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A REFORMA (?) TRABALHISTA Arion Sayão Romita Da Academia Nacional de Direito do Trabalho Só o regime democrático é compatível com o Direito. SAN TIAGO DANTAS A lição de SAN TIAGO DANTAS No recuado ano de 1945, em discurso de paraninfo proferido na cerimônia de colação de grau dos bacharéis da Faculdade Nacional de Direito, SAN TIAGO DANTAS ("Palavras de um professor", 2ª ed. Forense, Rio de Janeiro, 2001, p.23) verberava o mal du siècle dos juristas. Segundo suas palavras "uma espécie de saudosimo, que, não concebendo facilmente a ciência jurídica adequada à época, sonha uma época adequada à sua ciência jurídica". Vivemos hoje, neste ano da graça de 2002, no campo dos estudos do Direito do Trabalho, uma etapa semelhante àquela que SAN TIAGO profligava há quase seis decênios: ante a necessidade de reforma da regulação das relações de trabalho, surgem resistências só explicáveis pelo antigo mal du siècle dos juristas e de alguns sindicalistas, cujo pensamento, forjado nas idéias vigentes nos anos 30 e 40 do século XX, reluta em amoldar-se à realidade presente. A resistência desses atores sociais às novas idéias explica-se pela necessidade que sentem de preservar as posições de privilégio conquistadas à custa da retórica da "preservação dos direitos dos trabalhadores". Ninguém admite redução do poder que exerce, por menor que seja a parcela de redução desse poder. Por tal motivo, expressivos segmentos das classes de advogados trabalhistas, magistrados, membros

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A REFORMA (?) TRABALHISTA

Arion Sayão RomitaDa Academia Nacional de Direito do Trabalho

Só o regime democrático é compatível com o Direito.

SAN TIAGO DANTAS

A lição de SAN TIAGO DANTAS

No recuado ano de 1945, em discurso de paraninfo proferido na cerimônia de colação de grau dos bacharéis da Faculdade Nacional de Direito, SAN TIAGO DANTAS ("Palavras de um professor", 2ª ed. Forense, Rio de Janeiro, 2001, p.23) verberava o mal du siècle dos juristas. Segundo suas palavras "uma espécie de saudosimo, que, não concebendo facilmente a ciência jurídica adequada à época, sonha uma época adequada à sua ciência jurídica".

Vivemos hoje, neste ano da graça de 2002, no campo dos estudos do Direito do Trabalho, uma etapa semelhante àquela que SAN TIAGO profligava há quase seis decênios: ante a necessidade de reforma da regulação das relações de trabalho, surgem resistências só explicáveis pelo antigo mal du siècle dos juristas e de alguns sindicalistas, cujo pensamento, forjado nas idéias vigentes nos anos 30 e 40 do século XX, reluta em amoldar-se à realidade presente.

A resistência desses atores sociais às novas idéias explica-se pela necessidade que sentem de preservar as posições de privilégio conquistadas à custa da retórica da "preservação dos direitos dos trabalhadores". Ninguém admite redução do poder que exerce, por menor que seja a parcela de redução desse poder. Por tal motivo, expressivos segmentos das classes de advogados trabalhistas, magistrados, membros do Ministério Público, fiscais do trabalho e sindicalistas opõem-se encarniçadamente à mudança do status quo, ressalvadas – é claro – às exceções de praxe.

Na lembrada oportunidade de 1945, indagava SAN TIAGO o que sucede com a cultura jurídica quando ela se obstina em defender um sistema de conceitos e idéias já inadequado às criações legislativas e às funções sociais que reclamam regulamentação inovadora. "O resultado dessa atitude – responde ele – é o desprestígio do pensamento jurídico e, por via de conseqüência, a incoerência e o arbítrio na feitura das leis, a pletora legislativa e a tendência a entregar o maior número de atividades sociais ao controle direto do Estado, não porque elas exijam uma coordenação coletivista mas apenas como meio mais simples, o que faz com que se logre um maior contingente de despotismo" (ob. cit., p. 24).

Se muda a realidade social, o direito deve renovar-se. Como disse LORD KEYNES, quando a realidade econômica se altera, alteram-se também minhas convicções acadêmicas. Sendo o direito fenômeno de superestrutura, transformada a realidade social à

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qual ele se aplica, necessariamente deve o direito alterar-se, para adaptar-se à nova realidade.

