a roda xamânica de cura na arte

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  • 7/29/2019 A Roda Xamnica de Cura na Arte

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    A Roda Xamnica de Cura na Arte-Terapia:

    Uma Releitura da Dinmica da Psique Articulando os Tipos Psicolgicos

    ao Crculo Psico-Energtico de Anne Fraisse

    Ana Luisa Baptista

    Resumo:Olhar a Dinmica da Psique integrada ao Crculo Psico-Energtico, trs um novo referencial paTerapeuta, na medida em que subdivide a qualidade de cada elemento representante de cadaFunes Psquicas, de acordo com o movimento energtico correspondente.

    Longe de se esgotar, este trabalho abre para novas reflexes acerca da utilizao da Dinmica da Psique na prtica arte-terap

    Abstract:Considering the Psyche's Dynamics as it relates to the Psycho-Energetic Circle provides the art therapist with new benchmark, ssubdivides the quality of the elements that represent each one of the psychic functions, according to its corresponding energetimovement.

    Far from exhausting this subject, though, this paper gives occasion to new thoughts concerning the use of the Psyche's Dynamictherapy praxis

    Ao Sul, peo a ajuda necessria para soltar as amarrasAo Sudoeste, que os sonhos e as vises sigam

    para que eu possa lembrar-me das imagens e mensagens de cada um dosAo Oeste peo que envie ao Leste a visualizao dos caminho

    e dos que ainda esto por sAo Noroeste agradeo os ensinamentos dos meus antepassados com rela

    e ao olhar semAo Norte, peo que me permita ouvir as voze

    que elas tragam mensagens de terras distantes, dos vrios cantosAo Nordeste, peo o impulso necessrio para que eu poa mover a Roda em

    Ao Leste que a intuiE finalmente ao Sudeste,a aceitao e a compreenso para po

    todos os ensinamentos des

    Alto da Boa Vista - Friburgo/RJ - Roda Xamnica de Cura, a

    A RODA XAMNICA DE CURA

    A Roda Sagrada dos Nativos Americanos, composta de 36 pedras. A pedra central representa o Criador e ao seu redor, h uminterno de 7 pedras representando: a Me Terra, o Av Sol, a Av Lua, os 4 Cls Elementares. Estes so os "seres" responsvefundao da vida, dando os ensinamentos para as estruturas bsicas de todas as formas de vida.

    O Crculo externo tem 16 pedras, sendo que 4 representam as 4 direes principais, honrando os Espritos Guardies de cada dEstas 4 pedras dividem o crculo em quadrantes, cada um contendo 3 pedras, que totalizam 12, representando as 12 Luas do aensinam sobre as estaes, as etapas de cada dia, as etapas da vida.

    Para completar, 4 raios de 3 pedras cada um, representando os Caminhos Espirituais que levam ao centro, trazendo as qualidadlevam do cotidiano para o espao sagrado do Criador.

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    Roda Xamnica de Cura

    Cada pedra tem seu propsito e abaixo de cada uma delas h um cristal enterrado, ancorando a energia referente aquele ponto

    Ao percorrer a Roda, busca-se perceber as oportunidades de crescimento que cada direo oferece e alinha-las, conectando comde cada totem. Pede-se, ento, as orientaes, permitindo que estas se aproximem em sonhos ou viso. Aps sentirmos a enercrculo nossa volta, chegamos ao nosso conhecimento interior.

    A entrada na Roda definida pela lunao em que nascemos. Este ponto de partida a nossa primeira percepo da realidade.

    O CRCULO PSICO-ENERGTICO

    Criado porAnne Fraisse, o Crculo Psico-Energtico tem suas bases na Roda Medicinal das tribos indgenas da Amrica do NorAmrica Central, integrado ao pensamento de C. G. Jung, sobre o Movimento Energtico e as Funes Psquicas (1).

    Na roda busca-se estabelecer a auto-regulao psquica e orgnica entre o ser doente e o mundo. A doena compreendida codesarmonia, de forma que o doente se coloca no centro da roda e acolhido pelo crculo. Da troca energtica entre o sujeito qucentro e as demais pessoas que compem o crculo, d-se a cura. Ou seja, a harmonia restabelecida, estando o interior igual

    Os nativos americanos reconhecem o crculo como o principal smbolo para o entendimento dos mistrios da vida. Observam quimpresso em toda a natureza, de forma que cada parte do universo fsico e cada coisa viva na Terra vista como tendo uma or

    espiritual e mental. Assim, cada manifestao entendida como um estado contnuo de mudana. Tudo o que o poder do mundo faz, feito num crculo. O cu redondo e eu ouvi dizer que a Terra redonda como uma bola, etambm. O vento em seu maior poder, rodopia. Os pssaros fazem seus ninhos em crculos. O sol se levanta e se pe novamencrculo. A lua faz a mesma coisa, e ambos so redondos. At as estaes formam um grande crculo em suas mudanas, e sempnovamente para onde estavam. A vida de um homem um crculo da infncia at a velhice, o mesmo acontecendo onde o podemovimenta (NEIHARDT, 1832).

    No simbolismo ancestral o crculo o smbolo do espao infinito, sem comeo e sem fim. Representa a eternidade e a totalidadcomeando onde termina e terminando onde comea.

    Dentro da Roda, sentimos o poder da cura em nossa mente e no nosso corpo, possibilitando um contato com as foras da naturcosmo, levando-nos a uma harmonizao interior e exterior com o meio ambiente. Encontrando nossa posio na roda, obtemoholstica da vida, descobrimos nosso poder de cura, passamos a tomar o comando da nossa vida e a orientar conscientemente aes e as opes que devemos seguir.

    Na Roda Sagrada o girar do crculo natural da vida est imortalizado. Nela est o ciclo das estaes e a jornada da alma do homnasce, cresce, reproduz (frutifica) e ao trmino de seu ciclo realiza "a Grande Viagem pela Estrada Azul do Esprito, saindo do cvida esperando um outro ciclo" (FRAISSE, 1997, 162).

