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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS E DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA SAMARA RABEL DILLI A PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM DIFERENTES GRUPOS E AS CRENÇAS ASSOCIADAS A ESTES TRANSTORNOS. Itajaí, (SC) 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS E DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

SAMARA RABEL DILLI

A PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM

DIFERENTES GRUPOS E AS CRENÇAS ASSOCIADAS

A ESTES TRANSTORNOS.

Itajaí, (SC) 2009

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SAMARA RABEL DILLI

A PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM

DIFERENTES GRUPOS E AS CRENÇAS ASSOCIASDAS

A ESTES TRANSTORNOS.

Projeto de pesquisa apresentado como requisito parcial para a obtenção de créditos na disciplina Supervisão de Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Prof. Dr. Jamir Sardá

Itajaí SC, 2009

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer ao meu orientador Dr.: Jamir Sárda, pelo seu

profissionalismo, dedicação, competência, por todo o aprendizado que me

proporcionou, pela amizade construída, por ter acreditado que eu conseguiria

realizar este trabalho, e principalmente por toda a sua paciência durante essa

caminhada. Você foi essencial para a realização deste trabalho.

As minhas amigas, em especial Vanessa Evangelista e Manoella Deschamps,

por terem aguentado todas minhas ansiedades, reclamações, estresse e angustias

nesses últimos meses. Agradeço também a todos os conselhos, todos os momentos

divertidos que passamos juntas, todas atrapalhadas e todas as “cólicas abdominais”

que tive de tanto rir. Agradeço por estarem ao meu lado em todos os momentos

difíceis que enfrentei esse ano, sempre com uma palavra de conforto e me

incentivando a não desistir. Obrigada por fazerem parte da minha vida.

A todos os meus colegas e professores, os quais foram essenciais na minha

formação.

As minhas irmãs, Sarah e Paula, por terem suportado todo o meu estresse,

meu mau humor, ansiedade e reclamações durante este semestre. Agradeço por

todos os momentos de felicidade que me proporcionam, por todo amor que me

transmitem por me falar sempre a verdade mesmo que ela seja dolorida, por me

mostrarem o verdadeiro valor de uma amizade, pelos conselhos, por não me

deixarem desistir, pelo companheirismo e por sempre estarem ao meu lado

independente do que aconteça. Obrigada por serem da maneira que são

insubstituíveis e essenciais na minha vida. Amo vocês.

Agradeço a vocês, Pai e Mãe, por sempre estarem sempre presentes mesmo

estando tão longe, por todas as horas de sono mal dormidas devido à preocupação

comigo e com minhas irmãs, por sempre me incentivarem a nunca desistir e

acreditarem que eu conseguiria chegar até aqui, por agüentarem todas as minhas

reclamações desnecessárias e por me agüentarem nesses dois últimos anos tão

turbulentos. Agradeço também por todo amor e carinho que me transmitem, por

todos os momentos bons que passamos juntos, por me ensinarem que honestidade

e humildade são essenciais pra qualquer ser humano, e principalmente por todo o

esforço que vocês fazem para proporcionar tudo de melhor para mim. Não tenho

palavras pra descrever minha gratidão. Amo vocês.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇAO ....................................................................................................... 05 2 FUNDAMENTAOÃO TEÓRICA ........................... .................................................. 07 1.1 Quadro clínico da anorexia nervosa ................................................................... 09 1.2 Quadro clínico da bulimia nervosa ..................................................................... 11 1.3 Contribuições de fatores psicológicos nos TA .................................................... 13 3 MATERIAIS E MÉTODO............................... ......................................................... 20 1.4 Sujeito e amostra ................................................................................................ 20 1.5 Procedimentos para a coleta de dados ............................................................... 20 1.6 Procedimentos para a analise de dados ............................................................. 22 1.7 Procedimentos éticos .......................................................................................... 22 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................... ................................................... 23 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ....................................................... 39 6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................... ................................................ 42 APÊNDICES ............................................................................................................. 42 ANEXOS ................................................................................................................... 45

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A PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM DIFEREN TES

GRUPOS E CRENÇAS ASSOCIADAS A ESTES TRANSTORNOS

Samara Rabel Dilli Jamir Sardá Defesa: novembro de 2009

RESUMO Os transtornos alimentares são distúrbios que acometem em sua grande maioria mulheres jovens e tem como principal característica a distorção da imagem corporal e condutas alimentares inadequadas. A anorexia nervosa caracteriza-se pela distorção da imagem corporal, medo enorme de engordar e a perda de peso auto induzida à custa de rígidas dietas. A bulimia nervosa caracteriza-se por períodos de grande ingestão de alimentos, seguidos da sensação de perda de controle, os chamados Episódios Bulímicos. Pacientes bulímicos adotam medidas inadequadas para a manutenção do peso, como vômitos auto-induzidos, uso abusivo de medicamentos e prática excessiva de exercícios físicos. Neste trabalho foi investigada a prevalência de transtornos alimentares em universitários do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí e em modelos de uma agência de modelos localizada em Balneário Camboriú. Também foi investigada as crenças associadas aos transtornos alimentares e comparado às diferentes crenças entre os grupos. A pesquisa utilizou o método quantitativo. Participaram da coleta de dados cerca de 141 voluntários. Para a coleta de dados foram utilizados os instrumentos Eating Attitudes Test (EAT-26), que acessa sintomas de alimentação inadequada, e o Bulimic Investigatory Test Edinburgh (BITE) e um questionário que investiga crenças sobre os transtornos alimentares, desenvolvido pela autora desse trabalho. Os dados obtidos pelos questionários foram analisados utilizando estatística descritiva e inferencial (freqüência, média e desvio padrão) e teste t para a comparação entre as amostras, utilizando o programa estatístico SPSS-11. Os resultados encontrados de forma geral confirmam uma alta prevalência de Tas em ambos os grupos, de uma forma superior a reportada na literatura. A presença de diversas crenças sobre imagem corporal e controle também se mostraram presentes em ambos os grupos, mas com uma freqüência maior nas modelos, que também apresentaram uma maior prevalência de Tas, confirmando de certa forma a relação entre crenças e TAs. Palavras-chave: 1. transtornos alimentares 2. anorexia e bulimia 3. prevalência.

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1 INTRODUÇÃO

Durante toda a história da humanidade, o homem se preocupou com a sua

imagem e estabeleceu padrões de beleza, sendo estes influenciados pela cultura em

que estão inseridos.

Atualmente o padrão de beleza estipulado pela sociedade é estereotipado e

rígido, na qual apenas o corpo magro é considerado bonito. Vive-se em uma cultura

na qual ser magro é sinônimo de felicidade e de sucesso. Os meios de comunicação

reproduzem este padrão que é seguido cegamente pela maioria das mulheres. Com

o intuito de seguir esse padrão a maior parte dessas mulheres recorre

freqüentemente a dietas sem fundamento, a prática exagerada de exercícios físicos,

cirurgias plásticas, uso inadequado de remédios para emagrecer, submissão a

vários métodos e técnicas para se atingir ao padrão espelhado pelas modelos de

comerciais e capas de revistas.

Essa busca desenfreada pelo corpo perfeito torna cada vez maior o número

de mulheres insatisfeitas com sua imagem corporal, e de mulheres que deixam de

comer para alcançar o corpo tão desejado, contribuindo assim para o

desenvolvimento de transtornos alimentares (TA). Pesquisas apontam que a busca

pelo corpo perfeito esta começando cada vez mais cedo (CAMPAGNA, 2009)

A procura por cirurgias plásticas em adolescentes cresceu nos últimos anos,

assim como o número de casos de transtornos alimentares com início na infância.

Segundo o DSM IV-TR (2002) os transtornos alimentares acometem na

maioria mulheres; sua prevalência é 3-5%, e podem ser divididos em duas

categorias principais: Anorexia Nervosa (AN) e a Bulimia Nervosa (BN). A AN

caracteriza-se pela distorção da imagem corporal, por perda de peso auto-induzida à

custa de rígidas dietas, pela busca obsessiva da magreza e por alterações do ciclo

menstrual. Já a BN caracteriza-se por episódios de grande ingestão de alimentos

seguidos de sensação de perda de controle (episódios bulímicos) e excessiva

preocupação com a imagem corporal. É característico em pacientes bulímicos o uso

de métodos inadequados para o controle de peso, como vômitos auto-induzidos, uso

incorreto de medicamentos (laxantes, diuréticos, e inibidores de apetite), dietas e

exercícios físicos.

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Os TAs são patologias complexas do ponto de vista médico-social, e

constituem patologias graves e multideterminadas, pois além de acarretar sérios

problemas psicológicos e problemas de saúde, comprometem o desenvolvimento

biopsicossocial do individuo e acabam colocando em risco a vida dos pacientes.

Dentre os diversos aspectos biopsicossociais que contribuem para os TAs

podemos destacar a participação de predisposições genéticas, socioculturais e

vulnerabilidades biológicas e psicológicas. Dentre os fatores psicológicos

predisponentes, podemos destacar a história de transtorno alimentar e (ou)

transtorno do humor na família, os padrões de interação presentes no ambiente

familiar, o contexto sociocultural, caracterizado pela extrema valorização do corpo

magro, e traços de personalidade (MORGAN, VECCHIATTI, NEGRÃO, 2002).

É possível observar através de estudos que os TAs estão se desenvolvendo

mais precocemente entre as adolescentes e que vem se tornando uma doença

comum no cotidiano das mulheres. Também é possível observar a dificuldade de

diagnóstico de TAs por parte dos profissionais da área da saúde, assim como a

dificuldade do conhecimento (por parte do indivíduo afetado) da doença.

