a revelia e seus efeitos

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Jus Navigandihttp://jus.uol.com.br A revelia e seus efeitos. Aspectos relevantes http://jus.uol.com.br/revista/texto/17551 Publicado em 10/2010 Cynthia Magalhes Pinto Godoi Quinto 1 - INTRODUO Ao Estado incumbe a funo de pacificar conflitos e a de aplicar o direito ao caso concreto, atravs da jurisdio [01]. Somente aquele vai definir e aplicar a norma relao controvertida entre contendores. Ambas as partes, porm, podero provocar a prestao da atividade jurisdicional do Estado2. O primeiro a exercer o direito tutela atuar atravs do exerccio do direito de ao, e o demandado, por sua vez, assumir o exerccio do direito de defesa. Para tanto, tem-se o processo3 - instrumento colocado disposio dos litigantes, a fim de administrar a justia4, tendo autor, ru e juiz o dever de observar os seus princpios norteadores, como os princpios do Devido Processo Legal5, do Contraditrio6, da Ampla Defesa, da Bilateralidade das Audincias, da Verdade Real e da Justia, do Livre Convencimento Motivado, dentre outros. A revelia, neste contexto, deve ser analisada em conjunto com tais princpios, com destaque para o papel das partes na busca da verdade real7, a fim de que a efetiva justia ocorra no caso concreto. Esta ser a direo tomada no presente estudo, demonstrando-se, de forma simples e modesta, as correntes doutrinrias e jurisprudenciais que mitigam a robustez e a agudeza da revelia e de seus efeitos. 2 - CONCEITO DE REVELIA Revelia8, pelas normas insculpidas nos artigos 319 e 277, ambos do CPC, corresponde situao do ru que no apresenta contestao ou que no comparece audincia, tendo sido validamente citado. No Processo Penal, a revelia "se verifica a partir da ausncia injustificada do acusado por ocasio da realizao de qualquer ato relevante no processo, bem como a mudana de residncia, sem comunicao do novo endereo."9 No Processo do Trabalho, nos termos do artigo 844 da CLT, ocorre a revelia se o ru no comparece audincia. O CPC no tratou de conceituar a revelia. Disciplinou, apenas, seus

efeitos. Revelia e efeitos da revelia so coisas diversas. A revelia a posio do ru no processo, diante de sua inrcia, inatividade, ou, como j dito, diante da sua no contestao ou no comparecimento. Os efeitos so a provvel conseqncia da revelia. Provvel, porque podem no ocorrer, no obstante a ausncia, de defesa ou comparecimento do ru, por fora do artigo 320, CPC, disciplinado de forma no taxativa.10 As possveis posies do ru no processo, que o tornam revel, so: a) o que no comparece em juzo e no apresenta contestao; b) o que comparece em juzo, juntando procurao aos autos, sem, porm, contestar; c) o que comparece em juzo, apresenta contestao, mas no apresenta procurao e, intimado, no regulariza a situao; d) o que apresenta contestao intempestiva; e)o que, no procedimento sumrio, no comparece na audincia preliminar de conciliao e no se faz representar por advogado munido da defesa; f) o que apresenta reconveno, mas sem apresentar a contestao. Saliente-se que, no obstante a revelia, seus efeitos podero no ocorrer em alguns casos, como, por exemplo, no da letra "f", se, na reconveno, o ru-reconvinte apresenta fundamentos e provas contrrios pretenso do autor-reconvindo. O mesmo raciocnio se aplica para a contestao apresentada na ao cautelar e a revelia no processo principal. Outra situao a do ru que apresenta sua defesa no prazo, mas, porm, no procede devoluo dos autos em tempo hbil. Isto porque aplicar a "pena" de revelia ao ru que contestou, mas deixou de efetuar a entrega dos autos no mesmo dia, um exagero que no guarda proporo com a condenvel conduta do advogado. A este se deve recair as penalidades impostas no Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, pela no devoluo dos autos no prazo assinalado pelo juiz. Neste sentido a jurisprudncia do Egrgio STJ: PROCESSUAL CIVIL - DEVOLUO TARDIA DOS AUTOS (ART. 195 CPC)

