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A QUESTÃO DA SELEÇÃO DE FORNECEDORES: UM ESTUDO DE CASOS NA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE AUTOPEÇAS Lorenzo Federico Zanotti Lindner Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ Instituto de Pós-Graduação em Administração, COPPEAD Mestrado em Administração Orientadora: Rebecca Arkader Rio de Janeiro 2000

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A QUESTÃO DA SELEÇÃO DE FORNECEDORES: UM ESTUDO DE

CASOS NA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE AUTOPEÇAS

Lorenzo Federico Zanotti Lindner

Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ

Instituto de Pós-Graduação em Administração, COPPEAD

Mestrado em Administração

Orientadora: Rebecca Arkader

Rio de Janeiro

2000

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A QUESTÃO DA SELEÇÃO DE FORNECEDORES: UM ESTUDO DECASOS NA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE AUTOPEÇAS

Lorenzo Federico Zanotti Lindner

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação ePesquisa em Administração – COPPEAD, da Universidade Federal do Riode Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários para obtenção doGrau de Mestre em Ciências (M.Sc.).

Aprovada por:

____________________________________ - Orientadora Rebecca Arkader, D.Sc.

COPPEAD / UFRJ

_____________________________________ Paulo Fernando Fleury, Ph.D.

COPPEAD / UFRJ

_____________________________________ Luiz F. M . Vieira, Ph.D.

Booz-Allen & Hamilton

Rio de Janeiro

2000

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Lindner, Lorenzo Federico Zanotti

A questão da seleção de fornecedores: um estudo de casos na

indústria brasileira de autopeças/ Lorenzo Federico Zanotti. Rio

de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000.

viii, 96p. ; il.

Tese – Universidade Federal do rio de Janeiro, 2000.

1. Fornecedores de Material – Indústria Automobilística –

Brasil. 2. Preço. 3. Tese (Mest. - UFRJ/COPPEAD). I. Título.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço de forma muito especial à Professora Rebecca Arkader, sem a qual não teria

sido possível realizar este trabalho. Seu apoio, paciência e incentivo foram

fundamentais.

Agradeço a todos professores do COPPEAD pelo apoio e pelo conhecimento

transmitido ao longo do curso. Agradeço também a todos funcionários pela ajuda e

colaboração.

Gostaria de agradecer aos meus colegas de turma, Américo, Márcia, Claudinha, Claudia,

Tatiana e tantos outros que fizeram com que o período vivido no COPPEAD tenha sido

um dos melhores da minha vida.

Agradeço à minha mãe e à minha tia pela formação e o apoio dado em todos os

momentos.

Enfim, agradeço a todos aqueles que tornaram o COPPEAD uma instituição na qual

tenho tanto orgulho de ter estudado.

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LINDNER, Lorenzo Federico Zanotti. A Questão da Seleção de Fornecedores: um

Estudo de Casos na Indústria Brasileira de Autopeças. Orientadora: Rebecca

Arkader. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000. Dissertação (Mestrado em

Administração)

O estudo teve por objetivo investigar em que estágio se encontra o tratamento da

seleção de fornecedores em empresas nacionais de autopeças de primeiro nível, ou seja,

aquelas que fornecem diretamente para as montadoras, face às novas filosofias e práticas

de administração de Compras.

A metodologia utilizada foi a de estudos de casos. Foram três os casos

estudados, com base em entrevistas junto a tradicionais fornecedoras da indústria

automobilística nacional, com longos anos de atuação, em que foram exploradas

questões relativas a suas políticas e procedimentos para a seleção de fornecedores.

O estudo revelou que apesar de ter havido significativa evolução no tratamento

das questões de Compras, as empresas ainda adotavam uma abordagem para a seleção

de fornecedores que a literatura classifica como tradicional. O principal objetivo

perseguido era a redução de preços, não sendo ainda consideradas questões de caráter

mais estratégico tais como o estabelecimento de relacionamentos de longo prazo ou a

avaliação do custo total relativo a uma compra.

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LINDNER, Lorenzo Federico Zanotti. A Questão da Seleção de Fornecedores: um

Estudo de Casos na Indústria Brasileira de Autopeças. Orientadora: Rebecca

Arkader. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000. Dissertação (Mestrado em

Administração)

The objective of this study was to determine the stage of evolution of the

supplier selection issue in first tier autoparts suppliers (those that supply directly to

carmakers) in Brazil, in view of the new principles and practices in the Purchasing area.

The case study method was used. Three cases were analyzed, based on

interviews with traditional Brazilian first tier autoparts suppliers, in which different

aspects of their supplier selection policies and procedures were explored.

The study showed that, despite having undergone significant changes in the

Purchasing process, these companies continue to have an approach to supplier selection

identified in the literature as traditional. The main objective pursued in the selection is

price reduction, without much consideration for other more strategic criteria such as the

development of long-term relationships or the evaluation of the total cost of ownership.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................12 OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DO ESTUDO ........................................................3

2.1 Objetivos ...........................................................................................................................3

2.2 Relevância do estudo........................................................................................................3

3 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................63.1 As mudanças na função de compras ..............................................................................6

3.2 Variáveis estratégicas relevantes no processo de seleção de fornecedores..................9

3.3 Os critérios tradicionais ................................................................................................123.3.1 Preço.....................................................................................................................................123.3.2 Qualidade..............................................................................................................................133.3.3 Velocidade de entrega ..........................................................................................................13

3.4 Os novos critérios...........................................................................................................143.4.1 Custo total.............................................................................................................................143.4.2 Qualidade Total ....................................................................................................................153.4.3 Serviço..................................................................................................................................173.4.4 Critérios financeiros..............................................................................................................173.4.5 Critérios tecnológicos ...........................................................................................................183.4.6 Critérios quanto à cultura e estratégia organizacional ..........................................................183.4.7 Critérios ecológicos ..............................................................................................................193.4.8 Critérios aplicados ao fornecimento internacional................................................................203.4.9 Outros critérios .....................................................................................................................21

3.5 O processo de seleção de fornecedores.........................................................................213.5.1 Organização para o processo de seleção...............................................................................213.5.2 Fontes de informação............................................................................................................223.5.3 Ferramentas ..........................................................................................................................24

3.6 Quadro conceitual ..........................................................................................................28

4 METODOLOGIA .....................................................................................................304.1 Introdução.......................................................................................................................30

4.2 Escolha dos casos............................................................................................................30

4.3 Coleta de dados...............................................................................................................31

4.4 Perguntas da pesquisa ...................................................................................................32

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.........................................335.1 Descrição dos Casos .......................................................................................................33

5.1.1 Empresa F1 ...........................................................................................................................335.1.2 Empresa F2 ...........................................................................................................................425.1.3 Empresa F3 ...........................................................................................................................51

5.2 Análise dos Casos ...........................................................................................................625.2.1 Evolução na função de Compras...........................................................................................625.2.2 Evolução dos critérios de seleção de fornecedores...............................................................665.2.3 Evolução do processo de seleção de fornecedores ...............................................................695.2.4 Percepção geral dos compradores sobre a questão de seleção e avaliação de fornecedores.71

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6 C0NCLUSÕES..........................................................................................................726.1 Resumo do trabalho.......................................................................................................72

6.2 Conclusões.......................................................................................................................73

6.3 Sugestões .........................................................................................................................85

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................868. ANEXOS .......................................................................................................................95

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1 INTRODUÇÃO

Os últimos 15 anos têm sido marcados, no cenário internacional, por profundas

modificações nas estratégias de manufatura das empresas ocidentais, sobretudo em

função da adoção de práticas inspiradas nas operações de empresas industriais

japonesas. Sob o rótulo geral de “produção enxuta”, estas práticas têm por principal

objetivo a redução de desperdícios ao longo da cadeia de valor. Boa parte da

superioridade competitiva mostrada pelas empresas japonesas foi creditada aos vínculos

especiais estabelecidos entre as empresas compradoras e seus fornecedores. Esta

constatação tem levado ao estudo dos diferentes aspectos destes relacionamentos

colaborativos, também chamados de “parcerias”, de forma a identificar suas

peculiaridades e verificar sua aplicabilidade em um contexto distinto daquele da

indústria japonesa.

Uma das principais questões estudadas é aquela da seleção de fornecedores.

Considerando-se que a nova abordagem da relação entre compradores e fornecedores se

baseia em relacionamentos mais duradouros e numa maior estabilidade da base de

fornecedores, cresce em importância a questão de sua adequada seleção. A presente

dissertação parte desta constatação para estudar de que maneira a seleção de

fornecedores está sendo tratada nas empresas industriais brasileiras. Em especial, este

estudo se fará no contexto da indústria automobilística brasileira, que a partir desta

década, com o choque competitivo da abertura comercial, vem passando por intensa

reconfiguração nas práticas de manufatura, inclusive no que diz respeito às políticas de

fornecimento.

A presente dissertação tem assim por tema a Seleção de Fornecedores,

desenvolvendo-se segundo a organização a seguir descrita. A próxima seção apresenta

os objetivos da pesquisa e destaca a relevância das questões tratadas, do ponto de vista

tanto prático quanto teórico. Segue-se a revisão da literatura sobre o tema,

considerando-se a questão da seleção propriamente dita no contexto da evolução da

função de Compras, os processos organizacionais para implementá-la e as principais

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ferramentas utilizadas. O documento prossegue com a apresentação da metodologia

utilizada e com considerações sobre a pesquisa de campo. Na seqüência é feita a

descrição dos casos e a análise dos resultados. Em conclusão, são discutidas as

principais implicações dos resultados obtidos e são feitas recomendações para pesquisas

futuras.

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2 OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DO ESTUDO

2.1 Objetivos

A presente dissertação tem por objetivo estudar a questão da seleção de

fornecedores, no contexto da indústria automobilística brasileira. Para isto, pretende-se

observar como tem-se desenvolvido o processo de escolha de fornecedores pelas

empresas de autopeças de primeiro nível, ou seja, aquelas que fornecem diretamente

para as montadoras. Mais especificamente, o estudo pretende identificar em que estágio

se encontra a seleção de fornecedores nestas empresas, face às novas filosofias e práticas

de administração de Compras. Atenção especial é dada à própria evolução da área de

Compras, dos critérios de seleção e dos processos utilizados.

2.2 Relevância do estudo

Uma recente pesquisa realizada em empresas industriais nos Estados Unidos

indicou que, na média, o valor gasto em compras de materiais corresponde

aproximadamente a 55% dos custos totais de produção (Watts et al, 1995; Monczka et

al, 1998). Isso corrobora a afirmação de Dobler e Burt (1996), baseada no Annual

Survey of Manufacturers de 1991, de que o valor gasto em compras por uma empresa

industrial é superior a todas as suas outras despesas em conjunto (gráfico 1).

Gráfico 1: Típica composição dos custos das empresas industriais

Salários e benefícios

21%

Outras despesas19% Custo de materiais

e equipamentos comprados

56%

Lucro antes do imposto de renda

4%

Fonte: Dobler e Burt, 1996, p. 26.

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Este valor, porém, pode variar de acordo com o setor analisado. Em empresas do

setor de alta tecnologia, por exemplo, Compras representa em média 34% das despesas

totais, enquanto que no setor petrolífero este número sobe para 84% (Dobler e Burt,

1996, p.26). Isto mostra que a área de compras apresenta grandes oportunidades para a

redução dos gastos das empresas e, por conseqüência, de incremento do lucro. Aliás,

ainda de acordo com Dobler e Burt (1996), cada unidade monetária economizada em

compras gera mais uma unidade monetária no lucro.

Além disto, os fornecedores estão tendo que assumir mais responsabilidades

quanto ao desenvolvimento de um produto ou serviço. Na Ford, por exemplo,

fornecedores que não possuem habilidades para desenvolver novos produtos não são

selecionados em caso algum (Monczka et al, 1998, p.253). Os compradores estão

aumentando suas exigências para poder concentrar seus esforços nas suas competências

principais. Como conseqüência, a imagem das empresas frente aos seus clientes começa

a depender de e a ser influenciada cada vez mais pelo desempenho dos seus

fornecedores (Tracey, Vonderembse, 1999). Por isso, várias organizações estão

buscando fornecedores que viabilizem o atingimento de uma posição competitiva mais

forte (Benton et al, 1999). O desafio hoje é maximizar o desempenho dos seus

fornecedores melhor que os seus concorrentes.

Sendo assim, cada vez mais, as dimensões competitivas das empresas, como

qualidade, custo, serviço e outras, estão relacionadas com a operação dos fornecedores.

Como conseqüência, o processo de seleção de fornecedores começa a ter uma relevância

crescente no contexto empresarial. Na Xerox, por exemplo, existe a crença de que para

produzir os melhores produtos é necessário mais que idéias, designs e especificações. É

preciso selecionar os melhores fornecedores (Dobler, Burt, 1996, p.211).

Apesar disso, ainda não é grande a literatura existente sobre o tema, no contexto

da nova visão estratégica de Compras. São poucos os estudos empíricos que investigam

especificamente os novos critérios, processos e métodos de seleção e avaliação de

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fornecedores, como se verá na revisão de literatura. Trata-se de uma área com grande

potencial para novos desenvolvimentos conceituais que possam ser testados e aplicados

na prática nas empresas. É portanto grande a relevância teórica e a oportunidade do tema

proposto, ao que se saiba ainda não estudado no país.

Na indústria automobilística brasileira, esta questão é mais relevante do que

nunca. Já se mostrou que houve avanço nas relações das montadoras de automóveis

presentes no mercado brasileiro com seus principais fornecedores, aqueles de primeiro

nível (Arkader, 1997). Estas são as empresas que estão no degrau da pirâmide logo

abaixo do topo e tendem a se tornar cada vez mais especializadas, montando sistemas

completos para seus clientes. Mas a grande questão é saber se esses esforços não se

verão prejudicados pelas deficiências dos fabricantes de autopeças no segundo escalão,

cujos produtos irão compor os sistemas. É assim de grande importância conhecer como

a questão da seleção de fornecedores está sendo abordada pelos fornecedores diretos das

montadoras, já que esta afeta o desempenho da cadeia como um todo.

A escolha da indústria automobilística como cenário para a pesquisa decorre da

sua importância para a indústria brasileira (representando 25% da produção industrial),

das grandes alterações estruturais pelas quais vem passando e da complexidade da sua

cadeia de fornecimento. Tem, assim, sido o cenário preferencial para o estudo de

questões ligadas a relacionamentos entre fabricantes e fornecedores, como é o caso do

presente trabalho.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 As mudanças na função de compras

A visão tradicional do departamento de compras ou suprimentos estabelecia que

sua missão era satisfazer as necessidades do cliente interno, sem prejudicar a operação.

Poucos nas empresas prestavam atenção à forma de funcionamento da área de

suprimentos, contanto que recebessem o que desejavam (Leenders et al, 1994). Farmer

(1978) apontava que a maioria dos executivos considerava que o setor de compras

deveria atuar de forma passiva na organização, com o limitado objetivo de não

atrapalhar os outros departamentos, e que a função de Compras era percebida como

administrativa e reativa às necessidades internas da empresa, sem nenhuma importância

estratégica.

Assim, as Compras sempre foram vistas muito mais como um serviço a ser

realizado do que como uma área da qual se poderia obter vantagens competitivas. Os

responsáveis pelos departamentos de Compras se concentravam nos benefícios e ações

de curto prazo, sem se preocuparem com a estratégia de longo prazo que determina a

força competitiva da empresa e a sua estabilidade (Farmer, 1978).

No entanto, em meio à escalada da concorrência nos mercados internacionais e

do processo de globalização nas últimas décadas, surgiram preceitos gerênciais quase

imperativos, como a produção enxuta e a satisfação total dos clientes. Para implementá-

los, têm sido adotadas novas práticas, tais como a administração da qualidade total

(TQM), as entregas just-in-time e as parcerias entre compradores e fornecedores,

criando a necessidade de se rever o funcionamento da estrutura e dos processos de

Compras. Assim, a título de exemplo, a opinião generalizada de que se trabalhar com

inúmeros fornecedores para cada item comprado (multiple sourcing) aumentaria a

segurança do comprador vem sendo contestada e desafiada por uma tendência à adoção

da prática de single sourcing (Leenders, Fearon,1997).

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Nesse novo contexto da gerência estratégica dos suprimentos, a relação entre

compradores e fornecedores tende a deixar de ser adversária, passando a envolver uma

maior cooperação, onde cada parte deverá auxiliar a outra a melhorar as suas

capacidades no que estas afetem objetivos de desempenho competitivo como custo,

qualidade, confiabilidade e flexibilidade, tendo em vista diminuir os custos na cadeia de

suprimento como um todo (Imrie, Morris, 1992). De fato, a ênfase agora está no

processo de administração de toda a cadeia de suprimentos, com base nos objetivos

estratégicos da empresa, ao invés de uma concentração de esforços apenas no aspecto

transacional do fornecimento (Leenders, Fearon,1997). O relacionamento de curto prazo

vem perdendo espaço para contratos de longo prazo e o processo de Compras está

deixando de ser uma atividade tática, começando a fazer parte da estratégia competitiva

da corporação (Watts et al, 1995). Em empresas como Honda of America e Daimler-

Chrysler, Compras já é reconhecida pela alta administração como uma área chave que

contribui para a criação de uma vantagem competitiva sustentável (Tracey,

Vonderembse, 1999).

Na visão de Reck e Long (1988), porém, esta mudança no foco do departamento

de compras não se deveria a qualquer fator como globalização, downsizing, outsourcing

e outros. Acreditam que nada mais seria do que o resultado de uma evolução da área de

Compras. Inspirando-se na taxonomia desenvolvida por Hayes e Wheelright (1984) para

os sistemas de manufatura, colocam que o setor de compras evolui através de quatro

níveis, variando entre uma condição totalmente passiva e uma situação onde se torna

uma peça-chave na estratégia da organização. No início, a área de compras atua

passivamente, apenas reagindo aos pedidos das outras áreas. No estágio seguinte, busca

adotar novas técnicas e procedimentos para minimizar qualquer vantagem competitiva

dos concorrentes. No terceiro estágio, a função de compras passa a sustentar a estratégia

competitiva da empresa, através de práticas que reforçam a força da organização no

mercado. E, finalmente, no último estágio, a área de compras já está completamente

integrada à estratégia da corporação, sendo reconhecida como peça-chave para o seu

sucesso.

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Para identificar onde se situaria o setor de compras de uma empresa, os autores

propuseram um quadro com as características principais de cada estágio, mostrado a

seguir.

QUADRO 1 ESTÁGIOS DE EVOLUÇÃO DA FUNÇÃO DE COMPRAS

Estágio

Características

Passivo Independente Apoio Integrativo

Natureza dos

planos de longo

prazo

Não tem RotineirosApoia a

estratégia

Faz parte da

estratégia

Origem das

mudanças

Vontade dos

gerentes

Paridade

competitiva

Estratégia

competitiva

Administração

integrativa

Evolução da

carreiraLimitada Possível Provável Sem limites

Visibilidade

organizacionalBaixa Limitada Variável Alta

Foco do sistema

de informática

Tarefas

repetitivas Eficiência

Decisões

específicas

Necessidades dos

tomadores de

decisões

Fonte de novas

idéias

Tentativas ou

erros

Práticas

correntes

Estratégia

competitiva

Troca

interfuncional de

informações

Foco dos

recursos

disponíveis

Limitado Arbitrário ObjetivoNecessidades

estratégicas

Avaliação de

fornecedores

Preço e

disponibilidadeCusto total

Objetivos

competitivos

Contribuição

estratégica

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Relacionamento

com

fornecedores

Adversário VariávelRecurso da

empresaInterdependência

Foco do

desenvolvimento

profissional

Não existePráticas

correntes

Elementos

estratégicos

Entendimento

multi-funcional

Característica

geral

Função

administrativa

Eficiência

funcional

Facilitador da

estratégia

Contribui para a

estratégia

Fonte: Reck e Long,1988, p.5.