    OS CAMINHOS DO CRCULO PSICO-ENERGTICO E A TIPOLOGIA DE JUNG

    Tendo seu espao sagrado demarcado por pedras, as Rodas Xamnicas configuram diferentes caminhos e direes, de acordo cpotencial de cada pedra: seu propsito, simbolismo, poderes e valores.

    Nos rituais xamnicos, reverencia-se as diferentes direes de acordo com o lugar onde cada pedra se encontra.

    A pedra indicativa da Direo Sul aponta o caminho da cura da Criana Interior e do amor. o local de inocncia, humildade, fconfiana. Est ligado ao sol do meio-dia. Nesta direo esto as energias de purificao, entrega, troca e mudana.

    A direo Sul o caminho do curador, um portal para as emoes.

    Vincula-se Necessidade, Ponto 1 do Crculo Psico-Orgnico (SACHARNY, 2004) e ao Ourboros, no Ciclo Arquetpico (BAPTISTAmbos falam de um estado total de indiferenciao, onde s h a sensao de existncia. No desenvolvimento humano, este lugse ao perodo intra-uterino e aos primeiros meses de vida do beb. tambm o espao da Fonte, da nutrio, para onde voltammomentos em que precisamos nos reabastecer, nos conectando com a Energia Primria e com a Energia Consequncial (2).

    A Funo Sentimento e a Direo Sul falam de Eros, que promove o relacionamento, a unio, a ligao afetiva que gera o noalgum s passa a ter significado quando est conectado afetivamente. Quando Eros no est presente a vida mecnica e vaznos relacionamos verdadeiramente com aquilo que nos envolve atravs do sentimento.

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    O elemento atribudo tanto a esta posio, quanto funo psquica sentimento a gua.

    A gua nos envolve desde a concepo at a nossa chegada no mundo. Ela a fonte onde se sustenta a vida. o lugar que habantes do nascimento e, tambm, a Infncia. Ela fluida. Est em mudana constante: vai das grandes turbulncias calmaria. ao fluxo da vida com suas mutaes e transformaes. Ela purifica e limpa, harmoniza e reflete a nossa essncia mais profundasuperfcie. Nos ensina a lidar com a fora das nossas emoes.

    Por sua energia receptiva, a gua est "... intimamente ligada lua e ao feminino, representa o eterno movimento, o vir a ser, das virtualidades, geme dos germes, fonte e origem de todas as formas de existncia. Sabemos que onto e filogenticamente, acomea na gua, o que conecta o concreto ao simblico" (RIBEIRO, p. 2).

    Sua natureza, "... submissa, mas conquista tudo. A gua conquista submetendo-se, nunca ataca, mas sempre ganha a ltimagua cede passagem para os obstculos com uma humildade enganadora, pois nenhum poder pode impedi-la de seguir o seu ctraado rumo ao mar" (BLOFELD, p.110-111).

    A energia da gua nos revela a natureza de nossos sentimentos e emoes que sempre esto parcialmente conscientes.

    Mas, por mais lmpida que seja uma gua, a sua transparncia no perfeita, produz imagens distorcidas. A fluidez da gua tamdesvela a necessidade intrnseca de ter um recipiente para que ela possa ser recolhida e acolhida. Isto destina a humanidade acontato e em relao com algum ou algo, para que se consiga viver as emoes.

    A partir destes smbolos primeiros, surgem dois outros: o de purificao e o de regenerao.

    Excesso de gua pode afogar o sujeito nos prprios sentimentos, tornando-se excessivamente sensvel e impossvel de se relacmantendo as outras pessoas afastadas com seus "melindres". Pode acontecer ainda um "afogamento no outro", tpico de relacisimbiticos, onde a individualidade perde os contornos que so dissolvidos na fuso e inter-dependncia. Em ambos os casos operde sua funo criativa e o sujeito passa a atuar defensivamente, impedindo a relao afetiva ao invs de favorec-la. Saber corao" e express-lo nas nossas vidas exige um trabalho de grande refinamento interior, de contato permanente com Eros, corevitalizantes do sentimento.

    No Sul a funo Sentimento mostra-se extrovertida. Fala da expresso da necessidade da Criana Interior, tendo sua base calcvalores subjetivos.

    Dando seqncia roda, o Sudoeste integra gua e Terra, sendo a Morada dos Sonhos e do Silncio. Neste ponto a energia see a funo sentimento se recolhe para o interior, possibilitando a entrada em contato com as energias da viso, dos sonhos, dae da arte criativa.

    o lugar da emerso das imagens arquetpicas com seus mltiplos significados.

    A Direo Oeste representada pelo pr-do-sol. Ela favorece a introverso e a contemplao da colheita. a direo que indicada cura fsica, o poder da transformao e introspeco.

    O Oeste o ponto da morte e da transformao. Refere-se ao caminho do guerreiro. Ao chegar no Oeste, pode-se buscar trilharumo a concretizao de metas e objetivos, de acordo com o conhecimento da verdade pessoal.

    tambm o portal para o corpo fsico, estando relacionado Energia Feminina da Criao - o tero onde ocorrem as gestaes sexualidade. Pois "... o interior da alma onde gestamos nossa idias e aes comparado ao ventre frtil da mulher. Nele est futuro, ele o lugar dos nossos amanhs" (GRAMACHO, 2002, p. 60).

    No Crculo Psico-Orgnico a energia encontra-se entre os Pontos 3 e 4, na passagem da Identidade Orgnica para a Fora. No CArquetpico, a vivncia a da Me Terra (Reino da Grande Me) e da chegada ao Patriarcado. Ou seja, refere-se ao momento e

    Conscincia emerge e se confronta com o meio externo.

