a participaÇÃo feminina nas diretorias das subseÇÕes …

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 12 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2021, ISSN 2179-510X A PARTICIPAÇÃO FEMININA NAS DIRETORIAS DAS SUBSEÇÕES DA OAB SECCIONAL BAHIA (2016-2021) Leonellea Pereira 1 A advocacia foi, até pouco tempo, uma profissão majoritariamente masculina, mas ano a ano, o número de mulheres vem crescendo: em abril de 2021, pela primeira vez, este cenário se inverteu. Mesmo representando mais de 50% das inscrições nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, as mulheres ainda têm ocupado pouco espaço nas diretorias das subseções e seccionais, e nenhum espaço na diretoria do Conselho Federal. Observando os números das 36 subseções da Bahia entre 2016 e 2021, observa-se um crescimento de 42,3% no número de mulheres nas diretorias: manteve-se número de presidentas, ao tempo que aumentou a quantidade de vice-presidentas (18,2%), secretárias gerais (18,8%), secretárias adjuntas (91,6%) e tesoureiras (55,6%). A OAB/BA ainda não elegeu uma presidenta, embora tenha uma mulher na vice-presidência por 02 gestões consecutivas. A alteração do Regulamento Geral da OAB em 2018 previa a obrigatoriedade do mínimo de 30% e máximo 70% de candidaturas de cada sexo, aplicável à eleição de 2021. Ante a urgência do tema, em dezembro de 2020 foi aprovada a paridade de gênero na composição das chapas nas eleições do CFOAB, seccionais, subseções e Caixas de Assistência a partir de 2021. Se as advogadas representam 50% das inscrições e da arrecadação da OAB urge que estejamos em condições de igualdade na ocupação destes cargos, para que a OAB seja uma instituição verdadeiramente democrática. Palavras-chave: Mulheres Advogadas, Mulheres na OAB, Participação política, Política Institucional. Notas iniciais A advocacia é uma profissão antiga: remontando ao período clássico na Grécia, os logógrafos, escritores profissionais de discursos forenses, podem ser considerados como os primeiros advogados da história (SOUZA, 2018). A atuação dos logógrafos foi proibida por muito tempo, sendo a advocacia regulamentada por Sólon a partir de 594 a.C., quando “proibiu a advocacia às mulheres, escravos e infames” (PAIVA, 2019, p. 171). A profissão vai ganhar maior notoriedade a partir do período áureo do Direito Romano, sobretudo após a sistematização do ensino jurídico instigada pelo conjunto de compilações que vem a ser denominada Corpus Juris Civilis na Idade Moderna (VÉRAS NETO, 2018). Partindo para o Brasil no final do século XIX, nota-se que poucas mulheres tiveram condições de se atrevera estudar na Faculdade de Direito do Recife. Uma das pioneiras, Maria Augusta Meira de Vasconcelos, formada em 1889, ao ser impedida de exercer a profissão, escreveu ao presidente da República que respondeu: O Direito brasileiro inspira-se no Direito Romano. Ora, em Roma, mulheres não exerciam a magistratura. Logo...(BARBALHO, 2008, p. 72). 1 Mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos (UFBA). Especialista em Ciências Penais (UNIDERP) e em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (UFBA). Graduada em Direito (UEPB). Advogada (OAB/BA). Vice-Presidenta da OAB Subseção Irecê BA (2019-2021). Professora da Faculdade Irecê FAI. Mediadora Judicial certificada pelo Conselho Nacional de Justiça CNJ. Contato: [email protected]

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Page 1: A PARTICIPAÇÃO FEMININA NAS DIRETORIAS DAS SUBSEÇÕES …

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 12 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2021, ISSN 2179-510X

A PARTICIPAÇÃO FEMININA NAS DIRETORIAS DAS SUBSEÇÕES

DA OAB SECCIONAL BAHIA (2016-2021)

Leonellea Pereira1

A advocacia foi, até pouco tempo, uma profissão majoritariamente masculina, mas ano a ano, o número

de mulheres vem crescendo: em abril de 2021, pela primeira vez, este cenário se inverteu. Mesmo

representando mais de 50% das inscrições nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, as mulheres

ainda têm ocupado pouco espaço nas diretorias das subseções e seccionais, e nenhum espaço na

diretoria do Conselho Federal. Observando os números das 36 subseções da Bahia entre 2016 e 2021,

observa-se um crescimento de 42,3% no número de mulheres nas diretorias: manteve-se número de

presidentas, ao tempo que aumentou a quantidade de vice-presidentas (18,2%), secretárias gerais

(18,8%), secretárias adjuntas (91,6%) e tesoureiras (55,6%). A OAB/BA ainda não elegeu uma

presidenta, embora tenha uma mulher na vice-presidência por 02 gestões consecutivas. A alteração do

Regulamento Geral da OAB em 2018 previa a obrigatoriedade do mínimo de 30% e máximo 70% de

candidaturas de cada sexo, aplicável à eleição de 2021. Ante a urgência do tema, em dezembro de 2020

foi aprovada a paridade de gênero na composição das chapas nas eleições do CFOAB, seccionais,

subseções e Caixas de Assistência a partir de 2021. Se as advogadas representam 50% das inscrições e

da arrecadação da OAB urge que estejamos em condições de igualdade na ocupação destes cargos, para

que a OAB seja uma instituição verdadeiramente democrática.

