a reportagem (saiba mais na pág. 11) a amazônia · ciais que levam a tiracolo fuzis do tipo 762....

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28 | www.exame.com xx de xxxxxxx de 2017 | 29 SUSTENTABILIDADE | A reportagem de EXAME percorreu 1 418 quilômetros dentro da mais importante floresta do planeta e constatou que o aumento no desmatamento é um retrato do Brasil que deu errado: afrouxamento das leis, impunidade e ausência de políticas públicas. Há, porém, caminhos para reverter esse cenário ANA LUIZA HERZOG, DE SÃO PAULO, E RENATA VIEIRA, DE AMAZONAS E RONDÔNIA OPERAÇÃO DE FISCALIZAÇÃO EM RONDÔNIA: exploração ilegal de madeira em área protegida pela União, a Floresta Nacional do Jamari A AMAZÔNIA EM RISCO. DE NOVO HENRIQUE DONADIO Baixe o aplicativo gratuito Blippar e ouça a reportagem (saiba mais na pág. 11)

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Page 1: a reportagem (saiba mais na pág. 11) A AmAZôNIA · ciais que levam a tiracolo fuzis do tipo 762. O objetivo é pegar em flagrante pessoas que exploram madeira ilegalmente na região

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SUSTENTABILIDADE |

A reportagem de EXAME percorreu 1 418 quilômetros dentro da mais importante floresta do planeta e constatou que o aumento no desmatamento é um retrato do Brasil que deu errado: afrouxamento das leis, impunidade e ausência de políticas públicas. Há, porém, caminhos para reverter esse cenário ANA LUIZA HERZOG, DE SãO pAULO, E RENATA vIEIRA, DE AmAZONAS E RONDôNIA

OPERAÇÃO DE FISCALIZAÇÃO EM RONDÔNIA:

exploração ilegal de madeira em área protegida

pela União, a Floresta Nacional

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Baixe o aplicativo gratuito Blippar e ouça a reportagem (saiba mais na pág. 11)

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EScONDIDOS NO mEIO DA fLORES-TA AmAZôNIcA, nove agentes de fiscalização do Instituto Brasilei-ro do Meio Ambiente e dos Re-cursos Naturais, o Ibama, aguar-dam o momento certo para uma emboscada. É noite, e quem ga-rante a segurança do grupo na escuridão da mata são dez poli-ciais que levam a tiracolo fuzis do tipo 762. O objetivo é pegar em flagrante pessoas que exploram madeira ilegalmente na região. Ainda sob a luz do dia, as provas do crime já haviam sido encon-tradas: um caminhão carregado de madeira de lei e um trator,

deixados às pressas para trás quando os criminosos percebe-rem a presença dos fiscais fede-rais — que chegaram de helicóp-tero à área, de difícil acesso por terra. Depois de caminhar sem sucesso por mais de quatro horas na floresta à procura desses ma-deireiros, a estratégia do grupo foi esperar que a carga do cami-nhão, cinco toras de angelim, árvore utilizada na confecção de móveis e na construção civil, mo-tivasse a volta deles durante a noite. O raciocínio foi certeiro. Na madrugada do dia 29 de abril, três homens tentaram mover o

caminhão de um atoleiro no meio da floresta. O ronco do motor foi o sinal para que os fiscais, acam-pados a dois quilômetros dali, corressem para o local. A perse-guição, porém, durou pouco. A bordo de uma moto e a pé, os madeireiros conseguiram nova-mente fugir. Antes, porém, sabo-taram o caminhão e o trator para impedir a sua retirada do local. Alguns dos fiscais tentaram por horas ligar os veículos, mas não houve jeito. Diante dessa situa-ção, os agentes do Ibama se vi-ram obrigados a seguir um ritual: em clima de catarse coletiva, in-

cendiaram o caminhão e o trator encontrados para impedir a ação — ao menos por um período — das quadrilhas de extração ilegal de madeira que vêm atuando em regiões virgens da Amazônia. As toras também viraram cinzas.

O episódio, acompanhado por EXAME durante uma operação de fiscalização, ocorreu na Flo-resta Nacional do Jamari, uma área no norte do estado de Ron-dônia cujos 220 000 hectares deveriam estar intocados ou sen-do explorados de maneira sus-tentável. Explica-se: nessa mes-ma floresta fica a operação da

FLOREStA AMAZÔNICA

NO PARá: o estado é o

campeão do desmatamento

na região

SUSTENTABILIDADE | Amazônia

empresa brasileira Amata. Ela ganhou do governo, em 2008, o direito de, numa área de 46 000 hectares, explorar a madeira se-guindo à risca regras para a quan-tidade e a idade das árvores que podem ser derrubadas, de modo a favorecer a regeneração da flo-resta e sua perpetuidade. Mas fazer valer o binômio explora-ção-conservação não está fácil. Isso porque, entre outras razões, a área da Floresta Jamari sob sua concessão também vem sendo alvo de ataques dos madeireiros ilegais. “Como não temos poder de polícia, relatamos os roubos aos órgãos competentes e espe-ramos que façam algo”, diz Patri-ck Reydams, gerente de opera-ções da Amata em Rondônia.

