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Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise quantitativa Vitor Peixoto (UENF)

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Impacto dos gastos de campanhas nas eleições

legislativas de 2010: uma análise quantitativa

Vitor Peixoto (UENF)

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2 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

1 - Introdução

Após o processo de incorporação das massas na participação eleitoral, um fenômeno em

particular tem chamado a atenção dos analistas políticos, qual seja, a questão do financiamento

dos partidos políticos. A relação entre dinheiro e eleições é um tema intrigante que desafia os

arranjos institucionais que tentam limitar a influência dos gastos de campanha nos resultados

eleitorais. Um suposto “desvirtuamento” do sistema representativo é apontado como a principal

conseqüência desta intervenção do poder econômico na política1. Acompanha esta definição de

“desvirtuamento”, principalmente, o acesso privilegiado ao poder político como, por exemplo, à

participação desigual, o acesso a informações restritas, à produção regulatória, à política fiscal,

etc.

Uma vasta literatura internacional se dedicou ao tema e produziu importantes contribuições

sobre o impacto do poder econômico (via financiamento de campanhas) nos resultados eleitorais.

A Câmara baixa dos Estados Unidos é objeto frequente de análises dessa natureza. Gary

Jacobson (1978 e 1980) estimou que não somente os gastos tinham impactos significativos sobre

os resultados das urnas para a Câmara dos Deputados, como também descobriu que havia

impactos diferenciados entre candidatos a reeleição e desafiantes. Para as eleições francesas de

1993, Palda e Palda (1998) também encontraram retornos distintos dos gastos sobre os resultados

eleitorais, com ampla vantagem para os desafiantes.

No Japão, os impactos diferenciados também foram encontrados por Cox e Thies (2000),

não obstante o reconhecimento para o provável vieses dos estimadores econométricos

introduzidos pela endogeneidade nos estudos de Jacobson (1978 e 1980), esperada sobretudo em

distritos de baixa magnitude como os americanos. Ou seja, o “efeito Jacobson” era em realidade

uma reação do próprio candidato à reeleição, que antecipando um alto risco de derrota adotava

uma estratégia de aumentar os gastos a fim de evitar a perda de mandato. Entretanto, para Cox e

Thies (2000) a endogeneidade tende a diminuir com a alta magnitude dos distritos como no

Japão e, portanto, os votos necessários para se obter uma cadeira decrescem, diminuindo-se desta

forma o viés da endogeneidade.

1 Nassmacher, 2000 e 2003.

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3 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Numa perspectiva comparativa, Filip Palda (1994) traz importantes análises dos sistemas

norte-americano, canadense e francês. Mesmo que utilizem métodos e dados distintos, esses

trabalhos são categóricos em afirmar que o montante de gastos nas campanhas eleitorais são

fatores explicativos fundamentais dos resultados eleitorais.

No Brasil, os esforços ainda são incipientes (Samuels, 1997, 2001a, 2001b e 2003; Pereira

e Rennó, 2001; Peixoto, 2004). Samuels realizou interessantes análises sobre as origens das

doações (Samuels, 2003), assim como a estimativa de impacto quantitativo nos resultados

eleitorais (Samuels, 1997 e 2001 a e b) e descobriu que os gastos importam sim para chances de

reeleição.

Em direção oposta, Pereira e Rennó (2001) ao analisar os candidatos à reeleição para

Câmara dos Deputados em 1998, refutaram os impactos dos gastos nas taxas de sucesso eleitoral.

Com testes de médias e análise de variabilidade, decidiram por não incluir no modelo

econométrico a variável sobre gastos de campanha.

Por meio de dados sobre resultados eleitorais dos partidos nos Estados nas Eleições de

2002 para os cargos de Deputado Estadual/Distrital e Federal, Peixoto (2004) constatou tantos as

influências da competição sobre os gastos, quanto às estimativas de impacto dos gastos sobre os

votos dos partidos. Em resumo, dois foram os achados: primeiro, quanto maior a competição

eleitoral, maiores os gastos de campanha dos partidos. Segundo, quanto maior os gastos dos

partidos, maior a proporção de votos.

Em trabalho recente, Pereira e Rennó (2007) voltaram às questões iniciais sobre a reeleição

com os dados relativos a 2002 e 1998, desta vez os gastos de campanhas foram inseridos nos

modelos econométricos: constataram que as despesas eleitorais têm impacto positivo e

estatisticamente significativo nas chances de reeleição do candidato à Câmara dos Deputados.

Embora utilizando distintos instrumentos estatísticos, assim como dados para eleições

distintas, Samuels (1997 e 2001 a e b), Pereira e Rennó (2001) e Peixoto (2004 e 2010)

encontraram resultados semelhantes: o gasto de campanha tem responsabilidade sobre o

desempenho eleitoral. As divergências surgem, portanto, quanto ao peso e à precisão dos

impactos dos gastos sobre os resultados eleitorais.

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4 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

O presente paper busca exatamente se inserir nessa querela. Pois, não obstante os avanços,

ainda inexistem análises sistemáticas acerca do impacto dos gastos de campanhas sobre os

resultados eleitorais que levem em consideração outras variáveis independentes, tais como:

gênero, “expertise”, idade, renda, profissão, escolaridade, etc. E que também levem em

consideração fatores institucionais como a magnitude dos distritos eleitorais, os partidos dos

candidatos, etc2.

A pergunta que se pretende responder neste paper concerne às características individuais

dos candidatos que afetam seus respectivos resultados eleitorais. A partir de então, busca-se

precisar o efeito específico dos gastos de campanha nas eleições legislativas brasileiras. Mais

especificamente, este paper disserta acerca do impacto dos gastos de campanhas sobre os votos

nas eleições proporcionais de 2010. Tendo como unidade de observação as candidaturas

individuais aos cargos de Deputado Federal e Estadual (distrital), analisam-se, portanto, os

efeitos das variáveis que influenciam os desempenhos eleitorais, tais como gênero, idade,

ocupação, partido, estado civil, escolaridade e, principalmente, os montantes de recursos de

campanhas declarados ao TSE. Por meio da análise econométrica clássica (OLS), pode-se

estimar com os efeitos destas variáveis num contexto multidimensional, dito de outra, os

modelos estimados permitiram acesso ao impacto isolado das características individual dos

candidatos sobre os resultados de suas campanhas: os votos.

