a questão da fundamentação dos direitos humanos sob o prisma axiológico

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1 A QUESTÃO DA FUNDAMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS SOB O PRISMA AXIOLÓGICO Bruna Martins Amorim Dutra RESUMO O presente artigo objetiva analisar a questão da fundamentação dos direitos humanos a partir de uma ótica filosófica. Desta feita, busca-se demonstrar que a adoção de uma teoria axiológica relativista ou universalista possui necessárias implicações na orientação esposada a respeito dos fundamentos dos direitos do homem, culminando nas teorias negativistas e fundamentadoras dos direitos humanos. PALAVRAS-CHAVE: Direitos humanos; Fundamentação; Teorias axiológicas. ABSTRACT This article aims to examine the question of the foundations of human rights from a philosophical perspective. Thus, it is shown that the adoption of a universalist or relativist axiological theory has necessary implications on the guidance espoused concerning the grounds of human rights, culminating in the naysayers and fundamental theories of human rights. KEYWORDS: Human rights; Foundation; Axiological theories. 1 INTRODUÇÃO A sociedade globalizada contemporânea é marcada por abruptos e reiterados processos de transformação. O ritmo acelerado que seguem as recentes mudanças tem conduzido ao primado de um relativismo axiológico. Assim, tudo vem, cada vez mais, se tornando discutível, efêmero, relativo. Nesse contexto de crise de fundamentos, ganha enorme relevo a questão da fundamentação dos direitos humanos, em especial no tocante à indagação sobre o seu caráter absoluto ou relativo. No presente artigo, a temática será abordada sob a ótica filosófica, notadamente à vista das teorias axiológicas existentes. Conforme restará demonstrado, ambos os assutos estão vinculados por uma íntima relação, possuindo o posicionamento adotado na órbita valorativa fortes implicações na seara da fundamentação dos direitos do homem. Genericamente, é possível vislumbrar duas orientações principais para as referidas questões, quais sejam, o relativismo e o universalismo. Portanto, no capítulo que se segue, serão abordadas as teorias axiológicas que ostentam maior destaque. Posteriormente, à luz das idéias valorativas expostas, será Mestranda em Direito Penal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Graduação em Direito pela UERJ.

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A Questão Da Fundamentação Dos Direitos Humanos Sob o Prisma Axiológico

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1 A QUESTO DA FUNDAMENTAO DOS DIREITOS HUMANOS SOB O PRISMA AXIOLGICO Bruna Martins Amorim Dutra RESUMO Opresenteartigoobjetivaanalisaraquestodafundamentaodosdireitoshumanosapartirdeumatica filosfica.Destafeita,busca-sedemonstrarqueaadoodeumateoriaaxiolgicarelativistaouuniversalista possuinecessriasimplicaesnaorientaoesposadaarespeitodosfundamentosdosdireitosdohomem, culminando nas teorias negativistas e fundamentadoras dos direitos humanos. PALAVRAS-CHAVE: Direitos humanos; Fundamentao; Teorias axiolgicas. ABSTRACT This articleaims to examinethequestion of thefoundations ofhuman rights from aphilosophicalperspective. Thus, it is shown that the adoption of a universalist or relativist axiological theory has necessary implications on theguidanceespousedconcerningthegroundsofhumanrights,culminatinginthenaysayersandfundamental theories of human rights. KEYWORDS: Human rights; Foundation; Axiological theories. 1 INTRODUO A sociedade globalizada contempornea marcada por abruptos e reiterados processos detransformao.Oritmoaceleradoqueseguemasrecentesmudanastemconduzidoao primadodeumrelativismoaxiolgico.Assim,tudovem,cadavezmais,setornando discutvel, efmero, relativo. Nessecontextodecrisedefundamentos,ganhaenormerelevoaquestoda fundamentao dos direitos humanos, em especial no tocante indagao sobre o seu carter absolutoourelativo.Nopresenteartigo,atemticaserabordadasobaticafilosfica, notadamente vista das teorias axiolgicas existentes. Conformerestardemonstrado,ambososassutosestovinculadosporumantima relao, possuindo o posicionamento adotado na rbita valorativa fortes implicaes na seara dafundamentaodosdireitosdohomem.Genericamente,possvelvislumbrarduas orientaes principais para as referidas questes, quais sejam, o relativismo e o universalismo. Portanto,nocaptuloquesesegue,seroabordadasasteoriasaxiolgicasque ostentammaiordestaque.Posteriormente,luzdasidiasvalorativasexpostas,ser Mestranda em Direito Penal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora pela Fundao Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Graduao em Direito pela UERJ. 2 enfrentadaatormentosaquestodafundamentaodosdireitoshumanos,todebatidana efmera conjuntura atual. 