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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA MESTRADO ACADÊMICO EM PSICOLOGIA A PSICOLOGIA JUNTO AO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA: UM ESTUDO HISTÓRICO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Andresa Petter Machado Santa Maria, RS, Brasil 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

MESTRADO ACADÊMICO EM PSICOLOGIA

A PSICOLOGIA JUNTO AO

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA:

UM ESTUDO HISTÓRICO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Andresa Petter Machado

Santa Maria, RS, Brasil

2013

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A PSICOLOGIA JUNTO AO

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA:

UM ESTUDO HISTÓRICO

Andresa Petter Machado

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de

Pós-Graduação em Psicologia, Área de Concentração em Psicologia da Saúde,

da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),

como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Psicologia.

Orientadora: Profª. Dra. Beatriz Teixeira Weber

Santa Maria, RS, Brasil

2013

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Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,

aprova a Dissertação de Mestrado

A PSICOLOGIA JUNTO AO

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA:

UM ESTUDO HISTÓRICO

elaborada por

Andresa Petter Machado

como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Psicologia

COMISSÃO EXAMINADORA:

___________________________________

Beatriz Teixeira Weber, Dr.ª (Presidente/Orientadora)

_________________________________________ Alberto Manuel Quintana, Dr. (UFSM)

_________________________________________

Nikelen Acosta Witter, Dr.ª

Santa Maria, 25 de outubro de 2013.

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Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo

o impossível.

(São Francisco de Assis)

Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.

(Rubem Alves)

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Agradecimentos

À Universidade Federal de Santa Maria, em especial aos docentes do Programa de

Pós-graduação em Psicologia, pelos conhecimentos repassados e oportunidade de

desenvolvimento profissional no transcorrer deste percurso.

À Profa. Beatriz Teixeira Weber, pelo acolhimento, carinho, paciência, confiança e

suporte necessário para a realização deste trabalho;

À banca examinadora, pelas contribuições realizadas.

Ao Hospital Universitário de Santa Maria, por consentir o desenvolvimento da

pesquisa. E a equipe e colegas de trabalho, pelo apoio e compreensão que me foram

dispensados!

Aos depoentes, por compartilharem as suas experiências e trajetórias profissionais.

Muito obrigada! A colaboração de vocês foi fundamental para a realização deste estudo.

A todos os profissionais que me orientaram e auxiliaram nesta trajetória, em especial,

quanto à busca documental junto ao Arquivo Permanente do HUSM, ao Departamento de

Arquivo Geral e à Biblioteca Central da UFSM.

Aos colegas de mestrado, pela amizade, parceria, trocas de conhecimento e de

vivências. Compartilhar desta trajetória com vocês foi extremamente importante e muito

gratificante. Obrigada pelo carinho, acolhida e momentos de descontração! Em especial,

agradeço as colegas Daniela Trevisan Monteiro e Martha Noal pela, confiança e empréstimo

de materiais.

À Viviane Ziebell de Oliveira e à Leodi Conceição Meireles Ortiz pelo carinho, apoio

e incentivo para o ingresso no mestrado.

À Rosimara Pozada de Freitas, por tudo que me possibilitou conhecer, compreender e

desenvolver.

Às amigas Juciane Pavi, Magda Poerschke, Eveline Fávero e Marilena Petter, pela

amizade, carinho, apoio, momentos de descontração, trocas de experiências e pela

compreensão das minhas ausências...

À minha família, em especial, aos meus pais e irmãos, pelo carinho, apoio, paciência,

compreensão e incentivo na busca dos meus objetivos e da minha realização pessoal e

profissional. Muito obrigada!

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RESUMO

Dissertação de Mestrado

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Universidade Federal de Santa Maria

A PSICOLOGIA JUNTO AO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA

MARIA: UM ESTUDO HISTÓRICO

Autora: Andresa Petter Machado

Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Teixeira Weber

Local e Data da Defesa: Santa Maria, 25 de outubro de 2013.

A escassez de estudos sobre a inserção de psicólogos em hospitais gerais é assinalada

pela literatura. A semelhança de outras instituições, o Hospital Universitário de Santa Maria

(HUSM) igualmente evidencia esta carência, revelando a necessidade do desenvolvimento de

pesquisas de natureza histórico-social. Este estudo teve o objetivo de resgatar e documentar a

história das atividades desenvolvidas pela Psicologia no HUSM. Ainda, se propôs a

contextualizar e reunir elementos que pudessem promover a compreensão dos serviços

psicológicos oferecidos, e a análise de sua expansão, no período de 1970 a 2012. Uma

pesquisa qualitativa, de natureza histórico-social foi realizada. Foram coletados depoimentos

orais de onze psicólogos que trabalharam na referida instituição em diferentes momentos do

período considerado. Paralelamente, também foram consultadas bibliografias relativas à

temática e documentos. Através deste estudo buscou-se: contribuir para o registro,

conhecimento e compreensão dos exercícios profissionais em psicologia; preservar a memória

de pessoas e da instituição e fornecer subsídios para a discussão e reflexão da origem de

nossas práticas, colaborando, assim, para avaliações e futuras implementações.

Palavras-chave: Psicologia; Hospital; História oral.

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ABSTRACT

Master Degree Essay

Psychology Post Graduation Program

Federal University of Santa Maria

PSYCHOLOGY IN THE UNIVERSITY HOSPITAL OF SANTA MARIA:

A HISTORICAL STUDY Author: Andresa Petter Machado

Advisor: Profa. Dra. Beatriz Teixeira Weber

Presentation place and date: Santa Maria, October 25th, 2013.

The lack of studies about the introduction of psychologists in general hospitals is

marked by the literature. Like other institutions, the University Hospital of Santa Maria

(HUSM) also presents this need, revealing the necessity of developing a social-historical

research. This study has the goal of recovering and documenting the history of the activities

developed by Psychology in HUSM. Yet, the proposal is to contextualize and bring together

elements to promote the comprehension of the psychological services offered and analyze its

expansion, during 1970 to 2012. A qualitative social-historical research was realized. Oral

statements were collected from eleven psychologists who worked in this institution in

different moments of the study period. At the same time, biographies related to the subject

and documents were also consulted. The intent of this study is to contribute for the register,

knowledge and comprehension of the psychology professional activity, to preserve the

memory of people and institution and to provide subsidies for the discussion and reflection

about the origin of our practical, collaborating, in this way, for evaluations and future

implementations.

Key-words: Psychology; Hospital; Oral history.

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LISTA DE SIGLAS

AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ASPES – Associação Santa-mariense Pró-Ensino Superior

CCS – Centro de Ciências da Saúde

CE – Centro de Educação

CIHCOT – Comissão Intra-Hospitalar de Captação de Órgãos e Tecidos

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CCSM – Centro Comunitário de Saúde Mental

CNDO - Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos

CRH – Coordenação de Recursos Humanos

CTCRIAC – Centro de Tratamento da Criança e Adolescente com Câncer

CTMO – Centro de Transplante de Medula Óssea

DAG – Departamento de Arquivo Geral / UFSM

DAH – Departamento de Administração Hospitalar

EBESERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

FATEC - Fundação de Apoio à Tecnologia e a Ciência

FIDEPS - Fundo de Incentivo ao Desenvolvimento de Ensino e Pesquisa em Saúde

HCAA – Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

HU – Hospital Universitário

HUSP – Hospital Psiquiátrico

HUSC – Hospital Universitário Setor Centro

HUSM- Hospital Universitário de Santa Maria

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

LTS – Licença Tratamento Saúde

NOPEM – Núcleo de Orientação Psicopedagógica ao Estudante de Medicina

PUC – Pontifícia Universidade Católica

P. S. – Pronto Socorro

SDI – Serviço de Doenças Infecciosas

SERDEQUIM – Serviço de Recuperação de Dependentes Químicos

SHO – Serviço de Hemato-oncologia

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SOA – Serviço de Orientação e Acompanhamento

SSST – Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador

SUS – Sistema Único de Saúde

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

REHUF - Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais

UCPEL – Universidade Católica de Pelotas

UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UPA – Universidade de Porto Alegre

UTI – Ad – Unidade de Tratamento Intensivo Adulto

UTI – NEO – Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal

UTI-PED – Unidade de Tratamento Intensivo Pediátrica

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LISTA DE APÊNDICES

Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Apêndice B – Roteiro de Entrevista

Apêndice C – Diretorias Executivas do HUSM

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 130

MÉTODO ................................................................................................................... 16

Algumas informações sobre a História Oral .............................................................. 16

Participantes ................................................................................................................. 19

Procedimentos ............................................................................................................... 20

Análise dos dados .......................................................................................................... 22

Apresentação dos dados ............................................................................................... 23

Considerações Éticas .................................................................................................... 23

Riscos e benefícios ......................................................................................................... 24

O HUSM ENQUANTO CENÁRIO HISTÓRICO ...................................... 25

O nascimento da Universidade Federal de Santa Maria .......................................... 25

O hospital de ensino da UFSM .................................................................................... 28

A PSICOLOGIA: O SURGIMENTO, OS PERSONAGENS E AS

PRÁTICAS. ............................................................................................................... 45

O início ........................................................................................................................... 46

Do Sistema Hospitalar ao hospital unificado: a inserção dos psicólogos................. 52

Sobre (não) estruturar o serviço no hospital .............................................................. 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 84

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 87

APÊNDICES ............................................................................................................. 95

Apêndice A .................................................................................................................... 96

Apêndice B .................................................................................................................... 98

Apêndice C .................................................................................................................. 100

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INTRODUÇÃO

Inicialmente, os contatos entre Psicologia e Medicina ocorreram quase que na

totalidade entre psicólogos clínicos e psiquiatras, limitados às funções psicodiagnósticas.

Posteriormente, e embora ainda relacionados ao psicodiagnóstico, os encaminhamentos

também passaram a ser feitos por profissionais de outras especialidades, tais como a pediatria,

neurologia, obstetrícia e a endocrinologia. No entanto, com a ampliação do papel do

psicólogo para além das funções diagnósticas, e consequente extensão dos contatos, a

Psicologia passou a ser desenvolvida também nos hospitais, de tal modo que o psicólogo foi

inserido nos quadros funcionais dessas instituições. E, nesse sentido, a inserção do psicólogo

se deu primeiramente nos hospitais psiquiátricos e, depois, nos hospitais gerais. Assim, a

primeira referência que se teve do psicólogo em uma equipe multiprofissional e no ambiente

hospitalar ocorreu no Hospital McLean, uma instituição psiquiátrica, fundada em 1818, em

Massachusetts, nos Estados Unidos (ROMANO, 2001).

Embora uma grande maioria dos estudos considere o trabalho da psicologia em

hospitais como sendo algo recente, no Brasil, a história da psicologia assemelha-se às

tendências acentuadas no exterior. A literatura (ANGERAMI-CAMON, 1992; ROMANO,

2001, NEDER, 2003; SILVA, 2006) sinaliza que as primeiras atividades psicológicas

desenvolvidas em hospitais aconteceram na década de 1950. Cronologicamente, as primeiras

inserções ocorreram em hospitais psiquiátricos de Porto Alegre e Rio de Janeiro e, em

hospital geral (nas clínicas de pediatria e reabilitação) em São Paulo (ROMANO, 2001).

Tais aspectos vão ao encontro daqueles apontados por Silva (2006), de que os

primeiros registros de psicólogos atuando nessa instituição datam de 1954, ou seja, são

anteriores à regulamentação da própria profissão no país. Segundo Silva, Tonetto & Gomes

(2006): “até então, os profissionais que exerciam atividades de caráter psicológico eram

formados em outras áreas das ciências humanas, tais como pedagogia, filosofia ou ciências

sociais”. No entanto, esses profissionais costumavam recorrer aos cursos de especialização,

realizar estágios na área ou mesmo fazer uma formação em outros países como o propósito de

complementar a formação em Psicologia.

Sobre o desenvolvimento de atividades psicológicas em hospitais gerais, ressalta-se

que, já na década de 50, Matilde Neder iniciava atividades de atendimento preparatório

durante o processamento cirúrgico e na pós-cirurgia junto ao Instituto de Ortopedia e

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traumatologia do Hospital das Clínicas em São Paulo (NEDER, 2003). No entanto, foi

somente em 1983, novamente em São Paulo, que ocorreu o I Encontro de Psicólogos da Área

Hospitalar, movimento considerado o marco histórico, ao agregar profissionais da área.

Desde então, o trabalho de psicologia clínica em hospitais tem crescido intensamente.

Muitas mudanças ocorreram neste cenário nos últimos 30 anos. Uma delas é que desde o ano

de 2000 a área foi reconhecida como uma especialidade pelo Conselho Federal de Psicologia.

Outro avanço importante remete a fundação da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

(SBPH), em 1997, que tem contribuído para o fortalecimento da atuação do psicólogo na área.

O objetivo da SBPH consiste em “ampliar o campo de conhecimento científico e promover

cada vez mais o profissional que se dedica a esse campo” (ISMAEL, 2005, p. 20). A crescente

procura de estágios em hospitais durante a graduação, a realização de eventos, congressos,

jornadas, publicações, realização de inúmeras pesquisas são alguns elementos que evidenciam

esta realidade.

Frente a esse cenário, faz-se imprescindível resgatar a história percorrida pela

Psicologia em hospitais, o seu surgimento, os seus personagens e as suas práticas. Existem

alguns trabalhos que dão conta desse histórico focalizando, porém, as atividades executadas

no centro do país – mais especificamente em São Paulo – local por onde a prática psicológica

começou a se inserir nos hospitais gerais do Brasil (SILVA, 2006).

A entrada do psicólogo no ambiente hospitalar tem sido foco de muitos estudos

(TONETTO; GOMES, 2005; CASTRO; BORNHOLDT, 2004; FOSSI; GUARESCHI, 2004;

GORAYEB, 2004, MARCON, LUNA; LISBOA, 2004). Os estudos também têm investigado

as exigências e particularidades da prática do psicólogo nesse contexto (TONETTO; GOMES,

2005; TONETTO; GOMES, 2007a; TONETTO; GOMES, 2007b). Alguns estudos retratam a

história da inserção dos psicólogos nos hospitais gerais (NEDER, 2003; PEREIRA, 2003;

SILVA, 2006), mas, de modo geral, a literatura brasileira ainda evidencia uma carência de

registros nesse aspecto.

O trabalho realizado por Romano (1999) aproxima-se da questão do histórico das

atividades desenvolvidas pela psicologia em hospitais gerais. A autora fez uma revisão sobre

o trabalho do psicólogo em hospitais brasileiros de 1987 a 1997, apontando para o seu

avanço, mas também para aspectos a serem implantados e outros, revistos, nestas práticas. No

Rio de Janeiro, através de um resgate histórico, Pereira (2003) igualmente buscou

compreender a inserção do psicólogo em hospital geral, ao estudar o caso do Hospital

Servidores do Estado.

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A partir dos trabalhos pesquisados, o que se percebe é que, inicialmente, a entrada dos

psicólogos em hospitais gerais ocorreu de modo isolado, cada profissional atuando em

unidades específicas. Em meados da década de 1980, a literatura se referia aos esforços de

psicólogos na criação de serviços de psicologia em hospitais (ANGERAMI, 1983;

CARVALHO, 1986, citados por SILVA, 2006). A essa altura, observa-se a inclusão gradativa

do psicólogo em equipes de saúde. Até então a colaboração desses profissionais ocorria de

maneira esporádica e não sistemática. Um estudo realizado por Romano, em 1987, observou

que naquela época, a maioria dos psicólogos hospitalares estava concentrada nos estados de

São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais (ROMANO, 1999; ISMAEL, 2005).

Com relação à terminologia “Psicologia Hospitalar”, é importante ressaltar a mesma

tem sido utilizada para fazer referência ao trabalho dos psicólogos em hospitais gerais no

Brasil, desconhecendo-se o uso desta nomenclatura em outros países. Além disso, versa em

uma especialidade exclusivamente brasileira (CASTRO; BORNHOLDT, 2004) e em uma das

áreas de atuação do psicólogo cujo interesse parece ter aumentado significativamente nos

últimos anos (SILVA, 2006).

De acordo com Marin (2003), a Psicologia Hospitalar consiste no conjunto de

contribuições científicas, educacionais e profissionais das diversas áreas da Psicologia para

melhor assistir aos pacientes no âmbito do hospital. Além disso, o autor expressa que o

psicólogo hospitalar consiste naquele profissional que articula estes conhecimentos e técnicas

para uma sistemática e coordenada implementação e melhoria na assistência ao paciente, não

se limitando ao período de internação. Segundo ele, a ação do psicólogo deve seguir a

perspectiva do novo conceito integral de saúde. Portanto, devem ser considerados os aspectos

fisiológicos, psicológicos, sociais e os fatores ambientais e relacionais que contribuem para a

melhor qualidade de vida possível ao paciente, durante o processo de adoecimento, tratamento

e recuperação da saúde.

Sobre a função do psicólogo no hospital, Simonetti (2004), afirma que o papel deste

profissional consiste em “reposicionar o sujeito em relação a sua doença” (p. 20), acionando

um “processo de elaboração simbólica do adoecimento” (p. 19). Nesta perspectiva, Ismael

(2005) ressalta que a Psicologia é a ciência que se ocupa da análise, predição e alteração de

fatores que comprometem o comportamento e que, na área da saúde, visa à promoção e

conservação do bem estar físico e emocional, a prevenção e o tratamento de doenças, e a

identificação de correspondentes etiológicos e diagnósticos em saúde mental. O âmbito

hospitalar consiste em uma das possibilidades de intervenção do psicólogo da saúde.

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O psicólogo hospitalar também pode ser considerado como sendo aquele que exerce o

seu trabalho como um clínico, a beira do leito e diretamente voltado para o enfermo

(ROMANO, 1999). Embora o trabalho seja direcionado ao doente, o familiar/acompanhante

do paciente hospitalizado bem como os demais integrantes da equipe de saúde igualmente são

beneficiados pelos serviços psicológicos prestados (OLIVEIRA; SOMMERMAM, 2008;

ISMAEL, 2005; ROMANO, 1999). Ainda, alguns autores (MARIN, 2003; ROMANO, 1999)

afirmam que, no âmbito hospitalar, muitas vezes a atuação do psicólogo é considerada

somente em termos assistenciais. Contudo, eles chamam a atenção para que o psicólogo

também desenvolva atividades de ensino e pesquisa, já que estas igualmente fazem parte dos

objetivos e consistem nas tarefas de muitos hospitais. Qualquer outra forma de inserção do

psicólogo, que não esteja inteiramente direcionada para o paciente e o seu curso de adoecer,

será do “psicólogo em hospital” (ROMANO, 1999, p. 25). Ou seja, a situação, por exemplo,

de psicólogos que trabalham nos Recursos Humanos de um hospital. Neste caso, segundo a

autora, a formação destes profissionais deve ser em Psicologia Organizacional.

Para o desenvolvimento de seu trabalho no hospital, a autora supracitada ressalta a

importância do psicólogo em desenvolver as atividades assistenciais por meio de programas.

Para tanto, faz-se necessário definir os objetivos, os métodos, os instrumentos e os resultados

assistenciais a serem atingidos. Neste sentido, a partir de uma revisão de literatura, Murta,

Laros & Tróccoli (2005) esclarecem que programa consiste em uma intervenção sistemática,

voltada para um amplo grupo de pessoas. O seu objetivo versa em gerar mudanças sociais,

educacionais ou em saúde. Assim, desenvolver as suas atividades por meio de programas

assistenciais revela-se, conforme expressam Besteiro & Barreto (2003) em um meio do

psicólogo e serviço de psicologia em cumprir as suas funções quanto ao cuidado psicológico

junto aos pacientes do hospital.

No que remete aos trabalhos desenvolvidos por psicólogos, nos hospitais gerais do Rio

Grande do Sul pode-se dizer que algumas publicações dão conta de ilustrar estas práticas.

Entre elas, Peruffo e Sant’Anna (1989) descreveram suas experiências na estruturação do

Serviço de Psicologia do Grupo Hospitalar Conceição, situado em Porto Alegre.

Posteriormente, Silva (2006), em sua dissertação, estudou a história da constituição do

Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, igualmente situado na capital

gaúcha. Recentemente, Machado (2009) também se ocupou em resgatar e compreender a

trajetória da Psicologia junto a um programa, deste mesmo hospital, voltado para assistência

de um grupo de pacientes portadores de fibrose cística. No entanto, a escassez de registros

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históricos sobre a inserção do psicólogo em hospitais gerais no estado revela a necessidade do

desenvolvimento de pesquisas de natureza histórico-social.

Conhecer a história percorrida pela Psicologia em hospitais consiste em uma forma de

entender o movimento da área (Psicologia Hospitalar) no Brasil. E, de acordo com Pereira

(2003), o reconhecimento do psicólogo junto à equipe de saúde perpassa pelo conhecimento

histórico desse campo de atuação. No entanto, não há como conhecer a inserção e trajetória da

Psicologia junto ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) sem perpassar pela

história do próprio hospital e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Atualmente, o HUSM consiste em uma referência em saúde para a região central do

estado. A semelhança dos demais hospitais do Rio Grande do Sul, a instituição igualmente

evidencia escassez de registros acerca dos serviços psicológicos oferecidos. Diante disso e das

referências supracitadas, o presente trabalho teve a intenção de conhecer e analisar a inserção

dos psicólogos (as) no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e a trajetória por eles

percorrida na instituição, bem como reconstruir e documentar a história das atividades

assistenciais desenvolvidas pela Psicologia junto ao Hospital Universitário de Santa Maria

(HUSM). Ainda, visou reunir elementos que promovessem a compreensão acerca dos serviços

psicológicos existentes e a análise de sua expansão.

O interesse pela temática em questão surgiu a partir de algumas vivências profissionais

da pesquisadora. O primeiro contato com a área ocorreu durante o estágio da graduação,

realizado no Hospital Casa de Saúde, instituição em que não havia um psicólogo inserido.

Posteriormente, durante a formação em Psicologia Hospitalar, e a partir do estágio curricular,

realizado no Serviço de Psicologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), surgiu o

desejo de conhecer e compreender o processo de inserção do psicólogo em hospitais gerais.

Recentemente, o desenvolvimento das atividades profissionais da pesquisadora junto ao

HUSM, há cerca de cinco anos, evidenciou tal necessidade, intensificando a importância de

aprofundar o conhecimento da temática, por meio deste estudo.

O desenvolvimento de um estudo histórico sobre as origens do campo de atuação da

Psicologia Hospitalar se faz relevante à medida que fornece alguns elementos para a

compreensão de aspectos que se fazem presentes, sejam conflitos, sejam em determinar ou

proteger o espaço de atuação (PEREIRA, 2005).

Conforme Gauer e Gomes (2002), os estudos historiográficos contribuem para o

presente, à medida que convidam à reflexão ética sobre as ações e omissões frente à

administração de entidades e instituições relacionadas ao ensino, à pesquisa, ao fomento e a

prática profissional em Psicologia.

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Nesse sentido, a função primordial do estudo historiográfico é prover dados para

discussão e reflexão da origem de nossas práticas e posições teóricas, contribuindo para

avaliações e futuras implementações. Além disso, serve como um estímulo à preservação da

memória de pessoas e instituições e ao estudo histórico de outras unidades de análise que

poderão oferecer subsídios para comparações e para que se esboce, por exemplo, um perfil de

desenvolvimento da psicologia no estado (GAUER, 2001).

Através do desenvolvimento deste trabalho, esperou-se reconstruir e documentar a

história da prática da psicologia junto ao HUSM, bem como reunir informações que

possibilitassem subsidiar a análise da expansão e/ou compreensão dos serviços psicológicos

oferecidos. Ainda, considerando que o HUSM incide em uma referência em saúde para a

região centro do Rio Grande do Sul (RS), acredita-se que a realização deste estudo contribui

para o registro, análise, compreensão e o desenvolvimento das práticas psicológicas em

hospitais gerais no interior do Rio Grande do Sul.

O texto apresentado a seguir está dividido em três capítulos. O primeiro deles introduz

o método adotado para o desenvolvimento do estudo, a História Oral. O segundo capítulo

versa sobre a história da instituição Universidade Federal de Santa Maria, sendo observado

um planejamento acerca da universidade e do próprio hospital universitário. Contudo, com

relação a este último, identifica-se uma carência quanto à descrição e detalhamento dos

cargos, setores e serviços do futuro hospital de ensino, revelando o cenário em que a

psicologia estaria sendo inserida. Esta ausência de descrição e especificação das atividades e

setores se estende a Psicologia na medida em que não foram identificadas as expectativas e

motivos que teriam demandado a inserção de psicólogos no hospital. A partir dos

depoimentos e da pouca documentação passível de se ter acesso, o último capítulo apresenta a

trajetória dos psicólogos que atuaram no hospital universitário, delineando o percurso da

Psicologia na instituição. Por fim, são apresentadas algumas considerações sobre o tema.

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MÉTODO

Este capítulo apresenta uma breve revisão bibliográfica acerca do método adotado

para a realização deste estudo. Posteriormente, descreve a trajetória metodológica percorrida,

os participantes do estudo e os procedimentos realizados, tanto na coleta quanto na análise dos

dados.

Algumas informações sobre a História Oral

Desde o início da civilização, os relatos orais representavam um valioso recurso para a

transmissão de informações acerca das experiências sociais ou mesmo de divulgação dos

conhecimentos obtidos. No entanto, a busca pela solidificação das ciências no mundo

contemporâneo tentou apagar a marca deixada pela tradição oral. Assim, uma vez que não se

apresentava através de documentos, esta não era considerada científica. Para a elaboração dos

trabalhos históricos, os documentos eram considerados imprescindíveis (JUCÁ, 2001).

O modelo de documento histórico eleito pela tradição historiográfica do século XIX

foi o testemunho escrito, neutro, considerado como sendo fidedigno. Sob este ponto de vista,

os depoimentos representariam um testemunho subjetivo, falível, de fidedignidade duvidosa

e, portanto, passariam a ser considerados como fonte secundária e de reduzido valor histórico.

Deste modo, pouca credulidade era dada aos depoimentos escritos, sendo que os depoimentos

orais eram praticamente ignorados (GOMES, SANTANA; 2010). Considerava-se que o

testemunho subjetivo comprometia a sonhada verdade histórica a ser atingida (JUCÁ, 2001).

A pesquisa em História e Ciências Sociais teve como referência o paradigma

estruturalista, sendo que este foi um dos entraves mais significativos para a expansão da

metodologia da história oral, uma vez que a perspectiva da época valorizava o estudo da

estrutura social em detrimento do cotidiano. Sendo assim, relatos pessoais, de histórias de

vida e biografias eram desqualificados, pois se considerava que as percepções e as intuições

dos participantes dos estudos não detinham relevância como dado para a análise (CASSAB;

RUSCHEINSKY, 2004).

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Foi em 1948, nos Estados Unidos, que as primeiras experiências relativas à História

Oral foram registradas. Inicialmente, por meio de entrevistas realizadas com lideranças

políticas e, depois, envolvendo grandes empresários e representantes dos meios de

comunicação. Nesse sentido, o surgimento da História Oral contemporânea, nos Estados

Unidos, deu-se em decorrência da concentração de recursos não apenas nas universidades,

mas também em órgãos governamentais e dos meios de comunicação, que incentivavam o

desenvolvimento de análises sociais e históricas. Mas foi na década de sessenta que ocorreu o

despertar da História Oral, no momento em que os centros de estudos dedicados a ela se

alastraram e quando a American History Association, passaria a publicar a revista, em 1973

(JUCÁ, 2001).

