a regionalização do espaço geográfico mundial · termos geopolíticos, de um mundo bipolar, ou...

8
A regionalização do espaço geográfico mundial Vimos no capítulo anterior que nos últimos anos a multipolaridade trouxe à tona uma realidade mundial muito complexa. Diferentemente do que aconteceu du- rante quase todo o século passado, hoje as oposições entre os países são mais profundas no que diz respeito às desigualdades socioeconômicas do que em relação às diferenças ideológicas. Para conhecer melhor essa realidade, vamos analisá-Ia em partes, valendo-nos do estudo das regiões. Na ciência geográfica, o conceito de região está ligado à ideia de diferenciação de áreas. Nesse sentido, regionalizar significa agrupar as extensões territoriais que apresentam determinadas características comuns, distinguindo-as de outras áreas. Tais características podem estar ligadas a aspectos naturais, como clima, vegetação, solos e relevo, ou a aspectos socioeconômicos e culturais, como produção indus- trial, distribuição da renda ou religião. Observe os mapas abaixo. Os temas desses mapas exemplificam a regionalização do espaço terrestre com base em aspectos de ordem natural e socioeconômica. O mapa à esquerda mostra a região dos municípios do Nordeste brasileiro atingi- dos periodicamente pelo fenômeno das secas. Já no mapa à direita são represen- tadas as áreas dos Estados Unidos onde são desenvolvidos determinados tipos de cultura e criação, os belts, palavra que, em português, significa "cinturões". Assim, quando nosso objetivo é estudar a realidade mundial sob critérios de natureza política e socioeconômica, devemos buscar na história e nas informações advindas de dados qualitativos e quantitativos (estatísticas) a base para a regionali- zação do espaço geográfico. Nas páginas seguintes, conheceremos as principais formas de regionalização utilizadas nos estudos de Geografia durante o último século. Polígono das secas no Nordeste do Brasil TO o 285 km L.....--...J o problema das secas eo desenvolvimento do Nordeste semiárido. João Pessoa: DNOCS, 1994. Agropecuária nos Estados Unidos OCEANO )~ANADA ~ +N ;rrf ~ t 'ACIFICO o L Prin~ip~is produtos A v ecnaçoes 8> \!I c:! ,'I s r f'Algodão .t t} , I Ei!i (-S-('- ÍI ÍI \, <D Amendoim ,g, ElO c:! i2. J1Z ç "'" Arroz .t c:! (i} (J:) Cl Õ Frutas citricas Çl g ~Çl e J, Fruticultura Õ.., c:! Çl e. "!l ElO Madeira 'SI ~ Çl Milho ..-(.L---, :\\ <:J<n (J:) Soja U \ c:! t) o ~ Tabaco .~ ~ - t} f Uva O ,.( 60 km MÉXICO ÍI Xarope de ácer L.....--...J ti Aves c:l Bovinos -t> Ovinos <:J Suínos Ranching belt: região dominada pela pecuária extensiva e bastante influenciada pelas condições naturais do clima Quente e árido. Wheat belt domínio das grandes monoculturas de trigo, em que a existência de extensas planícies favorece a mecanização. Cotton belt: área onde se planta principalmente o algodão, cultivado na região de clima mais quente desde o século XVII, no período colonial. Dairy beft: área onde se desenvolvem a pecuária leiteira e a policultura intensiva (hortaliças, frutas e legumes), destinadas ao abastecimento das grandes cidades. Corn belt região produtora de milha, geralmente plantado em médias propriedades e associado ã criação de suínos. Culturas tropicais: praticadas em áreas de clima mais quente, que se destacam pela presença de lavouras como arroz, cana-de-açúcar e frutas cítricas. Policultura: região que se caracteriza pela existência de vários cultivos, entre eles o tabaco, O milho e o amendoim. Reference atlas ofthe world. London: Dorling Kindersley, 2007. UNIDADE I - A nova ordem e a regionalização do espaço mundial

Upload: haque

Post on 11-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A regionalização do espaçogeográfico mundial

Vimos no capítulo anterior que nos últimos anos a multipolaridade trouxe à tonauma realidade mundial muito complexa. Diferentemente do que aconteceu du-rante quase todo o século passado, hoje as oposições entre os países são maisprofundas no que diz respeito às desigualdades socioeconômicas do que em relaçãoàs diferenças ideológicas. Para conhecer melhor essa realidade, vamos analisá-Ia empartes, valendo-nos do estudo das regiões.