2 TEORIAS AXIOLGICAS As investigaes sobre a idia de valor remontam poca da Antiguidade. Todavia, o surgimentodeumateoriaaxiolgicaautnomacomoobjetodeestudodaFilosofiaapenas ocorreu a partir do sculo XX, notadamente com as obras de Lapie, Hartmann e Urban1. As variadas divergncias existentes entre os filsofos em torno da questo dos valores ensejaramoaparecimentodediferentesteoriasaxiolgicas.Verifica-se,porm,queoponto centraldistintivodasreferidasteoriasresidenoembateentreasidiasderelativismo historicista e de universalismo. Com efeito, conforme expe Reale2, prevaleceu, inicialmente, o entendimento de que no haveria valores absolutos, estando a axiologia sujeita Psicologia ou Sociologia. Contudo, em especial a partir das atrocidades cometidas durante a 1 Guerra Mundial,adquiriuimportnciaotemadasinvariantesaxiolgicas,havendo,atualmente, diversos posicionamentos sobre a questo.Aseguir,seroabordadas,demodosucinto,asprincipaisteoriasaxiolgicas existentes, sob a tica do relativismo e do universalismo. Consoante restar evidenciado, tais construestericaspossuemimportantesimplicaesnaquestodafundamentaodos direitos humanos, notadamente com relao temtica da existnciaou no de um contedo essencial invarivel desses direitos. 2.1 Relativismo Noobstanteexistamdiscordncias3,Nietzsche,geralmente,identificadocomoo precursordorelativismo,vezqueafirmavaquearealidadeseriadinmica,regidapela vontade de poder, de modo a inexistir uma organizao pr-estabelecida. O caos e o acaso estariam sempre operantes na realidade, prevalecendo o mais forte. Na tica de Nietzsche, as coisasnoostentariamexistnciaemsi,massempresesubordinariamsrelaesdepoder que possussem. 1 REALE, Miguel. Paradigmas da cultura contempornea. 1 ed. 2 tir. So Paulo: Saraiva, 1999, p. 103. 2 Ibid. p. 103-107. 3 P. ex., ROCHA, Silvia Pimenta Velloso. O relativismo como niilismo, ou os sem teto da metafsica. Revista Trgica: estudos sobre Nietzsche, 2 semestre de 2008, vol. 1, n 2, p. 161-169, para quem o perspectivismo, longe de constituir um relativismo, um "relacionalismo" ou uma ontologia das relaes, ao passo que o relativismo propriamente dito permanece uma posio metafsica que se desconhece enquanto tal (p. 162). 3 A partir das idias nietzschianas, prevaleceu, de incio, no estudo dos valores, a viso relativista,aqualdesconsideraquehajaquaisquervaloresabsolutos.Dessaforma,a AxiologiaoraseencontravasujeitaPsicologia,quandoteriaporbaseaconscincia individual, ora estava subordinada Sociologia, fulcrando-se na conscincia coletiva. Orelativismoassumiu,comodecorrerdotempo,aindadiversasoutrasroupagens, permanecendo,porm,emtodaselas,sempreaidiacentraldainexistnciadevalores universais e atemporais. Conforme explana Reale, de certa forma, comMarcusee outros, o quesepretendeufoianegaoradicaldequalquerinvarianteaxiolgica,ficandoohomem anarquicamente entregue sua ilimitada liberdade, nada lhe sendo proibido4. Cabe destacar, por oportuno, que o sculo XIX consistiu num ambiente especialmente frtilparaodesenvolvimentodorelativismo.Talfatotevecomocausacrucialoadventodo positivismo, o qual ensejou a consagrao do mtodo emprico de descoberta e o surgimento dafalaciosaidiadeprogressoilimitadodahumanidadeemvirtudedoavanodacincia. Com efeito, o naturalismo propugnava o direcionamento do conhecimento to-somente quilo quefossepassveldeexplicao,almdoqueotecnicismoquedespontavasuprimiua importnciaatentoconferidaatividadeespiritual.Todavia,consoanteconstataHannah Arendt,oprogresso,porcerto,umdosartigosmaissriosecomplexosencontradosno mercado de supersties de nosso tempo5. Registre-se que o pensamento relativista encontra fora at os dias de hoje, haja vista a atualcrisedefundamentosqueenfrentaaModernidade.Notadamentecomohistoricismo, quedestacaaperenemutabilidadedascondieshistricas,ecomoincontestvelfatodo multiculturalismo,mostra-serevigoradaaidiadainviabilidadedesealcanarumaviso universaledefinitivadarealidade,e,portanto,dainexistnciadevaloresabsolutosaserem erigidoscomo fundamentos. Diante disso, nota aprofessora Silvia Rochaque o relativismo pretendeassimrealizarumaoperaoimpossvel:denunciaraausnciadefundamentos permanecendo ele prprio numa posio fundada6. 