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v^7 -Y- A RAIOS X (ESTUDO CLI^TIOO) DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA A XSCÓLA ME»ICO-CIKUKGICA DO PORTO POR IttilZ Cândido Corrêa d'RBflflfiCHES JULHO S^/i nnt ~& >-g>-c MDCCCXCVU IJSdCPR.EiNS.A. COMMERCIAL 29—Rua da Conceição—37 POKTO

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v^7 -Y- A

RAIOS X ( E S T U D O C L I ^ T I O O )

DISSERTAÇÃO INAUGURAL

APRESENTADA A

X S C Ó L A M E » I C O - C I K U K G I C A DO P O R T O

P O R

IttilZ Cândido Corrêa d'RBflflfiCHES

JULHO

S^/i nnt

~& >-g>-c

MDCCCXCVU IJSdCPR.EiNS.A. C O M M E R C I A L

29—Rua da Conceição—37

POKTO

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ESCOLA MEEICO-CIRDE&ICA DO PORTO CONSELHEIRO-DIRECTOR

DR. WENCESLAU DE SOUZA PEREIRA DE LIMA SECRETARIO

RICARDO D'ALMEIDA JORGE

CORPO DOCENTE PROFESSORES PROPRIETÁRIOS

1.* Cadeira—Anatomia descriptiva o • n?* g­era l lii. ' ■ ; "• ­ ' • • J o ã o Pel 'eira Dias Lebre, o­, Cadeira­Physiologia . . . . Antonio Placido da Costa. <s." Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia me­

4 . r £ í 2 L ' r.' , ; , ' •• •_!­ • • Ulidio Ayres Pereira do Valle. 4.» Cadeira—Pathologia externa e H . ^ L 6 ^ 6 ™ ' ^ ? * 1 6 " 1 * : • • Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5.« Cadeira­Medicina operatória . Eduardo Pereira Pimenta. 6.» Cadeira­Partos, doenças das

mulheres de parto e dos re­

7»rS™ a Sp ad t° if i" •• ? »' ' • Dr­Agostinho Antonio do Souto. /.* Cadeira—Pathologia interna e

o. terapêutica interna. . . . Antonio d'OliveiraMonteiro. a. Cadeira­Clinica medica . . . Antonio d'Azevedo Maia.

in . Cadeira­Chnica cirúrgica . . Cândido Augusto Correia de Pinho, lu." Cadeira—Anatomia pathologi­n » pfa

D')r„' TIV Â, •' 'i ' i V ­ • ' A u g u 8 t ° Henrique d'Almeida Brandão. 11.* cadeira—Medicina legal, hygie­

ne privada e publica e toxico­, » , v j w ï / _* / • ,■ Ricardo d'Almeida Jorge. 12." Cadeira­Pathologia geral se­

meiologia e historia medica . Maximiano A. d'Oliveira Lemos rnarmacia Muno Freire Dias Salgueiro.

PROFESSORES JUBILADOS Secção medica. . . j J o s é d'Andrade Gramacho. „„„„. . . ' ' ( Dr. José Carlos Lopes. Secção cirúrgica pedro Augusto Dias.

PROFESSORES SUBSTITUTOS ão medica j J o ã o Lopes da Silva Martins Junior.

( Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. Secção cirúrgica . . . . ! Roberto Belarmino do Rosário Frias.

' j Clemente Joaquim dos Santos Pinto. DEMONSTRADOR DE ANATOMIA

cirúrgica Carlos Alberto de Lima.

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A Escola nao responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.

(Begulamento ãa Escola de 23 d'abril de 1840, art. 155).

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A MEUS PAES

A vós, que me haveis criado com todo o bafo do vosso amor, consenti que a primeira pagina d'esté meu trabalho seja offerecido e n'este offerecimento empe­nho toda a sinceridade do meu coração.

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A MINHAS IRMÃS

A MEU IRMÃO

Os Irmãos dedicados são uma jóia tão preciosa, que bem raramente se encontra: Vós sempre o tendes sido e por isso eu orgulho-me de tão publicamente o declarar, tributando-vos aqui o meu amor e o meu reconheci­mento.

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Á MEMORIA DE MEUS AVÓS

í MEMORIA DE MINHAS PRIMAS

Felismina A. C. d'Oliveira E

Maria Henriqueta C. d'Oliveira

UfflA LAGRIMA SENTIDA!

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AO ILL.™ E EX.mo SNR.

DR. JOAQUIM ARANTES PEREIRA

Eminente bacteriologista e digníssimo director do «Instituto Pasteur do Porto»

Se são grandes os favo­res que V. Ex.* me tem dis­pensado, também será eter­no o meu reconhecimento.

0 vosso discípulo

Luiz Abranches.

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A

k

Dans la plénitude du Donneur, chaque jour est une vie entière.

Goethe.

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A M E M O R I A DE

RAYMUNDO COELHO DE SOUZA

A. M E M O R I A DO MEU CONDISCÍPULO

Manoel Correia i'Ataeiia

SAUDADE

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AO ILL."10 E EX,m0 SN II.

Bernarftino ie Senna Vasconcelos A SUA EX.1"" ESPOSA

D. Maria ïAssmicao Ferreira ÏAlmeiia E A SEUS EX. m o s FILHOS

Antonio Lopes d'Almeida Vasconcellos E

Padre José Lopes dAlmeida Vasconcellos

AO MEU PARTICULAR AMIGO E CONDISCÍPULO

Casimiro Lopes dAlmeida \asc<nccllos

Um simples offerecimen-to do meu insignificante tra­balho não é muito para quem tanto vos deve, mas sirva elle ao menos, para vos mos­trar o apreço e a considera­ção em que vos tenho e fi­carei contente-

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A EX.»' SNR."

D. Maria Lnflovîna Je Souza Mello GEATIDÃO

AO ILL.™ E EX.»10 SNR.

Antonio Ferreira da Cruz A SUA EX. m a ESPOSA

D. Aurora Candida Ferreira da Cruz E A SUAS E X . m a s FILHAS

D. Maria Emilia Ferreira da Cruz D. Felisbela de Jesus Ferreira da Cruz

EESPEITO

A MEUS P R I M O S

Dr. Eduardo Corrêa d'Oliveira Conselheiro Antonio Augusto Corrêa d'Oliveira

E

Frederico Corrêa d'Oliveira

B

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AOS MEUS AMIGOS

AOS MEUS CONDISCÍPULOS E EM ESPECIAL A

Joaquim da Silva Ramalho Albano Augusto d'Oliveira Francisco Ferreira de Figueiredo Leitão Miguel Carlos Moreira Abel Fernandes Baptista Vieira Pedro Pereira da Silva Guimarães Junior Torquato Ernesto Leite Brochado Illydio Monteiro Custodio Pinto João Ferreira Augusto Cardia Pires Cunha Pinto Antonio Corrêa Alves Antonio Henriques Álvaro Martins José Teixeira de Castro Guimarães

Cm abraço de despedida.

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AO ILL.m0 E EX.m° SNK.

DR. JOSÉ CARLOS LOPES dislinclo lente jubilado da Escola Medica do Porto

Ser grato é o dever de todo o homem; eis. o que re­presenta esta pagina.

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AOS MEUS AMIGOS

Emygdio Corrêa d'Almeida Navarro Padre Manoel Joaquim Gomes Antonio Joaquim d'Almeida Esteves Arnaldo de Souza Dória

AO MEU ANTIGO CONDISCÍPULO

O ILL. m o K EX. m o SNR.

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AOS MEUS CONTEMPORÂNEOS E EM ESPECIAL A

Eduardo d'Almeida Esteves Figueira Antonio Augusto Fernandes Alberto José Baptista Antonio d'Almeida Trinta José Augusto Monteiro de Souza Machado Augusto José Gezar Massa Aurélio A. Rodrigues Seara Francisco José de Souza Eleuterio Santa Rita Agostinho Simões d'Oliveira Gomes Lino José dos Santos

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AO MEU PRESIDENTE

Dr. Eduardo Pereira Pimenta

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DA

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

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I

H i s t o r i a

Século das luzes é o epitheto do século que dentro em dois annos vae findar; melhor epi­theto não podia ter século em cujo cyclo se des­cobriram tantas luzes — a luz eléctrica, a luz da acetylena, etc.

E ao despedir-se de nós, este século tão scien-tifico e tão humanitaiio ainda quiz justificar o seu merecido epitheto, dando-nos a conhecer uma luz nova, que, abalando a optica, nos re­vela muito do invisível e nos leva a perceber o que está além dos corpos opacos, corpos que hoje perderam essa denominação.

E, ainda mal conhecida a descoberta dos raios Rõntgen, já as suas applicações são enormes: a medicina, a cirurgia, a hygiene e a industria já se apoderaram d'ella em proveito próprio.

Se é verdade que a descoberta do grande pro­fessor de Wiirzburg data de alguns mezes ape-

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nas não foi, porem, uma descoberta sem prece­dentes e feita de toute pièce.

Bastantes precursores teve Rõntgen, mas ne­nhum d'elles tão feliz como elle.

As primeiras tentativas operadas com o fim de obter imagens do invisivel datam de 1849.

Então Reichenbach tentou e conseguiu re­gistrar sobre placas de daguerreotypo os vestí­gios dos effluvios odicos, fluidos que, segundo o sábio austríaco, se desenvolvem de todos os seres vivos, compostos chimicos, alguns imans etc. e que individuos chamados sensitivos percebem directamente na obscuridade.

Cito as suas proprias palavras nas Recher­ches physico-physiologiques (') a respeito das suas experiências.

«Pour me convaincre moi-même, autant que possible, s'il s'agissait bien là d'une lumière ou d'une autre espèce d'apparence perçue par les sensitifs, je désirai faire une experience avec le daguerréotype et voir si une plaque d'argent iodée pourrait être impressionnée. M. Karl Schuh, professeur libre de physique à Vienne, bien connu par ses recherches sur le microscope à gaz et par son habilité en daguerreotypie, voulut bien me prêter son concours. Il mit dans une

(') Eeichenbach - Eecherches physico-physiologiques 1849, traducção de M. E. Lacoste, em «O. Fluido dos ma-gnetisadores» pelo tenente coronel de Eochas d'Aiglun. Paris 1891.

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chambre noire une plaque iodée, en face de la­quelle on plaça un aimant ouvert; au même temps, il disposait de même une autre plaque dans une autre chambre noire mais sans aimant.

Après quelques heures, il reconnut que la première plaque, après qu'elle eût été traitée par les vapeurs mercurielles avait été affectée par la lumière, tandis que la seconde ne l'avait pas été; mais la difference entre les deux était peu mar­quée. Pour mieux voir l'effet, il prit l'aimant, l'appliqua sur une plaque iodée, en prenant les plus grandes précautions pour éviter la moindre trace de lumière pendant la manipulation à l a ­quelle j'assistai; il plaça le tout dans une boite, que l'on glissa entre d'épais matelas et qu'on laissa là pendant soixante quatre heures. Repri­se dans l'obscurité et exposée à la vapeur mer-curielle, la plaque laissa voir le plein effet de la lumière qu'elle avait reçue sur toute sa surface.

Il est donc évident, à moins que d'autres cau­ses ne soient capables d'affecter les plaques pho­tographiques après un temps considérable, qu'une lumière, faible il est vrai, et d'action lente, se dégage de l'aimant.»

Apesar dos esforços empregados não conse­guiu elle convencer os sábios do seu tempo e por conseguinte a sua doutrina não despertou inte­resse algum, ficou isolada no auctor e com elle morreu.

A sciencia moderna, orientada por dados theo-ricos mais precizos, tomou de novo o problema,

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que diz respeito á fixação das imagens inacees-siveis á nossa vista.

Foi o estudo do espectro solar que conduziu os physicos a uma descoberta preciosa, a da trans­parência de certos corpos opacos a irradiações particulares, susceptíveis de influenciar as subs­tancias chimicas da mesma maneira que a luz.

Explorando o espectro demonstraram que além da parte corada visível existiam outras re­giões que eram caloríficas, aquém do vermelho, e chimicas, além do violete.

M. M. Chardonnet et Soret estudando espe­cialmente a região ultra-violete reconheceram que se ella escapava á nossa vista era porque as irradiações que a compunham eram absorvidas pelos humores do olho, antes de chegarem á re­tina.

Em 1880 já Cornu notou que se pode obter effeitos de fluorescência atravez d'uma lamina de prata, deposta chimicamente, mas bastante es­pessa para deter os raios luminosos ordinários.

Pouco tempo depois, porém, M. Chardonnet observou também que uma lamina de prata, muito delgada, más bastante espessa para se op-pôr á passagem da luz, era perfeitamente per­meável aos raios ultra-violetes e que era portan­to possível obter uma photographia atravez d'es-sa placa.

Esta experiência foi realisada por M. Char­donnet em 1886, epocha em que por conseguin­te foi obtida a primeira photographia atravez

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d'ura corpo opaco, conseguindo obter uma pho­tographia do arco eléctrico, fechando uma lan­terna de Dubosq, dentro da qual se encontrava o arco voltaico, por um obturador formado por uma delgada lamina de crown-glass prateado n'uma das faces; e uma reproducção á luz solar d'uma estatua de mármore de Carrara, atravez do mesmo obturador prateado, com um tempo de pose de 15 minutos.

Como se vê os raios ultra-violetes compor-tam-se, n'este ponto, como os raios descobertos pelo professor Rõntgen.

