a oit e o combate ao trabalho infantil

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Combatendo o Combatendo o Combatendo o Combatendo o Combatendo o GUIA PARA EDUCADORES Trabalho infantil rabalho infantil rabalho infantil rabalho infantil rabalho infantil 1 Combate ao trabalho infantil 1 Combate ao trabalho infantil

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Neste Volume 1foram reunidasinformaçõesbásicas sobre atemática dotrabalho infantil,sua situação noBrasil e nomundo, bemcomo sobre osdireitos dascrianças eadolescentes,destacando a educação e o lazer comoalternativas ao trabalho infantil.http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/ipec/pub/caderno1_330.pdf

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Page 1: A OIT e o combate ao trabalho infantil

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INICIATIVA

Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHOEscritório no Brasil

APOIO

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação

REALIZAÇÃO

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

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Page 3: A OIT e o combate ao trabalho infantil

Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHOEscritório no Brasil

1Combate ao

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CENPEC - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

Page 4: A OIT e o combate ao trabalho infantil

Copyright © Organização Internacional do Trabalho (2001)

1a edição, 2001

As publicações da Organização Internacional do Trabalho gozam da proteção dos direitos depropriedade intelectual decorrente do protocolo 2 anexo à Convenção Universal sobre Direitos Autorais.Trechos pequenos podem ser reproduzidos sem autorização, desde que a fonte seja mencionada. Parareprodução de trechos maiores ou tradução, solicitações devem ser encaminhadas a OIT – OrganizaçãoInternacional do Trabalho, Departamento de Publicações (Direitos autorais e licenças), CH-1211 Genebra22, Suíça. Solicitação de exemplares, catálogos ou listas de publicações para o endereço acima ou:OIT – Escritório no Brasil, Setor de Embaixadas Norte, Lote 35, 70800-400 Brasília DF, Brasil, tel. (xx61)426-0100 fax (xx61) 322-4352, e-mail [email protected].

As designações usadas nas publicações da OIT e a apresentação de matérias nelas incluídas, segundo apraxe das Nações Unidas, não significam, da parte da OIT, qualquer juízo com referência à situação legalde qualquer país ou território ou de suas autoridades, nem à delimitação de suas fronteiras.A responsabilidade por opiniões expressas em textos assinados, estudos e outras contribuições recaiexclusivamente sobre seus autores; sua publicação não constitui endosso da OIT às opiniões aíconstantes.

OIT – Escritório no Brasil

Direção Armand Pereira

Coordenação Nacional do IPEC-Brasil Pedro Américo Furtado de Oliveira

Coordenação do Projeto Moema Prado

Material elaborado pelo CENPEC para o escritório da OIT no Brasil, no âmbito do Projeto “Professores,educadores e suas organizações na luta contra o trabalho infantil”/IPEC

CENPEC Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,Cultura e Ação ComunitáriaR. Dante Carraro 68 Pinheiros05422-060 São Paulo SP Brasilhttp://www.cenpec.org.br

Presidência Maria Alice SetubalCoordenação geral Maria do Carmo Brant de CarvalhoCoordenação de Área Isa Maria F. R. Guará – e-mail: [email protected]ção do Projeto Lúcia Helena NilsonConsultoria Walderez Nosé HassenpflugAutoria (v.1) Alexandre Isaac, Cristina Almeida Sousa, Mirna Busse Pereira,

Ronilde Rocha MachadoEdição de texto Tina Amado e Guy AmadoEdição de arte Eva Paraguassú Arruda Câmara, José Ramos Néto e

Camilo de Arruda Câmara RamosIlustração Luiz MaiaFotografia Iolanda HuzakFotolito Grupo RV2Impressão Cromosete

Apoio CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em EducaçãoSetor de Diversões Sul, Edif. Venâncio III, sala 101/470393-900 Brasília DFwww.cnte.org.br

Organização Internacional do TrabalhoCombatendo o trabalho infantil : Guia para educadores / IPEC. –Brasília : OIT, 2001. : il.

Conjunto formado por 2 volumes, cartazes e jogov.1: Combate ao trabalho infantil – 48 p.v.2: Sugestões de atividades – 64 p.

Produção CENPECISBN 92-2-811040-61.Trabalho infantil. I. OIT II. IPEC. III. CENPEC.

Com base no conjunto: “Child labour: an information kit for teachers,educators and their organizations” ILO/IPEC (ISBN 92-2-111040-0).

Page 5: A OIT e o combate ao trabalho infantil

Sumário4 Apresentação

5 Por que e como utilizar este material

7 A OIT e o trabalho infantil

8 As Convenções da OIT

9 O trabalho infantil no mundo

11 Trabalho infantil e direito à infância

13 O que é trabalho infantil

14 O trabalho em sociedades indígenas brasileiras

15 O que obriga crianças e jovens a trabalhar?

16 Alegações usuais para “justificar” o trabalho infantil

16 Efeitos perversos do trabalho infantil

19 Trabalho infantil no Brasil atual20 Dimensionando o problema

21 Trabalho infanto-juvenil por grupos de idade

22 No campo e na cidade

25 O trabalho de crianças no passadobrasileiro

26 A criança escrava

27 Na fábrica, na passagem do século XIX ao XX

29 Trabalho infantil na Inglaterra, séculos XVIII e XIX

31 Os direitos da criança e do adolescente

32 O ECA, Estatuto da criança e do adolescente

34 Direito à educação, direito à infância

36 A importância do brincar

39 Contrapondo-se ao trabalho infantil

43 Considerações finais

44 Referências bibliográficas

46 Anexo

Quadro: Incidência de trabalho infantil no Brasil

Page 6: A OIT e o combate ao trabalho infantil

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COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

suas organizações na luta contra o trabalhoinfantil”.

Ao buscar discutir o tema com educadores esuas organizações, a OIT e seus parceirosreconhecem a importância desses agentes emsuas comunidades e a contribuição que podemtrazer à luta contra o trabalho de crianças eadolescentes. Considera sua participação,especialmente a dos professores nas escolas,fundamental para mobilizar e sensibilizar todaa comunidade. Compreendendo melhor achaga social que é o trabalho infantil,certamente irão desenvolver ações quecontribuam para sua eliminação, tanto naprópria comunidade como no restante do país.

Quem está em contato próximo comcrianças, jovens e seus pais, tem aoportunidade de fazê-los refletir sobre arealidade e a responsabilidade de cada um denós no conhecimento e na transformaçãosocial, especialmente da realidade à nossavolta. É o educador que pode estimular osalunos a formar conceitos e valores sobredireitos, justiça, eqüidade e solidariedade. Porisso a OIT busca seu engajamento ecompromisso com essa luta, que é de toda asociedade brasileira. Desse esforço desensibilização nasceu o conjunto Combatendoo trabalho infantil: guia para educadores,buscando subsidiá-lo para tratar dessa temáticacom os alunos, pais, colegas, a comunidade.

ESTE CONJUNTO É FORMADO PORDOIS VOLUMES, QUATROCARTAZES E UM JOGO.

Neste Volume 1foram reunidasinformaçõesbásicas sobre atemática dotrabalho infantil,sua situação noBrasil e nomundo, bemcomo sobre osdireitos dascrianças eadolescentes,

destacando a educação e o lazer comoalternativas ao trabalho infantil.

Este material foi preparado para divulgarinformação sobre o trabalho infantil, os direitosda criança e a importância da educação naprevenção e erradicação do trabalho infantil.Nossa expectativa é que os leitores – educadoresem geral, pais, cidadãos – se engajem nocombate a essa forma extrema de violação dosdireitos das crianças e adolescentes.

A erradicação do trabalho infantil é pontode honra para um país que pretenda alcançarpatamares mais elevados de eqüidade e justiçasocial. A construção de um país mais justo,menos desigual, mais democrático dependenão só da definição de estratégias a curto elongo prazos, mas da vontade política dosgovernos, empresários, trabalhadores, gruposorganizados da sociedade civil e dos cidadãosem geral. Impulsionar essa vontade política,sensibilizar e mobilizar novos segmentos edirecionar suas energias para açõescompetentes na busca de soluções ealternativas para o trabalho infantil é o grandedesafio a ser enfrentado por todos aqueles quese comprometem com a luta pelos direitos dainfância e juventude em nosso país.

Para erradicar o trabalho infantil, a principalmedida que vem sendo adotada é a de atribuirprioridade à educação, entendida comoenglobando escola formal e atividadesculturais, de esporte, lazer, orientação à saúdeetc. O direito à educação integral e dequalidade garante às crianças e jovens umoutro direito fundamental: o de viver suainfância e juventude como um períodoessencial de formação para a vida e dedesenvolvimento de seu potencial humano.

A OIT - Organização Internacional doTrabalho, por meio do IPEC - ProgramaInternacional para a Eliminação do TrabalhoInfantil, em parceria com a CNTE -Confederação Nacional dos Trabalhadores emEducação e com o apoio técnico do CENPEC -Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,Cultura e Ação Comunitária, de São Paulo –elaboraram este conjunto de materiais noâmbito do projeto “Professores, educadores e

Apresentação

Page 7: A OIT e o combate ao trabalho infantil

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POR QUE E COMOUTILIZAR ESTE MATERIALUm estudo realizado pela OIT (1999a) sobreestratégias bem-sucedidas para a prevenção eerradicação do trabalho infantil em 13 países(dentre os quais o Brasil) mostrou queeducadores em geral e suas organizações sãoimportantes agentes no combate ao trabalhoinfantil, atuando diretamente na comunidadeescolar e engajando-se em lutas mais amplas.

Assim, este material foi elaborado para subsidiareducadores brasileiros de modo a que venhamser, eles também, agentes nesse combate. Opropósito deste volume é permitir que oeducador, conhecendo a problemática emprofundidade – origens, dimensão, efeitos,mitos, legislação etc. –, esteja em condições deanalisar a natureza do problema local(contextualizando-o no nível nacional) e possacontribuir para aumentar o grau de consciênciade alunos, pais e comunidade sobre o tema.

O volume 2 traz orientações para desenvolver atemática em sala de aula, mas de modo aenvolver toda a escola e a comunidade. A equipeescolar, bem como os educadores deorganizações não-governamentais, podemreforçar junto aos pais o valor da educaçãocomo alternativa importante para romper ocírculo vicioso da pobreza; trabalhar por umaeducação de qualidade, que inclua o currículoapropriado e relevante para todas as crianças,particularmente as mais pobres e vulneráveis; econstruir parcerias com outros grupos quecombatam o trabalho infantil.

Quanto às organizações de educadores, aexpectativa é que, fortalecidas e mobilizadaspelo conhecimento sobre a temática, possam:

pôr à disposição sua estrutura operacional e seupoder de penetração junto aos associados paramobilizar contra o trabalho infantil;

definir uma política de atuação contra otrabalho infantil;

estabelecer parcerias com escolas, órgãosgovernamentais ou outras organizações detrabalhadores, tanto para a prevenção quantoo combate ao trabalho infantil;

organizar fóruns de discussão; auxiliar emdiagnósticos locais;

conscientizar a comunidade sobre o direito e aimportância da educação para todas ascrianças e jovens.

A comunidade poderá então exercer pressão paraa formulação de políticas públicas e parasustentar politicamente programas educativos.

O jogo Bem-vindos à escola visa levaralunos a reconhecer, de forma lúdica, ascaracterísticas negativas do trabalho infantil,bem como a importância do cumprimento doEstatuto da Criança e do Adolescente para pôrfim à exploração dessa população.

Os cartazes podem ser utilizados em váriassituações: para introduzir o estudo do tema,para ficar expostos em lugar bem visível oupara compor, com outros materiais, asatividades em sala de aula. Podem tambémfuncionar como ponto de apoio para debates ediscussões na comunidade escolar.

O Volume 2 reúnesugestões deatividades escolaresrelativas à temática,agrupadas segundoos componentescurricularesHistória, Português,Ciências, Geografiae Artes.

Page 8: A OIT e o combate ao trabalho infantil

MENINA (13 ANOS) RETIRA CARVÃO DO FORNO. RIBAS DO RIO PARDO - MS

COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

Page 9: A OIT e o combate ao trabalho infantil

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A OIT e otrabalho infantilA OIT – Organização Internacional doTrabalho, com sede em Genebra, éuma das agências especializadas daONU, Organização das NaçõesUnidas. Foi criada em 1919, aotérmino da Primeira Guerra Mundial,quando se discutia a necessidade deencontrar meios para alcançar a pazpermanente e universal, capaz deimpedir novos e sangrentos conflitoscomo o que findara. Isso foi debatidopor ocasião da Conferência de Paz deParis em 1919, cujos participanteschegaram à conclusão de que “a pazuniversal e permanente somentepode basear-se na justiça social” – oque se tornou a frase inicial daconstituição da própria OIT, formadapor representantes de governos,empregadores e trabalhadores.

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Page 10: A OIT e o combate ao trabalho infantil

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COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

O objetivo da OIT é lutar pela melhoria dascondições de trabalho no mundo e elevação dopadrão de vida dos trabalhadores, pleiteando re-gulamentação da jornada de trabalho, liberdadede associação, negociação coletiva, igualdade deremuneração pelo trabalho de igual valor e não-discriminação no trabalho; também pleiteia pro-teção contra enfermidades profissionais, além deoutras disposições, sobre desemprego e forma-ção profissional.

A proteção da infância é um dos elementosessenciais na luta pela justiça social e pela pazuniversal. A OIT entende que o trabalho infantil,além de não constituir trabalho digno e ser con-trário à luta pela redução da pobreza, sobretudorouba das crianças sua saúde, seu direito à edu-cação, ou seja, sua própria vida enquanto crian-ças – para a OIT, o termo “criança” refere-se apessoas com idade inferior a 18 anos.

Preocupada com a situação de exploração dotrabalho infantil, a OIT lançou em 1992 o Pro-grama Internacional para Eliminação do Traba-lho Infantil (IPEC). Trata-se de um programa mun-dial de cooperação técnica contra o trabalho in-fantil, contando com o apoio financeiro de 22países doadores, cujo objetivo é estimular, orien-tar e apoiar iniciativas nacionais na formulaçãode políticas e ações diretas que coíbam a explo-ração da infância. O IPEC visa a erradicação pro-gressiva do trabalho infantil mediante o fortale-cimento das capacidades nacionais e do incenti-vo à mobilização mundial para o enfrentamentoda questão. Promove o desenvolvimento e a apli-cação de legislação protetora e apóia organiza-ções parceiras na implementação de medidasdestinadas a prevenir o trabalho infantil, a retirarcrianças de trabalhos perigosos e a oferecer al-ternativas imediatas, como medida transitóriapara a erradicação do trabalho infantil.

AS CONVENÇÕES DA OITOs instrumentos normativos da OIT são conven-ções e recomendações sobre o trabalho. Uma con-venção é um instrumento do sistema internacio-nal de direitos humanos que se torna vinculante,ou seja, de cumprimento obrigatório pelos paísesque a ratificam. Como signatário das convençõesda OIT, o Brasil assume o compromisso de fazercumprir suas determinações. Em relação ao traba-lho infantil, duas delas merecem destaque:

a Convenção n.138 sobre Idade Mínima de Ad-missão ao Emprego (OIT, 2001), de 1973, cons-

titui o mais importante instrumento normativode luta contra o trabalho infantil. Essa Conven-ção determina, no geral, a idade mínima de 15anos para o ingresso no mercado de trabalho,em todos os setores da atividade produtiva (paratrabalhos perigosos, a idade mínima é 18 anose, para trabalhos leves, 14 anos). É uma normaque, por seu caráter flexível, atende ao nível dedesenvolvimento socioeconômico dos diferen-tes países-membros da OIT e admite iniciativasa médio e longo prazo.

a Convenção n.182 sobre as Piores Formas deTrabalho Infantil (OIT, 2001) determina a ime-diata concentração de esforços para erradicar otrabalho infantil nas seguintes situações:

todas as formas de escravidão e práticas aná-logas, como a venda e o tráfico de crianças, otrabalho forçado ou obrigatório, a servidãopor dívidas e a condição de servo;a utilização, o recrutamento ou a oferta decrianças para a prostituição, a produção depornografia ou atuações pornográficas;a utilização, o recrutamento ou a oferta decrianças para a realização de atividades ilíci-tas, em particular a produção e o tráfico desubstâncias entorpecentes, tal como se defi-nem nos tratados internacionais pertinentes;qualquer outro tipo de trabalho que, porsua natureza ou pelas condições em que serealiza, possa supor ameaça à saúde, à segu-rança ou à moralidade das crianças.

