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A PERFÍDIA CIENTÍFICA DE DESCARTES, HOBBES & ROUSSEAU Cesar Ramos

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A PERFÍDIA CIENTÍFICA DE DESCARTES, HOBBES & ROUSSEAU

Cesar Ramos

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A PERFÍDIA CIENTÍFICA DE

DESCARTES, HOBBES & ROUSSEAU

Protocolo Biblioteca Nacional- 008671-V01

Cesar Ramos “ Este livro é para ser lido com calma e atenção.

Assim como eu li Fritjof Capra e Betrand Russel, por exemplo. É um trabalho fantástico. Aprendi muito e me identifiquei muito com ele também. Aplaudo sua visão multifacetada, critica e culta no melhor sentido. É uma cultura que não precisa se exibir para se mostar culta. Estudantes brasileiros terão muito a aprender com esta obra. Trabalho de peso e importância e por isso está guardado aqui em meu arquivo especial como fonte de referência permanente”.

Clemente Nobrega *,

* Físico nuclear, consultor da revista Exame e autor dos best-sellers “A Empresa Quântica” e “Supermentes”.

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Sumário APRESENTAÇÃO 3 INTRODUÇÃO 4 I.A REBABEL 8 1.Pacto com Satanás 8 2. A má temática 11 3.O incomparável Newton 16 II. ORDEM E ATRASO 19 III. A ALIENAÇÃO DA DIALÉTICA 24 IV. NO RASTRO DO LEVIATÃ 35 V. O AXIOMA DO MÊDO 38 VI. BALÃO MÁGICO 51 VII. O PARASITA 54 1. Apagão do Iluminismo 54 2. Replay da má temática 61 3. Vilãsofia 65 4. A última homenagem 74 VIII. A IMPLOSÃO MATERIALISTA 77 NOTAS 84 REFERÊNCIAS 97

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A PERFÍDIA CIENTÍFICA DE DESCARTES, HOBBES & ROUSSEAU

À memória de Mário Bernardino Ramos meu pai.

Apresentação

Esse aspecto genético do paralelo entre o desenvolvimento científico e o político não deveria deixar maiores dúvidas.

Thomas Kuhn * _______________________________________________ * Kuhn, Thomas, A estrutura das revoluções científicas,

p. 126/7

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QUE vetor partiu da Física para influenciar não só a Engenharia, a Arquitetura, ou a Medicina, mas também a Filosofia, o Direito, a Sociologia, a Psicologia, a Economia? Que importância tomaram número e matéria para acenderam o fogo do ódio entre os povos? Infelizmente as ciências, especialmente as humanas, amarram-se em ingênuas metafísicas, ilusões riscadas há muitos séculos; felizmente podemos assistir, todavia, já no limiar do século passado, esses antigos métodos de averiguação e prática serem completamente abandonados, pilhados em falsidade de propósito, flagrante da própria ciência exata que outrora os encobrira. No século XXI, "o da maioridade civil", as disciplinas de humanidades começam a promover sua mutação. Nossa adolescência foi marcada por alguns ídolos, entre os quais brilha o fulgurante trio escolhido para se exumar. Muito se tem escrito sobre suas travessuras, mas de modo individualizado. O costume narra a história sem comprometimento com relacões epistemológicas e efeitos obtidos. Diante de tanta importância e até atualidade, tomamos a iniciativa de apresentar esta mini, porém densa obra, carregada com centena de clássicos interdisciplinares, ínfima contribuição ao vedamento de tão formidável lacuna. Dentre os dedicados e reconhecidos pelas faculdades exatas, mas também pela filosofia, Descartes ocupa destacado pedestal. Atinge inequívoco sucesso, comprovado por séculos. O buraco negro de seu método traga incontáveis talentos e carentes de todo o gênero.

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O cimento cartesiano uniu os tijolos do edifício totalitarista de Thomas Hobbes - que aprendera diretamente com o mestre sua composição – e foi revestido pela tétrica mão do descendente Jean-Jacques Rousseau, apagão do Iluminismo. Hegel, Malthus, Mill, Darwin, Bentham, Marx, Comte, Sorel e Keynes aproveitaram a escuridão. Ao fascismo e ao comunismo foi apenas um lapso. Para atingir o gancho onde se dependura essa dupla fatídica é que orgulhosamente apresentamos A perfídia científica de Descartes, Hobbes e Rousseau. Mercê das facilidades de nossa era, agora é possível atingir essas subterrâneas e camufladas bases pseudo-científicas, raízes de onde emanaram as ervas daninhas e o podre odor suavizado nas gotas dos falsos ideais. Ao contraste usamos as teorias de Locke, Smith e Einstein. A moderna física é pródiga e encontra no sistema liberal seu álibi, sua razão. Destarte, pela mesma aridez científica que outrora ofuscou a vã filosofia emerge o horizonte da nova era, nova ordem que parece desordem, que brota nem toda expressa por números ou códigos comportamentais (posto que infinitamente mais ampla), mas faz-se também legal e legítima, cientificamente correta e apreciada, procedimento de reversão por convergência de aceleração crescente porque sem dialéticas, mas com “somaléticas”, onde a ética não se fratura. Com você, a perfídia científica, filosófica e ideológica de Descartes, Hobbes e Rousseau; algumas de suas mais perniciosas companhias; e as graves consequências epistemológicas, sociais, econômicas, ecológicas, culturais, políticas, jurídicas, morais e espirituais propiciadas pela artimanha.

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A PERFÍDIA CIENTÍFICA DE

DESCARTES, HOBBES & ROUSSEAU

Introdução

A ciência nos faz conhecer a verdadeira natureza das coisas? Ela nos faz conhecer as verdadeiras relações entre as coisas.

Henry Poincaré * O século XVI testemunhou várias descobertas, de inúmeros matizes. Simultâneos acontecimentos abalavam as concepções ocidentais sobre Terra, Deus e Universo. Fosse por Copérnico ou por Colombo, os novos panoramas aguardavam intrépidos e destemidos. África, México, Perú, China e Japão reservavam aos navegadores, conquistadores e missionários, culturas antigas e respeitáveis, pacíficas e harmônicas. Incas e aztecas exibiam o esplendor ignorando ensinamentos bíblicos e o correspondente sistema de privilégios e castigos. _______________________________________________ * Poincaré, Henry, (1854-1912), O valor da ciência, p. 167.

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Havia necessidade da substituição dos velhos conselhos espirituais, até por causa dos muitos absurdos inexplicáveis, ou, principalmente, pela realidade oferecida no telescópio de Galileu, a ciência e a experiência calculável, por isso certa e acessível, por tudo, real. Quem se mantinha na fé, passava a acreditar que Deus formulara Seu plano para ser decifrável através de um código, canal acessado somente pelos mais merecedores: “Para construir esse sistema com todos seus movimentos, foi necessário uma Causa que compreendeu e comparou as quantidades de matéria dos vários corpos diferentes; essa causa não pode ser uma simples conseqüência cega do acaso, mas sim uma especialista em mecânica e geometria.” (1) A ciência se precipitou na presunção: “É óbvio que um tal Deus não pode ser enganador.” (2) Incontáveis enganos, mas principalmente deliberadas mistificações daí oriundas alçaram o infindável vôo, no espaço e no tempo, subvertendo o curso natural de todas as famílias. René Descartes, pelo lado da física, da matemática, da ciência exata; Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, pelo lado do Direito, da Sociologia, da estratégia política, das ciências humanas, são influentes precursores, por isso constantemente abordados. Há multiplicadas obras que investigam as razões do Método, do Leviatã e do Contrato Social, mas geralmente as enquadram de modo isolado, assim atendendo a especialização, o detalhe, a aproximação da lente; raros são as que contemplam os relacionamentos dessas distintas produções. Das letras, excluímos os números; e físicos, advindos do estudo básico cartesiano, sequer tem na filosofia ou

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na ciência política alguma preocupação. Não há dúvidas, contudo, da realidade desta simbiose, e de modo decisivo; por isso apresentamos a dura exumação, ao gáudio do velho Popper. O motivo do estudo seria inócuo se estas teorias, os episódios que deram causa e principalmente suas consequências ficassem resumidas àquelas parcas épocas, mas não: os intelectos desses monstros sagrados, combinados, conseguiram empurrar a humanidade ao precipício da insensatez, do massacre coletivo, desde as peripécias de Cromwell até o oportunismo de Napoleão, coelho saído de uma sangrenta revolução que o marketing diz democrática, e daí às guerras civis e mundiais que se sucederam. Embora o linchamento de Mussolini e a queda do muro, infelizmente suas perfídias não se extinguiram; até hoje impregnam hábitos e constituições, sempre conservados pelo poderoso de plantão como a ferramenta ideal para a dominação total, exclusivo objetivo que reparte com os “partidos” digladiantes do vasto campo democrático. Mais do que nunca é possível atingir suas subterrâneas e camufladas bases pseudo-científicas, raízes de onde emanaram as ervas daninhas e o podre odor suavizado pelas gotas dos seus falsos ideais. Chegaremos mais próximos da reorganização e de um reacomodamento natural, paradoxalmente, lançando um cocktail desintegrativo na torpe novela que dimensionaram estes filósofos mecanicistas. Como expressa Ortega Y Gasset, “o homem que descobre uma nova verdade científica precisou, anteriormente, despedaçar em átomos tudo o que aprendera, e chega à nova verdade com as mãos

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sujas de sangue do massacre de mil superficialidades”. (3) Para a melhor compreensão dos cabos que ligam Hobbes, Descartes, Rousseau com seus efluentes Comte, Bentham, Hegel e Marx, permeamos o texto com conceitos de John Locke, Shaftesbury, Alexis Tocqueville, Adam Smith e Albert Einstein, os quais, curiosamente, também possuem mútua correlação. A diversidade investigativa atende a recomendação de Gaston Bachelard, para quem “um conhecimento mais profundo é sempre acompanhado de uma abundância de razões coordenadas”. (4) As informações, outrora truncadas, desencontradas, herméticas, enfeixadas, censuradas por perigosas, ou de acesso dificultado, nos dias de hoje são desvendadas ao mundo dos normais. O cidadão comum vê emergir, apesar de uma infinidade de mitos e obstáculos dogmáticos, a majestosa reversão científica que, sob os auspícios do gênio, modifica nosso entendimento simplesmente sobre tudo. A moderna física é pródiga e encontra no sistema liberal seu álibi, sua razão. Destarte e pela mesma aridez científica que outrora ofuscou a vã filosofia, surge o horizonte desta nova era, nova ordem que parece desordem, que brota nem toda expressa por números ou códigos comportamentais (posto que infinitamente mais ampla), mas faz-se também legal e legítima, cientificamente correta e apreciada, procedimento de reversão por convergência de aceleração crescente porque sem dialéticas, mas com “somaléticas”, onde a ética não se fratura. À guisa de atenuar a forte tonalidade dos enquadramentos, apropriamo-nos das mesmas palavras iniciais de Einsten... “Se, no que se segue, eu

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vier a expressar minhas idéias um tanto dogmaticamente, será apenas em nome da clareza e da simplicidade”- (5) ...consignando, entretanto, a ressalva: não apresentamos, de modo direto, novas idéias - o livro é menos escrito por nós, muito mais pelos vultos; mas atiramo-nos na chance de uni-los . Com você, a perfídia científica, filosófica e ideológica de Descartes, Hobbes e Rousseau; algumas de suas mais perniciosas companhias; e as graves consequências epistemológicas, sociais, econômicas, ecológicas, culturais, políticas, jurídicas, morais e espirituais propiciadas pela comum artimanha.

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Capítulo I REBABEL

Nenhuma disciplina poderá outorgar para si própria um lugar de onde deduzir um saber absoluto e final. Quando as ciências, a prestigiosa matemática ocupou este lugar, revelou-se então mais mutiladora do que a rainha!

Michel Serres (1) 1. Pacto com Satanás O conhecimento e a mistificação proliferaram graças ao dedo de Gutemberg. Cêrca de mil tipografias em mais de 250 localidades distintas (2) se encarregaram de arrolar as novas razões: “De todas as revoluções tecnológicas do milênio, a de maior alcance ocorreu um pouco antes da metade dessa era. Em 1455 Gutemberg escreve a Bíblia.” (3) Na virada ao século XVI, duzentos e quatorze livros de matemática saíram publicados (4). Toffler relata o pitoresco: “Um conselho sem dúvida bem-intencionado, atribuído a Santo Agostinho, advertia os cristãos a manter distância das pessoas que sabiam somar ou subtrair. Era óbvio que haviam firmado um “pacto com o diabo”. (5) O “pacto” vingava por todo o lado. Galileu Galilei e Niklas Copérnico impressionavam o mundo. Deus, a Igreja e seus estandartes derrocavam. Não éramos

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mais o “centro do universo;” o sol não girava sobre a Terra. Discorsi e dimonstrazioni matematiche intorno a due nuove scienze attenenti alla meccanica* inaugurava, oficialmente, a era mecanicista. Selou-lhe rudimentar aparelho amplificador da visão, pirateado. O conhecido crítico de Aristóteles (383-322 a. C.) mostrava, aos olhos incrédulos, a certeza do cálculo, “revanche de Platão”: “O sopro da morte atingiu a teoria aristotélico-ptolomática em 1609. Neste ano Galileu começou a observar o céu à noite, através de um telescópio, que acabara de ser inventado. Ao focalizar o planeta Júpiter, Galileu descobriu que se fazia acompanhar de vários pequenos satélites, ou luas, que giravam a sua volta. Isto implicava que nada precisava necessariamente girar em torno da terra, como Aristóteles e Ptolomeu haviam pensado”. (6) A lógica científico-matemática vinha para o lugar de “lendas” filosóficas e religiosas. O conhecimento anterior fora montada em cima de inconsistentes palavras. Agora, os números traziam mais segurança, tornavam as atividades concretas, mais lógicas e práticas; compõem os elos. A matemática é o cimento das ciências, é a garantia de sua coerência, é a defesa segura contra qualquer tentativa de acolher, “com distorções de palavras”, proposições de várias procedências, incompatíveis entre si.” Nem o “Inferno”, de Dante (7), escapou do crivo. ____________________________________________ * Discorsi e dimonstrazioni matematiche intorno a due

nuove scienze attenenti alla meccanica: Discursos e Demonstrações Matemáticas em torno de Duas Novas Ciências”, publicado em Leida, 1638.

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Tornou-se Galileu o “pai da física matemática” (8) Poderíamos dizer, sem querer ofendê-lo, mas completá-lo, que sua idéia foi a “mãe da pretensão científica”. Quanto ao homem, estava provado: não estando mais no centro do universo, poderia ser, quanto muito, uma inexpressiva peça de toda a engrenagem do reino solar. A faculdade de conhecer o verdadeiro se resumia ao que os braços ou olhos podiam confirmar, mas o acesso ao completo texto da geometria euclidiana estava plenado. Este é o engano basilar de Galileu e da produção científica efetivada nos séculos que lhe sucederam, a premissa pintada como conclusão de pensamento, a subversão numérica das letras: “A filosofia está escrita neste grande livro que permanece sempre aberto diante de nossos olhos; mas não podemos entendê-la se não aprendermos primeiro a linguagem e os caracteres em que ela foi escrita. Esta linguagem é a matemática e os caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas.” (9) Os caracteres nasceram deformados pela carga genética: “Não tenho dificuldades para admitir, identificando o platonismo com matematicismo, o caráter platônico da ciência galileana”. (10) Alexandre Koyré confirma: “A grande idéia de Koyré, justamente, é que Galileu encarnava a herança do platonismo. Em outras palavras: Galileu acreditava que, graças à matemática, os físicos conseguiriam apreender a estrutura íntima da realidade”. (11) O infeliz Platão expulsara os poetas de sua República. Letras serviam à fantasia, enquanto “o

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livro da natureza é dominado pelo rigor matemático, donde seu objetivo precípuo é aquele de aprender a verdade.” (12) O câmbio do paradigma ético de Aristóteles pelo pragmatismo totalitarista de Platão restringiu a ciência e subverteu a democracia: “Trata-se de uma revolução que, além de derrubar a ditadura de Aristóteles, arruína completamente, através da luneta astronômica, o dogma da incorruptibilidade dos corpos celestes. Fica ainda absolutamente rejeitado o axioma identificando o real objetivo à percepção sensível: as qualidades são relativas a nossos sentidos e a matéria é quantitativa. (13) Foi uma lástima, à ciência e à humanidade: “ ... em alguns aspectos importantes, embora de maneira alguma em todos, a Teoria Geral da Relatividade de Einstein está mais próxima da teoria de Aristóteles do que qualquer uma das duas está da de Newton.” (14) Complementa Koyré: “Ocorre que para Aristóteles a geometria era apenas uma ciência abstrata. Por isso, a geometria nunca poderia explicar o real. As suas leis não dominam o mundo físico. O estudo da geometria não precede o da física. Uma ciência do tipo aristotélico não se apoia numa metafísica. Conduz a ela, em vez de partir dela. Uma ciência tipo cartesiana, que postula o valor real do matematismo, que constrói uma física geométrica, não pode dispensar uma metafísica. E tem mesmo que começar por ela. Descartes sabia-o. E Platão, que fora o primeiro a esboçar uma ciência desse tipo, sabia-o igualmente.” (15)

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2. A má temática NÃO se chega à intimidade retalhando o corpo, mas o terreno estava plenado e a mesa posta, com muitos talheres, banquete dos canibais. O primeiro a sentar foi esse René Descartes (1596-1650), o “fundador da moderna filosofia”: “Ao saber do processo contra Galileu em 1633, Descartes sustou a publicação de um importante tratado de física no qual adotava a teoria de Copérnico.” (16) Pegou o bonde errado: “Durante seu desenvolvimento pelo pensamento grego, a filosofia da natureza enveredou por um caminho equivocado. Esse pressuposto errôneo é vago e fluído no Timeu, de Platão.” (17) Timeu desconcertou Descartes, que partiu a reconstruir o sistema verdadeiro do mundo, projeto platônico de construção de uma física matemática, de uma ciência matemática do mundo. Dono de uma vida peregrina, René passou a vida se alistando em exércitos estrangeiros. Entremeios, formulava anotações. A França não lhe convinha. Holanda e Baviera, Bretanha e finalmente Suécia, países coincidentemente estranhos à comunidade latina, até receberam seus esforços, mas não lhe renderam homenagens. Eram poucos os que sabiam ler; menos ainda poliglotas. Em Estocolmo, desgostoso com a negligência das pessoas, Descartes acabou falecendo. No post mortem tornou-se mundialmente conhecido; mais ainda, praticado. Descartes, como Rousseau, consumiu bastante tempo centrado em si mesmo. Muitas linhas descrevem sua própria história. Começamos

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transcrevendo o notável exemplo de pretensão... em péssima redação: “Penso que tive muita sorte em me ter encontrado desde a juventude em certos caminhos que me conduziram a considerações e a máximas com as quais formei um método pelo qual me parece que tenho possibilidades de aumentar gradualmente o meu conhecimento e levá-lo ao mais alto ponto a que a mediocridade do meu espírito e a curta duração de minha vida poderão permitir-me chegar; já tirei dele tais frutos que, embora no juízo que faço de mim próprio trate sempre de me inclinar para o lado da desconfiança mais que para o da presunção, e que, olhando com olhos de filosófo as diversas ações e empresas de todos os homens, não haja quase nenhuma que não me pareça vã e inútil, não deixo de receber uma extrema satisfação dos progressos que penso já ter feito na procura da verdade e de conceber tais esperanças para o futuro que, se entre as ocupações dos homens puramente homens houver alguma que seja solidamente boa e importante, ouso crer que é a que eu escolhi... Espero que ele (este escrito) venha a ser útil a alguns, sem ser nocivo para ninguém, e que todos apreciarão minha franqueza.” (18) Que modéstia comovente, encantadora! O comentário de Alexander Koyré o aniquila: “... Que um sábio nos conte a sua biografia, aí é que é surpreendente. Imaginamos Einstein ou Broglie a contarem-nos a vida, mesmo espiritual, antes de exporem a Teoria da Relatividade ou a Mecânica Ondulatória? Ora, Descartes fá-lo... dizendo que teve a sorte de descobrir um “método” que lhe permitira fazer grandes progressos no estudo das ciências e

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que expõe a fim de que os leitores o possam aproveitar.” (19) No que pode consistir esse método? Responde-nos Gilles-Gaston Granger: "Convém efectivamente distinguir dois pólos de todo irredutíveis da idéia de método. Um corresponde às noções de ´receita´, ´procedimento´, ´algoritmo´, que descrevem detalhadamente a concatenação do que deve ser feito. O outro corresponde ao conceito de estratégia, que não fornece necessariamente uma indicação particularizada dos actos a cumprir, mas somente do espírito dentro do qual a decisão deve ser tomada e do esquema global no qual as acções devem decorrer... o aspecto principal parece ser o método como estratégia." (20) Descartes fez história a partir da primeira da crise, ao sair da escola por excesso de dúvidas e decepções no estudo das letras. Fora buscar conhecimentos claros e certos, advindos de um saber, mas apresentavam só discussões. Presumia o iluminado ser possível passar pela vida sem portar dúvidas. Como traçar uma estratégia com tantas opções sugeridas? Como saber qual delas seria a verdade? “... Tinham-lhe, em suma, prometido uma ciência e uma sabedoria (sagesse). E não lhe tinham dado nem uma nem outra.” (21). Deram-lhe, pelo menos, a desculpa para vadiar. _______________________________________________ * Descartes, Rene, Regulae ad directionem ingenii, obra

incompleta escrita provavelmente antes de 1628, impressa apenas em 1701.

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Folgado, saiu ao turismo, curtir bisbilhotices, futilidades e tolices, logradas com raro sentimento de oportunismo, tudo confesso em sofrível estilo literário, inexorável consequência da precoce autoformatura filosófica: “Assim que a idade me permitiu sair da sujeição aos meus professores, deixei inteiramente o estudo das letras; e resolvendo-me a não procurar outra ciência senão aquela que poderia encontrar-se a mim mesmo ou então no grande livro do mundo empreguei o resto de minha juventude a viajar, a ver cortes e exércitos, contatar com pessoas de diversos humores e condições, a recolher diversas experiências, a experimentar-me a mim mesmo nos encontros que a fortuna me propunha, e por todo o lado a fazer reflexões sobre as coisas que se me apresentavam de modo a poder tirar delas qualquer proveito... (22) O oportunista confesso escolhia a mesma trilha refletiva dos seus famosos contemporâneos e alguns antecessores, principalmente Platão, do qual é filho direto. Tencionava, como eles, enxergar as metáforas da natureza por algo que não fosse a simples e sempre discutível palavra. Só a matemática oferecia verdades encadeadas e certas, “por causa da certeza e da evidência de suas razões”: (23) Bertrand Russel explica: “Na matemática não há fatos fora de seu próprio campo que exijam comparação. Por causa desta certeza, os filósofos de todos os tempos sempre admitiram que a matemática propicia um conhecimento superior e mais confiável do que o reunido em qualquer outro campo do saber.” (24)

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A rainha mathésis universalis passava exibida por sábios interlocutores, os reverenciados de Platão: “A ciência ocidental tornou-se matematizada. A linguagem matemática da ciência, que causa tanto desânimo ao leitor de outras áreas, implantou-se como resultado do conflito entre as visões de mundo eclesiástica e leiga e seu propósito era justamente causar o afastamento do público comum.” (25) A. Lemkow assinala o aspecto mais desumano que pode constatar: “Descartes sustentava que não apenas os vegetais e os animais, mas também o próprio corpo humano eram máquinas.” (26) Tampouco neste particular Descartes soube ser original: André Vesálio, em 1543, já havia proposto De Humani Corporis Fabrica. (27) Canguilhem explica: “A analogia com a mecânica animal tinha por efeito reduzir o maravilhoso, negar a espontaneidade do existente e garantir a ambição de uma dominação racional no curso da vida humana. A matemática cartesiana ignorava analogias e admitia apenas as equivalências” (28) A simploriedade mental decretava: “Toda a filosofia é como uma árvore cujas raízes são a metafísica, o tronco a física, e os galhos que saem desses troncos são todas as outras ciências, que se reduzem a três principais – a medicina, a mecânica e a moral.” (29) Não consta que tenha se preocupado com o significado de moral; mas, no tratado “O Homem”, Descartes sabe abordar a “medicina” com princípios afetos aos “animais-máquinas”, presunção que o levou a aplicar seus remédios baseados nas leis da física mecanista. Para a garganta inflamada, que tal um lubrificante sintético? Pois o engenhoso empirista

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descreve-nos portadores de um sistema hidráulico, irrigado por “tubos” condutores da constante circulação dos fluídos. Nas artérias e nas veias, nestes “tubos”, circula o sangue. O trânsito é movido pelo motor denominado coração. Contração e dilatação produzem a pressão e impulsionam o movimento pelas artérias, tudo baseado em ações mecânicas de trações e inchamentos: “Assim como podeis ter visto, nas grutas e nas fontes que estão nos jardins dos nossos reis, é a simples força pela qual a água se move ao sair da nascente que move diversas máquinas e até toca alguns instrumentos, ou pronuncia algumas palavras, consoante a diversa disposição dos tubos que a conduzem... E deveras se podem perfeitamente comparar os nervos da máquina que vos descrevo aos tubos das máquinas destas fontes; os seus músculos e os seus tendões, aos outros diversos engenhos e molas que servem para as mover; os seus espíritos animais, a água que as movimenta, de que o coração é a nascente e as concavidades do cérebro são as aberturas...”. (30) Hoje podemos bem distinguir. Somos outros compostos: “... Seu corpo é totalmente caótico em determinados níveis - átomos rodopiantes de oxigênio penetram na sua corrente sangüínea a cada respiração, numerosas enzimas e proteínas enchem cada célula, e até a descarga de neurônios em seu cérebro é uma incessante tempestade elétrica. No entanto, esse caos* é apenas uma das faces da ordem, pois não há dúvida de que nossas células são obras-primas de uma função organizada, que nossa

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atividade cerebral resulta em pensamentos coerentes.” (31) No tempo de Descartes a vela era a rainha da noite. A concepção da natureza como uma máquina perfeita a tornava previsível por que governada por leis matemáticas exatas, pretensão sem par: “Não havia propósito, vida ou espiritualidade na matéria. A natureza funcionava de acordo com leis mecânicas, e tudo no mundo material podia ser explicado em função da organização e do movimento de suas partes.” (32) O “homem” surgido dessa pretensa racionalidade fez-se ambíguo: “objeto” para o saber e “sujeito” que conhece. Japiassu acrescenta: “A antiga oposição homem/Deus substituía-se pela oposição homem/mundo. Melhor ainda: pela oposição Sujeito/Objeto.” (33) Algumas conseqüências podem delineá-las cientistas: “Sabe-se de antemão que o mal continua. A ciência com seu método propõe a dicotomia sujeito-objeto, a curiosidade desinteressada e o desapego do primeiro, o isolamento e controle do segundo, a provocação de experiências com vista a fins bem delimitados, a ignorância dos elementos não-essenciais e o esquecimento do todo. A ciência contém no seu método os germes que levaram as suas mais famosas aberrações como atividade social.” (34) Descartes não se desfez da fé; apenas supôs que o bom Deus não iria enganar suas criaturas. Ele havia colocado tudo aos nossos pés; cabia-nos rastrear suas charadas. O racionalismo “legitimava-O”, eis que Ele não seria a causa do erro, que provinha do “gênio

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mau”, “manhoso e enganador”, sempre empenhado no seu papel, o tal “Diabo”, caricaturado por Descartes no esboço filosófico-platônico “Meditação Primeira”. Em carta a Mersena, Descartes assegura: “Não temais, eu vos peço, em afirmar e publicar em toda parte que é Deus quem estabelece essas leis na natureza, assim como um rei estabelece leis em seu trono.” (35) Deus foi aceito como o criador do movimento, em sete dias. Pressupô-se, claramente, que todo o sistema seria originário do impulso inicial deste Alguém que, tendo elaborado ponto a ponto uma espécie de um colossal relógio, apenas lhe necessitasse a dar corda. O mundo funcionaria, depois do sexto dia da criação, automaticamente. Só o pensamento exato levaria ao conhecimento destas leis inteligíveis, à verdade buscada por todos. Este é o exemplo mais clássico, evoluído desde Bacon - a previsão do tempo discorrendo num eterno linear, tique-taque previsível: “A confecção de relógios, por exemplo, é certamente delicado e trabalhoso, de tal modo que as suas rodas parecem imitar as órbitas celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos animais.” (36) Com tanta indicação, partia o esperançoso Descartes atrás da “chave do universo” vangloriando-se que a ciência “nada mais era do que geometria”.(37) Na picada transitam devastadores científicos, ecológicos, políticos, jurídicos, econômicos: “A natureza só é bela para o cientista depois de classificada e arrumada. A façanha está na descoberta desta “ordem.” (38)

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3. O incomparável Newton

Newton, perdoa-me; descobriste o único caminho que na tua época era possível para um homem com os mais elevados padrões de pensamento e criatividade. Os conceitos que criaste guiam ainda hoje o nosso pensamento em física. Sabemos, no entanto, que tem de ser substituído por outros, mais afastados da esfera da experiência imediata, se aspiramos a uma compreensão mais profunda das relações.

