a representação da informação na biblioteca nacional do
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A Representação da Informação na
Biblioteca Nacional do Brasil:
do documento tradicional ao digital
Angela Monteiro Bettencourt Rosali Fernandez de Souza
Coordenadora da BNDigital Pesquisadora do IBICT
O tema desse estudo é o processo deorganização e representação da informaçãona Biblioteca Nacional do Brasil, numana Biblioteca Nacional do Brasil, numaperspectiva histórica, desde sua chegada aoBrasil até os dias de hoje, ou seja de “realbiblioteca” a biblioteca digital.
Dividimos o relato em três momentos, que
consideramos marcantes na trajetória da
organização da informação na Instituição:
- O primeiro, vai da chegada ao Brasil até os anos
sessenta;
- O segundo, abrange a era da automação;
- O terceiro, marca a entrada da BN na era digital
com a criação da Biblioteca Nacional Digital -
BNDigital.
No percurso são
identificados e
descritos padrões,
normas e protocolos,
utilizados para a
representação da representação da
informação, e sua
evolução em busca do
compartilhamento de
dados e da
interoperabilidade.
Bibliotecas Nacionais - Conceito
As bibliotecas nacionais, surgiram no século XVIII, como
fatores de constituição da identidade nacional e inseridas
numa perspectiva herdeira das concepções iluministas e
dos ideais da Revolução Francesa.
Carvalho define uma Biblioteca Nacional como:
“[...] sinônimo da memória da cultura de um país,
no seu sentido mais alto, museu de toda a sua
produção bibliográfica, nos mais diversos campos
culturais, através de sua história” (CARVALHO, 1994).
A prerrogativa do depósito legal é
hoje uma característica comum
às Bibliotecas Nacionais, sendo a
lei do Depósito Legal um
instrumento de garantia para a
Bibliotecas Nacionais - Conceito
instrumento de garantia para a
concretização deste objetivo.
[1822 – 1907 – 2004]
A Biblioteca Nacional, também funciona como:
→ A Agência Bibliográfica Nacional;
→ A depositária legal da produção bibliográfica do país;
→ A responsável pela produção da bibliografia nacional e
da lista padronizada de autoridades do país
→ O centro de intercâmbio Nacional
No Brasil, a história da Biblioteca Nacional tem início em
1808, com a vinda da coroa portuguesa para o Brasil, face
à ocupação de Portugal pelas tropas de Napoleão,
momento bastante favorável e oportuno para a então
colônia portuguesa do além mar.
De Real a Nacional...
A Real Biblioteca foi transferida para o Brasil em
três remessas, entre os anos de 1809 e 1811 ,
totalizando 317 caixotes, cerca de 60.000 volumes.
De Real a Nacional...
Chegando ao Rio de Janeiro, a coleção foi alocada
no andar superior do Hospital da Ordem Terceira
do Carmo, na Rua Direita, hoje Rua Primeiro de
Março.
De Real a Nacional...
Em outubro de 1814, por ordem do príncipe
regente D. João, a Biblioteca Real foi franqueada ao
público.
De Real a Nacional...
Em 1821, a Família Real regressou a Portugal
levando de volta grande parte dos manuscritos do
acervo.
De Real a Nacional...
Depois da proclamação da independência, uma disputa
bibliográfica foi travada no sentido de conseguir manter
a Real Biblioteca no Brasil, como parte de uma política
de fortalecimento científico e cultural da nova nação.
A aquisição da Biblioteca Real pelo Brasil foi
regulada mediante a Convenção Adicional ao
Tratado de Paz e Amizade celebrado entre o
Brasil e Portugal, em 29 de agosto de 1825.
Em 1858, com a finalidade de acomodar mais
adequadamente o seu acervo, a Real Biblioteca, já então
Biblioteca Imperial e Pública da Corte, foi transferida para
uma nova sede, na Rua do Passeio, prédio onde hoje
funciona a Escola de Música da UFRJ.
A sede atual da Biblioteca Nacional localizada na Avenida
Rio Branco, foi inaugurada no dia 29 de outubro de 1910,
cem anos depois da chegada ao Brasil da Real Biblioteca.
Desenvolvimento da pesquisa
Voltando ao tema central da trajetória da representação da
Informação na Biblioteca Nacional, passamos à
primeira fase do estudo que vai da chegada ao Brasil aos
anos 60.
