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A POLÍTICA SOCIAL DA UNIÃO EUROPEIA DE ROMA AO PILAR EUROPEU DE DIREITOS SOCIAIS ACERVO JURÍDICO GRAÇA ENES SEMINÁRIO “POLÍTICAS SOCIAIS : A AÇÃO DA UE, RECOMENDAÇÕES PARA PORTUGAL, E ACERVO LEGISLATIVO DA EU” LISBOA, COMISSÃO EUROPEIA, 28 DE JUNHO DE 2018

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A POLÍTICA SOCIAL DA UNIÃO EUROPEIA

DE ROMA AO PILAR EUROPEU DE DIREITOS SOCIAIS

ACERVO JURÍDICO

GRAÇA ENES

SEMINÁRIO “POLÍTICAS SOCIAIS : A AÇÃO DA UE, RECOMENDAÇÕES PARA PORTUGAL, E ACERVO LEGISLATIVO DA EU”

LISBOA, COMISSÃO EUROPEIA, 28 DE JUNHO DE 2018

A DIMENSÃO SOCIAL ORIGINAL 1952-1989

◦Suporte do mercado comum – reconversão, e formação do fator trabalho – o FSE; na década de 1970, a implementação de uma política de formação profissional; o primeiro plano de ação social;

◦Acessória da liberdade de circulação dos trabalhadores – a articulação dos direitos de segurança social; o reconhecimento de qualificações;

◦Não discriminação salarial entre homens e mulheres (artigo 117º TCEE, atual 157º TFUE)

A POLITICA SOCIAL COMO DIMENSÃO AUTÓNOMA DA UE 1989 - …

◦ A Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais dos Trabalhadores, de 1989 – um embrião de uma política social a 11;

◦ Um novo capítulo do Tratado de Maastricht e o Protocolo Social a 11;

◦ O emprego como preocupação política europeia – a Declaração do Luxemburgo (a Estratégia Europeia para o Emprego) e o novo capítulo do Tratado de Amesterdão sobre o emprego;

◦ A CDF garante e promove uma série de princípios fundamentais que são essenciais para o modelo social europeu. As disposições têm por destinatários as instituições, órgãos e organismos da União, na observância do princípio da subsidiariedade, bem como os Estados-Membros, apenas quando apliquem o direito da União;

◦ O fundo Europeu para o Ajustamento da Globalização de 2006;

◦ O Tratado de Lisboa, nomeadamente o artigo 9º TFUE;

◦ O Pilar Europeu de Direitos Sociais de 2017 e a Declaração de Roma de 25 de março de 2017.

◦ O PARENTE POBRE NAS FINANÇAS EUROPEIAS – a percentagem do orçamento da União dedicado à política social é de c. 0.3 % (cf. European Commission, Reflection Paper on the Social Dimension of Europe, p. 24). Serve essencialmente para a integração de grupos desfavorecidos, v.g. os Roma, e para apoiar a adaptação dos trabalhadores às mudanças nos mercados de trabalho

BASES E LIMITES JURÍDICOS

Artigo 3.º TUE: a União tem como objetivos (…) promover o bem-estar dos seus povos e empenhar-se no desenvolvimento sustentável da Europa, assente (…) numa economia social de mercado altamente competitiva que tem como meta o pleno emprego e o progresso social e num elevado nível de proteção e na melhoria da qualidade ambiental. A União combate a exclusão social e as discriminações, promove a justiça e a proteção sociais, a igualdade entre homens e mulheres, a solidariedade entre gerações e a proteção dos direitos da criança.