No início dos anos setenta, a ampliação do interesse pela História Oral ganhou uma

nova extensão, chegando à Europa. Na Inglaterra, historiadores, antropólogos e sociólogos

dedicavam-se a uma inovação na história social, sendo a temática central, o cotidiano dos

trabalhadores, as suas condições de vida com algo mais além do trabalho. Na Alemanha, a

História Oral se voltava à memória de guerra, ou mesmo do movimento operário, sempre

visando dar espaço aos menos favorecidos. Na França, a História Oral passava a ser abordada

em algumas universidades que se dedicavam ao estudo da vida cotidiana e das manifestações

culturais. Na Itália, embora desde os anos cinquenta os intelectuais se dedicassem às

entrevistas como recurso para melhor compreender a história dos camponeses e operários, foi

especialmente na década de setenta que a História Oral amadureceu, durante a busca da

memória operária (JUCÁ, 2001).

Nos anos oitenta, a História Oral foi reconhecida no Congresso Internacional das

Ciências Históricas, vindo a ser prestigiada no meio acadêmico, em diferentes países. Além

disso, esta metodologia passou a ser divulgada através do International Journal of Oral

History (JUCÁ, 2001).

No Brasil, a atividade pioneira no uso da História Oral remete aos anos setenta,

quando o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil –

CPDOC – da Fundação Getúlio Vargas/ Rio de Janeiro, iniciou suas atividades de pesquisa na

área da História Política Contemporânea. Desde esse período, o CPDOC passou a ser núcleo

de referência dos interessados na nova metodologia empregada, apontada como detentora do

modelo e da experiência prática nas técnicas de elaboração de entrevistas, sendo estas

consideradas como novas fontes capazes de ampliar o universo das temáticas propostas

(JUCÁ, 2001). Porém, foi somente no começo dos anos noventa que ocorreu a expansão mais

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significativa da História Oral. Segundo Amado & Ferreira (2002), a concepção da Associação

Brasileira de História Oral, em 1994, bem como a publicação de seu periódico instigaram a

discussão entre pesquisadores e simpatizantes da história oral em todo o país. Além disso,

desde então, importantes eventos, como os Encontros Nacionais e os Encontros Regionais de

História Oral tem sido realizados, ilustrando a recente produção na área.

De acordo com Alberti (2000), a História Oral incide em um método de pesquisa e de

constituição de fontes para o estudo da história contemporânea e que versa na realização de

entrevistas gravadas com atores e testemunhas do passado. Em um primeiro momento, a sua

aplicação se dava principalmente nos campos da sociologia e da antropologia e na

constituição de bancos de entrevistas. Atualmente, a História Oral é um método claramente

multidisciplinar, praticada por historiadores, antropólogos, sociólogos, folcloristas, cientistas

políticos, educadores e psicólogos, entre outros. Além disso, este método se presta a

interesses acadêmicos, pedagógicos, arquivísticos e terapêuticos. Existem diversas correntes e

modos de abordagem e possibilidades diferenciadas de objetos de estudo. No Brasil e no

mundo, os praticantes da história oral se encontram em congressos periódicos, publicam

artigos em revistas especializadas e reúnem-se em torno de associações.

A história oral consiste em um moderno recurso metodológico, utilizado para a

elaboração de documentos, arquivamento, e estudos relativos à experiência social de pessoas

e de grupos. Trata-se de um método que se presta ao estudo do tempo presente, ou seja, de

acontecimentos recentes. “Ela (a História Oral) é sempre uma história do tempo presente e

também reconhecida como história viva” (MEIHY, 2000, p. 25). Sendo assim, a história oral

tem sido utilizada para documentar a história de pequenas comunidades, permitindo a

manifestação de interpretações próprias, diversas e não oficiais de segmentos populacionais

menores, excluídos, silenciados ou desprezados (MEIHY, 2000; SILVA, 2006).

Outra contribuição do método da história oral é fornecer informações impossíveis de

serem adquiridas de outro modo (documentos escritos), embora não deva ser considerada

apenas como um recurso substitutivo para as carências de documentos. Embora possa

contribuir para preencher vazios documentais ou lacunas de informações, é válido destacar

que ela pode ser assumida como método – isoladamente – e basear-se na “análise das

narrativas para a observação de aspectos não revelados pela objetividade dos documentos

escritos” (MEIHY, 2000, p. 27).

A história oral implica o acesso a depoimentos de pessoas, os quais, por sua vez,

implicam em recordações. Uma das principais desvantagens deste método remete a não

confiabilidade da memória. No entanto, convicções pessoais, preconceitos, interesses,

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envolvimento pessoal e emocional consistem em aspectos que perpassam por depoimentos e

que podem ser considerados na análise/compreensão dessa história (MEIHY, 2000), não

invalidando a realização do estudo.

Considerando que o método da história oral só se presta ao estudo e reconstrução de

temas recentes, este método implica o acesso a fontes testemunhais. Para tanto, é necessário

que os possíveis entrevistados estejam vivos e acessíveis, disponíveis, em condições físicas e

mentais. Desenvolver um estudo desta natureza recorrendo a fontes testemunhais consiste

num modo de se aproximar do objeto de estudo e de documentar uma versão do passado,

através da reconstrução da história conforme concebida por quem a vivenciou (ALBERTI,

1990).

Diante das referências supracitadas e visando alcançar o objetivo proposto para o

desenvolvimento deste estudo, foi adotado o método da História Oral, através da coleta de

depoimentos temáticos (ALBERTI, 1990; MEIHY, 2000).

O presente estudo consistiu no desenvolvimento de uma pesquisa qualitativa, de cunho

descritivo-exploratório e histórico-social. O objetivo da pesquisa foi o de conhecer e analisar

a inserção dos psicólogos junto ao Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e a

trajetória por eles percorrida na instituição.

Para a realização da pesquisa, o período demarcado compreendeu deste a fundação do

HUSM (1970) até a atualidade (2012), perpassando pela trajetória percorrida pelos

entrevistados na referida instituição.

Participantes

Para a realização deste estudo, foram ouvidos onze psicólogos (atualmente vinculados

ou não à instituição), que desenvolveram atividades assistenciais junto ao HUSM, em

diferentes momentos do período considerado. O conjunto de depoimentos coletados totaliza

cerca de doze horas e vinte e três minutos de gravação (12:23’). O período demarcado para

tematizar com os depoentes compreendeu desde a fundação do HUSM, em 1970 até a

atualidade (2012). A escolha e delimitação dos participantes consideraram os objetivos do

estudo.

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Procedimentos

A escolha dos participantes seguiu os propósitos do estudo, considerando o método

escolhido, no caso, a “História Oral”. Conforme proposto por Alberti (1990), o método sugere

a realização de um estudo exploratório com a finalidade de reconhecer o campo, de identificar

os profissionais que seriam entrevistados e de verificar a existência de impedimentos graves

que inviabilizem a participação dos mesmos enquanto depoentes. De acordo com a autora, a

realização deste estudo inicial faz-se importante, uma vez que a pesquisa está sujeita a

circunstâncias que podem modificar o rumo do trabalho, sendo necessário considerar as

seguintes possibilidades: 1) de determinadas pessoas se negarem a prestar depoimento sobre o

assunto ou de que estejam excessivamente ocupadas para cederem parte de seu tempo à

realização de entrevistas; 2) de que no decorrer da pesquisa surjam novos “nomes”, antes

desconhecidos, cujos depoimentos passem a ser fundamentais para a construção da análise; e

3) de que a listagem venha a ser alterada, em virtude do desempenho do entrevistado não

conseguir corresponder às expectativas iniciais – devido à reduzida disposição em narrar a sua

experiência, a sua memória ou mesmo a articulação do pensamento, do grau de contribuição

de determinado depoimento para o conjunto da pesquisa.

No desenvolvimento deste estudo, tais aspectos foram cuidadosamente avaliados,

sendo que algumas intercorrências foram enfrentadas. Foram elas: 1) a necessidade de elevar

o número de informantes da pesquisa em relação à expectativa inicial, considerando que

alguns dos depoentes entrevistados referenciaram o nome de outro, para participar do estudo;

2) a dispersão físico-geográfica de alguns dos informantes, sendo necessário proceder à coleta

das entrevistas em outros municípios; 3) a dificuldade no agendamento de algumas entrevistas

devido à disponibilidade e particularidades profissionais dos informantes; e 4) apesar de não

ser, a priori, a intencionalidade do projeto, foi necessário realizar uma pesquisa documental

não sistemática, visando subsidiar a melhor compreensão, contextualização e análise do

fenômeno estudado. Diante de algumas dificuldades dos entrevistados em dispor ou em

precisar algumas informações, alguns dos depoentes entrevistados apontaram alternativas para

o acesso a tais dados.

Em nosso estudo inicial foram identificados oito depoentes em potencial. No entanto,

à medida que os depoimentos eram coletados, um dos depoentes nos forneceu uma relação em

que constava o nome de alguns psicólogos que haviam trabalhado na instituição; outro

sugeriu que a pesquisadora solicitasse, junto a Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFSM,

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uma listagem dos psicólogos que trabalharam no hospital. Esta sugestão foi acolhida e um

ofício foi encaminhado a Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFSM. No entanto,

surpreendentemente, quando comparada, a relação que nos foi fornecida pela instituição com

aquela fornecida por um dos depoentes, observou-se que a mesma não abarcava a todos os

psicólogos, os quais se tiveram notícias, que trabalharam na instituição. A este fato relaciona-

se que muitas das informações dos setores e arquivos da UFSM são antigas e anteriores a

informatização do serviço e acabaram se dispersando diante de outras situações (mudança de

cargo/setor; a contratação de profissionais terceirizados, etc.).

A partir das relações fornecidas pela Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFSM,

pelos entrevistados e de informações de conhecimento da própria pesquisadora, decorrentes

do exercício profissional na instituição, foram identificados doze possíveis depoentes – sendo

que grande parte deles não atua mais no hospital. E destes ex-servidores, ressalta-se que

apenas o contato de um deles foi repassado à pesquisadora, por um dos participantes, à

medida que os depoimentos estavam sendo coletados.

Em vista da falta de informações acerca do contato de tais ex-servidores, foi iniciada

uma busca pelas mesmas na internet, pesquisando por seus nomes junto aos sites Google,

Plataforma Lattes CNPQ (busca por currículo lattes) e rede social Facebook. A busca foi

realizada visando localizar, contatar e convidar os possíveis depoentes a participarem do

estudo. Através desta busca na rede, foi constatado que ao menos dois ex-servidores já

haviam falecido; e outro profissional, cuja coleta do depoimento presencial se tornava

inviável à pesquisadora, devido à distância, foi proposta a coleta do depoimento escrito.

Apesar de uma resposta positiva ter sido dada num primeiro momento, posteriormente a

concessão deste depoimento não se confirmou. Sendo assim, no desenvolvimento deste

estudo, foram ouvidos onze psicólogos, de ambos os sexos, que desenvolvem ou

desenvolveram atividades profissionais junto ao HUSM, em diferentes momentos do período

considerado.

Os profissionais foram contatados e convidados a participar do estudo. A participação

dos mesmos deu-se através de depoimentos temáticos, cujo foco compreendeu a experiência

profissional destas pessoas junto ao hospital. As entrevistas foram realizadas em local

conveniente aos entrevistados, obedecendo a critérios de privacidade e conforto. Ainda, foram

gravadas e transcritas na íntegra para posterior análise e construção de uma narrativa histórica

sobre a inserção e o desenvolvimento das práticas psicológicas no HUSM. Os depoimentos

foram classificados como D1, D2, D3, D4, D5, D6, D7, D8, D9, D10 e D11, conforme a

sequência em que os mesmos foram coletados. O material gravado permanecerá sob a guarda

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na sala 2105, do prédio 74 do campus da UFSM, sob a responsabilidade da professora

orientadora Beatriz Teixeira Weber, e será destruído após a realização do estudo. Para a

elaboração do texto historiográfico, por momentos, foram inseridas informações decorrentes

do exercício profissional (vivência) da pesquisadora na instituição. Neste sentido, foi utilizado

o código RP (o qual significa Relato da Pesquisadora), para sinalizar a procedência da

informação.

Paralelamente, foram consultadas bibliografias relacionadas à temática e documentos

como memorandos, Relatório de Gestões, Regimento Interno do HUSM, Regimento do

Departamento de Administração Hospitalar, relatórios de setor e serviço, ofícios e dossiês de

psicólogos, ex-servidores do HUSM/UFSM, os quais o depoimento oral seria de difícil ou

impossível acesso. Neste sentido, as buscas pelos documentos foram realizadas junto ao

Arquivo Permanente do HUSM, ao Departamento de Arquivo Geral (DAG) da UFSM e a

Coletânea da UFSM, localizada na Biblioteca Central da UFSM. As buscas documentais nos

Arquivo Permanente do HUSM e no DAG tiveram de ser feitas manualmente, contando com

a memória, conhecimento da organização local e disponibilidade dos servidores destes setores

para a agilidade das buscas, uma vez que os referidos acervos não se encontram

informatizados. Soma-se a isso o fato de que há grande dispersão dessa informação, o que

dificultou o acesso e desenvolvimento da pesquisa documental. Ainda, em meio às buscas

documentais não foram encontradas referências acerca do Departamento e/ou Curso de

Psicologia da UFSM, sinalizando a escassez de registros históricos neste sentido.

Análise dos dados

A análise dos dados envolveu uma síntese compreensiva dos acontecimentos, visando

à reconstrução e compreensão dos fatos históricos a partir do contexto considerado. A

transcrição do material possibilitou a visualização panorâmica e simultânea do conjunto das

entrevistas, contribuindo para que fossem identificadas as diversas informações sobre um

mesmo assunto. Foram procurados tópicos de concordância e discordância sobre os diversos

aspectos dos relatos. Demartini (1992, citado por CASSAB; RUSCHEINSKY, 2004) salienta

que somente com a comparação dos depoimentos é possível percebermos elementos

fundamentais à compreensão de determinadas situações. A compreensão e análise decorrem

não apenas do que foi dito, mas também do que não foi expresso pelos participantes.

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Conforme destaca Meihy (2000, p. 68), “o entrevistador pode e deve apresentar outras

opiniões contrárias e discuti-las com o narrador”. Sendo assim, as informações colhidas,

decorrentes das entrevistas, foram comparadas e apoiadas em fontes documentais, como

forma de complementar as informações obtidas.

Apresentação dos dados

No capítulo a seguir, os dados são apresentados por meio de uma narrativa histórica,

que foi elaborada a partir dos processos que caracterizam a inserção e o desenvolvimento do

exercício das atividades da psicologia na referida instituição. O texto envolveu uma síntese

dos acontecimentos, procurando reconstruir e compreender os fatos históricos a partir do

contexto em questão. Para a elaboração e apresentação do texto historiográfico, os dados

foram classificados considerando a cronologia dos acontecimentos, verificada pelas

informações individuais quanto pela comparação das entrevistas em si - principalmente

quando elas versaram sobre épocas semelhantes ou próximas – como também pelo apoio

documental.

Considerações Éticas

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da Pesquisa da Universidade

Federal de Santa Maria, sendo que somente após tal consentimento é que o estudo foi

iniciado. Foram respeitados os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), que normatizam as condições da pesquisa que

envolve seres humanos.

As pessoas que tiveram interesse em participar deste estudo foram informadas quanto

aos objetivos do mesmo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

- (apêndice A). Este documento esclarece as informações básicas sobre o estudo e destaca o

direito do participante em interromper a sua participação na pesquisa sem sofrer prejuízos de

qualquer espécie. Além disso, os participantes foram esclarecidos de que a identidade dos

depoimentos permanecerá preservada.

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Riscos e benefícios

O estudo não apresentou quaisquer riscos e benefícios financeiros diretos aos

participantes. Com relação a possíveis (des)confortos, ao participar da pesquisa os depoentes

entraram em contato com algumas de suas experiências emocionais anteriormente

vivenciadas. Alguns deles evidenciaram sensação de bem-estar diante da oportunidade de

falar sobre o seu trabalho e/ou a sua trajetória na instituição. Tais situações, bem como

aquelas que lhes tenham suscitado algum desconforto, foram compreendidas e acolhidas pela

pesquisadora.

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O HUSM ENQUANTO CENÁRIO HISTÓRICO

Neste capítulo, buscou-se conhecer os acontecimentos que culminaram com o

surgimento do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM). No entanto, não há como

conhecer esta trajetória sem perpassar pela história da própria Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM), a pioneira na interiorização do ensino superior no país. Optou-se fazer esse

relato para apresentar o contexto no qual a Psicologia foi inserida. A Psicologia enquanto um

dos serviços prestados no hospital, não possui nenhuma especificidade no organograma da

instituição. Este aspecto só fica evidente com a apresentação da história do hospital e dos

serviços por ele oferecidos.

O nascimento da Universidade Federal de Santa Maria

A Sociedade de Medicina de Santa Maria foi criada em 1931, sendo que a posse de

seu primeiro presidente – o Dr. Francisco Mariano da Rocha – foi realizada em 11 de março

daquele ano. Alguns meses após, em 30 de setembro, o então presidente da entidade, em uma

reunião da recém-fundada Sociedade de Medicina, demonstrava o interesse em criar, no

município, a Faculdade de Farmácia e Odontologia. A recente regulamentação da profissão

farmacêutica, ocorrida no ano anterior, somada a carência sentida pela classe médica, de

profissionais que pudessem auxiliá-la na manipulação e no receituário de medicamentos aos

pacientes, foram os fatores que impulsionaram para a criação do Curso de Farmácia – o qual

se reconhece como sendo “a mãe” da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, 2011).

Apreciada no dia seguinte, a mobilização culminou na criação da Faculdade de Farmácia do

município de Santa Maria. No entanto, naquele instante, entraves burocráticos e a falta de

profissionais especializados em odontologia dispostos a construir um curso superior na área,

em Santa Maria, impediram que a ideia original fosse levada adiante, não contribuindo para o

estabelecimento de uma faculdade que lecionasse ciências farmacêuticas e odontológicas –

(UFSM, 2011).

Em 27 de fevereiro de 1932, a instalação da faculdade de Farmácia foi concluída e

oficialmente inaugurada. A primeira turma concluiu o curso em 1935 e contava com sete

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formandos. O próprio Dr. Francisco Mariano da Rocha foi o primeiro diretor do curso, sendo

o seu vice-diretor, o Dr. Severo Evaristo Amaral. Até o ano de 1944, foram eles que dirigiram

a faculdade de Farmácia, quando então o professor Hélio Homero Bernardi foi o primeiro

farmacêutico a gerir o curso, nos anos de 1944 e 1945 (UFSM, 2011).

Nesta época, em 1942, o governo federal reconheceu a validade do diploma dos

farmacêuticos formados pela Faculdade de Farmácia de Santa Maria, quando esta se

encontrava em grandes dificuldades financeiras. A economia do país sofria recessão

econômica e o pessimismo gerados pela II Guerra Mundial (UFSM, 2011).

Paralelamente a estes acontecimentos, José Mariano da Rocha Filho, nascido em Santa

Maria, concluía seus estudos junto a Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Naquele mesmo

ano, ele, que era sobrinho do fundador, ingressava na Faculdade de Farmácia de Santa Maria

como professor universitário. Anos depois, em 1945, ele foi eleito diretor da faculdade,

permanecendo no cargo até 1960 (BARICHELLO, 1993). Na época, o curso era privado,

sendo a faculdade mantida com recursos financeiros decorrentes de investimentos de

empresários, da comunidade médica, dos alunos e suas famílias, além da comunidade santa-

mariense (UFSM, 2011).

Quando eleito diretor da Faculdade de Farmácia e em meio ao cenário das dificuldades

financeiras enfrentadas pela instituição, José Mariano da Rocha Filho promoveu uma

campanha em favor de sua anexação à Universidade de Porto Alegre (criada em 1934 pelo

Governador Flores da Cunha). Considerando que se tratava de uma ocasião propícia, já que –

após um longo período de governo totalitário - o país apresentava um movimento de

reestruturação nacional e de redemocratização com a promulgação das novas constituições

federal e estadual. E foi deste modo que o Dr. José Mariano da Rocha Filho deu início a um

dos propósitos por ele almejados: a luta pela interiorização do ensino superior no Estado do

Rio Grande do Sul (BARICHELLO, 1993).

Em 1947 José Mariano da Rocha conseguiu que a anexação das faculdades do interior

(Direito e Odontologia, de Pelotas e de Farmácia, de Santa Maria) à Universidade de Porto

Alegre (UPA), fosse incluída na Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, sendo que a

então UPA passaria a denominar-se Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

No entanto, as dificuldades ainda não haviam sido superadas: em decorrência da resistência

de grande parte dos docentes e da administração da UPA, a incorporação das faculdades do

interior não foi efetivada, apesar de incluídas na Constituição do Estado. Embora em julho de

1948 a Assembleia Legislativa tivesse aprovado o projeto de Lei, sancionado pelo

Governador Walter Jobim, em 4 de dezembro daquele mesmo ano, anexando as faculdades do

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interior a UPA, a lei estadual que tratava da incorporação perdia seu efeito, diante da

federalização da UPA para UFRGS. Foi somente dois anos mais tarde, após a renúncia do

Reitor, Armando Câmara, contrário a incorporação, e por meio de um projeto de lei

apresentado pelo deputado federal Antero Leivas, com este objetivo, que as faculdades do

interior finalmente foram incorporadas a UFRGS (BARICHELLO, 1993).

A integração e a federalização da Faculdade de Farmácia de Santa Maria à UFRGS foi

um passo fundamental para a interiorização do ensino superior federal, até então restrito as

capitais. Logo após, integrando o Conselho Universitário da UFRGS e contando com o apoio

dos excedentes da Faculdade de Medicina da UFRGS, em 1954, o Dr. José Mariano da Rocha

Filho conseguiu a autorização para o funcionamento do Curso de Medicina, anexo à

Faculdade de Farmácia. No ano seguinte, ele era indicado, em lista tríplice, para Reitor da

UFRGS e, em 1956 ele conseguia a criação da Faculdade de Medicina de Santa Maria

(BARICHELLO, 1993).

Em 1948, José Mariano da Rocha Filho fundava a Associação Santa-mariense Pró-

Ensino Superior (ASPES). Com isso, visava mobilizar a população e a comunidade santa-

mariense para a execução de um objetivo maior: a interiorização do ensino por meio da

criação de uma universidade. Frente à direção das ASPES e das Faculdades de Farmácia e

Medicina, outros cursos superiores foram sendo permitidos, criados e implantados,

principalmente no período compreendido entre 1950 e 1960. Entre estes, pode-se mencionar a

Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras

Imaculada Conceição e Escola Superior de Enfermagem. A primeira, contando com o apoio

da Congregação dos Irmãos Maristas, que aceitou ser a entidade mantenedora; as demais, por

meio do respaldo das irmãs franciscanas. Em 1959, a Faculdade de Direito também estava

autorizada a iniciar as suas atividades (BARICHELLO, 1993).

A partir da reunião das faculdades mencionadas, somadas as Faculdades de

Odontologia e Politécnica, que estavam sendo criadas naquele momento, em 14 de dezembro

de 1960, por meio da Lei Federal 3.834-c, e instalada em 18 de março de 1961, a

Universidade Federal de Santa Maria se tornava uma realidade (BARICHELLO, 1995;

ROCHA FILHO, 2011).

Em 1961, por meio do decreto nº. 49.439/61, o Presidente Juscelino Kubitschek

aprovava a concepção do quadro de pessoal da UFSM. Ainda, naquele mesmo ano, eram

instituídas as Faculdades de Veterinária e Agronomia, Faculdade de Filosofia Federal e a de

Belas Artes (BARICHELLO, 1993).

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No ano de 1945, o país dispunha de apenas cinco universidades; em 1950, elas já

somavam 15 universidades, todas situadas nas capitais dos estados da federação. E foi a partir

deste período que as universidades brasileiras tiveram uma expansão significativa,

especialmente nas décadas de 1960 e 1970 – resultado do movimento pela interiorização da

educação superior, liderado pelo projeto universitário de Santa Maria, o qual almejava pela

autonomia do interior e empoderamento dos indivíduos (ROCHA FILHO, 2011).

Com a sua criação, a UFSM emergia no cenário brasileiro como a primeira

universidade federal do interior do país. Com o propósito de viabilizar a sua construção, as

famílias Tonetto e Behr doaram 36,68 hectares de terra para a ASPES. Nos anos que

sucederam, vários Decretos foram lançados, unindo mais hectares para o local onde seria o

campus, até se chegar à área de 660 hectares (UFSM, 2011).

A área do campus abarcaria a construção de uma Cidade Universitária, - também

idealizada por José Mariano da Rocha Filho - a qual possibilitaria que as mais diversas áreas

do conhecimento se reunissem sob um mesmo espaço físico. Para tanto, foi formulado o

Plano Diretor. Este planejamento previa desde as ruas e avenidas até os sistemas de esgoto, de

distribuição de energia, água e áreas de lazer e viabilizou a arrecadação de recursos para as

edificações do campus. Além disso, o Plano Diretor demarcava as zonas urbana e rural da

cidade universitária. A área rural carecia de espaços mais amplos, devido a suas

particularidades. Já, a área urbana, compreenderia os prédios da biblioteca, do restaurante

universitário e dos alojamentos, além dos setores profissionais, cultural, de educação e de

administração e área médica e, dentre elas, o Hospital Universitário Campus, atualmente

denominado Hospital Universitário de Santa Maria (UFSM, 2011), cuja origem apresenta-se a

seguir.

O hospital de ensino da UFSM

Com a criação do Curso de Medicina, em 1954, surgia também à necessidade de um

hospital escola, que viabilizasse o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, por

meio da assistência à comunidade na área da saúde. (BARICHELLO, 1995; LIMA et. al.,

2005; LIMA et. al., 2010).

Até o momento da implantação da UFSM, a Faculdade de Medicina estava vinculada a

UPA. Naquele momento, os alunos experimentavam as suas práticas profissionais no único

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hospital da cidade, o Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo (HCAA), o primeiro a

funcionar com esta finalidade, por meio de um convênio estabelecido entre a instituição e a

UFSM (BARICHELLO, 1995; LIMA et. al., 2005; LIMA et. al., 2010; UFSM, 2011).

No entanto, a criação de uma rede hospitalar própria da UFSM era almejada pelo Dr.

José Mariano da Rocha Filho. Assim, no ano seguinte, em 1960, quando a UFSM foi fundada,

Mariano da Rocha Filho já demonstrara a intenção da universidade em construir um hospital

de ensino que se configurasse como uma referência no tratamento de uma ampla diversidade

de especialidades (ROCHA NETO, 1997).

Na década de 1950, as autoridades brasileiras tinham passado a dar uma especial

atenção à tuberculose. Em decorrência disso, as obras do Hospital Regional de Tuberculose

foram iniciadas no município. No entanto, anos após e durante longo período, a estrutura

(localizada próximo ao HCAA) foi abandonada em sua fase inicial, pelo governo do estado

(ROCHA NETO, 1997; LIMA et. al., 2005; UFSM, 2011).

A partir disso e com vistas a torná-lo um hospital de ensino da universidade, o Prof.

Mariano da Rocha Filho iniciou uma campanha a fim de que o Serviço Nacional de Combate

a Tuberculose doasse à UFSM a estrutura que se encontrava em fase inicial e que estava

abandonada (ROCHA NETO, 1997). Em 1959, por meio da lei 3.695, o Serviço Nacional de

Tuberculose firmava um acordo com a UFRGS para delegar-se a execução das obras do

Hospital Regional de Tuberculose em Santa Maria (ISAIA, 1997). No entanto, cerca de pouco

mais de um ano depois, a lei de n.º 3.958/61, delegava à UFSM permissão para executar as

obras abandonadas daquele hospital. Foi desta forma que a UFSM pode dar continuidade as

obras iniciadas no ano de 1960, em terreno abdicado pelo HCAA (ISAIA, 1997; ROCHA

NETO, 1997; LIMA et. al., 2005; LIMA et. al., 2010; UFSM, 2011). Surgia, assim, o

Hospital Universitário Setor Centro. Nos meses seguintes, estudos começaram a ser feitos

pela Reitoria da UFSM, a fim de avaliar o aproveitamento da área e adequá-la as funções de

um hospital universitário (ROCHA NETO, 1997; LIMA et. al, 2010).

