a propósito das eleições legislativas de 1985

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* AVISO Por impossibilidade de ordem pessoal, sobretudo financeira, não me foi possí- vel enviai^lhe o documento anexo e respectivo convite em meados de Agosto conforme combinara com o meu co-subscritor Viriato Marques. Embora tardia- mente enviado, espero que nos faça saber a sua eventual adesão mesmo para além do prazo indicado, o que muito agradeceremos. Espero igualmente a sua benevolência para o meu atraso. Com os melhores cumprimentos, J. Carlos Costa Marques Faro, 10 de Setembro de 1985 VOtfÇ p.p.

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Posição de ecologistas face às eleições

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*

AVISO

Por impossibilidade de ordem pessoal, sobretudo financeira, não me foi possí­

vel enviai^lhe o documento anexo e respectivo convite em meados de Agosto

conforme combinara com o meu co-subscritor Viriato Marques. Embora tardia­

mente enviado, espero que nos faça saber a sua eventual adesão mesmo para

além do prazo indicado, o que muito agradeceremos. Espero igualmente a

sua benevolência para o meu atraso.

Com os melhores cumprimentos,

J. Carlos Costa Marques

Faro, 10 de Setembro de 1985

VOtfÇ p.p.

CONVITh

om o intuito de contrabalançar e contrariar a partidarizaçao da pro- b.1 •' mát ica ecológica e ambiental que se vem agravando com a aproximação du leições , os signatários , Viriato Scronienho .V.8rquec e J. Carlos Costa ?v;3r n.ues, elaboraram e redigiram o texto em anexo e sent ir-se-ao honrados caf; aceite o convite que com esta carta lhe d.irijem para o subscrever.

texto,enriquecido com as assinaturas de todos os que aceitem subscre vê-Lo,será apresentado"à opinião pública através de uma conferência de inu "ensa a realizar em Lisboa na segunda quinzena de Setembro,e para a qual. todos os subscritores serão convidados a estar presentes e a cola­borar. Da data e do local precisos da referida conferência de imprensa se­rie oportunamente avisados todos os subscritores, de modo a que possam 'Jfír ticipar caso o desejem,embora isso não seja condição para a anuência a qu- são convidados.

'retendiam os proponentes deste texto apresentá-lo em estado de pro- jç- - o ,receptivo a observações,ajustes e alterações s propor pelos subs- crL L. ores , mas , por imposição dos prazos disponíveis nao é possível fazê-lo. hm 'ontrapartida, a subscrição implica somente uma aprovaçao na generali- da;:-; , podendo qualquer dos subscritoras , no decurso da conferência de impre sa,apresentar especificações pessoais que considerem indispensáveis.

Devido à mesma imposição do calendário,caso aeeite assinar o texto de­verá enviar a sua anuência ate ao próximo dia 13 de Setembro.

Lara enfrentar as despesas com a conferência de imprensa e portes de cr:reio sugerimos que envie juntamente com a sua adesão um contributo ~f- r;ar eeiro , em vale postal ou cheque,ao redor de 300 escudos(trezentos).

Agradecem a atenção e cumprimentam

(J. Carlos Costa L'.arques;J

(Viriato Soromen :.,u LL.arques;

A : Toda a correspond c n c i a e " i ■ r t r ■ i o u t o s í i n a n c e : z1 e r p a r a : Vi r i a t o 3 o r o - erro Marques,Apartado 30,2901 Setúbal Codex.