SOBRE UMA REALIDADE SOCIAL DIVERSA VIGORA UMA MANTA DE RETALHOS JURÍDICA com alcances diversos

(1) UMA HARMONIZAÇAO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO – medidas art. 4º, nº 2, als. b) e c), potencial harmonização, mas com preempção limitada;

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW – ações art. 4º, nº 2, als. b) e c); art. 5º, nºs 2 e 3, neste caso sem preempção;

(3) UM ACERVO DE DIREITOS CASUÍSTICO MODELADO PELO TRIBUNAL com os inerentes limites e flutuações

A “POLÍTICA SOCIAL” EUROPEIA NÃO SE SUBSTITUI À POLÍTICA SOCIAL NACIONAL E O NÍVEL EUROPEU É OBSCURECIDO

BASES E LIMITES JURÍDICOS

Limites:

princípio das competências de atribuição (artigo 5º; nºs 1 e 2 TUE);

princípio da subsidiariedade (artigo 5º, nº 3 TUE);

harmonização mínima (artigo 153º, nº 2, al. b) e nº 4 TFUE);

exclusão de competência legislativa no combate à exclusão social e na modernização dos sistemas de proteção social (artigo 153º, nº 2, al.b) TFUE)

condicionalismo jurídico: artigo 52º CDF

condicionalismo político: “a necessidade de manter a capacidade concorrencial da economia da União” (artigo 151º, § 2 TFUE), em especial das PME (artigo 153º, nº 2, al. b); a ressalva do “equilíbrio financeiro dos sistemas de segurança social nacional”)

Domínios excluídos da competência europeia:

nível das remunerações (não o direito à remuneração sem discriminação ou a férias remuneradas); direito sindical; direito à greve; lock out (artigo 153º, nº 5 TFUE) – interpretação restritiva da derrogação (caso Impact, C-268/06; Caso Iolanda Del Cerro, C-307/05 – remuneração inclui pensões).

BASES JURÍDICAS TFUE - dimensões: (1) mercado interno; (2) a política social; (3)

acervo casuístico jurisprudencial (1) livre circulação dos trabalhadores (arts. 45.º a 48.º); direito de estabelecimento (arts. 49.º a 55.º)

(2) política social (arts. 151.º a 161.º),

• promoção do diálogo entre parceiros sociais (art. 154.º), incluindo os acordos celebrados e aplicados a nível da União (art. 155.º);

• da igualdade de remuneração entre homens e mulheres por trabalho igual (art. 157.º);

• outras dimensões com alcance social:

◦ contribuição para o desenvolvimento de uma educação e formação profissional de qualidade (arts. 165.º e 166.º);

◦ ação da União a complementar as políticas nacionais e promover a cooperação no domínio da saúde (art. 168.º);

◦ coesão económica, social e territorial (arts. 174.º a 178.º);

◦ definição e da supervisão da execução das orientações gerais das políticas económicas (art. 121.º);

◦ definição e da análise da execução das orientações em matéria de emprego (art. 148.º);

◦ a aproximação das legislações (arts. 114.º a 117.º) e a obrigação imposta no art. 9º.

(1) DIMENSÃO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO

COORDENAÇÃO DOS SISTEMAS NACIONAIS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL INSTRUMENTAL DA LIVRE CIRCULAÇÃO de trabalhadores assalariados e não assalariados relativas à aquisição, manutenção e pagamento das prestações de segurança social contributiva e não contributiva, exceto a assistência social ou médica – art. 48º TFUE

• Regulamento (CE) n.º 883/2004, que substituiu o Regulamento (CEE) n.º 1408/71. Tem por objetivo a simplificação das regras da UE existentes em matéria de coordenação dos regimes de segurança social dos Estados-Membros, mediante o reforço da cooperação entre as instituições de segurança social e a melhoria dos métodos de intercâmbio de dados entre essas instituições.

• Em março de 2018 a Comissão apresentou uma proposta de recomendação do Conselho relativa ao acesso à proteção social dos trabalhadores por conta de outrem e por conta própria. Isto visa colmatar as lacunas de cobertura formal, garantindo que os trabalhadores por conta de outrem e os independentes que trabalham em condições comparáveis podem ser membros dos sistemas de segurança social correspondentes (ultrapassaria a controvérsia para trabalhadores do tipo Uber). Além disso, uma das suas recomendações é facilitar a transferência dos direitos de segurança social de um posto de trabalho para outro.

