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RENAN SERENINI BERNARDES A Relação entre Variáveis Macroeconômicas e o Mercado Brasileiro de Seguros Varginha/MG 2014

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Page 1: A Relação entre Variáveis Macroeconômicas e o Mercado ... · Resumo A relação entre instituições financeiras, variáveis macroeconômicas e crescimento econômico é objeto

RENAN SERENINI BERNARDES

A Relação entre Variáveis Macroeconômicas e oMercado Brasileiro de Seguros

Varginha/MG

2014

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RENAN SERENINI BERNARDES

A Relação entre Variáveis Macroeconômicas e oMercado Brasileiro de Seguros

Trabalho de Conclusão de Curso apresentadocomo parte dos requisitos para obtenção do graude Bacharel em Ciências Econômicas com ên-fase em Controladoria pela Universidade Fede-ral de Alfenas.

Orientador:

Marçal Serafim Cândido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

Varginha/MG

2014

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RENAN SERENINI BERNARDES

A RELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS E O

MERCADO BRASILEIRO DE SEGUROS

A banca examinadora abaixo-assinada aprova

o trabalho de conclusão de curso apresentado

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Bacharel em Ciências Econômicas

com Ênfase em Controladoria pelo Instituto

de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade

Federal de Alfenas - Campus Varginha

Aprovada em:

Prof

Universidade Federal de Alfenas - campus Varginha Assinatura:

Prof

Universidade Federal de Alfenas - campus Varginha Assinatura:

Prof

Universidade Federal de Alfenas - campus Varginha Assinatura:

Page 4: A Relação entre Variáveis Macroeconômicas e o Mercado ... · Resumo A relação entre instituições financeiras, variáveis macroeconômicas e crescimento econômico é objeto

Agradecimentos

À Universidade Federal de Alfenas, pela oportunidade concedida.

Ao meu orientador, prof. Marçal Serafim Cândido, por toda a sabedoria e conhecimentos

transmitidos e toda dedicação demonstrada.

Aos professores do ICSA e todos os funcionários do campus por todo apoio concedido

durante toda a graduação.

Ao grupo PET-BICE por todas as oportunidades que pude desfrutar e todo o período de

grande crescimento acadêmico.

À todos os colegas que passaram pelo curso e de alguma forma contribuíram para a reali-

zação deste trabalho

Page 5: A Relação entre Variáveis Macroeconômicas e o Mercado ... · Resumo A relação entre instituições financeiras, variáveis macroeconômicas e crescimento econômico é objeto

ResumoA relação entre instituições financeiras, variáveis macroeconômicas e crescimento econômico é

objeto de estudo há um longo tempo. Contudo, apesar da vasta literatura no assunto, proporcio-

nalmente, pouca atenção foi dada ao mercado de seguros. Em geral alguns estudos optaram por

estudar esse mercado em determinados países buscando entender suas relações com a economia.

Nesse contexto, este trabalho propôs fazer uma retrospectiva histórica do mercado brasileiro de

seguros, bem como uma análise econométrica do mercado relacionando-o às principais variá-

veis macroeconômicas. Para a análise em questão foram usados dados sobre o mercado de

seguros da base de dados da SUSEP e dados macroeconômicos da base de dados do IPEA-

DATA. Os dados foram analisados buscando encontrar um modelo de regressão linear capaz

de demonstrar a relação entre eles. Para verificar a qualidade de ajuste do modelo foram feitos

testes de heterocedasticidade e autocorrelação e correções que se mostraram necessárias. Bus-

cando ainda entender a relação entre as variáveis foi feito um teste de causalidade de Granger

entre as variáveis que se mostraram mais correlacionadas: PIB e Prêmios diretos. Em geral

o trabalho demonstrou algumas propostas de modelos que relacionam, com elevado grau de

explicação, as variáveis principais que afetam o valor total dos prêmios de seguros captados

mensalmente.

Palavras-chave: Seguros; Econometria; Prêmios; Regressão Linear.

Page 6: A Relação entre Variáveis Macroeconômicas e o Mercado ... · Resumo A relação entre instituições financeiras, variáveis macroeconômicas e crescimento econômico é objeto

AbstractThe relationship among financial institutions, macroeconomic variables and economic growth

is studied for a long time. However, despite the vast literature on the subject, proportionally,

little attention was paid to the insurance market . In general, some studies have attempted

to analyze this market in certain countries seeking to understand their relationship with the

economy. In this context, this work aimed to make a historical retrospective of the Brazilian

insurance market and an econometric analysis of the market relating it to the main macroeco-

nomic variables. To analyze this matter were used information on the insurance market base sa

SUSEP data and macroeconomic data from the database IPEADATA. The data were analyzed

in an attempt to find a linear regression model that can demonstrate the relationship between

them. To check the fit of the model tests of heteroscedasticity and autocorrelation and correc-

tions that were necessary were made. Seeking further to understand the relationship between

variables was made a test of Granger causality between the variables that were most closely

related: GDP and Direct Premiums. In general the study showed some proposed models that

relate, with a high degree of explanation, the main variables that affect the amount of insurance

premiums raised monthly.

Keywords: Insurance; Econometrics; Premiums; Linear Regression.

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Sumário

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

1 Introdução 9

2 Referencial Teórico 11

2.1 A História do Seguro no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.2 O Crescimento Recente do Mercado de Seguros no Brasil . . . . . . . . . . . . 14

2.3 A economia e o mercado de seguros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3 Objetivos 23

4 Dados e Metodologia 24

5 Estimação e Resultados 30

5.1 O modelo inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

5.2 Testes e correções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

5.2.1 Testes de Heterocedasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

5.2.2 Testes de autocorrelação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

5.2.3 Teste de normalidade dos resíduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

5.2.4 Teste de causalidade de Granger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

6 Considerações finais 39

Referências 40

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Lista de Figuras

1 Crescimento do PIB de 2003 à 2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2 Crescimento dos Prêmios de 2003 à 2013 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3 Prêmios diretos e provisões de 2001 à 2012. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

4 Receitas anuais de 2001 à 2012 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

5 Evolução das Receitas anuais de 2001 à 2012 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

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Lista de Tabelas

1 Estatísticas Descritivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2 Matriz de Correlação com valores Nominais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3 Matriz de Correlação com valores Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

4 Modelo 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

5 Modelo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

6 Modelo 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

7 Modelo 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

8 Modelo 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

9 Modelo 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

10 Teste de causalidade Granger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

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1 Introdução

A relação entre instituições financeiras e a economia/desenvolvimento econômico é objeto

de estudo há um longo tempo. Em sua obra “Teoria do Desenvolvimento Econômico” de 1911,

Joseph Alois Schumpeter já destacava a importância do crédito para o desenvolvimento econô-

mico. Para ele, o desenvolvimento econômico ocorreria a partir de inovações, mudanças, ou

ainda, como dito por ele, “quebras no fluxo circular”, e o crédito seria um fator extremamente

necessário para essas inovações. Em suas palavras, “na realização de combinações novas, o

“financiamento”, como um ato especial, é fundamentalmente necessário, na prática como na

teoria” (SCHUMPETER, 1911, p.80). Enfim, Schumpeter considerava o financiamento como

algo necessário àquele que desejasse ser um empresário inovador, ou seja, as instituições fi-

nanceiras gerariam o crédito necessário às inovações, as quais ocasionariam a quebra do fluxo

circular econômico, gerando desenvolvimento econômico.

Desde então, essa relação vem sendo cada vez mais estudada, com modelos teóricos e

empíricos. Alguns trabalhos podem ser destacados: Levine (1997) tenta mostrar que países

com um sistema financeiro mais desenvolvido (bancos maiores, mercado de ações mais ativo

e mercado de seguros mais desenvolvido) desfrutam de um crescimento mais rápido que os

outros; Matos (2002) faz uma análise histórica no Brasil (1947-2000) no intuito de verificar

a causalidade entre desenvolvimento financeiro (mensurado por cinco diferentes indicadores)

e desenvolvimento econômico (mensurado pelo PIB per capita), usando para isso o teste de

causalidade de Granger. Os resultados empíricos revelaram , em geral, evidências de relação

causal positiva; Beck e Levine (2004) destacam o impacto dos bancos e dos mercados de ações

no crescimento econômico.

Contudo, apesar da vasta literatura sobre a relação entre instituições financeiras e econo-

mia/crescimento econômico, Arena (2006) e Sumegi e Haiss (2008) destacam que a maior parte

desta literatura está focada nos bancos e mercado de ações e pouca atenção foi dada ao mercado

de seguros. Ao analisar-se a importância do mercado de seguros e seu papel na economia nos

dias de hoje, percebe-se a relevância de seu estudo. Em 2012, a soma dos prêmios contratados

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em todo o mundo foi de 2,62 trilhões de dólares1 , o que representa aproximadamente 3,6%

do PIB mundial2 , e a expectativa é de crescimento dessa taxa para os próximos anos, já que,

considerando apenas os mercados desenvolvidos, a taxa é de 8,6%3 .

