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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Aline Bajo Munhoz Andressa Marques Giacomini Gilberto José de Carvalho A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE IDOSOS LINENSES ASILADOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO LINS SP 2015

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Aline Bajo Munhoz

Andressa Marques Giacomini

Gilberto José de Carvalho

A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MORTE E DO

MORRER DE IDOSOS LINENSES ASILADOS: UM

ESTUDO EXPLORATÓRIO

LINS – SP

2015

Aline Bajo Munhoz

Andressa Marques Giacomini

Gilberto José de Carvalho

A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MORTE E DO MORRER DE IDOSOS

LINENSES ASILADOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia, sob a orientação do Prof. Me. Rodrigo Feliciano Caputo e orientação técnica da Profª Ma. Jovira Maria Sarraceni

LINS – SP

2015

Munhoz, Aline Bajo; Giacomini, Andressa Marques; Carvalho; Gilberto José de

A representação social da morte e do morrer de idosos linenses asilados: um estudo exploratório/ Aline Bajo Munhoz; Andressa Marques Giacomini; Gilberto José de Carvalho. – – Lins, 2015.

82p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2015.

Orientadores: Jovira Maria Sarraceni; Rodrigo Feliciano Caputo

1. Morte/morrer. 2. Idosos linenses asilados. 3. Representação social. I Título.

CDU 159.9

M932r

Para minha amada família, razão do meu viver!

Aline Bajo Munhoz

À minha família, em especial à minha mãe e irmã que não mediram

esforços no apoio e compreensão. Aos meus amigos pelo incentivo e

credibilidade no meu trabalho.

Dedico também, às pessoas interessadas no tema em questão, e que

esta pesquisa possa ser de valia para as mesmas.

Andressa Marques Giacomini

Dedico este trabalho a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram

para que se tornasse realidade o que ontem era apenas um sonho, em

especial à minha amada esposa e minha adorada mãezinha.

Gilberto José de Carvalho

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar,

a Deus,

Aos meus pais José Roberto (in memorian) e Bárbara,

Pela educação, carinho e amor que me proporcionaram!

À minha querida irmã Bruna,

pela amizade e companheirismo!

Ao orientador, aos entrevistados e à Instituição

que colaboraram na elaboração deste trabalho!

Minha gratidão!

Aline Bajo Munhoz

Aos meus professores que, direta ou indiretamente, me ajudaram a construir

um arcabouço teórico necessário a este estudo.

Ao orientador Me. Rodrigo Feliciano Caputo pela oportunidade apresentada,

em realizarmos uma pesquisa sobre morte em relação à velhice. Pois, além

dos benefícios, relevâncias sociais e científicos, foi para mim um aprendizado

interno, já que em vários momentos me deparei com minha própria finitude.

Não vivenciei simplesmente um levantamento e análise de dados, mas a

empatia frente ao ser humano que busquei compreender. Como expressou

Kübler-Ross em seu estudo sobre a morte e morrer com pacientes terminais, “é

uma tomada de consciência sobre a nossa própria finitude, de nosso limitado

período de vida” (1996, p.2).

E também, à Sociedade Beneficente Asilo São Vicente de Paulo de Lins-SP,

por nos acolher e ajudar na realização de tal pesquisa.

Andressa Marques Giacomini

Agradeço a Deus pela força diária e á minha família pela confiança em mim.

Agradeço aos meus amigos, professores e entusiastas que nunca deixaram

que as dificuldades se tornassem um problema e sim um incentivo. Obrigado a

todos.

Gilberto José de Carvalho

RESUMO

A presente pesquisa discute o significado da morte para idosos institucionalizados, com base na Teoria da Representação Social de Moscovici. Para tanto, foram realizadas quatro entrevistas semiestruturadas individuais com idosos moradores da Sociedade Beneficente Asilo São Vicente de Paulo de Lins-SP, de ambos os sexos, com idade superior a 60 anos. Na análise das entrevistas, utilizou-se o método de Bardin, que resultou nas categorias temáticas de morte em vida, morte propriamente dita, vida após a morte e carência de símbolos. Observou-se a necessidade de abordagens que favoreçam a reflexão a respeito da morte e da velhice, permitindo maior acolhimento dos idosos e valorização de sua existência.

Palavras-chave: Velhice. Morte. Teoria da Representação social.

ABSTRACT

This research discusses the meaning of death for institutionalized seniors, based of Moscovici´s Social Representation Theory. Four individual semi-structured interviews were performed with seniors aged over 60, both male and female, residing at Beneficient Society Sao Vicente de Paulo, in Lins-SP. Analysing the interviews, with Bardin´s method, these subjects were identified: death in life, death, life after death and lack of symbols. It was demonstrated that new approaches that favor reflection regarding old age and death are needed, enabling senior attention and your life appreciation. .

keywords: Old age. Death. Social Representation Theory.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ILPI: Instituição de Longa Permanência para idosos

IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ONU: Organização das Nações Unidas

SUMÁRIO

INTRODUÇÂO .................................................................................................. 10

CAPÍTULO I

A MORTE E O MORRER E A HISTÓRIA DA MORTE NO OCIDENTE .......... 13

1 DIFERENÇA ENTRE A MORTE E O MORRER ...................................... 13

2 HISTÓRIA DA MORTE NO OCIDENTE: DA IDADE MÉDIA À CONTEMPORÂNEA ......................................................................................... 15

2.1 Morte Domesticada .......................................................................... 16

2.2 Morte Interdita .................................................................................. 17

2.3 Morte Banalizada .............................................................................. 18

3 MORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO ........................................... 19

CAPÍTULO II

A VELHICE ....................................................................................................... 25

1 DEFINIÇÃO ............................................................................................. 25

2 O CUIDADO DESTINADO AOS IDOSOS ............................................... 28

2.1 Asilo de Lins ..................................................................................... 31

2.2 Qualidade de vida da pessoa idosa .................................................. 32

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS EM RELAÇÃO À VELHICE ......................... 33

CAPÍTULO III

METODOLOGIA ............................................................................................... 35

1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ............................. 35

2 MÉTODO ................................................................................................. 36

3 COLETA DE DADOS ............................................................................... 37

4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................... 38

4.1 Análise de Bardin- Tratamento Dos Dados ......................................... 38

4.2 Teoria das Representações Sociais ................................................... 40

4.2.1 Ancoragem .................................................................................... 42

4.2.2 Objetivação ................................................................................... 43

CAPÍTULO IV

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .............................................. 44

1 MORTE EM VIDA .................................................................................... 44

1.1 Morte de entes queridos ...................................................................... 45

1.2 Morte e doença .................................................................................... 46

1.3 Estorvo ................................................................................................. 47

2 MORTE PROPRIAMENTE DITA ............................................................. 48

2.1 Intervenção divina ................................................................................ 48

2.2 Passagem ............................................................................................ 49

3 VIDA APÓS A MORTE ............................................................................ 50

3.1 Julgamento .......................................................................................... 50

3.1.1 Pagamento .................................................................................... 51

3.1.2 Descanso ...................................................................................... 52

4 CARÊNCIA DE SÍMBOLOS ..................................................................... 52

PROPOSTA DE INTERVENÇÂO ..................................................................... 56

CONCLUSÃO ................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 59

APÊNDICES ..................................................................................................... 66

ANEXOS ........................................................................................................... 71

10

INTRODUÇÂO

Trazer uma pesquisa com o tema morte é adentrar em uma questão

considerada tabu perante a sociedade ocidental contemporânea. E é deste

ponto que partiu a curiosidade dos pesquisadores graduandos em psicologia

ao escolher tal tema.

“O tema morte, assim como a faixa etária a ser pesquisada, a velhice,

são considerados interditos em nossa sociedade” (OLIVEIRA, 2008, p.15). A

partir da meia-idade, com maior consciência do tempo, perda do vigor físico,

aliadas à possibilidade de surgimento de doenças e falecimento de parentes e

amigos, inclusive da mesma faixa etária, o ser humano entra em contato mais

íntimo com a morte.

Desta forma, o trabalho tem como objetivo principal a apreensão das

representações sociais da morte e do morrer para idosos. As representações

sociais, segundo Moscovici (2010), são conhecimentos da esfera do senso

comum, onde um grupo social partilha do mesmo saber sobre algum

fenômeno.

A teoria das Representações sociais desenvolvida por Moscovici busca

a compreensão do conhecimento coletivo sobre determinado fenômeno,

representado por imagens, símbolos, idéias e crenças, e que “sustentadas

pelas influências sociais da comunicação, constituem as realidades de nossas

vidas cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer as

associações com as quais nos ligamos uns aos outros” (MOSCOVICI, 2013,

p.8).

Através de depoimentos e relatos dos participantes, buscou-se

compreender como a morte é socialmente representada pelos idosos linenses

asilados. Tal estudo é de relevância social, pois o tabu da morte acaba por não

permitir que os idosos se expressem em relação à morte.

Os meios de comunicação a todo o momento repassam informações

sobre a morte. O que a princípio choca, torna-se cada vez mais banalizada,

sendo comum famílias compartilharem momentos juntos desfrutando de

acontecimentos atrozes, como a realização de refeições em frente à televisão

(KOVÁCS, 2005).

11

Ao permitir que idosos asilados, através da escuta qualificada se

expressassem a respeito da morte e do morrer, possibilitou-se que os mesmos

representassem socialmente a idéia existente sobre tal realidade, e, assim,

demonstrassem seus valores, crenças, e a própria cultura nela inserida.

Como a pesquisa foi colhida através de relatos, utilizou-se o método de

Bardin para a análise. A análise de conteúdo “é um conjunto de instrumentos

metodológicos, em constante aperfeiçoamento que se aplicam a discursos

diversificados” (BARDIN, 1977, p.9).

A presente pesquisa é de relevância tanto social quanto científica, pois

ainda há carências de trabalhos científicos voltados para a compreensão da

morte e do morrer em relação aos idosos asilados. “Na busca bibliográfica há

uma lacuna nos estudos realizados no campo da gerontologia que envolvam

aspectos sociopsicológicos da morte” (OLIVEIRA, 2008, p.15).

A pesquisa no âmbito social possibilitou um espaço acolhedor para que

o idoso expressasse sua compreensão sobre a morte. Assim, a abertura para

tais fenômenos trouxe interferências na existência do mesmo. Ao contar sobre

si, permitiu possibilidades de estruturar sua própria biografia, ressignificando-a.

Quando o saber e a história de vida do idoso são valorizados,

entendidos e respeitados, este ser frequentemente percebe que sua existência

tem um significado. Essas atitudes de consideração, respeito e amor ajudam a

acolher o idoso, pois existe o reconhecimento de sua singularidade,

promovendo um sentido no envelhecer e possibilitando o enfrentamento da

morte.

No primeiro capítulo, aborda-se a respeito da morte e do morrer, a

diferença no conceito entre esses termos, adentrando a historia da morte no

ocidente, com a trajetória da morte domesticada, interdita e banalizada. Em

seguida, relaciona-se a morte com o desenvolvimento humano.

No segundo capítulo, o tema da velhice é definido, explicitando-se o

cuidado destinado aos idosos, com um breve histórico do Asilo de Lins e a

importância da qualidade de vida da pessoa idosa.

A metodologia utilizada é detalhada no terceiro capítulo, tendo sido

utilizada a pesquisa de campo, exploratória, qualitativa e bibliográfica. Através

da observação e escuta qualificada, relatos sobre a história de vida e entrevista

semiestruturada de quatro idosos foram colhidos e exaustivamente analisados

12

pelo método de Bardin e com base na Teoria das Representações Sociais de

Moscovici.

No quarto capítulo, apresenta-se a discussão da análise dos dados,

resultando em quatro categorias: morte em vida, morte propriamente dita, vida

após a morte e carência de símbolos.

13

CAPÍTULO I

A MORTE E O MORRER E A HISTÓRIA DA MORTE NO OCIDENTE

1 DIFERENÇA ENTRE A MORTE E O MORRER

Antes de adentrar nos aspectos envolvidos sobre a morte e o morrer é

relevante o esclarecimento sobre a diferenciação entre ambos os conceitos. A

morte é o fenômeno em si, e o morrer é o processo vinculado a este fenômeno.

Desta forma, até chegar à morte o ser humano vivencia o processo de morrer

em várias fases do seu desenvolvimento. Assim como o nascer, a morte faz

parte do processo da existência humana, sendo natural do ponto de vista

biológico. A Tanatologia estuda os processos da morte e do morrer e apresenta

diferenças entre ambas.

Conforme explica Caputo (2014), a palavra morte tem como raiz o

substantivo latino mors que significa morte, passamento, falecimento, fim da

vida. E o vocábulo morte dá origem a vários outros: moribundo, (i) mortal,

mortalha, mortificação, mortandade, mortífero, mortório, mortalidade, entre

outros.