Processo legislativo ordinário, mas com um mecanismo de salvaguarda dos interesses nacionais “à Luxemburgo” – a suspensão do processo decisório com apelo ao consenso no Conselho Europeu (art. 48º, § 2 e Declaração 23), que, se não for alcançado, impede a adoção do ato proposto.

(1) DIMENSÃO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO

HARMONIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO, com a imposição de standards mínimos em domínios como a segurança e saúde dos trabalhadores, o tempo de trabalho, o direito à informação, consulta e à participação nas decisões empresariais

• Diretiva 89/391/CEE do Conselho, de 12 de junho de 1989, relativa à aplicação de medidas destinadas a promover a melhoria da segurança e da saúde dos trabalhadores no trabalho

• Diretiva 2003/88/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa a determinados aspetos da organização do tempo de trabalho (Diretiva Tempo de Trabalho), interpretada pela Comunicação interpretativa sobre a Diretiva 2003/88/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa a determinados aspetos da organização do tempo de trabalho, de 24/5/2017

◦ Há outros atos específicos para o trabalho jovem (Diretiva 94/33/CE do Conselho) e para setores específicos como o transporte rodoviário, o transporte ferroviário transfronteiriço, a aviação civil e o transporte marítimo e em vias navegáveis interiores

(1) DIMENSÃO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO

DIREITO À INFORMAÇÃO E CONSULTA A NÍVEL NACIONAL sobre um conjunto de questões importantes relacionadas com o desempenho económico, a solidez financeira e os planos de desenvolvimento futuro das suas empresas que possam afetar o emprego:

• A Diretiva 98/59/CE do Conselho (codificação), relativa aos despedimentos coletivos;

• A Diretiva 2001/23/CE do Conselho, relativa à manutenção dos direitos dos trabalhadores em caso de transferência de empresas ou de estabelecimentos, ou de partes de empresas ou de estabelecimentos;

• A Diretiva 2002/14/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, que estabelece um quadro geral relativo à informação e à consulta dos trabalhadores na Comunidade Europeia, definindo normas processuais mínimas em matéria de proteção do direito do trabalhador a ser informado e consultado sobre a situação económica e de emprego que afeta o seu local de trabalho.

Não se aplicam à Administração Pública, o que foi confirmado pelo Tribunal (casos Nolan, C-583/10, e Scattolon, C-108/10), aos trabalhadores marítimos e às PME

(1) DIMENSÃO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO

DIREITOS DE INFORMAÇÃO E CONSULTA DOS TRABALHADORES EM SITUAÇÕES TRANSNACIONAIS (exemplos):

• Diretiva 2009/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à instituição de um Conselho de Empresa Europeu: a presente diretiva contém regras gerais destinadas a garantir que os trabalhadores das grandes empresas multinacionais e das empresas em processo de fusão sejam informados e consultados. Os Conselhos de Empresa Europeus congregam as administrações centrais e os representantes dos trabalhadores de toda a Europa para debater temas como o desempenho de uma empresa, as perspetivas e o emprego e as políticas de reestruturação e recursos humanos. Além disso, foram concedidos aos trabalhadores determinados direitos em matéria de informação e consulta no domínio do ambiente de trabalho.

• A Diretiva 2004/25/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa às ofertas públicas de aquisição, nos termos da qual os trabalhadores das empresas em causa, ou os seus representantes, devem ter a oportunidade de manifestar as suas opiniões sobre os efeitos previsíveis da oferta no emprego.

(1) DIMENSÃO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO

DIREITOS DE PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES NO PROCESSO DECISÓRIO EMPRESARIAL APLICÁVEL ÀS SITUAÇÕES EM QUE EXISTA UMA COMPONENTE TRANSNACIONAL (exemplos):

• Diretiva 2001/86/CE do Conselho, de 8 de outubro de 2001, que completa o estatuto da sociedade europeia [Regulamento (CE) nº 2157/2001], no que respeita ao envolvimento dos trabalhadores;

•Diretiva 2003/72/CE do Conselho, de 22 de julho de 2003, que completa o estatuto da sociedade cooperativa europeia [Regulamento (CE) n.º 1435/2003 do Conselho] no que respeita ao envolvimento dos trabalhadores; ◦ Na ausência de direitos adicionais a nível europeu relativos à participação dos trabalhadores no

processo decisório nos conselhos de supervisão, o Tribunal de Justiça, no caso Erzberger, C-566/15, decidiu que era legítimo limitar a aplicação dos direitos nacionais a este respeito às empresas que operam no território nacional.

