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A Palavra de Deus Título original: The Word of God Extraído de The Christians Reasonable Service Por Wilhelmus à Brakel (1635-1711) Traduzido, adaptado e editado por Silvio Dutra Fev/2018

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A Palavra de Deus

Título original: The Word of God

Extraído de The Christians Reasonable Service

Por Wilhelmus à Brakel (1635-1711)

Traduzido, adaptado e editado por Silvio Dutra

Fev/2018

2

A474 à Brakel, Wilhelmus (1635-1711) A Palavra de Deus / Wilhelmus à Brakel, . – Rio de Janeiro, 2018. 110.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Reverência 2. Graça 3. Fé. I. Título. CDD 230

3

Sumário

Introdução pelo Tradutor......................................... 4

A Palavra de Deus................................................... 6 A Palavra de Deus antes de Moisés........................ 6 Os Nomes Atribuídos à Palavra de Deus................ 10 A Necessidade da Palavra Escrita.......................... 12 Origem das Sagradas Escrituras............................ 16 Autoridade Divina Inerente das Sagradas Escrituras...............................................................

18

As Causas Secundárias por que Deus Proveu o Homem com a Sua Palavra....................................

26

A Substância ou Conteúdo da Palavra de Deus..... 28 Adição ou exclusão das Sagradas Escrituras Proibidas................................................................

32

O Antigo Testamento: Concatenação com os Cristãos do Novo Testamento................................

38

A Escritura não Estão sujeita a Várias Interpretações........................................................

45

A Perspicácia das Sagradas Escrituras................... 57 O Papa não é o Juiz Infalível da Escritura.............. 65 A Função da Razão na Exposição da Sagrada Escritura.................................................................

76

As Sagradas Escrituras Devem Ser lidas por Todos os Membros da Igreja..................................

83

A Tradução das Escrituras em Outras Línguas...... 89 Questão da Necessidade das Escrituras................. 94 Nossas Obrigações Para as Sagradas Escrituras.... 99 Diretrizes para a Leitura Proveitosa das Escrituras...............................................................

103

4

Introdução pelo Tradutor:

Quando se diz que a Palavra de Deus é a única regra

de fé e de prática da Igreja não há nisto nenhum

dogma criado por alguns homens, cujo intuito fosse

o de negar a autoridade de concílios, de

denominações religiosas ou qualquer instituição

terrena que alegue presunçosamente ser a referida

regra.

É fácil entender porque somente a Palavra de Deus

possui tal caráter autoritativo para a salvação e

edificação dos pecadores, sendo o único guia seguro

para a vida que agora é e a que há de ser no porvir.

Isto decorre que desde o princípio da revelação da

verdade relativa à nossa salvação e santificação, Deus

providenciou que ficasse registrado por escrito por

homens previamente por ele escolhidos para tal

propósito, que foram inspirados e dirigidos pelo

Espírito Santo, respectivamente, nas diversas épocas

em que viveram, para a produção do volume sagrado.

Desde Adão e para ele foi feita a promessa de um

Salvador e Senhor que no futuro esmagaria a cabeça

da Serpente, e esta promessa foi feita e revelada por

Deus a outros (Abraão, Davi, Daniel, Isaías,

Jeremias, Ezequiel, etc), inclusive prevendo a

formação de um povo, de uma nação eleita para o

5

referido propósito de trazer através dela a

manifestação do Salvador em pessoa ao mundo.

Em torno desta promessa principal e em decorrência

dela várias outras promessas foram feitas por Deus,

principalmente, ao Israel espiritual, das quais muitas

já tiveram cumprimento, afirmando a completa e

perfeita fidelidade de Deus, que vem a ser a garantia

de que trará a cabal realização das demais promessas

que ainda aguardam pelo seu cumprimento, como o

arrebatamento da Igreja, a segunda vinda de Jesus,

entre outras.

Tudo o que é necessário para a justificação,

regeneração, santificação e glorificação do pecador já

foi revelado por Deus na Bíblia, de maneira que não

há outra autoridade que senão a do próprio Deus e da

Sua Palavra, para reger a vida do seu povo.

6

A Palavra de Deus

Mostramos que o conhecimento de Deus derivado da

natureza é insuficiente para a salvação. Se o homem

devesse ser trazido para a salvação, era necessário

que Deus revelasse uma maneira pela qual ele

poderia se tornar um participante disso. Apesar

disso, em retrospectiva, podemos deduzir que essa

verdade, a natureza não a revela. Ela revela, no

entanto, que Deus é capaz; revela algo que é de

natureza salvífica. Isso encorajou alguns a

reivindicar serem os destinatários das revelações

divinas e fez com que as pessoas acreditassem em tais

revelações.

Deus, em Sua bondade insondável, desejando ter um

povo próprio na terra a quem Ele lideraria para a

salvação, revelou-lhes um caminho de salvação,

começando com a primeira declaração do evangelho

a Adão. A semente da mulher feriria a cabeça da

serpente (Gênesis 3:15). Além disso, Deus

repetidamente deu aos seus profetas revelações mais

abrangentes e mais claras para que acreditassem

nestas revelações para a salvação. que eles, por sua

vez, proclamaram às pessoas.

A Palavra de Deus antes de Moisés

Se essas revelações foram registradas antes do tempo

de Moisés e foram encaminhadas para a igreja de

7

naquele tempo em forma escrita, não podemos

afirmar nem negar. Da mesma forma, não nos é

conhecido se Moisés, sob o divino comando e tendo

sido conduzido pelo Espírito Santo em toda a

verdade, tinha registrado as questões que se

passaram do início do tempo ao seu tempo por meio

de escritos sagrados e divinamente inspirados, ou se

ele os recebeu por conta própria em virtude da

revelação imediata através das transmissões

inerentes de homens guiados pelo Espírito Santo.

Como os pais na linhagem sagrada viveram durante

a duração de vários séculos, tal transmissão poderia

transpirar mais prontamente. Abraão, que fielmente

fez o caminho da salvação conhecido por sua

semente, conseguiu aprender de forma remota tudo

o que acontecera antes dele. Abraão foi informado

por Sem (filho de Noé), com quem ele chegou a ser

contemporâneo, Sem de Matusalém, e Matusalém de

Adão.

Contudo, conhecemos uma coisa com certeza: a

igreja daquela época não foi privada da Palavra de

Deus nem de revelações divinas. Moisés nos

transmite isso em seu primeiro livro, e o fato de que

os eleitos dessa época foram trazidos para

a salvação torna este um pré-requisito necessário. A

Palavra de Deus da época é geralmente referida como

não palavra escrita, já que não parece ter sido

gravada, nem nos foi transmitida por escrito. Somos

8

limitados no nosso conhecimento sobre isso pelo que

Moisés nos transmite. Somente Judas fala da

profecia de Enoque nos versos 14-15, que é

credenciada pela sua conta. No entanto, para adornar

as Sagradas Escrituras com uma Palavra não escrita

que revelaria coisas não registradas na Bíblia - como

faz o catolicismo romano para fazer suas tradições

credíveis - seria um ato que invocaria as maldições

pronunciadas sobre aqueles que acrescentariam algo

à Palavra escrita.

(Nota do tradutor: A Palavra foi revelada por Deus

para um fim prático de conduzir o seu povo na

verdade, e para clarear um pouco o sentido deste

propósito, estamos apresentando a seguir uma breve

reflexão os dons e a graça do Espírito Santo em suas

operações nas vidas dos crentes.

Uma das principais razões para a necessidade de se

criar um firme fundamento na graça, pela obtenção e

exercício do fruto do Espírito Santo, se refere

sobretudo a servir de um aporte para que não sejam

desperdiçados ou mal usados os dons sobrenaturais

e extraordinários do mesmo Espírito, conforme

relacionados nos capítulos 12 e 14 de I Coríntios.

Por este motivo o apóstolo Paulo interpõe o caminho

que é sobremodo excelente do amor entre os

capítulos citados anteriormente, demonstrando que

ainda que ele estivesse dotado de todos os dons

sobrenaturais do Espírito, mas caso estes não fossem

9

embasados por uma vida governada e expressada

pelo amor de Cristo, isto não seria de qualquer

proveito, e ele estaria fazendo apenas barulho como

um bronze que soa ou címbalo que retine.

A este testemunho do apóstolo pode ser acrescentado

o do autor de Hebreus no início do sexto capítulo da

citada epístola, onde afirma até mesmo a perdição

eterna, em ruína de rejeição, maldição e queima por

Deus, de todos aqueles que mesmo sendo feitos

participantes dos dons sobrenaturais do Espírito

(como Saul, Judas, Balaão etc), por não terem

alcançado sequer a salvação pela graça, e muito

menos a produção do fruto do Espírito para Deus,

que é amor, bondade, benignidade, longanimidade,

fé, alegria, paz etc. Assim que é de pouca vantagem,

no caso de crentes autênticos, que não se encontram

na condição citada no parágrafo anterior, porque são

participantes da graça salvadora de Cristo, serem

dotados de vários dons sobrenaturais, como eram

muitos crentes da Igreja de Corinto, e no entanto,

serem faltosos no fruto do Espírito, por falta de

disciplina e diligência, e obediência espiritual para

crescer na graça e no conhecimento de Jesus.

Os dons passarão, mas o fruto do Espírito não é

perdido, pois passa a fazer parte da nossa nova

natureza.

Falar em línguas estranhas é edificante para o que

fala, mas será de pouco uso se lhe falta

longanimidade, paciência, misericórdia, e todas as

demais características do amor citadas em I Coríntios

10

13.

Os dons sobrenaturais são necessários e devem ser

buscados, porque a igreja que estiver despojada deles

pouco pode fazer para Cristo no que tange ao avanço

do evangelho. Mas o testemunho dado no poder do

Espírito, pode ser perdido quando depois de ter

pregado com unção, for observado que ainda temos

um coração carnal e mundano, pronto a se irritar

com a menor provocação, a não perdoar a menor

ofensa, a não suportar os crentes que são fracos, e

enfim, estar muito longe daquela verdadeira

santificação e renovação da mente que identifica

todos os crentes que são de fato espirituais.)

Os Nomes Atribuídos à Palavra de Deus

Nós geralmente denominamos a Palavra de Deus

escrita como a Bíblia, sendo a palavra "Bíblia" uma

transliteração uma grega. Em nosso idioma, esta

palavra significa "livro", o que corresponde ao fato de

que a Bíblia é o Livro de

todos os livros. Como é chamado em Isaías 34:16,

"busque-o do livro do Senhor"; em Marcos 12:26, "o

livro de Moisés"; em Lucas 4:17, "o livro do profeta

Isaias"; em Atos 1:20, "o livro dos Salmos"; em

Apocalipse 22:19, "o livro dessa profecia"; em Salmos

40: 7, "no volume do livro", assim chamado porque

naquele momento não se fazia uso de páginas, mas

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em vez disso uma longa tira de pergaminho que seria

enrolada e amarrada com uma corda.

A Palavra escrita também é chamada de Sagradas

Escrituras em 2 Tim 3: 15-16. Em Atos 8:32 é referido

como Escritura.

Como a arte da impressão ainda não havia sido

inventada, tudo tinha que ser escrito por caneta.

Portanto, poucos possuíam a Bíblia inteira, o custo

de uma Bíblia naquele momento era de milhares de

dólares. Alguns só possuíam um livro de um dos

profetas, um dos evangelhos, ou uma das cartas

apostólicas. Além disso, muitos não conseguiram ler.

Era uma grande misericórdia de Deus, sobre a qual

não se pode meditar sem ação de graças, que a arte

da impressão foi inventada e usada na sua produção

pouco tempo antes da Reforma. Como resultado,

mesmo agora uma pessoa pobre, pode possuir uma

bíblia por um pequeno preço. Consequentemente,

você dificilmente poderá encontrar alguém da fé

Reformada que não possua uma Bíblia ou pelo menos

um Novo Testamento.

As Sagradas Escrituras também são denominadas

como a Palavra de Deus. Em Rom 3: 2 é afirmado: "a

eles foram confiados os oráculos de Deus ".

Deus, em condescendência com o homem, revelou o

caminho da verdade de uma maneira consistente

12

com a humanidade falando aos santos homens de

Deus, que, movidos pelo Espírito Santo (2 Pedro

1:21), falaram estas coisas para a igreja, transmitindo

as palavras de Deus para ela. "Havendo Deus

antigamente falado muitas vezes, e de muitas

maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos

dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu

herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também

o mundo.", (Hb 1: 1-2).

A Necessidade da Palavra Escrita

Depois que Deus ampliou a igreja para incluir Abraão

e sua semente, a qual foi principalmente limitada até

o tempo de Cristo, agradou-lhe dar à sua igreja um

governo eterno para a vida e a doutrina,

submetendo-lhe à forma escrita. Isso não implica que

tal fosse necessário da perspectiva de Deus, como por

sua onipotência Ele teria sido capaz de revelar o

caminho da salvação para Sua igreja sem a Palavra

escrita, e preservar a verdade entre ela. Do ponto de

vista do homem, no entanto, havia tal necessidade, a

fim de que a verdade fosse preservada muito melhor

contra a iniquidade do homem cujo coração se

inclinasse à superstição e à religião carnal e carrega

dentro dela a semente de numerosas heresias. Isso

também era necessário para proteger a igreja contra

as artimanhas do diabo porque seu objetivo é sempre

usar a fumaça da heresia para manchar a verdade,

sabendo que, sem o conhecimento da verdade, não

13

pode haver uma verdadeira piedade. Finalmente, era

necessário que o evangelho chegasse de maneira

eficiente a todos os membros individuais da igreja,

fosse transmitido de pai para filho, e fosse

distribuído entre as nações muito mais rapidamente.

Era necessário que Judas escrevesse Judas 3 –

“Amados, enquanto eu empregava toda a diligência

para escrever-vos acerca da salvação que nos é

comum, senti a necessidade de vos escrever,

exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para

sempre foi entregue aos santos.” A Palavra escrita

está no nosso caminho (Salmos 119: 105). “A Lei e ao

Testemunho! se eles não falarem segundo esta

palavra, nunca lhes raiará a alva." (Isaías 8:20).

Assim, a existência da Palavra escrita é uma

necessidade. O catolicismo romano, para

salvaguardar suas tradições e lendas supersticiosas

de forma mais eficaz, contradiz a necessidade da

Escritura, apresentando os seguintes argumentos:

Argumento nº 1: Houve igrejas particulares que

existiram sem a Palavra escrita, sendo assim quando

os apóstolos inicialmente proclamaram o evangelho

entre os pagãos e estabeleceram-se", isto é, "foram

confiadas as palavras de Deus" às Igrejas entre eles.

Resposta: tal foi o caso apenas por um curto período

de tempo. Mesmo que eles não estivessem na

possessão imediata da Palavra escrita, eles tinham a

palavra dos apóstolos infalivelmente movidos pelo

Espírito de Deus. No entanto, em um sentido geral, a

igreja tinha a Palavra de Deus em sua posse, uma vez

14

que uma congregação particular a compartilharia

com outra congregação (Colossenses 4:16). Os judeus

que estavam dispersos entre os pagãos tinham a

Palavra escrita, e como você sabe, em muitos lugares

eles eram geralmente os primeiros a crerem.

Argumento nº 2: Para os analfabetos é como se a

Palavra escrita não existisse por escrito. Resposta :

Eles ouvem a Palavra lida, bem como a citação das

passagens das Escrituras pelo ministro e, portanto, a

sua fé é fundada sobre a Palavra escrita, assim como

aqueles que são capazes de ler. Argumento nº 3: o

povo do Senhor é ensinado pelo próprio Senhor e,

portanto, não precisam de outras instruções (Isa

54:13, Jeremias 31:34; 1 João 2:27). Resposta: (1) De

modo semelhante, pode argumentar-se que a igreja

certamente não precisa para as suas tradições e,

portanto, elas devem ser necessariamente

descartadas. (2) Quando Deus instrui o Seu povo por

meio da Palavra de Deus, eles estão sendo instruídos

por Ele. (3) Não se exclui o outro, como Deus concede

Seu Espírito Santo por meio de Sua Palavra (Atos

10:44). A Bíblia é composta por esta Palavra escrita e

consiste em sessenta e seis livros. Trinta e nove foram

escritas antes do nascimento de Cristo e, portanto,

são referidas como o Antigo Testamento (2 Cor.

3:14). Começa com o primeiro livro de Moisés,

geralmente referido como Gênesis, e conclui com

Malaquias. Estes livros estão divididos em várias

maneiras, como "Moisés e os Profetas" (Lucas

24:44); e "Moisés, os profetas e os salmos" (Lucas

15

24:44). Geralmente, eles se dividem da seguinte

forma: (1) os livros da Lei, isto é, os cinco livros de

Moisés, (2) livros históricos, Josué a Ester inclusive;

(3) livros poéticos de Jó a Cantares de Salomão; (4 )

os profetas, constituídos pelos quatro principais

profetas de Isaías a Daniel, e os doze profetas

menores de Oseias a Malaquias. O Novo Testamento

abrange aquelas Sagradas Escrituras que foram

escritas após o tempo de Cristo, começando com

Mateus e concluindo com Apocalipse. Estes são

divididos da seguinte forma: (1) os livros históricos,

isto é, os quatro evangelhos e os Atos dos Apóstolos,

(2) os livros doutrinários da Epístola aos Romanos à

Epístola de Judas, (3) um livro profético, sendo o

Apocalipse de João. Os Apócrifos, isto é, os livros

"escondidos" - não sendo lidos nas igrejas nem sendo

reconhecidos como inspirados divinamente - não

pertencem à Bíblia. São escritos de origem humana

dos quais também há muitos hoje. Eles foram

compostos antes do tempo de Cristo, nem pela mão

de um profeta nem na língua hebraica, mas na língua

grega. Eles não foram entregues à igreja, nem os

judeus a quem os oráculos de Deus foram confiados

(Romanos 3: 2). Eles contêm muitos erros e

declarações heréticas que contradizem os livros

canônicos. Para maiores informações abrangentes

você pode ler o excelente prefácio dos tradutores

holandeses do Statenbij bel preceding the

Apocryphal books. Ele confunde satisfatoriamente o

catolicismo romano que desejava nos últimos tempos

16

considerar esses livros como canônicos. Como as

Sagradas Escrituras são a única regra para a doutrina

e a vida, o diabo tem a intenção de derrubar ou

obscurecer esse fundamento ao máximo de sua

habilidade por meio de instrumentos à sua

disposição. Por isso, nos encorajaremos a defender as

Sagradas Escrituras e, para este propósito,

consideramos: 1) a sua origem, tanto primária como

secundária, 2) seus conteúdo, 3) sua forma, 4) o

propósito delas, 5) os destinatários a quem elas são

dadas, e 6) seu benefício. Ao considerar cada um

desses elementos, devemos lidar com assuntos de

controvérsia que possam ser contra eles.

