A POTICA DO MITO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABADEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LITERATURA E INTERCULTURALIDADE DISCIPLINA: MITOPOTICADOCENTE: DRA. MARIA GORETTI RIBEIRODISCENTE: GILMAR DE S. B. VASCONCELOS

A POTICA DO MITO

A POTICA DO MITOPARTE II

AS FORMAS CLSSICAS DO MITO E O SEU REFLEXO NO FOLCLORE NARRATIVO ANTES DE ADENTRARMOS AO ESTUDO DAS FORMAS CLSSICAS DO MITO E O SEU REFLEXO NO FOLCLORE NARRATIVO MIELIETINSKI JULGA NECESSRIO FAZERMOS ALGUMAS OBSERVAES PRVIAS QUE FACILITARO A NOSSA COMPREENSO DA NATUREZA DO MITO. PARA ISSO PRECISO FAZER UM BREVE EXAME DO MITO E DA MITOLOGIA NAS FORMAS MAIS TPICAS, [...], QUE SO INERENTES NO S E NEM TANTO ANTIGIDADE CLSSICA [...] QUANTO S SOCIEDADES MAIS ARCACAS E A ANTIGA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 189)OBSERVAES PRVIASNAS SOCIEDADES ARCACAS E ANTIGA A MITOLOGIA DOMINANTE DA VIDA CULTURAL, EMBORA A EXPERINCIA EMPRICA BASTANTE RICA E A PRTICA DA PRODUO IMPULSIONEM POR SI MESMAS AS CONCEPES ESPONTANEAMENTE MATERIALISTAS. (MIELIETINSKI, 1987, p. 189)NAS CIVILIZAES ANTIGAS, A MITOLOGIA FOI O PONTO DE PARTIDA PARA O DESENVOLVIMENTO DA FILOSOFIA E DA LITERATURA. [...], POIS A MITOLOGIA CONSTITUI O SOLO E ARSENAL DAS FORMAS INICIAIS QUER DA RELIGIO, QUER DE POESIA. A PROPOSITO, A NATUREZA SINCRTICA CONSERVADA EM CERTO SENTIDO PELA RELIGIO E A POESIA, FAZ PARTE DA ESPECIFICIDADE DESTA. ENQUANTO FORMA IDEOLGICA SINCRTICA E MAIS ANTIGA, QUE SERVE DE BERO A FORMAS IDEOLGICAS MAIS DESENVOLVIDAS E DIFERENADAS, A MITOLOGIA TEM CERTA HOMOGENEIDADE COM ELAS, DONDE, ENTRETANTO, NO SE PODE CONCLUIR QUE A FILOSOFIA, A POLTCA, A ARTE, O DIREITO E INCLUSIVE AS RELIGIES DESENVOLVIDAS POSSAM REDUZIR-SE MITOLOGIAS (MIELIETINSKI, 1987, p. 189,190)CERTA INSEPARABILIDADE ENTRE A IMAGINAO MITOLGICA E O SUBSTRATO PSICOLGICO, A EXISTNCIA DE ALGUMAS CARACTERSTICAS COMUNS EM TODOS OS PRODUTOS DA IMAGINAO HUMANA NO DEVEM LEVAR IDENTIFICAO DOS MITOS COM OS SONHOS, AS VISES E OS PRODUTOS DA FANTASIA INCONSCIENTE ESPONTNEO, DILUIO MTUA DA MITOLOGIA NA PSICOLOGIA E DA PSICOLOGIA NA MITOLOGIA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 190)DE POSSE DESSAS INFORMAES PODEMOS AVANAR NO ESTUDO PROPOSTO, PARTINDO NUM PRIMEIRO MOMENTO PARA A OBSERVAO DAS CARACTERSTICAS GERAIS DO PENSAMENTO MITOLGICOESSAS PARTICULARIDADES DO PENSAMENTO MITOLGICO SO CONSEQNCIA DO FATO DE QUE O HOMEM PRIMITIVO AINDA NO SEPARAVA