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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS
CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA
COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA POLÍTICA E AS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS ELEITORAS DOS BAIRROS
JARDIM PARAÍSO E GLÓRIA NO MUNICÍPIO DE JOINVILLE/SC
Soraia Körber
Itajaí (SC), junho de 2007
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS
CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA
COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA POLÍTICA E AS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS ELEITORAS DOS BAIRROS
JARDIM PARAÍSO E GLÓRIA NO MUNICÍPIO DE JOINVILLE/SC
Monografia apresentada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Ciência Política na Universidade do Vale do Itajaí, sob a orientação da Professora Doutora Neusa Maria Sens Bloemer.
Soraia Körber
Itajaí (SC), junho de 2007
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS
CURSO DE CIÊNCIA POLÍTICA
COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA POLÍTICA E AS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DAS ELEITORAS DOS BAIRROS
JARDIM PARAÍSO E GLÓRIA NO MUNICÍPIO DE JOINVILLE/SC
Soraia Körber
Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Ciência Política na Universidade do Vale do Itajaí, sob a orientação da profª. Dra. Neusa Maria Sens Bloemer.
Banca Examinadora
Profª. Dra. Neusa Maria Sens Bloemer Presidente Orientadora
Profº. Dr. Flávio Ramos Membro
Profº. Ms. Ivann Carlos Lago Membro
Itajaí, junho/2007
3
DEDICATÓRIA
A minha mãe, Sueli, mulher que admiro, que me deu a
vida e me educou com amor e sabedoria. É uma mãe
presente que me orienta, apóia, e me serve de inspiração
para enfrentar os novos desafios que a vida nos impõe.
Uma mulher que busco me espelhar para me tornar como
ela, uma guerreira e vencedora.
Lembro também do meu pai, Romeu Raul, que já não está
presente, mas que o tempo de nossa convivência me
ensinou muito com sua sabedoria, paciência e amor.
Aos meus irmãos, Cintia e Rafael, e ao meu cunhado,
Andreas, pela paciência e disponibilidade no longo
processo de construção desse trabalho.
Ainda, dedico a todos que vierem a ler e utilizar o presente
trabalho.
4
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por ter me dado sabedoria, força e
orientação em cada novo passo em minha vida,
principalmente neste, de formação acadêmica realizada no
decorrer do curso de Ciência Política.
A minha orientadora e amiga, Neusa Maria Sens
Bloemer, que aceitou me orientar e desempenhou seu
trabalho com habilidade e paciência, compromisso e
responsabilidade para desenvolvermos esta pesquisa.
Aprendi muito com ela e agradeço pela oportunidade de
conviver com esta admirável profissional.
Quero agradecer aos meus amigos que me apoiaram e
ajudaram no decorrer deste processo de aprendizagem,
principalmente aos meus amigos que colaboraram na
elaboração desse trabalho: Fernanda C. Artur, Roberto
Wöhlke e Scheila Medeiros Fernandes.
Aos professores que contribuíram com seus ensinamentos,
para o processo de construção de conhecimento. Em
especial ao professor Sérgio Saturnino Januário que
despertou em mim a paixão pela pesquisa; aos professores
Flávio Ramos, Ivann Carlos Lago e Carlos Eduardo
Sell pelas brilhantes discussões em aula e corredores; à
professora Queila Jaqueline Nunes Martins que com sua
empolgação e dedicação batalhou pelo curso; aos
professores: Leila Andrésia Severo Martins e Bruno
Schmitt da Luz que além de ensinar me apoiaram em
vários momentos e ao professor Guillermo Johnson que
nas diversas discussões em aula e corredores sempre se
colocou à disposição como um amigo.
Muito Obrigada!
5
Muitos são os planos no coração do homem, mas o que prevalece é o propósito do Senhor.
Provérbios 19.21
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RESUMO
O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar os critérios utilizados
pelas eleitoras moradoras dos bairros Glória e Jardim Paraíso, no município de Joinville, na
escolha dos seus candidatos. Considerando que as moradoras do bairro Glória são de classe
média e as do bairro Jardim Paraíso são de baixa renda, conferiu-se, comparativamente, as
percepções destas mulheres sobre a política, seu envolvimento e participação na área política,
bem como o que consideram ser um bom político. Na contextualização histórica do município
de Joinville privilegiou-se conferir os aspectos sócio-culturais e o perfil eleitoral das
entrevistadas dos bairros em análise. Apresentou-se, ainda, uma retrospectiva da participação
histórica das mulheres na política no Brasil, Santa Catarina e Joinville. O referencial teórico
foi centrado no conceito de “representações sociais” ancorado em Durkheim (1978),
Moscovici (2003) e Jodelet (2001). Constatou-se ao final que as mulheres entrevistadas de
ambos os bairros apresentam pouco interesse pelas questões políticas, pautando o seu voto nas
propagandas políticas divulgadas pelo rádio e televisão, bem como nas relações que
estabelecem com parentes, amigos ou políticos.
Palavras-chave: Mulher, política, voto e representações sociais.
7
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................6
SUMÁRIO.................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................8
CAPÍTULO I – ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA....................................11
CAPÍTULO II – A PARTICIPAÇÃO HISTÓRICA DAS MULHERES NA POLÍTICA
..................................................................................................................................................21
2.1 AS MULHERES BRASILEIRAS E A POLÍTICA ...........................................................21
2.2 AS MULHERES CATARINENSES NA POLÍTICA .......................................................28
2.3 AS MULHERES JOINVILLENSES NA POLÍTICA........................................................33
CAPÍTULO III – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE JOINVILLE E DOS
BAIRROS................................................................................................................................35
3.1 HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE JOINVILLE ..............................................................35
3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOCULTURAIS DO BAIRRO JARDIM PARAÍSO 40
3.3 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOCULTURAIS DO BAIRRO GLÓRIA..................43
CAPÍTULO IV – PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS MULHERES
ENTREVISTADAS DOS BAIRROS GLÓRIA E JARDIM PARAÍSO...........................46
4.1 PERFIL SOCIAL DAS ENTREVISTADAS.....................................................................46
4.2 PERFIL ECONÔMICO DAS ENTREVISTADAS...........................................................52
CAPÍTULO V – AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE POLÍTICA DAS
MULHERES DOS BAIRROS GLÓRIA E JARDIM PARAÍSO......................................57
5.1 AS CAMPANHAS E PROPAGANDAS POLÍTICAS .....................................................57
5.2 O GOSTO PELA POLÍTICA.............................................................................................61
5.3 O QUE PENSAM SOBRE A POLÍTICA..........................................................................64
5.4 PARTICIPAÇÃO NA POLÍTICA .....................................................................................67
5.5 CARACTERÍSTICAS DE UM POLÍTICO.......................................................................77
5.6 QUESTÃO DE GÊNERO E A POLÍTICA .......................................................................83
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................94
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................97
8
INTRODUÇÃO
O tema escolhido para desenvolver a presente monografia surgiu a partir de leituras e
observações sobre vários processos eleitorais, em que verifiquei que a participação da mulher
no espaço da política ainda ocorre de maneira bastante desproporcional em relação aos
homens.
É bem verdade que o direito ao voto feminino no Brasil ocorreu apenas em 1932
(JUCOVSKY, 2000). Não se pode deixar de mencionar ainda, que as eleições estavam
suspensas no período do governo de Getúlio Vargas e somente, em 1946, foi realmente
possível às mulheres exercerem o direito ao voto. Mas, a discriminação política não foi
totalmente superada, apesar da legislação brasileira conferir direitos políticos às mulheres,
estas tem participado do processo eleitoral ainda de forma tangencial.
Como é de conhecimento público o número de mulheres eleitas para o Executivo e
para o Legislativo no Brasil, é bastante reduzido e desproporcional em relação à participação
dos homens, muito embora não se possa deixar de mencionar que a participação feminina nos
pleitos eleitorais seja bastante significativa. Ou seja, o voto das mulheres é muito importante e
decisivo, porque a vitória ou a derrota de um determinado candidato pode ser assegurado pelo
voto das mulheres. A participação política das mulheres no Brasil vem crescendo conforme
dados publicados sobre as eleições para as Câmaras Municipais de 1992 e 1996. Enquanto o
número total de vereadores cresceu 6,07%, o número de vereadoras cresceu quase 10 vezes
mais, totalizando 58,05% (PAULILO, 2000, p.243).
Mas, o direito legal ao voto e à representação política das mulheres conquistados em
1932 não tem sido suficientes para reverter a diferença na ocupação do espaço político em
relação aos homens. Por isso esta tem sido uma discussão que vem sendo inserida na agenda
dos partidos, governos e instituições internacionais tornando-se um dos temas centrais
ressaltando-se para este debate a temática “mulher e política”. Outras questões inseridas
nestas mesmas agendas privilegiaram, também, aspectos que dizem respeito mais
especificamente às mulheres tais como, o abuso sexual, a violência doméstica, o aborto e o
divórcio.
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Desde que foi implantada a lei de cotas1, em 1997, na qual cabia aos partidos ou às
coligações a obrigação de fazer a reserva de no mínimo 30% e, no máximo 70% para
candidaturas dos diferentes sexos, despertou o interesse dos pesquisadores sobre a
participação da mulher na política. Tais estudos são importantes para a construção do
conhecimento relacionado ao presente tema, bem como para compreender como vem
ocorrendo a inserção da mulher no mundo da política.
Ao tomar conhecimento destas informações surgiu meu interesse em compreender o
que as mulheres, enquanto eleitoras, pensam sobre a política e quais são os elementos que
compõem a seleção de seu candidato. Esta reflexão nos induz a questionar se as mulheres se
deixam influenciar pelos homens no momento da tomada de decisão de seu voto ou se sua
decisão está relacionada ao contexto econômico e social em que se encontram inseridas. Em
outros termos, seria a condição socioeconômica, incluindo nesta o nível de escolaridade,
influente na seleção de seu candidato, ou estariam as mulheres eleitoras mais voltadas e
preocupadas com aspectos que estejam diretamente relacionados com sua condição de gênero.
Com tais dúvidas e questionamentos busca-se, através do presente trabalho contribuir para a
produção de conhecimento sobre a mulher e a política.
Para desenvolver a presente pesquisa elegemos o município de Joinville/SC, onde
resido e selecionamos dois bairros deste município como área a ser pesquisada. Para tal,
escolhemos um bairro da periferia da cidade e um de classe média que nos permitisse
estabelecer algumas comparações e assim conferirmos se os critérios das mulheres eleitoras
são perpassados por questões de classe e quais elementos estão influenciando nesta decisão.
A razão pela qual me levou a escolher o presente tema referente à seleção de
candidatos realizados por mulheres de um bairro de classe média e outro da periferia
considerando que durante muito tempo as mulheres estiveram historicamente marginalizadas
da política. Como já afirmamos anteriormente, no Brasil as mulheres só tiveram direito ao
voto em 1932 tendo sua participação efetiva no processo eleitoral apenas em 1946. Outra
razão é que corriqueiramente se afirma que as mulheres nunca tiveram muito interesse pela
política, tratando-se esta uma esfera exclusivamente masculina, na qual elas participavam
1 Lei nº 9.504 - Art. 10, § 3º “Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de setenta por cento para candidaturas de cada sexo” (Legislação Eleitoral do Brasil, 2002).
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orientadas pela opinião dos maridos, não tendo, portanto, autonomia no que diz respeito às
orientações políticas (AVELAR, 2001).
Para desenvolver o presente trabalho temos como objetivo geral identificar os
critérios utilizados pelas mulheres eleitoras dos bairros Glória e Jardim Paraíso do município
de Joinville, na seleção de seus candidatos estabelecendo uma comparação entre os mesmos.
Para atender a este objetivo constituímos como objetivos específicos o seguinte:
a) Identificar as representações sociais das mulheres dos respectivos bairros sobre a
política, ou seja, o que pensam e o que desejam de uma atuação política;
b) Caracterizar aspectos que estas eleitoras elegem como importantes no desempenho
legislativo;
c) Conferir os critérios de escolha dos candidatos destas eleitoras, observando-se
aspectos relativos a valores, questões específicas do mundo da mulher, religiosidade,
nível de instrução, categoria de idade, condição sócio-econômica, etc.
Esta monografia compõe-se dos seguintes capítulos: no primeiro capítulo
abordou-se aspectos teóricos que reportam à problemática abordada, ressaltando a
participação da mulher na política.
No segundo capítulo apresenta-se a participação histórica da mulher na política
brasileira, destacando-se a participação da mulher catarinense e joinvillense na política.
O terceiro capítulo contextualiza o município de Joinville e respectivos bairros,
contexto de nossa análise subsidiando o leitor com informações históricas e sócio-espaciais
sobre o município.
No quarto capítulo apresentamos informações sobre o perfil das entrevistadas,
incluindo-se nestes, profissão, a renda familiar, nível de escolaridade, etc.
E finalmente, no último capítulo abordamos as concepções das mulheres
entrevistadas em ambos os bairros, Jardim Paraíso e Glória sobre a política, o seu
envolvimento com a política, aspectos subjetivos que orientam o seu voto na escolha de um
candidato.
Nas considerações finais trazemos de forma sintética os resultados da presente
investigação.
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CAPÍTULO I – ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA
Para o desenvolvimento da presente pesquisa abordamos alguns conceitos
correspondentes ao tema. Por ter como tema central a participação da mulher na política,
especificamente no município de Joinville, faz-se necessário compreender o conceito de
gênero que na afirmação de Farah “foi incorporado pelo feminismo e pela produção
acadêmica sobre mulheres nos anos 1970 e, desde então, tem sido interpretado de formas
distintas por diferentes correntes do feminismo”. (2004, p. 48).
Para os teóricos da diferença, o conceito de gênero refere-se aos traços culturais
femininos que são construídos socialmente relacionados à base biológica. A diferença,
portanto, é formada como categoria central de análise. As diferenças entre homens e mulheres
são destacadas pela polaridade masculino e feminino, produção e reprodução, público e
privado. Para o feminismo da diferença o poder está concentrado na esfera pública, e é na
polaridade que está a origem da subordinação das mulheres (FARAH, 2004).
A vertente pós-estruturalista, “destaca o caráter histórico das diferenças entre os
gêneros e a própria construção social da percepção da diferença sexual”. (FARAH, 2004, p.
48).
O conceito de gênero quando enfatiza as relações sociais entre os sexos possibilita
a compreensão de desigualdades entre homens e mulheres, implicando como componente
central à desigualdade de poder (FARAH, 2004).
No presente trabalho estaremos nos identificando com a concepção de Farah
(2004) para quem o gênero é uma construção social que tem suas bases ancoradas nas
relações sociais que se constituíram nas diversas sociedades.
Concordando que a concepção de gênero se constrói na relação social, não se
pode deixar de mencionar que desta mesma relação também demanda direitos e deveres que
perpassa pela categoria gênero, ampliando seu espaço relacional nos envolvimentos dos
membros de uma dada sociedade. Ou seja, as relações sociais trazem no seu bojo direitos e
deveres dos membros de uma dada sociedade, direitos estes que podem revelar o exercício de
cidadania. Assim, o conceito de cidadania nos auxilia na compreensão do que sejam as
práticas participativas das mulheres que se envolvem ou não com as questões de ordem
política. Em relação ao conceito de cidadania são identificados três tipos básicos de direitos
de cidadania: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais (AVELAR, 2001).
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Os direitos civis referem-se à conquista da liberdade pessoal, a liberdade de palavra, pensamento e fé, o direito à propriedade e a contrair contratos válidos, além do direito à justiça; os direitos políticos referem-se ao direito de voto e ao direito de acesso a cargos públicos; os direitos sociais vão do direito ao bem-estar econômico e à segurança mínimos, até o direito de participar inteiramente na herança social e a viver a vida de um ser civilizado, de acordo com os padrões prevalecentes na sociedade (AVELAR, 2001, p. 13).
Para os direitos de cidadania se efetivarem são necessárias instituições públicas,
tribunais, burocracias, que atuem independentes e efetivos para proteger os direitos dos
cidadãos, independentemente de raça, nacionalidade, etnia, língua, religião e sexo (AVELAR,
2001).
O que se percebe em relação à cidadania é diferente daquilo que se apregoa para a
efetivação da cidadania.
A situação é muito diferente para o caso dos países latino-americanos, africanos, o mundo árabe, para as minorias como as mulheres, os negros, os homossexuais etc. A realidade é a da desigualdade, da cidadania diferenciada, sendo apenas um mito a idéia fortemente disseminada de que todos têm direitos iguais. A idéia de uma cidadania universal continua obscurecendo as reais diferenças da fruição desigual dos direitos: são muitos os que vivem sob uma situação de opressão e de desvantagem (YOUNG, 1989 apud AVELAR, 2001, p. 14).
Se há diversidade quanto ao cumprimento dos direitos para os grupos
minoritários, entre os quais se encontram as mulheres em contextos específicos, o presente
trabalho ao privilegiar a identificação sobre o que pensam as eleitoras sobre o processo
eleitoral e como se vêem inseridas neste processo, sua participação e interesse sobre o mesmo,
estará ancorado no conceito de representações sociais. Identificando o que e como se
manifestam as relações sociais podemos compreender as motivações das mulheres
considerando como expressa Minayo que as representações sociais “se manifestam em
palavras, sentimentos e condutas, e se institucionalizam, portanto, podem e devem ser
analisadas a partir da compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais” (1998, p.
108).
Este conceito que foi, preliminarmente cunhado por Durkheim como
representações coletivas para o qual o autor afirmava que:
As representações coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa nas suas relações com os objetos que o afetam. Para compreender como a sociedade se representa a si própria e ao mundo que a rodeia, precisamos considerar a natureza da sociedade e não a dos indivíduos. [...] Se ela aceita
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ou condena certos modos de conduta, é porque entram em choque ou não com alguns dos seus sentimentos fundamentais, sentimentos estes que pertencem à sua constituição (1978, apud Minayo, 1995, p. 90-91).
A partir desta noção explicitada por Durkheim, as representações coletivas, foram
re-elaboradas por Moscovici (2003), Jodelet (2001) entre outros autores. Ancorada em
Moscovici, busca-se em Jodelet o seguinte conceito.
Representações sociais são uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (2001, p. 27).
No caso específico do presente trabalho, buscamos identificar quais as
representações sociais das mulheres, dos respectivos bairros, em relação à política, ou seja, o
que pensam e o que desejam de uma atuação política.
As representações sociais não são essencialmente conscientes.
Podem até ser elaboradas por ideólogos e filósofos de uma época, mas perpassam o conjunto da sociedade ou de determinado grupo social, como algo anterior e habitual, que se reproduz a partir das estruturas e das próprias categorias de pensamento do coletivo ou dos grupos (MINAYO, 1998, p. 109).
Portanto, a sociedade está constantemente em movimento e as representações
sociais podem ser modificadas na medida em que estamos reconstruindo continuamente as
idéias e teorias, ou “estamos reelaborando as noções, valores e imagens como resultado das
relações com o ambiente no qual estamos inseridos”. (SOUZA, 2005, p. 13).
Para o presente trabalho busca-se identificar as relações construídas pelos
indivíduos, enquanto agentes sociais inseridos num determinado contexto socioeconômico,
histórico e cultural, analisando assim, as percepções destas mulheres, sobre a política, e o que
pensam sobre as práticas políticas, entendendo, pois, que as representações sociais devem ser
consideradas num contexto histórico, assim como para os atores sociais a partir de suas
relações sociais.
Não se pode deixar de mencionar que tais representações, assim como a de
participação política, não é fixa, o que nos leva a concordar que esses conceitos são definidos
historicamente através de mudanças do pensamento social e político (BRITO, 1995).
Outro aspecto a ser considerado em relação à participação política é “a sua
multidimensionalidade que inclui atividades convencionais e não convencionais, definidas
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politicamente de maneira ampliada” (BAQUERO, 1981, p. 30 apud BRITO, 1995, p. 61). Ou
seja, as formas de participação política são diversas. Assim, pode-se afirmar que,
o envolvimento na política, então, pode se dar nos trabalhos político-partidários, nas várias atividades eleitorais, nos movimentos sociais, nas organizações não-governamentais, conselhos, comissões, delegações de âmbito local ou nacional, e ainda em outras formas de organizações que têm impacto sobre a agenda pública. (AVELAR, 2001, p. 47).
Dessas diversas formas de envolvimento na política destaca-se principalmente o
voto e a representação. É neste sentido que se entende que “o eleitor é, no universo da
política, a representação análoga ao cidadão portador de direitos e deveres, igual, livre e
autônomo” (TEIXEIRA, 2002, p. 53). Mas, não se pode deixar de mencionar como lembra
Araújo (1998) que os direitos legais básicos de cidadania política relativos ao voto e à
representação não têm sido suficientes, o que “tem conduzido o feminismo a elaborar uma
análise crítica das práticas políticas tradicionais e a formular novas estratégias capazes de
intervir mais diretamente sobre os canais de acesso às esferas de decisão”. (ARAÚJO, 1998,
p. 71). Ou seja, ainda que o voto possa significar a busca por direitos coletivos, pode
representar, também, a possibilidade de fazer valer interesses específicos, sejam eles, de
ordem pessoal ou de grupos sociais, como por exemplo, as reivindicações que dizem respeito
às mulheres.
O voto, por sua vez, é uma categoria que necessita ser compreendido nos
diferentes contextos sociais. Entretanto, de forma mais genérica
O termo voto é usado em política e em ciência política como sinônimo de votação para indicar o processo pelo qual se registram as escolhas dos eleitores [...]. Nos sistemas democráticos, a votação é geralmente organizada e realizada de maneira a possibilitar escolhas livres e secretas entre alternativas reais”. (SILVA, 1986, p. 1303).
Mas, estas escolhas formam suas bases a partir das
[...] multiplicidades envolvidas na questão, seja a pluralidade das motivações para votar – e como votar -, seja a dispersão e hierarquização dos critérios de seleção de aspectos dos candidatos escolhidos. Trata-se de reconhecer que o voto está envolvido em uma rede de forças que transcende em muito o domínio do que se convencionou denominar ‘política’. (GOLDMAN; SANT’ANNA, 1996, p. 30).
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Para a análise sobre o voto é necessário levar em consideração a dimensão da
subjetividade (GOLDMAN; SANT’ANNA, 1996). As razões pelas quais um eleitor escolhe o
seu candidato podem assumir diferentes significados. No caso da sociedade brasileira,
constata-se que entre os aspectos que os eleitores privilegiam para escolher seus candidatos há
o compromisso de retribuição. Trata-se de uma oportunidade de pagar e retribuir favores,
desfazer-se de dívidas simbolicamente adquiridas no período que antecedeu o processo
eleitoral. Considerando que na sociedade brasileira a lealdade para algumas comunidades é
um valor importante, nada mais justo do que ser leal a quem nos favoreceu em algum
momento. Há portanto, uma multiplicidade e pluralidade de motivações na escolha do
candidato.
“Isto significa parece-nos, que vota-se por interesse, afinidade ideológica, adesão
partidária, mas também por simpatia, identificação pessoal, torcida de futebol, autoridade
materna etc. e mais uma infinidade de razões impossíveis de esgotar”. (GOLDMAN;
SANT’ANNA, 1996, p. 25).