Palavras-chave: Mulheres Advogadas, Mulheres na OAB, Participação política, Política Institucional.

Notas iniciais

A advocacia é uma profissão antiga: remontando ao período clássico na Grécia, os

logógrafos, escritores profissionais de discursos forenses, podem ser considerados como os

primeiros advogados da história (SOUZA, 2018). A atuação dos logógrafos foi proibida por muito

tempo, sendo a advocacia regulamentada por Sólon a partir de 594 a.C., quando “proibiu a

advocacia às mulheres, escravos e infames” (PAIVA, 2019, p. 171). A profissão vai ganhar maior

notoriedade a partir do período áureo do Direito Romano, sobretudo após a sistematização do

ensino jurídico instigada pelo conjunto de compilações que vem a ser denominada Corpus Juris

Civilis na Idade Moderna (VÉRAS NETO, 2018).

Partindo para o Brasil no final do século XIX, nota-se que poucas mulheres tiveram

condições de “se atrever” a estudar na Faculdade de Direito do Recife. Uma das pioneiras, Maria

Augusta Meira de Vasconcelos, formada em 1889, ao ser impedida de exercer a profissão, escreveu

ao presidente da República que respondeu: “O Direito brasileiro inspira-se no Direito Romano. Ora,

em Roma, mulheres não exerciam a magistratura. Logo...” (BARBALHO, 2008, p. 72).

1 Mestra em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos (UFBA). Especialista em Ciências Penais

(UNIDERP) e em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (UFBA). Graduada em Direito (UEPB). Advogada

(OAB/BA). Vice-Presidenta da OAB Subseção Irecê – BA (2019-2021). Professora da Faculdade Irecê – FAI.

Mediadora Judicial certificada pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ. Contato: [email protected]

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 12 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2021, ISSN 2179-510X

Em 1898, formou-se a carioca Myrthes Gomes de Campos, atuando em seu primeiro

processo criminal no ano seguinte. Ocorre que o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros –

IOAB, vetou sua admissão aos quadros profissionais logo depois. Apenas em 1906 sua inscrição

como advogada foi autorizada, militando intensamente até sua aposentadoria em 1944 (PAIVA,

2019). É considerada a primeira advogada brasileira, embora coexista idêntico título simbólico à

piauiense Esperança Garcia, concedido pelo Conselho Estadual da OAB/PI em 2017, pelo

reconhecimento das características de petição à correspondência endereçada por ela em 1770 ao

governador da Capitania de São José do Piauí, denunciando a situação de violência a que era

submetida. Este reconhecimento ensina uma lição imprescindível para que “aprendêssemos a ver a

advogada impossível: uma mulher negra de 19 anos, escravizada, que denunciou por escrito as

violências que sofria e testemunhava em uma fazenda localizada a 300km de onde hoje está

Teresina” (GUMIERI, 2017, p. 01 apud PAIVA, 2019, p. 184).

Ocorre que o caminho aberto por essas pioneiras não se tornou imediatamente igual e

disponível a todas as mulheres na advocacia, como aponta Perrot: “O acesso às profissões ligadas

ao direito foi mais difícil, não se reconhecendo aptidões jurídicas nas mulheres, a título individual.

O direito aparecia como um apanágio masculino” (PERROT, 1998, p.110). O campo da ciência do

Direito, por muito tempo, foi considerado tipicamente masculino, o que já desponta como uma das

causas da presença das mulheres ter sido tardia na advocacia, que, segundo Perrot:

Poderia estar intimamente relacionado com o “advogar”, ou seja, a exposição e a defesa

daquele que advoga. Sendo assim um lugar ocupado por aquele que está exposto ao espaço

público, cujo acesso, durante muito tempo, foi reservado unicamente ao homem, bem

como, o curso de Direito mantém relação direta com a elaboração de leis e com a tomada

de decisões de uma sociedade, tarefa esta que mais uma vez não possibilitava a participação

das mulheres. Ainda mais do que o espaço material, é a palavra e a sua circulação que

modelam a esfera pública (PERROT, 1998, p. 59).

Embora presentes, mesmo que em menor número por muitas décadas, havia um

entendimento de que não era necessário discutir questões de gênero na atuação profissional, visto

que apenas a capacidade e o esforço de cada pessoa seriam capazes de levá-la a conquistar espaços

relevantes na advocacia. Como bem explicam Bonelli e outras autoras, “há projetos políticos das

advogadas articulando a mudança nesse roteiro tradicional de progressão na carreira, como existem

também os projetos para sua conservação” (BONELLI et al, 2008, p. 284). Não se pode deixar de

discorrer sobre a dificuldade histórica de inserção feminina neste espaço, visto que invisibilizar o

debate não fará a desigualdade desaparecer.