    Tanto a Funo Sensao como a Direo Oeste do Crculo Psico-Energtico dizem respeito ao mundo dos sentidos e possibdesfrut-los: sentir todos os odores, cores, texturas, temperatura, paladares e com isso aprofundar a vivncia do mundo internReferem-se possibilidade de expressar a si mesmo atravs das aes concretas no mundo. Esse aprendizado se d tambm aaceitao dos limites que toda concretizao proporciona. Para transmutar e transcender a condio material transitria devemconhec-la e realiz-la completamente.

    Ambas falam do elemento Terra, que vincula-se ao princpio feminino, como imagem do tero acolhedor que propicia a encarnaconcretizao das energias vitais. Vincula-se ao corpo e a todos os processos vitais, "... percepo da realidade e a tudo que e suporte para o crescimento, a tudo que assume uma forma definida e ocupa um lugar no espao, ao nosso posicionamento ex

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    (BERNARDO, 2004, p. 104).

    Traz ao, prxis, ao que concreto e objetivo. , portanto, sinnimo de concretizar, ou seja, tornar matria. Refere-se a uestrutura firme e slida, que possibilita a construo do Ego. Portanto "... sua forma e localizao so fixas; assim para um consquico, tornar-se terra significa concretizar-se numa forma localizada particular - isto , tornar-se ligado a um ego" (EDINGER

    A terra o que nos d sustentao e nutrio para crescermos. Ao ser chamada de Grande Me, ela nos fala do amor incondicio

    sentimento que resiste a todos os obstculos. Revela a importncia de se nutrir e ser nutrido em todos os ciclos e estaes.No Xamanismo a Terra solicitada nos rituais onde necessrio buscar a fora da vida e da encarnao.

    Quando a terra excessiva, ocorre o soterramento, de forma que o sujeito no consegue se movimentar no mundo, tornando-sinflexvel. J quando ausente, trs o desenraizamento, a desconexo com o prprio corpo e a ausncia de cho. Somente atravse a possibilidade de transcender a realidade para compreend-la e transform-la.

    Chegando ao Oeste, a energia se extroverte para que possamos captar tudo o que existe no meio externo.

    No Noroeste est a Lei em suas diferentes formas, passando pelo respeito a si e ao outro; pelas regras sociais, pelos direitos hpelas leis da fsica, da cincia e do universo, at o respeito Grande Me Terra e ao Grande Esprito, ou seja, o respeito s leis o lugar do Carma.

    Aqui Terra e o Ar se encontram e a energia volta-se novamente para o interior para que a Lei proveniente deAnank, deusa daNecessidade que habita o orgnico profundo, se encontre com a Lei do Tempo, de Kronos. Neles esto as bases das leis espiritu

    naturais, humanas, sociais, legais.

    O Norte a direo que nos indica o caminho que devemos seguir. o lugar onde o guerreiro pode aprender com os conhecimmestres ancestrais. Nele est a Sabedoria Ancestral e o conhecimento do Sagrado. L se encontra a morada dos Ancies.

    o lugar do conhecimento, da beleza e da ressonncia harmnica, da imaginao ilimitada e do intelecto, dos sbios. o local de agradecimento nossa linhagem.

    Aqui a Energia est no Conceito - Ponto 6 do Crculo Psico-Orgnico. No Ciclo Arquetpico, o sujeito encontra-se na Dinmica Pamomento em que a imagem arquetpica do Heri ativada. Neste momento ocorre a passagem do Eu para o Mundo, compromcom as suas prprias escolhas e com as conseqncias intrnsecas a estas.

    A Funo Pensamento e a Direo Norte tm como princpio regente o Logos, que determina a apreenso clara, lcida e abraEngloba o conhecimento racional. Ambas referem-se ao elemento Ar, que um elemento criador, ativo, expansivo e seco, de qumasculina.

    Representa a essncia do esprito, uma vez que o ar "... a fora da vida, suporte e sustento para o ser humano. Quando inspiinflando os pulmes, absorvemos o sopro da Fonte da Vida, e quando expiramos, partilhamos esta ddiva com o mundo " (GRA2002, p. 69).

    Condutor do som, o ar possibilita a existncia da msica. Ele confere poder a palavra, ajuda a compreender as lnguas.Revela a sua presena atravs de seu movimento que cria as brisas e os ventos, transformando situaes estagnadas, varrendoenergias negativas, renovando conceitos e espalhando as sementes e idias.

    Manifesta-se tambm nos aromas, trazendo o refinamento da possibilidade de discernir entre uma coisa e outra.

    Excesso de Ar trs a disperso das idias e dos contedos internos, levando destruio. Sua ausncia trs a estagnao, a falcomunicao e movimento.

    Mais uma vez a energia psquica sai do mundo interior e se volta para o exterior: O Pensamento Extrovertido esclarece significacomportamento humano e trs as palavras de sabedoria para o mundo.

    O Nordeste alia ao Ar as qualidades do Fogo. Fala das formas que a energia assume e de seu movimento, tanto no mundo extinterior.

    " o lugar do danarino, do coregrafo, de onde podem ser percebidos a evoluo e a involuo do mundo, a imploso e a explenergia, o movimento e o ritmo de cada um" (FRAISSE, 1998, p. 99).

    De novo a energia se introverte para que possamos nos conectar com a nossa pulsao, nosso ritmo, sendo este fator determin

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    forma como nos movemos na vida.

    A Direo Leste indica o nascer do sol, que nos prov a energia Yung. L a morada do Grande Esprito, cuja essncia nos deutradio xamnica diz que dele viemos e para ele retornamos.

    O Leste representa o nosso ser espiritual, a centelha divina. Pelo Fogo, o Grande esprito se faz presente em nossa vida de muitmaneiras: na chama da vela que ilumina, no fogo da lareira que aquece, na luz das tochas que abrem o caminho na escurido

    o fogo das estrelas, cuja essncia somos feitos.