Tendo em vista a alta prevalência dos TAs, sua etiologia multidimensional e o

impactos psicossocial desses transtornos, essa pesquisa teve com objetivo

identificar e comparar a prevalência de transtornos alimentares em diferentes grupos

e, identificar a presença de diferentes crenças que estão associadas aos TAs.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os Transtornos Alimentares são caracterizados pela presença de alterações

importantes no comportamento alimentar e pelo uso de métodos inadequados para

perda e manutenção do peso. Atingem na maioria das vezes adolescentes, jovens e

adultos do sexo feminino, podendo acarretar sérios problemas psicológicos e

biológicos (PHILIPPI; ALVARENGA, 2004).

Segundo o DSM-IV-TR (2002) E CID-10 (2003), a AN e a BN são as

principais entidades nosológicas dos Transtornos alimentares. Esses transtornos

não possuem uma mesma classificação, mas estão relacionados por apresentarem

alguns sintomas em comum, como medo patológico de engordar, preocupação

excessiva com o peso, e distorção da imagem corporal, resultando em rígidas dietas

e uso abusivo de métodos inapropriados para obter o corpo desejado (CLAUNDINO;

BORGES, 2002).

A AN caracteriza-se pela perda de peso auto-induzida à custa de rígidas

dietas, amenorréia (ausência de menstruação por três meses ou mais), alterações

da imagem corporal e busca constante pela magreza (PHILIPPI; ALVARENGA,

2004; BORGES et al.,2006). Devido à distorção da imagem corporal, pacientes

anoréxicas percebem suas formas, assim como seu peso e tamanho maiores do que

se apresentam. Imagem corporal é conceituada por Cordas, et al. (1998), pelo modo

de perceber, de sentir o tamanho, o peso e a forma corporal.

A perda de peso auto-induzida é alcançada através do uso de medicações

como laxantes, diuréticos ou moderadores de apetite, além da excessiva prática de

exercícios físicos. Mais de 50% das anoréxicas induzem o vômito após as refeições

para perder peso (CORDAS et al.,1998).

É característico na BN períodos de ingestão de grandes quantidades de

alimentos, seguidos da sensação de perda de controle, os chamados Episódios

Bulímicos (HERSCOVICI, 1997; BORGES et al., 2006; CORDÁS, 2004). Devido à

excessiva preocupação com a imagem corporal e com o controle do peso, o

paciente bulímico utiliza medidas compensatórias inadequadas como vômitos auto-

induzidos, uso abusivo de remédios (laxantes, diuréticos, inibidores de apetite),

dietas rigorosas e a prática exagerada de exercícios físicos (HERSCOVICI, 1997;

BORGES et al., 2006; CORDÁS, 2004). Pacientes bulímicos diferem de pacientes

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anoréxicos, pois os bulímicos não possuem desejo de emagrecer cada vez mais,

geralmente apresentam-se com o peso normal, mas às vezes podem apresentar o

peso um pouco acima ou abaixo do normal (DALGARRONDO, 2008).

Conforme Philippi e Alvarenga (2004), a prevalência da BN é em torno de 1 a

4% da população, podendo ser maior se forem considerados os quadros parciais. Há

um maior acometimento de pessoas do sexo feminino, sendo 90% de mulheres e

10% homens. O início dos sintomas da AN ocorre em geral na adolescência, por

volta de 13 a 17 anos, mas foram observados casos com início na infância e após os

40 anos. A idade media para o aparecimento dos primeiros sintomas da BN é por

volta dos 20 anos, ocorrendo no final da adolescência ou até os 40 anos (BORGES

et al., 2006).

Em função da busca cada vez mais precoce pelo corpo perfeito, vem sendo

realizadas pesquisas sobre a prevalência de transtornos alimentares em

adolescentes de diversas regiões do Brasil.

Em Florianópolis, foi realizada uma pesquisa entre adolescentes do sexo

feminino com o objetivo de investigar a prevalência de sintomas de anorexia nervosa

e sintomas de insatisfação com a imagem corporal entre essas adolescentes

(ALVES, VASCONCELOS, CALVO e NEVES, 2008). A amostra foi constituída

por.148 adolescentes, com faixa etária entorno de 14 anos (DP=2,3). Foi detectado

que a prevalência de sintomas de anorexia nervosa e de insatisfação com a imagem

corporal na amostra foram respectivamente, 15,6% (n = 179) e 18,8% (n=216)

(ALVES, VASCONCELOS, CALVO e NEVES,2008).

Segundo a APA (2003), a prevalência de mulheres jovens que possuem os

sintomas de AN, mas que não apresentam os critérios diagnósticos chega

aproximadamente a 5%. Inicialmente os transtornos eram descritos entre as classes

superiores, mas levantamentos epidemiológicos recentes não demonstram

diferenças entre classes socioeconômicas.

Pesquisas apontam que os TA são mais comum em paises desenvolvidos,

entre mulheres jovens e em profissões em que há maior exigência de um corpo

magro, como modelos, bailarinas, atletas e nutricionistas (APA, 2002; HERSCOVICI,

1997; MORGAN et al.,2002).

Estudos demonstram que os transtornos alimentares são patologias difíceis

de serem diagnosticadas corretamente, pois muitos pacientes negam ajuda

profissional, não admitem estar doentes e muitos acreditam que conseguem se tratar

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sozinhos. Com isso, na maioria das vezes apenas os casos mais graves procuram

tratamento, o que pode colaborar em incidência e prevalência subestimadas.

Abaixo descreveremos os principais aspectos clínicos da AN e BN.

2.1 Quadro Clínico para Anorexia Nervosa

Freqüentemente o início da AN ocorre com adoção de uma dieta rigorosa,

muitas vezes em conjunto com a prática descontrolada de exercícios físicos, com a

finalidade de ficar cada vez mais magro. A dieta inicia com a eliminação de

alimentos que a paciente considera “engordantes”. As restrições alimentares vão

aumentando e o número de refeições diminuindo, evoluindo assim para o jejum

completo (PHILIPPI e ALVARENGA, 2004; BORGES et al., 2006).

Pacientes anoréxicas adquirem uma imagem distorcida de si, como se fossem

pessoas gordas e com suas formas maiores do que são na realidade. É comum na

AN o uso de roupas largas que disfarcem a falsa percepção da paciente do seu

corpo “gordo”, e para familiares e amigos este recurso é usado como forma de

disfarçar sua magreza (HESCOVICI, 1997). Com o passar do tempo, a paciente

passa a viver exclusivamente em função de sua forma corporal, de dietas, exercícios

físicos, do peso e do medo intenso de engordar, levando ao isolamento social

(BORGES et al.,2006; CORDÁS, 2004).

A anorexia nervosa apresenta-se sob duas formas: restritiva e purgativa.

Quando ocorrem comportamentos restritivos em relação a dietas, o paciente é

classificado como anoréxico subtipo restritivo. O anoréxico do subtipo purgativo

apresenta comportamentos purgativos como vômito auto-induzido e uso de laxantes

e diuréticos (BORGES et al.,2006; CORDÁS, 2004).

A seguir apresentamos os critérios diagnósticos para a anorexia nervosa

segundo o DSM-IV-TR (2002) e CID-10 (OMS, 1993).

DSM-IV-TR (2002):

1. Recusa em manter o peso dentro ou acima do mínimo normal adequado à

idade e à altura; por exemplo, perda de peso, levando à manutenção do peso

corporal abaixo de 85% do esperado.

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2. Medo intenso do ganho de peso ou de se tornar gordo, mesmo com peso

inferior.

3. Perturbação no modo de vivenciar o peso, tamanho ou forma corporal;

excessiva influencia do peso ou na forma corporal na maneira de se auto-avaliar;

negação da gravidade do baixo peso.

4. No que diz respeito especificamente às mulheres, a ausência de pelo

menos três ciclos menstruais, quando é esperado ocorrer o contrário (amenorréia

primária ou secundária). Considera-se que uma mulher tem amenorréia se seus

períodos menstruais ocorrem somente após o uso de hormônios; por exemplo,

estrógeno administrativo.

Tipo:

− Restritivo: não há episódio de comer compulsivamente ou prática

purgativa (vomito auto-induzido, uso de laxantes, diuréticos, enemas).

− Purgativos: existe episodio de comer compulsivamente e/ou purgação.

Abaixo descreveremos os critérios diagnóstico para anorexia nervosa

segundo o CID 10.

CID-10

(a) Há perda de peso ou, em crianças, falta de ganho de peso; o peso

corporal é mantido pelo menos 15% abaixo do esperado.

(b) A perda de peso é auto-induzida pela evitação de “alimentos que

engordam”.

(c) Um transtorno endócrino generalizado envolvendo o eixo hipotalâmico-

hipofisário-gonadal é manifestado em mulheres com amenorréia e em

homens como uma perda de interesse e potência sexuais (uma exceção

aparente é a persistência de sangramentos vaginais em mulheres

anoréxicas que recebem terapia de reposição hormonal, mais comumente

tomada como uma pílula anticoncepcional).

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2.2 Quadro Clínico para Bulimia Nervosa:

O quadro clínico de bulimia nervosa inicia com uma preocupação exagerada

com o corpo. Mesmo estando com o peso normal, ou um pouco acima do peso

adequado, o paciente bulímico esta sempre querendo perder “uns quilos”, e sempre

com medo intenso de engordar. Assim como na anorexia, o bulímico passa a realizar

dietas com restrições de alimentos que possam engordá-lo (PHILLIPI, ALVARENGA,

2004).

Segue abaixo os critérios diagnósticos para a bulimia nervosa segundo o

DSM-IV-TR (2002) E CID-10 (OMS, 1993).

DSM-IV-TR (2002):

A. Episódios recorrentes de consumo alimentar compulsivo – episódios bulímicos –

tendo as seguintes características:

1. Ingestão em pequeno intervalo de tempo (isto é, aproximadamente em duas

horas) de uma quantidade de comida claramente maior do que a maioria das

pessoas comeria no mesmo tempo e nas mesmas circunstancias; e

2. sensação de perda de controle sobre o comportamento alimentar durante os

episódios (isto é, sensação de não conseguir parar de comer ou controlar o que e

quanto come).