Origem das Sagradas Escrituras

No que diz respeito à origem das Sagradas Escrituras,

devemos considerar as causas primárias e

secundárias. A primária, sim, a única causa essencial

é Deus. A evidência é a seguinte: 1) Ao longo de todas

as Escrituras, as seguintes expressões são

encontradas: "Deus falou", "Deus disse", “assim diz o

Senhor" e palavras semelhantes. 2) O próprio Deus

não meramente proclamou a lei com uma voz alta

(Êxodo 20), mas também gravou em duas tábuas de

pedra (Êxodo 24:28). 3) Deus expressamente

ordenou aos escritores sagrados que registrassem

Sua Palavra: "Escreva isto para um memorial em um

livro" (Êxodo 17: 14); "Escreva estas palavras"

(Êxodo 34:27); "O que você vê, escreva em um livro e

17

envie-o para as sete igrejas que estão na Ásia"

(Apocalipse 1:11). Isto também é expresso em vários

outros textos, como em Isaías 30: 8, Jer 30: 2, e Heb

2: 2. Tal é também o propósito da perspicácia dos

vários livros que contêm as credenciais dos

escritores, sejam eles profetas, evangelistas ou os

apóstolos. 4) As Escrituras inteiras testemunham

isso: "Toda a Escritura é dada por inspiração de

Deus" (2 Tim 3 : 16); "Porque a profecia nunca foi

produzida por vontade dos homens, mas os homens

da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito

Santo." (2 Pedro 1:21); "O Espírito do Senhor fala por

mim, e a sua palavra está na minha língua." (2 Sam

23: 2). Isto foi afirmado na refutação ao catolicismo

romano, que nega que as Sagradas Escrituras fossem

escritas como comando de voto, mas sim nessa ou

naquela ocasião arbitrária. A intenção de tal noção é

minar secretamente as Escrituras e dar credibilidade

e respeitabilidade às tradições de Roma. Eles

procuram provar isso, mantendo que Deus teria

causado a escrita de um livro ordenado, em que todas

as questões essenciais teriam sido registradas de

maneira ordenada, as palavras e as estipulações

sendo tais que não poderiam surgir mal-entendidos

ou heresias. 1) Quem foi o conselheiro do Senhor?

Quem pode dizer: "O que você faz?" (Jó 9:12); "Pois

a sabedoria desse mundo é uma loucura com Deus"

(1 Coríntios 3:19). Ele tolera a sabedoria deste mundo

(1 Coríntios 1:25); "Pois a loucura de Deus é mais

sábia do que os homens" (1 Cor. 1:25); "Mas o homem

18

natural não recebe as coisas do Espírito de Deus;

porque são loucuras para ele" (1 Coríntios 2:14).

Erros e heresias não surgem das Sagradas Escrituras,

senão do intelecto corrompido do homem. "E até

importa que haja entre vós facções, para que os

aprovados se tornem manifestos entre vós." (1 Cor

11:19). (2) Não negamos que alguns assuntos foram

registrados em ocasiões especificadas; no entanto,

isso não elimina o fato de que Deus os inspirou e os

fez registrar suas palavras.

Autoridade Divina Inerente das Sagradas

Escrituras

Pergunta: As Sagradas Escrituras são

verdadeiramente a Palavra de Deus, tendo

autoridade divina, tanto em relação a narrativas

históricas, onde muitas palavras e as ações dos

ímpios estão relacionadas e em relação à regra da

doutrina e da vida? É necessário que o homem seja

convencido disso e estimar as Escrituras como a

Palavra de Deus. Portanto, como pode ser

assegurado que as Sagradas Escrituras são a Palavra

de Deus? Resposta: O catolicismo romano responde

que devemos acreditar porque a igreja diz que é

assim. Afirmamos que a verdadeira igreja, que

acredita e declara que as Sagradas Escrituras são a

Palavra de Deus, é um meio pelo qual o Espírito

Santo leva o homem à Palavra e, assim, persuade o

homem a acreditar. A igreja não é o fundamento em

19

que repousa a fé de que a Escritura é a Palavra de

Deus e o homem é assegurado da mesma. Pelo

contrário, as Sagradas Escrituras, em virtude das

evidências constantes de sua divindade e do Espírito

Santo que fala naquela Palavra, são elas mesmas o

fundamento e a base pela qual acreditamos que elas

sejam divinas. A autoridade da Palavra é derivada da

própria Palavra. A igreja não pode ser o fundamento

sobre o qual se acredita que as Escrituras são a

Palavra de Deus, pois: Primeiro, a Igreja deriva toda

a sua autoridade da Palavra. Não podemos

reconhecer que uma igreja seja a verdadeira igreja

exceto por meio da Palavra de Deus - e somente se

pregar a doutrina pura e tem as credenciais que a

Escritura expressa como pertencente à verdadeira

igreja. "Construída sobre o fundamento dos

apóstolos e profetas" (Efésios 2: 20); "Se alguém vier

a você e não trouxer essa doutrina, não o receba na

sua casa" (2 João 10); "... e evite-os" (Rom 16:17). Se

a Palavra de Deus é o único critério pelo qual

podemos determinar que uma igreja seja a

verdadeira igreja de Deus, então, primeiro,

reconhecer a Escritura como a Palavra de Deus antes

reconhecendo que a igreja é uma igreja verdadeira.

Além disso, não podemos receber o testemunho da

igreja a menos que a reconheçamos ser a verdadeira

igreja. Assim, não acreditamos que a Palavra seja a

Palavra de Deus porque a igreja afirma, mas, pelo

contrário, acreditamos que uma igreja é a verdadeira

igreja porque a Palavra a valida como tal. Uma casa

20

descansa sobre o seu fundamento, e não o

fundamento sobre a casa. Um produto procede da

sua origem; a origem não procede de seu produtor.

Argumento invasivo: os dois podem ser

intercambiáveis; Cristo prestou testemunho de João

Batista e João em troca, de Cristo. Resposta: Uma

coisa é testemunha, mas a outra é o fundamento da

própria fé. Cristo é a Verdade, e Ele testemunhou

com autoridade; João, no entanto, era apenas um

instrumento pelo qual a verdade era divulgada, como

todos os ministérios são hoje. Os servos de Deus não

são, no entanto, o fundamento sobre o qual a fé dos

assistentes está descansando; esse fundamento é

Jesus Cristo. Em vez disso, com os samaritanos

devemos confessar: "e diziam à mulher: Já não é pela

tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos

temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente

o Salvador do mundo." (João 4:42). Porque respeitar

as palavras de alguém é respeitar a própria pessoa.

As leis emitidas pelo governo derivam a autorização

para exigir o cumprimento do próprio governo. As

leis não recebem essa autoridade, no entanto, da

pessoa que publica essas leis, lendo ou exibindo essas

leis. Assim, nós reconhecemos a Palavra como tendo

autoridade divina porque somente Deus é Aquele que

fala: " Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque falou

o Senhor:" (Isa 1: 2). A igreja meramente funciona

como um escudo. Se a Palavra derivasse sua

autoridade da igreja, então teríamos que considerar

a igreja em maior estima do que o próprio Deus.

21

Porque quem dá credibilidade e ênfase às palavras de

alguém é superior à pessoa que fala. Deus não tem

superior e, portanto, ninguém está em posição de dar

autoridade às Suas palavras. "Eu, porém, não recebo

testemunho de homem" (João 5:36), exclamou o

Senhor Jesus. Mesmo que João tivesse

testemunhado sobre Ele, isto é, declarou que ele era

o Cristo, seria contrário à vontade do Senhor Jesus

de que alguém acreditasse apenas por essa razão. O

testemunho de João era apenas um meio para um

fim. "Mas o testemunho que eu tenho é maior do que

o de João; porque as obras que o Pai me deu para

realizar, as mesmas obras que faço dão testemunho

de mim que o Pai me enviou." (João 5:36).

Objeção 1 : "... a qual é a igreja do Deus vivo, a coluna

e o baluarte da verdade" (1 Tim 3:15). Seja qual for o

que proporcione a verdade com suporte e

estabilidade, fornece-lhe a autoridade para receber

como verdade. Tal é a relação entre a igreja e a

verdade. Resposta: rejeito enfaticamente a conclusão

desta proposição. Os defensores mais eminentes da

igreja são chamados pilares, o que é verdadeiro na

conduta diária, bem como na Escritura. "Tiago, Cefas

e João, que pareciam pilares" (Gál 2: 9). No entanto,

esses homens não deram à igreja a autoridade para

ser reconhecida como a verdadeira igreja. Da mesma

forma, a igreja é o guardião, o defensor e o protetor

da Palavra. Se não houvesse igreja, a Palavra de Deus

e a verdade contida nela desapareceriam quase

22

inteiramente do mundo. A expressão "um pilar e

baluarte" não tem como referência a concessão de

autoridade e credibilidade, mas sim a preservação e

proteção. Os oráculos de Deus foram confiados à

igreja (Romanos 3: 2). Sua vocação é preservá-los e

defendê-los, bem como publicá-los. Que

credibilidade isso dá à Palavra de Deus em si?

Objeção nº 2: Ninguém saberia que a Bíblia é a

Palavra de Deus se a igreja não tivesse declarado que

assim era. Deus não está agora declarando do céu que

a Bíblia é a Sua Palavra; portanto, deve ser

necessariamente alguém que declare que tal é o caso

para que as pessoas possam ouvi-lo. Resumo: (1)

Ninguém pode saber qual lei o governo emitiu, exceto

pelo anúncio do arauto, e, no entanto, ela não é o

pessoa que dá a essas leis sua autoridade. Tal é

também o caso aqui. (2) O argumento de que

ninguém pode saber que a Bíblia é a Palavra de Deus,

exceto que a igreja declare que é assim, não é válida.

Ocorre ocasionalmente que alguém nascido e

erguido longe de outras pessoas, e ignorando a

existência de uma igreja, acidentalmente encontre

uma bíblia em sua casa. Ao lê-la com diligência, ele

se encanta com esses assuntos e eles são usados como

meio para sua conversão. Consequentemente, ele

reconhece que a Bíblia é de Deus e ele começa a amar

a Sua Palavra. Eu conheci esse indivíduo e o que

aconteceu com ele também pode acontecer com

qualquer outra pessoa. Centenas de pessoas são

ignorantes sobre a igreja e, portanto, não têm

23

nenhuma consideração por isso. No entanto, eles

reconhecerão a Bíblia como a Palavra de Deus e

podem até tentar procurar a verdadeira igreja por

meio da Palavra. Se a igreja ou outra pessoa nos dá a

Bíblia e declara que ela é a Palavra de Deus é

indiferente. Em qualquer caso, ele pode motivar uma

pessoa a procurar, e ao pesquisar, ele pode discernir

evidências de autoria divina nela. (3) O objetor irá

reivindicar a Igreja Católica Romana como a

verdadeira igreja, dando assim autoridade ao

Senhor. Acreditamos, no entanto, que a Bíblia é a

Palavra de Deus, mas não porque a Igreja Católica

Romana diz que é, como nem sequer a reconhecemos

como a igreja de Deus. Assim, com quanto mais

certeza - dez vezes mais que eles - podemos declarar

que a Bíblia é a Palavra de Deus! E não estamos

baseando isso no reconhecimento de que a Igreja

Católica Romana é a verdadeira igreja. As Escrituras

não recebem sua autoridade divina do papa, das

assembleias de concílios, nem de toda a estrutura de

poder da Igreja Católica Romana. Objeção nº 3: A

igreja existiu antes da Palavra escrita e é mais

conhecida do que a Palavra; assim, a igreja confere à

Palavra autoridade divina. Resposta: A igreja não é

mais antiga do que a Palavra; o oposto é verdadeiro.

A Palavra é a semente da igreja. A primeira

mensagem do evangelho foi emitida antes da

existência da igreja e foi um meio pelo qual a igreja

entrou em existência. É verdade que a igreja existia

antes do tempo em que as Escrituras estavam

24

totalmente contidas na Bíblia. No entanto, a igreja

não deu credibilidade aos livros de Moisés e às

Escrituras que os seguiram. Hoje, quando alguém

nasceu sob o ministério da Palavra, a Palavra e a

igreja estão simultaneamente presentes.

Geralmente, alguém estima a Bíblia como a Palavra

de Deus antes de compreender o que é a igreja e

discernir o que ela tem a dizer sobre a Palavra. Daqui,

segue-se que a igreja não possui mais

reconhecimento do que a Palavra. O contrário é

verdadeiro. Supondo que a igreja precedeu a Palavra

escrita e tenha mais reconhecimento, esse fato não

lhe daria o privilégio acima de outro para declarar a

Palavra como divina. Assim, a igreja não dá

autoridade divina à Palavra entre os homens. Nós

não acreditamos que a Palavra seja divina porque a

igreja declara que é assim, mas as próprias Escrituras

sagradas manifestam a sua divindade para o leitor

atencioso, e isso fica claro a partir do seguinte: (1) Os

prefácios dos livros da Bíblia e cartas apostólicas e

palavras como "Assim diz o Senhor", "O Senhor fala",

"Ouve a Palavra do Senhor", etc., toca o coração. (2)

A Escritura manifesta a sua divindade para o homem

pela revelação dos mistérios sublimes de Deus e

assuntos divinos, que a natureza não revela, nenhum

humano poderia ter concebido e que, além da

operação do Espírito Santo, não pode ser

compreendido. A divindade da Escritura também se

manifesta na santidade e na pureza de suas

injunções, bem como pela maneira como o homem é

25

comandado a conduzir-se. Portanto, todos os outros

escritos que não são derivados dessa Palavra são

carnais, não refinados, vaidosos e tolos, enquanto

que os escritos que são derivados das Escrituras

comparam a Escritura como uma pintura que se

assemelha a um ser humano vivo. (3) A divindade da

Escritura é mais evidente a partir do poder que ela

exerce sobre o coração humano, porque onde quer

que seja pregada, os corações são conquistados e

sujeitos a ela. Quanto mais aqueles que confessarem

a verdade das Escrituras são suprimidos e

perseguidos, mais a Palavra exercerá seu poder. (4) É

evidente a partir da luz maravilhosa com a qual a

Palavra ilumina a alma, a toca interna e

externamente de tal forma que ela engendra a

maneira em que enche os crentes com um doce

conforto e alegria inexprimível. É capaz de suportar

toda perseguição no amor e com alegria, bem como

se entregar de bom grado à morte. (5) Finalmente, é

evidente pelas profecias que, tendo declarado, com

antecedência de milhares de anos, o que não poderia

ocorrer, foram cumpridas em muitos detalhes,

validando assim essas profecias. Esses e assuntos

semelhantes são raios da divindade da Palavra que

iluminam e convencem o homem desta divindade

por sua luz inerente. No entanto, a tarefa de

persuadir completamente alguém, especialmente

uma pessoa que usa seu intelecto corrupto para

julgar nesta matéria, é a obra do Espírito de Deus que

é o Espírito de fé (2 Cor 4, 13). Ele dá fé (1 Cor. 12: 9),

26

e testifica que o Espírito que fala por meio da Palavra

é a verdade (1 João 5: 6); "Ninguém pode dizer que

Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo" (1

Coríntios 12: 3).

As Causas Secundárias por que Deus Proveu

o Homem com a Sua Palavra.

Tendo considerado a principal causa em movimento,

agora consideraremos as causas secundárias ou os

meios que Deus procurou usar para fornecer ao

homem a Sua Palavra. Estes eram "homens santos de

Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1:21).

Eles receberam revelação, (1) por meio de endereço

imediato: "Com ele falarei boca a boca, mesmo

aparentemente" (Números 12: 8), (2) por meio de um

transe (Atos 10:10), e sendo "No espírito"

(Apocalipse 1:10), (3) por meio de sonhos em que

Deus falaria (Mateus 1:20), ou em visões

acompanhadas de declarações verbais (Gênesis 18:

13,17); (4) por meio de anjos, seja durante o sono,

durante um transe, ou enquanto estivesse acordado

(Gênesis 18: 2). Da mesma maneira que os profetas

receberam suas revelações, eles, assim como os

evangelistas e os apóstolos, escreveram pela

inspiração do Espírito Santo (2 Tim 3:16), movidos

por ele (2 Ped 1:21) e que os instruiu e dirigiu a toda

a verdade (João 16:13), mostrando-a a eles (versículo

14). Esses homens, guiados pelo Espírito Santo em

relação a assuntos, palavras e estilo, escreveram na

27

língua em uso pela igreja, assim permitindo que ela

compreendesse as Escrituras. As Escrituras do

Antigo Testamento foram escritas no hebraico, já que

naquela época a igreja existia dentro dessa nação.

Somente alguns capítulos foram registrados na

língua aramaica que se assemelha ao hebraico com

tanta atenção que quem entender o hebraico será

capaz de entender o idioma aramaico também

bastante profundo. As Escrituras do Novo

Testamento foram escritas em grego, esta língua

sendo mais comum em uso entre os gentios.

Ambas as línguas permaneceram tão intactas nas

Sagradas Escrituras que, embora vários manuscritos

contenham alguns erros de escrita ou de impressão,

e os hereges procurarem corrompê-los em vários

lugares, as Escrituras têm no entanto, sido

totalmente preservadas devido ao cuidado fiel,

providencial do Senhor, bem como pela atenção

meticulosa dada aos manuscritos pelas igrejas

judaica e cristã.

Somente as línguas acima mencionadas são

autênticas, tendo a autoridade inerente a ser credível

e aceitável.

Foi nessas línguas que agradou ao Senhor, pela

inspiração e direção do Espírito Santo, fazer com que

sua Palavra fosse gravada. Todas as traduções para

outros idiomas devem ser verificadas através do texto

28

original. O que quer que seja que não esteja em

harmonia com este texto deve ser rejeitado, pois

Deus não fez com que Sua Palavra fosse gravada nas

línguas em que está sendo traduzida, mas apenas em

hebraico e grego.

O catolicismo romano considera a tradução latina

comum como autêntica, embora alguns dos mais

educados entre eles, estando familiarizados com

hebraico e grego, são de uma opinião diferente.

Outros, entre eles, prefeririam morrer na ignorância

do que vir ao conhecimento da verdade. Nos seus

esforços para eliminar a autenticidade do original os

textos são tão carregados de ignorância que não

merecem uma resposta.

A Substância ou Conteúdo da Palavra de Deus

A substância ou conteúdo da Palavra é a aliança da

graça, ou para declará-lo de forma diferente, ela

contém a perfeita regra de fé e prática. Esta regra é

compreendida no Antigo e no Novo Testamento. Não

é verdade que parte desta regra é encontrado em cada

um, de modo que o Antigo Testamento não teria sido

suficiente para a igreja do Antigo Testamento e que o

Novo Testamento não teria sido suficiente para a

salvação sem o Antigo Testamento, como se tivessem

a necessidade de pertencer ao sentido absoluto da

palavra. Isso sugeriria que se um livro das Escrituras

29

fosse perdido, parte dessa regra falharia e, portanto,

não seria perfeita. Por um livro ou vários juntos - por

exemplo, os livros de Moisés ou os evangelhos -

contém perfeitamente a regra completa para fé e

prática. Se alguém estiver na posse de apenas esses

livros ainda poderia ser salvo, presumindo que ele

iria entendê-los corretamente. Ao nos dar muitas

Escrituras, no entanto, escritas por vários profetas,

evangelistas e apóstolos, todos portadores de

testemunho da mesma verdade, o Senhor está nos

manifestando o seu maravilhoso poder divino. Um

livro lançará luz sobre uma doutrina mais

abrangente e mais claramente, enquanto outro livro

o fará em referência a uma doutrina diferente.

Assim, todos os livros dos Antigo e Novo

Testamentos nos obrigam a acreditar e a praticar

tudo o que Deus ordena, o que implica que nada pode

ser acreditado ou praticado que seja exterior e

estranho às Escrituras. Isso nos confronta com o

seguintes perguntas:

Pergunta: A Palavra de Deus é uma regra completa e

perfeita para o homem em referência à fé e à prática,

assim implicando que nada deve ser, ou pode ser,

adicionado?

Resposta: O catolicismo romano nega que a Palavra

de Deus nos fornece uma regra tão perfeita,

30

insistindo que as tradições não escritas devem ser

aceitas e acreditadas com a mesma veneração e fé que

a Palavra de Deus escrita.

Nós, ao contrário, afirmamos que a Palavra de Deus

escrita é uma regra perfeita e completa, assim

rejeitando como invenções humanas todas as

tradições não escritas que pertencem à doutrina ou à

prática. Isto é verificado porque, "A lei do Senhor é

perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor

é fiel, e dá sabedoria aos simples." (Sl 19.7).