Na ciência geográfica, o conceito de região está ligado à ideia de diferenciaçãode áreas. Nesse sentido, regionalizar significa agrupar as extensões territoriais queapresentam determinadas características comuns, distinguindo-as de outras áreas.Tais características podem estar ligadas a aspectos naturais, como clima, vegetação,solos e relevo, ou a aspectos socioeconômicos e culturais, como produção indus-trial, distribuição da renda ou religião.

Observe os mapas abaixo. Os temas desses mapas exemplificam a regionalizaçãodo espaço terrestre com base em aspectos de ordem natural e socioeconômica.O mapa à esquerda mostra a região dos municípios do Nordeste brasileiro atingi-dos periodicamente pelo fenômeno das secas. Já no mapa à direita são represen-tadas as áreas dos Estados Unidos onde são desenvolvidos determinados tipos decultura e criação, os belts, palavra que, em português, significa "cinturões".

Assim, quando nosso objetivo é estudar a realidade mundial sob critérios denatureza política e socioeconômica, devemos buscar na história e nas informaçõesadvindas de dados qualitativos e quantitativos (estatísticas) a base para a regionali-zação do espaço geográfico. Nas páginas seguintes, conheceremos as principaisformas de regionalização utilizadas nos estudos de Geografia durante o últimoséculo.

Polígono das secasno Nordeste do Brasil

TO

o 285 kmL.....--...Jo problema das secas e o desenvolvimento

do Nordeste semiárido. João Pessoa: DNOCS, 1994.

Agropecuária nos Estados UnidosOCEANO )~ANADA ~ +N ;rrf ~ t'ACIFICO o L Prin~ip~isprodutosA v ecnaçoes

8> \!I c:! ,'I s r f'Algodão.t t} , I Ei!i (-S-('- ÍI ÍI \, <D Amendoim

,g, ElO c:! i2. J1Z ç "'" Arroz

.t c:! (i} (J:) Cl Õ Frutas citricasÇl g ~Çl e J, Fruticultura

Õ.., c:! Çl e. "!l ElO Madeira'SI ~ Çl Milho

..-(.L---, :\\ <:J<n (J:) Soja

U \ c:! t) o ~ Tabaco

.~ ~ -t} f Uva

O ,.( 60 km MÉXICO ÍI Xarope de ácerL.....--...J ti Aves

c:l Bovinos-t> Ovinos

<:J Suínos

Ranching belt: região dominada pela pecuária extensiva e bastante influenciadapelas condições naturais do clima Quente e árido.

• Wheat belt domínio das grandes monoculturas de trigo, em que a existência deextensas planícies favorece a mecanização.

Cotton belt: área onde se planta principalmente o algodão, cultivado na região declima mais quente desde o século XVII, no período colonial.

Dairy beft: área onde se desenvolvem a pecuária leiteira e a policultura intensiva(hortaliças, frutas e legumes), destinadas ao abastecimento das grandes cidades.

Corn belt região produtora de milha, geralmente plantado em médias propriedades eassociado ã criação de suínos.

• Culturas tropicais: praticadas em áreas de clima mais quente, que se destacam pelapresença de lavouras como arroz, cana-de-açúcar e frutas cítricas.

• Policultura: região que se caracteriza pela existência de vários cultivos, entre eles otabaco, O milho e o amendoim.

Reference atlas ofthe world. London:Dorling Kindersley, 2007.

UNIDADE I - A nova ordem e a regionalização do espaço mundial

Primeiro, Segundo e Terceiro MundoNo começo do século XX, o mundo estava dividido em duas áreas distintas: a das

metrópoles e a das colônias, estas sobretudo nos continentes africano e asiático.Durante a Segunda Guerra Mundial, desencadeou-se o processo de independên-

cia política das colônias, que até então viviam sob o controle das potências euro-peias. Esse processo histórico ficou conhecido como descolonização.

Como estudamos no capítulo anterior, no pós-guerra houve a consolidação, emtermos geopolíticos, de um mundo bipolar, ou seja, de uma realidade com duasfaces: uma capitalista e uma socialista. Com o processo de descolonização, configu-rou-se um terceiro mundo, composto de países pobres, que haviam sido em suamaioria colônias de exploração europeias.