- CONTESTAO OFERECIDA NO PRAZO RECURSAL - TEMPESTIVIDADE. I - A devoluo tardia dos autos no enseja a decretao da intempestividade da pea contestatria apresentada no prazo legal. No se pode impor pena to grave parte quanto a revelia, quando a infrao, perpetrada pelo advogado, passvel de sano prpria. II - Recurso Especial conhecido e provido. Deciso Por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. (Acrdo Resp 138164/SP; Recurso Especial 1997/0044558-5. Fonte: DJ Data:14/12/1998 PG:00229-Relator Min. WALDEMAR ZVEITER. Data da Deciso: 01/10/1998. rgo Julgador: Terceira Turma). Da mesma maneira, ao ru que no comparece audincia inicial do procedimento sumrio, mas o seu procurador se faz presente, com a contestao, no se deve aplicar a revelia, devendo o juiz considerar o seu nimo de defesa. Outra hiptese a da deciso adotada pela 1 Cmara Cvel do Tribunal do Paran, em que, mesmo caracterizando a revelia, o juiz pode determinar, de ofcio, a produo de provas, ao perceber a necessidade delas, com esteio nos artigos 130 e 342 do CPC.11 3 - EFEITOS DA REVELIA 3.1 - PRESUNO DE VERACIDADE DOS FATOS ALEGADOS PELO AUTOR O artigo 319 determina que se o ru no contestar a ao, reputar-seo verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. Ressalta-se, primeiramente, que a presuno se refere aos fatos e no ao direito12. Seja adotando o critrio de presuno absoluta, seja o de relativa, a presuno h que se restringir aos fatos13. Isso significa dizer que no est o ru impedido de, atravs de suas manifestaes, tentar persuadir o juiz quanto aplicao correta do texto legal.14. Uma vez feita esta ressalva, passa-se anlise do real sentido da norma. Alguns autores tratam o artigo 319 como sendo de presuno absoluta, ou seja, a simples ocorrncia da revelia acarretaria a procedncia do pedido do autor. Este entendimento adotado por RITA GIANESINI, para quem "a presuno absoluta decorre da prpria lei e que, em ocorrendo, dever ser aplicada pelo magistrado, no admitindo prova em contrrio."15 Tal raciocnio nos parece to absurdo e ilgico que chegamos at a fazer, guardadas as diferenas, uma comparao com o tempo em que o direito de ao estava atrelado ao direito material invocado pela Autor16.

Felizmente, este no o pensamento dominante. Parte da doutrina, e tambm da jurisprudncia, amparada pelo princpio do contraditrio e da busca da verdade real, inclina a dizer que se trata de uma presuno relativa, com a possibilidade de prova em sentido contrrio pelo ru. Veja-se: 1) "REVELIA Presuno de veracidade relativa Possibilidade de o juiz apreciar questes processuais que se referem ao andamento do processo Aplicao do princpio da busca da verdade real. A presuno de veracidade decorrente da revelia relativa e no absoluta. Embora revel, cabe ao juiz apreciar questes processuais que se referem ao andamento do processo (art. 303 do CPC). No obstante revel, alis, poder ele intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontra (art. 322 do CPC), at produzindo prova contrria aos fatos alegados pelo autor.17 2) "Processual Civil. Revelia. Efeitos. Art. 319,CPC. A pontificao contida no art. 319 do Cdigo de Processo Civil de que "se o ru no contestar a ao, reputar-se-o verdadeiros os fatos afirmados pelo autor" deve ser recebida com temperamento, por isso mesmo que "a presuno de veracidade dos fatos alegados pelo autor em face revelia do ru relativa, podendo ceder a outras circunstncias constantes dos autos, de acordo com o princpio do livre convencimento do Juiz" (Resp n 2.846/ RS, Rel. Min. Barros Monteiro).18 Segundo NORBERTO DE ALMEIDA CARRIDE, O Simpsio da Associao de Magistrados do Rio de Janeiro, de 28 a 30 de agosto de 1974, recomendou aos juzes de todo o pas, que, quanto revelia, os arts. 319 e 334, IV, deveriam ser interpretados no sentido de no ser absoluta a presuno de veracidade dos fatos afirmados pelo autor, devendo excluir-se a presuno quando, luz dos prprios elementos, trazidos aos autos pelo autor, ou de notoriedade, verificar-se a evidente inveracidade deles. 19. Porm, tendo a presuno relativa como conseqncia a dispensa do nus da prova quele a favor de quem aquela se estabeleceu20, vem tona a seguinte questo: poder-se ia afirmar que esta seria a correta interpretao do artigo 319, em situaes nas quais, (excluindo-se as hipteses de clara extino do processo, sem julgamento do mrito, por falta de uma das condies da ao, ou mesmo, com julgamento do mrito, na hiptese de as provas trazidas pelo autor forem contrrias s suas alegaes, bem como no caso de ausncia de instrumento pblico que a lei considerar essencial) no produzindo o ru prova contrria ao direito constitutivo do autor, este, mesmo atravs de provas frgeis e at mentirosas, conseguiria ter seu pedido julgado procedente?