Davi, como profeta, não faz apenas menção à

perfeição que é inerente ao menor detalhe da Palavra

de Deus, mas principalmente como esta Palavra

funciona em referência ao homem: pode infundir o

homem com sabedoria para a salvação, o que, por sua

vez, resulta em sua conversão. Assim, a Palavra

contém tudo o que é essencial para a doutrina e a

prática. Se tal não fosse o caso, então não seria capaz

de converter um homem nem fornecer-lhe sabedoria

adequada.

A Palavra escrita foi dada com o propósito expresso

de que possamos buscar a vida por ela. "Estes,

porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o

Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais

vida em seu nome." (João 20:31). Tal objetivo não

poderia ser alcançado se a Palavra escrita não fosse

suficiente nem uma regra perfeita para a doutrina e a

31

vida. Assim, deve-se concluir que a Palavra é perfeita.

“E que desde a infância sabes as sagradas letras, que

podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há

em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente

inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender,

para corrigir, para instruir em justiça; para que o

homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente

preparado para toda boa obra.”, 2 Tim 3: 15-17.

Argumento evasivo nº 1: a palavra usada é

"proveitosa", mas não "suficiente". A tinta é uma

redação proveitosa e necessária, mas não é suficiente

por si mesma. Resposta: Está escrito que a Palavra

pode nos tornar sábios para a salvação, e tudo o que

for proveitoso para a salvação também é suficiente.

Em consequência disso, não pode haver requisitos

adicionais. O sol é proveitoso para a saúde, o que

equivale a ser suficiente, pois nenhuma outra luz é

necessária ou lucrativa quando somos iluminados

pelo sol. Argumento evasivo n.°2: O apóstolo se

refere ao Antigo Testamento. Se o Antigo Testamento

fosse suficiente, não era necessário o Novo

Testamento. No entanto, desde que é indispensável,

então, é rentável para a vantagem, mas não é o

equivalente a ser suficiente. Resposta: (1) O Antigo

Testamento era suficiente antes da vinda de Cristo

que havia sido prometido no Velho Testamento. O

Novo Testamento não propõe uma doutrina e prática

que difira daquilo que é apresentado no Antigo

Testamento, mas sim confirma e aumenta o que foi

prometido e, assim, dá uma exposição de seu

32

cumprimento. Se o Antigo Testamento fosse rentável

a tal ponto que fosse suficiente para esse tempo,

então, devido à sua suficiência, a combinação do

Antigo e do Novo Testamento é ainda mais rentável.

(2) Quando Paulo escreveu estas palavras para

Timóteo, várias novas Escrituras do Novo

Testamento já estavam disponíveis e, portanto,

também foram incluídas.

Adição ou exclusão das Sagradas Escrituras

Proibidas.

É proibido adicionar ou excluir da Palavra escrita.

Todas as maldições são registradas nesta Palavra em

relação a essa prática que confirmam isso. Assim, a

Palavra de Deus é uma regra completa para a

doutrina e prática. Isso pode ser observado, como a

seguir: "Não acrescentareis à palavra que vos mando,

nem diminuireis dela, para que guardeis os

mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos

mando." (Deuteronômio 4: 2); "Eu testifico a todo

aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro:

Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe

acrescentará as pragas que estão escritas neste livro;

e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro

desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore

da vida, e da cidade santa, que estão descritas neste

livro." (Ap 22: 18-19); "Mas, ainda que nós mesmos

ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além

do que já vos pregamos, seja anátema." (Gálatas 1: 8).

33

Argumento evasivo n.°1: Moisés faz referência ao que

ele falou e não para o que ele escreveu. João apenas

relatou seu livro, Apocalipse, e não toda a Bíblia.

Resumindo: O que Moisés falou, ele, no comando do

Senhor, também registrou como servo fiel de Deus.

Quanto ao livro de Apocalipse, João escreveu a

conclusão da Palavra de Deus. João colocou sua

proibição no final de Apocalipse como um selo sobre

toda a vontade revelada e registrada de Deus em Sua

Palavra. O motivo dessa proibição é idêntico para

todos os livros da Escritura Sagrada e, portanto, para

toda a Escritura, sendo o fato de Deus ter inspirado

esses escritos e nenhum outro. Argumento invasivo

nº 2: Os profetas adicionaram muito a Moisés e os

apóstolos adicionaram a ambos. Resposta: isto não é

verdade em referência à regra de doutrina e prática,

mas é apenas verdade quanto à exposição, ao

aumento e à aplicação, e somente na inspiração e

comando de Deus. Paulo anunciou todo o conselho

de Deus (Atos 20:27), e ainda não ultrapassou

Moisés e os profetas (Atos 26:22). (Nota do tradutor:

Os que fazem tal afirmação são completamente

ignorantes quanto aos propósitos de Deus na

produção das Escrituras, até mesmo porque até que

Jesus fosse manifestado em carne, havia necessidade

de se registrar todas as promessas relativas à sua

vinda, bem como ao seu cumprimento, e não

somente isto, como também tudo o que se refere ao

tempo do fim, com a sua segunda vinda. Isto não

poderia ser feito senão através do decorrer do tempo,

34

em que Deus revelou a sua completa fidelidade em

cumprir tudo o que havia prometido antes. Temos

nas Escrituras, sobretudo o registro dessa fidelidade

para o apoio da nossa fé em Deus e na Sua Palavra,

de modo a darmos crédito a tudo o que ela contém e

que é necessário para a nossa salvação, no que se

refere à nossa justificação, regeneração e

santificação. Tudo o que devemos cumprir e crer em

suas ordenanças, quer no que se refere às boas

promessas, e quanto ao temor devido a Deus

sobretudo em suas ameaças e juízos contra o

pecado.)

Argumento evasivo n. ° 3: os textos referem-se a uma

adição ou supressão que contradiga e corrompa o que

tenha sido escrito, mas não para algo que esteja de

acordo com e complementa o texto. Resposta:

Qualquer um que acrescenta algo a um trabalho

perfeito tem um efeito corruptor. Os textos não se

referem apenas a tudo o que é contraditório, mas a

todas as exceções, bem como o que quer que seja

composto além do texto escrito (Gálatas 1: 8). Todas

as tradições de natureza extrabíblica são invenções e

instituições de homens. Não há tradições que nos

foram transmitidas por Cristo e os apóstolos. Nunca

Cristo nem um apóstolo nos dirigem a declarações

não escritas, mas sempre à Palavra (Isaías 8:20,

Lucas 16:29, João 5:39, 2 Ped 1: 19-20). Deus

condena todas as instituições de homens. "Mas em

vão me adoram, ensinando doutrinas que são

35

preceitos de homem." (Mt 15.9). As instituições do

catolicismo romano são supersticiosas, errôneas e

contrárias à Palavra escrita de Deus.

Bíblia nº 1: muitos livros das Sagradas Escrituras

foram perdidos, como O Livro das Guerras do

Senhor, O Livro dos Justos, O Livro das Crônicas de

Israel, o livro dos profetas Natan e Gade, A Carta aos

Laodicenses. Além disso, nem todas as palavras e

ações de Cristo foram registradas. Podemos acreditar

que os apóstolos também escreveram cartas

adicionais que não estão em nossa posse. Assim, nós

devemos concluir que a Bíblia não está completa.

Resumos: (1) Estes livros nunca foram considerados

como uma regra para doutrina e prática. A Escritura

menciona vários outros livros que foram escritos por

autores pagãos (Atos 17:28; Tito 1:12). (2) Cremos

que Cristo falou e fez muitas coisas. Além disso,

acreditamos que os apóstolos escreveram muitas

cartas às congregações, também por inspiração do

Espírito Santo. Tais congregações particulares foram

obrigadas a receber essas cartas como sendo de

origem divina. Estes não estavam na posse de outras

congregações, no entanto, e após o período

apostólico não foram preservados para a igreja de

Deus. As Escrituras que possuímos agora não são,

portanto, incompletas, mas, no entanto, são e

permanecem, no entanto, uma regra perfeita para a

doutrina e a prática. Todo o evangelho está contido

nelas e, além da Escritura, nada mais foi dito ou

36

escrito sobre Cristo e os apóstolos que foi

reconhecido como uma regra para doutrina e prática

para a igreja. De fato, mesmo que tivéssemos menos

livros em número, nós, no entanto, possuímos uma

regra perfeita. É a bondade do Senhor, entretanto,

dar-nos o mesmo evangelho pela agência de muitas

pessoas, bem como por meio de muitas

amplificações, aplicações e exposições - tudo muito

abundante para nós. Deve ser feita uma distinção

entre a essência de um assunto e os detalhes dele.

Bíblia nº 2: "Ainda tenho muito que vos dizer; mas

vós não o podeis suportar agora." (João 16:12). Isso

indica que muitas coisas essenciais não foram

gravadas. Assim, devemos concluir que as Escrituras

não são completas e, portanto, precisam ser

aumentadas por meio de tradições. Resposta: Após a

ressurreição de Cristo, os apóstolos eram mais fortes

em fé e graça, e durante os quarenta dias de Sua

presença entre eles, falou sobre as coisas relativas ao

reino de Deus (Atos 1: 3). Assim, Cristo falou-lhes

sobre as coisas que antes não podiam suportar. Eles

foram movidos pelo Espírito Santo, que os ajudou a

chegar a toda a verdade (João 16:13). Este Espírito

ensinaria todas as coisas e lembraria todas as coisas

que o Senhor Jesus lhes havia dito (João 14:26).

Assim, a tradição é eliminada e as Sagradas

Escrituras são e permanecem perfeitas, os apóstolos

tendo registrado "tudo o que Jesus começou a fazer e

a ensinar" (Atos 1: 1), que engloba tudo o que é

essencial para a salvação. Objeção 3: "Assim, pois,

37

irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos

foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola

nossa." (2 Tessalonicenses 2:15). Aqui, o apóstolo faz

expressamente menção às tradições que foram

ensinadas verbalmente, para distingui-las das

tradições ensinadas por carta. Consequentemente,

há tradições que não foram registradas, mas que, no

entanto, devem ser adotadas. Resposta: O apóstolo

não só escreveu, mas também se dedicou à pregação

viva. A substância de sua pregação, no entanto, não

diferiu da substância de sua escrita, e vice-versa. Foi

no essencial o mesmo evangelho. Portanto, "por

palavra ou por carta" apenas se refere a diferentes

modos de apresentação e não a questões que diferem

essencialmente. Por isso, isso não dá suporte ao uso

da tradição. Bíblia nº 4: A igreja judaica também

instituiu várias práticas - passando-as para as

gerações subsequentes - que, no entanto, não foram

comandadas, como o jejum no quarto, quinto, sétimo

e décimo mês (Zacarias 7: 5 e 8: 19); os dias de Purim

(Ester 9: 21-26); a festa da dedicação (João 10:22).

Da mesma forma, a Igreja Reformada também tem

suas tradições, o que implica que também agora

podemos e devemos defender a tradição. Resposta: A

prática do jejum foi comandada por Deus; a

determinação da necessidade, do tempo e das

circunstâncias foi deixada para a igreja (Joel 2).

Também são comandados dias especiais de ação de

graças, cuja ocorrência e frequência são

determinadas pela igreja. Não há fundamento na

38

Palavra, no entanto, sobre o que a igreja pode legislar

para a observação de tais dias para as gerações

subsequentes. Tais práticas devem ser denunciadas e

a igreja não deve observá-las. Isso também é verdade

para os nossos dias de festas que devem ser

eliminados. No que diz respeito aos dias das festas,

consulte a Res Judicata de D. Koelman, bem como

suas outras escrituras acadêmicas e devocionais.

Outras ordens e circunstâncias religiosas externas

são principalmente ordenadas na Palavra de Deus,

cujas considerações são deixadas para cada igreja

individual e, consequentemente, são alteráveis de

acordo com o tempo e o local. No entanto, todas as

superstições devem ser evitadas e tais práticas não

devem ter um efeito adverso sobre a doutrina e a

prática. Assim, a perfeição da regra das Escrituras

não será violada, nem o uso de tradições não escritas

será defendido.

O Antigo Testamento: Concatenação com os

Cristãos do Novo Testamento

O Antigo Testamento continua a ser uma regra para

doutrina e prática para cristãos no Novo

Testamento? Resposta: Os anabatistas respondem

negativamente, enquanto nós respondemos na

afirmativa. Nossa prova é a seguinte: Primeiro, o

Antigo e o Novo Testamento contêm as mesmas

doutrinas e o mesmo evangelho; assim, os

Testamentos Antigo e Novo são um em essência,

39

diferindo apenas nas circunstâncias e na maneira de

administração. A igreja do Antigo Testamento

antecipou a vinda de Cristo e, portanto, teve um

ministério de tipos e sombras. A igreja do Novo

Testamento reflete sobre Cristo que veio e, portanto,

tem um ministério sem sombras. O Testamento

Antigo é um em essência com o Novo Testamento e,

portanto, é uma regra para nós, como é o Novo

Testamento. Posteriormente, devemos demonstrar

de forma mais abrangente que tal é evidente nos dois

Testamentos, o que é o motivo pelo qual o apóstolo,

ao pregar na dispensação do Novo Testamento disse:

"Tendo, pois, alcançado socorro da parte de Deus,

ainda até o dia de hoje permaneço, dando

testemunho tanto a pequenos como a grandes, não

dizendo nada senão o que os profetas e Moisés

disseram que devia acontecer." (Atos 26:22). Em

segundo lugar, há apenas uma igreja desde o início

do mundo até o fim dos tempos. Os livros do Velho

Testamento foram dados à igreja como seu princípio

regulador e, portanto, também é verdade para a

Igreja do Novo Testamento. Mesmo as cerimônias,

que foram instituídas para serem praticadas apenas

por um período de tempo, são aplicáveis no Novo

Testamento - para não serem praticadas como tais,

mas com o propósito de discernir nelas a verdade e a

sabedoria de Deus, e também para a alcançar um

melhor conhecimento de Cristo a partir dos detalhes

dessas cerimônias. Terceiro, a igreja do Novo

Testamento é construída sobre o fundamento dos

40

profetas, bem como dos apóstolos. "Construído sobre

o fundamento dos apóstolos e profetas" (Efésios

2:20). Assim, os escritos dos profetas são os

reguladores para nós como os escritos dos apóstolos.

Argumento evasivo: a palavra "profetas" deve ser

interpretada como se referindo aos profetas do Novo

Testamento, de quem podemos ler em 1 Coríntios

12:28, Ef 3: 5; 4:11. Isto é indicado pela ordem em que

são mencionados, como o apóstolo primeiro faz

menção dos apóstolos e depois dos profetas.

Resposta: (1) Os profetas do Novo Testamento, a

quem se faz referência nesses textos, não partiram

atrás de escritos. Consequentemente, a igreja não

pode ser construída sobre os seus escritos. (2)

Sempre que seja feita menção de profetas no Novo

Testamento, a referência é geralmente aos profetas

do Antigo Testamento (Lucas 24: 25,27). (3) O fato

de que os apóstolos são mencionados antes que os

profetas não dá apoio a tal sentimento. Os profetas

são colocados diante dos evangelistas em Efésios 4:11

e, no entanto, os evangelistas são superiores aos

profetas no Novo Testamento. Quinto, Cristo e os

apóstolos fundamentaram sua doutrina por meio do

Antigo Testamento. Eles nos dirigem para os

princípios do Antigo Testamento, demonstrando a

rentabilidade do Antigo Testamento para nós que

estamos na dispensação do Novo Testamento.

"Examinai as Escrituras; pois ... são elas que

testemunham de Mim" (João 5:39); "Para o que

todas as coisas foram escritas anteriormente (isto é,

41

os livros do Antigo Testamento) foram escritos para

o nosso aprendizado" (Rom 15: 4): "Eles têm Moisés

e os profetas; deixe-os ouvi-los" (Lucas 16:29); "E

temos ainda mais firme a palavra profética à qual

bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que

alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a

estrela da alva surja em vossos corações;" (2 Pedro

1:19); “Ora, estes eram mais nobres do que os de

Tessalônica, porque receberam a palavra com toda

avidez, examinando diariamente as Escrituras para

ver se estas coisas eram assim." (Atos 17: 11). Tudo

isso demonstra com clareza excepcional que as

Escrituras do Antigo Testamento são também

reguladoras para nós, como as do Novo Testamento.

Objeção nº 1: "Dizendo: Novo pacto, ele tornou

antiquado o primeiro. E o que se torna antiquado e

envelhece, perto está de desaparecer." (Heb 8:13).

Como já estava envelhecendo e pronto para

desaparecer, no momento atual desapareceu há

muito tempo. Assim, concluímos que o Antigo

Testamento já não é regulador para nós. Resumindo:

Neste texto, o apóstolo não se refere aos livros do

Antigo Testamento, pois os elogia, declarando-os

lucrativos para instrução, repreensão, etc. (Rom 15:

4, 2 Tim 3: 15-17). Em vez disso, sua referência aqui

é a administração da aliança, que será demonstrada

em mais detalhes posteriormente. Mesmo que as

cerimônias relativas à administração da aliança

tenham cessado, os livros do Velho Testamento não

deixam de ser reguladores. Objeção 2: "Porque todos

42

os profetas e a lei profetizaram até João" (Mateus

11:13); portanto, as profecias cessaram no momento

em que João apareceu em cena. Resposta: Os

profetas e as leis cerimoniais proclamaram que

Cristo viria, enquanto João proclamava que Jesus

havia chegado. O cumprimento implica a cessação

dessa promessa; como tal, essas promessas não

devem mais ser entendidas como sendo de natureza

profética. Suas profecias continuaram a ser válidas

em outros aspectos, no entanto. A respeito do

sofrimento, da morte, da ressurreição e da ascensão

de Jesus, e de Seu retorno para julgar o mundo. Neste

sentido, as profecias não podiam cessar com João, o

motivo sendo que muitas ainda não foram

cumpridas. O Senhor Jesus faz referência neste texto

às profecias e à sua realização, mas não à questão de

saber se as próprias Escrituras são ou não

regulatórias. Aquela terminou com a vinda de Cristo,

e o outro sempre será válido. Objeção 3: "Cristo é o

fim da lei" (Rom 10: 4). Portanto, o Antigo

Testamento deixou de funcionar na vinda de Cristo.

Resposta: O apóstolo não se refere ao término de sua

validade duradoura, pois é afirmado por Cristo: "Não

penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim

destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo

que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum

passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja

cumprido." (Mateus 5: 17-18). Em vez disso, Paulo se

refere ao objetivo em vista, isto é, que a função da lei

é levar a Cristo, que, por meio do cumprimento da lei

43

por Sua vida e paixão, pode tornar-se participante da

justificação. A composição externa e interna das

Sagradas Escrituras. A composição das Sagradas

Escrituras é tanto externa quanto interna. Ao

exterior, pertence a ordem, a clareza e a adequação

do estilo da Escritura, expressando de forma mais

sucinta cada doutrina considerada individualmente,

bem como transmitindo a harmonia interna entre as

doutrinas e, ao mesmo tempo, exibindo a justificação

de Deus por cujo Espírito elas têm sido registradas.

Um homem de sabedoria mundana procura usar

vocabulário ornamentado, mas raramente poderá

descrever adequadamente a maravilhosa fortaleza, a

dignidade, e a elegância do estilo da Escritura. O

idioma usado nos discursos mais elegantes dos

oradores é em comparação, senão a linguagem dos

camponeses e das crianças. Contudo, eles não são

suficientemente conhecidos para perceber isso.