A FROPÓSITO DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVASCidadãos interrogam-se sobre o estado do ambiente em Portugc

I. Os cidadãos abaixo-assinados,particularmente vinculados,através da sua actividade profissional e/ou cívica,aos problemas do ambiente e da Gíc-horia da qualidade de vida,assistem com apreensiva inquietação à for­ma célere e sistemática como as questões ecológicas se têm esvaziado da sua urgência e gravidade para se transformarem num supérfluo adereço de ■pTotBTisa- !nodernidadê"aa ' panóplia "de imagens eleitorais que de si próprios propõem os partidos políticos concorrentes às próximas eleições legisla­tivas «

Igualmente preocupante é o modo ligeiro e unilateral como se preten­deu arrastar organizações e pessoas,felizmente poucas,com responsabilida« de.s no campo da actividade ecologista, no surto de demagogia e carreirismc que prolifera nestes momentos,sem que da oferta precipitada dos bons ser- viços de alguns se possa vislumbrar contribuição fundamentada para o dia­gnóstico e terapêutica dos problemas ambientais do nosso país.

IIo Numa altura em que o próprio Ministério da Qualidade de Vida foi desarticulado da estrutura governativa,não sem que antes tivesse sido anc tesiado por anemia financeira.Numa altura em que a acção conservacioniste sofre sérios revezes pela não implementação de programas anteriormente pi v i tos no domínio da criação de zonas protegidas,ou pela ausência de con­di'.-oes económicas e humanas para a efectiva manutenção daquelas que jl se encontram constituídas.iíuma altura em que os dispositivos legais existen­te. para a prevenção e controlo do impacte ambiental da actividade econó­mica não sao devidamente contemplados,nem se encontram ajustados à'nova situação criada pela adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, nac consentem os abaixo-assinados que qualquer dos partidos actuais,por mais verde ou ecologista que se afirme,se arrogue a pretensão de expri­mai' de forma exclusiva as legítimas preocupações pelo estado do ambiente no nosso país.

III. Considerar,por outro lado, a pugna eleitoral como o palco privilegd do para o esclarecimento dos problemas ecológicos :io país,parece ser uma interpretação restritiva das potencialidades constitucionais e reais cavi.;;; democrática no nosso país.

For experiência própria e alheia,é possível concluir que as transfor­mações institucionais e legislativas de fundo-no tocante a uma política ambiental-implicam uma consciência ecológica por parte da sociedade ci­vil, a qual só pode ser suscitada pelo trabalho intenso e quotidiano de associações independentes de cidadãos,assumindo e dinamizando reivinda- ções locais,regionais e nacionais,contribuindo para a criação de uma efi cácia democrática baseada na participação directa dos interessados,e nãc na expectativa passiva da benevolência providencial e paternalista, do pc der central.

IV. A enunciação das principais dificuldades que se colocam a uma poli tica ambiental coorents no nosso país ultrapassam.de longe,a presente cc juntura.Ela poderia,contudo,servir para uma reflexão séria,capaz de r i- trastar com as atitudes superficiais e de puro pragmatismo eleitoral ant riormente denunciadas.

ííesse sentido,os abaixo-assinados colocam è consideração dos orgãos c comunicação social e da opinião pública em geral,as seguintes tarefas pn ritárias,cujo cumprimento será fundamental para a defesa e recuperação c nossas riquezas,assim como para a preservação da qualidade de vida das gerações presentes e futuras:

1.Levantamento exaustivo -do estado do ambiente em Portugal,através d<conhecimento detalhado e sectorial,tanto quanto possível quantificado,di panorama actual e tendências de evolução dos necursos naturais nacionai: eu correlação estreita com a incidência da actividade economico-produti va nos seus mais diversos matizes. w

2.Correcta regulamentação jurídica das actividades económicas(tanto sectores da indústria extractiva e transformadora,como no põio agrícola florestal)^no-SEntido da prevenção da onerosa degradação ambiental resu tante de uma óptica económica de curto prazo,a qual tem sido identifica nas últimas décadas,de modo inexacto e parcial,como a única via possíve de progresso.

$.Definição clara das áreas naturais legalmente protegidas,transform do-as em pa.cques-e^Eeiseirvas vivas, abertas à educação ambiental dos jove e dos cidadãos em geral,sem prejuízo da fauna e flora específicas.Seme­lhante définição só poderá ser realizada pela viabilizaçao de estruturaadministrativas e técnicas capazes de assegurar uma gestão atenta e ri-

tgorosa dessas áreas,bem como a sua articulação com uma política mais gl bal de ambiente.