2.2 Universalismo 4 REALE, Miguel. Op. cit. p. 104. 5 ARENDT, Hanna. Sobre a violncia. Traduo de Andr Duarte. 3 ed. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2001, p. 29. 6 ROCHA, Silvia Pimenta Velloso. Op. cit. p. 164. 4 Oscontornosdaidiadeuniversalismoaxiolgicopodemservisualizadosjem ImmanuelKant,quandodaelaboraodoconceitodeimperativocategrico.Apartirda premissadequehaveriaumantagonismoentreasensibilidadeearazo,Kanterigiua vontadelivredeinclinaesindividuais-boavontade-comoguiadeterminanteda moralidade,demodoquepudesseserobservadaportodoserracional.Considerandoquea sensibilidade comportaria uma multiplicidade de anseios consoante as condies pessoais dos indivduos,nopermitindoaobtenodeumaleimoraluniversal,taldesideratodeveriaser alcanado atravs da razo prtica.Ento, uma mxima seria moral quando tivesse o condo de ser universalizada, vinculando-se noo de dever como imperativo categrico. Muitosautoresseguiramadireouniversalistadametafsicakantiana,notadamente sobovisdeumidealismosubjetivista.Nessecontexto,JorgeJaimedestacaos posicionamentosdeRodolfLotze,oqualapreendiaosvalorescomoentesabstratos originriosdopensamento,edaEscoladeBaden,queaspiravaalcanarvaloresvlidos universalmente na seara do dever-ser7. A viso universalista da axiologia, todavia, emergiu com maior nitidez e vigor a partir da notoriedade das atrocidades cometidas durante a 1 Guerra Mundial, ganhando destaque o temadasinvariantesaxiolgicaseaquestodofundamento.MaxSchelereNicolai Hartmann, os quais assumiram como ponto de partida as lies fenomenolgicas de Husserl, foram os principais responsveis pela guinada do universalismo na poca. De acordo com o pensamento fenomenolgico,os valores so objetos ideais, dotados deautonomiaemrelaoaosobjetosreais.Identifica-seentreelesto-somenteuma referibilidade,vistoqueosvaloresnosocompreendidospelafenomenologiacomouma abstrao. Assim, o professor Jorge Cmara explica que a atitude em tela objetiva o retorno sprpriascoisas,aovividoemdetrimentodasconstruescategoriaisaprioristcascom que a metafsica kantiana pretendeu reger a constituio de sentidos do mundo8. Ao contrrio dos objetos reais, que so contingentes, os valores, integrando o domnio dosseresideais,seriampr-existentes,universaiseatemporais.Destarte,noobstanteos fenmenosreaisestejamsujeitosmutabilidade,suaessnciaousignificaoseriaperene, consubstanciandoovalore,portanto,ofundamento.NaspalavrasdeAquilesGuimares, 7 JAIME, Jorge. Ser e Valor. Vol. 1, 2 ed. Rio de Janeiro, 2003, p. 48-50. 8 CMARA, Jorge Luis Fortes Pinheiro da. Os fundamentos e a crise do direito na modernidade: perspectivas filosficas dos direitos humanos segundo a fenomenologia. Tese de doutorado em Filosofia na UFRJ, Instituto de Filosofia e Cincias Sociais. Rio de Janeiro, 2007, p. 40. 5 essnciaaquiloquecaracterizaainvarinciadoobjeto;aidiauniversalenecessria sem a qual no temos a evidncia da compreenso daquilo de que falamos9.Assentadastaispremissas,sustentaafenomenologiaqueosvaloresnoseriam evidenciadosracionalmente,massimpelaconscinciaintencionaldohomem.Esseprocesso deapreensodaessnciadosfenmenosreaispelaintuioemocionalsedenominareduo eidtica.Japonderaoacercadossentidosdodomniodosseresideaisconstituiriaa reduo transcendental.Reitere-seque,emconsonnciacomopensamentoexposto,ovalorcorrespondeao fundamento.Apartirdessedado,aconscinciaintencionalqueoapreende,doandosentido para os objetos, seria, por consequncia, o fundamento ltimo dos valores. Nesse contexto, vlido transcrever um trecho das lies do professor Aquiles Guimares: somenteaintencionalidadeconstituinte(evidenciadora)poderfundarossentidos dosobjetos,tornandopossvelacompreensodaobjetividadeemgeral.A conscinciahumanaofundamentodofundamentoporqueseladescobre, evidencia e garante todo fundamento.10 Ainda respeito dos valores, a fenomenologia propugna que esses objetos ideais podem serpositivosounegativos,remetendonoodebememal.Ademais,entende-sepossvel identificar uma escala hierrquica de valores por intermdio dos atos de preferncia, os quais tambm seriam provenientes da intuio emocional. Por seu turno, Miguel Reale no compreende o valor como um objeto ideal, integrante doreinodoser,massimcomopertencenteaodomniododever-ser11,distinguindo-se,no ponto, do pensamento fenomenolgico. Explica