NITIDAMENTE A SI MESMO DO MUNDO NATURAL CIRCUNDANTE E TRANSFERIA PARA OS OBJETOS NATURAIS AS SUAS PRPRIAS CARACTERSTICAS, ATRIBUIA A ESSES OBJETOS VIDA, PAIXES HUMANAS, ATIVIDADE ECONMICA CONSCIENTE E TIL, POSSIBILIDADE DE SE APRESENTAR COM FACE FSICA ANTROPOMORFA E TER ORGANIZAO SOCIAL, ETC. (MIELIETINSKI, 1987, p. 191)CARACTERSTICAS GERAIS DO PENSAMENTO MITOLGICO6SEM UMA HUMANIZAO INGNUA DO MEIO AMBIENTE NATURAL, SERIAM INCONCEBVEIS TANTO A PERSONALIZAO UNIVERSAL DOS MITOS, QUANTO CRENAS PRIMITIVAS COMO O FETICHISMO, O ANIMISMO, O TOTEMISMO, O MANA-ORENDA (QUE, POR SUA VEZ SE REFLETIRAM NITIDAMENTE NOS MITOS; [...], O ANIMISMO SE MANIFESTOU NO MODELO DOS ESPRITOS-ANFITRIES, O TOTEMISMO, NOS MODELOS DOS PATRIARCAS DOTADOS DE NATUREZA ANTROPOMORFA-ZOOMORFA BIUNVUCA, ETC) (MIELIETINSKI, 1987, p. 191)A MATRIA IMEDIATA DA LGICA PRIMITIVA PASSA A SER A PERCEPO SENSORIAL ELEMENTAR, QUE PERMITE AO PROCESSO DE GENERALIZAO REALIZAR-SE ATRAVS DAS SEMELHANAS E IMCOMPATIBILIDADES DAS CARACTERSTICAS SENSORIAIS SEM SEPARAR DO CONCRETO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 192)TODA UMA SRIE DE MOMENTOS ACIMA ENUMERADOS REQUER PARA O SEU SURGIMENTO NO S O SINCRETISMO DO PENSAMENTO, MAS TAMBM OS PRIMEIROS PASSOS DE SUA SUPERAO. ASSIM POR EXEMPLO, NOS MITOS DOS HERIS CULTURAIS, REFLETE-SE A NO-DISTINO ENTRE NATUREZA E CULTURA (OS HERIS CULTURAIS OBTM OS BENS CULTURAIS E OS OBJETOS NATURAIS: O FOGO E O SOL, [...], AS INSTITUIES SOCIAIS E RITUAIS, ETC.) E O COMEO DESSA DISTINO, QUE SE MANISFESTOU NOS ELEMENTOS DA DIFERENCIAO ENTRE HERIS PROPRIAMENTE CULTURAIS E OS DEMIURGOS, NA PROJEO, PARA O PRIMEIRO PLANO, DO TEMA DA ORIGEM DA CULTURA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 192,193)7O TOTEMISMOO TOTEMISMO PARTE DO PARENTESCO CONSANGNEO DE UM DETERMINADO GRUPO DE PESSOAS E DA ESPCIE DE ANIMAIS OU VEGETAIS, O QUE PRESSUPE, INDISCUTIVELMENTE, CERTO ESTADO TRANSITRIO ENTRE IDENTIFICAO DA NATUREZA COM A CULTURA E A SUA DISTINO, BEM COMO A TRANSFERNCIA, PARA A NATUREZA, DAS CONCEPES ACERCA DA ORGANIZAO SOCIAL GENTLICO-TRIBAL J CONSTITUDA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 193)

O ANIMISMOO ANIMISMO PRESSUPE UMA CONCEPO COMPLETAMENTAR DA ALMA E DOS ESPRITOS, OU SEJA, O COMEO DA SEPARAO ENTRE O MATERIAL E O IDEAL, EMBORA ESSA MESMA CONCEPO DA ALMA AINDA TENHA DURANTE MUITO TEMPO UM CARTER BASTANTE CORPREO (A ALMA SE LOCALIZA EM CERTOS RGOS: NO FGADO, NO CORAO, COINCIDE COM O SANGUE OU A RESPIRAO, TEM FORMA DE AVE OU DE HOMEM, ETC.). (MIELIETINSKI, 1987, p. 193)

