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A ausência de alguma forma de fazer política para substituir o chamado velho modelo é a principal marca dos 100 pri- meiros dias do governo de Jair Bolsonaro. O presidente da República foi eleito com a bandeira de uma ruptura na relação estabelecida entre Executivo e Legisla- tivo, mas não encontrou ainda as bases em que deve ancorar o próprio modo de fazer ponto. Um ponto, que no balanço geral, não exclui a importância dos acer- tos do governo na economia no período, por exemplo, enviando ao Congresso um texto de reforma da Previdência robusto. O diagnóstico, no entanto, é de que o vácuo na política leva a um me- nor poder de tração do governo para empurrar a Nova Previdência no Congresso, projeto prioritário do go- verno e sem o qual ficará mais difí- cil cumprir outros compromissos de Bolsonaro com os eleitores. Se não há convicção do presidente da Repú- blica, nem um modelo fluido de rela- ção entre Planalto e Câmara, como a reforma pode andar? Nos últimos episódios dessa novela de 100 dias, Bol- sonaro recuou de críticas aos políticos, buscou contato e deu sinais de que pro- cura por de pé um modelo de articulação eficiente. Por essas idas e vindas, per- manece o clima de desconfiança sobre o governo e, como escrevemos desde o início do ano, sobre como serão tratados os deputados uma vez aprovada a refor- ma da Previdência. O que está em curso no Congresso é uma tentativa de enfraquecer o governo a ponto de que Bolsonaro não tenha mais tanto espaço para atropelar deputados e senadores na saída da Previdência, de- monstrando que o governo não terá tudo o que quer tão fácil. O orçamento impo- sitivo para bancadas estaduais é parte disso. Uma espécie de garantia de que o próprio Congresso controlará não só a agenda, mas também o cofre. Nesta semana, recebemos na pri- meira conferência da XP Investi- mentos, em Nova York, entre outras autoridades, o ministro Paulo Gue- des e o presidente da Câmara, depu- tado Rodrigo Maia. Ambos partem de um mesmo ponto para explicar aos in- vestidores parte dos problemas que ve- mos hoje: não se sabe ainda o que será a nova política, mas é possível inferir o que ela não é. O ministro da Economia se diz otimista e afirma que a “velha po- Luis Macedo/Câmara dos Deputados 14 de abril de 2019 Relatório elabora- do pela equipe XP Política A política na semana > Congresso trabalha para demonstrar força diante do governo, que ainda procura um formato para a articulação política em busca da aprovação da Nova Previdência XP POLÍTICA

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Page 1: A política na semana - XP Investimentos · 2019. 6. 13. · geral, não exclui a importância dos acer - tos do governo na economia no período, por exemplo, enviando ao Congresso

XP POLÍTICA

A ausência de alguma forma de fazer política para substituir o chamado velho modelo é a principal marca dos 100 pri-meiros dias do governo de Jair Bolsonaro. O presidente da República foi eleito com a bandeira de uma ruptura na relação estabelecida entre Executivo e Legisla-tivo, mas não encontrou ainda as bases em que deve ancorar o próprio modo de fazer ponto. Um ponto, que no balanço geral, não exclui a importância dos acer-tos do governo na economia no período, por exemplo, enviando ao Congresso um texto de reforma da Previdência robusto.

O diagnóstico, no entanto, é de que o vácuo na política leva a um me-nor poder de tração do governo para empurrar a Nova Previdência no Congresso, projeto prioritário do go-verno e sem o qual ficará mais difí-cil cumprir outros compromissos de Bolsonaro com os eleitores. Se não há convicção do presidente da Repú-blica, nem um modelo fluido de rela-ção entre Planalto e Câmara, como a reforma pode andar? Nos últimos episódios dessa novela de 100 dias, Bol-sonaro recuou de críticas aos políticos, buscou contato e deu sinais de que pro-cura por de pé um modelo de articulação

eficiente. Por essas idas e vindas, per-manece o clima de desconfiança sobre o governo e, como escrevemos desde o início do ano, sobre como serão tratados os deputados uma vez aprovada a refor-ma da Previdência.