Albert Einstein (39) “APOIADO no ombro dos gigantes”, * entre os quais o pioneiro grego Platão, o seguidor italiano Galileu, o carrasco inglês Francis Bacon e o francês Descartes, Isaac Newton ampliou espetacularmente o cientificismo em voga, consagrando-o pela sintética, convincente e brilhante lógica que atingiu, ao tempo em rechaçou, como aquele, abstrações, as vãs filosofias. O polonês Copérnico dera a letra: * Célebre oração de Newton: "Se fui tão longe foi porque

estava apoiado no ombro de gigantes." Arthur Koestler analisa os “gigantes”: primeiro, Johannes Kepler: "...uma mente para a qual toda a realidade última, a essência da religião, da verdade e da beleza estava contida na linguagem dos números." Depois, Galileu Galilei e René Descartes: "...prometeu reconstruir o universo inteiro a partir apenas de matéria e extensão e que inventou a mais bela ferramenta de raciocínio matemático, a geometria analítica". Koestler, Arthur, The Sleepwalkers, 1978, cit. Lemkow, Anna F., p. 84

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“E no meio repousa o Sol. Com efeito, quem poderia no templo esplêndido colocar essa luminária num melhor lugar do que aquele donde pode iluminar tudo ao mesmo tempo? Em verdade, não foi impropriamente que alguns lhe chamaram a pupila do mundo, outros o Espírito, outros ainda o seu reitor.” (40) Tudo era suscetível de explicação, desde que combinasse com a explicação mecânica. O mote enviava o homem a descobrir a prova pela matemática; nesta, o Verbo não tinha nada a influenciar ou a mistificar *. Ou, por outra, o Verbo se mostrava, lògicamente, pelo número. Número se faz provado e provável. Célebre se tornou sua premissa “Hypoteses non fingo”: “Sobre isto, Newton foi bastante claro: “tudo que não é deduzido dos fenômenos deve ser chamado de hipótese; e as hipóteses, sejam as metafísicas ou físicas, digam respeito às qualidades ocultas ou às mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental”. (41) Entender a “filosofia da natureza” através desses preconceitos foi fatal à humanidade. Mandelbrot protesta: “A maior parte da natureza é muito, muito complicada. Como se poderia descrever uma nuvem? Uma nuvem não é uma esfera... É como uma bola, porém muito irregular. Uma montanha? Uma montanha não é um cone... Se você quer fala de nuvens, de montanhas, de rios, de relâmpagos, a linguagem geométrica aprendida na escola é inadequada.” (42)

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A magia do arcoíris se desfez no espectro newtoniano; no lugar da filosofia natural, a renovada e sedutora metafísica: “A natureza toda se transformou em um palco de impulsos e atrações, de dentes e alavancas, de movimentos de partes ou de elementos aos quais eram diretamente aplicadas as fórmulas de movimentos produzidos por bem conhecidas máquinas.” (43) A cientista da Nasa, Barbara Ann Brennam, Master em Física Atmosférica na Wisconsin University, compreende: “A mecânica newtoniana descreveu com êxito os movimentos dos planetas, das máquinas mecânicas e dos fluidos em movimento contínuo. O enorme sucesso do modelo mecanicista levou os físicos do século XIX a acreditarem que o universo, com efeito, era um imenso sistema mecânico que funcionava de acordo com as leis básicas da natureza. Considerava-se a mecânica newtoniana a teoria definitiva dos fenômenos naturais... Tudo podia ser descrito objetivamente. Todas as reações físicas tinham uma causa física, como bolas que se chocam numa mesa de bilhar.” (44) A pesquisadora ainda lembra: “essa maneira de ver as coisas era muito confortadora.” (45) Alfred North Whitehead foi dos pioneiros conscientes do grave deslize cometido, tão longo quanto profundo, pelo qual despenca a massa humana: “Por mais que tenham sido ditas com orgulho, as palavras de Newton... repousam num completo equívoco sobre a capacidade da mente humana para lidar com a natureza externa.” (46) Prigogine também assegura:

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“A natureza não tem um nível simples. Quanto mais tentamos nos aprofundar, maior a complexidade com que nos defrontamos. Nesse universo rico e criativo, as supostas leis de estrita casualidade são quase caricaturas da verdadeira natureza da mudança. Há uma forma mais sutil de realidade, uma forma que envolve leis e jogos, tempo e eternidade... Em lugar da clássica descrição do mundo como um autômato, retornamos ao antigo paradigma* grego do mundo como uma obra de arte.” (47) Este paradigma de arte foi privilégio de Atenas, mas não de Esparta. É compatível com a democracia liberal, não com o totalitarismo bestial. Não são poucos os que reconhecem, até se penitenciam. Sir James Lightill foi dos mais célebres: “Hoje em dia todos nós estamos profundamente cônscios de que o entusiasmo que nossos precursores tinham em relação aos feitos maravilhosos da mecânica newtoniana levou-os a fazer generalizações nesta área de previsibilidade, na qual de modo geral talvez tenhamos tendido a acreditar, antes de 1960, mas que hoje reconhecemos que era falsa. Queremos nos desculpar coletivamente por haver confundido o público instruído em geral, fazendo-os acreditar em idéias sobre o determinismo de sistemas que satisfazem as leis de movimento de Newton, as quais, a partir de 1960, foi provado serem incorretas.” (48)

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Capítulo II ORDEM E ATRASO

Nunca podemos provar uma teoria, para corroborá-la; o

que podemos é pô-la à prova, em situações cruciais, para ver se ela resiste. Karl Popper (1)

SE caos é a virtualidade da ordem na aparente desordem, podemos afirmar que a ordem planificada desorganizou a natureza e, por conseqüência, as relações sociais. A França contribui com notáveis discípulos de seu fruto, Descartes. Um deles enveredou pela Ciência do Direito, a ciência teóricamente mais fácil de ser organizada, bastando estipulá-la. O extraordinário filósofo e jurista Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857), nosso conhecido e amado Augusto Comte, encarregou-se do transplante do método cartesiano de aferição científica para o estudo e contrôle da massa avolumada. Em arquitetura ordenativa-normativa, era possível e agora recomendável balizar as ciências jurídicas, econômicas, sociais e governos na esteira de contundentes comparações, como esta, do precursor Descartes: “Tal como uma casa construída por um só arquiteto será mais bela que aquela na qual vários construtores trabalharam, também uma cidade construída por gerações sucessivas não tem tanta

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ordem como a que foi construída de uma só vez... [ele só não pode conhecer o tédio de Brasília!] do mesmo modo também as ciências, tendo sido construídas pouco a pouco, não possuem nenhuma certeza e não ensinam a ordem verdadeira das coisas. Por isso, seria preciso que alguém empreendesse, de uma vez para sempre, reconstrui-las e pô-las em ordem.” (2) O ferramental cartesiano veio com muitas instruções, recursos e utilidades: “Descartes nos diz com toda a clareza, na segunda parte do Discurso do Método, que uma legislação que é obra de um só vale mais do que a que foi elaborada por vários através das transformações da história, pois é mais fácil a um só seguir um plano racional e apartar-se das contingências que constituem os hábitos e os costumes dos habitantes do país.” (3) O trem platônico pintado com cores de Rousseau e Saint-Simon, que lhe foi mestre, gostou do juspositivismo*, o “direito” da imposição. Não foi mesmo necessário utilizar nenhuma originalidade: “O próprio Descartes esboçara as linhas gerais de uma abordagem mecanicista da física, astronomia, biologia e medicina. Os pensadores do século XVIII levaram esse programa ainda mais longe, aplicando os princípios da mecânica newtoniana às ciências da natureza e da sociedade humana. As recém-criadas ciências sociais geraram grande entusiasmo e alguns de seus proponentes proclamaram terem descoberto uma “física social”. (4) Sorman endossa e aponta a gravidade do rumo tomado:

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“... a culpa inicial cabe a Descartes. Ele foi o primeiro a negar a sabedoria inconsciente, persuadindo-nos de que só o que era demonstrável, era verdadeiro. Rousseau substituiu-o, imaginando que não havia leis fora das desejadas pelo homem. Finalmente veio Augusto Comte, que instalou de vez a universidade no positivismo*, fez as ciências humanas oscilarem para a sociologia e eliminou todo o ensinamento sério da economia...” (5) Russel constatava: “A humanidade positiva será regida pela autoridade moral de uma élite científica, ao passo que o poder executivo será confiado a especialistas técnicos. Este arranjo não é diferente do estado ideal da República de Platão.” (6) Bohr os enquadra fina ironia: “Qual a diferença entre um especialista e um filósofo? Um especialista é alguém que começa sabendo um pouco sobre algumas coisas, vai sabendo cada vez mais sobre cada vez menos e acaba sabendo tudo sobre o nada. Já um filósofo é alguém que começa sabendo um pouco sobre algumas coisas, vai sabendo cada vez menos sobre cada vez mais e acaba sabendo nada sobre tudo.” (7) O erro foi crasso. Seu dano, ainda maior. Louis de Broglie examinou a perfídia e teceu o veredito a Descartes, apropriado também a Comte : ______________________________________________ * Juspositivismo: “Postura filosófica segundo a qual o

único conhecimento genuíno é o obtido pelos métodos da ciência. É, portanto, aliado do EMPIRISMO e do MATERIALISMO, e oposto à METAFÍSICA e à teologia.” Nader, P., p. 179.

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“No comêço do desenvolvimento da ciência moderna, Descartes dizia que devíamos esforçar-nos em explicar os fenômenos naturais por figuras e movimentos. As relações de incerteza exprimem precisamente que uma tal descrição com todo rigor é impossível, pois que nunca se pode conhecer ao mesmo tempo a figura e o movimento. ” (8) O star positivista acumulou todos os (pré)conceitos cartesianos em sua “Teoria Geral da Sociologia”. Pela formosura, alcançou todas as atenções acadêmicas: “Augusto Comte criou, em 1839, a palavra “Sociologia”, formada pela fusão de duas raízes, uma latina, outra grega - “socius” e “logos”. (9) Guiou-lhe também Timeu, a obra cosmológico-platônica. Tal qual Descartes, Augusto utilizou justamente as premissas religiosas de que o tempo e o Universo tinham nascido “quando o Divino impôs forma e ordem no caos”.* A presunção espatifa-se pelo Big-Bang, mas na época, veio a calhar. A tradição e o mito esperavam novel anunciante: “Outro exemplo de Ser Positivo é o “Deus Organizador”, em que a divindade (ou divindades) exerce o papel de controlador da oposição primordial entre Ordem e Caos. ______________________________________________ *Caos: “Na linguagem corrente, a palavra "caos" está

indefectivelmente ligada à idéia de profunda desordem, aplicando-se tanto a uma disposição espacial quanto a uma situação social perturbada." in Witkowski, Nicolas, Ciência e Tecnologia Hoje, por Bergè, P., p. 275.

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O Caos representa o Mal, a desordem, e é simbolizado em vários mitos por monstros como serpentes ou dragões, ou simplesmente deuses maléficos que lutam contra outros deuses em batalhas cósmicas relatadas muitas vezes em textos épicos, como no caso do Eubuma elis dos babilônios”. (10) O ideal do homem, à Sua imagem e semelhança, deveria também “colocar as coisas em ordem”. Então, pela lógica, o homem (o próprio, Comte, como Platão, Descartes e o "filósofo" recém passado Napoleão) pôs-se a ordenar as coisas... nos termos de sua percepção ou interesse. A tanto, somente a clareza matemática é que poderia calibrar, ordenar até as relações sociais em proporções precisas, em progressão regular da simplicidade à complexidade, “único caminho capaz de nos libertar do erro e levar-nos ao conhecimento da verdade”. (11) No tortuoso caminho, percorrido com tanta escuridão, Comte "enxergou" uma sociedade evoluindo na ordem que entendia natural e explícita: primeiro, o indivíduo subordinado à ordem social; depois, a ordem vital e material, na obediência às tais “leis invariáveis”: “Doravante, em filosofia política, não haverá ordem e acordo possíveis senão sujeitando os fenômenos sociais e todos os demais a leis naturais invariáveis.” (12) Pascal incitara. Platão reaparecera nas lentes de Galileu. Partindo do pre(mal)suposto, Descartes apresenta período que o condena: “Não admito como verdadeiro o que não possa ser deduzido, com a clareza de uma demonstração matemática, de noções comuns de cuja verdade não podemos duvidar. Como todos os fenômenos da

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natureza podem ser explicados deste modo, penso que não há necessidade de admitir outros princípios da física, nem que sejam desejáveis.” (13) Leibniz* difundiu a mesma razão** - o mundo estaria realizado de acordo com os cálculos divinos: “Cum Deus calculat, fit mundus.” (14) Com esse tolo modo de decifrar, com o cálculo, por ironia, todos ficamos persuadidos, induzidos a subir, degrau por degrau, a cobertura da inútil torre, a nova babel, a Rebabel. Sequer Albert Einstein escapou; malgrada a confirmação dos fenômenos quânticos, da incerteza e das probabilidades, não aceitou de plano as novas conjeturas - “Deus não joga dados”. Demorou anos para o genial iconoclasta aceitar os revolucionários fenômenos, anomalias inexplicáveis até mesmo pela linguagem matemática, paradoxos afiançados de plano por Max Planck e Niels Bohr. A aparente desordem nada mais é do que uma "ordem invisivel". ______________________________________________ * Leibniz, Gottfried Wilhem von, (1646-1716)

"RACIONALISTA inveterado, procurava aplicar os princípios matemáticos a todos os campos do pensamento. .. Seus profundos conhecimentos jurídicos eram tais que lhes concederam audiência em todas as cortes européias, inclusive no Vaticano, onde promoveu suas idéias de reconciliação do CATOLICISMO com o PROTESTANTISMO." Rohmann, C., p. 240 ** Razão: greco-latino; Reor, Ratio, latim; tem sentido

originário de calcular, contar.

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A suposição de alcançar a certeza através da obediência a um método atado em conjunto de regras palpáveis, naturalmente com a melhor das intenções, visando facilitar o acesso ao pensado verdadeiro, caminho percorrido por progressão contínua, ordenada, por isto pretensamente clara, do simples ao complicado, técnicas aprendidas na Lógica, da análise dos Geômetras e na Álgebra, apenas absorve incríveis coincidências. Einstein e Leopoldo Infeld acabaram se divertindo deles próprios: “Quando se estuda Mecânica pela primeira vez tem-se a impressão de que tudo nesse ramo da ciência seja simples, fundamental e resolvido para sempre. Dificilmente se suspeitaria da existência de uma pista importante que ninguém notou durante trezentos anos. A pista negligenciada está relacionada com um dos conceitos fundamentais da Mecânica, o de massa.” (15) Por várias fontes científicas colhemos semelhante resultado: "Mostra Bobbio que a totalidade ordenada de um sistema jurídico não deriva da dedução more geométrico de certos princípios gerais como postulava Leibniz... Expõe também que a sistematicidade não deriva da organização da matéria normativa, proveniente de um processo indutivo, baseado na classificação, à maneira da zoologia, que teria permitido a passagem de uma jurisprudência exegética para uma jurisprudência sistemática. " (16) A "religião da humanidade" fêz-se na grande coluna dos regimes de direita, os regimes fascistas, nazistas e arremêdos. Bobbio, positivista jurídico confesso, por paradoxo reconhece: "A filosofia de

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Comte pode inspirar uma organização totalitária da sociedade. Pode conduzir à formação de um Estado totalitário." (17) Para os totalitários de esquerda, Marx se encarregou da tarefa, edificada pelos critérios materialistas, deterministas e finitos do “capital”, este sim, a grande obssessão, nossa futura atração.

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Capítulo III A ALIENAÇÃO DA DIALÉTICA

A história das descobertas científicas e técnicas revela-nos quanto o espírito humano carece de idéias originais e de imaginação criadora.

Albert Einstein (1)

O Gênesis traz subjacente várias idéias de separações e antagonismos, cristalina estratégia platônica: “No Princípio Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe, e vazia e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou a luz de dia, e as trevas noite. E fez-se tarde e manhã: o primeiro dia”. Elaborada a tarefa, a Terra foi entregue sob a égide dos novos senhores, criados à Sua imagem e semelhança. Já que Ele havia completado a obra e entregue aos iguais, nós é que passamos a dividir tudo. Ele não contava com o insólito. No Paraíso o casal não conhecia a ciência, muito menos a dialética. Não havia discordância, que dirá algum confronto; até a mordida na maçã: “Na língua dos pássaros uma expressão tinge a seguinte. Se é vermelha tinge a outra de vermelho. Se é alva tinge a outra dos lírios da manhã. É língua muito transitiva a dos pássaros.

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Não carece de conjunções nem de abotoaduras. Se comunica por encantamentos, E por não ser contaminada de contradições A linguagem dos pássaros Só produz gorgeios.” (2) Da serpente a Platão (428-347 a. C.) foi apenas um lapso: “Em Atenas, Eurípedes e Platão foram acusados de roubar idéias de outros autores e filósofos.” (3) Copérnico, Galileu, Bacon, Descartes e Newton disso não tomaram conhecimento. Subsequentes classificações, sempre envolvidas por ordenamentos numéricos, completaram a gloriosa história de experiências, superstições, ardis, análises superficiais e grande prejuízos: “Compreendendo as ações do fogo, da água, do ar, das estrelas e dos céus, podemos usar essas forças em todos os propósitos para as quais são apropriadas, e assim tornamo-nos senhores e dominadores da natureza.” (4) No afã de entender o “divino” pela linguagem sugerida, mutilam o objeto, exumando-o, cortando-o em pedacinhos à análise, à separação do “joio e do trigo”, do “bem” e do “mal”. Ciência e religião, razão e fé conjugaram suas forças para condenar a Terra e seu principal hóspede à liturgia da submissão: “A filosofia mecânica forneceu uma resposta para o problema da ordem cósmica e, portanto, da ordem social, mas ao fazê-lo indicou a necessidade de poder e domínio sobre a natureza.” (5) Sem o menor questionamento, o macête se estendeu:

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“Graças ao cartesianismo - mas não só a ele - a idéia mecanicista do mundo torna-se uma idéia adquirida muito para além dos círculos científicos; ela contribui muito para reformar a visão comum da natureza.” (6) Os “táticos da ocupação” se encarregaram da logística: “O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceitual de todas as áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e até moral.” (7) Populações, governos e estudos se alienaram na dialética telepositivista: “No decorrer do século XIX, a orientação mecanicista tomou raízes mais profundas - na física, química, biologia, psicologia e nas ciências sociais. “ (8) O projeto ideológico-psicológico não detinha segredos. Wundt e de Wilhelm Dilthey utilizaram a mesma mecânica para construir o versátil modêlo Volk, veículo que conduziu a massa mercê de sua hermenêutica, fantasiado trajeto. A psicologia, biológica por essência, virou “política positivista-sociológica”: “A influência de Comte no desenvolvimento posterior da psicologia é indiscutível. Ela se revela na própria obra de Wundt, obviamente enfatizado aqui o caráter científico da psicologia.” (9) Bachelard desmonta o Volk: “Termo inoportuno porque evoca muito mais a sociologia do que a genética - designa o patrimônio psíquico hereditário”. (10)

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O termo, contudo, apareceu bem oportuno. Wundt atraiu os incautos passageiros com a flauta da Volkerpsychologie*, enfatizando os prejuízos (?!) da mentalidade gregária nebulosa, difusa, do pacífico povo. Assim reuniu a manada. O Estado ( que em si não existe, mas sim o eventual governante) punha-se como criador da arte, da lei, do moral, da religião, etc. Cabia ao cidadão ser seu produto, subliminar confirmação da propositura roussoniana. Na observação do der Gang der Sache selbst, a dinâmica interna dos fatos (de novo as concepções dialéticas em cima do universo-relógio a ser esmiuçado, peça por peça e função, até acertarem-se ponteiros) acreditava-se na lógica seguinte ou no destino manifesto a partir desse determinado estado de coisas e isto já provara Comte. A busca do entendimento pela revisão passada, a síntese da dialética constituiria, afinal, a “verdade” da disciplina, proposição da “Ciência da Lógica. Colocados os fenômenos como elementos de um sistema unido, coerente, lógico, a Volkerpsychologie reforçou a unidade imprescindível aos propósitos totalitaristas - o domínio da psicologia das massas - cada vez mais justificado: “A ciência política opera com material humano e os fundamentos do poder e da obediência são de natureza psicológica”. (11) O que acontece com a pretensão? Além de alimentar o crime de massa, sufoca todas as vocações. P. Soupault observa: “A lógica tem sido o veneno que lentamente tem paralisado todas as forças da imaginação do homem. ______________________________________________ * Volkerpsychologie: Psicologia de massa, de aplicação

em massa

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Em nome da lógica foram condenadas descobertas científicas e invenções poéticas, explorações de sonhadores e evasão de clarividentes.” (12) Herbert Spencer (1820-1903) e Albert Schäffle (13) enriqueceram o comboio. Nos Principles of Sociology (1. vol, 1876) o primeiro desenvolve um paralelo entre a organização e a evolução dos organismos vivos e das sociedades. Social Statics fora publicado nove anos antes da Origem das Espécies e The Man versus State veio em 1884. Spencer mesclou a tradição racionalista dos economistas clássicos com a versão moderna da natureza - a evolução. (14) Como Stuart Mill, soube carrear ao liberalismo uma grande “confusão”.(15) Para completar, quase no fim do século o extraordinário professor polonês Ludwig von Gumplovicz utilizou esses conceitos em Die Sociologische Staatsidee (1892). O próprio Estado seria um produto social da evolução, aperfeiçoado pela competição e pela luta nos embates tribais, firmando a hegemonia dos mais aptos, na forma de evolução social também apregoada por Schäffle, (16) ou seja, pela luta direta, clara consagração a Hegel. Assim, as relações sociais passaram a ser observadas pela “tal” lei de sobrevivência, entendida “lei do mais forte” e, o mais grave, foi neste pântano teórico que caíram quase todos os estudos sociológicos a partir daí, conforme pinça Schwartz: “Depois de ter sido incorporada por Charles Darwin como uma metáfora para ilustrar o mecanismo evolutivo das espécies biológicas, foi reincorporada por sociólogos como uma confirmação oferecida pela história natural dos processos que atravessam a história humana”. (17)

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R. Wallace denunciara e, com R. Young, demonstrara a “curiosa” simultaneidade, para não dizer vício de origem do trabalho de Darwin. Houve, ainda, uma forma de predição à virtual influência nos totalitarismos daí em diante: “Toda a teoria darwineana da luta pela existência é simplesmente a transferência, da sociedade à natureza viva, da teoria de Hobbes sobre a guerra de todos contra todos e da teoria econômica burguesa da concorrência, bem como da teoria da população de Malthus.” (18) O entendimento de que “da guerra da natureza, da fome, da morte, forma-se o mais nobre objeto que somos capazes de conceber: a produção de animais superiores” o menos avisado pensaria ser discurso nazista; porém, assim não o é. Esta eloqüente frase foi proferida pelo parente símio, nosso Charles. (19) Acima dos conflitos, além do “bem” e do “mal”, pois, a teoria darwineana incitou a presença decisiva e “protetora” do paladino despótico. Paul Johnson descreve-nos a meritosa contribuição sócio-política da nova ciência: “A noção de Darwin relativa a sobrevivência do mais adaptável foi elemento chave tanto para o conceito marxista da luta de classes quanto para as filosofias raciais que deram forma ao hitlerismo”. (20) Robert Downs confirma: “Consciente ou inconscientemente o Mein Kampf, de Hitler, deve muito a Maquiavel, Darwin, Marx, Mahan, Mackinder e Freud.” (21) Downs esqueceu ou não quis citar Descartes, Hobbes, Hegel, Sorel e Rousseau; e Nietzsche, se

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bem que este conduz um prolongamento darwiniano. Georg Wilhelm Friederich Hegel, (1770-1831) que forneceu as razões dos choques dialéticos à Darwin e Marx, foi apenas mais uma ponte estendida ao incomensurável equívoco: “A filosofia política moderna acha sua primeira forma sistemática em Hobbes; mas seu germe vital está em Maquiavel, de quem Hegel foi - não preciso lembrar - um grande admirador. E uma história que tem no Príncipe sua revelação, no Leviathan seu símbolo e - podemos também acrescentar, na vontade geral de Rousseau sua solução ideal, não podia deixar de ter como conclusão o deus-terreno de Hegel.” (22) O poeta e ensaísta Octavio Paz relata seu diálogo com Joseph Brodsky: “As origens do autoritarismo estão em Hegel. Alí começou o mal”. Ao que retruca Brodsky: “Não, vem muito antes. O mal começou com Descartes, que dividiu o homem em dois e que substituiu a alma por eu”. (23) O Direito passou envergado; e a ciência, desvirtuada: “Nas ciências humanas, não basta, pois, como acreditava Durkheim, aplicar o método cartesiano, por em dúvida verdades adquiridas e abrir-se inteiramente aos fatos, pois o pesquisador aborda muitas vezes os fatos com categorias e pré-noções implícitas e não conscientes que lhe fecham, de antemão, o caminho da compreensão objetiva.” (24) O que resta? Em “Considerações sobre Descartes” Koyré responde-nos: “Um amontoado de riquezas e um amontoado de escombros: tal é o resultado desta atividade fecunda

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e confusa, que tudo demoliu e nada soube construir, ou, pelo menos, acabar. O homem sente-se perdido num mundo incerto, privado de suas normas tradicionais. Onde nada era seguro. Onde tudo era possível.” (25) Bateson, numa implícita alusão a Darwin, não deixou por menos: “A lógica é um instrumento muito elegante e fizemos bom uso dela nesses dois mil anos. O problema é que quando a aplicamos aos caranguejos e às tartarugas, às borboletas e à formação do hábito... Bem, para todas essas coisas lindas a lógica simplesmente não serve”. (26) O talentoso Descartes até se preocupou com os desígneos humanistas, mas o erro proveniente de falsa premissa dialética trouxe ao baile o “cogito”, o “penso, logo existo”, lançado em seu “Discurso do Método”, de 1637, (portanto, o que não pensasse não existiria...) Russel também ironiza: “De outro modo, poderíamos dizer igualmente “Ando, logo existo”, pois, se ando, é certo que devo existir.” (27) Ao elementar equívoco Antônio Damásio contrapõe com o leitmotiv de sua obra: “No entanto, antes do aparecimento da humanidade os seres já eram seres.” (28) Percebia o francês tudo dividido, configurado numa sobreposição hierarquica, parte por parte, tal qual o Universo para ele se mostrava: “Não há nada no conceito de corpo que pertença a mente, e nada na idéia de mente que pertença que ao corpo.” (29) Hegel, também sem originalidade, numa espécie de vulgata epistemológica, usou o mesmo princípio, até para se valorizar: “Ser é ser pensado”. (30)

