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ISSN: 2175-8875www.enanpege.ggf.br/2017 12349 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE ERECHIM/RS: AÇÕES DE EXTENSÃO E PESQUISA DO PROJETO “ERECHIM PARA QUEM QUISER VER, DISCUTIR E INTERVIR - DEMOCRATIZANDO O ACESSO ÀS INFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DA CIDADE” DANIELLA RECHE 1 MURAD JORGE MUSSI VAZ 2 JUÇARA SPINELLI 3 ÉVERTON DE MORAES KOZENIESKI 4 Resumo: O trabalho aborda ações desenvolvidas por um grupo interdisciplinar buscando ampliar análises por meio de trocas de saberes acerca da produção do espaço urbano com diversos setores da sociedade. O estudo foi realizado em Erechim/RS, município com cerca de 98.000 habitantes e forte carência de dados sistematizados. Assim, foram estruturadas ações para a tomada de conhecimento sobre a cidade e implementadas exposições e ciclos de debates que permitissem ampla participação e divulgação desse processo e de seus resultados. A democratização do acesso às informações socioespaciais se constitui em importante política pública a ser praticada por instituições federais, em especial, as Universidades. Palavras-chave: Produção do espaço urbano; políticas públicas; democratização do acesso à informação Abstract: The present paper discusses actions developed by a multidisciplinary team aiming to expand analysis concerning the production of the urban space. The methodology included exchange of knowledge between researchers, alumni and diverse local entities, and it took place in Erechim, RS, Brazil, a municipality with approximately 98,000 inhabitants and notable lack of processed data on the matter. Therefore, actions were taken to organize theoretical knowledge and debate sessions, which attracted broad community participation when turning the results public. The democratization of access to socio-spatial data constitutes important public policy, which is part of the mission to be achieved by Federal Institutions in Brazil, specially within the Federal Universities, where the study was led. Key-words: Production of urban space; public policies; democratization of data access 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho insere-se na discussão sobre o fenômeno urbano, no contexto brasileiro, tendo em conta que o mesmo apresenta grande diversidade de 1 - Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: [email protected] 2 - Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: [email protected] 3 - Docente do Curso de Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: juç[email protected] 4 - Docente do Curso de Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: [email protected]

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ISSN: 2175-8875www.enanpege.ggf.br/2017

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A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE ERECHIM/RS: AÇÕES DE EXTENSÃO E PESQUISA DO PROJETO “ERECHIM PARA QUEM

QUISER VER, DISCUTIR E INTERVIR - DEMOCRATIZANDO O ACESSO ÀS INFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DA CIDADE”

DANIELLA RECHE1 MURAD JORGE MUSSI VAZ2

JUÇARA SPINELLI3 ÉVERTON DE MORAES KOZENIESKI4

Resumo: O trabalho aborda ações desenvolvidas por um grupo interdisciplinar buscando ampliar

análises por meio de trocas de saberes acerca da produção do espaço urbano com diversos setores da sociedade. O estudo foi realizado em Erechim/RS, município com cerca de 98.000 habitantes e forte carência de dados sistematizados. Assim, foram estruturadas ações para a tomada de conhecimento sobre a cidade e implementadas exposições e ciclos de debates que permitissem ampla participação e divulgação desse processo e de seus resultados. A democratização do acesso às informações socioespaciais se constitui em importante política pública a ser praticada por instituições federais, em especial, as Universidades.

Palavras-chave: Produção do espaço urbano; políticas públicas; democratização do acesso à

informação

Abstract: The present paper discusses actions developed by a multidisciplinary team aiming to

expand analysis concerning the production of the urban space. The methodology included exchange of knowledge between researchers, alumni and diverse local entities, and it took place in Erechim, RS, Brazil, a municipality with approximately 98,000 inhabitants and notable lack of processed data on the matter. Therefore, actions were taken to organize theoretical knowledge and debate sessions, which attracted broad community participation when turning the results public. The democratization of access to socio-spatial data constitutes important public policy, which is part of the mission to be achieved by Federal Institutions in Brazil, specially within the Federal Universities, where the study was led.

Key-words: Production of urban space; public policies; democratization of data access

1 – INTRODUÇÃO

O presente trabalho insere-se na discussão sobre o fenômeno urbano, no

contexto brasileiro, tendo em conta que o mesmo apresenta grande diversidade de

1 - Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: [email protected] 2 - Docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: [email protected] 3 - Docente do Curso de Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: juç[email protected] 4 - Docente do Curso de Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, campus Erechim. E-mail de contato: [email protected]

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formas e de processos que contribuem para conformação de uma rede urbana

dotada de espaços com dinâmicas singulares.