A soluo para esta questo, talvez, seria em afirmar que no se trata de uma presuno legal, considerando a presuno do artigo 319 com a de fato ou a hominis, a qual no estabelecida por lei, mas devida a uma elaborao mental do juiz, quanto aos seus efeitos jurdicos.21 Dentro desta situao, CLEANTO GUIMARES SIQUERIA considera imprprio o termo presuno, afirmando: Os comentaristas dos arts. 302 e 319 do CPC, como de resto a grande maioria dos doutrinadores, afirmam que tais dispositivos, ao estipularem que, com a revelia, presumem-se verdadeiros os fatos no impugnados, ou, ainda, que reputar-se-o verdadeiros os fatos afirmados pelo autor, criaram tpica presuno. Mas, a partir dos conceitos extrados da teoria geral da prova, somos forados a entender no se tratar de verdadeira e tpica presuno. Esta a presuno como tcnica e mecanismo de prova, destina-se quilo que deve ser provado, tais os pontos de fato, acerca dos quais, pela negativa do ru quanto sua ocorrncia, instaurou-se controvrsia. 22 Conforme citao de MARIA LCIA MEDEIROS, Arruda Alvim tambm entende que, "somente num sentido imprprio que se pode aludir aos fenmenos jurdicos dos artigo. 302 e 319 como "presuno". Igualmente, para Joo Batista Lopes, em rigor tcnico, "de presuno no se cuida".23 A questo , sendo a presuno do artigo 319, CPC, do tipo relativa ou a da espcie hominis, o entendimento mais consentneo e coerente com os princpios norteadores do processo o de que o autor dever, mesmo ocorrendo a revelia, trazer elementos suficientemente hbeis a provocar no julgador a credibilidade e verossimilhana de seus argumentos. E, como muitos afirmam24, julgar o magistrado, amparado em presunes, sem qualquer convencimento da verdade do direito alegado pelo autor repelir a verdadeira funo do processo, qual seja, de aplicar o direito ao caso concreto, pacificando, com justia, o litgio. Isto porque, nos termos do ensinamento de JOS ROBERTO DOS SANTOS BEDAQUE, dissertando sobre a "Garantia de amplitude de produo probatria", preceitua: O direito prova componente inafastvel do princpio do contraditrio e do direito de defesa. O problema no pode ser tratado apenas pelo ngulo do nus (CPC, art. 333). Necessrio examin-lo do ponto de vista da garantia constitucional ao instrumento adequado soluo das controvrsias, dotado de efetividade suficiente para assegurar ao titular de um interesse juridicamente protegido em sede material, a tutela jurisdicional. 25 Neste contexto, insere-se muito bem os ensinamentos de CALMON DE PASSOS, sobre a importncia da prova: A prova no feita no interesse exclusivo das partes, mas, antes e

