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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI - BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA BRUNA ARAGÃO DA SILVA A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O CÂNCER INFANTIL: SENTIMENTOS DA FAMÍLIA BIGUAÇU, 2012

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1

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI - BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

BRUNA ARAGÃO DA SILVA

A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O CÂNCER INFANTIL: SENTIMENTOS

DA FAMÍLIA

BIGUAÇU, 2012

2

BRUNA ARAGÃO DA SILVA

A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O CÂNCER INFANTIL: SENTIMENTOS

DA FAMÍLIA

Projeto do Trabalho de Iniciação

Científica apresentado como requisito

para a obtenção do grau de Bacharel em

Psicologia na Universidade do Vale do

Itajaí no curso de Psicologia –

UNIVALI-, Centro de Ciência da Saúde.

Orientadoras: Profª Ana Paula Balbueno

Karkotli / Profª Ivânia Jann Luna

BIGUAÇU, 2012

3

BRUNA ARAGÃO DA SILVA

ÁREA DE PESQUISA: Psicologia da Saúde

TEMA: Família e Câncer Infantil

TÍTULO : A produção científica sobre o câncer infantil: sentimentos da família

BANCA EXAMINADORA

Profª Ivânia Jann Lunna (Orientadora)

Titulação: Mestre em Psicologia Clínica

Profª Ana Paula Karkotli

Titulação: Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho

Psicóloga Luísa Tosdechini Pereira Oliveira

Titulação: Mestre em Psicologia

4

Dedico este trabalho aos meus pais, que pela sua simplicidade e

humildade, nunca deixaram de me incentivar e de sonhar junto

comigo, tornando o sonho de ser psicóloga possível. Ao meu

irmão, pelo seu carinho constante e sua alegria que sempre me

fez rir. Amo muito vocês.

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela coragem e força na realização deste

sonho.

À Profª Ivânia, que aceitou ser minha orientadora na parte final desta pesquisa e

me auxiliou com seus conhecimentos na construção deste trabalho.

À Profª Ana Paula, por aceitar fazer parte da banca e por ter contribuído com

seus conhecimentos no projeto deste trabalho.

À psicóloga Luísa, que aceitou participar da banca e por suas contribuições

oferecidas.

Ao meu primo Leonardo, que nos últimos anos se tornou meu amigo e sempre

me animou nos momentos difíceis.

Às minhas amigas Karoliny, Mayhane, Aline e Chaiany, que por mais de uma

vez mostraram ser mais que amigas, agradeço pela compreensão, carinho e amizade nos

momentos em que mais precisei. À minha amiga de infância Elizy, que no último ano

também estava na correria do seu TCC, mas sempre tinha um tempinho pra me ouvir. E

também aos meus anjinhos Aninha e Arthur, que com toda inocência de criança sempre

conseguiam arrancar um sorriso meu.

A todos os amigos, que sempre estiveram por perto e me alegraram nos

momentos que mais precisei.

À minha família, tios, tias, primos, primas, avô e avó, que com toda a

simplicidade do mundo, sempre se mostraram presente, cada um com sua subjetividade

me fazia acreditar que era possível.

Aos colegas de turma, que nunca deixaram o desânimo tomar conta.

E todos que, direta ou indiretamente, ajudaram este sonho se tornar realidade.

6

LISTAS DE SILGLAS E ABREVIATURAS

AECC – Asociación Española Contra el Cáncer

INCA – Instituto Nacional de Câncer

ABC – Associação Brasileira do Câncer

ScIELO – Scientific Eletronic Library Online

OMS – Organização Mundial de Saúde

PePSIC – Períodicos Eletrônicos em Psicologia

7

LISTA DE QUADROS

Quadros

Quadro 1: Caracterização dos artigos encontrados ........................................................ 32

Quadro 2: Categorias e sub-categorias .......................................................................... 34

Quadro 3: Artigos e seus respectivos temas .................................................................. 36

8

RESUMO

SILVA, Bruna Aragão da, A produção científica sobre o câncer infantil: sentimentos

da família. Trabalho de Iniciação Científica (Graduação em Psicologia) Universidade

do Vale do Itajaí, 2012.

A presente pesquisa teve como objetivo conhecer a produção científica na área da psico-

oncologia, buscando em bancos de dados e revistas científicas nos últimos 6 anos,

aspectos sobre o câncer infantil e os sentimentos da família. Trata-se de uma pesquisa

qualitativa de caráter exploratório, que se deu a partir das bases de dados online nas

bibliotecas eletrônicas ScIELO e PePSIC, entre os anos de 2006 à 2011, totalizando 14

artigos utilizados para a discussão e análise de resultados. Foram criadas categorias e

sub-categorias para melhor expor e organizar o material. A partir do material

pesquisado, observou-se que o diagnóstico do câncer é um momento difícil tanto para a

família como para a criança. O cuidador principal, que geralmente é a mãe, passa a

viver para cuidar do filho doente, tendo que conviver num ambiente hospitalar e sob

forte risco de estresse. Esse papel pode interferir no seu relacionamento com o marido,

que por muitas vezes se afasta de casa ou se aproxima mais da esposa, como também no

seu relacionamento com os outros filhos, que se sentem revoltados com a mãe pelo seu

afastamento de casa. Para enfrentar esse difícil momento do diagnóstico, as famílias

utilizam as crenças religiosas, procurando Deus para aliviar o sofrimento. As mães

cuidadoras também acabam compartilhando suas dores e suas experiências com outras

mães de crianças com câncer. A equipe de saúde do hospital, tanto o médico como os

enfermeiros, tem um papel importante nesse momento, é essencial que eles falem a

verdade e estejam disponíveis para tirar qualquer dúvida da família. Na pesquisa

também foi possível observar, como o psicólogo é importante no momento do

diagnóstico e durante o tratamento, tanto para a criança, como para a família e para os

demais profissionais da saúde.

Palavras-chave: Câncer infantil, famílias, aspectos emocionais, estratégias de

enfrentamento.

9

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 14

2.1 O câncer e algumas considerações sobre o câncer infantil ...................................... 14

2.1.1 Tipos de câncer ..................................................................................................... 16

2.1.1.1 Leucemias .......................................................................................................... 16

2.1.1.2 Tumores no sistema nervoso central ................................................................. 17

2.1.1.3 Linfomas ............................................................................................................ 17

2.1.1.4 Neuroblastoma ................................................................................................... 18

2.1.1.5 Tumor de Wilms ................................................................................................ 18

2.1.1.6 Rabdomiossarcomas .......................................................................................... 18

2.1.1.7 Tumores nas células germinativas ..................................................................... 19

2.1.1.8 Tumores ósseos ................................................................................................. 19

2.1.1.9 Retinoblastoma .................................................................................................. 19

2.1.2 Diagnóstico ........................................................................................................... 20

2.1.3 Tratamento ............................................................................................................ 21

2.2 A hospitalização na infância: a criança com câncer ................................................ 23

2.3 A família da criança com diagnóstico de câncer ..................................................... 25

2.4 Psico-oncologia ....................................................................................................... 27

3 MÉTODO .................................................................................................................. 30

3.1 Delineamento de pesquisa ....................................................................................... 30

3.1 Procedimentos de coleta de dados ........................................................................... 31

3.2 Procedimento de análise dos dados ......................................................................... 33

3.3 Aspectos éticos da pesquisa ..................................................................................... 35

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................................. 36

4.1 Aspectos emocionais e sociais no enfrentamento do câncer infantil ....................... 37

4.1.1 Percepção do diagnóstico ..................................................................................... 37

10

4.1.2 Mudanças na dinâmica familiar ............................................................................ 39

4.1.3 Mudança no relacionamento do casal ................................................................... 42

4.1.4 Papel e estresses do cuidador principal ................................................................ 43

4.1.5 Vivências emocionais dos outros familiares ........................................................ 46

4.1.6 Perdas relacionadas ao câncer infantil .................................................................. 47

4.2 Estratégias de enfrentamento dos membros familiares ........................................... 48

4.2.1 Crenças religiosas . ................................................................................................ 48

4.2.2 Atitudes e comportamentos dos membros familiares ........................................... 49

4.2.3 Comunicação com a equipe de saúde ................................................................... 50

4.2.4 Comunicação com os demais membros da rede social ......................................... 51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 53

6 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 56

11

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica que buscou atender os

requisitos do Trabalho de Iniciação Científica. Foi elaborado a partir do interesse de

levantar o que já foi pesquisado e publicado sobre no âmbito da Psico-oncologia,

considerando os aspectos emocionais e sociais no enfrentamento dessa doença pela

família câncer infantil e os sentimentos da família no contexto hospitalar. Buscando

compreender o processo do câncer infantil, do diagnóstico ao tratamento, identificando

os aspectos emocionais e sociais que vão surgindo no enfrentamento da doença e

compreender as estratégias que a família da criança vai criando durante esse momento.

O câncer é uma doença, cujas causas são variadas e podem ser internas ou

externas. A incidência do câncer no Brasil vem crescendo num ritmo que tem

acompanhado o envelhecimento populacional, decorrente do aumento da expectativa de

vida. Sendo resultado das grandes transformações ocorridas nas últimas décadas, que

vão alterando a situação de saúde dos povos, seus modos de vida e os novos padrões de

consumo (INCA, 2011).

Segundo o INCA (2011), o câncer infantil corresponde a um grupo de várias

doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que

pode ocorrer em qualquer local do organismo. Os tumores mais freqüentes na infância e

na adolescência são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os do sistema

nervoso central e linfomas (sistema linfático). Segundo Reis et al (2007) o câncer

pediátrico representa de 0,5% a 3% de todos os tumores na maioria das populações.

Após o diagnóstico de câncer infantil, muitas famílias se sentem sem saber o que

fazer, impotentes, como descreve Silva Et al (2009, p. 335) “o adoecimento por câncer

de uma criança afeta toda a família e tem o potencial de romper profundamente a sua

estrutura, porém, a medida que seus membros se adaptam a doença, seus papéis e

responsabilidade podem mudar”. Fora a impotência, os pais ainda convivem com a

possibilidade de perda do seu filho, como descreve Castro (2010, p. 57) “possuir um

filho com diagnóstico de câncer – qualquer que seja o tipo – equivale à iminência da

perda, provoca uma dor incomensurável, com a sensação de desmoronamento de um

12

mundo construído e sonhado”, pois os pais sonham com filho perfeito, saudável, livre

de qualquer doença ou imperfeição.

Com a hospitalização da criança para dar início ao tratamento, a mãe,

geralmente, se torna a acompanhante, que deixa sua vida de lado e até mesmo seus

outros filhos, para se dedicar aos cuidados do filho que está hospitalizado. Como

descreve França (2002, p.2): “nos períodos de internação hospitalar [...]

„normalmente‟ a mãe torna-se a companheira e cúmplice da criança, vivenciando ao

seu lado, as angústias, dores e seu sofrimento.”

Segundo Franco (2008), a psico-oncologia ocupa-se de pesquisar fenômenos que

possam responder às perguntas relativas à vivência de pacientes, familiares e

profissionais envolvidos em qualquer dos momentos constituintes da experiência do

câncer, seja ele no diagnóstico, tratamento ou fase terminal. Seu objetivo é verificar

como anda o enfrentamento da população frente à doença e levá-la a mudar os hábitos e

estilo de vida, promovendo a prevenção.

O psicólogo vem se tornando cada vez mais importante dentro dos hospitais,

tanto para atender os familiares, a equipe de saúde e os pacientes. Outra necessidade do

psicólogo é investir nas áreas de ensino e pesquisa, passar adiante seu conhecimento,

divulgando a importância do seu trabalho na área da saúde. Segundo Cardoso (2007), o

psicólogo que trabalha na oncologia deve oferecer suporte emocional para a família,

para que esta possa enfrentar da melhor forma possível a situação, buscando recursos

mais eficientes para os familiares se adaptarem.