O Ibama tem tentado, mas a tarefa tem se provado inglória. A Floresta Jamari não é um caso isolado. Hoje, 12% do desmata-mento registrado na Amazônia ocorrem em áreas protegidas —

fatia que dobrou desde 2008. Na terra indígena dos Kaxarari, às margens da BR-364, também em Rondônia, as clareiras de devas-tação em meio à mata fechada impressionam. Em pouco mais de quatro horas de uma difícil incursão em meio à lama deixada pela chuva do dia anterior, as equipes do Ibama apreenderam e queimaram um trator e dois caminhões carregados de madei-ra na área. “As árvores de valor comercial do entorno estão pra-ticamente extintas. É aí que as áreas protegidas se tornam alvo”, afirma o coordenador da opera-

ção acompanhada por EXAME, cujo nome será omitido da repor-tagem. Vítimas de ameaças fre-quentes, os fiscais envolvidos nessas operações tentam preser-var a própria identidade. Os últi-mos dados do Prodes, sistema do governo que monitora com saté-lites o desmatamento da Amazô-nia, mostram que o ritmo de des-truição da floresta cresceu cerca de 30% entre agosto de 2015 e julho de 2016. Foram quase 8 000 quilômetros quadrados elimina-dos em um ano — algo como der-rubar 128 campos de futebol de floresta por hora, ou uma área equivalente à região metropoli-tana de São Paulo em um ano. É a maior extensão desmatada des-de 2008 na Amazônia Legal. Boa parte do avanço se concentrou nos estados de Pará, Mato Gros-so, Rondônia e Amazonas.

Trata-se de um retrocesso his-tórico. Em 2004, o Brasil perdeu 27 000 km² de floresta — uma

área equivalente à do estado de Alagoas. Dali em diante, até 2014, o ritmo de desmatamento caiu 80%. Em 2015, os satélites volta-ram a registrar alta -- naquele ano, de 24%. Não foi algo episó-dico. Em 2016, o incremento de 29% tornou a curva de destruição ascendente. “Tivemos uma redu-ção extraordinária do desmata-mento na última década. Mas não podemos mais dizer que o desmatamento da região está sob controle”, afirma Adalberto Ve-ríssimo, cofundador e pesquisa-dor sênior do Imazon, instituto de pesquisas sobre a Amazônia.

ao longo de 2016, o desmatamento atingiu

uma área equivalente à grande são pauloD

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Baixe o aplicativo Blippar e assista a um vídeo sobre anononon nonononononononononono (saiba mais na pág. 11)

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+41%

Pará

3025 km²

Mato Grosso

-6%

1508 km²

toram a região. No dia 22 de ju-nho, uma decisão colocou em xeque a perenidade desses recur-sos. A Noruega, que já aportou 2,8 bilhões de reais no fundo, anunciou que vai cortar pela me-tade o montante repassadao ao Brasil neste ano. Cerca de 200 milhões de reais foram suspen-sos. A razão: a incapacidade, pelo menos até agora, do país em con-ter o desmatamento. Hoje, 960 fiscais estão em campo no país, 300 a menos em relação a 2010. Ao Ministério do Planejamento, o Ibama pediu a criação de 1 500 vagas. Desde 2012, não há novos concursos para a autarquia.

A fiscalização também compe-te aos estados. Nesse caso, a situ-ação -- agravada pela crise -- não

é melhor. De acordo com a Asso-ciação Brasileira de Entidades Estaduais do Meio Ambiente, as secretarias perderam, em média, um terço do orçamento em 2016. Em paralelo, a dinâmica do des-matamento tem se sofisticado. Para enganar os satélites, as qua-drilhas preservam as árvores de copas mais altas enquanto derru-bam outras espécies. Elas tam-bém desmatam pequenos polígo-nos, em vez de grandes áreas de uma vez só. É o chamado desma-tamento multiponto. As quadri-lhas passaram a desmatar tam-bém durante o período chuvoso, quando a dificuldade de se des-locar na floresta é compensada pelas nuvens que prejudicam a detecção pelos satélites. As arti-

A região já perdeu quase 20% de sua cobertura original — o que equivale à superfície de uma França e meia. Estudos apontam que mudanças profundas nos ci-clos naturais do bioma, como variação de temperatura e ame-aça à vida animal, podem ocorrer com a perda de 20% a 30% de floresta. Não falta muito para chegarmos lá.