Com relação ao trabalho perigoso acima mencio-nado, a OIT indica que se considerem, no mínimo,os trabalhos em que as crianças:

fiquem expostas a abusos de ordem física,emocional ou sexual;atuem embaixo da terra e da água, em altu-ras perigosas ou em meios confinados;utilizem maquinarias, equipamentos e ferra-mentas perigosas ou que manipulem e trans-portem cargas pesadas;atuem em meio insalubre ou estejam expos-tas, por exemplo, a substâncias, agentes ouprocessos perigosos, ou ainda a temperatu-ras ou níveis de ruído e vibração prejudiciais àsaúde;atuem em condições especialmente difíceis,como por exemplo horários prolongados, no-turnos ou que impeçam o regresso diário àsua casa.

Além dos instrumentos normativos, a OIT empre-ga outros dois meios de ação: a produção e disse-minação de informação; e a cooperação técnicapara desenvolver programas como o IPEC, que in-centiva o fim da exploração do trabalho infantil.Esses três meios de ação se complementam visan-do o alcance da justiça social.

Page 11: A OIT e o combate ao trabalho infantil

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A exploração do trabalhoinfantil não é um fato restritoao Brasil. A OIT estima em cercade 250 milhões as criançastrabalhadoras em todo omundo. Pelo menos 120milhões de crianças entre 5 e14 anos de idade trabalham emtempo integral. Os restantescombinam trabalho com osestudos e com outras atividadesnão-econômicas.

De acordo com estimativas daOIT (1999b), a maioria absolutadessas crianças está em países“em desenvolvimento”. São 17milhões na América Latina eCaribe (7%); 80 milhões naÁfrica (32%); e 153 milhões naÁsia, excluindo o Japão (61%).

Embora as estatísticasgeralmente não mencionem,nos países desenvolvidos há umsignificativo contingente decrianças e adolescentestrabalhando em situações queenvolvem riscos. O relatórioSituação Mundial da Infância(UNICEF, 1998) informa, porexemplo, que nos EstadosUnidos uma operação-relâmpago do Departamento deTrabalho, realizada em 1990durante três dias, encontroumais de 11.000 criançastrabalhando ilegalmente.Grande parte delas pertencia aminorias étnicas ou acomunidades de imigrantes etrabalhava na agricultura. NaEuropa, os países do antigobloco socialista viram surgir otrabalho infantil em virtude dosdesajustes sociais e econômicosdecorrentes da transição para aeconomia de mercado.

Em que tipos de trabalho as

O trabalho infantil no mundocrianças são geralmenteencontradas, em todo omundo? Milhões de criançasfazem trabalho perigoso,abusivo e explorador. Entreoutras, são comumenteencontradas exercendo asseguintes formas de trabalho(OIT, 1999b).

Na indústria, realizandotrabalho perigoso, comofabricação de vidro,construção e tecelagem detapetes. Dentre outros países,essas atividades sãofreqüentes na Índia.

de isso se tornar sua principalou única atividade. Essaforma é mais comum empaíses como Brasil, Colômbia,Equador, Filipinas, Quênia eTanzânia.

Na agricultura, realizandotrabalho pesado e sendoexpostas a muitos perigosassociados à introdução demoderna maquinaria eprodutos químicos. A OIT,por meio do IPEC, mantémprogramas de atendimento,entre outros, no Nepal e naTanzânia, onde é muito alto oíndice de crianças envolvidasnas fainas agrícolas.

Em casa, cuidando de irmãose irmãs mais novos ouajudando em sítios ouempresas familiares, a ponto

Em trabalho doméstico,árduo, sob condições deisolamento, trabalhandohoras excessivas, sujeitas aabuso físico e sexual – maisfreqüente no Brasil, Colômbia,Equador e Indonésia.

Em regime de escravidão ouem arranjos de trabalhomuito similares, comotrabalho servil e prostituiçãoinfantil. Esta última é muitocomum no Brasil, no Quêniae na Tailândia, enquantocrianças trabalham emregime escravo ou servil naÍndia e no Nepal.

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AOS 11 ANOS, CARREGANDO SACOS DE LARANJA. TABATINGA - SP

COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

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Trabalho infantile direito àinfânciaTalvez uma forma de descrever otrabalho infantil seja pelas marcasque deixa na vida de crianças e jovensque a ele são submetidas. Para essaspessoas, a sina diária é trabalhar sobqualquer condição, enfrentarcansaço, fome, às vezes mutilação,abandono. Nada de livros, cadernos,lápis de cor, brincadeiras ou sonhos.Nada de aprender a ler e escrever, aler o mundo a sua volta... Essascrianças e jovens nunca ouvem o sinaldo recreio. A merenda, quando há,é comida ali mesmo, no meio dafuligem, rapidamente, pois não sepode perder tempo. Ficam proibidosos risos, molecadas, algazarras.O importante é produzir, trocar o queproduziu por quase nada e recomeçartudo no outro dia, sem direito a terdireitos, mesmo os maisfundamentais: aprender, brincar,ter férias, descansar... Bola,brincadeira de roda, jogos nãoentram nesse mundo. Em vez de serpreparadas para segurar o lápis,desenhar, pintar, recortar e colar, suasmãos carregam pás, enxadas, foices,desproporcionais a sua força.

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E com o que sonha uma criança que só co-nhece da vida o horizonte delimitado pelo car-vão, sisal, pela cana ou pedreira? Será que sonhaem ser cantor, atriz, bombeiro ou enfermeira?“Meu maior desejo”, disse um menino carvoei-ro, “é não tossir à noite por causa da fumaça doforno. Aí dá para dormir”. É próprio da criança edo jovem projetar-se no futuro e sonhar com oque virá. Mas o sonho maior do menino carvoei-ro está preso, como ele, ao seu duro cotidiano.

A exploração brutal e os riscos de vida a queestão sujeitos os trabalhadores infantis são fla-grantes, como exemplifica esta descrição das con-dições de trabalho experimentadas por um me-nino, numa pedreira no interior do Ceará:

O lugar não é para brincadeiras. Usa-se cartu-cho de pólvora para fragmentar a pedra; lascas depedra e aço dos instrumentos voam para todo ladoe inala-se pó o tempo inteiro. Ninguém usa óculosnem qualquer outro equipamento de proteção.Acidentes são rotina. (...). No povoado de Taquara(...), Francisco, 11 anos, quebrava pedra como to-dos os meninos: sentado no chão, no meio dapoeira levantada pelas explosões a dinamite, peloentra-e-sai dos caminhões e sob o sol escaldante.Martelava pedra com uma marreta, sobre umapedra almofariz. Para cada carrinho de cinco me-tros cúbicos de brita, Francisco recebe o equiva-lente a pouco mais de dez centavos de dólar1 . Eleproduz 20 carrinhos por semana; se a mãe vemjunto, a produção chega a 60 carrinhos. (Azevedo& Huzak, 1994, p.100)

Essa realidade remete a indagações: Que pers-pectivas de desenvolvimento, de formação edu-cacional e de participação na cultura se colocampara uma criança que desde cedo é submetida aessas condições de trabalho? Que possibilidadesexistem para que Francisco, ao se tornar adulto,vivencie experiência de trabalho que lhe propor-cione condições de vida dignas?

E qual será o futuro de um menino carvoeiro,de um cortador de cana ou de sisal, privado dodireito (que lhe é garantido pelas leis do país) aodesenvolvimento integral, por meio de oportuni-dades educativas? Como enfrentará a sociedadedo conhecimento e da tecnologia, sem saber es-crever o próprio nome, sem poder ler, sem co-nhecer o funcionamento das instituições e do

mundo? Como indenizá-los pela infância não vi-vida, pelas oportunidades perdidas, pelo direitonegado de partilha do conhecimento construídopela humanidade, da qual faz parte? Não sãoperguntas fáceis de responder.

Mas milhares de crianças e jovens brasileirosenfrentam hoje a dura realidade do trabalho pre-coce. E esse número pode aumentar: a agudiza-ção da pobreza estrutural no país e o risco deintensificação das desigualdades sociais ameaçamempurrar mais e mais crianças e jovens para otrabalho. Estudos de caso feitos em 13 países pelaOIT (1999a) apontam esses dois fatores como osmaiores obstáculos à eliminação do trabalho in-fantil – e que mais contribuem para seu aumen-to. Por outro lado, altas taxas de desemprego pro-vocam a falta de confiança no valor e importân-cia da educação, o que prejudica a percepção doseu papel estratégico nessa luta. Outro fatorapontado, além da persistência de atitudes soci-ais e culturais que favorecem o trabalho infantil,é a baixa qualidade dos serviços educacionais,refletida em altas taxas de retenção e evasão.

Esses fatores dão a dimensão da complexida-de que envolve o tema e dos desafios a seremenfrentados nos níveis político, econômico e so-ciocultural, para que o país avance na erradica-ção do trabalho infantil. Tome-se o desafio dadistribuição de renda: sem dúvida, frente ao qua-dro atual de aprofundamento da pobreza no país,a melhor forma de enfrentá-la a curto e médioprazos seria com um programa de distribuição egeração de renda para todas as famílias em situa-ção de pobreza, não só para aquelas envolvidascom o trabalho infantil.

Não é fácil propor soluções a essa problemá-tica. Mas é possível e necessário construir, coleti-vamente, perspectivas de superação dessa reali-dade que afeta a vida de milhares de criançasbrasileiras. A amplitude e complexidade do pro-blema deixam claro que é necessário que toda asociedade brasileira tenha uma atitude de indig-nação frente ao trabalho infantil e se sensibilize,se mobilize para enfrentá-lo. É imprescindível unirtodos: esferas de governo, organizações não-go-vernamentais, sindicatos, empresas, igrejas, clu-bes, associações, escolas, cidadãos, numa atitu-de de co-responsabilidade participante.

Os professores e demais trabalhadores emeducação também estão convocados a descobrir

1 Para se ter uma idéia de quanto Francisco recebia por mês, pode-seestimar a produção mensal em 80 carrinhos o que, a dez centavos dedólar por carrinho, dá oito dólares por mês. Na cotação de maio de2001 (R$ 2,25 por dólar), isso significa que Francisco recebia cerca deR$ 18,00, ou aproximadamente um décimo do salário mínimo.

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que contribuição podem dar em sua escola, bair-ro, comunidade, município ou estado, para pre-venir e erradicar o trabalho infantil e devolver ascrianças à escola, à infância e a uma vida maisdigna e justa. Mãos à obra.

O que é trabalhoinfantil?

O trabalho pode ser compreendido como uma“atividade consciente e voluntária, pela qual ohomem exterioriza no mundo fins destinados amodificá-lo, de maneira a produzir valores oubens social ou individualmente úteis e satisfazerassim suas necessidades” (Russ, 1994, p.297).

A forma como o trabalho é realizado em di-versas sociedades, ao longo do tempo, aproxi-ma-se ou distancia-se dessa definição. Ao mes-mo tempo que modificam o mundo pelo traba-lho, os seres humanos também se modificam,estabelecendo relações entre si, criando e reno-vando a cultura. Nesse sentido, o trabalho com-pleta o indivíduo e contribui para seu desenvol-vimento enquanto ser humano. Mas o modocomo uma determinada sociedade se organizapara o trabalho e o tipo de relações que se esta-belecem na produção podem levar à desumani-zação e à alienação. Há trabalhos que embrute-cem e deformam, além de não proporcionar con-dições para escapar da situação de penúria e pri-vação na vida pessoal, familiar e social.

É fácil incluir o trabalho infantil nessa últimaperspectiva. A entrada precoce de crianças e ado-lescentes no mercado de trabalho, nas condiçõesatuais – e históricas – do capitalismo no Brasilexemplifica bem essa perspectiva de trabalho,situação que não é muito diferente para imensossetores da população adulta trabalhadora.

Em diferentes países, de maneira geral, o tra-balho infantil costuma ser definido como aquelerealizado por “crianças e adolescentes”. Isso sig-nifica que a permissão (ou a proibição) para aentrada dos indivíduos no mercado de trabalhoé estabelecida em lei de acordo com a idade. Noentanto, esse recorte é móvel, varia de socieda-de para sociedade e, em cada uma, muda tam-bém de acordo com a compreensão do que sejainfância e adolescência. No Brasil, em 1891, ins-tituía-se a idade mínima de 12 anos para a en-

trada no mercado de trabalho. As Constituiçõesde 1934, 1937 e 1946 ampliaram a idade míni-ma para 14 anos. Porém, em 1967, em plenaditadura militar, novamente se recuou esse limi-te para 12 anos!

Atualmente, a legislação brasileira, por meioda Emenda Constitucional 20/98 e da lei sancio-nada em 19 de dezembro de 2000 (Brasil, 2000a,que altera disposições da CLT – Consolidação dasLeis Trabalhistas), determina que a idade mínimapara a entrada no mercado de trabalho é 16 anos.O trabalho noturno, perigoso ou insalubre é per-mitido apenas a maiores de 18 anos. E apenasna condição de aprendiz o adolescente pode exer-cer trabalho remunerado, dos 14 aos 16 anos,com direitos trabalhistas garantidos, em jornadae regime especificados na lei.

É PROIBIDO QUALQUER TRABALHO AMENORES DE DEZESSEIS ANOS DE IDADE,SALVO NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ,A PARTIR DOS QUATORZE ANOS.(BRASIL, LEI 10.097/2000, ART.1O)

Podemos dizer pois que o trabalho infantil éaquele realizado por crianças e adolescentes queestão abaixo da idade mínima para a entrada nomercado de trabalho, segundo a legislação emvigor no país.

No entanto, é preciso refinar essa definição,contemplando certos aspectos de tradições cul-turais em diferentes lugares do mundo. Em al-gumas sociedades, a transmissão cultural reali-za-se oralmente, não havendo registros escritosde sua história, técnicas ou ritos. Assim, na agri-cultura tradicional ou na produção artesanal,crianças e adolescentes realizam trabalhos sob asupervisão dos pais como parte integrante do pro-cesso de socialização – quer dizer, um meio detransmitir, de pais para filhos, técnicas tradicio-nalmente adquiridas. Esse trabalho pode ser tam-bém motivo de satisfação para as próprias crian-ças (Bequelle, 1993, p.22). O sentido do apren-der a trabalhar varia de acordo com a cultura,com a sociedade e, dentro destas, varia tambémdependendo do momento histórico em que elasse encontram. Mas a situação de trabalho comoparte do processo de socialização não deve serconfundida com aquelas em que as crianças sãoobrigadas a trabalhar, regularmente ou durantejornadas contínuas, para ganhar seu sustento ou

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o de suas famílias, com conseqüentes prejuízospara seu desenvolvimento educacional e social.