No cenário mundial do mercado de seguros, o Brasil encontra-se no grupo dos “mercados

emergentes”, o qual, de 2011 para 2012 teve uma taxa de crescimento superior ao crescimento

econômico4 . No ano de 2012 o total de prêmios em relação ao PIB no Brasil foi de 3,6%, en-

quanto em 2011 era de 3,2%5 . Ao considerar um período de tempo maior, o mercado de seguros

no país vem crescendo consideravelmente, como será mostrado mais adiante. Neste contexto é

importante entender a relação direta entre o mercado de seguros e a economia. Determinar se

as decisões governamentais irão influenciar este mercado de maneira positiva ou negativa e se o

desempenho desse mercado irá afetar o crescimento econômico são fatos importantes a serem

estudados. Assim, este texto busca, a partir de dados do mercado brasileiro de seguros e dados

macroeconômicos do país, verificar possíveis relações de causalidade entre estes. Os dados fo-

ram retirados da base de dados do Ipeadata e do SES (Sistema de Estatísticas da Susep), serão

feitas estatísticas descritivas e comentários sobre os dados. A seção seguir conta com um refe-

rencial teórico apresentando a evolução do mercado de seguros no Brasil e diversos trabalhos

que estudaram o mercado de seguros pelo mundo. A seção três cita os objetivos do trabalho. A

quarta seção mostra os dados e metodologia utilizados na pesquisa. A seção cinco demonstra

os resultados obtidos a partir dos dados e a última seção mostra as considerações finais.

1Swiss Re, sigma No 3/2013.2World Development Indicators Database, World Bank.3Swiss Re, sigma No 3/2013.4Swiss Re, sigma No 3/2013.5Swiss Re, sigma No3/2012.

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2 Referencial Teórico

2.1 A História do Seguro no Brasil

A história do mercado de seguros no Brasil, que se tem registro, começa em 1808, quando

duas companhias de seguros iniciam suas atividades: Companhia de Seguros Boa Fé e Compa-

nhia de Seguros Conceito Público. Contudo, até 1850, o mercado praticamente não se desen-

volveu, e são vários os motivos apontados para isto: instabilidade do sistema financeiro; falta

de legislação própria; falta de maturidade do mercado (ABREU e FERNANDES,2010).

Segundo Abreu e Fernandes (2010) a partir de 1850, o Brasil aumentou consideravelmente

suas exportações de café, que era o principal produto de exportação do país, criando assim, gran-

des expectativas de desenvolvimento e estabilidade econômica. Aliado a este cenário, surge a

primeira legislação específica para seguros no Brasil, relacionando os seguros marítimos. Logo,

de 1850 a 1889, 55 companhias de seguros iniciaram suas atividades no país, oferecendo segu-

ros de vida, incêndio ou marítimos. Destas, a maioria (22) eram empresas de seguro marítimo.

Em 1889, com a proclamação da república e mudança do regime governamental, o país sofre

uma crise de especulação financeira. Várias empresas fantasmas foram criadas e as autoridades

financeiras encontravam dificuldades para conter a crise. Como resposta à crise, em relação

ao mercado de seguros, uma nova legislação foi estabelecida em 1895, indicando que todas

as empresas de seguros estrangeiras com operações no Brasil deveriam investir suas reservas

em ativos no Brasil (ações das companhias ferroviárias, depósitos em bancos nacionais, etc)

e manter uma sede no Rio de Janeiro, para facilitar a supervisão e fiscalização por parte do

governo. Uma análise das companhias estrangeiras que atuavam no país justificava essa legis-

lação, já que várias dessas empresas enviavam 100% de seus lucros e reservas para seu país de

origem. Com a virada do século, algumas mudanças surgiram. O Ministro da Fazenda Joaquim

Murtinho (mandato de 1898 a 1902) foi o responsável por criar a primeira regulamentação das

atividades de seguro no Brasil. O principal objetivo da nova lei era criação da Superintendência

Geral de Seguros, órgão que estava sob o controle do Ministério da Fazenda e era dividido em:

Superintendência de Seguros Marítimos e Terrestres e Superintendência de Seguros de Vida. A

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separação era necessária, pois, pela nova legislação, nenhuma empresa poderia operar simulta-

neamente nas áreas de seguros de vida (seguros de pessoas) e seguros de “não vida” (seguros

gerais). Outro ponto de destaque da nova lei era que as empresas não poderiam assegurar mais

de 20% do valor de seu capital. A nova lei não agradou as empresas de seguros estrangei-

ras, que a consideraram xenofóbica e abusiva. Três companhias estrangeiras processaram o

governo. O ministro posterior a Joaquim Murtinho, Leopoldo de Bulhões, tentou um diálogo

maior com as empresas de seguros. Afirmou que no Brasil, o mercado seria aberto, mas, que

para isso ocorresse, era necessário uma regulação governamental. Aparentemente, o resultado

foi satisfatório, de 1902 a 1908 o mercado de seguros se desenvolveu satisfatoriamente. Em

1908 havia 45 companhias operando no mercado de seguros não vida, sendo 11 estrangeiras e

8 companhias de seguros de vida, sendo uma estrangeira. Após a primeira Guerra Mundial, em

1918, o Brasil contava com 88 companhias de seguros, sendo 31 no mercado de seguros de vida

e 57 não vida. Em 1919 um importante fato ocorreu: definiu-se a responsabilidade por parte

do empregador de acidentes ocorridos com os empregados. Seguramente, novas oportunidades

para o mercado de seguros abriam-se. Em 1920, o governo finalmente igualou as empresas de

seguros estrangeiras e brasileiras perante a lei, retirando alguns privilégios que as empresas na-

cionais tinham. Em 1925, o Brasil contava com 93 companhias de seguros. Com a crise de 29 e

a grande depressão nos Estados Unidos, crescia no Brasil uma onda de nacionalismo e políticas

favoráveis à autarquia. Havia propostas para a nacionalização dos bancos e das empresas de

seguros estrangeiras que estavam atuando no país. Contudo, o resultado foi apenas a criação

do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), uma empresa estatal que iria deter o monopólio do

resseguro no país (ABREU e FERNANDES, 2010).

Já em 1966, durante a ditadura militar, foi criado o Sistema Nacional de Seguros Privados,

com o objetivo de formular políticas sobre os seguros, fiscalizar e regular o mercado. O sistema

era composto pelo Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), a Superintendência de Seguros Pri-

vados (SUSEP) e o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). O CNSP iria definir as

políticas sobre seguros privados, bem como regular as operações do mercado. A SUSEP iria

implementar as políticas, supervisionando as empresas, e o IRB seria responsável por todo tipo

de resseguro, obrigatório ou voluntário. Nas décadas de 1960 e 1970, o número de empresas

de seguros no Brasil se manteve constante próximo a 200 empresas, contudo esse número caiu

muito no começo dos anos 1980, para menos de 100 empresas. Nessa época, o mercado de

seguros era focado basicamente na região Sudeste do país, que concentrava 81% dos prêmios

totais contratados. Após a crise do petróleo de 1979, e o crescimento das taxas de juros a in-

flação começou a acelerar, após várias fracassadas tentativas de estabilização econômica. Este

cenário perdurou até o início dos anos 90. Enfim, entre 1980 e 1993 o país cresceu a baixas

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taxas, o PIB (Produto Interno Bruto) se elevou em média 1,6% ao ano, e este fato influenciou o

mercado de seguros. No geral, praticamente não se alterou o número de empresas de seguros no

Brasil nesse período. No começo dos anos 90 havia 105 companhias de seguros, sendo 18 es-

trangeiras (17%), as quais respondiam por 18% do total de prêmios (ABREU e FERNANDES,

2010).

Em 1994, após anos de inflação elevada, foi criado o plano Real, que daria fim a este

cenário. O plano Real seria um novo fator de alavanque do mercado de seguros, já que altas

taxas de inflação são prejudiciais às seguradoras por dificultar o cálculo nos preços dos prêmios.

Levy e Pereira (2007) em seu estudo indicam que os dez anos que se seguiram foram de grande

evolução para o mercado. A participação do mercado que antes era de 1% no PIB subiu para

2% em 1994 e 3,4% em 2004.

Estes autores também fazem um comparativo com os outros dois maiores mercados da

América do Sul, Argentina e Chile, e mostram que, proporcionalmente, o mercado brasileiro

ainda é muito pouco desenvolvido se comparado a eles.

No fim dos anos 90, aumentou também a participação percentual das empresas estrangeiras

no total de prêmios contratados. O valor que era de 17,9% em 1997 passou para 35% em 2002,

mostrando grande abertura do mercado (ABREU e FERNANDES, 2010).

