a política educacional brasileira: uma análise crítica … para obtenção da graduação em ......

50
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇAO – CAMPUS I CURSO PEDAGOGIA ANOS INICIAIS ANDERSON DOS SANTOS OLIVEIRA A Política Educacional Brasileira: Uma Análise Crítica do PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação Salvador 2010

Upload: duongdiep

Post on 13-May-2018

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇAO – CAMPUS I

CURSO PEDAGOGIA ANOS INICIAIS

ANDERSON DOS SANTOS OLIVEIRA

A Política Educacional Brasileira:

Uma Análise Crítica do PDE - Plano de Desenvolvimento da

Educação

Salvador

2010

ANDERSON DOS SANTOS OLIVEIRA

A Política Educacional Brasileira: Uma Análise Crítica do PDE –

Plano de Desenvolvimento da Educação

Monografia apresentada como requisito

parcial para obtenção da graduação em

Pedagogia do Departamento de

Educação campus l da Universidade do

Estado da Bahia, sob orientação da Profª

Maria Alba Guedes Machado Mello.

Salvador

2010

ANDERSON DOS SANTOS OLIVEIRA

A Política Educacional Brasileira:

Uma Análise Crítica do PDE – Plano de Desenvolvimento da

Educação

Monografia apresentada como requisito parcial

para obtenção da graduação em Pedagogia do

Departamento de Educação campus l da

Universidade do Estado da Bahia, sob

orientação da Prof. Ms. Maria Alba Guedes

Machado Mello.

Aprovada em _____ de ____________ de 20____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof. Dr. Antônio Amorim

__________________________________________

Prof. Ms. Otoniel Rocha

__________________________________________

Prof. Ms. Maria Alba Guedes Machado Mello

Dedico este trabalho a minha mãe,

que tanto faz para que seus filhos sejam felizes.

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a Deus por toda força e a Maria, por sempre ouvir minhas

preces e iluminar meu caminho. Assim também, agradeço às forças da natureza por

me ajudarem a transpor os obstáculos.

À minha querida mãe, que mesmo distante fisicamente sempre pude ouvir suas

orações, sentir sua presença de carinho e apoio. Além de mostrar que é possível

transitar entre o mundo da Academia e do saber popular.

À minha madrinha e mãe, que juntamente com minha irmã, sempre estão prontas

para uma palavra, um olhar ou um gesto de carinho.

Quero registrar aqui meu agradecimento àqueles que, mesmo não estando mais

aqui, com sua presença física, posso senti-los e tenho certeza de que compartilham

desta alegria comigo: Givanildo, Cremilda, Tia Suzele e minha grande tia Solange (in

memoriam).

À minha orientadora, professora Alba Guedes que acreditou em mim desde o

primeiro momento e sempre com muita verdade, mas sem deixar de ser gentil,

conduziu-me com grande sabedoria.

À Márcia por imprimir sempre meus textos, a todos os familiares e amigos do interior

pelo carinho e apoio.

A todos os colegas do curso com os quais, no decorrer desses anos, troquei idéias,

sorrisos, conhecimentos e em especial àqueles que em razão da proximidade, do

diálogo, do carinho e do companheirismo transformaram-se em verdadeiros amigos.

Ao G7, muito obrigado.

Tenho dito, desde faz muito tempo,

que a educação não é alavanca para a

transformação da sociedade porque

poderia ser. O fato porém de não ser,

porque poderia ser, não diminui a sua

importância no processo.

Freire (2006, p. 53)

RESUMO

A presente pesquisa apresenta uma reflexão sobre a atual política educacional do país e suas implicações para a promoção de uma educação pública de qualidade. O trabalho foi desenvolvido com base na análise dos principais documentos e programas que compõem as normas e diretrizes da educação nacional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Plano Nacional da Educação – PNE e o Plano de Desenvolvimento da Educação Nacional – PDE, sendo, este último, o foco principal da pesquisa. Procuramos analisar e discutir como os objetivos e metas propostos pelo governo no PDE estão promovendo a construção de uma educação democrática e como a sociedade civil participa desse processo.

Palavras-chave: Educação, Política Educacional, Gestão Democrática

RESÚMEN

La presente investigación presenta uma reflexión sobre la actual política educacional del país y seus implicaciones para la promoción de uma educación pública de calidad. El trabajo fue desarrollado basado en el analisis de los principales documento y programas que componen las normas y directrizes de la educación nacional. La Ley de las Directrices y Bases de la Educación Nacional - LDB, Plan Nacional de la Educación - PNE y el Plan de Desarrollo de la Educación - PDE, siendo, este ultimo, el foco principal de la investigación. Buscamos analisar y discutir como los objectivos y metas propuestos por el governo en el PDE, están promoviendo la construción de uma educación democratica y como la sociedad civil participa de ese proceso.

Palabras-clave: Educación, Política Educación, Gestión Democratica

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10

2 A POLÍTICA EDUCACIONAL 14

2.1 ESTADO E SOCIEDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO

DEMOCRÁTICA 14

2.2 MECANISMOS E INSTRUMENTOS DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO 17

2.2.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 18

2.2.2 Plano Nacional de Educação (PNE) 19

2.2.3 Plano Nacional de Educação (PNE) e Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE) 23

3 O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO 26

3.1 EDUCAÇÃO BÁSICA 29

3.2 INFRAESTRUTURA 31

3.3 FINANCIAMENTO 32

4 A AVALIAÇÃO COMO MECANISMO DE GESTÃO 37

4.1 REFERÊNCIAS CONCEITUAIS 37

4.2 INSTRUMENTOS DO PDE 40

4.3 AVALIAÇÃO E QUALIDADE 43

5 CONSIDERAÇOES FINAIS 46

REFERÊNCIAS 49

11

1 - INTRODUÇÃO

A educação pública brasileira é permeada por problemas comuns que vão

desde a evasão escolar até a infraestrutura. São problemas oriundos de uma

sociedade capitalista, conservadora e reprodutora, cujos conflitos e contradições

evidenciam-se também na educação brasileira.

Aspectos relativos aos diferentes âmbitos da organização da educação

nacional como currículo, espaço físico, transporte para todos os educandos, direitos

trabalhistas dos docentes e funcionários, entre outros, reforçam a má qualidade do

ensino e propiciam graves consequências para os educandos.

A educação como direito do cidadão deve acontecer na esfera pública. No

entanto, percebemos que os governos ainda não demonstraram a devida

importância com a educação nacional, pois elementos como distorção idade-série,

repetência e baixa escolaridade dos adolescentes, jovens e adultos demonstram os

problemas existentes na educação.

Diante desta problemática, surge a necessidade de identificar e analisar quais

as propostas do atual governo para oferecer uma educação pública, gratuita e de

qualidade. Qualidade no acesso do educando, na sua permanência e nos aspectos

físico e humano, necessários para que a educação realmente aconteça e seja

garantida a todos.

Com isso, toma-se como foco desta pesquisa o Plano de Desenvolvimento da

Educação (PDE), seus principais objetivos, aplicação e eficácia buscando perceber

a sua real perspectiva política e social para a formação dos cidadãos. Entender tal

questão nos permite traçar um objetivo de trabalho para análise e discussão, e

apontar os resultados positivos e os pontos a serem melhorados.

Sabemos que relacionada aos problemas e dilemas referentes à educação

pública, está a sociedade que atua como reprodutora de desigualdades e,

conseqüentemente, acaba transmitindo isso às gerações futuras que deixa de

intervir política e socialmente na busca de melhorias e mais participação no

processo de construção das políticas públicas para a educação.

12

Com o objetivo principal de conhecer as perspectivas políticas inseridas no

Plano de Desenvolvimento da Educação, esta pesquisa analisa os principais

objetivos e metas contidas no PDE e visa compreender o que se entende por

qualidade da educação pública, por meio dos mecanismos de avaliação contidos no

PDE, como a Prova Brasil, o Saeb- Sistema de Avaliação da Educação Básica e o

Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Parte-se do pressuposto de

que a utilização dos seus resultados indica como o governo pretende promover a

melhoria da educação. Além disso, aponta quais os caminhos que o PDE tem

sinalizado para garantir uma educação pública de fato democrática.

Ao analisar o processo educativo no Brasil, nos deparamos com inúmeros

problemas que desqualificam e empobrecem a educação nacional. O panorama

geral do quadro educativo, resultante de um diagnóstico geral da educação no país,

foi realizado pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) através do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o qual avaliou

numa escala de 0 a 10 o ensino fundamental e o médio por meio do Ideb. Os dados

dessa avaliação foram estarrecedores: os estados que obtiveram as piores notas

estão localizados na região Nordeste, dentre eles destacam-se os estados da Bahia,

Piauí, Rio Grande do Norte e Alagoas.

Estas notas variam entre 2,6 na primeira fase do ensino fundamental (da 1ª à

4ª serie); 2,4 na segunda fase do ensino fundamental (5ª a 8ª serie); e 2,3 no ensino

médio ficando todos abaixo da média nacional que é de 3,8. Além desses dados,

das 27 unidades federativas apenas sete obtiveram o Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica, acima da média1.

Uma nova avaliação da qualidade da educação nacional foi realizada pelo

MEC em 2009, onde já pode ser verificado um avanço em relação aos dados

apresentados pelo Ideb de 2007, na primeira e segunda fases do ensino

fundamental e do médio, segundo Ideb apresentado. De acordo com os resultados

divulgados pelo MEC, na primeira fase do ensino fundamental, o Ideb passou de 4,2

para 4,6; nos anos finais do ensino fundamental, o Ideb do País evoluiu de 3,8 para

1 Dados do MEC 2007 – www.mec.com.br/ideb

13

4,0; no caso do ensino médio, o Ideb do Brasil avançou de 3,5 para 3,6. Fazendo um

paralelo com os resultados apresentados em 2007 e os de 2009, os dados mostram

uma evolução na qualidade da educação em todas as etapas da Educação Básica,

porém ainda não há motivos para comemorar.

Ante o quadro estarrecedor no qual se encontrava a educação nacional, o

governo Lula desenvolveu o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), como

resposta à situação do rendimento escolar (taxa de aprovação, reprovação e

abandono) e das médias dos educandos verificadas por meio de dois exames:

Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) e a Prova Brasil.