A expressão "Terceiro Mundo" foi criada pelo economista francês Alfred Sauvy(1898-1990), em 1952, para se referir às nações pobres que estavam à margem docenário político-econômico internacional naquele momento histórico.

Anos mais tarde, na década de 1960, uma nova forma de regionalização do es-paço geográfico mundial foi criada com base nessa terminologia. Havia, então, oPrimeiro Mundo, conjunto dos países capitalistas industrializados com economiamais desenvolvida, o Segundo Mundo, conjunto dos países socialistas de economiaestatal e planificada, e o Terceiro Mundo, conjunto dos países capitalistas econo-micamente menos desenvolvidos.

Observe no planisfério a seguir a forma como os países do mundo foram agru-pados de acordo com esse critério de regionalização.

-. -

OCEANO PAcíFICO

"O€EANOPAcíFICO

Eq~

OCEANO iNDICOTrépico d~_Ca~ricómio .'

Primeiro Mundo

Segundo Mundo

Terceiro Mundo

1875 3750 kmL....-_....I''--_....I'

Demétrio Magnoli. O novo mapa do mundo. São Paulo: Moderna. 1998.

Descolonização: processo de enfraquecimento político. econômico ou militar das metrópoles europeias quepropiciou o surgimento dos movimentos de independência das colônias.

Colônias de exploração: terras que serviam exclusivamente aos interesses das metrópoles. As metrópoles seapropriavam das riquezas existentes nas colônias.

CAPíTULO 4 - A regionalização do espaço geográfico mundial

Países ricos e pobres ou centro e periferiaA regionalização caracterizada pela divisão entre Primeiro, Segundo e Terceiro

Mundo foi amplamente utilizada durante a Guerra Fria, período em que prevaleceua rivalidade entre as duas superpotências. No começo da década de 1990, com aextinção da União Soviética e o enfraquecimento do socialismo, o termo SegundoMundo tornou-se obsoleto, pois deixou de ser representativo como realidadepolítico-econômica global.

A partir de então, as preocupações mundiais voltaram-se muito mais para asdesigualdades existentes entre os diversos países no que diz respeito ao acesso àstecnologias, à distribuição de renda e ao nível de vida das populações.

Nesse contexto, foram estabelecidas novas regionalizações, com o objetivo deexpressar com mais exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo.Entre elas, cabe destacar a seguinte:

• Países ricos ou centrais - grupo formado pelas nações mais ricas e industrializa-das (como Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia e países daUnião Europeia) que se encontram no centro do sistema capitalista, exercendoforte domínio econômico e tecnológico sobre as nações mais pobres.

• Países pobres ou periféricos - grupo formado pelo restante das nações doplaneta, que apresentam desenvolvimento tecnológico e econômico menor,assim como forte dependência financeira em relação aos países ditos centrais,estando, por isso, na periferia do sistema capitalista.

Observe abaixo a regionalização do espaço geográfico com base na divisão entrepaíses centrais e países periféricos.

Países centrais e países periféricos, .'< ... .:

OCEANO PAciFICO

• Países centrais

Países periféricos

~ Países c0n:! economia I ---:=:-,.,...,--:-----,-.,..,*::-E_s,-ca-:la,....,a..:...p-,ro_x_im_a_d_a_na_L_in_h_a....,.d.,..,o_E--',qu_a_d_or---1~ em transicão rc:::J . The World Bank. Obtido em: <www.worldbank.org>.c:::J Limite do centro Acessado em: 07/12/2009.

o I 625 3250 km! ! I

,,

,

UNIDADE 1- A nova ordem e a regionalização do espaço mundial

Países desenvolvidos epaíses subdesenvolvidos

Outro critério de regionalização que leva em conta os aspectos relacionadosàs desigualdades socioeconômicas entre as nações é o nível de desenvolvimento,ou seja, o patamar em que se encontra a economia de um país e o padrão de vidade sua população em relação aos demais países do mundo.

Observe as principais semelhanças entre o planisfério abaixo e os vistos ante-riormente no que se refere à regionalização político-econômica dos países domundo. Identifique, com a ajuda do gráfico a seguir, a realidade da maior parte dapopulação mundial.

Padrão de vida:nível de rendae de acessoa serviços desaúde, educação,habitação e lazer.