Especialmente as cidades médias e, principalmente, as pequenas cidades,

sobretudo no interior do Brasil, carecem de estudos que possam auxiliar na melhor

compreensão das suas dinâmicas socioespaciais peculiares e seus papéis no

arranjo urbano nacional. Ao buscar se aproximar desse debate, a presente

comunicação trata da trajetória de um projeto de extensão (cuja metodologia de

desenvolvimento baseou-se em técnicas de pesquisas e sua estreita possibilidade

de vinculação ao ensino) intitulado “Erechim para quem quiser ver, discutir e intervir:

democratizando o acesso às informações socioambientais da cidade” elaborado e

desenvolvido desde 2011, na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em

Erechim-RS. O conjunto de investigações desenvolvidas por um grupo

interdisciplinar de docentes e discentes da UFFS (Geografia, Arquitetura e

Urbanismo, Ciências Sociais e Agronomia), buscou consolidar e ampliar suas

análises por meio de trocas de saberes com os diversos setores da sociedade.

Tendo como objeto de estudo a cidade de Erechim-RS, com aproximadamente

98.000 habitantes, e em havendo uma carência de dados e levantamentos públicos

que permitissem a compreensão do processo de formação socioespacial do

município, foram estruturadas ações para a tomada de conhecimento sobre a cidade

e implementadas exposições e ciclos de debates que permitissem ampla

participação e divulgação desse processo e de seus resultados, vindo a contribuir

com as políticas de divulgação informacional de bases municipais.

Em Erechim, cidade classificada pela REGIC (2007) como centro sub-

regional, seguindo o modo hegemônico de produção do espaço urbano, observa-se

a consolidação de uma mancha urbana fragmentada e, em certa medida,

excludente, com diferenciações espaciais que reforçam a estrutura socieconômica

urbana. Indo além, as recentes políticas públicas para habitação de interesse social,

consoante à lógica nacional de implantação de loteamentos e conjuntos

habitacionais, aloca contingentes populacionais em áreas distantes do centro

urbano. A periodização dos loteamentos, bem como o material cartográfico

produzido que aborda a infraestrutura, distribuição de renda, transporte público,

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entre outros, demonstra que, através do processo de conformação do espaço

urbano, reforça-se a valorização de áreas específicas da cidade.

A metodologia utilizada, a partir do levantamento de dados de fontes

primárias e secundárias, sistematizados e postos à discussão em exposições

temáticas e ciclos de debates envolvendo movimentos sociais, agentes públicos e

privados, além da sociedade civil, baseou-se na construção de tabelas, gráficos,

mapas e demais produtos cartográficos. Essa metodologia permitiu a elaboração de

uma cartografia de síntese, construída coletivamente com o grupo de extensão e

pesquisa e os agentes sociais participantes.

Como resultado do trabalho, ao longo dos quatro anos em atividades de

pesquisa e ações de extensão, produziu-se cadernos de mapas com mais de 90

representações cartográficas, e relatórios que sintetizam as atividades e permitem a

socialização de dados, informações e conteúdos sobre a cidade. Para além de tais

produções de cunho didático-científicas, o trabalho extensionista buscou promover

um olhar sobre a cidade e a consequente discussão e reflexão sobre como esse

espaço se produz, se organiza e dá acesso aos seus munícipes e moradores.

2 – ERECHIM/RS: ASPECTOS HISTÓRICO-GEOGRÁFICOS

Localizado na porção norte do estado do Rio Grande do Sul, na Mesorregião

Noroeste, o município de Erechim é referência para as ações desenvolvidas no

projeto de extensão, especialmente em se tratando do seu espaço urbano. Trata-se

do local onde, em 2010, instalou-se um dos campi da Universidade Federal da

Fronteira Sul, locus de concepção e desenvolvimento do projeto. Com uma

população de 96.087 habitantes, dos quais 94,24% residem na área urbana (IBGE,

2010), Erechim se caracteriza como cidade de porte médio, categorizada como

Centro Sub Regional A5, e polariza sua microrregião, tendo na economia a

centralidade das atividades comerciais e industriais que representam,

5 Estudo das Regiões de Influência das Cidades – REGIC, 2007 (BRASIL, 2008).

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respectivamente, 52,55% e 33,86% do PIB6. Essas atividades econômicas, entre

outras, conferem ao município importante papel na rede urbana regional, sendo uma

das cinco cidades com maior influência na Mesorregião.

