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A puericultura entre ciência e educação: uma análise dos Boletins da Legião Brasileira de Assistência (1951). BRUNO SANCHES MARIANTE DA SILVA * “Se a mãe for guiada por conselhos esclarecidos e se ela se dedicar a essa tarefa, conseguirá, muitas vezes, os resultados desejados” (Boletim da Legião Brasileira de Assistência, n.70, Setembro de 1951, p.5). A decisão de entrar na Segunda Guerra Mundial em 1942 teve grandes consequências para o Brasil. Getúlio Vargas aliava-se, definitivamente, aos Estados Unidos obtendo destes uma série de benefícios econômicos. Em decorrência dessa posição assumida, o Brasil, a partir de junho de 1944, enviou mais de 20 mil combatentes para o confronto às tropas nazistas na Itália. No sentido de amparar as famílias dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), foi fundada em 1942 a Legião Brasileira de Assistência, criada e presidida pela primeira- dama brasileira, Darcy Vargas. Além da assistência financeira e material às famílias desamparadas muitas haviam perdido, permanente ou temporariamente, o seu provedor a LBA empenhou-se na comunicação entre a população brasileira e os combatentes nacionais em campo de batalhas na Europa. O envio de notícias e de correspondência entre ambas as partes se dava também por meio do Boletim da Legião Brasileira de Assistência, uma publicação periódica da LBA que se propunha ser o elo de comunicação entre os pracinhas e suas famílias, assim como fazer chegar até eles as notícias do Brasil. Ao longo do ano de 1945, a LBA fez publicar 17 edições de seu boletim (iniciou sendo publicação mensal, passando a ser quinzenal). As páginas das dezessete edições de 1945 do Boletim são bastante voltadas a informar aos expedicionários sobre os rumos da guerra e da situação vivida no Brasil, além prover uma comunicação deles com suas famílias na terra natal. Uma seção intitulada “LBA nos Estados” procurava açambarcar as ações da instituição nas unidades da federação; já em outra seção denominada “Não se esqueça” são apresentados dados relativos ao Brasil como “que o Brasil é o sexto país do mundo em produção vegetal”, entre outros dados que dão claro destaque e relevância ao país. Além das diversas matérias especiais sobre as campanhas da LBA e das ações em prol das famílias dos “pracinhas”, um grande número de páginas dos Boletins é ocupado pela seção “Mensagens”, que consiste, propriamente, em transcrever mensagens que as famílias enviavam aos expedicionários dando * Doutorando em História e Sociedade - Universidade Estadual Paulista (UNESP) Faculdade de Ciências e Letras Campus Assis. Bolsista CAPES, sob orientação do Prof. Dr. Antonio Celso Ferreira.

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A puericultura entre ciência e educação: uma análise dos Boletins da Legião Brasileira

de Assistência (1951).

BRUNO SANCHES MARIANTE DA SILVA*

“Se a mãe for guiada por conselhos esclarecidos e se ela se

dedicar a essa tarefa, conseguirá, muitas vezes, os resultados

desejados” (Boletim da Legião Brasileira de Assistência, n.70,

Setembro de 1951, p.5).

A decisão de entrar na Segunda Guerra Mundial em 1942 teve grandes consequências

para o Brasil. Getúlio Vargas aliava-se, definitivamente, aos Estados Unidos – obtendo destes

uma série de benefícios econômicos. Em decorrência dessa posição assumida, o Brasil, a partir

de junho de 1944, enviou mais de 20 mil combatentes para o confronto às tropas nazistas na

Itália. No sentido de amparar as famílias dos combatentes da Força Expedicionária Brasileira

(FEB), foi fundada em 1942 a Legião Brasileira de Assistência, criada e presidida pela primeira-

dama brasileira, Darcy Vargas. Além da assistência financeira e material às famílias

desamparadas – muitas haviam perdido, permanente ou temporariamente, o seu provedor – a

LBA empenhou-se na comunicação entre a população brasileira e os combatentes nacionais em

campo de batalhas na Europa. O envio de notícias e de correspondência entre ambas as partes

se dava também por meio do Boletim da Legião Brasileira de Assistência, uma publicação

periódica da LBA que se propunha ser o elo de comunicação entre os pracinhas e suas famílias,

assim como fazer chegar até eles as notícias do Brasil.

Ao longo do ano de 1945, a LBA fez publicar 17 edições de seu boletim (iniciou sendo

publicação mensal, passando a ser quinzenal). As páginas das dezessete edições de 1945 do

Boletim são bastante voltadas a informar aos expedicionários sobre os rumos da guerra e da

situação vivida no Brasil, além prover uma comunicação deles com suas famílias na terra natal.