Seguindo esse raciocínio, as condições de ex-ploração e os prejuízos à saúde e ao desenvolvi-mento da criança ou adolescente que realiza aatividade é que seriam parâmetros para caracte-rizar o trabalho infantil. Mas é preciso lembrarque o mero fato de trabalhar “em casa” ou “coma família” não descaracteriza o trabalho infantil.Mesmo no espaço do trabalho em família, sabe-se que muitas crianças são submetidas a esta-fantes jornadas de trabalho na lavoura familiarou são responsabilizadas por todos os serviçosdomésticos e cuidados com os irmãos menoresem casa, sem que lhes seja garantido, por exem-plo, tempo para ir à escola ou para brincar.

Por outro lado, essa preocupação não podeser radicalizada no sentido de excluir a participa-ção das crianças e adolescentes em tarefas do-mésticas. Essa participação reveste-se de carátereducativo e formador do senso de responsabili-dade, pessoal e em relação ao núcleo familiar.

Atualmente, na luta pelo reconhecimento dosdireitos da criança e do adolescente, um parâ-metro mais claro tem sido colocado: ainda queseja para garantir a continuidade de uma tradi-ção familiar, para dividir responsabilidades no in-terior da casa ou para ajudar na lide do campo,o trabalho de crianças não pode impedir que elasexerçam seus direitos à educação e ao brincar,condições essenciais a seu pleno desenvolvimen-to.

Em muitas sociedades indígenasbrasileiras, trabalhar é aprendera fazer junto, pois o trabalho secaracteriza como momento detroca de experiência entre osmembros do grupo. Nessavivência, as pessoas envolvidascom as mais diversas formas deatividades constróemcoletivamente conhecimentos,como fruto desse aprendizado.O trabalho constitui assimimportante aspecto da vidacomunitária indígena. Elefornece as bases de umaorganização social de tipoigualitária, em que a famíliafunciona como unidade básicade produção, acumulando etrocando os conhecimentosindispensáveis à subsistência detodos os seus membros. Aorganização baseia-se nadivisão sexual do trabalho: hátarefas masculinas (em geral,caçar, derrubar mato) e tarefasfemininas (em geral, cuidar daroça, cozinhar). Essa divisão do

O trabalho em sociedadesindígenas brasileiras

trabalho leva em consideraçãonão só as tarefas a seremrealizadas, mas principalmentea idade e as condições físicas deseus participantes, como umaforma de protegê-los.

Meninas e meninos aprendem,no convívio familiar, as tarefasconsideradas femininas emasculinas. Mães, mulheresidosas ou experientes ensinamas meninas a tecer, fabricarcerâmica, transformar osalimentos. Pais e homens idososda aldeia ensinam os meninos afazer arcos, flechas, adornoscorporais, técnicas de caça epesca... Na sociedade indígena,essa aprendizagem visapropiciar à criança aapropriação de todos osconhecimentos que necessitaráem sua futura vida adulta.Para uma criança ouadolescente, fazer parte de umafamília, e portanto de umaunidade de produção, significaser membro da sociedade.

E isso quer dizer ter funções eresponsabilidadescompartilhadas com as demaispessoas com as quais convive,como produzir alimentos,confeccionar adereços e objetosartesanais para o uso cotidiano,ritual e festivo, construir aprópria habitação, participar davida comunitária.

Produção, família e sociedadeacham-se articuladas e seorientam pelos mesmospropósitos, o que faz com queeducação e vida caminhemjuntas. Educar nas comunidadesindígenas tem um sentidoamplo. Significa ensinar eaprender pela vivência diretanas várias situações cotidianas:saber é saber fazer. Dessaforma, o aprendizado para otrabalho é incorporado naspráticas coletivas que são, emsi, educativas; em outraspalavras, integra o processo desocialização das crianças ejovens indígenas.

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O que obriga crianças ejovens a trabalhar?

destinada ao trabalho. Um sistema escolar efi-ciente deve assegurar a permanência de todas ascrianças na escola, com aprendizagem efetiva.

Outro fator que obriga ao trabalho infantil éa crença, comum em muitas culturas – e não sónos estratos mais pobres –, de que as criançasdevem compartilhar as responsabilidades da fa-mília, participando do trabalho dos pais, ganhan-do remuneração fora de casa ou ajudando naadministração da casa. Esta última é especialmen-te verdadeira para as meninas, de quem é espe-rado que cuidem dos irmãos e irmãs, bem comodas tarefas domésticas, a ponto de estas se tor-narem sua principal ou única atividade. Tais cren-ças fazem com que o peso da responsabilidadeseja assumido por crianças desde cedo, sem qual-quer questionamento, de geração em geração.

Dessas crenças e da situação de vulnerabilidadeeconômica, os empregadores tiram vantagens emproveito próprio. Ao empregar crianças, têm emmente garantir trabalhadores dóceis, submissos,que não causem “encrenca” e sejam incapazesde defender seus direitos; crianças e adolescen-tes têm menos condições de se negar a realizartarefas servis por baixos salários do que os adul-tos. Os empregadores beneficiam-se ainda daineficácia da fiscalização: embora cientes da leique proíbe o trabalho infantil, violam-na na cer-teza da impunidade.

Portanto, a incorporação de crianças e ado-lescentes no mercado formal e informal de tra-balho expressa, por um lado, deficiências das po-líticas públicas para educação, saúde, habitação,cultura, esportes e lazer, além da ineficácia da fis-calização do trabalho para cumprimento da lei eda vigência de certas crenças, mesmo entre ospróprios pais. Por outro lado, expressa os efeitosperversos da má distribuição de renda, do desem-prego, dos baixos salários, ou seja, de um modeloeconômico que não contempla as necessidadesdo desenvolvimento social. O Brasil é consideradoa 10a economia do mundo em termos de ProdutoInterno Bruto, mas está classificado em 74o lugar(IPEA, 1999) em termos de IDH – Índice de De-senvolvimento Humano (esse índice, criado pelaONU em 1990, considera simultaneamente os ní-veis de renda, instrução e saúde das populações;calculado para 174 países, classifica-os em umaescala do melhor para o pior).

Crianças e jovens são obrigados a trabalharpor várias razões, sendo a pobreza a principaldelas. Muitos governos, ao enfrentar crises eco-nômicas, não dão prioridade às áreas que pode-riam ajudar a aliviar as dificuldades enfrentadaspor famílias de baixa renda: não priorizam saú-de, educação, moradia, saneamento básico, pro-gramas de geração de renda, treinamento profis-sional, entre outros. Para essas famílias, a vida setorna uma luta diária pela sobrevivência. As crian-ças são forçadas a assumir responsabilidades, aju-dando em casa para que os pais possam traba-lhar, ou indo elas mesmas trabalhar para ganhardinheiro e complementar a renda familiar. Em ummundo crescentemente desigual, em um proces-so acentuado pelo fenômeno da globalização,cada vez mais contrapõem-se riqueza e pobreza.Assim, todo um segmento da população, alijadode condições adequadas de formação, educaçãoe acesso a bens e serviços, vem constituindo umcontingente de despossuídos.

Um sistema educacional deficiente tambémcontribui para empurrar crianças para o trabalho.Mesmo tendo acesso à escola – no Brasil, 97%das crianças entre 7 e 14 anos estão sendo matri-culadas todo ano (Brasil, 2000b) – crianças e ado-lescentes das camadas pobres são mais atingidospela repetência. Após repetir várias vezes, a crian-ça – por si mesma e pelos pais – é considerada“incapaz” de aprender, saindo da escola e sendo

HIGIENE MATINAL NA CARVOARIA. ÁGUAS CLARAS - MS

s

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ALEGAÇÕES USUAISPARA “JUSTIFICAR”O TRABALHO INFANTILApesar de condenável e proibido por lei, ainda háquem procure justificar a necessidade do trabalhoinfantil. Alguns argumentos, freqüentemente usa-dos para “justificar” essa prática, devem ser refu-tados (OIT & CECIP, 1995, p.8-9).

“Crianças e jovens (pobres) devem trabalhar paraajudar a família a sobreviver”.

É a família que deve amparar a criança e não ocontrário. Quando a família se torna incapaz decumprir essa obrigação, cabe ao Estado apoiá-la,não às crianças. O custo de alçar uma criança aopapel de “arrimo de família” é expô-la a danosfísicos, intelectuais e emocionais. É um preço al-tíssimo, não só para as crianças como para o con-junto da sociedade pois, ao privá-las de uma in-fância digna, de escola e preparação profissional,reduzimos o valor dos recursos humanos que po-deriam impulsionar o desenvolvimento do país nofuturo.

“Criança que trabalha fica mais esperta, aprendea lutar pela vida e tem condições de vencer profis-sionalmente quando adulta”.

O trabalho precoce nunca foi estágio necessáriopara uma vida bem-sucedida. Ele não qualifica e,portanto, é inútil como mecanismo de promoçãosocial. O tipo de trabalho que as crianças exercem,rotineiro, mecânico, embrutecedor, impede-as derealizar as tarefas adequadas à sua idade: exploraro mundo, experimentar diferentes possibilidades,apropriar-se de conhecimentos, exercitar a imagi-nação...

“O trabalho enobrece a criança. Antes trabalharque roubar”.

Esse argumento é expressão de mentalidade vi-gente segundo a qual, para crianças e adolescen-tes (pobres, pois raramente se refere às das famí-lias ricas), o trabalho é disciplinador: seria a “solu-ção” contra a desordem moral e social a que essapopulação estaria exposta. O roubo – aí conotan-do marginalidade – nunca foi e não é alternativaao trabalho infantil. O argumento que refuta esseé, “antes crescer saudável que trabalhar”. O tra-balho infantil marginaliza a criança pobre das opor-tunidades que são oferecidas às outras. Sem po-der viver a infância estudando, brincando e apren-dendo, a criança que trabalha não é preparadapara vir a ser cidadã plena, mas para perpetuar ocírculo vicioso da pobreza e da baixa instrução.

Outro argumento presente na sociedade é o deque o “trabalho é um bom substituto para a edu-cação”. É usado principalmente no caso de crian-

ças com dificuldades no desempenho escolar.Muitas famílias, sem vislumbrar outras possibili-dades de enfrentamento das dificuldades, acabamincorporando a idéia de que é melhor encaminharseus filhos ao trabalho. Nesse caso, cabe à escolarepensar sua adequação a essa clientela, pois afunção social da escola em uma sociedade demo-crática é permitir o acesso de todos os alunos aoconhecimento.

Em suma, o trabalho infantil não se justifica e nãoé solução para coisa alguma. A solução para essaproblemática é prover as famílias de baixa rendade condições tais que elas possam assegurar a suascrianças um desenvolvimento saudável.

EFEITOS PERVERSOS DOTRABALHO INFANTILO trabalho precoce de crianças e adolescentes in-terfere diretamente em seu desenvolvimento:

físico – porque ficam expostas a riscos de lesões,deformidades físicas e doenças, muitas vezessuperiores às possibilidades de defesa de seuscorpos;

emocional – podem apresentar, ao longo de suasvidas, dificuldades para estabelecer vínculos afe-tivos em razão das condições de exploração aque estiveram expostas e dos maus-tratos quereceberam de patrões e empregadores;

social: antes mesmo de atingir a idade adultarealizam trabalho que requer maturidade deadulto, afastando-as do convívio social com pes-soas de sua idade.

Ao mesmo tempo, ao ser inserida no mundo dotrabalho a criança é impedida de viver a infância ea adolescência sem ter assegurados seus direitosde brincar e de estudar. Isso dificulta muito a vi-vência de experiências fundamentais para seu de-senvolvimento e compromete seu bom desempe-nho escolar – condição cada vez mais necessáriapara a transformação dos indivíduos em cidadãoscapazes de intervir na sociedade de forma crítica,responsável e produtiva. Entre as crianças que tra-balham há maior repetência e abandono da escola.

Encomendada pelo IPEC e CNTE, uma pesquisafeita pelo DIEESE – Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Sócio-Econômicos (1997),junto a 1.419 crianças trabalhadoras que freqüen-tam a escola, constatou índices alarmantes de re-petência, na faixa de 64%. Essa pesquisa foi reali-zada em seis das maiores capitais brasileiras: Be-lém, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Recifee São Paulo. A pesquisa também entrevistou osalunos-trabalhadores, constatando que os deve-res escolares, quando realizados, são feitos após ajornada de trabalho e cada dia em um horário di-ferente, roubando parte do tempo destinado ao

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descanso ou lazer. Inquiridas sobre as razões dasfreqüentes repetências, porém – embora para oobservador externo seja óbvio que não têm tem-po para estudar – as crianças a explicam por seupróprio “desinteresse”.

Isso significa que o mau desempenho escolar apa-rece, para as crianças, como de sua responsabili-dade. É possível, também, que tal explicação sejaassumida pela família – o que confirmaria dadossemelhantes encontrados por outros pesquisado-res, de que as camadas excluídas dos bens e servi-ços sociais se atribuem a causa da exclusão. Essavisão tem efeitos danosos, pois impede ou dificul-ta a mobilização para cobrar os direitos de cida-dania que lhes são negados.

Além disso, o fato de as crianças se consideraremas únicas “culpadas” por sua repetência acaba porinterferir em sua auto-estima, levando-as a se acharincapazes de aprender. Essa crença, comum a alu-nos e pais, acaba gerando o abandono da escola:“se não é bom pros estudos, então larga a escolae vai trabalhar”. “Embora a evasão esteja presentedesde a 1a série do ensino fundamental, o aban-dono definitivo da escola geralmente ocorre entreos 13 e 15 anos. Mais grave ainda: o aluno médio,mesmo permanecendo quase oito anos na escola,só consegue atingir a 3a ou 4a série. Mais uma vez,são as crianças e famílias pobres as mais vulnerá-veis à evasão. É muito provável que pressões eco-nômicas obriguem esses estudantes a abandonar

Gráfico 1Gráfico 1Gráfico 1Gráfico 1Gráfico 1

Distribuição de crianças de 10 a 14 anos que trabalham e não estudam, segundo a rDistribuição de crianças de 10 a 14 anos que trabalham e não estudam, segundo a rDistribuição de crianças de 10 a 14 anos que trabalham e não estudam, segundo a rDistribuição de crianças de 10 a 14 anos que trabalham e não estudam, segundo a rDistribuição de crianças de 10 a 14 anos que trabalham e não estudam, segundo a renda familiarenda familiarenda familiarenda familiarenda familiar, Brasil, 1990, Brasil, 1990, Brasil, 1990, Brasil, 1990, Brasil, 1990O trabalho precoceinterfere pois negati-vamente na escolari-zação das crianças,seja provocandomúltiplas repetên-cias, seja empurran-do-as para fora daescola – fenômenodiretamente relacio-nado à renda fami-liar. Crianças e ado-lescentes oriundas defamílias de baixa ren-da tendem a traba-lhar mais e estudarmenos, comprome-tendo, dessa forma,suas possibilidadesde vida digna.

O trabalho infantilconstitui assim obs-táculo ao desenvolvi-mento das crianças,resultando em redu-ção de suas expecta-tivas futuras.

o sistema escolar para colaborar com a renda fa-miliar” (CENPEC, 1999, p.19). Os dados da Tabela1 confirmam isso.

