a raios x - repositorio-aberto.up.pt · raios x (estudo cli^tioo) dissertaÇÃo inaugural...
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v^7 -Y- A
RAIOS X ( E S T U D O C L I ^ T I O O )
DISSERTAÇÃO INAUGURAL
APRESENTADA A
X S C Ó L A M E » I C O - C I K U K G I C A DO P O R T O
P O R
IttilZ Cândido Corrêa d'RBflflfiCHES
JULHO
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MDCCCXCVU IJSdCPR.EiNS.A. C O M M E R C I A L
29—Rua da Conceição—37
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ESCOLA MEEICO-CIRDE&ICA DO PORTO CONSELHEIRO-DIRECTOR
DR. WENCESLAU DE SOUZA PEREIRA DE LIMA SECRETARIO
RICARDO D'ALMEIDA JORGE
CORPO DOCENTE PROFESSORES PROPRIETÁRIOS
1.* Cadeira—Anatomia descriptiva o • n?* gera l lii. ' ■ ; "• ' • • J o ã o Pel 'eira Dias Lebre, o, CadeiraPhysiologia . . . . Antonio Placido da Costa. <s." Cadeira—Historia natural dos
medicamentos e materia me
4 . r £ í 2 L ' r.' , ; , ' •• •_! • • Ulidio Ayres Pereira do Valle. 4.» Cadeira—Pathologia externa e H . ^ L 6 ^ 6 ™ ' ^ ? * 1 6 " 1 * : • • Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5.« CadeiraMedicina operatória . Eduardo Pereira Pimenta. 6.» CadeiraPartos, doenças das
mulheres de parto e dos re
7»rS™ a Sp ad t° if i" •• ? »' ' • DrAgostinho Antonio do Souto. /.* Cadeira—Pathologia interna e
o. terapêutica interna. . . . Antonio d'OliveiraMonteiro. a. CadeiraClinica medica . . . Antonio d'Azevedo Maia.
in . CadeiraChnica cirúrgica . . Cândido Augusto Correia de Pinho, lu." Cadeira—Anatomia pathologin » pfa
D')r„' TIV Â, •' 'i ' i V • ' A u g u 8 t ° Henrique d'Almeida Brandão. 11.* cadeira—Medicina legal, hygie
ne privada e publica e toxico, » , v j w ï / _* / • ,■ Ricardo d'Almeida Jorge. 12." CadeiraPathologia geral se
meiologia e historia medica . Maximiano A. d'Oliveira Lemos rnarmacia Muno Freire Dias Salgueiro.
PROFESSORES JUBILADOS Secção medica. . . j J o s é d'Andrade Gramacho. „„„„. . . ' ' ( Dr. José Carlos Lopes. Secção cirúrgica pedro Augusto Dias.
PROFESSORES SUBSTITUTOS ão medica j J o ã o Lopes da Silva Martins Junior.
( Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. Secção cirúrgica . . . . ! Roberto Belarmino do Rosário Frias.
' j Clemente Joaquim dos Santos Pinto. DEMONSTRADOR DE ANATOMIA
cirúrgica Carlos Alberto de Lima.
A Escola nao responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.
(Begulamento ãa Escola de 23 d'abril de 1840, art. 155).
A MEUS PAES
A vós, que me haveis criado com todo o bafo do vosso amor, consenti que a primeira pagina d'esté meu trabalho seja offerecido e n'este offerecimento empenho toda a sinceridade do meu coração.
A MINHAS IRMÃS
A MEU IRMÃO
Os Irmãos dedicados são uma jóia tão preciosa, que bem raramente se encontra: Vós sempre o tendes sido e por isso eu orgulho-me de tão publicamente o declarar, tributando-vos aqui o meu amor e o meu reconhecimento.
Á MEMORIA DE MEUS AVÓS
í MEMORIA DE MINHAS PRIMAS
Felismina A. C. d'Oliveira E
Maria Henriqueta C. d'Oliveira
UfflA LAGRIMA SENTIDA!
AO ILL.™ E EX.mo SNR.
DR. JOAQUIM ARANTES PEREIRA
Eminente bacteriologista e digníssimo director do «Instituto Pasteur do Porto»
Se são grandes os favores que V. Ex.* me tem dispensado, também será eterno o meu reconhecimento.
0 vosso discípulo
Luiz Abranches.
A
k
Dans la plénitude du Donneur, chaque jour est une vie entière.
Goethe.
A M E M O R I A DE
RAYMUNDO COELHO DE SOUZA
A. M E M O R I A DO MEU CONDISCÍPULO
Manoel Correia i'Ataeiia
SAUDADE
AO ILL."10 E EX,m0 SN II.
Bernarftino ie Senna Vasconcelos A SUA EX.1"" ESPOSA
D. Maria ïAssmicao Ferreira ÏAlmeiia E A SEUS EX. m o s FILHOS
Antonio Lopes d'Almeida Vasconcellos E
Padre José Lopes dAlmeida Vasconcellos
AO MEU PARTICULAR AMIGO E CONDISCÍPULO
Casimiro Lopes dAlmeida \asc<nccllos
Um simples offerecimen-to do meu insignificante trabalho não é muito para quem tanto vos deve, mas sirva elle ao menos, para vos mostrar o apreço e a consideração em que vos tenho e ficarei contente-
A EX.»' SNR."
D. Maria Lnflovîna Je Souza Mello GEATIDÃO
AO ILL.™ E EX.»10 SNR.
Antonio Ferreira da Cruz A SUA EX. m a ESPOSA
D. Aurora Candida Ferreira da Cruz E A SUAS E X . m a s FILHAS
D. Maria Emilia Ferreira da Cruz D. Felisbela de Jesus Ferreira da Cruz
EESPEITO
A MEUS P R I M O S
Dr. Eduardo Corrêa d'Oliveira Conselheiro Antonio Augusto Corrêa d'Oliveira
E
Frederico Corrêa d'Oliveira
B
AOS MEUS AMIGOS
AOS MEUS CONDISCÍPULOS E EM ESPECIAL A
Joaquim da Silva Ramalho Albano Augusto d'Oliveira Francisco Ferreira de Figueiredo Leitão Miguel Carlos Moreira Abel Fernandes Baptista Vieira Pedro Pereira da Silva Guimarães Junior Torquato Ernesto Leite Brochado Illydio Monteiro Custodio Pinto João Ferreira Augusto Cardia Pires Cunha Pinto Antonio Corrêa Alves Antonio Henriques Álvaro Martins José Teixeira de Castro Guimarães
Cm abraço de despedida.
AO ILL.m0 E EX.m° SNK.
DR. JOSÉ CARLOS LOPES dislinclo lente jubilado da Escola Medica do Porto
Ser grato é o dever de todo o homem; eis. o que representa esta pagina.
AOS MEUS AMIGOS
Emygdio Corrêa d'Almeida Navarro Padre Manoel Joaquim Gomes Antonio Joaquim d'Almeida Esteves Arnaldo de Souza Dória
AO MEU ANTIGO CONDISCÍPULO
O ILL. m o K EX. m o SNR.
t Wmt glwpM0 um $má$$
AOS MEUS CONTEMPORÂNEOS E EM ESPECIAL A
Eduardo d'Almeida Esteves Figueira Antonio Augusto Fernandes Alberto José Baptista Antonio d'Almeida Trinta José Augusto Monteiro de Souza Machado Augusto José Gezar Massa Aurélio A. Rodrigues Seara Francisco José de Souza Eleuterio Santa Rita Agostinho Simões d'Oliveira Gomes Lino José dos Santos
AO MEU PRESIDENTE
Dr. Eduardo Pereira Pimenta
DA
ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO
I
H i s t o r i a
Século das luzes é o epitheto do século que dentro em dois annos vae findar; melhor epitheto não podia ter século em cujo cyclo se descobriram tantas luzes — a luz eléctrica, a luz da acetylena, etc.
E ao despedir-se de nós, este século tão scien-tifico e tão humanitaiio ainda quiz justificar o seu merecido epitheto, dando-nos a conhecer uma luz nova, que, abalando a optica, nos revela muito do invisível e nos leva a perceber o que está além dos corpos opacos, corpos que hoje perderam essa denominação.
E, ainda mal conhecida a descoberta dos raios Rõntgen, já as suas applicações são enormes: a medicina, a cirurgia, a hygiene e a industria já se apoderaram d'ella em proveito próprio.
Se é verdade que a descoberta do grande professor de Wiirzburg data de alguns mezes ape-
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nas não foi, porem, uma descoberta sem precedentes e feita de toute pièce.
Bastantes precursores teve Rõntgen, mas nenhum d'elles tão feliz como elle.
As primeiras tentativas operadas com o fim de obter imagens do invisivel datam de 1849.
Então Reichenbach tentou e conseguiu registrar sobre placas de daguerreotypo os vestígios dos effluvios odicos, fluidos que, segundo o sábio austríaco, se desenvolvem de todos os seres vivos, compostos chimicos, alguns imans etc. e que individuos chamados sensitivos percebem directamente na obscuridade.
Cito as suas proprias palavras nas Recherches physico-physiologiques (') a respeito das suas experiências.
«Pour me convaincre moi-même, autant que possible, s'il s'agissait bien là d'une lumière ou d'une autre espèce d'apparence perçue par les sensitifs, je désirai faire une experience avec le daguerréotype et voir si une plaque d'argent iodée pourrait être impressionnée. M. Karl Schuh, professeur libre de physique à Vienne, bien connu par ses recherches sur le microscope à gaz et par son habilité en daguerreotypie, voulut bien me prêter son concours. Il mit dans une
(') Eeichenbach - Eecherches physico-physiologiques 1849, traducção de M. E. Lacoste, em «O. Fluido dos ma-gnetisadores» pelo tenente coronel de Eochas d'Aiglun. Paris 1891.
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chambre noire une plaque iodée, en face de laquelle on plaça un aimant ouvert; au même temps, il disposait de même une autre plaque dans une autre chambre noire mais sans aimant.
Après quelques heures, il reconnut que la première plaque, après qu'elle eût été traitée par les vapeurs mercurielles avait été affectée par la lumière, tandis que la seconde ne l'avait pas été; mais la difference entre les deux était peu marquée. Pour mieux voir l'effet, il prit l'aimant, l'appliqua sur une plaque iodée, en prenant les plus grandes précautions pour éviter la moindre trace de lumière pendant la manipulation à l a quelle j'assistai; il plaça le tout dans une boite, que l'on glissa entre d'épais matelas et qu'on laissa là pendant soixante quatre heures. Reprise dans l'obscurité et exposée à la vapeur mer-curielle, la plaque laissa voir le plein effet de la lumière qu'elle avait reçue sur toute sa surface.
Il est donc évident, à moins que d'autres causes ne soient capables d'affecter les plaques photographiques après un temps considérable, qu'une lumière, faible il est vrai, et d'action lente, se dégage de l'aimant.»
Apesar dos esforços empregados não conseguiu elle convencer os sábios do seu tempo e por conseguinte a sua doutrina não despertou interesse algum, ficou isolada no auctor e com elle morreu.
A sciencia moderna, orientada por dados theo-ricos mais precizos, tomou de novo o problema,
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que diz respeito á fixação das imagens inacees-siveis á nossa vista.
Foi o estudo do espectro solar que conduziu os physicos a uma descoberta preciosa, a da transparência de certos corpos opacos a irradiações particulares, susceptíveis de influenciar as substancias chimicas da mesma maneira que a luz.
Explorando o espectro demonstraram que além da parte corada visível existiam outras regiões que eram caloríficas, aquém do vermelho, e chimicas, além do violete.
M. M. Chardonnet et Soret estudando especialmente a região ultra-violete reconheceram que se ella escapava á nossa vista era porque as irradiações que a compunham eram absorvidas pelos humores do olho, antes de chegarem á retina.
Em 1880 já Cornu notou que se pode obter effeitos de fluorescência atravez d'uma lamina de prata, deposta chimicamente, mas bastante espessa para deter os raios luminosos ordinários.
Pouco tempo depois, porém, M. Chardonnet observou também que uma lamina de prata, muito delgada, más bastante espessa para se op-pôr á passagem da luz, era perfeitamente permeável aos raios ultra-violetes e que era portanto possível obter uma photographia atravez d'es-sa placa.
Esta experiência foi realisada por M. Chardonnet em 1886, epocha em que por conseguinte foi obtida a primeira photographia atravez
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d'ura corpo opaco, conseguindo obter uma photographia do arco eléctrico, fechando uma lanterna de Dubosq, dentro da qual se encontrava o arco voltaico, por um obturador formado por uma delgada lamina de crown-glass prateado n'uma das faces; e uma reproducção á luz solar d'uma estatua de mármore de Carrara, atravez do mesmo obturador prateado, com um tempo de pose de 15 minutos.
Como se vê os raios ultra-violetes compor-tam-se, n'este ponto, como os raios descobertos pelo professor Rõntgen.
