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A POLÍTICA PÚBLICA E O PAPEL DA UNIVERSIDADE: REFLEXÕES DA INCUBADORA DE EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS DE SÃO BERNARDO DO CAMPO - SBCSOL

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde: reflexões dA incubAdorA de empreendimentos solidários de são bernArdo do cAmpo - sbcsol

Universidade Metodista de São Paulo – Umesp

Diretor GeralWilson Roberto Zuccherato

Conselho DiretorStanley da Silva Moraes (Presidente), Nelson Custódio Fér (Vice-Presidente), Osvaldo Elias de Almeida (Secretário)Vogais: Aires Ademir Leal Clavel, Augusto Campos de Rezende,Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Jonas Adolfo Sala, Marcos Gomes TôrresOscar Francisco Alves Júnior, Paulo Borges Campos JúniorSuplentes: Regina Magna Araujo, Valdecir Barreros

Reitor: Marcio de MoraesPró-Reitora de Graduação: Vera Lúcia Gouvêa StivalettiPró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Fábio Botelho Josgrilberg

Faculdade de Administração e EconomiaLuciano VeneLLi costa

Conselho de Política EditorialMarcio de Moraes (presidente); Almir Martins Vieira; Fulvio Cristofoli; Helmut Renders; Isaltino Marcelo Conceição; Mário Francisco Boratti; Peri Mesquida (re pre sen tante externo); Rodolfo Carlos Martino; Roseli Fischmann; Sônia Maria Ribeiro Jaconi

Comissão de PublicaçõesAlmir Martins Vieira (presidente); Helmut Renders; José Marques de Melo; Marcelo Módolo; Rafael Marcus Chiuzi; Sandra Duarte de Souza

Editor executivoRodrigo Ramos Sathler Rosa

UMESPSão Bernardo do Campo, 2014

A política pública e o papel da universidade: reflexões da Incubadora de empreendimentos

solidários de São Bernardo do Campo – SBCSOL

Douglas Murilo SiqueiraFabiana Cabrera Silva

organizadores

Universidade Metodista de São PauloRua do Sacramento, 230, Rudge Ramos

09640-000, São Bernardo do Campo , SPTel: (11) 4366-5537

E-mail: [email protected]/editora

Editoração Eletrônica: Maria Zélia Firmino de SáCapa: Cristiano Freitas

Imagem da capa: © Sergey Nivens – Fotolia.comRevisão: Carlos Alberto Coelho

Permutas e atendimento a bibliotecas: Noeme Viana TimbóImpressão: Mark Press Brasil Indústria Gráfica Ltda.

As informações e opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando,

necessariamente, posição oficial da Universidade ou de sua mantenedora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Biblioteca Central da Universidade Metodista de São Paulo)

AFILIADA À

P759 Apolíticapúblicaeopapeldauniversidade:reflexõesdaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo-SBCSol/organizaçãodeDouglasMuriloSiqueira,FabianaCabreraSilva.SãoBernardodoCampo:UniversidadeMetodistadeSãoPaulo,2014.198p.

BibliografiaISBN978-85-7814-280-3

1.Economiasolidária2.Políticaspúblicas-SãoBernardodoCampo(SP) 3.Incubadoradeempresas4.Incubadoradeempreendimentossolidários-SãoBernardodoCampo(SP)5.DesenvolvimentosocialI.Siqueira,DouglasMuriloII.Silva,FabianaCabreraCDD334

Sumário

SUMÁRIO

PrefácioLuiz Marinho–PrefeitodeSãoBernardodoCampo 7Marcio de Moraes – ReitordaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo–Umesp 11

IntroduçãoDouglas Murilo SiqueiraFabiana Cabrera Silva 13

A economia solidária na atual política de desenvolvimento econômico de São Bernardo do Campo

Jefferson José da Conceição – SecretáriodeDesenvolvimentoEconômicoeTurismodeSãoBernardodoCampo 15

Gestão inovadora no processo de incubação: o caso SBCSolDouglas Murilo SiqueiraJaqueline Vieira de Moraes 21

Tudo junto e misturado: incubadora de empreendimentos solidários de São Bernardo do Campo: entre as experiências universitárias e públicas

Nilson Tadashi Oda 39

Construindo uma política pública de economia solidária em São Bernardo do Campo: da assistência social ao desenvolvimento econômico

Sandra Cristina Olmedilha 55

Considerações sobre o papel da universidade em processos de organização de empreendimentos solidários

Fabiana Cabrera SilvaMarco Aurélio Bernardes 75

Controles financeiros na economia solidária: um estudo de caso dos empreendimentos do projeto SBCSol

Marcelo dos Santos 95

A importância do tema inovação na SBCSolRenata Mendes 111

Captação de recursos em longo prazo para economia solidária: experiências do projeto de incubadora de empreendimentos solidários em São Bernardo do Campo (SBCSol)

Marcelo dos Santos 135

Microcrédito: o crédito para o empreendedorismo no meio popular Danilo dos Santos TrindadeGlauber Alves de SousaLuiz Silvério Silva 151

Das pessoas jurídicas nos empreendimentos de economia solidáriaJosé Celso MartinsRosângela Marques Consônio 179

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Prefácio I

* LuizMarinhoéprefeitodomunicípiodeSãoBernardodoCampo,graduadoemdireito,tendosidoMinistrodoTrabalhoeEmprego(julhode2005amarçode2007)eMinistrodaPrevidênciaSocial(marçode2007ajunhode2008).FoiPresidentedaCUT(junhode2003ajulhode2005)edoSindicatodosMetalúrgicosdoABC(2002/2003)

Luiz Marinho*

A políticapúblicadefomentoàeconomiasolidária,constituídanoprimeiroanodonossoGovernodaInclusão,seconsolidaaoladodeoutrastan-taspolíticaspúblicasinstituídasapartirde2009que,associadas,têm

tornadoSãoBernardodoCampoumacidadecadavezmelhorparaseviver.Osavançosalcançadosemnossomunicípioemtermosdainfraestrutura

urbana,comarealizaçãodeobrasfundamentaisquepossibilitammelhoriasnamobilidade,naeliminaçãodeenchentes,nosserviçosdesaúde,naedu-cação,nahabitação,naculturaenolazer,entreoutros,sãodinamizadaspornossasaçõesdeassistênciasocial,deturismo,desegurança,deatendimentoaoscidadãoseaostrabalhadores.

Umacidademelhorparaseviver,permanentemente,deveresolverseusproblemas,edeveigualmentepropiciarumambienteprodutivo–industrial,comercialedeserviços–quepromovaodesenvolvimentoeconômicoeageraçãodeemprego,trabalhoerenda,comoimportantemecanismoparasoluçãodeproblemassociais.

Aatraçãodenovasempresas,especialmenteaquelasquetragamino-vaçãotecnológica,aexemplodaproduçãodeaviõeseseusequipamentos,aorganizaçãodossegmentosparacriaçãodeumambientemaiscolaborativo,pormeiodaconstituiçãoedefomentoaosArranjosProdutivosLocais,are-vitalizaçãodeatrativosturísticosqueofereçamopçõesdelazereaomesmo

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

tempogeremnovasoportunidadesdenegócios,entreoutras,sãoestratégiasadotadaspornossogovernoparaodesenvolvimentoeconômico,dotrabalhoedoturismodeSãoBernardodoCampo.

Certamente,asoportunidadesdetrabalhoseconsolidampormeiodasobrasquerealizamoseestamosrealizando,comasnovasempresasqueseinstalamouqueseexpandememnossacidade,epelocrescimentoeconô-micodopaís,queemseuconjuntotêmresultadoemtaxasdedesempregodecrescentes.SegundoapesquisarealizadapeloSeade/DieesenaregiãodoABC,temosconstantementeatingidopatamarescadavezmenoresnastaxasdedesemprego.Certamenteaintervençãonaintermediaçãodemãodeobra,naqualificaçãosocialeprofissional,bemcomoemoutrosserviçospúblicosegratuitosoferecidospelonossogoverno,deespecialmodocomamunici-palizaçãodoSine,concretizadanacriaçãodaCentraldeTrabalhoeRenda,democratizaeampliaasoportunidadesderecolocaçãonomercadoformaldetrabalhoaosmunícipeseaostrabalhadoresetrabalhadorasdaRegiãodoABC.

Apublicaçãodestelivro,porsuavez,possibilitaexternarpartedaestra-tégiaadotadapelapolíticapúblicamunicipaldefomentoàeconomiasolidária,temapeloqualhámuitosanostenhodedicadomeucarinhoemeusesforços.NossoprojetoparainstalaçãodaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampocontacomparceiros,comooInstitutoGranberyeaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,eaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep)doMinistériodaCiência,TecnologiaeInovação(MCTI).Aliás,inovaréumdesafioquesemprecolocoparaosparticipantesdomeugoverno.Sairdazonadeconforto,analisar,planejareexperimentaronovosemprenospossibilitacriaremelhoraroquefazemosepretendemosfazer.

Anossaincubadoradeempreendimentossolidáriostemestacaracterís-tica.Aoadotaraideiadeseaproveitarascompetênciasdauniversidadeparadinamizarapolíticapública,imprimimosumcaráterúnicocriandooqueoSecretariosecretárioNacionaldeEconomiaSolidária,oProfessorPaulSinger,chamoudeincubadoramista.

Nossodesafioéconciliarosinteresses,ascompetênciaseasvontadesdopoderpúblicoedauniversidadeemtornodeumobjetivoúnico:possibi-litarqueosempreendimentossolidáriostenhamasmelhorescondiçõesparasedesenvolverem.Istorequerumprocessodecapacitaçãoparaagestãoeparaaautogestão,assimcomoparaodesenvolvimentodosprodutos,dosprocessosprodutivosedosmercados.Nossodesafioécriarumametodolo-giadeincubaçãoqueinove,quesejaousada,equeresultenaconsolidação

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prefácio 1

destesempreendimentossolidários,ecomistoresultenaemancipaçãodostrabalhadoresetrabalhadoraseconômicaesocialmente.

Époristoquesintograndesatisfaçãoemcompartilhardestapublicação,quecertamentepermitiráqueaspessoasseapropriemdasexperiênciasdanossaincubadora,dasinovaçõesrealizadas,bemcomodassuasdificuldades,contribuindocomistoparaquemaisempreendimentoseempreendedoressolidáriospossamusufruirdametodologiaqueestásendocriada,edapolíticapúblicaqueonossogovernotemrealizadoparafomentaraeconomiasolidáriaeodesenvolvimentoeconômicodeSãoBernardodoCampo.

11

Prefácio II

Marcio de Moraes*

Asdenominadas“empresasassociativas”seguemcrescendoepossibili-tandoquenovoscamposdeatividadesejamabertos,especialmenteaquelesvoltadosàprestaçãodeserviçosàsfamílias.

Osconstantesmovimentosetransformaçõesnomododevida,sejanosgrandescentrosurbanosoumesmoemcidadesmenores,queproduzemerevelamconstantementenovasnecessidades,suscitamacriaçãodenovasempresase,nocasodestelivro,referimo-nosaincubadorasdeempresase,maisespecificamente,aoexercíciodecriarempreendimentossolidários.

Falaremumempreendimentosolidárioéreconhecerqueexiste“[...]ocompromissopelobemviverdetodos,odesejodooutroemsuavaliosadiferença,paraquecadapessoapossausufruir,nasmelhorescondiçõespos-síveis,dasliberdadespúblicaseprivadaseticamenteexercidas.1

Felizmenteaparceriapúblico-privadaentreFinep/PrefeituradeSãoBer-nardodoCampo,representantesdoentepúblico,eGranbery/UniversidadeMetodista,representantesdoenteprivado,pautadapeloscritériosacimaregistrados–liberdadeeética–,começaaproduzirseusbonsfrutos:de-zesseteempreendimentossolidáriosetrêsredesemprocessodeincubaçãonoprimeiroanodeatividade.Partedoquefoivivenciado,tantonoaspecto

* ÉReitordaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,desdeoutubrode2006;bacharelemeco-nomiapelaPUC-SPedoutoremeconomiaeadministraçãopelaUniversidadedeBarcelona(Espanha).

1 MANCE,EuclidesAndré.RedesdeColaboraçãoSolidária.In:CATANNI,AntonioDavid.Aoutraeconomia.PortoAlegre:VerazEditora,2003.,p.219-226.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

acadêmicocomonodiaadiadosmesmos,éoquetemosoprivilégiodeapresentaraosfuturosleitoreseleitorasnaspróximaspáginas.

Sabemosqueodesafioégrandeequenossalutaparamanteracesaachamadosempreendimentossolidáriosnãoépequena.Juntos,poderpúbli-coeiniciativaprivada–aquirepresentadapelaUniversidade–,temosmaisforçasparaseguiradiante.

Boaleitura.

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Introdução

Douglas Murilo Siqueira*Fabiana Cabrera Silva**

A economiasolidária,comoumaalternativadeeconomiaquesedis-tanciadascaracterísticasquemoveaeconomiacapitalista,éfocodasreflexõesdestelivro.Pormeiodeinúmerosprojetoseparcerias,

pessoaseentidadesinteressadasnestecontextobuscamcolaborarparaestaeconomiaalternativa,nosentidodeoferecerformaçõesqueincentivemoempreendedorismoemsuavertenteassociativa,afimdequeaspessoasemsituaçãodevulnerabilidadepossammelhoraraqualidadedevida,pormeiodeaçõesempreendedoras.ÉnestecontextoqueestelivronorteiasuasreflexõesapartirdainiciativapioneiradeimplantaçãodaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).Oprojetoéconsideradopioneiro,poisestreitaseuslaçosnumtrabalhocoletivo,soli-dárioecooperativoentreaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo(Umesp),oInstitutoMetodistaGranbery(IMG),aPrefeituradeSãoBernardodoCampo(PMSBC)eaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep).Buscarefletirsobreopapeldauniversidadenofomentoaoempreendedorismovoltadoparaaeconomiasolidáriaecomoinstituiçãosocialquebuscaacolherasiniciativaspúblicasparareforçarsuarelevânciasocialfrenteaosproblemaslocais.

Asreflexõesorganizadasemformadelivroestãoalicerçadasnasexperiên-ciasdoprojetodeimplantaçãodaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo,consideradoinovador,poisbuscaimplantaruma

* ÉProfessorecoordenadordocursodeAdministraçãodaUmesp.DoutorandoemAdminis-traçãoecoordenadorgeraldoprojetoSBCSol.

**ÉPedagogaemestreemEducação.DocentenocursodePedagogiaEaDdaUmespemembrodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

incubadoraconsiderada“híbrida”,ouseja,comaçõesconjuntasdauniversi-dadeedopoderpúblico.OconvêniocomaFinepeaprefeiturafoiaprovadoepublicadonoDiárioOficialdaUnião(DOU)emdezembrode2011eestelivrobuscasocializaralgumasexperiênciasdestemodeloemimplantação.

OtrabalhodesenvolvidonoprojetoSBCSoleapresentadonestelivrofoidelineadopelareflexão,dentreoutras,decomoproporcionaraosempreen-dimentoseseusmembrosavalorizaçãodosprincípiosbásicosdaeconomiasolidária,alicerçadosnaautogestão,cooperação,colaboraçãoesolidariedade.

Dentreosdesafiosdesteprocessodeincubação,podemosressaltarcomopontocomum,presentenosartigosdestaobra,aconstruçãodeautonomiaapartirdosprocessosinovadoresconstruídospelaincubadora.Porserumprojetointerdisciplinar,diferentesáreasdoconhecimentosedebruçaramsobreaheterogeneidade–emtermosculturais,sociaiseramosdeatividades–dosempreendimentosacompanhadospeloprojetoafimdecompreendê-losàluzdasteoriasepensar,nestasiniciativasempreendedoras,sobreseussaberes,experiências,vivências(valoreseprincípiosqueosdiferenciamdaeconomiavigente)e,assim,construircomosgrupos,pormeiodemetodologiasdialógi-cas,processosenovossaberesquepossamcontribuirparaasustentabilidade,passandoaquipelalegalidadedosempreendimentos,bemcomoapropriaçãodosinstrumentosdegestãoecontabilidade,egerenciamento.Nota-sequeainovaçãopermeiaasrelaçõesdosprocessosqueconstituemoprojeto.Inova-doraquisuperandoaconcepçãoprimáriadesta,paraalémdesta;inovadornoatordegerir,nosaberfazer,noser;enfim,esteéoescopodoprojeto.

ÉnestesentidoqueasproduçõescientíficasdestelivrobuscadisseminaresistematizarpartedasconquistasdoProjetoSBCSole,ainda,fortalecerosempreendimentossolidáriosnosentidodeoferecerdirecionamentosqueorientamasuperaçãodosproblemasqueemergemdestaeconomiaalternativa.

Esperamosquealeituradestelivropermita,aosleitoreseleitoras,umareflexãocrítica,quepossacontribuirparaaexpansãoeconsolidaçãodestetipodeeconomianoBrasil,paraodesenvolvimentodealternativasmaisso-lidáriasnasrelaçõeseconômicasenodesenvolvimentosocial.

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A economia solidária na atual política de

desenvolvimento econômico de São Bernardo do Campo

Jefferson José da Conceição*

* SecretáriodeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismodeSãoBernardodoCampoeProf.Dr.daUSCS

A economiasolidáriarepresentaa“outrametade”dosistemaeconômicohoje.Aprimeirametadeéaquelacompostaporempresasetrabalha-doresinseridosnadinâmicaenasrelaçõescapitalistastradicionais,

istoé,submetidosàcompraevendadaforçadetrabalhoeaocircuitoqueenvolveprodução,comercialização,distribuiçãoeconsumotípicodeumaeconomiacapitalista.Asegundametadeérepresentadaporumconjuntodeempreendimentosqueestãoexcluídosdestadinâmica.Nestecaso,omodelomaisavançadoéodaeconomiasolidária.

Tantoemrelaçãoaumaquantoaoutraeconomia,osinstrumentosaoalcancedoPoderPúblicoMunicipalsãolimitados.Nãocabe,porexemplo,aumaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoMunici-paladefiniçãodataxadejuros,taxadecâmbio,impostoscomoIPIeICMS,mpostodeImportação,tarifaspúblicas,saláriomínimo,legislaçãotrabalhistaecomercial.Enãohámuitamargemparapolíticasdeincentivotributário,tendoemvistaanecessidadedegastosemserviçospúblicosvitaisàpopula-ção.Istonãosignificaquenãoháoquefazer.

Nocasodasempresasinseridasnocircuitocapitalistaclássicoacimamencionado,temosbuscadoexerceropapeldearticuladorescomvistasaformarredeshorizontaisdecooperaçãoenvolvendogestãopública,setorpri-vado,instituiçõesdeensinoepesquisa,agênciasdecréditoesindicatos.Fazeremergirsinergiasqueaatuaçãoisoladanãopermite,emáreascomonovosmercados;qualificaçãodemãodeobra;aproximaçãodaofertaedademanda

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

emitensestratégicos,comoosserviçostecnológicos;inovaçõesprodutivasedegestão;comprascoletivas;parceriasnacionaiseinternacionais.Ogestorpúblicopode,semcustopraticamentealgum,fazersurgiruma“governança”público-privadaeum“capitalsocial”degrandevalia.Éestecapitalsocialque,apartirdosprópriosrecursosprivados,incrementaráacompetitividadeemoveráaatividadeprodutivalocal.FórunsdeDesenvolvimentoEconômicoeArranjosProdutivosLocais(APLs)dialogamcomestaestratégia,namedi-daemquejuntamosatoresemtornodabuscaderesultadosconcretos,apartirdeumaagendageralesetorial,calcadaemdiagnósticosemetas.EmSãoBernardoestãoemfuncionamentodozeAPLssetoriais(ferramentaria;autopeças;químico;têxteiseconfecções;indústriadedefesa;gráfico;indús-triamoveleiro;design,audiovisualeeconomiacriativa;turismo;panificação;restaurantes,baresehotéis;pesqueiro).Embreve,teremostambémonossoFórumdeDesenvolvimentoEconômico.

Nocasodaeconomiasolidária,temosbuscadoagirtambémdemodoainduzirprocessosvirtuososdecrescimento.Antes,porém,cabeumabre-víssimacontextualizaçãodaeconomiasolidária,paraquemelhorsediscutaseusavanços,possibilidadesedesafios.

Nestesentido,caberegistrardesdelogoqueaeconomiasolidáriavemde longadata.SuasorigensremontamameadosdoséculoXIX,quandoalgumasexperiênciaseuropeiasbuscaramconstituirumaeconomianãocapitalista,baseadanocooperativismodeproduçãoedeconsumo,vincu-ladoaumsocialismoutópico.Defato,estasexperiênciasforamconcebidaserealizadascomoumadasrespostasdomovimentooperárioeuropeuaosistemadeexploraçãocapitalista.Desdeentão,entreosprincipaisprincípiosdaeconomiasolidáriaestãoacooperação,auniãoeasolidariedadeentrehomensemulheres,para,nãosomentegarantirosustentodesuasfamílias,mastambémevidenciar,nocontextodeumalutaideológicaepolítica,queexistemoutrosmeiospossíveisdeeficientementeorganizaraproduçãoeadistribuiçãodariqueza,distintasdoindividualismoedavalorizaçãodoprivado,propugnadospelaideologialiberalcapitalista.

Nestalongatrajetóriadeaprendizadodaeconomiasolidária,hácasosdeempreendimentossolidáriosbemsucedidosedelongaduração.NaEuropa,doiscasosdeeconomiassolidáriasexitosas,porexemplo,são:odaRegiãodeEmiliaRomanha,naIIIItália,ondeaparticipaçãodascooperativasedaspequenasempresassitua-seemtornode30%doPIBdaregião;eodogrupoespanholModragonCorporacionCooperativa,grupoestequeestáentreos

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maioresdaEspanhanaatualidade.Muitosfatoresparticularesexplicamosucessodeambas,masumdelesparececomum:odabuscade“integração”destesempreendimentossolidáriosnosmercadoscapitalistas,semqueistoferisseosprincipiosbasilaresquesustentamaeconomiasolidária.Deoutrolado,tirantetambémasespecificidadesdecadacaso,hámuitasexperiênciasquepecarampornãoseprepararemadequadamenteparasuaparticipaçãonosmercadoscapitalistas.

Assim,apesardalongatrajetóriapercorrida,aindapermaneceumgrandedesafioparaaeconomiasolidária:comocultivarosprincípiosdasolidariedade,inclusão,cooperaçãoegeraçãoderendaemumcontextoemquepredominaomododeorganizaçãocapitalista?Comoconcorrercomospreços,qualidades,marcaseprazosdasempresascapitalistas?

NoBrasil,aeconomiasolidária–quetemorigensligadasàscooperati-vasagrícolas–foiretomadacomforçaapartirdadécadade1990,quandoseverificougrandenúmerodeempresasfalidasedepessoasdesempre-gadas.NaRegiãodoABC,osindicalismoapresentouocooperativismodeproduçãocomoformademanutençãodafábrica(seumaquinárioepostosdetrabalho).Istoampliouaabrangênciadaeconomiasolidárialocal,quevaidosmicroempreendimentosdeinclusãodesegmentosmaisvulneráveisatégrandesfábricasgeridaspeloscooperativados.NaRegião,vivenciamosumaimportanteexperiênciaquefoiadosmetalúrgicosdoABC–umadasmaisatingidasnacrisedadécadade1990.Naépoca,osindicatoerapresididopelohojePrefeitoLuizMarinho.Em1997,aempresaConforja,situadaemDiadema,tevesuafalênciadecretada.Arazãodestafalênciaresidiafunda-mentalmentenaquedadosinvestimentospúblicosdaPetrobrásnoperíodo.Estaempresa,noseuaugenosanosde1970,chegouaseramaiorforjariadaAméricaLatina.FornecedoradaPetrobrás,aempresaempregavacercade1.200funcionários.Apósmuitasdiscussões,osfuncionáriosdaempresadecidiram,comoapoiodoSindicatodosMetalúrgicosdoABC,arrendaraempresaeconstituiraUniforja–umconjuntodequatrocooperativasdeprodução.Hoje,aUniforjaexpandeseus investimentoseéumadasempresasquefazempartedoseletogrupodefornecedorasdaPetrobrás.Avontadedostrabalhadoresedastrabalhadoras,comoapoiofirmedoSindicato,possibilitouque,alémdarecuperaçãodafábrica,pudesseaUNI-FORJAconstituir-seemumaempresadesucesso,faturandomaisdeR$220milhõesporano,gerandomaisde600postosdetrabalhoecontribuindocomomunicípio,oEstadoeaUnião.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

ApartirdaexperiênciaexitosadaUniforjaedemuitasoutras,aeconomiasolidáriavoltouaterumolharespecial,especialmentenaspolíticasdegeraçãodeempregoerenda,executadaspelosgovernos,sindicatos,universidades,igrejas,ONGseoutrosmembrosdasociedadecivil.AeconomiasolidáriasefortaleceunogovernoLulacomaconstituição,em2003,daSecretariaNacio-naldeEconomiaSolidária,econtinuaaseexpandirnagestãoDilma.Claroqueaindahámuitoaseavançaremitenscomofinanciamento,comercialização,capacitaçãogerencial,formaçãoderedeseparcerias.

Aindasãopoucososgovernosmunicipaiseestaduaisqueefetivamentetêmumapolíticadeapoioàeconomiasolidária.Nestecontexto,apolíticadesenvolvidapelaPrefeituradeSãoBernardo,sobacoordenaçãodaSDET,éreferêncianopaís.Estapolíticapúblicaérealizadaemparceriacominstitui-çõescomoUnisol,AgênciadeDesenvolvimentoSolidário(ADS-CUT),CentrodeFormaçãoPadreLéoComissari,Sebrae,ConsuladodaMulher,Capataziadospescadores,CentrodeReferênciaemAssistênciaSocial(Cras),CentrosdeAtençãoPsicossocial(Caps),FórumMunicipal,RegionaleNacionaldeEcono-miaSolidária,RededeGestoresemPolíticaPúblicadeEconomiaSolidária,GTTrabalhoeRendadoConsórcioIntermunicipaldoGrandeABC,Dieese,FundaçãoVolkswagen,entreoutras.

Umasériedeaçõesintegradasconstituinossapolíticaparaaeconomiasolidária:

a) constituiçãodeumCentroPúblicodeEconomiaSolidáriaemSãoBernardodoCampo.UmembriãodesseCentroPúblicofoiodeno-minado“EspaçoSolidário”,queinauguramosemagostode2011.AintençãoéqueesteEspaçoSolidário–queéanexoànossaCentraldeTrabalhoeRenda,consolide-secomoreferênciadaeconomiasolidárianomunicípio,possibilitandomaiorintegraçãoeorganizaçãodosempreendimentosesuasatividades.SãorealizadasnoEspaçoSolidárioatividadesdeformaçãoeassessoriaparaosgruposjáformados,assimcomoorientaçõesparapessoasquepretendemorganizar,coletivamente,umempreendimentoparaproduzirbensouprestarserviços.OEspaçoSolidáriocontribuiparaaexposiçãoecomercializaçãodosprodutoseserviçosdosempreendimentossolidários,taiscomoartesanato,costuraereciclagem.DignoderegistroéaexperiênciadalanchoneteconduzidaexclusivamentepelosusuáriosdoCentrodeAtençãoPsicossocial,queproduzemecomercializamdocesesalgados,propiciandoatividadesque,para

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A economiA solidáriA nA AtuAl políticA de desenvolvimento econômico de s.B. do cAmpo

alémdeterapêuticas,têmpossibilitadoareinserçãodosusuáriosnocotidianodetrabalhoenotratocomopúblicoconsumidor;

b) priorizaçãodosempreendimentosdaeconomiasolidárianascom-praspúblicas;

c) criaçãodeespaçosparaosempreendimentosnosbairrosempro-cessodeurbanização,comoéocasodosconjuntoshabitacionaisconstruídospelaPrefeitura;

d) fomentoàcriaçãodecadeiasprodutivasregionaisvinculadasàeconomiasolidária;

e) apoioàeconomiasolidáriapormeiodaleideMunicipal.fiscaldeincentivos.

DeixeiparaofinalumadasaçõesmaisimportantesdaSecretarianocam-podaeconomiasolidária:ainéditaincubadoradeempreendimentossolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol),parceriaentreoInstitutoGranbery/UniversidadeMetodista,aPrefeituraMunicipaleaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep)doMinistériodeCiência,TecnologiaeInovação(MCTI).

Criadaem2012,aSBCSol temodesafiodecriarumametodologiaespecíficade incubaçãoparaosempreendimentossolidários,bemcomoapoiá-loscomcapacitaçõesdiversas.Naprática,istosignificatambémtor-narosempreendimentossolidárioscompetitivosecapazesdeconcorrernomercadocapitalista.Istoenvolveaindaaparticipaçãodaeconomiasolidáriaemprocessosdelicitaçãodospoderespúblicosmunicipal,estadualefederal.

Apesardoseucurtoperíododeexistência, jáépossívelextrairele-mentosimportantesdaexperiênciadaSBCSol.Umadelaséanecessidadedequeoprocessodeincubaçãoenfatizeabuscaconstantedaqualidadedosprodutoseserviçosofertadospelosempreendimentos,oquerequer,porsuavez,oaprimoramentopersistentedosprocessosdeproduçãoedeprestaçãodeserviços.

Outroelementoadestacaréodadiscussãoquantoaosrumosdaforma-lizaçãodosempreendimentossolidários,senaformadecooperativa,associa-ção,pequenaempresa,entreoutras.Certamente,norteiaadiscussãoeescolhaaquelecaminhoquepossibilitedarmelhorescondiçõesderemuneraçãoaosseussócios.Masesteéapenasumdospontosaseremlevadosemconta.

CabeterclaroqueaSBCSol,porsimesma,jáéumainovaçãoemnossopaís,poisconciliaapolíticapúblicadefomentoàeconomiasolidáriacomopotencialdeaprendizagemqueaUniversidadeoferece.Estemodelopoderáserreplicadoemoutraslocalidades.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Porfim,queroencerrarreafirmandoocompromissodaSecretariadeDe-senvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismodeSãoBernardocomaSBCSolecomaeconomiasolidáriaemgeral.Continuaremosempenhadosparaquetodosetodasasparticipantesdosempreendimentossolidáriospossam,pormeiodotrabalhoautogestionário,setornarempreendedoresdesucesso,contribuindocomodesenvolvimentoeconômicoesocialdanossacidade.

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Gestão inovadora no processo de incubação: o caso SBCSol

* ProfessorecoordenadordocursodeAdministraçãodaUmesp.DoutorandoemAdminis-traçãoecoordenadorgeraldoprojetoSBCSol.

**Graduandado5ºperíododeadministraçãodaUmespebolsistaCNPqdoprojetoSBCSol.

Douglas Murilo Siqueira*Jaqueline Vieira de Moraes**

A economia solidária e as incubadoras

Ocooperativismonãoéumfenômenorecentenomundo,nasceunasegundametadedoséculoXVIIIdecorrentedaformaçãodeumamassadedesempregados,originadadaevoluçãotecnológicaeda

reorganizaçãodosmeiosdeprodução(LECHAT,2002;MAUAD,2001;SINGER,2010).Foiumaépocaemqueomovimentooperárioreagiuseorganizandoemsindicatosecooperativas(LEWIS,2007).EssemovimentoresultounaformaçãodaAliançaCooperativaInternacional(2013),criadaem1895,quecontaatualmentecom230membrosde100países,representandomaisde730milhõesdepessoas.

Omodelodocooperativismoéconsideradoumdostiposdeexperiênciadaeconomiasolidária(ES).Nessaoutravertenteeconômica,aspessoassereúnemparaproduzir,combasenosprincípiosdaigualdadeereciprocidade,caracte-rizadapelasocializaçãodariquezaepelagestãodemocrática(SINGER,2010).

SegundooMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE),aeconomiasolidárianoBrasilcomeçouasetornarmaisrepresentativanadécadade1980,masfoisomenteapartirde2003,comacriaçãodaSecretariaNacionaldaEconomiaSolidária(Senaes),queopaíspassouaterfocoparaofomentoecrescimentodessemodeloeconômico.Dadosde2007daSenaes,pormeiodeseuSistema

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

deInformaçõesdaEconomiaSolidária(SIES),apontamumfortecrescimentodessetipodeeconomiaprincipalmenteapartirde2001.Levantamentore-alizadoem2007pelogovernoregistrou21.859empreendimentossolidários(EES).Dessetotal,2.115(9,7%)sãocooperativase113,resultadodarecupe-raçãodeempresasemprocessofalimentar,emqueagestãodaorganizaçãopassaparaaresponsabilidadedostrabalhadores,emformadecooperativa.Emrelaçãoàmotivaçãoparacriaçãodessesempreendimentos,51%nasceuporalternativaaodesemprego,25%paraobtermaiorganhofinanceiroe24%paracomplementararendafamiliar.Dototaldeempreendimentos,quasemetade(43%)encontra-senoNordeste,18%naregiãoSudeste,16%nare-giãoNorte,15%naregiãoSule11%naregiãoCentro-Oeste(BRASIL,2011).

Paraoestudodosempreendimentossolidários,independentementedoramodeatuação,énecessárioentender,inicialmente,aconcepçãobásicadeadministraçãonadimensãoassociativa,conformeoestudodoDepartamentoIntersindicaldeEstatísticaeEstudosSocioeconômicos(Dieese)edaCentraldeCooperativaseEmpreendimentosSolidários(Unisol)de2012(DIEESE;UNISOL,2012).Umacooperativaouassociaçãopertenceaostrabalhadoresquenelaproduzem.Agestãoacontecedeformademocráticaecompartici-paçãodiretaouporrepresentação.Asdecisõescolegiadassãotomadasemassembleia,ondeopesodovotodoscooperadosouassociadostemomesmovalor.Assim,énessesistemademocráticoquedecidemdesdeacomprademateriaisbásicosatéaformaçãodeumanovadiretoria,oumesmoacompradeequipamentosefinanciamentos(SINGER,2010).Noprocesso,ocooperadodesempenhaumduplopapel,ouseja,éodonoetambémooperário.Comoovotodecadacooperadotemomesmopeso,todostêmomesmopoderdeinfluêncianasdecisõesestratégicas,independentedograudecolaboraçãooudeparticipaçãonacooperativaouassociação.Alei5.764/71quedefineapolíticanacionaldocooperativismoexigequeascooperativaseassociaçõessejamregidasporumestatuto,redigidoevotadopeloscooperadosouasso-ciados,oquegaranteumasingularidadeparaaorganização(MAUAD,2001;SINGER,2010).Épormeiodoestatutoqueasregrasparaarealizaçãodaeleiçãoeomandatodagestãodoempreendimentosãodefinidas.Osgesto-reseleitos,alémdascompetênciastécnicas,devemcontarcomumarelaçãodeconfiançainterpessoalcomostrabalhadores,fatordeterminanteparaosucessodoempreendimento(DIEESE;UNISOL,2012).Arelaçãodeconfiançafazcomqueocomportamentocooperativonadimensãoassociativasejaconquistadocommaiorfacilidade(ROUSSEAUetal.,1998).

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Apesardesuascaracterísticassingularesdegestãoeprodução,osempre-endimentossolidáriosnãoficamàmargemdaeconomiademercadoparasemantervivos,sendoodesempenhoeconômicoumgrandedesafio.SegundolevantamentodaSenaes(2011),agrandemaioriadosempreendimentos(36,6%)nãoéformalizadaeéconstituída,emgrandeparte(56%),pororgani-zaçõesdeaté50pessoas.Somente4,79%faturamacimade100.000,00reaispormêsemaisde60%possuiumfaturamentodeaté10.000,00reaispormês.Pesquisarealizadaem2007com54incubadorasuniversitárias,respon-sáveispor537empreendimentose18.074trabalhadores,confirmaqueumagrandedificuldadedessesempreendimentoséadenegociarseusprodutoseserviços(61,58%)(BRASIL,2011).Dosentrevistados,11,95%confessaramnãoconseguirquantidadesuficientedeclienteseoutros6,20%apontavaoutrasdificuldadesderelacionamentoparaocomércio.Paraagravarasituação,52,50%dospesquisadosnãoconseguemcréditoparadesenvolveronegócio:umdosmaioresdesafiosdessesempreendimentoséodeobteracessoaomercadofinanceiroparafinanciamento.Aspartesinteressadas(stakeholders)fornecedorasdecréditos–caracterizadaspelosbancospúblicosouprivados,entidadesgovernamentaisounãogovernamentaisemicrocrédito–nãoaten-demporcompletoàsnecessidadesdessepúblico,poisnãoconsideramsuapropostaassociativaesocial,tratando-oscomosmesmosparâmetrosdosempreendimentosmercantis(DIEESE;UNISOL,2012).Umdosempecilhosemconcederocréditoresidenafaltadeconfiançaaoavaliaraviabilidadedoempreendimentoenosinteressesdivergentesdosórgãosfinanciadores(DIEESE;UNISOL,2012).

Paraapoiarosempreendimentossolidáriosasuperarosdesafiosdasdimensõesassociativaedemercado,asincubadorasuniversitáriasepúblicasdeempreendimentossolidáriosprocuramfornecerassessoriatécnica,jurídicaedesustentabilidadeeconômica,alémdeconstruirereconstruircompetên-ciasparaossujeitosenvolvidos,valorizandoosaberacumuladodaspessoasedosgrupos(CULTI,2007).Asincubadorassão,pordefinição,arranjosins-titucionaiseinterinstitucionaisquesedestinamaapoiareassessorarnovosempreendimentosoufortalecerempreendimentosjácriados,oferecendoqualificaçãoeassistênciatécnicaduranteoperíododeincubação(BRASIL,2013bRUWER,2011).Alémdedesenvolverumatecnologiasocialutilizadaparaampliarageraçãodetrabalhoerenda,asincubadorasuniversitáriastecnológicasdeempreendimentospopularessãoespaçosquecongregamdiversosgruposdeinteresses,entreelesdiscentes,docentes,pesquisadores

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etécnicos.Osgruposestão,geralmente,inseridosemprogramasinstitucio-naisdepesquisaeextensãodauniversidade,comamissãodedesenvolverpesquisasteóricaseempíricassobreaeconomiasolidária(CULTI,2007),alémdeapoiarosempreendimentos.Osdesafiosdegestãodasincubadorassãovários,comdestaqueparaosfatoreseconômico,pedagógicoesociopolítico(quadro1).Noâmbitoeconômico,enfrentamodesafiodoacessoaocrédi-toedaorganizaçãodoprocessoprodutivocomtrabalhadores,geralmentepobresecompoucograudeescolarização.Noâmbitopedagógico,ograndedesafioestánaformaçãoculturaldotrabalhadorque,namaioriadoscasos,nãocompartilhoudeumaeducaçãoformalesedeparacomanecessidadedegerireconsolidarumnegócio,deformacoletiva.Jánoâmbitosociopolíticoodesafioresidenofatodeoempreendimentopreservarsuaautonomiaemrelaçãoàincubadoraemanteraautogestão(CRUZ,2004).

Quadro 1 – Desafio das incubadorasDESAFIOS QUESTÕES A QUE SE REFEREM

Econômico

• Comoorganizarefazerfuncionarempresasdetrabalhadorescomca-racterísticasdistintas(geralmentepobres,desempregadosecompoucaescolarização),quefossemcapazesdesobreviveremmercadosoligopoli-zadosedealtacompetitividade,oumesmoemmercadossaturadoscomoosdaspequenasemédiasempresas?

• Comoorganizar,nessascondições,umprocessoprodutivocomaeficáciaeaeficiêncianecessáriasquelhespermitissemaomesmotempoviabilizareconomicamenteaempresaegarantiraautogestão?

• Comoacessarcréditosparafinanciamentoecomoacessarmercadosparacomercialização?

Pedagógico

• Comocapacitaressetipodetrabalhador,quenãocompartilhouaculturadaeducaçãoformal,acriar,gerireconsolidarumnegócio,fazendo-odeformacoletiva?

• Comolograrqueessestrabalhadores,coletivamente,sejamcapazesdeacessaremanejarconhecimentosde(a)gestãoeconômica,(b)qualidadedoproduto,(c)mecanismosdedecisãodemocrática,(d)permanentebuscadetecnologiasalternativase,finalmente,(e)preservaçãodasaúdeedomeioambiente?

Sociopolítico

• Comointervirdemaneiraqueosgrupospreservemsuaautonomiaemre-laçãoàincubadoraeaautogestãosejaconstruídadeformapermanente?

• Comointervirdemaneiraqueaviabilizaçãodainiciativasetransformenumprocessodepotencializaçãodacidadaniadosgruposedaspessoas?

Fonte:Cruz,2004,p.47.

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Natividade(2011)estudou48incubadorasuniversitáriasquereceberamfinanciamentodoProgramaNacionaldeIncubadorasdeCooperativasPopu-lares(Proninc),eavaliouresultadosdiversosnosdesafiosdoquadro1.Dasincubadoraspesquisadas,duasnãoapresentaramresultadosporestaremnoiníciodoprocessoouporpassaremmomentosdifíceiscomosempreen-dimentosincubados.Amaioriaapresentouresultadosinstáveiselimitados,principalmentenofatoreconômicodageraçãoderendaparaasobrevivên-ciadosempreendimentos.Outras,porsuavez,obtiveramresultadosmaisexpressivos,comempreendimentosincubadoseematividadehámaisde10anos(NATIVIDADE,2011).ApesardeosresultadosdapesquisarealizadaporNatividade(2011)apontaremparagrandesdesafiosaseremsuperadosnoprocessodeincubação,aimportânciadasincubadoraspodesercomprovadanapesquisade2007daSenaes,queapontou,em54incubadorasuniversitáriasnopaís,aexistênciade537empreendimentosemprocessodeincubação,responsáveispormaisde13.000trabalhadores.Osucessodasincubado-ras,porsuavez,resideemsuperarosdesafiosdosresultadoseconômico,pedagógicoesociopolítico,queenvolveorelacionamentocomasdiversaspartesinteressadas(stakeholders),queinfluenciamesãoinfluenciadospelaincubadora.Osstakeholdersdasincubadorassãomuitos:governo,bancos,empreendimentos,alunos,ONG,pesquisadoresetc.

Gestão inovadora de política pública para geração de trabalho e renda no município de São Bernardo do Campo

Comoobjetivodedesenvolverumapolíticapúblicainovadora,ogover-nomunicipaldeSãoBernardodoCampobuscou,pormeiodaparceriacomaAgênciaBrasileiradeInovação(Finep),aUniversidadeMetodistadeSãoPaulo(Umesp)eoInstitutoMetodistaGranbery(IMG),recursosfinanceirosehumanosparaaimplantaçãoegestãodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol),caracterizadapelasuages-tãoinovadora,poisaSBCSoléumprojetoquebuscaaimplantaçãodeumaincubadora“mista”,ouseja,geridaporumaaliançaintersetorial,compostapordiferentesatoresinstitucionais:aPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo,representadaporgestoresetécnicosdaSecretariadeDesenvolvi-mentoEconômico;aUniversidadeMetodistadeSãoPaulo;easociedadecivil.

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Asdiversaspolíticaspúblicasdeerradicaçãodapobreza,naesferafederaldegoverno,queforamimplantadasnoBrasilnosúltimosdezanos,diminuíramdrasticamenteapopulaçãoemcondiçõesdeextremapobreza,porém,comodemonstraográfico1,aindaexistemcercadeoitomilhõesdepessoas,emterritórionacional,comrendaigualoumenoraR$70mensais.

Gráfico 1 – População com renda domiciliar per capita até R$ 70,00

Fonte:IBGE,PesquisaNacionalporAmostradeDomicílios(PNAD),2012.

SãoBernardodoCampolocaliza-senaregiãoMetropolitanadeSãoPauloemumaáreaconhecidacomoGrandeABC,tradicionalmentepolodaindústriaautomobilísticadopaís,altamenteurbanizadoecompotencialdecrescimentoeconômico.

Especificamente,SãoBernardodoCampo–territórionoqualoprojetodeincubaçãoestudadonesteartigoseinsere–apresentavaemmaiode2013,segundooMinistériodeDesenvolvimentoSocialeCombateàFome(MDS),23.312famíliasnoProgramaBolsaFamília,oquerepresentacoberturade88,75%dototalestimadodefamíliasdomunicípiocomperfilderendadoprograma.Portanto,aindaexisteumaparceladapopulaçãolocalqueviveemextremapobrezaenãotemacessoanenhumprogramasocial(BRASIL,2013d).

Atabela1mostraque,emmaiode2013,aindapodiamserencontrados15.500habitantesvivendoemsituaçãodepobrezaextrema.

20.000.000

15.000.000

10.000.000

5.000.000

02001 2003 2005 2007 2009

2002 2004 2006 2008 2011

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Gestão inovadora no processo de incubação: o caso sbcsol

Tabela 1 – Pobreza extrema nas cidades da região do Grande ABC Paulista

Municípios do Grande ABC População Extremamente pobres

% Extremamente pobres

Diadema 386.089 11.482 3,0

Mauá 417.064 10.864 2,6

RibeirãoPires 113.068 3.976 3,0

RioGrandedaSerra 43.974 1.265 2,9

SantoAndré 676.407 10.617 2,6

SãoBernardodoCampo 765.463 15.567 2,0

SãoCaetanodoSul 149.263 775 0,5

Fonte:MinistériodoDesenvolvimentoSocialeCombateàFome/IBGE/IPEA.

Poressarazão,sãoimportantesaspesquisasqueanalisamalternativasgovernamentaisparageraçãodetrabalhoerenda.Essasalternativasbuscamsoluçõesqueseestendemalémdainclusãonosmodelosdetrabalhotradi-cionaisdosgruposmenosfavorecidoseconomicamente,ouseja,alémdopreparodepessoasparaatuarcomoempregadasnasempresasexistentes.Umadasalternativaséoincentivoaempreendimentossolidários,quepodemserestimuladosedesenvolvidosporintermédiodeincubadoraspúblicas.Taispesquisaspodemcontribuirparaacriaçãodepolíticaspúblicasqueconsigamaceleraroprocessodeerradicaçãodapobrezaextrema.Emfunçãodisso,estapesquisafoirealizadatendocomoseuobjetodeestudoaimplantaçãoegestãodeumaincubadoradessetipo.

As incubadoras nas universidades: seu papel na economia solidária

Aeconomiasolidáriacompõe-sedeempreendimentoscomdiferentesnaturezasdenegócios,demodoqueépossívelencontrarcooperativaspopu-lares,associaçõesdeprodutoreseconsumidores,clubesdetroca,recuperaçãodefábricasfalidasegeridasporcooperativasdeex-empregados,ocupaçõesdeterraeproduçãocoletiva,entreoutras.

TaldiversidadeimpulsionouasuniversidadesaseincluíremnasiniciativasdeincubaçãopormeiodasIncubadorasUniversitáriasdeCooperativasnaEconomiaSolidáriaouIncubadorasTecnológicasdeCooperativasPopulares(ITCP),comumapropostade,alémdebuscargeraçãoderenda,trazerpara

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aacademiadebatessobreessasexperiências,possibilitandoaconstruçãosocialehistórica.

Esseformatodeincubadora,paraOliveiraeDagnino(2003),originou-seem1992,peloMovimentoemProldaCidadaniaContraaFomeeaMisériaeasolidificaçãodopensamentosolidário.Porém,eranecessáriocomplementaradistribuiçãodealimentoscomumaaçãoquegerassetrabalhoerenda,oquelevouprofessoresdaFundaçãoOswaldoCruz(Fiocruz),emparceriacomaUniversidadedeSantaMaria,acriarumacooperativapopular,compostapormoradoresdaMaré(RJ),paraprestarserviçosparaaprópriaFiocruz:aCooperativadeManguinhos.

ComosucessodeManguinhos,professoresealunosintegrantesdaCoor-denaçãodeprogramasdePós-GraduaçãodaEngenhariadaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro(COPPE-UFRJ),comsubsídiosdaFinep–AgênciaBrasileiradaInovação1,criaram,em1995,aprimeirainiciativadeumaIncubadoraTec-nológicadeCooperativasPopulares(ITCP),comoobjetivodeestabelecerumcontatocomcomunidadesdasfavelasinteressadasnaformaçãodecoopera-tivasdetrabalho(OLIVEIRA;DAGNINO,2004GUIMARÃES,1999).Noinício,asincubadorasuniversitáriasdeempreendimentosdeeconomiasolidáriafocaramnaorganizaçãodecooperativasemsetoressociaisexcluídos.Contudo,comocrescentenúmerodetrabalhadoresqueperdemseusempregosemdecorrênciadareestruturaçãoprodutiva,asincubadoraspassaramaformarcooperativascomessesgrupos,emdiversossetoresdeatividadeeconômica.Poroutrolado,asincubadoraspúblicasdeempreendimentossolidáriossurgiramvinculadasaosgovernosmunicipaiseàspolíticasdefinidasemâmbitofederalpeloSenaes.Ocasodeincubadoraaquiestudadoagregaumaparceriaenvolvendoopodermunicipaleduasuniversidades,umagestoraeoutracolaboradora.

Nãosetemnotíciadeincubadorasgeridasporaliançashíbridasdopontodevistadadiversidadedeatoresinstitucionaispresentesemsuaconstituição.Essaformadeestruturaçãoéinovadoraemsuaessência,poisintegraemsuagestãodiferentesolhares,interessesenecessidadesqueseunememproldeumobjetivocomum.

Caso da incubadora SBCSol

ASBCSoléumprojetointersetorial,envolvendoaFinep,aPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo,aUniversidadeMetodistadeSãoPaulo

1VinculadaaoMinistériodaCiência,TecnologiaeInovação(MCTI).

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eoInstitutoMetodistaGranbery.OsintegrantesdoprojetosãobolsistasdoConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológico(CNPq).Oprojetotevesuaaprovaçãoemdezembrode2011, inícioemagostode2012comprevisãodetérminoemagostode2014.OstermosdoacordocomaFineppodemserverificadosnoprocessonúmero0111.0377.00,dedezembrode2011.

Foramcompromissadas,comaFinep,váriasmetasparaaimplantaçãoeaoperaçãodaincubadora.Asmaisimportantessão:incubarvinteempre-endimentossolidários;formalizar,nomínimo,dezempreendimentossolidá-rios;fomentaroacessodosincubadosaoutrosprogramassociais;inovarumprodutoouserviçoemcadaempreendimento;elaborardezcartilhascominstruçõesparaorientarosincubadossobrediversasáreasdeumempre-endimento;treinareprepararosempreendedoresparaatuaremdeformaindependenteemseusempreendimentos;assessorarosempreendedoresnarotinaeprocessosdetrabalho;realizarquatroseminários,sendouminicial,doismetodológicoseumfinal,visandoaodebateeàintegraçãocomoutrospúblicosparadiscutirtécnicaseresultadosobtidos;fundarabibliotecadoempreendedorsolidário;editarumlivrosobreoprojeto;editarumcadernocomasistematizaçãodametodologiautilizadanoprojeto.