acima, dele no interesse da verdade, para que haja correta aplicao do direito. Correta aplicao aquela que corresponde incidncia, que tem alicerce nos fatos da vida. Por conseguinte, correta aplicao do direito a que assenta em fatos verdadeiros, logo, a deficincia da prova atinge no somente o interesse da parte, mas tambm desvirtua e desfigura, igualmente, a funo jurisdicional. 26 Vale destacar a concluso de MARIA LCIA MEDEIROS, para quem: Com base no princpio do acesso justia, assegurado constitucionalmente, e em decorrncia do qual o processo visto como um instrumento de atuao do direito material, que entendemos deva ser interpretada a regra do art. 319 do CPC, restringindo-se ao mximo sua eficcia, para abranger apenas e to-somente aquelas situaes em que os fatos so seguramente dedutveis da prova constante dos autos ou da narrao contida na inicial, com, pelo menos, um incio de prova. 27 Destarte, considerar que o autor permanece com nus da prova de suas alegaes, em que pese a revelia, implica em dizer que as provas produzidas traro, alm de mais certeza ao esprito do juiz, uma soluo mais justa e substancial ao caso posto em exame, com maior aproximao da verdade real e da justia, fim precpuo do processo. 3.2 - CONFISSO FICTA E A REVELIA Nos termos dos artigos 302 e 319, ocorrer a confisso ficta 28 quanto aos fatos no precisamente impugnados ou no contestados pela parte contrria. O artigo 334, por sua vez, preceitua que "no dependem de prova os fatos: I) afirmados por uma parte e confessados por outra; e III) admitidos, no processo, como incontroversos." Alguns conceitos devem ser apresentados, aqui, para, aps, ser aclarada a questo sobre a possibilidade de confisso ficta, em favor do autor, nos termos daqueles artigos expressos. Hugo de Brito Machado29 afirma que: na teoria da prova, confisso e admisso constituem conceitos diversos, e a distino entre eles tem notria conseqncia prtica. Na confisso h um reconhecimento voluntrio da verdade a respeito de um fato, mas a confisso meio de prova. No se trata de um ato de vontade de natureza negocial, vale dizer, com a confisso o confitente no quer beneficiar a parte contrria.30 Ao contrrio da confisso, na admisso, "no est de nenhum modo contrariando o seu prprio interesse (do que admite)"31, e ela no sofre

nenhuma das restries que confisso invocvel, justamente por no haver favorecimento da parte contrria. Os fatos, na admisso, so incontroversos, no interesse comum, do autor e do ru, para que a demanda possa ser julgada. A confisso, segundo aquele autor, sofre as seguintes restries: a) somente pode ser feita por intermdio de advogado se este tiver recebido outorga de poderes especiais para tal fim; b) a confisso diz respeito a fatos envolvidos com o mrito da causa, posto que somente em relao a estes se pode dizer que, ao confessar, o confitente estar renunciando, ou transigindo. A par disso, cumpre-se demonstrar a distino entre confisso e reconhecimento, segundo CALMON DE PASSOS, "a confisso tem por objeto um fato e o reconhecimento tem por objeto o pedido formulado pelo autor."32 Prosseguindo em seus ensinamentos, afirma ser a confisso um ato, uma declarao de cincia do confitente, prpria e pessoal deste. J sob o aspecto da revelia, o insigne Doutrinador categrico: O ru que no comparece e, por fora disso, deixa de contestar, no silencia, omite-se, faz-se ausente. E inexato equipara-se a ausncia ao silncio. Quando o demandado deixa de comparecer, autoriza-se o juiz a conhecer do mrito, com apoio no contraditrio formal institudo com o ajuizamento da causa, retirando-se do ru a possibilidade de produzir a prova contrria. No se valora nem se interpreta comportamento do ru ou se atende a sua vontade tacitamente manifestada, porquanto nenhum comportamento seu existe, no processo, que possa servir de ponto de referncia para isso. E tanto mais certo que na hiptese do art. 319 a norma se dirige ao juiz, autorizando-o a afirmar seu convencimento nos fatos como postos pelo autor, que a presuno atua de modo absoluto, vinculando necessariamente o magistrado, o que no acontece nem mesmo com a confisso propriamente dita, que posta sempre em confronto com as demais provas dos autos. 33 Diante desta crtica e da elucidao dos conceitos de admisso, reconhecimento e confisso, e das caractersticas desta, percebe-se que elevar a condio de no contestao ou de no impugnao especfica ao grau de confisso de fatos, no sentido de ser a melhor prova obtida no processo, sem sopes-la com as demais provas, penalizar, demasiadamente, a condio de revel do ru no processo, em detrimento do nus da prova e, por conseqncia, da qualidade da prova. Cabe, portanto, reiterar, aqui, os mesmos fundamentos expostos no item "Presuno de veracidade dos fatos alegados pelo Autor", no sentido de no ficar o autor, diante da confisso34 e da presuno de veracidade dos fatos por ele alegados, imune prova dos fatos constitutivos de seu direito. 3.3 - A NO INTIMAO DO RU QUANTO AOS ATOS DO PROCESSO