Infelizmente resultados como esses reforçam a permanência do país no

campo do analfabetismo, da falta de uma educação de qualidade, do descrédito nos

programas educacionais e nos permite alguns questionamentos:

Quais as implicações políticas inseridas no PDE? Quais os seus resultados

práticos? Realmente estão contribuindo para a melhoria da educação brasileira?

O trabalho pretende, com este enfoque, tecer algumas reflexões sobre a

educação nacional, verificando como o PDE está sendo desenvolvido, quais os

investimentos e recursos destinados e quais os aspectos que estão sendo

considerados para a sua aplicação.

Por tais razões e para melhor compreensão da pesquisa, aqui apresentada,

organizou-se este trabalho em três capítulos distintos. O primeiro capítulo apresenta

uma caracterização da atual política educacional do país, passando pelos principais

mecanismos e instrumentos de gestão: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, o Plano Nacional de Educação, comparando-o ao Plano de

Desenvolvimento da Educação, os quais servem de base para os capítulos que se

seguem. As discussões aqui apresentadas estão sustentadas nos escritos de

Evelina Dagnino (2002) e Demerval Saviani (2007).

Já o segundo capítulo traz, no seu cerne todo o Plano de Desenvolvimento da

Educação Nacional - PDE, do qual foi feita uma análise mais singular dos seus

14

princípios, metas e objetivos, buscando responder em que medida esse se revela,

efetivamente, capaz de oferecer uma educação pública de qualidade.

O capitulo final é um desdobramento do segundo, onde procuramos examinar

aquilo que talvez seja a base de sustentação do Plano que é a avaliação da gestão

democrática. Busca-se, aqui, discutir os mecanismos de avaliação utilizados pelo

Plano, apresentando como esta avaliação ocorre e o que é considerado neste

processo. Para isso apresentamos uma concepção de avaliação sustentada nas

autoras Sandra Zákia (1995) e Ana Maria Saul (1995).

Com o propósito de contribuir para uma educação pública de qualidade, com

base no entendimento da educação como um direito social que está intimamente

ligado à garantia de emancipação cultural, político e social do ser humano, esta

pesquisa pretende apontar caminhos de melhoria. Toma-se como objeto de estudo a

análise de um programa de governo sem a pretensão da simples crítica ou

convicção partidária e sim com a responsabilidade de identificar se esta proposta

afirma políticas emancipadoras ou assistencialistas.

15

2 - A POLÍTICA EDUCACIONAL

É cada vez mais evidente a participação da sociedade civil na construção e

acompanhamento das políticas socais do governo. A participação da sociedade nos

espaços públicos tem por finalidade não só avaliar a forma de trabalho do governo,

mas participar ativamente na construção de uma sociedade mais justa e

democrática. Dessa forma, apresentaremos a seguir quais os instrumentos que a

sociedade e o governo laçam mão para a promoção de uma política social mais

democrática e quais as consequências desse processo.

2.1 - ESTADO E SOCIEDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO

DEMOCRÁTICA

As relações entre Estado e sociedade ganharam novas configurações e uma

nova postura a partir da década de 1990, quando os debates educacionais,

econômicos e sociais ganharam força não só no Brasil como em alguns países da

America Latina. A reconfiguração do papel Estado como Estado mínimo possibilitou

uma mudança no relacionamento entre Estado e sociedade, o que permitiu uma

maior participação da sociedade civil na gestão e provimento das ações públicas,

passando o Estado a ser um agente regulador e dispondo, cada vez mais, do

comando das políticas públicas para a sociedade.

A partir daí, o Estado passou a analisar os projetos oriundos da sociedade

civil de maneira política e democrática, e em todas as instâncias governamentais.

Essas experiências passam a configurar um avanço na construção da democracia e

de uma política transparente, cada vez mais próxima da população e sendo

construída pela sociedade civil. Essa marca dos anos 90 resultou do avanço

neoliberal, que reduz a intervenção do Estado e amplia a participação ativa da

sociedade civil nos espaços públicos.

Essa descentralização da ação do Estado tem valorizado os poderes locais e

comunitários ao passo que esses passam a desenvolver um trabalho de cunho

social que busca realmente a melhoria das relações sociais, a modificação do

quadro de exclusão e o fortalecimento da democracia. São muitos os elementos que

16

marcam essa relação, porém a regulação é, sem dúvida, o mais importante deles,

que, segundo o discurso oficial, é necessária uma regulação para viabilizar a

governabilidade e o ordenamento, além de mediar a relação e os conflitos existentes

entre Estado e sociedade.

Por outro lado, o Estado, enquanto regulador das políticas públicas, não deixa

o controle das ações públicas, pelo contrário, o Estado tem como propósito manter a

governabilidade para o desenvolvimento do sistema, o ordenamento e controle

social.

O novo quadro de relação entre Estado e sociedade civil é um passo

importante para tornar mais transparente as decisões do governo, além de ampliar a

nossa capacidade de monitoramento e influência sobre as políticas publicas,

cabendo ainda uma cobrança maior sobre o Estado em relação aos bens sociais e o

comprometimento político com a sociedade.

É evidente que uma maior abertura por parte do Estado para a sociedade civil

traz algumas conseqüências tanto no âmbito das políticas sociais quanto na

implantação de uma gestão democrática. A mais importante delas é um menor

comprometimento do governo no cumprimento de suas atribuições públicas como

educação, saúde, esporte e outro. À medida que a gestão democrática se fortalece e

ganha espaços na esfera publica e social, dá margem também para que o Estado

torne-se mais omisso em alguns setores que são de sua responsabilidade.

No Brasil, essas mudanças permitiram à sociedade consolidar uma nova

forma de gestão da educação, além de poder reverter o atendimento dado ao ensino

fundamental e os altos índices de fracasso e evasão escolar. Essa nova

configuração permitiu um avanço na relação Estado X Escola X Sociedade, o que

implicou mudanças estruturais e na forma de pensar a gestão pública e escolar.

Passamos então a ter um canal maior de interação entre Estado, comunidade

escolar e comunidade geral o que possibilitou também que a sociedade civil

participasse de projetos e atividades desenvolvidas na escola pública, passando a

ter um espaço de discussão mais ativo entre governo central e as unidades

escolares.

17

A gestão escolar e a própria escola passaram a apresentar um novo modelo

de gestão o que, consequentemente, pediu novos mecanismos e instrumentos, pois

se apresentava aí, uma nova configuração que posteriormente viria a ser definida

como gestão democrática. Isso permitiu que projetos democráticos criados no

interior da sociedade civil fossem levados ao Estado nas instâncias municipais e

estaduais. Vale ressaltar, porém, que a participação da sociedade encontra algumas

barreiras, tanto do lado do Governo quanto da própria sociedade civil. Seja pela

burocracia, lentidão, falta de recursos e principalmente pela falta de vontade política

do Estado, ou, pelo lado da sociedade civil onde se destaca a falta de técnica e

conhecimento político. Essas barreiras impedem uma participação mais ampla na

formulação das políticas públicas capazes de impactar mais significativo a

sociedade.

A fragmentação é inerente ao próprio Estado e comum à construção da

democracia. Contradições, visões hierárquicas e o autoritarismo são obstáculos

ainda existentes entre as instâncias políticas e a sociedade civil. Como define bem

Dagnino (2002)

Aponta nessa mesma direção a característica, freqüentemente assumida

pelos espaços públicos que se constituem no interior do Estado, de

isolamento e relação ao conjunto da estrutura administrativa: eles acabam

se constituindo como “ilhas” separadas, em “institucionalizadas paralelas”,

conservadas à margem e com difícil comunicação com o resto do aparato

estatal. (DAGNINO, 2002, p. 283)

Por outro lado, o acesso da sociedade civil na gestão dos espaços públicos

tem cumprido um papel importante na construção da democracia. Uma atuação mais

conjunta entre Estado e sociedade civil mostra que a descentralização do poder do

Estado e a ação efetiva da sociedade na tomada de decisões referentes às políticas

públicas tem-se desdobrado numa maior confiabilidade e credibilidade política das

ações.

Apontam nessa mesma direção, ações como reconhecimento e distinção dos

diferentes interesses existentes na relação Estado e sociedade civil, para um avanço

dos interesses coletivos. Participação na formulação e construção de políticas

18

públicas que efetivamente expressem e visem o bem comum, são pontos que

caracterizam a iniciativa de descentralização do Estado e favorecem a construção

da democracia.

Trabalhar para que os diferentes interesses sejam mantidos sem a perda da

autonomia é, sem dúvida, o maior dos desafios existentes na ação conjunta Estado

e sociedade civil, como bem define Dagnino (2002, p.281) “A relação entre Estado e

sociedade civil são objetos da política e, portanto transformáveis pela ação política”.

A organização da sociedade civil tornou-se característica singular na relação

com o Estado e passou a ser ponto central na luta por uma maior participação

pública. O avanço do processo de construção da democracia contribuiu para dar

visibilidade aos projetos políticos que apresentavam visões diferenciadas e

realmente pensadas para a ampliação do acesso aos espaços públicos e garantir

transformações importantes no interior da própria sociedade.

A política educacional, neste contexto, ganhou mais espaço de discussão e

intervenção além de participar mais ativamente das mudanças tanto no campo

educativo como no social.

2.2 - MECANISMOS E INSTRUMENTOS DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO

As ações políticas lançam mão de alguns mecanismos de gestão para que

possa, efetivamente, acontecer e por em prática as ações públicas; no que se refere

à educação podemos destacar, enquanto instrumento de gestão democrática, a LDB

9394/96, o Plano Nacional de Educação e o Plano de Desenvolvimento da

Educação objeto deste estudo.

Estes instrumentos têm a função de viabilizar uma gestão democrática

criando meios para que não só o Estado, mas também a sociedade civil organizada

pudessem participar da construção de uma educação realmente de qualidade. Para

isso estabelecem diretrizes que norteiam os pressupostos educacionais e a gestão

educacional é sem dúvida a mais importante delas.

19

2.2.1 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB - Lei nº 9.394/96 foi

aprovada pelo Congresso Nacional em 17 de dezembro de 1996, promulgada em 20

de dezembro e publicada no Diário Oficial da União em 22 de dezembro de 1996.