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O mundo teria se livrado das barbáries se ambos não tivessem pensado. Por eles, corpos e espíritos, estanques e heterogêneos, não assimilam comunicação, exceto contrariedades, antagonismos. O esteio é prejudicial por vários motivos, mas ainda baliza a civilização: “A partir dessa perspectiva a divisão entre mente e corpo tornou-se verdade absoluta, ao mesmo tempo que cada face se tornou antagônica à outra, coexistindo dentro do mesmo ser como as duas faces hostis da mesma moeda. Alguns séculos depois do sonho febril de Descartes continuamos a nos deparar justamente com essa divisão, que está na base do seu pensamento, estampada nos diversos aspectos da vida moderna.” (31) Concentrando-se na res cogitan e na res extensa, com as ciências humanas ocupando-se da primeira e as chamadas ciências naturais da segunda, os vértices do conhecimento chamado objetivo se entenderam duplicados. Pensando em simplificar e ordenar o estudo, a tentativa de elucidar os fenômenos passou por esta protodecomposição desvirtuante, prejudicando, de plano, a correta apreciação dos respectivos objetos: "O princípio da simplificação, que animou as ciências naturais, conduziu às mais admiráveis descobertas, mas são as mesmas descobertas que, finalmente, hoje arruínam nossa visão simplificadora." (32) Trata-se da flamante postura platônica, vetores contrapostos, empírica e epiléptica dialética assim criticada por Villey: “Descartes rompeu algo ao dividir o mundo em res cogitans e res extensa, quer dizer, o pensamento e a

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matéria que, como sintetizou Villey, representam respectivamente “o mundo das lamas, suporte de pensamento e da vontade, do ato livre e o “mundo objetivo da física quantitativa, o “mundo das coisas, inerte, passivo, submetido às leis determinantes da mecânica”. Assim vão surgindo outros dualismos: sujeito e objeto, homem e natureza, conhecimentos morais e ciências denominadas objetivas, valor e fato, dever ser e ser, etc. Assim a natureza fica mutilada: das qualidades (o belo, o justo) que não se admitem cientificamente por não serem mensuráveis e sim obscuras e imprecisas das causas finais, que tampouco se prestam aos cálculos e pressupõem uma ordem teleólogica numa natureza não cindida dos conjuntos sociais naturais, reduzidos a uma soma de indivíduos isolados, objeto também de cômputo e comparação quantitativa.” (33) Decompondo o pensamento e ordenando-o nessa pretensa lógica, da “intuição” a “dedução”, Descartes e seus seguidores não tem pudor em romper a homogenia. Na ânsia pela “câmera em close” à visão pormenorizada, suprimem do foco movimentos periféricos, eventualmente responsáveis pelo objeto analisado. Obtém, destarte, um conhecimento incompleto e obtuso, induzindo ao erro diante da parcial identificação da fonte, desorientando o investigador. Em outras palavras, fomentando apenas a especialização e desprezando o conhecimento abrangente, completo, seu trem epistemológico tem conotação própria de dinâmica desenhada para rápido desenvolvimento tecno-estratégico; não suporta, todavia, o selo científico. O flagrante equívoco metodológico condena seu produto. Marcelo Gleiser ensina:

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“Não é uma coincidência que em 1947, quando Bohr foi condecorado com a Ordem do Elefante da Coroa dinamarquesa, ele tenha escolhido o símbolo taoísta do Yin e Yang como seu brasão de armas, com a seguinte inscrição em latim “contraria sunt complementa”, “os opostos se complementam”. (34) A natureza vista “rebelde”, cheia de conflitos, é o palco da confusão cartesiana, onde cérebro e mente assumem estranhos e independentes papéis. Ela passa a mero artefato, subdividido nos diferentes compartimentos dele, fértil arquitetura à manipulações. Fracionado o objeto ad lib, cabia atender à questão primeira: dividido o próprio homem em duas substâncias, como poderia Descartes depois reuni-lo? (35) Chopra realça: “A necessidade de dualidade do ego gerou um mundo de bem e mal, certo e errado, luz e sombra.”(36) Foi este o campo de consagração (ou “campo de concentração” ?) do famoso professor dr. Sigmund Freud (1856-1939), embora em seu tempo já existisse o conselho de David Bohm: “É urgente que compreendamos o perigo de continuar com o processo de fragmentação do pensamento. Seria como procurar sempre o caminho mais difícil e doloroso para se chegar ao mesmo destino...”(37) A observação procede. Nem Descartes tampouco Freud conseguiriam sequer colar este ser tão esfacelado, ao contrário - o austríaco acabou concordando que a histeria/esquizofrenia instalada não poderia ser “extirpada”, o doente jamais teria cura total; mas propunha seus “trabalhos” para amenizá-la, assim como se baixa a febre. Ao velho

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sizudo era conveniente a mais completa mistificação; nunca curando, arrumava proventos até o paciente falir ou morrer. Freud e muitos diletantes ignoraram as revoluções científicas que aconteciam já no início do século XX. Finalmente, não há mais dúvidas, nem desconhecimento, tampouco lugar para empulhação: “O cérebro e o corpo encontram-se indissociavelmente integrados por circuitos bioquímicos e neurais recíprocos dirigidos um para o outro. Existem duas vias principais de interconexão. A via em que normalmente se pensa primeiro é a constituída por nervos motores e sensoriais periféricos que transportam sinais de todas as partes do corpo para o cérebro, e do cérebro para todas as partes do corpo. A outra via, que vem menos fàcilmente à mente, embora seja bastante mais antiga em termos evolutivos, é a corrente sangüínea; ela transporta sinais químicos, como os hormônios, os neurotransmissores e os neuromoduladores”. (38) O pesquisador contemporâneo Michel Serres arrola a grande perda de tempo ocasionada pela indução ao método cartesiano de averiguação e exercício em todos os campos de formação científica: “As disciplinas foram fragmentadas e, ao se fazer isto, impediu-se o diálogo e a polêmica intercientífica. A física descobre agora a necessidade de conceber outras operações para melhor perceber a complexidade da matéria. As ciências contemporâneas progridem com a contradição: a partícula se manifesta ora como onda, ora como partícula. A pesquisa de ponta se acha obrigada a reintroduzir o observador na observação. Estes percursos casuais e aleatórios nos remetem a

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Cristóvão Colombo. Não foi traçando seu destino que ele descobriu a América.” (39) Apenas um reparo – onda e partícula não são contraditórias, embora num primeiro instante assim fossem observadas; elas perfazem a intrigante complementariedade. Fowler reforça-nos: “O mundo é uma rede complexa de inter-relações na qual as categorias de sujeito e objeto se fundem, embotando as distinções dualistas tradicionais.” (40) Agora preocupa-nos a total profilaxia, desde a raiz: “É esse o erro de Descartes: a separação abissal entre corpo e a mente, entre substância corporal, infinitamente divisível, com volume, com dimensões e com funcionamento mecânico de um lado, e a substância mental, indivisível, sem volume, sem dimensões e intangível, de outro; a sugestão de que o raciocínio, o juízo moral e o sofrimento adveniente da dor física ou agitação emocional poderiam existir independentemente do corpo... Descartes pensava que o calor fazia circular o sangue, que as finas e minúsculas partículas do sangue se transformavam em espíritos animais, os quais poderiam mover os músculos. Porque não censurá-lo por uma dessas noções? A razão é simples: há muito tempo que sabemos que ele estava errado nesses aspectos concretos, e as perguntas sobre como e por que circula o sangue receberam já uma resposta que nos satisfaz completamente. O mesmo não sucede com as questões relativas à mente, ao cérebro e ao corpo, em relação as quais o erro de Descartes continua a prevalecer. Para muitos, as idéias de Descartes são consideradas evidentes por si mesmas, sem necessitar de nenhuma reavaliação.” (41)

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Enquanto descobríamos a América, tapávamos a ciência. Granger preferiu ser espirituoso: “Um viajante conta que, nas florestas do Equador, vivem tribos índias sem contato algum com os civilizados. Um dia chegam ao seu território centenas de caminhões, escavadoras, “bull-dozers” que, ao ser de uma Cia de Petróleo, abrem estradas, furam poços, modificam a floresta. Eis como os índios, estupefatos, explicaram entre eles semelhante acontecimento: ‘Acabam de chegar animais novos. Domesticaram os homens, que lhes obedecem e os servem como escravos. E os homens brancos alimentam-nos e abrem-lhes passagem através da floresta...’ "(42) A civilização seguiu o penoso caminho, por séculos enganada em todos os ramos do conhecimento, para o lamento do grande Werner Heisenberg, há algumas décadas atrás: “A cisão cartesiana penetrou fundo na mente humana nos três séculos após Descartes e levará muito tempo para ser substituída por uma atitude realmente diferente diante do problema da realidade.” (43) A atitude continua inalterada. Raízes milenares, de todas as espécies, terminaram ceifadas. O tiro à lua se volta contra o tolo executor: “Hoje em dia não existem espíritos da natureza porque os mortais decidiram se separar da natureza. O antigo impulso de viver dentro da natureza cedeu espaço ao seu oposto, o impulso de conquistá-la. Esse impulso se esgotou quase ao ponto do desastre. O retorno à natureza está sendo desesperadamente buscado em toda a parte, talvez no último instante.” (44)

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Posta a coerência aparentemente lógica, a ciência físico-matemática, a filosofia cartesiana ainda encoraja milhares de pesquisadores contemporâneos e, podemos dizer, futuros, a trilharem a mesma trajetória, a embarcarem no trem... com destino inverso ao pretendido: “O segundo preceito do método cartesiano “dividir cada uma das dificuldades... em tantas parcelas que forem possíveis e requeridas para melhor resolvê-las”, válido até certo ponto na matemática e nas ciências físico-químicas, mostra-se inutilizável em ciências humanas onde o progresso do conhecimento não caminha do simples ao complexo, mas do abstrato ao concreto por uma oscilação contínua entre o conjunto e as partes.” (45) No afã de conhecer pormenores, não passou pela cabeça de Descartes e seus cometas reverem a possibilidade do átomo, tampouco a do vácuo ou mesmo imaginar uma possibilidade de condutividade espacial. Relatam-nos Coveney e Highfield: “Os atomistas também usaram os átomos para explicar fenômenos sensoriais como o paladar e o olfato. Infelizmente as idéias deles foram lançadas ao esquecimento pela influência nefasta de Platão e Aristóteles. Os pais da filosofia ocidental argumentavam que a matéria conseguia se dividir infinitamente e que não existia nenhuma unidade, por menor que fosse que não pudesse ser dividida ainda mais. O atomismo foi derrotado e permaneceu nas sombras durante 2.500 anos.” (46) A física nuclear Anna Lemkow também levanta o alto custo da experiência:

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“Podemos julgar uma filosofia por seus frutos. A visão reducionista-mecanicista-materialista cultivou inúmeras dicotomias, cismas, fragmentações, alienações: alienação de si (o vácuo espiritual) e, por conseqüência, dos outros; alienação da natureza (autômatos não podem sentir muito por outros autômatos - se somos apenas máquinas, podemos muito bem nos apoderar do máximo possível, conquistar e explorar a natureza por completo); a dicotomia entre conhecimento e valores, meios e fins, mente e matéria, universo de matéria e universo de vida, entre ciências e humanidades, entre ricos e pobres, industrializados e de Terceiro Mundo, entre gerações presentes e gerações futuras.” (47) “Descartes deu início ao que veio a ser chamado dualismo cartesiano - a incomensurabilidade de mente e matéria, corpo e mente, observador e objeto, que dominou,- e enfeitiçou - o pensamento filosófico e científico até os nossos tempos”. (48) Parte do pensamento filosófico e científico conseguiu se safar; John Locke (1632-1704), o construtor da democracia britânica e Adam Smith (1723-1790), o mais notável e competente arquiteto econômico que produziu a civilização, logo perceberam as armadilhas, a falsidade das premissas cartesianas: “Foi igualmente pela recusa do dualismo cartesiano, e pela defesa da observação e da análise contra o espírito sistemático que Locke se impôs como um “mestre de sabedoria” aos filósofos franceses do século XVIII.” (49) Locke preferiu observar a teoria preferida de Einstein:

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"Há duzentos anos, o filósofo John Locke escreveu, em seu grande tratado 'Sobre o entendimento humano': 'Se encontrarmos as pedras de xadrez nas mesmas posições que as deixamos, diremos que elas não foram movidas, ou permaneceram imóveis, mesmo que o tabuleiro, nesse interim, tenha sido transportado para outro cômodo. Da mesma forma diremos que o tabuleiro não se moveu, se ele permanecer no mesmo lugar em que se encontrava na cabine, embora o navio esteja andando. E diremos, também, que o navio se encontra no mesmo lugar, desde que se mantenha à mesma distância da terra, embora o globo tenha dado uma volta completa. Na verdade, as pedras de xadrez, o tabuleiro e o navio, tudo isso mudou de lugar em relação a corpos situados muito mais longe'. Esse quadro das pedras que se movem, embora se mantenham no mesmo lugar, representa um dos princípios da relatividade, a relatividade de posição. Mas isto também sugere outra idéia, a da relatividade de movimento" (50) Também o depoimento de Adam Smith simplesmente antecipa as preocupações e as provas que seriam oferecidas por Einstein: “Um sistema de filosofia natural pode parecer muito plausível, encontrar uma recepção generalizada no mundo e mesmo assim não ter fundamento sobre a natureza, nem guardar nenhuma espécie de semelhança com a verdade. Por quase todo um século, uma nação muito engenhosa considerou os vértices de Descartes uma explicação bastante satisfatória para as revoluções dos corpos celestes. Entretanto, a humanidade se convenceu com a demonstração de que as supostas causas

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desses efeitos maravilhosos não apenas não existiam de fato, como eram absolutamente impossíveis, e, caso realmente existissem, não poderiam produzir os efeitos que lhes eram atribuídos.” (51) A Teoria da Relatividade, a ciência nuclear e a realidade virtual, visivelmente demonstrada em qualquer monitor, consagram Locke, Smith, Tocqueville, Jefferson, Poincaré, Einstein, Planck, Bohr, Bose, Schrödinger, Heisenberg, Popper, Whitehead, Hayek, Sen, Prigogine, e atestam a impropriedade metodológica cartesiana. Por ironia, é a própria ciência que, pela mesma cadeira matemática endeusada, deparou-se com a paradoxal impossibilidade da verdade absoluta: “Outra noção que chegou ao mundo da ciência como um soco no estômago, trazida pela Teoria do Caos, foi o reconhecimento de que, a partir de uma certa escala de considerações, é impossível separar as coisas, resolvê-las individualmente e depois tornar a juntá-las para obter a solução final. Idem para a proporcionalidade de causa e efeito. Causas pequenas se amplificam em efeitos catastróficos.” (52) Não nos seria lícito e muito menos justo, todavia, simplesmente lançar às chamas todo o trabalho e técnica empregada, esforços aperfeiçoados e exercitados por mais de três séculos. O apoio logístico cartesiano serve à investigação e ao conforto. Inúmeras dessas ferramentas foram e serão, reconheça-se, essenciais para o desenvolvimento da vida e da mais avançada ciência. Por seu método alcançamos construir nossas moradias e velozes veículos; a correlação algébrico-geométrica, traduzida atualmente como geometria analítica,

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permite à NASA o sucesso de suas empreitadas; a biologia, a medicina em geral, diante às prementes soluções que se vêem envoltas, nele se agarram desde a primeira lição. A matemática e a exumação esbanjam resultados, importantes e necessários, até para o trivial. Quase tudo se deve ao método, impossível pensar em sua ausência... provocaria um buraco negro na existência da civilização. Em nome do atual estágio científico e social, porém, urge enfatizar: Descartes se equivocou nas premissas, por incompletas e preconceituosas. O tempo, malgradas coincidências, não é tão toscamente engrenado tal qual relógio, quando se sabe que depois das três, vem as quatro. São apenas convenções. Nem satélites, tampouco computadores podem descrever o que virá. Certamente nunca conseguirão. O futuro é delineado a cada instante, pela natureza e por cada um de nós.

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Capítulo IVNO RASTRO DO LEVIATÃ

Perdendo a pátria o antigo perde tudo, bens, família,

liberdade e religião, pois além dos muros urbanos cada homem passa a ser estrangeiro, sem defesa, exposto à ira dos inimigos e de seus deuses, sem direitos, podendo ser morto ou reduzido a escravidão. Fustel de Coulanges (1) Estado: dominação dos perversos. Leon Tolstói (2)

DUAS estratégias de domínio da natureza, específicamente domínio sobre uma parte da natureza, a dos seres humanos, surgiram de modo simultâneo e complementar. A primeira, “Seis Livros da República”, de Johannnes Althusius (1557-1638) até hoje obtém êxito: “Assim como o navio não é mais do que madeira, sem forma de embarcação, quando lhe tiramos a quilha, que sustenta o costado, a proa, a popa e o convés, também a República, sem um poder soberano que una todos os seus membros e partes, e todos os lares e colégios, num só corpo, não é mais República.” (3) A metáfora nem era original; saíra da Grécia com o ás no volante, Platão:

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" Do mesmo modo que o piloto, estando sempre atento ao que é melhor para a nau e para os navegadores, sem necessitar de leis escritas, tendo por norma apenas a arte, salva os companheiros de navegaçaõ, assim não se deverá igualmente esperar que aqueles que possuem aptidão para o governo possam, mediante a arte, obter resultados melhores, na forma de governo, do que a mera aplicação da lei?" (4) Jehan Bodin (1530/1596) nascera ainda antes de Althusius, a tempo de ser cognominado “pai” do governo absoluto. Na respeitável observação do senador italiano Norberto Bobbio, o francês é mais relevante do que Althusius e até mesmo do quase contemporâneo Maquiavel: “A obra mais importante do período de formações dos grandes Estados territoriais é De La Republique, de Jean Bodin.” (5) O rigor e a lógica da soberania de Bodin só se põem verdadeiros na relevância da indivisibilidade(6) do poder, algo que seria revivido pelo vizinho Hobbes, pelo patrício Rousseau e sua criação prática, Napoleão; depois desta dupla, pelo filósofo da catástrofe, Hegel e seus exteminadores Lenin, Stálin, Hitler e Mussolini. Dividir o poder seria dissolvê-lo; e assim coesos, hipnotizados, nazistas e soviéticos se atiraram à miragem, mesmo sem nenhuma dinastia a encantá-los, exceto a utopia impregnada: “A responsabilidade absoluta do soberano exige e pressupõe a dominação absoluta de todos os sujeitos.” (7) “É necessário que os soberanos não estejam, de forma alguma, sujeitos às ordens de outrem e que possam dar leis aos súditos, quebrando ou aniquilando as leis inúteis para fazer outras...” (8)

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A legislação de outrora, quase toda lastreada nas formulações do Direito Romano, de Aristóteles e de Santo Tomás de Aquino, se esvaiam execradas, pisoteadas. Tornavam-se, pois, inúteis. Legislar, verbo originário de legere - leitura daquela natureza - pela pena racionalista virava facere, agere, refrão positivista. Ética, se havia alguma, viu-se envolta pela interessante mística: “...mesmo os ateus estão de acordo acerca de que não há coisa que mais mantenha os Estados e as Repúblicas do que a religião, e que esse é o principal fundamento do poderio dos monarcas, da execução das leis, da obediência aos súditos, da reverência dos magistrados, do temor de proceder mal e da amizade mútua para com cada qual; cumpre tomar todo o cuidado para que uma coisa tão sagrada não seja desprezada ou posta em dúvida por disputas; pois deste ponto depende a ruína das Repúblicas.” (9) Bodin carregou o vagão platônico no qual viajaria Descartes: “A idéia cartesiana de um Deus legislador, por exemplo, aparece somente depois da teoria de Jean Bodin sobre a soberania.” (10) No esquema infalível do Vaticano, a França recebeu o absolutismo aperfeiçoado na ascendência do Rei Francisco I (1515-1547), seguido pelo duque de Guise - chefe da fação católica mais fanática; depois, Catarina de Médici, pupila de Maquiavel, a regente responsável pelo extermínio de milhares de huguenotes na famosa noite de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572. Na Guerra dos Cem Anos, sobrou um aumento sempre crescente de poder. Richelieau, outra versão francesa do maquiavelismo, levou a idéia da razão de Estado na busca de fazer da França a maior potência européia, no que o seguiu

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Colbert, ambos responsáveis diretos pelo mercantilismo francês. Na Guerra dos Trinta Anos o objetivo se pensara alcançado e o reinado viu-se mais forte. Há sempre que se considerar, além da costumeira má-fé de inúmeros aspirantes, a óbvia ignorância dos responsáveis pela sobrevivência das gentes, os operadores do festival de barbarismos apontados pela história. Embora embriões da sociedade civil, já vimos sobejamente que os sistemas se baseavam na força bruta. Governos não podiam titubear, discutir. Suas respostas, levando sempre em conta as invasões, deviam ser prontas e objetivas. O “inimigo comum” estava perfeitamente identificado; imperioso liquidá-lo. A insegurança disseminada, de propósito ou não e a necessidade premente de união para enfrentar a ficção ou a circunstância faz a teoria absolutista girar pelo tempo e espaço. Sagazes dela se locupletam para sedimentarem escusos arquétipos. Bodin continua saboreando homenagens: “Suas teorias tiveram grande repercussão na França e na Inglaterra, perdurando ainda hoje. Sua obra exerceu influência nos escritos de Hobbes e Filmer.” (11) Que crédito científico pode merecer essa sociologia, essa ciência política amante de “divindades” reais e lucros irreais?

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Capítulo V O AXIOMA DO MÊDO

Então veio, parece, um sábio astuto, o primeiro inventor do medo aos deuses... Forjou um conto, altamente sedutora doutrina, em que a verdade se ocultava sob os véus de mendaz sabedoria. Disse onde moram os terríveis deuses das alturas, em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão, e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam... Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor, rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios, encantou-os com seus feitiços, e os intimidou – e a desordem mudou-se em lei e ordem. Crítias (1)

OS estóicos derrubaram o mito da tribo orgânica. A Sêneca, o ser reflete a alma. O indivíduo é que possui valor. Foucault avalia: “Pode-se dizer que, em toda a filosofia antiga, o cuidado de si foi considerado, ao mesmo tempo, como um dever e uma técnica, uma obrigação fundamental e um conjunto de procedimentos cuidadosamente elaborados.” (2) Com o descobrimento, entretanto, desaparecia a filosofia antiga e, por consequência, a estóica; junto, o indivíduo. O descortínio de um mundo tão grande,

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tão vasto, reduzia o ser a insignificante tamanho, próprio a ser tragado a granel pela garganta do bem superior, o Estado. O atraso foi lamentável. A primeira a se desarranjar foi a Economia. Do seu leito natural, entre os cidadãos, virava objeto da insaciável cobiça do Rei e, por conseguinte, do Estado. Adam Smith, há três séculos de Maquiavel, ainda convivia com a intromissão inoportuna, indevida e completamente descabida do Estado. Em seu testemunho só cabia o lamento: “Os Portugueses monopolizaram o comércio das Índias Orientais durante cerca de um século, e só indiretamente e através deles é que as outras nações europeias conseguiam enviar ou receber bens desse país. Quando os Holandeses, no início do século passado, começaram a intrometer-se, os Portugueses outorgaram todo o comércio das Índias Orientais a uma companhia exclusiva. Os Inglêses, Franceses, Suecos e Dinamarqueses seguiram todos este exemplo, de modo que nenhuma grande nação europeia se beneficiou ainda da liberdade de comércio para as Índias Orientais.” (3) Nesse ambiente vieram ao mundo as primeiras formações mercantilistas - dádivas do soberano a seus amigos e parentes; e, graças aos privilégios, também a Companhia Inglêsa das Índias Orientais pode fincar sua administração no seio da Índia, açambarcando o imenso território como se fosse sua propriedade natural, aventura de duzentos anos. A Companhia da Baía de Hudson colonizava o Novo Mundo; a Companhia de Plymouth seguia-lhe os passos; a Companhia de Londres formava o quarteto de maior realce: "Políticas mercantilistas para promover o comércio exterior do reino à custa dos

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rivais, especialmente os holandeses, começaram à época de Cromwell e tiveram prosseguimento com Carlos." (4) A Espanha levava a vantagem inicial pelo domínio da inesgotável fonte da América Latina. Não necessitavam seus governantes muita criatividade para tratar do ingresso de divisas no País, exceto para enganar e depois dizimar o povo inca. Felipe II, “O Torturador”, mantinha fortíssimo controle sobre o comércio e a agricultura, até porque daí saía a alimentação para o enorme contingente requisitado para a formação da “Invencível Armada”. Foi quando um grande retrógrado e sofista da ciência política inglêsa suspirou batizado de Thomas Hobbes (1588-1679), pai do Estado Leviathan, no dizer de Bobbio, “o maior filósofo político da Idade Moderna, até Hegel”. (5) Robert Nisbet quase concorda: “poucos são os escritores que tiveram maior influência do que Hobbes no desenvolvimento do moderno Estado centralizado.” (6) As contribuições dos cidadãos inglêses para com a Coroa, mesmo com a avalanche de argumentos bélicos, eram controladas, restritas pelo Parliament; assim declarava a Petição de Direito, de 1628. Pela metade do século, a moderna democracia engatinhava célere, exercitando libertar-se de intempéries políticas e barbarismos governamentais, mas a brasa da tirania reascendeu pelas mãos do segundo Stuart, Carlos I. O déspota sabia como sugar recursos provenientes do suor alheio, contornando o poder legislativo ao revigorar leis obsoletas, multas por

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descumprimentos e tungas diversas, especialmente as ship moneys *. Stuart culminou a afronta ao anglo-cidadão com a coincidente simpatia ao monopolismo católico-romano. A guerra civil se precipitou levada a cabo pelo destemido puritano deputado Oliveiros Cromwell, primeiro e único verdadeiramente “ditador” conhecido em terras inglêsas, para consagração de Hobbes. (7) Não nos é tão difícil remeter a imaginação àquela época, a fim de aferir a intensidade do obscurantismo e conseqüentes rapinagens predatórias. Como morcego, o imperialismo preconizado por Maquiavel e agora por Hobbes fazia da escuridão geral seus instantes prediletos. Bobbio relembra como “as primeiras histórias das instituições foram histórias do direito, escrita por juristas que com freqüencia tiveram um envolvimento prático direto nos negócios de Estado.” (8) Thomas Hobbes havia nascido de parto prematuro, quando da aproximação da Invencível Armada à costa britânica. A mãe deu luz a um semi-macunaíma fruto do acasalamento com um “vigário de pouca cultura e temperamento violento, que desapareceu em Lonres quando Hobbes ainda era criança”. (9) ______________________________________________ * Ship moneys : Contribuição pecuniária compulsória à

construção de navios.