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4.Revalorização da agricultura,assente em práticas culturais enrique- cedqv^ras e não esgotantes do fundo de fertilidade dos solos;o incentivo aos jovens agricultores e aos citadinos que desejem dedicar-se à produça agrícola;a preferência por uma florestação baseada nas espécies adequada às nossas condições e o controlo efectivo da eucaliptação indiscriminada e de outras monoculturas exóticas ;o equilíbrio entre a actividade agríco la,florestal,o pastoreio,e a indústria agro-alimentar,são condições in­dispensáveis para a salvaguarda dos nossos recursos e para a diminuição da dependência alimentar do país.

5.Incentivo à reconversão de indústrias especialmente poluentes era ir dústrias de baixo impacte ambiental;redução constante dos teores de poli: ~ç-s0 por- latrodução de -tae-nolog-las--adequadas, rias .indústrias de cLLfícil.. ou demorada reconversão;investigação e criação de tecnologias apropriadas,r poluentes ou pouco poluentes;revalorização da indústria artesanal e do £ tesanato,são também direcções a apontar em qualquer modelo de desenvolvi mento que se pretenda ambientalmente- realista e correcto.

6.Necessidade de ordenamento do espaço urbano,com a eliminação ou re­estruturação das zonas degradadas ou de implantação catastrófica,em con­dições economicamente acessíveis para as pessoas afectadas.Importa,igua] mente,criar condições alternativas à construção clandestina e opor ao cí urbano uma acção autárquica determinada na defesa e recuperação do patr: mónio construído.

7.A gestão coordenada e global dos recursos naturais do nosso país n; pode ser entendida apenas como resultando de uma directiva dengoverno cí trai,mas principalmente como consequência da integração da problemática ecológica no processo geral de i^egionalização que urge acelerar,com relc vo para a gradual e próxima criação de regiões administrativas prevista: na lei e até agora por concretizar.

5.Recusa inequívoca e fundamentada da denominada 'opção nuclearcomi primeiro passo para uma ijlanif icada e racional orientação da nossa poli- ca energética em direcção à crescente utilização de energias não poluen­tes ,renováveis e descentralizadas,3em exciuir um melhor aproveitamento < recursos hidroeléctricos,devex^ão evitar-se formas concentradas e poluen- de produção de energia.Deverão pois ser repensados a luz de critérios ai bientais os projectos de centrais a carvão,e os grandes projectos hidroi léctricos que obrigam ao realojamento forçado de comunidades inteiras.

9.Uma política ambiental não pode ignorar a presente crise economic e social,bem como os dados introduzidos pela progressiva internaoiÉmal zação dos compromissos económicos e polxtico-militares do Estado portu guês,no quadro da CEE e da OTAN.

3 d Q S Q.Q «■«*Nessa medida,a nossa a CEE não pode ser encarada quer como uma fa­talidade , quer como um mero expediente para a obtenção de efémeros su­bsídios a fundo perdido.A adesão só terá sentido se Portugal contribui positivamente para a construção de uma Europa,cuja unidade e desenvol­vimento não se efectue com o sacrifício das culturas e direitos regio­nais,e através da destruição maciça das pequenas empresas agrícolas e industriais,com a consequente concentração do capital e da propriedade aumento do desemprego e diminuição das liberdades cívicas.

Ao propor-se que,no contexto das ins'tituições europeias,se defeiw« substituição da actual orientação tecnocrática por uma via de desenvol vimento que vise a recuperação do ambiente e dos equilíbrios ecológico estão os abaixo-assinados apenas a colocar-se ao lado de sectores euro peus,influentes e lúcidos,que de há anos o vêm fazendo no interior des sas instituições e dos seus próprios países.

