a rede de caminhos rurais como base duma infra-estrutura ... · caminhos antigos, de ligações...
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16, 17 e 18 de Julho de 2015
Instituto de Ciências Sociais (ICS-UL)
M. Correia a)
A. Perdigão(b)
A rede de Caminhos Rurais como base duma Infra-estrutura de Caminhos
Pedestre, a importância das TICs
Resumo/ Resumen
Os percursos pedestres e os caminhos rurais, no conjunto das redes de comunicação, devem beneficiar
dos mesmos direitos e garantias das outras vias de comunicação, devendo ser entendidos como
importante infraestrutura na renovação do mundo rural, a qual em Portugal abrange zonas com
diferentes características geográficas, paisagísticas e etnográficas.
Esses caminhos desempenham um papel importante na organização do território e no
desenvolvimento de atividades, utilizadoras da imensa rede de caminhos, os quais podem vir a ser
estruturantes para o desenvolvimento do Espaço Rural e contribuir para a reativação e regeneração do
mundo rural.
Palavras chave/ Palabras clave: Turismo Pedestre, Rede Rural, Tecnologia de Informação
Infra-estruras de Caminhos
Title
Abstract
Trails and Rural Roads, on the frame of road networks, should have the same rights and protections
of other infrastructure networks, and should be assumed as important infrastructures for the
improvement of Rural World, that in Portugal covers areas units with different landscapes,
geographical and ethnographical characteristics.
Roads represents an important role on land planning and organization in what concerns the
improvement of activities, using the network of roads, whom can be a key structure for Rural Land
Development and contribute to the reactivation and improvement of rural world, with great
potentialities for local communities improvement.
Keywords: Rambling, Rural Network, Information Technologies, Trail Network
(a) DGADR, ;Rede Rural Nacional, [email protected]
(b) DGADR, DOER, [email protected]
1.INTRODUÇÃO
Muitos dos antigos caminhos rurais, com a rápida evolução das diferentes práticas culturais e o
abandono rural de zonas mais pobres, tem vindo a perder o interesse económico devido à falta de
utilização de forma continuada dessa rede de infraestruturas de comunicação.
Os percursos pedestres e os caminhos devem poder continuar a desempenhar o seu papel no
conjunto das redes de comunicação, beneficiar dos mesmos direitos e garantias das outras vias de
comunicação e ser entendidos como importantes na renovação rural.
A rede de caminhos e trilhos tem uma estrutura que, em Portugal, abrange diferentes zonas, com
diferentes características geográficas e paisagísticas, marcadas pelas influencias da utilização do
solo, das características climáticas e da sua pegada histórica, dando origem a formas de
exploração da terra muito especificas, quer na forma de grandes explorações, quer pelo
rendilhado de pequenas parcelas e pequenas hortas, possibilitando que os caminhos associados a
essas estruturas, sejam assumidos como entidades vivas e dinâmicas.
Daí a importância da necessidade da intervenção das comunidades locais, duma forma
organizada, no planeamento, organização e gestão, envolvendo essa mesma rede de caminhos
rurais estruturadas em rede de percursos, no que diz respeito ao seu traçado, dinamização,
conservação e manutenção. Envolvendo as suas utilizações mistas, quer do ponto de vista
agrícola (serviços), ecológico (micro fauna e microflora), paisagístico (cortinas verdes) e
turístico. Bons exemplos, com a integração das comunidades locais, são a implementação e
activação de caminhos históricos (Caminhos de Santiago, Vias Romanas e Rota do Românico).
Muitos dos caminhos rurais, com a evolução rápida dos sistemas agrícolas e o abandono rural
das zonas mais pobres, perderam para a nova população rural o seu interesse económico, dado
que não permitem a passagem de tratores e máquinas atuais. As autarquias rurais pobres têm a
tentação de os alienar dado que não os conseguem manter e por outro lado têm tendência a
alargá-los e a alcatroar outros.
Existe uma gama de caminhos, em que reaprendemos a comunicar com a terra, o sol, o vento, as
árvores, a erva, as pedras e as flores, onde a gestão do território não é mais que um somatório de
um conjunto de orientações e objetivos e constituem um instrumento essencial para a realização
de trocas de todo o tipo, contribuindo para a renovação rural (CNSGR, 1997).