Países desenvolvidos e subdesenvolvidos

Circulo Polar Antártico --.J\, OCEANO GLACI~S,AfoIrÁRT~9." ~-. ---,->-.-~~~",~ "'-=-~_',_.,D Países desenvolvidos - do Norte -------_.é",--"---.~ 't... ~ , c,,--:"·>[:] Países subdesenvolvidos - do Sul 1-- _

~ Linha Norte-Sul~ Países com economia em transição

2125 4250km'--_ ••••• 1__ •••• 1

Jurandyr L. S. Ross (org.). Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001.

População mundial

7%

D Países subdesenvolvidos

D Paises desenvolvidos

D Países com economia em transição

76 %

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).Relatório do Desenvolvimento Humano 2006. Obtido em:

<www.pnud.org.br>. Acessado em: 09/1212009.

De acordo com o critério utilizado para essa regionalização, podemos conside-rar desenvolvidos os países com alto nível de industrialização, amplo e diversifica-do mercado de consumo de bens e de serviços e cuja população usufrui de umelevado padrão de vida. De maneira geral, a economia dos países desenvolvidos évigorosa, e seu crescimento depende, basicamente, de suas forças produtivas in-ternas.

CAPíTULO 4 - A regionalização do espaço geográfico mundial

Já os países com nível de industrialização mais baixo ou com economia baseadapredominantemente no setor primário (agropecuária e atividade extrativa), depen-dentes tecnológica e financeiramente dos países ricos e cuja população, em suamaioria, apresenta baixo padrão de vida, são considerados subdesenvolvidos.

As nações desenvolvidas e as subdesenvolvidastambém são chamadas, respectivamente, de paísesdo Norte e países do Sul. Essa denominação levaem conta, basicamente, a posição geográfica dessasnações, pois, com exceção da Austrália e da NovaZelândia, os países desenvolvidos encontram-se naporção setentrional do hemisfério Norte, enquantoos subdesenvolvidos situam-se, de maneira geral,ao sul das nações desenvolvidas.

A letra de música ao lado, composta em 1963 porCarlos Lyra e Chico Assis, satiriza a condição de sub-desenvolvimento do Brasil diante das nações ricas eindica a existência de uma dependência não apenaseconômica, mas também tecnológica e cultural.

Os conceitos de desenvolvimento e de subdesen-volvimento passaram a ser usados com mais frequên-cia a partir da década de 1950, quando a Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) começou a divulgarperiodicamente dados estatísticos de diferentes na-ções do mundo, como taxa de mortalidade infantil,expectativa de vida, analfabetismo, crescimento doProduto Interno Bruto (PIB) e renda per capita. Esses dados revelaram a existênciade grandes contrastes entre as nações desenvolvidas e as menos desenvolvidaseconomicamente: nos dias atuais, sabe-se que cerca de 50,5% da população mun-dial vive em países cuja renda per copito anual é igualou inferior a mil dólares, o quecaracteriza uma situação de subdesenvolvimento; já uma parcela restrita da popula-ção do planeta vive em países considerados desenvolvidos, nos quais a renda percopita anual é igualou superior a 30 mil dólares. Veja o planisfério abaixo.

Canção do subdesenvolvidoAs nações do mundo para cá mandaramOs seus capitais desinteressadosAs nações, coitadas, queriam ajudar [...]E começaram a nos vender e a nos comprarComprar borracha - vender pneuComprar madeira - vender navioPra nossa vela - vender pavioSó mandaram o que sobrou de láMatéria plástica,Que entusiástica,Que coisa elástica,Que coisa drásticaRock-balada, filme de mocinhoAr refrigerado e chiclete de bolaE coca-cola! Oh ...Subdesenvolvido, 'subdesenvolvido ... etc.

LYRA, Carlos. A música brasileira deste séculopor seus autores e intérpretes [CD).

São Paulo: Sesc, 2000, faixa 14.

Renda per capita nos países do mundo

2660!

UNIDADE 1- A nova ordem e a regionalização do espaço mundial

OCEANO PAC;fK;O

Programa das NaçõesUnidas para oDesenvolvimento (PNUD).Relatório do DesenvolvimentoHumano 2009. Obtido em:<www.pnud.org.br>.Acessado em: 19/11/2009.