B. Comportamentos compensatórios inapropriados para prevenir ganho de peso, como

vômito auto-induzido, abuso de laxantes, diuréticos ou outras drogas, dieta restrita ou

jejum ou, ainda, exercícios vigorosos.

C. Os episódios bulímicos e os comportamentos compensatórios ocorrem, em media,

duas vezes por semana, por pelo menos três meses.

D. A auto-avaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporal. O

distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa.

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Tipos:

− Purgativo: auto-indução de vômitos, uso indevido de laxantes e diuréticos,

enemas.

− Sem purgação: prática de exercícios, jejuns.

Abaixo descreveremos os critérios diagnóstico para bulimia nervosa segundo

o CID 10.

CID-10:

O paciente sucumbe a episódios de hiperfagia, nos quais grandes

quantidades de alimento são consumidas em curtos períodos de tempo (pelo menos

duas vezes por semana durante um período de três meses).

A. Preocupação persistente com o comer e um forte desejo ou um

sentimento de compulsão por comer.

B. O paciente tenta neutralizar os efeitos “de engordar” dos alimentos por

meio de vômitos auto-induzido; períodos de alternação de inanição; uso

de drogas, tais como anorexígenos, preparados tireóideanos ous

diuréticos. Quando a bulimia ocorre em pacientes diabéticos, eles podem

negligenciar seu tratamento insulínico.

C. Há uma auto-percepção de que se esta muito gordo, com pavor intenso

de engordar e com a prática de exercícios excessivos ou jejuns.

D. Os episódios bulímicos e os comportamentos compensatórios ocorrem,

em media, duas vezes por semana, por pelo menos três meses.

E. A auto-avaliação é inevitavelmente influenciada pela forma e pelo peso

corporal. O distúrbio não ocorre exclusivamente durante episódios de

anorexia nervosa.

Tipos:

− Purgativo: auto-indução de vômitos, uso indevido de laxantes e diuréticos,

enemas.

− Sem purgação: prática de exercícios excessivos, jejuns.

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As complicações clínicas decorrentes da BN estão relacionadas

principalmente ao distúrbio eletrolítico, já na anorexia nervosa as complicações são

decorrentes da própria desnutrição.

As complicações clinicas da AN descritas por Borges, Sicchieri, Ribeiro et al.

(2006) estão relacionadas ao sistema gastrointestinal,sistema cardiovascular, pele e

anexos,sistema renal e hematológico, sistema metabólico e reprodutivo , sistema

endocrinológico e outras alterações como intolerância ao frio, hipotermia,

convulsões, osteoporose, alterações inespecíficas ao eletroencefalograma.

Na BN as complicações clínicas estão relacionadas ao sistema

gastrointestinal e cardiovascular, pele e anexos, sistema reprodutivo,

endocrinológico e metabólico, e outras alterações como hipertrofia de glândulas

parótidas decorrentes dos vômitos, podendo ter aumento da fração de amilase

produzida no loca (PHILIPPI; ALVARENGA, 2004).

2.3 Contribuições de fatores psicológicos nos TA

Em relação à etiopatogenia, Morgan, Vecchiatti, Negrão (2002), afirmam não

existir uma etiologia única para os TAs. Esses autores propõem um modelo

multifatorial, com a contribuição de fatores predisponentes, precipitantes e os

mantenedores.

Conforme descrito por Borges et al. (2006) e Philippi e Alvarenga (2006), os

fatores de predisposição para a AN incluem: sexo feminino, baixa auto-estima,

histórico familiar de TA, perfeccionismo e dificuldades de expressar as emoções. Os

fatores precipitantes incluem: separação e perda, dieta, alterações na dinâmica

familiar, expectativas irreais na escola/trabalho/vida pessoal e proximidade da

menarca. Os fatores mantenedores incluem: distorções cognitivas, distorção da

imagem corporal, alterações neuroendócrinas e práticas purgativas. A figura abaixo

apresenta os aspectos psicológicos presentes nos transtornos alimentares:

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Figura 1. Fatores biopsicossociais envolvidos no desenvolvimento de TAs

A seguir descreveremos os principais aspectos psicológicos e sociais

presentes nos TAs.

Embora não exista um modelo que de conta de descrever como os aspectos

psicossociais contribuem para o desenvolvimento dos TAs, Herscovici (1997) afirma

que fatores socioculturais possuem grande influência no aumento da incidência de

TAs. Na cultura ocidental ter corpo magro está associado crença de ter sucesso, ser

atraente e ter auto controle. O padrão de beleza concebido e estipulado pelos meios

de comunicação é, na maioria das vezes, biologicamente impossível de se atingir,

tornando cada vez mais comum a insatisfação com a imagem corporal (MORGAN et

al., 2002) e cada vez maior o número de TA na sociedade.

O Brasil é um país caracterizado pela mistura de raças e visuais diferentes. O

modelo de beleza difundido no Brasil (loira, alta e magra) é um modelo de beleza

europeu, o que acaba sendo praticamente inalcançável pelas brasileiras. Essa

busca desenfreada por esse padrão de beleza pode ser percebida pelo fato do Brasil

ser o segundo país com o maior número de mulheres em busca de intervenções

estéticas (SBCP, 2009). Para entender como estes transtornos são desenvolvidos é

preciso entender o contexto no qual ele está inserido, começando pelas crianças e

adolescentes. As crianças são impostas a um meio em que as princesas dos contos

de fadas e as heroínas dos desenhos são mulheres lindas altas e magras, e as

bruxas e vilãs são feias, algumas gordas. Desde pequenas elas já aprendem que a

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beleza está relacionada a conquistas, sucesso. Outro exemplo é a boneca Barbie,

criada em 1958, febre de crianças e adolescentes. A boneca é dona de olhos claros,

cabelo comprido e loiro além é claro, de ser magra. A Barbie representa de certa

forma o estereótipo de beleza idealizado (SBCP, 2009). Esta exposição à perfeição

desde a infância faz com que as crianças cresçam acreditando que para serem

felizes bonitas e amadas precisam ser iguais as tais Barbies.

Na fase em que a personalidade das adolescentes está se formando, é que

ela começa a se sentir inadequada, pois percebe que a imposição deste padrão de

beleza não condiz com a realidade. Outro exemplo é o grande número de

adolescentes que buscam no mundo da moda uma maneira de serem aceitas pela

sociedade. Inspiradas por modelos magérrimas, estas adolescentes mudam

completamente sua rotina para alcançarem o corpo magro de determinada modelo.

Não alcançando seu objetivo elas param de comer, e acabam adoecendo.

Percebe-se que o padrão de beleza estipulado pelos meios de comunicação e

pelo convívio social tornam-se reforçadores sociais potentes para as mulheres. A

família, segundo (MORGAN, VECCHIATTI, NEGRÃO, 2002), também exerce reforço

social em adolescentes e adultas para se ter o corpo magro. Esses autores afirmam

que a mãe exerce papel importante na formação de opiniões de seus filhos em

relação à importância da aparência, da forma corporal e do peso.

Mães de pacientes com TA tendem a ser mais críticas e preocupadas com relação ao peso de suas filhas, incentivando-as a fazer dieta mais do que as mães de filhas sem TA. A pressão para perder peso exercida pela mãe é o principal fator preditivo de insatisfação corporal e do engajamento em estratégias para modificar o corpo em adolescentes de ambos os sexos (MORGAN, VECCHIATTI, NEGRÃO, 2002, p.20).

Segundo Cury (2005), desde cedo as adolescentes deixam de se sentir belas,

atraentes e passam a ser controladas pelo desejo asfixiante de serem o que não

são. Passarelas repletas de modelos altas e magérrimas criam expectativas irreais

nessas meninas que sonham em um dia serem iguais e brilhar no mundo da moda.

A conseqüência disso tudo, é o aumento de meninas insatisfeitas com sua imagem e

conseqüentemente o aumento da prevalência de transtornos alimentares. A anorexia

e a bulimia são as doenças dessa ditadura. Nesse sentido, o padrão de beleza em

vigor na sociedade pode ser reforçado no âmbito familiar, contribuindo assim para o

desenvolvimento dos TAs.

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O sexo feminino em geral é muito vulnerável à aceitação das pressões sociais, econômicas e culturais associadas aos padrões estéticos. A sociedade discrimina pessoas obesas. Perante esta situação muitas mulheres encontram-se insatisfeitas com seu corpo. O medo da obesidade faz com que um número cada vez maior de mulheres faça dietas, e controle neuroticamente seu peso corporal, exercite-se de maneira exaustiva e faça uso de laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas (FIATES e SALLES, 2001, p. 2).

Sendo assim, fica claro o impacto que o contexto sociocultural exerce sobre a

vida do individuo e seu papel fundamental no desenvolvimento de um transtorno

alimentar. Para Herscovici (1997), as influências socioculturais são tão claras que

não se pode reduzir a compreensão dos TA à análise de variáveis intrapsíquicas. Na

realidade, trata-se de um crisol em que confluem a cultura, a biologia, crenças,

aspectos comportamentais, psicológicos e familiares. Entretanto os fatores

intrapsíquicos também tem um papel importante no desenvolvimento dos TAs

Algumas pesquisas sugerem como fator de risco para os TAs, principalmente

para a BN, a puberdade precoce. A puberdade acarreta nas meninas adolescentes o

aumento da gordura corporal, e isso necessita de uma reorganização da imagem

corporal e pode reforçar as preocupações com o peso (MORGAN, VECCHIATTI,

NEGRÃO, 2002).

As modificações corporais geradas pela puberdade acontecem de forma

muito rápida no corpo das meninas, mas nem sempre as modificações emocionais

acompanham as físicas. As meninas passam a ter o corpo de uma mulher, e o

emocional continua como de uma adolescente. Frente às mudanças físicas,

emocionais, a supervalorização da sexualidade e de toda pressão social para

alcançar o corpo perfeito, nos deparamos com um número cada vez maior de

adolescentes vivendo um momento de fragilidade, solidão e com baixa auto-estima.

