a reforma psiquiátrica brasileira

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  • 7/23/2019 A Reforma Psiquitrica Brasileira

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    281Interface-Comunic, Sade, Educ, v.10, n.20, p.281-98, jul/dez 2006

    This article seeks to discuss the experiences carried out during 80s in the cities of So Paulo (capital), Santosand Campinas, in order to understand their material, social and political impacts, the progress in the process ofbreaking away from the psychiatric ward model, and the establishment of creative and productive groups,required to build up the psychosocial treatment in regard to mental health, as well as to evaluate thecontribution that the SUS (Brazilian Public Health System) had on the psychiatric reform in the mentionedcities. The research, which is the basis of this paper, is part of a thesis regarding mental health care, wherebythe innovative projects implemented in those cities served as framework and basis for comparison to analyzemental health policy in small and medium-sized cities and towns in the state of So Paulo.

    KEY WORDS: mental health services. mental health. public health. National Health System (BR). health carereform.

    Este artigo tem como objetivo abordar as experincias desenvolvidas, a partir da dcada de 1980, nosmunicpios de So Paulo (capital), Santos e Campinas, no sentido de compreender as suas determinaesmateriais, sociais e polticas, o avano do processo de rompimento com o modelo manicomial e a emergnciade foras criativas e produtivas, necessrias para a construo da ateno psicossocial em sade mental, bemcomo conhecer a contribuio do Sistema nico de Sade no avano da reforma psiquitrica nos municpios. Ainvestigao que fundamenta este trabalho parte de uma tese sobre a ateno em sade mental, na qual osprojetos inovadores desses municpios serviram de moldura e parmetro para a anlise da poltica de sademental em municpios de pequeno e mdio portes do estado de So Paulo.

    PALAVRASCHAVE: servios de sade mental. sade mental. sade pblica. Sistema nico de Sade (SUS).reforma dos servios de sade.

    1 Departamento de Psicologia Clnica, Faculdade de Cincias e Letras, Universidade Estadual Paulista, Unesp, campus de Assis, SoPaulo. 2 Departamento de Medicina Preventiva e Social, Faculdade de Cincias Mdicas, Universidade Estadual de Campinas, Unicamp,Campinas, SP.

    A rA rA rA rA reforma psiquitrica breforma psiquitrica breforma psiquitrica breforma psiquitrica breforma psiquitrica brasileirasileirasileirasileirasileira:a:a:a:a:aspectos histricos e tcnico-assistenciais dasaspectos histricos e tcnico-assistenciais dasaspectos histricos e tcnico-assistenciais dasaspectos histricos e tcnico-assistenciais dasaspectos histricos e tcnico-assistenciais das

    experincias de So Pexperincias de So Pexperincias de So Pexperincias de So Pexperincias de So Pauloauloauloauloaulo, S, S, S, S, Santos e Campinasantos e Campinasantos e Campinasantos e Campinasantos e Campinas

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    Solange LAbbateSolange LAbbateSolange LAbbateSolange LAbbateSolange LAbbate22222

    Rua Gonalves Dias, 322Centro Assis, SPBrasil - 19.800-110

    LUZIO, C. A.; LABBATE, S. The brazilian psychiatric reform: historical and technical-supportive aspects ofexperiences carried out in the cities of So Paulo, Santos and Campinas. Interface - Comunic., Sade, Educ.Interface - Comunic., Sade, Educ.Interface - Comunic., Sade, Educ.Interface - Comunic., Sade, Educ.Interface - Comunic., Sade, Educ.,

    v.10, n.20, p.281-98, jul/dez 2006.

    dossi

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    IntroduoIntroduoIntroduoIntroduoIntroduo

    A partir da implantao do Sistema nico de Sade (SUS), formalizado pelaConstituio Federal de 1988, quando muitos municpios do pas buscaramviabilizar, em todos os setores da assistncia sade, os direitosconstitucionais dos usurios, constatam-se grandes dificuldades na efetivaodas diretrizes gerais, tanto da reforma sanitria como da reforma psiquitrica.

    Felizmente, tem sido possvel observar a existncia de prticas inovadorasque fortalecem o SUS, por meio de propostas que tiveram de enfrentar oprojeto neoliberal fortemente implantado no pas, notadamente no que sereferia ao crescimento do sistema privado de sade e dos conflitos dadecorrentes. Tais prticas vm trazendo a configurao de um novo desenho dapoltica de sade e de sade mental, por intermdio de vrios mecanismosinstitucionais, principalmente o da descentralizao.

    Alguns municpios assumiram a assistncia em sade mental, exigindo queos governos federal e estaduais no apenas cumprissem suas atribuies, comopartcipes do processo, mas tambm construssem instrumentos tcnico-operacionais que lhes permitissem implantar e implementar seus servios desade mental.

    Assim, ocorrem experincias inovadoras realizadas em alguns municpios doEstado de So Paulo, dentre as quais ressalta-se a criao, em 1987, na cidadede So Paulo, do primeiro CAPS, Centro de Ateno Psicossocial Prof. Luiz daRocha Cerqueira, um modelo realmente inovador para a poltica de sademental, depois reproduzido em outros municpios.

    Alm disso, em 1989, tendo sido eleitos, pela primeira vez, em So Paulo/Capital, Santos e Campinas, prefeitos do Partido dos Trabalhadores, foramnomeados, como gestores municipais da rea de sade, profissionaiscomprometidos com o movimento da reforma sanitria, ator fundamental noprocesso poltico-institucional da constituio do SUS. Ao assumirem tais

    atribuies, faziam-no no sentido de construir novos dispositivos na rea dasade mental, considerados altamente relevantes para o movimento dareforma psiquitrica, na perspectiva da efetivao do Sistema nico de Sade.

    A criao do NAPS (Ncleo de Ateno Psicossocial), em Santos, e do CAPS,em So Paulo, como ser abordado posteriormente, demonstrou a indiscutvelinfluncia direta dessas experincias na poltica nacional em sade mental. Apublicao da Portaria do MS n 224/92, em vigor desde janeiro de 1992, queestabeleceu diretrizes e normas para a assistncia em sade mental, foi umexemplo. Ela reafirmou os princpios do SUS, instituiu e regulamentou aestrutura de novos servios em sade mental, orientados nas experincias doCAPS e do NAPS. Os novos servios, denominados pela portaria como CAPS/NAPS, foram definidos como unidades de sade locais e regionalizadas, a partir

    de uma populao adscrita segundo a localizao, e que deveriam oferecercuidados intermedirios entre o regime ambulatorial e a internao hospitalar.Os CAPS/NAPS podiam constituir-se, ainda, em porta de entrada da rede deservios para as aes relativas sade mental, considerando sua caractersticade unidade de sade local e regionalizada. Atendiam, tambm, a pacientesreferenciados de outros servios de sade, dos servios de urgncia psiquitricaou egressos de internao hospitalar. Deveriam estar integrados a uma rededescentralizada e hierarquizada de cuidados em sade mental (Brasil, 1997).