2. A TEMATICA DO TURISMO PEDESTRE
O passeio pedestre parece ser uma atividade largamente praticada em todos os países
desenvolvidos, testemunha disso são os números invocados nas diferentes regiões do globo,
sempre superiores ao milhão: 3 milhões de “verdadeiros” caminhantes em Itália e na França, 10
milhões no Reino Unido, etc. Outras ordens de grandeza exprimem a mesma importância
atribuída à atividade: 30% dos Suecos dedicam-se ao passeio em florestas ou caminhos rurais,
metade dos “Anglo-Saxões” marcha ocasionalmente (KARCHNER,F&LYORD J., 2001).
O Turismo Pedestre é hoje considerado como um desafio ao desenvolvimento local, sendo uma
atividade muito divulgada entre a população dos diferentes países europeus e que tem vindo a
evoluir de um lazer informal para uma verdadeira ação turística, potencialmente geradora de
benefícios económicos a nível local.
Mais do que um simples caminho, o que o utilizador “consome” é com efeito uma região, com as
suas paisagens e a sua identidade, itinerários adaptados, serviços e um acolhimento antes, durante
e depois do seu passeio. (KARCHNER,F&LYORD J., 2001).
A atividade de percorrer distâncias a pé em trilhos sinalizados (pedestrianismo) permite um
contato próximo com a paisagem e pode sensibilizar as pessoas para a proteção dos recursos
naturais e culturais, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida dos que a praticam. Esta
atividade é ainda particularmente atrativa nas vertentes pedagógica, cientifica, lúdica e turística
(CALIXTO, 2008:3)
A Atividade Pedestre do ponto de vista turístico é um conceito frequentemente descrito como
uma atividade de lazer, por vezes combinada com outra, que tem em comum superar uma
determinada distância, com uma velocidade razoável, com benefícios para a saúde, tendo como
objetivo o contato com a natureza e possibilitando uma experiência social e cultural.
A mobilidade para as pessoas, até ao início da era industrial, poderia ser considerada um luxo
para uma pequena elite. O transporte de pessoas e bens era demorado e caro. O transporte de
mercadorias a pé permitia abrir novos locais de caça, pastagens para o gado e ainda a eclosão de
guerras.
Os peregrinos foram importantes na atividade pedestre, ao superarem grandes distâncias por
motivos principalmente religiosos (Kaschuba 1991, pag 165). Também os comerciantes e
artesãos, mas também vagabundos e estudiosos, grupos não com mais de 10 pessoas,
representavam quem viajava na Idade média, com motivações económicas ou deslocações entre
Universidades.
No século XIV, observamos o desenvolvimento intenso de caminhadas, por jovens artesãos,
muitas vezes ligados ao desejo de aventura e de viajar, nomeadamente para participarem em
várias obras.
A partir do século XVI, houve uma grande solicitação de jovens marceneiros, que saíram do
ambiente familiar e fizeram grandes distâncias, para adquirir novas experiencias e novas técnicas.
Os séculos XVII e XVIII, sobre a sombra do iluminismo, foram a época da natureza e
especialmente das montanhas, foi o período da viagem de paisagistas e escritores.
Nos últimos tempos, tem-se vindo a verificar uma mudança de imagem do praticante, para um
público mais jovem, para o qual o exercício físico, a saúde e a proteção da natureza, tem vindo a
sobressair, aumentando de forma significativa a consciência ambiental, a qual atravessa todas as
classes sociais, e a permitir uma mudança de valores, criando uma nova relação com a natureza e
o meio ambiente, o corpo e a mente (Kirig, Schrick, 2008).
KOUCHNER &LYARD (2001), advogam que o passeio pedestre, para a maioria dos praticantes,
é uma atividade de lazer informal e não uma atividade desportiva, e que a prática dominante
corresponde a pequenos percursos (duas a três horas) com pouca dificuldade, de forma circular
(com partida e chegada aio mesmo local).
Ao longo da história, as pessoas para o desenvolvimento das suas atividades, necessitaram da
implementação de apoios, que facilitaram a sua mobilização e a sua deslocação por terra. Até ao
seculo XIX a forma de deslocação era concebida e perfilava-se de acordo com os interesses
presentes ou tendo em conta as características dos utilizadores (Militares, Transumância,
Religiosos, etc), em todos eles existiam só duas formas de deslocação, a pé ou recorrendo ao
apoio de animais.