Em relação aos aspectos emocionais presentes nos TAs, alguns autores

afirmam que pacientes com AN apresentam baixa auto-estima, ansiedade alta,

pensamento do tipo “tudo ou nada”, perfeccionismo, incapacidade de ser feliz,

incapacidade de encontrar formas de satisfação e alto grau exigência (OLIVEIRA e

SANTOS, 2006).

Suponho que características como o perfeccionismo e o alto grau de

exigência podem ser desenvolvidas no seio familiar, através de padrões de

comportamento dos pais, e parece ser essencial para a submissão a um ideal de

beleza.

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Em relação à anorexia nervosa, a baixa auto-estima e a distorção da imagem

corporal teriam participação no desenvolvimento da doença (OLIVEIRA e SANTOS,

2006).

Para alguns autores, pacientes bulímicos apresentam auto-estima flutuante;

pensamentos e emoções desadaptativas; e atitudes caóticas em relação a hábitos

alimentares, estudos, vida profissional, e nas relações amorosas (OLIVEIRA e

SANTOS, 2006).

Embora não exista um modelo teórico que de conta de explicar qual o

principal fator desencadeante dos TAs, podemos perceber que fatores sociais,

culturais e psicológicos estão envolvidos na gênese da anorexia e da bulimia

nervosa. Dois fatores parecem ser fundamentais, a auto-estima e imagem corporal.

Pacientes anoréxicas percebem suas formas corporais destorcidas, maiores do que

realmente são. Frente ao modelo ideal de beleza imposto pela sociedade, pacientes

anoréxicas se percebem cada vez mais longe deste ideal e como conseqüência tem

sua auto-estima afetada, e uma visão distorcida de seu próprio corpo. Pacientes

bulímicas assim como as anoréxicas sentem-se inferiores e possuem baixa auto-

estima, no entanto, reconhece o absurdo do seu comportamento, o que não é

reconhecido pelas anoréxicas.

A história pré-mórbida de transtorno psiquiátrico, especialmente depressão, também é um fator de risco para os TA, particularmente para a BN. A AN parece estar associada a transtornos da ansiedade, enquanto a BN também ocorre com freqüência em indivíduos com dependências químicas (MORGAN, VECCHIATTI, NEGRÃO, 2002, p. 19)

Quanto aos aspectos de personalidade envolvidos no desenvolvimento de

TAs, Oliveira e Santos (2006) acreditam que o transtorno alimentar significaria uma

apresentação atípica de um transtorno obsessivo-compulsivo ou de um transtorno

afetivo.

Os aspectos de personalidade presentes na AN diferem de um subtipo para o

outro. Na anorexia nervosa do subtipo restritivo, as pacientes tendem a ser mais

perfeccionistas e obsessivas, enquanto na anorexia nervosa do subtipo purgativo, as

pacientes tendem a ser mais impulsivas. No entanto, pacientes tanto do subtipo

restritivo como do subtipo purgativo, tendem a apresentar uma série de

características psicológicas em comum, como baixa auto-estima, tendência a buscar

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aprovação externa, sentimento de desesperança, desenvolvimento insatisfatório

identidade, conflitos referentes às questões de autonomia versus independência e

hipersensibilidade à crítica (OLIVEIRA e SANTOS, 2006).

Desde os primeiros estudos sobre TA tem sido observado a presença de

transtornos afetivos em pacientes com TA. O transtorno afetivo mais freqüente em

mulheres com TA é a depressão maior; presente em 50 a 75% dos casos (PHILIPPI;

ALVARENGA, 2004). A relação entre os dois transtornos não esta esclarecida, o que

se sabe é que os sintomas afetivos manifestados em pacientes com TA podem estar

relacionados com o estado nutricional do paciente. Vale ressaltar que longos

períodos de inanição podem modificar o estado afetivo de uma pessoa, como, por

exemplo, falta de energia, disforia, sono interrompido, isolamento social, dificuldade

de concentração, perda da libido e do interesse em geral.

Pesquisas recentes apontam que o início precoce dos TAs estaria

relacionado com uma maior vulnerabilidade ao TOC (Transtorno Obsessivo

Compulsivo) ou até mesmo de doenças psiquiátricas em geral. Outro fator

importante é a prevalência de transtornos de personalidade em pacientes com TAs.

A presença destes transtornos em pessoas com TAs varia significativamente: na AN

o subtipo restritivo varia de 31 a 86,7%, na anorexia do subtipo purgativo varia de 70

a 94%, em pacientes bulímicos varia de 0 a 84,5% (PHILIPPI; ALVARENGA, 2004).

Segundo estes autores essas variações ocorrem devido à inconsistência

metodológica dos estudos. No entanto, muitos estudos mostram que certos traços

de personalidade são comuns a certos subtipos de pacientes. Em pacientes com BN

e AN do subtipo purgativo, é muito freqüente encontrar transtornos de personalidade

do tipo anti-social, histriônico e borderline, sendo o tipo borderline o mais estudado e

os transtornos de personalidade do tipo anti-social e histriônico os mais comuns. Já

na AN subtipo restritivo, é mais freqüente a presença de transtornos de

personalidade dos tipos obsessivo-compulsivo, esquiva e dependente.

Muitos pesquisadores relatam à presença de altos níveis de ansiedade

associado aos transtornos alimentares, sendo encontrado em 50% dos casos

(PHILIPPI; ALVARENGA, 2004). Entre os transtornos de ansiedade, os quadros

mais freqüentes entre pacientes com TA são a ansiedade generalizada, a fobia

social e os transtornos obsessivo-compulsivos. Pesquisas mostram que as taxas de

prevalência de transtornos de ansiedade em pacientes bulímicos variam de 36 a

56% dos casos, e apresentam-se em uma ordem de importância: fobia social,

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ansiedade generalizada, transtorno do pânico, TOC (transtorno obsessivo

compulsivo) e estresse pós-traumático. As pesquisas também mostram que os

transtornos de ansiedade apresentam-se como um grande fator de risco para o

desenvolvimento e evolução da anorexia nervosa e da bulimia nervosa.

Mesmo não tendo um consenso sobre a participação de transtornos de

ansiedade no desenvolvimento dos transtornos alimentares, podemos observar que

ela se faz presente em grande porcentagem de pacientes bulímicas e anoréxicas, o

que nos mostra que existe importante relação entre a ansiedade e os TAs. Na

anorexia nervosa, crenças, valores, cultura estão associados à imagem corporal, já

na bulimia nervosa a ansiedade esta relacionada à compulsão alimentar. Suponho

que o comportamento de comer compulsivamente possa ser uma tentativa da

paciente se libertar de um estado de ansiedade insuportável, o qual pode ser

gerado, por exemplo, desde um conflito afetivo até um conflito material, ou até

mesmo por um sentimento de frustração por não alcançar um objetivo. Assim o ato

de comer descontroladamente é tido pela paciente como uma forma de descarregar

a ansiedade, no entanto o sentimento de alivio é apenas momentâneo, e em seguida

surge o sentimento de culpa e arrependimento, e posteriormente a paciente induz o

vômito como forma de recompensa.

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3 MATERIAIS E METÓDOS

Este estudo pode ser caracterizado como um estudo quantitativo de corte

transversal, realizado em uma amostra de conveniência.

3.1 Sujeitos da amostra

A população alvo desta pesquisa consistiu de estudantes universitárias

regularmente matriculadas no curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí

(UNIVALI), e modelos da agência de modelos ID MODELS BALNEÁRIO

CAMBORIÚ.

A amostra foi composta por 108 acadêmicas do sexo feminino, com média de

idade de 23,53 (DP 6.76), e 33 modelos do sexo feminino, com média de idade

22,15 (DP 3,56), que se dispuseram voluntariamente a participar da pesquisa. Este

número foi obtido a partir do total de estudantes regularmente matriculados no curso

de Psicologia, Campus Itajaí no segundo semestre de 2009 e de modelos

agenciadas na agência de modelos de Balneário Camboriú. O tamanho da amostra

não foi calculada com a intenção de ser uma amostra representativa, mas sim com

um número de sujeitos que permitisse realizar uma análise fatorial dos testes.

3.2 Procedimentos para a coleta de dados

Os testes utilizados para a coleta de dados foi o EAT-26 (EATING

ATTITUDES TEST), BITE (BULIMIC INVESTIGATORY TEST) e o QCIC

(Questionário de crenças sobre imagem corporal).

O EAT-26 (EATING ATTITUDES TEST) (REF 16).é um instrumento que

avalia a presença comportamentos alimentares inadequados e propicia um índice de

gravidade de preocupações típicas entre pacientes com transtornos alimentares.

Este instrumento é comporto por 26 questões que descrevem sintomas de anorexia,

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podendo variar de 0 a 78 pontos.

O EAT-26 é composto por 26 questões, com seis opções de resposta:

sempre, muito freqüentemente, algumas vezes, raramente e nunca. Estes itens são

analisados de forma fatorial conforme três aspectos:

• Fator 1: Dieta – os 13 primeiros apontam recusa patológica às comidas de

alto teor calórico e preocupações com a forma física.

• Fator 2: Bulimia Nervosa: os 6 seguintes itens apontam atitudes bulímicas

e pensamentos sobre comidas.

• Fator 3: Controle oral: os últimos 7 itens reconhecem pressões sociais no

ambiente para ganhar peso e apontam o autocontrole em relação à

comida.

De forma geral escores maiores que 20 ou 21 pontos (BOSI et al.,2009) os no

EAT-26 é considerado positivo (EAT-26+), o que confirma a presença de atitudes

alimentares anormais e risco para o desenvolvimento de TCA.