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O filho do vigário cresceu em Oxford, para depois ser estigmatizado por outras atrozes coincidências: embora amigo íntimo dos Stuart (pelo menos se passava com tal) e até tutor de Lord Cavendish, presenciou a conspiração de Poudres, em 1605; o assassinato de Henrique IV, (1610) em Paris; as execuções de Strafford e Laud, a derrota naval de Naseby (1645); por fim, estava presente na execução do próprio “amigo” Carlos I (1648), para a ascensão do encomendado Cromwell: “Hobbes, que havia freqüentado assiduamente a corte fazendo-se passar por matemático (mesmo que pouco soubesse dessa disciplina) se desgostou ali, regressou à Inglaterra nos tempos de Cromwell e publicou uma obra muito malvada, de título muito raro: Leviathan. Sua tese principal era de que todos os homens atuam devido a uma necessidade absoluta, tese apoiada, aparentemente, pela doutrina dos decretos absolutos, doutrina de geral aceitação nesses tempos... Sustentava que o interesse e o mêdo eram os princípios fundamentais da sociedade...” (10) Chevallier complementa: “Hobbes justifica racionalmente o poder absoluto, a partir duma concepção puramente materialista da natureza do homem, egoísta e perseguido por fobias.” (11) Bemvindos eram os avalistas à essa pretensa verdade objetiva : “Nos primeiros anos, fez três viagens de estudo ao Continente (1610-1613, 1629-1630, 1634-1637) que lhe permitiram entrar em contato com os grandes filósofos e cientistas da época (aproximou-se de Descartes e Galileu).” (12) Russel levanta:

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“Durante esses anos em Paris, mais uma vez associou ao círculo de Mersenne e conheceu Descartes... A admiração de Hobbes pela matemática era maior do que sua habilidade nessa ciência, e o professor facilmente venceu a controvérsia.” (13) Na grande ilha, Hobbes chegou a conviver com outro belo par - o carrasco da natureza: “Thomas Hobbes é outro filósofo cuja vida está vinculada à monarquia inglêsa; não menos que a Bacon, a política e as intrigas da Corte afetaram sua existência e, sem dúvida, também seu pensamento filosófico. Pelo relato de um antiquário seu contemporâneo, sabe-se que Hobbes, em certas ocasiões entre 1621 e 1625, secretariou Bacon ajudando-o a traduzir alguns de seus Ensaios para o latim. “ (14) Wilson de Lima Bastos também possui a ficha de Hobbes: “Sucessor de Bacon, sofreu influência da filosofia matemática de Descartes e afirmava que toda a substância é corpórea e todos os fenômenos se reduzem a movimentos. Foi adepto da moral utilitarista.” (15) Até Engels pode reconhecer suas raízes: “Hobbes sistematiza o materialismo de Bacon. A sensoriedade perde seu brilho e converte-se na sensoriedade abstrata do geômetra. O movimento físico sacrifica-se ao movimento mecânico ou matemático, a geometria é proclamada à ciência fundamental...” (16) Bertrand Russel ironiza: “É bastante conhecida a história do primeiro contato de Hobbes com Euclides: ao abrir casualmente o livro no Teorema de Pitágoras, ele

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exclamou: ‘Meu Deus, isto é impossível’, e prosseguiu lendo as demonstrações, de trás para frente, até que, ao chegar aos axiomas, acabou se convencendo. Não se pode duvidar que este tenha sido para ele um momento de volúpia, um clarão provocado pela idéia da utilidade da geometria na medição dos campos.” (17) Para Hobbes, a originalidade da vida consistia em escapar da morte. Preferia a má temática: “Depois de se ter dedicado durante anos a estudos exclusivamente humanistas, Hobbes se convenceu, através dos contatos que fez, em suas viagens internacionais, como alguns dos maiores cientistas do tempo, que as únicas ciências a progredirem o bastante para transformar radicalmente a concepção do cosmos haviam sido as que aplicaram o procedimento rigorosamente demonstrativo da geometria.” (18) “Dessa matematização do saber científico, na qual não se pode deixar de ver uma plena adesão ao clima cultural do século de Descartes, deve participar – segundo Hobbes – também a ciência política, ou, como ele a chama, pela falta de distinção entre a ciência e a filosofia, a filosofia civil.” (19) A bandeira do altruísmo social, protótipo da ética geométrica, (!?) sensibilizou gerações, mesmo inglêsas, a começar pelo mais ferrenho defensor do “utilitarismo”, o também britânico Jeremy Bentham, "incansável e infeliz autor de projetos legislativos que deveriam instaurar o reino da felicidade sobre a terra." (20) Todos exibiam o mesmo desiderato, mas os fenômenos objeto de computação só poderiam ser, tão somente, aqueles produzidos pelas rudimentares

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ferramentas e parca imaginação. O raciocínio político encetado por cálculo, por tudo que pode ser “tomado em conta” forja um sistema de pensamento encadeado num subjetivismo extremado, por isso alienado: “O utilitarismo considera que o prazer e a dor são critérios que determinam a justeza da ação do indivíduo”. (21) Esta filosofia não pode ser mais preconceituosa. Sua tradução numérica não pode ser mais arbitrária. Hobbes e Bentham não souberam atentar para o fato de que tanto animais irracionais como o próprio homem são submissos a necessidades elementares, a instintos, mas o homem, embora repleto deles e de sentidos, é dotado de cérebro consciente. Como muito bem diz Japiassu, “a inteligência só pode aplicar-se à vida reconhecendo a originalidade da vida”. (22) Confuso em pensamento, em discurso, em desejo, encarando o rigor mecanicista das forças naturais, Hobbes só podia mesmo conceber o “homem-máquina”, produto da circulação de seu sangue, movimento “animal” um pouco diferenciado porque “suscetível a paixões e vontade pelo lado interno, recebendo impulsos provocados por corpos em ação externa,” configurações tipicamente dialéticas e cartesianas que os trens da psicologia e da tirania souberam muito bem transportar ao longo dos séculos: “O conceito de pessoa cede lugar ao de máquina; desse modo, o Estado poderá ser figurado como o primeiro produto artificial da idade moderna, que será chamado precisamente de idade da técnica. E a partir dessa figuração do Estado como máquina, inicia-se certamente aquele processo de tecnicização

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do Estado, pelo qual este último - tornando-se independente de qualquer conteúdo político ou convicção religiosa - converte-se em Estado neutro, em Estado com mecanismos de comando. Eis-nos, assim, pela primeira vez, diante do Estado moderno... do positivismo jurídico, que está a milhares de quilômetros do Estado medieval...” (23) Chevallier o entende: “É fruto da curiosa combinação de um potente e rigoroso espírito, fanaticamente mecanicista, com as obssessões de um coração cheio de temor, ávido de paz para si próprio, como para seu país.” (24) Se para Jean-Baptiste Rousseau a filosofia de Descartes cortara o pescoço da poesia, a filosofia de Hobbes “foi pior ainda”: “Para ambos a tarefa da filosofia foi de reduzir tantos fenômenos como fora possível a um sistema de explicações baseado nas leis de movimento... Para Hobbes, Deus não era mais do que o primeiro motor, o primeiro passo de uma cadeia causal que uma vez em movimento não necessitava maior ajuda.”(25) O transplante foi desastroso: “A concepção do universo que por sua influência alcançou aceitação geral era um mecanismo dirigido por princípios matemáticos e falta de cor, perfume, sabor e som. A ciência havia estendido os limites do universo, mas convertido em máquina sem vida, que marchava de acordo com forças capazes de ser formuladas matematicamente, não a expressão poética”. (26) Ralph Cudworth protesta: “Criaram um mundo morto e de madeira, como se fora uma estátua talhada, sem nada vital nem mágico nele, em nenhuma parte.” (27)

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Bastos explica: “O essencial para Hobbes não era a desmistificacão do poder, mas antes a representação da ordem política como um gigantesco autômata, que autorizaria a intervenção de técnicos qualificados. Governantes sensatos, inspirados pela razão científica, poderiam modificar o curso da vida social num sentido favorável a maioria dos interessados”. (28) Para tanto, nada mais exato do que a matemática, a geometria, aquela que ele mesmo diz ser “a única ciência que até agora Deus quis presentear o gênero humano... cujas conclusões tornaram-se atualmente indiscutíveis.” (29) Por isso suas aventuras no campo: “Sabe-se que Thomas Hobbes ficou fascinado pela geometria euclidiana.” (30) O protótipo mecanicista-social veio no Short Tract on First Principles, de 1630: “À maneira de Descartes, mas antes de Descartes, conforme prova claramente esta obra, ele concebe o mundo nos termos de um estrito mecanismo, em termos de movimentos que caracterizam corpos definidos pela sua extensão e forma.” (31) Thomas, como os dedicados de então, indicava o próprio homem como repositório de mecanismos. Nossas ações seriam previsíveis porque se pensava restritas a apetites ou aversões à matéria, tudo embrulhado no puro e primário empirismo*; mas combinava. Marx não o menciona, mas a afinidade é evidente por vários ângulos: “Materialista inveterado, Hobbes via tudo como tangível e todos os fatos como mecânicos” (32)

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(Aqui jaz a mais notável gafe científica de Hobbes, repetida por Marx. Se E=mc2, ou seja, se matéria é apenas energia em repouso, o materialismo simplesmente não tem objeto. Como touro espanhol, avança no pano e só colhe o vazio!) O homem dotado de razão seria capacitado a operar cálculos. “Ratiotinatio est computatio”. Então, o que o platônico Euclides fizera para a geometria, Galileu para a física, Descartes para ambos, julga-se Hobbes à altura para revolucionar a política, coroando-lhe com a pretensa cientificidade que reduziu a nação à mera engrenagem, já velha analogia do relógio, machina machinarum: “Na própria introdução ao De Cive declara que, para se conhecer uma coisa, é preciso conhecer os elementos de que ela é constituída, dando o exemplo do relógio, cujo funcionamento só pode ser plenamente compreendido quando desmontamos.” (33) Russel enfatiza: “Assim como Galileu e Descartes, Hobbes sustenta que tudo o que experimentamos é causado pelo movimento mecânico dos corpos externos...” (34)

___________________________________________________ *Empirismo: "O empirismo sustenta que toda a

afirmação para que expresse conhecimento está limitada por algum processo experimental"; Hayek, Friedrich August von, Os erros do socialismo - Arrogância Fatal - p. 88; Empirismo: "Doutrina, defendida em particular por D.

Hume, segundo a qual qualquer conhecimento deriva da experiência, e apenas dela", Lacoste, Jean, "A Filosofia no Século XX", p. 223.

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Os parcos conhecimentos não lhe impediram de ministrar matemática. Os ensinamentos foram exercitados em Paris (1646), ao futuro rei Charles II, na França também de quarentena. Como Bacon e Maquiavel, Hobbes gravitava em torno do poder, mesmo virtual, não titubeando em professorar essa matéria cuja essência mal arranhava, mas os franceses souberam afastá-lo. Foi logo visto como oportunista e repudiado até por outros exilados, enquanto o governo o tinha sob suspeita devido a seus ataques ao papado. Um século depois, Rousseau cataria a garrafa do gênio. Em 1651 Hobbes apresentou o resultado dos mirabolantes cálculos, intitulado The Leviathan. Em fins do mesmo ano, consagrar-se-ia pioneiro da sociologia positivista, ao galante de Cromwell: “De volta à Inglaterra, tornou-se um dos precursores do materialismo positivista, considerando a filosofia como uma espécie de matemática, que soma, subtrai, combina e separa as coisas suscetíveis dessas operações.” (35) Somada ao grave equívoco metodológico, a traumatizada sensibilidade pessoal foi, inevitavelmente, alocada a serviço da sua “produção teórica”: “O medo constante de uma morte violenta impede a humanidade de respirar.” (36) Ele próprio não teve escrúpulos em esconder: “O temor e eu somos irmãos gêmeos.” (37) Que belo motivo para uma ciência política. Trevor Roper sintetiza o enredo, o programa (problema) mental de Hobbes, o qual tomamos emprestado para anúncio do capítulo, com as consequências: “O axioma, o medo; o método, a lógica; a conclusão, o despotismo.” (38)

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Sem dúvida que os traumas pessoais foram preponderantes na formulação teórica desse triste sujeito. A presunção de reincidência dos infortúnios vividos só poderia excluir a democracia e a liberdade, como assegura Dewey: “Um empirismo que se contente com a repetição dos fatos passados não encontra possibilidade para a liberdade”.(39) Decerto ele nem sabia o que com ela fazer: “A tradição de Hobbes nunca concebia a imaginação como força criadora. Para Hobbes a mente humana, como o universo, é uma simples máquina, e de uma máquina não cabe esperar nenhuma criação.” (40) As fontes de Bodin e Bousset continuavam usadas a justificar a pretensa lógica do Estado absolutista para a defesa da população: “ A indivisibilidade do poder soberano é uma das idéias fixas de Hobbes; e, de resto, era esse um dos fundamentos da doutrina política do primeiro e mais célebre teórico do absolutismo, bastante conhecido de Hobbes, ou seja, Jean Bodin.” (41) Na imprescindível religião, o “Rei divino” defenderia o povo diante das fatalidades impostas pelo espírito “maligno” do indivíduo. Nos trinta anos de reinado católico dos sucessores Charles II e Jaime II invocou-se a autoridade religiosa para a imposição dos respectivos desmandos, mas coube a Cromwell, armado por Hobbes, impor a doutrina de Bodin e Boussuet: “Afirmando que a autoridade provinha de Deus, ele restabeleceu o que praticamente equivalia ao direito divino dos reis.”(42)

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Além de Deus, portanto excedendo a Verdade, o simples capricho real já determinava a obediência incondicional: “Autorictas, non veritas, facit legem.”* (43) O individualismo benevolente e confiante do internacionalista Hugo Grotius diluia-se no pessimismo dito realista de Hobbes: “Retirem seja de que Estado for a obediência (e conseqüentemente a concórdia do povo) e ele não só não florescerá, como a curto prazo será dissolvido. E aqueles que empreendem reformar o Estado pela desobediência verão que assim o destróem”. (44) Para melhor aquilatarmos a preponderante mediocridade que comandou o raciocínio de Thomas Hobbes, vejamos a seqüência do seu pensamento pelo detalhista Prelot: “A essência da natureza humana é o egoísmo e não a necessidade altruísta da vida em comum. Quando o homem procura a comunidade, não o faz a fim de conseguir a sua realização pessoal, ou, como pensava o fundador da Escola, em virtude de uma tendência natural que o faz procurar seus semelhantes, mas unicamente com vista ao seu próprio interesse... nasce do temor mútuo que existe entre os homens, e não da boa vontade mútua.” (45) Não é o que pensa o notável neurocientista chileno Humberto Maturana, por exemplo: “A constituição biológica humana é a de um ser que vive no cooperar e compartir, de modo que a perda da convivência social traz consigo doença e sofrimento.” (46) ______________________________________________ * Autorictas, non veritas, facit legem: "É a autoridade, e

não a verdade, quem faz as leis.”

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Giddens também desfaz a confusão de Hobbes: “No entanto, o egoísmo deveria ser distinguido do individualismo, que nem brota dele, nem (necessariamente) leva a ele.” (47) Tanto para o novo maquinista do Estadomonstro, como para Maquiavel no século anterior, o povo deveria conceder tudo ao soberano, em troca da segurança. Toynbee não perdoa o absurdo: “Em termos religiosos, este tratamento do indivíduo, considerado simplesmente como parte da comunidade, é uma negação da relação pessoal entre a alma e Deus e uma substituição do culto de deus por um culto da comunidade humana - o Leviathan, isto é, a repulsa ao isolamento que está onde não devia estar... O culto do Leviathan é uma enormidade moral, (no sentido de um grande absurdo ou de uma anomalia moral) mesmo em sua forma mais nobre ou suave.” (48) The Leviathan (presumia-se) só poderia realizar o bem à nação; afinal, ele era “a razão em ato”. (49) Carl Schmitt, no auge nazista, apreciava esta estupenda máquina, a machina machinarum, “a interpretação do Estado em termos mecanicistas nos quais se reflete a gradual tecnização do aparelho estatal, característica do Estado burocrático moderno.” (50) Dessa incrustração metida a racional também saiu a cola do “cientismo marxista” ou, quiçá mais apropriado, “marxiano”, ou, ainda, “marciano”, pelo que possui de inusitado e desumano: “ ...a historiografia hobbesiana foi descobrindo conexões cada vez mais estreitas entre sua concepção materialista e mecanicista do mundo e o nascimento-crescimento-triunfo da ciência moderna.” (51)

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Em 1640, The Elements of Law Natural and Politic apresenta a célebre conclusão, na verdade premissa, preconceito: homo homini lupus.* De Cive pousou dois anos depois. Por dois capítulos, no primeiro e segundo, o “filósofo do mêdo” rechaça a formação e a vigência de partidos, “factions or conspiracies”, destarte rotulando-os virtuais desestabilizadores. Ingenuidade ou esperteza? Daí ao Leviathan passaram-se nove anos de mau juízo sobre nossa natureza: “O Estado de Natureza descrito por Hobbes é aquele em que cada um vive por sua conta e precisa cuidar da própria defesa, pelo que termina em uma guerra de todos contra todos”.(52) Einstein, em tese, pode explicar: “Com o homem primitivo é acima de tudo o medo que invoca noções religiosas - medo de fome, bestas selvagens, doença, morte. Já que nesse estágio da existência a compreensão das conexões causais é geralmente pouco desenvolvida, a mente humana cria seres ilusórios mais ou menos análogos a ela mesma, de cujas vontades e ações dependem esses acontecimentos temerosos...” (53) A superstição, as crenças infundadas já vinham atravessando gerações: “A afirmação mitológica da maldade inata na natureza humana encontra-se, como se sabe, na Bíblia. Ela está explicitada no episódio de Caim e Abel, como corolário da tese do Pecado Original; e foi filosoficamente elaborada por Santo Agostinho.” (54) _______________________________________________ * Homo homini lupus: o homem é lobo do homem.

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Na queda religiosa, o medo recíproco e generalizado poderia ser minimizado com a praticidade leviatânica. Taine desconsidera essa “natureza” humana sentida por Hobbes: “O homem não é inimigo do homem a não ser por meio de um falso sistema de governo.” (55) A consequência do “falso sistema” pilhado por Taine foi lamentada por Bertrand de Jouvenel: “O Minotauro é um protetor sem limites, mas, por isso mesmo, autoritário sem limites (...) As pessoas têm o sentimento de que já não há espaço para o que dantes se chamava de vida privada.” (56) Qual consequência? Responde-nos Rosseli*: “Sem homens livres não há possibilidade de um Estado livre.” (57) Manuel da Costa Andrade reitera: “Nada, por isso, mais instante e mais oportuno do que a proclamação e apelo para a dignidade humana como valor polar da ordenação constitucional”. (58) Estaria Hobbes, contudo, interessado numa produção constitucional? Além de abominar partidos, ele não vislumbrou nenhum papel ao Judiciário. O estado civil só seria possível mediante a condução paternalista autoritária, por isto também exclusiva, do Poder Executivo. A prepotente e covarde antítese proposta - Estado x cidadão - tornava cada vez mais nítida a discrepância da contenda. _______________________________________________ * Rosseli, Carlo (1899-1937), assassinado brutalmente

pelo regime fascista espanhol, depois de impiedosa perseguição, em 9 de junho de 1937, na Normandia. Cit. Cardim, C.H., p. 15

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O cidadão sucumbia diante do todo, em nome do todo, pela segurança do todo, “legitimado pela maioria.”, embora para Thoreau e para muitos a maioria governe não porque possui “maior probabilidade de estar com a razão, nem porque isso pareça mais equitativo para com a minoria, mas porque é fisicamente mais forte...” (59) A célebre obra tem o título extraído da Bíblia, termo citado em Jó (41:1) e nos Salmos (74:14, 104:26). The Leviathan é “uma espécie de crocodilo, dragão, baleia ou serpente marinha,” aduz Meira Penna. (60) A capa original traz o desenho do monstro coberto por uma multidão de indivíduos microscópicos grudados como sanguessuga no corpo do boi. O modelo mostra a certeza da onipresença salvadora do soberano e seu Estado, montado e mostrado como uma engenharia perfeitamente organizada, apta a alimentar e socorrer da natureza perversa do semelhante: “É como um gigante constituído de homens comuns, um Leviathan. É maior e mais poderoso do que o homem e, por conseguinte, é como um deus, embora compartilhe com os homens comuns a mortalidade.” (61) Meira Penna aprimora o liame: “A afirmação mitológica da maldade inata na natureza humana encontra-se, como se sabe, na Bíblia. Ela está explicitada no episódio de Caim e Abel, como corolário da tese do Pecado Original; e foi filosoficamente elaborada por Santo Agostinho.” (62) Tudo veio mesmo relembrado pelos pregadores católicos da Idade Média, mormente quando Aurelius Augustinos * valorizou o sino daquele

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pecado original e da essencial maldade do homem enquanto habitante da Terra: “Está escrito que Caim fundou uma comunidade; mas Abel não fez o mesmo, fiel ao seu caráter peregrino e de hóspede temporário. É que a Comunidade dos Santos não é deste mundo, embora aqui tenha dado origem a cidadãos através dos quais se realiza sua peregrinação até que chegue o tempo de seu reino, quando todos se congregarão” (63) Até lá, mister, a presença do grande protetor substituto, o Estado e seus tentáculos que penetram as veias sociais a rientar, defender, prover e congregar: “Recordem o esquema do Leviatã: enquanto homem construído, o Leviatã não é outra coisa senão a coagulação de um certo número de individualidades separadas, unidas por um conjunto de elementos constitutivos do Estado; mas no coração do Estado, ou melhor, em sua cabeça, existe algo que o constitui como tal e este algo é a soberania, que Hobbes diz ser precisamente a alma do Leviatã” (64) Einstein rechaça a premissa usada por Bodin, Boussuet e Hobbes: “É nisso que aqueles que se empenham em melhorar a sorte do homem podem fundar suas esperanças: os seres humanos não estão condenados, em razão de sua constituição biológica, a aniquilar uns aos outros ou ficar a mercê de um destino cruel que eles mesmos se afligem.” (65) ______________________________________________ Aurelius Augustinos : Nome original de Santo Agostinho.

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Einstein, entretanto, sequer estava nos planos; Cromwell estava. Ungido na sagração indireta, pelo Parliament, na qualidade de membro, aí obteve seu maior triunfo, do qual soube dispor o demagogo deputado para assumir o total poder inglês. O governante absoluto agora poderia ser escolhido pelo próprio povo, diferentemente da linha eletiva por hereditariedade real sugerida por Maquiavel, Boussuet e Bodin, embora até então propugnasse o filósofo do medo pela soberania real. O direito divino foi direito à morte: “Uma cabeça de rei cortada: espantoso sacrilégio que pudera ser cometido sem que o fogo do Céu aniquilasse imediatamente os culpados!” (66) Descreve-nos sobre o significado dessas confusões o prof. Rohden: “O conceito espiritual do reino de Deus degenerou numa instituição eclesiástica, jurídica, política, militar, financeira que, substituindo a força do espírito pelo espírito da força, fez da Civitas Dei uma Civitas Terrena, com o agravante que esta cidade terrena é acintosamente proclamada como sendo a cidade de Deus.” (67) Todos possuiam sobradas razões para se resignarem com o pressuposto de que o estado natural do homem seria a guerra. De fato, não foram poucos os quadros tingidos com sangue, mas isso poderia ser bloqueado ou abandonado, rápido, no status civilis, ordem e obediência incondicional ao Estado. Foi com essa balela que Hobbes acabou influenciando, não só a vida imediata inglêsa, como até a França. Os ingleses atiraram a garrafa do gênio ao mar, mas na costa francesa Rousseau a cataria para destampá-lo, ensejando um “Cromwell” bem

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mais faminto - Napoleão Bonaparte. G. Davy corrobora-nos: “O De Corpore Político e o De Cive contém uma imensa quantidade de conceitos políticos em que se inspiraram, mais ou menos confessadamente (antes menos do que mais) tantos autores que se seguiram, a começar por Rousseau.” (68) Para o duo perverso o indivíduo naturalmente deve se anular, alienar-se no ideal supremo da igualdade radical, peões ao diletante: “ O único meio para isso é que todos consintam em renunciar a seu próprio poder e em transferi-lo para uma única pessoa ( uma pessoa física ou jurídica, como por exemplo uma assembléia), que, a partir de então, terá o poder suficiente para impedir o indivíduo exerça seu próprio poder em detrimento dos outro.” (69) Existe na cruel proposta algum resquício de democracia? A sociedade vista por ambos é a mesma massa ignorante, irracional: “Nas sociedades dos irracionais (das abelhas, formigas, térmitas, etc.) a defesa da espécie parece ser o objeto soberano. Desinteressada e indiferente, mantém-se a comunidade, ante a sorte individual de seus componentes. Em verdade, nesses agrupamentos, os indivíduos são apenas partes de um todo e, em conseqüências, integralmente submetidos aos interesses da sociedade global." (70) Thomas e Jean-Jacques não conheceram Marilyn: “Uma formiga submete-se a seu destino; um ser humano modela o seu.” (71) Poder-se-ia aproveitar algo se os presursores fossem menos dogmáticos na confirmação da ciência pelo poder totalitário, onde procuraram misturar o

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conhecimento com seus próprios interesses e neste ponto há uma concordância geral de muitos estudiosos, desde Tom Paine a Jacques Mourgon. (72) Meio e fim apontam para o único horizonte: “A última conseqüência lógica da filosofia de Hobbes é o absolutismo estatal, a ditadura entronizada como lei suprema.” (73) Carl Schmitt não deixa por menos: Hobbes foi, claramente, precursor do totalitarismo; e liga-o com Maquiavel, Vico, Nietzsche e Sorel - ídolo e mentor intelectual de Mussolini. (74) Joseph Viatoux confirma e acrescenta: “A doutrina do Estado de Hobbes é a mesma doutrina do Estado totalitário contemporâneo.” (75) Convém relembrar, por fim, a flagrante influência de Hobbes no pensamento de dois alemães defensores do extermínio - Hegel e Nietzsche. Rohden destaca o maniqueísmo estratégico, idêntico nas proposituras da dupla alemã: “A filosofia política de Hobbes culmina na conclusão de que “might is right” - poder é direito, sendo o Governo suprema norma ética, não havendo ética contrária a ele. O chefe de governo paira acima do bem e do mal. Tudo o que favorece o nacionalismo é bom; o que o desfavorece é mau. (76) Napoleão, Bismarck, Lenin, Hitler, Mussolini, Salazar, Franco, Roosevelt, Tito, Mao, estrelaram ótimas performances e ainda tiveram muitas crias. De nação em nação, de continente a continente, as trágicas conseqüências foram gradualmente ampliadas, atingindo o ápice da performance há meio século, também o começo de seu declínio, depois de levar de roldão numerosos adeptos,

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ideólogos, interesseiros, oportunistas líderes políticos e inocentes povos, embarcados em inúmeras estações, rumo ao precipício da estupidez. O equívoco ou o ardil científico-filosófico oferecido por Thomas Hobbes foi por demais grandioso, no tempo e no espaço: “Após ter então agarrado cada membro da comunidade e tê-los moldado conforme a sua vontade, o poder supremo estende seus braços por sobre toda a comunidade. Ele cobre a superfície da sociedade com uma teia de normas complicadas, diminutas e uniformes, através das quais as mentes mais brilhantes e as personalidades mais fortes não podem penetrar, para sobressaírem no meio da multidão. A vontade do homem não é destruída, mas amolecida, dobrada, guiada; os homens raramente são forçados a agir, mas constantemente impedidos de atuar; tal poder não destrói, mas previne a existência; ele não tiraniza, mas comprime, enerva, ofusca e estupefaz um povo, até que cada nação seja reduzida a nada além de um rebanho de animais tímidos e trabalhadores, cujo pastor é o govêrno.” (77)

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Capítulo VI BALÃO MÁGICO

A liberdade é uma necessidade fundamental para o desenvolvimento dos verdadeiros valores.