Em cada etapa abordaremos aspectos relacionados:
→ Instrumentos para a representação descritiva e
temática
→ Estrutura de dados
→ Compartilhamento e interoperabilidade da informação
Fase I - Da chegada ao
Brasil aos anos 60
No início do século XIX, os principais instrumentos
utilizados para a representação da informação eram:
manuscritos;
impressos→ Os catálogos
cartões/fichas
→ As bibliografias
Os primeiros catálogos manuscritos chegaram ao
Brasil com o acervo da Real Bibliotheca,
relacionavam coleções adquiridas, e era grande a
diversidade entre eles quanto à representação
descritiva da informação. As entradas ora eram
por títulos, ora por autores, na forma direta ou
invertida.invertida.
Quanto à representação temática, muitos seguiam o
sistema francês (Brunet) outros, sistemas próprios,
como é o caso do Catálogo de Manuscritos da BN e
do Catálogo da Exposição de Historia do Brasil.
Representação descritiva
As entradas são feitas por títulos
seguidos do nome dos autores, da
data de publicação, do número de
volumes e páginas.
Catálogo de livros da Biblioteca do Conde da Barca, 1818.Fonte: Acervo BN
Com relação à Representação
temática, esse catálogo adota
um sistema de classificação
semelhante ao Sistema Brunet.
Composto de tiras manuscritas coladas em
grandes folhas e deixando espaços entre si,
prevendo a inclusão de acréscimos de
novos itens ou atualizações. O que
preconiza o uso das fichas soltas.
Catálogo de Obras da Real Bibliotheca da Ajuda. Fonte: Acervo BN
Apresentado em ordem alfabética de
autores, já na forma invertida –
sobrenome, seguido do prenome – o que
revela uma normatização próxima dos
modernos códigos de catalogação surgidos
nos meados do século XIX. O catálogo
também apresenta remissivas.
Em 1883, a BN publica seu instrumento para
organização temática de seu acervo, trata-se do
Plano do Cathalogo Systemático da Bibliotheca
Nacional do Rio de Janeiro, baseado no sistema de
Brunet, mas adaptado às necessidades da Brunet, mas adaptado às necessidades da
biblioteca brasileira, como bem exposto por
Saldanha da Gama* no prefácio da publicação.
“Para nós o maior defeito do sistema de Brunet é o de
haver sido organizado para as bibliotecas da França [...].
Corrigindo este defeito, ou, para melhor dizer, seguindo
este nobre exemplo de amôr ás cousas patrías,
organizamos nosso plano de modo a poder servir paraorganizamos nosso plano de modo a poder servir para
qualquer biblioteca, mas muito especialmente para uma
biblioteca do Brazil “
*João de Saldanha da Gama (1835-1889) foi chefe da Seção de Impressos da Biblioteca Nacional (1882 a 1889).
Plano do Catálogo sistemático da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 1883
Fonte: Acervo BN
A década de 1870 corresponde ao início da primeira
grande reforma da biblioteca proposta por Ramiz Galvão,
quando foram adotadas regras para a descrição dos
documentos, entradas por assunto para todos os itens e
um único índice alfabético para os catálogos organizados
em fichas, não mais em volumes impressos.
Cartões alfabéticos
Cartões alfabéticos e bilhete do Catálogo sistemático [21,5 X 21,5cm]
1876 - Fonte: Acervo BN.
Cartões e fichas
Ficha manuscrita [12,5 X 7,5 cm]
Fonte: Acervo BN.
Passando para as Bibliografias impressas
Boletim das Aquisições mais Importantes feitas pela Bibliotheca Nacional - 1886.
Fonte: Acervo BN
Esse boletim, organizado por João de Saldanha da Gama,
estava classificado segundo as três seções em que estava
dividida a Biblioteca Nacional: Impressos e Cartas
geográficas, Manuscritos e Estampas e Numismática.
A Seção de Impressos e Cartas geográficas obedecia ao
Plano do Cathalogo Systematico da Bibliotheca Nacional
(1883).
Os itens eram numerados sequencialmente, as entradas eram
feitas pelo prenome do autor ou pelo título, sem preocupação
com norma descritiva ou ordenação alfabética. O nome do
autor era grafado em maiúsculas, e as notas tipográficas em
negrito.
Sob a direção geral de Manoel Cícero Peregrino
da Silva, ocorreu a segunda grande reforma na
Biblioteca Nacional. Em 1910 a BN foi instalada
em um prédio novo, construído de acordo com
os padrões da época, adequados à instalação de
uma biblioteca do seu porte e importância.
De 1918 a 1921, inicia-se a publicação do Boletim Bibliographico da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro (Figura 31),
Em 1918, inicia-se a publicação do
Boletim Bibliographico da
Bibliotheca Nacional do Rio de
Janeiro, marcando o início oficial
da bibliografia nacional no Brasil.
A representação temática seguia a
CDU, e as entradas eram feitas
pelo sobrenome do autor, a pelo sobrenome do autor, a
impressão do boletim era feita
apenas nas páginas ímpares, a fim
de permitir que as referências
bibliográficas pudessem ser
recortadas e coladas em fichas
padronizadas.