    No Crculo Psico-Orgnico o sujeito encontra-se na passagem do Sentimento (Ponto 8) para a Orgonomia (Ponto 9). Vive a entrDinmica Csmica no Ciclo Arquetpico. Neste momento j se percebe como um ser diferenciado, podendo conectar-se com o Tperder a Identidade.

    Vinculada a Direo Leste est a Funo Intuio.

    o Fogo Sagrado que a tudo transforma nos auxiliando a enxergar o que precisa ser destrudo a fim de que se possa reconstruuma maneira mais saudvel.

    Associado com Deus, ele representante das energias arquetpicas que transcendem o Ego e so experimentadas como numino

    O fogo tambm se vincula ao renascimento, como nos mostra o Mito de Fnix: a ave mtica que "... o smbolo do renascimen

    do fogo. Segundo a lenda medieval a Fnix vive na Arbia mas voa para o Egito, o pas da alquimia, onde se entrega ao seu ritue regenerao" (BRUCE-MITFORD, 1996. p. 108). Esta dotada " ... de um esplendor sem igual, dotada de uma extraordinrialongevidade, e tem o poder de se consumir em uma fogueira, de renascer de suas cinzas. Quando se aproxima a hora de sua mconstri um ninho de vergnteas perfumadas onde, no seu prprio calor, se queima " (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1994, p. 42

    O Fogo pode ajudar muito, mas tambm pode queimar se no tivermos respeito por ele. Atravs dele aprendemos que tudo temse o "Poder" no respeitado ele se volta contra ns mesmos.

    No Leste a energia se extroverte, apontando para o caminho do visionrio, de onde vem o poder da luz, sendo, portanto, um poesprito. Trs clareza, criatividade, fora, espiritualidade e definio de novos projetos ou ciclo de vida. Nele esto os novos comnos levam a trilhar novamente a Roda, em busca de novos conhecimentos e crescimento pessoal. Ele trs a ampliao da conscmedida em que ilumina diferentes aspectos do nosso ser, trazendo insights.

    No Leste vivenciamos a dialtica, o jogo e a integrao dos opostos. Nele as ligaes sutis e no palpveis entre os eventos inteexternos - a Sincronicidade - se faz presente. o Leste que nos possibilita vivncias temporais e espaciais fora dos padres usu

    O Sudeste o lugar da capacidade de amar a si prprio e aceitar-se.

    Uma vez mais, a energia volta-se para o interior para que possamos integrar as foras do Fogo e da gua, que nos possibilitamdos ancestrais sobre ns mesmos, indicando qual o caminho a seguir. Aqui o ensinamento alia-se a nossa capacidade de transfherana que nos dada, de perdoar os erros dos ancestrais e de acolher o que eles podem nos trazer.

    Na construo da nossa personalidade, dispomos e organizamos os elementos que se fazem presente na Roda de Cura, mas ap

    ... de partimos da mesma matria prima, cada um de ns os articula de uma maneira nica e singular, de acordo com as nossacaractersticas pessoais, nossa histria de vida, nossas crenas, nossa cultura, nossas vivncias e potenciais inatos (BERNARDO125) .

    Interagimos com esses aspectos tanto interna como externamente. Por meio deles, se d a ampliao da Conscincia, que levacompreenso de que o Eu e o Outro so aspectos de uma nica realidade.

    AS DIVISES DA RODA:OS EIXOS DO CRCULO PSICO-ENERGTICO E A DINMICA PSQUICA

    A Roda Xamnica de Cura configura uma Mandala, cujo o nome vem do snscrito hindu - idioma antigo da ndia - e significa "cdesignando que "... toda figura se organiza ao redor de um centro" (FLAC). Em sua estrutura, a mandala evoca forma, movimee tempo.

    Jung entende a mandala como a representao simblica do Self, cuja essncia somos feitos e da qual nos afastamos para adamundo exterior, buscando retornar a ela para conhecermos a ns mesmos.

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    A mandala , como a Roda Xamnica, constituda por desenhos geomtricos que inscrevem uns nos outros - crculos, quadradtringulos - resultando num grande crculo contendo vrias imagens significativas que incorporam a diviso de uma unidade emmultiplicidade e a reintegrao na unidade, contendo sistemas simblicos de todos os nveis.

    Seu desenho circular representa um eterno "pulsar", direcionado o olho do seu centro para fora, num movimento de expanso e de fora para dentro num movimento de concentrao. Essa pulsao acontece num ritmo binrio como o do corao humano.fixarmos o olho no centro, entra-se facilmente em um "estado alterado de conscincia", possibilitando a auto cura interior.

    Quando expandimos o olhar do centro para fora, manifestamos a expanso da energia assimilada, distribuindo-a para o mundo redor.

    Assim, a energia circula nos limites da Roda ora se introvertendo; ora se extrovertendo. Ela fala do ciclo temporal que pode sernas repeties de experincias e eventos que se repetem em nossas vidas.

    Quando dividida por uma linha horizontal, indica a diviso do espao infinito na ordem para prover a vida no tempo, no aqui e aquando dividida por uma linha vertical, representa a fora receptiva, o princpio feminino, sem largura ou profundidade. Tudo mulher e o poder ativo e a fora conceitual, representam o princpio masculino.

    A fuso das duas linhas no crculo formam um terceiro que uma cruz circundada, demarcando tempo e espao.

    A cruz quando contida dentro de um crculo um smbolo do ilimitado, que representa tambm as quatro expresses do poder fluindo para sua fonte, ou os quatro elementos, os quatro corpos, as quatro funes psquicas em sua natureza extrovertida.

    As funes psquicas dividem-se em Racionais e Irracionais formando dois eixos principais em oposio na Roda Xamnica: o EPensamento-Sentimento Extrovertidos - vinculado forma como o sujeito julga a realidade e o Eixo Sensao-Intuio Extrovereferente forma de perceb-la.