Querendo ser o mais completo possivel na historia da photographia do invisível, antes de Rõntgen, devo citar as experiências do Dr. Bou-det, de Paris, e de M. Tommasi, também em '1886, que lhe mostraram que o effluvio eléctrico (descarga obscura) permittia photographar sem o auxilio da luz. Tommasi collocava uma placa sensivel perpendicularmente a duas escovas me-tallicas que communicavam respectivamente com os dois pólos de uma machina de Holtz; com al­guns minutos de exposição elle obtinha uma imagem. Ultimamente M. G. Moreau (3 de feve­reiro de- '1896) conseguiu obter uma imagem de uma chave de aço, de uma roda de alumínio, etc., n'uma placa sensivel encerrada em uma caixa de cartão, collocada parallelamente á ai­grette de uma bobina de Rhumkorff, obtida en­tre uma ponta ligada ao polo positivo e um pe­queno plateau ligado ao polo negativo; não con-

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seguindo obter, porém, imagem alguma, quando a placa estava collocada perpendicularmente.

Ainda devo mencionar a experiência do pro­fessor de Praga, Ch. V. Zenger em 17 de Agos­to de 1893 em Génova, que conseguiu á meia noite tirar uma photographia do Monte Branco, que elle via illuminado por uma luz amarello-esverdeada semelhante á côr que mostram os tubos de Crookes. 0 professor Zenger serviu-se para esta experiência de uma placa feita com collodio fluorescente, corado com chlorophylla; posteriormente obteve melhores resultados com placas orthochromaticas.

Hertz estudando os raios cathodicos demons­trou que estes raios tinham a particularidade de impressionar as placas photographicas exacta­mente do mesmo modo que os raios ultra-viole-letes do espectro e que alem d'isso, á semelhan­ça d'estes, tornavam phosphorescentes certas substancias taes como ao platino-cyaneto de ba-ryo e atravessam varias folhas de metal perfei­tamente opacas para a luz ordinária. Posto que, Ebert, Jaumann, Wiedeman, observassem que a faísca eléctrica produzida em tubos em que se havia feito o vacuo emittia irradiações susce­ptíveis de tornar phosphorescentes, a tempe­raturas muito baixas, um grande numero de substancias, é a Lenard, comtudo, discipulo e preparador de Hertz que cabe a honra de ser o primeiro que, com o auxilio dos raios ca­thodicos, obteve por meio do tubo de Crookes

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e atravez de corpos opacos imagens photo­graphias . M. Lenard, seguindo os conselhos de Hertz, tentando fazer sair para a atmosphera os raios cathodicos desenvolvidos dentro do tu­bo fez o seguinte: construiu um tubo de Cro-okes munido n'uma das suas extremidades de um diaphragma de alumínio tendo de espessura três millesimas de millimetre que, apezar da sua pequena espessura, era entretanto opaco, evi­tando assim a passagem da luz ordinária, e re­sistindo também á pressão atmospherica. Produ­zindo no interior d'esté apparelho raios cathodi­cos de grande intensidade e dirigindo-os sobre a placa d'aluminio, Lenard observou que elles atravessavam a placa d'aluminio e que se difun­diam na atmosphera, aqui reconhecidos pela ap-proximação de substancias phosphorescentes, as quaes se tornavam extremamente brilhantes; e pelo ennegrecimento rápido de placas photo-graphicas collocadas em frente da placa d'alu­minio.

A hypothèse de Crookes sobre a materia ir­radiante foi o ponto da partida natural que con­duziu o professor Rõntgen á sua magica e ma­ravilhosa descoberta.

Foi o acaso o guia de Rõntgen na desco­berta dos seus raios, acaso que porém nada ti­ra ao valor da obra do grande physico bavaro pois que é quazi sempre assim que os grandes bemfeitores da humanidade têm descoberto uma verdade scientifica nova. Desprevenidos, elles

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encontraram por um feliz acaso essa verdade nova, apoderaram-se d'ella, reviram-n'a, final­mente fizeram-na passar pela fieira do sen muito saber e eis assim lançado na sciencia mais um facto e talvez mesmo uma theoria. Arago o gran­de não disse que em toda a descoberta scientifi-ca a parte do leão pertence ao imprevisto?

E a prova do valor da descoberta dos raios X está no enthusiasmo que ella despertou no mundo profano — as primeiras noticias que nos chega­ram da descoberta vieram por intermédio dos jornaes políticos que logo começaram a dar no­ticias minuciosas das experiências de Rõntgen e das que se repetiam nos diversos paizes.

Foi em fim de Dezembro de 1895 que o pro­fessor Rõntgen fez a sua communicação á Socie­dade physico-medica de Wúrtzburg e já em co­meços de Janeiro de 1896 os jornaes políticos (antes que os jornaes scientiíícos) faltavam e re­latavam as experiências.

Repetindo Rõutgen as experiências de Cro-okes, Hertz e Lenard sobre os raios cathodicos, foi que o sábio physico conseguiu conhecer os seus raios. Eis como foi disposta a sua expe­riência.

Tomou um tubo de Hittorf, envolveu-o em papel negro; depois em face do tubo coberto, a 0,m20, a um metro, a dois metros, collo-cou successivamente uns écrans cobertos com uma camada de plantino-cyaneto de baryo. Ora estes diaphragmas tornaram-se brilhantes, phos-

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phorescentes, portanto certos raios atravessam o papel negro, assim como a luz atravessa uma vi­draça. Continuando a sua experiência, já então dirigida em outro sentido, Rõntgen viu que o écran phosphorescente se illuminava mesmo atravez de vários baralhos de cartas, um grande diccionario de 1000 paginas, blocos de madeira de 0,m02 a 0,m03 de espessura, placas de alumí­nio de 0,m015 e placas de ebonite de vários cen­tímetros de espessura.

Se mesmo a mão é collocada deante do écran phosphorescente a sombra dos ossos projecta-se em negro sobre elle. Estes raios extraordinários que atravessam tão completa­mente os corpos opacos derivam bem dos raios cathodicos, mas evidentemente não são os raios cathodicos ordinários.

Rõntgen, para abreviar a sua designação,—é a razão que elle apresenta na sua memoria—cha-mou-lhes raios X.

Logo depois Rõntgen começou a estudar as propriedades dos raios X e é-nos agradável ac-companhal-o na sua memoria sobre os pontos mais essenciaes :

Primeiro elle viu que a densidade é um fa­ctor importante da opacidade dos corpos, mas não é o único: «Prova-se isto empregando como écrans laminas de egual espessura de spatho de Islândia, de vidro, d'aluminio e de quartzo. O spatho d'Islandia mostra-se muito mais transpa-

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rente que os outros corpos bem que elle tenha a mesma densidade, approximativamente.

« Augmentando­se a espessura, augmenta­se a resistência offerecida aos raios por todos os corpos. . .

«Bocados de platina, chumbo, zinco e alu­

mínio em folhas foram preparados de modo a obter o mesmo enfraquecimento do effeito. 0 quadro junto dá as espessuras relativas e as den­

sidades de folhas de metal equivalentes :

Espessura Espessura Densidade ■""» relativa

Plat ina. . 0,018 1 21,5 Chumbo. 0,050 3 11,3 Zinco. . . . 0,100 6 7,1 Alumínio 3,500 200 2,6

« Resulta d'estes valores que a opacidade não é proporcional ao producto da densidade pela espessura d'um corpo. A transparência augmenta muito mais rapidamente do que o producto não decresce.»

Rõntgen procurou, sem o conseguir, demons­

trar uma acção calorífica dos raios X; com cer­

teza esta acção existe visto que estamos em pre­

sença de uma forma de energia, susceptivel de transformação ; o que, porém, pode dar­se é que a energia dos raios seja muito fraca.

O olho humano não percebe estes raios e

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Rõntgen pensa que a causa está na insensibili­dade da retina, mas hoje parece provado que ainda que a retina fosse sensivel a estes raios el­les ficariam invisíveis porque os meios do olho é que são opacos aos raios X.

A propriedade mais notável que Rõntgen descobriu nos raios X é a sua propagação de tal modo rectilínea que elle não chegou a encontrar desvio algum na passagem atravez d'um prisma, nem mesmo de uma columna de sal gemma, de zinco ou de prata pulverisados (*). Pareceu-lhe possível que a disposição geométrica das molé­culas modificasse a acção que exerce um corpo sobre os raios X; se assim fosse o spatho d'Is-landia, por exemplo, poderia apresentar pheno-menos différentes, segundo a orientação da irra­diação em relação ao eixo de crystal. Expe­riências feitas com o quartzo e o spatho d'Islan-dia não deram resultado algum.

O ponto de emissão dos raios Rõntgen é se­gundo o seu descobridor o ponto do tubo em que os raios cathodicos tocam o vidro; a partir d'esté ponto, a intensidade do seu effeito dimi-

í1) Kood diz que chegou a determinar uma reflexão dos raios X recebendo-os sobre uma folha de platina a 45.» e mantendo a ampola em actividade durante dez ho­ras. A relação entre a acção directa e a acção reflecta, seria segundo es cálculos de Georges Brunnel somente d e WÃM'

c

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nue era razão do quadrado da distancia, a absor-pção pelo ar sendo tão fraca que pode ser des­prezada pelo menos em primeira approximação.

De mais, desloca-se a origem dos raios X, actuando com o auxilio de um iman sobre os raios cathodicos, de modo a dirigil-os a um ou­tro lugar do tubo.

Ròntgen pensa também que os novos raios sejam idênticos aos que emanam do cathodo, mas différera d'elles por varias propriedades im­portantes, principalmente pela acção do iman.

«O desvio dos raios cathodicos pelo iman é uma das suas características especiaes; Hertz e Lenard observaram que existe varias espécies de raios cathodicos, que différera pela sua proprie­dade de excitar a phosphorescencia, pela sua fa­cilidade de absorpção e pelo seu grau de desvio pelo iman; mas observou-se um desvio notável em todos os casos estudados e eu penso que este desvio constitue um caracter que não se pode desprezar facilmente.»

Rõntgen viu depois que algumas substan­cias se illuminam sob a acção dos raios X e es­tudou a sua acção photographica.

«Eu confirmei d'esté modo muitas observa­ções feitas primeiro examinando o écran fluores­cente. E' aqui que a propriedade apresentada pelos raios X de passar atravez da madeira ou do cartão se torna util. A placa photographica pôde ser exposta á sua acção sem que se tenha de levantar a cobertura do chassis ou a caixa

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protectora, de modo que a operação não tem ne­cessidade de ser feita no escuro. E' claro que as placas que não estão em experiência não devem ser deixadas na caixa na visinhança do tubo.

«Resta saber se a impressão sobre a placa é um effeito directo dos raios X ou um resultado devido á fluorescência da materia da placa. Pel-liculas podem ser impressionadas tão bem como placas seccas ordinárias.»

_ Eis o que nos disse Rõntgen sobre os seus raios, que immediatamente foram aproveitados não só pelos physicos. tentando, com elles e o seu estudo, buscar fundamento para as novas theorias da optica e da electricidade expendidas por Maxwell; mas também pelos práticos (medi­cos, cirurgiões, hygieuistas industriaes, etc., etc.) procurando tirar proveito das suas applica-ções.

Innumeros são os auctores que tem ligado o seu nome, em tão poucos mezes, aos raios Rõntgen, mas para não nos repetirmos reserva­mos para os capítulos seguintes (sobre a nature­za e applicações dos raios X) citar os trabalhos posteriores a Rõntgen, mesmo porque é justo fechar com chave de oiro este capitulo—e essa chave não pode ser senão a citação que já fize­mos do trabalho do sábio physico bavaro.

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X>uas p a l a v r a s a c e r c a d a n a t u r e z a e o r i g e m d o s r a i o s X

«0 que são pois estes raios? Pois que não são raios cathodicos, poder-se-hia suppor, pela sua faculdade de produzir a fluorescência e a acção chimica, que elles são devidos á luz ultra-violete. Um conjuncto imponente de provas está em contradicção com esta hypothèse: Esta luz nova possue, com effeito, as propriedades se­guintes:

<ia) Não se réfracta passando do ar á agua, ao sulfureto de carbono, ao alumínio, ao sal gem­ma, ao vidro ou ao zinco.

«b) Não se pode reflectir regularmente á su­perficie dos mesmos corpos.

«c) Não é polarisada por nenhum dos meios polarisantes ordinários.

«d) E' absorvida pelos différentes corpos, so­bretudo em razão da sua densidade.

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«Isto leva-nos a dizer que os novos raios de­vera comportar-se de outro modo différente que os raios visiveis ou infra-vermelhos e os raios ultra-violetes já conhecidos. Isto parece bastan­te inverosímil para que eu tenha procurado fa­zer uma outra hypothèse.

«Parece haver uma espécie de relação entre os novos raios e os raios luminosos; pelo menos a producçâo de sombras, de fluorescência e de acções chimicas parece indical-o. Ora, sabe-se desde muito tempo que alem das vibrações que produzem phenomenos luminosos, é possível que vibrações longitudinaes se produzam no ether; certos physicos pensam mesmo que estas vibra­ções devem existir. Comtudo deve-se convir que a sua existência nunca foi posta em evidencia e que as suas propriedades não foram estabeleci­das pela experiência.

«Estes novos raios não deveriam ser attribui-dos a ondas longitudinaes do ether?

«Eu devo declarar que & medida que conti­nuava estas pesquizas, eu me acostumava mais e mais a esta ideia e permitto-me ennuncial-a,

' sem me dissimular que a hypothèse exige ser es­tabelecida mais solidamente» (l).

Transcrevemos estas palavras por serem de Rõntgen; façamos agora um pequeno estudo dos

(i) Kevue général des sciences pures et appliquées, 1896 n.° 2 pag. 63.

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raios cathodicos para então proficuamente ava­liarmos a natureza dos raios X e suas proprie­dades.