Kovács (2008) ressalta que, do ponto de vista médico, nem sempre foi

fácil definir com clareza o momento da morte. Entre os critérios que atualmente

definem a ocorrência da morte, os principais são: não reação a estímulos

externos, ausência de movimentos respiratórios, ausência de reflexos, parada

cardiorespiratória e eletroencefalograma plano, comprovando destruição

cerebral plena e irreversível.

O ser humano é um ser social, que a partir das interações compartilha

conhecimentos e significa sua realidade e seu cotidiano. A socialização permite

que a espécie humana sobreviva, pois, sem amparo do outro o bebê não

conseguiria sobreviver e suprir suas necessidades biológicas e psicológicas.

O agrupamento humano teve início da necessidade de sobrevivência.

Devido à condição neotênica, a espécie humana carece do outro para ajudar a

ter autonomia. Com as transformações da espécie a socialização com fim de

sobrevivência dotou-se de afeto, de vínculos consanguíneos e afetivos.

14

A condição neotênica da espécie humana, ou seja, a impossibilidade de sua descendência sobreviver sem cuidados ao longo dos primeiros anos de vida, foi, sem dúvida, responsável pelo surgimento do núcleo familiar como agente de perpetuação da vida humana (OSORIO, 2002, p.15).

Dessa forma, os vínculos são essenciais na interação humana e esta é

fundamental para a vida, tanto na esfera ontogenética quanto filogenética.

“Sem a interação e os vínculos estabelecidos, a vida humana não se mantém,

e muito menos se desenvolve” (CAPUTO, 2014, p.25).

Desta forma, o fenômeno morte está entrelaçado com o meio social e o

vínculo com os familiares e pessoas próximas é afetado pela finitude da vida.

Quando um ente querido falece, há uma ruptura com o mesmo, uma perda que

gera sofrimento, e para atenuar tais sentimentos, a sociedade elabora meios de

lida com a morte.

Como exposto por Caputo (2014), toda sociedade desenvolve modos

sistemáticos de lida com a morte, ou seja, modos de organizar, orientar e

modular o repertório das condutas humanas individuais e coletivas da morte.

Esses sistemas surgem, então, como um importante aliado do homem para

atenuar os sofrimentos decorrentes da morte, facilitando sua elaboração no

âmbito psíquico e permitindo a retomada da vida ordinária.

O rompimento dos laços afetivos anuncia ao indivíduo à indeterminada, porém inevitável morte, lançando-o na dor e no sofrimento. (CAPUTO, 2014, p.25).

Racionalmente os adultos não reconhecem o elemento culpa, mas

emocionalmente é frequente atribuição de culpa em relação à morte do outro,

muitas vezes associada à falta de cuidados, sentimentos exacerbados no

processo do luto (KOVÁCS, 2008).

15

2 HISTÓRIA DA MORTE NO OCIDENTE: DA IDADE MÉDIA À

CONTEMPORÂNEA

Os fenômenos morte e o morrer perpassam a história da humanidade

sendo incorporados e compreendidos por cada sociedade através de sua

cultura e período histórico. De acordo com Combinato e Queiroz (2006, p. 210),

“o ser humano caracteriza a morte, principalmente, pelos aspectos simbólicos,

ou seja, pelo significado ou pelos valores que ele imprime às coisas”. Por isso,

o significado da morte varia necessariamente no decorrer da história e entre as

diferentes culturas humanas.

As estórias, lendas e os mitos são meios de linguagens que comunicam

como a morte é representada por cada povo. A imortalidade é uma

característica relatada nessas estórias sendo o homem imortal a partir da

juventude e não da velhice. Dentre as distintas visões sobre a morte, Kovács

(2002) traz que:

(...) desde todos os tempos em busca da imortalidade, o homem desafia e tenta vencer a morte. Nos mitos e nas lendas essa atitude é simbolizada e não nos iludimos, pois o que buscamos não é a vida eterna, mas a juventude eterna com seus prazeres, força, beleza e não a velhice eterna com suas perdas, feiura e dores (p.2).

A morte como processo biológico está presente no cotidiano da

existência humana e de outros seres vivos, e o homem com a tomada de

consciência atribui sentido sobre a mesma. Portanto, o fenômeno morte não

termina com o fato consumado em si, e diante da morte de alguém, o

sentimento de dor prevalece nos entes próximos com o luto. Mesmo sofrendo

alterações perante a simbolização da morte, a dor sempre a acompanha,

sendo o luto dos entes próximos à manifestação desses sentimentos. “A dor

acompanha a morte e o luto se faz necessário” (KOVÁCS, 2002, p.4).

Assim, devido às alterações e transformações da sociedade a

representação da morte altera-se, não sendo estática. De acordo com

Combinato e Queiroz (2006, p.2010), “a morte para o homem ocidental

moderno, passou a ser sinônimo de fracasso, impotência e vergonha, tentando

16

vencê-la a qualquer custo e, quando tal êxito não é atingido, sendo escondida e

negada”. Para compreender como tais transformações ocorreram, é importante

o olhar na história da morte para o homem ocidental.

2.1 Morte Domesticada

Dos séculos XII ao XIII, na Primeira Idade Média, a morte era

domesticada, familiar. Amigos e parentes do morto reuniam-se para contemplá-

lo, era um ato natural da vida, (...)“a morte era um espetáculo público que

ninguém pensaria em esquivar-se” (ARIÈS, 2012, p.22).

Era comum a despedida quando a morte era pressentida pelo

moribundo, reconciliando-se com a família e amigos, na esperança de alcançar

o paraíso no juízo final. Caso a morte ocorresse repentinamente, considerava-

se uma vergonha e às vezes castigo de Deus. Logo após a morte, amigos e

parentes se manifestavam em grandes cenas de luto. (CAPUTO, 2008)

Os ricos eram enterrados no interior das Igrejas e os pobres no exterior,

a intenção dessa prática era proteger os mortos do inferno enterrando-os perto

dos santos e mártires (ARIÈS, 1989 apud CAPUTO, 2008). Na segunda Idade

Média, houve mudanças em relação às representações da morte uma vez que

agora cabia à Igreja intermediar o acesso da alma ao paraíso. Ou seja, a morte

deixou de ser algo natural e passou a ser uma provação.

Na baixa Idade Média já não se permita perder o controle e chorar os

mortos. A morte, antes familiar, passa a ser intolerável e o corpo deve ser

ocultado numa caixa. Na Idade Moderna, a partir do século XVIII, as atitudes

do homem perante a morte mudam novamente e o homem passa a ter

complacência com a idéia da morte.

A partir do século XIX, “(...) os sobreviventes aceitam a morte do

próximo mais dificilmente do que noutros tempos. A morte temida não é, por

conseguinte, a morte de si mesmo, mas a morte do próximo, a morte do outro”

(ARIÉS, 1989b, p. 48 apud CAPUTO 2008, p.77).

Importante ressaltar que, embora desde o começo da Idade Média até o

século XIX as representações e as atitudes do homem perante a morte tenham

sofrido transformações, estas não alteraram a familiaridade com a morte e com

os mortos. “A morte tornara-se um acontecimento pleno de consequências;

17

convinha pensar nela mais aturadamente. Mas ela não se tornara nem

assustadora nem angustiante. Continuava familiar, domesticada” (ARIÈS,

1989a, p. 44 apud CAPUTO, 2008, p.77).

Entretanto, a partir da segunda metade do século XX, a morte deixa de

ser familiar e passa a ser um objeto interdito. O que impulsionou esta

transformação foi a transferência do local da morte, da casa para o hospital.

2.2 Morte Interdita

A interdição da morte na época contemporânea perpassa por questões

econômicas, históricas, socioculturais. Na modernidade com os avanços da

tecnologia e consequentemente as descobertas dentro da ciência médica, os

hospitais de locais inicialmente de abrigo para os peregrinos e viajantes, passa

a ser o ambiente mais apropriado aos cuidados do doente, onde se cura e luta

contra a morte. A casa deixa de abrigar a morte e o hospital assume esta

função. Como colocou Ariès (2012), já não se morre em casa em meio aos

seus, e sim no hospital, sozinho.

O ritual realizado em torno do morrer, onde o sujeito passava cercado de

seus familiares e amigos despedindo-se, ou avaliando sua existência perante a

religião é transformado pelo cuidado técnico. A manifestação do luto é interdita,

o silêncio prevalece. O choro só ocorre quando ninguém vê ou escuta, e o luto

torna-se solitário e vergonhoso (ARIÈS, 2012).

A aparente fuga perante a morte não é descaso ao moribundo, pelo

contrário os familiares e amigos do morto sensibilizam com a perda, porém não

podem expor seus sentimentos, sofrendo em silêncio. “Há a colocação de um

interdito, o que era exigido é agora proibido. A morte tão presente no passado,

de tão familiar, vai se apagar e desaparecer. Torna-se vergonhosa e objeto de

interdição” (ARIÈS, 2012, p.84).

O que se mostra é o ocultamento do luto em relação à finitude da vida,

quando não declarada sobrevive na vida dos mais próximos, mais fortemente

do que quando ritualizada.

Outro aspecto envolvido no interdito da morte é a busca da felicidade,

característica da sociedade moderna. No caminho de tal busca, não há espaço

para a dor tão intrínseca ao homem.

18

A necessidade da felicidade coletiva, o dever moral e a obrigação social de contribuir para a felicidade coletiva, evita toda causa de tristeza, mesmo se estamos no fundo da depressão. Demostrando algum sinal de tristeza, peca-se contra a felicidade, que é posta em questão, e a sociedade arrisca-se, então a perder sua razão de ser (ARIÈS, 2012, p.89).

A interdição da morte e do luto recai também pela transformação do

modelo familiar. Os familiares ao aproximarem e criarem vínculos além da

consanguinidade, envolvendo afeto com seus membros, não suportam o

sofrimento do ente querido, e nem a si próprio.

O cuidado destinado a tal membro é de ocultamento sobre a sua

realidade, assim, com o poder dos familiares e do médico, ambos acabam

intervindo no momento da morte de um indivíduo e o mesmo morre na

ignorância de sua própria morte (ARIÈS, 2012).

Não parece abrangente citar que apenas a busca da felicidade, e bem-

estar distanciam o homem e os entes próximos da morte. A questão é mais

profunda, envolvida no sentimento familiar. “A família não mais tolerou o golpe

que desferia a um ser amado e a ela própria, tornando a morte mais presente,

mais certa, proibindo toda simulação e até ilusão” (ARIÈS, 2012, p.219).

A morte instala-se como um tabu, um assunto proibido. A morte

silenciosa não enlaça apenas os familiares, mas também o próprio sujeito, o

mesmo sofre censuras em relação a seu estado, devido à preocupação dos

próximos de que sofra. Portanto, a interdição da morte, peculiar no período na

sociedade pós-moderna, acaba privando o homem de possuir sua própria

morte.

2.3 Morte Banalizada

Mesmo com o interdito da morte citado anteriormente, tal fenômeno

aparece cada vez mais próximo das pessoas, através da morte banalizada, em

função do desenvolvimento das tecnologias e dos meios de comunicação.

Ao mesmo tempo, que a morte parece distante e oculta nos diálogos e

nas expressões do luto, aproxima-se das pessoas pela rapidez dos meios de

19

comunicação. Por exemplo, pela televisão, que diariamente introduz nos lares

cenas de morte, violência, acidentes, doenças, sem elaboração da morte,

devido à rápida troca de informações desse veículo (KOVÁCS, 2005).

A morte do desconhecido acaba gerando inicialmente um choque, mas

termina como se não houvesse ocorrido, sendo banalizada. Como cita Kovács

(2005, p.486),

(...) a morte interdita, torna-se companheira cotidiana, invasiva e sem limites, e, embora essas mortes estejam tão próximas (real ou simbolicamente), reina uma conspiração do silêncio. Crianças e adolescentes convivem com essas imagens diariamente, ao mesmo tempo em que se tenta "poupá-los" para não os entristecer.

A morte próxima gera distúrbio na comunicação com a conspiração do

silêncio, que é observada em situações como: pais que não conseguem

decidir, se devem ou não falar da morte de um ente querido aos seus filhos, e

outras situações em que as pessoas parecem não encontrarem palavras e

meios de expressar este fenômeno. “Assim, quanto mais se nega a morte, mais

esta parece fazer-se presente através da violência urbana, do crescimento do

número de pessoas portadoras do HIV, do suicídio, das guerras” (KOVÁCS,

2005, p.486).

3 MORTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO

No passado, as epidemias e os parcos recursos de enfrentamento das

mesmas, aliado ao fato do atraso científico em que estava mergulhada a

humanidade, foram fatores determinantes de casos fatais de doenças que

vitimaram principalmente crianças, e assim em quase todas as famílias da

época havia um caso de perda familiar. “Com o avanço da medicina, a morte

passou a ser vista como erro e fracasso do médico, profissional que na

modernidade ficou incumbido de salvar vidas. Atualmente, o médico está

destinado a derrotar a morte” (KOVÁCS, 2002, p. 264).

