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ISSN 2176-1396

A PERGUNTA COMO ELEMENTO DESENCADEADOR DE

PESQUISA: UMA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR NA DISCIPLINA DE

METODOLOGIA CIENTÍFICA

Diva Spezia Ranghetti1 - Católica SC

Juliana Patrícia Petris2 - Católica SC

Ana Paula Fliegner Santos3 - Católica SC

Anadir Elenir Pradi Vendruscolo4 - Católica SC

Grupo de Trabalho - Metodologias para o Ensino e Aprendizagem no Ensino Superior

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente artigo apresenta a experiência vivenciada na disciplina de Metodologia Científica,

na primeira fase dos cursos de graduação em um Centro Universitário localizado no norte de

Santa Catarina. Trata-se da vivência de construção de perguntas de pesquisa. Os discentes

transformaram perguntas “ingênuas / iniciais” em perguntas epistemológicas. A proposta de

trabalho vivenciada teve como intencionalidade auxiliar os acadêmicos no desenvolvimento

de habilidades necessárias para a construção do espírito científico por meio do

desenvolvimento de projetos de pesquisa. Dificuldades como organização da escrita das

perguntas e articulação dos estudantes para o trabalho em grupo foram processualmente

vivenciadas e vencidas, oportunizando que os envolvidos experimentassem a construção do

conhecimento científico e não meramente sua reprodução. Esse fato se deu a partir da prática

reflexiva e participativa dos discentes no que se refere às vivências oportunizadas. Ao

participar da construção de cada etapa de elaboração de um projeto de pesquisa, em especial

da pergunta norteadora, foco desse relato de experiência, os estudantes puderam expor a

forma com que inicialmente organizam as informações para posteriormente discuti-la e

reconstruí-la nos grupos de trabalho e com a professora da disciplina. Os temas investigados

envolveram a sustentabilidade e o papel do profissional das áreas de Moda e Engenharia

Civil, Mecânica e de Produção. Explorar o contexto em que o estudante se encontra

1 Doutora em Educação: Currículo, pela PUCSP. Coordenadora do Setor de Extensão Comunitária e Professora do Componente Curricular – Projeto Comunitário do Centro Universitário - Católica de Santa Catarina. E-mail:

[email protected]. 2 Mestre em Educação: Cultura, Escola, Ensino, pela UFPR. Responsável pelo Serviço de Orientação

Universitária – SOU, Núcleo de Educação a Distância - NEaD e professora da disciplina de Metodologia

Científica do Centro Universitário - Católica de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. 3 Mestranda em Educação: Currículo, pela PUCSP. Assistente Social do Núcleo de Projetos Comunitários (NPC)

do Centro Universitário - Católica de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. 4 Doutoranda em Educação e Currículo pela PUC-SP. Pró-Reitora Acadêmica do Centro Universitário: Católica

de Santa Catarina. Membro do Grupo de Pesquisa credenciado pelo CNPq Formação de Professores e Cotidiano

Escolar – PUC/SP, coordenado pela Profª Drª Marina Graziela Feldmann. E-mail: [email protected]

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possibilitou que seu interesse e atenção fossem “afetados” levando-o a assumir a posição de

autores na construção do ensino e da aprendizagem. Nesse sentido, acredita-se que a ação

proposta possibilitou que os estudantes conhecessem e experimentassem as fases de

elaboração do conhecimento científico.

Palavras-chave: Metodologia Científica. Pesquisa. Pergunta. Prática Interdisciplinar.

Introdução

A Metodologia Científica é uma disciplina cujo objetivo é o estudo dos métodos, das

técnicas e dos instrumentos necessários para a construção do conhecimento. Método, do grego

métodos é entendido como sendo o ”[...] caminho para chegar a um fim ou pelo qual se atinge

um objetivo.” (FERREIRA, 1993, p.1128).

Segundo Ruiz (1985), ao ingressar na faculdade, o aluno se depara com uma realidade

diversa da experienciada na Educação Básica. Por isso, a disciplina de Metodologia Científica

se faz necessária neste primeiro momento em que o estudante ingressa no ambiente

acadêmico no sentido de auxiliar no desenvolvimento de “[...] hábitos de estudo e técnicas de

trabalho que tornem realmente produtivos os anos de vida universitária, tão preciosos e, não

raro, tão mal aproveitados.” (BOTELHO, 2015).