Entre as explicações da decisão do voto podem ser constatadas predisposições
individuais baseadas na visão de mundo de cada um. Pode ser por preferência partidária que
varia de pessoa para pessoa, podendo, portanto a identidade partidária ou simpatia
condicionar o voto dos eleitores. A origem da preferência por este ou aquele partido pode
variar, o que nos importa é que essa preferência influencia o voto (ALMEIDA, 2003).
Outra razão que pode influenciar na escolha de um candidato diz respeito à
avaliação do desempenho do governo. Por isso, “os eleitores que têm uma boa avaliação do
governo tendem a votar no candidato que representa a continuidade, esteja ele disputando a
reeleição, ou seja, ele indicado pelo governo. Já a má avaliação resulta em voto na oposição”.
(ALMEIDA, 2003, p. 28).
Há, também, as opções relacionadas às propostas dos candidatos e dos partidos,
em sua maioria, apresentadas em comícios ou através dos meios de comunicação.
Um dos objetivos de uma campanha eleitoral e da propaganda no rádio, na televisão e nos jornais é permitir que candidatos e partidos divulguem suas propostas de governo. Em que pese às diferenças ideológicas existentes entre liberais e conservadores e entre esquerda e direita, em eleições específicas as propostas de governo de ambos os grupos podem ser mais ou menos parecidas. O eleitor terá mais dificuldade de identificar as diferenças entre essas forças no primeiro caso, e mais facilidade no segundo. O fato é que há fatores conjunturais (em contraposição aos fatores estruturais) que influenciam a escolha do eleitor, sendo um dos mais importantes o conjunto das propostas de governo de cada candidato, partido ou coligação. (ALMEIDA, 2003, p. 28-29).
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O nível de informação política também pode influenciar o eleitor, onde quanto
mais informado é o eleitor sobre a política mais tende a exigir de seus representantes, é mais
crítico em relação ao governo, o inverso também é verdadeiro. “Adicionalmente, aqueles que
têm mais informação política – sejam liberais ou conservadores – estão mais capacitados a
identificar os candidatos e partidos que representam suas visões de mundo do que os menos
informados”. (ALMEIDA, 2003, p. 29).
O pertencimento a redes sociais, como a influência de parentes, amigos e colegas
de trabalho, auxiliam os eleitores em suas escolhas. “Existem evidências empíricas de que
alguns eleitores influenciam e outros são influenciados por pessoas próximas”. (ALMEIDA,
2003, p. 29).
A imagem dos candidatos também pode predispor o eleitor.
Há candidatos que passam a imagem de conciliadores e democratas; outros, de intransigentes e autoritários; outros ainda, de desonestos ou honestos. Há os que transmitem a mensagem de defensores dos pobres e os que têm a imagem de candidatos dos ricos. Na campanha política, grande parte da propaganda eleitoral divide-se entre a apresentação de propostas e a tentativa de transmitir ao eleitor determinadas mensagens que virão a compor a imagem do candidato e de seus adversários (ALMEIDA, 2003, p. 29-30).
A representatividade social é uma forma importante para a disputa eleitoral.
São inúmeros os exemplos de partidos – em geral socialistas, trabalhistas ou comunistas – que entraram tardiamente no jogo eleitoral e passado algum tempo se tornaram forças políticas de grande importância. Isso se deve, em grande medida, ao fato de essas forças representarem determinados segmentos sociais e terem neles se originado (ALMEIDA, 2003, p. 30).
A dinâmica de uma campanha também pode condicionar a escolha do eleitor. O
eleitor tende a escolher partidos políticos já estabelecidos e que são há muitos conhecidos.
“Isso não se verifica quando essas agremiações são vitimadas por profundo desejo de
mudança, originado provavelmente em avaliações muito negativas do sistema político
estabelecido e de suas principais figuras”. (ALMEIDA, 2003, p. 30).
As variáveis socioeconômicas são normalmente usadas para explicar diferenças de
opiniões e valores. A variáveis mais utilizadas em pesquisas eleitorais são:
[...] renda, escolaridade, local de moradia e ocupação. Contudo, dependendo do tema pesquisado, ou mesmo de conjunturas específicas a determinadas campanhas eleitorais, outras variáveis também podem se tornar importantes,
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como religião, sexo, idade e cor. Vale registrar que diferentes grupos sociais apresentam comportamentos eleitorais diferentes (ALMEIDA, 2003, p. 31).
Para além das preferências oriundas em diversas ordens, há que se considerar que
a troca é uma dimensão fundamental do voto. “Grande parte dos estudos de comportamento
eleitoral tem interpretado essa troca como uma escolha racional do eleitor em busca de
maximizar os dividendos de seu voto” (KUSCHNIR, 2000, p. 31). Portanto o eleitor é quem
estabelece os seus critérios, interesses e valores para escolher seu candidato.
Cabe ainda mencionar sobre o conceito de democracia que está diretamente ligado
ao voto. Segundo o Dicionário de Política de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e
Gianfranco Pasquino (2004) entende-se que Democracia é, “[...] um método ou um conjunto
de regras de procedimento para a constituição de Governo e para a formação das decisões
políticas (ou seja das decisões que abrangem a toda a comunidade) mais do que uma
determinada ideologia” (p. 326).
Ainda, na teoria política contemporânea, principalmente em países que são
tradicionalmente democrático-liberal, a Democracia é definida por regras ou como
“procedimentos universais”.
Entre estas: 1) o órgão político máximo, a quem é assinalada a função legislativa, deve ser composto por membros direta ou indiretamente eleitos pelo povo, em eleições de primeiro ou de segundo grau; 2) junto do supremo órgão legislativo deverá haver outras instituições com dirigentes eleitos, como os órgãos da administração local ou o chefe de Estado (tal como acontece nas repúblicas); 3) todos os cidadãos que tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo, devem ser eleitores; 4) todos os eleitores devem ter voto igual; 5) todos os eleitores devem ser livres em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, isto é, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional; 6) devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais alternativas (o que exclui como democrática qualquer eleição de lista única ou bloqueada); 7) tanto para eleições dos representantes como para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria numérica, se bem que podem ser estabelecidas várias formas de maioria segundo critérios de oportunidade não definidos de uma vez para sempre; 8) nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da maioria, de um modo especial o direito de tornar-se maioria, em paridade de condições; 9) o órgão do Governo deve gozar de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua vez, eleito pelo povo. (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2004, p. 327).
18
Como se pode observar essa definição estabelece como se deve chegar à decisão
política. Não quer dizer que todos os países que são democráticos seguem todas essas regras
citadas.
Não é possível estabelecer quantas regras devem ser observadas para que um regime possa dizer-se democrático. Pode afirmar-se somente que um regime que não observa nenhuma não é certamente um regime democrático, pelo menos até que se tenha definido o significado comportamental de Democracia. (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 2004, p. 327).
No Brasil, o regime que estabelece as regras é democrático, mas foi um processo
lento e gradual para a constituição do processo democrático.
A etapa de campo e os procedimentos metodológicos
Para a execução da pesquisa, preliminarmente, levantou-se a bibliografia
específica sobre o tema, bem como, dados históricos sobre o contexto no qual desenvolveu-se
a pesquisa. Dados quantitativos relativos ao número de eleitores foram coletados junto ao
Tribunal Regional Eleitoral de Joinville. Foram selecionados, para estabelecer a comparação,
os bairros Glória e Jardim Paraíso por apresentarem características diametralmente opostas,
ou seja, compostos por famílias de classe média e de baixa renda, respectivamente.
Entrevistou-se, a partir de um roteiro de entrevistas semi-estruturadas, 13 mulheres em cada
um dos bairros, totalizando 26 entrevistas. A seleção das entrevistadas se deu de forma
aleatória, na medida em que, apenas perguntávamos sobre a disponibilidade para
conversarmos sobre o tema política.
Mas, a etapa de pesquisa de campo apresentou um comportamento por parte de
algumas entrevistadas, que num primeiro momento nos surpreenderam mas, paralelamente,
nos instigaram a conferir e compreender as razões pelas quais se negavam a tratar do tema
política.
Nossa etapa de campo ocorreu no dia 23 de janeiro e dia 03 de abril de 2007 foram
realizadas as entrevistas com as mulheres moradoras no bairro Glória do município de
Joinville. Neste bairro tivemos algumas dificuldades para a realização das entrevistas. A
primeira mulher que abordamos se negou a responder por falta de tempo. A segunda estava de
saída. A terceira não quis responder, pois se tratava de assuntos relacionados à política. A
quarta indicou para conversarmos com sua vizinha, alegando que ela gostava mais “dessas
coisas de política”. Fomos na vizinha e esta finalmente aceitou responder a entrevista, mas
19
mostrava-se pouco interessada, respondendo a cada pergunta de forma objetiva e direta, o que
impedia um aprofundamento da conversa.
Muito embora, constatássemos que haviam pessoas na casa, muitos não atendiam a
campainha ou interfone, coincidentemente, quando se tratava de casarões, provavelmente, de
propriedade de pessoas que possuem poder aquisitivo alto que por certo, julgavam tratar-se de
pedintes.
De cada quatro mulheres abordadas no bairro Glória apenas uma aceitava responder
a entrevista, no entanto as que aceitavam eram moradoras de casas aparentemente mais
simples. Cada entrevista realizada durava uns vinte minutos. Nenhuma das mulheres
entrevistadas nos convidaram para entrarmos em suas casas, mantendo uma certa distância.
Elas respondiam a cada pergunta de forma objetiva e rápida, pois a maioria destas mulheres
deixava claro que não gostavam de falar sobre assuntos relacionados à política. Por outro
lado, estas demonstraram estarem desacreditadas da política e dos políticos. Isso dificultou
bastante para realizarmos uma conversa mais descontraída e longa, mas que também
consideramos um dado relevante em nossas análises. Outro problema foi que as entrevistadas
demonstravam pressa em responder às perguntas e por vezes pareciam um pouco impacientes.
Só depois de algumas abordagens conseguimos realizar a primeira entrevista, de
forma satisfatória.
Neste mesmo bairro Glória, ainda a maioria das entrevistadas se negou a declarar a
renda familiar, quer porque desconheciam o valor da renda familiar, quer por alguma
desconfiança, considerando que os valores explicitados eram visivelmente abaixo do valor,
dada a qualidade da moradia e seu estado de conservação.
No bairro Jardim Paraíso do município de Joinville as entrevistas foram realizadas no
dia 24 de janeiro e dia 05 de abril de 2007 e tivemos maior facilidade em conseguirmos
mulheres dispostas a responderem às entrevistas. Apenas uma mulher se negou a responder,
porque precisava se dirigir para o trabalho no momento em que a abordamos. As mulheres
desse bairro nos recebiam de forma bem mais simpática que as mulheres do bairro Glória,
mas elas também não nos convidaram para entrarmos em suas casas, porque estas eram
simples e pequenas, às vezes com apenas um cômodo.
Um ponto em comum que pudemos observar nos dois bairros é de que as mulheres
que foram entrevistadas nos dois bairros sempre responderam de forma direta, aparentando
pressa para terminar, justificado em parte em suas respostas, ou seja, por estarem
desacreditadas da política e dos políticos.
20
Vale lembrar ainda, que algumas mulheres do bairro Jardim Paraíso responderam
com pressa, porque tinham seus filhos para cuidar, tarefas domésticas para realizar ou porque
teriam que sair para o trabalho fora do grupo doméstico.
As mulheres entrevistadas do bairro Jardim Paraíso, ao contrário do outro bairro, não
demonstravam problema em informar sua renda familiar havendo apenas uma delas que não
soube informar o valor da renda familiar.
Outro ponto a ser mencionado é que as mulheres do bairro Jardim Paraíso
apresentaram insegurança em responder, quer por medo ou vergonha de responder “errado”
ou não saberem responder alguma pergunta. Ao final de suas respostas ficavam nos olhando
como se estivessem esperando nossa aprovação, a confirmação de que a resposta estava certa
ou errada. No final de cada entrevista ainda pediam desculpas por talvez terem respondido
“errado”.
Apesar destas dificuldades que a etapa de campo nos reservou, ainda assim,
obtivemos informações suficientes – por vezes, abaixo da nossa expectativa – para
analisarmos o comportamento eleitoral das mulheres nos bairros selecionados.
21
CAPÍTULO II – A PARTICIPAÇÃO HISTÓRICA DAS MULHERES NA POLÍTICA
2.1 AS MULHERES BRASILEIRAS E A POLÍTICA
No presente trabalho buscamos compreender o processo histórico da participação
da mulher na política e em diversos movimentos nos quais expressaram o desejo por direitos
igualitários. No início da década de 1920 as líderes do movimento das sufragettes2 mantinham
ligações com as demais líderes do movimento internacional. As sufragettes sofriam ataques
da imprensa acusando-as de pertencerem ao terceiro sexo, de não terem charme feminino,
histéricas e “declassées”.
Foi a partir da Semana da Arte Moderna em São Paulo, realizada em 1922, que
desencadeou uma mudança cultural favorável às mulheres, mas principalmente àquelas que
possuíam maior recurso financeiro e grau de instrução puderam usufruir de alguma autonomia
e independência (AVELAR, 2001).
No geral, os movimentos urbanos dos anos 1920 e 1930 deixavam claro que as conquistas femininas não implicariam alterar a estrutura da sociedade e da família. Frutos da ação de mulheres de classe alta, os movimentos reiteravam a política conservadora da época (AVELAR, 2001, p. 18-19).
O direito ao voto foi uma conquista das mulheres brasileiras reconhecido através
do decreto do presidente Getúlio Vargas, em 24 de fevereiro de 1932. Entretanto, esse
reconhecimento ficou restrito à legislação, uma vez que somente em 1946 as mulheres
puderam efetivamente votar, por ocasião do término da ditadura de Getúlio Vargas.
As mulheres na década de 30 defendiam em suas reivindicações: os interesses das
mulheres trabalhadoras; a necessidade de educação em colégios mistos; mudança da
legislação que definia a mulher casada como incapaz; a política voltada às crianças
abandonadas e a emancipação econômica das mulheres. Mas na ditadura de Getúlio Vargas
(1937-1945), essas reivindicações não foram ouvidas (AVELAR, 2001).
Em 1945 foi criado no Rio de Janeiro o Comitê de Mulheres pró-Democracia, que
tinha como finalidades principais fazer com que a mulher participasse efetivamente da
2 As sufragettes constituia-se de um grupo de mulheres que reivindicavam pelos seus direitos políticos. Dentre as sufragettes tinham médicas, dentistas, advogadas, escritoras, escultoras, poetisas, pintoras, engenheiras civis, cientistas, funcionárias públicas, parentes de políticos de alta elite e uma aviadora. Essas posições dessas mulheres facilitaram para as reivindicações do grupo enquanto grupo de elite sendo independente de qualquer movimento social ou partido político (AVELAR, 2001).
22
consolidação da democracia no Brasil e lutasse por igualdade de direitos em todos os ramos
da atividade profissional, administrativa, cultural e política (TABAK, 2002).
Em 1946 foi criada a União Feminina do Distrito Federal (o Rio de Janeiro era a
capital do país). Esse grupo desenvolvia diversas atividades dentre 30 bairros do município do
Rio de Janeiro e combatiam as diversas carências e escassez de gêneros de primeira
necessidade. Esta experiência se estendeu para outros estados brasileiros como Minas Gerais,
Goiás, Bahia, Sergipe, São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Espírito Santo e outros
(TABAK, 2002).
A luta contra a carestia de vida constituiu quase sempre o centro da programação levada à prática por essas organizações femininas e ela se processou através de visitas dietas às donas-de-casa, ao esclarecimento público feito nas feiras livres, à propaganda no bairro através de cartazes, conversas nas filas, etc (TABAK, 2002, p. 32-33).
Outro ponto importante a ser mencionado foi a criação e desenvolvimento da
imprensa feminina que teve papel significativo através do jornal Momento Feminino, lançado
em 1947, no Rio de Janeiro. O jornal serviu de instrumento para a união das mulheres dentro
das associações e organizações femininas, de quem recebia apoio financeiro e notícias
(TABAK, 2002).
Neste mesmo ano em que foi lançado o jornal, as organizações femininas
passaram a comemorar duas datas. Uma, “dia 8 de março” como o “Dia Internacional da
Mulher” e a outra no segundo domingo de maio como o “Dia das mães”.
Em homenagem ao dia 8 de março realizou-se em 1949, a primeira Convenção
Feminina do Distrito Federal, buscando impulsionar a ação das mulheres cariocas em defesa
de melhores condições de vida para as mulheres e suas famílias. Neste encontro foram
discutidos três pontos principais: direitos da mulher, proteção à infância e paz mundial.
Além destas frentes de luta uma outra instituição foi criada em 1951, a Federação
de Mulheres do Brasil que realizou um congresso neste mesmo ano. Este congresso reuniu
231 delegadas de 13 estados brasileiros, a maioria delas, donas-de-casa (TABAK, 2002).
As resoluções aprovadas nesse Congresso foram importantes. No ponto referente à defesa da infância: criar Comitês de Defesa da Infância em todas as organizações femininas existentes; lutar junto aos governos municipais pela criação de escolas (com distribuição gratuita de uniformes, calçados, material escolar e merenda), por parques infantis, lactários e creches em todos os bairros pobres; exigir a proibição de revistas nocivas e a venda de balas com figurinhas, por se tratar de exploração da criança; lutar contra a exploração do trabalho infantil mal remunerado e prejudicial à saúde e à
23
educação da criança; lutar pela proteção efetiva à maternidade, garantindo à mãe férias e salário integral correspondente a três meses (TABAK, 2002, p. 34).
Ainda, as resoluções tratavam da organização do movimento feminino,
destacando a importância de ampliar as atividades desenvolvidas pelas filiais da Federação de
Mulheres do Brasil. “Para isso, deveriam as filiais desenvolver a mais ampla iniciativa,
esforçando-se por organizar as mulheres nas mais variadas formas, de acordo com suas
necessidades específicas, em cada momento”. (TABAK, 2002, p. 34).
Na ditadura militar de 64 mães, esposas, filhas e irmãs dos políticos presos e
perseguidos foram vítimas da repressão. Mas essas mesmas mulheres e muitas outras
organizações civis reagiram e desenvolveram intensa campanha de denúncia, que culminou
no fim dos anos 70, com movimentos a favor da anistia, permitindo o regresso de muitos
exilados ao país, como vimos anteriormente.
Não obstante a onda de manifestações vibrantes que atravessaria o período de transição brasileira (1974-1985), os partidos políticos permaneceriam fechados às representações de mulheres. Multiplicavam-se as seções femininas nos partidos, verdadeiros guetos de mulheres cujo objetivo real era o de excluí-las do jogo político. O posicionamento ideológico das mulheres tornar-se-ia mais claro na medida em que no país se construía um novo espaço político, o espaço político da esquerda representado pela política da sociedade organizada (AVELAR, 2001, p. 20).
No decorrer da transição democrática, nas eleições para o Parlamento nos vários
níveis e para o Executivo, possibilitou ao movimento feminista trazer para a discussão os
temas centrais que impulsionaram suas ações. Nas eleições de 1978 e de 1982, a presença de
candidatas que defendiam reivindicações feministas trouxe um elemento novo para as
campanhas, ou seja, a presença das mulheres (TABAK, 2002, p. 73).
Em um estudo realizado por Fanny Tabak (2002) constata-se que a campanha
eleitoral de 1982 foi caracterizada por discussões entre vários grupos feministas que contavam
com a presença de representantes desses grupos e com militantes partidários. As discussões
estiveram centradas sobre o papel que o movimento feminista deveria ter em relação à
campanha eleitoral e aos candidatos a mandatos eletivos. As mulheres reivindicaram em
relação aos direitos e cidadania, trabalho, educação, corpo e saúde, alimentação e violência.
Tratava-se de uma lista ampla de demandas apresentadas pelo movimento feminista aos
partidos e candidatos, paralelamente às exigências, haviam aspirações e anseios de caráter
24
abrangente, em relação às reformas profundas na sociedade brasileira quanto à organização
econômica, social e política (TABAK, 2002).
Nas eleições de 1982 as mulheres começaram a adquirir alguma visibilidade no
quadro político, registrando-se a presença de 58 mulheres como candidatas à Câmara de
Deputados, dentre as quais apenas oito foram eleitas. Um fato inédito a ser mencionado foram
as candidaturas de três mulheres ao governo do Estado, muito embora nenhuma delas tenha
sido eleita. Uma mulher foi eleita à vice-governadora do estado do Acre pelo PMDB, à época,
um partido de oposição (TABAK, 2002).
Em relação à Câmara Federal, composta por 513 deputados, pode-se registrar que
a participação da mulher vem crescendo desde 1982. O crescimento teve maior intensidade a
partir de 1985, com o fim do regime militar e com a redemocratização do Brasil.
As eleições de 1986, 1990, 1994 e 1998 representam verdadeiros marcos no
incremento do desenvolvimento da representação política feminina. Em 1986 para a Câmara
Federal foram eleitas 26 representantes femininas. No ano de 1990 foram eleitas 29 mulheres.
Nas eleições de 1994 elegeram-se 32 mulheres e em 1998 registrou-se uma pequena queda
onde se elegeram 29 mulheres para a Câmara Federal (AVELAR, 2001).
Tabela 1 Mulheres eleitas para a Câmara Federal
Ano Eleitas
1986 26
1990 29
1994 32
1998 29
2002 37
2006 48
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral
O que se confere é que no período em entre 1986 e 1998, o número de candidatas
eleitas não sofreu grande variação, levando-nos a deduzir que, em parte, a sociedade brasileira
mantém, ainda, alguma restrição quanto à participação da mulher no quadro político. Já nas
eleições de 2002 e 2006 apresentou um aumento de mulheres eleitas para a Câmara Federal.
Quanto aos estados dos quais essas mulheres procedem representando a bancada
feminina na Câmara Federal, observa-se que a maioria delas é proveniente de estados com
25
melhor qualidade de vida, sendo que dentre elas 50% são de partidos de esquerda. Já as
representantes eleitas em estados com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em
sua maioria são filiadas aos partidos de centro e de direita (AVELAR, 2001).
Em sua análise, Avelar (2001) constata que em relação aos projetos encaminhados
pelas mulheres parlamentares do Congresso Nacional, os mais numerosos são projetos
relacionados às questões de trabalho e previdência. Esta prioridade é em decorrência da
condição inferior que é destinado à mulher no mercado de trabalho. Em seguida vêm os
projetos ligados à saúde, por se este direito social negligenciado, historicamente, não só para
as mulheres, mas para a grande maioria dos brasileiros. Por dependerem particularmente deste
serviço, principalmente na área ginecológica e pediátrica, as mulheres as reivindicam em
caráter de urgência dada a grande carência. Outro tema considerado importante para as
mulheres diz respeito à violência. Este tema é muito discutido pelas organizações não-
governamentais nacionais e internacionais, tornando-se bandeira internacional na luta pela
defesa contra qualquer forma de violência à mulher, como indica Avelar:
Se aprofundarmos a análise do mérito dos temas em tramitação no Congresso Nacional levados pela bancada feminina, veremos que todos eles têm em comum o fato de que, diante de uma realidade social de tratamento desigual, de discriminação sexual, estereótipos culturais, além da subordinação da mulher na casa e no mercado de trabalho, as investidas para reverter a situação devem ser feitas pelas mulheres ou pelos homens de consciência feminista e defensores dos direitos de cidadania das mulheres. (AVELAR, 2001, p. 62).