SAN TIAGO escreveu: "Defender o Direito é essencialmente renovar o Direito" (ob. e loc. cit.). Prossegue ele: a tarefa do jurista atento e sensível à nova realidade social consiste em "formular, diante de condições sociais novas, um Direito novo".

O Direito do Trabalho "novo" – adaptado às novas realidades do século XXI, que não são mais as mesmas dos anos 30 e 40 do século XX – depende, contudo, de mudança de mentalidades. E, como se sabe, mentalidades não se mudam por decreto nem por lições professorais. Mudam-se por força de mutações históricas. A História – já dizia Cícero – é a mestra da vida...

Enquanto os "protetores do trabalhador" ocuparem os centros de tomada das decisões, dificilmente ocorrerão as necessárias mudanças.

Deve o jurista, consciente de seu dever social, levar em conta a advertência de GASTON MORIN, que alertava para o vezo de "pensar as realidades de hoje com o cérebro de ontem". E, como dizia LORD KEYNES, "mais difícil do que aceitar as novas idéias é livrar-se das antigas".

O signo do leopardo

De três anos a esta parte, vem sendo levada a cabo uma "reforma trabalhista". Reforma ? Na verdade, retoque cosmético...

Alega-se, como sustentáculo da "política reformista" empreendida no último quadriênio presidencial, a necessidade de adotar o método de "comer o mingau pelas beiradas", porque a verdadeira reforma - a destinada a implantar a democracia na regulação das relações de trabalho – não seria aprovada pelo Congresso. Faz-se pouco caso da capacidade do Congresso de aceitar as novas realidades sociais, políticas e econômicas. Na verdade, a ideologia de "preservar o direito dos trabalhadores" oculta o velho receio de perder as posições de privilégio, por parte daqueles que ocupam os centros de tomada de decisões. E haja ideologia, no pior sentido da palavra (ocultação ou deturpação da realidade).

Nos últimos três ou quatro anos, foram adotadas numerosas medidas legislativas, com o anunciado propósito de efetivar uma "reforma trabalhista". Realmente, vivemos a era das reformas: administrativa, previdenciária, política, tributária, do Poder Judiciário, etc. Por que não uma reforma trabalhista?

Trata-se, porém, de uma verdadeira reforma? Não, já que o termo "reforma" pressupõe uma revisão de estruturas, o que não decorre do conjunto de mudanças legislativas verificadas ultimamente. Algumas das novas leis são até oportunas e necessárias. Muitas delas, porém, mostram-se inadequadas e retrógradas, quando não representam mera consagração, no plano legislativo, de soluções que a jurisprudência já assentara e que não mais constituíam objeto de disputa.

Doze são os signos do zodíaco, alguns dos quais com nome de animais: peixes, touro, leão, escorpião... O direito do trabalho brasileiro, todavia, é regido por um décimo terceiro signo, também com nome de animal: leopardo. TOMASI DI LAMPEDUSA escreveu um romance, "Il Gattopardo" (O Leopardo), no qual se diz que "é preciso mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está". A " reforma" trabalhista se processa sob o signo do leopardo: muda-se a legislação aqui e ali (quase sempre desnecessariamente)

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para que o essencial não se altere. Afinal, é indispensável preservar as posições de privilégio...

Diante das transformações ocorridas nos últimos decênios no campo da organização do trabalho (revolução tecnológica, introdução do computador, do robô, da fibra ótica, globalização, desenvolvimento das telecomunicações, etc.), impõe-se a tomada de nova atitude pelo jurista. À luz da história, verifica-se que – como diz SAN TIAGO DANTAS – "as grandes soluções e inovações legislativas têm sido antecipadas pela especulação dos juristas e só ingressam no corpo das normas positivas depois de um período mais ou menos largo de debate acadêmico" (ob. e loc. cit.). A investigação científica toma como ponto de partida o sistema positivo, mas converte-se na principal fonte da política legislativa, à qual – ainda no pensamento de SAN TIAGO – "fornece sugestões hauridas na legislação comparada, na experiência do Direito vigente e no próprio estudo das condições sociais novas a que se devem adaptar as normas e aplicar os princípios" (ob. e loc. cit.).

Os pressupostos

A legislação que regula as relações de trabalho foi implantada no Brasil nos anos 30 e 40 do século XX, diante de circunstâncias históricas, sociais e culturais bem diferentes das de hoje.

No plano da economia, o Brasil era, naquela quadra histórica, "um país essencialmente agrícola", começando a ingressar no campo da industrialização. Politicamente, vigorava no país um regime caracterizado pelo autoritarismo e pelo corporativismo, importados da Itália de Mussolini.