DE UM MODO GERAL, O PENSAMENTO MITOLGICO PURO UMA CERTA ABSTRAO, O QUE NOS SURPREENDE SE LEVARMOS EM CONTA OS DIVERSOS IMPULSOS ORIUNDOS DA PRTICA DA PRODUO E DA EXPERINCIA TCNICA NA SOCIEDADE ARCAICA. MAS O FATO DE QUE O PENSAMENTO MITOLGICO NO PODE SER DESCOBERTO EM FORMA QUIMICAMENTE PURA, VEM MAIS UMA VEZ CONFIRMAR PRECISAMENTE A SUA RELAO GENTICA COM A FASE SINCRTICA INICIAL NA HISTRIA DA CULTURA HUMANA E DO PRPRIO PENSAMENTO. A ISSO NO CONTRADIZ UMA ESPCIE DE REFINAMENTO, A FLEXIBILIDADE OPERATRIA DO PENSAMENTO MITOLGICO, O QUAL SE MOSTROU CAPAZ DE PROCEDER A ANLISES E CLASSIFICAES, QUE (COMO DEMONSTRA CONVINCENTEMENTE LVI STRAUSS) TORNAM POSSVEIS A REVOLUO TCNICA NEOLTICA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 193) PODEMOS CONSIDERAR O PENSAMENTO MITOLGICO E O CIENTFICO SINCRONICAMENTE COMO DOIS TIPOS OU NVEIS LGICOS, O QUE DE FATO SE OBSERVA NOS ESTUDOS DE LVYBRUHL, CASSIRER E LVI-STRAUSS (MIELIETINSKI, 1987, p. 194)PARA A CINCIA, AS ESTRUTURAS SO PRIMRIAS EM RELAO AOS EVENTOS, PARA O MITO, SO GERADAS PELOS EVENTOS. (MIELIETINSKI, 1987, p. 195)LVI-STRAUSS DEMONSTROU QUE A LGICA PRIMITIVA CAPAZ DE RESOLVER, POR SEUS PRPRIOS MEIOS, TAREFAS ANLOGAS QUELAS QUE SO RESOLVIDAS PELA CINCIA LGICA (MIELIETINSKI, 1987, p. 195)

A LGICA MITOLGICA OPERA AMPLAMENTE COM OPOSIES BINRIAS DE QUALIDADES SENSORIAIS, SUPERANDO A CONTINUIDADE DA PERCEPO DO MUNDO AMBIENTE MEDIANTE A DISTINO DOS QUADROS DISCRETOS COM SINAIS OPOSTOS (MIELIETINSKI, 1987, p. 195)A MITOLOGIA TRANSMITE CONSTANTEMENTE O MENOS INTELIGVEL ATRAVS DO MAIS INTELIGVEL, O NO APREENSVEL MENTE ATRAVS DO APREENSVEL MENTE, E SOBRETUDO O MAIS DIFICILMENTE RESOLVVEL ATRAVS DO MENOS DIFICILMENTE RESOLVVEL (DONDE AS MEDITAES). A MITOLOGIA NO S NO SE REDUZ SATISFAO DA CURIOSIDADE DO HOMEM PRIMITIVO, COMO A SUA NFASE COGNITIVA EST SUBORDINADA A UMA ORIENTAO HARMONIZADORA E ORDENADORA DEFIDA, VOLTADA PARA UM ENFOQUE INTEGRAL DO MUNDO NO QUAL NO SE ADMITEM OS MNIMOS ELEMENTOS DO CATICO, DA DESORDEM. (MIELIETINSKI, 1987, p. 196)A ORIENTAO FUNCIONAL DO MITOO MITO EXPLICA E SANCIONA A ORDEM SOCIAL E CSMICA VIGENTE NUMA CONCEPO DE MITO, PRPRIA DE UMA DADA CULTURA E EXPLICA AO HOMEM O PRPRIO HOMEM E O MUNDO QUE O CERCA PARA MANTER ESSA ORDEM; UM DOS MEIO PRTICOS DESSA ORDEM A REPRODUO DOS MITOS EM RITUAIS QUE SE REPETEM REGULARMENTE. (MIELIETINSKI, 1987, p. 197)NA