As primeiras pesquizas systematica^ sobre os phenomenos que acompanham a passagem da electricidade atravez de um gaz 30b fraca pres­são são devidas a Faraday (*). Estas experiên­cias de Faraday são hoje repetidas nos cursos de physica com o apparelho productor do ovo eléctrico onde á proporção que a pressão baixa as faíscas eléctricas diminuem de brilho augmen-tando, porém, em frequência.

Pouco a pouco, ellas se transformam em ai­grettes d'apparencia continua, (o ovo eléctrico) que também vão desapparecendo com o vacuo crescente até darem lugar a simples clarões cer­cando os dois pólos.

Abria em 1843 operando esta experiência em tubos cylindricos viu que o clarão que se produ­zia n'estes tubos era dividido em estratos equi­distantes. Geissler em 1861 observou que uma descarga n'um tubo, em que o vasio era relati­vamente considerável, produzia effeitos lumi­nosos e para isso mandou construir um tubo de vidro de trinta centímetros de comprido, fechado nas extremidades, as quaes, porém, eram atra­vessadas por fios de platina. Construindo estes tubos com vidro de variadas cores obtinham-se

(>) Experimental Researches 13.» serie 1838.

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colorações e phosphorescencias d'um effeito sur-prehendente.

Annos depois (1879) Crookes produzindo n'es­tes tubos um vasio muito mais elevado (a pressão era reduzida a algumas millesimas de atmosphera) observou que a descarga eléctrica dentro d'estes tubos produzia effeitos completa­mente différentes dos que tinham sido observa­dos por Geissler. Em vez da fluorescência que, no tubo de Geissler, illumina o apparelho intei­ro, á volta do fio ligado ao polo negativo cons-tata-se um espaço quasi escuro, e a região opposta do vidro manifesta effeitos notáveis de phosphorescencia. N'este espaço escuro en­tretanto existem raios capazes de impressio­nar uma substancia photographica, de tornar luminosos certos corpos phosphorescentes (vi­dro, rubi, diamante etc.), de produzir effeitos caloríficos e mecânicos—são os raios cathodicos. Crookes notou mais: que collocando deante do cathodo uma cruz d'aluminio via a sombra d'ella projectar-se sobre o fundo brilhante do tubo; que se entre os dois eléctrodos collocava uma roda, ao passar a descarga esta punha-se em mo­vimento; que se a roda fosse substituída por uma lamina metallica inclinada dava esta ori­gem, a um som perceptível quando o tubo era percorrido pela descarga. Estes raios são desvia­dos pelo iman e produzem calor quando detidos no seu movimento.

D'estas experiências Crookes formulou a hy-

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pothese seguinte: que a materia contida dentro do tubo, onde o vasio é muito grande, era pro­jectada violentamente do eléctrodo Degativo para o eléctrodo positivo, produzindo-se assim uma espécie de bombardeamento.

Foi d'esté facto que nasceu em Inglaterra a theoria da materia irradiante, e a hypothèse d'um quarto estado dos corpos : solido, liquido, gazoso e irradiante.

Dizia-nos o celebre mathematico inglez: Se se considera um gaz sobre a pressão ordinária, sabe-se que elle é formado por um numero enor­me de moléculas accumuladas umas perto das outras e movendo-se livremente. Entretanto, em razão da immensa quantidade d'estes elementos primordiaes constitutivos dos gazes, os limites do percurso que uma molécula pôde fazer sem vir chocar-se contra uma outra molécula visinha são fatalmente extremamente reduzidos. Mas n'um meio rarefeito como o de seus tubos, o fa­cto já não é o mesmo; aqui, com effeito, o nu­mero das moléculas tendo diminuido emquanto que o volume do recipiente ficou constante, o comprimento medio do percurso livre de cada uma d'ellas cresceu proporcionalmente e por tanto o numero das collisões que tem lugar em um dado tempo tornou-se por assim dizer des­prezável e então as moléculas podem seguir sem obstáculos os seus movimentos ou as suas leis proprias. N'este estado a materia apresehta-se

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sob um quarto estado que Crookes chama esta­do irradiante, o qual é tão ajfastado do estado gasoso como este o é do estado liquido.

Esta materia irradiante apresenta evidente­mente propriedades características. Assim, sob a acção da descarga eléctrica, as moléculas que a compõem podem animar-se de movimentos muitíssimos rápidos de repulsão e de attracção dando então lugar a verdadeiros bombardea­mentos moleculares, que se nos revelam por phe-nomenos luminosos, affectando formas diversas: bandas luminosas, aureolas, estratificações co­radas, etc., e por phenomenos mechanicos.

Devo dizer que Crookes teve um antecessor nos seus trabalhos. Hittorf, que porém não con­seguiu dar-lhes alma, razão porque na sciencia estas experiências são conhecidas pelo nome do primeiro.

Apezar, porém, do engenho das demonstra­ções de Crookes os sábios não adoptaram sem discussão as ideias do physico inglez.

Goldstein, Hertz, Wideman, Ebert, Jaumann e outros sábios instituíram também por seu lado experiências que abriram brecha na theoria ci­nética do quarto estado da materia.

Foi uma verdadeira lucta a que então se tra­vou entre os sábios inglezes e os sábios allemães e que terminou com a victoria d'estes pelos me­moráveis trabalhos do sábio húngaro Lenard, a quem o próprio Rõntgen, honra lhe seja, com

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uma elevada probidade scientifica, ao dar conta das circumstancias da sua descoberta, declarou como o seu verdadeiro percursor.

Finalmente a experiencia.de Lenard, que já descrevemos com minuciosidade no capitulo an­tecedente (pag. 29), trazendo os raios cathodicos para fora do tubo em que foram produzidos, veio mostrar sem replica possível a inanidade da theoria do bombardeamento molecular ele-va-nos a admittir estes raios como verdadeiros raios luminosos originados pelas vibrações do ether.

Logo depois se reconheceu que os raios ca­thodicos, invisíveis por si próprios, provocam, como já vimos a phosphorescencia de alguns corpos—o platinocyaneto de baryo, o pentade-cylparatolylacetona, uma mistura de sulfureto de baryo ou de cálcio com o oxydo de antimo-nio (Batelli e Garbano), o tungstato de cálcio cristallisado (Edison) e sobretudo o platinocya­neto de potássio, que, segundo Silvanus Thom­pson, seria em egualdade de circumstancias dez vezes mais fluorescente que qualquer outra sub­stancia. Também se viu que estes raios impres­sionam as placas photographicas ; que o seu mo­do de propagação, pelo menos na atmosphera, não era rectilíneo ; que elles eram incapazes de penetrar os corpos opacos, mas deviam contor-nal-os ; que eram desviados pelo iman não só no ar mas também nos tubos de Crookes; que não eram sempre da mesma natureza e que, segun-

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do o seu estado, eram mais ou menos influen­ciados pelas acções magnéticas e apresentavam capacidades de phosphorescencia particulares. Ulteriormente J. Perrin mostrou ainda que os raios cathodicos eram sempre electrisados nega­tivamente.

Eis os raios cathodicos com as suas proprie­dades, que balanceadas com as dos raios X nol-os mostram bem différentes.

Qual é, portanto, a natureza dos raios pro­duzidos no tubo de Crookes concorrentemente com os raios cathodicos?

Rõntgen, como já vimos (pag. 38), diz-nos que os seus raios são devidos a vibrações longi-tudinaes do ether, vibrações já admittidas ante­riormente por Jaumann e lord Kelvin.

Poincaré, (*) diz-nos que os raios Rõntgen são «um agente novo, tão novo como o era a ele­ctricidade no tempo de Gilbert, o galvanismo no tempo de Volta».

Na Inglaterra onde a' theoria de Crookes ain­da conta partidários, enunciou-se a opinião de que os raios X são devidos ao movimento das moléculas materiaes.

São ainda as theorias de Tesla em acção e por isso iremos mesmo citar as palavras do au-

(>) Kevue générale des sciences pures et appliquées 1896 n.° 2 pag. 56.

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etor no Scientific American ('): «E' pouco du­vidoso, hoje, que uma corrente cathodica n'um tubo seja composta de pequenas partículas de materia lançadas do eléctrodo com uma grande velocidade. A velocidade provável realizada jus­tifica plenamente os effeitos mechanicos e calo­ríficos produzidos pelo feixe contra a parede do tubo ou do obstáculo que encontra. Alem d'isso é reconhecido que as porções de materia proje­ctadas actuam como corpos não elásticos, innu-meraveis balas infinitessimaes. Pode-se mostrar que a velocidade da corrente pode attingir 100 kilometros por segundo e mesmo mais. A mate­ria movendo-se com uma tal velocidade deve se­guramente penetrar a uma grande profundidade nos obstáculos que ella encontra, se as leis da mechanica são applicaveis á corrente cathodica.

«A materia que compõem a corrente catho­dica é reduzida a uma força primaria até aqui ainda desconhecida, porque taes velocidades e choques tão violentos nunca foram provavelmen­te estudados nem mesmo realisados antes que estas manifestações extraordinárias tivessem sido observadas. O ponto importante assignalado pri­meiro por Ròntgen e confirmado pelas pesqui-zas subsequentes, a saber: que um corpo é tanto mais opaco aos raios quanto mais denso elle é,

(*) Traducção feita por Jougla em La Vie Scientifi­que de 7 de Novembro de 1896.

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não saberia explicar-se d'uma maneira mais sa-tisfactoria que pela theoria considerando estes raios como correntes de materia. . . Uma prova decisiva da existência de correntes materiaes é fornecida pela formação de sombras no espaço a uma certa distancia do tubo. Estas sombras não poderiam ser fornecidas nas condições descriptas senão por corrente materia».

Esta hypothèse de Tesla q, ousada e temerá­ria, jamais quando a theoria do bombardeamen­to molecular applicada aos raios cathodicos está muito escancellada.

Muitos sábios querem que os raios X sejam simplesmente produzidos pelas vibrações trans-versaes do ether, vibrações extremamente cur­tas e então seriam raios luminosos ultra-violetes. Esta ultima opinião tem o appoio de' Charles Henry, (l) distincto chefe de conferencias na Sorbonne.

Para Henri Dufour, (2) professor de physica na Universidade de Lausanne, os raios X teriam uma origem eléctrica: «as irradiações actinicas que emanam da superficie dos tubos de Crookes, diz elle, parecem ter uma oiúgem eléctrica; el-las constituem um phenomeno análogo ao efflu-

(') Sur les rayons Bontgen. Compte-rendus de l'Aca­démie des Sciences, pag. 787, 1896.

(2) Observations sur la formation des rayons Eon­tgen. Eevue générale des sciences pures et appliquées n.° 4, pag. 193.

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vio eléctrico e actuam como taes sobre as placas sensíveis».

Zenger, muito mais radical ainda, affirma que os raios Rõntgen não existem e que as pho­tographias apresentadas e feitas segundo a indi­cação do sábio professor de Wúrtzburg eram simplesmente devidas a «um phenomeno d'in-ducção eléctrica produzindo a phosphorescencia da gelatina e ao mesmo tempo a descarga elé­ctrica na mesma gelatina (das placas sensíveis) ; emfim a fluorescência do ar ambiente, como no caso da descarga em aigrettes (descarga escura) da electricidade. Na minha opinião são estes trez agentes que determinam a decomposição dos saes de prata na camada sensível ; não ha irradiação especial, raios X ou luz negra (*).» Esta opinião tem a sèu favor os trabalhos de Donato Tomasi de que já fallei a pag. 27.

Eis relatadas as opiniões reinantes na sciencia sobre a natureza dos raios X e por esta exposição vemos claramente que a materia não passou ain­da em julgado.

Alguma coisa mais, porém, já se sabe sobre a origem dos raios de que me occupo.

Já conhecemos qual a opinião do prof. Rõn­tgen e que circunstanciadamente referi no ca­pitulo antecedente a paginas 33.

(') Sur la production des silhouettes de Rõntgen, Compte-rendus de l'Académie des Sciences, 1896, n.° 8— 456.

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Mas esta opinião é contestada e começarei por citar a opinião de Heen de Liege, que nos diz que os raios X «emanariam do ânodo, quer dizer do polo positivo do tubo.

Para o demonstrar basta collocar entre o tu­bo de Crookes e a placa sensível um écran de chumbo atravessado por algumas aberturas per-mittindo a passagem dos feixes de raios.

A direcção d'estes sobre a placa indica que elles emanam do polo positivo e não do polo negativo—são, pois, raios anódicos» (')

Girard, director do laboratório municipal de Paris e F. Bordas affirmam que estes raios ema­nam, simultaneamente, do ânodo e do cathodo.

Para proval-o alojaram um tubo de Crookes no interior de uma caixa rectangular de madei­ra, inteiramente coberta de chumbo, e munida em cada uma das paredes e na parte media de um orifício circular de dois centimetros de diâmetro.

Depois servindo-se de placas sensíveis collo-cadas em face d'estes buracos viram estes dois illustres experimentadores que «os clichés for­necidos pelas partes lateraes do tubo de Crookes representavam a imagem do tubo com duas zo­nas circulares, correspondendo ao ânodo e ao ca­thodo» ; substituindo o diaphragma circular por outro estrellado «obtiveram sobre a placa uma

(') Carta dirigida em 13 de Fevereiro de 1896, ao Se­cretario perpetuo da Academia de Sciencias de Paris.

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imagem dupla da estrella»; se se intercepta por meio de uma lamina de chumbo, no inte­rior da caixa «os raios emanando, quer do âno­do, quer do cathodo, obtem-se um só circulo sobre o cliché.» (x)

Ainda assim Jean Perrin ('), o princepe B. Ga-litzine e A. de Karnojitzky (3) não se considera­ram convencidos e tentaram novas experiências que os levaram a admittir a opinião de Rõntgen.

