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Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação Paulo Roberto Gonçalves- Segundo (USP) FLC0115: Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa II Docente Paulo R. Gonçalves-Segundo [email protected] Estagiária Cláudia Castanheira Cardoso [email protected] Monitor Rodrigo Possert C. Pacheco [email protected] A perspectiva textual-interativa Fatores Textuais A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

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Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciaçãoPaulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)

FLC0115: Introdução ao Estudo da Língua Portuguesa II

Docente

Paulo R. Gonçalves-Segundo

[email protected]

Estagiária

Cláudia Castanheira Cardoso

[email protected]

Monitor

Rodrigo Possert C. Pacheco

[email protected]

A perspectiva textual-interativaFatores Textuais

A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Introdução: de referente a objeto-do-discursoAs questões referenciais têm sido objeto tradicional de investigação e de reflexão da Filosofia daLinguagem, da Lógica e da Linguística. Nesses quadros, tratou-se, inicialmente, o problema dareferência como uma questão de representação do mundo, de verbalização do referente, demodo que se podia entendê-la como uma espécie de designação das entidades do mundoextralinguístico.

Nesse sentido, a concepção partia do pressuposto fundamental de que havia uma relaçãoespecular entre um elemento linguístico x e uma realidade linguística y a ser verbalizada. Emconsequência disso, o sentido tornava-se escravo de uma possível avaliação de verificabilidade,baseada em um valor de verdade cujo critério fundante era a correspondência biunívoca entreextra e intralinguístico.

A emergência dos estudos pragmáticos, discursivos e textuais, além da chamada viradacognitivista, que se processa na década de 60 e se fortalece a partir da década de 80, impulsionauma nova abordagem do fenômeno, que propõe substituir a noção de referência pela dereferenciação.

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Nesse sentido, deixa-se de tratar o fenômeno apenas como uma correlação entre língua emundo e passa-se a examiná-lo como uma atividade de natureza sociocognitiva, operada poratores sociais que constroem objetos-de-discurso, ativando, desativando e reativando-os emoperações que estão intrinsecamente relacionadas ao conhecimento partilhado entre osparticipantes do evento discursivo, às suas ideologias, à natureza da interação e aos seuspropósitos comunicativos — em outros termos, privilegia-se a relação intersubjetiva no seio daqual distintas visões e versões da realidade são construídas na/pela interação.

Uma consequência básica dessa mudança de perspectiva é a negação de uma relação especularou reflexiva entre língua e mundo, uma vez que, cognitivamente, a apreensão da realidadeenvolve tanto aspectos sensoriais quanto discursivos, e esses se encontram inexoravelmenterelacionados a condições culturais, sociais, históricas e contextuais, o que permite inferir que osobjetos-de-discurso são construídos sob uma tensão entre as coerções macro, a agência micro ea tensão meso.

Introdução: de referente a objeto-do-discurso

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

“[...] a discursivização ou textualização do

mundo por meio da linguagem não consiste em

um simples processo de elaboração de

informações, mas em um processo de

(re)construção do próprio real. Os objetos-de-

discurso não se confundem com a própria

realidade extralinguística, mas (re)constroem-

na no próprio processo de interação: a

realidade é construída, mantida e alterada não

apenas pela forma como nomeamos o mundo,

mas, acima de tudo, pela forma como,

sociocognitivamente, interagimos com ele”

(Koch, 2005, p. 34).

Introdução: de referente a objetos-do-discurso

Ingedore Koch (UNICAMP)

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

O processo de referenciação pode ser estudado por vários ângulos:

1. os fatores que condicionam a atividade de progressão referencial (cognitivos,discursivos, sintáticos);

2. os modos por meio dos quais a progressão referencial pode ser realizada (pensandoem todo o espectro multimodal);

3. a articulação entre os objetos-de-discurso efetivamente instanciados em textos e ascoerções ideológicas;

4. o papel dos elementos gramaticais na construção dos objetos-de-discurso, seja paraativá-los, reativá-los ou desfocá-los;

5. as coerções de gêneros discursivos sobre a atividade referencial.