Com sua implementação em 1996, a LDB, tornou-se um dos instrumentos de

gestão mais efetivo no contexto da política educacional, primeiro por equacionar

todas as diretrizes referentes à educação nacional e depois por regulamentar a

educação pública no Brasil por um longo período.

A LDB provocou uma nova forma de gestão democrática logo na sua

formulação, pois contou com a participação efetiva da sociedade civil, educadores,

partidos políticos, organizações não governamentais, jornalistas, movimentos

sociais, universidades, em torno de debates teóricos e políticos sobre sua finalidade

e objetivos. Esse novo modelo de gestão ampliou substancialmente a relação

Estado, escola e comunidade, principalmente esses dois últimos e isso implicou uma

maior autonomia da sociedade frente à política educacional com novos espaços,

maior participação na construção e tomada de decisões, e, portanto, maior poder de

discussão sobre as demandas e os problemas da educação brasileira.

A LDB de 1996, em seu artigo 3º, define a “gestão como democrática”, ou

seja, as políticas educacionais são amplamente marcadas pelas relações sociais e

políticas que determinadamente estão esboçadas numa relação que envolve

conflitos, dessa forma, somente com uma gestão que opere com relativa autonomia

e na busca constante pela construção da democracia, poderá criar condições para

uma educação democrática, onde as organizações e gestão das escolas, as práticas

pedagógicas e formativas sejam inovadoras, críticas, autônomas e visem à formação

humana do cidadão.

A política está diretamente ligada à administração da sociedade, através da

organização e operação da coisa pública e, dessa maneira, a política educacional é,

em suma, uma modalidade de política social. Esta política deve ser vista como

20

preventiva, visando o aumento da pressão sobre o aparelho governamental através

dos movimentos sociais para que o Estado assuma os serviços de interesse público.

A educação participa intimamente desta luta por meio da participação social

na formulação da política educacional dentro das políticas sociais. Com isso a LDB é

sem dúvida um mecanismo de gestão que caminha na direção de uma política

educacional que responda aos desafios educacionais da sociedade brasileira na

conjuntura atual.

Com mudanças significativas, a LDB tem como intuito consolidar uma nova

forma de gestão da educação e da escola, procurando reverter o quadro de má

qualidade educacional, bem como os altos índices de fracasso e evasão escolar.

2.2.2 - Plano Nacional de Educação (PNE)

Outro instrumento de gestão que marcou o direcionamento da educação

nacional foi o Plano Nacional da Educação (PNE), Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de

2001, que tem como base para sua concepção a Constituição Federal de 1988, a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Emenda Constitucional nº 14, de

1995, que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério que posteriormente se desdobra em

FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação.

O PNE foi aprovado em 9 de janeiro de 2001, tendo validade de dez anos,

devendo passar por uma avaliação no seu quarto ano de vigência para as devidas

correções das deficiências que apresentasse. Sua estrutura se assenta em três

momentos: 1 - diagnóstico da situação; 2 - enunciado das diretrizes a serem

seguidas; 3 formulação dos objetivos e metas a serem atingidas progressivamente,

durante o período de duração do Plano. Essa estrutura abrange todos os níveis de

ensino estendendo-se ao financiamento e a gestão e orienta as ações do poder

público nas três esferas (União, Estados e Municípios). Dentre as metas contidas no

PNE, tomamos para análise qual função social da educação e da escola concebida

pelo mesmo.

21

Como são vários os objetivos e metas contidas no Plano, tomaremos apenas

duas que consideramos principais para análise:

I A melhoria da qualidade do ensino, em todos os níveis;

II A redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à

permanência, com sucesso, na educação pública.

Sem dúvida, educação de qualidade e permanência do educando na escola

com sucesso é uma das questões mais discutidas no âmbito da política educacional.

portanto, o que se espera agora não é mais ter esses dois elementos como objetivos

a serem atingidos e sim apresentar caminhos eficazes que realmente venha dar

garantias de uma educação com qualidade e que essa mesma educação seduza,

envolva e conquiste o educando na sala de aula. Assim não teremos mais as nossas

tão elevadas taxas de evasão escolar e repetência que são considerados,

atualmente, o maior problema da educação nacional.

Para que a escola realmente cumpra sua função social e os mecanismos de

gestão, desenvolvimento e garantia da educação sejam efetivos, devemos pensar

no que Libâneo diz:

Primeiramente, é necessário admitir que há, de fato uma inter-relação entre

as políticas educacionais, a organização e a gestão das escolas, as práticas

pedagógicas na sala de aula e o comportamento das pessoas.As políticas

educacionais e diretrizes organizacionais e curriculares são portadores de

intencionalidades, idéias, valores atitudes, práticas, que influenciam as

escolas e seus profissionais na configuração das práticas formativas

determinando um tipo de sujeito a ser educado.(LIBANEO, 2008, p. 14)

Nesse sentido é preciso entender claramente quais os valores e

intencionalidades políticas que determinam as políticas educacionais. Ou seja, a

eficácia dos planos e programas só acontecerá quando o todo for considerado. Por

mais que se faça um diagnóstico situacional da educação nacional, se todas as

instâncias de governo não estiverem alinhadas, se não houver uma fiscalização dos

recursos destinados às metas, os objetivos traçados não terão importância.

22

O Plano Nacional de Educação destaca que a educação deve fazer parte da

vida do indivíduo desde o seu nascimento, constituindo-se como parte fundamental

do seu desenvolvimento social e cultural, ou seja, é preciso que as diretrizes

educacionais dêem conta de assegurar uma educação realmente responsável, de

qualidade e que busque realmente a emancipação do sujeito enquanto ser político e

social.

O cenário educacional necessita, hoje, de uma gestão que pense e promova

o sucesso escolar dos educandos, que crie mecanismos para enfrentar os desafios

que a educação nacional possui. Esse processo não é simples e requer além de

vontade política, conhecimento técnico e um planejamento que realmente pense no

desenvolvimento qualitativo da educação, na aprendizagem. A gestão é o fio

condutor para que a escola, enquanto instituição responsável pela garantia de que o

saber sistematizado seja socializado, cumpra sua função social.

Ao observar o PNE, podemos notar que suas metas foram fixadas após um

diagnóstico profundo da educação nacional e isso é, sem dúvida, fundamental para

que seus objetivos sejam elaborados e proponham mudanças significativas e

possíveis de serem alcançadas. Para isso é preciso o envolvimento de todas as

instâncias, comprometimento da União, dos Estados e Municípios e principalmente

da sociedade civil, parte mais interessada no efetivo sucesso do PNE. Além disso,

outro ponto importante é o acompanhamento dos recursos investidos, algo que foi

definido pelo próprio PNE para acontecer após quatro anos da sua implementação.

Essa fiscalização permite que seja observado o que não deu certo, quais as

áreas que merecem mais atenção, quais metas foram atingidas e quais ainda

precisam de mais tempo, e principalmente como o dinheiro público está sendo

administrado. A análise desses elementos deve direcionar os resultados no sentido

de que contribuam para o aperfeiçoamento dos planos e da gestão.

É oportuno, então, lembrar que uma das metas essenciais do Plano envolve a

redução das desigualdades regionais e a permanência com sucesso do educando

na escola, ou seja, esta meta quando contempla as desigualdades regionais vem

23

reforçar que só um trabalho conjunto pode fazer com que essas e outras metas

sejam cumpridas, como bem observa Libâneo:

Uma coisa é certa: as escolas estão ai, é nela que estão matriculados os

filhos das camadas médias e pobres da população, e é questão de justiça

que elas atendam, do melhor modo possível, aos direitos de todos e uma

educação de boa qualidade, apta a preparar os alunos para a

empregabilidade, participar da vida política e cultural, desenvolver a

capacidade reflexiva para atuar e transformar a realidade social.

(LIBÂNEO, 2008, p.21)

Diante de todos estes programas e planos elaborados e apresentados pelo

governo para a melhoria da educação, percebemos que mudar a educação

oferecida no país para uma educação de qualidade está além das metas e objetivos,

não que eles não sejam necessários, porém, para que sejam postos em prática com

eficácia é preciso vontade de mudança, empenho, planejamento e conhecimento

técnico. É preciso acreditar que só pela via democrática pode-se chegar a uma

educação de qualidade onde haja uma equidade no governo e na gestão, e que

tanto a oferta de uma educação de qualidade quanto a permanência com sucesso

do educando na escola seja possível, pensando-se nas políticas educacionais e na

gestão, e tendo a escola como espaço de realização das metas e dos objetivos

propostos pelos programas educativos.

Com caráter global, o Plano Nacional de Educação apresenta metas que

abrangem todos os aspectos relativos à organização da educação nacional. O PNE

marcou um avanço significativo na busca por uma unidade das políticas

educacionais do país por apresentar um panorama geral da educação nacional e

isso, sem duvida, possibilitou um avanço substancial na forma de pensar as novas

políticas públicas para educação como veremos ao analisar o Plano de

Desenvolvimento da Educação.

24

2.2.3 - Plano Nacional de Educação (PNE) e Plano de Desenvolvimento da

Educação (PDE)

Uma análise comparativa evidencia que o PDE, em sua concepção, deixou de

fora alguns elementos importantes contidos no PNE. Dentre eles vale destacar que o

PNE, que comporta um diagnóstico geral da educação nacional, passou por uma

discussão ampla na sociedade civil além de compreender políticas para educação

indígena o que só aparece no PDE dentro do FUNDEB.

Tais questões nos permitem indagar porque a criação de um Programa se

possuímos um Plano Nacional ainda em vigência e em desenvolvimento? Frente a

este questionamento percebemos que das 30 ações que compõem o Plano 17,

incidem sobre aspectos previstos no PNE; são ações referentes à Educação Básica,

à Superior, as modalidades de ensino e outras. Além disso, é notório que o plano

não apresenta ação voltada para a educação indígena, financiamento ou gestão;

estes aspectos só estão presentes porque o FUNDEB contempla amplamente o

financiamento e a gestão como garante as diretrizes para educação indígena e

quilombola.