Tem-se como intencionalidade, a partir desta disciplina, auxiliar os acadêmicos no

desenvolvimento de habilidades necessárias para a construção do espírito científico. Ela

contribui, também, para a sistematização da pesquisa acadêmica, para a organização do

pensamento e para a comunicação formal das aprendizagens realizadas ao longo do estudo.

Para Severino (1993, p.23) “[...] toda atividade desenvolvida no contexto da vida de estudos

universitários deve fundar-se numa disciplina lógica rigorosa.”.

É relevante, ainda, salientar que os temas discutidos na disciplina auxiliam os

acadêmicos no desenvolvimento de uma leitura e escrita mais eficientes. Além disso, a

disciplina serve como suporte para a produção escrita feita com embasamento científico,

elaborada segundo as técnicas da ABNT.

Nesse sentido, o presente estudo objetiva partilhar uma experiência metodológica

vivida na disciplina de Metodologia Científica, ministrada no primeiro semestre dos cursos de

graduação de uma Instituição de Ensino Superior do norte de Santa Catarina, em relação ao

desenvolvimento do espírito científico e aos procedimentos da investigação científica.

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A pesquisa

A pesquisa é um processo investigativo que busca a compreensão de fenômenos ou

problemas naturais, econômicos, políticos e sociais, visando sua superação e a produção de

novos conhecimentos para o bem-estar do ser humano. Nesta perspectiva, Chizzotti (1998, p.

11) explica que a pesquisa é o meio pelo qual se investiga o ser humano e o próprio mundo

em que habita, e tem como finalidade básica “[...] transformar o mundo, criar objetos e

concepções, encontrar explicações e avançar previsões, trabalhar a natureza e elaborar as suas

ações e ideias.”.

Pesquisar é viver um processo de descobertas. Esse processo se dá por meio da busca

permanente de caminhos que, na maioria das vezes, modificam a direção do olhar, suscitando

o refinamento da escuta e da observação. Enfim, trata-se de atividade que requer que se

ativem todos os sentidos em relação a um determinado fenômeno que se persegue porque se

quer conhecê-lo mais e melhor (RANGHETTI, 1999b).

Ação esta que não se limita apenas a um envolvimento técnico em torno de um

objetivo comum - perseguir a pergunta na tentativa de encontrar possíveis caminhos -, mas

que requer também envolvimento, relações e interações pessoais. Há o entre(laçar) dos

sujeitos e destes com o fenômeno que se pesquisa, desenhando espaços, constituindo lugares e

dando movimento ao ato de pesquisar que contém ensinos e aprendizagens. E é nesse

movimento produzido nos encontros de discussões e encaminhamentos da pesquisa que o

ensino é vivido.

Destarte, pesquisar é perguntar. É a pergunta a porta de entrada para o movimento da

pesquisa. Quando bem projetada, ela assume o papel de flecha capaz de desvelar o

desconhecido, permitindo a quem pergunta/pesquisa aproximar-se do conhecimento de forma

rigorosa, conforme indica Severino (1993).

O processo da elaboração da pergunta

Na disciplina de Metodologia Científica uma das unidades de estudo é Projeto de

Pesquisa. A partir dessa unidade há a proposição aos estudantes para que desenvolvam a

investigação de uma temática relacionada à sua formação profissional. Essa ação é proposta

com a intenção de que os alunos vivenciem as fases de elaboração do conhecimento

científico.

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A mobilização inicial do projeto de pesquisa se dá a partir de uma oficina

mobilizadora organizada com vídeos, fotografias, música e texto informativo. Nessa oficina

os acadêmicos são sensibilizados a questionar o “texto” e a refletir sobre a atuação

profissional diante da temática escolhida, registrando as primeiras perguntas/dúvidas em

relação ao assunto abordado.