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    Embora a Portaria n 224/92 signifique um avano importante naconstruo da ateno psicossocial, deve-se ressaltar que ela continha algumaslimitaes. Uma delas, conforme apontam Amarante & Torre (2001), o fatode a portaria igualar experincias distintas (o processo de criao do CAPS e doNAPS), cujas inspiraes terico-conceituais e tcnico-assistenciais foramdiferentes. Enfim, reduzia ambos os processos a apenas mais uma modalidadede servio, aparentemente advinda de modelos idnticos, perdendo-se apluralidade nelas contidas.

    Essa situao foi modificada com a Portaria do MS n 336/2002. Nela, adenominao de NAPS no aparece mais associada ao CAPS. Ela opta pelanomeao apenas de CAPS, estabelecendo trs modalidades definidas com baseem seu tamanho/complexidade e abrangncia populacional, de modo quepossam realizar prioritariamente o atendimento de usurios com transtornosmentais severos e persistentes em sua rea territorial, em regime detratamento intensivo, semi-intensivo e no-intensivo.

    Assim, os CAPS devem constituir-se em servio ambulatorial de atenodiria e funcionar segundo a lgica do territrio e independente de qualquerestrutura hospitalar. Alm disso, devem articular todas as instncias decuidados em sade mental desenvolvidas na ateno bsica em sade, noPrograma de Sade da Famlia, na rede de ambulatrios, nos hospitais, bemcomo as atividades de suporte social, como: trabalho protegido, lazer, laresabrigados e atendimento das questes previdencirias e de outros direitos(Brasil, 2002).

    No entanto, apenas os maiores e mais complexos (CAPSIII), porfuncionarem durante 24 horas, tm capacidade de ser um dispositivoestratgico no contexto da mudana do modelo assistencial em Sade Mental,norteada pela lgica de rede e do territrio e, portanto, identificados com aproposta dos NAPS.

    Nesse sentido, este artigo tem como objetivo abordar as experincias

    ocorridas nessas cidades, a partir da dcada de 1980, no sentido decompreender as determinaes materiais, sociais e polticas necessrias para aconstruo da ateno psicossocial como um processo de transformaes noparadigma manicomial e psiquitrico, nas esferas poltico-ideolgica e terico-tcnica. Como um processo social complexo, a ateno psicossocial sedesenvolve no bojo do processo de transio paradigmtico da cincia damodernidade e supe a articulao de mudanas em vrias dimensessimultneas e inter-relacionadas, referentes aos campos: epistemolgico,tcnico-assistencial, jurdico-poltico e sociocultural (Rotelli, 1990; Amarante,1996, 2003). Portanto, a ateno psicossocial aspira a uma transformaoradical do saber e das prticas psiquitricas e afins, configurando-se como

    um campo capaz de congregar e nomear todo o conjunto dasprticas substitutivas ao Modo Asilar, conservando, ao mesmotempo, a abertura necessria para a incluso das inovaes que ainda

    esto se processando em termos de reabilitao psicossocial e para

    outras que certamente viro. (Costa-Rosa et al., 2003, p.34)

    A investigao que fundamenta este trabalho parte de uma tese sobre aateno em sade mental (Luzio, 2003), na qual os projetos inovadores dos

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    municpios estudados serviram de moldura e parmetro para a anlise dapoltica de sade mental em municpios de pequeno e mdio portes do estadode So Paulo.

    So Paulo: experincias distintas em diferentes gestes pblicasSo Paulo: experincias distintas em diferentes gestes pblicasSo Paulo: experincias distintas em diferentes gestes pblicasSo Paulo: experincias distintas em diferentes gestes pblicasSo Paulo: experincias distintas em diferentes gestes pblicas

    A proposta da Secretaria de Estado da Sade (SES): o Centro deA proposta da Secretaria de Estado da Sade (SES): o Centro deA proposta da Secretaria de Estado da Sade (SES): o Centro deA proposta da Secretaria de Estado da Sade (SES): o Centro deA proposta da Secretaria de Estado da Sade (SES): o Centro deAteno Psicossocial CAPS Prof. Luiz da Rocha CerqueiraAteno Psicossocial CAPS Prof. Luiz da Rocha CerqueiraAteno Psicossocial CAPS Prof. Luiz da Rocha CerqueiraAteno Psicossocial CAPS Prof. Luiz da Rocha CerqueiraAteno Psicossocial CAPS Prof. Luiz da Rocha Cerqueira

    No estado de So Paulo, de 1982-1986, durante o governo de Andr FrancoMontoro (PMDB), norteado pelo projeto de sade mental implantado em 1973,por Luiz Cerqueira, ampliou-se a rede de assistncia extra-hospitalar, com acriao de aes em sade mental nas Unidades Bsicas de Sade (UBS) e novosambulatrios. Nesse contexto, a cidade de So Paulo, na gesto de Mrio Covas(PMDB), por intermdio da Secretaria de Higiene e Sade, em parceria com aSecretaria de Estado da Sade (SES) de So Paulo, executou o PlanoMetropolitano de Sade, com financiamento do Banco Mundial. Tal experinciatrouxe vrias contribuies na organizao de servios de sade mental,inseridos na rede de sade pblica.

    Para Cesarino (1989), iniciou-se um amplo processo de discusses e reflexescrticas a respeito da prtica cotidiana dessas aes e das polticas pblicas desade mental. Esse processo, ao lado da organizao dos trabalhadores,possibilitou a construo de novos dispositivos para o fazer coletivo. Organizam-se os Programas de Intensidade Mxima (PIM) nos ambulatrios destinados clientela com sofrimento psquico intenso. Esse programa constituiu-se maisuma semente na construo do Centro de Ateno Psicossocial/CAPS,inaugurado em 1987.

    Segundo Yasui (1989), a criao do CAPS Prof. Luiz da Rocha Cerqueira foi

    [...] Derradeiro gesto de uma administrao, foi o lugar que acolheu

    alguns profissionais que vinham de importantes experincias

    institucionais na rede pblica, onde ocupavam posio de destaque e

    que foram obrigados a abandonar seus trabalhos e projetos no meio

    do caminho mas que [...] no perderam a capacidade de sonhar com

    utopias (uma sociedade sem manicmios reais ou simblicos, sem

    violncia institucionalizada, mais justa, mais igualitria etc.) e, mais do

    que isso, de acreditar na possibilidade de construir um caminho na

    direo delas. (Yasui, 1989, p.51)

    O CAPS, localizado na rua Itapeva, a uma quadra da Avenida Paulista, na cidadede So Paulo, foi inscrito no sistema hierarquizado, regionalizado e integrado de

    aes de sade j institudo, como uma estrutura intermediria entre o hospitale a comunidade, destinado ao atendimento dos usurios considerados psicticose neurticos graves. Como tal, o CAPS propunha-se a atuar como uma estruturade passagem, na qual os usurios permaneceriam at apresentarem condiesclnicas estveis para continuar o tratamento definitivo em ambulatrios.