LITERATURA ETNOGRFICA, SOBRETUDO NA TENDNCIA PSICANALTICA, RESSALTA-SE A IMPORTNCIA DO MITO PARA A SOLUO DE ESTADOS CRTICOS, PARTICULARMENTE DAQUELES QUE SURGEM NOS MOMENTOS CRTICOS DA VIDA HUMANA (O CHAMADO TRAUMA DO NASCIMENTO, A RELAO AMBIVALENTE COM OS PAIS, A MATURIDADE SEXUAL E A TRANSIO PARA O GRUPO MASCULINO ADULTO, A MORTE DE PARENTES, ETC.) E SO ACOMPANHADOS PELOS RESPECTIVOS RITOS DE PASSAGEM (MIELIETINSKI, 1987, p.197)

NAS IMAGENS FANTSTICAS DA MITOLOGIA ESTO AMPLAMENTE REFLETIDOS OS TRAOS REAIS DO MUNDO CIRCUNDANTE. NESTA REPRESENTAO DA REALIDADE PELO MITO, EXISTE AT MESMO UMA ESPECIAL PLENITUDE, PORQUE TODAS AS REALIDADES SOCIAIS E NATURAIS QUE TENHAM O MNIMO DE IMPORTNCIA DEVEM ESTAR RADICADAS NO MITO, ENCONTRAR NELE AS SUAS FONTES, A EXPLICAO E A SANO, EM CERTO SENTIDO TODAS DEVEM TER SEU MITO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 198)TODO AVANO SUFICIENTEMENTE IMPORTANTE (DO PONTO DE VISTA DA CONSCINCIA TRIBAL) PROJETA-SE NO PASSADO, NO FUNDO DO TEMPO MITOLGICO, INSERE-SE NA NARRAO SOBRE O PASSADO E EM UM SISTEMA ESTVEL. (MIELIETINSKI, 1987, p. 198,199)OS EVENTOS DO TEMPO MTICO, AS AVENTURAS DOS ANCESTRAIS TOTMICOS, HEROS CULTURAIS, ETC., SO UM ORIGINAL CDIGO METAFRICO ATRAVS DO QUAL MODELA-SE A ESTRUTURA DO MUNDO, NATURAL E SOCIAL. (MIELIETINSKI, 1987, p. 199, 200)O TEMPO MTICO E OS SEUS PARADIGMASA POCA MTICA A POCA DOS OBJETOS PRIMORDIAIS E DAS AES PRIMEIRAS: O PRIMEIRO FOGO, [...], OS ATOS PRIMEIROS E POR ISTO ATOS PARADIGMTICOS DE FUNES FISIOLGICAS, AES RITUAIS, DE APLICAO DE RECURSOS MEDICINAIS, DE PROCEDIMENTO DE CAA, AS PRIMEIRAS ATITUDES MORALMENTE POSITIVAS E NAGATIVAS. TENDO EM VISTA QUE A ESSNCIA DAS COISAS SE IDENTIFICAM EM CERTO SENTIDO COM A SUA ORIGEM, O CONHECIMENTO DA ORIGEM A CHAVE PARA O EMPREGO DA COISA E O CONHECIMENTO DO PASSADO SE IDENTIFICA COM A SABEDORIA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 201)A CONCEPO SOBRE A POCA MTICA EXTREMAMENTE CARACTERSTICA TAMBM DOS NDIOS AMERICANOS. BOAS ACHAVA QUE SITUAR A AO NO TEMPO MITCO ERA O TRAO MAIS IMPORTANTE DO MITO ENQUANTO GNERO. [...] O MITO INTERPRETADO COMO NOTCIAS DO TEMPO DA CRIAO. ESSE TEMPO SE ASSOCIA ATIVIDADE CRIADORA DO CORVO; OS KORIAQUE E ITELMENOS [...] DESIGNAM , EM SEU FOLCLORE, O TEMPO MTICO COMO O TEMPO EM QUE VIVERAM O CORVO E O SEU POVO [...]