Na verdade Perrin conseguiu verificar que os raios X se desenvolvem effectivamente sobre as paredes interiores do tubo, «mais geralmente nos pontos em que um obstáculo qualquer de­tém os raios cathodicos e não em outros pon­tos».

Se os raios cathodicos vêm a ferir o ânodo— como succède em alguns tubos de Crookes— pro-duz-se n'este lugar um ponto de partida para os raios X, ponto perfeitamente accidental e devi-

(') Ch, G-irard e F. Bordas-Sur les rayons de M. Eõntgen—Comptes rendus hebdomadaires des Séances de l'Académie des Sciences—séance du 9 Março 1896-pag. 605.

(2) Jean Perrin-Origine des rayons de Eõntgen. Comptes-rendus hebdomadaires des Séances de l'Acadé­mie de Sciencies-Séance du 23 Março 1896-pag. 716.

Í3) Prince B. Calitzine e A. de Karnojitzky-Becher-ches concernant les propriétés des rayons X—Comptes-rendus hebdomadaires des Séances de TAcadémie des Sciences-Séance du 23 Março 1896 p. 718.

D

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do unicamente ao ânodo ter servido de écran Sobre o qual vieram cahir os raios cathodicos.

Ainda assim esta pluralidade de opiniões mostra que o assumpto necessita ser batido para então trazer a convicção a todos.

Se mais ou menos conhecemos a natureza e o ponto da emissão dos raios X, passemos agora ao estudo da sua technica.

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Ill

T e c h u i c a d o s r a i o s X

Não ha technica que era tão pouco tempo te­nha feito tantas e tão radicaes modificações co­mo a dos raios Rõntgeu e para provar esta mi­nha affirmação basta lembrar que o tempo de pose, que ao começo era de 30 minutos e mais, hoje acha-se reduzido a 2 ou 3. Hoje, o exame dos ossos da mão, braços, etc., passa por um brinquedo de crianças, e a nova technica dirige-se antes ao diagnostico de lesões visceraes.

Mas, vejamos qual é a technica que se deve adoptar para applicar tão mysteriosos raios á medicina. Para isso dividirei o assumpto em va-rios sub-capitulos:

I Fonte de electricidade. II Bobina de inducção.

III Tubo de Crookes. IV Accessorios. V Parte photographica.

VI Radioscopia. *

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l—FONTE DE ELECTRICIDADE

A fonte de electricidade deve fornecer uma corrente continua, constante e sempre no mesmo sentido; esta corrente póde-nos ser fornecida por:

a) Pilhas primarias. b) Accumuladores. c) Uma machina eléctrica. d) Uma distribuição de corrente continua for­

necida por uma fabrica central.

a) Pilhas primarias

Para o nosso fim—excitar uma forte bobina de Rhumkorff—convém empregar pilhas de alta intensidade, de uma grande constância e que pos­sam funccionar durante um certo tempo sem ne­cessitar de renovar os líquidos. As pilhas deBun-zen e as de bichromato de potassa são as que melhor preenchem estas condições, devendo-se, porém, preferir sempre a de bichromato, não só por desenvolver uma tensão de perto de 2 volts, mas também pela inocuidade relativa dos pro-ductos chimicos que consome e sobretudo por­que não desenvolve emanação alguma desagra-

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davel ou nociva. Existindo vários modelos (Tes­tas pilhas, nós devemos adoptar aquelle em que a resistência interna é menor e cujo funcciona-mento é mais fácil (que se esvazia e carrega mais rapidamente).

A pilha deve fornecer 10 amperes sob o volts, ou uma potencia de 50 watts. Se quizermos que a experiência dure vinte horas, sem que a pilha seja carregada de novo, deverá esta mostrar uma energia de 1000 watts-hora, isto é, 50 watts multiplicado por vinte horas. Sabendo nós que a pilha de bichromato de potassa dá, por kilo de bichromato consumido, approxima dam ente 300 amperes-horas, ou seja, sob pressão de 2 volts (força electro-motriz do elemento), 300x2=600 watts-hora; logo a quantidade de bichromato que devemos empregar é-nos dada n'este caso

pela formula SÍTT, approximadamente 2 kilos.

Ora, como cada elemento de pilha gasta 200 grammas, nós deveremos empregar, portanto, 10 elementos para gastar os 2 kilos de bichromato de potassa com o fim de obtermos o effeito de­sejado.

Apurado o numero de elementos necessários, vejamos agora qual será o agrupamento que devemos preferir. O que produzir corrente de maior intensidade e a este requesito satisfaz aquelle em que a resistência interna da pilha é egual á resistência externa.

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Designando a resistência interna de cada ele­mento por r—0,2 ohm, a equação de Ohm

tE=l/B-f--r \ com t q = 1 0 = n (I )

nos indicará qual o agrupamento a empregar. Como a resistência interna é egual á resistên­

cia externa, logo:

- r = B = 0 , 5 ohm (resistência do inductor)

d'onde tiramos t r=Bq. Estas ultimas equações dão-nos:

t r = B - ou t 2 =n~ d'onde t = \ / n -t r V r

Substituindo os respectivos valores, temos:

Uzando agora a formula (1) e substituindo os valores conhecidos vemos que

10 0

Por este calculo achamos que o agrupamento

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em 2 series de 5 elementos é o que melhor nos convém pois que nos dá uma corrente de

I = - t E

B+-r q

' —10 amperes " 0 , 5 + | x 0 , 2 0 ' 5 X ° ' 5

Portanto 10 elementos de 0,2 ohms seriam suf-ficientes, mas entre a pilha e a bobina nós de­vemos empregar varias resistências (instrumen­tos de medida necessários e um rheostato desti­nado a manter a intensidade da corrente); de­mais é ouzado contar com a potencia maxima de uma pilha, pois que esta potencia pode baixar rapidamente algumas vezes e assim compromet-ter o resultado de uma experiência, logo deve­mos munir-nos de alguns elementos mais.

N'estas circumstancias é prudente adquirir 10 elementos de 0,2 ohm e agrupal-os em 2 series de 8 elementos cada um. A differença de poten­cial, nos bornes extremos da pilha será pouco

mais ou menos 10xR=10 „ 0,2=8 volts e a po­

tencia fornecida 80 watts. Devemos fazer notar que o interruptor perió­

dico, na sua marcha, augmenta muito a resistên­cia do circuito inductor.

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b) Accumuladores

Os accumuladores ou pilhas secundarias são verdadeiros voltametros, que têm os eléctrodos formados por duas placas de chumbo de grande superficie, as quaes mergulham, muito perto uma da outra, n'uma solução de acido sulfúrico izento de arsénico.

Carregam-se os accumuladores por meio de uma corrente primaria de qualquer origem que, decompondo a agua, oxyda a lamina positiva e reduz a lamina negativa. Assim dá origem a uma força contraria electro-motriz de polarisação dos eléctrodos, que fornecerá logo depois, n'um circuito de utilisação uma corrente de descarga (secundaria) que é de sentido contrario ao da cor­rente de carga (primaria). A descarga reconduz as placas ao estado primitivo em que ellas po­dem receber uma nova carga, após o esgota­mento.

Comportam-se assim como reservatórios de electricidade que a accumulant em grande quan­tidade para ser usada a propósito.

O emprego dos accumuladores na producção de raios X é, pois, absolutamente comparável ao das pilhas.

Todas as espécies de correntes de accumula­dores podem servir, mas devem-se runir 5 ou 6 e agrupal-os em tensão pelo mesmo motivo que já expuz para as pilhas.

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c) Machina eléctrica

As machinas electro-estaticas sâo as que mais vulgarmente são empregadas. 0 seu uso dis­pensa a bobina; ellas directamente excitam o tubo de Crookes.

Comtudo esta fonte de electricidade apresenta muitos inconvenientes de valor: o seu gasto e a sua tensão estão longe de ser constantes, podem variar com varias razões, por exemplo a veloci­dade de rotação dos pratos e o estado hygrome-trico da atmosphera. Nunca se está senhor da machina e accontece frequentes vezes que a am-polla faz de condensador, carrega-se e quebra-se com uma faísca poderosa. Entretanto é justo também affirmar que estes inconvenientes pro­vêm em maior parte da má utilisação que se faz das machinas estáticas; mas se fossem uzadas, en­cerrando a machina n'uma caixa de vidro con­tendo matérias exsiccadoras de modo a tornar constante o grau hygrometrico do meio am­biente e accionando-as por um motor mechani-co que lhes desse uma. velocidade rigorosamente constante, então o seu gasto seria sufficiente-mente regular para alimentar em condições ex-plendidas um tubo de Crookes.

Guilloz conseguiu tirar excellentes radiogra­phias com a machina electrostática de Bonetti.

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d) Corrente fornecida pelas fabricas centraes

Em certas cidades pode o medico utilizar a corrente de uma fabrica que tem ordinariamente uma differença de potencial de 110 volts.

Esta corrente pode ser alternativa (constituí­da por uma serie de correntes que se seguem alternativamente em sentidos inversos, á razão de 30 a 40 por segundo); para as empregar é necessário attenual-as por meio de um rheostato collocado entre a origem e a bobina e só depois lançal-a na bobina induetora, mas estas corren­tes, á descarga no tubo de Crookes, produzem também correntes que passam alternativamente em sentido inverso e que por isso mesmo dete­rioram rapidamente os tubos de eléctrodos de­licados, como os que se constroem presentemen­te para a radiographia; póde-se, porém, remediar este grave inconveniente por meio de um inter­ruptor synchronico (diapasão que dá tantas vi­brações, quantas mudanças de sentido comporta a corrente).

A corrente de 110 volts pode ser continua e então basta introduzir no circuito da fabrica a bobina induetora, um ampere-metro e um rheos­tato capaz de baixar o consumo a 10 amperes ou menos.

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II — BOBINA DE INDUCÇÃO

Bobina d'indueçao é um apparelho que tem por fim transformar uma energia electriea, que lhe é fornecida por uma corrente intensa, de baixo potencial, em uma energia eléctrica de grande potencial, mas de fraca intensidade.

Para obtermos esta transformação dispomos duas bobinas sobre o mesmo eixo.

A bobina interna ou inductor (bobina in-ductora ou primaria) é enrolada n'um cylindro de ferro. Pondo em communicação esta bobina inductora com uma fonte eléctrica o cylindro de ferro é fortemente magnetisado e em volta d'elle nasce um campo magnético muito intenso.

A apparição d'esté campo magnético, que passa repentinamente de zero a um alto valor de energia, é um gasto que repparece na bobi­na externa ou induzida originando uma cor­rente induzida de grande energia, mas sempre inferior á corrente inductora e em sentido con­trario. Abrindo ou fechando o circuito inductor, apparecerá na bobina secundaria uma corrente induzida directa do mesmo sentido que a do in­ductor.

Tanto a corrente induzida directa como a in­versa são eguaes em quantidade, mas a sua for­ça electro motriz é différente. A corrente indu­zida directa é muito maior do que a inversa.

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A corrente induzida inversa é tão fraca que affastando ura pouco as extremidades do fio in­duzido a corrente não passa; pelo contrario a corrente induzida directa produz-se mesmo que os dois topos do fio estejam affastados alguns decimetros.

Fechando e abrindo alternativamente a cor­rente inductora produz-se uma serie de correntes induzidas que têm todas o mesmo sentido assim como as descargas produzidas entre os dois fios, correspondendo cada uma das suas extremi­dades aos pólos da bobina, tendo o mesmo si­gnal que elles, e podendo mudar de signal logo que se inverta o sentido da corrente inductora— o que é de grande utilidade para os tubos ra-diographicos, como veremos em tempo oppor-tuno.

Qual é a dimensão absoluta que deve ter uma bobina destinada ao fim que temos em vista?

Será aquella que dér pelo menos uma faisca de 5 ou 6 centímetros de comprimento, limite inferior, mas na pratica estas bobinas são in-sufficientes e nós devemos preferir antes uma bobina que dê 10 a 12 centimetres de faisca. Quanto maior, porém, fôr a bobina, maior ener­gia util temos e por isso mais vantajosa se torna na pratica ; por isso o limite superior não pôde ser dado por ora.

Ha bobinas que dão faíscas desde 25 centí­metros a um metro de comprido, mas estas ul-

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tiraas, além de serem caras, são de difficil trans­porte ; na pratica medica bastar-nos-ha uma que dê 30 a 45 centímetros de faisca.

Toda a bobina d'inducçao deve ser acompa­nhada d'um interruptor periódico e d'um con­densador, de que, porém, me occuparei no sub-capitulo dos accessorios.

III — TUBOS DE CROOKES

São tubos de vidro ( l) de formas variadas, nos quaes o vacuo é tão perfeito quanto possivel. (') Estes tubos têm soldado ás suas paredes dois eléctrodos, um positivo ou cathodo e outro ne­gativo ou ânodo. 0 cathodo é formado por um

(') As différentes espécies de vidro não apresentam a mesma transparência aos raios X; segundo Chabaud, os vidros com base de soda, potassa e cal e o vidro allemão, dando uma fluorescência verde, são relativamente muito transparentes; o vidro de urânio é um pouco mais opaco, mas o crystal, que dá uma fluorescência azul, é muito opaco, o que se explica facilmente pela presença do chum. bo. Por isto se vê que nem todos os vidros servem para a fabricação dos tubos de Crookes.

(3) Para que uma ampolla funccione convenientemen­te é essencial que o seu vacuo corresponda a uma pressão comprehendida entre T ^ e ™ de millimetre de mercú­

rio.