A equação por trás dessa reto-mada não é simples. Para enten-der o problema, a reportagem de EXAME percorreu 1 418 quilô-metros na floresta ao longo de 10 dias. E questionou mais de 40 especialistas no tema, entre em-presários, políticos, acadêmicos e representantes de ONGs. Um fator preponderante desponta: o enfraquecimento das políticas públicas de comando e controle. Em outras palavras, faltou fisca-lização e intimidação ao crime. O Ibama perdeu 30% do orçamen-to de 2015 para 2016 e, desde en-tão, vem fazendo malabarismos para diminuir o impacto desse aperto nas operações de campo. “Uma motosserra é capaz de des-matar quase três hectares de flo-resta por dia. Imagine o estrago que grupos inteiros de madeirei-ros ilegais conseguem fazer ao menor sinal de ausência da fisca-lização”, afirma Luciano Evaris-to, diretor de proteção ambiental do Ibama. Em setembro do ano passado não houve um agente sequer em campo. Uma saída en-contrada para contornar a situa-ção foi apelar, em novembro, para os recursos do Fundo Ama-zônia. Administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o fundo cap-ta dinheiro para projetos como pesquisa em universidades e o planejamento de assentamentos sustentáveis. Mas acabou tendo de ajudar o Ibama a bancar até o final deste ano, com 56 milhões de reais, algo básico: o aluguel de carros e helicópteros que moni-

SUSTENTABILIDADE | Amazônia

OPERAÇÃO DA AMAtA

EM RONDÔNIA:

o manejo florestal

sustentável ainda é exceção

na Amazônia

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Propriedades privadas Assentamentos

Terras públicas não destinadas

Áreas protegidas

28,6%

24% 12%

35,4%

Contribuição por categoria fundiária (em %)

(1) isso é equivalente a 128 campos de futebol do maracanã por hora, durante um ano — a maior área registrada desde 2008. (2) a amazônia legal também é composta pelos estados do acre, amapá, maranhão, roraima e tocantins. (3) 2014 Fonte: Prodes/inpe

a MotosErra a toDo VaPor nos últimos dois anos, o ritmo de destruição da amazônia voltou a subir -- após uma década em que a taxa de desmatamento caiu quase 80%

1997

área de desflorestamento

Hoje(3)

o taMaNHo Do ProBLEMa DE oNDE VEM a DEstrUIÇÃoEm 2016, a região perdeu o equivalente a uma área como a região metropolitana de São Paulo

A extração ilegal de madeira, a grilagem de terras, a abertura de estradas e aagropecuária empurram as florestas nos limites entre estados. O bioma já perdeu quase 20% de sua cobertura original

Mais de um terço dela ocorreu em áreas protegidas e em terras públicas, que não pertencem a agentes privados nem foram demarcadas como unidades de conservação

Extensão do desmatamento por ano (em km²)

2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016

27 772

14 28612 911

7 000 4 571 5 012 7 989(1)

+60%2014-2016

PrEssÃo Nas FroNtEIras

rondônia é o estado mais afetado – e o desmatamento avança na fronteira com o sul do Amazonas

O desmatamento, que teve queda

relativa no Mato Grosso em 2016,

ainda é grande dentro de

propriedades privadas

aMazoNas

+54%

1099 km²

roNDôNIa

+35%

1394 km²

Extensão do desmatamento em 2016 (em km²)

Variação em relação ao ano anterior (em %)

O amazonas detém a maior área contínua

de floresta do país, mas

o ritmo de esmatamento

cresceu 54% em 2016, maior

alta relativa da região

Dentre os nove estados da Amazônia Legal, quatro deles são hoje os maiores responsáveis pela devastação

A fronteira agropecuária

avança nas regiões sul e oeste do Pará,

que já concentra um dos maiores

rebanhos bovinos do país

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SUSTENTABILIDADE | Amazônia

íNDIOS NA AMAZÔNIA: as terras indígenas se tornaram alvo dos madeireiros ilegais

claro, são terras de ninguém. So-mam cerca de 80 milhões de hec-tares à mercê de grilagem, ocu-pações ilegais, degradação am-biental e sangrentos conflitos agrários. É uma extensão equiva-lente a 20 vezes o estado do Rio de Janeiro – e representa 17% de toda a Amazônia. “Depois de anos de avanços, é um escárnio o que estão fazendo hoje com a Amazônia”, afirma Tasso Azeve-do, um dos mais respeitados am-bientalistas do país.

A fragilidade da fiscalização somada à sensação de que é pos-sível driblar as regras só aumen-ta os incentivos econômicos para

o desmatamento. “A vantagem que alguém tem ao desmatar uma área proibida compensa o risco de sanção”, afirma Jair Sch-mitt, ex-coordenador geral de fiscalização do Ibama e há dois meses diretor de políticas de combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente. Apenas 30% das multas aplicadas pelo Ibama são, de fato, pagas. Boa parte dos infratores conta com a morosidade da justiça pa-ra escapar do prejuízo. E, em muitos casos, mantêm a posse de bens apreendidos em operações, como motosserras, enquanto corre o processo penal.