Esse avanço da ciência e da medicina permitiu que várias medidas

fossem tomadas para que esse quadro mudasse. Com a descoberta de

vacinas, a população mundial pode contar agora com a vacinação em massa

20

como medida preventiva.

Diante disso, o panorama da morte muda de maneira radical, com a

erradicação de epidemias e aumento considerável de pessoas com idade

avançada. As pessoas são cada vez mais mantidas vivas, “tanto com máquinas

que substituem órgãos vitais, como com computadores que as controlam

periodicamente para ver se alguma função fisiológica merece ser substituída

por equipamento eletrônico” (KUBLER ROSS, 1998, p. 20).

As doenças conhecidas da época deram lugar a um novo quadro onde

doenças crônicas relacionadas à velhice tomaram lugar às epidemias. Com

isso, aumentou a necessidade de profissionais especializados em casos

diretamente ligados aos idosos, não somente com o cuidado físico, mas

também o cuidado psíquico onde o profissional da saúde teve que entrar em

contato com a solidão, medos e angústias da pessoa idosa (KUBLER-ROSS

2000).

Essas mudanças, no entanto, gerou na pessoa idosa um medo

constante da morte sem ter estruturas emocionais para a compreensão sobre a

morte e o morrer. No entanto, revisitando a história de gerações passadas,

esse possível medo da morte sempre acompanhou o homem em sua jornada

do inconsciente como algo que, não aparecendo, sempre esteve lá. Segundo

Caputo (2014, p.23), “o homem de Neandhertal, ao enterrar os seus mortos,

parece denotar um tipo de revolta contra a morte e indica o aclarar do

pensamento humano”.

A criança acredita que pode vencer a morte, para ela a morte se

assemelha a um abandono onde fica aberta a chance do retorno. Não chega

como algo mau ou terrível, mas carregada de símbolos e rituais que o adulto

constrói para livrá-la desse contato consciente. Assim quando essa criança se

torna adulto, começa a perceber a morte como o fim de um ciclo, que é incapaz

de mudar.

A morte em vários aspectos tem esse poder transformador onde ao

crescer o indivíduo começa a perceber que não é onipotente, que seus desejos

não impedem a morte do ente querido. Tal percepção, segundo Kübler-Ross

(2000), pode contribuir para que o medo da morte de um ente querido possa

desaparecer.

21

A compreensão disso vai de encontro a velhos rituais e costumes onde a

impotência do ser humano diante da morte gerava ao mesmo tempo um

sentimento de negação e raiva no que hoje é representado por jogar torrões de

terra na cova, dar salva de tiros, gritar e chorar para que todos em volta sintam

a dor do momento, e assim participar da culpa da condição do morto.

A esse respeito, Caputo explica que,

A partir da semiótica, podemos dizer que o sistema de lida com a morte são códigos culturais que possuem uma estrutura de ampla complexidade que é transmitida, notada, absorvida e da qual se processa informações objetivando que as situações relativas à morte sejam reguladas e atenuadas, tanto no âmbito individual quanto coletivo (CAPUTO, 2014, p. 44).

Esses rituais geralmente aparecem sob formas de demonstrar o quanto

se sente pela morte da pessoa querida, mas também pode representar a raiva,

a ira por esse abandono. Diante dessas situações pode-se guardar um silêncio

e assim se isolar e ficar horas e horas em completo estertor por não entender

esses sentimentos. Kübler-Ross (2000, p. 8) revela que:

(...) penso nas cinzas, nas vestes rasgadas, no véu, nas carpideiras dos velhos tempos, meios não só de implorar piedade para eles, os chorosos, como também expressões de pesar, tristeza e vergonha. Se alguém se aflige, bate no peito, arranca os cabelos ou se recusa a comer é uma tentativa de autopunição para evitar ou reduzir o esperado castigo pela culpa assumida da morte do ente querido.

Esses sentimentos não são em si algo de desonroso, mas sim algo

humano diante da dor ali representada. O que volta é a sensação de abandono

que sentimos quando criança diante da morte e da raiva, agora adulta, se

confunde com os sentimentos de dor e tristeza.

Muda-se, com o tempo, o modo de sentir diante da morte e do morrer,

aceitando ou não a morte de um ente querido em uma sociedade onde a morte

ainda é considerada um tabu, onde se evita discorrer sobre a morte em

reuniões sociais e familiares. Onde as crianças são afastadas por medo de as

exporem demais a um quadro terrível privando-a da realidade presente. Kübler

Ross (1998) revela que as pessoas, frequentemente recorrem a eufemismos,

22

fazendo o morto parecer que está adormecido, mandando as crianças saírem

de perto do morto, impedindo que as mesmas entrem em contato com a morte.

Como explicita na máxima do filósofo Heidegger somos-seres-para-

morte, a morte está presente em todo processo existencial, aliada a vida.

(CAPUTO, 2008). Para Kovács (2002, p.70) “morte e vida não estão

separadas, elas fazem parte do mesmo processo, pois, o homem começa a

morrer quando nasce”. Há o entrelaçamento da vida e morte, durante todo o

processo do desenvolvimento vital.

A existência humana é marcada pela presença da morte em vida, o que de certa maneira acaba remetendo o indivíduo à ideia de finitude da vida. A partir das vivências das mortes em vida o indivíduo projeta representações sobre o fim de sua vida, tais como: dor, ruptura, tristeza, perda, medo do desconhecido, interrupção etc. (CAPUTO, 2014, p.37).

Segundo Kovács (2002), as mortes simbólicas são mortes em vida que

ocorrem desde a mais tenra idade (por exemplo, a ausência da mãe para o

bebê), passando pelas mudanças próprias de cada fase do desenvolvimento

humano.

Devido ao enfoque da pesquisa sobre a morte para os idosos, serão

explanadas as mortes em vida para os idosos. Assim, há a ideia embutida na

sociedade de quanto mais velha a pessoa ficar, mais medo da morte a mesma

terá. Entretanto, para Kovács (2002), o medo da morte não caminha de forma

linear com a idade, o que há é uma probabilidade maior da morte com o

envelhecer, mas não consequentemente o medo da morte.

Na sociedade que cultua a juventude, há a associação de quanto mais

velho, mais infeliz o indivíduo é, devido às perdas com o envelhecimento.

Sendo perdas biológicas, oportunidades sociais, realizações de projetos de

vida, relações sociais, morte de pessoas próximas. Ou seja, há uma diminuição

da pessoa mais velha pela sociedade. Segundo Kovács (2002, p.73), “este tipo

de discriminação é o que eu chamo de uma das pequenas mortes do velho na

medida em que ele é enterrado vivo”.

Desta forma, na velhice, além das mudanças biológicas, o meio social

cria estereótipos para o idoso, o mesmo pode acabar se sentindo diminuído e

sem potencialidades, vivendo isolado e descartado pelas pessoas que o

23

cercam. É como se o velho não tivesse mais desejos, que está pronto para a

morte, aceitando tudo muito bem. Mas para Kovács (2002), isto é um mito.

O viés econômico e político influenciam na compreensão da morte. O

capitalismo sistema econômico vigente na sociedade ocidental, evidencia a

relação compra-venda, transferindo para a finitude da vida a relação de objeto

com valor econômico.

“O desenvolvimento do capitalismo transformou o corpo humano em um

instrumento de produção. Adoecer nesse contexto significa deixar de produzir,

o que significa vergonha da inatividade, que deve ser oculta do mundo social”

(PITTA apud COMBINATO e QUEIROZ, 2006, p.210). Ao que tudo indica, isso

não ocorre somente diante ao adoecimento, mas também diante ao

envelhecimento do corpo e, consequente, perda da capacidade produtiva.

A atitude moderna em relação à morte relacionada com a civilização

norte americana, traz o jeito americano de ser (the american way), mais

especificamente the american way of dying. Para a tecnologia ter ascensão, a

mesma precisou ser necessária na vida cotidiana da sociedade em geral,

apresentando aspectos positivos para as pessoas. Assim, a modernidade traz

benefícios como conforto, diminuição do tempo destinado aos afazeres

domésticos, o aumento do tempo em lazer, consumo e educação. Ideais

relacionados com o conceito de felicidade, e a dor seria o avesso de tal

ideologia.

Parece que a atitude moderna diante da morte, ou seja, a interdição da morte a fim de preservar a felicidade, nasceu nos Estados Unidos por volta do início do século XX. A morte como destino humano, precedente de meditação transforma-se em objeto de lucro, visado pelo capitalismo. O interdito atual da morte em uma cultura urbanizada na qual dominam a busca da felicidade ligada ao lucro, e um crescimento econômico rápido (ARIÈS, 2012, p.95).

Há desejo de transformar a morte e não aniquila-la, já que a mesma traz

benefícios econômicos. Ao comparar a trajetória da existência humana com a

validade de um produto, é na velhice que destaca o descarte do ser humano. O

corpo evidencia as mudanças biológicas, desta forma, estar envelhecendo é

aproximar-se da morte.

24

O idoso na sociedade ocidental não é mais visto como o detentor da

sabedoria e sim um ser excluído. Os estereótipos são introjetados pelos idosos,

e os mesmos acabam incorporando muitas vezes que sua existência chegou

ao fim, mesmo não tendo concretizado a morte.

25

CAPÍTULO II

A VELHICE

1 DEFINIÇÃO

Há um grau de dificuldade metodológica ao definir a velhice, já que o

envelhecer é um processo mais complexo do que apenas atribuir mudanças

fisiológicas e biológicas ao indivíduo, devendo abranger também as esferas

econômicas, políticas e socioculturais, para assim compreender o idoso em sua

totalidade.

O processo de envelhecimento é mais evidenciado na velhice, ocorrendo

transformações nas escalas biológicas (morfológicas), ou seja, acentuação das

rugas, cabelos brancos, perdas das funções motoras e outras degenerações.

Nas escalas psicológicas com a necessidade de adaptação a novas situações

do cotidiano, e também sociais, com as relações estabelecidas com o meio

(familiares, amigos, comunidade), o trabalho e outros seguimentos da

coletividade (SANTOS, 2010).

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o conceito de

idoso, diferenciando a faixa etária entre países em desenvolvimento e países

desenvolvidos. Durante a Primeira Assembleia Mundial da ONU sobre o

Envelhecimento da População Mundial em 1982, criou-se a resolução 39/125,

que considera pessoas idosas em países em desenvolvimento como o Brasil,

com 60 anos ou mais. E nos países desenvolvidos, pessoas com 65 anos ou

mais (SANTOS, 2010).

Com o avanço científico e tecnológico, a saúde e qualidade de vida das

pessoas prolongaram-se, permitindo assim, o aumento da expectativa de vida.

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro Geográfico e Estatístico (IBGE ,2009.

p.4): “A expectativa de vida a partir dos 60 anos aumentou, tanto para homens

quanto para mulheres”. Entretanto, há uma diferença de gêneros, a expectativa

de vida das mulheres é maior do que a dos homens, por exemplo, entre idosos

com mais de 80 anos é 9,8 anos para as mulheres e 8,9 para os homens.

26

Desta forma, para uma maior compreensão sobre a velhice, cabe uma

breve exposição das vertentes estudadas e explanadas por Siqueira et.al

(2001) como: biológico/comportamentalista, economicista, sociocultural e

transdisciplinar.

Dentro da perspectiva denominada biológico/comportamentalista na

velhice,

(...) orienta-se as ações de gerontólogos e geriatras e coloca sua ênfase no processo de decrepitude física ocasionada por fenômenos degenerativos naturais do organismo. Neste enfoque os idosos aparecem como portadores de múltiplas patologias sobre as quais os indivíduos e a sociedade devem atuar no sentido de retardá-los (SIQUEIRA, et al 2001, p. 901).

No enfoque economicista, além dos gerontólogos e geriatras entram em

cena os cientistas sociais, que estudam a ruptura do homem com o trabalho

durante a velhice. Especificamente, preocupa-se em situar o lugar dos idosos

na estrutura social produtiva, separando o período de trabalho e a

aposentadoria. Portanto, o indivíduo passa da posição de trabalhador, para ex-

trabalhador, de ativo para inativo (SIQUEIRA et. al, 2001).

Na sociedade Ocidental capitalista, a relação entre os seres humanos

vem ocorrendo a partir da constituição econômica. O idoso dentro desta

perspectiva torna-se um objeto, como um produto com prazo de validade.

O descarte do idoso ocorre desde as mudanças biopsicossociais até a

questão da diminuição do seu poder econômico, valorizando assim a juventude

e estereotipando a velhice como inutilidade, peso e outras denominações

pejorativas.

O sistema capitalista parece idolatrar a produção, alienando assim o

trabalhador do processo de produção. A aposentadoria frequentemente é

vivenciada como a perda do sentido da vida, como uma espécie de morte

social, valorizando os que produzem e depreciando os aposentados (SANTOS,

1990 apud RODRIGUES et al, 2005).