2 – Eleições proporcionais no Brasil em 2010

Nas eleições proporcionais de 2010, compareceram às urnas mais de 101 milhões de

eleitores para a escolha de 1.572 legisladores. Por meio dos 27 partidos políticos registrados,

17480 candidatos concorreram efetivamente3 aos 513 cargos de Deputado Federal e aos 1.059 de

2 Trabalho nesse sentido foi publicado na Revista Dados em 2007 sobre gênero e taxas de sucesso eleitoral

(Araújo e Alves, 2007), entretanto, a variável de gasto de campanha foi negligenciada. Exatamente o principal fator

sobre o qual se debruçará este trabalho.

3 Foram aproximadamente 19.000 pedidos de candidaturas aos cargos legislativos (estadual e federal),

entretanto, muitos não chegaram ao dia da eleição por motivo de indeferimentos, renúncias, falecimentos etc.

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5 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Deputado Estadual/Distrital. A tabela a seguir apresenta a distribuição do número de candidatos

eleitos e não eleitos para cada cargo nestas eleições.

Tabela 1: Número de candidatos e eleitos por cargo

Situação Total

Não Eleito Eleito

Cargo

Dep. Estadual/Distrital 11535 1059 12594

Dep. Federal 4373 513 4886

Total 15908 1572 17480

Fonte: TSE

Ao se deparar com dezenas de opções, os eleitores são obrigados a tomar decisões sobre

em quem votar. Como realizam esse processo? O que faz um candidato ser escolhido e outros

serem eliminados? Há décadas, a Ciência Política desenvolve teorias e métodos analíticos para

explicar o processo de tomada de decisão do eleitor. E uma eleição é, por excelência, um desses

princip

ais fenômenos. Explicar como os eleitores votam, e por que votam, está o cerne do debate

acadêmico que tomou conta de boa parte da disciplina nos últimos 50 anos, assim como a dividiu

em distintos campos teóricos4. Não obstante as querelas teóricas, muitos destes estudos voltaram

suas atenções às demandas eleitorais, às opiniões dos eleitores, assim como ao processo de

tomada de decisão. Salvo raras exceções, são poucos os trabalhos que se dedicam aos estudos da

oferta eleitoral no Brasil. Ainda mais escassos são os trabalhos que se dedicam às características

individuais dos candidatos e as consequências para o sucesso eleitoral.

Em resumo, este paper se debruça sobre os resultados finais das escolhas dos eleitores, não

sobre o processo de escolha. A principal questão que se coloca não é como os eleitores votam,

mas em quem eles votam. Com tantos postulantes aos cargos legislativos no Brasil, o que explica

uns serem escolhidos e outros não? Quais são as características dos candidatos que aumentam

seus desempenhos eleitorais? Dito de outra: o que faz um candidato receber mais apoio eleitoral

do que seus adversários? Há alguma semelhança entre os que obtiveram sucesso? O gênero do

candidato altera sua capacidade de angariar votos? E a pergunta mais importante para essa

4 Para uma excelente revisão da literatura, principalmente a norte-americana, sobre o assunto ver: Figueiredo,

1991.

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6 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

paper:: qual é o impacto dos recursos financeiros? Por fim, há impactos sinérgicos entre o

gênero e os gastos? E entre ter mandato e gastos?

O principal desafio que se coloca é a construção de um modelo econométrico que permita

estimar o efeito dos gastos (independente-explicativa) sobre os resultados eleitorais (dependente-

explicada), mantidas constantes outras características individuais dos candidatos. Entretanto,

estas mesmas características também serão alvo de análises.

Metodologicamente, a escolha dos candidatos aos cargos legislativos se justifica pelo fato

de permitir analisar toda a população de candidatos, ou seja, um altíssimo número de casos5; pela

disponibilidade de informações individuais; e por último, mas não menos importante, por

estarem todos competindo dentro de um mesmo aparato institucional (sistema eleitoral).

A próxima seção tem por objetivo apresentar e descrever as variáveis dependentes

(explicada) e independentes (explicativas) que entrarão no modelo econométrico. Sempre que a

natureza da variável permitir, serão exploradas também as relações bivariadas com o fenômeno

que se pretende explicar: o percentual de votos válido dos candidatos. Vale notar que as relações

bivariadas observadas nas análises descritivas visam apenas explorar os dados. Como se verá

mais adiante, as variáveis dependentes serão uma transformação matemática razoavelmente

simples do percentual de votos válidos.

2.1 – Partidos Políticos contam, afinal?

Um dos debates mais interessantes na Ciência Política brasileira, sem sombras de

dúvidas, refere-se ao comportamento parlamentar. Não faz parte dos objetivos desta paper entrar

no cerne deste imbróglio sobre os fatores explicativos de como os deputados federais votam.

5 O grande número de competidores será fundamental para os modelos econométricos OLS aqui utilizados,

pois, a primeira objeção que se faz a esses modelos é relativa à endogeneidade existente entre votos e gastos. Como

a expectativa de votos é fator causal da quantidade de recursos angariados pelos candidatos, haveria uma dupla

causalidade. Por isso, como defendido por Gerber (1998), os modelos mais apropriados seriam os que utilizam

variáveis instrumentais, exatamente pelo fato de eliminar o viés provocado por essa endogeneidade. Entretanto,

para que ocorra essa dupla causalidade é necessário que haja uma que os doadores tenham uma alta previsibilidade

dos resultados eleitorais. Não é o que ocorre nas eleições proporcionais brasileiras. Isso por uma série de fatores, tais

como: altas magnitudes dos distritos, o grande número de competidores, a natureza do sistema eleitoral proporcional

de lista aberta, as possibilidades de coligações eleitorais, assim como as escassas e imprecisas pesquisas eleitorais.

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7 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Entretanto, não se pode negar que algumas destas teorias partem do pressuposto de que os

partidos políticos não contam na arena eleitoral, ou no mínimo que esta arena não gera incentivos

suficientemente fortes a ponto de interferir nos incentivos oriundos da arena parlamentar.

Sugestiva leitura que traz expressamente esta concepção é o trabalho de Pereira a Mueller

(2003), resumidamente:

“Em outras palavras: as regras eleitorais proporcionam incentivos para os políticos se comportarem individualmente, fragilizando, assim, os partidos na arena eleitoral, enquanto as regras internas do Congresso e os poderes presidenciais tornam o comportamento dos parlamentares extremamente dependente da lealdade aos seus respectivos partidos, fortalecendo estes últimos dentro do Congresso” (Pereira e Mueller, 2003, p. 738)

Não obstante o fato dos partidos políticos deterem o monopólio da representação no

sistema eleitoral brasileiro, na arena eleitoral sua força é constantemente questionada. Quando se

fala em arena eleitoral no Brasil, se fala basicamente (ou primordialmente) em três principais

características do sistema eleitoral que combinadas geram efeitos sobre a relação eleitores-

candidatos-partidos6. As três características das regras eleitorais: (1) sistema proporcional de lista

aberta, (2) possibilidade de coligações entre os partidos sem um critério de distribuição de

cadeiras intra-coligação, e (3) arrecadação individualizada de fundos para as campanhas. E os

efeitos sobre eleitores-candidatos-partidos: (a) intensa personalização da campanha e (b) baixa

identificação dos eleitores com os partidos, (c) pouca ou nenhum controle dos partidos sobre os

candidatos.