Uma seção intitulada “LBA nos Estados” procurava açambarcar as ações da instituição nas

unidades da federação; já em outra seção denominada “Não se esqueça” são apresentados dados

relativos ao Brasil como “que o Brasil é o sexto país do mundo em produção vegetal”, entre

outros dados que dão claro destaque e relevância ao país. Além das diversas matérias especiais

sobre as campanhas da LBA e das ações em prol das famílias dos “pracinhas”, um grande

número de páginas dos Boletins é ocupado pela seção “Mensagens”, que consiste,

propriamente, em transcrever mensagens que as famílias enviavam aos expedicionários dando

* Doutorando em História e Sociedade - Universidade Estadual Paulista (UNESP) Faculdade de Ciências e Letras

– Campus Assis. Bolsista CAPES, sob orientação do Prof. Dr. Antonio Celso Ferreira.

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informes e comunicando o andamento da vida na retaguarda. As mensagens eram “intituladas”

pelo nome do expedicionário ao qual ela se destinava e a enorme maioria é assinada por

mulheres da família do combatente (mães, esposas, irmãs, tias, madrinhas etc.). É bastante

comum haver uma ou mais fotos nessa seção, mais frequentemente de crianças, sendo que

algumas os pais estão a ver pela primeira vez.

No que diz respeito ao funcionamento institucional da LBA, foi estabelecido uma

espécie de convênio entre o governo federal e as confederações nacionais das indústrias e do

comércio, assim ficou estabelecido uma contribuição compulsória de empregados e

empregadores (1% e 2%, respectivamente, dos salários recebidos e da folha de pagamento) para

o financiamento das atividades da LBA em todo o Brasil. Liderada por Darcy Vargas, a LBA

se espalharia por todo o país, majoritariamente capitaneadas pelas primeiras-damas estaduais e

territoriais. Terminada a guerra, a instituição se concentraria, exponencialmente, no amparo à

maternidade e à infância.

A partir de 1946, a LBA e seu Boletim ganham novas funções, uma vez que a guerra

findara no ano anterior e todos os combatentes brasileiros já haviam retornado ao país, desse

modo, a instituição passou a priorizar o combate à mortalidade infantil e a proteção à

maternidade e à infância, inclusive com uma ampla reforma em seus estatutos (Boletim...,

março.1946). Com a saída de Getúlio Vargas do poder, em outubro de 1945, Darcy Vargas

deixou a presidência da LBA; estas mudanças promoveram inclusive um intervalo na

publicação do Boletim entre novembro de 1945 e março de 1946. Quando de seu retorno, a

LBA já se encontrava sob a presidência de Carmela Dutra, esposa do General Eurico Gaspar

Dutra e primeira-dama do Brasil, assim como já possuía novo escopo:

Art. 3º. A LBA tem por principal finalidade a defesa da maternidade e da infância

através da proteção à família, procurando por todos os meios a racionalização de

diretrizes e de ação tendentes a um perfeito aproveitamento da assistência social em

suas diversas formas. (Boletim..., n.18, março.1946, p.1)

Nos novos estatutos, como acima destacado, há uma mudança no propósito da atuação

da LBA, com clara ênfase na proteção à infância e à maternidade, o que significa expressivas

medidas no sentido de “proteção da família”, como procuraremos mostrar mais adiante.

Contudo, ainda nos novos estatutos, há um posicionamento da LBA, especificamente, acerca

do papel da mulher na sociedade: “§1º: A base de seu programa de ação será a educação da

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mulher, preparando-a para exercer seus deveres e assumir suas responsabilidades para com a

família e a sociedade.” (Boletim..., n.18, março.1946, p.1). Assim, podemos perceber como a

LBA pautou sua atuação, majoritariamente, na educação das mulheres brasileiras no sentido de

reforçar a “essência maternal”, ou seja, entendendo a participação feminina na sociedade por

meio de sua maternidade, destacando que esta maternidade deveria ser adequada aos ditames

da maternidade moderna ou científica. Tal investimento foi justificado pela necessidade de se

preservar a infância brasileira, consumida e desgastada pela miséria e marginalidade, como

frequentemente apontavam as matérias do Boletim.

Uma preocupação bastante latente nas primeiras décadas do século XX no Brasil, eram

as elevadas taxas de mortalidade infantil, porquanto se entendia que tal situação comprometia

o futuro da nação. “A elevada mortalidade infantil, em particular, mostrava-se inaceitável para

a sensibilidade das elites urbanas reformistas e incompatível com os anseios republicanos de

ordem e progresso, o que alçou a maternidade ao centro dos debates da sociedade”

(ROCHACOUTINHO, 1994, p.89).