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longo fio de platina que se continua para o in­terior do tubo, por um disco d'aluminio ao qual se dá uma curvatura propria. 0 anódo quando' termina internamente por um disco de platina, este disco toma o nome de anticathodo ou fo­cus (1). Fora do tubo os fios de platina dos dois eléctrodos formam um pequeno annel no qual se faz passar a extremidade do rheophoro do mesmo signal (conductor' do induzido). 0 tubo de Croo-kes é munido d'um tubo cylindrico estreito por onde se faz, por meio de uma bomba, o vacuo tão perfeito quanto seja possível no interior do tubo (ordinariamente uma millionesima de atmos-phera), servindo também para o fixar no sup­porte.

Os tubos com vacuo destinados a obter radio­graphias devem ser construídos de maneira que os raios cathodicos, emittidos por cada ponto do cathodo, perpendicularmente á sua superfi­cie, venham convergir a um mesmo ponto deno­minado foco anticathodico ou focus, o qual deve estar situado sobre a lamina.

As ampollas (tubos de Crookes) para a radio­graphia tem sido sempre fabricadas segundo as regras das três theorias seguintes :

í1) ' O anticathodo pôde ser o próprio vidro (tubos da l.a serie), pois como vimos já os raios X tomam ori­gem no ponto em que um obstáculo qualquer se oppõe á passagem dos raios cathodicos.

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1 .a Bazea-se na acção directa da irradiação (é a mais antiga).

2." Utiliza a acção dos raios cathodicos refle­ctidos (dá uma grandíssima rapidez em radio­graphia).

3." Combina as duas primeiras theorias (os tubos assim fabricados produzem o instantâneo).

Os primeiros tubos, os das primeiras expe­riências, eram de acção directa, utilizavam os raios emittidos pelo cathodo e passando atravez da parede do vidro para ir n'uma direcção re­ctilínea impressionar a placa sensível.

A segunda serie de tubos, a que fornece os magníficos resultados conhecidos até hoje, tem por principio a theoria da reflexão dos raios ca­thodicos. Por um phenomeno de galvanoplastia, as moléculas metallicas volatilizadas ficam sobre o espelho e só os raios cathodicos, izentos de to­da a poeira metallica, vêm atravessar a parede da ampolla. Estes tubos, que fizeram diminuir consideravelmente o tempo de pose, compõem-se essencialmente de dois ânodos e um cathodo ; um dos ânodos é formado por um disco de pla­tina, de forma qualquer, com uma inclinação de 45.° (chamado espelho), que reflecte totalmente os raios cathodicos. A' custa de innumeras ex­periências foi que se conseguiu vêr que, nos tu­bos da primeira serie, o metal volatilizado era projectado contra a facevinterna do vidro, que acabava por metallizar-se, diminuindo assim len-

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tamente, a força dos raios e chegando mesmo a detel-os (*).

A terceira serie, cuja theoria foi habilmente exposta por Georges Brunnel (a), e em que o au-ctor combinou as duas theorias anteriores, é composta de tubos que têm dois ânodos e dois cathodos ou vários ânodos ou cathodos.

Innumeros são os modelos apresentados e somente me referirei ao nome dos auctores, pois que é impossivel n'um modesto trabalho como o meu fazer a descripção de todos elles; mas ain­da assim apresento na estampa I as suas formas»

Eis, pois, os nomes dos auctores das ampol-las mais conhecidas, catalogadas segundo a clas­sificação que fiz mais acima:

/.a serie.—Crookes (vários modelos) Rõntgen (idem); Seguy (idem) Wood; d'Arsonval (dois modelos), Chabaud e Hurmuzescu, Puluj Le Roux, Colardeau, Hard e Kiss (dois modelos).

2." serie.—Seguy (vários modelos) Silvanus Thompson, Le Roux (dois modelos) Brunel-Se-guz, Jackson e o tubo iriglez «Penetrator».

(') Os metaes não são transparentes aos raios X e mesmo pouco são os que não lhe oppõem grande resis­tência á passagem.

(2) Conferencia—Nouvelles scientifiques et photogra­phiques. Abril de 1896.

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3." serie.—Rufz, Seguy (dois modelos) Muret e o tubo da «Algemeine Electricitãts Gesell-schaft» de Berlim.

Mas na pratica basta simplesmente dividir os tubos em dois grandes grupos:

1.° Tubos fracos. 2.° Tubos fortes. Os tubos fracos, systema Colardeau, suppor-

tam apenas faíscas de 5 a 6 centímetros de com­prido e são utilisados para obter radiographias de corpos de pequena espessura.

Os tubos fortes são munidos d'um ânodo sup-plementar para diminuir a resistência eléctrica do tubo e são empregados para obter radiogra­phias atravez de corpos de grande espessura, visto que supportam faíscas de 20 a 50 centíme­tros de comprido.

Alteração de tubos de Crookes. —As ampollas não tem uma duração indefinida porque o seu continuo funccionamento altera-as de modo tal que a producção regular dos raios é prejudica­da, ou mesmo aniquilada; além de varias cau­sas que concorrem para a sua alteração, duas são as principaes:

\." E' devida a um transporte daluminio do cathodo para o ânodo ou para as paredes do tu­bo, formando sobre elles um deposito impalpá­vel d'esté metal. Este deposito apresenta-se com t m a côr violete, a principio, e mais tarde acas­tanhada. Estas manchas absorvem, posto que em

E

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(Mh

pequena quantidade os raios J. e portanto pou­ca attenção nos deve merecer. '■>

2." E' devida á resistência eléctrica no inte­rior do tubo, que augmenta progressivamente com o uso. Este augmento de resistência é devi­do á absorpção do gaz residual pelas paredes do tubo e pela lamina cathodica, Em virtude d'esté augmento de resistência, veêm­se, passado algum tempo, faiscas passar d'um reophoro para o ou­tro, ao lado do tubo, atravez da atmosphera.

Esta alteração que é muito séria retarda­se limpando muitas vezes a poeira deposta sobre a superficie, guardando o tubo n'um logar bem secco e operando n'uma atmosphera quente a secca; ou então aquecendo o tubo a uma lâmpa­da d'alcool, antes de o pormos a funccionar. Este ultimo meio é difficil de executar e reclama mui­to cuidado para não se dar um aquecimento de­sigual, que fende facilmente as soldaduras.

Visto que este aquecimento é assim tão me­lindroso ura outro meio temos para o fazer e consiste em submetter, durante um certo tempo, o tubo a uma serie de descargas a prin­cipio fracas, depois mais fortes e, de quando em quando, mudando­lhe o sentido das correntes. Por este artificio o ar do interior do tubo se aquece, a sua resistência diminue, e as partes solidas, em virtude do • aquecimento, expulsão uma parte do gaz absorvido. Por este modo o tubo torna a adquirir as suas propriedades pri­mitivas.

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Um outro processo consiste em aquecer o tubo n'uma estufa de modo que o calor chegue a este muito lentamente, espalhando-se n'elle uniformemente, e em seguida deixa-se resfriar também lentamente. Uma hora a 100.° bastará pa­ra a primeira passagem pela estufa, mas se não fôr suficiente elevar-se-ha a temperatura a Iõ0.°, 200.°, 250.» e 300.°. Este processo é o preferido porque é o mais seguro e o mais pratico.

Ainda para augmeutar a vida dos tubos Ed. Guillaume, eminente adjunto no Bureau In­ternational des Poids et Mesures, de Paris, ba-zeando-se na propriedade que possue o palladio de absorver em grande quantidade o hydroge-nio e de o restituir, em parte, quando aqueci­do, suggeriu a Chabaud o introduzir nos tubos uma pequena placa d'esté metal. Esta peça de metal está collocada n'uma pequena ampolla la­teral, que pode facilmente ser aquecida isola­damente por meio d'uma lâmpada d'acool; esta lamina de palladio representa o papel d'um ter­ceiro eléctrodo independente. Os tubos assim fabricados são lavados internamente com hydro-genio; o excesso de gaz é absorvido pelo palla­dio e, no momento em que o tubo se torna re­sistente, aquece-se a ampolla accessoria com pre­caução.

Qual o meio de avaliar a força de ura tubo? A melhor maneira de experimentar um tubo

de Crookes, isto é, constatar o seu rendimento aproximativo em raios X, consistiria evidente-

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mente em realisar uma operação com este tubo e vêr se a sua efficacia é real, mas póde-se tam­bém empregar um methodo baseado no poder que possuem as irradições Rõntgen de descarre­gar os corpos electrisados (x). Para nos assegu­rarmos, pois, do bom funccionamento d'um tu­bo não teremos mais que ligal-o a uma bobina de Rhumkorff e approximar d'elle um electrosco-pio carregado; a descarga deve fazer-se em dois ou trez segundos.

Para o mesmo fim podemos também servir-nos de écrans phosphorescentes.

Existe ainda o processo de Imbert e Bertin-Sans, (3) de Montpellier, para reconhecer o valor de um tubo e também o valor relativo das diversas regiões do mesmo tubo, mas con­sideram ol-o pouco pratico pai'a os clinicos, sen­do para estes sufnciente os dois methodos já ex­postos.

Alguns authores propoem-se, para augmen-tar o rendimento dos tubos em raios X, collocar dentro d'elles ou cobrir o anticathodo com subs­tancias luminicentes: Silvanus Thompson cobre o anticathodo com um esmalte contendo sulfu-

X1) Perrin demonstrou que os raios X tinham a cu­riosa propriedade de descarregar os corpos electrisados sem ter a necessidade de estar em contacto com elles; o que nos leva a pensar que para os raios de Kõntgen, os bons tubos gozam p papel de conductores..

{2)' La «Presse Médicale» n.° 55, 8 de Julho de 1896.

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reto de cálcio; Piltschikoff emprega somente substancias phosphorescentes nas ampollas; Edi­son para o mesmo fim asa o tungstato de cál­cio; comtudo esta pratica não se generalisou e parece mesmo não ter grande influencia sobre o rendimento dos tubos.

Imbert, Bertin-Sans, Kœnig e outros preco-nisam, para augmentar a nitidez das imagens o emprego de diaphragmas de metal ou de vidro espesso, não deixando passar senão um pequeno feixe de raios; é evidente que quanto menor fôr a abertura do diaphragma tanto mais nitidas se­rão as sombras, mas pelo contrario a intensida­de é diminuída e o tempo de pose deve ser au-gmentado.

IV — ACCESSORIOS

Entre os accessorios devemos estudar:

a) 0 condensador. b) O interruptor periódico. c) Os rheostatos. d) Apparelhos de medida. e) Conductores.

a) Condensador

O condensador, collocado no sócco da bobi­na, é constituído por uma serie de folhas de es-

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tanho sobrepostas e isoladas entre si por folhas maiores de mica, papel paraffinado, gutta-per-cha ou seda; todas as folhas de estanho de nú­meros pares estão reunidas entre si e com uma das extremidades do circuito inductor; do mes­mo modo as folhas impares estão em communi-caçâo entre si e com a outra extremidade do fio inductor. O uzo do condensador foi proposto por Fizeau; o seu fim é attenuar a faisca de ro-ptura de corrente, que pouco a pouco consome as superficies de contacto do interruptor e que algumas vezes mesmo pode trazer a sua solda­dura, parando então o apparelho e estragando-o. O condensador consegue este fim, aproveitando uma parte da corrente em carregar-se.

b) Interruptor periódico

Não ha prezentemente modelo algum no commercio que possa convir a todas as applica-ções dos raios X.

Podemos classificar os interruptores em len­tos e rápidos.

Dos primeiros temos um exemplo no inter­ruptor de Foucault; dos segundos todos os inter­ruptores sólidos.

Desnecessário é descrever estes interrupto­res, que são conhecidos de todos e só me refe­rirei aos mais uzados, citando-lhes os nomes e alguma particularidade digna de menção.

O interruptor de Foucault, hoje, já não é

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/ n

uzado embora todos os fabricantes (Richard-Ch, Heller, Gaiffe e d'Arsonval,Chabaud e Radiguet) lhe tenham feito modificações importantes; qua-zi outro tanto se pôde dizer do interruptor com metronomo (Chabaud e Gaiffe), que ainda assim tem admiradores.

Os interruptores hoje mais adoptados são o phonotrembleur de Radiguet e o interruptor ro­tatório de d'Arsonval e Gaiffe.

A bobina com que trabalhei e que existe no Instituto Pasteur do Porto tem o phonotrem~ bleur de Radiguet, que funcciona muito regu­larmente.

c) Rheostatos

Os rheostatos são apparelhos que se interca­lam no trajecto da corrente para a estorvar e as­sim fazer com que o apparelho deante do qual se colloca, não receba senão a quantidade de ele­ctricidade de que elle necessita para funccionar convenientemente. São formados por corpos pou­co conductores e que a corrente experimenta difficuldade em atravessar.

Em qualquer installação é necessário ter um rheostato bem installado, afim de poder dar a cada tubo o cumprimento de faisca—intensidade de corrente—que lhe convém. Sem isto os tubos deterioram-se rapidamente ; demais é necessário que nas platinas do interruptor não haja cham-ma notável.

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O rheostato com que trabalhei é o de Radi-guet, cuja excellencia pude reconhecer.

d) Apparelhos de medida

São essencialissimos para quem deseje traba­lhar com precisão e certeza absoluta e mesmo para não expor o tubo de Crookes a correntes excessivas, que o podem deteriorar.