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Inegavelmente, as carreiras jurídicas foram plasmadas e consolidadas numa perspectiva

androcêntrica. Percebe-se claramente que o processo de feminização da advocacia remete

para a noção de “fechamento” (clousure) preconizada pela teoria das profissões (ABBOTT,

1988), sendo que a definição de uma profissão como fechada e/ou reconhecida se dá a

partir de sua especificidade que, por sua vez, depende da manutenção do monopólio de

dadas habilidades realizadas por alguns indivíduos que, especializados, formam os campos.

humano (PAIVA, 2019, p. 172).

O número de mulheres inscritas na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB vem

aumentando consideravelmente em todas as seccionais, chegando a superar o número de advogados,

pela primeira vez, em abril de 2021. “A feminização da carreira” (BONELLI, 2017) não

correspondeu proporcionalmente à ocupação dos cargos nas diretorias das subseções, seccionais e

do Conselho Federal. Ante essa sub-representação, diversos grupos de mulheres advogadas

emergiram em várias seccionais, o que culmina no movimento “Mais Mulheres na OAB” em 2015

em Roraima (com diversos homólogos em outras seccionais, como “A ordem é paridade”, na

Bahia). O CFOAB instituiu o Provimento nº 164/2015, criando o Plano Nacional de Valorização da

Mulher Advogada, com vistas a fortalecer os direitos humanos das mulheres, a defesa das

prerrogativas profissionais e outras providências. 2016 foi intitulado como ano da mulher advogada,

ampliando o debate sobre o PNMA e cobrando das seccionais a sua aprovação como plano estadual.

Na Bahia, o Plano Estadual de Valorização da Mulher Advogada foi instituído pela

Resolução nº 001/2017, que amplia as previsões do plano nacional, prevendo, nos incisos XIX e

XX do art. 2º, que seja a assegurada a paridade de gênero em todas as comissões permanentes e

especiais bem como nos demais órgãos da OAB, sempre que possível, garantindo-se no mínimo

30% do gênero em menor número; bem como a garantia às prerrogativas conquistadas pela Lei nº

13.363/2016 (para gestantes, lactantes, adotantes ou às que derem a luz) (OAB/BA, 2017).

É notória a existência de um verdadeiro “teto de vidro”, visto que esses avanços

institucionais e legislativos trazem a ilusória sensação de que a igualdade já foi alcançada e não é

preciso continuar falando nas diferenças. É o que debatem Bonelli e outras autoras, quando afirmam

que esta expressão se refere a

uma barreira invisível que dá a ilusão de igualdade de oportunidades na carreira, mas

bloqueia o acesso às posições elevadas da hierarquia profissional, mantendo as advogadas

nas atividades menos valorizadas, que não preparam para posições de prestígio e poder, e

têm pouco contato com clientes (BONELLI et al, 2008, p. 273).

É o que se observa quanto ao número de mulheres advogadas integrando as diretorias das

subseções, seccionais e sua total ausência no Conselho Federal, o que será apresentado a seguir.

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Mulheres nas diretorias da OAB: rumo à paridade

Em 2018, após intensos debates clamando pela alteração do Regulamento Geral da OAB

visando a ampliação da participação feminina nas diretorias da instituição em todos os seus níveis,

resultou na obrigatoriedade do mínimo de 30% e máximo 70% de candidaturas de cada sexo, de

acordo com seu art. 131. A polêmica centrou-se no fato que o art. 156-C previu que as alterações só

passariam a vigorar a partir das eleições de 2021, o que desobrigava a garantia do mínimo de 30%

de mulheres na composição das chapas das eleições que ocorreria dois meses depois.

Um pedido de reconsideração foi apresentado em nome de diversos coletivos e movimentos

de mulheres advogadas2, alegando que se o art. 137-C do Regulamento prevê a aplicação supletiva

da legislação eleitoral, e em razão disso foi invocado o princípio da anualidade, requerendo que se

aplicasse a mesma legislação para garantir o mínimo de 30% das vagas nas chapas às advogadas,

que estavam em número muito inferior, como expresso a seguir:

Neste contexto, com todo respeito, é um paradoxo que a paridade com a legislação eleitoral

seja invocada para sustentar a aplicação do princípio da anualidade, implicando na

postergação da eficácia do referido art. 131, mas seja relegada ao olvido quanto ao atraso na

implantação de cota de gênero nas eleições internas da OAB. [...] É bem verdade que as

normas casuísticas, que trazem surpresa ao pleito, devem sim ser evitadas. Todavia as

normas que proporcionam igualdade material entre homens e mulheres e afastam qualquer

caráter circunstancial ao pleito, que resultam de um debate há tempo colocado na sociedade

e na OAB, devem ser desde logo aproveitados pelo órgão e colocadas em vigor, inclusive

como forma de suplantar o já referido descompasso temporal entre a previsão da legislação

eleitoral e as medidas internas adotadas pela OAB (p. 04-05).