12,3%11,7%

8,0%

4,0%

1,2%

Até 1/4 salário mínimoMais de 1/4 a 1/2 salário mínimoMais de 1/2 a 1 salário mínimoMais de 1 a 2 salários mínimoMais de 2 salários mínimo

TTTTTabela 1abela 1abela 1abela 1abela 1

Distribuição de crianças de 10 a 14 anos por situação de trabalho eDistribuição de crianças de 10 a 14 anos por situação de trabalho eDistribuição de crianças de 10 a 14 anos por situação de trabalho eDistribuição de crianças de 10 a 14 anos por situação de trabalho eDistribuição de crianças de 10 a 14 anos por situação de trabalho e

frfrfrfrfreqüência à escola, segundo a reqüência à escola, segundo a reqüência à escola, segundo a reqüência à escola, segundo a reqüência à escola, segundo a renda familiarenda familiarenda familiarenda familiarenda familiar, Brasil, 1990, Brasil, 1990, Brasil, 1990, Brasil, 1990, Brasil, 1990

Renda familiar Só Trabalham e Sóestudam estudam trabalham(%) (%) (%)

Até 1/4 SM 59,6 14,7 12,3

Mais de 1/4 a 1/2 SM 63,8 11,7 11,7

Mais de 1/2 a 1 SM 73,2 10,3 8,0

Mais de 1 a 2 SM 83,1 8,3 4,0

Mais de 2 SM 91,5 5,1 1,2

Fonte: dados do IBGE compilados por Sabóia (1996, p.79).

Como se pode verificar, os índices referentes acrianças que “estudam e trabalham” ou “so-mente trabalham” são mais elevados nas fa-mílias com faixa de renda menor. Enquanto nasfamílias com renda acima de dois salários mí-nimos apenas 1,2% das crianças “somente tra-balham”, naquelas com renda abaixo de 1/4de salário mínimo esse índice é de 12,3%. OGráfico 1 (com os dados da última coluna databela acima) permite visualizar melhor a in-terrelação entre renda familiar, trabalho infan-til e evasão escolar.

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ADOLESCENTES ALMOÇAM DURANTE A COLHEITA DA LARANJA. TABATINGA - SP

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O trabalhoinfantil no BrasilatualA mera existência de trabalhoinfanto-juvenil revela desrespeitoflagrante ao direito de existir demilhões de crianças e adolescentes,no Brasil e no mundo. Como se viu,essa realidade reflete o modelopolítico-econômico vigente nasúltimas décadas, que vemconduzindo o país a um processo deconcentração de renda semprecedentes na história, colocandoum enorme contingente de nossapopulação em situação de extremapenúria. Para combater otrabalho infantil, porém, não bastaconhecer as causas: é precisoconhecer sua extensão, localizaçãoe características.

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Fonte: dados dos Censos Demográficos do IBGE; extraído de Retratos doBrasil, 1985, v.2, p.303.

Gráfico 2Gráfico 2Gráfico 2Gráfico 2Gráfico 2

PPPPPorororororcentagem de crianças (10 a 14 anos) e jovens (15 a 19 anos)centagem de crianças (10 a 14 anos) e jovens (15 a 19 anos)centagem de crianças (10 a 14 anos) e jovens (15 a 19 anos)centagem de crianças (10 a 14 anos) e jovens (15 a 19 anos)centagem de crianças (10 a 14 anos) e jovens (15 a 19 anos)

trabalhadortrabalhadortrabalhadortrabalhadortrabalhadores no total dos res no total dos res no total dos res no total dos res no total dos respectivos grupos etários, Brasil, 1950-1980espectivos grupos etários, Brasil, 1950-1980espectivos grupos etários, Brasil, 1950-1980espectivos grupos etários, Brasil, 1950-1980espectivos grupos etários, Brasil, 1950-1980

Dimensionando o problema

Necessidade, oportunismo e incompreensãose mesclam para explicar o trabalho precoce. Asituação de pobreza obriga os pais tanto a utili-zar os filhos como mão de obra doméstica, quan-to a oferecê-los no mercado de trabalho para au-mentar a renda familiar.

Como uma das expressões da pobreza e dainjusta distribuição de renda, o trabalho infantilsempre se fez presente em nossa sociedade. OGráfico 2 mostra como crianças e jovens partici-param da economia entre os anos 1950 e 1980.Tais dados ainda consideravam a população tra-balhadora infantil somente a partir dos 10 anosde idade.

A década de 80, é bom lembrar, foi marcadapor grande instabilidade econômica, fazendocom que o Brasil entrasse nos anos 90 com umdos piores desempenhos entre os países pobresdo Terceiro Mundo, no que diz respeito ao en-frentamento da pobreza e à distribuição de ren-da. E, embora tenha sido também a década damobilização social pela redemocratização do país,a luta contra o trabalho infantil e a inserção do

tema na agenda social nacional só se iniciariamna década seguinte.

Os anos 90 foram decisivos para o início domovimento contra o trabalho infantil, tanto paraa mobilização da sociedade civil como para a im-plementação de políticas públicas de assistênciasocial. Em 1992, o número de crianças e adoles-centes exercendo algum tipo de atividade eco-nômica era de 9,7 milhões. A estimativa do totalde crianças e adolescentes (10 a 17 anos) traba-lhando no Brasil em 1998 é de 7,7 milhões. Issoaponta uma tendência de redução que, no en-tanto, ainda é muito lenta.

Cabe notar que, dentre os que trabalham,aproximadamente a metade têm entre 16 e 17anos, estando portanto na faixa etária permitidapela legislação brasileira para o ingresso no mer-cado de trabalho. Para conhecer melhor o fenô-meno do trabalho precoce, é preciso pois desa-gregar os dados por faixa etária.

Os indicadores sobre a participação de crian-ças na força de trabalho mostram que essa parti-cipação cresce com a idade e é maior entre osmeninos do que entre as meninas (com a ressalvada invisibilidade e maior dificuldade de estimativa

Jovens Crianças

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

50,9%

47,8%

41,7%

19,8%

12,7% 14,4%

1950 1970 1980

do trabalho destas emcasa); decresce com oaumento do nível derenda das famílias ondeestão inseridas; e é maiselevada na área ruraldo que na urbana.

É preciso ressaltarque, ao longo da dé-cada de 90, os dadosmostram que houveuma redução no nú-mero de crianças tra-balhando. Isso prova-velmente se deve aofato de a sociedadeestar mais atenta e de-nunciar a exploraçãode crianças e adoles-centes. Também podeestar refletindo a vi-gência de algumas es-truturas de controle so-cial e a implementação,mesmo se pontual e

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Dos 5 aos 9 anos

Foi somente em 1993 que oBrasil assumiu oficialmente aexistência de criançastrabalhadoras com idades entre5 e 9 anos, em diferentes tiposde trabalho em diversos estadosbrasileiros. Esse reconhecimentotardio é grave, se levarmos emconta que o país já dispunha delegislação trabalhistaregulamentando o acesso aotrabalho segundo a idade e,também, do Estatuto daCriança e do Adolescente (ECA),promulgado em 1990.

Dados de 1995 mostravam que3,6% (581.300) das criançasentre 5 e 9 anos trabalhavamno país, com uma jornadamédia semanal de 16,2 horas.A maior parte (79,2%) dotrabalho nessa faixa etáriaocorria em ocupações típicas daagricultura (três quartos doschefes de família dessas

crianças ocupavam-se ematividades agrícolas),especialmente na pequenaprodução familiar, epredominantemente nosestados do Nordeste. Os dadosde 1999 já mostram que onúmero de crianças de 5 a 9anos trabalhando caiu para375.000.

Dos 10 aos 14 anos

O número e proporção decrianças trabalhadoras eleva-sesubstancialmente na faixa dos10 aos 14 anos. O contingentedos que trabalhavam em 1995representava 18,7% (3,3milhões) das crianças do grupo(ao todo, cerca de 17,6milhões) – e erammajoritariamente meninos(87,4%). Novamente, mais dametade (54,6%) moravam emáreas rurais. Em 1999, essecontingente havia baixado para2,5 milhões – 16,6% do total

Fontes: IBGE, PNADs 95 e 99; Cipola, 2001; Schwartzman, 2001.

Gráfico 3Gráfico 3Gráfico 3Gráfico 3Gráfico 3

Distribuição das crianças e adolescentes (10-14 anos) que trabalham segundo o sexo e grandes rDistribuição das crianças e adolescentes (10-14 anos) que trabalham segundo o sexo e grandes rDistribuição das crianças e adolescentes (10-14 anos) que trabalham segundo o sexo e grandes rDistribuição das crianças e adolescentes (10-14 anos) que trabalham segundo o sexo e grandes rDistribuição das crianças e adolescentes (10-14 anos) que trabalham segundo o sexo e grandes regiões, Brasil, 1999egiões, Brasil, 1999egiões, Brasil, 1999egiões, Brasil, 1999egiões, Brasil, 1999

Trabalho infanto-juvenil porgrupos de idade

de crianças e jovens entre 10 e14 anos –, indicando umaauspiciosa tendência à redução.

Com certeza, os meninos sãomais numerosa e precocementeempurrados para o trabalho doque as meninas, em todo opaís. No entanto, considerandoa arraigada visão que atribui àsmulheres e meninas oscuidados domésticos, é possívelque os dados subestimem otrabalho das meninas em casa.O trabalho infantil femininodoméstico é uma das formas detrabalho mais difundidas emenos pesquisadas, devido asua pouca visibilidade. Dadosda PNAD de 1998 mostram quequase 400 mil meninas na faixade 10 a 16 anos trabalhavamcomo empregadas domésticas.A regra geral é não teremcarteira assinada e aremuneração, em média, nãochega a um salário mínimo.

3 000000

2 500000

2 000000

1 500000

1 000000

500000

0

2 817889

1854 854

963035

BRASIL

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1200 000

1000 000

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0NORDESTE

total de crianças trabalhadorasmeninosmeninas

NORTE CENTROOESTE

SUDESTE SUL

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insuficiente, de políticas públicas de assistênciapara retirar crianças do trabalho – o que só re-força a necessidade de incentivar a manutençãoe ampliação eficiente e sustentável das políticaspúblicas de combate ao trabalho infantil.

Muitas dessas crianças estão exercendo tra-balhos considerados insalubres e perigosos2 –que, por sua natureza ou circunstância em quesão exercidos, comprometem sua saúde, seu de-senvolvimento físico, psicológico, ou moral. Ascondições particulares em que se realiza a explo-ração do trabalho de crianças e adolescentes noBrasil passa pelas “piores formas” apontadas naConvenção da OIT (cf. p.7-8). Algumas dessasformas são trágicas no país, como a prostituiçãoe a participação de crianças e adolescentes notráfico de drogas. No primeiro caso, o machismoimperante em amplos setores da sociedade fa-vorece o acobertamento e a tolerância dessa prá-tica infame em muitas regiões; no segundo, afalta de perspectiva, a escassez de recursos e adesesperança têm levado milhares de crianças ejovens ao circuito do crime organizado, vislum-brando possibilidades de ganhos “fáceis” e ime-diatos. Ao mesmo tempo, tornam-se autores evítimas de ações violentas, como se tem verifica-do em estatísticas sobre jovens infratores e sobremortes em chacinas. Em ambos os casos, as crian-ças são expostas a todos os riscos que a vida nes-sas condições coloca, sendo o pior deles a perdado senso de dignidade da existência humana.

A visibilidade do problema do trabalho infan-til, traduzido em números, contribui sobrema-neira para compreender a dimensão que este vemassumindo no Brasil. Embora em termos estatís-ticos os números possam parecer pouco signifi-cativos, no que diz respeito aos direitos das crian-ças e adolescentes (como também aos direitoshumanos), enquanto houver uma só criança queesteja trabalhando, devemos exercer não só odireto de nos indignar, como também nos posi-cionar contra essa exploração e reivindicar medi-das concretas para a erradicação dessa chaga,em qualquer parte do mundo.

NO CAMPOE NACIDADEConhecer a realida-de do trabalho in-fantil implica co-nhecer, também,as condições desu-manas em queocorre. As crian-ças trabalhadorasdesenvolvem ati-vidades penosas,perigosas, emambientes insa-lubres – no mais,

inadequadas também para adultos. Váriosdesses aspectos podem ser mais facilmente vislum-brados no campo, na cultura da cana de açúcar,nas carvoarias, no sisal e nas pedreiras, entre ou-tros. As informações sobre trabalho infantil porestado, apresentadas a seguir, foram colhidas porfiscais das Delegacias Regionais do Trabalho do res-pectivo ministério e publicadas no Mapa de indi-cativos do trabalho da criança e do adolescente(Brasil, 1999).

Milhares de crianças e jovens trabalham de sol asol nos canaviais e no engenho, principalmente emAlagoas, Bahia e São Paulo. Na safra, fazem o cor-te da cana, ajudam a transportar os feixes para oengenho. Num calor abrasador, trabalham no co-zimento do caldo da cana, revirando-o com umaescumadeira, retirando espuma e impurezas, atéque se atinja o ponto do melado. Na entressafra,pegam na enxada para ajudar os pais a limpar ocanavial. Esse tipo de trabalho os expõe a váriosriscos de acidentes – lesões por facão ou foice,queimaduras, picadas de cobras. Além disso, otransporte até o local de trabalho é feito em veí-culos inadequados. As jornadas são longas, os sa-lários baixíssimos e a situação é agravada pela fal-ta de alimentação, de água potável e de instala-ções sanitárias adequadas.

Sob o calor do sol e dos fornos que queimam le-nha para fazer carvão, centenas de crianças e jo-vens trabalham em carvoarias, principalmente nosestados da Bahia, Goiás e Minas Gerais. Seu tra-balho é encher os fornos com lenha, fechá-los combarro e, depois, retirar o carvão. Ainda ajudam nocorte das árvores para fornecer a lenha, no ensa-camento do carvão e no carregamento dos cami-nhões. Fumaça e calor fazem parte do ambientede trabalho. A jornada excessiva, o trabalho no-turno e exposição a variações bruscas de tempera-tura comprometem a saúde. Crianças e adultostrabalham sem proteção alguma e sem descanso

2 Em relação ao trabalho perigoso, o país que ratifica a Convenção 182 daOIT compromete-se a constituir uma comissão com representantes degoverno, empregadores e trabalhadores, para listar os trabalhos conside-rados perigosos. O Brasil foi o oitavo país a ratificá-la e a comissão tripar-tite aqui formada (com base em quadro sobre “Trabalho do menor”, cons-tante da antiga CLT), definiu 81 tipos de atividades como perigosas, rigo-rosamente proibidas para menores de 18 anos (Brasil, 2001).

LIXÃO DO JANGURUÇU. CE

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semanal. Em algumas localidades do Mato Gros-so do Sul, constatou-se a existência de trabalhosemi-escravo, ou seja, a empresa fornecia alimen-tos e descontava seu valor sem apresentar notas;na hora do acerto de salário, muitos trabalhado-res ainda ficavam devendo à empresa (Huzak &Azevedo, 2000, p.22). O grande paradoxo é pen-sar que o carvão, destinado a fornecer energia,seja produzido subtraindo energia de crianças ejovens.

No sertão da Bahia e da Paraíba, crianças e ado-lescentes trabalham nas plantações de sisal: cor-tam as pontudas folhas e as carregam para a “ba-tedeira”, máquina de desfibrar as folhas de sisal,transportando também a fibra processada para asecagem. Nesse trabalho, não raro sofrem mutila-ções pelo uso da máquina e ainda são expostos aoruído excessivo e à alta concentração de poeira. OBrasil é o principal fornecedor mundial dessa plan-ta, cujas fibras conseguem altos preços no merca-do internacional. A beleza dos produtos derivadosdo nosso sisal esconde histórias de privações decrianças e adolescentes envolvidos na produção dafibra.

Detectado em 12 estados brasileiros, dentre osquais Alagoas, Bahia e São Paulo, o trabalho decrianças e adolescentes em pedreiras lembra osantigos trabalhos forçados que prisioneiros eramobrigados a realizar. As crianças trabalham a céuaberto em meio a explosões de rochas, provoca-das com cartuchos de pólvora. Com marretas etalhadeiras quebram os blocos de pedras sob osol, num esforço físico excessivo para suas idades.Também trabalham no polimento e carregamentode pedras, inalando pó o tempo inteiro. A jornadaé excessiva, o trabalho é insalubre, ninguém usaóculos ou qualquer outro meio de proteção.