A identidade é constituída também pelo trabalho e salário do indivíduo.

Com a aposentadoria perde-se a identidade, “um antigo mecânico, não é mais

um mecânico: não é nada” (BEAUVOIR, 1990, p.329).

27

Na terceira vertente entra o enfoque sociocultural, com estudos

realizados por antropólogos e sociólogos, argumentando que, além das

questões biológicas/comportamentais e econômicas, a velhice é uma

construção social. Cabendo o destaque para o papel social que o idoso adquire

dentro do seio familiar, da comunidade, ou seja, da sociedade em geral.

Em uma determinada época e grupo social, há estereótipos em relação

ao envelhecimento. Para justificar a velhice dentro do enfoque sociocultural,

tem-se, por exemplo, o termo “Terceira Idade” que segundo Siqueira et. al

(2002, p.904) “é uma construção das sociedades contemporâneas e vem

sendo empregado por acreditar-se que é isento de conotações depreciativas”.

O estudo realizado pela filósofa francesa Simone de Beauvoir no célebre

livro “A Velhice” (1990), coloca o idoso em uma vertente transdisciplinar, sendo

o envelhecimento um fenômeno natural e social. O idoso é compreendido em

sua totalidade existencial, único e indivisível, deparando-se com questões de

ordem biológica, econômica e sociocultural (SIQUEIRA et. al 2001).

Um dos pontos importantes colocados por Beauvoir (1990) é a velhice

exterior. Ao analisar e estudar a velhice apenas pela visão científica e social

compreende-se apenas a descrição exterior do idoso e não como cada ser

vivência a sua própria velhice. Os estereótipos e clichês criados pelas relações

sociais distanciam o idoso de sua própria velhice.

A velhice aparece mais claramente para os outros, do que para o próprio sujeito (...). O indivíduo idoso sente-se velho através dos outros, sem ter experimentado sérias mutações, interiormente não adere à etiqueta que se cola a ele: não sabe mais quem é. (BEAUVOIR, 1990, p.358)

A poetisa brasileira Cecilia Meireles, em seu poema “Retrato” descreve a

velhice no enfoque de Beauvoir, ou seja, esta passagem gradual com

modificações naturais que podem causar no idoso o choque de perda da sua

identidade, dependendo da adaptação e do modo como o mesmo lida com sua

nova condição.

Retrato (MEIRELES, 2013, p.13)

28

“Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?”

Assim, a velhice parece muitas vezes mais relacionada ao contexto

social, do que a própria percepção do indivíduo sobre seu envelhecimento.

“Enquanto o sentimento íntimo de juventude permanece vivo, é a verdade

objetiva da idade que aparece uma aparência, tem-se a impressão de estar

usando uma máscara emprestada” (BEAUVOIR, 1990, p.363).

Hoje, com a abrangência de vertentes que estudam a velhice, há uma

maior compreensão sobre a mesma, não apenas a condensação no dualismo

idoso, versus, doença. Cabe aqui a reflexão da Beauvoir (1990, p.15).

A velhice modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com sua própria história. Por outro lado, o homem não vive nunca um estado natural; na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela sociedade a qual pertence.

Portanto, as definições e representações sociais da velhice na

sociedade Ocidental, passaram por vários momentos, tanto enaltecendo o

idoso, como depreciando sua condição. Ao analisar as manifestações culturais

dos que envelhecem na contemporaneidade, é possível identificar as

transformações significativas de hábitos, imagens, crenças e das

nomenclaturas utilizadas para caracterizar esse período da vida (SILVA, 2008).

2 O CUIDADO DESTINADO AOS IDOSOS

29

Na velhice com as mudanças citadas no item anterior, ocorrem situações

de dependência e diminuição da autonomia do idoso. Em geral, o mesmo

acaba por necessitar de ajuda para realizar tarefas diárias, como a satisfação

de suas necessidades básicas (alimentação, higiene pessoal, e outros).

Atividades que anteriormente pareciam comuns e simples da rotina, podem

tornar-se dificultosas, sendo necessário muitas vezes o auxílio de familiares,

cuidadores ou de profissionais da saúde.

As características físicas quando levado em consideração a idade a cada ano que passa aumenta a chance do idoso se apresentar como dependente. Á medida que ocorre o avanço da idade as limitações físico-orgânicas levam a repercussões e alterações a função física, intelectual e social (LIMA; DELGADO, 2010, p. 82).

Aliado a essa dependência física do idoso, pode ocorrer também uma

dependência psíquica. Essa condição é apresentada como uma inaptidão a

decisões inerentes à própria vida do idoso, e quando isso ocorre pode haver

um prejuízo emocional por parte do mesmo que não consegue tomar suas

próprias decisões. Segundo Lima e Delgado (2010), pode-se observar em

alguns idosos declínios psicológicos, sendo estes de ordem cognitivas,

dificultando a seleção de informações e a realização de tarefas que exijam

escolhas e tomadas de decisões.

Assim, com o aumento demográfico dos idosos, há uma mudança na

organização social e cultural. O cuidado destinado às pessoas acima de 60

anos, referente às necessidades básicas, antes destinadas ao contexto

familiar, principalmente a mulher, agora entra em um processo voltado ao

cuidado institucional (WATANABE & GIOVANNI, 2009).

A mulher dentro da sociedade ocidental, culturalmente destinou-se ao

cuidado dos familiares idosos. Porém, devido a sua ascensão no mercado de

trabalho, a mesma transfere o cuidar a terceiros, seja este, um cuidador

domiciliar ou em instituições de longa permanência, como os asilos.

No Brasil o Estatuto do Idoso, no Art. 3º (2014) mostra os direitos e as

obrigações da sociedade em relação aos cuidados dos idosos.

30

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

As instituições de longa permanência, ou mais conhecidas como asilos,

são as instituições mais frequentadas pelos idosos. Porém, no município de

Lins-SP há um movimento crescente de instituições de períodos não integrais

que recebem os idosos, a fim de fornecer-lhes um ambiente descontraído e de

entretenimento.

De acordo com o estudo "Condições de funcionamento e infraestrutura

das instituições de longa permanência para idosos no Brasil", feito pelo Instituto

de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), realizado nos anos de 2007 a 2010,

verificou-se a existência de 3.548 instituições de longa permanência no

território brasileiro. Desde 1940 até 2009, 2.897 novas instituições foram

abertas, sendo que de 2000 para 2009 foram inauguradas 90 instituições.

“As instituições de longa permanência para os idosos”, como o termo

grego “asylon” demonstra, é o “local onde as pessoas sentem-se abrigadas e

protegidas contra diversos danos de qualquer natureza” (WATANABE &

GIOVANNI, 2009, p.69). Estas instituições historicamente foram

fundamentadas na caridade e no atendimento as necessidades básicas,

destinados ao amparo das pessoas sem família, pobres e mentalmente

enfermos.

Várias nomenclaturas são utilizadas para designar as instituições

destinadas ao cuidado dos idosos, entre os termos mais conhecidos aparecem:

asilo, casa de repouso, abrigo e atualmente surgiu o termo de Instituição de

Longa Permanência do Idoso (ILPI). Este último não significa simplesmente um

sinônimo de asilo, mas implica uma nova organização e gestão de moradia

para idosos (COSTA & MERCADANTE, 2013).

Atualmente, com o aumento da expectativa de vida, surge a

necessidade de amparo às pessoas idosas que dependem de apoio solidário

para uma boa qualidade de vida. Já que com as mudanças da organização

familiar e seu planejamento que antes estendia a família extensa (avós, pais,

tios, filhos, sobrinhos, netos e demais parentes e agregados), delimitam-se

31

agora a constituições familiares menores, com pequenos núcleos (marido,

mulher e filhos), casais sem filhos e lares com apenas uma pessoa

(NEGREIROS et al., 2007).

A pessoa idosa, na medida em que é cuidada por outros, acaba muitas

vezes por distanciar-se da responsabilização da sua própria vida, podendo

perder aos poucos sua identidade e por consequência sua vontade de lutar

contra a velhice. É através dessa entrega que ela percebe que:

O sentimento de identidade é o sentimento de ser enquanto pessoa diferente dos outros e enquanto ator social, com o conjunto de papéis e de funções que o tornam semelhante aos outros. Ter uma identidade é, então, estar só, no sentido de unicidade, e estar com o outro na medida em que se compartilham os valores e as representações do grupo social e da cultura a que se pertence (SOUZA SANTOS, 1990, p. 16).

Desta forma, entende-se que o sentimento de identidade, ao mesmo

tempo em que preserva a individualidade do idoso institucionalizado, também o

torna parte de um grupo social.

2.1 Asilo de Lins

Fundado no milênio passado, na década de 30, o Asilo São Vicente de

Paulo acompanhou de perto as transformações pela quais o munícipio de Lins

passou e ainda passa, sendo também afetado por essas mudanças. Tal

instituição teve como primeiro presidente o senhor Sebastião Bierrenbach

Monteiro Lopes, cujas atividades foram iniciadas em 17 de março de 1931

(RIBEIRO, 1995).

Várias personalidades da região participaram ativamente para seu início

e formação. Constituindo assim a primeira diretoria responsável pelo asilo,

dentre os mesmos aparece segundo RIBEIRO (1995, p. 34),

O cônego Durval Góes, que realizou a primeira conferência, com a participação de D. Ático Eusébio da Rocha, bispo diocesano de Cafelândia, quando foi empossada a primeira diretoria da Conferência de Santo Antônio. Essa diretoria estava assim formada: coronel João Bráulio Junqueira de Andrade, como presidente, Dr. Mário Pinto de Avelar Fernandes, como secretário e Manoel Francisco Antunes, como tesoureiro.

32

Seu início foi modesto para a época, porém necessário à população da

região que encontrava no asilo um local onde as pessoas idosas pudessem

buscar apoio às suas necessidades mais simples, sendo a principal obra desta

sociedade, a construção do asilo em modestas casinhas, em um terreno

localizado nos altos da Vila Clélia. Posteriormente, houve a doação de um

imóvel pelo coronel José André Junqueira e do Fausto Junqueira de Andrade.

No ano de 1936 ocorreu a inauguração do primeiro pavilhão, construído de

tijolos e contendo uma capela (RIBEIRO, 1995).

Com o avanço da modernidade a cidade de Lins foi aumentando sua

população e por consequência a necessidade de amparo aos mais velhos.

Dessa forma, o Asilo São Vicente de Paulo também passou por transformações

e já no final da década de 70, ganhando contornos de modernidade para a

época. Segundo Ribeiro (1995, p. 34): "Em quinze de novembro de 1979, foram

inauguradas suas novas e modernas instalações, na Chácara São José,

situada no Bairro Córrego do Barbosa".

Assim, o Asilo São Vicente de Paulo começava a tomar o porte de uma

instituição preparada para atender diversas pessoas que ali chegavam, ora

conduzidas por algum órgão social, ora conduzida por familiares ou até mesmo

vindo por conta própria para ali buscarem auxílio.

Desde o início, o objetivo do asilo era o de amparo e acolhimento de

idosos desprotegidos, fornecendo assim “alimentação, fundo moral, religioso,

social, bem como providenciando atendimento médico, com o fornecimento dos

remédios necessário, em cada caso” (RIBEIRO, 1995, p. 34).

2.2 Qualidade de vida da pessoa idosa

É notório o fato de que, com a chegada da velhice, as diferentes

transformações com que a pessoa fica sujeita, está implicitamente ligada à

forma de como o processo de envelhecimento se deu. O modo como o

indivíduo irá reagir na velhice dependerá de suas motivações e de seus

interesses em fases anteriores de seu desenvolvimento (SOUZA & SANTOS,

1990).

33

A qualidade de vida na velhice é então medida pelo que hoje oferece a

esse público, e as novidades que auxiliam o envelhecimento saudável. Assim,

uma nova sociedade de consumo se forma em busca de alimentos mais

saudáveis, produtos de ginásticas e que também prolonguem a vida, sem abrir

mão do lazer e bem estar próprio e familiar.

Há um movimento em que tanto homens quanto mulheres mostram-se

mais interessados em permanecerem saudáveis, motivando-se a ganharem

mais qualidade de vida. Este fator é influenciado por condições econômicas,

trazendo para os idosos mais disposições e condicionamento físico,

características que antes pareciam insuspeitas na velhice de outras gerações

(NEGREIROS et al., 2007).

Contudo com estas mudanças sócio-econômico-culturais parece haver a

formação de uma nova classe entre os idosos a partir da qualidade e

expectativa de vida, havendo o adiamento para uma quarta idade de

associações a tradicional imagem de decadência e de perda de capacidades

físicas e psicossociais (NEGREIROS et al., 2007).