10.No plano internacional,Portugal não pode confundir o cumprimento das suas obrigações internacionais com a perda da sua soberania.Assim, os abaixo-assinados veêm com profunda apreensão as ameaças de carácter bélico e ambiental que tornam cada vez mais indispensásfel a cooperação de todas as pessoas e instituições que,em todo o Mundo, procuram evitar as actividades destrutivas de carácter civil ou militar.Consideram que preservar o ambiente é também defender a paz,e que a manutenção ou tI são das guerras,preparativos para elas,a utilização,o fabrico e armaae nagem de armas,incluindo armas nucleares,químicas,bacterológicas e ou­tras,a pressão sobre os recursos que exigem e a conexão e interdepeudê cia com certas indústrias civi s , incluindo a nuclear civil, contêm., indis sociavelmente,perigos para a comunidade humana e para o planeta Terra. Desejam igualmente que Portugal desempenhe um papel positivo na constr ção de uma p.az duradoura,no sentido da diminuição das tensões entre os diversos povos e nações da Península Ibérica,da Europa e do Mundo,e co: sideram que,para ser positiva,a süa posição sobre a busca da paz não p derá identificar-se com as posições de quaisquer dos antagonistas.

11 de Agosto de 1985 *

1LISTA DOS APOIANTES DO DOCUMENTO "A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES LEGISLATI_

VAS-CIDADÃOS INTERSOGAU-SE SOBRE O ESTADO DO AMBIENTE EM PORTUGAL".

-Carlos Costa Marques,assistente estagiário da UniVodo Algarve,Paro

-Viriato Soromenho Marques,assistente da Fac.Letras de Lisboa,Setúbal

-Raúl Manuel Cristóvão,economista e geógrafo,Setúbal

-Gonçalo Rebelo Cabral,arquitecto,Lagos

-João José Varela,Engenheiro sivicultor,Lisboa

-José Vidal Marques,arquitecto,Setúbal

-Sofia Peleteiro,lie.^ em físico-química e colaboradora da DECO,Lisboa

-Mário Cruz,estudante de arquitectura,Lisboa

-Berta Ferreira Nunes,médica,Porto

-Emílio Quintal,escritor,Lisboa

-Carlos Alberto Reis,funcionário da EDP,Laranjeiro

-Luís Filipe Marques,estudante de agricultura,Porto de Mós

-Luís Tavares,Eng2Civil e professor-adjunto no Inèt.Politécnico de Faro-José Paulo Martins,médico,Setúbal

-Manuel Moura Galrinho,prof.do ens o secundário,Setúbal

-Vitor Marques Magalhaes,professor dc ens. secundário,Marvão

-João Paulo Cotrim,jornalista estagiário,Lisboa

-Fernando Pessoa,arquitecto paisagista e ensaísta,Lisboa

-João Reis Gomes,arquitecto paisagista,Lisboa

-José Luís Almeida e Silva,êconomista e dir.da 1 Gazeta das CaldasC.EaiEka

-Carlos Miguel Fre.scata,director da rev.'Alternativa Rural',Évora

-Mário Brochado Coelho,advogado,Porto

-Francisco Cardoso Ferreira,estudante e director do'Setúbal Verde S e t ú b a l

-Adelino Dias Cardoso,professor e dir.da revista'Logos 1,Lisboa

-Isabel Madruga,médica,Setúbal

-José Manuel Oliveira,assistente na Faculdade de Psicologia,Lisboa

-António Cândido Franco,professor e crítico literário,Lisboa

-Nuno Vasco Franco,empregado de escritório,Lisboa

-António Miguel Franco,bancário,Lisboa

-José Fernando Marques,médico,Setúbal

-Nano José David, Eng. Téc. Agrário,Setúbal

-E§!aardo Mário Carquei jeiro, arquitecto, Setdbal V M Cv.' j !. v.

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Nota:Esta lista é provisória.0 número e a identificação do total dos aderer tes serl divulgada somente na conferência de imprensa.