    Para tanto, a direo do Centro procurou construir uma organizaoinstitucional simples, flexvel e em permanente mudana, para assegurar maioragilidade e diversidade nas vrias modalidades teraputicas.

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    O projeto original previa a criao, pela SES-SP, de uma rede de CAPS, emque privilegiasse a construo de uma prtica clnica na qual a fala do doenteseria tomada no pelo reconhecimento do sintoma, mas como produo deum sujeito social dentro dos limites, certamente problemticos, que aloucura impe (Goldberg, 1996, p.21).

    Dessa maneira, buscava-se romper com o modelo centrado na concepo dedoena como erro ou distrbio e cujo tratamento teria como objetivo a puraremisso de sintomas apresentados pelo doente, por intermdio de prticasmorais, mecanicistas, homogeneizadoras e burocratizadas. Enfim, pretendia-seum projeto teraputico que possibilitasse abordar adoena mental a partirde um campo teraputico dilatado, que se constitui na relao mdico-paciente para propiciar a emergncia do prprio processo de defrontao econhecimento da doena (Goldberg, 1996, p.58-9).

    A proposta clnica do CAPS, ento, era o desenvolvimento de uma prticacentrada na vida cotidiana da instituio e do usurio, de modo a permitir oestabelecimento de uma rede de sociabilidade capaz de fazer emergir ainstncia teraputica. Procurava-se, portanto, a criao de dispositivos coletivosdestinados circulao da fala e da escuta, da experincia, expresso, do fazerconcreto e da troca, do desvelamento dos sentidos, da elaborao e tomada dedeciso. As intervenes deveriam ativar vrias prticas teraputicas(medicao, psicoterapia, grupos, reunies de usurios, atividades expressivas)na abordagem global do usurio, ancoradas nas concepes contemporneas dapsiquiatria, em outras reas do conhecimento e, principalmente, em toda umabagagem de experincias prticas (Goldberg, 1996).

    No incio de suas atividades a equipe enfrentou muitas dificuldades. Umadelas foi o distanciamento entre os profissionais e usurios devido inexperincia dos primeiros e, tambm, ao preconceito para com as pessoascom sofrimento psquico intenso. Houve, ainda, dificuldade para romper defato com o modelo mdico, com o planejamento hierarquizado das aes, e

    definir as competncias profissionais no processo teraputico. Aos poucos, aequipe evoluiu, passando a perceber o usurio em sua singularidade, valorizaros projetos coletivos, reconhecer o tratamento como um processo detransformao contnuo e a longo prazo, bem como conceber a instituiocomo uma referncia para os usurios (Goldberg, 1998).

    Nesse contexto, foi construdo um outro dispositivo importante. Foi criadauma entidade civil, a Associao Franco Basaglia, com a participao deusurios, familiares, profissionais e outros interessados. A associao, emconjunto com o CAPS, passou a desenvolver projetos especiais, cuja finalidadeera promover a autonomia e maior abrangncia da clientela, incentivar aparticipao da famlia e de outros segmentos sociais, viabilizar a gestoextraclnica da vida dos usurios (de forma a ampliar o poder contratual e as

    possibilidades de trocas afetivas e materiais), enfim, fomentar o exerccio plenoda cidadania e difundir novos valores, noes, conceitos e modos de perceber aloucura e efetivar sua assistncia.

    Desde o incio do projeto, os integrantes da equipe mantiveram interlocuoconstante com outros servios que tambm atendem pessoas com intensosofrimento psquico. Entre os intercmbios, destacam-se os mantidos com: 1) aClnica La Borde, na Frana (criada por Jean Oury, em 1953, e onde atuoutambm Flix Guattari), acerca da formulao de projetos de intervenes

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    sensveis s caractersticas da psicose; 2) o Centro de Sade Mental de Setbal,iniciado na dcada de 1970, em Portugal, responsvel pela assistnciapsiquitrica pblica de vrios municpios da regio, para operar com a concepode setor utilizado na definio da geodemografia da populao a ser atendidapelo CAPS.

    A proposta da SES-SP de se criar uma rede de CAPS no prosperou, tanto emdecorrncia dos retrocessos provocados pelos governos Qurcia e Fleury (1987 a1994), como da implementao do processo de municipalizao da sade, umavez que o governo estadual comeou a retrair seus investimentos na criao denovos servios de sade. Mas a experincia do CAPS Prof Luiz da RochaCerqueira permanece como tendo sido bastante promissora e inspiradora dapoltica nacional de sade mental.

    A experincia da Secretaria Municipal de Sade: os Centros deA experincia da Secretaria Municipal de Sade: os Centros deA experincia da Secretaria Municipal de Sade: os Centros deA experincia da Secretaria Municipal de Sade: os Centros deA experincia da Secretaria Municipal de Sade: os Centros deConvivncias e Cooperativas (CECCOs)Convivncias e Cooperativas (CECCOs)Convivncias e Cooperativas (CECCOs)Convivncias e Cooperativas (CECCOs)Convivncias e Cooperativas (CECCOs)

    Em 1989, o governo municipal de So Paulo, comprometido com osprincpios e diretrizes das reformas sanitria e psiquitrica, implantou umprograma de sade mental com base em duas premissas fundamentais: aprimeiraprimeiraprimeiraprimeiraprimeira, a de que o sofrimento psquico era parte integrante e indissociveldo sofrimento global dos indivduos submetidos a desigualdades sociais; asegunda,segunda,segunda,segunda,segunda, a importncia de uma poltica de sade mental que, de fato,rompesse com o modelo hegemnico centrado nas internaes psiquitricas eem outras prticas manicomiais.

    De acordo com o projeto de sade mental da Secretaria Municipal de Sade -SP (SMS-SP), essa ruptura se daria por intermdio:

    da conscientizao popular, do combate dos interesses privados do setor ede uma rede assistencial que criasse condies para a desospitalizao;

    da priorizao de espaos de discusso com a populao nos bairros e com

    as organizaes populares e sindicais, objetivando desmistificar a loucura e otranstorno mental, alm de promover a reflexo de seus determinantes sociais; do reconhecimento e da valorizao dos saberes e das prticas culturais

    populares como forma de equilbrio psicossocial; do investimento na expansoda rede de servios de Sade Mental extra-hospitalar, de acordo com os critriosestabelecidos pela Organizao Mundial da Sade OMS (Braga Campos, 2000).

    Para essa autora, a poltica de sade mental no municpio de So Pauloretomou o modelo da reforma psiquitrica centrado na ateno primria sade e orientado nos princpios do SUS e na Declarao de Caracas, na qual sedefinem novos caminhos para a ateno primria.