No início do século XXI, o Brasil é a nona economia do mundo industrializado e já assimilou os novos métodos de organização do trabalho introduzido pela cibernética e pela informática. Politicamente, o Brasil se constitui em Estado democrático de direito, como se lê no art. 1º da Constituição de 5 de outubro de 1988. Parece certo, em conseqüência, que a legislação do trabalho adequada aos anos 30 e 40 do século XX não se afeiçoa às novas circunstâncias econômicas e políticas do País, no pórtico do século XXI.

Para que a solene afirmação lançada na Lei Maior no seu dispositivo inicial não passe de mera norma de fachada, será necessário fazer penetrar a idéia da democracia no campo da regulação das relações de trabalho. A democracia não deve restringir-se ao plano da organização dos poderes do Estado, mas deve também penetrar no âmago da regulação das relações de trabalho. Esta é a tarefa do jurista de hoje: pugnar pela democratização do regramento que preside às relações individuais e coletivas de trabalho. Urge expelir do ordenamento jurídico os resquícios de autoritarismo e corporativismo que ainda maculam a legislação do trabalho brasileira.

A legislação trabalhista brasileira é fruto da atividade intervencionista do Estado, que relega a plano secundário a autonomia coletiva dos grupos.

Quando implantada no País, a regulação estatal das relações de trabalho baseava-se em dois pressupostos: 1º) as relações coletivas de trabalho eram manifestações da luta de classes e suas conseqüências deveriam ser evitadas a qualquer preço, mediante o estabelecimento da paz social; 2º) temia-se que as repercussões dessa luta pudessem afetar o conjunto da sociedade, devendo em conseqüência ser conjuradas no nascedouro quaisquer possibilidades de rebeliões

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sociais. O Estado, no desempenho de seu duplo papel de nume tutelar dos interesses das classes dominantes e de mediador entre antagonismos sociais, intervém perseguindo diversos objetivos: 1º) desenvolver a regulação minuciosa das condições de trabalho, a fim de tornar desnecessária a ação sindical; 2º) condicionar os interessados a buscar no Estado a solução dos conflitos ocorrentes; 3º) outros objetivos, que no momento não cabe analisar.

Como conseqüência dessa intervenção, abundante legislação é promulgada, em obediência a alguns pressupostos básicos, dos quais cabe destacar: heterorregulação das condições de trabalho; fragilidade – praticamente inexistência – da contratação coletiva; sindicato único imposto por lei e sujeito à intervenção do Estado; sindicalização por categorias; contribuição sindical criada por lei, como instrumento da submissão das entidades de classe ao Estado; competência normativa dos tribunais do trabalho, com o intuito de evitar o entendimento direto entre os interessados; proibição da greve (logicamente, não há necessidade de greve, se há uma justiça do trabalho dotada de poder normativo); cooptação das lideranças sindicais no establishment.

Segue-se, porém, o período iniciado em 1978, que se consolida no ano imediato e se prolonga até os dias de hoje. Esse período se caracteriza pela afirmação de certo número de sindicatos livres da interferência do Estado; autonomia sindical; reconhecimento da autonomia coletiva; atuação de centrais sindicais surgidas espontaneamente à margem das entidades "oficiais"; prática incipiente da negociação coletiva; tolerância da greve.

A Constituição de 5 de outubro de 1988 pretende implantar no País um "Estado Democrático de Direito" (art. 1º). No campo específico das relações de trabalho, esse desiderato não foi plenamente alcançado. Em parte, é certo que algumas medidas positivas foram adotadas, porém muito do regime autoritário foi conservado.

Para que o Brasil se constituísse efetivamente em Estado Democrático de Direito, seria necessário que adotasse o modelo da autonomia coletiva para a regulação das condições de trabalho. Em parte, a Constituição de 1988 atende a esse objetivo: dá ênfase à negociação coletiva; consagra a autonomia sindical; empresta regulação moderna e adequada ao direito de greve.

A necessária reforma

Há necessidade de mudanças na legislação do trabalho, quer no plano individual quer no coletivo. Tais mudanças hão de obedecer ao imperativo de consagrar o princípio da democracia nas relações entre o capital, o trabalho e o Estado.

As recentes medidas legislativas cobrem um vasto espectro, que se espraia pelo direito individual do trabalho, pelo direito coletivo, pelo direito processual, pelo direito penal, pelo direito administrativo e pelo direito internacional.