As peticionárias destacam que a OAB é um dos órgãos com a distribuição mais desigual dos

cargos de gestão, mesmo sendo composta por 50% de mulheres, nomeando este quadro como uma

desigualdade estrutural existente desde a fundação da entidade. O pedido de reconsideração foi

rejeitado, mas as reivindicações não pararam.

Logo após as eleições de 2018, com a composição do Conselho Federal formada por 162

integrantes (81 titulares e 81 suplentes) oriundos das chapas eleitas nas 27 seccionais, nova

divergência se instala com a formação de uma chapa única para a diretoria do CFOAB, composta

unicamente por advogados, embora 19 advogadas integrassem o conselho como titulares e 22 como

suplentes. Um pedido de impugnação da chapa foi apresentado em janeiro de 2019, assinado por

2 Movimento da Mulher Advogada, Coletivo Advogadas do Brasil, Associação Brasileira de Advogadas, Associação

Elas Pedem Vista, Movimento Mulheres com Direito, Movimento Nós Queremos Mais: A Ordem é Paridade, Rede

Feminista de Juristas, Movimento Iguala OAB e o Comitê Latinoamericano e do Caribe para a defesa da mulher.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 12 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2021, ISSN 2179-510X

alguns coletivos de mulheres advogadas3, argumentando que a chapa composta apenas por homens

contrariava a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/97), por não realizar a reserva mínima de 30% das

vagas para o sexo feminino.

As requerentes rememoraram o Plano Nacional da Mulher Advogada, que visa garantir a

efetiva participação das mulheres na Ordem e proteger suas prerrogativas, afirmando que deferir o

registro da chapa nos moldes apresentados chancelaria “a sub-representação feminina nos quadros

da Diretoria do Conselho Federal da OAB” e que a entidade não pode corroborar “com a prática

inibidora de participação feminina, mormente quando todos os esforços democráticos, jurídicos e

legais se dão no sentido contrário” (p. 06 e 10). Braga e Drummond reforçam:

É importante que o plano de valorização da mulher advogada realmente se concretize, para

que não seja considerado redundante, no sentido de que a integração e a mobilização

tornem efetivamente as mulheres detentoras de cargos na Ordem e em ambientes de

trabalho jurídico que hoje continuam ocupados maciçamente por homens (BRAGA;

DRUMMOND, 2016, p. 75).

Mesmo com a brilhante sustentação oral da representante dos coletivos de advogadas, a

impugnação foi indeferida, o mesmo aconteceu com o recurso. Isso não impediu que o debate

continuasse ganhando força, especialmente após a composição das Comissões da Mulher Advogada

nas subseções, seccionais e no próprio Conselho Federal.

Ante a urgência do tema, a maturidade do debate e o ponto insustentável que a negação a

este direito tão ilustrado já alcançara, em 14/12/2020 foi aprovada por aclamação nova alteração do

Regulamento Geral instituindo a paridade de gênero na composição das chapas para o Conselho

Federal, seccionais, subseções e Caixas de Assistência, aplicável às eleições de 20214. Na mesma

seção, foi aprovada, por maioria de votos, a cota racial para pretos e pardos de 30%, com validade

de 30 anos (10 eleições). Uma entidade que prima pela defesa da democracia, precisa começar esta

tarefa internamente, promovendo uma ocupação dos seus cargos de forma plural e diversa, levando

em conta não apenas gênero e raça, mas outros marcadores sociais que convertem diferenças em

desigualdades, inclusive no exercício da advocacia. Estas mudanças vão alterando a lógica não

apenas da ocupação dos espaços profissionais, mas até mesmo da estrutura do ensino jurídico:

A interseccionalidade e os encontros da diferença no meio acadêmico do Direito têm

produzido perspectivas analíticas que criticam as abordagens canônicas, resultantes das

contribuições não essencializadas da reflexividade. A diversificação do corpo docente, com

a ampliação da participação feminina e de outros marcadores das diferenças no grupo

profissional, como a cor/raça, soma-se a esse processo, combinando limites e

3 Coletivo Mais Mulheres no Conselho Federal da OAB, Rede Feminista de Juristas, Movimento da Mulher Negra

Brasileira, Movimento Mulheres com Direito, Elas por Elas – Vozes e Ações das Mulheres. 4 Provimento nº 202/2020, publicado em 14/04/2021.

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possibilidades, esperança de emancipação e cautela desconfiada da falácia da dominação.

(BONELLI, 2017, p. 117).

Este resultado é fruto da intensa mobilização dos movimentos de mulheres advogadas

ocorrida em todo o país nos últimos anos, sobretudo a partir de 2015, bem como do empenho da

Comissão Nacional da Mulher Advogada em evocar uma movimentação em busca de apoio dos

conselheiros federais ao Projeto Valentina, que inevitavelmente evoca a lembrança do “lobby do

batom” durante a Constituinte de 1988.