Como apontado por Nicolau (2006), os candidatos têm um forte peso no que se refere às

estratégias eleitorais, principalmente quando se trata de arrecadação e aplicação de recursos

financeiros:

6 Apontam-se ainda outras características tais como migração partidária e forma de votação na urna. Sobre

este última aspecto, Nicolau (2002, p. 224) escreve: “O processo de votação atualmente em vigor no Brasil acaba

por reforçar para o cidadão a idéia de uma disputa personalizada. Atualmente, o eleitor deve digitar na urna

eletrônica o número do candidato ou do partido escolhido, após o que a tela apresenta uma fotografia do candidato

ou sigla do partido escolhido”.

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8 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

“Um candidato a deputado federal tem grande autonomia para organizar sua campanha. É ele que, em geral, decide a agenda de eventos e como confeccionar e distribuir a propaganda eleitoral. A autonomia para gerir a campanha é reconhecida pela legislação em um aspecto fundamental: o financiamento. Os candidatos podem arrecadar, gastar e prestar contas diretamente à Justiça Eleitoral, sem necessidade de o partido avalizar os gasto.”( Nicolau, 2006, p. 696)

São fartas também as evidências sobre a fragilidade da relação candidatos-eleitores no

Brasil. Não são raras as pesquisas de opinião com eleitores que apontam uma grande maioria

sem identificação partidária. Na decisão do voto, o peso da reputação individual do candidato

conta muito mais do que a filiação partidária. Neste quesito, Pereira e Rennó (2001) concluem da

seguinte forma:

“A ênfase na força política do candidato, em detrimento da do partido, parece ser tanto uma conseqüência da legislação eleitoral quanto uma opção do próprio eleitor. Existe a possibilidade de voto de legenda no Brasil, embora tradicionalmente tal opção seja manifestada timidamente. O eleitor tende a votar no candidato de sua preferência e não no partido. Pesquisas de opinião pública reforçam a idéia da fragilidade dos partidos na arena eleitoral ao mostrar o baixíssimo número de eleitores que se filiam ou mesmo simpatizam com algum partido específico (Rennó, 2000). Partidos simplesmente não fazem parte das preocupações dos eleitores.” (Pereira e Rennó, 2001, p.

Quando se referem às opiniões dos próprios candidatos eleitos, a percepção de fragilidade

dos partidos também não se difere quanto à sua importância (ou falta dela). Em pesquisa com

deputados federais em novembro de 1999, Carvalho (2003) encontrou fortes evidências da

importância dos próprios candidatos no desempenho eleitoral. Ao menos no que concerne à

percepção do candidato eleito, os partidos tendem a ser vistos como pouco importantes7. Por

meio da pergunta “Qual foi o peso percentual do partido e de seus esforços pessoais para a sua

eleição?”, o percentual médio da personalização foi de 75% e da partidariazação de 25%8. Com

7 Uma interessante questão de pesquisa seria realizar esta mesma pergunta com os candidatos derrotados.

8 Os partidos com maiores médias de peso partidário foram o PC do B (60%), PT (48%) e PDT (30%). Pelo

lado inverso, os partidos que mais se destacaram pelo personalismo foram: PTB (4%), PFL (83%), PPB (80%) e

PSDB ( 79%). Para maiores detalhes sobre esta pesquisa ver Carvalho (2003, p. 149),

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9 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

base nesta e noutras perguntas do questionário9, Carvalho (2003) resume seus achados da

seguinte maneira:

“Os depoimentos dos parlamentares sugerem, em resumo, a forte personalização dos mandatos representativos, a desvalorização dos partidos como bens coletivos em sua dimensão eleitoral e uma predisposição, nem sempre materializada, é verdade, de se votar em favor de interesses particulares quando estes se opõem aos interesses partidários”. (Carvalho, 2003, p: 151)

Quiçá uma das poucas vozes destoantes sobre a importância dos partidos na arena

eleitoral seja a de Santos (1999). Para o referido autor, aspectos do sistema eleitoral de lista

aberta no Brasil são negligenciados, tal como a transferência de votos, que confere uma grande

dependência do candidato ao partido. Dado que a grande maioria dos candidatos eleitos o foi

somente por causa desta transferência, assim como a natureza fortemente imprevisível desta

transferência, o candidato não poderia identificar com “razoável grau de confiabilidade” as

preferências de sua constituency eleitoral. O que, por conseguinte, inviabilizaria os pressupostos

da teoria da conexão eleitoral aplicada ao contexto brasileiro10

. Santos (1999) assim resume sua

objeção à teoria do voto personalizado no Brasil:

“Aqui começa minha objeção mais forte à teoria do voto personalizado aplicada ao contexto brasileiro. Tal objeção incide exatamente sobre a premissa, necessariamente presente na personalização do voto, de que os deputados brasileiros conhecem com grau razoável de confiabilidade as preferências dos eleitores que contribuíram para sua eleição. Qualquer análise mais cuidadosa do nosso sistema de listas leva à conclusão que tal premissa é insustentável.” (Santos, 1999, p: 119).

Em Carvalho (2003) as objeções apontadas por Santos (1999) acima citadas são

fortemente questionadas:

“Difícil não interpretar essa objeção como formalismo analítico, com pouca aderência aos fatos. Se é verdade que pouquíssimos

9 Outra pergunta interessante que baseia as conclusões do autor se refere a quem o deputado seguiria em caso

de conflito entre os interesses da sua região e os do seu partido, 37% apenas seriam leais ao partido.

10 A teoria da conexão eleitoral prevê que os incentivos oriundos da arena eleitoral afetam (e explicam) o

comportamento. Para maiores detalhes desta teoria ver: Mayhew (1974). Aplicações diretas desta teoria ao caso

brasileiro podem ser encontradas em Lamounier (1991), Mainwaring(2000) e Ames (2001). Uma aplicação mais

sofisticada deste modelo analítico é explorada pelas recentes pesquisas da geografia eleitoral, ver: Carvalho (2003).