Ao confrontar a estrutura do PNE com do PDE, notamos claramente que este

último não constitui um Plano, como bem afirma Saviani (2007, p.12) “Ele se define,

antes, como conjunto de ações que, teoricamente, se constituíram em estratégias

para a realização dos objetivos e metas previstas no PNE”. Ou seja, a implantação

do PDE não considerou as características e metas já elaboradas pelo PNE, nem

avaliou os seus avanços na política educacional. De fato, o PDE não parte de uma

estratégia, do diagnóstico e das diretrizes para o cumprimento das metas do PNE.

Compõe-se apenas de ações que não se articulam organicamente como o PNE.

Sob as etapas de ensino, na educação infantil há apenas uma ação, a

”Proinfância”, que prevê recursos federais por meio do FNDE, para financiar a

construção, ampliação e melhoria das instalações escolares. As demais 26 metas

estabelecidas pelo PNE não são mencionadas. Já para o ensino fundamental o PDE

tem a “Provinha Brasil” o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e o Programa

“Gosto de Ler”. Apenas a meta 17 do PNE é contemplada por meio da ação

25

Transporte Escolar; as demais 29 metas fixadas para o ensino fundamental, pelo

PNE, não foram consideradas.

No que tange o ensino médio, das 20 metas definidas pelo PNE o PDE

abarca o programa Biblioteca na Escola que remete parcialmente à meta 9 que

previa, ao final de 2005, que todas as escolas estivessem equipadas com biblioteca.

Abarca também através do programa Inclusão Digital a meta 10 do PNE. Com

relação ao ensino superior, apenas a meta 17 do PNE foi contemplada pela ação

Pós-Doutorado. Já que a meta da duplicação das vagas nas universidades federais

até 2017 pelo PDE, não alcança em nada o PNE que já previa na meta 1 atingir até

2010, um número total de vagas com capacidade de absorver 30% da faixa etária de

18 a 24 anos, o que significa a triplicação das vagas existentes. As demais 33 metas

relacionadas à educação superior existentes no PNE não foram consideradas pelo

PDE.

Saviani (2007, p. 14) vai além quando diz que “a palavra “plano”, no contexto

do PDE, não corresponde ao significado que essa mesma palavra adquire no

contexto do PNE”.

Diante disso, verificamos que o PDE foi lançado com o PNE ainda em

vigência, porém, este foi totalmente ignorado pelo PDE elaborado

independentemente do PNE. O mesmo não considerou os avanços já apresentados

pelo Plano Nacional de Educação; os diagnósticos que apresentam um panorama

situacional bem elaborado sobre a educação brasileira, as ações e os investimentos

para a educação indígena e infantil como também não procurou contemplar as suas

principais metas e os seus objetivos essenciais.

Considerando as metas e os objetivos propostos pelo PDE, fica evidente que

sua estrutura não incide em nenhum momento sobre os aspectos considerados

relevantes pelo PNE, além disso, é notória a disparidade entre os dois programas e,

indo mais além, o PDE foi formulado em paralelo ao PNE. Outra questão importante

é que, com o título de plano, temos a idéia de que foi elaborado um novo plano de

educação, construído com todas as discussões e debates que ocorreram na

construção do PNE.

26

Dessa forma, apontamos que a educação é antes de tudo um bem comum e

social, que não deve estar a serviço deste ou daquele governo e, portanto a

construção, aplicação e eficácia dos programas devem ser destinados a promoção

de uma educação democrática, independente e de qualidade.

27

3 - O PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO – PDE

O Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação – (PDE) foi apresentado

ao país em 15 de março de 2007 e foi lançado oficialmente em 24 de abril de 2007,

simultaneamente à promulgação do Decreto Federal nº 6.094, que dispõe sobre o

Plano de Metas Compromisso “Todos Pela Educação” – carro chefe do PDE.

O Plano de Desenvolvimento da Educação está organizado em quatro eixos

norteadores: educação básica, educação superior, educação profissional e

alfabetização, compreendendo mais de 40 programas, sendo 30 os principais que

com seus desdobramentos passam a abrigar grande parte dos programas do MEC

para a educação. O PDE visa reduzir a segmentação territorial constitutiva do país, a

desarticulação de programas além de intervir e acabar com os baixos índices de

rendimento escolar na rede pública de educação.

Tendo como objetivo principal e singular a melhoria da qualidade da

educação básica, esse Plano traz em sua apresentação um diagnóstico da

educação do país e tenta em suas 30 ações (consideradas prioritárias) apontar

novos caminhos face aos problemas que a educação enfrenta atualmente. Além do

envolvimento da União, Estados e Municípios para articularem-se com a política

geral do país, o PDE utiliza-se dos instrumentos de gestão como A Provinha Brasil,

o ENEM, IDEB e outros que servem para avaliar também a aplicação e eficácia do

Plano, e ajudam a traçar um panorama dos avanços ocorridos, assim como apontar

os pontos que necessitam de revisão.

Todo programa tem, em sua essência, um norte que o orienta e serve de

base para a sua implementação. O PDE traz uma definição de educação que

envolve aprendizagem, emancipação e conhecimento para o trabalho. O plano

Reconhece na educação uma face do processo dialético que se estabelece

entre socialização e individualização da pessoa, tendo como objetivo a

construção da autonomia isto é, a formação de indivíduos capazes de

assumir uma postura critica e criativa frente ao mundo. (BRASIL, 2007, p. 5)

28

Esta definição de educação do PDE (como um processo de socialização e

individualização da pessoa para construção da autonomia) deixa claro que o

desenvolvimento humano está intimamente ligado ao que o PDE pretende garantir.

Indo mais adiante, o Plano aponta a educação formal pública como cota de

responsabilidade do Estado e não se desenrola só na escola pública, mas tem lugar

na família, na comunidade e em toda forma de interação na qual os indivíduos

tomam parte, especialmente no trabalho.

Diante desta variedade de situações educativas nos remetemos à educação

como a define a LDB: “processos formativos que se desenvolvem na vida familiar,

na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos

movimentos sociais e organizações da sociedade civil e manifestações culturais”

(BRASIL, 1996, p 2).

Evidentemente a escola não será o único espaço em que a educação

acontece; ela desenvolve-se em vários lugares, sob diversas modalidades e

intenções. Existe uma pluralidade de sistemas e entidades que contribuem para que

a educação aconteça, dentre eles destacam-se a família, Igrejas, ONGs, bibliotecas

e, sobretudo a escola. Neste sentido, Brandão (1986, p. 7) diz que: ”ninguém escapa

da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos,

todos nós envolvemos pedaços da vida com ela”. Esta definição permite ampliar a

educação para outros espaços educativos que não sejam essencialmente a escola

como as bibliotecas, brinquedotecas e outros citados acima que não têm na sua

natureza a prerrogativa de uma educação formal, mas possuem elementos,

características e objetivos organizados que oferecem conhecimentos culturais e

socais que auxiliam na construção da sociedade e da pessoa humana por meio das

relações sociais e interpessoais, resultantes das práticas coletivas que estes sujeitos

estão envolvidos e vinculados.

A escola, neste contexto, aparece como local destinado à oferta e promoção

da educação no seu cotidiano; é o local onde ela deve acontecer efetivamente.

Possuem objetivos formais predeterminados, estruturados dentro de parâmetros e

29

diretrizes definidos pelo governo e entidades internacionais. Contudo, hoje, frente às

mudanças sociais, uma maior participação da comunidade e da família junto a

escola e dos pontos positivos na busca de uma educação de qualidade e do

acompanhamento dos processos educativos como propõe o próprio PDE, quando

afirma que “A educação formal pública é a cota de responsabilidade do Estado

nesse esforço social mais amplo, que não se desenrola apenas na escola pública,

mas tem lugar na família, na comunidade e em toda forma de interação na qual os

indivíduos tomem parte, especialmente no trabalho”.(BRASIL, 2007, p. 5).

É evidente que a escola não tem como ficar distante ou alheia às novas

formas de educação, além do que com a sociedade civil participando cada vez mais

ativamente na construção e na gestão dos espaços públicos, cabe a esta instituição

dialogar com a diversidade e procurar ampliar seus espaços de discussão e

interação com a sociedade para que atenda à demanda dos seus educandos os

quais chegam até a escola com culturas cada vez mais diversas e, ao mesmo

tempo, singular.

A educação possui conceito amplo, o que permite a mesma ser definida

como:

O conjunto das ações, processos, influências, estruturas que intervêm no

desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o

meio natural e social. Num determinado contexto de relações entre grupos e

classes sociais. (LIBÂNEO, 2002, p.30)

Essas concepções visam destacar que a educação é um processo intencional

que, de uma maneira ou de outra, irá influenciar a situação política e econômica do

país, além de estar ligada intimamente aos valores culturais, compromissos sociais e

ideológicos. Tais princípios possibilitam e fundamentam o sentido essencial da

educação que é aprender re-aprender, construir e, em uma constante relação com o

outro, construir um processo educativo no qual o ser humano seja livre, capaz de

conviver com as diversas formas de educação que a sociedade oferece, sejam elas

formais ou informais.

30

Consideramos significativo o argumento que a educação é uma atividade

planejada, ou seja, “é uma influência intencional sobre a geração em

desenvolvimento que pretende dar aos indivíduos que se desenvolvem, determinada

forma de vida, determinada ordem de forças espirituais. (W. Dilthey, in Luzuriaga

apud Libâneo 2002, p. 76) e seus desejos sem causar, nos demais, maiores

prejuízos e submissões pessoais.

Desse modo, tendo a Educação como dever do Estado e com a finalidade de

promover o pleno desenvolvimento humano do educando, abrangendo qualificação

para o trabalho, acesso aos mais variados bens culturais e principalmente à

formação Crítica e reflexiva do sujeito, buscaremos a seguir verificar e analisar como

o PDE assegura estes direitos sociais por meio de suas metas. Para tanto foi

seguido o critério de agrupamento adotado por Saviani (2007) descrito abaixo.

3.1 EDUCAÇÃO BÁSICA

No que se refere aos níveis escolares, a educação básica está contemplada

com 17 ações, sendo 12 de caráter global e cinco específicas de cada etapa de

ensino. Entre as ações que incidem globalmente sobre a educação básica situam-se

o FUNDEB, o Plano de Metas do PDE-IDEB, duas ações dirigidas à questão

docente (Piso do Magistério e Formação), complementadas pelos programas de

apoio Transporte Escolar, Luz para Todos, Saúde nas Escolas, Guias de

Tecnologias, Censo Escolar, Mais Educação, Coleção Educadores e Inclusão

Digital.