Os médicos, higienistas e assistentes sociais começam a ditar as regras para a

medicalização e modernização da maternidade, criando a figura da mãe-cientista para cuidar do

recém-nascido. A medicina científica sai dos hospitais e salas de cirurgias e invade os lares. A

higiene do lar – especialmente daqueles espaços ocupados pelo bebê –, traduzida em medidas

como a penetração solar, o ar fresco, a alimentação equilibrada, os exercícios físicos, a higiene

mental; deveria estar no repertório da mãe moderna, transformada em verdadeira cientista cujo

laboratório era o próprio lar. “A única regra que não gerava dúvida era aquela que delegava à

mulher a responsabilidade irrestrita e contínua de ‘guardiã’ da saúde dos seus filhos, amparada

pela ciência” (FREIRE, 2009, p.142). É importante destacarmos que o processo de

“treinamento” das mulheres para atuarem no âmbito moderno e científico da maternidade se

deu, além dos centros de saúde e periódicos destinados às mulheres, também por meio das

escolas com as “disciplinas para moças”, isto é, disciplinas ditas de interesse feminino

(LOURO, 2010).

No começo do século, as disciplinas de psicologia, puericultura e higiene escolar

passaram a integrar os currículos de várias escolas. Na verdade, esses campos

vinham ganhando prestígio nas últimas décadas, buscando demonstrar tanto o

desenvolvimento normal das crianças, como as formas mais adequadas e mais

modernas de trata-las. Os cuidados afetivos, a alimentação, a prevenção e o trato de

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doenças e a higiene dos pequenos passavam pelas novas descobertas e conceitos

científicos (ROSEMBERG, 2012, p. 457).

Desse modo, formou-se firmemente uma separação entre o saber leigo ou popular e o

saber médico-científico, como fica evidente na resposta do cronista Aluízio França à carta de

uma leitora da Gazeta do Povo em Curitiba no ano de 1935: “Estou vendo por traz de sua carta

uma velha coróca de tocado e capinha de crivo na cabeça a deitar sabedoria. Dessas, que sem

outro o que fazer, andam de casa em casa correndo via sacra, a filar chás e distribuir conselhos”

(FRANÇA, 1935, p.2 apud GANZ, 1997, p.,185). Estabelecia-se uma declarada batalha contra

os saberes populares, vistos como sinais de atraso e vilões no tocante à mortalidade infantil e

materna.

Estabelecendo uma clivagem entre o saber médico e o saber leigo das mães, os

médicos desqualificaram qualquer prática ou experiência que não tivesse fundamento

científico e profissional. As mães são vistas com desconfiança e culpabilizadas pela

mortalidade infantil, mas também são merecedoras da atenção e dos cuidados

médicos. Como as crianças, as mães precisam ser educadas e os médicos atribuem a

si essa tarefa por meio de um conjunto de práticas e de uma metodologia própria cujo

objetivo é, em síntese, a normalização da maternidade (MARTINS, 2008, p.143).

A esse movimento, apontado por Ana Paula Vosne Martins (2008) de culpabilização

das mães pela grande mortalidade infantil, seguiram-se os projetos de educação das mesmas,

em conformidade às proposições da ciência, em especial da puericultura. É sob essa perspectiva

que queremos analisar as edições do ano de 1951 do Boletim da Legião Brasileira de

Assistência.

1951: entre o retorno do mito e a popularização da puericultura

O ano de 1951 marcou o retorno dos Vargas ao cenário político nacional. Getúlio Vargas

havia sido eleito senador em 1946, elegendo-se Presidente da República em 1950, com posse

em janeiro de 1951. Assim o sendo, sua esposa, Darcy Vargas, foi reconduzida ao posto de

presidente efetiva da LBA. A edição de Fevereiro de 1951 (n.64) do Boletim da Legião

Brasileira de Assistência foi completamente composta por matérias em homenagem à

presidente da LBA, sendo, propriamente a capa desse número inteiramente ocupada por uma

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foto de Darcy Vargas acompanhada pelo seguinte texto: “HOMENAGEM Á SENHORA

DARCY SARMANHO VARGAS”.

De acordo com as páginas do Boletim, houve grande euforia com o possível retorno de

Darcy Vargas à LBA. Segundo a publicação, os funcionários da instituição organizaram grande

campanha para que dona Darcy fosse reconduzida ao cargo, estes elaboraram um comissão e

passaram a percorrer os jornais e rádios da cidade. O Boletim concluiu que:

Voltando à L.B.A., d. Darcy atenderá aos anseios de milhares de necessitados, que

nela vêem uma esperança de melhores dias. Estão assim de parabéns os funcionários

da Legião e os pobres de todo país, pelo retorno de d. Darcy Sarmanho Vargas à

Presidência efetiva da Legião Brasileira de Assistência (Boletim..., n.64, fev.1951)

Assim, em fevereiro daquele ano o Conselho Deliberativo da LBA escolheu por

unanimidade a senhora Darcy Sarmanho Vargas para o posto de Presidente Efetiva da Legião

Brasileira de Assistência. Poucos dias depois se deu a posse da nova presidente que, segundo o