    O Eixo Pensamento-Sentimento Extrovertido est mais condicionado nossa viso de mundo, ao cultural e ao social. Envolve aprocessar as informaes, avaliar e definir situaes.

    Assim, o eixo Sul-Norte o eixo do tonal na viso de Castaeda: ele coloca em ligao a criana e o adulto, o passado e o predilogo entre estas duas partes de ns mesmos funciona, a espontaneidade pode se tornar um ato justo, a inocncia um conheconfiana da criana uma criao no adulto (FRAISSE, 1997, p. 162). , portanto, "... o eixo da criana que ns fomos, e adultosomos" (FRAISSE, 2004, p. 6).

    O Tonal vincula-se a tudo aquilo que podemos nomear, o que manifesto - a conscincia, o meio externo, a cultura, aos ciclos,passagem. Delimita tudo o que podemos conceber. Fala das crenas, do que acreditamos ser realidade, do mundo tangvel e vireal.

    Neste Eixo, o adulto fala de si em contato com a prpria necessidade (energia da criana), integrando sentimentos e pensamenum sentido nico e pessoal, "verbando" (3).

    O Eixo Pensamento-Sentimento Extrovertidos e o Tonal relacionam-se com a forma como concebemos a ns mesmo e ao mundda lgica objetiva e subjetiva. Ambos referem-se ao que revelado.

    O Eixo Sensao-Intuio Extrovertidos refere-se s percepes, subjetivas - tendo maior afinidade com as imagens, como s pda concreo e da presentificao dessas percepes. Vinculam-se aos instintos e ao simblico.

    O eixo Oeste-Leste um eixo invisvel, espiritual, que pertence ao mundo do Nagual, isto , invisvel, intangvel; ele pe em coadulto e a criana do sexo oposto ao nosso, e nos permite um crescimento psquico e espiritual (FRAISSE, 1997, p. 162).

    O Nagual o inominvel: "... essa parte de ns para a qual no existe nem descrio nem palavras, nem sentimentos, nemconhecimentos" (CASTAEDA, in MONTAL, 1986, p. 154). Nele todas as realidades so possveis e coexistem numa infinidade dFala das vises, dos sonhos, dos insights.

    O Eixo Sensao-Intuio Extrovertidos e o Nagual apiam-se em dados que se fazem presentes e so captados pela conscinciinconsciente simultnamente. Ambos referem-se percepo do que est latente, mas presente na conscincia, embora ainda nnomeado.

    O sentido do que emerge do Nagual - sensaes, percepes e imagens - no tem palavras. S podem ser nomeados atravs dentre Eros (Sul) e Logos (Norte), ou seja, pela conexo com o Tonal .

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    J se dividirmos a roda com um X, teremos outros dois Eixos, trazendo a imagem de uma ampuleta - representando o tempo eeternidade em movimento.

    Nesta representao, configura-se duas aberturas: uma para baixo e outra para cima, trazendo a comunicao entre o terreno o celeste - acima. A energia se volta para o microcosmos, para o humano, e se abre para a contemplao, para o divino.

    O eixo Sudoeste-Nordeste (gua/Terra e Ar/Fogo Introvertidos) fala dos movimentos que precisamos dar aos nossos sonhos e

    que estes possam chegar a conscincia, trazendo novos sentidos e possibilidades. Toda concretizao comea como um sonho no trouxermos este movimento, a energia fica estagnada e no pode fazer a passagem para a concretizao.

    O eixo Nordeste-Sudeste (Ar/Terra - gua/Fogo Introvertidos) refere-se a aceitao das Leis e da internalizao dos limites. NeLei se vincula a Eros, podendo ser compreendida como proteo e pode ser flexibilizada para atender s necessidades do sujeito

    A integrao entre estes dois eixos nos fala da necessidade de nos responsabilizarmos por nossos sonhos e vises, para podermsuas mensagens e compreendermos seus significados, nos movendo no mundo a partir dos aprendizados que eles nos trazem, realidade.

    Pois na concretizao de nossos sonhos e desejos, necessitamos saber quais os nossos limites e como nos protegemos. Ou no dndia norte-americana:

    ... precisamos chamar de volta terra sonhos e vises, colocando-os na vida. Em minha terra no podemos pisar s cegas, emvises - ou as cascavis provaro o contrrio. Precisamos estar alertas, atentas para o lugar onde colocamos os ps (in ANDER

    HOPKINS, 1983, p. 145).

    Os quatro Eixos so complementares. Juntando-os, configura-se uma estrela de oito pontas.

    O 8 o smbolo do infinito e da imortalidade, representando a continuidade eterna, sem comeo nem fim.

    Criada pelo entrelaamento de dois quadrados, a estrela de oito pontas associa-se a um estado de equilbrio necessrio para qua justia se estabeleam. Representa o incio de um novo ciclo, sendo um smbolo de regenerao psquica. Seu centro o centvida. Dele emana a energia que tudo move: sempre criando, comeando, encerrando; sempre movendo, sempre continuando.

    Integrar os Eixos parte do Processo de Individuao, da busca da totalidade psquica.

    A Roda Sagrada serve como um guia para o autoconhecimento e a busca de autotransformao do homem. Ela nos remete a coentre todos os aspectos do universo com sua pulsao contnua. Analisando-a, passamos a valorizar cada passo do nosso camin

    adquirimos uma nova compreenso do nosso processo evolutivo.

    Se um ponto do caminho se expande, o seguinte se recolhe e, assim, a energia se volta para dentro e para fora, num processo continuamente, de forma que em algum ponto de um caminho, as lies bsicas do caminho seguinte comeam a emergir.

    Assim a Roda cclica e seu giro contnuo. Ela traduz as formas de cada um "... orientar-se (direo e sentido) e conhecer seu mundo (localizao e misso)" (FRAISSE, 1993, p. 159).