O BITE (BULIMIC INVESTIGATORY TEST) (REF 23) avalia

predominantemente comportamentos bulímicos, como ingestão exagerada de

alimentos e os métodos purgativos utilizados para compensar estes episódios de

excessiva ingestão de alimentos. Este instrumento é constituído por 33 questões e

duas subescalas, onde uma é voltada para os sintomas e a outra para a gravidade

destes. (BOSI et al., 2009). A escala dos sintomas oferece três grupos de escores:

Alto (20 pontos ou mais) é um escore elevado com presença de comportamento

alimentar compulsivo; médio (10 a 19 pontos) sugere padrão alimentar não usual;

baixo (abaixo de 10 pontos) é considerado dentro dos limites da normalidade.

O QCIC (Questionário de crenças sobre imagem corporal) é composto por 14

questões de crenças associadas à Imagem Corporal. As questões foram

desenvolvidas com base na literatura e abordam aspectos relacionados à

depressão, controle do peso, imagem corporal e afeto, que estão relacionados aos

transtornos alimentares. Ao lado de cada questão encontra-se uma grade de

respostas, indicando o quanto a frase se aplica a pessoa nas duas últimas semanas,

são elas: não se aplica a mim, se aplica a mim às vezes, se aplica a mim geralmente

e se aplica a mim sempre ou na maior parte do tempo. Estas alternativas de

respostas variam de 0 a 3 pontos, sendo que a pontuação máxima pode ser 42

pontos.

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3.3 Procedimentos para analise de dados

Os dados obtidos pelos questionários foram analisados utilizando estatística

descritiva e inferencial (freqüência, média e desvio padrão) e teste t e Pearson para

a comparação entre as amostras, utilizando o programa estatístico SPSS-11.

3.4 Procedimentos éticos

A respectiva pesquisa foi conduzida e pautada nas resoluções estabelecidas

pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS 196/1996) e do Conselho Federal de

Psicologia (CFP 016/2000), que normatizam pesquisas envolvendo seres humanos

na área de saúde e em Psicologia.

Os participantes foram voluntários, foi utilizado um termo de consentimento

livre e esclarecido. Os participantes receberão a devolutiva com os resultados

obtidos. A devolutiva consistirá em esclarecer aos participantes os resultados

obtidos na pesquisa.

Esta pesquisa recebeu parecer favorável da Comissão de Ética em Pesquisa

da UNIVALI.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir apresentaremos os resultados obtidos na pesquisa, seguidos de uma

discussão fundamentada na literatura.

A amostra foi composta por 141 participantes, 108 universitárias do sexo

feminino, que tinham em média 22 anos, e 33 modelos do sexo feminino que tinham

em média 23 anos.

Tabela 1: Características da população pesquisada

Características sócio -demográficas da população

Modelos (n=33) Média – DP

Estudantes (n=106) Média – DP T P

Idade 22.15 – 3.56 23.53 – 6.76 1.53 0.12 Altura 172.30 – 2.74 164.86 – 6.34 -9.60 0.001 Peso atual 56.21 – 2.67 60.20 – 10.69 3.50 0.001 Peso máximo 60.62 – 5.02 65.57 – 14.81 2.89 0.004 Peso mínimo 53.51 – 3.96 52.97 – 7.25 -0.54 0.58 Peso ideal 54.18 – 2.24 55.93 – 6.71 2.30 0.23 T maior que 1.96 indica uma diferença estatisticamente significativa.

Com relação à distribuição etária, a população não apresentou diferenças

significativas de idade, ou seja, pode se entender que estamos pesquisando uma

população jovem em ambos os grupos. No tocante a altura as modelos apresentam

uma média de tamanho superior as estudantes (p=0.001). O peso atual das modelos

também é menor que o das estudantes (p=0.001), bem como o peso máximo

reportado por estas. No tocante ao peso mínimo e ao peso ideal esperado os grupos

não apresentam diferenças.

A média de índice de massa corporal (IMC) das universitárias foi 22,4 kg/m², e

das modelos 18 kg/m², o que indica que de forma geral, ambos os grupos

apresentam IMC normal, considerando que o padrão é entre 18 e 23 (OMS, 2005).

Percebesse que o índice de massa corporal das modelos é menor que o das

universitárias, o que é esperado pela atividade profissional que exercem.

Em um estudo realizado com 191 estudantes de educação física de uma

universidade pública no Rio de Janeiro, o IMC médio deste grupo de estudantes foi

21,3 kg/m², demonstrando que a maioria das alunas apresenta o IMC normal (BOSI,

et.al., 2008). O resultado do grupo de estudantes da Univali é semelhante ao desse

estudo, o que indica que de certa forma esse é um valor normal para essa

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população.

Com relação ao IMC das modelos, há uma inexistência de estudos com essa

população, mas podemos constatar que pela aparência dessas e pelas notícias

apresentadas na mídia sobre modelos com IMC muito abaixo, fica claro que a

população de modelos pesquisada apresenta um IMC superior ao padrão das

modelos em geral.

Embora as modelos sejam mais altas e mais magras e no tocante ao peso

mínimo não exista diferença entre os grupos, o peso ideal para ambos os grupos é o

mesmo, ou seja, ambos os grupos compartilham da mesma imagem ideal, do

mesmo padrão de beleza divulgado na mídia e vigente na sociedade (CURY, 2005).

Apesar do resultado da pesquisa afirmar que ambos os grupos entrevistados

apresentam o IMC considerado normal e saudável (entre 18 e 25 kg/m²), as

entrevistadas, principalmente as modelos relataram durante o preenchimento dos

questionários estarem insatisfeitas com os seus corpos e medidas.

Em relação ao IMC das modelos, a pesquisa apresentou resultados diferentes

do esperado, pois normalmente o que observamos em revistas, passarelas, e na

mídia em geral são modelos com o peso muito a baixo do esperado para sua altura,

ou seja, modelos muito magras.

Durante o período em que estive envolvida com a coleta de dados do grupo

das modelos, foi possível perceber que o padrão de beleza exigido para as modelos

de Santa Catarina difere de outros estados, como por exemplo, no estado de São

Paulo e Rio de Janeiro, onde as modelos apresentam-se muito magras.

As modelos entrevistadas relataram durante o preenchimento dos

questionários que sofrem com os profissionais das agências, pois eles exigem um

peso inferior ao que elas apresentam. A resposta para o resultado de um IMC

considerado normal, é que em Santa Catarina, diga-se em Balneário Camboriú e

região, o padrão de beleza para modelos fotográficos é diferente do padrão

apresentado pela mídia e pelas passarelas dos grandes centros da moda. O

mercado da moda de Santa Catarina é voltado para modelos com curvas, e não tão

altas. Já em São Paulo, as modelos para trabalharem têm de estar dentro de um

padrão mínimo de altura e peso. Os principais eventos e campanhas de moda

acontecem em São Paulo, sendo assim as modelos que são mostradas na mídia,são

modelos que apresentam o IMC abaixo do normal, e apresentam um padrão

totalmente diferente da maioria das mulheres brasileiras.

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Uma pesquisa realizada entre 140 modelos do sexo feminino maiores de 18

anos, na cidade de São Paulo, revelou que uma em cada quatro modelos apresenta

sintomas que pode levar a bulimia nervosa. A pesquisa aponta que a grande maioria

das entrevistadas estavam insatisfeita com a própria imagem, e gostariam de perder

no mínimo três quilo (DESTRO, 2009).

Em relação às universitárias, também foi possível observar durante a coleta

de dados, através de relatos informais, que a grande maioria apresentava-se

insatisfeita com sua imagem corporal. Em um estudo realizado sobre

comportamento alimentar e imagem corporal entre universitários de educação física

observaram-se que 78,25% da amostra encontravam-se insatisfeitos com a forma

corporal (GONÇALVES, BARBOSA E RODRIGUES, 2008). Isto nos mostra que a

cultura, a mídia e a sociedade exercem grande influência na auto-estima dos jovens,

pois eles passam a acreditar que para estarem bonitos e com o corpo “em dia”,

necessitam estar dentro dos padrões de beleza que costumamos ver nas passarelas

e nas revistas.

Tabela 2 – Estatísticas descritivas dos testes aplicados com população.

Questionário N Média DP T P

EAT-26 total – modelos

EAT-26 total – estudantes

33

108

23.18

8.85

11.99

9.15 -6.22 0.001

Bite total – modelos

Bite total – estudantes

33

108

12.21

8.27

4.40

5.63 -4.19 0.001

Bite gravidade – modelos

Bite gravidade - estudantes

33

108

6.53

5.21

4.42

3.28 -0.96 0.34

QCIC total – modelos

QCIC – estudantes

33

108

16.31

9.31

6.66

7.26 -5.06 0.001

T maior que 1.96 indica uma diferença estatisticamente significativa.

No tocante aos escores totais do teste EAT - 26 as modelos apresentam em

média escores significativamente maiores que as estudantes e positivos para

transtornos alimentares, considerando o ponto de corte maior que 21, o que não

aconteceu com as estudantes. Quando o escore total encontrado é maior que 21, o

EAT-26 é considerado positivo (EAT-26+), o que confirma a presença de atitudes

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alimentares anormais e risco para o desenvolvimento de TAs (BOSI et al, 2008).

A média de escores obtido pelas modelos no EAT-26 foi 23.18 pontos

(DP=11.9), enquanto as estudantes foi 8.85 pontos (DP=9.15). Os dados obtidos nos

mostram que o número de modelos com comportamentos de risco para o

desenvolvimento de TAs é muito maior que entre as estudantes de psicologia. Isto

nos mostra que as modelos apresentam maior preocupação com o corpo do que as

estudantes, isto ocorre pelo fato de conviverem em um meio onde para se estar em

evidencia é necessário estar com o peso muito baixo da média. Sendo assim para

alcançar o corpo ideal, para estar em evidencia, muitas delas adotam praticas

alimentares errôneas para perder peso, e muitas vezes acabam desenvolvendo

algum tipo de TAs.