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10 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

deputados alcançam o quociente eleitoral, não é menos verdadeiro o fato de que conhecem, de forma mais ou menos precisa, o montante do “fundo” de votos de transferência do qual partem. Os demais votos que complementam esse fundo, ou seja, a votação personalizada do deputado é a que conta.” (Carvalho, 2003, p: 52)

O debate acima descrito pode ser resumido na seguinte questão: os partidos contam, afinal?

Ao fim e ao cabo, os autores disputam teorias e achados empíricos para responder essa pergunta.

Até então, as análises se concentraram em três aspectos inter-relacionados, quais sejam, (1) nas

formalidades do sistema eleitoral que exercem forças centrífugas sobre os candidatos, (2) na

baixa identificação dos eleitores com os partidos, e (3) baixa importância conferida aos partidos

pelos candidatos no seu próprio sucesso.

Como visto, análises muito perspicazes foram realizadas sobre os três pontos resumidos

acima. Aspectos formais do sistema eleitoral foram esmiuçados, os eleitores e candidatos foram

questionados quase à exaustão, entretanto, ainda persiste uma pequena fenda negligenciada pela

literatura que merece atenção, a saber, o impacto dos partidos nos resultados individuais dos

candidatos. Como no futebol, existem as regras e o que pensam os técnicos e jogadores, mas será

que os resultados foram combinados com os russos?

Uma das hipóteses subsidiárias levantadas neste paper se refere exatamente à importância

dos partidos para os desempenhos dos candidatos. Dito de outra: será mesmo que os candidatos

são tão autônomos dos partidos quanto se apregoa?

Dada a existência de um forte repasse de recursos públicos aos partidos (diretos e

indiretos), tal como o precioso tempo do horário eleitoral gratuito aos partidos – talvez o recurso

público indireto que mais possui impacto nos resultados eleitorais –, a filiação partidária dos

candidatos ainda assim não teria efeito sobre o seu desempenho? Será mesmo que as estratégias

partidárias de composição de listas e coligações não interferem nos resultados eleitorais?

Justifica-se, pelos motivos acima expostos, a inclusão dos partidos tanto como variáveis

independentes quanto de controle (efeito fixo). Esta inclusão poderia parecer óbvia à primeira

vista, no entanto, não é o que acontece com freqüência nos modelos econométricos apresentados

até então. O óbvio nem sempre foi seguido à risca pela literatura. A inclusão desta aparentemente

singela variável possui conseqüências de grande importância, a saber, testa se o pertencimento a

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11 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

determinados partidos introduzem diferentes impactos no desempenho eleitoral dos candidatos.

Em termos simples: partidos fazem diferença? Como visto, esta é a questão que muitos analistas

respondem negativamente quando analisam o sistema eleitoral brasileiro com olhares focados

nas regras e suas conseqüências sobre o comportamento dos candidatos e eleitores.

Nas eleições de 2010, participaram 27 partidos. Entretanto, os 10 maiores partidos

lançaram mais de 50%% total de candidatos. O Partido dos Trabalhadores, o Partido Verde e o

PMDB foram os campeões em ambas as categorias.

Gráfico 1

Fonte: TSE

Pelo exposto acima, espera-se também que distintos partidos tenham diferentes taxas de

sucesso eleitoral11

. Como se observa na Tabela 2, a média dos partidos é de 10,5% para a

Câmara dos Deputados, o partido com maior taxa de sucesso é o PT (25,4%), seguido pelo PR

(24,3%) e PMDB (22,8%). Para as Assembléias Legislativas a média é de 8,4%. Os partidos

mais eficientes são PMDB (21,0%), PSDB (17,8%), PT (17,0%).

11

Taxa de sucesso é dada por: Nº eleitos/Nº total de candidatos multiplicado por 100.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Número de Candidatos por Partido e Cargo

Dep. Estadual/Distrital Dep. Federal

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12 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Tabela 2

Taxa de Sucesso Eleitoral

Partidos Deputado Estadual Deputado Federal

PT 17,0% 25,4%

PR 12,0% 24,3%

PMDB 21,0% 22,8%

DEM 15,2% 22,5%

PP 9,5% 21,9%

PSDB 17,8% 19,7%

PC do B 2,9% 12,6%

PSB 10,6% 11,9%

PDT 12,0% 10,2%

PSC 6,0% 8,7%

PPS 6,5% 8,3%

PTB 8,1% 7,6%

PRB 4,7% 6,0%

PV 4,8% 3,6%

PT do B 4,9% 2,4%

PRP 3,3% 2,1%

PMN 5,6% 1,9%

PRTB 2,8% 1,8%

PHS 2,0% 1,2%

PSOL ,9% 1,2%

PSL 3,6% ,7%

PTC 1,6% ,4%

PTN 3,8%

PSDC 3,0%

PCB

PCO

PSTU

Total 8,4% 10,5%

Fonte: TSE

Visto que há variações nas taxas de sucesso eleitoral entre os partidos, há a necessidade de

testar se essas variações permanecem em um contexto multivariado. Por outras palavras: cabe

indagar se essas variações na taxa de sucesso são causadas por outras variáveis, tais como:

organização do partido em determinado Estado, por características individuais dos candidatos

recrutados, etc. Pela natureza categórica da variável “partido político”, no modelo de regressão

serão incluídas variáveis dummies; e o referencial será a categoria “outros”.

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13 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

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2.2 - Gastos de campanha e distorção da competição eleitoral

Segundo um dos maiores representantes da teoria minimalista da democracia, Adam

Przeworski (1994), os resultados eleitorais em regimes democráticos são produtos da relação de

distintos recursos empregados pelos atores em competição. Estes recursos são divididos em três

espécies: econômicos, organizacionais e ideológicos:

“Os participantes da competição democrática investem

recursos econômicos, organizacionais e ideológicos desiguais na

disputa. Alguns grupos têm mais dinheiro do que outros para

gastar na política. Alguns dispõem de mais competência e

vantagens organizacionais do que outros. Uns possuem recursos

ideológicos melhores, isto é, argumentos mais convincentes. Se as

instituições democráticas são universalistas – isto é, neutras em

relação à identidade dos participantes – os que detêm maiores

somas de recursos têm mais probabilidades de sair vencedores nos

conflitos submetidos ao processo democrático”. (Przeworski, 1994:

26-27)

O imbróglio, no entanto, surge quando se questiona é proeminência dos gastos diante dos

demais recursos, com organizacionais e ideológicos. Tanto no meio acadêmico quanto no meio

político o debate sobre a relação entre interesses econômicos e eleições torna-se cada vez mais

ácido, principalmente, em momentos de crises políticas geradas no seio desta relação.