O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) foi aprovado em dezembro

de 2006, em substituição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), cujo prazo de vigência

estaria esgotado ao final deste ano (2010). Como se pode ver, pela própria

denominação, o atual Fundo amplia o raio de ação em relação ao anterior,

estendendo-se para toda a educação básica. Para isso, a participação dos Estados

e Municípios na composição do Fundo foi elevada de 15 para 20%, do montante de

31

25% da arrecadação de impostos obrigatoriamente destinados, por determinação

constitucional, para a manutenção e desenvolvimento do ensino, assegurando-se a

complementação da União.

Gostaríamos de fazer aqui algumas considerações referentes ao

financiamento enquanto mecanismo de gestão democrática.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado pelo MEC

a partir de estudos elaborados pelo INEP para avaliar o nível de aprendizagem dos

educandos. Tomando como parâmetros o rendimento dos educandos (pontuação

em exames padronizados obtida no final das 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e

3ª do ensino médio) nas disciplinas Língua Portuguesa e Matemática e os

indicadores de fluxo (taxas de promoção, repetência e evasão escolar), construiu-se

uma escala de 0 a 10. Aplicado esse instrumento aos educandos em 2005, chegou-

se ao índice médio de 3,8. À luz dessa constatação, foram estabelecidas metas

progressivas de melhoria desse índice, prevendo-se atingir, em 2022, a média de

6,0, índice obtido pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE), que ficaram entre os 20 com maior desenvolvimento

educacional do mundo. O ano de 2022 foi definido não apenas em razão da

progressividade das metas, mas em vista do caráter simbólico representado pela

comemoração dos 200 anos da Independência política do Brasil.

Pelo programa Piso do Magistério propõe-se elevar gradativamente o salário

dos professores da educação básica até atingir, em 2010, o piso de R$ 850,00 para

uma jornada de 40 horas semanais. No que se refere à formação docente, o PDE

pretende oferecer, por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB), cursos de

formação inicial e continuada de docentes da educação básica, esperando atingir

aproximadamente dois milhões de professores.

Com o programa Saúde nas Escolas pretende-se, com a colaboração do

Ministério da Saúde e das equipes do Programa Saúde da Família – PSF, assegurar

atendimento básico a estudantes e professores no interior das próprias escolas. A

ação Guia das Tecnologias Educacionais busca qualificar propostas de melhoria dos

32

métodos e práticas de ensino pelo recurso e técnicas, aparatos, ferramentas e

utensílios tecnológicos.

O Educacenso é um sistema de coleta de dados que pretende efetuar

levantamento de dados pela Internet, abrangendo, de forma individualizada, cada

estudante, professor, turma e escola do país, tanto das redes públicas (federal,

estaduais e municipais) quanto da rede privada. O programa Mais Educação propõe-

se a ampliar o tempo de permanência dos educandos nas escolas, o que implica

também na ampliação do espaço escolar para a realização de atividades artísticas,

culturais, esportivas e de lazer, contando com o apoio dos ministérios da Educação,

Cultura, Esporte e Desenvolvimento Social. Pela ação Coleção Educadores

pretende-se tornar disponíveis nas escolas e bibliotecas públicas uma coleção de 60

volumes, reunindo autores clássicos da educação, sendo 30 de educadores

brasileiros e 30 de estrangeiros. Por meio do programa Inclusão Digital, o MEC

planeja distribuir computadores às escolas de educação básica, começando pela

etapa do ensino médio, que terá cobertura total em 2007, e estendendo-se a todas

as escolas de ensino fundamental até 2010.

3.2 – INFRAESTRUTURA

A diversidade e o grande número de metas previstas no PDE voltadas para

as melhorias estruturais das instituições escolares expressam as desigualdades

existentes entre as escolas do país, frente as condições de aprendizagem. Ao

contemplar ações que vão desde a instalação de luz elétrica em todas as escolas

até a implementação da alfabetização digital, o Plano reflete a distorção ainda

existente em nosso país em relação às condições das escolas e da educação ainda

oferecida.

As ações de apoio ao desenvolvimento da educação básica estão

representadas pelos seguintes programas: "Transporte Escolar", que visa garantir às

crianças, adolescentes e jovens do meio rural o acesso às escolas. Luz para Todos,

por sua vez, propõe adotar todas as escolas rurais de energia elétrica.

Apesar do grande volume de recursos destinados ao aprimoramento e

expansão da infraestrutura escolar, no âmbito da educação básica, ainda

33

encontramos um imenso contraste nas condições das escolas e salas de aula do

país, além da falta de recursos básicos como água e luz elétrica. Situações como

essas ficam evidentes nas afirmações de Vieira quando ela nos afirma que:

Boa parte da infra-estrutura da rede escolar é precária. A rede de

atendimento e mal distribuída, representando pesado ônus para o poder

público em custos de transporte escolar. Ainda temos escolas de uma só

sala, sem serviços básicos como água e ate mesmo banheiros. (VIEIRA,

2007, p.2)

Se as dificuldades são grandes no país como um todo, imaginem nas regiões

mais distintas e nos estados com dimensões maiores. Diante dos desafios da gestão

educacional para enfrentar esses problemas num contexto de escassez de recursos

é válido destacar que o acesso à educação não tem sentido sem garantias à

permanência do educando na escola; além disso, cabe fortalecer a gestão municipal

para que essa possa direcionar bem os recursos e materiais destinados à melhoria

da educação, ou seja, além do auxilio do governo é mais que necessário equalizar a

educação nacional e pensá-la focando as suas especificidades.

3.3 - FINACIAMENTO

Ainda no âmbito da educação básica, há ações que incidem sobre

determinado nível de ensino. Assim, a ação Proinfância é dirigida especificamente à

educação infantil, visando garantir o financiamento para a construção, ampliação e

melhoria de creches e pré-escolas. No que se refere ao ensino fundamental, foram

previstas três ações: uma delas é a Provinha Brasil destinada a avaliar o

desempenho em leitura das crianças de 6 a 8 anos de idade, tendo como objetivo

verificar se os educandos da rede pública estão conseguindo chegar aos 8 anos

efetivamente alfabetizados; a segunda é o Programa Dinheiro Direto nas Escolas

(PDDE), que concederá, a título de incentivo, um acréscimo de 50% de recursos

financeiros às escolas que cumprirem as metas do IDEB; e a terceira é o Gosto de

Ler, que pretende, por meio da Olimpíada Brasileira da Língua Portuguesa, estimular

o gosto pela leitura nos educandos do ensino fundamental. Outro fator importante é

34

que o PIB - Produto Interno Bruto passa de 3,5 % para 5% até 2011 em investimento

na educação básica, através do FUNDEB devendo ser mantido pelos 11 anos

seguintes.

É oportuno destacar que através do PDE está previsto um atendimento

prioritário aos municípios com IDEB baixo, porém a liberação desses recursos é

condicionada à elaboração de um diagnóstico das dificuldades, juntamente com um

plano de gestão e metas para mudar os indicadores educacionais com prazos para

alcançar as metas e previsão dos recursos necessários. É evidente que o governo

continua insistindo no pressuposto de que as escolas necessitam de diagnósticos

para encontrar soluções, como se os problemas já não fossem conhecidos por

gestores, secretários e pelo próprio governo, por meio de programas e planos como

o PNE, e o próprio PDE.

Enquanto isso, como afirma Rut (2008, p.10) “acumula-se “diagnósticos” que

servem mais para cumprir burocraticamente a condição estipulada para o

recebimento de recursos financeiros do poder público do que para orientar as ações

e encontrar as saídas”. O importante é fiscalizar a chegada desses recursos até o

seu destino e que sejam empregados na melhoria da educação: que as escolas com

indicadores baixos tenham um apoio técnico para que possam realmente intervir nos

setores mais deficitários e ainda mais que gestores, secretários e governo trabalhem

em conjunto e buscando promover mudanças reais e efetivas para a vida do

educando.

O ensino médio foi contemplado com uma ação, Biblioteca na Escola, que

pretende colocar nas bibliotecas das escolas obras literárias e universalizar a

distribuição de livros didáticos, contemplando as sete disciplinas que integram o

currículo do ensino médio. Registre-se que essa ação também se propõe, no âmbito

do Programa Nacional Biblioteca da Escola, a distribuir livros de literatura para as

escolas de educação infantil; e, no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático

para a Alfabetização de Jovens e Adultos, a distribuição de livros didáticos para os

educandos dos cursos de alfabetização de jovens e adultos desenvolvidos pelo

Programa Brasil Alfabetizado.

35

No que se refere à educação superior, o Plano inscreve cinco ações: FIES-

PROUNI, que pretende facilitar o acesso ao crédito educativo e estender o prazo de

ressarcimento, além de permitir o parcelamento de débitos fiscais e previdenciários

às instituições que aderirem ao PROUNI. O programa Pós-doutorado é destinado a

reter, no país, pessoal qualificado em nível de doutorado, evitando a chamada "fuga

de cérebros". Já o Professor Equivalente visa facilitar a contratação de professores

para as universidades federais: consta ainda o Educação Superior, cuja meta é

duplicar, em dez anos, o número de vagas nas universidades federais; e o Programa

Incluir: Acessibilidade na Educação Superior, que visa adequar as instalações para a

mobilidade de pessoas deficientes em todos os espaços e atividades das instituições

federais de ensino superior.

Além dos níveis de ensino houve, também, modalidades de ensino que foram

contempladas com ações do PDE. A modalidade Educação de Jovens e Adultos (

EJA) conta com o programa Brasil Alfabetizado. Criado em 2003, esse Programa foi

reformulado no contexto do PDE, prevendo que no mínimo 70% dos alfabetizadores

sejam constituídos por professores da rede pública, que trabalhariam num turno

distinto daquele em que realiza sua atividade regular como docente.