Oprojetoprevêaparticipaçãode36profissionais,dentreelesumco-ordenadorgeraleumacoordenadoratécnica,quatrotécnicos,professorespesquisadoreseuniversitáriosdediversasáreasdoconhecimento,comoadmi-nistração,economia,recursoshumanos,comunicação,pedagogia,psicologia,designerdeprodutos,jornalismo,rádioeTV,biblioteconomia.HátambémtécnicosdaPrefeituraparticipandodeaçõesdoprojeto.

Osparticipantesdoprojetoestãoorganizadosemdoisgrandesgruposdetrabalhoquesão:ogrupoadministrativofinanceiroeogrupodeplane-jamentoeexecuçãotécnica.Aáreaadministrativaadquireosequipamentospermanentesedeconsumo,contrataserviçosdeterceiroseprestacontasparaosfinanciadores,sempreorientadapeloconselhogestor.Aáreatécnicaéresponsávelportrabalhardiretamentecomosempreendimentosincubados,diagnosticandoseuspontosfortesefracos,criandometodologiaparaalcançaragestãoautossuficientedoempreendimentoeavaliandocontinuamenteosresultadosalcançadosdeformaapromoverajustesnoprocesso.

Oconselhogestordoprojetoécompostoporumrepresentantedecadainstituiçãoparticipante.Aresponsabilidadedoconselhoéprimeiramentein-tegrarasinstituiçõesparaque,emconsenso,decidamasdiretrizesaserem

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seguidasportodososparticipantesdoprojeto.HáreuniõesregularesentreosmembrosdoConselhoparaacompanhamento,decisões,utilizaçãodeverbas,encaminhamentodesoluçõesparaeventuaisproblemas.

Nahierarquia,apósoconselhogestor,posiciona-seocoordenadorge-ral,queéumprofessordauniversidadee,respondendodiretamenteaele,umacoordenadoratécnica,oriundadoterceirosetor.Essesdoisníveisdecoordenaçãointeragem,diariamente,discutindoeencaminhando,deformaintegrada,asquestõesoperacionaisrelacionadasàimplantaçãodoprojeto.

OstécnicosdoprojetosãotodosbolsistasdeprodutividadeindustrialpeloCNPq,sendoquequatrodessestécnicossãoresponsáveispeloplanejamento,acompanhamentoeavaliaçãodeumgrupodeempreendimentosincubados.

Osempreendimentosincubadossãodediversossegmentos,entreeles:–reciclagemderesíduossólidos;–têxtil;–cooperativametalúrgica,oriundadeumamassafalida;–economiacriativa(gruposdeartistaspopulareseartesanato);–hortascomunitárias;–alimentação.Asreuniõesentreostécnicoseacoordenaçãotécnicaocorremquinze-

nalmenteparaqueexistatrocadasexperiências,apropriaçãodemelhorespráticaspelogrupoesoluçãodeproblemasdeformasinérgica.

AsdecisõeseencaminhamentosnaáreaadministrativatomamcomodiretrizfundamentaloorçamentodisponívelnoprojetoeprestaçãodecontasparaaFinepeparaaPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo.

Inovação na construção e implantação de políticas públicas de geração de trabalho e renda – caso SBCSol em São Bernardo do Campo

SegundoSpink(2004),apartirdeanálisedosprojetosavaliadosnoPro-gramaGestãoPúblicaeCidadaniadaFGV,épossívelcompreenderosignificadodeinovaçãonagestãopúblicacombaseemcritériosquesãoutilizadospelosavaliadoresdosprojetosencaminhados:

–Representeumamudançasubstancial,qualitativaouquantitativa,naspráticasees-tratégiasanterioresnaáreageográficaoutemáticaemfoco,medianteaimplantaçãodeumnovoprogramaouconjuntodeatividadesounamelhoriasignificativadasatividadesouprogramasexistentes.

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–Permitaouapontemaneiraspelasquaisaexperiênciapodeserrepetidaporoutroetransferidaaoutrasregiõesejurisdição.-Amplieeconsolideformasdeacessoediálogoentreasociedadeesuasagênciaspú-blicas,aumentandoaqualidadedapráticapolíticaeinstitucional.-Utilizerecursos locaise/ounacionaise/ouoportunidades internacionaisemumaperspectivadedesenvolvimentoresponsáveleestimule,semprequepossível,práticasautóctoneseautônomasquepossamtornar-seautosustentáveis.(SPINK,2004,p.2).

AindadeacordocomSpink(2004),osautoresdosprojetosencaminha-dostambémdefiniramcritériosdosignificadodeinovação:açõesproativasnabuscadenovassoluçõesparaproblemasexistentes;mudançanoenfoquedecomopensaraação;inclusãoativaecoletiva,abrangendoparticipaçãoecogestãonabuscadesoluçõesenomonitoramentodeações;articulaçãocomoutrosenovosarranjosinstitucionais;mudançadeprioridadeseinclusãopassiva;transferênciadetecnologiadeumaáreaparaoutra;pioneirismo;respostasmúltiplasoumultitemáticas(SPINK,2004,p.8).

Analisando-seaestruturadegestãodaSBCSolcombasenasconclusõesdeSpink(2004),épossívelobservarquesuagestãopossuiumcaráterino-vador,poissuacomposição,comdiferentesatoresinstitucionais,ampliaodiálogoentreopoderpúblicoeauniversidade,transferindoconhecimentodessessetoresparaosempreendimentosdeeconomiasolidária,cujoresul-tadopoderáserdemaiorqualidadenasdecisõespolíticaseinstitucionais.

DeacordocomFrançaFilho(2006),aspolíticaspúblicasdeeconomiasolidária, inclusiveaquelasdirecionadasparaimplantaçãodeincubadorasdeempreendimentossolidários,possuemcomovocaçãoasinteraçõesre-cíprocas;elassãoconcebidaspormeiododiálogocomasociedadecivileoutrosatoresinstitucionaiscomosquaisrealizadiversasarticulaçõeseinterações.Oautordefinedoisníveisdearticulação:aintragovernamentalearealizadacomasociedade.Nessemovimentoresideocaráterinovadordessaspolíticasque,dessaforma,promovemumademocraciaparticipativaepolíticaspúblicasintegradas.ParaFrançaFilho(2006),essaéumavoca-çãodetaispolíticasenãoapráticacomumnomomento,emborapossaserencontradaemváriasexperiênciasbrasileiras.Oautorconcluiqueelasrepresentam“oqueexistedemaisinovadornessegêneronovodepolíticapúblicanoBrasil,sinalizandonovospadrõesdedefiniçãodasrelaçõesentreEstadoesociedade”(FRANÇAFILHO,2006,p.7).

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As alianças intersetoriais como meio para estruturação de políticas públicas

ÉpossívelanalisaraestruturaSBCSolutilizandooconceitodealiançaintersetorial.SegundoFischer(2002),foitambémnadécadade1990quesetornoumaisintensoofenômenodasparceriasealiançasentreempresas,ór-gãosgovernamentaiseorganizaçõesdasociedadecivilnaspráticasderespon-sabilidadesocial.Essasalianças,deacordocomessaautora,poderãotornar-seumatendênciapositivaparaestimularodesenvolvimentosustentável.

Asaliançasintersetoriaissãoformadaspororganizaçõesformaisvin-culadasaomercado,aoEstadoeàsociedadecivilquesearticulamparaumprocessocooperativovisandoàrealizaçãode“metasinstitucionaisoucomuns”(AUSTIN,2001).Essasmetassuperamasprópriasespecificidadesinstitucionaisdecadaumadelas.ParaFischer(2002,p.32),“ascaracterísticasorganizacionaisdecadaentidadeparticipantedeumaaliançadecooperaçãoinfluenciamaconfiguraçãoeodesempenhodaparceria”.

Épossívelcompreenderaaproximaçãoeparticipaçãodosatoresinstitu-cionaisnoprocessodeimplantaçãodeumaincubadoradeempreendimentossolidários,enquantopolíticapúblicadegeraçãodetrabalhoerenda,comomembrosdeumaaliançaintersetorial.Oriundosdeesferasdistintasdaso-ciedade,Estado,iniciativaprivadaeiniciativasdeorganizaçãosocialestãounidosembuscadeconstruiralternativasparageraçãodetrabalhoerendanomunicípiodeSãoBernardodoCampo,masmantendosuascaracterísticasespecíficas,ouseja,umórgãoexecutivodaadministraçãopública,umains-tituiçãodeensinosuperiorerepresentantesdasociedadecivilinteressadoseminiciativasdeassociativismoecooperativismo.

Austin(2001)chamaaatençãoparapontosaseremconsideradosnoprocessodeconstruçãodeumaaliança.Umprimeiroaspectoabordadorefere-seàcompreensãodanaturezaespecíficadaaliançaeemqualestágioseencontra.Oautorentendequeexistemtrêsestágiosdecooperação.Oprimeiro,filantrópico,caracteriza-seporpoucainteraçãoecomunicaçãoentreosaliadoseconfiguraomodelomaistradicionalderelacionamento,baseado,quaseexclusivamente,nadoaçãoerecepçãodebens,recursoseserviços.Noestágiotransacional,acooperaçãotemcomoobjetivocriarvalorparatodososparceiros,satisfazendonecessidadesespecíficasdecadaum–caracteriza--seporumaaproximaçãomaisintensaentreosparceiroseumacomunicaçãopossibilitadorademaiorintercâmbioentreeles.Opróximoestágio,integrativo,

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équandoasorganizaçõesparticipantesdaaliançaestabelecemumacom-patibilidadedeestratégiaseumplanodetrabalhoquepropiciaainteraçãoentrepessoaseautilizaçãoderecursosdetodososparceiros(AUSTIN,2001).

Analisando-seadinâmicadaaliançaentreprefeitura,universidadeeempreendimentosincubados,comparticipaçãodasociedadecivil,verifica-seumposicionamentodainiciativadaSBCSolnoestágiotransacional,poisnelaháumaintensainteraçãoetrocasentreosparticipantesdaprefeitura,sendoaproveitadas,inclusive,experiênciasdegestão,deoperaçãoedeprocessosdetrabalhosdetodososenvolvidos.

OsegundoaspectodestacadoporAustin(2001)refere-seàresoluçãodasdificuldadesdeconexãoentreorganizaçõespertencentesasetoresdiferentes.Fischer(2002),comentandoessesaspectos,enfatizaaimportânciadecadaparticipantedaaliançaseesforçarparaumexercícioconstantedeautoco-nhecimentoeautoavaliação,revendoexpectativassobreaaçãointegradadosparceirosesobreodesempenhodaaliança.Alémdessaquestão,coloca-seanecessidadedapercepçãoefortalecimentodosaspectosdecompatibilidadeentreosparceiros.Nessesentido,énecessárioquecadaparceirodesenvolvaacapacidadedearticulaçãocomosoutrosparticipantesdaaliança.Issopodeserumdesafioenorme,umavezqueaculturaorganizacionaldecadapartici-pante,suahistória,seusmodosdeatuaçãodivergemdosdemaisintegrantes,aindividualidadeéapresentadacomosuperioràcapacidadedeatingirumconsenso,porémquandoaequipeseuneparaummesmoobjetivo,nãomi-nimizandoasdiferenças,masressaltandoadiversidadeútilparaoêxitodaaliança,osresultadosemergemeaaliançatendeasefortalecer..

SegundoFrançaFilho(2006,p.8),

[...]muitassãoastensõesefricçõescaracterizandotalrelação,oquepareceapontarumparadoxoconstitutivodasuanaturezamesmo,ouseja,odesuporumpadrãoderelaçãoqueésempreomesmodecooperaçãoeconflito.Umparadoxo,aliás,quepareceinerenteàcondiçãoepossibilidadedoexercíciodemocrático.

OsdoisúltimospontosindicadosporAustin(2001)paracaracterizarumaaliançaintersetorialsãoaconfiançaeacooperação.Paraele,apráticadainteraçãoedatransparênciafortaleceaconfiançae,comela,épossívelacooperação.Alémdisso,éfundamentalparaaeficáciadeumaaliançain-tersetorialqueseusintegrantestenhamclarezacomrelaçãoàsmotivaçõesqueoslevaramatomaradecisãodeparticipaçãonaaliança,conhecendo,aomesmotempo,asmotivaçõesdosoutrosparceiros.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Sãodoisostiposdemotivosqueimpulsionamasorganizaçõesapartici-pardealianças:altruísticoseutilitários(AUSTIN,2001).Umposicionamentoaltruísticoéoqueconcentraointeresseemcontribuirparaasoluçãodeproblemascoletivos,relacionadosàpobreza,àdesigualdadeeexclusãosocial.Amotivaçãoutilitárianãoexcluiaconcomitânciadeinteressesespecíficosdecadaatorinstitucionalparticipantedaaliançaderazõesaltruísticas.

OconceitodealiançaintersetorialparaanalisarocaráterinovadordagestãodaSBCSolcontribuinosentidodeapresentarindicadoresdeeficáciadoprocessodegestãoquearticuladiferentesatoresinstitucionais.

Considerações finais

Épossívelverificar,pormeiodosestudosrealizados,queaSBCSolapre-sentacaracterísticasinovadorasemsuagestãoque,segundopalavrasdeumdosgestoresentrevistados,

[...]valorizaeestimulaaatuaçãodoConselhoGestorquedescentralizaasdecisões,integrandoosmembrosdaaliançaintersetorialcomaparticipaçãoderepresentantesdoInstitutoGranbery,InstitutoMetodistadeEnsinoSuperiorePrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo[...]comessadescentralizaçãoeconsequentesdecisõescolegiadasentreosdiferentesatoresinstitucionais,conquista-seumavisãoholísticadoprojetoedeseusimpactosnapopulaçãodomunicípio.

Aaliançaqueoriginouoprojetocompõeumdiferencial,poisosmodelosdeincubadorasexistentessãoexclusivamentedeincubadorasuniversitáriasoupúblicas;porém,emSãoBernardodoCampo,aincubadoraéhíbridaemsuaconstituição,utilizandoopoderpúblicocomofinanciadoreresponsávelpelainserçãodosempreendimentosincubadosemredesdecomercializaçãoearranjosprodutivoslocaiseregionaiseauniversidadecomoconhecimentoacadêmico.Deacordocompalavrasdeumdosentrevistados,“possibilitandoumauniãoqueextraioprincipalelementodecadaórgãoparatornaraSBCSolumprocessoquecumpreseusobjetivosealcançaumanovaformadegestãonaáreadeeconomiasolidária”.

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Tudo junto e misturado: Incubadora de Empreendimentos Solidários

de São Bernardo do Campo: entre as experiências universitárias e públicas

* EngenheirodeProdução(FEI)emestreemEngenhariadeProdução(DEP/Poli–USP),édiretordeEmpreendedorismo,TrabalhoeRendadaSecretariadeDesenvolvimentoEco-nômico,TrabalhoeTurismodaPrefeituraMunicipaldeSãoBernardodoCampo,docentenaFaculdadedeGestãoeServiçosdaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.

Nilson Tadashi Oda*

EstabeleceratrajetóriadaeconomiasolidárianaregiãodoABCPaulista,comênfasenomunicípiodeSãoBernardodoCampoenaperspectivadapolíticapúblicalocaleregionaléoquesepretendecomesteartigo.Paratanto,umabreveabordagemquantoàIncubadoradeEmpreen-

dimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol)–conformaçãodoprojeto,interrelaçõesinstitucionaiseopçõesmetodológicas–pautar-nos-ãoàreflexãoquantoàspossibilidades,limitesedesafiosdoprocessodeincubaçãoedefomentoàgeraçãodetrabalho,rendaedesenvolvimentosocialpormeiodaeconomiasolidária,considerandoaadoçãodeummodelodeincubadoraquemesclaosinteressesdapolíticapúblicaeascompetênciasdaacademia.

Contexto

NoBrasil,umesforçodereconstituiçãohistóricaapontaparaoiníciode2000asprimeirasmanifestaçõesnacionaisemfavordainstitucionalizaçãodaeconomiasolidária.

Emestudoanterior(ODA,2007)destacamosaimportânciadoGrupodeTrabalho(GT)BrasileirodeEconomiaSolidária–criadoem2001comopropósitodearticularemediaraparticipaçãonacional,assimcomodasredesinternacionaisdeeconomiasolidária,no1ºFórumSocialMundialrealizadoemPortoAlegre(RS)–sendocompostoinicialmentepordiferentesentida-

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

deseredesnacionaisdefomento1,queposteriormenteelaboraramcartadeprincípios,apresentandoaindaapropostadecriaçãodeumFórumNacionaldeEconomiaSolidária.

Nestecontexto,segundoSinger(2004),

Noquatriêniode1997-2001,PortoAlegre,SantoAndréeBelémforamdosprimeirosmunicípiosadesenvolverpolíticasdeinclusãosocialpormeiodeapoioeestímuloainiciativascooperativasouassociativasporpartededesempregados,favelados,catadoresdelixoepobresemgeral.Diantedoêxitodessasprefeituras,noquatriênioseguinte,dezenasdeoutras(entreasquaisadeSãoPaulo)passaramadesenvolversuasprópriaspolíticasdeeconomiasolidária.

Em2003,comaeleiçãodeLuiz InácioLuladaSilvaàPresidênciadaRepública,écriadanoMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE)aSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária(SENAES),visandopropor,organizareimple-mentaraspolíticaspúblicasdeapoioàeconomiasolidária.CriadopelomesmoatolegaldeconstituiçãodaSENAES,dejunhode2003,oConselhoNacionaldeEconomiaSolidária(CNES)seestabelececomoumórgãoconsultivoedeliberativoque,pormeiodainterlocuçãoentreasociedadecivil,oGover-noFederaleaprópriaSENAES,propõeeacompanhaaimplementaçãodaspolíticaspúblicasemfavordaeconomiasolidária.Suacomposição,definidapormeiodeumintensoprocessodenegociação,contemplaaparticipaçãode56entidadesrepresentativasdosempreendimentosdeeconomiasolidária,dasorganizaçõesnãogovernamentaisdefomentoeassessoria,edopróprioGovernoFederal.

Ressalta-sequediferentesiniciativasjáocorriam,motivadaspelosur-gimentodoschamadosempreendimentossolidários,decorrenteemgrandemedidadacriseeconômicaefinanceiravividasnopaís,deespecialmodoapartirdoiníciodosanosde1990.Valeressaltarqueesteperíodo,alémde

1 IntegraramesteGTBrasileirodeEconomiaSolidáriaaRedeBrasileiradeSocioeconomiaSolidária(RBSES);InstitutodePolíticasAlternativasparaoConeSul(PACS);FederaçãodeÓrgãosparaaAssistênciaSocialeEducacional(Fase);AssociaçãoNacionaldosTrabalhado-resdeEmpresasemAutogestão(Anteag);InstitutoBrasileirodeAnálisesSocioeconômicas(Ibase);CáritasBrasileira;MovimentodosTrabalhadoresSemTerra(MST/Concrab);RedeUniversitáriadeIncubadorasTecnológicasdeCooperativasPopulares(ITCPs);AgênciadeDesenvolvimentoSolidário(ADS/CUT);RedeInteruniversitáriadeEstudosePesquisassobreoTrabalho(Unitrabalho);RedeBrasileiradeGestoresdePolíticasPúblicasdeEconomiaSolidáriaeAssociaçãoBrasileiradeInstituiçõesdeMicrocrédito(ABCRED).

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Tudo junTo e misTurado

sacramentararetomadadaseleiçõesdiretasparaPresidentedaRepública,éigualmentemarcadopeloprocessodeaberturaeconômica,deforaparadentro,domercadonacional.

Ainserçãodopaísnosmercadosglobais,apartirdoiníciodosanosde1990,resultouemumchoqueentreospatamarescompetitivos, impondonecessidadesdemudançaseadaptaçõesdasempresasfaceànovaconcor-rênciadosprodutosimportados.Distodecorreramduassituaçõesdistintas:empresascomcapacidadeparainvestimentosqueadaptaram-seàsnovasformasdeorganizaçãodotrabalhoedaprodução,degestãoedeinovaçõestecnológicas,edeprodutos;e,deoutrolado,empresassemcondiçõesparainvestir,ouquenãosemoldaramaosnovospatamarescompetitivosemter-mosdecustos,qualidade,tempo,flexibilidadeeinovação,equeacabaramporsucumbiràsnovasexigênciasrelativasaosprodutos,processosemercados,encerrandonestecasoumacriseletale,consequentemente,oencerramentodesuasatividades.

Ademais,comasubstituiçãopor impeachmentdeFernandoCollordeMelloemoutubrode1992,entãoPresidentedaRepúblicaeleitoem1989,seuvice-presidente,ItamarFranco,assumee,aofinaldestemandatotampãosearticulaaeleiçãodoentãoMinistrodaFazenda,FernandoHenriqueCardoso.Comotrunfomaior,aadoçãodoPlanoReal–precedidopelaadoçãodeumartifíciodecontroleinflacionário,aURV(unidaderealdevalor)–rompecomosciclosinflacionáriose,umavezmais,umanovamoedanacional2éadotada.

EntreosdesdobramentosdesteplanoReal,asupervalorizaçãodamoedanacionalfrenteaodólarpropiciaoincrementodasimportaçõesemdetrimentodasexportações,resultandoemdéficitsdabalançacomercialdeumladoeconsumindoasreservascambiais;emtermosmicroeconômicos,comainfla-çãodomada,osganhosoriundosdasespeculaçõesnosmercadosfinanceirosdeixamdeserextremamenterentáveis,devolvendoàproduçãoafunçãodegerarosganhossobreocapitalinvestido.Assim,reduçãoecontroledecustos,seguidospeloaprimoramento,padronizaçãoecontroledaqualidade,bem

2 Considerando-seapenasascédulasemitidaspeloBancoCentral–anteriormenteocor-riasobresponsabilidadedoTesouroNacional–tem-se:Cruzeiro(Cr$)de01/01/1942a12/02/1967;CruzeiroNovo(NCr$)de13/02/1967a14/05/1970;Cruzeiro(Cr$)de15/05/1970a27/02/1986;Cruzado(Cz$)de28/02/1986a15/01/1989;CruzadoNovo(NCz$)de16/01/1989a15/03/1990;Cruzeiro(Cr$)de16/03/1990a31/07/1993;CruzeiroReal(CR$)de1/08/1993a30/06/1994(BRASIL,2010).

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

comoreduçãodostemposparaproduçãoelançamentodenovosprodutos,tornam-seasprincipaisestratégiascompetitivasdasempresas.Abuscapordiferentesdimensõesdeflexibilidadeeinovaçãodeprodutos,ouprocessos,ficarelegadaàsempresasmaisdinâmicas.

Emumcenáriodebaixocrescimentoeconômico,opaíssevê,emespecialapartirdesteanode1994,diantedaelevaçãodastaxasdedesemprego3eumcrescentenúmerodeempresasemcrisefalimentar.Arecuperaçãodospostosdetrabalhopormeioda“recuperaçãodeempresas”oude“massasfalidas”–viaderegracomaconstituiçãodecooperativas,ouaadoçãodaautoges-tãooudacogestão–engrossamasfileirasdosempreendimentossolidários.Eestafoiumadasestratégiasadotadasparaocontornododesempregonaregião,capitaneadaspeloSindicatodosMetalúrgicosdoABCemconsonânciacomoutrosmovimentosdasociedadecivilecomosgovernosmunicipaisdeSantoAndréeDiademaàépoca.

A economia solidária no ABC

Poragregarimportantecomplexoindustrial,formadoapartirdosanosde1950,aRegiãodoABCpaulista4secaracterizaporumdinamismoeconô-micoque,associadoao“novosindicalismo”(RODRIGUES,1990), imprimiuimportantepapeleconômicoepolíticonocenárionacional.

Oprocessointensodemudançasiniciadonosanosde1990,apartirdaaberturadomercadoàentradadeprodutosimportados,ocasionouofecha-mentodeplantasindustriais,odeslocamentodaproduçãoparaoutrasregiõesdopaís,areestruturaçãodaformanaqualseorganizavamaprodução,otrabalhoeagestãodasempresas,oenxugamentodasgrandesestruturasver-ticalizadas,areduçãodamãodeobraetc.Nestecenário,diversaspropostasdeenfrentamentodacriseindustrialedodesempregoforamestabelecidasapartirdaregião,particularmentepelosMetalúrgicosdoABC,aexemplodaCâmaraSetorialdoComplexoAutomotivo(ARBIX,1996)–comomeiode

3 SegundooDepartamentoIntersindicaldeEstatísticaeEstudosSocioeconômicos(DIEESE,2011),“NaGrandeSãoPaulo,ataxamédiaanualdedesempregomudade14,2%,em1994,para18,3%em1997”.

4 EstaregiãoéatualmenteconstituídapelosMunicípiosdeSantoAndré,SãoBernardodoCampo,SãoCaetanodoSul,Diadema,Mauá,RibeirãoPireseRioGrandedaSerra.

43

Tudo junTo e misTurado

influêncianapolíticaindustrial–,eaCâmaraRegionaldoGrandeABC–comomeioaodiálogosocialedeinfluênciaapartirdamobilizaçãolocal5.

Alémdestes,temascomoacogestão,aautogestãoeocooperativismo–queconformamachamadaeconomiasolidária–,tambémsãoadotadosporestesindicatocomorespostaàssolicitaçõesdosprópriostrabalhadoresnasempresasemcrise.Valerecordarque,entre1994e1997,emmeioàcrisedaConforja(ODA,2001),osMetalúrgicosdoABCseenvolveramnacogestãodaempresa,queposteriormentefoiconvertidaemquatrocooperativasdeprodução.

Paracumpriranecessidadedeumanovaformadeorganizaçãopautadapelosinteresseseconômicos,sociaisepolíticosdostrabalhadores,osMeta-lúrgicosdoABCapoiam,emconjuntocomoutrosSindicatos,aconstituiçãodaCentraldeCooperativaseEmpreendimentosSolidários(UNISOLBrasil),tendoemcontaapercepçãodequeapenasacontinuidadedoprocessodeproduçãodasempresastransformadasemcooperativas,oudosempreendi-mentossolidários,nãogarantiriaamanutençãodotrabalhoedarendaparaseussóciostrabalhadores.Acertezadetrabalhoerendadependiaedependedacapacidadedestascooperativasemobteregerarrecursosfinanceirosparasecapitalizarem,danecessidadedeelasadquiriremcompetênciasquelhespermitissemsobrevivereseconsolidaremenquantoempreendimentoseco-nômicosaolongodostempose,demaneiravital,mantendoepraticandoosprincípioshistóricoseideológicosdocooperativismoedaeconomiasolidáriaparaevitarsuadegeneração.

Economia solidária e política pública no ABC

Emgrandemedida,ainserçãodosMetalúrgicosdoABCnaeconomiasolidáriaocorreaolongodagestãodeLuizMarinho6comopresidentedeste

5 Maisrecentemente,emrazãodacriseiniciadanosEstadosUnidos–crisedossubprimes–oSindicatodosMetalúrgicosdoABCpromoveemmarçode2009,emconjuntocomosdemaisatoressociais,osemináriointituladoOABCdodiálogoedodesenvolvimento,comomeioàdiscussãoeparaabuscadealternativasfaceà iminênciadestacriseseinstalartambémnoBrasil.

6 Eleitoinicialmentetesoureiroem1984,assumeposteriormenteoscargosdesecretário-geralevice-presidentedoSindicatodosMetalúrgicosdoABC.Em1996,foieleitopresidente,sendoreeleitoparaasgestõesposteriores,de1999a2002ede2002a2003,quandoassumeapresidênciadaCentralÚnicadosTrabalhadores(CUT).Em2005,assumeoMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE)–doqualaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária(SENAES)fazparte–e,em2007,oMinistériodaPrevidênciaSocial.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

sindicato.Posteriormente,em2008,durantesuacampanhaàPrefeituradeSãoBernardodoCampo,Marinhoreafirmaseucompromissocomaecono-miasolidáriadacidade,incluindonoprojetodereformaadministrativasuaintençãoquantoàpolíticapúblicaemtermosdoempreendedorismo,trabalhoerendanoâmbitododesenvolvimentoeconômicodomunicípio.

Ressalta-sequeosatoreslocais,aexemplodaUnisolBrasil–CentraldecooperativaseempreendimentossolidáriosdoBrasil–,doCentrodeFormaçãoProfissionalPadreLeoComissari,daPastoralOperáriaedopróprioSindicatodosMetalúrgicoseQuímicosdoABC,entreoutros,cumpremimportantepapelnoapoioaosempreendimentossolidáriosdaregião,emespecialnosmunicípiosquenãocontavamcompolíticaspúblicasespecíficas.

UmquadrogeraldemonstraquenaregiãodoABCquatrodeseusmuni-cípios–SantoAndré(2008),Diadema(2009),Mauá(2010)eSãoBernardodoCampo(2010)–passaramacontarcomlegislaçõesprópriasparafomentoedesenvolvimentodaeconomiasolidária.RibeirãoPiresiniciourecentementediscussãosobreotema;SãoCaetanodoSulinstituioConselhoMunicipaldeEconomiaSolidária(2009);restandoentãoRioGrandedaSerraque,atéentão,nãocontavacomnenhumainiciativaespecífica.

Emtermosregionais,aindano finalde2013,apartirdedemandaapresentadapeloFórumRegionalSocialepelodeEconomiaSolidária,oConsórcioIntermunicipalGrandeABC7 incorporaformalmenteemseuGT8

TrabalhoeRendaotema,passandoaserdenominadodeGTTrabalho,RendaeEconomiaSolidária9.EsteGT,noplanejamentodoConsórciorealizadoem2009,estabeleceudiferentesaçõesvisandoaofomentoàeconomiasolidáriaregional,queatéopresentemomentonãoseconcretizaram.

7 OConsórcioIntermunicipalGrandeABC,constituídoemdezembrode1990,atuacomoarticuladordepolíticaspúblicassetoriais.Emfevereirode2010foitransformadoemCon-sórcioPúblico(adequaçãoàsexigênciasdaLeiFederalnº11.107/2005),passandoaintegraraadministraçãoindiretadosmunicípiosconsorciados,comlegitimidadeparaplanejareexecutaraçõesdepolíticaspúblicasdeâmbitoregional.

8 OConsórcio,paraarticulareplanejaraçõesregionais,atuaemoitoeixos,cadaqualcom-postoporGruposdeTrabalho(GTs)formadosporgestorespúblicosindicadospelosChefesdosExecutivosdosmunicípiosconsorciadosetécnicosdoConsórcio.

9 InicialmenteoFórumRegionalSocialeodeEconomiaSolidáriapleitearamacriaçãodeumGTdeEconomiaSolidária,comointuitodeseusrepresentantesparticiparemdaformaçãodesteGT,oqueestatutariamentenãoéprevisto.Todavia,pelassuasprópriascaracte-rísticas,oConsórciotemcomoprincípiorecebertodasasdemandasdasociedadecivil,encaminhando-asquandopossível,àdeliberaçãodosPrefeitosoudosprópriosGTs.

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Tudo junTo e misTurado

Todavia,pormeiodestemesmoGT,oConsórciotemcofinanciadooprojetodeformaçãoeorganizaçãodoscatadoresdemateriaisreciclados,emparceriacomaSENAES/MTEcujoproponenteéaCoopcentABC10.

Política pública de economia solidária em São Bernardo do Campo

NoquedizrespeitoaSãoBernardodoCampo,alémdainstituiçãodaleimunicipalemmaiode2010,sãoelaboradoseimplantadosprojetosespecíficosdefomentoàeconomiasolidáriaapartirde2009,comvistasaodesenvolvi-mentodosempreendimentosjáexistentes–constituídosnagestãodoentãoprefeitoMauricioSoares(1997-2000)–,oudosqueforamconstituídosapartirde2009naprimeiragestãodeLuizMarinho.

A constituição do Espaço Solidário, anexo à Central de Tra-balhoeRenda11 (CTR), visa abrigar as açõesde fomento, de socializa-çãoedearticulaçãodaeconomiasolidária.Alémdisto,oEspaçoSoli-dário tem como objetivo favorecer a comercialização dos produtos eserviçosgeradospelosempreendimentossolidários,abrigandoumaloja12

eumafeirinhadeprodutosdashortasurbanas(horticulturasemusodeinsumosoudefensivosquímicoscolocadosàvendaàssextas-feiras),apaste-lariaQSabor,umabibliotecaeonúcleodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).

AsaçõesdefomentoàcomercializaçãocontamcomapoiodaSENAES/MTE(Edital003/201)13,cujoobjetivoémelhorarospontosfixosdecomercialização

10 ACoopcentABCéumacooperativadesegundograu,cujasfiliadassãoassociaçõesecoope-rativassingularesdecatadoresdemateriaisrecicláveisdaregiãodoABC.ACoopcentABCévinculadaaoMovimentoNacionaldeCatadoresdeRua(MNCR),importanteorganizaçãoquereúnemilharesdecatadoresdasdiferenteslocalidadesdafederação.

11 Comocompromissodoprogramadegoverno,apartirdemeadosde2009dá-seinícioàstratativasjuntoaoMinistériodoTrabalhoeEmpregosobreoprojetoparamunicipalizaroSistemaPúblicodeEmprego(SINE),possívelàscidadescommaisde200milhabitantes,conformecritériodoConselhoDeliberativodoFundodeAmparoaoTrabalhador(CODEFAT),visandoàprestaçãodeserviçospúblicos,gratuitosecomqualidade,paraintermediaçãodemãodeobra,habilitaçãodosegurodesempregoequalificaçãosocialeprofissional.

12 Inauguradaem2012,alojaencontra-seatualmenteemprocessodereformaparamelhoriadoespaçofísicoedoconfortoaosempreendedoreseclientes.

13 ProjetoparaPromoçãodeaçõesintegradasparaodesenvolvimentodaeconomiasolidáriaemSãoBernardodoCampo,pormeiodofomentoàcomercializaçãoeaoEspaçoSolidário.

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(terminalrodoviáriolocal,SecretariadeEducação,EspaçoSolidário,entreoutros)pormeiodaelaboraçãodeumdiagnósticoedeassessoriaemmarke-tingecomercializaçãoaosempreendimentossolidáriosqueusufruemdesteslocais.Sãoprevistosaindanesteprojetoaelaboraçãoeconfecçãodefoldersemateriaisdedivulgaçãoparaospontosfixos,aaquisiçãodeequipamentosdeproteçãoindividualparaosempreendimentosdereciclagens,acompradeumbarcoparadesenvolvimentodeturismosustentávelrealizadopelospesca-doresdarepresaBillings,deespecialmodonoperíododedefeso,bemcomoequipamentosparaapastelaria.

Noquedizrespeitoàcomercialização,cabedestacarqueaeconomiasolidáriaemSãoBernardodoCampoconsolidouaparticipaçãoativadeseusatorespormeiodoFórumMunicipaldeEconomiaSolidária14,quetemdesempenhadopapelrelevantenaarticulação,formaçãoe,especialmente,naorganizaçãodosempreendimentosparaparticipaçãoemfeiraseeventosrealizadospelaPrefeituraMunicipal,ounosquaisoGovernotenhaalgumtipodeparticipação.

Contudo,naperspectivadesepromovermaiorpodereautonomiaàeconomiasolidária,háumdebatejuntoaoFórumMunicipallocalparaqueesteseestrutureeseorganizeparaque,autonomamente,elepossaassumirarealizaçãodefeirasdeeconomiasolidárianomunicípio.Nestaperspectiva,apósa1ªFeiraMunicipaldeEconomiaSolidária,realizadanosegundose-mestrede2013,noâmbitodoprojetofinanciadopelaSENAES/MTE,oFórumrespondeuàprovocaçãodopoderpúblicoepassouaassumiraorganizaçãoeocusteiodasfeirassubsequentes,tendocomointençãorealizá-lasmensalmen-te.Nestecontexto,opoderpúblicotemassumidoaincumbênciadearticularedivulgararealizaçãodestasfeiras,incentivandoapráticaautogestionáriaeaparticipaçãoparaalémdoslimitesdosprópriosempreendimentos.

Desenvolve-seassimumdebateparaquesejaconstituídaumaAssociaçãoapartirdoFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriadeSãoBernardodoCampo,formalizando-secomistoestearranjoparticipativo,enecessárioparatornarapolíticadegovernoemumapolíticapúblicacomparticipaçãoecontrolesocial.

14 OFórumMunicipaldeSãoBernardodoCampofoilançadoem2008comaparticipaçãodeentidadescomooCentrodeFormaçãoProfissionalPadreLeoComissari,aUnisolBrasil,oSindicatodosMetalúrgicosdoABCeaPastoralOperária,entreoutros,bemcomopelosempreendimentossolidáriosvinculadosaestasorganizações.MarcodestainiciativafoiaelaboraçãodeumacartadeapoioàcandidaturadoentãocandidatoaPrefeito,LuizMarinho.Em2010,oFórumpassaaserreconhecidopelaLeiMunicipaldeEconomiaSolidária.

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Tudo junTo e misTurado

Porsuavez,apastelariaQSabor,projetorealizadoemconjuntopelaSecretariaMunicipaldeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoeSecretariadeSaúde,abrigaalgunsusuáriosdoCentrodeAtençãoPsicossocial(CAPS),naperspectivadereinserçãosocialedegeraçãodetrabalhoerenda.

Naperspectivadageraçãodetrabalhoerenda,estainiciativapodeser-vircomoumprimeiroestágioparaconstituiçãodeumacooperativasocial15,tendocomoreferênciaasexperiênciasdeTriestenaItália.Contudo,paraqueospreceitosdocooperativismosocialocorram,éimportantequeseconsti-tuaumacooperativanaqualcoabitemnãousuárioseusuáriosdoCAPS.ÉexatamentenestaperspectivaqueseencontraemfasefinaldeimplantaçãooprojetodoCarrinhoSolidário.

Àluzdaleidefomentoàeconomiasolidária,oprojetoCarrinhoSolidá-rio,realizadoemparceriacomoInstitutoConsuladodaMulher,temcomoobjetivopropiciarqueosfuncionárioslotadosnoPaçoMunicipaltenhamacessoaalimentossadios.Alémdeoferecerdoces,salgadosebebidas,oCarrinhoSolidárioconsolida,alémdemaisumempreendimentosolidário,apropostadeseconstituirumarededealimentação,articulandodiferentesempreendimentosqueproduzemestesprodutos,assimcomopossibilitatra-balhoparaoutraspessoasqueservemoCarrinhoSolidário,ouparticipamdasualogísticae(re)abastecimento,entreosquaisalgunsdosusuáriosdoCAPSquepassarampelapastelariaQSabor.

Tudo junto e misturado: Incubadora de Empreendimentos Solidários de São Bernardo do Campo, entre as experiências universitárias e públicas

Demaneirageral,osempreendimentossolidáriosrecebemapoiodeorganizaçõesnãogovernamentais,universidadesepoderespúblicos.Segun-dooAtlasdaEconomiaSolidária(BRASIL,2013),elaboradopelaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária,considerandootipodefornecedordeapoio,apuradoem2007,33,5%éprovenientedeorganizaçãonãogovernamental;58,6%deórgãogovernamentale7,89%deuniversidades.

Isto,contudo,nãopodeserqualificadocomoumprocessodeincubação,queécompreendidocomosendo:

15 ÀluzdasexperiênciasitalianasestacooperativasocialpoderáserclassificadacomodetipoB–cooperativadeproduçãoqueabrigapessoasemdesvantagenssociais,possibilitandoageraçãodeatividadeslaborais,rendaereinserçãosocial.

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[...]oprocessodefomentoeacompanhamentodeempreendimentoseconômicos,cole-tivoseautogestionários,pormeiodaformaçãodostrabalhadoreseapoioàestruturaçãodoempreendimento,atéqueestetenhacondiçõesparasesustentardeformaautônoma.Aincubaçãoéentendidacomooacompanhamentosistêmicoeassessoriaagruposdepessoasinteressadasnaformaçãodeempreendimentoseconômicossolidários,tendoemvistaumprocessoeducativoesuportetécnicodessesempreendimentos16.

Cultiestabelecequeasincubadorasuniversitárias(2011,p.34):

Sãoespaçosqueagregamprofessores,pesquisadores,técnicoseacadêmicodediversasáreasdeconhecimento,bemcomoprogramasinternosexistentesnasuniversidadesparadesenvolverempesquisasteóricaseempíricassobreaeconomiasolidária,alémdasati-vidadesdeincubaçãodeempreendimentoseconômicossolidários(EES),comoobjetivodeatenderatrabalhadoresquetencionamorganizarseusprópriosempreendimentos,sejamcooperativas,associaçõesouempresasautogestionárias,urbanasoururais.

Porsuavez,aincubadorapúblicadeempreendimentossolidários,se-gundoLeiteetal. (2008,p.57)

[...]constituiumespaçopúblicodestinadoaaçõesdefomentoaoprocessodeincubaçãoedeapoioàorganização,consolidaçãoesustentabilidadedeempreendimentoseconômicossolidários,demodoqueseestruturemealcancemviabilidadeeconômicaeassociativa.

Oacompanhamentoeapoiomaissistêmicopropiciadopelaincubação–formaçãoeconsolidaçãodosempreendimentossolidáriosemtermosdagestãoedaautogestão,edaorganizaçãodotrabalhovisandoconformarumcenárionoqualoproduto,oprocessoeomercadopossamsercompreendidosebemadministrados–visampossibilitaroalcancedeumdesempenhoeconômicoesocialsuficienteàgeraçãodetrabalho,rendaedesenvolvimentosocialaosempreendimentossolidárioseaosseusparticipantes,contemplandocomistoosprincípioseobjetivospreconizadospelaeconomiasolidária.

Istoposto,cabeapontar,paraalémdassimilitudes,oqueconsideramosasprincipaispercepçõesquantoàparticularidadedasincubadorasuniversi-táriaseincubadoraspúblicas.

Aspolíticaspúblicasdeeconomiasolidária,bemcomooconjuntodaspolíticaspúblicas,sofremalteraçõesnoscasosdedescontinuidadedeum

16 Avaliaçãodoprogramanacionaldeincubadorastecnológicasdecooperativaseempreen-dimentossolidários–Proninc.Relatóriofinal,Recife-2011.(BRASIL,2011).

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Tudo junTo e misTurado

governo,especialmentequandoocorreatrocaentregovernantesdepartidosopositores,quasequeinexoravelmente.Valedestacarqueemestudoanteriorpercebemosque:

Àexceçãodepoucoscasos,comonogovernodeMinasGeras,nagrandemaioriados33membrosdaRededeGestoresdePolíticasPúblicasdeEconomiaSolidáriaosinstrumentosdepolíticapúblicaforamestabelecidosoriginalemajoritariamenteporgestõesdoPT(PartidodosTrabalhadores)edoPSB(PartidoSocialistaBrasileiro).(ODA,2012,p.215).

Jánasincubadorasuniversitárias,emgrandemedidaconduzidaspordocentesqueseidentificamesededicamàeconomiasolidária,háumadeter-minadatemporalidadeemrazãodoprópriocalendárioacadêmico,resultadodosperíodosletivos,dasprovas,dosrecessosletivos,edaprópriaconclusãodoscursos,especialmenteparaosalunosquesevoluntariam,querealizamestágiose/oupercebemdeterminadasbolsasdeestudo.Isto,tambémdemaneirainexorável,conformaumadescontinuidadenoacompanhamentoeassessoramentoaosgrupos,agravadopois,viaderegra,osformandosacabamporseinserirnomercadodetrabalhoconsiderandoqueestesdificilmentesãocontratadosparaodesempenhoecontinuidadeprofissional.

PartindodoprincípioqueointeressemaioréodesenvolvimentodaeconomiasolidáriaemSãoBernardodoCampo,aPrefeituraMunicipaleaUniversidadeMetodistadeSãoPauloelaborarameconsolidaramumprojetoespecífico,apresentando-oàFinep(FinanciadoradeEstudoseProjetos,doMinistériodaCiênciaeTecnologia/MCT)sendoaPrefeituraintervenienteeaMetodistaaproponente.Estaparceriaentreopoderpúblicoeauniversidade,demaneirapioneira,propiciouaconstituiçãodaIncubadoradeEmpreendi-mentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol)que,segundooPrefeitoLuizMarinhoduranteolançamentodesteprojetojuntariaosproblemasdecadaqualpossibilitandoabuscadesoluçõescompartilhadaspormeiodacomplementaridadedecompetênciasedeinteressescomuns.

Destaca-seque,emsuaestruturaorganizacional,aSBCSoltemumcon-selhogestorbipartite,instânciamáximadedecisõesquantoaoprojeto;eumcomitêexecutivotambémbipartite,noqualsãodiscutidasedeliberadasasatividades.Operacionalmente,háumacoordenaçãogeraldesempenhadaporumdocente,queéassistidoporumacoordenaçãoadministrativaefinanceira,cujoresponsáveltambéméumdocente,eumacoordenaçãotécnica,ocupadaporumapessoacomexperiêncianotemamasquenãotemvínculocoma

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academia.Ocorpotécnicosobresponsabilidadedestacoordenação,igualmente,écompostoporprofissionaiscomexperiênciaanteriornaeconomiasolidária,todassemvínculoacadêmico.Completamestequadrotécnicoestagiáriosqueobrigatoriamentedevemestarvinculadosaalgumcursodauniversidade.

QualificadacomoumaincubadoramistapeloProf.PaulSinger,aSBCSolvisacolocarascompetênciasdauniversidadenaincubaçãodeempreendimen-tossolidáriosfocodapolíticapública.AliarosconhecimentoseosespaçosdeaprendizagenscomospropósitoseinteressesdapolíticapúblicadáàSBCSolapossibilidadedeumainteraçãoentreasatividadesepropósitosdeincubação,atéentãorealizadasindividualmentepelasinstituições,tornandoaparticipação,acooperaçãoeasolidariedadetambémumapráticaentreestasentidadesdeapoioàeconomiasolidária.

Breves considerações

Agestãodapolíticapúblicadeeconomiasolidária,apartirdosprincípiosdalegalidade,impessoalidade,moralidade,publicidadeeeficiência–artigo37daConstituiçãoFederal–associadoàpercepçãodequeosprincípioseconceitosdaeconomiasolidáriaassumemdimensõesamplas, levou-nosaadotarumacaracterizaçãoparaosempreendimentossolidáriosfocodapolíticapúblicadeSãoBernardodoCampo.

ApartirdaideiapostuladaporTauile(2005),adotou-seumatipologiadosempreendimentossolidáriostomando-secomobaseumespectronoqualosempreendimentospodemsesituar,apartirdapercepçãoquantoaseusobjetivosesuascondições(organização;relaçãoproduto/processo/mercado)transitemdeposiçõesmaissociaisaeconômicas,semque,comisto,seabramãodosprincípiosdaeconomiasolidária.

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Emboamedida,estatipificaçãotemservidoàdelimitaçãodeexpectativastantodosempreendimentosquantoaogovernoeàSBCSol,possibilitandoqueasaçõessejamrealizadasdeacordocomaespecificidadedosempreendimen-tos.Atítulodeilustração,apastelariaconduzidapelosusuáriosdoCAPS,comodevidoapoiodecuidadoresdaSecretariadeSaúde,assumeumaposiçãomaisàesquerdadoespectro,sendoetendoobjetivossociais,semcomistoeliminarapossibilidadedegeraçãodealgumtipoderendadecorrentedotrabalhorealizadoporeles.

Nooutroextremotem-se,porexemplo,aUnimáquinas,cooperativadeproduçãoconstituídaapartirdoprocessoderecuperaçãodeumaempresafalida,produtorademáquinaseequipamentosparaindústriafarmacêutica.

Entreestesdoisextremospode-sesituarosdemaisempreendimentossolidáriosobjetodapolíticapúblicamunicipal.Istocertamenteexigeumdiag-nósticosocioeconômicoesituacionalmaisrefinado,suficienteparaquesepercebaquaisaspossibilidades,oportunidadesourestriçõesemsetransitareocuparumlugaremposiçõesmaissocialoueconômica.

Leite(2009,p.39),aodiscorrersobreaeconomiasolidária,postulaque:

Issonãosignifica,contudo,queessasexperiênciassejamcarentesdesignificado,espe-cialmenteparaosatoresnelasenvolvidos.Aocontrário,[...]consisteemconsiderarque,emboranãosejamcapazesdepromoverumatransformaçãosocialmaissignificativa,elassãopartedanossahistóriaevêmdeixandomarcasimportantesemnossasociedadeaopromoverasolidariedadeeaautonomia.Nessesentido,emergemcomoformasderesistênciaimportantesàrealidadeatualdomercadodetrabalhoeadquiremumsignifi-cadoextremamenterelevanteparaostrabalhadoresquenelasseinserem,despontandocomoumelementocentralàcompreensãodonovomomentodomundodotrabalho.

Complementarmente,paraapolíticapúblicamunicipaldeeconomiasolidária,paraalémdageraçãodetrabalhoerenda,atipificaçãopropostaconsideraquetodososempreendimentossolidáriostêmumpapelrelevanteacumprir,sejacontribuindoparaocontornodeproblemassociaisassociando--seàsdemaispolíticassociaispropostaspelogoverno,sejacontribuindoparadefatogerartrabalho,rendae,comodesdobramentodisto,desenvolvimentosocialparatodososparticipantesdaeconomiasolidáriaeparaacidadedeSãoBernardodoCampocomoumtodo.

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Construindo uma política pública de economia solidária em São Bernardo do Campo:

da assistência social ao desenvolvimento econômico

* AssistenteSocialnaPrefeituradeSãoBernardodoCampo,pós-graduadaemPsicologiaComunitáriadeLibertação.

Sandra Cristina Olmedilha*

Umanovaconsciênciadevecriarummundonovoeenterraramisériaeaexclusãoparasempre.

Umaculturaquebusquenofimdecadaatalhoumareta,emcadapontodesofrimentoumaalegria.

Umanovaconsciênciadevecriarummundonovo,onderecriararealidade,atravésdasolidariedade,éprecisoeépossível.

Betinho

Introdução

OpresenteartigoéfrutodotrabalhoprofissionaldaautoracomoassistentesocialnaPrefeituradoMunicípiodeSãoBernardodoCamponasatividadesdegeraçãodetrabalhoerendae inclusão

produtivadesenvolvidaspelaPolíticaPúblicadeAssistênciaSocialde1996a2008,enoProgramaGeraçãodeTrabalhoeRenda–EconomiaSolidárianaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoapartirde2010.Procura-seapontarocaminhopercorridopelosprojetosdegeraçãoderendanaspolíticaspúblicasdomunicípio,contribuindocomareflexãodaposiçãodaeconomiasolidária(ES)naspolíticaspúblicas.Nosúltimosanos,aeconomiasolidáriatemseapresentadocomoalternativadegeraçãodetrabalhoerendaeumarespostaafavordainclusãosocial.Elacompreendeumadiversidadedepráticaseconômicasesociaisdesenvolvidassobaformadecooperativas,associações,clubesdetroca,empresasautogestionáriase

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redesdecooperação,entreoutras,queatuamnasáreasdeprodução,distri-buição,consumo,poupançaecrédito,organizadassobaformadeautogestão.Osempreendimentoseconômicossolidáriostêmporbaseosprincípiosdacooperação,dagestãodemocrática,dasolidariedade,dadistribuiçãoequita-tivadasriquezasproduzidascoletivamenteedavalorizaçãodoserhumanoedotrabalho(BRASIL,2014b).