Mesmo assim, independente da mudança no setor de Compras ser fruto de uma

evolução natural ou não, o fato é que nesse novo contexto, as decisões da área de

Compras se tornaram ao mesmo tempo mais importantes e mais complexas. Segundo

Leenders e Fearon (1997, p.35-37), são nove os objetivos principais da área de compras,

entre os quais se encontra, justamente, a seleção de fornecedores:

• fornecer um fluxo ininterrupto dos materiais necessários para a operação

• diminuir ao máximo o investimento em estoques e as perdas

• manter e melhorar a qualidade

• selecionar e desenvolver fornecedores competentes

• padronizar, quando possível, os itens comprados

• comprar ao menor custo total

• melhorar a competitividade da empresa

• trabalhar harmoniosamente com as outras áreas da organização

• cumprir os objetivos da área de compras com o custo administrativo mínimo

3.2 Variáveis estratégicas relevantes no processo de seleção de

fornecedores

Segundo Soukup (1987), Sarkis e Talluri (2000) e Monczka e outros (1998), a

principal função do responsável por Compras é selecionar fornecedores, tarefa cuja

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complexidade aumentou muito nos últimos tempos devido a algumas tendências no

mundo dos negócios, como o aumento do valor dos produtos comprados em relação ao

retorno de uma manufatura, a globalização e a aceleração das mudanças tecnológicas

(Soukup, 1987). Torna-se então vital entender os impactos das novas atribuições do

departamento de Compras no processo de seleção, bem como as dimensões de que irá se

valer para proceder ao mesmo.

Na opinião de Monczka e outros (1998), o processo de seleção de fornecedores

neste novo contexto de Compras deveria considerar diferentes variáveis estratégicas,

tendo em vista que “o objetivo global do processo de seleção de fornecedores é reduzir o

risco e maximizar o valor total para o comprador” (p.239). Primeiro, o comprador deve

optar pela duração do relacionamento. Existe a possibilidade de se estabelecer tanto um

contrato de curto prazo quanto um acordo de longo prazo, sendo que este último seria

mais condizente com a nova visão da área de Compras. Isto corrobora a opinião de

Ellram (1990), para quem seria fundamental, nesta nova relação com os fornecedores,

buscar um compromisso de longo prazo baseado na troca de informações e na divisão de

riscos e recompensas. Inclusive, segundo Manoochehri, a chave para maximizar a

contribuição de um fornecedor seria selecionar um pequeno número e estabelecer com

estes relações de longo prazo (apud Mohammed et al, 2000).

Além disto, a globalização está levando cada vez mais empresas que antes

apenas compravam no mercado interno a procurarem fornecedores internacionais, o que

criou mais uma variável estratégica a ser considerada no processo de seleção:

fornecimento interno versus fornecimento internacional (Min, 1994; Monczka et al,

1998). Esta tendência também dificultou ainda mais o processo de seleção de

fornecedores, por incluir outros critérios além dos utilizados no mercado local, tais

como o risco de ocorrerem instabilidades políticas, mudanças na conversibilidade da

moeda, reformas legislativas e outros imprevistos (Min, 1994).

A terceira variável que, segundo Monczka e outros (1998), deve ser considerada

no processo de seleção de fornecedores, é a quantidade de fornecedores. A empresa

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pode escolher praticar uma política de multiple sourcing tradicional (diversos

fornecedores para cada item), ou adotar uma visão mais moderna de Compras adotando

o single sourcing (um único fornecedor para cada item). A influência desta variável no

processo de seleção já foi comprovada em pesquisas. Em um estudo do tipo survey com

uma amostra de 2000 gerentes da área de Compras de diversas empresas americanas,

por exemplo, Swift (1995) concluiu que os compradores que preferem o single sourcing

consideram mais importante a confiabilidade, enquanto que os compradores adeptos do

multiple sourcing dão maior ênfase ao preço. De fato, o comprador que adota o single

sourcing está mais preocupado com o custo total do que com o preço inicial, pois está

buscando o fornecedor ótimo. A autora também coloca que a compreensão de que o

single sourcing e o multiple sourcing envolvem diferentes critérios de seleção é

importante para os departamentos de Marketing e de Vendas do fornecedor, que podem

adaptar sua estratégia de acordo com as preferências do cliente.

O tipo de produto é uma importante variável estratégica a ser considerada

durante o processo de seleção, não havendo uma estratégica única adequada a todos os

produtos (Ellram, 1990; Monczka et al, 1998). Os aspectos a serem considerados são,

por exemplo, a complexidade técnica do produto e as dificuldades de suprimento

(Hirakubo, Kublin, 1998; Monczka et al, 1998). Esta opinião é corroborada por um

estudo de Lehmann e O’Shaughnessy (apud Wilson, 1994, p.37) onde diferentes

produtos foram classificados segundo quatro categorias: produtos rotineiros que não

apresentam problemas de uso e nem de funcionamento; produtos com dificuldades de

utilização, que exigem um aprendizado, mas que funcionam como previsto; produtos

relacionados a problemas de desempenho, sobre os quais não se tem certeza sobre o

funcionamento e produtos com problemas políticos, porque envolvem grandes somas ou

porque a decisão de compra depende de várias áreas da empresa. Os autores concluíram

que os critérios relevantes variavam de acordo com o tipo do produto. Confiabilidade da

entrega e preço eram mais importantes para produtos de rotina, enquanto que produtos

com problemas de processo exigiam melhor serviço e confiabilidade, assim como

produtos de desempenho. No caso de produtos que envolviam problemas políticos,

preço e confiabilidade do produto eram os critérios fundamentais.

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No entanto, apesar de reconhecer que o tipo de produto deve ser considerado

quando de um processo de seleção, Soukup (1987) acredita que o mais importante em

um processo de seleção de fornecedores é que o responsável pelo processo julgue a

necessidade de uma análise detalhada dos fornecedores. Por exemplo, no caso de vários

vendedores estarem no mesmo nível ou de existir um fornecedor muito mais capacitado

que os outros, esta decisão deve ser tomada de forma rotineira, sem perda de tempo.

Apenas na situação onde vários vendedores possuem diferenças significativas é que

deve ser feita uma análise cuidadosa para evitar erros. O Quadro 2 relaciona cada caso

com a probabilidade de que ocorra um erro na seleção, com as conseqüências deste erro

e com o modo de decisão que deve ser aplicado.

QUADRO 2 CLASSIFICAÇÃO DA DECISÃO DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES

Caso Prob. de erro Conseqüências do erro Modo de decisão

Fornecedores

semelhantes

Alta Mínimas Rotineiro

Um fornecedor

superior

Baixa Elevadas Rotineiro

Fornecedores

diferentes

Alta Desconhecidas e arriscadas Análise detalhada

Fonte: Soukup, 1987, p.9.

3.3 Os critérios tradicionais

3.3.1 PREÇO

O preço sempre foi considerado um fator crítico no momento da compra

(Degraeve, Roodhooft, 1999). Em 1905, por exemplo, Ennis já destacava a importância

do conhecimento sobre a formação de preços para o profissional da área de suprimentos

(apud Fearon, 1968). Esta preocupação fundamental com o preço caracterizou o que

hoje é chamada de abordagem tradicional da cadeia de suprimentos (Goffin et al, 1997).

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Nela, o comprador adotava uma política de multiple sourcing, mantendo vários

fornecedores de um determinado produto, com o objetivo de usar seu poder de barganha

para reduzir o preço. De fato, o processo tradicional de compras consistia numa busca

incessante pelo menor preço possível entre os fornecedores. Conseqüentemente, as

trocas de fornecedor eram freqüentes e os contratos eram de curta duração (Swift, 1995;

Goffin et al, 1997).

3.3.2 QUALIDADE

A qualidade é também um dos critérios mais tradicionais no processo de seleção

de fornecedores. Um artigo de 1890 já mencionava que um dos maiores erros que

poderiam ser cometidos em uma compra era o de ignorar a qualidade do produto ou

serviço (apud Fearon, 1968). No entanto, mesmo sendo considerada no processo, a

qualidade era tratada de forma superficial e com menos atenção do que mereceria

(Giunipero e Brewer, 1993). Segundo Goffin e outros (1997), o departamento de

compras exigia dos seus fornecedores um padrão de qualidade apenas qualificador

(Slack et al, 1997). Isto significa que os fornecedores deveriam atingir um nível de

qualidade pré-determinado para serem considerados na seleção, e que qualquer melhora

nesta dimensão, acima do padrão exigido, acrescentaria poucos benefícios (Slack et al,

1997).

3.3.3 VELOCIDADE DE ENTREGA

Segundo Goffin e outros (1997), nos processos tradicionais de compra, além do

preço e da qualidade, havia um terceiro critério que também era avaliado: a velocidade

de entrega. A importância deste fator é confirmada nos estudos de Lehmann e

O’Shaughnessy em 1974 e de Evans em 1982, que concluíram que, na média, a entrega

era considerada pelos compradores como sendo mais essencial até mesmo que o preço e

a qualidade (Wilson, 1994; Lambert et al, 1997). De fato, um atraso ou um

adiantamento na entrega de componentes poderia causar sérios prejuízos para uma

empresa. A Hewlett-Packard, por exemplo, conseguiu reduzir seus gastos com estoque

em US$ 9 milhões por ano após ter realizado uma campanha junto aos seus

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fornecedores exigindo um maior comprometimento com as datas previstas de entrega

dos produtos (Burt, 1989).

3.4 Os novos critérios

3.4.1 CUSTO TOTAL

Este critério consiste em um conceito que visa auxiliar o processo de seleção de

fornecedores, identificando o verdadeiro custo de um produto ou serviço e não apenas

seu preço. Além do preço, ele inclui os custos relacionados com o pedido, transporte,

entrega, inspeção, rejeições, atrasos, etc. (Ellram, 1995). Quando um fornecedor não

cumpre o que havia combinado em termos de entrega e qualidade, por exemplo, custos

adicionais são incorridos pelo comprador para corrigir estas falhas. Estes custos são

levados em consideração neste critério (Monczka, Trecha, 1988). Simplificando, o

critério de custo total considera todos os custos associados com a aquisição, uso e

manutenção de um produto ou serviço (Ellram, 1993).

Além de poder ser aplicado a qualquer tipo de compra, este critério apresenta

vários benefícios, conforme resumidos por Ellram (1994, p.173):

• Medidas de desempenhoBoa base para avaliar fornecedores.

Forma concreta de medir resultados de esforços de melhoria da qualidade.

Excelente ferramenta para benchmarking.

•••• Tomada de decisãoObriga o comprador a quantificar os tradeoffs.

Boa base para tomar decisões referentes à seleção de fornecedores.

Tomada de decisão baseada em mais informações.

Cria um ambiente para a resolução de problemas de forma estruturada.

•••• Comunicação

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Excelente meio de comunicação entre compradores e fornecedores.

Modo de envolver outros departamentos nas decisões de compra.

•••• Insight/CompreensãoFornece excelentes dados para a análise da tendência dos custos.

Fornece excelentes dados para a comparação dos fornecedores.

Fornece excelentes dados para negociação.

Fornece informações críticas para target pricing.

Obriga a função de compras a desenvolver um conhecimento sobre os fatores

mais significativos não relacionados ao preço.

Orientação para o longo prazo.

•••• Incentiva a melhoria contínuaIdentifica onde os fornecedores devem focar seus esforços de melhoria.

Ajuda a identificar oportunidades de redução de custo.

Obriga as empresas a analisarem seus custos internos e a entenderem como suas

próprias necessidades e especificações podem aumentar os custos.

Aumenta o horizonte de análise dos funcionários do departamento de compras,

estimulando desta forma o crescimento profissional.

3.4.2 QUALIDADE TOTAL

A nova visão de Compras reconheceu que um fornecedor com alto padrão de

qualidade não é aquele que simplesmente atende às especificações, mas o que satisfaz às

expectativas do cliente, sendo que as especificações são estáticas enquanto que as

expectativas são dinâmicas (Pang, 1992). Isto está incentivando o desenvolvimento de

novas filosofias, como a administração da qualidade total, que pregam uma melhoria

contínua na qualidade. Feigenbaum define a administração da qualidade total como um

sistema eficiente de integração das forças das diferentes áreas de uma empresa no

sentido de desenvolver qualidade, manter qualidade e melhorar a qualidade (Lee,

Wellan, 1993). A qualidade se transformou numa ferramenta fundamental na busca pela

satisfação do cliente (Giunipero, Brewer, 1993) e se tornou um fator que Terry Hill

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chama de order winner (Slack et al, 1997). A qualidade total, e sobretudo o

comprometimento com a sua melhoria, passaram a ser considerados peças-chave no

processo de seleção, afetando diretamente o potencial competitivo do fornecedor

(Giunipero, Brewer, 1993).

Com o desenvolvimento da filosofia de administração da qualidade total, as

organizações começaram a adotar sistemas de controle gerencial que facilitassem

melhorias de qualidade. O conjunto mais universal destes sistemas e procedimentos

relacionados à qualidade é aquele influenciado pelos padrões ISO 9000. Esses padrões

foram desenvolvidos para assegurar aos compradores de produtos e serviços que eles

foram produzidos de maneira a atender às exigências do consumidor (Slack et al, 1997).

As certificações se tornaram um componente chave durante o processo de seleção de

fornecedores, e cada vez mais, estão influindo na decisão. Mas segundo Groves e

Valsamakis, o motivo de exigir a certificação também é função do tipo de

relacionamento entre comprador e fornecedor. Em uma relação onde estes são

adversários, a certificação é, de fato, reconhecida apenas como um garantia da qualidade

do produto e do seu processo de produção. Já em uma parceria, a certificação serve

como uma base para avaliar o sistema de qualidade do fornecedor e identificar as áreas

que podem contribuir para melhorar o relacionamento.

Particularmente na indústria automobilística, a certificação ganhou muita

importância. Uma demonstração disto foi a criação de um programa de qualidade

comum pelas três maiores montadoras americanas, General Motors, Chrysler Corp. e

Ford. Este programa foi denominado QS-9000 e foi resultado da combinação da ISO-

9000 com algumas diretrizes de qualidade específicas do setor. A certificação passou a

ser um critério fundamental no processo de seleção de fornecedores destas empresas, o

que pode ser percebido na declaração feita pela General Motors em 1998, estabelecendo

que nenhum fornecedor de primeira linha sem QS 9000 poderia fechar qualquer contrato

com a empresa (Zuckerman, 1998).

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3.4.3 SERVIÇO

No novo contexto, o critério tradicional de entrega foi incorporado por um

critério mais amplo denominado serviço, que engloba diferentes fatores. Dentro deste

critério, a entrega passou a ser analisada sob outras dimensões além da velocidade

(Goffin et al, 1997). Mohanty e Deshmukh (1993), por exemplo, sugerem que o critério

de entrega deve considerar também a confiabilidade das entregas, o custo de transporte,

a variação da quantidade em cada entrega, a freqüência de entregas e a flexibilidade do

fornecedor quanto à programação de entregas.

Além disso, devido à crescente adoção de programas de fornecimento just in

time, o novo critério de entrega também passou a recomendar a análise da capacidade do

fornecedor de realizar entregas JIT, fundamental para o sucesso de uma filosofia que

visa minimizar o estoque (Burt, 1989; Goffin et al, 1997).

O critério serviço também envolve outros fatores como: flexibilidade do

fornecedor, garantia, assistência técnica, serviço pós-venda e disponibilidade de peças

sobressalentes (Mohanty, Deshmukh, 1993; Goffin et al, 1997).

3.4.4 CRITÉRIOS FINANCEIROS

Os critérios financeiros podem ser subdivididos em duas categorias: desempenho

econômico e estabilidade financeira (Ellram, 1990). A análise do desempenho

econômico reflete o passado financeiro da empresa, o que pode ser feito através dos

índices de liquidez, de atividade e de rentabilidade. Os números do fornecedor em

questão são comparados com os de seus concorrentes, buscando-se informações sobre

variações no capital de giro e no fluxo de caixa, que também auxiliam na avaliação da

força competitiva da empresa (Byrne, 1992). A seguir, estuda-se a viabilidade financeira

futura da empresa, o que corresponde ao que foi tratado anteriormente como

estabilidade financeira. Este equilíbrio seria fundamental, pois dele dependeria o

sucesso da parceria no longo prazo (Deming, 1988). Um fornecedor com problemas

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financeiros teria dificuldades em contribuir para a relação e poderia, até mesmo, não

sobreviver (Ellram, 1990).

3.4.5 CRITÉRIOS TECNOLÓGICOS

A avaliação do critério tecnológico se faz a partir da análise tanto da atual

tecnologia utilizada pelo fornecedor quanto da sua capacidade para desenvolver e

incorporar novas tecnologias (Ellram, 1990; Leenders, Fearon, 1997). Para isto é

necessário visitar as instalações do fornecedor, conhecer seus equipamentos, sua escala,

o ambiente de suas operações e sua forma de operar. Isto fornecerá informações sobre a

situação atual. Como o objetivo da seleção é escolher fornecedores que possam

contribuir regularmente para a relação, deve-se também avaliar o potencial do

fornecedor para participar no desenvolvimento de um produto, sua velocidade de

desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias e sua capacitação técnica (Ellram,

1990). Segundo Monczka e outros (1998), trabalhar conjuntamente com fornecedores

que possuem capacidade de desenvolver componentes reduz drasticamente o ciclo de

desenvolvimento de novos produtos. Além disto, uma pesquisa realizada por Tracey e

Vonderembse (1999) com 268 gerentes de Compras demonstrou a existência de uma

elevada correlação entre o grau de envolvimento do fornecedor no desenvolvimento de

componentes e seu desempenho geral: quanto maior o envolvimento, melhor o

desempenho. A Ford, por exemplo, exige isto de todos os seus fornecedores e acredita

que a sua vantagem competitiva no futuro depende diretamente da capacitação

tecnológica de cada um.

3.4.6 CRITÉRIOS QUANTO À CULTURA E ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL

Esta categoria de critérios compreende vários fatores intangíveis e seria essencial

para o sucesso da relação (Ellram, 1990). Um dos fatores mais difíceis de serem

avaliados, por exemplo, é a confiança, considerada fundamental para que ocorra a troca

de informações, riscos e recompensas necessárias numa parceria (Ellram, 1991). A

expectativa futura e a estratégia de longo prazo também seriam essenciais neste

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processo, pois duas empresas com estratégias divergentes não conseguiriam cumprir as

obrigações de um acordo de longo prazo. Em algum momento haveria um choque e a

relação terminaria. Outros fatores como estrutura do fornecedor e compatibilidade entre

os empregados de níveis equivalentes nas duas empresas também não deveriam ser

ignorados, porque grande parte do sucesso da relação dependeria da forma de trabalho e

de comunicação destas pessoas. Considera-se que o relacionamento entre os executivos

principais das empresas dá o tom e a direção da parceria. Uma incompatibilidade neste

escalão inviabilizaria a relação logo no início (Ellram, 1990, 1991).

3.4.7 CRITÉRIOS ECOLÓGICOS

Min e Galle (1997) destacam as crescentes preocupações com o ecossistema nas

duas últimas décadas. Segundo eles, os clientes estão cada vez mais atentos aos

problemas ambientais e começam a dar preferência aos produtos ecologicamente

saudáveis, o que está incentivando as empresas a lançarem produtos “verdes”. Entre

1985 e 1990, por exemplo, a participação de produtos ecológicos no total de novos

produtos lançados nos Estados Unidos cresceu de 0,5% para 9,2%. No entanto, investir

em novos produtos não basta para estabelecer uma política ambiental, é necessário

mudar a visão tradicional do departamento de compras, que sempre ignorou os fatores

ambientais no processo de seleção de fornecedores (Min, Galle, 1997). Esta idéia fica

clara no comentário feito pelo responsável pela política ambiental da IBM-UK: “a IBM

é tão boa ecologicamente quanto o elo mais fraco da sua cadeia de suprimentos”

(Kenward, 1992).

No entanto, segundo Min e Galle (1997), a concepção de uma estratégia “verde”

é complicada pois pode aumentar o custo, requerer profissionais qualificados e ser

limitada pela necessidade de materiais não tradicionais. Mesmo assim, existem

diferentes formas de se implementar esta estratégia: pode-se reduzir o volume de

compras de produtos danosos ao ambiente, incentivar o uso de materiais reciclados ou

exigir que os fornecedores eliminem as embalagens supérfluas e usem embalagens

biodegradáveis ou retornáveis.

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A literatura destaca o cuidado com que deveria ser analisada esta questão, pois

apesar de existir uma preocupação ecológica, muitos profissionais ainda desconhecem

os potenciais econômicos das políticas “verdes” e acreditam, erroneamente, que elas

pressupõem altos custos sem retorno compensador (Min, Galle, 1997).

3.4.8 CRITÉRIOS APLICADOS AO FORNECIMENTO INTERNACIONAL

Com a globalização, cada vez mais empresas que antes apenas compravam no

mercado interno estão contratando junto a fornecedores internacionais. Esta tendência

dificultou ainda mais o processo de seleção de fornecedores, por incluir critérios

distintos dos aplicados a fornecedores no mesmo país (Min, 1994). Um destes é a taxa

de câmbio. Por exemplo, como na maioria das vezes existe um intervalo de tempo entre

o momento da compra e o momento do pagamento, no caso de o comprador ter

estipulado os pagamentos na moeda do fornecedor, uma variação no valor de conversão

desta moeda pode aumentar ou reduzir o montante a ser pago, dependendo do sentido da

variação. Daí a importância deste critério, ainda mais se no processo de seleção

estiverem competindo fornecedores de diferentes países (Carter, Vickery, 1989).