Levy e Pereira (2007) mostram que apesar da abertura aparente, o mercado ainda se en-

contrava extremamente concentrado no início dos anos 2000. Em 2003, apenas 4 empresas

respondiam por 47% de todo o mercado de seguros no país. Outro ponto de destaque, que mos-

tra a falta de amadurecimento do mercado, é que até 2004 apenas uma seguradora possuía ações

na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), e mesmo seguradoras ligadas aos bancos não

tinham opções de investimento direto relacionado a seguros. Comparando-se esses dados com

os atuais, não se pode destacar tanta evolução. De acordo com o Relatório de Acompanhamento

dos Mercados Supervisionados da SUSEP, de 2013, no ano de 2012, 10 empresas respondiam

por 67,2% do mercado, enquanto em 2001, as 10 maiores respondiam por 60%. Em relação

às empresas listadas na BOVESPA, de acordo com o site da entidade, em 2013, 5 empresas

classificadas como seguradoras estão operando na bolsa. Comparando-se com outra instituição

financeira, a BOVESPA lista 27 bancos com ações abertas ao público.

Enfim, após algum tempo de estagnação (década de 1980), o mercado de seguros no Brasil

se desenvolveu consideravelmente, principalmente após o meio da década de 1990. Abreu e

Fernandes (2010) afirmam que esse crescimento foi resultado de uma combinação de fatores

microeconômicos e macroeconômicos favoráveis, sugerindo uma possível relação entre esses

fatores e o mercado de seguros.

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2.2 O Crescimento Recente do Mercado de Seguros no Brasil

Na última década o crescimento do mercado de seguros no Brasil foi realmente expressivo,

com taxas superiores ao crescimento da economia. De acordo com dados do IPEADATA, o PIB

mensal do Brasil, que em dezembro de 2003 era de aproximadamente 152 bilhões de reais, no

mesmo mês no ano de 2012 era de aproximadamente 390 bilhões de reais, em valores nominais.

No mercado de seguros, o montante de prêmios contratados em dezembro de 2003 era em torno

de 3,5 bilhões de reais, e em dezembro de 2012 aproximadamente 12,8 bilhões(em valores

nominais), um crescimento de mais de 200%. Considerando que, pelo índice IGP-M a inflação

acumulada no período de 12/2003 a 12/2012 foi de 74,35%, percebe-se o crescimento real do

mercado de seguros. Os gráficos a seguir mostram o crescimento descrito:

Figura 1: Crescimento acumulado do PIB de 2003 à 2013.Fonte: SUSEP

Figura 2: Crescimento acumulado dos Prêmios de 2003 à 2013.Fonte: SUSEP,2013

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Um índice que geralmente é usado para avaliar o mercado se seguros em uma região é

o índice de penetração do seguro, ou coeficiente de penetração de seguros. Basicamente é

calculado pela divisão do montante de prêmios contratados pelo PIB. Contador (2007) afirma

que é um dos principais índices para se mensurar a evolução do mercado de seguros em um

país, bem como para comparar os mercados de dois países. O autor afirma também que a

popularidade do índice se dá por sua facilidade de cálculo e disposição de dados.

Pela análise da participação do mercado brasileiro de seguros no PIB, percebe-se como foi

a evolução do mesmo na última década. O gráfico de Prêmios mostra a evolução do mercado

de seguros desconsiderando seguro-saúde (regulado pela ANS, e não pela SUSEP), previdência

e capitalização.

Figura 3: Prêmios diretos e provisões (em R$mil )de 2001 à 2012.Fonte: SUSEP,2013

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Considerando que o PIB se manteve crescente na maior parte deste período, como destacado

anteriormente, o salto de 1,86% para 2,94% de participação, sem dúvida mostra um expressivo

crescimento. Considerando agora, os valores de previdência e capitalização, a participação no

PIB, também mostra-se crescente.

Figura 4: Receitas anuais (em R$mil )de 2001 à 2012.Fonte: SUSEP

Figura 5: Evolução das Receitas anuais (em R$mil )de 2001 à 2012. Fonte: SUSEP

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A participação no PIB do conjunto seguros+capitalização+previdência sobe de 2,81% para

3,56% em 10 anos. Comparando-se, percebe-se que o setor de capitalização cresceu, propor-

cionalmente, bem mais que o de previdência. Por fim, ao englobar praticamente todo o setor

(exceção apenas para os prêmios de resseguros), incluindo agora os valores do seguro-saúde

pode-se avaliar a participação total do mercado brasileiro de seguros no PIB.

Em 2003, somando os prêmios e contribuições de todo o mercado segurador ( SUSEP e

ANS), o total representava 4,3% do PIB do país. Já em 2012 o índice subiu para 5,7% do PIB.

Enfim, apesar do exposto anteriormente de que o mercado de seguros continua, de certa

forma, concentrado em poucas empresas, o mesmo sem dúvida deu um grande salto na última

década. Os números mostram que o mercado cresceu bem em praticamente todos seus ramos,

considerando que nesse intervalo de tempo o PIB brasileiro também se manteve crescente na

maior parte do período, é natural se supor uma relação entre eles.

2.3 A economia e o mercado de seguros

O pressuposto para que exista uma relação entre a economia em geral e o mercado de

seguros, parte de algumas premissas teóricas, citadas por vários autores, dentre os quais se pode

citar Han (2010) e Arena (2006). Para eles, teoricamente, o mercado de seguros contribui para

o crescimento econômico, pois: promove estabilidade financeira, facilita as trocas comerciais,

encoraja a formação de poupanças, permite o gerenciamento de riscos com maior eficiência,

reduz as consequências das perdas. Considerando a teoria em questão, vários estudos tentam

comprovar empiricamente a relação entre o mercado de seguros e a economia, ou crescimento

econômico.

Um dos principais trabalhos publicados na área é o de Outreville(1990). O autor faz uma

análise com dados organizados de 55 países, comparando o desenvolvimento do mercado de

seguros (prêmios em relação ao PIB) com o desenvolvimento financeiro (medido pela razão

entre M2(agregado monetário amplo) e o PIB). O autor escolhe o desenvolvimento financeiro

como variável a ser comparada, pois, de acordo com ele, um dos principais pontos em que o

mercado de seguros se mostra influente na economia é o seu papel de financiador da atividade

econômica. A partir dos dados, o modelo obtido indicou que a demanda por seguros depende

significativamente do desenvolvimento financeiro do país, ou seja, com o crescimento da taxa

M2/PIB a demanda por seguros aumenta.

Lazar e Denuit (2012) buscaram encontrar relação entre os prêmios e perdas das segurado-

ras do ramo não vida com os índices da taxa de juros e do PIB real nos Estados Unidos. A partir

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de testes estatísticos para medir a cointegração entre essas séries temporais, foi identificada

uma relação direta entre essas variáveis. No modelo proposto, a partir dos dados observados, as

variáveis tiveram o sinal esperado e foram estatisticamente significantes em nível de menos de

10%.

Guo et. Al (2009) analisaram o impacto de “choques macroeconômicos” na demanda por

seguros. O argumento dos autores é que, partindo da ideia de que os prêmios são calculados

com base na expectativa de perdas e investimentos, que estão sujeitos à “flutuações” financeiras,

é razoável se pensar que as variáveis macroeconômicas afetam os prêmios. Assim, o modelo

proposto por eles para analisar a relação de causalidade tem como variáveis econômicas: preço

do barril de petróleo; demanda e oferta agregada; “choques monetários”. A partir de outros

estudos os autores consideraram o petróleo como a principal variável externa da economia dos

Estados Unidos (local onde é realizada a pesquisa). Diferentemente de outros estudos, este,

mesmo trabalhando com uma série de vários anos (1990 a 2007), utilizou dados mensais. Além

da relação entre as variáveis, o modelo proposto contém um vetor que busca capturar mudanças

bruscas (choques) na série de preços. A partir dos dados observados os autores concluíram que

o preço do petróleo não se mostrou estatisticamente significante para influenciar os prêmios.

Supôs-se que o preço do petróleo influencia de maneira direta a inflação, mas não os prêmios,

afinal o petróleo é embutido no preço de diversos outros produtos. Por outro lado, o modelo

teórico de que os prêmios respondem aos choques e variações das outras variáveis escolhidas

mostrou-se consistente. Outro ponto observado foi de que recentemente esse efeito é mais in-

tenso. A conclusão final dos autores é de que os responsáveis pelas políticas macroeconômicas

devem atentar-se aos efeitos que elas podem causar nos prêmios de seguros, bem como as pos-

síveis consequências que possam surgir na economia de variações e flutuações nos prêmios.