O que está em curso no Congresso é uma tentativa de enfraquecer o governo a ponto de que Bolsonaro não tenha mais tanto espaço para atropelar deputados e senadores na saída da Previdência, de-monstrando que o governo não terá tudo o que quer tão fácil. O orçamento impo-sitivo para bancadas estaduais é parte disso. Uma espécie de garantia de que o próprio Congresso controlará não só a agenda, mas também o cofre.

Nesta semana, recebemos na pri-meira conferência da XP Investi-mentos, em Nova York, entre outras autoridades, o ministro Paulo Gue-des e o presidente da Câmara, depu-tado Rodrigo Maia. Ambos partem de um mesmo ponto para explicar aos in-vestidores parte dos problemas que ve-mos hoje: não se sabe ainda o que será a nova política, mas é possível inferir o que ela não é. O ministro da Economia se diz otimista e afirma que a “velha po-

Luis Macedo/Câmara dos Deputados

14 de abril de 2019

Relatório elabora-do pela equipe XP Política

A política na semana> Congresso trabalha para demonstrar força diante do governo, que ainda procura um formato para a articulação política em busca da aprovação da Nova Previdência

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lítica” está com medo da opinião pública, favorável a mudanças. Por outro lado, o presidente da Câmara reclama que a fal-ta de articulação pode atrasar mais que o necessário a aprovação da reforma, mas avalia que há espaço para melhorar e ver um horizonte mais favorável a par-tir de maio.

O compromisso pessoal de Rodrigo Maia com a Nova Previdência – evi-denciado nas cobranças que ele faz ao governo – e o entrosamento com Paulo Guedes são os pontos positi-vos dessa equação. Maia articula para proteger a reforma da Previdência, en-quanto tenta encaminhar os trabalhos sobre as mudanças tributárias e a au-tonomia do Banco Central. Esses temas chegam a um Congresso sem direciona-mento do governo e que ainda não sabe como ganhar protagonismo positivo a partir do controle dessa agenda. Já o go-verno continua a dar recados positivos para a melhora da relação com o Con-gresso. Nas reuniões dessa semana com parlamentares, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, sinalizou que as recla-mações sobre a aposentadoria rural e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) já são “ponto pacífico” e “estão sendo revistas” pelo governo.

Risco de novo atrasoO caldo formado pela descrença dos de-putados na recente docilidade do gover-no e pela falta de uma base de apoio na Câmara foi suficiente para comprometer a meta de votar o relatório do deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara antes da Semana Santa. Por ini-ciativa dos partidos do Centrão, a PEC do orçamento impositivo deve ser colocada na pauta antes da Nova Previdência.

O relatório, integralmente favorável à reforma, começará a ser discutido na se-gunda-feira (15), se tudo der certo para o governo. Caso o debate e a votação do orçamento sejam rápidos, ainda será possível iniciar a discussão na segunda, e com esforço do Palácio do Planalto (que em algum momento será necessário), votá-lo até a quarta-feira (17). Os indí-cios em Brasília apontam que a Câmara

tratará de assegurar respeito a suas prer-rogativas, especialmente orçamentárias, como reflexo do abalo de confiança na re-lação com o Executivo. Esse movi- mento vai cobrar como preço mais um atraso no calendário da PEC da Nova Previdência, o que não compromete sua aprovação, mas sim o timing e tamanho ideais. Nos basti-dores do Congresso, há conversas avan-çadas também sobre mudanças no poder do Presidente da República para editar Medidas Provisórias.

Por se tratar da Semana Santa, muitos deputados adiantarão suas voltas às ba-ses eleitorais (ou até outras viagens) para a quarta-feira. O governo não precisará manter 513 deputados na Casa. Pragma-ticamente, precisa apenas que cerca de 40 integrantes da CCJ estejam dispostos a continuar na capital federal por mais um dia e encerrem esse capítulo da tramita-ção da proposta.