o autor que o ser do homem o seu dever-ser,demodoqueaqueleconsistirianovalor-fontedetodososvalores12.Apartirdesses pressupostos, e considerando que o homem um ser fundamentalmente histrico, Reale adota um historicismo axiolgico. Em suas palavras: entreaconcepo idealistada experincia axiolgicacomo totalidadedoprocesso histricodaIdiaoudoAbsolutoeavertenteoposta,avisoempricado historicismorelativista,possvelumaterceirasoluo,queresultadeuma compreensotranscendental(emsentidoemqueKanteHusserlempregameste adjetivo,bemdiversodaMetafsicatomista)dovaloremcorrelaocoma experincia histrica.13 9 GUIMARES, Aquiles Crtes. Para uma teoria fenomenolgica do Direito - I. Cadernos da EMARF, Fenomenologia e Direito. Rio de Janeiro, v. 3, n 1, abr./set.2010, p. 21. 10 Id. Edmundo Russerl e o Fundamento Fenomenolgico do Direito. Cadernos da EMARF, Fenomenologia e Direito. Rio de Janeiro, v. 2, n 1, abr./set.2009, p. 76. 11 REALE, Miguel. Paradigmas da cultura contempornea. 1 ed. 2 tir. So Paulo: Saraiva, 1999, p. 105 e 107. 12 Ibid. p. 105. 13 Ibid. p. 106. 6 importante salientar que o reconhecimento da historicidade do homem por parte de MiguelRealenoconduz,necessariamente,aumpensamentoaxiolgicorelativista. Conforme nota Aquiles Guimares, embora se constate a mutabilidade dos fatos ao longo da histria,osvaloressubsistentesindependentementedasmodificaesocorridas consubstanciam as invariantes axiolgicas14. Nesse sentido, o professor ensina que os valores pr-existem e so apreendidos pela conscincia intencional do homem, valor-fonte de todos os valores,ensejandoosprocessoshistricosto-somenteoreconhecimentodosvaloresea atribuio de sentido aos mesmos15.Emsuma,percebe-sequeaticauniversalistadaaxiologiatambmostenta importantesdefensores,emborasobdiferentesvieses.Opontocomumentreelesresidena difcilempreitadadebuscarvaloresabsolutoseuniversaisnaatualconjunturadecrisede fundamentos em que se encontra imersa a Modernidade. 3 FUNDAMENTAO DOS DIREITOS HUMANOS Uma vez analisadas as principais teorias axiolgicas sob o prisma do relativismo e do universalismo,cumpretratar,nomomento,datambmtormentosaquestosobrea fundamentao dos direitos humanos. Conformeevidenciado, dado que o estudo dos valores possuintimarelaocomatemticadofundamento,constata-sequeaorientaoesposada nombitodaaxiologiapossuirimplicaesnaquestodafundamentaodosdireitos humanos.Aseguir,seroabordadososdoisprincipaisposicionamentosacercadoassunto. Primeiramente, cuidar-se- das teorias que prescindem do esforo de fundamentar os direitos humanos, seja por consider-lo destitudo de importncia, seja por reputar ser essa uma tarefa impossvelderealizao.Posteriormente,seroanalisadasasteoriasqueintentamconstruir umarcabouofundamentalemqueseestribemosdireitosdohomem,sobdiferentes perspectivas. 3.1 Teorias negativistas 14 GUIMARES, Aquiles Crtes. O que a teoria tridimensional do Direito? Estudos Jurdicos, p. 4. 15 Id. Direito, valor e tcnica. Cadernos da EMARF, Fenomenologia e Direito. Rio de Janeiro, v. 1, n 2, out.2008/mar.2009, p. 92-93. 7 Consoanteexposto,parceladadoutrinareputairrelevanteadiscussoarespeitodos fundamentosdosdireitoshumanos,pordistintosmotivos.Aseguir,referidasteorias,aqui denominadasgenericamentedenegativistas,seroabordadasdemodosucinto,notadamente sob as perspectivas realista e positivista. 3.1.1 Perspectiva realista De acordo com a perspectiva realista, a questo que merece real enfoque no mais a dajustificaodosdireitoshumanos,massimaconcernenteaomododeproteg-los efetivamente,deslocando-seaatenoparaoplanodaeficcia.Oprincipalexpoentedessa viso Noberto Bobbio. Oaludidofilsofodefendequeapretensodesealcanarumfundamentoabsoluto paraosdireitoshumanosilusria,hajavistaaindeterminaodotermo,ofenmenodo historicismo, a heterogeneidade e a antinomia desses direitos16. Segundo Bobbio, malgrado o fundamentodosdireitosdohomemcorrespondaaosvaloresltimos,estesnoencontrariam umfundamento.Assim,arespeitodosvaloresltimos,afirmaquesonecessrias concessesdeambasaspartes:nessaobradeconciliao,querequerrennciasrecprocas, entram em jogo as preferncias pessoais, as opes polticas, as orientaes ideolgicas17, o que conduz a um relativismo axiolgico. EmcontraposioaopensamentodeBobbio,ressalte-sequeafenomenologiaaduz que o fundamento do fundamento seria a conscincia intencional do homem, na qualidade de doadoradesentidosparaosobjetosatravsdareduoeidtica.Assim,caberiaaohomem intuir os valores