(1) DIMENSÃO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO

O Pilar Europeu dos Direitos Sociais prevê o direito de todos os trabalhadores, em todos os setores, serem informados e consultados, diretamente ou por intermédio dos seus representantes, sobre quaisquer assuntos do seu interesse, tais como a transferência, a reestruturação e a fusão de empresas e os despedimentos coletivos. O documento vai além do atual acervo comunitário, na medida em que é independente do número de trabalhadores em causa e que, ao prever o direito de os trabalhadores serem informados, mas também consultados, sobre quaisquer operações de uma empresa, implica também uma troca de pontos de vista e a manutenção de um diálogo contínuo com o empregador. Porém, sem medidas de execução, nacionais ou europeias, não sairão do papel…

RECONHECIMENTO DE DIPLOMAS PARA NÃO OBSTAR ÀS LIBERDADES DE CIRCULAÇÃO ◦ Em geral, a Diretiva 2005/36/CE do Parlamento Europeu e do Conselho

(1) DIMENSÃO INSTRUMENTAL DO MERCADO INTERNO

IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES (exemplos)

• Diretiva 2006/54/CE do parlamento Europeu e do Conselho, relativa à aplicação do princípio da igualdade de oportunidades e igualdade de tratamento entre homens e mulheres em domínios ligados ao emprego e à atividade profissional (reformulação).

• Diretiva 2010/41/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa à aplicação do princípio da igualdade de tratamento entre homens e mulheres que exerçam uma atividade independente

• Diretiva 2004/113/CE do Conselho, que aplica o princípio de igualdade de tratamento entre homens e mulheres no acesso a bens e serviços e seu fornecimento

PROMOÇÃO DA IGUALDADE E NÃO DISCRIMINAÇÃO (exemplos)

• Regulamento 1381/2013, que cria o Programa «Direitos, Igualdade e Cidadania» para o período de 2014 a 2020

• Diretiva 2000/43/CE do Conselho, que aplica o princípio da igualdade de tratamento entre as pessoas, sem distinção de origem racial ou étnica

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW

FRAGMENTAÇÃO VERTICAL: competência partilhada da política social (artigo 4º, nº 2 , al. b) TFUE); coordenação das políticas económicas e de emprego (artigo 2º, nº 3 e artigo 5º, nº 2 TFUE); coordenação das políticas sociais dos EM (artigo 5º, nº 3 TFUE)

TRANSVERSALIDADE HORIZONTAL: Além do evidente relevo social de domínios como o emprego, a educação ou a formação profissional, é uma condição política transversal (art. 9º TFUE) nas várias políticas, da educação aos cuidados de saúde, à não discriminação, e inclui-se agora na avaliação realizada no quadro do “semestre europeu”, no Plano de Investimento para a Europa, na União para a energia, ou na esfera externa, em acordos internacionais como o CETA

DIREITO PRIMÁRIO SUBSTANTIVO RELEVANTE - Título X do TFUE (Política Social - artigos 151º - 161º); os Títulos XI (FSE) e XII (Educação, formação profissional, juventude e desporto), além das disposições que preveem medidas para combater a discriminação (artigo 19º TFUE); medidas de segurança social e proteção social indispensáveis à livre circulação (artigo 21º, nº 3 TFUE; artigo 48º TFUE)

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW

UMA POLÍTICA SOCIAL ASSENTE EM SOFT LAW

• Um “programa político de boas intenções” (art. 3º, nº 3 TUE)

• Adicionalidade do nível europeu ao nacional – um domínio de ação europeia + 27/28 políticas nacionais