Também deveriam ser consideradas as barreiras culturais. Geralmente,

fornecedores estrangeiros utilizam outras práticas de negociação, agem de acordo com

outros costumes e falam outras línguas. Estes são alguns dos aspectos culturais

principais, e Min (1994) ainda acrescenta que uma atitude etnocêntrica por parte do

comprador potencial poderia levar a negociação ao fracasso.

A avaliação não pode ignorar, também, os riscos de que ocorram instabilidades

políticas, mudanças na legislação ou na política econômica governamental, disputas

trabalhistas, controle de preços e outros que possam prejudicar o fornecimento (Ellram,

1991; Min, 1994).

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3.4.9 OUTROS CRITÉRIOS

Outros fatores começam a ser utilizados no processo de seleção de fornecedores.

Muitos compradores, por exemplo, sentem-se mais seguros e confortáveis após terem

feito uma análise do desempenho passado do fornecedor e de suas referências. Eles

consideram isto crítico porque qualquer problema com o fornecedor envolve

imediatamente a reputação da empresa cliente (Ellram, 1990).

Recomenda-se também uma pesquisa sobre os clientes do fornecedor para que se

tenha uma noção da importância relativa da compra na carteira do vendedor. Esta seria

uma forma de se garantir maior atenção e uma atitude mais positiva por parte do

fornecedor (Ellram, 1990; Smytka, Clemens, 1993). Além disto, caso o fornecedor

trabalhe em conjunto com um importante concorrente em um mercado onde o fator

tecnológico é primordial, uma parceria com este fornecedor deveria ser considerada

desfavoravelmente (Ellram, 1990).

3.5 O processo de seleção de fornecedores

3.5.1 ORGANIZAÇÃO PARA O PROCESSO DE SELEÇÃO

Neste novo contexto de compras, a organização das pessoas envolvidas no

processo de seleção também mudou. Antigamente, o departamento de compras tinha a

política de que todo o contato com os fornecedores só podia ser feito pelo pessoal da

área (Monczka et al, 1998). Além disto, existia um grande antagonismo entre a área de

compras e o pessoal das fábricas. Dobler e Burt (1996) relatam um caso real que retrata

este comportamento. Há alguns anos, um deles era gerente de compras e propôs ao

responsável da fábrica se envolver mais cedo durante o desenvolvimento de um novo

produto para perder menos tempo com a revisão das especificações e do projeto. A

resposta foi imediata: ele não queria estranhos envolvidos no seu departamento. Da

mesma forma, com a expressão “vá brincar com a sua própria caixa de areia”, o

responsável por compras respondeu ao pedido de seu colega de participar mais

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ativamente na seleção de fornecedores. Como conseqüência, Compras tinha um papel

reativo, intervindo depois que as outras funções tivessem encerrado suas tarefas

(Monczka et al, 1998, p.168).

Entretanto, esta miopia estaria sendo substituída pelo que talvez seja a forma

mais efetiva de se evitar o lado negativo da especialização e da departamentalização

(Dobler, Burt, 1996, p.11). Estão sendo formados grupos multifuncionais com

representantes das diversas áreas relacionadas com a compra do produto em questão

(Ellram, 1991; Monczka, Trent, 1994). Estes grupos começam a fazer parte da nova

estrutura da organização e podem permitir flexibilidade e acesso a uma gama de

conhecimentos que não seria possível na antiga visão. Um estudo recente baseado em

dados coletados durante o seminário “Purchasing and Materials Management Executive

Seminar”, realizado em 1993 na Michigan State University (Monczka, Trent, 1994),

revelou que 70 % das empresas analisadas estavam planejando forçar a utilização de

equipes multi-funcionais para apoiar as decisões de fornecimento até 1997.

No entanto, apesar do conceito ser de fácil compreensão, a sua implementação

requer um grande esforço, pois necessita uma cultura corporativa participativa e

cooperativa (Monczka, Trent, 1994) que, segundo Pearson, deveria ser baseada em

trabalho de equipe, confiança, unidade, coordenação e respeito (apud Larson, 1994).

3.5.2 FONTES DE INFORMAÇÃO

Como foi descrito na seção 3.4, o processo de seleção baseia-se nos critérios

relevantes para a compra de um determinado produto ou serviço. O foco deste tópico

consiste na identificação das possíveis fontes de informação que viabilizariam esta

avaliação. As mais citadas na literatura (Leenders, Fearon, 1997; Dobler, Burt, 1996;

Zenz, 1994; Monczka et al, 1998) são:

• Catálogos: seu valor depende da sua forma de apresentação, da disponibilidade dos

seus itens e do uso que é feito destas informações.

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• Jornais de negócios: existe uma grande variedade em diferentes campos de atuação.

Podem ser utilizados como leitura para descoberta de novos produtos ou materiais

substitutos, ou como fonte de anúncios de fornecedores.

• Representantes de venda: uma das melhores fontes de informação, com quem o

comprador deve, na medida do possível, buscar um relacionamento cordial.

• Arquivo de fornecedores e de produtos: registros históricos dos diferentes

fornecedores que serviram à empresa e dos diferentes produtos comprados pela

organização, onde constam dados sobre desempenho, preço, qualidade e outras

informações pertinentes.

• Visita a fornecedores: mais efetivas quando não constam dificuldades a serem

debatidas. O responsável de compras pode ter conversas com executivos graduados

que revelem elementos da estratégia futura do fornecedor.

• Teste de amostras: amostras de produtos podem ser testadas sendo que a dificuldade

é como estabelecer os critérios para o teste.

Além destas, as publicações mais atualizadas já recomendam também o uso de

Internet (Leenders, Fearon, 1997; Monczka et al, 1998). De fato, várias empresas, como

a Mercury Computer Systems, por exemplo, estão aproveitando a imensa quantidade de

informações na rede para tornar mais eficiente seu processo de seleção e avaliação de

fornecedores (Monczka et al, 1998, p.245). E, a partir das informações obtidas nestas

fontes, o comprador poderá fazer uma lista dos possíveis fornecedores e uma ampla

análise de cada um para selecionar o melhor. Os autores também destacam que,

qualquer que seja a fonte, sua qualidade é essencial para evitar erros no processo.

Entretanto, não é raro que as empresas tenham listas de fornecedores

preferenciais para a compra de algum produto novo. Pois um fornecedor preferencial já

provou sua capacidade numa compra anterior e uma lista deste tipo pode economizar

tempo e dinheiro, necessários para um processo de seleção de fornecedores (Monczka et

al, 1998).

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3.5.3 FERRAMENTAS

Para simplificar e formalizar o processo de decisão de compras, as empresas

geralmente utilizam modelos de seleção. Sobre esta base, Giunipero e Brewer (1993) e

Willis, Huston e Pohlkamp (apud Braglia, Petroni, 2000) enquadraram os diferentes

tipos de modelos de avaliação de fornecedores em três categorias: modelos categóricos,

que classificam os diferentes critérios como abaixo da média, na média ou acima da

média; modelos de pontos e pesos, que associam valores aos critérios e notas ao

desempenho do candidato, e modelos de custo total, que buscam identificar todos os

custos envolvidos numa compra. Eles estão citados em uma ordem crescente de custo,

complexidade e modernidade. A primeira categoria de modelos é a mais simples e

tradicional, o que não significa que esteja condenada ao esquecimento, pois não existiria

modelo adequado a todas as situações (Goffin et al, 1997). Os sistemas de avaliação

com maior êxito seriam aqueles que escolhem medidas realistas de desempenho, são

fáceis de administrar, dão feedback aos fornecedores e recompensam o bom

desempenho (Giunipero, Brewer,1993).

Smytka e Clemens (1993) colocaram em um gráfico (Gráfico 2) os três tipos de

modelo, de acordo com sua precisão e com o grau de complexidade da sua utilização.

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Gráfico 2

SIMPLES

COMPLEXO

IMPRECISO PRECISO

CATEGÓRICOS

PONTOS E PESOS

CUSTO TOTAL

Fonte: Smytka e Clemens, 1993, p. 48.

3.5.3.1 Modelos categóricos

Os modelos categóricos consistem na avaliação do fornecedor em diferentes

critérios, classificando-o como abaixo da média (-), na média (0) ou acima da média (+)

em cada um. Podem ser analisados tantos critérios quantos forem desejados sendo que,

no final, todas as avaliações são agregadas, a fim de se obter uma compreensão sobre o

desempenho do fornecedor. Este é o modelo mais simples, rápido e barato, que no

entanto tende a ser influenciado por eventos recentes e geralmente implica um alto grau

de subjetividade (Giunipero, Brewer, 1993).

3.5.3.2 Modelos de pontos e pesos

Este tipo de modelo é amplamente utilizado devido à sua simplicidade,

flexibilidade e eficiência na otimização das decisões de compra. Nele, o comprador

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atribui pesos para cada critério de acordo com a sua importância, pontua o desempenho

do fornecedor, soma o produto dos pesos pelos pontos e obtém a avaliação final do

fornecedor (Thompson, 1991). Este método é mais caro e mais demorado que o anterior,

mas tende a ser mais objetivo (Giunipero, Brewer, 1993). Mesmo assim, o modelo

apresenta um obstáculo fundamental à sua implementação, que é sua dependência

exclusiva da capacidade do comprador em estimar a pontuação do fornecedor, o que

freqüentemente causa decisões erradas devido às incertezas envolvidas (Thompson,

1991).

Apesar destes problemas, Gregory (1986) propõe outra utilidade para o modelo.

No caso de uma compra ter que ser dividida entre dois fornecedores, a parte de cada um

pode ser definida pela percentagem que representa a nota final de cada concorrente em

relação à soma das duas notas. Isto pode ser uma forma de se reduzir o risco de se ter

apenas um fornecedor, além de manter a competição entre eles.

3.5.3.3 Modelos de custo total

Os modelos de custo total são os mais caros e complicados de se implementar,

além de requererem muito mais tempo. Apresentam, no entanto, informações com mais

qualidade e precisão (Giunipero, Brewer, 1993).

Este tipo de modelo busca incluir na análise de um fornecedor os principais

custos relacionados com a decisão. Afinal, o fornecedor que oferece o preço mais

atrativo não é necessariamente o mais barato (Degraeve, Roodhooft, 1999). No entanto,

a inclusão de um determinado custo em um modelo depende da importância relativa e

da magnitude deste custo em relação ao item comprado. “Utilizando a lei de Pareto, a

idéia é considerar os 20% dos fatores que representam 80% dos custos” (Ellram, 1994,

p.171).

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Além disto, o modelo pode ser utilizado por diferentes motivos. Em um estudo

de casos realizado por Ellram (1994), por exemplo, as empresas analisadas justificaram

de diferentes formas o uso do modelo:

• recompensar fornecedores por bom desempenho

• identificar prioridades e incentivar melhorias no fornecedor

• planejar desempenho futuro do fornecedor

• medir desempenho atual do fornecedor

• fornecer dados que ajudem na negociação

• concentrar os recursos nas compras mais importantes

• comparar o desempenho dos fornecedores entre si regularmente

• reduzir a base de fornecedores

• alocar volume entre fornecedores de um mesmo produto

Existem, porém, várias barreiras à implementação dos modelos de custo total.

Podemos citar algumas como: falta de dados sobre custo nas empresas, variedade de

formas de aplicação do modelo, necessidade de uma mudança cultural na forma de

comprar (não se basear somente no preço) e o fato de que os custos relevantes diferem

de acordo com a natureza, magnitude e importância da compra. Além disto, é

importante destacar a grande dificuldade enfrentada pelas empresas quanto à forma de

valoração do custo total. Algumas fazem o cálculo alocando para cada atividade uma

parcela de custo direto, outras associam pontos às diferentes etapas do processo de

compras e encontram um custo em termos de um valor abstrato, existindo ainda uma

terceira forma, igual à anterior, mas que converte este valor em moeda corrente (Ellram,

1994). No entanto, segundo Degraeve e Roodhooft (1999), recentes desenvolvimentos

sobre o tema de gerenciamento contábil, como o Activity-based costing (custeio baseado

na atividade), estão facilitando a quantificação dos custos envolvidos nas diferentes

etapas de um processo de compra e conseqüentemente o uso de modelos de custo total.

Estes modelos podem ser tanto gerais, servindo para qualquer tipo de compra,

quanto específicos para cada produto ou serviço. Neste caso é necessário mais tempo e

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28

dinheiro, mas em compensação adiciona-se mais flexibilidade e credibilidade ao

processo (Ellram, 1994).

3.5.3.4 Outras ferramentas

A maioria dos modelos de seleção de fornecedores recomenda a avaliação do

vendedor baseada em um conjunto de critérios que o comprador identificou e ponderou

previamente. Ao final deste procedimento é escolhido o fornecedor que recebeu a maior

nota ou que tiver o menor custo total. A fraqueza desta técnica seria a de se basear na

certeza de que as previsões de vendas, as especificações do produto, o calendário de

produção e de entregas e as quantidades requeridas estejam todas perfeitamente corretas.

Infelizmente, isto não ocorreria na realidade (Soukup, 1987). Logo, os fornecedores

deveriam ser selecionados em função da sua capacidade de se adaptar às incertezas de

mercado e não conforme seu desempenho no caso de ocorrer aquela situação prevista.

Muitos fornecedores conseguem obter pontuações e custos semelhantes num processo

de avaliação estático, porém poucos possuem a habilidade de se adaptar a mudanças

imprevistas (Soukup, 1987). Recomenda-se, então, o uso de ferramentas de simulação e

de análise de sensibilidade para que as incertezas que existem no mercado sejam

incorporadas ao processo de seleção.

3.6 Quadro conceitual

O quadro a seguir busca sintetizar as principais diferenças entre a abordagem

tradicional e a abordagem estratégica da seleção de fornecedores, com base nas

indicações extraídas da literatura, sendo sua estrutura inspirada em Goffin e outros

(1997).

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QUADRO 3 QUADRO CONCEITUAL

Fator Abordagem tradicional Abordagem estratégica

Relacionamento com o

fornecedor

• curto prazo

• multiple-sourcing

• antagônico

• longo prazo

• single-sourcing

• cooperativo

Estabelecimento de objetivos • Objetivo tático • Objetivo estratégico

Critérios de Seleção

• preço

• qualidade especificada

• velocidade de entrega

• custo total• administração da qualidade

total• serviço• estabilidade financeira• capacitação tecnológica

atual e perspectivas futuras• cultura e estratégia

organizacional• meio ambiente• fornecimento internacional• passado do fornecedor• carteira de clientes do

fornecedor

Locus da decisão de compra

• Diferentes departamentos

separadamente, Compras

servindo como suporte.

• Equipes multi-funcionais,

envolvendo Compras,

engenharia e qualidade.

Forma de avaliação dos

critérios

• Não estruturada

• Conforme os critérios

mínimos especificados,

subjetiva

• Estruturada

• Conforme avaliação com

modelos de pontos e pesos

e de custo total, objetiva

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4 METODOLOGIA

4.1 Introdução

Esta pesquisa pode ser classificada, quanto aos fins, como de caráter

exploratório, pois há uma grande carência de trabalhos que discorram sobre como as

empresas gerenciam suas decisões de Compras no Brasil.

Dentre as estratégias disponíveis, considerou-se como a mais adequada para esta

pesquisa a do método do caso. Segundo Yin (1989), “os estudos de caso são a estratégia

preferível quando as perguntas colocadas são do tipo ‘como’ e ‘porque’, quando o

pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco é um fenômeno

contemporâneo inserido em algum contexto da vida real” (p.3).

Ellram (1996, p.115, apud Arkader, 1997) também aponta que “excelentes

oportunidades existem para se usar a metodologia da pesquisa de estudos de casos em

muitas áreas da logística e de compras”, indicando ainda que são “excelentes para a

construção de teorias, para oferecer explicações detalhadas das melhores práticas e para

propiciar maior entendimento dos dados coletados”.

Devido às limitações inerentes aos estudos de caso, o estudo se propõe a

descrever e analisar, em um dado momento, como estão organizados os processos de

seleção de fornecedores nas empresas estudadas, com base nas percepções dos

entrevistados, no setor escolhido, não se prestando suas conclusões a generalizações.

4.2 Escolha dos casos

A escolha das empresas para desenvolvimento dos casos recaiu sobre empresas

de autopeças que atendessem às seguintes características, que seriam indicativas de

significativa responsabilidade da área de compras sobre o desempenho da empresa:

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• Fossem do primeiro escalão de fornecimento, ou seja, fornec essem

diretamente às montadoras a maior parte de seus produtos

• Fossem de porte suficientemente grande para que a área de Compras pudesse

ter relevância

• Comprassem insumos e componentes tanto no país como no exterior

• Vendessem produtos tanto no mercado interno quanto externo

• Fabricassem produtos distintos

Além disso, esperava-se que ja estivessem no mercado há bastante tempo, de

forma a poder avaliar a evolução das questões aqui tratadas. Todas as três primeiras

empresas contactadas aceitaram participar da pesquisa, atendem às características e têm,

todas, faturamento anual superior a 100 milhões de reais. Estão ainda situadas em São

Paulo, sendo tradicionais fornecedoras da indústria automobilística, com longos anos de

existência.

F1 fabrica componentes para motores à base de borracha, sendo esta a principal

commodity comprada pela empresa. Os componentes comprados de fornecedores de

segunda e terceira linha respondem por mais de 30% da sua matriz de compra . F2

produz sistemas de aspiração, sendo aço e papel filtrante as principais commodities

utilizadas no seu processo produtivo. O volume de componentes comprados

corresponde a 25% do volume gasto em compras. Já F3 fabrica componentes metal-

mecânicos para motores e suspensão. Sua matriz de compra tem como principais

produtos o aço e componentes produzidos por fornecedores de segunda e terceira linha.

4.3 Coleta de dados

Os dados foram coletados através de entrevistas pessoais, utilizando-se roteiro

de entrevista com perguntas estruturadas e não estruturadas, que serviu de guia para o

aprofundamento das questões de interesse do estudo. Foram entrevistados os Gerentes

de Compras das empresas escolhidas, com o objetivo de captar as suas experiências e

percepções acerca dos vários temas tratados.

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O roteiro de entrevista adotado, que se encontra no anexo 1, baseia-se no quadro

conceitual comparativo entre a abordagem tradicional da seleção de fornecedores e a

nova visão estratégica, apresentado no item 3.6 da revisão de literatura, bem como nas

demais indicações da literatura sobre a questão da seleção de fornecedores.

As entrevistas tiveram entre duas e três horas de duração. Todas foram gravadas

e transcritas para utilização como base da análise dos resultados.

4.4 Perguntas da pesquisa

A pergunta geral de pesquisa que este estudo se propõe a responder é:

“Em que estágio se encontra a seleção de fornecedores no contexto da primeira linha da

indústria brasileira de autopeças, face às novas filosofias e práticas de administração de

Compras ? ”

Mais especificamente, e para fins de orientação da pesquisa, esta pergunta geral

se desdobra nas seguintes perguntas específicas:

(1) Como evoluiu a função de compras e sua organização?

(2) Como evoluíram os critérios de seleção de fornecedores ?

(3) Como evoluíram os processos de seleção e avaliação de fornecedores ?

(4) Qual a percepção geral dos compradores sobre a questão de seleção e avaliação

de fornecedores?

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5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 Descrição dos Casos

5.1.1 EMPRESA F1

5.1.1.1 Evolução na função de compras e na sua organização

Antes de 1996

O departamento de Compras era responsável pela compra de serviços, de

insumos produtivos e não produtivos e pelo processo de exportação. No que se refere à

compra de serviços, os contratos estavam espalhados pela empresa. A administração

central responsabilizava-se por uma parte dos contratos, enquanto alguns departamentos

das unidades tomavam conta de outros. Já a parte de insumos produtivos sempre havia

sido corporativa. No entanto, de acordo com o entrevistado, "o departamento de

Compras não se infiltrava nas unidades, não participava muito da elaboração de um

processo, até que se celebrasse um contrato com o fornecedor", e ainda, “Compras não

tinha acesso às Engenharias.” Toda a negociação era feita nas unidades. Estas iniciavam

o contato com os fornecedores, desenvolviam as amostras e fechavam a negociação sem

o envolvimento do departamento de Compras, que tinha uma função meramente

administrativa de oficializar e formalizar o processo.

O departamento contava com 19 pessoas, que já trabalhavam na empresa há

bastante tempo, e não era informatizado.