A "reforma" já se concretizou no direito legislado, mas boa parte dela está latente no direito projetado. Ela se projeta no plano da legislação constitucional e no da infraconstitucional, abrange tanto o trabalho urbano como o rural e se aplica assim ao setor privado como ao setor público. É levada a efeito por meio de grande

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número de emendas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, medidas provisórias e decretos presidenciais.

A reforma atinge objetivos periféricos – alguns até elogiáveis e necessários – mas deixa intacto o essencial. Para que a reforma alcançasse plenamente o objetivo de democratizar o trato legislativo das relações de trabalho, medidas de natureza diversa haveriam de ser adotadas, visando não só o método de regulação das relações individuais mas também – e principalmente – a organização sindical e a competência da Justiça do Trabalho.

Os princípios democráticos deveriam penetrar em todos os recantos da disciplina legislativa trabalhista, o que traria vantagens para os trabalhadores. Em regime de plena liberdade sindical, os trabalhadores teriam voz ativa e deixariam de ser os "sujeitos protegidos", condições que atualmente ostentam.

Os trabalhadores não deveriam temer o regime de liberdade (que, parece, não desejam). É tão cômodo ser tutelado... O preço a pagar, porém, é alto. Permanecem em estado de menoridade social e submissos ao poder econômico e bem assim ao poder estatal. Devem continuar a manifestar gratidão aos "protetores".

A verdadeira reforma – isto é, a reforma destinada a democratizar a regulação das relações de trabalho – deveria nortear-se, portanto, pela consagração do princípio da liberdade sindical. E apresentaria algumas características, adiante descritas.

É de rigor, implementar o regime na unidade sindical, em substituição ao da atual unicidade. O sindicato único deve resultar da livre deliberação dos interessados, e não ser imposto por lei (menos ainda pela Constituição). Em regime de pluralidade sindical (possibilidade jurídica de criação de sindicatos), os trabalhadores optariam – se e quando lhes conviesse – pela criação do sindicato único, seguramente mais poderoso e representativo do que os atuais "sindicatos únicos" que pulverizam e debilitam o movimento sindical.

Da adoção do princípio da liberdade sindical decorrem as seguintes conseqüências: sindicato único; sindicato mantido por contribuições voluntárias, além das resultantes de negociação coletiva; primado do método de auto-regulação das condições de trabalho; prevalência da autonomia coletiva privada dos grupos organizados; observância do princípio democrático na organização das entidades sindicais; participação dos interlocutores sociais na criação do ordenamento jurídico que lhes diz respeito; Justiça do Trabalho organizada de acordo com os princípios da democracia, o que acarretaria a supressão do poder normativo para julgamento dos dissídios coletivos de interesses; regulação atualizada e democrática do exercício do direito de greve, quer para o setor privado quer para o publico, observados os parâmetros já traçados pelo art. 9º da Constituição.

A reforma legislativa realizada por mais de quatro dezenas de medidas já adotadas (algumas ainda por adotar, por se acharem na forma larvar de projeto) deixa de lado os objetivos acima delineados. Não passam, como se disse, de retoques cosméticos, embora não se possa deixar de aplaudir algumas das referidas providências, como por exemplo a supressão da representação classista na composição dos órgãos da Justiça do Trabalho, e bem assim as providências tendentes a reduzir os números de processos em curso na Justiça do Trabalho, além de acelerar o andamento dos feitos.

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Serão relacionadas adiante, classificadas por área de incidência, as medidas legislativas tomadas recentemente com o intuito de implantar a "reforma" trabalhista.

Direito Individual do Trabalho

I) LeisNormas gerais de tutela do trabalho

1 – Lei nº 10.243, de 19.6.2001, que acrescenta ao art. 58 da CLT os §§ 1º e 2º, para fixar parâmetros referentes ao cálculo das horas extraordinárias e dispor que o tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para seu retorno não será computado na jornada de trabalho, salvo quando o empregador fornecer a condução. E altera o § 2º do art. 458 para declarar que não serão consideradas como salário diversas utilidades concedidas pelo empregador, tais como educação, transporte, assistência médica, seguro de vida, previdência privada.

2 – Lei Complementar nº 103, de 14.7.2001, que autoriza os Estados e o Distrito Federal a instituir o piso salarial a que se refere o art. 7º, inciso V, da CF.

3 – Lei nº 10.270, de 29.8.2001, que veda ao empregador efetuar anotações desabonadoras da conduta do empregado em sua CTPS.

