a onomatopeia

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A ONOMATOPEIA ----------------------------------------- Figuras de Linguagem Onomatopeia do grego onomatopoiía (= ação de inventar nomes) é a criação de uma palavra a partir da imitação ou reprodução aproximada (nunca exata) de um som natural a ela associado. A onomatopeia transforma-se, assim, num processo de formação de palavras. As onomatopeias têm sua carga significativa na sonoridade e não no conceito, ou seja, velem apenas pelo que significam. Fazem parte do universo da onomatopeia: ruídos, gritos, canto de animais, som de instrumentos musicais ou o barulho que acompanha os fenômenos da natureza: P Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever. (F. Pessoa) Numa leitura em voz alta, você perceberia, facilmente, os estalos do [t] e [q]. As Onomatopeias Puras - serão puras quando procuram - com os recursos que a língua dispõe - reproduzir, imitar o mais aproximado possível os sons que representam; por exemplo: bip, clic, toc-toc, brrr, atchim, etc. Estas onomatopeias não representam palavras, apenas imitam os sons que representam. São, muitas vezes, formadas apenas por consoantes (zzzz), facilmente pronunciadas, porém difícil de serem representadas ortograficamente. Muitos dos ruídos e sons representados por onomatopeias acabam por se incorporar à língua. Algumas vão até motivar a criação, por derivação, de novas palavras. As Onomatopeias Vocalizadas estão no campo da gramática e da linguística e constituem palavras como outras quaisquer. Seguem as regras de construção ortográficas e possuem uma classificação sintática e morfológica, como é o caso de roncar e mugir (verbos), que correspondem às onomatopeias puras “ronc e muuu”, respectivamente. Quase todas as onomatopeias puras são passíveis de lexicalização, bastando para tal antepor-se um artigo, por exemplo: o tic-tac, um toc-toc. Neste fragmento do poema Vozes dos Animais de Pedro Dinis, temos uma boa ilustração das onomatopeias vocalizadas: Muge a vaca, berra o touro Grasna a rã, ruge o leão, O gato mia, uiva o lobo Também uiva e ladra o cão. Relincha o nobre cavalo Os elefantes dão urros, A tímida ovelha bala, Zurrar é próprio dos burros. É de se esperar que as formações nitidamente onomatopaicas fossem, em geral, de caráter universal. Contudo, têm poucas semelhanças nos diferentes idiomas quando se traduzem graficamente. Cada língua convencionou a onomatopeia de uma maneira própria. Por exemplo: auuu (latido de cães) em francês é wou, ou, ouuuu; em russo vau, ou, oouu; beee (ovelhas) é baa em inglês e bäh em alemão. A onomatopeia é um dos recursos expressivos mais comuns usados na prosa e na poesia para produzir um efeito especial e reforçar a capacidade comunicativa do texto Na poesia tem grande importância estilística e poética, pois nela se concentram a melodia, a harmonia e o ritmo da frase. Os valores sonoros da onomatopeia podem ser reforçados pela aliteração (repetição do mesmo som). Daí a sensível aproximação da poesia a esta figura fonética, como se pode verificar neste fragmento de Vicente de Carvalho: Ouves acaso quando entardece Vago murmúrio que vem do mar, Vago murmúrio que mais parece Voz de uma prece Morrendo no ar? Nestes versos há um conteúdo onomatopaico criado pelo termo murmúrio e reforçado pela aliteração (repetição do termo). A onomatopeia tornou-se moda durante o Simbolismo, a ponto de atribuir-se a cada vogal uma carga sonora, correspondente a um instrumento: A > órgão E > harpa I > violino O > metais U > flauta. Nas histórias em quadrinhos, podemos encontrar inúmeros exemplos de onomatopeias.

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Page 1: A Onomatopeia

A ONOMATOPEIA

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Figuras de Linguagem

Onomatopeia do grego onomatopoiía (= ação de

inventar nomes) é a criação de uma palavra a partir da

imitação ou reprodução aproximada (nunca exata) de um

som natural a ela associado. A onomatopeia transforma-se,

assim, num processo de formação de palavras. As

onomatopeias têm sua carga significativa na sonoridade e

não no conceito, ou seja, velem apenas pelo que significam.

Fazem parte do universo da onomatopeia: ruídos, gritos,

canto de animais, som de instrumentos musicais ou o

barulho que acompanha os fenômenos da natureza:

P Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de

escrever. (F. Pessoa)

Numa leitura em voz alta, você perceberia, facilmente,

os estalos do [t] e [q].

As Onomatopeias Puras - serão puras quando procuram

- com os recursos que a língua dispõe - reproduzir, imitar o

mais aproximado possível os sons que representam; por

exemplo: bip, clic, toc-toc, brrr, atchim, etc. Estas

onomatopeias não representam palavras, apenas imitam os

sons que representam. São, muitas vezes, formadas apenas

por consoantes (zzzz), facilmente pronunciadas, porém

difícil de serem representadas ortograficamente. Muitos dos

ruídos e sons representados por onomatopeias acabam por se

incorporar à língua. Algumas vão até motivar a criação, por

derivação, de novas palavras.

As Onomatopeias Vocalizadas estão no campo da

gramática e da linguística e constituem palavras como outras

quaisquer. Seguem as regras de construção ortográficas e

possuem uma classificação sintática e morfológica, como é

o caso de roncar e mugir (verbos), que

correspondem às onomatopeias puras “ronc e

muuu”, respectivamente. Quase todas as

onomatopeias puras são passíveis de

lexicalização, bastando para tal antepor-se um

artigo, por exemplo: o tic-tac, um toc-toc.

Neste fragmento do poema Vozes dos

Animais de Pedro Dinis, temos uma boa

ilustração das onomatopeias vocalizadas:

Muge a vaca, berra o touro

Grasna a rã, ruge o leão,

O gato mia, uiva o lobo

Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo

Os elefantes dão urros,

A tímida ovelha bala,

Zurrar é próprio dos burros.

É de se esperar que as formações nitidamente

onomatopaicas fossem, em geral, de caráter universal.

Contudo, têm poucas semelhanças nos diferentes idiomas

quando se traduzem graficamente. Cada língua

convencionou a onomatopeia de uma maneira própria. Por

exemplo: auuu (latido de cães) em francês é wou, ou, ouuuu;

em russo vau, ou, oouu; beee (ovelhas) é baa em inglês e

bäh em alemão.

A onomatopeia é um dos recursos expressivos mais

comuns usados na prosa e na poesia para produzir um efeito

especial e reforçar a capacidade comunicativa do texto Na

poesia tem grande importância estilística e poética, pois nela

se concentram a melodia, a harmonia e o ritmo da frase. Os

valores sonoros da onomatopeia podem ser reforçados pela

aliteração (repetição do mesmo som). Daí a sensível

aproximação da poesia a esta figura fonética, como se pode

verificar neste fragmento de Vicente de Carvalho:

Ouves acaso quando entardece

Vago murmúrio que vem do mar,

Vago murmúrio que mais parece

Voz de uma prece

Morrendo no ar?

Nestes versos há um conteúdo onomatopaico criado pelo

termo murmúrio e reforçado pela aliteração (repetição do

termo).

A onomatopeia tornou-se moda durante o Simbolismo, a

ponto de atribuir-se a cada vogal uma carga sonora,

correspondente a um instrumento: A > órgão — E > harpa

— I > violino — O > metais — U > flauta.

Nas histórias em quadrinhos, podemos encontrar

inúmeros exemplos de onomatopeias.