Em 1911 foi criado o Serviço de Bibliografia e
Documentação, com o objetivo de organizar em
fichas, e utilizando-se a Classificação Decimal
Universal (CDU), o Repertório Bibliográfico
Brasileiro. Foram adquiridas do Instituto
Internacional de Bibliografia (IIB), 700.000 mil
fichas ao preço de 17.500 francos.fichas ao preço de 17.500 francos.
Cooperação com o Instituto Internacional de Bibliografia
Ficha do Instituto Internacional de Bibliografia.
Fonte: BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Divisão de Manuscritos
A terceira grande reforma na instituição iniciou-se na
gestão de Rubens Borba de Moraes, quando a BN
adotou o sistema de Classificação Decimal de Dewey
(CDD) para a representação temática, e o código de
catalogação American Library Association (ALA) para
a representação descritiva.
Foram criados catálogos de autoridades de nomes e de
assuntos, o primeiro em conformidade com o código de
catalogação da ALA e o segundo estruturado de acordo
com a Lista de Cabeçalhos de Assuntos da Library of
Congress (LC).
Cooperação com a Biblioteca do Congresso -1945
Ficha da Library of Congress.
Fonte: BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil).
Fase II – Era da Automação
A década de setenta marcou o início dos estudos
para a implantação da automação na BN.
A racionalização do trabalho, visando à simplificação
de rotinas, teve por meta, operacionalizar o fluxo do
documento, o que levou a BN a iniciar, juntamente documento, o que levou a BN a iniciar, juntamente
com o IBBD, uma experiência-piloto de aplicação do
Projeto de Catalogação Legível por Computador, o
Projeto CALCO, baseado no MARC, desenvolvido
pela Library of Congress.
Em 1979, foi criado pela FGV o sistema
cooperativo denominado Bibliodata/CALCO,
implantado em 1980, inicialmente para uso
interno. Oficialmente, a Biblioteca Nacional
aderiu ao Sistema Bibliodata/CALCO em abril de
1982.
Entre 1994-96 uma mudança de software na Rede
BIBLIODATA acarretou a interrupção dos serviços,
afetando os participantes da Rede, como a Biblioteca
Nacional.
Essas mudanças estruturais da FGV levaram a BN a
buscar outras soluções que lhe trouxessem autonomiabuscar outras soluções que lhe trouxessem autonomia
no campo do processamento eletrônico, fato que
motivou a instituição, em 1994, a adquirir um software
de catalogação on line compatível com o formato MARC.
Em 1995 foi processada a migração para o OrtoDocs
No final de 1998, a Fundação Biblioteca
Nacional (FBN) lançou a primeira versão do seu
portal na Web, disponibilizando on line a base
de dados de livros, assim como as bases de
autoridades de nomes e de assuntos.
A representação descritiva dos registrosA representação descritiva dos registros
bibliográficos segue as AACR2, desde os anos 80,
e também são utilizadas para a elaboração das
entradas do catálogo de autoridades de nomes
da BN.
Catálogo de autoridades de nomes
+ de 278.000 entradas
Catálogos em linha desde 1998
Catálogo bibliográfico
+ de 900 milhões de registros
Catálogo de autoridades de assuntos
+ de 40.000 termos
Em 2012, tendo em vista a necessidade de adequar-
se às novas tecnologias para organização de seus
catálogos, já com mais de 2 milhões de registros
bibliográficos, a BN elaborou um Termo de
Referência, para licitar a compra de um novo
software de catalogação. O software SOPHIAsoftware de catalogação. O software SOPHIA
preencheu todas as exigências, e sua implantação,
em curso, deverá estar concluída em 2013.
Fase III – Era Digital
A entrada da Biblioteca Nacional na era
digital ocorreu na virada do milênio, a partir
da digitalização por demanda, ou seja, no
contexto de exposições e de projetos
temáticos, em parceria com instituições
nacionais e internacionais.nacionais e internacionais.
Oficialmente lançada em 2006, a BNDigital
compreende três segmentos:
→ captura e armazenagem de acervos digitais;
→ tratamento técnico e publicação de acervos digitais→ tratamento técnico e publicação de acervos digitais
→ programas e projetos digitalização de e
divulgação.