Uma pesquisa realizada com estudantes de educação física de uma

universidade pública do Rio de Janeiro aponta que a média de pontuação para o

EAT-26 foi 11.2 pontos (DP=10.2) (BOSI et al, 2008). Ao comparar média de pontos

obtidos no EAT-26 entre as estudantes da presente pesquisa e estudantes do curso

de educação física do Rio de Janeiro, observamos que a diferença de pontuação é

de 2.35 pontos. Fica claro que os alunos de educação física apresentam maior

preocupação com a imagem corporal do que as alunas do curso de psicologia, o que

pode justificar essa pequena diferença. Pesquisas apontam que os TAs são mais

comuns em países desenvolvidos, entre mulheres jovens e em profissões em que há

maior exigência de um corpo magro, como modelos, bailarinas, atletas e

nutricionistas (APA, 2002; HERSCOVICI, 1997; MORGAN et al.,2002).

Posteriormente, na tabela 3 serão descritos os escores dos grupos segundo

os pontos de corte.

Considerando os escores médios do BITE e o ponto de corte de 10, que

indica limite de normalidade, os resultados médios das modelos apresentam-se na

faixa intermediaria de comportamento para transtorno alimentar (entre 10 e 20

pontos), que sugere padrão alimentar não usual, mas onde não estão presentes

todos os critérios que caracterizam a bulimia (Bosi et al., 2008 ). O mesmo

comportamento indicado pela média dos escores no BITE não foi observado com as

estudantes, que em média ficaram abaixo do ponto de corte (8.27 pontos), o que

sugere comportamento alimentar dentro dos limites da normalidade.

Ao comparar a média de dados obtidos no BITE pelas estudantes da presente

pesquisa com os dados obtidos em uma pesquisa realizada por BOSI et al.(2008),

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com estudantes de educação física, observamos que a diferença é pouca 0.37

pontos, demonstrando que ambos os grupos apresentam comportamento alimentar

dentro dos limites da normalidade.,

Posteriormente, na tabela 4, serão descritos os escores dos grupos segundo

os pontos de corte.

No tocante a escala de gravidade do BITE, ambos os grupos não

apresentaram escores significativamente diferentes, entretanto ambos os grupos

apresentam alguns sintomas de gravidade segundo o ponto de corte descrito por

Cordás e Hpchgraf (1993). Segundo esses autores a escala de gravidade do BITE é

constituída pelos itens 6, 7 e 27 do instrumento, e mede a gravidade do

comportamento compulsivo pela freqüência das atitudes, sendo analisados para os

casos em que a pontuação na escala dos sintomas é superior a 10, dividindo se em

três estágios: alto (escore maior ou igual a 10 pontos) indicam alto grau de

gravidade, podendo apontar a presença de vômito psicogênico ou abuso de laxantes

sem comportamento compulsivo; moderado (entre 5 e 9 pontos) são considerados

clinicamente significativo; baixo (até 5 pontos) resultado clinicamente não

significativo

Em relação à escala de gravidade do BITE, as modelos apresentaram valores

significativos 6.53 pontos (DP=4.42), e as estudantes apresentaram 5.21 pontos

(DP=3.28). Ambos os grupos apresentaram pontuação moderada (5 a 9

pontos),sugerindo a presença de sintomas considerados clinicamente significativos

para bulimia nervosa, e que devem ser melhor investigados (BOSI et al.,2008).

Estes dados serão posteriormente explorados na tabela 4b.

Nos escores do questionário que avalia crenças sobre a imagem corporal, as

modelos apresentam escores significativamente mais altos (16.31 pontos), o que

indica a presença de mais crenças referentes à importância ou preocupação com a

imagem corporal.

Posteriormente na tabela 5 descreveremos as crenças que apareceram com

mais freqüência.

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Tabela 3: Escores das modelos e estudantes segundo pontos de corte do EAT-26

Pontos de corte do questionário EAT Até 20 pontos > que 21 pontos N

Estudantes 91 14 (13.3%) 105

Modelos 12 20 (62.5%) 32

Pearson= 31.77 p=0.001

Os resultados do EAT segundo o ponto de corte para diagnóstico de anorexia

nervosa indicam que o número de modelos com escores que indicam que há

presença de desse transtorno alimentar é bastante superior (62.5%) ao de alunas do

curso de psicologia (13.3%). Entretanto, considerando o grau de prevalência descrito

na literatura, 3,5% da população feminina (BOSI e OLIVEIRA, 2004), ambos os

grupos possuem uma alta prevalência do transtorno, o que deveria ser confirmado

por uma entrevista e não apenas diagnosticado a partir dos resultados do EAT,

embora este seja uma boa medida de triagem (BOSI et al.,2008) pelo fato de poder

localizar grupos de risco para o desenvolvimento de AN.

A prevalência dos TCA é ainda mais elevada em pessoas que exercem determinadas atividades (modelos, bailarinas, atletas e profissionais da área da saúde), provavelmente mais vulneráveis aos TCA pelo fato de sofrerem, mais intensamente, pressões associadas a padrões estéticos, às quais se responde por meio da exibição de um corpo magro (BOSI et al., 2008).

São bastante significativos os escores obtidos em relação à presença de

transtornos alimentares no grupo de modelos, pois 62.5% (20 meninas)

apresentaram pontuação >21, um número alto para uma amostra de 33 modelos.

Isso nos remete a idéia de que realmente pessoas que exercem atividades onde o

corpo é o instrumento de trabalho têm maior preocupação com o peso e a imagem

corporal, e geralmente adotam atitudes errôneas para alcançar o peso desejado.

A presença de TA segundo este ponto de corte também é observado nas

estudantes, mas em menor freqüência, pois 13.3% (14 meninas) do total de 108

estudantes apresentaram escore total >21, o que confirma a presença de atitudes

anormais e risco para o desenvolvimento AN.

Em uma pesquisa semelhante, realizada com estudantes da Universidade

Federal de Santa Catarina (UFSC) matriculadas no curso de nutrição (n=114) e em

estudantes matriculadas em cursos desvinculados da área da Saúde (n=107)

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29

apresentaram resultados significativos. No grupo de estudantes de nutrição, 29

(25.43%) apresentaram escores >21, e no grupo de estudantes de cursos

desvinculados da área da Saúde, 20 (18.69%) apresentaram escores >21 (FIATES e

SALLES, 2001).

Ao comparar a presente pesquisa com a pesquisa realizada por Salles (2001),

é possível notar que os resultados obtidos pelas estudantes do curso de nutrição e

de outros cursos desvinculados da área da Saúde são mais significativos que os

resultados obtidos pelas estudantes do curso de psicologia. Entre as estudantes de

nutrição (n=114), 29 meninas apresentaram escores >21 e entre estudantes de

cursos desvinculados da área da Saúde (n=107), 20 meninas apresentaram escores

>21. Já entre as estudantes de psicologia (n=105), 14 meninas apresentaram

escores >21.

No entanto, se compararmos os resultados obtidos no estudo realizado por

Salles (2001) e os resultados obtidos pela amostra de modelos, podemos observar o

quão preocupante são os dados obtidos pelas modelos. Entre 32 modelos, 62,5%

apresentaram escores >21, ou seja, 20 meninas apresentam EAT-26+, um número

muito significativo para uma amostra total de 32 modelos.

De acordo com os resultados obtidos, observou-se que entre as modelos, a

probabilidade de desenvolver algum tipo de transtorno alimentar é maior que entre

as estudantes de psicologia. A probabilidade de desenvolver algum tipo de

transtorno alimentar é maior entre as modelos, devido ao fato de muitas delas

buscarem no mundo da moda uma maneira de serem aceitas pela sociedade. Muitas

delas inspiram-se nas modelos magérrimas que aparecem na mídia,e acabam

mudando completamente sua rotina para alcançarem o corpo magérrimo de

determinada modelo, e para manterem o peso exigido pela agencia para continuar

trabalhando.

Segundo Cury (2005), desde cedo as adolescentes deixam de se sentir belas,

atraentes e passam a ser controladas pelo desejo asfixiante de serem o que não

são. Passarelas repletas de modelos altas e magérrimas criam expectativas irreais

nessas meninas que sonham em um dia serem iguais e brilhar no mundo da moda.

A conseqüência disso tudo, é o aumento de meninas insatisfeitas com sua imagem e

conseqüentemente o aumento da prevalência de transtornos alimentares.

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Tabela 4a: Escores das modelos e estudantes segundo pontos de corte do BITE

Pontos de corte do questionário Bite Até 9 pontos Entre 10 e 19

pontos > que 20 pontos N

Estudantes 37 35 36 (33%) 108

Modelos 3 6 24 (72%) 33

Pearson= 16.62 p=0.001

Considerando o ponto de corte de 20 pontos proposto por (BOSI et al., 2008)

como um critério diagnóstico para a presença de bulimia nervosa, que indica a

presença de comportamento alimentar compulsivo e uma grande possibilidade de

preencher o critério diagnóstico para Bulimia Nervosa, pode-se observar que a

proporção de modelos com escores altos é bastante superior e estatisticamente

significativa a de alunas de psicologia, pois 72% (24 meninas) do grupo de modelos

apresentaram pontuação >20. Embora o número também seja grande entre alunas

de psicologia, 33% (36 meninas).

Ao relacionar a média de escores obtidos pelas modelos em relação ao EAT+

e ao BITE, é possível observar que a porcentagem é alta em ambos os

questionários, sendo que 62.5% (20 participantes) apresentaram escores >21 para o

EAT+, e 72% (24 participantes) apresentaram escores >20 para o BITE. Dados

como este são de suma importância, uma vez que 24 modelos da amostra total

(n=33) apresentam algum tipo de transtorno alimentar.

As estudantes apresentaram resultados diferentes das modelos, com um

menor núemro de casos mas uma prevalência também alta, os escores totais do

EAT+ e do BITE, sendo 14 (13.3%) apresentam escore total >21pontos no EAT +, e

já no BITE 36 (33%) apresentam escore total >20 pontos.