Albert Einstein (1) NO auge do intrépido Leviathan, morria seu cavaleiro Lord Protector Cromwell. The Parliament reindroduzia as dinastias reais, primeiro na pele de Charles II, o ex-aluno de matemática do professor Hobbes. De 1660 a 1685, paulatinamente, Charles II foi se agigantando, fazendo com que o catolicismo voltasse a ter força, desafiando, por várias ocasiões, a Câmara dos Comuns. A subserviência a Roma era o grande temor, acabando por gerar revoltas no seio da população, mas Jaime II, o irmão que o sucedeu, ainda veio para estreitar a ligação com o catolicismo. Por esta época (1666) Locke tornava-se médico de Anthony Ashley Cooper (1621-1683), o qual acabou por atribuir-lhe a função de assessor-conselheiro. Milhares conhecem Locke. Poucos sabem desse Lord Ashley, deslize histórico, injustiça intelectual. Provavelmente Ashley possuia mais capacidade, mais conhecimento e, pode-se afirmar, trabalhava com menor incidência empírica do que o próprio Locke: “Devemos os Dois Tratados ao prodigioso conhecimento das questões de Estado adquirido por Locke no curso de seus frequentes diálogos com o primeiro conde de Shaftesbury... “ (2)

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Seis anos após Locke ter começado a lhe prestar serviços, Ashley ganhou este título honorífico - Conde Shaftsbury. Tornou-se Presidente do Conselho de Colonização e Comércio da Royal Society discordando do grande Newton, algo que nem Locke ousou. Sua intuição, porém, era forte. Estava, de fato, mais perto da verdade. Einstein e principalmente Max Planck, trezentos anos depois, dariam completa razão a estas suas precoces palavras: “Newton era um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo... há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema.” (3) R. L. Brett relata-nos outras peculiaridades da rica percepção do “padrinho” de Locke: “Shaftesbury se deu conta... que as doutrinas de Hobbes solapavam toda a interpretação espiritual do universo e convertiam a moral em simples conveniência. Se deu conta, também, que estas doutrinas e outras parecidas destruíam os estímulos da arte e as grandes obras artísticas da humanidade. A filosofia de Shaftesbury... foi planejada para combater a interpretação mecanicista da realidade, mas sobrepujou a filosofia daqueles em seus esforços para salvar as artes dos efeitos das idéias mecanicistas: aspirou fundar bases não só para a verdade e a bondade, como também para a beleza.” (4) O paradigma fez-se no grande diferencial. Por paradoxo e coincidência, na terra de Newton havia resistência ao mecanicismo cientificista: “Na Grã-Bretanha, contudo, em particular no final do século XVII, a metáfora do relógio foi tratada com muito

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mais ambivalência do que no continente. O relógio sempre apareceu ali como uma metáfora de arregimentação e compulsão irracional.” (5) Lord Shaftesbury tornou-se Chanceler; Locke, Secretário para a Apresentação de Benefícios, pode participar da confecção constitucional da Colônia de Carolina, dos EUA. Na estada em Exeter House (residência Shaftesbury em Londres) Locke convivia com os círculos intelectuais e políticos que por ali gravitavam, época em que começou seu Ensaio sobre o Entendimento Humano. As primeiras incursões ao universo científico foram acompanhadas pelos amigos pessoais, quase todos integrantes da recém-fundada Royal Society, abrigo de cientistas de Oxford e Cambridge, de expurgados ex-colaboradores de Cromwell e de avulsos, como Sir William Petty, este até então modesto agrimensor irlandês. Ali estavam presentes o revolucionário cientista médico Thomas Sydenham e o Alchymistarum * Roberto Boyle, pesquisador capaz de oferecer algumas dúvidas quanto à velha teoria aristotélica dos quatro elementos. Compunham uma heterogeneidade mutuamente complementar. A plêiade tinha claro escopo: “A sociedade se comprometia a buscar conhecimentos úteis ao progresso do comércio e colaborar para fortalecer os alicerces da religião contra todas as manifestações de ateísmo mecanicista. O exercício da física deveria ser restrito a homens de mentes mais livres; ______________________________________________ * Alchymistarum: Distinção conferida pela Nobili Anglo e

Societate Regia.

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se os mecanicistas fossem elaborar uma física sozinhos, eles a levariam para suas oficinas e a obrigariam a consistir exclusivamente de molas, pesos e rodas”. (6) Os participantes possuíam outro segredo em comum: elementos obsessivamente políticos não deveriam ter acesso. Thomas Hobbes, entre alguns marcados, por ali jamais transitou. Bobbio relembra: “Como se comentou recentemente, Hobbes foi a ovelha negra da sociedade inglêsa do seu tempo, assim como Maquiavel, no século precedente...” (7) A ovelha negra marcava seu protesto com virulência, chegando ao ponto de atacar diretamente um daqueles famosos membros, R. Boyle e formulou sua obssessão num inóquo Dialogus Physicus sive de Natura Aeris, de 1662. Sete anos após, a Universidade de Cambridge organizou debate sobre filosofia experimental, tendo como alvo o universo coperniciano; e em 1671 Henry Stubbe disparou contra o pragmatismo baconiano, o maior associado de Hobbes, apontando seu “desrespeito às antigas jurisdições eclesiásticas e civis, ao antigo govêrno, bem como aos governadores do reino”.(8) Apesar de naturalmente persistirem esses interessados no status de domínio, a Coroa cedia. A lógica argumentativa daqueles súditos mais ilustres, especialmente dos que compunham o Magic Group, balançaram o sistema, mas os principais conceitos de Locke eram subversivos, por isso não divulgados. De 1675 a 1679, ele conheceu a França: “ ...Além disso, Locke e Shaftesbury consideravam realmente o despotismo como um mal francês e, quando escreveu o documento, em 1679, Locke

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acabava de voltar da França, após estudar o mal francês enquanto sistema político.” (9) Sobre a estada francesa, existe a edição de 1953, por Cambridge, de John Lough editor, a coletânea Locke’s travels in France (1675-1679) as related in his journals, correspondence, and other papers. Também há o estudo de Gabriel Bonno, Les relations intellectuelles de Locke avec la France, da University of California Press, Berkeley e Los Angeles, (1955) (10) São obras raras a nosotros aqui do terceiro mundo. É certo, contudo, que a semente que germinou pela geração subsequente veio das mãos de Locke, não de Hobbes: "Montesquieu dizia que os ingleses eram o povo mais livre do mundo porque limitavam o poder do rei pela lei." (11) A Inglaterra apeava da limitada, tosca, perniciosa, antiecológica e antieconômica montaria do Leviathan para ascender pelo balão mágico da Revolução Gloriosa.E o mundo começava a tomar conhecimento que poderia viver sob a égide democrática dividindo o poder, desde o núcleo até a extremidade, onde vive o cidadão: "A democracia inglesa é a única democracia moderna que combina o sentido de independência e excelência com o impulso da classe média em direção à liberdade de consciência e à responsabilidade pessoal." (12) A frase de Voltaire poderia servir de epitáfio: “Talvez nunca tenha havido espírito mais sensato, mais metódico, um lógico mais exato que o senhor Locke; não era, contudo, um grande matemático.” (13) Felizmente.

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Capítulo VII O “PARASITA”

O problema é ao mesmo tempo distinguir os acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem e reconstituir os fios que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros.

Michel Foucault (1) Os livros de física, que vem sendo copiados uns dos

outros, pacientemente, fornecem aos nossos filhos uma ciência tão socializada, tão imobilizada que, graças a permanência curiosíssima dos concursos universitários, chega a passar por “natural”. Gaston Bachelard (2) 1. Apagão do Iluminismo

O receio do saque, da violência e da morte provocava o desespero nas gentes. Qualquer alienação era preferível ao terror, sacrifício à sobrevivência, nem que fosse na guarida de Maquiavel e, ultimamente, de Thomas Hobbes.Os povos, tratados como manadas, ou matilhas, deveriam estar unidos, dificultando predadores ou dividindo carniças. O relativista sistema de Direito

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Natural,* a filosofia de Locke, Spinoza, Lessing, Adam Smith, Montesquieu e dos vários artífices iluministas só servia de moldura. Para alcançar a meta e refrear o “homem lobo do homem”, mister aquele tipo de contrato (?!) no qual cada subscritor concordasse em renunciar ao direito de governar a si mesmo. Só um contrato no qual um dos contratantes deixava de sê-lo (?!), para entregar-se nas mãos de um gestor, tonificado e investido de um poder soberano ainda maior do que o dos antigos reis, porque montado numa força proveniente da soma dos poderes de todos, imbuído da competência de a tudo julgar, de acordo com sua concepção (interesse), para a paz (guerra) de todos e comum defesa (ataque), é que poderia salvar a população. Na cascata de Bodin, o povo se viu governante... na sucumbência da vontade individual! Em lugar do bem inerente a cada nascido, levantado pelo Direito Natural, recomeçava a enxurrada de teorias utilitaristas de moral, política e valor econômico, tudo salpicado na abstrata bandeira do bem comum e necessidade geral. _____________________________________________ * Direito Natural: Base constitutiva das relações entre cidadãos do Reino Unido. O jusnaturalismo é "a doutrina segundo a qual existem leis não postas pela vontade humana - que por isso mesmo precedem a formação de todo o grupo social e são reconhecíveis através de pesquisa racional - das quais derivam, como em toda e qualquer lei moral ou jurídica, direitos e deveres que são, pelo próprio fato de serem derivados de uma lei natural, direitos e deveres naturais." (Bobbio, Norberto, Liberalismo e Democracia, p. 12.) John Locke enalteceu o “Direito Natural” como a

principal fonte, para não dizer a única científica, confiável

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e justa da própria Ciência Jurídica. Foi claro: “Se eliminas a lei da natureza, eliminas, ao mesmo tempo, entre os homens, toda a cidadania, todo o poder, a ordem e a sociedade”. (Locke, J., Essays on the law of nature, cit. Bobbio, Norberto, Locke e o Direito Natural, p.127) Baruch Spinoza antecipara-se na observação de que

“ninguém transfere a outros o próprio direito natural de modo tão definitivo que depois não volte a ser mais consultado; mas o defere à parte maior da inteira sociedade, da qual ele é um membro.” (Spinoza, B., cit. Bobbio, N., Estado, governo, sociedade; para uma teoria geral da política, p. 145.) Alexis Tocqueville, já lembrando Montesquieu quando

propugnara pela virtude, atributo sem o qual não pode haver o sistema democrático, enunciou o comportamento da cidadania pelas relações: “A idéia de direitos é meramente a idéia da virtude inserida no mundo político. Na base de tudo está a convicção, trazida pela longa experiência, de que os que possuem direitos são compelidos a respeitá-los, pois, no caso contrário, eles próprios serão os principais prejudicados. Dentro do contexto de democracia inglêsa, a liberdade política não estimula um individualismo arrojado. Ao contrário, ela reforça a coesão e a unidade da sociedade, pois somente os homens livres podem cooperar verdadeiramente.” (Tocqueville, A, American Democracy, p. 283; cit. Prof. Zevedei Barbu, apresentação de Tocqueville, A, O Antigo Regime e a Revolução, p. 17/18.) John Rawls oferece concernente apreciação: “Todas as

formas de cooperação social legítima são portanto obra de indivíduos que nela consentem voluntariamente; não há poderes nem direitos exercidos legalmente por associações, inclusive pelo Estado, que não sejam direitos já possuídos por cada indivíduo que age sozinho no justo estado de natureza inicial.” (Rawls, John, Justiça e Democracia, p. 11.)

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O coletivo e seu correspondente científico - o determinismo cartesiano - eram prestigiados com a força extraordinária de um insígne e letrado tripulante, conhecido “inimigo na trincheira” do Grupo Enciclopédia, “peso pesado” de fama mundial, freqüentemente tomado como um dos “iluministas”, mas que se fez como um dos maiores “corta-luzes”, quiçá principal responsável pela confusão que ainda perdura no conceito de democracia e que redundou no cobertor de todas as ditaduras que se seguiram, duzentos anos adiante, pelo mundo afora. As aventuras megalomaníacas tem tudo a agradecer a excepcional sofista. Sua filosofia: a “lógica” político-matemática. Seu nome: Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Desde o início assemelhado com Hobbes, também ele veio com sua vida pautada pelo desastre. Os sintomas patológicos foram equivalentes: “Rousseau alude expressamente ao medo da morte que, como em Hobbes, domina o homem. À natureza, diz, compele o homem usar todos os meios à disposição para escapar da morte.” (3) Já no próprio nascimento Jean-Jacques convivera com a morte - a mãe era sacrificada. Crescendo, fracassou em quase todas ocupações. Pregava sublimes reformas educacionais, mas abandonou seus próprios filhos num asilo de enjeitados: “O verdadeiro erro de J.-J. Rousseau não foi o de ter entregue cinco crianças às Crianças Abandonadas, foi o de se ter deixado preceder, para manifestar esta verdade, pelo libelo anónimo, injurioso, que Voltaire escreve sob o título O Sentimento dos Cidadãos (1765): o tumulto provocado na alma de Rousseau leva-o à

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redaccção das Confissões. Por isso ele é mais sincero do que nunca ao contar – escrever – o roubo da fita da pobre Marion e o silêncio que dá origem à expulsão injusta, mais sincero que nunca ao dizer – escrever – que chegou a negar o ter tido filhos (Devaneio, 4. Caminhada)”. (4) Em Èmile, propôs o que lhe atenuava a consciência, a “teoria aberrante segundo a qual não convém ensinar as ciências à criança: esta deve descobri-la por seus próprios meios” (5). Por seu próprios meios, Rousseau só aprendeu bobagens: “ Descobriu-se que Rousseau estava de posse de uma fita que roubara da patroa... Essa dama, consideravelmente mais velha do que o jovem leviano, foi para ele simultaneamente mãe e amante.” (6) Historiadores qualificam a personalidade: “Caráter volúvel, inconstante, deixou o calvinismo e se tornou católico; mais tarde, voltou ao calvinismo. Sua vida é uma longa cadeia de romances, cada qual mais descontrolado e superficial.” (7) Os doze anos decorridos entre 1744 e 1756, época em que Rousseau viveu em Paris, permitiram-no estreitar uma ligação com o círculo da Enciclopédia. Infelizmente, até para ele próprio, não lucrou com o convívio; sua estada serviu apenas à clarividência de que não se afinava ao grupo. Optou combatê-lo, opondo-se especialmente a Voltaire, depois de ter-lhe enviado o “Discurso sobre a Desigualdade dos Homens”, um edifício de asneiras, nas quais fulgura o decreto: “O homem que pensa é um animal degenerado”. (8)

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O sagaz ativista rebateu: “Recebi, meu prezado senhor, seu novo livro contra o gênero humano; muito obrigado... Nunca foi usada tanta inteligência humana para nos reduzir a meros animais; a gente tem ganas de se jogar de quatro patas depois de ler sua obra. Entretanto, como já há mais de sessenta anos perdi esse hábito, sinto que é infelizmente impossível readquiri-lo.” (9) Jean-Jacques preferia evidenciar uma aura de estoicismo e auto-suficiência por truque ou má índole, melhor expressados na suspeita àqueles que recebiam sua amizade, na descoberta de complicadas e imaginárias conspirações para traí-lo e arruiná-lo, logo ele, o “idealista democrático”: “Quando James Boswell visitou Rousseau que mais do que qualquer outro francês do seu tempo influenciou a opinião pública contra a propriedade, seu anfitrião lhe disse: ‘Senhor, eu não tenho a menor simpatia pelo mundo. Vivo aqui num mundo de fantasia, e não posso tolerar o mundo como ele é(...) a humanidade me repugna.’ “ (10) E tome perfídias: "Rousseau não receia reconhecer que lhe aconteceu mentir e mentir muito, quando estava na sociedade dos seres vivos... mas uma coisa é mentir, negando a verdade e ofendendo a justiça - e a recordação do pobre Marion persegue Rousseau durante cinquenta anos - outra, o prazer da imaginação, que não prejudica ninguém (4. Caminhada)." (11) Como Descartes, Rousseau prejudicou, e muito. Para estudá-lo, urge “máscara anti-poluente”. A dialética platônica permeia sua própria personalidade, profundamente dividida, conflituosa, embora soubesse ser integralmente maquiavélica.

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Condutas mórbidas de sexo e religião ocupavam a primeira fila de seus desejos: “Os meus gostos e pensamentos parecem oscilar sempre entre o nobre e o vil.” (12) Rohden comenta os procedimentos do “confesso”: “No seu famoso livro “Confissões” desabafa, diante de si e do mundo, todas suas misérias internas, talvez por um impulso do subconsciente de encontrar libertação psíquica nessa confissão pública dos seus pecados mais íntimos. Aliás, a vida e a pessoa desse homem prestam-se admiravelmente para estudos de psicanálise”. (13) Verso próprio mostra o que espelhava sua alma: “Deplace par le sort, trahi par la tendresse, Mes maux sont comptes par mes jours, Imprudent quelquefois, persecute toujours, Souvent le chatiment surpasse la faiblesse.” (14) O Parlamento de Paris o motivou à vida errante. A cidadania suíça - de que tanto se orgulhava - foi-lhe suprimida: Genebra também identificou o adereço. Simplesmente o rejeitou. Diderot, que pode bem conhecer a figura, dedicou-lhe uma obra romanceada – “Jacques, o fatalista e seu amo”, onde bem caracteriza a personalidade obtusa do renegado, sem acusá-lo frontalmente. Bizarro foi o mundo ocidental transformar o fatalista em herói post-mortem, como alguém que só fosse reconhecido muito tempo depois, “porque seus contemporâneos não foram capazes de alcançar tão alto conhecimento”. Seus contemporâneos, todavia, demonstraram muito mais conhecimento, inclusive, do que gerações que lhe sucederam, haja visto o hiato subsequente.

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Outro paradoxo foi enterrá-lo na mesma tumba do grande desafeto Voltaire, o que, para Rousseau, certamente foi uma honra e uma necessidade: Sabine o identifica como um “parasita”. (15) Sob o crivo teórico, Rousseau não alcançou, não se interessou em captar as mensagens expressas por Locke e Montesquieu, sobre as quais se deitou a recompô-las à sua maneira, nada criando, apenas contrapondo, no velho estilo platônico. John Locke e Montesquieu se anteciparam a Rousseau e a Revolução Francesa ao requererem a separação entre Estado e Igreja, para o vigor da soberania popular; porém, mesmo com o entendimento empírico exposto na “Tábula Rasa”, Locke não precisou atacar convicções religiosas e se afastou do determinismo materialista cartesiano. O “filosofo político” francês teve comportamento antagônico, preocupando-se no ataque: "Locke escrevera a história da alma, recusando-se a fazer dela um romance, que provém sempre de uma racionalidade artificial; mas sua análise é falsamente histórica, visto que "supõe aquilo que está em questão". (16) Cada vida, para Locke, tinha existência peculiar, riscada por livre escolha, responsabilidade individual. A Rousseau interessava somente a apreciação coletiva. Costumes inglêses eram detestáveis. Hábitos alimentares, especialmente o beef, sofreram a ridicularização deste Rousseau ocupado em demonstrar, “a tantos quantos quisessem”, que “as rubras postas de carne era uma das causas da notória barbárie inglêsa.” (17) Será que spaguetti poderia “endireitar” os inglêses? E Napoleão, logo comeria carne ou criancinhas? Ou

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os dois e mais um pouco? O que diria Rousseau se conhecesse as parrilladas argentinas ou o espeto corrido do gaúcho? Mas teria ele, vago no mundo, disponibilidade financeira para pagar sequer um filet a cavalo? Embora demonstrasse só hostilidade, conseguiu confundir. Aproveitando-se da acepção inglêsa de que no nascimento o bebê não tenha o “pecado original”, sempre alardeado pela Igreja Católica, porque ele próprio responsabilizar-se-ia pelo seu destino, desde que houvesse um governo verdadeiramente democrático, ele a distorceu; na habilidade retórica, Jean-Jacques propunha os românticos preceitos que iriam livrar escravos de patrões, o povo do rei, os jovens dos velhos, os oprimidos dos opressores, o feio, do bonito: “O homem nasce livre em todo o lugar se encontra acorrentado”. (18) Ao que pondera Von Mises: “... talvez soe bem, mas na verdade o homem não nasceu livre. Nasceu como uma frágil criança de peito. Sem a proteção dos pais, sem a proteção proporcionada a esses pais pela sociedade, não teria podido sobreviver. Liberdade na sociedade significa que um homem depende tanto dos demais como estes dependem dele.” (19) A exceção conseguiu sobreviver, mesmo órfã, para enxergar nos cidadãos britânicos os “burros de carga”, meros figurantes do teatro real, na ironia aos preceitos de Locke lá adotados: “Todo o povo é aquilo que a natureza de seu governo o faz; tudo é possível a um legislador hábil e sábio pois, perante esse legislador, o indivíduo é uma tábula rasa.” (20)

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Havia alguma concordância com o contemporâneo e patrício Montesquieu, mas não com o método, tampouco com as concepções do inigualável autor de “O Espírito das Leis”. Ambos prepararam a Revolução; porém, enquanto Montesquieu dispôs a expressa divisão do poder na alternativa à Monarquia, a fim de evitar radicalismos, precipitações, mesmo crimes e para que as decisões fossem, antes de promulgadas, pensadas, pesadas, estudadas, debatidas e resolvidas, (prerequisitos essenciais à virtude democrática), Rousseau advogava a simples transferência do poder, mantendo-o unificado numa pretensa vontade popular representada por ação ditatorial, na “alienação total de cada associado com toda a comunidade”. Dessa total alienação emerge um comandante moralmente inatingível, eventual abusado penalmente safado que usa sua soberania em causa própria, covardemente, na promovida união de todos os indivíduos contra cada cidadão! Pobre do cidadão: “A ideologia chega ao seu ponto máximo quando coloca o direito como instrumento acionado por uma “vontade”, a da maioria, através de seus “representantes” - de “legisladores racionais”. Jamais se questiona se os “representantes” não estariam sujeitos as conveniências políticas.” (21) O professor Bonavides retoma: “Até mesmo o cidadão que Rousseau fizera rei na ordem política, como titular de um poder soberano e inalienável, acabou se alienando no partido ou no grupo, a que vinculou seus interesses”. (22) Os representantes, além de se ocuparem com interesses particularizados, são via de regra mal-

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informados, péssimos tradutores e piores formuladores, mas qualquer ideologia, mesmo a mais irracional, se bem divulgada, tem chance de êxito, ainda mais numa sociedade totalmente atrasada. Em 1792 continuava fácil subjugar as massas; bastava “que se conhecesse suas paixões dominantes e houvesse boa mão no encadeá-la através de ilusões”. (23) Benjamin Constant (1767-1830) flagrou a perfídia: “Nossos contemporâneos imaginaram um poder único, tutelar, onipotente, mas eleito pelos cidadãos; combinam centralização e soberania popular. Isso lhes dá um pouco de alívio. Consolam-se do fato de estarem sob a tutela pensando que eles mesmo escolheram os tutores... Num sistema desse gênero, os cidadãos saem por um momento da dependência, para designar o seu patrão, e depois nela reingressam.” (24) Thoureau igualmente tratou do alerta, até hoje negligenciado, na singela analogia: “Qualquer eleição é uma espécie de jogo, como o de damas ou o gamão, com um ligeiro matiz moral, um jogo com o bem e o mal, com questões morais,, e as apostas a acompanham naturalmente. O caráter dos eleitores não é comprometido. (...) Até mesmo votar pelo direito não é fazer alguma coisa por ele. É apenas expressar timidamente aos homens o nosso desejo de que ele prevaleça. (...) Há muito pouca virtude nas ações das massas de homens.” (25) O jogo continua: recomenda-se não se alterarem regras, mas sabemos de antemão serem elas sempre alteradas... para beneficiar seu mentor, o jogador. Peões são fáceis de serem movimentados:

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“A massa se rege por sentimentos, emoções, preconceitos, como a psicologia social já demonstrou exaustivamente. A opinião das massas formando a opinião pública será por conseqüência irracional. Não se iluda o publicista democrático a esse respeito, cunhando a expressão agora uso corrente no vocabulário político da propaganda: o ‘estereótipo’, ou seja o ‘clichê’, a ‘frase feita’, a idéia pré-fabricada, que se apodera das massas e elas, numa economia de esforço mental, como diz Prelot, aceitam e incorporam ao seu ‘pensamento’, entrando assim a constituir a chamada opinião pública.” (26) Napoleão de cara, Lênin e Hitler depois, souberam construir a "opinião pública": “A fim de melhor compreender a arte da propaganda, Hitler estudou as técnicas propagandistas dos marxistas, a organização e os métodos da Igreja Católica, a propaganda britânica da Primeira Guerra Mundial, a publicidade norte-americana e a psicologia freudiana.” (27)

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2. Replay da má temática

A ciência contém no seu método os germes que levaram as maiores aberrações como atividade social.

George H. Sabine (28) MAIS do que atacar as proposições básicas do iluminismo britânico, fato que deve ter contribuído à sua exclusão do grupo Enciclopédia, Rousseau obtinha justamente no espólio cartesiano sua razão de existir e de propor: "Depois de ter percorrido o círculo estreito do seu vão saber, é necessário acabar por onde Descartes começara. Eu penso, logo existo. Eis tudo o que sabemos." (29) “É assim que o cartesianismo, no século, XVIII, aparece sob dois aspectos indissolúveis e complementares: de um lado, como Idéia da Razão, como método analítico, inspira Holbach, Helvetius, Diderot, o próprio Rousseau; é ele que encontramos na fonte dos panfletos anti-religiosos assim como na origem do materialismo mecanicista...” (30) Bertrand Russel também relaciona: “Afinal, o rígido determinismo da explicação cartesiana do mundo material, tanto físico como biológico, contribuiu muito para promover o materialismo dos séculos XVIII e XIX, em especial quando associado à física de Newton.” (31) O próprio Engels confirma: “Entretanto, o materialismo transferiu-se da Inglaterra para a

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França onde se encontrou com uma segunda escola materialista de filósofos, que havia surgido do cartesianismo e com a qual se refundiu.” (32) Se E=mc2, se matéria é apenas energia estática, o materialismo não tem objeto, mas a racionalidade cartesiana inverteu até mesmo as razões humanísticas. Não só o Corso, também Bismarck, Hitler, Perón, Mussolini, Lênin e Stálin, para não mencionar outros menos citados, gostaram da inversão. Valeram-se, precisa e ladinamente, do subterfúgio. Tomaram para si o destino milhões, mercê da tal “inalienabilidade” de poder, onde o indivíduo se perde no grande corpo do Leviatã tonificado, aclamado como “justo”, “democrático” porque nascido como produto da chamada “vontade geral”, esta expressa, contada e “legitimada” por estratégicos plebiscitos apurados em arbitrários resultados, assim questionada por Hans Kelsen: “Rousseau introduz aqui o conceito da 'vontade geral' distinguindo-o do conceito de 'vontade de todos', um conceito extremamente misterioso que ele nunca define com clareza.” (33) Sobre cada qual, a aritmética cartesiana, arbitrária e friamente, coloca com eficiência o abstrato numeral da soma de todos como a verdade suprema a ser seguida e acatada, caso “colado” em Maquiavel: “A soma de todos os bens individuais é, sem a menor dúvida, o ideal supremo de Machiavel.” (34) Realmente até poderia ser uma meta plausível, não fosse um pequeno desvio semântico: é impossível a soma todos; mas é possível é a subtração de todos. Ou, por outra: a tradução do anseio geral, pelo todo maior, dita uma norma não condizente com ninguém em particular. (A lei, destarte, não se torna utópica e

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irreal, posto que desatende a cada um, portanto a todos?) É inviável, portanto incorreta, a pretensão de entender e legitimar um Direito emanado do todo, porque dele nada emana: “ A justiça, a moral, o direito, a liberdade só se realizam na medida em que se realizam singularmente nos indivíduos.” (35) Aquela premissa só deriva em sofisma. Karl Jaspers puxa a máscara: "A verdade é que nunca se conhece o todo, porque se é parte do todo. E nós nunca dominamos a história, mesmo a nossa pro´ria história, porque estamos sempre dentro dela... Quando se trata do todo, somos impotentes; e Luckács também o é, tanto quanto nós." (36) Vejamos a procedência de Jacques Barzun: “Por um paradoxo da existência social do homem, porém, a vida das comunidades não é uma simples soma das vidas individuais.” (37) A proposta roussoniana é completamente inverossímel, desconforme com a ciência de ponta, pelo bizarro: “A relatividade consiste em conceber o mundo não como uma soma de acontecimentos (ou de pessoas, digo eu) mas de relações”. (38) Se misturarmos todas as cores, teremos um cinza escuro, quiçá preto, os quais sequer são considerados cores... Finalmente, relembrando Thoreau, como denominar “Contrato” (trato com outro) um termo no qual uma das partes é forçada a participar? A “autoridade soberana” tampouco é divisível como preconizou Rousseau - que falem seus próprios contemporâneos e os sofridos operários russos. Sobrou-lhes algum resquício de poder das tais Revoluções, ditas democráticas?