Participação feminina nas diretorias das subseções da OAB/BA: comparativo entre as gestões

2016/2018 e 2019/2021

Diante de toda a movimentação com o intuito de ampliar a participação feminina nos

quadros da OAB, é interessante observar a trajetória quantitativa da presença e ausência de

mulheres nas diretorias, sobretudo das subseções baianas, objeto desta análise. Assim será possível

examinar com mais precisão o reflexo destas políticas institucionais nas diversas regiões do estado.

A diretoria é composta por 05 cargos5, sendo a seccional Bahia, na ocasião composta por 35

subseções6. Levando em conta as chapas eleitas em 2015 para o mandato 2016/2018, tem-se:

TABELA 01 – NÚMERO DE ADVOGADAS NAS DIRETORIAS (2016/2018)

Nº de

advogadas %

Nº de

subseções Subseções

0 2,8% 01 Campo Formoso

01 54,3% 19

Alagoinhas, Camaçari, Conceição do Coité, Cruz das Almas, Eunápolis, Feira de

Santana, Gandu, Ibicaraí, Ilhéus, Irecê, Itaberaba, Itamaraju, Jacobina, Jequié,

Juazeiro, Lauro de Freitas, Santa Maria da Vitória, Santo Antônio de Jesus, Senhor

do Bonfim.

02 34,3% 12

Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Brumado, Coaraci, Ipiaú, Itabuna, Luís Eduardo

Magalhães, Porto Seguro, Serrinha, Teixeira de Freitas, Valença, Vitória da

Conquista.

03 5,8% 02 Guanambi e Paulo Afonso.

04 2,8% 01 Itapetinga.

05 0 0 -

(Tabela elaborada pela autora com dados da OAB/BA.)

Diante desta primeira observação, percebe-se que do total de 175 integrantes de diretorias

das subseções da seccional Bahia, havia 123 advogados (70,3%) e 52 advogadas (29,7%).

Quanto à distribuição do quantitativo de integrantes pelos 05 cargos nas diretorias, tem-se: 5 Presidente(a), vice-presidente(a), secretária(o) geral, secretária(o) adjunta(o) e tesoureira(o). 6 Alagoinhas, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Brumado, Camaçari, Campo Formoso, Coaraci, Conceição do Coité, Cruz

das Almas, Eunápolis, Feira de Santana, Gandu, Guanambi, Ibicaraí, Ilhéus, Ipiaú, Irecê, Itaberaba, Itabuna, Itamaraju,

Itapetinga, Jacobina, Jequié, Juazeiro, Lauro de Freitas, Luís Eduardo Magalhães, Paulo Afonso, Porto Seguro, Santa

Maria da Vitória, Santo Antônio de Jesus, Senhor do Bonfim, Serrinha, Simões Filho, Teixeira de Freitas, Valença,

Vitória da Conquista.

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TABELA 02 – OCUPAÇÃO DOS CARGOS NAS DIRETORIAS (2015/2018)

Cargo % Nº de

subseções Subseções

Presidenta 17,7% 06 Jacobina, Lauro de Freitas, Ipiaú, Teixeira de Freitas, Guanambi e Paulo Afonso.

Vice-

presidenta 31,4% 11

Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Brumado, Camaçari, Ilhéus, Ipiaú, Itapetinga, Luís

Eduardo Magalhães, Senhor do Bonfim, Valença, Vitória da Conquista.

Secretária

geral 45,7% 16

Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Coaraci, Cruz das Almas, Eunápolis, Ibicaraí, Irecê,

Itaberaba, Itabuna, Itapetinga, Juazeiro, Luís Eduardo Magalhães, Paulo Afonso,

Porto Seguro, Santo Antônio de Jesus, Serrinha.

Secretária

adjunta 34,3% 12

Alagoinhas, Brumado, Conceição do Coité, Feira de Santana, Guanambi, Itabuna,

Itapetinga, Paulo Afonso, Porto Seguro, Santa Maria da Vitória, Serrinha, Vitória da

Conquista.

Tesoureira 25,7% 09 Coaraci, Gandu, Guanambi, Itamaraju, Itapetinga, Jequié, Paulo Afonso, Teixeira de

Freitas, Valença.

(Tabela elaborada pela autora com dados da OAB/BA.)

Para o mandato 2019/2021, houve a criação da subseção de Simões Filho com a nomeação

da comissão provisória através da Portaria nº 143/2019, aumentando, então, o número de subseções

para 36. Considerando as chapas eleitas em 2018 bem como a composição da nova subseção,

observa-se:

TABELA 03 – NÚMERO DE ADVOGADAS NAS DIRETORIAS (2019/2021)

Nº de

advogadas %

Nº de

subseções Subseções

0 0 0 -

01 27,8% 10 Bom Jesus da Lapa, Camaçari, Conceição do Coité, Cruz das Almas, Feira de

Santana, Gandu, Ibicaraí, Ilhéus, Itamaraju, Serrinha.