Sobre as possibilidades de estudo do processo de referenciação

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

A problemática do signo linguístico

Potencial Referencial

Potencial de Significado

Significante

Motivação x Arbitrariedade

Deve ser pensada em função das diferentesarestas.

Os potenciais têm graus de esquematicidade e deespecificação

As variadas formas linguísticas têm diferentesgraus de potencialidade referencial esignificacional.

Substantivos comuns, por exemplo, tendem a tergrau médio de esquematicidade/especificaçãoreferencial e significacional.

Preposições têm grau alto de especificaçãosignificacional e de esquematicidade referencial.

Pronomes têm alto grau de especificaçãoreferencial e de esquematicidade significacional.

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Determinante Quantificador Núcleo Modificador

carro(s)

carro(s) bonito(s)

três carros bonitos

Aqueles três carros bonitos

Determinantes podem serartigos (indefinidos oudefinidos), pronomesdemonstrativos oupossessivos e até mesmo Ø.Identifica o (sub)conjuntoem relação ao contextodiscursivo, ao conhecimentoenciclopédico ou partilhado.

Quantificadores podemser absolutos(“numerais”) ou relativos(“pronomes indefinidos”,como vários, poucos,todos, nenhum, etc.).Especificam a extensão do(sub)conjunto para o qualse deve focalizar atenção.

Substantivo núcleo:categoria culturalmentesancionada. É umesquema derivado daabstração daexperiência com váriasinstâncias do nome.

Modificadores podemser adjetivos,sintagmaspreposicionais(“locução adjetiva”) ouoração subordinadasadjetivas restritivas.Constroemsubconjuntos do tipo.

A ancoragem nominal: a construção do Sintagma Nominal

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Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

A ancoragem nominal: a construção do Sintagma NominalO papel dos determinantes: demonstrativo – artigo definido – artigo indefinido

Demonstrativos atuam como elementos que, a partir do ego-hic-nunc, apontam para um objeto-de-discurso, forçando a focalização conjunta de atenção para ele. Podem apontar para o espaçosituacional, para o cotexto ou para o conhecimento partilhado ou enciclopédico.

Artigos definidos sinalizam para o ouvinte que o falante considera que ele é capaz de recuperar oobjeto-de-discurso e identificá-lo, sem, entretanto, apontar para ele. Em geral, baseiam-se nocotexto e no conhecimento partilhado ou enciclopédico. Também é usado para os casos em que ofalante atribui que só há uma possibilidade referencial relevante em dado uso.

Artigos indefinidos sinalizam para o ouvinte que o falante considera que ele não é capaz derecuperar o objeto-de-discurso e identificá-lo tanto pelo fato de o falante também não saberquanto pelo fato de o falante não julgar necessário/desejável que o ouvinte faça a identificação[dentre outros possíveis motivos]. Em geral, servem para introduzir objetos-de-discurso novos.Outro uso comum diz respeito ao desejo de o falante se referir a um membro aleatório de umconjunto.

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

A ancoragem nominal: a construção do Sintagma Nominal

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Todos os componentes possíveis do Sintagma Nominal (SN) têm potencial de significado epotencial referencial (lexical ou gramatical) – nome-núcleo, modificador, quantificador edeterminante –, mas é só o Sintagma Nominal em si que tem referência, que aponta parauma entidade para a qual o produtor do texto orienta o ouvinte/leitor a focalizar suaatenção. Logo, um objeto-de-discurso é construído pelo Sintagma Nominal como um todo.

O SN não apresenta necessariamente todos os componentes discutidos anteriormente –apenas expusemos as possibilidades, embora, em geral, se tenda a assumir que haja, pelomenos, um determinante e um núcleo (ainda que Ø).

São exceções a esse princípio os pronomes pessoais, que têm função referencial intrínseca,podendo substituir sintagmas inteiros, e os nomes próprios, que também têm potencialreferencial bem específico (há algum grau de variação linguística subjacente a essa exceção).