A composição interna da Escritura relaciona-se ao

significado ordenado e preciso que corresponde aos

pensamentos e objetivos do Orador, isto é, Deus. O

significado de cada palavra, afeto ou argumento não

é dois, três ou quatro vezes, mas sim de natureza

singular. É um fato aceito que o significado essencial

de algo só pode seja singular, pois há, na essência,

apenas uma verdade. Assim, as Escrituras são claras

e compreensíveis, pela sinceridade do Orador que faz

um requisito do que Ele expressa ser Seu significado

de uma maneira singular e simples para que o

44

ouvinte dele não seja nem confundido nem enganado

por palavras ambíguas. Tal significado é referido

como o significado literal que é expresso na forma

singular ou composta.

O significado singular da frase é expresso

precisamente ou metaforicamente. O significado

preciso da sentença é expresso quando se articula

seus pensamentos usando vocabulário que expressa

imediatamente a substância do assunto em questão,

como "Deus é justo e o homem é pecador". O

significado literal é expresso metaforicamente

quando um expressa-se com palavras a partir das

quais o significado original e preciso é deduzido, para

expressar a visão de alguém muito mais claramente,

graciosamente e com força. Essa maneira de falar é

frequentemente usada, que na disciplina a oratória é

muitas vezes ilustrada por exemplos como, "Herodes

é uma raposa", isto é, ele é astuto.

O significado composto do que fala é expresso

quando o tipo e o antitipo são colocados lado a lado;

e a primeira parte da frase contém o tipo e a outra

parte o antitipo. Isto é ilustrado no seguinte texto: "E

como Moisés levantou a serpente no deserto, assim

também o Filho do homem deve ser levantado."

(João 3:14). Cada elemento da sentença, quando

visualizado individualmente, tem um significado

bem definido; no entanto, a verdadeira intenção da

sentença só é expresso juntando ambas as cláusulas.

45

O significado da Escritura que o Espírito Santo

deseja transmitir é sempre singular na natureza.

Alguém pode e deve confiar nesta verdade sem

qualquer dúvida. Um e o mesmo assunto podem ser

vistos de várias perspectivas e, portanto, também ser

expressos em várias formas. Toda expressão, no

entanto, se encaixa precisamente no contexto em que

é encontrada e em que deve ser compreendida. As

visualizações e expressões das Escrituras estão,

portanto, internamente relacionadas umas com as

outras. Elas se encaixam e não são diferentes, muito

menos de natureza contraditória. Portanto, as

Escrituras não permitem várias interpretações da

mesma matéria ou texto.

A Escritura não Estão sujeita a Várias

Interpretações

Para facilitar a colocação do papa no tribunal do

julgamento, o catolicismo romano sustenta que um e

o mesmo texto pode ter um significado quádruplo.

Primeiro, há o significado literal que, aliás, é o único

significado que reconhecemos. Em segundo lugar,

existe o significado alegórico ou figurativo, quando se

trata de uma questão temporal e a natureza física

simboliza as de uma dimensão espiritual, como em

Gál 4:24, onde Agar e Sara expressam duas alianças.

Tal é também o caso quando algo do reino da

natureza é usado para instruir e motivar o homem a

cumprir sua obrigação. Isto é ilustrado em 1 Cor 9: 9,

46

onde é afirmado: "Deus cuida dos bois?", pelo qual a

congregação é exortada a cuidar de seus ministros.

Em terceiro lugar, existe um significado analógico ou

místico, como quando o céu é representado por meio

de objetos terrestres. Este é o caso em Ap 21: 2

quando "Jerusalém" se refere ao céu.

Em quarto lugar, há um significado tropológico que

é estabelecido por uma troca de palavras, algo que é

recorrente quando o pedido é feito para a nossa

caminhada diária ou com o objetivo de modificá-la.

Se alguém soubesse que, em um texto particular, um

significado é evidente, enquanto que em outro texto

um significado diferente deve ser defendido, nós nos

submeteremos facilmente a essa visão. Porque então,

a intenção literal do Espírito Santo deve ser levada

em consideração, seja este em um sentido singular ou

composto, principalmente ou metaforicamente. A

prática de atribuir um significado quádruplo para

cada texto, no entanto, deve ser considerada absurda.

Podemos tolerar o uso ocasional de um texto para

fazer várias aplicações, e podemos lidar com alguém

que atua com essa tola consideração e excede os

limites do motivo. Para manter, no entanto, que em

todos os textos o Espírito Santo tem quatro

interpretações em vista, é tornar as Sagradas

Escrituras ridículas. Embora Deus seja infinito e,

portanto, capaz de compreender vários assuntos de

dimensão infinita ao mesmo tempo, ele, no entanto,

47

não está se dirigindo a si mesmo, mas sim a homens

que têm apenas um intelecto insignificante e finito. À

medida que Ele fala, Ele é tão desejável de ser

entendido tão claramente como o homem, quando

ele usa o discurso para expressar seus pensamentos

aos outros. A capacidade de falar do homem não é

derivada da Bíblia; em vez disso, a Bíblia está escrita

na linguagem do homem. Usa a linguagem do

homem de uma maneira mais distinta e clara do que

o advogado mais brilhante é capaz de usar, de modo

que não haja o menor motivo de incompreensão. Os

mal-entendidos relativos às Escrituras são gerados

pela escuridão e obstinação do homem. Muitas

questões precisam ser tratadas em relação a essa

questão. Questões: As palavras nas Escrituras

Sagradas sempre transmitem todos os significados

possíveis que podem ser atribuídos a eles? Resposta:

Quem poderia ter jamais imaginado que alguém iria

surgir, que responderia a esta pergunta de forma

afirmativa? No entanto, existem hoje muitos

indivíduos que acreditam que isso seja verdade. Nós

respondemos enfaticamente negativamente pelas

seguintes razões: primeiro, isso é evidente a partir

das quatro razões que declaramos em um parágrafo

anterior, rejeitando o conceito de interpretação

múltipla da Escritura. Aplique esse princípio a esta

situação. Em segundo lugar, se isso fosse verdade,

então nenhuma certeza poderia ser encontrada em

todas as Escrituras, e várias opiniões deveriam ser

imediatamente aceitas como verdadeiras. Em tal

48

situação, uma passagem teria vários significados,

uma pessoa que aceita um e outro significado, sendo

todos de igual valor. Teríamos então de tolerar todas

as coisas, uma vez que cada pessoa seria capaz de

justificar o significado que ela selecionou para as

palavras em questão. Deve ser óbvio para todos que

tal é a consequência lógica dessa visão. Se há alguns

indivíduos que aplicam esse conceito desta forma é

conhecido apenas para aqueles que interagem com

eles. Assim, seria possível tornar a verdade e a

mentira compatíveis. Terceiro, as exposições mais

denigrantes e absurdas imagináveis deveriam ser

aceitas como verdade, como várias pessoas

demonstraram com numerosos textos na Escritura.

Tais exposições não podem ser rejeitadas por aqueles

que defendem essa proposição, mesmo que eles

próprios percebam que uma determinada posição é

ridícula. Esta noção é, portanto, uma profanação

adúltera da Palavra e uma afronta a Deus. Isso

sugeriria que Ele falaria em uma linguagem ambígua

ou expressasse muitos significados diferentes e

contraditórios em um mesmo texto. Quinto, não

temos permissão para lidar com escritos humanos,

como testamentos, contratos e recibos financeiros,

neste mundo. Que desgraça seria prosseguir de tal

maneira! Muito menos pode tratar-se de tal maneira

com a Palavra do Deus vivo, uma vez que Ele

expressa cada doutrina, bem como Sua intenção, de

uma maneira mais adequada, ordenada, clara e

vigorosa. Mesmo que Deus estivesse hipoteticamente

49

(se eu puder falar de Deus de tal maneira) para

expressar e, de modo algum, é verdade em um único

parágrafo. Ele, porém, não se dirige a si mesmo, mas

aos homens. Assim, ele está falando de maneira

humana, de uma maneira que os homens possam

entender. Argumento evasivo: esse princípio aplica-

se apenas se o significado do texto não contradiz a

regra da fé, é contrário aos objetivos sagrados do

Espírito Santo, nem entra em conflito com o

contexto. Resposta: (1) Se devêssemos levar as

verdadeiras ramificações deste princípio à sua

conclusão lógica, isso constituirá uma contradição no

objeto, pois a última afirmação refutaria a primeira.

A implicação seria que agora, em todas as Escrituras,

poderia significar o que realmente deveria, uma vez

que o significado sempre dependeria da vida em que

este princípio é aplicado. (2) Este princípio é falho

como demonstrado por vários indivíduos em

referência a vários textos, uma vez que, pelo uso

desta regra, os significados das palavras podem ser

arbitrariamente estabelecidos e, portanto, os

parâmetros bíblicos da fé são definidos. Tudo é

aceitável, uma exposição e outra. De acordo com este

princípio, eles podem e devem, além disso, sustentar

que o Espírito Santo tem todos esses vários

significados da Palavra, permitindo assim que se crie

um acontecimento que lhe agrada. Essas estipulações

são essenciais para discernir o significado correto de

cada texto e são um potente remédio para aqueles

que sustentam que cada palavra não significa o que

50

potencialmente pode significar. O significado de uma

palavra só pode ser tal como é congruente com os

requisitos das circunstâncias específicas em que

ocorre. Objeção 1: Muitos textos permitirão uma

interpretação de duas ou três formas. Pode-se achar

que isso é verdade, consultando vários expositores

acadêmicos, e pelo que se ouve dos púlpitos. Isso é

mesmo verdade para aqueles que se opõem ao

princípio acima mencionado, sugerindo que

qualquer palavra pode ser entendida como uma

coisa, bem como outra. Desse modo, é evidente que

mesmo aqueles que se opõem ao princípio

concordam que as palavras estão sujeitas a várias

interpretações. Quando os expositores por escrito ou

falando fazem menção a uma variedade de

significados associados a uma palavra, eles não

admitem que esse texto, ou a palavra dentro deste

texto, tenham vários significados. Eles estão

simplesmente admitindo que, devido à sua

compreensão obscurecida, eles não conseguem

interpretar este texto absolutamente e não devem

dizer com certeza o significado que o Espírito Santo

tem em vista. Se a ênfase está em consideração, deve-

se comparar a tradução com o texto original.

Bíblia n. ° 2: o princípio acima mencionado produz

muita luz quando se procura entender a Palavra de

Deus; é possível perceber a força total e a ênfase do

texto. Resposta: (1) Esse princípio causará muita

escuridão na compreensão da Palavra, a menos que

51

dispensem o amor pela verdade. Fazer isso permitiria

compreender a Palavra prontamente. Então, tudo é

aceitável e não podem errar, pois as palavras

significam o que é convenientemente apropriado no

momento. (2) A Palavra de Deus sempre fala com

ênfase, e todas as palavras são usadas em pleno

efeito, de modo que o significado de uma palavra ou

a sentença nunca é diluída. Aqueles que desejam

apresentar heresia, ou que desejam manter a

viabilidade de suas heresias, usarão toda a força e

ênfase de uma palavra, como se fossem capazes de

alterar o verdadeiro significado do texto. Os

estudiosos estão familiarizados com tais truques, e os

simples devem estar de guarda quando ouvem

palavras usadas dessa maneira. Objeção adicional:

Todo mundo entende que as palavras às vezes são

tomadas em um sentido estreito ou mais amplo,

incluindo assim uma grande variedade de

significados. Algumas palavras ou frases são vistas de

uma perspectiva tão ampla para incluir de uma vez

todas as consequências que naturalmente derivam

delas. A partir disso, é evidente que pode-se utilizar

palavras com força total e ênfase ou com menos

ênfase total. Resposta: A questão se relaciona com os

vários significados de palavras que têm um

significado em um texto e outro em um texto

diferente. Se uma palavra tem um significado em um

texto, não é necessariamente que ela tenha o mesmo

significado em outros textos. O significado é

determinado por esse texto específico. Algumas

52

palavras têm referência a uma doutrina especial e

singular, enquanto algumas palavras são gerais ou

comuns e, no seu significado, abraçam tudo o que é

compreendido naquela palavra geral. Às vezes, esse

significado compreensivo encontra expressão

completa e às vezes o tema deve ser deduzido do que

segue imediatamente. Este processo produzirá o

significado literal dessas palavras e não determinará

a magnitude da força ou a ênfase delas. Questões:

Todas as doutrinas relativas à fé e à prática devem ser

estabelecidas com base em palavras expressamente

registradas nas Escrituras, e devem ser

desqualificadas como sendo de acordo com a verdade

se tal não for o caso? Pode-se determinar o

significado de um texto aplicando o princípio lógico

da consequência necessária? Resposta: os

anabatistas, a fim de negar o batismo infantil,

mantêm o primeiro princípio. Nós mantemos o

segundo com esse entendimento - que não aceitamos

o que as pessoas deduzem com seus intelectos

escuros e corruptos, mas o que está contido no texto

e torna-se evidente em virtude das consequências

necessárias. Isso é verificado da seguinte maneira:

primeiro, o homem é razoável e seu discurso é

razoável. Em todas as suas interações, sua expressão

verbal geralmente implica conexões. Como Deus fala

com o homem de forma humana, suas expressões

verbais também implicam consequências. Algumas

vezes, essas consequências são verbalizadas, e outras

vezes o assunto é simplesmente mencionado -

53

contendo consequência por implicação. Entre as

inúmeras consequências que se expressam,

considere esta: Cristo, o chefe de todos os crentes,

ressuscitou dos mortos. Esta proposição implica que

todos os membros de Cristo devem,

necessariamente, ser espiritualmente vivos. O último

está implícito no primeiro e, consequentemente, é

deduzido do primeiro, "para que, como Cristo foi

ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai,

assim andemos nós também em novidade de vida."

(Romanos 6: 4). Considere o seguinte como um

exemplo de uma consequência implícita: "Eu sou ... o

Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó"

(Êxodo 3: 6). Isso implica: (1) que os que estiveram

falecidos muito antes do tempo de Moisés ainda

estão vivos, (2) que haverá uma ressurreição dentre

os mortos. Isto é confirmado em Mateus 22: 31-32:

"E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o

que foi dito por Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o

Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus

de mortos, mas de vivos." Em segundo lugar, o

propósito da Escritura é ser proveitosa para a

doutrina, a repreensão, a correção, a refutação do

erro e o inconveniente. (Rom 15: 4; 2 Tim 3:16).

Ninguém pode fazer uma aplicação em relação a si

mesmo ou a outra pessoa, exceto por meio da

recuperação, o que faz com que se trate da seguinte

maneira: "uma vez que Deus expressou tal e tal em

Sua Palavra, eu devo deixar de fazer isso, e devo fazer

o outro; estou errado quanto a esta opinião; nesta

54

área, eu não deveria me considerar derrotado, mas eu

deveria ser encorajado." Como nossos nomes não são

registrados na Bíblia, como alguém poderia usar a

Bíblia de forma proveitosa, exceto por meio de

aplicação? Toda a aplicação, no entanto, é feita por

meio de dedução. Objeção nº 1: se tal fosse o caso,

nossa fé descansaria em uma base falível, pois, em

conclusões dessa natureza, pode-se erradicar com o

intelecto humano muitas vezes errado no processo.

Qualquer um que pretenda extrair de um texto por

meio de dedução lógica pode ser refutado por outra

pessoa. Resposta: (1) Não pode ser logicamente

concluído que o potencial de erro necessariamente

levará ao erro. Nosso olho pode perceber algo

corretamente, mesmo que geralmente não seja esse o

caso. O que uma pessoa não pode perceber

claramente devido a miopia ou visão com falha, o

outro é capaz de perceber claramente. (2) Nossa fé

não se baseia na dedução racional extraída de um

determinado texto, mas no próprio texto. A dedução

pela razão é meramente um meio pelo qual se pode

perceber que uma certa doutrina encontra expressão

no texto. A conclusão disto não pode ser extraída do

reino da natureza, mas apenas com base na verdade

revelada, que é o fundamento da fé. Nosso raciocínio

não pode deduzir qualquer coisa do texto que já não

era inerente a ele, mas pode extrair e desvendar o que

está contido no mesmo. Assim, a fé não é fundada

sobre a razão, mas sobre a Palavra de Deus. Bíblia 2:

"Nenhuma profecia da Escritura é de qualquer

55

interpretação privada" (2 Pedro 1:20). Assim,

devemos concluir que tudo em relação à fé deve

basear-se nas próprias palavras da própria Escritura,

o que torna a interpretação privada apropriada.

Resposta: A interpretação privada não é a

compreensão e o conhecimento de um determinado

texto adquirido pelo raciocínio. Se assim fosse, a

Escritura não seria proveitosa para a doutrina, etc. (2

Tim 3:16). Então, as exortações para pesquisar as

Escrituras (João 5:39) e para comparar as coisas

espirituais com as espirituais (1 Coríntios 2:13)

seriam sem utilidade, e ninguém poderia nem deve

prestar atenção a elas. É evidente que todos, em

particular, deveriam se debater no julgamento

discriminatório ao lidar com as Escrituras. O

julgamento privado, no entanto, consiste na

fabricação dos próprios pontos de vista de uma

pessoa - opiniões que se originam em seu próprio

intelecto. É para trazer a Escritura em sujeição a tais

pontos de vista e declarando como autoridade final

sobre o assunto, "Eu determino que tal e tal será a

interpretação". A interpretação privada é atribuir

um significado a um texto que é estranho às

Escrituras, e não é extraído da Escritura, e é o

produto e a conclusão do próprio intelecto de uma

pessoa. Objeção 3: "Tendo cuidado para que

ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e

vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens,

segundo os rudimentos do mundo, e não segundo

Cristo." (Col 2: 8). Participar no raciocínio dedutivo

56

é a prática da filosofia; devemos fazer deduções que

geram conclusões sem substância. Resposta: O

apóstolo advertiu contra o abuso, não o uso legal de

todas as coisas. A filosofia é a arte do raciocínio. É

inato no homem adquirir conhecimento sobre uma

determinada questão em virtude do processo de

raciocínio, uma habilidade que ela utiliza em todas as

suas atividades mentais e verbais. A capacidade de

raciocínio melhora através de exercício. O desejo de

aprender a sabedoria por meio do raciocínio é

denominado de filosofia, que em si mesmo não deve

ser rotulado como impróprio. Paulo não rotula a

filosofia como um engano vão, mas indica que os

indivíduos enganadores, pelo uso da razão, podem

formular o que tem uma aparência de ser razoável, o

que, no entanto, pode facilmente enganar os

símplices. Alguém deve estar em guarda para essas

pessoas e suas atividades, e ouvir as Escrituras, em

vez da razão. Tudo isso, no entanto, não tem nada em

comum com o uso adequado do motivo na tentativa

de entender a Escritura - para usá-lo como um meio

para extrair o que está escondido em cada texto, o

que é apenas tirar conclusões sobre a base da Palavra.

Objeção 4: "Derribando raciocínios e todo baluarte

que se ergue contra o conhecimento de Deus, e

levando cativo todo pensamento à obediência a

Cristo." (2 Coríntios 10: 5). É preciso levar todos os

pensamentos ao cativeiro. Assim, todas as

conclusões tiradas da Palavra por meio de

delinquências pensativas devem ser rejeitadas.

57

Resposta: (1) Se o homem deve deixar de deliberar e

pensar, ele teria que desumanizar-se. Ele teria

mesmo que rejeitar o que foi expressamente

registrado na Escritura, pois ele não poderia fazer

isso sem processos de desvalorização e pensamento.

(2) Este texto explica-se, pois fala de imaginação e

coisas elevadas que se exaltam contra o

conhecimento de Deus. Tal deve, obviamente, ser

derrubado e ser "levado ao cativeiro". Isso não é

verdade, no entanto, em relação a deliberações e

processos de pensamento por meio dos quais se

adquire conhecimento sobre Deus e Sua Palavra,

pelo qual se procura descobrir o que está contido na

Palavra e em todos os textos, também por meio da

dedução à consciência.

