem escrever.

Esses “problemas” foram detectados em turmas regulares do ensino fundamental em

escolas públicas e/ou particulares. Porém, a experiência com educação de jovens e adultos

mostrou-me que para esse grupo de alunos, a dificuldade é bem maior.

A partir dessas observações, desejei e me propus a investigar, neste trabalho, o

desenvolvimento da oralidade e da escrita no âmbito da educação de jovens e adultos. Tal

desejo justifica-se por vários motivos. O primeiro consiste em acreditar que o desenvolvimento

da linguagem oral desses educandos é fundamental para que eles tenham uma maior

participação na sociedade. O segundo motivo tem relação com a necessidade de desenvolver

no aluno competências que o ajudem a se desempenhar bem de tarefas que envolvam a

linguagem oral, que certamente podem contribuir de maneira significativa para a construção de

textos escritos. E por último, ciente de que mesmo havendo muitas pesquisas voltadas para a

questão da educação e especialmente para o ensino da língua portuguesa, acredito que há

ainda muito espaço para estudos nessa modalidade de ensino.

O trabalho ora apresentado organiza-se em cinco capítulos.

No primeiro capítulo, apresentam-se algumas características próprias da Educação de

Jovens e Adultos, visando compreender melhor a organização e formação dessa modalidade

de ensino.

No capítulo dois, são enfatizadas as opções metodológicas, as perguntas exploratórias,

os objetivos, as asserções, os primeiros contatos, e os procedimentos utilizados para a

geração dos dados.

Page 19: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

No capítulo três, tem-se a fundamentação teórica que norteia a pesquisa, a qual busca

respaldo nos estudos realizados pela Sociolingüística Interacional, pela Lingüística Textual,

pelos fundamentos do Professor - Reflexivo e pelas contribuições oferecidas por educadores

da Educação de Jovens e Adultos.

Por fim, nos capítulos quatro e cinco, encontra-se a análise dos dados, que se forma a

partir dos textos produzidos pelos alunos tanto na modalidade oral, quanto escrita da escrita.

A seguir, será apresentado o primeiro capítulo desse trabalho que mostra um breve

histórico da Educação de Jovens e Adultos e do ProJovem de Brasília.

Page 20: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

1 Educação de Jovens e Adultos: meu desafio

1.1 Introdução Neste capítulo, serão destacados aspectos relacionados à educação de jovens e

adultos. Entende-se que conhecer a história e o percurso transcorrido por essa modalidade de

ensino é fundamental para que o professor compreenda a dinâmica educacional que a norteia.

1.2 Histórico da educação de jovens e adultos

O desafio da educação de jovens e adultos nos anos 90 é o

estabelecimento de uma política e de metodologias criativas, com a

finalidade de se garantir aos adultos analfabetos e aos jovens que tiveram

passagens fracassadas pelas escolas o acesso à cultura letrada,

possibilitando uma participação mais ativa no universo profissional, político

e cultural. O desafio torna-se maior quando se pensa que o acesso à

cultura letrada não significa em qualquer hipótese ignorar a cultura e os

saberes que os jovens e adultos trazem como bagagem. (CUNHA, 1999,

p.15 in Salto para o Futuro, 1999)

De acordo com Oliveira (1999), o termo Educação de Jovens e Adultos refere-se a um

grupo específico dentro da sociedade moderna. A partir dessa perspectiva, o adulto é

caracterizado como um migrante oriundo de classes menos favorecidas e que já teve uma

passagem pela escola regular. Porém, é importante destacar que essa passagem nem sempre

é bem-sucedida. Por esse motivo, esse aluno acaba sendo excluído do sistema regular de

ensino. Em um dado momento, seja pela necessidade pessoal de concluir seus estudos, seja

por uma exigência do mercado de trabalho, acaba voltando para a escola e inserindo-se,

geralmente, no ensino supletivo, com o objetivo de obter uma certificação e uma aprendizagem

que ele não teve na escola regular.

A educação de jovens e adultos vem sendo discutida desde a época do Brasil colonial.

Em 1878, a partir da criação do decreto número 7031, de seis de setembro de 1878, foram

organizados cursos noturnos para alunos analfabetos nas escolas públicas de educação

elementar, para o sexo masculino no município da corte. (Fonte:

http://forumeja.org.br/go/files/slide%20da%20educa%C3%A7ao%20municipal_1.ppt, Acesso:

17/09/2007).

No entanto, Di Pierro, Jóia e Ribeiro (2001) afirmam que a educação de jovens e

adultos surgiu, propriamente dita, na década de 1930 e vem se constituindo como uma

modalidade de ensino até os dias atuais. Pesquisas realizadas nesse âmbito revelam que tal

Page 21: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

modalidade só foi sistematizada entre as décadas de 1940 e 1950. (DI PIERRO; JÓIA;

RIBEIRO, 2001)

Em uma retrospectiva feita por Cunha (1999 in Salto para o Futuro, 1999), observa-se

que o termo “educação de jovens e adultos” desde a sua origem passou e ainda passa por

definições. A autora destaca que desde a época do Brasil colônia, quando se referia à

educação de jovens e adultos, fazia-se referência apenas à população adulta que precisava ser

doutrinada e iniciada na fé cristã. Dessa forma, compreende-se que, inicialmente, a educação

de jovens e adultos tinha um cunho mais religioso que educacional. Pesquisas realizadas

nesse âmbito ressaltam que no Brasil Império já se percebia a necessidade de haver classes

noturnas que visassem oferecer o ensino básico aos adultos não alfabetizados. No entanto,

somente na década de 1940, com a observância dos altos índices de analfabetismo no país, é

que a educação de jovens e adultos passou a ter relevância e independência.

A autora, acima citada, coloca que, em 1947, foi elaborada uma proposta voltada para

a educação de jovens e adultos. Tal proposta foi concebida a partir de uma Campanha de

Educação de Adultos, que se desenvolvia em três momentos, quais sejam: primeiramente, os

alunos eram submetidos à alfabetização, que teria a duração de três meses. Num segundo

momento, seria implantado o curso primário em duas etapas de sete meses cada uma, e em

uma terceira etapa, visava-se a capacitar o profissional e a desenvolvê-lo dentro da

comunidade da qual ele fazia parte. Juntamente com a Campanha de Educação de Adultos,

surge a discussão acerca do analfabetismo e da Educação de Jovens e Adultos no Brasil.

Nessa discussão colocou-se em pauta o preconceito existente para com o adulto analfabeto.

(CUNHA, 1999, in Salto para o Futuro, 1999)

Tal preconceito partia do princípio que o analfabeto “era um elemento incapaz e

marginal psicológica e socialmente”. O analfabeto, portanto, era excluído das práticas sociais

por não possuir as habilidades básicas de leitura e escrita. (CUNHA, 1999, p.11, in Salto para o

Futuro, 1999).

Reis (2000) corrobora a informação colocada, quando afirma:

Pois entendo que ao buscar a alfabetização ou a sua formação como

alfabetizadores , jovens e adultos parecem procurar algo que em si é

diferente da situação de excluídos. Algo que se materializa no acesso à

leitura, escrita e cálculo. ”É vencer o sofrimento”, como me diz um

alfabetizando entrevistado. Sofrimento de estar excluído do mundo dos

que sabem ler e escrever. (p. 60)

Cunha (in Salto para o Futuro, 1999) comenta que a década de 1950 marcou a

educação de jovens e adultos por acreditar na necessidade de desenvolver nos educandos

Page 22: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

uma maior conscientização sobre o seu papel de sujeito da educação. Esse momento da

história da educação brasileira recebeu contribuições significativas do educador Paulo Freire.

Segundo esse educador, a aprendizagem devia ser vista e constituída como um processo ativo

e interativo, fundamentado no diálogo como forma de construção do saber.

Em 1969, a Educação de Jovens e Adultos passou por outra mudança, que partiu do

princípio de que era necessário ensinar aos alunos não alfabetizados as habilidades básicas de

leitura e escrita. A partir dessa perspectiva de educação, criou-se o Movimento Brasileiro de

Alfabetização – MOBRAL, que tinha como objetivo inicial combater o analfabetismo. (DI

PIERRO; JÓIA; RIBEIRO, 2001). Com a sua extinção em 1985, surgiu a Fundação Educar que,

segundo Rezende (2005 apud ANTUNES, 2005), não elaborou propostas para a Educação de

Jovens e Adultos, mas apoiou técnica e financeiramente as iniciativas dos governos locais ou

de outras instituições da sociedade civil que se preocupassem com essa modalidade de

ensino.

Apenas com a Constituição de 1971 é que a Educação de Jovens e Adultos foi de fato

tratada como uma modalidade de ensino, assim como acontecia com a educação básica e a

média. Com a lei federal 5692/71 o ensino básico foi estendido de quatro para oito anos e, em

relação à educação de jovens e adultos, foi criado o supletivo visando a atender a esse

alunado (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001). No entanto, essa mesma legislação limitou a

obrigatoriedade da oferta pública do ensino de primeiro grau apenas às crianças/adolescentes

na faixa etária de 7 a 14 anos. O direito à educação básica só foi concedido de fato aos alunos

de educação de jovens e adultos na Constituição de 1988.

No decorrer da história da educação brasileira e com a aprovação da Constituição de

1988, criou-se o Programa Comunidade Solidária, instituído durante o governo de Fernando

Henrique Cardoso. Tal programa visava a realizar campanhas de alfabetização inicial, com a

duração de um semestre, nos municípios mais pobres que apresentavam uma elevada taxa de

analfabetismo entre jovens de 15 a 19 anos. (REZENDE, 2005 apud ANTUNES, 2005, p.10)

Não obstante essas mudanças, dados de pesquisas revelam que existiram alguns

avanços no decorrer da história da educação de jovens e adultos. Porém, é relevante destacar

que existiram também muitos retrocessos. Um deles ocorreu a partir de uma emenda feita à

constituição de 1988. Essa emenda propunha a supressão da obrigatoriedade do ensino

fundamental aos jovens e adultos, mantendo apenas a sua gratuidade (DI PIERRO; JOIA;

RIBEIRO, 2001).

Os autores acima citados afirmaram que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação –

LDB, de 1996, diluiu as funções do ensino supletivo nos objetivos e formas de atendimento do

ensino regular para crianças, adolescentes e jovens.

Page 23: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Enquanto no Brasil a educação de jovens e adultos passava por esses altos e baixos,

no contexto internacional, a década de 1990 foi marcada por uma declaração da Organização

das Nações Unidas que propunha que o ano de 1990 fosse considerado o Ano Internacional da

Alfabetização.

Nessa mesma época, realizou-se em Jonthien, na Tailândia, uma Conferência Mundial

que reuniu a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO,

o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, o Fundo das Nações Unidas

para a Infância – Unicef – e o Banco Mundial. Nessa conferência, foi aprovada a Declaração

Mundial sobre a Educação para Todos, que visava a ampliar a educação em todas as

modalidades de ensino. (HADDAD, SÉRGIO E DI PIERRO, MARIA CLARA). A declaração de

Jonthien destacava a educação de jovens e adultos, propunha a redução do analfabetismo e

procurava expandir os serviços de educação básica e capacitação de jovens e adultos,

observando seus impactos sobre a sociedade.

Atualmente, a Educação de Jovens e Adultos no Distrito Federal acontece em escolas

públicas e particulares, por meio do supletivo. Além deste, foram criados outros programas

voltados para a Educação de Jovens e Adultos, tais como o ProJovem, que foi o cenário desta

investigação.

Pesquisas recentes realizadas pelo Instituto Paulo Montenegro – Ação Social do

IBOPE e da ONG Ação Educativa destacam que, apesar da existência de programas que

contemplem a Educação de Jovens e Adultos, o índice de escolaridade entre os alunos que

participam dessa modalidade de ensino ainda é muito baixo.

Diante dessa constatação, alguns conceitos passaram e ainda passam por muitas

reformulações, como é o caso do conceito de Alfabetismo Funcional. Na década de 1950,

concebia-se como alfabetizada uma pessoa que conseguisse ler e escrever enunciados

simples, relacionando-os com sua vida diária. Na década de 1970, a Organização das Nações

Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO – propôs que fossem utilizados dois

conceitos, que seriam: analfabetismo e alfabetismo funcional, entendendo-se este último como

a capacidade que uma pessoa tem de utilizar a leitura e a escrita dentro do contexto social em

que ela vive, de forma que essas habilidades possam contribuir para o desenvolvimento

individual, intelectual e social do cidadão. (INAF, 2003)

A pesquisa realizada em 2000 pelo INAF subsidia a educação de jovens e adultos com

informações importantes que podem nortear tanto a prática pedagógica dos professores como

contribuir para que políticas públicas sejam desenvolvidas, objetivando um ensino de melhor

qualidade para esse alunado.

Page 24: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Em 2003, o teste aplicado pelo INAF comprovou que 8% dos brasileiros, com idade

entre 15 e 64 anos, estão em condição de analfabetismo absoluto. 30% só conseguem

localizar informações simples como, por exemplo, enunciados formados por apenas uma frase.

Esses estariam inseridos no nível um de alfabetismo. 37% localizam informações em textos

curtos, o que caracterizaria o nível dois de alfabetismo e 25% demonstram ter domínio pleno

das habilidades analisadas, ou seja, 25% da população que participou da pesquisa conseguiu

ler textos mais longos e complexos. Esses dados, se comparados aos obtidos em 2001,

comprovam que, em dois anos, o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita sofreu

poucas modificações. Quanto à escolaridade, a pesquisa revelou que 60% da população

estudada não possui a escolaridade mínima de oito anos, concluída, e que apenas 20%

possuem ensino fundamental e médio completos, e ainda destaca que:

• 20% dos que não completaram sequer uma série aprenderam a ler e a

escrever provavelmente por outros meios que não a escolarização.

• Quase um terço dos que completaram de uma a três séries escolares

(32%) se encontra ainda na situação de analfabetismo absoluto (não

sabem ler e escrever). Outros 51% podem ser considerados analfabetos

funcionais.

• Das pessoas com quatro a sete anos de estudo, pouco mais da

metade atinge os níveis básico e pleno de habilidade (níveis dois e três).

Os demais também poderiam ser considerados analfabetos funcionais.

• Só o ensino fundamental completo garante um nível, pelo menos,

básico de leitura e escrita para mais de 80%.

• O domínio pleno das habilidades testadas (nível três) só é majoritário

entre as pessoas com o ensino médio ou mais. (INAF, 2005, p. 6-7)

Esses dados são muito preocupantes, se analisados dentro de um contexto próprio de

Educação de Jovens e Adultos, pois revelam que os poucos jovens que tiveram acesso à

educação, o fizeram de uma forma precária, a qual não lhes confere nem o direito de ter um

emprego digno dentro da sociedade. Ressalta-se que as habilidades de leitura e escrita ficam

restritas a um grupo específico da sociedade, ou seja, àqueles que têm não só acesso à

educação, mas têm uma educação com uma melhor qualidade, o que só reforça o caráter de

desigualdade que existe na sociedade brasileira.

Apesar desses números, o INAF realizado em 2005, que também contemplou questões

de leitura e escrita, demonstrou que 26% da população brasileira têm domínio pleno das

habilidades de leitura e escrita. As pessoas consideradas analfabetas totalizam, segundo essa

pesquisa, 7% da população entrevistada. Os que atingiram o nível básico em 2001 foram 34%,

e 38% em 2005.

Page 25: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Esses dados revelam que não houve crescimento entre as pessoas que dominavam a

leitura e a escrita de forma plena, mas apontam uma diminuição do quantitativo de pessoas

consideradas analfabetas. Percebe-se, mais uma vez, que não basta ter acesso à leitura e à

escrita, faz-se necessário desenvolver programas que viabilizem aos jovens e adultos um

maior domínio dessas tecnologias para que saibam empregá-las de maneira consciente em

contextos diversos.

Quanto ao percentual de analfabetos, observa-se uma pequena queda em relação às

outras pesquisas realizadas. Tem-se: 2001- 9% da população entrevistada encontrava - se em

situação de analfabetismo; em 2002, houve a queda de um ponto percentual (apresentando 8%

da população como analfabeta) e em 2005, houve a queda de mais um ponto percentual ao

registrar como analfabeta 7% da população. Desse modo, verifica-se que a diminuição de

analfabetos no Brasil, de 2001 para 2005, foi de dois pontos percentuais, o que reforça mais

uma vez a necessidade de rever a educação de jovens e adultos, assim como as políticas

públicas que a norteiam.

Diante desses dados, percebe-se que é de suma relevância que haja um esforço

coletivo em busca de propostas pedagógicas que possam contribuir de forma radical e urgente

para a educação brasileira. Apesar de ser uma necessidade geral, isto é, uma necessidade que

abrange todas as áreas da educação, chama-se à atenção para a necessidade de se

desenvolver propostas que abarquem também a Educação de Jovens e Adultos, tendo em

vista que, nessa área, ainda existe uma carência de pesquisas.

1.3 Jovens e adultos e o ensino da língua materna

Emília Ferreiro (1983 apud CUNHA 1999, p. 14 in Salto para o Futuro, 1999) coloca em

seus estudos que, assim como as crianças, os jovens e adultos analfabetos apresentam muitas

hipóteses acerca da escrita, hipóteses essas que não são consideradas pela escola, trazendo

como conseqüência muitas deficiências no processo de ensino-aprendizagem. Pesquisa

realizada por REIS (2000) destaca que é justamente isso que faz com que muitos educandos

acabem abandonando a escola, sem ter sequer concluído o ensino fundamental.

A partir dessas informações, urge um repensar sobre a forma como a língua materna

vem sendo ensinada nas classes de educação de jovens e adultos. Mas para que isso

realmente ocorra é indispensável que a escola passe a aceitar os conhecimentos que os

alunos já trazem de seu ambiente familiar. É preciso que a escola trabalhe na perspectiva de

que o ensino oferecido por ela precisa estar inserido no contexto de uma sociedade letrada

para a qual não basta que o aluno da educação de jovens e adultos seja apenas alfabetizado.

Page 26: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

É relevante destacar que mais que ler e escrever, o indivíduo deve desenvolver habilidades

que o tornem um cidadão letrado, não marginalizado pela sociedade.

Faz-se necessário, portanto, perceber a diferença entre indivíduo letrado e um

indivíduo alfabetizado. Ribeiro (2004) estabelece uma diferença básica entre conceitos. Para a

autora, a alfabetização é a aquisição da tecnologia da escrita. Já o letramento seria o exercício

da tecnologia da escrita de forma competente.

Apesar dessa diferenciação inicial, percebe-se que esses são dois processos são

indissociáveis, isto é, é necessário que a escola desenvolva atividades que contemplem tanto a

alfabetização (que permitirá ao aluno dominar a leitura e a escrita) quanto o letramento (que

seria o uso competente dessas tecnologias).

Como se sabe, ler e escrever são habilidades básicas, para quem deseja participar da

sociedade como cidadão. No entanto, acrescenta-se a essas habilidades, a necessidade de os

alunos conhecerem as diversas linguagens que são utilizadas na sociedade moderna. Destaca-

se entre essas, a habilidade de falar fluentemente. Para isso, é necessário que a escola se

responsabilize por desenvolver em seus alunos estilos monitorados que se sobreponham ao

seu vernáculo, ou seja, desenvolver a competência de se expressar tanto oralmente quanto por

escrito nas diversas situações comunicativas de sua realidade social.

Diante disso, propõe-se que, na educação de jovens e adultos, aconteça um ensino

voltado para o desenvolvimento não só das habilidades básicas de leitura e de escrita, mas de

todas as habilidades lingüísticas que são fundamentais para que o aluno possa se sentir

seguro e capaz de participar ativamente da sociedade e, conseqüentemente, do mercado de

trabalho.

1.4 Conhecendo o ProJovem

O Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação

Comunitária – ProJovem foi constituído a partir dos trabalhos do Grupo Interministerial da

Juventude, em 2004, que envolveu 19 Ministérios, Secretarias e órgãos técnicos

especializados, para elaborar um diagnóstico sobre a juventude brasileira e mapear as ações

governamentais dirigidas especificamente aos jovens, que contemplasse segmentos juvenis,

tendo em vista a indicação de referências para uma política nacional de juventude.

Técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) colaboraram na

produção de informações estatísticas pertinentes a essa demanda. Dessa forma, incorporaram

seus resultados de pesquisas e consultas realizadas pela UNESCO e pelo Projeto Juventude

Page 27: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

do Instituto Cidadania ao ProJovem e, também, acompanharam o trabalho desenvolvido pela

Comissão Especial da Câmara dos Deputados destinada a estudar propostas de Políticas

Públicas para a Juventude.

Ao final dos trabalhos, o Grupo Interministerial da Juventude sugeriu a implantação de

uma política nacional inovadora para a juventude, que compreendia:

O Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e

Ação Comunitária – ProJovem – voltado especificamente para o segmento

juvenil mais vulnerável e menos contemplado por políticas públicas

vigentes: jovens de 18 a 24 anos, que não concluíram a oitava série do

fundamental e não têm vínculos formais de trabalho. O Programa assume,

ao mesmo tempo, caráter emergencial – atendendo um segmento que tem

necessidade de chegar ainda jovem ao ensino médio – e caráter

experimental, no curso de formação – ao basear em novos paradigmas

sua proposta curricular que trata de forma integrada a formação geral, a

qualificação profissional e o engajamento cívico. (Fonte:

http://www.projovem.gov.br/html/oprograma_historico.htm Acesso:

03/04/07).

Esse mesmo site, elenca algumas características relevantes acerca do programa que

constitui a base desta pesquisa.

Para que o jovem participe do programa é necessário: (i) ter idade mínima de 18 a 24

anos; (ii) ter finalizado a quarta série, mas não ter concluído a oitava série; (iii) não ter emprego

formal, isto é, com carteira assinada; e (iv) residir em alguma das capitais dos estados ou em

um dos trinta e quatro municípios das regiões metropolitanas que oferecem o programa ou

ainda morar no Distrito Federal.

O ProJovem caracteriza-se por:

1. Valorizar a singularidade da condição infantil, suas necessidades, seus desejos

frente à sua condição sócio-econômica e cultural;

2. Reconhecer o jovem como sujeito de direitos;

3. Viabilizar sua participação ativa no processo de aprendizagem em que está

envolvido.

(Fonte: http://www.projovem.gov.br/html/oprograma_historico.htm Acesso:

10/10/07).

Na busca de superar a distância existente entre a escola e a vida do educando, o

programa apresenta uma relação teórico - prática entre a escola e o trabalho, entre o cidadão

Page 28: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

do presente e o cidadão do futuro. Para isso, propõe estratégias curriculares inovadoras e

flexíveis que reconduzam esses jovens à escola.

Quanto aos princípios políticos pedagógicos, o programa busca integrar educação

fundamental, qualificação profissional e comunitária, unindo dessa forma teoria e prática e

articulando à dimensão educativa do trabalho à participação cidadã.

São objetivos do programa:

1. afirmar sua dignidade como seres humanos, trabalhadores e cidadãos;

2. utilizar a leitura e a escrita, assim como outras formas contemporâneas de linguagem,

para se informar e aprender, expressar-se, planejar e documentar, além de apreciar a

dimensão estética das produções culturais;

3. compreender os processos sociais e os princípios científicos e tecnológicos que

sustentam a produção da vida na atualidade;

4. utilizar tecnologias de informática necessárias à inserção cultural e profissional;

5. empregar competências necessárias para o desempenho de uma ocupação que gere

renda;

6. estabelecer um projeto de desenvolvimento profissional, considerando suas

potencialidades, suas necessidades de aprendizagem e as características de seu

contexto de trabalho;

7. acessar os meios necessários para exercerem efetivamente seus direitos de cidadania,

tais como: obter ou renovar documentos pessoais, usar os serviços da rede pública

disponíveis para os jovens e suas famílias etc;

8. assumir responsabilidades em relação ao seu grupo familiar e à sua comunidade, assim

como frente aos problemas que afetam o país, a sociedade global e o planeta;

9. identificar problemas e necessidades de sua comunidade, planejar e participar de

iniciativas concretas visando a sua superação;

10. refletir criticamente sobre sua própria prática;

11. conviver e trabalhar em grupo, valorizando a diversidade de opiniões e a resolução

negociada de conflitos;

12. afirmar valores de solidariedade, posicionando-se ativamente contra qualquer forma de

racismo e discriminação;

13. exercer direitos e deveres da cidadania, participar de processos e instituições que

caracterizam a vida pública numa sociedade democrática;

14. continuar aprendendo ao longo da vida, tanto pela inserção no sistema de ensino formal

quanto pela identificação e o pelo aproveitamento de outras oportunidades educativas.

(Fonte: http://www.projovem.gov.br/html/oprograma_historico.htm Acesso: 10/10/07).

No que tange à organização curricular, o curso oferece uma carga horária de mil e

seiscentas horas, divididas em doze meses e distribuídas conforme o quadro a seguir.

Page 29: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Quadro Nº 1 : Carga Horária ProJovem – Brasília -DF

Horas presenciais Horas não presenciais Total

Ensino Fundamental 800 400 1.200

Qualificação Profissional 350 - 350

Ação Comunitária 50 - 50

Total 1.200 400 1.600

(Fonte: http://www.projovem.gov.br/html/oprograma_historico.htm Acesso: 10/10/07).

No decorrer desses doze meses, os alunos desenvolvem atividades dividas em quatro

unidades formativas. Cada unidade constitui-se de diferentes componentes curriculares que se

organizam e se integram através de eixos estruturantes que facilitam a progressão da

aprendizagem.

Cada unidade organiza-se a partir de um eixo estruturante, de instrumentais

conceituais e de ações curriculares. O eixo estruturante, condutor de cada unidade formativa,

propõe uma situação – problema, significante e desafiadora na vida de cada estudante.

Algumas ações curriculares fazem parte de todas as unidades de formação, como: Língua

Portuguesa, Matemática, Artes, Inglês e Informática. Quanto aos instrumentais conceituais,

esses sempre procurarão aproximar Ciências Humanas e Ciências Naturais.

A organização temática de cada unidade formativa se faz da seguinte forma:

1. Unidade Formativa 1 – apresenta o seguinte tema: Juventude e Cidade

Nessa unidade, realizam-se atividades relacionadas à juventude e às práticas de

ocupação do espaço urbano pelos jovens.

2. Unidade Formativa 2 – trata do tema: Juventude e Trabalho

Na unidade formativa dois, são colocados em questão: o mundo do trabalho, as

transformações apresentadas pela sociedade contemporânea e as práticas de inserção do

jovem no mercado de trabalho.

3. Unidade Formativa 3 – aborda o tema: Juventude e Comunicação

A unidade formativa três tem como ponto central a reflexão sobre a importância da

informação e da comunicação para a vida dos jovens, bem como para a sociedade atual.

4. Unidade Formativa 4 – destaca a importância da relação Juventude/Cidadania

Page 30: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Nessa unidade são discutidas as diferenças sócio-culturais que dividem a sociedade

brasileira.

Em cada unidade formativa, os educandos realizam atividades presenciais e não

presenciais. As horas presenciais são destinadas às atividades de sala de aula, visitas a

instituições públicas, pesquisas de campo, participação em palestras, práticas relacionadas ao

campo de qualificação profissional e ação comunitária, contando sempre com o auxílio do

educador. Já nas horas não presenciais, o aluno deve dedicar o seu tempo disponível a

leituras, resolução das atividades propostas em cada manual de unidade formativa e a

elaboração de planos e registros referentes às disciplinas estudadas.

O sistema de avaliação realizado no decorrer do projeto ocorre em três momentos:

primeiramente uma avaliação processual realizada durante a unidade formativa, por meio de

fichas individuais dos alunos, que se encontram no Caderno de Registro e Avaliação. Ao final

de cada unidade, o aluno realiza uma avaliação dos conteúdos trabalhados.Tal avaliação é

elaborada pelos autores dos manuais e aplicada pelos representantes do Centro de Políticas

Públicas e Avaliação da Educação (CAED). Após o estudo da última unidade, o aluno é

submetido a um exame nacional de caráter obrigatório, porém não eliminatório.

No fim do curso, cada aluno deverá apresentar um Plano de Orientação Profissional

(POP) e um Plano/Relatório de Ação Comunitária (PLA).

Na próxima seção serão apresentadas as opções metodológicas que fundamentaram

essa investigação.

Page 31: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa qualitativa é um processo permanente de produção do

conhecimento, em que os resultados são momentos parciais que se

integram constantemente com novas perguntas e abrem novos caminhos

à produção de conhecimento. (REY, 2005, p. 72)

2.1 Introdução

Neste capítulo, serão descritas as opções metodológicas para a construção da

pesquisa, bem como os caminhos percorridos para sua realização.

2.2 Opções metodológicas: pesquisa qualitativa de cunho etnográfico

A escolha da metodologia a ser seguida em uma pesquisa é algo fundamental para o

pesquisador, pois ela define os caminhos a serem percorridos no transcurso da investigação,

bem como os elementos que serão necessários para que o trabalho possa ser realizado.

Quando se pensa numa metodologia para uma pesquisa em educação, pretende-se

conhecer a dinâmica escolar mais de perto, observar a realidade na qual os alunos e os

professores estão inseridos, e, para que isso venha a acontecer, é necessário que o

pesquisador adote um paradigma que lhe dê possibilidade de conhecer o ambiente e os

sujeitos da pesquisa de maneira profunda e detalhada, o que poderá ser feito a partir de um

paradigma qualitativo. Por esse motivo, entende-se que, para esta investigação, tornou-se

coerente a adoção de uma abordagem qualitativa, uma vez que, nesse tipo de abordagem, o

ambiente de pesquisa é a fonte direta para se obter as informações desejadas.

A abordagem qualitativa surgiu no final do século XIX, quando cientistas sociais

começaram a questionar o método de investigação utilizado tanto nas ciências sociais quanto

nas naturais, que tinham por base uma visão de conhecimento traçada sob a ótica do

positivismo (REY, 2005).

Diante desses questionamentos, surge uma nova concepção de pesquisa denominada

naturalística ou qualitativa. Naturalística porque o estudo do fenômeno se dá em seu ambiente

natural; e qualitativa porque, além de se opor ao paradigma quantitativo, preocupa-se com o

processo e não com o resultado final do estudo (FERNADES, 2004).

A pesquisa qualitativa, segundo Rey (2005), apóia-se em três princípios. O primeiro

aborda a questão do conhecimento como uma produção construtivo-interpretativa em que ele é

Page 32: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

entendido como um processo de construção e de interpretação de conhecimentos que vai

sendo ampliado no desenrolar da pesquisa. O segundo princípio destaca a importância da

interação pesquisador-pesquisando no processo de construção do saber. Tal princípio apóia-se

na necessidade do diálogo e acredita-se seja este uma das mais ricas fontes de informações.

Finalmente, o terceiro princípio reforça a importância da singularidade como nível legítimo de

construção do conhecimento. Esse princípio deixa claro que o paradigma qualitativo demonstra

não estar preocupado com a quantidade de sujeitos que participarão da pesquisa, mas sim

com a qualidade do trabalho a ser desenvolvido a partir de cada sujeito.

Nos últimos anos, tem existido, tanto por parte dos pesquisadores quanto por parte dos

próprios professores, um repensar sobre o conceito de autonomia, co-responsabilização, auto-

estudo, auto-avaliação e qualidade de ensino. Percebe-se também um constante desejo em

buscar um novo paradigma de ensino que se sustente numa concepção de professores que se

comprometem com suas práticas pedagógicas e procuram entendê-las de maneira

investigativa e reflexiva. (DIB, 2004; FREIRE, 1996; PIMENTA & ANASTASIOU, 2005)

A partir dessa nova lógica escolar, surge também a necessidade no campo científico de

se buscar outros conceitos na pesquisa educacional que sirvam para dar subsídios a essa

visão de educação. Para isso, desejou-se desenvolver este estudo partindo-se de uma

metodologia que fosse fundamentada também na formação do professor pesquisador-reflexivo,

cujos alguns conceitos foram postulados por Donald Schön na década de 1990. Para esse

autor, a pesquisa em sala de aula tem como objetivos investigar como e por que o professor

ensina, como ocorre a aprendizagem dos alunos, e como o conhecimento é construído. Trata-

se de uma perspectiva em que o conhecimento é uma construção mútua, isto é, professor e

alunos se constituem sujeitos do conhecimento, ao mesmo tempo. O que possibilita essa ação

é a questão de o professor ser também pesquisador, um pesquisador que repensa sua prática

e que faz da aprendizagem um processo de construção que acontece por meio dessa ação-

reflexão entre educador e educando.

Além de se caracterizar como uma pesquisa de cunho etnográfico, este estudo também

teve por base o postulado do professor pesquisador-reflexivo, fazendo referência àquele

docente que pensa no que faz e que problematiza a rotina em sala, procurando encontrar

significados para a sua prática. A reflexão foi focalizada, considerando como se organizam o

conhecimento e a investigação da rotina em sala de aula, nos quais as decisões fazem parte

de um processo consciente que se forma a partir de perguntas básicas, como, por exemplo,

como fazer? E o que fazer? (DIB, 2004)

Page 33: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

2.3 A etnografia em sala de aula

Diante da perspectiva adotada para esta pesquisa, uma abordagem de cunho

etnográfico torna-se adequadamente viável, uma vez que a etnografia, palavra que vem do

grego: ‘etnos’ (raça, povo) e ‘graphein’ (escrita), possibilita ao pesquisador conhecer de perto

fenômenos distintos e perceber como eles acontecem porque se inserem no campo de

pesquisa, observando de forma participativa as ações dos sujeitos.

A etnografia é uma metodologia de pesquisa que se originou na Antropologia e desde

então tem se preocupado em realizar estudos diversos em diferentes áreas da ciência. Em

seus estudos acerca da etnografia em sala de aula, Bortoni-Ricardo (2005, p. 237) coloca que

o primeiro objetivo da pesquisa etnográfica no ambiente escolar “é o desvelamento do que está

dentro da ‘caixa preta’ na rotina dos ambientes escolares, identificando processos que, por

serem rotineiros, tornam-se ‘invisíveis’ para os atores que deles participam”.

Cajal (in Cox & Assis Peterson, 2001, p.134) corrobora essa idéia ao afirmar que “o que

se pretende, por meio da Etnografia, é tornar o familiar estranho, é problematizar o que parece

comum, é tornar visíveis e explícitas ações não percebidas rotineiramente, exatamente por

serem consideradas óbvias”.

A partir do que foi explicitado acima, entende-se que o estudo etnográfico que ocorre

no âmbito escolar permite conhecer mais de perto o que acontece em uma sala de aula, além

de favorecer uma reflexão a partir das práticas pedagógicas que ocorrem no dia-a-dia.

A pesquisa etnográfica, diferentemente de outros tipos de pesquisa, tem sempre um

caráter interpretativo. “Inicia-se com perguntas exploratórias, orientadas pela literatura

especializada, na vida e no senso comum do pesquisador”. (BORTONI-RICARDO, 2005, p.

237)

De acordo com Bortoni-Ricardo (2005), o segundo momento de uma pesquisa dessa

natureza, consiste na formulação de objetivos gerais e específicos que nortearão a pesquisa.

No terceiro momento, são elaboradas as asserções e subasserções que devem estar

diretamente relacionadas ao problema de pesquisa, bem como aos objetivos que a conduzirão.

A mesma autora observa que a construção das questões, dos objetivos e das

asserções não é definitiva, ou seja, por ter uma característica etnográfica, essas questões

iniciais podem passar por várias definições e redefinições no decorrer da investigação. Após a

construção das asserções, o etnógrafo passa a coletar as informações necessárias para

confirmá-las ou refutá-las. É importante ressaltar que todos esses momentos da pesquisa

etnográfica devem ser fundamentados por uma teoria que os sustente. Além disso, empregar

uma metodologia de base etnográfica, neste trabalho, justifica-se por ela apoiar-se em

princípios como a dinamicidade, a reflexão e a análise.

Page 34: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Outra característica que favoreceu a prática da pesquisa de cunho etnográfico nesta

investigação é que ela vai além da descrição de dados e de situações ocorridas em um

determinado espaço. Esse tipo de abordagem possibilita para a escola uma mudança de

cultura de pesquisa em sala de aula, pois os participantes são ouvidos, fazem parte não só do

ambiente em que a pesquisa acontece, mas são sujeitos da pesquisa, ou seja, participam

ativamente do processo por meio do diálogo, das conversas formais e informais, da interação

oferecida pela metodologia abordada.

Dentro dessa abordagem, a pesquisa em sala de aula tem como objetivos (i) investigar

como e por que o professor ensina; (ii) como ocorre a aprendizagem dos alunos; e (iii) como o

conhecimento é construído.

A partir dessa perspectiva, percebe-se o quão significante é uma abordagem

etnográfica e como esta pode contribuir, juntamente com o conceito de professor pesquisador-

reflexivo, para que se possa colaborar com as pesquisas educacionais e com os educadores

que refletem sobre a sua atividade pedagógica. Freire (1983) coloca a necessidade de o

professor ser um docente que se conscientiza e que conscientiza seus educandos, que

questiona e permite que seus educandos questionem, que desmistifica e leva o aluno a

desmistificar crenças tidas como certas durante muito tempo.

Uma pesquisa em que o professor se torna pesquisador auxilia este a compreender

seu exercício de docência, os processos que norteiam a construção do conhecimento e seu

desenvolvimento profissional em busca de uma educação para a mudança. (FREIRE, 1983)

Corroborando a afirmação feita por Freire, CAVALLET (1999 apud PIMENTA &

ANASTASIOU, 2005, p.196) pontua que: “pesquisar a própria sala de aula é ação realizada

com intencionalidade que revela a profissionalidade do docente: rever a sua própria prática,

debruçar-se e refletir sobre ela é necessário a qualquer profissão”.

Fundamentada pelas colocações feitas pelos autores acima e por minhas próprias

inquietações enquanto educadora, propus a mim mesma o desafio de realizar este trabalho em

minha sala de aula.

Considero um desafio, porque além de observar e avaliar a aprendizagem de meus

alunos, eu tinha que me avaliar e ser avaliada por eles, ao mesmo tempo, e essas não são

práticas comuns ao meio educacional. Nós, professores, estamos habituados a avaliar os

nossos alunos, porém não temos a prática, que assumiu grande relevância neste trabalho de

pesquisa: avaliar e ser avaliado, ouvir os alunos, ensiná-los e aprender com eles, rever

algumas atitudes enquanto professora e pesquisadora, ao mesmo tempo, questionar-me e

questioná-los.

Page 35: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

2.4 Perguntas exploratórias

As perguntas exploratórias que motivaram esta pesquisa foram as seguintes:

1. A produção textual oral facilita a produção de textos escritos?

2. Quais são as estratégias que os alunos utilizam para construir textos orais e escritos?

3. As estratégias utilizadas em textos orais podem influenciar na produção de textos

escritos?

4. Quando ratificado pelo professor, o aluno torna-se mais confiante e participa com mais

freqüência das aulas?

5. Atividades como o texto de opinião e o debate contribuem para que o aluno tenha mais

facilidade em produzir um texto escrito?

2.5 Objetivo Geral

Essas perguntas serviram de base para a elaboração do objetivo geral, que é:

Observar se a produção textual oral facilita a produção textual escrita dos alunos do

ProJovem de Brazlândia.

2.6 Objetivos específicos

Para a obtenção do objetivo geral, elaboraram-se os seguintes objetivos específicos:

1. Refletir com os alunos sobre a importância do desenvolvimento da competência da

linguagem oral como estratégia para desenvolver a escrita.

2. Observar quais são as estratégias que os alunos usam para produzir seus textos orais

e escritos.

3. Observar, por meio do cotejo da produção oral e escrita dos alunos, se eles transferem

as estratégias desenvolvidas na modalidade oral da língua para seus textos escritos.

4. Observar se, quando ratificado pelo professor, o aluno sente-se mais encorajado a

participar das atividades realizadas no âmbito escolar.

5. Observar se atividades, tais como: texto de opinião, debate e história de vida

contribuem para que o aluno produza, com maior proficiência, textos orais e escritos.

2.7 Asserções

A partir dos objetivos gerais e específicos têm-se as seguintes asserções e

subasserções:

Page 36: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

2.7.1 Asserção Geral

Ao produzirem textos orais, os alunos lançam mão de estratégias orais que facilitam a

produção do seu texto escrito.

2.7.2 Subasserções

• O desenvolvimento de atividades orais facilita a escrita dos alunos. (objetivo 1)

• Os alunos usam estratégias diferenciadas para produzirem textos orais e escritos.

(objetivo 2)

• Durante a produção textual, o aluno transfere para os textos escritos, as estratégias

utilizadas na produção oral. (objetivo 3)

• A ratificação do aluno como produtor de texto oral ou escrito o torna mais confiante e o

incentiva a participar das aulas sem medo de errar. (objetivo 4)

• O texto de opinião, o debate e a história de vida entre outras atividades que enfatizem

a prática de textos orais, podem contribuir de maneira positiva para a produção de

textos escritos. (objetivo 5)

2.7.3 Relações entre objetivos e asserções

O quadro abaixo estabelece uma relação mais clara entre os objetivos e as

asserções/subasserções que fundamentaram este estudo.

Quadro 2:Relação entre objetivos e asserções:

Objetivo Geral Asserção Geral

Observar se a produção textual oral

facilita a produção textual escrita dos

alunos do ProJovem de Brazlândia.

Ao produzir textos orais, os alunos lançam

mão de estratégias que facilitam a construção

do texto escrito.

Objetivos Específicos Subasserções

1 Refletir com os alunos sobre a

importância do desenvolvimento da

competência da linguagem oral como

estratégia para desenvolver a escrita.

1 O desenvolvimento de atividades orais

facilitam a escrita dos alunos.

Page 37: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

2 Observar quais são as estratégias que

os alunos usam para produzir textos

orais e escritos.

2 Os alunos usam estratégias diferenciadas

para produzirem textos orais e escritos.

3 Observar, por meio do cotejo da

produção oral e escrita dos alunos, se

eles transferem as habilidades

desenvolvidas na modalidade oral da

língua para seus textos escritos.

3 Durante a produção textual, o aluno

transfere para os textos escritos, as

estratégias utilizadas na produção oral.

4 Observar se, quando ratificado pelo

professor, o aluno sente-se mais

encorajado a participar das atividades

realizadas no âmbito escolar.

4 A ratificação do aluno como produtor de

texto oral ou escrito o torna mais confiante e o

incentiva a participar das aulas sem medo de

errar.

5 Observar se atividades, tais como:

texto de opinião , debate e história de

vida contribuem para que o aluno

produza com maior proficiência textos

orais e escritos.

5 Debate, texto de opinião e história de vida,

entre outras atividades que enfatizem a

prática de textos orais, podem contribuir de

maneira positiva para a produção de textos

escritos.

Fonte: objetivos e asserções retirados da própria pesquisa.

2.8 Contexto e cenário da pesquisa

Nesta seção, trato do ambiente em que se deu a pesquisa, e o motivo pelo qual ela foi

desenvolvida em outra cidade satélite que não Santa Maria, lugar onde inicialmente a mesma

estava sendo realizada.

Esta pesquisa realizava-se, inicialmente, na cidade-satélite de Santa Maria, em uma

escola pública que atendia aos alunos participantes do ProJovem, porém o núcleo em que eu

trabalhava foi fechado, no mês de janeiro de 2007, em decorrência da evasão de um número

significativo de alunos.