Boletim, revestiu-se de uma “verdadeira apoteose”. Pelas fotografias que ilustram as

reportagens, verifica-se uma grande concentração de pessoas ao redor da primeira-dama. No

texto, o então presidente da instituição se referiu ao feitio simples e retraído da homenageada e

a seu pedido para uma solenidade simples, no entanto, que fora vontade do povo, em especial

dos legionários, elaborar tamanha festividade. Destacou João Daudt de Oliveira: “O resultado

aí está, nestas salas repletas e nestas fisionomias alegres. Foi totalmente inútil o propósito de

conter o entusiasmo com que todos se apresentaram a festejar sua volta à Presidência da

Legião.” (Boletim..., n.64, fev.1951, p.6).

O mito Darcy Vargas é construído desde as edições de 1945. Seu espírito abnegado, sua

pronta doação aos mais necessitados e, especialmente, seu distanciamento da cena pública,

mesmo quando projetada a ela. O papel de “mãe da nação” ficou mais evidenciado a partir de

2 de fevereiro de 1943, quando morreu Getúlio Vargas Filho, o “Getúlinho”, filho caçula do

casal Vargas. O laço de Darcy com as mulheres brasileiras se fortaleceu, pois “era um momento

em que as mulheres brasileiras – as mães, as esposas e as filhas – estavam perdendo seus pais,

maridos e irmãos [...]” (SIMILY, 2008, p.70) em razão da formação dos batalhões brasileiros

para a guerra. Darcy sucumbiu à dor e ao luto e retirou-se da vida pública, afastando-se da

presidência da LBA até outubro daquele ano. Em seu retorno, estava estabelecida fortemente a

representação de sua maternidade coletiva, assim como a imagem de uma mãe incansável que

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lutava para salvar os filhos. Em uma matéria do periódico “O Radical” de 16-2-1950, transcrita

no Boletim de fevereiro de 1951, o jornalista Caio Miranda em um texto intitulado “A Santa”

relata:

Encontrei-a [Darcy Vargas] um dia nessa missão sublime. Estava ao lado do fogão,

na casa do Pequeno Trabalhador. Lá fora, duas mil e duzentas crianças aguardavam

a refeição que se elaborava. Meus olhos não quiseram acreditar naquilo que não

podiam ver bem, pela névoa insopitável das lágrimas nascentes. Contrito, beijei

religiosamente aquelas santas mãos. (Boletim..., n.64, fev.1951, p.10)

Outro jornalista a comparou à Princesa Isabel, uma vez que ambas “[...] trilham estradas

paralelas, escapadas pelo mesmo altruísmo, alcafiadas por idênticas benemerências, que se

conduzem ao panteon da gratidão popular.” (Boletim..., n.64, fev.1951, p24). Tais

representações míticas de Darcy Vargas permanecerão pungentes ao longo dos anos, como

destaca-se em outras edições dos Boletins1. Essa edição de fevereiro de 1951 faz ainda um

retrospecto por meio de imagens dos anos anteriores, sobretudo do período da guerra, e da

atuação da LBA, exaltando sua importância e a participação eficaz da presidente Darcy Vargas.

Em sua primeira mensagem ao povo brasileiro, como, mais uma vez, Presidente Efetiva

da LBA, Darcy Vargas destaca que “Iniciamos uma dura fase de trabalhos para a consecução

de programas indispensáveis à proteção efetiva da Maternidade e da Infância em nossa terra.”

(Boletim..., n.64, fev.1951, p.9), enfatizando a nova fase da LBA, bastante voltada para as

questões da mortalidade infantil e também materna.

Associada ao projeto modernizador, a maternidade, ainda que intrinsecamente

vinculada à natureza feminina, rompia as fronteiras da esfera doméstica e adquiria

um novo caráter, de missão patriótica e função pública. Ser mãe não significaria

apenas garantir filhos ao marido, mas cidadãos à pátria. (FREIRE, 2009, p.21)

Para que essas condições de uma maternidade moderna, bastante calcada nas práticas

médico-científicas, pudessem se formar era necessário uma educação maior das mulheres.

Usar e fazer ciência: este seria o novo papel social da mãe moderna. O argumento

da modernidade era sistematicamente invocado pelos articulistas para justificar as

novas práticas – científicas e racionais – opondo-se àquelas tradicionais, baseadas

1 Nossa tese de doutorado – ainda em processo de construção –versa, especificamente, sobre os discursos sobre a maternidade e a puericultura nos Boletins da LBA no período de 1945-1964, desta maneira, nos foi possível perceber tais construções acerca da imagem de Darcy Vargas ao longo dos anos.