Hoje, a interface psicologia e oncologia – psico-oncologia - traz à tona uma

preocupação mais ampla: a qualidade de vida de pessoa com câncer. Essa interface vem

dar destaque à identificação do papel de aspectos psicossociais, tanto na etiologia

quanto no desenvolvimento da doença, à identificação de fatores de natureza

psicossocial que estão envolvidos na sua prevenção e na sua reabilitação, bem como

vem incentivando a sistematização de um corpo de conhecimento que possa fornecer

subsídios tanto para a assistência integral do paciente oncológico, da sua família, como

também a formação de profissionais de saúde envolvidos com seu tratamento

(GIMENES, 1994).

13

Veit e Carvalho (2008) acrescentam que “a psico-oncologia constitui-se em uma

área de conhecimento da psicologia da saúde, aplicada aos cuidados com o paciente

com câncer, sua família e os profissionais envolvidos no seu tratamento.” Ela focaliza o

bem-estar do paciente e das pessoas envolvidas em seu tratamento, buscando a

qualidade de vida dos mesmos.

A escolha desse tema se deu no inicio do curso de Psicologia, por ter vivenciado

experiências de câncer na família e foi se fortalecendo ao longo do mesmo por ter

despertado a curiosidade sobre o câncer e os aspectos emocionais relacionados às

famílias que tem filhos com câncer, principalmente a do cuidador que acompanha a

criança às visitas ao hospital e às internações, bem como a vontade de conhecer um

pouco mais sobre a atuação do profissional psicólogo dentro deste contexto.

O presente estudo tem relevância social, pois traz a possibilidade de visualizar a

atuação do psicólogo dentro do hospital, onde o campo de atuação está se tornando cada

vez mais reconhecido.

Este estudo promoverá a conscientização, para e equipes de saúde, a respeito do

câncer infantil, de um diagnóstico precoce que possibilita um tratamento mais eficaz e

com mais possibilidades de cura. Procurando identificar os aspectos emocionais

relacionados à criança e à família, principalmente à mãe que se torna a principal

cuidadora da criança nos períodos de tratamento e internação, segundo a visão da

psicologia. Vale ressaltar que foram encontradas muitas publicações nas áreas da

pediatria, fisioterapia e enfermagem, mas pouco ainda foi escrito por profissionais

psicólogos.

14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O câncer e algumas considerações sobre o câncer infantil

O câncer é uma doença que existe desde o inicio dos tempos, podendo acometer

pessoas de qualquer idade. Existem diversos tipos de câncer que afetam desde os mais

jovens até os mais idosos (AECC, 2008 apud VALE; RAMALHO, 2008). Segundo o

INCA (2011) as células cancerosas de dividem mais rápido que as normais e são bem

desorganizadas, podendo se empilhar uma sobre a outra, formando o tecido chamado

tumor. Esse processo pode levar anos. Cagnin (2003, p. 52) acrescenta que: “câncer é o

nome dado a um conjunto de 250 doenças que apresentam causas, manifestações,

tratamento e prognósticos diferentes e que têm em comum o crescimento desordenado

de célula que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do

corpo”

É uma doença genética caracterizada pela divisão e proliferação desordenada de

células que sofrem mutação em seu material genético. Segundo Valle (2008), o câncer é

uma doença que evolui com o aumento desordenado do número de células, podendo

ocorrer em qualquer parte do corpo. Essas células se encontram prejudicadas na sua

forma e função e têm a capacidade de invadir outras partes do corpo que estejam

próximas, podem também se locomover através do sistema linfático e do sangue para

outras partes do corpo.

Os tumores são caracterizados pelo agrupamento de células anormais, que uma

vez formadas serão destruídas pelo organismo, permanecerão como tumores benignos

ou se transformarão em tumores malignos. Tudo dependerá do sistema imunológico do

individuo, que será influenciado por diversos fatores de risco. (Associação Brasileira do

Câncer [ABC], 2007 apud CARDOSO, 2007).

Segundo o INCA (2011), o câncer no adulto está relacionado a vários fatores de

risco, enquanto os tumores pediátricos ainda são poucos conhecidos quanto às suas

causas. Do ponto de vista clínico, os tumores infantis apresentam menos períodos de

15

latência, crescem rapidamente e são mais invasivos, respondem ao tratamento e são

considerados de bom prognóstico.

O câncer na criança representa aproximadamente 2% das neoplasias

malignas. Constitui-se em uma das principais causas de óbito por doença

nesta faixa etária, e é responsável pela maior perda de potenciais anos de

vida. Nas crianças, as neoplasias malignas diferem daquelas observadas nos

adultos, tanto em relação a sua freqüência quanto ao seu tipo histológico. O

câncer na criança afeta as células do sistema hematopoiético e os tecidos de

sustentação, enquanto que, no adulto, afeta as células do epitélio que

recobrem os diferentes órgãos (SILVA et al, 2002, p. 409).

Segundo o INCA (2011) “o que diferencia a manifestação do câncer infantil do

adulto é que o primeiro geralmente afeta o sistema sangüíneo e os tecidos de

sustentação, já o segundo afeta as células do epitélio que recobre diferentes órgãos do

corpo humano.”

Andréa (2008, p. 478), acrescenta que o câncer infantil é a segunda causa de

óbito entre crianças em países desenvolvidos, o mesmo índice já vem sendo verificado

nos grandes centros urbanos do Brasil. Os acidentes e as anomalias congênitas são

responsáveis por índices de mortalidade superiores ao do câncer.

Segundo Valle e Ramalho (2008), o câncer na infância provoca comoção

emocional e transtornos psicossociais no meio familiar. O tratamento implica grandes

investimentos, que envolvem pesquisas, recursos, instituições, como também, requer

profissionais da área da saúde, familiares e voluntários que mobilizem a sociedade a fim

de garantir as condições necessárias para alcançarem-se bons resultados.

Proporcionando assim qualidade de vida aos pacientes e seus familiares, amenizando o

sofrimento da hospitalização e dos procedimentos médicos.

A seguir serão descritos os tipos de câncer mais comuns na infância.

16

2.1.1 Tipos de câncer na infância

Os tipos mais comuns de neoplasias infantis são as leucemias, os tumores do

sistema nervoso central e os linfomas, os quais encontramos abaixo:

2.1.1.1 Leucemias

Segundo Hamerschlak (2008), o termo leucemia refere-se a um grupo de

doenças complexas e diferentes entre si que afetam a produção de glóbulos brancos.

Kohlsdorf (2008) acrescenta que as leucemias correspondem à neoplasia mais comum

na infância, sendo que o pico de incidência ocorre entre dois e seis anos de idade.

As formas de leucemia podem ser linfóides agudas ou mielóides agudas. A

leucemia linfóide aguda é uma doença da medula óssea e ocorre quando há proliferação

de células jovens, blastos leucêmicos, ocupando o espaço medular e impedindo a

multiplicação de células normais do sangue. Os sinais mais freqüentes são: astenia,

palidez progressiva, manchas roxas pelo corpo, dores ósseas e/ou articulares e febre. O

diagnóstico é feito através de punção da medula óssea. O tratamento é quimioterápico,

seguindo as seguintes fases: indução da remissão, consolidação, tratamento do SNC e

manutenção. Os transplantes de medula óssea são indicados quando há recidiva da

doença. A leucemia mielóide aguda é um desafio para os oncologistas pediátricos, os

sintomas são os mesmo da leucemia linfóide aguda, porém a leucemia mielóide aguda

apresenta níveis mais altos de leucócitos. A anemia costuma ser severa e progressiva,

podendo ser responsável por fadiga, prostração, dor de cabeça, dispnéia e insuficiência

cardíaca congestiva. O tratamento é quimioterápico, porém mais intensivo, com quatro a

cinco ciclos de quimioterapia, baseado em três drogas fundamentais: antracíclios,

citarabina e etoposide (ANDRÉA, 2008).

17

2.1.1.2 Tumores no Sistema Nervoso Central

Segundo Kohlsdorf (2008), é o segundo tipo de câncer mais comum na infância.

Os principais sintomas são: dores de cabeça, vômitos, paralisia de nervos, dificuldades

no equilíbrio e coordenação, alteração motoras e cognitivas. O diagnóstico é confirmado

através de tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética do encéfalo. Para a

maioria dos casos a cirurgia é o passo inicial, porém o primeiro tratamento a ser

realizado pode ser a quimioterapia que visa diminuir o tumor e melhorar as condições

do paciente. A radioterapia também poderá ser usada, mas requer conhecimento dos

seus efeitos sobre o desenvolvimento do cérebro da criança, os efeitos do tratamento são

mais intensos nos primeiros anos, podendo provocar lesões cerebrais graves, o que

constitui um fator limitante (ANDRÉA, 2008).

2.1.1.3 Linfomas

Kohlsdorf (2008) descreve que os linfomas são neoplasias primárias que

acometem o sistema linfático, podendo ser Linfoma Hodgkin e Linfoma não-Hodgkin.

A doença de Hodgkin atinge crianças pré-adolescentes, sendo raro acontecer na

primeira infância. O sinal da doença mais freqüente é o aumento de uma ou mais

cadeias de linfonodos e os sintomas são febre, fadiga, emagrecimento, sudorese

profunda e prurido. O diagnóstico é feito através de biópsia do linfonodo mais sugestivo

para exame anatomopatológico e imunoistoquímico. O tratamento é através de

quimioterapia e radioterapia. Os linfomas não-Hodgkin são oriundos de células do

sistema imunológico presentes em todo o corpo, tem altos índices proliferativos sendo

classificados como linfomas de alto grau de malignidade. Os sinais e sintomas variam

de acordo com o local acometido. O diagnóstico se baseia na histologia. O tratamento é

através de quimioterapia e radioterapia. O transplante de medula óssea é indicado para

paciente em segunda remissão (ANDRÉA, 2008).

18

2.1.1.4 Neuroblastoma

Tumor do sistema nervoso simpático representa entre 25% e 50% de todos os

tumores malignos em recém-nascidos. Os sintomas incluem perda de peso, anorexia,

diarréia, vômitos, fadiga, febre e irritabilidade (KOHLSDORF, 2008). Segundo Andréa

(2008), o diagnóstico é feito em três etapas: primeiro é realizado um exame clínico,

segundo os exames de imagens (raios-X, tomografias e mapeamentos) e terceiro será

realizada a biópsia que confirmara o diagnóstico. O tratamento realizado é a cirurgia, a

quimioterapia, a radioterapia e a bioterapia.

2.1.1.5 Tumor de Wilms

É responsável por 6% das neoplasias infantis, ocorre em crianças com idade

média de 3 anos, podendo atingir um ou dois rins. Foi a primeira neoplasia a atingir

níveis de cura elevados e hoje chega a 90%. As manifestações clínicas do tumor são

discretas, os pais costumam procurar os médicos após terem palpado uma massa

tumoral localizada no flanco. Os sintomas que acometem a doença são: emagrecimento

e prostração, dor abdominal, febre e hematúia. O diagnóstico é feito através de

ultrassom. O tratamento é realizado através de quimioterapia e cirurgia, em casos de

estágios avançados é realizado por radioterapia (ANDRÉA, 2008).

2.1.16 Rabdomiossarcomas

Sarcomas são tumores malignos de origem epitelial. Tem origem em células

mesenquimais imaturas da musculatura esquelética, mas podem aparecer onde essa

musculatura não é encontrada, como na bexiga. É diagnosticada em crianças e quase

dois terços dos pacientes tem até 10 anos. Após suspeita clínica, são realizados exames

de imagem, como a ultrassonografia, a tomografia e/ou ressonância magnética também

poderá ser usado, dependendo do local do tumor, o diagnóstico só é confirmado através

19

de biopsia. O tratamento realizado é quimioterapia, radioterapia e cirurgia (ANDRÉA,

2008).