Para a modalidade Educação Especial, foram dirigidas três ações: a) salas de

recursos multifuncionais equipadas com televisão, computadores, DVDs e materiais

didáticos destinados ao atendimento especializado aos educandos deficientes; b)

Olhar Brasil, um programa desenvolvido conjuntamente pelos ministérios da

Educação e da Saúde para identificar os educandos com problemas de visão e

distribuir óculos gratuitamente; c) Programa de Acompanhamento e Monitoramento

do Acesso e Permanência na Escola das Pessoas com Deficiências Beneficiárias do

Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social, dirigido prioritariamente à

faixa etária de 0 a 18 anos.

A modalidade Educação Tecnológica e Formação Profissional também foi

contemplada com três iniciativas: a) a ação educação profissional propõe-se a

reorganizar a rede federal de escolas técnicas, integrando-as nos Institutos Federais

de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET), triplicar o número de vagas pela via da

Educação à Distância (EAD) nas escolas públicas estaduais e municipais e articular

36

o ensino profissional com o ensino médio regular; b) a ação de novos concursos

públicos foi autorizada pelo Ministério do Planejamento, prevendo, além de um

concurso para admitir 191 especialistas no Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação, um outro concurso destinado a preencher 2.100 vagas nas instituições

federais de educação profissional e tecnológica; c) a ação cidades-pólo prevê a

abertura de 150 escolas federais, elevando para 350 o número de unidades da rede

federal de educação tecnológica, com 200 mil novas matrículas até 2010.

Finalmente, a ação Estágio, que deve ser implementada mediante aprovação

de projeto de Lei nº 11.788 de 25 de setembro de 2008, encaminhado ao Congresso

Nacional, caracteriza o estágio como atividade educativa supervisionada e

estabelece as regras de funcionamento que garantam aos estudantes do ensino

superior, ensino profissional e ensino médio a preparação metodológica para o

trabalho.

Podemos dizer hoje que, no âmbito educacional, o PDE é o eixo norteador de

todos os demais programas setoriais existentes no país e em qualquer nível de

ensino. Isso o configura no lugar da política educacional como o elemento mais

importante no momento. Ao articular Estados e Municípios com a União, o PDE

busca uma equalização da política educacional para que suas metas sejam

cumpridas e para poder traçar um panorama do seu próprio desenvolvimento.

Infelizmente, toda ação governamental está sujeita a algumas críticas e com o

PDE não será diferente. As metas estabelecidas pelo governo são bem condizentes

com a realidade da educação, porém ela nos permite algumas ressalvas, primeiro

porque a participação dos municípios ao Plano não é obrigatória o que deixa uma

brecha enorme, pois se os municípios não aderirem os Plano do MEC, todo o

programa poderá ficar prejudicado. Outra questão está relacionada aos resultados,

pois estes só virão se houver uma administração eficiente dos recursos, clareza na

definição das metas e um monitoramento do MEC. Porém, isso precisa ser discutido

dentro da política educacional levando-se em conta a autonomia dos sistemas e a

gestão democrática.

37

Outra ressalva é quanto à criação das creches, que precisam ser vistas,

efetivamente como Instituições de Educação; ressaltamos também que a questão da

qualificação dos professores e o desempenho escolar dos educandos merecem

mais atenção porque os currículos desses cursos de qualificação devem ser bem

definidos, para garantir o objetivo primordial do Plano que é aprendizagem da

criança. Já o desempenho escolar dos educandos deve levar em consideração um

elemento de fundamental importância que é a infraestrutura das escolas que ainda é

precária e onde há muito a fazer em todo o país.

Ressalto, porém que o Plano de Desenvolvimento da Educação está bem

elaborado e possui elementos fundamentais para garantir uma educação pública de

qualidade, além de possuir efetivamente subsídios básicos para o desenvolvimento

das políticas públicas do governo. Além de priorizar a educação básica tem sua

avaliação realizada por meio da Provinha Brasil, no sentido de observar os avanços

na alfabetização; apoiará prioritariamente as redes e os municípios com maiores

dificuldades, além de trabalhar dois pontos fundamentais: a importância da

educação e do professor. A educação como mobilização social, pela via democrática

e revolucionária pela qual pode melhorar a vida das pessoas e a sociedade. Garantir

que os cidadãos tornem-se sujeitos políticos e que mesmo com conhecimentos e

culturas diferentes possam agir e ocupar coletivamente espaços onde podem

efetivamente intervir na construção de melhores condições de vida. Já o professor

deve ser visto como elemento fundamental na construção de uma sociedade melhor;

ele é o elo mediador entre o educando e o conhecimento. Seu papel tem grande

relevância para que tanto as metas do PDE como qualquer outro objetivo proposto

para a melhoria da educação seja atingido.

Por fim, reforço, que as políticas públicas do Governo Lula, para a educação

devem ser vistas como processo ou conjunto de processos que culminam na

escolha de prioridades que têm o objetivo de implementação de metas concretas o

que levará a resultados desejados. E, finalmente estas metas expressam interesses

coletivos, desejados pela sociedade que almeja uma participação democrática.

38

4 - A AVALIAÇÃO COMO MECANISMO DE GESTÃO

Neste capitulo estão presentes algumas reflexões sobre a abordagem dada a

problemática da avaliação. Buscou-se evidenciar quais os principais elementos

utilizados no processo avaliativo e qual a sua intencionalidade. A intenção é

compreender como a avaliação está sendo pensada tanto pelo MEC como pelas

escolas e seus respectivos sistemas de ensino tendo em vista como os dados

apresentados estão sendo analisados e utilizados para uma melhoria do ensino

nacional.

4.1 - RERÊRENCIAS CONCEITUAIS

Ao longo dos anos, os indicadores educacionais são analisados e metas são

traçadas para minimizar o fracasso escolar e para que o país possa promover uma

educação de qualidade. Tem-se evidenciado cada dia mais a questão da avaliação.

O PDE concentrou grande parte da eficácia e verificação dos resultados atingidos na

avaliação dos programas, o que permite pensar que o interesse principal não seria

apenas a melhoria da qualidade da educação nacional, mas também uma

qualificação significativa nos rankings internacionais.

Como bem afirma Zákia (1995, p.45) “a avaliação não é um processo

meramente técnico; implica uma postura política e inclui valores e princípios,

refletindo uma concepção de educação, escola e sociedade”. Neste sentido, é

preciso que a avaliação seja vista e entendida como um processo emancipador, que

busca transpor as ideologias e visa, através dos resultados, auxiliar os objetivos

propostos nos programas educacionais para que estes possam melhor intervir e

mudar a realidade social das escolas brasileiras.

É cada vez maior a utilização e interferência dos instrumentos de avaliação

para a mudança da realidade educacional do país. De fato, em alguns anos o Brasil

tem apresentado bons indicadores em certos setores da educação. Porém, a

avaliação não deve ser vista como instrumento de promoção e controle ou de forma

quantitativa. A importância da avaliação é de acompanhamento do desempenho dos

39

educandos (ou de unidades escolares, ou de redes de ensino, ou de sistemas) para

a correção dos rumos da política educacional, apoiando as intervenções a serem

feitas e no sentido de que o governo saiba em que área intervir, quais os recursos

que devem ser destinados com responsabilidade democraticamente.

Avaliar é um processo amplo e complexo, por isso é necessário uma distinção

e especificidade dos elementos que são considerados num processo de avaliação.

Segundo Libâneo (2008) três elementos são fundamentais neste processo. Ele

considera que:

A avaliação supõe uma coleta de dados e informações, por meio de

diferentes instrumentos de verificação, para saber se os objetivos previstos

estão sendo atingidos. Os juízos de valor (ou valoração) referem-se a uma

apreciação valorativa sobre o evento, atividade ou pessoa, como conclusão

do processo avaliativo. A quantificação, ou menção qualitativa, refere-se à

utilização de alguma forma ou medida a partir de critérios explicitados

previamente. (LIBÃNEO, 2008, p.237)

Esses elementos são essenciais para servir de base à nossa abordem

acerca de uma avaliação democrática, emancipadora e que busca promover uma

educação de qualidade. Ou seja, se a finalidade maior dos processos avaliativos do

governo não for a busca por uma melhor qualidade na oferta da educação, onde a

aprendizagem dos educandos tenha como objetivo construir e ampliar seus

conhecimentos cognitivos, culturais e garantam a sua promoção social, de nada

adiantará termos uma gestão democrática, onde a escolha dos gestores seja feita

com a participação da comunidade, onde novos equipamentos e recursos sejam

garantidos sem que os objetivos com o ensino não sejam atingidos, continuaremos

com taxas elevadas de analfabetismo e baixo rendimento escolar.

Para tanto, devemos compreender que além dos elementos essenciais que

envolvem a avaliação devemos distinguir que a avaliação processa-se em diferentes

âmbitos institucionais nos quais é mais global; da aprendizagem que verifica o

rendimento do aluno; dos sistemas de ensino que tem por objetivo traçar um

40

diagnóstico situacional e amplo sobre o sistema escolar nacional. Estes dados irão

nortear as políticas educacionais que serão desenvolvidas para todo o país.

Na avaliação do educando, realizada pelo professor, avalia-se a

aprendizagem deste aluno, seu processo de construção do conhecimento dentro e

fora da sala de aula e ai está embutida a avaliação do próprio professor. Tais

processos avaliativos estão intrinsecamente interligados e são fundamentais para a

produção de informações e dados sobre a aprendizagem escolar, possibilitando um

acompanhamento e revisão das políticas desenvolvidas e dos objetivos elaborados

além de serem indicadores da qualidade da educação.

É cada vez mais evidente o uso de instrumentos de avaliação para mudar a

realidade educacional do país. No entanto, num sentido mais amplo, a avaliação é

um processo humano que se desenrola cotidianamente, envolvendo ações diárias

do indivíduo através de reflexões, questionamentos e das suas próprias ações.

Os rumos que o governo dará à educação, serão definidos a partir destes

dados, os quais revelam a eficiência e eficácia dos seus programas, porém é

necessário certo cuidado para que a avaliação não passe a ser um critério que

defina e determine os objetivos e finalidades do governo em função dos seus

interesses deixando assim de serem os objetivos que determinem as formas de

avaliação. Outra questão que vale ressaltar é a interferência internacional na

definição das políticas educacionais do país, o que é cada vez mais forte. Existe

força internacional que investe na educação com propósito econômico e para isso

exige-se metas, dados e resultados rápidos.