. O CORVO IMAGINADO COMO ANCESTRAL E HERI CULTURAL. O POVO DO CORVO , EM CERTO SENTIDO, ANLOGO AOS HERIS CULTURAIS DOS AUSTRALIANOS E PAPUAS. (MIELIETINSKI, 1987, p. 203)NO TEMPO MITCO ESTO PROJETADAS TANTO AS RELAES E INSTITUIES SOCIAIS VIGENTES NA SOCIEDADE GENTLICO-TRIBAL (E NAS MITOLOGIAS MAIS DESENVOLVIDAS AS FORMAS INICIAIS DE ESTADO), QUANTO UMA CERTA EVOLUO DO DESENVOLVIMENTO DA TCNICA, DA CULTURA E DAS PRPRIAS RELAES SOCIAIS E, TALVEZ, AINDA, ALGUMAS RECORDAES VAGAS DAS MIGRAES HISTRICAS, DOS CHOQUES ENTRE AS TRIBOS, ETC. (MIELIETINSKI, 1987, p. 205)OS ANCESTRAIS-DEMIURGOS: HERIS CULTURAISAOS ATOS DE CRIAO PRIMORDIAL CORRESPONDEM NAS MITOLOGIAS ARCAICAS OS HERIS QUE VIVERAM E ATUARAM NO TEMPO MITCO E PODEM SER DENOMINADOS ANCESTRAIS-DEMIURGOS-HERIS CULTURAIS. AS CONCEPES SOBRE ESSAS TRS CATEGRIAS ESTO ENTRELAADAS ENTRE SI, OU MELHOR, SO SINCRETICAMENTE INDIVISVEIS. (MIELIETINSKI, 1987, p. 206)O TETEMISMO SERVE DE MEDIADOR ORIGINAL ENTRE O TEMPO DOS SONHOS E OS HOMENS CONTEMPORNEOS. OS ANCESTRAIS TOTMICOS SE APRESENTAM COMO SERES COM DUPLA NATUREZA ZOOANTROPOMORFA. POR EXEMPLO, ENTRE A NACIONALIDADE AUSTRALIANA DOS ARANDA FIGURAM TOTENS COMO OS CANGURUS VERMELHOS, [...], A GUIA, O GATO SELVAGEM, [...], O MORCEGO, [...], O CORVO, [...]. (MIELIETINSKI, 1987, p. 207)

PARA OS ARANDA AUSTRALIANOS OS ANCESTRAIS TOTMICOS GATOS SELVAGENS E LAGARTOS PAPA-MOSCAS -, COM O AUXLIO DE UMA FACA DE PEDRA, CONCLURAM A CRIAO DOS HOMENS-LARVAS, QUE PERMANECIAM IMPOTENTES NAS ROCHAS QUE BROTAVAM DA GUA, FIZERAM NELES A CIRCUNCISO (O RITO DE INICIAO D ACABAMENTO AO HOMEM), ENSINARAM A OBTER O FOGO [...], A PREPARAR O ALIMENTO, [...], DIVIDIRAM OS HOMENS EM DUAS FRATRIAS E DERAM A CADA UMA DELAS UMA CHURINGA PESSOAL COMO RECEPTCULO DE SUA ALMA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 208)

COMO SABIDO, LVI-STRAUSS CHAMOU ATENO PARA O CARTER MEDIADOR DO CORVO OU COITE NA QUALIDADE DE SERES QUE SE ALIMENTAM DE CARNIA E POR ISSO REALIZAM A MEDIAO ENTRE OS HERBVOROS E OS CARNVOROS, EM SUMA, ENTRE A VIDA E A MORTE. A ISSO PODER-SE-IA ACRESCENTAR QUE O CORVO ENTRE OS PALEOASITICOS DO NORDESTE ATUA COMO MEDIADOR ENTRE O ALTO E O BAIXO (EM DECORRNCIA DAS SUAS CARACTERSTICAS XAMNTICAS), [...], O VERO E O INVERNO (COMO AVE QUE NO DE ARRIBAO), [...], O PRINCPIO MASCULINO E O FEMININO (TENTATIVAS DE MUDAR DE SEXO), ETC. (MIELIETINSKI, 1987, p. 217)