Assim, a juventude atualmente mostra-se preocupada com a qualidade

de vida que terão no futuro, buscando maneiras alternativas e mais saudáveis

para uma velhice mais segura. Dentro dessa nova visão de qualidade de vida,

cabe ressaltar, segundo Negreiros et al. (2007), outros aspectos significativos

no processo de envelhecimento como: a valorização da singularidade com que

cada indivíduo vivencia a sua velhice, a importância da dignidade e do idoso

continuar atualizando-se, comunicando e recebendo apoio e afeto de entes

próximos como familiares e amigos.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS EM RELAÇÃO À VELHICE

Envelhecer não é somente uma etapa na vida de um indivíduo, mas um

“processo” extremamente complexo e pouco conhecido. O processo de

envelhecimento percorre toda a vida, sendo assim, o ser humano envelhece

enquanto vive.

No passado, a velhice era associada à decadência e à inutilidade, tida

como algo indesejável na vida do ser humano, uma fase marcada por perdas

de toda ordem, vinculada à doença e à morte.

34

Atualmente, com a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da

expectativa de vida, as famílias ficaram menores e seus membros mais velhos.

Consequentemente, a velhice ganhou maior visibilidade social. Os principais

responsáveis pelo aumento da expectativa de vida foram as conquistas

científicas e políticas, sobretudo da área médica e de educação, que hoje

dispõem de diversos recursos para ampliar o tempo de vida das pessoas

(FRAIMAN, 2013).

A velhice, para muitos, significa a aproximação da morte. Mas ela

também remete a historicidade, vivência da temporalidade, memória.

Envelhecer é um processo inerente à vida. A sociedade deve superar essa

visão negativa de colocar os idosos em um processo de deterioração vinculado

à morte (HORN, 2013).

A velhice faz parte do desenvolvimento humano e não representa uma

predestinação ao fim. É o resultado de um processo de uma vida, durante a

qual o indivíduo se modifica incessantemente. Nessa fase, as perdas físicas e

afetivas são sofridas com maior intensidade e numa frequência maior do que

em qualquer outra idade. A angústia, o medo do novo, o desejo de manter a

situação antiga, já conhecida, a morte iminente e outros mitos aumentam a

insegurança (FRAIMAN, 2013).

35

CAPÍTULO III

METODOLOGIA

1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA

A presente pesquisa tem como objetivo a discussão e apreensão das

representações sociais da morte na velhice. Através de depoimentos e relatos

da história de vida dos idosos buscou-se responder a seguinte problemática

“Qual a representação social da morte e do morrer de idosos linenses

institucionalizados”?

A escolha do idoso como público alvo, deu-se pelo entendimento dos

pesquisadores de que o fenômeno morte na sociedade ocidental

contemporânea é culturalmente estabelecido pelo sinônimo de morte e idoso.

Com as mudanças biológicas mais acentuadas na velhice há o tratamento de

que o idoso está mais preparado para a sua finitude, não havendo o

questionamento e um trabalho perante esta população sobre a sua própria

morte.

É visível o aumento do número de pesquisas sobre os idosos,

principalmente na área médica e da saúde pública. Entretanto, assuntos

voltados aos aspectos psicossociais como a morte, sexualidade e outros temas

tabus, são poucos explorados, havendo um medo em tocar nesses temas, o

que acaba provocando um silêncio (OLIVEIRA. et.al. 2009).

Portanto, tal estudo é de relevância tanto social quanto científica, pois

ainda há carências de trabalhos científicos voltados para a compreensão da

morte e do morrer em relação aos idosos. “Na busca bibliográfica há uma

lacuna nos estudos realizados no campo da gerontologia que envolvam

aspectos sociopsicológicos da morte” (OLIVEIRA, 2008, p.15).

No âmbito social a pesquisa possibilitou um espaço acolhedor para que

o idoso expressasse sua compreensão sobre a morte, criando uma relação

empática e permeada por vínculos afetivos. Ao contar sobre si, os idosos

tiveram a oportunidade de estruturar sua própria biografia, ressignificando-a.

36

Narrador e ouvinte irão participar de uma aventura comum e provocarão, no final, um sentimento de gratidão pelo o que ocorreu: o ouvinte, pelo que aprendeu; o narrador, pelo justo orgulho de ter um passado tão digno de rememorar quanto os das pessoas ditas importantes (BOSI, 2004, p.61).

O local de coleta dos dados escolhido foi a Sociedade Beneficente Asilo

São Vicente de Paulo de Lins-SP em virtude da mesma atender aos objetivos

da pesquisa. O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de

Ética no dia 1º de junho de 2015 (Parecer nº 1.090.023- ANEXO I).

2 MÉTODO

Os procedimentos metodológicos adotados foram: pesquisa de campo,

exploratória, qualitativa e bibliográfica, observação e entrevista

semiestruturada.

Na pesquisa de campo, segundo Severino (2007, p.123), “o objeto/fonte

é abordado em seu próprio meio ambiente. A coleta de dados feita nas

condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim observados,

sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador”.

O estudo exploratório permitiu um maior contato dos pesquisadores com

o tema pesquisado. De acordo com Marconi e Lakatos (2010, p.171), “a

pesquisa exploratória é uma investigação empírica cujo objetivo é a formulação

de questões ou de um problema, tendo como uma das finalidades: aumentar a

familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno”.

Por ser uma pesquisa de cunho social, teve como base o método

qualitativo, sem a finalidade de mensurar estatisticamente os dados coletados.

A pesquisa qualitativa “não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente,

não emprega instrumental estatístico para a análise de dados; seu foco de

interesse é amplo tendo contato direto e interativo com a situação objeto de

estudo” (NEVES, 1996, p.1).

O amparo teórico do estudo adveio de pesquisas bibliográficas em

artigos, livros, teses e revistas científicas que abordaram tal enfoque. “Na

pesquisa bibliográfica utiliza-se dados ou categorias teóricas já trabalhadas por

outros pesquisadores e devidamente registradas” (SEVERINO, 2007, p.122).

37

A observação é um procedimento metodológico indispensável para

qualquer tipo de pesquisa, já que permite o acesso aos fenômenos estudados

(SEVERINO, 2007).

A respeito da entrevista semiestruturada, Triviños relata que:

Podemos entender por entrevista semiestruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa (TRIVIÑOS, 1987, p.146).

Para preservar a identidade e diminuir o risco de exposição dos

participantes, substituiu-se o nome dos mesmos por flores. Essa escolha se

deu pela simbologia e associação que a planta traz a existência humana.

Sendo os idosos denominados respectivamente de Margarida, Cravo, Lírio e

Narciso.

3 COLETA DE DADOS

Houve um contato inicial com os quatro idosos participantes. Durante

este contato, foi exposto oralmente e individualmente o projeto de pesquisa.

Com a concordância dos idosos em participar, os pesquisadores leram o termo

de consentimento livre e esclarecido, conforme modelo no Apêndice de fls.75,

para que os mesmos pudessem assinar.

Ocorreram três encontros semanais com cada idoso, com duração de no

máximo uma hora para cada participante. O tempo variou de acordo com a

relação estabelecida entre o pesquisador e o participante, e da disponibilidade

do mesmo em contar sobre a sua história de vida.

A coleta dos dados ocorreu individualmente, sendo gravados os áudios

em um aparelho celular, a fim de se obter maior fidedignidade e riqueza de

detalhes. De acordo com Moreira et Silveira (1993, p.54): “Todas essas

considerações sobre fidedignidade e validade convergem em um ponto: a

necessidade de descrever com precisão e detalhe tudo o que foi feito”.

38

Os primeiros encontros foram destinados à formação do vínculo

necessário para os idosos expressarem-se mais livremente, somente no último

encontro, após supostamente terem maior confiança para conversarem mais

especificamente sobre a morte, os entrevistados foram abordados com

perguntas mais específicas sobre o tema. Tal cuidado foi tomado, pois a

qualidade da entrevista está atrelada a qualidade do vínculo estabelecido

(BOSI, 2004).

4 ANÁLISE DOS DADOS

Após o levantamento dos dados, os mesmos foram lidos exaustivamente

tendo como fundo a atenção flutuante. Em seguida, os mesmos foram

transcritos, tratados e categorizados pelo procedimento de Análise de conteúdo

de Bardin, que é um “conjunto de instrumentos metodológicos, em constante

aperfeiçoamento que se aplicam a discursos diversificados” (BARDIN, 1997,

p.9) e que será melhor descrita posteriormente.

A compreensão das categorias levantadas sobre a morte e o morrer,

deu-se através da Teoria das Representações Sociais desenvolvidas por

Sergei Moscovici. A teoria das Representações sociais busca a compreensão

do conhecimento social sobre determinado fenômeno, representado por

imagens, símbolos, ideias e crenças. Portanto, as mesmas constituem a

realidade da vida cotidiana e servem como o principal meio para estabelecer as

associações com as quais as pessoas se ligam umas nas outras (MOSCOVICI,

2013).

A análise dos relatos categorizados dos idosos pela Teoria das

Representações Sociais pautou-se nos conceitos de ancoragem e objetivação,

os quais serão discutidos posteriormente.

4.1 Análise de Bardin- Tratamento Dos Dados

A análise de conteúdo é mais uma ferramenta que auxilia o pesquisador,

principalmente em casos de investigação científica no campo social. Assim, “a

análise de conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a

39

descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da

comunicação” (BARDIN, 1977, p. 19).

Depois de um início conturbado onde a análise de conteúdo é utilizada

sem um método que a justificasse como parte da ciência investigativa, em

meados dos anos 50, do século passado, ela começa a ganhar corpo. De

acordo com Bardin:

A análise de conteúdo entra, de certo modo, numa segunda juventude. A etnologia, a história, a psiquiatria, a psicanálise, a linguística, acabam por se juntar à sociologia, à psicologia, à ciência política, aos jornalistas, para questionar essas técnicas e propor a sua contribuição (1977, p.20).

A análise de conteúdo torna-se então uma importante ferramenta de

investigação social, que tem como plano de ação “regressar às causas, ou até

descer aos efeitos das características das comunicações” (BARDIN, 1977, p.

22). Já que propicia a compreensão daquilo que não está expresso e permite

entender o significado das subjetividades do indivíduo em seu meio social, bem

como possibilita trazer à tona algum comportamento único de um determinado

grupo. Tais características são as bases da análise de conteúdo.

Desta forma a análise de conteúdo pretende trazer à tona aquilo que

está representado em um grupo social através do indivíduo e daquilo que ele

representa como grupo.

Quando se trata de análise de conteúdo, toda e qualquer mensagem,

seja ela verbal ou não, deve ser aprofundada para se chegar à sua origem. O

preparo do material deve ocorrer à transição exaustiva, devendo conservar o

máximo de informação (BARDIN, 1977).

Nessa conclusão teórica por parte do pesquisador, para compreender o

significado de determinada mensagem, é que está centrada a razão da análise

de conteúdo quanto ao seu uso em pesquisas. Compreender o objeto de

estudo através daquilo que ele carrega em sua subjetividade, mas que revela

por meios objetivos quando se é analisado o conteúdo de sua ‘mensagem’

(BARDIN, 1977).

Na interpretação de dados por meio da análise de conteúdo, o

pesquisador deve levar em conta não só a mensagem direta e clara, mas

também aquilo que ela quer passar a ele. Deste modo a análise de conteúdo

40

propicia ao pesquisador um conhecimento até então ausente em seu contexto

de explorador. É através dessa observação criteriosa, que a análise de

conteúdo obtém resultados favoráveis e seguros (BARDIN, 1977).

4.2 Teoria das Representações Sociais

O estudo das representações sociais surgiu do limiar entre a Psicologia,

Sociologia e Antropologia. Ambas contribuíram para que a Psicologia Social

interessasse pela relação entre indivíduo e sociedade, até então pesquisadas

separadamente (FARR, 1995).

A Teoria das Representações Sociais de Moscovici, no âmbito da

Psicologia Social, abre espaço para a compreensão de como o saber social

interfere na cognição individual e vice e versa.

As representações sociais são imagens, símbolos, ideias, conceitos da

vida diária que expressam um conhecimento social, do senso comum. A partir

da interação social, o saber da vida cotidiana é compartilhado com outros

membros do grupo, criando assim crenças, valores, normas que regem e

interferem a vida em sociedade.

Representar significa, a uma vez e ao mesmo tempo, trazer presentes as coisas ausentes e apresentar coisas a tal modo que satisfaçam as condições de uma coerência argumentativa, de uma racionalidade e da integridade normativa do grupo (MOSCOVICI, 2013, p.216).

Moscovici criou tal teoria a partir do estudo sobre as representações

sociais da Psicanálise na França, o mesmo interessou-se em saber como os

vários seguimentos da sociedade francesa representava um novo

conhecimento. Como a nova informação era percebida e significada

socialmente, tornando uma descoberta científica em senso comum. Assim, o

estudo sobre as representações sociais da Psicanálise, na França, mostrou

que as representações sociais no cotidiano determinam os valores e crenças

dentro da constituição grupal, pautando os comportamentos e atitudes aceitas

socialmente.