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em costumes, crendices e superstições, consideradas em sua maioria maléficas,

seguindo o esquema explicativo da oposição binária entre atraso e progresso, instinto

e técnica, crença e conhecimento. (FREIRE, 2009, p.128)

Uma das principais ações, de acordo com tal propósito, é uma exaltação do papel

desempenhado pela medicina: “O médico vai dar a última palavra” (Boletim..., n.72, nov.1951,

p.6). Nesse sentido, vai se estabelecer uma clivagem, como já destacado por Ana Paula Vosne

Martins (2008), entre o saber popular e o saber médico-científico, tal oposição será bastante

caracterizada pela depreciação sistemática das parteiras e das chamadas “curiosas”, mulheres

da comunidade que auxiliavam durante as gestações e também nos partos, mas sem

conhecimentos técnicos.

A parteira, e sobretudo a “curiosa”, aí estão casos que exigem precauções, quanto à

idoneidade e competência. mesmo assim, em tal caso, convém ter sempre em vista um

médico, para a hipótese de sobrevir qualquer surpresa desagradável. [...] A parteira

improvisada é sempre um perigo, e grave perigo (Boletim..., n.72, nov.1951, p.6),

Desse modo, avultou-se a importância da puericultura, como conjunto de técnicas e

saberes médicos-científicos que incide sobre a mãe e o bebê, ao longo do período do puerpério.

No entanto, vê-se que a medicalização da gravidez e da maternidade inicia-se na própria

gestação. Em matéria de Setembro de 1951 intitulada “Maternidade e Puericultura”, Boletim

destaca que:

A maternidade foi sempre considerada, pelos antigos mestres, como o estado normal

da mulher entre 20 e 40 anos. [...] Atualmente, as jovens mães deverão tomar maiores

precauções para não prejudicarem sua saúde e poderem dar ao mundo crianças

sadias que elas mesmas possam alimentar. É de grande utilizada lembrar às jovens

mães que durante estes nove meses, durante os quais elas têm a felicidade de trazer

seu filho, ser-lhes-á necessário levar uma vida a mais sã possível em benefício de

ambos. (Boletim..., n.70, set.1951, p.13)

A maternidade continua sendo o “estado normal” da mulher, a propalada “essência

feminina”, o seu papel por excelência, no entanto, é preciso que o a medicina incida sobre esse

estado a fim de garantir o pleno desenvolvimento e assegurar o futuro da nação. Seguindo os

ditames da medicina, o Boletim agia para que a Puericultura se propagasse.

[...] quando analisamos a capacidade dos homens na tarefa de realizar filhos tão

perfeitos quanto possível, vamos encontra-la ainda numa fase primitiva, cheia de

empirismos e de rotina. Não entrou ainda para as cogitações de nossa gente a

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moderna técnica da puericultura, que é a arte de criar crianças sadias, e que só pode

ser realizada pelo técnico especializado ou seja o médico. (Boletim..., n.71, out.1951,

p.4, grifo nosso)

Interessante pensarmos no processo de expansão do papel e das funções dos médicos, e

além disso no processo de consolidação desse papel como inalienável, ou seja, ninguém mais o

poderia desempenhar. O que não impedia, evidentemente, que as concepções médico-

científicas tivessem reservado um lugar especial para a mulher-mãe, como um agente treinado

das medidas médico-científicos: “[A mãe] Deve ter sempre presente que não é médica, que

ignora a medicina, que não sabe fazer um diagnóstico, que não pode optar, com conhecimento

de causa, por tal ou qual terapêutica. É excelente que ela tenha consciência de sua incapacidade

nesse particular. (Boletim..., n.72, nov.1951, p.9). O que Boletim, enquanto um propagador

dessas perspectivas, enseja apresentar é que “A mãe deve ser enfermeira e, na generalidade dos

casos, possui ou adquire rapidamente as qualidades de uma excelente enfermeira; mas nem por

isso é médica.” (Boletim..., n.72, nov.1951, p.9). Maria Martha Luna Freire em sua obra

“Mulheres, mães e médicos: o discurso maternalista no Brasil” procurou mostrar, por meio das

revistas femininas da primeira metade do século XX, como se deu o processo de construção da

aliança entre mulheres e médicos, sendo que aquelas eram transmutadas ao papel de auxiliares

desses.

Ao propiciar às mulheres instrumentos que lhes permitissem acompanhar de forma

racional o crescimento dos filhos, colaborando, portanto, para que adquirissem

aparente autonomia no assunto, os médicos evidenciavam a afinidade de interesses

mútuos quanto à relevância das ações de proteção à saúde das crianças – em sua

dimensão de valor cívico, econômico e social – justificativa suficiente para uma

atuação conjugada, de colaboração e parceria. (FREIRE, 2009, p.177).

A autora é também bastante clara em mostrar que as revistas femininas e seus articulistas

também impunham uma luta ferrenha contra o que chamam de ignorância, isto é, os saberes

populares. Em Boletim tal pauta aparece também de forma contundente.