A formação do município de Erechim está relacionada ao processo de

ocupação do Rio Grande do Sul ocorrido nos séculos XIX e XX, destacando-se o

processo de colonização por meio da fundação da Colônia de Erechim, iniciado em

1908. A colonização trouxe a Erechim e região, por meio da estrada de ferro,

migrantes italianos, alemães, poloneses e israelitas, e outros vindos das terras

velhas, primeiras colônias do estado. Cabe destacar que, anteriormente à

constituição da colônia, estas terras eram um dos últimos redutos de indígenas e

caboclos no estado. Em 1918 a colônia é emancipada do então município de Passo

Fundo, dando origem ao município de Erechim. Ao longo do século XX, o território

de Erechim é fragmentado e dá origem a mais de 30 municípios. (PIRAN, 2001;

DUCATTI NETO, 1981).

O espaço urbano de Erechim é marcado pelo projeto urbanístico realizado

pelo Engenheiro Agrimensor Carlos Torres Gonçalves. Este plano, que segue o

modelo de Washington e Paris, foi implantado em 1914 e tem como características

uma malha viária em formato de grelha sobre a qual, a partir da praça central,

partem quatro vias diagonais. Ao longo de sua evolução, devido ao crescimento do

município e à expansão da área urbana, foram criados novos núcleos habitacionais

e industriais, nos quais o desenho original não foi mantido. Atualmente, o bairro

centro, lócus inicial do projeto urbanístico, é aquele que mantém os traços

característicos.

3 – ENFOQUE CONCEITUAL E A CONSTRUÇÃO DO PROJETO

Sob qual enfoque pensar a cidade, para que seja possível uma intervenção

pautada em uma reflexão crítica? E, ao mesmo tempo, que vá além das questões de

desenho e projeto atingindo, efetivamente, a mitigação da cidadania na cidade?

6 Valor adicionado bruto das atividades a preços correntes em relação PIB a preços correntes. IBGE, Produto Interno Bruto dos Municípios, 2011.

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O desenvolvimento do processo de produção do conhecimento (através das

pesquisas realizadas), para serem expostas à discussão pelas ações extensionistas,

tem se amparado em questões que perpassam não somente a dimensão material da

cidade, mas na possibilidade de entendimento das relações urbanas. Nesse sentido,

ao não conseguir obter alguns dados, o projeto de extensão buscou amparo na

própria vivência e contribuições da comunidade externa rumo à construção de uma

outra possibilidade de leitura sobre o espaço urbano. Ao trabalhar com o conceito de

“direito à cidade” de Lefebvre (2009) abre-se a possibilidade de discussão sobre o

vínculo entre participação, ação política e cidadania, sendo necessário analisar e

interpretar os papéis desempenhados pelos agentes sociais e consequentes

processos e formas que produzem e reproduzem o espaço.

O espaço urbano, assim, pode ser entendido sob a ótica de espaço

geográfico, na concepção de Santos (2006, p. 39) como relacional entre o “sistema

de ações e o sistema de objetos”. Tal relação entre os sistemas é construída com

base nas possibilidades de apropriação que esses sistemas permitem, dialética,

portanto, e encontra respaldo em diferentes significações ao longo do tempo. Esse

elemento é fundamental para a compreensão da dinâmica espacial urbana, pois

novos conteúdos podem e são agregados às formas, que, dessa maneira, podem

ser novas, obsoletas, recontextualizadas em constante transformação. Portanto

percebe-se a relação entre a sociedade e a materialidade, que está muito além, na

contemporaneidade, de modelos até aqui apresentados e de um urbanismo pautado

na técnica, ou no valor de troca em detrimento do valor de uso – processo que

corrobora a fragmentação do espaço – através de sua conjuntura socioeconômica.

Partindo da perspectiva de Correa (1989, p. 6-9), a cidade é o espaço urbano,

“[...] simultaneamente fragmentado e articulado [...]”, em que todas as partes

mantêm relações entre si. Sendo essa fragmentação e articulação “[...] expressão

espacial de processos espaciais [...]”, o espaço urbano torna-se um reflexo da

sociedade. Considera-se, a partir dessa perspectiva, o fato de inserir-se em uma

sociedade capitalista dividida em classes sociais, com desigualdades e conflitos

entre elas. Como afirma Correa, “O espaço da cidade é assim, e também, o cenário

e o objeto das lutas sociais, pois estas visam, afinal de contas, o direito à cidade, à

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cidadania plena e igual para todos”. E esse cenário e objeto de lutas sociais só pode

ser pensado a partir da ótica da participação popular. Ressaltando-se, sobretudo, a

necessidade de uma maior dinamização desse processo.