Nessa escola, eu já havia: (i) determinado qual turma participaria da pesquisa, visto

que eu não poderia desenvolvê-la com as minhas cinco turmas; (ii) aplicado um questionário

inicial, com vistas a traçar um primeiro perfil dos alunos.

Page 38: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Com o fechamento do meu núcleo, fiquei durante trinta dias, apenas, cumprindo

horário, enquanto surgia uma nova escola para eu ir trabalhar. Depois desse um mês de

espera e de muita angústia, fui transferida para a cidade-satélite de Brazlândia. Lá tive que

recomeçar do zero, inclusive, a conquista e a confiança dos alunos. Somente no mês de

março, pude recomeçar o trabalho de modo efetivo.

A escolha por desenvolver esta investigação com alunos do ProJovem foi motivada por

ser esse um programa que visa à reinserção, na sociedade letrada, de jovens de 18 a 24 anos

que por diferentes causas deixaram a escola regular ainda no ensino fundamental.

O programa já acontece em algumas cidades brasileiras e, em agosto de 2006, foi

implantado em Brasília, com uma duração de doze meses. Nesses doze meses, os alunos

assistem às aulas de 2ª a 6ª feira, das 19 às 22 horas. Nas aulas, os alunos têm acesso a

conhecimentos específicos que permeiam as seguintes áreas do conhecimento: Língua

Portuguesa, Matemática, Ciências, Geografia, História e Inglês. Os educandos adquirem

conhecimentos com vistas à qualificação profissional, que oferece quatro arcos de formação

básica: saúde, vestuário, turismo e telemática. Além da formação profissional inicial, eles

desenvolvem projetos, entre estes, o mais importante é o de Ação Comunitária, que tem como

objetivo central desenvolver atitudes que ajudem tanto aos alunos que participam do projeto

quanto ao próximo de maneira solidária e consciente.

2.9 Procedimentos e instrumentos de pesquisa

Esse trabalho fundamentou-se em metodologia qualitativa de pesquisa de cunho

etnográfico e incorporou conceitos que abarcam a concepção do professor pesquisador-

reflexivo.

Na tentativa de conhecer mais de perto e com uma maior profundidade o ambiente em

estudo, foram utilizados instrumentos diversos durante o trabalho, tais como: observações

participantes, entrevistas (semi-estruturadas), análise documental (textos orais e escritos),

questionários, gravações em áudio e vídeo e um diário de campo, onde eu registrava

acontecimentos que pudessem ser úteis à pesquisa.

Alves Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p.167) enfatizam que a observação

participante é uma das características da etnografia, porque valoriza a participação dos sujeitos

da pesquisa e reforçam essa idéia quando pontuam (a partir de MILLES e HUBERMAN, 1984;

DANDAY, 1984; YIN, 1985) que são muitas as habilidades esperadas de um observador

participante. Dentre as mais importantes, estão:

1. ser capaz de estabelecer uma relação de confiança com os sujeitos;

2. ter sensibilidade para com as pessoas;

3. ser bom ouvinte;

Page 39: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

4. formular boas perguntas;

5. ter familiaridade com as questões investigadas;

6. ter flexibilidade para se adaptar a situações inesperadas;

7. não ter pressa de identificar padrões ou atribuir significados aos fenômenos observados.

Desde o início da pesquisa, quando decidi realizá-la em minha própria sala de aula, já

tinha consciência de que as observações se dariam dentro de um contexto bastante complexo,

no qual eu observava os meus alunos, me auto-observava e era, ao mesmo tempo, observada

por eles.

Este foi um trabalho muito difícil, pois ao mesmo tempo em que eu tinha que estar

atenta a tudo que se relacionava aos alunos, com ênfase na aprendizagem deles, era

indispensável, também, me monitorar, me observar e perceber de que maneira meu trabalho

estava atingindo aos objetivos traçados.

Quando fui transferida para Brazlândia, o primeiro mês de aula destinou-se a conhecer

os alunos e criar ambiente interacional para convidá-los a participarem do meu trabalho.

Em março, comecei a recolher algumas informações das turmas e sobre a turmas do

colégio onde estava lotada, mas optei por convidar a turma 2 do núcleo 2 em que eu era

professora orientadora, e, para a minha surpresa, eles aceitaram. A partir desse momento,

começaram as observações participantes, que tinham como objetivos conhecer os alunos e

mostrar-lhes que a construção do conhecimento se daria a partir da troca e do diálogo, e que,

além de sujeitos, eles eram participantes da pesquisa. Posso dizer que as observações

destacadas por Alves Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p.167), citadas acima, foram

contempladas, pois eu, enquanto professora-pesquisadora, fui realmente um membro dessa

pesquisa. Participei de todos os momentos com os alunos e procurei passar a eles, desde o

princípio, toda confiança necessária para que pudessem participar das atividades propostas

com segurança e conforto.

Essas observações continuaram durante os seis meses de trabalho em campo.

Além da observação participante, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas,

filmadas em uma filmadora do tipo PANASONIC- NV- ZZ 175- 700X- DIGITAL, gravadas em

fitas de áudio em um gravador da marca PANASONIC (logo depois todas as atividades

apresentadas nessa pesquisa foram transcritas) com os alunos, visando a conhecer como as

atividades de produção de textos orais e escritos estavam acontecendo.

Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004, p. 168), na entrevista semi-

estruturada “o entrevistador introduz o tema de pesquisa, pedindo que o sujeito fale um pouco

sobre ele, eventualmente inserindo alguns tópicos de interesse no fluxo da conversa”. E foi

desse modo que as entrevistas realizadas aconteceram: eu procurava deixar os alunos-

Page 40: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

participantes bem à vontade e, aos poucos, ia introduzindo as perguntas que seriam utilizadas

no meu trabalho. O objetivo principal de cada entrevista realizada era tornar algumas

informações mais claras.

Foram feitas análises de documentos que, no caso deste trabalho, tratava-se dos

textos produzidos oralmente pelos alunos, que foram gravados/transcritos e, logo depois,

comparados com produção escrita realizada por eles sobre o mesmo tema. A finalidade dessa

atividade foi perceber quais eram as estratégias que eles usavam para produzir textos orais e

escritos e observar se as estratégias orais também apareciam em seus textos escritos.

Juntamente com esses instrumentos de pesquisa, foram aplicados quatro

questionários: (i) dois com os alunos e (ii) dois com os professores de Brazlândia. O primeiro

questionário aplicado aos alunos objetivava conhecê-los um pouco melhor, e o segundo visava

a perceber a utilidade da pesquisa, bem como das atividades feitas no decorrer da mesma para

a construção do conhecimento por parte dos educandos. Já os questionários aplicados aos

professores tiveram como finalidade verificar se as dificuldades que eu encontrava com meus

alunos eram comuns às que eles percebiam nos alunos e o que eles faziam para que, caso

elas existissem, fossem superadas.

Utilizaram-se o diário de campo e as gravações em vídeo com a finalidade de reunir o

máximo de informações que contribuíssem para registrar as ações de sala de aula, além da

história de vida dos alunos, para melhor compreender o significado da rotina de sala de aula.

Com o objetivo de atender às perspectivas da pesquisa qualitativa, foi realizada a

triangulação das informações obtidas. Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznadjer (2004), a

triangulação das informações é um critério de grande relevância para a pesquisa qualitativa. Os

autores (op. cit.) destacam que ao buscar “diferentes maneiras para investigar um mesmo

ponto, estamos usando uma forma de triangulação” (p. 173).

Diante dessa afirmativa, cabe esclarecer que a triangulação foi realizada neste trabalho

a partir dos seguintes instrumentos de pesquisa: observações participantes, entrevistas,

análise documental, questionários, gravações/filmagens em áudio e vídeo, além das anotações

feitas no diário de campo. Por meio desses instrumentos, almejou-se atingir aos objetivos deste

trabalho. Acredita-se também que, por meio da triangulação, pôde-se realizar uma análise mais

detalhada dos dados recolhidos no decorrer da investigação.

A figura abaixo resume os instrumentos utilizados neste trabalho.

Page 41: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Observações participantes

Figura 1: Instrumentos utilizados na pesquisa. Fonte: Elaboração própria.

2.10 O perfil dos participantes

Nesta seção, será descrito o perfil tanto da turma (participantes da pesquisa) como da

professora pesquisadora.

Em uma pesquisa qualitativa, os participantes assumem um papel de grande

relevância, pois é a partir da interação e da participação entre eles que a pesquisa se

desenvolve. Diferentemente da pesquisa de cunho quantitativo, em que os participantes muitas

vezes são meros informantes, a pesquisa qualitativa confere especial atenção aos

pesquisandos. Segundo Rey (2005), os participantes da pesquisa assumem um papel de

grande importância, pois são vistos em sua singularidade como seres ativos e que têm muitas

contribuições a serem dadas no decorrer da investigação. (REY, 2005)

Assim como os sujeitos da pesquisa, o pesquisador também tem um papel fundamental

no decorrer do processo de investigação. ”O pesquisador, além de ser um participante, posição

defendida pelas diferentes modalidades de pesquisa etnográfica, converte-se em sujeito

intelectual durante o curso da pesquisa”. (REY, 2005, p. 57).

Seguem, na seção a seguir, algumas características dos participantes da pesquisa.

A pesquisaqualitativa

Análise documental

Gravações em áudio e vídeo

Questionários Diário de

bordo

Entrevistas

Page 42: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

2.10.1 O perfil da pesquisadora

Sempre quis ser professora. Desde criança brinquei de escolinha e lá eu sempre era a

professora. Cresci com esse desejo que só veio a se realizar em 1995 quando passei nos

vestibulares para Pedagogia na UnB e para Letras na Universidade Católica de Brasília. Cursei

as duas universidades ao mesmo tempo, o que tornou impossível o meu ingresso no mercado

de trabalho durante os quatro anos de faculdade. No final de 1999, graduei-me em Letras pela

Universidade Católica de Brasília e comecei a trabalhar em 2000. Inicialmente, atuei como

professora de português de 4ª a 6ª séries. Em 2000, terminei a faculdade de Pedagogia, mas

continuei ministrando aulas de língua portuguesa tanto em escolas públicas (como contrato

temporário) como em escolas particulares. De 2000 para cá, fiz alguns cursos na área de

educação, inclusive uma especialização oferecida pela Universidade Cândido Mendes, na qual

discuti as causas do fracasso escolar em algumas escolas públicas do Distrito Federal. Em

todos os momentos da minha trajetória como educadora, procurei refletir e modificar ações e

situações que, no meu entender, não contribuíam nem para o meu crescimento nem para o

crescimento dos meus alunos. Nesses momentos, questionei-me sobre a forma como ensinava

a língua materna para os meus alunos e, às vezes, pegava-me realizando atividades de

maneira automática, que não contribuíam para o desenvolvimento dos estudantes.

Em alguns momentos, incomodei-me com o silêncio dos meus alunos nas aulas de

língua portuguesa e, essa não-participação, na minha concepção de educadora, era algo que

me levava a refletir e entender que minha prática deveria mudar. Naquele instante, comecei a

rever a forma como ensinava aos meus alunos, mas, mesmo assim, as participações eram

ainda bastante limitadas. Em 2004, fiz a disciplina Educação em Língua Materna, na

Universidade de Brasília e, nessa disciplina, compreendi melhor alguns conceitos que para

mim ainda eram difíceis de entender e de colocar em prática. Naquela época, a partir de

algumas leituras realizadas, comecei a dar maior importância à fala dos educandos e uma

colocação que me chamou bastante atenção foi uma afirmação feita por Freire (1998):

A escola deve não só respeitar os saberes com que os educandos,

sobretudo os das classes populares, chegam a ela, saberes socialmente

construídos na prática comunitária, mas também, como há mais de trinta

anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns

desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. (p. 33)

Essa afirmação veio ratificar minha inquietação de que era necessário rever minha

prática de sala de aula, rever as atividades que vinha desenvolvendo e também a forma como

os alunos tinham acesso a elas. A partir da colocação feita por Freire, finalmente compreendi a

necessidade de dar voz e vez ao meu aluno para que ele pudesse me ajudar a auxiliá-lo na

construção do seu saber.

Page 43: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Como o próprio Paulo Freire sugere, é necessário aprender a discutir os assuntos

abordados em sala relacionando-os à vivência do educando. Isso demonstra a significância da

discussão em sala de aula e como ela é importante no processo de ensino-aprendizagem dos

alunos.

No Mestrado, retomei a discussão acerca da necessidade de se desenvolver atividades

que levem o aluno a participar das aulas de forma ativa, como sujeito da sua aprendizagem,

pois acredito que atividades que desenvolvam a oralidade façam do aluno um ser que produz o

conhecimento juntamente com o professor.

Ressalto em minhas afirmações a necessidade de reforçar a fala do aluno e de

desenvolvê-la para que ele possa sentir segurança em expor suas idéias sem medo de ser

rotulado (de “burro”, de incapaz etc.) e sem medo de sofrer preconceito. Acredito que uma

interação verdadeiramente democrática, que se fundamenta no respeito mútuo pelas idéias,

pelas questões levantadas pelo aluno, possa fazer uma transformação no ensino de língua

materna.

2.10.2 O perfil dos alunos

Como já foi dito anteriormente, este trabalho foi desenvolvido com a turma 2 do

ProJovem de Brazlândia, DF. Os alunos da turma em questão têm entre 18 e 24 anos. Todos

residem em Brazlândia e são oriundos de classes sociais menos favorecidas. Muitos não têm

emprego formal e estão voltando para a escola com a finalidade de concluir o ensino

fundamental e conhecer um pouco mais sobre os arcos ocupacionais, apresentados pela

disciplina Qualificação Profissional, com o objetivo de ingressarem no mercado de trabalho. A

seguir apresento algumas informações sobre essa turma, dando início, assim à coleta de

informações.

A coleta de informações começou com a aplicação, no dia 21/03/2007, de um

questionário com os seguintes objetivos: (1) obter algumas informações sobre a vida dos

alunos e (2) conhecer suas principais dificuldades no desempenho de tarefas comunicativas.

Naquele dia, estavam presentes, na sala de aula, somente dez alunos, que aqui receberão os

seguintes nomes fictícios: Francisco, Geise, Janaína, Jeferson, Leandro, Laura, Lúcia, Márcio,

Fernanda e Soraia . O quadro abaixo apresenta algumas características gerais da turma:

Page 44: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Quadro 3: Perfil social da turma

Alunos (as) Estado Civil Sexo Cidade onde nasceu

Idade Tem Filhos?

Profissão Trabalha?

Francisco Solteiro M Brazlândia 18 não estudante não Geise união

instável F Sousa/Paraíba 24 sim vendedora

salgadeira sim

Janaína Solteiro F Brasília 19 não estudante sim Jeferson Solteiro M São Luiz-

Maranhão 20 não estudante não

Leandro Solteiro M Brazlândia 24 não estudante não Laura união

instável F Padre

Bernardo Goiás

26 sim estudante não

Lúcia Casada F Brasília 21 sim estudante não Márcio Solteiro M Brazlândia 25 não estudante sim Fernanda união

instável F Altos - Piauí 22 sim babá sim

Soraia Solteiro F Brasília 25 não babá sim Fonte: dados da própria pesquisa

Em relação ao Quadro 2, observou-se que a maioria dos respondentes é do sexo

feminino. Quanto ao local de nascimento, metade da turma é constituída por alunos nascidos

em Brasília/Brazlândia, sendo os outros oriundos de diversos lugares do Brasil. A idade deles

varia entre 18 e 25/26 anos, conforme é previsto pelo programa. Quanto ao mercado de

trabalho, cinco alunos afirmaram que realizam algum tipo de trabalho e o restante apenas

estuda. Partindo-se das informações obtidas sobre a identidade dos alunos, observa-se que

faltam referências dos pais em muitos aspectos da vida de cada um desses alunos.

A analisar as informações coletadas, percebeu-se que quatro alunos pararam de

estudar na 8ª série; três na 7ª série; dois na 6ª série e um na 5ª série. De posse disso, pode-se

observar a heterogeneidade da turma, o que requer dos professores uma forma diferenciada

de trabalhar.

Quando perguntados pelos motivos que os levaram a deixar a escola antes de concluir

o ensino fundamental, eles responderam:

Quadro 4: Motivos pelos quais os alunos do ProJovem deixaram de estudar

Alunos (as) Motivos Francisco Preguiça, só pensava em curtir as festas. Geise Porque eu não gostava de estudar, mas eu

gostaria de mudar. Janaína Porque eu achei que não me faria falta mais tarde. Jeferson Porque eu reprovei dois anos na escola. Leandro Porque a escola era muito longe da minha casa. Laura Porque fiquei grávida, daí aconteceram muitas

mudanças na minha vida. Lúcia Porque o colégio era muito longe da minha casa. Márcio Falta de ânimo e de interesse. Fernanda Porque eu tive muitos problemas em minha casa

com minha mãe doente. Soraia Porque tive que cuidar da minha filha que nasceu

há um ano. Fonte: dados da própria pesquisa

Page 45: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Diante dessas respostas, observa-se que o fato de o aluno abandonar a escola antes

de concluir os estudos, nem sempre se justifica pelo fato de a escola não atender aos seus

anseios, ou porque a escola é ruim. Os motivos variam de pessoa para pessoa. Nessa turma,

diante desse questionário e durante a gravação da história de vida, os alunos confirmaram que

deixaram a escola por motivos de ordem pessoal e não porque a escola era sem graça,

desinteressante.Somente a aluna Janaína mencionou, num determinado momento,que se

algum professor a tivesse ajudado, talvez, ela não tivesse “desistido” de concluir seus estudos

no momento certo.

Quando perguntados sobre o que os motivou a procurar o ProJovem, a maioria

respondeu que foi a possibilidade de concluir os estudos, dado esse confirmado por meio da

história de vida, filmada e, também, escrita pelos alunos, cujos conteúdos serão apresentados

no perfil dos participantes efetivos da pesquisa.

Em relação às expectativas sobre o programa, os participantes responderam:

Quadro 5: O que o aluno espera do programa?

Alunos (as) Respostas Francisco Recuperar o tempo perdido e conclui-lo. Geise Espero que eu consiga aprender coisas novas. Janaína Espero concluir e logo depois conseguir um

emprego melhor. Jeferson Espero do Projovem um grau completo. Leandro Espero terminar os estudos com a ajuda do

Projovem. Laura Retomar meus estudos, porque quero ter um futuro

melhor. Lúcia Espero terminar o 1º grau. Márcio - Fernanda Arranjar um bom emprego e uma qualificação

melhor. Soraia Terminar meus estudos. Fonte: dados da própria pesquisa

Quanto à questão da leitura e da escrita, quando se auto-avaliaram, 80% dos alunos

disseram que possuem dificuldades de leitura e de escrita de texto. Apenas 20% revelaram ter

facilidade com essas tecnologias. Isso só confirma os dados atuais de pesquisas realizadas no

âmbito da leitura e da escrita de que o número de pessoas que chegam à idade adulta sem

saber ler e escrever, com proficiência, é muito grande. (INAF, 2001, 2003, 2005,2007)

Em relação à dificuldade com a escrita, todos os alunos afirmaram ter dificuldades para

escrever, conforme se pode observar na tabela a seguir:

Page 46: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Quadro 6: Dificuldades na produção textual escrita

Pergunta: Você sente dificuldades para produzir textos escritos? Quais? Alunos (as) Respostas

Francisco Não sou muito bem, troco as letras. Geise Não consigo, porque não sei desenvolver muita

coisa. Janaína Não sei por que, mas às vezes consigo ter idéias e

às vezes não consigo me concentrar. Tenho dificuldades.

Jeferson Sim. Eu não tenho muitas idéias e dificulta escrever.

Leandro Não, sinto dificuldade na escrita. Laura Sim. Na escrita tenho muitos erros de caligrafia e

não tenho muitas idéias. Lúcia Sim, em pontuação não sei pontuar textos. Márcio Não muito, mas tenho algumas dificuldades na

escrita. Fernanda Boas idéias, esqueço das letras, fico nervosa. Soraia Sim, na hora de pensar. Fonte: dados da própria pesquisa

A partir dessas respostas, evidencia-se que a dificuldade em produzir textos é comum

a quase toda a turma. Isso nos leva a confirmar que, de fato, escrever é um ato que exige

técnica,muita paciência e, sem dúvidas, uma preparação prévia, que dê condições ao

educando de produzir um texto coerente e com boas idéias.

Quando perguntados sobre as dificuldades de expor suas idéias oralmente, os alunos

responderam:

Quadro 7: Dificuldades na produção textual oral Pergunta: Você sente dificuldades em expor suas idéias oralmente, quando solicitado pela

professora? Por quê? Alunos (as) Sim Às vezes Não Por quê?

Francisco X Porque eu gosto de um diálogo.

Geise - - - Porque, às vezes penso em dizer algo e não consigo.

Janaína X Às vezes estamos tão sérios, que eu acabo tendo dificuldades.

Jeferson X Sou muito tímido. Leandro X Tenho vergonha. Laura X Porque só assim

saberei se estou indo no rumo certo...

Lúcia X Porque é bom falar com a professora.

Márcio X Acho que me saio muito bem.

Fernanda X Tenho dificuldades, mas quando estou só consigo fazer legal.

Soraia X Porque eu tenho um pouco de vergonha.

Fonte: dados da própria pesquisa

Page 47: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Quanto às dificuldades de produção textual oral, conforme Quadro 7, três alunos

revelaram ter dificuldades, dois colocaram que às vezes e quatro afirmaram não ter

dificuldades. A aluna número dois não marcou nenhuma das alternativas propostas, porém

justificou. A partir dessa informação, percebe-se que esta também apresenta dificuldades em

expor suas idéias oralmente.

Em relação às atividades orais, os alunos afirmaram, no questionário aplicado, que o

desenvolvimento de atividades que contemplem essa modalidade da língua pode ajudá-los a

desenvolver suas habilidades para que assim eles possam produzir bons textos escritos. Essa

afirmação pôde ser confirmada no decorrer da pesquisa, pois ao final de cada atividade

realizada com os educandos, eu propunha uma reflexão, objetivando perceber se a atividade

oral estava sendo importante para que eles tivessem condições de produzir seus textos

escritos, bem como para ampliar a competência comunicativa de cada um.

Em relação às atividades que podiam ajudá-los a desenvolver a oralidade e

conseqüentemente a escrita, os alunos afirmaram, no questionário acima mencionado, que a

atividade que mais os ajuda é o debate. 50% dos alunos marcaram essa opção; 40% acreditam

que o diálogo com o professor pode ajudar no desenvolvimento de atividades escritas; 10%

acreditam que o diálogo com o colega é o que mais ajuda no desenvolvimento das atividades

propostas. E o item que menos ajuda é, quase por unanimidade, o reconto de filmes, os alunos

acham que esse tipo de atividade não contribui muito para o desenvolvimento de suas

habilidades de leitura, fala e escrita.

Quanto ao uso do gênero debate, esse foi bastante desenvolvido no decorrer da

pesquisa. Durante a realização desse tipo de atividade, eu pude observar que mesmo não

conhecendo em profundidade um determinado tema, os alunos eram encorajados e levados a

participar, e o mais interessante é que nos textos escritos, após cada debate, apareciam as

idéias e opiniões trocadas no decorrer do debate. Dessa forma, entende-se que os alunos

produziram textos polifônicos, isto é, com várias vozes e idéias, o que confirma que é na fala

do outro, no texto oral do outro, na interação, que o aluno busca elementos para construir seus

próprios textos.

Apesar de a turma não apresentar um número tão grande de alunos, foi necessário, em

decorrência do pouco tempo que eu tinha para realizar a pesquisa, diminuir o número de

participantes. Assim, foi reduzido para cinco, o número de alunos que efetivamente

participariam do trabalho. É importante tornar claro que a aluna Maria das Graças começou a

participar da pesquisa depois que esta já tinha sido iniciada. A aluna estava em licença

maternidade, por isso não respondeu ao questionário inicial. No entanto, ela expressou querer

participar das atividades seguintes e foi acolhida com muito carinho, tanto por mim quanto

pelos outros alunos.

Page 48: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Com a diminuição do número de participantes foi possível coletar outras informações

que foram relevantes para este trabalho. Com esse objetivo, foram realizadas 2 atividades,

além do primeiro questionário: uma entrevista semi-estruturada e a história de vida de cada

educando.

Com o intuito de preservar a identidade dos alunos participantes, eles serão, aqui,

identificados como: Jeferson, Laura, Fernanda, Janaína e Maria das Graças.

A despeito de ter apresentado características gerais da turma, entende-se que o

conhecimento da história de vida de cada participante dessa pesquisa assume grande

relevância para este trabalho, por isso, a partir de agora, será apresentada a trajetória de cada

aluno que aceitou o desafio de construir comigo esse conhecimento.

Para iniciar esta parte do trabalho, recorro a uma citação de Reis (2000) que diz:

Na minha análise levo em conta a história de vida de cada sujeito, desde a

sua chegada ao Paranoá (ainda invasão, favela, ocupação, moradia em

precários barracos) até os dias atuais, em que se conquistou a fixação do

Paranoá, e este se tornou oficialmente cidade satélite. Na narrativa de

cada sujeito, uma história. Em cada história, um processo de

desenvolvimento. E nesse processo de desenvolvimento, a partir do

referencial teórico que discuti, a garimpagem de indícios que revelam a

possível ocorrência de transformação de cada sujeito ou sujeitos em

sujeitos de poder, saber e amor. Consoante o próprio Vygotsky, repetindo

Blonsky “o comportamento só pode ser entendido como história do

comportamento”. (p. 144)

O conhecimento da trajetória de vida de cada aluno participante levou-me a entender

algumas dificuldades de aprendizagem e de comportamento apresentadas no decorrer deste

trabalho. Conforme explicita Reis (2000), em cada história de vida aqui relatada existe um

processo de desenvolvimento e de transformação de cada sujeito em sujeito de poder, porque

a educação pode e deve ter esse objetivo de transformar esse ser passivo em um ser ativo e

participante; de saber que se concretiza, por meio da aprendizagem significante e significativa

e, finalmente, de amor que passa a se aceitar enquanto pessoa, enquanto educando, enquanto

um ser que tem capacidades e limitações e aceita o próximo também com suas singularidades.

Page 49: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

2.11 A trajetória de vida dos educandos jovens e adultos do ProJovem de Brazlândia. Para começar a relatar a história de vida de cada aluno participante da pesquisa,

gostaria de tomar emprestado um trecho de uma narração feita por um aluno participante do

Projeto do Paranoá relatado por Reis (2000).

Estou cansado, sinto-me desanimado. Como é difícil a vida aqui na capital

da esperança. Mas, o que fazer? Sentar, olhar, deixar a vida passar. Esta

é a minha vontade. Mas deixar como está, para ver como fica, se tenho de

trabalhar, para alimentar mulher e filhos, lugar para morar, escola para

filho estudar? Vou atrás de trabalho, mas não sei ler e escrever e para

trabalhar tem que saber ler e escrever. Outro aperto. Que fazer? Ouvi

dizer que tem uma escola por aí. Vou atrás, mas lá me dizem que vou

aprender a ler, escrever, calcular e participar de uma luta de moradores,

que eu nem sabia que existia, pois pouco falo, converso, troco idéias. A

maior parte do tempo converso é comigo mesmo. (p. 226)

Dados empíricos e de pesquisas (REIS, 2000) revelam que é nessa realidade que

grande parte dos alunos que chegam à educação de jovens e adultos estão inseridos. Uma

realidade, muitas vezes cruel, que não respeita e não acolhe: apenas exclui. Exclui por vários

motivos, principalmente por não dominar a tecnologia da leitura, da escrita e do cálculo.

Ao observar a história de vida dos alunos que atuaram como sujeitos dessa pesquisa,

vê-se que existem algumas semelhanças e algumas diferenças com a história contada por Reis

(2000) na citação acima, mas o sentimento, muitas vezes, de cansaço, de desânimo, de luta e

de injustiça é constante entre esses jovens.

Como professora e pesquisadora ao mesmo tempo, sinto a necessidade de conhecer

um pouco mais sobre cada aluno e, por acreditar que essa é uma necessidade indispensável

para esse trabalho, procurei conhecer e participar da história de vida que mostra o passado,

desafia o presente para se refletir no futuro. E eu espero que a minha contribuição seja para

um futuro muito melhor. Reis (2000, p.144) destaca que: “Na narrativa de cada sujeito, uma

história. Em cada história, um processo de desenvolvimento”. É nisso que eu, enquanto

professora e pesquisadora, acredito.

Essa atividade foi desenvolvida no dia 30/05/2007. Primeiramente os alunos foram

filmados contando a sua história de vida. Para isso, formulei algumas questões que

abrangessem: sua infância, sua adolescência e sua vida adulta. Nessa atividade, optei por um

direcionamento maior, em relação às falas dos alunos. Essa decisão deu-se, porque tive medo

Page 50: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

de que eles não abordassem pontos importantes para o trabalho, tais como: a questão escolar

e o motivo que os levou a deixar a escola fundamental sem conclui-la. Além desses motivos,

acredito que esse direcionamento ajuda a desenvolver a fala do aluno e contribui para que ele

tenha idéias na hora de produzir o texto escrito, que seria a segunda atividade a ser

desenvolvida após a filmagem.

A produção da história de vida individual foi desenvolvida em dois momentos, assim

distribuídos: (i) entrevista oral, na qual os alunos tinham que falar um pouco sobre a sua

história de vida e (ii) a produção de um texto escrito também sobre o mesmo tema. Aqui serão

apresentados resumos das histórias orais, visto que elas abarcam melhor os assuntos que eu

gostaria que fossem contemplados. Cada história narrada pode ser lida na íntegra nos anexos

desta pesquisa. Os objetivos dessa atividade foram: (a) conhecer a trajetória de vida de cada

aluno e (b) retomar a questão dos estudos, buscando conhecer qual foi o caminho percorrido

pelo aluno até chegar ao ProJovem.

Inicialmente, os alunos estavam nervosos e com muita vergonha, pois eles estavam

sendo filmados individualmente. Porém, observou-se que, no decorrer da atividade, alguns

foram se soltando e relatando fatos bem pessoais e decisivos em suas vidas.

2.11.1 A história de vida de cada aluno participante da pesquisa A seguir será apresentada a história de vida de cada participante desta investigação.

Cada história foi dividida, observando as principais fases da vida de cada aluno: a infância, a

adolescência, a vida adulta. Foi dado um enfoque especial à questão escolar, já abordada no

primeiro questionário aplicado no início da pesquisa.

Os participantes da pesquisa são jovens pertencentes a famílias brasilienses e

moradores da cidade satélite de Brazlândia. A primeira aluna, chama-se Laura (nome fictício),

é filha adotiva, é casada há quatorze anos e tem uma filha.

Quando relembra essas fases de sua vida, a aluna afirma que o fato que mais marcou

sua infância foi a presença constante de seu pai, e o que mais a fez sofrer foi o falecimento

dele ainda quando ela era pequena. Já na adolescência, dois acontecimentos foram muito

importantes para a educanda. Primeiro, a construção de sua família ao lado de seu marido e

depois, o nascimento de sua filha.

Em relação à vida adulta, Laura afirma que o seu maior desejo é concluir seus estudos

e no futuro cursar uma faculdade de estilismo. Segundo a aluna, esse desejo fora adiado

devido à sua gravidez que a impediu de concluir os estudos em tempo hábil e por causa de um

Page 51: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

problema que aconteceu com ela quando ia para a escola, que fez com que ela ficasse um

bom tempo sem sair de casa.

A segunda participante recebeu o nome de Janaína (nome fictício). A participante

relatou que mora com uma amiga e que seus pais residem no INCRA 06. Além dela, seus pais

têm outros filhos.

Em relação à infância, a aluna afirma que foi muito feliz e que brincou bastante, não

tendo, assim, do que reclamar.

Quanto à adolescência, ela destaca um ponto negativo que a marcou bastante, que foi

o abandono dos estudos. A esse respeito, a educanda coloca que optou por largar os estudos,

porque acreditava que não daria conta de concluí-los. Porém ressalta que se tivesse

encontrado professores interessados em ajudá-la, talvez a sua história estudantil tivesse tido

outro desfecho.

Hoje em sua vida adulta, o maior objetivo é concluir seus estudos e cursar uma

faculdade de Educação Física.

O terceiro participante chama-se Jeferson (nome fictício). Ele reside com sua mãe e

seus irmãos em Brazlândia.

Em relação à sua infância, o estudante revela que o que mais gostava de fazer era ir

para a escola, o que só foi possível a partir dos 11 anos de idade, devido ao grande número de

viagens que sua mãe fazia.

Em nossa conversa sobre a sua adolescência, o aluno continua dando um enfoque

maior à questão escolar, principalmente às dificuldades em manter-se na escola, tendo em

vista a longa distância existente entre ela (a escola) e a sua casa.

Agora, em sua vida adulta, Jeferson reforça seu desejo de concluir os estudos e

acredita que o ProJovem possa lhe dá condições de alcançar esse objetivo.

A quarta participante chama-se Fernanda (nome fictício) e apresenta uma história de

vida muito complexa.

Fernanda e sua irmã moraram desde pequenas com sua avó. A aluna relata que a

convivência entre ela e sua mãe sempre foi muito difícil, porém o nascimento de sua filha

ajudou a amenizar o clima de desconforto existente entre ambas.

Page 52: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Em relação à sua infância, a aluna deixa claro que para ela essa fase praticamente não

existiu, pois teve que trabalhar desde cedo para ajudar em casa, o que juntamente com outros

fatores dificultou a sua inserção e sua continuidade na escola.

Quanto à vida adulta, a aluna evidencia que só depois de casada é que ela passou de

fato a viver, pois passou a ser tratada com mais carinho, principalmente pelo marido. Ela

destaca ainda que, nesse momento, seu maior desejo é concluir os estudos e tornar-se uma

enfermeira.

A última aluna recebeu o nome de Maria das Graças (nome fictício). Essa aluna é

oriunda de uma família maranhense, formada pelos seus pais e mais doze irmãos. Segundo a

educanda, ela foi criada por sua avó e só começou a estudar aos 11 anos de idade. Informa

também que no Maranhão, cursou até a 4ª série.

Aos 14 anos, Maria das Graças teve que vir para Brasília em busca de emprego, dessa

forma, estudar foi ficando cada vez mais difícil, mas mesmo assim, ela conseguiu estudar até a

6ª série, quando realmente teve que se dedicar ao trabalho e mandar dinheiro para os pais. Por

esse motivo, a aluna acredita que não teve adolescência, pois não aproveitou desse momento

tão importante de sua vida por conta do trabalho e dos filhos que vieram aos 19 anos.

A aluna também destaca que os seus desejos são concluir os estudos, possuir uma

casa própria e seguir a carreira de veterinária.

Ao observar as histórias desses alunos, percebe-se que as dificuldades por eles

passadas ora se aproximam, ora se afastam, porém o desejo de vencer os obstáculos e

terminar os estudos é comum a todos.

A seguir apresentar-se-á o referencial teórico que deu suporte a esta pesquisa.

Page 53: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

3 ORIENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA

...a escola é, por excelência, o lócus - ou espaço - em

que os educandos vão adquirir, de forma sistemática,

recursos comunicativos que lhes permitam

desempenhar-se competentemente em práticas sociais

especializadas. (BORTONI-RICARDO, 2004. p. 75)

3.1 Introdução

Neste capítulo, será apresentada a fundamentação teórica deste trabalho. Para tanto,

buscou-se fundamentação em princípios das seguintes teorias: sociolingüística (Bortoni-

Ricardo, 2004, 2005); sociolingüística interacional (Goffman, 1972; Philips, 1972, 1974;

Gumpers, 1982); letramento e oralidade (Marcuschi, 2007; Ribeiro, 2004; Carvalho, 2005);

lingüística textual (Koch, 2005, 2006); professor reflexivo (Alarcão, 2001, 2005; Pimenta &

Ghedin, 2005; Schön, 2000); educação de jovens e adultos (Freire, 1998; Reis, 2000),

finalmente, o discurso de sala de aula, representado nesse trabalho por Cazden (1991).

3.2 A contribuição da Sociolingüística à educação

Segundo Bortoni-Ricardo (2005), a Sociolingüística é uma vertente da ciência da

linguagem, originária dos Estados Unidos na década de 1960. Trata-se de uma ciência que

estuda a língua dentro de um contexto social, enfocando seus aspectos funcionais e

interacionais.

Desde o seu surgimento, a Sociolingüística tem realizado um grande esforço no sentido

de mostrar que as variações que ocorrem na língua nada mais são que frutos da sua

heterogeneidade e do dinamismo apresentado por ela. (FERNANDES, 2004)

Pesquisas recentes (BORTONI-RICARDO, 2005; FERNANDES, 2004; FREITAS, 1996;

entre outros) têm demonstrado o quão relevante são as contribuições trazidas pela

Sociolingüística à educação.

A Sociolingüística tem dado especial atenção às falas desvalorizadas pela sociedade,

geralmente utilizadas por grupos minoritários e, nesse sentido, tem lançado propostas

inovadoras que pretendem auxiliar o ensino de língua materna nas escolas. (FERNANDES,

2004)

Segundo Bortoni-Ricardo (2005), em meados do século XX, a Sociolingüística surgiu

apoiando-se em três premissas:

Page 54: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

1. no relativismo cultural, que não aceitava o mito da existência de línguas e culturas

primitivas e acreditava na equivalência e na igualdade funcional entre as línguas;

2. na heterogeneidade inerente, que permitiu, por meio de estudos sociolingüísticos,

romper com o conceito saussuriano de um sistema lingüístico homogêneo. A partir

dessa premissa, a variação lingüística deixou de ser vista como um fenômeno

excepcional e tornou-se parte inerente à língua;

3. na relação dialética entre forma e função da língua, que promoveu uma mudança na

visão de língua, antes concentrada na sua estrutura. Considerando-se tal relação, a

ênfase passa a ser dada ao uso que se faz da língua.

A Sociolingüística tem contribuído muito para o desenvolvimento de um ensino de

língua materna mais consciente, mais crítico e menos excludente. As mudanças sugeridas

pelos sociolingüistas fundamentam-se na necessidade de perceber a língua como um

fenômeno heterogêneo, que deve ser respeitado e ampliado para oferecer ao educando

condições para que ele possa participar da sociedade sabendo como falar e quando falar. A

Sociolingüística dará tanto ao professor quanto ao aluno subsídios para usar a língua de

acordo com a situação, não se preocupando apenas com as regras impostas pela gramática

normativa, mas com o uso que se faz da língua em diversos contextos sociais. (FERNANDES,

2004; FREITAS, 1996)

Mesmo tendo fornecido relevantes contribuições para o ensino de língua, a

Sociolingüística sofreu e ainda sofre muitas críticas às suas abordagens. No entanto,

reconhece-se que suas teorias são fundamentais para que os problemas educacionais possam

ser pelo menos amenizados. Bortoni-Ricardo (2005) destaca em seus estudos que:

entendem os sociolingüistas educacionais, com especial destaque para os

da corrente etnográfica interpretativista, que os problemas educacionais

não ocorrem no vácuo e sim na rotina diária de sala de aula, onde podem

ser interpretados e registrados, por meio de uma metodologia

microetnográfica. (p. 123)

Para que os postulados da Sociolingüística possam ser aplicados adequadamente, é

necessário que se façam algumas adequações à realidade a que se destina. Bortoni-Ricardo

(2005) destaca alguns princípios que podem favorecer essa adequação. Segundo a autora, é

função da escola ampliar o repertório lingüístico dos alunos com recursos comunicativos que

os possibilitem usar adequadamente os estilos monitorados que requerem uma maior atenção.

Em um segundo momento, é de suma importância que a variação lingüística seja vista e

entendida como uma diversidade inerente a todo sistema lingüístico e não como um “erro”

causado pelo “mau” uso da língua. Ressalte-se também que os estilos monitorados da língua

são reservados à realização de eventos de letramento em sala de aula e outros eventos

formais. Entretanto, nos eventos de oralidade pode-se lançar mão de estilos mais informais.

Desta forma, em lugar da dicotomia entre “português bom” e “português ruim”, podemos

Page 55: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

perceber a língua em um continuum de letramento e oralidade (BORTONI-RICARDO, 2004,

2005). De acordo com a autora, não basta descrever as variedades lingüísticas que ocorrem no

ambiente escolar. É preciso ir além. Faz-se necessário compreender e interpretar essas

descrições no sentido de mostrar que elas fazem parte de um sistema lingüístico rico e

heterogêneo. Finalmente, Bortoni-Ricardo (op. cit.) reforça a necessidade da conscientização

crítica dos professores e alunos quanto à variação lingüística. É importante que o lingüista não

se preocupe apenas em passar informações técnicas ao professor, mas o incentive, através de

uma situação dialógica, a refletir criticamente sobre suas ações. Considerando-se esses

princípios, percebe-se o quanto a Sociolingüística é importante para a educação.

A partir dessa perspectiva, é condição sine qua non que o professor reflita sobre sua

prática pedagógica diária e que realize suas ações em sala de aula fundamentado em uma

pedagogia culturalmente sensível (Erickson, 1987, p. 355, apud BORTONI-RICARDO, 2005).

Segundo a mesma linha teórica, acrescenta-se que:

uma pedagogia culturalmente sensível é um tipo de esforço especial

empreendido pela escola, a fim de reduzir os problemas de comunicação

entre professores e alunos, de desenvolver a confiança e impedir a

gênese do conflito que se move rapidamente para além das dificuldades

de comunicação, transformando-se em lutas amargas de trocas de

identidade negativas entre alguns alunos e professores. (op. cit. p. 118)

Promover o debate acerca dos postulados da sociolingüística enseja a reflexão sobre

as práticas docentes e contribui para o ensino de língua materna menos permeado de

preconceito. Acredita-se que um ensino de língua que se fundamente em uma “pedagogia

culturalmente sensível” diminuirá a distância entre professor e aluno e favorecerá a construção

do conhecimento que deve acontecer mutuamente. (BORTONI-RICARDO, 2005)

O princípio norteador deste trabalho é a crença de que fala e escrita não devem ser

vistas como pólos antagônicos, mas como duas modalidades de uso da língua distribuídas em

um continuum, pois sabemos que há eventos de oralidade em que a linguagem muito se

aproxima daquela usada em eventos de letramento e vice-versa. O objetivo deste trabalho,

portanto, volta-se para o desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos em ambas

as modalidades. Entendendo-se por “competência comunicativa” (DELL HYMES, apud

BORTONI-RICARDO, 2004), a habilidade que um falante tem de saber falar e como falar com

qualquer pessoa em qualquer momento, ou seja, uma pessoa que possui uma maior

competência comunicativa sabe adequar sua fala às mais diversas situações comunicativas

vivenciadas.

Para Dell Hymes (1966 apud BORTONI-RICARDO, 2004), a competência lingüística

deve incluir não somente as regras de formação de sentenças. Esse conceito deve abarcar

também as normas sociais e culturais que “definem a adequação da fala”. (p. 73). A questão da

Page 56: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

adequação, formulada por Dell Hymes, é fundamental para o desenvolvimento da competência

comunicativa do aluno. Acredita-se que ao desenvolvê-la o educando será capaz de utilizar a

sua fala de forma competente em qualquer ambiente.