2.1.1.7 Tumores nas células germinativas

Os tumores germinativos gonadais e extragonadais são raros de acontecer na

infância. Formam um grupo heterogêneo que varia de acordo com o sexo, idade, local

de apresentação, histopatologia, potencial maligno na célula de origem. A classificação

dos tumores pediátricos nas células germinativas é: tumores de ovário, tumores do

testículo e tumores de células germinativas não gonadais (ANDRÉA, 2008).

2.1.1.8 Tumores ósseos

Segundo Kohlsdorf (2008), as neoplasias nos ossos tem incidência entre os 14 e

15 anos de idade, ocorrendo com mais freqüência no sexo masculino. O paciente é

levado ao médico com queixa de dor, acometendo os ossos grandes perto do joelho. O

diagnóstico é baseado em critérios histopatológicos e sua correlação com os achados

radiológicos. O tratamento se dá através de cirurgia, sendo necessário fazer

quimioterapia antes (ANDRÉA, 2008).

2.1.1.9 Retinoblastoma

Tumor localizado na região do olho (retina), acometendo crianças menores de 3

anos. (Kohlsdorf, 2008). É responsável por apenas 3% nas neoplasias na infância, pode

ter manifestações em apenas um olho ou em ambos. O diagnóstico é feito com o

aumento de volume do olho ou extensão grosseira extra-ocular. O tratamento costuma

ser complexo, o mais utilizado é a enucleação (ANDRÉA, 2008).

20

A seguir será feita a descrição a respeito do diagnóstico do câncer infantil na

infância.

2.1.2 O diagnóstico

O diagnóstico do câncer na infância se dá através de alguns sinais e sintomas,

como apresentado por Valle e Ramalho (2008, p. 511): “febre de origem ignorada,

palidez, dor óssea, manchas roxas pelo corpo, massas palpáveis, transtornos

neurológicos, entre outros.” A autora acrescenta que é no período pré-diagnóstico que a

família fica preocupada, pois a demora para descobrir o que a criança tem se torna

angustiante.

Segundo o INCA (2007), muitas crianças e adolescentes com câncer chegam ao

centro especializado de tratamento com a doença em estágio avançado por diversos

fatores: desinformação dos pais, medo do diagnóstico de câncer e desinformação dos

médicos. É comum o diagnóstico ser feito tardiamente porque na apresentação clínica as

características de determinado tipo de tumor pode não diferir muito de doenças comuns

na infância. Por isso, o conhecimento do pediatra acerca do câncer é determinante para

um diagnóstico seguro e rápido.

Cardoso alerta que o diagnóstico do câncer deve ser feito precocemente,

impedindo assim o agravo da doença:

Ao contrário dos adultos, não existem exames preventivos que, feitos

rotineiramente, detectem a manifestação do câncer. Daí a importância da

avaliação periódica de um pediatra durante toda a infância. São muitos os

procedimentos utilizados na detecção dos cânceres. Entre os mais comuns e

conhecidos estão: biópsia, punção, ultra-sonografia, tomografia

computadorizada, ressonância magnética, hemograma, mielograma (exame

da medula óssea), entre outros (2007, p.30).

Carvalho (2002) acrescenta que o diagnóstico de câncer tem um efeito

devastador tanto para a família, como para o doente, pois mesmo com muitos casos de

cura, o câncer ainda traz a ideia de morte e o medo dos tratamentos dolorosos que são

provocados pela doença.

21

A partir da revelação do diagnostico de câncer, os temores da família se

concretizam e ela passa a sofrer profundas alterações – a unidade familiar

fica afetada, como também o relacionamento de seus membros com outras

pessoas. Mesmo com todos os avanços médicos e medicamentos que vêm

ocorrendo e mostram altos índices de cura em grande parte dos cânceres

infantis, o diagnóstico de câncer referente a um filho marca um momento de

incertezas, de angustia diante da possibilidade de morte. São comuns as

reações iniciais de incredulidade, de desespero, de busca de uma causa. Nas

hipóteses explicativas da família e mesmo da criança, há uma tentativa de

relacionar o aparecimento da doença a alguma situação que lhes faça

sentindo; por a criança não comer determinado alimento, por um familiar já

ter tido a doença, por uma falta cometida pela criança ou pelos pais, por um

castigo, por algo que foi ou deixou de ser feito (VALLE; RAMALHO, 2008,

p. 511).

O diagnóstico de câncer na criança gera dúvidas sobre o seu destino que a partir

desse momento é incerto e os pais tem dificuldade em aceitar a doença. Valle e

Ramalho (2008, p. 511) acrescentam que “muitos pais afirmam que a vida sofre uma

paralisação: eles não conseguem trabalhar nem cuidar da casa e dos outros filhos, não

tem vontade nem de sair pra ir ao supermercado, não querem tomar banho ou se

arrumar”. Alguns pais também têm dificuldades em entender a doença e seu

tratamento.

A seguir será descrito como é realizado o tratamento de câncer infantil.

2.1.3 Tratamento

As tecnologias de detecção e tratamento do câncer infantil evoluíram muito nas

últimas décadas, com exceção da prevenção, ao contrário dos adultos, pois nestes já se

sabe que a doença geralmente está associada aos fatores ambientais. Além disso, o

diagnóstico precoce muitas vezes não ocorre, pois, em geral, como já foi dito, os

sintomas são muito semelhantes aos de outras doenças comuns na infância. E também

pelo sistema de saúde, que as vezes, demora na marcação de exames necessários para o

diagnóstico e o desconhecimento que a família tem sobre a doença (INCA, 2011).

Valle e Ramalho (2008) descrevem as três condutas terapêuticas mais utilizadas

para o tratamento do câncer: a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia. Segundo a

autora, na quimioterapia são empregadas medicações que exterminam as células

22

cancerosas, mas que afetam células de outros tecidos, como as do cabelo e das mucosas.

A duração do tratamento pode variar de meses a anos, podendo ser realizado no hospital

ou em casa, por via oral, intravenosa, intramuscular, subcutânea, intratecal e tópica

(INCA, 2011) A quimioterapia traz algumas conseqüências, como: costuma causar

apatia; perda de apetite; queda de cabelo; diminuição da resistência da criança devido à

diminuição de um dos componentes do sangue, os glóbulos brancos, responsáveis por

combater as infecções; hematomas (manchas azuladas na pele) e sangramento nasal

provocados pela baixa taxa de plaquetas no sangue (células responsáveis por sua

coagulação); edema (inchaços); aftas na boca; náuseas; vômitos; diarréia (VALLE;

RAMALHO, 2008).

Valle e Ramalho (2008) acrescentam que, no tratamento através da radioterapia,

são utilizadas radiações produzidas por uma máquina no local do corpo delimitado. O

radioterapeuta realiza marcas fucsina, que é uma espécie de tinta que não deve ser

apagada. As sessões são determinadas pelo especialista e variam conforme a

necessidade. As conseqüências da radioterapia são alterações cutâneas no local da

irradiação (maior sensibilidade, descamação, prurido, edema/inflamação); queda de

cabelo; modificação do paladar; diminuição da salivação; surgimento de aftas (quando a

irradiação é na cabeça); alterações digestivas (ligeira dificuldade para engolir, diarréias,

perda de apetite), quando a irradiação é feita no tórax e abdômen; fadiga.

Outros tratamentos também podem ser utilizados, como a cirurgia, que é o

método mais antigo no tratamento oncológico, que consiste em extrair o tumor e os

tecidos próximos dele. Para muitos pacientes a cirurgia pode trazer algumas

conseqüências, como as amputações, para extrair o tumor em alguns casos é necessários

amputar uma perna, um braço, sensações de pontada, dormência, queimor e cãibra,

dentre outras, são frequentemente descritas na extremidade da parte amputada (INCA,

2012). Também podem ser utilizados, a imunoterapia, a braquiterapia e o transplante de

medula óssea (Valle, 2008).

Valle e Ramalho (2008) acrescentam que boa parte do tratamento é feito de

forma ambulatorial, ou seja, a criança não precisa ficar hospitalizada. Conforme o

tratamento prescrito a criança chega ao hospital colhe o sangue e, dependendo dos

resultados do exame de sangue, são aplicadas a quimioterapia ou a radioterapia. Não

ocorrendo nenhuma intercorrência ela volta pra casa, preservando assim sua rotina

doméstica e caseira. As internações ocorrem nos seguintes casos: por infecções, se

23

necessitar de cirurgia ou de um tratamento mais agressivo, ou quando o estado geral da

criança não é bom. Porém, quem mora longe do hospital em que o tratamento é

realizado não tem a possibilidade de estar voltando para a casa o tempo todo, sendo

assim, fica internado ou em casas de apoio.

A seguir será descrito como é a hospitalização para a criança, que acaba por

deixar seus hábitos, sua casa, sua escola, seus amigos e alguns membros da família.

2.2 A criança com câncer

Toda vez que se pensa em uma criança, a lembrança que vêem em mente é de

uma criança saudável, que brinca, corre, estuda. É raro a criança ser lembrada como

alguém que está internado em um hospital, realizando exames e tratamentos assim

descrito por Vieira e Lima:

Quando nos referimos à criança, o esperado é que ela viva situações de saúde

para crescer e desenvolver-se dentro dos limites da normalidade, porém

quando, nos defrontamos com ela, na condição de doente, como todo ser

humano, tem seu comportamento modificado. Sua reação diante dessa

experiência desconhecida, que é a doença, pode lhe trazer sentimentos de

culpa, medo, angústia, depressão e apatia, e ameaçar a rotina do seu dia-a-dia

(2002, p. 553).

Cardoso (2007) cita a infância como um período crucial na vida de qualquer

sujeito. É nessa etapa da vida que o individuo constrói suas relações consigo e com o

mundo externo, adquirindo uma estrutura de personalidade que vai ser a base para todas

as suas experiências futuras. A doença surge como algo inesperado e indesejado, que

pode vir a causar seqüelas físicas e psíquicas que serão marcantes na vida dessa criança.

Além desses fatores, a criança tem a sua rotina alterada, bem como os hábitos comuns

da infância, ocorre o afastamento de casa, da escola e dos amigos devido às

impossibilidades que o tratamento impõe.

Perina et al (2008) descreve que a vida de uma criança, ao receber o diagnóstico

de câncer, é alterada em vários aspectos, pois este diagnóstico representa o inicio de

24

experiências muitos sofridas, como a hospitalização, o afastamento do convívio

familiar, as medicações, podendo gerar as mais diversas emoções. Valle (1994 apud

Perina et al., 2008) acrescenta que esse é um período muito difícil para a criança e para

os familiares, é um momento de incertezas, angústias, reações de incredulidade,

questionamentos e demora na aceitação da realidade.

É importante contar para a criança o que está acontecendo, explicar pra ela a

doença e como irá funcionar o tratamento, pois ela percebe que algo está errado, ela

sente que seus pais estão agoniados e que algo grave está acontecendo em seu corpo. De

um momento para o outro ela começa a freqüentar um hospital, realizando exames e

cercada de pessoas estranhas. A criança sempre acaba sabendo o que está acontecendo,

mesmo quando a família se esforça para protegê-la e ocultar o diagnóstico

(VALLE, 1997).

Após o impacto do diagnóstico, a criança deve lidar com a incerteza em

relação ao futuro. A sensação de perda de controle também é outra questão

com a qual a criança terá que lidar tendo em vista que ela passará a depender

dos outros para muitas tarefas que antes realizava sozinha, perderá sua

privacidade, terá que se submeter a normas e tratamentos impostos pela

equipe cuidadora, terá suas atividades limitadas e a superproteção de seus

pais (PEDREIRA & PALANCA, 2007 apud CARDOSO, 2007, p. 32).