02 38,9% 14

Alagoinhas, Campo Formoso, Eunápolis, Guanambi, Ipiaú, Itabuna, Jacobina,

Jequié, Juazeiro, Lauro de Freitas, Porto Seguro, Santa Maria da Vitória, Santo

Antônio de Jesus, Senhor do Bonfim.

03 25% 09 Barreiras, Brumado, Coaraci, Irecê, Luís Eduardo Magalhães, Teixeira de Freitas,

Valença, Vitória da Conquista e Simões Filho.

04 8,4% 03 Itaberaba, Itapetinga, Paulo Afonso.

05 0 0 -

(Tabela elaborada pela autora com dados da OAB/BA.)

A partir dos dados apresentados, percebe-se que do total de 180 integrantes de diretorias das

subseções da seccional Bahia, são 103 advogados (57,2%) e 77 advogadas (42,8%). Comparando

com a gestão anterior, houve um crescimento de 44,1% na participação de mulheres na composição

das chapas para as subseções da OAB no estado da Bahia.

Quanto à distribuição deste quantitativo de integrantes pelos 05 cargos nas diretorias na

gestão 2019/2021, tem-se:

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TABELA 04 – OCUPAÇÃO DOS CARGOS NAS DIRETORIAS (2019/2021)

Cargo % Nº de

subseções Subseções

Presidenta 16,7% 06 Alagoinhas, Bom Jesus da Lapa, Ipiaú, Paulo Afonso, Senhor do Bonfim, Simões Filho.

Vice-

presidenta 36,2% 13

Barreiras, Eunápolis, Guanambi, Irecê, Itaberaba, Itabuna, Itapetinga, Luís Eduardo

Magalhães, Senhor do Bonfim, Valença, Vitória da Conquista.

Secretária

geral 56,6% 20

Barreiras, Brumado, Campo Formoso, Coaraci, Ibicaraí, Ipiaú, Irecê, Itaberaba,

Itapetinga, Jequié, Juazeiro, Lauro de Freitas, Luís Eduardo Magalhães, Paulo Afonso,

Porto Seguro, Santa Maria da Vitória, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Teixeira

de Freitas, Vitória da Conquista.

Secretária

adjunta 66,7% 24

Alagoinhas, Barreiras, Brumado, Campo Formoso, Conceição do Coité, Eunápolis,

Gandu, Guanambi, Irecê, Itaberaba, Itabuna, Itapetinga, Jacobina, Jequié, Juazeiro,

Lauro de Freitas, Luís Eduardo Magalhães, Paulo Afonso, Porto Seguro, Santa Maria

da Vitória, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Teixeira de Freitas, Valença, Vitória

da Conquista.

Tesoureira 36,2% 13 Camaçari, Coaraci, Cruz das Almas, Feira de Santana, Ilhéus, Itaberaba, Itamaraju,

Itapetinga, Jacobina, Paulo Afonso, Serrinha, Teixeira de Freitas, Valença.

(Tabela elaborada pela autora com dados da OAB/BA.)

Traçando um paralelo entre os dados referentes às duas gestões analisadas, observa-se, que

há mulheres nas composições de todas as diretorias das subseções da Bahia no mandato 2019/2021,

diferente do período anterior, em que a subseção de Campo Formoso não contava com nenhuma

advogada. Observa-se, também, que o número de subseções com apenas uma advogada integrando

a diretoria caiu de 19 para 10, o que representa uma redução de 47,4%.

Esta linha de raciocínio já leva a deduzir o crescimento do número de subseções com 02 ou

mais advogadas na diretoria: de 12 diretorias em 2016/2018 com 02 mulheres, passou-se a 14

(+16,7%); as 03 diretorias com 03 mulheres tornaram-se 09 (+200%), e de 01 diretoria com 04

advogadas, chegou-se a 03 subseções (+200%).

Considerando o total de integrantes das diretorias de todas as subseções (180), ocorreu um

aumento de 44,1% (52 para 77 mulheres). Considerando cada cargo da diretoria, vê-se que, ao

tempo em que se manteve o número de 06 advogadas ocupando a presidência (considerando a

criação da subseção de Simões Filho), cresceu a ocupação de todos os demais cargos por mulheres,

sendo, em percentuais: 18,7% na vice-presidência (de 11 para 13); 33,4% de secretárias gerais (de

15 para 20); 100% de secretárias adjuntas (de 12 para 24) e 55,6% de tesoureiras (de 09 para 13).