Noâmbitodaspolíticaspúblicas,osprogramaseprojetosdeeconomiasolidáriaestãosendodesenvolvidosaolongodotempopordiversasáreas,sendoasmaiscomunsaAssistênciaSocial,InclusãoSocial,TrabalhoeDe-senvolvimentoEconômico.

AseguirseráapresentadoumbrevehistóricodasaçõesvoltadasparaempreendimentosdaeconomiasolidárianomunicípiodeSãoBernardodoCampoesuainserçãonasaçõesdeassistênciasocial.OartigoseguecomasaçõesdesenvolvidaspelaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismoeencerra,nasconsideraçõesfinais,comumareflexãosobreosdesafioscolocadoshojeparaaeconomiasolidária.

Breve histórico

Açõesiniciaisdegeraçãoderendavoltadasparaapopulaçãoempobre-cidadomunicípiodeSãoBernardodoCampoforamdesenvolvidasnadécadade1990peloDepartamentodePromoçãoSocial,vinculadoàSecretariadeSaúde,pormeiodaSeçãodeAtividadesComunitárias.

EstaSeção,alémdeoutrosprojetoscomunitários,realizavacursoseofi-cinasprofissionalizantesnascomunidades,emparceriacomentidadeslocais(SociedadeAmigosdeBairro,Clubedemães,Igrejas,etc.),Senai,FundoSo-cialdeSolidariedade,entreoutros,comoobjetivodepossibilitaràsfamíliasatendidasageraçãooucomplementaçãodarenda.Comoopúblico-alvodaassistênciasocialnãoconseguiaacessaroscursosdasEscolasMunicipaisdeIniciaçãoProfissional(EMIPS),esteseramlevadosatéascomunidades.

Naassistênciasocial,aLeinº8.742,de7dedezembrode1993(BRASIL,1993),aLeiOrgânicadaAssistênciaSocial(LOAS),emseuartigo2º,incisoI,alíneac,jápreviacomoumdeseusobjetivos,enquantopolíticadedireitos,promoveraintegraçãodosusuáriosdaassistênciasocialaomercadodetra-balho.Oscursosparageraçãoderendabuscavamresponderaesteprincípioeforamampliadosnosanosde1996a1998.Osmonitorestambémerampessoasdaprópriacomunidade,contratadasparaensinaroquesabiamfazer.

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Nomesmoperíodofoi implantadooprojetodehortascomunitárias,comoobjetivodecontribuirparaumaalimentaçãosaudávelenutritivaparaacomunidadeeasfamíliasenvolvidas,alémdepossibilitaraconvivênciacomunitária.Oprojetoerarealizadoemáreasmunicipaisociosas,áreaspri-vadascedidasparaestefimeáreassobasredesdetransmissãodaEletro-paulocedidasemcomodatoaomunicípio.Aolongodeseudesenvolvimento,aatividadecomeçouaproduzirexcedente,quepassouaservendidoparaacomunidade,transformando-seassimemumapossibilidadedegeraçãooucomplementaçãoderenda.

A economia solidária e a assistência social

ASecretariadeDesenvolvimentoSocialeCidadania(Sedesc)foicriadapormeiodaLeinº4669/98(SÃOBERNARDODOCAMPO,1998),queapontaemsuaSeçãoII,art.3º,comocompetênciasprincipaisdeseusórgãos:

I-formulação,planejamento,coordenaçãoeexecuçãodepolíticaspúblicaseprogramasdedesenvolvimentosocialparaasdiversasfaixasetáriasesegmentosdapopulação,especialmente:[...]b)de iniciação,capacitaçãoe/ouqualificaçãoeencaminhamentodapessoaparaotrabalho;c)degeraçãoderendaparaoenfrentamentodapobreza;[...]

NamesmaleifoiextintaaSeçãodeAtividadesComunitáriasecriadaaSeçãoGeraçãodeTrabalhoeRenda,queassumiuosprojetosdaSeçãoextintaepassouatercomoobjetivodesenvolverprogramaseprojetosvoltadosàgeraçãodetrabalhoerendaparaoenfrentamentodapobreza.

EmsuaSeçãoV,artigo17,definecomoatribuiçõesdaSeção:

I -proporcionartreinamentosecursosdequalificaçãoparaotrabalho;II-possibilitarorientaçãoeencaminhamentoparaotrabalho;III-desenvolveriniciativasparaageraçãodetrabalhoerenda;IV-articular,comasdemaisesferasgovernamentais,condiçõesparaageraçãodefrentesdetrabalhoeoutras;V-implantarprojetosquepossibilitemageraçãoderecursosfinanceiros.(SÃOBERNAR-DODOCAMPO,1998).

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

OsprojetosforamrevistoseestaSeçãopassouatrabalharemtrêsfrentes:

1. Cursoseoficinasnascomunidades,quepassaramaseremrealiza-dosdeformamaisarticuladaentreaSeçãodeGeraçãodeRendaeaSeçãodeFormaçãoeIniciaçãoProfissional,quecoordenavaasEscolasMunicipaisdeIniciaçãoProfissionalecujotrabalhofoitrans-ferido,namesmaépoca,daSecretariadeEducaçãoparaaSedesc.OsencaminhamentosparaempregoeramfeitosporintermédiodoSistemaNacionaldeEmprego(Sine),postoSãoBernardodoCampo;

2. ImplantaçãodaFrenteMunicipaldeTrabalho;3. Projetosvoltadosaoempreendedorismo,associativismoecoopera-

tivismo.

Comrelaçãoaosprojetosvoltadosaoempreendedorismo,associativis-moecooperativismo,objetodareflexãoaquipretendida,foramrealizadasinúmerasatividadesdefomento,formaçãoecapacitaçãoparaosempreende-doresindividuais.Damesmaforma,foramapoiadosváriosgruposprodutivos,associaçõesecooperativasnasáreasdecostura,alimentação,artesanato,agriculturaurbanaereciclagem,emparceriacomoSebrae-SBCeoutrosparceiroscomoaEscolaPolitécnicadaUSP,Senac,dentreoutras.

Visandoatenderàdemandadosempreendedores,emespecialdaáreadeartesanatoealimentaçãoporlocaisdecomercializaçãodosprodutoscon-feccionados,foramimplantadosalgunspontosfixosdecomercialização,sendoumafeirasemanaldeartesanatonoPaçoMunicipal,denominadaPaçodasArtes,queatendeucentenasdeartesãos,artistasplásticoseempreendedoresdaáreadealimentação,duranteoscincoanosdesuaexistência,entre1999e2004.Em2006,foiimplantadooEspaçoArteCidadã,umaespéciedecasadoartesãoemáreacedidapelaprefeitura,gerenciadopelaAssociaçãoArtequeFaz,etambémoutrospontosdevendassituadosnasSecretariasdeFi-nanças,deEducação,noPaçoMunicipal,naRodoviáriaenaprópriaSedesc.

Comrelaçãoàshortascomunitárias,passou-seadarmaiorênfaseàpro-postadegeraçãoderenda,diminuindo-seassimonúmerodeparticipantesemcadaárea,deacordocomcritériossocioeconômicos.AcomercializaçãodosprodutoserarealizadanospróprioslocaisdeproduçãoetambémnaSedesc.1

1 Cadahortaatéentãotinhaumnúmeroaproximadode30participantesdeacordocomotamanhodaárea.NahortadoBairroAssunçãoporexemplopassou-sede40para5membros.

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Construindo uma polítiCa públiCa de eConomia solidária em são bernardo do Campo

Noiníciodosanos2000,iniciaram-senaregiãodoGrandeABC(com-postapelascidadesdeSãoBernardodoCampo,SantoAndré,Diadema,Mauá,RibeirãoPires,SãoCaetanodoSuleRioGrandedaSerra)asplenáriasdeeconomiasolidária.Apartirdainiciativadosprofissionaisqueestavamfomentandoeacompanhandoosempreendimentosemformaçãoiniciou-seumengajamentodomunicípionosdebatesdaeconomiasolidária.

Em2003,umadelegaçãodacidadedeSãoBernardodoCampocompostaporumaassistentesocialedoisrepresentantesdos(as)trabalhadores(as)dasassociaçõesapoiadaspelomunicípio,participaramdaIIIPlenáriaBrasileiradeEconomiaSolidáriarealizadaemBrasília.

NomesmoanofoicriadaaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária(Senaes)noMinistériodoTrabalhoeEmprego(MTE),jáapontandoolugardestapolíticanagestãopúblicaemâmbitofederal.

AdecisãodoGovernoFederaldecriaraSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária,respondendopositivamenteàsmobilizaçõesfeitasnocampodaeconomiasolidária(se-minários,plenárias,fóruns),significaumamudançaprofundanaspolíticaspúblicasdetrabalhoeempregoquevisamageraçãoderendaeagarantiadedireitosdecidadaniadapopulaçãomenosfavorecidanasociedade.Asoutrasformasdetrabalhoassociadoecooperadoganharamespaçoereconhecimentoaoladodasdemaispolíticasdegeraçãodeemprego.(BRASIL,2014a).

Aindaem2003écriadooComitêRegionaldoscatadoresdaregiãodograndeABC,comoobjetivodearticularasexperiênciasevisando,principal-mente,àsvendasconjuntasdiretasparaasindústrias,eliminandoassimapresençadosintermediários.OprimeiroencontroregionaldecatadoresfoirealizadoemSãoBernardodoCampoecontoucomapresençadeaproxi-madamente150catadoresorganizadosdascidadesdoGrandeABC.AsduasAssociaçõesdeCatadoresdeMateriaisRecicláveis2existentesnomunicípioparticiparamativamentedesteseminário.

OprimeirosemináriodeeconomiasolidáriaorganizadopelaSeçãodeGeraçãodeRendatambémaconteceuem2003comaparticipaçãodeapro-ximadamente300pessoas.

2 Noano2000,noâmbitodoprogramaLixoeCidadania,foramformadasaAssociaçãodeCatadoresRefazendocompostaporex-catadoresdoLixãodoAlvarengaeaAssociaçãodeCatadoresRaiodeLuz,formadaporex-catadoresderua.Ambaseramapoiadaspelopoderpúblicopormeiodacessãodeusodeespaçoparaarealizaçãodesuasatividades,bemcomomaquinárioematéria-primaobtidaatravésdacoletaseletiva.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Noâmbitodaassistênciasocialgrandesmudançasaconteciam.Em2005,foiimplantadooSuas(SistemaÚnicodeAssistênciaSocial)queéumsiste-mapúblicoqueorganiza,deformadescentralizada,osserviços,programas,projetosebenefíciosdaassistênciasocialnoBrasil.

CriadoapartirdasdeliberaçõesdaIVConferênciaNacionaldeAssistênciaSocialeprevistonaLoas,oSuastevesuasbasesdeimplantaçãoconsolidadasem2005,pormeiodaNormaOperacionalBásicadoSuas(NOB/Suas)(BRASIL,2005),queapresentaclaramenteascompetênciasdecadaórgãofederadoeoseixosdeimplementaçãoeconsolidaçãodainiciativa.

OSuasorganizaasaçõesdaassistênciasocialemdoistiposdeprote-çãosocial.Aprimeiraéaproteçãosocialbásica,destinadaàprevençãoderiscossociaisepessoais,pormeiodaofertadeprogramas,projetos,serviçosebenefíciosaindivíduosefamíliasemsituaçãodevulnerabilidadesocial.Asegundaéaproteçãosocialespecial,destinadaàsfamíliaseindivíduosquejáseencontramemsituaçãoderiscoequetiveramseusdireitosvioladosporocorrênciadeabandono,maus-tratos,abusosexual,usodedrogas,entreoutrosaspectos.

ANOB/Suascolocaqueaproteçãosocialbásicaseráoperadaporinter-médiode:

a) CentrosdeReferênciadeAssistênciaSocial(Cras),territorializadosdeacordocomoportedomunicípio;

b) rededeserviçossocioeducativosdirecionadosparagruposgeracio-nais,intergeracionais,gruposdeinteresse,entreoutros;

c) benefícioseventuais;d) benefíciosdeprestaçãocontinuada;e) serviçoseprojetosdecapacitaçãoeinserçãoprodutiva.ANOB-Suasdavacontinuidadeàresponsabilidadeporelaborareexecutar

serviçoseprojetosdecapacitaçãoeinserçãoprodutivaparaaassistênciasocial.EsteentendimentolevoupartedasatividadesdaSeção(cursos,oficinas

eencontrosdeformaçãoparaomundodotrabalho)aseremdescentralizadasparaosterritóriosdereferênciadosCras.

Osgruposprodutivos,associaçõesecooperativascontinuavamaserfomentadoseapoiadospelaSeção.

Comodesenvolverdostrabalhos,constatou-sequeosempreendedoresindividuaisusuáriosdaassistênciasocialnecessitavamdeapoiofinanceiroparadarinícioàssuasatividadesprodutivas.Paraatenderaessanecessidadefoicriadoumprogramadedistribuiçãoderenda,oProgramaFinanceirode

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FortalecimentodaInclusãoProdutiva(PROFFIP),querepassavameiosaláriomínimoparaqueoempreendedorinvestisseemmatéria-prima,equipamentos,reformas(nocasodealimentação)ecapitaldegiro.Esteprogramaacabounãoatingindoseusobjetivospornãoteraestruturanecessáriaparaoacom-panhamentodosempreendedores.Acompanharumnegócio,mesmoquepequenoeemfaseinicial,assimcomoacompanharautilizaçãodosrecursosexigiaprofissionaiscomconhecimentosespecíficosnasáreasfinanceiras,degestão,mercado,queextrapolavamaspossibilidadesdeatuaçãodosprofis-sionaisdaassistênciasocial.Oprogramafoiextintoem2009.

Anecessidadedearticulaçãodosprojetosdeinclusãoprodutivacomasdemaispolíticaspúblicaseoquestionamentoseosprojetosdeinclusãopro-dutivadeveriamsermantidosnaassistênciasocialcomeçaramaserpautadosporprofissionaisdaseção,inclusiveemfunçãodosdebatesrealizadospeloMovimentodeEconomiaSolidária,queapontavaseraeconomiasolidáriaumapolíticapúblicadedesenvolvimento.

Poroutrolado,arededegestoresdaeconomiasolidáriarealizavaomesmodebate:

Porserpolíticadedesenvolvimentoeporvoltar-setambémparaumpúblico-alvoquehistoricamentetemficadoexcluídoestapolíticademandaaçõestransversaisquearticuleminstrumentosdasváriasáreas(educação,saúde,trabalho,habitação,desenvolvimentoeconômico,saúdeetecnologia,créditoefinanciamento,entreoutras)paracriarumcon-textoefetivamentepropulsordaemancipaçãoesustentabilidade(SCHWENGBER,2004).

ApesardasmuitasatividadesrealizadaspelaSedescnoâmbitodageraçãodetrabalhoerenda,estasnãoconstituíamumapolíticapúblicamunicipal,massimserviçosofertadosàquelesusuáriosdapolíticapúblicadeassistênciasocialque,excluídosdomercadodetrabalhoformal,queriaminiciarumaatividadeempreendedoraindividualoucoletiva.

Asmaioresdificuldadesnestesentidoeramafaltadearticulaçãocomoutraspolíticaspúblicaseemparticularcomapolíticapúblicadedesenvol-vimentoeconômico,extremamentenecessáriaparadarcontadoladoeco-nômicodestasiniciativas.

Oacompanhamentoaosgruposerarealizadoporassistentessociaiseatendentessociaisqueacabavam“incubandoosgrupos”,sendocorrespon-sáveispelosempreendimentos,comatarefadeidentificarproblemase/ounecessidadeseintervirquandonecessário.Consultoreseramcontratados

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pontualmenteparadarcontadenecessidadesespecíficas(gestão,organizaçãodotrabalho,finanças,capacitaçãotécnica,dentreoutras).

Destaforma,apesardepossibilitaremnovasformasdesociabilidade,resgataremaautoestimaeadignidadedosenvolvidos,possibilitarvivênciascoletivasedeautogestão,muitasdasiniciativasnãoprosperarameoutrasconseguiramsemanter,mascomdificuldades.Aaçãoisoladadaassistênciasocialcomogestoradestaspolíticasvoltadasaomundodotrabalhojásemostravamineficientesnoquedizrespeitoaosaspectoseconômicos.

Muitasexperiênciasdeincubadorasdeempreendimentossolidários3 jáestavamsendoimplantadascomsucessoemoutrosmunicípiose,nestesentido,muitaspropostasforamelaboradaspelaSeção,masestaexperiêncianãofoiadotadapelosgestoresdomunicípiodeSãoBernardodoCampo.

Apesardosdebatesereflexõesacercadasinúmerasdificuldadesenfren-tadaspelosprofissionaisresponsáveispeloacompanhamentodosempreen-dimentoscoletivosedoslimitesdesuaatuação,em2008érealizadaumareformaadministrativanaSedescquemantémcomosuascompetências:

I-formulação,planejamento,coordenaçãoeexecuçãodepolíticaspúblicaseprogramasdedesenvolvimentosocialparaasdiversasfaixasetáriasesegmentosdapopulação,especialmente:[...]b)de iniciação,capacitaçãoe/ouqualificaçãoeencaminhamentodapessoaparaotrabalho;c)deiniciativasdegeraçãoderendaeempreendedorismoparaoenfrentamentodapobrezaeinclusãosocial;[...]

Em2008,foicriadooDepartamentodeInclusãoSocialeProdutivaeaSeçãodeAçõesSocioeducativas deInclusãoProdutivaqueassumiuosprojetosdaantigaSeçãodeGeraçãodeRenda.

ApróximaseçãoprocuramostraraevoluçãodaeconomiasolidárianomunicípiodeSãoBernardodoCampoapartirde2009,derivadadasmudançasocorridasnagestãomunicipal.

3 Incubadorasdeempreendimentossolidáriosentendidascomoumconjuntodeatividadessistemáticasdeformaçãoeassessoriaqueabrangedesdeosurgimentoatéaconquistadeautonomiaorganizativaeviabilidadeeconômicadosempreendimentoseconômicossolidários(Proninc).

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Economia solidária e desenvolvimento econômico

Em2006,quandoocupavaoMinistériodoTrabalhoeEmprego, LuizMarinhojáapontavaaeconomiasolidáriacomoumdoscaminhosparaodesenvolvimento,aodeclararnaaberturadaIConferênciadeEconomiaSo-lidáriaqueerapreciso“pensaronovomundo,umanovasociedade,novosvalores.Pensarapartirdaspessoas,pensarodesenvolvimentoapartirdenovasoportunidades.Eaeconomiasolidáriafazpartedesteprocesso”(Con-ferênciadeEconomiaSolidária,2006).

Em2009,emsuaprimeiragestãocomoprefeitodomunicípiodeSãoBernardodoCampo,LuizMarinhoextinguiuaSeçãodeAçõesSócio-EducativasdeInclusãoProdutivadaSedescetransferiuosprojetosdeinclusãoprodutiva,queatéentãovinhamsendodesenvolvidospelaSedesc,paraaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo(SDET),eosprojetosdecapacitaçãoequalificaçãoprofissionalretornaramàSecretariadeEducação.

ASDETpassouatercomomissãoaimplementaçãodepolíticaspúblicasvoltadasparaodesenvolvimentoeconômicosustentável,promovendoaçõesdeestímuloàmanutenção,expansãoeinovaçãodaindústria,comércioeserviços,àgeraçãodetrabalhoerendaeaosempreendimentosdeeconomiasolidária,alémdoincentivoaodesenvolvimentodasatividadesturísticasemSãoBernardodoCampo.

Em2010,foicriadooDepartamentodeEmpreendedorismo,TrabalhoeRendaresponsávelpelapromoçãodepolíticasparageraçãodeemprego,trabalhoerenda,etambémpelosprojetosdeeconomiasolidária.

NomesmoanofoiimplantadaaCentraldeTrabalhoeRenda(CTR),frutodeconvênioentreaPrefeituradeSãoBernardodoCampoeoMinistériodoTrabalhoeEmprego,quetemcomomissãoinserirtrabalhadoresnomercadodetrabalhopormeiodeaçõesintegradasearticuladasdeintermediaçãodemãodeobra,habilitaçãodesegurodesemprego,qualificaçãosocialeprofissional,orientaçãoparaotrabalho,emissãodecarteiradetrabalhoeprevidênciasocial(CTPS),entreoutras,concretizandoamunicipalizaçãodoSistemaNacionaldeEmprego(Sine).

Em2011,foicriadaaSaladoEmpreendedor,umespaçoexclusivodes-tinadoaatenderosdiversosempreendedoresquedesejamabrirouampliarumnegócionacidade,emespecialummicrooupequenoempreendimento.

UmgrandeavançoeummarcoparaaeconomiasolidáriadomunicípiofoiapromulgaçãodaLei6045/2010queinstituiuapolíticamunicipaldefomentoàeconomiasolidária.Osobjetivosprimordiaisdestapolíticasão:

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I-criareconsolidarosprincípiosevaloresdaEconomiaSolidária;II-gerartrabalhoerendacomqualidadedevida;III-apoiaraorganização,legalizaçãoeoregistrodeempreendimentosdaEconomiaSolidária;IV-apoiaracriaçãoeacomercializaçãodenovosprodutos,processoseserviços;V-promover,agregarconhecimentoeincorporartecnologiasnosempreendimentosdaEconomiaSolidária;VI-integrarosempreendimentosnomercadoetornarsuasatividadesauto-sustentáveis,reduzindoavulnerabilidadeeprevenindoasuafalência;VII-proporaçõesparaaconsolidaçãodosempreendimentos;VIII-proporcionaraassociaçãoentrepesquisadores,parceiroseempreendimentos;IX-estimularaproduçãointelectualsobreotema,pormeiodeestudos,pesquisas,publicaçõesematerialdidáticodeapoioaosempreendimentosdaEconomiaSolidária;X-fomentaracapacitaçãoequalificaçãotécnicadostrabalhadoresdosempreendimentosdaEconomiaSolidária;XI-articularosentespúblicos,visandoàuniformizaçãodalegislação;XII-constituiremanteratualizadoasprincipaisinformaçõessobreosempreendimentosdaEconomiaSolidáriaquecumpramosrequisitosdestaLei;eXIII-garantiradisponibilizaçãodeespaçosapropriadosàcomercializaçãodeprodutoseserviçosdosempreendimentosdaEconomiaSolidária.(SÃOBERNARDODOCAMPO,2010).

Emseuartigo7º,aLeiapontaquea implementaçãodaPolíticaMu-nicipaldeFomentoàEconomiaSolidáriadar-se-ápormeiodosseguintesinstrumentos:

I-acessoaespaçofísicoebenspúblicosdoMunicípio,paraainstalaçãoeimplementaçãodoscentrospúblicosdeEconomiaSolidária,incubadorasdeempreendimentospopularesesolidários,linhasdemicro-crédito,centrosdecomérciojustoesolidário,bemcomoprogramaseprojetosquetenhamcomoobjetivoofortalecimentoeodesenvolvimentodaeconomiasolidária;II-assessoriatécnicanecessáriaàorganização,produçãoecomercializaçãodosprodutoseserviçoseàelaboraçãodeprojetosdetrabalhosecaptaçãoderecursos;III-cursosdecapacitação,qualificação,formaçãoetreinamentodeintegrantesdosempreendimentosdaEconomiaSolidária;IV-convênioscomentidadespúblicaseprivadas;V-suportetécnicopararecuperaçãodeempresasportrabalhadores,emregimedeautogestão;VI-suportejurídicoeinstitucionalparaconstituiçãoeregistrodosempreendimentosdaEconomiaSolidária;VII-estímuloàintegraçãoentrepesquisadores,parceiroseempreendimentos;VIII-apoioàrealizaçãodeeventosdaEconomiaSolidária;e

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IX-formaçãodofundoparaodesenvolvimentodaEconomiaSolidáriadoMunicípio.(SÃOBERNARDODOCAMPO,2010).

ALei6.045/2010abriuocaminhoparaumasériederealizações.Emapenastrêsanosdesuaaprovaçãojáfoiimplantadaemquasesuatotalidadeasaber:

1–ImplantaçãodoEspaçoSolidárioinauguradoemagostode2011,referênciadaEconomiaSolidária,quepossibilitouumamaiorintegraçãoeorganizaçãodosempreendimentosesuasatividades,pormeiodeatividadesdeformaçãoeassessoriaparaosgruposjáformados,assimcomoorienta-çõesparapessoasquepretendemseorganizarcoletivamenteparaproduzirouprestarserviços.

Alémdestasatividades,háumespaçodedicadoexclusivamenteparaacomercializaçãodosprodutoseserviçosdosempreendimentossolidáriosgerenciadopelosprópriosempreendimentos.

Destaca-seareformadeumadassalasexternasparaabrigaralanchoneteconduzidaexclusivamentepelosusuáriosdoCentrodeAtençãoPsicossocialqueproduzemecomercializamdocesesalgados,propiciandoatividadesque,paraalémdeterapêuticas,têmpossibilitadoareinserçãodosusuáriosnocotidianodetrabalhoenotratocomopúblicoconsumidor.

PormeiodoEspaçoSolidáriodisponibiliza-seaindaassalasdaCentraldeTrabalhoeRendaparaasreuniõesdoFórumMunicipaldeEconomiaSolidária,bemcomoparareuniõesespecíficasdosgruposapoiados.

2–ImplantaçãodaIncubadoradeEmpreendimentosEconômicosSolidá-riosdeSãoBernardo(SBCSOL)em2012,umaparceriaentreaPrefeituradoMunicípio,aFINEP,órgãodoMinistériodaCiênciaeTecnologia,aUniversidadeMetodistaeoInstitutoGranbery.Oprojetotemaduraçãodedoisanosparaimplantaçãodaincubadora.

ASBCSOLtemcomometasprincipaisestimulareassessoraracriação,odesenvolvimentoeaexpansãodosEmpreendimentosEconômicosSolidários;estimularaproduçãointelectualeoavançoconceitualsobreotemaalémdefomentaraconstituiçãoderedesdeproduçãoecomercializaçãosolidárias.Desdeoiníciodesuasatividadesjáincubouváriosempreendimentosnossegmentosalimentação,turismo,artesanato,costura,turismo, indústria,reciclagem,economiacriativaetrêsredesdecomercializaçãonasáreasali-mentação,têxtileartesanato.

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Em2013aSBCSOLinaugurounoEspaçoSolidárioaBibliotecadoEm-preendedorquedisponibilizacercade1.500títulosparaconsultaeéabertaaosempreendedoreseàcomunidade.

3–AprovaçãodoProjetodeAçõesintegradasparaoDesenvolvimentodaEconomiaSolidáriaemSãoBernardodoCampoemparceriacomoMinis-tériodoTrabalhoeEmprego,pormeiodaSecretariaNacionaldeEconomiaSolidária,estápossibilitando,alémdeassessoriatécnicaecapacitaçãonaáreadecomercializaçãoemarketing,aobtençãodeumasériedeequipamentoseequipamentosdeproteçãoindividual(EPI),fundamentaisparaamelhoriadascondiçõesdetrabalhodos(as)trabalhadores(as)dosempreendimentos.

4–Realizaçãodetrêsfeirasdeeconomiasolidária,sendoaprimeiraorga-nizadapelopoderpúblicoepeloFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriacomrecursosdoconvênioMTE/SENAESeasdemaisorganizadaspeloFórumMuni-cipaldeformaautônomaeautogestionáriacomrecursosdosprópriosgrupos.

5–Aconquistadeespaçosemeventospúblicoseprivadosparaaexpo-siçãoecomercializaçãodosprodutosdaeconomiasolidária.

6–OapoioàtransformaçãodasAssociaçõesdeCatadoresdeMateriaisRecicláveisemCooperativascomoreconhecimentodoscatadorescomoparceirosnoprogramadecoletaseletivaconstantenoPlanoMunicipaldeResíduosSólidos;aimplantaçãodacoletaporta-a-portaeaentregadeumaCentraldeTriagemcominfra-estruturaadequadaparaarealizaçãodotra-balhocomaprevisãodeentregademaisumaeaampliaçãodonúmerodetrabalhadores(as)beneficiados(as).

Fórum Municipal de Economia Solidária: participação e controle social

AConstituiçãoFederal(BRASIL,1988),aoassegurar,dentreosseusprin-cípiosediretrizes,“aparticipaçãodapopulaçãopormeiodeorganizaçõesrepresentativas,naformulaçãodaspolíticasenocontroledasaçõesemtodososníveis”(Art.204),institui,noâmbitodaspolíticaspúblicas,aparticipaçãosocialcomoeixofundamentalnagestãoenocontroledasaçõesdogoverno.ParaissoforamcriadosouampliadosdiversoscanaisdeinterlocuçãodoEs-tadocomosmovimentossociais:conferências,conselhos,ouvidorias,mesasdediálogo,audiênciaspúblicas.

EmSãoBernardodoCampo,paragarantiraparticipaçãodos su-jeitos sociaisepolíticos, sejana formulação,nodesenvolvimento,no

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monitoramentoenaavaliaçãodaspolíticaspúblicasdeeconomiasolidária,visandoàsuaampliaçãoeaperfeiçoamentoconstante,foiexplicitadonaLei6.045,de2010:

Artigo8º-Os instrumentosdaEconomiaSolidáriadoMunicípioserãogeridospelaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo,comaparticipaçãodoFórumMunicipaldeEconomiaSolidária.Artigo9º-[...]§3º-ASecretariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismopoderáatribuiraoFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriaoexercíciodasfunçõesdeplanejamento,monitoramentoeavaliaçãodasaçõesdesenvolvidasnosequipamentosprevistosnestaLei.(SÃOBERNARDODOCAMPO,2010).

Fundadoemjaneirode2009comaparticipaçãodosatoresdaeconomiasolidária,oFórumMunicipaldeEconomiaSolidária(2009)definiucomoobjetivo

[...]articularomovimentodaEconomiaPopulareSolidária,divulgandoasaçõesecontribuindoparaainclusãosocialecultural,paraapráticadacidadaniaativaeparaaconstruçãodeumnovomodelosocialeeconômico,tendoemvistaofortalecimentodosempreendimentospopularesesolidários.4

AatuaçãodoFórumMunicipaltemcomoprincípioasdefiniçõesdoFórumBrasileirodeEconomiaSolidária,destacadasaseguir:

EmpreendimentosEconômicosSolidáriossãoorganizaçõescomasseguintescaracte-rísticas:1)Coletivas(organizaçõessuprafamiliares,singularesecomplexas,taiscomoassociações,cooperativas,empresasautogestionárias,clubesdetrocas,redes,gruposprodutivos,etc.);2)Seusparticipantesousócias/ossãotrabalhadoras/esdosmeiosurbanoe/oururalqueexercemcoletivamenteagestãodasatividades,assimcomoaalocaçãodosresultados;3)Sãoorganizaçõespermanentes, incluindoosempreendimentosqueestãoemfun-cionamentoeasqueestãoemprocessodeimplantação,comogrupodeparticipantesconstituídoeasatividadeseconômicasdefinidas;4)Podemterounãoumregistrolegal,prevalecendoaexistênciareal;5)Realizamatividadeseconômicasquepodemserdeproduçãodebens,prestaçãodeservi-ços,decrédito(ouseja,definançassolidárias),decomercializaçãoedeconsumosolidário;Entidadesdeassessoriae/oufomentosãoorganizaçõesquedesenvolvemaçõesnasváriasmodalidadesdeapoiodiretojuntoaosempreendimentossolidários,taiscomo:capacitação,assessoria,incubação,pesquisa,acompanhamento,fomentoàcrédito,as-sistênciatécnicaeorganizativa;Gestorespúblicossãoaquelesqueelaboram,executam,

4 SegundodocumentodeFundaçãodoFórumMunicipaldeEconomiaPopulareSolidária.

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implementame/oucoordenampolíticasdeeconomiasolidáriadeprefeiturasegovernosestaduais.(FÓRUMBRASILEIRODEECONOMIASOLIDÁRIA,2014).

Emsuaconstituição,oFórumMunicipaldeSãoBernardodoCamposepropôsaser

[...]umespaçopermanentededecisão,controlesocialdepolíticaspúblicasdetrabalhoeeconomiapopularesolidária,representação,comunicação,articulação,discussão,proposição,trocadesaberes,formação,incentivoeapoiotécnicoparaodesenvolvi-mentodaEconomiaPopulareSolidárianacidadedeSãoBernardodoCampo.(FÓRUMMUNICIPALDEECONOMIASOLIDÁRIA,2009). Ametodologiautilizadanasreuniõesseconstituiemumprocessode

formaçãopolítica, levantamentodeproblemasepropostasdesoluções,apresentação,análiseeaprovaçãodeprojetos,elaboraçãodoscritériosdeparticipaçãoemfeiraseeventos,participaçãonoFórumRegionaldeEcosol,formaçãodecomissõesdetrabalho(geralmenteformadaporummembrodecadagrupo),encaminhamentodereivindicações,dentreoutras.

Inicialmente,asreuniõeseramquinzenaisecompequenaparticipação,mascomotempoeaçõesconcretasfizeramcomqueonúmerodepartici-pantesaumentasse,ampliandoasaçõesdoFórum.

AparticipaçãoativadopoderpúblicolocalpormeiodoDepartamentodeEmpreendedorismo,TrabalhoeRenda,dasentidadesdefomento,emespecialdaPastoralOperáriaedos(as)empreendedores(as)daeconomiasolidária,emespecialdosegmentoartesanato,contribuíramparaestecrescimento.

Atualmente,oFórumMunicipaldeEconomiaSolidáriaseconstituiuemumespaçopermanenteeefetivodeparticipaçãoecontrolesocialdasaçõesdogoverno,mastambémdaconstruçãodeumaparceriafrutíferanaelaboraçãoeexecuçãodeprojetosquevisemaofortalecimentodaeconomiasolidárianomunicípiodeSãoBernardodoCampo.

Considerações finais

Épossívelverificar,pelatrajetóriadaeconomiasolidárianaspolíticaspúblicasnomunicípiodeSãoBernardodoCampo,queatransferênciadosprojetosdaSecretariadeDesenvolvimentoSocialeCidadaniaparaaSecre-tariadeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo,possibilitouumgrandeavançoaoconsolidaraeconomiasolidáriacomopolíticapúblicadedesenvolvimentonoâmbitodaspolíticasdetrabalho.

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Construindo uma polítiCa públiCa de eConomia solidária em são bernardo do Campo

Asreflexõesnocampodaassistênciasocialsobrecomodeveriasedarapromoçãodaintegraçãodosseususuários/beneficiáriosaomercadodetra-balhoculminoucomaresoluçãodoConselhoNacionaldeAssistênciaSocialnº33/201,de2011,emseuart.2ºdefineque:

APromoçãodaIntegraçãoaoMundodoTrabalhodar-sepormeiodeumconjuntointegradodeaçõesdasdiversaspolíticascabendoàassistênciasocialofertaraçõesdeproteçãosocialqueviabilizemapromoçãodoprotagonismo,aparticipaçãocidadã,amediaçãodoacessoaomundodotrabalhoeamobilizaçãosocialparaaconstruçãodeestratégiascoletivas.(ConselhoNacionaldeAssistênciaSocial,2011).

Comessaresolução,ficaclaroqueoacessoao“mundodotrabalho”nãoéderesponsabilidadeexclusivadapolíticadeassistênciasocial,masresultadodaaçãointersetorialdediversaspolíticaspúblicas.

Apesardosmuitosavançosalcançadospelapolíticapúblicadeeconomiasolidáriaemnossomunicípio,aindahámuitosdesafiospelafrente.OatualsecretáriodeDesenvolvimentoEconômico,TrabalhoeTurismo5citaalguns:

Queremosaindafortalecerapriorizaçãodosempreendimentossolidáriosnascompraspúblicas.Criarnovospontosdecomercialização,comonosnovosconjuntoshabitacionaisconstruídospelaPrefeitura;fomentaracriaçãodecadeiasprodutivasregionais;cons-tituirpolíticasdeincentivosfiscaisenãofiscais;melhorarosprodutoseosprocessosprodutivos,demodoaalcançarcertificaçõeseelevaropatamardemateriaisrecicláveis(CONCEICÃO,2014).

EmrelaçãoaoprojetoSbcsol,aquestãofundamentalésobresuaconti-nuidadeapósoencerramentodosrecursosfinanceirosaportadospelaFINEPePrefeituradeSãoBernardo,poiséhojeumdosprincipaisinstrumentosdeefetivaçãodapolíticapúblicadeeconomiasolidáriajuntoaosempreendimen-tos.Adescontinuidadedostrabalhosprovocariaumarupturanodesenvolvi-mentodasaçõesjuntoaosempreendimentosjáincubadoseimpossibilitariaoatendimentodenovasdemandas.

Considerandoarealidadeatualdosempreendimentoseconômicossoli-dárioséimportanteacrescentarqueaindaháalgunsdesafios,apresentadosabaixoemtópicos,masquesãototalmenteinter-relacionados.

5 ArtigopublicadonoJornalABCDMaior,em2014,intitulado:‘AoutraEconomia’:

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

A autogestãoAmaioriadosempreendimentossolidários,emboraemníveisdiferentes,

aindanãochegaramaumaformaautogestionáriaplenadentrodoqueseentendeporautogestão:

[...]organizaçãodeumaformadeempreendimentocoletivoemquesecombinamacooperaçãodoconjuntodostrabalhadoresnasatividadesprodutivas,serviçoseadminis-traçãocomopoderdedecisãosobrequestõesrelativasaonegócioeaorelacionamentosocialdaspessoasdiretamenteenvolvidas(Verardo,2003).

ParaSinger(2002),aautogestãoexigeumesforçoadicionaldosassocia-dosdeumempreendimentosolidário,poisalémdecumprircomastarefasqueotrabalhoexige,precisamsepreocuparcomosproblemasgeraisdoempreendimento.Omaiorinimigodaautogestãoéodesinteressedossócios,suarecusaaoesforçoadicionalqueapráticademocráticaexige.Segundooautor,aautogestão

[...]temcomoméritoprincipalnãoaeficiênciaeconômica(necessáriaemsi),masodesenvolvimentohumanoqueproporcionaaospraticantes.Participardasdiscussõesedecisõesdocoletivo,aoqualseestáassociado,educaeconscientiza,tornandoapessoamaisrealizada,autoconfianteesegura.(SINGER,2002)

A autonomiaOsempreendimentosaindaestãoemumprocessodeconstruçãodesua

autonomia,entendidacomocondiçãobásicaparaconvivercomosriscos,asincertezaseosconflitosdasociedadeatual,considerandoaindaqueaauto-nomiarequerautossustentaçãofinanceiraepossedosmeiosdeprodução.

Somenteumindivíduoautônomoterásucessonasesferaseconômica,psicológica,so-cioculturalepolítica,poiséumindivíduoqueinterroga,refleteedeliberacomliberdadeeresponsabilidade,agindonosentidodecanalizarasoportunidadesparamudançasqualitativas(SOARES,1998).

Prepararohomemparaavidasignificadeixá-locaminharcomosprópriospés,possibilitando-lheatomadadeconsciênciadetodasaspossibilidadesquearealidadelheoferece,avaliandosuaprópriacapacidade(FREIRE,1996).

O trabalho em grupo e as mudanças pessoais e comportamentais

Otrabalhoemgrupo,basedoprincípiodacooperação,jápraticadonosdiversosempreendimentos,aindanãochegouaumaformadeorganização

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Construindo uma polítiCa públiCa de eConomia solidária em são bernardo do Campo

solidáriadefato.Emboracomavançosnessaárea,háoentendimentodequeamudançaculturaléumprocessoqueacontecealongoprazo,porissomesmoaindaéumdesafio,umavezqueéumaaçãonacontramãodosva-loresdifundidospelosistemaeconômicovigenteeinteriorizadosatravésdaideologiadominante(individualismo,competição,rivalidade,cadaumporsi).

Nãosepodemudarnadaexternamentesemque,antes,essamudançaocorraemsipróprio:

Asmudançaspessoaispodemabrangerdiferentesníveisdeaprendizagem:nívelcognitivo(informações,conhecimentos,compreensãointelectual),nívelemocional(emoçõesesentimentos,gostos,preferências),nívelatitudinal(percepções,conhecimentos,emoçõesepredisposiçãoparaaçãointegrados)enívelcomportamental(atuaçãoecompetência).(MOSCOVITI,2004).

Assim,valoresdesolidariedade,cooperação,trabalhoemequipe,sen-timentodecoletividade,aindaprecisamservivenciadoseincorporadosparaqueessanovaformadefazereconomiasejarealmentesolidária.ParaCouti-nho(2003)oautênticoespíritodegrupo“emergenaconstruçãoderelaçõeselaçosafetivossólidos,numacomunicaçãoefetiva,olhonoolho,ondeasexperiênciaspartilhadasedesafiospossamfavorecerasbasesdeumenten-dimentomútuo,comamorosidadeeelosdeconfiança”.

A resolução de conflitos e adoção de uma cultura de pazApesardosconflitossereminerentesàsrelaçõeshumanas,suasolução

setornaumgrandedesafioparaosempreendimentossolidários.Osgruposaindanãochegaramaumestágioondeconsigamtrabalharasdivergênciasatravésdodiálogo,doentendimentoedorespeitoàsdiferençasparachegaraumconsenso.

Diskin(2011)citaCelestinoArenalqueafirma:

[...]oconflitoéumprocessonaturalenecessárioemtodasociedadehumana,éumadasforçaspropulsorasdemudançasocialeumelementocriativoessencialnosrelacio-namentoshumanos.Semconflitos,semconfrontaçãodeinteresses,valores,normaseprocedimentosnãohaveriaespaçoparaarenovaçãoeinovação,ouseja,paraapossi-bilidadedemelhoraeavançosqueresultamemevolução.(Diskin,2011)

Aadoçãodeumaculturadepazpoderiacontribuirnesteprocesso,poispropõequeosconflitossejamresolvidosdeformanãoviolenta,combase

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

nosvalorestradicionaisdepaz,incluindo-seajustiça,liberdade,equidade,solidariedade,tolerânciaerespeitopeladignidadehumana.

Diskin(2011)citaGhandi,queafirma:“umconflitofoiresolvidosegundoosprincípiosdanãoviolênciaquandonãodeixarnenhumrancorentreosoponenteseosconvertaemamigos”.

Porfim,apolíticapúblicadeeconomiasolidáriaéumprocessodecon-quistaeconstrução.OseucrescimentoesuaexpansãodependemtantodosesforçosgovernamentaisquantodacapacidadedeorganizaçãopolíticadosquefazemaeconomiasolidárianoBrasil.

Referências

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COUTINHO,E.deP.Consciência de Grupo: a essência da cooperação.RevistaJogosCooperativos,Ed.3,ano2,Ed.3,2003.

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Construindo uma polítiCa públiCa de eConomia solidária em são bernardo do Campo

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VERARDO,L.Economia Solidária e Autogestão,disponívelemwww.fase.org.br/projetos/vitrine/admin/Upload/1/.../luigiverardo98.pdf,acessoem03mar.2014

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Considerações sobre o papel da universidade em

processos de organização de empreendimentos solidários

* PedagogaemestreemEducação.DocentenocursodePedagogiaEaDdaUmespemembrodaIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).

**Economista,mestreemAdministração,atuacomempreendedorismoeincubadorasdeempresas.Docentenagraduaçãoepós-graduaçãonaUmesp.

Fabiana Cabrera Silva*Marco Aurélio Bernardes**

Introdução

Esteartigobuscaapresentaropapeldauniversidadenofomentoenaorganizaçãodenegóciosemcomunidadescarentes,peloapoioàcons-tituição,fortalecimentoeconsolidaçãodeiniciativasempreendedoras

emumcontextosolidário.Inicialmente,oartigoprocurasituaratemáticainteraçãoentreuniversidadeeempresa.Talrelaçãonãoéalgorecente.Seuhistóricodecrescimentoémarcadopelosinteressesdeambosprotagonistasdestarelação,“emqueocapitalismoglobalpretendefuncionalizarauniversi-dadee,defato,transformá-lanumavastaagênciadeextensãoaoseuserviço[...]”(SANTOS,2011,p.73).

Logo,éprecisoconsiderarque,paraleloaestecrescimento,comvistasainteressesdecrescimentoparamanter-senomercadonumaposiçãovantajosa,outrosetortemsecolocadocomonecessidadeparasobreviveraestacorridadesleal:empreendimentossolidários.ÉnessesentidoqueopresenteartigodelineiasuadiscussãoebuscacompreenderqualopapeldauniversidadenessecontextodefomentoaoempreendedorismoàsregiõescarentesapartirdaexperiênciadaincubadoradeempreendimentossolidáriosnomunicípiodeSãoBernardodoCampo,aSBCSol.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Umaincubadorauniversitáriacomvistasàeconomiasolidáriapodeconstituir-seemumespaçoimportanteparaproduzirconhecimentocientífi-co,realizarpesquisasteóricaseempíricassobreestaeconomiaalternativa,cujofocopolíticopodevoltar-separaatenderumaclassesocialdesprovidadosmeiosdeprodução.Logo,areformauniversitáriasefazemergenteparareposicioná-lanasociedadecomocaminhoalternativoaocapitalismoglobalcomvistasaefetivarsuaatuaçãonasociedadeembuscadeumacoesãoso-cialenalutacontraaexclusãosocial,atravésdemomentosformativosemqueestesgrupossociaistenhamvezevozeparticipaçãoativanasociedade.

Nota-sequearelaçãoentreauniversidadeeosempreendimentossoli-dáriossedesprendeda“pressãoquetemsidoexercidasobeauniversidadeparaproduziroconhecimentonecessárioaodesenvolvimentotecnológicoquetornepossívelosganhosdeprodutividadeedecompetitividadedasempresas”(SANTOS,2011,p.84).Ouseja,ofocodauniversidadepassaaserodecriarprocessosformativostécnicosesubsídiofinanceiro–nesteaspecto,aSBCSolcontoucomoapoiodaPrefeituradeSãoBernardodoCampoeFinep–deformaareposicionaraspessoasqueficaramamargemdodesenvolvimentoeconômicoatravésdeatividadesquegeremtrabalhoerenda,considerandoasqualificaçõesecompetênciasdestesempreendedores.

Diantedestecontexto,podemosafirmarqueauniversidade,enquantoinstituiçãosocial,assumeaposiçãodefomentarpesquisasfundamentais(SANTOS,2011)enãosóaplicadas,comoexigidaspelosetorcapitalistapri-vado.Quandoofocoencontra-seapenasnestaúltimaação,auniversidadeseisentadesuasresponsabilidadessociaisedeextensãocomosgrupossociaissubalternospopulares.ÉnestesentidoqueconcebemosarelevânciasocialdauniversidadetalcomocolocaSantos(2011,p.87):“emnomedeinteressessociaisconsideradosrelevantesequeobviamenteestãolongedeserapenasosquesãorelevantesparaatividadeempresarial”.

Emtermoseconômicos,asegundametadedadécadade1990secons-tituiunoperíodoemqueseverificou,noBrasil,significativaalteraçãonograudeaberturadaeconomia,que,desdeosanosde1930,haviasidoumaeconomiapredominantementefechadacomrelaçãoàimportaçãodeprodutosindustrializadosedetecnologias,portanto,poucoexpostaàconcorrênciadeprodutosfabricadosnoexterior.

Aexposiçãoàconcorrênciadesencadeoureestruturaçõesprodutivasemecanizaçãodasempresas,maisnotadamentenasindústrias,oquegerouadiminuiçãodoquadrodeempregados.Onovopadrãotecnológicomodificou

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

oueliminoutarefasecriounovasprofissões.Amãodeobraquenãoteveoportunidadedeadequar-seànovademandaporespecialidades,segundoosempregadores,formouumexércitoindustrialdereservaouseviuforçadaatrabalharinformalmente(GREMAUD;VASCONCELLOS;TONETOJÚNIOR,2002).

ParaCacciamalieSilva(2003),osetorformalseassentanotrabalhoas-salariado,possibilitandosaltostecnológicosetaxascompetitivasderetornonumprocessodeacumulaçãoedeconcentraçãodecapital.Emcontrapar-tida,aeconomiasubterrâneaconsisteematividadeseconômicasnasquaisosexecutantesburlamospreceitostributáriosetrabalhistas.Sãoatividadesclandestinas,mercadosparalelos,ilegaismesmo,emqueseocultaminfor-maçõesdeempregosgerados,produçãoecomercialização.Atividadescomoprostituição,tráficodedrogasecomérciodeprodutospiratas,entreoutras,acabamporincluirgrandenúmerodepessoas,jovensemaduras,quenãosãorequisitadaspelosetorformaldaeconomia,porcontadesuaformaçãoeducacionaldeficitária.

SegundooMinistériodaIndústriaeComércio(BRASIL,2006)osnegóciosinformaisrepresentam40%darendanacionale,emmédia,60%dostrabalha-doresbrasileirosnãotêmregistrosformaisnempagamimpostos.Aexclusãodomercadodetrabalhoporfaltadequalificaçãodostrabalhadorespromoveuocrescimentodasiniciativasdeempreendedorismopornecessidade.

DeacordocomadefiniçãodaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT),osetorinformaléoconjuntodasempresasfamiliaresoperadaspelosproprietárioseseusparentes,ouemsociedadecomoutrosindivíduos.Sãounidadesprodutivasnãoconstituídascomoentidadeslegaisseparadasdeseusproprietáriosequenãodispõemderegistroscontábeispadrão.

Osetorinformal,sobaópticadaocupação,édefinidocomooconjuntodetrabalhadoresinseridosnessaformadeorganizaçãodaproduçãoqueincluiproprietários,amãodeobrafamiliareosajudantesassalariados(OIT,1993apudCACCIAMALI;TATEI,2008).

EstudosdoInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE,2005)indicamqueamaiormortalidadeentreasempresasdemicroepequenoportesdecorreespecialmentedeproblemasdegestãoefaltadeplanejamen-to,entreoutros.Aqui,valeapontaradistinçãoentreempreendimentospornecessidadeeporoportunidade.

Empreendimentosporoportunidadesãoaquelesqueocorremmedianteumplanejamentoprévioevisamaoaumentoderendaouindependênciafinanceira.Osempreendimentospornecessidadesãoaquelescujamaior

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

motivaçãoparaaaçãoéacarênciafinanceira.SegundoaGlobal Entrepreneur-ship Monitor(GEM),“quantomaiorafaltadequalificaçãoelogodeoportuni-dadesdetrabalhoqueremuneremdignamente,maiorapossibilidadedequeestaspessoasempreendampornecessidade”(GEM,2013p.14).Atividadesartesanais,pequenoscomércios,trabalhoautônomoedepequenaprodução;nestascondições,tendemademandaraforçadetrabalhofamiliar.

Asatividadesinseridasnapequenaproduçãourbanaoururaldemandam,muitasvezes,forçadetrabalhofamiliar,nãoapenascomoestratégiadeso-brevivêncianapobreza,namedidaemquereduzcustos,mastambémcomoumelementodeconfiançaedegarantiaparaoperaremanterospequenosnegóciosemfuncionamento(CACCIAMALI;TATEI,2008).

Aspolíticassociaisdetransferênciaderendapós-planoReal,noperíodode1994a2013,desempenhamimportantepapelnavidadefamíliasmarginalizadaseconomicamente,masprovavelmenteporsisónãoconfiguramumquadrodeapoiovoltadoàsustentabilidadedasfamíliasapoiadaspelosprogramas.