Uma ação da bancada feminina do Congresso Nacional que merece destaque é a
elaboração e publicação da cartilha para as mulheres candidatas às eleições de 1996. A
bancada feminina do Congresso Nacional contou com o apoio do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), do Senado Federal e do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Esta cartilha informa sobre vários aspectos da política, orienta como se faz uma
campanha, trata das lutas históricas das mulheres na política, sua representação e também
sobre aspectos relativos à descentralização e poder local (Mulheres sem medo do poder,
1996).
Para as Assembléias Legislativas dos estados a presença feminina também vem
crescendo a cada pleito eleitoral. Em 1998 foram cadastradas 1388 candidatas e 107 foram
eleitas como deputadas estaduais, sendo este um número recorde na história do Brasil
(AVELAR, 2001).
26
Entretanto não se pode falar de uma participação homogênea em todo o país, a
presença feminina varia entre os estados, como também a situação de cada estado varia em
relação ao crédito e confiança na atuação política das mulheres (COSTA, 1998 apud
AVELAR, 2001).
No âmbito local as mulheres eleitas para o Executivo municipal vêm crescendo a
cada eleição. “Das 1.139 candidatas em 2000, elegeram-se 317. O Nordeste é a região com
maioria absoluta de prefeitas” (AVELAR, 2001, p. 67). “Os partidos de direita elegeram, em
2000, 154 mulheres para os executivos municipais, ou quase a metade das prefeitas (48,6%);
os partidos de centro elegeram 121 (38,2%) e os partidos de esquerda elegeram 42 (13,2%)”.
(AVELAR, 2001, p. 68).
Na eleição de 2000 candidataram-se 70.321 mulheres para os legislativos municipais, e foram eleitas 7.000. As candidaturas masculinas foram um número de 296.902, sendo eleitos 53.257. O Nordeste é a região com maior proporção de vereadores, 36,7%, seguida pelo Sudeste, com 27,9%. Os estados da região Sul elegeram 17,8% e as regiões Norte e Centro-Oeste elegeram, respectivamente, 8,9% e 8,7%. O que mais nos chama a atenção é o fato de que são os partidos de direita, especialmente o PFL, o PPB e o PTB, os que concorrem com o maior número de mulheres vereadoras: 46%. Em seguida vêm os partidos de centro, particularmente PMDB e PSDB, com 35,5%. Os partidos de esquerda elegeram 18,5%, sendo o PT, o PDT e o PPS os que alcançaram maior número de mulheres aos cargos dos legislativos municipais (AVELAR, 2001, p. 69).
Em relação aos dados citados, devemos considerar que nas eleições de 2000
vigorava a Lei de Cotas3 que obrigava os partidos políticos a destinar 30% das listas para
candidaturas femininas (TABAK, 2002). “Balanços posteriores às eleições indicam que houve
um aumento concreto no número de candidatas, mas, salvo algumas exceções, em geral, as
agremiações partidárias não preencheram o percentual estabelecido na Lei”. (ARAÚJO, 1998,
p. 84).
A participação das mulheres em partidos políticos ainda é pequena, mas
analisando a presença feminina conforme a tendência ideológica dos partidos, pode-se
perceber que no ano de 2000 havia já uma boa participação das mulheres nos partidos de
esquerda. O PT é o partido com maior proporção de mulheres, enquanto “os partidos de
3 Esta Lei foi introduzida na eleição de 1996 na legislação eleitoral. Primeiramente a obrigatoriedade da cota era de 20% de mulheres nas listas partidárias para as eleições proporcionais. A iniciativa foi da deputada Marta Suplicy com o apoio de mais 30 deputadas. O projeto de lei foi apresentado em agosto de 1995 propondo uma cota mínima de 30% de mulheres nas listas para as eleições parlamentares em todos os níveis. O projeto foi acolhido pelo relator da matéria, mas somente para 20% de mulheres nas listas. Para as eleições de 1998 a proposta foi debatida e passou para 25%. Por fim a Lei nº 9.504 estabeleceu que cada partido ou coligação deverá reservar no mínimo 30% e no máximo 70% para candidaturas de cada sexo. (BORBA, 1998).
27
centro e da direita, particularmente os maiores, tendem a receber menos mulheres em seus
quadros de dirigentes”. (AVELAR, 2001, p. 81).
Para estas preferências partidárias Lúcia Avelar concluiu que há uma maior
identificação das mulheres que participam da política por “[...] partidos políticos organizados
sob o princípio de classes, os partidos menores, alinhados à esquerda, e que incorporam, em
maior proporção, segmentos representativos das mulheres”. (2001, p. 81).
Outro ponto a ser considerado é que mesmo que os números demonstrem a sub-
representação política da mulher, o eleitorado feminino tem um peso indiscutível. Segundo
dados do Tribunal Superior Eleitoral, no ano de 2000 no Brasil existiam 55.437.428 mulheres
eleitoras enquanto que 54.152.464 eram homens eleitores. Portanto, as mulheres
correspondiam a 50,6% dos eleitores (AVELAR, 2001).
Na campanha eleitoral de 2006, o candidato à presidência Luiz Inácio Lula da
Silva priorizou a busca do voto feminino, pois tinha conhecimento de que o eleitorado
feminino seria fundamental para a sua reeleição (ALENCAR, 2006). Num total de
125.913.479 eleitores, dentre eles, 64.882.283 são mulheres, representando 51,53% e
60.853.563 são de homens eleitores representando 48,33%4, é compreensível que o candidato
estivesse atento ao eleitorado majoritário.
Quanto ao sistema eleitoral brasileiro há que se fazer também algumas
observações, como aponta Clara Araújo (2005) ao destacar que os sistemas proporcionais são
favoráveis às mulheres. Para a autora o sistema proporcional é favorável “porque torna mais
viável a adoção de estratégias de ação afirmativa tais como as cotas, uma vez que sempre há
uma pluralidade mínima de candidatos concorrendo” (SCHMIDT, 2003 apud ARAÚJO,
2005, p. 196). Ainda quanto a representação proporcional segundo Araújo (2005) beneficia as
mulheres, porque permite a existência de mais partidos e surgimento de novas agremiações
não-tradicionais.
Quanto à identificação da mulher com o espaço da política é preciso lembrar que:
As mulheres hoje ocupam importantes espaços no mundo do trabalho, apesar das desigualdades salariais e outros tipos de discriminação, mas, na sua maioria, continuam responsáveis pelas tarefas domésticas e pelos cuidados dos filhos. Romperam barreiras importantes, mas ainda são poucas as que conseguem enfrentar o espaço da política, e o fazem, em geral, com grandes sacrifícios: não têm intimidade com este espaço tradicionalmente masculino, não conseguem convencer seus maridos e companheiros a dividirem encargos domésticos e têm menos recursos financeiros do que os homens (BORBA, 1998, p. 168).
4 Dados obtidos no site www.tse.gov.br, acessado em 21 de agosto de 2006.
28
No que diz respeito ao comportamento das candidatas estudos realizados por Irlys
Alencar Firmo Barreira (1998), revelaram que as candidatas em seus discursos, normalmente,
recorrem ao uso de um coletivo, como “nós mulheres”, mostrando que há um modo específico
de fazer política. Essa afirmação no plural é suprapartidária, permanecendo a estratégia da
diferença. “O anúncio de uma condição feminina em primeiro plano representa a busca de
uma ordem interativa, que ritualiza apelos marcados por diferenças entre homens e mulheres”.
(GOFFMAN, 1989 apud BARREIRA, 1998, p. 150).
Portanto, como afirma Barreira, as mulheres têm a necessidade de pensar as
candidaturas em sua expressão plural, evitando o conceito de mulher como unidade social.
São várias as situações de campanha em que a condição de gênero aparece como elemento de destaque: interpelações discursivas dirigidas às mulheres, convocações de rituais específicos à categoria mulher ou afirmação de valores considerados tipicamente femininos. Observa-se, assim, a tentativa de realizar o coletivo “nós mulheres”, aglutinando bens culturais e simbólicos já constituídos e transformando-os em capital político (BARREIRA, 1998, p. 177).
A mesma autora concluiu em seu trabalho que a dimensão simbólica das
candidaturas femininas é ainda um espaço político em construção, buscando credibilidade e
reconhecimento social. Esse espaço não apresenta um coletivo homogêneo. “A situação de
candidatas em disputa coloca em cena o tema da singularidade e confrontação de diversos
perfis expressivos de diferentes formas de capital político” (BARREIRA, 1998, p. 185).
2.2 AS MULHERES CATARINENSES NA POLÍTICA
No estado de Santa Catarina, em 1934, foi eleita como deputada estadual,
Antonieta de Barros5. Ela foi a primeira mulher e negra a ocupar uma cadeira na Assembléia
Legislativa. Vale lembrar que isso aconteceu logo no primeiro pleito após a conquista do
direito ao voto das mulheres. Nessa época o espaço e o cargo ainda eram tidos como direito
especial para os homens. A tarefa de ser deputada provavelmente não foi fácil, pois o direito
de votar e ser votada era novidade para o estado de Santa Catarina como também para o Brasil
(NUNES, 2001). No ano de 1951 o jornal O Estado publicou um discurso de Antonieta de
Barros, que merece a transcrição neste texto:
5 Sobre a vida e atuação política de Antonieta de Barros leia-se o artigo de Nunes (2001).
29
[...] pelo coração de uma mulher negra brasileira, que se orgulha de sê-lo, que nunca se pintou de outra cor, que nasceu trabalhou e viveu nesta terra e que bendiz a Mãe, a santa Mãe, também negra, que educou, ensinando-a a ter liberdade interior, para compreender e lastimar a tortura dos pobres escravos que vivem acorrentados, no mundo infinitamente pequeno das coisas infinitamente pequeninas e insignificantes [...] (O Estado, 06 maio 1951).
Antonieta de Barros ressalta as duas condições pelas quais algumas mulheres são
amplamente discriminadas, a condição de negra e mulher. Falando de um lugar “masculino”,
da tribuna parlamentar, a deputada se envaidece da sua condição, chamando atenção para as
desigualdades sociais.
Em relação aos movimentos de mulheres no estado de Santa Catarina, ocorreram
em paralelo ao movimento de mulheres no Brasil, mas com a presença de características
específicas em relação às condições políticas, econômicas e sociais próprias de Santa Catarina
(ZIMMERMANN, 1996).
Em 1951 surgiu em Santa Catarina o primeiro grupo organizado de mulheres
denominado de “Associação Catarinense de Mulheres”. Esse grupo lutava pelos direitos
políticos, sociais, econômicos e jurídicos da mulher; pela proteção da saúde pública e pela
igualdade salarial. A associação resistiu até os anos 60, pois era vinculada à federação das
Mulheres do Brasil, mas, em decorrência do golpe militar de 1964 sofreu repressão
(ZIMMERMANN, 1996).
No final de 1977, surgiu o “Movimento Feminino pela Anistia em Santa Catarina” que reunia, em sua maioria, mulheres ligadas a presos políticos do Estado. Com a decretação da anistia em 1979, este movimento começa a se esvaziar, se extinguindo no início de 1980 (ZIMMERMANN, 1996, p. 41).
No início dos anos 80 surgiu o “PMDB-Mulher”, grupo partidário composto por
mulheres de Santa Catarina. Esse grupo era informal, mas para ele convergenciam várias
tendências desde a sua formação e organização. Um dos elementos que influenciaram foi a
criação do “Movimento de Mulheres de Santa Catarina” em 1980. O grupo na verdade se
constituiu como uma comissão de representantes femininas de várias entidades, sendo elas:
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), União Catarinense dos Estudantes (UCE), Diretório
Central dos Estudantes (DCE), Associação dos Professores da Universidade Federal de Santa
Catarina (APUFSC), Comissão de Justiça e Paz, Sindicato dos Médicos (SIMESC), como
também, representantes dos partidos políticos de oposição da época, o PMDB, o PDT e o PT.
Dentre as mulheres que participaram do “Movimento” uma das mulheres que se destacou na
30
participação política foi Anita Pires – militante ativa do PMDB – coordenou o grupo desde a
criação até sua extinção (ZIMMERMANN, 1996).
Em 1981 surgiu o primeiro grupo feminista no estado, este era constituído por
mulheres universitárias, denominado “Coletivo de Mulheres Amálgama”. O grupo
preocupava-se em discutir a questão do resgate da identidade feminina, conforme os
parâmetros feministas. O grupo extinguiu-se dois anos após a sua criação (ZIMMERMANN,
1996).
Em relação a participação das mulheres na vida política, foi criado também, a
“Ação Democrática Feminina” no ano de 1981.
O grupo era formado por mulheres que tinham certa liderança em cargos públicos estaduais, e o objetivo principal era servir de veículo a candidaturas femininas do partido situacionista, mas não chegou a configurar-se em órgão partidário influente dentro do PDS catarinense. Após as eleições de 1982 a Ação Democrática Feminina foi extinta, e nenhum outro órgão similar veio substituí-la (ZIMMERMANN, 1996, p. 42).
Nas eleições de 1982 foi eleita a primeira mulher como vereadora na capital do
estado. A primeira vereadora foi Clair Castilhos, era militante política e feminista. Ela
também foi escolhida entre cinco mulheres brasileiras para integrar o “Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher”. Clair Castilhos foi filiada posteriormente ao PSDB, e foi indicada ao
cargo deste Conselho pelos movimentos feministas.
Este Conselho é uma entidade que representa a sociedade civil organizada, estando diretamente ligado ao Ministério da Justiça, por meio de seu gabinete. Ele é responsável por propor, analisar, dar pareceres aos projetos de lei, além de fiscalizar as políticas públicas relativas à mulher (ZIMMERMANN, 1996, p. 32).
Em 1983 surgiu outro grupo feminista denominado “Vivências”, constituído por
mulheres ligadas ao PMDB. O grupo tinha como uma de suas preocupações o contato com o
movimento feminista a nível nacional, vendia e distribuía o jornal feminista nacional o
“Mulherio”, que era editado em São Paulo, mas extinguiu-se dois anos após sua criação
(ZIMMERMANN, 1996).
Outra participação da mulher que se poderia evidenciar diz respeito aos partidos
políticos, que segundo Zimmermann (1996) a maioria das mulheres que ocuparam função na
estrutura dos partidos acabaram se envolvendo com a política de forma efetiva. Algumas
31
participaram como candidatas nas eleições, outras ocuparam cargos dentro da organização
interna como membro do Diretório Regional.
Constata-se que os cargos burocráticos mais importantes são sempre entregues aos homens. As mulheres são vistas apenas como elemento de sustentação para os políticos. A presença das mulheres nos partidos pode ser interpretada pelo eleitorado como um sinal de modernização e apoio às minorias marginalizadas. Esta situação é aproveitada em épocas eleitorais, onde o peso do voto feminino exige uma atenção especial dos políticos. Muitas mulheres citam que os partidos querem representantes femininas como forma de angariar votos (ZIMMERMANN, 1996, p. 32).
As mulheres, por vezes, são lembradas para fazer número para fundar um partido,
para mobilização, para fazer fichas, para distribuir panfletos, para gritar em comícios,
enquanto que os homens disputam os cargos do poder (ZIMMERMANN, 1996).
No ano de 1986, foi eleita para deputada estadual pelo estado de Santa Catarina,
Luci Choinaski6. Ela nasceu no município de Descanso, foi a primeira mulher agricultora a
alcançar este cargo. Esta deputada participou da Constituinte Estadual e foi presidente da
Comissão de Agricultoras. Em 1990, foi eleita deputada federal, cujo cargo lhe deu a
oportunidade de lutar por questões nacionais como a reforma agrária, a política agrícola, a
previdência e a aposentadoria para os trabalhadores rurais. Uma das conquistas desta deputada
foi o salário-maternidade.
Em relação ao número de mulheres participantes em partidos políticos ainda é
muito pequeno e sua participação para cargos eletivos em Santa Catarina também é baixa.
Nunca foi eleita uma mulher para o cargo de governadora do Estado de Santa Catarina. Para o
Senado, a ex-peemedebista Maria Shirley Donato conquistou o espaço como suplente do
senador Jaison Barreto. Recentemente, foi eleita senadora a candidata Ideli Salvatti que,
atualmente no cargo, vem se destacando na defesa do governo do PT de forma combativa em
relação aos partidos opositores.
Em relação a Assembléia Legislativa passaram apenas três mulheres pela casa,
sendo elas: Antonieta de Barros, Luci Choinaski e Ideli Salvatti. Já pela Câmara dos
Deputados passaram três, sendo elas: Lígia Doutel de Andrade, Luci Choinaski e Ângela
Amin. Em relação às deputadas Lígia Doutel de Andrade e Ângela Amin é preciso lembrar
6 Sobre a participação desta mulher na área política leia-se o artigo da própria Luci Choinaski no qual a deputada relata sua atuação nos movimentos sociais. Sobre a participação das mulheres rurais de Santa Catarina em movimentos sociais veja-se, entre outros, Brito e Prá (1987). Não se pode deixar de mencionar, como lembra Pinto “que os partidos e os sindicatos são mais masculinos e os movimentos tendem a ser mais femininos” (1998, p. 130), razão para se compreender que as mulheres ao atuarem nos movimentos sociais passam a ter visibilidade na área política, embora este não seja o único caminho para fazer política.
32
que ambas eram casadas com políticos de renome, o que poderia ter lhes facilitado a ingressar
na vida política. Luci Choinaski, por sua vez, iniciou a vida política através do Movimento de
Mulheres no Oeste catarinense.
Em uma matéria do jornal Diário Catarinense (1996) observa-se o aumento da
participação das mulheres nas eleições municipais de 1996 em Santa Catarina. Nestas eleições
seis mulheres foram eleitas para o cargo de prefeitas de municípios de Santa Catarina. Foram
elas: Tereza de Medeiros Luciano de Bocaina do Sul; Leni Maria Perotti Suzin Marini de
Concórdia; Marilúcia Silva da Costa de Curitibanos; Wilsa Maria Corioletti de Formosa do
Sul; Célia Fernandes de Gravatal e Erna Heidrich de Taió. Ainda, depois no 2º turno foi eleita
Ângela Amin de Florianópolis.
Para as eleições municipais de 1996 os partidos tiveram preocupação em
preencher os 20% das vagas para mulheres em virtude da lei que os obrigava a registrar
candidaturas femininas. Alguns partidos não conseguiram preencher as vagas para as
candidatas mulheres (Diário Catarinense, 21/07/1996).
Nas eleições de 2002 foram eleitas para a Assembléia Legislativa Ana Paula de
Lima e Odete de Jesus. Depois, assumiu a como deputada Simone Schramm (FELTHAUS,
2006). Em relação aos outros cargos já foram citadas anteriormente.
Para as eleições de 2006, apenas 10% das candidaturas em Santa Catarina são
representadas por mulheres. Mesmo com a introdução da cota de 30% para um dos sexos, a
participação da mulher na política brasileira ainda é reduzida. “As razões são várias. Existem
alegações pseudoculturais, como machismo e até em relação à condição feminina, mãe e
esposa [...]”. (A NOTÍCIA, 20/08/06, p. 03).
Nas eleições de 2006 para a Câmara dos Deputados foi eleita Ângela Amin e para
a Assembléia Legislativa foram eleitas três mulheres: Ana Paula Lima, Odete de Jesus e Ada
de Luca. Lembrando que as duas primeiras foram reeleitas e somente Ada de Luca foi eleita
pela primeira vez como deputada (Disponível em:http://www.tre-sc.gov.br//).
Em Santa Catarina, segundo o Tribunal Regional Eleitoral foram registrados em
2006 um total de 4.168.495 eleitores. Destes 2.111.445 são de mulheres que representam
50,65% e 2.057.040 de homens que representam 49,35%. Se o número de mulheres eleitoras é
superior ao número de homens eleitores, por que tão poucas mulheres são eleitas para os
cargos políticos?
33
2.3 AS MULHERES JOINVILLENSES NA POLÍTICA
Em 1955 foi eleita Matilde Amin Ghanem como primeira vereadora do município
de Joinville (TERNES; VICENZI, 2000).
A primeira mulher candidata ao cargo de deputada estadual representando
Joinville foi Ingeborg Hildegard Colin. Ela se filiou ao PTB e concorreu às eleições em 1958,
mas ficou como primeira suplente, sendo em maio de 1959 empossada. Sua bandeira foi
defender as subvenções para dar suporte às instituições que sempre tiveram dificuldades para
avançar com seus projetos comunitários (COLIN, 2002).
Outra candidata eleita para o cargo de vereadora em Joinville foi Tereza
Campregher Moreira em 1989. Depois em 1997, Eliete Steingraber da Silva ficou como
suplente de João Pessoa Machado e foi efetivada. Era professora, filiada ao PMDB. Em 2001,
Carmelina Barjona elegeu-se como vereadora pelo PPB, era professora e supervisora escolar.
Neste mesmo ano, também, foi eleita Maria Andreis Cadorin, filiada ao PTB e Engenheira
Agrônoma e Ambientalista (TERNES; VICENZI, 2000).
Em 2001 o Movimento Ação Comunitário (MAC) inaugurou o “Projeto Ser
Mulher” em parceria com a Delegacia da Mulher, da Criança e do Adolescente. A presidente
do MAC era a vereadora Maria Cadorin. O projeto tinha como objetivo atender qualquer
mulher, criança, jovem ou adolescente que estivesse passando por problemas psicológicos,
sociais ou de saúde (ZIMMERMANN, 2001a).
Ainda, em 2001, estudantes do curso de administração da Universidade da Região
de Joinville (UNIVILLE) promoveram um encontro para discutir o papel da mulher na
sociedade no século XXI. Participaram deste debate uma presidiária, uma garota de programa,
uma médica, uma delegada, uma jornalista, uma professora, uma empresária e uma advogada
(ZIMMERMANN, 2001b).
Nas eleições municipais de 2004, em Joinville, foram eleitas três mulheres como
vereadoras, sendo elas: Carmelina Alves Filha Barjona, Dalila Rosa Leal e Tânia Maria
Eberhardt (Disponível em: http://www.cvj.sc.gov.br//)
No município de Joinville foram registrados pelo Tribunal Regional Eleitoral em
2006 um total de 321.131 eleitores. Deste total 163.884 são de mulheres representando
51,04% e 157.247 são de homens representando 48,96%.
34
Observa-se que no município de Joinville a participação da mulher7 na política
ainda é baixa. Para explicar esse baixo envolvimento das mulheres na política podemos
entender melhor analisando o próximo capítulo que se refere as representações das mulheres
sobre a política nos bairros Glória e Jardim Paraíso.