Mudanças na função de compras e na sua organização a partir de 1996

No ano de 1996, a empresa decidiu mudar os responsáveis pela área de Compras

devido à constante pressão que passou a ser exercida pelas montadoras. Os preços dos

seus produtos sofreram grandes quedas a partir do início da década, e a empresa queria

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implantar no seu departamento de Compras esta mesma pressão em relação aos seus

fornecedores. Foi escolhido, então, um novo responsável, transferido da área de Vendas,

que tinha uma postura muito diferente daquela do anterior, que era de perfil antigo,

"sempre preso àqueles fornecedores antiqüíssimos de matéria-prima" e que negociava

pouco, aspecto fundamental na opinião do entrevistado: "o resultado está na negociação,

um preço melhor, uma forma de pagamento melhor." A área de Compras passou a ser

uma área estratégica, com a missão de buscar fontes alternativas que gerassem uma

economia, "um saving significativo", como definiu o entrevistado. Com esse objetivo,

Compras começou a recolher e identificar todos os contratos existentes, a fim de

consolidar tudo no seu departamento. Mais nenhum contrato podia ser fechado sem o

seu envolvimento.

O departamento de Compras passou então a ser responsável por qualquer contato

com um novo fornecedor. Compras passou a coordenar todo o relacionamento desde o

início do processo, de uma primeira visita até a colocação de um pedido de compra para

compras regulares. E com esta “mudança de filosofia”, a empresa conseguiu uma

redução considerável dos seus gastos.

O pessoal de Compras começou a se impor, a discutir e arrumar alternativas

novas para o cliente interno. Existia até um projeto de descentralização de um

comprador para cada unidade da empresa, para que este acompanhasse os projetos desde

o início, mas que estava até então parado.

O departamento comportava 13 pessoas e, na opinião do entrevistado, “já rendia

o que rendiam 19 pessoas poucos anos antes”, isso sem estar informatizado. Eram dois

compradores de matéria-prima, dois de improdutivos e mais o pessoal de suporte. Além

disto, a empresa estava implantando um software de gestão integrada, que deveria

permitir uma redução ainda maior de pessoal.

Apesar de "não existir uma meta de redução de fornecedores", Compras levava

isso em consideração até porque, com a estrutura pequena e cada vez mais enxuta,

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segundo o entrevistado, “faltava tempo para ficar discutindo com todos para se ter uma

redução.” Por conseqüência, a empresa preferia trabalhar com o single-sourcing,

"porque é mais fácil lidar com um só", como explicou o entrevistado. Mas, ao mesmo

tempo, desenvolvia outros fornecedores para não ficar dependente de um único. Assim,

a empresa trabalhava com single-sourcing por um período de 1 ou 2 anos e depois

renegociava em função das melhores alternativas. Outra razão para adotar uma política

de single-sourcing era a necessidade de se ter escala para obter maior poder de barganha

frente a grandes fornecedores. Em dois anos, a quantidade de fornecedores foi reduzida

em mais ou menos 10%, atingindo o número de 360. Mas devia ser levado em

consideração que a empresa estava ao mesmo tempo terceirizando vários serviços, o que

fazia com que a quantidade de fornecedores aumentasse.

O entrevistado também ressaltou que, apesar de estar buscando o single sourcing

para períodos entre 1 e 2 anos, a empresa praticamente não trabalhava com contratos

para não criar obstáculos para a troca de fornecedores. O objetivo era reduzir a base de

fornecedores, mas sem assumir compromissos de longo prazo que inviabilizassem a

captura imediata de economias com reduções de preço.

Houve também um aumento de quase 100% nos processos de importação,

decorrente de diversos motivos: o regime automotivo que permitia à empresa importar

50% gozando de benefícios e comprar 50% internamente; preços mais competitivos no

exterior, que em alguns casos justificavam importar 100% da sua necessidade, e maior

confiança e transparência na forma de o governo tratar o importador.

5.1.1.2 Evolução dos critérios de seleção de fornecedores

Antes de 1996

Os principais critérios utilizados na seleção de fornecedores eram o preço e o

atendimento às especificações técnicas do produto, que eram determinadas pelas

Engenharias. Muitas vezes o preço era fixado pelos próprios fornecedores devido à

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passividade da área de Compras, o que fazia com que a empresa fosse refém dos

mesmos. Tudo era decidido na base da intuição e da experiência, sem o uso de qualquer

análise mais aprofundada do mercado. Tampouco havia uma política prospectiva de

compras.

Mudança dos critérios de seleção de fornecedores a partir de 1996

Com a mudança na área de Compras, os critérios de seleção também

acompanharam este processo. Antes de tudo, a empresa avaliava o critério preço, que

nas palavras do entrevistado era “um dos fatores preponderantes." A empresa estava

cada vez mais pressionada por preço.” De fato, no caso de dois fornecedores se

equipararem tecnicamente, a decisão era tomada em função da parte comercial. Quem

oferecesse os maiores benefícios comerciais ganhava o pedido. E, segundo o

entrevistado, a empresa tinha mais êxito nas negociações "com os fornecedores

estrangeiros do que com os fornecedores locais."

Também era feita uma análise do fornecedor para descobrir para quem ele

fornecia, pois a empresa não gostava de trabalhar com quem estava começando no

mercado, quando freqüentemente era necessário mais tempo para adequar-se aos

padrões exigidos, sendo também mais arriscado.

Além disto, o fornecedor tinha que ser homologado tecnicamente e pelo sistema

da qualidade. A homologação técnica só ocorria no caso da compra de matéria-prima e

consistia em uma análise feita pela área de engenharia, que verificava a compatibilidade

do produto com as especificações. Já a homologação pelo sistema da qualidade

verificava se o fornecedor tinha ISO-GUIDE 25 no caso da compra de serviços de

laboratório, ou ISO 9000 e QS 9000 para os demais. Tendo a certificação, o fornecedor

era aprovado. Caso contrário, devia responder a um questionário de auto-avaliação com

dez questões que abrangiam os pontos principais da certificação e que geravam uma

pontuação em relação à norma. Eram necessários no mínimo 50 pontos para haver uma

aprovação.

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A pontualidade também era um critério avaliado quando da seleção de um

fornecedor. No entanto, no caso de acordos com novos fornecedores, esta era medida

somente após o início do fornecimento. Mesmo assim, o fornecedor tinha que respeitar

o que tinha acordado sob o risco de perder o cliente.

A empresa também avaliava a capacidade tecnológica do fornecedor e sua

assistência técnica. E, no que se refere a estes critérios, acreditava que, de uma forma

geral, os fornecedores estrangeiros estavam mais evoluídos que os nacionais. Segundo o

entrevistado, "a empresa até deixava de comprar de um fornecedor local por causa da

assistência" e, no caso da compra de alguns produtos que requeriam tecnologia muito

avançada, "a empresa tinha que ir para o exterior".

Além destes critérios, também era considerada a preocupação com o meio

ambiente, ainda que sobretudo nos projetos de modelos de veículos que teriam como

foco de venda o mercado internacional, onde, segundo F1, esta questão já seria tratada

com uma rigidez muito maior.

Não foi colocado pelo entrevistado qualquer critério adicional considerado

específicamente quando da compra de fornecedores estrangeiros. Segundo o mesmo,

estes seriam "fornecedores de grande porte que oferecem muita segurança".

5.1.1.3 Evolução dos processos de seleção e avaliação de fornecedores

Antes de 1996

O processo de seleção de fornecedores não era padronizado e variava de acordo

com o produto e com o responsável. Não havia uma norma e nem etapas a serem

seguidas. Da mesma forma, não existia qualquer forma ou processo objetivo de

avaliação dos critérios de seleção.

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Mudança dos processos de seleção e avaliação de fornecedores a partir de 1996

O processo de seleção de fornecedores sofreu uma grande mudança desde 1996,

quando foi feito, com a ajuda de uma grande consultoria, o desenvolvimento de uma

cadeia logística interna. Durante este desenvolvimento, a empresa implantou um sistema

em Compras que constituía uma espécie de global-sourcing. Foi formado um grupo,

liderado por Compras, composto por um técnico de cada unidade, que se reunia

semanalmente com dois compradores para discutir as possíveis alternativas de

fornecimento. Antes de cada reunião, o departamento de Compras compilava

informações sobre vários fornecedores através de catálogos, revistas especializadas,

jornais, contatos no mercado, informações das montadoras e, cada vez mais, através da

Internet. Quando era encontrado um fornecedor que oferecesse uma oportunidade de

economia significativa, este era apresentado na reunião. Se aprovado pelo grupo, a

empresa iniciava o processo de desenvolvimento.

Após essa etapa, era analisada a qualidade do fornecedor em termos de

conformidade do produto com as necessidades da empresa e em termos de certificação

pela ISO-9000 e pela QS-9000. A conformidade do produto com a especificação

passada pela empresa era verificada pela área de Engenharia em conjunto com o pessoal

do fornecedor. Já a validação da certificação era feita pela área de Qualidade. Caso o

fornecedor não possuisse qualquer certificação, deveria responder a um questionário de

auto-avaliação elaborado pelo pessoal da qualidade.

Era feito então um pedido de amostras ao fornecedor e estabelecido um

cronograma de desenvolvimento e de testes para cada unidade. Se não houvesse

qualquer problema, este era aprovado. Neste caso, a empresa dava uma última chance ao

fornecedor antigo de se equiparar ao concorrente e, se isto não ocorresse, aquele perdia

o cliente.

Este processo começou tanto pelos insumos mais dispendiosos quanto pelos

mais estratégicos e evoluiu incorporando os demais.

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Paralelamente, a empresa começou, em 1993, desde a implantação da ISO-9000,

a criar um processo de avaliação dos fornecedores com o objetivo de controlar o serviço

prestado pelos fornecedores correntes e montar um banco de dados que pudesse auxiliar

em futuras seleções. A mudança iniciou-se por uma das perguntas básicas da norma:

como o fornecedor sabe aquilo que tem que entregar? A partir daí, Compras fez junto

com as Engenharias e com os usuários das matérias-primas ou serviços um

levantamento de todas as especificações. Foi elaborada uma lista dos fornecedores

homologados, onde todos os fornecedores entraram através dos históricos de

fornecimento, o que foi permitido pela norma. Neste momento, a entrega das

especificações foi formalizada. Neste processo, o departamento de Compras começou a

criar uma lista de fornecedores homologados com a especificação formalizada, para os

quais foi enviada uma carta perguntando se tinham ISO-9000. Aqueles que não tinham

receberam os formulários de auto-avaliação.

Após essa etapa, foi criado um sistema de acompanhamento de diferentes

indicadores, que refletiam alguns dos critérios considerados quando da seleção de um

fornecedor, mas que só poderiam ser determinados após o início do fornecimento. Um

primeiro índice avaliava a qualidade dos produtos no recebimento. Outro refletia a

pontualidade das entregas. A combinação destes dois com a pontuação da ISO-9000 e

da QS-9000 resultava na classificação final do fornecedor. Este número não podia estar

abaixo de 50% sob o risco de o fornecedor ser declarado inapto e perder o cliente. Todos

esses indicadores eram monitorados trimestralmente por um grupo coordenado pela área

de Compras e formado por três pessoas da área de qualidade, um representante de cada

unidade, além do responsável pela coordenação geral do sistema de qualidade da

empresa. Para cada índice a empresa exigia ações corretivas por parte do fornecedor, o

que tinha contribuído para uma forte melhora. No caso de persistência dos problemas, o

fornecedor podia até ser dispensado. Além disto, estes indicadores também eram usados

para auxiliar a tomada de decisão quando da negociação de novas compras com

fornecedores correntes.

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Na opinião do entrevistado, apesar de a empresa ter criado um processo

estruturado para selecionar seus fornecedores, este considerava objetivamente apenas

uma parte dos critérios que eram utilizados na decisão. O julgamento da equipe de

Compras ainda prevalecia, pois não havia uma metodologia objetiva de comparação

entre os diferentes critérios. Exigia-se um mínimo para a maioria dos critérios e

qualquer contribuição acima deste mínimo não era considerada pois, a partir daí, o que

decidia era preço.

5.1.1.4 Aspectos adicionais da percepção da empresa sobre a questão de seleção

e avaliação de fornecedores

Nas palavras do entrevistado, "desde que foi implantado o sistema de avaliação

com os índices, o relacionamento com os fornecedores melhorou muito, as entregas

passaram a ser mais pontuais, as reclamações de qualidade se reduziram". Existiam

metas de avaliação e liberação dos fornecedores. No ano de 1998, essa meta foi de 95%,

significando que 95% dos fornecedores foram auditados e liberados pela empresa.

Então, mesmo que não tenha sido feita qualquer compra em alguns destes fabricantes, o

nível do mercado de fornecedores de autopeças como um todo estaria melhorando a

cada ano.

A empresa já estava começando a “sentir” uma parceria, sobretudo devido à

terceirização. Muitos produtos que eram feitos internamente estavam sendo comprados,

o que ajudou muito no desenvolvimento e amadurecimento dos fornecedores.

Segundo o entrevistado, os maiores e principais fornecedores já tinham mudado

significativamente seu comportamento, aceitando negociar preços e outras condições.

Um exemplo citado foi um grande fornecedor de matéria-prima nacional, do qual F1

sempre teria sido refém e que, após ter perdido 50% da sua participação nas compras da

empresa, retornou perguntando o que teria que fazer para recuperar sua parcela das

vendas.

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Todo ano era feita uma escolha dos melhores fornecedores com base na análise

das entregas, da qualidade, do nível de reclamações, das atitudes e da colaboração. A

empresa organizava uma grande festa e buscava estreitar os laços com os seus

fornecedores.

No geral, a empresa se mostrou satisfeita com o nível dos seus fornecedores,

sendo que os grupos estrangeiros ainda detinham uma clara vantagem em termos de

capacidade tecnológica e de suporte ao cliente.

Na opinião do entrevistado, um dos maiores problemas dos fornecedores

nacionais era a deficiência gerencial, "o profissional brasileiro precisava melhorar um

pouco o seu perfil". Existia um problema de comunicação e de conhecimento que fazia

com que as pessoas não estivessem alinhadas com o mesmo pensamento e objetivo.

Porém, "a empresa não exigia isto dos seus fornecedores", explicou o entrevistado.

5.1.1.5 Síntese da evolução de Compras na questão da seleção de fornecedores

O quadro a seguir apresenta uma síntese da evolução de Compras em F1 no que

se refere às diferentes dimensões colocadas no quadro conceitual que orientou a

pesquisa.

QUADRO 4 ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DE F1

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• Curto Prazo

• Multiple Sourcing

• Antagônico

• Objetivo tático

• Preço

• Qualidade especificada

• Velocidade de entrega

• Diferentes departamentosseparadamente, Compras servindocomo suporte

• Não estruturada

• Conforme os critérios mínimosespecificados, subjetiva

• Longo Prazo

• Single Sourcing

• Cooperativo

• Objetivo estratégico

• Custo Total

• Administração da Qualidade total

• Serviço

• Estabilidade financeira

• Capacitação tecnológica

• Cultura e estratégia organizacional

• Meio Ambiente

• Fornecimento internacional

• Passado do fornecedor

• Carteira de clientes do fornecedor

• Equipes multi-funcionais envolvendocompras, engenharia e qualidade

• Estruturada

• Conforme avaliação com modelos depontos e pesos e de custo total, objetiva

ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM ESTRATÉGICAFATOR

Relacionamentocom fornecedor

Estabelecimentode objetivos

Critérios deSeleção

Locus dadecisão de

Compra

Forma deavaliação dos

critérios

ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DO DEPARTAMENTO DE COMPRAS DE F1 APÓS AS MUDANÇAS

1 2 3 4 5

Obs: A posição do indicador mostra o grau de avanço no espectro entre a abordagem tradicional e a abordagem estratégica

5.1.2 EMPRESA F2

5.1.2.1 Evolução na função de compras e na sua organização

Antes de 1995

O Departamento de Compras era responsável pela compra de serviços, de

insumos produtivos e não produtivos e pelos processos de importação. Todos os

contratos eram gerenciados por Compras, mas apenas no que diz respeito aos trâmites

burocráticos. De fato, Compras tinha apenas um papel administrativo de oficializar e

formalizar os processos, enquanto que as Engenharias faziam todos os acordos. Elas

iniciavam o contato com os fornecedores, desenvolviam as amostras, fechavam a

negociação e mandavam tudo pronto para a área de compras, cujo responsável era muito

passivo e aceitava esta atitude.

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Mudanças na função de compras e na sua organização a partir de 1995

No ano de 1995, a empresa decidiu reestruturar a sua área de Compras devido a

uma exigência dos seus clientes. A globalização e a abertura do mercado aumentaram a

concorrência e a empresa foi obrigada a buscar alternativas para sobreviver. Um dos

caminhos seguidos pela companhia foi a redução dos gastos em compras, que

representavam mais da metade do seu custo total. Conseqüentemente, o impacto de uma

economia em compras era vista como significativa. A área de Compras passou a assumir

uma importância estratégica dentro da empresa, reportando-se diretamente ao Diretor

Geral, com a missão de buscar sempre o menor custo. E, nas palavras do entrevistado,

“por menor custo a empresa entendia o menor preço, a melhor qualidade ou a qualidade

especificada pelo departamento de engenharia, e exatamente no prazo que a fábrica

precisava do material.”

Foi transferida então uma pessoa do Grupo que já havia tido uma experiência em

Compras no exterior para liderar este processo. O início foi difícil, mas pouco a pouco

Compras se impôs, e passou a centralizar tudo que dizia respeito à questão. Nenhuma

decisão de Compras era tomada sem o seu envolvimento e sem uma negociação.

Essa mudança teve vários resultados. A empresa começou a buscar alternativas

no exterior, onde acreditava-se que os fornecedores fossem mais sérios e estáveis. Isto

teria levado os fornecedores locais a se tornarem mais flexíveis, fazerem concessões,

abrirem mão das suas margens de lucro e, enfim, a não se comportarem mais

ditatorialmente. Aliás, nas palavras do entrevistado, o fornecedor antes “não era um

fornecedor, era um calvário.”

Ao todo, a área de Compras passou a comportar sete pessoas, estando apenas

parcialmente informatizada. Em termos de hierarquia, subordinava-se diretamente ao

Diretor Geral da empresa. Sentia-se, porém, que esta redução de pessoal teria chegado

ao seu limite, porque apesar de o número de fornecedores estar caindo, o número de

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itens comprados estava aumentando e, segundo a empresa, a carga de trabalho da área

de Compras era diretamente proporcional a esta variável.

Apesar de não existir uma meta específica de quantidade ideal de fornecedores,

este número caiu muito desde o início da mudança, até porque a empresa recebeu uma

diretriz da matriz ordenando a redução da base de fornecedores. Os 140 fornecedores

foram reduzidos a 96, o que representava uma diminuição de 30%. Porém, apesar desta

tendência, a política da empresa era a de ter mais de um fornecedor para cada produto

para evitar problemas de abastecimento e para estimular a concorrência, não ficando

presa a um único fornecedor. A participação de cada um no fornecimento dependia de

quão vantajosa era a sua proposta em relação à do concorrente, mas não existia qualquer

regra para isto.

O entrevistado também ressaltou que a empresa não trabalhava com contratos e

compromissos de longo prazo pois, segundo ele, os seus clientes tampouco operavam

desta forma. Esta não formalização de acordos de longo prazo seria uma forma de se

precaver de alterações no comportamento da demanda e na estrutura de custos do

mercado automobilístico, que pudessem causar um prejuízo à empresa.

Além disto, as importações também sofreram mudanças. Primeiro, houve um

grande aumento, sobretudo como forma de obrigar os fornecedores locais a se

enquadrarem no novo cenário competitivo, mas também porque a relação com os

estrangeiros era mais estável e confiável: "eles cumpriam os prazos, os preços não

mudavam..." No entanto, houve uma inversão desta tendência após a desvalorização

cambial de janeiro de 1999, que penalizou os custos do produto importado. Nas palavras

do entrevistado, “a tendência agora é nacionalizar o máximo possível”.

5.1.2.2 Evolução dos critérios de seleção de fornecedores

Antes de 1995

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Os principais critérios utilizados na seleção de fornecedores eram o preço e o

atendimento às especificações técnicas do produto, que eram determinadas pelas

Engenharias. Mesmo assim, como o mercado era fechado e existiam poucos

fornecedores para cada produto, a empresa exigia sobretudo um padrão de qualidade

conforme às suas necessidades. Porque no que se refere a preço, os fornecedores tinham

pleno poder e não faziam qualquer concessão. Nas palavras do entrevistado, "você tinha

que obedecer senão ele parava de fornecer."