Esse resgate da participação é fundamental para a dinâmica da construção

do espaço urbano – e de maneira coerente à inserção social dos diversos extratos

da população – configurando espaços públicos acessíveis na acepção mais geral do

termo, como espaço público em sua condição de acesso físico, simbólico e social

(SERPA, 2011, p. 15-16). E é nesse sentido que se encaixa o projeto de extensão

proposto, no resgate do papel político dos cidadãos a partir da discussão, em outra

base (mais ampliada) que ampare o trabalho dos técnicos, buscando compreender a

leitura da cidade como um aprendizado que requer um novo posicionamento desde

o observar, considerando as diferentes formas de ver; o dialogar, considerando as

diferentes formas de discutir; e o pensar, considerando as ações concretas que se

materializam no intervir.

3.1 – REFLEXÕES SOBRE O PROJETO

No contexto urbano, muitas são as informações e ações que interferem

diretamente no cotidiano da população. Mudanças de marcos legais, alocações de

recursos, políticas públicas, além de outras iniciativas sociais e ambientais são

alguns exemplos de tais situações. A realidade socioambiental do município nem

sempre é acessível aos seus habitantes, pois muitos dados e informações relativos

ao município não são equanimemente disponibilizadas à população, sendo

fundamental, além da disponibilização, uma instrumentalização para sua leitura.

Este fato diminui, marcadamente, as possibilidades de interpretação da realidade de

determinados grupos sociais e, consequentemente, diminui as possibilidades de

reivindicação de seus direitos e sua participação. Esse contexto é visto em muitas

cidades brasileiras, assim como em Erechim e pode ser constatado quando se

buscam dados sistematizados sobre o município.

A necessidade de tal conhecimento não faz parte somente do âmbito da

comunidade externa, mas também é fundamental que a UFFS tenha conhecimento

desses dados para possibilitar debates e possíveis intervenções. Parte-se do

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princípio de que não há como intervir qualificadamente no espaço urbano sem

conhecer os elementos socioeconômicos e espaciais que lhe conformam.

A transformação das reflexões iniciais em projeto de extensão mostrou-se

uma tarefa complexa, devido à dimensão da proposta e complexidade metodológica

envolvida. Em meio a este contexto consolidou-se a possibilidade de construir uma

proposta “piloto” com um recorte temático-territorial mais restrito, para consolidar os

primeiros passos para a construção de um futuro Atlas. Assim, entre os anos de

2011 e 2013, o projeto teve por finalidade preencher algumas lacunas na relação

entre a Comunidade, a Universidade e os Gestores Públicos Municipais, pois, além

de sistematizar informações possibilitando mais um canal para o debate crítico da

realidade local, e com o aprofundamento das ações do projeto, vem contribuindo

para a inserção da UFFS frente às demandas da comunidade. Igualmente,

intencionou-se aproximar a gestão municipal do contexto universitário e propiciar

aos discentes da UFFS contato com o contexto urbano de Erechim, auxiliando,

inclusive, nas discussões durante as disciplinas dos cursos de graduação da UFFS e

aproximando os campos de estágio nas distintas áreas.

O desenvolvimento da proposta do projeto foi constituído através das

seguintes etapas metodológicas:

a) Reuniões administrativas mensais;

b) Composição de parcerias de cooperação com órgãos públicos;

c) Processo de troca de saberes para uso de softwares (bancos de dados, de

imagens e sistemas de informação geográfica);

d) Coleta de dados e informações geoestatísticas (levantamento de dados e

informações relativas ao espaço urbano de Erechim abrangendo: planejamento

urbano - índices e zonas dos antigos e atuais Planos Diretores Municipais;

infraestruturas urbanas - vias de acesso, redes de saneamento, investimentos

públicos, estruturas de saúde e educação; características do espaço urbano -

anúncios de imóveis, loteamentos de inciativa públicas e privadas, vazios urbanos;

populacionais - habitação, densidade populacional, distribuição de renda,

indicadores de saúde e de educação; econômicas - produções econômicas,

atividades industriais e comerciais; ambientais - recursos hídricos, praças e parques.