Apesar de haver controvérsias acerca dos fundamentos teóricos dos financiamentos

públicos, são as fontes privadas as origens das maiores divergências entre os experts.

A primeira objeção que se faz a este tipo de doação refere-se à origem dos recursos

empregados nas campanhas. Com objetivo claro de restringir a atuação dos chamados “big

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14 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

donnors”12

, alguns analistas defendem obstáculos aos doadores diretamente interessados que

poderiam causar distorções na representatividade do sistema.

Além das origens dos recursos, existe ainda a preocupação com as quantias doadas. Em

situações onde os partidos e candidatos se dispusessem na disputa eleitoral com uma enorme

desigualdade de recursos, seria alta a probabilidade de distorções na competitividade sistema.

Os que defendem as restrições de origens e limites às doações partem da premissa de que

quanto maior a capacidade dos doadores de realizarem doações, maiores também serão suas

intervenções no poder político. Estaria nesse ponto o que se chama de “desvirtuamento da

representação política”, pois eleitores/cidadão teriam representações desproporcionais ao peso

de seus votos.

No Brasil, a legislação eleitoral proíbe várias fontes de recursos, tais como as oriundas de

instituições sindicais, empresas estrangeiras, concessionárias de serviços públicos e doações

anônimas, etc.

As doações de pessoas físicas e jurídicas são limitadas pelo total de recursos auferidos pelo

doador no ano anterior. Para pessoas físicas, as doações são permitidas até 10% do valor bruto

dos rendimentos declarados no imposto de renda. No caso das empresas, as doações são

limitadas ao próprio faturamento destas, porém, o limite é de 2%.

Esta forma de limitar as doações é bastante controversa, pois não impede que as empresas

tenham possibilidades eqüitativas de participação – o limite é imposto pela renda da empresa e

não um teto máximo único válido para qualquer pessoa física ou jurídica.13

12 Por outro lado, as pequenas doações são consideradas benéficas ao sistema partidário, pois fariam parte de

uma relação importante entre os partidos e os cidadãos. Proibi-las totalmente poderia romper este elo e, por

conseguinte, enfraquecer as bases sociais dos partidos políticos (Nassmacher. 2003).

13 A legislação eleitoral brasileira também regula as quantias totais arrecadadas pelos partidos políticos,

Entretanto, são os próprios partidos que, ao registrarem as candidaturas, informam ao TSE os seus limites (gastos

máximos)! Não é de se surpreender que 75% do total de candidatos declararam ter gasto aproximadamente 10% do

valor máximo previsto. Há ainda a possibilidade de o candidato requerer junto a justiça eleitoral a revisão do valor

previsto no início da campanhas.

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15 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Em 2010, os candidatos às eleições proporcionais declararam o total de R$ 1,84 bilhões. A

média por candidato à Câmara Federal foi mais de R$ 233 mil, e para as Assembleias Estaduais

de aproximadamente R$ 92 mil.

Tabela 3: Descritiva da variável Despesa Eleitoral

Cargo N Mediana (R$ mil) Média (R$ mil) Soma (R$ milhões)

% da soma total

Dep. Estadual/Distrital 10.028 12,1 92,3 925,3 50,3%

Dep. Federal 3.919 15,0 233,1 912,9 49,7%

Total 13.947 13,0 131,8 1.838,3 100,0%

Fonte: Dados calculados pelo com base nas informações divulgadas pelo TSE.

Gráfico 2

Fonte: Dados calculados pelo com base nas informações divulgadas pelo TSE.

Se existe uma relação entre magnitude dos distritos e competição eleitoral, é bastante

razoável supor que as campanhas eleitorais tenham custos econômicos distintos em Estados

diferentes. Como analisado em Peixoto (2004), os custos das campanhas eleitorais estão

diretamente relacionadas à competição eleitoral, ou seja, quanto maior a competição no Estado,

maiores os gastos das campanhas.

Assim como variam a densidade demográfica, a dispersão/concentração dos eleitores nos

municípios, e a distância destes para a Capital dos Estados, espera-se também que haja variação

também nos custos de transporte, etc. Da mesma forma, pode-se supor também que variam os

0

50

100

150

200

250

300

350

PT

PSD

B

PM

DB

DEM P

P

PD

T

PR

PSB

PTB PP

S

PV

PSC

PC

do

B

PM

N

PSL

PR

B

PT

do

B

PH

S

PTC

PR

P

PTN

PR

TB

PSD

C

PSO

L

PST

U

PC

B

PC

O

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

100,0%

Despesas dos Candidatos por Partido (Eleições Proporcionais 2010)

Despesas totais (R$ milhões) Soma acumulada (%)

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16 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

preços de materiais de campanha, pesquisas eleitorais, etc. de um Estado para outro. De fato,

como se verá mais adiante, os gastos médios das candidaturas por Estados apresentam alta

variação. O justifica a inclusão das variáveis dummies para Estados como forma de controle.

A Tabela 4 apresenta as médias de gastos eleitorais dos candidatos por partidos e cargos.

Destaque para PT e PSDB, que foram os partidos que obtiveram as maiores médias,

respectivamente, para o cargo de Deputado Federal e Estadual.

Tabela 4: Médias de Despesas Eleitorais por Partidos e Cargo

Dep. Estadual/Distrital Dep. Federal

Partidos Média (R$ mil) Soma (R$ milhão) % da soma total % de N total Média (R$ mil) Soma (R$ milhão) % da soma total % de N total