A renda per capita e os indicadores sociaisA renda per capita é um indicador econômico que vem sendo amplamente uti-

lizado há algumas décadas, sobretudo pelos economistas, para definir o nível dedesenvolvimento dos países. Mas será que a análise isolada desse indicador ofereceuma visão real da situação socioeconômica das nações do mundo?

A renda per capita é obtida mediante a divisão do PIB de um país (soma detodas as riquezas geradas internamente no período de um ano) por sua populaçãoabsoluta, ou seja, pelo número total de habitantes. Por ser um cálculo médio, esseíndice não revela as diferenças de rendimento que podem existir no interior dassociedades, sobretudo nos países subdesenvolvidos. A renda per capita do Brasil,por exemplo, em 2008, era de aproximadamente 8 695 dólares, já que o paísabrigava em torno de 184 milhões de habitantes e seu PIB era de I 600 bilhões dedólares. Veja o cálculo:

PIB (US$ I 600 bilhões)Renda per capita =

população absoluta(184 milhões de habitantes)

US$ 8695 dólares/habitante

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estimativas da População.Obtido em: <www.ibge.gov.br>. Acessado em: 18/08/2007.

Almanaque Abril 2009. São Paulo: Abril. 2008.

Trata-se, à primeira vista, de uma renda per capitabaixa quando comparada à dos países desenvolvidos.Mas é importante saber que na realidade uma par-cela reduzida da população brasileira recebe esse valoranualmente: cerca de 23,9% dos habitantes vivem comaté I salário mínimo ao mês e outros 32,8% nemsequer têm algum rendimento em dinheiro. Observeo gráfico ao lado.

Outra forma de relativizar os dados de renda percapita dos países é compará-Ios a alguns indicadoressociais, como as taxas de mortalidade infantil, analfa-betismo e expectativa de vida. Observe os dados, apre-sentados na tabela abaixo, referentes a alguns paísesdesenvolvidos e nações produtoras de petróleo doOriente Médio.

Indicadores sociais em paísesdesenvolvidos e no Oriente Médio

Mortalidadeinfantil (%0)

Expectativa devida (em anos)

Analfabetismo*(%)País

Noruega 3 79,8

9

72.2

Canadá 5 80,3

Programa das Nações Unidas parao Desenvolvimento (PNUD).

70.2 17.6 Relatório do DesenvolvimentoHumano 2007/2008. Obtido em:

77.3 6.7 <www.pnud.org.br>. Acessado em:J 08/12/2009.

*(-)Países com indicadores próximos a zero.

CAPíTULO 4 - A regionalização do espaço geográfico mundial

Japão 3 82,3

ArábiaSaudita

21

Irã 31

Kuwait

Renda da população brasileira(em salários mínimos)

1.3%Sem declaração

23,9%Até 1

0.6%Mais de 20

1,7%De 10a 20

Li<ri

'Inclusive as pessoas ~e receberam somente em beneficio~lj

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).PNAD. Obtido em: <www.ibge.gov.br>.

Acessado em: 19/08/2009.

17.1

Analisando os dados do planisfério da página 64, podemos observar que a ren-da per capita dos países do Oriente Médio é superior à das demais nações subde-senvolvidas, o que a princípio os colocaria em uma situação de vantagem. Porém,quando se avalia a renda per capita ao lado de indi-cadores sociais como mortalidade infantil, expectativade vida e analfabetismo, compreende-se por que es-sas nações são enquadradas na realidade socioeco-nômica do subdesenvolvimento.

Mas o que significa cada um desses indicadoressociais? Vejamos:

• Mortalidade infantil- relação entre o número decrianças que morrem antes de completar um anode idade e o total de crianças nascidas vivas. Essataxa é obtida com base no número de criançasque morrem a cada mil que nascem, no períodode um ano.

• Expectativa de vida - estimativa do número médiode anos que uma pessoa poderá viver considerando--se as condições socioeconômicas do país.

• Analfabetismo - porcentagem de pessoas quenão sabem ler nem escrever.

Retomando o caso dos países do Oriente Médio,as altas taxas de mortalidade infantil, por exemplo,apontam a existência de uma precária assistência mé-dica às mães e aos recém-nascidos, assim como a faltade campanhas de vacinação e de controle de doenças,revelando um sistema de saúde deficitário.