A atividade é desenvolvida nas primeiras fases dos cursos das Engenharias (Mecânica,

Civil e Produção), nas quais se trabalha com a temática Sustentabilidade. No curso de Moda,

por sua vez, a temática proposta é a mesma, dando-se ênfase, contudo, ao desenvolvimento de

Looks que possam ser construídos com materiais alternativos.

A oficina geradora de perguntas amplia o referencial inicial dos estudantes em relação

a temática, ativando a curiosidade e as possibilidades de se questionar o observado. Assim,

individualmente, os alunos fazem o registro da pergunta inicial sobre a temática. As perguntas

são recolhidas e categorizadas pela professora para a etapa seguinte do processo

metodológico.

A escolha da temática sustentabilidade intencionou inserir os acadêmicos no contexto

da profissão, responsabilizando-os pela construção de referenciais de mundo e de vida que

subsidiem a formação pessoal e profissional, com autonomia, imprescindível no exercício

profissional. Freire e Faundez (1985, p.49) corroboram com esse entendimento ao afirmar

que: “[...] o educando ao perguntar sobre um fato tenha na resposta uma explicação sobre o

fato e não a descrição pura das palavras ligadas ao fato. É preciso que o educando vá

descobrindo a relação dinâmica, forte, viva, entre palavra e ação, entre palavra-ação-

reflexão.”

Em sala de aula, em um segundo momento, as categorias e suas respectivas perguntas

são apresentadas aos acadêmicos com explicitação de como se faz a categorização da

perguntas construídos pelo grupo. Nesse momento eles são separados em grupos e escolhem a

categoria que intencionam pesquisar. Em seguida, os alunos recebem as perguntas feitas pela

sala, perguntas “ingênuas” (FREIRE; FAUNDEZ, 1985) que originaram a categoria

escolhida. A categorização das perguntas objetiva reunir em um mesmo subtema os

questionamentos construídos pelos estudantes. Acredita-se que esse processo oportuniza aos

grupos mais facilidade no momento de compreender a construção das perguntas, uma vez

que, as mesmas tratam do mesmo assunto, porém escritas ainda de forma incipiente. Como

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exemplo dessas perguntas, organizadas pelos estudantes das turmas das Engenharias e da

turma de Moda, pode-se citar:

a) “Até que ponto o Engenheiro Civil pode ajudar para a melhoria do nosso ciclo de

vida?”;

b) “Qual a importância do Engenharia Civil com o meio ambiente?”;

c) “Será que estamos tendo atitudes responsáveis para melhorar as condições de

vida do nosso planeta?”;

d) “O que é necessário para transformar um veículo movido à combustão em um

elétrico e como ocorre essa transformação?”;

e) “Quais os materiais que podem ser utilizados para desenvolver um look

experimental utilizando material sustentável a partir do tema borboletas?”;

f) “Qual a importância de produzir roupas sustentáveis?”.

Para Freire e Faundez (1985, p.48), quando a pergunta pode “[...] parecer ingênua, mal

formulada, nem sempre o é para quem a fez. Em tal caso, o papel do educador, [...] é ajudá-lo

a refazer a pergunta, com o que o educando aprende, fazendo, a melhor pergunta.”. De

acordo, ainda, com os autores, a proposição de perguntas parte da curiosidade “ingênua” para

uma curiosidade “epistemológica”. Assim, as perguntas de pesquisa permitem “[...] respostas

reflexivas sobre as representações, aproximando-se da essência de sua significação.”

(RANGHETTI, 1999a, p.85).

Nesse sentido, as perguntas iniciais são analisadas pelo grupo, que discute e reflete

sobre elas com o objetivo de organizar uma única pergunta geradora de pesquisa, ou seja, uma

pergunta epistemológica. Para isso, mobiliza-se novamente a turma com vídeos, reflexões e

exemplos que evidenciam a importância da pergunta epistemológica e de suas características,

diferentes da pergunta “ingênua”. As perguntas, reconstruídas, são socializadas e discutidas

no grande grupo (classe), com a mediação da professora. Todos participam e fazem

considerações sobre as perguntas dos colegas de modo que as equipes consigam apresentar

uma pergunta articulada, objetiva e clara sobre o foco da investigação que se seguirá.