Mudança dos critérios de seleção de fornecedores a partir de 1995

A mudança no cenário competitivo e na missão da área de Compras teve

impacto imediato nos critérios utilizados na seleção de fornecedores. Antes de tudo,

passou a ser feita uma análise econômica do fornecedor para descobrir a sua situação

financeira. Eram consultadas várias instituições, como por exemplo bancos, órgãos que

fornecem informações cadastrais de fornecedores, seus clientes, etc. Nas palavras do

entrevistado, “Eu vou comprar de uma empresa que não paga o mercado? Ela pode ficar

desabastecida a qualquer momento.”

Também era feita uma visita com o objetivo de analisar o sistema de qualidade

do fornecedor, isto é, verificar se este tinha um processo de controle estatístico, se o seu

produto final também era controlado e se analisava a qualidade de quem comprava.

Passada esta etapa, a Engenharia testava a qualidade das amostras e aprovava (ou não) a

qualidade do produto.

Além destes quesitos, também era avaliada a pontualidade de entrega, que era

muito relevante pois a empresa estava tentando trabalhar em um sistema o mais próximo

possível do JIT, com estoques cada vez menores. Vários fornecedores entregavam

vários lotes por dia e, portanto, este critério impactava diretamente o planejamento de

produção, além de afetar o planejamento financeiro devido ao sistema de pagamento

"nota fiscal-fatura" em vigor no país, que obrigava ao pagamento no momento da

entrega. Portanto, uma entrega antes da data prevista gerava um desembolso não

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previsto naquela data e ainda mais por uma mercadoria que não era necessária naquele

momento.

Outro critério era a assistência técnica, mas, segundo o entrevistado, não

existiam problemas, pois os fornecedores sempre atendiam à empresa quando

necessário, fora algumas poucas exceções.

A empresa também analisava tanto a tecnologia utilizada pelo fornecedor quanto

o seu investimento em pesquisa e desenvolvimento. No entanto, esta seria uma das

grandes fraquezas do fornecedor nacional em relação ao estrangeiro. Da mesma forma, o

fornecedor local também seria vulnerável na sua capacidade de desenvolvimento de

novos produtos. Cada vez mais, o fornecedor tinha que ser um desenvolvedor de peças e

não um mero fabricante.

Havia também uma preocupação com a questão ambiental, mas somente no

sentido de se respeitar a legislação vigente para que o fornecimento não fosse

interrompido a qualquer momento sem aviso prévio. O entrevistado reconheceu que

existia uma tendência de que, no futuro, tudo fosse ecológico, reciclado, mas a realidade

da empresa e do mercado nacional ainda estaria longe disso.

E, naturalmente, a empresa avaliava o critério preço que, dependendo do

produto, tinha maior ou menor peso. No caso de fornecedores de produtos do tipo

commodity, por exemplo, a empresa era muito sensível a preço. Mas, em outros

segmentos, o impacto do preço não era tão elevado. Mesmo assim, o preço era sempre o

fator decisivo nas negociações. Aliás, no caso de dois fornecedores que se equiparassem

tecnicamente, a decisão era tomada em função do preço: quem vendia mais barato

ganhava o pedido.

Era também avaliada a carteira de clientes do fornecedor. Por exemplo, segundo

o entrevistado, a empresa preferiu fortalecer um fornecedor de um produto para que ele

crescesse e pudesse competir com o líder de mercado, que estava quase sozinho no

mercado brasileiro e, assim, diminuir o seu poder de barganha.

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Não foi colocado pelo entrevistado qualquer critério adicional considerado

especificamente quando da compra de fornecedores estrangeiros. Até porque, segundo

ele, estes seriam mais " sérios e confiáveis" que os nacionais.

5.1.2.3 Evolução dos processos de seleção e avaliação de fornecedores

Antes de 1995

O processo de seleção de fornecedores não era padronizado e variava de acordo

com o produto e com o responsável. Não havia uma norma, nem etapas a serem

seguidas. No entanto, já existia um índice de avaliação da qualidade do fornecimento

que continuou sendo utilizado. Este media a qualidade da seguinte forma:

Índice = [(A x 100) + (AC x 75) + (RS x 50) + (R x 0)] / unidades recebidas

Onde :

A = aprovado

AC = não conformidade que não prejudica a montagem e nem a qualidade do

produto, mas requer uma correção para os próximos fornecimentos.

RS = uma parte do lote apresenta não conformidade e deve ser retrabalhado ou

selecionado

R = o lote não tem condições de uso e deve ser devolvido

Mesmo assim, não existia qualquer ferramenta objetiva que auxiliasse na

avaliação dos critérios durante o processo de seleção de fornecedores.

Mudança dos processos de seleção e avaliação de fornecedores a partir de 1995

O processo de seleção da empresa mudou radicalmente desde 1995. O

departamento de Compras passou a não só pesquisar novas oportunidades através de

revistas especializadas ou não, catálogos e Internet, como também a receber muitas

visitas e ofertas de vários fornecedores devido à recessão do mercado. Foi estruturado

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um processo de seleção objetivo, onde todas etapas deviam ser cumpridas até que se

chegasse à celebração de um acordo.

A primeira etapa, após a descoberta de um novo fornecedor com potencial de

reduzir os gastos da empresa, era procurar o fornecedor corrente e expor a situação. Se

este igualasse a proposta financeira, era mantido o status quo. Caso contrário, era

iniciado o desenvolvimento do novo fornecedor. Era então feita uma análise da sua

solidez financeira e, em seguida, enviado um questionário sobre qualidade para que

respondesse. Obtendo mais de 2,5 pontos, a empresa mandava ao fornecedor potencial

um técnico de qualidade para fazer uma auditoria no seu sistema de qualidade. Para ser

aprovado era necessário alcançar 50 pontos ou, dependendo do caso, era exigida pela

empresa uma ação corretiva. Ao final deste crivo, caso fosse bem sucedido, o

fornecedor era homologado e já podia submeter amostras a testes. No caso de o

fornecedor ter uma certificação internacional do tipo ISO-9000 ou QS-9000, podia-se

prescindir desta etapa. As amostras eram então testadas pela Engenharia e o fornecedor

era aprovado ou não.

Para auxiliar este processo de seleção, também foram criados dois novos índices,

preço e pontualidade, sendo que este último, a exemplo do que media a qualidade no

recebimento, refletia um critério considerado quando da seleção de um fornecedor que

só poderia ser determinado após o início do fornecimento.

O índice de preço era calculado da seguinte forma: o fornecedor que tivesse o

menor preço recebia a pontuação máxima. O que tivesse x% a mais do que o menor

preço, era penalizado em x% no índice, e assim sucessivamente. Mas, segundo o

entrevistado, o objetivo futuro da empresa era estabelecer target prices com base no seu

custo final e escolher o fornecedor que atendesse ao valor proposto.

Já o índice que media a pontualidade das entregas era igual ao número de

entregas no prazo previsto dividido pelo número total de entregas efetuadas. A soma

destes três índices, ponderadas respectivamente por 30%, 40% e 30%, gerava um índice

de classificação final que só era conhecido pela empresa. Apenas o índice de qualidade

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era aberto aos fornecedores, mas era provável que, após a conclusão da implantação de

um software de gestão integrada, o índice de pontualidade também fosse informado.

Este índice estava sofrendo algumas mudanças no seu processamento porque, na fase de

testes, alguns fornecedores adiantaram entregas devido a pedidos da empresa. No

entanto, estas mudanças não foram reconhecidas pelo sistema, que penalizou o índice

destes fornecedores. Essa situação chegou a um ponto em que mais nenhum fornecedor

queria antecipar suas entregas para não prejudicar sua avaliação.

Após a homologação de um fornecedor, este passava a ser caracterizado como

Fornecedor Comum. Se nos seis meses seguintes atingisse um índice de qualidade de

fornecimento acima de 99% subia um degrau e se tornava um Fornecedor de Qualidade

Assegurada. Mantendo este nível por mais um semestre, finalmente chegava ao topo e

passava a ser um Fornecedor Preferencial. Isto significava que tinha uma vantagem

sobre todos os outros fornecedores e preferência em qualquer novo desenvolvimento de

produto. Mas, da mesma forma que o fornecedor podia melhorar sua situação, existia

também a possibilidade de cair na classificação. Todos estes índices eram calculados

mensalmente e divulgados trimestralmente. Porém, no caso de um fornecedor ter um

índice abaixo do valor aceitável em um determinado mês, este era avisado

imediatamente e era exigida uma ação corretiva, sem que se aguardasse o período de

três meses. No caso de persistência dos problemas, o fornecedor podia até ser

dispensado. Além disto, estes indicadores também eram usados para auxiliar na tomada

de decisão quando da negociação de novas compras com fornecedores correntes.

As pessoas que participavam do processo de seleção variavam em função da

natureza do produto. No caso de uma peça nova mais complexa, ou que necessitasse de

uma tecnologia sofisticada, a Engenharia e a área de Compras faziam o

desenvolvimento de pelo menos três fornecedores e tomavam a decisão em equipe. Mas,

no caso de uma peça semelhante a alguma que a empresa já usava, ou com apenas

pequenas variações, a área de compras tomava a decisão sozinha, escolhendo entre os

fornecedores com os quais a empresa já trabalhava.

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Segundo o entrevistado, apesar de a empresa ter criado um processo estruturado

para selecionar seus fornecedores, este considerava objetivamente apenas uma parte dos

critérios que eram utilizados na decisão. O julgamento da equipe de Compras ainda

prevalecia pois não havia uma metodologia objetiva de comparação entre os diferentes

critérios. Exigia-se um mínimo para a maioria dos critérios e qualquer contribuição

adicional não era considerada pois, a partir daí, o que decidia era preço.

5.1.2.4 Aspectos adicionais da percepção da empresa sobre a questão de seleção

e avaliação de fornecedores

Nas palavras do entrevistado, o relacionamento com os fornecedores melhorou

muito e já existiam sinais de cooperação. Por exemplo, a empresa fechou um contrato

com três fornecedores de componentes para um de seus produtos onde ficou clara esta

nova base de relacionamento. O cliente fez uma proposta de dobrar as suas compras

daquele produto se o preço fosse reduzido em um determinado percentual. A companhia

procurou então seus fornecedores e mostrou a situação. Todos se empenharam e o

contrato foi fechado, o que seria impossível antes de todas essas mudanças na política

de compras.

O relacionamento entre comprador e fornecedor estaria mais franco e aberto,

amparado em critérios éticos e morais. Mas ainda existiriam fornecedores trabalhando

da forma antiga querendo, segundo o entrevistado, "enrolar, abrindo um custo irreal.

Estes ainda não teriam compreendido que se o fornecedor não for competitivo, o seu

cliente também não o será e que, no fim, os dois fecharão suas portas."

A empresa também passou a investir no treinamento e na melhoria dos seus

fornecedores através de palestras e encontros, além da utilização dos índices antes

descritos. E, no geral, o entrevistado considerava que o nível dos seus fornecedores

havia melhorado muito, tanto que 80% deles já haviam sido homologados. Mas os

grupos estrangeiros ainda detinham uma clara vantagem em termos de capacidade

tecnológica e de desenvolvimento de produtos, além de serem vistos como sendo mais

sérios e confiáveis.

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5.1.2.5 Síntese da evolução de Compras na questão da seleção de fornecedores

O quadro a seguir apresenta uma síntese da evolução de Compras em F2 no que

se refere às diferentes dimensões colocadas no quadro conceitual que orientou a

pesquisa.

QUADRO 5 ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DE F2

• Curto Prazo

• Multiple Sourcing

• Antagônico

• Objetivo tático

• Preço

• Qualidade especificada

• Velocidade de entrega

• Diferentes departamentosseparadamente, Compras servindocomo suporte

• Não estruturada

• Conforme os critérios mínimosespecificados, subjetiva

• Longo Prazo

• Single Sourcing

• Cooperativo

• Objetivo estratégico

• Custo Total

• Administração da Qualidade total

• Serviço

• Estabilidade financeira

• Capacitação tecnológica

• Cultura e estratégia organizacional

• Meio Ambiente

• Fornecimento internacional

• Passado do fornecedor

• Carteira de clientes do fornecedor

• Equipes multi-funcionais envolvendocompras, engenharia e qualidade

• Estruturada

• Conforme avaliação com modelos depontos e pesos e de custo total, objetiva

ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM ESTRATÉGICAFATOR

Relacionamentocom fornecedor

Estabelecimentode objetivos

Critérios deSeleção

Locus dadecisão de

Compra

Forma deavaliação dos

critérios

ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DO DEPARTAMENTO DE COMPRAS DE F2 APÓS AS MUDANÇAS

1 2 3 4 5

Obs: A posição do indicador mostra o grau de avanço no espectro entre a abordagem tradicional e a abordagem estratégica

5.1.3 EMPRESA F3

5.1.3.1 Evolução na função de compras e na sua organização

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Antes de 1995

O departamento de compras era uma área de suporte e, na opinião do

entrevistado, era considerado como um “mal necessário”. A empresa tinha que ter esse

custo para organizar as compras. Até 1990, o pessoal de compras ficava num mesmo

prédio, situado longe das fábricas. Não existia um contato freqüente entre o cliente

interno e o comprador, além de imperar uma grande burocracia no departamento. Isto

fazia com que o ciclo de compra de um produto, isto é, o tempo entre a realização do

pedido e a recepção do material, fosse muito longo. Aliás, nas palavras do entrevistado,

“se você quisesse que algo demorasse a chegar na sua mão, era só mandar para

Compras.” Como conseqüência, o pessoal das fábricas começou a comprar diretamente

dos fornecedores, limitando-se a mandar a fatura para o departamento de Compras

regularizar. Para evitar esta falta de comunicação interna, a empresa modificou em 1990

a estrutura da área, evoluindo para uma descentralização. Cada fábrica passou a ter o seu

departamento de Compras, o que aumentou a interação Fábrica-Compras.

Havia 50 pessoas nas áreas de Compras, com bastante experiência na empresa.

Mudanças na função de compras e na sua organização a partir de 1995

Segundo o entrevistado, embora já desde o início da década de 1990 as

montadoras tivessem adotado uma postura mais agressiva na busca pela redução de

custos, só em 1995 isto teria acirrado a concorrência entre os fornecedores e gerado uma

necessidade de cortar os custos drasticamente. As áreas de Compras passaram, então, a

ter esta função acentuada. Em uma busca por uma maior diminuição nos custos, a

empresa resolveu alterar novamente a sua estrutura de Compras em 1995. Apesar da

maior interação da área com o resto da organização, houve com a descentralização uma

acentuada perda de escala, na medida em que várias fábricas compravam os mesmos

insumos. Decidiu-se, então, promover nova centralização na área de Compras, tentando

porém desta vez manter a integração com o cliente interno.

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Em paralelo à recentralização, a empresa colocou um novo responsável na área

de Compras, o qual tinha muita experiência em qualidade, ao contrário do antecessor,

que vinha da área comercial. Segundo F3, "Compras se tornou uma área estratégica,

com a missão de aumentar a competitividade da empresa, seja através da seleção

adequada de fornecedores, seja através da redução dos custos."

A área começou a ser mais respeitada e valorizada. Ao contrário de antes, todos

os contratos foram centralizados no departamento, segundo o entrevistado "porque o

cliente interno aprendeu a confiar e descobriu que os processos de aquisição obtinham

melhores resultados quando coordenados por Compras".

A responsabilidade de Compras na seleção dos fornecedores também aumentou

porque, como sistemista, a empresa passou a comprar cada vez mais peças que eram

apenas montadas e despachadas para o cliente. Nestas não era feito qualquer trabalho

interno, o que tornava imperativo um controle adequado da qualidade do fornecedor.

O departamento diminuiu seu efetivo para 20 pessoas, o que representava uma

redução de mais de 50% desde o início das mudanças. Entretanto, de acordo com o

entrevistado, metade desta redução se devia à queda da inflação, porque muito tempo

era perdido com a renegociação mensal dos contratos. O restante da diminuição

decorreu da evolução da sistemática de Compras, da tecnologia e dos profissionais.

Uma das metas da nova área de Compras era reduzir o número de fornecedores,

porque se acreditava que quanto maior a participação no portfolio do vendedor, melhor

seria o seu atendimento, a qualidade do produto e a relação entre as empresas.

Entretanto, o número de fornecedores da empresa sofreu uma grande flutuação desde

1994. Em um primeiro momento, a crise gerada pelos aumentos de preços do início do

Plano Real obrigou à busca de alternativas, o que aumentou a quantidade de

fornecedores. Mas, a partir do final de 1995, esta tendência foi revertida e a empresa

passou a trabalhar com cada vez menos supridores.

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Uma das ações que teve grande impacto nesse processo foi o lançamento de um

sistema novo para compras de produtos de baixo custo. O sistema consistia na

confecção de uma lista de produtos de baixo custo com os respectivos preços e

fornecedores, válida por um ano. Isto evitou que se fizesse uma nova negociação a cada

compra e que se mudasse de fornecedor constantemente. Além disto, a empresa também

estava executando um projeto de estabelecer acordos de single sourcing, mas apenas

para alguns materiais, escolhidos de acordo com a sua condição estratégica, com a

característica do fornecedor e sua origem. Segundo o entrevistado, para a maioria dos

materiais críticos isto não seria possível. Nestes casos, o objetivo era manter apenas dois

fornecedores para cada produto, o que a empresa já estaria muito próxima de alcançar.

O entrevistado também ressaltou que a empresa não trabalhava com contratos e

compromissos de longo prazo pois, segundo ele, os seus clientes tampouco operavam

desta forma. E, segundo F3, mesmo com a existência de contratos, as montadoras não

hesitavam em quebrá-los quando recebiam melhores propostas. Portanto, esta não

formalização de acordos de longo prazo seria uma forma de se precaver de alterações no

comportamento da demanda e na estrutura de custos do mercado automobilístico, que

pudessem causar um prejuízo à empresa.

F3 também começou a buscar mais o mercado internacional, o que fez com que

a compra de produtos importados aumentasse. Dentre os motivos principais se

destacavam a possibilidade de redução do custo através de um preço menor ou uma

maior produtividade, uma qualidade superior, o que não era tão freqüente, e uma postura

mais profissional. No entanto, após a desvalorização cambial de janeiro de 1999, surgiu

uma tendência de nacionalização de muitos produtos, sobretudo daqueles que detinham

vantagens de preço.

5.1.3.2 Evolução dos critérios de seleção de fornecedores

Antes de 1995

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Os principais critérios utilizados na seleção de fornecedores eram o preço e o

atendimento às especificações técnicas do produto, que eram determinadas pelas

Engenharias. O comprador era muito envolvido em negociações e sempre exigia

descontos. Não era feita uma análise técnica das propostas buscando uma diminuição de

preços com argumentos concretos. O foco era apenas a redução de preço, porque esta

era a prática vigente no meio. Tudo era decidido na base da intuição e da experiência,

sem o uso de qualquer análise mais aprofundada do mercado. Nas palavras do

entrevistado, "o comprador estava muito ligado ao que ele chama de negociação de

feira, de balcão, a dar desconto, e não fazia a negociação chamada de científica", onde

os pedidos de redução do preço seriam baseados numa análise da estrutura de custo do

fornecedor.

Mesmo assim, devido ao mercado fechado e à pouca concorrência, os

fornecedores mais críticos ditavam as condições de negociação. O pessoal de Compras

não tinha muito poder de barganha, pois não podia correr o risco de parar a produção.

Além disto, a política prospectiva de compras era muito fraca e limitada. Segundo F3,

isto se deveria em parte a um receio de se importar produtos, porque as oportunidades

de economia já existiriam. Foi citado um exemplo de uma matéria-prima em que

problemas de abastecimento com o fornecedor local obrigaram a empresa a buscar uma

solução no exterior. O fornecedor alternativo estrangeiro ofereceu um preço quatro

vezes menor ao do nacional. Nas palavras do entrevistado: "a oportunidade estava lá,

nós é que não tínhamos procurado".

Mudança dos critérios de seleção de fornecedores a partir de 1995

Com a mudança na área de Compras foram acrescentados outros critérios aos já

adotados.

Antes de tudo, passou a ser avaliado o portfolio de clientes do fornecedor e a

participação futura da empresa nas suas vendas. Esta análise baseava-se na crença de

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que quanto mais importante o cliente fosse para o fornecedor, mais produtiva e

colaborativa seria a relação.

Além disto, era feita uma avaliação da qualidade do fornecedor em termos de

conformidade do produto com as especificações da engenharia e em termos de

qualidade de processo. Verificavam se era certificado, se tinha um sistema de qualidade

que lhe permitisse produzir dentro das especificações sem gerar refugos e outras

questões ligadas à qualidade do processo produtivo. Também era avaliada a

pontualidade do fornecedor, isto é, se fazia as entregas de acordo com a necessidade da

produção.