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O sofisma, entretanto, era pretensioso e parecia elementar: “Os indivíduo podem enganar-se; a volontè générale, jamais.” (39) Michel Villey detectou o charlatanismo: “Certamente o mito de “uma vontade geral com a qual se identifica a própria vontade de um modo quase místico, de tal maneira que, ao obedecer a vontade do povo somente, alguém permanece tão livre como no estado de independência nativa foi apresentado como premissa axiomática. “ (40) Axiomática deriva do grego axia, significando “valor” em sentido de qualidade, não no sentido físico de quantidade. Ives R. Simon reforça: “O ideal de emancipar-se das velhas ataduras e o não menos certo propósito de formar um Estado altamente centralizado e racional foram proporcionados, de fato, pela vontade geral.”(41) Talvez por esta contradição semântica tenhamos conhecido as declarações de Henry David Thoreau: “Saibam todos, pela presente, que eu, Henry Thoureau, não desejo ser considerado membro de nenhuma sociedade juridicamente constituída a qual não tenha me associado... Afinal, a razão prática por que se permite que uma maioria governe, e continue a fazê-lo por um longo tempo, quando o poder finalmente se coloca nas mãos do povo, não é a de que isto pareça mais justo para uma minoria, mas sim que a maioria é fisicamente mais forte.” (42) Einstein também arrasou com a “vontade coletiva” guiada pelos executores: “Creio que a missão mais importante do Estado é proteger o indivíduo e possibilitar que ele desenvolva uma personalidade criativa. O Estado

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deveria ser o nosso servidor; nós não deveríamos ser escravos do Estado.” (43) Rohden o explica por outros termos: “... Einstein admite que tudo que gira no plano das facticidades empírico-analíticas está numa dimensão meramente quantitativa, sujeita às categorias ilusórias de tempo, espaço e casualidade e que deste mundo de facticidades quantitativas não há nenhum caminho causal para o mundo da Realidade qualitativa. Somando e multiplicando-se quantidades, nunca teremos qualidades; somando ou multiplicando zeros...nunca chegaremos a ter o valor positivo do “1”. Horizontal mais horizontal não dá vertical. Factual mais factual não dá Real.” (44) Thoreau era tido como “anarquista”, portanto “nocivo”, um revoltado que não merecia atenção, exceto a cadeia. Mas Einstein, a quem interessaria? Depois das funestas experiências de Hitler e Mussolini, Hans Kelsen admitiu: “Não se pode negar que, enquanto massa de indivíduos de diferentes níveis econômicos e culturais, o povo não tem uma vontade uniforme, que somente o indivíduo tem uma vontade real, que a chamada “vontade do povo” é uma figura de retórica e não uma realidade.” (45) Kelsen faz-se num dos maiores, senão o maior jurista de nosso século. Bonavides o acompanha: “Nem sequer um doutrinário da democracia como Rousseau, com a concepção organicista da volonté générale, princípio tão aplaudido por Hegel, pode forrar-se a essa increpação uma vez que o poder popular assim concebido acabou gerando o despotismo de multidões, o autoritarismo do poder, a ditadura dos ordenamentos políticos.” (46)

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Os russos demoraram setenta anos para se darem conta do engôdo. Tiveram que esperar Gorbachev. A Perestroika significa a (re)ascenção do velho paradigma de estóicos e de J. Locke: “É também extremo respeito pelo indivíduo e consideração pela dignidade pessoal”. (47)

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3. Vilãsofia

É necessário medir o que é mensurável e tornar mensurável aquilo que não o é.

Galileu Galilei (48) ALÉM da rejeição à vida inglêsa, Rousseau buscou obstinadamente desmoralizar o trabalho de Locke, especialmente as concepções sobre o estado da natureza. Cego, de espírito tão mecanizado, tão repleto de preconceitos, empirismos e metas pessoais, tudo saliente em construção redacional de apurado maniqueísmo, lógica que não vacila em relegar o indivíduo à esterilidade criativa, quando não nefasta, punha-se a decretar: “O estado de natureza, o puro e verdadeiro estado de natureza, é, pois, o estado selvagem, no qual os homens foram criados e viveram durante milhares de anos. Implica o isolamento vagabundo, a ausência de toda a linguagem, de toda a relação regular, o sono da razão e o desconhecimento da moralidade. O homem no estado de natureza é robusto, são e ágil.” (49) Este estado estúpido confundido como selvagem, esta natureza, vista tal qual Bacon como indomável, a descrença nos semelhantes, o desprezo e o desrespeito ao ser, ao indivíduo, ao cidadão, compõe a mesma aquarela que serviu à badalação de Hobbes e seus trancados. Não requer a menor criatividade, só traduzi-lo. Repressão vira “orientação educacional-coercitiva”: “Mas a admiração pelo

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legislador - por aquele que, “assumindo a iniciativa de fundar uma nação, deve sentir-se capaz de mudar a natureza humana” chega até Rousseau.” (50) Schwartzenberg foca Rousseau acompanhando de perto a Maquiavel, “tolerando” o indivíduo no homem extraordinário e mitológico em dois casos: “Legislador”, para fundar o Estado e lhe fornecer suas leis e “Ditador” para garantir sua sobrevivência. (51) O "capaz de mudar a natureza humana" via em Maquiavel um “grande republicano” que, obrigado pelos tempos, desdenhara seu amor pela liberdade, fingindo dar lições aos reis e educando des grandes aux peuples. Fillipo Burzio notou que tal interpretação, em vez de justificar moralmente o maquiavelismo, na realidade projeta um “maquiavelismo ao quadrado: o autor do Príncipe não só daria conselhos sobre fraudes mas também com fraudes”, (52) para a desgraça daqueles que lhe seguiram! No “Plano Para a Constituição da Córsega” Rousseau chegou a dizer que o Estado devia ser o único proprietário, reputando a propriedade privada como principal origem de infortúnio, motivo pelo qual dever-se-ia extingui-la. (Ele só não foi marxista-leninista porque não viu a realização do seu sonho, para todos pesadelo, morrendo duzentos anos antes da tragédia russa.) O arsenal de ataque desfilou naquele “Discurso”. No “abre-alas” saltita a idéia política mais característica, a “Vontade Geral”, embora não se saiba, com certeza, se foi ele ou Diderot quem cunhou a expressão; de qualquer modo, Rousseau dela se apropriou. Bertrand de Jouvenel, Tocqueville e até Trotsky perceberam a

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manobra implícita, a chicana centenária em nome dessa tal vontade até hoje cometida: “Jouvenel inspira-se na intuição de Tocqueville no sentido de que o movimento revolucionário democrático, ao derrubar o feudalismo e o absolutismo monárquico, gerara, sem o saber, um verdadeiro Frankstein: uma nova classe de democratas. Na verdade, nosso autor é, talvez, o primeiro analista moderno a usar essa expressão “Nova Classe Dirigente” - aquilo que os russos chamam a Nomenklatura - a classe político-burocrática que, sustentada na retórica da Justiça Social e da Redistribuição, apodera-se do Estado para dele se locupletar. Ninguém melhor para julgar o fenômeno do que o próprio Trotsky... que observava: “aquele a quem esta afeta a redistribuição jamais se esquecerá de si próprio...” (53) Enquanto a Inglaterra partira decidida, há séculos,* às soluções verdadeiramente democráticas, quando o povo retirava paulatinamente o poder do rei em sua própria defesa e os EUA proporcionavam ao mundo verdadeiras lições de cidadania e civilidade, graças a competência dos compatriotas Rousseau e Descartes, os cidadãos franceses e vizinhos, até a Rússia e a África, submeteram-se, por muitos anos, a perversos domínios. Jefferson se reportou: “Quanto à Revolução Francesa, a lenda nacional pretende que ela colocou no lugar da Monarquia de um rei despótico o reinado glorioso da liberdade, da igualdade e da fraternidade. ______________________________________________ * A Magna Carta inglêsa é de 1215.

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Essa suave apresentação elimina as desordens sangrentas, cuja multiplicação, que era impossível de dominar, impôs ao País o reinado do Terror. As boas intenções converteram-se no horror do massacre e da guerra civil, a custa de centenas de milhares de vítimas e de enormes devastações. O turbilhão suicida só pode ser estancado pela instauração de uma ditadura militar, mais absoluta que a Monarquia do Antigo Regime.” (54) As “desordens” sangrentas foram estratégicamente promovidas, ordenadas, criados e fomentados conflitos, tensões de toda a espécie. Burke também estava por perto: “Diferentemente de seus vizinhos do outro lado do Canal, os franceses foram privados - ou se privaram - de um conjunto básico de circunstâncias que são necessárias para a experiência da liberdade política, isto é, a cooperação e a participação nos assuntos públicos... Primeiramente as idéias dos filósofos, particularmente Rousseau, foram adotadas pelos líderes da Revolução e transmitidas as massas, na linguagem mais simples e sugestiva, com o propósito de criar apoio para suas políticas. Nesse estágio, o papel dos intelectuais era totalmente correlacionado com o dos políticos, cuja tarefa central era de mobilizar as massas, ou, em outras palavras, definir o papel das massas no contexto político em questão.” (55) Resultado: aquele povo, participativo e aspirante democrata, não conheceu nem democracia, nem liberdade, muito menos igualdade e, menos ainda, fraternidade - exceto se encararmos como “fraternidade” o terrorismo praticado antes, durante e depois da Revolução, na repartição dos saques e,

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em seguida, pelo mundo afora, com o intrépido “herói” Napoleão: "Mas afastemos estes resquícios e perceberemos um poder central imenso que atraiu e engoliu em sua unidade todas as parcelas de autoridade e influência antes disseminadas numa porção de poderes secundários, de ordens, classes, profissões, famílias e indivíduos, por assim dizer espalhados pelo corpo social. Não se tinha visto no mundo um poder semelhante desde a queda do império romano." (56) A explicação é decorrente: “A vontade geral que não tolera exceção é a exceção pura e simples. Assim a soberania de Rousseau revela-se uma ditadura permanente.” (57) Kant percebeu o engôdo: “Um governo fundado no princípio da benevolência para com o povo, como é o caso do governo do pai em face dos filhos, ou seja, um governo paternalista, no qual os súditos, como filhos menores que não podem distinguir entre eles o que lhes é útil ou prejudicial, são obrigados a se comportar passivamente, para esperar que o chefe do Estado julgue de que modo eles devem ser felizes, esse governo é o pior despotismo que se possa imaginar.” (58) Quantos, todavia, naquela França, poderiam conhecer obras as obras de Kant, se nem mesmo os conterrâneos Constant, Quesnay e Tocqueville eram ouvidos? “Vendido” como meio de salvação nacional a um custo barato, o homem comum acabou por aderir, até entusiasticamente, aos condutores do infortúnio, mesmo que estes o carregassem aos trágicos destinos, conseqüências e exatas predições assim proferidas por Constant:

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“Examinarei, pois, o sistema do mais ilustre desses filósofos, J. J. Rousseau e mostrarei que, transportando para os tempos mais modernos um volume de poder social, de soberania coletiva que pertencia a outros séculos, este gênio sublime, que era animado pelo amor mais puro a liberdade, forneceu, todavia, desastrosos pretextos a mais de um tipo de tirania”. (59) Alexis Tocqueville nunca duvidou - sob a capa do “governo do povo” escondia-se o monstro totalitário. Norberto Bobbio lhe explica: “Tocqueville se revela um escritor liberal e não-democrático. Jamais demonstra a menor hesitação em antepor a liberdade do indivíduo à igualdade social, na medida em que está convencido de que os povos democráticos, apesar de terem uma inclinação natural para a liberdade, tem “uma paixão ardorosa, insaciável, eterna, invencível” pela igualdade e embora “desejem a igualdade na liberdade são também capazes, se não podem obtê-la, de “desejarem a igualdade na escravidão”. (60) O enigma da igualdade é seu objeto, preocupação do Nobel de Economia 98 Amartya Sen*. À tirania da maioria Tocqueville dedica o capítulo sétimo da segunda parte do Livro I de “A Democracia na América”. ___________________________________________________ * “A pergunta central na análise e avaliação da

desigualdade é, como aqui sustento, “igualdade de quê?” Sen, A., p. 21.

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O princípio da maioria é um principio igualitário na medida em que pretende fazer com que prevaleça a força do número sobre a força da individualidade singular; repousa sobre o argumento de que “existem mais cultura e mais sabedoria em muitos homens reunidos do que num só”, no número mais do que na qualidade dos legisladores. É a teoria da igualdade aplicada à inteligência. Hayek também distingue as razões de Tocqueville: “O liberalismo exige que todo o poder - e, portanto, também o da maioria - seja submetido a limites. A democracia, ao contrário, chega a considerar a opinião da maioria como o único limite aos poderes governativos.” (61) O socialista Lukács reputa à causa rotulada democrática o eclipse liberal durante os séculos XIX e XX: “Para Lukács, o liberalismo – que se inspirava na doutrina econômica clássica; que supunha suficiente a garantia de liberdade jurídico-formal para ação do homo economicus engendrar automaticamente um estado social e cultural de felicidade – foi desmoralizado, na prática, pela intervenção do Estado na vida econômica, pelo contrôle alfandegário, pelo protecionismo e sobretudo pelos monopólios.” (62) A grande sociedade passou a ser dedicada a esse pretenso bem-estar da maioria, preparo e educação para a democracia de massa, aquilo que Paul Goodman aponta como “sociolatria”. (63) O argumento iluminista era desprezível porque as “nossas idéias e até o próprio egoísmo nasciam junto com esta sociedade”. O homem deveria modificar-se e adaptar-se em favor do meio social... até perder sua

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própria personalidade, pelo todo absorvido. A exceção Rousseau reservou a si próprio, ávido em se afirmar. Jamais admitiu que sua personalidade fosse absorvida pelo todo; contrariu sensu, jamais saberíamos de sua existência. Seria, apenas, um Jean-Jacques a mais. O “absolutismo”, este claro excludente de democracia, virava, pela habilidade do artífice francês, princípio “democrático-racional”: “Torna-se necessária (ao Estado ou a Cidade) uma fôrça universal e compulsiva para mover e dispor cada parte da maneira mais conveniente a todos. Assim, como a natureza dá a cada homem o poder absoluto sobre seus membros, o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus.” (64) Obviamente trata-se de um dos mais notáveis sofismas; porém, podemos desmanchá-lo com a simples lembrança de que não temos nenhum poder, nenhuma opção para dispor e comandar, sequer, a metade de nossas operações pessoais. A respiração, o funcionamento do fígado e a impossibilidade de andarmos de cabeça para baixo, entre inúmeras outras, podem, de plano, evidenciar o ardil da premissa; mas Jean-Jacques era coerente com o pensamento do patrício e isto não se pode negar: “Este pensador peculiar - embora freqüentemente considerado irracionalista ou romântico - também se apoiou no pensamento cartesiano e dele dependeu fundamentalmente.” (65) Miguel Reale tem no genebrino “o Descartes da política”. (66) Rousseau oferece à mostra o tamanho da mordida que sofreu da mosca da ciência exata, da física, do

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número, quando dispõe sobre a fôrça necessária para mover as coisas e quando se manifesta sobre os membros, reduzindo a diversidade, homogeneidade e universalidade de cada ente, de cada pessoa, a simples objeto manipulável por um comando absoluto. Para Hayek, “a substituição por Rousseau, Hegel e seus seguidores da palavra “opinião” pelo termo “vontade” foi provavelmente a inovação terminológica mais fatídica na história do pensamento político. (67) Macksoud reforça o liame: “Esta substituição teve fundamento no cartesianismo de Rousseau e foi o produto de um racionalismo construtivista que imaginava que todas as leis foram inventadas como expressões de vontade para um dado fim...” (68) Bonaparte espreitava a chance do colossal mal-entendido: “Para Rousseau, como para outros edificadores da Cidade Ideal do Racionalismo desarvorado, o legislador é responsável por tudo. É um deus ex-machina. Algo que será como Napoleão, que pretendeu representar o novo César e o novo Augusto do cesarismo imperial francês”. (69) Napoleão manteve seu povo não por sentir-se responsável, muito menos por caridoso, mas para usufruir de fortes e destemidos lutadores, conforme a lápide: “Afinal, um povo sadio trabalha melhor, produz mais riquezas para o Estado e sua Corte, além de que se reproduz mais, aumentando a população disponível para o alistamento militar. Povo bem cuidado, mais carne para canhão.” (70)

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A trama, a ardilosa dubiedade de Rousseau foi oportuna e convenceu, por restringir homem e política àquela mera questão aritmética: “Se o Estado for composto de dez mil cidadãos, cada um deles terá a décima milésima parte da autoridade soberana”. (71) Ou seja, fatalmente, quanto mais gente, menos poder para cada um... Pode isto ser chamado de “método democrático”? A trapaça varou o EspaçoTempo: “O homem no estado natural de Rousseau se tornou, no século XIX, o ‘povo’ de Mazzini e o ‘proletariado’ de Marx. “ (72) O mestre Miguel Reale observa como os verdugos sobrevivem aos tempos: “O que efetivamente caracteriza o homem moderno é a confiança em seus poderes demiurgos, em sua capacidade de penetrar nas leis da natureza, não pelo prazer estético-intelectual de expressá-las, mas pela necessidade de convertê-las em instrumento de seus projetos existenciais.” (73) Goffredo Telles Junior também explica como se perpetua a prática da lex sugerida: “Isto também pode suceder quando um governo impõe a uma sociedade um Direito Objetivo em discordância com os ideais do sistema de referência da coletividade. Em tais casos, o Direito Objetivo é um Direito artificial. É um Direito que não exprime a realidade biótica da sociedade. É um Direito corrompido e corruptor. Ele forçará o surgimento de interações humanas à margem do campo de sua competência. Grande parte da vida social se processará fora de seus domínios.” (74) O maior e mais conhecido exemplo deste direito artificial vem pela lei do trabalho, a fascista.

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Antecipando-se no rumo invertido, Rousseau, em 1762, portanto a tempo de influir diretamente na sangrenta Revolução e nos seus terríveis desdobramentos, publicou o “seu” “Contrato Social”, onde o cidadão perdia sua liberdade natural em troca dessa pseudo-liberdade apregoada, chamada civil para diferenciar-se da religiosa, copiando neste particular a propositura de John Locke; a obra francesa, todavia, desvirtuou-a, não descuidando de enfeitá-la com uma sofisticada engambelação, nítida tendência reacionária à espontaneidade individual demagogicamente arranjada, a qual permitiu e até induziu a que as cúpulas reutilizassem alguns maquiavélicos ditames, aperfeiçoando-os: “Assim é que em Locke, antes do contrato, os indivíduos em estado de natureza são completos, dotados de todas as suas características civilizadas, quer dizer, da razão, do julgamento moral, do direito de propriedade e da liberdade. Vê-se logo o contraste com Jean-Jacques Rousseau e com a tradição francesa, para qual é o Estado que cria, a partir do indivíduo natural, ainda não efetivamente humano, um ser novo a quem deverá ensinar tudo.”(75) Enfeitando o manto filosófico, resplandece o colar da república platônica de Hobbes; se Rousseau não o tingisse com as cores da soberania popular, poder-se-ia chamá-lo “plagiador”, até por repetir a cátedra de colocar o ser humano como carente de norma de ação mais elevada além de impulsos, apetites e más inclinações. O homem não poderia ser possuidor de regra de pensamento mais importante do que fantasias subjetivas, alheias à formação social. Considerado isoladamente, o indivíduo se apresenta nocivo, um animal governado por instintos bruscos;

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para ser corretamente entendido, ele deve considerar-se só como membro da sociedade e por ela subordinado. O ordenamento requer a esterilização de cada um em particular... em massa. Quando alguém deseje isoladamente algo diverso da ordem imposta, é entendido como um capricho proveniente de alguém que “não percebe corretamente seu próprio bem, nem seus desejos naturais”. Prelot o atinge com o exocet *: “Para sua mais completa felicidade e também para sua desgraça, os homens possuem duas faculdades: a liberdade de aquiescerem ou de resistirem e a possibilidade de se aperfeiçoarem.” (76) Com Hobbes, o genebrino compartilhava daquelas idéias sobre nosso estado natural e a guerra assume a preponderância; explicitou-a na exposição do famoso Discurso. Este foi o Estado “vendido” como natural: “A guerra é a saúde do Estado. Ela coloca em movimento, automáticamente, em toda a sociedade, aquelas forças irresistíveis que buscam a uniformidade e cooperam com o governo entusiásticamente na tarefa de coagir grupos minoritários e os indivíduos isolados sem identificação com o grupo, obrigando-os a obedecer. Os mecanismos do governo não só estabelecem as punições mas aplicam-nas fazendo com que essas minorias sejam silenciadas pela força ou passem por um processo sutil de persuasão que acabará por convencê-las de que foram convertidas... ___________________________________________________ *Exocet: Míssil de longo alcance, de fabricação francesa,

muito utilizado na Guerra das Malvinas.

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a nação atinge uma uniformidade de sentimentos, hierarquia* de valores que culmina com o ápice do ideal do Estado, que só poderia ser obtido através da guerra... cada indivíduo se identifica com o todo e sente-se muito mais forte com esta identificação... Um povo em guerra volta a ser criança no sentido mais literal do termo: são obedientes, respeitosos, confiantes, cheios de fé ingênua na total sabedoria e no poder absoluto do adulto que toma conta deles, impondo-lhes suas regras firmes mas bondosas e em quem podem depositar todas as suas ansiedades, temores e responsabilidades... E você dirige um olhar cheio de adoração para o Estado, como um filho olha para o Pai, como se o Estado fosse o símbolo quase pessoal da força do rebanho, e o líder e determinante de todas as suas ações concretas e de todas as suas idéias.” (77) E tome imposto para recruta forçada da carne à granel: “Sabe-se que o objetivo da talha foi de permitir ao rei comprar soldados que dispensassem os nobres e seus vassalos do serviço militar. Mas no século dezessete o serviço militar obrigatório foi novamente imposto sob o nome de milícia... e desta vez só recaiu sobre o povo e quase exclusivamente sobre o camponês... “A mediocridade do soldo do soldado”, escreve um deles, “a maneira como está deitado, vestido, alimentado e toda sua dependência tornariam por demais cruel pegar um outro homem que um homem do baixo povo.” (78) _________________________________________________ * Hierarquia: soma de hieros, sagrado, mais arkhia, regra,

ordem, provavelmente oriunda da figura geométrica do arco.