7 Sobre as atividades desenvolvidas pelas mulheres joinvillenses no século XIX leia-se o artigo de Silva (2000)
35
CAPÍTULO III – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE JOINVILLE E DOS
BAIRROS
3.1 HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE JOINVILLE
No ano de 1843 a Princesa Dona Francisca, filha do Imperador D.Pedro I, casou-
se com o Príncipe de Joinville, filho de Luis Felipe que recebeu como dote 25 léguas de terras
na região sul do Brasil. O procurador do Príncipe de Joinville, Leonce Aubé, esteve em Santa
Catarina em 1844, para escolher a região em que seriam demarcadas as terras. Com tal
propósito, escolheu as terras que se localizavam ao Norte da Província, às margens do Rio
Cachoeira. Estas foram demarcadas desde o final do ano de 1845 até março de 1846 por
Jerônimo Coelho que também elaborou um mapa (TERNES, 1984).
Em 1848 o rei da França Luis Felipe foi destronado, perdeu sua riqueza e por
conseqüência as condições financeiras do Príncipe de Joinville também foram prejudicadas e
como solução o Príncipe negociou parte das terras com o senador Chistian Mathias Schroeder.
Em 5 de maio de 1849, em Hamburgo, Leonce Aubé, representando o Príncipe e a Princesa de
Joinville, formou-se contrato de oito léguas quadradas com o Senador Schroeder. Estas foram
demarcadas compondo-se um mapa que representou a futura colônia (TERNES, 1984).
Nas primeiras décadas do século XIX, a economia dos estados alemães era muito
insipiente, baseada, ainda no modo de produção feudal. As precárias condições econômicas da
antiga Europa rural motivaram várias famílias a migrarem em grandes contingentes para os
centros urbanos mais desenvolvidos, cujo desenvolvimento estava baseado na
industrialização, absorvendo, assim, parte da mão-de-obra assalariada, oriundas dessas
migrações. Muitas dessas famílias migraram para as terras que foram negociadas para o
Senador Schroeder (TERNES, 1984).
O Senador Schroeder não possuía recursos suficientes para enfrentar sozinho a
implantação da colônia, por isso, em 1849, fez sociedade por ações em Hamburgo e esta foi
denominada de “Sociedade Colonizadora de 1849”, mas a presidência ficou com o senador
(FICKER, 1965).
Em 22 de maio de 1850 o engenheiro Hermann Guenther e Leonce Aubé
acompanhados de suas famílias saíram do Rio de Janeiro em direção à nova colônia com a
responsabilidade de realizar trabalhos de preparação da área para receberem os primeiros
colonos. Determinando ruas, derrubando parte da floresta, instalando algumas casas, para os
36
colonos, algumas delas em caráter provisório. Este trabalho foi realizado de forma muito
primária e tendo o filho do senador Schroeder, Eduardo Schroeder, tomado conhecimento
disso, decidiu verificar pessoalmente a situação da área. O filho do senador se decepcionou
quando chegou às terras, dispensando os trabalhos do Eng. Guenther, e ele próprio assumiu a
preparação do local para receber os imigrantes. Eduardo Schroeder foi o primeiro diretor da
colônia (TERNES, 1984).
A colônia foi denominada de “Colônia Dona Francisca”, mas inicialmente o local
onde estavam estabelecidos os primeiros domicílios foi denominado de “Schroedersort”, que
significava Lugarejo de Schroeder, pois havia a intenção de construir a cidade mais próxima
do mar, muito embora a colonização tenha ocorrido em um local um pouco mais acima, à
margem do rio (Terceiro Relatório da Direção da Sociedade Colonizadora de 1849, 1853).
Em 6 de março de 1851 chegaram os primeiros 118 imigrantes que
desembarcaram em São Francisco do Sul com destino à “Colônia Dona Francisca”. Dois dias
depois chegaram mais 61 imigrantes noruegueses vindos do Rio de Janeiro que após um ano
reduziram-se a apenas nove pessoas. Entre os noruegueses, havia médicos, tecelões,
pedreiros, padeiro, alfaiate, ferreiro e marceneiros e dentre os alemães haviam lavradores. Os
motivos que levaram a emigração foram problemas econômicos, políticos e sociais (TERNES,
1984).
Nos primeiros meses de instalação da colônia a Sociedade Colonizadora decidiu
explorar as possibilidades de implantação de uma estrada cortando a Serra do Mar. A estrada
foi um dos pontos que teve especial atenção por parte da direção da colônia e da Sociedade
Colonizadora (TERNES, 1984).
De março de 1851 até dezembro do mesmo ano vieram aproximadamente 400
imigrantes para a “Colônia Dona Francisca”. O diretor da colônia instalou um armazém que
fornecia gêneros de primeira necessidade e equipamentos necessários para a instalação das
famílias. Além disso, foi dada uma ajuda aos colonos com subsídios mensais, contratando-os
para abrirem caminhos e “picadas”. Devido a problemas de comunicação lingüística entre os
colonos, pois estes eram provenientes de diferentes regiões da Europa organizou-se grupos de
colonos originários da mesma região para iniciarem a abertura de três diferentes “picadas”.
Cada grupo ficou com a responsabilidade de abrir uma “picada”. Em direção a Este ficou a
cargo dos suíços que construíram o caminho do “Jurapé”, atual 9 de março e Otto Boehm,
desde a rua Dr. João Colin. Aos noruegueses coube em direção Norte, seguindo o traçado da
atual rua Dr. João Colin. Aos alemães coube a direção sul-oeste, seguindo o traçado da atual
rua Visconde de Taunay (TERNES, 1984).
37
Os primeiros meses foram difíceis e com tanto trabalho a ponto de desanimar os
imigrantes, mas foi a vinda de novos 75 imigrantes em setembro de 1851 que a colônia passou
por transformações. Dentre os imigrantes que vieram estavam oficiais com grau de
Universidade, engenheiros diplomados, médico, doutor em Direito, candidatos a Teólogo,
professor de colégio, economistas, comerciantes, naturalistas, marceneiro, carpinteiro,
litógrafo, jardineiro e açougueiro. Estes imigrantes trouxeram dinheiro, adquirindo assim os
seus lotes e, exercendo forte influência em toda a colônia. Neste mesmo mês a colônia sofreu
uma epidemia de disenterias bacilar e tifo e, em apenas um mês morreram 16 pessoas,
chegando, inclusive, a um total de 45 pessoas mortas (FICKER,1965).
No final de 1851 na colônia havia plantações de cana, batatas e aipim. O primeiro
empreendimento industrial foi uma olaria que ficava no centro da colônia. Em novembro
deste mesmo ano a direção da colônia convocou uma reunião popular e por meio de votos
foram nomeados onze representantes do povo sob a orientação de Eduardo Schroeder. O novo
diretor da colônia estabeleceu uma constituição com 35 artigos e respectivos parágrafos
(FICKER, 1965).
No início de 1852, com a chegada de um pastor protestante foi criado o primeiro
cemitério da colônia que até hoje é conhecido como “Cemitério dos Imigrantes”. Neste
mesmo ano foi criado o jornal manuscrito “Der Beobachter am Mathiasstrom” – “O
Observador às Margens do Rio Mathias”. A colônia recebeu a denominação de Joinville a
partir de outubro de 1852 quando Eduardo Schroeder retornou à Hamburgo ficando a direção
da colônia sob a responsabilidade de Benno von Frankenberg. Neste mesmo ano Frankenberg
montou a primeira indústria de cerâmica exportando em seguida os primeiros produtos para
São Francisco do Sul (TERNES, 1984).
Em janeiro de 1853 os membros da Comuna apresentaram para o presidente da
Província um projeto da “Lei Fundamental”8 que vigorou durante três anos (FICKER, 1965).
Entre 1853 e 1854 começou modestamente a exploração da madeira que era
abundante e de boa qualidade como o cedro, ariribá, jacarandá, canela e araçá. Nesta época
instalam-se as primeiras serrarias, representando um novo ciclo na economia de Joinville que
até então era uma economia de subsistência puramente agrícola (TERNES, 1986).
Em 1854 com a vinda do ex-prefeito de Glachau, o advogado Ottokar Doerffel
fundou no ano seguinte a maçonaria. Desta forma, no ano de 1855 surgem as primeiras
8 A “Lei Fundamental” era um documento que serviu como base administrativa da Colônia Dona Francisca. O documento era composto por 34 parágrafos que instituíam direitos e deveres dos colonos, regulava o Poder Judiciário e nomeava uma Assembléia Popular (FICKER, 1965).
38
sociedades culturais, tanto de atiradores, como de canto, de educação física que ainda se
apresenta em atividade, a “Sociedade Ginástica” (TERNES, 1984).
No ano de 1856 foi substituída a “Lei Fundamental” pela organização da “União
dos Proprietários” que apresentava novas posturas municipais (FICKER, 1965).
De outra parte, 1857 marcaria o início da vida religiosa na comunidade, não apenas com a chegada do ilustre padre Carlos Boegernhausen, primeiro vigário da Igreja Católica, cujas atividades se estenderiam para o magistério durante 44 anos consecutivos, mas com a solene implantação da pedra fundamental da igreja católica e da casa de oração protestante (TERNES, 1984, p. 115).
No início dos anos 60 o comércio de madeira prosperou rapidamente e teve novos
empreendimentos aproveitando o alto custo do produto e a boa qualidade da madeira que era
extraída na colônia. Surgiram também serrarias com máquinas relativamente modernas, como
a serra horizontal, movidas por roda d’água de até seis metros de diâmetro. Foi neste mesmo
período que surgiram os primeiros engenhos para a produção de cachaça. Não se pode deixar
de citar a criação do jornal “Kolonie Zeitung”, em 1862, que teve como fundador Ottokar
Doerffel (TERNES, 1986).
A “Estrada da Serra”, em 1865, já alcançava quase o alto da serra, permitindo a
ocupação das terras no planalto onde a Sociedade Colonizadora planejava implantar um novo
núcleo colonial. Em março de 1866 a colônia foi elevada à Vila desmembrando-se de São
Francisco Xavier do Sul. Através da Lei. n° 588 de 16 de março de 1868 criou-se então o
Município de Joinville (TERNES, 1984).
Em 1877 o primeiro carro percorreu a estrada da Serra, que ia de São Bento até
Joinville, tornando-se esta uma via de grande importância para o transporte da madeira e da
erva-mate (TERNES, 1984).
Outro fato que foi muito importante para Joinville foi da criação da Companhia
Industrial Catharinense em 1891. Tratava-se de uma associação composta por vários
empresários de Santa Catarina e do Paraná que operavam no setor de erva mate. Foi através
desse empreendimento que Joinville revelou seu talento para o mundo dos negócios
ampliando a vocação empresarial do município. Em 1892 abriu em Joinville uma filial do
Banco Industrial e Construtor do Paraná sendo este o primeiro banco a se instalar no
município (TERNES, 1984).
O estilo de vida germânico de Joinville mesmo depois de quarenta anos do início
da colonização continuou muito evidente configurando-se como “um país dentro do Brasil”,
39
de tal forma que no Rio de Janeiro a imprensa conceituava a colonização alemã no Norte da
Província de Santa Catarina como “um Estado no Estado” (TERNES, 1984).
No ano de 1906 em Joinville havia três mil habitantes na área urbana e cerca de
12 a 15 mil habitantes na área rural. A partir deste ano a cidade passou a apresentar um
crescimento populacional urbano bastante significativo estimulada pela facilidade de
transporte decorrente da estrada de ferro entre Joinville e São Francisco do Sul. Para a
inauguração da estrada veio para a cidade de Joinville o presidente do Brasil, Afonso Pena
que ficou encantado com a cidade e pronunciou a frase: “Joinville é o jardim do Brasil” e foi
daí que surgiu a expressão “Cidade das Flores”. Neste mesmo ano outras inaugurações
ocorreram, como o mercado municipal e o hospital de caridade o atual “São José”. Houve,
também, a instalação da energia elétrica9. Neste mesmo ano a Sociedade Industrial
Catharinense foi extinta, em seu lugar foram criadas novas empresas, diversificando o capital
com novos empreendimentos empresariais e comerciais (TERNES, 1984).
No início da década de 1920, Joinville adquiriu feições modernas como ruas
centrais pavimentadas, os postes de luz se multiplicaram, executaram-se as canalizações de
águas pluviais e as ruas se encheram de bicicletas e automóveis. Em 1926 o município tinha
18 fundições e oficinas mecânicas e 10 serralherias. Este seria o primeiro sinal de que
Joinville apresentava uma natural tendência para acolher indústrias do setor metal-mecânico
(TERNES, 1986).
Em 1938 quando foi decretada a campanha de nacionalização pelo governo
Getúlio Vargas, Joinville conseguiu superar as adversidades de ordem política, e sofreu
mudanças bruscas de hábitos culturais. Foi determinado o fechamento da escola alemã
“Deutsche Schule”, foi proibida a continuidade do “Kolonie Zeitung” que era um jornal
publicado em língua alemã, e foram proibidas qualquer comunicação nas ruas, no comércio,
nas indústrias, nas sociedades ou nas escolas públicas ou particulares em língua alemã. Este
ano também foi marcado pelo surgimento de novas empresas como a Fundição Tupy e a
instalação da Rádio Difusora de Joinville, pertencente à Brosig (TERNES, 1986).
No dia 9 de março de 1951, Joinville completou seu primeiro centenário. Nesta
data o município revelava grande desenvoltura econômica, apresentando um pólo industrial
de grande importância para o desenvolvimento do Estado de Santa Catarina. Nesta mesma
década Joinville passou a ser conhecida por outro dos seus tradicionais cognomes, o de
9 Sobre a instalação da energia elétrica em Joinville, veja-se Reis; Bloemer; Nacke (2002).
40
“Cidade das Bicicletas”, pois existiam naquele ano 8.145 bicicletas no município (TERNES,
1986).
O golpe militar de 1964 no Brasil possibilitou um desenvolvimento industrial dos
mais intensos10. Do ponto de vista econômico Joinville deu um salto com a instalação de três
grandes empresas no município, sendo elas Fundição Tupy, Companhia Hansen Industrial e
Indústria de Refrigeração Cônsul. Estas se expandiram consideravelmente, por algumas
décadas aumentando a produção e o número de empregados. Além destas três empresas
também cresceram diversas outras empresas menores e o parque fabril joinvillense integrou-
se ao processo desenvolvimentista brasileiro, onde as empresas passaram a exportar os seus
produtos para dezenas de outros países dos cinco continentes (TERNES, 1984).
Em 1986 a população de Joinville foi estimada em 320 mil habitantes e cerca de
95% estava concentrado no centro urbano. Portanto, o município além de aumentar o número
de habitantes, sofreu, também, um processo intenso de urbanização. Este processo causou
efeitos estruturais na paisagem urbana, inclusive com a ocupação de terrenos impróprios para
o estabelecimento de moradias, como os mangues (TERNES, 1986).
No final do século XX as empresas de Joinville estiveram preocupadas em se
atualizar para competir mundialmente implantando tecnologia de ponta. Neste século
aconteceu uma transformação na área da administração e gerência no mundo globalizado,
perdendo o município de Joinville dezenas de empresas que não conseguiram avançar em
termos tecnológicos e administrativos, permanecendo com tratamentos antiquados quanto às
informações e aos processos manuais (TERNES, 1986). É nesta expansão que a paisagem
urbana se modifica, surgindo bairros que apresentam características de áreas de periferia,
onde se tem a falta de infra-estrutura e desatenção por parte do poder público para os serviços
essenciais.
3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOCULTURAIS DO BAIRRO JARDIM PARAÍSO
A região do Jardim Paraíso era conhecida como Cubatão pela presença do rio de
mesmo nome localizado nesta região. O bairro Jardim Paraíso até 06 de abril de 1992
pertencia ao município de São Francisco do Sul, mas com a Lei 8.563 o governador Vilson
Kleinübing anexou o bairro ao município de Joinville atendendo ao resultado de um plebiscito
10 As décadas de 60 e 70 foram marcadas pelo desenvolvimento do país em termos econômicos, acompanhando a tendência mundial, mas culturalmente representou um atraso para o país que ficou sob a vigilância e a intolerância do AI-5.
41
ocorrido em março do mesmo ano. A denominação do bairro foi dada pela imobiliária
responsável pelo loteamento (Disponível em: http://www.joinville.sc.gov.br//).
O bairro Jardim Paraíso foi criado há aproximadamente 12 anos. As primeiras
famílias que se fixaram neste local enfrentaram muitas dificuldades por falta de infra-estrutura
na localidade. Essas famílias dedicavam-se à agricultura de subsistência vendendo arroz para
Lange e Colin & CIA LTDA. Transportado por carroças, também vendiam a cana-de-açúcar
para a Usina Santa Catarina, esta destinada à produção de cachaça (Disponível em:
http://www.joinville.sc.gov.br//).
Os moradores do bairro realizavam mutirões para a realização de plantações de
arroz, milho, aipim e organizavam-se desta mesma forma para a execução da capinação. Estes
moradores também criavam aves, gados e suínos e vendiam leite, ovos, manteiga e queijos
tanto para a localidade quanto para os moradores situados no centro do município de Joinville
e de São Francisco do Sul para onde as mercadorias eram transportadas através de canoas
(Disponível em: http://www.joinville.sc.gov.br//).
Nos finais de semana os moradores tinham como lazer a pesca no rio Cubatão
onde havia a tainha, a tainhota, o robalo, o cará, o cascudo e outros (Disponível em: http:
//www.joinville.sc.gov.br//)
Os protestantes da região freqüentavam aos cultos realizados na Comunidade da
Estrada da Ilha e os católicos ou iam à Capela do Bispado ou na igreja onde hoje se encontra a
Capela Nossa Senhora das Dores (FUNDAÇÃO CULTURAL, 1992).
O bairro era abastecido por um empório que pertencia ao Sr. Dorothóvio do
Nascimento e que também era proprietário de um alambique. A outra casa comercial existente
na localidade, composta de secos e molhados, pertencia ao Sr. Gonçalves de Araújo
(FUNDAÇÃO CULTURAL, 1992).
A região dispunha de energia elétrica desde os anos 30, mas os moradores só
puderam desfrutar deste serviço à medida que seus recursos financeiros foram melhorando. A
maioria dos moradores utilizava-se de água de poço, pois a água encanada só atendia a alguns
trechos da localidade que está próxima ao aeroporto (FUNDAÇÃO CUTURAL, 1992).
O bairro Jardim Paraíso possui uma área de 3,17 km². A população total, em 2004,
foi estimada em 13.677 habitantes, sendo 7.016 homens e 6.661 mulheres. Sua densidade
demográfica é de 4.314 hab/km². A renda per capita do bairro é de 171,69/mês (Caderno
Joinville, 2006).
O bairro compõe-se dos loteamentos Jardim Paraíso I, II, III e IV. Há duas escolas
no bairro: a Escola de Ensino Básico Dr. Hans Dieter Schmidt (Municipal e Estadual) e a
42
Escola Municipal Rosa Maria Berezoski. Dispõe ainda, de um posto de saúde (Caderno
Joinville, 2006).
As principais ruas do bairro são a Estrada Timbé, Avenida Júpiter, Rua Apus,
Aquárius, Apolônia Muraro e Avenida Urano. O bairro está localizado na Zona Norte/
Nordeste da cidade de Joinville (Caderno Joinville, 2006).
O bairro Jardim Paraíso possui Associação de moradores, Clube de mães, Clube
de idosos e entidades religiosas. No ano de 2004 existiam no bairro, sete empresas, 122 casas
comerciais e 60 serviços (Caderno Joinville, 2006).
Em relação ao bairro Jardim Paraíso é importante citar que a violência é um dos
principais problemas no bairro.
Alguns depoimentos de algumas mulheres que foram entrevistadas no bairro
Jardim Paraíso relatam a preocupação das mesmas em relação à violência:
“Hoje tem tudo aqui no bairro, mas agora é violento. Tem muita briga de gangue, mas a gente fica na nossa, mas dá medo. Só que onde não tem violência hoje? Então aqui tá bom”. (Entrevistada 24, 61 anos, Bairro Jardim Paraíso). “Aqui é perigoso, dá medo, mas como é barato tive que vir para cá. Tem muita briga entre gangues daí é só não incomodar eles, que não dá problema, mas é perigoso, né? Uma bala perdida, nunca se sabe”. (Entrevistada 25, 34 anos, Bairro Jardim Paraíso). “Agora tem asfalto, água, mas tenho medo de sair de casa por causa da violência. Já estou acostumada a ouvir barulho de tiro. Fico na minha para não ter problemas, porque o problema aqui é que tem muita droga e por isso dá briga e morte”. (Entrevistada 26, 22 anos, Bairro Jardim Paraíso).
O total de eleitores do bairro Jardim Paraíso, em 2006, segundo o Tribunal
Regional Eleitoral é de 6.231 eleitores. Desse total 3.206 são mulheres correspondendo
51,45% e 3.025 são homens correspondendo 48,55%. Dessas mulheres 24,61% tem entre 18 a
24 anos, 25 a 34 anos tem 29,03%, de 35 a 44 anos tem 21,8%, de 45 a 59 tem 17,7%, de 60 a
69 anos tem 3,9 e de acima de 69 anos tem 1,68%. O menor percentual corresponde às
mulheres de 16 a 17 anos com 1,28% do total de mulheres eleitoras (TRIBUNAL
REGIONAL ELEITORAL, 2006).
43
Tabela 2: Perfil eleitoral das mulheres do bairro Jardim Paraíso Faixa etária Mulheres eleitoras - 2006
16 a 17 1,28 %
18 a 24 24,61 %
25 a 34 29,03 %
35 a 44 21,80 %
45 a 59 17,70 %
60 a 69 3,90 %
Acima de 69 1,68 %
Total 100,0 %
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral, 2006.
No bairro Jardim Paraíso existe apenas um local de votação que é a Escola
Municipal Doutor Hans Dieter Schmidt na qual é instalada a 95º zona eleitoral no dia da
eleição (TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL, 2006).
3.3 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOCULTURAIS DO BAIRRO GLÓRIA
Os moradores do bairro Glória são, em sua maioria de descendência alemã,
grande parte de credo protestante e freqüentam à Paróquia da Paz, por ser a igreja mais
próxima do bairro. Os católicos deslocam-se até a Paróquia São Francisco Xavier (Catedral).
(FUNDAÇÃO CULTURAL, 1992).
Em 1909 instalou-se a energia elétrica na região, sendo esta uma das
reivindicações dos moradores. Quanto à água utilizada era de poço ou de uma fonte de água
localizada em um morro (FUNDAÇÃO CULTURAL, 1992).
O bairro Glória recebeu esta denominação dado à fundação do Glória Futebol
Clube em 09 de julho de 1928 (Caderno Joinville, 2006).
Os moradores deste bairro trabalhavam na lavoura, na condição de agricultores
familiares e possuíam criação de vacas, porcos e galinhas. Entre os anos 30 e 40 do século
passado, o bairro já apresentava um comércio bastante próspero, e foi neste período ainda que
começou a circular uma linha de ônibus no bairro. Em 1951 foi instalado um cinema no
Glória Futebol Clube. Por volta de 1961 o bairro foi beneficiado com água encanada, mas
nem todos os moradores fizeram uso deste serviço (FUNDAÇÃO CULTURAL, 1992).