    APLICANDO OS CONHECIMENTOSDA RODA XAMNICA DE CURA ARTE-TERAPIA

    Da mesma forma que existem vrias tcnicas de utilizao da Roda Xamnica de Cura que vo desde a jornada xamnica, passdilogo com a criana interna, e pela recriao do jogo com as pessoas do passado, chegando resgate de alma, e a linha do temtantas outras; existem vrias tcnicas que possibilitam o trabalho com o Crculo Psico-Energtico e a Dinmica da Psique na Art

    Os estudos de Jung sobre a Tipologia Psicolgica mostram que a adaptao do indivduo ao meio se d na medida em que umaatitudes - extrovertida e introvertida - bem como uma das funes psquicas so mais diferenciadas que as outras, servindo coapoio conscincia (Ego). Nesse movimento a parte excluda e rejeitada forma a Funo Inferior juntamente com a Sombra (InPessoal) e os Complexos Afetivos.

    O Crculo Psico-Energtico possibilita o dilogo entre a Criana Interior e o Ego (Adulto); entre o Corpo Fsico e o Esprito; trazeampliao da conscincia e muitos contedos para serem integrados.

    Como cada direo da Roda concentra uma qualidade energtica, formada por uma atitude (introvertida ou extrovertida) e umapsquica (elementos da natureza), podemos usar este referencial na leitura simblica e no direcionamento do processo artetera

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    considerando o que cada sujeito precisa ativar e desenvolver em si mesmo na busca de um maior equilbrio.

    Num primeiro tempo, pode-se focalizar o diagnstico da Tipologia Psicolgica ou do Ponto do Crculo Psico-Energtico mais e mhabitado. Busca-se atravs da leitura das representaes e da expresso corporal perceber qual a atitude, funo predominanteestas esto em desequilbrio, para, num segundo tempo, buscar as funes auxiliares ou os caminhos intermedirios, chegandoao trabalho com a Funo Inferior ou o Ponto oposto - o espao menos habitado.

    Neste processo, uma gama de materiais e tcnicas podem auxiliar o sujeito a entrar em contato com aquilo que precisa desenvomesmo.

    Como cada direo do Crculo tem uma atitude e uma funopredominante, podemos pensar na qualidade energtica do elemento quea representa, bem como os materiais e tcnicas que a focalizam.

    Segue alguns exemplos que podemos utilizar isoladamente oupercorrendo a Roda.

    Partindo da Direo Sul, focalizando o Sentimento Extrovertido, temos agua, que pode ser usada para rituais de batismos e banhos,possibilitando o sujeito soltar o prazer da criana, trazendo o ldico.

    A pintura a dedo ou com as mos trazem essa qualidade sensorial da

    Criana Interior.

    Experimentao com gua

    em Grupo

    Xadrez Lquido com gua

    No Sudoeste, buscando a introverso do Sentimento, o trabalho commanchas na gua (xadrez lquido, cola colorida diluda em gua, ecolineou aqualine sob canson molhado; ou a mistura de nanquim com lcoolsob papel canson) levam a introspeco profunda e abrem para aprojeo nas manchas que se configuram livremente.

    A aquarela e o guache aguado tambm entram nesta funo, j queimpedem o controle racional sobre as imagens que se formam,facilitando as projees inconscientes.

    Tambm a dissoluo de imagens e dobraduras, levam a um retorno aoestado de indiferenciao. Forma-se uma "papa" da qual surgem novasformas por meio da tcnica de papier marche ou da reciclagem de papel.

    O foco do trabalho o mergulho no inconsciente seja atravs dasimagens, seja pelo movimento, pelo toque ou pela msica.

    Na transio entre os pontos est a lama.

    Ao chegar ao Oeste, a energia se extroverte para que o sujeito possaconectar-se com as possibilidades do universo sensorial. Aqui a qualidadeenergtica da gua conecta-se com a Terra, ganhado densidade,incorpando. Torna-se, ento, Argila. Esta representada miticamente na

    figura de Cramo, o filho de Dioniso eAriadnes que nasceu no Hades(BRANDO, p. 201).

    A Argila o material central do Oeste, Reino da Grande Me Terra. Modelagem em Argila

    Quanto mais prxima do Sul, ou seja, misturada com a gua, maisprxima da qualidade de lama, trazendo a sensualidade do contatocorpreo.

    Ainda usando a argila, o trabalho com a Ocagem tambm toca esteponto, de forma que a retirada de contedos forma um corpo oco, onde

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    Ocagem

    novas formas podem ser esculpidas e recolocadas.Aqui trabalha-se junto ao solo, me terra. Busca-se o ritmo e asdanas tribais. As msicas que tm ritmos bem marcados.

    Trabalha-se com a explorao sensorial com texturas utilizadas deformas diversas; e a pintura corporal.

    Utiliza-se tambm sementes, produtos da terra, para serem separadas e constiturem formas.

    Ao se aproximar do Noroeste, a massa corrida, a massa biscuit, a massa de sabonete, o gesso, amassa de modelar, so materiais que ganham forma e secam rapidamente em contato com o ar.

    Mosaico com Casca de Ovo

    No Noroeste, a ateno volta-se para dentro. necessrio foco, ateno,concentrao e disciplina. As tcnicas impem a obedincia por si s, apartir da resistncia do prprio material, como o caso de entalhe emmadeira ou da utilizao de arames grossos.

    J o trabalho com a lei focaliza a utilizao de espaos delimitados,desenhos com regras e temas, materiais escolhidos previamente comobjetivos claros.

    O mosaico feito com os mais diversos materiais fala da necessidade defoco e ateno, delimitao de espao, que a tcnica exige.

    Quando se aproxima do Norte, a qualidade da terra se esfarela echegamos ao trabalho com a areia e o sopro. A criao de superfcies deareia natural ou colorida desenhadas sobre vidro e de sua transformao,trazem o limite de um material leve que cai e exige preciso para que asformas possam se manter.