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A “opinião publica” francesa, construída de cima para baixo, por “economia de esforço mental” foi assimilada, desaguando a tal “vontade geral” de modo claramente irracional, em que pese tudo de Rousseau, como de Descartes, Maquiavel e Hobbes, tivessem a pretensão da “racionalidade”. Hans Kelsen, depois de trinta anos de estudos, dobrou-se a grande diferença: “É o valor da liberdade e não o da igualdade que determina, em primeiro lugar, a idéia de democracia.”(79) Norberto Bobbio enfatiza: “O conceito de democracia é inseparável do conceito de direitos do homem. Se se elimina uma concepção individualista da sociedade, não se pode mais justificar a democracia. Tenho dito freqüentemente que, quando nos referimos a uma democracia, seria mais correto falar de soberania dos cidadãos e não soberania popular. “Povo” é um conceito ambíguo, do qual se serviram também todas as ditaduras modernas”. (80) Bobbio demonstra a certeza de Tocqueville. Pelo fato de excluir qualquer minoria em nome da maioria, evidentemente, por mais dourada que possa ser a receita de Rousseau, ela é, por tudo, antidemocrática, determinista, mecanicista, preconceituosa, parcial, dogmática. Em uma palavra, falsa. Mas não perde sua máxima característica: a de constituir excelente estratégia à conquista e manutenção de poder por qualquer príncipe que a adote. E, de fato, conseguiu sucesso, dado a vagueza do carácter, na reinversão objetiva do direito natural rumo ao despotismo, este devidamente consubstanciado no invólucro democrático. Alemães e japoneses da década de

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quarenta que o digam. Se alguns milagres de virtude foram produzidos pela maioria, dita espelho nacional do aclamado patriotismo, este também reproduziu, até em maior escala, fulgurantes personalidades desprezíveis e sentimentos impregnados de inveja, frustração, cobiça, ódio e destruição. No trilho do ufanismo, Lênin, Hitler, Mussolini, Hiroíto e Mao Tsè Tung jogaram seus compatriotas ao total infortúnio, ao precipício. Aprendamos com Einstein: “Nos mecanismos universais, o mecanismo Estado não se impõe como o mais indispensável. Mas é a pessoa humana, livre, criadora e sensível que modela o belo e exalta o sublime, ao passo que as massas continuam arrastadas por uma dança infernal de imbecilidade e embrutecimento.” (81) Destarte, não deve ser considerada tão fora de propósito outro brado de Thoreau: “Não há senão uma escassa virtude na ação de multidões de homens.” (82)

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4. A última homenagem O “Contrato Social”, precipitando a cascata da comunidade possuidora de uma personalidade corporativa ou moi commun, a analogia organicista transladada a averiguação do grupo social, a doutrina do ser corporativo estabelecendo padrões morais válidos para seus membros e o teórico condicionamento implícito do governo, instrumento desta vontade geral, abstração rigorosamente improvável, não passou desapercebida nem por alguns simpatizantes marxistas, alguns bem marcando a mistificação: “Por existir de forma tão abstrata e ao mesmo tempo tão violenta, o Estado continua cada vez mais a impedir a liberdade individual em nome da mentira chamada “bem comum”, que obviamente representa os exclusivos interesses da classe dominante” (83) O princípio regente da “Vontade Geral” vingou pelas atrações lingüísticas e étnicas, laços psicológicos de identificação e manifestações espirituais emergentes de comum condicionamento, na analogia ao princípio vital dos organismos, combustível da satânica locomotiva do Dr. Hegel que passaria por perto. São de Rousseau as palavras: “A sensibilidade recíproca é a correspondência interna de todas as partes... O Corpo político, por conseguinte, é também ente moral possuidor de vontade; e essa vontade geral, que tende sempre à preservação e bem-estar do todo e de suas partes, e que dá origem às leis, constitui para todos os membros do Estado, em suas relações mútuas e com o Estado, a norma do que é justo ou injusto.” (84)

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O laser de Einstein atinge o comboio de Rousseau, Hobbes, Hegel e Marx: “O homem solitário pensa sozinho e cria novos valores para a comunidade. Inventa assim novas regras morais e modifica a vida social. A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma, porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente de sua independência. A não ser assim, a sociedade estará inexoravelmente votada ao malogro, e o ser humano privado da possibilidade de se comunicar.” (85) Talvez pudéssemos especular um pouco, dando razão simultânea a Locke e a Hobbes: enquanto indivíduo, o homem tem comportamento responsável, porque identificado; ou seja, liberdade com responsabilidade. Na massa, o homem altera, freqüentemente, seu comportamento. Permanece “livre” no interior dela, sem responsabilidade. Tudo pode acontecer, então, como nas revoluções francesa e russa: "O exercício das paixões individuais, determinado fundamentalmente pelo temperamento de cada um, encontra-se normalmente limitado e circunscrito aos quadros da vida social. As paixões coletivas, responsáveis pelos seu próprios quadros, não encontram nenhuma barreira racional. É o reino da desmedida e da insensatez." (86) Na característica de infalibilidade, Rousseau tentou estigmatizar a soberania como algo que jamais faria algum mal ao povo, não tendo igualmente porque o governante prejudicar alguém em particular. Necessariamente, o “imperador quererá o melhor para todos”, algo notoriamente extraído do Leviathan e do princípio da divindade que tanto sustentaram

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loucos e oportunistas. Podemos verificar ainda similitude e inspiração nos escritos eclesiásticos que davam conta da voz do povo como a voz de Deus - Vox Populi vox Dei. Na controvérsia própria dos imperfeitos humanos, bastaria simplesmente equacionarem-se os contendores. A maior soma expressaria a Vox apregoada. Será que a voz do povo francês vibrando com o movimento da guilhotina poder-se-ia dizer originaria ou expressão divina? O senhor Jean-Jacques sempre tendeu a parcialidade; capacitado a elaborar frases de efeito, alardeava que, com seu método, atingir-se-ia a liberdade das massas, como se massa pudesse ter liberdade, que dirá responsabilidade: “Não há liberdade do povo sem poder do povo - portanto sem poder do Estado: pois o Estado é o povo como Soberano”. (87) Ainda tinha um maior sofisma reservado: “A fim de que o contrato social não se torne fórmula vazia, assume ele tacitamente a disposição... de que quem quer que recuse obedecer a vontade geral será compelido a fazê-lo pelo todo. Isto nada mais significa que forçá-lo a ser livre... Isto, apenas, dá caráter legitimo às disposições civis que, sem ele, seriam absurdas, tirânicas e passíveis dos mais terríveis abusos.”(88) Forçar a ser livre? É possível ou compreensível esta formulação? Samuel Johnson conforta-nos: “Rousseau sabe que está falando bobagem e ri do mundo por lhe dar atenção.” (89) Fomos e somos, mesmo, por demais ingênuos; os bairristas franceses e seus descendentes também: “A doutrina da soberania nacional dominou quase todo o direito político da França pós-revolucionária

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na idade liberal de seu constitucionalismo... Com efeito, o art. 3. da Declaração assevera que ‘o princípio de toda a soberania reside essencialmente em a Nação’ e que ‘nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente.” (90) Não por acaso, pois, Benjamin Constant expressou o lamento: “A França viu-se molestada por experiências inúteis cujos autores, irritados pelo pouco êxito que alcançaram, tentaram forçá-la a usufruir de um bem que ela não desejava e contestaram-lhe o bem que ela queria.” (91) Rousseau não presenciou o massacre da Revolução de seus patrícios e o desdobramento da sua vontade, “vendida” como Geral. Como Voltaire, faleceu onze anos antes. Sua passagem, entretanto, foi profícua o suficiente para ser muito bem aproveitada... até hoje: “Muitos outros filósofos modernos, como Hanna Arendt, Aron e Kolakowski, concordam com a tese de que o socialismo representa aquela pseudo “religião civil” que Rousseau pretendeu criar, para substituir a Igreja com o culto patriótico do Estado Ressacralizado” (92) Todos os candidatos a príncipes que se seguiram, na França e em todo o mundo, encontraram na maquiagem democrática que lhe foi peculiar, o disfarce necessário para surpreender as gentes de seus respectivos tempos e lugares: “Não nos espantemos, portanto ao observar com que maravilhosa facilidade a centralização foi restabelecida na França no começo deste século. Os homens de 89 tinham derrubado o edifício, mas suas fundações permaneceram na própria alma de seus

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destruidores e foi sobre estas fundações que puderam erguê-lo novamente e torná-lo mais sólido do que jamais o fora.” (93) Ao povo, estar o poder nas mãos de tirano por herança ou por soma de votos não altera nada; mas o revestimento da democracia pervertida consegue tornar lógico e por isto legitima as tiranias extremadas levadas a cabo pelos que implementam a cartilha. O cidadão se restringe aos ditames da massa, ou do partido mais forte ou, ainda, mais freqüentemente, de um grupo ou mesmo de um indivíduo que se apossa do poder, em nome de todos, para o próprio desfrute. Aí reside a “liberdade” apregoada por Rousseau, Hegel, Fichte, Descartes, Hobbes, Comte, Georges Sorel, Karl Marx e F. Engels. Aí a escada de acesso à locomotiva do infortúnio, pilotada por Napoleão, Bismarck, Lênin, Stálin, Mussolini, Hitler e seus admiradores mais ou menos fiéis. Não podemos novamente entender Thoureau quando, inspirado em Hippólyte Taine, afirmava que “... 10 milhões de exemplos de ignorância não fazem o conhecimento...” ? (94) A mais realista e significativa homenagem Jean-Jacques Rousseau a recebeu no cemitério de Ermenonville. Ninguém menos do que o próprio Napoleão Bonaparte pode reconhecer e enaltecer as qualidades do defunto: “Era um mau homem, um homem perverso. Sem ele não haveria Revolução Francesa... É verdade que eu também não seria nada... Mas talvez a França fosse mais feliz com isto.” (95) O mundo também, com certeza!

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Capítulo VIII A IMPLOSÃO MATERIALISTA

Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestes de ovelhas, mas por dentro são lobos rapaces. Pelos seus frutos os conhecereis.

S. Mateus (1)

Um saco de batatas consiste de uma certa quantidade de batatas enfiadas dentro de um saco.

Karl Marx (2) A Grã-Bretanha acendia o estopim da Revolução Industrial, momento fértil ao plantio da discórdia, nuances que corroboravam funestos prognósticos. O utilitarismo colheu o ensejo e ofereceu a plataforma por onde decolou a esquadrilha marxista. A Poor Law (Lei dos Pobres), o movimento cartista e orquestradas manifestações espelhavam a impetuosidade das ambições. Oportunistas, demagogos e diletantes captavam simpatias; e as direcionavam aos seus interesses. Von Mises compreende o processo cruzador dos séculos: “O principal erro do pessimismo tão alastrado é a crença de que as idéias e as políticas destrutivas de nossa era emergiram do proletariado e são uma “revolta de massas”. Na verdade, as massas, precisamente por não serem criativas e não

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desenvolverem filosofias próprias, seguem líderes. As ideologias que produziram todos os danos e catástrofes de nosso século, não são uma façanha da turba. São proezas de pseudo-intelectuais e pseudo-estudiosos. Foram propagandas das cadeiras das universidades e dos púlpitos; foram disseminadas pela imprensa, pelos romances, pelo rádio. Os intelectuais são responsáveis pela conversão das massas ao socialismo e ao intervencionismo. Para reverter o processo, é preciso mudar a mentalidade dos intelectuais. Então as massas os seguirão.”(3) Karl Henrich Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895) foram acolhidos com hospitalidade ou indiferença, jamais com hostilidade. O Reino Unido, no respeito ao direito de expressão, permite que até estrangeiros se arvorem em palpites, mesmo sendo eles incisivos na conclamação direta à luta de classes, à aniquilação da propriedade, na tentativa de tornar o País anfitrião um “reboliço”. Parafraseando Kepler no estudo das mecanicistas leis interplanetárias e tomado pela picada de Descartes, Bacon, Hobbes, Newton, Rousseau, Hegel, Bentham, Mill, Comte e Darwin, Karl repetiu a presunção já no prefácio de “O Capital”: “O alvo final desta obra é expor claramente... a lei do movimento na sociedade moderna”. (4) Em se tratando de “futurologia”, Galileu abrira a picada: “Galileu partiu da observação de fatos isolados para o estabelecimento de leis rigorosas que permitiam a previsão dos acontecimentos futuros. Em essência é a isso que se chama método científico”. (5) Dois séculos depois, La Place, especulava a possibilidade de “uma inteligência suficiente

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suficiente, conhecendo as leis da física e a velocidade e a posição de cada partícula do universo, conseguiria prever seu futuro completo.” (6) Einstein a fechou: “ ... qualquer tentativa de deduzir logicamente conceitos e postulados fundamentais a partir de experiências elementares está fadada ao fracasso.” (7) A dimensão marxista é dogmática, fatalista, limitada, por tudo parcial, preconceituosa e nada original. Tenta vislumbrar, pela ótica sócio-política, o código matemático absoluto, pretensão que fez tantos naufragarem no mar das ilusões: “O sistema marxista é determinista ou não é marxista.” (8) Determinista significa previsível, calculável: “Psicologicamente, o homem de Marx é o mesmo homo oeconomicus de Bentham.” (9) A pretensão, encantada na égide exata, parte do cúmulo filosófico, insensatez mecanicista extremada, a analogia do relógio: “O socialismo científico abordou a sociedade da mesma forma que Newton abordou o comportamento dos corpos celestes, investigando suas imutáveis “leis de movimento”. (10) O elegante socialista Norberto Bobbio não vê cientificidade na epistemologia marxista: "Marx tratou muitas vezes da natureza da ciência que ele de modo especial cultivou, ou seja, a ciência econômica. Mas a filosofia das ciências sofreu muitas transformações radicais, desde Marx aos nossos dias." (11) Antes da filosofia, a própria ciência, a preferida de Marx, retirou-lhe a cobertura: "Pelo que vimos, a física quântica derruba os dois pilares da velha ciência, a causalidade e o

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determinismo. Agindo em termos de probabilidades e estatística, ela abandona a idéia de que a natureza exibia uma seqüência inexorável de causa e efeito. Aceitando a incerteza, abandona a antiga esperança de que a ciência, conhecendo o estado atual e a velocidade de qualquer corpo material no universo, possa prever a história do universo em qualquer tempo. Como conseqüência dessa rendição, o livre arbítrio ganhou novo argumento a seu favor, pois se os acontecimentos físicos são indeterminados e o futuro imprevisível, então é possível que aquela quantidade desconhecida chamada 'espírito' possa guiar o destino humano entre as infinitas incertezas de um universo caprichoso." (12) As experiências elementares indicavam a medida do capital, representado pelo dinheiro e pelos finitos bens materiais alarmados por Malthus: “Marx, enquanto materialista, enquanto alguém que advoga que toda a realidade e matéria, porém não apenas isto, que toda a realidade e matéria obedece a leis que são absolutamente determinadas não apenas é materialista, como também determinista, isto é, crê ser possível compreender a realidade de tal forma que, uma vez descoberta suas leis, poderíamos antecipar seu futuro desenvolvimento e “O Capital” tem a pretensão de ser a obra que descreve o desenvolvimento das leis econômicas da sociedade moderna.” (13) Vale para Marx a maior questão, a qual ele não pode conhecer: se E=mc2, se Einstein estivesse com a razão (e parece que está, passados quase um século de provas) toda sua ciência se dissolve, por absoluta falta de objeto. Gurvitch percebeu o erro de base, de paradigma:

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“ ... [Marx] deveria reconhecer que as relações entre os degraus ou as camadas da realidade social que distinguira, também elas eram totalmente variáveis e que sua hierarquia, enquanto forças dinâmicas da mudança, se alterava sem cessar conforme os tipos de sociedade... Somente assim teria evitado a cilada do “determinismo econômico” no qual finalmente caiu.” (14) Complementa o competente autor: “As sociedades globais atuais compõem-se duma pluralidade quase infinita de agrupamentos particulares: famílias, comunas, municipalidades, departamentos, regiões, serviços públicos, Estados, seitas, congregações, ordens religiosas, conventos, paróquias, igrejas, sindicatos, operários e patronais com suas federações e confederações, cooperativas de consumo, de venda, de produção, sindicatos de iniciativa, caixas de segurança social, classes sociais, profissões, produtores, consumidores, usuários, partidos políticos, sociedades científicas e de auxílio, equipes esportivas e de turismo e assim ao infinito... Todos esses grupos se entrecruzam e se limitam, se unem e se opõem, se organizam e permanecem inorganizados, ora formam blocos maciços, ora se dispersam. A trama da vida social sob o aspecto macrossociológico não é menos complexa que sob o aspecto microssociológico, permanecendo caracterizada por um pluralismo inextricável.” (15) Marx agravou o erro de muitos, especialmente o de Bacon, “pai do materialismo inglês”, (16) o fim do pensamento e o começo da ação, a operação de domínio e modificação forçada da natureza. A originalidade baconiana se prestou, ampliada, à translação ao campo social, na verdade um campo de

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batalhas sangrentas, nada sociais. Numa das “Teses sobre Feuerbach” , Marx propôs: “Os filósofos tem se limitado a interpretar o mundo de maneiras diversas; trata-se de transformá-lo.”(17) Ele completa a basófia: “O ser que já iniciou a apropriação da natureza por meio do trabalho de suas mãos, do intelecto e da fantasia, jamais deixará de fazê-lo e, após cada conquista, vislumbra já seu próximo passo.” (18) O próximo passo é para trás, impulso de coice; mas seria melhor que para frente, para o despenhadeiro, como foi o caso de todos que caíram em suas querelas. Não pode ser a estratégia marxista considerada, sequer, de cunho social, posto que unitário: “Há uma coincidência entre Comte e Marx, pois aquele via na sociologia e na política positiva o coroamento sintético de todo o edifício da ciência positiva.” (19) Roszac também percebeu liames e semelhanças: “Marx é veiculo da inflexibilidade da realpolitik do século XIX, misturada com a sinistra insensibilidade do darwinismo social e com um insolente ateísmo positivista.”(20) Há quem o ponha direto na oficina fascista: “A mecânica social marxista obedece a mesma estrutura lógica da mecânica fascista, ambos tomam os homens como peões num tabuleiro de xadrez, peões que podem não só ser sacrificados, como também ter seu sacrifício “racionalmente” defendido e justificado” (21) O “cienticismo social”, seja positivista ou socialista, coloca o povo a serviço do sistema de poder e controle, e não o inverso:

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“O que a ciência faz é precisamente mascarar, por detrás da racionalidade, sua função ideológica de justificar o poder, deformar o irracionalismo das relações humanas e dissimular a heteronomia dessas mesmas relações. A racionalidade, como ideologia, ocasiona uma cegueira parcial da inteligência humana, entorpecida pela propaganda dos que a forjam.” (22) "O totalitarismo aspira o oposto da democracia: ele luta para pulverizar a sociedade e estabelecer um controle completo sobre esta, sem prestar atenção a seus desejos e sem reconhecer nenhuma lei como superior à vontade do governo." (23) “Ser tolerante seria mais perigoso que ser severo ou cruel, pois as consequências de qualquer complacência derramaria mais sangue e seriam mais devastadoras que a severidade momentânea”. (24) Para impor a ideologia, nenhum tem dúvidas em solapar direitos individuais: “Racionalização significa a transformação do mundo dominante em nome de um plano racional: a organização construída sobre um método e uma seleção racionais, que é totalmente onipotente (...) Sabemos por experiência (...) que o totalitário não é propício à tolerância”. (25) Desde há muito, pois, cogita-se do fim da farsa: “Um segundo pilar na catedral da teoria socialista foi o planejamento central. Em vez de permitir que o “caos” do mercado determinasse as regras da economia, um planejamento inteligente de cima para baixo possibilitou concentrar recursos nos setores-chaves e acelerar o desenvolvimento tecnológico. Mas planejamento central dependia de conhecimento e, já nos anos 1920, o economista austríaco Ludwig

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von Mises identificou a falta de conhecimento, ou como a chamou, o seu “problema de cálculo”, como o calcanhar de aquiles do socialismo”. (26) Talvez por isso Marx tenha desistido de completar “O Capital”, depois de dezessete anos de trabalho, fato de incomensurável importância, praticamente desconhecido: “Joachim Reig (Introdução à tradução espanhola de E. von Bohm Bawerk sobre a teoria da exploração de Marx,1976) afirma que Marx, depois de tomar conhecimento das obras de Jevons e Menger, abandonou “O Capital”. (27) A montagem é totalmente “ideológica”, desprovida de razão: “Sintetizando, posso dizer que a conclusão fundamental dos estudiosos do campo quântico é que a matéria-prima do mundo não é material, as coisas essenciais do universo são não-coisas. Toda a nossa tecnologia baseia-se nesse fato, que faz cair pode terra a atual superstição do materialismo”. (28) Se a companheirada ainda almeja servir a sociedade, mister livrar-se do paradigma cartesiano, do garrote totalitarista: “Querer o socialismo sem a democracia é pretender uma contradição: o socialismo significa homens livres, não servos; consciência, não número; produtores, não produtos. Socialismo sem democracia leva fatalmente à ditadura, isto é, a servos, número, produtos: a negação dos fins do socialismo.” (29) Norberto Bobbio se alinha: "Afirmo que os princípios de liberdade e de justiça são certamente ideais comuns do socialismo." (30)

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O Primeiro-Ministro da Espanha, Felipe Gonzalez, também comunga da idéia: “Hoje, vivo e pensador inteligente, Karl Marx não seria marxista. As esquerdas tem de conviver com a realidade de mercado e abandonar o radicalismo”. (31) Nem hoje, nem quando vivia: “...Talvez por isso Marx tenha declarado, no fim da vida: 'Eu não sou marxista'." (32) A confirmação do pecado científico veio em nosso século, na confissão dos próprios discípulos da “comunidade inferior de indivíduos padronizados” cruelmente implantada. A farsa era incompatível com a verdade: “A Teoria da Relatividade foi condenada, não porque (como na Alemanha Nazista) Einstein fosse judeu, mas por razões igualmente irrelevantes: Marx havia dito que o Universo era infinito e Einstein havia tirado certas idéias de Mach, proscrito por Lenin. Por trás de tudo estava a desconfiança de Stálin de qualquer idéia remota associada a valores burgueses. Ele estava levando adiante aquilo que os comunistas chineses mais tarde chamariam de Revolução Cultural - uma tentativa de mudar, por decreto e uso da polícia, as atitudes humanas fundamentais em relação a uma gama de conhecimentos.” (33) As razões, todavia, não era irrelevantes; pelo contrário: “Moscou, o quartel-general do ateísmo, viu na Teoria da Relatividade incompatibilidade entre ela e o materialismo soviético fundamentado no marxismo.”(34) O cisco caia nos pés dos carrascos bolcheviques, era empurrado para baixo do tapete, mas a máscara científica se dissolvia como açúcar:

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“Na União Soviética, do tempo de Lenine, se fez grande silêncio sobre a teoria de Einstein, porque os pontífices do Governo haviam declarado que o átomo não podia ser dividido, por ser a base da matéria, e sem matéria não haveria materialismo, um dos pilares do comunismo.” (35) Nem o comunismo, tampouco as “leis” de movimento descritas por Kepler e Newton refletem a ciência, mas só coincidência. Fala o mestre Bertrand Russel: “Os corpos se movem como o fazem porque esse é o mais fácil movimento possível na região de espaço-tempo em que se encontram, não porque forças “agem” sobre eles.” (36) Vale a pena transcrevermos todo ensinamento: “Os corpos se tornam, assim, muito mais independentes uns dos outros do que eram na física newtoniana: há um acréscimo de individualismo e uma diminuição de governo central, se nos for permitido usar esta linguagem metafórica. Isto pode, mais cedo ou mais tarde, modificar consideravelmente a visão que o homem culto tem do universo, possivelmente com resultados de grande alcance.” (37) O ser da matéria não se separa de sua atividade. A interação é total. Einstein ainda completa: “A massa de um corpo é a medida de seu conteúdo de energia.” (38) Heisenberg também foi enfático : “ ... a física atômica fez a ciência afastar-se da tendência materialista que ela tivera durante o século XIX.” (39) A ciência agora se ocupa em desfazer seus nós: “Assim, o estudo da microenergética parece-nos conduzir a uma desmaterialização do materialismo.” (40)

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A Filosofia, o Direito, a Sociologia, a Economia, todas lastreadas nos primatas parâmetros, também necessitam da mais completa reversão. Karl pecou por miopia, vigarice, ou talvez tenha sido vítima de uma precipitação de origem juvenil, na melhor das hipóteses; mas conseguiu embrulhar, carregar populações do mundo inteiro, arrastadas pelo rio devastador. Empregou, infelizmente, metade da população a defendê-lo e outra metade a defender-se, antes de ser enterrado, com grande festa e muita champagne, debaixo das pedras do muro que propiciou construir, onde ainda hesitam alguns suspiros. Como disse James Buchanan, “o socialismo está morto, mas Leviathan ainda vive”. (41) E gosta do Brasil.

F I M

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A PERFÍDIA CIENTÍFICA DE

DESCARTES, HOBBES & ROUSSEAU

NOTAS Apresentação

Kuhn, Thomas, p. 126-7 Introdução 1. Newton, Isaac, cit. Schwartz, Joseph, p. 45/48. 2. Alquié, Ferdinand, Galileu, Descartes e o

Mecanismo, p. 42. 3. Jose Ortega y, “Rebelião das massas”, cit.

Rohmann, Cris, p. 298. 4. Bachelard, G., A Filosofia do Não, p. 21. 5. Einstein, Albert, Escritos da maturidade: artigos

sobre ciência, educação, relacões sociais, racismo, ciências sociais e religião, p. 178.

Capítulo I - REBABEL 1. Pacto com Satanás 1. Serres, Michel, cit. Descamps, C., p. 98. 2. "Viagens de Descobrimento", Time-Life, p. 113. 3. Gutemberg, cit. Revista Veja, ano 31/ número 51,

Especial do Milênio.

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4. Ronan, Colin A., História Ilustrada da Ciência, Vol. III - Da Renascença a Revolução Científica, p. 61.

5. Toffler, A. e Toffler, H., p.41. 6. Hawking, Stephen W., p. 20. 7. Alighieri, Dante, cit. Galileu Galilei, Palestra na

Academia Florentina, "A Geografia do Inferno de Dante Tratada Matematicamente", 1588; cits. Geymonat, Ludovico, Galileu Galilei, p. 10.

8. Galileu Galilei, cit. Geymonat, Ludovico, Galileu Galilei, p. 319.

9. Galilei, Galileu, cit. Capra, Fritjof, O ponto de mutação, p. 50.

10. Geymonet, Ludovico, p. 42. 11. Koyré, A ., cit. Thuillier, P., p. 128. 12. Platão, cit. Granger, Gilles Gaston, A Razão, p.

112. 13. Japiassú, Hilton, A Revolução Científica Moderna,

p. 58 14. Einstein, Albert, cit. Kuhn, T. S., Estrutura das

Revoluções Científicas, p. 253. 15. Koyré, A., Considerações Sobre Descartes, p. 81. 2. A má temática 16. Descartes, R., cit. Russel, B., 2001, p. 277. 17. Platão, cit. Whitehead, Alfred North, O Conceito

da Natureza, p. 31. 18. Descartes, cit. Koyré, A., Considerações Sobre

Descartes, p. 18. 19. Idem, ibidem. 20. Granger, Gilles-Gaston, Método, in Método-

Teoria/Modelo (Enciclopédia Einaudi, vol. 21) Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1992, p. 58; cit. Silva, Porfírio, p. 302.

21. Descartes, cit. Koyré, A., Considerações Sobre Descartes, p. 38/39.

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22. Idem, p. 40 23. Idem, ibidem. 24. Russel, B., História do Pensamento Ocidental, p.

137. 25. Schwartz, J. , p. 18. 26. Descartes, Rene, cit. Lemkow, A. F., p. 84. 27. Vesálio, André (1514-1564), cit. Henry, John, p. 38. 28. Canguilhem, G. Ètudes d'histoire et de philosophie

des sciences, p. 221 e 222; cit. Descamps, Christian, p. 91.

29. Descartes, R., Les Principes de la Philosofie, cit. Oliva, Alberto, Ciência e sociedade: do consenso à revolução, p. 84/5

30. Descartes, Rene, O Homem, cit. Alquié, Ferdinand, p. 66.

31. Chopra, Deepak, O Caminho do Mago, Vinte lições espirituais para você criar a vida que deseja, p. 97.

32. Descartes, Rene, cit. Capra, Fritjof, O Ponto de Mutação, p. 56.

33. Japiassú, Hilton, Nascimento e Morte das Ciências Humanas, p. 28.

34. Deus, Jorge Dias de organizador e artigos de R.K.Merton, T.S.Kuhn, W.O.Hagstrom, J.Haberer, G.B. van Albada, Ph.Roqueplo, F.Gil, R.Horton, A.Maslow, A.N.Whitehead, p. 24.

35. Descartes, R., cit. Bacon, Francis, Novo Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação da Natureza, p. 67.

36. Descartes, R., cit. Japiassú, Hilton, A Revolução Científica Moderna, p. 173/4.

37. Descartes, Rene, cit. Alquié, Ferdinand, Galileu, Descartes e o Mecanismo, p. 29.

38. Roszac, Theodore, A Contracultura, p.226.

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3.O incomparável Newton 39. Newton, I., cit. Einstein, Albert; Pais, Abraham,

Sutil é o Senhor, p. 15. 40. Copérnico, N., Livro I, cit. Châtelet, F., p. 49. 41. Newton, Isaac, cit. Thuillier, P., p. 69. 42. Mandelbrot, Benoit, cit. Capra, Fritjof, A Teia da

Vida, p. 118. 43. Dewey, John, p. 87. 44. Brennann, B. A. , p. 43. 45. Idem, ibidem. 46. Whitehead, Alfred North, Matemática, in

Fadiman, Clifton, p. 333. 47. Prigogine, I., cit. Ferguson, M., p 164. 48. Lightill, Sir James, cit. Coveney, Peter e Highfield,

Roger, p. 242. Capítulo II. ORDEM E ATRASO 1. Popper, Karl, cit. Pereira, Julio Cesar R.,

Organizador, textos de Oliva, Alberto; Caponi, Gustavo A.; Carvalho, Maria Cecilia M.; Barros, Roque Spencer Maciel de, por Barros, R.S.M., p. 10.

2. Descartes, cit. Koyré, Alexandre, Considerações Sobre Descartes, p. 44.

3. Perelman, C., p. 363. 4. Descartes, cit. Capra, Fritjof, O Ponto de Mutação,

p. 63. 5. Sorman, Guy, A Solução Liberal, p. 54. 6. Russel, B., 2001, p. 397. 7. Bohr, Niels, cit. Pais, Abraham, Einstein viveu

aqui, p. 42. 8. De Broglie, Louis, Théorie de la Quantification dans

la Nouvelle Mécanique, p. 31; cit. Bachelard, Gaston, O novo espírito científico, p. 123.

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9. Comte, Augusto, cit. Bastos, Wilson de Lima, "Nos Meandros da Política", p. 192.

10. Gleiser, Marcelo, A Dança do Universo Dos Mitos de Criação ao Big-Bang, p. 31.

11. Comte, Augusto, cit. Koyré, A., p. 22/30. 12. Comte, Augusto, Cors. t. IV, p. 310, cit. Japiassú,

Hilton, Nascimento e Morte das Ciências Humanas, p. 129.