Figura 1 – Actividades pedestres na Serra da Freita
Portugal é um dos países da União Europeia, que tem a mais pequena rede de percursos
sinalizados e com a mais pequena rede de infraestruturas de alojamento para os utilizadores deste
tipo de atividades.
Em Portugal, a sinalização autorizada é o vermelho-branco-vermelho para os percursos de
Grande Rota e amarelo e vermelho para os de pequena rota. As cores normalmente utilizadas
para a sinalização na Europa de percursos pedestres que envolvam vários dias de digressão são o
vermelho e o branco, dado permitirem uma melhor identificação em qualquer estação do ano.
Figura 2 – Percursos Pedestres em Portugal e Espanha (Fonte : Mapa guía de senderos: Conoce España y Portugal
Caminando. FEDME)
No entanto, dado que cada país tem a sua própria estrutura nacional ou regional, não existe um
sistema de sinalização uniforme. Existem outros sistemas de sinalização envolvendo símbolos
aritméticos (=,+,-) geométricos ou figuras representando animais e até complicados símbolos
gráficos, com várias cores.
Figura 3 – Placa de Sinalização do Percurso Caminhos do Tejo em Constança
Os sinais podem-se apresentar, pintados em pedras isoladas ou rochas, em placas de madeira ou
alumínio implantadas no terreno, para que se encontrem bem visíveis.
Apesar das competências e dos esforços da FCMP, no sentido de promover o pedestrianismo em
Portugal e apelar à homologação e registo de percursos, os recursos reais existentes para a prática
desta atividade são bem mais extensos que os apresentados. De facto, existe uma grande
quantidade de percursos pedestres que não se encontram homologados e consequentemente não
integram o Registo Nacional de Percursos Pedestres (TOVAR,2010,53)
Tabela I – Ecopistas e reutilização de Vias-férreas em Portugal
Ecopista Linha/Ramal Ano de
desactivação
Extensão
(Km)
Utilização
(Km)
Troço
Utilizável
Abertura ao
Público
Rio Minho Ramal de Monção 1990 14 14 Valença-Monção 2004
Corgo Linha do Corgo 1990 71 9 Vila Pouca de Aguiar s/d
Sabor Linha do Sabor 1989 104 12 Torre de Moncorvo-Larinho 2006
Guimarães/Fafe Linha de Guimarães 1990 28 14 Guimarães-Fafe 1996
Ramal de Famalicão Linha de Famalicão 1990 10,2 10,2 Famalicão-Povoa do Varzim 2009
Vouga Linha do Vouga 1983 96 9 Sever do Vouga s/d
Dão Linha do Dão 1983 49 8 Viseu-Figueiró 2007
Mora Linha de Mora s/d 60 20 Évora-Sempre Noiva 2006
Montado Ramal de M.-.o-Novo 1987 13 13 M,-o-Novo-Torre da Gadanha 2009
3. ENQUADRAMENTO NA GESTÃO E UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO RURAL
A descoberta faz parte do passeio e caminhar é um meio de descobrir uma região, modos de
vida, o património natural, cultural, histórico, etc. Tudo pode servir de pretexto para a descoberta,
desde que o objecto da descoberta esteja próximo da natureza e tenha um caráter “autêntico”.
Prova disto é o sucesso dos passeios que incluam explorações agrícolas, com provas de queijo ou
de doces, bem como os circuitos de descoberta de vales e aldeias.
Quem diz “passeio pedestre” diz “itinerário”. Para além da sua imagem “natural”, um itinerário
de passeio pedestre constitui uma verdadeira infraestrutura, concebida e adaptada para esse efeito
específico, e obedece a determinadas regras. A concretização do itinerário no terreno traduz-se
depois na realização de obras, muitas vezes ligeiras, mas às vezes mais importantes.
Os grupos de acção local LEADER podem desempenhar um importante papel impulsionador no
lançamento da reflexão. Podem também assegurar a interface e a mediação entre os agentes.
(KARCHNER, F&LYORD J., 2001).