Considerando-se separadamente alguma variável macroeconômica, pode-se destacar talvez,

que a que tenha maior relação direta com o mercado de seguros seja a taxa de juros. A taxa

de juros é sempre levada em conta para a precificação dos prêmios de seguros, afinal o prêmio

depende do cálculo do valor presente da indenização que seria paga ao segurado em caso de

sinistro, além disso, uma parte do dinheiro investido pelas seguradoras é no mercado de renda

fixa. Sendo assim, a relação entre taxa de juros e mercado de seguros se tornou alvo de alguns

estudos. Holsboer (2000) faz uma síntese sobre os principais problemas que o mercado de

seguros enfrenta ao se deparar com quedas nas taxas de juros, e destaca ainda algumas possíveis

“soluções” para este problema, como por exemplo, eliminar ou reduzir as participações nos

lucros enquanto as taxas de juros se mantiverem baixas. De fato, a taxa de juros em nível

baixo, principalmente no longo prazo se caracteriza como um problema para as seguradoras. A

queda nas taxas de juros gera um aumento no valor presente dos prêmios, ou seja, seria como

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se o valor dos prêmios já pagos tivesse sido subavaliado. Faria (2012) destaca que, no Brasil,

o problema da taxa de juros em nível reduzido é maior ainda, já que mais de 90% dos ativos

das seguradoras brasileiras estão aplicados em investimentos, fundos e títulos de renda fixa.

Assim, este autor fez uma análise sobre a reação do mercado segurador brasileiro à forte queda

da taxa básica de juros (Selic) que ocorreu no país no período de 2003 a 2012. A conclusão

do autor foi de que o impacto da queda da taxa de juros foi negativo, tanto para as seguradoras

especializadas em seguros gerais (não vida) quanto para as empresas especializadas em seguros

de pessoas (vida), contudo, como esperado, o impacto foi mais profundo nas seguradoras do

ramo de seguro de vida, visto que, o prazo do compromisso com os segurados é maior que

em outros casos. Ainda no mesmo artigo, o autor trabalha com simulações, mostrando como

deveria ser o ajuste no “índice combinado”1 para cada possível cenário de variação na taxa de

juros, para que se mantivesse a mesma lucratividade.

Entretanto, outros autores buscam afirmar a relação de causalidade entre mercado de se-

guros e economia mostrando se o mercado de seguros gera de fato crescimento econômico.

Arena (2006) questiona se o mercado de seguros promove crescimento econômico, e para ten-

tar responder a essa pergunta faz um estudo comparativo entre países desenvolvidos e países

em desenvolvimento, além disso, para tentar aprofundar os resultados, são comparados separa-

damente os efeitos dos seguros de vida e de não vida nesses países. Assim, para tentar provar a

contribuição do mercado de seguros para o crescimento econômico foi feita uma análise econo-

métrica, usando algumas variáveis econômicas como crescimento do PIB per capita, abertura do

mercado, inflação e comparando-se aos índices do mercado de seguros. Em geral, o resultado

indicou que o mercado de seguros influenciou o crescimento econômico, podendo-se destacar

alguns pontos: No caso dos seguros de vida, os efeitos só foram significantes nos países desen-

volvidos, enquanto no caso dos seguros de “não vida”, o efeito foi significante nos dois grupos

de países. O efeito dos seguros de não vida se mostrou maior nos países desenvolvidos do que

nos países em desenvolvimento.

Contador (2007), em um artigo, analisa comparativamente vários países para medir o cres-

cimento do mercado de seguros em relação ao crescimento econômico. As variáveis usadas para

se mensurar o crescimento do mercado de seguros e econômico são respectivamente os prêmios

e o PIB. A conclusão que o autor chega é de que não haveria necessariamente uma relação de

causalidade entre esses fatores, que o Brasil seria o principal exemplo disso já que, segundo ele,

o crescimento econômico do país nas últimas décadas foi muito baixo, se comparado à média

mundial, enquanto o crescimento do mercado de seguros foi expressivo. Ou seja, para o autor

não está explícita a interferência significante do mercado de seguros no crescimento econômico.

1O índice combinado é a soma do índice de sinistralidade com o índice de despesas.

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Han et. al(2010) também investigam a relação entre desenvolvimento do mercado de se-

guros e crescimento econômico aplicando um modelo à 77 países no período de 1994 a 2005.

Assim como no estudo de Arena (2006), este autor busca a relação entre seguros e desen-

volvimento econômico dividindo os países observados em “desenvolvidos” e “em desenvolvi-

mento”(a divisão foi feita de acordo com o PNB per capita de 2002 calculado usando o método

Atlas do Banco Mundial). O parâmetro usado para se medir o mercado de seguros foi o ín-

dice “densidade do seguro” (divisão entre o total de prêmios e a população) e para mensurar

o crescimento econômico foi utilizado o PIB per capita. A hipótese apresentada é de que a

densidade do seguro, com algumas outras variáveis, tem um impacto positivo no crescimento

econômico do país. Os resultados encontrados mostraram uma relação estatisticamente signifi-

cante entre o crescimento do mercado de seguros e o crescimento econômico. De acordo com

o modelo, para cada 1 ponto percentual de crescimento na densidade do seguro haveria 4,78

pontos percentuais de crescimento econômico. Separando-se entre os ramos de seguro de vida

e não vida, o seguro de não vida aparenta ter uma influência maior no crescimento econômico

(4,18% de crescimento econômico para cada 1% de crescimento do seguro, enquanto no se-

guro de vida a taxa foi de 1,7% de crescimento econômico para cada 1% do crescimento do

seguro). Comparando-se os grupos de países, os resultado do modelo indicam que, nos países

em desenvolvimento para cada 1% de crescimento da densidade do seguro há um crescimento

de 9,1%(estatisticamente significante a 1%), enquanto nos países desenvolvidos para cada 1%

de crescimento da densidade do seguro há um crescimento econômico de 1,8%(estatisticamente

significante a 5%), assim, o modelo indica que o mercado de seguros gera maior influência no

crescimento econômico em países em desenvolvimento do que em países desenvolvidos. As-

sim como nos resultados de Arena (2006) o seguro de vida mostrou influência significativa no

crescimento econômico apenas nos países desenvolvidos.

Com o propósito de estudar o efeito do mercado de seguros com crescimento econômico,

pode-se destacar também o trabalho de Haiss e Sümegi (2008). Os autores partem do pressu-

posto de que países com um sistema financeiro mais desenvolvido aproveitam um crescimento

econômico mais estável e duradouro. Então, seu estudo traz de forma inovadora (segundo os

autores) a visão do mercado de seguros como investidor institucional, ou seja, o fato de as se-

guradoras e resseguradoras investirem seus fundos em títulos públicos e privados faria com que

este setor influenciasse de maneira direta o crescimento econômico de um país. O estudo é feito

para um período de 13 anos (1992 a 2005) em 29 países da Europa, e os autores destacam pon-

tos que devem ser observados ao se pensar em um estudo comparando o mercado de seguros

de países diferentes. O primeiro ponto é que, em se tratando de diferentes países, lida-se com

diferentes culturas em relação ao seguro, ou seja, a perspectiva pode ser muito diferente em

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relação à contratação do seguros, assim, deve-se, segundo eles, buscar comparar países não tão

“diferentes”. O segundo ponto seria a legislação do seguro, que pode variar muito de um país

para outro, o que poderia indicar interpretações errôneas nas análises comparativas. Estes fo-

ram os argumentos para que a pesquisa fosse feita apenas com países europeus. Em seu modelo

proposto os autores utilizaram a demanda por prêmios e os investimentos totais feitos pelo mer-

cado de seguros como variáveis do mercado, e para medir o crescimento econômico, utilizaram

o PIB per capita. A influência do mercado como investidor seria analisada pela interferência

das atividades na série da taxa de juros. Os resultados indicaram que as atividades do mercado

de seguros não influenciam de maneira significativa a taxa de juros, porém, retirando-se a taxa

de juros do modelo, as atividades mostraram influência significativa no crescimento econômico,

resultado condizente com a pesquisa de Arena (2006). O ponto observado é que existe alguma

interação entre taxa de juros e mercado de seguros, porém sem conclusão exata. A conclusão

dos autores foi de que, diante de toda a literatura teórica sobre a influência do mercado de se-

guros no crescimento econômico (e vice-versa), existe certa fundamentação empírica para isso.

Assim como outros autores, foi observada também uma diferença significante no impacto do

mercado na economia dos países desenvolvidos em relação aos países em desenvolvimento.

Zurbruegg e Ward (2000)optaram por investigar se o desenvolvimento do mercado de se-

guros gera crescimento econômico, a partir da relação de causalidade entre o mercado de

seguros (Prêmios) e a produção econômica (PIB). Para isso, a metodologia utilizada foi o

teste de causalidade de Granger(o qual será abordado posteriormente neste trabalho). O es-

tudo foi feito analisando-se dados anuais (1961 até 1966) de nove países membros do grupo

OCDE(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), considerando cada

país separadamente. Os autores destacam a importância de se estudar cada país em separado,

devido à diferenças estruturais na economia, variações nas regulamentações do mercado e dife-

renças culturais da população. Os resultados do teste se mostraram bem diferentes, de acordo

com cada país, confirmando a teoria dos autores de que as análises devem ser feitas individu-

almente. Em geral, a conclusão descrita por eles foi que, realmente não se pode afirmar que o

mercado de seguros gera crescimento econômico generalizando a teoria para vários países, essa

afirmação deve ser feita após estudos em cada país. Enfim, os autores reforçam a necessidade

de se estudar em separado a relação entre mercado de seguros e crescimento econômico em

diferentes paises.