4 – Lei nº 10.272, de 5.9.2001, que altera a redação do art. 467 da CLT, para dispor que o empregador é obrigado a pagar ao empregado a parte incontroversa das verbas rescisórias em audiência, sob pena de pagá-las com acréscimo de 50%.

5 – Lei Complementar nº 110, de 29.6.2001, que faculta aos trabalhadores receber mediante simples adesão ao plano os complementos de atualização monetária dos créditos nas contas vinculadas ao FGTS.

6 – Lei nº 10.218, de 11.4.2001, que acrescenta ao art. 487 da CLT o § 5º (o valor das horas extras habituais integra o aviso prévio indenizado) e o § 6º (o reajustamento salarial coletivo, determinado no curso do aviso prévio, beneficia o empregado pré-avisado da despedida, mesmo que tenha recebido anteriormente os salários correspondentes ao período do aviso).

7 – Lei nº 9.841, de 5.10.1999 (Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), cujo art. 11 dispensa a micro e a pequena empresa do cumprimento de diversos deveres impostos pela legislação do trabalho às empresas em geral.

8 – Lei nº 9.608, de 18.2.1998, que declara lícita a prestação de serviço voluntário a instituição privada de fins não lucrativos com objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social. Nota-se que o legislador se preocupa com a definição (pela inexistência) de vínculo empregatício em situações duvidosas, a exemplo do que ocorrera quando da promulgação da Lei nº 8.949, de 9.12.1994, que introduziu no art. 442 da CLT o parágrafo único, para esclarecer que não existe relação de emprego entre a sociedade cooperativa e seus associados nem entre estes e os tomadores de serviços daquela.

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Normas especiais de tutela do trabalho

A) Quanto à regulamentação das profissões

1 - Lei nº 9.956, de 12.1.2000, que confere aos trabalhadores que prestam serviços em postos de abastecimento de combustíveis o direito de não serem substituídos por bombas de auto-serviço operadas pelo consumidor, assegurando-lhes a permanência no emprego.

2 - Lei nº 10.220, de 11.4.2001, que regula a atividade de peão de rodeio, equiparando-o a atleta profissional.

3 - Lei nº 10.208, de 23.3.2001, que acrescenta dispositivo à Lei nº 5.859, de 11.12.1972, para facultar a inclusão do empregado doméstico no FGTS, mediante requerimento do empregador.

4 – Lei nº 10.256, de 9.7.2001, que introduz na Lei nº 8.212, de 1991 (Plano de Custeio da Previdência Social) o art. 25-A, que equipara ao empregador rural pessoa física o consórcio simplificado de produtores rurais, formado pela união de produtores rurais pessoas físicas que outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para prestação de serviços.

B) Quanto ao trabalho da mulher

1 – Lei nº 10.244, de 27.6.2001, que revoga o art. 376 da CLT para permitir o trabalho extraordinário da mulher.

C) Quanto ao trabalho do menor

1 – Lei nº 10.097, de 19.12.2000, que altera a redação de diversos dispositivos da CLT, no capítulo que regula a proteção do trabalho do menor. O art. 402 define menor como o trabalhador de 14 a 18 anos, mas deve ser entendido em consonância com o disposto no art. 403, que veda qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos. O texto da CLT foi, portanto, adaptado ao art. 7º, inciso XXXIII da CF, com a redação dada pela EC nº 20, de 15.12.1998. Esta lei passou também a regular o contrato de aprendizagem, definido no art. 428 como contrato de trabalho especial ajustado por tempo determinado, no máximo dois anos (§ 3º).

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II – Emenda à Constituição

Trabalho rural

A Emenda Constitucional nº 28, de 25.5.2000 dispõe sobre o prazo prescricional das ações do trabalhador rural, fixando-o em 5 anos, mantido o limite de 2 anos contados do término da relação de emprego.

Direito Coletivo do Trabalho

A) Estímulo à negociação coletiva

Direito legislado

1 – Lei nº 9.601, de 21.1.1998, que dispõe sobre os contratos de trabalho por tempo determinado a serem instituídos por convenções e acordos coletivos de trabalho e cujo art. 6º altera a redação do art. 59 da CLT, para permitir a modulação anual das horas extraordinárias mediante negociação coletiva.

2 – Lei nº 10.101, de 19.12.2000, que dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, estabelecendo no art. 2º que os planos respectivos devem ser fixados por negociação coletiva.