Querendo ser o mais completo possivel na historia da photographia do invisível, antes de Rõntgen, devo citar as experiências do Dr. Bou-det, de Paris, e de M. Tommasi, também em '1886, que lhe mostraram que o effluvio eléctrico (descarga obscura) permittia photographar sem o auxilio da luz. Tommasi collocava uma placa sensivel perpendicularmente a duas escovas me-tallicas que communicavam respectivamente com os dois pólos de uma machina de Holtz; com alguns minutos de exposição elle obtinha uma imagem. Ultimamente M. G. Moreau (3 de fevereiro de- '1896) conseguiu obter uma imagem de uma chave de aço, de uma roda de alumínio, etc., n'uma placa sensivel encerrada em uma caixa de cartão, collocada parallelamente á aigrette de uma bobina de Rhumkorff, obtida entre uma ponta ligada ao polo positivo e um pequeno plateau ligado ao polo negativo; não con-
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seguindo obter, porém, imagem alguma, quando a placa estava collocada perpendicularmente.
Ainda devo mencionar a experiência do professor de Praga, Ch. V. Zenger em 17 de Agosto de 1893 em Génova, que conseguiu á meia noite tirar uma photographia do Monte Branco, que elle via illuminado por uma luz amarello-esverdeada semelhante á côr que mostram os tubos de Crookes. 0 professor Zenger serviu-se para esta experiência de uma placa feita com collodio fluorescente, corado com chlorophylla; posteriormente obteve melhores resultados com placas orthochromaticas.
Hertz estudando os raios cathodicos demonstrou que estes raios tinham a particularidade de impressionar as placas photographicas exactamente do mesmo modo que os raios ultra-viole-letes do espectro e que alem d'isso, á semelhança d'estes, tornavam phosphorescentes certas substancias taes como ao platino-cyaneto de ba-ryo e atravessam varias folhas de metal perfeitamente opacas para a luz ordinária. Posto que, Ebert, Jaumann, Wiedeman, observassem que a faísca eléctrica produzida em tubos em que se havia feito o vacuo emittia irradiações susceptíveis de tornar phosphorescentes, a temperaturas muito baixas, um grande numero de substancias, é a Lenard, comtudo, discipulo e preparador de Hertz que cabe a honra de ser o primeiro que, com o auxilio dos raios cathodicos, obteve por meio do tubo de Crookes
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e atravez de corpos opacos imagens photographias . M. Lenard, seguindo os conselhos de Hertz, tentando fazer sair para a atmosphera os raios cathodicos desenvolvidos dentro do tubo fez o seguinte: construiu um tubo de Cro-okes munido n'uma das suas extremidades de um diaphragma de alumínio tendo de espessura três millesimas de millimetre que, apezar da sua pequena espessura, era entretanto opaco, evitando assim a passagem da luz ordinária, e resistindo também á pressão atmospherica. Produzindo no interior d'esté apparelho raios cathodicos de grande intensidade e dirigindo-os sobre a placa d'aluminio, Lenard observou que elles atravessavam a placa d'aluminio e que se difundiam na atmosphera, aqui reconhecidos pela ap-proximação de substancias phosphorescentes, as quaes se tornavam extremamente brilhantes; e pelo ennegrecimento rápido de placas photo-graphicas collocadas em frente da placa d'aluminio.
A hypothèse de Crookes sobre a materia irradiante foi o ponto da partida natural que conduziu o professor Rõntgen á sua magica e maravilhosa descoberta.
Foi o acaso o guia de Rõntgen na descoberta dos seus raios, acaso que porém nada tira ao valor da obra do grande physico bavaro pois que é quazi sempre assim que os grandes bemfeitores da humanidade têm descoberto uma verdade scientifica nova. Desprevenidos, elles
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encontraram por um feliz acaso essa verdade nova, apoderaram-se d'ella, reviram-n'a, finalmente fizeram-na passar pela fieira do sen muito saber e eis assim lançado na sciencia mais um facto e talvez mesmo uma theoria. Arago o grande não disse que em toda a descoberta scientifi-ca a parte do leão pertence ao imprevisto?
E a prova do valor da descoberta dos raios X está no enthusiasmo que ella despertou no mundo profano — as primeiras noticias que nos chegaram da descoberta vieram por intermédio dos jornaes políticos que logo começaram a dar noticias minuciosas das experiências de Rõntgen e das que se repetiam nos diversos paizes.
Foi em fim de Dezembro de 1895 que o professor Rõntgen fez a sua communicação á Sociedade physico-medica de Wúrtzburg e já em começos de Janeiro de 1896 os jornaes políticos (antes que os jornaes scientiíícos) faltavam e relatavam as experiências.
Repetindo Rõutgen as experiências de Cro-okes, Hertz e Lenard sobre os raios cathodicos, foi que o sábio physico conseguiu conhecer os seus raios. Eis como foi disposta a sua experiência.
Tomou um tubo de Hittorf, envolveu-o em papel negro; depois em face do tubo coberto, a 0,m20, a um metro, a dois metros, collo-cou successivamente uns écrans cobertos com uma camada de plantino-cyaneto de baryo. Ora estes diaphragmas tornaram-se brilhantes, phos-
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phorescentes, portanto certos raios atravessam o papel negro, assim como a luz atravessa uma vidraça. Continuando a sua experiência, já então dirigida em outro sentido, Rõntgen viu que o écran phosphorescente se illuminava mesmo atravez de vários baralhos de cartas, um grande diccionario de 1000 paginas, blocos de madeira de 0,m02 a 0,m03 de espessura, placas de alumínio de 0,m015 e placas de ebonite de vários centímetros de espessura.
Se mesmo a mão é collocada deante do écran phosphorescente a sombra dos ossos projecta-se em negro sobre elle. Estes raios extraordinários que atravessam tão completamente os corpos opacos derivam bem dos raios cathodicos, mas evidentemente não são os raios cathodicos ordinários.
Rõntgen, para abreviar a sua designação,—é a razão que elle apresenta na sua memoria—cha-mou-lhes raios X.
Logo depois Rõntgen começou a estudar as propriedades dos raios X e é-nos agradável ac-companhal-o na sua memoria sobre os pontos mais essenciaes :
Primeiro elle viu que a densidade é um factor importante da opacidade dos corpos, mas não é o único: «Prova-se isto empregando como écrans laminas de egual espessura de spatho de Islândia, de vidro, d'aluminio e de quartzo. O spatho d'Islandia mostra-se muito mais transpa-
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rente que os outros corpos bem que elle tenha a mesma densidade, approximativamente.
« Augmentandose a espessura, augmentase a resistência offerecida aos raios por todos os corpos. . .
«Bocados de platina, chumbo, zinco e alu
mínio em folhas foram preparados de modo a obter o mesmo enfraquecimento do effeito. 0 quadro junto dá as espessuras relativas e as den
sidades de folhas de metal equivalentes :
Espessura Espessura Densidade ■""» relativa
Plat ina. . 0,018 1 21,5 Chumbo. 0,050 3 11,3 Zinco. . . . 0,100 6 7,1 Alumínio 3,500 200 2,6
« Resulta d'estes valores que a opacidade não é proporcional ao producto da densidade pela espessura d'um corpo. A transparência augmenta muito mais rapidamente do que o producto não decresce.»
Rõntgen procurou, sem o conseguir, demons
trar uma acção calorífica dos raios X; com cer
teza esta acção existe visto que estamos em pre
sença de uma forma de energia, susceptivel de transformação ; o que, porém, pode darse é que a energia dos raios seja muito fraca.
O olho humano não percebe estes raios e
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Rõntgen pensa que a causa está na insensibilidade da retina, mas hoje parece provado que ainda que a retina fosse sensivel a estes raios elles ficariam invisíveis porque os meios do olho é que são opacos aos raios X.
A propriedade mais notável que Rõntgen descobriu nos raios X é a sua propagação de tal modo rectilínea que elle não chegou a encontrar desvio algum na passagem atravez d'um prisma, nem mesmo de uma columna de sal gemma, de zinco ou de prata pulverisados (*). Pareceu-lhe possível que a disposição geométrica das moléculas modificasse a acção que exerce um corpo sobre os raios X; se assim fosse o spatho d'Is-landia, por exemplo, poderia apresentar pheno-menos différentes, segundo a orientação da irradiação em relação ao eixo de crystal. Experiências feitas com o quartzo e o spatho d'Islan-dia não deram resultado algum.
O ponto de emissão dos raios Rõntgen é segundo o seu descobridor o ponto do tubo em que os raios cathodicos tocam o vidro; a partir d'esté ponto, a intensidade do seu effeito dimi-
í1) Kood diz que chegou a determinar uma reflexão dos raios X recebendo-os sobre uma folha de platina a 45.» e mantendo a ampola em actividade durante dez horas. A relação entre a acção directa e a acção reflecta, seria segundo es cálculos de Georges Brunnel somente d e WÃM'
c
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nue era razão do quadrado da distancia, a absor-pção pelo ar sendo tão fraca que pode ser desprezada pelo menos em primeira approximação.
De mais, desloca-se a origem dos raios X, actuando com o auxilio de um iman sobre os raios cathodicos, de modo a dirigil-os a um outro lugar do tubo.
Ròntgen pensa também que os novos raios sejam idênticos aos que emanam do cathodo, mas différera d'elles por varias propriedades importantes, principalmente pela acção do iman.
«O desvio dos raios cathodicos pelo iman é uma das suas características especiaes; Hertz e Lenard observaram que existe varias espécies de raios cathodicos, que différera pela sua propriedade de excitar a phosphorescencia, pela sua facilidade de absorpção e pelo seu grau de desvio pelo iman; mas observou-se um desvio notável em todos os casos estudados e eu penso que este desvio constitue um caracter que não se pode desprezar facilmente.»
Rõntgen viu depois que algumas substancias se illuminam sob a acção dos raios X e estudou a sua acção photographica.
«Eu confirmei d'esté modo muitas observações feitas primeiro examinando o écran fluorescente. E' aqui que a propriedade apresentada pelos raios X de passar atravez da madeira ou do cartão se torna util. A placa photographica pôde ser exposta á sua acção sem que se tenha de levantar a cobertura do chassis ou a caixa
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protectora, de modo que a operação não tem necessidade de ser feita no escuro. E' claro que as placas que não estão em experiência não devem ser deixadas na caixa na visinhança do tubo.
«Resta saber se a impressão sobre a placa é um effeito directo dos raios X ou um resultado devido á fluorescência da materia da placa. Pel-liculas podem ser impressionadas tão bem como placas seccas ordinárias.»
_ Eis o que nos disse Rõntgen sobre os seus raios, que immediatamente foram aproveitados não só pelos physicos. tentando, com elles e o seu estudo, buscar fundamento para as novas theorias da optica e da electricidade expendidas por Maxwell; mas também pelos práticos (medicos, cirurgiões, hygieuistas industriaes, etc., etc.) procurando tirar proveito das suas applica-ções.
Innumeros são os auctores que tem ligado o seu nome, em tão poucos mezes, aos raios Rõntgen, mas para não nos repetirmos reservamos para os capítulos seguintes (sobre a natureza e applicações dos raios X) citar os trabalhos posteriores a Rõntgen, mesmo porque é justo fechar com chave de oiro este capitulo—e essa chave não pode ser senão a citação que já fizemos do trabalho do sábio physico bavaro.
X>uas p a l a v r a s a c e r c a d a n a t u r e z a e o r i g e m d o s r a i o s X
«0 que são pois estes raios? Pois que não são raios cathodicos, poder-se-hia suppor, pela sua faculdade de produzir a fluorescência e a acção chimica, que elles são devidos á luz ultra-violete. Um conjuncto imponente de provas está em contradicção com esta hypothèse: Esta luz nova possue, com effeito, as propriedades seguintes:
<ia) Não se réfracta passando do ar á agua, ao sulfureto de carbono, ao alumínio, ao sal gemma, ao vidro ou ao zinco.
«b) Não se pode reflectir regularmente á superficie dos mesmos corpos.
«c) Não é polarisada por nenhum dos meios polarisantes ordinários.
«d) E' absorvida pelos différentes corpos, sobretudo em razão da sua densidade.
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«Isto leva-nos a dizer que os novos raios devera comportar-se de outro modo différente que os raios visiveis ou infra-vermelhos e os raios ultra-violetes já conhecidos. Isto parece bastante inverosímil para que eu tenha procurado fazer uma outra hypothèse.
«Parece haver uma espécie de relação entre os novos raios e os raios luminosos; pelo menos a producçâo de sombras, de fluorescência e de acções chimicas parece indical-o. Ora, sabe-se desde muito tempo que alem das vibrações que produzem phenomenos luminosos, é possível que vibrações longitudinaes se produzam no ether; certos physicos pensam mesmo que estas vibrações devem existir. Comtudo deve-se convir que a sua existência nunca foi posta em evidencia e que as suas propriedades não foram estabelecidas pela experiência.
«Estes novos raios não deveriam ser attribui-dos a ondas longitudinaes do ether?
«Eu devo declarar que & medida que continuava estas pesquizas, eu me acostumava mais e mais a esta ideia e permitto-me ennuncial-a,
' sem me dissimular que a hypothèse exige ser estabelecida mais solidamente» (l).
Transcrevemos estas palavras por serem de Rõntgen; façamos agora um pequeno estudo dos
(i) Kevue général des sciences pures et appliquées, 1896 n.° 2 pag. 63.
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raios cathodicos para então proficuamente avaliarmos a natureza dos raios X e suas propriedades.
As primeiras pesquizas systematica^ sobre os phenomenos que acompanham a passagem da electricidade atravez de um gaz 30b fraca pressão são devidas a Faraday (*). Estas experiências de Faraday são hoje repetidas nos cursos de physica com o apparelho productor do ovo eléctrico onde á proporção que a pressão baixa as faíscas eléctricas diminuem de brilho augmen-tando, porém, em frequência.