O fato da chapa eleita para a OAB Bahia para a gestão 2019/2021 ter sido uma das

seccionais que defendeu publicamente a ocupação paritária das vagas nas chapas, certamente

influenciou a alteração destes números nas subseções. Dos 110 cargos (diretoria, CAAB, Conselho

Seccional e Conselho Federal), 52 são ocupados por advogadas, o que representa 47,3% do total. A

composição da diretoria da OAB Bahia conta com 02 mulheres (vice-presidenta e secretária geral),

o que representa 40% das vagas. No Conselho Seccional, de 91 integrantes, 42 são titulares e 49

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suplentes: daqueles, 18 são advogadas (42,9%), e destes, 28 (57,1%). Na CAAB, dos 05 titulares da

diretoria, 01 advogada integra o quadro como secretária geral (20%); dos 03 suplentes, 01 advogada

(33,3%). Das 06 vagas no Conselho Federal, são apenas 02 advogadas, uma titular e uma suplente.

Não se pode deixar de observar que, embora crescente o número de advogadas nas

diretorias, ainda é pequena a quantidade de mulheres nas presidências (único número em que não

aumentou a participação feminina no período estudado). Também se nota que nas vagas do

Conselho Seccional e Federal, as mulheres estão, em sua maioria, na suplência. Isso mostra o

quanto a presença de advogadas em posição de liderança ainda é reduzida, como é em todos os

espaços de poder e decisão, seja no poder público, em grandes empresas ou entidades profissionais.

É possível que as mudanças estruturais descritas, sobretudo a obrigatoriedade de ter 50% de

mulheres na composição das chapas para as eleições da OAB em 2021, possam alterar

significativamente este número no próximo triênio. O futuro trará a resposta.

É possível falar em “feminização da advocacia”?

Dados coletados no site do Conselho Federal da OAB em 30/04/2021 apontam que o

crescimento da quantidade de mulheres nos seus quadros é contínuo e, pela primeira vez, o número

de advogadas superou o de advogados: dentre 1.220.978 profissionais inscritos, as mulheres

representavam 50,01%, o que corresponde a 610.673 advogadas. A dinâmica desta estatística

sinaliza que o crescimento deve continuar em ascensão pelos próximos anos: levando em conta que

as mulheres constituem 53,4% do total de estagiárias (10.008 inscrições), já sinaliza que o número

de mulheres nas faculdades de Direito que pretendem advogar continua crescendo. Paiva indica que

“o ganho numérico da participação das mulheres na advocacia sofre o influxo do número de

mulheres que conseguem concluir o ensino médio e também por elas serem maioria nos cursos de

Bacharelado em Direito no Brasil” (PAIVA, 2019, p. 180).

Nesta data, as advogadas eram maioria em 10 das 27 seccionais (37%): Bahia (51,3%),

Espírito Santo (51,2%), Goiás (51,1%), Mato Grosso (51,2%), Pará (51,7%), Rio de Janeiro

(51,6%), Rondônia (52,2%), Rio Grande do Sul (50,8%), Sergipe (51,1%) e São Paulo (50,3%).

Segundo Paiva, durante muito tempo a advocacia foi ocupada apenas “por homens brancos

ou embranquecidos pela posição social” (PAIVA, 2019, p. 186). Bonelli e outras autoras apontam

que as advogadas constituem uma base eleitoral expressiva e por isso a OAB “terá de formular

políticas para elas, visando à ampliação de direitos e à equidade. Em vez de seguirem invisíveis no

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código de ética, as relações profissionais precisariam ser regulamentadas para a redução da

discriminação de gênero na profissão” (BONELLI et al, 2008, p. 283).

Fazendo um recorte geracional, fica mais explícito que o movimento chamado por Bonelli

(2017) de “feminização da advocacia” tem sido constante, como se visualiza na tabela a seguir.

TABELA 05 – RECORTE GERACIONAL DA ADVOCACIA BRASILEIRA POR SEXO (2021)

Idade Nº de Mulheres Nº de Homens % Mulheres % Homens Total

Até 25 anos 38.864 20.567 65,4% 34,6% 59.431

26 a 40 anos 310.290 237.280 56,7% 43,3% 547.570

41 a 59 anos 189.946 208.062 47,7% 52,3% 398.008

60 anos ou mais 71.573 144.396 33,1% 66,9% 215.969

TOTAL 610.673 610.305 50,01% 49,98% 1.220.978

(Tabela organizada pela autora com dados do CFOAB, 30/04/2021).

Embora seja perceptível a menor presença de mulheres no recorte com mais de 40 anos,

representando 47,7% das inscrições ativas, é na fração com 60 anos ou mais que a diferença se

torna mais expressiva. Nos recortes mais jovens, o cenário se inverte: as mulheres representam mais

da metade das inscrições de profissionais entre 26 e 40 anos e ultrapassa os 65% das inscrições com

até 25 anos. Cruzando esta informação com o dado referente ao número de estagiárias, é um

indicativo que esta diferença seguirá se acentuando nos próximos anos.

Antes do fim

Sabadell afirma que a crescente feminização das carreiras jurídicas não acarretou mudanças

expressivas no exercício profissional, constatando que “as mulheres conquistaram o mundo

jurídico, sem mudá-lo, isto é, sendo obrigadas a adotar padrões de comportamentos masculinos”

(SABADELL, 2013, p. 237). É o que Bonelli apelida de “práticas normásculas” (BONELLI, 2017,

p. 117), ou seja, toma-se a postura profissional masculina como referência imediata, buscando uma

pretensa neutralidade, represando a participação das advogadas nas posições de menor prestígio e

poder da carreira, inclusive do ponto de vista institucional.