• Objetivos nobres (artigo 151º TFUE), mas sem solidez e uniformização jurídica: subsidiariedade reforçada (a União apoia os EM); legitima a diversidade e identidade das políticas nacionais

• É reconhecido um modelo social tripartido (União/EM/Parceiros sociais) diferenciado entre os EM

Não é uma política comum, mas um domínio de ação - “processos previstos nos Tratados” e “aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas” - que reconhece a diversidade das práticas nacionais (art. 151º TFUE)

Em matérias como a segurança social, proteção no despedimento dos trabalhadores, ação coletiva laboral e condições de emprego dos nacionais de países 3ºs prevê-se a deliberação do Conselho por unanimidade

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW

Instrumentos e fontes:

• Medidas de apoio financeiro às políticas nacionais;

• Cooperação e reconhecimento das melhores práticas, com exclusão da harmonização legislativa (art. 153º, nº 2, a) e 156º TFUE;

• Soft law (artigo 153º, nº 2, al. a) TFUE; artigo 156º TFUE) – recomendações de política social, coordenação das políticas de emprego, o MAC;

• Diretivas de harmonização legislativa e regulamentar mínima e progressiva (artigo 153º, nº 2, al. b) TFUE), sobretudo relacionados com as condições laborais, excecionando a luta contra a exclusão social e a modernização dos sistemas de proteção social

• Direito nacional

• Direito privado (artigo 155º, nº 2, 1ª parte TFUE) – acordos-quadro europeus

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW

PROCEDIMENTOS NORMATIVOS DIVERSOS

• Processo legislativo ordinário

• Processo legislativo especial (consulta PE e unanimidade Conselho) – segurança social e proteção social dos trabalhadores; proteção dos trabalhadores em caso de rescisão do contrato; representação coletiva; condições de emprego de nacionais de países terceiros

• A execução pelos parceiros sociais (artigo 153º, nº 3 TFUE)

• A receção normativa de acordos coletivos europeus (artigo 155º, nº 2, 2ª parte TFUE)

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW

Diálogo social com organizações representativas da sociedade civil e internacionais (ex. Cimeira Social Tripartida (art. 152º e 154º-155º TFUE)

• Resultados: Os acordos-quadro concluídos na sequência do diálogo interprofissional ao nível europeu: Contratos de trabalho a termo - Diretiva 99/70/CE relativa aos contratos de trabalho a termo; Igualdade de tratamento dos trabalhadores temporários - Diretiva 2008/104/CE relativa ao trabalho temporário; Trabalho a tempo parcial - Diretiva 97/81/CE relativa ao trabalho a tempo parcial; - Licença parental - Diretiva 2010/18/UE do Conselho, que aplica o Acordo-Quadro revisto sobre licença parental, celebrado entre a Businesseurope, a UEAPME, o CEEP e a CES e que revoga a Diretiva 96/34/CE

• A execução das diretivas e decisões do Conselho pode ser confiada aos parceiros sociais (art. 153º, nº 3 TFUE)

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW

HÁ DEZENAS DE ATOS JURÍDICOS, mas sobressai …

a ausência de uniformidade de conceitos (v.g. “trabalhador”) com o consequente risco de desigualdade ou a vantagem de adaptação à realidade nacional. O TJ limitou a diversidade de interpretação nacional (O’Brien, C-393/10);

a não obrigatoriedade;

a harmonização mínima e as derrogações admitidas;

impõem-se severos limites aos direitos e princípios fundamentais - artigo 52º, nº 2 CDF; artigo 21º, nº 1 TFUE; 153º, nº 4 TFUE;

A responsabilidade nacional limita a solidariedade europeia e vice-versa;

O ‘espírito do Luxemburgo’ (artigo 48º, § 2 TFUE);

Os limites competenciais da UE na esfera internacional impedem a uniformidade da vinculação dos Estados em domínios como salário mínimo ou proteção social;

Competências não cumpridas plenamente (v.g. proteção no desemprego ao nível europeu);

(2) UMA POLÍTICA SOCIAL ESPARTILHADA E TRANSVERSAL ASSENTE EM SOFT LAW

Instrumentalização – sempre direitos sociais sem uma política social ◦ ao mercado interno (os direitos sociais ao serviço das 4 liberdades) ◦ à UEM (o Pilar dos direitos sociais como sucedâneo da ausência de uma união económica?)