Nos centros urbanos, o trabalho infantil é visívelnas ruas e, especialmente, nos depósitos de lixoou “lixões”. Em ambiente altamente insalubre, crian-ças e adolescentes recolhem garrafas, latas, plás-tico e papel para reciclagem ou reaproveitamentoe posterior comercialização. Nos lixões, convivemcom materiais contaminados e gases de fermen-tação dos dejetos; latas, garrafas e peças de metalcortam e ferem, tanto adultos como crianças. Ali-mentam-se em meio a enxames de moscas. Alémdo que recolhem para venda, costumam selecio-nar alimentos e objetos reaproveitáveis para usopróprio. Com o que vendem, crianças conseguemobter a quantia de no máximo R$ 2,00 por dia(Huzak & Azevedo, 2000, p.81). É comum traba-lhar a família inteira, numa jornada ininterrupta,sem descanso semanal ou qualquer vínculo em-pregatício.

Pequenos trabalhadores nas cidades vêem-se portoda parte, nas ruas. São vendedores de picolé,fruta, cigarro, biscoito, doces e balas; são guarda-

dores de carro, “flanelinhas”, jornaleiros ou en-graxates, dentre tantas atividades. Vendendo pro-dutos diversos entre veículos em congestionamen-tos, pontos de ônibus, em frente a centros comer-ciais ou estádios de futebol, eles fazem parte dapaisagem urbana, sendo por muitas vezes vistoscomo estorvo ou mesmo como futuros marginais.A rua é um local de trabalho cruel e perigoso: asrelações que estabelecem com outros atores so-ciais (adultos agenciadores, policiais, traficantes eadultos de rua) em muitos casos põem em riscosua vida. Além disso, esses meninos e meninas fa-zem longos percursos a pé, alimentam-se de ma-neira e em horários inadequados e, por vezes, tra-balham em locais e horários impróprios para a ida-de, como bares ou boates, à noite.

Nas cidades, além dos lixões e do trabalho nas ruas,outra forma de inserção, menos visível, é o em-prego doméstico e em pequenos empreendimen-tos (lojas, fábricas e escritórios familiares ou depequeno porte). Para os empregadores, o traba-lho infantil apresenta-se como recurso barato esem necessidade de regularização. Embora talvezcause menor impacto, esse trabalho não perde suascaracterísticas e condições de exploração, exposi-ção a riscos e prejuízo ao desenvolvimento dascrianças e jovens.

O trabalho doméstico, realizado geralmente pormeninas em residências, constitui freqüentemen-te uma forma de exploração oculta, como men-cionado. Na maioria das vezes, as condições devida e trabalho são inadequadas, muitas meninasdormem no emprego – condição que favorece umajornada de trabalho extremamente alongada – emuitas chegam a sofrer humilhações e abusos se-xuais.

A mesma pesquisa do DIEESE (1997) em seis gran-des centros urbanos brasileiros, já mencionada,constatou que 70% das crianças trabalhadoras têmmenos de 14 anos, sendo que um terço delas co-meçou a trabalhar antes dos 10 anos. Grande par-te delas trabalha cinco, seis e até sete dias da se-mana, em tempo integral; muitas cumprem parteda jornada de trabalho à noite. O trabalho que ascrianças fazem é exatamente o mesmo que é feitopor adultos, inclusive com as mesmas condiçõesprecárias, isto é, em locais perigosos e insalubres.

Um quadro sintetizando as principais ocupaçõesde crianças no Brasil é apresentado anexo (últimapágina). O quadro aqui esboçado mostra que asociedade brasileira, nos tempos atuais, vem im-primindo grandes doses de sofrimento a milhõesde crianças e adolescentes, que continuam sendoagenciados para os mais diversos tipos de traba-lho, realizados em condições que em nada se re-vertem em seu próprio benefício. E, também nopassado, isso ocorria.

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PATRÃO (OU CAPATAZ) POSA PARA FOTO AO LADO DE SEUS OPERÁRIOS - FÁBRICA BANGU. RIO DE JANEIRO - RJ (1907)

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O trabalho decrianças nopassado brasileiroA escravidão vigorou no Brasil pormais de três séculos, tempo em quese permaneceu investindo naformação e na constante reafirmaçãoda mentalidade escravista, sobretudoatravés do trabalho, adulto e infantil.Nos últimos pouco mais de cem anosrepublicanos e de “trabalho livre”,têm sido muito tênues as iniciativasconcretas no sentido de combatere/ou coibir a exploração desenfreadado trabalho infanto-juvenil. É precisopois indagar em que medida essaprática estaria expressando resquíciosda mentalidade escravista. Qualqueriniciativa que vise a superação dosefeitos do trabalho escravo aindapresentes em nossa sociedade deveránecessariamente deitar o olhar sobreo passado escravista.É lá que estão algumas das raízeshistóricas que explicam a aceitaçãocom grande naturalidade daexploração da força de trabalhode crianças e jovens. Afinal, esse foium aprendizado que se deu nocotidiano das relações entre senhorese negros, escravizados e libertos.

25ICONOGRAPHIA

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A criança escrava

Estudos mostram que, nos engenhos, os fi-lhos de escravos, tal qual seus pais, passavam pelomesmo tormento de ter de trabalhar no eito,cortar a cana de açúcar, arrastá-la e picá-la empedaços, colocando-a para moer, espremer e fer-ver. Podemos supor então que seus pequenoscorpos também experimentaram o desconfortodas altas temperaturas emanadas das caldeirasdas casas de purgar, local onde se fabricava oaçúcar. Também nas demais atividades em quese empregava mão-de-obra escrava, a criançatrabalhou desde cedo em tarefas que exigiamesforços muito superiores às suas possibilidadesfísicas. Acompanhando seus pais, fazia desde ser-viços domésticos, como servir, lavar, passar, co-zer roupas e consertar sapatos, até trabalhos emmadeira. No campo, pastoreava gado e realizavatarefas na roça.

Para a lógica dos proprietários de escravos, otrabalho infantil significava projetar o aumento

do preço do escravo adulto, uma vez que o mer-cado escravista valorizava mais aqueles que ti-nham certas habilidades ou que haviam se espe-cializado em alguma ocupação. Era dessa formaque proprietários exploravam a força de traba-lho de crianças e adolescentes escravos.

No mundo do trabalho escravo, aprender atrabalhar significava, sobretudo, aprender a ser-vir e a obedecer ao senhor. Isso implicava, para acriança negra, ser iniciada num longo e sofridoaprendizado, em que deveria incorporar a ma-neira de ser... escrava. Esse aprendizado come-çava muito cedo e estava concluído por volta dos12 anos de idade. Aos 14 anos as crianças já tra-balhavam como adultos.

Na sociedade escravista, ao voltar o olhar, ain-da que brevemente, à vida das crianças da elite,o que vislumbramos são as imensas diferenças,comparativamente à vida das crianças escravas,sendo a principal diferença óbvia: as crianças daelite branca não trabalhavam. Durante quatroséculos ocorreu a lenta e constante construçãode uma mentalidade pautada na relação de man-do e obediência; a desigualdade social entre ascrianças escravas e as da elite expressa a própriaestrutura econômica da época. Às crianças bran-ca da elite estava reservado um tipo de vida queas preparava para as funções que viriam a assu-mir na sociedade: as meninas seriam as futurassinhás – aprendiam a costurar e bordar, a tocarpiano; e os sinhozinhos, que assumiriam as ve-zes de senhores-de-engenho, eram educados porprofessores (muitos estrangeiros), que lhes ensi-navam conhecimentos gerais e idiomas. A situa-ção de mando se afirma por meio das múltiplasrelações que os indivíduos estabelecem entre si.Para as crianças da elite, as brincadeiras erammomentos privilegiados para exercitar e afirmarsua condição de superioridade na hierarquia so-cial. Uma brincadeira típica era aquela em que omenino escravo, com joelhos e mãos apoiadosno chão, servia de mula para o sinhozinho mon-tar e trotar. Arqueado, curvado ao chão e sendomontado pelo sinhozinho, ao menino escravo seincutia, mesmo nessa “brincadeira”, sua condi-ção de inferioridade na hierarquia social do mun-do escravista.

Tal mentalidade, enraizada em nossa socieda-de por quase quatro séculos, pode estar na raizda aceitação como “natural” do trabalho de crian-ças e adolescentes pobres.

ESCRAVOS BRASILEIROS DO SÉCULO XIX NA FOTOGRAFIA DE CHRISTIANO JR.

LIVRO DE PAULO CESAR DE AZEVEDO E MAURICIO LISSOVSKY

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Na fábrica, na passagemdo século XIX ao XX

No início do século XX, o que se buscava como trabalho fabril era a disciplinarização do traba-lhador, isto é, a incorporação de seus movimen-tos ao ritmo sincronizado das máquinas. Essa dis-ciplina dos gestos e dos movimentos era ensinadadesde cedo, empregando-se crianças de 10 anosde idade, ou menos. A história das crianças ope-rárias acha-se assim inserida no processo de in-dustrialização como um capítulo pontuado de re-latos de acidentes de trabalho, que registram des-de queimaduras, passando por perdas parciais demãos e/ou braços, chegando mesmo à morte.

Alguns dados sobre o trabalho infantil, no fi-nal do século XIX e início do XX em São Paulo,ajudam a dimensionar o que pode ter significa-do o início do processo de industrialização paraos pequenos operários. Em 1890, do total de em-pregados em estabelecimentos industriais, 15%era formado por crianças e adolescentes. Nessemesmo ano o Departamento de Estatística e Ar-quivo do Estado de São Paulo registrava que ¼da mão de obra empregada no setor têxtil dacapital paulista era formada por crianças e ado-lescentes. Vinte anos depois, esse equivalente jáera de 30%, segundo dados do DepartamentoEstadual do Trabalho. Já em 1919, segundo omesmo órgão, 37% do total de trabalhadores dosetor têxtil eram crianças e jovens; e, na capitalpaulista, esses índices chegavam a 40%. Crian-ças operárias trabalha-vam em vários setoresda atividade fabril;além da têxtil, estavamtambém presentes nasindústrias alimentíciase de produtos quími-cos, por exemplo.

Esses dados expres-sam, principalmente, asituação de pobreza vi-vida pela família operá-ria. Da perspectiva dosindustriais, o empregoe a baixa remuneraçãode mão-de-obra infan-to-juvenil significavaaumentar seus lucros,

pois pressionava para baixo o salário do trabalha-dor adulto.

Um recurso utilizado no meio industrial, su-postamente para minimizar a inadequação dotrabalho infanto-juvenil, foi a prática de fazeradaptar parte do maquinário aos pequenos cor-pos trabalhadores. A Fábrica de Tecidos Mariân-gela, instalada em São Paulo, adquiriu máquinasem tamanho reduzido para as crianças que em-pregava. Esse tipo de medida, porém, não alte-rava o fato de as crianças operárias serem sub-metidas a condições de trabalho inadequadas àidade e serem vítimas de acidentes. Em 1904,por exemplo, a menina Antonia de Lima perdeuparte de seu braço direito numa máquina de cor-tar fumo da fábrica Arthur Pereira, em São Paulo(Moura, 1999).

Aos “acidentes de trabalho” acresciam-se, ain-da, os ferimentos resultantes de maus-tratos aque os pequenos trabalhadores estavam sujeitospela ação de patrões e/ou chefias hierárquicas.Sob o argumento de manter “na linha” e de “pre-venir o (mau) comportamento”, as crianças eadolescentes operários eram submetidos a casti-gos e humilhações, chegando a casos extremosde serem surradas e espancadas. Isso foi o queaconteceu com o garoto Vitto Lindolpho que,também em 1904, foi “brutalmente espancadopelo patrão”, quando este deu falta de 50 milréis da gaveta da sapataria (Moura, 1999). Eracomum também os pequenos trabalhadores se-rem castigados em decorrência de avaliaçõesnegativas de seu desempenho profissional.

OFICINA DE LATOEIRO. RIO DE JANEIRO - RJ (1908)

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COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

Inadequação do trabalho à idade, disciplina-rização e castigos atingiam não só meninos, comomeninas também. No entanto, a inserção demeninas crianças e adolescentes se daria sob adupla discriminação de sexo e de idade, que com-primia ainda mais sua remuneração. Além disso,as crianças do sexo feminino também sofriamcom práticas de abuso sexual, então encobertaspela relação de mando de seus superiores hierár-quicos – que, embora em menor proporção, nãopoupavam nem os meninos.

O mundo do trabalho, com sua disciplina fér-rea e suas relações de poder – em que patrões echefes hierárquicos transformavam sua condiçãosocial e funcional em instrumentos de mando,imprimindo maus-tratos à mão-de-obra infantil– não foi porém suficiente para subverter a in-fância e adolescência a ponto de excluir o lúdicodas vidas de crianças e adolescentes. Relatos debrincadeiras no interior das fábricas e oficinas –inadequadas ao ambiente de trabalho, mas pró-prias à idade – atestam que os pequenos traba-lhadores não só transformavam em brinquedoobjetos de trabalho (como pedaços de ferro emarmas, por exemplo), mas em certos casos, resis-tiam a obedecer regras, fazendo prevalecer suaidade sobre a situação de trabalhadores, por meiode malcriação, desobediência e constantes brin-cadeiras. Além de resistência à rigidez de com-portamento exigido pelo mundo do trabalho, asbrincadeiras sugerem que os pequenos trabalha-dores também buscavam uma forma de quebrara monotonia da rotina. Elas “aliviavam a tensãoque permeava a situação de trabalho, resgatan-do minimamente o direito à infância e à adoles-cência, tão negado a esses trabalhadores” (Mou-ra, 1999, p.270).

Nas fábricas, os trabalhadores se amontoa-vam em ambientes insalubres, mal iluminados eventilados, com excesso de ruído. Nessas condi-ções precárias permaneciam em excessivas jor-nadas, que variavam de 12 a 14 horas diárias,realizando esforço contínuo e intenso. A precari-zação e o comprometimento da saúde constan-temente geravam doenças, entre as quais a tãotemida tuberculose.

Em relação aos trabalhadores infanto-juvenis,desde 1910 havia leis regulamentando a jornadade trabalho de acordo com a idade, mas não eramobservadas. Em 1917, a Lei Estadual 1596 (SP)definia o limite de até cinco horas diárias para

crianças entre 12 e 15 anos. O Decreto Estadualn.233, de 1894, estabelecera a jornada de 12horas diárias para o conjunto do operariado, proi-bindo jornadas noturnas após as 21h para meni-nos menores de 15 anos e, para o sexo feminino,até os 21 anos. Apesar da legislação, porém, dadaa inoperância ou inexistência de fiscalização go-vernamental, o empresariado determinava suaprópria jornada – um exemplo é o do CotonifícioCrespi (em São Paulo), cujos 60 “menores” em-pregados trabalhavam durante 11 horas segui-das, com um pequeno intervalo de 20 minutos àmeia-noite; sua jornada tinha início às 7 horasda noite e se estendia até às 6 da manhã do diaseguinte. Longe de ser um caso isolado, essa erauma prática comum nos estabelecimentos indus-triais do início do século XX.