A Perspicácia das Sagradas Escrituras.

Questão: As Escrituras são perspicazes? Resposta: O

catolicismo romano sustenta que as Escrituras são

tão obscuras que elas não podem ser compreendidas

exceto pelo uso da tradição não escrita e das

declarações autorizadas da Igreja; que cada texto só

pode ser entendido de uma maneira que é

congruente com a interpretação da Igreja Católica

Romana, uma vez que determina que tal e tal é o

significado de um determinado texto. Respondemos:

(1) que alguns assuntos estão além da compreensão

humana, como, por exemplo, a maneira de Deus em

sua existência, ser um em essência, mas três pessoas.

58

Isso também é verdade para a Sua eternidade, Seu

ser infinito - sendo sem limitação, Seu bem

incondicional, a união das duas naturezas de Cristo e

mistérios semelhantes. Essas verdades estão

representadas para nós e todos podem ver com um

olhar que estão gravadas na Palavra. Uma vez que, no

entanto, os fabricantes não podem ser totalmente

compreendidos, eles são crentes. (2) Todos os

homens não são capazes de entender a Escritura de

uma perspectiva espiritual, embora claramente

expressada. Da mesma forma, o sol não pode ser

visto por uma pessoa cega, mesmo que o sol seja um

corpo iluminador. Alguém que é quase cego vê

apenas um vislumbre de luz e, portanto, não é capaz

de distinguir as coisas com clareza. Mesmo entre

aqueles que conseguem ver há graus de clareza no

exercício da visão. Isso não é devido a uma falha no

sol, mas deve ser atribuído ao próprio homem. Tal é

também o caso com a luz espiritual. Um homem

natural é capaz de discernir as palavras de forma

natural, bem como o tema e muita harmonia interna

da Escritura; no entanto, ele não consegue entender

sua dimensão espiritual, pois tal é uma tolice para

ele. Ele é tão ignorante nesta matéria como um nativo

cego. Deus favorece alguns com iluminação geral,

pela qual eles são capazes de perceber a glória e a

preciosidade das verdades divinas. Aqueles que

podem receber recipientes de graça são favorecidos

pelo Senhor com olhos esclarecidos de compreensão

enquanto leem ou ouvem. Além disso, há uma

59

diferença de grau; há crianças, homens jovens e

adultos. O menor deles percebe o propósito de Cristo

e, enquanto lê atentamente a Palavra, eles

compreendem tudo o que é necessário para eles para

a salvação. Diga a verdade contida na Palavra; eles

sabem e acreditam precisamente porque é

encontrado na Palavra. Outros fazem mais progresso

e discernem mais verdades doutrinais, percebendo a

interrelação delas. Outros ainda recebem mais luz

mas ainda permanecem pupilos; a sua luz não é

comparável ao conhecimento dos santos no céu. (3)

É preciso reconhecer que muitos textos da Escritura

quando considerados individualmente podem ser

claramente entendidos em relação à piedade e à

salvação, mesmo que não se seja consciente da

interrelação deles. Além disso, a interrelação de

muitos textos com outros textos não pode ser

imediatamente discernida - não porque o próprio

texto não seja claro, ordenado, inadequado, mas

devido à falta de luz na pessoa que estuda. (4) O

conhecimento das Sagradas Escrituras é imperfeito

mesmo no mais avançado, e em muitos é muito

limitado. Necessitam de instrução, não devido à falta

de clareza na Palavra, mas para que possam adquirir

a capacidade de ver a luz. Essa instrução não deve ser

dada ao transmitir o julgamento da igreja, com os

argumentos tradicionais relativos à questão em

apreço, ou por um descanso nestes, mas ocorre

quando as questões são apresentadas e explicadas de

várias maneiras para que o destinatário desta

60

instrução possa ver por si mesmo o que a Escritura

tem a dizer, e entender a compreensão da questão.

Por isso, respondemos à questão de saber se a

Escritura é suficientemente perspicaz para ser

entendida de forma afirmativa. Uma pessoa

regenerada com a menor graça é capaz de entender o

que é necessário para a salvação quando ela lê a

Escritura com atenção. Não só a Escritura é perspicaz

quanto à ordem e à expressão do homem, mas

também é inteligível para uma pessoa convertida, os

olhos de sua compreensão sendo esclarecidos (Ef

1.18). Isto é evidente a partir do seguinte: Primeiro, a

partir de declarações expressas pelo próprio Deus, "o

mandamento do Senhor é puro, e alumia os olhos."

(Salmo 19: 8); "A tua palavra é uma lâmpada para os

meus pés, e uma luz para o meu caminho" (Sl 119,

105); "Uma luz que brilha em um lugar escuro" (2

Pedro 1:19). Em segundo lugar, Deus deu a Sua

Palavra para iluminar, governar e consolar os que são

dele, como se torna evidente a partir de "... iluminar

os olhos" (Sl 19: 8); "... para o nosso aprendizado ...

conforto das Escrituras" (Rom 15: 4); "E, desde

criança, você conhece as Sagradas Escrituras, que são

capazes de tornar-te sábio para a salvação ... e é

proveitosa para a instrução" (2 Tim 3: 15-16); "Com

que, um jovem deve guardar puro o seu caminho?

observando-o de acordo com a tua Palavra." (Sl 119:

9). Este objetivo da Escritura não poderia ser

alcançado, a menos que a perspicácia das Escrituras

seja tal que elas possam ser entendidas. Em terceiro

61

lugar, um escritor é defeituoso se ele não pode

escrever de forma inteligível . Quanto mais simples e

clara é a sua apresentação das questões, permitindo

ao leitor discernir a própria medula do problema em

questão, mais culto ele é. Alguém pode então concluir

que ele entende bem o assunto e que, quanto mais

claro ele escreve, melhor será o resultado. Deus, no

entanto, é o Pai das luzes, uma Luz inacessível e Ele

deu as Escrituras para tornar conhecida a verdade.

Por isso, é mais certo que as Sagradas Escrituras

ultrapassem de forma incomparável todos os outros

escritos, tanto quanto à clareza e à perspicácia, e,

portanto, são extremamente adequadas para a

instrução da humanidade. Em quarto lugar, aqueles

que possuem sabedoria mundana, apesar de serem

cegos quanto ao assunto, devem ser condenados a

confessar que muitas passagens das Sagradas

Escrituras, tanto quanto o estilo e a forma de

apresentação estão envolvidos, podem ser

compreendidas por homens de compreensão

limitada sem instrução. Isso permite que esses

indivíduos compreendam os próprios assuntos. Isto

é verdade, por exemplo, em declarações como

"Porque há um só Deus, e um só Mediador entre

Deus e os homens, Cristo Jesus, homem." (1 Tim 2:

5); "Cristo morreu por nossos pecados" (1 Cor.

15:20): "Mas agora Cristo é ressuscitado dentre os

mortos" (1 Cor 15:20): "Bem-aventurados todos os

que confiam nele" (Sl 2:12); "Aquele que crê no Filho

tem a vida eterna" (João 3:36): "Haverá uma

62

ressurreição dos mortos" (Atos 24:15). Existe uma

obscuridade em expressões como estas? Como ele

não tem olhos espirituais, no entanto, o homem

natural não é capaz de entender essas questões de

maneira espiritual. As pessoas convertidas, pelo

contrário, têm olhos esclarecidos de compreensão

(Ef 1: 18). Eles receberam a unção do Espírito Santo

que ensina todas as coisas (1 João 2:27). Eles são

ensinados sobre Deus (Isa 54: 13). Por estas razões,

as Escrituras são claras e inteligíveis para eles.

Objeção 1: "como faz também em todas as suas

epístolas, nelas falando acerca destas coisas, mas

quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos

e inconstantes torcem, como o fazem também com as

outras Escrituras, para sua própria perdição." (2

Pedro 3:16). Algo que é de tal natureza e tem tais

consequências não pode ser considerado claro e é

obscuro para a nossa compreensão. Resposta: (1) O

apóstolo referia-se a alguns, em vez de todos os

assuntos nas cartas de Paulo que ele escreveu com a

sabedoria divina. (2) Ele estava se referindo a

assuntos e não a estilo e maneira de apresentação.

Esses assuntos eram elevados e profundos, mas, no

entanto, foram apresentados de uma maneira muito

clara e exata. (3) Ele não estava falando de homens

desprevenidos nas coisas da natureza, mas sim de

homens não cultos e instáveis que, em seu estado

natural, são nulos do Espírito, nem são ensinados por

Deus, nem têm olhos espiritualmente iluminados.

Ele tinha em mente homens que vieram à igreja e

63

conheceram um pouco as verdades divinas, mas que

estavam sem um fundamento espiritual e sendo

jogados de um lado para o outro com todo vento de

doutrina. Tais pessoas não lembram apenas as

palavras elementares expressas por Paulo, que não

conseguem entender, mas também deturparam

outras Escrituras para sua própria destruição. "Estes,

porém, blasfemam de tudo o que não entendem; e,

naquilo que compreendem de modo natural, como os

seres irracionais, mesmo nisso se corrompem."

(Judas 10). Assim, o texto não sugere que a Escritura

seja obscura nas doutrinas que devem ser conhecidas

para a salvação. Isto não é especialmente verdade

para aqueles que são regenerados, que foi o ponto de

contenção aqui. Bíblia 2: "E correndo Filipe, ouviu

que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes,

porventura, o que estás lendo? Ele respondeu: Pois

como poderei entender, se alguém não me ensinar? e

rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse."

(Atos 8: 30-31). Uma vez que a Escritura não pode

ser entendida sem mais instruções, falta a clareza

necessária para que ela seja compreendida.

Responda: (1) Longe de nós excluir a necessidade de

instrução. Aqueles que ainda não são convertidos

precisam de instrução, pois estão sem conhecimento

sobre questões espirituais, por mais que sejam

claramente apresentadas. Nossa referência aqui não

é ao que as Escrituras são para os não convertidos.

Uma pessoa cega não consegue ler e não pode se

familiarizar com os conteúdos de um livro por meio

64

da leitura. Para todos os que começaram a receber a

visão espiritual e também para aqueles que fizeram

progressos adicionais - cada um em seu próprio

nível, à medida que ninguém vem à defesa nesta vida

- a instrução é um meio pelo qual se pode avançar

progressivamente. A necessidade de instrução, no

entanto, não implica obscuridade na Escritura, mas

sim leva em consideração a grandeza de suas

doutrinas e a incompetência da pessoa que está

lendo. (2) O propósito da instrução não é tornar a

Escritura mais clara, mas fazer uma pessoa mais

capaz de discernir os mistérios contidos nas

Escrituras. Bíblia n. ° 3: "Porque agora vemos como

por espelho, em enigma, mas então veremos face a

face; agora conheço em parte, mas então conhecerei

plenamente, como também sou plenamente

conhecido." (1 Cor 13.12). Resposta: Este texto não se

refere à Sagrada Escritura, mas ao crente, declarando

que o conhecimento que ele pode colocar no mundo

não é senão um brilho comparado ao conhecimento

que ele terá no céu. Este texto, portanto, não é

relevante para a questão em apreço, a saber, se os

piedosos podem entender as Sagradas Escrituras

para o seu conforto, direção, fé, e a salvação, ou se as

Escrituras são tão obscuras que quase não

conseguem entender nada.

Objeção nº 4: A Palavra de Deus não pode ser

compreendida além da iluminação do Espírito de

Deus. Assim, nós concluímos que é muito obscura

65

para ser entendida, como é evidente nos seguintes

textos: "Ele nos abriu as Escrituras" (Lucas 24:32);

"Abre os meus olhos, para que eu veja as maravilhas

da tua lei" (Sl 119, 18).Resposta: (1) Admitimos

prontamente que o homem precisa ser esclarecido

pelo Espírito de Deus antes que ele possa entender as

Escrituras no seu sentido espiritual. Além dessa

iluminação, ele não pode compreender os assuntos

espirituais, pois são loucuras para ele.

(2) Os próprios textos indicam que o problema não é

com a perspicácia das Escrituras, mas com o intelecto

do homem, que deve ser feito pelo Espírito Santo

antes que ele possa compreender os assuntos

espirituais apresentados nas Escrituras.

O Papa não é o Juiz Infalível da Escritura

Pergunta: Existe um juiz superior e infalível sobre a

Terra que pode governar as disputas relativas às

Santas Escrituras, a quem cada um, segundo o

comando de Deus, deve submeter-se? E se houver

um tal juiz, isso seria a igreja, a assembleia

eclesiástica ou o papa de Roma?

Resposta: O catolicismo romano afirma que Deus

designou esse juiz, sendo esse juiz o papa de Roma.

Mesmo que ocasionalmente façam referências a

igrejas ou assembleias eclesiásticas, eles se entregam

às bulas papais no final. Eles o designaram para ser o

66

chefe da igreja e elevaram-no acima das assembleias

eclesiásticas, pois a maioria considera que ele é

infalível quando faz uma declaração de sua cadeira

papal.

Respondemos: (1) que muitas heresias doutrinais se

originaram do intelecto corrupto do homem, sendo

de grande ou pequena importância. "E até importa

que haja entre vós facções, para que os aprovados se

tornem manifestos entre vós." (1 Cor 11:19).

(2) Cada membro da igreja individual, se ele, como

membro, é um funcionário do governo ou um

cidadão comum, tem o discernimento necessário

para entender as Escrituras.

(3) De acordo com o domínio da Palavra de Deus, os

anciãos como representantes da igreja e como servos

de Cristo, podem tornar o seu julgamento como

escriturários em um esforço para resolver disputas

que dizem respeito a questões externas e, portanto,

preservar a paz e a unidade da fé. De acordo com

Rom 16:17, eles também estão autorizados a remover

do meio da congregação os membros que não estão

dispostos a abdicar de suas heresias. Não é da

jurisdição da igreja, no entanto, julgar sobre a

consciência de qualquer membro, nem a fé de uma

pessoa pode ser fundada sobre o julgamento da

igreja. Esta é a jurisdição do Espírito Santo apenas.

67

Este Espírito fala em e por meio da Palavra; e,

somente sobre a Palavra, a fé pode ser fundada.

(4) Assim, negamos que haja um juiz infalível sobre

a terra que governa em disputas e a cujo julgamento

todos devem se render. Negamos ainda mais

enfaticamente que seja a Igreja Católica Romana,

seja assembleia eclesiástica, ou o papa que pode ser

juiz. Fazemos isso pelas seguintes razões:

Em primeiro lugar, não há um jota ou til na Bíblia

que faça referência a um proeminente, superior e

infalível juiz que deve julgar em disputas e que

verifica o significado das Sagradas Escrituras. Muito

menos existe referência que tal autoridade é

investida às assembleias da Igreja Católica Romana

ou ao papa. Deixe um texto de prova ser apresentado!

Paulo, em sua carta aos Romanos, certamente faria

alguma menção de tal privilégio, de um assunto tão

pesado em que a própria verdade da Escritura está

em jogo. O apóstolo Pedro também teria feito ou dito

algo para indicar tal privilégio e teria dado uma

liminar que o papa de Roma deveria ter sucessores a

ele e ter autoridade infalível para julgar em disputas.

Ele não menciona uma palavra relativa a este

assunto; de fato, a Escritura nos diz que Pedro foi

repreendido por Paulo (Gal 2:11). Na primeira

assembleia eclesiástica realizada em Jerusalém (Atos

15:13), Pedro nem era o presidente, mas a assembleia

agiu de acordo com o julgamento de Tiago. Assim,

68

tudo que é relativo à atividade do papa não passa de

uma usurpação de autoridade. Ele presunçosamente

reivindica autoridade para si mesmo que ele não

recebeu nem pode validar.

Em segundo lugar, o papa não é infalível na doutrina

ou na prática. Alguns foram excepcionalmente

ímpios, tendo sido fornicários, ocultistas, hereges e

ateus; isso foi confirmado por cronistas papais. Como

esses indivíduos podem funcionar como juízes

infalíveis em disputas que se relacionam com

questões doutrinárias? Os segredos do Senhor estão

com aqueles que o temem (Salmo 25:14). Sim,

também em nossos dias o papa legisla em

contradição direta com as Escrituras. Ele proíbe o

uso de alimentos que Deus criou e que devem ser

recebidos com ação de graças, e ele também proíbe o

casamento, ambos que são contrários a 1 Tim 4: 3.

Ele tolera casamentos incestuosos que Deus proibiu.

Ele ordena que um pedaço de pão seja adorado como

Deus. Ele tem instituído o culto religioso de anjos,

santos falecidos e imagens - tudo o que é diretamente

contrário às Escrituras. Esse homem pode ser um

juiz infalível? Quão abominável! Em terceiro lugar, o

próprio catolicismo romano não reconhece o papa

como juiz infalível. Para ilustrar isso, apresentamos

alguns pequenos extratos da proclamação pública

feita no Tribunal do Parlamento, a grande Câmara de

Tournete, reunida pelo edital papal em 23 de janeiro

de 1688, na França. Esta proclamação foi impressa

69

em La Haya na língua alemã por Barend Beek:

"Desejamos dar a conhecer nesta comunidade os

novos sentimentos relativos à infalibilidade do papa,

que, de fato, é precipitado por sua teimosia". Quem

poderia ter imaginado que o papa, que é considerado

um exemplo de santidade e virtude diante de nós,

estaria tão ligado a seus sentimentos e tão

ciosamente protegido da teoria da autoridade vã? As

injunções do papa, tão injustas quanto eram, só

serviam para o propósito de investigar suas injustas

reivindicações. O papa lugubremente se esforça para

a excelência de seu ofício papal em ostentoso

passado. Além disso, a adição de vãs ameaças de

excomunhão a este édito não conseguiu fazer com

que as almas mais temíveis e aqueles que têm a

consciência mais baseada em princípios sejam os

menos assustados. O uso do papa de armas

espirituais em um assunto completamente secular é

um abuso intolerável, permitindo que uma novidade

tão escandalosa tenha a ilusão de justiça. Quando o

papa Gregório IV ameaçou os bispos franceses com

excomunhão, eles responderam com ousadia que não

seriam obedientes à vontade do papa. Além disso, se

ele tivesse vindo com a intenção de excomungá-los,

ele, por sua vez, seria aplicado a si mesmo

excommunicaturus veniret, excommunicatus abiret.