3 – Medida Provisória nº 2.164-41, de 24.8.2001, que acrescenta à CLT o art. 58-A, cujo § 2º dispõe que a adoção do regime de tempo parcial será previsto em instrumento decorrente da negociação coletiva; e acrescenta À CLT o art. 476-A, o qual prevê a suspensão do contrato de trabalho por período de 2 a 5 meses, mediante negociação coletiva.

4 – Lei nº 10.192, de 14.2.2001, que estabelece medidas complementares ao Plano Real. O art. 10 estabelece que as majorações salariais e outras condições contratuais devem resultar de negociação coletiva.

Direito projetado

1 – Projeto de lei da Câmara nº 134, de 2001, ora em tramitação no Senado, que dá nova redação ao art. 618 da CLT, para determinar que as condições de trabalho resultantes de negociação coletiva prevalecem sobre os preceitos da legislação positiva.

B) Direito de greve

1 – Emenda Constitucional nº 19, de 4.6.1998, que altera o art. 37, inciso VII da Constituição Federal para dispor que o exercício do direito de greve dos servidores da administração pública direta observará os termos e os limites definidos em lei específica.

2 – A Medida Provisória nº 10, de 13.11.2001, que acrescentava ao art. 2º da Lei nº 8.745, de 9.12.1993, o inciso VII, para permitir a contratação

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por tempo determinado de trabalhadores com a finalidade de manter e normalizar a prestação de serviços públicos essenciais à comunidade por ocasião de greve de servidores públicos por período superior a dez dias, foi rejeitada pelo Congresso em 20.2.2002.

Direito Processual do TrabalhoDireito legislado

A) Quanto à Justiça do Trabalho

1 – Composição dos órgãos: EC nº 24, de 9.12.1999, que extingue a representação classista.

2 – Competência: EC nº 20, de 15.12.1998, que acrescentou ao art. 114 da CF o § 3º, para atribuir à Justiça do Trabalho competência para executar de ofício as contribuições sociais decorrentes das sentenças que proferir.

3 – Lei nº 10.035, de 25.10.2000, que altera a redação de diversos dispositivos da CLT para regular o procedimento, no âmbito da Justiça do Trabalho, de execução das contribuições devidas à Previdência Social.

B) Quanto ao processo do trabalho

1 – Lei nº 9.957, de 12.1.2000, que introduz na CLT uma seção (arts. 852-A e segs.) com a finalidade de regular o procedimento sumaríssimo.

2 – Lei nº 9.958, de 12.1.2000, que introduz na CLT um Título (arts. 625-A e segs.) destinado a regular as Comissões de Conciliação Prévia. Estas são facultativas: as empresas e os sindicatos podem instituir comissões de conciliação prévia. Qualquer demanda trabalhista será submetida à comissão, se na localidade da prestação de serviços houver sido instituída a comissão, no âmbito da empresa ou do sindicato.

3 – Lei nº 10.173, de 9.1.2001, que altera o Código de Processo Civil para dar prioridade de tramitação aos processos em que figure como parte pessoa com idade igual ou superior a 65 anos.

4 – Lei nº 10.288, de 20.9.2001, que acrescenta ao art. 789 da CLT o § 10, para determinar que o sindicato da categoria profissional preste assistência judiciária gratuita ao trabalhador desempregado ou que receber salário inferior a 5 salários mínimos; e dá nova redação ao art. 793 para dispor que a reclamação do menor de 18 anos será feita pelos representantes legais do menor e, na falta destes, pela Procuradoria da Justiça do Trabalho, pelo sindicato, pelo Ministério Público estadual ou curador nomeado em juízo.

5 – Lei nº 10.352, de 26.12.2001, que altera a redação do art. 527 do CPC regulando o novo rito do agravo de instrumento nos tribunais. O relator poderá negar-lhe seguimento liminarmente, poderá convertê-lo em agravo retido e bem assim poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso.

6 – Medida Provisória nº 2.226, de 4.9.2001, que acrescenta à CLT o art. 896-A, para dispor que o Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de

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revista, examine previamente se a causa oferece transcendência (política, social, econômica ou jurídica), como requisito para o conhecimento do recurso.

7 – Medida Provisória nº 2.180-35, de 24.8.2001, que introduz na Lei nº 9.494, de 1997, o art. 1º-B, em cujos termos o prazo a que se refere o art. 884 da CLT (que regula os embargos à execução) passa a ser de 30 dias – preceito aplicável às pessoas jurídicas de direito público federais, estaduais, distritais e municipais. Também acrescenta ao art. 884 da CLT o § 5º, para tornar inexigível o título fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou em aplicação ou interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal.