13. Descartes, Rene, cit. Capra, Fritjof, O ponto de mutação, p. 55.

14. Leibniz, cit. Perelman, C., p. 672. 15. Einstein A. e Infeld, L., A Evolução da Física, p.

36. 16. Bobbio, N., cit. Lafer, C., in Cardim, Carlos

Henrique, p.78. 17. Bobbio, N., Comte, A., cits. Miguel Reale, in

Cardim, C. H., p. 41 Capítulo III. A ALIENAÇÃO DA DIALÉTICA 1. Einstein, Albert, Como Vejo o Mundo, p. 198. 2. Barros, Manoel, Retrato do artista quando coisa,

cit. Ferraz, M.C., p.3. 3. Eurípedes; Platão, cits. Burke, Peter, A

propriedade das idéias, tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves, in Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 24 de junho de 2001, Caderno Mais, p. 16.

4. Descartes, Rene, cit. Burns, Edward McNall, Lerner, Robert E. e Standish, Meacham, Vol 2, p. 455.

5. Henry, John, p. 101. 6. Alquié, F. , p. 60. 7. Gleiser, Marcelo, p. 164. 8. Lemkow, A., p.86. 9. Comte, Augusto, cit. Penna, A. G., p. 118.

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10. Bachelard, Gaston, cit. Quillet, Pierre, p. 84. 11. Japiassú, Hilton, "Nascimento e Morte das

Ciências Humanas", p. 126. 12. Soupault, Phillipe, cit. Oliveira, Beneval de,

Nietzsche, Freud e o Surrealismo, p. 41. 13. Spencer, Herbert e Schäffle, Albert, cits. Carvalho,

Eide M. Murta, p. 63. 14. Spencer, Herbert, cit. Schwartzenberg, Roger-

Gérard, Sociologia Política, p. 143. 15. Spencer, Herbert, cit. Sabine, George, História das

Idéias Políticas, p. 699. 16. Schäffle, Albert, Bau und Leben des sozialen Körpers

(1875-1878), cit. Miranda, Pontes, p. 200. 17. Schwartz, Joseph, O Momento Criativo - Mito e

Alienação na Ciência Moderna, p. 57. 18. Wallace, A.R. e Young, R., Sciences studies, 1971, p.

184; cit. Japiassú, Hilton, Nascimento e Morte das Ciências Humanas, p. 56.

19. Darwin, Charles, cit. Carvalho, Eide M. Murta, ob. cit. p. 21.

20. Johnson, Paul, Paul, Tempos Modernos: O mundo dos anos 20 aos 80, p. 4.

21. Downs, Robert Bingham, p. 8. 22. Hegel, G.W , Bobbio, Norberto, Estudos Sobre

Hegel, Direito, Sociedade Civil, Estado, p. 42. 23. Brodsky, Joseph, cit. Paz, Octávio, O mal começou

em Descartes, jornal "La Nación", transcrito pelo jornal "Zero Hora", Porto Alegre, 30 de marco de 1996, Caderno Cultura, p. 2.

24. Heras, Jorge Xifra, "Introdución à la Política, Curso de Derecho Constitucional", 2. ed., Barcelona; cit. Bonavides, P., p. 51.

25. Koyré, Alexandre, p. 25. 26. Bateson, Gregory, Steps to na ecológy of mind, Nova

York, Ballantine, 1972; cit. Capra, Fritjof, Sabedoria Incomum, Conversas com pessoas notáveis, p. 63.

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27. Russel, B., p. Russel, B., 2001, p. 281 28. Damásio, A, p. 279. 29. Descartes, Rene, cit. Capra, Fritjof, p. 55. 30. Hegel, W. G., cit. Reale, M., O Direito Como

Experiência, p. 48 31. Sousa, Walter de, O Novo Paradigma, p. 24. 32. Morin, Edgar, Ciência com Consciência, p. 28. 33. Villey, Michel, cit. Goytisolo, Juan Vallet de, p. 51. 34. Bohr, N., cit. Gleiser, M. , p. 307. 35. A partir de 1643 Descartes corresponde-se

abundantemente com a Princesa Isabel, mas não soube responder a questão da "remontagem". Ainda assim suplicava a Isabel que se dignasse "atribuir matéria e extensão a alma, pois tal não é mais nem menos que concebê-la unida ao corpo..." Alquié, F., p. 45/46.

36. Chopra, D , O Caminho do Mago, Vinte lições espirituais para você criar a vida que deseja, p. 181.

37. Bohm, David, cit. Sousa, W., p. 45. 38. Damásio, A., p. 113. 39. Serres, Michel, cit. Descamps, C., p. 103 40. Fowler, Dean R., “Einstein´s Cosmic Religion”

1979, cit. Jammer, Max, p. 103. 41. Damásio, A, p. 279. 42. Granger, Gilles-Gaston, A Razão, p. 125. 43. Heisenberg, W., cit. Capra, Fritjof, Sabedoria

Incomum, Conversas com pessoas notáveis, p. 16 44. Chopra, Deepak, O Caminho do Mago, Vinte

lições espirituais para você criar a vida que deseja, p. 153.

45. Goldman, L., p. 72 46. Coveney, P. e Highfield, R., p. 96. 47. Lemkow, Anna F., p. 15. 48. Idem, p. 82/8 49. Locke, John, cit. Châtelet, F., História da Filosofia,

vol.II, p. 228.

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50. Locke, J., cit. Barnett, L. p.33 51. Smith, Adam, Teoria dos Sentimentos Morais, p.

388/9 52. Nóbrega, Clemente, p. 242/243. Capítulo IV. NO RASTRO DO LEVIATÃ 1. Coulanges, Fustel, cit. Bastos, Wilson de Lima,

Nos Meandros da Política, p. 18. 2. Tolstói, Leon, cit. Fadiman, Clifton org., p. 163. 3. Frase de Althusius, Johannnes, criador do método

qualificado como "genético"; considerava a família como última instância, desprezando o interesse do indivíduo, porque submisso à causa maior. Cit. Chevallier, ob cit. Tomo I, p. 316.

4. Platão, cit. Bobbio, N., em Cardim, C.H., p. 117. 5. Bodin, Jean, cit. Bobbio, N., A Teoria das Formas

de Govêrno, p. 95. 6. Bodin, Jean, cit. Chevallier, Jean Jacques, p. 56. 7. Bodin, Jean, République, 1576; cit. Perelman, C., p.

325. 8. Koselleck, Reinhart, p. 22. 9. Bodin, Jean, cit. Chevallier, Jean Jacques, p. 55. 10. Japiassú, Hilton, A Revolução Científica, p. 173. 11. Bodin, J..; Hobbes, T.; Filmer, R., cits. Bastos, W.

L., p. 172.

Capítulo V. O AXIOMA DO MÊDO 1. Poeta Crítias, tio de Platão e líder dos Trinta

Tiranos em Atenas após a guerra do Peloponeso; cit. Popper, K. M., A Sociedade Democrática e Seus Inimigos, p. 160.

2. Foucault, M. Resumo, p. 122. 3. Smith, Adam, Inquérito sobre a Natureza e as

Causas da Riqueza das Nações, p. 748. 4. Wills, John E., p. 230.

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5. Hegel, W. e Hobbes, T., cits. Bobbio, Norberto, A Teoria das Formas de Govêrno, p. 107 e 119.

6. Nisbet, Robert A., Hobbes, T., cits. Bobbio, Norberto, Thomas Hobbes, p. 154.

7. Hobbes, Thomas, cit. Bobbio, Norberto, A Teoria das Formas de Govêrno, p. 119.

8. Bobbio, Norberto, Estado, governo, sociedade; para uma teoria geral da política, p. 54.

9. Russel, Bertrand, 2001, p. 273. 10. Hobbes, T. cit. Brett, R. L., La Filosofia de Shaftesbury

y la estetica literaria del Siglo XVIII, p. 14. 11. Hobbes, Thomas, cit. Chevallier, Jean-Jacques, As

grandes obras políticas de Maquiavel a nossos dias, p. 19.

12. Hobbes, Thomas, cit. Bobbio, Norberto, Thomas Hobbes, p. 25.

13. Russel, Bertrand, 2001, p. 274. 14. Hobbes, T., cit. Cobra, Rubem Q., Thomas Hobbes,

in Página de Filosofia Moderna, Geocities, Internet, 1997.

15. Hobbes, Thomas, cit. Bastos, Wilson de Lima, p. 173.

16. Hobbes, Thomas e Bacon, Francis, cit. Engels, F., Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, p. 9.

17. Russel, Bertrand, cit. Masi, D., p. 64. 18. Bobbio, N., Thomas Hobbes, p. 28. 19. Idem, p. 76 20. Bentham, J.. cit. Bobbio, N.; Cardim, C.H., p. 128 21. Hayek, Friedrich August von, Os erros do

socialismo - Arrogância Fatal, p. 88. 22. Japiassú, Hilton, Nascimento e Morte das Ciências

Humanas, p. 101 23. Hobbes, T., cit. Brett, R. L., ob. cit, p. 12. 24. Hobbes, Thomas, O Leviathan, cit. Chevalier, J.-J.,

p. 62 25. Hobbes, T., cit. Brett, R. L., ob. cit, p. 12.

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26. Hobbes, Thomas, cit. Gusdorf, Georges,, p. 164; também em Bastos, Wilson de Lima, p. 173.

27. Cudworth, Ralph, cit. Brett, R. L., p. 13. 28. Hobbes, T., cit. Bastos, Wilson de Lima, p. 173. 29. Hobbes, T., Leviathan, 21, 27, cit. Bobbio,

Norberto, Thomas Hobbes, p. 29. 30. Hobbes, T., cit. Henry, J., p. 35. 31. Descartes, R. e Hobbes, T., cits. Alquié, Ferdinand,

p. 75. 32. Rohmann, C., p. 61. Também em p. 198 33. Hobbes, T., De Cive; Leviathan; cit. Koselleck,

Reinhart, p. 26 : "Por temor, Hobbes torna-se o mais forte defensor do Estado”.

34. Galilei, G; Descartes, R.; Hobbes, T., cits. Russel, B., p. 275

35. Hobbes, Thomas, cit. Bobbio, Norberto, Thomas Hobbes, p. 76/77.

36. Bobbio, Norberto, Thomas Hobbes, p. 194. 37. Hobbes, T., cit. Chevalier, J-J., p. 61. 38. Roper, H. R. Trevor, cit. Bobbio, N., Thomas

Hobbes, p. 191. 39. Dewey, J, Philosophy and Civilization, 1937, p. 24;

cit. Reale, Miguel, Pluralismo e Liberdade, p. 59. 40. Bobbio, N., Thomas Hobbes, p. 72. 41. Hobbes, Thomas, cit. Brett, R. L., p. 29. 42. Cromwell, Oliveiros, cit. Burns, Edward McNall,

Lerner, Robert E. e Standish, Meacham, p. 432. 43. Hobbes, T. Leviathan II, 18, cit. Koselleck,

Reinhart, p. 31. 44. Hobbes, Thomas, O Leviatã, Os Pensadores, p.

206. 45. Hobbes, Thomas, cit. Prelot, Marcel, vol II, p. 258. 46. Maturana, Humberto, cit. Pellanda, Nize M.C. e

Pellanda, Eduardo Campos, p.115. 47. Giddens, A. p. 144.

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48. Hobbes, T., cit. Toynbee, Arnold J., Estudos de História Contemporânea - A civilização posta à prova", p. 219.

49. Hobbes, Thomas, cit. Polin, Raymond, Galileu, Descartes e o Mecanismo, p. 77.

50. Schmitt, C., cit. Bobbio, N., Thomas Hobbes p. 188. 51. Idem, p. 186. 52. Thoureau, H., in Downs, Robert Bingham, p. 75. 53. Einstein, Albert, cit. Pais, Abraham, Einstein viveu

aqui, p. 139. 54. Penna, O.M., O espírito das revoluções, p. 83. 55. Taine, H., cit. Paine, Thomas, Os Direitos do

Homem, p. 122. 56. Jouvenel, Bertrand de, cit. Andrade, M. C., p. 28. 57. Rosseli, C., p. 149. 58. Andrade, Manuel da Costa, p. 28. 59. Thoureau, H., Desobedecendo, A Desobediência

Civil e outros escritos. 60. Penna, J. Meira, O Espírito das Revoluções, p. 83 61. Russel, Bertrand, 2001, p. 276 62. Penna, J. O. de Meira, O espírito das Revoluções,

p. 19. 63. Santo Agostinho: De Civitae Dei, Livro XV, cap. I. 64. Hobbes, T., cit. Foucault, Michel, Microfísica do

Poder, p. 183. 65. Einstein, A., Escritos da maturidade: artigos sobre

ciência, educação, relações sociais, racismo, ciências sociais e religião, p. 133.

66. Hobbes, Thomas, cit. Chevalier, Jean-Jacques, As grandes obras políticas de Maquivel a nossos dias, 2 edição, 1966, p. 60

67. Rohden, Huberto, Filosofia Contemporânea, p.28 68. Davy, G., L'anne sociológique, p. 169; cit. Prelot,

Marcel, vol II, p. 266. 69. Bobbio, N., Thomas Hobbes, p. 41. 70. Telles Junior, Goffredo, O Direito Quântico, p. 255. 71. Ferguson, Marilyn, p. 160.

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72. Mourgon, Jacques, La science du pouvoir totaliteire dans le Leviathan de Hobbes, p. 281 e seguintes.

73. Hobbes, Thomas, cit. Rohden, H., ob. cit. p. 54. 74. Schmitt Carl, cit. Prelot, Marcel, vol II, p. 266. 75. Viatoux, Joseph, cit. Prelot, Marcel, vol II, p. 263. 76. Hobbes, T., cit. Rohden, Huberto, Filosofia

Contemporânea, p. 53. 77. Tocqueville, A., cit. Pipes, R., p.342. Capítulo VI. BALÃO MÁGICO 1. Einstein, Albert, cit. Brian, Denis, pg 253. 2. Locke, J. e Shaftesbury, cits. Locke, J., Dois

tratados sobre o governo, p. 37 3. Shaftesbury, carta a Thomas Poole, cit. Brett, R. L.,

La Filosofia de Shaftesbury y la estetica literaria del Siglo XVIII, p. 109.

4. Brett, R. L., idem, p. 32. 5. Henry, John, p. 100. 6. Schwartz, Joseph, "O Momento Criativo - Mito e

Alienação na Ciência Moderna", p. 44. 7. Hobbes, T., cit. Bobbio, Norberto, Locke e o Direito

Natural, p. 165. 8. Stubbe, Henry, cit. Schwartz, Joseph, ob. cit.,, p.

44. 9. Locke, J., Dois tratados sobre o governo, p. 90. 10. Obras citadas por Bobbio, Norberto, Locke e o

Direito Natural, p. 78. 11. Montesquieu, cit. Pipes, Richard, p. 151. 12. Barbu, Zevedei, apresentação de Tocqueville, A.,

O Antigo Regime e a Revolução, p. 17 13. Voltaire, Vida e Obra, p. 25.

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Capítulo VII - O PARASITA

1. Apagão do Iluminismo 1. Foucault, Michel, Microfísica do Poder, p. 5. 2. Bachelard, Gaston, cit. Quillet, Pierre org. p. 32. 3. Rousseau, J.J. Euvres Complète, II, 346, diz: “...uma

vez que, de todas as aversões que a natureza nos dá, a mais forte é a de morrer, decorre daí que tudo é permitido por ela a qualquer um que não tenha outro meio possível de vida”. Rousseau, J.J., Hobbes, T., cits. Koselleck, Reinhart, p. 146.

4. Rousseau, J.J., cit. Châtelet, F., História da Filosofia, vol.II, p. 271.

5. Perelman, C., p. 331/2. 6. Rousseau, J. J., cit. Russel, B., 2001, p. 338. 7. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Rohden, H, Filosofia

Contemporânea, p. 132. 8. Rousseau, J.J., Discurso Sobre a Desigualdade dos

Homens, cit. Santos, Francisco de Araújo, Voltaire tinha razão – Os avanços tecnológicos não são a causa do desemprego, in jornal Zero Hora, Porto Alegre, 27 de janeiro ed 2001, Especial, p. 5

9. Voltaire, cit. idem, ibidem. 10. Boswell on the Grand Tour: Germany and Switzerland,

1764, cit. Pipes, R., p. 62 11. Rousseau, J. J., cit. Châtelet, F., p. 274. 12. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Prelot, Marcel, vol III,

p. 78. 13. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Rohden, Huberto,

Filosofia Contemporânea, p. 132. 14. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Sabine, G., p. 567. 15. Rousseau, J.J., cit. Sabine, George, p. 567. 16. Locke, J., Rousseau, J.J., cits. Châtelet, F., p. 275. 17. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Jorge, Fernando, p.

295.

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18. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Mises, Ludwig Von, As Seis Lições, p. 19; também Weber, Eugen, da UCLA, especial para TV Senado em 17/4/2001.

19. Mises, Ludwig von, As seis lições, p. 19. 20. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Falcon, Francisco José

Calazans, Iluminismo, p. 68. 21. Coelho, Luiz Fernando, Teoria Crítica do Direito,

p. 341. 22. Rousseau, J.J., cit. Bonavides, Paulo, Ciência

Política, p. 217. 23. Necker, Du Pouvoir Executif dans les Grandes Etats,

v.2, p. 226; cit.idem, p. 459. 24. Constant, Benjamim, cit. Bobbio, Norberto,

Liberalismo e Democracia, p. 59. 25. Thoreau, H., cit. Downs, Robert Bingham, p. 76. 26. Bonavides, Paulo, Ciência Política, p. 459. 27. Downs, Robert B., p. 147.

2 . Replay da má temática 28. Sabine, George H., História das Teorias Políticas,

p. 543. 29. Rousseau, J.J., Devaneios, 3. caminhada, cit.

Châtelet, F., , p. 289. 30. Holbach, Helvetius, Diderot, Rousseau, cits.

Sartre, Jean-Paul, O existencialismo é um humanismo; A imaginação; Questão de método, p. 114.

31. Russel, B., 2001, p. 283. 32. Engels, F., p. 19. 33. Kelsen. H., p. 141. 34. Machiavel, Nicolau, cit. Faria, Octávio, Machiavel

e o Brasil, p. 73. 35. Rosseli, C., p. 121. 36. Luckács, G., cit. Jaspers, K.; Konder, Leandro,

Lukács, p. 81

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37. Barzun, Jacques, Sobre a História, cit. Fadiman, Clifton org. O Tesouro da Enciclopédia Britânica - O melhor Pensamento Humano desde 1768, p. 6.

38. Rohden, Huberto, Um bonde chamado relatividade, in Einstein, o enigma do universo, p. 207.

39. Rousseau, J.J., O Contrato Social, II, 3, cit. Koselleck, Reinhart, p. 142

40. Villey, Michel, cit. Goytisolo, Juan Vallet de, p. 91. 41. Simon, Ives R., cit. Goytisolo, J. V. idem, ibidem. 42. Thoreau, Henry David, A Desobediência Civil, p.

8 e 35. 43. Einstein, Albert, New York Times, 22 de novembro

de 1931, cit. Pais, Abraham, Einstein viveu aqui, p. 205.

44. Rohden, H., Einstein, o Enigma do Universo, p. 140.

45. Kelsen, Hans, p. 141. 46. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Bonavides, Paulo, p.

56. 47. Gorbachev, M., p. 36. 3. Vilãsofia 48. Galilei, Galileu, cit. Gaarder, Jostein, O Mundo de

Sofia, p. 221. 49. Rousseau, Jean-Jacques, O Contrato Social. 50. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Bobbio, Norberto, A

Era dos Direitos, p. 56. 51. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Schwartzenberg,

Roger-Gérard, O Estado Espetáculo, p. 13. 52. Burzio, Felipe, cit. Gramsci, Antônio, Maquiavel, a

Política e o Estado Moderno, p. 133. 53. Jouvenel, Bertrand, cit. Penna, Osvaldo de Meira,

prefácio de Jouvenel, Bertrand de, A Ética da Redistribuição, p. 15.

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54. Barbu, Zevedei, in apresentação de Tocquevile, A, O Antigo Regime e a Revolução, p. 18.

55. Burke, Edmund, Reflexões sobre a Revolução em França; cit. Bobbio, Norberto, A Era dos Direitos, p. 87.

56. Tocqueville, A., o antigo regime e a revolução, p. 57.

57. Schmidt, Carl, Die Dixtatur, Munique, 1921, 116 ss, cit. Koselleck, Reinhart, p. 142.

58. Kant, Immanuel, cit. Bobbio, Norberto, A Era dos Direitos, p. 107.

59. Constant, Benjamin, Da Liberdade dos Antigos Comparada a dos Modernos, Tradução de textos escolhidos de Benjamin Constant, por Gauchet, Marcel Org., De la Libertè chez les Modernes.

60. Tocqueville, Alexis, cit. Bobbio, Norberto, Liberalismo e Democracia, p. 57.

61. Hayek, F. cit. Bobbio, Norberto, idem, p. 88. 62. Lukács, G. , cit. Konder, Leandro, Lukács, p. 80 63. Goodman Paul, The Empire City, p. 277. 64. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Derathè, R., Jean-

Jacques Rousseau et la science politique de sons temps, Paris, 1970, pp 113-20; Rawls, John, A Justiça e a Democracia, p. XXI

65. Rousseau, Jean-Jacques, cit. Hayek, F. A., Arrogância Fatal, p. 74.

66. Rousseau, J. J. e Descartes, R., cit. Reale, M., Pluralismo e Liberdade, p. 161.

67. Hayek, F., cit. Maksoud, Henry, p. 39. 68. Idem, ibidem. 69. Penna, J. O Meira, O Espírito das Revoluções, p.

366/67. 70. Mascarenhas, E., p. 90. 71. Barzun, Jacques, Sobre a História, cit. Fadiman,

Clifton org. O Tesouro da Enciclopédia Britânica - O melhor Pensamento Humano desde 1768, p. 6.

72. Rosseli, C., p. 118.

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73. Reale, Miguel, Pluralismo e Liberdade, p. 22. 74. Telles Junior, G., O Direito Quântico, p. 280. 75. Bonavides, Paulo, Ciência Política, p. 217. 76. Rousseau, Jean Jacques, cit. Prelot, Marcel, vol II,

p. 83. 77. Gusdorf, Georges, p. 18. 78. Tocqueville, A, O Antigo Regime e a Revolução, p.

135. 79. Kelsen, Hans, A Democracia, p. 99. 80. Bobbio, Norberto, A Era dos Direitos, p. 101. 81. Einstein, A., Como Vejo o Mundo, cit. Trattner, E.

B. , p. 75. 82. Thoreau, Henry, p. 17/18. 4. A última homenagem 83. Bakunin, Michael, A Igreja e o Estado, 1910, cit.

Woodcock, George, p. 77. 84. Rousseau, Jean Jacques, cit. Sabine, G., p. 581. 85. Einstein, Albert, Como Vejo o Mundo, p. 15. 86. Granger, G.-G., p. 120. 87. Rousseau, Jean Jacques, cit. Sabine, G., p. 575/6. 88. Idem, ibidem. 89. Johnson Samuel, cit. Challita, Mansour, Os Mais

Belos Pensamentos de Todos os Tempos, p. 78. 90. Bonavides, Paulo, Ciência Política, p. 131. 91. Constant, Benjamin, Da Liberdade dos Antigos

Comparada a dos Modernos. 92. Penna, José Osvaldo de Meira, Apresentação à

Edição Brasileira, in Jouvenel, B., A Ética da Distribuição, p. 10.

93. Tocqueville, A. , O Antigo Regime e a Revolução, Livro II, cap. VI, p. 100.

94. Taine, Huppolyte, cit. Leoni, Bruno, A Liberdade e a Lei, p. 167.

95. Rousseau, Jean-Jacques e Bonaparte, Napoleão, cits Jorge, Fernando, p. 71.

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Capítulo VIII. A IMPLOSÃO MATERIALISTA 1. Bíblia conforme São Mateus, 7, 15. 2. Marx, Karl, cit. Cony, Carlos Heitor, O saco de

batatas, especial para jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 3 de abril de 1997, p. 2.

3. Von Mises, L., cit. Leoni, Bruno, A Liberdade e a Lei, p. 167.

4. Marx, Karl, "Das Kapital", prefácio. 5. Galilei, Galileu, cit. em Nóbrega, Clemente, p. 38. 6. Rohmann, C., p. 107. 7. Einstein, Albert, cit. Thuillier, Pierre, Ciência e

Subjetividade: O Caso Einstein, in Thomas, Henry e Thomas, Dana Lee, Einsten, perfil bibliográfico, A Vida do Grande Cientista, Trattner, E. B., p. 131.

8. Rosseli, C., p. 43. 9. Bentham, J., cit. Rosseli, C., p. 46. 10. Roszac, Theodore, A Contracultura, p. 108. 11. Marx, K., cit. Bobbio, N.; Cardim, C.H., p. 108. 12. Barnett, L., O Universo e o Dr Einstein, p. 31.. 13. Marx, Karl, cit. Pereira, Julio Cesar R.,

Epistemologia e Liberalismo - Uma Introdução a Filosofia de Karl R. Popper, p. 134.

14. Gurvitch, G., cit. Goldman, Lucien, p. 46. 15. Idem, p. 84. 16. Definição de Engels F., Do Socialismo Utópico ao

Socialismo Cientifico, p. 8. 17. Na décima-primeira. 18. Marx, Karl, O que Marx Realmente Disse, Teses

sobre Feuerbach, p. 22. 19. Japiassú, Hilton, Nascimento e Morte das Ciências

Humanas, p. 78. 20. Roszac, Theodore p. 108. 21. Pereira, J. C., p. 140.

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22. Coelho, Luiz Fernando, Teoria Crítica do Direito, p. 340.

23. Pipes, R., p. 251. 24. Koselleck, Reinhart, p. 22. 25. Gallas, Z., STW, 1963, cit. Andrade, M. C., p. 27. 26. Mises, L., cit. Toffler, A e Toffler, Hedi, p. 86. 27. Hayek, Friedrich August von, Os erros do

socialismo - Arrogância Fatal, p. 199. 28. Chopra, Deepak, Criando Prosperidade - A

Consciência da Riqueza no Campo de todas as Possibilidades, p. 19.

29. Rosseli, C., p. 182. 30. Bobbio, Norberto, cit. Cardim, C.H., p. 104. 31. Gonzalez, Felipe, quando de sua visita ao Brasil, in

Jornal do Comércio, Porto Alegre, 9 de dezembro de 1996, p. 2.

32. Henderson, Hazel, cit. Capra, Fritjof, Sabedoria Incomum, Conversas com pessoas notáveis, p. 206.

33. Johnson, Paul, p. 381. 34. Monteiro, Irineu, Einstein, Reflexões Filosóficas, p.

84. 35. Rohden, Huberto, Einstein, O Enigma do

Universo, p. 56 36. Russel, Bertrand, As consequências filosóficas da

Relatividade, em Fadiman, Clifton, p. 265. 37. Idem, ibidem. 38. Einstein, Albert, cit. Jammer, Max, p. 154. 39. Heisenberg, W. cit. idem p. 173. 40. Rohden, Huberto, cit. Monteiro, Irineu, Einstein -

Reflexões Filosóficas, p. 9. 41. Buchanan, James, cit. Klaus, Václav, Ministro das

Finanças da Tcheco-Eslováquia de 1991, Presidente da República em seguida, in Demolindo o Socialismo, série Ensaios e Artigos - Inst. Liberal, R. Janeiro, 1992, p.10.

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