Pouco a pouco, ellas se transformam em aigrettes d'apparencia continua, (o ovo eléctrico) que também vão desapparecendo com o vacuo crescente até darem lugar a simples clarões cercando os dois pólos.
Abria em 1843 operando esta experiência em tubos cylindricos viu que o clarão que se produzia n'estes tubos era dividido em estratos equidistantes. Geissler em 1861 observou que uma descarga n'um tubo, em que o vasio era relativamente considerável, produzia effeitos luminosos e para isso mandou construir um tubo de vidro de trinta centímetros de comprido, fechado nas extremidades, as quaes, porém, eram atravessadas por fios de platina. Construindo estes tubos com vidro de variadas cores obtinham-se
(>) Experimental Researches 13.» serie 1838.
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colorações e phosphorescencias d'um effeito sur-prehendente.
Annos depois (1879) Crookes produzindo n'estes tubos um vasio muito mais elevado (a pressão era reduzida a algumas millesimas de atmosphera) observou que a descarga eléctrica dentro d'estes tubos produzia effeitos completamente différentes dos que tinham sido observados por Geissler. Em vez da fluorescência que, no tubo de Geissler, illumina o apparelho inteiro, á volta do fio ligado ao polo negativo cons-tata-se um espaço quasi escuro, e a região opposta do vidro manifesta effeitos notáveis de phosphorescencia. N'este espaço escuro entretanto existem raios capazes de impressionar uma substancia photographica, de tornar luminosos certos corpos phosphorescentes (vidro, rubi, diamante etc.), de produzir effeitos caloríficos e mecânicos—são os raios cathodicos. Crookes notou mais: que collocando deante do cathodo uma cruz d'aluminio via a sombra d'ella projectar-se sobre o fundo brilhante do tubo; que se entre os dois eléctrodos collocava uma roda, ao passar a descarga esta punha-se em movimento; que se a roda fosse substituída por uma lamina metallica inclinada dava esta origem, a um som perceptível quando o tubo era percorrido pela descarga. Estes raios são desviados pelo iman e produzem calor quando detidos no seu movimento.
D'estas experiências Crookes formulou a hy-
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pothese seguinte: que a materia contida dentro do tubo, onde o vasio é muito grande, era projectada violentamente do eléctrodo Degativo para o eléctrodo positivo, produzindo-se assim uma espécie de bombardeamento.
Foi d'esté facto que nasceu em Inglaterra a theoria da materia irradiante, e a hypothèse d'um quarto estado dos corpos : solido, liquido, gazoso e irradiante.
Dizia-nos o celebre mathematico inglez: Se se considera um gaz sobre a pressão ordinária, sabe-se que elle é formado por um numero enorme de moléculas accumuladas umas perto das outras e movendo-se livremente. Entretanto, em razão da immensa quantidade d'estes elementos primordiaes constitutivos dos gazes, os limites do percurso que uma molécula pôde fazer sem vir chocar-se contra uma outra molécula visinha são fatalmente extremamente reduzidos. Mas n'um meio rarefeito como o de seus tubos, o facto já não é o mesmo; aqui, com effeito, o numero das moléculas tendo diminuido emquanto que o volume do recipiente ficou constante, o comprimento medio do percurso livre de cada uma d'ellas cresceu proporcionalmente e por tanto o numero das collisões que tem lugar em um dado tempo tornou-se por assim dizer desprezável e então as moléculas podem seguir sem obstáculos os seus movimentos ou as suas leis proprias. N'este estado a materia apresehta-se
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sob um quarto estado que Crookes chama estado irradiante, o qual é tão ajfastado do estado gasoso como este o é do estado liquido.
Esta materia irradiante apresenta evidentemente propriedades características. Assim, sob a acção da descarga eléctrica, as moléculas que a compõem podem animar-se de movimentos muitíssimos rápidos de repulsão e de attracção dando então lugar a verdadeiros bombardeamentos moleculares, que se nos revelam por phe-nomenos luminosos, affectando formas diversas: bandas luminosas, aureolas, estratificações coradas, etc., e por phenomenos mechanicos.
Devo dizer que Crookes teve um antecessor nos seus trabalhos. Hittorf, que porém não conseguiu dar-lhes alma, razão porque na sciencia estas experiências são conhecidas pelo nome do primeiro.
Apezar, porém, do engenho das demonstrações de Crookes os sábios não adoptaram sem discussão as ideias do physico inglez.
Goldstein, Hertz, Wideman, Ebert, Jaumann e outros sábios instituíram também por seu lado experiências que abriram brecha na theoria cinética do quarto estado da materia.
Foi uma verdadeira lucta a que então se travou entre os sábios inglezes e os sábios allemães e que terminou com a victoria d'estes pelos memoráveis trabalhos do sábio húngaro Lenard, a quem o próprio Rõntgen, honra lhe seja, com
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uma elevada probidade scientifica, ao dar conta das circumstancias da sua descoberta, declarou como o seu verdadeiro percursor.
Finalmente a experiencia.de Lenard, que já descrevemos com minuciosidade no capitulo antecedente (pag. 29), trazendo os raios cathodicos para fora do tubo em que foram produzidos, veio mostrar sem replica possível a inanidade da theoria do bombardeamento molecular ele-va-nos a admittir estes raios como verdadeiros raios luminosos originados pelas vibrações do ether.
Logo depois se reconheceu que os raios cathodicos, invisíveis por si próprios, provocam, como já vimos a phosphorescencia de alguns corpos—o platinocyaneto de baryo, o pentade-cylparatolylacetona, uma mistura de sulfureto de baryo ou de cálcio com o oxydo de antimo-nio (Batelli e Garbano), o tungstato de cálcio cristallisado (Edison) e sobretudo o platinocyaneto de potássio, que, segundo Silvanus Thompson, seria em egualdade de circumstancias dez vezes mais fluorescente que qualquer outra substancia. Também se viu que estes raios impressionam as placas photographicas ; que o seu modo de propagação, pelo menos na atmosphera, não era rectilíneo ; que elles eram incapazes de penetrar os corpos opacos, mas deviam contor-nal-os ; que eram desviados pelo iman não só no ar mas também nos tubos de Crookes; que não eram sempre da mesma natureza e que, segun-
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do o seu estado, eram mais ou menos influenciados pelas acções magnéticas e apresentavam capacidades de phosphorescencia particulares. Ulteriormente J. Perrin mostrou ainda que os raios cathodicos eram sempre electrisados negativamente.
Eis os raios cathodicos com as suas propriedades, que balanceadas com as dos raios X nol-os mostram bem différentes.
Qual é, portanto, a natureza dos raios produzidos no tubo de Crookes concorrentemente com os raios cathodicos?
Rõntgen, como já vimos (pag. 38), diz-nos que os seus raios são devidos a vibrações longi-tudinaes do ether, vibrações já admittidas anteriormente por Jaumann e lord Kelvin.
Poincaré, (*) diz-nos que os raios Rõntgen são «um agente novo, tão novo como o era a electricidade no tempo de Gilbert, o galvanismo no tempo de Volta».
Na Inglaterra onde a' theoria de Crookes ainda conta partidários, enunciou-se a opinião de que os raios X são devidos ao movimento das moléculas materiaes.
São ainda as theorias de Tesla em acção e por isso iremos mesmo citar as palavras do au-
(>) Kevue générale des sciences pures et appliquées 1896 n.° 2 pag. 56.
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etor no Scientific American ('): «E' pouco duvidoso, hoje, que uma corrente cathodica n'um tubo seja composta de pequenas partículas de materia lançadas do eléctrodo com uma grande velocidade. A velocidade provável realizada justifica plenamente os effeitos mechanicos e caloríficos produzidos pelo feixe contra a parede do tubo ou do obstáculo que encontra. Alem d'isso é reconhecido que as porções de materia projectadas actuam como corpos não elásticos, innu-meraveis balas infinitessimaes. Pode-se mostrar que a velocidade da corrente pode attingir 100 kilometros por segundo e mesmo mais. A materia movendo-se com uma tal velocidade deve seguramente penetrar a uma grande profundidade nos obstáculos que ella encontra, se as leis da mechanica são applicaveis á corrente cathodica.
«A materia que compõem a corrente cathodica é reduzida a uma força primaria até aqui ainda desconhecida, porque taes velocidades e choques tão violentos nunca foram provavelmente estudados nem mesmo realisados antes que estas manifestações extraordinárias tivessem sido observadas. O ponto importante assignalado primeiro por Ròntgen e confirmado pelas pesqui-zas subsequentes, a saber: que um corpo é tanto mais opaco aos raios quanto mais denso elle é,
(*) Traducção feita por Jougla em La Vie Scientifique de 7 de Novembro de 1896.
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não saberia explicar-se d'uma maneira mais sa-tisfactoria que pela theoria considerando estes raios como correntes de materia. . . Uma prova decisiva da existência de correntes materiaes é fornecida pela formação de sombras no espaço a uma certa distancia do tubo. Estas sombras não poderiam ser fornecidas nas condições descriptas senão por corrente materia».
Esta hypothèse de Tesla q, ousada e temerária, jamais quando a theoria do bombardeamento molecular applicada aos raios cathodicos está muito escancellada.
Muitos sábios querem que os raios X sejam simplesmente produzidos pelas vibrações trans-versaes do ether, vibrações extremamente curtas e então seriam raios luminosos ultra-violetes. Esta ultima opinião tem o appoio de' Charles Henry, (l) distincto chefe de conferencias na Sorbonne.
Para Henri Dufour, (2) professor de physica na Universidade de Lausanne, os raios X teriam uma origem eléctrica: «as irradiações actinicas que emanam da superficie dos tubos de Crookes, diz elle, parecem ter uma oiúgem eléctrica; el-las constituem um phenomeno análogo ao efflu-
(') Sur les rayons Bontgen. Compte-rendus de l'Académie des Sciences, pag. 787, 1896.
(2) Observations sur la formation des rayons Eontgen. Eevue générale des sciences pures et appliquées n.° 4, pag. 193.
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vio eléctrico e actuam como taes sobre as placas sensíveis».
Zenger, muito mais radical ainda, affirma que os raios Rõntgen não existem e que as photographias apresentadas e feitas segundo a indicação do sábio professor de Wúrtzburg eram simplesmente devidas a «um phenomeno d'in-ducção eléctrica produzindo a phosphorescencia da gelatina e ao mesmo tempo a descarga eléctrica na mesma gelatina (das placas sensíveis) ; emfim a fluorescência do ar ambiente, como no caso da descarga em aigrettes (descarga escura) da electricidade. Na minha opinião são estes trez agentes que determinam a decomposição dos saes de prata na camada sensível ; não ha irradiação especial, raios X ou luz negra (*).» Esta opinião tem a sèu favor os trabalhos de Donato Tomasi de que já fallei a pag. 27.
Eis relatadas as opiniões reinantes na sciencia sobre a natureza dos raios X e por esta exposição vemos claramente que a materia não passou ainda em julgado.
Alguma coisa mais, porém, já se sabe sobre a origem dos raios de que me occupo.
Já conhecemos qual a opinião do prof. Rõntgen e que circunstanciadamente referi no capitulo antecedente a paginas 33.
(') Sur la production des silhouettes de Rõntgen, Compte-rendus de l'Académie des Sciences, 1896, n.° 8— 456.
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Mas esta opinião é contestada e começarei por citar a opinião de Heen de Liege, que nos diz que os raios X «emanariam do ânodo, quer dizer do polo positivo do tubo.
Para o demonstrar basta collocar entre o tubo de Crookes e a placa sensível um écran de chumbo atravessado por algumas aberturas per-mittindo a passagem dos feixes de raios.
A direcção d'estes sobre a placa indica que elles emanam do polo positivo e não do polo negativo—são, pois, raios anódicos» (')
Girard, director do laboratório municipal de Paris e F. Bordas affirmam que estes raios emanam, simultaneamente, do ânodo e do cathodo.
Para proval-o alojaram um tubo de Crookes no interior de uma caixa rectangular de madeira, inteiramente coberta de chumbo, e munida em cada uma das paredes e na parte media de um orifício circular de dois centimetros de diâmetro.
Depois servindo-se de placas sensíveis collo-cadas em face d'estes buracos viram estes dois illustres experimentadores que «os clichés fornecidos pelas partes lateraes do tubo de Crookes representavam a imagem do tubo com duas zonas circulares, correspondendo ao ânodo e ao cathodo» ; substituindo o diaphragma circular por outro estrellado «obtiveram sobre a placa uma
(') Carta dirigida em 13 de Fevereiro de 1896, ao Secretario perpetuo da Academia de Sciencias de Paris.
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imagem dupla da estrella»; se se intercepta por meio de uma lamina de chumbo, no interior da caixa «os raios emanando, quer do ânodo, quer do cathodo, obtem-se um só circulo sobre o cliché.» (x)
Ainda assim Jean Perrin ('), o princepe B. Ga-litzine e A. de Karnojitzky (3) não se consideraram convencidos e tentaram novas experiências que os levaram a admittir a opinião de Rõntgen.