8 – Lei nº 9.851, de 27.10.1999, que dá nova redação ao § 1º do art. 651 da CLT para dispor que quando for parte do dissídio agente ou viajante comercial, a competência será da Vara da localidade em que a empresa tiver agência ou filial.

Direito projetado

1 – Proposta de Emenda à Constituição nº 29, de 2000 no Senado, que introduz modificações na estrutura do Poder Judiciário. Amplia a competência da Justiça do Trabalho. De acordo com o disposto no art. 115, passam a ser da competência da Justiça do Trabalho as ações oriundas da relação de trabalho, as ações que envolvam exercício do direito de greve, as ações sobre representação sindical, as ações de indenização por dano moral ou material. Os processos de dissídio coletivo só poderão ser suscitados por iniciativa conjunta dos sindicatos de empregados e empregadores.

Direito Penal do Trabalho

1 – Lei nº 9.777, de 29.12.1998, que acrescenta ao art. 132 do CP o parágrafo único, para determinar o aumento da pena se a exposição da vida e da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza. Nas mesmas penas do art. 203 incorre quem impede alguém de se desligar de serviços de qualquer natureza mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos pessoais ou contratuais. Na mesma pena do art. 207 incorre quem recrutar trabalhadores fora da localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional, mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou, ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem.

2 – Lei nº 9.983, de 14.7.2000, que acrescenta ao Código Penal o art. 168-A, para tipificar o crime de apropriação indébita previdenciária; o art. 377-A, que tipifica o crime de sonegação de contribuição previdenciária. Acrescenta ao art. 297 o § 3º para declarar que nas mesmas penas do crime de falsidade ideológica incorre quem insere na carteira de trabalho e previdência social do empregado ou documento que deva produzir efeito

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perante a previdência social declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.

3 – Lei nº 10.224, de 15.5.2001, que acrescenta ao Código Penal o art. 216-A para tipificar o crime de assédio sexual.

4 – Lei nº 10.268, de 28.8.2001, que altera a redação do art. 342 do Código Penal, para dar nova tipificação aos crimes de falso testemunho e de falsa perícia; e do art. 343, também do Código Penal, para agravar as penas cominadas a quem der, oferecer ou prometer dinheiro a testemunha, perito ou contador.

Direito Administrativo do Trabalho1 – Lei nº 9.962, de 22.2.2000, que dispõe sobre a aplicação da

legislação trabalhista ao pessoal admitido para emprego público na administração federal direta, autárquica e fundacional.

Direito Internacional do TrabalhoConvenções internacionais ratificadas pelo Brasil.

1 – Decreto nº 3.168, de 14.9.1999, que promulga a Convenção nº 146 da OIT, sobre férias remuneradas anuais da gente do mar.

2 – Decreto nº 3.197, de 5.10.1999, que promulga a Convenção nº 132 da OIT, sobre férias anuais remuneradas.

3 – Decreto nº 3.597, de 12.9.2000, que promulga a Convenção nº 182 da OIT, sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil.

4 – Decreto nº 3.956, de 8.10.2001, que promulga a Convenção Interamericana para a eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência.

5 – Decreto nº 4.085, de 15.1.2002, que promulga a Convenção nº 174 da OIT, sobre a prevenção de acidentes industriais maiores.

6 – Decreto nº 4.134, de 15.2.2002, que promulga a Convenção nº 138 da OIT, sobre a idade mínima de admissão ao emprego.

Avaliação finalComo se verifica pela resenha das modificações introduzidas na

legislação do trabalho pela "reforma" efetivada ao longo dos últimos três ou quatro anos, nada de relevante mudou. Alguma coisa, sim, mudou para que tudo permaneça como está.

Seja como for, não há negar que leis importantes e necessárias foram promulgadas, ao lado de algumas que o mundo jurídico poderia tranqüilamente dispensar.