Matencio (2003, p. 5-6) em seus estudos sobre letramento e competência comunicativa

amplia esse último conceito e afirma que a competência comunicativa “pode ser considerada

como a capacidade de interagir em diferentes situações de interação e, portanto, de produzir/

receber textos”. Mas para que isso ocorra, a autora destaca que essa capacidade engloba no

mínimo três sistemas de conhecimento:

• Conhecimentos lingüísticos: saberes acerca das regras de funcionamento da língua, no

nível fonológico, morfológico, sintático e semântico;

• Textuais-pragmáticos: saberes relativos aos gêneros e tipos textuais, tanto em relação à

sua configuração usual quanto a seu funcionamento em diferentes instituições e

situações de interação, bem como no que respeita a normas de uso da língua nas

práticas comunicativas das quais emergem os textos;

• Conhecimentos referenciais: em outras palavras, saberes sobre o mundo. (MATENCIO,

2003, p. 6)

A partir dessa perspectiva de ensino da língua materna, conforme afirma Bortoni-

Ricardo (2004, p. 75), “a escola é, por excelência, o lócus - ou espaço - em que os educandos

vão adquirir, de forma sistemática, recursos comunicativos que lhes permitam desempenhar-se

competentemente em práticas sociais especializadas”. Com base nessa afirmação, acredita-se

que uma escola em que o ensino esteja fundamentado numa pedagogia culturalmente sensível

possa oferecer, através de uma relação de respeito entre professor - aluno, condições para que

este desenvolva sua linguagem de forma mais dinâmica e menos preconceituosa.

Para que esses recursos comunicativos possam ser ampliados é importante perceber

o grau de dependência contextual, visto que toda produção lingüística se dá dentro de um

contexto; observar o grau de complexidade do tema abordado, isto é, em sala de aula são

desenvolvidas atividades simples e outras complexas. As simples, geralmente, não trazem

dificuldades para a maioria dos educandos. Já as complexas requerem, muitas vezes, um grau

maior de atenção tanto do professor quanto do aluno. (BORTONI-RICARDO, 2004)

Acredita-se que quanto mais conhecimento o aluno tiver acerca de determinado tema,

mais facilidade ele terá para concretizar a atividade proposta, pois será por meio do

conhecimento prévio que ele construirá um novo conhecimento. Nesse sentido, o papel do

professor é de grande relevância, pois ele servirá de andaime2, como uma ponte entre o

2 O conceito de andaime foi formulado por Jerome Bruner, em 1983, e objetivava conhecer a

maneira como o conhecimento era transmitido. (BORTONI-RICARDO, 2006 in: TACCA, 2006)

Page 57: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

conhecimento informal (trazido pelo aluno) e o conhecimento formal (oferecido pela escola).

(BORTONI-RICARDO, 2004; 2005; CAZDEN, 1991; FREIRE, 1998)

Muito próximo do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (é a possibilidade

que o aluno tem de sozinho realizar uma tarefa ou com o auxílio de uma pessoa mais

experiente) postulado por Vygotsky (1987), o conceito de andaime é assim colocado por

Bortoni-Ricardo (2006, p.168 in TACCA, 2006): “andaimes são um conceito metafórico que se

refere a um auxílio visível ou audível que um membro mais experiente de uma cultura pode dar

a um aprendiz”. Dessa forma, dentro do contexto escolar, entende-se que andaimes são os

auxílios, as trocas de conhecimentos que ocorrem entre professor e aluno, e de aluno com

aluno, de forma que o membro mais competente desse par possa oferecer condições para que

o outro membro do par possa “adquirir” conhecimento. FREITAS (1996, p.106) afirma que “com

o conhecimento do aprendiz, o apoio do outro vai sendo aos poucos retirado e o iniciante, por

etapas, passa a realizar o trabalho sozinho”.

Cazden (1991, p. 118) também reforça essa informação, após apresentar o exemplo da

professora de Leola. Nesse exemplo, a professora auxilia a educanda em uma atividade.

Dessa forma a autora escreve: “Se comparamos as instruções da professora para a primeira e

para a segunda composições, se evidencia que a ajuda pode ir se retirando gradualmente, e

que ao final Leola já aprendeu a fazer o trabalho por si mesma”.

Acredita-se que esse conceito possa contribuir para que na educação de jovens e

adultos haja uma mudança de conduta, tanto do professor quanto do aluno, pois a partir dele,

ambos entendem que o conhecimento se dá pela troca, pelo respeito, pela ajuda, pelo

complemento. Dessa maneira, caem por terra os “pré-conceitos” acerca da linguagem trazida

pelo aluno e do papel autoritário do professor que, não raras vezes, desconsidera os

antecedentes culturais e lingüísticos de seus alunos. Através dos andaimes, alunos e

professores passam a construir o conhecimento de maneira em que um possa contribuir para o

desenvolvimento do outro.

3.3 A Sociolingüística Interacional

Assim como a Sociolingüística, acredita-se que a Sociolingüística Interacional possa

trazer grandes colaborações para este trabalho. A Sociolingüística Interacional abre caminhos

para que haja uma investigação mais apurada quanto aos usos da língua. Através dela pode-

se decifrar as entrelinhas do discurso e da interação social que permeiam qualquer encontro

face a face. A Sociolingüística Interacional vem atender às necessidades do meio acadêmico

brasileiro e abrir espaço para a realização de pesquisas cada vez mais produtivas no âmbito da

linguagem. Suas contribuições acerca da interação face a face são de grande valia para este

trabalho, pois elas trazem um novo olhar para as diversas formas de comunicação que ocorrem

Page 58: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

em sala de aula. A interação é um processo que envolve minimamente duas pessoas que se

revezam na condição de falante e de ouvinte.

Estudos significativos realizados por Philips (1972; 1974), Golffman (1972), Gumpers

(1982) ressaltam a importância da Sociolingüística Interacional no âmbito da linguagem,

especificamente no que se refere à interação face a face (RIBEIRO & GARCEZ, 1998). A

pesquisa realizada por Philips (1972; 1974) destaca a importância da participação do ouvinte

na construção da conversação e na interação face a face. Tal pesquisa foi constituída a partir

de três objetivos: considerar o papel do ouvinte na interação face a face; mostrar como o modo

verbal e o modo não-verbal de ordenação da fala se integram em um único sistema de

organização da interação e, finalmente, explorar o que é invariável nesses domínios (RIBEIRO

& GARCEZ, 1998). Philips (1972; 1974) destaca ainda a relevância da ratificação da fala como

uma necessidade para que haja a continuação da comunicação. Golffman (1972) também

destaca a necessidade de lingüistas, sociolingüistas, antropólogos e sociólogos realizarem

pesquisas que contemplem a interação face a face (RIBEIRO & GARCEZ, 1998).

Golffman (1972) acrescenta que o estudo da língua e da sociedade deva acontecer

por meio de estudos que partam do uso da fala em contextos sociais específicos. Pesquisas

desenvolvidas por Gumpers (1982), além de abordar a questão da interação, confere especial

atenção ao contexto em que essa interação acontece. O autor parte do princípio de que uma

elocução pode ser entendida de maneiras variadas e que essas interpretações levam em

consideração o momento da interação (RIBEIRO & GARCEZ, 1998). Quando a interação

acontece, há uma relação direta entre esses dois participantes de forma que um dá espaço

para que o outro também possa falar, havendo, dessa forma, uma constante troca de papéis

entre falantes e ouvintes (SILVA in DINO PRETI, 2002). Nas situações de interação face a face

existe uma co-produção do texto, pois os interlocutores empenham-se conjuntamente. Além

dessa cooperação mútua, os interlocutores co-negociam, co-argumentam, de maneira que não

há como analisar separadamente o que foi dito por um e o que foi dito por outro. (MARCUSCHI

1986, apud KOCH, 2005).

Cazden (1991) também realizou estudos abordando a linguagem escolar. A autora,

relata que antes de se tornar professora universitária, ministrou aulas durante uma década

(1940-1950) no ensino primário. Após treze anos lecionando em uma universidade, Cazden

percebeu que era chegado o momento de voltar a dar aulas a crianças e tentar aplicar algumas

idéias e teorias nessas classes. A autora confere especial atenção à relação professor-aluno e

dá ênfase à interação em sala de aula.

No contexto de sala de aula, professor e aluno ocupam papéis específicos,

hierarquicamente diferentes. Tal diferença baseia-se na visão tradicional dos papéis sociais

desempenhados pelo professor e pelo aluno. Dentro dessa lógica educacional, o professor é

aquele que sabe e está na escola para transmitir o seu saber àqueles que não o possuem.

Page 59: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Segundo Moita Lopes (in Cox & Assis Peterson, 2001, p. 165), “esses padrões correspondem

ao que tipicamente entende-se como caracterizado pela cultura escolar: os alunos estão

intencionalmente limitados aos papéis que os professores lhes permitem desempenhar”. Dessa

forma, o aluno é visto como um receptáculo, ou seja, alguém que ainda está na escola para

receber do professor o conhecimento por ele detido. BOURDIEU (1983:160-161 apud SILVA, in

PRETI, 2002) defende que:

a língua não é somente um instrumento de comunicação ou mesmo de

conhecimento, mas um instrumento de poder. Não procuramos somente

ser compreendidos, mas também obedecidos, acreditados, respeitados

reconhecidos. Daí a definição completa da competência como direito à

palavra, isto é, a linguagem legítima como linguagem autorizada, como

linguagem de autoridade. (p. 185-186)

A partir dessa colocação, observa-se que a linguagem assume papéis distintos dentro

da sociedade e, conseqüentemente dentro da escola. Ela pode tanto ser usada para

estabelecer a comunicação quanto para impor regras e valores.

Quando o professor e o aluno interagem, o discurso de sala de aula deixa de ser

unilateral e passa a ser bilateral. Trata-se de um discurso em que aluno e professor são

sujeitos de um conhecimento que parte da co-negociação para a estruturação do discurso.

Essa visão de discurso educacional “tira” a supremacia e a superioridade do professor, faz com

que o aluno deixe de ter um papel passivo em sala de aula e passe a ser ativo nesse processo.

Nesse sentido, não há um detentor do saber, mas sim uma troca de saberes que ocorre na

ratificação das idéias do aluno, a partir da participação democrática do professor. (SILVA 2002,

in DINO PRETI, 2002)

Acredita-se que essas interações, quando bem definidas e bem organizadas, dentro do

contexto educacional, possam ser muito úteis para o desenvolvimento tanto lingüístico-

comunicativo do educando quanto para que haja uma maior democratização do ensino de

língua materna. Cajal (in Cox & Assis Peterson, 2001) afirma que :

A troca vivida no estar-junto escolar representa para o aluno a

possibilidade de aprendizagem permanente e diversificada. Para o

professor, uma possibilidade de conhecer mais de perto os interesses e

capacidades das crianças e de orientar suas ações tendo por base esses

conhecimentos. (p. 157)

Dessa forma, compreende-se que os postulados da Sociolingüística Interacional foram

contribuições fundamentais para este trabalho, uma vez que os conceitos desenvolvidos por

esses autores estabeleceram uma íntima relação com o tema estudado.

Page 60: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

3.4 Letramento e oralidade

A palavra letramento surgiu a partir do termo literacy, que inicialmente fora traduzido

como alfabetização. Na busca de uma maior precisão quanto ao termo letramento, alguns

estudiosos (CARVALHO, 2005; MARCUSCHI, 2007, TFOUNI, 2006) propõem que sejam feitas

algumas reflexões. Uma delas baseia-se na distinção entre os dois termos (alfabetização e

letramento). Segundo Soares (2004 apud RIBEIRO, 2004), a alfabetização é aquisição da

tecnologia da escrita, ou seja, trata-se da aquisição das habilidades básicas para que o

indivíduo possa ler e escrever, tais como as habilidades de “codificação de fonemas em

grafemas e decodificação de grafemas em fonemas, as habilidades motoras de manifestação

de instrumentos e equipamentos para que a codificação e decodificação possam ocorrer”. (p.

91)

Quanto ao uso efetivo da tecnologia da alfabetização em práticas sociais que envolvem

a língua escrita, dá-se o nome de letramento, isto é, o letramento é o uso que o cidadão faz da

escrita de acordo com o contexto social do qual ele participa. SOARES (2004 apud RIBEIRO,

2004).

Diante dessa distinção inicial, percebe-se que dentro da sociedade moderna não basta

que o indivíduo seja apenas alfabetizado. Ler e escrever são duas habilidades importantes

para a vida em sociedade, mas somente o ato de codificar e decodificar caracteres da língua

não garante a participação crítica e cidadã do sujeito nela. É preciso que a escola se preocupe

não só em alfabetizar o aluno, mas que o prepare para aplicar os conhecimentos de leitura e

escrita em todas as situações, em todos os contextos sociais dos quais ele faz parte. Dessa

forma, entende-se que uma educação verdadeiramente democrática e preocupada com a

construção do saber do aluno irá desenvolver atividades que contemplem as práticas de

alfabetização e as práticas de letramento.

Acredita-se que o ensino de língua materna deva acontecer nas escolas voltando seu

olhar para o uso efetivo que o aluno faz e precisa fazer da língua. Entende-se que o

conhecimento puro e simples das regras gramaticais não responde aos anseios da sociedade

atual. Mais importante do que saber o nome das classes gramaticais, é saber quando e onde

empregá-las.

No que diz respeito à relação oralidade-letramento, Marcuschi (2007) afirma que a

oralidade é “uma prática social interativa para fins comunicativos que se apresenta sob

variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora, que se realiza, nos

contextos sociais, partindo de situações mais informais para situações mais formais” (p. 25). O

letramento, segundo o mesmo autor, envolve as diversas formas de escrita na sociedade e

pode ir desde a apropriação mínima da escrita até a uma apropriação mais profunda. Para

Page 61: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Mascuschi (2007), letrado é o indivíduo que participa de eventos de letramento e não somente

aquele que faz uso formal da escrita.

Ao analisar ambas as definições, observa-se que uma corrobora o desenvolvimento da

outra, ou seja, tanto a oralidade quanto o letramento, enquanto práticas voltadas para a

sociedade, precisam ser desenvolvidas no âmbito escolar de forma que, a partir delas, o aluno

tenha condições de participar de eventos de letramento e que possa ir além do uso formal da

escrita. Marcuschi (2007, p. 22) destaca que: “na sociedade atual, tanto a oralidade quanto a

escrita são imprescindíveis, trata-se, pois, de não confundir papéis e seus contextos de uso, e

de não discriminar seus usuários”.

Durante muitos anos, fala e escrita foram modalidades de uso da língua concebidas de

forma dicotômica, conforme afirma Marcuschi (2007). Tal dicotomia contribuiu para que muitos

teóricos, estudiosos e professores da língua passassem a crer que houvesse uma supremacia

da língua escrita sobre a língua falada. No entanto, estudos recentes (MARCUSCHI, 2007;

FÁVERO, 2005, SILVA, 2001 entre outros pesquisadores) destacam que a modalidade oral é

tão importante para a sociedade moderna quanto a modalidade escrita e conferem especial

atenção aos estudos que envolvem a primeira. Marcuschi (2007) reforça essa idéia ao destacar

que “atualmente, oralidade e letramento são tidas como atividades interativas e

complementares no contexto das práticas sociais e culturais” (p.16). Nesse sentido, não há por

que primar por uma das modalidades. É preciso criar condições satisfatórias para que ambas

sejam contempladas na escola, de forma que o aluno chegue a dominar e a usar bem tanto

uma, quanto outra e que possa, por meio do uso consciente das duas modalidades, participar

da sociedade de maneira mais crítica e ativa.

Marcuschi (2007, p. 45) mostra que os estudos acerca da língua falada e da língua

escrita têm trazido resultados importantes, porém ainda muito limitados para ambas. O autor

afirma que, apesar dessas limitações, esses estudos já têm dado contribuições e chegado a

conclusões importantes acerca do ensino da língua. Eis algumas:

“as semelhanças são maiores do que as diferenças tanto nos aspectos

estritamente lingüísticos quanto nos aspectos sociocomunicativos; as

relações de semelhanças e diferenças não são estanques nem

dicotômicas, mas contínuas ou pelo menos graduais; as relações podem

ser mais bem compreendidas quando observadas no contínuo dos

gêneros textuais; muitas das características diferenciadas atribuídas a

uma das modalidades são propriedades da língua; não há qualquer

diferença lingüística notável que perpasse o contínuo de toda a produção

falada ou de toda a produção escrita, caracterizando uma das

modalidades; tanto a fala quanto a escrita, em todas as suas formas de

manifestação textual, são normatizadas”.

Page 62: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A partir dessas colocações, acredita-se que é preciso haver um esforço coletivo no

sentido de que a escola possa desenvolver atividades que envolvam ambas as modalidades,

uma vez que as características entre elas mais as unem do que as separam. É importante

também perceber que para a sociedade moderna o domínio de apenas uma das modalidades

torna-se um insuficiente, pois não atende às necessidades nem da sociedade nem do mercado

de trabalho, que busca por profissionais que dominem diversos tipos de linguagens, isto é,

linguagem oral, escrita, tecnológica, etc.

Assim, o autor (op. cit.) enfatiza que ambas as modalidades, mesmo respeitando suas

características próprias, podem (e “devem”) interagir e se complementar, uma vez que não

caracterizam dois sistemas lingüísticos.

Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas

permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e

informais, variações estilísticas sociais, dialetais e assim por diante. As

limitações e os alcances de cada uma estão dados pelo potencial do meio

básico de sua realização. (p. 17)

Não obstante essas informações percebe-se, ainda no século XXI, a tendência de se

ver a fala e a escrita como modalidades de uso opostas e não como um continuum. Isso pode

ser justificado pela ênfase dada às regras da língua e não aos usos que se faz da mesma.

Marcuschi (2007) destaca quatro tendências de abordagem do tratamento da língua dentro da

relação oralidade-escrita:

A primeira tendência caracteriza-se por abordar uma dicotomia estrita entre oralidade-

escrita. Dentro dessa concepção, a língua falada e a língua escrita são apresentadas em dois

blocos com características distintas, como pode ser observado no quadro abaixo proposto por

MARCUSCHI (2007).

Quadro 8: Língua falada e escrita

Fala Escrita

Contextualizada Descontextualizada

Dependente Autônoma

Implícita Explícita

Redundante Condensada

Imprecisa Precisa

Não-normatizada Normatizada

Fragmentária Completa

Não-Planejada Planejada

Fonte: MARCUSCHI, 2007, p. 27

Page 63: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A partir do quadro sinótico acima esboçado, chega-se a algumas conclusões, tais

como: a fala é caracterizada como um “erro”, como uma estrutura simples, informal, concreta e

que precisa necessariamente de um contexto para ser entendida. Já a escrita, seria o retrato

do bom uso da língua, teria uma estrutura complexa, formal e abstrata. (FÁVERO, 2005;

MARCUSCHI, 2007; BAGNO,1999)

Essa foi uma tendência aceita por muitas décadas no ensino de língua materna no

Brasil, o que resultou em muitos fracassos no âmbito da linguagem e contribuiu para que

muitas crianças vissem a escola não como um lugar de aprendizagem, mas como um lugar

onde elas tinham que aprender uma linguagem que nem sempre era aquela que tinham em

seus lares.

Essa informação é muito importante, pois tal tendência acaba por desconsiderar o

conhecimento prévio dos alunos. Agindo dessa maneira, a escola coopera para que continue a

existir o preconceito lingüístico que aceita apenas como certo o uso da variante de prestígio da

língua, desconsiderando, portanto, as outras.

A segunda tendência apresentada por Marcuschi (2007), denominada de

fenomenológica, de caráter estruturalista, foi postulada por antropólogos, psicólogos e

sociólogos para identificar as mudanças que surgiram na sociedade motivadas pela escrita.

Para Marcuschi (2007), trata-se de uma tendência não muito adequada quando se

deseja observar fatos da língua, uma vez que ela considera a questão da estrutura lingüística a

partir de uma visão global, não dando ênfase a particularidades inerentes à mesma. Nesse

contexto, fala e escrita se estruturam da seguinte forma:

Quadro 9: Cultura oral e letrada

Cultura oral Cultura letrada

Pensamento concreto Pensamento abstrato

Raciocínio prático Raciocínio lógico

Atividade artesanal Atividade tecnológica

Cultivo da tradição Inovação constante

Ritualismo Analiticidade

Fonte: MARCUSCHI, 2007, p. 29

Dentro da perspectiva fenomenológica de ensino, a língua ainda é vista de maneira

estanque. Acredita-se que a segunda tendência, ainda permeada pelos preconceitos da

sociedade, não contribui para que haja um ensino da língua materna mais justo e menos

excludente.

A terceira tendência descrita pelo autor (op.cit.) possui uma característica variacionista

e trata da escrita e da fala “sob o ponto de vista dos processos educacionais e faz propostas

Page 64: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

específicas a respeito do tratamento da variação na relação padrão e não-padrão lingüístico

nos contextos do ensino formal”. (MARCUSCHI, 2007, p. 31)

Essa tendência cria a possibilidade de ambas as modalidades (oral e escrita)

coexistirem no ambiente escolar como um continuum. A língua passa a ser vista de maneira

mais ampla e o fato de levar em consideração a relevância da variedade para qualquer

comunidade de fala é algo muito importante e que muito contribui para que haja mudanças no

ensino da língua.

Na perspectiva variacionista, oralidade e escrita apresentam características menos

excludentes e mais comuns. É possível haver uma interação entre as duas modalidades como

se pode ver abaixo:

Quadro 10: Oralidade e escrita na perspectiva variacionista

Fala e escrita apresentam:

Variedades não-padrão Variedade padrão

Língua coloquial Língua culta

Normas não-padrão Norma padrão

Fonte: MARCUSCHI, 2007, p. 31

A última tendência foi classificada pelo autor acima citado como sociointeracionista.

Nessa tendência, as relações que se estabelecem entre a oralidade e a escrita acontecem de

maneira dialógica. A língua é concebida como um fenômeno interativo e dinâmico. Tanto a fala

quanto a escrita apresenta dialogicidade, usos estratégicos, funções interacionais,

envolvimento, negociação, situacionalidade, coerência, dinamicidade. É importante ressaltar

que a quarta tendência abre espaço para inúmeras e relevantes mudanças no ensino de língua

materna, porém acredita-se que ela sozinha não dará conta de resolver todas as dificuldades

de linguagem que os alunos apresentam.

Segundo Marcuschi (2007), a quarta tendência ainda não possui uma explicação e um

rigor quanto à descrição dos fenômenos da língua, precisando, dessa forma, de um apoio da

Análise da Conversação etnográfica, aliada à Lingüística do Texto, em busca de se conseguir

resultados mais seguros e com um grau maior de adequação tanto prática quanto teórica.

O estudo dessas tendências contribui de forma significativa para que se entenda que

existem perspectivas diferenciadas que apresentam formas distintas quanto ao tratamento

dado à língua. É importante destacar que, dependendo da abordagem escolhida, a língua

poderá ser entendida tanto como um sistema dicotômico quanto um sistema

interativo/dialógico, e que tal escolha poderá contribuir para que os problemas que envolvem a

linguagem oral e a escrita possam ser, pelo menos, amenizados.

Page 65: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Por esses motivos, torna-se imprescindível que se insiram nos conteúdos e nos

programas de língua portuguesa informações sobre a linguagem oral, uma vez que essa

possui, segundo Castilho (1990, p. 121 apud RAMOS, 1997, p. IX), muitos processos que não

aparecem na língua escrita.

A partir da concepção de que a língua deve ser ensinada na perspectiva de um

continuum ao longo do qual se distribuam ambas as modalidades, os PCNs (1997) traçam os

seguintes objetivos:

1. Expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com

eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir

textos tanto orais como escritos, coerentes, coesos, adequados a seus

destinatários, aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados.

2. Utilizar diferentes registros, inclusive os mais formais da variedade

lingüística valorizada socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias

da situação comunicativa de que participam.

3. Conhecer e respeitar as diferentes variedades lingüísticas do

português falado.

4. Compreender textos orais e escritos com os quais se defrontam em

diferentes situações de participação social, interpretando-os corretamente

e inferindo as intenções de quem os produz. (p. 41-42)

Sabemos que essa não é uma tarefa fácil e nem simples de fazer, tendo em vista que,

tanto na linguagem oral quanto na escrita, tem-se elementos bastante complexos que

requerem um planejamento que leve em consideração o conhecimento prévio que os alunos

levam para o ambiente escolar, perceba de que maneira cada conteúdo ministrado está sendo

útil e necessário para que o educando possa desenvolver-se de maneira autônoma. E

finalmente, aprofundar esses conteúdos não só como forma de vencer conteúdos, mas como

forma de possibilitar ao aluno uma oportunidade de ampliar suas competências.

3.5 A sala de aula: um espaço para a oralidade

Estudos sobre a importância da oralidade para o desenvolvimento da competência

comunicativa do aluno têm sido uma constante no meio acadêmico. No entanto, o que se

percebe na prática é que essa relevância muitas vezes tem ficado restrita aos papéis que

norteiam as atividades lingüísticas no âmbito escolar, ou seja, o professor tem acesso a essas

propostas, entende que elas podem contribuir para a melhoria do ensino da língua, mas não

consegue, em muitas situações, desenvolver atividades que contemplem e que contribuam de

maneira significativa para o desenvolvimento dos seus alunos. Os PCNs (1997, p. 49) afirmam

que “eleger a língua oral como conteúdo escolar exige planejamento da ação pedagógica de

forma a garantir, na escola, na sala de aula, atividades sistemáticas de fala, escrita e reflexão

sobre a língua”.

Page 66: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Marcuschi (2003, in DIONÍSIO e BEZERRA, 2003) fala sobre a dificuldade encontrada

pelos professores de língua portuguesa em relação ao acesso às pesquisas na área e

acrescenta que ela se torna maior, porque nem os livros didáticos, que ainda são os únicos

materiais que muitos educadores têm à mão (principalmente nas escolas públicas), trazem

atividades que contemplem a oralidade e a escrita da forma como ambas deveriam ser

trabalhadas em sala de aula.

O referido autor destaca que em diversos livros didáticos de língua portuguesa, objetivo

central para a escola é o de ensinar a escrita e, por isso, muitas vezes deixam de atribuir a

atenção necessária à fala.

Em suas observações, Marcuschi coloca que não se trata de transformar a fala num

conteúdo autônomo de língua portuguesa, mas que ela deve ser desenvolvida integralmente e

na relação com a escrita e ainda acrescenta que “a oralidade pode mostrar que a fala mantém

com a escrita relações mútuas e diferenciadas, influenciando uma na outra nas diversas fases

da aquisição da escrita”. (MARCUSCHI, 2003, p. 25 in DIONÍSIO & BEZERRA, 2003)

Isso significa que não basta apenas acreditar que a fala do aluno é importante no

âmbito escolar. É preciso ir além, faz-se necessário criar condições para que o aluno possa

participar de atividades diversificadas que envolvam a oralidade de forma contextualizada e

que contribuam significativamente para o desenvolvimento de sua competência comunicativa,

tanto como aluno quanto cidadão.

Partindo dessas reflexões e acreditando que oralidade e escrita são duas modalidades

que precisam ser desenvolvidas simultaneamente na escola para que o educando possa

ampliar sua competência comunicativa, é que muitos especialistas no ensino de língua têm

proposto atividades que subsidiem a prática pedagógica do professor de língua portuguesa.

Bortoni-Ricardo (2004) pontua que grande parte dos recursos comunicativos é

adquirida pelo falante de uma língua em seu convívio social. No entanto, para que esse falante

possa desenvolver esses recursos comunicativos, ele precisa do apoio da instituição

educacional. E reforça sua premissa quando diz:

a tarefa educativa da escola, em relação à língua materna, é justamente

criar condições para que o educando desenvolva sua competência

comunicativa e possa usar com segurança os recursos comunicativos que

lhe forem necessários para desempenhar-se bem nos contextos sociais

em que interage. (p.78)

Page 67: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

3.6 Conceituando estratégias

Um dos objetivos desta investigação foi perceber quais são as estratégias utilizadas

pelos alunos do ProJovem na produção textual oral e na produção textual escrita. Essas

estratégias que os alunos usam para produzir seus textos, sejam eles orais ou escritos, são os

recursos, os caminhos, os meios que eles usam para chegar à produção textual que desejam.

No entanto, Koch (2005) coloca que quando se pensa em produção textual, podem -se

apontar minimamente três estratégias, que são: (1) estratégias cognitivas; (2) estratégias

sociointeracionais; (3) estratégias textuais.

As estratégias cognitivas são as de uso do conhecimento. Para Koch (2005), um bom

exemplo desse tipo de estratégia são as inferências, pois elas permitem gerar uma informação

semântica nova a partir de outra informação já dada, a esse tipo de estratégia, REIS (2000)

denominou de escuta elaborante.

As estratégias sociointeracionais são determinadas socioculturalmente e objetivam

estabelecer e manter a interação verbal.

Já as estratégias textuais dizem “respeito às escolhas textuais que os interlocutores

realizam, desempenhando diferentes funções, tendo em vista a produção de um determinado

sentido” (KOCH, 2005, p. 38). São consideradas estratégias textuais: a organização da

informação, a formulação, a referenciação, o balanceamento do explícito e do implícito. A

estratégia de organização da informação refere-se à distribuição do material lingüístico na

superfície textual.

As estratégias de formulação têm função de ordem cognitiva-interacional. São

consideradas estratégias de formulação: a inserção (que introduz justificativas, oferece um

suporte às argumentações, ressalvas, avaliações, atenuações etc.). Quanto à reformulação,

essa pode ser retórica ou saneadora. A reformulação retórica realiza-se através de repetições

e parafraseamentos, objetivando: reforçar a argumentação ou facilitar a compreensão do que já

foi dito. A reformulação saneadora ocorre através de correções ou reparos, de repetições,

objetivando desfazer as dificuldades encontradas na produção falada.

As estratégias de referenciação têm a função de retomar as idéias que já foram

mencionadas anteriormente.

Finalmente as estratégias de balanceamento do explícito e do implícito partem do

princípio de que não há textos completamente explícitos, havendo dessa forma uma seleção do

que precisa ser explícito ou implícito dentro de um texto.

Page 68: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Nesta pesquisa, além das estratégias apresentadas por (KOCH, 2005), serão

adaptadas também as estratégias de produção textual do oral para o escrito, formuladas por

Marcuschi (2007).

Ao refletir sobre quais são as estratégias que os alunos do ProJovem de Brazlândia

usam para produzirem seus textos orais e escritos, retomo os estudos referentes à relação

oral-escrito apresentados por Marcuschi (2007). Neles, o autor afirma que apesar das

diferenças e semelhanças existentes entre ambas as modalidades, “trata-se de duas

alternativas de atualização da língua nas atividades sociointerativas diárias”. (Marcuschi, 2007,

p. 46)

O autor (op. cit.) propõe um modelo de análise que tem como objetivo principal,

observar “o grau de consciência dos usuários da língua a respeito das diferenças entre fala e

escrita, observando a própria atividade de transformação” (p. 46). Dessa forma, são analisadas

as operações mais comuns utilizadas na passagem do texto falado para o escrito. A esse tipo

de transformação, o autor denominou de retextualização.

A retextualização é um processo que envolve operações complexas que interferem

tanto no código, como no sentido, evidenciando uma série de aspectos, nem sempre bem

compreendidos, na relação oralidade-escrita, o que não significa dizer que a passagem da fala

para a escrita seja a passagem do caos para a ordem. Entende-se que a atividade de

retextualização não é, no plano cognitivo, a transformação de um pensamento concreto em um

pensamento abstrato.

Ao observar o que foi exposto até aqui, nota-se que a oralidade e a escrita podem se

realizar da seguinte maneira: (1) da fala para a escrita (entrevista oral para a entrevista

impressa); (2) da fala para a fala (conferência para a tradução simultânea); (3) da escrita para a

fala (texto escrito para a exposição oral); e (4) da escrita para a escrita (texto escrito para

resumo escrito). (MARCUSCHI, 2007, p. 48)

Sobre a questão da retextualização, o autor (op. cit.) sugere que seja feita uma

diferenciação entre esta e a transcrição. A retextualização é a passagem do texto oral para o

escrito. Nela, a interferência é maior e há mudanças mais sensíveis. Já a transcrição é a

passagem de um texto de sua realização sonora para a forma gráfica, observando os

procedimentos convencionados.

Para efeitos deste trabalho, as estratégias serão aqui analisadas da seguinte maneira:

(i) para os textos orais, serão enfatizadas algumas estratégias de processamento textual estudadas por Koch (2005): a inserção e a reformulação que serão mais bem explicadas nos capítulos quatro e cinco (destinados às análises dos textos produzidos pelos alunos); (ii) para os textos escritos, as estratégias serão estudadas a partir de uma adaptação das estratégias sugeridas por Marcuschi (2007).

Page 69: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Infere-se que o conhecimento dessas estratégias e a identificação delas nos textos

tanto orais quanto escritos dos alunos contribuirão de forma significativa para que o aluno

possa produzir seus textos sem medo de errar, ou seja, usando os caminhos que forem

necessários para passar a mensagem desejada.

3.7 O texto na sala de aula Estudos realizados por GERALDI (2004) evidenciam o quanto é difícil para os alunos,

de maneira geral, produzirem um texto. Muitas vezes os estudantes têm idéias, mas não

conseguem organizá-las e colocá-las no papel, já em outras situações, não conseguem sequer

rascunhar algo sobre o tema proposto, porque faltam os subsídios necessários para

desenvolvê-lo.

Geraldi (2004) afirma que as dificuldades em lidar com o texto em sala de aula existem

tanto por parte dos alunos quanto por parte do professor. Tornando mais clara essa afirmativa,

o autor pontua que para os alunos os temas que norteiam a produção textual são

desmotivadores, pois são repetidos anos após anos. Já para os professores, as produções

realizadas pelos alunos são decepcionantes, uma vez que os alunos não colocam em prática

os conhecimentos e as sugestões propostas pelo professor no ambiente escolar. Reforçando o

que foi explicitado, o autor ressalta que a produção de textos na escola, foge totalmente ao

sentido de uso da língua: os alunos escrevem para o professor e além disso, nos textos, o

emprego da língua é artificial.

Diante dessas dificuldades, enfatiza-se a opção em desenvolver um estudo que

considere as produções textuais orais e escritas é fundamental, principalmente quando se quer

ampliar a competência comunicativa do educando.

Ao abordar questões relativas ao trabalho com textos na sala de aula, faz-se

necessário definir o que está se chamando de texto. Logo em seguida, é preciso também

conceituar tipos e gêneros textuais para melhor entender como eles foram úteis a esse

trabalho.

De acordo com pesquisas realizadas por autores da área da Lingüística Textual (como

por exemplo: KOCH, 2005, 2006), o conceito de texto pode passar por alguns ajustes

dependendo da teoria que a fundamenta. É preciso destacar que desde a origem da lingüística

textual até os dias atuais, o texto passou e ainda passa por definições diferenciadas. Dessa

forma, inicialmente, o texto foi concebido como:

• unidade lingüística (do sistema) superior à frase;

Page 70: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• sucessão ou combinação de frases;

• cadeia de pronominalizações ininterruptas;

• cadeia de isotopias;

• complexo de proposições semânticas. (KOCH, 2005, p.25)

Quanto à natureza pragmática, Koch (2005) afirma que o texto foi definido como: (i)

uma seqüência de atos da fala; (ii) fenômeno psíquico, resultando em processos mentais; (iii)

parte das atividades mais globais da comunicação, que vão além do texto em si, uma vez que

se constitui simplesmente como uma base desse processo.

O texto pode ser entendido como um resultado, ainda que parcial, de nossa atividade

comunicativa, compreendendo “processos, operações e estratégias que têm lugar na mente

humana, e que são postos em ação em situações concretas de interação social” (KOCH, 2005,

p. 26).

Entende-se a partir do que fora exposto até aqui que:

• A produção textual é uma atividade verbal que possui uma função social e que insere

em contextos mais complexos de atividades.

• É uma atividade consciente, criativa e intencional em que o falante, levando em

consideração as condições em que o texto é produzido, procura deixar claros seus

propósitos ao destinatário.

• É uma atividade interacional que permite aos interactantes um maior envolvimento na

produção textual. (KOCH, 2005)

Sobre esse tema, Kleiman e Moraes (1999 apud PEREIRA, 2007) pontuam que:

O texto (do latim textus, tecido) é toda construção cultural que adquire um

significado devido a um sistema de códigos e convenções: um romance,

uma carta, uma palestra, um quadro, uma foto, uma tabela são

atualizações desses sistemas de significados, podendo ser interpretados

como textos. (p. 35)

Para Coroa (2004 apud PEREIRA, 2007, p. 35), o texto é “uma unidade lingüística que

faz sentindo” não importando o tamanho e nem a complexidade do texto.

Bortone (2004 apud PEREIRA, 2007) afirma que “o texto é uma unidade de linguagem

em uso. Isto é, uma ocorrência lingüística para ser texto precisa ser percebida pelo leitor como

um todo significativo, ter coerência”.

De acordo com os conceitos de textos expostos pelos autores acima, parte-se do

princípio de que é fundamental rever como a produção textual vem sendo utilizada em sala de

Page 71: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

aula. Nesse sentido, é importante destacar dois conceitos para que possamos compreender

melhor essa dinâmica textual escolar.

O primeiro conceito é o de gênero textual, pois é a partir dele que a comunicação

verbal, independente da modalidade (oral ou escrita), se manifesta. Marcuschi (2005, p. 22)

reforça essa assertiva ao dizer: “é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum

gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto”.

Compreendendo o conceito de gênero textual, tem-se:

[...] os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente

vinculados à vida cultural e social. Fruto de um trabalho coletivo, os

gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas

do dia-a-dia. São entidades sócio-discursivas, e formas de ação social

incontornáveis em qualquer situação comunicativa. (MARCUSCHI, 2005,

p. 19)

Além desse conceito, o autor acima destaca alguns gêneros textuais que fazem parte

do dia-a-dia de qualquer comunicação verbal em nossa sociedade, tais como: telefonema,

sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula

expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de

remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito

policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta

eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais, etc. Marcuschi (2005, p. 22-23 apud

PEREIRA, 2007)

Quanto ao tipo textual, o autor (op. cit.) afirma:

Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de seqüência

definida pala natureza lingüística de sua composição... Em geral, os tipos

textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas, como:

narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. MARCUSCHI

(2005, p. 22 in PEREIRA, 2007)

A partir desses conceitos e críticas ao texto, pretendeu-se com esse trabalho realizar

algumas atividades que envolvessem textos orais e escritos, mostrando aos alunos a

necessidade de produzi-los com segurança no dia-a-dia.

Page 72: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

3.8 A formação reflexiva do educador

O conceito de “professor reflexivo” foi inicialmente formulado por Donald Schön, que é

professor de Estudos Urbanos nos Estados Unidos, no Instituto de Tecnologia de

Massachusetts nos EUA (MIT). Amparado por pesquisas realizadas por John Dewey, Shön

(2000) propõe uma renovação na formação de profissionais da educação. O autor destaca a

importância de uma formação profissional fundamentada numa epistemologia da prática e

acredita que essa deva ser vista como um momento de construção a partir da reflexão.

Os postulados de Shön têm sido muito úteis, principalmente no que tange à formação

de profissionais da educação. Mas para que se possa entender o conceito de “professor

reflexivo”, de maneira mais ampla, é necessário que se considerem algumas definições iniciais:

o que significa a palavra reflexão e, segundo, o que ela pode acrescentar à prática

pedagógica?

Pimenta e Ghedin (2005) entendem que a reflexão é um ato inerente a todos os seres

humanos, e sendo essa uma característica própria de todas as pessoas, então por que reforçar

essa característica nos professores? Destarte, esse termo pode tanto ser empregado como

adjetivo quanto um conceito.

Para que o termo, reflexivo, assuma o papel de um adjetivo, precisa ser entendido

como uma característica de toda pessoa que pensa, ou seja, de uma pessoa reflexiva, que

reflete sobre seus atos, sobre suas ações. Para que ele possa ser visto como conceito, é

relevante entender como ele foi postulado por Donald Shön, na década 1990.

Por meio das pesquisas realizadas por Jonh Dewey (pesquisador que focalizou a

aprendizagem através da ação), Schön propõe uma mudança na formação dos professores.

Para isso, o autor destaca a necessidade de o conhecimento passar por três momentos

básicos, quais sejam: o conhecer-na-ação, a reflexão-na-ação e a reflexão sobre a reflexão-na-

ação.

Segundo Shön (2000, p. 33), a expressão conhecer-na-ação “é um processo tácito,

que se coloca espontaneamente, sem deliberação consciente e que funciona proporcionando

os resultados pretendidos, enquanto a situação estiver dentro dos limites do que aprendemos a

tratar como normal”. O conhecer-na-ação é o conhecimento que se dá através da prática.

Quanto à reflexão-na-ação, o autor afirma que “podemos refletir sobre a ação

pensando retrospectivamente sobre o que fizemos, de modo a descobrir como nosso ato de

conhecer-na-ação pode ter contribuído para um resultado esperado” (SHÖN, 2000, p. 32). Em

outras palavras, a reflexão-na-ação seria a possibilidade de refletir sobre uma ação enquanto

Page 73: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ela acontece. Essa forma de reflexão é muito útil para a educação, pois proporciona tanto ao

educando quanto ao educador uma avaliação da ação no momento em que ela ocorre. Essa

reflexão concomitante à ação, além de promover o desenvolvimento de todas as pessoas que

participaram da ação, faz também com que as dificuldades existentes possam ser discutidas e

sanadas ainda no decorrer da ação.

Finalmente, o autor destaca a reflexão sobre a reflexão-na-ação. Nesse sentido,

postula-se que a reflexão deve ser orientada, após uma prática, objetivando novas ações.

Dib (2004) observa que a reflexão sobre a reflexão-na-ação é uma reflexão orientada

para uma ação futura, almejando entender os problemas, encontrar soluções e propor

atividades pedagógicas que possam ser postas em prática futuramente.

Acredita-se que as formas de reflexão propostas por Schön sejam muito úteis para

atender às necessidades da sociedade moderna, pois traz contribuições significativas para a

educação no sentido de que proporciona tanto ao professor quanto ao aluno uma

aprendizagem voltada para a prática e embasada por uma reflexão constante.

A prática em sala de aula e a reflexão, a partir dessa prática, em muito podem

contribuir para que a educação viva um momento de transformação. Primeiro, porque as

escolas sempre deram mais ênfase à teoria do que à prática. No que se refere à formação do

professor, um número expressivo de universidades tem primado pelo suporte teórico que o

aluno deve receber e acredita-se que só depois de ter recebido um referencial teórico é que o

aluno estará pronto para ir para a prática. Partindo do que foi proposto por Shön, acredita-se

que teoria e prática não devem acontecer na formação do professor como momentos

estanques. O autor dá maior ênfase à necessidade de trazer para a escola uma aprendizagem

que aconteça através do fazer.

Outra inovação importante que os estudos realizados por Shön trazem é a questão da

reflexão em todos os momentos da prática. Acredita-se que essa reflexão possa diminuir os

“erros” cometidos durante ação e depois da ação. A reflexão sugerida por Schön leva tanto o

professor quanto o aluno a reconstruir seus conhecimentos no dia-a-dia.