Paralelamente a estes acontecimentos, em abril de 1961, o Plano Diretor e

Urbanização da Cidade Universitária eram aprovados pelo Conselho Universitário da UFSM.

A Companhia de Planejamentos Técnicos FOMISA foi quem executou o trabalho, o qual

também contou com os experientes arquitetos Oscar Valtetaro de Torres e Mello e Roberto

Madalutti, responsáveis também pelo planejamento dos hospitais de Clínicas (atual HUSM) e

de Neuropsiquiatria (posteriormente incorporado ao hospital geral; também conhecido e

denominado como Hospital Universitário Setor Psiquiátrico - HUSP), no Campus da UFSM

(ISAIA, 1997).

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Neste sentido, a construção de um Hospital de Psiquiatria para os estudantes de

medicina da UFSM se fazia necessário, já que a construção de uma unidade psiquiátrica junto

ao HCAA estava totalmente paralisada, gerando importantes prejuízos para a saúde da

população (que precisava se deslocar até a capital para receber atendimento) e para o ensino

médico. Em decorrência da deficiência de pessoal, da falta de material e do restrito número de

leitos - que não permitiam um ensino adequado e satisfatório, o Departamento de

Neuropsiquiatria era um dos menos atuantes, em relação aos demais da Faculdade de

Medicina. A viabilidade da construção de um Hospital Psiquiátrico junto ao Hospital Geral

foi verificada pelo Departamento de Saúde Mental da UFSM junto ao Diretor do

Departamento de Saúde Mental da Secretaria do Estado, que examinou, aprovou e apoiou a

proposta. Além disso, o hospital seria também a sede do Centro Comunitário de Saúde Mental

(CCSM), não somente de Santa Maria, mas de toda a região central do Estado (MORAES,

1967; GUEDES, 1967).

No ano seguinte, em 1962, tiveram início, na então futura Cidade Universitária, as

obras de terraplanagem no local onde seria construído o Hospital Universitário (HU) da

UFSM, sendo que por volta de 1964, foram iniciadas as obras do HU (UFSM, 2011). Naquele

momento, a área do HU estava estruturada em sete pavimentos, e abarcava 26.373 m² para

450 leitos. O Hospital de Neuropsiquiatria ou Hospital Universitário Setor Psiquiátrico

(HUSP), prédio em anexo ao HU, estava estruturado em três pavimentos, e contava com uma

área de 5.300 m². Sendo assim, num primeiro momento, o Setor Hospitalar no Campus da

UFSM já perpassava por uma área de 31.673 m², equivalente a 15% da área total que seria

construída no Campus da Universidade (UFSM, 1970; ISAIA, 1997).

Com as obras do Hospital Universitário Campus, do HUSP e do HUSC, se fazia

necessário implantar um sistema hospitalar da UFSM. E foi assim que, em 1968, o Dr. José

Mariano da Rocha Filho, na época, Reitor da UFSM, encarregava José Mariano da Rocha

Neto de estudar uma política hospitalar e instalar este Complexo Hospitalar na UFSM. Alguns

meses após, ele apresentava ao Reitor os estudos quanto à viabilização de um Sistema

Hospitalar na UFSM (ROCHA NETO, 1997). A partir de então, José Mariano da Rocha Neto

foi nomeado Diretor da Divisão de Administração Hospitalar; o Prof. Waldyr Pires da Rosa,

Diretor Administrativo e a Enfermeira Ione da Rocha Lobato, Diretora dos Serviços Técnicos

(ROCHA NETO, 1997; LIMA et al., 2005).

Nos meses seguintes, a equipe nomeada trabalhou veementemente, estudando as

plantas físicas do HUSC, quanto a sua viabilização, e do HU Campus e HUSP quanto às

modificações que se faziam necessárias. A qualificação de pessoal para trabalhar nos

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diferentes setores que compunham o Complexo Hospitalar foi considerada uma das mais

difíceis tarefas enfrentadas na época (ROCHA NETO, 1997).

Paralelamente a tais acontecimentos, o Departamento de Neuropsiquiatria da

Faculdade de Medicina da UFSM realizava esforços junto ao Reitor José Mariano da Rocha

Filho e ao Diretor da Divisão de Pessoal da UFSM, Carlos Augusto Cunha, no sentido de

agregar pessoal para o funcionamento do HUSP. Neste aspecto, não somente era solicitada a

transferência de profissionais capacitados, alguns dos quais residiam e trabalhavam na capital

(na área de psiquiatria e cargos públicos, por exemplo, como o Departamento de Saúde

Mental do Estado), mas também a contratação de profissionais e auxiliares de ensino (para o

cargo de supervisor psiquiátrico) a desenvolverem as suas atividades profissionais junto ao

HUSP. Ainda, estava presente a busca por profissionais capacitados em sua formação e

experiência em saúde mental, uma vez que este cuidado visava uma melhor aceitação da

doença mental – um dos elementos considerados indispensáveis para a realização do

tratamento. A agregação de pessoal era fundamental para o início do funcionamento do HUSP

que não apenas exerceria a função de hospital escola e de ambulatório no aprendizado da

psiquiatria, mas também permitiria o atendimento comunitário (por meio do convênio com o

Departamento de Saúde Mental do Estado). Assim, dar-se-ia inicio a um trabalho pioneiro,

além de solucionar um problema de saúde pública na região, que era a assistência ao doente

psiquiátrico (SCHELP, 1968a; SCHELP, 1968b).

Em 1º de junho de 1968, por meio de um convênio firmado entre a UFSM e a

Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, era inaugurado o Ambulatório de Saúde Mental (o

qual também era conhecido e denominado de Centro Comunitário de Saúde Mental), que

estava funcionando, provisoriamente, nas dependências do Dispensário Daudt, na Rua 13 de

maio. Era dirigido pelo psiquiatra Dr. Milton Sanchis e contava com a colaboração da

assistente social Tereza Caun Gonçalves. Ao final daquele mesmo ano, o Diretor da

Faculdade de Medicina, o Prof. Leovegildo Leal de Moraes encaminhava ao Reitor substituto

da UFSM, o Prof. Hélios Homero Bernardi, um plano de pessoal administrativo e técnico bem

como um dossiê de funcionamento daquela que seria a futura unidade hospitalar psiquiátrica

da UFSM. O referido dossiê esclarecia como seria o funcionamento do HUSP, constando dos

seguintes aspectos: 1) Fundamentação Teórica da Filosofia de seu atendimento – o qual se

baseava na Teoria Psicanalítica; 2) Normas para o funcionamento do HUSP; 3)

Administração; 4) Pessoal Técnico necessário ao seu funcionamento; 5) Relação de material

necessário e 6) Anexos I e II os quais tinham por finalidade demonstrar a possibilidade de

funcionamento autofinanciável do HUSP. Neste sentido, a instituição seria dotada de normas

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que regulariam responsabilidades econômicas para todo o paciente hospitalizado, quer se

tratasse de particulares, assim como de organizações estatais ou paraestatais (MORAES,

1968).

No ano seguinte, em 1969, José Mariano da Rocha Neto foi nomeado Diretor do

Hospital Universitário Setor Centro (HUSC, antigo Hospital de Tisiologia – Tórax). Para

conseguir levar a empreitada à diante, convidou a Enfermeira e Administradora Ione Rocha

Lobatto e o Professor e Economista, também Administrador Hospitalar, Waldyr Pires da

Rosa, para constituírem a equipe (ROCHA NETO, 1997).

No decorrer deste período, HUSC foi sendo adaptado para receber os cursos da área da

saúde (AMARAL, 1997). Com isso, foram instaladas no térreo a Patologia, a Dermatologia e,

posteriormente, o Laboratório de Análises Clínicas. Com as obras do HUSC apressadas,

foram comprados equipamentos e, em abril de 1970, com um mínimo de pessoal devidamente

qualificado, entravam em funcionamento os Serviços de Ginecologia e Obstetrícia e Pediatria

e Puericultura. Naquele momento, eventuais cirurgias de médio ou grande porte eram

realizadas no HCAA (que funcionava como hospital de ensino, por meio de um acordo com a

UFSM), pois o bloco cirúrgico ainda não estava pronto, tendo sido concluído somente em

1971. Neste mesmo ano, também era finalizado o Centro de Terapia Intensiva do HUSC, o

primeiro da cidade e do interior do estado (ROCHA NETO, 1997).

Por volta de 1970, a Divisão de Administração Hospitalar foi promovida a

Departamento de Administração Hospitalar, de acordo com o Estatuto da UFSM/70 aprovado

pelo Parecer n. 465/71-CFE, e pelo Regimento Interno da UFSM/72 (UFSM, 2013). José

Mariano da Rocha Neto foi nomeado Diretor desse Departamento; o Prof. Waldyr Pires da

Rosa foi designado ao cargo de Diretor da Divisão Administrativa e a Enf. Ione Lobatto, para

o cargo de Diretora da Divisão Técnica. Na ocasião, José Mariano da Rocha Neto também foi

encarregado de aprontar e gerenciar o Hospital Veterinário e o Biotério da UFSM (Rocha

Neto, 1997; LIMA et. al., 2005).

O Departamento de Administração Hospitalar (DAH) era um órgão da UFSM, com

sede em Santa Maria/ RS e que congregava administrativamente o HUSC, o HUSP, o HU

Campus (que se encontrava em construção), o Laboratório Industrial e o Hospital de Clínicas

Veterinárias, incluído o Biotério. O DAH era diretamente subordinado à Reitoria da UFSM

(UFSM, 1972).

O DAH tinha por finalidade: I) proceder estudos de organização e (re)organização,

bem como sua implantação nas unidades diversas a ele subordinadas; II) proceder estudos, dar

pareceres e terminar providências aos processos médicos, técnicos e administrativos; e III)

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difundir as atividades técnico-científicas do Departamento (UFSM, 1972). Ainda, o DAH

estava organizado do seguinte modo:

I. Direção: O Diretor do DAH era diretamente subordinado à Reitoria, sendo

designado pelo Reitor da UFSM;

II. Divisão Administrativa e;

III. Divisão Técnica.

As Divisões Administrativa e Técnica tinham os seus diretores indicados pelo Diretor

do DAH, aprovados pelo Reitor. Já os servidores integrantes do Departamento tinham chefes

indicados pelos diretores de Divisões e aprovados pelo Diretor do DAH (UFSM, 1972).

Conforme o Regimento do DAH (UFSM, 1972), o Hospital Universitário consistia em

uma unidade médico-hospitalar da UFSM, subordinado administrativamente ao DAH, sendo

composto pelos seguintes setores:

a) Setor Centro;

b) Setor Psiquiátrico;

c) Setor Cidade Universitária.

E para a consecução de suas finalidades, o Hospital Universitário tinha a seguinte

estrutura administrativa:

I. Direção

II. Setor Centro

III. Setor Psiquiátrico

IV. Setor Cidade Universitária

Sendo que os Setores Centro, Psiquiátrico e Cidade Universitária eram compostos

por:

a) Direção Clínica;

b) Serviços Administrativos e;

c) Serviços Técnicos.

Naquele momento, a Contabilidade de Custos Hospitalares já havia sido instalada no

HUSC pelo Prof. Waldyr Pires da Rosa. No entanto, o hospital carecia prestar uma assistência

continuada aos pacientes, pois havia cerca de cem leitos e os plantonistas existentes eram

reduzidos. Visando suprir esta lacuna e com o incentivo e apoio do Reitor Mariano, por

Decreto do DAH, foi criada a Residência Médica do DAH. O Departamento instituiu

residências na área de Clínica Médica, além de Cirurgia Geral, Pediatria e Puericultura e

Ginecologia e Obstetrícia (ROCHA NETO, 1997). Além disso, a direção do HUSC ofereceu

bolsas de emprego para todos os formandos em enfermagem daquele ano de 1972. Os

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enfermeiros ingressavam no HUSC como bolsistas até que em setembro daquele ano um

concurso público foi realizado, efetivando boa parte da equipe como funcionários públicos

federais (UFSM, 2011).

Paralelamente, naquele mesmo ano, com a conclusão das obras, dava-se inicio aos

atendimentos em hospital dia no HUSP. O Prof. Oscar M. Schelp foi convidado a diretor

(ROCHA NETO, 1997). Em seguida, por volta de 1974, ocorriam as primeiras internações

psiquiátricas, com a acomodação de 12 leitos (AMARAL, 1997).

Durante algum tempo, as obras do HU Campus foram interrompidas, sendo reiniciadas

em 1978. Na medida em que elas evoluíam, aumentava a inquietação quanto ao

funcionamento do que seria o futuro hospital universitário (UFSM, 1978).

Como mencionado anteriormente, naquele tempo, a UFSM dispunha de uma unidade

hospitalar situada no perímetro urbano da cidade de Santa Maria – o HUSC. No entanto, o

posicionamento da UFSM é que as atividades da universidade deveriam ser restritas ao

Campus/Cidade Universitária, tendo em vista a distância dos centros administrativos e

acadêmicos da UFSM (BARICHELO, 1995). Além disso, considerando o limitado espaço

físico do HUSC face a crescente demanda, intencionava-se que esta unidade hospitalar

permaneceria em funcionamento até a conclusão das obras e durante a fase de implantação do

HU Campus. Posteriormente, ela seria desativada. Do mesmo modo, havia um replanejamento

para o HUSP, que até então consistia em uma unidade hospitalar independente. Com o

funcionamento do HU Campus, ele manteria o seu funcionamento, sendo gradualmente

incorporado ao hospital geral, passando à condição de Unidade Psiquiátrica do Hospital

Universitário Campus (UFSM, 1978).

Diante destas perspectivas e da preocupação do DAH com o acompanhamento da obra

e implantação do novo hospital, na época, o Magnífico Reitor designou a formação de uma

Comissão de Implantação para o Hospital. Sendo assim, esta comissão havia sido encarregada

de coordenar e desenvolver atividades e estudos com perspectivas de viabilizar a organização

e estabelecimento da nova unidade hospitalar (UFSM, 1978).

Sentindo a necessidade de um trabalho multiprofissional para o desenvolvimento de

um integrado planejamento das áreas hospitalares, a Comissão de Implantação optou por

nomear subcomissões, responsabilizando-as por tarefas que, em seu conjunto, compunham o

planejamento do HU Campus (UFSM, 1978). Além disso, este grupo pode contar com a

assessoria de pessoal de outras áreas da saúde e/ou diretamente vinculadas a serviços

hospitalares, que teriam sido convocadas para participações especiais no decorrer do

desenvolvimento das atividades. Deste modo, visava-se que a comissão poderia contar com as

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contribuições e sugestões de um diversificado grupo de profissionais, desenvolvendo um

trabalho científico, correto e promovendo um eficiente funcionamento do hospital nas suas

funções assistenciais e de ensino. Ainda, visava-se a implantação e o desenvolvimento de uma

estrutura administrativa dentro das mais modernas técnicas que proporcionassem ao hospital

versatilidade e eficiência, sem descuidar de desejável relação custo-benefício, no que remete

aos investimentos de recursos e benefícios sociais decorrentes em assistência e ensino

(UFSM, 1978).

Em um dos Roteiros de Planejamento do Hospital Universitário a que se teve acesso,

do Inventário Documental do Fundo do Gabinete do Reitor da Gestão do Prof. José Mariano

da Rocha Filho, estava evidenciado o desejo, na época, que o hospital de ensino da UFSM

seguisse os moldes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Contudo, tanto aquele roteiro

como o de 1978 (UFSM, 1978), de modo geral, apenas especificam os principais títulos de

atividades que seriam desenvolvidas. Somente em algumas situações a especificação

apresenta um razoável detalhamento, o qual seria decorrente da impossibilidade de se prever,

com precisão, o trabalho necessário para o adequado projeto. Assim, a execução das tarefas

previa o estabelecimento de novos roteiros, específicos para cada etapa de trabalho. Todavia,

ficava claro que se almejava organizar um hospital geral de nível terciário, cuja capacidade

final compreenderia entre 400 a 450 leitos hospitalares, distribuídos em diferentes clínicas/

especialidades médicas (UFSM, 1978).

Por volta de 1980, foi iniciado um processo de mudanças administrativas do hospital.

Através de uma decisão do Conselho Universitário, e instituída pela resolução de nº. 089/80, o

Departamento de Administração Hospitalar tinha a sua denominação alterada para Hospital

Universitário de Santa Maria (HUSM), alternado a sua estrutura interna e tornando o HUSM

um órgão suplementar do Centro de Ciências da Saúde (AMARAL, 1997; UFSM, 2013). Até

aquele momento, os diretores clínicos e administrativos eram de escolha da Reitoria, não

envolvendo a participação de docentes, alunos e funcionários. Por meio de uma mobilização

reivindicatória, foi realizada a primeira eleição de dirigentes, em uma lista tríplice a ser

apresentada ao reitor. A primeira Diretoria Executiva, gestão 1980/19811, foi empossada pelo

reitor Prof. Derblay Galvão. Em abril de 1982, foi empossada a segunda Diretoria do HUSM,

gestão de 1982/19862, praticamente a mesma do período anterior, não fosse o Prof. Valdemar

1 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1980/1981 podem ser encontradas no apêndice

C. 2 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1982/1986 podem ser encontradas no apêndice

C.

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Speroni assumir a Direção Administrativa, devido à solicitação de afastamento do Prof.

Geraldo Pozzobon (HUSM, 1986).

Com a conclusão das obras do HU do Campus em 1982, fazia-se necessário a

desativação do HUSC e o mais completo aproveitamento possível da estrutura do HUSM. Em

decorrência da carência de verbas, o quadro de pessoal era limitado e diversos equipamentos

do HUSC deveriam ser desativados para então serem montados no hospital do campus

(AMARAL, 1997).

Desde 1972, o prédio já abrigava ao Hospital Psiquiátrico da UFSM – o primeiro na

América Latina a ser instalado em um Campus Universitário. Os registros sinalizam que a

mudança do HUSC para a estrutura do Campus deu-se gradualmente, no período entre

outubro de 1981 (UFSM, 2011) e julho de 1982 (HUSM, 2000) e contou com o apoio dos

exércitos da cidade. Inicialmente foi realizada a transferência dos ambulatórios e clínicas do

HUSC para o hospital no Campus. Posteriormente, foram transferidos os pacientes internados,

o Laboratório de Análises Clínicas (LAC) e os demais equipamentos (HUSM, 2000). O

berçário foi a última unidade a ser transferida (UFSM, 2011). A partir do dia 18 daquele mês,

iniciavam-se as internações no Hospital Universitário de Santa Maria, situado no

Campus/Cidade Universitária da UFSM (HUSM, 2000). Em 06 de outubro de 1982, era

inaugurado o mais novo hospital universitário da UFSM, 21 anos após o início da sua

construção.

Ciente das dificuldades da transposição do pequeno HUSC para o HUSM, no que se

refere à administração e gerência, a Direção Executiva da época recorreu aos serviços

especializados do Dr. Hércules Lima de Carvalho, consultor empresarial, que naquele

momento também assessorava o Hospital Moinhos de Vento e o Hospital de Clínicas de Porto

Alegre. Na ocasião, foram estabelecidos planos de ação e metas a serem alcançadas pelo

hospital. Além disso, havia uma valorização da Direção Executiva pelo desenvolvimento de

um trabalho assistencial integrado e multiprofissional ao paciente, que fosse “harmônico,

humanizado, competente e produtivo” (HUSM, 1986, p. 4).

Conforme o Relatório de Gestões do HUSM (1986), à medida que o HU Campus

entrou em funcionamento, de modo geral, representou um importante crescimento na área

hospitalar da UFSM. Este crescimento perpassou por diversos aspectos como o aumento da

área física, da capacidade de atendimentos – na qual houve uma redução de internações em

virtude do aproveitamento de espaços físicos para ambulatórios e setores básicos, em

consonância com a Política Nacional de Saúde vigente; progresso no quadro de pessoal e

quadro financeiro (no que remeteu ao percentual de receita própria, pois as verbas do MEC

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estavam gradativamente mais escassas). Neste período, também houve um aumento das vagas

para a Residência Médica, de 34 vagas, em 1980 para 48, em 1985 (AMARAL, 1997).

A despeito das conquistas mencionadas, decorrentes do funcionamento do HUSM em

relação ao antigo sistema hospitalar da UFSM, a economia brasileira se encontrava em uma

situação crítica, atingindo, consequentemente o orçamento do hospital universitário – o que

impossibilitava a continuidade da ação e desenvolvimento de muitas atividades (1986). No

entanto, apesar das dificuldades, neste período, entre outras ações, foram implantadas a

Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e a Comissão Interna de Prevenção de

Acidentes, além da Unidade de Processamento de Informática; foram instalados o Pronto

Atendimento, o Isolamento Protetor (com 4 leitos) o Isolamento Infectocontagioso, o Setor de

Diálise Peritoneal e o Ambulatório de Quimioterapia. Ainda, neste período, eram concluídas

as obras do Centro Obstétrico e o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do hospital foi

transferido e remodelado (HUSM, 1986).

Além dos aspectos mencionados, a elaboração e a aprovação do Regimento Interno do

HUSM também era uma preocupação da direção da época, já que, até 1980 o HUSM

funcionou sem Regimento Interno (HUSM, 1986). No entanto, consolidada a nova Diretoria

Executiva e com a perspectiva de funcionamento de ampla área física, fazia-se necessário a

sua concepção. Sendo assim, foi elaborado o primeiro Regimento Interno do HUSM. Este

regimento foi aprovado pela Diretoria Executiva do hospital e foi submetido à análise de uma

Comissão do Centro de Ciências da Saúde (CCS) (AMARAL, 1997).

Em decorrência do atraso no processo eleitoral, a gestão do período 1986/19903

iniciou como Diretoria Pró-Tempore. Ao ser eleita pelo Conselho do Centro de Ciências da

Saúde, ao final de 1985, a Diretoria eleita assumiu a gestão imediatamente (PEREIRA, 1997).

A gestão do HUSM desta época foi marcada pela reestruturação e consolidação do

HU. Após o levantamento dos problemas e necessidades das diferentes áreas do hospital, foi

desenvolvido um plano de ação, voltado para a modernização, alicerçado em políticas,

objetivos e metas a serem atingidas ao longo da gestão. Dentre os principais aspectos deste

plano, constava o investimento na recuperação da infraestrutura (reformas nas áreas de apoio,

a reconstrução da lavanderia, a construção do pavilhão de manutenção, ampliação do CTI

Adulto, criação do Centro Obstétrico, criação da Unidade Renal); o reequipamento (desde

itens básicos, como talheres, estetoscópios e instrumental cirúrgico até equipamentos como

ultrassom, ecocardiograma bidimensional, entre outros); a reestruturação administrativa,

3 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1986/1990 podem ser encontradas no apêndice

C.

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relacionada a aprovação do Regimento Interno do HUSM, que estava em discussão há oito

anos e que foi aprovado em dezembro de 1987; a capacitação de recursos humanos e de apoio

ao servidor (por meio de incentivo a congressos científicos ou participação em eventos e

cursos de treinamento, além do apoio à abertura e funcionamento da creche do hospital) e ao

ensino e à pesquisa (aquisição de livros e periódicos, dentre outras iniciativas). Ainda, havia a

intenção do pleno aproveitamento da capacidade instalada do hospital, revelada por meio de

projetos que foram apresentados e aprovados nos níveis municipal, estadual e federal, mas

que não foram implementados devido à proibição da contratação de recursos humanos

necessários, tanto a nível estadual como federal (HUSM, 1990; NUNES, 1997).

Além disso, este período se caracterizou pela integração ao Sistema Único de Saúde

(SUS). Ou seja, foi um período em que o país enfrentava a transição de uma medicina estatal

setorizada, que atendia apenas aos trabalhadores contribuintes da Previdência Social para um

atendimento universalizado. Com a Constituição de 1988, a saúde foi reconhecida como

sendo um direito universal, cabendo ao estado promovê-la. Desde então, todo o cidadão

passou a ter direito constitucional e a exigir o cumprimento desse direito pelo Estado

(ROLIM, 1997).

E é em meio a este cenário que a gestão de 1990/19944, assume a direção do hospital

(HUSM, 1994, ROLIM, 1997). Tratava-se de um período conturbado da história brasileira

para os hospitais universitários (HU’s). De modo geral, os HU’s surgiram como laboratórios

de ensino dos cursos da área da saúde. No caso do HUSM, foi criado como instrumento de

ensino e pesquisa e, a assistência era uma decorrência de suas atividades-fim. Enquanto

laboratório de ensino e com os seus insumos custeados pelo orçamento federal, inicialmente

foi direcionado aos pobres, principalmente para aqueles que não dispunham de outros

recursos de atendimento. Sendo assim, durante anos, os indigentes haviam sido o público-alvo

das atividades de ensino médico, seguindo a tradição das Santas Casas de Misericórdia, que

serviram de laboratório de ensino a muitas gerações de médicos e enfermeiros (ROLIM,

1997).

Sendo assim, de acordo com os dispositivos da Lei Orgânica da Saúde (Lei nº.

8.080/90), e após algumas dúvidas e discussões, os HU’s passavam a integrar, orientar seus

investimentos e executar as suas ações voltados para a rede do SUS. Esta mudança foi

ocorrendo gradualmente. Os HU’s foram sendo solicitados a assumir uma responsabilidade

crescente, atendendo a uma imensa demanda, sendo cada vez mais responsabilizados pela

4 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1990/1994 podem ser encontradas no apêndice

C.

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estruturação da rede de atendimento (ROLIM, 1997) e a servir ao SUS segundo o esquema de

atenções primárias, secundárias e terciárias e com sistemas de Referência e Contrarreferência,

que implementariam a assistência aos usuários do SUS. Assim, o hospital encontrou-se

envolvido por obrigações constitucionais com a cidadania brasileira, sem discriminações de

qualquer espécie - conforme princípios e diretrizes do SUS. Este momento consistiu em um

período de definições para o Hospital Universitário enquanto espaço de ensino. Mudavam os

usuários e os compromissos da instituição. Em maio de 1993, foram definidas as

responsabilidades de cada área na condução da assistência e formação de recursos humanos

por meio de um convênio assinado entre os Ministérios da Saúde e da Educação. Sendo

assim, o HUSM passava a ser conduzido pelas normas que gerem o ensino e a ser custeado

pelos planos assistenciais que dirigem a saúde (HUSM, 1994).

Este período também foi marcado pelas dificuldades econômicas, com o fracasso de

vários planos governamentais e os descompassos entre as tabelas de pagamento do Instituto

Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e os efetivos custos, além

dos atrasos dos pagamentos, sem a justa correção de valores. A este panorama sucederam

crises de escassez e falta de materiais e medicamentos. No entanto, apesar das barreiras,

foram realizados investimentos em reformas na área física e em equipamentos (HUSM,

1994).

As reformas foram realizadas em diversos andares e setores do hospital. O maior

volume de investimentos realizados foi na área de Serviços de Diagnóstico e Tratamento.