ParaCacciamali(CACCIAMALI;SILVA,2003,p.3),

Políticassociaisqueapoiamoaumentodascapacidadesindividuaise/ouquevisamtransferênciaderenda(cash transfers),emboratenhamsidoindispensáveisnosúltimosquinzeanosparaminorarapobrezae/ouasdesigualdadesdeacessoabenspúblicos,sãoinsuficientesparasuperarasdesigualdadessociaisederenda,bemcomoapobrezaestruturalqueaindapersistemnocontinente,ouaindaparasustaranovapobrezaqueseinstaurounosestratosdaclassemédia.Apenasocrescimentodeatividadeseconômicasintensivasemmãodeobra,ageraçãodeempregos,políticascontínuasdedistribuiçãoderendaeacriaçãodeinstituiçõesquefavoreçamoacessodosmaispobresamerca-doseaserviçosquelhessãoaindarestritospermitirãoessasuperação,eaorientaçãodasociedadelatino-americananadireçãodoprogressosocialedapromoçãohumana. AreflexãodeCacciamalipermiteapontarosentidodesteartigo,queé

refletirsobrequalopapeldauniversidadenofomentoenaorganizaçãodeempreendimentossolidáriosempatamaresdesustentabilidadenaslocalida-desmaispobres.

1. Breves considerações sobre o mundo do trabalho

Aproduçãocapitalistacomeçouapartirdomomentoemquesecriaramcondiçõesdeexcessodeofertademãodeobraporforçadodesempregogeneralizadoquepredispunhaumcrescentenúmerodesereshumanosa

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

vendersuaforçadetrabalhoa“qualquerpreço”parasubsistir.ConformeHuberman(1981,p.173),“umhomemsótrabalhaparaoutroquandoéobrigado”.EssascondiçõesfundamentaramaInglaterracomolocalondeocapitalismoseevidenciouereuniucondiçõesdeirradiarsuainfluênciaparaoutrasnaçõeseuropeias.

AsRevoluçõesIndustriaisdosséculosXVIIIeXIXforammarcosnastrans-formaçõesdasrelaçõesdetrabalhoenosavançostecnológicose,àmedidaqueoprocessodesubstituiçãodepessoaspormáquinasautomatizadaseaênfasenoaumentodaprodutividadeaumentavam,sereduziaopoderdecompradamaiorpartedapopulação.Gerou-se, inicialmentedeformagradual,posteriormentedeformaaguda,um“desempregoestruturalsemprecedentes”(KHURY,2007,p.9).

Osistemacapitalistatem,entreseuspressupostos,areduçãodecus-toseoaumentodaprodutividadeparatornarosprodutoscompetitivosnomercado.Estalógicafoihistoricamenteatendidanodecorrerdoprocessodedesenvolvimentodessemododeproduçãoecertamentebeneficiouumgruposeletodegrandescorporações,quealcançaramproduçãosemprecedentes,mercadostranscontinentais,ganhosfinanceirosnotáveis,eaumentosdepro-dutividadesemprecedentes,graças,entreoutros,aosavançostecnológicosincorporados.Essesavançostecnológicospropiciaramosurgimentodeoutracategoriadetrabalhadores,ostrabalhadoresdoconhecimento.

ConformeRifkin(2004,p.175),

Ostrabalhadoresdoconhecimentosãoumgrupodistinto,unidopelousodatecnologiadainformaçãodeúltimageraçãoparaidentificar,intermediaresolucionarproblemas,sãocriadores,manipuladoreseabastecedoresdofluxodeinformaçãoqueconstróiaeconomiaglobalpós-industrialepós-serviço.

DadosdaAssociaçãoNacionaldeFabricantesdeVeículosAutomotores(Anfavea)revelamque,em1991,osetorautomobilístico,noBrasil,empregou110miltrabalhadoresparaproduzir960milveículos.Em2008,graçasaoavançodatecnologia,compraticamenteomesmocontingentedetrabalhadores,essesetorindustrialproduziu3,2milhõesdeunidadeseaapropriaçãodesseganhodeprodutividadeocorreuembenefíciodasmontadoras.(BERNARDES,2009).

Valeressaltarquevivemosapiorcriseeconômicaefinanceiraglobaldepoisdacrisedosanos30doséculoXX.IniciadanosEstadosUnidos,re-percuteemnívelmundial,poisaeconomianorte-americanaéumadasque

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

maisimportambenseserviçosdetodoomundo.Oquadroagravasituaçõesdeconcentraçãoderendanospaísesemergentesecontribuisobremaneiraparaoaumentodaatividadeeconômicainformal.Arecessãodiminuiaativi-dadedaindústria;osbancos,dadasasincertezassobreoencaminhamentodacrise,receiamnãoreceberpelosempréstimoseelevamastaxasdejuros;e,porfim,osconsumidoresacabamporpreferirpouparaconsumir.

Asituação,dramáticaecontraditória,desencadeou,porpartedosgo-vernosdospaísesdesenvolvidos,emespecialdogovernonorte-americano,decisõeseaçõesdegrandemonta,voltadasparaosocorrofinanceiro,comautilizaçãodebilhõesdedólaresderecursospúblicosparasanearmontado-rasdecarroseinstituiçõesfinanceirasprivadas,notadamenteaquelascomatividadesglobalizadas.

NoBrasil,acrisefoiperceptíveljánoprimeiromêsdoanode2009,comasdemissõesanunciadasporgrandesempresas,taiscomomontadoras,ins-tituiçõesfinanceirasemineradoras.Issoocorreumesmocomoatendimentoademandasdasociedade(empresáriosetrabalhadores),pormedidasquepudessemlevaraoaquecimentodaatividadeeconômica.Assim,ogovernoanunciou,paraoprimeirosemestredoano,reduçõesnoImpostosobreProdu-tosIndustrializados(IPI)paraveículoseeletrodomésticos,alémdeprontificar--seaestudarareduçãodataxadejuroseoutrosestímulosfacilitadoresdascondiçõesdeconcessãodecrédito.Asmedidastêm-sereveladoinsuficientesparaconterosmovimentosdedemissõesque,maisdoqueoutrasmetas,parecemvisaràpreservaçãodosganhosacumuladosdocapital.

Asinovaçõestecnológicasrepresentamgrandeentraveparaamãodeobrapoucoqualificada,poisessetipodetrabalhador,umavezdispensadopelasempresas,viaderegranãoconseguerefazersuavoltaaomercadoformale,quandoissoocorre,opatamarsalarialéinferioraoproporcionadopeloempregoanterior.

Orompimentodesseciclodeempobrecimentosemanifesta,nascamadasexcluídasdoambienteeconômicoformal,dediversasformas,comodescritoanteriormente.Atuandojuntoaessaspessoas,auniversidadepoderessigni-ficarousodenovastecnologiasesentidosapartirdeaçõesfundamentadasnaformaçãohumanaedeeconomiasolidária.

Seguem-seexemplosdeiniciativasdeapoioaoempreendedorismosocial,advindasdeuniversidadespúblicasbrasileiras.

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

2. Algumas experiências de cooperação entre comunida-des e universidades públicas

Talcomojáfoidiscutidonesteartigo,dacriseeconômicaemergeane-cessidadedeencontrarnovoscaminhosesoluçõesquerespondamàinsta-bilidadeeconômica,aodesemprego,àprecariedadedotrabalho,àexclusãosocial,entreoutrasconsequênciasdestecontextodecrise.Logo,taisassuntosprecisamsercolocadosempautanocampoeducacional,emespecial,noensinosuperior,quefomentaainvestigaçãoeextensãocientífica,deformaafortalecerarelaçãoentreauniversidadeesociedade.

Atualmente,muitasuniversidadesestãoimplantandoprojetoscomoobjetivodeapoiarempreendimentosdealtatecnologiaoudecunhosocial,comoéocasodascooperativas,ouainda,desenvolverprogramasinternoscujoobjetivoéadisseminaçãodepráticasdeempreendedorismoentreseusalunoscomvistasaumaformaçãocríticasobreosproblemassociais,deformaacompreendê-lose,porconseguinte,agirnelesàluzdasteorias.

ComodizOrozcoSilva(2010)1,

[...]assumiraresponsabilidadesocialdeumapartepromoçãodademocraciaenoincre-mentodaparticipaçãodasociedadecivil.Issoimplicaumarevisãoprofundadossistemasdeformaçãoprofissionaleéticadosestudanteseumcompromissocomaatividadedepesquisa,comasurgênciasdecadadedesenvolvimentosustentáveldecadapaís.

Entreasuniversidadespúblicas,umdoscasosmaissignificativoséodoCentroIncubadordeEmpresasTecnológicas(Cietec), inauguradoemabrilde1998:foi instaladonocampusdaUniversidadedeSãoPaulo(USP),nacidadedeSãoPaulo,apartirdeumconvênioentreaSecretariadeEstadodaCiência,TecnologiaeDesenvolvimentoEconômico(SCTDE-SP),oServiçodeApoioàsMicroePequenasEmpresasdeSãoPaulo(Sebrae-SP),aUSP,aComissãoNacionaldeEnergiaNuclear(CNEN)atravésdoInstitutodePesqui-sasEnergéticaseNucleares(Ipen),eoInstitutodePesquisasTecnológicasdoEstadoSãoPaulo(IPT),entidadesquecompõemoConselhoDeliberativodoCietec.Posteriormente,incorporou-seaoConselhooMinistériodeCiênciaeTecnologia(MCT).

1 Disponívelem:<http://ries.universia.net/index.php/ries/article/view/22/calidad_academica>.Acessoem:10mar.2014.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

OCietecvisaàpromoçãododesenvolvimentodaciênciaedatecnologianacionais,medianteoincentivoàtransformaçãodoconhecimentoempro-dutoseserviçosinovadoresecompetitivose,paratanto,

[...]coloca-senavanguardadeumaestratégianacionaldedesenvolvimentocapazdeincentivaroempreendedorismo,melhoraraqualidadedevidaeposicionaropaíscomoumpolocriadoreexportadordetecnologias inovadorasnasmaisdiversasáreasdoconhecimento(UNIVERSIDADEDESÃOPAULO,2008).

Porestar instaladonocampusdaUSP,oCietecépartedeumaredeexcepcionalmentenotável,formadaporinstituiçõesdeensinoepesquisa,órgãosgovernamentaiseiniciativaprivada.Essasinergiaviabilizaaqualifi-caçãodasempresasaolongodoprocessodeincubação,emqueseaplicamosmaismodernosinstrumentosdegestãoetecnologia,alémdasnumerosascompetênciasdisponíveisnosdiversosInstitutosquecompõemaUSP.

CaminhosemelhanteseguemaUniversidadeEstadualdeCampinas(Uni-camp)eaUniversidadeFederaldeSãoCarlos(UFSCar).Assingularidadesouparticularidadesficamporcontadeaçõesdeatendimentodecooperativas.2

DomesmomodoqueoCietec,aIncubadoradeEmpresasdaUniversidadedeCampinas(Incamp)–criadaem2001eincorporadaàAgênciadeInovaçãodaUnicampem2003–sevaledeumaestruturaderedequecompreendepesquisadores,entidadesdefomento,decréditoegoverno,paraviabilizarodesenvolvimentodenovastecnologias.

OsprincipaisobjetivosdaincubadoratecnológicadaUnicampsão:a)aimplantaçãodeumaestruturapropíciaaosurgimentodeempresasdebasetecnológica–contandoparatantocomoapoiodoSebraeedosgovernosnastrêsesferasdepoder–comvistaaproduzirresultadosbenéficosemtermosdedesenvolvimentodetecnologiasadequadasaopaís;b)fluxocontínuodeinovações,diversificaçãoedesconcentraçãoindustrial;c)valorizaçãodaculturaempreendedora;d)sinergiaentreuniversidades,escolastécnicaseescolas

2 Deacordocomorelatóriode2007daCoordenaçãodeAperfeiçoamentodePessoaldeNívelSuperior(Capes),oBrasil–emumrankingcompostopor233países–éo15ºemquantidadedepesquisacientíficapublicadaeoprimeirodaAméricaLatina.OsnúmerostêmcomobaseoindicadorSCImago,queusaobancodedadosScopus, mantidopelaeditoracientíficahomônima.Emnossopaís,porordemdequantidadedepublicações,sãocincoasinstituiçõesquesedestacamemproduçãocientífica:USP,UnicampeasUniversidadesFederaisdeRioGrandedoSul,RiodeJaneiroeMinasGerais.

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

municipais,governolocal,empresáriosesociedadecivil.Todososmencio-nadoscolaboramparaainstalaçãodeumadinâmicavirtuosanalocalidade.

Especialmenteaesserespeito,Dowbor(2006,p.2),valendo-sedoses-tudosdePutnam,esclareceque

[...]osmecanismosparticipativosnãosócomplementamaregulaçãodoEstadoedomercado,masconstituemumacondiçãoimportantedaeficiênciadestesmecanismos.Ocapitalsocialaparececomofator importantedaqualidadedagovernançadeumterritóriodeterminado.

AanálisedePutnam3(apudDOWBOR,2006)sobreosEstadosUnidosde-monstraaimportânciadacapacidadedeorganizaçãodasociedadeemtornodeseusinteressescomoumelemento-chavedaracionalidadedodesenvolvimentoemgeral.Empresassociais,cooperativaseincubadorassociaisdesempenhamessepapelaosecaracterizaremporatenderpessoasdebaixarendaecomdéficiteducacional.Sãopopulaçõesqueatuamcomocatadoresdematerialreciclávelorganizadosemsistemadecooperativas,costureiraseartesãos,pessoasqueatuamnoramodemanutençãodemáquinas,entreoutras.

Aeducaçãoambiental,acapacitaçãonocampodagestãoeaqualificaçãodemãodeobrasãoalgunsdoscamposdeapoioparaesseperfildeaçãodauniversidade.CaminhanessadireçãoaIncubadoraRegionaldeCooperativasPopularesdaUFSCar,aoseposicionarcomoumaformadeintervençãoaca-dêmica,orientadaparaaconstruçãocooperadadealternativasaoproblemadodesempregoedaexclusãosocial.

SegundoEid,GalloePimentel(2006),aquestãoqueseapresentaéanecessidadedeumfatorredefinidordaaçãouniversitáriadecarátersocial.QuandoapropostadeincubaçãodecooperativaspopularesemergiunaUFS-Car,comoiniciativadosNúcleosdeExtensãoMunicípio,SindicatoeCidada-nia,elasedefrontou,comomencionamGalloetal.(2000,p.22),comtrêsproblemasrelativamentesimultâneosparaasuaefetivação:

[...]oprimeiro,disseminarapropostaparatodaacomunidadeacadêmica;osegundo,extrapolardessafase,istoé,danecessidadedeumaformaçãoteóricacomum;terceiro,odeestabelecercritériosdeescolhadaprimeiraáreaougruposocialcomoqualaacademiairiainteragir.

3 RobertPutnamécientistapolíticoeprofessordepolíticaspúblicasnaUniversidadedeHarvard.SeuestudosobreaItália,Making Democracy Work, foitraduzidonoBrasilcomo Comunidade e Democracia.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Asempresassociaisintentamaviabilizaçãodamudançasocial:entreasmaisfavoráveisconsequênciasdesuaimplantaçãodeveráestaramaiorintegraçãodauniversidadecomsegmentossociaisinvisíveis,vistoquesãosubdimensionadospelasestatísticas,inclusiveasoficiais.

NosprimeirosanosdoséculoXXI,aquestãodomulticulturalismoseapre-sentaaomeioacadêmicodeformaurgente.Auniversidadequeseproponhaapensareadesenvolvertecnologiasdeinclusãoedesustentabilidadedeveapresentar,àscomunidadesinteragentes,tecnologiasapropriadasàrealidadelocal,quepromovamsustentabilidadeaosgruposparticipantesdessaação.

Odiálogoentrediscentes,docenteseapopulaçãolocalsugereacons-truçãodeuminstrumentaldetrabalhoàfeiçãodarealidadeenãoapartirdaaplicaçãopuraesimplesdasteoriasexistentes.Aaçãouniversitáriadeverepercutiregerarodesejodoprotagonismonapopulaçãolocal.Nãodeveráseconsolidarcomoassistencialista,antes,engajadanarealidadesocial,envolverápessoas,grupos,cooperativas,parceirosouacomunidadecomoumtodo,buscandocausarimpactopositivonascondiçõesexistentesdedesemprego,precariedadedotrabalhoeexclusãosocial.(GALLOetal.,2006).

NomunicípiodeSãoBernardodoCampo,ainiciativadeincubaçãoéresultadodaparceriaentreaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,oInstitutoMetodistaGranberyeaPrefeituradeSãoBernardodoCampo,econtacomapoiofinanceirodaFinanciadoradeEstudoseProjetos(Finep),doMinisté-riodaCiênciaeTecnologia.Oprojetodeimplantação,iniciadaem2011,daIncubadoradeEmpreendimentosSolidáriosdeSãoBernardodoCampo(SBC-Sol),decarátermultidisciplinar,buscasuprirasnecessidadesdecorrentesdadesigualdadesocialdaregião,frutosdafaltadepolíticaspúblicasanterioresquepossibilitassemoportunidadesdeinclusão.Osramosdenegóciosdeem-preendimentossolidárioslocalizadosnomunicípiodeSãoBernardodoCampoatendidospelaSBCSolsãodiversificados,comoexemplo:processamentodematerialreciclável,oficinasdecostura,artesanato,hortascomunitárias.

Comoilustramasiniciativasacimadescritas,eemespecialestaúltima,aseguir,otemaaprofundadorefere-seàquestãododesenvolvimentolocal,considerandoamissãosocialdauniversidadealiadaaumaaçãotransforma-dora,atendendoàsnecessidadesdospúblicos-alvoquesesituamàmargemdauniversidade.

3. Desenvolvimento local: tradição e livre iniciativa

ParaMilani(2003),odesenvolvimentolocaldizrespeitoaumconjun-todepolíticasquenãoseregulampelosistemademercado.Afirmaqueo

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

crescimentoeconômicoéumavariávelessencial,porémnãosuficienteparaensejarodesenvolvimentolocal:

Odesenvolvimentolocalpodeserconsideradocomooconjuntodeatividadesculturais,econômicas,políticasesociais–vistassobaóticaintersetorialetransescalar–quepar-ticipamdeumprojetodetransformaçãoconscientedarealidadelocalenquantoprojetointegradonomercado,masnãosomente:odesenvolvimentolocalétambémfrutoderelaçõesdeconflito,competição,cooperaçãoereciprocidadeentreatores,interesseseprojetosdenaturezasocial,políticaecultural(MILANI,2003,p.2).

Odesenvolvimentolocal,paraoautor,expressaocontextoeaqualidadedodiálogovigentenaregião.

ParaDowbor(2006,p.6),“promoverodesenvolvimentolocalnãosig-nificavoltarascostasparaosprocessosmaisamplos,inclusiveplanetários:significautilizarasdiversasdimensõesterritoriaissegundoosinteressesdacomunidade”.

Atransformaçãodarealidadelocalrequercondiçõesderelacionamentoentreatoreseducacionais,tecnológicosepolíticos,entreoutros;anãoocor-rênciadessascondições,emintensidadenecessária,talvezpossaserexplicadapelofatodeaorganizaçãosocialterderivadodopredomíniodointeresseprivadosobreointeressecoletivo.

DeacordocomCasarottoFilho(1998,p.87),enquantooprocessodeglobalizaçãoeconômicaseexpressanacrescentecompetiçãotransnacional,oderegionalizaçãosocialcompreendeumcrescenteesforçodassociedadesre-gionaisparaconfiguraresustentarseusprópriosprojetosdedesenvolvimento:

Emcasosdegrandespotencialidadesnaturaisounaquasetotalrestriçãodasmesmas,apotencialidadebásicadequalquerlocal,regiãooupaísestáassentadaemsuapopulação,oumaisamplamente,emseuambiente:ainteraçãodessagente,pormeiodesuacultura,comoterritórioesuasrelaçõesexternas.Essaéaalavancaprincipaldoprocessodedesenvolvimentoerequergrandesesforçosdefomentoepromoção.

AsseveraoRelatório sobre desenvolvimento humano no Brasil,estudorealizadopeloInstitutodePesquisaEconômicaAplicada(IPEA)epeloProgramadasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento(PNUD),queaequidadeéumcomponenteessencialdodesenvolvimentohumanoe,nessamedida,todostêmodireitodeparticiparedesebeneficiardosfrutosedasoportunidadescriadaspeloprocessodecrescimentoeconômico.Todavia,

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

[...]dadooacentuadograudedesigualdadeobservadonamaioriadasnações,essaequidadenãodependeapenasdaeliminaçãodeeventuaisbarreirasquepossamimpediraspessoasdeusufruirplenamenteaquelasoportunidadesebenefícios;naverdade,adesigualdadeeapobrezasão,emsimesmas,asmaioresbarreirasaessaparticipação(PNUDapudGREMAUDetal.,1995,p.95).

ComosalientaDowbor(2006),odesenvolvimentosemprefoivistocomoumprocessoquechegaaumaregiãovindodasesferassuperioresdogoverno,sobaformadeinvestimentospúblicos,oumedianteainstalaçãodeempresasprivadas.Amodernização–nosentidoamplodegeraçãodeempregoerenda,valorizaçãodepequenasemédiasempresas,combateàpobreza,reduçãodasdesigualdades,provimentodepolíticaspúblicasdequalidade–tendeaservistapelacomunidade/sociedadecomodinâmicaquevemdefora;portanto,épassivamenteaguardadapelacomunidade.

Décadasdeexperiênciascomprojetosdedesenvolvimentocomprovam,noentanto,queacapacidadedeauto-organizaçãolocal,ariquezadocapitalsocial,aparticipaçãocidadãeosentimentodeapropriaçãodoprocessopelacomunidadesãoelementosvitaisemsuaconsolidação.Odesenvolvimentonãoé,meramente,umconjuntodeprojetosvoltadosaocrescimentoeconômico.Éumadinâmicaculturalepolíticaquetransformaavidasocial.(DOWBOR,2006,p.4).

ConformeoSebrae-2004,1,5milhãodeempresassãoabertasanual-mente.Entretanto,60%encerramasatividadesemmenosdecincoanos.Paradoxalmente,emummundocaracterizadopeloexcessodeinformação,ascausasmaiscomunsparaessamortalidadesãoaausênciadeplanejamentoprévio,desconhecimentooufaltadeexperiêncianoramoemáadministraçãodofluxodecaixa.Épossívelqueseencontreumaexplicaçãoparaofracassodetãograndenúmerodeempreendimentos–eissonãoocorreapenasnoBra-sil–nofatodequeasforçasempresariaisnãoestejamnemsuficientementeagrupadas,nemsuficientementerepresentadas.ComodizFilion(2004,p.29),

Encontramo-nosnumasituaçãoondeaquelesqueseriamosprincipaisatoresdodesen-volvimento–osempresárioseoslíderesdepequenasempresas–estãoausentesdaelaboraçãodaslegislaçõesquegovernamanossasociedade.

Amodernizaçãoeodesenvolvimentodaeconomiarequeremaintegraçãodepolíticascentraiscomadeagenteslocaisparaqueocorramdesdobramentos

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

virtuososdopontodevistadapopulaçãocomoumtodo.TaisdesdobramentosvirtuososterãosidoconseguidosseequandoatingiremosatributospropostospelosformuladoresdoOrçamentoParticipativo: radicalizaçãodademocracia,construçãodenovacidadania,aperfeiçoamentodogastopúblicoepromoçãododesenvolvimentolocal(CARVALHO;SILVA,2006).

Nocasodacategoriatrabalhadoresporcontaprópria,ouformasanálo-gas(comoéocasodemuitosmicroempresários),observa-sequeelesestãocriandoumaocupaçãonomercadodebens,principalmentenaprestaçãodeserviços,comoobjetivodeseautoempregar.Oquecaracterizaessegrupo“éque[ele]compreendeindivíduoscompouconíveldecapitalfísicoouhumano,quesãosimultaneamentepatrõeseempregadosdesimesmos”(CACCIAMALI,2000,p.167

DeacordocomSantos(2008,p.72),

Examinadooprocessopeloqualodesempregoégeradoearemuneraçãodoempregosetornacadavezpior,aomesmotempoemqueopoderpúblicoseretiradastarefasdeproteçãosocial,élícitoconsiderarqueaatualdivisão“administrativa”dotrabalhoeaausênciadeliberadadoEstadodesuamissãosocialderegulaçãoestejamcontribuindoparaumaproduçãocientífica,globalizadaevoluntáriadapobreza.

Todoprocessodeapoiodeverásealinharaaçõesquepropiciemaau-togestão.Aolongodoprocessodeorganizaçãoefomentodenegóciosostópicosabaixodeverãosercontemplados:

1º) Acesso a linhas de financiamentos e investimentos.SegundoDor-nellas(2002,p.26),oacessoaocréditoédifícil,sobretudopelafaltadeculturadeinvestimentoderiscoemnegóciosdealtopotencialnopaís;ocapitaléfundamentalparaaconsolidaçãodepequenosnegócioseparaqueasempresascresçamesaiamdasincubadorasemcondiçõesdecompetirnomercado.Pequenasempresaspossuemmaiorescustos,proporcionalmenteàsgrandes,emrazãodasquantidadesproduzidasparacomercialização.

Troster(2007,p.136)informaque

[...]noBrasilaconcentraçãoempresarialéaindamaiordoqueaconcentraçãodaren-da.Enquantoos10%maisricosdapopulaçãodetêm46,4%darenda,as10%maioresempresasdetêm59,5%doslucrose60,8%dosrendimentosdasvendas.Enquantoos50%maispobresdapopulaçãotêm13,2%darenda,as50%menoresfirmasregistramapenas5,5%dasvendasenãolucram.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

ParceriascomoBancodoPovodevemserestabelecidasparasustentarocrescimentoeconsolidaçãodosempreendimentos.

2º) Programas de consultoria e assessorias.Sãoasaçõesdeatendimentopelosalunos,sobasupervisãodeprofessores:GestãoFinanceira,Marketing,ProcessosGerenciais(GPME),GestãodePessoas(RH),Gastronomia,LogísticaeTurismo.Alémdeprofessoresealunosdauniversidade,convémestabelecerparceriascomcentrostécnicoslocais,paradesenvolvertecnologiasecapacitaramãodeobra.

3º) Suporte à comunidade.SegundoDornelas(2002,p.27),“trata-sedaparticipaçãodemoradores,professoresealunoscomopartedoconselhodeadministraçãodoprojeto”.

4º) Rede de empreendedorismo.Éfundamentalestimularredesdesoli-dariedadeentreoprojetoeodeoutraslocalidades,paratrocadeexperiênciassobregestão,contrataçãoeoutrastemáticasdeinteressedeempresassociaisoucooperativasdepequenoporte.

CasarottoePires(1998,p.24)explicitamaimportânciadequemicroepequenasempresastenhamumposicionamentocadavezmaisflexívelevol-tadoaparcerias:“quandosepassaafalaremnegóciosenãomaisemfábricasisoladas,umaformadediminuirosriscoseganharsinergiaéaformaçãodealiançasentreempresas,especialmenteaspequenas”.

Algumasmedidasaseremconsideradasparapropiciarsustentabilida-deaosprojetossão:a)divulgaçãodasempresassociaiseoutrassurgidasnalocalidadeeregião;b)criaçãodeumsiteparadivulgaçãodosprodutosdasempresassociais;c)aberturadodiálogoentreempresáriosregionaiseempreendedoressolidáriosparapermitirdesenvolvimentodeparceriasregionais;d)apresentaçãodoconceitode“planodenegócios”paraacomu-nidadelocal;e)desenvolvimentodenovosformatosdeapoiosfinanceiroseestruturaisparaeventosdasempresassurgidaseconsolidadasnoprojeto;f)desenvolvimentodeumformatoinovadornarelaçãoentreempresassociaisebancoscomerciais.

5º) Processo de seleção de empresas.Oprocessodeseleçãodeveservirparaavaliar,recomendareselecionarasmelhoresempresasparaoprojetodeextensão.Algunscritérios,deacordocomDornelas(2002,p.30),são:sercapazdegerarempregos;pertencerasetorpriorizadopeloprojeto;terdisposiçãoparadesenvolverplanodenegóciosepotencialdegeraçãodepostosdetrabalho.

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

6º) Programa de metas.Énecessáriodefinirclaramenteprocedimentosemetas,pactuarcritériosdeavaliação,prestaçãodecontasedireitosedeveresdasempresas.ComoafirmaAmatoNeto(2005,p.72),“naatualconjunturaeconômica,paramanterataxaderentabilidadequepermitapermanêncianomercado,aempresatemqueampliarreceitae/oudiminuircustos”.

Considerações finais

ComojádisseMiltonSantos(1998?),énecessárioresponderaoatrasoeàcomodidadedasmentescomprogramasquesignifiquemumolharadianteequecriemespaçoseoportunidadesvoltadosàemancipaçãoeautonomia.Épossívelsuporqueistodecorrasobretudodocrescimentoeducacional,socioeconômicoecultural,ouseja,deampliaçãodacidadania.

Porconseguinte,umprojetoconduzidoemparceriacomauniver-sidade,espera-sequesejaconstituídocomoumconjuntodeatividades,desenvolvidaspordocentesediscentes,comopropósitodeestimularodesenvolvimentodoterritório.

Paraasustentabilidadedasempresasorganizadaseconsolidadaspelaparticipaçãonumprojetodeincubaçãooudeextensão,éfundamentaloregistrodasreferênciasconstruídasapartirdasexperiênciasevalorespre-dominantesnolocal.

Éessaespéciederoteiroque,seguido,asseguraqueaspopulaçõeslocaisseapoderemdastecnologiastransferidasebenefíciosgeradospelotrabalho,parasuarepercussãopormuitosanos,atéquenovocicloseinicieeoutrosprocessosalteremopatamardoestadodaarte.Segue,comoexemplo,umapropostaderoteiroaseradotadonaslocalidades:

• articulação,casonãoexista,demoradoresmaisantigosparaacriaçãodeumaassociaçãodemoradores;

• identificaçãodepotencialidades;• ajudaaosinteressadosnodesenhodemetodologiadetrabalho;• construçãodeformatosdegestãoadequadosaoperfildaspessoas

dolugar;• diálogocontinuadosobrecooperativismo;• promoçãodeeventosnacomunidadequeenfatizemaparticipação

daspessoasdolocalnosresultadosperiodicamenteapresentados;• reuniõesperiódicas,oueventosnaregião,paratrocadeexperiências

sobreboaspráticasdegestãoentreosempreendedoresdalocalidadeedeoutras;

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

• desenvolvimento,pelacomunidadeeporprofessoresealunos,denovosmodelosdegestãodeempresassociais;

• parceriascomentidadestécnicas;• parceriascomoBancodoPovo;• parceriascomgrandesindústriasdaregião;• promoçãodeintercâmbiocomoutrascooperativaseempresasso-

ciais;• apresentaçãodasempresasemassociaçõesregionais industriais,

comerciaisedeserviços.Asempresassociaispossivelmenteseconstituirãoemaçõesdemaior

impacto,porsereferiremàgeraçãodepostosdetrabalhoparaapopulaçãodesempregadaeestabeleceremparceriascomgrandesempresasdaregião.Issopoderáocorrercomopartedeumaagendadearticulaçõesqueirásedelineandoaolongodaimplantaçãodoprojeto.

Ésobremaneiraimportanteotrabalhopelaautonomiadessesprojetos,afimdequepromovam,deformavirtuosa,odesenvolvimentonalocalidade.Concomitanteàformaçãoeorganizaçãodenovosempreendimentossociais,deve-setrabalharcomosmoradoresderuaaformaçãoderedesecadeiasprodutivasvirtuosasquepossibilitemaelesumaarquiteturaoriginaldenovosnegóciosquerespondamanecessidadesdaquelalocalidade.

Em2007,nomunicípiodeSantanadeParnaíba(BERNARDES,2009,p.99),deu-seumexemplopráticodaimportânciadaaçãointegradaparaaconsolidaçãodenovosempreendimentos.Empreendedoreseempresáriosforamtreinadosecapacitadosparausodenovastecnologiasepostosemcontatocomaimportânciadainovaçãotecnológica.

Estudiososcitadosbrevementenestetrabalhoconvergemparaaimpor-tânciadaimplantaçãodeprojetosdainiciativaprivadaouaçõesdepolíticaspúblicasqueefetivamenteresultemematividadeseconômicascapazesdeabsorveramãodeobracomintensidade.Esseseriaumcaminhopossívelparadiminuiradesigualdadesocialentreosmaisricoseosmaispobres.

OsaudosoprofessorMiltonSantos(2007,p.191)aponta,emoEspaço do Cidadão,ofatodequeaspessoasaquemoplanejamentosedestinara-ramentetêmacessoaosdocumentosfinais,eaindamenosaosdocumentosdebase.Eisumdesafioaservencidoporprojetosquecontemcomaparti-cipaçãodacomunidadeacadêmica.

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Considerações sobre o papel da universidade em proCessos de organização...

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Controles financeiros na economia solidária:

um estudo de caso dos empreendimentos

do projeto SBCSol

* MestreemFinançaseOrganizaçõespelaUmesp(2011),mestreemFinançascomespecializa-çãoemRiscopelaUniversidadedeSãoPaulo-USP(2000);pós-graduadoemAdministraçãoFinanceira(1997)etecnólogomecânicocomespecializaçãoemSoldagempelaFaculdadedeTecnologiaProf.LuizRosaFatec-SP(1994);especializadoemEducaçãoMatemáticapelaUniversidadeOswaldoCruz(2005).AtualmenteéprofessortitulardaUniversidadeMeto-distadeSãoPauloministrandoostemasligadosaFinanças,Contabilidade,MatemáticaeEstatística,noscursosdegraduaçãoepós-graduação;étambémconsultordeempresasnasáreasfinanceiraetreinamentogerencial.MembrodaSBCSol.

Marcelo dos Santos*

Introdução

A sustentabilidade,quegaranteaperenidadedeumempreendimento,supõequeaempresadeveimportar-secomomeioambiente,asocie-dadeenãoesqueçaoresultadoeconômicoquefarácomquetenha

recursosfinanceirosparatrabalharnasoutrasfrentes.O controle financeiro é uma parte importante da gestão de um

empreendimento.Umaboaadministraçãofinanceirapermitequesesaibaquandoentrarádinheironaorganização,quandosairádinheirodofluxodecaixaatravésdepagamentosdiversos,bemcomopossibilitaplanejarofuturodeacordocomosdiversoscenáriospossíveis.

Oplanejamentofinanceiroenglobatambémapartedeorçamentaçãoeacompanhamentodesteorçamento.Verifica-sequeasempresas,aolongodotempo,repetemsempreosmesmoserros.Comopodemrecorrerabancos,quandodeformainesperadaapareceumproblemadecaixa,poucaspensamnoseventosfuturosdeformaplanejada.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

SegundoHoji(1999),opapeldocontrolefinanceirodentrodeumaor-ganizaçãoimplicaemdecisõesdosgestoresdoempreendimentoquantoaoinvestimentoefinanciamento.Nessesentido.quandoocorreumexcessodeliquidezdentrodaempresa,naformadesobradecaixa,osgestoresprecisamdecidirondeinvestir:emmáquinas,equipamentos,novaspesquisasemeto-dologiasdeproduçãoouentãoinvestirnomercadofinanceiroeaguardarummelhormomentopararealizarinvestimentosnaorganização.

Poroutrolado,asdecisõessobrefinanciamentosdevembasear-seemumaprevisãocorretasobreoperíodoquepoderãoocorrer.Éimportante,também,analisarquaisopçõesestãodisponíveisparacoberturadeumdéficitnocaixa.Quandoseprocuralinhasdecréditonomercado,deve-setentarencontrarumafontederecursosqueapresenteasmenorestaxadejurosdomercadoecomistoreduzirentãoasdespesasfinanceiras.

Viaderegra,osgestoressupõemqueumadespesaoucustoinesperadosejaconsequênciadeparadanãoprevistaemumamáquina,umafaltadepagamentodeumcliente,ouaausênciadeumempregadopormotivodedoença.Entretanto,elesnãoentendemqueopagamentodeumaparcelaamaisdesalário,denominadadécimoterceirosalário,queénormatizadadeacordocomalegislação,comdataevaloresprevisíveisdentrodestalegisla-ção,sejameventosinesperados.

Opequenoempresário,porvezes,sevêdiantedediversasfrentesdetrabalhodentrodesuaempresaerelegaaumsegundoplanoaadministra-çãofinanceira,aadministraçãodepessoaleoutras.Aoobservaroestilodegestãodessaspequenasempresas,chamaaatençãoofatodequeamaestrianaqueletipodenegócionãofoiadquiridacomoresultadodacompetênciadeseusgestoresnaadministraçãoderecursoshumanos,oudacompetêncianagestãofinanceira.Masestasdimensõesdoempreendimentosãoessenciaiseogestordevededicarpartedoseutempoaestesprocessos.Oexemploexpostoanteriormente,sobreodécimoterceirosalário,poderiaserresolvidodividindo-seovalortotalemdozeparcelasepoupandoumacotapartepormêsenãoutilizaroartifíciodesolicitarempréstimoquandodopagamentodedécimoterceirosalário.

Nessecapítulo,serãoanalisadososcontrolesfinanceirosemempreen-dimentosdeeconomiasolidária.Essetipodeorganizaçãoprodutivaofereceumaalternativadeobtençãoderendaparaapopulaçãoexcluídadomerca-dodetrabalhoformal.Aorganizaçãodegruposparaentradanomundoda

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Controles finanCeiros na eConomia solidária

economiasolidáriaé,porsisó,umatarefadegrandeimpactonasociedade,edemuitoesforçoparaosenvolvidosnoprocesso.

Algunsgargalosnaoperacionalizaçãodeumempreendimentodeecono-miasolidáriapodemserobservadosnosempreendimentosquesãoacompa-nhadospeloprojetodeimplantaçãodaincubadoradeempreendimentossoli-dáriosdeSãoBernardodoCampo(SBCSol).EsteprojetoqueocorrenacidadedeSãoBernardodoCampo,noestadodeSãoPaulo,Brasil,éumaparceriaentreUniversidadeMetodistadeSãoPauloePrefeituradeSãoBernardodoCampo,comrecursosdaFinep(FinanciadoradeProjetosdoGovernoFederal)edoCNPq(ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológico).

NessesempreendimentosacompanhadospelaSBCSol,ositensrelaciona-dosàcomercialização,controleseplanejamentoforamdiagnosticadoscomoosprincipaisentravesparaosucessodestetipodeempreendimento.Noprocessodeincubação,foramgeradostreinamentos,cartilhaseorientaçõescomoobjetivodereduzirasdificuldadesrelacionadasaoscontroleseplane-jamento;dessaforma,aumentandoaorganização,almejandoaperpetuaçãodosempreendimentosaolongodotempo.

Controles e gestão

Aoanalisar-seopapeldogestorquantoasuaeficiêncianaexecuçãodosobjetivosdaempresa,conclui-sequeoatingimentodosobjetivossempredependedasfunçõesdeplanejamento,liderança,organizaçãoecontrole.Osautoresconstatamquetodasessasfunçõespossuemumainterdependência,masocontroleéjulgadocomofatorprimordialparaqueasoutrasfunçõessejamrealizadascomeficáciaeeficiência.

Ocontroleverificaseaquiloquefoiplanejadoéexecutadocorretamen-te.Verificatambémseexistemocorrênciasquesedistanciamdepadrõesanteriormenteestabelecidos.Osprocessosoperacionaisadministrativos,den-trodeumaorganização,devemsercontroladosparaquepossamseravaliadosemensuradosgerandoassimumacomparaçãocomodesempenhopassadoetambémcomumavisãodeexecuçãodoplanejamentoparaofuturo.

SegundoavisãodeGitman(2002),agestãofinanceiradeumempreen-dimentopassapelacomunicaçãocomoutrasáreasinternaseexternas,poisaáreafinanceiraestáligadaatodasasáreasdeumaorganização.Dessaforma,paraqueoresponsáveltécnicopelaáreadefinançasfaçaboasprevisõespara

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

atomadadedecisão,dependedesuainteraçãocomopessoaldevendasedeoutrasáreasdoempreendimento.

Osucessooufracassodepequenosempreendimentosdependemuitodesuagestãofinanceira,eesta,porconsequência,dependededadoscontá-beisdequalidadequepossamsertransformadoseminformaçõesúteisparatomadadedecisõescorretasqueauxiliarãoaorganizaçãoaseperpetuaraolongodotempo.

Nomundo,amaioriadaspequenasempresaspossuememsuaestruturaumsetordecontabilidadeouumescritóriodecontabilidadedesenvolvendoafunçãodosetorfinanceirodaorganização.NoBrasil,oescritóriodeconta-bilidadetemumafunçãoburocráticaemrelaçãoaopagamentoecontroledasituaçãofiscaldaorganização.Assim,desfalcadasdessafunção,queéessencialparaela,apoia-senoextratobancárioenosconselhosdogerentedobanco,emqueoempreendimentotemconta,pararealizarasuagestãofinanceira.

Comotodasasdecisõesdaorganizaçãopassampelaquantificaçãodere-cursosfinanceirosdisponíveise/ounecessários,quasetodasasdecisõesdeve-rãoseranalisadaspeloresponsávelpelaáreafinanceira,que,necessariamente,deveintegrarumcomitêquetomadecisãodentrodoempreendimento.

Controles financeiros

Aferramentamaisimportanteequeéindispensávelparaosempreen-dimentosdaeconomiasolidáriaeeconomiainformalsãooplanejamentoecontrolefinanceiros,visandoàmelhorianatomadadedecisõesnapre-cificaçãocorretadeprodutoseserviços.Esseprocessopermiteaanáliseedecisãocorretasobrequaistiposdepedidosouencomendaspodemsertratadospeloempreendimento.

Oscontrolesfinanceirossãoderivadoseoriundosdacontabilidadeondeseregistraopatrimôniodasorganizações,masexisteumapequenadiferençaentreocontrolecontábileocontrolefinanceiro.Navisãocontábil,osfatosjáocorrerameforamregistrados.Ocontrolecontábilrevelaopassadodoempreendimento,casoomesmopossuaestesregistros.Ocontrolefinanceiropossibilitaumamelhorvisãodecaixadaorganização.

Comoexemplo,pode-secitarumempreendimentoeconômicosolidárioquefabricabolsascomlonasusadasnafabricaçãodebanners.Esseempreen-dimentovendeuumaquantidadedebolsase,poressavenda,deveráreceber,emtrintadias,milequinhentosreais.Poroutrolado,afolhadepagamento

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Controles finanCeiros na eConomia solidária

eamatéria-primaparafabricaçãodasbolsasgeraramumadespesa,jápaga,novalordeummilreais.Navisãocontábil,oempreendimentotevecomoresultadoumlucrodequinhentosreais.Navisãofinanceira,dofluxodecaixa,aorganizaçãoreceberádaquiatrintadiasovalordemilequinhentosreais.Portanto,ocaixadoempreendimentonãopossuinenhumvalormasjáefetuouopagamentodossaláriosedamatéria-primanovalordemilreais.Pode-seconcluirque,deacordocomavisãofinanceira,aempresaapresentaumprejuízodemilreais.

Acontabilidadeauxiliaa tratarumasériededadose indicadoresfinanceirosdaorganização,comoníveldeliquidez,necessidadedecapitaldegiro,rentabilidade,níveldeendividamento,estruturadecapitaleoutros.Entretantoessescontrolesnãosãosuficientes.Fazendoumaanalogiacomaaçãodedirigirumautomóvel,seriaamesmacoisaquedirigi-loolhandoapenaspeloespelhoretrovisor.Claroquenãodariacerto!Assim,éneces-sárioefetuarprojeçõesdestesindicadoreseacompanhá-lostodososdiasdentrodoempreendimento.

Nãoépossível dispensar a contabilidade.A área contábil auxilia atransformarosdadoseminformaçõesemelhoraraqualidadedasdecisõesqueogrupodepessoasdoempreendimentodevetomar.Acontabilidadetambéménecessáriaparaqueoempreendimentotomecréditonomercadobancário,pois,semdocumentosformaisgeradospelacontabilidadeparaavaliação,estaliberaçãodecréditonãoocorrerá.Acontabilidadetambémsefaznecessárianaapuraçãoenopagamentodetributos,impostosecontribuiçõesacessóriasaofiscofederal,estadualemunicipal.Atravésdacontabilidade,tambémépossívelmostrarosresultadosdoempreendimentodeformamaiscríveleanalisável.

Ocontroledecaixaéaverificaçãodeentradasesaídasderecursosdaorganização;éumcontrolegerencialemetódicoquedeveserefetuadotodososdias.Oseuacompanhamentogaranteavisualizaçãodeparaondeaempresaestáindo;mas,comodiziaSeneca,“osventosnãosopramafa-vordequemnãosabeondequerchegar”.Umbomplanejamentodefluxodecaixaénecessário,comumaprevisãoparacadadiadomêsedoano.Oaperfeiçoamentodoplanejamentodofluxodecaixaverifica-secomopassardotempo;aspessoasquelidamcomesteinstrumentovãoconhecendocadavezmelhorocomportamentofinanceirodaorganização.

Éimportanteenfatizarque,emboraocontroledecaixasejaumcontrolegerencialfundamentalparaasaúdedaorganização,eleéumplanejamentooperacionaldoempreendimentoqueestádiretamenterelacionadoaoseu

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planejamentoestratégico.Odesenvolvimentodeumplanejamentoestratégicoemumempreendimentodeeconomiasolidáriarequerumamadurecimentomuitograndedogrupoparaqueomesmosejaefetuadoeacompanhadopelosintegrantesdaorganização.

Normalmente,amaioriadassaídasdecaixaéprevista,comopagamentodeágua,luz,gás,telefone,matéria-prima,transporte,alimentação,retiradasdosassociados,entreoutros.Entretanto,asentradasdependemdoníveldecomercializaçãoqueaempresatemeonúmerodeclientesfidelizadosqueamesmapossuiemsuacarteira.Umdosgrandesproblemasdeempresasdaeconomiasolidáriaéacomercializaçãodeprodutoseoportunidadesdevendas.

Umaprojeçãodevendaspautadanaexperiênciadaspessoasquecom-põemogrupodoempreendimentoéprimordial,masumregistrocomaquantidadedevendaspassadasauxiliaaverificarsazonalidadesetendências,queàsvezessãoimperceptíveisnaanálisequalitativa.Apartirdajunçãodaprojeçãodevendasedaprojeçãodosgastos,éelaboradoumprimeirofluxodecaixaqueauxiliaránatomadadedecisõessobreinvestimentoefinancia-mento.Parapotencializarasvendas,éimportanteteralgunsmembrosdogrupovoltadosexclusivamenteparaacomercialização,fomentandocontatoscomlojas,indústriasoupossíveiscompradoresempotencial.

Napartedecontroledeestoques,sãonecessáriosaelaboraçãoeocál-culodetabelas,constandoacapacidademáximaeamínimadosestoques,tantodematéria-primacomodeprodutosacabados;estoquedesegurançaemétododeproduçãoedeestocagem.Denadaadiantaaproduçãosemne-nhumaperspectivadevenda,masumamínimaproduçãodevesergarantidaparamostruário,participaçãodefeiraseeventos,entreoutros.Omelhormétododeproduçãoéaquelesobdemandaquegaranteummenorestoqueeoenvolvimentocomomenorníveldecustos.

Paraqueaproduçãonãopareénecessáriocontrolarofluxodematéria--primaqueentranaprodução,respeitandoo lead timedecadafluxopro-dutivo,queéotempoentreopedidodamatéria-primaeadisponibilizaçãodamesmaàlinhadeprodução.Portantonãoadiantaefetuaropedidodematéria-primanomomentoqueamesmaacabaoujáestáquasenofim;asolicitaçãodeveocorreremmomentooportuno,levando-seemconsideraçãoo lead timedofluxo.

Tambémépossívelefetuarocálculodequaléo loteeconômicodecompra(LEC),ouseja,aquantidadeasercompradaqueminimizaoscustoscomestoquesepedidos.Apartirdestecálculotodosospedidosdevemser

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Controles finanCeiros na eConomia solidária

rearranjadosparaficarbempróximodoloteeconômicodecompra(LEC),quelevaemconsideraçãoocustodepedir,ocustodemanterestoques,ademandapelamatéria-primaepeloprodutoacabadoemseucálculo.

Osmétodostradicionaisdecontroledeestoquesremetemàstécnicasderegistroondeasfichasdecontroledeestoquespodemserconfecciona-dasatravésdasmodalidadesPEPS(primeiroqueentraéoprimeiroquesai),UEPS(últimoqueentraéoúltimoquesai)eMMP(médiamóvelponderada).QuandoseutilizagerencialmenteoPEPS,nãoocorreoriscodeexistirmaterialvelhonoestoque,quandoseutilizaoUEPS,opreçodamatéria-primarefletemaisfielmenteopreçodomercadoeoMMPéummistodosdois,levandoaopreçodoestoquedematéria-primacomponentesdetodososlotesad-quiridosaolongodotempo.

Temosascontasdoempreendimentoouorganização,comoluz,água,telefone,gás,entreoutros,quechamamosdecontasapagar;temosqueefe-tuaroplanejamentoeaprevisãodevaloresparaestascontas,poissabemosdasdatasdevencimentomasnãotemoscertezadovalor;podemosresolveroproblemautilizandoamédiadasdozeúltimascontascomovalordeprevisão.

Contasdeenergiaelétricatêmsazonalidades,bemcomoconsumodeágua.Casopensarmosnoconsumoresidencial,oconsumodeenergiaelétricaémaiornoinverno,bemcomooconsumodeáguaémaiornoverão.Neces-sitamosverificar,dentrodoramodenegóciodoempreendimentoqualéasazonalidade,nafabricaçãodeovosdepáscoa,porexemplo,oconsumodosfatoresdeprodução(energiaelétrica,gásematéria-prima)ésazonal,ocorrecommaiorfrequênciaevolumeemfevereiro,marçoeabril.

Quantomaispróximadorealéestaprevisão,melhorficaránossofluxodecaixa,umavezqueestaremosacertandomaisosvaloresdesaídaparaofluxodecaixa,melhorandoassimaprevisãodecaixa.Nagrandemaioriadosempreendimentostemosqueasreceitasocorremdepoisdovencimentodecontaseistoéproblemáticoparaoresultadodaorganização,umavezqueascontassãopagasematrasogerandojurosemulta.Devemosadministrarbemascontasapagarereceberparagarantirorecebimentodovalordosclientesantesdovencimentodascontas;casoistonãoocorrapoderemosalteraradatadevencimentodascontas.

Oscontrolesdecontasapagarpermitemoplanejamentodecontasapa-garcomsuasmédiasmensaisesazonalidades,bemcomoperíodosdecorreçãoecomacorreçãoestimada.Quantomaisfidedignoéestecontrole,melhorficaonossofluxodecaixa,ouseja,maispróximodoreal.Umpontoimportante

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quantoàscontasapagarereceberébásico,masosempreendedoresnãopercebemcomoumitemquedevamtratardeformaextraordinária:ocorreemdiversospequenosempreendimentosquevisitamos,ovencimentodascontasdevemsempreocorrerposterioràsentradasdecaixa,salientandoqueoprazomédiodepagamentodeveserinferioraoprazomédioderecebimento.