Total 92,3 925,3 100,0% 100,0% 233,0 912,9 100,0% 100,0%

PT 174,4 137,8 14,9% 7,9% 508,3 152,5 16,7% 7,7%

PSDB 237,9 137,0 14,8% 5,7% 543,1 127,1 13,9% 6,0%

PMDB 192,1 123,2 13,3% 6,4% 464,0 140,6 15,4% 7,7%

PDT 111,3 58,1 6,3% 5,2% 213,3 48,2 5,3% 5,8%

DEM 140,0 56,6 6,1% 4,0% 505,3 80,8 8,9% 4,1%

PSB 81,5 47,4 5,1% 5,8% 169,6 42,4 4,6% 6,4%

PR 122,2 45,9 5,0% 3,7% 437,3 58,2 6,4% 3,4%

PP 100,3 43,9 4,7% 4,4% 429,8 75,6 8,3% 4,5%

PTB 84,2 42,8 4,6% 5,1% 173,8 41,4 4,5% 6,1%

PPS 83,5 37,1 4,0% 4,4% 217,7 25,7 2,8% 3,0%

PV 54,1 33,3 3,6% 6,1% 91,1 25,8 2,8% 7,2%

PSC 60,7 27,1 2,9% 4,4% 169,6 26,0 2,8% 3,9%

PC do B 43,3 23,7 2,6% 5,5% 219,7 22,6 2,5% 2,6%

PSL 46,7 17,4 1,9% 3,7% 62,3 6,8 ,7% 2,8%

PMN 53,2 16,7 1,8% 3,1% 65,9 10,7 1,2% 4,1%

PT do B 51,9 13,4 1,4% 2,6% 38,7 3,4 ,4% 2,2%

PRP 38,7 11,0 1,2% 2,8% 22,7 1,5 ,2% 1,7%

PTN 38,7 10,1 1,1% 2,6% 19,0 1,1 ,1% 1,5%

PTC 26,4 9,4 1,0% 3,6% 21,3 4,0 ,4% 4,8%

PRB 32,7 9,3 1,0% 2,8% 76,7 7,7 ,8% 2,6%

PHS 35,1 8,6 ,9% 2,4% 40,4 5,3 ,6% 3,3%

PRTB 36,4 8,5 ,9% 2,3% 18,8 1,5 ,2% 2,0%

PSDC 24,9 4,3 ,5% 1,7% 47,8 2,3 ,3% 1,2%

PSOL 8,6 2,6 ,3% 3,1% 9,5 1,7 ,2% 4,5%

PSTU 3,7 0,1 ,0% ,3% 4,6 0,1 ,0% ,6%

PCB 3,6 0,1 ,0% ,2% 6,1 0,1 ,0% ,3%

PCO 0,8 0,0 ,0% ,0% 0,9 0,0 ,0% ,1%

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17 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Tal qual a variável “porcentagem de votos válidos”, a dispersão da variável “despesa

eleitoral” tem uma grande variabilidade, e com uma forte concentração nos pequenos valores,

por esses motivos também sofrerá a logaritmização (ver Gráfico 3).

Gráfico 3: Logaritmização da variável “despesa eleitoral”

Fonte: Dados calculados pelo autor com base nas informações divulgadas pelo TSE.

2.3 – Efeito Jacobson

Como já referido na introdução, os estudos sobre impactos dos gastos nos resultados

eleitorais são motivos de grande discussão acadêmica. As controvérsias, porém, não se

restringem somente se os gastos possuem impactos ou não. Uma das mais importantes querelas

foi iniciada com as proposições do pesquisador Gary Jacobson (1978), que encontrou impactos

distintos para os candidatos à reeleição e os seus desafiantes. Segundo Jacobson, os gastos dos

candidatos à reeleição possuem impactos negativos, no entanto, positivos para os desafiantes. A

explicação teórica postulada para o fenômeno era de que um candidato à reeleição não precisaria

gastar muito com propaganda, uma vez que já era conhecido pelo eleitorado. Quando o fazia, ao

contrário de significar força do candidato, representava que o candidato à reeleição estava

fragilizado perante os eleitores. Essas proposições ficaram conhecidas como “efeito Jacobson”.

Em 1998, Alan Gerber questionou o modelo econométrico que havia sustentado o “efeito

Jacobson”. Para Gerber (1998) a relação entre gastos e votos era um exemplo clássico de

DESPESA DO CANDIDATO 2006

4.000.0003.000.0002.000.0001.000.0000

Freq

uenc

y

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

0

4.000.0003.000.0002.000.0001.000.0000

Tipo de Candidatura

Deputados FederaisDeputados Estaduais

Log da Despesa do Candidato

15,0010,005,000,00-5,00

Freq

uenc

y

500

400

300

200

100

0

15,0010,005,000,00-5,00

Tipo de Candidatura

Deputados FederaisDeputados Estaduais

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18 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

endogeneidade, ou seja, não existia uma via de mão-única na direção de causalidade. Se era

muito provável que os gastos possuíam impactos sobre os resultados eleitorais, era também

plausível que a expectativa de votos de um candidato também alterasse sua capacidade de

angariar recursos. A solução, então, seria uma modelagem por variáveis instrumentais. Com

dados das eleições senatoriais americanas entre 1974 e 1992, Gerber (1998) encontrou que os

gastos possuíam impactos tanto para candidatos à reeleição quanto para os desafiantes.

Cabe, então, testar o “efeito Jacobson” nas eleições legislativas brasileiras. O modelo que

irá ser utilizado aqui será o OLS. Poder-se-ia objetar que se incorreria no mesmo problema

levantado por Gerber (1998) sobre a endogeneidade. Todavia, no caso brasileiro inexiste o

aspecto fundamental para que ocorra a causalidade mútua: a previsibilidade do sucesso/fracasso

do candidato. Como já dito anteriormente, as eleições legislativas no Brasil são exemplos

inversos do que ocorre nas eleições americanas, dada (1) a estrutura do sistema proporcional de

lista aberta (2) com coligações eleitorais, (3) as altas magnitudes dos distritos, (4) o grande

número de competidores, e, por conseguinte, (5) a inexistência de pesquisas eleitorais precisas e

confiáveis são fatores que dotam as eleições legislativas brasileiras de uma alta

imprevisibilidade.

Além do “efeito Jacobson” que será testado com interações entre gastos e mandatos de

Deputado, ainda será testada a interação entre gastos e gênero. A questão que aqui se coloca

refere-se à possibilidade da existência de taxas de retornos distintos entre homens e mulheres.

3 – O Modelo

Após a descrição das variáveis independentes e dependente realizada na seção

anterior, optou-se pela modelagem mais simples possível: dois modelos OLS, uma para cada

cargo. A sistematização pode ser melhor visualizada na figura abaixo:

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19 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Figura 1: Estrutura do modelo OLS

3.1 – Variável dependente: Log do Percentual do Votos Válidos

Como o objetivo principal é precisar o impacto das características individuais dos

candidatos na obtenção de votos, a unidades de observação serão os candidatos aos cargos de

Deputado Estadual/Distrital e Federal. A variável dependente será o percentual de votos obtidos

por cada qual. Entretanto, pela natureza da distribuição desta variável, que possui uma altíssima

concentração de casos nos baixos valores, e para evitar problemas de herocedasticidade, foi

necessária uma transformação matemática, qual seja, a logaritmização do percentual de votos.