Estes apparelhos são o volt-metro que indica a pressão ou força electro-motriz, ou differença de potencial que existe nos bornes da bobina 6 o ampere-metro que marca a quantidade de ele­ctricidade que passa pelos conductores.

e) Conductores

Os fios conductores destinados a estabelecer as ligações eléctricas devem ser fios flexíveis, isolados e cobertos de seda, como os que se em­pregam na illuminação eléctrica. Os que se des­tinam ás correntes de grande intensidade da bo­bina inductora deverão ser escolhidos bastante grossos para supportar as mais fortes correntes em uzo (10 amperes) sem se aquecer; os que conduzem as correntes induzidas de alto poten­cial,—mas de fraco gasto, podem ser finos, mas devem ser bem isolados,—os do commercio têm um isolamento insuffiçiente para evitar as fais-cas, logo que se passa na sua visinhança.

Buguet acconselha, para remediar este in-

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conveniente, introduzir os fios conductores em tubos espessos de borracha—os que ordinaria­mente servem para ligar uma trompa a um vazo em que desejamos fazer o vacuo—, assim evitam-se as grandes faíscas que dão commoções des­agradáveis e algumas vezes até perigosas.

f) Supportes isoladores

Para completar a installação ainda devo fal­íamos, supportes que servem para segurar o tubo de Crookes, ás vezes os conductores, e o écran.

Os melhores são feitos de madeira tendo um pezado pedestal de ferro.

V —PARTE PHOTOGRAPHICA

Eis impressionada a chapa photographica (*) ; a successão dos phenomenos para a impressio­na ção da chapa descrevo-os a pag. 79 e 80.

I) Revelação

Agora transportamos a chapa na sua caixa protectora para a camará escura, pequeno quar-

(*) Uzei sempre chapas de E. W. Thomas & C.° de Londres, vindas directamente para o Instituto Pasteur do Porto.

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to, onde a luz natural ou artificial penetra atra--vez de dois vidros : um alaranjado e o outro ver-melho-rubi.

Para proceder ao desenvolvimento, mergulha* se a placa sensível no banho revelador que foi deitado antecipadamente n'uma cuvette e deixa-se ahi até que a imagem tenha apparecido com todos os seus detalhes—então ella deve ser qua-zi negra, o que verificamos olhando, a placa por transparência, contra a luz. Depois lava-se cui­dadosamente sob uma corrente d'agua e mergu-lha-se no banho fixador. Empreguei sempre um banho novo para cada cliché, ainda que o mes­mo banho possa servir para revelar 2 ou 3.

A placa está fixada, quando nenhuma parte branca existe á sua superficie, o que se vê me­lhor por trausparencia, na parte sem gelatina; então lava-se de novo e a placa passa para uma solução saturada de alúmen (onde ella fica du­rante alguns minutos), que torna a gelatina im-putrescivel, dando-lhe mais transparência e pren-dendo-a mais ao vidro.

Do banho de alúmen vae a placa para uma grande cuba contendo agua da chuva ; ahi con-serva-se a placa durante 10 a 12 horas, mudan­do a agua 2 ou 3 vezes, o que tem por fim dis­solver todos os vestígios do fixador. Tirada a placa da agua deixa-se seccar expontaneamente, podendo-se depois de secca passar á impressão sobre papel.

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a) Reagentes

Como revelador empreguei o revelador Cris-tallos e a formula de Van Heurck (*).

Hydroquinona 9 gram. Sulfito de soda, chimicamente puro. 50 gram. Carbonato de soda, idem 50 gram. Brometo de potássio 2 gram. Agua distillada 1 litro «ísina 1 cgram.

Esta ultima formula é muito lenta (15 a 20 minutos) mas dá provas magnificas.

Alguns clichés fracos tive de os reforçar e uzei então o soluto de bichloreto de mercúrio a 5 °/o com 5 gr. de sal de cozinha.

O fixador foi o clássico hyposulfito:

Hyposulfito de soda 200 gram. Bisulfito de soda 50 gram. Agua 1 litro

II) Impressão no papel

Ordinariamente a impressão era feita por pho­tographes, mas algumas vezes fil-as eu e n'este cazo estão as provas que apresento.

(') Dr. Henri Van Heurck—La technique et les ap~ plications diverses des rayons X—1897, pag. 71.

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O cliché era coberto com uma folha de papel sensível tendo voltada a face sensível para a face da placa que tem a gelatina. Assim era exposta á luz n'um chassis-prensa e, quando a impressão chegava ao ponto que queria, tirava a folha de papel e mergulhava-a no banho de viragem, onde se conservava até adquirir o tom desejado, que se fixa no banho de hyposulfito. Fixada a prova deixa-se mergulhada n'um banho de agua pura, que deve ser renovada varias vezes, durarÊe 24 horas; secca a prova pode ser collada.

Reagentes

Banho de viragem

Agua 4 litros Chloreto de oiro 1 gram. Hypochlorite de cal 1,5 gram. Greda q. b. para tornar o

banho alcalino

Banho fixador

Agua 100 gram. Hyposulfito de soda 15 a 20 gram.

VI—RADIOSCOPIA

Já desde 1600 que na Italia se descobriu que certos corpos têm a propriedade de tornar-se

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phosphorescentes e fluorescentes sob a acção da luz, mas até hoje o phenomeno fica sem explica­ção. Um facto singular foi que nos poz em face d'esta propriedade de certos corpos: uma pedra havia sido calcinada e depois de ter sido expos­ta á luz viu-se que elle emittia reflexos lumino­sos na obscuridade ; era o sulfato de baryta que tinha sido transformado em sulfureto de baryo pela calcinação.

Ak irradiações ultra-violetes têm uma acção notada sobre a phosphorescencia; os raios X go­zam em alto grau das mesmas propriedades.

Foram Salvioni, de Peruza, e Edison os pri­meiros constructores de écrans, formados por uma folha de papel grosso coberta por uma ca­mada regular—o mais homogénea possivel—de uma substancia fluorescente e presa a um qua­dro de madeira. Collocando entre este écran e a ampolla o objecto a examinar e collocando-nos na obscuridade, vê-se iramediatamente as som­bras dezenhar-se sobre o écran; assim se a mão fôr collocada entre o écran e a ampolla os ossos mostram-se nitidamente e instantaneamente.

Não querendo ficar na obscuridade póde-se mandar fixar o écran a uma camará escura, mu­nida na face opposta ao écran de dois orifícios próprios para lhe adaptar os olhos, ou então, me­lhor que isso, adoptar o conselho proposto por Van Heurck (*): «mandar fazer uma espécie de

'"< (!) Dr. Henri Van Heurck-Loc. cit. pag. 88.

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guarita de madeira espaçosa com as faces ante­rior e posterior fechadas por meio de um panno espesso e negro, bem distendido. 0 paciente fica no exterior e o observador colloca-se no inte­rior.»

A producção da imagem é instantânea ; para este effeito deve-se empregar bobinas e ampol-las mais poderosas que para a radiographia.

Muitas substancias têm a propriedade de se tornarem fluorescentes, mas as mais emprega­das são :

a) Sulfureto de zinco phosphorescente (Ch. Henry).

b) Platinocyaneto de potássio (Silvanus Thom­pson).

c) Saes de urânio (Henri Becquerel). d) Platinocyaneto de baryo (Rõntgen). e) Tungstato de potássio (Edison),

f) Tungstato de cálcio (Edison). g) Fluoreto duplo de uranyla e d'ammonio

(Dr. Edm. "Van Melckebeke).

As condições essenciaes, para que estas subs­tancias prestem real serviço na radioscopia, são: que sejam perfeitamente crystallisadas e bem pulverisadas.

O Écran para prestar bom serviço deve ter a camada phosphorescente bem egual e homogénea.

Este novo processo de investigação veio pres­tar um grande serviço á clinica, principalmente

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pela rapidez cora que a observação pode ser fei­ta; ainda assim a radiographia ha-de ter sem­pre applicação em medicina.

Operando

Conhecido o instrumental de que necessita­mos vou agora descrever uma operação e aqui explanarei então os apparelhos com que traba­lhei.

A fonte de electricidade eram 14 accumula-dores de Radiguet ; a bobina era a bobina tam­bém de Radiguet de 45 centímetros de faísca, munida do phonotrembleur para a radioscopia e do novo interruptor Radiguet para radiogra­phia. A bobina tem no seu sócco o condensator.

As radiographias foram feitas com os tubos Muret (tubo forte e tubo fraco).

Para fazer uma radiographia liga-se a fonte de electricidade ao rheostato e este á bobina de inducção, cuja corrente conduzida se lança nos tubos Muret—bi-cathodico. Depois de termos re­gulado, por meio dos écrans phosphorescentes, o rendimento do tubo em raios X e a relação en­tre este rendimento e a força da corrente indu-ctora, dispõe-se em face do tubo de Crookes, e perpendicularmente á direcção dos raios X que elle emitte, o chassis photographico fechado e carregado com uma placa photographica ; entre o tubo e o chassis colloca-se o objecto a radio-graphar.

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A radiographia pode ser feita em piena luz, pois que o chassis está fechado, achando-se as­sim a placa abrigada dos raios actinicos da luz solar. Entretanto é preferível operar n'uma meia obscuridade ou n'um lugar um pouco sombrio; assim é mais fácil distinguir a fluorescência que se produz no tubo de Crookes e que ordinaria­mente nos serve de regulador da experiência. • As distancias que se devem observar entre

a ampolla e a placa são naturalmente variáveis com o corpo a radiographar. Para os pequenos animaes, esta distancia deverá ser de uma de­zena de centimetros; para os animaes maiores, pode elevar-se a 20 ou 30 centimetros.

As distancias mais vulgarmente seguidas pa­ra o corpo humano, são: para o pé e a perna 10 a 20 centimetros; para a mão ou o braço a mesma distancia; para o joelho affasta-se até 30 centimetros e emfim, para a bacia, póde-se ir até 40 centimetros.

O tempo de pose varia muito com a varie­dade do tubo e também com o seu tempo de uso; mas este tempo de pose só nos pode ser dado pelo estudo do tubo.

Para o tubo Muret, que empreguei, 3 a 4 mi­nutos eram suficientes para se fazer a radiogra­phia da mão ou do antebraço, 5 ou 6 para o braço, etc.

Querendo fazer-se a radioscopia basta substi­tuir a placa photographica pelo écran phospho­rescente. A imagem forma-se rapidamente.

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IV

A p p l i c a ç õ e s d o s r a i o s X

I) Applicações medicas e cirúrgicas

Innumeras tem sido as applicações dos raios X feitas em medicina e em cirurgia e por isso o melhor é estudarmol-as em grupos.

a) Pesquiza de corpos extranhos introduzidos no'orgariismo,

b) Determinação da posição dos apparelhos cirúrgicos introduzidos no organismo,

c) Estudo das lezões intra-osseas. d) Estudo das lezões internas nas quaes par­

ticipam os ossos. e) Photographia de cálculos no rim e na be­

xiga e sua qualificação. f) Determinação da posição do feto na mu­

lher gravida. g) Applicação á medicina.

F

v

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a) Pesquisa de corpos extranhos introduzidos no organismo

Foi a primeira applicação feita dos raios X em cirurgia. Já em 6 de Maio de 1890, na Socieda­de de Cirurgia de Paris, Gérard-Marchand e Mo-nod aprezentaram photographias de um pé e de uma mão com projectis no seu interior. Em 24 de Maio seguinte, na Academia de Medicina da mesma cidade, Périer mostrou uma radiogra­phia apresentando a localização de uma baila de revolver ankylosada, havia já dois annos n'um dos ossos da mão de um ferido; em 8 de Junho, na Academia das Sciencias Brissaud e Londe con­seguiram exhibir uma prova radiographica de uma baila de 7 millimetres localizada no cére­bro de um ferido.

E' curiosíssima esta ultima observação por­que a radiographia dava a explicação da hemi­plegia, que tinha por cauza a interrupção das fibras nervozas situadas no trajecto da baila e portanto via-se claramente que a intervenção armada seria improfícua.

Innumeros são os cazos d'esta natureza e pó-de-se mesmo affirmar que todos os clínicos, fa­zendo a radiographia, têm bastantes exemplos d'esta applicação.

Eu mesmo aprezento na estampa III um caso semelhante—A. C. involuntariamente, ha dois

.'

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annos, recebeu um tiro de revolver na mão es­querda; hoje nada sente, mas a radiographia veio dizer-nos qual era a posição da baila rela­tivamente ao terceiro metacarpiano.

Ainda assim é util enumerar casos d'esté gé­nero em que a radiographia pode prestar ser­viços:

Moedas ou pequenas espheras, etc., engolidas por creanças ou adultos.

Agulhas introduzidas accidentalmente no or­ganismo.

Corpos extranhos introduzidos, accidentai, propositada ou violentamente no organismo.

No primeiro caso a radiographia presta re­levantíssimos serviços: se o corpo extranho está no esophago, determina-se com a prova pho-tographica ou radioscopica, se é preferível reti-ral-a com os dedos, com a pinça, com instru­mentos especiaes, ou se é preferível lançal-a no estômago, se o corpo não leza este órgão. Se o objecto está nas vias aéreas então é indicado re-tiral-o o mais breve possível, quer com a pinça para polypos, quer pela tracheotomia.

Mesmo n'este grupo a radiographia tem o seu lugar marcado em medicina legal e inutil ó lembral-o, mas todos podem bem avaliar e re­conhecer as suas innumeras applicações.

Também por meio da radiographia podemos conhecer exactamente qual a profundidade a que se encontra um corpo extranho no organismo.