universais pr-existentes no domnio dos seres ideais. Outrossim, a despeito deohistoricismoaxiolgicodeRealereconhecerohomemcomoserhistrico,aindaassim admite a existncia das invariantes axiolgicas. Noberto Bobbio, sem embargo, ao no vislumbrar um fundamento absoluto, baseia os direitoshumanosnoconsensogeralsobreosvalores,sempredotadodacaractersticada mutabilidade. Portanto, em especial a partir da Declarao Universal dos Direitos do Homem, aquestodafundamentaodosdireitosdohomemjestariaresolvida,sendonecessrio enfocar a questo poltica da efetivao dos mesmos. Nas palavras do filsofo,ADeclaraoUniversaldosDireitosdoHomemrepresentaamanifestaoda nicaprovaatravsdaqualumsistemadevalorespodeserconsiderado 16 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 36 17 Ibid. p. 38. 8 humanamentefundadoe,portanto,reconhecido:eessaprovaoconsensogeral acerca da sua validade.18

Anteoexposto,percebe-sequeBobbionopropriamentenegaaexistnciadeum fundamentoparaosdireitosdohomem.Contudo,seupensamentofoisituadodentrodas teoriasnegativistas,jquenoreconheceimportnciadiscussoemtornodofundamento por considerar resolvida a questo pela obteno do consenso geral.Talconstruotericanosparececriticvel.Primeiramente,aidiadeacordogeral sobreosvalorescomofundamentodosdireitoshumanosserevelaperigosa,hajavistaas tragdiasqueoconsensojrespaldou.Attuloexemplificativo,valelembrarqueoholocausto foi levado a cabo pela Alemanha Nazista dentro do aparato da legalidade formal e comoapoiodagrandemaioriadapopulaodoEstado,soboargumentoromantistade purificao da raa ariana. Porconseguinte,aquestodafundamentaodosdireitoshumanosmostra-sede enormeimportncia.Noseafiguraadequadoreleg-lapuradiscricionariedadedainter-subjetividadedoshomens,semquesereconheacomopr-estabelecidoummnimoticoa ser respeitado. Aponte-se,ainda,comocrtica,queBobbio,aopretenderdirecionartodaadiscusso para o plano pragmtico da eficcia dos direitos humanos, parte de uma premissa que tambm pode ser considerada ilusria, a saber, o consenso geral.Nesse sentido, segundo Perez Luo, cabe objetar a este planteamiento optimista que la constante violacin actual de los derechos humanosmuestralafaltadearraigoylaprecariedaddeesaspretendidasconvicciones generalmente compartidas19. 3.1.2 Perspectiva positivista Porseuturno,aperspectivapositivistanoconfererelevodiscussosobreos fundamentosdosdireitosdohomemporreputarserestaumaquestoinsolvele,por consequncia,intil.Noestandoosvaloressujeitosdemonstraocientficaatravsdo mtodo emprico, eles no seriam cognoscveis pelo homem. Desse modo, restaria infrutfera qualquer tentativa de fundamentao racional dos direitos humanos. 18 Ibid. p. 46. 19 PEREZ LUO, Antonio-Enrique. La fundamentacin de los derechos humanos. Revista de Estudios Polticos (Nueva Epoca), n 35, septiembre-octubre, 1983, p. 8 9 Comovertentedono-cognitivismo,oneopositivismo,quetemcomoprincipais expoentesRudolfCarnap,AlfredAyereStevenson,deuorigemaoemotivismoaxiolgico. Deacordocomessepensamento,osenunciadosticosostentariamumafunoemotiva, correspondente aos sentimentos morais. Aindanosentidodono-cognitivismo,vlidoassinalaraobradeEnriqueHaba. Segundoesseautor,tantosoboprismaterico,quantosoboempricoouometafsico,a discussoacercadajustificaodosdiretoshumanoscareceriadequalquerimportncia prtica20. Assentadasasbasesdaperspectivano-cognoscitivista,notadamentepositivista, possvel argumentar que ela se mostra equivocada, pois parte de uma premissa reducionista ao conceberarealidadeapenascomoomundodoser.Entretanto,conformeexpea fenomenologia,arealidadeconstitudatantopelodomniodosseresnaturais,quantopelo dosseresideais,nosendoadmissvelignoraraexistnciadaatividadeespiritual.Nesse contexto, Aquiles Guimares constata que: Atcnicavemcorroendoprogressivamentetodososlaosqueprojetavamo homemaouniversodassuasrelaescomatranscendncia,comaquiloque sempreesteveforadoalcancedarazo,masqueseconstituaemfonteda imaginao teolgica, metafsica, artstica e cientfica.21 Porconseguinte,conclui-sequeoargumentopositivistadanodemonstrabilidade cientfica dos valores no tem o condo de retirar a importncia da questo da fundamentao dosdireitoshumanos.Conformedemonstrado,necessrioatentarnosomenteparaa atividade intelectiva do ser humano, mas tambm para a sua condio de valor-fonte de todos os valores, o que remete, segundo Reale, esfera do dever-ser. 3.1.3. Anlise das teorias negativistas Asteoriasnegativistas,aorecusaremrelevnciadiscussosobreajustificaodos direitosdohomem,nonosparecemdefensveis.Ainvestigaosobreatemticado fundamentodotadadeinsubstituvelimportnciaafimdequepossaserevidenciadaa essnciadoser.Nessenterim,impendetranscreveraselucidativasliessobrefundamento do professor Jorge Cmara: 20 HABA, Enrique P. El asunto del para los derechos humanos: pseudoproblema! (O bien, cuestin de unas elucidaciones cuasiteolgicas). DOXA, Cuadernos de Filosofa del Derecho, 27, 2004, p. 429-435. 