Embora Shön tenha contribuído com mudanças no âmbito da educação, existem

críticas aos seus postulados, pois alguns pesquisadores apontam algumas lacunas deixadas

por sua teoria.

Pimenta e Ghedin (2005) afirmam que, ao enfatizar a necessidade da prática no

ambiente escolar, Shön não considerou também a importância da teoria aliada a essa prática.

Os autores destacam que o saber docente não se faz apenas com a prática, sendo assim,o

Page 74: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ideal é que teoria e prática tenham a mesma importância para a construção do saber tanto do

professor quanto do aluno.

Giroux (1990 apud PIMENTA e GHEDIN, 2005) destaca que apenas refletir sobre a

prática docente em sala de aula, torna-se insuficiente para compreender os elementos teóricos

que a subsidia. Portanto, a teoria proposta por Shön não seria suficiente para reverter os

problemas que surgem no dia-a-dia de uma sala de aula.

Kemis (1985), assim como Giroux (1990 apud PIMENTA e GHEDIN, 2005), destaca

que a prática da reflexão individualizada não abarcará e não suprirá as dificuldades e os

problemas que surgem no decorrer do trabalho docente, ou seja, ao refletir de maneira

individualizada o professor não conseguirá atingir os problemas que assolam a escola como

um todo. Critica-se a reflexão individual e propõe-se uma reflexão coletiva que atinja a todos os

membros do grupo escolar.

Uma outra crítica existente acerca da reflexão proposta por Shön foi feita por Liston e

Zeichner (apud PIMENTA e GHEDIN, 2005). Eles reafirmam a crítica realizada por Kemis e

Giroux e consideram a reflexão proposta por Shön limitada e reducionista, uma vez que essa

não leva em consideração o contexto institucional, nem o grupo de professores que atuam

nessa instituição, pois se trata de uma reflexão individual e não coletiva.

Apesar dessas críticas, é preciso considerar a relevância dos postulados schonianos,

percebendo que as três concepções de reflexão propostas por Schön, geram muitas e valiosas

mudanças no âmbito educacional. Nesse sentido, é interessante perceber que elas acontecem

em três momentos diferenciados da educação e que a cada um desses momentos, a reflexão

proposta faz com que aluno e professor estejam num processo constante de interação e de

construção de conhecimentos, em que ambos são sujeitos.

Apoiando-me nessas pesquisas e na realidade de sala de aula, pretendeu-se, neste

trabalho, trazer para o âmbito escolar, os postulados de Shön, acrescentando-se a eles, a

necessidade da crítica e da práxis como forma de construção de conhecimento para o

professor bem como para o aluno.

A seguir será apresentada uma atividade realizada no decorrer da pesquisa,

objetivando estabelecer uma relação mais próxima entre a prática pedagógica, a pesquisa

escolar e a reflexão coletiva.

Page 75: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

3.9 O professor-pesquisador-reflexivo: uma experiência pessoal I

Na sociedade moderna, urge uma mudança do paradigma tradicional de educação

para um paradigma emergente em que haja uma transformação nos valores que norteiam a

educação, nos compromissos que se organizam em torno da moral e da ética, na relação entre

a prática pedagógica e as exigências feitas pela sociedade (DIB, 2004).

Questões como essas têm sido o ponto central de grandes debates entre os

pesquisadores da área de formação de profissionais da educação, no entanto percebe-se que

elas só podem ser respondidas, se chegarmos à gênese do problema, em outras palavras, não

se muda o ensino, se não for ofertada uma aprendizagem significativa para o aluno, e de o

professor ser um educador crítico-reflexivo, se não houver mudanças significativas na

formação que a universidade oferece a esse professor, em todas as modalidades de ensino,

principalmente na educação de jovens e adultos.

Ribeiro (1999) destaca em seus estudos que pesquisas realizadas na educação

brasileira têm apontado um conjunto de problemas relacionados à formação docente e ao

desempenho dos educadores que atuam na educação básica, com ênfase na educação de

jovens e adultos. Um dos problemas tratados pela autora e que merece um destaque especial

nesta pesquisa é a falta de formação específica dos professores que ministram aulas nessa

modalidade de ensino. Dados empíricos e de pesquisa (RIBEIRO, 1999) evidenciam que

“parte” (ou grande parte) dos educadores que atuam na educação de jovens e adultos

receberam, em suas universidades, uma formação inicial voltada para o ensino de crianças e

adolescentes, mas não tiveram uma formação direcionada para dar aulas para os alunos que

se encontram na educação de jovens e adultos.

Informações como essas são imensamente preocupantes, tendo em vista que os

alunos que voltam para a sala de aula, já na vida adulta, requerem de seus educadores um

conjunto de habilidades específicas que estejam voltadas para a superação de suas

dificuldades em todas as disciplinas, em especial no ensino de língua materna que é uma das

áreas de maior defasagem apresentada pelos educandos.

No que tange ao ensino de língua materna, entende-se que a necessidade de

mudança é algo que precisa acontecer com a máxima urgência, em todas as modalidades de

ensino, em específico, na educação de jovens e adultos, uma vez que, para esses alunos, não

basta o acesso à leitura e à escrita, faz-se necessário desenvolver programas que os levem a

um maior domínio dessas tecnologias e saibam empregá-las de maneira consciente em

contextos diversos.

Ribeiro (1999) defende que as transformações esperadas só acontecerão na medida

em que seja profissionalizado o pessoal que atua nessa área, destaca a necessidade de

Page 76: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

pensar em formas de prover a especialização dos educadores que se interessam pela

educação de jovens e adultos e, acrescenta que é imprescindível perceber que a problemática

relacionada ao ensino de jovens e adultos merece compor um currículo básico na formação de

seus educadores.

É preciso que o futuro professor da educação de jovens e adultos tenha acesso a

disciplinas e a cursos voltados para a sua área de interesse. Torna-se inaceitável que um

professor passe em média quatro anos em uma universidade e não tenha em seu currículo

básico um momento específico que o capacite para atuar na educação de jovens e adultos,

que lhe ofereça subsídios para desenvolver atividades com esse alunado, que é diferente dos

alunos regulares do ensino básico, fundamental e médio. Não dá para adaptar conhecimentos

e metodologias voltadas para o ensino de crianças na educação de jovens e adultos, sem levar

em consideração as necessidades próprias desse grupo.

Levando em conta a necessidade de rever a formação inicial dos professores que irão

atuar na educação de jovens e adultos, a Universidade Federal do Paraná vem introduzindo,

na formação de professores da primeira etapa do ensino fundamental e de pedagogos, duas

disciplinas obrigatórias: Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos, no primeiro ano e

Estrutura e Funcionamento da Educação de Jovens e Adultos no terceiro ano. Nessas

disciplinas são contempladas questões como: a compreensão das concepções da educação de

jovens e adultos ao longo da história da educação brasileira, o pensamento de Paulo Freire e a

educação de jovens e adultos, as políticas educacionais e as legislações que estabelecem a

educação de jovens e adultos no Sistema Nacional de Educação e as condições de acesso e

permanência na escola, entre outros tópicos. (ZANETTI, 1999)

Segundo Ribeiro (1999), os educadores da educação de jovens e adultos devem estar

aptos a repensar como os conteúdos vêm sendo transmitidos aos alunos. Nesse sentido,

percebe-se uma real necessidade de criar condições para que o educando possa ter acesso a

uma formação diversificada e relacionada à sua vida.

Partindo da necessidade de o professor possuir uma formação específica que o

capacite para atuar na educação de jovens e adultos, observo através das minhas graduações

que até bem pouco tempo não havia esta preocupação. Na minha formação, enquanto

professora de português e enquanto pedagoga, não tive acesso a nenhuma disciplina que

tratasse dessa modalidade de ensino, porém fiz o meu segundo estágio em turmas de jovens e

adultos e, já nesse momento, verifiquei que a falta de um conhecimento direcionado a esse

público dificulta em demasia a dinâmica de sala de aula.

Motivada também por essas inquietações, decidi realizar esta pesquisa com os alunos

do ProJovem. Para mim, eram muitos os desafios: (1) voltar a ter contato com jovens e

Page 77: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

adultos; (2) realizar atividades que os ajudassem a lidar com mais segurança com as

modalidades: oral e escrita de nossa língua; (3) observar como eu, professora-pesquisadora

atuava juntamente com os alunos; (4) quais eram os meus objetivos; e (5) qual era a minha

postura frente a esses desafios.

Ao assumir o trabalho com o ProJovem fui encaminhada para uma escola de Santa

Maria. Os primeiros contatos com os alunos foram tumultuados, num primeiro momento, fiquei

insegura e pensei que teria problemas em relação ao comportamento deles.

Os primeiros dias e semanas não foram fáceis, pois vi que aqueles alunos precisavam

de mim e que eu teria que me adaptar a eles. Muitos eram arredios e não queriam saber de

muita conversa (Reis 2000).

Quando fui para Brazlândia, já estava mais segura, no entanto meu desafio era bem

maior, porque fui substituir uma professora de português que era adorada tanto pelos alunos

quanto pelos professores do núcleo.

Diferentemente dos alunos de Santa Maria, os alunos de Brazlândia pareciam mais

calmos, mas também apresentavam alguns problemas que dificultavam o processo de

aprendizagem, conforme se pode observar nas falas dos professores:

Episódio 1 – Os professores falam sobre os alunos do ProJovem Professor Tadeu (professor de Português): são alunos que não possuem a mínima

noção de cidadania, que abandonaram a escola ou por causa de gravidez indesejada ou por

tráfico, basicamente. Poucos têm a idéia de que a educação pode fazer por eles.

Professor Alan (professor de Ciências Humanas): são alunos com grau de

conhecimento bastante desnivelado. No tocante ao aspecto social, trata - se de alunos

carentes que vêem no ProJovem, além da possibilidade de conseguir o diploma do ensino

fundamental, a conquista de um subsídio financeiro de R$ 100,00 (cem reais).

Professora Francisca (professora de Inglês): Os alunos do ProJovem de Brazlândia

são bem tranqüilos. A maioria deles é responsável no sentido de ter levado o projeto a sério.

Muitos tinham dificuldade no início, mas com o passar do tempo foram adquirindo maturidade.

Professora Cássia (professora de Ação Comunitária): nossos alunos pertencem à

classe de jovens excluídos da escola, portanto, o nível de escolaridade deixa muito a desejar.

Alunos de poder aquisitivo baixo, poucos trabalham. Dependem de seus pais, mas quase todos

Page 78: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

têm filhos e/ou convivem com suas companheiras. Auto-estima muito baixa, e não valorizam

(na maioria) a oportunidade que hora esta passando (estudos).

Inicialmente tive que ter muita paciência para conquistá-los, para isso, foi preciso rever

minha postura, tive que aprender a “respirar”, agir com cautela e tranqüilidade, pois as

comparações entre mim e a outra professora existiam e, às vezes, isso doía.

Aos poucos, os alunos e eu fomos nos adaptando à nova realidade, em março tomei a

decisão de convidar a Turma 2 para participar do meu trabalho, já que eu era professora

orientadora dessa turma e, isso me possibilitou a oportunidade de convidá-los. Graças a Deus,

aceitaram.

Nessa turma, eu tinha alunos que pararam de estudar em séries diferentes, por isso as

facilidades e dificuldades eram diversificadas. Ás vezes, eu pensava que as dificuldades por

mim observadas faziam parte somente da minha disciplina, por isso voltei aos professores do

meu núcleo e a um professor, de português, do outro núcleo também de Brazlândia, através de

um questionário e fiz a seguinte pergunta:

Episódio 2 – Refletindo sobre as dificuldades dos alunos

Pp: Quais são as dificuldades que os alunos apresentam em relação ao ensino de

Língua Materna e o que você faz para supri-las?

Essa pergunta foi redigia especificamente para o professor de português do núcleo 1

de Brazlândia. Para esse questionamento, obtive a seguinte resposta:

Professor Tadeu: Interpretação textual, leio com eles os textos interpretando com eles,

pedindo-lhes que respondam perguntas que eu elaboro quando faço o planejamento e

respondo, com eles, os exercícios de interpretação do livro.

Não muito satisfeita com a resposta, reformulei a questão que passou a ser: Quais são

as dificuldades que seus alunos apresentam em relação à sua disciplina? E solicitei que os

professores Alan, Francisca e Cássia respondessem:

Professor Alan: A heterogeneidade em termos de conhecimento dos alunos e a

dificuldade que os alunos tem para ler.

Professora Francisca: A maior dificuldade encontrada pelos alunos é a própria

dificuldade em aprender uma língua estrangeira. Muitos alunos não se interessam pela língua

Inglesa e isso cria um certo bloqueio ao aprendizado. Tento mostrar-lhes a importância da

Page 79: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

língua Inglesa nas nossas vidas e desenvolver atividades que envolvam a oralidade, como

diálogos, músicas e pequenos textos.

Professora Cássia: Praticamente não tem dificuldade, mas tem muita falta de

interesse. Minha matéria é Ação Comunitária. Tem sim dificuldade de dar sugestões para

elaboração de projetos na comunidade. Não se interessam pela sua comunidade e nem tão

pouco em fazer a diferença para melhoria da sua cidade. Tento mobilizá-los e se interessarem

por sua cidade.

Diante das respostas obtidas, observei que apesar de cada professor ministrar uma

disciplina diferente, duas dificuldades se repetem:

a) A falta de interesse em aprender e em mudar de vida.

b) E a dificuldade com a leitura.

Em minhas observações, também pude verificar esse desinteresse em alguns alunos,

porém a dificuldade em usar efetivamente os aspectos lingüísticos (fala, escrita e leitura) era

visível em todos os alunos.

Como um dos meus interesses nessa pesquisa era perceber se o desenvolvimento de

atividades orais contribuía para o desenvolvimento das atividades escritas, realizadas pelos

alunos. Numa terceira pergunta do questionário aplicado aos professores, indaguei: Você

acredita que atividades que contemplem a modalidade oral da língua podem facilitar a

produção escrita dos alunos do ProJovem?

As respostas a essa pergunta foram:

Episódio 3 – A importância da oralidade no ambiente escolar

Professor Tadeu: Sim desde que tal produção seja passada para o papel e a redação

seja corrigida.

Professor Alan: Sim porque a partir do momento que o aluno se sente seguro para se

expressar oralmente, a segurança para produção de uma atividade manuscrita também vai

aumentar.

Professora Francisca: Sim, atividades, em que os alunos exponham seus

pensamentos e pontos de vista, ajudam no desenvolvimento da oralidade e na criatividade,

pois com isso os alunos tendem a sentir - se mais seguros e participativos, contribuindo assim

com a modalidade oral da língua.

Page 80: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Professora Cássia: Sim, basta que nossos alunos se interessem mais pelo ProJovem,

valorizem esta oportunidade que o governo federal está propondo.

Essas respostas ao questionário evidenciam que os professores acreditam, assim

como eu, que o desenvolvimento de atividades orais fazem com que os alunos tenham mais

segurança para colocar as suas opiniões, pensamentos, argumentos e que a partir desse tipo

de atividade, eles se sentirão mais seguros para produzirem seus textos escritos.

Contribuindo com o que foi explicitado no parágrafo anterior, Douglas Barnes (1974

apud Cazden 1991, p.12) afirma:

Os estudos dos fenômenos lingüísticos nos âmbitos escolares deveriam

orientar-se para a busca de soluções para os problemas docentes. As

formas lingüísticas nos interessam unicamente na medida em que através

delas podemos observar desde dentro das circunstâncias sociais da

classe, e conseqüentemente, a capacidade de assimilação dos alunos. E

interessam os contextos sociais de cognição, porque a expressão oral

combina o cognitivo e o social. O currículo real (em oposição ao

pretendido) consiste nos significados que uma classe e um professor

concretos representam ou realizam. Para aprender, os estudantes têm de

valer-se do que já sabem se querem encontrar sentido no que o professor

lhes explica. A expressão oral permite submeter à reflexão os processos

mediante aos que os alunos relacionam novos e antigos conhecimentos,

se bem que dessa possibilidade dependem as relações sociais e o

sistema de comunicação implantado pelo professor.

Cazden (1991) também reforça a importância da linguagem na escola. Segundo a

autora, determinadas instituições docentes fazem da comunicação um elemento decisivo e

apresenta alguns motivos para isso: (i) porque a linguagem falada é o meio em que ocorre o

ensino e também é uma forma de o aluno mostrar ao professor os conhecimentos por ele

aprendido; (ii) porque as escolas são ambientes humanos menos concorridos, devido ao tempo

que as pessoas passam dentro delas; (iii) porque a linguagem falada é uma parte importante

das identidades de quem as usa.

A partir dessa importância atribuída à linguagem, em específico, à linguagem falada na

sala de aula, entende-se que é indispensável que professor e aluno estejam trabalhando juntos

num processo contínuo de interação e reflexão e, essa necessidade confirma minha decisão

em realizar uma pesquisa em minha própria sala de aula e torna evidente que a reflexão

proposta por Shön deve estar presente em todas as situações que acontecem em sala de aula.

Page 81: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Quando busquei, nos professores, respostas para as minhas questões, estava

refletindo na minha ação, porque era uma reflexão que acontecia durante a minha prática e

uma reflexão sobre a reflexão na ação, como propõe Shön, porque me possibilitava criar novas

ações para mudar a prática e levar meus alunos a se desenvolverem, o que foi possível, por

meio das atividades realizadas, principalmente pelos debates e pelos textos de opinião

desenvolvidos no decorrer do trabalho.

Observa-se também que, ao aplicar o questionário junto aos professores, eu estava

expandido a minha reflexão pessoal para uma reflexão coletiva, conforme propõem Pimenta e

Ghedin (2005), quando destacam a necessidade de o professor não ser apenas um professor

reflexivo, mas tornar-se, a partir dessa visão reflexiva, um intelectual crítico reflexivo que leva

em consideração a práxis, reconhecendo a relevância de desenvolver pesquisas no âmbito

escolar, que busca, a cada dia, ser um profissional em permanente formação e que acredita

que essa reflexão coletiva pode mudar a dinâmica de sala de aula.

Com o objetivo de mostrar aos participantes da pesquisa que numa sociedade letrada

como a nossa, a fala e a escrita têm a mesma importância, estendi minhas reflexões aos

alunos. Em cada tarefa realizada, eu lançava algumas questões para pensarmos e discutirmos

coletivamente. Após o debate sobre a diminuição da idade penal, foi realizada com os alunos

uma entrevista semi-estruturada. Essa atividade também foi filmada (Fita: FV: 02-1/2007) e

teve uma duração média de 40 (quarenta) minutos. No entanto, ela teve início, logo depois da

realização do debate, por isso alguns episódios aqui apresentados, iniciam-se a partir dos trinta

e seis minutos de duração da filmagem.

A necessidade de se realizar uma entrevista semi-estruturada (brevemente explicada

na seção destinada à metodologia empregada nessa pesquisa) surgiu a partir das seguintes

finalidades: (i) aprofundar o questionário aplicado inicialmente aos alunos; (ii) conhecer e

entender as reais dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos, no âmbito da

língua materna; (iii) perceber se as atividades propostas estavam sendo úteis para o

desenvolvimento da competência comunicativa do educando; (iv) promover uma reflexão

conjunta professor/ aluno sobre a importância das atividades orais (debate e relato de opiniões

pessoais) para o desenvolvimento da escrita dos alunos.

Na primeira questão, foi perguntado se, com a realização do debate, a escritura de um

texto sobre a diminuição da idade penal ficaria mais fácil. Alguns alunos verbalizaram suas

opiniões:

Page 82: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Episódio 4 – Conversando com os alunos sobre as atividades desenvolvidas em sala de aula

Esse episódio foi iniciado depois do debate sobre diminuição da idade penal, por isso,

ele teve início aos trinta e seis minutos de gravação.

Pp: com o debate, vocês acham que escrever um texto sobre a diminuição da idade

penal fica mais fácil? (36 min.)

Fernanda: fica mais fácil, porque vai surgir as palavras certas, a gente tem tempo para

pensar mais coisa... (36 min.20 s-36 min.25s.)

Nesse mesmo instante, a aluna Laura complementa a resposta dada por Fernanda e

diz:

Laura. ...as palavras que a gente não pensou ainda. (36 min.26s.) Fonte: (FV: 02-1/2007)

Por meio desses dois exemplos, percebe-se que para essas alunas, o uso do debate

em sala de aula é fundamental para que elas desenvolvam suas idéias, comecem a refletir

sobre coisas que ainda não refletiram. Dessa forma, observa-se que o debate é útil, porque

além de ampliar as idéias, amplia também o vocabulário das alunas.

A segunda questão levantou a possibilidade da fala “clarear” as idéias dos alunos.

Nessa questão, ficou evidenciado que, para os alunos, uma discussão prévia torna a produção

textual escrita mais fácil, porque eles conseguiam ter idéias e organizá-las na hora de redigir o

texto.

Dando prosseguimento à entrevista, foi perguntado aos alunos se eles preferiam

escrever diretamente (sem debate) ou fazer primeiro o debate e depois escrever. Nesse

momento, os alunos foram unânimes e responderam com muita segurança que preferiam a

segunda opção, o que nos leva a perceber a utilidade do debate como forma de preparação

para a escrita.

Ao fazer a opção pela segunda possibilidade de trabalho, eu questionei, quis saber por

que eles preferiam debater para depois escrever. Nesse instante, obtive as seguintes

respostas:

Episódio 5 – A importância do debate em sala de aula

Pp: o que vocês preferem, escrever o texto direto ou fazer o debate e depois escrever

o texto? Qual das duas possibilidades é melhor? (36 min.56 s. - 36 min.03s.)

Page 83: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Essa pergunta foi iniciada aos trinta e seis minutos e cinqüenta e seis segundos da

filmagem.

A: a segunda. ((todos os alunos respondem que é a segunda opção)) (37 min.05s.)

Logo em seguida, eu volto a questioná-los:

Pp: por quê? (37 min.12s.)

Fernanda responde:

Fernanda: ah, porque ajuda a gente a ter idéias que a gente nem pensava. (37 min.16s-

37 min.20s.)

Ao tentar perceber se essa idéia era compartilhada com mais algum aluno, eu

perguntei:

Pp: Laura, você concorda? E a aluna me respondeu: (37 min. 22s.)

Laura: concordo, porque às vezes você debate com a gente, e a gente vai pegando o

ponto do que se trata, do que você ta falando, você falando, vai ajudando a gente pegar as

idéias. (37 min. 26s. – 37 min.35s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Com o intuito de aprofundar as questões já respondidas, lancei a seguinte pergunta:

Episódio 6 – A importância do debate II Pp: vocês acham que quando a gente discute fica mais fácil? Vocês ficam mais

seguros quando nós fazemos esse tipo de atividade? (38 min. 36s. – 38 min. 40 s.)

Essa pergunta foi dirigida aos alunos aos trinta e oito minutos e trinta e seis segundos

de filmagem.

Os alunos, então, respondem:

A: sim. ((os alunos são unânimes e dizem que esse tipo de atividade facilita a escrita pós-debate)). (38 min.40s)

A aluna Maria das Graças reforça a opinião dos colegas:

Maria das Graças: fica mais fácil por que... vai ... principalmente eu que não tenho

quase idéias. (38 min. 45s.)

Após a fala da aluna, eu chamo e questiono a outro aluno:

Pp: e para você Jeferson, o debate facilita um pouquinho a escrita? (38 min.47s- 38

min.50s.) O aluno, responde:

Jeferson: sim. (39 min.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

A partir dessas falas, observa-se que o debate oferece condições para que os alunos

produzam seus textos escritos, porque os ajuda a obter idéias para escrevê-los.

Page 84: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

No decorrer da entrevista, fiz uma série de perguntas aos alunos, mas tinha uma que

para minha reflexão pessoal era de grande relevância, por isso antes de finalizar a entrevista,

fiz a seguinte afirmação:

Episódio 7 – Realizando uma reflexão conjunta Esse episódio teve início aos quarenta e dois minutos e vinte e oito segundos da

filmagem.

Pp: (...) quando vocês falam (pausa curta) vocês estão “melhorando” a fala de vocês. A

gente só aprende quando a gente tenta. (42 min.28 s.-42 min. 35s.)

Nesse momento, observo que a aluna Janaína deseja falar, então eu digo:

Pp: fala Janaína: (42 min. 38s.)

Janaína: mas eu acho que já melhorou bastante, acho que suas aulas para mim já

melhorou bastante. (42 min.50s.- 42 min. 58s.)

Depois que a aluna fala, faço a seguinte afirmação:

Pp: a fala da Janaína para mim é muito importante. Essa era uma curiosidade que eu

tinha, nas aulas de língua portuguesa (pausa curta) tenho me esforçado muito e no projeto

também, é muito importante ouvir isso, de que as minhas aulas e a pesquisa estão fazendo

vocês melhorarem. (42 min.59 s.-43 min. 30 s.)

Depois Janaína retoma o turno e diz:

Janaína: você cobra, mas não é aquela cobrança que obriga a gente a fazer aquilo que

a gente não quer. Eu acho que você ajuda (pausa curta) não é só uma cobrança, mas você

está nos ajudando. (43 min.31s. 43 min. 40s.)

Fonte: (FV: 02-1/2007)

A fala da aluna veio realmente contribuir para uma questão que não fora colocada no

questionário inicial, mas que era de grande importância para que eu pudesse refletir junto com

eles de que maneira a minha prática pedagógica estava contribuindo para que eles tivessem

um melhor domínio dos conhecimentos da língua materna.

Objetivando perceber se essa era a visão dos outros alunos, deixei que outro aluno

opinasse por vontade própria concordando ou discordando do que fora dito por Janaína no

episódio anterior. O aluno Jeferson, um excelente aluno, muito esforçado, mas que apresenta

grandes dificuldades no que tange ao uso da língua portuguesa, verbalizou aos quarenta e três

minutos da filmagem:

Episódio 8 – Realizando uma reflexão conjunta

Jeferson: eu ainda estou regular porque eu falava tudo errado, agora acho que estou

melhorzinho. (43 min. 43s. -43 min. 50s.)

Diante dessa afirmativa, eu coloco: (43 min. 52s.)

Page 85: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pp: você acha que você está escrevendo melhor, está clareando mais as idéias? (42

min. 53s. - 43 min.59s.)

Então Jeferson me responde:

Jeferson: sim.

Após a afirmação do aluno, eu ratifico meu objetivo com eles:

Pp: O objetivo é ajudá-los não só no projeto, mas no geral em tudo que envolve a

língua portuguesa. Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Diante das respostas obtidas, verifica-se que as colocações encontradas nos

questionários se confirmam, isto quer dizer que o desenvolvimento das atividades orais – como

debates – amplia a visão dos alunos acerca do tema proposto e facilita a produção textual pós-

debate.

Percebe-se também que o professor assume um papel de fundamental importância

nesse contexto de ensino-aprendizagem. O professor é responsável por facilitar o uso dessas

competências (orais e escritas) como pode ser visto na fala da aluna Laura.

Episódio 9 – O professor como facilitador do processo de aprendizagem do educando Aos quarenta e cinco minutos da filmagem, a aluna Laura faz a seguinte colocação:

Laura: (...) quando você debate com a gente, a gente vai pegando o ponto que você ta

falando, você falando, vai ajudando a gente a pegar as idéias. (45 min.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

A partir do exposto pela aluna Laura, compreende-se que é de fundamental

importância o uso de práticas educativas fundamentadas por uma pedagogia culturalmente

sensível, a qual possibilite ao aluno ampliar seus conhecimentos, a partir dos referenciais que

ele traz de sua casa e de sua convivência em grupo.

É importante também que esses educandos experimentem outros meios de

aprendizagem e que consigam ter uma nova visão de educação diferente daquela que eles

tiveram na sua vida estudantil regular.

Mas para que isso aconteça, faz-se necessário que o professor de educação de jovens

e adultos tenha uma formação que o prepare para atuar junto a esse público. Entende-se

também que essa formação não deva ficar apenas em um nível inicial, é preciso ir além, é

necessário aprofundá-la por meio de uma formação continuada, bem como de uma reflexão

coletiva. É importante que a universidade ofereça uma formação mais completa como

destacam PIMENTA E GHEDIN (2005). Acredita-se que a partir desse conjunto de atitudes,

Page 86: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

possamos ter uma educação de melhor qualidade e uma educação de jovens e adultos mais

eficaz, e um ensino menos excludente.

Episódio 10 – A ratificação dos alunos: o caminho para a segurança Uma das asserções apresentadas nesse trabalho consiste no princípio de que quando

o professor ratifica o aluno, este se sente mais seguro e passa a ter uma participação mais

ativa em sala de aula.

Antes de apresentar os dados coletados nessa pesquisa acerca dessa asserção, faz-

se necessário definir o termo ratificação.

Ratificar, segundo Aulete (2004, p. 673) é o ato de fazer a confirmação ou a validação

de alguma coisa; ratificar é o mesmo que confirmar algo.

A partir desse conceito, entende-se que ratificar é confirmar o que alguém diz ou

escreve. No âmbito escolar, a ratificação acontece quando o professor confirma, aceita, valida

a opinião dos educandos.

De acordo com a literatura especializada Bortoni-Ricardo & Dettoni (in COX& ASSIS

PETERSON, 2001): No processo interativo de sala, a ratificação consiste em tratar o aluno

como um falante legítimo, que tem fácil acesso ao piso conversacional,

que é ouvido com atenção e cujas contribuições são bem recebidas,

aprovadas, expandidas e aproveitadas no curso da interação. (p. 83-84)

Segundo as autoras (op. cit), existem duas formas de se ratificar um aluno em sala de

aula, e uma terceira que seria a não aceitação daquilo que fora dito pelo aluno. Dessa maneira,

as autoras apresentam a seguinte classificação: (I) A ratificação plena; (ii) A ratificação parcial;

(iii) A não-ratificação.

A ratificação plena pode vir acompanhada ou não pelo reforço mais verbalmente

expresso pela professora ou de gestos de confirmação ou concordância, tais como:

movimentos com a mão ou com a cabeça. Nesse momento, o educador demonstra ao aluno

que suas idéias têm procedência, e isso faz com que o aluno se sinta encorajado a realizar

outras participações.

A ratificação parcial ocorre normalmente em eventos de correção de exercícios,

quando a intervenção do aluno não é considerada totalmente apropriada para a ocasião. O

aluno tem acesso ao piso conversacional, mas sua fala não é totalmente ratificada, ou seja, o

Page 87: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

professor aceita a colocação do educando, porém insere comentários que possa complementá-

la.

Existe um outro tipo de ratificação parcial que é aquela em que a intervenção do aluno

é totalmente apropriada para o contexto, mas a expectativa do professor é maior.

Finalmente, a não-ratificação, nesse tipo, o professor não reforça as participações dos

alunos e, muitas vezes, acaba por desconsiderar através de gestos e ações aquilo que foi dito

pelo estudante.

No decorrer desta pesquisa, com o intuito de criar nos alunos um ambiente de

segurança, sempre que eu podia, procurava ratificar suas opiniões e, dessa forma, percebi que

eles, aos poucos iam tendo uma maior participação nas aulas. Pesquisa realizada por Philips

(1976) revela que, quando ratificados, os interlocutores tendem a ter uma maior interação com

o falante, e essa informação pôde ser confirmada através deste estudo, pois percebia que à

medida que eu ia ratificando as opiniões dos alunos, eles iam fazendo colocações cada vez

mais seguras e procuravam participar mais da atividade proposta.

No debate sobre diminuição da idade penal, lancei mão várias vezes da ratificação,

como se pode observar nos exemplos abaixo:

Episódio 11 – A ratificação em sala de aula No início do debate sobre diminuição da idade penal, por volta dos seis minutos e

cinqüenta segundos, eu pergunto aos alunos se eles concordam que se deve diminuí-la. Diante

da minha pergunta, Fernanda afirma que sim. Logo em seguida, peço para ela justificar a sua

resposta, então a aluna diz:

Fernanda: pra diminuir a violência, porque os (pausa curta) tipo tem um grupinho, aí

tem um chefe e o chefe bota os menores para fazer, matar, roubar e se esconde. Manda eles

porque sabe que eles não são punidos. (6 min. 50s. – 7 min.08s.)

Após a exposição da aluna, eu a ratifico, com uma ratificação plena e digo:

Pp: Exatamente. (7 min. 10s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

No decorrer do debate, pergunto à aluna Laura se ela acha que a sociedade contribui

para que os jovens acreditem que, por não ter uma penalidade mais dura para os menores de

idade, eles podem fazer o que querem. Nesse momento, a aluna me responde:

Page 88: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Laura: eu acho que sim, porque falta muitas coisas para os menores também. Como

eu estava comentando que eu concordo que passe a idade penal para 16 anos, mas o que

adianta pegar um adolescente de 16 anos e colocar no CAJE e não dar, poder ... se recuperar

se reabilitar ele vai sair de lá muito pior do que entrou. (10 min.)

Após a explanação da aluna, que ocorreu aos dez minutos do debate, eu a ratifico

plenamente mais uma vez dizendo:

Pp: exatamente (10 min.11s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Nessa atividade, e em outras (registradas no diário de campo), usei dois tipos de

ratificação: a plena e a parcial, através delas, procurei valorizar as participações dos meus

alunos. Evitei situações de não-ratificação, tendo em vista que este grupo apresentava uma

auto-estima muito baixa, de maneira que uma não-ratificação poderia contribuir para que mais

uma vez eles percebessem que a escola “não era para eles”. Na maioria das vezes, as

ratificações foram feitas por meio de palavras, tais como: muito bem, exatamente e pela

repetição da fala do aluno, buscando demonstrar que eu estava de acordo com sua colocação.

3.9.1 O professor-pesquisador- reflexivo: uma experiência pessoal II

Dando início a esse tópico, gostaria de retomar uma afirmação feita por PIMENTA E

GHEDIN (2005). Os autores destacam a relevância de o professor-pesquisador desenvolver,

juntamente com as universidades, pesquisas no ambiente escolar. Dessa forma, entende-se

que é de grande relevância que a pesquisa faça parte da prática pedagógica do professor,

porém deve-se perceber que não basta só inseri-la na escola, é imprescindível que as

pesquisas realizadas tragam mudanças para esse contexto. Partindo dessa necessidade de

pesquisar e de mudar a prática pedagógica do professor que está em sala de aula, foi realizada

essa pesquisa. Com o intuito de perceber se esse objetivo fora contemplado, foi aplicado um

questionário junto aos alunos do ProJovem com a finalidade de observar se as atividades

foram úteis ou não a eles, e como a postura da professora-pesquisadora (que nesse caso sou

eu) interferiu nesse resultado.

Pimenta e Anastasiou (2005, p. 198) afirmam que:

Para a pesquisa da sala de aula, é necessário um posicionamento de

abertura, flexibilidade e coragem no enfrentamento de nossa ação

profissional; trata-se de uma ação profissional, do profissional professor, e

não apenas de um profissional de outra área que ocupa uma sala de aula

na universidade e fica diante de um grupo de alunos repassando o

conhecimento existente.

Page 89: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Os cinco alunos participantes da pesquisa receberam o questionário, que se formou a

partir de três perguntas abertas, sendo que a última questão se subdividia em letras de a até e.

Para efeitos dessa análise serão consideradas as seguintes questões: 1,2,3 (letras: a,c,d), visto

que elas retomam algumas questões já abordadas no questionário inicial e apresentam outras

que podem nos levar a perceber se as asserções que norteiam este trabalho são confirmadas

ou não.

3.9.2 – Aplicação e discussão do questionário final

Episódio 12 – Refletindo sobre a pesquisa

A primeira questão colocada no questionário foi a seguinte: A pesquisa realizada teve

como objetivo desenvolver a sua competência comunicativa, através de atividades que o (a)

levassem a produzir textos orais e escritos com maior segurança. Em sua opinião, esse

objetivo foi alcançado?

Para essa pergunta, obtive as seguintes respostas:

Janaína: sim, esse objetivo foi alcançado. A partir do momento que eu aceitei participar

desse projeto eu acreditei bastante em mim, achei que eu tinha capacidade e foi verdade eu

me esforcei e aprendi assuntos que nem conhecia.

Laura: na minha opinião foi alcançado sim, porque hoje eu tenho mais idéias ao

produzir textos, tenho mais segurança no que estou colocando no texto que faço.

Jeferson: sim, porque eu aprendi fazer um texto orais (oral) e pensar mais as minhas

idéias ao escrever um texto de maneira correta.

Fernanda: sim, porque tinha muitas dificuldades para desenvolver textos escritos e

descrevê-los, assim aperfeiçoar nosso raciocínio.

Maria das Graças: sim, porque eu melhorei muito na escrita e na fala também.

Diante das colocações feitas pelos alunos, percebe-se que o objetivo de ampliar a

competência comunicativa deles foi alcançado. Pelo que eles afirmaram, ao final da pesquisa,

os mesmos já se sentiam mais seguros tanto para falar quanto para escrever.

Na segunda questão, indagou-se sobre as mudanças trazidas por este trabalho aos

alunos. Nesse sentido, os participantes da pesquisa responderam:

Page 90: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Episódio 13 – O que a pesquisa acrescentou aos participantes

Janaína: eu aprendi na escrita várias coisas, eu aprendi a escrever melhor, melhorei a

minha letra, aprendi a acentuar as palavras, a colocar a vírgula, eu posso dizer que melhorei

bastante. Já em relação a fala eu já tentava falar as palavras de acordo com que elas são, e

quando aprende a escrever melhor automaticamente influencia na fala.

Laura: em relação a minha escrita ajudou muito. Já a fala foi antes eu falava

atropelando as palavras, hoje falo com mais calma para que as pessoas possam entender o

que eu falo.

Jeferson: porque falando de maneira melhor a gente escreve muito mais correto que

dá para as outras pessoas ler direito e entender.

Fernanda: aperfeiçoar, criar um habito de ler e interpretar melhor os textos lidos

durante esse período, que agora está bem melhor.

Maria das Graças: trouxe uma grande mudança principalmente na escrita, porque eu

acho que estou escrevendo melhor.

Observando as respostas dos alunos, vê-se claramente que esta pesquisa contribuiu

para que houvesse mudanças significativas nas duas modalidades contempladas: a

modalidade oral e a escrita. Eles ressaltam que a partir das atividades desenvolvidas,

começaram a escrever e a falar com mais facilidade, o que nos leva a confirmar uma questão

abordada no questionário inicial de que as atividades orais contribuem para a realização das

atividades escritas. Reforçando essa afirmativa retomo as palavras de PIMENTA E

ANASTASIOU (2005, p. 179) quando afirmam que “pesquisar a prática impõe-se como

caminho para a transformação dela”. Dessa forma, entende-se que a pesquisa ora aqui

relatada atende a essa necessidade, pois pela própria colocação dos alunos evidenciam-se as

mudanças que a mesma proporcionou aos seus participantes.

Como já fora explicitado anteriormente, o desejo de realizar este trabalho em minha

própria sala de aula era algo inicialmente desafiador, uma vez que além de ser pesquisadora,

eu também era sujeito desta investigação, o que não foi fácil de fazer.

Com o objetivo de verificar como os alunos avaliavam a mim e a minha prática docente,

lancei algumas questões reflexivas para que eles respondessem.

Page 91: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Episódio 14 – Refletindo sobre a professora-pesquisadora e a sua prática pedagógica

A questão número três, letra a, fazia a seguinte indagação: Você acha que a postura da

professora-pesquisadora, em sala de aula, contribuiu para que você tivesse uma maior

participação nas atividades propostas?

Para esse questionamento, obtive as seguintes respostas:

Janaína: sim, porque ela nos ajuda, está sempre ali por perto quando nós

precisávamos,eu acredito que se fosse uma professora que não se preocupasse com os

alunos não teria fluido tão bem o desenvolvimento de nós alunos.

Laura: sim eu acredito que sua postura contribuiu muito para que eu tivesse uma maior

participação, porque sempre que ela fazia uma pergunta nos dava espaço para responder e

expor nossas opiniões e sempre que tínhamos alguma dúvida ela fazia questão de tirar.

Jeferson:sim, porque todos nós que fez a pesquisa fica com mais entusiasmo...

Fernanda: sim, a postura adotada foi uma maneira boa porque a professora bastante

atenciosa com todos,sua preocupação em desenvolver seu trabalho com seus alunos trouxe

bastante conhecimento e aperfeiçoamento nos rendimentos escolares.

Maria das Graças: contribui, porque ajuda na hora de pensar e responder as

perguntas.

Em relação à postura da professora-pesquisadora, os alunos foram unânimes em dizer

que a professora (no caso, eu professora-pesquisadora) ajudou bastante e destacaram

algumas ações que comprovam essa afirmação: explicou bem a pesquisa, tirou as dúvidas,

permitiu que os alunos expusessem as suas opiniões, estava sempre pronta a ajudar, dava

atenção aos alunos, empenhava-se para realizar bem o trabalho.

Diante do exposto pelos dados e pela colocação de cada aluno, percebe-se que este

trabalho em todas as suas fases levou a uma reflexão, ora individual, ora em conjunto. Pimenta

e Anastasiou (2005, p.196) reforçam essa necessidade de unir prática e reflexão quando

dizem: “pesquisar a própria prática na sala de aula é ação realizada com intencionalidade que

revela a profissionalidade do decente: rever a sua prática, debruçar-se e refletir sobre ela é

necessário em qualquer profissão”.

Outra questão retomada no questionário foi sobre que tipo de atividade poderia ser útil

às suas produções escritas. No primeiro questionário, os alunos responderam que o debate era

o tipo de atividade que mais facilitava a produção de textos escritos. Nesse questionário, os

Page 92: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

alunos reforçaram a importância do debate como forma de ajudá-los a falarem e escreverem

melhor.

Episódio 15 – Atividades que os alunos gostaram de participar

Janaína: eu gostei mais dos debates, porque eu consigo me expressar melhor, os

assuntos sempre me interessam e eu gostei bastante de participar dessa avaliação.

Laura: a que eu mais gostei foi a filmagem, mas a que era feita durante um debate de

grupo.

Jeferson: a que eu mais gostei da atividade que a professora fez umas perguntas de

nossa vida de onde nós chegamos e onde a gente mora...

Fernanda: gostei muito dos debates porque aprendi desenvolver melhor minha fala e

aprendi com os alunos e a professora mais conhecimentos sobre todos os debates.

Maria das Graças: gostei de todas, mas o tema namorar ou ficar eu gostei mais,

porque é um assunto do interesse dos jovens.

O último aspecto destacado nesse questionário foi sobre a importância da ratificação

no ambiente escolar, e como os alunos se sentiam ao serem ratificados pela professora-

pesquisadora.

Episódio 16 – A ratificação no ambiente escolar

Para tratar desse assunto, foi feita a seguinte pergunta: Você acredita que quando o

professor reforça as idéias expostas pelo aluno (o aluno) sente-se mais seguro para participar

das atividades realizadas em sala de aula?

Observe as respostas:

Janaína:eu acredito que ajuda bastante, porque também tem alunos que tem vergonha

e acaba fluindo melhor.

Laura : sim, eu acredito. Assim eu tinha mais segurança em que eu estava fazendo e

quando ela reforçava com suas idéias as minhas fluíam com mais facilidade.