Na verdade Perrin conseguiu verificar que os raios X se desenvolvem effectivamente sobre as paredes interiores do tubo, «mais geralmente nos pontos em que um obstáculo qualquer detém os raios cathodicos e não em outros pontos».
Se os raios cathodicos vêm a ferir o ânodo— como succède em alguns tubos de Crookes— pro-duz-se n'este lugar um ponto de partida para os raios X, ponto perfeitamente accidental e devi-
(') Ch, G-irard e F. Bordas-Sur les rayons de M. Eõntgen—Comptes rendus hebdomadaires des Séances de l'Académie des Sciences—séance du 9 Março 1896-pag. 605.
(2) Jean Perrin-Origine des rayons de Eõntgen. Comptes-rendus hebdomadaires des Séances de l'Académie de Sciencies-Séance du 23 Março 1896-pag. 716.
Í3) Prince B. Calitzine e A. de Karnojitzky-Becher-ches concernant les propriétés des rayons X—Comptes-rendus hebdomadaires des Séances de TAcadémie des Sciences-Séance du 23 Março 1896 p. 718.
D
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do unicamente ao ânodo ter servido de écran Sobre o qual vieram cahir os raios cathodicos.
Ainda assim esta pluralidade de opiniões mostra que o assumpto necessita ser batido para então trazer a convicção a todos.
Se mais ou menos conhecemos a natureza e o ponto da emissão dos raios X, passemos agora ao estudo da sua technica.
Ill
T e c h u i c a d o s r a i o s X
Não ha technica que era tão pouco tempo tenha feito tantas e tão radicaes modificações como a dos raios Rõntgeu e para provar esta minha affirmação basta lembrar que o tempo de pose, que ao começo era de 30 minutos e mais, hoje acha-se reduzido a 2 ou 3. Hoje, o exame dos ossos da mão, braços, etc., passa por um brinquedo de crianças, e a nova technica dirige-se antes ao diagnostico de lesões visceraes.
Mas, vejamos qual é a technica que se deve adoptar para applicar tão mysteriosos raios á medicina. Para isso dividirei o assumpto em va-rios sub-capitulos:
I Fonte de electricidade. II Bobina de inducção.
III Tubo de Crookes. IV Accessorios. V Parte photographica.
VI Radioscopia. *
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l—FONTE DE ELECTRICIDADE
A fonte de electricidade deve fornecer uma corrente continua, constante e sempre no mesmo sentido; esta corrente póde-nos ser fornecida por:
a) Pilhas primarias. b) Accumuladores. c) Uma machina eléctrica. d) Uma distribuição de corrente continua for
necida por uma fabrica central.
a) Pilhas primarias
Para o nosso fim—excitar uma forte bobina de Rhumkorff—convém empregar pilhas de alta intensidade, de uma grande constância e que possam funccionar durante um certo tempo sem necessitar de renovar os líquidos. As pilhas deBun-zen e as de bichromato de potassa são as que melhor preenchem estas condições, devendo-se, porém, preferir sempre a de bichromato, não só por desenvolver uma tensão de perto de 2 volts, mas também pela inocuidade relativa dos pro-ductos chimicos que consome e sobretudo porque não desenvolve emanação alguma desagra-
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davel ou nociva. Existindo vários modelos (Testas pilhas, nós devemos adoptar aquelle em que a resistência interna é menor e cujo funcciona-mento é mais fácil (que se esvazia e carrega mais rapidamente).
A pilha deve fornecer 10 amperes sob o volts, ou uma potencia de 50 watts. Se quizermos que a experiência dure vinte horas, sem que a pilha seja carregada de novo, deverá esta mostrar uma energia de 1000 watts-hora, isto é, 50 watts multiplicado por vinte horas. Sabendo nós que a pilha de bichromato de potassa dá, por kilo de bichromato consumido, approxima dam ente 300 amperes-horas, ou seja, sob pressão de 2 volts (força electro-motriz do elemento), 300x2=600 watts-hora; logo a quantidade de bichromato que devemos empregar é-nos dada n'este caso
pela formula SÍTT, approximadamente 2 kilos.
Ora, como cada elemento de pilha gasta 200 grammas, nós deveremos empregar, portanto, 10 elementos para gastar os 2 kilos de bichromato de potassa com o fim de obtermos o effeito desejado.
Apurado o numero de elementos necessários, vejamos agora qual será o agrupamento que devemos preferir. O que produzir corrente de maior intensidade e a este requesito satisfaz aquelle em que a resistência interna da pilha é egual á resistência externa.
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Designando a resistência interna de cada elemento por r—0,2 ohm, a equação de Ohm
tE=l/B-f--r \ com t q = 1 0 = n (I )
nos indicará qual o agrupamento a empregar. Como a resistência interna é egual á resistên
cia externa, logo:
- r = B = 0 , 5 ohm (resistência do inductor)
d'onde tiramos t r=Bq. Estas ultimas equações dão-nos:
t r = B - ou t 2 =n~ d'onde t = \ / n -t r V r
Substituindo os respectivos valores, temos:
Uzando agora a formula (1) e substituindo os valores conhecidos vemos que
10 0
Por este calculo achamos que o agrupamento
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em 2 series de 5 elementos é o que melhor nos convém pois que nos dá uma corrente de
I = - t E
B+-r q
' —10 amperes " 0 , 5 + | x 0 , 2 0 ' 5 X ° ' 5
Portanto 10 elementos de 0,2 ohms seriam suf-ficientes, mas entre a pilha e a bobina nós devemos empregar varias resistências (instrumentos de medida necessários e um rheostato destinado a manter a intensidade da corrente); demais é ouzado contar com a potencia maxima de uma pilha, pois que esta potencia pode baixar rapidamente algumas vezes e assim compromet-ter o resultado de uma experiência, logo devemos munir-nos de alguns elementos mais.
N'estas circumstancias é prudente adquirir 10 elementos de 0,2 ohm e agrupal-os em 2 series de 8 elementos cada um. A differença de potencial, nos bornes extremos da pilha será pouco
mais ou menos 10xR=10 „ 0,2=8 volts e a po
tencia fornecida 80 watts. Devemos fazer notar que o interruptor perió
dico, na sua marcha, augmenta muito a resistência do circuito inductor.
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b) Accumuladores
Os accumuladores ou pilhas secundarias são verdadeiros voltametros, que têm os eléctrodos formados por duas placas de chumbo de grande superficie, as quaes mergulham, muito perto uma da outra, n'uma solução de acido sulfúrico izento de arsénico.
Carregam-se os accumuladores por meio de uma corrente primaria de qualquer origem que, decompondo a agua, oxyda a lamina positiva e reduz a lamina negativa. Assim dá origem a uma força contraria electro-motriz de polarisação dos eléctrodos, que fornecerá logo depois, n'um circuito de utilisação uma corrente de descarga (secundaria) que é de sentido contrario ao da corrente de carga (primaria). A descarga reconduz as placas ao estado primitivo em que ellas podem receber uma nova carga, após o esgotamento.
Comportam-se assim como reservatórios de electricidade que a accumulant em grande quantidade para ser usada a propósito.
O emprego dos accumuladores na producção de raios X é, pois, absolutamente comparável ao das pilhas.
Todas as espécies de correntes de accumuladores podem servir, mas devem-se runir 5 ou 6 e agrupal-os em tensão pelo mesmo motivo que já expuz para as pilhas.
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c) Machina eléctrica
As machinas electro-estaticas sâo as que mais vulgarmente são empregadas. 0 seu uso dispensa a bobina; ellas directamente excitam o tubo de Crookes.
Comtudo esta fonte de electricidade apresenta muitos inconvenientes de valor: o seu gasto e a sua tensão estão longe de ser constantes, podem variar com varias razões, por exemplo a velocidade de rotação dos pratos e o estado hygrome-trico da atmosphera. Nunca se está senhor da machina e accontece frequentes vezes que a am-polla faz de condensador, carrega-se e quebra-se com uma faísca poderosa. Entretanto é justo também affirmar que estes inconvenientes provêm em maior parte da má utilisação que se faz das machinas estáticas; mas se fossem uzadas, encerrando a machina n'uma caixa de vidro contendo matérias exsiccadoras de modo a tornar constante o grau hygrometrico do meio ambiente e accionando-as por um motor mechani-co que lhes desse uma. velocidade rigorosamente constante, então o seu gasto seria sufficiente-mente regular para alimentar em condições ex-plendidas um tubo de Crookes.
Guilloz conseguiu tirar excellentes radiographias com a machina electrostática de Bonetti.
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d) Corrente fornecida pelas fabricas centraes
Em certas cidades pode o medico utilizar a corrente de uma fabrica que tem ordinariamente uma differença de potencial de 110 volts.
Esta corrente pode ser alternativa (constituída por uma serie de correntes que se seguem alternativamente em sentidos inversos, á razão de 30 a 40 por segundo); para as empregar é necessário attenual-as por meio de um rheostato collocado entre a origem e a bobina e só depois lançal-a na bobina induetora, mas estas correntes, á descarga no tubo de Crookes, produzem também correntes que passam alternativamente em sentido inverso e que por isso mesmo deterioram rapidamente os tubos de eléctrodos delicados, como os que se constroem presentemente para a radiographia; póde-se, porém, remediar este grave inconveniente por meio de um interruptor synchronico (diapasão que dá tantas vibrações, quantas mudanças de sentido comporta a corrente).
A corrente de 110 volts pode ser continua e então basta introduzir no circuito da fabrica a bobina induetora, um ampere-metro e um rheostato capaz de baixar o consumo a 10 amperes ou menos.
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II — BOBINA DE INDUCÇÃO
Bobina d'indueçao é um apparelho que tem por fim transformar uma energia electriea, que lhe é fornecida por uma corrente intensa, de baixo potencial, em uma energia eléctrica de grande potencial, mas de fraca intensidade.
Para obtermos esta transformação dispomos duas bobinas sobre o mesmo eixo.
A bobina interna ou inductor (bobina in-ductora ou primaria) é enrolada n'um cylindro de ferro. Pondo em communicação esta bobina inductora com uma fonte eléctrica o cylindro de ferro é fortemente magnetisado e em volta d'elle nasce um campo magnético muito intenso.
A apparição d'esté campo magnético, que passa repentinamente de zero a um alto valor de energia, é um gasto que repparece na bobina externa ou induzida originando uma corrente induzida de grande energia, mas sempre inferior á corrente inductora e em sentido contrario. Abrindo ou fechando o circuito inductor, apparecerá na bobina secundaria uma corrente induzida directa do mesmo sentido que a do inductor.
Tanto a corrente induzida directa como a inversa são eguaes em quantidade, mas a sua força electro motriz é différente. A corrente induzida directa é muito maior do que a inversa.
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A corrente induzida inversa é tão fraca que affastando ura pouco as extremidades do fio induzido a corrente não passa; pelo contrario a corrente induzida directa produz-se mesmo que os dois topos do fio estejam affastados alguns decimetros.
Fechando e abrindo alternativamente a corrente inductora produz-se uma serie de correntes induzidas que têm todas o mesmo sentido assim como as descargas produzidas entre os dois fios, correspondendo cada uma das suas extremidades aos pólos da bobina, tendo o mesmo signal que elles, e podendo mudar de signal logo que se inverta o sentido da corrente inductora— o que é de grande utilidade para os tubos ra-diographicos, como veremos em tempo oppor-tuno.
Qual é a dimensão absoluta que deve ter uma bobina destinada ao fim que temos em vista?
Será aquella que dér pelo menos uma faisca de 5 ou 6 centímetros de comprimento, limite inferior, mas na pratica estas bobinas são in-sufficientes e nós devemos preferir antes uma bobina que dê 10 a 12 centimetres de faisca. Quanto maior, porém, fôr a bobina, maior energia util temos e por isso mais vantajosa se torna na pratica ; por isso o limite superior não pôde ser dado por ora.
Ha bobinas que dão faíscas desde 25 centímetros a um metro de comprido, mas estas ul-
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tiraas, além de serem caras, são de difficil transporte ; na pratica medica bastar-nos-ha uma que dê 30 a 45 centímetros de faisca.
Toda a bobina d'inducçao deve ser acompanhada d'um interruptor periódico e d'um condensador, de que, porém, me occuparei no sub-capitulo dos accessorios.
III — TUBOS DE CROOKES
São tubos de vidro ( l) de formas variadas, nos quaes o vacuo é tão perfeito quanto possivel. (') Estes tubos têm soldado ás suas paredes dois eléctrodos, um positivo ou cathodo e outro negativo ou ânodo. 0 cathodo é formado por um
(') As différentes espécies de vidro não apresentam a mesma transparência aos raios X; segundo Chabaud, os vidros com base de soda, potassa e cal e o vidro allemão, dando uma fluorescência verde, são relativamente muito transparentes; o vidro de urânio é um pouco mais opaco, mas o crystal, que dá uma fluorescência azul, é muito opaco, o que se explica facilmente pela presença do chum. bo. Por isto se vê que nem todos os vidros servem para a fabricação dos tubos de Crookes.
(3) Para que uma ampolla funccione convenientemente é essencial que o seu vacuo corresponda a uma pressão comprehendida entre T ^ e ™ de millimetre de mercú
rio.