Observa-se portanto que os estudos indicam, em geral, uma relação entre o mercado de se-

guros e algumas variáveis macroeconômicas. Independentemente do tipo do local de pesquisa

e da abordagem metodológica, normalmente os estudos nessa área giram em torno de variá-

veis de desempenho para avaliar o mercado de seguros, como prêmios diretos e demanda por

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prêmios totais e variáveis de produção (PIB, PIB per capita, PNB) para avaliar o crescimento

econômico, contando ainda, algumas vezes, com variáveis financeiras como taxa de juros e taxa

de inflação para entender as reações do mercado às variações das mesmas. Assim, este trabalho

busca seguir essa linha de pesquisa e adotar um método próximo aos citados anteriormente para

avaliar o mercado brasileiro de seguros.

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3 Objetivos

O objetivo é analisar do ponto de vista empírico a relação entre algumas variáveis macroe-

conômicas selecionadas (com base na literatura) e o mercado de seguros brasileiro. A partir das

variáveis busca-se encontrar uma relação entre elas e entender como o mercado de seguros bra-

sileiro se comporta com a variação das mesmas, e/ou como a economia brasileira se comporta

com variações nos índices do mercado de seguros.

Os objetivos específicos são:

- Analisar a cointegração entre séries de PIB, Prêmios, Taxa de Juros e Taxa de Inflação.

- Analisar o nível de influência estatisticamente significante que as variáveis exercem sobre

o mercado brasileiro de seguros.

- Encontrar um modelo de regressão linear capaz de explicar a variação nas captações dos

prêmios diretos do mercado brasileiro de seguros.

- Verificar uma possível relação de causalidade entre as séries de PIB mensal e prêmios

diretos mensais.

Os objetivos aqui propostos são baseados, em geral, na literatura abordada, buscando não

necessariamente precisar com exatidão como se dão todas as variações das variáveis escolhidas,

mas demonstrar possíveis interferências e causalidades entre elas. Os objetivos são propostos

buscando encontrar, se possível, um modelo final, que se apresente adequado estatisticamente,

e que possa demonstrar a relação entre as variáveis de maneira satisfatória.

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4 Dados e Metodologia

Os dados utilizados são da base de dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Apli-

cada) e do SES (Sistema de Estatísticas da SUSEP). A partir das evidências apresentadas, busca-

se então um modelo que possa exprimir as relações entre as variáveis macroeconômicas e do

mercado de seguros. As variáveis escolhidas foram:

• PIB

• INFLAÇÃO

• TAXA DE JUROS

• PRÊMIOS

Seguindo o indicado no trabalho de Guo et Al.(2009), e para se trabalhar com um conjunto

de dados maior, a periodicidade dos dados obtidos é mensal. Para uma análise mais completa

dos dados, optou-se por trabalhar com valores reais e nominais. Assim a série de valores do

PIB e dos PRÊMIOS foi deflacionada tomando como base o mês de janeiro de 1995, o primeiro

mês de observação.O índice usado como deflator foi o IGP-M, calculado pela Fundação Getúlio

Vargas(FGV), disponível no banco de dados do IPEADATA.

O PIB é comumente utilizado para avaliar o crescimento econômico de um país, já que

mede a soma de tudo que foi produzido em determinado período. Assim pode avaliar-se se

o mercado de seguros gera crescimento econômico, caso haja relação positiva com o PIB. A

unidade de medida é em milhões de reais. A série de dados do PIB foi retirada da base de dados

do IPEADATA.

O índice de inflação mostra a evolução média dos preços dos bens e serviços. A relação

com os fatores do mercado de seguros pode mostrar se este tem peso importante no índice de

inflação avaliado. Dentre os trabalhos citados, Arena(2006) também destaca o uso de índices

de inflação em pesquisas desta natureza. O índice de inflação escolhido foi o IGP-M. O IGP-

M é um indicador macroeconômico que representa a evolução no nível de preços, e é usado

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como referência para a correção de preços e valores contratuais(FGV). A unidade de medida

é a variação percentual no mês. A série de dados do IGP-M foi retirada da base de dados do

IPEADATA.

A taxa básica de juros é um dos principais índices observados pelo mercado de seguros,

visto que, por definição, o dinheiro captado pelas instituições de seguro será reinvestido, logo,

influenciado pela taxa de juros. Ademais, esta é uma das variáveis mais utilizadas em estudos

que buscam comparar o mercado de seguros com a economia, como mostram os trabalhos de

Holsboer(2000) e Faria(2012). A taxa de juros adotada no modelo é a Taxa Referencial- TR. A

taxa referencial é calculada pelo Banco Central do Brasil e usada como referência para vários

investimentos, dentre eles os títulos de capitalização. A unidade de media é percentual ao mês.

A série de dados da TR foi retirada da base de dados do IPEADATA.

O montante de prêmios contratados é o principal medidor do mercado de seguros. O índice

mostra quanto de seguro foi contratado, ou seja, qual o tamanho do mercado, sendo assim

a principal variável para se relacionar o mercado de seguros com outros fatores. Os dados

referentes à prêmios contemplam os prêmios diretos recebidos pelas seguradoras em cada mês.

A unidade de medida é em milhões de reais. A série de dados dos prêmios diretos foi retirada

da base de dados da SUSEP.

Para a análise dos dados, buscou-se uma técnica econométrica capaz de medir os efeitos de

uma ou mais variáveis sobre outra. Uma das técnicas de otimização mais usadas, e escolhida

para o caso em questão, é o MQO (Mínimos Quadrados Ordinários ou Método dos Mínimos

Quadrados). Em um modelo de regressão simples, busca-se estimar o valor de uma variável

y através dos valores obtidos pelas observações da variável x, assim pode-se escrever uma

equação que relaciona y a x.

y = β0 + β1x+ u (4.1)

Na equação 4.1 o coeficiente β0 representa o coeficiente linear da equação, na prática, seria o

valor estimado de y, caso, mantendo os outros fatores fixos, o valor observado de x fosse 0.

O coeficiente β1 é variação de uma unidade de y para cada variação de uma unidade de x. A

variável u é o termo de erro, e representa todos os outros fatores que afetam y, além de x. Se

os outros fatores forem mantidos constantes, de modo que a variação em u é 0(∆u = 0), x terá

um efeito linear em y:

∆y = β1∆x, se∆u = 0 (4.2)

Assim, a variação em y é dada por β1 multiplicado em x(WOOLDRIGE, 2010).

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Para se estimar os parâmetros o método MQO minimiza a soma dos quadrados dos resíduos

(erros). Em cada observação, o resíduo se dá pela diferença entre o valor estimado e o valor

observado, assim estimando parâmetros β0 e β1 de modo que a soma dos quadrados dos resíduos

seja tão pequena quanto possível, obtêm-se a reta de regressão de MQO:

y = β0 + β1x (4.3)

A partir desse modelo de regressão simples, uma regressão múltipla pode ser entendida

como uma extensão, com adição de mais variáveis independentes, partindo do mesmo princípio.

(WOOLDRIGE, 2010).

A série de dados obtidos contempla o período de janeiro de 1995 à outubro de 2013, tota-

lizando 226 observações para cada variável. Para análise das estatísticas descritivas os dados

foram divididos em duas partes (janeiro de 1995 à dezembro de 2003 e janeiro de 1994 à outu-

bro de 2013), para comparação e evidência de uma possível evolução recente do mercado como

indica a literatura. Pela divisão pode-se avaliar a “última década”, que foi exaustivamente ex-

posta como sendo de grande crescimento do mercado. Assim, as estatísticas descritivas básicas

das variáveis utilizadas são:

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Tabela 1: Estatísticas Descritivas

Estatísticas DescritivasVariável jan/95-dez/03 jan/04-out/13

MÍNIMO 774,64 890,77MÁXIMO 1,307.08 2,947.78

Prêmios Reais MÉDIA 1.066,03 1.689,88DESVIO PADRÃO 115,63 491,89OBSERVAÇÕES 108 118

MÍNIMO 879.35 2,626.10MÁXIMO 3,549.14 14,007.38

Prêmios Nom. MÉDIA 1,742.64 6,568.30DESVIO PADRÃO 450.81 2,925.49OBSERVAÇÕES 108 118

MÍNIMO 45.937,40 51.029,34MÁXIMO 66.111,41 86.633,41

PIB Real MÉDIA 57.286,20 70.543,90DESVIO PADRÃO 3.643,94 9.962,39OBSERVAÇÕES 108 118

MÍNIMO 45.937,40 140,745.50MÁXIMO 152,908.90 414,747.00

PIB Nom. MÉDIA 94,374.22 268,203.72DESVIO PADRÃO 25,782.43 78,625.97OBSERVAÇÕES 108 118

MÍNIMO (1,00) (0,74)MÁXIMO 5,19 1,98

INFLAÇÃO MÉDIA 0,94 0,51DESVIO PADRÃO 0,99 0,56OBSERVAÇÕES 108 118

MÍNIMO 0,04 0,00MÁXIMO 3,47 0,35

TX. JUROS MÉDIA 0,6590 0,1060DESVIO PADRÃO 0,69 0,08OBSERVAÇÕES 108 118

Fonte: Elaboração própriaNota: Os valores das variáveis Prêmios Reais, Prêmios Nominais(Prêmios Nom.), PIB Real e PIB No-minal(PIB Nom.) são expressos em milhões de reais. Os valores da variável INFLAÇÃO são expressosem variação percentual ao mês. Os valores da variável Taxa de Juros(TX. JUROS) são expressos empercentual ao mês.