É significativa a produção científica sobre as desigualdades de gênero nas profissões

jurídicas no Brasil, mas raras são as referências quanto a estas análises levando em consideração a

ocupação dos cargos nos quadros da OAB. Como conciliar a vida familiar e profissional ainda é

uma cobrança que se faz costumeiramente apenas às mulheres, muitas advogadas não se veem em

condições de assumir tarefas institucionais (mesmo querendo), pois para grande parte delas, a

responsabilidade com demandas domésticas e de cuidados não é partilhada com parceiros ou outras

pessoas do seu grupo familiar.

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Morrison profetizou: “se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, é porque

você deve escrevê-lo” (MORRISON, 1981). O crescimento da participação feminina nestas esferas

é recente e as pesquisas são escassas, por isso cabe à nova geração de advogadas compreender o

momento fértil em que a advocacia se apresenta às mulheres, para que se possa não apenas

“conquistar” os espaços, como disse Sabadell (2013), mas transformá-los para que, enfim, essas

diferenças possam “se tornar imperceptíveis em vez de invisíveis” (BONELLI, 2017, p. 118).

Referências

BARBALHO, Renê Martins. A feminização das carreiras jurídicas: construções identitárias de

advogadas e juízas no âmbito do profissionalismo. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos. Orientadora: Dra. Maria da Glória

Bonelli. São Carlos: UFSCar, 2008. Disponível em https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/6663

Acesso em 16jan2021.

BONELLI, Maria da Glória; CUNHA, Luciana G.; OLIVEIRA, Fabiana L. de; SILVEIRA, Maria

Natália B. da. Profissionalização por gênero em escritórios paulistas de advocacia. Tempo Social –

Revista de Sociologia da USP, v. 20, nº 01, p. 265-290. São Paulo: USP, 2008. Disponível em

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________. Docência do Direito: fragmentação institucional, gênero e interseccionalidade. Cadernos de

Pesquisa v.47 n.163 p.94-120 jan./mar. 2017. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/198053143659

Acesso em 07jan2021.

CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Provimento nº 202/2020 –

Altera o art. 2º, o caput e o § 1º do art. 3º, e o caput do art. 7º, e revoga os §§ 1º e 3º do art. 7º do

Provimento n. 146/2011. Disponível em: https://www.oab.org.br/util/print?numero=202%2F2020

&print=Legislacao&origem=Provimentos Acesso em 29abr2021.

____________. Provimento nº 164/2015 – Cria o Plano Nacional de Valorização da Mulher Advogada e

dá outras providências. Disponível em https://www.oab.org.br/arquivos/provimento-164-2015-

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___________. Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB. Dispõe sobre o Regulamento

Geral previsto na Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994. Disponível em

https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/regulamentogeral.pdf Acesso em 16jan2021.

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SOUZA, Raquel de Souza. O Direito Grego Antigo in WOLKMER, Antônio Carlos (org).

Fundamentos de História do Direito. 9ª edição. Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2018, p. 77-112.

VÉRAS NETO, Francisco Quintanilha. Direito Romano Clássico: seus institutos jurídicos e seu legado

in WOLKMER, Antônio Carlos (org). Fundamentos de História do Direito. 9ª edição. Belo Horizonte:

Del Rey Editora, 2018, p. 131-167.

Female participation in the boards of subsections from OAB Sectional in Bahia

Abstract: Until recently, advocacy was mostly a male profession, but year by year, the number of

women has been growing: in April 2021, for the first time, this scenario was reversed. Even though they

represent more than 50% of the enrollments in the Brazilian Bar Association, women still have little

space in the subsections and sectional boards, and no space in the board of the Federal Council.

Observing the numbers of the 36 subsections of Bahia between 2016 and 2021, there is a growth of

42.3% in the number of women in the boards: the number of female presidents remained, while the

number of vice-presidents increased (18 2%), general secretaries (18.8%), deputy secretaries (91.6%)

and treasurers (55.6%). The OAB / BA has not yet elected a president, although it has a woman in the

vice-presidency for two consecutive terms. The amendment to the OAB General Regulation in 2018

foresaw the mandatory minimum of 30% and maximum 70% of candidacies of each sex, applicable to

the 2021 election. In view of the urgency of the theme, in December 2020, gender parity was approved

in composition of the slates in the CFOAB elections, sectional sections, subsections and Assistance

Boxes from 2021 onwards. If the lawyers represent 50% of the OAB's enrollments and revenue, it is

urgent that we are on an equal footing in the occupation of these positions, so that the OAB can be a

truly democratic institution.

Keywords: Women Lawyers, Women in the Brazilian Order of Lawyers, Political Participation,

Institutional Policy.