    A SMS-SP criou, tambm, outros servios de ateno intensiva, orientados nomodelo de hospital-dia. Construiu, ainda, aes em espaos pblicos com o

    objetivo de viabilizar a incluso dos grupos populacionais excludos do convviosocial e das possibilidades de lazer: os Centros de Convivncias e Cooperativas(CECCOs) (Scarcelli, 1998).

    Os CECCOs eram pautados por duas linhas de aes. Por um lado,pretendiam combater a cultura manicomial e resistir ao surgimento de outrossignos tambm manicomiais, alm das foras burocrticas das prticasprofissionais e institucionais. Por outro lado, propunham inserir o usurio, suafamlia e a populao marginal e dispersa na sociedade.

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    Foram instalados 18 CECCOs em parques, centros esportivos, praas ecentros comunitrios do municpio de So Paulo. Eles procuraram transformaro bem pblico em espao coletivo e, desse modo, possibilitar a convivncia daspessoas como um processo para a reconstruo da histria de vida eperspectivas futuras, a construo de novos vnculos e de relao entre aexperincia, a representao e a realidade (Lopes, 1999).

    O CECCO era um servio de perfil cultural, e no somente tcnico-profissional. Utilizava-se essencialmente de recursos do mundo das artes,realizando intersetorializao com outros dispositivos da cultura, comeducao, habitao e esporte. As prticas abarcavam msica, artesanato,pintura, dana, teatro e esporte. Alm disso, os Centros de Convivnciaspromoviam atividades para ressignificar o processo de trabalho, visando insero social. Para tanto, criaram-se ncleos de trabalho responsveis pelaproduo de bens e servios. Esses ncleos, alm de viabilizar a comercializaodos produtos e a diviso dos lucros, buscavam problematizar todo o processoprodutivo, incluindo no apenas o produto a ser vendido, mas tambm aproduo do sujeito que o produz.

    Em sntese, a experincia desenvolvida pelo gestor municipal no incio dadcada de 1990 reproduziu, de uma maneira geral, a lgica do modelohierarquizado implantado na dcada de 1980. Porm, deve-se destacar que acriao dos CECCOs representou uma significativa contribuio para aconstruo de novos modos assistenciais em sade mental, embora no tenhasido incorporada pela poltica nacional de sade mental. um dispositivo quecompe uma rede articulada de ateno sade mental, com a finalidade deconstruir o direito vida, cidadania e difundir novos valores, noes, conceitose modos de perceber a loucura e efetivar sua assistncia.

    Durante os governos de Maluf e Pitta (1992 a 2000), esse projetofoi desmontado. Implantou-se o Plano de Assistncia Sade (PAS), no qualtoda a assistncia em sade e sade mental foi terceirizada, ficando sob

    responsabilidade das cooperativas profissionais. Os funcionrios municipais dasade, em especial da sade mental, no aderiram ao PAS e as cooperativascontrataram novos e inexperientes profissionais. Com isso, as aes voltaram aser restritas s consultas e aos exames, centradas no modelo mdico-curativotradicional. Na realidade, o PAS produziu apenas desassistncia e caos na sade.

    A partir de 2000, a gesto da prefeita Marta Suplicy buscou reorganizar asade do municpio e implantar a poltica de sade mental vigente.

    Santos: rachando o modelo da reforma psiquitrica brasileiraSantos: rachando o modelo da reforma psiquitrica brasileiraSantos: rachando o modelo da reforma psiquitrica brasileiraSantos: rachando o modelo da reforma psiquitrica brasileiraSantos: rachando o modelo da reforma psiquitrica brasileira

    A cidade de Santos, tambm a partir de 1989, integrou-se luta pelaconstruo do SUS. Como cidade plo da regio metropolitana da Baixada

    Santista, no litoral sul do estado de So Paulo, apresentava, naquele momento,uma desorganizao do seu espao urbano, claramente percebida pela ausnciade projetos destinados s reas marginalizadas, multiplicidade de habitaescoletivas e aumento da ocupao nas reas de risco e de favelas de palafitas.Enfim, era explcita a enorme dvida social do governo municipal para com seuscidados mais desfavorecidos.

    A nova administrao municipal, comprometida com o tecido social, propsimplantar uma poltica urbana integrada, harmoniosa, capaz de melhorar

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    a qualidade de vida da populao e reduzir as desigualdades na apropriaodo espao e das vantagens da vida urbana (Capistrano Filho, 1997, p.17).

    Na rea da sade, de acordo com Campos (1997c), a reforma sanitria nohavia produzido, at 1989, ecos em Santos. A organizao dos servios desade era deficitria e ineficaz, pois ainda reproduzia a mesma lgica eabrangncia da dcada de 1940.

    A Secretaria de Higiene e Sade de Santos (SEHIG), tambm conduzida poratores importantes do movimento da reforma sanitria, assumiu a implantaodo SUS e pde, assim, demonstrar sua viabilidade e seu compromisso com aDefesa da Vida. Para isso, buscou-se combinar as prticas clnicas com as depromoo de sade, bem como a descentralizao e intersetorialidade dasaes. Porm, foi na rea da sade mental que ocorreu um maior grau deradicalidade no modelo em defesa da vida dos cidados (Campos, 1997c).

    Esse processo foi desencadeado pelo incio da interveno decretada pelaprefeita Telma de Souza na Casa de Sade Anchieta de Santos, aps vistoriarealizada pela Prefeitura de Santos em conjunto com vrios setores dasociedade civil (Niccio, 1994).

    Aps a interveno, as aes iniciais foram voltadas para a criao de umambiente nas dependncias do hospital com condies mnimas de convivncia.Para isso, foram:

    suspensas toda e qualquer situao ou ato de violncia, proibindo-se asagresses verbais, fsicas, as celas fortes, e os aparelhos de eletrochoque foramdesativados;

    abertos todos os espaos fsicos internos do hospital, possibilitando acirculao das pessoas e o acesso das visitas aos internos;

    recuperadas as condies de higiene e alimentao dos internos, bemcomo suas condies de sade;

    reconstrudas as identidades dos pacientes, por meio do uso contnuo deseus nomes prprios e da definio de locais (quarto e cama) para eles dormirem;

    resgatadas as histrias de vida dos internos, bem como realizadas a revisode diagnsticos e medicao.Esse conjunto de aes continha um significado importante, pois refletia a

    instaurao de uma nova ordem institucional: no-violncia; no-humilhao;mais tratamento; mais dignidade; mais liberdade, enfim, a possibilidade de seviver com dignidade.

    Kinoshita (1997), um dos principais atores daquele processo, definiu omomento como a desconstruo da velha ordem e a criao de uma outracomprometida com uma nova tica.