Com base na supremacia da razão sobre a emoção – e nesse plano ganhando sua

legitimidade – a puericultura oferecia amplo e diversificado estoque de ensinamentos

técnicos para guiar a conduta das mulheres na criação de seus filhos, em substituição

aos “antigos” dogmas religiosos ou palpites de curiosas, vizinhas ou avós,

considerados perniciosos e “arcaicos”. (FREIRE, 2009, p.127)

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É indispensável, portanto, através de uma sistemática campanha educativa, lutar

contra o terrível mal que é a ignorância, derrubando preconceitos, incutindo noções

básicas, orientação, esclarecimentos e conselhos, no sentido de que as crianças

possam nascer e crescer sadias e que possam apresentar condignas condições de

vida. É a grande finalidade da Puericultura. (Boletim..., n.63, jan.1951, p.32, grifo

no original)

A luta se dá contra a ignorância, como destacou Boletim em seu texto “Aspecto

educativo da proteção á maternidade e á infância” na edição de Janeiro de 1951. A educação

das jovens e das mães em geral foi o grande mote de atuação da LBA no ano de 1951 –

continuaria a ser por toda a década de 1950 –, o que se deu, sobremaneira, por meio da

realização de cursos de puericultura. Esses cursos eram realizados tanto em igrejas, centros

comunitários ou nos postos de puericultura e maternidades que a LBA almejava instalar por

todo o Brasil2. Segundo o Boletim “A finalidade dos Cursos de Puericultura é instruir as mães,

como devem criar bem os filhos, a fim de torna-los sadios e fortes.” (Boletim..., n.66,

abril/maio/1951, p.8).

O problema só pode ser resolvido se fôr encarado de frente. Façamos a puericultura

individual, disseminando por todo o Brasil centros de puericultura onde o técnico

oriente as mães na sua nobre missão de criar filhos sadios. [...] Finalmente, façamos

a puericultura social, em larga escala, instituindo cursos elementares de puericultura

para as meninas dos últimos anos das escolas primárias, e cursos médios para as

ginasianas, normalistas e senhoras da sociedade. (Boletim..., n.71, outubro/1951,

p.4)

As noções de puericultura são divulgadas não apenas por meio dos cursos que a LBA

estimula e desenvolve por todo o território nacional, mas também – e sobretudo – por meio do

Boletim da Legião Brasileira de Assistência. As páginas da publicação oficial da LBA servem

para propagar as técnicas e conteúdos médico-científicos considerados fundamentais para o

bom desenvolvimento do pequenos brasileirinhos. São publicados artigos sobre as mais

diversas temáticas, mas sempre versando sobre um cuidado maior com o desenvolvimento das

crianças e atenção fundamentalmente voltada para as técnicas modernas da puericultura.

O objetivo maior da divulgação de tais pressupostos nas páginas do Boletim é sem

dúvida pôr fim à “ignorância” e à influência negativa dos costumes e hábitos tradicionais, como

já destacamos que tal “batalha” já se dava nas primeiras décadas do século XX com as revistas

2 No final dos anos 1950 o então presidente da LBA Dr. Mário Pinotti lançou uma campanha visando construir –por meio de uma parceria entre a LBA e as prefeituras – um posto de puericultura em cada município brasileiro.

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femininas. Vejamos um exemplo na edição de Janeiro de 1951 do Boletim da Legião Brasileira

de Assistência, um texto assinado por Dr. Newton Potsch, médico puericultor que ao longo dos

anos ocupou diversos cargos na administração da LBA. Sobre a dentição, Potsch fala:

Encontra-se na velha literatura pediátrica a descrição de um grande número de

doenças que seriam acarretadas pela dentição. É crença popular e bastante

arraigada, que a dentição provoca uma série de doenças. [...] Devemos, pois tornar

bem claro, que a dentição é um fenômeno fisiológico, próprio do desenvolvimento e,

por isto, incapaz de por si só determinar qualquer tipo de doença. (Boletim..., n.63,

janeiro/1951, p.2)

As doenças inclusive ocupam boa parte dos artigos, revelando uma profunda

preocupação, sobretudo, em face do elevado índice de mortalidade infantil. Há artigos como

“Mães: cuidado com a varicela de vossos filhos” (Boletim..., n.67, jun.1951), denotando a

atenção redobrada com as doenças infecciosas. Importante destacar – mesmo não podendo nos

ocupar de tal temática no presente texto – a concentração da responsabilidade pela educação e

saúde das crianças como sendo exclusivamente das mães, uma vez que vários texto, como o

supracitado, dirigem-se exclusivamente às mães. Outra doença que representava grande

preocupação é a sífilis.

A incidência a lues é muito grande em nosso meio, ela é doença por demais traiçoeira.