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longo fio de platina que se continua para o interior do tubo, por um disco d'aluminio ao qual se dá uma curvatura propria. 0 anódo quando' termina internamente por um disco de platina, este disco toma o nome de anticathodo ou focus (1). Fora do tubo os fios de platina dos dois eléctrodos formam um pequeno annel no qual se faz passar a extremidade do rheophoro do mesmo signal (conductor' do induzido). 0 tubo de Croo-kes é munido d'um tubo cylindrico estreito por onde se faz, por meio de uma bomba, o vacuo tão perfeito quanto seja possível no interior do tubo (ordinariamente uma millionesima de atmos-phera), servindo também para o fixar no supporte.
Os tubos com vacuo destinados a obter radiographias devem ser construídos de maneira que os raios cathodicos, emittidos por cada ponto do cathodo, perpendicularmente á sua superficie, venham convergir a um mesmo ponto denominado foco anticathodico ou focus, o qual deve estar situado sobre a lamina.
As ampollas (tubos de Crookes) para a radiographia tem sido sempre fabricadas segundo as regras das três theorias seguintes :
í1) ' O anticathodo pôde ser o próprio vidro (tubos da l.a serie), pois como vimos já os raios X tomam origem no ponto em que um obstáculo qualquer se oppõe á passagem dos raios cathodicos.
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1 .a Bazea-se na acção directa da irradiação (é a mais antiga).
2." Utiliza a acção dos raios cathodicos reflectidos (dá uma grandíssima rapidez em radiographia).
3." Combina as duas primeiras theorias (os tubos assim fabricados produzem o instantâneo).
Os primeiros tubos, os das primeiras experiências, eram de acção directa, utilizavam os raios emittidos pelo cathodo e passando atravez da parede do vidro para ir n'uma direcção rectilínea impressionar a placa sensível.
A segunda serie de tubos, a que fornece os magníficos resultados conhecidos até hoje, tem por principio a theoria da reflexão dos raios cathodicos. Por um phenomeno de galvanoplastia, as moléculas metallicas volatilizadas ficam sobre o espelho e só os raios cathodicos, izentos de toda a poeira metallica, vêm atravessar a parede da ampolla. Estes tubos, que fizeram diminuir consideravelmente o tempo de pose, compõem-se essencialmente de dois ânodos e um cathodo ; um dos ânodos é formado por um disco de platina, de forma qualquer, com uma inclinação de 45.° (chamado espelho), que reflecte totalmente os raios cathodicos. A' custa de innumeras experiências foi que se conseguiu vêr que, nos tubos da primeira serie, o metal volatilizado era projectado contra a facevinterna do vidro, que acabava por metallizar-se, diminuindo assim len-
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tamente, a força dos raios e chegando mesmo a detel-os (*).
A terceira serie, cuja theoria foi habilmente exposta por Georges Brunnel (a), e em que o au-ctor combinou as duas theorias anteriores, é composta de tubos que têm dois ânodos e dois cathodos ou vários ânodos ou cathodos.
Innumeros são os modelos apresentados e somente me referirei ao nome dos auctores, pois que é impossivel n'um modesto trabalho como o meu fazer a descripção de todos elles; mas ainda assim apresento na estampa I as suas formas»
Eis, pois, os nomes dos auctores das ampol-las mais conhecidas, catalogadas segundo a classificação que fiz mais acima:
/.a serie.—Crookes (vários modelos) Rõntgen (idem); Seguy (idem) Wood; d'Arsonval (dois modelos), Chabaud e Hurmuzescu, Puluj Le Roux, Colardeau, Hard e Kiss (dois modelos).
2." serie.—Seguy (vários modelos) Silvanus Thompson, Le Roux (dois modelos) Brunel-Se-guz, Jackson e o tubo iriglez «Penetrator».
(') Os metaes não são transparentes aos raios X e mesmo pouco são os que não lhe oppõem grande resistência á passagem.
(2) Conferencia—Nouvelles scientifiques et photographiques. Abril de 1896.
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3." serie.—Rufz, Seguy (dois modelos) Muret e o tubo da «Algemeine Electricitãts Gesell-schaft» de Berlim.
Mas na pratica basta simplesmente dividir os tubos em dois grandes grupos:
1.° Tubos fracos. 2.° Tubos fortes. Os tubos fracos, systema Colardeau, suppor-
tam apenas faíscas de 5 a 6 centímetros de comprido e são utilisados para obter radiographias de corpos de pequena espessura.
Os tubos fortes são munidos d'um ânodo sup-plementar para diminuir a resistência eléctrica do tubo e são empregados para obter radiographias atravez de corpos de grande espessura, visto que supportam faíscas de 20 a 50 centímetros de comprido.
Alteração de tubos de Crookes. —As ampollas não tem uma duração indefinida porque o seu continuo funccionamento altera-as de modo tal que a producção regular dos raios é prejudicada, ou mesmo aniquilada; além de varias causas que concorrem para a sua alteração, duas são as principaes:
\." E' devida a um transporte daluminio do cathodo para o ânodo ou para as paredes do tubo, formando sobre elles um deposito impalpável d'esté metal. Este deposito apresenta-se com t m a côr violete, a principio, e mais tarde acastanhada. Estas manchas absorvem, posto que em
E
(Mh
pequena quantidade os raios J. e portanto pouca attenção nos deve merecer. '■>
2." E' devida á resistência eléctrica no interior do tubo, que augmenta progressivamente com o uso. Este augmento de resistência é devido á absorpção do gaz residual pelas paredes do tubo e pela lamina cathodica, Em virtude d'esté augmento de resistência, veêmse, passado algum tempo, faiscas passar d'um reophoro para o outro, ao lado do tubo, atravez da atmosphera.
Esta alteração que é muito séria retardase limpando muitas vezes a poeira deposta sobre a superficie, guardando o tubo n'um logar bem secco e operando n'uma atmosphera quente a secca; ou então aquecendo o tubo a uma lâmpada d'alcool, antes de o pormos a funccionar. Este ultimo meio é difficil de executar e reclama muito cuidado para não se dar um aquecimento desigual, que fende facilmente as soldaduras.
Visto que este aquecimento é assim tão melindroso ura outro meio temos para o fazer e consiste em submetter, durante um certo tempo, o tubo a uma serie de descargas a principio fracas, depois mais fortes e, de quando em quando, mudandolhe o sentido das correntes. Por este artificio o ar do interior do tubo se aquece, a sua resistência diminue, e as partes solidas, em virtude do • aquecimento, expulsão uma parte do gaz absorvido. Por este modo o tubo torna a adquirir as suas propriedades primitivas.
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Um outro processo consiste em aquecer o tubo n'uma estufa de modo que o calor chegue a este muito lentamente, espalhando-se n'elle uniformemente, e em seguida deixa-se resfriar também lentamente. Uma hora a 100.° bastará para a primeira passagem pela estufa, mas se não fôr suficiente elevar-se-ha a temperatura a Iõ0.°, 200.°, 250.» e 300.°. Este processo é o preferido porque é o mais seguro e o mais pratico.
Ainda para augmeutar a vida dos tubos Ed. Guillaume, eminente adjunto no Bureau International des Poids et Mesures, de Paris, ba-zeando-se na propriedade que possue o palladio de absorver em grande quantidade o hydroge-nio e de o restituir, em parte, quando aquecido, suggeriu a Chabaud o introduzir nos tubos uma pequena placa d'esté metal. Esta peça de metal está collocada n'uma pequena ampolla lateral, que pode facilmente ser aquecida isoladamente por meio d'uma lâmpada d'acool; esta lamina de palladio representa o papel d'um terceiro eléctrodo independente. Os tubos assim fabricados são lavados internamente com hydro-genio; o excesso de gaz é absorvido pelo palladio e, no momento em que o tubo se torna resistente, aquece-se a ampolla accessoria com precaução.
Qual o meio de avaliar a força de ura tubo? A melhor maneira de experimentar um tubo
de Crookes, isto é, constatar o seu rendimento aproximativo em raios X, consistiria evidente-
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mente em realisar uma operação com este tubo e vêr se a sua efficacia é real, mas póde-se também empregar um methodo baseado no poder que possuem as irradições Rõntgen de descarregar os corpos electrisados (x). Para nos assegurarmos, pois, do bom funccionamento d'um tubo não teremos mais que ligal-o a uma bobina de Rhumkorff e approximar d'elle um electrosco-pio carregado; a descarga deve fazer-se em dois ou trez segundos.
Para o mesmo fim podemos também servir-nos de écrans phosphorescentes.
Existe ainda o processo de Imbert e Bertin-Sans, (3) de Montpellier, para reconhecer o valor de um tubo e também o valor relativo das diversas regiões do mesmo tubo, mas consideram ol-o pouco pratico pai'a os clinicos, sendo para estes sufnciente os dois methodos já expostos.
Alguns authores propoem-se, para augmen-tar o rendimento dos tubos em raios X, collocar dentro d'elles ou cobrir o anticathodo com substancias luminicentes: Silvanus Thompson cobre o anticathodo com um esmalte contendo sulfu-
X1) Perrin demonstrou que os raios X tinham a curiosa propriedade de descarregar os corpos electrisados sem ter a necessidade de estar em contacto com elles; o que nos leva a pensar que para os raios de Kõntgen, os bons tubos gozam p papel de conductores..
{2)' La «Presse Médicale» n.° 55, 8 de Julho de 1896.
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reto de cálcio; Piltschikoff emprega somente substancias phosphorescentes nas ampollas; Edison para o mesmo fim asa o tungstato de cálcio; comtudo esta pratica não se generalisou e parece mesmo não ter grande influencia sobre o rendimento dos tubos.
Imbert, Bertin-Sans, Kœnig e outros preco-nisam, para augmentar a nitidez das imagens o emprego de diaphragmas de metal ou de vidro espesso, não deixando passar senão um pequeno feixe de raios; é evidente que quanto menor fôr a abertura do diaphragma tanto mais nitidas serão as sombras, mas pelo contrario a intensidade é diminuída e o tempo de pose deve ser au-gmentado.
IV — ACCESSORIOS
Entre os accessorios devemos estudar:
a) 0 condensador. b) O interruptor periódico. c) Os rheostatos. d) Apparelhos de medida. e) Conductores.
a) Condensador
O condensador, collocado no sócco da bobina, é constituído por uma serie de folhas de es-
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tanho sobrepostas e isoladas entre si por folhas maiores de mica, papel paraffinado, gutta-per-cha ou seda; todas as folhas de estanho de números pares estão reunidas entre si e com uma das extremidades do circuito inductor; do mesmo modo as folhas impares estão em communi-caçâo entre si e com a outra extremidade do fio inductor. O uzo do condensador foi proposto por Fizeau; o seu fim é attenuar a faisca de ro-ptura de corrente, que pouco a pouco consome as superficies de contacto do interruptor e que algumas vezes mesmo pode trazer a sua soldadura, parando então o apparelho e estragando-o. O condensador consegue este fim, aproveitando uma parte da corrente em carregar-se.
b) Interruptor periódico
Não ha prezentemente modelo algum no commercio que possa convir a todas as applica-ções dos raios X.
Podemos classificar os interruptores em lentos e rápidos.
Dos primeiros temos um exemplo no interruptor de Foucault; dos segundos todos os interruptores sólidos.
Desnecessário é descrever estes interruptores, que são conhecidos de todos e só me referirei aos mais uzados, citando-lhes os nomes e alguma particularidade digna de menção.
O interruptor de Foucault, hoje, já não é
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uzado embora todos os fabricantes (Richard-Ch, Heller, Gaiffe e d'Arsonval,Chabaud e Radiguet) lhe tenham feito modificações importantes; qua-zi outro tanto se pôde dizer do interruptor com metronomo (Chabaud e Gaiffe), que ainda assim tem admiradores.
Os interruptores hoje mais adoptados são o phonotrembleur de Radiguet e o interruptor rotatório de d'Arsonval e Gaiffe.
A bobina com que trabalhei e que existe no Instituto Pasteur do Porto tem o phonotrem~ bleur de Radiguet, que funcciona muito regularmente.
c) Rheostatos
Os rheostatos são apparelhos que se intercalam no trajecto da corrente para a estorvar e assim fazer com que o apparelho deante do qual se colloca, não receba senão a quantidade de electricidade de que elle necessita para funccionar convenientemente. São formados por corpos pouco conductores e que a corrente experimenta difficuldade em atravessar.
Em qualquer installação é necessário ter um rheostato bem installado, afim de poder dar a cada tubo o cumprimento de faisca—intensidade de corrente—que lhe convém. Sem isto os tubos deterioram-se rapidamente ; demais é necessário que nas platinas do interruptor não haja cham-ma notável.
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O rheostato com que trabalhei é o de Radi-guet, cuja excellencia pude reconhecer.
d) Apparelhos de medida
São essencialissimos para quem deseje trabalhar com precisão e certeza absoluta e mesmo para não expor o tubo de Crookes a correntes excessivas, que o podem deteriorar.
Estes apparelhos são o volt-metro que indica a pressão ou força electro-motriz, ou differença de potencial que existe nos bornes da bobina 6 o ampere-metro que marca a quantidade de electricidade que passa pelos conductores.
e) Conductores
Os fios conductores destinados a estabelecer as ligações eléctricas devem ser fios flexíveis, isolados e cobertos de seda, como os que se empregam na illuminação eléctrica. Os que se destinam ás correntes de grande intensidade da bobina inductora deverão ser escolhidos bastante grossos para supportar as mais fortes correntes em uzo (10 amperes) sem se aquecer; os que conduzem as correntes induzidas de alto potencial,—mas de fraco gasto, podem ser finos, mas devem ser bem isolados,—os do commercio têm um isolamento insuffiçiente para evitar as fais-cas, logo que se passa na sua visinhança.