Mas não só na indústria havia exploração dotrabalho infantil. De modo geral as cidades, ape-sar dos baixos salários, ofereciam mais oportuni-dades de trabalho, inclusive informais, como osde vendedor ambulante, engraxate e jornaleiro.Desse modo, a cidade representava um atrativopara a família inteira migrante do campo, poisacenava com a possibilidade de emprego paraos adultos e seus filhos. Entre os operários, deuma maneira geral, o salário infantil era entendi-do como forma de complementar o orçamentofamiliar. No entanto, e ao contrário dessa expecta-tiva, o agenciamento de mão-de-obra de crian-ças e adolescentes pressionava para baixo os sa-lários dos trabalhadores adultos.

Portanto, os empresários se beneficiavam du-plamente da precária situação de vida e de tra-balho do operariado em geral. Souberam tirarproveito da grande quantidade de crianças queperambulavam pela cidade. Com um discurso queera um misto de filantropia e paternalismo, enal-teciam o trabalho como uma suposta solução oualternativa para a convivência nas ruas com seusriscos, seduções e vícios de toda ordem. Na insu-ficiência deste, recorriam a outro argumento, odo aprendizado. Na ausência ou omissão de polí-ticas públicas em matéria de educação profissio-nalizante, empresários alegavam propiciar oaprendizado de habilidades para o exercício deprofissão ou função. Nesse caso, a tendência daprática empresarial era a de não remunerar amão-de-obra aprendiz, que acabou sendo a ca-tegoria mais explorada nas primeiras décadasrepublicanas.

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o sistema fabril, é que esteúltimo herdou as piores feiçõesdo sistema doméstico, numasituação em que não existiamas compensações do lar,utilizando o trabalho decrianças pobres, explorando-ascom brutalidade tenaz.

Isso pode ser evidenciado nosRelatórios dos Comissários deTrabalho Infantil, resultantes deinvestigações determinadaspelo Parlamento Britânico em1833:

O presente inquérito reuniu(...) uma grande quantidadede provas sobre os diversosaspectos das condições dasfábricas, que exercemimportante influência nasaúde dos trabalhadores,adultos e crianças. Nasfábricas (...) [o ambiente] ésujo; mal ventilado; maldrenado; sem banheiros ouvestiários; sem exaustorespara a poeira; [há]maquinária solta (...).Disso resulta:

Que as crianças empregadasem todos os ramos demanufatura do Reinotrabalham o mesmo númerode horas que os adultos;

Que os efeitos de trabalhotão prolongado são: adeterioração permanente daconstituição física; aaquisição de doençasincuráveis; a exclusão (porexcesso de fadiga) dos meiosde obtenção da educaçãoadequada;

Que, na idade em que ascrianças sofrem prejuízos

Atualmente, na maior parte dospaíses desenvolvidos da Europaas crianças e adolescentes sãoem geral respeitadas em seusdireitos: estudam, brincam e sepreparam de forma adequadapara a vida adulta. Mas nemsempre foi assim. Embora otrabalho infantil seja constantena história da humanidade,ganhou evidência a partir daRevolução Industrial, nosséculos XVIII e XIX.

Segundo o historiadorThompson (1987, p.202-24) naInglaterra, por exemplo, houveuma intensificação drástica daexploração do trabalho decrianças entre 1780 e 1840,período em que astransformações na produçãoestavam em curso, com aintrodução do sistema defábrica. Crianças trabalhavamnas minas de carvão e nasfábricas, “(...) quase todasdoentias, franzinas, frágeis,além de andarem descalças emal vestidas. Muitas nãoaparentavam ter mais de 7anos”, escreveu um médico,sobre as que trabalhavam emuma fábrica em Manchester.

As jornadas eram longas, tantoquanto as dos adultos, variandode 12 a 15 horas diárias. Ossalários eram muito baixos,apenas um complemento para apequena renda familiar; e asfábricas, sujas, escuras, malventiladas.

Embora o trabalho infantil nãofosse novidade já nessa época,segundo Thompson (1987) adiferença entre o que era antesrealizado, no âmbito familiar, e

com o trabalho, elas aindanão são emancipadas, sendoalugadas e seus saláriosrecebidos pelos pais ouresponsáveis (Documentosparlamentares ingleses, apudSão Paulo, 1978).

O fato é que, a despeito daopinião dos ricos, queconsideravam as criançastrabalhadoras nas fábricas“ativas”, “laboriosas” e “úteis”(sendo afastadas dos parques epomares), os anos de 1830 a1840 foram de intensa agitaçãooperária pela melhoria dascondições de trabalho eredução da jornada, tanto dosadultos quanto das crianças.Comitês pela Redução daJornada foram criados,“encorajando a dignidade (...) eexplicando o valor da educaçãopara os não-instruídos”. Omovimento de apoio às criançasoperárias cresceu e ganhouadeptos em outros setores dasociedade. Thompson,na condição dehistoriador ecidadão inglês,conclui sua análisedizendo que “aexploração dascrianças, naescala e naintensidadecom que foipraticada,representouum dosacontecimentosmais vergonhososda nossa história”.

Trabalho infantil na Inglaterra,séculos XVIII e XIX

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MENINA EXTRAI RESINA DE PINHEIRO. ITAPETININGA - SP

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Direitos dacriança e doadolescenteOs direitos da criança e doadolescente no Brasil são asseguradosna Constituição Brasileira eespecificados no ECA - Estatuto daCriança e do Adolescente. Fruto deum processo democrático, demobilização e organização popularpoucas vezes visto na história dasociedade brasileira, o ECA representao esforço de diversos setores sociaiscomprometidos com a causa dainfância e juventude. Durante aelaboração da Constituição de 1988,diversos grupos de pressão emovimentos sociais organizadosdenunciaram a situação desumana eviolenta a que estavam submetidasgrandes parcelas da população decrianças eadolescentes pobres do país econseguiram aprovar dois artigosconstitucionais sobre os direitos dainfância e juventude, que vieram aservir de base para a elaboração doECA em 1990.

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Nesse sentido, falar do ECA implica falar dosmovimentos sociais que, de alguma maneira, re-sistiram à ditadura militar e, no início da décadade 80, cresceram e se articularam politicamente,nas áreas de educação, saúde, habitação, infân-cia e juventude, entre outras. A principal bandei-ra desses movimentos era a democratização dasociedade brasileira e a melhoria das condiçõesde vida da população. Sua expressão maior veioa ser o novo texto constitucional (que substituiuo que estava em vigor desde 1969, consideradoautoritário e centralista). Nesse contexto, os mo-vimentos especificamente voltados para a infân-cia e juventude promoveram intenso debate quelevou, em março de 1988, à formação do FórumNacional Permanente de Entidades Não-Gover-namentais de Defesa dos Direitos da Criança edo Adolescente (Fórum DCA). O esforço reunidodesses setores comprometidos com a defesa dainfância e juventude culminou na importanteemenda popular “Criança prioridade nacional”,incorporada nos artigos 227 e 228 da Constitui-ção Federal – que, por sua vez, foram fundamen-tais para a elaboração de uma lei específica re-gulando os assuntos da infância e juventude, oECA, promulgado em 1990.

Um olhar retrospectivo permite visualizar queas lutas e negociações travadas no Brasil pela con-quista dos direitos da criança e do adolescenteestão inseridas no contexto das lutas internacio-nais – o que não quer dizer que o que ocorria noBrasil fosse apenas reflexo do que estava sendodiscutido no mundo. Já em 1924, a Declaraçãode Genebra determinava “a necessidade de pro-porcionar à criança uma proteção especial”. Damesma forma, a Declaração Universal dos Direi-tos Humanos, das Nações Unidas (ONU, [2000])afirmava o direito da criança a cuidados e assis-tência especiais. Estes foram finalmente consoli-dados na Declaração dos Direitos da Criança,adotada pela Assembléia Geral das Nações Uni-das em 1959 (ONU, 1959 – ver cartaz 1).

O ECA - ESTATUTO DACRIANÇA E DOADOLESCENTEO ECA pretende assegurar, a toda criança e ado-lescente, o direito básico de viver – desenvolver-sesaudavelmente, educar-se e receber proteção. Con-trariando a tradição brasileira de estabelecer o or-denamento jurídico a partir “de cima” (quase sem-pre atendendo aos interesses dos segmentos do-minantes da sociedade), o ECA resultou desse pro-cesso de mobilização dos setores sociais compro-metidos com a mudança, tanto na maneira de“ver” a criança e o adolescente quanto no atendi-mento a lhes ser dedicado. Assim, sua redaçãoevitou o termo “menor”, o que representou umamudança radical em relação à legislação anteriorsobre o assunto, o Código de Menores. O termo“menor”, de larga utilização no senso comum, naimprensa e mesmo na pesquisa científica, inicial-mente associado à idade, passou a assumir cono-tação estigmatizante, designando principalmentecrianças pobres, abandonadas, ou que incorriamem delitos, generalizando-se daí por diante parareferir-se a crianças e adolescentes oriundos dascamadas populares e em situação de miséria. Subs-tituir o termo “menor” por criança e adolescenteé, portanto, uma atitude política e filosófica deresistência e não-discriminação.

Nesse sentido, o ECA representa uma mudançade paradigma na área da infância e da juventude,na medida em que incorpora uma nova concep-ção de criança e adolescente – como sujeitos dedireitos – na perspectiva da proteção integral, emcontraposição à concepção anterior, em que eramdefinidos por suas carências. Pensar a infância e aadolescência nessa perspectiva significa reconhe-cer que, nessa fase da vida, crianças e adolescen-tes necessitam de atendimento e cuidados espe-ciais para se desenvolver plenamente; e essas ne-cessidades constituem direitos do conjunto dessesegmento social, sem discriminação de qualquertipo.

O principal aspecto do ECA é especificar os direi-tos da criança e do adolescente no que diz respei-to à vida e saúde, à liberdade, respeito e dignida-de, à educação, cultura, esporte e lazer, e à profis-sionalização e proteção no trabalho. Além disso,explicita claramente a condenação legal contratoda e qualquer forma de ameaça ou violação dosdireitos, sob forma de violência, exploração, dis-criminação ou negligência, responsabilizando opoder público pela implementação de políticassociais “que permitam o nascimento e o desenvol-vimento sadio e harmonioso, em condições dig-nas de existência” (Art. 7o). O Estatuto tambémassegura às crianças e adolescentes o direito à con-

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vivência comunitária e familiar, à livre expressãode opiniões e crenças; o direito de brincar, de pra-ticar esportes e de se divertir. Cabe aos adultospreservar-lhes a integridade física, moral e psíqui-ca, pondo-os a salvo de qualquer tratamento de-sumano, violento ou constrangedor.

Dois direitos assegurados pelo ECA, em especial,interessam-nos aqui: o direito à educação e a pro-teção no trabalho. Entre os maiores ganhos doEstatuto está o reconhecimento do princípio dacentralidade da educação. O direito à educaçãocomo direito do cidadão criança e adolescente ecomo dever do Estado e da sociedade tem sidoum instrumento poderoso na exigência do direitode acesso à escola pública e gratuita, próxima daresidência, em igualdade de condições de acessoe permanência, assegurando-se também o direitoa programas suplementares de material didático-escolar, transporte escolar, alimentação e assistên-cia à saúde. Cabe ao Estado oferecer ensino fun-damental, obrigatório e gratuito, buscar a pro-gressiva extensão da obrigatoriedade e gratuida-de para o ensino médio, além de assegurar a ofer-ta de creche e pré-escola para as crianças de até6 anos. O Estatuto determina ainda que deve seroferecido ao adolescente trabalhador ensino no-turno regular e atendimento especializado paraos portadores de necessidades especiais, estabe-lecendo a obrigação dos pais de matricular seusfilhos na escola e definindo como direito dos res-ponsáveis participar da definição das propostaseducacionais. Na perspectiva aqui adotada, essedireito é tão importante que é tratado em tópicoà parte, adiante.

No que se refere ao trabalho, o capítulo V doECA é inteiramente dedicado ao tema. Embora oEstatuto tenha definido a idade mínima de 14anos para a admissão ao trabalho, legislaçãoposterior (Brasil, 2000a), como já mencionado,determinou a idade mínima de 16 anos; o traba-lho da criança de 0 a 14 anos permanece termi-nantemente proibido; e ao adolescente entre os14 e 16 anos é facultado o trabalho na condiçãode aprendiz.

Ao ingressar em um emprego, o adolescente mai-or de 16 anos tem todos os direitos asseguradosao trabalhador na CLT (carteira de trabalho assi-nada, salário, repouso semanal remunerado, fé-rias, recolhimento do Fundo de Garantia por Tem-po de Serviço, direitos previdenciários etc.).

É possível o adolescente com mais de 14 anos tra-balhar como aprendiz, sendo a aprendizagem rea-lizada pelos Serviços Nacionais de Aprendizageminstalados em todo o país, por organizações cre-denciadas de ensino profissionalizante ou na pró-pria empresa, desde que supervisionada pelos ór-gãos públicos responsáveis das Secretarias de Edu-

cação e Delegacias do Trabalho e que sejam ob-servadas as regras de proteção ao trabalho previs-tas na CLT. O Estatuto determina, porém, em seuartigo 68 sobre o trabalho educativo, que as exi-gências pedagógicas relativas ao desenvolvimen-to pessoal e social do educando prevaleçam sobreo aspecto produtivo.

A única possibilidade de trabalho para o adoles-cente sem vínculo de emprego é a condição deestagiário. Mas essa forma de aprendizagem pro-fissional é regida por legislação específica, queestabelece entre outras coisas que haja compati-bilidade entre a atividade do estágio (“parte prá-tica”) e o horário escolar (“parte teórica”), nãodevendo a jornada de estágio ultrapassar seishoras diárias, objetivando priorizar a freqüênciaà escola diurna.

Para fazer valer os direitos que arrola, o ECA tam-bém determina a criação de um sistema de garan-tia de direitos e de proteção integral, o que signi-fica dizer que não apenas descreve os direitos, mascria mecanismos para que os mesmos possam serassegurados na prática. A proteção integral obri-ga a que todas as políticas sociais se articulem paraviabilizar o atendimento às necessidades da crian-ça e do adolescente. A exigibilidade torna legítimaa defesa comunitária desse atendimento por meiodos Conselhos de Direitos (nacional, estaduais emunicipais) e dos Conselhos Tutelares. Cabe aosConselhos de Direitos formular e definir políticaspúblicas para a infância e juventude, financiadascom recursos da União, dos estados e municípios.Em cada município deve haver um Conselho Mu-nicipal e um Fundo da Criança e do Adolescente.Apesar de serem instrumentos democráticos, épreciso fiscalizar as políticas formuladas pelos con-selhos, bem como o destino dos recursos do Fun-do. Os Conselhos Tutelares são órgãos autônomose permanentes, encarregados de garantir o res-peito aos direitos de todos as crianças e adoles-centes. É composto por cinco membros eleitos pelaprópria comunidade que têm como atribuições,dentre outras, atender crianças e adolescentescujos direitos foram ameaçados ou violados, apli-cando as devidas medidas de proteção; atender eaconselhar pais e responsáveis; requisitar serviçospúblicos nas áreas de saúde, educação, serviço so-cial, previdência, trabalho e segurança. Vale lem-brar que somente a autoridade judiciária tem po-der para rever as decisões do Conselho Tutelar (maisde uma década depois da promulgação do ECA,porém, o papel dos conselheiros de direitos e tu-telares ainda é pouco entendido por diversos se-tores da sociedade).

O Estatuto institui pois direitos dos quais não po-demos abrir mão – e tampouco podemos deixarde lutar para sua efetiva implementação.