Em outro estudo realizado por Bosi e Oliveira (2004), com 17 atletas

corredoras de fundo, registradas na Federação de Atletismo do Rio de Janeiro, foi

investigada a prevalência de comportamentos bulímicos e sua intensidade entre as

atletas. Os resultados demonstram que 5.9% das atletas apresentam

comportamento alimentar compulsivo.

Levando em consideração os resultados obtidos no BITE, podemos afirmar

que entre a amostra de modelos, bem como na de estudantes é maior a presença

de comportamento alimentar compulsivo e maior a tendência desenvolver bulimia

nervosa se comparado com os resultados obtidos pela amostra das estudantes.

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Tabela 4b. Escores das modelos e estudantes segundo pontos de corte da escala de gravidade do Bite

Pontos de corte da escala de grav idade do

questionário Bite Até 5 pontos Entre 5 e 9 pontos > que 10 pontos N

Estudantes 21 4 3 (11%) 28

Modelos 7 4 2 (15%) 13

Pearson= 1.98 p=0.38

A escala de gravidade é composta pelos itens 6, 7 e 27 do questionário BITE

e indicam a gravidade dos sintomas, portanto é uma informação complementar em

geral usada quando os resultados do testes como um todo são altos. Nos sujeitos

que participaram da pesquisa houve um número bastante reduzido de questionário

(29%) onde os sujeitos endossaram estes itens. Considerando o ponto de corte de

10 pontos proposto por Bosi, et al.(2008) como um critério diagnóstico para a

gravidade da bulimia, que indica a presença de vômito psicogênico, ou abuso de

laxante sem comportamento compulsivo, e que deve ser investigado. Pode se

observar que a proporção de modelos e estudantes com escores altos não é

estatisticamente diferentes. O que sugere que a gravidade desse quadro não difere

entre os grupos.

Em relação às estudantes (n=28), 21 meninas estão dentro dos limites

normais, 4 apresentam valores significantes e 3 (11%) mostram intensa gravidade,

ou seja, 3 estudantes apontam a presença de vômito psicogênico ou abuso de

laxante sem comportamento compulsivo. No grupo das modelos (n=13), 7 meninas

estão dentro dos limites normais, 4 apresentam valores significantes e 2 (15)%

indicam alto grau de gravidade. Ao comparar os escores obtidos entre os dois

grupos da amostra, podemos constatar que com relação a gravidade dos sintomas

as modelos as estudantes apresentam uma freqüência semelhante.

Numa amostra de 191 estudantes de educação física, 9 (4.7%) apresentavam

valores significativos e 3 (1.6%) mostraram intensa gravidade (BOSI et al.,2008).

Silva (2008), realizou uma pesquisa com 155 alunos do curso de nutrição, sendo

147 do sexo feminino e 8 do sexo masculino. Entre as 147 meninas, 12% (17

meninas) apresentavam valores significativos, e 18% (27 meninas) mostraram

intensa gravidade. Ao relacionar as duas pesquisas, é possível notar que estudantes

de nutrição apresentam valores mais significativos em relação à escala de gravidade

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do BITE, 18% apresentaram intensa gravidade, e apenas 1.6% das estudantes de

educação física apresentaram intensa gravidade.

Pesquisas apontam que os TAs são mais comuns em países desenvolvidos,

entre mulheres jovens e em profissões em que há maior exigência de um corpo

magro, como modelos, bailarinas, atletas e nutricionistas (APA, 2002; HERSCOVICI,

1997; MORGAN et al.,2002).

Os resultados desses estudos corroboram de certa forma os resultados

estudados em ambos os grupos investigados nessa pesquisa.

Tabela 5. Descrição das crenças referentes à imagem corporal e comparação entre grupos

Itens Média dos escores em estudantes

Média dos escores em modelos

1.Passo a maior parte do dia triste 0.60 0.93

2. Como muito, não consigo controlar meu peso. 0.50 0.72

3.Passo a maior parte do dia preocupada com meu peso.

0.49 1.42*

4.As pessoas me admiram quando estou magra. 1.09 1.90*

5.Quando alguém que não conheço me olha é porque deve achar que estou gorda.

0.37 0.87*

6.Meus pais me criticam quando estou acima do meu peso. 0.60 0.79

7.Ou me controlo completamente ou fico totalmente descontrolada e não paro de comer.

0.37 0.45

8.Sinto-me culpada quando estou à cima do meu peso.

0.93 2.24*

9.Comi um pouco demais nos últimos dias, meu regime foi por água à baixo.

0.60 1.34*

10.Costumo ser uma pessoa muito organizada. 1.37 1.39

11.Vivo fazendo regime mas sempre estou acima do meu peso ideal.

0.47 1.21*

12.Tenho dificuldades em expressar meus sentimentos.

0.85 1.00

13.Já comi pouco hoje, amanhã comerei menos. 0.22 0.48

14.Nunca posso ter uma caixa de chocolate em casa.

0.76 1.45*

* diferenças significativas p=0.001

Considerando que nesse teste a pontuação máxima em um item poderia ser

3, estamos apresentado as médias por item entre os grupos, para poder assim

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interpretar os itens onde ambos os grupos tiverem uma lata pontuação e quais as

diferenças entre grupos.

De acordo com a Tabela 5, podemos observar que entre o grupo das

modelos, o item 8 (sinto-me culpada quando estou à cima do meu peso) foi o que

obteve o maior escore, 2.24 pontos, já as estudantes apresentaram 0.93 pontos.

Muitas das meninas inseridas no mundo da moda inspiram-se em modelos

magérrimas, e acreditam que para fazer sucesso é necessário ter o corpo tão magro

quanto da determinada modelo inspiradora. E quando se encontram um pouco

acima do peso sentem-se culpadas. Vale ressaltar, que o medo intenso de engordar

é uma característica comum entre a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

Segundo Fiates e Salles (2001) o sexo feminino é muito mais vulnerável as

pressões sociais, econômicas e culturais associadas aos padrões estéticos. Muitas

mulheres encontram-se insatisfeitas com o seu corpo, pelo fato da sociedade rejeitar

e discriminar pessoas obesas.

Ambos os grupos da amostra apresentaram escores semelhantes no item 10

(costumo ser uma pessoa muito organizada), as estudantes apresentaram 1.37

pontos e as modelos 1.39 pontos. A elaboração desse item visava contemplar o

caráter obsessivo compulsivo descrito na literatura como associado aos TAs

(PHILIPPI; ALVARENGA, 2004), o que de certo forma parece ser presente nas

modelos, e que parece estar mais associado ao transtorno. Talvez o controle

alimentar se torne uma prática que reflita também este aspecto.

Em relação ao item 3 (as pessoas me admiram quando estou magra), as

modelos apresentaram escores significativos em relação as estudantes, 1.42 pontos,

as quais apresentaram 0.49 pontos.

Borges et al. (2006) e Philippi Alvarenga (2006) descrevem os fatores de

predisposição para os TAs, como por exemplo baixa auto-estima e sexo feminino, e

os fatores precipitantes, como por exemplo, expectativas irreais na escola, trabalho e

vida pessoal. Em relação à amostra, as meninas além de viverem uma cultura em

que ter o corpo magro esta associado à crença de ter sucesso, ser atraente e ter

auto controle (MORGAN et al., 2002), também convivem com passarelas repletas de

modelos altas e magérrimas, resultando assim o surgimento de expectativas irreais

de que para serem aceitas e admiradas pela sociedade precisam estar magras.

De acordo com Oliveira e Santos (2006), pacientes anoréxicas, tanto do

subtipo purgativo como do restritivo, tendem a apresentar uma série de

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características psicológicas em comum, sendo uma delas a tendência a buscar

aprovação externa. Dessa forma, com base na literatura e nos resultados obtidos no

item 4, podemos afirmar entre as modelos a crença de que para ser admirada pela

sociedade é necessário estar magra, é maior que no grupo das estudantes.

Como pode ser observado no item 14 (nunca posso ter uma caixa de

chocolate em casa), novamente as modelos apresentam escores mais altos (1.45

pontos) do que as estudantes (0.76 pontos). Podemos relacionar estes dados com a

literatura, que aponto como um dos critérios diagnóstico para a bulimia, a sensação

de perda de controle sobre o comportamento alimentar (DSM-IV-TR, 2002), neste

caso podemos afirmar que algumas das modelos e das estudantes optam por não

ter chocolates em casa pelo fato de não terem controle sobre o comportamento

alimentar.

Em relação aos aspectos emocionais presentes nos TAs, alguns autores

afirmam que pacientes com anorexia nervosa apresentam baixa auto estima,

pensamento do tipo “tudo ou nada”, perfeccionismo, incapacidade de ser feliz,

incapacidade de encontrar formas de satisfação, alto grau de exigência e ansiedade

alta (OLIVEIRA e SANTOS, 2006). Suponho que os escores obtidos no item 14

podem estar diretamente ligados a alguns dos aspectos emocionais mencionados

anteriormente, como por exemplo, pensamentos extremistas (“tudo ou nada”) e alta

ansiedade, onde grande parte da amostra prefere não ter uma caixa de chocolate

em casa, que poderia ser consumida aos poucos, para não arriscar em um momento

de ansiedade consumir a caixa inteira em poucos minutos.

De acordo com a média de escores obtidos no item 3, o grupo das modelos

ocupam mais tempo do seu dia preocupando-se com seu peso em relação ao grupo

das estudantes. Percebe-se que os dados obtidos nesse item são coerentes com a

literatura, a qual aponta que muitas mulheres, insatisfeitas com seu corpo e com

medo intenso de engordar, ocupam grande parte do seu dia com academias, dietas

e clinicas de estética.