Objetos-de-discurso podem ser muito genéricos (ex. Ø carros são uma arma) ou muitoespecíficos (ex. Aqueles três carros bonitos são caros).

A ancoragem nominal: a construção do Sintagma Nominal

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Classicamente, pode-se afirmar que a dêixis se ancora na situação enunciativa, tendocomo centro de perspectiva o ego-hic-nunc (eu-aqui-agora) instaurado na posse dapalavra pelo enunciador ou produtor textual. Pronomes pessoais, advérbios e locuçõesadverbiais de tempo e de espaço são casos prototípicos. Há também verbos deiticamenteorientados.

1. Amanhã eu trago ela para a minha casa aqui perto.

2. Diálogo entre X e o feirante: “Seu João, me vê aquele pastel lá!” “É pra já, seu Paulo!”

Dêixis e Fora

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Os fóricos ancoram-se na construção discursiva e nos universos de mundo possíveissuscitados pela produção textual, tendo em vista não só o material linguístico, mastambém as condições de produção. A fora subdivide-se em anáfora e catáfora.

A anáfora é prototipicamente retrospectiva, ao passo que a catáfora é prospectiva

Dêixis e Fora

O termo anáfora é usado para designarexpressões que, no texto, se reportam a outrasexpressões, enunciados, conteúdos oucontextos textuais (retomando-os ou não),contribuindo assim para a continuidade tópicae referencial. (MARCUSCHI, 2005, p. 34-5,destaque nosso).

Luiz Antônio Marcuschi

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Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

O processo de progressão textual envolve uma série de fatores de natureza linguística, cognitiva ediscursiva. Dentre eles, a progressão referencial é fundamental para a geração de sentido e para aavaliação da coerência.

No fluxo textual, objetos-de-discurso abrem redes de conhecimento que ancoram, juntamente aoseventos em que estão atrelados, a textualização de outros objetos-de-discurso. O fluxo referencialaponta para uma atividade cognitiva complexa de resolução de objetos-de-discurso, que, por suavez, está ligada à progressão temática e tópica.

Nesse fluxo,

i. objetos-de-discurso não ancorados são inseridos (introdução de objetos-de-discurso);

ii. objetos-de-discurso ancorados são inseridos, seja recuperando um referente prévio (anáforadireta), seja introduzindo um referente “novo” com base na rede de conhecimentos doreferente prévio (anáfora indireta ou associativa);

iii. objetos-de-discurso rotulam eventos, seja focalizando o conteúdo proposicional (rotulaçãopor encapsulamento) ou o ato de fala (rotulação metadiscursiva), permitindo torná-lostemas/objetos de novos eventos.

Tipologia de processos de referenciação

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

A Anáfora Direta consiste em um processo dereativação/reconstrução de objetos-de-discursopreviamente ativados (Koch, 2014). Por meio de pistaslinguísticas específicas, o produtor textual sinaliza aoconsumidor textual que este deve manter sob foco deatenção uma entidade previamente construída.

Nesse sentido, toda Anáfora Direta é correferencial emrelação à sua âncora textual, que se encontra disponívelno universo discursivo previamente construído.

De modo geral, Anáforas Diretas são tipicamenterealizadas por elipses, pronomes pessoais,demonstrativos (plenos) ou descrições definidas. Quandorealizadas por descrições definidas, elas recategorizam oreferente, processo que “denuncia” posicionamentosaxiológicos, filiações discursivas e mobilização deconhecimento enciclopédico ou partilhado.

Anáfora DiretaDizemos que expressões linguísticas(tipicamente, Sintagmas Nominais) sãocorreferenciais quando apontam parao mesmo objeto-de-discurso em umuniverso discursivo dado.

Logo, Anáforas Diretas podem:i. apenas retomar um objeto-de-

discurso previamente construído,sem agregar novas significações(cossignificação);

ii. retomar um objeto-de-discursoagregando novas significações,advindas de uma nova ancoragemnominal (recategorização).

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Anáfora Direta1. Fui para a faculdade ontem, mas ela estava vazia.