Jeferson: sim, porque mim ajudava a pensar e responder de maneira correta e falar

melhor, o que eu quero falar.

Fernanda: sim ajuda os alunos a se aperfeiçoar, participar das atividades com mais

interesse dentro da sala de aula com aulas dinâmicas e diferentes do habitual.

Page 93: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Maria das Graças: eu acredito que sim, porque eu mesmo me sinto mais segura.

A partir das respostas apresentadas nesse tópico, entende-se que essa pesquisa

atingiu os objetivos almejados, pois pelas colocações dos alunos, tanto a postura da

professora, quanto os tipos de atividades realizadas foram fundamentais para que eles

percebessem mudanças significativas tanto em suas falas quanto em seus textos escritos.

Para finalizar esse tópico, torna-se pertinente inserir um poema retirado de REIS (2000,

p. 235), pois ele caracteriza a vida de muitos jovens que chegam à educação de jovens e

adultos cheios de medo, de incertezas, desanimados, descrentes e, muitas vezes

desacreditados em seu próprio potencial de aprendizagem, mas que com um pouco de

paciência e de ajuda conseguem superar suas dificuldades.

Não tenho mais medo

A mais dura das guerras é guerra contra si mesmo.

É preciso chegar a desarmar-se.

Tenho lutado nesta guerra durante anos.

Foi terrível.

Mas hoje estou desarmado.

Não tenho mais medo de nada,

Estou desarmado de vontade de ter razão,

De justificar-me,

Desqualificando os outros.

Não estou mais em guarda.

Na defensiva,

Ciumentamente crispado sobre minhas riquezas.

Acolho e partilho.

Não estou mais particularmente voltado

Para as minhas idéias e projetos.

Se alguém me apresenta outras melhores,

Ou simplesmente boas,

Aceito-as sem mágoa.

Page 94: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Renunciei ao comparativo.

Aquilo que é bom, verdadeiro, real

É sempre melhor para mim.

Por isso não tenho mais medo.

Se estamos desarmados, desposados,

Abertos ao Deus-Homem

Que fez novas todas as coisas,

Ele apaga o passado ruim

E nos traz um tempo novo

Onde tudo é possível.

(Patriarca Atenágoras)

Igreja Ortodoxa

Nas próximas seções serão apresentadas e discutidas algumas atividades

desenvolvidas no decorrer dessa investigação.

Page 95: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

4 A produção textual no ambiente escolar: da fala para a escrita

A aplicação de atividades que envolvam a organização de textos falados e

escritos permite que os alunos cheguem à percepção de como

efetivamente se realizam, se constroem e se formulam esses textos

(Fávero,Andrade,Aquino, 2005, p. 83)

4.1 Introdução

Neste capítulo, será descrita a primeira produção textual realizada com os alunos do

ProJovem de Brazlândia.

4.2 Análises de textos sobre aborto O material reunido para a construção do corpus deste trabalho foi coletado a partir de

diferentes fontes. A primeira refere-se aos textos produzidos oralmente pelos alunos. A

segunda fonte formou-se levando em consideração os textos escritos sobre o mesmo tema dos

textos orais (o aborto). A terceira fonte constitui-se da reescritura desses textos, buscando

ampliá-los, e finalmente foram empregadas entrevistas semi-estruturadas com os alunos,

almejando tornar alguns dados mais claros, com ênfase no que tange a essa seqüência de

atividades textuais.

Inicialmente, percebe-se a necessidade de retomar o conceito de texto, uma vez que

ele constitui uma das bases desta investigação. Entende-se que essa discussão é de

fundamental importância para o desenvolvimento deste trabalho, visto que o mesmo se

concretiza a partir das produções orais e escritas realizadas pelos alunos do ProJovem de

Brazlândia. Dessa forma, retomando os conceitos apresentados por (KOCH, 2005), tem-se

que: (i) A produção textual é uma atividade verbal que possui uma função social e que se

insere em contextos mais complexos de atividades. (ii) É uma atividade consciente, criativa e

intencional em que o falante, levando em consideração as condições em que o texto é

produzido, procura deixar claros seus propósitos ao destinatário. (iii) É uma atividade

interacional que permite aos interactantes um maior envolvimento na produção textual.

O conhecimento desses conceitos é essencial para professores que atuam na

educação de jovens e adultos. Entende-se, a partir das definições apresentadas, que o texto é

o resultado de uma ação coletiva, isto é, ele se constrói a partir das idéias e das interações

existentes dentro de um grupo, de ações que partem de uma realidade concreta. Para o

ProJovem e para esta investigação, essa é uma fundamentação de grande relevância, pois se

Page 96: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

acredita que os alunos que fazem parte desse programa necessitam dessa ação/interação

coletiva com a linguagem para desenvolver com maior proficiência sua fala e sua escrita.

A partir desses conceitos, inicia-se agora a análise da primeira atividade realizada com

os alunos participantes desta pesquisa.

4.2.1 Relações entre fala e escrita: análise documental

Para dar início ao estudo da relação oralidade-escrita, faz-se necessário perceber que

se trata de duas modalidades que pertencem a um mesmo sistema lingüístico que é a língua

portuguesa. É importante lembrar também que, apesar de constituírem um único sistema

lingüístico, ambas as modalidades possuem diferenças quanto à sua estrutura. No entanto,

essas diferenças não devem servir como obstáculos para que elas possam ser igualmente

contempladas no âmbito escolar.

Em suas pesquisas, FÁVERO, ANDRADE & AQUINO (2005) propõem alguns

elementos que compõem e articulam a produção textual dentro da relação oralidade-escrita.

Para esses autores, é importante:

• Identificar os componentes que fazem parte da situação comunicativa, suas

características pessoais e o grupo social de cada participante.

• Observar o papel social das relações pessoais e a extensão do conhecimento

partilhado.

• Observar os aspectos físicos, temporal e a extensão espaço-temporal dos participantes

da interação.

• Observar o propósito do evento.

• Observar o evento em relação aos valores partilhados por toda cultura ou por

subculturas ou indivíduos.

• Observar as atitudes dos participantes, levando em consideração: os sentimentos,

julgamentos, bem como o tom de fala e o grau de comprometimento com o assunto.

• Observar o nível dos participantes no texto, bem como os aspectos lingüísticos,

prosódicos e paralingüísticos.

Diante desses elementos, fica evidente que estudar a relação oralidade-escrita requer

muita atenção, para se fazerem inferências adequadas, evitando conclusões superficiais. É

preciso também, de acordo com o esquema proposto por FÁVERO, ANDRADE & AQUINO

(2005), analisar não somente o que está explícito no texto, mas também perceber aquilo que

se oculta nas entrelinhas, seja de um texto oral, seja de um texto escrito.

Page 97: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

É importante considerar também, as condições em que esse texto fora produzido. Na

concepção dos autores acima mencionados, essas condições determinarão as formulações

lingüísticas de cada tipo de texto. Observe o quadro a seguir, proposto por FÁVERO,

ANDRADE & AQUINO (2005) :

QUADRO 11: Condições para a formulação de textos orais e escritos

FALA ESCRITA

Interação face a face Interação a distância (espaço-temporal)

Planejamento simultâneo ou quase simultâneo

à produção

Planejamento anterior à produção

Criação coletiva: administrada passo a passo Criação individual

Impossibilidade de apagamento Possibilidade de revisão

Sem condições de consulta a outros textos Livre consulta

A reformulação pode ser promovida tanto pelo

falante como pelo interlocutor

A reformulação é promovida apenas pelo

escritor

Acesso imediato às reações do interlocutor Sem possibilidade de acesso imediato

O falante pode processar o texto,

redirecionando-o a partir das reações do

interlocutor

O escritor pode processar o texto a partir das

possíveis reações do leitor

O texto mostra todo o seu processo de criação O texto tende a esconder o seu processo de

criação, mostrando apenas o resultado

Fonte: FÁVERO, ANDRADE & AQUINO, 2005, p. 74.

Ao observar os textos produzidos pelos alunos, percebe-se que as condições

propostas acima foram em grande parte contempladas, pois houve:

No texto oral:

• interação face a face;

• planejamento simultâneo à produção;

• criação coletiva, que assim como a interação face a face, deu-se a partir do

debate inicial sobre o tema proposto;

• impossibilidade de apagamento, pois as opiniões eram gravadas em fitas de

áudio, à medida que o aluno falava;

• sem condições de consultas a outros textos;

• acesso imediato às reações do interlocutor;

• o texto mostra, em si, todo seu processo de criação.

No texto escrito, foram encontradas as seguintes condições:

• interação a distância, pois os alunos retomaram algumas idéias expostas no

debate coletivo;

Page 98: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• planejamento anterior à produção, pois por se tratar de um texto escrito, os

alunos tinham condições de planejá-lo antes de redigir uma versão final;

• criação individual;

• possibilidade de revisão tanto no momento quanto após a escritura do texto;

• livre consulta, uma vez que os alunos poderiam buscar outros conhecimentos

acerca do tema em debate;

• a reformulação é feita apenas pelo escritor, pois somente o aluno que escreveu

o texto poderia reformulá-lo;

• sem possibilidade de acesso imediato.

Para efeitos desta investigação, acredita-se que, além dessas condições, é de grande

relevância que sejam realizadas também no ambiente escolar operações de transformação do

texto falado para o texto escrito, uma vez que esse tipo de transformação é “imprescindível

para um melhor domínio da produção escrita que se tem evidenciado muito problemática entre

nossos estudantes”. (FÁVERO, ANDRADE & AQUINO, 2005)

Reiterando o que fora exposto no parágrafo anterior, os autores acima citados pontuam

que:” a aplicação de atividades que envolvem a organização de textos falados e escritos permite que os

alunos cheguem à percepção de como efetivamente se realizam, se constroem e se formulam esses

textos”. (p. 83)

Estudos realizados por Marcuschi (2007), tanto no âmbito da linguagem oral quanto da

escrita reforçam e ampliam as idéias apresentadas pelos autores acima destacados. Marcuschi

(2007) denomina essas atividades como sendo atividades de retextualização, nas palavras do

autor, a retextualização consiste na passagem do texto falado para o texto escrito e destaca

que:

não é um processo mecânico, já que a passagem da fala para a escrita

não se dá naturalmente no plano dos processos de textualização (...) é um

processo que envolve operações complexas que interferem tanto no

código como no sentido e evidenciam uma série de aspectos nem sempre

bem compreendidos da relação oralidade-escrita. (p. 46)

Apoiando-me nos estudos realizados por Fávero, Andrade & Aquino (2005); Marcuschi

(2007) e Koch (2005, 2006) foi iniciada em março de 2007 esta pesquisa.

A primeira atividade de produção textual realizada (com a turma 2 do ProJovem de

Brazlândia) aconteceu no dia 20/03/2007. Essa atividade foi gravada em fita de áudio, num

gravador da marca Panasonic-VAS-RN-305 (lado A), e a duração das falas dos alunos variou

entre 1 e 2 minutos (aproximadamente).

Page 99: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Nesse dia, foi realizada junto a essa turma uma discussão acerca do aborto. O tema foi

introduzido por mim (professora-pesquisadora) que procurei contextualizá-lo no tempo e no

espaço. Em seguida, foi lançada a seguinte questão aos alunos: Qual a sua opinião sobre o

aborto? Nesse instante, todos os alunos começaram a falar ao mesmo tempo, e eu, então, tive

que intervir, solicitando que respeitassem a vez de cada participante falar. Dessa forma,

tivemos que organizar o turno3 das falas para que pudéssemos entender e compreender

melhor as contribuições que estavam sendo colocadas naquele momento.

Depois desse debate, pedi aos alunos que produzissem um texto de opinião4 (evento

de letramento) sobre o aborto. Enquanto eles escreviam, eu ia gravando a opinião que cada

um possuía acerca do tema em debate (evento de oralidade). Para gravar a opinião dos

alunos, eu pedia a cada estudante que deixasse de escrever e me acompanhasse até o lado

de fora da sala, a fim de que pudéssemos ter uma maior privacidade, e para que ele se

sentisse mais à vontade para expor sua opinião.

Quando da realização das produções orais individuais, buscou-se a não interferência

do interlocutor (a professora pesquisadora, no caso, sou eu) e, por isso, há um grau menor de

dialogismo, já que a intenção era o desenvolvimento do tópico somente por um dos

interlocutores, visando ao desenvolvimento do texto por esse falante, em duas situações

distintas: uma primeira que foi a elaboração oral de um texto de opinião sobre o tema

abordado, e uma segunda que foi a construção de um texto escrito explorando o mesmo tema.

Essa atividade teve como objetivos:

1. Fazer com que os alunos falassem sobre um tema polêmico como o aborto

sem medo do julgamento que os demais alunos, que estavam na sala,

poderiam fazer.

2. Perceber se, a discussão coletiva interferia nas produções: oral e escrita

(individuais) sobre o aborto.

3. Perceber se as estratégias utilizadas no texto oral também eram utilizadas no

texto escrito.

A partir das construções realizadas pelos alunos, passa-se agora à análise das

produções orais estabelecendo uma comparação com os textos escritos. Para isso, será

utilizado um quadro comparativo entre os textos das duas modalidades, partindo do modelo de

retextualização do texto oral para o escrito, proposto por MARCUSCHI (20075), bem como um

diagrama das principais ações que poderão ocorrer nessa passagem. Além dessa sugestão de 3O turno é definido como a produção de um falante enquanto ele está com a palavra, incluindo a possibilidade de silêncio. Na conversação, há uma alternância dos participantes, ou seja, entre os sujeitos existe uma troca de papéis entre falantes e ouvintes. (FÁVERO, ANDRADE & AQUINO, 2005) 4 Texto de opinião: texto em que o redator expõe sua opinião sobre um determinado tema. 5 A proposta de análise sugerida por Marcuschi (2007) será adaptada a este trabalho, bem como as estratégias do texto falado sugeridas por Koch (2005).

Page 100: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

análise e desse modelo sugerido por Marcuschi (2007), também serão consideradas aqui, as

estratégias encontradas no texto falado colocadas por Koch (2005). No entanto, é relevante

ressaltar que as estratégias sugeridas por Marcuschi (2007) e as estratégias oferecidas por

Koch (2005) serão adaptadas à proposta desta pesquisa.

Em seus estudos sobre a construção do texto falado, Koch (2005) aponta algumas

estratégias que são comuns a esse tipo de processamento textual. Dentre as estratégias

possíveis de ser encontradas num texto falado, a autora dá especial atenção à inserção e à

reformulação que pode ser retórica ou saneadora. Para efeitos desta investigação, essas

estratégias serão chamadas aqui de: estratégia de inclusão (para as estratégias de inserção) e a estratégia de reformulação (será chamada de estratégia de reforço - para o uso de repetições e reparadora - para a estratégia saneadora).

Em relação à inserção (neste trabalho, denominada de inclusão), a autora (op.cit.)

afirma que essa estratégia parece ter a macrofunção cognitiva de facilitar a compreensão dos

parceiros. O locutor suspende temporariamente o tópico em andamento e insere algum tipo de

material lingüístico, com o intuito, entre outros de: (1) introduzir exemplificações ou

justificativas; (2) fazer alusão a um conhecimento prévio; (3) apresentar ilustração ou

exemplificações; (4) introduzir comentários metaformulativos. (Koch, 2005, p. 84-85)

Além dessas características, a inserção (inclusão) para a autora (op.cit.) pode

apresentar uma função interacional capaz de despertar ou manter o interesse do parceiro. Para

isso, o locutor recorre às seguintes estratégias: (1) formulação de questões retóricas, (2)

introdução de comentários jocosos; (3) suporte para a argumentação em curso; (4) introduz

ressalvas.

Quanto à reformulação, essa pode ser classificada em saneadora ou retórica. A

reformulação retórica (ou estratégia de reforço) visa retomar alguns elementos já expressos

no texto (Koch, 2005), se realiza basicamente através das repetições e parafraseamentos e

tem como função primordial reforçar a argumentação. Esse tipo de estratégia fundamenta-se

basicamente pelo seu aspecto interacional.

Já a estratégia saneadora (ou reparadora) ocorre através de correções ou reparos,

os quais acontecem pela necessidade de o locutor solucionar imediatamente algum problema

na sua produção lingüística, por ele mesmo detectado (koch, 2005). No segundo caso, quando

se tem uma estratégia reparadora que ocorra através de paráfrases saneadoras ou de

repetições, essas são provocadas pelo interlocutor.

O referencial teórico oferecido por Koch (2005) é de grande significado para este

estudo, visto que ao observar os textos orais produzidos pelos alunos, encontramos algumas

Page 101: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

estratégias apontadas pela autora. Uma das que aparece com muita freqüência é a repetição.

Entende-se que, dentre as várias possibilidades, as repetições encontradas nos textos orais

dos alunos têm como principal função reforçar seus argumentos.

Além da observância desse referencial, serão consideradas algumas ações, traçadas

na passagem do texto oral para o escrito, sugeridas por Marcuschi (2007) que podem ser

descritas a partir do diagrama a seguir:

TRANSCRIÇÃO

RETEXTUALIZAÇÃO Adaptações e

perdas Representação sonora

Operações

Compreensão

Representação escrita

TEXTO BASE TEXTO FINAL

PRODUÇÃO ORAL

TEXTO TRANSCODIFICADO

FIGURA 2 – Fluxo das ações: Fonte: Marcuschi, 2007, p. 72

A partir desse diagrama, foram determinadas algumas ações que os alunos realizariam

no decorrer das atividades propostas, tais como: debate em grupo (produções textuais orais),

Page 102: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

transcrições dessa falas iniciais (pela professora-pesquisadora), produções textuais escritas,

retextualizações6, bem como reescrituras de textos de opinião.

A seguir serão apresentados os primeiros textos produzidos pelos alunos do ProJovem

de Brazlândia.

Quadro nº 12: Textos orais e escritos produzidos pelo aluno Jeferson

Texto oral Estratégias Texto escrito 01

Estratégias Texto escrito 02

Estratégias

Aluno: Jeferson P: Pra você o que é o aborto? Você concorda com o aborto? A: O aborto (pausa curta) A: Eu não concordo com o aborto (pausa curta) P: Por quê? A: Porque (pausa média) é uma falta de respeito com a (pausa curta) pessoa que vai abortar né? Com o corpo dela né?

Estratégia de reforço. Repetições de palavras, tais como: aborto, aborto, abortar. Presença de marcadores conversacio- nais, tais como: né, né?

A minha opinião sobre aborto em caso de estupro é que a pessoa poderia abortar a criança que ela tem na “barria”. Mais eu acho uma falta de respeito com ela e com o corpo dela, mais ela vai ficar com tralma o resto da vida. Ou ela poderia espera a criança nascer mandar para o orfanato se ela não quiser a criança que ela vai tira da barriga. Mais e uma falta de respeito com a humanidade e eu acredito que vai pessar na conciencia da pessoa por resto de sua vida.

Estratégia de supressão de marcadores conversacionais Estratégia de inserção de paragrafação e pontuação. Estratégia de inclusão de justificativa. Estratégia de reforço: pronomes anafóricos - ela; substantivos-criança, barriga e pessoa; verbo - vai e pronome pessoal do caso reto: eu.

A minha opinião sobre o aborto em caso de estupro é que a pessoa que foi estuprada, poderia abortar a criança que ela tem na barriga. Mas eu acho que é uma falta de respeito com ela e com o corpo dela, mas ela vai ficar com trauma por resto da vida. Ou poderia esperar a criança nascer, mandar para o orfanato se ela não quiser a criança que ela vai tirar da barriga. Mas é uma falta de respeito, com a humanidade eu acredito que vai pesar na consciência da pessoa por resto de sua vida.

Estratégia de Supressão de marcadores conversacionais Estratégia de inserção de paragrafação e pontuação. Estratégia da padronização escrita. Estratégia de inclusão de justificativa. Estratégia de reforço: pronome anafórico ela, substantivos: criança, barriga e vida.

Fontes: Adaptação Diagrama 2 – Marcuschi (2007, p. 75) e dados da própria pesquisa

A partir dos textos acima apresentados, observa-se que o aluno elaborou um texto

falado em que se evidencia a condução do mesmo tópico, porém com uma estrutura sintática

específica para a fala e uma para a escrita. Tais estruturas podem ser facilmente identificadas

quando o aluno lança mão de repetições (aborto, aborto) e de marcadores conversacionais

como a palavra “né” no texto falado. No texto escrito, verifica-se que o aluno não faz um uso

específico desses vocábulos (apesar de repetir outras palavras, como, por exemplo, o pronome

6 As atividades de retextualização aqui realizadas têm por base a proposta de Marcuschi (2007). No entanto, as mesmas serão adaptadas aos propósitos desta pesquisa.

Page 103: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

anafórico ela). Observou-se também que, no texto escrito, o educando não empregou palavras

de interação como se pode verificar no texto falado (MARCUSCHI, 2007; FÁVERO, ANDRADE

& AQUINO, 2005).

Ao analisar os textos do educando, encontram-se as seguintes estratégias:

No texto oral, verificou-se o uso da estratégia de reformulação retórica Koch (2005),

que, neste trabalho, será denominada de estratégia de reforço, cuja função precípua é a de

endossar uma idéia, uma argumentação, segundo Koch (2005).

Ao observar o texto oral do educando, verifica-se que o aluno lança mão de repetições

(estratégia de reforço) de palavras, tais como: aborto, aborto, abortar, objetivando reforçar a

sua idéia.

Além dessa estratégia, foram encontrados marcadores conversacionais, tais como a

palavra né .

Em relação à presença dos marcadores conversacionais no texto falado, Fávero,

Andrade e Aquino (2005, p. 47) pontuam que:

“considerando as funções textuais e argumentativas dos marcadores

conversacionais, verificamos que esses elementos desempenham papel

de especificadores, coordenadores, subordinadores, entre outros. Por

meio desses marcadores, podem-se explicar os deslocamentos

referenciais locais ou globais com a função de conduzir e orientar as

atividades do locutor e do seu interlocutor”.

Já nos textos escritos, encontraram-se as seguintes estratégias: (i) estratégia de eliminação para uma idealização lingüística (segundo Marcuschi, 2007), denominada, nesta

investigação, de estratégia de supressão de marcadores conversacionais, que tem como

objetivo eliminar as marcas interacionais, do texto escrito. Ao ler a primeira versão do texto

escrito pelo aluno, vê-se claramente que não faz uso dos marcadores conversacionais “né, né”

usado em seu texto oral. Ressalta-se que essa mesma estratégia é utilizada também na versão

final do texto escrito.

A segunda estratégia encontrada nos textos escritos pelo aluno foi a estratégia de inserção (segundo Marcuschi, 2007). Neste trabalho, essa estratégia será chamada de

estratégia de inserção de paragrafação e pontuação, que tem como função, introduzir, no

texto escrito, a pontuação e o parágrafo não existentes no texto oral em decorrência de suas

características.

Page 104: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A terceira estratégia encontrada foi chamada por Marcuschi (2007) de estratégia da reconstrução em função da norma escrita. Para efeitos desta dissertação, essa estratégia

será chamada de estratégia de padronização escrita, que objetiva tornar a escrita mais

próxima da norma padrão vigente.

A quarta estratégia usada foi a de inclusão de justificativa, também denominada por

Koch (2005) como estratégia de inserção de justificativa. Essa estratégia prima pela

inclusão de justificativas no texto almejando torná-lo mais claro. A seguir, veja um exemplo

desse tipo de estratégia:

Episódio 1 – Exemplo de estratégia de inclusão de justificativa: A minha opinião sobre aborto em caso de estupro é que a pessoa poderia abortar a

criança que ela tem na “barria”.

O aluno usa estratégias diferenciadas para produzir seus textos. Na “passagem” do

texto oral para o escrito, pôde-se perceber o uso de estratégias de eliminação que favoreceu a

retirada de algumas repetições e dos marcadores conversacionais. Foram inseridas palavras

com uma maior formalidade, como se pode perceber no decorrer da sua produção escrita.

Foi introduzida uma pontuação mais formal, já que a fala não dispõe desse recurso,

objetivando tornar o texto mais claro. Utilizou-se, também, a estratégia de estruturação, com o

objetivo de oferecer uma maior consistência ao texto. (MARCUSCHI, 2007)

Levando-se em consideração essas observações, conclui-se que nessa atividade o

aluno usou estratégias diferentes para a construção de seus textos, apesar de ambos

abordarem o mesmo tema. No entanto, verifica - se que o aluno usa a estratégia de reforço

tanto no texto oral como no texto escrito e ele mantém algumas, na segunda versão escrita do

texto.

Quanto à atividade de reescritura do texto escrito nº 01, foi pedido ao aluno que lesse o

seu texto escrito e que ele relatasse o que estaria “estranho”. O aluno, então à medida que lia o

texto ia percebendo suas inadequações, principalmente ortográficas, ia destacando palavras

que estavam escritas em desacordo com a língua padrão (e se espantava quando encontrava

alguma palavra grafada errada), no entanto, o próprio aluno teve consciência de que manteve a

opinião sobre o aborto em todos os seus textos. (Dados do diário de bordo).

É necessário salientar que ambos os textos (oral e escrito) apresentam coerência e

coesão, no entanto, esses elementos são mais visíveis no último texto escrito.

Page 105: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Dando prosseguimento às atividades, exploro agora, as produções realizadas por

Laura:

Quadro nº 13: Produção de textos orais e escritos produzidos pela aluna Laura.

Texto oral Estratégias Texto escrito 01 Estratégias

P: Qual a tua opinião sobre o aborto?

A: Bem (pausa curta) eu sou a favor em caso de estupro (pausa curta) porque eu acho que além de ser um tormento para a mãe depois que a criança nascer que a mãe vai olhar para a criança pode ficar lembrando de tudo que ela passou, então eu acho que ela não vai ter um amor assim por essa criança Entendeu?

Estratégia de reforço. Repetição de pronomes pessoais como: (eu, eu, eu). Repetição dos substantivos (mãe, mãe;criança, criança,criança). Repetição do pronome anafórico: (ela, ela) Uso de marcadores conversacionais, tais como: entendeu? Estratégia de inclusão de justificativa.

Na minha opinião , eu sou a favor do aborto somente no caso de estupro porque pelo fato da mãe ter passado este tipo de violência,ela não terá amor por essa criança, já que ela é o símbolo do terror que ela passou para ter ficado grávida.

Estratégia de inserção paragrafação e pontuação. Estratégia de supressão de marcadores conversacionais e de repetições. Estratégia de padronização escrita. Estratégia de inclusão de justificativa e de explicação.

Fontes : Adaptação Diagrama 2 – Marcuschi (2007, p. 75) e dados da própria pesquisa

Ao comparar as produções realizadas pela aluna, verifica-se que ela as produziu

com uma estrutura sintática própria para cada tipo de texto, porém, em ambos os textos,

percebe-se uma segurança muito grande em relação à sua opinião sobre o tema em debate.

Nos dois textos, foi encontrada a estratégia da repetição (para efeitos desta

investigação, estratégia de reforço). Segundo MARCUSCHI (1996 apud FÁVERO, ANDRADE

& AQUINO, 2005, p. 61), “a repetição é uma das atividades de formulação mais presentes na

oralidade,podendo assumir um variado conjunto de funções”. Para o referido autor, são

funções da repetição:

• Contribuir para a organização do discurso.

• Manter a coerência textual.

• Contribuir para a organização e a geração de seqüências mais compreensíveis.

Quanto ao uso de repetição em textos escritos, MARCUSCHI (1996 apud FÁVERO,

ANDRADE & AQUINO, 2005, p. 61) afirma que “as repetições conduzem à produção de

segmentos inteiros duas ou mais vezes, motivados por fatores de ordem interacional, cognitiva,

textual” (p. 61).

Entende-se que a partir do que foi exposto por MARCUSCHI (1996 apud FÁVERO,

ANDRADE & AQUINO, 2005) que a estratégia de repetição não empobrece o texto seja ele

Page 106: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

oral ou escrito. Trata-se de uma estratégia que contribui para a organização do texto,

procurando torná-lo mais claro.

Pode-se observar, nos textos elaborados pela aluna, bem como nos textos produzidos

pelo aluno Jeferson, que os dois alunos utilizam a estratégia de reforço em ambos os textos. É

importante salientar que, tanto no texto oral quanto no texto escrito, os alunos lançaram mão

dessa estratégia, e acrescente-se a essa informação que a despeito de usarem - na nas duas

produções, evidencia-se um número menor de repetições nos textos escritos, se comparados

ao texto oral.

Além dessa estratégia, a educanda apresenta uma maior organização e uma maior

fundamentação no seu texto escrito, o que pode ser explicado através do uso das estratégias

de estruturação. Essa aluna não apresenta uma segunda versão de seu texto escrito, pois

quando eu estava realizando a segunda produção, ela faltou; e todas as vezes que

marcávamos para que pudesse reescrever o seu texto, ela faltava, isso inviabilizou uma nova

versão escrita.

Resumindo e explicando um pouco melhor, verifica-se no texto da aluna a presença

das seguintes estratégias:

No texto oral, encontra-se a estratégia de reforço, visando dar ênfase a algumas

palavras e idéias expostas no texto, como por exemplo: a repetição de pronomes pessoais

como: (eu, eu, eu), repetição dos substantivos (mãe, mãe ;criança, criança, criança), repetição

do pronome anafórico: (ela, ela)

Além dessa estratégia, pode-se perceber no texto da aluna a presença de alguns

marcadores conversacionais, tais como o uso da palavra entendeu e a estratégia de

inclusão de justificativa, como pode ser visto no episódio abaixo:

Episódio 2 – Exemplo de estratégia de inclusão de justificativa e de explicação no texto oral:

Bem (pausa curta) eu sou a favor em caso de estupro (pausa curta) porque eu acho

que além de ser um tormento para a mãe depois que a criança nascer...

Nos textos escritos, as estratégias encontradas foram:

• Estratégia de inserção de paragrafação e pontuação, que não existem no texto

oral.

Page 107: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• Estratégia supressora de marcadores conversacionais e de repetições usada

com o objetivo de eliminar os marcadores conversacionais e diminuir o número de

repetições.

• Estratégia de padronização lingüística, com o intuito de aproximar o texto escrito ao

máximo que os alunos conseguiam da norma padrão.

• Estratégia de inclusão de justificativa e de explicação. Nessa estratégia, a aluna

justifica em qual caso ela é a favor do aborto e oferece uma explicação para esse caso

específico.

Episódio 3 – Estratégia de inclusão de justificativa e de explicação em texto escrito:

Eu sou a favor do aborto somente no caso de estupro porque pelo fato da mãe ter passado este tipo de violência, ela não terá amor por essa criança.

Serão analisados neste momento, os textos produzidos pela aluna Fernanda:

Quadro nº 14: Textos orais e escritos produzidos pela aluna Fernanda

Texto oral Estratégias Texto escrito 01

Estratégias Texto escrito 02

Estratégias

A (texto oral) P:O

que você acha do aborto?

A: Eu acho que varia do caso SE for caso assim de caso tipo de risco da saúde da criança (pausa curta) (que) ela não vai desenvolver e e a mãe e o pai (tem consciência médica) que não vai, vai chegar né a (pausa curta) gerar uma criança NORMAL acho que é certo e outra coisa também sobre (pausa curta) se for caso de estupro também concordo (em) ser abortado porque ai (incompreensível) (É triste!)

Estratégia de reforço: (repetição dos substantivos: caso, caso, caso;das conjunções aditivas e, e dos verbos vai, vai). Uso de marcadores conversacionais tais como: né Uso da entonação enfática: SE, NORMAL. Estratégia de inclusão de exemplo e de explicação.

E que

varia de caso sitiver risco de vida e não tive condisões de sobreviver é um caso a si pensar. Outro mutivo e quando a pessoa, e estrupada e fica grávida e muito difisio, eu acho que podemos pensa no caso,porque gerar um filho sem amor não vale a pena.Eu acho iso sobre o aborto.

Estratégia de supressão de marcadores conversacionais e de repetições. Estratégia de inserção paragrafação e pontuação. Estratégia de inclusão de exemplificação e de explicação. Estratégia de reforço.

È que varia de caso se houver risco de vida e não tiver condições de sobreviver é um problema a se pensar. Outro motivo é quando a pessoa é estuparda e fica grávida é muito difícil, eu acho que podemos pensar, porque gerar um filho sem amor não vale a pena. Eu acho isso sobre o aborto.

Estratégia de supressão de marcadores conversacionais e de repetições. Estratégia de inserção paragrafação e pontuação. Estratégia de inclusão de exemplificação e de explicação. Estratégia de padronização escrita.

Fontes: Adaptação Diagrama 2 – Marcuschi (2007, p. 75) e dados da própria pesquisa

Page 108: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A partir dessas informações, fica evidenciado que a aluna também usa estratégias

diferentes para construir seus textos, no entanto, verifica-se a presença da estratégia de reforço, tanto em seu texto oral quanto no texto escrito.

Episódio 4 – Exemplo de estratégia de reforço: Pode-se perceber na fala da educanda a presença de palavras que reforçam suas

idéias. Para isso, ela lança mão de repetições dos substantivos: caso, caso, caso; das

conjunções aditivas e, e ; dos verbos vai, vai.

Foram encontrados no seu texto oral: marcadores conversacionais, uso da entonação

enfática, para destacar seu ponto de vista e manter a comunicação e a estratégia de inclusão de exemplificação e explicação, conforme episódio a seguir:

Episódio 5 – Exemplo de estratégia de inclusão de exemplificação e explicação: (...) se for assim em caso tipo de risco da saúde da criança (pausa curta) (que) ela

não vai desenvolver (...) (...) se for caso de estupro também concordo (em) ser abortado porque ai (É triste!)

Em uma entrevista semi-estruturada (gravada em áudio, no mesmo dia do debate, fita:

FA/01 lado B 1º/2007), perguntei à aluna por que, ao produzir o texto oral, ela havia repetido

algumas palavras, como, por exemplo, a palavra caso. Ela afirmou que repetiu algumas

palavras no texto oral porque estava procurando outras que lhe ajudassem a completar e

“melhorar” seu pensamento (como pode ser observado na entrevista abaixo). Já no texto

escrito, essa estratégia foi utilizada porque, segundo a educanda, ela não sabia que palavra

poderia usar para substitui-la.

Quando fui explorar as produções realizadas pela aluna, pedi que ela lesse o seu texto

que fora transcrito por mim. Após a leitura, eu fiz algumas perguntas informais relatadas no

diário de bordo:

Episódio 6 – Conversando sobre a presença da repetição no texto da educanda:

Pp: por que você repetiu a palavra caso tantas vezes?

A aluna então responde:

Fernanda: a ( pausa média) sei lá( pausa média) acho que foi... ((risos)) Vendo que a aluna não estava conseguindo falar, eu digo:

Pp: pode falar, não precisa ter vergonha:

Page 109: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Ela então diz:

Fernanda: ah, eu não sei explicar não, foi saindo assim...

E eu pergunto:

Pp: Você estava nervosa no dia?

Fernanda: tava, a gente fica, a gente não acha as palavras na hora, depois que a

gente vai pensar, podia ter falado assim, assim, assim. Na hora dá aquela coisa assim que

deixa a gente falar cada coisa.

Depois, eu volto a perguntar:

Pp: quando você repete as palavras como caso, caso. Quando você está repetindo,

você está procurando outras palavras, você está procurando melhorar a sua fala, é isso?

A aluna responde:

Fernanda: a gente fica atrás de uma palavra que dá certo, que tenha a ver com aquilo

que a gente quer falar, aí a gente fica falando caso, caso...

Continuando a entrevista, eu indago:

Pp: no texto escrito, se você for observar, você só repetiu a palavra caso, você não

repetiu a palavra vai, e nem a palavra é. Por que isso ocorreu?

Ela afirma:

Fernanda: porque no texto escrito você pode pensar, falar certo...

Logo depois, eu a questiono:

Pp: então no texto escrito, você tem condições de elaborar melhor esse texto?

Nesse momento, a aluna diz que no texto escrito, ela tem condições de:

Fernanda: escrever com mais calma, pensar com mais calma, escrever a palavra

certinha. ( FA/01 lado B 1º/2007)

Ao observar essa seqüência de perguntas e respostas, verifica-se que a aluna tem

consciência de que usou em ambas as produções textuais a estratégia de reforço, porém

percebe-se, através de sua fala, que essas repetições não acontecem por acaso, pelas

colocações apresentadas acima, entende-se que a repetição acontece quando a educanda

procura palavras no seu próprio repertório lingüístico que possam ser substituídas,mas quando

não as encontra, acaba repetindo outras que já foram empregadas anteriormente.

Ao prosseguirmos a entrevista, eu lhe perguntei:

Pp:... quando olha para seu texto oral e para seu texto escrito qual você acha que está

melhor?

Fernanda: o escrito, porque eu tive a oportunidade de pensar (pausa curta)

desenvolver melhor meu pensamento sobre o aborto. ( FA/01 lado B 1º/2007)

Page 110: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pela explicação da aluna, o seu texto escrito está melhor que seu texto oral, isso se dá

porque, segundo ela, teve mais oportunidade para organizá-lo, para planejá-lo e desenvolvê-lo.

Após a explicação da aluna, eu fiz o seguinte questionamento:

Pp: Fernanda, esse trabalho a gente desenvolveu em três momentos você se lembra?

Primeiro, fizemos o debate coletivo sobre o aborto, depois vocês fizeram um texto oral

(individual) e depois produziram um texto escrito (também individual) sobre o aborto . Você

acha que essa forma foi boa ou seria melhor que eu já chegasse pedindo que vocês

escrevessem um texto? Qual das duas formas é melhor?

A aluna olha para mim e responde:

Fernanda: melhor? melhor ?((risos)). Diante da dúvida da aluna, eu digo:

Pp: pode falar:

Fernanda: as duas formas são boas (pausa curta) mas primeiro o debate depois o

texto escrito é bem melhor.

Pp: você acha que o fato de a gente ter falado um pouco sobre o aborto ajudou você

escrever seu texto?

Fernanda: sim ajudou... tem coisas que a gente não tem nem idéia, tem palavra que a

gente não sabe nem o que quer falar... depois que você explicou eu disse: Ah é isso? ( FA/01 lado B 1º/2007)

Observa-se na fala da aluna que ela apresenta noções de discurso planejado e não

planejado.

Segundo OCHS (1979), o discurso não-planejado, caracteriza-se por não ter uma

premeditação e por se tratar de um discurso espontâneo.

Para essa autora, no discurso não-planejado, o comunicador não organiza como a

idéia será expressa ou como alguns atos verbais serão realizados, antes que a comunicação

ocorra.

Quanto ao discurso planejado, a autora acima o define como um discurso que é

pensado e organizado antes de ser expresso.

A partir das falas construídas pela educanda, percebe-se que o uso de repetições

(estratégia de reforço), seja em textos orais, seja em textos escritos assume funções diferentes,

conforme afirma MARCUSCHI (1996 apud FÁVERO, ANDRADE & AQUINO, 2005).

Quanto aos textos escritos, foi possível encontrar as seguintes estratégias:

Page 111: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• Estratégia supressora de marcadores conversacionais e de repetição

como pode ser verificado no texto escrito, onde a aluna eliminou os

marcadores conversacionais, tais como a palavra “né” e as palavras de uso

enfático. Ao observar seus textos fica muito claro que o número de repetições

diminuem, apesar de ainda existirem algumas.

• Estratégia de paragrafação e de pontuação, já explicadas anteriormente.

• Estratégia de padronização escrita, também já explicitada na análise anterior

a essa.

• Estratégia de reforço. Com essa estratégia, a aluna reforça suas idéias

repetindo algumas palavras, porém ela repete menos nessa última versão do

seu texto que nas versões anteriores.

• Estratégia de inclusão de exemplificação e de explicação, como pode ser

observado nos exemplos abaixo:

Episódio 7 – Exemplo de estratégia de inclusão de exemplificação e de

explicação em texto escrito: É que varia de caso se houver risco de vida e não tiver condições de sobreviver é

um problema a se pensar ...(explicação)

Outro motivo é quando a pessoa é estuparda e fica grávida é muito difícil, eu acho

que podemos pensar (exemplificação).

Veja na página seguinte os textos produzidos por Janaína:

Page 112: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Quadro nº 15: Textos orais e escritos da aluna Janaína Texto oral Estratégias Texto escrito 01 Estratégias Texto escrito

02 Estratégias

P:

Qual a sua

opinião sobre

o aborto?

A:

É (pausa

curta ) eu

acredito que

(pausa curta)

toda pessoa

que “teje”

grávida pode

já ter

engravidado

já tem que ter

(pausa curta)

já uma

(pausa curta)

responsabilid

ade muito

grande,

porque se a

pessoa não

pensou antes

de engravidar

agora é hora

de parar e

pensar Num

é só tomar o

remédio e

abortar. Acho

que não é

aceito

(incompreens

ível) de jeito

nenhum e

(pausa curta)

que (pausa

curta) só se a

criança

TIVER for

nascer para

viver pouco

tempo,

alguma coisa

assim,

porque caso

Estratégia de reforço.

Repetições

de vocábulos

variados, tais

como: já, já,

ter, ter,

pessoa,

pessoa,

grávida,

engravidar,

engravidado.

Uso de palavras menos formais como: num.

Uso da entonação enfática:

TIVER

Estratégia de inclusão de explicação. Estratégia reparadora.

Eu sou

contra, porque as

pessoas tem que

ter consciência

do que a pessoa

esta fazendo,

para depois não

se arrepende do

que feiz. Eu

acredito que as

pessoas

deveriam pensar

bem antes de

tomar qualquer

atitude sobre tirar

a vida de

qualquer pessoa

principalmente

de ser inicente.

Eu acho que

deveria sim ser

aprovado o

aborto quando é

comprovado que

a criança vai

nascer com

deficiência

mental no caso

que não tem cura

ou no caso que

vai prejudicar

totalmente a

infância e a

adolescência da

criança.

.

Estratégia de inserção de paragrafação e pontuação.

Estratégia de supressão de marcadores conversacionais. Estratégia de inclusão de explicação. Estratégia de reforço. Estratégia de padronização escrita.

Eu sou contra,

porque as

pessoas têm

que ter

consciência do

que estão

fazendo, para

depois não se

arrepender do

que fez. Eu

acredito que as

pessoas

deveriam pensar

bem antes de

tomar qualquer

atitude sobre

tirar a vida de

qualquer pessoa

principalmente a

de um ser

inocente.

Eu acho que

deveria sim,ser

aprovado o

aborto quando á

comprovado que

a criança vai

nascer com

deficiência

mental, no caso

que não tem

cura ou no caso

que vai

prejudicar

totalmente a

infância e a

adolescência da

criança.

Estratégia de inserção de paragrafação e pontuação.

Estratégia de supressão de marcadores conversacionais. Estratégia de inclusão de explicação. Estratégia de reforço. Estratégia de padronização escrita.

Page 113: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

contrário eu

sou contra

totalmente.

Fontes: Adaptação Diagrama 2 – Marcuschi (2007, p. 75) e dados da própria pesquisa

Ao analisar as produções da aluna, verifica-se que ela usa a estratégia de reforço em

ambos os textos. Repetiu-se a palavra pessoa 2 vezes no texto oral e no texto escrito, essa

mesma palavra (pessoa) foi repetida 4 vezes, e 2 vezes a palavra caso. Infere-se que as

mesmas serviram em ambas as produções para reforçar a idéia de que “as pessoas têm que

ter consciência de que o aborto só deve ser autorizado em alguns casos e não conforme a

vontade de cada ser humano”. Trata-se do uso da estratégia de reforço com a finalidade de enfatizar uma idéia, conforme explicitado anteriormente, no início dessa análise.