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3 Desde a década de 80 movimentos de educadores pleiteavam o resgateda importância da escola pública de qualidade e acessível a todos, emconfronto com visões então predominantes, que viam a escola basica-mente como instrumento de perpetuação das elites. As CBE –Conferên-cias Brasileiras de Educação – surgiram da aproximação entre associa-ções de professores das redes públicas de ensino e entidades ligadas àpesquisa e ao ensino universitário, tendo representado importante es-paço para a ampliação dos debates que vinham ocorrendo na área edu-cacional. Realizadas entre 1980 e 1988, “tiveram papel de destaque,pois foi a partir delas que se consolidou uma posição em defesa doensino público e da melhoria da qualidade do ensino (...) visando ademocratização da educação” (Setubal et al., 2001, p.22).

Direito à educação,direito à infância

Em todos os países que lutam pela elimina-ção do trabalho infantil, é consenso que a po-breza é a principal causa do ingresso precoce dascrianças no mundo do trabalho. As famílias, pre-midas pela miséria, muitas vezes não encontramalternativas a não ser buscar a complementaçãode renda por meio do trabalho dos filhos. Por-tanto, o combate a essa forma de exploração nãopode ser dissociado de outras políticas que te-nham como objetivo intervir na diminuição dapobreza. E uma das maneiras de incidir sobre apobreza é propiciar mais e melhor educação àscamadas pobres. Estudos recentes demonstramque o baixo índice de escolaridade da populaçãogera e realimenta as desigualdades sociais e aconcentração de renda. Investir na educação bá-sica é uma estratégia para reduzir as desigualda-des e melhorar a qualidade de vida da popula-ção (Barros et al., 1990).

No Brasil, a luta pela prevenção e eliminaçãodo trabalho infantil está centrada na garantia dodireito à educação básica, associada a outrasações, como complementação da renda familiare implantação e desenvolvimento de programassocioeducativos no período complementar à es-cola.

Organismos internacionais e nacionais, pes-quisadores e educadores não se cansam de res-saltar a importância da educação na formaçãode cidadãos. Educados, estes estariam melhor ca-pacitados a enfrentar as exigências de uma so-ciedade cada vez mais complexa: uma sociedadeque exige das pessoas assumir uma postura queimplica discernir, escolher e se posicionar frenteàs mais diversas informações e situações da rea-

lidade. Certamente um requisito básico para essemodo de estar no mundo é a existência de parâ-metros éticos que sirvam de balizamento à mul-tiplicidade de escolhas que se colocam no dia-a-dia dos indivíduos. A questão que então se colo-ca é: qual educação poderia dar conta dessesdesafios?

Entre os organismos internacionais, a UNES-CO, por meio do Relatório da Comissão Interna-cional sobre Educação para o Século XXI, coor-denado por Jacques Delors (1998) aponta a ne-cessidade de a educação estar apoiada numaconcepção de aprendizagem que contemple oaprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser. Aperspectiva é a de que os cidadãos acessem eapreendam os conhecimentos construídos e a-cumulados socialmente, que compreendam eatuem criticamente na realidade social não sómais próxima, como também na mais ampla, nosentido de sua modificação, preservação ou am-pliação das conquistas sociais. Trata-se, portan-to, de incorporar os conhecimentos à própria prá-tica, ao próprio fazer-se no dia-a-dia. Para isso, énecessário desenvolver competências pessoaisque envolvem flexibilidade, criatividade e pre-disposição para um contínuo processo de apren-dizagem.

Também internacionalmente foi firmada, em1990, a Declaração Mundial sobre Educação paraTodos (conhecida como EFA, sigla em inglês deeducação para todos, Education For All) no âm-bito de conferência organizada por agências daONU (UNICEF, 1990). Esse documento, do qualo Brasil é signatário, determina que toda pessoadeve poder se beneficiar de uma formação quecompreenda tanto os instrumentos de aprendi-zagem essenciais (leitura, escrita, expressão oral,cálculo, resolução de problemas) quanto de con-ceitos, atitudes e valores indispensáveis à convi-vência social saudável. No Brasil, em consonân-cia com a EFA e como resultado de movimentosde educadores que a antecederam3 , foi elabora-

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do o Plano Nacional de Educação para Todos,um conjunto de diretrizes que orienta a imple-mentação das políticas educacionais no país.

Uma das metas do Plano, já alcançada em pra-ticamente todas as regiões do país, é a universa-lização do acesso à escola fundamental – o queinclui o acesso das crianças e adolescentes detodas as camadas sociais, impedindo que a apro-priação do conhecimento por uma parte da so-ciedade seja utilizada como instrumento de ex-clusão social de milhares de crianças e jovens.

Mas uma educação que contribua para a in-clusão social deve contemplar tanto a democra-tização do acesso às instituições educacionaisquanto a permanência na escola, com aprendi-zagem efetiva. E isso ainda não foi alcançado,como atestam os elevados índices de repetênciae evasão escolar. Para as crianças trabalhadoras,como se viu, esses índices são ainda mais eleva-dos, o que reforça a necessidade de combater otrabalho infantil, que dificulta o acesso à escola,cada vez mais fundamental para o exercício dacidadania.

É importante, entretanto, considerar que o di-reito à educação não se reduz à freqüência à es-cola formal. Embora esta constitua espaço privi-legiado para o desenvolvimento do processo edu-cativo, a sociedade e o Estado podem e devemassumir suas responsabilidades no sentido de criar

outros espaços de educação e socialização paracrianças e jovens, que não apenas o escolar. De-senvolver plenamente o potencial presente emcada criança não é tarefa somente da escola, masda família e da sociedade como um todo. Os pro-gramas socioeducativos que se desenvolvem nohorário oposto ao da escola têm a função de criaroportunidades para que crianças de famílias debaixa renda pratiquem esportes, desenvolvamatividades artísticas e culturais, desenvolvam com-petências sociais, brinquem e tenham seuestudo acompanhado. A intenção não é a desubstituir ou repetir o que a criança faz na esco-la, mas complementar e enriquecer a educaçãoque ela recebe de seus professores e familiares.Vale lembrar que as crianças de outros estratossociais se aprimoram em aulas particulares, fre-qüência a clubes, bibliotecas, museus, teatros etc.Complementar a educação daquelas crianças écontribuir para a maior eqüidade nas oportuni-dades educacionais. Assim, parte dos esforçospara combater o trabalho infantil devem ser des-tinados a fortalecer essas ações complementaresà escola. Nessa perspectiva é que se justifica a lutapor uma escola de qualidade que garanta o in-gresso, regresso, permanência e sucesso da crian-ça e, ao mesmo tempo, a luta por espaços, públi-cos ou não, que ofereçam oportunidade de aces-so e prática de esporte, arte, cultura e lazer.

Viver a infância, ir à escola e ter possibilida-des concretas de desenvolver atividades compa-tíveis com a faixa etária em que se encontramsão condições necessárias ao pleno desenvolvi-mento das potencialidades das crianças e ado-lescentes. E um tipo especial dessas atividadessão as brincadeiras.

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As brincadeiras são universais,estão presentes na história dahumanidade ao longo dostempos, fazem parte da culturade um país, de um povo.Achados arqueológicos doséculo IV a.C., na Grécia,descobriram bonecas emtúmulos de crianças. Háreferências a brincadeiras ejogos em obras tão diferentescomo a Odisséia de Ulisses e oquadro Jogos infantis, de PeterBrueghel, pintor flamengo doséculo XVI. Nessa tela de 1560,são apresentadas cerca de 84brincadeiras que ainda hojeestão presentes em diversassociedades. No Brasil, muitasdelas podem ser encontradasno repertório das crianças dediversas regiões do país; porexemplo, “cabra-cega” e “bocade forno” parecem ser variantesdas brincadeiras “galinha–cega”e “o-chefe-mandou”,representadas naquele quadro.Mas há também diferenças nosjogos, brincadeiras ebrinquedos ao longo dahistória, no interior das culturase entre as classes sociais. Assim,pode-se dizer que o brincar, aomesmo tempo, expressa aquiloque há de universal epermanente na infânciahumana e as peculiaridades de

uma determinada cultura ougrupo social.

Uma forma de brincar é o faz-de-conta das crianças, quecomeça muito cedo pelaimitação dos adultos. Aoexercê-lo, a criança vai seapropriando das vivênciascotidianas, internalizando essasexperiências e tornando-as suas.Essa é uma das formas de acriança explorar, experimentar econhecer o mundo e a realidadeque a circunda. Quando brincade bonecas está re-apresentando o cuidar queexperimenta da mãe, estávivendo esse papel em seusaspectos cognitivos e afetivos;no faz-de-conta pode exercerdiversos papéis para, dessaforma, melhor compreendê-los.E, à medida que esse processose amplia com a participação deoutras pessoas, a criança vaiaprendendo a lidar comdiferentes situações, aestabelecer relações entre ela eo outro, ao mesmo tempo quese diferencia deste.

A importância do brincarAs brincadeiras como cantigasde roda, cabra-cega, queimadae os diversos tipos de atividadesesportivas e jogos comofutebol, xadrez ou damas, porexemplo, apresentam situaçõespré-estabelecidas, não sãocriadas por um indivíduo emparticular. Portanto, nãoexpressam diretamenteaspectos de suas própriasvivências. Mas nelas também acriança experimenta emoções evivências comuns a todos osindivíduos, simbolicamenterepresentadas, e aprende arespeitar regras e limites, aconviver com o outro. Alémdisso, nas brincadeirastradicionais a criança entra emcontato com experiênciaspassadas, que fazem parte dahistória da cultura em que vive.Dessa forma, brincando – semestar exercendo funções adultas– a criança elabora sentimentos,fantasias, angústias, medos,aprende a se relacionar com omundo e a se apropriar dahistória do grupo social de quefaz parte – e da história dahumanidade.

O brincar tem hoje suaimportância reconhecida porestudiosos, educadores,organismos governamentaisnacionais e internacionais. ADeclaração Universal dosDireitos da Criança (aprovadana Assembléia Geral das NaçõesUnidas em 1959), no artigo 7o,ao lado do direito à educação,enfatiza o direito ao brincar:“Toda criança terá direito abrincar e a divertir-se, cabendoà sociedade e às autoridadespúblicas garantir a ela oexercício pleno desse direito”.

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Em 1961, foi criada a IPA –Associação Internacional peloDireito de Criança Brincar. Dezanos depois, em 1971, a IPA foireconhecida pela UNESCO epassou a agir de acordo comseus princípios.

O direito de brincar também éexplicitado no ECA: referindo-se

ao direito à liberdade, o art. 16inciso 4 reafima o direito a“brincar, praticar esportes edivertir-se” (Cury et al., 1992,p.63).

A dimensão lúdica na vida dascrianças e adolescentes, porém,não é valorizada apenas porespecialistas, mas por elas

próprias, conforme se podeverificar nestes depoimentos:

Na rua só durmo em grupo.Tenho meu grupo certo detrês amigos e a gente estásempre junto. De noite agente dorme junto, e de diaa gente brinca junto,também. A gente gostamuito de brincar de picula,porque é uma brincadeiralegal e alegre.(depoimento colhido porAtaíde, 1996, p.89)

Nunca teve festa no dia domeu aniversário. Desde queeu era pequeno que euqueria muito ter um bolo nomeu aniversário… queriaconvidar meus amigos parauma festa (…) mas issonunca aconteceu porquenunca sobrava dinheiro emcasa para festinhas…(depoimento colhido porAtaíde, 1996, p.95)

Pode-se compreender, pois,como o trabalho precoce, aodificultar não só os estudos mastambém o brincar, inviabilizaou restringe as possibilidadesde desenvolvimento dascrianças, sua preparação parase tornarem adultos e cidadãossaudáveis, críticos eparticipativos.

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SISALEIRO (7 ANOS) ESTENDENDO FIBRAS PARA SECAGEM. LAGOA DO BOI - BA

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Contrapondo-seao trabalhoinfantilVimos que o trabalho infantil já foipreconizado como “solução” para osproblemas da infância pobre. E,agora, é reconhecido universalmentecomo um grave problema, reveladorda situação de miséria e exclusãosocial vivida por milhares de famílias.A mudança nesse modo de olhar aquestão vem acontecendolentamente. No Brasil, surge doesforço de grupos organizados,movimentos sociais, sindicatos ediversas instituições, especialmente apartir da década de 90.

Estudos acadêmicos, reportagens-denúncia, levantamentos estatísticos,seminários e debates foramrealizados. Aos poucos, a discussãoganha corpo, torna-se pública e aquestão “Trabalho infantil” vemconstituindo mais um dos problemasque a sociedade brasileira precisaenfrentar e propor alternativasvisando sua superação.Recapitulamos algumas das açõesque pontuam essa luta.

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O Fórum Nacionalde Prevenção e Erradicaçãodo Trabalho InfantilEsse organismo, criado em 1994, é composto por re-presentantes de organizações não-governamentais egovernamentais, de trabalhadores, empresários, mem-bros da Igreja Católica e dos poderes legislativo e ju-diciário. Além dessas instituições, conta com a parti-cipação de organismos internacionais, como a OIT eo UNICEF.

Seu objetivo é discutir as ações de prevenção e erradi-cação do trabalho infantil, visando garantir o cumpri-mento da legislação em vigor no país. O Fórum pro-põe-se a atuar como articulador entre os diversos pro-jetos e programas no âmbito das esferas federal, es-tadual e municipal, buscando assegurar o acesso, apermanência e o sucesso das crianças na escola. Seusintegrantes acreditam que uma atuação coerente noque diz respeito ao trabalho infantil deve procurar me-lhorar as condições de vida das famílias e não somen-te das crianças, contemplando os aspectos básicos desaúde, educação e trabalho.

O Fórum Nacional constitui o mais amplo e impor-tante espaço de discussão sobre a questão da pre-venção e erradicação do trabalho infantil no Brasil,não apenas por congregar os diversos segmentos so-ciais, mas por seu caráter democrático.

A Marcha GlobalContra o Trabalho InfantilPartindo da África do Sul, do Brasil e das Filipinas, aMarcha percorreu 80 mil quilômetros, de janeiro ajunho de 1998. Em 29 de maio desse ano, 600 pes-soas, dentre as quais 104 crianças e adolescentes re-presentando seus pares dos quatro continentes, reu-niram-se na sede da OIT na Suíça. Foi o ponto culmi-nante das mobilizações, caminhadas e encontros rea-lizados nos diversos países do mundo, envolvendomilhares de pessoas. A maioria dos meninos e meni-nas participantes era de ex-trabalhadores, resgatadosde lixões, das ruas, de pequenas e grandes planta-ções, de fábricas e de outros sorvedouros da infânciapobre e desatendida por esse mundo afora.

A presença dessas crianças e adolescentes na Marchacontribuiu para chamar a atenção da opinião públicamundial para a necessidade da eliminação do traba-lho infantil, que persiste no início do novo milênio.Também permitiu a essas crianças e jovens aparecer,resgatando-os da invisibilidade e deixando que suaprópria voz ecoasse pelo mundo, anunciando que épreciso e possível mudar essa realidade, de modo agarantir-lhes o direito a uma infância digna.

CHEGADA DA MARCHA GLOBAL EM GENEBRA, 1998

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O PETI – Programade Erradicaçãodo Trabalho InfantilO PETI, vinculado à SEAS – Secretaria de Estado deAssistência Social do Ministério da Previdência e As-sistência Social, foi lançado em 1996, como uma dasprimeiras ações concretas resultantes de denúncias ereivindicações relacionadas ao trabalho de crianças noBrasil. Surgiu com a perspectiva de eliminar as pioresformas de trabalho de crianças e adolescentes no país.

A primeira experiência foi implantada em 1996, nascarvoarias do Mato Grosso do Sul e, nos anos seguin-tes, nos canaviais de Pernambuco e na região sisaleirada Bahia. Em 1998 o programa atingia as regiões ci-trícolas do Sergipe, um garimpo de Rondônia e cana-viais do Rio de Janeiro. Em 1999 passou a contemplaros estados de Alagoas, Espírito Santo, Pará, Paraíba,Rio Grande do Norte e Santa Catarina.