2. Joaquim esqueceu o livro em casa, mas voltou mais tarde para buscá-lo.

1. Fui para a faculdade ontem, mas ela estava vazia.

2. Joaquim esqueceu o livro em casa, mas Ø voltou mais tarde para buscá-lo. (Ø →marca uma elipse do objeto-de-discurso anteriormente textualizado).

Anáfora Direta Cossignificativa

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

2. Marta Suplicy (PT), atual Ministra da Cultura e apoiadora deFernando Haddad, candidato petista a prefeito de São Paulo,fez ataques agressivos a Celso Russomanno, postulante doPRB, na noite do último sábado. Ela afirmou que Russomannoestá fazendo "pilantragem" para atrair votos. As informaçõessão do jornal Folha de S.Paulo.

Chamando o rival de Haddad de "lobo em pele de cordeiro",Marta falou sobre as aparições televisivas de Russomanno."Vocês têm que entender que é pilantragem. Na TV a imagemé linda, mas não é assim. Ele faz comércio com a angústia dopovo, com a infelicidade, com a dificuldade", disse ela.

3. Sob qualquer ângulo que se considere, é superlativo odesafio que o Supremo Tribunal Federal (STF) enfrentará apartir de quinta-feira, com o julgamento do mensalão.

Não se trata somente do maior processo nos 121 anos dehistória do tribunal, mas também do caso mais complexo - ede maior impacto político - que terá sido levado ao exame dacorte.

Anáfora Direta

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Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

2. Marta Suplicy (PT), atual Ministra da Cultura e apoiadora deFernando Haddad, candidato petista a prefeito de São Paulo,fez ataques agressivos a Celso Russomanno, postulante doPRB, na noite do último sábado. Ela afirmou que Russomannoestá fazendo "pilantragem" para atrair votos. As informaçõessão do jornal Folha de S.Paulo.

Chamando o rival de Haddad de "lobo em pele de cordeiro",Marta falou sobre as aparições televisivas de Russomanno."Vocês têm que entender que é pilantragem. Na TV a imagemé linda, mas não é assim. Ele faz comércio com a angústia dopovo, com a infelicidade, com a dificuldade", disse ela.

3. Sob qualquer ângulo que se considere, é superlativo odesafio que o Supremo Tribunal Federal (STF) enfrentará apartir de quinta-feira, com o julgamento do mensalão.

Não se trata somente do maior processo nos 121 anos dehistória do tribunal, mas também do caso mais complexo - ede maior impacto político - que terá sido levado ao exame dacorte.

Anáfora Direta

Anáfora Direta Recategorizante

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Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Procedimento de progressão textual que, geralmente, é realizado por expressões nominaisdefinidas, indefinidas ou pronomes interpretados referencialmente sem que hajacorrespondência em relação a um objeto-de-discurso prévio. A anáfora associativa ouindireta não reativa objetos-de-discurso prévios; ela ativa objetos-de-discurso novos. Étratada como anáfora na medida em que os referentes novos se ancoram num universotextual virtual depreendido de objetos-de-discurso anteriores. Em outros termos, suainstauração depende do universo semântico proporcionado por elementos cotextuaisanteriores, mas não assume, em relação a eles, caráter correferencial nem cossignificativo.

Há autores que diferenciam anáforas associativas de indiretas, atrelando as primeiras arelações metonímicas/meronímicas e as últimas a uma maior interferência doconhecimento enciclopédico. Não faremos essa diferença aqui.

Anáfora Indireta ou Associativa

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Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Anáforas Associativas e/ou Indiretas (ou referentesintroduzidos de forma associativa ou indireta)consistem, ambas, em casos de ativação ancoradade objetos-de-discurso. Trata-se do campo doinferível.

A diferença proposta é que a relação entre oanafórico associativo e a âncora seria meronímica(ingrediência), portanto, léxico-estereotípica, aopasso que a relação entre o anafórico indireto e aâncora seria inferencial, com base no conhecimentoenciclopédico ou partilhado (Koch, 2014). Não há,portanto, correferencialidade entre o objeto-de-discurso introduzido e sua âncora.