A Teoria das Representações Sociais de Moscovici perpassa pela Teoria

das Representações Coletivas, do sociólogo Durkeim, o qual visava o saber

41

estático. Moscovici ultrapassa-o, apontando que o indivíduo dentro da

construção das representações sociais interfere no processo mudando-o

constantemente. “A dinâmica das representações sociais mostra-se como rede

de ideias, metáforas e imagens, mais ou menos interligadas livremente e, por

isso, mais móveis e fluídas que teorias” (MOSCOVICI, 2013, p.210).

A visão de Durkeim é relativa à sociedade em que o mesmo estava

inserido, aonde as trocas de informações não eram tão aceleradas como

quando Moscovici criou a sua teoria. Portanto, as representações sociais não

são apenas heranças coletivas, determinadas e estáticas, mas cada indivíduo

tem um papel ativo e autônomo na construção social, sendo criado por ela e

participando de tal construção (MOSCOVICI, 1974 apud ALEXANDRE, 2005

p.153).

O saber do senso comum influencia as atitudes e comportamentos

individuais, porém, o indivíduo não é apenas um receptor de tais informações e

sim, participa da construção das representações sociais, sendo influenciado e

influenciando. “O indivíduo tanto é um agente de mudança na sociedade como

é produto dessa sociedade” (FARR, 1995, p.51).

Os saberes mudam de um grupo social para outro, e dentro do próprio

grupo há mudanças de acordo com interesses de que tais conhecimentos

continuem a significar.

Portanto, para compreender como as representações sociais interferem

no conhecimento sobre a realidade de um grupo ou de um indivíduo, é

necessário um olhar amplo nos processos econômicos, políticos, culturais,

históricos vigentes no período em questão. Já que as representações estão em

constantes transformações, sendo refutadas e aceitas de acordo com as

necessidades e interesses da classe detentora do poder e da identidade do

grupo.

Para o conhecimento de alguém tornar-se social, é necessária à

comunicação, sendo a mesma mediadora entre um mundo de perspectivas

diferentes. “São as mediações sociais em suas variadas formas que geram as

representações sociais” (JOVCHELOVITCH, 1995, p.81).

As diferenças entre as pessoas fazem com que as trocas de

informações se tornem importantes. Se todos os seres humanos fossem iguais

tais trocas não seriam relevantes, pois não haveriam descobertas e

42

experiências diferentes. Porém, se também não houvesse nada em comum a

linguagem perderia sua própria função, a de compartilhar. Dessa forma, é da

diferença e igualdade que as representações sociais são construídas e

significadas. “As representações não são uma cópia do mundo externo, mas

uma construção simbólica deste mundo, pelo diálogo o grupo vai construindo e

significando sua realidade pelos símbolos e signos” (OSTI et. al., 2013, p.55).

O conhecimento torna-se coletivo quando sua significação compreende

todo um grupo social. Entretanto, como exposto por Alexandre (2004, p. 124),

“nem todo conhecimento deve ser considerado uma representação social,

apenas o da vida cotidiana. Aquele conhecimento do senso comum, que ajuda

a interpretar, pensar e agir na realidade”.

Moscovici (2013), em suas definições sobre o conhecimento, traz a

distinção entre o saber do senso comum e do científico, denominando-os

sucessivamente como reificado e consensual. No universo reificado, a busca

de explicações está no mundo, independente das pessoas, é imparcial, já no

universo consensual, os conhecimentos surgem da troca entre as pessoas, da

negociação e aceitação mútua.

A diferença das resistências nos grupos de uma determinada sociedade

cria diversidades de imagens e símbolos. “O efeito da resistência é a

diversidade no domínio público, a medida em que novas ideias são

acomodadas de forma específica” (BAUER, 1995, p.234). Dessa maneira, a

representação social de um conceito, apresenta vários símbolos, variando de

acordo com a tradição cultural.

No processo de aquisição de um saber para a teoria das

Representações Sociais, participam os fenômenos de ancoragem e

objetivação, ambos os conceitos semelhantes aos de Piaget de assimilação e

acomodação.

4.2.1 Ancoragem

Ancoragem é o processo pelo qual procura-se classificar e encaixar o

não familiar, situando uma pessoa, uma ideia ou objeto dentro de alguma

categoria que historicamente comporta esta dimensão valorativa. É o processo

que dá sentido ao objeto que se apresenta à compreensão. O indivíduo

43

procede recorrendo ao que é familiar para fazer uma espécie de conversão da

novidade, trazendo-o ao território conhecido. (OLIVEIRA & WERBA, 1998)

O processo de ancoragem implica, na maioria das vezes, em juízo de

valor, pois, ao ancorar-se, classificam-se uma pessoa, ideia ou objeto, situando

assim dentro de alguma categoria “Quando algo não se encaixa exatamente a

um modelo conhecido, força-se a assumir determinada forma, ou entrar em

determinada categoria, sob pena de não poder ser decodificado” (OLIVEIRA &

WERBA, 1998, p.109).

Assim, é o processo que aproxima aquilo que é estranho, perturbador,

sem sentido a alguma categoria já existente. Enraíza a representação e seu

objeto em uma rede de significações que permite situá-las face aos valores

sociais e dar-lhes coerência. É o processo de classificar informações sobre um

objeto em relação a conhecimentos existentes (WACHELKE et al, 2008).

4.2.2 Objetivação

A objetivação é o processo pelo qual procura-se tornar visível, concreto,

uma realidade. Alia-se um conceito com uma imagem. A imagem deixa de ser

um signo e passa a ser uma cópia da realidade. Moscovici dá como exemplo a

religião, quando chama-se de “pai” a Deus, objetivando uma imagem jamais

visualizada em uma imagem conhecida (OLIVEIRA & WERBA, 1998).

Assim, a objetivação é o processo pelo qual se transforma noções

abstratas, tais como loucura, saúde, envelhecimento e morte em elementos

quase tangíveis e visíveis no âmbito da vida cotidiana. A objetivação envolve

certas operações simbólicas e estruturantes, pelas quais se dá uma forma a

esse conhecimento prático acerca da realidade que é objeto da representação.

É a operação que permite a materialização da palavra e a reabsorção do

excesso de significados pelos quais uma realidade é representada (JODELET

apud VELOZ, SCHULZE & CAMARGO, 1999).

44

CAPÍTULO IV

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

As representações sociais da morte e do morrer para os idosos asilados,

levantadas neste capítulo, norteiam-se pela concepção de que, dentre os

fenômenos relacionados à existência humana, a morte não provém da própria

experiência, isto é, não é um conhecimento empírico, e sim, torna-se conhecido

pela vivência do outro.

Como cita Caputo (2008), o limiar da experiência humana encontra-se

na morte do outro, que remete a experiência da perda, da dor, da saudade de

um ser insubstituível e único, mas ainda assim, não esbarra na própria

experiência do morrer.

Os dados coletados nas entrevistas foram tratados utilizando a Análise

de Conteúdo de Bardin (1997). Estes dados foram categorizados e discutidos

sob a luz da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 2013). Através

da análise e interpretação dos dados coletados, foram estabelecidas quatro

categorias (morte em vida, morte propriamente dita, vida após a morte e

carências de símbolos) e as subcategorias originadas destas.

1 MORTE EM VIDA

A terminologia da categoria morte em vida e seu significado advieram

das considerações e dos trabalhos de Kovács (2002), sendo composta pela

morte simbólica que ocorre no desenvolvimento humano, desde a infância até

a velhice.

Para Kovács, vida e morte não são duas coisas separadas, elas fazem

parte do mesmo processo. Mortes ocorrem durante o desenvolvimento

humano, “as células envelhecem e morrem o tempo todo, e o processo de

pequenas mortes também acontece o tempo todo, na medida em que a gente

vai perdendo coisas através da vida” (KOVÁCS, 2002, p.70).

Assim, algumas experiências vivenciadas ao longo da vida possuem

analogia com a ideia de morte, são espécie de metáforas da morte, tais como:

45

separação, desemprego, doença, transição da infância para a adolescência,

mesmo acontecimentos considerados bons e alegres, como casamento,

nascimento de filhos. Dito de outro modo qualquer eventualidade que possa

provocar algum tipo de ruptura na existência caracteriza-se como morte

simbólica ou conforme aponta Kovács (2002) mortes em vida, que marcam a

existência de cada pessoa até chegar na ruptura derradeira, a morte

propriamente dita.

Nesta pesquisa os entrevistados relataram algumas vivências da morte

simbólica e os sofrimentos oriundos desta, as quais foram classificadas nas

seguintes subcategorias: morte de entes queridos, morte e doença e estorvo.

Estas serão discutidas e debatidas nos tópicos abaixo.

1.1 Morte de entes queridos

Nessa subcategoria, a representação social da morte ancora-se na

perda dos entes com quem se tem fortes vínculos afetivos, isto é, a morte de

pessoas com vínculos afetivos mais próximos, sentida de forma mais intensa.

Como citado pelo idoso Narciso (84 anos), ao relacionar a perda de seus

familiares as lembranças e sentimento de tristeza.

Ao ser questionado a respeito da morte, o idoso Cravo lembrou-se da

morte de sua esposa, que, após sessenta anos de casados, faleceu em seus

braços:

Aí naquele dia eu chamei ela: (...) Ela não respondeu, eu no escuro pra não acender a luz pra acordar os outros, peguei na mão dela, tava gelada, eu acendi a luz, ela tava deitada de lado, eu pus ela aqui no meu braço, chamei ela, ela virou assim, olhou bem pra mim, caiu duas lágrimas dos olhos dela e ela falou assim: “Olha, você ainda tem muita coisa pra fazer na Terra, a minha hora chegou, adeus, sempre te amei...”

A morte do ente querido se configura como uma vivência da morte em

vida. É a possibilidade de experiência da morte que não é a própria, mas é

vivida como se uma parte do próprio indivíduo morresse, uma parte ligada ao

outro pelos vínculos estabelecidos (KOVÁCS, 1992).

46

O contato do ser humano com a morte ocorre por meio da morte do

outro, que remete à ideia de que “somos seres para a morte” (SOUZA;

BOEMER, 2005, apud QUEIROZ et al, 2013). Embora não ocorra a morte

concreta, essas experiências possibilitam a reorganização e a ressignificação

da vida. Falar de perda significa falar de vínculo que se rompe, ou seja, uma

morte simbólica.

Há o medo com a experiência da morte do outro, que envolve o temor do

abandono; e o medo da própria morte, que retoma a consciência da finitude e

às condições da morte (quando e como será). A morte pode remeter ao

reconhecimento da finitude do ser humano, a encarar a solidão, a enfrentar a

possibilidade do desfazimento das ligações afetivas e o medo do sofrimento e

do desconhecido (OLIVEIRA et al, 2010 apud QUEIROZ et al, 2013).

Portanto, o falecimento do ente querido pode causar sofrimento pelo

vínculo estabelecido, sendo o mesmo permeado de afetos. Segundo Kovács

(1992), com a separação pela morte, há o risco do indivíduo perder o

significado da sua própria vida.

1.2 Morte e doença

A representação social da morte dos idosos entrevistados, também

apareceu em outro aspecto da morte em vida, ancorado na doença, na perda

do vigor e das incapacidades, que remete à proximidade do fim da vida.

Segundo Kovács (1992), as doenças são vistas como uma ameaça à vida.

Nesse sentido, o entrevistado Cravo demonstrou em sua fala esse temor.

(...)Eu fiquei doente, (...), fiquei internado lá embaixo uns tempos, eu quebrei essa mão, esse dedo (...). Pensou que eu ia morrer, ficar lá definitivo né (...) aí falaram: “ É seu Cravo o que que é isso ? Tá entregando a...” Eu falei: “ Não, não tô não...é da vida, faz parte do dia a dia de cada um

A doença também é um tipo de morte, encarada como fraqueza e

punição, tendo em vista a interrupção à produção. Expõe o indivíduo à

fragilidade e finitude; ou seja, ele é afastado das suas atividades rotineiras,

pode sofrer paralisias, mutilações, enfrenta muitas vezes a dor ao longo do

tratamento e tem maior consciência de sua mortalidade (KOVÁCS,1992).

47

1.3 Estorvo

Nesta subcategoria da morte em vida, denominada de estorvo aparece

representações sobre a velhice, vivenciada em um contexto socio-histórico em

que a juventude é valorizada, enquanto os velhos, muitas vezes, são

desprestigiados e muitos assim se sentem. Isso se deve em grande parte aos

pressupostos da sociedade capitalista, que busca o lucro e o capital, que

ocorre fundamentalmente por meio da produção e do consumo.

Em uma sociedade em que os jovens parecem representar a capacidade

produtiva, os idosos, sobretudo os asilados, quando perdem sua capacidade

produtiva, que pouco consomem e ainda geram custos financeiros para a sua

manutenção, acabam sentindo-se como estorvo, como aqueles que

atrapalham, uma espécie de objeto que já teve a sua serventia e aguardam o

descarte. Tais apontamentos aparecem no relato do senhor Cravo, ao referir-se

à morte de seus tios, que faleceram ainda jovens, fortes e com condições de

trabalharem.