O sexo feminino em geral é muito vulnerável à aceitação das pressões sociais, econômicas e culturais associadas aos padrões estéticos. A sociedade discrimina pessoas obesas. Perante esta situação muitas mulheres encontram-se insatisfeitas com seu corpo. O medo da obesidade faz com que um número cada vez maior de mulheres faça dietas, e controle neuroticamente seu peso corporal, exercite-se de maneira exaustiva e faça uso de laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas (FIATES e SALLES, 2001, p. 2).

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A maioria das modelos relatou que vive fazendo regime e que geralmente

estão acima do seu peso ideal (item 11). Segundo Claudino e Borges (2002), a AN e

a BN apresentam alguns sintomas em comum, como medo patológico de engordar,

preocupação excessiva com o peso, busca constante pela magreza, e distorção da

imagem corporal, resultando em rígidas dietas e uso abusivo de métodos

inapropriados para obter o corpo desejado. Dessa forma, podemos supor que esse

sintoma descrito pelo item consegue refletir e captar o fato de muitas modelos

viverem fazendo regime e acreditarem que estão sempre acima do peso.

As modelos também apresentam diferença significativa em relação aos

escores obtidos no item 5 (quando alguém que não conheço me olha é por que deve

achar que estou acima do peso). Nesse sentido pode se inferir que a percepção de

si ou a auto-estima das modelos passa ou é freqüentemente centrada no

reconhecimento.

Dentre todos os itens da tabela, podemos observar que as estudantes

apresentam escore mais alto no item 10 (costumo ser uma pessoa muito

organizada), enquanto as modelos apresentam no item 8 (sinto-me culpada quando

estou à cima do meu peso). No entanto, as modelos apresentam escores

semelhantes com as estudantes no item 10.

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5 CONSIDERAÇOES FINAIS

Os transtornos alimentares acometem na sua grande maioria mulheres; sua

prevalência é 3-5%, e pode ser dividido em duas categorias principais: Anorexia

Nervosa (AN) e Bulimia Nervosa (BN), e o seu diagnostico exige entrevista clínica, o

que torna mais difícil avaliar os grupos. A prevalência de BN é em torno de 1 a 4%

da população, e há um maior acometimento em mulheres (90%) do que em homens

(10%) (PHILIPPI e ALVARENGA, 2004). Segundo a APA (2003), a prevalência de

mulheres jovens que possuem os sintomas de AN,mas que não apresentam os

critérios diagnóstico, chega aproximadamente a 5%.

TAs são doenças de caráter multidimensional,uma vez que aspectos

biopsicossoais estão envolvidos na sua etiologia. Podemos destacar a participação

de predisposições genéticas, socioculturais e vulnerabilidades biológicas e

psicológicas. O impacto sócio-econômico e psicossocial destes transtornos também

é grande o que justifica a necessidade da realização de mais estudo que tentem

compreender os diversos aspectos envolvidos nesses transtornos.

Dada a relevância desse problema e a participação de aspectos

biopsicossociais o presente trabalho teve por objetivo identificar a prevalência de TA

em universitários do curso de Psicologia da UNIVALI e modelos de uma agência de

modelos de Balneário Camboriú, e descrever as crenças associadas à TA em

diferentes grupos.

Os resultados obtidos na presente pesquisas sugerem que os transtornos

alimentares são mais comuns entre as modelos do que nas estudantes do curso de

psicologia. Da amostra total de modelos, utilizando EAT como instrumento

diagnóstico, 20 meninas apresentam escores positivos para o diagnóstico de

anorexia nervosa, ou seja, sua prevalência é de 62.5%. Enquanto entre as

estudantes de psicologia a prevalência é de 13.3% (14 participantes).

O percentual encontrado, de 62.5% de modelos com EAT+, é considerado

preocupante, uma vez que o percentual encontrado na população em geral é em

torno de 5%. Entre as estudantes o percentual encontrado também é significativo

13.3%. Ambos os grupos possuem uma lata prevalência quando comparado com a

prevalência descrita no DSM-IV-TR e outros estudos.

No tocante a presença de bulimia nervosa, é possível observar que o

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percentual apresentado pelas modelos (72%) no BITE é estatisticamente mais

significativo que em estudantes (33%). Entretanto considerando a escala de

gravidade do BITE este percentual é de 11% para estudantes e 15% para modelos.

Estes níveis de prevalência também são superiores ao descritos pela literatura (1 a

4%). Sendo assim considerando o ponto de corte podemos perceber que as

modelos são mais acometidas por esse transtorno do que as estudantes, porém no

tocante a gravidade ambos os grupos possuem números semelhantes.

Os resultados obtidos pelas estudantes podem estar relacionados com o ritmo

de vida sobrecarregado que levam e com o padrão de beleza estipulado pela

sociedade, e em relação às modelos podemos relacionar com o padrão de corpo

exigido pelo mercado de trabalho, que muitas vezes torna-se biologicamente

impossível de se atingir.

Quando comparamos os dados referentes aos aspectos biológicos e crenças

sobre imagem, os grupos apresentam idades semelhantes (estudantes 23.53 e

modelos 22.15) o que de certa forma permite compará-las. As modelos são mais

altas (aproximadamente 1.73 m), apresentam um peso inferior (56 kg), entretanto

quando solicitadas sobre o peso ideal, ambos os grupos referem valores

semelhantes (aproximadamente 55 kg). O que sugere conforme a literatura que as

crenças referentes à imagem corporal, como por exemplo, a associação de corpo

magro com sucesso, é compartilhada por ambos os grupos, o que de certa forma é

inadequado.

A literatura nos mostra que a principal característica em comum entre

anorexia nervosa e bulimia nervosa é a distorção da imagem corporal, a qual teve

destaque nos resultados obtidos na presente pesquisa. Tanto as modelos como as

estudantes apresentaram escores altos nos itens relacionados à imagem corporal.

Vale ressaltar que em todos os itens do QCIC as modelos apresentam escores mais

significativos que as estudantes.

Limitações do estudo (não foi possível realizar análises mais sofisticadas para

relacionar os escores às crenças. Além disso, embora a amostra pesquisada seja

relativamente boa, o número de participantes (120) não permite generalizarmos

esses achados a outras populações.

Os resultados encontrados de forma geral confirmam uma alta prevalência de

Tas em ambos os grupos, de uma forma superior a reportada na literatura. A

presença de diversas crenças sobre imagem corporal e controle também se

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mostraram presentes em ambos os grupos, mas com uma freqüência maior nas

modelos, que também apresentaram uma maior prevalência de Tas, confirmando de

certa forma a relação entre crenças e TAs.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa intitulada “A

Prevalência de Transtornos Alimentares em diferentes grupos” cujo objetivo geral é:

Descrever comportamentos alimentares em diferentes grupos.

Sua colaboração consistirá em responder alguns questionários

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:

a) Seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, garantindo seu anonimato;

b) Os resultados da pesquisa serão utilizados somente para fins acadêmicos,

podendo ser publicados em revistas especializadas, porém, como explicitado no

item (a), seus dados serão mantidos no anonimato;

c) Não há respostas certas ou erradas, o que importa é sua opinião;

d) Você poderá interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já

tenha iniciado, bastando, para tanto, comunicar a pesquisadora;

e) Visto que sua participação é voluntária, você não terá direito a remuneração;

f) Durante a participação, se houver alguma reclamação do ponto de vista ético,

você poderá contatar o responsável por esta pesquisa.

g) Os resultados da pesquisa serão apresentados aos participantes na semana do

TCC e será dada uma devolutiva aos participantes interessados na agência de

modelos.

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IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO

Eu, ____________________________________________________, declaro estar

ciente dos propósitos da pesquisa, da maneira como será realizada e no que

consiste minha participação. Diante dessas informações, aceito participar da

pesquisa.

Assinatura:_________________________________ RG:_____________________

Pesquisador responsável: Jamir Sardá Júnior (CRP 12/1554) Assinatura:

Acadêmica: Samara Rabel Dilli Assinatura:

UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia Rua Uruguai, 438 –Bloco 25B – sala 401

Fone: (47) 3341-7542 E-mail: [email protected]

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QUESTIONÁRIO DE CRENÇAS SOBRE IMAGEM CORPORAL

Nome/Iniciais: Data:

Por favor, leia cada frase abaixo e circule um número (0,1,2 ou 3) que indica o

quanto esta frase se aplica a você nas últimas duas semanas. Não existem respostas certas

ou erradas. Por favor, não gaste muito tempo em cada frase.

Não se aplica a mim

(0)

Se aplica a mim as vezes

(1)

Se aplica a mim geralmente

(2)

Se aplica a mim sempre ou na maior

parte do tempo (3)

1.Passo a maior parte do dia triste

(0) (1) (2) (3)

2. Como muito, não consigo controlar meu peso.

(0) (1) (2) (3)

3.Passo a maior parte do dia preocupada com meu peso.

(0) (1) (2) (3)

4.As pessoas me admiram quando estou magra.

(0) (1) (2) (3)

5.Quando alguém que não conheço me olha é porque deve achar que estou gorda.

(0) (1) (2) (3)

6.Meus pais me criticam quando estou acima do meu peso.

(0) (1) (2) (3)

7.Ou me controlo completamente ou fico totalmente descontrolada e não paro de comer.

(0) (1) (2) (3)

8.Sinto-me culpada quando estou à cima do meu peso.

(0) (1) (2) (3)

9.Comi um pouco demais nos últimos dias, meu regime foi por água à baixo.

(0) (1) (2) (3)

10.Costumo ser uma pessoa muito organizada.

(0) (1) (2) (3)

11.Vivo fazendo regime mas sempre estou acima do meu peso ideal.

(0) (1) (2) (3)

12.Tenho dificuldades em expressar meus sentimentos.

(0) (1) (2) (3)

13.Já comi pouco hoje, amanhã comerei menos.

(0) (1) (2) (3)

14.Nunca posso ter uma caixa de chocolate em casa.

(0) (1) (2) (3)

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ANEXOS

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