44
É, também, no bairro Glória que está localizado o 8º Batalhão da Polícia Militar
(8º BPM), criado por lei em 10 de fevereiro de 1983 e instalado em 30 de maio de 1985
(FUNDAÇÃO CULTURAL, 1992).
O bairro Glória possui uma área de 5,48 km² com população estimada, em 2004,
de 8.855 habitantes sendo 4.321 homens e 4534 mulheres. A densidade demográfica é de
1.616 hab/km². A renda per capita do bairro é de 880,93 por mês (Caderno Joinville, 2006).
No bairro há uma área de preservação que é o Parque Ecológico da Expoville. Os
principais rios do bairro são: rio Morro Alto, rio Mathias e rio Lagoa Bonita. No bairro Glória
tem-se como áreas de lazer: a praça Felipe Baumer, Área de Lazer Jardim Versalles, Praça
XV de Novembro e o Complexo da Expoville (Caderno Joinville, 2006).
O bairro Glória possui um posto de saúde, e as escolas: Escola de Ensino Básico
Osvaldo Aranha e a Escola Municipal Pastor Hans Müller. No bairro também existem sete
pré-escolas (Caderno Joinville, 2006).
Em relação às entidades e associações há a Associação de moradores, Clube de
idosos e entidades social e religiosa (Caderno Joinville, 2006).
As principais ruas do bairro Glória são: XV de Novembro, Benjamin Constant,
Marechal Hermes, Colon, Desembargador Nelson N. Guimarães, Aquidaban, Marques de
Olinda, Presidente Campos Salles, cortado pela BR. 101. O bairro Glória pertence à zona
Noroeste da cidade de Joinville (Caderno Joinville, 2006).
No ano de 2004 existiam no bairro Glória, 52 empresas, 279 comércios e 418
serviços (Caderno Joinville, 2006).
O número de eleitores do bairro Glória em 2006, segundo dados do Tribunal
Regional Eleitoral é de 7.136 eleitores no total, dentre estes 3.695 são mulheres
correspondendo 51,78% e 3.441 homens correspondendo 48,22%. Dentre estas mulheres
14,48% são eleitoras de 18 a 24 anos, de 25 a 34 anos 21,20%, de 35 a 44 anos 20,24%, de 45
a 59 anos 25,60%, de 60 a 69 anos 8,93% e acima de 69 anos é de 8,50%. Já o percentual de
mulheres eleitoras de 16 a 17 anos é o menor percentual correspondendo 1,05% das mulheres
(TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL, 2006).
45
Tabela 3: Perfil Eleitoral das mulheres do bairro Glória Faixa Etária Mulheres Eleitoras - 2006
16 a 17 1,05 %
18 a 24 14,48 %
25 a 34 21,20 %
35 a 44 20,24 %
45 a 59 25,60 %
60 a 69 8,93 %
Acima de 69 8,50 %
Total 100,0 %
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral, 2006.
Os locais de votação do bairro Glória são três: a Escola de Educação Básica
Osvaldo Aranha, a Sociedade Recreativa Diana e a Escola Municipal Pastor Hans Muller,
sendo que nos dois primeiros locais se estabelece a 96º zona e o terceiro local a 19° zona
(TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL, 2006).
46
CAPÍTULO IV – PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS MULHERES
ENTREVISTADAS DOS BAIRROS GLÓRIA E JARDIM PARAÍSO
4.1 PERFIL SOCIAL DAS ENTREVISTADAS
O perfil social das entrevistadas dos bairros Glória e Jardim Paraíso do município
de Joinville poderá nos auxiliar na compreensão das suas visões de mundo, das relações que
se estabelecem nas práticas cotidianas no mundo do trabalho.
Quanto à origem das entrevistadas no que diz respeito à residência buscou-se
identificar considerando que poderiam apresentar interesses diferenciados pela política local.
No bairro Glória das mulheres entrevistadas 38,4% nasceram em Joinville, 30,8%
nasceram em outros municípios do estado de Santa Catarina, 23,1% nasceram em municípios
do estado do Paraná e 7,7% nasceram no município de São Leopoldo que fica no estado do
Rio Grande do Sul. Constata-se assim, que o maior índice dessas mulheres tem como lugar de
origem o município de Joinville, como se pode visualizar no gráfico 1.
Gráfico 1: Bairro Glória
Cidade de origem
38,4%
30,8%
23,1%
7,7%Joinville - SC
Garuva, Guaramirim,Lages e Rio do Sul (SC)
Alvorada do Sul,Curitiba e Jardim Alegre(PR) São Leopoldo (RS)
No bairro Jardim Paraíso dentre as mulheres entrevistadas 30,8% nasceram no
município Joinville, 23,0% nasceram em outros municípios do estado de Santa Catarina,
30,8% nasceram em municípios do estado do Paraná e 15,4% são originárias de municípios
do estado do Rio Grande do Sul. Em relação a esses dados apresentados constata-se que o
mesmo índice de mulheres que são originárias do município de Joinville, também o são de
originárias de municípios do estado do Paraná. Vide gráfico 2.
47
Gráfico 2: Bairro Jardim Paraíso
Cidade de origem
30,8%
23,0%
30,8%
15,4%
Joinville - SC
Canelinha e Canoinhas(SC)
Pitanga, FranciscoBeltrão, Ivaiporã eMedianeira (PR)Machadinho e PortoAlegre (RS)
Em relação ao dado referente à idade das entrevistadas dos dois bairros11. Das
mulheres entrevistadas no bairro Glória 46,1% delas tem de 45 a 59 anos, 23,1% de 35 a 44
anos, 15,4% de 60 a 69 anos, 7,7% de 25 a 34 anos e 7,7% acima de 69 anos. Com isso se
pode observar que a maioria dessas mulheres que foram entrevistadas são mulheres com
maior experiência de vida, ou seja, mais anos vividos. Das mulheres entrevistadas 7,7% delas
têm de 25 a 34 anos, e nenhuma de 18 a 24 anos. Os dados citados podem ser visualizados no
gráfico 3.
Gráfico 3: Bairro Glória
Faixa Etária
46,1%
15,4%
7,7%
23,1%
7,7%
25 a 3435 a 4445 a 5960 a 69Acima de 69
Já as mulheres entrevistadas no bairro Jardim Paraíso apresentaram idades
menores do que as entrevistadas no bairro Glória. No bairro Jardim Paraíso foram
entrevistadas 30,7% de 18 a 24 anos, 23,1% delas tem de 25 a 34 anos e 23,1% delas de 35 a 11 Apesar da possibilidade dos jovens a partir dos 16 anos poderem votar não houve nenhuma entrevistada com esta idade.
48
44 anos. De 45 a 59 anos foram entrevistadas apenas 7,7% e de 60 a 69 anos foram
entrevistadas 23,1%, conforme pode ser visualizado no gráfico 4.
Gráfico 4: Bairro Jardim Paraíso
Faixa Etária
30,7%
15,4%23,1%
7,7%
23,1%18 a 24
25 a 34
35 a 44
45 a 59
60 a 69
Quanto à profissão das entrevistadas, o dado comparado indica que no bairro
Glória 53,8% das entrevistadas são do lar, 23,1% delas são aposentadas e 7,7% é terapeuta,
7,7% é agente comunitária e 7,7% é técnica em enfermagem. Portanto, 76,9% das
entrevistadas desse bairro não trabalham fora e 23,1% delas trabalham fora. Esses dados
podem ser verificados no gráfico 5.
Gráfico 5: Bairro Glória
Profissão
53,8%
23,1%
7,7%
7,7%
7,7%Do Lar
Aposentada
Terapeuta
AgenteComunitáriaTéc. emEnfermagem
Das mulheres entrevistadas no bairro Jardim Paraíso 46,1% delas são do lar, 7,7%
são autônomas, 15,4% delas são aposentadas, 15,4% delas estão desempregadas, 7,7% são
diaristas e 7,7% delas são estudantes. Sendo assim 69,2% das entrevistadas não trabalham
fora, mas somando esse total com o percentual de desempregadas, se tem um total de 84,6%
49
das entrevistadas que não exercem atividade fora do grupo doméstico. Comparando os índices
dos dois bairros se observa que o percentual de mulheres que não trabalham fora é igual, mas
em relação ao bairro Jardim Paraíso esse índice poderia ser diferente se as 15,4% delas que
estão desempregadas conseguissem emprego expressado em seus desejos no decorrer das
entrevistas. Os dados em relação ao bairro Jardim Paraíso podem ser visualizados no gráfico
6.
Gráfico 6: Bairro Jardim Paraíso
Profissão
46,1%
7,7%15,4%
15,4%
7,7%7,7%
Do LarAutônomaAposentadaDesempregadaDiaristaEstudante
No que diz respeito ao estado civil das entrevistadas de cada bairro, constatou-se
que no bairro Glória as mulheres entrevistadas 76,9% delas são casadas e 23,1% delas são
viúvas. Alerta-se para o fato que das mulheres entrevistadas nenhuma delas têm seu estado
civil indicando solteira, apresentando-se todas a condição de casadas e viúvas. Como se pode
observar no gráfico 7.
Gráfico 7: Bairro Glória
Estado Civil
76,9%
23,1%
CasadaViúva
Já no bairro Jardim Paraíso se pode observar que o estado civil das mulheres
entrevistadas é diferente comparativamente ao estado civil das mulheres entrevistadas no
bairro Glória. Das mulheres entrevistadas no bairro Jardim Paraíso 30,7% delas são casadas,
50
23,1% são solteiras, 15,4% delas são separadas, 23,1% são “ajuntadas” ou “amasiadas” como
se auto-definem e 7,7% delas são viúvas. Esses dados podem ser visualizados no gráfico 8
abaixo. Este bairro, em que as entrevistadas revelaram, menor poder aquisitivo, como
veremos a seguir, há um percentual considerável de mulheres separadas, o que por certo,
exige das mesmas a responsabilidade da manutenção do grupo doméstico.
Gráfico 8: Bairro Jardim Paraíso
Estado Civil
30,7%
23,1%15,4%
23,1%
7,7%
Casada
Solteira
Separada
"Ajuntada/Amasiada"
Viúva
Com isso, observa-se que em relação ao estado civil das entrevistadas dos dois
bairros existe uma diferença, enquanto que no bairro Glória a maioria das entrevistadas são
casadas ou viúvas, no bairro Jardim Paraíso percebe-se uma variação maior apresentando
casadas, solteiras, separadas, “ajuntadas” ou viúvas.
O nível de escolaridade é também uma variável que pode interferir na seleção de
um candidato no processo eleitoral. Assim, conferimos que no bairro Glória indicou que das
entrevistadas 23,1% concluíram o ensino fundamental, 23,1% apresentam nível fundamental
incompleto, 46,1% nível médio completo e 7,7% tem nível superior incompleto. Ver gráfico
9.
51
Gráfico 9: Bairro Glória
Nível de Instrução
23,1%
23,1%46,1%
7,7% Nível FundamentalCompleto
Nível FundamentalIncompleto
Nível Médio Completo
Nível SuperiorIncompleto
Em relação ao grau de instrução das mulheres entrevistadas no bairro Jardim
Paraíso, 7,7% completaram o ensino fundamental, 30,8% delas tem nível fundamental
incompleto, 30,8% concluíram nível médio, 7,7% tem nível médio incompleto, 7,7% sabe ler
e escrever e 15,3% são analfabetas. Esses dados podem ser observados no gráfico 10.
Gráfico 10: Bairro Jardim Paraíso
Nível de Instrução
7,7%
30,8%
30,8%
7,7%
7,7%
15,3%
Nível FundamentalCompletoNível FundamentalIncompletoNível Médio Completo
Nível Médio Incompleto
Sabe ler e escrever
Analfabeta
Comparando o grau de instrução das entrevistadas dos dois bairros observa-se que
das mulheres entrevistadas no bairro Jardim Paraíso o nível de instrução é inferior ao das
mulheres entrevistadas no bairro Glória.
52
4.2 PERFIL ECONÔMICO DAS ENTREVISTADAS
A condição de moradia de cada entrevistada, também foi conferido através de
questionamento sobre a propriedade ou não da residência. Assim, no bairro Glória das
mulheres entrevistadas 92,3% possuem casa própria e 7,7% moram em casa alugada. Conferir
gráfico 11.
Gráfico 11: Bairro Glória
Condição da residência
92,3%
7,7%
PrópriaAlugada
No bairro Jardim Paraíso os percentuais se assemelham aos do bairro Glória,
apresentando 92,3% possuem casa própria e 7,7% moram em casa alugada. (Esses dados
podem se verificados no gráfico 12). Entretanto, na pesquisa in loco, pode-se registrar que as
residências do Jardim Paraíso, são muito menores, apresentando, por vezes, um único
cômodo, estabelecidas em pequeno terreno, sem água encanada. Portanto, embora
proprietários das suas residências, estas se apresentam comparativamente, ao bairro Glória
condições visivelmente, inferiores.
53
Gráfico 12: Jardim Paraíso
Condição da residência
92,3%
7,7%
PrópriaAlugada
Outro aspecto a ser considerado em relação a condição de moradia diz respeito ao
valor do terreno que é inferior no Jardim Paraíso em relação ao valor de um terreno no bairro
Glória, como expressaram:
“Eu moro aqui há 25 anos. Quando chegamos aqui, não tinha nada, mas era bem barato. Hoje a gente olha quanto a gente pagou e é de dar risada. No começo foi difícil porque não tinha água, nem luz, nem ônibus, nem nada e tinha pouca gente morando aqui. Daí um ajudava o outro [...]” (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso). “Fazem 2 anos que vim morar aqui. Antes eu morava num bairro melhor, mas vivia de aluguel. Como aqui é o bairro mais baixo da cidade, a gente comprou um terreno aqui porque é mais barato e aos poucos estamos construindo nossa casinha. Aqui é perigoso, dá medo, mas como é barato tive que vir para cá [...]” (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso).
Como as próprias entrevistadas expressam, o bairro Jardim Paraíso é uma
localidade na qual podem residir porque é neste local que seu orçamento permite adquirir a
“casa própria” tão desejada pelas classes menos favorecidas.
Quanto ao número de pessoas que residem em cada casa das mulheres
entrevistadas constatou-se que no bairro Glória 23,1% residem 2 pessoas na casa, 15,3%
moram 3 pessoas, 23,1% habitam 4 pessoas na casa, 23,1% moram 5 pessoas, 7,7% moram 6
pessoas e 7,7% moram 7 pessoas em cada casa. Vide gráfico 13.
54
Gráfico 13: Bairro Glória
Número de pessoas por domicílio
23,1%
23,1%
23,1%15,3%
7,7%
7,7%
234567
Já no bairro Jardim Paraíso o número de residentes nos domicílios das
entrevistadas foi de 15,4% com 2 moradores; 30,7% com 3 moradores; 7,7% com 4
moradores; 23,1% com 5 moradores; 15,4% com 6 moradores e 7,7% com 9 moradores. Ver
gráfico 14.
Gráfico 14: Bairro Jardim Paraíso
Número de pessoas por domicílio
15,4%
30,7%
7,7%
23,1%
15,4%
7,7%
2
3
4
5
6
9
Fazendo uma média aproximada de moradores por residência das entrevistadas
dos dois bairros verifica-se uma pequena diferença. No bairro Glória a média aproximada de
moradores por residência resultou em 4 pessoas, no bairro Jardim Paraíso a média aproximada
resultou em 4,3 moradores por residência.
Questionadas sobre a renda familiar, constatou-se que no bairro Glória o grupo
doméstico deste bairro possuem um poder aquisitivo mais alto do que no bairro Jardim
Paraíso. Assim, 23,1% possui renda mensal de 700,00 reais a 1.050,00 reais; 23,1% possui
55
renda mensal de 1.750,00 reais a 2.800,00 reais; 23,1% possui renda mensal maior que
3.150,00 reais e 30,7% das entrevistadas ou não sabiam o valor da renda mensal ou se
negaram a responder. Conferir gráfico 15.
Gráfico 15: Bairro Glória
Renda Familiar
23,1%
23,1%
23,1%
30,7%
De R$ 700,00 até1.050,00 ( 2 até 3 SM)
De R$1.750,00 até2.800,00 ( 5 até 8 SM)
Mais de 3.150,00 (+ de 9SM)
Não sabe ou nãorespondeu
No bairro Jardim Paraíso a renda familiar mensal por grupo doméstico indicou que
23,1% possui renda mensal até 350,00 reais, 30,7% possui renda de 351,00 reais a 700,00
reais, 38,4% possui renda de 701,00 reais a 1.050,00 reais e 7,7% não sabia responder de
quanto é a renda familiar mensal. Os dados sobre a renda familiar mensal no bairro Jardim
Paraíso podem ser visualizados no gráfico 16.
Gráfico 16: Bairro Jardim Paraíso
Renda Familiar
23,1%
30,8%
38,4%
7,7%Até R$ 350,00 ( Até 1SM)
De R$ 351,00 até700,00 (1 até 2 SM)
De R$ 701,00 até1.050,00 (2 até 3 SM)
Não sabe
Comparando os valores da renda em ambos os bairros constata-se uma diferença
relativa quanto aos valores, sendo que a renda familiar mais alta no bairro Jardim Paraíso foi
56
de 1.050,00 reais, enquanto no bairro Glória foi de mais de 3.150,00. Fazendo uma média
aproximada da renda familiar mensal em relação aquelas entrevistadas que responderam esta
questão, no bairro Glória a média aproximada resultou em 2.189,00 reais, já a média
aproximada em relação ao bairro Jardim Paraíso ficou em 700,00 reais.
Na constituição, portanto, do perfil socioeconômico das entrevistadas de ambos os
bairros há diferenciações que dizem respeito: ao nível de escolaridade, renda familiar,
condições do domicílio quanto à propriedade, bem como quanto a constituição e
características da própria moradia. Isso nos leva a afirmar que um dos nossos objetivos, o de
entrevistar mulheres que residem em bairros que apresentam condições socioeconômicas
diferentes, e pode-se constatar que este objetivo foi alcançado.
57
CAPÍTULO V – AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE POLÍTICA DAS
MULHERES DOS BAIRROS GLÓRIA E JARDIM PARAÍSO
5.1 AS CAMPANHAS E PROPAGANDAS POLÍTICAS
Nas campanhas eleitorais a propaganda eleitoral é um elemento fundamental para
divulgar o candidato e as propostas e programas tanto do próprio candidato, quanto dos
partidos políticos. Há, pois, neste processo um embate no qual a intenção do candidato é
convencer o eleitorado sobre a positividade de sua candidatura. Ou seja, como afirma
Figueiredo et al.
[...] o estudo de processos eleitorais só se completa quando entendido como um processo de comunicação política de duas vias, onde dois atores – candidatos e eleitores – dialogam e estabelecem um pacto fundamentado numa troca de intenções: os eleitores querem que seus desejos, interesses e demandas sejam implementados e os políticos querem ser eleitos (1997, p. 110).
Embora este não seja o foco central da presente análise, buscamos junto às nossas
entrevistadas conferir a sua interação com os candidatos através dos programas de propaganda
política, uma vez que “a construção da intenção de voto do eleitorado, ao longo do tempo, é
fortemente influenciada pelas estratégicas de propaganda dos partidos e candidatos
envolvidos no processo eleitoral, antes e durante o período eleitoral formal”. (FIGUEIREDO;
ALDÉ, 2003, p. 2).
Assim, as mulheres entrevistadas dos bairros Glória e Jardim Paraíso expressaram
suas percepções sobre a política, ressaltando em relação às propagandas políticas que pouco
ou quase nada se interessam pelas mesmas. No bairro Glória obtivemos as seguintes
respostas: 38,4% delas não acompanham as propagandas sobre política; 38,4% disseram que
acompanham; 7,7% disseram que acompanham às vezes e 15,5% delas disseram que
acompanham muito pouco. Estes dados podem ser observados no gráfico 17.
Ao serem questionadas sobre propaganda política, as mulheres entrevistadas, por
vezes, respondiam referindo-se à propaganda eleitoral, como pode-se conferir nas suas
respostas.
58
Gráfico 17: Bairro Glória
Acompanha as propagandas política?
38,4%
38,4%
7,7%
15,5%
SimNãoÀs vezesMuito pouco
Dentre as entrevistadas que responderam que não acompanham as propagandas
sobre política disseram que:
“Não. Existe muita acusação e não dá para saber o que é verdade”. (Entrevistada 4, Bairro Glória). “Não acompanho. Dá muita revolta”. (Entrevistada 6, Bairro Glória). “Não, nem observo muito para poder falar”. (Entrevistada 7, Bairro Glória). “Eu não acompanho as propagandas porque detesto política. Eu não me interesso por política, tem muita sujeira”. (Entrevistada 22, Bairro Glória).
As entrevistadas que não acompanham as propagandas, paralelamente, já
expressaram também, que não o fazem porque não gostam de política, pergunta esta que se
apresenta a seguir. Assim, não acompanhar a propaganda, em algumas respostas, teve relação
direta com o gosto ou não por assuntos políticos.
Pode-se observar, ainda, que as mulheres entrevistadas se informam sobre política
através das propagandas eleitorais dos informes realizados pelos meios de comunicação, o que
gera nas mesmas um descontentamento com a política reclamando a falta de verdade, da
desonestidade expressa pela expressão “há muita sujeira entre os políticos”.
Em relação às mulheres entrevistadas no bairro Glória que disseram que
acompanham as propagandas sobre política expressaram:
“Sim, mas acho que é muita confusão, de ver tudo isso decepciona a gente”. (Entrevistada 5, Bairro Glória).
59
“Eu acompanho as propagandas, mas não entendo muito. Tem muitas mentiras nessas propagandas. Os políticos falam e não fazem nada”. (Entrevistada 21, Bairro Glória). “Sim, eu acompanho as propagandas porque são necessárias para sabermos das propostas”. (Entrevistada 23, Bairro Glória). “Às vezes. Sei lá a política tá tão denegrida”. (Entrevistada 9, Bairro Glória). “Muito pouco. As propagandas me irritam”. (Entrevistada 3, Bairro Glória).
Destas mulheres que responderam que acompanham as propagandas pode-se
observar que estas também estão descontentes mas, por outro lado, consideram as
propagandas necessárias para se interarem das propostas dos candidatos. Constata-se, ainda
que há um descontentamento das entrevistadas em relação aos políticos, e não apenas à forma
de “fazer política”. Não há, portanto, um comportamento político homogêneo que se expressa
no gosto ou não pela política. Ou seja, não há um único entendimento do que seja política ou
a representação política. Mas, há sim, um descontentamento generalizado com as promessas
não cumpridas, com a corrupção12.
Essa mesma pergunta foi realizada para as mulheres do bairro Jardim Paraíso. Das
entrevistadas 7,7% informou que acompanha as propagandas sobre política; 46,2% delas não
assistem; 38,4% delas assistem às vezes e 7,7% delas assiste bastante as propagandas sobre
política. Esses dados podem ser observados no gráfico 18.
Gráfico 18: Bairro Jardim Paraíso
Acompanha as propagandas política?