(...)meu tios que faleceram na revolução de trinta e dois, eles eram moços fortes e trabalhavam, e eu era, eu tava com quanto? cinco anos de idade. Em um mil novecentos e trinta e dois eu era, eu falava: “Mamãe porque que existe revolução?” Minha mãe falava assim: “É a ganância do poder do homem aqui na Terra”.(...) (Cravo, 83 anos)

Na velhice, com as mudanças físicas e biológicas mais acentuadas, as

características necessárias à produção (industrial, científica, tecnológica, mão

de obra física e outros) coloca aparentemente o idoso em uma situação de

inferioridade.

Assim, como exposto por Kubler-Ross (1998), a cultura ocidental é

predominantemente influenciada pela economia capitalista, que venera a

juventude e retrata a morte, na maioria das vezes, como ilegal e indesejada.

Nesse sentido, a morte é interpretada, frequentemente, como uma intrusa,

desnecessária e sobreposta à vida.

A senhora Margarida também mostra em seu discurso tal associação.

48

Foi uma judiação e eu tô aqui véia, tô aqui sou mais velha né, e aí eu tô aqui, fico aqui estorvando. Porque vocês são novo, tem toda a vida pra frente (Margarida, 74)

Para Kovács, com o envelhecimento, “a gente perde uma série de

capacidades físicas, oportunidades sociais, possibilidades de realização de

projetos” (KOVÁCS, 2002, p. 71). Ressalta que a maior parte dos idosos estão

relegados a um segundo plano, numa sociedade que os discrimina, tendo suas

capacidades e potenciais diminuídos e, assim, eles mesmos se menosprezam.

O homem, neste contexto sociocultural, é considerado pelo que produz e

consome. Por isso a juventude é tão valorizada e a velhice considerada a

decadência, no qual o velho asilado aparece, muitas vezes, como alguém que

morreu socialmente.

2 MORTE PROPRIAMENTE DITA

Na categoria morte propriamente dita, tem representações sociais do

momento exato da morte, quando e como a mesma ocorrerá. Esse é um

fenômeno que ainda não ocorreu para os participantes, havendo assim

fantasias e crenças na busca de tentar compreender o desconhecido, marcado

pelo mistério.

2.1 Intervenção divina

Os quatro idosos participantes representaram a incerteza do momento

de sua própria morte, sendo esta determinada pela escolha de um ente divino.

É, aí eu falo ó meu Deus, se Deus lembrasse de mim como lembrou deles...mas a gente só vai a hora que chegar a hora né? (Margarida, 74).

A morte Deus deixou pra todo mundo né? (Lírio, 75).

É, Deus que escolhe (Narciso, 84).

Viva o hoje com amor, com carinho, amor ao próximo, lembrando que o amanhã a Deus pertence. A gente deita, a gente dorme e não sabe se amanhece (Cravo, 83).

49

A finitude da existência humana vem acoplada de um mistério, já que

não se sabe realmente o que acontece no momento da morte. Como não há

uma explicação universal que conforte e dê segurança a este mistério, cada

grupo social lida com a incerteza buscando explicações para tal fenômeno

através da arte, dos mitos, da religião, da filosofia e de outras formas de

expressão. Portanto, há a incerteza e o medo daquilo que não se conhece

(CAPUTO, 2008).

As crenças religiosas e espirituais proporcionam possibilidades de

significação e respostas diante da morte. A religião traz assim, suporte

emocional, social e motivação, controlando os rituais e conhecimentos

associados ao morrer. Além do conforto perante a morte, a religião oferece

promessa de vida após a morte (BOUSSO, et. al. 2010).

2.2 Passagem

Outra representação social da morte nesta categoria ancora-se nas

ideias de passagem e travessia, transição entre a vida terrena e o plano

espiritual (religioso), rumo à vida eterna. O idoso Cravo (83 anos) relatou que a

morte:

É uma passagem de vida, é uma transferência de eu sair daqui e ir embora (...). Olha, a morte é uma passagem da vida que Deus nos deu pra vida eterna. O corpo fica, ele veio da terra e pra terra ele volta. Mas nossa alma, o nosso espírito, conforme o nosso procedimento de amor ao próximo, nós somos levados direto ao céu.

A transcendência, no sentido de ir além, ultrapassar barreiras, parece vir

em contradição ao fim da existência humana com a morte, pautando-se na

representação social de passagem. Lidar com a finitude gera angústia. Assim,

ao projetar-se e dar continuidade a vida para outros mundos, segundo Oliveira

(2012), há a busca da imortalidade e da segurança.

Segundo Golstein e Sommerhalder (2002), a religiosidade é vista como

um recurso de enfrentamento para aceitar a velhice e a morte. Com isto,

mostra-se a força da religião e da espiritualidade ao ajudar as pessoas a

50

lidarem com as perdas, dando sentido à vida, ajudando a enfrentar os medos e

as angústias da morte.

Ao acreditar na reencarnação, Cravo a representa como uma busca da

humanidade pela perfeição, em que o espírito retorna à Terra no intuito de

evoluir-se a cada encarnação. De acordo com Kardec apud Bacelar (1999):

A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e é o que os Espíritos ensinam. (Kardec, 1995, pergunta 171)

3 VIDA APÓS A MORTE

A categoria denominada de vida após a morte é marcada por

representações de uma continuidade da vida após o falecimento. Destaca-se

no relato de alguns idosos a associação da vida após a morte com situações

do seu cotidiano em vida, como a representação social de uma vida após a

morte cujo destino é objetivado em um julgamento, semelhante ao tribunal da

justiça terrena.

Praticado o delito, o infrator é punido segundo as leis e códigos vigentes,

e a pena aplicada de acordo com a gravidade do ato praticado. Deus,

representado como supremo juiz, levando em consideração as razões a que

levaram o infrator a cometer tal ato, motivos agravantes e atenuantes, aplica a

pena ou absolve o réu. Do julgamento, sobrevêm a condenação ou a

absolvição do infrator.

3.1 Julgamento

Nesta subcategoria, a morte é representada como momento de

avaliação das escolhas e atitudes durante a vida, ancorando-se no julgamento,

objetivada na concepção de “acertos de contas”.

Para o idoso Cravo, a morte é o desapego do espírito, que irá prestar

contar com Deus sobre o que fez na Terra. No relato do idoso Narciso, esta

51

representação também apareceu no seguinte trecho: “Muita gente morre e

descansa e o outro vai sofrer muito”.

Por meio deste julgamento, entendem que será avaliado as atitudes, os

comportamentos dos mortos entre bons e ruins. Colocando o dualismo entre

céu para o bom e inferno para o mau.

Ninguém vai pro céu, enquanto não tiver o julgamento não vai. Tem o lugar deles aqui, o purgatório, mas no céu que nem os crentes falam não. No céu só os escolhidos de Deus. Os apóstolos, o filho dele, esses tá lá mas pecador que já morreu, que viveu o pecado e que vai pro céu não, eles podem ler a bíblia até ela acabar, só vai pra lá se Deus quiser. (Narciso, 84)

A representação social da morte enquanto julgamento traz o medo do

desconhecido, razão pela qual, muitos idosos encaram a morte como algo

negativo e ruim. Trata-se de uma ideia religiosa ancorada na imagem de céu,

inferno e julgamento, objetivada na prestação de contas pelos atos cometidos

enquanto vivo.

A visão escatológica que os idosos trouxeram relativo ao seu destino no

pós-morte é representando no julgamento, baseados nos atos terrenos, os

quais determinarão o tipo de pós vida que terão. Segundo Abbagnano (2007,

p.344), escatologia significa: “parte da teologia que considera as fases "finais"

ou "extremas" da vida humana ou do mundo: morte, juízo universal, pena ou

castigos extraterrenos e fim do mundo”.

O juízo final representado pelos participantes parece relacionar com o

significado do tribunal. Ao ser julgada a pessoa terá como consequência o

acerto de contas que desdobrará nas subcategorias a seguir de pagamento

pelas suas atitudes na terra, ou do descanso. Como o idoso Narciso relata: “eu

vou acertar conta com Deus por tudo o que eu fiz aqui na terra”.

3.1.1 Pagamento

A objetivação da morte associada ao acerto de contas parece recair na

concepção de pagamento, de acordo com o senhor Lírio, ao relatar sobre como

será o acerto e contas após a morte.

52

Se ele morre ele tem que pagar o que ele deve, porque ele tornou tudo de devedor, ele tem que pagar. Se ele for conformado ele paga um dia hoje, se ele não conformar com a morte ele paga um saltinho mais. O que deve tem que pagar.

Pode-se compreender que ao representar socialmente a morte como

pagamento, o idoso, supracitado, parece fazer uma analogia com a própria

relação do homem com os objetos e o dinheiro, trazendo a questão daquele

que deve (está em débito) e elimina tal condição pelo pagamento.

3.1.2 Descanso

Outra ramificação da morte como julgamento é a representação social

do descanso. O senhor Narciso parece colocar tal concepção, ao relatar que

quando uma pessoa falece será julgada após a morte tendo como recompensa

o sossego, mas isto dependerá de suas ações em vida.

A morte pra muita gente é um descanso, pra outros é surpreendente. Muita gente morre e descansa e o outro vai sofrer muito.

Para a senhora Margarida, a morte significa sossego, como um alívio

após viver tantas coisas.

Olha, pra mim ela significa sossego, porque às vezes um doente que tá atrapalhando e aí a morte vem e leva. Enquanto Deus não quer né, paciência (Margarida, 74 anos)

4 CARÊNCIA DE SÍMBOLOS

Além das representações sociais da morte citadas anteriormente, houve

também o não dito, o não representado. Ao ser perguntado sobre o que

representa, ou significa a morte, o senhor Narciso respondeu não saber a

razão desta pergunta, e o senhor Lírio também comenta não saber, e não ter

uma lembrança que remeta a morte.

Nos relatos dos quatro participantes, pode observar-se a carência de

símbolos que representassem a morte. Pois, só se é possível simbolizar

53

quando há espaço para um fenômeno emergir, e assim ser representado e

significado.

A carência de rituais de passagem quando há mortes parece não

permitir a elaboração dos lutos, vez que são esses rituais coletivos que dão

sentido a experiências que inicialmente podem ser percebidas como

assustadoras. Muitas pessoas tentam esconder o fato de que alguém morreu

para evitar o “contágio”, para não lembrar aos outros que também irão morrer

um dia. Ao invés de poupar sofrimentos, este tipo de situação pode fazer com

que exista ainda mais solidão e desamparo frente à finitude (CHERIX &

KOVÁCS, 2012).

A carência de representações sociais da morte parte como

consequência da morte interdita (conceito citado anteriormente e esmiuçado no

capítulo sobre a morte), que gera o afastamento da própria finitude e uma

possível diminuição de sua simbolização e, consequentemente, de dar sentido

à morte.

No século XX, a morte toma conotações de algo que deve ser

escondido, é tomada como algo vergonhoso, “(...) o grande fracasso da

humanidade” (KOVÁCS, 1992, p.151). Desenvolve-se, a partir daí, a noção de

que as manifestações de perda, de dor, devem ser dominadas, controladas, até

mesmo suprimidas, pois se constituem numa expressão de fraqueza. Os rituais

parecem ocultar e disfarçar a morte, como se esta não existisse (KOVÁCS,

1992).

Kovács (2003) afirma que a urbanização rápida e o avanço da tecnologia

fizeram os ritos ligados à morte perderem o valor. As pessoas, sem saber o

que fazer, não recebem e nem dão apoio nestes momentos. Considera que,

com a industrialização do século XX, houve a criação de uma mentalidade da

morte interdita. Ou seja, a morte, antes pública, deu lugar a uma morte

dissimulada, que devia passar despercebida. Com isso, houve o

distanciamento, a negação das questões ligadas ao morrer, às perdas em geral

e às dificuldades de enfrentar com as fortes emoções que acompanham estes

processos.

Dentre todos os participantes da pesquisa, o Sr. Cravo foi o que trouxe

mais símbolos relacionados à morte. Relatou ter sido enfermeiro por mais de

trinta anos e que “muitas pessoas morreram em seus braços”. Inclusive sua

54

esposa, sendo que, quando chamou o resgate, o socorrista, na tentativa de

amenizar sua dor, dissera-lhe que era “só um desmaiozinho, tá chorando à-toa,

é só um desmaiozinho”.

Eu falei: “Moço você serve de filho pra mim, eu tenho tantos anos de idade, eu tenho tantos anos de casado, sou enfermeiro, já morreu muita gente no meu braço e já salvei muita gente no meu braço. Esses dois braços que tá aqui, olha, já trabalhou muito com o ser humano...” Ele falou: “Então o senhor me desculpa, é a realidade. Seja forte então”.