#

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Emprega­se então o processo de Georges Bru­

nei («■). «On dispose deux ampoules placées dans un

sens différent. Sur la photographie on aura donc deux images dont l'écartement, par un petit calcul très simple, donnera la profondeur cher­

chée. Soit O (Fig. I Estampa I) la coupe de la partie à explorer. C le corps étranger, PP' la pla­

que photographique, A A' les deux ampoules. Suivant la direction donnée au flux catho­

dique, les ombres du corps seront projetées en AB' et A'B, et au développement sur la plaque photographique, on aura les images en B B'. On n'aura qu'à mesurer la distance des ampoules A A', reporter cette mesure avec les positions exactes sur une feuille de papier, comme c'est indiqué dans la figure I. La hauteur hh' du triangle BhB', donnera la situation exacte du corps étranger C dans la partie 0, ou sa distance de la ligne tangente S S'.»

b) Determinação da posição dos apparelhos cirúrgicos introduzidos no organismo

Eis uma applicação importantíssima dos raios

O Georges Brunei­Manuel de Radiographie et de radioscopia par l'emploi des rayons X, Paris a pag. 36.

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X; innumeros são os casos em que é convenien­te o emprego d'esté novo meio:

Na entubagem da laryngé; Na vigilância das sondas collocadas no ca­

nal urethral e dos endoscópios dispostos á sahida do intestino;

Nas affecções ósseas que necessitam a eli­minação de um sequestro e em que se substitue a parte doente por fragmentos artificiaes em mastique especial, em osso descalcifieado ou pela prothèse;

Nas soldaduras ósseas, consecutivamente a fracturas e em que se empregam fios me-tallicos.

A radiographia dá-nos informações seguras, de todas estas partes artificiaes collocadas no interior do organismo. Casos curiosíssimos tem sido apresentados na sciencia, mas simplesmen­te me referirei a uma serie que foi uma das primeiras e que é deveras curiosa; é devida a Péan e veio a publico na sessão da Academia de Medicina de Paris de 23 de Junho de 1896:

«Une de ses radiographies montre le résul­tat d'une résection faite chez une femme d'une vingtaine d'années qui avait une fracture avec chevauchement considérable des deux os de l'avant-bras.

«Les os furent réunis avec des attelles d'alu­minium. Au bout de quelques semaines, le cal

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osseux étant complet et résistant, on enleva l'attelle radiale, et on laissa l'attelle cubitale et les deux vis d'acier qui la maintenaient.

«Ces corps étrangers n'ont déterminé au­cune suppuration. La malade, n'en souffrant pas, désire les conserver.

«La radiographie montre que le cal du cubi­tus dans lequel sont restées en place l'attelle et les deux vis, est d'une régularité parfaite, tan­dis que celui du radius est incurvé, sans qu'il en résulte la moindre gerce pour les fonctions du membre. Sans nul doute, cette incurvation passerait inaperçue, de même que la présence des vis, si les rayons X ne les avaient révélées.

«M. Péan, présente, en second lieu à l'Aca­démie, d'autres radiographies qui ont permis de reconnaître ce qui s'est passé dans des os qui ont été restaurés, soit avec des fragments d'os décalcifiés, soit par la prothèse.

«Un de ces malades, âgé d'une trentaine d'an­nées, avait eu, à, la suite d'une blessure par un clou de rue, qui s'était implanté dans la plante du pied pendant la marche, au niveau des ex­trémités supérieures des 4.e et 5.D métatarsiens, une suppuration aiguë intarissable, qui avait dé­truit les deux tiers supérieurs de cet os et obli­gé le malade à garder le lit.

«La perte de substance faite aux extrémités de ces deux métatarsiens a été comblée par un mastic spécial et la guérison a été obtenue rapi­dement.

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«Le procédé de Rœntgen permet aujourd'hui de constater que les os, dont les cavités avaient été comblées par le mastic, sont peu déformés et que leurs articulations sont conservées.

«Un autre malade était affecté d'une ostéo­myélite subaiguë, douloureuse, occupant toute la hauteur du tibia et lui rendant l'existence impossible pendant plusieurs mois. Bien qu'il n'y eût pas d'abcès de voisinage, on consentit, à la demande formelle du malade, à faire explo­ration de la cavité médullaire du tibia.

«Après en avoir réséqué toutes les fongosités suspectes avec la gouge et la pince emporte-piè­ce, la vaste caverne qui en résulta fut comblée avec des lames d'os décalcifié, et toute la table interne de l'os fut remise en place à la manière d'un convercle, après l'excision, au préalable, de toutes les parties malades.

«La plaie faite aux parties molles fut fermée par suture. La réunion eut lieu par première in­tention.

«A partir de cette époque, le malade n'eut plus aucune souffrance. Trois semaines après, il retournait chez lui et aujourd'hui la guérisou est parfaite.

«Grâce à la photographie par les rayons de Rœntgen, on peut voir que le tibia est parfaite­ment reconstitué et que toutes les lignes sont aussi nettes que s'il n'avait jamais été altéré.

«M. Péan présente encore un malade qu'il a opéré, il va trois ans et demi, et qui a fait l'objet

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d'une communication spéciale, il y a deux ans et demi à l'Académie. Lors qu'il le présenta pour la première fois, cet homme portait à la place de l'humérus, dont on avait enlevé la partie su­périeure, un humérus artificiel en caoutchouc durci, articulé avec l'omoplate. Le membre rem­plissait toutes ses fonctions. ,

«Un an et demi après, une fistule s'étant pro­duite à l'union de l'extrémité inférieure de l'os artificiel et de la portion inférieure de l'humé­rus conservée, l'extraction totale de l'appareil prothétique fut faite au moyen d'une longue in­cision.

«La nouvelle plaie se réunit par première in­tention.

«Depuis cette époque, le malade, chez lequel l'examen histologique de l'humérus réséqué, avait montré qu'il s'agissait de tuberculose, jouit d'une excellente santé, bien qu'il exerce la pro­fession insalubre de marchand de vins. Son bras a conservé sa longueur normale et l'articulation de l'épaule tous ses mouvements; il a si bien VQ-T couvre ses forces qu'il sert au malade à soulever des poids considérables, de 50 kilogrammes par exemple, sans fatigue.

«Il était intéressant de vérifier par le procédé de Rœntgen l'état du squelette osseux qui s'était formé grâce au périoste qu'on avait eu soin de placer autour de l'humérus artificiel.

«L'épreuve obtenue embrasse l'ensemble des points intéressants. Elle montre que l'os nou-

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veau, bien qu'il soit aussi résistant, est moins régulier que l'os ancien. Elle montre égale­ment que la fusion est complète au point de jon­ction avec l'os ancien et que la partie supérieu­re de l'os nouveau, quoique dépourvue de tête saillante, est logée au contact de la cavité gle­noids et de la face inférieure de l'acromion et conformée de manière à permettre tous les mou­vements» (x).

c) Estudo das lesões intra-osseas

Ainda no estudo das doenças do tecido ósseo estão indicadas completamente as applicações da radiographia, quer se trate de lesões in-flammatorias e orgânicas, quer se trate de lesões de nutrição e de desenvolvimento do osso, quer emfim se trate de lesões traumáticas. As prin-cipaes doenças que podem ser pois, passíveis d'esta applicação, são:

A periostite A ostéomyélite dos adolescentes A osteite A necrose Os tumores ósseos As gommas dos ossos Os kystos dos ossos A osteomalacia

(2) La «Presse Médicale» de 24 de Junho de 1896.

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A maioria d'estas doenças modificam sensi­velmente e mais ou menos profundamente o te­cido ósseo ; estas partes atacadas mostram-se naturalmente mais transparentes que as partes sãs e portanto póde-se determinar por isso mes­mo exactamente o lugar doente e as suas mo­dificações pathologicas. Assim a radiographia nos elucida sobre a extensão do mal e conseguinte-mente a forma da nossa intervenção.

E' justo que entre os auctores que se tem oc-cupado da radiographia n'este ramo da cirurgia, cite em primeiro logar o nome de prof. Lanne-longue, que no hospital Trousseau, se dedicou a este estudo.

Imbert e Bertin-Sans fizeram a radiographia de uma mão de creança atacada de periostite, em que se via nitidamente o lugar atacado e o periosseo descollado e tornado espesso e a es­pádua tuberculosa de uma rapariga de 16 an-nos.

Iguaes provas apresentou Péan na sessão da Academia de Medicina de Paris de 23 de Junho de 1896 e Barthélémy e Oudin na de 9 do mes­mo mez.

Na Sociedade Anatómica, em 22 de Maio de 1896, Gustave Keith apresentou as peças e as photographias de um sarcoma ossificante da pri­meira phalange do pollegar, consecutivo a um traumatismo, que datava de 1res annos, e a dôr de cinco mezes. A photographia tinha revelado que o ponto de partida era o osso e mostrava

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também que o tumor já tinha uma certa ossifica-ção central. .

Potain, em 18 de Janeiro do anno corrente, communicou á Academia das Sciencias, em seu nome e no de seu discípulo Serbanesco, uma serie de observações em que demonstrava o auxilio que a radiographia pôde prestar ao diagnostico differencial entre o rheumatismo chronico ósseo e a gotta. No primeiro caso, a osteite condensan­te dá ás extremidades uma opaciedade maior aos raios X, emquanto que no segundo se observa, ao nivel das extremidades das phalanges e dos metacarpianos, manchas esbranquiçadas que pa­recem ser originadas pela substituição dos phos­phates pelos uratos.

Muito curiosa também é a nossa estampa IV que se refere a um caso de gomma syphilitica do ante-braço esquerdo de uma criança de 15 annos. A syphilis era congenital.

d) Estudo de lesões internas em relação com os ossos

Importantíssima é esta applicação dos raios Rõntgen. Os casos que mais têm a aproveitar são:

As fracturas As arthrites Os entorses Às feridas As ankyloses

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As luxações e desvios da mão e do pé Os desvios do rachis. É inutil explanar qualquer d'estas applicações

por que todos a priori conhecem a utilidade da radiographia em taes casos.

Cito alguns casos dos que já têm curso na sciencia.

Na sessão de 29 de maio de 1896, na Socie­dade Anatómica de Paris. Thiéry contou a obser­vação de um cazo em que o diagnostico vacillava entre um entorse dorsal externo do punho e uma fractura do radio ; a radiographia cortou a ques­tão pela fractura.

Lannois, na Sociedade Medica dos Hospitaés de Paris, em 12 de Junho do anno passado, apresentou um doente de 47 annos attacado de arthropathia da articulação metacarpo-phalan-geanna do dedo medio das duas mãos, originada por um rheumatismo chronico progressivo. A ra­dioscopia pôde mostrar a fraca parte que os os­sos tinham no entumescimento e na deformação das regiões doentes.

Péan, na mesma sessão da Academia de Me­dicina já citada, mostrou uma radiographia de uma fractura comminutiva da tibia produzida n'um trabalhador. Depois do accidente a perna tinha sido collocada n'um apparelho innamovivel e depois vários sequestres foram tirados, mas a suppuração tinha persistido com um encurta­mento considerável da perna. A radiographia permittiu ver que para obter a cura era necessa-

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rio ressecar os fragmentos que cavalgavam e man-tel-os em posição por meio de suturas metallicas ou por tiras de alumínio.

Em 10 de Julho de 1896 na Sociedade de Me­dicina dos Hospitaes de Paris, Achard apresen­tou photographias em que mostrava as alterações dos ossos dos pés n'um rheumatico de origem Menorrhagia; no pé esquerdo o dedo grande cobria os dedos visinhos.

e) Photographia dos cálculos no rim e na bexiga e sua qualificação

Visto que estes cálculos são formados por uratos ou phosphatos alcalinos e alcalino-terro-sos, pouco transparentes aos raios X, é possivel obtermos radiographias ou radioscopias d'elles embora estejam no rim ou na bexiga, evitando assim ao doente o periodo de exploração metho-dica.

Mas além d'isso nós podemos reconhecer pela radiographia ou pela radioscopia a natureza dos cálculos. Assim os professores da Escola de Me­dicina e Pharmacia de Rouen, A. Buguet e A. Gascard, após muitas experiências, chegaram ás conclusões seguintes : «en général, on voit que les calculs biliaires présenteront une transparence très grande ou assez faible, suivant qu'ils seront formés de cholestérine, mélangée d'éléments de la bile on bien de sels de chaux, de pigments biliaires.. . L'acide urique des calculs vésicaux,

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bien que moins transparent que la cholésterine est beaucoup moins opaque que les sels de chaux on de magnésie.

Le phosphate ammoniaco-magnésien est d'une opacité intermédiaire entre celles des sels de chaux et de l'acide urique.

La radiographie appliquée aux calculs per­met donc de reconnaître ;

l.° Leur homogénéité ou leur structure; 2.° Leur composition chimique dans certains

cas ; 3.° La position exacte du noyau qui a provo­

qué leur formation ; A.0 La nature de ce noyau dans un grand

nombre de cas.

f) Pesquisa da posição do feto na mulher gravida

É uma das mais úteis applicações, pelos gran­des serviços que pode prestar na pratica, mas infelizmente pouco se tem adiantado n'este ca­minho : Assim é que por uma simples radiogra­phia ou radioscopia nós podíamos ver qual é a posição do feto"e, se for viciada, logo podíamos intervir, corrigindo-a e de mais ainda por meio d'ella podíamos reconhecer qual o sexo do feto, antes do seu nascimento. Mas a photographia do feto no ventre materno ainda não foi feita, ainda que Varnier, Chappuis, Chauvel e Funck—Bren-tano tivessem em 10 de Março de \ 896 feito a radio-

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graphia intra-uterina de um feto. 0 feto era de termo e achava-se alojado no utero extrahido do corpo de uma mulher eclamptica.

Mas já se conseguiu radiographar o utero de um cavia-femêa vivo, mostrando no seu interior vários fetos.

g) Applicações diversas á medicina

Innumeros são os casos em que os raios X podem prestar valiosíssimos auxílios á nossa arte.