Pode haver algo mais irracional e injusto, se não dizer

mais abominável, do que a emissão desta

proclamação? Mesmo o mundo inteiro está

convencido de que, ao invés do zelo da casa de Deus,

70

a inveja e a perversidade engendraram a publicação

desta proclamação. Nestas circunstâncias, não há

nada a temer a partir deste barulho de trovões do

Vaticano. Como seria fácil se todos os assuntos

eclesiais naquela comunidade pudessem ser tratados

sem a obrigação de recorrer a Roma e que o papa

ficaria inteiramente subordinado às assembleias

eclesiásticas, que estão autorizadas a corrigi-lo e a

redigir suas proclamações. Essa conduta imita o

cuidado e a mansidão dos apóstolos na sua

governança da igreja? Que estranho é que o papa,

depois de se sentar na cadeira de São Pedro, não

tenha cessado de negociar com os discípulos de

Jansenius, cuja doutrina foi condenada por seus

predecessores. Ele os ajudou com favores, os elogiou,

etc. Essa é a estima que os católicos romanos têm

para o seu papa. Longe, portanto, de nós reconhecê-

lo como incontestável! Em quarto lugar, o objetivo é

ter um juiz tangível e infalível para efetivamente

resolver todas as disputas. Este objetivo, no entanto,

certamente não é realizado pelo papa que se eleva

como um juiz infalível. Todos os protestantes se

recusam a reconhecê-lo como tal. Sempre que ele

pronuncia seu "anátema" sobre eles, eles, por sua

vez, o proclamam. Como ele, sendo uma das partes

na disputa, é o juiz? E as disputas entre as facções e

disputas de dominicanos e jesuítas, jesuítas e

jansenistas, quietistas e operários, já foram bem-

vindas? Essas seitas ainda estão vivas e estão bem

dentro do domínio do papa. De tudo isso, torna-se

71

evidente que o papa não é, nem ele qualificado, um

juiz infalível em disputas. Em particular, a Palavra de

Deus nos ensina que, em referência à religião,

doutrina e prática, não se deve parecer tomar, senão

apenas para a Palavra como a regra infalível,

reconhecendo-a para funcionar como juiz em

disputas e reconhecendo que a Escritura é o seu

próprio expositor. Isso segue-se logicamente, uma

vez que é a Palavra do único juiz soberano do céu e

da terra que é a mais excelente Sabedoria e vive para

toda a eternidade. Nenhum soberano na Terra

toleraria seus súditos, sejam eles sujeito a ele em

pretensão ou na verdade, a presumir, enquanto o

soberano ainda vivesse, serem infalíveis intérpretes

de seus mandamentos, impondo sua interpretação

aos seus súditos e exigindo o seu cumprimento. Em

todo caso, o Deus vivo tolerará tal presunção. Ele fala

com a maior clareza e não recusa a iluminação de Seu

Espírito Santo para aqueles que lhe pedem. Aquele

que se recusar a ser sujeito a Deus muito menos

estará sujeito à declaração de um homem que se

exalta contra a Palavra de Deus, enquanto que quem

deseja submeter-se a Deus somente rejeitará as

declarações heréticas do Papa com aversão.” Em

sexto lugar, é a vontade de Deus de que a doutrina e

a prática de todos devem estar de acordo com a

Palavra de Deus. Isto é relevante dos seguintes

textos: "Para a lei e para o testemunho" (Isa 8:20);

"Examinai as Escrituras" (João 5:39); "Você erra,

sem conhecer as Escrituras " (Mt 22:29); "Eles têm

72

Moisés e os profetas; deixe-os ouvi-los" (Lucas

16:29). Por esta razão, o Senhor Jesus, embora sendo

Deus, confirmou Sua doutrina das Escrituras, que

geralmente pode ser observada nos evangelhos. Tal

foi também a prática dos apóstolos, como é

evidenciado por seus sermões registrados nos Atos

dos Apóstolos e por suas cartas. Na verdade, Pedro

não se recomenda como sendo infalível, mas

recomenda a palavra da profecia em 2 Ped 1:19.

Lucas recomendou aos Bereanos que fizeram da

Palavra o seu padrão de referência enquanto

investigaram se as coisas faladas por Paulo eram

realmente assim (Atos 17:11). Nenhuma palavra na

Bíblia se refere a um juiz terrestre infalível, mas a

própria Escritura é estabelecida como juiz. Às suas

declarações, devemos prestar atenção como sendo os

oráculos de Deus. Assim, concluímos enfaticamente

que nem a verdadeira igreja, nem a Igreja Católica

Romana, nem as suas assembleias eclesiásticas, nem

o papa que é o ponto focal de todo o seu

estabelecimento, devem ser o juiz em disputas de

doutrina ou prática. Em primeiro lugar, acrescente a

essas razões textos que enfaticamente estabelecem a

Palavra de Deus para ser juiz, "... a palavra que eu

falei, esta mesma o julgará no último dia" (João

12:48); "Não penseis que eu vos hei de acusar perante

o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós

esperais. Pois se crêsseis em Moisés, creríeis em

mim; porque de mim ele escreveu. Mas, se não credes

nos escritos, como crereis nas minhas palavras?"

73

(João 5:45-47); "Todas as escrituras ... são

proveitosas para a doutrina, para repreensão" (2 Tim

3:16); "A Palavra de Deus ... é apta para discernir os

pensamentos e intenções do coração" (Heb 4:12).

Assim, a própria Palavra é arbitral nas disputas que

surgem em relação à Palavra de Deus, pois é o

soberano, Deus vivente que fala nela, e fala por meio

disso até esse momento. Assim, a Palavra deve ser

vista como se Deus nos falasse continuamente com

uma voz audível do céu. Objeção 1: Moisés, o sumo

sacerdote, os profetas e todos os sacerdotes

funcionavam como juízes em disputas doutrinárias

no Antigo Testamento. Portanto, o papa, os cardeais,

os bispos e as assembleias eclesiásticas funcionam de

forma semelhante no Novo Testamento. "Pois os

lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento,

e da sua boca devem os homens procurar a instrução,

porque ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos."

(Mal 2: 7). Resposta: (1) Moisés e os profetas

receberam revelações extraordinárias de Deus com a

finalidade de fazer estas conhecidas e gravá-las. Não

houve, no entanto, a continuação desta prática em

relação aos professores comuns, nem no Antigo nem

no Novo Testamento. (2) Nenhum deles, muito

menos os professores comuns, teve autoridade para

emitir um julgamento superior sobre o que tivesse

sido gravado. No entanto, eles tiveram

discernimento ministerial e oficial, permitindo que

eles aplicassem a verdade da Palavra a pessoas e

questões individuais. Nesse discernimento, eles não

74

estavam acontecendo, como também é o caso de

hoje. Objeção nº 2: Deve necessariamente ser um juiz

terrestre e infalível para arbitrar disputas, pois, de

outra forma, a verdade não poderia continuar a

existir na igreja; nem a igreja pode continuar a existir

de acordo com a verdade, e as disputas não serão

resolvidas. Resposta: (1) A verdade permanecerá

sempre na Palavra e a Palavra dentro da igreja. (2) A

igreja é preservada por meio da verdade, assim como

a verdade dentro da igreja é preservada em virtude

do discernimento ministerial que exercem os anciãos

com base na Palavra de Deus. Eles são chamados a

usar a verdade para combater as heresias, bem como

lidar com pessoas que estão erradas, instruindo-as

assim, e se persistirem em heresias, para excluí-las

da irmandade da igreja. Para realizar isso, não há

necessidade de um julgamento superior e infalível.

(3) Nunca haverá ausência de disputas; nem as

heresias desaparecerão. Eles não seriam eliminados

mesmo que houvesse um juiz infalível sobre a terra.

Essas disputas continuam a surgir mesmo no

domínio papal, embora se considere que as

assembleias especiais e eclesiásticas são juízes

infalíveis. Objeção nº 3: A Palavra não é capaz de

ouvir as queixas das partes opostas e, portanto, não

pode funcionar como árbitro nas disputas.

Consequentemente, deve haver necessidade de outro

juiz. Resposta: tal pode ser verdade para escritos

humanos e de um indivíduo que se expressa de forma

inadequada, ambígua ou obscura. Tal, no entanto,

75

não é verdade para a lei perfeita do Deus soberano,

onisciente, todo sábio e eterno que une o Seu Espírito

à Sua Palavra, declarando todas as verdades de forma

clara e precisa, e assim rejeitando todos os erros que

se apresentam em oposição a isto. O Espírito Santo

previu quaisquer erros que possam surgir. Quem não

tem a habilidade de ver e ouvir será incapaz de ouvir

o pronunciamento de um juiz visível e audível, ou de

Deus em Sua Palavra. Mesmo que o espírito de erro

diga respeito ao domínio espiritual, Deus ainda

permanece Juiz, mantendo a verdade por meio de

Sua Palavra e contrariando todos os erros. Bíblia n.°

4: A disputa diz respeito à própria Palavra, referindo-

se ao seu significado; portanto, a própria Escritura

não pode pronunciar-se nesta área, mas requer os

serviços de um juiz infalível. Resposta: Se surgir uma

disputa em referência às leis de um soberano terreno,

então, haverá alguém que seja o soberano que

declara autoritariamente qual o significado de tal lei?

Um sujeito pode fazer isso ou deve ser a

responsabilidade do soberano se ele ainda estiver

vivo naquele momento? Todos podem entender que

esta é a responsabilidade de ninguém exceto somente

do próprio soberano. Da mesma forma, Deus é vivo e

ele fala de forma clara e perspicaz em Sua Palavra,

fazendo isso por meio de várias maneiras, métodos e

textos, de modo que, se um homem não consegue

entender a Palavra em um único texto, ele pode fazê-

lo em outro. Para isso, ele deve comparar a Escritura

com a Escritura que o levará à conclusão de que Deus

76

é o expositor de Sua própria Palavra. Assim, a

Sagrada Escritura, ou o Espírito Santo falando por

meio da Palavra, é o juiz que toma uma decisão nas

disputas que surgem entre os homens. Porque

nomear outro juiz infalível é elevar alguém acima de

Deus e Sua Palavra, o que Deus não tolerará. Objeção

5: É preciso ouvir a igreja, e quem quer que se recuse

a fazê-lo, deve ser excomungado (Mateus 18:17).

Assim, a igreja é capaz de representar um julgamento

infalível em relação a disputas. Resposta: Tal

conclusão não é necessariamente decorrente disso.

Os anciãos tornam um julgamento ministerial e

aplicável sobre circunstâncias particulares, e apenas

em harmonia com a Palavra. Neste contexto, há a

obrigação de ouvi-los e quem quer que se recuse a

submeter-se à Palavra que os anciãos sustentam,

deve ser comunicado.

A Função da Razão na Exposição da Sagrada

Escritura.

Não é a razão o expositor da Sagrada Escritura? Os

socinianos e quem concorda com eles, sustentam que

toda a Palavra de Deus, bem como o texto individual,

deve ser examinado à luz da razão, e que não se deve

aceitar nada como verdade que não seja comum com

a razão. Sempre que a Escritura parece contrariar a

razão, então deve ser entendido como a ser

determinado pela razão. No caso em que a Escritura

contradisse a razão, então, em oposição à Escritura,

77

a razão deve ser adotada como um princípio infalível.

Concordamos que o intelecto e a razão são

absolutamente necessários para entender as

Escrituras e assim exercer a fé. Eles são apenas os

meios, no entanto, para que possamos saber o que

Deus diz em Sua Palavra, e esta Palavra opera fé e é o

fundamento da fé. Assim, o intelecto e a razão não

podem ser considerados como base para, como uma

regra, passar, ou como uma pedra de toque, para

determinar se o que Deus revela em Sua Palavra é a

verdade. Acreditamos na Palavra sendo a verdade

porque apenas Deus declara que é assim. A razão

deve render-se à Palavra; a Palavra nunca deve

render-se à razão. A razão é para a Escritura o que

Agar era para Sara; É o servo e não o mestre. Isto é

evidente primeiro, a partir da consideração da

condição do intelecto do homem. Não tem sido

afetado apenas pelo pecado em questões relativas de

natureza, tendo uma capacidade limitada de

perceber questões e muito menos para compreendê-

las, mas particularmente relacionadas a questões

espirituais, sendo completamente cega a esse

respeito. "Tendo o entendimento escurecido"

(Efésios 4:18): "Porque você era trevas" (Ef 5: 8);

"Mas o homem natural não recebe as coisas do

Espírito de Deus; por isso são loucuras para ele; nem

pode conhecê-las, porque elas são espiritualmente

discernidas" (1 Coríntios 2:14). Quem se arriscaria a

elevar a iluminação obscura do homem para exercer

o juízo em relação aos sublimes mistérios que

78

agradou ao único Deus sábio revelar? Cada fonte de

luz tem um ambiente limitado no qual ela brilha. Isso

é verdade para uma vela, uma tocha, bem como para

o sol. Isso também se aplica à habilidade do homem

de ver. Alguém com excelente visão pode distinguir

as questões na distância que a pessoa humana não

pode distinguir. Este é também o caso do

conhecimento do homem. Alguém com um juízo de

inteligência não desenvolvido julgará sobre os

mistérios e os detalhes da física, da metafísica, da

geometria e da fantasia? Assim, é com o intelecto e a

razão do homem. Eles têm muitas limitações e,

portanto, não são capazes de penetrar nos sublimes

mistérios da Palavra divina. Consequentemente, eles

não podem sentar-se em julgamento sobre a Palavra

de Deus. Em segundo lugar, os mistérios que foram

revelados estão muito além do alcance de nosso

intelecto; portanto, o raciocínio nem se aproxima de

mil milhas de seu significado. Como então pode ser o

juiz em relação a eles e ser o ponto de referência pelo

qual esses mistérios devem ser avaliados "Você pode

procurar por Deus? Pode-se considerar o Todo-

Poderoso para a perfeição?" (Jó 11: 7); "Tal

conhecimento é maravilhoso demais para mim;

elevado é, não o posso atingir." (Salmos 139: 6); "Eis

que essas coisas são apenas as orlas dos seus

caminhos; e quão pequeno é o sussurro que dele,

ouvimos! Mas o trovão do seu poder, quem o poderá

entender?" (Jó 26:14). Quem deve julgar o

significado da Escritura e determinar o que deve ser

79

aceito como verdade e o que deve ou não deve ser

acreditado, deve ser capaz de entender toda a

verdade na perfeição absoluta. O intelecto do homem

e sua razão, no entanto, não são capazes de penetrar

os sublimes mistérios de Deus e, portanto, não são

qualificados para julgar em tais assuntos. Se

devemos rejeitar que a nossa razão não pode

compreender, devemos rejeitar a eternidade de Deus

e todas as Suas perfeições, como sua onipresença,

infinitude, etc. Também teríamos que rejeitar a

Santíssima Trindade, tão claramente revelada na

Palavra de Deus, como bem como a união das duas

naturezas de Cristo e a criação do próprio mundo. A

razão não pode entender como Deus criou tudo do

nada; no entanto, isso é entendido pela fé. De fato,

não teremos que rejeitar quase tudo. Em terceiro

lugar, o que pode ser claramente discernido e

compreendido por meio de raciocínio para uma

pessoa parecerá contraditório para o raciocínio de

outra, e uma pessoa posteriormente rejeitará como

falso o que ele já considerou ser verdade. Assim, em

muitos aspectos, o homem não pode ter certeza.

Quem erra repetidamente já não tem credibilidade.

Nossa razão nos engana com tanta frequência, no

entanto, que não pode funcionar como juiz, ponto de

referência ou expositor das Escrituras Sagradas.

Quinto, fé e razão são caminhos totalmente

diferentes pelos quais muitos determinam a validade

de algo. Se algo for valido pela razão, a fé é

necessariamente excluída. Se algo é aceito como

80

verdade pela fé, a razão é necessariamente excluída.

A razão só pode reconhecer o que foi afirmado por

outra pessoa e, em seguida, apenas se essa afirmação

não pertence ao reino do impossível. A verdade do

assunto, no entanto, é validada por fé. Os mistérios

divinos da Palavra de Deus devem ser aceitos como

certeza somente pela fé, em virtude do fato de Deus

ter dito isto: Aquele que é verdadeiro e não pode

mentir (Atos 26:17; Hebreus 11: 1, 6; João 16: 27). A

este respeito, a razão é útil apenas para determinar

se um assunto particular deve ser encontrado na

Palavra de Deus. Se tal foi determinado, não pode

haver suspeita ou desconfiança quanto à verdade,

pois isso faria com que Deus suspeite - como se fosse

capaz de mentir. A fé aceita a infalibilidade da

questão em apreço e, se for além da capacidade da

razão de determinar a validade de uma determinada

questão, isso não significa que essa questão seja

contrária à razão. Em tal caso, a razão deve ser

silenciosa e aderir que esta questão está além do seu

alcance e que a fé somente reconhece-a como

verdade. Em particular, o Espírito de Deus revela os

mistérios da Palavra ao coração, testifica que a

Palavra é verdade e dá a fé para abraçá-lo. Assim, o

motivo é excluído do funcionamento como juiz e

árbitro para determinar se uma questão revelada na

Escritura deve ser acreditada ou não. Isto é

confirmado nas seguintes passagens; "A carne e o

sangue não o revelaram a você (isto é, a razão não lhe

ensinou isso), mas meu Pai que está nos céus" (Mt 16,

81

17): "Então abriu o entendimento deles, para que

entendessem as Escrituras" (Lucas 24:45); "Porque

Deus, com a luz que brilha das trevas, brilhou em

nossos corações, para dar a luz do conhecimento da

glória de Deus na face de Jesus Cristo" (2 Cor 4: 6);

"Abre os meus olhos, para que eu veja as coisas

maravilhosas da tua lei" (Sl 119, 18); "E é o Espírito

que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade" (1

João 5: 6). A Escritura certifica que essa razão deve

ser levada ao cativeiro (2 Coríntios 10: 5). Se a razão

fosse o juiz sobre a Escritura e determinasse a parte

da Palavra de Deus em que não deveria acreditar, (1)

Deus estaria sujeito ao julgamento do homem,

convocando Deus diante do assento do tribunal do

homem para dar uma conta do que Ele disse, (2) toda

religião funcionaria no domínio do natural e não o

espiritual e seria vazia de fé; (3) os maiores filósofos

e os homens mais inteligentes seriam os teólogos

mais esclarecidos, que são diretamente contrários à

Palavra de Cristo: "Agradeço a Ti, ó Pai, Senhor dos

céus e da terra, porque escondestes estas coisas do

sábio e do prudente e as revelaste aos pequeninos"

(Mateus 11:25). Esses absurdos necessariamente

seguem essas proposições. Eles são tão absurdos

quanto o que agora segue. Objeção nº 1: A religião é

um culto racional de acordo com Rom 12: 1. Assim, a

razão deve julgar em todos os assuntos de orientação

para determinar como cada texto da Sagrada

Escritura deve ser interpretado. Resposta: No Antigo

Testamento, os animais mudos foram sacrificados

82

como tipos que, quando considerados além do tipo,

poderiam não ser agradáveis a Deus. No entanto,

Deus sendo um Espírito exige que Ele seja servido em

espírito e na verdade, tanto com o intelecto como

com a razão. Aqui o motivo é um meio para

determinar o que Deus revelou. Independentemente

de o assunto que Deus revelou poder ser totalmente

compreendido ou se pode ser compreendido até o

ponto em que é necessário para a salvação, mesmo

que a matéria em si transcenda a nossa compreensão

- é suficiente para o homem quanto à crença. Pode

não ser concluído, no entanto, que essa razão deve

funcionar como juiz sobre cada doutrina e texto. A

razão é o servo e não o mestre. Bíblia 2: Muitas

doutrinas podem ser deduzidas do reino da natureza,

como o Senhor Jesus geralmente ensinava nas

parábolas. Por isso, em questões de natureza, a razão

é o juiz e, portanto, também o juiz em referência às

doutrinas contidas na Escritura. Resposta: É

incorreto afirmar que qualquer das doutrinas

relativas à fé pode ser deduzida da natureza. O que

pertence ao domínio da natureza é usado apenas para

explicar ainda mais as doutrinas da fé e impressioná-

las mais profundamente sobre o coração. Além disso,

Deus tem um conhecimento mais perfeito das

questões naturais. Bíblia nº 3: Muitas doutrinas não

são expressamente definidas nas Escrituras, mas são

formuladas por meio da consolidação lógica. A razão

sozinha determina se essas deduções estão corretas

ou não. Assim, a razão julga quanto àquilo em que se

83

deveria ou não acreditar. Resposta: Essas doutrinas,

que por meio de argumentação sonora podem ser

deduzidas de um texto, estão contidas no próprio

texto e as aceita como verdade simplesmente porque

Deus afirma que elas são assim. Consequentemente,

o assunto que talvez se deduza desse texto é

verdadeiro e, portanto, a razão não pode ser

envolvida. A razão é o veículo, no entanto, por meio

do qual alguém chega à conclusão de que uma

doutrina particular está contida em um determinado

texto e, por consequência necessária, talvez seja

deduzida do texto. A razão julga se a conclusão

apropriada foi feita, mas não se a doutrina que foi

deduzida do texto é verdadeira. Objeção nº 4: As

Escrituras definem certas doutrinas que a razão

determina serem contrárias ao julgamento

adequado, sabendo que tal não pode ser o caso.