A gestante às vezes com a saúde perfeita sem nenhuma anomalia, pode ser portadora

de sífilis. Toda mãe sifilítica que não tratar terá filhos sifilíticos. As pesquisas têm

demonstrado que 97% das luéticas têm filhos com sífilis congênita. [...] o tratamento

e assistência pré-natal impõe-se como uma das mais urgentes e salutares medidas de

assistência médico-social à coletividade. Somente uma ignorância muito grande, um

desleixo imperdoável ou uma pobreza acentuada podem explicar a existência da

sífilis congênita. (Boletim..., n.65, março/1951, p.10, grifo nosso)

Nessa passagem podemos ver expressos os preceitos mais comuns da abordagem

médico-cientifica da maternidade e da puericultura promovida pela LBA, ou seja, a importância

e preponderância da ação do médico, a ignorância como a grande vilã e a mãe como a grande

protagonista nessa luta. Mas a incidência das técnicas e conhecimentos médicos-científicos

modernos se dava também nas práticas mais banais do dia-a-dia, como o banho (“O banho” in

Boletim..., n.72, novembro/1951, p.13), o sono (“O sono do bebê” in Boletim..., n.68,

julho/1951, p.3), a tosse (“Nenenzinho está com tosse” in Boletim..., n.68, julho/1951, p.15), o

banho de sol (“Vida ao ar livre ... Sol...” in Boletim..., n.70, setembro/1951, p.3) e alimentação

(“Comam cenouras” in Boletim..., n.73, dezembro/1951, p.18), entre tantos outros temas e

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artigos que o espaço exíguo e o escopo desse texto não comportam. Desse último exemplo,

retiramos uma passagem ilustrativa: “O médico já disse muitas vezes à gestante que coma

cenoura. Muitas vezes às crianças que comam cenoura. Cenoura cozida, cenoura assada, e até

mesmo, aos bebês, cenoura raspada. É um alimento de primeira ordem. Contém muita

vitamina.” (Boletim..., n.73, dezembro/1951, p.18). A alimentação foi alvo de grande

preocupação médica no período, mas também podemos observar a influência que esse discurso

médico-científico pretendia atingir na vida cotidiana.

Uma das práticas mais recorrentes nas ações da LBA nesse período, que pudemos

observar por meio das edições do Boletim, são os concursos de robustez. Muito comuns – não

só por realização da LBA, mas também de diversas instituições – os concursos de robustez são

organizados no sentido de averiguar o desenvolvimento infantil e, por fim, premiar aquele ou

aquela que tivesse se desenvolvido de forma mais saudável e completa. É bastante frisado que

não ganha o bebê mais gordo ou maior em tamanho, e sim o mais saudável, e para isso era

importante ter frequentado periódica e sistematicamente o posto de puericultura e ter sido

amamentado ao peito, entre outros critérios. Assim destacou o Boletim: “Com ela [a cerimônia

do concurso de robustez], tem a L.B.A. em vista estimular as mães brasileiras, premiando-as

pela dedicação com que se houveram na criação de seus filhos segundo as regras da moderna

puericultura.” (Boletim..., n.72, novembro/1951, p.11).

Por fim, como já destacado, é importante ressaltarmos que, de acordo com o Boletim da

Legião Brasileira de Assistência, a preocupação maior da ação da entidade era a formação e a

preservação de brasileiros do futuro, assim sendo, a infância vista como a promessa de um país

futuro. “E vai assim a L.B.A. executando seu alto e nobre programa de assistência, estímulo e

encorajamento às mães, para que amanhã possamos ufanar-nos de uma geração mais forte,

portanto em condições de melhor servir à Pátria.” (Boletim..., n.67, jun./1951, p.12), pois, como

já destacado, era vexatório para as elites nacionais que o Brasil se pretendesse uma nação

moderna e ainda portasse elevados números de mortalidade infantil e materna:

Verdade é que preocupa a média da mortalidade materna nas capitais: 6,3 por mil.

Isto quer dizer que morrem, anualmente no país, 7.938 mães na flor da idade. [...]

Não basta, a nosso ver, dar filhos ao Brasil. Faz-se mister dar-lhe filhos robustos

para que bem possam amanhã entrar com seu quinhão na obra ímpar de nos

bastarmos a nós mesmos (Boletim..., n.72, novembro/1951, p.01)

À guisa de conclusão

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Como conclusão a esse texto, queremos refletir brevemente sobre as implicações desses

discursos no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade. A mãe é catapultada à principal

personagem social, sobre ela recaíam os cuidados com os futuros cidadãos nacionais.

Êsses jovens simbolizam a Nação em armas. Por debaixo de sua farda, porém

pulsa um coração e está um sentimento. Pensam de onde vieram: de um lar.