Klassmann et al (2007) descrevem que a vida da criança é transformada após o

diagnóstico de câncer, ela tem que se adaptar a sua nova condição, as novas situações

que a doença impõe, o que demanda esforço por parte da criança e da família.

A criança, que antes estava acostumada a uma rotina, tem que aprender a superar

a internação hospitalar, porém quando a criança não se adapta a internação, acaba por

ocorrer alguns danos, como irritabilidade e agressividade, ocorrendo também à

ansiedade que se manifesta através de vários comportamentos como choro, mau humor,

negativismo, agressão ou grande passividade. (SIKILERO et al., 1997 apud FRANÇA,

2002). A hospitalização, além de provocar o distanciamento da criança do convívio

familiar e da escola, traz consigo outros fatores que vem a contribuir com a

irritabilidade e a agressividade.

Devido ao caráter invasivo e doloroso, os procedimentos médicos são

causadores de muito estresse e de sentimentos de impotência da criança frente ao que

vem de fora; o nível de ansiedade dos pais, referente aos procedimentos médicos, irá

25

refletir na conduta da criança diante da doença e do tratamento. A criança ainda sofre

com os efeitos colaterais provocado pelo tratamento da doença, como náuseas, vômitos,

queda de cabelo, úlceras bucais, ganho de peso, amputação, esterilidade, danos cerebrais

e atraso do crescimento; o tratamento também pode causar comprometimento

neuropsicológico, podendo acarretar em distúrbios a visão, memória, atenção, cognição,

etc (CARDOSO, 2007).

A criança hospitalizada precisa ser estimulada a manter vínculos afetivos.

Segundo Cardoso (2007), é importante a presença de algum familiar acompanhando a

criança durante os períodos de hospitalização, porém, a equipe médica muitas vezes

diverge e resiste, pois não consideram o impacto emocional que a doença e a internação

produzem.

Como toda doença grave, o câncer leva a criança e sua família ao sofrimento,

à angustia, à dor e ao medo constante da possibilidade de morte, acarretando,

desse modo, grandes transformações em suas vidas. Essas transformações na

vida do paciente e da família não são oriundas somente da evolução da

patologia, mas, sim de um contexto mais amplo, considerando os aspectos

sociais, emocionais, afetivos, culturais e espirituais (SANTOS;

GONÇALVES, 2008, p. 225).

O diagnóstico de câncer causa tanto sofrimento para criança como também para

os pais. É importante que a família tenha orientação e esclarecimentos a respeito da

doença. Klassmann et al (2008) acrescentam que essas orientações representam um

apoio e os esclarecimentos a respeito da doença podem diminuir o medo, a angústia e

ansiedade que acompanham os envolvidos durante o tratamento.

2.3 A família da criança com diagnóstico de câncer

Segundo Minuchin (1976 apud MACEDO, 1994), a família é vista como o

primeiro espaço psicossocial das relações da criança. É a matriz da identidade pessoal e

social, já que é nela que se desenvolve o sentimento de pertinência que vem com o

nome e fundamenta a identificação social, bem como o sentimento de independência e

autonomia, que é baseado no sentimento no processo de diferenciação, que permite a

consciência de si mesmo como alguém diferente e separado do outro.

26

Mioto (1997 apud CARVALHO, 2007, p. 98) define a família como: “núcleo de

pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou

menos longo e que se acham unidas (ou não) por laços consangüíneos.” O autor

acrescenta que ela é responsável pelo cuidado e proteção de seus membros.

A família é o primeiro grupo na qual a criança é inserida e é através da família

que a criança vai se desenvolvendo e criando seus valores.

A família é um sistema no qual se conjugam valores, crenças, conhecimentos

e práticas, formando um modelo explicativo de saúde-doença, através do qual

a família desenvolve sua dinâmica de funcionamento, promovendo a saúde,

prevenindo e tratando a doença de seus membros (ELSEN, 2002 apud

SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003, p. 57).

Franco (2008) descreve a família como um sistema na qual a soma das partes é

mais que o todo, ou seja, tudo que afeta o sistema como um todo afetará cada individuo,

e tudo que afeta o individuo afetará a família como um todo. O diagnóstico do câncer

afeta além da criança toda a família:

Quando uma criança é diagnosticada com câncer, a notícia e todas as

conseqüências do diagnóstico afetarão principalmente a criança, mas também

os pais (ou aqueles que cuidam dela), já que são eles os responsáveis por seus

filhos. O câncer infantil, quando confirmado, não é exclusivo da criança, mas

também de seus pais, já que estes também terão suas vidas transformadas

tanto na rotina doméstica quanto nos aspectos financeiro, profissional, assim

como na vida conjugal (CAVICCHIOLI, 2005 apud CARDOSO, 2007,

p.34).

Os pais que sempre esperam um filho saudável, longe de qualquer doença,

levam um choque diante do diagnóstico do câncer, os pais sofrem com a notícia e

convivem com a possibilidade de perda. Segundo Franco (2008, p. 360) “o câncer na

infância é uma situação estressante que traz inúmeras questões a cada membro dessa

família”.

Franco (2008) acrescenta que a aceitação do diagnóstico é um processo difícil,

levando os pais a se questionar a respeito da educação e dos cuidados com o filho

doente, assumindo muitas vezes a culpa pela doença ou responsabilizando um ao outro.

27

Os sentimentos de raiva e negação se tornam muito presentes nesse momento, reagindo

não somente pela doença da criança doente, bem como as reações dos outros familiares.

Segundo Carvalho (2008), o câncer pode colocar os indivíduos e seus familiares

em condição de fragilidade, havendo dificuldades em lidar com a doença devido ao

estigma, pois o câncer ainda hoje é considerado uma das piores doenças, é temido e

sempre agrega ideia de risco iminente de morte.

Após o choque do diagnóstico, os pais devem tomar importantes decisões em

relação ao tratamento do mesmo, que no geral são longos, invasivos, com efeitos

colaterais bastante desagradáveis, limitam atividades cotidianas e em muitos casos

provocam mutilações. Além disso, um câncer infantil sempre é permeado pelo risco de

morte e, em alguns casos leva à óbito. Diante disso, diferentes reações são manifestadas.

A questão é que diante da agressividade provocada pela doença, o bem estar da criança

passa a ser responsabilidade dos pais já que, apesar da equipe ser responsável pela

realização dos procedimentos referentes ao tratamento, são os pais quem decidem se

eles serão realizados ou não (CARDOSO, 2007). Os pais também têm que estar sempre

presentes auxiliando o filho e passando confiança a eles.

Para Carvalho (2008) o impacto da doença para o paciente e seus familiares deve

ser compreendido, ou seja, os profissionais da saúde devem considerar as condições

emocionais, socioeconômicas e culturais do paciente e de seus familiares.

A família vai percebendo ao longo do tratamento que a vida nunca mais será a

mesma depois do câncer e reconhece todas as novas e significativas perdas, tentando

manter o espírito vivo e seguindo adiante para alcançar o objetivo de uma diferente

jornada de vida, que não foi aquela na qual ela planejou antes do nascimento do seu

filho.

2.4 Psico-oncologia

O diagnóstico do câncer tem usualmente um efeito devastador. Ele ainda traz a

idéia de morte, embora atualmente ocorram muitos casos de cura. Traz o medo e as

incertezas dos tratamentos dolorosos e das muitas perdas provocadas pela doença. Esta

situação de sofrimento conduz a uma problemática psíquica com características

28

específicas. Muitos são os processos emocionais desencadeados em pacientes com

câncer e nesses casos exigem um profissional especializado (CARVALHO, 2002).

Segundo Carvalho (1994) a psico-oncologia começa a surgir como uma área

especializada de conhecimento a partir do momento em que a comunidade científica

passa a reconhecer que, tanto o aparecimento quanto a manutenção e remissão de

câncer, são intermediados por uma série de fatores que em muitos casos extrapola as

condições médicas. O tratamento do câncer, tanto para a família como para o paciente,

torna-se um momento difícil e que exige o tratamento psicológico.

É possível descrever a psico-oncologia como um campo interdisciplinar da

saúde que estuda a influência de fatores psicológicos sobre o

desenvolvimento, o tratamento e a reabilitação de pacientes com câncer.

Entre os principais objetivos da psico-oncologia está a identificação de

variáveis psicossociais e contextos ambientais em que a intervenção

psicológica possa auxiliar o processo de enfrentamento da doença, incluindo

quaisquer situações potencialmente estressantes a que pacientes e familiares

são submetidos (JÚNIOR, 2001).

Porém, ainda existe um desafio na área da psico-oncologia, pois o trabalho do

psicólogo muitas vezes não é reconhecido pelos médicos e podem contrariar orientações

dadas por estes quanto aos aspectos psicológicos dos casos em atendimento. Em outros

momentos são os enfermeiros que se sentem invadidos ou criticados na sua atuação

pelos psicólogos. A chegada da Psico-Oncologia no hospital é recente e sua função

ainda é freqüentemente desconhecida ou distorcida. Mas já existem situações em

hospitais em que psicólogo é valorizado e é requisitado pelos médicos e pela

enfermagem em seu próprio auxílio, nos momentos de dificuldades (CARVALHO,

2002).

A psico-oncologia vem se constituindo em ferramenta indispensável para

promover as condições de qualidade de vida do paciente com câncer e da sua família,

facilitando o processo de enfrentamento de eventos estressantes, relacionados ao

processo de tratamento da doença, entre os quais estão os períodos prolongados de

tratamento, a terapêutica farmacológica agressiva e seus efeitos colaterais, a submissão

a procedimentos médicos invasivos e potencialmente dolorosos, as alterações de

29

comportamento do paciente (incluindo desmotivação e depressão) e os riscos de

recidiva (CARVALHO, 2002).

A ação na área da psico-oncologia se vincula aos três níveis de prevenção:

primária, secundária e terciária. É necessário levar em conta a trajetória da doença de

acordo com as seguintes fases: exames e procedimentos diagnósticos, tratamento ativos

envolvendo a cura e remissão da doença, reabilitação e remissão da doença, ou em outra

trajetória: recidiva, agravamento dos sintomas, fase terminal da doença e aproximação

da morte (KOVACS et al, 2008).

No caso da psico-oncologia, os atendimentos devem ultrapassar os limites do

consultório e da prática psicoterápica inadequada e insuficiente para o cumprimento dos

objetivos da psico-oncologia, indo buscar e trabalhar com o paciente onde quer que ele

se encontre (na sala de espera do hospital, na enfermaria, na sala de procedimentos

invasivos, em casa, ou em qualquer outro local) e incluindo a participação ativa de

diferentes profissionais. O profissional, no contexto da psico-oncologia, deve priorizar a

promoção de mudanças de comportamento relacionadas à saúde do indivíduo.

(CARVALHO, 2002).

30

3 MÉTODO

3.1 Delineamento da pesquisa

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi qualitativa de caráter

exploratório. A pesquisa qualitativa tem como objetivo a descrição das características de

um determinado objeto ou fenômeno investigado, ou até o estabelecimento de relações

entre variáveis que, neste contexto foram apenas descritivas, para que possa oferecer

uma visão ampliada do problema de pesquisa (AZEVEDO, 2007).

Segundo Minayo (2004, apud AZEVEDO, 2007), a pesquisa qualitativa

responde a questões muito particulares, pois ela trabalha com um universo de

significados, motivos, crenças, valores, que correspondem a um espaço mais profundo

das relações, dos processos e dos fenômenos.

A pesquisa é de caráter exploratório que, segundo Gil (1999, p. 43), “tem como

principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em

vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos

posteriores”.

Também foi realizada uma pesquisa bibliográfica, que segundo Gil (1999, p.65),

“é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros

e artigos científicos” Gil (1999, p. 65) acrescenta que “a principal vantagem da

pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma

gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar

diretamente.”