Talvez uma das maiores afrontas aos princpios constitucionais do contraditrio e da ampla defesa esteja prevista no artigo 322, 1 parte. 35 Tal artigo retira a possibilidade de intimao dos prazos ao ru revel. Porm, entende a doutrina ser inaplicvel tal norma somente quando o ru revel atuante, ou seja, deixou ele transcorrer in albis seu prazo para contestao, juntando, porm, procurao aos autos. Discute-se, no caso do revel ausente, quando ocorreria o incio de seu prazo. CALMON DE PASSOS entende ser a partir da insero do despacho na srie dos atos do procedimento, ou seja, publicao em sentido estrito.36 RITA GIANESINI, 37 por outro lado, entende se dar o dias a quo do prazo para o ru revel ausente a partir da efetiva cincia pela parte do ato, atravs da publicao. Embora a expressa discordncia com o disposto no artigo 322, pela infringncia aos princpios do contraditrio e ampla defesa, devendo-se a intimao dos atos, a exemplo do que ocorre no Processo do Trabalho, ser feita tambm ao ru revel, a opinio da Autora parece ser a mais acertada, pela mitigao da norma, no sentido de se iniciar o prazo a partir da publicao em rgo oficial ou por via postal da sentena ou outro ato de interesse das partes. 3.4 - DESENTRANHAMENTO DA CONTESTAO RITA GIANESINI, em Conferncia preferida, em maio de 2002, no Curso de Especializao em Direito Processual Civil da Pontifcia Universidade Catlica 38, defende a tese segundo a qual, caso venha o ru apresentar contestao intempestiva, sua pea de defesa dever ser desentranhada dos autos. Isto, porque, no seu entender: a necessidade da busca da verdade real no pode justificar o mesmo tratamento daquele que protocola defesa em tempo hbil daquele que no consegue cumprir o prazo legal peremptrio. (...) De igual forma, os documentos, salvo o instrumento de mandado, deveriam ser desentranhados, no apensos contra capa, mas entregues ao ru. Esta, contudo, no se afigura a tese mais correta. CLEANTO GUIMARES SIQUEIRA, propsito do assunto, categrico:

A propsito da contestao oferecida a destempo, merece reparos a postura de alguns magistrados de 1 grau, ao determinaram, em casos tais, o desentranhamento da pea responsiva. No h, no Cdigo de Processo Civil, qualquer dispositivo de estmulo a tal atitude, seno autoritria, perfeitamente dispensvel. Ao juiz cumpre verificar se, dentre as matrias suscitadas na contestao tardia, no esto, eventualmente, aquelas que ao ru, assim como ao autor e ao prprio magistrado, lcito argir a qualquer tempo (art. 267, 3 e 301, 4), tais as objees. De resto, salvo no caso da prescrio ou da nulidade absoluta, as demais excees substanciais componentes da defesa de mrito, mesmo que apresentadas pelo ru, no podero servir de base formao do convencimento do juiz. Mas, repita-se, nem por isso lhe dado fiar-se na prtica autoritria de, simplesmente, determinar a retirada dos autos de contestao ofertada fora do prazo e, em cortesia cnica, devolv-la ao ru. 39 Neste mesmo sentido, esto os doutrinadores ARAKEN DE ASSIS e CNDIDO RANGEL DINAMARCO. 40 4 CONCLUSO O estudo sobre os aspectos prticos e relevantes da revelia leva a srias concluses. Embora seja o instituto velho conhecido no nosso ordenamento jurdico, muito ainda se tem que pensar sobre ele, sopesando a letra fria da norma do artigo 319, e seus correlatos, com os princpios informadores do processo, notadamente os garantidos pela Carta Magna, a fim de se evitar arbitrariedades e a desconsiderao do verdadeiro escopo do processo. Talvez, atravs de um novo "pensar" sobre a revelia, com a anlise do direito aliengena a respeito, chegar-se- a um ponto de vista menos negativo e preconceituoso do revel, deixando este de ser, nas palavras do notvel processualista CALMOM DE PASSOS, um "delinqente", voltando a ser apenas um "ausente" [41] REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BEDAQUE, Jos Roberto dos Santos. Garantia da amplitude de produo probatria. In Tucci, Jos Rogrio Cruz e (coord) Garantias Constitucionais do Processo Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999; CALMON DE PASSOS, J. J. A ao no direito processual civil brasileiro. Salvador: Livraria Progresso, 1959; __________ A Confisso. In Enciclopdia Saraiva do Direito. Saraiva, 1977, n 18; __________Comentrios ao Cdigo de Processo Civil.7.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1992.vol.3;