    Essa nova tica, inspirada, sobretudo, na psiquiatria democrtica italiana,passou a orientar a implantao de uma poltica de sade mental em Santos.Uma poltica que se originou na radicalidade, tanto no enfrentamento e

    confronto de foras (poder pblico x donos do hospital) como na ousadia deviraro manicmio no avesso, de instituir um processo de negao daprpria instituio e romper com a lgica da excluso. Em sntese, umapoltica cuja interveno possibilitou colocar a doena entre parnteses eestabelecer o contato com a pessoa considerada doente, isto , com suaexistncia-sofrimento, inserida no tecido social. Internar no tratar. Enfim, aluta por uma sociedade sem manicmios (Niccio, 1994).

    Buscou-se a organizao interna do hospital, norteada pela reativao das

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    subjetividades de todos os atores envolvidos no processo internos, familiares,trabalhadores, gestores e populao. No havia um modelo a ser seguido, oponto de partida era a necessidade dos usurios. Instituram-se espaos deconvivncia, recorreu-se grupalidade, s discusses coletivas de necessidades,conflitos, desejos e reinvindicaes.

    [...] o momento da assemblia representava o desnudamento dos

    papis codificados, que possibilitava a profissionais e internos

    conversarem, pensarem, descobrirem alternativas e possibilidades.

    (Niccio, 1994, p.72)

    Concomitante s aes dirigidas ao espao interno da instituio, procurou-seintervir no espao social da cidade, visando romper a separao hospital/cidade,facilitar intercmbios entre os internos e a comunidade. Procurou-se, dessamaneira, estimular visitas da comunidade ao hospital, realizando festas, visitase outros encontros, bem como levar os pacientes para as ruas por meio depasseios, visitas a exposies, idas a cinema, teatro e festas.

    Alm desse intercmbio cultural, foi introduzida uma outra estratgia paraagenciar a relao hospital/cidade. Reorganizou-se o espao hospitalar de modoque a acomodao dos internos nas alas e enfermarias correspondesse sregies da cidade. Assim, os vrios grupos de internos tiveram suas equipes dereferncia. Estas, por sua vez, tambm tiveram a atribuio de conhecer ocontexto socio-econmico-cultural das pessoas internadas, buscar recursos econstruir projetos nos territrios dos usurios (Kinoshita, 1997).

    A partir desse momento, iniciou-se a construo de novos servios e de umnovo modelo de ateno em Sade Mental. No perodo de 1989/1996, foramcriados: cinco Ncleos de Apoio Psicossocial (NAPS), Unidade de ReabilitaoPsicossocial, Centro de Convivncia Tam-Tam, Lar Abrigado, Ncleo de Atenoaos Toxicodependentes, e Servio de Urgncia nos Prontos Socorros Municipais.

    Os NAPSs atendiam integralmente demanda de sade mental de cadaregio, principalmente dos casos graves. Eles passaram a funcionarininterruptamente, realizando aes de hospitalidade integral, diurna ounoturna; atendimentos s situaes de crises; atendimento ambulatorial;atendimentos domiciliares; atendimentos grupais; intervenes comunitrias eaes de reabilitao psicossocial. A Unidade de Reabilitao Psicossocial eraencarregada de coordenar e acompanhar os projetos de trabalhos dos usurios,visando sua participao social e autonomia, como, por exemplo: lixo limpo,grupo de vendas de apirios, limpezas de caixas dgua, adote uma praa,construo civil. Dessa unidade, originou-se a criao da Cooperativa MistaParatodos em 1994. O Centro de Convivncia Tam-Tam promovia aesculturais e artsticas e dirigia a rdio Tam-Tam. A Repblica acolhia os usurios

    graves, ex-moradores, sem vnculos familiares, da Casa de Sade Anchieta. ONcleo de Ateno aos Toxicodependentes era responsvel pelo atendimento deusurios dependentes de drogas por intermdio da hospitalidade integral,atendimento ambulatorial, atendimentos individuais e grupais. Finalmente, oservio de urgncia nos Prontos Socorros Municipais dava retaguarda aosistema como um todo.

    Essa rede de servios substitutiva, construda em Santos, dispunha-se a: 1)respeitar a garantia do usurio ao direito de hospitalidade, bem como sua

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    proteo ou continncia, de acordo com sua necessidade; 2) disponibilizar umarotina institucional gil e plstica, capaz de responder ao pedido de auxlio dousurio ou dos seus familiares; 3) inserir aes assistenciais no territrio deorigem dos usurios; 4) priorizar os projetos de vida nos servios assistenciais;5) promover um contnuo processo de valorizao dos usurios, com suaconseqente reinsero social (Kinoshita, 1997).

    Em sntese, conforme aponta Braga Campos (2000), a experincia santista,ao iniciar seu projeto de sade mental a partir do interior de um hospital sobinterveno municipal, rompe com a lgica desse modelo, proporciona aampliao das experincias e a criao de outras modelagens, cujas inovaesvm orientando a remodelao da rede de ateno em sade mental, orompimento com a lgica manicomial predominante na organizao de serviose no processo de trabalho, bem como a superao de aes hierarquizadas, como desenvolvimento de aes tendo a rua como espao teraputico, a articulaocom o PSF e com outros recursos do territrio.

    Aps 1997, as novas gestes municipais no desestruturam formalmente arede de ateno sade mental construda at aquele momento. Os servioscontinuam funcionando, mas sem a continuidade do projeto de sade mentalimplementado at 1996.

    Campinas: a construo de um novo modelo de ateno em sade eCampinas: a construo de um novo modelo de ateno em sade eCampinas: a construo de um novo modelo de ateno em sade eCampinas: a construo de um novo modelo de ateno em sade eCampinas: a construo de um novo modelo de ateno em sade ede gesto em dois temposde gesto em dois temposde gesto em dois temposde gesto em dois temposde gesto em dois tempos

    Em Campinas, desde os anos de 1970, atuava de forma bem organizada oMovimento Popular de Sade, ator fundamental na construo da redemunicipal de unidades bsicas de sade, iniciada em 1976, com o secretrio desade Sebastio de Moraes, mdico de um dos principais hospitais da cidade(LAbbate, 1990).

    J na dcada de 1980, as autoridades de sade do municpio, em conjunto

    com as direes da Puccamp e Unicamp, no apenas deram continuidade aoprocesso de construo de um Sistema Integrado de Sade, como buscaram seuaperfeioamento. Segundo LAbbate (1990), foram implementadas asdiretrizes do Projeto Municipal Pr-assistncia (a verso campineira doCONASP), e o municpio passou a organizar e gerenciar os servios e as aessob sua responsabilidade.

    No entanto, em Campinas, como em outros municpios nos quais foiimplantada a poltica de sade mental vigente no estado, tais propostas noproduziram alteraes significativas na lgica manicomial dominante.