Outro critério que passou a ser avaliado é a capacidade tecnológica. No caso da

escolha de um fornecedor para fazer um desenvolvimento de produto em conjunto, este

fator era fundamental. Na opinião do entrevistado, na média, os fornecedores

estrangeiros estavam mais evoluídos que os nacionais neste quesito.

Outro fator também apontado como uma das deficiências do fornecedor nacional

foi a assistência técnica. Aliás, sendo mais abrangente, a empresa acreditava que no que

se referia a serviços associados ao produto, os fabricantes nacionais estavam muito

fracos e atrasados em relação aos fornecedores estrangeiros.

Além destes critérios, F3 passou também a considerar a preocupação com o

meio ambiente. Segundo o entrevistado, para se adequar à certificação da QS-9000, a

empresa se viu obrigada a verificar se seus fornecedores respeitavam as normas e

legislações ambientais. Mas, devido às exigências de alguns clientes internacionais, a

empresa também começou a se preocupar com o tipo de produto comprado e com as

embalagens utilizadas. Existia até um projeto de tornar este critério classificatório no

processo de seleção de fornecedores.

E, finalmente, a empresa avaliava o critério preço, que seria o fator decisivo em

um processo de compras. Se o fornecedor não oferecesse uma oportunidade de redução

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de custo significativa, o processo de análise não era nem iniciado. Este critério, nas

palavras do entrevistado, era “eliminatório”. Era exigido um mínimo para todos os

critérios, mas no final a decisão era tomada em função do preço e da condição

comercial.

Não foi colocado pelo entrevistado qualquer critério adicional considerado

específicamente quando da compra de fornecedores estrangeiros. Segundo ele, estes

seriam fornecedores que ofereciam um "tratamento acima da média, com compromissos

assumidos de preço e prazo."

5.1.3.3 Evolução dos processos de seleção e avaliação de fornecedores

Antes de 1995

O processo de seleção de fornecedores não era padronizado e variava de acordo

com o produto e com o responsável. Não havia uma norma, nem etapas a serem

seguidas. Existia porém uma avaliação da qualidade do fornecedor que era feita pelo

departamento de qualidade. No entanto, os compradores não entendiam o significado

desta avaliação e não a levavam em consideração quando da seleção de um fornecedor.

Tampouco existia qualquer ferramenta que avaliasse e comparasse objetivamente os

demais critérios de seleção.

Mudança dos processos de seleção e avaliação de fornecedores a partir de 1995

A partir de 1995, a empresa modificou o seu processo de seleção no intuito de

melhorar a qualidade dos seus fornecedores e reduzir seus custos. Foram definidas

várias etapas e o papel de cada área. Este novo processo era iniciado com a definição da

especificação do produto pelo departamento de engenharia. Na seqüência, este

documento era enviado para Compras que, com base no mesmo, buscava alternativas no

mercado. Se Compras identificasse uma oportunidade com um fornecedor corrente da

empresa, o departamento tinha autonomia para tomar a decisão. Caso fosse um

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fornecedor novo, era feita antes de tudo uma análise de preço. Se o valor viabilizasse

uma economia, o processo continuava. Nas palavras do entrevistado, "isto era

eliminatório, depois é que eram analisados os critérios qualitativos". A partir deste

momento, a área da qualidade entrava no processo. Esta tinha o papel de avaliar se o

fornecedor possuía tanto qualidade de produto quanto qualidade de processo. Isto é, se

era capaz de fabricar a peça em questão de acordo com a especificação e se tinha um

sistema de qualidade que permitisse a manutenção de um nível de qualidade constante

com pontualidade. Em seguida, a Engenharia testava as amostras e, não havendo

qualquer problema, a área de Compras analisava a parte comercial e tomava a decisão.

As origens de um processo de compras podiam ser várias. A Engenharia podia

fazer um pedido a Compras sobre um novo produto ou uma nova tecnologia, a

engenharia de processo podia sugerir um fornecedor alternativo que julgava ser mais

capacitado, ou, o mais freqüente, a área de Compras identificava uma nova

oportunidade. De fato, Compras aumentou muito seu trabalho de prospecção. E, na

opinião do entrevistado, esta era uma das funções mais importantes de Compras e,

também, uma das mais difíceis e estimulantes. Difícil porque o comprador apresentava

ao pessoal da fábrica uma proposta de alteração, que do ponto de vista destes não era

necessária. Para os mesmos, a produtividade estaria boa e a mudança de fornecimento

representaria um risco inútil. O comprador tinha, então, que se aproximar com cuidado e

assumir uma postura adequada, habilidade que poucos possuiriam, para convencê-los,

até porque seriam estes que fariam os testes das amostras. Mas, apesar deste trabalho de

prospecção, o entrevistado deixou claro que o fornecedor corrente tinha sempre

preferência.

Durante essa busca de alternativas, Compras passou a utilizar outros meios de

informação além dos tradicionais, ou seja, mercado, mala direta e boca a boca. Passaram

a ser pesquisados também novas publicações, Internet, Câmaras de Comércio,

Embaixadas e outros. Entretanto, no caso da busca de fornecedores nacionais,

prevaleciam os meios tradicionais de informação. Também estava sendo criada uma

metodologia de pesquisa para se buscar os fornecedores de um produto através dos

produtores de uma matéria-prima nele existente.

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Além de modificar seu processo de compras, a empresa também criou um

sistema de avaliação de diferentes indicadores, que refletiam alguns dos critérios

considerados quando da seleção de um fornecedor, mas que só poderiam ser

determinados após o início do fornecimento. Esta avaliação era feita através do

acompanhamento de dois índices, um de qualidade, que refletia a conformidade das

peças entregues com a especificação, e outro de pontualidade, que media se as entregas

haviam sido feitas de acordo com a programação da empresa. A pontuação tinha dois

valores possíveis, 0 ou 100, o que significava que o fornecedor ou era aprovado ou não.

Não existia meio-termo, nem uma tentativa de refletir a dimensão da falha. Isto é, um

fornecedor que entregava com duas horas de atraso recebia a mesma nota que aquele

que demorava 10 dias. Cada vez que um fornecedor recebia uma pontuação abaixo do

desejado, era exigida uma ação corretiva para que não houvesse reincidência. Além

disso, a cada trimestre, o pessoal de Compras, Qualidade e Programação se reunia para

verificar se as ações estavam gerando melhoria contínua. No caso de persistência dos

problemas, o fornecedor podia até ser dispensado. Além disto, estes indicadores também

eram usados para auxiliar a tomada de decisão quando da negociação de novas compras

com fornecedores correntes.

Também passou a ser feito um monitoramento constante da qualidade do

processo do fornecedor. A área de qualidade visitava o fornecedor esporadicamente,

fazia uma auditoria, checava os pontos principais e o requalificava ou não. Houve

também uma tentativa de se criar um índice de preços. Mas, na opinião do entrevistado,

esta iniciativa não teve êxito porque, para evitar incoerências, seria necessário contar

com uma base de dados internacionais que mobilizaria muitas pessoas. Do contrário,

poder-se-ia dar uma nota negativa a um fornecedor porque este aumentou seu preço,

sem se saber se o mercado como um todo também o teria feito. Esta idéia foi, então,

descartada.

Apesar de ser usado o mesmo processo de seleção e de avaliação para todos, o

grau de detalhamento variava de acordo com o tipo de fornecedor. A empresa

classificou seus fornecedores em duas categorias: os críticos, que eram mais

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representativos na curva de custo e que produziam peças críticas para a companhia, e os

demais. No caso dos críticos, os processos eram muito mais rigorosos, abrangentes e

detalhados, enquanto que para os demais o processo era mais brando e flexível.

Segundo o entrevistado, apesar de a empresa ter desenvolvido indicadores para

avaliar seus fornecedores, estes exigiam apenas um padrão mínimo. Um desempenho

acima do esperado nestes critérios não era refletido. Além disto, os indicadores também

omitiam vários outros critérios que eram considerados por Compras, o que fazia com

que o julgamento pessoal ainda prevalecesse sobre a ferramenta. Não havia uma

metodologia objetiva de comparação entre os diferentes critérios.

5.1.3.4 Aspectos adicionais da percepção da empresa sobre a questão de seleção

e avaliação de fornecedores

Segundo o entrevistado, na média, a empresa estava muito satisfeita com o nível

dos seus fornecedores. Desde que foi iniciado o processo de redução de custos no setor

de autopeças, a relação entre comprador e fornecedor se tornou mais colaborativa

porque a postura dos fornecedores mudou muito. A maioria estava consciente desta

tendência e buscava soluções cooperando com seus clientes. Por conseqüência, o nível

de qualidade e competitividade tinha melhorado acentuadamente.

No entanto, a empresa também apontou algumas falhas freqüentes dos

fornecedores nacionais. Entre outras, existiria uma falta de compromisso com os prazos

e uma deficiência crônica de investimentos em tecnologia, o que, na opinião do

entrevistado, seria fruto de uma ausência de política de financiamento a juros razoáveis.

Por este motivo, a empresa estava estudando um projeto para investir na capacitação de

fornecedores.

Outro projeto em fase de planejamento inicial com o objetivo de melhorar o

relacionamento com os fornecedores e aumentar a sua competitividade seria a entrega de

um prêmio anual aos melhores de acordo com uma classificação.

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Além disto, de acordo com o entrevistado, os fornecedores estrangeiros ainda

eram superiores aos nacionais em vários aspectos como seriedade, estabilidade

comercial, capacitação tecnológica e assistência técnica.

No entanto, o entrevistado colocou que a política de importação em vigor no

Brasil dificultava muito a compra no estrangeiro. Havia problemas com o sistema

portuário, com as leis de importação e uma série de outros fatores que desencorajavam a

empresa a seguir este caminho e que às vezes o inviabilizavam.

5.1.3.5 Síntese da evolução de Compras na questão da seleção de fornecedores

O quadro a seguir apresenta uma síntese da evolução de Compras em F3 no que

se refere às diferentes dimensões colocadas no quadro conceitual que orientou a

pesquisa.

QUADRO 6 ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DE F3

• Curto Prazo

• Multiple Sourcing

• Antagônico

• Objetivo tático

• Preço

• Qualidade especificada

• Velocidade de entrega

• Diferentes departamentosseparadamente, Compras servindocomo suporte

• Não estruturada

• Conforme os critérios mínimosespecificados, subjetiva

• Longo Prazo

• Single Sourcing

• Cooperativo

• Objetivo estratégico

• Custo Total

• Administração da Qualidade total

• Serviço

• Estabilidade financeira

• Capacitação tecnológica

• Cultura e estratégia organizacional

• Meio Ambiente

• Fornecimento internacional

• Passado do fornecedor

• Carteira de clientes do fornecedor

• Equipes multi-funcionais envolvendocompras, engenharia e qualidade

• Estruturada

• Conforme avaliação com modelos depontos e pesos e de custo total, objetiva

ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM ESTRATÉGICAFATOR

Relacionamentocom fornecedor

Estabelecimentode objetivos

Critérios deSeleção

Locus dadecisão de

Compra

Forma deavaliação dos

critérios

ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DO DEPARTAMENTO DE COMPRAS DE F3 APÓS AS MUDANÇAS

1 2 3 4 5

Obs: A posição do indicador mostra o grau de avanço no espectro entre a abordagem tradicional e a abordagem estratégica

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5.2 Análise dos Casos

5.2.1 EVOLUÇÃO NA FUNÇÃO DE COMPRAS

Os três casos estudados mostraram que houve, efetivamente, uma evolução no

papel e na estrutura da função de Compras ao longo da década de 90.

Antes destas mudanças, o departamento de Compras tinha um papel meramente

administrativo e nem sempre participava do processo de compra de todos os produtos.

Isto ficou evidenciado, por exemplo, nas palavras do entrevistado de F1, ao mencionar

que toda a negociação de uma compra era feita nas diferentes unidades pelo cliente

interno e que o processo só chegava à área de Compras para ser oficializado e

formalizado. Além disto, também existiam contratos de compra que eram fechados

diretamente pela área envolvida, sem nem mesmo o conhecimento do pessoal de

Compras. Os relatos dos entrevistados das empresas F2 e F3 mostraram que estas

viviam realidades semelhantes. Foi inclusive colocado por F3 que a cultura informal da

empresa já havia classificado o departamento de Compras como um mal necessário, já

que era lento e ineficiente, sendo que todos tentavam evitá-lo. Apenas as faturas eram

enviadas para a área de Compras, sendo todo o restante do processo coordenado pelos

clientes internos.

Esta antiga postura encontrada quanto à área de Compras nos três casos

analisados condiz com o colocado por Leenders e outros (1994). Segundo estes autores,

a visão tradicional do departamento de Compras ou suprimentos estabelecia que sua

missão era satisfazer as necessidades do cliente interno, sem prejudicar a operação.

Poucos nas empresas prestavam atenção à forma de funcionamento da área de

suprimentos, contanto que recebessem o que desejavam.

Algumas mudanças no cenário competitivo parecem ter causado mudanças na

função do departamento de Compras em todas as empresas estudadas. O principal

motivo relatado pelos entrevistados foi um aumento da pressão das montadoras

buscando reduzir custos. Segundo tais observações, esta atitude das montadoras acirrou

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a concorrência entre os fornecedores, que foram obrigados a buscar alternativas para

sobreviver. Estes, por sua vez, começaram a repassar esta pressão por redução de custos

para suas áreas de Compras, pois, como foi colocado por F2 e é sustentado por vários

autores (Watts et al, 1995; Monczka et al, 1998), os gastos com Compras representam

mais de 50 % do custo total de uma indústria de autopeças.

Estas mudanças foram caracterizadas por vários indícios. O primeiro foi a

mudança do perfil do profissional responsável pela área de Compras. Os responsáveis

anteriores tinham, segundo F1, F2 e F3, uma postura passiva, conservadora e

burocrática, com o objetivo de não prejudicar as outras áreas da empresa. Os novos

profissionais que assumiram Compras eram em geral, segundo os entrevistados, mais

dinâmicos e agressivos, apesar de possuírem origens distintas. F1 transferiu seu

responsável pela parte de Vendas para Compras com o intuito de replicar com seus

fornecedores a atitude das montadoras. F2 trouxe um executivo com experiência em

Compras no exterior para transmitir esta nova filosofia à sua organização. E F3

transferiu um profissional da área de qualidade, com conhecimento profundo das

diferentes áreas da empresa, para efetuar esta transição.

Outro indício da mudança presente em todas empresas analisadas foi a

centralização de todos os processos de compra em uma área de Compras. Segundo os

entrevistados, a área de Compras assumiu a responsabilidade sobre todo o processo de

Compras desde um primeiro contato com o fornecedor até o fechamento do negócio, em

oposição à função apenas administrativa que era desempenhada anteriormente. Aliada a

esta nova postura, foi definida uma nova missão para a área de Compras, que era a de

reduzir custos e aumentar a competitividade da empresa, o que também diferia

significativamente dos procedimentos anteriores. Além destes sinais da mudança pela

qual passou a área de Compras das empresas analisadas, todos os entrevistados foram

unânimes em reconhecer a redução do efetivo e a profissionalização da área como sinais

muito claros desta nova realidade.

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Em relação ao relacionamento com fornecedores, os entrevistados de F1, F2 e F3

apontaram três principais mudanças ocorridas na área de Compras: prazos mais curtos

de relacionamento com fornecedores, redução da base de fornecedores e relacionamento

mais cooperativo.

Todas as empresas, segundo os entrevistados, há muito compravam dos mesmos

fornecedores, sobretudo no que se refere aos fornecedores de grande porte de materiais

mais críticos, mantendo relacionamentos de longo prazo. Isto se deveria, por um lado, à

passividade e ao conformismo do pessoal antigo da área de Compras que não

desenvolvia uma política prospectiva na área e, por outro, à falta de alternativas,

decorrente do mercado fechado e da baixa concorrência interna. Mesmo assim, foi

colocado por F3 que já havia oportunidades de se importar alguns produtos com preços

muito inferiores aos praticados no mercado nacional, que não eram capturadas devido à

passividade da área de Compras.

Com a abertura do mercado e o aumento da pressão por redução de custos

exercida pelas montadoras, este cenário foi revertido. Todos os entrevistados declararam

sua preferência por não trabalhar com contratos estabelecendo compromissos de longo

prazo. Um dos motivos colocados foi que a formalização destes compromissos poderia

criar obstáculos às trocas de fornecedores e à captura de futuras economias. F2 e F3

acrescentaram que isto também se deveria à postura das montadoras, que também não

desejavam trabalhar com contratos. E, segundo F3, mesmo quando estes eram

formalizados, as montadoras não os respeitavam e mudavam para o fornecedor que

oferecesse um melhor preço. O prazo médio de relacionamento com fornecedores

apontado nas entrevistas foi de dois anos, isto é, em média, a cada dois anos as empresas

reviam os acordos de fornecimento e buscavam no mercado algum competidor que

estaria oferecendo um menor preço.

Não se percebeu qualquer tendência clara de adoção do single-sourcing, que

seria característica de uma nova visão da área de Compras segundo Leenders e Fearon

(1997).

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F1, segundo o entrevistado, estaria adotando uma política de single-sourcing,

mas apenas para períodos curtos, entre 1 e 2 anos, para se obter poder de barganha junto

aos fornecedores e ainda porque seria mais fácil tratar com apenas um. Mas,

paralelamente, a empresa continuava a interagir com outros fornecedores e ao fim dos

períodos era feita uma renegociação dos acordos em busca da melhor alternativa no

mercado.

Em F2 verificou-se uma redução do número de fornecedores que, no entanto, já

estaria chegando ao fim, pois não se pretendia trabalhar com um único fornecedor por

produto.

Tampouco F3 havia adotado uma política de single-sourcing, mas planejava

implementar esta estratégia apenas em relação a alguns produtos específicos, de acordo

com sua importância. No que se referia aos produtos críticos, o objetivo de F3 era ter,

pelo menos, dois fornecedores para cada tipo.

Em geral, segundo os entrevistados, as empresas não queriam adotar a prática de

single-sourcing no longo prazo, sobretudo para os produtos mais críticos, para evitarem

problemas de abastecimento, estimularem a concorrência e não ficarem presas a um

único fornecedor.

Além destas mudanças no relacionamento com os fornecedores, os entrevistados

também apontaram uma maior cooperação entre as partes. Os fornecedores de maior

porte não estariam mais agindo de forma "ditatorial" e estariam buscando estreitar o

relacionamento com seus clientes, melhorando a qualidade dos seus produtos, o nível do

serviço prestado e cedendo em negociações de preço. Um exemplo desta mudança de

postura, colocado por F1, foi um grande fornecedor de matéria-prima nacional, do qual

F1 sempre teria sido refém, que, após ter perdido 50% da sua participação nas compras

da empresa, retornou perguntando o que teria que fazer para recuperar sua parcela das

vendas.

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5.2.2 EVOLUÇÃO DOS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES

Antes das mudanças nos seus respectivos departamento de Compras, F1, F2 e F3

consideravam sobretudo o atendimento às especificações técnicas quando da compra de

algum produto. O critério preço também era avaliado mas, devido ao mercado fechado e

às poucas opções de fornecimento, na maioria das vezes este era determinado pelo

próprio fornecedor. Este devia apenas não estabelecer valores muito superiores à

realidade do mercado. Os negócios eram fechados com base na intuição e na

experiência, sem qualquer estudo mais aprofundado do mercado. Esta postura de buscar

sempre o menor preço e de exigir apenas um padrão de qualidade mínimo é classificada

por Goffin e outros (1997) como uma abordagem tradicional da cadeia de suprimentos.

Segundo os autores, a conseqüência desta atitude seria trocas freqüentes de fornecedor e

contratos de curta duração. No entanto, de acordo com F1, F2 e F3, isto não ocorreu

devido tanto a características específicas do mercado brasileiro, que era muito fechado e

apresentava poucas opções de fornecedores, quanto à acomodação dos antigos

profissionais do departamento de Compras, que tinham uma postura passiva e deixavam

as áreas técnicas tomarem as decisões, sem desenvolver uma política de prospecção de

novos fornecedores.

Com as modificações implementadas no departamento de Compras das três

empresas estudadas também foram introduzidas mudanças nos critérios de seleção de

fornecedores.

O preço passou a ser o principal critério de seleção em F1, F2 e F3. Este se

tornou o critério decisivo durante um processo de seleção de fornecedores, sendo

inclusive "eliminatório". Segundo os entrevistados, o que mudou em relação à postura

anterior, no que se refere a este critério, é que o mercado ficou mais competitivo e

começaram a surgir oportunidades de troca de fornecedor, gerando consequentemente

uma pressão real pela diminuição dos preços, ao contrário dos tempos de mercado

fechado.