CARRIDE, Norberto De Almeida. Revelia no Direito Processual Civil. Campinas, SP: Copola, 2000; CARRION, Valentim. Comentrios Consolidao das Leis do Trabalho. 26 ed. So Paulo: Saraiva, 2001; GIANESINI, Rita. In Conferncia preferida, em maio de 2002, no Curso de Especializao em Direito Processual Civil da Pontifcia Universidade Catlica, publicada na Revista de Processo, n 109; GOLDSCHMIDT, James. Princpios Gerais do Processo Civil. Trad. Hiltomar Martins Oliveira Belo Horizonte: Lder, 2004; GONALVES, Aroldo Plnio. Tcnica Processual e Teoria do Processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992; MACHADO, Hugo de Brito. Confisso e Admisso na teoria da prova. In Revista Dialtiva de Direito Processual n 3; MEDEIROS, Maria Lcia L. C. De. A revelia sob o aspecto da instrumentalidade. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2003; MIRANDA, Pontes De. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. Tomo IV. Forense, 1974; OLIVEIRA, Carlos Alberto lvaro De. Garantia do Contraditrio, in Tucci, Jos Rogrio Cruz e (coord) Garantias Constitucionais do Processo Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999; OLIVEIRA, Eugnio Pacelli De. Curso de Processo Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2002; PAIXO JNIOR, Manuel Galdino Da. Teoria Geral do Processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2002; SILVA, DE PLCIDO E. Vocabulrio Jurdico. 22 ed. Rio de Janeiro: Companhia Editora Forense, 2003; SIQUERIA, Cleanto Guimares. A defesa no Processo Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 1995; TEIXEIRA, Slvio De Figueiredo. Cdigo de Processo Civil Anotado. 4 ed. So Paulo: Saraiva,1992; THEODORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. vol. I, 27 ed. Rio de Janeiro: Revista Forense, 1999; VIEIRA, Jos Marcos Rodrigues. In aula de Teoria Geral do Processo II,

lecionada no curso de Mestrado da Universidade Federal de Minas Gerais, em 15.06.2004. Notas 01 No dizer de MANUEL GALDINO DA PAIXO JNIOR, Jurisdio atividade soberana do Estado, com que este, por intermdio de rgos competentes e meios predeterminados, por provocao de interessado, em carter absolutamente definitivo, protege a ordem jurdica, faz atuar a lei em casos concretos, dirimindo ou evitando conflitos particulares de interesses, agasalhando indiretamente direitos subjetivos. (PAIXO JNIOR, Manuel Galdino Da. Teoria Geral do Processo. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. P. 40.) 2 CALMON DE PASSOS, J. J. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil.7.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1992.vol.3. p.295 3 PAIXO JNIOR, Manuel Galdino Da. Teoria Geral...ob. cit. p.152. Conceitua processo: "No sentido de que ele seja concebido como integrante de um sistema em que lhe reservado o papel de instrumento de unio dos dois plos, em cujo primeiro se concentra a fora propulsora dos atos que o compem; e no outro plo, o alvo que se persegue com o dispndio de todas as energias a tutela jurisdicional. A actio e a exceptio definem os limites da resposta jurisdicional, e o processo o instrumento de que os sujeitos, colocados em cada uma das trs posies, utilizam-se para produzirem a definitividade que ornar o provimento final. 4 CARRIDE, Norberto De Almeida. Revelia no Direito Processual Civil. Campinas, SP: Copola, 2000. P.69. 5 Nelson Nery, citado por PAIXO JNIOR, Manuel Galdino. Teoria Geral ..., ob cit, pg. 171, afirma: " nesse sentido unicamente processual, que a doutrina brasileira tem empregado, ao longo dos anos, a locuo devido processo legal, como se pode verificar, v.g., da enumerao que se fez das garantias dela oriundas verbis: a) direito citao e ao conhecimento do teor da acusao; b) direito a um rpido e pblico julgamento; c) direito ao arrolamento de testemunhas e notificao das mesmas para comparecimento perante os tribunais; d) direito ao procedimento contraditrio; e) direito de no ser processado, julgado ou condenado por alegada infrao s leis ex post facto; f) direito plena igualdade entre acusao e defesa; g) direito contra medidas ilegais de busca e apreenso; h) direito de no ser acusado nem condenado com base em provas ilegalmente obtidas; i) direito assistncia judiciria, inclusive gratuita; j) privilgio contra a auto-incriminao. (Nery Jnior, Nelson. Princpios do processo civil na Constituio Federal. 5 ed. So Paulo: RT, p. 39). 6 GONALVES, Aroldo Plnio. Tcnica Processual e Teoria do Processo. Rio de Janeiro: Aide, 1992. O contraditrio foi definitivamente conquistado como um direito das