Aparentemente vantajosa para quem desmata, essa lógica não favorece a economia local. Ao contrário. Um levantamento fei-to por instituições dedicadas a estudar a Amazônia, como o Ipam e o Imazon, revela que o PIB agropecuário da região cres-ce na proporção inversa ao ritmo do desmatamento. Nos anos de 2004 e 2005, quando a taxa de desflorestamento passou dos 27 000 quilômetros quadrados anu-ais, a riqueza gerada pela agricul-tura e pela pecuária na região era de cerca de 25 bilhões de reais. Já entre 2012 e 2013, quando a

área desmatada já havia caído vertiginosamente para pouco mais de 4 000 quilômetros qua-drados anuais, a produção rural gerou 50 bilhões de reais. Hoje, os dez municípios campeões do desmatamento - a maioria no Pa-rá, no Amazonas e em Rondônia - estão entre os mais pobres da Amazônia e do Brasil, na rabeira do ranking do desenvolvimento humano das cidades do país. Da-dos mostram que 60% do desma-tamento vira pasto. Mas a ocupa-ção dessas terras segue majorita-riamente a lógica do esgotamen-to: uma quantidade pequena de bois para uma ampla extensão de pastagens que, sem manejo, che-gam a avançados estágios de de-gradação em menos de uma dé-cada. O resultado: baixa produti-vidade e um apetite ainda maior ao desmatamento de novas áreas. Além disso, a atenção internacio-nal dada a temas relacionados ao desmatamento ilegal elevou o risco de reputação de grandes produtores, seja de carne ou soja. “Em pouco tempo, o Brasil será o maior produtor agrícola mun-dial. Não podemos abrir mão dis-so jogando pelo ralo a credibili-dade de nossos produtos”, afirma José Penido, membro da Coali-

manhas passam até mesmo por contratar profissionais de geo-processamento. Eles não apenas monitoram as queimadas, para estabelecer pastos após a extra-ção de madeira, como produzem registros falsos de áreas invadi-das para conferir a elas uma falsa legalidade. Um esquema desse

tipo foi desmantelado no ano passado pela operação Rios Voa-dores, que uniu Ibama, Ministé-rio Público Federal, Polícia Fede-ral e Receita Federal. Na opera-ção, o empresário paulista Antô-nio Junqueira Vilela Filho e mais 44 pessoas foram presos, acusa-dos de movimentar quase 2 bi-

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hoje 25% da derrubada está em áreas do governo sem destinação -- as “terras de ninguém”

lhões de reais entre 2012 e 2015 com o desmatamento ilegal e a grilagem de terras públicas para a criação de gado no Pará.

Quase 25% do desmatamento na Amazônia ocorre hoje em ter-ras públicas, como as atacadas por Vilela. Nessas áreas, a veloci-dade da destruição é 60 vezes maior se comparada ao que ocor-re dentro de áreas protegidas. Isso porque, apesar de públicas, essas elas não têm uso definido. Não foram repassadas a produ-tores, demarcadas como unida-des de conservação ou terras indígenas. Nem são áreas milita-res ou de pesquisa. Em português

MENos FLorEsta, MaIs rEtrocEssonúmeros mostram por que o aumento do desmatamento não tem relação com o crescimento da economia – nem com o desenvolvimento social do país. o PiB agropecuário da amazônia cresceu mesmo com a taxa de desmatamento da região em queda

1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013

51015202530 50

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desmatamento anual (em milhares de km²)produção agrícola (em bilhões de reais)

Fonte: nonononon

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SUSTENTABILIDADE | Amazônia

zão Brasil Clima Florestas e Agri-cultura e presidente do conselho de administração da fabricante de celulose Fibria.

Muitos estudos demonstram a interdependência entre o agro-negócio e a floresta. Num dos mais recentes, o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, mos-trou que o desmatamento altera o ciclo das chuvas na Amazônia. A análise de Artaxo foi baseada nas mudanças climáticas regis-tradas no estado de Rondônia, que nos últimos 30 anos perdeu

bOIADA NO PARá: a pecuária é o principal vetor do desmatamento da Amazônia

Outra tentativa de tornar a pre-servação mais rentável que a der-rubada predatória de árvores é remunerar quem mantém a flo-resta em pé. A ideia é pagar pelos benefícios ecossistêmicos que trazem, como a manutenção do ciclo de chuvas e a absorção de carbono nas árvores. E já funcio-na bem em países como a Costa Rica, que começou a pagar pro-dutores pra desistirem da pecu-ária extensiva e manter floresta em pé. Deu certo. Por aqui, em-bora o novo Código Florestal, de 2012, mencione esse mecanismo, ainda não há regulamentação na-cional para disseminá-lo país afora. Hoje, voluntariamente, alguns estados, como o Pará, já possuem programas do tipo.