Também foi ampliado o Serviço de Pronto Atendimento a Adultos e instalado um Pronto

Atendimento Infantil. Ainda, destaca-se nesta gestão a criação de novas unidades de

internação: a Unidade Pediátrica de Tratamento Intensivo (UTI-Ped) para 12 leitos e uma sala

de recreação no sexto andar (atualmente, onde está situada a Unidade de Pediátrica) e o

Centro de Onco-hematologia, que dispunha de 30 novos leitos. Este possuía uma Unidade

com Isolamento Protetor, especificamente destinada ao Transplante de Medula Óssea. No

entanto, os investimentos no Centro de Transplante de Medula Óssea encontrou apoio na

comunidade. Por meio de uma campanha sistemática e com a colaboração de líderes da

comunidade regional, foram obtidos recursos junto ao Governo do RS, Fundação Bradesco,

Fundação Banco do Brasil, Lyons Club, além do apoio de prefeitos, vereadores e de

Deputados Estaduais e Federais representando a região central do Rio Grande do Sul. Foram

alcançados mais de um milhão de dólares designados especificamente para o Centro de

Transplante de Medula Óssea (HUSM, 1994).

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Em 1994, de acordo com a Resolução n.º 03/94, de 30/03/94, aprovado pelo Parecer n.

05/94 do Conselho Universitário, o HUSM passa a ser órgão suplementar central, vinculado

diretamente à Reitoria da UFSM (UFSM, 2013).

No decorrer da gestão 1994/19985, entre outras benfeitorias, ressalta-se a inauguração

do Banco de Sangue, até então o maior e o modelo para toda a região central do Estado, a

Inauguração do Centro de Tratamento Infantil e a conclusão e inauguração do Centro de

Transplante de Medula Óssea (CTMO) que, naquele momento, já se encontrava realizando o

seu oitavo transplante. Além disso, o Convênio entre a UFSM e o Consórcio Intermunicipal

de Saúde permitiu o atendimento especializado às urgências e emergências neurológicas e

traumatológicas, que até então não eram feitas pelo hospital. Em 1994 o hospital dispunha de

266 leitos, mas em 1998 a instituição totalizava 319 leitos e se encontrava em melhores

condições financeiras (HUSM 1998).

O exercício das gestões 1998/2002 e de 2002/20066 (quando foi reeleita) considerava a

necessidade de modernização e renovação tecnológica e consideráveis investimentos em

infraestrutura. De acordo com o relatório de gestão da época (HUSM, 2006), foram investidos

28 milhões em equipamentos e 13,5 milhões em infraestrutura, que resultaram em uma visível

mudança do hospital. Em um segundo momento, a gestão se propôs ao desafio de mudar

comportamentos, visando à modernização da gestão, dos processos de trabalho, ao Programa

de Qualidade, Humanização e Saúde do Trabalhador, fortalecimento da pesquisa e da multi e

interdisciplinaridade, além da maior inserção no SUS.

Sendo assim, por volta do ano 2000, a Direção do HUSM já almejava a acreditação

hospitalar, formando uma comissão visando ao processo. A acreditação hospitalar consiste em

uma metodologia de avaliação da qualidade dos serviços prestados nas instituições

hospitalares a partir de uma proposta do governo federal, por meio do Ministério da Saúde.

Tratava-se de um processo de adesão voluntária. Na época, estavam sendo realizadas

atividades junto aos serviços, através dos coordenadores, chefes, responsáveis por setor e

servidores, visando sensibilizar os grupos para reflexões e autoavaliação do exercício laboral

cotidiano. Deste modo, além de repassar a proposta e metodologia da acreditação hospitalar,

estava sendo realizado um diagnóstico das evidências e necessidades de cada setor para

posterior análise dos dados, e a confrontação destes com os critérios do programa a fim de

encaminhar as propostas resultantes do processo (HUSM, 2000).

5 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1994/1998 podem ser encontradas no apêndice

C. 6 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 1998/2002 e de 2002/2006 podem ser

encontradas no apêndice C.

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Aproximadamente em 2003, considerando as grandes transformações no mercado da

saúde, as mudanças no modo como a Medicina viria a ser praticada e, em particular, na forma

como os serviços estavam sendo ofertados a população através do SUS, o HUSM

implementava o planejamento estratégico da instituição, por meio da assessoria da Pró-

Reitoria de Planejamento da UFSM.

Conforme Kotler (1992), Planejamento Estratégico pode ser definido como o processo

gerencial que admite desenvolver e manter um ajustamento viável entre os objetivos,

experiências e recursos de uma organização e suas oportunidades em um mercado

sucessivamente mutante. Como primeira medida, o Planejamento Estratégico tem como meta

realizar uma análise das perspectivas da empresa, identificando tendências, ameaças e

oportunidades. No entanto, Kotler & Armstrong (1998) esclarecem que antes de começar

qualquer trabalho de organização ou reorganização de uma empresa, é imprescindível que a

sua missão seja definida. Segundo os autores, a declaração de Missão é uma demarcação do

propósito da organização, isto é, o que ela almeja atingir em um ambiente maior. Neste

sentido, Colenghi (1997) enaltece que a missão deve ser entendida como o estabelecimento de

princípios, valores, crenças e filosofia da empresa. Já, a visão de futuro de uma empresa,

conforme expressa por Barbosa e Brondani (2005), consiste nos rumos que a empresa

pretende tomar, considerando as suas aspirações, suas crenças e sua postura.

Diante da proposta de implementar o planejamento estratégico no HUSM,

inicialmente, foram realizados Seminários de Treinamento em Planejamento Estratégico com

o envolvimento de todos os setores do hospital. O referencial teórico também foi apresentado

em pequenos grupos, além do desenvolvimento de exercícios práticos. Por fim, através de

oficinas de trabalho, foram definidos, discutidos e consolidados os seguintes aspectos

(HUSM, 2003):

Análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças);

Análise do ambiente interno (pontos fortes e fragilidades)

Os possíveis cenários (prospecção que analisa a influência no presente, de futuros

alternativos e os impactos no futuro, de decisões atuais),

Os valores da instituição, os quais consistem em um conjunto de crenças e

princípios que orientam as atividades e operações de uma organização; padrões de

condutas praticadas pela organização que influenciam o comportamento geral de

seus membros;

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A missão, compreendida como a razão de ser da organização e que reflete os

motivos pelas quais ela foi criada e é mantida. Na época, ficou definida como

Missão do HUSM a de “Promover assistência, ensino e pesquisa na área da saúde,

inserindo-se de forma cidadã na sociedade”, e;

A visão, que consiste em definir o estado em que a organização deseja atingir no

futuro e que precisa ser abrangente, desafiadora e detalhada, visando promover o

direcionamento dos rumos de uma organização. A Visão de Futuro do hospital,

estabelecida na ocasião, foi a de “Ser um referencial público de excelência em

assistência a saúde, ensino e pesquisa, com preservação do meio ambiente” (p.9).

A partir destes aspectos, outros igualmente importantes foram delineados, tais como o

estabelecimento das diretrizes gerais, dos objetivos estratégicos, dos indicadores e as ações

que formaram o Processo de Planejamento do HUSM, que seria desenvolvido nos anos

seguintes (HUSM, 2003). Os frutos decorrentes da implantação desta importante ferramenta

de gestão começaram a surgir, uma vez que o HUSM foi um dos hospitais escolhidos como

modelo de gestão pelo Ministério da Saúde e agraciado com o Mérito de Administração

Pública, conferido pelo Conselho de Administração (HUSM, 2006).

Em agosto de 2004, o Ministério da Saúde lançava o Programa de Reestruturação dos

Hospitais de Ensino. O referido Programa visava otimizar a relação entre os Hospitais de

Ensino e o SUS, por meio da reformulação da política de saúde. Para este segmento, em 2004,

destinou mais de R$ 100 milhões para estados e municípios, como incentivo para a

contratualização de hospitais de ensino públicos e privados, além dos R$481 milhões

recebidos do Fundo de Incentivo ao Desenvolvimento de Ensino e Pesquisa em Saúde

(FIDEPS), realizado em 2003. O HUSM integrou o grupo dos 18 primeiros hospitais de

ensino do país a serem certificados pelos Ministérios da Saúde e da Educação. O novo

programa fortalecia a relação entre gestor e prestador de serviço, sendo que ambos passavam

a formular as metas a serem atingidas pelos hospitais, conjuntamente observada à realidade da

rede de saúde local. No entanto, as metas tinham de estar relacionadas em áreas prioritárias,

definidas pelo Ministério da Saúde, quais eram: compromisso do hospital em relação a

assistência; formação e educação permanentes; área de pesquisa e avaliação tecnológica e

aprimoramento da gestão (HUSM, 2006).

Na época, o HUSM também compôs a Diretoria da Associação Brasileira de Hospitais

Universitários e de Ensino (ABRAHUE) que, na época, apresentou um desempenho político e

técnico sem precedentes, e decisivo para importantes iniciativas dos Ministérios da Educação

e Saúde. Por interposição de equipes técnicas e comissões interinstitucionais, colaborou para

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o Programa de Reestruturação da Rede de Hospitais de Ensino passando pela avaliação,

certificação e contratualização com um novo modelo orçamentário, focalizando a qualidade

assistencial e não apenas na produção assistencial. No entanto, apesar das conquistas da

gestão na época, um dos maiores desafios do HUSM enfrentados nos últimos anos era a falta

de pessoal. Neste período, já era possível identificar servidores terceirizados e funcionários

contratados pela Fundação de Apoio à Tecnologia e a Ciência - FATEC, como formas de lidar

com o déficit existente no quadro de servidores do hospital (HUSM, 2006).

Uma das preocupações da gestão 2006/20107 foi a de redefinir a MISSÃO e VISÃO

do HUSM. Sendo assim, a Missão do HUSM passava a ser a de “desenvolver ensino,

pesquisa e extensão, promovendo assistência à saúde das pessoas, contemplando os princípios

do SUS com ética, responsabilidade social e ambiental”. E a VISÃO do hospital definida a

partir de então foi a de “ser um referencial público de excelência no ensino, na pesquisa e na

extensão, promovendo a saúde das pessoas” (HUSM, 2010).

Além disso, conforme o Relatório de Gestão do HUSM (2010), entre outras diversas

ações, os pontos fortes da gestão da diretoria executiva, no período em questão, foram: 1) o

aumento da qualificação do quadro de pessoal; 2) a credibilidade do HUSM junto ao usuário

(evidenciado por meio de prêmios) e; 3) a ampliação da representatividade política do HUSM.

Neste sentido, houve um fortalecimento da integração do hospital com o sistema regional

(busca de integração e aproximação com a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde e com o

Conselho de Gestores da Região) e nacional (via participações mais próximas da gestão nos

fóruns políticos em Brasília, na construção do Relatório de Estruturação dos Hospitais

Universitários Federais e com o Ministério Público). Entre as dificuldades enfrentadas no

período, destaca-se: o aporte insuficiente de recursos financeiros para subsidiar as

necessidades essenciais; a não reposição do quadro de pessoal, o comprometimento da receita

do SUS com despesas de terceirização de pessoal e; o aumento da gravidade e complexidade

dos casos clínicos internados e das demandas para internações judiciais.

Em 2010, surgia o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários

Federais (REHUF), instituído pelo Decreto nº 7.082. Desde então, foram seguidas medidas

que consideram a reestruturação física e tecnológica das unidades; a revisão do financiamento

da rede, com crescimento gradual do orçamento destinado às instituições; melhorias dos

processos de gestão; a recuperação do quadro de recursos humanos dos hospitais e o

aperfeiçoamento das atividades hospitalares vinculadas ao ensino, pesquisa e extensão, bem

7 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 2006/2007 podem ser encontradas no apêndice

C.

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como à assistência à saúde. Em 2011, por meio da Lei nº 12.550, e visando dar continuidade

ao processo de recuperação dos hospitais universitários federais, foi criada a Empresa

Brasileira de Serviços Hospitalares (EBESERH), uma empresa pública vinculada ao MEC.

A criação da EBESERH integra um conjunto de ações realizadas pelo Governo Federal, com

a intenção de recuperar os hospitais vinculados às universidades federais (EBESERH, 2013).

Sendo assim, a EBESERH passa a ser o órgão do MEC responsável pela gestão do

Programa de Reestruturação. As universidades federais poderão aderir a EBESERH, através

de contratos entre as respectivas universidades e a empresa. A proposta é que a EBESERH

atue no sentido de modernizar a gestão dos hospitais universitários federais, resguardando e

reforçando o papel estratégico desempenhado por essas unidades de centros de formação de

profissionais na área da saúde e de prestação de assistência à saúde da população

integralmente no âmbito do SUS (EBESERH, 2013).

Diante deste cenário, a atual gestão8 do HUSM (gestão 2010/ atual) encontra-se em

fase de negociação a respeito da contratualização do hospital da UFSM a referida EBESERH.

No conjunto dessa história, observa-se que o ofício da psicologia possui uma inserção

episódica, o que ficará evidenciado no capítulo a seguir. Não houve nenhuma previsão da

oferta de psicologia no projeto de organização dos serviços da instituição, o que dificulta a

organização dos profissionais que atuam isoladamente para dar sentido ao trabalho que

desenvolvem.

8 Informações sobre a composição da Diretoria Executiva gestão 2010/atual podem ser encontradas no apêndice

C.

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A PSICOLOGIA: O SURGIMENTO, OS PERSONAGENS E AS

PRÁTICAS.

No capítulo anterior, foi apresentada a narrativa acerca do nascimento do hospital de

ensino da UFSM, sem deixar de transcorrer pela história da própria universidade. Neste

capítulo, é exposta a trajetória percorrida pela Psicologia junto ao antigo sistema hospitalar da

UFSM, o qual, após diversas transformações no decorrer do tempo, originou o Hospital

Universitário de Santa Maria.

Optou-se por fazer um relato cronológico da entrada dos psicólogos que atuaram no

hospital desde a criação dos primeiros cargos. Para tanto, buscou-se articular os depoimentos

temáticos (sobre a trajetória profissional dos psicólogos) concedidos pelos participantes, bem

como os dossiês e documentos funcionais, com a história do hospital. Enquanto um dos

personagens da história, a participação da pesquisadora foi inserida como parte desse

processo.

No Roteiro de Planejamento do HUSM, não foram encontradas quaisquer pistas que

sinalizassem para a inserção de psicólogos na instituição. Neste sentido, os primeiros indícios,

que remetem a presença de um profissional de psicologia no então Sistema Hospitalar da

UFSM, foram encontrados no Relatório de Gestão da UFSM de 1970 (UFSM, 1970). O

referido relatório expressa que, dentre outros profissionais, um psicólogo fazia parte do Corpo

Técnico do Departamento de Administração Hospitalar (DAH) da UFSM. Além disso, quanto

ao Corpo de Auxiliares, apontava a existência de um auxiliar de Serviços de Psicologia

Aplicada. O relatório também apresenta dados físicos e estatísticos das estruturas que

compunham o DAH, assim como expõe a sua estrutura organizacional, especificando cargos,

setores e serviços. No entanto, a semelhança do Roteiro de Planejamento do HUSM (HUSM,

1978), não cita quem eram estes profissionais ou mesmo descreve as atividades por eles

desenvolvidas.

Em meio às buscas documentais, além de documentos relativos ao Hospital

Universitário Setor Psiquiátrico (HUSP) – os quais serão abordados mais adiante neste

trabalho, foram encontrados dois relatórios do Serviço de Psicologia do DAH, um deles

referente às atividades desenvolvidas no segundo semestre de 1973 e outro, relativo ao

exercício do setor no ano de 1974. O relatório do Serviço de Psicologia do DAH, relativo ao

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período de 1973, forneceu indicativos a respeito de quem teria sido este psicólogo que

desempenhava as suas atividades junto ao sistema hospitalar da UFSM. Tais indicações nos

levaram a buscar por dossiês funcionais de ex-servidores da UFSM (cuja acessibilidade nos

foi concedida pelo Departamento de Arquivo Geral – DAG, da UFSM), os quais, por sua vez,

permitiram acesso a alguns dados sóciodemográficos destas pessoas, bem como forneceram

informações a respeito da sua vida funcional.

O início

Através do mencionado Relatório de Serviço de Psicologia do DAH (FUNCK, 1973) e

de dossiê funcional junto ao DAG (UFSM, s/da), descobrimos que Jane Bouchaud Lopes da

Cruz estivera à frente do Serviço de Psicologia do DAH, exercendo suas atividades

profissionais junto ao Hospital Universitário Setor Centro (HUSC). No entanto, a trajetória de

Jane na UFSM era anterior ao exercício das atividades junto ao DAH.

Jane Bouchaud Lopes da Cruz havia ingressado na UFSM em março de 1965. Solteira,

era natural da Gávea/DF. Ela havia concluído o curso de Bacharelado e Licenciatura em

Filosofia9 em 1952 na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil.

Inicialmente ela fora contratada para o cargo de “Instrutora de Ensino Superior”, lecionando a

disciplina de Psicologia Educacional, no Curso de Artes Plásticas, da Faculdade de Belas

Artes, no período de março a dezembro de 1965 e 1966. O regime de trabalho vigente era

segundo a Consolidação das Leis do Trabalho10

(CLT). Em seguida, em 1967, ela tivera o seu

contrato alterado para a função de “Professora Contratada”. Ainda naquele ano, Jane Lopes da

Cruz passara a acumular funções na UFSM, pois ela estava sendo contratada para também

exercer a função de psicóloga junto ao Serviço de Assistência Social da UFSM, em

coordenação com a Divisão de Pessoal (que, posteriormente, evoluiu para o DAH). Por meio

9No Brasil, a regulamentação da profissão psicólogo ocorreu somente 1962. No entanto, desde a década de 1950,

já existiam cursos de formação acadêmica e muitas pessoas já atuavam profissionalmente (MENGARDA, 2003).

A Pontifícia Universidade Católica foi o primeiro estabelecimento a oferecer o Curso de Psicologia em nível de

Pós-graduação (especialização), no Rio Grande do Sul, o que ocorreu a partir de 1953 (SILVA, 2006). 10

Inicialmente, os servidores ingressavam na UFSM através de contrato, sendo o trabalho regido segundo a

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Foi somente a partir da Lei nº. 8112, de 11/12/1990, que dispõe sobre

o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais,

publicada no Diário Oficial da União em 12/12/1990. é que houve a mudança do regime de trabalho de CLT para

o Estatutário. Desde então, a ocupação dos cargos passou a ser via concurso público.

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da portaria nº 3922/70, em janeiro de 1970, o Reitor José Mariano da Rocha Filho removia a

psicóloga Jane Lopes da Cruz e a auxiliar dos Serviços de Psicologia Aplicada, Maria Esther

Maciel Weinmann, da Reitoria para o Hospital de Tórax, posteriormente denominado de

HUSC. A portaria também determinava que o Serviço de Psicologia Aplicada, que funcionava

na Reitoria, a partir daquele momento, passaria a funcionar junto ao HUSC. Sendo assim, no

que remetia ao desempenho das suas funções como psicóloga, Jane Lopes da Cruz foi lotada

junto ao Departamento de Administração Hospitalar, tendo como local de exercício de suas

atividades o HUSC (UFSM, s/da).

Há indícios que a Profa. Jane Lopes da Cruz prestava atendimento não somente aos

funcionários integrantes do quadro de pessoal do DAH, mas também a alguns servidores da

Universidade. No entanto, não é possível afirmar que este fato estava relacionado a uma falta

de critérios ou normas que delimitassem o exercício de suas atividades aos funcionários do

sistema hospitalar vigente na época, ou se o atendimento aos demais servidores da UFSM era

decorrente de um processo de transição do Serviço de Psicologia Aplicada da Reitoria para o

DAH (FUNCK, 1973).

No período entre 1970 e 1973 a Profa. Jane Lopes da Cruz desenvolveu suas

atividades profissionais junto ao HUSC, quando solicitou demissão deste cargo. Em julho/

1973, a reitor José Mariano da Rocha Filho rescindiu o contrato de trabalho entre Jane e a

instituição, mas ela continuaria na UFSM enquanto professora. No entanto, solicitara licença

de suas atividades docentes por um período de dois anos, quando passaria a residir no Rio de

Janeiro. Em 1975, a pedido, Jane também rompia o contrato de docente, deixando de trabalhar

na UFSM (UFSM, s/da).

Contudo, ao solicitar a rescisão de seu contrato de psicóloga no HUSC, Jane Lopes da

Cruz aproveitara a ocasião para sugerir que a Psicóloga Maria Aparecida Osório Funck fosse

a sua sucessora no cargo (UFSM, s/da).

De acordo com o Relatório do Serviço de Psicologia do DAH (FUNCK, 1973), com o

afastamento da Profa. Jane, em agosto daquele mesmo ano, um novo funcionário foi

contratado para exercer a função de psicólogo junto ao DAH, tendo sido lotado no HUSC.

Observa-se que, ao menos em parte, a sugestão da Profa. Jane fora acolhida, uma vez que a

psicóloga Maria Aparecida Funck integrava o Serviço de Psicologia do DAH. Porém, o

referido relatório não evidencia clareza acerca do novo funcionário contratado, o qual não

teria sido identificado e nem teriam sido fornecidas pistas a respeito de quem se versava.

Diante destes aspectos, foram realizadas buscas documentais visando descobrir quem teria

sido este profissional. Foram encontradas fichas cadastrais de psicólogos que trabalharam no

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HUSM, na década de 80 e início da década de 90, mas não foram encontrados elementos que

confirmassem a contratação deste profissional, lotado no HUSC. Ainda, buscou-se, sem

sucesso, o dossiê funcional de dois ex-servidores, que talvez pudessem esclarecer tal situação.

Assim, permanece a dúvida, se o novo funcionário mencionado no relatório se referia a

psicóloga Maria Aparecida ou a outra pessoa. Neste caso, embora não se intitulasse como

chefe ou coordenadora nos documentos em que se teve acesso, parece-nos que Maria

Aparecida Funck foi responsável pelo Serviço de Psicologia do DAH, uma vez que ela quem

assinou os dois relatórios encontrados.

Infelizmente, não tivemos acesso a muitas informações acerca da psicóloga Maria

Aparecida Funck. Porém, há evidências de que ela estivera à frente do “Serviço de Psicologia

do DAH” ao menos no período de 1973 ao início de 1975 (mas é possível que tenha

permanecido no cargo até o final da década de 70 ou início da década de 80) e que,

posteriormente, teria desenvolvido suas atividades profissionais junto ao Departamento de

Fonoaudiologia da UFSM (UFSM, 2007).

Sabe-se que para o desenvolvimento das atividades, o Serviço de Psicologia dispunha

de uma sala que lhe foi designada, incluindo mobiliário e material técnico, como testes

projetivos e psicométricos, utilizados para a avaliação psicológica e processos de seleção de

funcionários (FUNCK, 1973).

Maria Aparecida Funck iniciou o seu trabalho realizando um levantamento e estudo do

material que se encontrava a disposição do serviço, bem como a sua organização e

complementação no que se fazia mais importante. Neste sentido, já em um primeiro

momento, ela identificou que ainda não haviam sido estabelecidas e regulamentadas normas

para o funcionamento do serviço, dando início, naquele mesmo ano, a um esboço do

Regimento Interno do Serviço de Psicologia (FUNCK, 1973).

Além disso, Maria Aparecida também constatou a necessidade de definir o campo de

trabalho e objetivos a serem atingidos pelo setor. Sendo assim, visando alcançar maior

produtividade na função, procurou limitar o campo de ação ao Departamento de

Administração Hospitalar – o que não somente viabilizaria conhecer a amplitude do campo,

como também observar o ambiente que seria trabalhado. Aliás, a observação do ambiente

hospitalar era uma tarefa constante e inerente ao Serviço de Psicologia, o que possibilitava o

desenvolvimento de um plano de trabalho e de intervenção. Ainda, o referido serviço também

teria realizado estudos junto a Biblioteca Central bem como a outros profissionais, visando

melhor realização e compreensão dos trabalhos que estavam sendo desenvolvidos no hospital

(FUNCK, 1973).

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Nesta perspectiva, dentre as atividades desenvolvidas na época, além das observações

do meio, destacam-se a assistência aos funcionários e entrevistas e/ou intervenções com as

chefias de setores e serviços, com o propósito de coletar informações bem como prestar

orientação quanto a atitudes a serem tomadas, quando tal procedimento se fazia necessário.

Acrescenta-se que as intervenções visavam orientação, acompanhamento ou terapia de apoio,

sem deixar de considerar a melhor adaptação ao trabalho (FUNCK, 1973).

Os atendimentos dos funcionários davam-se através da busca espontânea dos mesmos

ou pelo encaminhamento das respectivas chefias. Sabe-se que em determinadas situações

também foram realizadas a aplicação e levantamento de testes projetivos e psicométricos

(FUNCK, 1973).

Esporadicamente, também eram assistidos os filhos dos funcionários do DAH, tendo

em consideração que o acolhimento ou manejo de situações familiares favoreceria uma maior

tranquilidade e disponibilidade do funcionário na execução das atividades laborais. A exceção

do trabalho desenvolvido no DAH ficava por conta da assistência aos funcionários da

Universidade que não integravam o quadro de pessoal do DAH, mas cujos atendimentos já

haviam sido iniciados pela Profa. Jane Lopes da Cruz e que urgiam por continuidade

(FUNCK, 1973).

De modo geral, observa-se que eram realizados atendimentos individuais dos

funcionários. No entanto, há registros de que o serviço pretendia dar maior ênfase ao

desenvolvimento de trabalhos em grupo, os quais permitiram não apenas atingir um maior

número de pessoas, como também trabalhar estes indivíduos em seu conjunto, integrados ao

ambiente hospitalar. Além disso, esperava-se desenvolver um trabalho preventivo,

promovendo maior satisfação geral no trabalho e nos relacionamentos interpessoais, maior

produtividade e uma diminuição no estresse decorrente do ambiente hospitalar e na

necessidade de tratamento individual (FUNCK, 1973).

Em 1974, o Serviço de Psicologia, na pessoa da Maria Aparecida Funck, encaminhava

para estudo e apreciação do Dr. José Mariano da Rocha Neto, Diretor do DAH, na época, um

regimento para o Serviço de Psicologia. Este regimento havia sido planejado com a finalidade

de situar o referido serviço na assessoria da Seção de Pessoal do DAH.

Com relação a este aspecto, mediante tal regimento, o Serviço de Psicologia consistia

em uma unidade de assessoria a seção de pessoal, estando subordinada, administrativamente,

à Seção Administrativa do Departamento de Administração Hospitalar (FUNCK, 1974).

Além disso, conforme o referido regimento, as finalidades do Serviço de Psicologia

consistiam em:

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I – Trabalhar junto ao quadro de pessoal do DAH, visando o alcance de uma adaptação

ao trabalho que permita o aumento da satisfação e da moral, promovendo melhores condições

de relacionamento interpessoal e de realização pessoal;

II – Possibilitar situações que favoreçam o aumento do rendimento funcional

(produtividade) e;

III – Participar do trabalho de adaptação de funcionários novos, pesquisando

elementos característicos de personalidade, inclusive aptidões, que favoreçam a orientação

científica quanto às condutas serem adotadas com relação aos mesmos.

Ainda, o referido regimento buscava esclarecer aspectos “Da Organização”, “Da

Competência”, “Dos Métodos de Atuação” e, por fim, “Das Disposições Gerais” do Serviço

de Psicologia (FUNCK, 1974).