Conforme Lakatos e Marconi (2007) a pesquisa bibliográfica ou de fontes

secundárias, trata-se do levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de

livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita tendo por finalidade colocar o

pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado

assunto.

31

Pretende-se mapear a produção científica na área da Psico-oncologia, quanto à

temática “Câncer infantil e Família”, em formado eletrônico e base de dados online nos

últimos seis anos, compreendendo o período de 2006 a 2011.

3.2 Procedimentos de coleta de dados

A principal coleta de dados da presente pesquisa bibliográfica foi realizada em

busca online na biblioteca eletrônica ScIELO Brasil e nos Periódicos Eletrônicos em

Psicologia – PePSIC.

A Scientific Electronic Library Online - SciELO é uma biblioteca eletrônica que

abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. Tendo como

objetivo o desenvolvimento de uma metodologia comum para a preparação,

armazenamento, disseminação e avaliação da produção científica em formato eletrônico

(SciELO, 2011). Vindo a colaborar com o objetivo da pesquisa na área de psicologia

sobre o tema Psicologia da Saúde e Oncologia.

Outra fonte de coleta de dados utilizada foi o PePSIC (Portal de Periódicos

Eletrônicos de Psicologia), que é uma fonte de biblioteca virtual em saúde que tem

como objetivo contribuir na visibilidade do conhecimento psicológico e científico

gerado nos países da América Latina (BVS-Psi Brasil, 2011).

A revisão bibliográfica por meio de biblioteca eletrônica será realizada no

campo de “pesquisa” a partir do descritor “câncer infantil e família”, especificado no

campo “todos os índices” na interface de pesquisa do SciELO e PePSIC,

compreendendo as pesquisas publicados de 2006 à 2011, selecionadas pelo campo “ano

de publicação”.

Foram identificados 14 artigos que atenderam os critérios estabelecidos nesta

pesquisa. Para este estudo foram considerados os artigos que tinham como autores

outras áreas de conhecimentos, além de psicólogos, pois se está buscando mapear

autores no campo da Psico-oncologia. No quadro 1, a seguir, consta a relação dos

artigos e seus respectivos autores, título e ano de publicação.

32

Quadro 1: Caracterização dos artigos encontrados

Número Autor (s) Título Ano

1 Júlia Dias Santana Malta

Virgínia Torre Schall

Celina Maria Modena

O momento do diagnóstico e as

dificuldades encontradas pelos

oncologistas pediátricos no

tratamento do câncer em Belo

Horizonte.

2008

2 Patrícia Luciana Moreira

Margareth Ângelo

Tornar-se mãe de criança com

câncer: construindo a

parentalidade.

2008

3 Ana Raquel Medeiros Beck

Maria Helena Baena de Moraes

Lopes

Cuidadores de crianças com

câncer: aspectos da vida

afetados pela atividade do

cuidador.

2007

4 Fernanda Aldrigues Crispim

Silva

Priscila Rodrigues Andrade

Tiara Rodrigues Barbosa

Maria Vitória Hoffmann

Cristina Ribeiro Macedo

Representação do processo de

adoecimento de crianças e

adolescentes oncológicos junto

aos familiares.

2009

5 Jaciane Klassmann

Kátia Renata Antunes Kochia

Tatiane Sano Furukawa

Ieda Harumi Higarashi

Sonia Silva Marcon

Experiência de mães de crianças

com leucemia: sentimentos

acerca do cuidado domiciliar.

2007

6 Margareth Ângelo

Patrícia Luciana Moreira

Laura Maria Alves Rodrigues

Incertezas diante do câncer

infantil: compreendendo as

necessidades da mãe.

2010

7 Rafaela Rodrigues de Oliveira

Leidiene Ferreira Santos

Katiane Costa Marinho

Jacqueline Andréa Bernardes

Leão Cordeiro

Ana Karina Marques Salge

Karina Machado Siqueira

Ser mãe de um filho com câncer

em tratamento quimioterápico:

uma análise fenomenológica.

2010

8 Valéria Fernandes Dias Silva

de Brito

Adryene Milanez Rezende

Julia Dias Malta

Virgínia Torres Schall

Celina Maria Moderna

Oficinas para cuidadores de

crianças com câncer: uma

proposta humanizada em

educação em saúde.

2008

9 Ana Raquel Medeiros Beck

Maria Helena Moraes Lopes

Tensão devido ao papel de

cuidador entre cuidadores de

criança com câncer.

2007

10 Ana Maria Del Bianco Faria

Carmem Lúcia Cardoso

Aspectos psicossociais de

acompanhantes cuidadores de

2010

33

crianças com câncer: stress e

enfrentamento.

11 Lígia Maria Pinto dos Santos

Leila Luiza Conceição

Gonçalves

Crianças com câncer:

desvelando o significado do

adoecimento atribuído por suas

mães.

2008

12 Marcela Rosa L. R. Beltrão

Maria Gorete L. Vasconcelos

Cleide Maria Pontes

Maria Clara Albuquerque

Câncer infantil: percepções

maternas e estratégias de

enfrentamento frente ao

diagnóstico.

2007

13 Ewerton Helder Bentes de

Castro

Mães de crianças com câncer:

repercussões familiares,

pessoais e sociais.

2010

14 Carlos Alberto Domingues do

Nascimento

Estela Maria leite Meirelles

Monteiro

Adriana Barros Vinhaes

Laíse Leite Cavalcanti

Mirna Barbosa Ramos

O câncer infantil (leucemia):

significações de algumas

vivências maternas.

2009

3.3 Procedimento de análise dos dados

Para o desenvolvimento da pesquisa, após a coleta dos materiais em busca direta

das bases de dados eletrônicas, foram selecionadas as publicações voltadas para a

temática Câncer Infantil e Família, a partir dos critérios estabelecidos, de data de

publicação e produção na área da psicologia, enfermagem e demais áreas da saúde.

Para a realização da análise dados foram realizadas leituras das publicações

encontradas, bem como criados eixos categorias e sub-categorias para expor e organizar

o material. Segundo Gomes (2007 apud ANDRADE, 2011), a trajetória de análise de

conteúdo temática se inicia por leituras compreensivas e exaustivas do material

selecionado e em seguida, realiza-se uma exploração desse material, o que irá resultar

na análise de dados.

As categorias e sub-categorias elaboradas para responder os objetivos desta

pesquisas foram:

34

Quadro 2: Categorias e sub-categorias

Categorias Subcategorias

Aspectos emocionais e sociais do câncer

infantil

- Percepção do diagnóstico

- Mudanças na dinâmica familiar

- Mudanças no relacionamento do casal

- Papel e estresses do cuidador principal

- Vivências emocionais dos outros

familiares

- Perdas relacionadas ao câncer infantil

Estratégias de enfrentamento dos

membros familiares:

- Crenças religiosas

- Atitudes e comportamentos dos membros

familiares

- Comunicação com a equipe de saúde

- Comunicação com os demais membros da

rede social

35

„4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo será apresentado o desenvolvimento das categorias proposto por

este estudo. Durante a coleta de dados em artigos e livros foram identificados 14 artigos

que atenderam aos critérios estabelecidos nesta pesquisa qualitativa de caráter

descritivo-exploratório.

Para caracterizar os artigos, optou-se por identificá-los a partir do seu tema

principal, favorecendo a discussão e análise dos dados.

Quadro 3: Artigos e seus respectivos temas

Número Título Tema

1 O momento do diagnóstico e as dificuldades encontradas

pelos oncologistas pediátricos no tratamento do câncer

em Belo Horizonte.

Momento do

diagnóstico

2 Tornar-se mãe de criança com câncer: construindo a

parentalidade.

Sentimento

materno

3 Cuidadores de crianças com câncer: aspectos da vida

afetados pela atividade do cuidador.

Cuidador

4 Representação do processo de adoecimento de crianças e

adolescentes oncológicos junto aos familiares.

Família

5 Experiência de mães de crianças com leucemia:

sentimentos acerca do cuidado domiciliar.

Sentimento

materno

6 Incertezas diante do câncer infantil: compreendendo as

necessidades da mãe.

Mãe

7 Ser mãe de um filho com câncer em tratamento

quimioterápico: uma análise fenomenológica.

Sentimento

materno

8 Oficinas para cuidadores de crianças com câncer: uma

proposta humanizada em educação em saúde.

Família

9 Tensão devido ao papel de cuidador entre cuidadores de

criança com câncer.

Família

10 Aspectos psicossociais de acompanhantes cuidadores de

crianças com câncer: stress e enfrentamento.

Enfrentamento e

estresses

11 Crianças com câncer: desvelando o significado do

adoecimento atribuído por suas mães.

Sentimento

materno

12 Câncer infantil: percepções maternas e estratégias de

enfrentamento frente ao diagnóstico.

Momento do

diagnóstico

13 Mães de crianças com câncer: repercussões familiares,

pessoais e sociais.

Sentimento

materno

14 O câncer infantil (leucemia): significações de algumas

vivências maternas.

Mãe

36

A análise dos dados encontrada se deu através de leitura e re-leitura dos artigos,

o que resultou em duas categorias e dez subcategorias.

4.1 Aspectos emocionais e sociais no enfrentamento do câncer infantil

4.1.1 Percepção do diagnóstico

A definição dessa categoria se deu pela importância se compreender a percepção

dos pais diante do diagnóstico de câncer infantil. Antes do nascimento dos filhos, os

pais já vão criando fantasias e construindo um futuro para eles, mas esses planos se

abalam com a chegada de uma doença. É no momento do diagnóstico que a possível

morte do filho se apresenta a família perdurando por todo o tratamento. Essa

possibilidade de morte do filho traz para a família o abandono de planos futuros e

esperança, a mãe vai perdendo, antecipadamente, a ideia de possíveis experiências

consideradas relevantes, como a formatura, casamento e netos (SANTOS,

GONÇALVEZ, 2008).

Os cuidadores relatam a experiência de sofrimento e de dor, apontando o

momento do diagnóstico como uma situação inesperada (FARIA, CARDOSO, 2010).

Outros sentimentos que aparecem durante esse momento na mãe é o choque, o

desespero, a surpresa e o medo, considerados inexplicáveis por muitas delas (SANTOS,

GONÇALVEZ, 2008).

A maioria dos familiares de crianças com câncer demonstraram sentir desespero

e medo da morte perante o diagnóstico, porém nunca perderam a esperança. As mães se

sentiram tristes, nervosas, abaladas, assustadas, chorosas, preocupadas, algumas tiveram

dúvidas e outras entraram em estado de choque. Quando foi dada a notícia do

diagnóstico as mães vivenciaram revolta, negação, choro e apatia (SILVA et al, 2009).

O diagnóstico da doença é um evento de sofrimento e dor, é uma ameaça

intensamente negativa, é algo assustador, horroroso, desesperador e desencadeante de

37

desajustamento emocional, permeado pelo sentimento de impotência pelos pais

(NASCIMENTO et al, 2009).

A mãe tem alguns desejos para seu filho, antes mesmo dele nascer e o

diagnóstico de câncer interrompe os sonhos e planos que a mãe idealizou para o filho. O

diagnóstico situa o desespero materno sob duas angustiantes expectativas de perda: do

filho em si e dele como projeção do ideal de si mesma (NASCIMENTO et al, 2009).

Na pesquisa de Beltrão et al (2007) os discursos maternos no momento do

diagnóstico foram permeados por intenso componente emocional, as mães descreveram

que a revelação da notícia foi uma experiência única, que chocou, foi dolorida,

traumática e desesperadora. É um momento inacreditável e irreal na vida das mães, a

doença passa a ser negada, porém, as mães precisam ser fortes, não podem demonstrar

para o filho sentimento de tristeza, é preciso se adaptar a situação. Algumas mães

demonstram sentimento de conformismo, apesar de não aceitar a doença. (SANTOS,

GONÇALVEZ, 2008). Os autores também descreveram que o sofrimento das mães é

tanto que, por amor aos filhos, elas seriam capazes de doar a própria vida por eles,

mesmo sabendo que isso não é possível.