Buguet acconselha, para remediar este in-
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conveniente, introduzir os fios conductores em tubos espessos de borracha—os que ordinariamente servem para ligar uma trompa a um vazo em que desejamos fazer o vacuo—, assim evitam-se as grandes faíscas que dão commoções desagradáveis e algumas vezes até perigosas.
f) Supportes isoladores
Para completar a installação ainda devo falíamos, supportes que servem para segurar o tubo de Crookes, ás vezes os conductores, e o écran.
Os melhores são feitos de madeira tendo um pezado pedestal de ferro.
V —PARTE PHOTOGRAPHICA
Eis impressionada a chapa photographica (*) ; a successão dos phenomenos para a impressiona ção da chapa descrevo-os a pag. 79 e 80.
I) Revelação
Agora transportamos a chapa na sua caixa protectora para a camará escura, pequeno quar-
(*) Uzei sempre chapas de E. W. Thomas & C.° de Londres, vindas directamente para o Instituto Pasteur do Porto.
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to, onde a luz natural ou artificial penetra atra--vez de dois vidros : um alaranjado e o outro ver-melho-rubi.
Para proceder ao desenvolvimento, mergulha* se a placa sensível no banho revelador que foi deitado antecipadamente n'uma cuvette e deixa-se ahi até que a imagem tenha apparecido com todos os seus detalhes—então ella deve ser qua-zi negra, o que verificamos olhando, a placa por transparência, contra a luz. Depois lava-se cuidadosamente sob uma corrente d'agua e mergu-lha-se no banho fixador. Empreguei sempre um banho novo para cada cliché, ainda que o mesmo banho possa servir para revelar 2 ou 3.
A placa está fixada, quando nenhuma parte branca existe á sua superficie, o que se vê melhor por trausparencia, na parte sem gelatina; então lava-se de novo e a placa passa para uma solução saturada de alúmen (onde ella fica durante alguns minutos), que torna a gelatina im-putrescivel, dando-lhe mais transparência e pren-dendo-a mais ao vidro.
Do banho de alúmen vae a placa para uma grande cuba contendo agua da chuva ; ahi con-serva-se a placa durante 10 a 12 horas, mudando a agua 2 ou 3 vezes, o que tem por fim dissolver todos os vestígios do fixador. Tirada a placa da agua deixa-se seccar expontaneamente, podendo-se depois de secca passar á impressão sobre papel.
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a) Reagentes
Como revelador empreguei o revelador Cris-tallos e a formula de Van Heurck (*).
Hydroquinona 9 gram. Sulfito de soda, chimicamente puro. 50 gram. Carbonato de soda, idem 50 gram. Brometo de potássio 2 gram. Agua distillada 1 litro «ísina 1 cgram.
Esta ultima formula é muito lenta (15 a 20 minutos) mas dá provas magnificas.
Alguns clichés fracos tive de os reforçar e uzei então o soluto de bichloreto de mercúrio a 5 °/o com 5 gr. de sal de cozinha.
O fixador foi o clássico hyposulfito:
Hyposulfito de soda 200 gram. Bisulfito de soda 50 gram. Agua 1 litro
II) Impressão no papel
Ordinariamente a impressão era feita por photographes, mas algumas vezes fil-as eu e n'este cazo estão as provas que apresento.
(') Dr. Henri Van Heurck—La technique et les ap~ plications diverses des rayons X—1897, pag. 71.
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O cliché era coberto com uma folha de papel sensível tendo voltada a face sensível para a face da placa que tem a gelatina. Assim era exposta á luz n'um chassis-prensa e, quando a impressão chegava ao ponto que queria, tirava a folha de papel e mergulhava-a no banho de viragem, onde se conservava até adquirir o tom desejado, que se fixa no banho de hyposulfito. Fixada a prova deixa-se mergulhada n'um banho de agua pura, que deve ser renovada varias vezes, durarÊe 24 horas; secca a prova pode ser collada.
Reagentes
Banho de viragem
Agua 4 litros Chloreto de oiro 1 gram. Hypochlorite de cal 1,5 gram. Greda q. b. para tornar o
banho alcalino
Banho fixador
Agua 100 gram. Hyposulfito de soda 15 a 20 gram.
VI—RADIOSCOPIA
Já desde 1600 que na Italia se descobriu que certos corpos têm a propriedade de tornar-se
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phosphorescentes e fluorescentes sob a acção da luz, mas até hoje o phenomeno fica sem explicação. Um facto singular foi que nos poz em face d'esta propriedade de certos corpos: uma pedra havia sido calcinada e depois de ter sido exposta á luz viu-se que elle emittia reflexos luminosos na obscuridade ; era o sulfato de baryta que tinha sido transformado em sulfureto de baryo pela calcinação.
Ak irradiações ultra-violetes têm uma acção notada sobre a phosphorescencia; os raios X gozam em alto grau das mesmas propriedades.
Foram Salvioni, de Peruza, e Edison os primeiros constructores de écrans, formados por uma folha de papel grosso coberta por uma camada regular—o mais homogénea possivel—de uma substancia fluorescente e presa a um quadro de madeira. Collocando entre este écran e a ampolla o objecto a examinar e collocando-nos na obscuridade, vê-se iramediatamente as sombras dezenhar-se sobre o écran; assim se a mão fôr collocada entre o écran e a ampolla os ossos mostram-se nitidamente e instantaneamente.
Não querendo ficar na obscuridade póde-se mandar fixar o écran a uma camará escura, munida na face opposta ao écran de dois orifícios próprios para lhe adaptar os olhos, ou então, melhor que isso, adoptar o conselho proposto por Van Heurck (*): «mandar fazer uma espécie de
'"< (!) Dr. Henri Van Heurck-Loc. cit. pag. 88.
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guarita de madeira espaçosa com as faces anterior e posterior fechadas por meio de um panno espesso e negro, bem distendido. 0 paciente fica no exterior e o observador colloca-se no interior.»
A producção da imagem é instantânea ; para este effeito deve-se empregar bobinas e ampol-las mais poderosas que para a radiographia.
Muitas substancias têm a propriedade de se tornarem fluorescentes, mas as mais empregadas são :
a) Sulfureto de zinco phosphorescente (Ch. Henry).
b) Platinocyaneto de potássio (Silvanus Thompson).
c) Saes de urânio (Henri Becquerel). d) Platinocyaneto de baryo (Rõntgen). e) Tungstato de potássio (Edison),
f) Tungstato de cálcio (Edison). g) Fluoreto duplo de uranyla e d'ammonio
(Dr. Edm. "Van Melckebeke).
As condições essenciaes, para que estas substancias prestem real serviço na radioscopia, são: que sejam perfeitamente crystallisadas e bem pulverisadas.
O Écran para prestar bom serviço deve ter a camada phosphorescente bem egual e homogénea.
Este novo processo de investigação veio prestar um grande serviço á clinica, principalmente
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pela rapidez cora que a observação pode ser feita; ainda assim a radiographia ha-de ter sempre applicação em medicina.
Operando
Conhecido o instrumental de que necessitamos vou agora descrever uma operação e aqui explanarei então os apparelhos com que trabalhei.
A fonte de electricidade eram 14 accumula-dores de Radiguet ; a bobina era a bobina também de Radiguet de 45 centímetros de faísca, munida do phonotrembleur para a radioscopia e do novo interruptor Radiguet para radiographia. A bobina tem no seu sócco o condensator.
As radiographias foram feitas com os tubos Muret (tubo forte e tubo fraco).
Para fazer uma radiographia liga-se a fonte de electricidade ao rheostato e este á bobina de inducção, cuja corrente conduzida se lança nos tubos Muret—bi-cathodico. Depois de termos regulado, por meio dos écrans phosphorescentes, o rendimento do tubo em raios X e a relação entre este rendimento e a força da corrente indu-ctora, dispõe-se em face do tubo de Crookes, e perpendicularmente á direcção dos raios X que elle emitte, o chassis photographico fechado e carregado com uma placa photographica ; entre o tubo e o chassis colloca-se o objecto a radio-graphar.
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A radiographia pode ser feita em piena luz, pois que o chassis está fechado, achando-se assim a placa abrigada dos raios actinicos da luz solar. Entretanto é preferível operar n'uma meia obscuridade ou n'um lugar um pouco sombrio; assim é mais fácil distinguir a fluorescência que se produz no tubo de Crookes e que ordinariamente nos serve de regulador da experiência. • As distancias que se devem observar entre
a ampolla e a placa são naturalmente variáveis com o corpo a radiographar. Para os pequenos animaes, esta distancia deverá ser de uma dezena de centimetros; para os animaes maiores, pode elevar-se a 20 ou 30 centimetros.
As distancias mais vulgarmente seguidas para o corpo humano, são: para o pé e a perna 10 a 20 centimetros; para a mão ou o braço a mesma distancia; para o joelho affasta-se até 30 centimetros e emfim, para a bacia, póde-se ir até 40 centimetros.
O tempo de pose varia muito com a variedade do tubo e também com o seu tempo de uso; mas este tempo de pose só nos pode ser dado pelo estudo do tubo.
Para o tubo Muret, que empreguei, 3 a 4 minutos eram suficientes para se fazer a radiographia da mão ou do antebraço, 5 ou 6 para o braço, etc.
Querendo fazer-se a radioscopia basta substituir a placa photographica pelo écran phosphorescente. A imagem forma-se rapidamente.
IV
A p p l i c a ç õ e s d o s r a i o s X
I) Applicações medicas e cirúrgicas
Innumeras tem sido as applicações dos raios X feitas em medicina e em cirurgia e por isso o melhor é estudarmol-as em grupos.
a) Pesquiza de corpos extranhos introduzidos no'orgariismo,
b) Determinação da posição dos apparelhos cirúrgicos introduzidos no organismo,
c) Estudo das lezões intra-osseas. d) Estudo das lezões internas nas quaes par
ticipam os ossos. e) Photographia de cálculos no rim e na be
xiga e sua qualificação. f) Determinação da posição do feto na mu
lher gravida. g) Applicação á medicina.
F
v
82
a) Pesquisa de corpos extranhos introduzidos no organismo
Foi a primeira applicação feita dos raios X em cirurgia. Já em 6 de Maio de 1890, na Sociedade de Cirurgia de Paris, Gérard-Marchand e Mo-nod aprezentaram photographias de um pé e de uma mão com projectis no seu interior. Em 24 de Maio seguinte, na Academia de Medicina da mesma cidade, Périer mostrou uma radiographia apresentando a localização de uma baila de revolver ankylosada, havia já dois annos n'um dos ossos da mão de um ferido; em 8 de Junho, na Academia das Sciencias Brissaud e Londe conseguiram exhibir uma prova radiographica de uma baila de 7 millimetres localizada no cérebro de um ferido.
E' curiosíssima esta ultima observação porque a radiographia dava a explicação da hemiplegia, que tinha por cauza a interrupção das fibras nervozas situadas no trajecto da baila e portanto via-se claramente que a intervenção armada seria improfícua.
Innumeros são os cazos d'esta natureza e pó-de-se mesmo affirmar que todos os clínicos, fazendo a radiographia, têm bastantes exemplos d'esta applicação.
Eu mesmo aprezento na estampa III um caso semelhante—A. C. involuntariamente, ha dois
.'
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annos, recebeu um tiro de revolver na mão esquerda; hoje nada sente, mas a radiographia veio dizer-nos qual era a posição da baila relativamente ao terceiro metacarpiano.
Ainda assim é util enumerar casos d'esté género em que a radiographia pode prestar serviços:
Moedas ou pequenas espheras, etc., engolidas por creanças ou adultos.
Agulhas introduzidas accidentalmente no organismo.
Corpos extranhos introduzidos, accidentai, propositada ou violentamente no organismo.
No primeiro caso a radiographia presta relevantíssimos serviços: se o corpo extranho está no esophago, determina-se com a prova pho-tographica ou radioscopica, se é preferível reti-ral-a com os dedos, com a pinça, com instrumentos especiaes, ou se é preferível lançal-a no estômago, se o corpo não leza este órgão. Se o objecto está nas vias aéreas então é indicado re-tiral-o o mais breve possível, quer com a pinça para polypos, quer pela tracheotomia.
Mesmo n'este grupo a radiographia tem o seu lugar marcado em medicina legal e inutil ó lembral-o, mas todos podem bem avaliar e reconhecer as suas innumeras applicações.
Também por meio da radiographia podemos conhecer exactamente qual a profundidade a que se encontra um corpo extranho no organismo.