Neste curso, não estabeleceremos essa distinção.

Anáfora Indireta ou AssociativaAtivação de objetos-de-discurso diz respeitoao processo de introduzir um novoreferente no fluxo textual.

Fala-se em ativação desancorada quando onovo objeto-de-discurso é introduzido aotexto sem que haja nenhum elemento nouniverso discursivo que prepare essainserção. Nesses casos, o uso dedeterminantes indefinidos é mais viável.

Fala-se em ativação ancorada quando onovo objeto-de-discurso é introduzido notexto mediante o preparo de algumelemento do universo discursivo. Nessescasos, o uso de determinantes definidos émais viável.

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Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Anáforas Associativas e/ou Indiretas (ou

referentes introduzidos de forma

associativa ou indireta) consistem, ambas,

em casos de ativação ancorada de objetos-

de-discurso. Trata-se do campo do inferível.

A diferença proposta é que a relação entre

o anafórico associativo e a âncora seria

meronímica (ingrediência), portanto,

léxico-estereotípica, ao passo que a relação

entre o anafórico indireto e a âncora seria

inferencial, com base no conhecimento

enciclopédico ou partilhado (Koch, 2014).

Não há, portanto, correferencialidade entre

o objeto-de-discurso introduzido e sua

âncora.

Neste curso, não estabeleceremos essa

distinção.

Anáfora Indireta ou AssociativaPara entender a diferença (que não iremos fazer...)

Contexto: O falante é um técnico de informática, queconversa com um amigo que lhe indicara um cliente.

a. Hey, Fulano, chegou ontem o computador do seuvizinho. A placa de vídeo foi difícil de tirar.

b. Hey, Fulano, chegou ontem o computador do seuvizinho. O pó foi difícil de tirar.

c. Hey, Fulano, chegou ontem o computador do seuvizinho. A tatuagem foi difícil de tirar.

a. Anáfora Associativa

b. Anáfora Indireta

c. Parece-me bem esquisita (?). Se possível, metaforicamente,seria uma Anáfora Indireta.

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1. Diálogo:

— Fábio está noivo. Finalmente!— Ela é rica?

2. Fui ao supermercado ontem. O caixa foi, novamente, gentil.

E agora? 3. Fui ao supermercado ontem. O pianista foi, novamente, gentil.

E se... 4. Aquele supermercado está sempre inovando e, durante a noite, sempreconvidam um músico para tocar. Ontem, eu dei uma passada lá. O pianistafoi, novamente, gentil.

3. Muitos pais estão preocupados com o período das férias escolares que se aproxima. "O que fazer com os filhos no mês de julho?": essa é a questão. (Rosely Sayão, Folha Equilíbrio, 26 de junho de 2012)

Anáfora Indireta ou Associativa

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Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

É possível também valer-se de Sintagmas Nominais para converter eventos em entidades,de forma a torná-los tema de enunciados subsequentes. Trata-se, no caso de anáforas oucatáforas complexas, na medida em que o rótulo transforma em objeto-de-discurso umacena que já foi ou que ainda será enunciada, processo que consiste em uma dasengrenagens da progressão textual.

Em geral, são reconhecidos dois tipos de processos de rotulação: a rotulaçãoencapsuladora e a rotulação metadiscursiva (ou metaenunciativa).

A primeira transforma o evento em objeto-de-discurso focalizando uma leitura doconteúdo proposicional do evento, ao passo que a segunda focaliza uma leitura do atoilocutório produzido, da operação cognitivo-discursiva realizada ou do tipo de estruturalinguística empregada.

Nem sempre, contudo, a fronteira entre ambos os tipos de rotulação é clara.

Rotulação

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

2. "Quem não respeita a população fazendo essabaixaria perde votos. Isso tem sido demonstrado aolongo desses últimos dias. Eu não vou ceder a esse tipode coisa." (Celso Russomanno – A Tarde online)

3. Os raios de luz não mudam de direção ou sentido aose cruzarem em um mesmo meio. O fenômeno éexplicado pelas teorias ópticas.