A partir dos dados pode-se fazer algumas observações. Com a divisão em dois períodos

percebe-se grandes diferenças entre eles no que diz respeito às variáveis observadas. No se-

gundo período a média dos prêmios é em torno de 60% maior que no primeiro, em valores

reais. Comparando-se os valores nominais, a média do segundo período é mais de 3 vezes

maior que a do primeiro. Esses números confirmam o já exposto anteriormente sobre a recente

evolução do mercado. O valor máximo da série de prêmios no primeiro período também está

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bem abaixo da média do segundo período,tanto em valores reais como nominais, ou seja, clara-

mente, o mercado, no segundo período, está em outro nível. A princípio poderia se relacionar os

prêmios com o PIB comparando a “evolução” da série de prêmios com a do PIB. A comparação

entre o primeiro e segundo período na série do PIB é similar ao dos prêmios. A média do PIB

real no segundo período é mais de 70.000, enquanto no primeiro período não chegou a 58.000,

um aumento de quase 25 %, da mesma forma, o valor máximo do PIB no segundo período

ultrapassa 86.000, 30 % a mais que o maior valor observado no primeiro período, em torno de

66.000. Então, intuitivamente, PIB e prêmios teriam uma relação direta. O índice IGP-M teve

movimento “inverso”. No primeiro período a média é maior que no segundo. Como o primeiro

período inicia-se em 1995, pouco após a implantação do plano Real, que viria a estabilizar a

economia, o período conta com alguns valores bem altos, como 5,19% de inflação ao mês, algo

que há muito tempo não se vê. Com o movimento contrário, supõe-se uma relação inversa entre

inflação e prêmios. A série de dados da Taxa Referencial comporta-se, como esperado, de ma-

neira semelhante à do IGP-M, com valores maiores no primeiro período e menores no segundo.

Cabe destacar que algumas observações do segundo período são valores nulos, meses onde a

taxa ficou com valor de 0%.

Com os dados organizados, pode-se obter também a matriz de correlação e fazer algumas

análises. A matriz de correlação para a série de valores nominais é a seguinte:

Tabela 2: Matriz de Correlação com valores Nominais

INFLACAO TAXA_JUROS PIB_Nom. PREMIOS_Nom.1, 0000 0, 1949 −0, 1958 −0, 1952 INFLACAO

1, 0000 −0, 5390 −0, 4700 TAXA_JUROS1, 0000 0, 9734 PIB_Nom.

1, 0000 PREMIOS_Nom.Fonte: Elaboração própriaNota: Coeficientes de correlação, usando as observações 1995:01 – 2013:10,5% valor crítico (bilateral) = 0,1305 para n = 226

A matriz de correlação indica uma correlação positiva e com um valor relativamente alto(0,9734)

entre PIB Nominal e Prêmios Nominais. A série de taxa de juros mostra-se correlacionada ne-

gativamente com PIB e Prêmios em um nível não tão alto quanto a relação entre PIB e Prêmios.

Por último, a série de Inflação mostra-se fracamente correlacionada com as outras três variáveis.

A seguir, a matriz de correlação para as séries de PIB e Prêmios reais:

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Tabela 3: Matriz de Correlação com valores Reais

INFLACAO TAXA_JUROS PREMIO_Real PIB_Real1, 0000 0, 1949 −0, 2128 −0, 2046 INFLACAO

1, 0000 −0, 3851 −0, 4169 TAXA_JUROS1, 0000 0, 9307 PREMIO_Real

1, 0000 PIB_RealFonte: Elaboração própriaNota: Coeficientes de correlação, usando as observações 1995:01 – 2013:10,5% valor crítico (bilateral) = 0,1305 para n = 226

Para as séries de preços com valores reais ou resultados foram semelhantes à dos valores

nominais. PIB e Prêmios mostraram uma forte correlação entre eles.

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5 Estimação e Resultados

5.1 O modelo inicial

Com os dados, busca-se um modelo econométrico capaz de relacioná-los e demonstrar pos-

síveis causalidades entre eles. Para estimação do modelo o software usado foi o Gretl. A partir

do modelo obtido deve-se fazer alguns testes(e possíveis alterações) para medir a qualidade e

consistência do modelo, buscando chegar a uma conclusão final sobre a relação entre os dados

observados. O ponto inicial é o modelo relacionando todas as variáveis consideradas relevantes

a partir do referencial teórico apresentado. O primeiro modelo conta com todas as observações

das 4 variáveis escolhidas, utilizando a série de PIB e PREMIOS nominais.

Tabela 4: Modelo 1

MQO, usando as observações 1–226Variável dependente: PREMIO_Nom

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const −1609,91 140,965 −11,420 0,0000INFLAÇÃO −47,190 59,069 −0,798 0,4252PIB_Nom 0,0309 0,0005 57,602 0,0000TAXA_DE_JUROS 455,862 102,054 4,466 0,0000

R2 0,951842 R2 ajustado 0,951191F (3, 222) 1462,595 P-valor(F ) 7,0e–146Log da verossimilhança −1803,015 Critério de Akaike 3614,030Critério de Schwarz 3627,712 Hannan–Quinn 3619,551ρ 0,691346 Durbin–Watson 0,632526

Fonte: Elaboração própriaNota: Equação do modelo: PREMIO_NOM = −1609, 91 − 47, 1911 INFLACAO +455, 861TAXA_DE_JUROS + 0, 0309888PIB_Nom

As primeiras análises a partir deste modelo indicam: Aparentemente, a variação na série de

prêmios é bem explicada pelas outras variáveis, como indica o coeficiente de determinação(R2),

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que apresentou um valor de 0,95, ou seja, 95,18 % da variação nos prêmios seria explicada pelas

3 variáveis independentes. As variáveis são significantes conjuntamente, pelos resultados da

estatística F . Avaliando-se separadamente a significância estatística de cada variável, a partir

da estatística t, pode-se considerar PIB e TAXA DE JUROS como significantes (mostraram-

se estatisticamente significantes ao nível de 1%) e INFLAÇÃO como não significante. Assim,

apesar do pensamento intuitivo de que a inflação poderia ser relacionada ao mercado de seguros,

visto que em um ambiente de maior estabilidade econômica o mercado de seguros tenderia ao

crescimento, o modelo indica que a inflação não tem influência estatisticamente significante no

montante de prêmios contratados. Analisando-se o sinal das variáveis, PIB, com sinal positivo

confirma o apresentado na matriz de correlação, entretanto, a Taxa de Juros, que, pela matriz de

correlação, apresentou correlação negativa com a série de prêmios, no modelo estimado ficou

com sinal positivo, indicando relação direta com os prêmios. Este resultado vai ao encontro

do exposto por Faria(2012) e Holsboer(2000) que mostram que a taxa de juros se relaciona

diretamente com o mercado de seguros, já que taxas de juros baixas se caracterizam como um

problema.

Para uma análise comparativa, deve-se avaliar o modelo inicial também com as séries de

PIB e Prêmios deflacionadas, ou seja, os valores reais. Assim, o modelo com as 4 variáveis,

utilizando valores reais é descrito a seguir:

Tabela 5: Modelo 2

MQO, usando as observações 1995:01–2013:10 (T = 226)Variável dependente: PREMIO_Real

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const −1430,20 89,354 −16,005 0,0000TAXA_DE_JUROS 5,840 23,438 0,249 0,8034INFLACAO −14,033 14,666 −0,956 0,3397PIB_Real 0,044 0,00129 34,120 0,0000

R2 0,866761 R2 ajustado 0,864961F (3, 222) 481,3944 P-valor(F ) 7,58e–97Log da verossimilhança −1487,353 Critério de Akaike 2982,707Critério de Schwarz 2996,389 Hannan–Quinn 2988,228ρ 0,599610 Durbin–Watson 0,795400

Fonte: Elaboração própriaNota: Equação do modelo: PREMIO_Real = −1430, 20 − 14, 0336 INFLACAO +5, 84078TAXA_DE_JUROS + 0, 0440726PIB_Real

O modelo com as variáveis reais apresentou resultados próximos ao das variáveis nominais.