Em meio as nossas buscas documentais, não se teve acesso a uma resposta da Direção

do DAH sobre o referido regimento. No entanto, em um ofício do Serviço de Psicologia

dirigido ao Diretor do DAH, na ocasião o Contador Waldemar Speroni, com data de janeiro

de 1975, encaminhava o relatório das atividades do Serviço de Psicologia referentes ao ano de

1974, bem como uma cópia do Regimento para o referido serviço. Com relação a este

aspecto, observa-se uma reformulação deste último regimento com relação àquele que havia

sido encaminhado há cerca de um ano antes. Este regimento aborda as “Atribuições do

Psicólogo”, as “Especificações de Classes” e a “Descrição Sumária das Atribuições da

Classe” em seus diferentes níveis (a saber, A, B e C), dentre outros elementos (FUNCK,

1975).

Sobre as atividades desenvolvidas pelo serviço em 1974, o relatório expressa que o

serviço dera continuidade às atividades anteriormente mencionadas, acrescido da participação

do Serviço de Psicologia na seleção de candidatos para o preenchimento de vagas. Neste

sentido, as dificuldades ficavam por conta de alguns setores adotarem diferentes atitudes,

realizando a contratação antes que a avaliação fosse concluída – o que não possibilitava que o

trabalho fosse realizado como desejável. No entanto, atribuía-se tais acontecimentos ao fato

de tratar-se de uma recente implementação do Serviço de Psicologia (FUNCK, 1973).

Além disso, o relatório permite observar a preocupação do Serviço de Psicologia em

apresentar dados numéricos aos gestores do DAH, bem como em aplicar questionários em

diversos setores do hospital com o propósito de coleta de dados para, a partir disso, planejar

intervenções a serem realizadas em nível grupal. Neste caso, as dificuldades ocorreriam no

sentido de que muitas vezes as situações ambientais não favoreciam a atividade em grupo

(FUNCK, 1975).

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Paralelamente a estes acontecimentos, a unidade hospitalar psiquiátrica também se

mobilizava para o seu pleno funcionamento. Em um dossiê, referente ao funcionamento do

Hospital Universitário Setor Psiquiátrico (HUSP) da UFSM (MORAES, 1968), foram

encontrados indícios que revelam as intenções do desenvolvimento de um trabalho em equipe

composta por diversos profissionais, dentre eles, psicólogo(s). Contudo, este profissional não

constava entre o pessoal mínimo necessário para que o Hospital Psiquiátrico iniciasse o seu

funcionamento. Ainda, no que remete a exigências físicas, “Consultórios de Ambulatório de

Saúde Mental” e “Consultório do Serviço Social e Psicologia” também estavam previstos no

referido dossiê.

Um relatório, no qual são apresentados os dados estatísticos do Centro Comunitário de

Saúde Mental (CCSS), relativos ao ano de 1972, sinaliza que o então médico chefe do CCSS,

Dr. Milton Sanchis, havia estabelecido vários contatos com o Dr. Fernando Guedes (dirigente

do Departamento de Saúde Mental do Estado) e sua equipe, da qual a psicóloga Izolina

Fanzera também fazia parte. Os contatos foram para tratar de assuntos relativos ao referido

Centro Comunitário, bem como de uma possível visita daqueles, ao CCSS (HUSP, 1972a).

Outro relatório, relativo ao período de setembro de 1972, aponta que a psicóloga Ivone

Coelho de Souza, estava desenvolvendo um trabalho com a intenção de implantar o “Gabinete

de Psicologia”. Com relação à Ivone, sabe-se apenas que ela trabalhava voluntariamente, e

que estava entrando em contato com psicólogos da capital e firmas especializadas com vistas

à aquisição de testes, material e literatura especializada (HUSP, 1972b). No entanto, nos

relatórios a que se teve acesso, dos anos seguintes, não foram encontradas evidências da

consolidação ou continuidade do trabalho desenvolvido por Ivone.

No decorrer deste trabalho, em meio às buscas por tais documentos, descobriu-se que,

em seus primeiros tempos, os funcionários da universidade não eram contratados via concurso

público. Em decorrência disso, muitos dos documentos relativos aos funcionários contratados

não teriam sido arquivados, ou foram desprezados após algum tempo. Além disso, tomou-se

conhecimento que, embora evidenciasse a preocupação em guardar a documentação e

registros do hospital, até a década de 90, a instituição não estivera atenta para as condições

ambientais de conservação dos documentos. Em vista disso, muitos deles foram descartados

devido às péssimas condições em que se encontravam. Foi a partir de então que houve uma

maior atenção dos gestores para as condições ambientais na conservação dos documentos

junto ao Arquivo Permanente do HUSM. A falta de zelo na conservação e a consequente

necessidade de descartar diversos documentos, assim como a dispersão desta documentação

(uma vez que não há um serviço instituído) dificultou a realização do estudo bem como

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resultaram na carência de algumas informações e lacunas na reconstrução da história da

Psicologia no HUSM.

Do Sistema Hospitalar ao hospital unificado: a inserção dos psicólogos

Conforme já anunciado, no período entre 1981 e 1982, o Hospital Universitário Setor

Centro (HUSC) estava sendo gradativamente transferido para a estrutura do Campus,

passando a denominar-se Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) (D9; LIMA et al,

2005; HUSM, 2000). Ainda que estivessem próximos em localização, e de constituírem parte

do Departamento de Administração Hospitalar (DAH) da UFSM, o Hospital

Neuropsiquiátrico, comumente chamado de Hospital Universitário Setor Psiquiátrico (HUSP)

e o HUSM eram estruturas distintas quanto ao espaço físico e ao funcionamento (UFSM,

1970). Embora a integração destas duas estruturas estivesse prevista no planejamento do “HU

Campus” desde o seu início (UFSM, 1978) e também desde a autorização de localização e

funcionamento do então HUSP, foi somente mais tarde que, gradualmente, o HUSP foi

assumindo o status de Unidade Psiquiátrica do HUSM (D3, D9).

Em meio a esse panorama, em abril de 1982, era realizado um concurso público para o

provimento de cargos de diversas categorias profissionais – dentre elas, a de psicólogo, para a

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Neste processo seletivo, Maria Helena

Ruschel e Mara Lúcia Rossato foram classificadas, respectivamente, em primeiro e segundo

lugar (D9; BRASIL, 1983).

Mara Lúcia Rossato havia concluído a graduação em Psicologia na Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), ao final de 1982, vindo, logo após,

prestar concurso público para a UFSM. Aprovada, em novembro daquele mesmo ano, antes

mesmo de completar um ano de formatura, Mara Lúcia ingressava na instituição, sendo lotada

a exercer as suas atividades profissionais junto ao HUSP (D9). O regime de trabalho vigente

era segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), (UFSM, s/db), no qual era cumprida

uma jornada de 30 horas semanais. Hierarquicamente, Mara Lúcia estava submetida à

Coordenação Clínica do HUSP (D9). Posteriormente, quando o HUSP passou a condição de

unidade do HUSM, Mara Lúcia também submetida à Direção Clínica do HUSM, conforme

informações concedidas pela Pró-Reitoria de Recursos Humanos.

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Até onde se tem notícias, além da psicóloga voluntária Ivone Coelho de Souza, não há

indícios da passagem de outros psicólogos junto ao HUSP, sendo Mara Lúcia Rossato a

primeira psicóloga contratada pela UFSM para desempenhar as suas atividades profissionais

naquela instituição. Inicialmente, a presença de um psicólogo e a necessidade de providenciar

as condições de trabalho para este profissional teriam suscitado um frisson no hospital, sendo

igualmente acompanhada de estresse, à medida que implicou, de alguma forma, desacomodar

outro(s) profissional(is) de sua(s) sala(s). Mas como havia uma grande demanda de trabalho

para a Psicologia, tais dificuldades foram sendo superadas e o trabalho desenvolvido pela

psicóloga acabou sendo bem acolhido (D9).

Como não existia uma familiaridade dos profissionais em relação ao trabalho

desenvolvido pela Psicologia, durante algum tempo, parte da atividade desenvolvida por Mara

Lúcia Rossato foi a de divulgar as possíveis contribuições do psicólogo em um hospital

psiquiátrico (D9).

A equipe multiprofissional do HUSP era constituída por médicos psiquiatras

professores da UFSM, equipe de enfermagem, assistente social, psicóloga, dentre outros

profissionais (D9; HUSP, 1972a; HUSP, 1972b, HUSP, 1973). Além disso, a equipe também

era composta por médicos residentes, pois na época, a instituição já oferecia o Curso de

Residência Médica com duração de dois anos em Psiquiatria e, um terceiro ano, de

Psicoterapia, para os psiquiatras que quisessem complementar/aprofundar a sua formação.

Tratava-se de residências médicas dirigidas para a assistência de adultos (D9).

Inicialmente, o HUSP era constituído pelas unidades de internação feminina,

masculina e de pacientes particulares. Posteriormente, houve um período em que o hospital

passou por uma grande transformação, em que estas unidades foram alteradas. Com o passar

dos anos, a unidade particular deixou de existir; as duas unidades existentes, uma para

pacientes femininos e outra, para os masculinos, passaram a ser mistas, ou seja, abrigando os

pacientes adultos, de ambos os gêneros. A partir daquele momento as unidades passaram a

funcionar sob dois agrupamentos: a Unidade Paulo Guedes, destinada para a assistência aos

pacientes com transtornos psiquiátricos graves (pacientes em surto psicótico, com alterações

de humor, risco de suicídio e auto e heteroagressão) e a outra, a Unidade SERDEQUIM

(Serviço de Recuperação de Dependentes Químicos), para os pacientes com dependência

química. Inicialmente, esta última unidade atendia a dependentes de álcool e depois, parece

que passou a incluir outras drogas. Com efeito, Mara Lúcia Rossato desenvolveu atividades

tanto na Unidade Paulo Guedes, quanto na Unidade SERDEQUIM, sendo que nesta,

juntamente com o ambulatório, realizou grande parte das suas atividades. Basicamente, ela

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desenvolveu o trabalho em grupos (operativos, psicoterapêuticos) com os pacientes e seus

familiares. Ainda, quando lhe era solicitado, realizava avaliação psicológica

(psicodiagnóstico) dos pacientes (D9).

Como já anunciado, além do serviço de internação, o HUSP dispunha de um

ambulatório de Saúde Mental, denominado “Centro Comunitário de Saúde Mental” (CCSM).

Este ambulatório se destinava a atender não apenas os pacientes que necessitavam de

acompanhamento pós-internação, mas disponibilizava, à comunidade em geral, a assistência

psicoterápica, tanto para adultos como a crianças e adolescentes (D3; D9).

Com relação a isso, inclusive, registra-se que, na época, havia uma grande demanda

pela assistência de crianças e adolescentes. Contudo, também havia uma carência de

psicoterapeutas infantis na cidade. Parece-nos que até a contratação de psicólogos clínicos, os

psiquiatras prestavam atendimento psicoterápico a crianças e adolescentes e participavam de

eventos em busca de supervisão e aperfeiçoamento, junto a profissionais e professores da

capital ou mesmo de outros países (psicanalistas argentinos), em passagem por Porto Alegre

(HUSP, 1973). No entanto, seja pela falta de interesse em oferecer Residência em Psiquiatria

para a Infância e Adolescência, ou pela carência de profissionais capacitados - já que até

poucos anos atrás não havia psiquiatra infantil na cidade - compreende-se que o atendimento

ao público infantil não consistiu num foco dos programas de residência oferecidos pelo

hospital. Assim, diante de psicólogos no quadro da instituição, compreendemos que por estas

razões, as demandas relativas ao público infantil foram repassadas aos profissionais de

psicologia, os quais estariam aptos a este serviço e que, durante um longo período se

ocuparam, principalmente, da assistência psicoterápica individual de crianças e adolescentes.

Os psiquiatras seguiram prestando o amparo psiquiátrico, medicamentoso aos pacientes

infantis. E quanto aos adultos, à assistência estava a cargo dos médicos residentes de

psiquiatria e psicoterapia e eventualmente, a psicóloga (D3; D9). Ainda sobre o trabalho

desenvolvido no ambulatório, houve um período em que, juntamente com a Dra. Cátia

Domingues Gói – então coordenadora do HUSP – Mara Lúcia organizou e desenvolveu uma

atividade junto ao chamado “Núcleo de Orientação Psicológica ao Estudante de Medicina”

(NOPEM). A proposta de trabalho deste núcleo consistia em escutar as angústias e

ansiedades, de qualquer natureza, dos estudantes de medicina (D9).

Mara Lúcia Rossato tinha uma intensa agenda de trabalho, mas reservava alguns

horários para registrar as atividades nos prontuários dos pacientes. Ainda, ela coordenava

alguns dos seminários realizados junto aos médicos residentes; além de participar de: reuniões

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de equipe; de supervisão e discussão de casos clínicos; e das administrativas, realizadas com

os funcionários do HUSP (D9).

Dentre as atividades de rotina, acrescenta-se que Mara Lúcia prestava contas de seu

trabalho através de relatórios mensais, os quais explicitavam as atividades realizadas nas

unidades e ambulatório, o número de pacientes atendidos, de grupos e de seminários

realizados, etc. Estes relatórios eram entregues ao coordenador do HUSP. E, considerando

que ela e a assistente social eram as novas funcionárias na instituição, havia uma preocupação

das mesmas em construir um sólido trabalho, sendo que a entrega destes relatórios significava

um importante cuidado nesta construção (D9).

Além disso, juntamente com os demais integrantes, Mara Lúcia participava de outras

atividades desenvolvidas pela equipe do HUSP. Durante algum período, eles se deslocavam à

capital para participar de cursos de aperfeiçoamento e capacitação em dependência química

(D9).

Ao final da década de oitenta, início da década de noventa, diante do Movimento

Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica, foi criada a Comissão Interinstitucional de Saúde

Mental, que tinha representantes do HUSP, do HUSM, dentre outras instituições, interessadas

em pensar e discutir a saúde mental de Santa Maria. Sendo assim, a Psicologia do HUSP

também se ocupava com as questões da saúde mental do município, como forma de viabilizar

a reestruturação que estava sendo proposta, denominada de “sistema alternativo de

tratamento” (sic). Na época, visando promover a capacitação de profissionais em meio ao

período de mudanças, a UFSM, promoveu os cursos de Administração em Saúde Mental e de

Especialização em Saúde Mental Coletiva, os quais a psicóloga teria cursado. E como fruto da

Especialização em Saúde Mental, a monografia de Mara Lúcia se ocupou de contar, ao menos

parte da história da saúde mental no município, sendo posteriormente publicada sob a forma

de artigo na Revista de Saúde Mental Coletiva sob o título de “O Percurso da Loucura em

Santa Maria” 11

. Além disso, sob a Coordenação do Cyrillo Zadra, a equipe do HUSP

apresentou trabalhos em congressos, fazendo referência a este novo estilo de tratamento, no

qual o paciente estava diretamente implicado, o que era uma novidade para a época (D9).

Diante de tantas conquistas e envolvimento de Mara Lúcia com os acontecimentos,

uma importante dificuldade enfrentada pela psicóloga refere-se ao fato de que, naquele tempo,

somente os procedimentos médicos eram custeados pelo governo. Sendo assim, uma vez que

11

Para o desenvolvimento desta pesquisa, buscamos localizar a monografia do curso junto aos arquivos da

Biblioteca Central da UFSM, mas, ao contrário de outras monografias elaboradas (como exigência para

conclusão da especialização), aquela elaborada por Mara Lúcia não foi localizada.

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tal receita permitia o funcionamento e continuidade dos serviços e para que a instituição

tivesse custeados os procedimentos realizados por Mara Lúcia, eram os médicos residentes

que se responsabilizavam, oficialmente, pelos atendimentos realizados pela psicóloga.

Tratava-se de uma situação muito desconfortável, uma vez que não permitia que Mara Lúcia

se apropriasse (formalmente) do trabalho que ela desenvolvia (D9).

Logo após Mara Lúcia Rossato entrar no HUSP, Maria Helena Ruschel ingressava na

UFSM em março de 1984, aos seus 37 anos. Natural de São Sebastião do Caí/RS, Maria

Helena tinha concluído a graduação há cerca de três anos. Ao ingressar na UFSM, ela foi

lotada no HUSM, para desenvolver suas atividades profissionais como psicóloga junto a

Coordenação de Recursos Humanos (CRH) (UFSM, s/db).

Poucas são as notícias a respeito dela. No entanto, sabe-se que, no decorrer de sua

trajetória, enquanto única psicóloga no hospital geral, Maria Helena representava o “Serviço

de Psicologia do Hospital Universitário”. As atividades por ela desenvolvidas compreendiam

o atendimento ao quadro do pessoal, e envolviam: a realização de entrevistas de ingresso,

acompanhamento e desligamento de funcionários do HUSM; a avaliação com a finalidade de

colocação e/ou remanejamento de pessoal; a orientação de funcionários e; a elaboração de

laudos. Ainda, sabe-se que, em 1985, devido aos impedimentos do titular, Maria Helena

estivera frente à chefia do Serviço Social do Hospital Universitário Setor Psiquiátrico

(HUSP). No período entre 1985 e 1986, parece-nos que Maria Helena estivera à frente ao

Serviço de Colocação de Pessoal da Divisão dos Serviços Administrativos (DSA), do

Departamento de Administração Hospitalar (UFSM, s/db).

Por volta de 1988, Maria Helena Ruschel iniciou o Curso de Mestrado em Filosofia,

na UFRGS. Em decorrência dos estudos, reduzira a sua carga horária junto ao HUSM. Em

abril de 1989, ela resolveu rescindir o seu contrato de trabalho junto a UFSM. Não há indícios

dos motivos que a levaram a tal decisão, sabendo-se apenas que, naquele momento, ela

cursava o mestrado na capital, deslocando-se semanalmente, para tanto (UFSM, s/db).

Naquele mesmo ano, foi realizado um novo concurso público da UFSM, visando

provimento de cargos de diversas categorias profissionais, dentre elas, a de psicólogo. Entre

os psicólogos, gradualmente e num período de quatro anos, os seis primeiros classificados no

concurso vieram a ingressar e desempenhar as suas atividades junto ao HUSM. São eles, por

ordem de classificação: Salvador Angelo Zambrano Penteado, Maria Izabel Ziani Pradel,

Denise Bee, Nair Iracema Silveira dos Santos, Eliana Beatriz Ramos dos Santos e Eliani

Venturini Viero (BRASIL, 1989).

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No entanto, Eliana Beatriz da Costa Ramos, classificada neste concurso, já

desenvolvia atividades de Psicologia Clínica junto ao hospital aproximadamente desde 1988,

por meio de trabalho voluntário (D1).

Em 1985, ela havia sido graduada em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências

e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Natural de Santa Maria, e após concluir a

faculdade, casada e com filhos, ela e a família retornaram para a cidade natal. Durante algum

tempo, ela desempenhou atividades profissionais em seu consultório. No entanto, ela

almejava por um trabalho que lhe pudesse proporcionar estabilidade financeira sem deixar de

exercer a Psicologia (D1).

Por volta de 1988, Eliana da Costa Ramos ingressou na instituição, a convite de uma

médica endocrinologista e professora da UFSM. Em uma oportunidade anterior elas haviam

trabalhado juntas, realizando grupos com crianças e adolescentes portadoras de diabetes, no

Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) (D1).

Na época, o Ministério da Saúde havia definido uma ação programática para a

“Assistência Integral a Saúde da Criança”, delimitando uma linha política clara de assistência

ao público infantil (Ministério da Saúde, 1984), a qual também viria a se refletir nas

atividades desenvolvidas no HUSM.

Com o propósito de que fosse realizada psicoterapia infantil, a médica desenvolveu

um projeto para que Eliana prestasse, voluntariamente, a assistência psicológica de crianças e

adolescentes. Sendo assim, durante um período aproximado de dez anos (entre 1988 a 1997/

1998), Eliana realizou psicoterapia infantil com os pacientes em tratamento com esta médica.

Inicialmente, eram atendidos os pacientes infantis da endocrinologia, mas gradativamente, os

demais profissionais passaram a lhe encaminhar pacientes, e assim, Eliana passava a atender

os pacientes das diferentes clínicas da pediatria. Havia uma sala destinada para a assistência

psicoterápica das crianças e adolescentes. O trabalho era desenvolvido a nível ambulatorial,

mas, estendia-se a internação quando algum de seus pacientes estava hospitalizado (D1).

Por volta desta mesma época, em 1988, Eliana também dava início a um trabalho de

assistência junto às gestantes. Em um primeiro momento, o trabalho era realizado com bebês

ou crianças pequenas, e suas mães. No entanto, com o desenvolvimento da atividade, foram

considerados os benefícios de um trabalho com gestantes. Nesta situação, muitos aspectos

relativos aos medos, angústias e ansiedades das gestantes relativas à maternidade, ao parto, ao

desenvolvimento dos bebês, bem como relacionamentos familiares poderiam ser abordados,

orientados e intervindos, preventivamente. Ainda poderiam ser identificadas gestantes que

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evidenciavam algum transtorno mental, realizando os encaminhamentos pertinentes, quando

fosse o caso (D1).

Este trabalho era desenvolvido por uma equipe multiprofissional composta pelas áreas

médica, da enfermagem, nutrição, fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia. Os profissionais

se revezavam na realização dos grupos com as gestantes, sendo que, geralmente, dois ou três

profissionais da equipe participavam dos grupos realizados. Diariamente, as gestantes eram

convidadas a participar, sendo o trabalho realizado antes da consulta médica. Durante algum

tempo, a equipe se manteve unida, trabalhando de forma integrada, e tranquila. No entanto,

por um período de quatro a cinco anos este trabalho foi interrompido. Por alguma razão,

aquele grupo multiprofissional foi se dispersando. Além da escassez de profissionais, a

disponibilidade de espaço era outra dificuldade enfrentada. Até o momento em que um

professor da área de ginecologia retomou a ideia e, diferente da equipe multiprofissional de

anos atrás, nos dias atuais, apenas Eliana segue realizando a atividade (D1). Posteriormente,

como será mencionado mais adiante, ela passaria a desenvolver suas atividades enquanto

psicóloga concursada pela UFSM.

Ao final de dezembro de 1989, alguns meses após o concurso, Maria Izabel Ziani

Pradel ingressava na UFSM, sendo lotada no HUSM para desenvolver as suas atividades

junto a CRH. Parece-nos que por um período aproximado de oito meses, o setor não dispôs de

uma psicóloga para dar continuidade às atividades até então desenvolvidas por Maria Helena

Ruschel, que havia deixado o cargo em abril daquele ano (D6).

Na época com 30 anos, Maria Izabel residia em Alegrete, estava casada e tinha

formado uma família. Graduada há sete anos, ela atuava profissionalmente junto à prefeitura

local, em consultório e como docente universitária – sendo esta última, uma carreira por ela

almejada. Deste modo, Maria Izabel percebera, na UFSM, uma oportunidade de aproximar-se

da realização deste desejo (de exercer a docência, seguindo uma carreira universitária na

UFSM), ao mesmo tempo em que este local poderia lhe oferecer condições dela continuar se

desenvolvendo, de seguir estudando. E, essas possibilidades a motivaram a assumir a vaga

junto ao concurso da UFSM (D6).

No entanto, as dúvidas quanto à viabilidade dela e sua família de se estabelecerem em

Santa Maria, levaram-na a uma intensa rotina de trabalho e viagens, uma vez que a família de

Maria Izabel havia permanecido em Alegrete. A mudança de município, envolvendo toda a

família, aconteceria gradualmente. E, neste período inicial, portanto, ela se deslocava

semanalmente, entre as duas cidades, desenvolvendo o seu trabalho no HUSM durante quatro

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dias na semana. Nos demais, Maria Izabel ia ao encontro da família e de outras atividades

profissionais que mantivera naquele município (D6).

Assim como Maria Helena Ruschel, Maria Izabel Z. Pradel e os demais psicólogos

que desenvolveram as suas atividades junto a CRH/HUSM, estavam submetidos ao

Coordenador do setor, sendo vinculados à Direção Administrativa do hospital (D1, D2, D6,

D10). Havia cerca de oito meses que Maria Helena Ruschel tinha deixado o cargo - que

permaneceu vago até que novo concurso fosse realizado e, nomeada, Maria Izabel o

assumisse. E, no transcorrer deste período, o desenvolvimento de um trabalho pela Psicologia

junto a CRH permanecera interrompido. Além da demanda, havia muita expectativa do

trabalho que viria a ser realizado (D6).

Naquele momento, a proposta de intervenção junto a CRH era a do desenvolvimento

de um trabalho organizacional, abarcando a instituição como um todo. E, nesta perspectiva, a

atividade realizada por Maria Izabel tinha em vista promover uma maior integração, não

apenas entre os funcionários de um mesmo setor e entre estes e a chefia, mas também entre os

diferentes setores e direções do hospital; ainda, visava oferecer suporte e o desenvolvimento

destes grupos em suas atividades profissionais. O desdobramento de seu trabalho dava-se,

basicamente, através de reuniões e intervenções com grupos de colaboradores, chefias e/ou

diretores do hospital (D6).

Nos setores, estes grupos eram realizados em diferentes turnos de trabalho, inclusive à

noite. Além disso, embora menos frequente, quando necessário ou encaminhados por suas

chefias, também eram realizados atendimentos individuais de alguns funcionários, tratando-se

questões pontuais e sempre buscando-se desenvolver um trabalho integrado daqueles com as

chefias . Ainda, Maria Izabel Z. Pradel realizou atividades junto ao setor responsável pela

Educação Continuada, promovendo a capacitação e o desenvolvimento dos funcionários da

instituição, principalmente com as áreas da enfermagem e administrativa (D6). Além disso, as

atividades de Educação Continuada também promoviam/fortaleciam a integração entre os

colaboradores e diversos setores da instituição. Maria Izabel desenvolveu suas atividades

junto do hospital por um período de dez meses, mas de forma muito intensa e, neste curto

período, conseguiu mobilizar as coordenações, que enfrentavam diversas dificuldades na

época. Evidenciava motivação e tivera um feedback favorável do trabalho que desenvolvera.

No entanto, devido aos obstáculos que a impossibilitaram de conciliar suas atividades

profissionais e aspectos pessoais e familiares, ela solicitou a exoneração, deixando o cargo em

outubro de 1990. Dois meses após, aos 28 anos, solteira e natural de Tapejara, Denise Bee

ingressava no HUSM, assumindo o cargo deixado por Maria Izabel, junto a CRH/HUSM. Ela

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tivera uma rápida passagem pelo setor, no qual desenvolvera as suas atividades profissionais

por cerca de cinco meses, deixando o cargo em Maio de 1991 (UFSM, s/dc). Novamente, as

atividades desenvolvidas pela Psicologia junto a CRH/HUSM foram interrompidas por um

período aproximado de três meses, pois somente em agosto daquele ano, uma nova psicóloga,

Nair Iracema Silveira dos Santos, passaria a desenvolver as atividades junto ao setor.

Na época, por volta dos seus 34 anos, Nair Silveira dos Santos e a família haviam se

estabelecido recentemente em Santa Maria, por conta da atividade profissional de seu

cônjuge. Graduada há cerca de nove anos, naquele momento ela estava concluindo o mestrado

em Educação, na UFRGS. E com a finalização da pós-graduação, ela havia abdicado de suas

atividades profissionais, de assessoria a escolas, além da docência. Portanto, enfrentava um

momento de instabilidade. Assim, a nomeação para assumir o cargo de psicóloga junto a

CRH/HUSM representava uma importante oportunidade de retomar as atividades

profissionais (D10).

Naquele momento, uma assistente social estava à frente da Coordenação dos Recursos

Humanos. Nair Silveira dos Santos foi bem acolhida e revelava-se satisfeita com a perspectiva

de trabalhar no hospital. A coordenadora do CRH/HUSM, na época, mostrava-se uma pessoa

muito aberta ao diálogo com uma interessante visão a respeito do cotidiano e das demandas de

uma instituição hospitalar (D10).