    Foi somente a partir de 1989, com a eleio de uma gesto municipaltambm comprometida com os movimentos populares e com a construo doSUS, que esse quadro mudou. A SMS de Campinas passou a assumir, a partir

    da, a direo de planejamento e implementao do processo demunicipalizao da poltica de sade do municpio, tendo o ento secretrio desade do municpio na direo da poltica municipal de sade, frente doConselho Municipal de Sade (LAbbate, 1990).

    A SMS procurou garantir o acesso da populao aos servios de sade,aperfeioando e profissionalizando, de fato, a rede de centros de sade,transformando-a em porta de entrada, de acordo com as diretrizes dos SILOS.Substituram-se os Prontos Atendimentos pelos ambulatrios e viabilizou-se o

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    Hospital Municipal como um servio efetivo de urgncia no municpio(LAbbate, 1990). Ao mesmo tempo, implementaram-se medidas voltadas paraa integrao da assistncia em sade mental ao sistema geral de sade, nosvrios nveis de complexidade e de maneira progressiva (Braga Campos, 2000).

    Na poltica de assistncia sade mental, a SMS busca provocar ruptura com

    os modelos direcionados do preventivismo, que reproduziam na

    Sade Mental, de forma mecnica, o que era proposto na sade geral,

    por meio de um sistema hierarquizado nas atenes primria,

    secundria e terciria.(Paulin, 1998, p.146)

    Medeiros (1994) informa que, naquele momento, foi realizado o I Seminriode Sade Mental, com profissionais de sade e administradores municipais deCampinas, bem como implantadas reformas administrativas nos servios e osistema de co-gesto no hospital psiquitrico Cndido Ferreira. No ISeminrio de Sade Mental, ocorrido em 1989, segundo essa autora, asconcluses reafirmaram as diretrizes do modelo anteriormente implantado,mas as suas deliberaes tiveram entendimentos diferentes entre os atoressociais envolvidos. Isso propiciou demarcaes territoriais que desencadearamconflitos e contradies em suas prticas.

    A busca de rupturas com o modelo preventivista-comunitrioA busca de rupturas com o modelo preventivista-comunitrioA busca de rupturas com o modelo preventivista-comunitrioA busca de rupturas com o modelo preventivista-comunitrioA busca de rupturas com o modelo preventivista-comunitrio

    A implantao de um projeto assistencial em sade mental que privilegiasseo centro de sade como porta de entrada acarretou a ampliao tanto daspossibilidades de acesso do usurio, como da capacidade de resoluo dosproblemas de sade mental da populao. Foi iniciada uma reformaadministrativa que fechou o ambulatrio de sade mental, descentralizou osservios, assim como reorganizou os papis e funes dos profissionais que

    atuavam na assistncia em sade mental. Enfim, buscou-se construir ummodelo assistencial balizado por novos padres de gesto e planejamento, depoltica de recursos, de prticas clnicas mais condizentes com o modelo emdefesa da vida, e no apenas voltadas para a mera reproduo da fora detrabalho (Campos, 1994).

    As mudanas desencadeadas geraram reaes diversas. Houve intransignciapor parte dos profissionais mais antigos. De maneira geral, a resistnciaapareceu centrada na perspectiva de transformaes no perfil dos centros desade. Segundo Campos (1997b), a rede bsica viu-se obrigada a acolher oegresso hospitalar de seu territrio. As aes deveriam ser planejadas emconsonncia com as necessidades da populao e as condies de trabalho emequipe. Abandonou-se a idia de equipe mnima, composta por: um psiquiatra,

    um psiclogo e um assistente social, conforme preconizava a poltica nacional eestadual vigente. O tipo e o tamanho das equipes da rede bsica passaram a serdeterminados pelo projeto teraputico da unidade.

    A co-gesto do Hospital Cndido FerreiraA co-gesto do Hospital Cndido FerreiraA co-gesto do Hospital Cndido FerreiraA co-gesto do Hospital Cndido FerreiraA co-gesto do Hospital Cndido Ferreira

    Em 1990, foi estabelecido o convnio de co-gesto entre a secretariamunicipal de sade e o hospital Dr. Cndido Ferreira. O fato representou o

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    desafio de se produzir a superao, na prtica, do manicmio e suas prticassegregadoras por dentro do prprio hospital. Para tanto, iniciou-se ali oprocesso de reviso diagnstica, recuperao das histrias de vida e a localizaodas famlias dos usurios internados. Enfim, o usurio passou a ser o centrodas aes teraputicas. Alm da reforma fsica e funcional dos prdios, houve,no hospital Cndido Ferreira, a organizao de quatro unidades de produo:hospital-dia, unidade de internao, ncleo de oficinas de trabalho e unidade dereabilitao dos pacientes moradores. Essa organizao foi realizada a partirda definio dos objetivos a serem alcanados em cada situao do processode desenvolvimento da doena mental em que se encontra o usurio(Onocko, 1997, p.360).

    Esse foi um momento de muita efervescncia e de enfrentamento de muitosdesafios. Segundo Braga Campos (2000), configuraram-se, ento, dois modelosde assistncia sade mental no municpio: o da rede bsica e o da co-gesto doCndido Ferreira. Esses dois modelos compunham uma certa hibridez naassistncia de sade mental em Campinas.De um lado, o desafio de construirprticas substitutivas ao modelo manicomial, por intermdio dastransformaes na rede bsica, centradas no planejamento local e naautonomia da equipe sob a rea de cobertura. De outro lado, o desafio dedesconstruir, e no apenas melhorar um manicmio.

    Estabeleceram-se intercmbios com outras experincias em andamento,principalmente em Santos. Intensificaram-se os seminrios, cursos e asreunies no sentido de viabilizar, na assistncia em sade mental, o modeloassistencial orientado pela Defesa da Vida.

    As reformulaes empreendidas no hospital Dr. Cndido Ferreira tiveramsuporte do Laboratrio de Planejamento e Administrao em Servios de Sade(LAPA) do Departamento de Medicina Social e Preventiva da Faculdade deCincias Mdicas da Unicamp. No processo de organizao dos servios, foiutilizado um sistema de gesto e planejamento participativo, a partir das

    equipes assistenciais, de apoio tcnico e administrativo das unidades deproduo. Nesse contexto, procurou-se conduzir o processo de mudanasorientado nas teorias de planejamento, principalmente de Carlos Matus e MrioTesta, com a finalidade de possibilitar a definio da misso da instituio, osistema de planejamento comprometido com o desmonte do manicmio e desuas prticas segregadoras por dentro dele, enfim, uma prtica histricacomprometida com a mudana social (Onocko, 1997).

    Os desdobramentos subseqentes abordagem dos microprocessosinstitucionais exigiram outras tecnologias, com objetivo de construir sujeitoscoletivos autnomos, ticos e crticos. Nesse sentido, buscou-se um trabalho deinterveno no processo de trabalho das equipes para se conhecer osfenmenos que operavam naquele campo e, tambm, como se apresentavam

    suas vrias foras. Dessa forma, buscou-se inspirao na anlise institucional,notadamente na produo terica de Lourau, Lapassade e Guattari (LAbbate,1997, 2003).