Participação em projetos colaborativos em nível internacional Participação em projetos colaborativos em nível internacional
Sobre a Coleção Digital:
32.552
títulos182
Terabytes
710.447
ítems
Mais de 10
milhões de
páginas
STORAGE STORAGE -- Capacidade de 229Tb e pode crescer até Capacidade de 229Tb e pode crescer até 1,3 1,3 PtPt ((PtPt = 1 1.024Tb)= 1 1.024Tb)
Tipos de documentosTipos de documentos
livro
partitura
cartográficocartográfico
periódico
manuscrito
sonoro
iconográfico
Estatísticas de AcessoEstatísticas de Acesso
5.500 visitas/mês à sede5.500 visitas/mês à sede
400.000 acessos/mês à BNDigital400.000 acessos/mês à BNDigital
Média de 13.000 usuários ao diaMédia de 13.000 usuários ao dia
Média de 25.000 buscas ao diaMédia de 25.000 buscas ao dia
Para a organização e representação da
informação digital, o esquema de metadados
adotado é o Dublin Core, acrescido de
metadados de preservação e de administração
para uso interno do sistema de gestão.
Em linhas gerais, esse esquema reúne três tipos
de metadados: os de identificação, os
administrativos e preservação e os estruturais.
metadadosidentificação
metadados de preservação
metadados estruturais
Desde 2011 migrou para o sistema de gestão SOPHIA,
projetado de forma a suportar as especificidades
necessárias à representação, gestão e preservação da
informação digital e, ao mesmo tempo, manter,
mediante o uso do formato MARC, a integração entre os
catálogos on line e o sistema da biblioteca digital.
O sistema também proporciona a integração comO sistema também proporciona a integração com
repositórios DSPace sendo compatível com o protocolo
da Iniciativa dos Arquivos Abertos – Open Archives
Initiative Protocol for Metadata Harvesting – OAI-PMH –
que é um mecanismo para transferência de dados entre
repositórios digitais.
Em 2011 foi lançada Hemeroteca Digital Brasileira, projeto
que contou com o patrocínio da FINEP.
Parte integrante da BNDigital, é um portal de livre
acesso, à maior e mais completa coleção de periódicos do
país. Já inclui mais de 2.500 títulos, o que equivale a mais
de 10 milhões de páginas. Cobre um período que abrange
203 anos de 1808 a 2011.
Na Hemeroteca é possível pesquisar por palavras do
conteúdo dos documentos e a Busca pode ser feita por:
título do periódico período de tempo
lugar de publicação
De uma forma abrangente, o estudo da organização da
informação na Biblioteca Nacional, ao longo dos seus
duzentos anos, permitiu traçar um paralelo com a
história da Biblioteconomia, da Documentação e da
Ciência da Informação.
Considerações finais
Ciência da Informação.
Isso porque verificou-se, que os grandes momentos que
marcaram a trajetória dessas disciplinas, encontraram-se
presentes nas três fases da organização da informação na
BN percorridas neste estudo.
Desse modo, o percurso da organização da informação na
Biblioteca Nacional sintetiza as distintas formas de se perceber e
tratar a informação, apresentando diferentes modelos que
apontam para as diversas influências que marcaram sua evolução
nos últimos dois séculos.
Nascida em Portugal, a BN manteve no Brasil até meados do século
XX o modelo europeu de organização da informação.
Ao ser inaugurada, a coleção estava fisicamente disposta segundo
os princípios de classificação do sistema francês , sendo, a
influência do modelo europeu também observada no Plano de
Catálogo Sistemático, publicado em 1883, e utilizado para a
classificação sistemática da coleção na BN.
No início do século vinte, a BN abriu as portas para o grande projeto
de cooperação internacional, iniciado por Paul Otlet e La Fontaine,
ao se ligar ao IIB e adotar o mesmo padrão de classificação, a CDU.
A cooperação internacional e a consequente padronização no
tratamento da informação foram intensificadas a partir de 1945, com
a reorganização do seu acervo, o que marcou o início da influência
do modelo estadunidense na organização da informação na
Os anos oitenta trouxeram a automação dos catálogos
bibliográficos, publicados on line na década seguinte.
A padronização da representação da informação na BN, estava
então, sedimentada.
do modelo estadunidense na organização da informação na
Biblioteca Nacional.
A virada do milênio marcou a entrada da BN na era digital, novos
padrões e protocolos foram assimilados, buscando a universalização
dos modelos de representação da informação, com o intuito de
promover o acesso livre e aberto e a interoperabilidade entre
sistemas nacionais e internacionais.
A pesquisa não pretendeu esgotar o tema, mas, sim, suscitar novos A pesquisa não pretendeu esgotar o tema, mas, sim, suscitar novos
estudos, enfatizando o quanto é rico e a cada dia mais importante
o estudo da Representação da Informação, importância esta, que
cresce, na razão direta em que novas tecnologias surgem e que a
produção documental agora também em bits e bytes, aumenta
exponencialmente a cada dia.
MUITO OBRIGADA