Sendo assim, embora a demanda apresentada estimasse o atendimento clínico de

funcionários do hospital, a sua perspectiva de trabalho assemelhava-se àquela realizada por

Maria Izabel, perpassando por um ponto de vista institucional. Deste modo, o trabalho

desenvolvido se ocupava de acolher e escutar os trabalhadores em seus sofrimentos, mas

centrava-se na condição dos trabalhadores e processos de trabalho, no modo em que eram

construídos os processos de trabalho e quais eram os sofrimentos suscitados, além de

conhecer as demandas que chegavam a estes trabalhadores e aos seus setores de trabalho

(D10).

A então Coordenadora dos Recursos Humanos contribuiu muito para a construção

deste trabalho, na medida em que foi apresentando a nova psicóloga aos diversos setores,

chefias, unidades de internação, além de convidá-la a participar das reuniões com as direções

do hospital: Clínica, Administrativa, de Enfermagem e de Ensino, Pesquisa e Extensão. Sendo

assim, à medida que circulava pelos diferentes setores, Nair foi conhecendo os colaboradores

e o modo como eram construídos os processos de trabalho na instituição. E foi realizando a

escuta dos trabalhadores que lhe eram encaminhados. Em meio a estes acontecimentos, Nair

Silveira dos Santos foi realizando uma análise das situações encaminhadas e do sofrimento

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destes funcionários, dos setores a que eles pertenciam e foi elaborando um entendimento

acerca das questões institucionais. Decorrido algum tempo, e visando um espaço para pensar

o cotidiano do hospital, seu funcionamento e processos de trabalho, propôs aos representares

do hospital uma reunião mensal, da qual participariam os diferentes setores/direções do

hospital. Para a sua supressa, a proposta foi aceita pelas direções do hospital, e algumas

reuniões foram realizadas (D10).

No desenvolvimento de seu trabalho, os empecilhos ficaram por conta da grande

demanda que havia para que os trabalhadores recebessem atendimento clínico individual e do

desejo ou ansiedade de algumas chefias que esperavam a rápida resolução dos problemas com

aquele trabalhador. Mas também havia pessoas e setores interessados em colaborar e pensar

sobre as coisas que estavam acontecendo. Assim, também foram realizadas reuniões, grupos

com colaboradores de alguns setores do hospital, que apresentavam sofrimento e/ou estavam

em conflito (D10).

Na época, vários colaboradores se encontravam na condição de dependência química.

E, a partir disso, foi identificada a necessidade de se pensar em um projeto que abarcasse essa

questão junto aos trabalhadores do hospital. Um grupo foi constituído para elaborar e

desenvolver esta proposta de trabalho. E foi neste momento que, entre outros profissionais,

Nair Silveira dos Santos e Mara Lúcia Rossato - então psicóloga da unidade psiquiátrica –

teriam realizado algumas reuniões a fim de refletirem sobre o assunto (D10).

No entanto, ao final daquele ano, em dezembro de 1991, Nair Silveira dos Santos se

afastou das suas atividades profissionais devido à licença-maternidade, retomando o trabalho

no HUSM somente em março de 1992 (D10). Por volta deste período, Salvador Angelo

Zambrano Penteado - que havia assumido a vaga junto ao setor de Recursos Humanos da

Reitoria da UFSM, permanecendo no cargo até aquele momento - foi transferido para o

HUSM, a convite do o Prof. Eduardo Martins de Oliveira Rolim – na época, Diretor Geral do

hospital (gestão de 1990 – 1994) (D4). Ao que parece, Nair Silveira dos Santos teria

colaborado com a direção do hospital da época, no sentido de acolher e refletir sobre a

proposta de trabalho que caberia a ser desenvolvida pelo colega que estava sendo transferido

para o HUSM. E a partir disso, da interação com o novo colega e das necessidades da época, a

proposta de trabalho a ele reservada foi a do desenvolvimento de atividades de Psicologia

Clínica. Sendo assim, no que remete a sua chefia, Salvador Penteado estava (e segue)

submetido à Direção Clínica do HUSM (D10).

Logo em seguida, Nair Silveira dos Santos foi chamada em um concurso que havia

realizado para o cargo de docente da UFSM. Após refletir muito sobre o assunto e, diante da

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necessidade de dedicação exclusiva, ela optou por assumir o cargo de docente, deixando a

função junto ao HUSM (D10). No mês seguinte, a pedido (devido a situações pessoais/

familiares), Mara Lúcia Rossato foi transferida da UFSM para a UFRGS, passando a residir e

trabalhar na capital (D9). Em um curto período de tempo, duas psicólogas deixaram os seus

cargos no HUSM (e aqui, consideramos que, naquele momento, o HUSP já se encontrava em

transição do status de hospital para o de unidade psiquiátrica). Novamente, as atividades até

então desenvolvidas pelas psicólogas foram interrompidas por quase um ano, uma vez que

não houve sucessores (imediatos) para a continuidade do trabalho até então realizado.

Enquanto isso, Salvador Penteado iniciava as suas atividades junto aos pacientes

atendidos pelo Serviço de Doenças Infecciosas (SDI). No início da década de 90, surgiam às

primeiras demandas, no HUSM, relativas às vítimas da Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida, habitualmente conhecida como AIDS. Logo em seguida, a epidemia da infecção

pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) teve o seu auge, demandando da instituição a

organização e prestação de serviços àqueles pacientes, quando o preconceito era

predominante e os conhecimentos a respeito da doença ainda limitados (D4).

Paralelamente a assistência aos pacientes do Serviço de Doenças Infecciosas, Salvador

Penteado também começava as suas atividades junto ao ambulatório do HUSM e ao Serviço

de Hemato-oncologia (SHO). Naquela época, o SHO também estava sendo construído e, num

primeiro momento, a internação dos seus pacientes praticamente estava limitada a alguns

poucos leitos da Clínica Médica, situados no quarto andar do hospital e denominados de

“Isolamento Protetor". Neste setor, diferentemente do SDI - em que o atendimento dos

pacientes dava-se, basicamente a nível ambulatorial - o trabalho do psicólogo no SHO estava

voltado para o atendimento do paciente hospitalizado, do familiar e também, orientações e

intervenções junto à equipe multiprofissional. Um dos importantes momentos de intervenção

junto à equipe dava-se através dos rounds, quando os profissionais se reuniam para a

discussão de casos clínicos. Além da assistência psicológica aos pacientes, Salvador Penteado

também colaborou com campanhas para a melhoria, desenvolvimento ou ampliação de

serviços existentes, bem como aqueles de apoio aos pacientes, como, por exemplo, o Centro

de Convivência Turma do Ique e o surgimento da Associação dos Amigos e Usuários do

Hospital Dia, ocorrido no início dos anos 2000 (D4).

Em relação às atividades desenvolvidas junto ao ambulatório, inicialmente, além dos

pacientes do SDI, Salvador prestava assistência psicológica aos pacientes de outras

especialidades médicas do HUSM. Assim como nos dias de hoje, naquela época, eram

atendidas a demanda espontânea (ou seja, pacientes que procuravam por este atendimento) e

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aquelas encaminhadas por diversas especialidades médicas (D4), seja para avaliação ou

acompanhamento psicológico do paciente. Em decorrência de uma grande demanda dos

estudantes da UFSM e da carência de serviços psicológicos ofertados na rede pública de

saúde e na própria universidade, por vezes, o serviço prestado por Salvador Penteado, no

ambulatório, foi disponibilizado à comunidade acadêmica, ou seja, para pessoas que não se

encontravam, necessariamente, em tratamento no HUSM (D4).

Salvador Penteado trabalhou junto ao Serviço de Hemato-oncologia,

aproximadamente, até 1994, quando assumiu atividades junto a Pró-Reitoria da UFSM. O

cargo viria a ser ocupado por outro profissional, aprovado em concurso público, cuja

realização já estava prevista naquele momento (D4).

No período entre maio de 1992 e abril de 1993, como Nair Silveira dos Santos havia

deixado o cargo junto ao CRH para assumir a vaga de docente junto a UFSM e Mara Lúcia

Rossato tinha sido transferida para a UFRGS, Salvador Angelo Zambrano Penteado e Eliana

da Costa Ramos seguiam trabalhando no HUSM, paralelamente e sem convivência. Até

aquele momento, como já mencionado anteriormente, Eliana da Costa Ramos desenvolvia

atividades de psicologia clínica, realizando psicoterapia de crianças e adolescentes, além de

grupos com gestantes no ambulatório pré-natal. Mas em abril de 1993, ela foi chamada a

assumir a vaga deixada por Nair Silveira dos Santos, junto a CRH/HUSM. E, desde aquele

momento, além das atividades até então por ela desenvolvidas, ela passara a desenvolver,

simultaneamente, um trabalho de Psicologia Organizacional.

Quase um ano após Nair Silveira dos Santos deixar o cargo junto a CRH, Eliana da

Costa Ramos iniciava as suas atividades profissionais no setor. Portanto, não houve um

momento de trocas ou repasse, entre colegas, das atividades até então desenvolvidas. Neste

sentido, Eliana apenas tivera acesso às fichas arquivadas, relativas a atendimentos realizados

pelas antigas psicólogas do setor.

Sendo assim, em meio a curta permanência das psicólogas anteriores, e sem muitas

informações do trabalho que até então havia sido realizado, foi necessário que Eliana,

gradualmente, fosse delineando e divulgando o trabalho que por ela estava sendo

desenvolvido. No entanto, a tarefa não consistia apenas em divulgar o trabalho que estava

sendo iniciado, mas também em se reaproximar a Psicologia dos servidores do hospital. As

sucessivas trocas de profissionais no setor resultaram em um distanciamento entre o serviço e

os servidores da instituição.

Assim como Eliana da Costa Ramos ingressava no quadro de funcionários da UFSM,

Eliani Venturini Viero, por volta de seus 29 anos, também foi lotada no HUSM para

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desenvolver as suas atividades profissionais junto ao Serviço de Psiquiatria. Natural de

Restinga Seca, Eliani havia concluído a faculdade em 1988 na Universidade Católica de

Pelotas (UCPel) (D3).

Naquele momento, gradualmente, o então HUSP já se encontrava em transição para a

condição de setor/unidade psiquiátrica do hospital geral. Na época, este serviço estava sendo

integrado ao HUSM, mas ainda apresentava um funcionamento independente, à parte do

hospital geral, com arquivos e prontuários próprios (D3).

Mara Lúcia Rossato havia sido transferida há quase dois anos e, até aonde se tem

notícias, nenhum profissional teria assumido o cargo por ela deixado neste período. Assim,

quando Eliani Viero ingressou, através de alguns dos profissionais da equipe, ela tivera

poucas notícias das atividades que haviam sido desenvolvidas pela colega. No entanto, dera

início à construção de um trabalho que, em parte se assemelhava/dava continuidade ao

trabalho desenvolvido por Mara Lúcia, principalmente no que remete a assistência de crianças

e adolescentes no ambulatório de Saúde Mental.

Na época, ainda havia muita demanda por avaliação e assistência psicológica de

crianças e adolescentes da comunidade em geral, muitos deles encaminhados pelas escolas.

Diante disso, o exercício profissional de Eliani Viero junto da Unidade Psiquiátrica centrava-

se, praticamente, no ambulatório, e estava intensamente relacionado com a avaliação e

assistência psicoterápica do público infantil (D3).

Em algumas situações, Eliani Viero realizava intervenções pontuais, junto ao grupo

realizado com os familiares dos pacientes internados. O grupo era coordenado por enfermeiras

da unidade e, a convite, Eliani participou de alguns destes grupos a fim de conhecer a

dinâmica do próprio serviço. Ainda, à medida que desenvolvia as suas atividades, foi

observando que lhe era solicitado atender muitos dos filhos de pacientes internados, na sua

maioria mulheres, mães cujos filhos, muitas vezes, estavam presentes nestas reuniões/grupos

dos familiares dos pacientes. Ainda, Eliani também participava de algumas reuniões de

discussões de casos (uma vez que alguns de seus pacientes também eram atendidos por

psiquiatras), e reuniões do ambulatório. No entanto, como no ambulatório e na internação os

pacientes recebiam a assistência psi por parte dos psiquiatras, o viés do trabalho desenvolvido

por ela esteve centrado na possibilidade da criança em visitar os pais internados. Uma das

demandas do setor, na época, consistia em que fossem realizadas avaliações psicológicas

completas dos pacientes internados. No entanto, além da falta de clareza quanto ao sentido

destas avaliações solicitadas, Eliani Viero não dispunha de instrumentos (testes psicométricos

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e projetivos) para que estas avaliações fossem realizadas, o que também não viabilizava o

atendimento desta demanda (D3).

Paralelamente, como já foi expresso, em outro setor do hospital, Eliana da Costa

Ramos também realizava atendimento psicoterápico de crianças e adolescentes, trabalho que

ela havia iniciado voluntariamente no HUSM e que, mesmo após ingressar na instituição,

seguira desenvolvendo. Apesar da atividade em comum, elas não mantinham contato, não

havendo trocas profissionais. Naquela época, o Sistema Único de Saúde deixaria de custear os

atendimentos ambulatoriais realizados pela Psicologia no hospital – sendo que este trabalho

ficaria a cargo da rede secundária do SUS, ou seja, aos municípios. Frente a esta situação, a

orientação da direção do hospital era que estes serviços fossem gradualmente fechados. Sendo

assim, concomitantemente, as psicólogas passaram a lidar com esta realidade e, aos poucos,

foram reduzindo os pacientes atendidos no ambulatório. Como tinha a intenção de cursar o

mestrado, Eliani Viero ainda não estava buscando um novo direcionamento para o seu

trabalho na instituição. Diante da aprovação no mestrado em Psicologia, na Pontifícia

Universidade Católica de Campinas - PUC Campinas, ela encaminhou os seus pacientes para

outra psicóloga no hospital – provavelmente Eliana da Costa Ramos – se afastando das suas

atividades profissionais no HUSM entre 1996 a 1998, para frequentar a referida pós-

graduação, retornando após a conclusão do curso. No mestrado, Eliani Viero tivera a

possibilidade de aprofundar o trabalho que ela estava desenvolvendo (de assistência das

crianças cujas mães se encontravam hospitalizadas) através do trabalho intitulado: “A criança

frente à doença e a internação psiquiátrica materna: uma análise fenomenológica” (D3).

Na pós-graduação, Eliani Viero tivera contato com diversos psicólogos, alguns deles

com uma sólida experiência em Serviços de Pediatria, além de visitar hospitais de outros

municípios e estados. E foi a partir destes contatos é que ela começou a pensar em fazer

psicologia dentro de uma unidade de pediatria. Ao retornar do mestrado e retomar o trabalho

no HUSM, ela sabia que não tinha perspectiva do ambulatório de psicoterapia infantil ser

aberto novamente. Sendo assim, inicialmente, Eliani Viero buscou conhecer todo o

funcionamento do HUSM. E ela observou que uma das demandas para a psiquiatria era o

atendimento de pacientes internados na pediatria do hospital – que havia sido inaugurada por

volta de 1996. No entanto, como não havia atendimento infantil, esta demanda estava

assistencialmente descoberta. A partir disso, ela conversou com os profissionais da pediatria,

sugerindo o atendimento psicológico aos pacientes internados. Ciente do interesse e buscando

conhecer a realidade da unidade local, Eliani Viero elaborou e apresentou um projeto

destinado a assistência psicológica dos pacientes internados na Unidade de Pediatria do

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HUSM. Este projeto foi aprovado e desde então, ela presta este trabalho assistencial.

Inicialmente, foi acompanhando o trabalho desenvolvido, conhecendo os profissionais,

pacientes do serviço e seus familiares, além da dinâmica assistencial da unidade (D3).

No decorrer do tempo, e da sua prática profissional, o trabalho foi sendo

(re)organizado e, atualmente, Eliani Viero desenvolve as suas atividades profissionais junto

das Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal (UTI – NEO) e Pediátrica (UTI-PED). Nestas

unidades, ela realiza entrevistas com todos os familiares das crianças internadas, avaliando a

existência de demanda ou não para a continuidade da assistência psicológica. Ainda, ela

também realiza suas atividades junto as Unidades de Pediatria e de Pronto Atendimento

Infantil, nas quais os pacientes são atendidos via encaminhamento dos profissionais do(s)

setor(es). Diante da alta hospitalar e, se necessário, os pacientes são encaminhados para os

serviços existentes na comunidade local ou no município de origem, já que o hospital atende a

pacientes de uma grande região (D3).

Um pouco antes de Eliani Viero se afastar das suas atividades no HUSM em

decorrência do mestrado, em janeiro/fevereiro de 1995, Patrícia da Silva Cecim e Marta Alves

de Oliveira ingressavam no hospital da UFSM. Elas haviam prestado concurso público

realizado pela UFSM em dezembro de 1994, para provimento de cargos para o Centro de

Transplante de Medula Óssea que estava sendo construído junto à instituição. No entanto, este

mesmo concurso visava o provimento de outras vagas, para a UFSM, mas reservadas ao

HUSM (D11). Logo após a homologação do concurso, os primeiros colocados estavam sendo

chamados a assumir as vagas. Neste processo seletivo público da UFSM, Marta Alves de

Oliveira e Patrícia da Silva Cecim foram classificadas, respectivamente, em primeiro e

segundo lugares (D2).

Na época, embora natural de Santa Maria, Marta Alves de Oliveira havia concluído a

faculdade na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) em 1989, havia casado, possuía um

filho pequeno e residia em Porto Alegre. E a Patrícia Cecim, que havia concluído a faculdade

na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) em 1991 e estava

residindo em Santa Maria. Marta de Oliveira e Patrícia Cecim foram convocadas a assumirem

as vagas no concurso. Como Patrícia estava residindo na cidade, ela tivera maior

disponibilidade em assumir a vaga rapidamente, ingressando na instituição no início de

fevereiro/1995. Já Marta de Oliveira, que residia na capital, precisara de um tempo maior,

uma vez que se encontrava “em trânsito”, ingressando no quadro de funcionários da

instituição cerca de vinte dias depois, ao final daquele mês. Patrícia Cecim assumira a vaga

destinada ao CTMO e, ao ser admitida, Marta Oliveira recebera a notícia de que já tinha sido

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preenchida a vaga para qual o concurso fora realizado. Havia esta segunda vaga, destinada à

Coordenação de Recursos Humanos. Embora ela tivesse sido esclarecida de que poderia

requerer o cargo junto ao CTMO, pois havia sido a primeira colocada – Marta se sentira muito

bem acolhida pelo então coordenador da CRH e demais funcionários do setor, se propondo a

experimentar a desenvolver suas atividades profissionais junto aos recursos humanos. No

entanto, este fora um momento bastante delicado na vida profissional de Marta, pois ela havia

prestado o concurso justamente porque tinha o interesse e desejo em trabalhar em um hospital,

desenvolvendo um trabalho de psicologia clínica. Na CRH, a proposta era a de dar

seguimento a um trabalho de Psicologia Organizacional, junto da colega Eliana da Costa

Ramos (D2).

Naquele momento, fazia aproximadamente cerca de um ano e meio que Eliana estava

trabalhando junto a CRH. Inicialmente ela realizara um intenso trabalho de sistematizar e

estabelecer as rotinas e as atividades da Psicologia junto a CRH, bem como de divulgar o

trabalho, local de atendimento e onde poderia ser contatada, além de esclarecer o

funcionamento do trabalho para as chefias e servidores da instituição. Após este trabalho

inicial de se fazer conhecer e conquistar a confiança dos servidores, uma demanda que até

então estava reprimida, surgira novamente – o que submetera Eliana a um intenso trabalho, no

qual muitas vezes era necessário priorizar algumas ações/atendimentos, já que não conseguia

atender a todo o fluxo de trabalho que emergira. E neste contexto, a notícia do ingresso de

uma colega para compartilhar o trabalho foi muito bem recebida (D1).

E desde então, Marta de Oliveira e Eliana da Costa Ramos desenvolvem atividades de

Psicologia Organizacional, junto ao Serviço de Orientação e Acompanhamento (SOA) na

CRH/HUSM. Neste serviço, elas realizam a escuta, o acolhimento, a orientação e o

acompanhamento dos servidores que estejam enfrentando alguma dificuldade no trabalho e

que procurem o SOA/CRH por demanda espontânea, encaminhadas pelas chefias, (D1, D2)

ou mesmo pela perícia médica (D1). A atividade tem como propósito a de acompanhar o

servidor em atividade de trabalho, em Licença para Tratamento de Saúde (LTS) e no retorno

ao trabalho, visando promover e preservar a saúde mental dos colaboradores (D1; D2;

OLIVEIRA, 2010). Também são realizadas orientações tanto no que remete a aspectos

burocráticos e referentes aos processos de trabalho assim como encaminhamentos dos

servidores para os tratamentos adequados. Ainda, sempre que necessário, são emitidos

pareceres dos servidores em LTS a fim de assessorar a Junta Médica da UFSM nas suas

avaliações, as quais os servidores, em tratamento prolongado, são submetidos (D1).

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Também são atividades desenvolvidas pela Psicologia junto da CRH: acompanhar o

ingresso e a adaptação dos servidores na instituição; desenvolver treinamentos; orientar e

assessorar as direções e chefias de serviços, trabalhar com grupos, atendendo aos diferentes

setores do hospital (D2). O tipo de trabalho desenvolvido oscila, sofrendo influências da visão

dos gestores a que a instituição esteja submetida, havendo momentos em que são realizados

mais trabalhos de grupo e outros, individuais. (D1, D2). Estas influências tanto podem

auxiliar e favorecer a continuidade das atividades desenvolvidas pelas psicólogas, seja através

do fornecimento de sala e materiais para a realização do trabalho, como também levar a sua

interrupção (D2).

Paralelamente a estes acontecimentos, era fato que, há algum tempo, os médicos

hemato-oncologistas que trabalhavam HUSM ou lecionavam na UFSM almejavam pela

construção de um centro de transplante de medula óssea no hospital. E, com o propósito de

viabilizar e concretizar este trabalho, foram realizados esforços neste sentido, culminando

com a consolidação de um sonho. Até aquele momento, não havia uma unidade

exclusivamente reservada ao tratamento dos pacientes acometidos por enfermidades desta

natureza. Deste modo, os pacientes adultos internavam em alguns leitos de isolamento, nas

Unidades de Clínica Médica, e o mesmo se dava com relação aos pacientes infantis,

hospitalizados na Unidade de Pediatria. No entanto, por volta de 1994, o CTMO e a unidade

destinada à internação dos pacientes hemato-oncológicos já estava equipada, aguardando

apenas a contratação de profissionais para iniciar o seu funcionamento. Sendo assim, através

do concurso realizado em 1994, profissionais de diversas áreas (tais como médico, assistente

social, pedagogo, psicólogo, entre outros) foram contratados e ingressavam no serviço,

simultaneamente. Embora vários profissionais não estivessem familiarizados com o universo

das doenças hemato-oncológicas, eles se mostravam curiosos em conhecê-lo. Diante disso,

por vezes, os profissionais se reuniam para estudar e trocarem experiências. E foi em meio

aquele cenário que Patrícia da Silva Cecim igualmente ingressava no HUSM, assumindo a

vaga de psicólogo destinada ao Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO) (D11).

No entanto, custou algum tempo até que o CTMO iniciasse o seu funcionamento e os

transplantes começassem a ser realizados. E, enquanto o CTMO não iniciava as suas

atividades, Patrícia Cecim, então lotada junto ao SHO do HUSM, se propôs a atender aos

pacientes do serviço como um todo. Naquele momento, em vista dos dias atuais, o serviço

atendia a um reduzido número de pacientes. Inicialmente, Patrícia Cecim buscou conhecer o

funcionamento e rotinas do serviço e do tratamento, desde a coleta de exames até o

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funcionamento dos ambulatórios e internações, para então iniciar as atividades assistenciais

(D11).

Por volta do segundo semestre daquele mesmo ano, a unidade, que já estava pronta,

começava a funcionar, atendendo a crianças, adolescentes e adultos em tratamento hemato-

oncológico. Durante algum tempo, o reduzido número de pacientes permitia que a psicóloga

pudesse avaliar, atender e orientar os pacientes internados na unidade, fossem adultos ou

crianças, bem como os seus familiares/acompanhantes (D11).

Mas no transcorrer do tempo, a demanda por atendimentos foi crescendo. O número

de pacientes infantis foi aumentando consideravelmente. Posteriormente, através do Centro de

Tratamento a Criança e ao Adolescente com Câncer (CTCRIAC), o HUSM passou a ser

referência regional em oncologia pediátrica. Sendo assim, esta unidade passou a ser reservada

apenas ao atendimento do público infantil, sendo que os pacientes adultos tornaram a ser

hospitalizados nos leitos da Unidade Clínica Médica (D11).

Aos poucos, os primeiros transplantes começaram a ser realizados no CTMO. Durante

algum tempo, foi possível conciliar as atividades, assistindo aos pacientes infantis, adultos e

aos transplantados. No entanto, a demanda crescia de tal forma que passou a ser muito difícil

assistir a tantos pacientes (D11). Durante algum tempo, Patrícia Cecim buscou conciliar o

interesse dos estudantes do Curso de Psicologia da UFSM, em realizar estágios com a

necessidade de atender a demanda que se apresentava por intervenção psi. Sendo assim, ela

percebera uma possibilidade de ampliar a assistência psicológica por meio da prática dos

estudantes, através dos estágios, estruturando ao menos parte da assistência, no ensino. Neste

período, Patrícia Cecim esteve voltada para a assistência dos pacientes transplantados e à

supervisão local dos acadêmicos de psicologia da UFSM que estavam realizando estágio no

CTCRIAC, atendendo as crianças e seus pais/acompanhantes e nas Unidades de Clínica

Médica, atendendo os adultos internados (D11). E assim foi durante algum tempo, por cerca

de cinco a seis anos, quando os estágios foram encerrados no setor, por volta do período de

2004 ou 2005. Naquele momento, os profissionais do CTCRIAC foram informados quanto ao

encerramento das atividades de estágio e, consequentemente, da psicologia. Com isso, a partir

de então, os pacientes da unidade deixariam de receber assistência psicológica. Em vista disso

e considerando a necessidade apresentada pelo local, foi sugerida a contratação de um

psicólogo para atender especificamente ao CTCRIAC. Quanto aos pacientes adultos,

hospitalizados nas Unidades de Clínica Médica, o trabalho sofreu algumas mudanças, mas

teve a continuidade através de pedidos de consultoria, não havendo um psicólogo inserido

cotidianamente no setor (D11).

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Além dos setores já mencionados, dentro do Serviço de Hemato-oncologia, Patrícia

Cecim também presta assessoria psicológica aos pacientes que frequentam o Serviço de

Radioterapia do hospital. Em um primeiro momento, em decorrência da demanda ser restrita,

pontual, o trabalho era realizado através de pedido de consultoria. No entanto, esta realidade

foi mudando e, atualmente, a psicologia desenvolve um trabalho cotidiano, estando mais

presente no setor. Diferente do momento da hospitalização, cujo período de retorno dos

pacientes varia em geral a cada vinte e um dias, em decorrência do ciclo do tratamento, a

radioterapia é realizada a nível ambulatorial, diariamente, por um período determinado. Esta

rotina possibilita ao profissional de psicologia uma previsibilidade e maior acesso ao paciente

e acompanhante, a fim de tratar as demandas com mais rapidez e continuidade (D11). Sendo

assim, a assistência psicológica junto ao CTMO, e Serviço de Hemato-oncologia (setores de

radioterapia e Unidades de Clínica Médica), é realizada ao paciente e familiar/acompanhante,

tanto por uma solicitação destes, quanto por parte da equipe multiprofissional. De modo geral,

os atendimentos são breves, pontuais, e podem ser realizados individualmente ou conjugados,

isto é, conjuntamente com o paciente hospitalizado e o familiar, ou com o acompanhante que

esteja participando do processo de tratamento daquele paciente (D11).