UM TRAO IMPORTANTE A SER OBSERVADO A PRESENA MARCANTE NAS MITOLOGIAS DE DIVERSOS POVOS DA CONCEPO DEGMEOS POIS A IMAGEM DOS IRMOS GMEOS OCUPA UMA PARTE SIGNIFICATIVA DAS NARRATIVAS MITOLGICAS DE POVOS, DESDE A SIBRIA AT AMRICA DO NORTE, AMRICA DO SUL, ETC. RECEBENDO MUITO DESTAQUE NAS NARRATIVAS DE POVOS COMO TUPI-GUARANI, CARIBE, ITUBOR E BOROROS, ONDE SO FREQUENTEMENTE CONCEBIDOS COMO FILHOS DO CRIADOR OU DO HERI CULTURAL, CUJA A ESPOSA FOI MORTA PELO JAGUAR OU POR UM CANIBAL. EM ALGUMAS VERSES (ENTRE OS BOROROS, POR EXEMPLO) OS GMEOS SO FILHOS DO JAGUAR. (MIELIETINSKI, 1987, p. 220) OS MODELOS DOS ANCESTRAIS DEMIURGOS-HERIS CULTURAIS TAMBM INTEGRAM, INDUBITAVELMENTE, A BASE DA MITOLOGIA CHINESA, DA MITOLOGIA DA NDIA E DOS PASES DO ORIENTE MDIO, QUE CRIARAM UMA PODEROSA CIVILIZAO COM BASE NA AGRICULTURA IRRIGADA E NUMA FORMA ARCAICA DE ESTADO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 221)SEGUNDO E. O. JAMES, H VESTGIOS DA CONCEPO PRIMORDIAL DO PATRIARCADO (REI PRIMORDIAL) E DO HERI CULTURAL TAMBM NA IMAGEM DE OSRIS, ESTE TIPO DE DEUS QUE MORRE E RESSUSCITA. A HOSTILIDADE ENTRE OSRIS E SETH, QUE TEM SENTIDO BASICAMENTE CALENDRICO, EM TERMOS GENTICOS REMONTA PROVAVELMENTE AO ARQUTIPO DOS IRMOS HOSTIS QUE PERSONIFICAM DUAS FRATRIAS E EM SEGUIDA O ALTO E O BAIXO EGITO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 223)

NA MITOLOGIA GREGA, CONSERVOU-SE O MODELO CLSSICO DE HERI CULTURAL, PORM, O QUE MUITO CARACTERSTICO, ISOLADO DO PANTEO OLMPICO E DO SISTEMA MITOLGICO FUNDAMENTAL. PROMETEU FAZ HOMENS DE BARRO (NA VERSO POSTERIOR A HESODO), RAPTA O FOGO PARA ELES, PARA SATISFAZER-LHES OS INTERESSES, ENGANA OS DEUSES (OS SACRIFCIOS EM MELCON). POR TER RAPTADO O FOGO, ACORRENTADO S MONTANHAS DO CUCASO E SUBMETIDO A UMA TORMENTOSA EXECUO: UMA GUIA LHE DEVORA O FGADO. O IRMO GMEO DE PROMETEU A TPICA VARIANTE NAGATIVA DO HERI CULTURAL. (MIELIETINSKI, 1987, p. 223)NA MITOLOGIA ESCANDINAVA, NOS MODELOS DO DEUS SUPERIOR ODIN E DO PRFIDO LOKI E NA CORRELAO ENTRE ELES (EM PARTE NA CORRELAO ENTRE THOR, DEUS DO TROVO E LOKI), PODE SER RECONTRUDO O MODELO DO IRMO-DEMIUGO, HERI CULTURAL E PCARO MITOLGICO. ODIN O PRIMEIRO XAM, O PAI DOS OUTROS ASES, O QUE OBTM O MEL SAGRADO E CONCLUI JUNTAMENTE COM LOKI A CRIAO DOS HOMENS, ENQUANTO LOKI O PAI DOS MONSTROS CTONIANOS, O CULPADO PELO SURGIMENTO DA MORTE, MAS TAMBM O INVENTOR DA REDE DE PESCAR, [...]. THOR ANTES DE TUDO LUTADOR CONTRA OS GIGANTES E A SERPENTE UNIVERSAL, MAS A SUA LUTA TEM SENTIDO COSMOGNICO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 224)