Indefinição semelhante paira sobre outro mecanismo que po-deria financiar a manutenção de áreas de floresta no país, o RE-DD+, ou redução das emissões de gases-estufa por desmatamento e degradação florestal, da sigla

em inglês, . Desenvolvido duran-te as conferências do clima da Organização das Nações Unidas, o conceito propõe a compra de créditos de carbono, seja por go-vernos ou empresas, poupados por florestas em regiões sob for-te pressão de derrubadas. Na au-sência de regras que guiem a implementação disso no Brasil, as iniciativas são voluntárias e pontuais. Por aqui, o Acre foi o único a estabelecer um programa de REDD+. Pela queda de 75% no desmatamento desde 2004, o es-

tado já recebeu 100 milhões de reais do banco de desenvolvi-mento alemão, o KFW.

Empresários também têm apostado nessa ideia. Douglas de Souza, presidente do grupo pa-ranaense Triângulo, que fabrica painéis e pisos de madeira para exportação, é um deles. EXAME visitou a área de manejo florestal que abastece a produção do gru-po, a Fazenda Manoa, a 50 quilô-metros de Cujubim, em Rondô-nia. Em contraste com os vizi-nhos, 75 000 hectares de mata estão rodeados de milhares de hectares em processo de desma-tamento. Uma análise da mos-trou que as árvores nativas da área são capazes de reter um vo-lume de carbono equivalente às emissões de gases de efeito-estu-fa de 150 000 carros rodando 20 quilômetros ao dia por 12 meses. O objetivo agora é transformar essa reserva de carbono em cré-ditos a serem vendidos a empre-sas com metas de redução de

emissões. Ao preço de 10 reais por tonelada, a Manoa poderá arrecadar 1,5 milhão de reais por ano. “Isso poderá ser investido no monitoramento dos limites da fazenda e em educação ambien-tal para a comunidade”, afirma Souza, presidente do Triângulo. A mensuração do potencial da área foi encabeçada pela Biofíli-ca, única empresa brasileira es-pecializada no comércio de cré-ditos de carbono nesses moldes.

Na mesma lógica de criar in-centivos econômicos à preserva-

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dução predominante há décadas. (veja quadro na página 36). Ainda assim, um esforço empreendido em grande parte por ONGs em consórcio com pequenos produ-tores da região tem mostrado que é possível reverter essa realidade. Com mais bois em menos espaço, é possível reduzir a derrubada da floresta, além de trazer ganhos de produtividade. A técnica con-siste em dividir o pasto em vários cercados - e concentrar o reba-nho em um deles por vez, no lu-gar de deixá-lo livre por toda a propriedade.

cerca de 60% do desmatamento na região

vira pasto -- boa parte com baixa produtividade

quase metade de sua cobertura florestal. Os dados revelam que a transformação da mata em pas-tagem faz com que chova menos na superfície desmatada e mais na região de floresta ao lado da área desmatada. No sudeste do estado, a estação seca já se mos-tra cerca de 30% mais seca do que a média. No noroeste do es-tado, o nível de precipitação é 30% maior. Não se trata de um problema exclusivamente regio-nal. “Há consenso na comunida-de científica de que a floresta amazônica tem um papel deter-

minante no regime de chuvas no centro-sul do país”, diz Artaxo.

Na contramão dessa espiral negativa, a reportagem de EXA-ME viu de perto que existem sa-ídas para manter a floresta em pé. E as mais bem-sucedidas são justamente as que colaboram pa-ra a geração de renda local e, po-tencialmente, criam uma nova economia ao redor da preserva-ção da floresta. Para ganhar es-cala, essas experiências ainda esbarram em obstáculos. Um deles é a herança histórica da pe-cuária extensiva, modo de pro-

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SUSTENTABILIDADE | Amazônia

ção, as concessões florestais têm sido um antídoto, embora em-brionário, contra a extração ilegal de madeira no país. Hoje, cerca de um milhão de hectares de ma-tas da União na Amazônia estão sob concessão de empresas pri-vadas. Por meio de contratos de manejo, elas podem explorar co-mercialmente a madeira de flo-restas públicas. Juntas, elas pro-duziram 170 000 metros cúbicos de madeira em 2016. Somado a outros contratos de concessão já assinados, mas ainda sem opera-ção comercial, esse volume re-presenta uma pequena fatia de 5,5% da demanda nacional. Mas a oferta pode crescer. Outros sete contratos estão em negociação com o governo federal e o objeti-vo é chegar a quase 7 milhões de hectares de manejo até 2022. Es-