Resgatando alguns acontecimentos, paralelamente ao ingresso de Marta de Oliveira e

Patrícia Cecim, em 1996, Eliani Viero havia saído para realizar o mestrado, retornando em

1998, com uma proposta de trabalho junto a Pediatria do HUSM. Por volta desta época,

Eliana da Costa Ramos seguia desenvolvendo as suas atividades junto a CRH. No entanto, ela

estava encerrando o trabalho junto ao Ambulatório de Psicoterapia Infantil, encaminhando os

pacientes restantes para os serviços de Psicologia oferecidos pela rede municipal e clínicas

escolas. Naquele momento, a UFSM já dispunha do Curso de Psicologia e o funcionamento

da Clínica Escola do curso estava em andamento (D1). Neste mesmo período, a pedido, Marta

de Oliveira passou a exercer – temporariamente – metade da sua carga horária fora do

hospital. Acolhida em sua solicitação, durante algum tempo, ela desenvolvera suas atividades

profissionais atendendo aos estudantes da universidade junto ao Ânima – que consiste em um

Núcleo de Apoio e Aprendizagem à Educação, situado junto ao Centro de Educação da

UFSM (D2; UFSM, 2013).

Por volta de 2002, Salvador Penteado foi eleito pelo Sindicato dos Psicólogos do Rio

Grande do Sul, o representante da categoria junto ao Conselho Nacional de Saúde.

Posteriormente, ele assumiu atividades junto a outros setores/órgãos da UFSM, deixando de

trabalhar junto ao Serviço de Doenças Infecciosas (SDI). Diante do seu envolvimento em

atividades como a de representar a UFSM no Conselho de Saúde e de ser membro do

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Conselho Universitário da universidade, Salvador Penteado prosseguiu no ambulatório do

HUSM, mas com redução das atividades (D4).

Logo em seguida, por volta de 2003, Marta de Oliveira voltava a exercer

integralmente as suas atividades profissionais junto ao HUSM. No entanto, atendendo a uma

solicitação dos profissionais do SDI, em disponibilizar assistência psicológica aos pacientes

daquele serviço, a Direção Clínica do hospital demandou que Marta de Oliveira se

responsabilizasse pelo assessoramento psicológico aos pacientes e profissionais do SDI (D2).

Até aquele momento, Marta era a única psicóloga do hospital que não estava envolvida com o

atendimento clínico de pacientes, uma vez que Eliana da Costa Ramos, sua colega no CRH, já

desenvolvia atividades junto a gestantes, no ambulatório Pré-natal. E diante da carência de

profissionais e demandas dos serviços por assistência psicológica aos pacientes, parecia

incompreensível Marta de Oliveira não atender a esta convocação.

Foi, então, que Marta de Oliveira passou a desenvolver atividades assistenciais junto

ao ambulatório dos pacientes do SDI. Sendo assim, duas vezes na semana, Marta atende os

pacientes adultos do referido serviço, que vem ao hospital para as consultas de rotina. Os

pacientes são encaminhados, em sua maioria, basicamente pela equipe de enfermagem, além

da assistente social e, menos frequente, pelos médicos do setor. O SDI atende a pacientes de

toda a região, sendo que muitos deles são de outros municípios. Sendo assim, em seus

atendimentos, Marta de Oliveira realiza intervenções breves e pontuais no ambulatório e,

quando necessário, encaminha os pacientes vindos de outros municípios para serviços de

psicologia nas cidades de origem. Aos pacientes de Santa Maria, quando necessário, são

realizados atendimentos na modalidade de Psicoterapia Breve. O foco dos atendimentos

considera tanto as observações da equipe (encaminhamentos), como também estão

relacionados aos sentimentos, percepções e comportamentos do paciente em adquirir e lidar

com uma doença crônica. A adesão ao tratamento é outro aspecto avaliado e tratado (D2).

Desde então, Marta segue desenvolvendo as suas atividades profissionais junto ao CRH e ao

SDI. Sendo assim, Marta de Oliveira e Eliana da Costa Ramos desenvolvem atividades de

Psicologia Organizacional, junto ao CRH e estão submetidas, referencialmente, à Direção

Administrativa do hospital, mas, ao mesmo tempo, desenvolvem atividades de Psicologia

Clínica e, frente a estas questões, estão subordinadas a Direção Clínica.

Foi aproximadamente nesta época e concomitantemente a estes acontecimentos, que

um novo concurso estava em andamento, visando promover cargos para o HUSM. O processo

seletivo fora realizado em novembro de 2003, cerca de nove anos após aquele em que Patrícia

Cecim e Marta de Oliveira ingressaram no hospital. Dentre os classificados, constavam,

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Fábio Becker Pires e Geila Kullmann Gonçalves, respectivamente primeiro e terceiro

colocados no concurso. Em breve, ambos passariam a desenvolver as suas atividades

profissionais no HUSM (UFSM, 2003).

Em fevereiro do ano seguinte, em 2004 e por volta de seus 24 anos, Fábio Becker

Pires ingressava no hospital, assumindo a vaga para psicólogo junto ao Serviço de Psiquiatria

do HUSM. O setor não dispunha de psicólogo desde que Eliani Venturini Viero se afastou de

suas atividades profissionais no hospital para cursar o mestrado (D3; D5).

No momento em que Fábio Pires adentrava a instituição, a direção do hospital da

época compreendia que havia demanda por psicólogo em vários setores do hospital, sendo a

Psiquiatria aquele que evidenciava, com mais urgência, por este profissional na equipe. Diante

do quadro que se apresentava, Fábio Pires passaria, então, a fazer parte dos profissionais do

Serviço de Psiquiatria do hospital (D5).

Em decorrência de uma solicitação do setor, durante algum tempo, Fábio Pires

desenvolveu - em caráter experimental - as suas atividades junto ao Pronto Atendimento da

Psiquiatria. A expectativa era de que o trabalho de um psicólogo junto a este setor pudesse

realizar uma triagem dos pacientes, agilizando o atendimento médico. No entanto,

contrariando as perspectivas, os usuários que buscavam por assistência junto ao serviço de

Pronto Atendimento da Psiquiatria do HUSM, o faziam adequadamente. Uma vez que não

fazia sentido Fábio Pires seguir desenvolvendo este trabalho junto ao setor, foi avaliado, junto

com a Coordenação do Serviço, que ele passaria a desenvolver as suas atividades nas

unidades de internação do setor. Sendo assim, Fábio Pires presta assistência psicológica aos

pacientes internados para tratamento psiquiátrico, tanto na Unidade Paulo Guedes, quanto na

Unidade SERDEQUIM. Desde então, de modo geral, as atividades assistenciais perpassam

pelo atendimento dos pacientes e de seus familiares. Em relação aos pacientes, as

intervenções visam avaliar, acolher e minimizar os impactos subjetivos da internação

psiquiátrica nos pacientes. Quanto aos familiares, são realizadas ações promovendo

acolhimento, orientação, mediação de conflitos, entre outras, como encaminhamentos do

paciente para serviços na rede, além de outros cuidados ao paciente diante da alta hospitalar.

Para a assistência dos pacientes, são preteridas as intervenções em grupos, sendo realizados

atendimentos individuais, quando necessário ou solicitado, pelo paciente ou mesmo equipe

(D5).

Ainda, além daquelas atividades características de um psicólogo, também são

realizadas, tanto a nível ambulatorial quanto de internação, atividades típicas do Atendimento

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em Saúde Mental, as quais promovem benefícios psíquicos, como o desenvolvimento de

diferentes oficinas, seja de atividades manuais, recreativas, dentre outras (D5).

Entre outras atividades desenvolvidas por Fábio, destacam-se a participação em

rounds e reuniões para trocas profissionais e discussões de casos clínicos. Também são

realizadas reuniões com o propósito de discutir reformulações necessárias ao serviço (D5).

Neste período, compreendido entre 2004 e 2009, além das atividades assistenciais,

Fábio Pires também estivera envolvido com atividades de ensino, supervisionando o estágio

de acadêmicos de psicologia no setor. Em 2009, ele viria a se afastar das suas atividades

profissionais no HUSM para cursar o Mestrado em Psicologia na UFSC, quando desenvolveu

a pesquisa em meio a usuários do serviço de psiquiatria do hospital. Em 2011, Fábio Pires

voltaria a retomar as suas atividades assistenciais e de ensino junto da instituição. E, a partir

deste envolvimento dele com o ensino – mais especificamente com a Residência

Multiprofissional em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público de Saúde – Ênfase em

Saúde Mental da UFSM, outras ações assistenciais psicológicas passaram a ser realizadas a

nível ambulatorial. Atualmente, sob a supervisão de Fábio, os psicólogos residentes atendem

aos pacientes em tratamento no serviço e que são encaminhados pelos psiquiatras para

assistência psicológica. Desde então, Fábio passou a desenvolver atividades de ensino ao

nível de pós-graduação, por meio de preceptoria e tutoria dos residentes (multiprofissionais)

inseridos no Serviço de Psiquiatria (D5).

Retornando ao período de 2004, em abril daquele mesmo ano, logo após Fabio

ingressar no hospital, Geila Kullmann Gonçalves, por volta de seus 30 anos, também

adentrava na instituição, assumindo a vaga para psicólogo junto ao Centro de Educação (CE)

da UFSM (D7).

No entanto, em decorrência da demanda da instituição e vindo ao encontro de uma

realização pessoal, ela viria a desenvolver parte da sua carga horária junto do HUSM. Geila

Gonçalves gostava e se interessava em trabalhar na área hospitalar, e teria solicitado junto aos

diretores do CE e do HUSM para exercer parte da sua carga horária desenvolvendo atividades

junto do hospital. Através da permuta com uma colega – naquele período Marta de Oliveira,

psicóloga na CRH do HUSM dividia a sua carga horária entre as atividades junto a CRH/

HUSM e o Ânima (CE) - foi possível que ela viabilizasse este desejo. Assim, igualmente,

Geila Gonçalves destinava vinte horas de sua carga horária para desenvolver suas atividades

profissionais junto ao HUSM (D7).

Em sua passagem pelo hospital, Geila Gonçalves trabalhou junto dos setores Pronto-

Socorro (P.S.), Unidade de Tratamento Intensivo Adulto (UTI-Ad) e na Comissão Intra-

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Hospitalar de Captação de Órgãos e Tecidos (CIHCOT) do HUSM. Além das demandas

existentes por assistência psicológica nestes setores, o ingresso da psicóloga também visava

atender as exigências legais de prestação de serviços psicológicos, como por exemplo, a

CIHCOT (D9).

Com relação ao surgimento e a formação desta comissão no HUSM, é preciso olhar

para as políticas públicas no que remete aos transplantes e captação de órgãos. Em 1995, foi

criada a Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, diante da suma importância do

estabelecimento de uma organização centralizada e sistematizada em seu funcionamento. A

Central de Transplante tem como propósito coordenar e agilizar o processo de captação de

órgãos, além de estimular a comunidade médica para a notificação de potenciais doadores

(HUSM, 2011).

Logo após, a Lei Federal 9434 de 4 de Fevereiro de 1997, conhecida como “Lei dos

Transplantes” e que dispõe sobre a remoção de órgãos e tecidos, emergia de modo a instituir o

Sistema Nacional de Transplantes. Além disso, ela designou em cada estado da federação, a

Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNDO) – a já existente Central

de Transplante. Estas medidas estimularam as captações e transplantes (HUSM, 2011).

Posteriormente, a Portaria 905 do ano de 2000 emergia para regulamentar a formação

de equipes de captação de órgãos em cada hospital do SUS que tivesse UTI tipo II e

Emergências, sob a penalidade de descredenciamento desses hospitais. Desde então, a

Comissão Intra-Hospitalar de Transplante, organizada no HUSM desde 2000, permanece por

força da lei (Portaria GM n.º 905/2000), sendo responsável, juntamente com a instituição,

perante o Ministério Público (HUSM, 2011).

A CIHCOT compete o exercício de coordenar o processo de captação, retirada e

encaminhamento de órgãos para transplante, além de promover suporte aos familiares dos

pacientes em morte cerebral, como também sensibilizar os profissionais de saúde e a

comunidade sobre a importância da doação (HUSM, 2011).

Nos setores de Pronto-Socorro e na UTI Adulto, a rotina assistencial da psicóloga

consistia em identificar, cotidianamente, quais pacientes e/ou seus familiares/acompanhantes

necessitavam de intervenção psicológica. Sendo assim, ela realizava uma triagem, avaliando e

identificando os usuários do serviço que demandavam por assistência psicológica. Para tanto,

a psicóloga buscava estar presente nos setores, circulando, observando e identificando, junto

da equipe de saúde, os pacientes que precisavam deste tipo de intervenção. Os atendimentos

eram realizados nos próprios setores, em locais improvisados, já que não havia uma sala

destinada aos atendimentos da psicóloga. Isto, inclusive, era uma das maiores dificuldades

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enfrentadas pela psicóloga: dispor de um local que oferecesse privacidade para que ela

pudesse realizar os atendimentos. Quanto a sua rotina assistencial, ela também participava –

ao máximo que lhe era possível – dos rounds e reuniões de equipe, além dos registros em

prontuário (D7).

O fato de que Geila Gonçalves desenvolvia as suas atividades profissionais junto aos

setores do Pronto-Socorro e UTI Adulto já lhe possibilitava que ela acompanhasse um

paciente e/ou sua família antes mesmo que a equipe da CIHCOT fosse acionada, quando os

casos resultavam em morte encefálica (D7).

Juntamente de outros profissionais, Geila participou da formação da equipe da

CIHCOT, e da elaboração e divulgação do protocolo de morte encefálica, dos objetivos do

trabalho desenvolvido pela comissão para os diversos profissionais e departamentos do

hospital. Além do trabalho de educação permanente, Geila Gonçalves participava de eventos

desenvolvidos pela CIHCOT visando esclarecer, orientar e sensibilizar os profissionais e a

comunidade santa-mariense em geral, para a importância da doação de órgãos e tecidos. Geila

também prestava esclarecimentos e orientações à equipe e familiares quanto aos aspectos

emocionais dos familiares de paciente em morte encefálica. Prestava assistência psicológica à

família do paciente com morte encefálica, promovendo o suporte emocional não apenas

durante o processo, mas também no pós-doação (D7; HUSM, 2011).

O objetivo é que os profissionais detectassem o mais precocemente quando um

paciente estivesse em morte encefálica, para que a família pudesse ser abordada mais

rapidamente, agilizando o processo de captação de órgãos (D7).

Ao longo do período em que estivera na instituição, Geila Gonçalves trocava

experiências com alguns dos demais psicólogos da área clínica – o que minimizava a sensação

de estar perdida, uma vez que não havia um único serviço ou gestor para ela se reportar,

solicitar orientação e com o qual ela pudesse discutir e refletir sobre o trabalho realizado.

Entre as rotinas assistenciais, Geila registrava os seus atendimentos em prontuários,

considerando não apenas a importância destes registros na assistência e compreensão do

paciente, mas também como forma da Psicologia demonstrar o seu trabalho para os demais

profissionais da saúde. Ainda, também eram elaborados e entregues registros relativos à sua

produtividade, para que os gestores do hospital pudessem visualizar quantos atendimentos

haviam sido prestados e, portanto, para que o trabalho desenvolvido não fosse perdido, sem

registros (D7).

E assim foram por cerca de dois anos e meio, quando, por razões pessoais, em

novembro/2006, Geila Gonçalves solicitou a exoneração da UFSM. Com a saída de Geila

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Gonçalves do hospital, Salvador Penteado assumiria, por volta de 2010, em caráter provisório

e pontual as atividades junto a Unidade de Tratamento Intensivo de Adultos (UTI-Adulto), e

da Comissão Intra-Hospitalar de Captação de Órgãos e Tecidos. Por volta desta mesma época,

ele passou a orientar e supervisionar estudantes de Psicologia da UFSM, que estivessem

realizando estágio curricular junto da CTI Adulto e, parece que em algum momento, junto ao

Pronto-Socorro. No entanto, esta não seria a primeira vez em que ele se envolveria com

atividades de ensino, pois quando esteve inserido no Serviço de Hemato-oncologia, ele

também teria orientado e supervisionado estudantes, mas estes eram procedentes de outras

cidades e universidades, pois naquela época ainda não havia um curso de Psicologia na UFSM

(D4).

Até onde se tem conhecimento, o último concurso público federal até então realizado,

visando o provimento de cargos e servidores públicos federais para trabalhar junto do

Hospital Universitário de Santa Maria foi realizado em 2003. Posteriormente, outros

concursos públicos foram realizados pela UFSM, prevendo a contratação de psicólogo, mas

em nenhum deles se teve notícias de psicólogos admitidos para trabalhar no hospital.

A partir de então, eventualmente, foram realizados processos seletivos pela Fundação

de Apoio a Tecnologia e a Ciência (FATEC), com o propósito de prover a contratação de

profissionais de saúde, terceirizados, para trabalhar no HUSM e/ou formar um banco de

selecionados para suprimir necessidades futuras de novas vagas ou a substituição de vagas

existentes. A FATEC é uma fundação de direito privado, sem fins lucrativos e vinculada a

UFSM. O regime de trabalho destes profissionais é regido conforme a Consolidação das Leis

do Trabalho (CLT). No caso da contratação de psicólogos, a jornada de trabalho semanal dos

profissionais contratados varia entre 20 e 40 horas (HUSM, 2010b; HUSM, 2011b).

No ano seguinte, em agosto de 2007, foi realizado um destes processos seletivos

promovidos pela FATEC, visando à contratação de pessoal para trabalhar no HUSM. Diante

da oportunidade, Janaína Cláudia Strenzel se inscreveu para a seleção. Por volta de seus 29

anos, ela recentemente havia concluído o mestrado na capital, estava cursando especialização

e, por razões pessoais, desejava residir em Santa Maria. Aprovada no processo seletivo, ela

ingressava na instituição e passaria a desenvolver as suas atividades profissionais junto ao

Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador (SSST) do HUSM (D8).

Naquele momento, o Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador (SSST) estava

emergindo na instituição. Este setor, assim como muitos outros, não consta no desatualizado

organograma da instituição (HUSM, 1988), gerando dificuldades, divergências ou mesmo

dúvidas nos aspectos hierárquicos nos setores e colaboradores da instituição. E com Janaína

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Strenzel e o SSST não teria sido diferente: por diversos momentos, houve dúvidas quanto ao

setor em que ela deveria estar vinculada. Diante disso, assim, como a assistente social Nildete

Terezinha de Oliveira (que na época, estava afastada do trabalho para cursar o doutorado) e as

psicólogas Eliana da Costa Ramos e Marta de Oliveira, Janaína também estava submetida à

Coordenação dos Recursos Humanos do hospital, pois não poderia estar “vinculada” a um

serviço que não estava oficializado (não constando no organograma). No entanto, apesar desta

chefia da CRH ser bastante resolutiva em seus aspectos administrativos e burocráticos, não

proporcionava à psicóloga um espaço para a discussão e reflexão acerca das suas práticas, das

suas atividades (D8).

Atualmente, embora ainda não oficializado, compreende-se que o SSST está

submetido à Coordenação de Recursos Humanos do HUSM. Mas, desde a época, a proposta

era de que ambos os setores trabalhassem em conjunto (D8).

Ao assumir o cargo, Janaína Strenzel fora informada de que era a primeira psicóloga

contratada para trabalhar no setor. Havia uma médica do trabalho, além de outros

profissionais interessados em trabalhar na área, mas a equipe ainda estava sendo formada

(D8).

Sendo assim, nestes momentos iniciais, foi necessário providenciar medidas que

compreendessem desde a conquista de um espaço físico para estabelecer o próprio SSST, uma

sala para que a psicóloga pudesse realizar os atendimentos, como também definir propostas de

trabalho e de fluxo de funcionamento, entre outros aspectos da atividade. Estas questões eram

discutidas entre a equipe que estava sendo formada, ao que parece, principalmente entre

Janaína Strenzel, a médica do trabalho e as psicólogas da CRH (D8).

Definidas estas questões, um proposta de trabalho foi desenvolvida por Janaína

Strenzel, e apresentada aos gestores da época, visando esclarecer e ressaltar a importância do

trabalho a ser desenvolvido, apontando as possíveis contribuições da Psicologia junto ao setor

(D8).

Embora o viés abordado no processo seletivo prestado por Janaína Strenzel estivesse

direcionado para a Saúde do Trabalhador, surpreendentemente, a proposta de trabalho que lhe

foi colocada, ao ingressar no setor, era a de que desenvolvesse um trabalho de psicologia

clínica, junto aos trabalhadores do hospital. Ela avaliava e prestava assistência psicológica aos

servidores do hospital encaminhados pela médica do trabalho ou pelas psicólogas do Serviço

de Orientação e Acompanhamento (SOA) da CRH. A sugestão era de que o trabalho fosse

desenvolvido através da modalidade de Psicoterapia Breve Focal (D8).

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Considerando o vínculo da psicóloga com a instituição, compreendendo a necessidade

de que a sua atividade promovesse o retorno para o hospital, eram atendidos os servidores

cujos conflitos estivessem repercutindo no desenvolvimento do trabalho. Sendo assim,

Janaína Strenzel realizava uma avaliação dos servidores encaminhados para assistência

psicológica. As intervenções realizadas compreendiam desde o acolhimento, orientação,

acompanhamento psicológico até a psicoterapia. Os servidores cujas demandas não se

refletissem nas atividades laborais ou aquelas que não se beneficiassem da modalidade de

assistência adotada, eram encaminhados para serviços psicológicos na comunidade (D8).

Com o propósito de demostrar aos gestores os resultados do seu trabalho, Janaína

Strenzel elaborava e entregava, periodicamente, relatórios das atividades que havia realizado,

como o número de pacientes que havia atendido, entre outros aspectos. Além disso, também

realizou algumas palestras, participando de atividades de educação continuada, com o

propósito de divulgar o trabalho realizado e os possíveis benefícios para o público atendido.

Por vezes, os servidores demonstravam desconhecimento do trabalho desenvolvido pela

Psicologia, o possível adoecimento relacionado ao trabalho, entre outras questões. A partir de

esclarecimentos e divulgação do serviço realizado a comunidade do hospital, a demanda por

assistência psicológica crescera bastante, chegando, por vezes, a ser elaborada uma listagem,

na qual constavam diversos servidores aguardando por atendimento. Com o transcorrer do

tempo e a realização do trabalho, também surgiam os primeiros resultados do trabalho

realizado, com o reconhecimento de alguns pacientes e coordenadores (D8).

Inicialmente, Janaína Strenzel dispunha de uma carga horária de 40 horas semanais.

No entanto, posteriormente (cerca de um ano e meio após o seu ingresso), a sua carga horária

foi reduzida pela metade, por uma solicitação da própria psicóloga, devido a questões pessoais

(D8).

Enquanto Janaína Strenzel e os demais psicólogos exerciam as suas atividades na

instituição, em agosto de 2008, eu, Andresa Petter Machado ingressava no HUSM. Por conta

da Especialização em Psicologia Hospitalar, na UFRGS, havia recentemente concluído o

estágio curricular junto ao Hospital de Clínicas em Porto Alegre (HCPA), passando a residir

em Santa Maria e buscava uma oportunidade profissional na área. Através de uma contratação

emergencial, ingressei no hospital com uma jornada de trabalho de 20 horas semanais e

passaria a exercer as atividades profissionais junto ao Serviço de Hemato-oncopediatria ou

CTCRIAC.

Desde o momento em que a psicóloga Patrícia Cecim encerrou a orientação e

supervisão de estágios – em que as atividades assistenciais psicológicas no setor eram

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realizadas por meio dos estudantes - sugeriu à equipe do Centro de Tratamento da Criança e

Adolescente com Câncer a contratação de uma psicóloga para atender o setor. Com isso, e

diante da demanda apresentada pelos pacientes, familiares e pela própria equipe, em suas

dificuldades em lidar e manejar com as situações de sofrimento e morte, dentre outras, os

profissionais do setor recorreram a Direção Clínica do hospital, solicitando a contratação de

um psicólogo (D11; RP).

Após conhecer a equipe, normas de funcionamento da unidade e rotinas do setor e de

tratamento dos pacientes, um projeto assistencial para o CTCRIAC foi sendo delineado. Em

decorrência da intensa demanda e pela internação consistir em um momento crítico do

tratamento, optou-se por concentrar a assistência psicológica durante a hospitalização, tanto

aos pacientes internados, aos seus pais/acompanhantes e a equipe de saúde, quanto à

compreensão e manejo das situações assistenciais. Ao ambulatório, ficavam reservadas as

intervenções pontuais e breves, tanto com os pacientes, quando aos seus familiares. A

assistência era disponibilizada aos pacientes e seus familiares e dava-se, basicamente, através

de atendimentos individuais, ou conjugados (paciente e familiar/acompanhante). Os

atendimentos eram realizados por triagem da psicóloga, por encaminhamentos realizados pela

equipe, ou solicitados pelo próprio paciente, seu familiar. Uma especial atenção era reservada

aos pacientes em processo diagnóstico e situações de recidiva da doença. A assistência

psicológica visava avaliar, acompanhar e intervir nas repercussões emocionais decorrentes do

processo de adoecimento, hospitalização e tratamento. Posteriormente, além da modalidade de

atendimento individual, passaram a serem realizadas intervenções grupais, por meio de um

grupo aberto, realizado com os familiares dos pacientes hospitalizados, com a proposta de

promover um espaço de escuta e reflexão, promovendo apoio emocional, conhecer os

diversos familiares presentes e tratar aspectos relativos à convivência no CTCRIAC (RP).

Entre as rotinas de serviço, sempre que possível, procurava-se participar de reuniões

de equipe, além das “passagens de plantão, realizadas pela equipe de enfermagem, entre os

turnos manhã e tarde”. Também eram realizados registros das atividades assistenciais em um

prontuário específico da Psicologia e no prontuário do paciente. Além disso, eram entregues

ao hospital registros quinzenais da produtividade e atividades realizadas junto ao serviço

(número de pacientes e familiares atendidos, de supervisões, seminários, etc.). E na passagem

pelo setor, fui conhecendo, aos poucos, os colegas psicólogos. De modo geral, os contatos

foram mais frequentes com Eliani Viero, devido à transferência de alguns pacientes do

CTCRIAC para a UTI-Pediátrica, ou vice-versa. Alguns contatos também ocorreram com a

psicóloga do CTMO, Patrícia Cecim. Em situações pontuais, buscou-se realizar trocas

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profissionais com as colegas do CRH, quando estas estavam desenvolvendo algum trabalho

com a equipe daquele setor (RP).

Nos três anos que viriam, além das atividades assistenciais, estive envolvida com o

ensino, através da supervisão de estagiários – acadêmicos do curso de Psicologia da UFSM.

Ainda, foram realizados seminários com os estudantes, com o propósito de contextualizar e

orientar os estagiários de psicologia do CTCRIAC acerca de seu campo de atuação,

promovendo uma melhor inserção, atuação e aprendizado junto ao campo de estágio. Durante

algum tempo, juntamente com diversos outros profissionais, participei do Comitê de Bioética,

que estava surgindo no hospital, e que se propunha analisar casos clínicos em seus aspectos e

contextos, que envolvam dilemas éticos (RP).