Assim, a razão deve julgar o que é congruente ou

contrário à verdade, e, em seguida, deve determinar

o que se deve acreditar. Resposta: Não é verdade que

as Escrituras propõem algo que a razão julga ser

contrário ao fato. Tudo o que Deus revela nas

Escrituras sobre o reino da natureza é verdade e em

virtude de Seu testemunho é infalível.

As Sagradas Escrituras Devem Ser lidas por

Todos os Membros da Igreja

A igreja é o destinatário do Mundo de Deus. "Não fez

assim a nenhuma das outras nações; e, quanto às

84

suas ordenanças, elas não as conhecem." (Salmo 147:

20); "Principalmente, porque a eles foram confiados

os oráculos de Deus" (Romanos 3: 2); "... a quem

pertence ... as alianças e a concessão da lei" (Rm 9,

4); "... a qual é a igreja do Deus vivo, a coluna e o

baluarte da verdade" (1 Tim 3:15).

Pergunta: Deve a Palavra de Deus ser lida por todos?

Resposta: Uma vez que a Palavra de Deus foi dada à

igreja e assim a cada membro da igreja, segue-se que

também deve ser lida por todos. O catolicismo

romano gasta muita energia para tornar as Escrituras

obscuras e remove-a das mãos das pessoas. Seus

erros se tornam claramente evidentes nesta prática

porque eles procuram tornar as pessoas inteiramente

dependentes do papa, dos seus cardeais, das

assembleias eclesiásticas, dos bispos e dos

sacerdotes. O Concílio de Trento proibiu

expressamente a leitura da Bíblia. Nós, pelo

contrário, consideramos que isso é um ato terrível de

assalto eclesiástico, pelo qual o caminho para o céu

está fechado. Mantivemos, portanto, que cada

homem, letrado ou não, pode e deve ler a Palavra de

Deus. Isso se torna evidente a partir do seguinte:

Primeiro, uma vez que a leitura das Escrituras não

está proibida em nenhuma parte, quem teria a

coragem de proibir essa prática?

85

A igreja nunca proibiu isso. Este edital horrível

encontra sua origem no Concílio de Trento que não

era uma ortodoxa, mas uma assembleia eclesiástica

anticristã. (Nota do tradutor: lembremos que Paulo

ordenava que todos os crentes lessem suas epístolas,

inclusive trocando-as entre as igrejas das diversas

localidades.)

Em segundo lugar, desde o tempo de Moisés até

Cristo e desde o tempo de Cristo até hoje, a Bíblia

sempre foi lida por todos os membros da igreja. Sim,

alguns foram tão diligentes nesta prática que

conseguiram citar cartas apostólicas inteiras de

memória.

Em terceiro lugar, Deus ordenou expressamente que

o homem comum leia Sua Palavra. "E estas palavras,

que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as

ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua

casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao

levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e

te serão por frontais entre os teus olhos; e as

escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas

portas.” (Deut 6: 6-9). Observe até que ponto eles

tiveram que se familiarizar com as Escrituras.

"Examinai as Escrituras" (João 5:39); "Que a palavra

de Cristo habite em vós ricamente em toda a

sabedoria" (Col 3:16); "Eu ordeno-lhe pelo Senhor

que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos"

(1 Tes 5:27); "E temos ainda mais firme a palavra

86

profética à qual bem fazeis em estar atentos" (2 Pedro

1:19). É terrível proibir o que Deus ordenou!

Em quarto lugar, aqueles que leem a Palavra são

recomendados na Escritura, e uma benção também é

pronunciada sobre eles.

"Bem-aventurado o homem ... (cujo) prazer está na

lei do Senhor; E em Sua lei ele medita dia e noite"(Sl

1: 1-2); "Ora, estes eram mais nobres do que os de

Tessalônica, porque receberam a palavra com toda

avidez, examinando diariamente as Escrituras para

ver se estas coisas eram assim." (Atos 17:11); "Bem-

aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que

ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas

que nela estão escritas; porque o tempo está

próximo." (Apocalipse 1: 3).

Em quinto lugar, a natureza e o propósito das

Escrituras são tais que devem ser lidas por todos.

(1) É o testamento ou vontade de Deus; uma vontade

deve ser lida pelos herdeiros.

(2) Contém cartas dirigidas a todos na igreja, sendo

isso evidente no início de cada epístola; uma carta

pode e deve ser lida por todos os destinatários.

(3) A Palavra é a espada com que todo crente deve se

defender contra inimigos espirituais (Ef 6, 17). Será

87

que alguém roubaria o guerreiro espiritual de suas

armas?

(4) É o meio para a conversão, a semente da

regeneração (1 Pedro 1:23), bem como a fonte de

iluminação espiritual (Salmo 19: 8), instrução,

conforto e meio para o crescimento espiritual (Rom

15: 4, 1 Pedro 2: 2).

(5) É escrita para o propósito de que todos possam lê-

la. "Então o Senhor me respondeu, e disse: Escreve a

visão e torna-se bem legível sobre tabuas, para que a

possa ler quem passa correndo."(Hab 2: 2). De tudo

isso, demonstrou-se de modo incontestável que cada

indivíduo pode e deve ler a Palavra de Deus.

Objeção nº 1: "Não dê o que é santo aos cachorros,

nem lance suas pérolas aos suínos" (Mateus 7: 6).

Assim, deve concluir-se que a Santa Palavra de Deus

não pode ser dada a todos para lerem.

Resposta: Desta forma, podemos concluir que não

devemos pregar aos não convertidos. A referência

aqui não é à leitura da Escritura, mas sim para a

instrução, exortação e repreensão daqueles que se

tornam ainda mais perversos em resposta a isso, e

pode prejudicar aquele que está falando. Tal, porém,

não é aplicável aos crentes e outros que desejam

ouvir a Palavra de Deus.

88

Objeção nº 2: Muitos erros foram gerados por

homens comuns que leram as Sagradas Escrituras.

Isso tem sido em sua própria desvantagem, pois eles

arrancam as Escrituras para sua própria destruição,

bem como para a desvantagem de outros que foram

enganados por esses erros. Assim, seria mais

benéfico reter as Santas Escrituras. Resposta: por

meio da leitura individual da Escritura, os erros do

papa e outros erros serão descobertos e expostos. Os

erros geralmente são propagados por estudiosos

equivocados. Mesmo que algumas Escrituras sejam

abusadas com seu intelecto corrupto, isso não anula

o uso da própria Escritura. Sem a Palavra de Deus,

certamente haverá erro. Objeção nº 3: Se todos

forem autorizados a ler a Palavra de Deus, a pregação

é desnecessária. Uma vez que a pregação é prática, no

entanto, não há necessidade de ler as Escrituras.

Resposta: Função de leitura e audição caminham

juntos. (Apocalipse 1: 3; Atos 17:11). Tanto a pregação

como a leitura instruem, motivam, levam ao

arrependimento e confortam a todos os crentes;

portanto, ler e ouvir tem resultados idênticos. É a

mesma Palavra recebida de duas maneiras. Embora

exista uma distinção entre leitura e audição, eles não

são de natureza contraditória. Bíblia n.° 4: Não

proibimos a leitura das Escrituras categoricamente,

pois nós damos muita permissão para lê-la, aquilo

que confiamos não criará problemas por fazer isso.

Resposta: isso é diretamente contrário ao Concílio de

Trento. Esta afirmação é feita em um esforço para

89

evitar a embriaguez para aqueles que vivem entre

protestantes. Nem o papa nem o sacerdote têm

autoridade para reter de qualquer um dos privilégios

de ler a Bíblia. O privilégio de ler as Escrituras é um

dom divino pelo qual não devemos gratidão ao papa

nem a qualquer sacerdote. Reter a Escritura de

qualquer pessoa é um ato de assalto eclesiástico e

espiritual.

A Tradução das Escrituras em Outras

Línguas.

Como a Escritura foi dada à congregação, e a cada

membro individual e deve ser lida por todos, e desde

que a igreja do Novo O Testamento é encontrada em

todo o mundo entre várias nações e línguas

(Apocalipse 5: 9), torna-se uma necessidade traduzir

as Sagradas Escrituras em todos os idiomas. Isso

permitirá a todos ler e ouvir a Palavra de Deus em sua

própria língua, como foi o caso quando os apóstolos

falaram em línguas (Atos 2: 8). Para isso, a Bíblia já

foi traduzida para uma grande variedade de

linguagens. Trezentos anos antes do nascimento de

Cristo, o Antigo Testamento foi traduzido do

hebraico para o grego por setenta e dois homens que

eram muito sábios em ambas as línguas. Isso ocorreu

sob a direção e com o apoio financeiro de Ptolomeus

Philadelphus, rei do Egito. Durante a era apostólica,

o Antigo Testamento foi traduzido para o aramaico,

por Jonathan Onkelos e outros tradutores

90

desconhecidos; depois, também foi traduzido para a

língua síria. Mais tarde, vários indivíduos traduziram

a Bíblia para o latim que, ao lado do grego, era a

língua mais comum naquela época. Entre essas

traduções latinas, há também uma que é endossada

pelo papado como válida. Posteriormente, a Bíblia foi

traduzida em quase tantas línguas quanto nas nações

em que a igreja pode ser encontrada. Todas as

traduções, no entanto, não foram derivadas das

línguas originais hebraicas e gregas em que homens

santos escreveram movidos pelo Espírito Santo. Tais

traduções são derivadas de outras traduções gregas

ou latinas. Eles apenas qualificam os transcritos. Tal

é o caso de várias traduções holandesas que agora são

chamadas de "antigas" traduções. No entanto, com a

decisão do Sínodo Nacional realizado em 1618 e 1619

em Dordrecht, um número de estudiosos

cuidadosamente selecionados, sendo encomendados

pelos mais honoráveis senhores da Assembleia Geral,

traduziram fielmente toda a Bíblia para o holandês

dos textos originais hebraico e grego. A fim de fazer

com a maior precisão possível, outros especialistas

foram encarregados de inspecionar e verificar

detalhadamente a formação dos estudiosos

selecionados inicialmente. Consequentemente, esta

tradução supera demais todas as outras traduções

holandesas, incluindo as mais antigas e as mais

recentes. É uma tradução tão precisa e cuidadosa do

texto original que os estudiosos, amigos e até mesmo

inimigos ficam surpresos. Aqueles que desejam

91

discutir sobre isso apenas transmitem o quão

inadequado é o conhecimento das línguas originais,

pois se uma palavra pudesse ter sido traduzida de

maneira diferente, os tradutores ficariam loucos

nesta margem. Graças ao Senhor por este dom

inefável! Por mais precisa que seja uma tradução,

não é nem autêntica nem infalível. O significado de

uma palavra dada pode ser impreciso e, portanto,

quando há diferenças de opinião, uma comparação

cuidadosa de cada tradução para o texto original é

uma necessidade. Uma tradução fiel transmitirá tudo

o que está contido no texto original; no entanto, uma

vez que é uma linguagem diferente, haverá

diferenças linguísticas distintas no que diz respeito

ao vocabulário. Os textos originais são diretamente

inspirados por Deus e se originam com Deus - tanto

quanto ao conteúdo doutrinário quanto às palavras.

Em traduções, no entanto, apenas o conteúdo

doutrinário é inspirado divinamente, e não as

palavras. Uma pessoa não instruída, incapaz de

comparar as traduções com as línguas originais,

pode, no entanto, garantir a veracidade do conteúdo

doutrinário da tradução, se ele puder percorrer a

coesão doutrinária interna e a harmonia de uma

tradução. Há também o testemunho do Espírito

Santo em que falar através desta Palavra é

testemunha da veracidade da Palavra de Deus na sua

forma traduzida. Além da aprovação dos estudiosos

e dos piedosos, a veracidade da tradução também é

confirmada pelo poderoso efeito que a Palavra tem

92

sobre o próprio coração, bem como os corações dos

outros. Sim, mesmo os inimigos da verdadeira

religião que são compatíveis com ambas as línguas

devem atestar a veracidade desta tradução,

concordando que é fiel e precisa. Se alguém entender

uma ou outra palavra de forma diferente, ele pode ser

convencido comparando-a com a linguagem original.

Sobre a tradução grega do Antigo Testamento por

setenta e dois tradutores (isto é, a Septuaginta

[LXX]), bem como a tradução latina chamada

Vulgata, o seguinte deve ser solicitado: essas

traduções são autoritativas como os textos originais?

Elas têm a mesma credibilidade, de modo que a

escolha do vocabulário também deve ser considerada

infalível, como o texto gravado dos profetas,

escritores do evangelho e apóstolos que foram

inspirados pelo Espírito Santo? Resposta: O

catolicismo romano sustenta que tal é o caso; no

entanto, negamos isso como será evidente a partir do

seguinte: Primeiro, essas duas traduções não são

mais o resultado da infalível inspiração do Espírito

Santo do que todas as outras traduções. Elas são o

resultado do trabalho de pessoas falíveis apesar de

todos os seus esforços para não falhar nesta tarefa.

Por isso, nem essas nem outras traduções podem ser

colocadas em pé de igualdade com o texto original,

tanto quanto a sua infalibilidade. Em segundo lugar ,

é muito evidente para todos os estudiosos - até

mesmo os eruditos católicos romanos que julgam

isso - há erros consideráveis em ambas as traduções.

93

É evidente que a Septuaginta foi equivocada em

vários lugares, como os tradutores usavam uma

Bíblia hebraica sem marcas de vogais, que Deus, no

entanto, fazia escrever com as marcas de vogais.

Pense, por exemplo, em uma carta escrita em que as

vogais estão ausentes. Pode-se poder evitar os

principais problemas, mas também pode facilmente

chegar a conclusões errôneas. Pode-se discernir

prontamente que a tradução latina comum do Antigo

Testamento era do grego do que do hebraico. Ambas

as traduções contêm erros sérios. Como este fato foi

reconhecido por estudiosos papais, o papa ordenou

que a tradução latina comum seja corrigida. Isso

explica por que muitos no civilismo romano não

reconhecem qualquer tradução como autêntica.

Objeção nº 1: Cristo e Seus apóstolos sempre fizeram

uso da Septuaginta ao citar textos do Velho

Testamento. Assim, eles reconheceram a validade

desta tradução, tornando-a autêntica. Resposta:

Cristo e os apóstolos estavam preocupados com o

significado de um texto em vez das próprias palavras.

Eles nem sempre fizeram uso desta tradução, mas

frequentemente usaram o próprio texto hebraico.

Eles fizeram uso da tradução grega, uma vez que era

melhor conhecida entre as pessoas, sendo a língua

grega em uso mais comum do que a língua hebraica.

Portanto, o fato de que os textos foram citados a

partir da tradução da LXX não prova que ela estava

em pé de igualdade com o texto original. Bíblia 2:

Como tanto a igreja hebraica quanto a igreja grega

94

tinham uma Bíblia autêntica em sua respectiva

língua, a igreja latina também deve ter uma Bíblia

autêntica em seu idioma. Resposta: Esta conclusão

tem uma falha dupla. A igreja hebraica possuía a

Palavra como imediatamente inspirada por Deus em

referência à doutrina e ao vocabulário. Eles não

tinham as Escrituras do Novo Testamento. A igreja

grega não possuía o Antigo Testamento em sua

língua autêntica; eles usaram uma tradução em vez

disso. Eles possuíam o Novo Testamento em sua

forma autêntica, no entanto, já que também havia

sido imediatamente inspirado por Deus. A América

Latina, pelo contrário, estava em posse de apenas

uma tradução – não de um manuscrito original,

como ambos os textos hebraicos e gregos são. Se esta

conclusão for correta, cada nacionalidade, de acordo

com a mesma regra, deve ter a posse de uma tradução

autêntica. Bíblia nº 3: uma vez que ambas as

traduções (LXX e a Vulgata) são as traduções mais

antigas e foram usadas ao longo do período de tempo,

pelo menos devem ser vistos como autênticos.

Resposta: um erro não se transforma em verdade em

virtude da progressão do tempo. Tão antiga quanto a

tradução do latim, há muitas traduções que são ainda

mais antigas.

Questão da Necessidade das Escrituras

A Escritura é uma necessidade? Resposta: O último

particular sobre a Palavra de Deus que deve ser

95

considerado é a sua necessidade e lucratividade. A

Palavra de Deus é necessária e proveitosa, não só

para iniciantes e pequenos, mas também para os

crentes mais avançados e espirituais aqui na Terra. É

um ribeiro a partir do qual um cordeiro pode beber e

um oceano no qual um elefante pode se afogar.

Aquele que é de opinião que ele avançou além das

Escrituras é um tolo. Ele prova que ignora a

espiritualidade da Palavra e ignora a si mesmo. Deus,

pela Sua onipotência, poderia ter reunido e

preservado a Sua igreja e feito crescer sem a Palavra

escrita. No entanto, é de acordo com a liberdade e a

bondade de Deus cuidar de Sua igreja de maneira

mais apropriada e firme, tornando Sua vontade

conhecida a ela por meio de um documento escrito.

No nosso dia, isso é reforçado pela arte da impressão.

Todos podem ter a Palavra de Deus em sua casa e,

portanto, ser habilitados diariamente para obter

orientação e nutrição dela. Deus nos uniu à sua

Palavra para evitar que nos afastássemos do seu

perímetro. Assim, a Palavra de Deus é necessária e

também proveitosa. Isto é evidente a partir do

seguinte: Primeiro, é o único meio instituído por

Deus para a fé e conversão. Sem a Palavra, ninguém

deve acreditar. "Como pois invocarão aquele em

quem não creram? e como crerão naquele de quem

não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem

pregue? E como pregarão, se não forem enviados?

assim como está escrito: Quão formosos os pés dos

que anunciam coisas boas! Mas nem todos deram

96

ouvidos ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem

deu crédito à nossa mensagem? Logo a fé é pelo

ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo."(Rom 10, 14-

17). Além da Palavra, ninguém pode ser regenerado.

"Da própria vontade nos gerou com a Palavra da

verdade" (Tiago 1:18); "tendo renascido, não de

semente corruptível, mas de incorruptível, pela

palavra de Deus, a qual vive e permanece." (1 Pedro

1:23). Em segundo lugar, a Palavra de Deus é o

alimento que nutre a vida espiritual dos convertidos:

"desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite

espiritual, a fim de por ele crescerdes para a

salvação," (1 Pedro 2: 2). Uma vez que muitas pessoas

usam a Palavra de forma mais frequente, estão na

escuridão, instáveis, jogadas de um lado para o outro

por todos os ventos da doutrina, vivem na tristeza,

sofrem de uma boa fé e experimentam o esconder do

semblante de Deus. Terceiro, a Palavra de Deus é a

única regra segundo a qual a condição de nossos

corações, pensamentos, palavras e ações deve ser

governada. "E a todos quantos andarem conforme

esta norma, paz e misericórdia sejam sobre eles e

sobre o Israel de Deus." (Gál 6:16); "Para a lei e para

o testemunho" (Isaías 8:20): "Então não ficarei

confundido, atentando para todos os teus

mandamentos." (Sl 119, 6). Se as pessoas

negligenciam a mente e o coração da Palavra de

Deus, eles começarão a elevar seu próprio intelecto

como sua Bíblia e, portanto, serão motivo de

preocupação para os outros. Essa negligência

97

resultará em uma vida pecaminosa, bem como em

um grande atraso. Sim, muitos que não estabelecem

a Palavra de Deus como sua regra de vida

"procurarão entrar, e não poderão" (Lucas 13: 24).