Quem os fêz assim garbosos e afoitos: a mãe. Antes da instrução do Estado,

sabem que tiveram a instrução desde o colo materno. (Boletim..., n.72,

novembro/1951, p.07)

O papel da mãe, que não transmite só a vida, mas todo o patrimônio moral e

espiritual da humanidade, é imenso. É dela que dependem a vida do lar e por

isso mesmo a da sociedade inteira (Boletim..., n.67, junho/1951, p.9)

De acordo com Maria Lúcia Mott, mulheres “[...]defendiam que a maternidade lhes

atribuía qualidades específicas, naturais, para o desempenho de determinadas atividades,

sobretudo aquelas destinadas ao bem-estar das mães e das crianças, e que era seu dever, face à

nação, desempenha-las.” (MOTT, 2001, p.229). Esse discurso maternalista pode ser

considerado conservador e responsável pela perpetuação da subordinação das mulheres aos

homens, uma vez que atrela a mulher à maternidade, exaltando-a como marca indelével da

feminilidade, e consequentemente ao espaço do privado. Exaltada enquanto constituidora da

essência feminina, a maternidade carrega traços autoritários, visto que compele as mulheres a

serem mães, independentemente de sua vontade (MOTT, 2001).

Se procurarmos a essência da maternidade, chegaremos à submissão. Submissão não

é passividade, mas rendição a um amor mais alto. A mulher aguarda a côrte, um

chamado, um objeto de dedicação. A natureza humana repele a idéia de uma mulher

se oferecer, porque a missão dela é ser procurada. A natureza da mulher é a

aceitação.

A MÃE é também a “Rainha da Paz”. Mais do que a força, é também a tranquilidade

que faz a felicidade. Ela é a defensora dos silêncios. A guerra é feia, a paz é bela. A

casa bem arrumada, as crianças bem arranjadas, a mesa bem posta, tudo isso são

exteriorizações do amor de mãe pela beleza e um sinal de sua reverência pelo sentido

sagrado da criação. Mas onde este amor à beleza melhor se revela é na educação do

caráter dos filhos. (Boletim..., n.67/junho/1951, p.20)

Muito claro o processo de (re)elaboração de um discurso de uma essência feminina,

bastante ligada à maternidade, chamado maternalismo (MOTT, 2001). Ao passo que esse

maternalismo permitiu muitas vezes às mulheres o acesso ao espaço público, sobretudo, em

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função de profissões consideradas adequadas ao sexo feminino, como o magistério, a

enfermagem e as práticas filantrópicas (MOTT, 2001).

O que se quer, efetivamente, é demonstrar a incidência das práticas médico-científicas

sobre os corpos femininas e suas práticas, mormente, no que concerne à gravidez e à criação

dos filhos.

A gestação é um fenômeno fisiológico, porém, mau grado ser um fenômeno de ordem

fisiológica, ela não dispensa a assistência precoce e contínua do obstetra. É

necessário repetir que a gestante desde o início da sua gestação, deverá colocar-se

sob a assistência e vigilância do seu médico. (Boletim... n.65.Março/1951 p.11, grifo

nosso)

Boletim é bastante claro ao dizer que a gestante deve colocar-se sob a vigilância do

médico, ele ditará a sua conduta. Recordamos Foucault que procurou demonstrar que “O

controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou pela

ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico, no somático, no corporal que,

antes de tudo, investiu a sociedade capitalista.” (FOUCAULT, 1979, p.80).

Usar e fazer ciência: este seria o novo papel social da mãe moderna. O argumento

da modernidade era sistematicamente invocado pelos articulistas para justificar as

novas práticas – científicas e racionais – opondo-se àquelas tradicionais, baseadas

em costumes, crendices e superstições, consideradas em sua maioria maléficas,

seguindo o esquema explicativo da oposição binária entre atraso e progresso, instinto

e técnica, crença e conhecimento. (FREIRE, 2009, p.128).

Assim, crianças e mulheres foram tomadas como um meio para se alcançar um objetivo

maior: a construção de uma nação moderna no Brasil. As práticas e saberes populares

entendidas como signo do atraso e de uma nação ultrapassada, eram sistematicamente

substituídas por técnicas modernas. Um dos discursos mais presentes nos boletins da LBA é a

cientifização da diversão, do aprendizado e dos espaços de lazer. A construção de uma país

mais moderno, passava, via de regra, por uma construção de uma infância moderna.

Não basta que a criança coma com apetite, faça uma excelente digestão, tenha saúde,

bons músculos e lúcida inteligência. Falta alguma coisa mais, e essa “alguma coisa

mais” é uma atitude de nervos, uma atitude de espírito e uma atitude moral que

autorizem a esperarmos dela uma brasileiro à altura do Brasil (Boletim..., n.67,

jun.1951, p.13).

Não basta a criança ser criança, é preciso ser uma criança moderna.

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