No que remete a aspectos hierárquicos, foram enfrentadas dificuldades diante de

algumas situações confusas e pouco esclarecidas neste sentido. Estava submetida à chefia do

Serviço de Hemato-oncologia e a Direção Clínica, nas quais buscava um espaço para

discussão e reflexão sobre o trabalho desenvolvido, mas era junto à Coordenação dos

Recursos Humanos que tinha esclarecidos os aspectos administrativos e burocráticos. Outros

aspectos que dificultavam o desenvolvimento das atividades se referiam à aquisição de

materiais, no caso, brinquedos, jogos e materiais gráficos, para o atendimento de crianças e

adolescentes. Ao longo daquele período, os materiais foram adquiridos por meio de doações,

sendo muitas vezes esta a via apontada por profissionais como o meio de conquistar

ferramentas de trabalho, entre outras coisas (RP).

No ano seguinte, em 2009, Fábio Pires se afastava de suas atividades profissionais

junto ao HUSM para cursar o Mestrado em Psicologia, na Universidade Federal de Santa

Catarina. Até onde se tem notícias, nenhum psicólogo teria substituído Fábio em suas

atividades no setor pelo período em que se ausentara para cursar a pós-graduação, concluída

no início de 2011(D5; RP).

Em março de 2010, embora houvesse satisfação pessoal e profissional no

desenvolvimento de suas atividades, um dos fatores que mais dificultavam a permanência na

instituição estava relacionado à reduzida gratificação salarial. Em decorrência deste fator,

Janaína Strenzel deixava o SSST/ HUSM. Conforme edital nº. 002/2010 FATEC/ HUSM, foi

realizado processo seletivo para a contratação de um profissional que viria a substituí-la. No

entanto, devido à necessidade de restrição de despesas do HUSM, nenhum candidato teria

sido chamado e, mesmo contrariando gestores, a vaga acabou sendo suspensa. No período em

que trabalhara no hospital, Janaína Strenzel conhecera apenas alguns de seus pares, estando à

maioria dos contatos entre psicólogos reservados as colegas da CRH (D8).

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No ano seguinte, em 2011, após concluir o mestrado, Fábio Pires retornava às suas

atividades profissionais no HUSM, não somente na assistência, como também no ensino. No

entanto, agora, além da graduação, encontra-se envolvido também com Programa de

Residência Multiprofissional Integrada em Gestão e Atenção Hospitalar no Sistema Público

de Saúde – Ênfase em Saúde Mental. Quando Fábio retornou do mestrado, os primeiros

residentes estavam sendo inseridos no setor. Desde meados daquele ano, Fábio Pires

desenvolve atividades de preceptoria – ou seja, é responsável pela orientação prática das

atividades dos residentes – como também de tutor de campo, cujo trabalho perpassa pela

formação genérica e acadêmica no que remete a formação em Saúde Pública e a Atenção em

Saúde Mental (D5).

Em dezembro daquele mesmo ano, foi realizado um novo processo seletivo via

Fundação de Apoio a Tecnologia e a Ciência (FATEC), sendo que Paula Moraes Pfeifer e

Andresa Petter Machado foram classificadas, respectivamente, em primeiro e segundo

lugares. Sendo assim, Paula Pfeifer passou a ocupar a vaga para psicólogo junto ao Serviço de

Hemato-oncopediatria e a Andresa Petter Machado passou a desenvolver as suas atividades

profissionais no Serviço de Saúde e Segurança do Trabalhador, na vaga que, naquela ocasião,

foi reconquistada pela Coordenação de Recursos Humanos junto dos gestores do hospital

(RP).

Sobre (não) estruturar o serviço no hospital

O período compreendido entre 2000 e 2005 parece ter sido uma época peculiar não

somente na história da instituição, mas também na trajetória da Psicologia. Como já expresso

no segundo capítulo, naquele momento, os gestores do hospital estavam implantando o

Planejamento Estratégico do HUSM. Ainda, eles também almejavam a acreditação hospitalar,

mobilizando profissionais, setores e serviços da instituição para o alcance de tais objetivos.

Paralelamente a estes acontecimentos, os primeiros estudantes do curso de Psicologia

da UFSM demonstravam o interesse em realizar estágios no hospital. Somada a demanda dos

gestores, pela acreditação hospitalar (D1), a procura por estágios (D2; D3) teria motivado os

psicólogos da época a refletirem sobre a organização e funcionamento do serviço na

instituição, e a possibilidade de estruturar um Serviço de Psicologia no HUSM (D1, D2, D3,

D5, D11). No entanto, a constituição de um Serviço de Psicologia na instituição e a eleição de

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seu respectivo coordenador também atenderia a demanda de psicólogos e gestores em tratar,

com mais praticidade, dos aspectos relativos à Psicologia no hospital (D7; D11).

Em decorrência da demanda dos estudantes por estágios (D2; D3; D11), durante

algum tempo, os psicólogos realizaram reuniões, com o propósito de conversar e delinear a

assistência e o ensino (D2; D3; D5; D11). Tratava-se de uma experiência nova para aquele

grupo de psicólogos.

Por um período, os psicólogos, em seu conjunto, estiveram envolvidos com o ensino,

acolhendo, orientando e supervisionando os estudantes em seus estágios no hospital. No

entanto, compreende-se que houve a tentativa dos mesmos em expandir a assistência

psicológica a outros setores que não dispunham previamente de um psicólogo inserido,

estruturando, assim, parte da assistência, no ensino. Em vista disso, os estudantes prestavam

assistência aos pacientes, ou funcionários (no caso daqueles que realizavam estágio na área de

recursos humanos) e os psicólogos, além das suas atividades assistenciais, de rotina, também

prestavam assessoria e supervisão aos estagiários (D2; D3; D11).

Acrescenta-se que, por um período, estes profissionais se reuniram frequentemente

para refletir e avaliar os estágios em andamento, tanto a partir das suas condições

profissionais, como também das necessidades dos estudantes e daquelas decorrentes dos

serviços do hospital. Além disso, as reuniões também visavam pensar sobre os aspectos que

envolveriam a estruturação de um Serviço de Psicologia no hospital. (D3; D5; D11).

E neste sentido, ressalta-se que, em meio a este panorama, os psicólogos realizaram

um levantamento das necessidades a serem suprimidas, para que um Serviço de Psicologia no

HUSM pudesse ser constituído. O levantamento realizado foi apresentado aos gestores da

época (D1). Neste sentido, o principal aspecto apontado, na ocasião, se referia à necessidade

de contratação de mais profissionais, para que a assistência psicológica pudesse ser expandida

aos demais setores do hospital (D3, D4; D11). E parece que esta conduta resultou em algum

efeito, já que, naquele período, Fábio Becker Pires e Geila Kullmann Gonçalves ingressaram

no hospital. No entanto, embora se tratasse de uma importante conquista, a contratação destes

profissionais não teria sido suficiente para resolver a situação. Um dos fatores que igualmente

parece ter sido relevante para a não constituição do serviço foram as dúvidas e diferentes

concepções acerca do funcionamento do que seria um Serviço de Psicologia, assim como as

implicações de sua estruturação para alguns serviços do hospital e aos profissionais, e

viabilidade de sua estruturação diante daquelas condições (D2; D3; D4; D5; D7; D11).

Sendo assim, diante dos fatores mencionados, observa-se que, gradualmente e em seu

conjunto, os psicólogos foram se desmotivando e se dispersando uns dos outros, novamente,

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não favorecendo a frutificação de um Serviço de Psicologia no HUSM. Ainda, tem-se a

impressão de que o mesmo aconteceu em relação ao ensino: houve um momento em que os

psicólogos, em seu conjunto, estiveram envolvidos com atividades de ensino por meio de

supervisão e orientação de estudantes, que realizavam estágios no HUSM. No entanto,

algumas experiências pontuais e as diferentes concepções e expectativas quanto à integração

ensino-serviço, somados ao momento vivenciado pelos psicólogos, na época, contribuíram

para a gradual dispersão e também individualização desta atividade.

Esse é o quadro de psicólogos que atuam no hospital, destacando-se vários aspectos de

forma bastante flagrante. Ao longo da trajetória percorrida pela Psicologia no HUSM,

observa-se que esta não possui um serviço definido no hospital, sendo que os setores vão

sendo atendidos de acordo com a demanda. Mesmo ante a evidente necessidade da função

psicólogo em diversos setores, ao longo do tempo, a demanda só foi sendo atendida em

circunstâncias específicas, sem uma definição precisa de onde cada psicólogo atuaria, nem se

essa função se manteria. Essa dificuldade fez com que constantemente o trabalho

desenvolvido por um período ficasse sem atendimento por outros, muitas vezes sendo o

serviço extinto. Ainda, nota-se que os profissionais estão submetidos a diferentes chefias.

Esses elementos dificultam o contato entre os psicólogos existentes no hospital,

revelando, muitas vezes, um completo desconhecimento dos colegas ou das circunstâncias do

trabalho de cada um.

Apesar da história do hospital universitário ser um esforço de organização como um

conjunto, o serviço de psicologia ainda é disperso e impreciso, não revelando, até o momento,

uma perspectiva de que esse serviço possa a ser exercido de outra forma.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse em organizar um hospital universitário no interior do Rio Grande do Sul

foi muito significativo para a ampliação dos serviços nessa região, trazendo muitas inovações

e atualizando essas inovações ao longo do tempo, mesmo com muitas dificuldades para sua

administração. A Universidade Federal de Santa Maria possuiu um projeto que foi sendo

gestado gradativamente. Havia o interesse por um serviço de psicologia num período em que

há pouco a profissão psicólogo tinha sido regulamentada, e numa época em que praticamente

não havia psicólogos na cidade. Contudo, não se conseguiu identificar nenhum elemento

preciso que sinalizasse o que demandou a origem do serviço no hospital.

Os profissionais em psicologia que desenvolveram as atividades assistenciais no

Hospital Universitário de Santa Maria foram, em sua maioria, mulheres, com formação em

universidades particulares e procedentes do interior. A maior parte dos profissionais também

buscou aperfeiçoamento por meio de cursos de especialização e, alguns, de pós-graduação

(mestrado). Identifica-se a realização de atividades de Psicologia Organizacional e do

Trabalho e de Psicologia Clínica, havendo, de modo geral, o predomínio de atendimentos

individuais.

O atendimento dos servidores foi elemento importante na contratação desses

psicólogos. Contudo, observa-se que muitos dos profissionais contratados para trabalhar nesta

atividade tinham o interesse pela docência, ou em trabalhar na área clínica hospitalar. E no

que remete a esta última, voltada aos pacientes do hospital, observa-se que a inserção do

psicólogo no “Sistema Hospitalar da UFSM” ocorreu por intermédio do trabalho espontâneo

de alguns profissionais. Na unidade hospitalar psiquiátrica, inicialmente, uma psicóloga

buscava implementar, voluntariamente, o “gabinete de psicologia”; anos depois, foi

contratada a primeira psicóloga do HUSM destinada para a área clínica. Em conjunto,

observa-se o envolvimento destas profissionais com testes psicológicos. Os indícios

assistenciais seguintes apontam para a inserção de outra psicóloga, igualmente voluntária, que

prestava assistência ambulatorial aos pacientes em tratamento com o serviço de

endocrinologia pediátrica. Em comum, além da questão do voluntariado, observa-se

novamente a demanda por assistência psicológica infantil, já que os psicólogos da psiquiatria

também estavam envolvidos com a assistência de crianças e adolescentes, através do Centro

Comunitário de Saúde Mental (HUSP), acolhendo às diferentes demandas da região.

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Não houve uma preocupação mais sistemática de planejamento de um serviço, no que

remete aos psicólogos em seu conjunto, até por volta do ano de 2000. Observa-se que alguns

profissionais buscavam apresentar relatórios e sistematizar as atividades por eles realizadas.

No início dos anos 2000, visando a acreditação da instituição, os gestores da época

desenvolveram um planejamento estratégico para o hospital, evidenciando o interesse em que

os psicólogos se organizassem enquanto um serviço. Mas, aparentemente pela falta de

pessoal, não foi levado a termo um projeto específico da Psicologia para o serviço hospitalar.

Além disso, as diferentes perspectivas dos envolvidos sobre o modo de funcionamento do

referido serviço dificultaram uma abordagem mais organizada, tanto na questão assistencial,

quanto no ensino. Durante algum tempo, o interesse de alunos da área em realizar estágio no

HUSM foi um fator que impulsionou um movimento de organização deste serviço entre os

psicólogos. Contudo, isso não foi uma motivação permanente. Da mesma forma como a

assistência, o ensino também se tornou individualizado, e por vezes dissociado, no que remete

a ação ensino-serviço, almejada por um hospital escola. O reduzido número de profissionais

foi amplamente apontado como sendo um fator para a dispersão do serviço. Daí a dificuldade

de atender a parte clínica, os pacientes no hospital, de forma sistemática e contínua, gerando

um desconforto na organização das duas atividades (Psicologia Clínica e Psicologia

Organizacional e do Trabalho). Ao longo desta história, aqui apresentada, percebe-se uma

tímida interação entre os profissionais, os quais continuaram lotados em setores e submetidos

a diferentes chefias, desconhecendo, por vezes, as atividades desenvolvidas entre si.

Historicamente, a Psicologia mostra-se uma área em que os profissionais apresentam

dificuldades em aglutinar. Esta dificuldade estaria relacionada às divergências teóricas. Neste

estudo, observou-se que os depoentes se identificam com diferentes correntes teóricas. E,

apesar de não ter sido enfatizado pelos depoentes, talvez este seja um dos aspectos que não

favoreça a aglutinação entre os psicólogos no HUSM. Contudo, ressalta-se que, para que um

Serviço de Psicologia venha a ser constituído no HUSM, será fundamental tanto o

planejamento da atividade como a integração dos profissionais.

A partir dos depoimentos, outras questões poderiam ser exploradas. No entanto, tais

assuntos não foram abordados, pois fugiriam aos objetivos deste trabalho. Espera-se que esta

dissertação tenha contribuído para o registro, o conhecimento e a compreensão acerca da

inserção e prática dos psicólogos em hospitais gerais no Rio Grande do Sul em especial, no

Hospital Universitário de Santa Maria.

Elaborada a partir do viés dos diversos depoentes e da análise documental, essa

narrativa consiste em uma versão da história. Neste sentido, é válido ressaltar que, conforme

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lembrado por Olmos (2003) a narrativa resulta de um recorte, não sendo possível considerá-la

como absoluta e definitiva. Por meio de uma reconstrução histórica, esta dissertação procurou

conhecer e analisar a inserção dos psicólogos no HUSM e a trajetória por eles percorrida na

instituição. Ainda, buscou-se reunir elementos para a compreensão e reflexão acerca da oferta

dos serviços psicológicos, das práticas e da análise da sua expansão. Como proposta de

pesquisas futuras, sugerem-se estudos historiográficos sobre o Departamento e o Curso de

Psicologia da UFSM, os quais revelaram não possuir a sua história satisfatoriamente

documentada, como foi possível observar ao longo do desenvolvimento deste estudo.

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(1954/1994). Santa Maria: UFSM, 1997.

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93

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Pessoal Carlos Augusto Cunha. Santa Maria, Arquivo Permanente do HUSM/UFSM,

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006.

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Recursos Humanos. Dossiê Funcional de Jane Bouchad Lopes da Cruz. Santa Maria: s/da.

_____. Departamento de Arquivo Geral. Fundos Documentais. Fundo I: Pró-Reitoria de

Recursos Humanos. Dossiê Funcional de Maria Helena Ruschel. Santa Maria: s/db.

_____. Departamento de Arquivo Geral. Fundos Documentais. Fundo I: Pró-Reitoria de

Recursos Humanos. Dossiê Funcional de Denise Beé. Santa Maria: s/dc.

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94

_____. Relatório de Gestão, 1970. Departamento de Arquivo Geral. S/ outras informações

para referência.

______. Departamento de Administração Hospitalar. Regimento. Santa Maria, UFSM, 1972.

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_____. Roteiro de Planejamento do Hospital Universitário da Universidade Federal de

Santa Maria. Departamento de Arquivo Permanente do HUSM. Santa Maria: UFSM, 1978.

_____. Breve Histórico da Instituição. Santa Maria, 2001. Disponível em:

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_____. Pró-Reitoria de Recursos Humanos. Coordenadoria de Ingresso e Aperfeiçoamento.

Classificação Final – Concurso Público/ 2003 – HUSM (Editais 005/2003 – PRRH e

006/2003 – PRRH). Santa Maria, 2003. Disponível em:

<http://sucuri.cpd.ufsm.br/noticias/noticia.php?id=16351&busca=1>. Acesso em 14.08.2013.

_____. Notícias da UFSM. Santa Maria, 2007. Disponível em:

<http://sucuri.cpd.ufsm.br/noticias/noticia.php?id=16351&busca=1>. Acesso em 14.08.2013.

_____. Memória. Santa Maria, 2011. Disponível em: <http://www.ufsm.br>. Acesso em

14.08.2013.

_____. Departamento de Arquivo Geral: Fundos Documentais. Santa Maria, 2013.

Disponível em: <http://w3.ufsm.br/dag/index.php/fundos-documentais>. Acesso em

14.08.2013.

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APÊNDICES

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Apêndice A

Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

Projeto de Pesquisa: “A prática psicológica no Hospital Universitário de Santa Maria: um

estudo histórico”.

Pesquisadora: Msda. Andresa Petter Machado

Orientadora/ Pesquisadora Responsável: Profa. Dra. Beatriz Teixeira Weber

Esta pesquisa tem como objetivo conhecer e analisar a inserção dos psicólogos no

Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e a trajetória percorrida por este núcleo

profissional junto a tal instituição. Além de identificar e descrever as práticas psicológicas

desenvolvidas, também se almeja reconstruir e documentar a história de tais atividades, bem

como reunir elementos para a compreensão e reflexão acerca da oferta dos serviços

psicológicos oferecidos e da análise da sua expansão. Espera-se ainda, que este estudo venha

a contribuir para o registro e compreensão das atividades profissionais da psicologia em

hospitais gerais no Rio Grande do Sul.

O estudo está sendo realizado por Andresa Petter Machado, aluna do Programa de

Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sob a

orientação da Profª. Dra. Beatriz Teixeira Weber, docente do programa supracitado.

Você está sendo convidado a participar deste estudo. A realização desta pesquisa

envolverá a concessão de uma entrevista (depoimento oral), sobre a trajetória da Psicologia

junto ao HUSM. Tendo-se em consideração a fidelidade da pesquisa, a entrevista será gravada

e transcrita para posterior análise e elaboração de um texto historiográfico. Assegura-se que a

identidade dos depoimentos será preservada. O material será guardado na sala da orientadora

responsável, localizada no prédio 74 do campus da UFSM. As informações poderão ser

utilizadas de forma anônima por um período de cinco anos. Após, elas serão destruídas.

Considerando a impossibilidade de descrever uma história sem fazer referência a seus

personagens, serão mencionados, no texto historiográfico, os profissionais envolvidos na

trajetória perpassada pela Psicologia no HUSM. Ressalta-se que o texto historiográfico que

será elaborado não se tratará de uma única versão, mas de uma das possíveis versões desta

história.

Salienta-se que você receberá a resposta a qualquer dúvida sobre os procedimentos e

outros assuntos relacionados à pesquisa; de que terá a total liberdade para retirar o seu

consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar deste estudo, sem que isto lhe

traga prejuízos de qualquer espécie.

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Presume-se que, ao participar desta pesquisa, você entre em contato com algumas de

suas experiências pessoais anteriormente vivenciadas. Diante de possíveis desconfortos, tais

situações poderão ser compreendidas e acolhidas pela pesquisadora. Os benefícios e/ ou riscos

em participar da pesquisa poderão decorrer da disponibilidade de escuta oferecida pela

pesquisadora e pela reflexão oportunizada no momento da realização do depoimento.

Destaca-se que este estudo não envolve nenhum tipo de benefício financeiro ao participante.

Eu, _____________________________________, abaixo assinado, consinto em

participar voluntariamente da pesquisa intitulada “A prática psicológica no Hospital

Universitário de Santa Maria: um estudo histórico”. Fui suficientemente esclarecido (a) a

respeito das informações que li ou que foram lidas para mim. Estou ciente dos propósitos do

estudo, dos procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos e das garantias de

confidencialidade, de esclarecimentos permanentes e de que poderei retirar meu

consentimento a qualquer momento, antes ou mesmo durante o mesmo, sem prejuízos de

qualquer espécie. Declaro estar ciente e de acordo em participar desta pesquisa, a qual foi

revisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM, assinando este

consentimento em duas vias, ficando com a posse de uma delas e a outra com a pesquisadora.

Local e data _______________________________________________________________

Nome e Assinatura do sujeito ou responsável: ____________________________________

Para o pesquisador responsável pelo contato e tomada do TCLE:

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido

deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo.

Santa Maria ____, de _____________ de 20___.

____________________________ ____________________________

Andresa Petter Machado Beatriz Teixeira Weber

Pesquisadora Orientanda Pesquisadora Orientadora

_____________________________________________________________________

Para maiores informações:

Msda. Andresa Petter Machado - Telefone (55) 9905-6306, e-mail: [email protected]

Profª. Drª. Beatriz Teixeira Weber (orientadora do projeto/ pesquisadora responsável) - Telefone: (55) 3220-

9224/ 8112-2390, e-mail: [email protected]

Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em

Pesquisa - CEP-UFSM Av. Roraima, 1000 - Prédio da Reitoria – 7º andar – Campus Universitário – 97105-900

– Santa Maria-RS - tel.: (55) 32209362 - email: [email protected]

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Apêndice B

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Dados pessoais

Depoimento n˚. ..................................................................................................................

Idade: ........................... Gênero: .............. Naturalidade: ...................................................

Estado civil: .............................................. Filhos? Quantos? ............................................

Formação acadêmica

Instituição: ..........................................................................................................................

Ano: ....................................................................................................................................

Pós-Graduação? Cursos de aperfeiçoamento? Qual (is)?

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.........................................................................................................................

Qual a perspectiva teórica da Psicologia que utilizas no teu trabalho? ..............................

.......................................................................................................................................................

...................................................................................................................................

Atuação profissional

Período em que atua(ou) no HUSM? .................................................................................

.............................................................................................................................................

Qual é a tua carga horária junto ao hospital? ......................................................................

Possui ou já desempenhou atividades profissionais complementares/paralelas ao HUSM?

Qual (is)? Há quanto tempo? ...................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.......................................................................................................................................................

.

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Questão norteadora

Conte-me sobre a tua experiência junto ao HUSM

Aspectos administrativos

Quando e como tu ingressaste no HUSM?

O que te levou a exercer as tuas atividades junto à instituição?

Quem foram os primeiros psicólogos a trabalhar no hospital?

Como o trabalho dos psicólogos está/estava organizado?

A quem o trabalho dos psicólogos está/estava ligado?

Quais são/foram as atividades desenvolvidas pela Psicologia no hospital?

Qual a tua percepção da Psicologia perante o hospital? (considerando outras categorias

profissionais que exercem suas atividades profissionais no hospital) Aspectos positivos?

Aspectos negativos?

Como eram/são as relações entre os psicólogos com os demais profissionais do setor? E entre

os psicólogos?

Sobre a prática no HUSM

Qual a área/setor em que trabalha(va)?

Que tipo de atividades exercia? O que esta atividade envolvia? Que tipo de atividade tu

exerces atualmente?

Encontra(vas) dificuldades para o exercício do trabalho? Quais?

Como compreende/compreendias o trabalho que deve(rias) desenvolver no hospital? (na área

de Recursos Humanos ou Clínica)

Qual era a percepção dos outros profissionais acerca do teu trabalho? Quem eram estes

profissionais? Médicos? Enfermeiros? Funcionários técnico-administrativos? Chefes de setor?

Como eras visto (a) pelo público atendido?

O que te levou a deixar de trabalhar no HUSM?

O que te levou a seguir trabalhando no HUSM?

Como tu te sentes em desenvolver tuas atividades profissionais na instituição?

Qual o papel do Psicólogo Hospitalar?

Quais acontecimentos tu consideras que foram marcantes pra ti? Por quê?

Sobre a técnica

Inicialmente, como eram realizados os atendimentos?

Houve mudanças? Quais?

Os conhecimentos adquiridos na faculdade “deram conta” do teu trabalho junto ao hospital?

Se foram insuficientes, como tu lidaste com isto?

(***Atenção para a cronologia dos acontecimentos***)

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Apêndice C

Diretorias Executivas do HUSM

Período Diretoria Executiva

Gestão

1980/1981

Direção Geral: Prof. Hugo Becker Amaral

Direção Clínica: Prof. Manuel Antônio Pereira Alvarez

Direção Administrativa: Prof. Geraldo Pozzobon

Direção de Enfermagem: Profa. Helena Luiza Cerezer

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Carlos Renato de Almeida Melo

Gestão

1982/1986

Direção Geral: Prof. Hugo Becker Amaral

Direção Clínica: Prof. Manuel Antônio Pereira Alvarez

Direção Administrativa: Valdemar Seponi

Direção de Enfermagem: Profa. Helena Luiza Cerezer

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Carlos Renato de Almeida Melo

Gestão

1986/1990

Direção Geral: Prof. Sérgio Nunes Pereira

Direção Clínica: Prof. Nehemias Lemos

Direção Administrativa: Valdemar Seponi

Direção de Enfermagem: Prof.ª Benildes Maria Mazzorani (Diretora)

Enf.ª Ieda Catarina C. Fogliarini (Vice-diretora)

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Waldir Veiga Pereira

Gestão

1990/1994

Direção Geral: Prof. Eduardo Martins Rolim

Direção Clínica: Nestor Dalla Corte Bonini

Direção Administrativa: Cont. Wilson Bahi Soriano (1990/1991)

Adm. José Pozzobon (1992/1993)

Direção de Enfermagem: Prof. ª Maria Guntzel Teixeira (Diretora)

Prof. ª Carmem Colomé Beck (Vice-diretora)

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. Luiz Alberto Michet da Silva

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101

(continuação)

Gestão

1994/1998

Direção Geral: Prof. Antero Scherer

Direção Clínica: Prof. Augusto Ramos do Prado

Direção Administrativa: Econ. Narci João Tonial

Direção de Enfermagem: Enf.ª Ieda Catarina C. Fogliarini (Diretora)

Prof. ª Orildes T. Pivetta Taschetto (Vice-diretora)

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. José Wellington A. dos Santos

Gestões

1998/2002

e

2002/2006

Direção Clínica: Dr. Larry Marcos Cassol Argenta

Direção Administrativa: Adm. José Pozzobon

Direção de Enfermagem: Enf.ª Maria Lucia Ravanello da Silva (Diretora)

Enf.ª Adelina Giacomelli Prochnow (Vice-diretora)

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Dr. Sérgio Antunes Pereira

Gestão

2006/

2010

Direção Geral: Md. Jorge Luiz Palma Freire

Direção Clínica: Prof. José Wellington A. dos Santos (2006/2007)

Prof. Sérgio Nunes Pereira (2007/2010)

Direção Administrativa: Adm. Carlos Renan do Amaral

Direção de Enfermagem: Profa. Vânia M. Fighera Olivo (Diretora).

Enf. Edemilson Jorge Xavier (Vice-diretor).

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof. ª Maria Teresa A. Campos

Velho.

Gestão

2010/

atual

Direção Geral: Dr.ª Elaine Verena Resener.

Direção Clínica: Dr. Arnaldo Teixeira Rodrigues

Direção Administrativa: João Batista Vasconcellos

Direção de Enfermagem: Enf.ª Soeli Terezinha Guerra (Diretora)

Enf.ª Terexinha Heck Weiller (Vice-diretora)

Direção de Ensino, Pesquisa e Extensão: Prof.ª Beatriz S. da Silveira Porto

Enf.ª Suzinara B. Soares de Lima