    Sintetizando, a experincia de Campinas norteou-se no apenas na expansoda rede pblica, como tambm e, fundamentalmente, na necessidade de sereformular as concepes e prticas de administrao pblica e os modos de seorganizar a ateno sade.

    Segundo Braga Campos (2000), tambm foi iniciado o processo de discusso

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    para a criao dos CAPS. Estes deveriam estar abertos, ininterruptamente,durante as 24 horas do dia, para acolher as situaes de crise, hospitalidade-noite, bem como desenvolver aes de reabilitao psicossocial. Finalmente,foram criados o Centro de Convivncia Infantil e o Centro de Referncia aoAlcoolismo e Drogadio.

    A construo de um novo modelo de sade e gesto: a sadeA construo de um novo modelo de sade e gesto: a sadeA construo de um novo modelo de sade e gesto: a sadeA construo de um novo modelo de sade e gesto: a sadeA construo de um novo modelo de sade e gesto: a sademental e o Programa Paidia Sade da Famliamental e o Programa Paidia Sade da Famliamental e o Programa Paidia Sade da Famliamental e o Programa Paidia Sade da Famliamental e o Programa Paidia Sade da Famlia

    A gesto municipal iniciada em Campinas em 2001 avaliou que a redebsica do municpio apresentava diversos problemas que indicavam suaincapacidade de absorver a demanda, ou mesmo atender s necessidadesbsicas de sade (Secretaria Municipal de Sade-SMS, 2001a). Dessa maneira,retomou as experincias realizadas na rea da sade ocorridas no perodo de1989-1991.

    A reconduo do mdico sanitarista e professor da Unicamp, GastoWagner de Souza Campos, ao comando da secretaria municipal de sade,possibilitou a reorganizao e ampliao da ateno em sade, norteada pelosprincpios e diretrizes do SUS, e na perspectiva da mudana do modeloassistencial e gerencial, bem como da redefinio do processo de trabalho emsade e das relaes das equipes com os usurios.

    Assim, a SMS instituiu o Projeto de Sade Paidia, que props conjugar osconceitos de sade e cidadania e teve como eixo fundamental no oequipamento de sade, mas a equipe local de referncia s famlias adscritasem um determinado territrio3. Alm disso, priorizou a responsabilizaopelo cuidado e a ampliao da prtica clnica de modo a abarcar a dimensosubjetiva e social dos processos de sade e doena. Tambm procurouaumentar a capacidade da rede bsica de resolver problemas de sade porintermdio da ampliao das aes da sade coletiva e da integrao das aes

    de promoo, preveno, cura e reabilitao (Campos, 2003).Dessa forma, foram implantadas, pela secretaria da sade, equipes locaisde referncia as equipes de sade da famlia e ncleos de sade coletiva eas equipes matriciais. Tais equipes, constitudas como unidades de produo,partilhavam de objetivos comuns, alm de deterem um poder gerencialprprio, isto , tinham uma relativa autonomia para pensar e organizar oprocesso de trabalho e os projetos teraputicos. Isso porque a gestoparticipativa reconhecia que erano exerccio da co-gesto que se iroconstruindo contratos e compromissos entre sujeitos envolvidos com osistema (Campos, 2003, p.165).

    O sistema de co-gesto era formado por espaos coletivos, como conselhoslocais de sade (coordenao, equipe e usurios), colegiados de gesto

    (equipe interdisciplinar), outros dispositivos (oficinas, assemblias comusurios, reunies por categorias profissionais etc.) e gesto cotidianademocrtica para anlise de temas e tomadas de deciso envolvendo osinteressados. Esses espaos coletivos operacionalizavam as diretrizes dogoverno, fortaleciam os sujeitos e produziam a democracia institucional, apartir da transformao das relaes de dominao, criao de novoscontratos, composio de consensos, alianas, e implantao de projetos.Enfim, conseguiram aumentar:

    3Busca-se desenvolveruma experinciasingular do ProgramaSade da Famlia(PSF) integrando,

    tambm, a atenoem sade mental, aexemplo do queocorreu em outrosmunicpios na dcadade 1990, como:Quixad, CE, em 1994;Camaragibe, PE, em1995; So Paulo, SP,em 1998, entreoutros (Lancetti,2000).

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    a capacidade de anlise e de interveno dos agrupamentos

    humanos, melhorar a sua capacidade de reconhecer uma situao

    sanitria, de identificar os determinantes envolvidos e, apesar das

    dificuldades do contexto ou das pessoas, ampliar as possibilidades de

    interveno sobre o quadro considerado nocivo. (Campos, 2000, p.1)

    Para alcanar os efeitos apontados, a SMS - Campinas passou a realizar, com oapoio das universidades e dos Plos de Capacitao de Sade da Famlia, umprocesso de educao continuada com as equipes locais de referncia e deapoio4, com objetivo de modificar o processo de trabalho nas Unidades Bsicasde Sade (UBS) e de ampliar a clnica. Nesse sentido, todos os trabalhadoresda sade foram capacitados para atuar de maneira mais acolhedora,humanizada e com responsabilidade. O modelo pedaggico adotado era oconstrutivo do conhecimento e de interveno na realidade, com a articulaoentre a informao, o texto, a anlise e a prxis.

    Segundo Braga Campos (2001), a implantao do Programa de SadePaidia constituiu tambm um desafio para a rede de ateno em sademental, uma vez que colocou as equipes de sade mental das UBS, dos CAPS,Centros de Convivncias e outros servios em contato com uma demanda queno se enquadrava nas modalidades de atendimentos oferecidos pela rede.

    Os profissionais responsveis pela sade mental na rede bsica passaram acompor as equipes de apoio matricial s equipes locais de referncia doPrograma de Sade Paidia, com a finalidade de: a) apoiar e acompanhar asequipes locais de referncia; b) trocar conhecimentos e contribuir naformao de um raciocnio generalista e multidisciplinar por intermdio dadiscusso de casos em sade mental; c) fornecer assistncia especializada naperspectiva de uma clnica ampliada, desenvolvida em todo territriogeogrfico, histrico, biogrfico e subjetivo (SMS, 2001b).

    Para manter seu compromisso de responsabilizao pelo usurio,

    ampliaram-se e consolidaram-se os servios de ateno psicossocial e suasequipes multidisciplinares, de maneira a garantir a flexibilidade de ofertasnecessrias ao tratamento mais eficaz e, portanto, romper com o sistema deservios hierarquizados. Tambm foi iniciado e concludo o processo defechamento do Hospital Psiquitrico Tibiri, com realocao do recurso,tanto financeiro quanto humano, na prpria rede substitutiva no municpio.