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O critério qualidade também continuou sendo um dos principais considerados

quando da seleção de um fornecedor, porém com uma abordagem mais ampla,

englobando tanto o produto quanto o processo. Em todos os casos estudados era feita

uma avaliação tanto da qualidade do produto quanto do processo. A verificação da

qualidade do produto era coordenada pelas áreas técnicas, que verificavam se este estava

de acordo com as especificações. Por outro lado, a avaliação da qualidade do processo

consistia em checar se o fornecedor tinha um processo de controle estatístico, se o seu

produto final também era controlado, enfim, se existia um processo estruturado de

monitoramento da qualidade. Para ter seu processo aprovado, o fornecedor tinha que ter

uma certificação do tipo ISO ou QS ou, caso contrário, obter uma pontuação mínima no

sistema de avaliação das empresas. Esta exigência de certificação está de acordo com o

colocado na literatura. O artigo de Zuckerman, por exemplo, citou a decisão das três

maiores montadoras americanas de não comprar mais de fornecedores sem certificação.

Foi um sinal claro da importância dada pelo setor automobilístico a este requisito

(Zuckerman, 1998). Além disto, esta necessidade de se ter uma certificação é descrita

por Slack e outros (1997) como sinal da evolução da abordagem do critério qualidade.

Apesar de F1, F2 e F3 considerarem a qualidade com uma abordagem mais

ampla do que no passado, estas exigiam apenas um padrão de qualidade que, segundo

Hill (1989), chama-se qualificador. O fornecedor tinha qua atingir uma meta de

qualidade específica. Qualquer melhoria além deste ponto não era considerada

relevante, divergindo da opinião de Giunipero e Brewer (1993) que colocaram que o

comprometimento com a melhoria contínua da qualidade passou a ser considerado peça-

chave no processo de seleção, afetando diretamente o potencial competitivo do

fornecedor.

Além destes, conforme indicado pela literatura, outros critérios passaram a ser

considerados durante o processo de seleção de um fornecedor. Em todos os casos

estudados, a capacidade tecnológica do fornecedor foi apontada como um dos fatores

que influenciava a decisão de compra, critério que, segundo Ellram (1990), é

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característico da nova visão da área de Compras. Da mesma forma, foram apontadas a

prestação de assistência técnica por parte do fornecedor e a pontualidade. Esta última,

quando da celebração de acordos com novos fornecedores, só podia ser avaliada após o

início do fornecimento. Mesmo assim, o fornecedor tinha que respeitar o que tinha

acordado, sob pena de perder o cliente.

Também foram citados outros critérios que caracterizam uma mudança no

enfoque do departamento de Compras. F2 e F3 relataram que passaram a avaliar a

carteira de clientes do fornecedor para ter uma idéia do que representaria seu volume de

compras comparado ao dos outros clientes. Segundo Ellram (1990) e Smytka e Clemens

(1993), uma participação significativa seria uma forma de se garantir maior atenção e

uma atitude mais positiva por parte do fornecedor. F2 até mencionou um exemplo onde

passou a comprar de um fornecedor pequeno para diminuir a participação da empresa na

carteira do líder do mercado e assim limitar seu poder. Já F1 informou que verificava o

histórico do fornecedor para avaliar sua aceitação no mercado, pois acreditava que

trabalhar com quem estava começando freqüentemente demandava mais tempo e era

mais arriscado. De fato, segundo Ellram (1990), muitos compradores sentem-se mais

seguros e confortáveis após terem feito uma análise do desempenho passado do

fornecedor e de suas referências. F2 também colocou que analisava a situação

econômica do fornecedor antes de fechar qualquer compromisso de Compras, pois, nas

palavras do entrevistado, “eu vou comprar de uma empresa que não paga o mercado?

Ela pode ficar desabastecida a qualquer momento.” Isto corrobora a opinião de Ellram

(1990), segundo a qual um fornecedor com problemas financeiros teria dificuldade em

contribuir para uma relação e poderia, até mesmo, não sobreviver. F1 e F3, porém, não

abordaram este critério específico.

Apesar de receber pouca ênfase, também foi colocada pelas empresas a

preocupação com o meio ambiente quando da seleção do fornecedor, sustentando a

opinião de Min e Galle (1997), que acreditavam que as preocupações com o ecossistema

vêm ganhando maior importância nos últimos anos quando da seleção de fornecedores.

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Não foram mencionados por qualquer dos entrevistados critérios quanto à

cultura e estratégia organizacional, que seriam característicos da uma abordagem

estratégica do processo de seleção de fornecedores (Ellram, 1990, 1991). Não se

percebeu qualquer preocupação com a estratégia futura do fornecedor, nem com a

compatibilidade entre os empregados de níveis equivalentes nas duas empresas,

conforme sugerido por Ellram (1990).

Tampouco foi colocado pelos entrevistados qualquer critério adicional

considerado específicamente quando da compra de fornecedores estrangeiros. No

entanto, as três empresas estudadas consideravam estes fornecedores mais sérios e

confiáveis do que os nacionais.

5.2.3 EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES

Em todas as empresas analisadas, segundo os entrevistados, não existia um

processo padronizado de seleção de fornecedores antes das mudanças sofridas pelo

departamento de Compras. Tampouco existiam normas e regras a serem seguidas. Os

processos de Compras variavam em função do produto e do responsável, sendo que a

decisão de compra era quase sempre tomada pelas áreas técnicas, restando para a área de

Compras apenas o papel administrativo dos processos. Em F2 e F3 já era feita uma

avaliação da qualidade do fornecedor, mas que nem sempre era considerada durante o

processo de seleção.

As mudanças que ocorreram na área de Compras de F1, F2 e F3 tiveram impacto

direto no que se refere à decisão de compra e na forma de avaliação dos critérios de

seleção de fornecedores.

Nas três empresas estudadas foram formados grupos envolvendo Compras,

Engenharia e Qualidade para desenvolverem todos os processos de Compra. Isto estaria

corroborando o resultado de um estudo realizado em 1993 na Michigan State University,

baseado em dados coletados durante o seminário “Purchasing and Materials

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Management Executive Seminar”, que revelou que 70% das empresas analisadas

estariam planejando forçar a utilização de equipes multi-funcionais para apoiar as

decisões de fornecimento até o fim de 1997 (Monczka, Trent, 1994). No entanto,

segundo os entrevistados, a intensidade da atuação de cada área nos processos de

Compras variava de acordo com o tipo de produto e do fornecedor envolvido. A

autonomia da área de Compras nos processos que envolviam fornecedores correntes da

empresa ou que tratavam da compra de produtos rotineiros era muito maior. Nestes

casos, as áreas de Engenharia e Qualidade tinham um papel menos representativo, e o

processo era menos detalhado. Em F2, por exemplo, qualquer compra de um novo

produto que necessitasse de algum desenvolvimento era feito com fornecedores

classificados como "preferenciais", o que simplificava acentuadamente o processo de

seleção. Conforme sustentado por Monczka e outros (1998), um fornecedor preferencial

já provou sua capacidade em uma compra anterior e uma lista deste tipo pode

economizar tempo e dinheiro necessários para um processo de seleção de fornecedores.

Em paralelo à criação destes grupos para a tomada da decisão de Compras,

também foram definidos processos objetivos e estruturados de seleção de fornecedores.

F1, F2 e F3 estabeleceram processos muito semelhantes. Primeiro, devia ser avaliado o

potencial de economia que seria capturado com a compra do fornecedor analisado. Em

seguida, havendo possibilidade significativa de economia, a área de Engenharia

verificava a conformidade do produto com as especificações e a área de Qualidade

checava a qualidade do fornecedor, através da apresentação de certificação do tipo ISO

ou QS ou da visita às suas instalações e do preenchimento de um questionário de auto-

avaliação. A última etapa consistia no teste de amostras que era realizado pelas equipes

técnicas. Durante estas fases, dependendo da empresa em questão, a área de Compras

também verificava outros critérios como solidez financeira do fornecedor, carteira de

clientes e outros, mas, segundo os entrevistados, com ênfase e importância menores.

Todas as etapas eram eliminatórias, sendo a primeira, onde se estimava o montante da

economia, a decisiva.

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71

Também foram criados indíces para avaliar se o serviço prestado pelos

fornecedores estava condizente com o que havia sido acordado, e assim validar a

continuidade do acordo de fornecimento, além de auxiliar na tomada de decisão em

futuras seleções. Da mesma forma, F1, F2 e F3 tiveram idéias muito semelhantes. Em

todas, foram criados índices para medir a qualidade no recebimento e a pontualidade das

entregas. Estes eram avaliados trimestralmente e geravam ações corretivas, quando estas

se mostravam necessárias. Caso os fornecedores persistissem em não atender aos

indicadores, podiam até perder o cliente. F2 também criou um índice de preços para

auxiliar na seleção de fornecedores, enquanto que F1 e F3 resolveram não fazê-lo.

Segundo os entrevistados, apesar da criação de um processo estruturado para

selecionar seus fornecedores, este considerava objetivamente apenas uma parte dos

critérios que eram utilizados na decisão. O julgamento da equipe de Compras ainda

prevalecia, pois não havia uma metodologia objetiva de comparação entre os diferentes

critérios. Exigia-se um mínimo para a maioria dos critérios e qualquer contribuição

acima deste mínimo não era considerada pois, a partir daí, o que decidia era preço. Este

procedimento de avaliação dos critérios se assemelha ao que a literatura define como

modelo categórico de avaliação. À excessão do critério preço, todos os demais eram

avaliados como abaixo, igual ou acima da média sem que houvesse uma conversão do

desempenho dos diferentes critérios para uma mesma base que viabilizasse uma

comparação. Segundo Giunipero e Brewer (1993), isto condiria com a abordagem

tradicional de Compras.

5.2.4 PERCEPÇÃO GERAL DOS COMPRADORES SOBRE A QUESTÃO DE SELEÇÃO E

AVALIAÇÃO DE FORNECEDORES

Todos os entrevistados foram unânimes ao perceber uma melhora e maior

cooperação no relacionamento com os fornecedores. Segundo eles, a maioria dos

fornecedores se conscientizou das mudanças pelas quais estava passando a indústria

automobilística e estava buscando soluções em conjunto com seus clientes. Um

exemplo deste comportamento, colocado por F2, foi a formação de uma parceria com

três fornecedores de componentes para um de seus produtos, cujo cliente fez uma

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proposta de dobrar suas Compras se o preço fosse reduzido em determinado percentual.

Todos se empenharam e o contrato acabou sendo fechado.

Ao mesmo tempo, segundo os entrevistados, F1, F2 e F3 também passaram a

investir para aumentar a capacitação da sua base de fornecimento. Foram criados indíces

de avaliação de desempenho e até, no caso de F1, eventos para promover e homenagear

os que tiveram melhor resultado. F3 também já estava planejando implementar este tipo

de iniciativa.

Por outro lado, todos os entrevistados também apontaram a falta de capacitação

tecnológica como ponto fraco do fornecedor nacional em relação ao estrangeiro.

Segundo F1, no caso da compra de alguns produtos que requeriam tecnologia muito

avançada, "a empresa tinha que ir para o exterior". Na opinião de F3, esta fraqueza se

deveria a uma ausência de política de financiamento a juros razoáveis. Da mesma forma,

as três empresas mencionaram considerar os fornecedores estrangeiros mais sérios e

confiáveis do que os nacionais e, por isso, não levavam em conta qualquer critério de

seleção adicional quando da compra de um destes. Além disto, segundo F1, existiria

uma deficiência gerencial nos fornecedores nacionais que necessitava ser atacada com

um melhor treinamento e formação profissional. Os outros entrevistados nada

mencionaram a este respeito.

6 CONCLUSÃO

6.1 Resumo do trabalho

O presente trabalho teve por objetivo entender como evoluiu o processo de

seleção de fornecedores no contexto da indústria automobilística brasileira,

especificamente nas empresas de autopeças de primeiro nível, ou seja, aquelas que

fornecem diretamente para as montadoras. Para isto, foram entrevistados os

responsáveis pelo departamento de Compras de três tradicionais fabricantes de

autopeças do mercado brasileiro.

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73

O estudo particularmente buscou entender como evoluiu a função de Compras e

sua organização, como evoluíram os critérios e os processos de seleção de fornecedores

e qual seria a percepção geral dos compradores sobre a questão.

Em geral, o estudo revelou que apesar de ter havido uma significativa evolução

na questão de Compras, as empresas brasileiras ainda adotavam um abordagem que a

literatura classifica como tradicional. O principal objetivo era a redução de preço sem

prejudicar a produção. Ainda não eram consideradas questões estratégicas como o

estabelecimento de parcerias de longo prazo, nem a avaliação do custo total de uma

compra.

6.2 Conclusões

Os resultados da pesquisa e sua análise permitem elaborar respostas às perguntas

colocadas na pesquisa, como se segue:

Como evoluiu a função de Compras e sua organização?

Todos os casos indicaram que ocorreram mudanças na área de Compras dos

fornecedores de primeira linha da indústria de autopeças brasileira por volta de 1995.

Estas mudanças sustentam o que é relatado pela literatura sobre a evolução da área de

Compras. Reck e Long (1988) desenvolveram uma teoria evolutiva sobre a função de

Compras baseada na taxonomia apresentada por Hayes e Wheelright (1984) para os

sistemas de manufatura, onde colocam que o setor de Compras evolui através de quatro

níveis, variando entre uma condição totalmente passiva e uma situação onde se torna

uma peça-chave na estratégia da organização. Os relatos indicaram que todos os

movimentos de mudança foram fruto de uma pressão das montadoras por redução de

custo, e não de uma evolução gerada por percepção interna das possibilidades

estratégicas de Compras. De fato, as montadoras iniciaram um agressivo movimento de

redução de custo, por volta do começo da década que, aparentemente, só foi repassado

para seus fornecedores cinco anos depois. Este espaço de tempo entre o início do

processo de redução de custos desencadeado pelas montadoras e sua repercussão sobre a

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base de fornecimento se deveu à alta inflação que vigorava no país no início dos anos

noventa. Neste contexto, onde os preços variavam diariamente, as montadoras tiveram

que focar inicialmente seus esforços de redução de custo na sua organização interna,

revendo processos e estruturas. Apenas a partir da estabilização econômica do país com

a entrada em vigor do plano Real, em 1994, foi possível para as montadoras atuar sobre

seus custos de fornecimento. Daí iniciou-se uma forte pressão sobre os fornecedores de

auto-peças neste sentido. Além disto, o aumento da concorrência com a entrada dos

carros importados também foi um fator que incentivou este processo desencadeado

pelas montadoras.

Com estas mudanças, Compras deixou de ser apenas uma área burocrática que

tinha o papel de formalizar os processos e passou a assumir mais responsabilidades.

Todos os processos de Compra foram centralizados na área, Compras passou a se

envolver em todas as negociações e isto gerou economias significativas. A contribuição

da mudança de postura da área de Compras foi reconhecida nas empresas, embora a

agenda ainda fosse conservadora. Aparentemente, a missão antiga da área de Compras,

que era a de não interromper a produção, foi apenas acrescida do objetivo de redução de

custos, apesar desta não parecer ser a percepção dos entrevistados. F3, por exemplo,

colocou explicitamente que "Compras se tornou uma área estratégica, com a missão de

aumentar a competitividade da empresa". No entanto, os relatos não pareceram indicar

qualquer ação específica que visasse transformar a área em uma fonte de vantagem

competitiva frente aos concorrentes. Portanto, aparentemente, o pessoal responsável

pela área de Compras acreditava que estava abordando a questão sob uma ótica

estratégica, enquanto a estava de fato tratando de forma tática.

No que se refere à duração do relacionamento com os principais fornecedores,

ocorreu um movimento oposto ao colocado por Monczka e outros (1998). De acordo

com estes autores, um relacionamento de longo prazo seria característico de uma

abordagem estratégica da área de Compras enquanto que um de curto prazo

caracterizaria uma abordagem tradicional da área. O que se viu nas empresas estudadas

foi a migração dos relacionamentos do longo para o curto prazo. Isto é, aparentemente,

as áreas de Compras teriam regredido de uma abordagem estratégica para uma

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tradicional. No entanto, esta não parece ser uma interpretação correta dos fatos. Os

relacionamentos com os principais e maiores fornecedores eram outrora de longo prazo

devido ao mercado fechado, com poucas opções de fornecimento e conseqüentemente

com baixa concorrência. Estes fornecedores detinham o poder e ditavam as regras. Seus

clientes eram obrigados a obedecer, sob risco de terem interrompidas suas linhas de

produção. Com a necessidade imperativa de reduzir custos imposta pelas montadoras, as

empresas aumentaram significativamente sua política prospectiva, buscando inclusive

soluções no exterior, o que gerou um aumento da competição entre os fornecedores. As

trocas de fornecedores se tornaram freqüentes e os prazos de relacionamento entre

compradores e fornecedores foram reduzidos. Enfim, a duração dos relacionamentos

antes das mudanças que ocorreram a partir de 1995 não era reflexo de uma postura

estratégica das áreas de Compras, mas característica de um mecado fechado com poucas

opções de fornecimento.

Além disto, os casos analisados indicaram que não havia uma tendência à

adoção do single sourcing com um objetivo estratégico, estabelecendo relacionamentos

de longo prazo com um único fornecedor. O single-sourcing, conforme definido pelos

entrevistados, ocorria apenas para ganhar escala, obtendo assim reduções de preço, e

para reduzir a carga de trabalho da área de Compras, focando em um único fornecedor.

Mesmo assim, eram relacionamentos de médio prazo. Então, na verdade, o que se extrai

destes fatos, é que as empresas simplesmente passaram a concentrar suas compras,

reduzindo sua base de fornededores, para alavancar seu poder de barganha em

negociações e para reduzir o trabalho da área de Compras. Para alguns produtos, esta

redução implicou em ter apenas um fornecedor, mas apenas por um prazo determinado e

sem garantia de continuação, o que é totalmente distinto do que a literatura caracteriza

como uma política estratégica de single-sourcing.

Outra consequência da abertura do mercado e da maior competição entre os

fornecedores foi uma melhoria no relacionamento entre compradores e fornecedores.

Todos os entrevistados se mostraram satisfeitos com a atenção prestada pelos

fornecedores e reconheceram que esta sofreu uma profunda alteração comparada ao que

era no início da década de noventa. No entanto, foi a transferência do poder de barganha

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para a mão dos compradores que parece ter obrigado os maiores e principais

fornecedores a mudar sua postura. Isto é, essa melhora no relacionamento não parece

ter-se devido a uma ação voluntária dos fornecedores com o objetivo de aumentar os

benefícios da relação para ambas as partes, mas antes a uma questão de sobrevivência.

Seria esta a única forma de manterem seus clientes e não fecharem seus negócios.

Portanto, houve uma melhora do relacionamento, mas apenas do ponto de vista da

negociação. O fornecedor passou a negociar com o seu cliente, o que não ocorria antes.

Mas não se percebeu uma tendência de os fornecedores adotarem efetivamente uma

postura colaborativa, buscando a melhoria da cadeia de suprimento como um todo.

Como evoluíram os critérios de seleção de fornecedores?

Conforme colocado na questão anterior, antes das mudanças ocorridas na área de

Compras dos fornecedores de primeira linha da indústria brasileira de autopeças, o

poder de mercado pertencia aos seus grandes fornecedores. Isto causou uma grande

simplificação dos critérios utilizados nos processos de seleção. Por exemplo, havia

pouca negociação de preço pois, por um lado, os clientes não podiam correr o risco de

não serem abastecidos e, por outro, a decisão de compra era tomada pelas áreas técnicas,

que não tinham nem o perfil, nem o interesse em negociar. A decisão era tomada

sobretudo em função da qualidade, em termos de atendimento às especificações técnicas

exigidas pelas Engenharias. Aplicando a classificação dos critérios de Hill (1989) para

ajudar a operação a entender o que querem os clientes, o critério preço neste contexto

seria um qualificador, enquanto que o critério qualidade seria ganhador de pedido. Isto

é, o preço só impedia o fechamento de um acordo quando era significativamente

superior aos níveis correntes do mercado.

Com as mudanças ocorridas nas áreas de Compras por volta de 1995, os critérios

de seleção também foram impactados. A principal alteração foi a mudança de ênfase no

critério preço. De fato, a transferência do poder de barganha dos grandes e principais

fornecedores para os clientes, descrita na questão anterior, criou a possibilidade destes

negociarem fortemente os preços dos produtos. E, com a pressão por redução de custos

imposta pelas montadoras, preço passou a ser o aspecto chave e decisivo quando do

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fechamento de um acordo de fornecimento. Segundo a taxonomia de Hill (1989), preço

passou a ser o único critério ganhador de pedido.