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Como esperado, a variável inflação não se mostrou significante ao modelo, já que, trabalhando

com séries deflacionadas, a correção monetária foi retirada dos valores, ou seja, não é de se

esperar que a inflação afete os valores deflacionados dos prêmios. A variável PIB mostra-se

ainda estatisticamente significante a 1 %, contudo, a variável Taxa de Juros deixou de ser esta-

tisticamente significante. Considerando que a Inflação não se mostrou significante em nenhum

momento, pode-se avaliar um novo modelo com a retirada dessa variável.

Assim, retirando-se a variável INFLAÇÃO, e considerando PIB e Prêmios nominais, o novo

modelo fica da seguinte forma:

Tabela 6: Modelo 3

MQO, usando as observações 1995:01–2013:10 (T = 226)Variável dependente: PREMIO_Nom

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const −1649,12 132,038 −12,489 0,000TAXA_DE_JUROS 447,038 101,372 4,409 0,0000PIB_Nom 0,0310 0,00053 58,088 0,0000

R2 0,951703 R2 ajustado 0,951270F (2, 223) 2197,138 P-valor(F ) 1,8e–147Log da verossimilhança −1803,339 Critério de Akaike 3612,679Critério de Schwarz 3622,940 Hannan–Quinn 3616,820ρ 0,688216 Durbin–Watson 0,638180

Fonte: Elaboração própriaNota: Equação do modelo: PREMIO_Nom = −1649, 12 + 447, 038TAXA_DE_JUROS +0, 0310360PIB_Nom

No novo modelo, as variáveis PIB e TAXA DE JUROS continuam estatisticamente sig-

nificantes ao nível de 1 %. O coeficiente de determinação praticamente não se alterou com a

retirada da variável INFLAÇÃO, de 95,18% passou para 95,17%. Pela estatística F , nota-se

também que as variáveis ainda são estatisticamente significantes conjuntamente. O sinal das

variáveis também não se alterou.

5.2 Testes e correções

Para avaliar o modelo, faz-se necessário alguns testes. Em primeiro lugar pode-se avaliar

se o modelo é homocedástico, ou seja, se a variância dos erros é constante, uma das hipóteses

básicas do MQO.

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5.2.1 Testes de Heterocedasticidade

Para testar a hipótese de Heterocedasticidade do modelo, optou-se pelo teste de White.

O teste de White é um teste que usa uma regressão auxiliar onde a variável dependente é a

estimativa dos erros ao quadrado e as variáveis independentes são os quadrados e os produtos

cruzados das variáveis independentes do modelo que está sendo testado. Utilizando o Modelo

3, o teste de White gera o seguinte resultado:

H0: modelo sem heterocedasticidade

Estatística TR2:73,25 com p-valor: 0,0000

Assim, rejeita-se a hipótese nula de que o modelo não tenha Heterocedasticidade, con-

cluindo que o modelo está heterocedástico. Nesse caso, deve-se fazer alguma modificação

para a correção do modelo. Para esse problema, Wooldridge faz a seguinte observação: “

Variáveis estritamente positivas frequentemente possuem distribuições condicionais que são

heterocedásticas ou concentradas; o uso do log pode aliviar, se não eliminar, ambos os pro-

blemas”(WOOLDRIDGE, 2010, p.181). Wooldridge explica ainda que a transformação das

variáveis para sua forma logarítmica não implica em alterações nos resultados finais: “Pelo fato

de a variação na forma logarítmica aproximar-se de uma variação proporcional, faz sentido que

nada aconteça com a inclinação”(WOOLDRIDGE, 2010, p.43).

Portanto, considerando o modelo 3, pode-se fazer uma nova estimação considerando o uso

das variáveis PIB e Prêmios em sua forma logarítmica. O novo modelo fica como a seguir:

No modelo com os logs, o valor do coeficiente de determinação aumentou um pouco, pas-

sando para 0,975 e, no geral, os outros resultados se mantiveram. Então, para verificar se o

problema da heterocedasticidade foi corrigido, procede-se a um novo teste de White:

H0: modelo sem heterocedasticidade

Estatística TR2:4,585 com p-valor: 0,468586

Assim, não rejeita-se a hipótese nula, concluindo que o modelo não tem heterocedastici-

dade, portanto, a correção foi eficiente.

5.2.2 Testes de autocorrelação

Um dos problemas que pode afetar o modelo estimado é autocorrelação. A estimação de

uma regressão pelo método dos Mínimos Quadráticos Ordinários(MQO) na presença de auto-

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Tabela 7: Modelo 4

MQO, usando as observações 1995:01–2013:10 (T = 226)Variável dependente: l_PREMIO_Nom

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const −7,010 0,2094 −33,481 0,0000l_PIB_Nom 1,2603 0,0171 73,609 0,0000TAXA_DE_JUROS 0,0727 0,0183 3,9782 0,0001

R2 0,975225 R2 ajustado 0,975003F (2, 223) 4389,077 P-valor(F ) 8,5e–180Log da verossimilhança 168,3312 Critério de Akaike −330,6624Critério de Schwarz −320,4008 Hannan–Quinn −326,5212ρ 0,649445 Durbin–Watson 0,701661

Fonte: Elaboração própriaNota: Equação do modelo: l_PREMIO_Nom = −7, 01050 + 0, 0727999TAXA_DE_JUROS +1, 26028 l_PIB_Nom

correlação pode gerar estimadores que não sejam MELNT(Melhores Estimadores Lineares Não

Tendenciosos)(GUJARATI,2011). Assim, deve-se seguir aos testes de autocorrelação habituais.

O primeiro teste, utilizando o modelo 4 é o teste de Ljung-Box. O teste calcula a estatística

Q, para a hipótese nula: resíduos não correlacionados.

O teste, com defasagem até a ordem 12 foi:

Q Ljung Box: 581,888 com p-valor:7, 8e− 117

Assim, rejeita-se a hipótese nula de que os resíduos não sejam correlacionados. Alternati-

vamente pode-se testar a autocorrelação também com o teste de Durbin-Watson. Nesse teste,

calcula-se a estatística d e compara-se com o valor crítico tabelado, de acorodo com o número

de observações e regressores. De acordo com a tabela de Durbin Watson, o valor dL para 226

observações é 1,653. No modelo 4 a estatística d de Durbin Watson foi 0,701.

No teste em questão, quando 0 < d < dL rejeita-se a hipótese nula de que não há autocor-

relação positiva.

Por fim, pode-se considerar também o teste de Breusch-Godfrey(BG), que, segundo Guja-

rati(2011), evita algumas armadilhas do teste de Durbin-Watson.

O teste, com defasagem até a ordem 12 foi:

Estatística LMF:26,797 com p-valor:3, 9384e− 036

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Assim, rejeita-se a hipótese nula H0: sem autocorrelação

Portanto, considerando os testes, pode-se concluir que o modelo apresenta autocorrelação,

e deve-se aplicar um ou mais métodos indicados como corretivos para este problema.

O primeiro método, considerando a natureza do problema, seria adicionar às variáveis ex-

plicativas, as diferenças(lags) das próprias variáveis. Assim, testando-se primeiramente com a

primeira diferença da série de logaritmo dos prêmios nominais, chega-se ao seguinte modelo:

Tabela 8: Modelo 5

MQO, usando as observações 1995:02–2013:10 (T = 225)Variável dependente: l_PREMIOS_Nom

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const −3,369 0,3498 −9,632 0,0000l_PREMIOS_Nom_1 0,537 0,0456 11,791 0,0000l_PIB_Nom 0,593 0,058 10,206 0,0000TAXA_DE_JUROS 0,0456 0,0147 3,1077 0,0021

R2 0,984635 R2 ajustado 0,984426F (3, 221) 4720,664 P-valor(F ) 4,8e–200Log da verossimilhança 222,4509 Critério de Akaike −436,9017Critério de Schwarz −423,2373 Hannan–Quinn −431,3867ρ −0,057866 h de Durbin −1,185383

Fonte: Elaboração própriaNota: Equação do modelo: l_PREMIO_Nom = −3, 36968 + 0, 0456835TAXA_DE_JUROS +0, 593387 l_PIB_Nom + 0, 537927 l_PIB_Nom_1

Nesse caso os resultados anteriores sobre significância individual e coletiva das variáveis

se mantém. O coeficiente de determinação aumentou para 0,98, ou seja, pode-se considerar

que houve uma “melhora” no modelo com a adição da variável. Em relação ao problema em

questão, a autocorrelação, poderia avaliar-se a partir da estatística d de Durbin-Watson, contudo

Gujarati(2011) explica que em modelos autorregressivos a estatística d é sempre em torno de

2(neste modelo o valor foi 2,09), mas não significando que não haja autocorrelação. Para so-

lucionar o problema foi desenvolvido o teste h, e essa foi a estatística apresentada no modelo:

h de Durbin = −1,185383. Para a interpretação do teste, Gujarati(2011) explica que, como a

estatística h segue a distribuição normal padrão, se |h| > 1, 96 rejeita-se a hipótese nula de que

não exista autocorrelação de primeira ordem. No modelo em questão, |h| = 1, 18, assim, não

rejeita-se a hipótese nula, concluindo que não há autocorrelação.