Caminhos antigos, de ligações entre lugares, de acesso aos terrenos de cultivo e aos espaços
florestais, de circulação de gado, mas também levadas, troços ferroviários desativados, caminhos
de peregrinação, vias percorridas por tropas na defesa do território, entre outras, são parte da
memória e da identidade das regiões e constituem um património histórico e cultural que importa
preservar e valorizar.
Aprender a caminhar com “olhos abertos”, observando o ambiente que nos envolve significa,
aumentar a própria confiança com a natureza, aprender a conhecer, amar e respeitar o mundo que
nos rodeia e a nele viver em equilíbrio e harmonia.
A principal especificidade (e dificuldade) do turismo de pedestre deriva da mistura de elementos
de natureza diferente, dado que uma parte dos seus elementos pertence à esfera não comercial:
trilhos e caminhos, paisagens, espaços naturais e património. Estes elementos são de difícil
quantificação e controle, dependendo frequentemente de responsabilidades cruzadas, onde se
misturam autarquias, o sector associativo e agentes privados
A floresta pode ser considerada como uma verdadeira central biológica- energética. As folhas das
árvores intercetam a luz do sol e utilizam-na como fonte de energia para viver e crescer; é assim
que cada ano são produzidas enormes quantidades de madeira, folhas, flores, frutos e sementes
que constituem o alimento de milhões de animais.
Conseguir caminhar, parando de quando em vez, sentindo o vento a passar entre as folhas,
observando os rastos deixados pelos animais, significa atravessar o meio ambiente com
conhecimento e atenção, bem como o enriquecimento do próprio espirito, em harmonia com os
ritmos da natureza.
O caminho de Santiago adquiriu notoriedade, desde que em 1988, foi considerado pelo Conselho
da Europa, como “o primeiro itinerário europeu”. Trata-se dum itinerário pedestre que desde
séculos é o fulcro do espírito da Europa. Um caminho rico de testemunhos artísticos e de
paisagem ainda intatas, envolvido dum fascínio único e fonte de atração de pedestrianistas
crentes ou não.
Figura 4 – Sede de acolhimento dos Peregrinos em Santiago de Compostela
Tabela 2-Estatistica de peregrinações do Caminho de Santiago (Fonte: Registro de la Oficina de Acogida de
Peregrinos Ano 2011)
Rotas de Peregrinação 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Caminho Françês 77,05% 84,53% 82,10% 80,57% 78,87% 77,46% 69,81%
Caminho Português 8,81% 5,86% 6,44% 7,11% 7,81% 8,20% 12,62%
Caminho do Norte 5,12% 4,24% 5,35% 5,15% 5,62% 6,29% 6,24%
Via de la Plata 4,31% 3,34% 3,51% 3,68% 4,08% 4,29% 5,17%
Caminho Primitivo 2,42% 1,03% 1,53% 2,22% 1,98% 2,32% 2,59%
Outras Rotas 2,29% 1,00% 1,07% 1,27% 1,62% 1,44% 3,57%
A avaliação do potencial envolve o exame do território: tipificação dos clientes, acessibilidade,
património, etc., sendo abordados elementos específicos do turismo pedestre:
a qualidade ambiental;
a importância dos meios naturais;
a presença de espaços naturais protegidos;
a variedade das paisagens num espaço restrito, à escala do ritmo do praticante;
a notoriedade do território;
a existência de praticantes pedestres.
Por outro lado uma reflexão sobre a clientela permitirá construir seguidamente uma oferta
relevante, adaptada à procura dos praticantes visados:
a conceção dos itinerários (comprimento, localização, etc.);
o nível das prestações;
a natureza dos serviços propostos (privilegiar ou não o acompanhamento).
Figura 5 – Ponto de apoio ao longo da Rota das Aldeias históricas (Foz de Égua
O conceito de itinerário de passeio não constitui uma entidade jurídica em si mesmo: um
itinerário utiliza vias, cujo regime é determinado pelo regime fundiário e pela função atribuída à
via.
A primeira questão a colocar quando se criam itinerários é a do estatuto das vias utilizadas: o
itinerário previsto passa por vias privadas ou públicas? Se as vias são públicas, é permitido o seu
acesso aos praticantes?