21 GUIMARES, Aquiles Crtes. Direito, valor e tcnica. Cadernos da EMARF, Fenomenologia e Direito. Rio de Janeiro, v. 1, n 2, out.2008/mar.2009, p. 96. 10 afundamentaodoexistir,enquantoquestoeminentementeontolgicanasua relaocomoserenasconseqnciasdoexistir,estabeleceaspremissasde anlise de qualquer variao que o fenmeno possa apresentar. Com isso a questo sobreacontinuidadedoenteemsuasmetamorfosescontextuaisquesto intrinsicamente vinculada a delimitao do fundamento do fenmeno.22 Verifica-seque,sobaperspectivarealista,adiscussoacercadofundamentoperde importncia com base na adoo de um relativismo histrico. Por sua vez, a tica positivista sefulcranadesconsideraodasquestesaxiolgicasemrazodenoseremapreensveis empiricamente.Contudo, quando se prescinde da questo do fundamento, tem-se como consequncia a inviabilidadedocontroledelegitimidadedasmanifestaesdofenmenoemvirtudedo desconhecimento da sua significao. Esse ambiente representa, ento, um terreno frtil para o desenvolvimento das mais horrendas tragdias. Conforme ilustra Comparato,naausnciadeumarazojustificativaexterioresuperioraosistemajurdico,um regimedeterror,impostoporautoridadesestataisinvestidassegundoasregras constitucionaisvigentes,equeexercemseuspoderesdentrodaesferaformalde suacompetncia,noencontraoutrarazojustificativatica,senoasuaprpria subsistncia.23 indiscutvel a necessidade de se buscarem meios efetivos de garantia dos direitos da pessoahumana.Todavia,essaimportantequestopolticanoelideapertinnciadoescopo filosfico de se perquirirem os valores que fundam os direitos humanos. Destarte,aseguir,seroabordadas,demodosucinto,asprincipaisconstrues tericas que enfrentam a referida questo. Essas teorias, aqui denominadas genericamente de fundamentadoras,intentamjustificarosdireitoshumanoscombaseemdistintospilares, classificados em subjetivistas, intersubjetivistas e objetivistas. 3.2 Teorias fundamentadoras 3.2.1 Subjetivismo Os doutrinadores que fundamentam os direitos humanos sob uma perspectiva subjetiva asseveramqueosvaloresdevemserapreendidosporcadapessoa,combasenosseus 22 CMARA, Jorge Luis Fortes Pinheiro da. Os fundamentos e a crise do direito na modernidade: perspectivas filosficas dos direitos humanos segundo a fenomenologia. Tese de doutorado em Filosofia na UFRJ, Instituto de Filosofia e Cincias Sociais. Rio de Janeiro, 2007, p. 20. 23 COMPARATO, Fbio Konder. Fundamento dos Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avanados da Universidade de So Paulo, p. 8. Disponvel em: < http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/33031/32211> Acesso em 15/10/10. 11 interessesindividuais.Taisvaloresticosparticulares,porsuavez,deveriamserrespeitados demodoabsolutopelosdemaissujeitos.Portanto,constata-sequeessepensamentopartede um subjetivismo axiolgico. ConsoanteexpePerezLuo,asteoriasfundamentadorassubjetivaspodemser interpretadasvistadoprimadodaliberdadeindividualoudeumareleiturado jusnaturalismo24.Noprimeirocaso,apontam-secomoprincipaisexpoentesosneoliberais Friedrich von Hayek e Karl Popper. Por seu turno, sob a segunda perspectiva, encontramos os pensadores John Rawls, Ronald Dworkin e Robert Nozick. Aprincipalcrticatecidaaessasconstruestericasestrelacionadaaosperigosda exacerbaodoindividualismo,demodoaseprescindiremvaloressociaisbsicos25.Alm disso,receia-seodistanciamentodasnecessidadesdoserhumano,porquanto,consoante explicaPerezLuo,lastesisneoliberaliseneocontractualistas,aunquesepresentancomo fundamentacionessubjetivasdelosderechoshumanosalconcebirloscomocategorasal servicio de la individualidad, terminan por ignorar las exigencias concretas de los individuos por carecer de una adecuada justificacin antropolgica de sus presupuestos26. 