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As informações cartográficas e estatísticas foram coletadas através da consulta aos

bancos de dados junto à Prefeitura Municipal e às respectivas secretarias e

autarquias, e a institutos de pesquisa nacionais e estaduais, tais como IBGE e FEE,

bem como de outros tipos e fontes de informações, formais e informais, de fontes

secundárias e mesmo primárias, coletadas em campo, conforme as necessidades

surgiam, sendo periodizadas entre 2000 e 2012.

e) Sistematização dos dados e informações e construção do Banco de dados

geográficos;

f) Exposição à comunidade: ano de 2011 - Temas: 1. Mobilidade Urbana; 2.

Habitação; 3. Infraestrutura e 4. Serviços Urbanos; Ano de 2012 – Tema: 5.

Habitação, Mercado e Políticas Públicas; e ano de 2013 – Tema: 6. Vazios Urbanos

em Erechim. Nesses encontros, a comunidade participante teve a oportunidade de

visualizar, através de uma linguagem acessível, ou seja, através de mapas, croquis,

gráficos, fotografias e outros materiais produzidos, a situação do município. Essas

atividades permitiram que se discutisse sobre a cidade, efetivando-se um processo

democrático de participação nas questões concernentes à organização da cidade;

g) Ciclos de Debates: participação de convidados representantes de entidades

envolvidos com a discussão do tema proposto para a exposição, para que, a partir

dos mapeamentos produzidos, fossem estimulados a discutir o tema com a

sociedade;

h) Elaboração do caderno de mapas: disponibilização, para a sociedade e parceiros,

através de um caderno digital, dos materiais produzidos com dados e informações

geoestatísticas.

3.2 – RESULTADOS DO PROJETO: EXPOSIÇÕES TEMÁTICAS E

ELABORAÇÃO DOS CADERNOS DE MAPAS

O acúmulo de informações adquirido ao longo do projeto, bem como os

debates, teve como meta a disponibilização de conhecimentos para consulta

pública. A ideia de organização da elaboração de cadernos digitais on-line, foi

consolidada por meio de dois cadernos, estando o terceiro em fase de elaboração.

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O Primeiro Caderno de Mapas de Erechim foi sintetizado em três partes: a

primeira aborda sobre o projeto, equipe de concepção, equipe executora e parcerias;

a segunda, sobre o conjunto de mapas e informações com as seguintes subdivisões:

1. Localização Geográfica: Situação Geográfica de Erechim, RS; Localização da

Área Urbana de Erechim, RS; Localização dos Bairros (2011); Setores Censitários

da Área Urbana; Formas de divisão da área urbana e Distribuição das quadras da

área urbana. 2. Habitantes e Renda da População (dados de 2000): Números de

habitantes da área urbana; Faixas de renda da área urbana; Extremos de Renda da

Área Urbana; Domicílios Particulares; Número de Domicílios e Quantidade de

Moradores por Setor Censitário; Porcentagem de Domicílios e Quantidade de

Moradores por Setor Censitário. 3. Infraestrutura (dados de 2000): Rede Geral de

Abastecimento de Água; Rede de esgoto; Número de banheiros por domicílio e

Coleta de lixo. 4. Equipamentos e serviços urbanos (dados de 2011): Trajeto das

linhas de ônibus do transporte público; Escolas Públicas e Particulares de Ensino

Infantil; Escolas Públicas e Particulares de Ensino Fundamental e Médio;

Universidades/Faculdades Públicas e Particulares; Equipamentos de Ensino Público

e Particular; Distribuição dos Serviços de Saúde e Segurança, Mapa das áreas

verdes. A terceira parte contempla as Considerações, perspectivas de continuidade

das ações e agradecimentos.

A continuidade do trabalho resultou em um Segundo Caderno de Mapas

atualizando os dados para 2010 e, também, estabelecendo mapeamentos para

comparação da evolução das informações e do espaço geográfico da cidade. Este

foi dividido em 5 partes, além das considerações finais e perpectivas, a saber: 1.

Características da população (2010): distribuição da população, densidade

demográfica, faixas de renda, extremos de renda; 2. Perfil dos domicílios:

Moradores por domicílios; domicílios quitados, em aquisição, alugados, cedidos por

empregador ou outra forma; quantidade de apartamentos; 3. Infraestrutura:

domicílios sem energia elétrica; sem coleta de lixo, sem banheiro e sem sanitário;

com esgotamento via rede geral, com fossa séptica, com fossa rudimentar, com

esgotamento via rio, vala; 4. Loteamentos: distribuição dos loteamentos,

loteamentos por ano de instalação, por tipologias, de iniciativa da prefeitura por ano

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de instalação; e 5. Anúncios de imóveis: anúncios de terrenos em 2000, 2002,

2004, 2006, 2008, 2010 e 2012; área e valores desses terrenos.