    No Norte, o trabalho focaliza a respirao - inspirar e expirar, que podeser acompanhada de tcnicas de imaginao ativa, ou de objetos como

    bales, que possibilitam o encher e o esvaziar.

    o sopro focalizado - soprar tinta no canudo sobre pano, soprar farelo degiz de cera ou pastel sobre papel; ou o sopro de p de crepom sobreimagens feitas com cola; ou ainda de bolhas de sabo em cores e formasdiversas.A energia se extroverte na expresso estratgica do pensamento, naentonao de msicas e na utilizao de instrumentos de sopro.Sopro

    J os mbiles e vitrais trazem a relao entre equilbrio, estratgia e omundo das idias.

    Mbile

    Danando com Panos

    No Nordeste, o sujeito volta-se para si,podendo ouvir a si mesmo. Aqui ouvimos osom do nosso prprio corpo e podemosexpressa-lo por meio da dana livre companos leves, fitas e bales, que trazem afluidez dos movimentos integrados ao Ar.

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    Desenhos com tintas em folhas grandes ou no cho com fitas e cordas,trazem a qualidade da soltura do movimento.

    Chegando ao Leste, o fogo se extroverte no trabalho com cores quentes.Todos os rituais de dana em volta da fogueira, ou de queimar cartas eimagens em caldeires se encaixam neste momento.

    Tambm os trabalhos de contemplao, onde se sai de um mergulhoprofundo para reverenciar o Cosmos integra este ponto.Finalmente no Sudeste, o fogo brando da vela revela o poder do fogotransformador. Este no queima nem esfria, mas mantm aquecido,transformando, purgando - destruindo as diferenas, extinguindo osdesejos, reduzindo ao estado primeiro da matria. o fogo de Hstia.

    Queima de Cartas

    As tcnicas que envolvem o fogo neste momento possibilitam uma introspeco. o caso de passar opapel sob a chama da vela, contemplar as manchas e completar a imagem com pastel seco. Ou dederreter o giz de cera na chama da vela, desenhando sob pano ou papel.

    Trabalho com Genograma

    Aqui pode-se trabalhar com genogramas realizados a partir da escolha decores, objetos e formas, buscando a relao entre o sujeito e os

    ancestrais.

    Trabalha-se, tambm, com a composio da linha da vida, representadaspor fotos, msicas, desenhos, figuras - e o ciclo da prpria existnciacom diferentes materiais, tendo como propsito a resignificao daprpria vida.

    Aproximando-se do Sul podemos trabalhar com a cera derretida, jogadasob o papel ou com giz de cera pingado na gua.

    Assim fecha-se a Roda, mas no as possibilidades de materiais e tcnicasque vo se encaixando em cada um destes momentos.

    Cera Derretida

    Altar da Terra

    Outro trabalho realizado em Arte Terapia a construo de uma RodaXamnica, atravs de altares de cada Ponto Cardeal, utilizando-se doselementos correspondentes, integrados a outras representaessimblicas referentes a estes. Tal qual para os ndios norte americanos,este trabalho edifica uma representao simblica do Universo e daMente Universal, uma vez que a Roda um mapa da mente.

    Perceber qual altar que voc mais habita, tendo mais elementos seus e,por isso, poder doar ao grupo esta energia; bem como ir de encontro aoaltar do qual voc possui menos elementos, criando oraes quepossibilitem a busca da ativao desta outra energia; uma forma deretirar o excesso de energia da Funo Psquica Superior e buscar puxara Funo Inferior, expressando-se a partir dela.

    CONCLUSO:

    Sendo um dos sistemas mais antigos da humanidade, a Roda Xamnica de Cura trs em si o pulsar davida em movimento, contendo as energias da Terra (os Reinos Animal, Vegetal e Mineral), do Ar e dagua e do Fogo.

    Segundo a tradio Tupy Guarany, nossos corpos so tecidos pela Me Terra atravs da energiadesses elementos. Assim somos feitos da Terra (de onde tecido o nosso corpo, cujo o corao pulsano ritmo do corao da Terra), pelo Ar (de vem nossa respirao), pela gua (que o meio lquido

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    fluido de nosso corpo - o sangue) e pelo Fogo (que trs a essncia das estrelas e se localiza na regiodo plexo). Depois, temos nossa pele vestida com as cores do Arco-ris, nossos ancestrais primeiros,tataravs do mundo.

    Nossa essncia , ento, inicialmente tecida por fios divinos.

    Ao nascermos novos fios se juntam ao nosso eu - tecidos pelas palavras e pelas mos humanas. Estes

    ltimos tm o poder de criar e destruir. Tais fios formam pedaos vivificados pelo nosso esprito.

    nestes ensinamentos to antigos, que Jung (1921) se apia para traduzir a Dinmica da PsiqueHumana. Ele equipara os movimentos de expanso e interiorizao da Roda de Cura, em extroverso eintroverso, vinculando-o energia dos quatro elementos da natureza. Tais energias esto presentesem todos ns desde o nascimento, mas as atualizamos de maneiras diferentes, de acordo com a nossahistria e reao ao meio externo.

    Posteriormente, Anne Fraisse, traz o conhecimento Roda de Cura para a prtica clnica, como uminstrumento de trabalho.

    Somando os dois conhecimentos, percebemos que o pulsar da Roda traz um novo olhar para os TiposPsicolgicos, uma vez que os pontos onde a energia se introverte, integra dois elementos da natureza,o que abre espao para novas reflexes acerca da utilizao da Tipologia Psicolgica deJung.

    De toda forma, tanto como leitura simblica, como pelo arsenal de materiais e tcnicas que osdiferentes canais expressivos possibilitam, a Roda Xamnica um material precioso para o arte-terapeuta, favorecendo o mergulho interior e a ativao de contedos poucos conhecidos pelaConscincia.