Consolidação (tem vindo a ser feita em alguns domínios – v.g. igualdade de género)

Leveza substantiva (limites da soft law - os objetivos grandiloquentes do 2020 não se bastam com ‘coordenação MAC’ e recomendações do Semestre Europeu, mesmo que associadas a financiamento dos fundos europeus)

Questões de coerência ◦ horizontal (articulação com a promoção do emprego e com o pilar económico da UEM) ◦ vertical (as implicações das condicionantes macroeconómicas da UEM sobre s políticas sociais

nacionais)

(3) UM ACERVO CASUÍSTICO DE DIREITOS MODELADO PELO TRIBUNAL

• FASES:

• O RECONHECIMENTO E A DENSIFICAÇÃO DE DIREITOS: • com base nas liberdades do mercado comum, nomeadamente através de um conceito amplo de “trabalhador” (caso N.,

C-46/12) e da projeção desse estatuto para beneficiar de direitos a ele associados depois da sua extinção formal (casos Lair, 39/86, Ritte-Coulais, C-152/03, e Hartmann, C-212/05)

• no princípio da igualdade entre homens e mulheres (ex. Defrenne II, 43/75; Bilka, 170/84; Barber, C-262/88; Marschall, C-405/95; Test-Achats, C-236/09

• o reforço de direitos sociais através do estatuto de cidadania da União: Martinez Sala, C-85/96 e Baumbast, C-413/99;

• A extensão aos nacionais dos outros EM do regime resultante de uma convenção com estado 3º - Ac. Gottardo, C-55/00

• INFLUÊNCIA NORMATIVA DA JURISPRUDÊNCIA • A jurisprudência do TJ influenciou as modificações que foram sendo introduzidas no Regulamento de coordenação dos

sistemas de segurança social – ex. Jauch, C-215/99; Molenaar, C-160/96; Hoever, C-245/94; Zachow, C-312/94; Kuusijärvi, C-275/96

◦ O acesso a cuidados médicos transfronteiriços, hoje regulamentado, foi reforçado através da jurisprudência do TJ

(3) UM ACERVO CASUÍSTICO DE DIREITOS MODELADO PELO TRIBUNAL

Limites da jurisprudência:

◦ O contributo do TJ é central e relevante, mas também promotor de ambiguidades semânticas como sucede com o conceito de trabalhador. Admite conceitos diversos de trabalhador na aplicação da diretiva 89/391 e na diretiva do tempo de trabalho e no âmbito das disposições do TFUE relativas à livre circulação de trabalhadores (nestes últimos casos tenha imposto um conceito amplo de “trabalhador” que não se estendeu à diretiva anterior)

◦ Não pode ultrapassar os limites das competências – no art. 153º TFUE não abrange a competência para regular ao nível da União um “direito a cuidados de saúde prolongados” que abranja outras categorias de pessoas para além dos trabalhadores – T-44/14, Constantini

Há uma inflexão da jurisprudência, nomeadamente com uma leitura menos restrita do que se considera « assistência social » - C-308/14, Comissão/UK; C-333/14, Dano; C-67/14, Alimanovic; C-140/12, Brey; C-299/14, Garcia-Nieto.

POLÍTICA SOCIAL DA UNIÃO EUROPEIA A VISÃO DOS CIDADÃOS

Segundo a Comissão Europeia e o Eurobarómetro de 2017, quando solicitadas a escolher entre o nível nacional e o europeu, as pessoas veem este domínio como uma tarefa dos Estados em primeiro lugar, mas veem também um papel para a União.

7 em 10 consideram que as políticas sociais e de emprego são mal governadas.