Bouchard (Académie des Sciences—14 de Dezembro de 1896) applicou estas irradiações para fazer o diagnostico da tuberculose pulmo­nar e para demonstrar a presença de derrames da pleura.

Eis o que nos diz Bouchard : «Si l'on place le thorax d'un homme bien

portant entre le tube de Crookes et un écran phos­phorescent, on sait qu'on voit apparaître sur cet écran le squelette du thorax figuré par une ban­de noire verticale à bords parallèles et de cha­que côté par des bandes obliques moins foncées représentant les côtes. De plus, on voit, à droite de la colonne, vers le milieu de la région dorsa­le, une ombre portée par le coeur où l'on peut discerner les battements. Enfin, l'ombre portée par le foie avec sa connexité supérieure monte et descend dans la cavité thoracique, suivant les mouvements respiratoires. En dehors de ces om-

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bres, tout le reste du thorax apparaît en clair également des deux côtés. Le médiastin, masqué par la colonne, n'apparait pas.

Chez trois hommes atteints de pleurésie droite avec épanchement, j 'ai constaté que le côté du thorax occupé par le liquide pleuretique pré­sente une teinte sombre qui contraste avec l'as­pect clair du côté sain ; que si l'épanchement, ne remplit pas la totalité de la cavité, le sommet de ce côté reste clair et que la teinte sombre des­sine la limite supérieure de l'épanchement, telle qu'elle est établie par la percussion et par les au­tres moyens habituels de l'exploration physique ; que la teinte sombre se fonce de plus en plus à mesure qu'on l'observe en descendant de sa li­mite supérieure, ou l'épanchement est plus mince, vers les parties inférieures, où il est plus épais et où son ombre se confond avec celle du foie.

«J'ai reconnu du plus que, dans ces trois cas de pleurésie droite, le médiastin, qui n'est pas apparent à l'état normal, porte une ombre à gauche de la colonne et figure un triangle à sommet supérieur, et dont la base se continue avec le coeur.

«Ce triangle est l'ombre portée par le médias­tin déplacé par la poussée latérale de l'épan­chement et refoulé vers le côté sain du thorax. «Dans un quatrième cas où l'épanchement n'exis­tait plus, mais avait laissé à sa suite une rétra­ction du côté malade, c'est de ce côté que le médiastin déplacé faisait ombre.

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«Assurément, le diagnostic peut être fait aus­si sûrement et aussi complètement par les pro­cédés habituels de l'exploration, et l'application de cette méthode est soumise à des conditions qui en rendent encore l'emploi peu pratique. Mais, sans compter la précision plus grande que la radioscopie donne à la constatation des dé­placements du médiastin, elle a l'avantage de faire contrôler une méthode par une autre, un sens par un autre. Elle a surtout l'avantage pré­cieux pour l'enseignement de pouvoir faire cons­tater simultanément et d'un seul coup d'œil, par toute une assemblée, l'existence, l'étendue, la profondeur d'un épanchement d'ont chacun pourrait assurément se rendre compte, à l'aide de la percussion, mais seulement d'une façon fragmentaire et par une exploration personnelle.

«Je crois inutile d'indiquer les applications qui se présentent à l'esprit et qui peuvent in­troduire la radioscopie dans l'étude d'autres épanchements ou môme dans la recherche des changements de volume, de forme ou de den­sité, que la maladie peut produire dans les par­ties profondes. Nous sommes en droit d'espérer que l'exploration par le rayons de Rœntgen ne rendra pas à la médecine de moindres services qu'à la chirurgie.»

Relativamente á applicação dos raios X ao diagnostico da tuberculose pulmonar continua Bouchard:

«Dans une note précédente, j 'ai dit que l'épan-G

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chement pleurétique arrête en partie les rayons de Rœntgen et marque par une teinte sombre, à l'examen radioscopique, le côté malade qui contraste ainsi avec la clarté brillante du côté sain.

En renouvelant l'étude des cas de pleurésie qui avaient fait l'objet de cette précédente com­munication, j 'ai vu la teinte claire du sommet du thorax augmenter d'étendue en même temps que l'epanchement se résorbait.

Chez l'un des malades cependant, l'opacité persistait au sommet, tandis qu'une plaque claire apparaissait vers le millieu, du côté où manifes­tement l'epanchement diminuait. Enfin, la ré­sorption de cet épanchement étant presque com­plète, le sommet restait toujours obscur. Ce fait, qui ne s'était pas observé dans les deux autres cas, me donna a penser qu'il y avait condensa­tion du tissu pulmonaire au sommet du poumon du côté malade. La percussion et l'auscultation confirmèrent cette prévision et révélèrent l'exis­tence d'une infiltration commençante que l'epan­chement avait d'abord masquée. Cette tubercu­lose pulmonaire avait été révélée par l'examen radioscopique.

Chez tous les tuberculeux que j 'ai examinés à l'aide de l'écran fluorescent, j 'ai constaté l'om­bre des lésions pulmonaires; son siège était en rapport avec les délimitations fournies par les au­tres méthodes de l'exploration physique; son intensité était en rapport avec la profondeur de

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la lésion. Dans deux cas, des taches claires ap­paraissant sur le fond sombre ont marqué la présence de cavernes vérifiées par l'auscultation. Mais dans d'autres cas où l'auscultation faisait reconnaître l'existence d'excavations, celles-ci n'ont pas été vues à l'exameu radioscopique.

Chez uu malade, les signes généraux et la toux faisant soupçonner un début de tuberculi-sation, mais l'examen de l'expectoration ne mon­trait pas de bacilles, et les signes physiques ne permettaient pas de porter un diagnostic cer­tain. La radioscopie a montré que le sommet de l'un des poumons était moins perméable; et, quelques jours après, l'auscultation, comme l'examen bactériologique, ne laissaient pas le moindre doute.

Dans les maladies du thorax, la radioscopie donne des renseignements de tous points com­parables á ceux de percussion.

L'air pulmonaire, qui se laisse travesser par les rayons de Roentgen, sert de caisse de renfor­cement aux bruits de la percussion. Quand l'air est chassé du poumon plus ou moins complète­ment par un liquide épanché ou par un tissu morbide infiltré, la clarté radioscopique du tho­rax diminue ou fait place à une obscurité plus on moins complète, et, en môme temps, la sono­rité normale s'atténue et peut être remplacée par la submatité ou par la matité absolue».

O emprego das irradiações, de que me tenho occupado, na medicina legal é digno de menção e

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para vel-o basta lembrar o cazo de Bordas (com-municação de Bordas na Sociedade de Medicina Legal) em que a prezença de bolhas de ar era ac-cuzada dando assim a entender que a criança havia respirado—o pulmão de feto que ainda não tem respirado é perfeitamente transparente.

A anatomia também tem o seu quinhão. O desenvolvimento dos ossos, a distribuição

dos vazos sanguíneos, injectados com substancias opacas convenientes, eis um grupo de applica-ções á anatomia,

As differenças de transparência de diversas substancias aos raios X fornecem á Hygiene meio de reconhecer as falsificações de géneros alimen­tícios ou de productos industriaes (Ranwez pôde por este meio demonstrar a presença do sulfato de baryta no açafrão falsificado).

II) Applicações diversas

Cada vez mais se estendem as applicações dos raios X.

A verificação de diamantes faz-se com muita facilidade porque o diamante é muito mais trans­parente que as imitações em strass.

Os serviços postaes e aduaneiros já reclama­ram, no estrangeiro, installações radiographicas que serviriam para fiscalizar os volumes que passam sob a sua vigilância sem os abrir, mas impedindo assim o contrabando.

Girard e Bordas chegaram a distinguir pela

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sua opacidade certos explosivos : pólvora clo-ratada, nitrocellulose, fulminate de mercúrio ; e então fácil se torna o exame das machinas explo­sivas.

Mas ao par de tantas e tão úteis applica-ções devo fazer notar que os raios X parecem ter uma manifesta acção nociva sobre o orga­nismo.

E' facto que muitos casos ha já apontados de inflammações locaes com queda de cabellos, mas é necessário para que tal effeito se mani­feste que o organismo soffra por longo tempo a acção dos raios Rõntgen ; felizmente hoje as poses para a photographia acham-se extrema­mente reduzidas e mesmo a radioscopia tende a avassalar o >campo das applicações clinicas dós raios X.

Na sessão de 12 de Abril do corrente anno, da Academia de Sciencias de Paris, Lannelon-gue, em nome de Sorel, do Havre, relatou o fa­cto de ter apparecido no peito de um radiogra-phado um abcesso na parte exposta e outro a distancia. O próprio Lannelongue, porém, vem declarar na mesma sessão que estes abcessos não se podem attribuir aos raios X, mas acredita que estes raios não são inoffensivos para o orga­nismo.

Se é verdade que os raios X têm uma acção

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tão enérgica sobre certos tecidos vivos, é justo esperar que essa mesma poderosa energia se exerça em algumas occasiões em proveito do or­ganismo. E assim seria um remédio que quem sabe não terá uma acção preciosa sobre os mais terríveis venenos ou as mais virulentas toxinas.

Não estará ahi a explicação de algumas cu­ras, já relatadas de tuberculose e outras doen­ças infecciosas?

E' possivel, mas o futuro com certeza, nos revelará a solução do problema.

Aguardemos, pois, confiadamente e o myste-rio se desvendará.

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BIBLIOGRAPHE

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X. Paris 1896. Alexandre Hébert—La technique des rayons

X. Paris 1897. Charles Henry—Les ravons Rõntgen. Paris

1897. Dr. Henri Van Heurck—La technique et les

applications diverses des rayons X. Anvers 1897.

J. L. Breton—Rayons cathodiques et ravons X. Paris 1897.

A. Bobone—Raios X. Lisboa 1897. Félix Méheux—De la nature des ravons X. Pa­

ris 1897. Georges Vitoux—Les rayons X et la photogra­

phie de l'invisible. Paris 1896. Ch. Ed. Guillaume—Les rayons X et la pho­

tographie à travers les corps opa­ques. Paris 1896.

G. N. Niewenglowski—La Photographie de l'invisible. Paris 1896.,

Georges Brunei—Manuel de Radiographie e de Radioscopie par l'emploi des rayons X.

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PROPOSIÇÕES

Anatomia.—-A radiographia é um poderoso au­xiliar para o_ estudo do desenvolvimento dos ossos.

Physiologia.—A acção dos nervos vaso-dilatado-res e vaso-constrictores exerce-se á custa de cen­tros periphericos intermédios a estes e aos vasos.

Materia medica.—Os diuréticos tonicardiacos são os melhores diuréticos.

Pathologia externa.—O diagnostico differencial entre as mastites chronicas e o cancro circumscri-pto, o mais das vezes, é impossível sem a punção exploradora.

Operações.—O aperfeiçoamento dos apparelhos orthopedicos tem modificado o logar d'eleiçao das amputações.

Pathologia interna.—A ausência d'albumina nas urinas não exclue o mal de Bright.

Anatomia pathologica.—Nas nephrites, qualquer que seja a variedade, as lesões são concumitante-mente intersticiaes e parenchymatosas.

Pathologia geral.—Os estados diathesicos modi­ficam consideravelmente os accidentes produzidos pelos traumatismos.

Partos.—A albuminuria é uma das causas da morte do feto.

Hygiene.—Reprovo a venda do leite de vacca, sem ser previamente esterilisado.

Visto. Pimenta.

Pôde imprimir-se. Dr. Souto.

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INDICE

Pag.

I—Historia 23 II— Natureza e origem dos raios X 37

III—ïechnica dos raios X 51 A) Fonte de electricidade 52

a) Pilhas primarias 52 b) Accumuladores 56 c) Machina eléctrica 57 d) Corrente fornecida pelas fabricas

centraes 58 B) Bobina de inducção 59 C) Tubos de Crookes 61 D) Accessorios 69

a) Condensador 69 b) Interruptor periódico 70 c) Rheostatos 71 d) Apparelhos de medida 72 e) Conductores 72 f) Supportes isoladores 73

E) Parte photographica 73 a) Revelação 73

Reagentes 75 b) Impressão no papel 75

a) Reagentes 76 F) Radioscopia 76

Operando 79

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p»g.

IV—Applicações dos raios X 81 I) Applicações medicas e cirúrgicas.. . . 81

a) Pesquiza de corpos extranhos in­troduzidos no organismo 82

b) Determinação da posição dos appa-relhos cirúrgicos introduzidos no organismo 84

c) Estudo das lesões intra-osseas 89 d) Estudo das lesões internas em re­

lação com os ossos 91 e) Photographia de cálculos no rim e

na bexiga e sua qualificação 93 f ) Pesquiza da posição do feto na

mulher gravida 94 g) Applicações diversas á medicina.. 95

II) Applicações diversas 100 Bibliographia 103 Proposições * 05

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Nome dos auctores dos tubos

ESTAMPA I N.° 1Í

2<Seguv 3( 4—Rufz , 5—Crookes 7jSeguy 8—Wood 9—Segay

10—Chabaud e Hurmuzescu 11 —Seguy 12—Thompson 131 «^Crookes 15—Seguy

ESTAMPA H N.° 16—Le Roux

17—d'Arsouval 18-Seguv 19—Puluj 20—Seguy 21 —d'Arsonval 22—Seguy çyi \ Le Roux 25—Brunel-Seguy 26—Rõntgeu 27—Seguy 28—Rõntgen 29-Seguy 30—Colardeau 31 —Seguy 32—Colardeau.

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ESTAMPA III

Baila situada no 3.° metaearpiano da mão esquerda

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ESTAMPA IV

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domina syphilitica do ante-braco esquerdo

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