    Percorrer a Roda Xamnica percorrer o Caminho do Guerreiro - a Jornada de Auto-Conhecimento, ouseja, o percurso rumo Individuao. Cada posio da Roda faz um convite para que cada umexperimente a si mesmo, estabelecendo novos relacionamentos, novas idias, e novas maneiras de seenxergar a vida.

    Explorando-a enxergarmos a ns mesmos como um ser multidimensional. Somos convidados a criarnossas prprias vidas, traando a nossa histria e nos responsabilizando por ela, por quem somos epor quem nos tornamos.

    Para tanto, cabe a cada um, num primeiro momento, discernir o que em si mesmo foi tecido pelos fios

    divinos (o Self) e o que foi tecido pelos fios humanos, para posteriormente, poder perceber o que setem feito de si mesmo com os fios que lhe foram dados, podendo buscar o que nos falta para chegarmais perto da completude.

    BIBLIOGRAFIA:

    ANDERSON, Sherry Ruth e HOPKINS, Patrcia - O Jardim Sagrado: a Dimenso Espiritual da VivnciaFeminina, So Paulo: Saraiva, 1993.BAPTISTA, A. L. - Ciclos Arquetpicos e Crculo Psico-Orgnico na Arteterapia. In Imagens daTransformao. RJ: Pomar Ed, N 9, 2002.BERNARDO, P. P. - A Mitologia Criativa e o Olhar: Dando Corpo e Voz aos Diferentes Aspectos do Ser.ARCURI (org.) - Arteterapia de Corpo e Alma. SP: Casa do Psiclogo, 2004.BLOFELD, In Arroyo p.110-111.BRANDO, Junito - Dicionrio Mtico-Etimolgico. Vol. 1 - Vozes, Petrpolis, 1997.BRUCE-MITFORD, Miranda - O Livro Ilustrado dos Signos & Smbolos. Livros e Livros, 1996.CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. - Dicionrio de Smbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos,

    formas, figuras, cores, nmeros. RJ: Jos Olympio, 1994.CASTAEDA, in MONTAL - O Xamanismo. So Paulo: Martins Fontes, 1986.DOURADO, Jaguar - A Roda Sagrada.EDINGER, Edward F. -Anatomia da Psique: o Simbolismo Alqumico na Psicoterapia. So Paulo:Cultrix,FRAISSE, Anne -Apresentao do Crculo Psico-Energtico. Manuel d' Enseignement d' EcoleFranaise d' Analyse Psycho-Organique - Tome 3, 2 ed. Paris: EFAPO, 1997.------------------ - Fonte de Fogo: Ensinamento e Iniciao: Vida, Morte e Renascimento num Percurso

    Analtico. R.J.: Bapera, 1998 .------------------ - Transcrio do Seminrio: Crculo Psico-Energtico, Mimeo, Rio II: 2004.GRAMACHO, Derval e Gramacho, Victria - Magia Xamnica: Roda de Cura. So Paulo: Ed. Madras,2002.

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    JUNG, Carl Gustav - Tipos Psicolgicos. Obras Completas, vol VI, Petrpolis, RJ: Vozes.NEIHARDT(1832) , in O Uso de Mandalas na Orientao Profissional, in SOARES, et all -ORMEZZANO (org) - Questes de Arteterapia. PF/RS: UPF, 2004.RIBEIRO, M. L.-Terra - Planeta gua. Conferncia apresentada no 3 Curso Sobre guas Minerais, emPoos de Caldas - MG.SACHARNY, Silvana,- Os Sonhos. Apostila do Grupo Rio I, 2000.

    NOTAS:(1) Jung em seus estudos acerca da Dinmica da Psique articula as atitudes de extroverso eintroverso energtica a quatro funes psquicas, a saber: Sensao, Pensamento, Sentimento eIntuio. Da combinao entre a predominncia de uma destas atitudes e funes no comportamentohumano surgem os oito Tipos Psicolgicos ao qual me refiro neste artigo.

    (2) A Energia Consequencial se refere carga energtica relativa s potencialidades e as possibilidadesde tudo que pode encarnar ou no, trazendo novas alternativas e direcionamentos. " a potncia, aenergia que pode vir a ser ... uma direo que ocorreu, e que est em voc ". SACHARNY, 2000 - p 11.

    (3) Verbando: terminologia utilizada por Paul Boyesen ao se referir a uma fala que tem uma conexoentre sentimento e sentido.

    ANA LUISA BAPTISTA

    Psicloga Clnica (CRP 05/23146);Arteterapeuta credenciada a AARJ;Especialista em Psicologia Junguiana pelo Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitao - IBMR;Psicoterapeuta Corporal em Psicologia Biodinmica e Anlise Psico-Orgnica pela EFAPO (coleFranaise D' Anlyse Psyco-Organyque) e pelo CEBRAFAPO (Centro Brasileiro de Formao em AnlisePsico-Orgnica);Scia Fundadora do Incorporar-te: Espao Teraputico das Artes;Coordenadora do Home Care Teraputico e dos Atendimentos Comunidade do Incorporar-te;Coordenadora dos Atendimentos de Arteterapia a Crianas e Adolescentes Portadores de Neoplasia eseus Familiares, Autora e Supervisora do Projeto As Formas Marias de Ser, ambos do Setor deEducao e Apoio Psico-Social da Casa Ronald Mc Donald/RJ;Criao e coordenao de Salas de Artes Interativas (Laboratrio de Artes Sensoriais) temticas elivres com diferentes finalidades, integrando os estudos e pesquisas dos objetos relacionais criados porLygia Clark, a Anlise Psico-Orgnica de Paul Boyesen, a Psicologia Analtica de Jung e a Arteterapia;Formadora de Terapeutas em Arteterapia e Coordenadora de Grupos de Atualizao e Vivenciais emArteterapia, desde 1997, com turmas no Rio de Janeiro e Florianpolis e Joinville.

    Artigo publicado na Revista Imagens da Transformao, vol. 12, RJ: Pomar Ed., 2006.

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