O PILAR EUROPEU DOS DIREITOS SOCIAIS A realização dos objetivos do Pilar Europeu dos Direitos Sociais constitui um compromisso político e uma responsabilidade política partilhada – Declaração Interinstitucional proclamada pelos Presidentes do PE, do Conselho e da Comissão – “soft law”, instituindo orientações mínimas cuja aplicação exige medidas com outra “densidade jurídica e material” a nível europeu ou nacional;

O Pilar Europeu dos Direitos Sociais deve ser implementado tanto a nível da União como a nível dos Estados-Membros, no âmbito as respetivas competências, tendo devidamente em conta os diferentes ambientes socioeconómicos e a diversidade de sistemas nacionais, incluindo o papel dos parceiros sociais, e em conformidade com os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade.

A nível da União, o Pilar Europeu dos direitos sociais não alarga as competências e tarefas da União conferidas pelos Tratados, pelo que deve ser aplicado dentro dos limites dessas competências.

O Pilar Europeu dos Direitos Sociais respeita a diversidade das culturas e das tradições dos povos da Europa, bem como as identidades nacionais os Estados-Membros e a organização das suas autoridades públicas a nível nacional, regional e local. Em especial, a criação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais não afeta o direito de os Estados-membros definirem os princípios fundamentais dos seus sistemas de segurança social e gerirem as suas finanças públicas e não deve afetar significativamente o equilíbrio financeiro dos mesmos.

O diálogo social desempenha um papel central no reforço dos direitos sociais e do crescimento sustentável e inclusivo. Os parceiros sociais desempenham, a todos os níveis, um papel crucial na prossecução e aplicação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, em conformidade com a sua autonomia na negociação e celebração de acordos e com o seu direito de negociação coletiva e de ação coletiva.

O PILAR EUROPEU DOS DIREITOS SOCIAIS O PEDS é uma tentativa ténue de harmonização dos múltiplos modelos sociais nacionais em torno de dois pilares: diversidade; eficiência.

O problema que persiste é a responsabilidade e a sustentabilidade. Uma europa reguladora, mas não garantística, nem responsável.

Não é um pilar, é uma ‘pérgola’, uma grelha com padrões de referência, que compila princípios e direitos já vigentes e lhes dá alguma densificação, mais exemplificativa que normativa. Unifica alguns conceitos (v.g “trabalhador”), mas continua a usar conceitos vagos (v.g. “boa oferta de emprego”). A divisão apresentada compila de modo coerente o acervo de princípios existente e facilitará a sua legibilidade.

Assume a forma de uma Declaração interinstitucional proclamada pelos Presidentes do PE, do Conselho e da Comissão.

É mais uma manifestação da integração diferenciada e poderá legitimar o regime financeiro do euro. Só simbolicamente contribui para o reforço da esfera social da integração europeia. O diferente alcance das competências continuará.

O PILAR EUROPEU DOS DIREITOS SOCIAIS O Pilar Europeu de Direitos Sociais, ante tantos limites e condicionantes políticos, jurídicos e financeiros, não vai ser o novo ‘mercado interno 1992’, nem pretende vir a ser uma Carta de Direitos Fundamentais Sociais’.

A ausência de consenso político sobre o ‘modelo social europeu’ impede uma política comum. Entre os europeus há mixed feelings: euroceticismo / sentido de urgência

As debilidades estruturais da sociedade e da economia europeia e a profunda divergência das economias nacionais impedem um modelo social europeu

Uma política social europeia exige uma sustentação económica europeia impossível no futuro próximo

O acervo jurídico é extenso e compreensivo, mas não abrangerá aspetos cruciais para a vida e bem estar dos cidadãos europeus

Na ordem do dia está a compressão dos direitos (direta ou indireta)

Faz falta um ‘Cechini Report’ sobre os ‘custos da não europa social’?! (na p. 5 do documento de trabalho sobre as tendências refere-se apenas “os custos associados a uma falta de ação concertada serão, sem dúvida, sentidos de forma mais aguda”)

OBRIGADA! Graça Enes

[email protected]