Quinto, a Palavra de Deus proporciona um consenso

firme. "Porquanto, tudo que dantes foi escrito, para

nosso ensino foi escrito, para que, pela constância e

pela consolação provenientes das Escrituras,

tenhamos esperança." (Romanos 15: 4); " Se a tua lei

não fora o meu deleite, então eu teria perecido na

minha angústia... Os teus testemunhos são a minha

herança para sempre, pois são eles o gozo do meu

coração." (Sl 119: 92,111). Esse conforto que se

origina na Palavra pode vir ao ler ou ouvir, ou

durante a oração e a meditação. Pode originar-se de

um texto da Escritura ou quando a alma, enquanto se

dedica ao exercício doce, é dirigida a um texto. Esse

conforto é geralmente de uma natureza muito mais

profunda e fundamental, e mais firme e duradouro

do conforto que a alma recebe sem qualquer reflexão

sobre a Palavra. Deve-se abster, no entanto, de

insistir na aplicação de um texto específico da

Escritura em um momento específico de tempo, pois

essa expectativa o roubará de um quadro doce e

espiritual. Portanto, é desejável ler ou ouvir a Bíblia

com frequência para que alguém possa ter acesso

imediato a uma oferta de Escrituras em tempo de

necessidade. Além disso, enquanto meditamos, os

textos das Escrituras podemos ser impressionados

no coração para o conforto da alma, sim, mesmo

98

durante os sonhos. Tais vezes ocorre com passagens

que anteriormente não tinham prendido a atenção,

nem mesmo sabendo onde encontrá-las na Bíblia.

Em terceiro lugar, a Palavra é um meio especial para

a santificação. "Santifica-os através da tua verdade: a

tua palavra é a verdade" (João 17: 7). A Palavra de

Deus não só trabalha a santificação por meio da

exortação contínua pela qual a alma está inclinada a

obediência pela própria voz de Deus. Também opera

a santificação através de um contínuo diálogo com

Deus durante a audiência, leitura e meditação sobre

a Sua Palavra, enquanto o crente procura regular a

sua vida por meio da mesma. Além disso, a alma será

mais exercida na fé e se tornará mais estabelecida na

verdade por causa do uso consistente da Palavra de

Deus. A fé então dá origem ao amor, e ama a

santificação. Sim, a alma é conduzida mais adiante

desta maneira para os mistérios da Palavra de Deus

e percebe muitos assuntos que anteriormente não era

capaz de discernir. Todos os novos conhecimentos

com mistérios espirituais, no entanto, bem como

cada mistério em si, tem influência ativa. Aqueles que

são negligentes em ler e se familiarizarem com a

Palavra de Deus serão destituídos em um grau

considerável desses frutos abençoados. Em suma, a

Palavra de Deus é a espada espiritual que deve ser

usada em todo o tempo em nossa batalha contra o

diabo, contra heresias e nossa carne (Ef 6, 17);

"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais

cortante do que qualquer espada de dois gumes, e

99

penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e

medulas, e é apta para discernir os pensamentos e

intenções do coração." (Heb 4:12). Aqueles que estão

prontos com essa espada permanecem firmes, se

protegem e são vitoriosos sobre seus inimigos. Em

primeiro lugar, para declarar as questões de forma

abrangente, a Palavra de Deus é o único meio pelo

qual podemos ser salvos. "É o poder de Deus para a

salvação" (Rom 1:16); "O evangelho da sua salvação"

(Ef 1,13); "A Palavra Enxertada, que é capaz de salvar

a sua alma" (Tiago 1:21). Portanto, quem quiser a

salvação irá estimar e reconhecer a Palavra de Deus

como necessária, proveitosa e desejável.

Nossas Obrigações Para as Sagradas

Escrituras.

Como mostramos que a Palavra possui todas essas

qualidades, isto obriga a todos a segui-la. Em

primeiro lugar, o homem deve reconhecer, valorizar,

crer e ver a Palavra de Deus dessa maneira. Além

disso, a Palavra não deve ser proveitosa. "A palavra

da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não

chegou a ser unida com a fé, naqueles que a

ouviram." (Heb 4: 2). Às vezes, nosso coração

incrédulo, sendo incitado pelo diabo, nos levará a

duvidar se a Palavra de Deus é verdadeiramente

inspirada por Deus. Isso às vezes pode causar aos

crentes muita dor e ser muito prejudicial para eles.

Mesmo assim, eles ainda percebem que o poder da

100

Palavra de Deus toca seu coração; que nenhum mero

manuscrito humano pode realizar. E se os escritos

humanos tocam e transformam seu coração, é

somente na medida em que fazem uso da Palavra e

são extraídos dela. Mesmo nessa condição, eles

percebem facilmente como a Palavra de Deus é uma

fonte de descanso e conforto para o crente, quão

poderosa é a conversão dos homens e que não há um

caminho mais puro, melhor e mais certo para a

salvação. Isso deve convencer todos a trazer seus

pensamentos ao cativeiro, sendo obediente à Palavra

de Deus, buscando impulsos de todo tipo, de modo

que, permitindo que tais pensamentos sejam

multiplicados, a alma ficará mais movida. Em

segundo lugar, os homens devem se alegrar de todo

o coração neste presente muito precioso de Deus,

abraçá-lo com muito amor e ser alegres sempre que

possam contemplar ou segurá-lo em suas próprias

mãos. Quase o mundo inteiro é privado da Palavra. O

papado priva o seu povo, queima as Bíblias junto com

aqueles que a leram. Nós, pelo contrário, podemos

tê-la em nossa posse e ouvi-la e lê-la. Como nossos

corações devem se alegrar com esse fato! "Regozijo-

me no caminho dos teus testemunhos, tanto como

em todas as riquezas... Oh! quanto amo a tua lei! ela

é a minha meditação o dia todo." (Salmo 119: 14,97);

"Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que

muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o que

goteja dos favos." (Salmos 19:10). Terceiro, devemos

agradecer e magnificar o Senhor, que o deu por isso.

101

"À meia-noite me levanto para dar-te graças, por

causa dos teus retos juízos." (Sl 119, 62); "Louva, ó

Jerusalém, ao Senhor; louva, ó Sião, ao teu Deus... ele

revela a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e as suas

ordenanças a Israel." (Salmo 147: 12,19). Quinto, faça

uso da Palavra de Deus na prosperidade, na

adversidade, na escuridão, nas ocasiões de dúvida,

nos momentos de perplexidade e em toda a sua

caminhada. Nada pode acontecer com você, nem há

nenhum dever no qual você deve se envolver onde a

Palavra de Deus não lhe proporcionaria conforto,

paz, conselho e direção. "Os teus testemunhos são o

meu prazer e os meus conselheiros... Escolhi o

caminho da fidelidade; diante de mim pus as tuas

ordenanças... Lâmpada para os meus pés é a tua

palavra, e luz para o meu caminho... Os teus

testemunhos são a minha herança para sempre, pois

são eles o gozo do meu coração."(Sl 119:

24,30,105,111). Em seguida, compre essa joia

inestimável e seja diligente em dar-lhe um lugar em

sua casa. Uma das correntes atuais que eu considero

mais desejável e digna de louvor é a de muitos

cidadãos proeminentes que têm um grande, bonito

apoio, juntamente com um livro do Salmo, exibido

em cada sala. Se ao menos eles os usassem mais

frequentemente! Um dos mais apropriados atos de

misericórdia é dar Bíblias aos pobres e questioná-los

com frequência se eles também estão lendo

diariamente. Aqueles cujos recursos são limitados e

que não desejam receber nada como presente, devem

102

ser diligentes, assegurando todos os seus centavos

para comprar uma Bíblia. Aqueles que não

conseguem ler devem esforçar-se para aprender, com

o objetivo de ler a Palavra de Deus. Um lar sem uma

Bíblia é um navio sem um timão e um cristão sem

uma Bíblia é um soldado sem arma. Quando a

Reforma inicialmente se apoderou da Holanda, era

costume para alguns cidadãos prósperos visitar os

pobres com um Novo Testamento no bolso com a

finalidade de ler uma porção para eles, como a

maioria das pessoas não poderia ler. Depois disso,

eles dariam uma doação de caridade para eles. Os

capitães do mar fariam de forma semelhante ao

voltarem para casa de uma viagem. Ao fazê-lo, eles

conheciam as necessidades daqueles que não

possuíam uma Bíblia ou que não podiam ler. Desta

forma, houve edificação mútua e causou a Reforma.

Como seria útil se essa prática ainda estivesse em

voga; - quantos não possuem as qualificações para se

expressarem em relação às Escrituras! Sexto,

leiamos, busquemos e meditemos sobre a Palavra de

Deus com toda diligência e persistência. Isso devem

praticar até mesmo reis. "E será com ele, e ele lerá

nele todos os dias da sua vida" (Deuteronômio 17,19).

É também o dever dos estudiosos. "Dê atendimento

à leitura" (1 Tim 4:13). É o privilégio e obrigação do

humilde e de cada indivíduo. "Examinai as

Escrituras" (João 5:39); "Não lestes?" (Mt 12: 3). O

eunuco leu enquanto andava em seu carro (Atos

8:28). Os Bereanos examinavam as Escrituras

103

diariamente (Atos 17:11). Como todos deveriam

praticar isso em particular, antes de ir trabalhar,

tanto por si só e com sua família! Como você nutre

seu corpo, deve também nutrir sua alma. À noite,

depois do trabalho, é preciso terminar o dia

procurando um refrigério da Palavra de Deus.

Enquanto isso, enquanto se envolve para entender o

significado espiritual e experimentar o poder da

Palavra de Deus. Isso fará com que a alma cresça na

graça, evita que surjam pensamentos vãos, controla

a língua, suprime as corrupções e direciona o homem

para temer a Deus.

Diretrizes para a Leitura Proveitosa das

Escrituras

Para que a leitura da Escritura seja lucrativa, deve

haver preparação, prática, e reflexão. Primeiro, a

preparação para a leitura da Palavra de Deus. Cada

vez que alguém se envolve para ler: (1) Ele deve, com

concentração mental, colocar-se na presença de

Deus. Ele deve promover um quadro reverente e

espiritual, consciente de que o Senhor deve falar com

ele. A consciência dessa realidade deve nos fazer

sentir com reverência santa. Para promover tal

reverência, reflita sobre Isa 1: 2: "Ouve, ó céus, e

ouve, ó terra: porque o Senhor falou." (2). Ele deve

levantar o coração ao Senhor, implorando a quem é o

autor desta Palavra para o Seu Espírito, para que Ele

possa nos fazer perceber a verdade expressa na

104

Palavra de Deus e aplicá-la ao coração. Nossa oração

deve ser sábia, Sl 119: 18: "Abre os meus olhos, para

que eu veja as maravilhas da tua lei". (3) Ele também

deve inclinar o coração atentamente para obedecer,

para exercer fé, ser receptivo ao conforto, e cumprir

com tudo o que o Senhor proclamará, prometerá e

comandará, dizendo: "Fala, Senhor; porque o teu

servo ouve" (1 Sam 3: 9). Em segundo lugar, a prática

de ler a Palavra de Deus. Como você lê, é essencial

fazê-lo com calma e atenção, em vez de fazê-lo

apressadamente com o objetivo de levar o exercício

deste dever a uma conclusão. Se houver falta de

tempo, é melhor ler menos, mas estar atento ao fazê-

lo. Pode-se ler a Palavra de Deus de uma maneira

dupla, seja por estudo pessoal ou por explorar a

pesquisa dos outros. Isso deve ser determinado tanto

pela disponibilidade de tempo quanto pela

habilidade. Para ler a Palavra de Deus de maneira

estudiosa e criteriosa, é preciso observar o contexto

que precede e que segue um determinado texto e

toma conhecimento da maneira de falar e do objetivo

do texto. O texto deve então ser comparado com

outros textos onde o assunto é explicado de forma

mais abrangente, e com textos de conteúdo diferente.

Para isso, é vantajoso consultar as excelentes notas

marginais, que deram muita luz ao texto. Ao seguir

este procedimento, será possível procurar e verificar

o significado literal do texto. Não devemos

simplesmente nos contentar com o significado

literal; é preciso penetrar no próprio cerne do texto,

105

buscando perceber a essência interna do assunto.

Para isso, o homem natural é cego,

independentemente do conhecimento, da

proficiência na Palavra de Deus e capacidade de

entender o contexto e transmitir o significado literal

do texto para outros. Uma pessoa piedosa, pelo

contrário, imediatamente começa a ver a singular

clareza, natureza e poder de assuntos espirituais

contidos no texto e sua percepção aumenta quanto

mais ele se envolve em observar e meditar sobre esses

assuntos. Independentemente de quantas vezes ele

possa ler as mesmas palavras e capítulos, ele sempre

perceberá algo que ele não conhecia antes. A verdade

que ele encontra na Palavra é sempre nova e torna-se

cada vez mais doce. É verdade que o processo de

verificação do significado literal do texto às vezes não

é acompanhado de muitos exercícios espirituais, mas

qualifica uma pessoa para entender melhor as

Sagradas Escrituras e depois para serem trabalhados

de forma mais pronta e de forma mais completa e

maneira poderosa. Deve-se evitar todos os recifes

rochosos traiçoeiros a esse respeito. Quem encalhar

em um desses não será capaz de verificar o

significado correto da Palavra de Deus, mas irá

obscurecer a espiritualidade da Palavra. A primeira

prática que deve ser evitada é atribuir cada

significado permitido a uma determinada palavra,

em consequência do qual qualquer significado da

Palavra de Deus é aceitável, desde que não viole o

princípio regulatório da fé e as circunstâncias que

106

envolvem o texto. Quem aderir a tal prática faz um

tolo de si mesmo e arruína as Escrituras. O

significado da Escritura é simples, claro, direto e

conciso, expressando assuntos de maneira mais

organizada do que qualquer homem jamais seria

capaz de fazer. Isso nos obriga a procurar

cuidadosamente no que a intenção específica e o

objetivo do Espírito está em todos os textos. A

segunda prática a evitar é a de forçar tudo em um

quadro de sete dispensações, já que o conceito

completo de sete dispensações é errado. Seria

tolerável se isso fosse limitado ao Apocalipse de João,

no entanto, isso impedirá que alguém determine o

significado correto do citado livro. É inaceitável

procurar sete dispensações em toda a Bíblia,

subordinando todas as questões bíblicas às mesmas.

Isso eliminaria o verdadeiro significado, a

espiritualidade e o poder da Palavra. A terceira

prática a evitar é regular tudo para o domínio da

profecia, relacionando tudo em especial para evitar a

dispensação do Novo Testamento e considerando-o

como cumprido. Isso significa que quase não há nada

que seja de relevância contemporânea. Há aqueles

que relacionam tudo com a igreja e o anticristo.

Mesmo as parábolas do Senhor Jesus, como

registradas nos evangelhos, são denominadas

profecias e são consideradas como referências à

igreja e ao anticristo. Quem engata em tal prática

arruína a Palavra de Deus, roubando-a de sua

espiritualidade e poder. É verdade que todos os

107

procedimentos cerimoniais de Adão a Cristo e todas

as profissões no Antigo Testamento não são

explicados no Novo Testamento, mas, no entanto,

são certos e explicados no Novo Testamento, mas, no

entanto, são certos e infalíveis. Ao fazê-lo, muitas

vezes descobriremos declarações singulares relativas

à natureza do Senhor Jesus e à Sua execução de seu

ofício mediador, bem como às profecias que de fato

foram cumpridas. Desta forma, nossa fé é aumentada

e fortalece-se bastante. Na busca disso, a sabedoria e

a moderação devem ser exercidas, no entanto, ao

abster-se de fazer declarações radicais, insistindo em

significados específicos. Quantas vezes os outros, e

também nós mesmos, cometemos erros na exposição

da profecia, descobrindo posteriormente nossa

adesão a uma visão errônea! A humildade divina é

essencial quando se envolve em tal estudo. Uma

quarta prática, insiste que nenhum texto na Escritura

pode ser entendido corretamente, a menos que seja

visto em seu contexto, também deve ser evitado.

Além do fato de que o contexto em si geralmente é

óbvio, geralmente é fácil entender até mesmo por um

leitor não educado, mas piedoso, mais fácil do que

alguns estão prontos para admitir. Onde o contexto

não é tão facilmente percebido - uma interpretando

o contexto de maneira diferente de outro - é devido à

compreensão obscurecida do homem. Uma pessoa

piedosa, ao ler a Escritura com toda a simplicidade e

sendo capaz de perceber sua dimensão espiritual,

muitas vezes será mais capaz de entender o contexto

108

do que outros, mesmo que ele frequentemente não

seja capaz de provar seu caso como seria uma pessoa

acadêmica que está no estado da natureza. A

consciência do contexto nem sempre é essencial, no

entanto, pode ser importante para a compreensão

correta de um texto ou uma passagem. Há milhares

de expressões na Palavra de Deus que, quando

ouvidas ou lidas individualmente, têm um

significado preciso, dão plena expressão ao seu

conteúdo doutrinário e são suficientemente

penetrantes para estimular a fé, tornar o conforto e

ser de natureza exortatória. Isto é ilustrado nos

seguintes exemplos: "Aquele que crê no Filho tem a

vida eterna" (João 3:36); "Peça, e você receberá"

(Mateus 5: 3-12). Sim, muitos dos provérbios das

Escrituras são apresentados sem um contexto

aparente; quem quer que busque um contexto em tal

situação seria culpado de obscurecer tudo o que

afirmamos sobre determinar o significado na leitura

das Escrituras. Alguém também pode ler as

Escrituras sem se envolver em pesquisas estudiosas

para o significado do texto. Isso poderia ser uma

leitura prática da Escritura. Tal é o caso quando, com

um quadro espiritual humilde, fome e submissão,

alguém se coloca diante do Senhor enquanto lê

devagar e pensativo como ouvindo a voz de Deus, e

se submetendo ao Espírito Santo para operar sobre o

coração enquanto lê. Se ele encontrar algo que não

seja imediatamente compreendido, ele colocará essa

passagem de lado por enquanto e continuará a

109

leitura. Sempre que há uma passagem que tenha um

poder especial sobre o coração, essa pessoa faz uma

pausa para que esta Escritura possa ter efeito no

coração. Então ele ora, agradece, se alegra e está

cheio de espanto - tudo o que reaviva a alma e

estimula-a à obediência. Ao concluir estes exercícios,

ele continuará lendo. Depois de ler um capítulo, ele

meditará sobre ele, se o tempo o permitir. Quando ele

encontrar um texto notável, ele irá marcar ou

memorizá-lo. De tal maneira, tanto os sábios quanto

os desavisados devem ler a Palavra de Deus. Ao

mesmo tempo, entenderemos seu significado

espiritual com um esclarecimento crescente e a

Palavra de Deus se tornará cada vez mais preciosa

para nós. "Se alguém quiser fazer a vontade de Deus,

há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim

mesmo." (João 7:17); "Se continuais na minha

Palavra, então sois verdadeiros discípulos; e

conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."

(João 8: 31-32). A reflexão sobre a leitura das

Escrituras consiste em (1) agradecer alegremente que

o Senhor permitiu que a Sua Palavra fosse registrada;

(2) esforçar-se por preservar este bom quadro

espiritual que é obtido pela leitura da Palavra de

Deus; (3) meditar sobre o que leu, buscando

repetidamente focar suas convicções sobre isso; (4)

compartilhar com os outros o que foi lido, sempre

que possível, e discutir isso; (5) especialmente se

esforçando para cumprir o que foi lido, colocando-o

em prática. Se as Sagradas Escrituras fossem usadas

110

de tal maneira, que maravilhoso progresso faríamos

no conhecimento e na piedade! As crianças logo se

tornariam jovens, e os jovens logo se tornariam

homens em Cristo Jesus.