Atenta-se para que todos observem como uma pergunta de pesquisa deve se constituir.

Questões que iniciam com Quem? Qual? não suscitam pesquisa, apenas constatação dos fatos

e estes poderão ser respondidos com a consulta em um único texto informativo. Assim, “uma

pergunta de pesquisa é a declaração de uma indagação específica que o pesquisador deseja

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responder para abordar o problema de pesquisa.” (GRAZIOSI; LIEBANO; NAHAS, 2011,

p.8).

Para Gadamer (2002, p. 534):

É essencial a toda pergunta que tenha um sentido. Sentido de orientação. O sentido

da pergunta é simultaneamente a única direção que a resposta pode adotar se quiser ser adequada, com sentido. [...] para perguntar temos que querer saber, isto é, saber

que não se sabe [...] para todo o conhecimento e discurso, em que se queira

conhecer.

Com esse entendimento, as professoras sugerem que os estudantes iniciem as questões

com um contexto e utilizem-se dos termos como: “de que forma”, “como”. Exemplos de

perguntas epistemológicas construídas pelos acadêmicos da turma de Engenharia Civil e

Moda são:

a) “Como “fazer” Engenharia Civil de modo que as construções e edificações

projetadas impactem menos na saúde do planeta?”.

b) “De que forma ocorre a implantação da Energia Solar em Residências no

Estado de Santa Catarina e quais os impactos para a Sustentabilidade?”

c) “Como o Engenheiro de Produção pode contribuir para o processo de

implantação de ações sustentáveis em industrias têxteis brasileiras?”;

d) “Como ocorre o processo de transformação de um veículo movido à combustão

para um veículo movido a eletricidade?”;

e) “De que forma desenvolver uma fantasia para o público feminino entre 20 e 30

anos de idade, inspirado na fauna e flora da floresta amazônica e utilizar

materiais alternativos para a confecção da peça?”;

f) “A partir de materiais alternativos inspirados no tema metamorfose da

borboleta, como elaborar um look que possibilite liberdade de movimento para

a personagem/artista que irá utilizá-lo?”.

As perguntas resignificadas permitem observar que o saber perguntar pressupõe a

reflexão sobre o tema desejado, ampliando o olhar do acadêmico para a compreensão do

tema, seu aprofundamento e encaminhamentos para a solução da questão pesquisada. Na

excelência da argumentação, da explicitação e na clareza da formulação das perguntas é que

reside o grau de cientificidade da pesquisa (RANGHETTI, 2005).

A ação seguinte pressupõe a construção do objetivo geral e dos objetivos específicos

da pesquisa que indicam as ações que o grupo irá percorrer para solucionar o problema. Além

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disso, também se traça a metodologia a ser utilizada. Desse momento em diante os grupos

continuam a pesquisa, a partir da metodologia traçada. Algumas dificuldades observadas nos

acadêmicos no trabalho em grupo são: aceitar a ideia do outro, ouvir, silenciar, argumentar

sobre as próprias ideias e convicções. Tal prática exige do aluno uma atitude interdisciplinar

que supõe princípios tais como humildade, respeito, espera, desapego, coerência, além de

ousadia, comprometimento, envolvimento, negociação, partilha, cooperação, colaboração,

observação e afetividade.

No desenvolvimento do projeto algumas certezas são (re)significadas e dúvidas

relativizadas. Duvidar, fazer, refazer, em parceria, colocam mais uma vez em evidência que o

ensino e a pesquisa devem coexistir no mesmo espaço, já que ensinar é atribuir signo e para

isso precisamos investigar, conhecer, apreender esse algo para depois atribuir-lhe significado.

Isso é pesquisar. Aprender, apreender para compreender. Nesse contexto, a compreensão tem

sua existência a partir do momento que o ser humano pode habitar esse conhecimento que

busca. É nesse movimento “com-junto” que o ensino se materializa.

Essa estratégia didática utilizada para a iniciação do acadêmico na pesquisa tem

evidenciado, em seus resultados, que o processo vivido na elaboração da pergunta e,

consequentemente, nas demais etapas da pesquisa é fundamental para a inserção do

acadêmico na vida universitária, tendo como um dos princípios de aprendizagem a pesquisa.