Ascontasapagartambémservemparafinanciarumeventualproblemadecaixadaorganização,verificandoqualéamulta,jurosecomissãodeper-manênciadascontasapagar.Efetuandoumatabelacomosvaloresmédios,pode-sedecidirporatrasarascontasparafazerfrenteaoutrocompromissourgenteeimportante,aoinvésderecorreraomercadobancáriopararetirarumempréstimodecurtoprazo.Caracteriza-secomoatrasoadívidanãopagaemumprazodeaté30dias;acimadisto,considera-seinadimplência.

Noitemcontasareceberháaprevisãodevendasqueéopontapéinicialdequalquerprojeçãodevendas.Asdecisõesrelacionadasaoitemcontasareceberenvolvemvendersomenteàvistaouvendertambémaprazoparaaumentaraquantidadedevendas;nocasodevenderaprazo,deve-severificarseexistemrecursosfinanceirosparafazerfrenteaoscompromissosdentrodomês.Umasériedequestionamentosdevemserrespondidosparaquenãosetomeumadecisãoedepoissearrependadamesmaeoempreendimentofiquesemrecursosparaaretiradafinanceiradoscomponentesdogrupo.

Damesmaformaqueocontasapagar,ocontasarecebertambémpodeserutilizadoemergencialmenteparasanareventuaisproblemasencontradosnofluxodecaixa,poisvendendoaprazoparaseusclientes,aorganizaçãopoderásedirigiraqualquerestabelecimentobancárioeefetuarumaante-cipaçãodofluxodecaixatambémchamadodedescontodeduplicatasoudescontodetítulos.Entretanto,muitosempreendimentosnãosabemqueestaoperaçãopodeserefetuadacomrecebíveisdecartãodecréditooucomchequespré-datados.

Todavendaaprazodeveserconsideradaeanalisadacomoumemprés-timo,pois,segundoSchrikel(2000),todacessãodepatrimônioaoutrocomapromessadepagamentofuturoéconsideradocréditoedeveseranalisadocomasmesmaspremissascomoseoempreendimentoestivesseemprestandodinheiroaseusclientes,talfatoécorroboradopeloregistrodeseuestoquedeprodutosacabadosdentrodacontabilidadedaorganização.

Avendaaprazodeprodutosacabadosdeveserrevestidadealgunscuidados,comoanálisedequemestácomprando,atravésde instrumen-tossimplescomooscincoCsdocrédito,explicadosnopróximoparágrafo.

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Gitman(2004)observaqueestetipodeanálisenãorejeitaouaceitaocré-ditoouvendaaprazo,maspodeserumaótimabaseparaumanalistaoupessoaexperienteadotarparaverificaçãoseoclientetemvontadedequitarocompromissonoprazo.

OscincoCsdocréditosãoreconhecidospelosestudiososcomocaráter,colateral(emtraduçãolivredoinglêsgarantia),capacidade,capitalecon-dições.Emrelaçãoaoquesitocaráter,analisa-seavontadedoclienteempagareasrestriçõesqueomesmopossui.Noitemcolateral,verifica-seseháalgumbemqueomesmopossadeixaremgarantiaparaserexecutadanocasodenãopagamentodadívida.Emrelaçãoaotópicocapacidade,constata-seahabilidadedoclientetransformaremreceitaseutrabalhoouaproduçãodesuaempresa.Noitemcapital,analisa-seasituaçãofinanceiraecapacidadedepagamentoe,finalmente,noitemcondições,analisa-seofatorexternoàorganizaçãooupessoa,situaçãoeconômicadopaís,cidade,empregoerendalocal.

Ocontroledecapitaldegiroéprimordialparaqueaorganizaçãoouem-preendimentonãodeixedeexistir.Manterouaumentaroníveldevendasparaobterreceitaémuitobom,masénecessárioacompanharaquantidadededinheiroenvolvidanamanutençãodesteníveldevendas.Paravenderdeve-seproduziregastarcommatéria-prima,máquinasepessoal,ecomoprodutoprontoefetua-seavenda,massemprecomumprazoparapagamento.Estedinheiroenvolvidonoprocessodomomentodopagamentodamatéria-primaepessoaleoutrosgastosdeprodução,atéomomentoderecebimentodasvendaséocapitaldegiro.

Quantomaisoempreendimentovende,maiscapitaldegiroénecessárioeoempreendedornãonotaqueestácaindoemumaarmadilhachamadadeefeitotesoura,pois,enquantoanecessidadedecapitaldegiroaumenta,ocapitaldegirodisponíveldiminui,chegandoaopontodesernecessáriotomarempréstimosparainjetarnocapitaldegiroeosjuroscobradossaemdiretamentedamargemdelucroparadistribuiçãoaossócios.

Controles financeiros através de indicadores

Indicadoresounúmerosíndicessãoutilizadosparaoacompanhamentodedeterminadoitemdentrodeorganizações;essesindicadoressãotrans-formadosemgráficoseaspessoasrapidamenteconseguemcompreenderamensagemoutirarconclusõesatravésdessesindicadores.

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Umainformaçãopodesimplesmenteserumdadoperdido,comoquan-do,porexemplo,constata-sequenomêsatualobteve-seumsaldopositivoparadistribuiçãoaosassociadosdemileduzentosreais;estainformaçãoéboa,pois,nofinaldomêsaindasobroualgumdinheiro,masdeve-seobservaresteindicadordesucessodoempreendimentojuntocomoutrasinformações.Apesardeserumainformaçãopositivaparaosassociados,elapodenãosertãoboaseoempreendimentopossuirmileduzentosassocia-dos,ouseja,cadaumlevaráparacasaapósummêsdetrabalhoárduo,umreal,ousenomêsanterioroempreendimentoobteveresultadosuperioraistooresultadonãoétãobom.

Existemindicadoresdediversostipos.Osindicadoresdeliquidezsãoaqueles índicesquemostramasituaçãogeraldaorganizaçãoquantoàdisponibilidadederecursosparafazer frenteàsdívidasquepossui.Porexemplo,seoempreendimentosomartudoquetematualmente–dinheiroemcaixa,contasareceber,máquinaseequipamentos–conseguirápagartodasasdívidasdecurtoe longoprazo, incluindoadevoluçãodealgumdinheiroaosassociados?

Oindicadordeliquidezdevesersempremaiorqueumequantomaiormelhor,poisdenotaqueaempresaestácomfolgafinanceirajuntoaseuscre-doreseassociados.Se,hipoteticamente,considerar-seumindicadordeliquidezdeumemeio,pode-sedizerque,seoempreendimentodeixassedeexistirhoje,vendessetudooquetem,recebessetodasascontaseefetuassetodosospagamentos,aindasobrariacinquentacentavosparacadarealdedívida.

Outrogrupodeindicadoresnecessáriosàboagestãodosempreendimen-tossãoosindicadoresdeatividadequeenvolvemcálculosdeprazosmédiosdepagamentoerecebimento,bemcomoogirodeestoques.Estesindicado-resservemparaogerenciamentodeprazosdentrodaorganização.Pode-severificarqueoprazomédioderecebimentodevendasdeveserinferioraoprazomédiodepagamentodecompras.

Existeanecessidadedesecontrolaroendividamentodaorganizaçãoouaparticipaçãodecapitaldeterceirosnoempreendimento.Umbomindicadoréobtidocalculandoadivisãoentreototaldeempréstimosdecurtoprazo(passivocirculante)eototaldebensedireitos(ativototal)queaempresaouempreendimentopossuinaquelemomento.

Indicador de endividamento = passivo circulanteativo total

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Controles finanCeiros na eConomia solidária

Paraaverificaçãodemelhorianaretiradadosassociados,aorganizaçãodevesemprecontrolaroindicadorderentabilidade,quetraduzqualquan-tidadedecustosedespesasdoempreendimentosetransformaemretiradaparaosassociados.Combaseemumconceitodaeconomiacapitalista,épossíveldefinirolucro,antesdadistribuiçãoparaosassociados,divididopelototaldebensedireitosqueoempreendimentopossui,dandocomoresultadoumindicadorpercentualquetraduzamelhoraoupioradoretornofinanceiroparaosassociados.

Economia solidária

Aeconomiasolidáriaéumaopçãoparaaspessoasqueestãoàmargemdomercadodetrabalhoformal,emconsequênciadeumasériadecaracterís-ticaspróprias,taiscomoidade,graudeinstrução,capacitaçãotécnica,entreoutras.Estetipodeinciativafocaapopulaçãodebaixarendaeeconomiaslocaisondenãoexisteaindaadeterminaçãoclaradavocaçãodaregião,ouondeopoderpúbliconãoconsegueatingircapilaridadesuficienteparaauxiliaroscidadãosdebaixarenda,emsituaçãodevulnerabilidadee/ouapopulaçãoderua.Hespanhaetal.(2009)alegamqueaeconomiasolidáriavemarticularosdiversosatoresembuscadodesenvolvimentoeconômicoesocialemre-giõespobresobtendocomoresultadodistribuiçãoderendaeinclusãosocial.

Aeconomiasolidária,sobaóticadeZartetal.(2009),possuicaracte-rísticaspeculiares,poisosempreendimentospodemserruraisouurbanos,baseadosnaopçãodelivreassociação,notrabalhosobosistemadecoope-rativaesendoautogeridos,praticamasolidariedadeentreosmembrosdaorganizaçãoefuncionamcomoumaboaopçãodefontederenda.

Nãosepode,deformaalguma,confundireconomiasolidáriacomcaridadeouaçõesdefilantropia.Singer(1999,2002)afirmaqueaeconomiasolidáriaseexpandedentrodosistemacapitalistacomumolhardiferenciadoparaaspessoas,nascendodanecessidadedosmenosassistidosoudonãoatendimentopelocapitalismodaspopulaçõesmaiscarenteseemestadodevulnerabilidadesocial.Dentrodosistemacapitalista,aeconomiasolidárianãodeclaraguerraaosistema,masutiliza-sedealgunsdeseusartifíciosparagerarrenda,trabalhandocomoumpontodeequilíbriocomigualdadesocialparatodos.

Indicador de rentabilidade = lucroativo total

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ParaZart(2009),existemdiversosatoresdentrodaeconomiadocapita-lismo,eaeconomiasolidáriavemparaseroamálgamaqueintegraosatoresdasociedadevoltadosparaprodução,comercialização,finanças,desenvolvi-mentoepesquisatecnológicaepesquisaemgestãoeconsumopara,atravésdecolaboração,autogestãoesustentabilidadeconseguiradistribuiçãoderendaequânimeentreaspopulaçõesmaisvulneráveisdasociedade.

Épossívelobservaraformaçãodealgunsgruposdeempreendimentosdeeconomiasolidáriaquesedenominaramredesdeeconomiasolidária,ondeoconsumo,compradematéria-primaeserviçoséefetuado,quandopossível,pelarede,fazendocomqueosrecursosgiremdentrodelaenãosejamexpropriadosparaoutrasorganizaçõesvoltadasparaocapitalismoferozeselvagem.Estasredesmuitasvezesoriginam-seemmovimentospelacida-daniaepelademocracianoBrasil.Pode-seperceberentãoqueasredesdeeconomiasolidáriaseformamcomapresençadetrabalhadores,integrantesdemovimentossociais,pessoasdemovimentosreligiosos,componentesdagestãopública,e,segundoHiga(2005),estasredesestãoligadasaquestõesenvolvendocidadaniaeinovação.

Controles financeiros na economia solidária

Para ilustrar os conceitos apresentados nas seções anteriores,são apresentadas conclusões sobre a gestão contábil financeira deempreendimentossolidários,apartirdedadosqueforamcoletadosjuntoaosempreendimentosacompanhadospelaSBCSol.Essesdadosforampes-quisadospormeioderelatosempíricos.

Efetua-setambémumacomparaçãocomrelatoscoletadosemprojetosdesenvolvidospelaUniversidadeMetodistadeSãoPauloemoutrasregiõesdacidadedeSãoBernardodoCampo,emconjuntocomoutrospesquisadoreseapresentadosporBomfaetal.(2011).

Quandoseabordaotemacontroledentrodeempreendimentosdaeconomiasolidáriaoueconomiainformal,aprimeiraimpressãoqueosem-preendedorestêméqueestescontrolesoslevarãoapagarmaisimpostosouaindaqueaformalizaçãolevaráacustoscomcontabilidadeaosquaisosmesmosnãoestavamsujeitosnainformalidade.Istoéumaverdadeemuitosempreendimentosquenãoestãomadurosemrelaçãoaogerenciamentosedesagregamefinalizamsuasoperaçõesporcontadaanálisedomomentoerradoemseformalizar.

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Controles finanCeiros na eConomia solidária

Quandooempreendedoradquireexperiênciaeconhecimentodegestão,ficaclaroqueoscustosdaformalizaçãoe/oucontabilidadefarãocomqueseabraummundonovoemrelaçãoarecursosgovernamentaisebancáriosqueelenãopodiaterpornãoestarformalizado.Aemissãodenotafiscalquandodaformalizaçãoémuitoimportante,poisaumentaemmuitoseuspotenciaisclientescorporativose,assim,oempreendimentopassaafazerpartedeplanosdedesenvolvimentodefornecedoresporoutrascompanhias.

Édesumaimportânciaaseparaçãododebatesobreaformalização,porumlado,e,poroutro,oscustosdacapacitaçãogerencialfinanceiradoempreen-dimento,poisogerenciamentofinanceirodoempreendimentoéindependentedesuaformalização,poiscontrolesfinanceirossãonecessáriosemqualquertipodeorganização,sejaelaformalouinformal,capitalistaousolidária.

Osprimeiroscontrolesobservadosnosempreendimentossãocadernosondesãoanotadasentradasesaídasderecursos,visandochegaraovalorcorretodaretiradadevaloresfinanceirospelaspessoasquecompõemoempreendimento.Nestecaso,écomumaconfusãoentrelucroadistribuiresaldodecaixa.Muitasvezesverifica-sequeovalordistribuídoaosassocia-dosera,emparte,umvalorquedeveriaserprovisionadoparapagamentodefornecedornomêsseguinte,mascomooextratobancáriodeumadaspartesenvolvidasnoprocessoeraoúnicodocumentooficialparaexecutarestapartilha,adistribuiçãoerafeitacombasenestevalor.

Muitasvezes,acapacitaçãoeminformáticaparaoscomponentesdaorganização,eotreinamentoquantoàelaboraçãodeplanilhaseletrônicasauxiliamnacoletaetratamentodedadoscommaisqualidade.Embora,noprojetoSBCSol,asaçõesdetreinamentoaindanãotenhamsidodirecionadasatodososintegrantesdosempreendimentosincubados,aseleçãodealgumaspessoascomumpoucomaisdeconhecimentoefacilidadenotratamentodenúmeros,facilitaráatarefadecontrolarasfinançasdoempreendimento.Odesenvolvimentodessacompetêncianoempreendimentootornarámaisprodutivo,pois,nomomentoemqueocontroleefetivoficaporcontadoempreendimentoomesmoseperpetuaaolongodotempo.

Ocontroledecustosparaestabelecimentodepreçostambéméumapreocupação.Entreosempreendimentos incubados,naquelesquetraba-lhamnoramodealimentação,háumatentativadeprecificaçãocorretadeprodutosalimentíciosatravésdacompraeregistrodaquantidadecorretadematéria-primaparaproduçãodeumdeterminadoalimento.Emboraoscustosindiretosnãotenhamsidocorretamenteimputados,comoenergiaelétrica,

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

gás,entreoutros,verificou-sequeexistiuanecessidadeeoempreendedorsolidárioacaboupordesenvolvermétodosprópriosparachegaraopreçodeseuproduto.

Avendalocalatravésdeinstrumentosdecréditotambémépraticadasemcontrole,pois,nomomentodacobrançadosdevedoresquenãoefetuamopagamentoespontâneo,afaltadecontroleéfatordeterminanteparaqueoempreendedornãoconsigarecebertudooquevendeuacrédito.Asimplesanotaçãoemfolhasoucadernosnãogaranteorecebimentodosvalores,odesenvolvimentodeformuláriossimplescontendoaassinaturadocompradorresolveboapartedosproblemasnomomentodacobrança,ondeocompra-dorreconheceasuaassinaturanoformuláriodevendaacrédito;apesardereclamar,aceitaqueefetuouacompraemmomentoanterior.

NaverificaçãodosempreendimentosdoprojetoSBCSol,quantoaoníveldecapitaldegiro,verifica-sequenasfasesemqueosempreendimentosseencontram,aindanãopossuemavisãoadequadaerefinadadocapitaldegiroedanecessidadedesuamensuração.Algunsempreendimentosobservamque,emalgunsmomentos,nãosobradinheiroparadistribuirparaosassociados,masnãotemcertezaquetaleventoseassociaànecessidadedecapitaldegiroacimadonívelqueoempreendimentopodegerar.

Conclusão

OamadurecimentosdosempreendimentosdeeconomiasolidáriadentrodoprojetodaincubadoraSBCSolocorrerãocadaumaseutempo,umavezquesãodiversosramosdeatividadeseaspessoasassociadasencontram--seemdiferentesníveisdepreparaçãoparageriressesempreendimentos.Poressarazão,osempreendimentosnãopodemsercomparadosatravésdeumaréguaúnicaquantoaotemponecessárioparaasuaconscientizaçãoeposicionamentonaáreadefinanças.

Aimportânciadenivelaroconhecimentoquantoafinançasentreosempreendedoresincubados,bemcomoagestãodeseleçãodepessoasparadesenvolverasrotinasfinanceirasémuitoimportanteparaosucessodosempreendimentos.

Oacompanhamentododiaadiafinanceirodosempreendimentos,atra-vésdeassessoriatécnica,dentrodoprojetodeincubação,tambéméimpor-tante.Nessesentido,existemdificuldadesnaobtençãodedadosfinanceirosdealgunsempreendimentos,peloníveldeconfiançaqueénecessárioexistir

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Controles finanCeiros na eConomia solidária

entreoincubadoeotécnicoqueoassessoranesseprocesso.Éimportanteenfatizarqueaconfiançaéumfatorquevaisendodesenvolvidoaolongodotempo.Adesorganizaçãoderegistrosnosempreendimentoséoutrofatorquedificultaaimplementaçãodessescontroles.

Apartirdomomentoquesedesenvolveummodeloempapelouemplanilhaeletrônica,oempreendimentodeveseapropriardesteconhecimentocomoseueteraconsciênciaqueistoauxiliarátantonaperpetuaçãodone-gócioaolongodotempo,comotendeamelhoraratransparênciaemelhordistribuiçãoderecursosparaosassociados.

Umasugestãoparanovosestudospodeserodesenvolvimentodenú-merosíndicesparaosdiversosempreendimentosdeeconomiasolidária,comalgumasaçõesaserempraticadasquandooindicadorficarabaixoouacimadaqueleponto-chave.

Referências

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HIGA,W.As redes de economia solidária:convergênciasedivergênciasentreacidada-niaeainovaçãotecnológica.2005.Disponívelem:<http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/primeirosimposio/completos/willianhiga.pdf>.Acessoem:17fev.2011.

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ZART,L.L.etal.(Org.).Educação e socioeconomia solidária:processosorganizacio-naisesocieconômicosnaeconomiasolidária.Cáceres:Unemat,2009.(Sociedadesolidária,v.3).

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* Graduada em Desenho Industrial pela Faap e pós-graduada em Gestão da InovaçãopeloSenac.Atuahá12anosutilizandoodesignemprojetosculturaisedegeraçãodetrabalhoerenda,comprocessoscriativoscoletivosaplicadoàarte,aodesenvolvimentodeprodutosemodelosdenegócios.ÉmembrodaSBCSol.

A importância do tema inovação na SBCSol

Renata Mendes*

Ainovaçãoprecisaserumsistema:trata-sedeumprocessoparasetornarinovador,enãoparasimplesmenteinventarumprodutoespecífico.Emboraosprodutostenham

dominadoanossanoçãodeinovação,ovalorduradouroécriadopormeiodeumnovomodelodenegócios,capazderecombinarasideiaseinvençõesjáexistentese

criarumnovovalor.(KOULOPOULOS,2011,p.59).

A inovaçãoépercebidacomovantagemcompetitivaparaasempresas,comovaloreconômicoemumcampoondecadavezémaisdifícilsediferenciaremportiposdeprodutos.Inovarnãotemnecessariamente

avercomgrandesrevoluções,mascomumolharatentoparaoambienteinternoeexternodonegócio,paraquesepossamtomarmedidasdesobrevi-vênciaediferenciaçãodaconcorrênciaquesejamestratégicaseproporcionaisàspernasdaempresa.Essasmedidasestãorelacionadasaodesenvolvimentodecompetênciasdinâmicas(adaptáveisàsmudançasdecenário)eàaloca-çãoderecursosedecompetências,deformaaexplorarasoportunidadesqueaparecememsituaçõesadversasereduzirameaçasemumambientedeconstantemudança.

Ainovaçãonãodeveserumaatividadelocalizada,quedizrespeitoape-nasaoCEOouaumsetorespecíficodaempresa.Opensamentoinovadornormalmenteéimpulsionadopelosgestores,maspodeedevesercapila-rizado,envolvertodasaspessoasdeformamultidisciplinareseconfigurar

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

comoumprocessointegradoàrotina,capazdefomentarconstantementeacontribuiçãodenovasideias.Masageraçãodeboasideiasnãobasta.Aliás,seaorganizaçãoforumceleirodeideias,semfôlego,nemcritériosparase-leçãodessasideias,semfeedbackaosdonosdasideias,esemrecursosparadesenvolvimentodassoluções,muitoprovavelmenteamaravilhosainiciativadeincentivaracriatividadeparticipativadoscolaboradoresseráfrustrada,porqueoqueaspessoasverãoseráummontedeesforçojogadonolixo,semaomenosteroretornodeumaavaliação.

Ainovaçãoestáligadaàcriatividade(capacidadequetodosnóstemos),masnãodependesomentedegerarideiasedepensardeformasdiferentessobreummesmoproblema.Se invençãoéacapacidadedetransformaraideiacriadaemprática(atravésdemodelos,rascunhos,maquetes,protótipos),inovaçãoéaintroduçãodainvençãonomercado,queresultanamaximizaçãodovalordaempresa.Todososconceitos–criatividade,invençãoeinovação–pressupõemalgumgraudemelhoriaemrelaçãoaoqueexiste.Ouseja,inovadornãoéterboasideias,éterboasideiasimplementáveisegeradorasdevalorparaaorganização.Essecaminho–daideiaaosucessodasoluçãoimplementada–exigetempo,recurso,metodologiadetrabalho,tolerânciaaoerro,critériosdeavaliaçãoecrençadosenvolvidos,considerandoqueocampodainovaçãoénecessariamenteocampodaincerteza.

Éimportantedesmistificarainovaçãoparademocratizá-lacomoinstru-mentodetransformação,quetambémacontecealémdasesteirasdeproduçãoequenãoestárestritaaosambientescorporativosouàsnovastecnologias.Éumprocessodegestãosólidoeresiliente,queexigeinstrumentos,regrasedisciplinaparaserpostoempráticaeterseusresultadosmedidos. Issosignificaqueinovarrequersistemasdeimplementação,avaliaçãoeincentivosparaquepossaproporcionarrendimentosconsideráveisecontinuados.

Nãoépossívelgerenciaroquenãoépossívelmedir.Mediréfundamentalparaqueainovaçãodêresultados,porquepartedacompreensãodaviabili-dadedonegócioeconheceasbarreirasedesafiosatranspor.Seinovarestánocampodaincerteza,éatravésdaconstruçãodeindicadoresqueaequipedetrabalhotemdireçãoemotivação.Osindicadoresdãosubsídioparasealcançarasestratégiasplanejadas.

Oincentivoàgeraçãodeideiaseaoscomportamentosinovadoresnãoénecessariamentefinanceiro.Hámuitasempresasqueapostamnoreconhe-cimentodoindivíduooudaequipecomorespostaaumaboacontribuiçãofeita.Oincentivotambémpodeestarnaclarezadetrabalharporumacausa

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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol

forte.Aliás,amotivaçãodaequipeeseufoco,alinhadoàmissãodaorgani-zação,sãoespecialmenteimportantesemtrabalhosvoltadosparaageraçãodetransformaçõessociais.Asaçõesempreendedorasbaseadasnaconstruçãodesoluçõessustentáveisparaosproblemascoletivos,especialmenteosre-lacionadosàdiminuiçãodapobreza,nãosemantêmpelabandeiradoapelo(causarpena,pedirajudaemproldodesfavorecido)ousódaboaintençãodequemtrabalhapelacausa.Éporissoqueaimplementaçãodaincubadoradenegóciosdaeconomiasolidáriasignificaaconstruçãoestratégicadeumempreendimentosocialqueapoiaráaformaçãodeoutrosempreendimentoseinclusãodessesnaeconomia.É,literalmente,acriaçãodeummodelodenegócioqueviabilizeaformaçãodeoutrosnegócioscomoalternativasdeinclusãosocial,culturaleeconômica.Nessesentido,faz-senecessárioter,emprimeirolugar,umacausalegítimaquemobilizecrenças,mastambémahabilidadeorganizacionaldereunir,planejarecombinarosdiferentesmeiosparaprovocar,efetivamente,transformaçõessociais.Issolevandoemcontaasfragilidadesdoscontextosinternos(conflitosinterpessoais,saídasdepessoas--chave,poucaaderênciaàcausa,etc.)easincertezasdocontextoexterno(mudançaspolíticas,mudançadefocodosapoiadores,etc.).Issoquerdizerquetransformaçõesimprevistasmuitoprovavelmenteacontecerãoduranteopercursodoprojetoeésaudávelparaaorganizaçãoqueelaspossamservistascomooportunidades.

Pormaisquesetentedefiniremumafaseprojetualocaminhoentreteraclarezadoproblemaeasoluçãocriada,essepercursopodemudar.Paralidarcomissocomoumdadoderealidade,énecessárioqueaequipeencareograudeincertezaquegeraincômodoeinsegurançacomoapossibilidadedeseterresultadosmelhoresdoqueosprevistosnopapel.Aequipeteráessapossibilidadeseagestãodoprojetoforinovadoraapontodecontrolarosbalizadores,ouseja,aquiloquenãoéflexívelcomocusto,escopoetempo,emanterativooclimaorganizacional,ondeosvaloresdoprojetoaderemaosvaloresintrínsecosnaspessoas.Hácampoparainovarquandoascompetên-ciasessenciaisdaorganização(comoelasediferencia,ondeinvestiuparaserreconhecida)estãoalinhadascomodesenvolvimentodecompetênciasdaspessoasquefazempartedoprojeto,tantoequipedetrabalhoquantoparcei-ros,clientesoubeneficiários,entendendo-secompetênciacomooconjuntoformadoporconhecimento(competênciatécnica),habilidade(saberfazer)eatitudes(comportamentos).Cabeàincubadora,emsuaestruturaçãocomoempreendimentosocial,auxiliarsuaequipeasedesenvolveralémdesuas

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habilidadestécnicas,poisparaaformaçãodeoutrosempreendimentososprofissionaisnecessitarãodesenvolvercapacidadederelacionamento,lide-rança,criatividadeerealização,controleemocionalesensodeoportunidade.

Acapacidadedeinovartemavercomdisposiçãoparaorisco,mesmacaracterísticaquesustentaoempreendedorismo.Empreendedoresfazemusodeconhecimentotácitoeexplícitonaconstruçãodealgoemumcenáriodesconhecido.Visualizamapossibilidadedesairdocampodo“planejaraaçãocomoreaçãoaumasituação”epassamaocampodaproatividade,ondeseinfluenciaofuturo.Aquiaadversidade1évistacomooportunidadeparacriarnovassoluções,inclusivenovosnegócios.Háaquelevelhoprovérbiochinêsquediz“Sederesumpeixeaumhomemfaminto,vaisalimentá-loporumdia.Seoensinaresapescar,vaialimentá-loportodaavida.”Quemsabeapartirdessepontonãosejapossívelaprenderamontarumapeixaria,ouaprimoraraoportunidadeeformarumacooperativadepescaparapoderimpactarmaisgentealémdopescador?

Oresultadopercebidodainovaçãopodedemoraraaparecer,porqueainovaçãonãoéfeitasóemgrandeescala,comgrandeimpactorevolucionário.Elapodeestar,comonahistóriadoensinarapescar,emaçõesmuitosimpleseacessíveis,emmudançasmiúdasqueporseremincorporadasàvida,con-taminandoeinspirandooseuredoratambémsedisporàmudança.Sãoaschamadasmicrorrevoluções,ondeasomadeumgrandevolumedepequenosimpactossãocapazesdetransformaraspessoaseosistemaemquevivem.

Ainovaçãonãoéobrigatoriamenteumarevolução,maspodechegaraser.Esseéoestágiomaisaltodaintensidadedosresultados.Nooutroex-tremo,ainovaçãonãodeveserconfundidacomsimplesmelhoria.Mesmocomimpactospequenos,eladevetrazerumanovaexperiência,atéentãodesconhecidaparaqueméobjetodaação.Háduasprincipaisclassificaçõesparaaintensidadedainovação:

1 OQuocientedeAdversidade(QA)foidesenvolvidopeloeconomistaecomunicadororgani-zacionalamericanoDr.PaulStoltzpesquisador,nosúltimos30anos,detemasrelacionadoscomacapacidadedaspessoasderesistiremaacontecimentosquelhesimpactamavida.Dr.Stoltzescreveuumlivrosobotítulo“TheAdversityAdvantage”,queemtraduçãoli-vresignifica“AVantagemdaAdversidade”.Emresumo,dizqueacapacidadederesistiraimpactosouadversidadeséumaformaracionaldereação,ouseja,detransformarumapossívelfraquezaemoportunidade.Fonte:Quocientedeadversidade(QA)–QualidadeBrasil–portalbrasileirodegestão.

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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol

• InovaçãoincrementalRefletepequenasmelhoriascontínuasemprodutosouemlinhasde

produtos.Geralmente,representampequenosavançosnosbenefíciosperce-bidospeloconsumidorenãomodificamdeformaexpressivaaformacomooprodutoéconsumidoouomodelodenegócio.

Exemplo:evoluçãodoCDcomumparaCDduplo,comcapacidadedearmazenarodobrodefaixasmusicais.

• InovaçãoradicalRepresentaumamudançadrásticanamaneiracomooprodutoouserviço

éconsumido.Geraquebradeparadigmasegeralmentemodificaomodelodenegóciosvigente.

Exemplo:evoluçãodoCDdemúsicaparaosarquivosdigitaisemMP3.Hádiversasmaneirasdeinovar.Épossívelencontrarnaliteraturaaino-

vaçãorelacionadaà:• criaçãodeum novo modelo de negócio ou de uma nova organi-

zação dentro do setor (comoaconstituiçãoderedesdeempre-endimentos);

• implementaçãode inovação social,queserefereanovasestra-tégiasnodesenvolvimentodeconceitos,processos,produtos,serviçosemodelosdenegóciosqueatendamanecessidadessociaisdetodosostipos:dascondiçõesdetrabalhoeeducaçãoatédesenvolvimentodecomunidadesequalidadedevida;

• introduçãodeumnovo produto ou serviço (oudeumanovaqua-lidadedesseproduto/serviço);

• introduçãodeumnovo método de produção;• aberturadeumnovo mercado (jáexistenteounão);• conquistadeumanova fonte de recursos.

Napráticaépossívelrelacionarmaisdeumamaneiradeinovar.Àsvezeséatéimprescindívelquesejamrelacionadas.Amudançaemmodelodenegó-ciopodeimplicaremmudançanosprodutoseserviços.Asbarrasdecereais,porexemplo,inicialmentefocadasnosatletas,hojesãoconsumidasporumpúblicoamplo,eporissooferecemvariaçõesdesaborescomcoberturadechocolate,atéimitandosobremesas“não”saudáveis.(KOULOPOULOS,2011;PRABHU;AHUJA;RADJOU,2012;OSTERWALDER;PIGNEUR,2009).

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Incubadora SBCSol: inovação no modelo de negócio para amplitude dos impactos sociais

ASBCSolé,emsuaconcepção,umprojetoinovador,considerandoqueinauguraumnovosistemamistodegestãoformadopordoisagentes:ogo-vernomunicipaleauniversidade.Asincubadorasbrasileirasnormalmentesãoimplementadasporumououtro:universidadeougoverno.Nessesentidotemsidofundamentalalinharconstantementeexpectativaseobjetivosdosdoispontosdevista,paraque,aoseaprenderfazendoessenovomododefuncionar,sepotencializeomelhordecadaexpertise.

Oempreendimentosocial,nessecasoformadoporagentesdogover-noedaeducação,precisamestardisponíveisparasetornaremumaformaorganizativainovadora,poisaampliaçãoediversificaçãodoespaçoemqueatuamimplicamemrealinhamentodevaloresemodosdeoperar.SegundoRosaMariaFischer(2011),esteé,provavelmente,omaiordesafio,porqueparaenfrentá-lonãobastamasinovaçõestecnológicas,osaperfeiçoamentostécnicoseasmodernidadesdecomportamento;eleexigeumprofundoen-volvimento“decoraçõesementes”comodesejodetransformaçãosocial.

Todobomprojetoimplementadonãoénecessariamentearealizaçãoliteraldesuapropostaescrita.Umprojetorealistaévivo,perseguesuasmetasàluzdainteraçãocomseusbeneficiáriosedocontextoemqueestãoinseridos,aolongodarealizaçãodoprojeto.

AinovaçãoapareceexplicitadanocorpodoprojetodaSBCSolcomometaparamelhoriadeprodutoseprocessosdeproduçãodosempreendi-mentosincubados.Aconteceque,aoserlançadooedital2parainscriçãodosempreendimentosem2012,amaioriainteressadanãotinhamaturidadede

2 AincubadoraSBCSoltemcomoprincipaismetasestimulareassessoraracriação,odesen-volvimentoeaexpansãodeempreendimentoseconômicossolidáriosnacidade;estimularaproduçãointelectualeoavançoconceitualetecnológicosobreotemaefomentaraconstituiçãoderedesdeproduçãoecomercializaçãosolidárias.ÉuminstrumentopúblicodefomentoàeconomiasolidárianacidadedeSãoBernardodoCampo,frutodaparceriaentreaUniversidadeMetodistadeSãoPauloeaPrefeituraMunicipal.Visaaodesenvolvi-mentodeempreendimentoseconômicossolidáriosdossegmentosdereciclagem,pesca,hortaurbana,alimentação,artescênicas,artesanato,costuraemetalurgia,comomeiosgeradoresdetrabalho,rendaecidadania.EssasinformaçõesfazempartedaPesquisaEm-preendedoresbrasileiros:Perfisepercepções,divulgadaemfevereirode2013pelaequipedaEndeavorBrasil,comoapoiodaIbopeInteligência.

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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol

seupróprionegócio.Aliás,muitosgruposeramtãoincipientesenquantoempreendimentos,quesecaracterizavammaiscomoum“ajuntamento”depessoasqueaindaestavamdelineandoseusinteressescomuns,doquecomoumcoletivodetrabalho.Deu-seaíoprimeirodesafiodaincubadora:sele-cionarapenasospoucosgruposjácaracterizadoscomoempreendimentoseconômicosouadequarseuescopodeaçõesparaestruturarnovosnegóciosapartirdarealidadedamaiorpartedosinscritos.Foiinovadoroptarporcriarnovassoluçõesdeincubaçãoapartirdasituaçãoadversaconstatada,porqueumdadoderealidadequenãotemumarespostaconhecidaoportunizaex-perimentarumanovaformadefazer.

Aescolhasedeuafavordomelhorbenefíciopúblico:somaroconhe-cimentoqueaPrefeituratemsobreascaracterísticasdeseusmunícipeseasarticulaçõesestratégicascomaspolíticaspúblicas,comautilizaçãodosconhecimentosespecíficosdauniversidadenasáreasdeadministração,psi-cologia,direito,gestãofinanceira,gestãoorganizacional,nutrição,engenhariadeprodução,design,pedagogiaecomunicação.

Auniversidade,queviabilizaoprogramadeaçõescomtécnicos,pro-fessoresealunos,criasuasaçõesespecialmentepensadasparaopúblicodoprojeto:pessoasquesãoempreendedorespornecessidade,excluídasdomercadoformaldetrabalho,comexpectativadeganhosimediatoseregulares,semexperiênciaemnegócio,semfôlegofinanceiroparainvestireaguardarotempodoretorno.

Empreendedores sem preparo para empreender

NãoénovidadequeesseperfildepúbliconãoéexclusividadedeSãoBernardodoCampo.Emtodocantodopaísháprojetosdegeraçãodetrabalhoerendarealizadosporgovernos,instituições,ONGsquebuscamminimizaroabismoexistenteentreodesejodacarteiraassinadacomo“garantia”deestabilidadefinanceiraeafaltadeoportunidadesformaisdetrabalhoparapessoasforadomercadodetrabalho,muitoscombaixaounenhumaescola-ridade,commuitasmãesnopapeldearrimosdefamília.

SegundopesquisarealizadapeloInstitutoEndeavorBrasilem20133,oBrasiléosegundopaísdomundoemvontadedeempreender,ficandoatrás

3 Endeavoréumaorganizaçãointernacionalsemfinslucrativosquevisaimpulsionaroem-preendedorismodealtocrescimentoempaísesemdesenvolvimento.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

apenasdaTurquia.AamostradaEndeavorrevelaquetrêsemcadaquatrobrasileirosprefeririamterumnegóciopróprioaserempregadooufuncionário.Umdosprincipaisimpedimentosparacomeçar,segundoapesquisa,éafaltaderecursosfinanceiros.Entreaquelesqueachampoucoprovávelempreendernofuturo,66%dizqueestaéaprincipalrazãoparaisso–umdosmaioresíndicesemtodoomundo.

Emborahajavontade,hápoucoplanejamentoparaaação:noBrasil,ou-trosriscosdaatividadeempreendedoraparecemsersubdimensionados,comoperderapropriedade,falirougastarmuitaenergiaoutempodetrabalho.Umaprovávelcausadessecomportamentoestánoperfildessesempreendedores.Segundoapesquisa,obrasileiro,empreendedorounão,temumgrandedéficiteducacionalasuprir,mesmoaquelecomnívelmaisaltodeescolaridade.Issoseevidenciaquandosãorelacionadosaosprincipaisproblemasdocotidianodoempreendedor,trêsdelesligadosàfaltadeconhecimento:emgestãodepessoas,emfluxodecaixaecomoadministrarumnegócio.

Outropontoimportanteéoacessoàsfontesdeconhecimento.Apes-quisaapontaqueempreendedoresformaisutilizamtelevisão,jornais,revis-taseinternet,enquantoempreendedoresinformaistendemaacompanharasnovidadessomenteatravésdatelevisão,sendoquequase60%diznãoacessarainternet.

Diantedessecenário,apropostadaSBCSoldefomentarainclusãodeumaparceladapopulaçãolocalvulnerávelnãosódizrespeitoaosaspectossociaiseeconômicos.Opúblicoincubadosofreafaltadeculturaempreen-dedora,demodelosinspiradores,doexercíciodeplanejarerealizar.Osem-preendedores,nessecaso,sãomobilizadospelapaixãopeloquesabemfazer,pelanecessidadedeganhos,pelasoportunidadesquesurgemaosejuntarememumcoletivooupelafaltadeoutrasopçõesdetrabalho.

Seoacessoàsfontesdeinformaçãoéumfatorimprescindívelaopreparodoempreendedor,háquesepensaremcriarmaneirasdeabordarconteúdosrelevantescomlinguagemacessívele,alémdisso,despertarnopúblicooin-teressepeloconhecimento.Nãoésóumaquestãodegeraraoportunidade,porqueaoportunidadepodenãoserpercebidacomoalgobom,desejávelenecessáriodopontodevistadopúblico-alvo.

Afactibilidadedoprojetoestáemdescobrirospontosdeconexãoentreosconteúdosnecessáriosdoempreendercomossonhosdecadaindivíduo,suasnecessidades,osaberfazerdoempreendedor,osrecursosqueeleécapazdeacessaresuacapacidadedeseenvolvererealizar.

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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol

Aindaháqueseestabeleceressaconexãocomoindivíduodentrodeumplanocoletivo,ampliandoperspectivasparaoalcancedeobjetivoscomuns,quepossivelmenteterãomaischancesdesucessoserealizadoscomasomadascompetênciasdostrabalhadoresdoempreendimentoeconômico.

Comospontosrelevantesemvistaeconectados,é importantecriarumfiológicodeimplementaçãodasações.Issoporqueamemóriaécurtaeagentetendeaesquecerporqueestamosmexendocomessesassuntosequaléarelevânciadelesparanossointeresseimediato.Alémdisso,umaabordageminovadoranaimplementaçãodeaçõesparacriarsoluçõesparadeterminadoproblemapercebidofazummovimentodivergenteeconver-genteotempotodo,sucessivamente.Divergenteporqueampliaapercepção,asbasesdepesquisa,acognição.Oolhardivergentebuscaaquantidadedeinformaçõesparaconstruirapercepçãodaoportunidade,enãoaespeci-ficidade,arespostaaoproblema.Essesmomentosdeabrangênciapodemdarasensaçãodeperdadefoco,de“paraquemesmoestouaprendendoisso?”.Porissoéimportanteresgataramemóriadosrecursosaprendidosecomoaconexãoentreelesinstrumentalizaoempreendedorpararealizarofuturodesejado.

Comesseolhartreinadoemunidodeinformaçõesrelacionáveiséhoradeconvergir,defazerasmelhoresescolhas,decriaralternativasderespostasparaoproblemaeexperimentá-lasnaprática.

Quantoàcompreensãodoqueéinovar,paraosempreendedoresaindahápercepçõesmuitorasas.EmdiagnósticorealizadopelaSBCSol,osgrupos,emsuamaioria,sereconhecemcomoinovadoresporquefizerammodifica-çõesemseusprodutosouinventaramumanovaembalagem.Repensarseumododeproduzir,suaestruturadegestão,ou,alémdisso,questionarseumodelodenegócio(paraosquetêmumnegóciodefinido)nementraemquestão.Cabeaquinãosódesmistificarainovaçãoeampliarapercepçãodeseusignificado,mastambémaprenderapesquisarastendênciasglobaisdeoportunidadesdenegócios,tãobemcaptadaspelomercadovigente,eutilizá-lascomoferramentadeinovaçãosocial.

Osempreendedoresincubadossentemorgulhodoquefazem,maslhesfaltaolharocontextoexternoaoseunegócio,lhesfaltaampliarasreferênciasdeconcorrência,deprodutosouserviçossimilares,dainsatisfaçãodeconsu-midorescomoqueéoferecidopelomercado,oudastendênciasapontadaspelomercadomaisamplo,quevãoalémdoqueoempreendedoracessaemseucírculodeconvivênciaouassistindotelevisão.Temqueseaprendercom

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

omodelodenegócioempresarialapesquisareaousar,medindodeformarealistaosriscoseopotencialdonegócio.Umnegócioinclusivo,formadoembasessolidárias,prosperará,comoqualqueroutroempreendimento,quandoestiversuficientementemaduroparaassumirriscoscombaseemestratégias.Entendendoestratégiacomoumconjuntodeelementosfocadosnamissãoevisãodaempresa,formadaporintençõesprecisas,compartilhadaentreaspessoas,capazdeconfigurarumambientemaisestávelecontrolável.Acom-preensãodosempreendimentosdequemudarumaembalagemouadaptarumprodutoàstendênciaspercebidasdemercadoéumaaçãoinovadoraestádesprovidadepensamentoestratégico.

Osempreendimentoseconômicosemquestãosofremdeumacontra-dição:têmorgulhodoquefazem,massesentemfrágeisedesvalorizadosquandonãogeramvendaounãotêmreconhecimentoexterno.Porumladosãoorgulhososdoquesabemfazerehipervalorizamissocomrelaçãoaoqueconseguemobservardesemelhantenomercado.Nãofazempesquisasignificativa,nãoinvestememnovasformasdeproduzir.Nãodesenvolvemparâmetrosamplosdecomparaçãodequalidade,decapacidadedeatenderàsdemandasdemercadoouatédeantecipá-las.Eentãosefrustramousãoengolidos,porquenãoforampensadosparafuncionarnaeconomiavigente.Poroutrolado,apesardaautovalorizaçãoedoorgulhodesuaexperiência,faltacompreensãooucoragemparainvestirtempoetrabalhonacriaçãodealgorealmentenovoemseunegócio,quepossivelmenteaumentariasuaviabilidadecomercial.Afaltadevisãoamplaecríticadesi,quede-veriaserparametrizadapelaobservaçãodoqueacontecenomundo,fazcomqueessesempreendimentosfiquemestáticos,esperandodogovernoedeoutrosapoiadoresassoluçõesprontasparaseusproblemas.Aliás,namaioriadoscasos,oproblemaemsuaintegridadesequerépercebido.Osempreendimentosreclamamdefaltadeapoioparaqualificaçãotécnica,deinfraestrutura,demaquinário,deferramentasedeoportunidadesdecomer-cialização.Essaúltima,emespecial,épercebidacomoograndeobstáculoparaosucessodoempreendimento,masavendadeprodutoseserviçosésóapontadoiceberg.Embaixodoqueéaparente,háumuniversodeconhecimentonecessárioaserdesenvolvido,quecomeçapormapearoporquêdaexistênciadoempreendimentoeopotencialdesuaviabilidadeeconômica.Essadiretrizabreoportunidadesparanovosnegócioseparanovasformasderepensaroempreendimento.

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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol

Processo de educação e o comportamento inovador

A única forma de aprender é pelo encontro.MartinBuber

O sujeito se constrói na atribuição de significado ao conhecimento coletivamente produzido. Só aprendemos realmente

aquilo que usamos.EscoladaPonte

Todosnascemoscriativos,masaolongodavidaaprendemosoude-saprendemosaserhábeiscriadores.Consolidamosmodosdeoperarqueevitamoerro,portantonosdispomosmuitopoucoàsexperimentaçõeseàsmudanças.Masépossíveldesconstruirparaconstruirmelhor,comnovasperspectivas,potencializandoasprópriascompetências.Apropostadeincu-barumnegócioimaturoouquedeuerradoeprecisaserrepensado,ouqueaindaéapenasumdesejodenegócioimplicaemesbarrarnainstabilidadedacrençadaspessoasnoseuprópriopoderderealização.Opotencialinovadordesseprojeto–criaralternativasdetrabalhoerendaparapessoasmovidasporsuasnecessidadesedesejos,excluídasdomercadoformaldetrabalhoedespreparadasparaempreender–sematerializaapartirdeumaconstruçãometodológica,capazdesertestada,ajustadaemultiplicada.

AmetodologiadeaprendizagemdaSBCSoladotacomobasespedagógi-casaEducaçãoPopulareoDesign Thinking.PeloviésdaEducaçãoPopular,doeducadorPauloFreire,entende-seopúblicocomoagentedesuaprópriaconstruçãodoconhecimento.Osconteúdosrelacionadosàformaçãodeumempreendimentoeconômicosãointroduzidosapartirdoqueaspessoassabemedosrecursosqueelasacessam.Assimcomoditamospilaresdaedu-caçãodeJacquesDelors4,oconhecimentodaincubaçãoéconstruídosobreacrençadequeénecessário:aprenderaconhecer,aprenderafazer,aprenderavivercomosoutros,paraentãoaprenderaser.

ODesign Thinkingadereaessaconstrução,mostrandoqueatravésdeprocessoscriativosépossívelresolverdesafios,inclusivesociais,demaneirainovadora.ODesign Thinkingestimulaoolhar investigativo,ondeémais

4 OsquatropilaresdaEducaçãosãoconceitosdefundamentodaeducaçãobaseadonoRelató-rioparaaUnescodaComissãoInternacionalsobreEducaçãoparaoSéculoXXI,coordenadaporJacquesDelors.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

importantefazerperguntasparadepoisdescobriramelhorrespostadoqueterpressadeencontraraprimeiraresposta.Juntas,essasbasesdirecionamaincubaçãodemaneiraqueoconteúdo,apesardeterumaestruturapreesta-belecida,éconstruídoapartirdasdemandas,dasrespostasedaparticipaçãoativadosincubadosedaequipedetrabalho.Éamaneiramaiseficazcriadaparaoferecerumaformaçãodenegóciorelevanteeacessívelparaquemtempoucaounenhumamaturidadecomoempreendedor,masquedesejaeprecisareinventarsuaformadetrabalho.

NoDesign Thinking(BROWN,2010;VIANNAetal.,2012)sefazusode:• empatiaparaacessaropúblicodeformanaturaleverdadeira;• experimentaçãoparaconstruirsoluçõesbaseadasnarealidadeda-

quelecontextoenascompetênciasdosenvolvidos;• colaboraçãoradicalparaqueainteraçãoentrediferentescompe-

tênciasgeremsoluçõesinovadoras,inclusivenascidasdosconflitosentreasdiversasvisõessobreoproblema.

Énapráticaquesefazfluiroconhecimento.Ointeresseemaprenderédespertadoporseacharsentidoeaplicabilidadedoassuntoabordadonavidadoaprendiz.Seapessoanãoperceberoimpacto,paraelanãofarásentidomudar.Porissoénecessárioenvolverequipedetrabalhoebeneficiáriosemaçõespráticasdeestruturaçãodosempreendimentos.Assoluçõesnãoestãoprontasemummanualouumlivrodereceitas,elasdependemdecopartici-paçãoesensoderesponsabilidadeparaexistir.

Incubar,paraaSBCSol,temavercomummodelonãoformaldeedu-cação,ondesedesejaprovocarumainfluênciaintencionalnavontadedemudançadoincubado.Ummecanismoéidentificarasliderançasetrabalharodesenvolvimentoefortalecimentodelas(seucarisma,seusvalores,suashabilidadesdegestão)paraquesejamespelhos,exemplosaseremseguidos.Asliderançassãocapazesdepropiciarambienteparaqueaspessoassesintamcapazesecomprometidasepotencializamo“efeitoviral”,ouseja,quandooobjetivoétãoclaro,sedutorecondizentecomasexpectativasdosintegran-tes,aspessoastêmvontadedeestardentroefazeracontecer.Nesselugarháconsciênciadequeoresultadodasuaaprendizagempodemudaroseufuturo.

Asprimeirasaçõescomosgruposincubadosforamtrêsetapasdediag-nóstico,ondeseavaliaramasrelaçõescooperativas,aestruturadeproduçãoearelaçãodogrupocomseumercadoconsumidor,chamadasrespectivamen-tede:dimensãoassociativa,dimensãoeconômicadeproduçãoedimensãoeconômicademercado.Paraaplicá-las,utilizaram-sefigurasquefacilitaram

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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol

odiálogoeainteração.Maisdoqueumjogodeperguntaserespostas,odiagnósticoobjetivouestimularosintegrantesdosempreendimentosasesoltarem,afalaremdesi,desuasexpectativas,deseussonhos,doqueachamquetêmeoquefalta.Elesfizeramessasanálisesatravésdecores:vermelhoparaoqueéinexistenteouestáruimnoempreendimento;amareloparaoqueprecisamelhorareverdeparaoqueconsiderarambemencaminhado,resol-vido.Oresultadododiagnósticodirecionouoplanodeaçõesdaincubadora.