O fato do senhor Cravo ter presenciado tantas mortes e trabalhado em

uma área que lida diariamente com a morte, ao que parece, permitiu que ele

criasse melhores recursos para simbolizar e dar sentido à finitude.

Contrariamente dos demais entrevistados, que tiveram mais dificuldades em

descrevê-la e simbolizá-la.

Na mesma linha, Kovács (2008) mostra que se criam defesas

psicológicas para se evitar pensar na morte e fazer o processo de luto. Quando

se fala em morte, a mesma parece cercada por um vazio simbólico e cultural,

carentes de rituais, momentos ou palavras que nos permitam entrar em contato

com situações e sentimentos relacionados à morte.

O silêncio sobre tal fenômeno apareceu em dois idosos. A senhora

Margarida contou pensar e conversar sobre a morte com pouca frequência, e

também mostrou não compreender o silêncio de sua mãe perante a perda de

seus irmãos, quando era mais jovem, chegando a questioná-la.

O senhor Narciso ao dizer sobre a sua própria morte, parece negá-la,

direcionando seu relato à vida. “Não, não penso sobre a morte. Eu peço a Deus

pra me dar vida e saúde... A vida é boa assim, por que que eu vou desejar

morrer? A vida é boa aqui”.

A diminuição dos símbolos parece ser resultado vinculado à negação da

morte, fenômeno manifesto na sociedade a partir da segunda metade do

século XX e permanente nos dias atuais. Muitas vezes, nega-se a morte como

forma de não entrar em contato com experiências dolorosas. A grande dádiva

da negação e da repressão é permitir que se viva num mundo onde haja ilusão

de imortalidade. “Essa couraça de força é como mentira que oculta uma

fragilidade interna e a vulnerabilidade” (KÓVACS, 2003, p. 108).

55

Portanto, ainda que a morte seja parte da condição humana e presença

constante em sua existência, atualmente ela configura-se como um tabu. Ao

mesmo tempo em que se sensibilizam diante da morte, muitos buscam

construir aparatos e subterfúgios para suportar sua presença. Existe uma

“conspiração do silêncio” em relação ao morrer. A morte, antes familiar por

acontecer em casa, hoje se torna assustadora e distante. Este contexto parece

não ser dos mais favoráveis para a produção e transmissão de símbolos que

auxiliem na lida e elaboração das questões relativas à morte e o morrer.

56

PROPOSTA DE INTERVENÇÂO

Os encontros com os idosos durante o período da pesquisa acentuaram

a compreensão dos pesquisadores da importância de um espaço acolhedor

para que temas considerados tabus, como a morte, possam emergir.

O fato da morte hoje ser oculta, não elimina a mesma da existência

humana, os sentimentos perante a perda do outro e da própria finitude rodeiam

o imaginário das pessoas. Assim, o afastamento de tais vivências, podem

tornar tais sentimentos reprimidos ou até mesmo conforme visto, para alguns

marcados pela carência de simbolizações, o que parece intensificar o

sofrimento e a angústia diante da morte e do morrer.

Os relatos dos participantes trouxeram constantemente o “hábito de não

falar sobre a própria morte”, como uma tentativa de evitar o constrangimento e

o sofrimento.

Ao permitir-se que idosos asilados, através da escuta qualificada,

expressem a respeito da morte e do morrer, possibilita-se que os mesmos

representem socialmente a ideia existente sobre tal realidade, e, assim,

demonstrem seus valores, crenças, e a própria cultura nela inserida.

Além disso, pode construir possibilidades do idoso adentrar na sua

própria morte, buscando o autoconhecimento e a ressignificação de sua própria

biografia.

Kovács (2005) propõe uma educação para a morte, que consiste na

preparação do idoso perante a sua própria finitude, facilitando a comunicação,

para que este tabu possa ganhar vozes e o idoso consiga singularizar suas

vivências. Sendo um tempo de balanço, significação, e ressignificação, preparo

este para a própria finitude.

57

CONCLUSÃO

A presente pesquisa, no intuito de explorar as representações sociais da

morte e do morrer para os idosos linenses asilados, resultou nas

representações da morte em vida, morte propriamente dita, vida após a morte e

na carência de símbolos.

A morte é um fenômeno intrínseco ao homem, cheio de incertezas e

mistérios, já que não se sabe o que ocorre exatamente ao morrer. São as

ideias e fantasias relatadas pelos mitos, lendas e outras formas de expressão,

que buscam explicar e dar sentido a morte.

Na categoria morte em vida, decorrente de pequenas mortes que

acontecem ao longo da existência humana, desde o nascimento até a velhice,

representada na perda de entes queridos, na doença, nas incapacidades e no

sentimento de ser um “estorvo” para seus familiares.

Quanto à categoria morte propriamente dita, trata-se do momento da

morte em si, quando imaginam que ela ocorrerá. Todos os participantes

relataram que esse momento é de intervenção divina, em que Deus escolhe e

decide o fim da vida de cada um. Representam também a morte como uma

passagem, uma travessia.

Na vida após a morte, a visão de continuidade da vida prevalece sob o

critério de um pré julgamento, como a um tribunal terreno. Aqueles que tiveram

bom comportamento enquanto vivos, terão o privilégio do descanso, enquanto

que aqueles que tiverem contas a acertar, irão pagar pelos maus atos

cometidos.

E, finalmente, na carência de símbolos, abordou-se a questão da

dificuldade dos idosos entrevistados em representar a morte. Ao serem

questionados se havia algum objeto que simbolizasse a morte, não souberam

responder.

Tal dificuldade pode ser explicada porque o assunto morte não é

frequente, interdito, proibido muitas vezes. E, consequentemente, ao não se

elaborar a respeito de um determinado assunto, gera-se o afastamento do

mesmo e a falta de sentido e simbolização. Esse fenômeno é compreendido

pelo conceito de Ariès (2012) como morte interdita, predominante na sociedade

58

capitalista atual que acaba por afastar-se da morte, provocando uma carência

de símbolos que a representem.

Assim, a pesquisa mostrou a importância de um espaço acolhedor para

que os idosos consigam trazer seus pensamentos e sentimentos referentes à

própria finitude e das pessoas próximas. Podendo, dessa forma, ressignificar

sua própria biografia e simbolizar a morte.

A representação social da morte mostrou-se necessária como maneira

de lidar com este fenômeno tão incerto, no intuito de substituir a negação atual

da morte pela aceitação da mesma como parte da existência humana.

E, para os pesquisadores, revela-se a importância de novos estudos no

sentido de ampliar o conhecimento sobre o assunto ante a falta de trabalhos

científicos a respeito.

59

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66

APÊNDICES

67

Apêndice 1- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CEP / UniSALESIANO

(Resolução nº 466 de 12/12/12 – CNS)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE OU RESPONSÁVEL LEGAL

1. Nome do Paciente:

Documento de Identidade nº

Sexo:

Data de Nascimento:

Endereço:

Cidade: U.F.

Telefone:

CEP:

1. Responsável Legal:

Documento de Identidade nº

Sexo: Data de Nascimento:

Endereço:

Cidade: U.F.

Natureza (grau de parentesco, tutor, curador, etc.):

4 II – DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA

1. Título do protocolo de pesquisa:

“A representação social da morte e do morrer de idosos linenses asilados: um estudo exploratório”.

2. Pesquisador responsável:

RODRIGO FELICIANO CAPUTO

Cargo/função:

Mestre Inscr.Cons.Regional:

06/95185 Unidade ou Departamento do Solicitante:

Unisalesiano-Lins

3. Avaliação do risco da pesquisa: (probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano como consequência

imediata ou tardia do estudo).

SEM RISCO RISCO MÍNIMO RISCO MÉDIO RISCO MAIOR

4. Justificativa e os objetivos da pesquisa (explicitar): O presente estudo tem como intuito demonstrar a representação social da morte e do morrer para os idosos,

68

em especial, aos idosos institucionalizados na Associação Beneficente Asilo São Vicente de Paulo de Lins-

SP. A questão da morte tende a ser bastante significativa para entender tanto as relações sociais, como o

comportamento do idoso frente a uma sociedade que muda constantemente. A reflexão sobre a morte pode

ser benéfica no tocante à qualidade de vida, na realização de novas atividades e autonomia, no apego à

religião, entre outras coisas. Quando o saber e a história de vida do idoso são valorizados, entendidos e

respeitados, este ser frequentemente percebe que sua existência tem um significado. Essas atitudes de

consideração, respeito e amor ajudam a acolher o idoso, pois existe o reconhecimento de sua singularidade,

promovendo um sentido no envelhecer e possibilitando o enfrentamento da morte.

5. Procedimentos que serão utilizados e propósitos, incluindo a identificação dos procedimentos que são experimentais: (explicitar)

A pesquisa em questão será de campo, qualitativa e bibliográfica. O estudo exploratório permitirá um maior

contato dos alunos pesquisadores com o tema pesquisado. Os dados coletados ocorrerão individualmente,

através dos relatos das histórias de vida dos idosos, escuta qualificada, observação e entrevista aberta.

Haverá uma visita inicial com seis idosos institucionalizados no Asilo São Vicente de Paulo de Lins/SP, que

tenham clareza e lucidez. Sendo os mesmos escolhidos pela própria instituição. Durante este contato será

exposto oralmente e individualmente o projeto de pesquisa. Caso o idoso em particular aceite participar, os

alunos lerão o termo de consentimento livre e esclarecido para que o mesmo possa assinar.

Após o levantamento das informações, as mesmas serão analisadas pelo método de Análise de conteúdo de

Bardin e compreendidas a luz das Teorias das Representações Sociais de Moscovici.

A teoria das Representações sociais desenvolvida por Moscovici busca a compreensão do conhecimento

coletivo sobre determinado fenômeno, representado por imagens, símbolos, ideias e crenças.

Assim, com o presente estudo visa-se compreender quais são as representações sociais da morte e do morrer

de idosos linenses institucionalizados na Sociedade Beneficente Asilo São Vicente de Paulo de Lins-SP.

6. Desconfortos e riscos esperados: (explicitar)

Riscos: haverá riscos mínimos quanto à exposição da imagem e identidade, que serão amenizados

preservando a identidade, com uso de pseudônimos e sem registros de imagens. Para que os participantes não

sofram com a pesquisa, por tratar-se do assunto morte, a escuta será qualificada para que os conteúdos

apareçam naturalmente, através do relato da historia de vida destes.

7. Benefícios que poderão ser obtidos: (explicitar)

Benefícios: A pesquisa trará benefícios de âmbito social, visto que integra o idoso como ser participante da

sociedade, levando em consideração suas ideias, crenças e valores ante a finitude da vida.

8. Procedimentos alternativos que possam ser vantajosos para o indivíduo: (explicitar)

Não se aplica

9. Duração da pesquisa:

4 meses após aprovação do Comitê de Ética

10. Aprovação do Protocolo de pesquisa pelo Comitê de Ética para análise de projetos de pesquisa em

01/06/2015

69

III - EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU REPRESENTANTE LEGAL

1. Recebi esclarecimentos sobre a garantia de resposta a qualquer pergunta, a qualquer dúvida acerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados com a pesquisa e o tratamento do indivíduo.

2. Recebi esclarecimentos sobre a liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de

participar no estudo, sem que isto traga prejuízo à continuação de meu tratamento.

3. Recebi esclarecimento sobre o compromisso de que minha identificação se manterá confidencial tanto quanto a informação relacionada com a minha privacidade.

4. Recebi esclarecimento sobre a disposição e o compromisso de receber informações obtidas durante o

estudo, quando solicitadas, ainda que possa afetar minha vontade de continuar participando da pesquisa.

5. Recebi esclarecimento sobre a disponibilidade de assistência no caso de complicações e danos decorrentes

da pesquisa.

Observações complementares.

5 IV – CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO

Declaro que, após ter sido convenientemente esclarecido (a) pelo pesquisador

responsável e assistentes, conforme registro nos itens 1 a 5 do inciso IV da

Resolução 466, de 12/12/12, consinto em participar, na qualidade de

participante da pesquisa, do Projeto de Pesquisa (colocar o nome do projeto de

pesquisa).

________________________________ Local, / / .

Assinatura

70

____________________________________

Testemunha

Nome .....:

Endereço.:

Telefone .:

R.G. .......:

____________________________________

Testemunha

Nome .....:

Endereço.:

Telefone .:

R.G. .......:

71

ANEXOS

72

Anexo 1- Parecer de aprovação do Projeto de Pesquisa

73

74

Anexo 2- Roteiro de Entrevista

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Pesquisa: A representação social da morte e do morrer de idosos linenses

asilados: um estudo exploratório

Data: Local: Nº da Entrevista:

PERFIL:

Nome:

Idade:

Antigo trabalho/ocupação:

ROTEIRO DE PERGUNTAS:

1. O que a morte significa para o senhor (a)?

2. Quais palavras representam a morte e/ou morrer?

3. Como o senhor (a) percebia a morte quando era mais jovem?

4. E como a percebe hoje?