OS RESPECTIVOS MITOS NARRAM, EM PRIMEIRO LUGAR, O SURGIMENTO DO QUE NO HAVIA (INMEROS MITOS DOS MAIS DIVERSOS POVOS COMEAM INFORMANDO QUE ANTES NO HAVIA ISTO NEM AQUILO) OU O QUE ERA INACESSVEL AO HOMEM E, EM SEGUNDO, DO ATENO ESPECIAL AO ESTABELECIMENTO DO ORDENAMENTO NA ESFERA NATURAL (REGULAO DO DIA E DA NOITE, DO FLUXO E REFLUXO, DO INVERNO E DO VERO) E DO SOCIAL (EXOGAMIA DUAL E REGRAS DE CASAMENTO, ETC.), BEM COMO INSTRUO DE RITOS QUE DEVEM MANTER PERMANENTEMENTE A ORDEM ESTABELECIDA. (MIELIETINSKI, 1987, p. 232) OS MITOS ARCAICOS E DA CRIAOO INCESTO E OUTRAS VIOLAES SOCIAIS (POR EXEMPLO, A INFRAO, PELO CORVO, DAS REGRAS DE DISTRIBUIO DA RAA, DA DIVISO SEXUAL DO TRABALHO, DA MUDANA DE SEXO POR ELE, ETC.). SO A FONTE DO CAOS QUE AMEAA PERTURBAR A ORDENAO SOCIAL E NATURAL J OBTIDA. DESSE MODO, A INTRODUO DA EXOGAMIA DUAL, ISTO , O SURGIMENTO DA SOCIEDADE TRADUZ IMPLICITAMENTE A NFASE DA TRANSFORMAO DO CAOS EM COSMO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 235)A ETIOLOGIA DO SOCIUM FREQENTE INTERPRETAR-SE A GNESE DE TODO O COSMO COMO EVOLUO A PARTIR DO OVO, TRANSFORMAO DO SER ANTROPOMORFO MORTO PELOS DEUSES, CADEIA DE NASCIMENTOS DE DEUSES QUE MODELAM OS DIVERSOS OBJETOS NATURAIS, SRIE DE ATOS DE CRIAO DE UM DEUS-CRIADOR. (MIELIETINSKI, 1987, p. 235)O CAOS E O COSMO. A COSMOGNESEO MODELO CSMICO

V. N. TOPORV CONSIDERA A RVORE UNIVERSAL COMO MODELO IDEAL DE PROCESSOS DINMICOS (EM LINHA VERTICAL) E SIMULTANEAMENTE DE ESTRUTURA ESTVEL (EM LINHA HORIZONTAL), COMO COSMOVISO PRINCIPAL E ORGANIZADORA DOS DEMAIS ELEMENTOS PARA TODA UMA POCA NA HISTRIA DA COSMOVISO DA HUMANIDADE (MIELIETINSKI, 1987, p. 250)A RVORE UNIVERSAL A FIGURA CENTRAL ANTES DE TUDO DO MODELO CSMICO VERTICAL E EM PRINCPIO EST VINCULADA A UMA DIVISO TRICOTMICA DE CU, TERRA (TERRA DO MEIO) E MUNDO SUBTERRNEO. [...]. ESSA DIVISO TRICOTMICA O RESULTADO DA DUPLA OPOSIO ENTRE ALTO E BAIXO E, SUBSEQENTEMENTE, DA CARACTERSTICA DIFERENADA DO MUNDO DE BAIXO COMO MORADA DOS MORTOS E DEMNIOS CTONIANOS E DO MUNDO DE CIMA COMO MORADA DOS DEUSES E, POSTERIORMENTE, DE PESSOAS ESCOLHIDAS APS A MORTE. (MIELIETINSKI, 1987, p. 250)A CONCEPO BASTANTE VAGA ACERCA DOS MARTRIOS DOS MORTOS NO MUNDO DE BAIXO E DO BEM-ESTAR NO REINO DOS MORTOS PARA OS ESCOLHIDOS, NAS MITOLOGIAS DO MEDITERRNEO ANTIGO, ENTRE OS NDIOS NORTE-AMERICANOS, OS POVOS SIBERIANOS E OUTROS, ASSUME FORMA MAIS PRECISA DE OPOSIO ENTRE O INFERNO E O PARASO NA TRADIO JUDAICO-CRIST. (MIELIETINSKI, 1987, p. 250)COMO EXEMPLO DE MITO CALENDRICO