Figura 1 – Construção de plano de trabalho a partir do diagnóstico

Fonte:RelatórioSBCSol.

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Figura 2 – Tabela de norteadores de conteúdos da incubação

Fonte:RelatórioSBCSol.

Ostemasabordadosnodiagnósticopercorremtodooprocessodeincu-bação,desdobrandocadaaspecto,conformeaevoluçãodaaprendizagemeaaplicabilidadenaprática,nomomentoadequadoparacadaempreendimento.

Aincubaçãobuscadesenvolvernosempreendimentosopensamentosistêmicoparaquesepossa“verdelonge”eenxergarasconexõesentrepla-nejamento,ações,objetivosemetas.Esteúltimocomoestágiomaisconcreto,ondeseatribuemnúmerosaosobjetivos(prazos,quantidadedeinvestimento,perspectivaderetorno,etc.).Comotendemosarepetiroqueconhecemosesomostemerososdofracasso,poucoestamosdispostosasairdenossazonadeconforto.Conhecer(ereconhecer)aempreitadaemumnegóciocomoumciclodevida–implementação,crescimento,maturidade,declínioereinvençãodonegócio–oportunizaadescobertadepossibilidadesinovadorascompa-tíveiscomoquedesejamosrealizar,comoqueétecnicamentepraticávelefinanceiramenteviável.

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A importânciA do temA inovAção nA SBcSol

Figura 3 – Diagrama de intersecção entre desejo, praticabilidade e viabilidade

Fonte:KitdeFerramentas–HumanCenteredDesign(IDEO,2013).5

Saindo da zona de conforto

Porcausadafaltademodelosedeconhecimentosespecíficos,davisãodequeconflitoédesgastantee,portanto,deveserevitado,osempreendimen-tosforjaramsuaprópriamaneiradefuncionar,muitasvezes“empurrandocom

5 HumanCenteredDesign(HCD)éumkitdeferramentasresultadodeumprojetofinanciadopelaFundaçãoBill&MelindaGates.ABMGFassociouquatroorganizações–IDEO,IDE,HeiferInternational,eICRW–naparceriaparaacriaçãodeummétodoqueservissecomoguiadeinovaçãoedesignparapessoasquevivemcommenosdedoisdólarespordia.Apublicaçãopodeseracessadagratuitamentenosite:<http://www.ideo.com/work/human--centered-design-toolkit/>.

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abarriga”asinsatisfaçõesnasrelaçõesdetrabalhoecompoucoounenhumretornofinanceiro.Mesmoassim,diantedapropostaderepensaroempre-endimentoeavaliarsuaviabilidadeeconômica,aparecemos“matadores”deideias.Novaspossibilidadessãoeliminadasantesmesmodeamadureceremquandoosempreendedoresadotamaposturadanãomudança.Pormedodearriscar,deterqueseresponsabilizarporsiepelooutro,deficarpiordoqueestá,asprimeirasbarreirasàinovaçãoaparecememrespostasdotipo:“Issojáfoifeitoantes”;“Nãovaidarcerto”;“Nãovaifuncionar”;“Vaidemorarparaserimplantado”;“Nãotemostempo”;“Ninguémtemcompro-metimento”;“Custarácaro”;“Issoéparaofuturo,nãoparaagora”.Ocaminhoescolhidoparafomentaroenvolvimentodosincubadoseacessarsuacrençanamudançafoiodoaprenderfazendo(learning by doing)6,quepropõeaconstruçãodoconhecimentodeformaespiral7,nãolinear,ondecadaetapavividaéreexperimentadaemummomentoposterior,diantedanecessidadedeumnovodesafio.Deformacrescente,oempreendedortemaoportunidadedeaprenderomesmoassuntoemfasesdiferentesdesuamaturação.Issopotencializaaefetividadedosresultadosporquepropõeaaprendizagemdeformanatural,orgânica,quesesobrepõeàsequênciadepassosordenados.Namedidaemqueoempreendimentovivenciaapráticadonegócio,eleécapazdelidarcomdiferentescomplexidadesdostemasabordados.

Essaéumamaneiradeircolecionandoeincorporandoconhecimentoesóéefetivaseforprática.Poucoapoucovaisequebrandoaresistênciaàexperimentaçãodonovo,porquenocompartilhamentodeexperiênciasemgrupoépossívelseespelharnooutro.Quandoacoragemdeexperimentarummododiferentedefazertrazparaquemfaz, independentedeerroseacertos,asatisfaçãodesesentircriador,essasensaçãoépercebidapelosoutrosintegrantesetemaforçadedespertaravontadedesearriscarparachegaraomesmolugar.

6 Learningbydoing”éoconceitoquepodesertraduzidocomo“aprenderfazendo”,ondeoparticipanteégeradordaaprendizagem.

7 AespiraldaaprendizagemfoicriadapelopsiquiatraepsicoterapeutaCarlJungparaexpli-caroprocessodeaprendizagemdoserhumano.Deformanãolinear,odesenvolvimentosedádemaneiraespiralada,constanteeretroalimentadopeloconhecimentoconstruídoanteriormente.Oconhecimentoéfrutodarelaçãocriativaeexperimentaldohomemcomseumeio.

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Omododaequipecondutoraoperarparahabilitaraspessoasacons-truíremsuassoluçõesapartirdeaçõespassapor:

1. pesquisar,adaptarerecriarferramentasdefacilitaçãodegrupos,denegócioedemarketingexistentes;

2. aprenderdemaneiraparticipativa,ondeaspropostassãoapenasdireçõesquenorteiamodiálogo,apesquisa,ageraçãodeideiaseotestedassoluçõescriadas;

3. colocarassoluçõesempráticaomaisrápidopossível,mesmoqueaindanãoestejamamadurecidas.NalógicadoDesign Thinking,apro-totipageméamelhorformadecomunicarumaideiaedetestarsuaviabilidadeantesdegastartempoedinheirocomsuaimplementação.

Oprocessodecriaçãodesoluçõesinovadoras,quesaemdazonadeconfortodosempreendimentos,começaentãodemaneirabemampla,colecionandoumgrandevolumedeinformações(odiagnósticoé instru-mentodessafase),paradepoispropiciarterrenoparagerarinsightsenovas

Figura 4 – Caminho da aprendizagem em espiral

Fonte:RelatórioSBCSol

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maneirasdeolharoproblemae,apartirdaí,cocriarassoluções.Esseprocessotemaimagemdeumfunilcomumabocalargaondesãocolocadostodososelementospesquisados(internoseexternosaoempreendimento),quevãosecombinando,tomandoformadeideia,quesãotestadoseselecionadosesaempelobicodeumanovaforma,comoarespostamaisbemelaboradaparaoproblemaapresentadonoiníciodoprocesso.

Asfasesdaevoluçãodaprática(dabocaaobicodofunil)podemserseparadasemtrês:

Fase1–Campodapesquisa(entradadofunil):abertoedecertaformacaótico,commuitasreferênciasinternaseexternas,nãonecessariamenteconectadas.Objetivacolecionaromaiornúmerodepossibilidadeseampliaravisãosobreotema.Estámaisparaaelaboraçãodeperguntas(Comopo-deríamos?)doqueparaencontrarrespostas.

Fase2–Campodaideação(meiodofunil):aquiasideiasselecionadas,organizadasecombinadascomeçamatomarformadesolução.Aindadeformaaberta,éelaboradoomaiornúmeropossíveldesoluções(Ese?).Valemaisaquantidadequeasrespostasrestritasporjulgamentosprévios.

Fase3–Design–Prototipaçãoeimplementação(saídadofunil):asideiassaemdoplanoimaginárioepassamatomarformaconcreta.Materializarnosauxiliaacompartilharcomosoutrosnossasideiasparapoderavaliá-las,testá-lasemelhorá-las.Umprotótipopodeserqualquercoisaquetenhaumaformafísicaparaqueaideiaganhevidaemtrêsdimensões.Podeserumaparedecheiadeanotaçõesempost-its,umaencenação,umespaçoadaptado,umobjeto,umainterface,etc.Aresoluçãodoprotótipodevesercompatívelcomoprogressodoprojeto.Nasprimeirasexploraçõeséimportantemanterprotótipossimpleserápidos,paraqueaspessoassepermitamaprenderrapidamentecomeleseinvestigarumasériedediferentespossibilidades.Assoluçõestestadaseavaliadaspeloempreendimentoestarãoprontasparaseremimplementadasefazerempartedeseumodelodenegócio.

Posturas e ferramentas como instrumentos de trabalho

ÉumagrandeforçaparaaSBCSolterumaequipemultidisciplinarcobrin-dováriasáreasdoconhecimento.Entretando,arespostaparaoacessoaessesconteúdosestánaformadeadequá-losàcompreensãodopúblico.Maisqueisso,estánaformadedescobrirqueconteúdossãorealmentenecessáriosapartirdoqueaincubadoraedoqueobeneficiárioprojetamcomofuturo.

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Nessesentido,aempatiadaequipedetrabalhoéabasedeumprocessodecriaçãodesoluçõescentradonoserhumano.Possibilitaobservaropúbliconoseuprópriocontexto,envolver-se,interagir,entenderpensamentos,emoçõesemotivações.Énecessárioentenderafundoparaquemotrabalhoestásendofeito,paraquesepossadeterminarcomoinovarcombasenoproblemaqueédeterminadopelobeneficiário.Observandooqueaspessoasfazemecomoelasinteragemcomoseuambienteépossívelterpistassobrecomoelassentem,pensamedoquerealmenteprecisam.Aocompreenderasescolhasqueaspessoasfazemeseuscomportamentosépossívelidentificarsuasreaisnecessidades.Essainteraçãopermiteàequipecapturarmanifestaçõesnaturaiseinterpretarosignificadointangíveldessaexperiência,afimdedescobririnsights.Esses insightssãoportadeentradaparaassoluçõesinovadoras,porqueestãonoterrenodasnovaspossibilidades(Ese?),deexperimentarcriarrespostasdesconhecidasparademandasconhecidas.

Serempáticotambémsignificaalinharalinguagem,omododeexporoconteúdoparadespertarinteresseeenvolvimentodopúblico.Umbomrecursoéfugirdosmonólogosexpositivos.Maiseficientedoquecontaroassuntoémostrar,écomunicarcriandoexperiênciasinterativascomopúblico,usandoilustraçõesvisuais,mostrandocasos,contandoboashistórias.

Oterrenodainteraçãoéodaspossibilidadesnãoprevistas,masissonãosignificaqueéumprocessosemdirecionamento.Éimportantequeaequipetenhajogodecinturaparalidarcomreaçõesnãoprevistas,commudançasnocenárioetambémtenhaexperiênciaeferramentasparamanterocontroledesseprocessocomfoconosobjetivosemetas.

Kit de ferramentas de gestão e marketing

Existempublicadasedeusolivreumasériedeferramentasdesenvolvidasnasáreasdegestãodeempresasedemarketingextremamenteúteisparaaformaçãodeempreendimentos.Aaprendizagemdasmelhorespráticasdemercadoauxilianapercepçãodeoportunidadesedaviabilidadedonegócio,mesmosobosvaloreseprincípiosdaeconomiasolidária.Essasferramentas,muitasdelasjáadaptadasaumusomaisamploforadasempresas,sãolentesfocaisdosproblemasaseremenfrentadosedasoportunidadesnãopercebi-daspeloempreendimento.Mesmoqueoempreendimentosejaincipiente,asferramentasajudamjádeinícioaorganizaroquesetememmãospara,apartirdaí,projetarofuturodesejadodemaneirarealista.

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Comopartedametodologiadeincubação,algumasdessasferramentasforamtestadasemtrêsfinalidades:

• Preparação de cenários Prepararocenárioésaberqualéaperguntaqueoempreendimento

teráqueresponder.Éapartirdessecenárioqueseesperaterclaroqualéarazãoquemobilizaaspessoasparafazerempartedoempreendimento.Odiagnósticofeitoemtrêsetapaséumaferramentadeconhecimentodocenáriodosempreendimentos.Apósafasedediagnóstico,foramutilizados:

• BrainstormÉumaótimamaneiradeseproduzirmuitasideias.Aintençãododeba-

teéaumentaraproduçãocriativa,aproveitandoopensamentocoletivodogrupo,ouvireconstruirsobreoutrasideias.Émuitoútilparagerarsoluçãodeumproblemaoudesenvolverumaoportunidade.Obrainstormpressupõefalarlivrementearespeitodedeterminadoassunto,semqueumparticipantecensureooutrooumesmoseautocensure.Entretanto,paraqueaferramentasetornemaiseficiente,deve-sedefinirumobjetivoclaro,controlarotempoeadicionarrestrições,porqueprocessosdecriaçãopodemserintermináveissenãoháumpontofinalquedáinícioàaçãopropriamentedita.Apósa“tempestadedeideias”agrupam-seospensamentosparecidos,identificam--serecursoseobstáculosejáépossívelsugerirestratégiasepriorizarações.

• Check listFerramentaqueajudaachecaroqueébemconhecidopelopúblico,

ondeaautoconfiançadámargemparaoerro.Levaumtempomínimo,ésimplesedireto.

• 5W2HAnalisa-seasituaçãodadaatravésdeseteperguntasgerais:Quem?Por

quê?Oquê?Quanto?Como?Onde?Quando?Essaferramentaérápida,claraeobjetiva.Ajudaaconduzirníveismaisprofundosdeobservação.Essesenfoquessimplespermitemobservartantoacontecimentosconcretosquantopotenciaisemocionaisabstratoseosmotivosqueestãoemjogonasituação.Éespecial-menterelevanteaabundânciados“Porquês?”paraaconstruçãodocenário.

• Análise SWOT (ou FOFA)Aanáliseseparaemquadrantesostópicos:forçasefraquezas,quere-

metemaosaspectosinternosdoempreendimentoeoportunidadeseamea-ças,relacionadasaosaspectosexternos(concorrência,mercadoconsumidor,políticasfavoráveisoudesfavoráveis,etc.).Éumaboaferramentaparareverestratégiasedirecionamentosdonegóciooudaintençãodonegócio,oupara

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explorarsoluções.Épossívelvisualizaroqueonegóciopodeoferecerequaissãoospontos-chavequedeverãosertrabalhadosparaoseusucesso.

Essasferramentasnãodãoumaresposta.Elasapontamparapossibilida-desdesoluções.Utilizarmaisdeumaferramentaéaoportunidadedeverdemaneirasdiferentesoucomplementaresomesmocenário,paradarmelhorsuporteàtomadadedecisões.

Uma estratégia inovadora de incubação

Construirdesafiosestratégicosajudaacriaravisãoglobal(divergente)tãonecessáriaparaaconstruçãodasmelhoresrespostas(convergente).Depoisquesetemclarezadoproblemadaformamaiscompletaecomplexa(nãosóapontinhadoiceberg),épossívelquebrá-loempartesmenores,maisadminis-tráveisepossíveisdeseremsolucionadas.Essaéaaçãodecompordesafiosestratégicos:olharparacadapartedoproblemacomogeradordepossibilida-desdesoluções,ouseja:olharparaaadversidadecomooportunidade.Umaboamaneiradesefazerissoéutilizarapergunta“Comopoderíamos?”antesdadescriçãodoproblema.Umbomdesafioestratégicodeveserabrangenteosuficienteparapermitirdescobertadeáreasdevalorinesperadoeespecíficoosuficienteparatornaraquestãogerenciável.Arespostaàpergunta“Comopoderíamos?”temgrandeschancesdeserinovadoraporquebuscaránovaspossibilidadesparasolucionarantigosproblemas.

AabordagemdecriardesafiosestratégicosfoiutilizadapelaSBCSolnaestruturaçãodeumarededealimentaçãoformadaporquatroempreendi-mentosdaeconomiasolidáriadeSãoBernardodoCampo.Oproblemaclaroparaopúblicoera:Comofuncionaremredeparaatendermaisoportunidadesdevendas?Seofocofossevoltadopararesponderaessapergunta,provavel-menteoprocessoconsumiriamuitaenergiaeteriacomoresultadosoluçõesidealizadasesuperficiais.Aescolhadaconduçãofoiprimeirolistartudooqueosempreendedoressabiamousupunhamcomrelaçãoaoproblema.Depoisessasinformaçõesforamorganizadasporassuntos.Cadainformaçãofoitransformadaemumapergunta,umdesafioestratégico.Dessamaneira,todasasinformaçõesreferentesàsentradasesaídasdedinheiro,porexem-plo,foramagrupadasemdesafiosfinanceiros.Jánaformadeperguntas,osdesafiosforamcombinadosporsemelhançasereformulados.Porexemplo,asperguntas“Comopoderíamosfazerocontrolefinanceiro?”“Comopode-ríamosdividirarendaemRede?”e“Comopoderíamosterumaparticipaçãodavendajusta?”foramcombinadaseresultaramnodesafioestratégico:QualéomodeloidealdecontrolefinanceiroparaaRede?

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Imagem 1 – Mapa de desafios estratégicos da rede de alimentação

Fonte:Arquivodaprópriaautora.

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Essaéumaconstruçãoqueintencionaexplorarafundo,commuitasopiniõesarespeitoparaquesejaaprimoradaaqualidadedasrespostaseparatorná-lasmaisassertivaseinovadoras.

Tarjetas,post its,fotos,desenhoscoladosnaparedesãomateriaisdeapoioparaqueopúblicoenxergueasrelaçõesentreasinformações.Ain-formaçãovisualcompartilhadacomtodosémuitoimportanteparaacom-preensãodoprocessocomcomeço,meioefim.Tambémauxiliaarefrescaramemóriaeincentivaasconexõesentreasideias.

Oprocessodeconstruirdesafiosestratégicosfoiinovadorporquedesa-fogouosempreendedoresdarededealimentaçãodeummardeproblemasepossibilidadespoucoclaroseostransformouemdesafiosbastanteconcretos,organizadosnasáreasfinanceira,administrativa,deoperaçõesdeprodução,decomunicação,entreoutras.Essemapeamentofacilitouacriaçãodamissão,davisãoedosvaloresdaredeetemnorteadooplanodeações,aatribuiçãodefunçõeseaconstruçãodasregrasdefuncionamento.

Reflexões sobre a prática

OprocessodeincubaçãodaSBCSoltemcaráterinovadoremváriasdi-mensões:naformadiferenciadadegestão(híbrida);noprocessodecondu-çãodasatividadesdeincubação(participativaseestimulantesderespostasinovadoras);naancoragemembasespedagógicasqueencaramoprocessoformativocomoprática(educaçãopopularedesign thinking);napesquisaeadaptaçãodeferramentasdegestãoemarketing,extremamenteúteisparaaformaçãoprofissionaldenegóciosdaeconomiasolidária.

Apropostatambéméumaoportunidadeparaampliaroentendimentosobreinovaçãodopúblicobeneficiário,degestoresedetodaaequipeenvol-vidanoprojeto,porqueformaummodelodenegóciocapazdefomentaredarsuporteàcriaçãodeempreendimentosqueprecisamsereinventarparasobreviver.Assoluçõesdeixamdeserrestritasaocampodoproduto,dapro-duçãoedaviabilidadecomercialepassamaresultardeumavisãosistêmica,quetemumolhonoqueoempreendimentosabe,desejaeacessaeoutroolhonaspossibilidadesdomercado.Nesseaspecto,háquesefazerusodaincerteza,característicaintrínsecadainovação,paraousaracriaçãodeumnovomodelodeinserçãoeconômicaquebeneficiepessoasdespreparadasesemoportunidadenomercadovigente,semtratá-lasemumarealidadepar-ticulareprotegida.Aocontrário,éaoportunidadedeabsorverosrecursosjá

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amplamentedesenvolvidosnomundodosnegócioseadequá-losemforma,linguagemeconteúdoparauniversalizarseuacesso.

Porfim,aincubaçãoéaoportunidadedepraticarainovaçãoaderenteàculturaorganizacionaldaSBCSoleaosprincípiosdaeconomiasolidária,capazdetransformarasexperiênciasdecampoemmetodologiasistematizadaereplicável,adequadaàsespecificidadesdeinúmerosempreendimentosnas-centesouemfuncionamento,masquesofremogapdafaltadeescolaridade,dafaltadeformaçãoempreendedora,edafaltadefôlegofinanceiroparainvestirnoprópriosonho.

Referências

BROWN,Tim.Design Thinking:umametodologiapoderosaparadecretarofimdasvelhasideias.TraduçãoCristinaYamagami.RiodeJaneiro:Elsevier,2010.

FISCHER,RosaMaria.Empreendedorismosocial,apontamentosparaumdebate.In:CENTRORUTHCARDOSO(Org.). Políticas sociais, ideias e práticas.SãoPaulo:EditoraModerna,2011.p.204.

IDEO.Human centered design toolkit.Disponívelem:<http://www.ideo.com/work/human-centered-design-toolkit/>.Acessoem:15out.2013.

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VIANNA,Maurícioetal.Design thinking:inovaçãoemnegócios.RiodeJaneiro:MJVPress,2012.

135

Captação de recursos em longo prazo para economia solidária:

experiências do projeto de incubadora de empreendimentos solidários de

São Bernardo do Campo (SBCSol)

Marcelo dos Santos*

* MestreemFinançaseOrganizaçõespelaUmesp(2011);mestreemFinançascomespecia-lizaçãoemRiscopelaUniversidadedeSãoPaulo(2000);pós-graduadoemAdministraçãoFinanceira(1997)etecnólogomecânicocomespecializaçãoemSoldagempelaFaculdadedeTecnologiaProf.LuizRosaFatec-SP(1994);especializadoemEducaçãoMatemáticapelaUniversidadeOswaldoCruz(2005).AtualmenteéprofessortitulardaUniversidadeMeto-distadeSãoPauloministrandoostemasligadosaFinanças,Contabilidade,MatemáticaeEstatística,noscursosdegraduaçãoepós-graduação;étambémconsultordeempresasnasáreasfinanceiraetreinamentogerencial.MembrodaSBCSol.

Introdução

Odesenvolvimentodeumbomambientedenegóciostemcomocondiçãoprimordialaofertadeapoiofinanceiroparaodesenvolvimentodenovosempreendimentosetambémmaturaçãodeempresas jáestabelecidas.Aperpetuação,aolongodotempo,dequalquermodalidadedeempresastemcomoprincipalproblemaumafontederecursospereneedelongoprazo;estafontederecursospodeseracomercializaçãodebenseserviçosaliadaafontesderecursosnomercado.

OBrasilpossuiatualmenteumdosmelhoressistemasfinanceiroseban-cáriosdomundo,mas,emrelaçãoaapoiofinanceiroàsempresas,osbancoseinstituiçõesdefomentodeixamadesejar.Opaísapresentaumgrandepro-blema,denominado“baixoaprofundamentofinanceiro”,queécaracterizadoporcréditomuitocaro,créditoefinanciamentoreduzidoacompanhadodecustosexorbitantementeelevadossecomparadocomoutrospaísesdemesmoporteouprodutointernobruto.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

CarvalhoeAbramovay(2004)citamasdificuldadesqueaspequenasemédiasempresasdearranjosprodutivoslocaisenfrentamnomomentodeconseguirrecursosdelongoprazoparafazerfrenteaseusprojetos.

PodemoscompararofornecimentoderecursosemrelaçãoaoPIBdopaís:em2005,oBrasilpossuíaCrédito/PIBiguala35%enquantoosEstadosUnidospossuíamumarelaçãoCrédito/PIBde218%;oBrasilmelhorouumpouconosúltimosanos,passandoaumindicadorde53%,em2012,masosEUAcontinuamcomindicadoracimade200%mesmocomacrise.

Pode-senotar,nográfico1,queospaísesdesenvolvidostêmumapro-porçãoCrédito/PIBquevariaentre80%e218%,enquantooBrasilestáemumgruponafaixade30%derelaçãoCrédito/PIBparaoanode2005.

Gráfico 1 – Comparativo de volumes de crédito em relação ao PIB (2005)

Fonte:Carvalho(2005)

Nográfico2,notamosclaramenteaevoluçãodoBrasilnoquesitoCrédito/PIB,emboraque,comavelocidadedetalevolução,chegaríamosaoindicadordosEUAde218%paraCrédito/PIBsomenteem2055.

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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária

Gráfico 2 – Evolução crédito em relação ao PIB (2006-2012)

Fonte:BancoCentraldoBrasil

Verifica-sequeocréditonoBrasilémuitoescassoemrelaçãoaoutrospaísesmaisdesenvolvidos;tambémtemosoproblemadastaxasdejuros,ficandosempreentreasdezmaiorestaxasdejurosdomundo,eumagra-vanteéqueataxabásicadejurosnãoécobradadocliente,poiselaéabasedastaxasdejurosnaeconomia.Ocréditoaoconsumidorfinalouaempresasestánafaixade30%a.a.até146%a.a.,corroborandomaisumitemparaadenominaçãode“baixoaprofundamentofinanceiro”paraosistemafinanceirodopaís.

Paraopequenoempresáriobrasileiroouparaaspessoasqueatuamnaeconomiasolidáriaficamuitodifícildeixardeladoasatividadesoperacionaisdonegócioparasededicaraopreenchimentodetantosformulárioseprovi-denciartantosdocumentosqueaáreadecréditodosetorbancáriosolicitanomomentodaentradadasolicitaçãodecrédito.

Órgãos de financiamentos

NoBrasil,atualmente,oscréditossãoprovenientesdebancosprivados,bancospúblicos,cooperativasdecrédito,bancosdefomento,órgãosdeincen-tivoapesquisaedesenvolvimento,inseridosdentrodasesferasmunicipais,estaduaisefederal.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Paraobtençãodocréditopretendidodevemosconhecerostiposdeagentesfinanceirosqueapoiamefornecemrecursos paraasatividadesdemicro,pequenasemédiasempresas,bemcomoempreendimentosdaeco-nomiasolidária.

Osbancosestãoclassificadoscomoinstituiçõesfinanceirasmonetáriasenãomonetárias.SegundoFortuna(2008),dentreasinstituiçõesfinanceirasmonetáriaspodemosterbancoscomerciais,caixaseconômicas,bancoscoo-perativosetambémcooperativasdecrédito.

Osbancoscomerciaissãoreconhecidoscomoentidadesquetêmopapeldeintermediarrecursosentreosagentessuperavitárioseagentesdeficitáriosdaeconomia,financiandobenseemprestandorecursosaindústrias,comércio,prestadorasdeserviçoepessoasfísicas.

Emrelaçãoàscaixaseconômicas,pode-sedizerqueintegramosistemabrasileirodepoupançaeempréstimos(SBPE);portantoatuamfortementenacaptaçãoderecursosatravésdacadernetadepoupançaenofinanciamentoimobiliárioparapessoasfísicasejurídicas.

Gráfico 3 – Taxas de juros no mundo

Fonte:CruzeirodoSulCorretora

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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária

Osbancoscooperativossãoderivadosdascooperativasdecrédito,umavezqueoBancoCentraldoBrasil(BC)autorizouascooperativasdecréditoaconstituírembancoscomerciaisnaformadesociedadesanônimasdecapitalfechado,comaparticipaçãoexclusivadecooperativasdecrédito,auxiliandoacaptaçãoderecursosexternosparacooperativasatravésdeseubancoco-mercial.Osempregadosdainiciativapúblicaouprivadaetambémassociadosdeentidadesdeclassespodemabrircooperativasdecréditoquepoderãosugeriraaberturadeumbancocooperativo.

Dentrodasinstituiçõesfinanceirasnãomonetárias,quesãoinstituiçõesquenãotêmopoderdecriarmoedaecomissonãopossuemcontacorrenteeoutrosprodutosdosbancoscomerciais,temososbancosdedesenvolvimento,tendocomoprincipalagentedogovernooBancoNacionaldeDesenvolvimen-toEconômicoeSocial(BNDES).Estesbancosfomentamossetoresprimário,secundárioeterciáriodaeconomia,fornecendorecursosdemédioelongoprazocomtaxasdejurosbaixas.

TemostambémasSociedadesdeCréditoaosMicroempreendedores,ficandocomatarefadeproverrecursosparamicroempresas,semassisten-cialismo,mastambémcomumníveldeburocraciareduzida,apoiandooempreendimentoemrelaçãoàgestão.

Asagênciasdefomentosãoconstituídassobaformadesociedadeanônimadecapitalfechado.EstasagênciasdefomentosomentepoderãorepassarrecursoscaptadosnoBrasilenoexteriorquetêmcomoorigemderecursosfundosconstitucionais,orçamentosfederal,estadualemunicipaleorganismosnacionaiseinternacionaisdedesenvolvimento.

Napráticadeseutrabalho,asagênciasdefomentopoderãorealizaroperaçõesdefinanciamentodecapitalfixoetambémcapitaldegiroquetêmassociaçãoaoprojeto,prestargarantia,fornecerserviçosdeconsultoriaetambémdeserviçosdeadministraçãoderecursosdestinadosàcomposiçãodefundosdedesenvolvimento.

Fontes de recursos no mercado bancário

SegundoFortuna(2008),nomercadobancárioexisteumagrandevitrinedeprodutosdeempréstimos,comoHot Money,contasgarantidas,créditosrotativos,descontodetítulos,empréstimosdecapitaldegiroemicrocrédito,cadaumcomsuascaracterísticasprópriasparaobtençãoderecursos.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

OHot Moneyéumempréstimodecurtíssimoprazo,deaténomáximodezdias,comtaxasdejurosaltas;avantagemépoderassinarumcontratoúnicoesemprequenecessitarocréditoéliberadocomumadendoaocon-tratooriginal.

Ascontasgarantidas,créditosrotativosechequesespeciaissãomuitosemelhantes,poisdeixamocréditoàdisposiçãodoclienteeomesmoso-mentearcarácomosjurosnocasodeutilização.Acontagarantida,comoopróprionomejádiz,élastreadaporumagarantiafornecidapelotomador;jáocréditorotativoeoschequesespeciaistambémsãolinhasondeoslimitesdecréditoficamdisponíveisparaocliente,garantidosexclusivamenteatravésdaassinaturadeumapromissória.

Emrelaçãoaoempréstimodecapitaldegiro,mensura-sequaléaneces-sidadequeaempresatemdentrodesuasatividadesnormaisoperacionais,pois,conformeexisteoaumentodasvendas,aempresapoderáapresentarcrescimentoatédeterminadopatamar,acimadestepatamarteráquetomarrecursosnomercado.

Ocapitaldegiroéreconhecidocomopartedocapitaldaorganizaçãoqueficaimobilizadodentrodesuasatividadesdesdeomomentoemqueaempresaefetuaopagamentodamatéria-prima,pagamentodosempregados,pagamentodeágua,luz,telefone,gáseoutrosatéorecebimentodasvendas.Paraumcrescimentodevendasacimadesuacapacidadedegeraçãodecapitaldegiro,aempresadeverátomarrecursosemprestadoscomtaxasabaixodeseucustomédioponderadodecapital.

Aantecipaçãodofluxodecaixadacompanhianaformadedescontodetítulosouduplicataséumamaneiradecobrireventuaisproblemasdentrodaorganização.Nãodeveserrecorrentetalfato,poisaantecipaçãodofluxodecaixadacompanhiapodeeventualmentemostrarincapacidadedeplane-jamentofrenteaosdiversoscenáriosquepodemacontecer.

Nomicrocréditosegue-sealinhadeempréstimosdebaixovalor,muitosdelesdeR$100aR$500,podendoserconcedidoscréditosabaixodestevalor,levandoacomunidadescarentesaapropriaçãoderecursosparagerarrendadentrodaprópriacomunidade,comoemprestardinheiroparaacomprademáquinadecosturaeomicroempreendedoriniciaraatividadecomtrabalhosdeconsertoseconfecçãoderoupasparapessoasdacomunidadeondeelaestáinserida,cobrandopeloserviçoexecutado.

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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária

Entidades de fomento ao desenvolvimento

BNDESOBNDESéumdosprincipaisórgãosdefinanciamentoefomentoao

desenvolvimentodopaís.SegundoValente(2012),osempresáriosreclamamdaaltaburocraciaenvolvidanasconcessõesdelinhasdefinanciamentoparaasorganizações,eumcontrapontoaestaopiniãogeraldospequenosem-presárioséqueoBNDESemprestoupróximode200bilhõesdereaiscomaproximadamenteummilhãodeoperaçõessomentenoanode2011.

OBNDESsuperaaquantidadedevaloresdefinanciamentosaofomentoedesenvolvimentoquandocomparadocomorganismosinternacionaiscomooBID(BancoInteramericanodeDesenvolvimento)eoBird(BancoMundial).OBNDEStememseusrecursosaadministraçãodosFundosdeAmparoaoTrabalhador,FundoPIS/Pasep,FundoNacionaldeDesenvolvimento,FundodeDesenvolvimentoTecnológicodasTelecomunicações,FundodeGarantiaàsExportaçõeseFundoGarantidordeInvestimentos.

UmacaracterísticadoBNDESéadefinanciarsomentebensnovosealgunscomindicadordenacionalizaçãoacimade80%;ouseja,fomentarodesenvolvimentosobaóticadequeoequipamentonacionalnovodeveserfabricadocomtecnologianacionaleomesmofomentaráodesenvolvimentodopaís.Porexemplo,oBNDESnãofinanciaaaquisiçãodeterrenosoudeempresas,poisnãosãogerados,nestecaso,empregosounovastecnologiascomestastransações.

Obancoatendeaempresasprivadasetambémaoempresárioindividualdesdequeomesmoexerçaatividadeprodutivaequeesteja inscritonosórgãosmunicipais,estaduaisefederais(CCM,CNPJeInscriçãoEstadual).Obancotambémpodeatenderdemandasdaadministraçãopúblicadiretaeindireta,deórgãoseempresaspúblicasdasesferasmunicipais,estaduaisemunicipais.

OinteressadoemobterrecursosdoBNDESdeveprocurarumbancocredenciadoeretirarinformaçõesdoprocessodentrodainstituição,poisoBNDESrepassarecursosparaasinstituiçõesfinanceiraseasmesmasconcedemestesrecursosparaempresasdentrodasdiversaslinhasdoBNDES,cobrandodoclienteumataxadeintermediaçãoeanálisedecrédito.

OsrecursostécnicosdoBNDESsãolimitados.Comoemqualquerprojeto,temoslimitaçõesquantoapessoas,tempoedinheiro.RepassandooscréditossolicitadoscomvalorinferioraR$20milhõesdereaisparaoutrasinstituições

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

financeiras,foipossívelconcentrar-seeespecializar-senaconcessãodiretaparagrandesprojetos.

OsprincipaisprodutosdefinanciamentodoBNDESsãooFiname,FinameAgrícola,FinameLeasing,Exim,CartãoBNDES.Cadalinhadefinanciamentopossuiassuaspeculiaridades:oFinameéumalinhadefinanciamentodemáquinaseequipamentosnovos;quandodirecionadoparademandasdeempresasdosetoragropecuáriotemosoFinameAgrícola;jánocasodoFi-nameLeasingtemosaaquisiçãodemáquinaseequipamentosparalocaçãoaoutrasentidadesouoperaçõesdearrendamentomercantil,existindoaopçãodecompraaofinaldocontrato.

NalinhadefinanciamentoExim,oBNDESefetuaoperaçõesdecréditoquepermitamaexportaçãodebens,queéacomercializaçãodeprodutoscomofoconomercadoexterno.AlinhamaispopulardoBNDEShojeéoCartãoBNDES,queéumalinhadecréditopré-aprovadadestinadaamicro,pequenasemédiasempresaseutilizadoparacompradebenseinsumos.

FinepAFinanciadoradeProjetosreconhecidaatualmentecomoaAgênciade

InovaçãoBrasileirafoicriadaem1960parafomentarprojetosligadosàsáre-asdeciênciaetecnologia.FoiconcebidaparasubstituiroFuntec,queeraoFundodeDesenvolvimentoTécnicoeCientíficodentrodoBNDES.Tendoemvistaestaorigem,ostrâmitesparasolicitaçãodefinanciamentoecomposi-çãodoprojetosãomuitosemelhantesaosdoBNDES.ConformereconheceValente(2012),osfinanciamentosdaFinepestãoligadosaetapasdoprojetoqueprecedemafaseprodutiva;nãotêmaintençãodefinanciaraumentodacapacidadedeproduçãodeparquesfabris.

AFinepconcederecursoscomasseguintesfinalidades:pesquisabási-ca,pesquisaaplicada,inovações,desenvolvimentodeprodutos,serviçoseprocessos,incubaçãodeempresas,estruturaçãodeprocessosdepesquisa,desenvolvimentoeinovação.

TemoscomofinanciamentosdaFinepduasmodalidades:osreembolsáveis,querequerempagamentoapósumacarênciadeaplicaçãoderecursos,eosnãoreembolsáveisquesãoinvestimentosondenãoexisteoretornodorecursofinan-ceiro,massomentepodeserconcedidoatravésdechamadapública;somenteparticipamuniversidades,centrosdepesquisaeentidadessemfinslucrativos.

Amodalidadedefinanciamentoreembolsávelésubdivididaemtrêscategorias:

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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária

a) ofinanciamentocomencargosreduzidos,quevisaàrealizaçãodeprojetosdepesquisa,desenvolvimentodeinovaçõesetambémtemointuitodecapacitarempresasbrasileiras;oscustosdecadaprojetonãosãopadronizadosedependemdeavaliaçãodostécnicos;

b) emrelaçãoaofinanciamentoreembolsávelpadrão,pode-seenqua-drarosprojetosquetêmcomoobjetivodesenvolverinovaçõesemprodutoseprocessos,podendofinanciaraté90%doprojetocomataxadejurosdelongoprazo(TJLP)maisjurosde5%aoano;

c) amodalidadedefinanciamentocomjurorealzeroqueapresentacomocaracterísticaofinanciamentoamicroepequenasempresasinovadoras,compossibilidadedefinanciamentode100milreaisaté900milreais.

Valente(2012)classificacomoincipienteogastocompesquisaedesen-volvimentovoltadosparainovaçãonasempresasbrasileiras,apesardeem2010aFinepterdesembolsadomaisdeumbilhãodereaisemoperaçõesreembolsáveiscomestafinalidade.ExistetambémumaaltaconcentraçãonasregiõesSuleSudestedopaís,emrelaçãoaestetipodefinanciamento,totalizandonestasregiões81%dosrecursosliberados.

Aofinaldoanode2010,entretodasasmodalidadesdefinanciamentosdesembolsadoseadesembolsar,somadosàsconsultaspréviaseprojetosemprocedimentodeanálise,haviaumtotalde5,3bilhõesdereaisenvolvidosdiretaouindiretamentecomprocessosdeinovação.

IFC – International Finance CorporationEsteorganismointernacionaléumdosbraçosdoBancoMundialque

auxiliaainiciativaprivadanoBrasil.Esteorganismotemsuasorigenspauta-dasnareuniãodeBrettonWoodsem1944.ComofinaldaSegundaGuerra,osEUA,juntamentecomaInglaterra,sereuniramparatentarformatarumanovaordemparaosistemafinanceirointernacional.AofinaldareuniãoforamcriadosoFundoMonetárioInternacional(FMI),oBancoMundialeumacordocomercialchamadoGeneral Agreement on Tariffs and Trade(GATT),queseriaoembriãodaOrganizaçãoMundialdoComércio(OMC).

OIFCfoirealmentecriadooficialmenteem1956comafinalidadedeapoiarfinanceiramenteempresasprivadassemanecessidadedegarantiadogovernoepodendoadquirirparticipaçãonacomposiçãoacionáriadaempresaquenecessitedeapoio.Ressalta-sequenãopodemadquiriraçõescomdireitoavotonoconselhodeadministração.

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Editais de organismos multilaterais

Acaptaçãoderecursosdelongoprazoatravésdeeditais,deorganismosnacionaiseinternacionais,visandoàperpetuaçãodenegócioseempreendi-mentosdaeconomiasolidária,deveserumametaperseguidapelasentida-desdeapoioaosempreendimentosdeeconomiasolidária,emparticularasincubadorasdestesempreendimentos.

OBrasiltemumbomrelacionamentocomosórgãosfinanceirosmultila-teraiseentidadesdosgovernosdeoutrospaíses,facilitandoassimoproce-dimentodecaptaçãoderecursosparafinanciarprojetosdedesenvolvimentodeproduçãoesociais,atravésdeprogramasfederais,estaduaisemunicipaisdeassessoramentoespecializadooferecidosporessasentidades.

Normalmenteoquetornaoprocessoburocráticoéaquantidadedeformulárioseodetalhamentotécnicoqueoprojetodeveterparaqueoempreendimentosecredencieaconcorreraosrecursosofertadosnoseditais.

Temosqueorganizarpreviamenteumcompostodedocumentosetextosqueservirãodeapoioebaseparaaelaboraçãodedocumentossolicitadosnoedital.Cadaprocessoeprojetosãoúnicos,portantonãopodemoschegaraumníveldepadronizaçãodeapresentaçãoparainscriçãojuntoàentidadequedivulgouoeditalequeforneceráosrecursosparaoprojeto.

Roteiro para elaboração de proposta para financiamento

Asbasesparaaformataçãodeumroteiroparaelaboraçãodepropostadefinanciamentoéoriundadateoriadeanálisedeprojetos,análisedecréditoeanálisedeinvestimento,juntamentecomaexperiênciadaformataçãodoprojetodaincubadoradeempreendimentosdeeconomiasolidáriaSBCSol,financiadaatravésderecursosdaPrefeituradeSãoBernardodoCampo,daFinepedoCNPQ,comamissãodedesenvolverumanovametodologiadeincubaçãodeempreendimentosdaeconomiasolidária.

Tantoaelaboraçãodosdocumentosdaconsultapréviacomoaelabo-raçãodosdocumentosreferentesaoprojetonãoseencerramcomoúnicasoportunidadesdesucessonacaptaçãoderecursos,umavezquepassadaestaprimeirafaseexistemasentrevistaspessoais,visitastécnicasnolocalondeaaçãosedesenrolará,emaisrespostasporescritoaquestionamentosrelacionadoscomdúvidasemelhoramentosnoprojeto.

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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária

Conformeabordadoanteriormente,pode-semontarumescopoeumasériededocumentosqueserãonecessáriosnamaioriadoscasosdeentradadeprocessosparacaptaçãoderecursos,emboraéhumanamenteimpossívelpreveraquaissolicitaçõesostécnicosresponsáveispelaaprovaçãodoproje-topoderãodarmaiorênfase.Queosrelatóriossejamconstruídosdeformaresumidaeconcisa,dandomargemàampliaçãodasinformaçõesinicialmenteapresentadas,poishádependênciadiretadoconhecimentodoanalistasobreaáreadeapresentaçãodoprojetoesuaexperiêncianocargo.

Aconsultapréviaéumresumodoprojetoedeveseromaisbrevepos-sível,mastomandoocuidadoparaqueabordetodosositensdoprojeto.Oprimeiropassoéprotocolaraconsultaprévianoagentefinanceirocredenciadoounoórgãoqueapresentaoedital.Estaconsultapréviaénecessáriaparaoenquadramentodoprojetoemumadaslinhasoueditaisqueoorganismooferece.Apartirdestepontooprojetopodesermaisbemelaboradovoltadoàáreaoulinhadefinanciamentodequeoorganismodispõe.

Nocasodeserapresentadoaorganismosquedivulgameditaiscomdisponibilizaçãoderecursos,deveseridentificadonocorpodoeditalane-cessidadedeconsultaprévia,oualgumcredenciamentoprévioexigido,pois,emmuitoscasos,estaetapapoderásersuprimidadaparteoperacional;masparaaorganizaçãoeapresentaçãodeumbomprojetodeve-selevaremconsideraçãoahipótesedeelaboraçãodaconsultapréviaparaservirdedirecionadornaconstruçãodoprojetodefinitivo.

Aconsultapréviadeveserconstituídadedadoscadastraisdaempresaouempreendimento,informaçõessobreapessoaqueseráocontatodaem-presaouempreendimento,estruturadecapital,estruturadeadministração,caracterizaçãodaempresaouempreendimento, indicadoresfinanceiros,produçãodaempresa,objetivosdoprojeto,justificativadoprojeto,metasaserematingidas,quadrodeusosefontesdosrecursos,estimativadosefeitosdoprojetosobreoempreendimento,geraçãodeempregoerenda,mercadoemqueaempresaatua,garantiasquepodemseroferecidas,informaçõesadicionaisquejulgaremnecessárias.

Apósaaprovaçãodestaconsultapréviaeenquadramentoemumalinhaoueditalespecífico,deve-separtirparaaconstruçãodoprojetodefinitivo,ondedeverãoconstarositenselaboradosparaaconsultaprévia,comummaiordetalhamento,visandosubsidiarostécnicosqueavaliarãooprojetodedadoseelementosparaelaboraçãodeumparecerpositivo;algunsitensdeverãoseradicionadosnestafasedoprocesso.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Noprojetodefinitivo,os itensquemerecerãomaioratençãoe,porconsequência,maiordetalhamentosãoacomposiçãodogrupoeconômico,ocapitalsocialenvolvido,asvendasoureceitas,aáreadegestãoambiental,custoseprodutividade,quadrodeusosefontesdosrecursos,detalhamentodosmercadosexternoseinternos,condiçõesdaconcorrênciaeimpactosdoprojeto, indicadoresfinanceirosdoempreendimento,análiseprospectiva,aspectosjurídicosenvolvidosedemaisaspectosdoempreendimentoqueestásolicitandoosrecursos.

Aseguir,apresentamosquadrocomospassosdecisórioseprocedimentosadotadosinternamentepeloBNDESemrelaçãoaumaanáliseeaprovaçãodeumprojetodecaptaçãoderecursosvialinhadecréditoespecíficanoBNDES.

Processo de Análise de Projetos

Fonte:BNDES.

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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária

Análise de projeto

Naanálisedeprojetosdelinhareembolsáveis,queterãooretornodorecursoparaaentidadequeconcedeuofinanciamento,haveráumaanálisecommaiordetalhamentoarespeitodacapacidadedoprojetoemgerarrenda,visandoàobtençãodemeiosfinanceirosparaadevoluçãodosrecursosconcedi-dosacrescidosdetaxasdejurosque,apesardemuitobaixas,garantemopoderdecompradocapitalaserutilizadoemoutroprojetoreembolsávelounão.

Analisa-sequalquerprojetopelosprismasfinanceiro,operacionaledemercado,emboraquandoanalisamosempreendimentosdeeconomiasolidáriatemosquelevaremconsideraçãoasforçasdomovimentoassociativoecoletivo.

Osinstrumentosdeanálisefinanceiraverificamfriamenteoretornodoprojetoeotempodoretornoatravésdosinstrumentosvalorpresentelíquido(VPL),taxainternaderetorno(TIR)epayback.

ConformeapresentadoporGitman(2002),ovalorpresentelíquidove-rificaseofluxodecaixafuturogeraráumganhomaiorqueoinvestimento,adotandoumataxadejurosadequadaaocomportamentodoempreendi-mento,quepoderáserumataxademercadoouocustomédioponderadodecapital(CMPC)queéamédiaponderadadastaxasevaloresdeempréstimosefinanciamentosqueoempreendimentopossui.CasooVPLsejamaiorquezero,oprojetopoderáserbemavaliado;casooVPLcalculadosejamenorquezerooprojetodeveráserrejeitado;enocasodoVPLserigualazero,tantofazarejeiçãoouaprovaçãodoprojeto.

Nocasodataxainternaderetorno(TIR),temosacomparaçãodestataxacomataxamédiadeatratividade(TMA).ATIRéelaboradaapartirdaprojeçãodofluxodecaixafuturodoprojeto.AdecisãoaseradotadaserádeaceitaçãodoprojetoquandoaTIRformaiorqueTMA;oprojetopoderáserrejeitadoquandoaTIRformenorqueaTMA;etantofazquandoaTIRforigualaTMA.

Nametodologiadenominadapayback,teremosarespostaemtempo,visandoàverificaçãodequandosetemoretornodovalorinvestidonopro-jeto.Umbomprojetoéaquelequenãodemoramuitoparaterdevoltaovalorinvestido.Quandoseanalisadoisprojetos,optamosporaqueleprojetoqueapresentaomenorpayback.

Tambémsedeveanalisaracapacidadedepagamentooucapacidadedegeraçãoderendareferenteaoprojeto.Aprimeiraéumaanálisefinanceiraenquantoasegundaétambémumaanálisesocial,umavezquemensura

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

quantoarendadoscomponentesdoempreendimentodeeconomiasolidáriapoderáaumentarcomaimplantaçãodoprojeto.

Osestudosmaisatuaisemrelaçãoàanálisedeempreendimentosdeeconomiasolidáriaanalisamtambémindicadoressociaisdoempreendimento,taiscomovitalidadeassociativa,queverificaaparticipaçãoativadossócios;tambéméanalisadaagestãodemocrática,ondeéidentificadooprocessodetomadadedecisãodentrodoempreendimentoeseocorredeformaquetodossejamrepresentadosemqualquerprocessodecisório.

Igualmente,éanalisado,deformaclara,oenraizamentoterritorial,ouseja,oapoioqueoempreendimentorecebedasociedadeedaspessoasdoentornodoempreendimento.Existetambémapossibilidadedeanálisedoimpactosocialdoempreendimentoqueconstataráseotipodeprodutoouserviçooferecidoresolvealgumproblemadoentornodasociedadeouseexisteacriaçãodetrabalhoerenda.

Conclusão

Existemrecursosdisponíveisparafinanciardiversostiposdeatividadesnopaís,deveexistiracapacitaçãodeumgrupodepessoasparacaptaçãoderecursos,queindicaráqualéamelhorlinhadecréditooueditalparacadaempreendimentodeeconomiasolidáriaouincubadoradeempreendimentosdeeconomiasolidária.

Oprocessoaindaémuitoburocráticoetécnico,mascomolidamos,namaioriadoscasos,comdinheiropúblico,temosqueresguardaresterecursoqueéconseguidocomaarrecadaçãodeimpostosezelarpelamelhorapli-cação.Comoesterecursoéfinito,deve-seaplicá-loemprojetosquetenhammaiorabrangênciaouatendamaumpúblicomaisnecessitado.

Umaoutravisãoparaaanáliseeclassificaçãodoprojetoéadequemuitosrecursossãoinvestidoseaplicadosemprojetoseempreendimentosdeeconomiasolidáriaeosempreendimentostemumafunçãosocial,àsvezesgerandorendaparapessoasemsituaçãoderua,socializandopessoasqueestavamencarceradas,eoutrasatividadesqueemúltimaanálisepodemserencaradascomofunçãodoEstado.

Pode-segerarumaextensãodesteestudoanalisandoasprincipaisformasdeclassificarempreendimentosdeeconomiasolidáriaentreosseusdiversosestágiosassociativosefinanceiros,bemcomoaelaboraçãodeindicadores

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Captação de reCursos em longo prazo para eConomia solidária

sociaiscomdadapadronizaçãoparaquepossamoscompararosempreendi-mentosdeumcertoramoeespecialidade.