Destaca-se no texto oral da aluna o uso de palavras menos formais e de palavras de

cunho enfático, o que não ocorre nos seus textos escritos.

Verificou-se no texto oral da aluna a presença da estratégia reparadora. Essa

estratégia tem a função de corrigir alguma colocação mal feita no decorrer de uma fala.

Episódio 8 – Exemplo de estratégia reparadora:

(...) Acho que não é aceito (incompreensível) de jeito nenhum e (pausa curta) que

(pausa curta) só se a criança TIVER for nascer para viver pouco tempo, alguma coisa assim (...)

Retomando a última versão do texto escrito de Janaína, observa-se nele a presença de

algumas estratégias, tais como:

• A estratégia de inserção de pontuação e de paragrafação, que não foram usadas

no texto oral devido ao seu caráter.

• Estratégia da padronização escrita, que se dá quando aluna reescreve o seu texto

tentando aproximar a linguagem nele empregada da norma gramatical vigente.

• Estratégia de supressão de marcadores conversacionais, uso de palavras enfáticas e de repetições. Ao ler os textos escritos da aluna, vê-se que ela não utiliza

neles palavras de ordem enfática e, que suas produções escritas apresentam um grau

maior de formalidade, diferentemente do texto oral.

• Estratégia de inclusão de explicação, conforme se pode observar no exemplo

abaixo:

Page 114: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Episódio 9 – Exemplo de estratégia de inclusão de explicação no texto escrito: Eu sou contra, porque as pessoas tem que ter consciência do que a pessoa esta

fazendo,para depois não se arrepende do que feiz.

• Estratégia de reforço. Nessa estratégia, a aluna repete algumas palavras já escritas

em seu texto, como, por exemplo, as palavras caso, pessoa, qualquer, eu.

Ao observar os textos produzidos pelos alunos, percebe-se que algumas estratégias

utilizadas por eles podem ser organizadas em categorias7 .

Nos textos orais (gravados e transcritos por mim) foram encontradas as seguintes

categorias:

Categoria A - Estratégia de reforço, que consiste na repetição de palavras, tais

como: substantivos, pronomes, verbos e pronomes anafóricos, para enfatizar uma idéia.

Categoria B - Foram encontrados marcadores conversacionais, como: né e

entendeu?

Categoria C - Foram encontrados nos textos orais de alguns alunos o uso de

entonação enfática para destacar algumas palavras.

Categoria D - Estratégia de inclusão de explicação e justificativa.

Categoria E - Estratégia reparadora. Categoria F- Estratégias Cognitivas Categoria G- Estratégias Sociointeracionistas

Já nos textos escritos prevaleceram as seguintes categorias:

Categoria A – Estratégia supressora de marcas interacionais, palavras enfáticas e repetições. No que concerne a essa estratégia, os alunos eliminaram, do texto escrito,

basicamente os marcadores conversacionais: né, entendeu e palavras de cunho enfático.

Categoria B – Inserção de paragrafação e pontuação. Para MARCUSHI (2007), a

estratégia da inserção refere-se à introdução de paragrafação e pontuação detalhada sem

modificação da ordem dos tópicos discursivos. Observa-se claramente o uso dessa estratégia

nos dois textos escritos, dado esse que reforça a premissa de que os alunos sabem que existe

uma estrutura própria do texto escrito que deve ser seguida e dentro dessa estrutura estão: a

pontuação e a paragrafação.

Categoria C – Estratégia de padronização escrita. Percebe-se, na “passagem” do

texto oral para o escrito que os alunos procuram reescrever o texto transcrito considerando

7 Categoria, segundo AULETE (2004), significa classe de objetos ou pessoas que têm a mesma natureza.

Page 115: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

algumas regras oferecidas pela gramática normativa da língua. Isso ficou confirmado nas

atividades realizadas principalmente pelo aluno Jeferson, pois quando lhe foi pedido para reler

seu texto, uma das primeiras observações e correções feitas foi em relação às palavras

escritas “inadequadamente”, demonstrando, assim a preocupação do aluno em escrever

considerando as regras que ele conhece e domina da língua.

Categoria D – Encontram-se em alguns textos escritos dos alunos as estratégias de inclusão de explicação, de exemplificação e de justificativa, estratégias, essas, segundo

Koch (2005) destinadas à produção textual oral, além do uso de repetições que têm como

função básica reforçar uma idéia ou um argumento, no caso desse trabalho denominada

estratégia de reforço.

Categoria E – Encontram-se nos textos dos alunos estratégias sociointeracionistas e

cognitivas.

Considerações finais:

Através das produções realizadas pelos alunos, fica claro que:

As diferenças ou as integrações entre as modalidades ocorrem dentro de um

continuum que vai da produção menos formal para a mais formal.

Os educandos usam estratégias diferentes para construir seus textos (orais e escritos).

Porém as estratégias de reforço, reparadora e de inclusão aparecem tanto nos textos orais

quanto nos textos escritos.

Os alunos têm consciência de que estão diante de duas modalidades distintas para a

realização de um mesmo gênero textual. Isso ocorre quando na passagem do texto oral para o

texto escrito, eles eliminam os marcadores conversacionais e retiram, em alguns casos a

repetição, inserem parágrafos, palavras mais formais, etc.

FÁVERO, ANDRADE & AQUINO (2005) destacam a importância de o professor

desenvolver atividades que contemplem ambas as modalidades em sala de aula. Esses

autores enfatizam que:

Talvez conhecendo um pouco mais como se processa a elaboração do

texto oral, o professor possa não só compreender melhor as produções

escritas de seus alunos, como também aprimorá-las sem que percam a

sua expressividade,fazendo do trabalho com textos uma atividade

dinâmica e produtiva. (p. 92)

Page 116: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Essa informação pôde ser comprovada, através do 1º questionário aplicado para a

turma, no início da pesquisa e através da entrevista semi-estruturada realizada com a aluna

Fernanda. Quando perguntada se ela achava que atividades que envolviam a modalidade oral

da língua poderiam contribuir para o desenvolvimento do texto escrito, a aluna respondeu

positivamente e enfatizou que quando há um debate, a produção escrita fica mais fácil, pois faz

com que os alunos tenham idéia do que escrever.

Ao observar as produções orais e escritas dos alunos, percebe-se que a atividade

sobre o aborto possibilitou o desenvolvimento da competência comunicativa dos participantes

tanto em nível da oralidade, Dell Hymes (1966 apud Bortoni-Ricardo, 2004), quanto em nível da

escrita (Matencio, 2003), pois mesmo havendo alguns problemas ortográficos,de pontuação,de

acentuação de concordância, os alunos conseguiram produzir um texto de opinião sobre um

tema considerado polêmico e nele conseguiram expressar o seu pensamento de forma

compreensível,para isso usaram também as seguintes estratégias: cognitivas e

sociointeracionistas.

Por meio dessa atividade foi possível também observar um continuum, como propõe

Marcuschi (2007) entre oralidade e escrita, pois com a discussão prévia sobre o tema em

estudo, os educandos tiveram acesso a um conjunto de idéias que facilitaram as suas

produções escritas.

Entende-se que essa foi apenas uma tarefa introdutória desta investigação, que para

se tornar mais clara e atingir aos objetivos propostos demanda um maior número de dados que

serão analisados na próxima seção.

Page 117: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

5 O debate: uma contribuição para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno jovem e adulto do ProJovem de Brazlândia.

Talvez conhecendo um pouco mais como se processa a elaboração do

texto oral, o professor possa não só compreender melhor as produções

escritas de seus alunos, como também aprimorá-las sem que percam sua

expressividade, fazendo do trabalho com textos uma atividade dinâmica e

produtiva. (FÁVERO, ANDRADE & AQUINO, p. 92)

5.1 Introdução

Esta seção tem como objetivo descrever o debate realizado sobre diminuição da idade

penal com os alunos participantes da pesquisa. Para tanto, serão apresentadas: a importância

desse gênero para produção oral e escrita dos educandos, a atividade propriamente dita, bem

como a análise das informações coletadas.

5.2 A realização do debate O debate é um tipo de evento que apresenta um caráter dialogal e interativo, o que

possibilita uma maior participação dos envolvidos, principalmente quando se trata de temas

polêmicos que requerem uma posição e uma justificativa, muitas vezes convincentes

(FREITAS, 2003). Dessa forma, percebe-se que o debate é um tipo de gênero que se ajusta

perfeitamente à proposta teórica desta pesquisa.

Freitas (2003, p. 120) afirma que “os debates são travados para refletir sobre

problemas mais complexos que envolvem também indivíduos ou grupos de indivíduos. São

usados com a finalidade de compartilhar opiniões na busca de um consenso”.

Entende-se, portanto, que a realização de debates com os alunos do ProJovem seja

muito importante, considerando-se algumas observações feitas no decorrer das aulas de língua

portuguesa. Percebeu-se que os alunos possuem uma grande insegurança quanto ao uso da

modalidade oral da língua e, em decorrência dessa insegurança, pouco participam das

atividades orais propostas nas aulas. Pôde-se notar também um certo medo ou receio de

realizar uma tarefa e de não lograr êxito na mesma. Em virtude desse medo, os alunos

preferem, em grande parte das vezes, ficar no seu cantinho apenas ouvindo. A partir dessas e

de outras observações, pensou-se no debate como uma forma de ajudá-los a participar mais

das atividades orais em sala de aula. Acredita-se que durante os debates, os alunos se sintam

Page 118: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

estimulados a expor seus pontos de vista, suas opiniões, encorajados pela participação dos

colegas.

5.3 A diminuição da Idade Penal: conversando com os alunos A atividade ora apresentada foi desenvolvida no dia 26/05/2007. Neste dia, estavam

presentes na sala apenas os cinco alunos participantes da pesquisa, os demais foram

dispensados.

O tema selecionado para o debate foi A diminuição da idade penal. O evento

desenvolveu-se em três momentos: no primeiro, apresentou-se o tema, explicando-o

brevemente, com o objetivo de levar os alunos a se familiarizarem com o mesmo.

Em seguida, introduzi o debate propriamente dito. Nesse momento, coloquei no

quadro o tema da aula e destaquei dois pontos básicos para nortear o diálogo: os pontos

positivos e os pontos negativos da diminuição da idade penal. Essa atividade teve como

objetivos: (i) oferecer subsídios para que os alunos pudessem ampliar sua competência

comunicativa tanto no que se refere à modalidade oral da língua quanto à modalidade escrita,

visto que, após o debate, eles teriam que escrever um texto sobre o mesmo tema; (ii) perceber,

através de uma comparação entre texto oral (filmado) e escrito (final):

1- se o primeiro contribui para que o aluno possa produzir, com maior segurança, o

segundo texto;

2- quais são as estratégias usadas em ambas as produções;

3- as estratégias usadas no texto oral se repetem no texto escrito;

4- se a ratificação das idéias expostas pelos alunos tornava-os mais seguros e fazia

com que eles tivessem uma maior participação nas tarefas realizadas em sala de

aula.

Ao final do debate, pedi aos alunos que, em casa, escrevessem um pequeno texto de

opinião sobre A diminuição da idade penal e que o entregassem na aula seguinte.

5.4 Análise das informações obtidas no debate

Com o intuito de refletir com os alunos sobre a importância do desenvolvimento da

competência da linguagem oral como estratégia para desenvolver a escrita, optou-se por

realizar esse debate, cujo tema é: A diminuição da idade penal.

Percebeu-se durante a realização dessa atividade que alguns alunos participam mais

(Janaína, Laura e Fernanda) que outros (Jeferson e Maria das Graças). Através das

Page 119: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

observações realizadas (e descritas no diário de bordo) foi possível observar que os alunos

que mais participaram foram aqueles que verdadeiramente compreenderam o tema que estava

sendo proposto no debate. Os outros dois que tiveram menos participações, afirmaram ao final

do trabalho que tinham tido dificuldades para entender o assunto, conforme se pode observar

no episódio a seguir:

Episódio 1 – Observando as dificuldades de participação dos alunos Essa questão foi abordada ao final do debate e teve início aos trinta e dois minutos e

quarenta e seis segundos.

Pp: quem teve dificuldade com esse tema? (32 min.46 s.)

Maria das Graças: eu tive (pausa curta) porque eu nunca tinha parado para pensar

(pausa curta) nunca me interessei, por esse assunto. (32 min.45s. -32 min. 50s.)

Pp: é por que você não conhecia sobre o assunto? (33 min.02 s.)

Maria das Graças: mais ou menos. (33 min.05 s.)

Jeferson: eu nunca tinha ouvido falar disso (pausa curta) dessa... dessa história da

diminuição da idade penal. (33 min. 05s. - 33 min.10 s.).

Pp: então você não tinha nem conhecimento desses termos? (33 min.14s.)

Jeferson: Não. (33 min.14s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Por meio dessas informações, compreende-se que, momentos como esses em que o

educando precisa participar de uma atividade (oral) ou necessita redigir um texto, mesmo que

seja de um tema polêmico (entende-se que seja do conhecimento do aluno), exige que o

professor trabalhe com ele dentro de uma pedagogia culturalmente sensível onde o educando

receba as orientações necessárias que o levem à produção textual (oral e/ou escrita) pedida

com segurança. Dessa forma, entende-se que é preciso que o professor dê condições para

que os alunos produzam bons textos orais e escritos,mas para que isso aconteça, faz-se

necessário que sejam desenvolvidas atividades que contemplem as duas modalidades da

língua mostrando que há um continuum entre elas.

Nesse debate, eu procurei desenvolver as duas modalidades com os educandos, pois

realizei um debate sobre um tema considerado polêmico (atividade oral) e depois pedi aos

alunos que produzissem um texto a partir do debate (atividade de letramento). Ao observar os

textos produzidos, pude ver claramente o quanto a realização do debate tinha sido útil à

produção escrita final dos alunos. Tal constatação pode ser claramente observada nos textos

escritos, onde se encontram muitas idéias presentes no debate. Nessa atividade, pôde-se notar

que há nitidamente um continuum entre a atividade oral e atividade escrita.

A despeito de eu não ter uma formação específica em Sociolingüística Interacional, fui

buscar, nessa, fundamentos que pudessem fortalecer minha prática pedagógica, uma vez que

Page 120: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ela possibilita ao professor desenvolver atividades que se efetivam, por meio da troca, do

diálogo, da construção mútua, que podem atuar como facilitadoras do processo de ensino e

aprendizagem.

Episódio 2 – Refletindo com os alunos sobre o tema

Antes de iniciar propriamente o debate, lancei algumas questões que levassem os

alunos a perceberem do que tratava a discussão:

Pp: então a gente vai falar hoje sobre (pausa curta) a questão da idade penal ta? O

que significa isso? O que é diminuir a idade penal? No Brasil, com quantos anos uma pessoa

(pausa curta) quando ela comete um crime, com quantos anos ela é presa, gente?

Jeferson: 18.

((Eu então ratifico plenamente o aluno, repetindo a sua resposta com ar de aprovação)).

Pp: com dezoito. (0.20s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Neste momento, retomo o turno e afirmo que é preciso entender o significado de

diminuição da idade penal.

Episódio 3 – O que significa diminuir a idade penal? Essa questão foi colocada para os alunos nos seis minutos iniciais da filmagem.

Pp: primeiro: diminuição da idade penal. O que é isso? O que é diminuir a idade penal

para vocês? ((nesse instante, os alunos ficam em silêncio)). O que é? (6 min. – 6 min.18s.)

Laura: é (pausa curta) pessoas com menos idade vai cometer um crime e vai pagar

pelo que feiz. (6 min.20s. – 6 min.24s.) Fonte: (FV: 02-1/2007)

Depois que aluna termina sua exposição, retomo sua fala, ratificando-a e dou

seqüência ao debate.

Diante de cada episódio, observa-se que a cada pergunta feita, procurava levá-los a

uma melhor compreensão do tema em debate. Para isso, lançava questões que os ajudassem

a perceber o que era diminuir a idade penal, seus pontos positivos e negativos, os quais se

tornavam mais claros a partir dos argumentos apresentados pelos alunos.

Page 121: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Episódio 4 – Continuando a reflexão sobre o tema A discussão sobre os pontos positivos e negativos acerca da diminuição da idade penal

foi começada aos vinte minutos da filmagem, como pode ser verificado no episódio a seguir.

Pp: eu queria levantar alguns pontos positivos... quando a gente coloca a idade penal

de 18 para 16 anos quais são os pontos positivos?

Fernanda: Aumenta a liberdade. (20 min.29s. -20 min.34s.).

Laura: Diminui a violência, de crimes cometidos por adolescentes, talvez não acabe,

mas vai diminuir. (20 min. 34 s.-20 min.47s.)

((Após a explanação das alunas, eu as ratifico plenamente)). Pp: muito bem!

Pp: vocês concordam com isso que a Laura está falando?

A: sim.

Pp: Vocês acham que esse é o ponto central quando diminui a idade penal de 18 para

16 anos vocês concordam com a Laura que isso diminui a violência? Então a gente pode

colocar isso como um ponto positivo? (20 min.47s.-20 min.55s.)

A: sim. (20 min.57s.)

Pp: (...) qual é o outro ponto positivo que a gente pode colocar? (21 min.18s.)

Fernanda: liberdade. Hoje em dia a gente fica preso e os ladrões soltos (pausa curta)

eu morro de medo de sair para a rua do lago e levar um tiro. (21 min.20s. -22 min. 22s.)

Janaína: a minha casa é toda trancada de portões. São 3 portas... (21 min.43 s.-21

min.50s.)

Pp: exatamente! e por que a gente está desse jeito? (21 min. 56s.)

Janaína: por causa do medo. (21 min.58s. 22 min. 32 s.)

Pp: da violência, da criminalidade...

Fernanda: nós não temos liberdade...

Pp: outro ponto que a gente pode destacar é a igualdade, a igualdade é um ponto

positivo? (22 min. 35s. -22 min. 42s)

A: sim. (23 min. 33s.)

Pp: muito bem! (23 min. 40s.)

Pp: vocês conseguem ver pontos negativos nessa situação da diminuição da idade

penal? (23 min. 41s -23 min. 42s)

Maria das Graças: nenhum, (pausa curta) até agora eu não vi não. (23 min.54s.)

Pp: e se por acaso... vamos trabalhar em cima de hipóteses...se tivesse alguém da sua

família que fosse menor de idade e ele tivesse cometido um crime e acabasse sendo punido,

você acharia isso certo, justo? Ele fez, tem que pagar e pronto e acabou. Ou você acha ..., mas

vai acabar com a formação da pessoa, o que vocês acham disso? (23 min.55s. -24 min.23 s.)

Page 122: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Laura : (incompreensível) talvez (pausa curta) a gente tem que ver quantos anos ele

vai ficar preso, vai que ele só pega dois anos aí, aí, sai pior, é como ir para uma fábrica de

criminosos. Entra um adolescente que cometeu apenas um crime e sai sabendo fazer vários.

Pp: muito bem (24 min.58s.). Isso que a Laura falou pode ser um ponto negativo? A

questão de ser preso e sair de lá pior (pausa curta) isso pode ser um ponto negativo dentro

desse contexto?

Laura : eu acho que o adolescente pode voltar pior do que era para ser. (25 min.)

Pp: talvez entre ruinzinho e saia de lá pior?

....

Pp: esse é um risco que a gente tem de correr?

A: sim. Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Um dos objetivos dessa atividade era também observar por meio do cotejo da

produção oral e escrita dos alunos, se eles transferiam as estratégias desenvolvidas na

modalidade oral da língua para seus textos escritos. Observou-se, através do debate realizado,

que os alunos lançam mão de estratégias diferenciadas para opinar (oralmente) e escrever

sobre o tema proposto. Porém uma delas aparece tanto no texto oral quanto no escrito, que é a

estratégia de reforço. Ela aparece em alguns episódios (inicialmente orais e depois escritos),

como se pode verificar nos exemplos abaixo.

Episódio 5 – Trabalhando ainda a reflexão sobre o tema Quando perguntados sobre o que significava a diminuição da idade penal, os alunos

disseram:

Laura (...) é (pausa curta) pessoas com menos idade vai cometer um crime e vai

pagar pelo que feiz. (6 min.14s. – 6 min. 20s. ) Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Fernanda (...) pra diminuir a violência, porque os que (pausa curta) tipo tem um

grupinho aí tem um chefe e o chefe bota os menores para matar, roubar e se esconde. Manda

eles porque sabe que eles não vão ser punidos (...) (6 min.50s. 7 min. 08s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Janaína (...) mas não adianta jogar ele lá dentro e passar a mão na cabeça e pronto. É

melhor, é pior ainda porque ele vai está lá dentro e vai ta protegido ((entre aspas)) do mundo

vai ta comendo, bebendo, dormindo, no bem bom às custas do povo que está aqui fora,

((detalhe não tem melhora)). (10 min.26s.-10 min.40s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Page 123: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Jeferson (...) eu acho que tem que botar ele na cadeia aí do lado com o de 18 para ele

pegar a mesma pena. (17 min. 40s. -17 min.45s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Maria das Graças (...) eu acho que se já tivesse diminuído... já tinha evitado muitos

crimes porque aí a maioria dos crimes é adolescente que mata né? (18 min.22s. - 18 min. 30s.)

Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Nesses exemplos, foram encontradas, nos textos orais dos alunos, as seguintes

estratégias: da inclusão e de reforço. Em relação à inclusão, observa-se, na produção oral que,

as alunas Fernanda e Maria das Graças suspendem o raciocínio inicial e incorporam a ele,

uma exemplificação, conforme pode ser verificado no exemplo a seguir:

Episódio 6 – Exemplo de Estratégia de Inclusão de Exemplificação Fernanda (...) pra diminuir a violência, porque os que (pausa curta) tipo tem um

grupinho aí tem um chefe e o chefe bota os menores para matar, roubar e se esconde. Manda eles porque sabe que eles não vão ser punidos (...) Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Maria das Graças (...) eu acho que se já tivesse diminuído... já tinha evitado muitos

crimes porque aí a maioria dos crimes é adolescente que mata, né? Lá no colégio lá mesmo na W/3 norte, onde eu trabalhava (pausa curta) o rapaiz matou o outro dentro da escola (pausa curta) brigou né foi na casa dele, pegou o revólver e matou o outro (...) (18 min.35s.-

18 min.55s.) Fonte: ( FV: 02-1/2007)

É importante ressaltar que ao utilizar essa estratégia, as alunas apresentam em suas

falas algumas repetições que reforçam suas idéias (estratégia de reforço), como por exemplo:

Fernanda: aí tem um chefe e o chefe bota os menores para matar... Manda eles... Fonte: (

FV: 02-1/2007)

Vê-se que a aluna usa a palavra chefe duas vezes explicitamente e uma vez de

maneira implícita, reforçando a idéia de que muitas vezes, o jovem comete um crime porque

fora mandado por uma pessoa superior que, nesse caso seria um chefe.

Page 124: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Laura também lança mão da estratégia de reforço em sua fala, quando destaca que

com a diminuição da idade penal as pessoas com menos idade vai cometer um crime e vai

pagar pelo que feiz. Fonte: ( FV: 02-1/2007)

Janaína: tem (pausa curta) eu acho que tem ((várias vozes)) que investir (pausa

curta) se a pessoa tem idade para matar eu acho que a pessoa tem idade para fazer alguma

coisa. Então troca em serviço, sei lá (incompreensível) tem que trabalhar não pode ficar

parado como os presos ficam não, só parado esperando as coisas acontecerem não, caírem

do mundo. (10 min.52 s. -11 min.10s.) ( FV: 02-1/2007)

Observa-se na fala da educanda um tom enfático (caracterizado pela estratégia de

reforço) ao tratar da questão. E isso fica mais claro pelos verbos que ela utiliza para explicar

seu pensamento, como por exemplo: se cometer um crime vai pagar pelo que fez e não ficar impune. ( FV: 02-1/2007)

Analisando os exemplos apresentados, verifica-se que as alunas usam a estratégia de reforço, uma vez que as repetições encontradas tinham como objetivo reforçar uma idéia já

exposta.

A despeito de se encontrar nos textos orais dos alunos, a estratégia de reformulação retórica, proposta por KOCH (2005) e aqui denominada por mim de estratégia de reforço, foi

possível compreender, no decorrer das gravações e das entrevistas, (registradas em diário de

campo) que as repetições utilizadas pelos alunos, tinham o intuito de reforçar as suas opiniões,

porém os alunos Janaína, Laura e Fernanda, afirmaram que, em alguns momentos, eles

repetiam, porque lhes faltavam outras palavras que pudessem substituir os vocábulos já

empregados.

Continuando a análise, verifica-se que Janaína utiliza em sua fala a estratégia reparadora.

Episódio 7 – Exemplo de Estratégia Reparadora A3 (...) mas não adianta jogar ele lá dentro e passar a mão na cabeça e pronto. É

melhor, é pior ainda porque ele vai está lá dentro e vai ta protegido ((entre aspas)) do mundo vai ta comendo, bebendo, dormindo, no bem bom às custas do povo que está aqui fora, ((detalhe não tem melhora)). ( FV: 02-1/2007)

Page 125: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Além dessas estratégias, verificou-se também o uso de marcadores conversacionais,

próprios do evento (oral), como por exemplo o marcador discursivo “né” utilizado pela aluna

Maria das Graças e demonstrado no episódio número 6.

Quanto à questão da construção do sentido do texto (KOCH, 2005), verifica-se que os

alunos apresentam em suas produções coerência e coesão, pois seus textos são

compreensíveis e apresentam elementos coesivos (como por exemplo o uso de anáforas) que

auxiliam a produção textual,seja falada, seja escrita, o que reforça o princípio de que, assim

como o texto escrito, o texto oral possui uma estrutura que deve ser respeitada e desenvolvida,

principalmente no ambiente escolar.

Episódio 8 – Alunos opinando (2)

Ao continuar o debate, notou-se que os alunos iam colocando argumentos cada vez

mais seguros à medida que a atividade acontecia, como pode ser observado nos exemplos a

seguir:

Ao argumentar em favor da diminuição da idade penal, a aluna Laura afirmou:

Laura: muitos jovens com menos de 18 acabam se envolvendo com o crime porque

eles sabem que não vão ser punidos. Eles pensam que só porque são de menores, eles não

serão punidos ((eu penso assim)). Não só são levados por alguém, mas por eles mesmos

(pausa curta) por eles saberem que são de menor. (8 min.36s. -8 min.51s.) ( FV: 02-1/2007)

Laura: ...como eu estava comentando, que eu concordo que passe a idade penal para

16 anos, mas o que adianta pegar um adolescente de 16 anos e colocar no CAJE e não dar ...

poder se recuperar se reabilitar, ele vai sair de lá muito pior do que entrou. (9 min.45 s.-10 min.)

( FV: 02-1/2007)

No decorrer das falas, a aluna Janaína também argumenta em favor da diminuição.

Janaína: tem (pausa curta) eu acho que tem ((várias vozes)) que investir (pausa curta)

se a pessoa tem idade para matar eu acho que a pessoa tem idade para fazer alguma coisa.

Então troca em serviço, sei lá (incompreensível) tem que trabalhar não pode ficar parado como

os presos ficam não, só parado esperando as coisas acontecerem não, caírem do mundo. (10

min. 52s.-11 min.10s.) ( FV: 02-1/2007)

Page 126: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Observa-se, pelo que se vê nos episódios registrados, que à medida que o debate

prosseguia, ia acontecendo um maior número de participações dos alunos, o que nos leva a

perceber que é na fala e na troca de idéias que os alunos vão encontrando palavras e

argumentos para desenvolverem seus textos orais. Bakhtin (1992, p. 297, apud REIS, 2000,

p.135) coloca que:

...o sujeito se constitui na dialogia dialética que se estabelece entre o eu e

o outro ou uns com os outros, na dimensão de um nós coletivo, digo eu. A

dialogia que tem por base a alteridade, a alternância entre sujeitos

falantes, enraizada na realidade, na relação imediata com os enunciados

do outro e na capacidade dos sujeitos suscitarem e desenvolverem

reciprocamente uma atitude responsiva um com o outro e uns com e entre

os outros.

5.5 – Análise dos textos escritos

Passa-se, neste momento, às análises das produções textuais escritas dos alunos

sobre a diminuição da idade penal. Para isso, será apresentada, aqui, a primeira versão dos

textos escritos pelos alunos. A segunda versão será colocada junto aos anexos, uma vez que

ocorreram poucas mudanças na passagem de uma versão para a outra.

Texto 01 – Laura (primeira versão)

Eu concordo com a diminuição da idade penal porque não acho justo que pessoas cometam

crimes e não paguem por eles só porque é menor de idade, se é menor e cometem

crimes então podem pagar por eles, mesmo sendo menor.

Por causa desta lei que diz que o menor de 18 não ter que pagar pelo crime que cometem,

muitos jovens cometem crimes porque sabem que não serão punidos como deveriam ou

talvez nem sejam punidos de forma nem uma, e são usados por adultos criminosos para

cometer crimes por que sabem que com eles não vão acontecer nada, ou seja, alem

destes criminosos adultos ficarem em pune ainda servem de “professores” do crime

para estes menores.

Então se mudar esta lei, eles irão pensar bem antes de se submeter a um ato criminoso.

Com isso temos a diminuição de crimes e violência, teremos mais liberdade, igualdade etc.

O único ponto negativo que vejo e que ao ser preso, terminada sua condenação eles podem

voltar ainda pior para a sociedade, já que como sabemos, no Brasil o sistema de carceragem

Page 127: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

e crítico, os jovens entram ruins e sai pior, a não ser que este sistema mude junto com a

mudança de lei, coisa que eu acho bem difícil. Mas na minha opinião é melhor corrermos o

risco do que ficarmos como estamos.

Ao ler a primeira versão escrita pela aluna, verificam-se em seu texto as seguintes

estratégias:

Estratégia de reforço: com objetivo de confirmar uma idéia ou uma palavra já dita.

Exemplificada no trecho a seguir.

Episódio 9 – Exemplo de estratégia de reforço em texto escrito (...) só porque é menor de idade, se é menor e cometem crimes então podem pagar por

eles, mesmo sendo menor (...)

Apesar de ainda apresentar algumas repetições de palavras, tais como: cometam,

cometem crimes, menor, menor, como, como, observa-se que a aluna lança mão da estratégia de supressão de repetições, visando a uma condensação lingüística. Segundo Marcuschi

(2007, p. 79), a estratégia da eliminação para uma condensação lingüística tem como principal

objetivo retirar do texto elementos sentidos como desnecessariamente reduplicados, tais como

a repetição de alguns vocábulos que já foram utilizados anteriormente.

A aluna introduziu no seu texto a estratégia da inserção da pontuação e paragrafação, elementos característicos da produção escrita. E, ainda, encontram-se em sua

produção idéias compartilhadas e discutidas no debate.

Além dessas estratégias, a educanda usou em sua versão escrita a estratégia da padronização escrita, procurando escrever o mais adequado possível.

Observa-se no texto escrito da aluna a presença da estratégia de explicação, conforme

demonstra o episódio a seguir:

Episódio 10 – Exemplo de estratégia de inclusão de explicação no texto escrito

Eu concordo com a diminuição da idade penal porque não acho justo que pessoas cometam crimes e não paguem por eles...

Percebe-se que em nível da construção de sentidos (koch, 2005), o texto da aluna

apresenta, apesar de possuir alguns problemas básicos de coesão, coerência textual.

Page 128: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A seguir será apresentado o Texto 2, escrito pela aluna Maria das Graças, bem como

as estratégias encontradas nele.

Texto 02 – Maria das Graças (versão inicial)

Eu concordo com a diminuição da idade penal. Porque muitos menores de idade praticam

violência e até mesmo crimes contra as pessoas e não pagam pelo que faze Mais eu

acho que esta nova lei não vai valer para os ricos, porque eles têm dinheiro e podem pagar

um advogado e sempre ficam em liberdade. Eu acho se ouver mesmo a diminuição da idade

penal os crimes e a violência, irão diminuir bastante e as pessoas irão viver com mais

liberdade.

Na diminuição da idade penal existem dois pontos: o ponto positivo e o ponto negativo.

Ponto Positivo: a diminuição da criminalidade, a liberdade das pessoas da sociedade, e a

segurança da população.

Ponto negativo: o adolescente que comete o crime vai para a cadeia quando ele sair de lá

voltará pior para a sociedade.

Ponto positivo: diminuição da criminalidade, liberdade e igualdade.

Ponto negativo: voltará pior do que era.

Observando o texto da aluna, nota-se que ela usa as seguintes estratégias para

produzi-lo:

• Estratégia da inclusão de justificativa, procurando deixar seu ponto de vista mais

claro, conforme exemplo abaixo:

Episódio 11 – Exemplo de estratégia de inclusão de Justificativa: Eu concordo com a diminuição da idade penal. Porque muitos menores de idade

praticam violência e até mesmo crimes contra as pessoas e não pagam pelo que faze

(...)

(...) porque eles têm dinheiro e podem pagar um advogado e sempre ficam em liberdade (...)

• apesar de ainda apresentar algumas repetições (como pronomes e a expressão

diminuição da idade penal). Observa-se que, se comparado ao texto oral, como um

todo, a aluna diminuiu em grande parte as repetições, por isso, verifica-se que ela

lançou mão da estratégia da supressão de repetições.

Page 129: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• a aluna introduziu o seu texto: pontuação e paragrafação, elementos característicos da

produção escrita, portanto ela lançou mão da estratégia da inserção da pontuação e da paragrafação.

• encontram-se em sua produção idéias compartilhadas e discutidas no debate.

O seguinte texto foi redigido por Fernanda e apresenta as seguintes estratégias:

Eu concordo porque a violência é causada por adolecente de 14 e 16 anos. Sem alguma

responsabilidade nas conseqüências então com a diminuição da penal já irá responder um

processo de longos anos de reclusão pelo homicídio, estrupos etc. Então será igual a todos

que cometerem seus erros, mas a um grande problema a ser resolvido será que os

penitenciário estão bem estruturados para obter bons resultados com a resocialização

desses adolecentes para que não se junte com os outros internos mais perigosos, e com

penas de longos anos. Será que ira reasocializar ou pelo contrario aumenta a sua pena. E

uma lei muito importante é bom ser bem elaborada para não haver riscos aos adolecentes

em sua formação, a ser um homens (capaz de ser resocializar na sociedade).

Pontos Positivos:

Diminui a criminalidade

Violência

Liberdade

Igualdade

Pontos Negativos

Os pontos negativos no caso para os familiares dos adolecentes com criminalidade

voltar pior do que era para a sociedade.

Estratégias encontradas no texto da aluna:

Estratégia da inclusão de explicação: a aluna usou essa estratégia quando afirmou

que era a favor da diminuição da idade penal e, logo em seguida, explicou o motivo que a leva

a ser a favor de tal procedimento.

Episódio12 – Exemplo de estratégia de inclusão de explicação

Eu concordo porque a violência é causada por adolecente de 14 e 16 anos...

Page 130: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Estratégia de supressão de repetições: se comparado ao texto oral, o texto escrito

apresenta menos palavras repetidas.

Estratégia da inserção da paragrafação e da pontuação: percebe-se no texto da

aluna que, apesar de não delimitar os parágrafos de seu texto, ela o dividiu em três momentos

específicos: uma introdução colocando seu ponto de vista, os pontos positivos e os pontos

negativos. Lançou mão também de sinais de pontuação para procurar deixar o seu texto mais

claro.

A despeito de redigir algumas palavras em desacordo com a norma padrão, observa-se

em seu texto a presença de palavras que são diferentes das colocadas pelos demais alunos.

Percebe-se nessa versão uma preocupação em escrever bem, aproximando-se de um linguajar

mais culto. A essa estratégia dá-se o nome neste trabalho de estratégia de padronização escrita.

Reforçando a afirmação feita no parágrafo anterior, chamou - me a atenção no 1º texto

escrito pela educanda o uso das seguintes palavras: reclusão, homicídio, ressocialização e

elaborada. Diante do uso dessas palavras pela aluna, eu perguntei de onde ela havia retirado -

as, e a aluna então me respondeu:

Fernanda: Eu achei um livrinho lá em casa, que traz umas palavras interessantes,

parece um dicionário, então todas as vezes que eu quero usar uma palavra nova eu copio

dele.(Dados do diário de bordo)

Através da afirmação da aluna, observa-se que, apesar de suas dificuldades

ortográficas, ela já está buscando uma forma de escrita mais autônoma o que evidencia uma

mudança na sua postura e na sua produção textual.

Em seu texto escrito, pôde-se perceber a presença de algumas idéias abordadas

durante o debate, como, por exemplo, os pontos positivos e negativos destacados ao final de

sua produção.

O texto a seguir fora produzido por Jeferson.Trata-se de uma produção de difícil

entendimento, pois lhe faltavam coerência e coesão textual.

A despeito disso, observa-se que o aluno abordou algumas idéias expressas no debate

como: a diminuição da idade penal trará mais igualdade, mas o adolescente poderá voltar pior

do que ele era para a sociedade.

Page 131: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Texto 4 – Jeferson (versão inicial)

A diminuição da idade penal seria ruim porque um adolescente fez o crime, tem que

ter a mesma tanto de penal do que o adulto, porque desse jeito a criminalidade, a violência

e a comunidade vai ter mais igualdade mais sempre tem um ponto negativo, e ele pode

voltar até mais pior do que era para a sociedade.

Ao ler a versão escrita do aluno, observa-se que mesmo com o debate o quão difícil

para ele foi falar sobre esse tema. Isso pode ser claramente verificado nas suas falas e no seu

texto. Devido à falta de sentido apresentada no primeiro texto e pela falta de uma segunda

versão escrita, não foi possível fazer a análise das estratégias utilizadas pelo aluno na

construção de seus textos.

O texto seguinte foi escrito por Janaína e apresenta as seguintes estratégias:

Texto 5 – Janaína (versão inicial)

Eu acho certo porque, vai diminuir a violência no Brasil todo, acho que todos tem que ter

a liberdade no país que nós estamos, hoje em dia todos nós temos medo de sair de casa,

medo que aconteça algo de ruim com nós hoje são os bandidos soltos e nós presos, isso não

é certo, acho que fez tem que pagar e pagar com trabalho e com seu suor já que nós que

pagamos para eles ficarem lá à toa e pensando em coisas piores para fazerem quando forem

soltos. Acho que tem que ser prezo, e já que não precisa ter ,idade para roubar, não

precisa também ter idade para trabalhar.

O pior é que nem os responsáveis pelo Brasil dão exemplo, eles acabam passando uma

imagem tão ruim que nos fazem ter vergonha é nos arrependermos de ter votado neles, isso

é tão ruim que passamos a desconfiar até de pessoas meio que proscimas Se uma pessoa

tem a mente fraca e ver uma reportagem dessas, e ver que até eles não estão nem aí para a

população, porque os ladrões vão estar preocupados.

Acho que todos tem que responder pelo que faz independente de cor ou de classe

social.

A partir do texto produzido por Janaína, observa-se que ela faz uso das seguintes

estratégias:

Page 132: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• Pôde-se evidenciar no texto da aluna, o uso da estratégia de supressão de repetições, apesar de encontrar, em sua produção textual, repetições de verbos e

palavras, evidencia-se que essas repetições acontecem em menor quantidade se

comparado ao texto oral como um todo.

• Foram introduzidos a pontuação e o parágrafo, os quais reforçam a premissa de que,

apesar das dificuldades relacionadas à escrita, os alunos têm consciência da sua

estrutura e procuram pô-la em prática. Destaca-se aqui, o uso da Estratégia da inserção de paragrafação e pontuação.

• A aluna, em alguns momentos, retoma algumas idéias expressas no decorrer do

debate.

• Estratégia da inserção de explicação, visando tornar a sua idéia mais clara,

conforme exemplo abaixo:

Episódio 13 – Exemplo de estratégia de inclusão de explicação

Eu acho certo porque, vai diminuir a violência no Brasil todo (...).

• Estratégia de reforço, quando lança mão ainda de algumas repetições para reforçar

sua opinião. Observe o exemplo a seguir:

Episódio 14 – Exemplo de estratégia de reforço: (...) e já que não precisa ter, idade para roubar, não precisa também ter idade para

trabalhar.

Ao observar as produções orais e escritas dos alunos, pôde-se perceber que:

Nos textos orais:

• Os alunos ainda usam algumas repetições (para reforçar uma idéia ou então porque

faltam nos seus vocabulários palavras que possam substituir as palavras já

empregadas no próprio texto oral).

• Existe a troca dos turnos.

• Os argumentos tornam-se mais fortes à medida que o debate ocorre.

• Apresenta coerência e coesão textual.

Page 133: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• As estratégias mais encontradas são as de inclusão de exemplificações, explicações e

justificativas; a estratégia reparadora , a estratégia de reforço e a presença de

marcadores conversacionais.

Já nos textos escritos, verificou-se que:

• Algumas repetições ainda acontecem, no entanto com menos freqüência, se

comparado ao texto falado.

• Os turnos são substituídos por parágrafos e pela pontuação adequada.

• Os alunos lançam mão dos argumentos expostos no debate para produzirem seus

textos.

• Existe uma variação entre o uso da linguagem formal e da linguagem informal no

mesmo texto, como pode ser verificado no texto escrito pela aluna Janaína.

• Os argumentos foram mais bem colocados no texto escrito, porém esses, em algumas

situações retomavam as idéias colocadas no texto oral. Dessa forma, entende-se que a

realização do debate influenciou na produção textual escrita dos alunos, uma vez que

eles além de fazerem uso do que havia sido discutido durante a atividade, em alguns

momentos, inseriram, também, no seu texto elementos novos, como pode ser visto nos

textos das alunas: Fernanda e Laura.

• Quando os alunos foram reescrever a primeira versão do texto escrito, observou-se

que eles deram ênfase às correções gramaticais.

• Alguns alunos introduziram os parágrafos nas reescrituras.

• O texto apresenta, na maioria das vezes, coerência e coesão textual.

• Encontram-se, nos textos escritos pelos alunos, estratégias destinadas à produção

oral, tais como: inclusão de explicações, justificativas e exemplificações.

Considerações finais Nos textos orais, encontraram-se as seguintes estratégias organizadas nas categorias

abaixo descritas:

Nos textos orais foram encontradas as seguintes estratégias:

Categoria A – Uso de repetição em todos os textos orais. (Estratégia de reforço). Categoria B – Uso de argumentos e de exemplos para justificar, exemplificar,

ilustrar, suas opiniões. (Estratégia da inclusão) Categoria C – Uso de marcadores conversacionais. Categoria D – Estratégia reformuladora Categoria E – Estratégia sociointeracionista Categoria F- Estratégia Cognitiva

Page 134: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Já nos textos escritos, evidenciou-se o uso das seguintes estratégias:

Categoria A – Estratégia de supressão de repetições.

Categoria B – Estratégia de inserção de paragrafação e pontuação.

Categoria C – Estratégia de inclusão de explicações.

Categoria D – Estratégia de padronização escrita.

Categoria E – Estratégia cognitiva.