    De acordo com o Relatrio de Gesto 2001-2004 da SMS, a redesubstitutiva em sade mental, existente nos cinco distritos do municpio, em2004, era composta de: cinco Caps III, com oito leitos cada um; um Caps II;cinco Centros de Convivncia e Cooperao; vinte Oficinas de Gerao deRenda; 33 Servios Residenciais Teraputicos (SRT). Campinas conta, ainda,com aes de emergncia e primeiro atendimento no territrio em sade

    mental realizadas pelo SAMU; Ateno Dependncia Qumica e Ateno Criana e ao Adolescente (SMS, 2004).Essa experincia implantada em Campinas, de 2001 a 2004, durante o

    governo do Partido dos Trabalhadores, apontou alguns aspectos importantespara a construo do modelo de ateno psicossocial, de fato, substitutivo aomodelo psiquitrico tradicional.

    4Cf. a respeito: Mouraet al., 2003.

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    Consideraes finaisConsideraes finaisConsideraes finaisConsideraes finaisConsideraes finais

    Todas as experincias descritas contriburam muito para os avanos da reformapsiquitrica brasileira. Em suas semelhanas e diferenas, essas experincias socompromissadas com a implantao e consolidao do SUS, mostrando, com isso, aviabilidade e importncia do Sistema nico para a promoo de sade e assistnciade qualidade da populao. Para isso, tiveram como eixo orientador a defesa e aqualidade de vida dos cidados, e no apenas a relao custo/benefcio financeirode servios e aes.

    Cada experincia, sua maneira, contribuiu para a nova legislao de sademental, construda a partir da dcada de 1990 para viabilizar a atenopsicossocial no SUS dos municpios brasileiros. Observou-se que seus resultados,associados s reflexes e propostas operadas pelo movimento da reformapsiquitrica, possibilitaram sua visibilidade e disseminao entre os gestores,profissionais, usurios e a sociedade civil, bem como criou tenses nas esferas dosgovernos federal e estadual, no sentido de que eles no apenas cumprissem suasatribuies como partcipes do processo, mas tambm construssem instrumentostcnico-operacionais que permitissem aos municpios implantar e implementarseus servios de sade mental.

    Em sntese, conforme indicado no decorrer do texto, tais prticas no apenasenfrentaram a implantao do projeto neoliberal no pas, notadamente noque se refere ao crescimento do sistema privado de sade e dos conflitos deledecorrentes, como tambm possibilitaram a configurao de um novo desenhoda poltica de sade e sade mental.

    As experincias realizadas em So Paulo, pelos gestores dos nveis estadual emunicipal, e a de Campinas, em seu primeiro momento, embora tenhamretomado o modelo da reforma psiquitrica centrado na ateno primria sade, sob orientao dos princpios do SUS e da Declarao de Caracas,reproduziram a lgica do modelo hierarquizado, mas tambm foram inovadoras.

    Os gestores assumiram, em relao sade mental, o desafio de no apenasavanar na humanizao das relaes entre sujeitos, sociedade e instituiespsiquitricas e na construo de novas tecnologias para a assistncia na rea,como tambm buscaram a construo de um outro lugar social para a loucuraque no fosse o da anormalidade, da periculosidade, irresponsabilidade,incompetncia, insensatez, do erro, defeito e da incapacidade, pois os objetivosestavam centrados na incluso, na solidariedade e cidadania.

    A proposta de Santos continha maior ousadia e radicalidade. Ela propiciou oenfrentamento e confronto de foras (poder pblico x donos do hospital) porintermdio do processo de interdio no hospital psiquitrico Casa Anchieta;produziu um rompimento mais efetivo com a lgica manicomial; garantiu adescentralizao e intersetorialidade das aes na perspectiva uma rede de

    cuidado com recursos do territrio. No entanto, a ausncia de movimentossociais e, conseqentemente, da organizao da sociedade civil em defesa depolticas pblicas voltadas para as necessidades e os interesses da maioria dapopulao, anterior gesto municipal de 1989, com certeza dificultou a defesae manuteno das mudanas ocorridas na sade e na sade mental.

    A descontinuidade poltico-administrativa trouxe efeitos negativos tambm e,mais acentuadamente, para o municpio de So Paulo. O desmonte do Sistemade Sade e da rede de ateno de sade mental, construda na gesto de Luiza

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    Erundina, promovido pelas gestes de Maluf/Pitta, conforme foi apontadoanteriormente, provocou o caos e a desassistncia, de difcil recuperao.

    Em Campinas, a situao foi diferente. Desde a dcada de 1980, o municpioassumiu a responsabilidade de construir um sistema integrado de sade. Noque se refere sade mental, com base na avaliao do trabalho desenvolvidona rede bsica de sade, integrou-se, de modo progressivo e nos vrios nveis decomplexidade, a assistncia em sade mental ao sistema geral de sade. Assim,essa experincia, associada s parcerias das duas universidades e do movimentopopular por sade, permitiu a construo de um modelo assistencial emdefesa da vida, voltado para a reorganizao e ampliao da ateno em sade,norteada pelos princpios e diretrizes do SUS e de um sistema de co-gestoformado por espaos coletivos em que se viabilizam as diretrizes do governo,fortalecem os sujeitos (gestores, trabalhadores e usurios), bem como permitea transformao das relaes de dominao, criao de novos contratos,composio de consensos, alianas e implantao de projetos.

    Em sntese, pode-se concluir que, com o compromisso poltico dos gestores,a implicao das equipes dos servios e organizao dos usurios, possvelproduzir a mudana do modelo de ateno em sade mental. Por se tratar deuma mudana do modelo psiquitrico em suas dimenses terico-conceitual,tcnico-assistencial, poltico-jurdico e sociocultural, pode-se afirmar que asexperincias abordadas foram fundantes do processo de transioparadigmtica ora em curso.

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    El objetivo del presente artculo es abordar las experiencias desarrolladas, a partir de ladcada de 1980, en los municipios de So Paulo (capital), Santos y Campinas, para lacomprensin de sus determinaciones materiales, sociales y polticas, del avance delproceso de ruptura con el modelo habitual de manicomio y la emergencia de fuerzascreativas y productivas necesarias para la construccin de la atencin psicosocial en SaludMental, as como para el conocimiento de la contribucin del Sistema nico de Saludpara el progreso de la reforma psiquitrica en los municipios. La investigacin que

    fundamenta este trabajo es parte de una tesis sobre la atencin en salud mental, en lacual los proyectos innovadores de dichos municipios sirvieron de base y parmetro parael anlisis de la poltica de Salud Mental en municipios de pequeo y mediano portes delestado de So Paulo.

    PALABRAS CLAVE: servicios de salud mental. salud mental. salud publica. Sistema nicode Salud (SUS). reforma en atencin de la salud.