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Microcrédito: o crédito para o empreendedorismo

no meio popular

* BacharelemCiênciasEconômicaspelaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.**BacharelemCiênciasEconômicaspelaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.***MestreemAdministraçãoeDoutoremEducação.PresidentedoBancodoPovoCrédito

Solidário.CoordenadordaCátedraCelsoDanieldeGestãodeCidadesdaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo.

Danilo dos Santos Trindade*Glauber Alves de Sousa**

Luiz Silvério Silva***

Introdução

Nestepequenotextoqueapresentamos,somam-seostrabalhosreali-zadosnapesquisasobreomicrocréditoeocréditosolidáriocomasexperiênciasvivenciadasnadireçãodoBancodoPovoCréditoSolidário

nestesdoisúltimosanos(2013e2014).Esperamospodercontribuirparaadiscussão,reflexãoeformulaçãodepropostasdeaçãonalinhadocréditodestinadoaosegmentosocialdetentordepotencialparaoempreendedoris-mo,porém,comenormesdificuldadesdeacessoàredebancáriacomercial.Otrabalhodepesquisasobremicrocréditofoirealizadoem2013,juntoaoBancodoPovoCréditoSolidário,cujoresultadoapuradocompletoencontra--sedocumentadonotrabalhoapresentadoparabancaexaminadoracomoatividadedeconclusãodoCursodeCiênciasEconômicasnaUniversidadeMetodistadeSãoPauloemdezembrode2013.Compartilhamosexperiênciaseapoios,cumplicidadeacadêmicacontinuadanestetexto.

O microcrédito

SegundoBarone(2002,p.11),“microcréditoéaconcessãodeemprésti-mosdebaixovalorapequenosempreendedoresinformaisemicroempresas

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

semacessoformalaosistemafinanceirotradicional,principalmentepornãoteremcomooferecergarantiasreais”.ParaNichter(NICHTER;GOLDMARK;FIO-RI,2002,p.15),microcréditoéa“concessãodeempréstimosderelativamentepequenovalor,paraatividadeprodutiva,nocontextodasmicrofinanças”.

Omicrocréditoéaconcessãodeempréstimosdepequenovaloramicroempreendedoresformaiseinformais,normalmentesemacessoaosistemafinanceirotradicional,quetemcomoobjetivopromoveraeconomiapopularpormeiodaofertaderecursosparaomicrocréditoprodutivo,orientadoapessoasfísicasejurídicasempreendedorasdeatividadesdepequenoporte,visandoincentivarageraçãodetrabalhoerenda,inclusãosocial,complementaçãodepolíticassociaise/oupromoçãododesenvolvimentolocal.Osrecursosdestinam-seaofinanciamentodocapitaldegiroe/ouinvestimentosprodutivosfixos,comoobrascivis,comprademáquinaseequipamentosnovosouusados,etambémacompradeinsumosemateriais.(BNDES,2013).

OProgramaNacionaldeMicrocréditoProdutivoOrientado(PNMPO),iniciativadoGovernoFederaleinstituídopelaLeinº11.110,de25deabrilde2005,definemicrocréditoprodutivoorientadocomosegue:

Omicrocréditoprodutivoorientadoéocréditoconcedidoparaoatendimentodasnecessidadesfinanceirasdepessoasfísicasejurídicasempreendedorasdeatividadesprodutivasdepequenoporte,utilizandometodologiabaseadanorelacionamentodiretocomosempreendedoresnolocalondeéexecutadaaatividadeeconômica,devendoserconsiderado,•oatendimentoaoempreendedordeveserfeitoporpessoastreinadasparaefetuarolevantamentosocioeconômicoeprestarorientaçãoeducativasobreoplanejamentodonegócio,paradefiniçãodasnecessidadesdecréditoedegestãovoltadasparaodesen-volvimentodoempreendimento;•ocontatocomoempreendedordevesermantidoduranteoperíododocontratodecrédito,visandoaoseumelhoraproveitamentoeaplicação,bemcomoaocrescimentoesustentabilidadedaatividadeeconômica;•ovaloreascondiçõesdocréditodevemserdefinidosapósaavaliaçãodaatividadeedacapacidadedeendividamentodotomadorfinaldosrecursos,emestreitainterlocuçãocomeste.(BRASIL,2005).

ExisteumenormecampoparaodesenvolvimentodomicrocréditonoBrasil,emfunçãodograndenúmerodefamíliasepessoasquetêmcondi-çõesdesobreviver,empreenderbemcomomelhorarsuacondiçãodevidasehouverumaportefinanceiro.Omicrocréditoéaferramentafundamentalparaocrescimentodeummicroempreendimento,sejaeleformalouinformal.

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

Entretantoomercadobancário,especificamentenainiciativaprivada,nãoofertaosrecursosfinanceirosnecessáriosparaosmicroempreendedores,porconsideraremumaoperaçãodealtorisco,jáqueamaioriadestespossíveisclientesnãopodecomprovarsuarendadevidamente.Diantedestadificuldade,asinstituiçõesdemicrocréditopossuemumpapelfundamentalnoprocessodegeraçãodeempregoerenda.ExisteumafortedemandapelomicrocréditonoBrasil,poisemtornode10milhõesdepessoasnãopossuemacessoaomercadobancário,segundodadosdoIBGE.

SegundoMonzoni(2006),aprimeirainiciativademicrocréditoprodu-tivodequesetemnotíciaaconteceunosuldaAlemanha,noanode1846.Naqueleano,umrigorosoinvernoobrigouosfazendeiroslocaisatomaremempréstimosdeagiotas.Semrecursosfinanceiros,osfazendeirosnãotinhamcomoproduzireconsequentementeoquevender.Comovidopelosimpactossociaiseeconômicos,umpastorchamadoRaiffeinsenpassouaceder,aosfazendeiros,farinhadetrigoparafabricaçãoecomercializaçãodepão,deformaagerarcapitaldegiroparaseusnegócios.Esseempreendimento,de-nominado“AssociaçãodoPão”,acaboucrescendoetransformando-seemumacooperativadecréditoparaapopulaçãodebaixarenda.Contudo,nenhumaoutraexperiênciadaaplicaçãodomicrocrédito,teveoalcance,divulgaçãoemodelodeempreendimentomaisdifundidoecopiadodoqueoGrameenBank,criadopeloProfessorMuhammadYunus,emBangladesh,noanode1976.Ametodologiadegrupossolidáriosfoiidealizadaporele.Metodologiadaqualfalaremoslogomaisàfrente.

O microcrédito no Brasil

ParaGoldmark;PockrosseVechina(2000),aprimeirainiciativademicro-créditonoBrasilfoiiniciadaem1973,pelaUniãoNordestinadeAssistênciaaPequenasOrganizações,conhecidacomoProgramaUNO,naregiãometropoli-tanadeRecife,Pernambuco.ExpandidadepoisparaointeriordoestadoeparamunicípiosdaBahia.Alémdeconcedercrédito,oProgramacapacitavaseusclientes,microempresáriosinformais,emgestãoerealizavapesquisasobreoperfildeseusclientes.OUNOcontribuiuparaaformaçãodedezenasdeagentesdecréditoespecializadosnomercadoinformaletornou-sereferênciaparaváriosprogramasdemicrocréditonaAméricaLatina.

Monzoni (2006)afirmaquenoanode1986foramcriadosoBancodoMicrocrédito,noParaná,eoProgramadeMicrodestilariasdeÁlcoole

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Biocombustíveis(Promicro),noDistritoFederal.Aproveitando-sedeexpe-riênciasbrasileirase latino-americanasanterioresbemsucedidas,surgiuem1987,sobaformadeumaorganizaçãonãogovernamental (ONG),oCentrodeApoioaosPequenosEmpreendimentosAnaTerra(Ceape/RS),nacidadedePortoAlegre.OCeapeAnaTerracontoucomfundosdoBancoInteramericanodeDesenvolvimento(BID)eda Inter-American Foundation (IAF).Em1988,foicriadooInstitutodeDesenvolvimentoAçãoComunitária(Idaco),noRiodeJaneiro.

Nofimdadécadade1990,umasériedeinstituiçõeseprogramasligadosagovernosestaduaiselocaissurgiram:em1998,BancoPalmas(CE),BancodoPovodeSantoAndré(SP),BancoPopulardeIpatinga(MG),BancodoPovodeBelém(PA),Acredita(SP),BancodoPovoPaulista(SP)eBancodoPovodeUberaba(MG).Em1999,BancodoPovodeGoiás(GO),BancodoPovodeMatoGrossodoSul(MS),SindicatodostrabalhadoresemcooperativasdecréditodoestadodoParaná(Sindicred/RJ),InstituiçãoComunitáriadeCréditodeConquistaSolidária(BA),BancodoPovodeItabira(MG),BancoPopulardeBeloHorizonte(Banpop/MG),PrefeituradeRecife,CrescerCréditoSolidário(SP),AgênciadeFomentodoAmapá,InstituiçãoComunitáriadeCréditodePelotas,BancodoPovodeImperatriz,CredProduzir,ICCItabunaSolidáriaeBanpope–BancoPopulardeJoãoMonlevade.

Em2001,surgiramoSãoPauloConfia,ICCBagé,ICCSantaMaria;BancodoPovodeItuiutabaeoBancodoPovodeUberlândia(MG).Naquelemesmoano,oServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresas(Sebrae)lan-çouoProgramadeApoioaoSegmentodeMicrocrédito.Portanto,formaram-sediversasinstituiçõesvoltadasparaotrabalhocomomicrocréditonoBrasil.

EssasinstituiçõesfundaramaABCRED(AssociaçãoBrasileiradeEnti-dadesdeMicrocréditoeMicrofinanças),quepossuisuasedenacidadedeSantoAndré,presididaatualmentepeloSr.AlmirdaCostaPereira,DiretorExecutivodoBancodoPovoCréditoSolidário.AABCREDtemcomopropósitocongregaras instituiçõesdemicrofinançasefortalecê-lasnodesenvolvi-mentodesuasatividades.

Economia informal e microempreendimento informal

ParaRodriguesetal.(2008),oconceitodeeconomiainformalabrangeasatividadeseconômicasque,nãosendoemsimesmailegal,seprocessaàmargemdalegislaçãovigente,especialmentenoâmbitofiscal.Entretantoas

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

queenvolvemodesrespeitoàsnormastrabalhistas,ambientaisequalidadedoprodutosãoigualmenteenquadráveisnesteconceito.JáparaPilagallo(2009,p.25),“economiainformaléaqueenglobatodasasatividadeseconômicasnãoregistradasquecontribuemparaoPIB”.

Aeconomiainformalincluiapenasaproduçãoeoserviçodisponíveisnomercadoquesãodeliberadamenteocultadosdasautoridadespúblicaspelasseguintesrazões:evasãofiscal,nãopagamentodecontribuiçõesàprevidênciasocial;nãocumprimentodepadrõeslegaisdomercadodetrabalho,taiscomosaláriomínimoenúmeromáximodehorasdetrabalho;enãoobservaçãodeprocedimentosadministrativos,taiscomoresponderquestionáriosestatísticos.(SCHNEIDER,2009apudPILAGALLO,2009,p.25).

SegundoTanzi(2009),asprincipaisconsequênciasdaeconomiainfor-malestãorelacionadasaosimpactosnosistematributário.Ogovernopodearrecadarmenosreceitasfiscaisdoqueonecessárioparaevitardificuldadesmacroeconômicas,tendoqueaumentarasalíquotasparacompensar.Umagrandeeconomiainformaltambémdesencorajaoinvestimentoprodutivoestrangeironopaís. Issopodeforçarogovernoacompensarasempresasestrangeiraspelosaltosencargostributárioscommaioresincentivosfiscais.Isso,porsuavez,podecriardistorçõeseproblemas,alémderesultaremimplicaçõesnosistemademercado,promovendoumaconcorrênciadesleal.

ParaPochmann(2005),osmicroempreendimentosinformaisnoBrasilabrangemoconjuntodeunidadeseconômicascujasatividadesproduzemalgumtipodeserviçooudebem,comafinalidadedegeraçãodetrabalhoerenda,comumentecaracterizadapelapequenaescaladeprodução,poucaorganizaçãoadministrativaesemnítidaseparaçãodosrecursosdonegócioefinançasdomésticas.Acomposiçãoocupacionaldosmicroempreendimentosemgeraléformadapelotrabalhadorporcontaprópria.Sãoproprietárioscomhabilidadesbásicaseatémesmodealgumasespecíficasadquiridaspelaexperiênciaprática,muitomaisdoqueproporcionadapelaformaçãoprofis-sionalclássica,naformadecursoseaprendizagemtécnica.

Crédito solidário

AmetodologiadegrupossolidáriosfoiaplicadaporMuhammadYunus,ganhadordoprêmioNobeldaPazem2006efundadordoBancoGrameenemBangladesh.Segundoele,éummétodoeficaznaofertademicrocrédito.

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Descobrimosinicialmentequeaconstituiçãodeumgrupoeraessencialaosucessodenossaempresa.Individualmenteumpobresesenteexpostoatodosostiposdeperigo.Ofatodepertenceraumgrupolhedáasensaçãodesegurança.Oindivíduoisoladotemtendênciaaserimprevisíveleindeciso.Numgrupoelesebeneficiadoapoioedoestímulodetodose,comisso,seucomportamentosetornamaisregulareelepassaaserumfinanciadomaisconfiável.Apressãomutuamenteexercida–demodoàsvezessutil,àsvezesnemtanto–mantémosmembrosdogrupoemconsonânciacomosobjetivosmaisamplosdoprogramadecrédito.Osentimentodecompetiçãoqueseinstauranogrupoetambémentreosdiferentesgruposincitaacadaumafazeromelhor.Édifícilcontrolarindivíduosquefazemumempréstimo,émuitomaisfácilfazê-loseelesintegramumgrupo.Alémdisso,transferirparaogrupoatarefadocontroleinicialaumentaaautoconfiançaediminuiotrabalhodosempregadosdobanco.(YUNUS,2008,p.135).

Naépocadaimplementaçãodametodologiadecréditosolidário,Ban-gladeshestavaemumcontextosocioeconômicocrítico.Em1974,opaísfoiacometidopela“TerrívelFome”,queagravouamisériaecausouumimensoêxodoruralparaacidadedeDaca,capitaldopaís.MuhammadYunus,entãoprofessordeeconomiadauniversidadelocal,passouaestudaraeconomiaregionalcomoobjetivodeencontrarumasoluçãoparaograveproblemaqueassolavaBangladesh.UmadaspercepçõesdeYunuseraquebarreirasaoacessoafontesderecursosfinanceirosacarretavamaexclusãodosmaisnecessitadosdaeconomiaformal,oqueacentuavaamisériaabsolutaemqueviviaopaís.Aqueleperíodofoiumaépocafavorávelparaagiotasindepen-dentes,queemprestavamdinheirofácilcomjurosabusivosparacompradematéria-primaeferramentas.Yunusiniciouentãoumprogramadeconcessãodeempréstimos,iniciandocomovalormédiodeUS$27parapequenosgruposdeumuniversode42pessoas.Paratransporabarreiradagarantia,omode-lodenegóciodoprofessorYunusdesconsiderouasregrasconvencionaisdeinstituiçõesfinanceiras,normalmentecarregadasdeburocraciaeexigênciasdegarantiasreais,econtoucomo“avalsolidário”.Esteavalconsisteemumgrupodepessoas,queseresponsabilizavamsolidariamentepelopagamentodoempréstimo,quandoomutuárionãoconseguequitar.

SpidolaeVilela(2007,p.21)afirmamque“Ametodologiadegrupossolidáriosrealizaoperaçõesparagruposdeempreendedoresdetrêsasetepessoas,compequenosnegócios,osquaisseco-responsabilizampelovalortotaldocrédito”.SegundoSilveira(2013,p.7),osgrupossolidáriosutilizamosistemade“fiançasolidáriaqueconsistenaassociaçãodepessoas–cada

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

qualresponsávelporumpequenoempreendimento–queassumemcoleti-vamenteasobrigaçõesquantoaoretornodosempréstimos”.

Ametodologiadegruposproporcionaaomutuárioasuaautodescobertaeaautoexploração.Quemrecebeomicrocréditocomeçaaexploraroseupotencialeaexercersuacriatividade,embuscadosmelhoresresultados,aumentandoaprobabilidadedocumprimentodesuasresponsabilidadesfinanceiras.

Ocréditosolidárioéumsegundopassonesseprocessodeconcessãoderecursosfinanceiros.Trata-sedeumsaltodequalidadeeumaexperiên-ciadesolidariedadetambémnabuscadosempréstimos.Ocréditosolidáriofundamenta-senotrabalhoemgrupodostomadoresdecrédito. Istoé,ocréditoseconcedeaumgrupodeempreendedoresenãomaisindividual-mente.Portanto,juntam-sepessoascomdiferentesatividadeseconômicase,cadaumcomsuademandaespecífica,forma-seumgrupoquerecebeovalortotaldasnecessidadesindividuais.Cadaumrecebeovalorindividualsolicitado,porémopagamentoserealizanumúnicocarnê,sobaresponsa-bilidadedetodos.Novencimentodaparcela,umintegrantedogrupofazaarrecadaçãodosvaloreseefetuaopagamentodocarnê.Comisto,cria-seovínculoearesponsabilidadesolidáriadecadaumparacomosnegóciosdetodososintegrantesdogrupo.

Aaplicaçãodametodologiadegrupossolidáriosfoiumasoluçãoparaesteimpasse,porémpoucoutilizadanoBrasil.Nossopaísémarcadopeladesigualdadesocial,ondepoucosganhammuitoeamaiorianãopossuinemosuficienteparaatenderasnecessidadesbásicas.Nestecenárioeconômico,aspessoasquenãopossuemempregosfixos,vendo-senanecessidadedegerarrendaparasuprirasnecessidadesbásicas,veemnonegóciopróprioumaoportunidadeparatal,masmuitasvezesfaltaocapitalfinanceiroparareali-zaremoinvestimentonecessárioparaaumentaremsuacapacidadeprodutiva.

Osgrupossolidáriosfornecemumaoportunidadedecréditoaosempre-endedores,queindividualmentenãosãoalcançadospelosistemabancáriotradicional.Estainiciativapermiteoacessoaumafonteformalderecursosfinanceiros,dispensandooauxíliodefamiliareseagiotas.Aresponsabilidadecoletivapelaquitaçãodoempréstimorepresentaumainovaçãocontratual,poistransferemosriscosfinanceiros,aavaliaçãoemonitoramentodasorga-nizaçõesparaosmutuários,induzindo-osacumpriremosseuscompromis-sos.Ocréditoconcedidoauxiliaasnecessidadesdefluxodecaixa,devidoàsinstabilidadesfinanceirasmomentâneas,alémdepossibilitaroinvestimento

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produtivo.EmBangladesh,temosumexemplodaaplicaçãobemsucedidadametodologiadegrupossolidáriospeloBancoGrameen,ondehouveumaumentonosrendimentosdosmutuários,quepossibilitaramaampliaçãodacapacidadeprodutivadeseusmicroempreendimentos.

Nestetextoconsta,maisàfrente,umaanálisedaaplicaçãodomicrocré-ditonosmicroempreendimentosinformaislocalizadosnomunicípiodeSantoAndré,regiãodograndeABC,ondeoBancodoPovoCréditoSolidárioatua.Buscaverificaroimpactonosrendimentosfinanceirosnestesmicroempreen-dimentos.Trata-sedaverificação“inloco”daexperiênciadeumainstituiçãodemicrocrédito,utilizandodametodologiadocréditosolidário.

Estaanálisecompreendetambémdemonstraravariaçãonovolumedeempréstimosconcedidosaosmicroempreendedoresesuarespectivacapacida-dedepagamentonoperíodoconsiderado,expondooaumentonosrendimen-tosdomutuário,demodoaevidenciaraeficáciadosgrupossolidárioscomoprincipalferramentadefomentonesteprocessoe,nestecontexto,identificaremensuraroprocessodeformalizaçãodestesmicroempreendimentosnoperíodode2010a2012,salientandoacontribuiçãodestefenômenoparaaadministraçãopúblicalocaleaeconomiaformaldaregião.

O Banco do Povo Crédito Solidário: experiência do Grande ABC

OBancodoPovoCréditoSolidário(2010)temcomomissão“oferecerserviçosfinanceirosaosempreendedorespopularesedebaixarenda,forta-lecendosuasatividadeseconômicasecontribuindoparaodesenvolvimentolocalesustentável”.Fundadoem1ºjaneirode1997,poriniciativadoentãoprefeitodeSantoAndré,CelsoDanieltinhacomoestratégiacriarpolíticaspúblicasdecombateàexclusãosocialnassuasáreasdeatuação.Iniciousuasatividadesem12demaiode1998,numaparceriaentreaPrefeituradeSantoAndré,oSindicatodosTrabalhadoresBancários,oSindicatodosMetalúrgicosdoABC,aAssociaçãoComercialeIndustrialdeSantoAndréeoSindicatodasEmpresasdeTransportedeCarga.

Ainiciativapartiudanecessidadedeaçõeslocaisdecarátereconômicoedeinclusãosocial,quealavancassemomicrocréditoamicroempreendedoresformaiseinformais,poisumcenáriodedesempregoerecessãopairavanoBrasil.Aideiaeraqueoacessoamicrocréditopudesseimpulsionarosmicro-empreendimentos,que,umavezbemfortalecidoseestruturados,poderiam

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

geraraumentoderendaedeempregolocal.Oprojetoocorreuporintermé-diodaSecretariadeDesenvolvimentoEconômicoeAçãoRegional(àépocaSecretariadeDesenvolvimentoEconômicoeEmprego)eatravésdaDiretoriadeGeraçãodeEmpregoeRenda.

Ocapitalinicialdoadopelossóciosfoidestinadoàcontrataçãodaequipetécnica,àformaçãodefundosnecessáriosparaacarteiradecréditoeestrutu-raparafuncionamento,ouseja,aoiníciodasatividadesdobanco.CabeaquiressaltarqueoBancodoPovodeSantoAndréfoiaprimeiraorganizaçãodogêneronoestadodeSãoPaulo.

Quandopelaentradadenovosparceiros,acoberturadobancofoiam-pliadaparaosmunicípiosdeMauá,RibeirãoPires,DiademaepartedeSãoBernardodoCampoatravésdaInstituiçãoPadreLéoComissari.ComissoonomedaorganizaçãopassouaserBancodoPovoCréditoSolidário(BANCODOPOVOCRÉDITOSOLIDÁRIO,2010).

OBancodoPovotemduasmarcantesfasesemseus16anosdeexistên-cia.Aprimeirafaseémarcadacomoumperíodoexperimentalededescober-tas,umperíododeadaptaçõese,porsetratardealgotãonovo,umperíododedesenvolvimentoinclusivedaequipetécnica.OServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresas(Sebrae)estevepresentedesdeentãofazendoassistênciatécnicaeparticipandocomorepresentantenoConselhodeAdmi-nistração.Nestafase,obancooperavacomcréditoindividualetinhacomogarantiaoavalista,alémderegistroformaloucarteiradetrabalhoassinada(BANCODOPOVOCRÉDITOSOLIDÁRIO,2010).Entendendoqueascondiçõesrequeridasdificultavamaampliaçãodoprojeto,poisnofinaldadécadade1990oBrasilcresciaataxasnulaseodesempregopairava,obancobuscoupormetodologiasquepudessemfazercomqueomicrocréditoatingisseaindamaismicroempreendedores.FoiquandoaparticipaçãodaequipedobanconoProgramaIntegradodeInclusãoSocial(atualMaisIgual)levouàimplementaçãodenovasformasdegarantiamaisligadasaosvaloreséticosemoraisdosmutuários.

OBancodoPovoCréditoSolidário,comsedeemSantoAndré,estácompletando15anosdeexistênciaem2013.SegundooSr.FábioMaschio,diretoradministrativo-financeirodainstituição1,obancotemhojeumacarteirade2.875clientesativosevisiona“serumainstituiçãodemicrofinançascommaisde10.000clientesativos,reconhecidanacionalmentepelaeficiênciana

1 InformaçãocoletadaemapresentaçãodoSr.FábioMaschio,diretoradministrativo-financeirodoBancodoPovoCréditoSolidário,nodia27deagostode2013.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

gestãodeprocessosemetodologiascreditícias”(BANCODOPOVOCRÉDITOSOLIDÁRIO,2010).

Hoje,oBancodoPovoCréditoSolidárioécompostoporumaequipetécnicademaisdevintepessoas.Éumareferênciadomicrocréditonopaísealgunsdeseusprofissionais,prefeiturasedemaissóciossãorequisitadoseatuamparaadisseminaçãodomicrocréditoemoutrasregiõesatravésdefóruns,associaçõeseoutrasorganizações.

Outrasinformaçõesdoanode2012tambémcorroboramobomdesem-penhodoBancodoPovoCréditoSolidário,tornando-aumaorganizaçãocomequilíbriooperacional.EmborasejaumaOscip(OrganizaçãodaSociedadeCivildeInteressePúblico)e,portanto,semfinslucrativos,oBancodoPovoCréditoSolidáriotematuadocomumpequenosuperávitnosúltimosanos,padrãoesperadoenecessário.

INFORMAÇÕES DO BPCS - 2012 Descriçãodoitem Quantificação

Carteiratotal R$ 4.9 milhões

N°declientesativos 2903 (21/12/2012)

Valortotalemprestadonoano R$10.5 milhões

N°operaçõescontratadasnoano 5863

ValoremprestadoemDez/12 R$1,7 milhões (21/dez.)

N°operaçõesrealizadasemDez/12 833

Inadimplência 0,93% (21/dez.)

EstaorganizaçãoteveetemcomoobjetivoaimplementaçãodaatividadedemicrocréditonaregiãodoGrandeABC,experiência,comojácomentamosnoiníciodestetexto,queteveinícionofinaldadécadade1970,quandoobengaliMuhammadYunuscriaoBancoGrameen.UtilizandoocapitaldoGovernodeBangladesh,iniciaotrabalhocomoperaçõesdemicrocrédito,emprestandodinheirosemgarantiasesempapéisamilhõesdepessoas,principalmentemulheres(97%dototal).Em2006,YunuséagraciadocomoPrêmioNobeldeEconomia.Apartirdestaexperiência,emoutrospaísesforamadotadaspráticassemelhantes:créditoparamilharesdepessoasefamíliasdebaixarenda,comoobjetivodefornecerrecursosfinanceiros,aindaqueparcos,masosuficienteparaqueosnegóciosfossemtocadoseasfamíliassobrevivessememelhorassemsuacondiçãodevidanaquelasocupaçõesquelhesdavamsustentação.

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

Apartirde2008,obancooptoupelametodologiadegrupossolidários,oquediminuiuoriscodaoperaçãodecréditosubstancialmente,devidoàscaracterísticassupracitadassobreametodologia.Talfatopodesermedidoatravésdataxadeinadimplência2,que,comopodeservistonográficoabaixo,passouporfortereduçãonoperíodo:

Gráfico 1 – Taxa de inadimplência do Banco do Povo Crédito Solidário

Fonte:BancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Ametodologiasemostrouassertivatendoemcontaque,alémdadimi-nuiçãodataxadeinadimplência,acarteiradeclientesativosdobancocresceu32,5%eomontanteemprestadocresceu45,0%,totalizando10,6milhões3,entre2008e2012.

A aplicação da metodologia de grupos solidários: o funcionamento da metodologia

Essametodologiarealizaoperaçõesparagruposdeempreendedoresdequatroasetepessoas,compequenosnegócios,queassumemacorresponsabi-lidadepelovalortotaldocrédito.Aformaçãodessesgrupossedesenvolvepor

2 Ataxadeinadimplênciaédadapelarazãoentreosvaloresdacarteiraematrasoedacar-teiratotal.

3 InformaçãocoletadaemapresentaçãodoSr.FábioMaschio,diretoradministrativo-financeirodoBancodoPovoCréditoSolidário,nodia27deagostode2013.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

meiodeumprocessoautônomo,noqualostomadoresdecréditoassociam-secomoutrosempreendedoresdesuaconfiança.Aessênciadessametodologiaestánoslaçoscriadosecultivados,osquaisexercempressãosocialentreosmembrosdogrupo.Auniãodogrupopossibilitaoacessoaocréditomaisbarato,oportunidadequeindividualmentenãoseriaoferecidanomercadotradicionaldecrédito.

Osgrupossolidáriosfuncionamcomomecanismodegarantiaeficazdepagamentodecrédito,devidoaosseguintesfatores:

a) auto-seleçãodosmembros,quesóseassociaramapessoasdesuaconfiança;

b) compromissointernopelapontualidadedospagamentosassociadoaumapolíticadecréditoqueincentivaapontualidade;

c) valordocréditoprogressivo,condicionadoaohistóricodepagamento;d) corresponsabilidadedetodosostomadorespelovalortotaldo

crédito.Dessaforma,nãoháanecessidadedeseremdadasoutrasgarantias,taiscomoavalistasoualienaçãodebens,ampliandooalcancedocréditoacomunidadesdebaixarenda.

UmordenamentopublicadopelarevistaThe EconomistmostraqueoBrasil,apesardeterumadasmaioreseconomiasdomundoeumsólidosis-temabancário,ocupaapenasa16ªposiçãonadistribuiçãodecréditoparaapopulaçãomaispobre.FicaatrásdePerueBolívia,porexemplo.

Apesardeasorganizaçõesqueemprestamdinheiroparapessoasefamíliasquepossuempequenosnegócios(formaisouinformais)atenderemnoBrasilumpatamarpróximode170milempreendedores,comumvolumedeR$340milhõesdeempréstimos,existeaindademandaparaseratendida.

UmBancodeMicrocréditoéumainstituiçãodestinadaatrabalharcomalinhadecréditodepequenosvalores,destinadosàpopulaçãoquegeral-menteficasemacessoaosistemadecréditooferecidopelaredebancária.Estetipodeinstituiçãofocaapopulaçãodebaixarendae,viaderegra,operanasperiferiasdasregiõesmetropolitanas.OpapelfundamentaldeumBan-codeMicrocréditoéproporcionarcondiçõesparaageraçãodeempregoerenda,apoiandoiniciativasdeempreendedorismodapopulação,pormeiodofornecimentodecréditoaospequenosnegócios.Destaca-se,entreseusobjetivos,acriaçãodeempregoerenda,proporcionandocondiçõesparaodesenvolvimentosocialeeconômicoparaacomunidadeondeoBancoatua.AgrandemaioriadosBancosdeMicrocréditofuncionacomoumaorganiza-çãosemfinslucrativos,normalmenteformalizadosemOscip(Organização

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

daSociedadeCivildeInteressePúblico),títulofornecidopeloMinistériodaJustiça,sendoregidospelaLeinº7.790,de23demarçode1999.Agrandedificuldaderesidenaformaçãodocapitalparautilizaçãonaofertadecrédito.SemdinheironãohácomooBancodeMicrocréditooperar.

ParaopresidentedaABCRED,Sr.AlmirdaCostaPereira,“omodeloju-rídicodeatividadenoBrasilprecisaevoluirparaquesejamdisponibilizadosmaisrecursosfinanceirosnoatendimentodosempreendedoresdasclassesderendasmaisbaixas”.

A pesquisa

Aoempreenderestapesquisa,pretendemosdemonstrarosresultadosobtidospelaofertadomicrocréditonomunicípiodeSantoAndréeapresentaroseupotencialdecrescimentonaregiãocomopolíticasocial.Omicrocrédi-toéumimportanteinstrumentodegeraçãoderenda,quecontribuiparaareduçãodapobrezaeinclusãosocial.Osmicroempreendedoresembairrosdebaixarendanomunicípiosãocarentesdecapitale,qualquer injeção,principalmentedecapitaldegiro,podeprovocaralavancagensfinanceirassignificativas.Ofatortrabalhoestádisponível,masfaltaofatorcapitalparaquehajaoaumentodaprodução.

Metodologia

Inicialmente,realizamosumapesquisadecamponaOrganizaçãodaSociedadeCivildeInteressePúblico(Oscip)BancodoPovoCréditoSolidário,poisestainstituiçãoadotaametodologiadegrupossolidáriosdesde2008,voltadaespecialmenteparaosmicroempreendedores,sendoqueamaioriadeleséinformalenãotemacessoaosistemabancáriotradicional.Seleciona-mosaunidadedaVilaLuzita,porapresentarumacarteiradeclientesativosrepresentativanomunicípiodeSantoAndré,alémdepossuirmutuáriosquecaptaramrecursosnoperíodode2010a2012.

Primeiramente,coletamosumaamostrade50clientesdoBancodoPovonaunidadesupracitada,correspondendoaproximadamentea10%daamostrageral.Estesclientessãointegrantesdegrupossolidários,possuemmicroempreendimentoslocalizadosemSantoAndréecaptaramemprésti-mosem2010,2011e2012.Valeressaltarqueoptamospormutuáriosquepermaneceramemummesmogrupodurantetodooperíodoconsiderado.A

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

partirdaí,osdadosforamtabuladosemordemcronológicaeporatividadeeconômica,possibilitandoavisualizaçãodaevoluçãodosvaloresconcedidosedacapacidadedepagamento.Partimosdopressupostodequeoaumen-tonovolumedeempréstimosconcedidoséumindicadordoaumentonorendimentofinanceirodasorganizaçõeseconômicasinformaisaolongodoperíodode2010a2012.

Emseguida,utilizamosamesmaamostraparaverificaramigraçãodasatividadesparaaeconomiaformalnoperíodoconsiderado.Estaverificaçãofoimensuradaatravésdopagamentodeimpostosdescritosnolevantamentosocioeconômicodosmutuáriosnoperíodopesquisado,levandoemconside-raçãoarepresentaçãopercentualdestesmutuáriosemrelaçãoaototaldeclientesabrangidospelaamostra.

Posteriormente,comparamosamédiadosvalorescontraídosdecadagraudeescolaridade,afimdeconstatarseograudeescolaridadedosadmi-nistradoresdosmicroempreendimentos(clientes)têminfluênciadiretasobovalordoempréstimoconcedido.

Análise dos dados

Aamostrautilizadanestapesquisaécompostaporclientesdediversossegmentosdaeconomia,especialmentenossetoresdocomércioedepresta-çãodeserviços,onderepresentam83%e17%dosclientesrespectivamente.Aotodo,aamostraabrange33atividadeseconômicasdiferentes.Aatividadepredominanteéobar,com14%daamostraselecionada,seguidopeloartesa-nato,cabeleireiro,merceariaepadariacom6%,ocupandoasegundaposição.Segueabaixoadistribuiçãodaamostraporatividadeeconômica.

Asoutrascategoriasrepresentam50%daamostra,nelaestãocontidas25atividadeseconômicasdistintas,distribuídasigualmentecom2%cadauma.Asreferidasatividadesforamlistadasnoquadro1:

Amaioriadosclientesécompostapormulheres(64%daamostra).Du-ranteacoletadedadospercebemosque,emsuamaioria,osgrupossolidáriossãoformadosporpessoasdomesmogênero,porémasatividadeseconômicassãodiversificadas.Estadiversificaçãoocorredevidoàconcorrênciadosiste-mademercado,emqueamaioriadosclientesatuaemregiõespróximasecompartilhamomesmomercadoregional.Osmicroempreendimentosana-lisadospossuem,emmédia,noveanosdefuncionamento,demonstrandoquepossuemcertasolidezeque,noperíodopesquisado,buscavamcapital

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

Gráfico 2 – Distribuição dos clientes por atividade econômica

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Quadro1–Relaçãodasoutrasatividadeseconômicasabrangidaspelaamostra

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

parainvestimento.Cercade60%dosmicroempreendedoresdedicam-seàatividadeduranteossetediasdasemana,eaproximadamente30%trabalhamseisdiasnasemana.

Comrelaçãoàfaixaetáriadosclientes,amaiorparteseconcentranointervaloentre40e49anos,seguidopor30e39anos.Segueadistribuiçãodaamostrapesquisadaporfaixaetária.

Tabela 1 – Distribuição dos clientes por faixa etária

Faixaetária Clientes Percentual20-29 1 2%30-39 15 30%40-49 18 36%50-59 14 28%60-69 1 2%70-79 1 2%

Totalgeral 50 100%Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Aamostratambémapresentoucertaconcentraçãonaetniadosclientes,ondepredominaabrancacom52%,seguidopelospardoscom26%daamostraselecionada.Segueabaixoadistribuiçãodaamostraporetnia.

Gráfico 3 – Distribuição dos clientes por etnia

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

Osmicroempreendimentos,emsuamaioria,sãofixosepróprios.Valeressaltarqueentreosmicroempreendimentosfixosepróprios,existemcasosemqueopontoestáestabelecidonomesmolocaldaresidência.Segueadistribuiçãodaamostraporponto.

Gráfico 4 – Distribuição por ponto (empreendimento).

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013. Entreosclientesestudados,verificamosque20%nãopossuemconta

bancária.Destaforma,constatamosadificuldadequeestepúblicotemparacaptarrecursosfinanceirosnosistemabancáriotradicional.Abaixoadistri-buiçãodosmutuáriosporacessibilidadeaosistemabancário.

Tabela 2 – Distribuição dos clientes por acessibilidade ao sistema bancário.

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Osdadostambémrevelaramque52%dosclientessãocasados,tornando--seassimoestadocivilpredominantenaamostra.Constatamosque32%daamostrapossuemtrêsdependentese26%possuemdoisdependentes.

Correntista Clientes PercentualSim 40 80%Não 10 20%

Totalgeral 50 100%

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Gráfico 5 – Distribuição por número de dependentes

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Observamosqueamaioriadosmicroempreendedorespossuiresidênciaprópria,indicandocertonívelderenda,possibilitandoaformaçãodepatrimônio.

Tabela 3 – Distribuição dos mutuários por residência

Residência Clientes PercentualPrópria 44 88%Alugada 4 8%Cedido 2 4%TotalGeral

50 100%

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Rendimento dos microempreendimentos

Paraavaliaroimpactodomicrocréditonosrendimentosdosmicroe-emprendimentos informais,tabulamososvaloresconcedidosnoperíodode2010a2012.Selecionamosumempréstimoporano,demodoamediraevoluçãodosrendimentosanualmente.Valeressaltarqueosvaloresconce-didospelobancosãoinfluenciadospelanecessidadederecursosfinanceirosdecadaempreendimento,nãosignificandoumdecréscimonosrendimentos

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

aconcessãodevalorinferioraoempréstimoanterior.Pararefinaraanálisedosdadosutilizamostambémacapacidadedepagamento,demostrandooaumentonosrendimentosdeformadireta.Ambososvaloresforamdeflacio-nadospeloÍndicedePreçosaoConsumidor(IPC-Fipe),afimdepossibilitaravisualizaçãodovalorrealdosrendimentose,consequentemente,davariaçãopercentualreal.

AescolhadoIPC-Fipedeve-seàregionalizaçãodamediçãodavariaçãodoníveldepreços,delimitadaaomunicípiodeSãoPaulo,geograficamentepróximodomunicípiodeSantoAndré(regiãometropolitanadeSãoPaulo).Estaproximidadepossibilitaamensuraçãodaevoluçãodocustodevidadosmicroempresáriosandreenses.Aseguir,oíndice IPC-Fipenosanosde2010a2012,bemcomoonúmeroíndiceeofatordecorreção.

Tabela 4 – Índice IPC-Fipe

Ano IPC-FIPE(%)NúmeroÍndice Fatorde

Correção(base2012)2010 6,40 88,83 1,132011 5,81 94,51 1,062012 5,10 100,00 1,00

Fonte:FIPE,2013.

Apartirdesteíndiceosvaloresconcedidosaosmicroempresáriosforamdeflacionados,considerandoosvaloresde2012comobase,possibilitandoamediçãodavariaçãopercentualrealdosvaloresdosempréstimos.Valeressaltarqueselecionamosapenasumempréstimoporanoparafacilitaraanálise.Agrupamososclientespesquisadosporramodeatividadeeconômica.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Tabela 5 – Média dos valores concedidos e variação percentual real por ati-vidade econômica

Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)

Artesanato R$1.651,13 R$1.975,06 R$1.933,33 8,21%

Bancadejornal R$1.688,66 R$3.174,20 R$3.000,00 33,29%

Bar R$2.766,18 R$3.248,27 R$3.255,71 8,49%

Mercearia R$2.439,17 R$3.170,68 R$2.666,67 4,56%

Borrachariaeautoelétrico R$1.125,77 R$2.645,17 R$3.000,00 63,24%

Brechó R$2.251,54 R$3.174,20 R$2.400,00 3,24%

Cabeleireiro R$1.801,23 R$2.151,40 R$3.033,33 29,77%

Comércio/sacolão R$3.377,31 R$3.174,20 R$3.000,00 -5,75%

Cosméticos R$2.138,96 R$2.888,52 R$2.480,00 7,68%

Costura R$1.688,66 R$2.750,98 R$3.000,00 33,29%

Diversos R$3.940,20 R$5.279,76 R$4.990,00 12,54%

Diversos/comércio R$1.046,97 R$2.116,14 R$3.000,00 69,28%

Doces R$1.170,80 R$1.100,39 R$1.500,00 13,19%

Drogaria R$2.026,39 R$3.703,24 R$4.990,00 56,92%

Feirante R$3.377,31 R$3.174,20 R$3.000,00 -5,75%

Feirante/flores R$1.125,77 R$2.063,23 R$2.000,00 33,29%

Lingerie R$1.857,52 R$2.248,39 R$2.600,00 18,31%

Lojaderoupas R$1.688,66 R$3.174,20 R$3.500,00 43,97%

Mini-mercado R$2.814,43 R$3.174,20 R$3.900,00 17,72%

Padaria R$1.898,80 R$1.587,10 R$2.433,33 13,20%

Pedreiro R$3.658,75 R$3.967,75 R$3.995,00 4,49%

Petshop R$562,89 R$846,45 R$1.200,00 46,01%

Prestaçãodeserv./conserto R$900,62 R$1.692,91 R$3.000,00 82,51%

Produtosdelimpeza R$4.277,93 R$5.279,76 R$4.990,00 8,00%

Quitanda R$3.039,58 R$4.232,27 R$2.000,00 -18,88%

Restaurante R$1.913,81 R$2.803,88 R$1.000,00 -27,71%

RevendedoradeYakult R$3.377,31 R$3.174,20 R$4.000,00 8,83%

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)Roupafeminina R$3.377,31 R$3.174,20 R$3.000,00 -5,75%

Roupa/cosméticos R$1.125,77 R$1.015,74 R$960,00 -7,66%

Roupasefrangoassado R$1.125,77 R$2.116,14 R$2.500,00 49,02%

Salãodebeleza R$2.532,98 R$2.539,36 R$2.400,00 -2,66%

Serralheria R$2.251,54 R$3.174,20 R$4.000,00 33,29%

Vendedordevidros R$3.546,18 R$4.761,30 R$4.990,00 18,62%

Médiageral R$2.267,98 R$2.822,29 R$2.929,20 13,65%

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Notamosque,duranteoperíodopesquisado,osvaloresconcedidoscresceramemmédia13,65%,demonstrandoumaevoluçãonosrecursosfinan-ceirosdemandadosparainvestimentoe,consequentemente,osrendimentosdestesmicroempresários.Asatividadeseconômicasqueapresentaramumconsiderávelaumentoforam:prestaçãodeserviços(consertodepanelas),com82,51%;diversos(comércio),com69,28%;borrachariaeautoelétrico,com63,24%;edrogaria,com56,92%.Ondeobservamosqueosrecursosparainvestimentomaisquedobraram.

Acapacidadedepagamentofornecidapelolevantamentosocioeconô-mico(LSE)éadiferençaentreamédiadasreceitasdoempreendimentoeoscustos/despesasdomesmo.Porsetratardemicroemprendimentosinfor-mais,oscustospessoaistambémsãoconsiderados.Segueabaixoositenscontempladosnocálculodoscustos/despesas:alimentação,saúde,educação,vestuário,aluguel,água,luz,gás,telefone,salário/prestação.

SegundoinformaçõesdoBancodoPovoCréditoSolidário,outrosfato-ressãolevadosemconsideraçãonocálculodacapacidadedepagamento.Oagentedecréditodobancotambémverificaseoclientepossuialgumfinanciamento,omontantedevidoeonúmerodeparcelas.Conjuntamente,éfeitaaanálisedafrequênciadecomprasdeinsumos(matéria-prima)eacomputaçãodestecusto.Destaforma,acapacidadedepagamentopassaaserumindicadorquemostraoaumentonosrendimentosdeformadireta.

Entretanto,acapacidadedepagamentodosclientesselecionadoséme-didadeacordocomaperiodicidadedopagamentodoempréstimo,quepodesersemanalouquinzenal.Estaperiodicidadevariadeacordocomofluxodecaixadecadaempreendimento.Parasolucionaresteimpasseacapacidade

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

depagamentosemanalfoidobradaparaigualarcomaperiodicidadequin-zenal,poisamaioriadosclientes(74%daamostra)estáenquadradanestaperiodicidade.

Tabela 6 – Média da capacidade de pagamento e variação percentual real por atividade econômica

Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)

Artesanato R$670,73 R$630,40 R$854,04 12,84%

BancadeJornal R$1.715,74 R$1.090,32 R$1.030,48 -22,50%

Bar R$367,81 R$338,88 R$462,50 12,14%

Borrachariaeautoelétrico R$816,79 R$1.160,76 R$833,31 1,01%

Brechó R$633,02 R$531,80 R$502,61 -10,89%

Cabeleireiro R$631,38 R$593,41 R$957,08 23,12%

Comércio/sacolão R$280,16 R$263,31 R$613,20 47,94%

Comércio/lingerie R$249,20 R$533,27 R$610,46 56,51%

Comérciodecosmético R$736,50 R$2.244,29 R$2.121,12 69,71%

Costura R$295,63 R$513,15 R$483,74 27,92%

Diversos R$719,64 R$961,04 R$1.453,67 42,13%

Diversos/comércio R$625,96 R$1.367,22 R$653,86 2,20%

Doces R$290,49 R$317,21 R$299,80 1,59%

Drogaria R$808,51 R$908,88 R$1.330,02 28,26%

Feirante R$1.284,19 R$1.993,82 R$1.084,40 -8,11%

Feirante/flores R$259,38 R$260,71 R$246,40 -2,53%

Lojaderoupas R$519,90 R$626,95 R$566,48 4,38%

Mercearia R$919,02 R$1.218,75 R$943,55 1,33%

Mini-mercado R$1.600,00 R$1.503,78 R$830,92 -27,94%

Outrascategorias R$614,41 R$577,46 R$552,47 -5,18%

Padaria R$964,34 R$634,17 R$700,66 -14,76%

Pedreiro R$1.516,14 R$1.427,28 R$1.549,97 1,11%

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

Atividade 2010 2011 2012 Variação (%)PetShop R$609,15 R$1.692,27 R$1.286,80 45,34%

Prestaçãodeserv./conserto R$192,27 R$125,85 R$168,43 -6,40%

Produtosdelimpeza R$1.768,77 R$1.752,46 R$1.656,28 -3,23%

Quitanda R$676,48 R$1.075,46 R$602,80 -5,60%

Restaurante R$1.069,09 R$1.238,76 R$1.053,45 -0,73%

RevendedoradeYakult R$790,88 R$156,01 R$147,45 -56,82%

Roupafeminina R$1.501,64 R$852,38 R$1.173,20 -11,61%

Roupa/cosméticos R$1.240,06 R$1.165,48 R$3.880,88 76,91%

Roupasefrangoassado R$1.615,69 R$1.518,53 R$270,00 -59,12%

Salãodebeleza R$859,77 R$1.692,02 R$528,44 -21,60%

Serralheria R$443,88 R$556,76 R$309,20 -16,54%

Vendedordevidros R$1.463,50 R$732,27 R$2.130,40 20,65%

MédiageralR$881,52R$921,55R$909,18

1,56%

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013. Observamosque,duranteoperíodoconsiderado,acapacidadedepa-

gamentoaumentouemmédia1,56%,demonstrandoumaevoluçãorealnorendimentofinanceirolíquidodosmicroempresários.Devemosponderarqueumaumentosubstancialnorendimentoprovocaumamelhorianaqualidadedevidaeporconsequênciaoscustos/gastosfamiliaresseelevam.Porestemotivo,acapacidadedepagamentosópoderámostrarorendimentoqueestálivredequalquerdespesa.Mesmocomumamédiadeaproximadamente2%,orendimentodosempresáriospodeteraumentadosignificativamente.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Processo de formalização

Aoanalisarmososmutuários,observamosque90%destesclientesatuamnaeconomiainformal.Segueabaixoadisposiçãodosclientesqueatuamnaeconomiaformaleinformal.

Gráfico 6 - Distribuição dos clientes que atuam na economia formal e informal

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Duranteoperíodopesquisadoconstatamosapenasaformalizaçãodeumclientedaamostra,correspondendoa2%daamostraestudada.Estaverificaçãofoimensuradaatravésdopagamentodeimpostosdescritosnolevantamentosocioeconômico,vistoqueocadastramentodosclientesésem-prerealizadopeloCadastrodePessoaFísica(CPF).Considerandosomenteosclientesquetrabalhamnaeconomiaformal,compostopor5clientes(10%daamostra),percebemos,comoditoanteriormente,queoprocessodeformaliza-çãodeumclientedaamostraocorreuem2012.Osdemaisforamformalizadosemumperíodoanteriora2010.Seguedisposiçãodosclientesqueatuamnaeconomiaformaldeacordocomoperíodoemqueseformalizaram.

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

Tabela7–Distribuiçãodosclientesqueatuamnaeconomiaformalporperíodo

Período Clientes Percentual

Anteriora2010 4 80%

2012* 1 20%

TotalGeral 5 100%

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.*Abrangidopeloperíodopesquisado(2010a2012).

Nível de escolaridade

Amaioriadosclientesselecionadospossuioensinofundamentalincom-pleto(antigo1°grau),correspondendoa40%daamostra.Comrelaçãoàfaixaetáriadosclientes,amaiorparteseconcentranointervaloentre40e49anos,seguidopor30e39anos,estesclientesnaidadeescolarsedepararamcomosmaisvariadosproblemasqueresultaramnaevasãoescolar.Segueadistribuiçãodaamostraporgraudeescolaridade.

Gráfico 7 – Distribuição dos clientes por nível de escolaridade.

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Comparamosamédiadosvalorescontraídosdecadagraudeescola-ridade,afimdeverificarseograudeinstruçãodosadministradoresdos

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

microempreendimentos(clientes)têminfluênciadiretasobomontantedovalordoempréstimoconcedido.Contudoconstatamosqueosclientesquereceberamumvalormaiorpossuemoensinofundamentalincompleto,se-guidopeloensinomédioincompleto.Segueamédiadosvalorescontraídosporníveldeescolaridade.