#
84
Empregase então o processo de Georges Bru
nei («■). «On dispose deux ampoules placées dans un
sens différent. Sur la photographie on aura donc deux images dont l'écartement, par un petit calcul très simple, donnera la profondeur cher
chée. Soit O (Fig. I Estampa I) la coupe de la partie à explorer. C le corps étranger, PP' la pla
que photographique, A A' les deux ampoules. Suivant la direction donnée au flux catho
dique, les ombres du corps seront projetées en AB' et A'B, et au développement sur la plaque photographique, on aura les images en B B'. On n'aura qu'à mesurer la distance des ampoules A A', reporter cette mesure avec les positions exactes sur une feuille de papier, comme c'est indiqué dans la figure I. La hauteur hh' du triangle BhB', donnera la situation exacte du corps étranger C dans la partie 0, ou sa distance de la ligne tangente S S'.»
b) Determinação da posição dos apparelhos cirúrgicos introduzidos no organismo
Eis uma applicação importantíssima dos raios
O Georges BruneiManuel de Radiographie et de radioscopia par l'emploi des rayons X, Paris a pag. 36.
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X; innumeros são os casos em que é conveniente o emprego d'esté novo meio:
Na entubagem da laryngé; Na vigilância das sondas collocadas no ca
nal urethral e dos endoscópios dispostos á sahida do intestino;
Nas affecções ósseas que necessitam a eliminação de um sequestro e em que se substitue a parte doente por fragmentos artificiaes em mastique especial, em osso descalcifieado ou pela prothèse;
Nas soldaduras ósseas, consecutivamente a fracturas e em que se empregam fios me-tallicos.
A radiographia dá-nos informações seguras, de todas estas partes artificiaes collocadas no interior do organismo. Casos curiosíssimos tem sido apresentados na sciencia, mas simplesmente me referirei a uma serie que foi uma das primeiras e que é deveras curiosa; é devida a Péan e veio a publico na sessão da Academia de Medicina de Paris de 23 de Junho de 1896:
«Une de ses radiographies montre le résultat d'une résection faite chez une femme d'une vingtaine d'années qui avait une fracture avec chevauchement considérable des deux os de l'avant-bras.
«Les os furent réunis avec des attelles d'aluminium. Au bout de quelques semaines, le cal
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osseux étant complet et résistant, on enleva l'attelle radiale, et on laissa l'attelle cubitale et les deux vis d'acier qui la maintenaient.
«Ces corps étrangers n'ont déterminé aucune suppuration. La malade, n'en souffrant pas, désire les conserver.
«La radiographie montre que le cal du cubitus dans lequel sont restées en place l'attelle et les deux vis, est d'une régularité parfaite, tandis que celui du radius est incurvé, sans qu'il en résulte la moindre gerce pour les fonctions du membre. Sans nul doute, cette incurvation passerait inaperçue, de même que la présence des vis, si les rayons X ne les avaient révélées.
«M. Péan, présente, en second lieu à l'Académie, d'autres radiographies qui ont permis de reconnaître ce qui s'est passé dans des os qui ont été restaurés, soit avec des fragments d'os décalcifiés, soit par la prothèse.
«Un de ces malades, âgé d'une trentaine d'années, avait eu, à, la suite d'une blessure par un clou de rue, qui s'était implanté dans la plante du pied pendant la marche, au niveau des extrémités supérieures des 4.e et 5.D métatarsiens, une suppuration aiguë intarissable, qui avait détruit les deux tiers supérieurs de cet os et obligé le malade à garder le lit.
«La perte de substance faite aux extrémités de ces deux métatarsiens a été comblée par un mastic spécial et la guérison a été obtenue rapidement.
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«Le procédé de Rœntgen permet aujourd'hui de constater que les os, dont les cavités avaient été comblées par le mastic, sont peu déformés et que leurs articulations sont conservées.
«Un autre malade était affecté d'une ostéomyélite subaiguë, douloureuse, occupant toute la hauteur du tibia et lui rendant l'existence impossible pendant plusieurs mois. Bien qu'il n'y eût pas d'abcès de voisinage, on consentit, à la demande formelle du malade, à faire exploration de la cavité médullaire du tibia.
«Après en avoir réséqué toutes les fongosités suspectes avec la gouge et la pince emporte-pièce, la vaste caverne qui en résulta fut comblée avec des lames d'os décalcifié, et toute la table interne de l'os fut remise en place à la manière d'un convercle, après l'excision, au préalable, de toutes les parties malades.
«La plaie faite aux parties molles fut fermée par suture. La réunion eut lieu par première intention.
«A partir de cette époque, le malade n'eut plus aucune souffrance. Trois semaines après, il retournait chez lui et aujourd'hui la guérisou est parfaite.
«Grâce à la photographie par les rayons de Rœntgen, on peut voir que le tibia est parfaitement reconstitué et que toutes les lignes sont aussi nettes que s'il n'avait jamais été altéré.
«M. Péan présente encore un malade qu'il a opéré, il va trois ans et demi, et qui a fait l'objet
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d'une communication spéciale, il y a deux ans et demi à l'Académie. Lors qu'il le présenta pour la première fois, cet homme portait à la place de l'humérus, dont on avait enlevé la partie supérieure, un humérus artificiel en caoutchouc durci, articulé avec l'omoplate. Le membre remplissait toutes ses fonctions. ,
«Un an et demi après, une fistule s'étant produite à l'union de l'extrémité inférieure de l'os artificiel et de la portion inférieure de l'humérus conservée, l'extraction totale de l'appareil prothétique fut faite au moyen d'une longue incision.
«La nouvelle plaie se réunit par première intention.
«Depuis cette époque, le malade, chez lequel l'examen histologique de l'humérus réséqué, avait montré qu'il s'agissait de tuberculose, jouit d'une excellente santé, bien qu'il exerce la profession insalubre de marchand de vins. Son bras a conservé sa longueur normale et l'articulation de l'épaule tous ses mouvements; il a si bien VQ-T couvre ses forces qu'il sert au malade à soulever des poids considérables, de 50 kilogrammes par exemple, sans fatigue.
«Il était intéressant de vérifier par le procédé de Rœntgen l'état du squelette osseux qui s'était formé grâce au périoste qu'on avait eu soin de placer autour de l'humérus artificiel.
«L'épreuve obtenue embrasse l'ensemble des points intéressants. Elle montre que l'os nou-
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veau, bien qu'il soit aussi résistant, est moins régulier que l'os ancien. Elle montre également que la fusion est complète au point de jonction avec l'os ancien et que la partie supérieure de l'os nouveau, quoique dépourvue de tête saillante, est logée au contact de la cavité glenoids et de la face inférieure de l'acromion et conformée de manière à permettre tous les mouvements» (x).
c) Estudo das lesões intra-osseas
Ainda no estudo das doenças do tecido ósseo estão indicadas completamente as applicações da radiographia, quer se trate de lesões in-flammatorias e orgânicas, quer se trate de lesões de nutrição e de desenvolvimento do osso, quer emfim se trate de lesões traumáticas. As prin-cipaes doenças que podem ser pois, passíveis d'esta applicação, são:
A periostite A ostéomyélite dos adolescentes A osteite A necrose Os tumores ósseos As gommas dos ossos Os kystos dos ossos A osteomalacia
(2) La «Presse Médicale» de 24 de Junho de 1896.
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A maioria d'estas doenças modificam sensivelmente e mais ou menos profundamente o tecido ósseo ; estas partes atacadas mostram-se naturalmente mais transparentes que as partes sãs e portanto póde-se determinar por isso mesmo exactamente o lugar doente e as suas modificações pathologicas. Assim a radiographia nos elucida sobre a extensão do mal e conseguinte-mente a forma da nossa intervenção.
E' justo que entre os auctores que se tem oc-cupado da radiographia n'este ramo da cirurgia, cite em primeiro logar o nome de prof. Lanne-longue, que no hospital Trousseau, se dedicou a este estudo.
Imbert e Bertin-Sans fizeram a radiographia de uma mão de creança atacada de periostite, em que se via nitidamente o lugar atacado e o periosseo descollado e tornado espesso e a espádua tuberculosa de uma rapariga de 16 an-nos.
Iguaes provas apresentou Péan na sessão da Academia de Medicina de Paris de 23 de Junho de 1896 e Barthélémy e Oudin na de 9 do mesmo mez.
Na Sociedade Anatómica, em 22 de Maio de 1896, Gustave Keith apresentou as peças e as photographias de um sarcoma ossificante da primeira phalange do pollegar, consecutivo a um traumatismo, que datava de 1res annos, e a dôr de cinco mezes. A photographia tinha revelado que o ponto de partida era o osso e mostrava
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também que o tumor já tinha uma certa ossifica-ção central. .
Potain, em 18 de Janeiro do anno corrente, communicou á Academia das Sciencias, em seu nome e no de seu discípulo Serbanesco, uma serie de observações em que demonstrava o auxilio que a radiographia pôde prestar ao diagnostico differencial entre o rheumatismo chronico ósseo e a gotta. No primeiro caso, a osteite condensante dá ás extremidades uma opaciedade maior aos raios X, emquanto que no segundo se observa, ao nivel das extremidades das phalanges e dos metacarpianos, manchas esbranquiçadas que parecem ser originadas pela substituição dos phosphates pelos uratos.
Muito curiosa também é a nossa estampa IV que se refere a um caso de gomma syphilitica do ante-braço esquerdo de uma criança de 15 annos. A syphilis era congenital.
d) Estudo de lesões internas em relação com os ossos
Importantíssima é esta applicação dos raios Rõntgen. Os casos que mais têm a aproveitar são:
As fracturas As arthrites Os entorses Às feridas As ankyloses
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As luxações e desvios da mão e do pé Os desvios do rachis. É inutil explanar qualquer d'estas applicações
por que todos a priori conhecem a utilidade da radiographia em taes casos.
Cito alguns casos dos que já têm curso na sciencia.
Na sessão de 29 de maio de 1896, na Sociedade Anatómica de Paris. Thiéry contou a observação de um cazo em que o diagnostico vacillava entre um entorse dorsal externo do punho e uma fractura do radio ; a radiographia cortou a questão pela fractura.
Lannois, na Sociedade Medica dos Hospitaés de Paris, em 12 de Junho do anno passado, apresentou um doente de 47 annos attacado de arthropathia da articulação metacarpo-phalan-geanna do dedo medio das duas mãos, originada por um rheumatismo chronico progressivo. A radioscopia pôde mostrar a fraca parte que os ossos tinham no entumescimento e na deformação das regiões doentes.
Péan, na mesma sessão da Academia de Medicina já citada, mostrou uma radiographia de uma fractura comminutiva da tibia produzida n'um trabalhador. Depois do accidente a perna tinha sido collocada n'um apparelho innamovivel e depois vários sequestres foram tirados, mas a suppuração tinha persistido com um encurtamento considerável da perna. A radiographia permittiu ver que para obter a cura era necessa-
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rio ressecar os fragmentos que cavalgavam e man-tel-os em posição por meio de suturas metallicas ou por tiras de alumínio.
Em 10 de Julho de 1896 na Sociedade de Medicina dos Hospitaes de Paris, Achard apresentou photographias em que mostrava as alterações dos ossos dos pés n'um rheumatico de origem Menorrhagia; no pé esquerdo o dedo grande cobria os dedos visinhos.
e) Photographia dos cálculos no rim e na bexiga e sua qualificação
Visto que estes cálculos são formados por uratos ou phosphatos alcalinos e alcalino-terro-sos, pouco transparentes aos raios X, é possivel obtermos radiographias ou radioscopias d'elles embora estejam no rim ou na bexiga, evitando assim ao doente o periodo de exploração metho-dica.
Mas além d'isso nós podemos reconhecer pela radiographia ou pela radioscopia a natureza dos cálculos. Assim os professores da Escola de Medicina e Pharmacia de Rouen, A. Buguet e A. Gascard, após muitas experiências, chegaram ás conclusões seguintes : «en général, on voit que les calculs biliaires présenteront une transparence très grande ou assez faible, suivant qu'ils seront formés de cholestérine, mélangée d'éléments de la bile on bien de sels de chaux, de pigments biliaires.. . L'acide urique des calculs vésicaux,
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bien que moins transparent que la cholésterine est beaucoup moins opaque que les sels de chaux on de magnésie.
Le phosphate ammoniaco-magnésien est d'une opacité intermédiaire entre celles des sels de chaux et de l'acide urique.
La radiographie appliquée aux calculs permet donc de reconnaître ;
l.° Leur homogénéité ou leur structure; 2.° Leur composition chimique dans certains
cas ; 3.° La position exacte du noyau qui a provo
qué leur formation ; A.0 La nature de ce noyau dans un grand
nombre de cas.
f) Pesquisa da posição do feto na mulher gravida
É uma das mais úteis applicações, pelos grandes serviços que pode prestar na pratica, mas infelizmente pouco se tem adiantado n'este caminho : Assim é que por uma simples radiographia ou radioscopia nós podíamos ver qual é a posição do feto"e, se for viciada, logo podíamos intervir, corrigindo-a e de mais ainda por meio d'ella podíamos reconhecer qual o sexo do feto, antes do seu nascimento. Mas a photographia do feto no ventre materno ainda não foi feita, ainda que Varnier, Chappuis, Chauvel e Funck—Bren-tano tivessem em 10 de Março de \ 896 feito a radio-
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graphia intra-uterina de um feto. 0 feto era de termo e achava-se alojado no utero extrahido do corpo de uma mulher eclamptica.
Mas já se conseguiu radiographar o utero de um cavia-femêa vivo, mostrando no seu interior vários fetos.
g) Applicações diversas á medicina
Innumeros são os casos em que os raios X podem prestar valiosíssimos auxílios á nossa arte.