Os histogramas representados no Pela natureza da variável dependente (porcentagem

dos votos válidos dos candidatos) foi necessário realizar a logaritmização. Assim como se fez

com a variável “despesas eleitorais”. Os modelos que utilizam variáveis logarítmicas tanto na

dependente como na independente são também chamados de duplo log ou log-log . E podem ser

expressos pela seguinte fórmula geral: lnΥ= α + 2 ln Хi

Votos Estado

Partido

Profissão

Expertise Escolaridade

Gênero

Gasto de campanha

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20 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Gráfico 4 ilustram como a logaritmização transforma os valores dos percentuais de votos

válidos, o que torna a distribuição desta variável mais próxima de uma curva normal.

Pela natureza da variável dependente (porcentagem dos votos válidos dos candidatos)

foi necessário realizar a logaritmização. Assim como se fez com a variável “despesas eleitorais”.

Os modelos que utilizam variáveis logarítmicas tanto na dependente como na independente são

também chamados de duplo log ou log-log 14

. E podem ser expressos pela seguinte fórmula

geral: lnΥ= α + 2 ln Хi

Gráfico 4: Histogramas das variáveis percentagem de votos válidos (Legislativo Estadual e Federal 2006)

Fonte: Dados calculados pelo autor com base nas informações divulgadas pelo TSE.

Em realidade, os coeficientes indicam a taxa de crescimento (em %) da variável

dependente ao aumentarmos em 1% a variável explicativa, também conhecida como taxa de

elasticidade.15

As demais variáveis independentes que não foram logaritmizadas possuem a

mesma interpretação que se faz com variáveis dummies e constantes. Nesse sentido, mudam

14 Gujarati (2000) .

15 Pindyck e Rubinfeld (2002).

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21 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

apenas as interpretações da variação da dependente (no caso, em porcentagem da porcentagem) e

na independente referente aos gastos (em porcentagem dos gastos).

3.2 Interpretação dos coeficientes

Se mantidas constantes todas as características individuais dos candidatos, pode-se

afirmar que: para o aumento de 1% nas despesas dos candidatos (variável explicativa–

independente), espera-se um crescimento de 0,65% no percentual de votos dos candidatos a

Deputado Estadual e 0,62% nos candidatos a Deputado Federal (variáveis explicadas–

dependentes).

Fatos notáveis são os já esperados fortes impactos positivos da variável expertise (ser

Deputado e ser Vereador), o aumento de 2,71% e 1,74%, respectivamente, nos percentuais dos

candidatos a Deputado Estadual; e 3,71% e 0,22% (não significativo) para Deputado Federal.

A variável com impacto negativo e significativo mais forte foi a relativa ao gênero. O

fato de “ser mulher”, independente de todas as demais características individuais, retira da

candidata cerca de 0,68% do seu percentual dos votos para Deputado Estadual/Distrital e 0,85%

para Deputado Federal.

No que se refere aos partidos, para Deputado Federal todos foram significativos e

positivos (com exceção do PTB, negativo e significativo). Para os cargos de Deputado Estadual/

Distrital, foram positivos: PT (0,20%), PMDB (0,27%), PV (0,15%), PSDB (0,10%), e PDT

(0,09%); novamente o PTB foi negativo com -0,18%.

Todas as dummies dos Estados apresentaram sinais positivos e significativos – com

exceção de Minas Gerais. O que era de se esperar, já que a referência-base é o Estado de São

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22 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Paulo, onde se encontra o maior número de cadeiras em disputa, um dos mais competitivos, e o

maior colégio eleitoral do País.

Por último as duas questões mais interessantes. Mesmo correndo os riscos de

endogeneidades, as evidências de impacto dos gastos nos resultados eleitorais são fortes.

Entretanto, as interações entre gasto e “expertise” (ser Deputado e Ser Vereador) foram

negativas para ambos os cargos. Ou seja, há indícios de que o “efeito Jacobson” acontece nas

eleições legislativas brasileiras. Porém, há de se repensar a teoria, já que o sistema eleitoral é

bastante distinto. Nas eleições brasileiras, o menor impacto dos gastos entre os candidatos que já

possuem cargos muito provavelmente se dá por outras razões, como o fato de possuírem recursos

outros (intangíveis como conhecimento do eleitorado, e mesmo tangíveis mas de difícil

mensuração como centros assistenciais, posição privilegiada nos partidos, staffs, etc.). Este fator

possivelmente faz com o os recursos financeiros tenham impactos diferenciados dos que não

possuem esses recursos e os que são os “desafiantes”.

A segunda questão também se refere às interações, porém, entre gastos e gênero.

Foram positivas e estatisticamente significantes. Não obstante o efeito fixo da variável gênero ter

se apresentado negativa, a taxa de retorno dos gastos para as mulheres é maior do que para os

homens (inclinação da reta).

Salvo melhor juízo, foi a primeira vez que se verificou e precisou esses fenômenos

nas eleições brasileiras. Por isso, ainda há muitas questões para se debater sobre os reais

impactos dos gastos nos resultados eleitorais no Brasil. A proibição de gastos pode ser um

privilégio exatamente os homens que possuem cargos. Há de se realizar novos testes estatísticos

e debates devem ser realizados para que uma mudança institucional não tenha efeitos perversos,

ou seja, que se puna as mulheres.

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23 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

Tabela 5

Modelos OLS para Log do Percentual de Votos Válidos dos Candidatos nas Eleições 2010

Dep. Estadual/ Distrital Dep. Federal

B Sig. B Sig.