3.2.2 Intersubjetivismo Aticaintersubjetiva,porsuavez,emboratambmenfoqueapessoanatarefade identificaodosvalores,buscaalcanarcertaobjetividadepormeiodoconsenso, trabalhandocomanoodevalorescomunicveisintrinsecamente.Talconcordnciageral seria obtida a partir das necessidades compartilhadas pelos indivduos.Nessecontexto,seinseremasidiasdeJrgenHabermas.Deacordocomofilsofo alemo, a ao comunicativa permitiria alcanar a correio ou no de um argumento quando obtido o consenso. Outrossim,aponte-seaEscoladeBudapeste,aqualefetuouumareformulaoda definiomarxistadenecessidade.Dessaforma,elaerigiuasnecessidadesradicais, determinadas pela concordncia geral, como categorias valorativas. 24 PEREZ LUO, Antonio-Enrique. La fundamentacin de los derechos humanos. Revista de Estudios Polticos (Nueva Epoca), n 35, septiembre-octubre, 1983, p. 23-44. 25 H. Hart, Entre el principio de utilidad y los derechos humanos, trad. cast. de M. D. Gonzlez, F. Laporta y L. Hierro, en RFDUC, 1980, nm. 58, pgs. 7 y siguientes esp., pgs. 26 sigs., apud PEREZ LUO, Antonio-Enrique. Op. cit. p. 43. 26 PEREZ LUO, Antonio-Enrique. Op. cit. p. 43-44. 12 Em sntese, de acordo com a perspectiva intersubjetiva, os valores apreendidos atravs doconsensoecorrespondentessnecessidadesradicaisdoshomensteriamvalidade universal, fundamentando os direitos humanos. A respeito da temtica, interessante destacar a seguinte observao de Perez Luo: Entiendo que la fundamentaein intersubjetivista del valor de Habermas y Apel, de un lado, y las tesis sobre el particular de la Escuela de Budapest, de otro, no slo soncompatibles,sinoquesecomplementan.Laprimeratienesuaspectoms slidoenlaconstruccindelmarcoformalparaunateoraconsensualdelvalor, peronoprofundizaadecuadamenteenlosdatosantropolgicoslas necesidades que constituyen el substrato del consenso; mientras que la segunda ha analizado con mayor precisin estos datos, pero ha debilitado los presupuestos formales para su universalizacin.27 Instanotar,ainda,queoptamosporabordaroposicionamentodeNobertoBobbio quandodaexposiodasteoriasnegativistas,vistoqueofilsoforeputadesnecessriaa discusso sobre o fundamento dos direitos do homem. Assim, ainda que partilhe da viso da intersubjetividadeaoempregaranoodeconsensovalorativogeral,eleconsideraj resolvidaaquestodafundamentaodosdireitoshumanosvistadaDeclaraoUniversal dos Direitos do Homem. 3.2.3 Objetivismo Enfim,dentreasteoriasquevisamjustificarobjetivamenteosdireitoshumanos, destaca-se a tica material dos valores, a qual se baseia na viso universalista da axiologia, j aludida no captulo anterior. Para essa corrente, as invariantes axiolgicas, caracterizadas pela universalidade,atemporalidadeepr-existncia,fundamentariamosdireitoshumanos.Por outrolado,considerandoqueohomem,nacondiodevalor-fontedetodososvalores,os assimilaria pela intuio emocional, conclui-se que o fundamento do fundamento consiste na prpria conscincia do homem. Conformejevidenciado,aquestodofundamentodecrucialimportncia,pois permiteacaptaodaessnciadoser.Porm,maisdoqueisso,seafiguranecessriaa identificaodefundamentosabsolutos,vezqueorelativismoseaproximadaprpria negao do fundamento ao desconsiderar que este possua um contedo pr-estabelecido. Tendoemvistaaexposiodasprincipaisteoriasfundamentadorasnopresente captulo,possvelafirmarquetantoaperspectivasubjetivista,quantoaintersujetivista, recaememltimaanlise,numrelativismoaxiolgico,poissubordinamocontedodos 27 Ibid. p. 56. 13 valores definio do homem. Por seu turno, a tica objetivista propugna que os valores pr-existem,sendo,to-somente,captadospelaconscinciaintencionaldoadoradesentidosdo homem, o que consubstancia um universalismo axiolgico.Saliente-sequetaldistinonosecingeaummerojogodepalavras.Aorevs,a questodapr-existnciadosvaloresimplicarnoreconhecimentoounodalimitaodo homem a determinado mnimo tico. Com efeito, sob os vieses subjetivista e intersubjetivista, o homem quem estabelece o valores a serem por ele respeitados, seja de modo atomizado ou pormeiodoconsensogeral.Porsuavez,paraavisoobjetivista,ohomemestsujeito observnciadedeterminadosvaloresabsolutoseuniversaisexistentesnodomniodosseres ideais. O fato de que inexiste consenso entre os prprios universalistas acerca de quais sejam essesvaloresquecompemainvarinciaaxiolgicanopossuiocondoderefutara construo terica em tela. Na verdade, tal crtica se direciona ao plano da eficcia, e no da validade da teoria, vez que no atinge as premissas em que a mesma se baseia. Arespeitodaquesto,entendemosqueosprocessoshistricospelosquaispassao homemlhepermitem,paulatinamente,obterummaioresclarecimentosobreocontedodas invariantes axiolgicas. Ou seja, as experincias histricas