É preciso transpor esse conceito de avaliação pela busca de resultados e

pensar na avaliação como algo mais abrangente onde os seus processos avaliativos

estejam comprometidos com a formação amancipadora do sujeito, para que esta

seja mais justa, responsável e democrática.

A avaliação democrática e emancipadora envolve o monitoramento de

aspectos que vão além da cultura de dados e resultados. Essa avaliação

compreende aspectos estruturais, técnicos, e humanos. Dessa maneira, a avaliação

passa a ser um dos pontos fundamentais na busca de uma educação de qualidade.

41

É pensando nesse modelo que avaliaremos, agora, os principais instrumentos

de avaliação do governo com um enfoque mais acentuado em dois: o Ideb e o Saeb.

4.2 - INSTRUMENTOS DO PDE

No Brasil, a avaliação nacional do sistema de ensino é realizada pelo MEC,

por meio do Inep. Dentre as ferramentas avaliativas do MEC destacam-se o Enem,

que avalia o desempenho dos alunos do ensino médio em todo o país, a Provinha

Brasil avalia o processo de ensino aprendizagem dos educandos no segundo ano do

ensino fundamental considerando seu desempenho em relação às disciplinas de

língua portuguesa e matemática. A intenção é oferecer aos professores e gestores

escolares um instrumento que permita acompanhar, avaliar e melhorar a qualidade

da alfabetização e do letramento inicial oferecidos às crianças. Já a Prova Brasil e o

Saeb buscam, no seu processo de larga escala, identificar a qualidade do ensino

oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados e

questionários socioeconômicos que produz informações a respeito da realidade

educacional por regiões brasileiras.

Nos testes aplicados na quarta e oitava séries (quinto e nono anos) do ensino

fundamental e na terceira série do ensino médio, os estudantes respondem a itens

(questões) de língua portuguesa, com foco em leitura; e matemática, com foco na

resolução de problemas. No questionário socioeconômico, os estudantes fornecem

informações sobre fatores de contexto que podem estar associados ao

desempenho.

As médias de desempenho nessas avaliações também subsidiam o cálculo

do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ao lado das taxas de

aprovação nessas esferas juntamente com o Censo Escolar realizado pelo Inep, que

coleta dados e informações da educação básica, educação especial e de jovens e

adultos (EJA). O Censo coleta dados referentes a matrículas, funções docentes,

movimento e rendimento escolar. Esses dados além de traçar um panorama

nacional da educação básica são determinantes para a formulação de políticas

públicas e execução de programas que possibilitam o repasse de recursos públicos

42

como merenda e transporte escolar, distribuição de livros e uniformes, Programa

Dinheiro Direto na Escola e Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Principal elemento de avaliação do PDE, o Ideb combina os resultados da

Prova Brasil com os resultados obtidos pelo Censo Escolar aprovação, movimento

abandono escolar dos alunos do ensino fundamental e médio. Estes indicadores

servem de referência para as metas do PDE.

Dessa forma a maioria das ações do governo passar a ser determinada por

um único índice que concentra as demais formas avaliativas do MEC para a

educação e o Ideb apresentado passa a ser determinante para elaboração e fixação

de metas de desenvolvimento de médio e longo prazo para todas as instâncias.

Assim o PDE:

(...) promove profunda alteração na avaliação da educação básica.

Estabelece, inclusive, inéditas conexões entre avaliação, financiamento e

gestão, que invocam conceitos até agora ausente do nosso sistema

educacional: a responsabilização e, como decorrência, a mobilização

social.(BRASIL, 2007, p.19)

Contudo é preciso cautela para não termos ai o que Saviani (2007, p. 31)

chama de “pedagogia de resultados”. Todas as ferramentas e formas de avaliação,

os avanços e a novas formas de pensar a avaliação propostas pelo PDE, devem

estar a serviço da melhoria da educação oferecida. Ou seja, a intenção maior de

obter dados, resultados e diagnósticos é avaliar se os objetivos postos nos

programas estão sendo cumpridos, se dão conta de resolver as desigualdades

regionais existentes entres as escolas do país, se os recursos estão sendo aplicados

com responsabilidade, professores e gestores estão ampliando sua formação e

principalmente se tudo isso está promovendo a aprendizagem dos educandos.

Para dar o resultado do Ideb, é realizada uma combinação entre os dados de

evasão e repetência coletados pelo Censo Escolar e a aprendizagem apresentada

pelos educandos na Prova Brasil. Após verificar esses dois elementos que avalia a

43

educação básica o governo tem um panorama geral de como está a Educação

Básica. As instituições que apresentarem grande taxa de evasão e repetência e

tiverem notas baixas na Prova Brasil, que verifica a aprendizagem dos conteúdos de

língua portuguesa e matemática terão os menores Ideb e o mesmo acontece com as

que apresentam os melhores resultados.

Com base nesses dados o governo mede a qualidade da educação nacional

e traça os objetivos e metas para que as instituições escolares que tenham

apresentado um Ideb ruim ou abaixo da média possam melhorar. O Ideb pretende

com isso,

(...) identificar as redes e as escolas públicas mais frágeis a partir de

critérios objetivos e obriga a união a dar respostas imediatas para os casos

mais dramáticos ao organizar o repasse de transferências voluntarias com

base em critérios substantivos, em substituição ao repasse com base em

critérios subjetivos. (BRASIL, 2007, p. 23).

Porém, vale ressaltar que as intervenções e reformas, assim como os

recursos a serem investidos, não devem induzir à competitividade. O objetivo maior

das avaliações realizadas dos sistemas de ensino é garantir uma educação de

qualidade e não apenas de resultados, pois os problemas são bem diagnosticados e

conhecidos e o que se deseja agora é que as ferramentas avaliativas disponíveis

ofereçam condições necessárias para que efetivas mudanças realmente aconteçam

na educação, sejam elas estruturais, financeiras ou gestoras.

Não podemos deixar que a busca por uma educação de qualidade recaia

sobre os resultados. É preciso ver que a avaliação, como elemento que fornece

informações que servem para padrões de desempenho, possa melhorar no

rendimento escolar, permita o monitoramento das escolas, melhorias nas formas de

gestão, currículo, projetos pedagógicos e demais elementos que possam influenciar

na oferta de uma educação democrática, emancipadora e de qualidade.

O objetivo da avaliação dos sistemas educacionais, como vimos, vai além de

registrar e apresentar dados; o seu intuito maior está na melhoria da qualidade da

educação. Por isso a sua importância para o governo ao qual cabe ver estes

44

resultados pelo prisma da autoavaliação dos seus programas, pois aponta o que

deve ser repensado ao passo que possibilita avançar onde está dando certo.

Avaliar está intimamente ligado à qualidade como veremos logo adiante.

Então, é preciso ver a avaliação como um conjunto que se articula com a gestão e o

projeto pedagógico da escola, com a comunidade, que desdobra-se no currículo e

autonomia escolar, servindo de base a estratégias para que todas as escolas,

indistintamente de que sua região seja mais ou menos favorecida, tenha os

instrumentos e mecanismos suficientes para garantir uma aprendizagem que

garanta ao educando a construção e ampliação do seu conhecimento, além de uma

formação crítica e emancipadora que lhe possibilite ler e pensar o mundo.

4.3 - AVALIAÇÃO E QUALIDADE

Durante toda a pesquisa nos remetemos ao termo qualidade, no entanto, a

que qualidade nos referimos quando se trata de educação? Em todo texto

sinalizamos que os programas de governo pretendem, com seus objetivos e metas,

oferecer uma educação de qualidade.

Em sentido mais abrangente, qualidade escolar refere-se tanto ao grau de

excelência baseado numa escala de valor quanto aos atributos de uma organização

ou serviço. É grande também o número de definições e elementos para definir a

qualidade dentro da educação. Entendendo a educação como um fenômeno da

ação política e social, Libâneo define que:

Educação de qualidade é aquela que promove para todos o domínio de

conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas, operativas

e socais dos alunos, à inserção no mundo do trabalho, à constituição da

cidadania, tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa e

igualitária.( LIBÂNEO, 2008, p.66.)

Nesse sentido uma educação de qualidade é aquela que visa ampliar as

capacidades humanas do sujeito. Entre as modalidades de qualidade dentro da

educação merece destaque a de Demo (1999). Segundo ele, a qualidade no campo

45

educativo distingue-se em qualidade formal e qualidade política. A qualidade formal

refere-se ao nível de perfeição dos instrumentos e meios para se chegar ao

conhecimento, a maneira como a prática acontece, como a criança aprende e os

elementos que a escola dispõe para este fim. Já a qualidade política diz respeito aos

fins, valores e intencionalidades do conhecimento, ou seja, como estes irão intervir

na realidade pensando o bem comum. Indo mais além, Demo diz que qualidade:

Não é dos meios, mas dos fins. Não é de forma, mas de substancias. Na

verdade parte-se do ponto de vista de que somente o homem produz

qualidade. Ou de que a qualidade é uma conquista humana, em sua

história, em sua cultura. (DEMO, 1999, p.12)

Segundo o PDE, sua preocupação maior é atacar o problema qualitativo da

educação básica e para isso seus programas propõem-se a atingir o objetivo da

melhoria da qualidade da educação através do apoio técnico e financeiro as escolas

com deficiências, formação de professores, junto com a avaliação construída a partir

dos indicadores apresentados pelas instituições de ensino, onde estão expressos os

rendimentos dos educandos.

Cumpre, todavia, pensar que, tanto os resultados como os elementos e

processos que determinam os critérios e as estratégias de intervenção do governo,

através dos seus programas para a garantia da qualidade, deve considerar a

singularidade de cada escola, de cada região, além de não interferir na sua

autonomia. É necessário considerar neste processo de avaliação a busca da

qualidade como os educandos estão aprendendo, quais os recursos que estão

sendo utilizados para promover sua aprendizagem e se estes educandos estão

sendo capazes de pensar sobre o que aprendem, de intervir na sociedade e se

estão sendo cidadãos mais críticos, humanos e sociais.

Pensando assim, concluímos que uma educação que pensa e deseja ser de

qualidade deve promover e assegurar uma formação sólida, que desenvolva

processos de formação para a cidadania e para o respeito e esteja comprometida

46

com a elevação do nível de escolaridade dos seus educandos, através da

construção do conhecimento, autonomia, integração cultural e tecnológica. Além de

dispor das condições físicas e matérias para o funcionamento do trabalho.