(Constante) -11,044 0,000 -10,758 0,000

Log Despesas ,651 0,000 ,622 0,000

Mulher -,682 ,000 -,852 ,000

Interação: Mulher X Log Despesas ,027 ,026 ,048 ,014

Interação: Vereador X Log Despesas -,115 ,000 ,026 ,669

Interação: Deputado X Log Despesas -,149 ,002 -,218 ,000

PT ,203 ,000 ,364 ,000

PMDB ,266 ,000 ,298 ,000

DEM ,022 ,668 ,262 ,002

PSDB ,102 ,022 ,266 ,000

PDT ,089 ,052 ,196 ,006

PV ,155 ,000 ,243 ,000

PTB -,187 ,000 -,130 ,064

Ocupação: Vereador. 1,747 ,000 ,221 ,742

Ocupação: Deputado. 2,712 ,000 3,717 ,000

Ensino Médio Completo (sup. inc) ,054 ,088 ,110 ,044

Ensino Superior Completo ,266 ,000 ,197 ,000

Estado: Acre. 2,839 0,000 3,664 ,000

Estado: Alagoas. 2,333 ,000 3,046 ,000

Estado: Amazonas. 2,003 ,000 2,646 ,000

Estado: Amapá. 3,308 0,000 4,065 ,000

Estado: Bahia. 1,586 ,000 1,841 ,000

Estado: Ceará. 2,192 ,000 2,657 ,000

Estado: Distrito Federal. 1,845 ,000 2,349 ,000

Estado: Espírito Santo. 2,064 ,000 2,869 ,000

Estado: Goiás. 1,556 ,000 2,030 ,000

Estado: Maranhão. 2,096 ,000 2,744 ,000

Estado: Minas Gerais. ,753 ,000 ,978 ,000

Estado: Mato Grosso do Sul. 1,363 ,000 2,089 ,000

Estado: Mato Grosso. 1,926 ,000 2,741 ,000

Estado: Pará. 1,810 ,000 2,501 ,000

Estado: Paraíba. 2,488 ,000 2,859 ,000

Estado: Pernambuco. 1,922 ,000 2,067 ,000

Estado: Piauí. 1,977 ,000 2,570 ,000

Estado: Paraná. 1,403 ,000 1,649 ,000

Estado: Rio de Janeiro. 1,038 ,000 1,276 ,000

Estado: Rio Grande do Norte. 2,278 ,000 2,856 ,000

Estado: Rondônia. 2,695 ,000 3,466 ,000

Estado: Roraima. 2,940 0,000 3,651 ,000

Estado: Rio Grande do Sul. 1,526 ,000 1,608 ,000

Estado: Santa Catarina. 1,816 ,000 2,066 ,000

Estado: Sergipe. 2,775 ,000 3,369 ,000

Estado: Tocantins. 1,834 ,000 2,818 ,000

F 775,156 ,000 425,837 ,000

R2 ,765 ,820

N 10020 3919

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24 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

4 – Considerações Finais

O modelo testado por esse trabalho ainda é um protótipo. Existem muitas interações e

endogeneidades a serem trabalhadas. No entanto, os impactos das variáveis “despesa eleitoral” e

da profissão “Sacerdote/Membro de Seita Religiosa” chamam a atenção pela força que

demonstraram, assim como o “efeito Jacobson” e a taxa de retorno dos gastos das mulheres.

As teorias normativas sobre representação política dividem os sistemas eleitorais em duas

grandes famílias: majoritária e proporcional. A primeira família funcionaria como um funil da

sociedade, ou seja, os representantes escolhidos seriam os mais aptos, representaria a maioria

constituída da sociedade.

Por outro lado, o sistema proporcional enfatizaria as diferenças, funcionaria como um

espelho da sociedade, onde diversas minorias estariam representadas, ou seja, seria um reflexo

das categorias da sociedade.

Mesmo que não tenha tratado das seletividades do sistema majoritário brasileiro, ao que foi

constatado neste paper, o sistema proporcional está longe de ser um sistema inclusivo.

Categorias como gênero, escolaridade, expertise, poder econômico, etc. se demonstraram

fortemente negativos. Dito de outra: existe uma enorme seletividade do sistema eleitoral

brasileiro que não o faz refletir exatamente as características socioeconômicas da sociedade

brasileira. Seus resultados parecem muito mais com os que a teoria normativa da representação

política espera dos sistemas majoritários. Ou a teoria se equivocou ao imaginar que os eleitores

votariam em candidatos com características semelhantes às suas, ou há algo que deturpa as

chances dos candidatos de diferentes características, sempre em prejuízo para aqueles possuem

as mesmas características da maioria da população votante.

Mas quais seriam as conseqüências de uma eleição em que seus resultados fossem

absolutamente definidos pelas despesas em campanha? Um dos maiores riscos seria a

transformação do sistema democrático em um sistema plutocrático, ou seja, não mais teríamos o

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25 Impacto dos gastos de campanhas nas eleições legislativas de 2010: uma análise

quantitativa | 8° Encontro ABCP – Gramado RS

demos representado na polis, mas tão somente uma representação do poder financeiro. No limite

extremo, as eleições seriam decididas numa bolsa de valores, ou mesmo num templo religioso.

Uma questão digna de ser notada é que, no que se refere aos partidos, há diferenças

significativas entre os partidos. Ou seja, diferentemente do que pensam os políticos e parte dos

analistas, os partidos contam na arena eleitoral. A filiação partidária diferencia os desempenhos

dos candidatos. A explicação teórica possível é que o sistema eleitoral pode não dar incentivos

para os eleitores escolherem e controlarem seus representantes, porém, os partidos afetam

indiretamente as chances dos seus candidatos. As formas mais prováveis são os recursos

organizacionais, tempo de propaganda eleitoral e as estratégias de coligação. Dito de outra:

partido pode não ser tão importante para o eleitor como aponta parte da literatura sobre decisão

do voto, mas contam para os desempenhos dos candidatos ao concederem maiores ou menores

recursos organizacionais. As conseqüências deste achado são importantes dado que analistas do

comportamento legislativo partem do pressuposto que os partidos não contam na arena eleitoral.

As análises aqui empreendidas falsificam parcialmente este pressuposto. A conclusão mais

adequada é a de que pertencer a determinados partidos aumenta o desempenho eleitoral dos

candidatos. Se isto afeta ou não o comportamento legislativo é outra história. Os achados aqui

permitem apenas afirmar que o pressuposto sobre o qual se ergue parte da literatura que defende

uma forte independência entre o candidato e o partido na arena eleitoral está no mínimo

equivocado. Eleitores podem não considerar a filiação como importante nas suas estratégias, mas

os resultados finais das eleições indicam exatamente o oposto: faltou combinar com os russos!

5 - Bibliografia

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Anexo: Análise dos resíduos dos modelos OLS (log-log)

Estatísticas de residuaisa

Cargo Mínimo Máximo Média Desvio padrão N

Dep. Estadual/Distrital

Valor previsto -9,9526 1,7857 -3,1171 1,78772 10020

Residual -5,87675 5,90560 ,00000 ,98965 10020

Valor previsto padrão -3,824 2,742 ,000 1,000 10020

Residual padrão -5,926 5,955 ,000 ,998 10020

Dep. Federal

Valor previsto -9,0286 2,9428 -2,7852 2,15430 3919

Residual -5,13285 4,86318 ,00000 1,00289 3919

Valor previsto padrão -2,898 2,659 ,000 1,000 3919

Residual padrão -5,091 4,823 ,000 ,995 3919