da humanidade conferem subsdios paraumamelhorintuiodosvalorespelaconscincia.Dessaforma,aindaqueosvalores universaiseabsolutosnoestejamintudosnasuatotalidade,taldifciltarefadeveser constantementebuscada,sobpenasedesconsiderarqualquerlimitaoticascondutasdo ser humano. Pelo exposto, o estudo do fundamento nunca restar destitudo de importncia. Aindanoquetocaaohistoricismo,cabedestacaraselucidativasliesdeAquiles Guimares: necessrio deixar claro que aexistncia de um reino autnomo de valores, onde esto situados os valores vitais, espirituais e religiosos, no implica a excluso de umcertorelativismocrtico,tendoemvistaadiversidadedasculturasea emergnciadenovosdireitosqueconfiguramapercepodenovosvaloresque devem ser protegidos no curso da existncia histrica do homem. Esse relativismo crticodizrespeitoadaptaodosvaloresaosnovosdireitosesmutaesda histria e no relativizao das referncias universais e imutveis constantes das potencialidadesintencionaisdaestruturadoespritohumano.Osvalores,como seres ideais a priori, antecedem todas as mutaes da existncia humana enquanto referncias supremas da articulao da vivncia histrica.28 Nessecontextodefundamentaodosdireitoshumanoscombaseemvalores absolutos, cabe analisar uma questo muito discutida atualmente a ttulo ilustrativo. notrio 28 GUIMARES, Aquiles Crtes. Direito, valor e tcnica. Cadernos da EMARF, Fenomenologia e Direito. Rio de Janeiro, v. 1, n 2, out.2008/mar.2009, p. 98. 14 quealgunsdoutrinadorestmsustentadoalegalizaodoabortocomfulcroemumdado pragmtico, qual seja, o nmero de mulheres que morrem todos os dias em funo de abortos realizados de modo irregular. Tal argumentao, todavia, nos afigura descabida, uma vez que no enfrenta o fundamento da questo. Considerando que o homem o valor-fonte de todos os valores e que a vida constitui a condio de existncia do homem no mundo, intui-se que a vida consubstancia o valor maior. Dessemodo,umargumentomeramentepragmticonoteriaocondodesesobreporao fundamento correspondente ao valor vida para se admitir a legalizao do aborto, sob pena de retornarmosaoperigosoterrenodorelativismoeaoaforismodequeosfinsjustificamos meios. Diante disso, conclui-se que o nico ponto passvel de discusso para a soluo dessa tormentosaquestoseriaoreferenteaomomentoemqueavidatemincio,quenosparece corresponderfecundaoemrazododesenvolvimentonaturaldapessoahumanaapartir da. Ante todo o exposto, constata-se a importncia da viso universalista da axiologia para afundamentaodosdireitoshumanos.Comoressalva,noforamanalisadosospossveis critriosparaaapreensodessencleoabsolutodosvaloresporescapartemticaproposta para o presente artigo. 4 CONCLUSO Opresenteartigobuscouabordaraquestodafundamentaodosdireitoshumanos, especificamente sob o prisma axiolgico. Consoante restou evidenciado, a orientao adotada nasearadateoriadosvaloresrelativismoouuniversalismopossuiimplicaodiretano mododecompreensodosfundamentosdosdireitosdohomemenograudeimportncia conferida ao assunto. vistadetodooexpostonobojodotrabalho,conclumosque,noobstantea conjunturaefmeracaractersticadasociedadecontempornea,seafigurainadmissvela conformao com um relativismo histrico, o qualrecusa a existncia de valores absolutos e universais.Talposicionamento,emltimaanlise,seaproximadaprprianegativade existncia ao fundamento por destitu-lo do seu contedo material. Reitere-sequereferidaconclusonoimportanarejeiodeumrelativismocrtico. Conformeanotado,ohomemumseressencialmentehistricoeosfenmenosreaisso mutveis.Entendemos,contudo,que,adespeitodisso,osvaloressubsistemnaqualidadede 15 objetos ideais pr-existentes, eis que, entre os seres reais e os ideais h apenas uma relao de referibilidade. Tal orientao corresponde ao historicismo axiolgico de Miguel Reale. Por conseguinte, com base na viso universalista dos valores, compreendemos que os direitos humanos possuem um fundamento absoluto, conferido a partir da idia de invariantes axiolgicas apreensveis pela intuio emocional. Dessa maneira, o seu fundamento ltimo a conscincia humana doadora de sentidos ao mundo. REFERNCIAS: ARENDT, Hanna. Sobre a violncia. Traduo de Andr Duarte. 3 ed. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 2001, p. 13-30. AYDIN, Ciano. Alm do Absolutismo e do Relativismo: Nietzsche e Peirce. Traduo por Clayton Foschiani de Conferncia realizada no 8 Encontro Internacional sobre Pragmatismo. 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