Tabela 8 – Média dos valores contraídos por nível de escolaridade

Níveldeescolaridade Médiadevalorcontraído2010

Médiadevalorcontraído2011

Médiadevalor

contraído2012

Ensinofundamentalincompleto R$2.285,00 R$3.033,50 R$3.148,50Ensinofundamentalcompleto R$1.708,57 R$2.065,71 R$2.465,71Ensinomédioincompleto R$2.050,00 R$2.878,00 R$2.660,00Ensinomédiocompleto R$1.895,00 R$2.518,13 R$3.060,63Ensinosuperiorincompleto R$1.000,00 R$960,00 R$960,00

Ensinosuperiorcompleto R$1.500,00 R$2.600,00 R$3.000,00

Médiageral R$2.014,60 R$2.667,40 R$2.929,20

Fonte:ElaboraçãoprópriaapartirdedadoscoletadosnoBancodoPovoCréditoSolidário,2013.

Aoanalisarosdadoscomprovamosqueograudeinstruçãonãointerfe-resignificativamentenovalorconcedido,poisdependedeoutrasvariáveis,dentreelaspodemosdestacaranecessidadederecursosfinanceirosdecadaempreendimentoeosegmentoemqueoempreendimentoatua.

Considerações finais

Apósanalisarmososdados,verificamosquehouveumaumentodovalordosempréstimosconcedidosaosmicroempreendedores,bemcomoasuarespectivacapacidadedepagamentonoperíodoconsiderado.Notamosqueosvaloresconcedidoscresceramemmédia13,65%,enquantoqueacapa-cidadedepagamentoapresentouumcrescimentodeaproximadamente2%,mostrandoqueomicrocréditoporintermédiodosgrupossolidárioséumaferramentadefomentoparaosmicroempreendimentosinformaispermitindoaosmicroempresáriosrealizaremoinvestimentonecessárioparaaumentarem

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Microcrédito: o crédito para o eMpreendedorisMo no Meio popular

suacapacidadeprodutivadeacordocomasnecessidadesdomercadoemqueatuam,alémdemelhorarsuaqualidadedevida.

Comrelaçãoaoprocessodeformalização,constatamosapenasaformali-zaçãodeumclientedaamostra,correspondendoa2%daamostraestudada.Esteresultadoéinfluenciadoporoutrosfatoresaquinãoexplorados.Esteprocessotambémépassíveldepolíticasadotadaspelogovernoemdiferentesesferas,sendoomicrocréditosomenteineficaznesteprocesso.

Observamosqueograudeinstruçãonãointerferesignificativamentenovalorconcedido,poisanecessidadederecursosfinanceirosdecadaempreen-dimentoexerceumainfluênciamaiorcomovariável.Amaioriadosclientesdobancopossuioensinofundamentalincompletoeentreelesestãoosmutuáriosquecaptaramosmaioresvolumesderecursosfinanceiros.

Osbenefíciosdomicrocréditonãoserestringemsomenteaosrendimen-tosfinanceirosdosmicroempresários,mas,também,àeconomiaregional.AmaioriadosempreendimentosabrangidosporestetrabalhoatuanocomérciodosbairrosdomunicípiodeSantoAndréqueofertamosmaisvariadosbenseserviços.Estecenáriopromoveummercadocompetitivoemquesebuscamqualidadenosbenseserviçosofertados,produtividade,preçoscompatíveis,alémdeimpulsionarodesenvolvimentoeconômicodaregião.Osconsumi-doreslocaissãobeneficiadoscomestaconjuntura,poispartedesuasrendascircularánosprópriosemquemoram,trazendoinvestimentoeminfraestru-turaecrescimentoeconômico.Omicrocréditoéumimportanteinstrumentodegeraçãoderenda,quecontribuiparaareduçãodapobrezaeainclusãosocial,constituindoumapoderosaeeficazferramentaaserexploradacomopolíticasocialalternativa.

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Das pessoas jurídicas nos empreendimentos de economia solidária

José Celso Martins*Rosângela Marques Consônio**

* Advogado,mestreemDireitoPolíticoeEconômicoeespecialistaemDireitoEmpresarialpelaUniversidadePresbiterianaMackenzie.ProfessordaFaculdadedeDireitodaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo,pedagogo.PresidentedoTribunalArbitraldeSãoPaulo(TASP)eintegrantedaSBCSol.

**BacharelemDireitopelaUniversidadeMetodistadeSãoPaulo(Umesp).Atuação:AssistenteJurídica.

Introdução

A organizaçãodosistemacapitalistaexigequeaexploraçãodequal-queratividadeestejarepresentadaporumapessoajurídicaqueseráosujeitodedireitoseobrigaçõesnaordemcivil.Aformalizaçãode

umempreendimentodeeconomiasolidáriasetornanecessáriaparaqueoempreendimentopossasedesenvolverdentrodosistema,sobpenadeficaràmargemenãoterapossibilidadedeexercerumaatividaderegularmente.Paraqueessetipodeempreendimentopossafazerpartedosistemaeconô-micotradicional,mesmosendoumpequenoempreendimento,devetersuasituaçãoregularizada.Aformadeconstituiçãodeumempreendimentodeveráserpreferencialmentepormeiodeumacooperativa,associaçãoouorganiza-çãonãogovernamental(ONG).(retirarestapalavra)Osempreendimentosdeeconomiasolidáriatemcomoprincipalobjetivoainclusãosocioeconômicadepessoasegrupospormeiodeiniciativasdetrabalhoquepossamserde-senvolvidasdeacordocomavocaçãoeaspossibilidadesdeumaatividademercantilàdisposiçãodeumapessoa,deumgrupodepessoasoudeumacomunidade.(retirarestapalavra)oempreendimentosolidárioédiferente

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daempresatradicional,namedidaemqueseusobjetivosnãoestãovoltadosparaolucro,masparagarantirasobrevivênciadeseusempreendedores.Alémdessacaracterísticadiferenciadora,noempreendimentosolidárionãohápatrões,namedidaemquenãoháumproprietáriodocapitaledosmeiosdeprodução,porumladoe,poroutro,pessoasquevendemsuaforçadetrabalhoàempresa,osempregados.Essesempreendimentoscomercializamseusprodutoseserviçosnomercadodeconsumoqueéregidopelasregrasdocapitalismo.

Nessesentido,osistemacapitalistaexigequeaexploraçãodequalqueratividademercantilestejarepresentadaporumempresárioouumapessoajurídicaqueseráosujeitodedireitoseobrigaçõesnaordemcivil.Apessoaqueiráresponderpelosnegóciosrealizadospeloempreendimentoepelasobrigaçõeslegaisdecorrentesdaatividadeexploradadeveseridentificadaad-ministrativamente.Arealizaçãodeoperaçõesmercantis,indústria,comércioouprestaçãodeserviçosimplicaráemobrigaçõesfiscais,trabalhistasetributáriasquesurgirãoindependentementedavontadedaquelesqueresponderemporestesempreendimentos.Assim,arealizaçãodenegóciosimplicaemrespon-sabilidadesalémdaquelascontratualmenteassumidaspeloempreendedor.

Defato,aformalizaçãodeumempreendimentodeeconomiasolidáriaénecessáriaparaqueoempreendimentopossasedesenvolverdentrodosistemacapitalistadeproduçãoecomercialização.Oprocessodeforma-lizaçãodoempreendimentotorna-secondiçãoparaseudesenvolvimentoeregularidadedeoperaçõesmercantis;énecessárioqueconsigaemitirnotasfiscaisecomprovantes, ter inscriçõesemórgãospúblicos,dentreoutrasformalizaçõesAviabilizaçãodeatividadesnormaisdeorganizaçãoprodutiva,comercialoudeserviços,como,porexemplo,avendadeumprodutoouserviço,aaberturadeumacontabancária,ousodecartõesdecrédito,aobtençãodefinanciamentos,dentreoutrasnecessidadessimples,somenteocorreráseoempreendimentoestiverregularizadoperanteosórgãospúblicoscompetentes.Destaforma,paraqueumempreendimentodeeconomiasolidáriapossafazerpartedosistemaeconômicotradicional,mesmosendoumpequenoempreendimento,deverátersuasituaçãojurídicaeadministrativaregularizada.

Poroutrolado,aadequaçãodeumempreendimentodeeconomiasolidá-riaaosistemaeconômicoaindacarecedeumreconhecimentoedeumaformajurídicaespecífica.Assim,àmínguadeumaformasimplificadaeadequadaparaumapropostaquetemumobjetivosocial,muitomaisqueeconômico,e

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destaformadeveriamreceberumtratamentomaisbrandonoqueserefereàsobrigaçõesfiscais,tributáriaseadministrativasperanteoEstado.

Nessecapítulo,sãoabordadasduas,entreaspossibilidadesdeforma-lizaçãodosempreendimentosdeeconomiasolidária–ascooperativaseasassociações–caracterizando-sesuasimplicaçõeseresponsabilidadesperanteoEstadoeperanteterceiros.

O empreendimento de economia solidária

Oespíritodeumempreendimentodeeconomiasolidáriaéodeincluirsocialmenteaquelaspessoasque,semrecursosoucomparcosrecursospes-soaisefinanceiros,possamvivercomdignidadeepossamfazervalerseusdireitosprevistosnaConstituiçãoFederal.

AConstituiçãoFederal(BRASIL,1988),desdeseuartigoprimeiro,ditacomofundamentosdenossoEstadodemocráticodedireitoacidadania,adig-nidadedapessoahumana,osvaloressociaisdotrabalhoedalivreiniciativaecontinuaemseuartigoterceiroadeclarar,comoseuobjetivo,aconstruçãodeumasociedadelivre,justaesolidária,quepossagarantirodesenvolvimentonacional,comaerradicaçãodapobrezaedamarginalização,comareduçãodasdesigualdadessociaiseregionaiseporfimpromoverobemdetodos,sempreconceitodeorigem,raça,sexo,cor,idadeequaisqueroutrasformasdediscriminação.

EstasaspiraçõesdaCartaMagnaimpõemoincentivoaosempreendi-mentosdeeconomiasolidáriaearegularizaçãodeprojetosdessanaturezadeveocorrercombasenaslegislaçõesexistenteseemoutrasquedeverãosersancionadasparamelhoriadosistema.

MarcosArruda(1996)apresentouotextoGlobalização e sociedade civil: repensando o cooperativismo no contexto da cidadania ativa,paraaConferên-ciasobreGlobalizaçãoeCidadania,organizadapeloInstitutodepesquisadaONUparaodesenvolvimentosocial.Nestetextoeleabordaocooperativismoautogestionárioesolidáriocomopropostaparaumdesenvolvimentoque“reconstruaoglobalapartirdadiversidadedolocaledonacional”:

Énesseprocessoqueganhaenormeimportânciaapráxisdeumcooperativismoau-tônomo,autogestionárioesolidário,queinovanoespaçodaempresacomunidadehumanaetambémnarelaçãodetrocaentreosdiversosagentes;[...]oassociativismoeocooperativismoautogestionários,transformadosemprojetoestratégico,podemser

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osmeiosmaisadequadosparaareestruturaçãodasocioeconomiananovaeraqueseanuncia.(ARRUDA,1996).

Umempreendimentodeeconomiasolidáriaé,naverdade,umaempresanoseuconceitoeconômico,masnãooénoseusentidosocial.Umaempresaserevelapeloconjuntodebensorganizados,queagregadoacapitaletra-balhoexploraumaatividademercantilcomoobjetivodelucro(REQUIÃO,2012,p.86).

Aoconceitodeempresasegueoconceitodeempresário,queéoagentequesearriscanaexploraçãodeumaatividadeeconômicacomoidealizadoreorganizadordoempreendimento,comautilizaçãoounãodemãodeobraempregada,comoobjetivodelucro(COELHO,2013,p.126).

Estesconceitosestãoadequadosaomodelocapitalistadeexploraçãodeatividadeeconômica.Porém,nãoésomenteissoqueseesperadeumempreendimentodeeconomiasolidária.OprofessorPaulSinger(2000,p.14)assimdiscorresobreestemodeloeconômico:

Aeconomiasolidáriaéoprojetoque,eminúmerospaíseshádoisséculos,trabalhado-resvêmensaiandonapráticaepensadoressocialistasvêmestudando,sistematizandoepropagando.Osresultadoshistóricosdesteprojetoemconstruçãopodemsersinte-tizadosdoseguintemodo:1.Homensemulheresvitimadospelocapitalorganizam-secomoprodutoresassociadostendoemvistanãosóganharavidamasreintegrar-seàdivisãosocialdotrabalhoemcondiçõesdecompetircomasempresascapitalistas;2.Pequenosprodutoresdemercadorias,docampoedacidade,seassociamparacomprarevenderemconjunto,visandoeconomiasdeescala,epassameventualmenteacriarempresasdeproduçãosocializada,depropriedadedeles;3.Assalariadosseassociamparaadquiriremconjuntobenseserviçosdeconsumo,visandoganhosdeescalaemelhorqualidadedevida.

AevoluçãodestemodeloesuapráxistambémforamdefinidasporPaulSinger(2008,grifonosso):

Nóscostumamosdefinireconomiasolidáriacomoummododeproduçãoquesecarac-terizapelaigualdade.Pelaigualdadededireitos,osmeiosdeproduçãosãodeposse coletivadosquetrabalhamcomeles–essaéacaracterísticacentral.Eaautogestão,ouseja,osempreendimentosdeeconomiasolidáriasãogeridospelosprópriostraba-lhadorescoletivamentedeformainteiramentedemocrática,querdizer,cadasócio,cada membro do empreendimento tem direito a um voto.Sesãopequenascooperativas,nãohánenhumadistinçãoimportantedefunções,todomundofazoqueprecisa.Agora,

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quandosãomaiores,aíhánecessidadequehajaumpresidente,umtesoureiro,enfim,algumasfunçõesespecializadas,eissoéimportantesobretudoquandoelassãobemgrandes,porqueaíumagrandepartedasdecisõestemquesertomadaspelaspessoasresponsáveispelosdiferentessetores.Elestêmqueestritamentecumpriraquiloquesãoasdiretrizesdocoletivo,e,senãoofizeremacontento,ocoletivoossubstitui.Éoinversodarelaçãoqueprevaleceemempreendimentosheterogestionários,emqueosquedesempenhamfunçõesresponsáveistêmautoridadesobreosoutros.

Assim,umempreendimentodeeconomiasolidárianãotemum“empresá-rio”responsávelpeloempreendimento,mastodososenvolvidossãogestoresdeumnegóciocujosmeiosdeproduçãosãodeposseoupropriedadecoletivae,portanto,nãoexisteatradicionalexploraçãodohomempelohomemcomaconsequentedivisãodeclassescomoocorreemumarelaçãodeemprego.

AConstituiçãoFederal(BRASIL,1988),noseuartigo5º,XVIII,tratadasassociaçõesedascooperativascomodireitoegarantiafundamentaleesclareceque,constituídasnaformadalei,estaspodemoperarindependentementedeautorizaçãoeévedadaemseufuncionamentoainterferênciadopoderestatal.

Portanto,umempreendimentodeeconomiasolidáriairáexplorarumaatividadeeconômica,masfaráissocomapropriedadecoletivadosmeiosdeproduçãoeosparticipantesdoempreendimentoserãogestoresdonegócioparticipandoemigualdadenasdecisõesnecessáriasparaodesenvolvimentoemelhoriadoempreendimento,alémdeseremosresponsáveisperanteosórgãospúblicoscompetentes.

As cooperativas

Ascooperativassão,porexcelência,omodeloidealparaaformalizaçãodeumempreendimentodeeconomiasolidária.Odireitoàcriaçãodecoope-rativasestáprevistonaConstituiçãoFederalemseuartigo5º,XVIIIeoseuincentivoporpartedoEstadonoartigo174,parágrafo2º1.

Temosaindalegislaçõesespecíficasquedisciplinamasquestõesligadasàscooperativas.ALei5.764de1971éalegislaçãomaiscompletaeésempreareferênciaquandoexistedúvidasobredeterminadasquestõesespecíficassobreoregimecooperativo.

1 ConstituiçãoFederal,artigo174:Comoagentenormativoereguladordaatividadeeconômica,oEstadoexercerá,naformadalei,asfunçõesdefiscalização,incentivoeplanejamento,sendoestedeterminanteparaosetorpúblicoeindicativoparaosetorprivado.[...]§2º–Aleiapoiaráeestimularáocooperativismoeoutrasformasdeassociativismo.(BRASIL,1988)

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Osartigos1.093a1.096doCódigoCivilde2002(BRASIL,2002)tambémtrazeminformaçõesimportantessobreocooperativismonoBrasil.

ALeinº12.690,de19dejulhode2012(BRASIL,2012),modificouaconstituiçãoeofuncionamentodascooperativasdetrabalhoeinstituiuoProgramaNacionaldeFomentoàsCooperativasdeTrabalho(Pronacoop),alémderegulamentarasatividadesexercidaspeloscooperados.Estanovalegislaçãoveiodeencontrocomasnecessidadesdedesenvolvimentodosempreendimentosdeeconomiasolidária.

O conceito de cooperativa

Umacooperativaéumaformadeuniãodeesforçosquesãocoordenadosentrepessoassemhierarquiaousubordinaçãoentresi,quevivememregimedecolaboraçãoparaumafinalidadesocialeeconômica.Apalavracooperativaderivadolatimcooperatio, quesignificaaaçãodecooperar,umaprestaçãorecíprocadeauxíliocomum.

EdivâniaBiachinPanzan(2006,p.48)esclarecequeacooperativanãotemobjetivoslucrativos,masvisaàprestaçãodeserviçosemfavordosassociadosoucooperadosequeosmembrosaderemvoluntariamenteàcooperativa,sendoonúmerodeassociadosilimitado.Oobjetivoprincipaldascooperati-vasé,portanto,areuniãodepessoascompontosdevistacomuns,objetivoscomuns,comhabilidadescomuns,quebuscammelhoriasnacondiçãodevidadeseusassociados,nasmaisamplasediversaspossibilidades.

Osistemacooperativotemporobjetivoaigualdadedohomemnaso-ciedade,independentementedesuaclassesocial.Predominaaproduçãoeadistribuiçãoigualitáriaequivalenteàproduçãodecadaumefundamenta-senareuniãodepessoasenãodocapital.Visanaverdadeatenderasnecessidadesdeumdeterminadogrupoenãonecessariamenteobterlucro.

Breve histórico do cooperativismo no Brasil e no mundo

Desdeapré-históriaohomemseutilizadosistemacooperativoparaseudesenvolvimento.Desdequandoohomemviviacomonômade,oshomensseorganizavamemgruposparaacaçaeparaapescaedepoiscompartilhavamoresultadocomosgruposqueviviamgregariamente.

Aprimeiracooperativaorganizadaformalmentenomodeloqueconce-bemoshojefoiadostecelõesdeRochdale,bairrodacidadedeManchester,

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naInglaterra,em21dedezembrode1844,entãodenominadaSociedadedosProbosdeRochdale.Acooperativafoifundadapor27homenseumamulher,comcapitaldeumalibracadaum,tendocomoobjetivoacompraeofornecimentodealimentos(COOPERATIVISMO...,2013).

AcooperativadeRochdalenãofoioprimeirosistemacooperativodahistória,vistoqueoutrascivilizaçõesemoutrasépocastambémfizeramusodosistema,masos“pioneirosdeRochdale”foramaquelesquemelhorempregaramosprincípiosdocooperativismosetornandoreferênciaparaaevoluçãoeimplantaçãodosistemanaEuropaedepoisemtodoomundo.

EmoutrospaísesdaEuropa,outrosmodelosdecooperativasforamsedesenvolvendodeacordocomanecessidadeeascircunstânciaseconômicasesociaisdecadapaís.NaInglaterraseimplementaramascooperativasdeconsumo,naAlemanhaascooperativasdecréditoenaFrançaascooperativasdeprodução.(CACOGNA,1980,p.9).

NaItália,em1919,jáexistiam2.351cooperativasdetrabalho,amaioriadoramodaconstrução(cooperativasdetrabalhadoresbraçais,britadores,pedreirosecarregadores,etc.).Asobraseramcontratadasdiretamentepelosprópriostrabalhadores.(MAUAD,2001,p.28).

NoBrasil,osistemacooperativotambémcontalongahistória.Aprimeiracooperativaformalmenteconstituídafoiem1891,chamadadeAssociaçãoCooperativadosEmpregadosdaCompanhiaTelefônica,emLimeira,SãoPaulo.Depoisseseguiramoutras,comoaCooperativaMilitardeConsumo,noDistritoFederal,em1894;aCooperativadosEmpregadosdaCompanhiaPaulistadeEstradasdeFerro,em1897;eaCooperativadeCréditodeNovaPetrópolis(RS)em1906.(HISTÓRIA...,2013).

OBrasilcontahojecomaproximadamente7.600cooperativasemaisde9milhõesdeassociados,alémdeumaorganizaçãorealizadapelosEstadosfederativos,eumacentral,queéaOrganizaçãodasCooperativasBrasileiras(OCB)queéoórgãomáximoderepresentaçãodascooperativasnopaís(OR-GANIZAÇÃO...,2013).

Entresuasatribuições,aOCBéresponsávelpelapromoção,fomentoedefesadosistemacooperativistaemtodasasinstânciaspolíticaseinstitucio-nais.Édesuaresponsabilidadetambémapreservaçãoeoaprimoramentodessesistema,oincentivoeaorientaçãodassociedadescooperativas.Hojesão27organizaçõesestaduais(emSãoPauloéchamadadeOCESP)com7.566cooperativasem13ramosdeatividadesdiferentes.

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TambémexisteaindaumaentidaderepresentativamundialchamadaAliançaCooperativaInternacional(ACI). AAliançaCooperativaInternacionaléaorganizaçãoderepresentaçãodocooperativismoededefesadaidenti-dadecooperativaemnívelmundial.ComsedeemGenebra,naSuíça,existehámaisde100anosecongregacercade800milhõesdepessoasligadasa230organizaçõescooperativasemmaisde100países.

AscooperativasrepresentamgrandepodereconômicoeofomentoaestemodelonoBrasil,comapromulgaçãodenovasleiseregulamentos,vaideencontrocomaampliaçãodosempreendimentosdeeconomiasolidária.

As características do regime cooperativo

Ascooperativassãosociedadesdepessoas,comformaenaturezajurídicapróprias,sendosuanaturezacivil.Ascooperativasnãoestãosujeitasàfalência,sãoconstituídasparaprestarserviçosaosseusassociados.Elassediferen-ciamdasdemaisformasdesociedadesporpossuiralgumascaracterísticaspeculiares,dentreasquaisdestacamosaquelasprevistasnoartigo4ºdaLeiFederalnº5.764/71etambémnoartigo1.094doCódigoCivil(BRASIL,2002):

Sãocaracterísticasdasociedadecooperativa:I–variabilidade,oudispensadocapitalsocial;II–concursodesóciosemnúmeromínimonecessárioacomporaadministraçãodasociedade,semlimitaçãodenúmeromáximo;III–limitaçãodovalordasomadequotasdocapitalsocialquecadasóciopoderátomar;IV–intransferibilidadedasquo-tasdocapitalaterceirosestranhosàsociedade,aindaqueporherança;V–quorum,paraaassembleiageralfuncionaredeliberar,fundadononúmerodesóciospresentesàreunião,enãonocapitalsocialrepresentado;VI–direitodecadasócioaumsóvotonasdeliberações,tenhaounãocapitalasociedade,equalquerquesejaovalordesuaparticipação;VII–distribuiçãodosresultados,proporcionalmenteaovalordasopera-çõesefetuadaspelosóciocomasociedade,podendoseratribuídojurofixoaocapitalrealizado;VIII–indivisibilidadedofundodereservaentreossócios,aindaqueemcasodedissoluçãodasociedade.

Ascooperativassãosociedadesdepessoas.Aindapossuemoutrasca-racterísticasprópriasquetambémdevemserconsideradas,como:aadesãovoluntária,comnúmeroilimitadodeassociados,salvoimpossibilidadetécnicadeprestaçãodeserviçospelacooperativa;avariabilidadedocapitalsocialrepresentadoporquotas-partes;alimitaçãodonúmerodequotas-partesdocapitalparacadaassociado,facultado,porém,oestabelecimentodecritérios

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deproporcionalidade,seassimformaisadequadoparaocumprimentodosobjetivossociais;aimpossibilidadedecessãodasquotas-partesdocapitalaterceiros,estranhosàsociedade;asingularidadedevoto,podendoascoo-perativascentrais,federaçõeseconfederaçõesdecooperativas,comexceçãodasqueexerçamatividadedecrédito,optarpelocritériodaproporcionali-dade;adeterminaçãosobreoquórumparaofuncionamentoedeliberaçãodaassembleiageralbaseadononúmerodeassociadosenãonocapital;adeterminaçãodecomodeveráserretornodassobraslíquidasdoexercício,proporcionalmenteàsoperaçõesrealizadaspeloassociado,salvodeliberaçãoemcontráriodaassembleiageral;aindivisibilidadedosfundosdereservaedeassistênciatécnicaeducacionalesocial;aneutralidadepolíticaeindiscri-minaçãoreligiosa,racialesocial;aprestaçãodeassistênciaaosassociadose,quandoprevistonosestatutos,aosempregadosdacooperativa;aáreadeadmissãodeassociadoslimitadaàspossibilidadesdereunião,controle,operaçõeseprestaçãodeserviços(BRASIL,1971)2.

Todasestascondiçõeslegaiscaracterizamosistemacooperativoeotor-namúnicodentrodoregimejurídicodaspessoasjurídicasnodireitobrasileiro.

Épossívelaindadestacaroutrascondiçõespeculiaresaosistemaco-operativo.Ossóciospoderãoresponderlimitadaouilimitadamentepelasresponsabilidadessociaisdacooperativa.Oestatutodeverápreveraformaderesponsabilidadedossóciosquepoderãorespondersomentecomsuaquotapartenaproporçãodesuaparticipaçãonasoperaçõesouresponderilimitadamentepelasobrigaçõessociais(BRASIL,2002,1971)3.

Associedadescooperativaspoderãoadotarporobjetoqualquergênerodeserviço,operaçãoouatividademercantil,poréméobrigatórionasuade-nominaçãoousodaexpressão“cooperativa”(BRASIL,1971)4.

Ossegmentosjáconsagradoscomocooperativassãoosramosdaagro-pecuária,doconsumo,docrédito,oeducacional,especial,habitacional,infraestrutura,mineral,produção,saúde,trabalho,transporteeturismoelazer;masaleinãotrazlimitessobreaatividade,quepoderáseraquelaquemelhoratenderaosassociados.

Osistemacooperativopossuitambémsímbolosqueidentificamascoo-perativas.Oprincipalsímboloéumcírculoabraçandodoispinheirinhos,que

2 Lei5.764/71,artigo4º.3 CódigoCivil,Lei10.406/2002,artigo1.095eartigos12e13daLei5.764/71.4 Lei5.764/71,artigo5º.

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indicaauniãoecoesãodomovimento(círculo),aimortalidadeeeternidadedeseusprincípios,afecundidadedeseusideais,eavitalidadeeenergiadeseusadeptos.Tudoistomarcadonatrajetóriaascendentedospinheirosqueseprojetamparaoalto,procurandosubircadavezmais.

Tambémrepresentaascooperativasabandeiracomascoresdoarco-íris;eo1ºsábadodejulhoéconsagradocomoodiadocooperativismo.

A constituição das sociedades cooperativas

Associedadescooperativassãoconstituídasapartirdeumadeliberaçãoemassembleiadeseussóciosfundadores,quefarãoredigirarespectivaata.Noatoconstitutivodeumasociedadecooperativadeverãonecessariamenteconstaradenominaçãodaentidade,suasede,oobjetodeseufuncionamento,onome,nacionalidade,idade,estadocivil,profissãoeresidênciadosseusassociadosfundadoresqueassinarãooinstrumento.Tambémdeveráconstarovalordaquotapartedecadaum.

Aprovadooestatuto,osassociadosdeverãoindicaraspessoaseleitas,quedevidamentequalificadasirãocomporosórgãosdeadministração,fis-calizaçãoeoutrosquesefizeremnecessáriosparaorganizaçãodaentidade.

Oestatutodacooperativadeveráobrigatoriamenteindicarascondiçõesprevistasnoartigo21daLei5.764/71,sobpenadeserindeferidoopedidoderegistro.Sãocondiçõesindispensáveis:

I–Adenominaçãoadotadaparaacooperativa,asedecomadeterminaçãoprecisadolocalondeseráinstaladaaentidade,prazodeduraçãoouaindicaçãoqueacooperativaestásendoconstituídaporprazoindeterminado,aáreadeação,eoobjetodasociedadediscriminandoqualseráaatividadeaserdesenvolvida,alémdadoperíododefixaçãodoexercíciosocial,quenormalmenteéde01dejaneiroa31dedezembro,dadatadolevantamentodobalançogeral;II–Osdireitosedeveresdosassociados,comadeterminaçãodanaturezadesuasresponsabilidadeseascondiçõesdeadmissão,demissão,eliminaçãoeexclusãodosassociados,alémdasnormasparasuarepresentaçãonasassembleiasgerais;III–Determinaçãodovalordocapitalmínimo,ovalordaquota-parte,omínimodequotas-partesasersubscritopeloassociado,omododeintegralizaçãodasquotas--partes,bemcomoascondiçõesdesuaretiradanoscasosdedemissão,eliminaçãooudeexclusãodoassociado;IV–Aformadedevoluçãodassobrasregistradasaosassociados,oudorateiodasperdasapuradasporinsuficiênciadecontribuiçãoparacoberturadasdespesasdasociedade;

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V–Omododeadministraçãoefiscalização,estabelecendoosrespectivosórgãos,comdefiniçãodesuasatribuições,poderesefuncionamento,arepresentaçãoativaepassi-vadasociedadeemjuízoouforadele,oprazodomandato,bemcomooprocessodesubstituiçãodosadministradoreseconselheirosfiscais;VI–Asformalidadesdeconvocaçãodasassembleiasgeraiseamaioriarequeridaparaasuainstalaçãoevalidadedesuasdeliberações,vedadoodireitodevotoaosquenelastivereminteresseparticularsemprivá-losdaparticipaçãonosdebates;VII–Oscasosdedissoluçãovoluntáriadasociedade;VIII–Omodoeoprocessodealienaçãoouoneraçãodebensimóveisdasociedade;IX–Omododereformaroestatuto;X–Onúmeromínimodeassociados.

Todasociedadecooperativadeverápossuirumlivrodematrícula,umlivrodeatasdasassembleiasgerais,outrodeatasdosórgãosdeadministra-ção;deverá,ainda,terumlivrodeatasdoconselhofiscal,depresençadosassociadosnasassembleias,alémdeoutrosfiscaisecontábeisqueforemobrigatóriosdeacordocomaatividademercantildacooperativa.

Ocapitalsocialserásubdivididoemquotas-partes,cujovalorunitárionãopoderásersuperioraomaiorsaláriomínimovigentenopaís.Paraaformaçãodocapitalsocialpoder-se-áestipularqueopagamentodasquotas--partessejarealizadomedianteprestaçõesperiódicas,independentementedechamada,pormeiodecontribuiçõesououtraformaestabelecidaacritériodosrespectivosórgãosexecutivosfederais(BRASIL,1971)5.

Ascooperativassãoobrigadasaconstituirumfundoreservadestinadoarepararperdaseatenderaodesenvolvimentodesuasatividadesdenomínimo10%dassobraslíquidasdecadaexercíciocontábil.

Assobras líquidassãoapuradascontabilmentecomaapuraçãodosresultadoslíquidosdasoperaçõeseconômicasdacooperativa,tendocomoreferênciatodasasreceitasmenostodasasdespesasnecessáriasparaode-senvolvimentodaatividadeeconômicaproposta.

Tambémseránecessáriaacriaçãodeumfundodeassistênciatécnica,educacionalesocialdestinadoàprestaçãodeassistênciaaosassociadoseseusfamiliares,quedeverárepresentarnomínimo5%dassobraslíquidasapuradasemcadaexercício,sendoqueoestatutopoderápreverigualfundodestinadoparaosempregadosdacooperativa.

5 Lei5.764/71,artigo25.

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A políticA públicA e o pApel dA universidAde

Aadmissãodeassociadosélivreesemnúmeromáximodeassociadosdesdequedentrodospadrõesdeterminadospelosórgãosnormativosdecadacooperativaparaaspessoasqueexerçamdeterminadaatividadeouprofissãodeinteressedacooperativa.

Ademissãodosassociadosocorreráapartirdeumpedidodopróprioasso-ciadooupoderáserafastadoporpráticadeinfraçãolegalouestatutária,sendoquesuaexclusãodeveráseranotadanolivrodematrículadeformamotivada.

Os órgãos sociais

Todasascooperativasdevemserorganizadasapartirdeassembleiaseconselhosadministrativosefiscais.Aassembleiageraléoórgãosupremodasociedadeedentrodoslimiteslegaiseestatutáriostempoderesparadecidirsobreosnegóciosdeinteressedacooperativaepodetomartodasasdecisõesqueentendernecessáriasparaasuadefesaetambémparaseucrescimentoedesenvolvimentodacooperativa.Asdecisõesedeliberaçõesrealizadaspelaassembleiavinculamtodososassociados,presentesounão,quedeverãoseguireaceitaroquefordeterminado.

Asassembleiasgeraisdevemserconvocadascomprazomínimodedezdiasdeantecedênciaemconvocaçãoquedeveserfeitadiretamenteaossóciosetambémpormeiodeeditaisafixadosemlocaispróprios.Oquórumnecessárioparaasdeliberaçõesserádeterminadoconformeoestatutoeserádeterminadoemprimeira,segundaouatéterceiraconvocação.

Asassembleiasgeraisordináriasserãorealizadasanualmentenostrêsprimeirosmesesapósotérminodecadaexercíciosocial.Nessaassembleiadeverãoserdeliberadasquestõessobreaprestaçãodecontas,destinaçãodassobras,eleiçãodoscomponentesdosórgãosdeadministração,conselhofiscaleoutrosassuntosdointeressedasociedade,salvoasquestõesquedevemserdeliberadasemassembleiageralextraordinária.

Asassembleiasgeraisextraordináriasserãorealizadassemprequefornecessárioepoderãodeliberarsobrequalquerassuntodeinteressedasocie-dade,porémotemadeveserespecificadonoeditaldeconvocação.

Édecompetênciaexclusivadasassembleiasgeraisextraordináriasdeli-berarsobreareformadoestatuto,sobreafusão,incorporaçãooudesmem-bramentodacooperativa,amudançadoobjetodasociedade,adissoluçãovoluntáriadasociedadecomanomeaçãodos liquidanteseascontasdoliquidante.

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Das pessoas juríDicas nos empreenDimentos De economia soliDária

Todacooperativateráobrigatoriamenteumórgãodeadministraçãoresponsável,queseránecessariamenteformadopelosassociadosporman-datonuncasuperioraquatroanos,sendoqueesteconselhoaofinaldecadamandatodeveserrenovadoempelomenosumterço.

Oconselhoadministrativopoderácontratartécnicosqueentendernecessáriosparaaboaadministraçãoedesenvolvimentodasociedade.Osadministradoresnãoserãoresponsáveispelasobrigaçõescontraídaspelaco-operativa,salvonascooperativasdecrédito,cooperativasagrícolasmistasedehabitação,quandoresponderãosolidariamentepelosprejuízosresultantesdeseusatos,especialmenteseprocederemcomdoloouculpa.

Oconselhofiscaltemporfinalidadefiscalizar,assíduaeminuciosamente,aadministraçãodasociedade,queseráconstituídaportrêsmembrosefetivosetrêsmembrossuplentes,quedeverãosertodosassociadosedemocratica-menteeleitosemassembleiageral,sendopermitidasomenteareeleiçãodeumterçodeseusmembros.

As alterações e da dissolução das sociedades cooperativas

Associedadescooperativaspodemsofrermudançasnaformadesuacomposiçãoerepresentação.

Afusãoéadmitidaentreduasoumaiscooperativasparaacriaçãodeumanovasociedade,bemcomoaincorporaçãodeumacooperativaporou-traque,nestecaso,assumetodasasobrigaçõesdasociedadeincorporada.

Odesmembramentodeumacooperativaemoutras,deacordocomaespecialidadeeointeressedeseusassociados,tambémépossível,sendoquenestecasoseráformadaumacomissãoqueirádeliberarsobreaformacomoseráfeitoorateiodopatrimôniodacooperativaobjetododesmembramento.

Adissoluçãodassociedadescooperativaspoderáocorreremdiversassituações,comopreceituaoartigo63daLei5.764/71,dentreosquaisdes-tacamososseguintes:quandoassimdeliberaraassembleiageral,desdequeosassociados,totalizandoonúmeromínimoexigidoporestaLei,nãosedis-ponhamaassegurarasuacontinuidade;pelodecursodoprazodeduração,quandooestatutodispusersobreoprazodeduraçãodasociedade;quandohouverprevisãoexatasobreaconsecuçãodosobjetivospredeterminados;devidoàalteraçãodesuaformajurídica;pelareduçãodonúmeromínimodeassociadosoudocapitalsocialmínimose,atéaassembleiageralsub-sequente,realizadaemprazonãoinferiora6(seis)meses,elesnãoforem

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restabelecidos;pelocancelamentodaautorizaçãoparafuncionarpelosórgãospúblicoscompetentes;oupelaparalisaçãodesuasatividadespormaisde120(centoevinte)dias.

Adissoluçãodasociedadeimportaránocancelamentodaautorizaçãoparafuncionaredoregistro,esenãoforespontaneamentesolicitada,estapoderáocorrerpormedidajudicial,requeridaporqualquerassociado,ouporiniciativadeórgãoexecutivofederal.

Quandoadissoluçãofordeterminadaemassembleiageral,estadeter-minaráumliquidanteouumconselhofiscalresponsávelpelaliquidação.

As cooperativas de trabalho no regime da Lei 12.690/2012

OregimeadotadopelaLei12.690/12geroumelhorescondiçõesparaacriaçãodecooperativasnomodelodosempreendimentosdeeconomiasolidária.Referidoregimeémaisflexívelcomalgumasobrigaçõeseadmitesuaconstituiçãocommenornúmerodeassociados(naLei5.764,onúmeromínimoédevinteassociados,enquantoquenanovalegislaçãoonúmeromínimoédeseteassociados).

Apresenteleipromoveascooperativasdetrabalhoparaqueestaspos-samflexibilizarosprincípiosjámencionados,coibindopossíveisfraudesemrelaçãoàssuasatividadeslaborais6.

Nesteliame,comoobjetivodeafastarcertasfraudes,oartigo2ºdaLei12.690/12estabelecequeascooperativasdetrabalhosãosociedadesconstituídasportrabalhadoresvisandomelhorqualificação,renda,situaçãosocioeconômicaecondiçõesgeraisdetrabalho.

Valeressaltar,deacordocomavigênciadestalei,queoartigo3ºexpressaclaramenteosprincípiosnorteadoreseosvaloresdeumsistemacooperativis-ta,quedevemserobservadoserespeitados,sobpenadenãoserconcedidososbenefíciosespecificamenteprevistosnesteregimejurídico.

Aadesãodoassociadodeveservoluntáriae livre;agestãodeveserdemocráticacomaparticipaçãoeconômicadosmembros,quedevematuarcomautonomiaeindependência;devehaverasaçõesvoltadasparaumaeducação,formaçãoeinformaçãocontínua;deve,também,haverintercoo-peraçãoentreascooperativas;aatividadeaserdesenvolvidadeveatender

6 Oparágrafoúnicodoartigo442daCLTdispõesobrea“inexistência”devínculoempregatícioentreacooperativaeseusassociados,eentreosprestadoresdeserviços.

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aointeressedacomunidade,comapreservaçãodosdireitossociais,dovalorsocialdotrabalhoedalivreiniciativa,semqueocorraemqualquerhipóteseaprecarizaçãodotrabalho.

Agestãodeveserdemocráticacomrespeitoàsdecisõesdeassembleia,observandoqueocorraaparticipaçãodetodososassociadosnagestãoparatodososníveisdedecisão,deacordocomoprevistoemleienoEstatutoSocial.

AgestãodascooperativassobestenovoregimedeveobservardireitossemelhantesàsgarantiassociaisprevistasnaConstituiçãoFederalenaCLT.

Assim,nãopoderãoocorrerpelosassociadosretiradasinferioresaopisodacategoriaprofissionale,naausênciadeste,nãoinferioresaosaláriomíni-mo,calculadasdeformaproporcionalàshorastrabalhadasouàsatividadesdesenvolvidas.

Deveráserrespeitadaaduraçãodajornadadetrabalhonormalnãosuperiora8(oito)horasdiáriase44(quarentaequatro)horassemanais,excetoquandoaatividade,porsuanatureza,demandaraprestaçãodetrabalhopormeiodeplantõesouescalas, facultadaacompensaçãodehorários.Tambémorepousosemanalremuneradodeveserobservado,preferencialmenteaosdomingos.

Haverátambémdireitoaférias,comoprevisãoderepousoanualremu-nerado,alémdodireitoderetiradasuperiorparaotrabalhonoturnoemcom-paraçãocomotrabalhodiurno,adicionalsobrearetiradaparaasatividadesinsalubresouperigosaseaindasegurodeacidentedetrabalho.

Aprevisãodestasgarantiassociaisnãonecessitaseraplicadadeformaimediataaosseusassociados,poismuitasvezesseránecessáriaacriaçãodeumfundoedeacordocomaspossibilidadesdegestãodacooperativa,masécertoqueocumprimentodestasobrigaçõesdevefazerpartedasmetasaserematingidaspelasociedadecooperativa.

Aredaçãodoartigo7ºgaranteeprotegeosdireitosdoscooperados,queficamequiparadosaosdireitosqueaprincípiosão“semelhantes”aosdosempregadosceletistas,masocertoéqueapresentelegislaçãoestádeacordocomalegislaçãocomparadaecomasrecomendaçõesdaOrganizaçãoInternacionaldoTrabalho(OIT)edaOrganizaçãoInternacionaldeCooperati-vasdeProduçãoIndustrial,ArtesanaledeServiços(Cicopa)(TROCOLI,2012).

Acooperativadetrabalho,sobaégidedaLei12.690,poderáadotarporobjetosocialqualquergênerodeserviço,operaçãoouatividade,desdequeprevistonoseuestatutosocial.Assimficalimitadoomodelodecooperativa,quenãopoderáserexclusivamentecomercialoudeconsumo.

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Nadenominaçãosocialdacooperativaéobrigatórioousodaexpressão“cooperativadetrabalho”paraidentificarotipodecooperativaealegislaçãoquenorteiaseusprocedimentoseresponsabilidades.

Osempreendimentosdeeconomiasolidáriapoderãoserconstituídoscomopessoasjurídicasnaformadecooperativasecooperativasdetrabalho,sendoesteúltimomodelomaisadequadoemrazãodesuamaiorsimplicidadenasuaconstituiçãoegestão.

Aleiquecriouascooperativasdetrabalhoirásubsidiariamentesevalerdaleiprincipaldascooperativas(Lei5.764/71)paraasoluçãodequestõesqueestaleieventualmentenãotenhaprevisão.Assim,conhecerasduasle-gislaçõeséimperativoparaoestudodaspossibilidadesdeformalizaçãodosempreendimentosdeeconomiasolidáriaempessoasjurídicassujeitasdedireitoseobrigaçõesnaordemcivil.

As associações

Asassociaçõestambémconhecidas internacionalmentecomoONGs(organizaçõesnãogovernamentais)surgemcomooutraspossibilidadesderegularizaçãodeempreendimentosdeeconomiasolidária,comopessoasjurídicascapazesdedireitoseobrigações.

Asassociaçõessãopessoasjurídicasregulamentadasapartirdoartigo44atéoartigo61doCódigoCivilBrasileiro.

Asassociaçõesseconstituempelauniãodepessoasqueseorganizamcomobjetivoscomuns,porémsemfinslucrativoseapartirdestesinteressescomunsconstituemumapessoajurídica.

Quantoàconstituiçãodepessoajurídica,éválidofrisarmosquetantoacooperativaquantoaassociaçãosãoconsideradaspessoasjurídicasdedireitoprivado,naformadalei.

AinscriçãodoatoconstitutivodaassociaçãodeveserfeitanoCartóriodeRegistroCivildePessoaJurídica,emformapúblicaouparticular,garantindoocomeçodasuaexistêncialegalcomopessoajurídica.

JoséEduardoSaboPaes(2006,p.63)define:

Aassociaçãoéumamodalidadedeagrupamentodotadadepersonalidadejurídica,sendopessoajurídicadedireitoprivadovoltadaàrealizaçãodeinteressesdosseusassociadosoudeumafinalidadedeinteressesocial,cujaexistêncialegalsurgecomainscriçãodeseuestatutonoregistrocompetente,desdequesatisfeitososrequisitoslegais,queelatenhaobjetivolícitoeestejaregularmenteorganizada.

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Porserdotadadepersonalidadejurídica,aexistênciadaassociaçãoeoreconhecimentodedireitoseobrigaçõesserãodistintosdaspessoasdeseusassociados.Teráseupatrimôniopróprio,quedeveráserempregadosempreemordemeafavordosassociadosparaqueseconsigaatingirafinalidadeproposta,enãopode,emqualquerhipótese,serusadaparausoprópriodeseussócios.

Asassociaçõesnormalmentesãoconstituídasparafinalidadesbenefi-centes,científicas,religiosas,desportivasouliterárias.Destaforma,pessoasquetenhamestesobjetivospoderãoseuniràconstituiçãodeassociaçõescomestesobjetossociais.

Assimcomoascooperativas,aliberdadedeassociaçãoeodireitodeassociar-seconstituemumdireitosocialconsistentenafaculdadequedis-pomosdenosunireformargruposereuniõesdepessoas.Umaassociaçãoteráumafinalidadeespecíficacomobjetivoseideaiscomunsentresi,sendoquecadaassociado,comamesmadisposiçãoqueadentraparaaassociação,podeseretirarquandoquiser.

Asassociaçõesorganizadasnasáreasdeeducaçãooudeassistênciaso-cialserãoconsideradasimunesquantoaorecolhimentodetributosquandoatenderemosrequisitosdeimunidadeprevistosnaConstituiçãoFederaldaRepúblicaelegislaçãocomplementar,taiscomoaprestaçãodeserviços,asociedadeemgeralsemfinslucrativos(TOZZINI;BERGER,2003).

OCódigoCivilde2002define,emseusartigos53eseguintesaformadeconstituiçãodasassociaçõeseasformalidadesquedevemserobservadasparaaquelesqueaderiremaosistema.

Diferentedoqueocorrenascooperativas,nasassociaçõesnãohá,entreosassociados,direitoseobrigaçõesrecíprocos.Destaforma,asobrigaçõeseosdireitosdecadaassociadoestarãodeterminadosnaleienoestatutodainstituiçãosemqueentreosassociadosexistamdireitoseobrigações,sendoqueestesexistirãosomenteentreosassociadoseaassociação.

Paraserconsideradoválido,oestatutodaassociaçãodeveobservarcondiçõesmínimasqueestãodispostasnoartigo54doCódigoCivil.Assim,aconstituiçãodeumaassociaçãodeveconterobrigatoriamenteemseuestatutosuadenominação,osfinsaquesedestinaeasededaassociação;quaissãoosrequisitosmínimosnecessáriosparaaadmissão,demissãoeexclusãodosassociados;quaissãoosdireitosedeveresdosassociados;quaisserãoasfontesderecursosparasuamanutenção;qualomododeconstituiçãoedefuncionamentodosórgãosdeliberativos;quaisascondiçõesparaaalteração

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dasdisposiçõesestatutáriaseparaasuadissolução;qualserásuaformadegestãoadministrativaedeaprovaçãodasrespectivascontas.

Aosassociadosdevehaverdireitosiguais,masoestatutodaentidadepodeinstituircategoriascomvantagensespeciais,porémtalqualidadedeassociadoéintransmissível,salvoseoestatutodispuserdeoutraforma.

Seoassociadofortitulardequotaoufraçãoidealdopatrimôniodaas-sociação,suatransferêncianãoimportaránaatribuiçãodestaqualidadedeproprietárioaoassociado,aoadquirenteouaoseuherdeiro,salvosehouverexpressaprevisãoemcontrárionoestatutodaentidade.

Aexclusãodoassociadosóéadmitidaquandohouverjustacausa,assimreconhecidaemprocedimentoqueasseguredireitoderespostaederecorreraoassociadoexcluído,deacordocomostermosdorespectivoestatuto.

Eporfim,emsetratandodosdireitosgarantidosaosassociados,nenhumassociadopoderáserimpedidodeexercerdireitooufunçãoquelhetenhasidolegitimamenteconferido,anãosernoscasosprevistosnaleiounoestatuto.

Assim,especialmentenoâmbitocultural,beneficenteedesportivo,aspessoaspoderãosevalerdasassociaçõesparaaregulamentaçãodeumem-preendimentodeeconomiasolidária.Oobjetivonãopodeserlucro,masapossibilidadededesenvolvimentodeumgrupooucomunidade,comacriaçãodeescolas,centrosculturaisedesportivos,dentreoutros,estápresentenestemodelodeformaçãodapessoajurídica.

Conclusão

OsempreendimentosdeeconomiasolidáriaprecisamserlegalmenteconstituídosparaquepossamexerceratividadeeconsequentementeficareminseridosnosistemaburocráticoeadministrativodoEstadobrasileiro.

Aampliaçãodeoportunidadesedepostosdeserviçopormeiodaeco-nomiasolidáriacumprecomdispositivosdaConstituiçãoFederalquepreveemacidadania,adignidadedapessoahumana,osvaloressociaisdotrabalhoedalivreiniciativacomofundamentos,alémdedeclararcomoobjetivoaconstruçãodeumasociedadelivre, justaesolidária,quepossagarantirodesenvolvimentonacional,comaerradicaçãodapobrezaedamarginalização,comareduçãodasdesigualdadessociaiseregionaise,porfim,promoverobemdetodos,sempreconceitodeorigem,raça,sexo,cor,idadeequaisqueroutrasformasdediscriminação.

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Nãoexistenodireitobrasileiroummodelolegalespecíficoderegula-mentaçãodeempreendimentosdeeconomiasolidária.Asformaspossíveisderegulamentaçãodosempreendimentossãoascooperativas,ascooperativasdetrabalhoeasassociações.

Todasasformasdeconstituiçãodaspessoasjurídicaspossuemlegisla-çõesprópriasquedevemserseguidasobservandoascaracterísticasdecadamodelo,sobpenadenãoseconseguiroregistronoórgãocompetenteoucometerirregularidadesdegestãoquepoderãogerarresponsabilidadesaosseusrepresentantes.

AscooperativasestãoregulamentadaspelaLei5.764de1971epelosartigos1.093a1.096doCódigoCivilde2002.AscooperativasdetrabalhoestãosobaégidedaLei12.690/12comautilizaçãosubsidiáriadasleisdascooperativasedoCódigoCivil,enquantoqueasassociaçõesestãoprevistasnoCódigoCivilemseusartigos53a61.

Acriaçãoeodesenvolvimentodosempreendimentosdeeconomiaso-lidáriatêmanecessidadedeterumaconstituiçãoegestãoqueatendamascaracterísticaslegaisdecadamodelo.Casonãoocorraadevidaadequação,aentidadeestaráirregularenãoconseguirásedesenvolverdentrodocenárioeconômico-administrativoqueregulamentatodasasatividadesmercantisdesenvolvidasnopaís.

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