A qualidade continuou a ser avaliada, mas de uma forma mais abrangente,

condizente com o que literatura define como abordagem estratégica de Compras.

Passaram a ser avaliados tanto o atendimento às especificações técnicas quanto o

processo de produção do fornecedor. Verificava-se a existência de processos de controle

estatísticos, controles sobre produto final e outros aspectos abordados por certificações

do tipo ISO ou QS.

Além destes, outros critérios teriam sido incluídos nos processos de seleção de

fornecedores. Passaram a ser checados a pontualidade, a capacidade tecnológica do

fornecedor, sua assistência técnica, sua carteira de clientes, seu histórico, sua

estabilidade econômica e o respeito à legislação ambiental. Porém, nem todos os

entrevistados reconheceram a utilização de todos estes critérios.

Mesmo assim, era apenas exigido um desempenho mínimo em todos estes

critérios. Qualquer contribuição adicional além de um determinado ponto não era

considerada. Estes seriam então critérios qualificadores. Portanto, parece que a principal

mudança quanto aos critérios de seleção de fornecedores foi a alteração do critério

ganhador de pedido. Antes era a qualidade, e depois passou a ser o preço. Além disto, o

critério qualidade passou a ser avaliado sob uma ótica mais estratégica focando tanto no

produto quanto no processo do fornecedor. Segue uma tabela que busca resumir a

evolução dos critérios de seleção de fornecedores na área de Compras dos fornecedores

de primeira linha da indústria brasileira de autopeças:

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QUADRO 7 EVOLUÇÃO DOS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE FORNECEDORES

CRITÉRIOSQUALIFICADORES

CRITÉRIOSGANHADORES DE

PEDIDOANTES DAS MUDANÇAS • Preço • Especificação técnica do

produto

APÓS AS MUDANÇAS

• Especificação técnica doproduto

• Qualidade de processo• Pontualidade• Assistência técnica• Capacidade tecnológica• Carteira de clientes do

fornecedor• Passado do fornecedor• Estabilidade financeira• Meio ambiente

• Preço

Além de não prejudicar a produção, a área de Compras passou também a buscar

o menor preço. Esta foi a mudança fundamental que explica esta alteração nos critérios

utilizados para a seleção de fornecedores.

É importante destacar que a transformação do critério preço em ganhador de

pedido somente após as mudanças ocorridas nas áreas de Compras contradiz o que é

sustentado pela literatura. Segundo vários autores, o preço já tinha este status nas

abordagens mais tradicionais de Compras. Aparentemente, de acordo com os casos

estudados, isto se deveria às peculiaridades do mercado brasileiro que permaneceu por

muito tempo fechado com poucas opções de fornecimento.

Como evoluíram os processos de seleção e avaliação de fornecedores?

Os casos indicaram que, antes das mudanças ocorridas na área de Compras, não

havia processos estruturados e objetivos de seleção de fornecedores. Estes variavam em

função dos produtos e dos responsáveis, sendo que a decisão de compra pertencia às

áreas técnicas.

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Após as mudanças, as empresas formaram grupos multi-funcionais, envolvendo

Compras, Engenharia e Qualidade para desenvolverem todos os processos de Compras,

o que, segundo a literatura, condiz com uma abordagem estratégica da área de Compras

e permite maior flexibilidade e acesso a uma gama de conhecimentos que não seria

possível na situação anterior. Apesar da formação destes grupos, o papel de cada área

era distinto. As áreas técnicas, Engenharia e Qualidade, tinham poder eliminatório mas

não decisório, sendo que este pertencia a Compras. Isto é, os fornecedores tinham que

atender aos níveis mínimos exigidos pelas áreas técnicas, mas oferecendo à Compras a

melhor proposta comercial.

Para atender às necessidades das diferentes áreas e evitar retrabalho, foi criado

um processo estruturado e objetivo de seleção de fornecedores. Aparentemente, o

mesmo processo foi adotado por todo mercado, pelo que os casos estudados indicam.

Primeiro, a área de Compras avaliava o potencial de economia oferecido pelo

fornecedor. Esta etapa era decisiva. Caso o potencial de economia não fosse julgado

suficiente, o processo não seguia adiante. Caso contrário, as áreas técnicas se envolviam

no processo e verificavam se o fornecedor atendia às especificações do produto e se

tinha uma qualidade mínima de processo. Em seguida eram feitos os testes de amostras

pelas Engenharias e, não havendo problemas, o fornecedor era aprovado. Além disto,

dependendo da empresa, também eram checados outros critérios, mas com ênfase e

importância menor.

Apesar de ter sido criado um processo objetivo de seleção de fornecedores, a

avaliação da maioria dos critérios continuou sendo feita de acordo com os critérios

mínimos especificados, não havendo uma tentativa de quantificar e comparar os

benefícios adicionais de cada critério. Por exemplo, um fornecedor com uma qualidade

superior à mínima exigida, mas com um preço mais elevado, podia não fechar um

acordo porque as empresas não mediam o retorno financeiro desta qualidade adicional.

O que, caso fosse feito, poderia mostrar que esta qualidade adicional poderia compensar

o maior preço. Os poucos critérios que eram medidos com indíces—pontualidade e

qualidade no recebimento—tampouco eram convertidos em valores monetários. As

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empresas sabiam o que queriam, mas não conseguiam valorar financeiramente suas

exigências. O único critério monetário era o preço. Os fornecedores de primeira linha da

indústria brasileira de autopeças ainda pareciam estar muito distantes de utilizarem

modelos de Custo Total que buscam incluir na análise da oferta de um fornecedor os

principais custos relacionados com a decisão (Ellram, 1994).

Esta forma como eram avaliados os critérios de seleção pelas empresas

estudadas se assemelha ao que a literatura caracteriza como modelo categórico. Neste

tipo de modelo, os critérios são avaliados como acima, igual ou abaixo da média, não

havendo nenhuma quantificação objetiva dos critérios que permitisse uma comparação

entre estes. De fato, poucos critérios eram avaliados quantitativamente, e mesmo assim

apenas para indicar seu posicionamento em relação a uma meta definida. Os demais

também eram classificados em relação a uma meta mas de uma forma subjetiva, sem

auxilio de análises quantitativas. Portanto, os casos estudados indicam que os critérios

ainda eram avaliados com modelos categóricos simples e imprecisos, o que

caracterizaria uma abordagem tradicional de Compras.

Qual a percepção geral dos compradores sobre a questão da seleção e avaliação defornecedores?

Em geral, parece que os fornecedores nacionais realmente se concientizaram das

mudanças sofridas pela indústria automobilística e estão buscando estreitar os laços com

seus clientes. Isto acontece tanto na relação montadoras-fornecedores de primeira linha

(Arkader, 1997) quanto naquela destes últimos com seus fornecedores. No entanto, esta

reação mais colaborativa por parte dos fornecedores de segunda linha não foi imediata e

tampouco voluntária. Esta mudança de comportamento parece se dever antes a um

instinto natural de sobrevivência e afetou sobretudo o aspecto de negociação no

relacionamento. Os fornecedores parecem ter percebido que esta seria a única forma de

permanecerem no mercado. Daí os vários exemplos citados pelos entrevistados de

empenho dos fornecedores em satisfazer suas necessidades.

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Mesmo assim, os casos mostraram que os fornecedores nacionais ainda

apresentavam algumas deficiências em relação aos estrangeiros aos olhos de seus

clientes. Estas poderiam ser classificadas em dois grupos: culturais e tecnológicas.

Todos os entrevistados foram unânimes em apontar os fornecedores estrangeiros como

mais sérios e confiáveis. Além disto, ficou claro que a compra de produtos com

tecnologia mais avançada era feita quase sempre de empresas de fora. A percepção dos

entrevistados era de que havia uma deficiência em investimentos em desenvolvimento

de tecnologia no país. Isto pode ter sido resultado do longo período de mercado fechado,

assim como das altas taxas de juros internas.

Pergunta geral: Em que estágio se encontra a seleção de fornecedores no contexto

da primeira linha da indústria brasileira de autopeças, face às novas filosofias e

práticas de administração de Compras?

Com base nas sínteses específicas de cada caso analisado, apresenta-se uma

síntese geral que refletiria o estágio de avanço do processo de seleção de fornecedores

no contexto da primeira linha da indústria brasileira de autopeças, na direção de uma

abordagem estratégica de Compras:

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QUADRO 8 SÍNTESE DO ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE SELEÇÃO DEFORNECEDORES

• Curto Prazo

• Multiple Sourcing

• Antagônico

• Objetivo tático

• Preço

• Qualidade especificada

• Velocidade de entrega

• Diferentes departamentosseparadamente, Compras servindocomo suporte

• Não estruturada

• Conforme os critérios mínimosespecificados, subjetiva

• Longo Prazo

• Single Sourcing

• Cooperativo

• Objetivo estratégico

• Custo Total

• Administração da Qualidade total

• Serviço

• Estabilidade financeira

• Capacitação tecnológica

• Cultura e estratégia organizacional

• Meio Ambiente

• Fornecimento internacional

• Passado do fornecedor

• Carteira de clientes do fornecedor

• Equipes multi-funcionais envolvendocompras, engenharia e qualidade

• Estruturada

• Conforme avaliação com modelos depontos e pesos e de custo total, objetiva

ABORDAGEM TRADICIONAL ABORDAGEM ESTRATÉGICAFATOR

Relacionamentocom fornecedor

Estabelecimentode objetivos

Critérios deSeleção

Locus dadecisão de

Compra

Forma deavaliação dos

critérios

1 2 3 4 5

ESTÁGIO DE EVOLUÇÃO DO DEPARTAMENTO DE COMPRAS DOS FORNECEDORES DE PRIMEIRA LINHA DAINDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA APÓS AS MUDANÇAS

Obs: A posição do indicador mostra o grau de avanço no espectro entre a abordagem tradicional e a abordagem estratégica

Este quadro aponta alguns aspectos principais que merecem um maior

aprofundamento e destaque.

Primeiro, percebeu-se que, apesar de o relacionamento entre fornecedores e

compradores ser de curta duração e de haver uma freqüente troca de fornecedores,

traduzida pela preferência pelo multiple sourcing, o relacionamento com os

fornecedores se tornou mais cooperativo. Isto, aparentemente, contradiz o que sustenta a

literatura. De acordo com vários autores, uma relação mais colaborativa estaria ligada a

compromissos de longo prazo e a modalidades de fornecimento do tipo single-sourcing.

No entanto, esta aparente contradição pode ser explicada quando levadas em

consideração as peculiaridades apresentadas pelo mercado brasileiro. Antes de 1995, o

mercado era fechado, com pouca concorrência e o poder de barganha se concentrava na

mão de grandes fornecedores de segunda linha. Com o movimento de busca pela

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redução de custo desencadeado pelas montadoras, as áreas de Compras passaram a

buscar alternativas no exterior e aumentar a competição no mercado interno.

Conseqüentemente, os fornecedores nacionais se viram obrigados a atender às

exigências feitas pelos seus clientes para sobreviver, mostrando-se, assim, mais

dispostos a negociar com seus clientes. Portanto, a atitude mais colaborativa sentida

pelos clientes dizia respeito antes de tudo ao aspecto de negociação no relacionamento

entre comprador e fornecedor, sendo o meio encontrado pelos fornecedores nacionais

para garantirem sua participação no mercado. Isto não contradiz a literatura na medida

em que não foi citada pelos entrevistados qualquer tentativa de estabelecer relações

efetivamente colaborativas com o objetivo de melhorar resultados na cadeia de

fornecimento como um todo. O relacionamento parece ter-se tornado efetivamente mais

cooperativo, mas apenas do ponto de vista da negociação entre as partes, o que não

significa que tenha se constituído em uma colaboração estratégica.

Outro aspecto que merece destaque é a evolução dos critérios utilizados para

selecionar fornecedores. Após as mudanças, o preço passou a ser o critério ganhador de

pedido e todos os demais, qualificadores. Segundo a literatura, esta seria uma

característica de uma abordagem tradicional da área de Compras. Apesar disto, alguns

critérios como qualidade, capacitação tecnológica e carteira de clientes de fornecedores

já estariam sendo abordados conforme uma ótica estratégica de Compras. Uma

interessante revelação deste estudo relacionada com os critérios de seleção de

fornecedores foi o impacto do ambiente sobre a importância destes. As características do

mercado brasileiro, fechado e com poucas opções de fornecimento, geraram um

contexto onde, mesmo numa abordagem tradicional de Compras, o preço não era um

critério ganhador de pedido, o que contradiz a literatura. De fato, segundo vários

autores, o principal indicador de uma tal abordagem era o preço ser o critério ganhador

de pedido. Aparentemente, os casos analisados estariam mostrando que esta

característica só seria válida em ambientes competitivos.

Além destes, outros aspectos sofreram uma nítida evolução, atingindo estágios

que, segundo a literatura, seriam característicos de uma abordagem estratégica da área

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de Compras. Um claro exemplo envolve a decisão de compra. Antes das mudanças, as

decisões de Compras eram tomadas, dependendo do produto e da necessidade, por

diferentes responsáveis das áreas técnicas, e Compras servia apenas como suporte para

resolver a parte administrativa dos processos. Após as mudanças, as decisões passaram a

ser tomadas por equipes multi-funcionais, compostas por profissionais de diferentes

áreas, pertencendo a Compras a palavra final. As áreas técnicas tinham poder

eliminatório, mas o poder decisivo pertencia a Compras.

O processo de avaliação de fornecedores também sofreu uma grande evolução.

Não existia um processo estruturado e objetivo com etapas a serem cumpridas. Cada

processo de Compra era diferente de acordo com o responsável e com o tipo de produto.

Após as mudanças na área de Compras, os casos parecem indicar que o mercado

estabeleceu um processo objetivo e estruturado para avaliação dos fornecedores. Este

era composto, basicamente, por uma seqüência de quatro etapas, todas eliminatórias:

Identificação de potencial de economia, verificação da qualidade de produto e de

processo, teste de amostra e checagem de demais critérios.

No entanto, apesar do processo de avaliação dos critérios de seleção ter se

tornado objetivo e estruturado, característica de uma abordagem estratégica de Compras,

a avaliação dos critérios permaneceu sendo feita de uma forma que a literatura define

como tradicional. À exceção do preço, todos os critérios eram avaliados conforme os

critérios mínimos especificados. As empresas não conseguiam comparar os critérios

entre si e nem valorar os benefícios de um desempenho acima do mínimo exigido. A

avaliação dos critérios era feita com uma metodologia semelhante ao que a literatura

caracteriza como modelos categóricos, uma característica de uma abordagem tradicional

da área de Compras.

Enfim, apesar das limitações inerentes aos estudos de caso, os relatos e sua

análise indicaram que, aparentemente, o processo de seleção de fornecedores no

contexto da primeira linha da indústria brasileira de autopeças ainda está em um estágio

tradicional, com objetivos táticos e foco no curto prazo. Nem o fato de que alguns

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aspectos evoluíram mais rapidamente rumo a uma abordagem estratégica da área de

Compras, como a abrangência do critério qualidade, focando no produto e no processo,

e a formação de equipes multi-funcionais para gerenciar o processo de decisão de

compra, são suficientes para questionar esta observação. Apesar da crença dos atuais

responsáveis pelas áreas de Compras de que esteja sendo já adotada uma abordagem

estratégica, ainda parece que o processo nesta direção encontra-se em estágio pouco

avançado neste escalão da indústria automobilística brasileira.

6.3 Sugestões para estudos futuros

Seria interessante analisar esta mesma relação do ponto de vista da área de

vendas dos fornecedores de segunda linha. Um tal estudo permitiria verificar se as

percepções quanto ao relacionamento são as mesmas e se as conclusões tiradas deste

trabalho, pelo ponto de vista da área de Compras dos fornecedores de primeira linha, são

comuns à outra parte do relacionamento.

Da mesma forma, seria interessante aprofundar o entendimento sobre as

diferenças entre os fornecedores nacionais e estrangeiros no atendimento às

necessidades dos clientes. Este trabalho indicou que estas existem e que abordam vários

aspectos, como capacitação tecnológica e cultura organizacional. Um trabalho sobre este

tema poderia indicar o caminho para que fornecedores nacionais consigam atingir

padrões internacionais de competitividade.

Outro aspecto interessante a ser avaliado é o impacto da difusão da Internet sobre

a questão da seleção de fornecedores. As entrevistas deste estudo foram feitas em um

momento onde a Internet ainda tinha baixa penetração nas empresas brasileiras, não

tendo sido destacada por qualquer dos entrevistados. Hoje, porém, é provável que esta

ferramenta já esteja sendo considerada ou utilizada pelas empresas estudadas para

melhorar seu processo de seleção de fornecedores.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8. ANEXOS

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ANEXO 1 ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Caracterização da Empresa

1.1 Razão Social

1.2 Controle acionário

1.3 Evolução do faturamento

1.4 Número de empregados

1.5 Linha de produtos

1.6 Exportação (volume, % do faturamento, principais mercados)

1.7 Importação (valor/volume produtos acabados, % do faturamento,

principais origens; valor peças/componentes, % dos fornecimentos; principais

origens)

1.8 Principais clientes

1.9 Decomposição dos custos, ou qual é o percentual gasto em compras em

relação ao custo total de cada peça ?

2. Questões Gerais Relativas a Compras

2.1 Como tem evoluído a política de compras da empresa nos últimos 10

anos? Houve mudanças ? Caso positivo, porquê?

2.2 Como está organizado o departamento de compras ? Qual a sua missão ?

2.3 Houve alguma alteração na função de compras nos últimos 10 anos ? Em

termos de:

! responsabilidade

! organização

! nível hierárquico

! efetivo

2.4 Houve alteração no número total de fornecedores da empresa? Quantos

eram em 1990 e hoje?

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2.5 A política de compras atualmente em prática é adotada para todos os

fornecedores, ou só para alguns, quais? Porque? O que diferencia?

2.6 A política praticada foi inspirada por práticas da matriz? Em que

sentido? (no caso de uma multinacional)

2.7 Quais as principais características da política de compras?

! N° de fornecedores para cada produto

! Horizonte temporal

! Troca de informações

! Apoio técnico, etc...

2.8 A empresa possui fornecedores de outros países? O que motivou esta

decisão?

3. Questões Relativas aos Critérios utilizados na seleção de fornecedores

3.1 Quais os principais critérios para a seleção de fornecedores? Os critérios

são os mesmos para todas as peças? Que fatores alteram os critérios ?

3.2 Existe uma diferença nos critérios de seleção de fornecedores de outros

países? Caso positivo, quais são?

3.3 Em que medida o cliente da empresa influencia a escolha dos critérios de

seleção?

3.4 Houve alteração nos critérios (ou em sua importância) nos últimos 10

anos? Caso positivo, em que sentido e porquê?

4. Questões Relativas ao processo de seleção de fornecedores

4.1 Quais são os responsáveis em um processo de seleção de fornecedores?

São utilizadas equipes multifuncionais ? Caso positivo, o que determina a formação

das equipes?

4.2 É sempre realizado o mesmo processo? Caso negativo, porquê?

4.3 Houve alteração no processo de seleção de fornecedores nos últimos 10

anos? Caso positivo, porquê?

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5. Questões Relativas a forma de avaliação dos critérios

5.1 Como é feita a avaliação de fornecedores? Há diferenças quanto aos

fornecedores ou a forma de avaliação é igual para todos?

5.2 Como a empresa trabalha os critérios?

5.3 Há o estabelecimento de objetivos específicos para os fornecedores?

Caso positivo, quais seriam estes objetivos ?

5.4 Houve alteração na forma de avaliação dos critérios nos últimos 10 anos? Caso

positivo, porquê?

6. Questões Relativas à influência de fatores ambientais

6.1 Quais os principais reflexos da mudanças no ambiente do país

(estabilização econômica, abertura comercial, aumento da concorrência) sobre a

política de compras da empresa? Mais especificamente, quanto ao:

! critério de seleção de fornecedores

! processo de seleção de fornecedores

! relacionamento com o fornecedor

6.2 A atual estrutura de tributação influencia a política de compras da

empresa?

6.3 Que outros elementos de natureza ambiental se refletem sobre sua

política de compras?

7. Questões Finais

7.1 Como a empresa vê a questão de seleção de fornecedores hoje? Existem

barreiras à utilização de algum critério? Como a empresa pretende faze-lo no futuro?

7.2 Como a empresa vê o relacionamento com seus fornecedores -

cooperativo/neutro/ antagônico?