7,7%
46,2%38,4%
7,7%
Sim
Não
Às vezes
Bastante
12 Recentemente, uma entrevista com o senador Pedro Simon publicada na Revista Isto É, na qual o senador se indigna com a corrupção e conclama à população dizendo: “[...] É preciso mudar o sistema político brasileiro”. E continua “[...] eu defendo que é hora de a sociedade fazer um movimento [...] cercar o Congresso, cercar o Palácio do Planalto, cercar o Supremo, botar a faca no nosso peito, e exigir uma mudança [...]” (2007, p. 11), nos dá uma dimensão da indignação que o comportamento dos políticos vem provocando em seus eleitores.
60
Das entrevistadas do bairro Jardim Paraíso que disseram que acompanham ou não
acompanham as propagandas sobre política e o que pensam a respeito, expressaram:
“Sim e acho que está uma palhaçada”. (Entrevistada 12, Bairro Jardim Paraíso). “Não, não tenho paciência de ver isso”. (Entrevistada 20, Bairro Jardim Paraíso). “Não acompanho porque não tenho televisão. A política é uma baixaria, roubam e não cumprem o que prometem e por isso eu voto por obrigação”. (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso). “Não acompanho porque não gosto. Falam muito e não fazem a metade. Antes da eleição o vereador pega na mão da gente e está sempre por aí e depois some. Olha a propaganda até é importante, tem que falar, mas eu não gosto”. (Entrevistada 26, Bairro Jardim Paraíso).
Por tratar-se das entrevistadas residentes em um bairro em que a condição sócio-
econômica das mesmas é inferior, parece que o descontentamento e a indignação ainda é
maior em relação às atitudes dos candidatos que se apresentam como “amigos” no “tempo da
política”. Estas observações levam a uma descrença nos próprios representantes e, por outro
lado, a uma sensação de impotência do eleitorado diante da política institucional.
As entrevistadas que acompanham às vezes as propagandas sobre política
afirmam:
“Às vezes. É coisa que não vale assistir”. (Entrevistada 11, Bairro Jardim Paraíso). “Às vezes, quando tenho tempo. Penso numa bandalheira danada que a gente vê”. (Entrevistada 13, Bairro Jardim Paraíso). “Às vezes, tem algumas coisas que eles só ficam se xingando”. (Entrevistada 15, Bairro Jardim Paraíso). “Às vezes eu acompanho. Não sei, sei lá a política ta tão denegrida”. (Entrevistada 16, Bairro Jardim Paraíso). “Eu acompanho às vezes, mas não entendo. Acompanho mesmo por falta de opção, porque eles prometem mundos e fundos e depois roem a corda, ou seja, não cumprem”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso).
Comparando os dados apresentados dos dois bairros pode-se observar que as
mulheres do bairro Jardim Paraíso assistem menos às propagandas sobre política do que as
61
mulheres entrevistadas do bairro Glória. Não se pode esquecer que o nível de escolaridade13 é
uma variante que pode interferir na motivação pela propaganda política na medida em que o
discurso pode não ser compreendido tanto no contexto político institucional, quanto a nível
local. Outro fator a ser considerado, é que o horário político partidário, coincide, por vezes,
com o momento em que as mulheres estão envolvidas com o preparo das refeições,
atendimento aos filhos, restando-lhes apenas “ouvir à distância”, enquanto executam as
tarefas domésticas.
5.2 O GOSTO PELA POLÍTICA
As entrevistadas dos dois bairros também foram questionadas sobre o gosto pela
política.
Em relação às mulheres entrevistadas do bairro Glória, 7,7% delas responderam
que gostam de política; 76,9% delas não gostam de política; 7,7% responderam que gostam
mais ou menos e 7,7% delas responderam que já gostaram mais de política. Verificar dados
no gráfico 19.
Gráfico 19: Bairro Glória
Gosta de política?
7,7%
76,9%
7,7%
7,7%
Sim
Não
Mais ou menos
Já gostou mais
Entre as entrevistadas do bairro Glória apenas uma respondeu que gosta de
política e que “acompanho para me atualizar porque é importante” (Entrevistada 5, bairro
Glória). Mas, em sua maioria, 76,9% não gosta de política e justificam:
13 Castro (2001) ao analisar o comportamento político utiliza o conceito de “sofisticação política” para referir-se à capacidade do eleitorado para organizar as idéias políticas em termos ideológicos. Neste sentido o eleitorado que possui baixo nível de conhecimento sobre os partidos políticos e candidatos, tem também, um baixo grau de consistência ideológica, ou como diria a mesma autora, baixo grau de sofisticação política. (2001, p.40).
62
“Não gosto por causa dos políticos”. (Entrevistadas 2, Bairro Glória). “Não gosto, porque a política que fazem não gosto”. (Entrevistada 3, Bairro Glória). “Não, porque tem muita corrupção”. (Entrevistada 4, Bairro Glória). “Não, dá revolta porque é muito roubo e mentira”. (Entrevistada 6, Bairro Glória). “Não, porque não funciona, é tudo muito desonesto e eu apenas tolero”. (Entrevistada 7, Bairro Glória). “Não gosto porque para entrar eles prometem muita coisa”. (Entrevistada 8, Bairro Glória). “Não porque acho que é muita mentirada”. (Entrevistada 9, Bairro Glória). “Não, porque político não cumpre, eles só pensam em si”. (Entrevistada 10, Bairro Glória). “Não gosto, mas a gente se diverte. Porque a gente é bobo e gosto de ver quando eles fazem as coisas e ainda ficam mentindo”. (Entrevistada 21, Bairro Glória). “Não gosto de política, porque eles só falam e não cumprem. Eu só fico curiosa para ver quem vai ganhar”. (Entrevistada 22, Bairro Glória).
Dentre estas respostas e justificativas das mulheres do bairro Glória que
responderam que não gostam de política observa-se uma insatisfação em relação à política
decorrente, principalmente, do comportamento dos próprios, que consideram desonestos,
mentirosos porque fazem promessas e não as cumprem. É lamentável, porque esta percepção
desestimula a participação dos cidadãos na busca por seus direitos, imobiliza para a
fiscalização das ações políticas e, por conseqüência, facilita as práticas clientelísticas na
medida em que permite atitudes voltadas para atendimento de favores pessoais,
menosprezando as ações voltadas para a coletividade.
Essa mesma pergunta foi dirigida às mulheres entrevistadas do bairro Jardim
Paraíso. Os percentuais são parecidos com o das mulheres entrevistadas do bairro Glória. Das
entrevistadas do bairro Jardim Paraíso, 84,6% delas responderam que não gostam de política;
7,7% delas responderam que gostam muito pouco de política e 7,7% delas responderam que
tem que gostar de política. Conforme gráfico 20.
63
Gráfico 20: Bairro Jardim Paraíso
Gosta de política?
84,6%
7,7%
7,7%
Não
Muito pouco
Tem que gostar
Dentre essas mulheres entrevistadas do bairro Jardim Paraíso responderam
também porque não gostam de política. Como expressam:
“Não porque hoje em dia não está nada certo”. (Entrevistada 12, Bairro Jardim Paraíso). “Não, o que eles falam eles não cumprem”. (Entrevistada 15, Bairro Jardim Paraíso). “Não porque não dá resultado nenhum para nós”. (Entrevistada 20, Bairro Jardim Paraíso). “Não gosto porque eles falam bastante e não cumprem”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso). “Não, eu não gosto. Os políticos só fazem promessa e não cumprem e brigam muito entre si. Por isso eu não gosto”. (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso).
Constata-se que tanto as mulheres que foram entrevistadas no bairro Glória quanto
as que foram entrevistadas no bairro Jardim Paraíso na sua maioria não gostam de política.
Somente no bairro Glória uma mulher dentre as mulheres entrevistadas respondeu que gosta
de política, já no bairro Jardim Paraíso nenhuma mulher respondeu que gosta de política.
Diferentemente do que constatou Coelho (2000) em sua pesquisa realizada em
Brasília na qual os seus entrevistados diziam gostar de política, no nosso caso, há um alto
percentual das entrevistadas que não se interessam pelos programas eleitorais, bem como não
gostam de política. Entretanto, justificam o seu desinteresse como uma decorrência do
comportamento inadequado dos políticos. Neste caso, como indica Coelho (2000, p. 74) por
não reconhecer virtudes no seu representante acaba deduzindo que não gosta de política.
64
Para DaMatta (1999, p. 29), os brasileiros em geral, ao transferir o político da sua
condição de pessoa para o cargo que pertence à coletividade, o engessam ao próprio cargo, ou
seja, há um desvinculamento da representação entendendo que o cargo se presta “para coroar
pessoas e atender a interesses patrimoniais”. (FAORO apud Coelho, 2000, p. 74).
5.3 O QUE PENSAM SOBRE A POLÍTICA
Em relação à pergunta realizada para conferir o que pensam sobre política as
entrevistadas deram respostas diversificadas nos dois bairros.
Dentre as entrevistadas do bairro Glória, 38,4% responderam que a política é
importante; 7,7% responderam que política é administrar bem; 7,7% responderam que a
política é interessante; 15,4% delas não sabem ou não pensam sobre política; 15,4% pensam
que a política é razoável; 7,7% pensam que as pessoas só querem entrar na política por
dinheiro e 7,7% pensam sobre política que quando vai votar que aquele político vai fazer
alguma coisa. Ver gráfico 21.
Gráfico 21: Bairro Glória
O que pensa sobre a política?
38,4%
7,7%7,7%
15,4%
15,4%
7,7%7,7%
É importante
É administrar bem
Interessante
Não sabe/ não pensa sobre isso
É razoável
Querem entrar só por dinheiro
Quando vou votar penso se este vai fazeralguma coisa
As mulheres entrevistadas no bairro Glória entendem que a política é importante,
mas estão insatisfeitas com a política ou com os políticos, como afirmam em seus
depoimentos:
65
“É importante, tem que existir, mas deveria ser mais séria, porque os políticos deveriam dar um bom exemplo”. (Entrevistada 1, Bairro Glória). “É importante enquanto somos cidadãos, porque exprime a opinião de cada um”. (Entrevistada 3, Bairro Glória). “É um assunto interessante e bom, porque se os políticos fizessem melhor o país estaria mais avançado”. (Entrevistada 5, Bairro Glória). “É razoável, porque é preciso”. (Entrevistada 8, Bairro Glória). “Talvez tenha algo de bom, porque é importante para o crescimento do país”. (Entrevistada 10, Bairro Glória).
Entre seus depoimentos expressaram que a política é importante porque nos
permite, como cidadãos, o direito de expressar a opinião sobre o destino da sociedade, ou seja,
há uma compreensão da política enquanto instituição que ordena e regula a sociedade, muito
embora, também atribuíram ao representante político a responsabilidade sobre o que as deixa
descontentes com a política.
Embora haja um descontentamento com os políticos, o brasileiro vota e como
expressou a entrevistada:
“Quando eu voto, eu penso se pelo menos este vai fazer alguma coisa. Porque a maioria não faz nada”. (Entrevistada 21, Bairro Glória).
Pelo depoimento desta entrevistada observa-se que apesar da insatisfação com os
políticos, há uma esperança de que aquele candidato que ela está votando possa ser diferente
dos demais políticos, ou seja, que ele efetivamente venha a assumir a representação que está
sendo delegada pelo voto.
Um dos depoimentos revela o alto grau de desconfiança em relação aos políticos
quanto a sua honestidade.
“Eu penso que 80% querem entrar por dinheiro, porque é isso que a gente vê”. (Entrevistada 22, Bairro Glória).
Coelho menciona que em oposição ao seu auto-retrato no qual se vê positivamente
o brasileiro vê o político como “preguiçoso, esperto, desonesto, incompetente, injusto, não
merece confiança”. (2000, p. 72).
Apesar disso, ainda assim, há quem veja a política como:
66
“[...] necessária, porque é a estratégia que se usa para fazer programas de governo e de ajuda comunitária. Em quase tudo se usa política”. (Entrevistada 23, Bairro Glória).
As respostas das mulheres que foram entrevistadas no bairro Jardim Paraíso sobre
o que pensam sobre política também foram diversificadas em relação as respostas das
entrevistadas do bairro Glória. Dentre elas 7,7% pensam que seria para ajudar o povo; 7,7%
delas pensam que a política é importante; 7,7% pensam que a política é muito importante;
46,1% delas não sabiam responder o que pensam sobre a política; 7,7% delas que a política no
momento está ruim; 7,7% responderam que tem gente que gosta; 7,7% responderam que
política é só corrupção e 7,7% delas pensam que são decisões que são tomadas para resolver
sobre os bairros. Dados conforme gráfico 22.
Gráfico 22: Bairro Jardim Paraíso
O que pensa sobre a política?
7,7% 7,7%
7,7%
46,1%
7,7%
7,7%7,7%
7,7%
Seria para ajudar o povo
É impotante
Muito importante
Não sabe
No momento está ruim
Tem gente que gosta
Só corrupção
São decisões que são tomadas pararesolver sobre os bairros
O percentual de 46,1% indica que estas mulheres não pensam muito sobre a
política, semelhante ao que constatou Coelho (2000) as pessoas com nível de instrução mais
baixo apresentam pouco interesse por questões políticas.
Algumas entrevistadas do bairro Jardim Paraíso expressaram o que pensam sobre
a política demonstrando também uma insatisfação. Como expressam:
“No momento ta ruim do jeito que tá”. (Entrevistada 18, Bairro Jardim Paraíso).
67
“É uma corrupção só, porque é isso que falam, o que dá na notícia”. (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso). “Eu penso que são decisões que tomam para resolver sobre os bairros porque isso seria o certo, mas está faltando”. (Entrevistada 26, Bairro Jardim Paraíso).
Há um descontentamento como vimos em seus depoimentos, mas há também
quem entenda que a política deve incluir as decisões tomadas para resolver questões
referentes ao bairro, ou seja, entendem que as carências da localidade deveriam fazer parte
dos programas políticos.
Um ponto que chama a atenção em relação às respostas das entrevistadas do
bairro Jardim Paraíso que se mostrou bastante diferente em relação às respostas das
entrevistadas do bairro Glória é a quantidade de entrevistadas que responderam que não
sabem o que pensam sobre política. Estas entrevistadas, por certo, sofrem no dia a dia com as
próprias condições do bairro no qual falta infra-estrutura, escola, creche – aspectos
fundamentais para que se tenha boa qualidade de vida. Por outro lado, trata-se de obras que
devam ser executadas pelo poder público, apresentadas como propostas pelos seus
representantes que em “tempo da política”14, tempo em que tudo prometem e depois nada
cumprem como afirmam:
“Não sei. Se os políticos cumprissem o que falam seria bem melhor porque hoje a gente só ouve falar de roubo”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso).
É importante registrar que ao realizar esta pergunta, a maioria das entrevistadas,
de ambos os bairros, demonstraram dificuldade em responder e para algumas delas era difícil
responder sobre política porque no seu entendimento a política é como se fosse “igual a
político”. Ou seja, política e políticos se confundem.
5.4 PARTICIPAÇÃO NA POLÍTICA
Verificou-se, ainda, as representações sociais das mulheres entrevistadas sobre a
participação delas em algum partido político, associação de moradores ou sindicato.
14 O “tempo da política” é compreendido como o período que antecede às eleições durante o qual são apresentados os programas dos candidatos através dos meios de comunicação, realiza-se comícios, visitas aos eleitores, enfim, um conjunto de ações que objetivam angariar o voto do eleitor. Conferir sobre o tema o trabalho de Palmeira e Heredia (1995).
68
Em relação à participação na política, das mulheres entrevistadas do bairro Glória,
15,4% delas participam de grupo de igreja; 7,7 em partido político; 69,2% delas não
participam de nenhum grupo, associação ou partido político e 7,7% das entrevistadas
participam tanto de partido político quanto de grupo de igreja. Ver gráfico 23.
Gráfico 23: Bairro Glória
Participa em partido político, associação de moradores ou sindicato?
15,4%
7,7%
69,2%
7,7% Sim, em Grupo de Igreja.
Sim, em partido político
Não
Sim tanto de PartidoPolítico quanto de grupode Igreja
Das entrevistadas que responderam que participam de grupo de igreja ou partido
político pode-se verificar nos depoimentos a seguir o motivo de sua participação:
“Sim, no Grupo de Senhoras da Igreja Luterana, porque faz bem para a gente”. (Entrevistada 7, Bairro Glória). “Sim, no grupo da igreja, mas de política não, não gosto”. (Entrevistada 8, Bairro Glória). “Sim, sou filiada ao PMDB, mas eu nem vou nas reuniões que eles fazem, porque não gosto”. (Entrevistada 10, Bairro Glória).
Dentre as entrevistadas do bairro Glória que responderam sobre a sua participação
em algum grupo de igreja ou partido político observa-se que há o envolvimento das mesmas
no grupo de igreja. Já a entrevistada que participa de um partido político, é apenas filiada ao
partido e revelou não ter maior envolvimento com o partido.
Em relação às entrevistadas que responderam que não participam de nenhum
grupo, associação ou partido político estas expressaram razões para a sua não participação,
que vão desde desinteresse, não gostam, ou ainda; motivos que as impossibilitam envolver-se
em grupos:
69
“Não, nem pensar. Porque normalmente as pessoas buscam poder e se beneficiam. A gente não consegue fazer e ajudar da forma que gostaria”. (Entrevistada 3, Bairro Glória). “Não participo. Como meu marido teve derrame, ele não consegue falar direito. E as pessoas não entendem ele e nem tem paciência para tentar entender, por isso eu não participo de nada. E eu só iria com ele, sozinha não vou”. (Entrevistada 21, Bairro Glória). “Não. Eu participava de um grupo da rua, que fazia trabalhos manuais e bingos. Mas aos poucos o pessoal foi saindo do grupo até que o grupo acabou. E hoje, como eu trabalho, não participo de nada”. (Entrevistada 22, Bairro Glória).
Houve, neste bairro, entretanto, uma entrevistada que respondeu que participa
tanto de grupo de igreja como de partido político, e expressou:
“Sim, de partido político e de grupo da Igreja. Mas não tenho liderança em nenhum dos dois. Participo para me envolver nas coisas, para ouvir e opinar”. (Entrevistada 23, Bairro Glória).
Muito embora, a entrevistada não se reconheça com liderança ainda assim
participa para se envolver, para opinar, certamente, para se inteirar dos assuntos políticos.
Em relação à participação das entrevistadas do bairro Jardim Paraíso em algum
grupo, associação ou partido político, 15,4% participam de associação de artesão ou de grupo
de igreja e 84,6% delas não participam de nenhum grupo, associação ou partido político. Ver
gráfico 24.
Gráfico 24: Bairro Jardim Paraíso
Participa em partido político, associação de moradores ou sindicato?
15,4%
84,6%
Sim (Associação deArtesão ou Grupode Igreja)
Não
70
Das entrevistadas do bairro Jardim Paraíso que responderam que participam de
algum grupo ou associação e expressaram porque participam:
“Sim, na Associação de Joinville do artesão. Como diretora de eventos e propaganda porque é preciso”. (Entrevistada 12, Bairro jardim Paraíso). “Sim, no grupo da Igreja como 2ª líder do grupo. Eu participo para ajudar”. (Entrevistada 20, Bairro Jardim Paraíso).
Para essas duas entrevistadas a participação está relacionada a uma atividade
econômica, trabalhos de artesanato, que, por certo lhes garante algum rendimento financeiro,
ou ainda, executando trabalhos comunitários.
Em relação às entrevistadas do bairro Jardim Paraíso que responderam que não
participam de nenhum grupo, associação ou partido político justificam:
“Não participo de nada. Porque não gosto de ir, primeiro eu ia na igreja, depois tive problemas de saúde e parei de ir. Eu sou meio parada mesmo”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso). “Não participo porque a política não vem de Deus, as pessoas só mentem e não podemos mentir. Por isso crente não pode se envolver na política”. (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso).
Dentre as diversas respostas que as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso
informaram os motivos pelos quais não participam de algum grupo, associação ou partido
político estão a falta de oportunidade, falta de tempo, falta de convite, mas a maioria por não
gostar ou por não querer se envolver; ou ainda, porque entendem que sua participação não
auxilia para a melhoria das condições. Entre as respostas chamou-nos a atenção a de uma
entrevistada que justifica o seu impedimento de participar porque “sua religião não aprova
mentiras e política é só mentira”. Esta postura, por certo, justifica a não participação em
qualquer associação da maioria das entrevistadas 84,6% neste bairro. Foi neste bairro,
também que conferimos a presença de muitas igrejas evangélicas pentecostais e
neopentecostais, que por certo, não estimulam o envolvimento dos seus fiéis em atividades
políticas e práticas de cunho mais democrático. Segundo Leonildo Silveira Campos essa
postura foi constatada inicialmente entre os protestantes, que “[...] recusavam qualquer
participação ativa na esfera política, julgando que tal ato equivaleria a sujar as mãos ou a
jogar pérolas aos porcos, algo indigno para um cristão verdadeiro[...]”. (2003, p. 83). Mas
para Campos a igreja hoje, principalmente as neopentecostais, tomam outro tipo de
71
posicionamento, não só se envolvendo com a política, mas formando, inclusive, a “bancada
dos evangélicos”.
Entre as respostas das mulheres entrevistadas dos dois bairros observa-se um dado
diferente entre elas. Das entrevistadas do bairro Jardim Paraíso, nenhuma delas participa ou é
filiada a algum partido político, enquanto que das entrevistadas do bairro Glória uma é filiada
a um partido político e outra participa de um partido político.
As entrevistadas dos dois bairros foram questionadas também sobre o que elas
pensam sobre as mulheres se envolverem na política.
Dentre as mulheres entrevistadas do bairro Glória, 69,2% delas pensam ser bom
as mulheres se envolverem na política; 7,7% pensam que talvez seja bom elas se envolverem
na política; 7,7% não tem nada contra ao envolvimento das mulheres na política; 7,7% delas
pensam que as mulheres não deveriam se envolver na política e 7,7% delas acha uma
brincadeira. Conforme dados no gráfico 25.
Gráfico 25: Bairro Glória
O que pensa sobre as mulheres se envolverem na política?
69,2%
7,7%
7,7%
7,7%7,7%
Bom
Talvez seja bom
Nada contra
Não deveriam entrar
Uma brincadeira, política élugar de homem
As mulheres entrevistadas do bairro Glória foram questionadas também em
relação às razões das suas respostas. Dentre as entrevistadas que responderam que pensam ser
bom as mulheres se envolverem na política, expressaram:
“Acho bom, porque se elas administrarem na política como administram no lar, é bom. Mas tem que ter formação específica para se envolver na política”. (Entrevistada 3, Bairro Glória).
72
“Bom, porque tem que ter direitos iguais, a mulher tem tanta capacidade quanto o homem”. (Entrevistada 4, Bairro Glória). “É bom também. Talvez seja melhor porque elas cumprem com aquilo que falam”. (Entrevistada 8, Bairro Glória). “Eu acho bom. Em todos os lugares deveria ter mulheres envolvidas, porque funciona melhor e também porque elas ainda não pegaram o gosto da corrupção”. (Entrevistada 22, Bairro Glória). “Acho bom, elas devem se envolver na política, porque mulher é muito dinâmica, consegue, por exemplo, ser mãe, esposa e profissional. Além de ser mais altruísta do que os homens, elas se preocupam com os outros”. (Entrevistada 23, Bairro Glória).