O público alvo do PETI são as famílias em condiçõesde miséria, com filhos na faixa de 7 a 14 anos querealizem trabalhos considerados perigosos, insalubres,penosos ou degradantes. Seu principal instrumento éa “Bolsa Criança-Cidadã”, que complementa a rendadas famílias com R$ 25,00, desde que estas mante-nham os filhos freqüentando escola; propicia aindauma série de atividades socioeducativas para além dohorário normal das aulas (jornada escolar ampliada).

O programa visa garantir condições mínimas para quea família promova o atendimento de suas necessida-des fundamentais e não precise da renda gerada pelotrabalho das crianças. Em dezembro de 2000,362.000 crianças e adolescentes estavam sendo aten-didas pelo PETI, em 590 municípios de 26 unidadesda Federação.

Apesar de o PETI apresentar concretamente resulta-dos positivos, devemos considerar alguns problemasem sua operacionalização. O programa tem um cará-ter emergencial, uma vez que não é acompanhadode políticas mais efetivas voltadas para superar a in-justa distribuição da renda no país, situação essa res-ponsável pela permanência das condições que impe-lem as crianças para o trabalho precoce. As idadesdeterminadas para inclusão e desligamento do pro-grama (7 a 14 anos) atuam como limitador da abran-gência da população atendida. Há casos de criançasque, ao serem excluídas do programa por completa-rem 15 anos, retornam ao trabalho nas mesmas con-dições de ilegalidade anteriores, apesar de a legisla-ção proibir o trabalho para os menores de 16 anos.

As políticas públicas nas áreas de educação, saúde,trabalho, justiça, emprego e renda, entre outras, apre-sentam um grau de articulação ainda incipiente como PETI, dificultando uma ação intergovernamentalmais efetiva no combate ao trabalho infantil. Algunsmunicípios não estabelecem parcerias estáveis com

os governos estaduais e federal, o que inviabiliza açõesdo PETI em determinadas localidades.

Frente aos dados alarmantes, já expostos, em quecrianças e adolescentes de 5 a 16 anos exercem diver-sas atividades econômicas, contrariando a legislaçãoe, principalmente, comprometendo seu desenvolvi-mento biológico, psicológico e social, o governo con-segue atingir, com o PETI, uma reduzida parcela des-ses pequenos trabalhadores.

O Mapa de indicativosdo trabalho de crianças eadolescentes no BrasilEm 1996, o Ministério do Trabalho e Emprego rea-lizou em todo o país, por meio das Delegacias Regio-nais do Trabalho, um levantamento detalhado da in-cidência de trabalho infantil, por regiões e estadosbrasileiros. Foi produzido um diagnóstico preliminar,com informações sobre o tipo de atividade, as tarefasrealizadas, as condições de trabalho e os riscos à saú-de e à segurança das crianças. Esses dados, atualiza-dos e complementados, foram reunidos no documen-to Mapa de indicativos do trabalho de crianças e ado-lescentes (Brasil, 1999), com novas informações so-bre o assunto, incluindo dados a respeito dos municí-pios onde ocorreu redução do emprego da força detrabalho infantil.

Esse documento, sem dúvida, é importante por for-necer dados que contribuem para a implementaçãode ações visando a erradicação do trabalho infantil.Contudo, as denúncias decorrentes dessa pesquisa ea correspondente fiscalização têm sido insuficientespara coibir a atuação dos empregadores, responsá-veis pelo gesto fundamental: dar emprego a crianças,em vez de a adultos.

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COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

Mobilização dos trabalhadores: opapel de centrais sindicais,confederações e sindicatosOs sindicatos introduziram em primeira instância aquestão do trabalho infantil na pauta do movimentosocial em defesa dos direitos da criança. As centraissindicais (CUT, CGT, Força Sindical), com o apoio doprograma IPEC da OIT, iniciaram em 1992-1993 umacampanha para a conscientização de sindicalistas emobilização da sociedade. Além de enfatizar os direi-tos negados às crianças, promoveram a realização deseminários para sindicalistas, encontros e caravanasde crianças trabalhadoras, voltados para a denúnciae a pressão direta junto ao governo (Carvalho, 2000).As centrais sindicais e as confederações de trabalha-dores (CONTAG, por exemplo), integraram-se ao Fó-rum Nacional de Prevenção e Erradicação do Traba-lho Infantil desde a sua formação, em 1994.

Organizações sindicais realizaram estudos que subsi-diaram, entre outras ações, a discussão para a for-mulação de políticas públicas pertinentes, programasde atendimento às crianças e a inclusão da questãodo trabalho infantil nos contratos coletivos de traba-lho. Também promoveram cursos de capacitação dostrabalhadores a respeito da cidadania das crianças, oque os fortalece para participarem mais ativamenteem conselhos como de direitos da criança, de assis-tência social, entre outros.

A CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadoresem Educação, parceira da OIT neste projeto –, visan-do ampliar o engajamento de educadores e suas or-ganizações no combate ao trabalho infantil, vem de-senvolvendo atividades como:

realização de uma pesquisa, em cinco estados brasi-leiros, envolvendo a comunidade local, famílias, edu-cadores e governo, que resultou em uma cartilhaespecífica sobre o tema (CNTE, 1999);

participação nas marchas estaduais, nacional e glo-bal contra o trabalho infantil;

inserção de representantes nos Conselhos da Crian-ça e do Adolescente em nível nacional e estadual,interferindo nas políticas públicas de atendimentoà população infanto-juvenil;

participação no debate sobre a questão da impu-tabilidade penal;

participação no Fórum Nacional de Prevenção eErradicação do Trabalho Infantil.

Além dessas, várias outras atividades vêm sendo de-senvolvidas nos sindicatos de base e em conjunto comoutras frentes que buscam a adesão dos vários seg-mentos da sociedade (governo, empresários, educa-dores, trabalhadores em geral) à luta para prevenir eerradicar esse mal que compromete por inteiro o fu-turo da nação.

Participação dos empresários:a Fundação ABRINQCriada em 1990, a Fundação ABRINQ incluiu a lutapela eliminação do trabalho infantil no rol de suaspreocupações a partir de 1995. Dentre outras ações,criou o selo “Empresa Amiga da Criança”, destinadoàs empresas que respeitam a legislação referente aotrabalho infantil. Também procura atuar sobre as ca-deias produtivas, isto é, acompanhar todas as fasesde produção de um determinado item, desde a maté-ria-prima até o produto final, com o intuito de detec-tar a existência de exploração do trabalho infantil.

Recentemente, a Fundação ABRINQ aumentou as exi-gências relativas ao compromisso com a infância, parareconhecer uma empresa como “Amiga da criança”.Trazendo o tema do combate ao trabalho infantil parao âmbito da discussão sobre a responsabilidade socialdas empresas, amplia-se o engajamento do empresa-riado na defesa dos direitos das crianças e adolescen-tes, estimulando também o envolvimento do setorprodutivo em programas educacionais locais.

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ConsideraçõesfinaisRefletir sobre soluções que, de algumamaneira, enfrentem a realidade dotrabalho infantil implica,principalmente, discutir a urgência deuma política econômica queredistribua a renda de maneira maisjusta, promovendo as reformasestruturais necessárias e implantandoprogramas específicos para as famíliasem situação de pobreza extrema, paraerradicar de maneira definitiva aprática do trabalho infantil no país.Tais medidas devem estender a todosos brasileiros condições dignas demoradia, uma educação pública dequalidade e um sistema de saúdeeficiente.

Essas são ações de caráter político-institucional, mas muito tambémpode ser feito no cotidiano, porcidadãos comuns. Não basta discutire refletir sobre as condições em queuma imensa parcela de crianças ejovens estão sendo precocementeinseridos no mundo do trabalho. Épreciso agir e propiciar condições paraque o problema seja efetivamenteresolvido. Cada qual com sua parcelade contribuição e responsabilidade,governos, empregadores, trabalhadorese suas organizações, organizações dasociedade civil e as próprias famíliasdevem empenhar-se no objetivocomum de garantir a todas as criançase adolescentes os direitos asseguradosna Constituição brasileira.

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COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

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COMBATENDO O TRABALHO INFANTIL: GUIA PARA EDUCADORES v.1

Quadro 1: Incidência de Trabalho Infantilpor regiões do Brasil e estados da Federação, segundo atividade econômica,tarefas executadas e condições de trabalho

REGIÃO NORREGIÃO NORREGIÃO NORREGIÃO NORREGIÃO NORTETETETETE

Atividade/incidênciaAtividade/incidênciaAtividade/incidênciaAtividade/incidênciaAtividade/incidência TTTTTarararararefas geralmente executadasefas geralmente executadasefas geralmente executadasefas geralmente executadasefas geralmente executadas Condições de trabalho a que estão submetidosCondições de trabalho a que estão submetidosCondições de trabalho a que estão submetidosCondições de trabalho a que estão submetidosCondições de trabalho a que estão submetidosnos estadosnos estadosnos estadosnos estadosnos estados adultos e criançasadultos e criançasadultos e criançasadultos e criançasadultos e crianças

Indústria de móveis Cortar, lixar e pintar madeiras Ambientes insalubres, falta de equipamento de proteção,(Acre, Amazonas e para fabricação de móveis contato com produtos tóxicos, falta de anotação em carteiraTocantins) de trabalho

Pecuária (Acre) Limpeza dos currais, ordenha e Jornada excessiva de trabalho, transporte de carga excessivaalimentação dos animais e falta de registro na carteira de trabalho

Cerâmica e Olaria Coleta do barro, transporte de Trabalho realizado em galpões úmidos, ritmo de trabalho(Acre, Amazonas, lenha para alimentação do forno acelerado e repetitivo, jornada excessiva eRondônia e Tocantins) falta de registro na carteira de trabalho, luminosidade

e instalações sanitárias inadequadas, máquinas sem proteçãodas polias e baixa remuneração.

Engraxate Atividade autônoma, realizada Longos percursos em busca de clientes, má alimentação,(Amazonas e Rondônia) em ruas, praças, bares e pontos trabalho em locais de risco e proibidos como bares

de ônibus e boates

Madeireira e Serrarias Serviços gerais – limpeza de Falta de anotação na CTPS, descumprimento do período de(Acre, Amazonas e entulhos, coleta de pó de descanso intrajormnada, falta de condições de higiene,Pará) serragem, e manuseio de serra exposição a ruído e poeira vegetal, contato com produtos

circular. químicos, manuseio de máquinas perigosas,Laminadores – corte laminar, não-fornecimento de água potável e instalações sanitáriassecagem e colagem de lâminas, inadequadascarregamento e empilhamento

REGIÃO NORDESTEREGIÃO NORDESTEREGIÃO NORDESTEREGIÃO NORDESTEREGIÃO NORDESTE

Fumicultura Plantio, colheita, secagem e Jornada excessiva, manuseio de agrotóxicos, falta(Alagoas, Bahia, ensacamento do fumo de registro na carteira de trabalhoParaiba)

Pedreira (AL, BA, Extração, beneficiamento, corte, Trabalho a céu aberto, falta de água potável e instalaçõesCE,MA, PE, PI) polimento e carregamento de sanitárias; carga e jornada excessivas

pedras

Agricultura canavieira Plantio manual, queima do Não fornecimento de água potável e alimentação, falta de(AL, BA, CE, canavial, corte e carregamento instalações sanitárias adequadas, transporte em veículosMA, PB, PI,PE) dos caminhões inadequados e jornada excessiva de trabalho

Cultura do sisal Corte do sisal, carregamento Ruído excessivo junto às máquinas, jornada longa(BA,CE,PB) para “batedeira”, Uso dessa de trabalho, máquinas sem proteção, alta concentração de poeira,

máquina para desfibramento, e falta de registro na carteira de trabalhotransporte para secagem

Anexo

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REGIÃO CENTRO-OESTEREGIÃO CENTRO-OESTEREGIÃO CENTRO-OESTEREGIÃO CENTRO-OESTEREGIÃO CENTRO-OESTE

Catador de papel Recolhimento em carroça com Trabalho insalubre, risco de acidentes de trânsito,ou sem animal de papel e baixa remuneração e transporte de pesopapelão dos lixos dosescritórios e dos orgãos públicos

Produção de carvão Manutenção dos fornos, Trabalho noturno, jornada excessiva, remuneraçãovegetal (GO,MS) ensacamento, corte das madeiras por produção e exposição a variações bruscas de temperaturas

e carregamento dos caminhões

Agricultura (GO,MS) Limpeza, plantio, colheita e Transporte inadequado, uso de instrumentos cortantes,transporte com cargas excessiva jornada excessiva, manuseio de agrotóxicos e falta de registro na

carteira de trabalho

REGIÃO SUDESTEREGIÃO SUDESTEREGIÃO SUDESTEREGIÃO SUDESTEREGIÃO SUDESTE

Extração de pedra Extração, quebra, corte, polimento Insalubridade, perigo de acidentes, jornadabrita, mármore e granito e carregamento de pedra excessiva, falta de condições sanitárias, trabalho a(ES,RJ,SP) céu abertoMineração (MG*) *Manipulação inadequada de explosivos

Cafeicultura (MG,SP, Colheita e transporte de cargas Falta de registro em carteira de trabalho e jornadaES*) pesadas excessiva

*Manuseio de produtos tóxicos

Agricultura canavieira Plantio manual, queima do Não fornecimento de água potável e alimentação,(ES,MG,RJ,SP) canavial, corte e carregamento falta de instalações sanitárias adequadas,

dos caminhões transporte em veículos inadequados e jornadaexcessiva de trabalho

Construção civil Ajudante de pedreiro e Falta de registro na carteira de trabalho, não(ES,MG,SP) carregamento de entulho em fornecimento de água potável e jornada excessiva

carrinho de mão

REGIÃO SULREGIÃO SULREGIÃO SULREGIÃO SULREGIÃO SUL

Extração do calcário Corte, beneficiamento e Falta de máscaras, de protetores para o ouvido epolimento jornada excessiva

Avicultura Abate, tratamento, embalagem, Falta de registro na carteira de trabalho e jornada excessivacoleta dos ovos

Indústria calçadista Trançagem do couro, colagem Atividade exercida em “pequenos ateliês” emda sola e outros componentes, alguns casos localizados no próprio domincílio.limpeza da sola com produtos Por essas razões, não há controle de jornada dequímicos, pintura e lixamento trabalho, de proteção contra riscos à saúde

(exposição a produtos químicos) e à segurança(manuseio de ferramentas cortantes), dentre outros aspectos.

Plantio e corte de Plantio e corte Falta de registro na carteira de trabalho, jornadapinus (SC) excessiva, transporte inadequado e falta de água potável.

Fonte: Mapa de indicativos do Trabalho da Criança e do Adolescente. Brasília: Ministério do Trabalho eEmprego/Secretaria de Inspeção do Trabalho, 1999.

No que diz respeito especificamente aos riscos e à segurança à saúde, a entrada precoce no universo do trabalho expõemilhares de crianças e adolescentes às seguintes situações:contaminação pela água, intoxicação por diversos produtosquímicos, doenças no aparelho auditivo e respiratório, postura inadequada, dermatoses, lesão por esforços repetitivos.

Page 50: A OIT e o combate ao trabalho infantil

Ver sugestão de trabalho com este mapa à p.6 do volume 2

BRASIL

Page 51: A OIT e o combate ao trabalho infantil

NFANTIL GUIA

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Page 52: A OIT e o combate ao trabalho infantil

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Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHOEscritório no Brasil

ISBN 92-2-811040-6