Categoria F – Estratégia Sociointeracionista.

Em todos os textos produzidos foram encontrados elementos discutidos no debate, os

alunos desenvolvem idéias que podem ser utilizadas em seus textos escritos. (Reis, 2000 p.

158) confirma em uma entrevista realizada com Eva (participante do projeto Paranoá) a

importância do trabalho coletivo e como esse contribui de forma significativa para o

desenvolvimento do aluno :

Segundo Eva, os alfabetizandos chegam, naturalmente, calados, com

medo de falar. Mas que com a discussão dos temas em sala de aula, eles

conversam e debatem e entre si, se conhecem, e pelo Fórum

desenvolvem a capacidade e a coragem de falar em público, uns

transformando os outros, uns avançando mais, outros menos, mudando

de turma de acordo com esse avanço, e desenvolvendo um sentimento de

reconhecimento ao alfabetizador ou alfabetizadora, que nessa relação

individual e coletiva, logo se evidencia como presença fundante: com suas

várias mediações e das relações de intercâmbio e troca de aprendizagem

entre os vários alfabetizandos.

Quanto ao uso da ratificação, primou-se pelo uso da ratificação plena e as categorias

mais utilizadas foram: (1) a repetição da resposta da colocação do aluno; (ii) concordância total

com a fala do aluno, a partir de expressões, tais como: muito bem! exatamente! perfeito!

Percebeu-se que essas ratificações, contribuíram para que os alunos continuassem a

participar das atividades propostas, que naquele momento, tratava-se de um debate. Reis

(2000 p. 162) confirma essa colocação ao destacar que:

Pelo que vivi e tenho vivido, a coisa mais importante é a atenção que o

alfabetizador passa ao alfabetizando. Que tem cuidado com ele. Com o

aprendizado dele. Passar segurança, não com aquela autoridade porque

você sabe alguma coisa, sabe mais do que ele. Não, o importante é você

passar para o aluno que é uma troca: eu vou te ensinar o que eu sei, mas

vou receber daquele aluno o que ele sabe (depoimento de Eva,

alfabetizadora do Projeto Paranoá).

Page 135: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Ao finalizar essa atividade, chega-se a algumas conclusões:

Que a produção de um debate foi determinante para que os alunos pudessem ter

idéias para produzir seus textos orais e escritos, pois verificou-se que, à medida que o debate

ia acontecendo, as participações dos alunos iam aumentando e que, as opiniões dadas no

decorrer do mesmo, foram reforçadas em todos os textos escritos, tornando, assim, as

produções, apesar de terem sido feitas individualmente, um texto polifônico. Dessa forma,

compreende-se que a competência comunicativa dos alunos foi mais uma vez desenvolvida,

pois com o debate os alunos tinham condições de perceber o que eles poderiam falar e como

deveria fazê-lo, Dell Hymes (1966 apud Bortoni-Ricardo, 2004), além de produzirem textos

mais elaborados a partir da produção oral. (Matencio, 2003; Marcuschi, 2007; Fávero, Andrade,

Aquino, 2005)

Que os alunos usam estratégias diferenciadas para produzirem seus textos orais e

escritos, porém as estratégias de inclusão e de reforço são encontradas nas duas modalidades

de textos.

Quanto à ratificação, pôde-se perceber que, quando ratificados e acolhidos em suas

participações, os alunos sentiam-se mais motivados a participarem das atividades propostas.

Dessa forma, percebe-se que a atividade desenvolvida alcançou os objetivos propostos.

Ao observar os textos produzidos pelos alunos, percebe-se que algumas condições

propostas por Fávero, Andrade e Aquino (2005) foram em grande parte contempladas, pois

houve:

No texto oral:

• interação face a face;

• planejamento simultâneo à produção;

• criação coletiva, que assim como a interação face a face, deu-se a partir do

debate inicial sobre o tema proposto;

• impossibilidade de apagamento, pois as opiniões eram gravadas em fitas de

vídeo, à medida que o aluno falava;

• sem condições de consultas a outros textos;

• acesso imediato às reações do interlocutor;

• o texto mostra, em si, todo seu processo de criação.

No texto escrito, foram encontradas as seguintes condições:

• interação a distância, pois os alunos retomaram algumas idéias expostas no

debate coletivo;

Page 136: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• planejamento anterior à produção, por se tratar de um texto escrito, os alunos

tinham condições de planejá-lo antes de redigir uma versão final;

• criação individual;

• possibilidade de revisão tanto no momento quanto após a escritura do texto;

• livre consulta, uma vez que os alunos poderiam buscar outros conhecimentos

acerca do tema em debate;

• a reformulação é feita apenas pelo escritor, somente o aluno que escreveu o

texto poderia reformulá-lo;

• sem possibilidade de acesso imediato.

Na seção a seguir, serão apresentadas as considerações finais desta investigação.

Page 137: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término desta pesquisa que teve como objetivo principal observar se a produção

textual oral facilitava a produção textual escrita dos alunos do ProJovem de Brazlândia,

apresento as seguintes conclusões reveladas pelas análises realizadas:

De acordo com os textos produzidos (oral e por escrito), com os questionários e com as

entrevistas semi-estruturadas, confirmou-se que quando o aluno desenvolve um texto oral e

depois usa o mesmo tema para produzir um texto escrito, este é produzido com mais

facilidade, pois o aluno tem acesso a uma série de informações que podem auxiliá-lo na sua

produção escrita. Castilho (1998, p. 13 apud FÁVERO, ANDRADE & AQUINO, 2005, p. 12)

destaca que:

[...] não se acredita mais que a função da escola deve concentrar-se

apenas no ensino de língua escrita, a pretexto de que o aluno já aprendeu

a língua falada em casa. Ora, se essa disciplina se concentrasse mais na

reflexão sobre a língua que falamos, deixando de lado a reprodução de

esquemas classificatórios, logo se descobriria a importância da língua

falada, mesmo para a aquisição da língua escrita.

Ao ler os textos produzidos, evidencia-se que os alunos têm consciência de que estão

diante de modalidades lingüísticas com características próprias. Porém, observam-se duas

estratégias de suas produções orais que se manifestam também nos textos escritos. A partir

disso, nota-se que apesar de cada modalidade da língua possuir especificidades, algumas que

são destinadas à produção oral: as estratégia de inclusão , a de reforço, a sociointeracionista e

a cognitiva também são encontradas abundantemente no texto escrito. No entanto, percebe-se

que as estratégias usadas em suas produções escritas (excetuando-se a estratégia de reforço)

não se encontram no texto oral.Ou seja, enquanto no texto escrito dispomos de estratégias,

tais como: paragrafação, pontuação, maior monitoramento quanto ao uso de palavras de

interação, no texto falado, devido ao seu caráter, encontramos: trocas de turnos, troca de

tópicos , maior ênfase na entonação da voz do falante e outros recursos lingüísticos, nem

sempre presentes no texto escrito.

Ao observar os textos (orais e escritos) dos alunos, notou-se que além da presença das

repetições (estratégia de reforço, em alguns casos), foram encontrados nos textos escritos

muitas idéias discutidas no debate e na opinião individual de cada aluno, o que nos leva a

perceber a relevância de desenvolver no ambiente escolar atividades orais que preparem os

alunos para a produção textual escrita. Marcuschi (2007, p. 16) reforça essa idéia ao afirmar

Page 138: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

que “atualmente, oralidade e letramento são tidas como atividades interativas e

complementares no contexto das práticas sociais e culturais”.

Quanto ao uso da ratificação no ambiente escolar, verificou-se, por meio do

questionário aplicado, que quando ratificado pela professora, o aluno sente mais vontade de

participar, uma vez que essa conduta aumenta a confiança e a coragem do aluno para

continuar falando.

Quando perguntados sobre quais os tipos de atividades que mais facilitariam a sua

escrita, os alunos afirmaram nos questionários aplicados (tanto inicial quanto final) que o

debate ajudaria, pois esse tipo de atividade contribui para que eles tenham idéias sobre o que

podem colocar no texto escrito. Bortoni-Ricardo (2004, p. 75) reforça essa colocação dos

alunos ao dizer que “a escola é, por excelência, o lócus - ou espaço - em que os educandos

vão adquirir, de forma sistemática, recursos comunicativos que lhe permitam desempenhar-se

competentemente em práticas sociais especializadas”.

Corroborando a afirmação de Bortoni-Ricardo ( 2004), Fávero, Andrade e Aquino

(2005, p.116) propõem algumas ações destinadas tanto ao educador quanto ao educando

nessa tarefa de ampliar a competência comunicativa do aluno:

Para os autores (op.cit) o professor precisa mostrar, também, que fala e escrita não

podem ser dissociadas e que elas se influenciam mutuamente. Precisa valorizar a linguagem

presente nos textos falados pelos alunos como ponto de partida para a reflexão sobre a língua

materna.

Quanto ao papel destinado aos alunos, os autores acima citados reforçam a

necessidade de assumirem uma postura mais ativa, mas para que isso seja possível não basta

que “sua competência lingüística seja trabalhada, mas sua competência comunicativa” (p.116)

Nessa perspectiva, percebe-se que as asserções geradas nesta investigação foram

confirmadas. Porém, deve-se salientar que a despeito de os alunos usarem estratégias

diferenciadas para produzirem seus textos, evidencia-se em ambas as produções (oral e

escrita) a presença de estratégias de inclusões e de reforço, o que torna a asserção número 2,

parcialmente confirmada.

Embora este trabalho não assuma um caráter final, considera-se que ele contribui para

a educação como um todo, destacando-se, primordialmente, sua importância para a educação

de jovens e adultos que, conforme foi dito no decorrer desta investigação, ainda é uma

modalidade de ensino que demanda atenção, já que algumas teorias que lhe dão suporte

carecerem ser revistas. Esse entendimento possibilita defender que não dá para desenvolver

um trabalho eficaz com um jovem ou um adulto evadido da escola regular por motivos diversos,

adaptando metodologias destinadas ao ensino de crianças. É necessário que a educação de

Page 139: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

jovens e adultos tenha um currículo próprio que atenda às reais necessidades de

aprendizagem do alunado a que se destina. A partir dessa necessidade, percebemos que é

necessário também que haja uma mudança na metodologia do ensino de língua materna. É

de grande relevância e urgência desenvolver práticas de educação de língua materna em que

esses alunos possam produzir conhecimentos a partir dos conhecimentos de mundo que eles

já possuem. Dessa forma, percebe-se a necessidade de o educador trazer para a sala de aula

atividades embasadas por uma pedagogia culturalmente sensível Frederick Erickson ( 1987

apud BORTONI-RICARDO, 2005), que considere as experiências de vida que cada aluno tem.

Com essa pesquisa desejou-se mostrar que é possível desenvolver atividades em que

os alunos tenham voz e vez; que os alunos sejam considerados em sua totalidade. Para isso,

as atividades realizadas partiram de concepções de educação embasadas pela troca, pelo

diálogo e por um ensino de língua materna fundamentado numa tendência sociointeracionista,

em que as relações entre a oralidade e a escrita aconteçam de maneira dialógica,

culturalmente e socialmente situadas. A língua é concebida como um fenômeno interativo e

dinâmico. Dessa maneira, tanto a fala quanto a escrita apresentam dialogicidade, usos

estratégicos, funções interacionais, envolvimento, negociação, situacionalidade, coerência,

dinamicidade (MARCUSCHI, 2007) e o texto pode ser entendido como um resultado ainda que

parcial de nossa atividade comunicativa, o qual compreende “processos, operações e

estratégias que têm lugar na mente humana, e que são postos em ação em situações

concretas de interação social” (KOCH, 2005.p.26).

Considerando-se essas colocações, observa-se que em relação à educação de jovens

e adultos este trabalho apresenta as seguintes contribuições:

1. Mostra a necessidade de se rever o currículo e a formação do professor que

ministra aulas para essa modalidade de ensino.

2. Considera os saberes que os alunos trazem para o ambiente escolar e procura

ampliá-los, por meio de atividades orais e escritas criando uma situação de

continuidade entre elas.

3. Usa a reflexão como ponte para a construção do saber por parte do aluno e

como forma de o educador rever e melhorar a sua prática pedagógica.

4. Faz da sala de aula um ambiente mais democrático, onde professor e aluno

são sujeitos na construção e ampliação do conhecimento.

É importante destacar que, em relação ao meu fazer pedagógico, esta pesquisa tornou-

se fundamental para que eu pudesse rever algumas práticas desenvolvidas dentro de sala de

aula. Tive que me tornar mais paciente e perceber que o tempo daqueles alunos não era o meu

tempo; tive que me adaptar às necessidades deles. E o maior desafio, no decorrer desta

investigação, foi levar os alunos a entender que estudar a língua portuguesa não é só decorar

regras, uma vez que estas existem para organizar as idéias nos textos oral e escrito, mas sim

saber empregá-las, de forma coesa e coerente, como expressão do pensamento. Ao final desta

Page 140: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

pesquisa, fica claro que essa é a maior dificuldade tanto para o professor quanto para o aluno:

fazer uso dos conhecimentos que fundamentam o ensino de língua portuguesa, pois nós não

fomos educados para isso. Por isso, almejo em pesquisas futuras continuar essa investigação,

buscando desenvolver atividades que possam dentro desse continuum oralidade-escrita,

auxiliar o educando a ampliar seu vocabulário, conhecer e saber realizar produções textuais

orais e escritas que abarquem uma maior diversidade de gêneros textuais, que não puderam

ser contemplados como deveriam nessa pesquisa, devido à falta de tempo.

Finalizando essa seção, retomo uma afirmação elaborada por Marcuschi (2007) na

apresentação do seu livro Da fala para a escrita: atividades de retextualização: “conhecemos,

hoje, muito mais sobre relações entre oralidade e escrita que há algumas décadas. Contudo,

esse conhecimento ainda não se acha bem divulgado nem satisfatoriamente traduzido para a

prática”. A partir desse posicionamento, é possível considerar este trabalho como um

acréscimo às contribuições para os estudos sobre as relações entre a fala e a escrita. Espera-

se, pois, que esta pesquisa possa despertar em outros educadores o desejo de ressignificar

sua prática pedagógica e contribuir para que outros jovens e adultos tenham a oportunidade de

criar textos orais e escritos, recursos comunicativos indispensáveis à vida em sociedade, e que

essa produção se realize com maior segurança e prazer.

Page 141: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Referência

ALARCÃO, ISABEL (Org.). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed editora,

2001.

________________.Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 4. ed. São Paulo: Cortez,

2005.

ALVES MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências

naturais e sociais: Pesquisa Qualitativa e Quantitativa. s. l. : Thomson, 2004.

ANTUNES, Érica Cruz. Alfabetização de jovens e adultos na perspectiva do letramento. 2005.

24p Monografia. Faculdade Unimontes, Montes Claros, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e

documentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

AULETE, Caldas. Dicionário Contemporâneo da língua portuguesa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2004.

BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. 23. ed. São Paulo: Loyola,

1999.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em Língua materna: a sociolingüística na sala de

aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

_______________________________. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolingüística e

educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris & Dettoni, Rachel do Valle. Diversidades Lingüísticas e

Desigualdades Sociais: Aplicando a Pedagogia Culturalmente Sensível. In: Cenas de sala de aula. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2001.

BRASIL. Constituição (1988).Texto Constitucional de 05 de outubro de 1988 com as alterações

adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 22/99 e Emendas Constitucionais de

Revisão nº 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal,Subsecretaria de Edições Técnicas: Ed. Atual,

1999.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa 5ª a

8ª séries – Secretaria de Educação Fundamental. MEC. Brasília, 1997.

CAJAL, Irene Baleroni. A interação de sala de aula: como o professor reage às falas iniciadas

pelos alunos? In: Cenas de sala de aula. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2001.

Page 142: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2005.

CAZDEN, Courtney B. El discurso em el aula. El lenguaje de la enseñanza y del aprendizage.

1ª. ed. Ediciones Paidós, 1991.

COX, Maria Inês Pagliarini & ASSIS - PETERSON, Ana Antônia de .Campinas,SP: Mercado de

Letras,2001.

CUNHA, Maria da Conceição. Introdução: discutindo conceitos básicos. In: Salto para o futuro – Educação de jovens e adultos. Secretaria de Educação a Distância. Ministério da

Educação, Brasília, SEED, 1999. p. 9-18.

DI PIERRO, Maria Clara; JÓIA, Orlando & RIBEIRO; Vera Masagão. Visão da Educação de

Jovens e Adultos no Brasil. Caderno CEDES, v. 21, nº 55, Campinas, novembro, 2001.

DIB, Cristiane Tângari. A reflexão como teoria de ação desveladora. Dissertação de Mestrado

apresentada à Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Letras e Lingüística, 2004.

DIONISIO, Ângela Paiva & BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs.). O livro didático de Português:

múltiplos olhares. 2 ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

FÁVERO, Leonor Lopes; ANDRADE, Maria Lúcia C. V. O.; ARQUINO, Zilda G. O. Oralidade e

escrita: Perspectivas para o ensino da língua materna. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

FERNANDES, Maria Alice Sousa. Da fala à escrita: os saberes da oralidade e o início de

produção da escrita escolar. 2004.139p. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de

Educação. Universidade de Brasília.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de janeiro: Paz. Terra, 1983.

_____________. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 1998.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de lê: em três artigos que se complementam. 46. ed. São

Paulo: Cortez, 2005.

FREITAS, Vera Aparecida de Lucas. A variação estilística de alunos de 4ª série em ambiente

de contato dialetal. 1996.172p. Dissertação (Mestrado em Lingüística). Departamento de

Lingüística, Línguas Clássicas e Vernácula.

Page 143: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

______________________________.A construção do texto argumentativo em contexto de sala

de aula: estratégias e padrões. 2003. 247p. (Doutorado em Letras: Estudos Lingüísticos,

UFMG).

GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2004.

GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2004.

HADDAD, Sérgio & DI PIERRO, Maria Clara. Ação Educativa, pesquisa e informação.

Satisfação das necessidades básicas de aprendizagem de jovens e adultos no Brasil:

contribuições para uma avaliação da década da educação para todos. PUC, São Paulo, s. d.

INAF 2003. Um diagnóstico para a inclusão social pela educação: avaliação de leitura e escrita.

Instituto Paulo Montenegro, Ação Educativa. São Paulo, 2003; 2005.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A interação pela linguagem. 10. ed. São Paulo: Contexto,

2006.

_____________________________.O texto e a construção dos sentidos. 8. ed. São Paulo:

Contexto, 2005.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Oralidade e Ensino de Língua: uma questão pouco “falada”. In:

DIONÍSIO, Ângela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora. O livro didático de Português: múltiplos

olhares. 2. ed. Rio de janeiro: Lucerna, 2003.

___________________________. Análise da conversação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2005.

___________________________. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In: Dionízio, Ângela Piva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Orgs.).Gêneros

textuais & ensino. 3. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

___________________________. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 7. ed.

São Paulo: Cortez, 2007.

MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Letramento e competência comunicativa: a

aprendizagem da escrita. Texto-base da mesa redonda Alfabetização e educação ao longo da

vida: a questão conceitual. Videoconferência preparatória para o 3º Telecongresso

Internacional de Educação de Jovens e Adultos, realizada em 05/06/2003, no SESI Minas.

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Padrões interacionais em sala de aula de língua materna:

conflitos culturais ou resistência. In: Cenas de sala de aula. Campinas, SP: Mercado de

Letras, 2003.

Page 144: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

OCHS, E. Planned and unplanned discourse. In: Sintax and semantics. V. 12 Discourse and

sintax. New York: academic Press, 1979.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem.

Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo. Trabalho apresentado na XXII reunião

anual da ANPED, Caxambu, setembro de 1999.

PEREIRA, Patrícia Vieira da Silva. O ato de ler: uma análise da prática da leitura em disciplinas

do ensino médio. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da

Universidade de Brasília, 2007.

PIMENTA, Selma Garrido; Ghedin, Evandro. O professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de

um conceito. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

_____________________; ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos. Docência no Ensino

Superior. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS: educação, qualificação e ação

comunitária – ProJovem. Como surgiu?

Disponível em: < www.projovem.gov.br/html/oprograma-hist.htm> Acesso: 03/04/07.

RAMOS, Jânia M. O espaço da oralidade na sala de aula. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

REIS, Renato Hilário dos. A constituição do sujeito político epistemológico e amoroso na

alfabetização de jovens e adultos. Tese de doutorado. Universidade Estadual de

Campinas/Faculdade de Educação. Campinas, São Paulo, 2000.

REY, Fernando Gonzaléz. Pesquisa Qualitativa em Psicologia. São Paulo: Pioneira Thomson

Learning, 2005.

RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ; Pedro M (Orgs.). Sociolingüística interacional:

antropologia, lingüística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: AGE, 1998.

RIBEIRO, Vera Masagão. A formação de educadores e a constituição da educação de jovens e

adultos como campo pedagógico. Educação & Sociedade. V. 2, n. 68 Campinas, dezembro de

1999. [SciELO]

____________________. Letramento no Brasil, reflexões a partir do INAF 2001. 2. ed. São

Paulo: Global, 2004.

Page 145: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

SILVA, Denize Elena Garcia da. A repetição em narrativas de adolescentes: do oral para o

escrito. Ed. Universidade de Brasília: Plano Editora: Oficina Editorial/Instituto de Letras – UnB,

2001.

SILVA, Luiz Antônio da. Estruturas de participação e interação de sala de aula. In: PRETI, Dino (Org.) Interação na fala e na escrita. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2002.

SCHÖN, Donald. A. Educando o profissional reflexivo. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto

Alegre: Artmed, 2000.

TACCA, Maria Carmen Villela Rosa. Aprendizagem e Trabalho Pedagógico. Campinas, SP:

Editora Alínea, 2006.

TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e Alfabetização. 8. ed. São Paulo, Cortez, 2006.

ZANETTI, Maria Aparecida. O pensamento de Paulo Freire na formação de educadores:

reflexões sobre a educação de jovens e adultos e a formação de licenciados em pedagogia,

1999, págs: 367-375. [SciELO]

Page 146: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ANEXOS

Anexo A – Questionário 1 Programa de Inclusão de Jovens e Adultos (ProJovem) – Brazlândia

Data de aplicação: 21/03/2007 Turma: 2 Professora: Marli Vieira Lins

Prezado (a) Aluno (a),

Como é de seu conhecimento, sou professora deste programa. Sou também aluna do Curso de Mestrado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e estou desenvolvendo uma pesquisa em sala de aula, que fará parte do meu projeto. Para isso, conto com a sua colaboração. A identidade dos participantes será mantida em absoluto sigilo, sendo somente do meu conhecimento e de minha orientadora.

O objetivo deste questionário é conhecer um pouco mais sobre você e sua história de vida. Isso irá ajudar-me a melhorar o meu desempenho como professora, e os resultados deste trabalho poderão ser úteis para outros professores e alunos. Portanto, se você deseja colaborar, por favor, responda as questões propostas abaixo, com atenção e com o máximo de sinceridade. Desde já, agradeço a sua colaboração.

Concorda em participar? Sim ____________ Não ________________________ Assinatura: _______________________________________________________

Questões: 1. Dados pessoais: 1.1 Nome: _____________________________________________________________ 1.2 Data de nascimento: __________________________ Idade: ___________________ 1.3 Local de nascimento: __________________________________________________ 1.4 Estado civil: _________________________________________________________ 1.5 Tem filhos? Sim ______ Não ______ Se tem filhos, responda: quantos? _________ 1.6 Profissão: ___________________________________________________________ 1.7 Trabalha? Sim _______ Não ______ 2. Dados da esposa/esposo (se for casado (a), ou do (a) companheiro (a) se viver com alguém sem ser casado): 2.1 Nome do (a) esposo (a) ou companheiro (a): _________________________________ 2.1 Local de nascimento: __________________________________________________ 2.3 Grau de instrução: ____________________________________________________ 2.4 Profissão: ___________________________________________________________ 2.5 Trabalha: __________ Aposentada: _______________ Desempregada: __________ 3. Dados dos pais 3.1 Dados do pai: 3.1.1 Nome do pai: ______________________________________________________

Page 147: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

3.1.2 Local de nascimento: ________________________________________________ 3.1.3 Grau de instrução: ___________________________________________________ 3.1.4 Profissão: _________________________________________________________ 3.1.5 Trabalha: __________ Aposentado: _______________ Desempregado: ________ 3.2 Dados da mãe: 3.2.1 Nome da mãe: _____________________________________________________ 3.2.2 Local de nascimento: ________________________________________________ 3.2.3 Grau de instrução: ___________________________________________________ 3.2.4 Profissão: _________________________________________________________ 3.2.5 Trabalha: __________ Aposentada: _______________ Desempregada: ________ 4. Fale um pouco mais sobre você: 4.1 Em que série e ano parou de estudar?_____________________________________ 4.2 Por que você parou de estudar? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.3 O que o (a) trouxe para o ProJovem? O que você espera do programa? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.4 O que você espera do programa? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.5 Como você avalia sua leitura e sua escrita? Justifique sua resposta. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.6 Você sente dificuldade para produzir textos? Diga quais são as suas dificuldades. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.7 Você acredita que debates,trocas de informações, leituras e outras atividades que envolvam a oralidade podem facilitar o seu desempenho para produzir textos? Justifique sua resposta. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 148: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.8 Em que modalidade você apresenta maior dificuldade: na modalidade oral ou escrita? Por quê? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.9 Que tipos de atividades, em sua opinião, poderiam ser desenvolvidas, nas aulas de Língua Portuguesa, para que os alunos possam desenvolver com maior competência textos orais e escritos? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 149: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ANEXO B – Questionário 2

Programa de Inclusão de Jovens e Adultos (ProJovem) – Brazlândia

Data de aplicação: 30/06/2007 Professora: Marli Vieira Lins

Prezado (a) Professor, Como é de seu conhecimento, sou professora deste programa. Sou também aluna do

Curso de Mestrado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e estou desenvolvendo uma pesquisa em sala de aula, que fará parte do meu projeto. Para isso, conto com a sua colaboração. A sua identidade será mantida em absoluto sigilo, sendo somente do meu conhecimento e de minha orientadora.

O objetivo deste questionário é conhecer: quais são dificuldades que seus alunos apresentam em relação à Língua Materna, em especial, à produção textual (oral e escrita) e o que você faz para ajudá-los. Isso irá ajudar-me a melhorar o meu desempenho como professora, e os resultados deste trabalho poderão ser úteis para outros professores e alunos. Portanto, se você deseja colaborar, por favor, responda às questões propostas abaixo, com atenção e com o máximo de sinceridade. Desde já, agradeço a sua colaboração.

Concorda em participar? Sim ____________ Não ________________________ Assinatura: _______________________________________________________

Questões:

01- Como você caracterizaria os alunos do ProJovem de Brazlândia? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 02- Quais são as dificuldades que seus alunos apresentam em relação ao ensino de

Língua Materna e o que você faz para supri-las? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 150: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 03- Tendo em vista as dificuldades de produção textual (oral e escrita) apresentadas pelos

alunos do ProJovem (base: Santa Maria e Brazlândia), você acredita que atividades que contemplem a modalidade oral da língua (como por exemplo: debate e reconto de experiências pessoais) podem facilitar a produção escrita desses alunos? Justifique sua resposta.

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 151: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Anexo C – Questionário 3

Programa de Inclusão de Jovens e Adultos (ProJovem) – Brazlândia

Data de aplicação: 23/07/2007 Professora: Marli Vieira Lins

Prezado (a) Professor (a), Como é de seu conhecimento, sou professora deste programa. Sou também aluna do

Curso de Mestrado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e estou desenvolvendo uma pesquisa em sala de aula, que fará parte do meu projeto. Para isso, conto com a sua colaboração. A sua identidade será mantida em absoluto sigilo, sendo somente do meu conhecimento e de minha orientadora. Portanto, se você deseja colaborar, por favor, responda às questões propostas abaixo, com atenção e com o máximo de sinceridade. Desde já, agradeço a sua colaboração.

Concorda em participar? Sim ____________ Não ________________________ Assinatura: _______________________________________________________

Questões:

01-Faça uma breve descrição (levando em consideração os aspectos: pessoais, sociais, econômicos, educacionais e outros que julgar necessários) dos alunos do ProJovem de Brazlândia. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 02-Quais são as dificuldades que seus alunos apresentam em relação à sua disciplina e o que você faz para supri-las? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 03- Tendo em vista as dificuldades de produção textual (oral e escrita) apresentadas pelos alunos do ProJovem (base: Santa Maria e Brazlândia), você acredita que atividades que contemplem a modalidade oral da língua (como por exemplo: debate e reconto de experiências pessoais) podem facilitar a produção escrita desses alunos, ou seja, você acredita que atividades em que o aluno tenha que expor seus pensamentos, apresentar argumentos, defender um ponto de vista etc., (usando inicialmente a fala) podem contribuir para que ele desenvolva com mais segurança as produções escritas que ele faz? Justifique sua resposta. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 152: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 153: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ANEXO D- Questionário 4 PROGRAMA DE INCLUSÃO DE JOVENS E ADULTOS - ProJovem

Data de aplicação: ____________________ Aluno (a):_____________________________________________ Prezado (a) aluno (a): Estamos finalizando a coleta de informações que faz parte da pesquisa – A sala de

aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição para o desenvolvimento da competência

comunicativa do aluno. Assim, é extremamente relevante perceber em que medida as

atividades contempladas em sala de aula (debates, entrevistas, leitura e produção de textos

orais e escritos) foram importantes para o seu desenvolvimento.

Com esse intuito, gostaria que você respondesse às questões propostas com o

máximo de atenção e sinceridade. Desde já agradeço. Professora, Marli.

Você concorda em respondê-las?

Sim ( )

Não ( )

Questões: 01- A pesquisa realizada teve como objetivo principal desenvolver sua competência comunicativa, através de atividades que o (a) levassem a produzir textos orais e escritos com maior segurança. Em sua opinião, esse objetivo foi alcançado? Explique. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 02- Levando-se em consideração a necessidade de “desenvolver” a linguagem dos alunos do ProJovem, que mudança (s) essa pesquisa trouxe para você em relação à sua fala e à sua escrita? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 03- Em relação à professora, responda: a - Você acha que a postura adotada pela professora-pesquisadora em sala de aula, contribuiu para que você tivesse uma maior participação nas atividades propostas? Justifique. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 154: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b-Como você caracterizaria a professora-pesquisadora? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ c - Dentre as atividades desenvolvidas na sala de aula, qual (is) que você mais gostou de participar? Por quê? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ d - Você acredita que quando o professor reforça as idéias expostas pelo aluno, esse (o aluno) sente-se mais seguro para participar das atividades realizadas em sala de aula? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ e- Que sentimentos você teve no decorrer das atividades propostas? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 155: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ANEXO E – História de vida oral dos alunos do ProJovem de Brazlândia A história de vida (oral) de cada aluno participante da pesquisa (Filmada em fita de vídeo. Filmadora PANASONIC-NV-ZZ175-700X-DIGITAL.)

Começo a atividade conversando com a aluna Laura. Nesse momento, justifico o que me

motivou a desenvolver essa atividade com cada educando, conforme pode ser observado no

exemplo a seguir:

Entrevista 1 – Introdução à conversa Pp: (incompreensível) é muito importante conhecer a história de vida de vocês, as

dificuldades, as facilidades que vocês passaram pela vida de vocês, tá? Até para que eu possa

ajudá-los um pouco mais. Conhecendo a história de vocês, eu posso traçar caminhos e

desenvolver atividades que atendam às necessidades educacionais de cada um que está

envolvido nesse trabalho. Então... eu gostaria que você me falasse rapidinho sobre alguns

pontos da sua vida. Vamos lá?

((Depois dessa breve introdução, faço a primeira pergunta, que abarca aspectos familiares)). Falando sobre a família e sobre a infância

Pp: Laura, como é a sua família?

Laura : bem, professora, minha família não é bem unida, é (pausa curta) eu sou assim

adotada. O meu pai veio a falecer quando eu tinha dez anos de idade, daí a minha mãe

verdadeira que é minha mãe de criação... ela me criou. Quando o meu pai veio a falecer, a

minha mãe de verdade teve bastante dificuldade, daí a minha mãe de criação me pegou para

viver com ela até mais ou menos catorze anos de idade. Com catorze anos, eu (pausa curta)

conheci um rapaz que se chama Paulo ((nome fictício)), na época, ele tinha dezoito anos e

(pausa curta) a gente ficou namorando um tempo, aí eu fiquei grávida dele, com catorze anos,

e (pausa curta) eu tive a minha filhinha que hoje ela tem ...vai fazer onze anos agora...Fui viver

com ele e morar na casa da minha sogra, em casas separadas (...) e (pausa curta) sou muito

feliz...

Pp: Laura o que mais te marcou na sua infância?

A aluna prontamente responde que foi a lembrança de seu pai, principalmente a sua

morte. ((E, ao mencionar o pai, ela chora)). Em relação à adolescência, aluna coloca que o que mais a marcou foi a construção de

sua vida ao lado do marido.

Quanto à vida adulta, a aluna destaca que o seu maior sonho é concluir os estudos.

Ao ler a história de vida da aluna até o presente momento, verifica-se que ela dá maior

ênfase às questões emocionais e só reforça a questão do estudo na vida adulta. Eu aproveitei

esse destaque e retomei uma pergunta realizada no questionário inicial. Veja:

Page 156: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A vida escolar I Pp: ... Laura, teve um momento em que você largou os estudos, nesse momento, você

estava com quantos anos?

Laura: com catorze, quando eu fiquei grávida.

Pp: daí você passou quantos anos sem estudar?

Laura: eu voltei a estudar com dezesseis anos, mas logo parei porque aconteceu algo

muito ruim comigo no caminho para a escola. Eu fiquei um bocado de tempo sem sair de casa,

morrendo de medo e parei de estudar.

Pp: foi por isso que você não foi mais para a escola?

Laura: foi, eu parei de totalmente de ir à escola, eu tinha medo de sair até na rua.

Consideradas as colocações da aluna, percebe-se claramente que o fato de ela ter

abandonado a escola ainda sem conclui-la deve-se a dois fatos: (i) a gravidez aos catorze anos

e (ii) um problema que aconteceu a caminho da escola e que fez com que ela tivesse medo de

voltar a esse local.

Diferentemente do que apontam algumas pesquisas e até mesmo alguns jovens

quando perguntados pelos reais motivos que os levaram à evasão escolar, Laura não

responsabiliza a escola por sua decisão. Quando perguntada sobre o que de fato a fez parar

de estudar, a aluna responde:

A vida escolar II Pp: então o fato de você ter parado de estudar inicialmente foi porque você ficou

grávida, e o segundo motivo foi o problema próximo à escola. Então, o motivo pelo qual você

parou de estudar não foi porque a escola era ruim, porque a escola não prestava, porque não

tinha nada que te ajudasse...Não foi por conta disso, foi por problemas de ordem pessoal. E

hoje quando você volta e vem participar do ProJovem você volta com o intuito de terminar seus

estudos e completar aquilo que você não terminou. É isso?

Laura: é isso.

Ao ler o relato da aluna, é possível perceber que ela passou por algumas situações que

deixaram marcas profundas em sua vida, como, por exemplo, a perda de seu pai ainda na

infância.

Quanto à questão escolar, nota-se que, devido a problemas de ordem pessoal a

educanda ficou impossibilitada de concluir os estudos no tempo adequado,mas que naquele

momento, buscava no ProJovem uma segunda oportunidade para realizar seus sonhos.

Page 157: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Agora, apresenta-se a história de vida da aluna Janaína.

Antes de começar a conversar com Janaína percebi pela sua fala que ela não estava

querendo participar da atividade proposta, mas com um jeitinho consegui a sua participação,

por isso começo a entrevistá-la com a seguinte pergunta:

Entrevista 2 – Introdução à conversa

Pp: por que você não queria ser entrevistada?

Janaína: porque eu tava com vergonha.

Pp: então vamos lá, deixa eu tirar a sua vergonha ta? Por que eu estou fazendo essa

entrevista com vocês e pedindo que vocês escrevam? Uma das grandes reclamações que os

alunos têm de maneira geral é que o professor (pausa curta) não ajuda o aluno porque ele não

conhece as dificuldades que o aluno tem (pausa curta). Partindo desse princípio (pausa curta)

eu acho que quando eu conheço a tua história de vida (pausa curta) eu posso tentar intervir em

alguma coisa pra tentar te ajudar em sala de aula é esse o objetivo da entrevista ta? Então

, como é a tua família? Fala um pouquinho. Pode ser bem sucinta ta?

A família Janaína: eu moro com uma amiga (pausa curta), mas tenho bastante contato com

meus pais.

Pp: e teus pais moram onde?

Janaína: moram no INCRA 6.

Pp: no INCRA 6 e você tem irmãos?

Janaína: tenho quatro

(...)

Pp: a tua família passou por dificuldades no decorrer da tua vida, da tua infância?

Janaína: ((silêncio)) eu acho que sim pelos estudos que eles não tiveram

(incompreensível) eles tinham que decidir ou trabalho ou escola, os meus pais não têm aquela

coisa de ter um diploma, mas eles têm conhecimento.

Pp: e seus pais vieram de onde?

Janaína: de Minas.

Pp: do interior de Minas é isso:

Janaína: é ((gesto Positivo)) A infância

Pp: a tua infância o que mais te marcou? Quando você olha para traz e pensa isso

daqui foi engraçado, foi bom.

Janaína: ah, minha vida inteira foi engraçada né? ((risos))

Page 158: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pp: é engraçada, eu entendo isso ((risos)) Janaína: ah, minha vida foi tão boa, acho que tudo foi bom...

(...)

(...)

A Adolescência Pp: e a tua adolescência o que mais te marcou na tua adolescência? Pode ser tanto no

aspecto positivo quanto no negativo.

Janaína: ah (pausa curta) eu acho que foi negativo, foi quando eu parei de estudar né?

(incompreensível).

Pp: e você tinha quantos anos?

Janaína: ah (pausa curta) eu acho que tinha uns catorze.

Pp: e você estava em qual série mais ou menos?

Janaína: na 6ª.

Pp: na 6ª

Pp: e (pausa curta) essa, essa saída da escola foi opção sua?

Janaína: foi eu quem quis mesmo.

Pp: então (pausa curta) assim você disse não quero mais e por quê? Por que você

disse que não queria ficar na escola? De hoje em diante vou viver uma outra vida.

Janaína: porque eu achava que não tinha mais capacidade de estudar e completar os

estudos e aí ia complicar mais...

Pp: você achava difícil? Janaína: ((gestos Positivos)) Pp: então você saiu da escola por causa das dificuldades que você tinha?

Janaína: é.

Pp: o fato de você ter largado a escola com 14, 15 anos na 6ª série, você já estava

atrasada, você já tava atrasada.

Janaína: não...

Pp: sim porque na 6ª série são 12 ou 13 anos e você já estava com 14 ou 15 anos, já

esta atrasada.

Pp: e você estava atrasada por quê? Você repetiu algum ano? Você entrou tarde?

Janaína: não, não eu entrei tarde.

Pp: é (pausa curta) então foi uma decisão sua ter saído da escola, mas você acha que

se os professores tivessem te dado uma chance, tivessem ficado mais perto de você, tivessem

te dado uma ajuda você teria ficado?

Janaína: se fossem igual a você, sim.

Janaína: eu acho que teria sido mais fácil é tanto que (incompreensível) eu gostava da

Maria (nome fictício), mas nem tanto eu gostava mas não achava que ela fosse aquela

(professora), mas quando você entrou que eu acho que ajudou bastante que ...

Pp: então eu posso pensar que eu sou a professora!

Page 159: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Janaína: lembra que você falou para mim que ia fazer um trabalho da sua escola e

(pausa média)

Pp: ah...

Janaína: ...ai eu falei claro que eu vou fazer vai me ajudar, então...

Pp: eu me lembro disso ((risos)) eu me lembro acho que ((agora quem vai chorar sou eu)) ((não é justo)).

Janaína: ((risos)) Pp: (pausa curta)... assim eu agradeço muito a participação de vocês na pesquisa

porque o meu objetivo é ajudar vocês ao máximo que puder e não é só na pesquisa eu não

quero só concluir o meu curso e vocês se aprender, aprendeu...

Janaína: é isso que falo.

Pp: é esse o diferencial.

Janaína: é igual tem professor que chega na sala a gente pede explicação e ele fala:

eu já fiz a minha parte agora você aprende se você quiser, num é assim! E acho que como

você explica tudo direitinho...

Pp: e vai e volta e briga né?((risos)). Janaína: você sempre pergunta: Entenderam? Não. E vai e explica de novo e tem

aquela paciência não é aquela coisa de vocês não entenderam então o problema é seu.

((risos)) Pp: então você acha que este trabalho diferenciado que é dado nas aulas de português

ta te ajudando?

Janaína: ta

Pp: ótimo.

...

Pp: o que foi legal na tua adolescência?

Janaína: ah (pausa curta) eu não sei se foi legal, mas eu acho que foi a decisão de ter

saído de casa (pausa curta) acho que foi bem...

Pp: bem radical.

Pp: foi meio radical né?

Janaína: é.

Pp: e você saiu de casa com quantos anos? Com 14?

Janaína: não foi com 16.

Pp: e já foi morar sozinha ou foi morar com essa amiga?

Janaína: fui morar com minha amiga.

Pp: já foi morar com sua amiga.

Pp: e aí como você conseguiu se virar porque você não tinha emprego tinha?

Janaína: não ((risos)) Pp: então vocês viviam de quê?

Janaína: (incompreensível) ah, a gente trabalhava de fazer bico, bico, já cheguei a

trabalhar, morar na casa de uma amiga que teve o filho dela e confiava em mim ou nessa

Page 160: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

minha amiga (...) Igual eu falei pra os meninos que (pausa curta) eu tinha largado um emprego

para vim para o ProJovem porque eu achava que já tava na hora de estudar, aí foi quando eu

sai de lá, eu não queria sair não por causa da neném, mas saí.

Pp: eu acho você uma pessoa muito corajosa!

...

Pp: quantos anos você ficou sem estudar Janaína?

Janaína: uns cinco anos.

Pp: uns cinco anos.

Pp: e durante esses cinco anos você pensava, eu preciso voltar para a escola, eu sinto

falta da escola?

Janaína: não, eu cheguei a voltar, ia para escola e desistia... (incompreensível) por

causa de amizades...

(...)

A vida adulta Pp: e hoje na tua vida adulta o que é mais importante para você?

Janaína: terminar os meus estudos... fazer uma faculdade de educação física...

Pp: por que você quer fazer educação física?

Janaína: porque é legal.

(...)

Pp: hoje qual é a função da escola na tua vida? Por que a educação é importante para

você?

Janaína: a educação é tudo.

Pp: antes você pensava assim?

Janaína: não

Pp: não

Pp: e porque hoje você pensa assim? Porque você sentiu falta?

Janaína: é (...) É difícil arrumar emprego... imagine sem educação ((risos)). Pp: o ProJovem está sendo importante para você? Então valeu a pena ter largado um

emprego e ter vindo para o ProJovem foi uma boa escolha na tua vida?

Janaína: com certeza

Pp: então valeu a pena.

Janaína: valeu a pena.

Retomando a questão estudantil, Janaína revela que os fatores que motivaram sua

saída precoce do âmbito escolar foram:

• Porque eu achava que não tinha mais capacidade de estudar e completar os

estudos e aí ia complicar mais.