Os laços afetivos entre a mãe a criança com câncer se intensificam após o

diagnóstico de câncer, estabelecendo assim uma proximidade, fazendo com que a mãe

se desdobre em zelo e cuidado para atender às necessidades da criança, desenvolve

ações superprotetoras, buscando amenizar o sofrimento do filho (NASCIMENTO et al,

2009).

O câncer é uma doença que já traz junto com o diagnóstico um sentimento de

negativismo, principalmente se a mãe ou alguém da família já teve perdas relacionadas

a doença. Outro aspecto importante que também propicia o medo da perda é o temor ao

desconhecido (BELTRÃO et al, 2007).

É importante salientar que a forma como a família percebe as informações

fornecidas é muito particular, depende de família para família, não existe um modelo

único de funcionamento. Alguns pais colocam um percentual elevado de cura, o que

pode significar alegria e esperança durante esse momento difícil, mas para outros

familiares, pode ser entendido como uma sentença de morte (BELTRÃO et AL, 2007).

38

A doença câncer já vem com um estigma de morte, muitos pais não conseguem

nomear a doença e acabam se referindo a ela com palavras substitutas, como: aquela

doença, o problema (BRITO et AL, 2008).

Viver o diagnóstico de câncer no filho é uma experiência repentina e não

planejada, o tempo de vivenciar o diagnóstico e se descobrir mãe de uma criança com

câncer é permeado por momentos de instabilidade. É no momento do diagnóstico que a

mãe percebe que não é somente a vida da criança que está ameaçada, mas seu tempo de

mãe também. É a partir desse momento que desencadeiam todas as tomadas de decisão

e uma série de ações da mãe a fim de que seu tempo como mãe daquela criança não se

acabe (MOREIRA, ANGELO; 2008).

4.1.2 Mudanças na dinâmica familiar

Observou-se durante as pesquisas para realização deste trabalho, que é comum a

família ter que passar por algumas mudanças na sua rotina de vida. O cuidador

principal, que geralmente é a mãe, acaba por deixar sua casa, seu esposo e os outros

filhos, dedicando-se aos cuidados do filho doente.

Devido aos problemas de saúde da criança e algumas restrições alimentares, a

criança necessita de algumas mudanças em sua alimentação, fazendo com quem altere

toda a alimentação dos outros membros familiares (SILVA et al, 2009).

Castro (2010) em suas pesquisas constatou que as mães deixam seus familiares e

os outros filhos com seus pais, marido ou outros membros da família, é comum a mãe

ter que mudar de cidade para acompanhar o filho durante o tratamento, deixando sua

família, acarretando assim maiores preocupações e angústias, pois esta separação de

seus familiares causa sofrimento contínuo nessas mulheres.

Castro (2010) acrescenta que a lembrança do convívio contínuo e a necessidade

de deixar suas famílias no município de origem fazem a mãe relembrar das dificuldades

que surgiram após o diagnóstico, como: não ter com quem deixar o filho, parar de

estudar, transferência para outro município, as dificuldades financeiras que estão

presentes, em muitos casos, durante todo o tratamento.

39

A modificação abrupta da dinâmica familiar tendo que deixar sua casa, seu

esposo, filhos e até mesmo seu trabalho, é visto como um fenômeno altamente

mobilizador, surgindo questionamentos da realidade que passa a viver (CASTRO,

2010).

A mãe também se sente culpada por assumir o lugar de cuidador, pois tem que

abrir mão dos outros filhos, deixando os cuidados desses com outros membros

familiares (BRITO et al, 2008).

A necessidade de afastar-se desses outros filhos dificulta a situação vivenciada

pelas mães, gerando conflitos internos importantes e intensificando os sentimentos de

culpa e angústias em relação às suas possibilidades enquanto ser mãe (OLIVEIRA et al,

2010).

As mães ficam divididas entre o filho que está doente e os outros que estão em

casa. Mesmo estando no hospital e longe da família ficam pensando em como está a

família, se o marido está cuidando bem dos outros filhos e se eles estão bem. Uma das

maiores dificuldades é ter que deixar os outros filhos aos cuidados de outros familiares,

algumas mães relataram nesta pesquisa que o distanciamento causou uma ruptura, pois

ao retornarem para a casa os filhos menores não lembravam da mãe, o que causou

sentimentos de surpresa e comoção (CASTRO, 2010)

Com a descoberta do câncer, muitas mães se vêem obrigadas a deixar de lado

tudo o que era prazeroso e fazia parte da rotina de suas vida, como trabalhar, ir em

festas, passear, estar com outras pessoas, os momentos de lazer deixam se fazer parte de

suas vidas, a rotina passa a ser os cuidados com o filho doente. A moradia dessas mães

passa a ser um hospital ou uma casa de apoio, fazendo com elas percam sua

individualidade e seus momentos de privacidade (SANTOS, GONÇALVEZ, 2008).

Além dessas mudanças no cotidiano, outra mudança também ocorrem, as mães

têm seu papel no seio familiar alterado, de uma certa forma negligenciado, ante o filho

com câncer, o cuidar de si, dos outros filhos e do esposo, como também o

relacionamento com os mesmos, mudou (SANTOS, GONÇALVEZ, 2008).

Embora o filho doente seja o foco principal da mãe, ela continua tendo outros

papéis e sendo mãe de outros filhos, tentando assim conciliar as necessidades de todos.

O contato com os outros membros familiares fica muitas vezes prejudicado em

40

decorrência dos freqüentes e longos afastamentos do domicílio para possibilitar o

tratamento. A proximidade com a família garante o apoio e a segurança que ela

necessita nesse momento difícil (ANGELO et al, 2010).

Esse apoio e compreensão da família proporcionam para a mãe a força

impulsionadora para prosseguir nessa trajetória. A família também tem o papel de

aliviar a carga da mãe, compartilhando responsabilidades, na medida em que participam

do cuidado da criança. A mãe que não tem esse apoio enfrenta uma lacuna de apoio

essencial para o suporte que precisa ter na experiência de acompanhar um filho com

câncer, tornando assim, difícil para a mãe manter a unidade familiar pela sua ausência

física no ambiente de casa (ANGELO et al, 2010).

Na pesquisa de Brito et al (2008) foi constatado como dificuldade a imposição

de limites ao filho doente, os pais não conseguem colocar e quando o fazem se sentem

culpados e arrependidos, dificultando assim a assimilação de regras e interdições que

funcionam como um referencial para a criança, como também interferindo na relação

com o cuidador.

As mudanças nos hábitos de vida e a necessidade de deixar de fazer as

atividades cotidianas são ressaltadas pelas mães das crianças em tratamento do câncer

como dificuldades decorrentes da necessidade de internações. Os autores constataram

que durante o período da internação, a presença dos pais junto ao filho doente

representa benefícios não só para a criança mas também para eles. No entanto, como é a

mãe que assume o papel de cuidador principal, ela pode apresentar sentimentos de culpa

e de ansiedade diante da hospitalização (OLIVEIRA et al, 2010).

O surgimento da doença também altera os projetos de vida da família,

principalmente quando o individuo atingido é a criança, pois os pais apostam no futuro

dos filhos, os seus sonhos, depositando expectativas para realizarem aquilo que não

conseguiram, buscando oferecer as condições que não tiveram acesso, eles acreditam

num futuro diferente para os filhos (BECK; LOPES, 2007).

A doença traz incertezas para mãe que precisa aceitar esta nova realidade,

necessitando também afastar a idéia de morte da criança. Ela vivencia uma mudança

inesperada em sua vida e na vida do filho doente e começa o inicio de uma trajetória

que possibilitará a cura. Surge a incerteza sobre o futuro e as dúvidas da mãe sobre a

41

doença e de como agir a partir desse momento. O filho passa a ser o foco de

preocupação e atenção, exigindo uma nova reorganização familiar, o filho é prioridade

nesse momento e a família necessita de um bom lugar, seguro, para começar o

tratamento (MOREIRA, ANGELO; 2008).

4.1.3 Mudança no relacionamento do casal

As pesquisas constataram que em muitos casos é comum o casal se aproximar,

se unir e dividir o sofrimento, porém, alguns casais acabam se afastando devido à

mudança da mãe para outra cidade com o filho doente, o pai não agüenta esse

afastamento e acaba abandonando o lar, a relação conjugal sofre algumas interferências

com o prolongamento do tratamento e feridas antigas vêm à tona e o afastamento de um

dos conjugues é reconhecido como verdadeiro (CASTRO, 2010).

Alguns casais se afastaram devido à distância das cidades, mas o casal em si não

se afasta, tendo em vista que a mãe está afastada devido ao tratamento do filho, e que

está procurando a cura para o filho, o diálogo está sempre presente entre os conjugues

(CASTRO, 2010).

Outra fala das mães que aparece na pesquisa e que se contrapõe às anteriores, é

que a mudança de cidade interferiu na relação do casal, o relacionamento foi bastante

atingido, o pai acaba por considerar que a mãe gosta mais de um filho que o do outro.

Outra situação que ocorreu foi o esposo sair de casa em decorrência do tratamento se

prolongado, colocando fim na relação (CASTRO, 2010).

O relacionamento conjugal também é atingido, podendo ocorrer uma apatia ou

desinteresse sexual com intensificação dos conflitos relacionais e às vezes a separação

do casal (NASCIMENTO et al, 2009).

Beck e Lopes (2007) acrescentam que o relacionamento sexual foi afetado para

80% dos cuidadores, dizem não ter tempo para pensar em sexo, não tem clima e nem

vontade para ter relações sexuais. As autoras perceberam que os pais se sentem

culpados por pensar em sexo, pois não permitem sentirem prazer como o filho doente.

42

O relacionamento conjugal é afetado, muitos pais acabam por não encontrar-se.

Alguns conflitos acabam ocorrendo, em alguns casos, houve a separação do casal depois

do surgimento da doença; muitas cobranças, tanto pelos acontecimentos com a criança,

como pela falta de atenção dedicada ao companheiro (BECK; LOPES, 2007).

Porém, em alguns casos, o estreitamento das relações conjugais foi um

importante fator para unir forças e cuidar do filho doente, os pais dividiam a sobrecarga

vivida com a doença, proporcionando conforto um ao outro e aos familiares

(BELTRÃO et al, 2007).

4.1.4 Papel e estresse do cuidador principal

Gestar uma criança, amamentá-la, cuidá-la, ser responsável e referencial de

proteção e carinho, são algumas características do ser mãe. Porém, diante do

diagnóstico de câncer, sentimentos de fragilidade e tristeza vão aflorando, ocorrendo

principalmente quando a mãe não encontra formas de aliviar a dor sentida e manifestada

pelos seus filhos (SANTOS, GONÇAVEZ; 2008).

Brito et al (2008) ressalta que os cuidados na doença são executados pelo papel

da mulher e assumido pela mãe, que vem sendo passado de geração a geração. A mãe

deve assumir os cuidados pelo filho doente como um valor moral, pois nenhuma outra

pessoa da família poderia assumir adequadamente esse papel.

Muitas vezes, os conflitos conseqüentes aos múltiplos papéis exercidos pelas

mulheres na sociedade como mães, esposas, donas de casa e profissionais influenciam e

intensificam o desgaste emocional. Enquanto trabalhadores informais, muitas mulheres

não conseguem resguardar o emprego, ao se ausentarem para cuidar dos filhos doentes,

sendo muitas vezes demitidas do emprego (BELTRÃO et AL, 2007).