Dá pARA fAZER DIfERENTEEm Apuí, no AmAzonAs, produtorEs vêm rompEndo A lógicA do dEsmAtAmEnto pArA viAbilizAr A produção lAdo A lAdo com A florEstA

cerca de 60% das áre-as desmatadas da Amazônia são ocu-

padas por pastos. É o resulta-do de uma herança histórica. Por décadas, a derrubada de florestas funcionou como ins-trumento de ocupação do ter-ritório brasileiro. O lema “In-tegrar para não entregar”, que tomou força durante o gover-no militar, instituiu a cultura da pecuária extensiva, que vê a terra como uma espécie de matéria-prima infinita. A his-tória do agricultor rondonen-

se João Ramos, de 40 anos, mostra que é possível reverter essa lógica. De Porto Velho, Ramos migrou para o municí-pio amazonense de Apuí, no sul do estado, em 2003, numa das últimas levas de pequenos produtores que chegaram à região em busca de um lote de terra num assentamento da reforma agrária. Com cerca de 600 000 hectares de extensão, a área começou a ser aberta em 1983 sob a promessa de alocar 7 500 famílias do sul do país e, mais tarde, do estado

vizinho, Rondônia. Até o começo da década de 1980, o município sequer existia. Hoje, Apuí é o se-gundo maior responsável pelo desmatamento do estado, atrás de Lábrea. Assim como a maioria de seus pares, João se viu estran-gulado pelo modelo da pecuária extensiva dominante na região. A prática degrada o solo em pou-cos anos, e só se torna viável com a abertura de mais áreas de flo-resta. Os mais de 3  000 assenta-mentos da Amazônia responde-ram por 28% das derrubadas em 2016.

focado pelas multas do Ibama. Também sofreu com o baixo re-torno de uma produção de gado extensiva. Em 2013, decidiu vol-tar ao lote menor, de 80 hecta-res, e passou a se dedicar à pe-cuária leiteira num sistema in-tensivo, com mais animais por hectare em pastos cercados de centenas de espécies de árvores nativas, como andirobas e pari-cás. “A qualidade do capim me-lhorou 100%, e estamos dando escala a uma produção própria de laticínios”, afirma Ronnau. Experiências como essas, no en-tanto, ainda são exceção. “En-quanto não apostarmos em as-sistência técnica de qualidade e crédito focado em sistemas pro-dutivos inteligentes, não vamos conseguir dar escala a um mo-delo rural que valorize a flores-ta”, afirma Mariano Cenamo, pesquisador do Idesam.

cação de uma série de tecnolo-gias simples de controle biológi-co de pragas e de seleção das melhores mudas de café, asso-ciada ao plantio consorciado do grão com árvores amazônicas, fez a produtividade dobrar de 15 para cerca de 30 sacas por hec-tare ao ano. “A lavoura sombre-ada permite que o grão se desen-volva melhor”, diz Ramos.

O produtor faz parte de um grupo de 54 assentados de Apuí que estão conseguindo escapar da sina de miséria e de desmata-mento que impera no assenta-mento. O catarinense Adelário Ronnau, de 52 anos, também ilustra essa transformação. Em Apuí há mais de 30 anos, ele chegou a abandonar a pequena propriedade para, numa área maior, ganhar a vida com a pe-cuária. Na época, sem documen-tação da nova terra, Ronnau desmatou ilegalmente e foi su-

Para fugir da armadilha da pe-cuária extensiva, a empreitada de João em Apuí se deu com a lavoura de café. O solo fraco e a incidência de fungos na planta-ção, como a broca, ainda o man-tiveram numa situação de penú-ria por muito tempo. Em 2012, porém, com a ajuda do Instituto de Conservação e Desenvolvi-mento Sustentável da Amazônia (Idesam), ONG que se dedica a promover a produção sustentá-vel na região, a lavoura final-mente vingou — dessa vez, sob um sistema agroflorestal. A apli-

jOÃO RAMOS, PRODutOR NO AMAZONAS: a adoção de sistemas agroflorestais gerou ganhos de produtividade no plantio de café

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se volume tornaria as florestas nacionais responsáveis por 30% da madeira comercializada no Brasil. Chegar lá não será fácil. A Amata, em operação há sete anos na Floresta do Jamari, em Ron-dônia, teve lucro pela primeira vez no ano passado. E isso só foi possível porque, já há alguns anos, a empresa passou a expor-tar 98% da sua produção anual para a Europa. E desistiu de ven-der no mercado interno frente à concorrência desleal de quem explora madeira ilegalmente.