Bouchard (Académie des Sciences—14 de Dezembro de 1896) applicou estas irradiações para fazer o diagnostico da tuberculose pulmonar e para demonstrar a presença de derrames da pleura.
Eis o que nos diz Bouchard : «Si l'on place le thorax d'un homme bien
portant entre le tube de Crookes et un écran phosphorescent, on sait qu'on voit apparaître sur cet écran le squelette du thorax figuré par une bande noire verticale à bords parallèles et de chaque côté par des bandes obliques moins foncées représentant les côtes. De plus, on voit, à droite de la colonne, vers le milieu de la région dorsale, une ombre portée par le coeur où l'on peut discerner les battements. Enfin, l'ombre portée par le foie avec sa connexité supérieure monte et descend dans la cavité thoracique, suivant les mouvements respiratoires. En dehors de ces om-
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bres, tout le reste du thorax apparaît en clair également des deux côtés. Le médiastin, masqué par la colonne, n'apparait pas.
Chez trois hommes atteints de pleurésie droite avec épanchement, j 'ai constaté que le côté du thorax occupé par le liquide pleuretique présente une teinte sombre qui contraste avec l'aspect clair du côté sain ; que si l'épanchement, ne remplit pas la totalité de la cavité, le sommet de ce côté reste clair et que la teinte sombre dessine la limite supérieure de l'épanchement, telle qu'elle est établie par la percussion et par les autres moyens habituels de l'exploration physique ; que la teinte sombre se fonce de plus en plus à mesure qu'on l'observe en descendant de sa limite supérieure, ou l'épanchement est plus mince, vers les parties inférieures, où il est plus épais et où son ombre se confond avec celle du foie.
«J'ai reconnu du plus que, dans ces trois cas de pleurésie droite, le médiastin, qui n'est pas apparent à l'état normal, porte une ombre à gauche de la colonne et figure un triangle à sommet supérieur, et dont la base se continue avec le coeur.
«Ce triangle est l'ombre portée par le médiastin déplacé par la poussée latérale de l'épanchement et refoulé vers le côté sain du thorax. «Dans un quatrième cas où l'épanchement n'existait plus, mais avait laissé à sa suite une rétraction du côté malade, c'est de ce côté que le médiastin déplacé faisait ombre.
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«Assurément, le diagnostic peut être fait aussi sûrement et aussi complètement par les procédés habituels de l'exploration, et l'application de cette méthode est soumise à des conditions qui en rendent encore l'emploi peu pratique. Mais, sans compter la précision plus grande que la radioscopie donne à la constatation des déplacements du médiastin, elle a l'avantage de faire contrôler une méthode par une autre, un sens par un autre. Elle a surtout l'avantage précieux pour l'enseignement de pouvoir faire constater simultanément et d'un seul coup d'œil, par toute une assemblée, l'existence, l'étendue, la profondeur d'un épanchement d'ont chacun pourrait assurément se rendre compte, à l'aide de la percussion, mais seulement d'une façon fragmentaire et par une exploration personnelle.
«Je crois inutile d'indiquer les applications qui se présentent à l'esprit et qui peuvent introduire la radioscopie dans l'étude d'autres épanchements ou môme dans la recherche des changements de volume, de forme ou de densité, que la maladie peut produire dans les parties profondes. Nous sommes en droit d'espérer que l'exploration par le rayons de Rœntgen ne rendra pas à la médecine de moindres services qu'à la chirurgie.»
Relativamente á applicação dos raios X ao diagnostico da tuberculose pulmonar continua Bouchard:
«Dans une note précédente, j 'ai dit que l'épan-G
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chement pleurétique arrête en partie les rayons de Rœntgen et marque par une teinte sombre, à l'examen radioscopique, le côté malade qui contraste ainsi avec la clarté brillante du côté sain.
En renouvelant l'étude des cas de pleurésie qui avaient fait l'objet de cette précédente communication, j 'ai vu la teinte claire du sommet du thorax augmenter d'étendue en même temps que l'epanchement se résorbait.
Chez l'un des malades cependant, l'opacité persistait au sommet, tandis qu'une plaque claire apparaissait vers le millieu, du côté où manifestement l'epanchement diminuait. Enfin, la résorption de cet épanchement étant presque complète, le sommet restait toujours obscur. Ce fait, qui ne s'était pas observé dans les deux autres cas, me donna a penser qu'il y avait condensation du tissu pulmonaire au sommet du poumon du côté malade. La percussion et l'auscultation confirmèrent cette prévision et révélèrent l'existence d'une infiltration commençante que l'epanchement avait d'abord masquée. Cette tuberculose pulmonaire avait été révélée par l'examen radioscopique.
Chez tous les tuberculeux que j 'ai examinés à l'aide de l'écran fluorescent, j 'ai constaté l'ombre des lésions pulmonaires; son siège était en rapport avec les délimitations fournies par les autres méthodes de l'exploration physique; son intensité était en rapport avec la profondeur de
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la lésion. Dans deux cas, des taches claires apparaissant sur le fond sombre ont marqué la présence de cavernes vérifiées par l'auscultation. Mais dans d'autres cas où l'auscultation faisait reconnaître l'existence d'excavations, celles-ci n'ont pas été vues à l'exameu radioscopique.
Chez uu malade, les signes généraux et la toux faisant soupçonner un début de tuberculi-sation, mais l'examen de l'expectoration ne montrait pas de bacilles, et les signes physiques ne permettaient pas de porter un diagnostic certain. La radioscopie a montré que le sommet de l'un des poumons était moins perméable; et, quelques jours après, l'auscultation, comme l'examen bactériologique, ne laissaient pas le moindre doute.
Dans les maladies du thorax, la radioscopie donne des renseignements de tous points comparables á ceux de percussion.
L'air pulmonaire, qui se laisse travesser par les rayons de Roentgen, sert de caisse de renforcement aux bruits de la percussion. Quand l'air est chassé du poumon plus ou moins complètement par un liquide épanché ou par un tissu morbide infiltré, la clarté radioscopique du thorax diminue ou fait place à une obscurité plus on moins complète, et, en môme temps, la sonorité normale s'atténue et peut être remplacée par la submatité ou par la matité absolue».
O emprego das irradiações, de que me tenho occupado, na medicina legal é digno de menção e
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para vel-o basta lembrar o cazo de Bordas (com-municação de Bordas na Sociedade de Medicina Legal) em que a prezença de bolhas de ar era ac-cuzada dando assim a entender que a criança havia respirado—o pulmão de feto que ainda não tem respirado é perfeitamente transparente.
A anatomia também tem o seu quinhão. O desenvolvimento dos ossos, a distribuição
dos vazos sanguíneos, injectados com substancias opacas convenientes, eis um grupo de applica-ções á anatomia,
As differenças de transparência de diversas substancias aos raios X fornecem á Hygiene meio de reconhecer as falsificações de géneros alimentícios ou de productos industriaes (Ranwez pôde por este meio demonstrar a presença do sulfato de baryta no açafrão falsificado).
II) Applicações diversas
Cada vez mais se estendem as applicações dos raios X.
A verificação de diamantes faz-se com muita facilidade porque o diamante é muito mais transparente que as imitações em strass.
Os serviços postaes e aduaneiros já reclamaram, no estrangeiro, installações radiographicas que serviriam para fiscalizar os volumes que passam sob a sua vigilância sem os abrir, mas impedindo assim o contrabando.
Girard e Bordas chegaram a distinguir pela
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sua opacidade certos explosivos : pólvora clo-ratada, nitrocellulose, fulminate de mercúrio ; e então fácil se torna o exame das machinas explosivas.
Mas ao par de tantas e tão úteis applica-ções devo fazer notar que os raios X parecem ter uma manifesta acção nociva sobre o organismo.
E' facto que muitos casos ha já apontados de inflammações locaes com queda de cabellos, mas é necessário para que tal effeito se manifeste que o organismo soffra por longo tempo a acção dos raios Rõntgen ; felizmente hoje as poses para a photographia acham-se extremamente reduzidas e mesmo a radioscopia tende a avassalar o >campo das applicações clinicas dós raios X.
Na sessão de 12 de Abril do corrente anno, da Academia de Sciencias de Paris, Lannelon-gue, em nome de Sorel, do Havre, relatou o facto de ter apparecido no peito de um radiogra-phado um abcesso na parte exposta e outro a distancia. O próprio Lannelongue, porém, vem declarar na mesma sessão que estes abcessos não se podem attribuir aos raios X, mas acredita que estes raios não são inoffensivos para o organismo.
Se é verdade que os raios X têm uma acção
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tão enérgica sobre certos tecidos vivos, é justo esperar que essa mesma poderosa energia se exerça em algumas occasiões em proveito do organismo. E assim seria um remédio que quem sabe não terá uma acção preciosa sobre os mais terríveis venenos ou as mais virulentas toxinas.
Não estará ahi a explicação de algumas curas, já relatadas de tuberculose e outras doenças infecciosas?
E' possivel, mas o futuro com certeza, nos revelará a solução do problema.
Aguardemos, pois, confiadamente e o myste-rio se desvendará.
BIBLIOGRAPHE
"Wundt—Physique médicale. Abel Buguet—Technique médicale des rayons
X. Paris 1896. Alexandre Hébert—La technique des rayons
X. Paris 1897. Charles Henry—Les ravons Rõntgen. Paris
1897. Dr. Henri Van Heurck—La technique et les
applications diverses des rayons X. Anvers 1897.
J. L. Breton—Rayons cathodiques et ravons X. Paris 1897.
A. Bobone—Raios X. Lisboa 1897. Félix Méheux—De la nature des ravons X. Pa
ris 1897. Georges Vitoux—Les rayons X et la photogra
phie de l'invisible. Paris 1896. Ch. Ed. Guillaume—Les rayons X et la pho
tographie à travers les corps opaques. Paris 1896.
G. N. Niewenglowski—La Photographie de l'invisible. Paris 1896.,
Georges Brunei—Manuel de Radiographie e de Radioscopie par l'emploi des rayons X.
PROPOSIÇÕES
Anatomia.—-A radiographia é um poderoso auxiliar para o_ estudo do desenvolvimento dos ossos.
Physiologia.—A acção dos nervos vaso-dilatado-res e vaso-constrictores exerce-se á custa de centros periphericos intermédios a estes e aos vasos.
Materia medica.—Os diuréticos tonicardiacos são os melhores diuréticos.
Pathologia externa.—O diagnostico differencial entre as mastites chronicas e o cancro circumscri-pto, o mais das vezes, é impossível sem a punção exploradora.
Operações.—O aperfeiçoamento dos apparelhos orthopedicos tem modificado o logar d'eleiçao das amputações.
Pathologia interna.—A ausência d'albumina nas urinas não exclue o mal de Bright.
Anatomia pathologica.—Nas nephrites, qualquer que seja a variedade, as lesões são concumitante-mente intersticiaes e parenchymatosas.
Pathologia geral.—Os estados diathesicos modificam consideravelmente os accidentes produzidos pelos traumatismos.
Partos.—A albuminuria é uma das causas da morte do feto.
Hygiene.—Reprovo a venda do leite de vacca, sem ser previamente esterilisado.
Visto. Pimenta.
Pôde imprimir-se. Dr. Souto.
INDICE
Pag.
I—Historia 23 II— Natureza e origem dos raios X 37
III—ïechnica dos raios X 51 A) Fonte de electricidade 52
a) Pilhas primarias 52 b) Accumuladores 56 c) Machina eléctrica 57 d) Corrente fornecida pelas fabricas
centraes 58 B) Bobina de inducção 59 C) Tubos de Crookes 61 D) Accessorios 69
a) Condensador 69 b) Interruptor periódico 70 c) Rheostatos 71 d) Apparelhos de medida 72 e) Conductores 72 f) Supportes isoladores 73
E) Parte photographica 73 a) Revelação 73
Reagentes 75 b) Impressão no papel 75
a) Reagentes 76 F) Radioscopia 76
Operando 79
108
p»g.
IV—Applicações dos raios X 81 I) Applicações medicas e cirúrgicas.. . . 81
a) Pesquiza de corpos extranhos introduzidos no organismo 82
b) Determinação da posição dos appa-relhos cirúrgicos introduzidos no organismo 84
c) Estudo das lesões intra-osseas 89 d) Estudo das lesões internas em re
lação com os ossos 91 e) Photographia de cálculos no rim e
na bexiga e sua qualificação 93 f ) Pesquiza da posição do feto na
mulher gravida 94 g) Applicações diversas á medicina.. 95
II) Applicações diversas 100 Bibliographia 103 Proposições * 05
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Nome dos auctores dos tubos
ESTAMPA I N.° 1Í
2<Seguv 3( 4—Rufz , 5—Crookes 7jSeguy 8—Wood 9—Segay
10—Chabaud e Hurmuzescu 11 —Seguy 12—Thompson 131 «^Crookes 15—Seguy
ESTAMPA H N.° 16—Le Roux
17—d'Arsouval 18-Seguv 19—Puluj 20—Seguy 21 —d'Arsonval 22—Seguy çyi \ Le Roux 25—Brunel-Seguy 26—Rõntgeu 27—Seguy 28—Rõntgen 29-Seguy 30—Colardeau 31 —Seguy 32—Colardeau.
ESTAMPA III
Baila situada no 3.° metaearpiano da mão esquerda
ESTAMPA IV
\
domina syphilitica do ante-braco esquerdo
.