Os depoimentos das entrevistadas acima citados demonstram motivos
diversificados para as mulheres se envolverem na política. Para elas as mulheres revelam ser
boas administradoras porque já administram suas casas, portanto têm experiência, são mais
dinâmicas, devem ter direitos iguais aos homens e porque são honestas. Parte destas razões,
deixa transparecer o descontentamento em relação a atuação dos homens na política. Ou seja,
a multiplicidade de atividades que a mulher executa no grupo doméstico, a seu ver, as prepara
para exercer funções fora do mesmo, no caso, a atividade política.
Entretanto Lúcia Avelar (2001) lembra que o ciclo de vida da mulher algumas
vezes a impede de se envolver na política, porque quando a mulher é mãe, esposa e ainda
profissional a disponibilidade de tempo é menor, considerando que as tarefas domésticas
demandam tempo e energia das mulheres no decorrer das jornadas diárias. A resposta de uma
entrevistada deste bairro, lembrou que a mulher é discriminada, apesar da sua honestidade e
do seu dinamismo:
“Talvez é uma boa. Porque elas são melhores que os homens. A mulher é mais honesta, mas é muito discriminada”. (Entrevistada 2, Bairro Glória).
Em relação a discriminação das mulheres Lúcia Avelar afirma que a dificuldade
de envolvimento das mulheres com a política “é fruto mesmo da condição desigual na
sociedade e da discriminação”. (2001, p. 56).
Contrárias à posição do depoimento anterior, duas entrevistadas do bairro Glória
discordam do envolvimento da mulher na política. Como expressam:
“Não deveriam entrar, mas cada um deve fazer o que gosta”. (Entrevistada 6, Bairro Glória).
73
“Eu acho uma brincadeira. Porque a política para os homens e as mulheres não devem entrar na política”. (Entrevistada 21, Bairro Glória).
No entanto deve-se considerar que uma das entrevistadas tem 72 anos,
provavelmente, por pertencer a uma geração em que a mulher não se envolvia com política de
forma explícita, ela ainda considera a política como uma atividade para homens, considerando
que esta é uma atividade da área pública, e para ela, a mulher deve estar restrita ao espaço
privado do lar.
Para as mulheres entrevistadas do bairro Jardim Paraíso quando questionadas o
que pensam sobre as mulheres se envolverem na política, 53,8% delas pensa ser bom; 7,7%
delas pensa ser muito bom; 15,4% dentre as entrevistadas pensam que possa ser bom; 7,7%
delas não tem nada contra as mulheres se envolverem na política e 15,4% delas pensam que as
mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens. Ver gráfico 26.
Gráfico 26: Bairro Jardim Paraíso
O que pensa sobre as mulheres se envolverem na política?
53,8%
7,7%
15,4%
7,7%
15,4%Bom
Muito bom
Pode ser bom
Nada contra
Mesmo direito que doshomens
Dentre as respostas das entrevistadas residentes no bairro Jardim Paraíso sobre o
que pensam a respeito do envolvimento da mulher na política justificam suas respostas em
seus depoimentos abaixo:
“Eu acho legal, porque a mulher tem outra sensibilidade do que o homem. Só que as mulheres não tem quase espaço”. (Entrevistada 12, Bairro Jardim Paraíso). “Acho legal, porque as mulheres também tem os seus direitos”. (Entrevistada 14, Bairro Jardim Paraíso). “Acho bom, porque elas tentam fazer mais coisas para o povo”. (Entrevistada 15, Bairro Jardim Paraíso).
74
“É bom, porque nunca vi escândalo onde mulheres estavam envolvidas, mas ela deve ser dirigida pelo Espírito Santo”. (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso). “Acho bom, porque já que os homens não fazem nada, pode ser que as mulheres façam alguma coisa”. (Entrevistada 26, Bairro Jardim Paraíso). “Muito bom, porque as mulheres são mais realistas do que os homens”. (Entrevistada 13, Bairro Jardim Paraíso).
Para a maioria destas entrevistadas é bom as mulheres se envolverem na política
porque além de terem tais direitos, são sensíveis às causas públicas; são capazes e ainda
porque os homens não estão atuando de forma adequada, deixando a desejar.
Além das razões acima citadas, destaca-se a posição das entrevistadas que
mencionaram a necessidade de representantes que lembrasse dos direitos das mulheres.
“Pode ser bom, porque toda vida era só homens que estavam”. (Entrevistada 16, Bairro Jardim Paraíso). “Pode ser que seja bom as mulheres se envolverem na política porque elas vão pensar pelas mulheres. Por exemplo, para a gente se aposentar mais cedo”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso). “Mesmo direito que dos homens”. (Entrevistada 19, Bairro Jardim Paraíso). “Penso que elas tem direito também, porque elas podem trabalhar melhor que os homens até”. (Entrevistada 20, Bairro Jardim Paraíso).
Pelos depoimentos das entrevistadas tanto do bairro Glória quanto do bairro
Jardim Paraíso verifica-se que a maioria delas pensa que as mulheres deveriam se envolver na
política. Lembrando que apenas duas entrevistadas do bairro Glória responderam que pensam
que mulher não deveria se envolver na política, já no bairro Jardim Paraíso nenhuma das
entrevistadas respondeu que as mulheres não deveriam se envolver na política.
Semelhante ao que destacou Lúcia Avelar (2001), sobre um levantamento
realizado pelo Instituto Gallup em outubro de 2000 no qual foram entrevistadas 2.022 pessoas
no Brasil, Colômbia, México, Argentina e El Salvador, em que se constatou que nesses cinco
países, a maior parte dos entrevistados acreditam que seus países estariam melhor governados,
se mais mulheres ocupassem cargos públicos. Também, no caso da nossa pesquisa,
A grande maioria acredita que as mulheres são mais honestas e mais eficientes do que os homens para conduzir medidas de combate à pobreza, combate à corrupção, melhorias da educação, proteção ambiental, relações diplomáticas e, até mesmo política econômica (AVELAR, 2001, p. 72).
75
Portanto, na presente pesquisa, também a maioria das mulheres entrevistadas
pensa que as mulheres deveriam se envolver na política, destacando sua sensibilidade para as
questões sociais.
As entrevistadas dos dois bairros foram questionadas sobre o seu voto em alguma
mulher para cargo político. Dentre as mulheres entrevistadas do bairro Glória, 7,7% delas
com certeza votaria em mulher; 46,1% votariam em uma mulher para cargo político; 7,7%
delas já votou em mulher; 15,4% não votaria em mulher para cargo político; 7,7% não tem
nada contra a votar em mulher; 7,7% não votaria nem para mulher nem para homem e 7,7%
delas votaria dependendo da pessoa. Verificar gráfico 27.
Gráfico 27: Bairro Glória
Votaria em uma mulher para cargo político?
7,7%
46,1%
7,7%
15,4%
7,7%
7,7%7,7%
Com certeza
Sim
Já votei
Não
Nada contra
Nem para mulher e nem parahomemDepende da pessoa
A maioria das entrevistadas do bairro Glória (46,1%) afirma que votariam em
mulher para cargo político, por a seu ver as mulheres têm capacidade, são competentes,
cumprem o que prometem, além de apresentarem boas propostas, são pessoas boas.
Houve, entretanto, 7,7% de mulheres que não vota em mulher para cargo político,
porque a seu ver a política é uma atividade do mundo dos homens. Por outro lado, reforçam a
indignação em relação à atuação dos políticos. E ainda, que mesmo sendo mulher não escapou
de uma prática corriqueira na política: “prometer e não cumprir”.
“Não, mas não pelo fato de ser mulher, mas porque é política, então eu não votaria”. (Entrevistada 3, Bairro Glória). “Não, eu não votaria porque a mulher não serve para isso”. (Entrevistada 21, Bairro Glória).
76
“Não tenho nada contra mulher na política, mas tenho indignação com os políticos, então nem tem o que escolher”. (Entrevistada 7, Bairro Glória).
Ao que parece, na percepção destas mulheres, a prática política é uma atividade
“corruptiva” e como tal não deve ser exercida pela mulher, ou seja, a mulher não serve para
isso na medida em que é mais honesta e solidária. Por outro lado, essa visão se confirma
porque uma das candidatas eleitas não correspondeu as suas expectativas, como revela o
depoimento:
“Eu olharia a pessoa, independentemente de partido. Como eu já me decepcionei com uma candidata aqui do bairro que depois que ganho não fez nada. Eu primeiro olharia a pessoa”. (Entrevistada 22, Bairro Glória).
Apesar das ressalvas acima, a postura das mulheres entrevistadas do bairro Jardim
Paraíso em relação à pergunta se votaria em uma mulher para cargo político, as respostas
confirmam que 76,9% delas votariam em mulher; 7,7% delas responderam que é lógico que
votaria; 7,7% das entrevistadas não votaria em uma mulher para algum cargo político e 7,7%
responderam que não sabem se votariam em uma mulher para algum cargo político. Ver
gráfico 28.
Gráfico 28: Bairro Jardim Paraíso
Votaria em uma mulher para cargo político?
76,9%
7,7%
7,7%7,7%
Sim
É lógico
Não
Não sabe
Os motivos pelos quais as entrevistadas responderam que votariam em uma
mulher para cargo político são bem variados. Dentre as respostas ressaltam-se as boas
propostas, a sensibilidade da mulher, são mais confiáveis, mais conscientes, ou ainda, porque
é preciso dar chance às mulheres. Mas, houve entrevistada que ressaltou a necessidade de as
mulheres terem uma atuação anterior na qual provasse a sua capacidade de trabalho em prol
77
do coletivo, ou seja, a candidata deve obter a confiança do seu eleitorado antes das eleições,
deverá provar que não vai agir de forma semelhante aos atuais políticos.
“Votaria se elas fizerem boa propaganda e fizer algo de bom antes da eleição, porque não adianta só prometer. Se ela fizer algo antes a gente já pode saber se é alguém que vai trabalhar mesmo”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso). “Sim, eu votaria. Se a candidata estiver falando que vai fazer tem que confiar nela, porque a gente já deu voto para tanto homem e está tudo do jeito que está, então devemos tentar agora votando em mulher”. (Entrevistada 26, Bairro Jardim Paraíso).
Uma das entrevistadas, entretanto, mencionou que vota de acordo com a
orientação do marido e por esta razão não sabe se votaria numa mulher para o cargo político.
Além disso, o seu envolvimento com a política se dá no nível da obrigatoriedade, porque só
vota porque a lei assim determina.
“Não sei. Eu só voto por obrigação mesmo e voto naquele que meu marido vota”. (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso).
Comparando-se as respostas das entrevistadas dos dois bairros observa-se que
somente uma entrevistada do bairro Glória não votaria em uma mulher para cargo político e
apenas 46,1% afirmam que votariam em mulher, caracterizando-se uma postura conservadora
em relação ao bairro Jardim Paraíso onde 76,9% afirmaram que votariam em mulher para
cargo político.
5.5 CARACTERÍSTICAS DE UM POLÍTICO
Sobre o que consideram características relevantes para um bom político, as
entrevistadas do bairro Glória: 30,7% ressaltaram a honestidade; 23,1% consideram aquele
que cumpre as promessas e 7,7% indicaram àqueles que estão atentos às questões relativas à
saúde e educação; 7,7% aquele que trabalha pelos bairros; 7,7% aquele que é possuidor de
boa reputação; 7,7% aquele é voluntário; 7,7% aquele que idéias própria, e ainda 7,7% que
seja trabalhador.
Suas respostas trazem algumas semelhanças às obtidas por Coelho (2000) nas
quais os entrevistados ressaltaram que o político, em geral, se apresenta com um perfil que o
distancia do povo brasileiro que se vê como trabalhador, honesto, responsável, generoso,
78
solidário. Portanto, ressaltar estas características no político significa torná-lo mais próximo
da “vida do povo”, torná-lo um igual para que compreenda as duas reais necessidades. Vide
gráfico 29.
Gráfico 29: Bairro Glória
O que é ser um bom político?
7,7%
7,7%23,1%
7,7%
7,7%
7,7%7,7%
30,7%
Ser honesto
Ser igual a um voluntário
Olhar bairro por bairro
Cumprir o que promete
Ter decisões próprias
Olhar mais para a saúde, educação e pararde querer só para si.
Aquele que trabalha bastante
Ter boa reputação, não ser espalhafatoso,culto, inteligente, simpático, cristão e sepossível ser coerente em suas propostas
“Um bom político para mim é aquele que cumpre 70% daquilo que prometeu. Porque eles só prometem e não fazem nada. Eles deveriam prometer menos e fazer mais”. (Entrevistada 22, Bairro Glória).
“Um bom político deve ter boa reputação, não ser espalhafatoso, deve ser culto, inteligente, simpático, cristão e se possível ser coerente em suas propostas, porque assim ele será respeitado”. (Entrevistada 23, Bairro Glória).
O depoimento da entrevistada faz uma grande concessão, considerando que, para
ela, um bom político não precisa cumprir 100% daquilo que prometeu, mas recomenda que
deve prometer menos e atuar mais. Novamente, se expressa o descontentamento com a
atuação dos políticos.
O outro depoimento idealiza o político com virtudes que ressaltam a imagem
positiva em termos da sua aparência; simpático, comedido. Não se pode esquecer que os
brasileiros se impressionam com a aparência do candidato, que neste caso os coloca em um
79
lugar de destaque, por vezes mais distante do povo, diferentemente dos depoimentos
anteriores. A aparência do candidato vem sendo explorada pelos especialistas em marketing
político15, sendo considerado, por vezes um elemento fundamental para levar uma boa
impressão do candidato ao eleitor, muito embora
O eleitor não se deixa hipnotizar pelo marketing político, que é apenas um instrumento – entre vários, e não necessariamente o mais importante – para auxiliá-lo a definir seu voto e a tomar suas convicções políticas e ideológicas ao longo da vida (SILVA, 2002, p. 83).
Dentre as mulheres entrevistadas no bairro Jardim Paraíso, 7,7% delas
responderam que um bom político seria aquele que é honesto; 7,7% delas pensam que é
aquele que faz o que se precisa; 7,7% delas responderam que para ser um bom político é
preciso parar de mentir; 46,1% responderam que bom político é aquele que cumpre com suas
promessas; 7,7% responderam que para ser um bom político tem que mudar tudo; 7,7%
responderam que um bom político deveria ver o que se precisa no bairro; 7,7% delas não
sabiam responder e 7,7% delas pensar que um bom político é aquele que pede a direção de
Deus e cumpre o que prometeu. Conforme gráfico 30.
Gráfico 30: Bairro Jardim Paraíso
O que é ser um bom político?
7,7%7,7%
7,7%
46,1%
7,7%
7,7%
7,7%7,7%
Honesto
Aquele que faz o que precisa
Parar de mentir
Aquele que cumpre com suas promessas
Tem que mudar tudo, as ruas e osbairrosVer o que a gente precisa no bairro
Não sabe responder
Aquele que pede a direção de Deus ecumpre aquilo que promete
15 Sobre o marketing político e as estratégias utilizadas para persuadir o eleitor leia-se Figueiredo (1991), Figueiredo (2000), Rita (2001) entre outros.
80
É interessante conferir que as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso apresentaram
um equilíbrio em termos percentuais. Assim eqüitativamente 7,7% estão direcionadas para as
características: honestidade, sinceridade, conferir as demandas da população.
Questionadas sobre os critérios de escolha de seus candidatos obtivemos os
seguintes dados: entre as entrevistadas do bairro Glória, 46,1% delas escolhe pela propaganda
da televisão; 15,4% escolhe pela pessoa; 7,7% procura saber se o candidato é honesto; 7,7%
delas vota no candidato de boa índole; 7,7% delas responderam que o candidato tem que ser
principalmente de Deus; 7,7% delas verifica se o candidato se comunica bem com povo e
7,7% analisa o que o candidato já fez. Ver gráfico 31.
Gráfico 31: Bairro Glória
Como escolhe o candidato a um cargo político para votar?
15,4%
7,7%
7,7%
7,7%46,1%
7,7%7,7%
Pela pessoa
Procuro saber se é honesto
Ter boa índole
Ser principalmente de Deus
Pela propaganda da TV
Analiso o que já fez
Como se comunica com o povo
Os depoimentos das mulheres entrevistadas do bairro Glória podem ser
verificados a seguir, revelando, inclusive, que não estão preocupadas com os programas dos
partidos políticos, ressaltando-se aqui, o que já foi conferido por outros pesquisadores que o
eleitorado brasileiro vota, prioritariamente, em pessoas. Recorrendo a Andrade não se pode
deixar de mencionar que “no que tange à escolaridade, o voto pela pessoa é maior entre os
menos escolarizados, ao passo que o voto pelas propostas tende a ser mais freqüente, à
medida que aumenta o nível de escolaridade do eleitor” (2006, p.46).
“Eu vejo na televisão e escuto o que meu filho comenta sobre cada um porque confio no que ele diz. Eu procuro saber também, das decisões que já foram tomadas pelo candidato. O “x”, por exemplo, não voto nele de jeito nenhum. Ele votou contra o aumento do salário mínimo, por isso nunca votaria nele”. (Entrevistada 21, Bairro Glória).
81
“Eu procuro saber como é a pessoa, assistindo pela televisão. Porque não adianta olhar para partido e nem propostas. É preciso saber como é a pessoa”. (Entrevistada 22, Bairro Glória). “Eu vejo suas propostas na televisão, na rádio e fico atenta a qualquer notícia. Para tentar escolher bem e até para fazer propaganda para os conhecidos”. (Entrevistada 23, Bairro Glória).
Conferindo os dados e depoimentos acima citados, observa-se que as entrevistadas
do bairro Glória escolhem seus candidatos principalmente pela propaganda da televisão
(38,4%), esse dado justifica a preocupação dos candidatos durante a campanha eleitoral em
relação às propagandas. Concordando com o autor Carlos Eduardo Lins da Silva (2002) que
discute em seu trabalho sobre “Marketing Político”, afirmando,
Não há dúvida de que os meios de comunicação de massa se transformaram no mais importante elemento de veiculação de mensagens do marketing político na sociedade contemporânea. Candidatos e governantes pensam, agem, concebem suas estratégias em grande parte com a mente voltada para a maneira pela qual jornais, o rádio e principalmente a TV irão aproveitar o material que produzirem ou instigarem (SILVA, 2002, p. 76).
Ressalte-se, também, como lembra Silva que o eleitor na dúvida,
Consulta suas fontes primárias: familiares, amigos, professores, colegas de trabalho, líderes sindicais, padres e pastores, superiores hierárquicos, companheiros de ONG. Mesmo que essas pessoas estejam expostas a meios de comunicação de massa, elas sempre o auxiliam a checar a realidade, a colocar suas impressões sob um escrutínio mais objetivo (2002, p. 82-83)
Ainda, outro critério que as entrevistadas do bairro Glória expressaram que 15,4%
escolhem pela pessoa, independentemente de partido ou propostas. Assim, as relações
pessoais também podem ser determinantes no momento da escolha do candidato, porque em
algum momento poderá ter a necessidade de recorrer a um político “conhecido”, próximo que
possa auxiliar a suprir as carências tanto de ordem pessoal e mesmo que dizem respeito ao
coletivo, tais como, internação hospitalar, vaga na escola para os filhos, benefícios por
programas sociais, etc.
Dentre as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso os critérios utilizados para
escolher o candidato a um cargo político para votar são: 53,8% delas escolhem pela
propaganda da televisão e rádio; 23,1% analisam as propostas; 7,7% delas escolhe aquele que
fala e faz; 7,7% delas depende do cargo que o candidato está concorrendo e 7,7% delas
escolhe o candidato conforme o voto do seu marido. Conferir dados no gráfico 32.
82
Gráfico 32: Bairro Jardim Paraíso
Como escolhe o candidato a um cargo político para votar?
53,8%
7,7%
7,7%
23,1%
7,7% Pela propaganda da TV e rádio
Conforme o voto do meu marido
Depende do cargo
Analisa as propostas
Aquele que fala e faz
Os depoimentos das entrevistadas do bairro Jardim Paraíso podem ser verificados
a seguir:
“Depende do cargo, se é para vereador eu vejo quem é do bairro, se é para presidente vejo o que ele vai oferecer para o país”. (Entrevistada 12, Bairro Jardim Paraíso). “Pela propaganda da televisão e se o candidato já ajudou alguém que eu conheço, porque assim a gente já sabe que o candidato faz alguma coisa”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso). “Eu voto pela escolha do meu marido, porque nenhum político me dá nada mesmo. Eu só voto porque sou obrigada”. (Entrevistada 25, Bairro Jardim Paraíso). “Eu faço um a lista com todos os candidatos e vou descartando conforme vou vendo na televisão, se já foi candidato e não fez nada, vou descartando até escolher um. Faço isso para votar em quem eu acho que vai fazer o melhor trabalho”. (Entrevistada 26, Bairro Jardim Paraíso).
Percebe-se que os critérios utilizados pelas entrevistadas do bairro Jardim Paraíso
comparativamente com os das entrevistadas do bairro Glória são semelhantes. Sendo que para
as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso 53,8% delas faz sua escolha pela propaganda da
televisão e rádio e as entrevistadas do bairro Glória 46,1% delas também fazem sua escolha
pela propaganda da televisão.
83
Uma das entrevistadas do bairro Jardim Paraíso adota um procedimento não muito
comum: a partir de uma lista com os nomes de todos os candidatos, vai descartando aqueles
que se apresentam na televisão e que não lhe convencem. Assim, chega ao final escolhendo o
seu candidato. Marcio Goldman e Ronaldo dos Santos Sant’Anna (1996) em sua discussão
sobre o processo eleitoral e a racionalidade do voto lembram que,
Vota-se, pois, em um ou alguns atributos do candidato, ainda que se reconheça a existência de outros, muitas vezes, aparentemente contraditórios com aqueles que se privilegiou. Mais uma vez, a hierarquização destes aspectos é um processo complexo e dinâmico efetuado sob a influência de múltiplas variáveis (GOLDMAN e SANT’ANNA, 1996, p. 26).
Há, portanto, escolhas no ato de votar, que pode estar relacionado não só a
posição de classe social, nível de escolaridade, mas elementos subjetivos que dizem respeito
ao cotidiano do eleitor, como por exemplo, relações pessoais e afetivas, como já afirmamos
anteriormente.
5.6 QUESTÃO DE GÊNERO E A POLÍTICA
Em relação à preferência das entrevistadas entre homem ou mulher na política
quando questionadas, constatamos que dentre as entrevistadas do bairro Glória, 38,4% delas
respondeu que não depende do sexo; 30,8% delas preferem mulher na política; 23,1% dentre
as entrevistadas preferem homem na política e 7,7% delas respondeu que mulheres, mas os
homens são mais capacitados para cargos maiores. Ver gráfico 33.