Cabe, portanto, aos estados e municípios garantir, incentivar e criar meios

para que a educação de fato aconteça. É mais que necessário e urgente pensar um

ensino de qualidade para todos, visando o pleno desenvolvimento do educando e

garantido as ferramentas essências, sejam elas financeiras ou operacionais para

que o seu desenvolvimento seja integral.

As considerações anteriores mostram que a avaliação não é o elemento mais

importante no processo de uma educação de qualidade e esta afirmativa nos

permite alertar que a forma e os instrumentos que o governo utiliza para considerar

se a educação está sendo ou não de qualidade depende de resultados, de dados

que não consideram a educação como um todo nem suas variadas formas de

avaliação como um processo que depende de outros fatores. Desse modo, estes

indicadores ainda são insuficientes para medir a qualidade da educação, pois por

mais que sejam bons não consideram todos os componentes de uma educação de

qualidade os quais não podem ser medidos. É necessário alertar que para aferir a

qualidade da educação é preciso considerar as dimensões cognitivas, afetivas, e

morais, além disso, esse processo dispõe das condições materiais e humanas,

remuneração digna dos profissionais e sua ampla formação. Além do que, medir o

desempenho dos aducandos por meio de exames e provas não da conta de garantir

a aprendizagem já que esta vai além do cognitivo, perpassa também dimensões

afetivas, ética, cultural e social.

47

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a pesquisa pode-se perceber que o PDE representa um passo

importante no enfrentamento do problema da qualidade da educação. É um avanço

do Plano apresentar metas especificas para essa questão, além de construir

instrumentos de intervenção. Outro avanço do Plano é a receptividade em relação à

opinião pública referente à promoção de uma educação de qualidade. Contudo

outras considerações precisam ser feitas em relação ao grande investimento com a

preocupação com os resultados.

O PDE configura um plano de caráter global que traça um panorama

situacional da educação do país, porém é necessário entender que os investimentos

e melhorias não podem estar atrelados apenas a resultados. Isso implica que os

municípios com baixos rendimentos não podem utilizar-se de dados antigos como os

que têm bom desempenho não podem manipular os dados em função do repasse

das verbas. Então isso deixa claro, que não há uma amarração condizente do Plano

que dê conta de garantir que a preocupação com a melhoria, promoção e busca de

uma educação de qualidade, democrática que visa dar os subsídios necessários

para que haja uma aprendizagem com responsabilidade, significativa e

emancipadora será atingida.

Outra questão importante diz respeito ao Plano não considerar o grande

diagnóstico e importante metas contidas no PNE já que o próprio PDE não se

configura um Plano propriamente dito e sim um programa de metas e objetivos a

serem atingidos.

Primeiramente, todo programa ou plano de governo tem uma perspectiva

política e com o PDE não é diferente. Sua implementação ocorreu em um ano de

mudança de governo e como sempre acontece cada grupo apresenta suas

propostas e planos para os diversos setores de desenvolvimento da sociedade

(saúde, esporte, economia) e com a educação não foi diferente tanto que tínhamos

um Plano Nacional de Educação e este foi substituído pelo PDE.

48

Mas independente da perspectiva política ou partidária a educação e os

demais bens sociais devem ser providos pelo governo. Percebemos então, que,

mesmo substituindo e não agregando metas do PNE, o PDE, com as falhas que aqui

já foram apresentadas, tem objetivos e metas que podem dar um salto de qualidade

na educação brasileira.

É preciso reconhecer que, no que diz respeito ao aspecto financeiro e

infraestutural o PDE representa grande avanço. Contudo, para êxito e garantia de

que seu objetivo principal seja cumprido, e não se perca, é preciso que estes

investimentos e a grande intervenção avaliativa não ganhem mais visibilidade e

importância do que as ações empreendidas e as repercussões disso no cotidiano da

escola.

Outra consideração importante deve ser feita com relação às significativas

mudanças propostas para a educação básica principalmente no que diz respeito ao

problema da qualidade. Três dos seus principais programas têm a melhoria da

educação básica como principal objetivo. E para isso o PDE apresentou o Ideb para

mediar e avaliar os resultados dos investimentos e recursos destinados a este nível

de ensino, a Provinha Brasil que acompanha o desempenho da aprendizagem dos

educandos e o Piso Magistério que se preocupa em capacitar e ampliar a formação

dos professores para que as mudanças aconteçam nas salas de aula efetivamente e

os objetivos sejam alcançados e tenhamos uma educação de qualidade. É evidente

que ainda há muito a ser feito, mas este é um processo longo que requer seriedade

e envolvimento de todos para que os programas sejam aplicados e os educandos

comecem a mostrar, na prática, agindo socialmente e interagindo no mundo que

estão tendo uma educação justa, responsável e socialmente emancipadora.

Em suma, concluímos que ainda há muito a ser feito para que haja realmente

uma mudança significativa na educação brasileira e isso vai além da destinação de

recursos. É preciso pensar a educação com uma política social que implica

mudanças em todos os âmbitos da sociedade. Precisamos tratar a educação com

seriedade e para isso, devemos sair do discurso e passar à prática, à vontade

política de mudar. Os investimentos apresentados pelo PDE só terão real eficácia se

49

considerar que ainda temos escolas e professores em condições mínimas de

trabalho, em pleno século XXI, o que é inadmissível. Urge transformar as escolas

em um lugar estimulante, com professores formados em cursos sérios e de longa

duração, com salários justos e que faça jus ao papel social deste profissional.

Escolas onde as crianças possam permanecer em tempo integral e o país consiga

acabar o problema do fracasso escolar.

Ainda no âmbito da educação verificamos que promover uma educação de

qualidade envolve assegurar as escolas e aos gestores um projeto pedagógico

condizente com as necessidades locais de cada região, seriamente pensado para a

melhoria da aprendizagem e isso implica considerar a singularidade local, a cultura e

as condições de trabalho.

Finalmente, nessas condições o país poderá oferecer uma educação

responsável, democrática e condizente com as suas principais diretrizes e teremos

realmente uma educação de qualidade, garantindo o acesso dos educandos a

cultura, os conhecimentos socialmente construídos e sistematizados além.

50

REFERÊNCIAS

ATARDE, Jornal. Caderno 1, Salvador, 27 de abril, 2007. p: 4 SOUSA, Clarilza Prado (org.) Avaliação do rendimento escolar. 4ª Ed – Campinas, SP: Papirus, 1995. (coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico) BRANDÃO, CARLOS RODRIGUES. O que é educação. São Paulo. Editora Brasiliense, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. - MEC. Plano Nacional de Educação. Brasília, 2000. Disponível em: < http://www.mec.gov.br/pne. Acesso permanente __________________________ Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional. Brasília, 1996. Disponível em <http://www.mec.gov.br/ldb. Acesso em 15/06/2010. ___________________________. Plano de Desenvolvimento da Educação. Brasília, 2007. Disponível em < http://www.mec.gov.br/pde. Acesso permanente. DAGNINO, Evelina. (org.) Sociedade civil e espaços públicos o Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2002. DEMO, Pedro. Educação e qualidade. 6 ed. Editora Papirus, são Paulo, 1994. ___________. Avaliação qualitativa. 6 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. (coleção polemicas do nosso tempo) FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro Editora Nova Fronteira, , 1986.p: 860, 1358, 1424 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direitos Administrativos. 8 ed. Editora Lúmen Júris.Rio de Janeiro, 2001.p:246-248. GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. 5 ed. São Paulo.Ática 1994, GENTILI, Pablo e MCCOWAN, Tristan. Reinventar a escola pública. Política educacional para um novo Brasil. Petrópolis, Vozes, 2003. _____________ (org.) Pedagogia da exclusão: O neoliberalismo e a crise da escola pública/ Michel W. Aplle... [et al.]. Petrópolis, RJ: vozes, 1995. (coleção estudos culturais em educação)

51

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos Para Quê? São Paulo: Editora Cortez, 2002. ____________________. Organização e gestão da escola: teoria e prática/ 5 ed. Revista e ampliada. Goiânia; MF livros, 2008. Krawczyk, Nora Rut. O PDE: novo modo de regulação estatal? Cadernos de Pesquisa. v. 38, n. 135. São Paulo: Setembro/ dezembro. 2008. Disponível em < http://www.scielo.com.br. Acesso em 12/05/2010. SAVIANI, Dermeval. Da nova LDB ao Plano Nacional de Educação: por uma outra política educacional. 4 ed. Campinas, SP:Autores Associados, 2002 ________________O Plano de Desenvolvimento da Educação: análise do projeto do MEC. Educação e Sociedade. V. 28, n. 100, Campinas outubro de 2007. Disponível em < http://www.scielo.com.br. Acesso em 29/04/2010 SAUL, A. M. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e a prática de avaliação e reformulação de currículo. São Paulo: Cortez, 1995. VIEIRA, Sofia Lerche. Gestão, avaliação e sucesso escolar: recortes da trajetória cearense. Estudos avançados. V. 21, n 60. São Paulo, maio/ agosto de 2007. . Disponível em < http://www.scielo.com.br. Acesso em 28/04/10 VALENTE, Arnoldo. Governo empreendedor e estado-rede na gestão pública brasileira. IN. Gestão Pública. Salvador. FLEM, 2001. p: 87 ZÁKIA, Sandra. Revisando a teoria da avaliação da aprendizagem. In: SOUSA, Clarilza Prado (org.) Avaliação do rendimento escolar. 4ª Ed – Campinas, SP: Papirus, 1995. (coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico) Entrevista com Fernando Haddad. Fundação Victor Civita. Ed. Abril. Maio 2007. p: 20- 44. WWW.mec.gov.br. Consulta constante. WWW.scielo.com.br. Consulta constante Consultas DEMO, Pedro. Dialética da felicidade: felicidade possível, volume III- Petrópolis. RJ: vozes, 2001 FREIRE, Paulo. A educação na cidade. Prefacio de Moacir Gadotti e Carlos Alberto Torres; notas de Vicente Chel. – 7 ed. – São Paulo: Cortez, 2006.