O quadro jurídico que rege os itinerários de passeio pedestre pode variar segundo o país,
nomeadamente em função das particularidades do direito fundiário e do regime das servidões de
passagem. O promotor de um projecto de itinerário de passeio não pode nunca deixar de proceder
a uma análise profunda e rigorosa destas limitações jurídicas.
Em caso de acidente, a quem deve ser solicitada a responsabilidade, ao utilizador, ao proprietário,
à entidade que realizou as obras de adaptação ou à autarquia local?
De acordo com (KARCHNER, F&LYORD J., 2001):
Um caminhante pode ter de responder pelo seu comportamento, se o mesmo for de molde
a causar prejuízos a bens ou pessoas.
A responsabilidade do proprietário de um terreno privado pode eventualmente ser
estabelecida, com base no princípio de que um proprietário é responsável pelo seu bem.
A entidade que efetuou as obras de adaptação do caminho pode ser posta em causa por
não ter assegurado a segurança dos caminhantes, devido a arranjos mal adaptados ou mal
realizados, a uma apreciação deficiente dos perigos objetivos ou ainda dos riscos a que os
caminhantes ficam sujeitos.
Teoricamente, a estrutura que emite uma informação que incita a percorrer um caminho
(guia do percurso, mapa, sinalética, etc.) pode ser acusada de emitir uma informação com
erros ou insuficiente.
Em geral, é a autarquia que se substitui ao proprietário no endosso da responsabilidade civil,
eventualmente incorrida por este último, devendo a mesma subscrever um seguro que deverá
cobrir os prejuízos eventualmente causados pelos utilizadores, é a esta que de um modo geral,
cabe a garantia da segurança dos cidadãos, devendo para esse efeito utilizar o seu poder de
polícia.
De acordo com a mesma fonte, na definição de um traçado entram em jogo múltiplos critérios e
algumas regras básicas que devem ser conhecidas:
excluir as vias alcatroadas, salvo excepções muito curtas;
procurar a diversidade de itinerários;
manter a coerência a nível da dificuldade do itinerário;
não sobrestimar as capacidades de deslocação e de orientação dos utilizadores;
privilegiar a qualidade das paisagens e do ambiente;
valorizar o património da região;
prever o impacto dos itinerários e evitar as zonas ecologicamente frágeis;
excluir os sectores potencialmente perigosos.
4. A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO NA PROMOÇAO E
COMERCIALIZAÇÃO DO PRODUTO TURISMO PEDESTRE
A promoção, divulgação e estruturação da rede de percursos, beneficia das novas tecnologias
ligadas à gestão de informação, nomeadamente dos Sistemas de Informação Geográfica, da
internet e dos desenvolvimentos multimédia, que potenciam a sua divulgação e o aumento da
procura pelos utilizadores e clientes do Turismo Rural.
Tabela 3 Inventário da RRN de Percursos Pedestres em Portugal, por NUTsII e III (2015)
Nuts II Nuts III Nº de
Percursos
Homol.
RNPP
Não
Homol.
Sinaliz.. Não
Sinaliz..
Doc./
Folheto
Coord. do
Percurso
Kml/
Kmz/
Pda
Alentejo Alentejo Central 34 4 30 24 10 33 34 31
Alentejo Litoral 34 22 15 32 2 33 24 23
Alto Alentejo 35 21 13 29 6 34 25 28
Baixo Alentejo 31 8 23 22 9 30 29 18
Lezíria do Tejo 5 3 2 5 0 5 0 0
Algarve Algarve 100 31 69 87 13 79 35 2
Centro Beira Baixa 32 12 21 32 0 26 21 3
Beiras e Serra da Estrela 33 13 20 26 7 24 0 14
Médio Tejo 15 1 14 12 3 7 2 0
Oeste 28 5 23 17 9 12 0 0
Região de Aveiro 18 4 14 10 8 10 9 0
Região de Coimbra 86 8 78 56 30 15 12 0
Região de Leiria 30 9 21 22 8 8 1 0
Viseu-Dão-Lafões 61 1 60 53 8 26 24 0
Lisboa Área Metropolitana de Lisboa 33 10 23 33 1 7 0 0
Norte Alto Minho 108 5 103 78 30 87 13 27
Alto Tamega 38 4 34 31 7 10 0 2
Área Metropolitana do Porto 34 7 27 29 15 12 5 0
Ave 40 4 36 28 12 20 10 11
Cávado 33 10 23 23 10 11 1 3
Douro 69 12 57 53 16 47 46 0
Tâmega e Sousa 36 6 30 5 31 25 20 0
Terras de Trás-os-Montes 58 4 54 43 15 54 25 24
O dispositivo de informação sobre os itinerários de passeio faz parte da oferta. Sem informação,
é como se o itinerário não existisse para o caminhante. A balizagem “acompanha” o caminhante
no terreno quase sistematicamente, sendo completada a maior parte das vezes por outros meios de
informação, sobretudo um guia do percurso e, mais recentemente, as páginas Web ou os CD-
ROM . (KARCHNER,F&LYORD J., 2001).