Brito et al (2008) observaram em suas pesquisas que o cuidador percebe como é

impossível conciliar suas questões pessoais e afetivas com os cuidados dos filhos. A

realização das duas tarefas se coloca como incompatível, acarretando assim sentimentos

de culpa.

43

Na pesquisa foi constatado que muitos acompanhantes se sentem ansiosos e

preocupados com as crianças durante o tratamento, causando a alteração no sono. Os

familiares se sentem abatidos e cansados, pois realizam muitas tarefas, além de terem

que enfrentar horas de viagens para que os filhos sejam consultados e realizados exames

necessários, trazendo cansaço físico tanto para os cuidadores como para os familiares

(SILVA et al, 2009).

Os cuidadores relataram nas entrevistas não se sentiram estressados, mas

algumas mães demonstraram se sentir mais sobrecarregadas, devido a assunção de uma

multiplicidade de papéis (SILVA et al, 2009).

Os pais, principalmente a mãe que acompanha o tratamento do filho, acabam por

vivenciar uma situação de estresse, permeada por um estado de ansiedade, humor

depressivo, expresso por medo, irritabilidade, tristeza e apatia. Essas são reações que

surgem da incerteza frente à cura, dos efeitos invasivos e dolorosos do tratamento, e

também da hospitalização (NASCIMENTO et al, 2009).

Outro aspecto que apareceu durante a pesquisa, foi o estado de saúde do

cuidador. Após o diagnóstico algumas complicações de saúde surgiram, como: pele

descamando, distúrbios hormonais, varizes, hérnia de disco, gastrite nervosa, labirintite,

sinusite, rinite alérgica, arritmia cardíaca, sopro cardíaco e trombose. A doença do filho

acarreta no cuidador desgaste físico e mental, dores musculares por dormir em cadeiras,

nervosismo e depressão pelo fato de presenciar o filho doente (BECK, LOPES, 2007).

O cuidador responsável pelos cuidados da criança com o decorrer do tratamento

se defronta com novas atividades e tarefas no seu cotidiano familiar, além das rotinas

domésticas, agora tem os cuidados com o filho doente. Mas nem sempre é possível

conciliar os dois, o cuidador passa a alterar hábitos e costumes, mudando assim seu

modo de vida (SILVA et al, 2009).

Outro fator que causou estresse aos cuidadores das crianças foi a incapacidade

de completar tarefas referentes aos cuidados do filho. A inexperiência contribuiu para o

aparecimento de sentimentos de insegurança, medo de errar e de não saber se está

realizando corretamente as atividades, por isso é importante que a família seja bem

orientada (BECK; LOPES, 2007).

44

De acordo com as pesquisas de Brito et al (2008) as mães que assumiram a

responsabilidade pelo cuidado com o filho, vão colocando-se em segundo plano,

abdicando-se de suas prioridades e necessidades.

A falta de descanso ou recreação do cuidador foi outro fator de risco apresentado

durante as pesquisas, o cuidadores após o diagnóstico deixaram de realizar atividades de

recreação, pois não conseguem aceitar o lazer sem sentir culpa, sentem como se

estivessem renunciando o cuidado dos filhos para interesses próprios (BECK; LOPES,

2007).

Beck e Lopes (2007) em suas pesquisas perceberam que diversas áreas da vida

do cuidador foram afetadas, as mães acabam abrindo mão do trabalho, do estudo, das

horas de sono, da vida social, do seu lazer, do prazer, da vida familiar e do seu cuidado

pessoal. Muitas mães sentem medo de perder o emprego, pois esse fator pode afetar na

renda familiar, ainda mais nesse momento em que os gastos da família aumentaram. As

atividades de cuidar vão impedindo a mãe do cuidado pessoal e do lazer, acarretando

dificuldades em aceitar o lazer sem sentir culpa, pois para elas seria renunciar às

responsabilidades de cuidado para realizar seus interesses próprios, é algo intolerável.

Alguns cuidadores ficam responsáveis pelos cuidados da criança 24 horas por

dia, fazendo com que ele abra mão das horas de sono, da vida social, da vida familiar e

dos cuidados pessoais (BECK; LOPES, 2007).

A hospitalização muda o cotidiano da mãe, que vai se privando das metas que

satisfazem suas motivações de sociabilidade, lazer e trabalho, acentuando assim o

desconforto emocional (NASCIMENTO et al, 2009).

O choro e a tristeza da mãe referem mais do que uma condição de estresse

advindo da situação do tratamento, trata-se também da expressão da dor psíquica,

determinada pela possível perda do filho (NASCIMENTO et al, 2009).

O desconforto da criança com câncer se estende

à mãe, que se identifica com a dor do filho, sente-se triste, nervosa, deprimida e com

medo. A mãe se coloca no dever de ajudar ao filho doente e procura não ficar triste,

contém seus sentimentos de sofrimento (NASCIMENTO et al, 2009).

45

Outro dado importante que foi constado na pesquisa de Oliveira et al (2010)

foram os inúmeros episódios de recaídas apresentados que alteram a dinâmica familiar.

As mães que acompanham os filhos na maior parte do tempo podem manifestar sinais

de esgotamento físico, mental e emocional, além de sentimentos de culpa, medo da

morte, otimismo, esperança e desesperança. Os autores concluem que a família

necessita de cuidados tanto quanto a criança hospitalizada, ou seja, não é apenas a

criança que necessita de assistência, mas todos os familiares envolvidos.

A mãe acaba por assumir as responsabilidades do cuidado com o filho doente,

acreditando ser capaz de suportar todo aquele sofrimento. Sente que pelo filho pode

ultrapassar qualquer barreira. Ela se doa, dando tudo de si mesma e ultrapassando

qualquer obstáculo para ver ele bem. Faz tudo por amor e nunca por obrigação, e é por

esse amor que é capaz de lutar junto ao filho (MOREIRA, ANGELO; 2008).

4.1.5 Vivências dos irmãos

O comportamento do irmão em relação à criança doente diante do diagnóstico,

varia de família para família, alguns reagiram com solidariedade, outros com ciúmes,

desprezo, sentimentos de agressividade, desespero, preocupação, medo e saudade

também foram constatados. Alguns irmãos não tinham conhecimento da doença, alguns

não eram nascidos na época ou eram muitos pequenos e não entendiam a gravidade da

doença (SILVA et al, 2009).

Os irmãos saudáveis se vêem obrigados a realizar tarefas domésticas que até

então não faziam, ou ter que sair de suas casas para morar com vizinhos ou outros

membros familiares. Experenciam sentimentos de isolamento e abandono que

expressam mediante as reações de ciúmes, raiva, tristeza e irritação (NASCIMENTO et

al, 2009).

Os irmãos, principalmente os mais velhos, demonstraram-se carinhosos,

assumindo atitudes de proteção e solidariedade para os irmãos doentes, contribuindo

para a recuperação. Porém, alguns irmãos, diante de toda a atenção depositada ao irmão

46

doente, demonstraram sentir ciúmes e outros sentimentos de preocupação e

instabilidade emocional (SILVA et al, 2009).

4.1.6 Mortes relacionadas ao câncer infantil

O agravamento da doença é um momento vivenciado com angústia e ansiedade,

é difícil para as mães verem os filhos sofrerem e não fazerem nada. Muitas mães pedem

à Deus para trocar de lugar com os seus filhos doentes, desejam que o sofrimento deles

seja passado para elas, tendo em vista a fragilidade inerente à condição infantil deles, a

mães se sentem angustiadas com o sofrimentos das crianças (CASTRO, 2010).

Pensar a morte dos filhos é algo que acontece com essas mulheres, devido a

pouca idade das crianças, porém, esse sentimento é logo desviado, pois muitas mães não

gostam nem de comentar a respeito da doença. O estigma do câncer aparece bem

evidenciado na fala dessas mães, que descrevem o câncer como uma doença silenciosa

(CASTRO, 2010).

O pensamento de morte se faz presente, devido ao câncer ser uma doença

crônica, cuja representação é a morte devido o grande número de óbitos, nas diferentes

faixas etárias, isso faz com que as mães pensem na própria morte no filho e questionar-

se como será se isso ocorrer (CASTRO, 2010).

Outra preocupação das mães que apareceu durante a pesquisa foi a morte de uma

criança, as outras mães que estão acompanhando seus filhos internados direcionam-se

de imediato para a possibilidade da própria perda e o desespero se instala. O sofrimento

das mães que perderam seus filhos é motivo de preocupação com os próprios filhos. A

morte do filho do outro, dói nelas também, é um momento desesperador. Colocar-se no

lugar da outra, sabendo a dimensão que é a perda de um filho, fenômeno impensável,

que nada justifica, e as perdas contínuas de crianças com quem foram estabelecidos

fortes vínculos é uma situação geratriz de sofrimento (CASTRO, 2010).

Esta possibilidade próxima da morte faz com que a mãe acredite que um intenso

cuidado protegerá a vida e mesmo sabendo da possibilidade de cura, a noção de perigo

prevalece (SANTOS; GONÇALVEZ, 2008).

47

Os sentimentos de aflição, angústia, dor e desespero, surgem durante o

tratamento, em situações específicas, como o agravamento do quadro em seus filhos,

necessitando internações hospitalares. Diante da piora do estado de saúde, as mães

relatam esse momento como angustiante e verdadeiramente desesperador, solicitando a

Deus a troca de lugares para não verem seus filhos doentes (CASTRO, 2010).

4.2 Estratégias de enfrentamento dos membros familiares

4.2.1 Crenças religiosas

Os cuidadores relataram que houve muitas maneiras de enfrentar a doença, uma

delas foi a crença em Deus, porém esse enfrentamento se deu em formas diferentes: um,

foi tendo fé em Deus e outro responsabilizando ele, ou seja, a família entrega a situação

à vontade de Deus (FARIA, CARDOSO, 2010).

As mães se referem à crença divina como sendo o mais importante

enfrentamento da doença. A cura, o conforto, a segurança e a obtenção de força pela fé

espiritual foram descritos em alguns relatos como essenciais durante esse momento tão

difícil (BELTRÃO et al, 2007).

Algumas mães, nas pesquisas realizadas, relataram que recorrem a

espiritualidade, fé e crenças para buscar forças para cuidar dos filhos doentes e para ao

se sentirem sós (SILVA et al, 2009).

A religiosidade se coloca como um mecanismo que permite aos pais racionalizar

a angústia diante da incerteza do tratamento, ao mesmo tempo em que ajuda a suportar

esse momento difícil (NASCIMENTO et al, 2009).

Os cuidadores buscam na religiosidade forças para enfrentar a situação e

continuar cuidando do filho doente, a religião ajuda o doente e os cuidadores a

prosseguirem na busca da cura e enfrentarem a doença, diminuindo os sentimentos de

impotência, ira, angústia e frustração (KLASSMANN et al, 2007).

48

A fé, a religiosidade, a busca de um Ser superior, aumentou após o surgimento

da doença, os pais passaram a buscar mais a presença de Deus em suas vidas por meio

de orações, independente da religião ou da crença. Alguns pais consideraram que a

força que estavam tendo para enfrentar esse momento era a Deus (BECK; LOPES,

2007).

4.2.2 Atitudes e comportamentos dos membros familiares

A família é a primeira opção de apoio, pois é com ela que são compartilhados os

momentos difíceis e também as responsabilidades, recebendo palavras de conforto e

atitudes de solidariedade, sem que a distância se constitua em obstáculos (BELTRÃO et

al, 2007).

Segundo Beck e LOPES (2007) o cuidador aceita a falta de disponibilidade dos

outros membros familiares, pois acredita que somente ele poderá cuidar da criança. É

importante o apoio dos familiares nesse momento, os cuidadores que receberam afeto

possuem menos probabilidade de se despersonalizar. A falta do suporte familiar

desencadeia esgotamento físico e mental no cuidador. As pessoas que mais ajudam

nesse momento, geralmente, são o esposo e a avó materna da criança, que auxiliam nas

atividades domésticas e nos cuidados com os outros filhos.