Estima-se que 80% da madeira comercializada no Brasil seja ile-gal - ou “falsamente legal”. Na prática, o produto fornecido ao mercado vem de madeireiras que burlam os sistemas de controle do governo. A 200 quilômetros de Jamari, no Amazonas, está o

distrito de Santo Antônio do Ma-tupi, ao qual só é possível chegar por um esburacado trecho de terra batida da rodovia Transa-mazônica. Um dos maiores polos madeireiros do estado, até pouco mais de um ano a região concen-trava dezenas de madeireiras. Quase 30 foram fechadas pela fiscalização federal. Hoje, apenas três têm aval para funcionar, e todas estão sob investigação. No dia 5 de maio, os fiscais acompa-nhados por EXAME encontra-ram mais de 10 toras de madeira com tarjas de identificação ras-padas, num terreno baldio atrás de uma das serrarias. Os madei-reiros costumam saber da pre-sença dos fiscais por meio de uma rede de contatos que moni-tora os passos das equipes na Amazônia. Então removem de

seus pátios a madeira ilegal, difi-cultando a associação entre a carga e a serraria.

Para os especialistas nesse mercado, a praga da ilegalidade poderia ser extirpada com a transparência. É o que promete uma plataforma de tecnologia lançada em dezembro de 2015 pela BVRio, ONG que desenvolve mecanismos de mercado que fa-cilitem o cumprimento de leis ambientais. O sistema se apoia no cruzamento de um grande volu-me de dados públicos para ava-liar o risco de ilegalidade da ma-deira da Amazônia. Desde o lan-çamento, foi usado por centenas de compradores de madeira, no Brasil e no exterior, para triar compras no valor de mais de 1 bilhão de dólares. O uso desse big data pode melhorar se os gover-

Page 7: a reportagem (saiba mais na pág. 11) A AmAZôNIA · ciais que levam a tiracolo fuzis do tipo 762. O objetivo é pegar em flagrante pessoas que exploram madeira ilegalmente na região

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SUSTENTABILIDADE | Amazônia

nos federal e estaduais tornarem públicos todos os dados de extra-ção, processamento e transporte da madeira no país.

Transparência nas informa-ções também é o nome do jogo para mudar o modus operandi da pecuária na Amazônia, o princi-pal vetor do seu desmatamento. Desde 2009, frigoríficos brasilei-ros foram obrigados a se mexer. Sob a mira do Ministério Público e da ONG Greenpeace, muitos deles foram acusados de comprar carne de pecuaristas que desres-peitavam a legislação ambiental. O maior deles, o JBS, hoje imerso num dos maiores escândalos de corrupção do país, desenvolveu um sistema de tecnologia para monitorar 70 000 fornecedores Brasil afora — 40 000 deles na

Amazônia. O JBS passou a cruzar dados dos pecuaristas com infor-mações públicas, como a lista de embargos do Ibama e do Minis-tério do Trabalho. E a suspender as compras de quem não cumpre a lei. À época, o Greenpeace elo-giou a medida. Recentemente, porém, passou a cobrar mais em-penho no monitoramento da ca-deia. Afinal, o sistema não conse-gue rastrear, entre outras coisas, o primeiro elo: as fazendas que vendem novilhos aos produtores que engordam os animais antes de enviá-los aos frigoríficos. No final de março, o JBS e outros 13 frigoríficos foram autuados pelo Ibama na operação Carne Fria. Ofuscada pela operação Carne Fraca, conduzida pela Polícia Fe-deral, a investigação indicou a

compra de quase 60 000 cabeças de gado de áreas embargadas. Foi um sinal claro de que os frigorí-feros precisam fazer mais. Um dos avanços necessários é consi-derar na análise dos fornecedo-res não só o CPF dos donos do gado, mas as imagens das fazen-das. Não raro, produtores com áreas embargadas usam pessoas com CPF limpo como laranjas para passar adiante os bois. Outra exigência do Greenpeace foi que frigoríferos como o JBS se empe-nhassem em cobrar do governo o acesso a dados como a guia de transporte animal, a GTA, docu-mento sem o qual os pecuaristas não conseguem tirar os animais de suas fazendas. Essa medida permitiria rastrear com mais fa-cilidade a origem do gado.

A atenção internacional só re-força o fato de que o desmata-mento da Amazônia não é uma questão local. Durante a confe-rência do clima de Paris, em 2015, o Brasil prometeu reduzir 43% de suas emissões até 2030, prazo estabelecido também para zerar o desmatamento ilegal. O cenário atual, no entanto, coloca em dú-vida a capacidade de atingir a meta. O desmatamento em 2016 acrescentou 130 milhões de to-neladas de gás carbônico equiva-lente às emissões do Brasil. É o dobro da emissão anual de Por-tugal. “A tolerância ao desmata-mento precisa diminuir drastica-mente” afirma Carlos Nobre, um dos maiores climatologistas bra-sileiros. Para o bem do Brasil — e do planeta. n

estima-se que 80% de madeira comercializada no brasil seja ilegal ou

“falsamente legal”