A baixa expectativa de vida também pode revelarprecariedade do atendimento médico-hospitalar voltadoà população adulta, além de falta de acesso a uma ali-mentação saudável e ausência de um sistema de previ-dência social justo. As altas taxas de analfabetismo, porsua vez, indicam parcos investimentos no sistema de en-sino formal e altos índices de evasão escolar, provocadospelo ingresso precoce de crianças e adolescentes nomercado de trabalho.

Por meio desses indicadores sociais, podemos concluirque a elevada renda per capita desse conjunto de paísesdo Oriente Médio é decorrente do alto valor do PIB,alcançado pela venda de petróleo no mercado interna-cional. Essa riqueza está concentrada nas mãos de umapequena parcela da população, já que, como foi visto, amaioria de seus habitantes enfrenta graves problemassociais.

Tal exemplo mostra que em muitas situações arenda per capita não exprime a realidade socioeconô-mica da população, sobretudo nos países subdesen-volvidos, e deve ser considerada um parâmetro médioque precisa ser analisado com outros indicadores.

UNIDADE 1- A nova ordem e a regionalização do espaço mundial

~Em Daca, capital de Bangladesh, a taxa demortalidade infantil é uma das mais altas domundo: cerca de 54%0 (por mil). As criançassofrem de doenças decorrentes da falta desaneamento básico e subnutrição. Naimagem, crianças em Daca no ano de 2008.

"Nos países desenvolvidos europeus, aexpectativa de vida é alta, e a população idosadesfruta ótima qualidade de vida. Idososingleses (em fotografia de 2009), por exemplo,têm uma expectativa de vida em torno de79 anos.

Brunei, localizada no Sudeste Asiático, éuma das nações subdesenvolvidas commaior renda per capita (cerca de 50200 dó-lares ao ano), riqueza proveniente daexploração do petróleo. No entanto, amaior parte de seus habitantes vive emcondições precárias, como os moradoresdessa favela, localizada em Kampong Ayer.Fotografia de 2003.

índice de Desenvolvimento HumanoVimos que a análise de um único indicador socioeconômico, como a renda per

capita, não é suficiente para avaliar o nível de desenvolvimento de um país. Como objetivo de obter informações mais precisas sobre a realidade de cada nação domundo, a ONU vem utilizando desde a década passada um indicador denominadoíndice de Desenvolvimento Humano (IDH).

O IDH foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD), com o objetivo de avaliar com maior fidelidade as condições em que vivea maior parte dos habitantes de cada país, considerando os seguintes critérios: alongevidade da população, medida pela expectativa de vida; o acesso à escolaridade,verificado por meio da taxa de analfabetismo; o poder de consumo de bens e ser-viços, determinado pela renda per capita; o acesso a condições sanitárias satisfatórias,avaliado com base na taxa de mortalidade infantil.

Para calcular o IDH leva-se em conta a combinação de todos esses indicadores,e o resultado varia em uma escala que vai de ° a I. Quanto mais próximo de ° éo IDH de um país, piores são as condições socioeconômicas enfrentadas pelapopulação e, portanto, menos desenvolvido ele é. Quanto mais esse índice é próxi-mo de I, melhores são as condições socioeconômicas e maior é o nível de desen-volvimento do país.

O IDH é considerado baixo quando inferior a 0,5, médio quando se encontraentre 0,5 e 0,8, e alto quando é superior a 0,8.

A ONU calcula anualmente o IDH de cada país do mundo, já que muitos in-dicadores variam periodicamente. Veja no planisfério abaixo o IDH de cada naçãono ano de 2008 e verifique se no Brasil esse índice é alto, médio ou baixo.

De acordo com o que você conhece a respeito da atual situação socioeconômi-ca de nosso país, procure saber se a classificação da ONU é condizente com essarealidade. Observe também o continente em que estão os IDHs mais altos e osmais baixos. Em seguida, discuta com seus colegas os possíveis motivos de taldistribuição espacial.

IDH dos países do mundo - 2008

2455 4910 km! !

IDH dos paises do mundoaté 0,49 I-- IDH baixo

de 0,5 a 0,69 L IDH médiode 0,7 a 0,791

• de 0,8 a 1 I-- IDH elevado

Dados não disponíveis

Programa dasNações Unidas parao Desenvolvimento

I(PNUD). Relatóriodo Desenvolvimento

!Humano 2007/2008.'Obtido em:i<www.pnud.org.br> .rAcessado em:!04/12/2008.

CAPíTULO 4 - A regionalização do espaço geográfico mundial