Desse modo, a disciplina Metodologia Científica tem caráter formativo na cultura do

estudante universitário uma vez que, por meio dela, procura-se evidenciar a relevância do

espirito investigativo e da autonomia no desenvolvimento dos processos de aprendizagem e

construção do conhecimento.

Considerações finais

O processo vivido na elaboração de perguntas, no início do curso de graduação

revelou que:

a) Os acadêmicos têm dificuldades de elaborar perguntas promotoras de pesquisa;

b) Sem uma mobilização para a temática a ser pesquisada, mesmo que seja uma

temática em que as informações são veiculadas nos diferentes meios de

comunicação, há dificuldade em elaborar perguntas pela falta de compreensão

do sentido do tema na contemporaneidade, bem como para a vida pessoal e

profissional;

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c) Faz-se imprescindível um espaço para que as perguntas sejam reconstruídas

com a mediação do professor, para que as mesmas possam atingir o objetivo

proposto;

d) A disciplina de Metodologia Científica auxilia na construção de uma cultura

acadêmica que transcende a aquisição e a reprodução do conhecimento,

mobilizando para uma postura investigativa;

e) A ação do acadêmico se dá a partir do seu envolvimento com os processos de

pesquisa.

Ao construir, reconstruir e aprender a analisar uma pergunta de pesquisa o estudante

percebe o caminho que tal pergunta pressupõe. Isso ocorre tendo em vista que o aluno

constrói um olhar crítico para a objetividade e clareza que são relevantes em um problema de

investigação.

Além disso, com a continuação do processo de investigação (objetivos, metodologia,

justificativa e fundamentação teórica) todas as partes que compõe a elaboração do

conhecimento científico são vivenciadas. A pergunta de pesquisa ajuda a delimitar o campo

de busca, permite a seleção de instrumentos e recursos, sinaliza para desvios de direção e é

fundamental para dar sentido e significado a fatos, fenômenos e percepções vivenciados no

processo de pesquisa.

Ainda, desenvolver uma prática de pesquisa significa criar um movimento em que a

dúvida, a pergunta e as incertezas sejam impulsionadoras do ato de ensinar e aprender. O

conhecimento anterior, prévio, é o início de um trabalho de (re) construção de novos

conhecimentos, não deixando de lado o que já se conhecia, mas (re) formulando-o,

aperfeiçoando-o.

Nesse sentido, alcança-se também o objetivo da disciplina de Metodologia Científica

que é o de situar o estudante sobre o sentido da educação superior cujo princípio científico e

educativo é a pesquisa, como afirma Demo (2006).

REFERÊNCIAS

BOTELHO, Fernando Pacheco. A importância da metodologia científica. Disponível em:

<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAATpwAF/artigo-a-importancia-metodologia-cientifica>. Acesso em: 10 ago. 2015.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 3. ed. São Paulo: Cortez,

1998.

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DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa. 3. ed.

rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1985.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica

filosófica. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.

GRAZIOSI, Maria Elisabete Salvador; LIEBANO, Richard Eloin; NAHAS, Fabio Xerfan.

Elaboração da pergunta norteadora de pesquisa. In:______. Módulo Científico. São Paulo,

Universidade Federal de São Paulo, 2011. Disponível em:

<http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_cientifico/Unidade_12.pdf>.

Acesso em: 10 ago. 2015.

RANGHETTI, Diva Spezia. A força do ato de perguntar na ação reflexiva. In: FAZENDA,

Ivani (Org.). A virtude da força nas práticas interdisciplinares. Campinas, SP: Papirus,

1999a. p.79-87.

RANGHETTI, Diva Spezia. O conceito de afetividade numa educação interdisciplinar.

Dissertação (Mestrado em Educação: Currículo) – Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, São Paulo, 1999b.

RANGHETTI, Diva Spezia. Uma lógica curricular interdisciplinar para a formação de

professores — a estampa de um Design. Tese (Doutorado em Educação: Currículo).

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.

RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1985.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 19. ed. São Paulo: Cortez, 1993.