No campo do Direito Individual, algumas leis são inócuas, por tratarem de matéria que no passado suscitava controvérsia mas que atualmente nenhum interesse desperta. Sirva de exemplo a Lei nº 10.218, sobre a fixação do montante da indenização devida por aviso prévio não concedido. Outras, porém, apresentam inegável relevância. No que diz respeito ao trabalho rural, a Lei nº 10.256 (sobre consórcio de empregadores rurais) deu foros de legitimidade a uma prática já observada espontaneamente no campo, com o beneplácito da fiscalização do trabalho,

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da previdência social e do Ministério Público do Trabalho. Entre as medidas reclamadas pela necessidade de adaptar a legislação brasileira aos compromissos assumidos com a Organização Internacional do Trabalho, avultam a Emenda Constitucional nº 20, de 15.12.1998 e a Lei nº 10.097, sobre idade mínima de admissão ao emprego e sobre aprendizagem.

No plano do Direito Coletivo do Trabalho, merece realce a ênfase dada pela novel legislação à negociação coletiva de condições de trabalho, em seguimento à orientação em boa hora traçada pela Constituição. Cita-se como exemplo a Lei nº 10.101, que conseguiu regular a contento a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa mediante a prática da negociação coletiva, um verdadeiro ovo de Colombo.

Relativamente ao Direito Processual, é visível a preocupação com a crise do Judiciário Trabalhista, a braços com uma avassaladora carga de serviço. Com o manifesto propósito de reduzir o número de reclamações trabalhistas e acelerar o andamento dos processos, as Leis nos 9.957 e 9.958 criaram o procedimento sumaríssimo e as comissões de conciliação prévia. Medida polêmica é a que cria o incidente de transcendência (Medida Provisória nº 2.226).

Quanto ao Direito Penal, ainda estamos longe de instituir no Brasil um verdadeiro Direito Penal do Trabalho, a exemplo do existente em países como a Itália e a França. Este desiderato, contudo, só poderá ser alcançado depois da consagração por via constitucional do princípio da liberdade sindical. Só em ambiente de plena liberdade sindical (ainda inexistente no Brasil) será possível tipificar os delitos de conduta anti-sindical ou de entrave à ação sindical. As leis recentemente promulgadas não apresentam maior interesse prático, ressalvadas as que tratam dos crimes previdenciários (nº 9.983) e do assédio sexual (nº 10.224).

No tocante ao Direito Administrativo do Trabalho, retomando a orientação traçada pela Lei nº 6.185, de 11.12.1974, determina-se a aplicação da legislação do trabalho aos servidores da administração federal direta, autárquica e fundacional.

Relativamente ao Direito Internacional, saliente-se a ratificação da Convenção nº 182 da OIT sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil e da Convenção Interamericana para a eliminação da discriminação contra pessoas portadoras de deficiência. Os direitos humanos foram, no particular, devidamente reverenciados.

O balanço final é positivo ou negativo? A resposta varia, segundo a convicção ideológica do pesquisador. Para aqueles que pugnam pela preservação do status quo, a reforma é satisfatória, merece aplausos: mudou alguma coisa para que tudo permaneça como está. Já para outros, que advogam a democratização das relações de trabalho, pouco ou nada se fez: faltou fazer o essencial, a começar pela implantação da liberdade sindical. Mas o caminho está aberto. Os debates acadêmicos se acirram, os juristas tomam posição, definem-se as opções ideológicas. A política começa a tomar assento no ambiente intelectual em que se debatem os temas cruciais para o futuro do direito do trabalho no Brasil.

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Formulam-se votos para que, em breve, possa ser instaurado no País um clima de democracia na regulação das relações individuais e coletivas de trabalho. Sonho vão? Talvez, mas como disse THOMAS JEFERSON, vivemos mais dos sonhos do futuro do que dos planos do passado.

Sonhar é possível e a utopia é necessária.Em escrito célebre ("Problemas de Direito Sindical", Max Limonad,

Rio de Janeiro, S/D., p. 111), OLIVEIRA VIANNA condenava os misoneístas que, a seu tempo, opunham-se à introdução no Brasil dos princípios e normas inspirados no autoritarismo e no corporativismo. A exemplo dele, neste início do século XXI, não devemos temer o futuro: agora, trata-se de implantar os princípios e as normas democráticas. Não se trata de adotar o novo por ser novo, mas de lembrar que só o regime democrático é compatível com o Direito (epígrafe).

Os "protetores" dos trabalhadores devem guardar em relação a eles (como os pais em relação aos filhos) a necessária fidelidade ao futuro, de que fala ANDRÉ COMTE-SPONVILLE ("Pequeno tratado das grandes virtudes", p.43): devem preservar seu futuro, não para escrevê-lo no lugar deles, mas para deixar-lhes o direito e, se possível, dar-lhes os meios de eles próprios o escreverem.

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