partes, foi consagrado, no Brasil, como garantia constitucional, e se transformou em uma exigncia da instrumentalidade tcnica do processo. A idia que est em sua base a da evoluo da prtica da democracia e da liberdade, em que os interesses divergentes ou em oposio encontram espao garantido para sua manifestao, na busca da deciso participada. 7 OLIVEIRA, Carlos Alberto lvaro De. Garantia do Contraditrio, in Tucci, Jos Rogrio Cruz e (coord) Garantias Constitucionais do Processo Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. P. 144; em nota de n 29, faz a seguinte citao: "Assim, Grasso, La collaborazione nel processo civili, cit, esp. P. 587. Nesse ensaio, a idia de colaborao largamente desenvolvida com vistas a que o processo, ultrapassando o simples escopo da paz jurdica, seja tambm inspirado pela busca da verdade e da justia, s alcanvel mediante a colaborao entre as partes e o juiz." 8 Revelia, segundo Pontes de Miranda, d-se quando o ru, chamado a juzo, deixa que se extinga o prazo assinado para a contestao, sem a apresentar. (MIRANDA, Pontes De. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil. Tomo IV. Forense, 1974.p. 177. 9 OLIVEIRA, Eugnio Pacelli De. Curso de Processo Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. P. 467. 10 CALMON DE PASSOS, J. J. Comentrios ao Cdigo...ob. cit. p.421. 11 CALMON DE PASSOS, J. J. Comentrios ao Cdigo...ob. cit. p. 421. 12 Conforme a seguinte jurisprudncia: "Processo Civil. Art. 319, CPC. Os efeitos da revelia (art. 319, CPC) no incidem sobre o direito da parte, mas to-somente quanto matria de fato." (Resp. 55-RJ, STJ, 4 T.,DJU de 6-1189). TEIXEIRA, Slvio De Figueiredo. Cdigo de Processo Civil Anotado. 4 ed. So Paulo: Saraiva,1992. P. 195. 13 "A presuno de veracidade, decorrente da revelia, no absoluta e insupervel, nem pretendeu a lei transformar o juiz, na espcie, num robot que tivesse que aprovar, conscientemente, a inverdade e a injustia, sem qualquer possibilidade de coactar a iniquidade e a mentira. No h como no se no considerar, implcita a idia de que a presuno de veracidade decorrente de revelia do adversrio s poder produzir todos os efeitos quanto a fatos revestidos de credibilidade ou verossimilhana. Alis, h que se distinguir entre reconhecimento de fatos (juzos de afirmao sobre realidades externas, que se opem a tudo o que ilusrio, fictcio, ou, apenas possvel) e seqelas de sua afirmao. S o fato objetivo no contestado que se presume verdadeiro. Tal presuno no alcana cegamente as conseqncias de sua afirmao. Assim, no assumem vstia de dogma de f, meras estimativas de prejuzo perante fato tornado indiscutvel pela revelia do adversrio. (TJSP, Apel. 255.718, rel. Des. Azevedo Franceschini), in THEODORO JNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. vol. I, 27 ed. Rio de Janeiro: Revista Forense, 1999. p. 396.