4.2.3 Comunicação com a equipe de saúde

Um aspecto que se torna importante para a família no enfrentamento da doença é

a comunicação com a equipe de saúde, foi constado que os pais se sentem satisfeitos

quando a revelação é franca e aberta, respeitando suas necessidades de privacidade e

tempo para expressar suas emoções e esclarecer as dúvidas (BELTRÃO et al, 2007).

O relato da verdade tem se mostrado um importante instrumento terapêutico, a

informação diminui o sentimento de isolamento e colabora para uma melhor relação

médico-paciente. A comunicação da verdade sobre a doença permite distinguir os

49

seguintes aspectos básicos: preparação pessoal e lugar físico, compartilhar a informação

de acordo com o entendimento do sujeito, exploração do desejo de receber informações

e acolher os sentimentos (MALTA et al, 2009).

Os familiares sentem a necessidade de participar dos cuidados com a criança

junto com a equipe médica, dominando a situação, garantido a proteção dos filhos

(BELTRÃO et al, 2007).

Foi constatado que o volume e o conteúdo das informações desencadeiam várias

reações emocionais nas crianças e na família, impossibilitando o entendimento das

informações dadas pelos profissionais de saúde. É comum que a família não lembre de

todos os informes dados durante o diagnóstico, leva algum tempo para acreditarem se é

verdade ou não. As informações devem ser repetidas até que a família processe o que

está acontecendo (BELTRÃO et al, 2007).

A criança e família devem receber orientações claras e bem definidas a respeito

da doença, tratamento e seus efeitos colaterais. As equipes de saúde que demonstram ser

prestativas durante esse momentos, adquirem valores heróicos, o que pode interferir

positivamente na adaptação da família à doença e ao tratamento (BELTRÃO et al,

2007).

A comunicação deve ser feita de forma clara e em uma linguagem acessível,

tanto para a criança como para a família. Ao considerar a repercussão que a doença traz

para a criança e para a família, o médico pode compreender melhor a aflição da família,

a ansiedade dos pais e reconhecer os mecanismos de defesa que estão mobilizados, e

assim lançando mão de palavras mais acolhedoras. O médico deve encorajar a mãe,

oferecendo estímulos para que ela possa enfrentar a doença junto ao filho (MALTA et

al, 2009).

Para poder estar presente ao lado do filho no hospital, a mãe precisa de apoio e

sentir que não está sozinha. Ela se sente mais segura à medida que percebe que está

inserida na equipe que cuida do seu filho, sentir-se acolhida pela equipe influência

positivamente em sua segurança. Quanto mais a mãe se sente acolhida e aceita, mais

livre se sente para questionar e esclarecer dúvidas, bem como para desenvolver as

competências que necessita em casa fase do tratamento (ANGELO et al, 2010).

50

Angelo et al (2010) constatou que as mães se sentem mais seguras quando

acompanham o tratamento dos filhos. Sentem necessidade de estar ao lado deles,

acreditando que assim transmitem força e segurança. Para isso as mães buscam

informações, conhecendo mais a respeito da doença.

É importante que a equipe de enfermagem estabeleça uma relação de confiança e

respeito com a família, transformando o ambiente hospitalar em um lugar mais

humanizado e acolhedor (SILVA et al, 2009).

Os enfermeiros que se colocarem no lugar do outro, poderão prestar informações

claras, amenizar o medo e a angústia de seus clientes, gerando a oportunidade em que

sentimentos, lágrimas e desabafos sejam expressos (SANTOS, GONÇALVES; 2008).

4.2.4 Comunicação com os demais membros da rede social

Um fator de estresse que ocorre com o diagnóstico da doença, são as fontes não-

familiares, como vizinhos, amigos ou estranhos, quando fazem comentários

preconceituosos ou laçam olhares sobre a criança. A família necessita de suporte

emocional e de orientações para o enfrentamento e fortalecimento frente a essas

experiências (BELTRÃO et al, 2007).

A comunicação e a amizade que vão surgindo entre mães acompanhantes de

crianças com câncer é um fator que contribui para amenizar os momentos difíceis

enfrentados durantes o tratamento da doença (BELTRÃO et al, 2007).

Dentro do hospital acaba acontecendo um apoio entre as mães de crianças

hospitalizadas, a troca de experiências, o consolo e a autoestima transmitida também são

elementos que colaboram no enfrentamento da doença e no fortalecimento da mãe.

Muitas mães se fortalecem sendo úteis às outras, ou seja, é ajudando a outra mãe,

conversando com ela, ouvindo, dando seu depoimento e relatando sua experiência de

vida. É no momento de sofrimento, no compartilhamento de dor e angústia que surge a

esperança e o estímulo para continuar a lutar (ANGELO et al, 2010).

51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo apresentar a produção científica sobre o câncer

infantil e os sentimentos da família em relação ao câncer infantil. Neste sentido

compreenderam-se os aspectos emocionais e sociais envolvidos no enfrentamento dessa

doença pela família.

Para tanto, o presente estudo analisou os trabalhos científicos produzidos sobre a

percepção que a família tem do diagnóstico, as mudanças familiares que ocorrem a

partir desse momento, como ficam a relação conjugal, as vivências emocionais dos

outros membros familiares, o papel do cuidador principal e as perdas relacionadas ao

câncer infantil. Esses aspectos correspondem aos objetivos especifico de compreender o

processo do câncer infantil e identificar os aspectos emocionais e sociais das famílias. A

terceira categoria buscou-se atender o terceiro objetivo especifico desta que pesquisa

que foi compreender as estratégias de enfrentamento dos membros familiares, que

consiste no nosso terceiro objetivo específico.

Portanto, alguns resultados encontrados foram que o diagnóstico é um momento

difícil tanto para a família quanto para a criança, que sentem tristeza, surpresa, medo e

choque. Muitas famílias ficam revoltadas e negam a doença, que passa a ser

denominada como aquela doença, pois muitos pais não conseguem denominá-la e falar

sobre a mesma. O câncer é uma doença que já vem com o estigma de morte, sendo

assim, o medo perdura por todo o tratamento. O diagnóstico do câncer é algo repentino

e que não foi planejado pela família, fazendo com que o sonho que os pais estão

construindo para seus filhos no decorrer dos anos seja destruído ou interrompido.

Após o diagnóstico de câncer infantil ocorrem algumas mudanças na dinâmica

familiar. A mãe se torna a principal responsável pela criança, levando o filho às

consultas, para a realização dos exames e em muitos casos, ficando com ele no hospital

quando há necessidade de internação. A mãe acaba afastando-se de casa, algumas

chegam a mudar de cidade, sendo assim, elas se vêem obrigadas a deixar suas casas, seu

emprego, seus momento de lazer e até mesmo seus outros filhos, que ficam aos

cuidados do esposo, outros membros familiares e quando não tem família por perto, elas

deixam os cuidados destes com os vizinhos, ficando assim, dividida, pois fica no

52

hospital acompanhando o filho doente, mas se preocupa com os filhos que deixou em

casa.

O diagnóstico de câncer infantil interfere também na relação conjugal. Em

algumas pesquisas observou-se que, devido ao impacto da revelação da doença e ao

tratamento, o casal que antes se encontrava afastado se reaproximou, enquanto a mãe

cuida do filho doente, o pai cuidava dos outros filhos e, juntos, um dava suporte ao

outro e dividiam as dificuldades. Porém, alguns autores identificaram que após o

diagnóstico, o marido se afastou da esposa, em alguns casos saíram de casa, alegando

que ela não dá mais atenção para ele e para os demais filhos.

É o cuidador principal da criança que abre mão de algumas de suas atividades

para acompanhar o filho no tratamento. É ele quem fica no hospital e vivencia o

sofrimento da criança, porém, não demonstra tristeza e busca ser forte quando está perto

do filho, deixando para chorar quando o mesmo está dormindo. Não consegue deixar os

cuidados da criança com outros membros familiares, pois não confia que alguém irá

cuidar tão bem do filho como ela e também porque considera que esse é seu dever como

mãe. Sendo assim ela deixa suas atividades diárias de lado e seu momentos de lazer,

elas vão se colocando em segundo plano, pois consideram que não tem o direito de

sentir prazer enquanto o filho está em tratamento oncológico, fazendo com que muitas

mães fiquem esgotadas, cansadas e estressadas. Mas ela faz isso porque acredita que

assim está ajudando o seu filho.

Outro dado relevante que apareceu durante as pesquisas foi sobre as vivências

emocionais dos outros membros familiares. Nos artigos apareceu muito o

comportamento e os sentimentos dos irmãos. Alguns por serem mais velhos mostraram

compreensíveis, ficando preocupados com o estado de saúde do irmão e com saudade.

Porém, alguns irmãos, devido ao excesso de atenção que a criança doente acabam

recebendo, demonstram sentir ciúmes, agressividade e também preocupação.

Durante o tratamento as mães ficam com muito medo de perder o filho, já que o

câncer é uma doença que para elas lembra morte. Diante do sofrimento das crianças,

muitas mães acabam pedindo a Deus para trocar de lugar, pois não agüentam ver seus

filhos sofrendo. Quando ocorre morte de alguma criança no hospital, as mães se

colocam no lugar daquela mãe que acabou perdendo seu filho e sentem-se angustiadas

pensando que isso pode ocorrer também com elas. A possibilidade da morte faz com

53

que elas acreditem que se cuidarem dos filhos e se dedicarem a eles isso talvez não

ocorra.

Quanto às formas de enfrentamento encontradas pelas famílias para superar esse

momento difícil, muitas famílias procuram a Deus, colocando que a religiosidade e a fé

ajudam a enfrentar esse momento, pois acreditam que a crença ajuda a aliviar suas

dores, buscando força tanto para eles como para as crianças.

O cuidador principal da criança durante o tratamento busca forças para enfrentar

esse momento, junto à sua família, que é a primeira fonte de conforto e atitudes de

solidariedade. A falta de suporte emocional acaba levando a mãe ao esgotamento e

cansaço mental, as pessoas que mais ajudam, geralmente, são o esposo e a mãe do

cuidador. Porém, nem sempre os outros familiares têm disponibilidade para ficar

cuidando da criança, mas a mãe aceita essa condição, pois acredita que somente ela

pode cuidar da saúde da criança.

Durante o tratamento da criança, a mãe acaba convivendo com outras mães e

essa relação se torna importante para o enfrentamento da doença, a amizade que vai

surgindo e a troca de experiência vai minimizando as dores que a mãe sente.

Outro dado importante levantado pela pesquisa foi a comunicação com a equipe

de saúde. Os pais se sentem satisfeitos e tranqüilos quando a comunicação do

diagnóstico é feito de forma clara, é importante que a equipe médica não esconda nada e

se disponibilize para qualquer dúvida que familiar possa vim a ter. Também é muito

importante que a equipe de saúde crie uma relação de respeito e confiança com a

família, tornando o hospital um lugar seguro e confortável.

Durante a pesquisa observou-se que o apoio de uma equipe preparada é

fundamental para a família e o apoio psicológico seria muito importante, tanto para a

criança, quanto para a família e a equipe de enfermagem.

Conclui-se esse trabalho apontando para o fato de que há falta de publicações

por parte dos psicólogos nesta temática, pois boa parte do que foi encontrado foi

pesquisado e escrito por enfermeiros. Sendo assim, sugere-se para as futuras pesquisas

investigar a atuação do psicólogo dentro dos hospitais e como eles vêem trabalhando

com as famílias de crianças com câncer. Outra pesquisa importante é investigar os

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sentimentos de famílias que perderam seus filhos com câncer infantil, buscando

compreender as estratégias de enfrentamento para lidar com o luto.

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