Destaca-se ainda que a equipe do projeto está elaborando o Terceiro

Caderno de Mapas, que se aterá aos dados relativos à ocupação do solo urbano de

Erechim, destacando os vazios urbanos na área central, levantados in loco no ano

de 2013. Esses vazios serão caracterizados no Caderno através dos seguintes

mapas: localização dos terrenos vazios, área, declividade em relação à rua, uso

predominante, existência de passeio público e pavimentação no entorno. Além

disso, serão apresentados mapas e dados relacionados ao potencial construtivo dos

terrenos levantados, conforme as microzonas do plano diretor, e às ampliações

recentes do perímetro urbano junto ao plano diretor municipal.

4 – REFLEXÕES FINAIS

As ações, resultados e produtos do projeto, conforme apresentados no

artigo, têm induzido a algumas reflexões apresentadas a seguir, em dois vieses

complementares: um metodológico e outro relacionado à atuação da academia

diante da sociedade.

Dentre as diversas possibilidades de aproximação teórica, conceitual e

metodológica, sobre a produção de conhecimento vinculada ao processo de

produção do espaço urbano, àquelas adotadas pelo projeto "Erechim para quem

quiser, ver, discutir e intervir" buscam revelar e trabalhar partindo do pressuposto de

que o espaço urbano é permeado por complexas relações que propiciam diferentes

formas de apreensão, de vivências e de intervenção nas cidades, pelos sujeitos que

nelas habitam. Tornam-se limitadas as concepções que vinculam unicamente a

produção do espaço à capacidade técnica de intervenções ou mesmo à aplicação de

modelos urbanísticos. O projeto de extensão, ao longo de suas três edições,

propiciou um espaço de interação no qual diferentes segmentos da comunidade de

Erechim puderam expor suas visões, relatar suas experiências e dificuldades a

respeito de diversos temas, conforme seus objetivos e métodos. A execução das

ações previstas aponta para uma maior articulação entre a UFFS e as entidades,

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instituições e grupos sociais relacionados ao contexto urbano no qual o projeto

busca inserir-se.

Por outro lado, considerando que a democratização do acesso às

informações socioespaciais se constitui em importante política pública a ser

praticada pelas instituições de âmbito federal, em especial, as Universidades, o

contexto apresentado revela uma iniciativa pioneira na localidade. Os resultados

apontam para uma reflexão acerca da abertura da academia para a construção de

uma sociedade mais justa e inclusiva, alcançando espaços de socialização e debate

e uma base de dados que permita ampliar o (re)conhecimento dos condicionantes

socioespaciais e democratize o “acesso à cidade”. Cabe ressaltar que os resultados

do projeto, mesmo que ainda não estejam completamente publicados, vêm

contribuindo para outros diálogos entre a Universidade e a Comunidade, a exemplo

da elaboração de pesquisas, práticas de ensino em escolas do município e trabalhos

de conclusão de curso de estudantes, especialmente da UFFS e de outras

instituições da região.

Por fim, é importante destacar que o trabalho que vem sendo desenvolvido

tem sido divulgado e posto ao debate em eventos, artigos, e capítulos de livro,

buscando disseminar e discutir suas propostas e ações, como forma de, criticamente

e através do compartilhamento de experiências, descobrir novas possibilidades de

abordagem e buscando construir-se continuamente.

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008); Regiões de influência das cidades – 2007, Rio de Janeiro, IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 17 nov. 2008. CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. 3. ed. São Paulo: Ática, 1989. DUCATTTI NETO, Antônio. O Grande Erechim e sua história. Porto Alegre: EST, 1981. LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo, São Paulo: Centauro, 2009. PIRAN, Nedio. Agricultura Familiar: lutas e perspectivas no Alto Uruguai. Erechim: Edifapes, 2001. 192 p. (Pensamento acadêmico; 11).

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PREFEITURA MUNICIPAL DE ERECHIM. Município: apresentação. Disponível em: <http://www.pmerechim.rs.gov.br/>. Acesso em: 01 fev. 2014. PLANO NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, Coleção Extensão Universitária – FORPROEX, vol. I. Disponível em: <http://www.extensao.ufba.br/arquivos/inextensao/plano_nacional_de_extens%E3o_universitaria.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2014. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006. SERPA, Ângelo. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo: Contexto, 2001.