PODEMOS OBSERVAR O MITO EGPCIO DA MORTE DE OSRIS A MORTE E A RESSURREIO DE OSRIS SIMBOLIZAM O PROGRESSO CALENDRICO, A SUBIDA DAS GUAS DO NILO E O CRESCIMENTO DO TRIGO, ENQUANTO A SUA MORTE E A COROAO DE HRUS SIGNIFICAM A SUCESSO DOS FARAS NO TRONO POR ORDEM HEREDITRIA. (sic.) (MIELIETINSKI, 1987, p. 257)OS MITOS CALENDRICOSEM TERMOS RIGOROSOS, ENTRETANTO, A CONCEPO CCLICA DE TEMPO NOS PRPRIOS MITOS E NO NO RITUAL REQUER, PARA A SUA FUNDAMENTAO, O SURGIMENTO DE CONCEPES CCLICAS ACERCA DA PRPRIA HISTRIA DA HUMANIDADE. [...]. O MODELO DA IDADE DE OURO EXISTE NAS MITOLOGIAS INDIANA, IRANIANA, BABILNICA, JUDAICA, GREGA, ASTECA, ESCANDINA E EM ALGUMAS OUTRAS. AS VEZES A IDADE DE OURO SUCEDE IMEDIATAMENTE O CAOS MAS, DEVIDO VIOLAO DO TABU, PECADOS OU OUTRAS CAUSAS SURGE POSTERIORMENTE COMO CASTIGO O DECLNIO, S VEZES ACOMPANHADO POR RECIDIVAS DO CAOS, POR EXEMPLO, NA FORMA DE CATACLISMAS (O DILVIO, A SECA) OU DE UMA EXTREMA DEGENERESCNCIA DOS COSTUMES, DE GUERRAS DE EXTERMNIO, ETC. (MIELIETINSKI, 1987, p. 259,260)OS CICLOS CSMICOS E OS MITOS ESCATOLGICOSOS MITOS ESCATOLGICOS NAS SOCIEDADES ARCAICAS SO ENCONTRADOS APENAS ESPORADICAMENTE, PRINCIPALMENTE ENTRE OS NDIOS AMERICANOS. EXEMPLOS CLSSICOS SO DADOS PELAS TRADIES MESAMERICANAS, A INDIANA (AMBAS EM COMBINAO DE MOVIMENTO CCLICO), A IRANIANA, A ESCANDINAVA E A JUDAICO-CRIST. [...]. EM RELAO AOS MODELOS CLSSICOS DO MITO, A MITOLOGIA BBLICA MARCA O INCIO DO PROCESSO DE DESMITOLOGIZAO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 262)EM ESSNCIA, OS MITEMAS DA IDADE DE OURO OU DO PARASO PERDIDO SUPEM QUE O MOVIMENTO PODE DESENVOLVER-SE NO S DO CAOS AO COSMO MAS TAMBM DO COSMO AO CAOS. (MIELIETINSKI, 1987, p. 260)35PELO QUE FOI ANTERIORMENTE EXPOSTO, TODA UMA SRIE DE ENREDO E MOTIVOS REPETE-SE NA MITOLOGIA DE DIVERSOS POVOS DO MUNDO; A CRIAO DO MUNDO A PARTIR DO OVO OU DA DIVINDADE CTONIANA MORTA, O INAMENTO OU LEVANTAMENTO DA TERRA DO OCEANO PRIMORDIAL; O DILVIO, A SEPARAO ENTRE O CU E A TERRA, A RVORE CSMICA MUNDIAL, O ACABAMENTO DOS SERES HUMANOS INCOMPLETOS, O RAPTO DO FOGO, A LUTA DOS DRAGES, O INCESTO DOS PATRIARCAS, ETC. A MAIORIA DESSES UNIVERSAIS REFERE-SE ESFERA COSMOGNICA, O QUE APENAS CONFIRMA A IMPORTNCIA FUNDAMENTAL DA COSMOGONIA PARA A MITOLOGIA NO SEU CONJUNTO. (MIELIETINSKI, 1987, p. 269)A SEMNTICA DO ENREDO MITOLGICO E DO SISTEMABIBLIOGRAFIA

MIELIETINSKI. E. M. A potica do mito. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1987.