Figura 5 – Plataforma de consulta da ADERE-PENEDA_GERÊS
Qualquer atividade, envolve uma preparação física mínima adequada e um planeamento prévio
do percurso a ser efetuado utilizando cartas topográficas, Topo-guias, publicações disponíveis
sobre a zona ou a partir dos diferentes portais geográficos disponíveis na internet (ex: Bing
Maps, Googlemaps, Sapo Mapas, etc) ou a partir da utilização de visualizadores Web sig, open
source, como é o caso do SNIG ou do IGEO.
Figura 6 – Percurso em formato Kmz importado do site da CM de Nisa e sobreposição no Google Earth
Hoje em dia muita da informação temática de apoio ao planeamento e a utilização da rede de
percursos pedestres, pode ser consultada em sites de informação, plataformas websig, em
camadas Kml e Kmz do Google maps ou em ficheiros que podem ser importados para GPS ou
PDAs.
Muitas entidades que promovem a implantação e a sinalização de Percursos Pedestres, tem vindo
a implementar sites onde a informação pode ser acedida, bem como disponibilizam informação
com as coordenadas de localização do inicio do percurso, e em formatos passíveis de ser
importados para o Google Earth, ou para GPS, também neste sector turístico, já se entrou na era
da disponibilização de Serviços de dados geográficos.
Figura 6 – Percurso em formato Kmz importado do site da CM de Nisa e sobreposição no Google Earth
4. CONCLUSÕES
A utilização dos percursos pedestres e dos caminhos rurais acompanha a evolução das actividades
socioeconómicas nos territórios rurais. Depois de uma perda de interesse na primeira metade do
século XX, os percursos pedestres voltam a captar a atenção de um público transversal, agora
numa perspectiva de lazer.
A rápida evolução da utilização dos percursos pedestres como vias de comunicação para a
utilização como produto turístico evidencia a percepção das comunidades locais do importante
valor que aqueles podem incorporar nos territórios: não só valor económico criado diretamente e
indiretamente pela exploração turística, como também valor cultural, decorrente da identificação,
preservação e valorização do património construído, natural e imaterial e, ainda, valor social e
emocional, ao introduzir mais um factor de ligação da comunidade (rural e urbana) ao território.
Esta situação, sugere a necessidade de aprofundar diversos aspectos:
O tratamento destes percursos no âmbito das redes de comunicação (estatuto, direitos e
garantias);
Sem prejuízo de uma componente técnica marcada, o papel das comunidades locais como
actores privilegiados da definição do traçado, dinamização, conservação e manutenção
(matérias de gestão e governança e questões relacionadas com o carácter único da
experiência turística);
A motivação do visitante para ser igualmente actor no processo de conservação e
manutenção (compromisso cívico);
A articulação com outras vias e espaços (e actores) para evitar sobreposição de usos que
conduzam à degradação ou inviabilização do percurso pedestre (ex: lazer/agrícola);
A implantação e exploração integrada dos percursos como factor indutor de atividade
económica ou da sua diversificação;
A geometria dos percursos como factor estruturante de determinadas actividades do
território;
A necessidade de identificação dos percursos existentes e da sua apreciação em termos de
potencial e sustentabilidade para utilização turística (homologação e registo);
A oportunidade das TIC para potenciar (e tornar mais seguro) o pedestrianismo,
actividade muito dependente da informação disponível (antes, durante e depois da
experiência) e da promoção turística (marketing).
.
BIBLIOGRAFIA
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