O RIScO pERmANEcEgovErno vEtA mEdidAs dE diminuição dE árEAs protEgidAs dE florEstA no pArá, mAs outrAs propostAs nA mEsmA linhA AindA Estão Em discussão

Até 19 de junho, a Floresta Na-cional do Jamanxim, no Pará, esteve sob risco de perder,

oficialmente, quase 40% de sua área. Com 1,3 milhão de hectares, a unidade de conservação foi estabelecida em 2006 como uma tentativa de proteger o entorno da BR-163, ligação do Mato Grosso ao Pará. Não foi suficiente. Só no ano passado, quase 70% do desma-tamento realizado em áreas de conser-vação federal ocorreram em Jaman-xim. Sob a pressão de um grupo de invasores interessados em regularizar as áreas, criou-se uma medida provi-sória para transformar 600 000 hec-tares da floresta numa área de prote-ção ambiental (APA), que permite a exploração comercial. Empresários como um dos fundadores da fabrican-te de cosméticos Natura, Guilherme Leal, e o presidente da multinacional de bens de consumo Unilever, Paul Polman, assinaram uma carta para que o presidente Michel Temer vetasse a medida. A pressão veio também de celebridades como a modelo Gisele Bundchen e o ator americano Leonar-do DiCaprio, pelo Twitter. Deu certo.

A discussão, porém, parece estar longe de acabar. A proposta deve vol-tar ao Congresso, dessa vez como um projeto de lei, para transformar 486 000 hectares da floresta em APA. À reportagem de EXAME o deputado José Priante, do PMDB do Pará, que defende a proposta, disse que os ocu-

pantes de Jamanxim já estão es-tabelecidos no local e tentar reti-rá-los seria “enxugar gelo”. “A mensagem que se passa é de que o crime de ocupar ilegalmente uma área pública pode ser perdo-ado”, diz o procurador Ubiratan Cazetta, do Ministério Público Federal no Pará. “Trata-se de atender a interesses fundiários locais em prejuízo da sociedade brasileira e da reputação do agro-negócio do país”, afirma José Pe-nido, membro da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura e presidente do conselho de admi-nistração da fabricante de celu-lose Fibria. “Isso cria inseguran-ça jurídica para investimentos, que cada dia mais têm critérios socioambientais no centro da to-mada de decisão.”

No Amazonas, outra área pro-tegida de 2,6 milhões de hectares também poderá perder 35% de

sua área a pedido de parlamen-tares do estado. São cinco unida-des de conservação. Juntas, for-mam uma barreira ao desmata-mento que avança no sul do esta-do, na divisa com Rondônia. O Amazonas ainda detém a maior área contínua de floresta do país, mas o ritmo de desmatamento cresceu 54% em 2016, maior alta relativa entre os nove estados da Amazônia Legal. “Não tenho na-da contra áreas protegidas, mas é preciso cuidar das milhares de pessoas que vivem ali”, afirma o senador Omar Aziz, do PSD do Amazonas.

Outra medida provisória em discussão, a MP 759, pode facili-tar a regularização fundiária de terras da União sem destinação definida, ou seja, que não são uni-dades de conservação ou de pes-quisa, terras indígenas, militares ou assentamentos. A lei vigente

define apenas terras ocupadas até dezembro de 2004 podem ser regularizadas. A MP estende o prazo para julho de 2008. Além disso, altera o tamanho dos lotes de 1 500 hectares para 2 500 hec-tares, e permite que as proprie-dades sejam compradas por va-lores irrisórios. “Invadir terras públicas é crime desde 1966. Em vez de punir, a MP 759 quer pre-miar quem o comete”, afirma Juliana Batista, advogada da ONG Instituto Socioambiental.

Já há algum tempo o governo dá sinais de que crimes desse tipo podem ser relativizados. O caso mais emblemático é o do Código Florestal. Após sua profunda re-formulação em 2012, é consenso entre os ambientalistas que a no-va lei trouxe avanços. O CAR, plataforma digital que permitirá mapear fazendas de todo o país, é um deles. Mas muitos -- e não só abraçadores de árvores -- con-cordam que o código cometeu um equívoco: perdoou multas associadas a desmatamentos ile-gais praticados antes de 2008. “Isso provocou uma enorme sen-sação de impunidade”, diz o mi-nistro Sarney Filho. Com isso, estima-se que produtores rurais em todo o país tenham sido de-sobrigados de restaurar 41 mi-lhões de hectares. Dessa exten-são, 25 milhões de hectares — uma área equivalente à do estado de Rondônia — estão na Amazô-nia. “Muitas concessões já foram feitas a quem não respeitou a lei”, afirma Sérgio Leitão, diretor do instituto Escolhas, que levantou os dados junto com o Imaflora.

tEMER E SARNEy FILhO: sob pressão, o presidente vetou medidas que colocavam em risco áreas protegias