Page 161: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

• Não, eu cheguei a voltar, ia para escola e desistia... (incompreensível) por causa de amizades...

Quando perguntada se o programa estava sendo útil à sua formação, a aluna

responde:

Pp: o ProJovem está sendo importante para você? Então valeu a pena ter largado um

emprego e ter vindo para o ProJovem foi uma boa escolha na tua vida?

Janaína: com certeza

A seguir será apresentada a história de vida de Jeferson.

Entrevista 3 – Introdução à conversa Pp: por que eu pedi que vocês escrevessem sobre a vida de vocês, porque às vezes o

aluno tem dificuldades, e eu não sei, eu não consigo o ajudar porque eu não sei o motivo dessa

dificuldade ta? Então eu quero saber um pouquinho sobre a sua vida até para eu te ajudar

melhor, ta, então eu vou fazendo umas perguntinhas e você vai respondendo ta?

A família

Pp: é (pausa curta) Jeferson, fala um pouquinho sobre a tua família, você tem pai, tem

mãe?

Jeferson: é (pausa curta) eu moro com minha mãe, minha mãe tem, tem oito filhos.

Jéferson: (incompreensível) são quatro mulheres e quatro homens.

A infância e a escola Pp: Jeferson, o que foi importante para você na sua infância?

Jeferson: ah (pausa curta) me trazia alegria ir para a escola

Pp: então na tua infância o que mais te marcou foi o fato de você ter estudado?

Jeferson: foi (pausa curta) a partir dos 11 aos 18 foi.

Pp: então você começou a estudar com quantos anos?

Jeferson: com 11.

Pp: por que você começou a estudar com 11 anos?

Jeferson: porque a minha mãe andava muito pelo mundo, aí não tinha como a gente

estudar.

Pp: aí não tinha condições de vocês ficarem numa escola é isso?

Jeferson: é isso.

Pp: ah entendi, então esse tempo que você foi para a escola foi um tempo bom de

descoberta. Então é importante para você?

Jeferson: foi.

Pp: Jeferson e o que você achava da escola com 11 anos? Você gostava da escola?

Jeferson: ah, eu achava melhor que a de hoje.

Page 162: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pp: por que você achava melhor que a de hoje qual é a diferença?

Jeferson: porque a escola antigamente não tinha (pausa curta) o lanche era melhor, a

educação era melhor.

Pp: os professores eram mais rígidos, mais bonzinhos ou a mesma coisa?

Jeferson: eram tranqüilos.

A adolescência e a escola Pp: Jeferson o que foi importante para você na sua adolescência?

Jeferson: com quantos anos é a adolescência?

Pp: por volta dos 12 aos 18. O que mais te marcou?

Jeferson: não sei professora.

Pp: não sabe você? Você aparou de estudar com quantos anos?

Jeferson: eu parei de estudar com 19.

Pp: mas você não falou que estudou dos 11 aos 14 anos?

Jeferson: parei de estudar, ah (pausa curta).

Pp: você parou de estudar com quantos anos?

Jeferson: parei de estudar com 17 anos, foi parei só um ano, só um.

Pp: com 17.

Pp: aí você estava em qual série?

Jeferson: na 4ª.

Pp: hoje você tem quantos anos?

Jeferson: 20.

Pp: e aí você volta para a escola para você fazer as outras séries? Como foi isso?

Jeferson: (...) passei para a 5ª e fui estudar de noite...

Pp: aí você conseguiu estudar até que série?

Jeferson: até a 8ª.

Pp: e (pausa curta) essa história de vai e volta pra escola, você acha que essas idas e

vindas da escola, e esses anos que você parou, você parou porque a escola era ruim, porque

não te ajudava... ou houve outro motivo?

Jeferson: teve outro motivo.

Pp: você pode falar?

Jeferson: o motivo era que eu morava na chácara aí eu não tinha como ir para a

escola...

Pp: então por causa de problemas pessoais você teve que parar de estudar?

Jeferson: é

A vida adulta

Pp: hoje você volta para o ProJovem e volta para concluir seus estudos, e conseguir

um diploma não é isso? Qual é o seu maior sonho hoje?

Page 163: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Jeferson: terminar os estudos.

Pp: terminar os estudos, você tem uma profissão que você gostaria de seguir?

Jeferson: ainda não.

Pp: não.

Pp: é (pausa curta) Jeferson pra gente terminar a nossa conversa, qual a importância

da educação para você? Por que a educação é importante?

Jeferson: ((silêncio)) Jeferson: é fazer a pessoa crescer.

Pp: então você acha que o Projovem vai ser importante na sua vida?

Jeferson: com certeza.

Pp: você acha que está aprendendo?

Jeferson: tou.

Pp: então você acha que o que você está aprendendo vai ser importante para você no

2º grau?

Jeferson: mais ou menos.

Pp: mais de qualquer forma está te ajudando?

Jeferson: ta, ta.

Na história de Jeferson, percebe-se que ele viveu a infância e a adolescência de

maneira muito instável e isso foi determinante para a sua vida escolar. O fato de sua mãe viajar

o tempo todo e a impossibilidade de se manter em uma escola por muito tempo atrapalharam

bastante os estudos de Jeferson.

A próxima história é da aluna Fernanda.

Entrevista 4 – Introdução à conversa

Pp: Fernanda (pausa curta) é muito importante conhecer a história de vida do aluno,

porque se eu não conhecer as dificuldades que você passou ao longo da sua vida, eu também

não tenho como ajudá-la né? Então eu vou fazer umas perguntinhas pra gente ir conversando,

é bem rapidinho, ta?

A família Pp: na hora da atividade lá na sala você falou que sua história é muito triste e isto me

chamou bastante a atenção.

Pp: Fernanda, fala um pouquinho de sua família, você tem mãe, tem pai, tem irmãos?

Como se constituiu a sua família?

Fernanda: pai (pausa curta) até tenho porque todo mundo tem , só que (pausa curta)

nunca vi, tenho irmãos (incompreensível), tenho mãe também que só veio fazer parte da minha

vida com 17 anos. Então...

Page 164: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pp: então com quem você viveu?

Fernanda: com minha avó, na verdade quando ela (a aluna refere-se a sua mãe) se

separou do marido ela falou vou viver a minha vida.

Pp: isso a sua mãe?

Fernanda: minha mãe. Ela largou o marido porque ele batia nela então ela acabou a

vida de casada, de ter uma família e foi viver a vida dela e falou que (pausa curta) ia deixar a

gente com qualquer pessoa, então minha avó disse: eu pego, eu crio elas e pegou

(incompreensível).

Pp: e é você e quantos irmãos?

Fernanda: na época, era eu e duas irmãs uma de dois e uma de um.

Pp: então vocês viveram com sua avó por causa desses problemas e todos vocês

viveram com sua avó e só aos 17 anos que você conheceu a sua mãe?

Fernanda: conheceu (pausa curta) eu já, já conhecia, a gente só se falava por telefone.

Pp: Então só a partir dos 17 anos que você conviveu com sua mãe.

Pp: Fernanda, como foi essa convivência? Foi fácil? Foi difícil?

Fernanda: foi difícil porque num primeiro momento ela queria que eu chamasse de

mãe, eu ((sem consideração)) porque uma coisa (incompreensível) Chegar aos 17 anos já

adolescente e falar mãe como chamar mãe? Eu não tinha aquela coisa...

Pp: e hoje como está o relacionamento de vocês, está mais fácil, mais difícil?

Fernanda: foi difícil até eu ter a minha filha, minha filha ajudou a gente se aproximar,

mas eu ainda acho difícil, às vezes, às vezes... eu me sinto melhor com uma amiga, com outra

pessoa do que com ela. Às vezes ela chega na minha casa , eu fico assim meu Deus o que é

que eu vou falar? Alguns dias ela chegou na minha casa e falou assim: a Carla (nome fictício)

está aí, ela está acordada, e eu respondi que não, que ela estava dormindo, então eu não vou

nem entrar eu queria dar um beijo na Bárbara, então eu fiquei assim... A Carla é minha filha, eu

pensei gente, ela não me considera! Ela porque ela está com intenção só na Carla e eu?

A infância Pp: diante de todas essas dificuldades que você passou como foi a sua infância?

Fernanda: foi difícil foi difícil não tive infância nenhuma porque tive que trabalhar cedo.

Pp: com quantos anos você começou a trabalhar?

Fernanda: ih! Com 9 anos eu já tive que ir para a casa das pessoas pra ter o que

comer, eu arrumava a casa para ganhar comida e depois eu ia para a casa de uma amiga.

Pp: e você teve acesso à escola na sua infância, você chegou a estudar? Ou só

depois?

Fernanda: ah! Eu até estava... ((risos)) eu ia um mês e outro não, porque quando a

gente tem uma pessoa que fala vai estudar é bom pra você a gente vai para a escola e quando

é jogado, eu me sentia jogada!

Pp: então por causa da falta de incentivo você não tinha vontade de ir para a escola foi

isso?

Page 165: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Fernanda: foi.

A adolescência Pp: e a sua adolescência, como você caracteriza o que mais te marcou?

Fernanda: a minha adolescência, eu graças a Deus eu sempre fui aquela pessoa que

pensei antes de fazer, sempre via apesar de não ser criada por uma mãe, porque a melhor

coisa do mundo é ser criada por uma mãe.

Pp: ser orientada, ter uma orientação...

Fernanda: é. Eu sempre tive uma colega que me ajudava a conhecer as coisas que eu

não sabia que eu queria saber as curiosidades que a gente tem então eu sempre me reunia

com essas colegas que a gente mais via e ia descobrindo as coisas...

Pp: teve alguma coisa que marcou a tua adolescência? Alguma coisa que você olha

para traz e fala isso me marcou muito?

Fernanda: assim, teve que a gente assim marcou como assim?

Pp: que foi importante, por exemplo, quando eu olho para a minha adolescência eu

lembro que eu quase fui reprovada por causa de más influências.

Fernanda: assim (incompreensível) às vezes eu me lembro meu Deus, como se fala

que não teve orientação (incompreensível) as amizades que ficavam me chamando para ir

para a casa das colegas e isso foi ruim para mim e eu perdi muito tempo e eu lembro meu

Deus não era para eu estar estudando onde eu estou hoje, então é coisa que mais eu fico

pensando. O meu marido olha pra minha cara e fala: você tem que ficar em casa olhando a

Bárbara porque eu não estudei porque eu não quis, mas não é isso (pausa curta) a pessoa que

tem uma orientação e tem uma estrutura de família ela vai, vai, eu (incompreensível).

Pp Fernanda quando você fala às vezes eu tinha vontade de estudar e tal, mas aí a

própria dificuldade fazia com que eu faltasse aula. Fernanda, o fato de você não ter estudado

não porque a escola é ruim, mas sim por causa das amizades?

Fernanda: é (incompreensível)

A vida adulta Pp: em relação a tua vida hoje, como está a tua vida hoje? Melhorou em relação a tua

infância e a tua adolescência? O que tem de bom hoje na tua vida?

Fernanda: melhorou bastante, hoje eu posso dizer que eu vivo.

Pp: o que quer dizer hoje eu vivo?

Fernanda: antes (incompreensível) a minha vó me batia muito, tanto ela, os tios, as

tias e até hoje eu fico pensando porque ela me batia, batia só em mim. E hoje eu vivo bem

ninguém me bate, meu marido é bom pra mim tive sorte, eu sou feliz porque tenho tudo que eu

quero , ele me dá (incompreensível).

Pp: por que sua vó te tratava de um jeito e sua irmã de outro jeito?

Fernanda: eu não sei explicar.

Pp: você não sabe até hoje! ((Choro da aluna))

Page 166: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pp: qual é o teu maior sonho hoje?

Fernanda: me formar em enfermeira. ((limpa os olhos)) (...)

Pp: e qual é a função da escola hoje na tua vida? O que você veio buscar no

ProJovem?

Fernanda: realizar o meu sonho (incompreensível)... se eu não estudar não posso

fazer um concurso.

Pp: Fernanda quando você largou a escola, você não largou a escola porque a escola

era ruim, mas porque não tinha um incentivo para estar na escola é isso?

Fernanda: é isso.

Pp: você volta porque a educação é importante e só com ela você poderá realizar o

seu sonho.

Fernanda: É isso.

Ao analisar a história de vida de Fernanda, percebe-se a sua vida de criança e de

adolescente foi muito sofrida e que ela só começou a ser feliz na vida adulta. Quanto à vida

escolar, a educanda pontua-se que:

• Começou a trabalhar desde os nove anos de idade e isso já atrapalhou seu

percurso escolar.

• Que não tenha incentivo em casa para que ela fosse para a escola.

• As amizades atrapalharam-na a desenvolver-se na escola

• Na vida adulta, ela reconhece no ProJovem a possibilidade de realizar o seu

grande sonho que é ser enfermeira.

Finalizando as histórias dos alunos, apresento agora a história de vida da aluna Maria

das Graças.

Entrevista 5 – Introdução à conversa

Pp:... porque na Educação de Jovens e Adultos a gente sabe que quando vocês

chegaram aqui, vocês já passaram pela escola, já tiveram problemas, alegrias, tristezas, e às

vezes a gente não entende porque o aluno não estuda, porque o aluno não quer ler, o aluno

tem dificuldades e quando a gente conhece essa dificuldade, conhece um pouquinho sua

história de vida, isso me ajuda a entender um pouquinho suas dificuldades em sala de aula, ta?

Então é isso fique tranqüila.

Pp: é (pausa curta) eu só quero te dizer uma coisa que eu fiquei muito feliz quando

você resolveu participar na sexta-feira, porque até então você não tinha participado de nada

ainda e quando você disse professora, eu quero ficar isso foi muito importante, ta?

Page 167: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A família Pp: então Maria eu queria que você falasse um pouquinho de sua vida, sua família,

como é a sua família?

Maria: ih minha família é muito grande, minha mãe tem 12 filhos.

Maria: (incompreensível) era uma situação muito difícil, aí eu tive que vim para cá né?

E minha mãe ficou lá no Nordeste.

Pp: em que local do Nordeste?

Maria: no Maranhão.

Pp: seu pai trabalhava na roça no Maranhão?

Maria: (incompreensível)

Pp: então você acha que sua família não passa por uma situação fácil? (...) Você

considera a sua família feliz?

Maria: considero.

Pp: por quê?

Maria: porque a gente nunca teve problema assim de saúde (...).

Pp: e a tua infância o que teve de importante?

Maria: eu não fui criada por minha família.

Pp: e foi criada por quem?

Maria: por minha avó.

Maria: eu comecei a estudar muito tarde.

Pp: com quantos anos você começou a estudar?

Maria: com 11 anos.

Pp: e foi lá no Maranhão ou foi aqui?

Maria: foi lá.

Pp: e aí você estudou até que série lá no Maranhão?

Maria: até a quarta.

Pp: aí de lá você veio para cá?

Maria: é vim com 14 anos.

Pp: aí você continuou ou parou de estudar?

Maria: eu vim para cá para trabalhar.

(...)

Pp: aí você tinha esse problema de ter que trabalhar e aí você teve que parar?

Maria: isso.

Pp: aí você parou de estudar com quantos anos e em que série?

Maria: eu parei com quinze anos e na sexta série.

Pp: então você parou de estudar na sexta série.

Maria: na sexta série.

Page 168: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A Adolescência Pp: Maria e o que mais te marcou na tua adolescência? O que foi mais importante

nessa idade?

Maria: a minha adolescência também não foi fácil, porque eu tive que trabalhar e

mandar dinheiro para o meu pai (incompreensível).

Maria: e passa tão rápido que quando a gente vê já tem filho...

Pp: e a tua vida com quantos anos você casou?

Maria: casar, assim com dezenove anos e hoje eu tenho dois filhos.

A vida adulta Pp: e hoje na tua vida adulta qual é o teu maior sonho?

Maria: hoje meu sonho é terminar meus estudos, né?

Maria: é terminar meus estudos, conquistar a minha casa própria né?

Pp: e você tem uma profissão que queria ser?

Maria: tenho.

Pp: qual?

Maria: quero ser veterinária.

Pp: quer ser veterinária...

Pp: muito bem.

Pp: pelo que você me fala, você deixou de estudar por outros motivos, não foi por

causa da escola, então não é porque a escola é ruim.

Maria: não eu acho (incompreensível) foi porque eu tive dificuldades mesmo, quando

eu trabalhava, era difícil.

Pp: por que a educação é importante para você?

Maria: eu acho que a educação é tudo, porque se a pessoa não tem educação ela não

chega a lugar nenhum.

Pp: e você passa isso para seus filhos também?

Maria: passo também para os meus filhos.

A história narrada por Maria, dentre todas as narradas até aqui é a que mais me chama

a atenção, porque pela sua fala, é possível ver claramente que ela realmente não teve

oportunidade de estudar. Desde cedo teve que trabalhar, e essa necessidade foi tão intensa a

ponto de ela ter que sair de sua terra natal e ter que vir buscar aqui em Brasília uma fonte de

sustento para si e para a sua família. Evidencia-se que o fato de ela estar no ProJovem deve-

se a: impossibilidade de ter estudado e concluído seus estudos e a certeza que agora ela

poderia estar mais perto de realizar o seu sonho de terminar seus estudos e, quem sabe um

dia tornar-se uma veterinária.

Page 169: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ANEXO F - A História de vida dos alunos participantes da pesquisa (textos escritos)

Aluna: Laura

Minha mãe se chama Marta (nome fictício), ela tem 63 anos 9 filhos legítimos 10

comigo que sou adotiva.No ano de 1993 meu pai adotivo veio a falecer, daí viemos para

Brasília. Aqui passamos por muitas dificuldades, principalmente financeiras, mas graças a

Deus vencemos e hoje estamos todos criados.

Na minha infância tive muitos momentos felizes com meu pai morávamos em uma

fazenda muito linda onde meu pai féis um balanço para mim na árvore que ficava em frente

à casa e sempre a tarde quando chegava do trabalho me balançava,minha mãe estava

sempre brava, mas meu pai não ligava ele estava sempre feliz e brincava muito comigo eu

mim lembro quando ele tirava leite da vaca direto no copo e brincávamos de fazer bigodinho

e quando ele subia na mangueira e tirava manga e depois sentávamos embaixo dela íamos

comer. Mas infelizmente no dia 15/02/1992 quando eu tinha apenas 10 anos ele sofreu um

acidente e veio a falecer este foi o dia mais triste da minha vida.

Na minha adolescência quando eu tinha 14 anos eu conheci meu namorado na escola

ele tinha 18 anos.Namoramos por um tempo ai tive minha primeira experiência sexual com

ele, logo fiquei grávida. A coisa mais maravilhosa que aconteceu na minha adolescência foi

quando minha filha nasceu.

Hoje ainda estamos juntos e muito felizes, eu estou com 24 anos e ele com 28, eu

estou em busca de terminar meus estudos e fazer uma faculdade de estilismo e também

realizar um outro sonho que é ver minha filha também formada.

Page 170: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Aluna: Janaína

O nome de meu pai é Balbino de Paula Rocha e o da minha mãe é Pedra Fonseca Rocha, eles

moram no INCRA 06 , no interior de minas gerais, eles são agricultores é vivem aqui em

Brasília.

Graças a Deus minha infância foi muito boa não me faltou carinho, todos gostam

muito de mim, eu brinquei muito, fiz bastante amizade, adorava quando eu chegava da

escola e saia escondido pra brincar é brincar bastante.

A minha adolescência não foi tão boa assim, eu parei de estudar, me afastei de

todos os meus colegas, mas graças a Deus eu sempre tive meus pais, resumindo sempre tive

a Juliana uma grande amiga para todas as horas.

No momento, eu tenho me esforçado baste pra conseguir terminar meus estudos e

ter um emprego honesto, pretendo fazer uma faculdade de educação física.

Tem bastante importância porque é através da escola que eu vou conseguir

construir minha família dar um futuro digno para os meus filhos e ser uma grande pessoa.

Aluno: Jeferson

Na minha família tem seis pessoas, eu a minha mãe e mais três pessoas, a minha mãe tem

40 anos eu sou mais velho eu tenho 20 anos e o segundo mais velho tem 19 anos e o terceiro

tem 17 anos o outro tem 2 anos de idade.O meu segundo irmão mais velho gosta de ficar os

amigos (as) e o terceira mais gosta de ir para a cachoeira e para uma festa, e o mais novo

gosta de brincar bem muito a minha sempre foi uma pessoas muito trabalhadora ela nos

criou.

A minha infância foi viajando pela estrada a minha mãe nunca para num lugar

para nós estudar. Eu comecei a estuda aos 11 anos de idade e também reprovei duas vezes

Page 171: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

mais eu nunca desistir de estudar. Na minha faze adulta ainda não fia nada de errado

graças a Deus e eu quero continuar assim estudando e quero forma uma família quando eu

estiver 25 anos de idade.

A importância da escola para mim,que eu possa aprender da fez mais e eu possa

crescer com mais responsabilidade para de acordo da minha família e tem certeza que vou

aprende mais na escola que eu estou.

Aluna: Fernanda

A minha família não foi bem uma família mas foi a que Deus mideu, eu so conheso a minha

mãe, avô, tios etc minha mãe mora em Brazlândia, minha avô já morreu e morava no Piauí

Não foi fácio tive que trabalha cedo fui bastante umilhado mas consegui vence a

vida hoje me cinto vencedora a minha infância não foi boa, mas também não foi ruim.

A persa da minha triste da minha história a minha adolescência fui bastante

responsável nas minhas atitudes mas infelizmente não pude estudar isso foi marcante

porque cem estudo não somos ninguém A família que eu construir prisipalmente a minha

filha não trabalho mas meu sonho e mim forma em enfermagem e vive bem.A escola

vai me ajudar a realiza meus sonho não so isso mas também para o nosso dia – a – dia

das nossas vidas.

Aluna: Maria das Graças

Minha história de vida é essa: A minha família é muito grande, os meus pais moram

no Nordeste e nasceram lá. O meu pai trabalha na roça, e minha mãe cuida da casa.

A minha infância foi dura porque não tive oportunidade de estudar cedo,

porque eu morava no interior e ficava muito longe da escola.

Page 172: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A minha adolescência não foi fácil porque comecei a trabalhar muito cedo e não tive

muito tempo para me divertir.

Agora na minha vida adulta eu quero terminar o ensino médio e fazer faculdade de

veterinária e no futuro conquistar um bom emprego e no futuro ter condições de pagar um

bom estudo para os meus filhos. A escola é muito importante porque sem ela não

conseguirei terminar meus estudos e sem ela, no futuro meus filhos não terão educação.

Page 173: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ANEXO G - O debate sobre diminuição da idade penal

A seguir será apresentada a transcrição do debate sobre a diminuição da idade penal.

Pp: então a gente vai falar hoje sobre a: sobre a questão da idade penal ta? O que

significa isso? O que é diminuir a idade penal? No Brasil, com quantos anos uma pessoa

(pausa curta) quando ela comete um crime com quantos anos ela é presa gente?

Jeferson: 18.

Pp: com dezoito. (0:20)

Pp: vocês concordam com isso? Vocês acham certo só com 18 anos a pessoa pode

ser penalizada?

Janaína e Maria: não. ((gestos negativos)). Pp: agora, o que é que é, o que é esta questão da diminuição da idade penal? É tirar

de 18 anos e colocar para quantos?

Laura: para 16. ((respondeu perguntando)) Pp: para 16 anos.

Pp: primeiro. Diminuição da idade penal. O que é isso? O que é diminuir a idade penal

para vocês? ((silêncio)). O que é? Vocês acabaram de dar uma opinião sobre isso, mas o que

é para vocês diminuir a idade penal?

Laura : é pessoas com menos idade vai cometer um crime e vai pagar pelo que feiz.

Pp: ah! (6:30) Então o que é que a gente tem ainda na nossa sociedade hoje?

Pp: quem é punido? Quem é punido? As pessoas com quantos anos?

A: com 18.

Pp: o que acontece quando uma pessoa comete um crime com 16 anos, 17. Ele é

punido?

A: não

Pp: vocês concordam que deve diminuir essa idade dos 18 para os 16?

Fernanda: sim.

Pp: Por que Fernanda?

Fernanda: Pra diminuir a violência, porque os (pausa curta) tipo tem um grupinho ai

tem um chefe e o chefe bota os menores para fazer matar, roubar e se esconde. Manda eles

porque sabe que eles não são punidos.

Pp: exatamente!

Fernanda: porque com 16 anos e aí (incompreensível).

Pp: isso.

Pp: agora Fernanda é (pausa curta) você falou que os maiores, eles pegam os

menores para cometer os crimes. Por que eles fazem isso?

Fernanda : porque eles sabem que os menores não vão ser punidos.

Pp: porque sabem que não serão punidos. (7:33)

Page 174: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pp: então se diminuir a idade penal você acha que pode diminuir o número de

violência?

Pp: a questão da violência no nosso país...

Fernanda: com certeza.

Fernanda: eu acho que sim, eu tenho certeza que sim.

Pp: você acredita que sim. tá.

Fernanda : porque todos os crimes que você vê por aí, tem menor no meio.

Pp: todos.

Fernanda : sendo que os maiores mandam e os de menores fazem.

Pp: exatamente! (7:54)

Pp: e como você acha que o menor pode ser punido? Por que a gente sabe que a

punição para o maior é uma e para o menor é outra. Quando um menor, ele é detido ele vai

para o CAJE não é isso? Vocês acham que é justo a forma que um adolescente que vai para o

CAJE é tratado é a mesma forma de uma pessoa que estar numa delegacia normal é tratado?

É a mesma forma de tratamento?

Fernanda : não.

Laura: pelo menos não deveria ser.

Pp: pelo menos não deveria ser. (8:24)

Pp: então existem muitas é, é irregularidades. Quer dizer o de 18 usa o menor de

idade, para cometer o crime porque sabe que ele nunca vai ser preso. O menor não vai ser

punido. E se diminuir a idade penal, talvez isso modifique um pouquinho.Lourdes qual a tua

opinião sobre isso?

Laura : (incompreensível) (Muitos jovens com menos de 18 acabam se envolvendo

com o crime porque eles sabem que não vão ser punidos. Eles pensam que só porque são de

menores, eles não serão punidos eu penso assim). Não só são levados por alguém,mas por

eles mesmos,por eles saberem que são de menor.

Pp: ah! (9:01) Então a Lourdes falou uma coisa muito importante aí não é só o maior de

idade que tem consciência que o que o menor executando o crime vai ficar por isso mesmo, o

menor de idade também consciência disso. Você acha que o menor de idade usa dessa

consciência que ele tem para fazer coisas erradas por aí a fora?

Laura: sim porque eu também conheço pessoas que falam: já que eu não vou ser

preso mesmo, que que tem?

Pp: já que não tem uma punição mesmo então eu faço. (9:30)

Laura: eu já tive uma experiência própria de ver pessoas falando que iam fazer porque

são de menor consciência dele mesmo não ia ser punido.

Pp: você acha Lourdes que a sociedade contribui para que esses jovens pensem

desse jeito?

Laura : eu acho que sim, porque falta muitas coisas para os menores também. Como

eu estava comentando que eu concordo que passe a idade penal para 16 anos, mas o que

Page 175: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

adianta pegar um adolescente de 16 anos e colocar no CAJE e não dar, poder se recuperar se

reabilitar ele vai sair de lá muito pior do que entrou.

Pp: exatamente (10:11)

Pp: ah! Isso que a A6 está falando é muito importante, não adianta só diminuir a idade

penal e deixar que ele se transforme num delinqüente lá dentro né?Ele então vai estar se

reabilitando, esse cara só vai cumprir a pena dele e quando ele sair de lá, ele vai estar pior.

Pp: quer falar Janaína?

Janaína: mas não adianta jogar ele lá dentro e passar a mão na cabeça e ponto. È

melhor, é pior ainda porque ele vai estar lá dentro vai tá protegido (entre aspas) do mundo vai

tá comendo, bebendo, dormindo, no bem bom às custas do povo que está aqui fora. Detalhe

não tem melhora.

Pp: então você acha que:: por exemplo quando diminuir a idade penal de 18 para 16

anos a punição deve ser a mesma?

Janaína: tem (pausa curta) Eu acho que tem ((várias vozes)) que investir (pausa curta)

se a pessoa tem idade para matar eu acho que a pessoa tem idade para fazer alguma

coisa.Então troca em serviço, sei lá (incompreensível) tem que trabalhar não pode ficar parado

como os presos ficam não, só parado esperando as coisas acontecerem não, caírem do

mundo.

Pp: então você acha que a partir do momento que diminuir a idade penal, que o menor

de idade agora é punido, deve ter uma punição severa, mas não é só ficar lá na delegacia no

cantinho preso, ele tem que ter um trabalho de verdade deve estar a serviço da comunidade.

Janaína: porque se a sociedade tem, pode tem que tá ajudando contribuindo para

mudar o preso, ele tem, pode contribuir para a comunidade, ao invés de pagar para alguém

fazer um trabalho que é para a comunidade coloque o preso para fazer.

Pp: quem concorda com o que a Janaína está falando?

Laura : eu concordo.

Janaína: o meu irmão, ele trabalhava com os presos, ele era o chefe, ele mandava lá

nesse negócio de pintar meio – fio.

Pp: fazer serviço comunitário.

Janaína: eu acho isso certo, hoje em dia para comer a gente não trabalha?

(incompreensível) Eu acho que tem que trabalhar.

Pp: então você acha que, na nossa sociedade, da mesma forma que como nós

pagamos, porque o preso ta lá preso, mas somos nós quem estamos pagando por sua diária,

então a partir do momento em que ele foi preso ele tem que trabalhar em favor de nós,então

você acha que essa é a forma que eles vão ter para se reabilitar e se inserir na sociedade de

novo?

Janaína: tem gente que fala, ah (pausa curta) eu vou ser preso, eu vou ficar lá

comendo às custas de vocês, detalhe eu vou roubar eu não vou pensar mais em nada, mas eu

sabendo que eu estando lá vou te serviço a prestar,detalhe não vou poder fazer nada, não vou

ter acesso à minha família a pessoa vai começar a pensar.

Page 176: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Janaína: é igual no CAJE o caso dos adolescentes que eles falam que entram lá, eles

falam que eles tem cursos, continuação dos estudos, para ele se recuperar, mas na prática nós

sabemos e vemos passa direto nos jornais ai que não acontece eles ficam a Deus dará , só

comendo, dormindo.

Janaína: e engordando.

Laura: se eles tivessem o que o governo fala que eles tem lá dentro, eles sairiam uma

pessoa diferente,mas como eles não tem saem de lá pior do que já entrou.

((Várias vozes ao mesmo tempo))

Pp: Só um pouquinho Jeferson.

Pp: fala Fernanda:

Fernanda : fica só planejando vou matar fulano, fulano fez isso comigo,((risos)) eu vou

matar a mãe...

Pp: se toda a vez que eles tivessem lá dentro, mas se eles tivessem prestando um

serviço, se eles tivessem ocupados, talvez não tivéssemos os crimes que nós ouvimos por aí a

fora não é verdade? Se o cara tá preso, o cara tá de repente sem contato com o mundo, ele

está maquinando coisas horrorosas. Vocês acham que é isso?

Fernanda: é isso!

Janaína: um dia desses estava passando na televisão, os presos fazendo churrasco na

frente do policial, tu viu? Fazendo churrasco na frente do policial e foi , foi e lixaram a grade e

fugiram e tudo isso não tem lógica, hoje em dia o mundo está perdido.

Jeferson: é o que ela falou ali u (pausa curta) rapaiz como é que tu falou? O

adolescente fica lá (tem um que ainda comete crime, mata o outro).

Laura : tem direito a cursos, continuação dos estudos, aprender uma profissão para

sair ai fora para continuar a vida ai fora, só que o governo promete e não faz nada por eles lá

dentro, fica a Deus dará.

Janaína: é ainda tem a contribuição que o governo dá que não funciona.

Laura: que adianta diminuir a idade penal e continuar do jeito que está? Tem que

diminuir e melhorar a situação deles.

Pp: o governo tem que oferecer uma condição para esse menor. Não é verdade? Ele

precisa de acesso de uma profissão para voltar a se inserir na sociedade. Agora também ficar

de braços cruzados maquinando coisas horríveis não resolve né? Talvez gente seja por isso

que muitas pessoas cometem crimes pequenos e às vezes são presas e quando saem, saem

muito pior. Eu tive um aluno, aqui mesmo em Brazlândia que ele, ele tinha 15 anos na época

ele cometeu um assassinato horroroso e ele desceu para o CAJE e ele me disse que lá ele

aprendeu coisas que ele nem imaginava...

Laura: entra uma pessoa e sai pior do que já entrou.

Pp: por que isso acontece? Porque não existe um programa de reinserção que coloque

o jovem, o rapaz, a moça dentro da sociedade não é verdade?

Pp: Jeferson você acha que é possível diminuir a idade penal de 18 anos para 16

anos? Ou seja,só existe uma punição a partir dos 18 anos.Quer dizer, ele só vai preso a partir

Page 177: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

da maioridade. O que quer dizer diminuição da idade penal? É o adolescente pagar por suas

culpas antes dos 18 anos. Você acha importante ...Por quê?

Jeferson: por que...

Pp: você acha justo?

Jeferson: não ...por quê...

Pp: como a gente faz para reverter essa situação? Para ter uma punição igual para os

dois independentemente da idade? O que que você acha?

Jeferson: eu acho que tem que botar ele na cadeia aí do lado do de 18 para ele pegar

a mesma pena.

Pp: ah! Então você acha que se o de 16 matou ele tem que ter a mesma penalidade

que o de 18? Tem que ter,quando você for falar isso, você está dizendo olha você tem que

diminuir a idade penal de 18 para 16 porque o cara não pode ser punido só com 18 tem que

ser punido também com 16.

Pp: é essa a tua opinião?

Jeferson: é.

Pp: Maria. O que você acha disso que a gente está comentando?

Maria : eu acho que se já tivesse diminuído a idade penal para 16 já teria diminuído ,

evitado muitos crimes, porque aí a maioria dos crimes é adolescente que mata né?Lá no

colégio, lá mesmo na W/3 norte onde eu trabalhava o rapaiz matou o outro dentro da escola,

brigou né? Foi na casa dele pegou o revolver e matou o outro com 3 tiros, aí se a idade tivesse

caído há muito tempo atrás tinha diminuído muito crime assim né?

Pp: vocês concordam com isso? Se houvesse já essa punição dentro da nossa

sociedade.Vocês acham ... que a violência entre os jovens já teria diminuído?

Laura: teria evitado muitas coisas ruins que já aconteceu.

Pp: certamente.

Pp: talvez a gente não possa afirmar que cada pessoa tem um comportamento. Mas

isso que a Lourdes está falando é verdade se talvez com essa punição igual igualitária para

todas as idades já tivesse acontecido há mais tempo, se nós tivéssemos parado para pensar a

mais tempo, talvez os jovens já tivessem o quê? Uma maior consciência. Eu não vou fazer

porque eu vou ser punido...

Pp: agora, eu queria levantar alguns pontos positivos , quando a gente coloca a idade

penal de 18 para 16 anos quais são os pontos positivos?

Janaína: como é? Eu não entendi nada.

Pp: eu queria levantar alguns pontos positivos , quando a gente coloca a idade penal

de 18 para 16 anos quais são os pontos positivos?

Fernanda: aumenta a liberdade.

Fernanda: diminui a violência, de crimes cometidos por adolescentes, talvez não

acabe, mas vai diminuir.

Pp: muito bem!

Pp: vocês concordam com isso que a Lourdes está falando?

Page 178: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

A: sim.

Pp: vocês acham que esse é o ponto central quando diminui a idade penal de 18 para

16 anos vocês concordam com a Lourdes que isso diminui a violência? Então a gente pode

colocar isso como um ponto positivo?

A: sim

Pp: e conseqüentemente da violência também porque uma coisa está ligada a

outra.Qual é o outro ponto positivo que a gente pode colocar?

Fernanda: liberdade. Hoje em dia a gente fica preso e os ladrões soltos, eu morro de

medo de sair para a rua do lago e levar um tiro.

Janaína: a minha casa é toda trancada de portões. São 3 portas...

Pp:exatamente!(21;58) e por que a gente está desse jeito?

Janaína: por causa do medo.

Pp: da violência, da criminalidade.

Fernanda: liberdade...

Pp: outro ponto que a gente pode destacar é a igualdade, a igualdade é um ponto

positivo?

A: sim.

Pp:muito bem! (23:40)

Pp: vocês conseguem ver pontos negativos nessa situação da diminuição da idade

penal?

Maria: nenhum, até agora eu não vi não.

Pp: E se por acaso...vamos trabalhar em cima de hipóteses...se tivesse alguém da sua

família que fosse menor de idade e ele tivesse cometido um crime e acabasse sendo punido,

você acharia isso certo, justo? Ele fez, tem que pagar e pronto e acabou. Ou você acha ... mas

vai acabar com a formação do cara,o que vocês acham disso?

Laura : (incompreensível) talvez a gente tem que ver quantos anos ele vai ficar preso,

vai que ela só pega dois anos aí, aí, sai pior, é como ir para uma fábrica de criminosos.Entra

um adolescente que cometeu apenas um crime e sai sabendo fazer vários.

Pp: Muito bem (24:58).Isso que a Lourdes falou pode ser um ponto negativo? A

questão de ser preso e sair de lá pior, isso pode ser um ponto negativo dentro desse contexto?

Laura : eu acho que o adolescente pode voltar pior do que era para ser.

Pp: talvez entre ruinzinho e saia de lá pior?

....

Pp: esse é um risco que a gente tem de correr?

A: sim.

Laura : (incompreensível) o problema é a vítima.

Pp:vamos pensar na vítima.Tem mais pontos positivos ou negativos? No caso da

vítima é importante que ele seja punido ou não?

Janaína: não.

Page 179: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Pp: sim, a gente não pode ser alienado, vamos voltar à palavra alienação, em tudo

temos pontos positivos e negativos, mas não é justo que um menor cometa um crime e fique

ileso, não seja punido.

Laura: isso serve até para os pais que os filhos são levados para o mau caminho pelos

bandidos mais velhos que pegam os menores para fazer crimes.

Pp: que mensagem podemos tirar dessa nossa conversa?

Pp: a idade penal a pessoa pode ser punido com menos de 18 anos. Isso Contribui

para a sociedade e para o adolescente que não vai mais ser usado como cobaia dos mais

velhos e vão se conscientizar que eles também podem ser punidos.

Antes de dar por encerrado o debate, pedi que os alunos escrevessem os pontos

positivos e negativos que colocamos no quadro a fim de que eles tivessem algumas das idéias

que discutimos também no caderno, o que na minha concepção pode ser um recurso facilitador

da escrita deles.

Page 180: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

ANEXO H - Textos reescritos sobre diminuição da idade penal Aluna: Laura

Eu concordo com a diminuição da idade penal, porque não acho justo que pessoas

cometam crimes e não paguem por eles só porque são menor de idade, se é menor e

cometem crimes então podem pagar por eles, mesmo sendo menor.

Por causa desta lei que diz que o menor de 18 não ter que pagar pelo crime que

cometem, muitos jovens cometem crimes porque sabem que não serão punidos como

deveriam ou talvez nem sejam punidos de forma nem uma, e são usados por adultos

criminosos para cometer crimes por que sabem que com eles não vão acontecer nada, ou

seja, além destes criminosos adultos ficarem impune ainda servem de “professores” do

crime para estes menores.

Então se mudar esta lei, eles irão pensar bem antes de se submeter a um ato

criminoso. Com isso temos a diminuição de crimes e violência, teremos mais liberdade,

igualdade etc.

O único ponto negativo que vejo e que ao ser preso, terminada sua condenação eles

podem voltar ainda pior para a sociedade, já que como sabemos, no Brasil o sistema de

carceragem e critico, os jovens entram ruins e sai pior, a não ser que este sistema mude

junto com a mudança de lei, coisa que eu acho bem difícil.Mas na minha opinião é melhor

corrermos o risco do que ficarmos como estamos.

Aluna: Maria das Graças

Eu concordo com a diminuição da idade penal, porque muitos menores de idade

praticam violência e até mesmo crimes contra as pessoas e não pagam pelo que fazem. Mais

eu acho que esta nova lei não vai valer para os ricos, porque eles têm dinheiro e podem

pagar um advogado e sempre ficam em liberdade. Eu acho se houver mesmo a diminuição da

idade penal os crimes e a violência,irão diminuir bastante e as pessoas irão viver com mais

liberdade.

Na diminuição da idade penal existem dois pontos: o ponto positivo e o ponto

negativo.

Page 181: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

Ponto Positivo: a diminuição da criminalidade, a liberdade das pessoas da sociedade,

e a segurança da população.

Ponto negativo: o adolescente que comete o crime vai para a cadeia quando ele sair

de lá voltará pior para a sociedade.

Ponto positivo: diminuição da criminalidade, liberdade e igualdade.

Ponto negativo: voltará pior do que era.

Aluna: Fernanda

Eu concordo, porque a violência é causada por adolescente de 14 e 16 anos. Sem

alguma responsabilidade nas conseqüências, então com a diminuição da penal já irá

responder um processo de longos anos de reclusão pelo homicídio, estros etc. Então será

igual a todos que cometerem seus erros, mas a um grande problema a ser resolvido será que

os penitenciários estão bem estruturados para obter bons resultados com a resocialização

desses adolescentes para que não se junte com os outros internos mais perigosos, e com

penas de longos anos. Será que ira reasocializar ou pelo contrario aumenta a sua pena. E

uma lei muito importante é bom ser bem elaborada para não haver riscos aos adolescente

em sua formação, a ser um homens (capaz de ser reasocializar na sociedade).

Pontos Positivos:diminui a criminalidade, violência,liberdade,igualdade.

Pontos Negativos:os pontos negativos no caso para os familiares dos adolescente

com criminalidade,voltar pior do que era para a sociedade.

Aluna: Janaína

Eu acho certo, porque vai diminuir a violência no Brasil todo, acho que todos tem que

ter a liberdade no país que nós estamos, hoje em dia todos nós temos medo de sair de casa,

medo que aconteça algo de ruim com nós. Hoje são os bandidos soltos e nós presos, isso não

é certo, acho que fez tem que pagar e pagar com trabalho e com seu suor já que nós que

pagamos para eles ficarem lá à toa e pensando em coisas piores para fazerem quando forem

soltos. Acho que tem que ser prezo, e já que não precisa ter ,idade para roubar, não precisa

também ter idade para trabalhar.

O pior é que nem os responsáveis pelo Brasil dão exemplo, eles acabam passando uma

imagem tão ruim que nos fazem ter vergonha é nos arrependermos de ter votado neles, isso

Page 182: A sala de aula: um espaço para a oralidade e uma contribuição …repositorio.unb.br/bitstream/10482/5029/1/2008_MarliVieiraLins.pdf · desse projeto, aqui no Distrito Federal:

é tão ruim que passamos a desconfiar até de pessoas meio que próximas Se uma pessoa tem

a mente fraca e ver uma reportagem dessas, e ver que até eles não estão nem aí para a

população, porque os ladrões vão estar preocupados.

Acho que todos tem que responder pelo que faz independente de cor ou de classe social.