Se a votação for adiada para a semana do dia 22, o início dos trabalhos na comissão especial fica para o dia 6 de maio. Esse atraso coloca mais uma barreira para a aprovação da reforma ainda neste primei-ro semestre na Câmara. Para Rodrigo Maia há ainda possibilidade de a re-forma ser aprovada na Câmara antes do recesso, mas essa discussão de prazos pode ser negativa quando os atrasos se acumulam.

Em meio ao desafio de apresentar resul-tados e dar uma virada na tendência de perda de popularidade, Bolsonaro teve que lidar nesta semana também com o aumento no preço do diesel. Com receio de uma nova greve de caminhoneiros, o presidente chamou uma reunião para refazer contas. Uma escolha que mexeu com a economia e terá consequências dentro do governo.

Este é, de fato, um momento político dife-rente: o Congresso Nacional se movimen-ta fortemente para fazer funcionarem de forma mais clara os checks and balances entre os poderes da República. O fato de mais uma vez ter sido derrotado o pedido de CPI do Poder Judiciário deixa sinal ine-quívoco de quem os parlamentares que-rem como aliados.

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Nesta semana, a XP Investimentos di-vulgou as pesquisas do mês de abril com investidores institucionais, um público formado por gestores de recursos, eco-nomistas e consultores, e com os depu-tados. Os números traduziram o cenário político conturbado do último mês, com a troca de provocações entre o presiden-te Jair Bolsonaro e o presidente da Câ-mara, Rodrigo Maia, a falta de uma base de apoio parlamentar no Congresso e de uma organização sobre a agenda política do governo.

Na esteira dos últimos ruídos políticos e dos atrasos efetivos na tramitação da PEC, o mercado financeiro passou a esperar que a Nova Previdência seja votada apenas no 2º semestre de 2019. 61% dos agentes de mercado ou-vidos esperam que a reforma seja vota-da no plenário da Câmara apenas após o recesso, enquanto 38% esperam que o texto seja votado em junho ou julho. No levantamento anterior, 60% esperavam a votação ocorresse entre maio e julho.

A aprovação final pelo Congresso, com todas as votações em ambas as casas é esperada por 66% dos respondentes para o 4º trimestre de 2019, enquanto 26% esperam que a aprovação se dê já no 3º trimestre. Em fevereiro, 48% espe-ravam para o 3º trimestre e 47% para o 4º trimestre. Continua forte a confiança na aprovação da Nova Previdência. 80% disseram acreditar que a reforma será aprovada em 2019, mesmo percentual do

levantamento de fevereiro. A economia esperada com a reforma se manteve em R$ 700 bilhões em 10 anos, ante a pro-posta do governo de R$ 1,165 trilhão.

Também captando o clima político, a pesquisa com os deputados indicou uma deterioração na percepção sobre o relacionamento da Câmara com a Presidência. Hoje, 55% dos deputados consultados afirmam que é ruim ou pés-sima a relação da Casa com o Planalto, contra 12% que tinham a mesma percep-ção em fevereiro. A avaliação de que o re-lacionamento é bom ou ótimo passou por movimento inverso: hoje, 16% têm essa opinião, contra 57% nas primeiras sema-nas do ano legislativo.Foram consultados 201 deputados, entre os dias 26 de março e 4 de abril.

A falta de diálogo fica expressa na ques-tão sobre o tratamento dado às demandas dos parlamentares por parte do Planalto. Entre os consultados, 37% dizem que as demandas encaminhadas ao governo são mal ou muito mal atendidas, contra 23% que se veem bem ou muito bem atendi-dos. Sem levar em conta os deputados de oposição, os números são 30% (bem ou muito bem) e 33% (mal ou muito mal). O ponto positivo é que a mudança na per-cepção sobre o governo não alterou a ava-liação dos deputados sobre a necessida-de de ser feita a reforma da Previdência: 76% dos consultados dizem ser necessá-rio reformar o sistema de aposentadorias – eram 77% em fevereiro.

CCJ63% em Abril

Comissão especial54% em Junho

1ª vot. na Câmara39% entre Jun/Jul

61% no 2º Semestre

Pesquisas XP: Mercado e Congresso

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