4. (Quando terminar de julgar os 38 réus), cada ministroterá enfrentado depoimentos de mais de 600testemunhas, ponderações de meia centena deadvogados e, no mínimo, um mês de sessões plenárias.

O resultado dessa maratona será anunciado em mais demil decisões individuais, pois cada um dos 11 ministrosprecisará pronunciar-se sobre as várias acusações, umaa uma, que pesam contra cada réu.

Rotulação por encapsulamento

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

2. "Quem não respeita a população fazendo essabaixaria perde votos. Isso tem sido demonstrado aolongo desses últimos dias. Eu não vou ceder a esse tipode coisa." (Celso Russomanno – A Tarde online)

3. Os raios de luz não mudam de direção ou sentido aose cruzarem em um mesmo meio. O fenômeno éexplicado pelas teorias ópticas.

4. (Quando terminar de julgar os 38 réus), cada ministroterá enfrentado depoimentos de mais de 600testemunhas, ponderações de meia centena deadvogados e, no mínimo, um mês de sessões plenárias.

O resultado dessa maratona será anunciado em mais demil decisões individuais, pois cada um dos 11 ministrosprecisará pronunciar-se sobre as várias acusações, umaa uma, que pesam contra cada réu.

Rotulação por encapsulamento

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

1. Diálogo:

— Você roubou todo o dinheiro da entidade! Todos nós sabemos disso!

— Cuidado, amigo! Essa acusação pode render um processo.

2. "Ela [Dilma] está usando a cadeia nacional para fazer política eleitoral. Ela está fazendocampanha eleitoral com a Presidência da República", rebateu Serra hoje.

"Veja, a Dilma participar de eleição é normal, não tenho nenhuma objeção e faz parte da regra dojogo. Agora, usar a cadeia nacional para fazer política eleitoral está muito errado", concluiu.

O tucano falou sobre o assunto após reunião com representantes de movimentos pela habitaçãopopular na capital. Durante o evento, Serra criticou indiretamente adversários, ao dizer que"campanha não é um mercado de ilusões". (Folha de São Paulo).

[Esse é aquele caso em que a linha divisória com encapsulamento fica obscura]

3. Os estudos vericondicionais privilegiam a relação língua-mundo, enquanto os estudossociocognitivistas focalizam a intersubjetividade na construção dos referentes. A comparação éimportante para decidirmos acerca da perspectiva a partir da qual pretendemos analisar ofenômeno.

Rotulação metadiscursiva

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

1. Diálogo:

— Você roubou todo o dinheiro da entidade! Todos nós sabemos disso!

— Cuidado, amigo! Essa acusação pode render um processo.

2. "Ela [Dilma] está usando a cadeia nacional para fazer política eleitoral. Ela está fazendocampanha eleitoral com a Presidência da República", rebateu Serra hoje.

"Veja, a Dilma participar de eleição é normal, não tenho nenhuma objeção e faz parte da regra dojogo. Agora, usar a cadeia nacional para fazer política eleitoral está muito errado", concluiu.

O tucano falou sobre o assunto após reunião com representantes de movimentos pela habitaçãopopular na capital. Durante o evento, Serra criticou indiretamente adversários, ao dizer que"campanha não é um mercado de ilusões". (Folha de São Paulo).

[Esse é aquele caso em que a linha divisória com encapsulamento fica obscura]

3. Os estudos vericondicionais privilegiam a relação língua-mundo, enquanto os estudossociocognitivistas focalizam a intersubjetividade na construção dos referentes. A comparação éimportante para decidirmos acerca da perspectiva a partir da qual pretendemos analisar ofenômeno.

Rotulação metadiscursiva

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Paulo Roberto Gonçalves-

Segundo (USP)Aulas 11-12. A construção de objetos-de-discurso: o processo de referenciação

Em resumo...

Anáfora Metadiscursiva

EncapsulamentoAnáfora DiretaAnáfora Associativa ou Indireta