Gujarati(2011) expõe ainda outro método para correção da heterocedasticidade. Trata-se

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da estimação com erros padrão Newey-West. Considerando a observação de que o método é

adequado para grandes amostras, o mesmo torna-se válido neste trabalho. O método é conhe-

cido por corrigir não apenas problemas de autocorrelação mas também de heterocedasticidade.

Aplicando o método em questão no modelo 4 obtém-se o novo modelo:

Tabela 9: Modelo 6

MQO, usando as observações 1995:01–2013:10 (T = 226)Variável dependente: l_PREMIO_Nom

Erros padrão HAC, largura de banda 4 (Núcleo de Bartlett)

Coeficiente Erro Padrão razão-t p-valor

const −7,010 0,3857 −18,178 0,0000TAXA_DE_JUROS 0,0728 0,0219 3,3101 0,0011l_PIB_Nom 1,2603 0,0316 39,8013 0,0000

R2 0,975225 R2 ajustado 0,975003F (2, 223) 1812,752 P-valor(F ) 1,2e–138Log da verossimilhança 168,3312 Critério de Akaike −330,6624Critério de Schwarz −320,4008 Hannan–Quinn −326,5212ρ 0,649445 Durbin–Watson 0,701661

Fonte: Elaboração própriaNota: Equação do modelo: l_PREMIO_Nom = −7, 01050 + 0, 0727999TAXA_DE_JUROS +1, 26028 l_PIB_Nom

Gujarati(2011) explica que, apesar de não haver alteração no valor da estatística d dos dois

modelos o procedimento levou em conta a correção dos erros padrão. No novo modelo os erros

padrão são maiores do que no antigo, ou seja, os erros padrão estavam subestimados, podendo

gerar interpretações erradas das estatísticas t e F . Os coeficientes estimados e o R2 não se

alteraram.

Assim, têm-se um modelo sem heterocedasticidade, sem autocorrelação, onde as variáveis

PIB e Taxa de Juros mostram ter influência estatisticamente significante sobre os Prêmios ao

nível de 1 %.

5.2.3 Teste de normalidade dos resíduos

O terceiro pressuposto que deve ser observado em um modelo MQO, além da autocorrela-

ção e homocedasticidade, é a normalidade dos resíduos. O modelo clássico de regressão linear

supõe que os erros estão distribuídos com média 0 e variância σ2, ou seja: ui ∼ N(0, σ2). Assim

para se testar a hipótese de normalidade dos resíduos optou-se pelo teste de Doornik-Hansen,

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que gerou os seguintes resultados:

H0: O erro tem distribuição Normal

Estatística do teste: χ2 = 0, 88763 com p-valor = 0, 64158

Portanto, não rejeita-se a hipótese nula, concluindo que os erros tem distribuição normal.

De volta à análise inicial, considerando os prêmios como variável dependente percebe-se

que a variável que gera maior influência sobre a série de prêmios é o PIB. Isto pode ser obser-

vado pelas estatísticas apresentadas em todos os modelos e pelo fato de que, no Modelo 2, onde

se trabalhava com variáveis deflacionadas, a única variável estatisticamente significante foi o

PIB. Assim, pode-se supor que o PIB gera forte influência nos prêmios. Contudo, considerando

que o mercado de seguros tem uma parcela relevante no PIB pode-se questionar a causalidade

entre eles. Uma alta no PIB gera uma alta no mercado de seguros, ou o fato do mercado de

seguros se aquecer eleva o PIB direta e indiretamente? Uma das possíveis maneiras de se testar

a causalidade entre as duas variáveis seria o “teste de causalidade de Granger”

5.2.4 Teste de causalidade de Granger

O teste de causalidade de Granger assume que o “futuro não pode prever o passado”. Assim,

trabalhando com duas séries temporais, interessa-se por saber qual delas precede a outra. Nesse

trabalho, testa-se se Prêmios causam PIB ou se PIB causam prêmios1. O teste desenvolvido pelo

economista Clive Granger, no fim dos anos 60 é comumente usado em estudos econométricos

como no artigo de Lazar e Denuit(2012) citado anteriormente que testou a causalidade entre

perdas das seguradoras e prêmios e Zurbruegg e Ward(2000) que usaram esse mesmo teste para

comparar Prêmios e PIB, as mesmas variáveis que serão usados nesse trabalho.

Considerando as séries em questão, os testes feitos com as séries de valores nominais e

valores reais tiveram os mesmos resultados. A metodologia do teste de causalidade de Granger

exige um vetor autorregressivo, para, a partir do mesmo, realizar o teste, já que busca-se avaliar

o efeito do “passado” no “futuro”. Gujarati(2011) explica que o número de defasagens do vetor

é uma questão prática importante para o teste. Contudo, não há um consenso sobre o número

ótimo de defasagens a serem usadas no VAR(vetor auto regressivo), então, geralmente opta-se

por fazer o teste usando mais de uma opção, buscando resultados mais conclusivos. Assim, os

testes apresentam os seguintes resultados:

1Na nomenclatura do teste usa-se por dizer “A Granger-causa B” ao se considerar um teste entre as supostasvariáveis A e B

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Tabela 10: Teste de causalidade Granger

Hipótese nula No de Defasagens Estatística F Decisão(1%)2 7.2413 Rejeitar3 10.4375 Rejeitar

Prêmios não 4 10.3135 RejeitarGranger causam PIB 5 9.4673 Rejeitar

6 6.5692 Não Rejeitar2 7.1158 Rejeitar3 8.9643 Rejeitar

PIB não 4 6.1006 Não RejeitarGranger causa Prêmios 5 3.6135 Não Rejeitar

6 4.973 Não RejeitarFonte: Elaboração própriaNota: Para o nível de significância de 1% o valor tabelado da estatística F é de 6,6433. Para a escolhado número de defasagens, testou-se o VAR com as defasagens máximas indicadas na tabela e escolheu-se o melhor vetor, pelo menor valor dos critérios de Akaike e Schwarz, como indica Gujarati(2011).Considerando as defasagens máximas de 2, 3, 4 e 5, o vetor escolhido sempre foi o de defasagem maior.Considerando um vetor podendo ter defasagem máxima 6 ou 7, o vetor com defasagem 5 mostrou-semais adequado pelos critérios citados.

Pode-se concluir a partir dos testes que, ao nível de 1 % de significância deve-se rejeitar a

hipótese nula de que Prêmios não Granger-causam PIB e não rejeitar a Hipótese nula de que

PIB não Granger-causam Prêmios. O teste busca encontrar, dentre as duas variáveis testadas,

qual precede a outra, e em caso de rejeição das duas hipóteses nulas, considera-se as variáveis

como independentes, o que não foi o caso. Assim, entende-se que os prêmios precedem o PIB.

O resultado pode ser apoiado pelo exposto por Arena(2006) que mostra que o desenvolvimento

do mercado de seguros gera crescimento econômico.

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6 Considerações finais

O trabalho tinha o objetivo de avaliar a relação entre algumas variáveis econômicas e o

do mercado brasileiro de seguros, buscando entender a relação entre elas e tentar encontrar

um possível modelo de regressão linear que expressasse essa relação. A partir das primeiras

análises, das estatísticas descritivas e correlações entre as duas variáveis os modelos inicias,

com séries de preços reais e nominais, mostraram-se relevantes, com boa taxa de explicação da

variável dependente, mas com possíveis erros de estimação.

A partir de correções nas estimações dos modelos iniciais, com os testes de autocorrelação

e heterocedasticidade, os modelos se mantiveram com elevado valor do coeficiente de determi-

nação. As variáveis PIB e TAXA DE JUROS, mostraram-se estatisticamente significantes para

explicar as variações no nível de prêmios diretos contratados pelo mercado de seguros. Ainda

após as correções, os modelos seguintes mostraram que as variações no mercado de seguros

eram, em sua maioria, explicadas pelas variáveis apresentadas.

Considerando a série do PIB, que se mostrou a variável mais relevante nos modelos que

tratam a série de prêmios como variável dependente, optou-se por um teste de causalidade. O

teste de causalidade Granger entre a série de prêmios mensais e do PIB mensal mostrou, ao

nível de 1% de significância que a série de prêmios precede a série do PIB, indo ao encontro

ao exposto por alguns autores citados que testaram o mercado de seguros(a partir dos prêmios)

como gerador de crescimento econômico(PIB).

Portanto, dentre o objetivo geral proposto, o trabalho apresentou alguns modelos, todos

com nível de explicação da variável dependente superior à 85 % e com influência conjunta das

variáveis independentes estatisticamente significante. Em geral, pelos números expostos, pode-

se entender que as principais variáveis macroeconômicas que se relacionam com o mercado de

seguros foram abordadas e testadas. Este trabalho é um esboço de aplicação do ferramental

econométrico ao mercado de seguros. Logo, considera-se esse estudo como um passo, que

poderá ser aprimorado através da incorporação de novas variáveis ou uso de outros métodos.

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