14 OLIVEIRA, Carlos Alberto lvaro De., ob. cit.. p. 142, em nota de n 22, afirma: Assim, a interveno do revel no processo, por exemplo, apesar do reconhecimento a implicado da verdade dos fatos alegados pelo autor (CPC, art. 322, 2 parte), ocorre exatamente porque a revelia restrita matria de fato, com abstrao das questes de direito, em relao s quais permite-se parte procurar persuadir o rgo julgador. Do ius fornecido pelos prprios litigantes, e no s pelo juiz, trata expressamente o art. 300 do CPC, determinando competir ao ru, na contestao, a alegao de toda a matria de defesa, "expondo as razes de fato e de direito. Na mesma linha, admitemse alegaes das partes sobre questes de fato e de direito. (v.g., art. 454, 3, do CPC). 15 MEDEIROS, Maria Lcia L. C. De. A revelia sob o aspecto da instrumentalidade. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. P. 111; citando Rita Gianesini. 16 CALMON DE PASSOS, J. J. A ao no direito processual civil brasileiro. Salvador: Livraria Progresso, 1959. P.9: Partiu-se da concepo civilstica da ao, na qual ela aparecia como simples aspecto ou momento do direito subjetivo material, no sendo compreensvel nem admissvel desligada ou independente dele. 17 RT 708/111 18 RSTJ 100/183 19 CARRIDE, Norberto De Almeida, ob. cit. p. 99 20 SILVA, DE PLCIDO E. Vocabulrio Jurdico. 22 ed. Rio de Janeiro: Companhia Editora Forense, 2003. P. 1091 21 Ibidem. 22 SIQUERIA, Cleanto Guimares. A defesa no Processo Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 1995. P. 225 23 MEDEIROS, Maria Lcia L. C. De. Ob. cit. p. 102, citando Arruda Alvim e Joo Batista Lopes. 24 MEDEIROS, Maria Lcia L. C. De. Ob. cit. p. 21: Nas palavras de Teresa Arruda Alvim Wambier, no se pode "jamais perder de vista que o processo foi concebido para dar direitos a quem os tem: no para inventar direitos e atribu-los a quem no os tenha ou para subtrair direitos de seus titulares." 25 BEDAQUE, Jos Roberto dos Santos. Garantia da amplitude de produo probatria. In Tucci, Jos Rogrio Cruz e (coord) Garantias Constitucionais do Processo Civil. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p.

168. 26 CALMON DE PASSOS, J. J. Comentrios aos Cdigo...ob. cit. p 459. 27 MEDEIROS, Maria Lcia L. C. De. Ob. cit. p. 21. 28 CALMON DE PASSOS, J. J. Confisso. In Enciclopdia Saraiva do Direito. Saraiva, 1977, n 18, p. 06: A confisso ficta ou presumida confisso que no houve, autorizando, entretanto, o legislador, se tenha os fatos alegados pela parte como verdadeiros, por fora de um comportamento processual por ela assumido. enciclopdia pg. 6) 29 MACHADO, Hugo de Brito. Confisso e Admisso na teoria da prova. In Revista Dialtiva de Direito Processual n 3. P. 29. 30 Ibidem. p. 29. 31 Ibidem, p. 31 32 CALMON DE PASSOS, J. J. Confisso. In Enciclopdia Saraiva do Direito. Saraiva, 1977, n 18, p. 01. 33 Ibidem. P. 09. 34 A ficta confessio contida no art. 319, CPC, deve ser interpretada com a necessria flexibilidade, no tendo fora para isentar o autor de provar o fato constitutivo do seu direito, sob pena de ofensa ao princpio do contraditrio substancial" (Ap. 21262, TAMG, RJ 15/205, Rel. Cludio Costa) RP 32/237 (ementrio). 35 Conforme exps AROLDO PLNIO GONALVES: para a dogmatca do processo civil contemporneo inconcebvel possa existir, no direito positivo, norma que imponha ao ru (parte que no processo) to severa sano pelo simples motivo de haver deixado escorrer in albis o prazo para contestao. GONALVES, Aroldo Plnio. Ob cit. 36 CALMON DE PASSOS, J. J. Comentrios ao Cdigo... ob. cit. p. 453 37 GIANESINI, Rita. In Conferncia preferida, em maio de 2002, no Curso de Especializao em Direito Processual Civil da Pontifcia Universidade Catlica, publicada na Revista de Processo, n 109. P. 228 38 Ibidem. 39 SIQUERIA, Cleanto Guimares. Ob. cit. p. 224. 40 MEDEIROS, Maria Lcia L. C. De. Ob. cit. p. 141. 41 CALMON DE PASSOS, J. J. Comentrios aos Cdigo...ob. cit. p.398.

Sobre o autor Cynthia Magalhes Pinto Godoi Quinto Advogada. Servidora Pblica do Estado de Minas Gerais . Especialista em Direito Processual Como citar este texto: NBR 6023:2002 ABNT QUINTO, Cynthia Magalhes Pinto Godoi. A revelia e seus efeitos. Aspectos relevantes. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2651, 4 out. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 28 jan. 2011.