Gráfico 33: Bairro Glória
Preferência por homem ou mulher na política?
38,4%
30,8%
23,1%
7,7%Não depende do sexo
Mulher
Homem
Mulheres,mas os homenssão mais capacitados paracargos maiores
84
Quanto à preferência por homens ou mulheres atuando na política as entrevistadas
do bairro Glória afirmaram que a política não se vincula à questão de gênero (38,4%), ou seja,
não se trata de uma atividade restrita a um sexo. Mantendo coerência com o que já afirmaram
30,8% desejam ou gostariam que as mulheres fossem mais atuantes na política.
“Prefiro mulher, mas tem poucas. Porque as que estão são boas e precisa mudar um pouco”. (Entrevistada 2, Bairro Glória). “Eu prefiro mulher na política, porque eu acho que elas mostrarão mais trabalho se tiverem mais mulheres lá. Assim elas vão poder mostrar que são capazes e se esforçar para isso”. (Entrevistada 22, Bairro Glória). “Eu acho que ambos são capazes, então não posso dizer qual eu prefira, mas gostaria de ver aumentando o número de mulheres na política”. (Entrevistada 23, Bairro Glória).
Ressaltam novamente a capacidade das mulheres e o desejo de as verem atuando
porque acreditam mais na sua honestidade, do que nos homens, porque vêem nelas a
perspectiva de mudança na medida em que são trabalhadoras, honestas e competentes. Para as
entrevistadas do bairro Glória que responderam que preferem mulher na política justificaram
sua opção porque as que estão na política são boas e há necessidade de mudança porque tem
poucas mulheres na política, ou porque a mulher é mais honesta, ou porque a mulher é
competente, ou porque as mulheres mostrarão mais trabalho se mais mulheres estiverem
atuando na política. Assim, elas poderão mostrar que são capazes e vão se esforçar para isso.
Entretanto, há posições discordantes como se pode conferir:
“Homem porque a política é mais para homem”. (Entrevistada 6, Bairro Glória). “Homem, porque desde o começo foi só homem, continua sendo homem. Esse lado é com eles”. (Entrevistada 10, Bairro Glória). “Eu prefiro homem, porque eles se interessam mais e o homem é mais capaz do que a mulher para política”. (Entrevistada 21, Bairro Glória).
Esta preferência poderia se atribuir ao conservadorismo dessas mulheres, que
recorrem à tradição histórica da participação dos homens na política para justificar sua
posição. Não se pode esquecer ainda, que na cultura alemã, os valores, práticas e tradições
que identificam tal cultura devem ser preservados para a manutenção e reprodução da mesma,
como ressalta Seyferth (1994). Podemos, assim compreender porque algumas destas mulheres
85
percebem a área política restrita ao mundo dos homens porque nas suas tradições mundo da
mulher diz respeito à esfera privada.
As mulheres entrevistadas do bairro Jardim Paraíso que responderam sobre a
preferência entre homem ou mulher atuando na política, 46,1% delas afirmou que não
depende de sexo; 15,4% delas prefere mulher na política; 7,7% delas prefere homem na
política; 23,1% delas não sabiam responder e 7,7% delas respondeu que depende da pessoa.
Conforme gráfico 34.
Gráfico 34: Bairro Jardim Paraíso
Preferência por homem ou mulher na política?
46,1%
15,4%
7,7%
23,1%
7,7%
Não depende do sexo
Mulher
Homem
Não sabe
Depende da pessoa
Semelhante ao bairro Glória, temos também 46,1% das entrevistadas do bairro
Jardim Paraíso afirmando que política não depende do sexo. Fazem, entretanto, a ressalva que
é a índole das pessoas que indica se é honesto e correto. Entre as que indicaram as mulheres
apresentando a característica de trabalhadoras, ou porque poderiam lembrar de ações voltadas
para as mulheres, estavam preocupadas em privilegiar ações voltadas para a especificidade da
mulher. Ou seja, apresentam expectativas de que as mulheres pudessem ser mais sensíveis às
reivindicações das mulheres.
Assim, a exemplo do que constatou Miguel (2001) há necessidade do
representante político pensar em questões femininas. Sobre esse assunto Luís Felipe Miguel
afirma: “as mulheres se devem fazer representar não porque sejam vetores de uma política
desinteressada mas, ao contrário, porque possuem interesses especiais, legítimos, ligados ao
gênero, que precisam ser levados em conta”. (2001, p. 264).
Entre as entrevistadas que preferem homem na política (7,7%) não souberam
responder o porque de sua preferência.
86
Outra pergunta dirigida às entrevistadas dos dois bairros foi se ela “aceitaria ser
candidata a algum cargo político”?
Dentre as entrevistadas do bairro Glória, 100% respondeu que não aceitaria ser
candidata a algum cargo político. (Ver gráfico 35). Justificam seu desinteresse por seus
compromissos domésticos, por não gostar, por falta de capacidade, ou por não se identificar
com a atividade política.
Gráfico 35: Bairro Glória
Aceitaria ser candidata a um cargo político?
100,0%Não
Quanto as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso para a mesma pergunta, 76,9%
delas respondeu que não aceitaria, 15,4% acha que não aceitaria e 7,7% respondeu que se
tivesse condições aceitaria. (Gráfico 36). Portanto, diferentemente do bairro Glória, as
mulheres do bairro jardim Paraíso oscilam entre a possibilidade ou não de atuar na política,
dependendo da oportunidade que lhes aparecesse. Mas, por outro lado, tem consciência das
limitações da sua própria condição financeira; ou como expressou: “falta de estudo e de
dinheiro”.
Gráfico 36: Bairro Jardim Paraíso
Aceitaria ser candidata a um cargo político?
76,9%
15,4%
7,7%
Não
Acho que não
Se eu tivesse
87
As entrevistadas dos dois bairros foram questionadas ainda: “Conhecem alguma
mulher que participa da política?”
Dentre as entrevistadas do bairro Glória, 53,8% delas responderam que conhecem;
30,8% responderam que não conhecem mulher que participa da política; 7,7% respondeu que
conhece de ouvir falar e 7,7% respondeu que conhece várias mulheres que participam da
política. (Ver gráfico 37). Muito embora, conheçam mulheres que atuam na política, isso não
significa que a acompanham em suas ações políticas, ou seja, pouco se interessam pelas
questões políticas, mantendo-se assim coerentes com os outros aspectos relativos à política do
qual não expressam ter interesse.
Gráfico 37: Bairro Glória
Conhece uma mulher que participa da política?
53,8%30,8%
7,7%7,7%
Sim
Não
Conhece de ouvir falar
Conhece várias
Para as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso responderam que 30,8% delas
conhecem mulher que participa da política; 61,5% delas responderam que não conhecem e
7,7% não sabia se conhecia alguma mulher que participa da política. (Gráfico 38).
Gráfico 38: Bairro Jardim Paraíso
Conhece uma mulher que participa da política?
30,8%
61,5%
7,7%
SimNãoNão sei
88
É interessante destacar que embora as mulheres do bairro Jardim Paraíso tenham
se mostrado mais receptivas às questões políticas, conhecem menos as mulheres que atuam na
política do que as do bairro Glória. Isso, provavelmente, se deve à procedência das
candidatas, que em geral são originárias das elites16 e neste caso, com pouca atuação em
bairros de periferia. Outro aspecto a ser considerado é a disponibilidade de tempo destas
mulheres para acompanhar a propaganda eleitoral por rádio ou televisão, considerando que
algumas delas são responsáveis pelo sustento da família.
Quando solicitadas a responder se, para elas, as mulheres são iguais ou melhores
que os homens na política, obtivemos os seguintes dados.
Para as entrevistadas do bairro Glória, 7,7% delas acham que talvez sejam iguais;
23,0% responderam que é igual homem ou mulher na política; 23,1% acharam difícil de dizer;
23,1% delas responderam que as mulheres são melhores que os homens na política; 15,4%
delas não sabiam responder e 7,7% pensa que os homens são melhores. Conferir gráfico 39.
Gráfico 39: Bairro Glória
As mulheres são melhores na política ou iguais aos homens?
7,7%
23,0%
23,1%
23,1%
15,4%
7,7%
Talvez iguais
Iguais
É difícil dizer
Mulheres
Não sabe
Homens são melhores
Dentre as entrevistadas do bairro Glória a que respondeu que talvez sejam iguais
homens e mulheres na política, comenta:
“Talvez iguais. Mas se tivesse mais mulheres seria melhor, por isso não dá de saber”. (Entrevistada 2, Bairro Glória).
16 Nas Ciências Sociais a elite é constituída por uma minoria privilegiada que detém o poder político e econômico que é solidária entre si para manter-se no poder, tendendo a reproduzir-se dentro de um pequeno círculo social (PARETO, 1984).
89
Para esta a entrevistada a dificuldade de avaliar se deve ao baixo índice de
mulheres envolvidas na política.
As entrevistadas que responderam que pensam ser igual homens ou mulheres na
política, justificaram sua resposta ou porque nenhuma delas demonstrou ser melhor, tornando-
se tudo igual e por isso se tiver de roubar, roubam igualmente. Novamente, constata-se uma
generalização sobre o comportamento dos políticos, que a seu ver, têm como uma de suas
características a desonestidade, independente da questão de gênero.
“É difícil dizer porque tem mais homens na política que mulheres”. (Entrevistada 4, Bairro Glória). “As mulheres são melhores, mas não temos muitas opções de mulheres envolvidas”. (Entrevistada 08, Bairro Glória). “As mulheres são melhores porque são mais sinceras”. (Entrevistada 10, Bairro Glória). “As mulheres são melhores, mas tem uma que está deixando a desejar. Ela prometeu e não fez nada. Mas no geral elas são melhores, porque tem mais competência e querem mostrar que são superiores que os homens e por isso vão querer fazer um bom trabalho”. (Entrevistada 22, Bairro Glória).
Quando opinaram que os homens são melhores na política assim o fizeram porque
consideram “lugar de homem é na política e de mulher é na cozinha”, mantendo a posição
conservadora. Em relação a este depoimento observa-se um rigor na definição dos papéis
ligados ao sexo. Lúcia Avelar (2001) em um dos seus trabalhos, lembra que há uma divisão
moral de trabalho que se faz presente quando se tratam de questões relativas à política
Identificando masculinidade com razão e feminilidade com sentimento. Esta é a base da socialização que se manifesta na justificativa de que a política é o lugar privilegiado dos homens, um lugar desapaixonado, enquanto na família, no mundo privado, é que os sentimentos e as emoções podem se manifestar (AVELAR, 2001, p. 153).
Dentre as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso, 15,4% delas responderam que
são iguais; 30,8% delas responderam que as mulheres são melhores que os homens na
política; 7,7% respondeu que depende de cada um; 38,4% não sabiam ou não responderam e
7,7% respondeu que em determinados assuntos as mulheres são melhores e em outros os
homens. (Ver gráfico 40).
90
Gráfico 40: Bairro Jardim Paraíso
As mulheres são melhores na política ou iguais aos homens?
15,4%
30,8%
7,7%
38,4%
7,7%
Iguais
Mulheres
Depende de cada um
Não sabe ou não respondeu
Em determinados assuntos sãoas mulheres e em outros oshomens são melhores
Dentre as entrevistadas que responderam que as mulheres são melhores do que os
homens na política justificam sua opinião:
“As mulheres são melhores, porque depois que elas entraram foi descoberto muita coisa da política e muita coisa de tempo atrás”. (Entrevistada 13, Bairro Jardim Paraíso). “As mulheres são melhores porque elas tem mais sensibilidade para viver no meio do povo”. (Entrevistada 15, Bairro Jardim Paraíso). “As mulheres são melhores, porque até agora o que elas falaram elas fizeram”. (Entrevistada 18, Bairro Jardim Paraíso). “As mulheres são mil vezes melhores, porque o que elas falam, elas cumprem. Com elas é diferente”. (Entrevistada 14, Bairro Jardim Paraíso).
Atribuem à presença da mulher na política a revelação de procedimentos
inadequados por parte dos políticos. Além disso, valorizam a sensibilidade feminina para lidar
com o povo, e ressaltam a sua sinceridade na medida em que prometem e cumprem. Mas, há
entre estas mulheres aquelas que não souberam ou não quiseram opinar.
Ainda, houve uma entrevistada que respondeu que depende do assunto, afirma:
“Em determinados assuntos as mulheres são melhores e em outros os homens dominam melhor, principalmente para roubar os homens são melhores porque estão há mais tempo na política do que as mulheres”. (Entrevistada 26, Bairro Jardim Paraíso).
91
Na visão desta entrevistada a longa trajetória dos homens atuando na política lhes
ensinou a ser desonesto, trajetória esta ainda não foi realizada pelas mulheres.
Por fim, as mulheres entrevistadas do dois bairros foram questionadas “se as
mulheres deveriam participar mais da política ou não”?
Dentre as entrevistadas do bairro Glória, 76,9% delas responderam que as
mulheres deveriam participar mais da política, 7,7% delas respondeu que fica livre e 15,4%
responderam que as mulheres não deveriam participar mais da política. (Gráfico 41).
Gráfico 41: Bairro Glória
As mulheres deveriam participar mais da política ou não?
76,9%
7,7%
15,4%
Sim
Fica livre
Não
As entrevistadas que responderam que as mulheres deveriam participar mais da
política, expressaram:
“Sim, deveria, seria uma boa. Se bem que ao invés de elas irem para o lado das mulheres elas acabam indo para o lado dos homens. As mulheres são machistas”. (Entrevistada 9, Bairro Glória). “Sim, porque já estão se envolvendo em tudo e por que não na política?”. (Entrevistada 10, Bairro Glória). “As mulheres deveriam participar mais. Eu acho que melhoraria, temos que experimentar para ver. A mulher tem mais lábia e se preocupam mais com as pessoas”. (Entrevistada 22, Bairro Glória). “Sim, elas devem se envolver mais na política para mostra que tem toda capacidade”. (Entrevistada 23, Bairro Glória).
Para estas entrevistadas que responderam que as mulheres devem participar mais
da política muito embora temam que venham a se tornar políticos iguais aos homens, indo
para o lado dos homens porque as mulheres também são muito machistas. Fica evidente, que
92
na percepção destas mulheres, muitas vezes enfatizada em seus depoimentos, a área política é
fatalmente contaminada pela corrupção, desonestidade e que, portanto, todo político é igual.
Deve-se, lembrar que esta percepção pode estar influenciada pelas denúncias de corrupção
que vem sendo amplamente divulgadas pelos meios de comunicação em relação aos
parlamentares que tem se envolvido em escândalos políticos no atual governo.
Dentre as entrevistadas do bairro Jardim Paraíso, 84,6% responderam que as
mulheres devem participar mais da política e 15,4% delas responderam que não sabem se as
mulheres deveriam participar mais da política. Ver gráfico 42.
Gráfico 42: Jardim Paraíso
As mulheres deveriam participar mais da política ou não?
15,4%
84,6%
Sim
Não sabe
No bairro Jardim Paraíso 84,6% das entrevistadas concordam que as mulheres
devem participar mais da política, e as razões estão expressas em seus depoimentos:
“Sim, porque tem que deixar eles de lado e ocupar o nosso espaço. Hoje tem até mulher sendo motorista de ônibus. Antigamente era só homens. Hoje podemos lutar pelo nosso espaço”. (Entrevistada 14,Bairro Jardim Paraíso). “Sim, poderia ser bom se elas participassem mais da política, porque a mulher é capaz. Tem uma morenona que aparece na televisão que fala bonito, não lembro de onde ela é, mas que ela manda lá, isso manda”. (Entrevistada 24, Bairro Jardim Paraíso). “Sim, as mulheres deveriam se envolver mais. Tem muita mulher que fala, mas não vai. Eu acho que isso acontece porque tem muito preconceito contra a mulher”. (Entrevistada 26, Bairro Jardim Paraíso).
Destaque-se que a participação da mulher na política é vista como a oportunidade
de ocupar este espaço que é também das mulheres muito embora tenham clareza de que há
muito preconceito contra a mulher. Não se pode esquecer que a subjugação histórica a que a
mulher foi submetida “gera uma situação de discriminação, atinge mulheres de diversas
93
classes sociais [...] fazendo com que tenha de enfrentar uma barreira quase intransponível para
poder lutar e participar politicamente da sociedade”. (TOLEDO, 2003, p. 16-17).
Em síntese, pudemos constatar que as mulheres entrevistadas de ambos os bairros
apresentam uma percepção negativa sobre a política por atribuírem ao comportamento
corrupto de alguns políticos, uma prática percebida como inerente à política. Esta percepção,
fatalmente, leva a uma descrença nas questões políticas, no processo democrático, razão para
sua pouca motivação para participar da política. Além disso, há, por parte dessas mulheres um
sentimento de impotência quando revelam que há muito preconceito sobre a participação da
mulher na política, mas isso não as desmotiva totalmente, porque afirmam que as mulheres
deveriam participar mais da política para mudar o atual quadro político no qual desaprovam
práticas que revelam desonestidade, preguiça, pouco interesse pelas questões do bairro.
Entretanto, foram as mulheres do bairro Jardim Paraíso, que apresentam condições precárias,
as que enfatizaram sobre a necessidade de as mulheres se envolverem com a política.
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente trabalho buscou-se identificar os critérios utilizados pelas mulheres
eleitoras residentes nos bairros Glória e Jardim Paraíso do município de Joinville para
selecionarem seus candidatos. Entrevistamos mulheres de dois bairros lembrando que o bairro
Glória é composto por famílias de classe média e o bairro Jardim Paraíso é composto por
famílias de baixa renda, a fim de se estabelecer comparação entre as percepções destas
mulheres sobre a política.
Constatamos que as mulheres entrevistadas do bairro Glória exercem
centradamente as funções de donas-de-casa, na condição de casadas ou viúvas, revelando-se
mais “conservadoras” em relação às questões política, quando afirmam que não gostam de
política e não se envolvem em grupos de interesse: partidos políticos, sindicatos ou associação
de moradores. Muito embora, apresentem um nível de escolaridade superior,
comparativamente, ao nível das entrevistadas do bairro Jardim Paraíso, as entrevistadas do
bairro Glória assim como não se interessam pela política também, não se vêem na condição
de candidatas. Contraditoriamente, estas mesmas mulheres afirmam que as mulheres
deveriam se envolver mais na política, embora, haja entre elas as que preferem os homens
atuando na política. Sua preferência é justificada por elas pela tradição histórica da
participação dos homens na política.
Em relação às mulheres entrevistadas do bairro Jardim Paraíso, observou-se que
elas, em sua maioria, também não gosta de política e não se envolve em grupos de interesse,
mas essas mulheres afirmam que não se envolvem na política por falta de tempo, porque
exercem atividades fora do grupo doméstico, além de terem de cuidar dos seus filhos e
exercerem as tarefas domésticas, que demandam tempo e energia.
É importante ressaltar que as entrevistadas de ambos os bairros demonstraram de
forma muito explícita e enfática o seu descontentamento com os políticos e conseqüentemente
com a política. Na sua percepção um bom político deve ser honesto, cumprir as promessas de
campanha, ser responsável e solidário. Ao se reportarem ao perfil do bom político afirmaram
que as mulheres deveriam se envolver mais na política, acreditando nesta opção como uma
solução para os problemas políticos, uma vez que, na visão destas entrevistadas, as mulheres
são mais honestas, solidárias, sensíveis e que poderiam solucionar os problemas que dizem
respeito às próprias mulheres, como por exemplo, aposentadorias para as que executam
atividades domésticas na sua própria casa.
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Entre os meios utilizados pelas entrevistadas, de ambos os bairros, para escolher o
seu candidato para votar, em sua maioria, destacou a propaganda eleitoral divulgada pela
televisão e pelo rádio, como vimos, como importante para conhecer a proposta do candidato e
definir o voto.
Os estudos indicam que há escolhas no ato de votar, podendo esta estar
relacionada à posição de classe social, ao nível de escolaridade como também, aos elementos
subjetivos segundo o cotidiano do eleitor, como relações pessoais e afetivas, valores e
religiosidade. Assim, constatamos, também, que as nossas entrevistadas se pautam por
orientações religiosas, por indicação de parentes, ou ainda, como elas próprias afirmaram,
votam em “pessoa conhecida” ou que já tenha tido alguma atuação política na qual atendeu às
expectativas dos seus representados. Neste sentido, conclamam a participação de mulheres na
política, porque a seu ver, as poucas mulheres que estão atuando na política não lhes permite
avaliar, adequadamente, a atuação destas mulheres. Ou seja, se o número fosse
percentualmente semelhante ao número de homens haveria mais informações para conferir
como atuam as mulheres na política.
Embora tenham apresentado a ressalva de que todo político apresenta
comportamento desonesto, independente do gênero, ainda assim desejam o envolvimento das
mulheres na política, na esperança de que elas possam promover a mudança da atual situação
política, origem da sua decepção com a política. No entanto, considerando o contexto
histórico do município de Joinville, observa-se um conservadorismo que justifica o baixo
envolvimento das mulheres na política. Assim, o processo de inclusão das mulheres na
política, na presente pesquisa, indicou que é bastante insipiente, levando-se a concluir que,
para que haja a igualdade relacionada ao gênero na política do município de Joinville, há
necessariamente que se acreditar na política e no seu processo como um avanço democrático.
É preciso reverter o quadro de corrupção política nacional e, por vezes, local que tem
indignado os eleitores, e, paralelamente, imobilizado, conseqüência da sua pouca participação
no sentido de fazer valer os seus direitos, exigindo que seus representantes atuem
correspondendo às expectativas da coletividade e não a interesses de ordem pessoal ou de
grupos socialmente privilegiados.
Constatamos que são as mulheres oriundas de classes pobres e residentes no
bairro, ironicamente, denominado de Jardim Paraíso, que expressaram o desejo de participar
da política como candidatas, portanto de forma mais atuante, muito embora tenham
consciência das suas limitações que vão desde o baixo nível de escolaridade até as precárias
condições econômicas em que se encontram. São, portanto, as condições de desigualdade
96
sócio-econômica que têm permitido às elites continuarem se reproduzindo no poder, porque
como expressaram: “pobre não consegue ser político” e conseqüentemente, não consegue se
fazer representar. Por outro lado, não deixaram de mencionar que além da condição de classe,
o gênero também é, ainda, percebido como impedimento porque o preconceito em relação à
mulher que participa da política é explicitado como um fator limitante como expressaram as
entrevistadas em pauta.
Em síntese, pode-se afirmar, que semelhante ao que indicam os estudos sobre a
participação da mulher na política, ainda que sua presença seja idealizada como uma solução
para os problemas políticos, constata-se que os “valores tradicionais” – tais como, a
compreensão de que a política se trata de uma área restrita aos homens, e que portanto, há
preconceito sobre a presença da mulher nesta área – traduzidos pela exígua participação da
mulher na política revela que a cultura política não incorpora, ainda, direitos iguais para
homens e mulheres na sociedade brasileira. Em outros termos, a efetiva democratização do
país, bem como a busca por uma sociedade mais igualitária, ainda carecem de um longo
caminho a ser percorrido por todos os brasileiros.
97
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