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TERESINHA RODRIGUES PRADA SOARES
A OBRA VIOLONSTICA DE HEITOR VILLA-LOBOS (BRASIL)
E LEO BROUWER (CUBA): A SENSIBILIDADE AMERICANA E
A AVENTURA INTELECTUAL.
SO PAULO
2001
TERESINHA RODRIGUES PRADA SOARES
A OBRA VIOLONSTICA DE HEITOR VILLA-LOBOS (BRASIL) E LEO
BROUWER (CUBA): A SENSIBILIDADE AMERICANA E A AVENTURA
INTELECTUAL.
Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-graduao em Integrao da
Amrica Latina, da Universidade de
So Paulo, para obteno do ttulo de
Mestre em Produo Artstica e Crtica
Cultural na Amrica Latina.
Orientadora:
Profa. Dra. Dilma de Melo Silva
So Paulo
2001
Soares, Teresinha Rodrigues Prada
A Obra Violonstica de Heitor Villa-Lobos (Brasil) e Leo Brouwer
(Cuba): a sensibilidade americana e a aventura intelectual.
Dissertao Mestrado Programa de Ps-graduao em Integrao
da Amrica Latina
Universidade de So Paulo
1. msica brasileira- msica cubana- Heitor Villa-Lobos- Leo
Brouwer- nacionalismo- msica para violo- identidade cultural
latino-americana modernismo- vanguarda musical.
TERESINHA RODRIGUES PRADA SOARES
A OBRA VIOLONSTICA DE HEITOR VILLA-LOBOS (BRASIL)
E LEO BROUWER (CUBA): A SENSIBILIDADE AMERICANA E
A AVENTURA INTELECTUAL.
COMISSO JULGADORA
DISSERTAO PARA OBTENO DO GRAU DE MESTRE
Presidente e orientadora
2. Examinadora
3. Examinadora
So Paulo, de de 2001.
Haveremos de encontrar o universal nas
entranhas do local; e no limitado e circunscrito,
o eterno.
Miguel de Unamuno.
Heitor Villa-Lobos um dos poucos artistas
nossos que se orgulha de sua sensibilidade
americana e no trata de desnaturaliz-la. Ao
menos por uma vez, palmeira que pensa
como palmeira, sem sonhar com pinheiros
nrdicos.
Alejo Carpentier.
Leo Brouwer si no es el msico perfecto, es lo
que ms se acerca a la perfeccin, en todos los
sentidos. Puedo decirlo as y eso implica toda
su perfeccin, todas las acepciones musicales,
como intrprete, compositor, maestro y
director. Para m, Leo es el msico cubano
ms importante del siglo XX.
Chucho Valds.
Dedico este trabalho grande comunidade
violonstica latino-americana e caribenha.
AGRADECIMENTOS
A Marcos Soares e Renato Prada, pela pacincia e compreenso das muitas horas de
ausncia do convvio familiar.
Profa. Dra. Dilma de Melo Silva, por sempre apoiar e apreciar o tema da minha
pesquisa, desde nosso primeiro encontro.
A Gilson Antunes e Ricardo Marui, pela amizade irrestrita.
A Sidney Molina, pelas idias compartilhadas.
A Turbio Santos, pela gentileza da entrevista.
A Fabio Zanon, pela gentileza do material enviado.
A Edwin Pitre, pelo coleguismo, sabendo repartir sempre.
A Mariana Martins Villaa, Silvia Miskulin e Fernando Binder, pela troca de
informaes.
Ao Prof. Marcelo Mello, pelos comentrios fornecidos.
Geisa de Moraes, pela colaborao tcnica na gravao.
Aos colegas do Prolam, pelo convvio harmonioso.
A Profa. Dra. Ronilda Ribeiro, Profa. Dra. Liana Trindade, Prof. Dr. Fabio Leite, Prof.
Dr. Kazadi wa Mukuna, pelas lies recebidas.
Ao Prolam, pela oportunidade.
Fapesp, pelo apoio financeiro e o suporte tcnico, sem os quais este trabalho no
teria se realizado a contento.
RESUMO
Este trabalho um estudo comparativo entre a msica para violo de Heitor Villa-
Lobos e Leo Brouwer, que tenta provar o grande valor de suas obras para a msica
violonstica do sculo XX. Ambos tm em comum muitos traos e experincias, como a
ressonncia da msica popular; a msica da esttica Nacionalista; senso de patriotismo; o
envolvimento com esferas governamentais, principalmente em Educao e Cultura; tiveram
uma aproximao com a vanguarda (Villa-Lobos em Paris, Brouwer em Varsvia), mas
ambos decidiram continuar seguindo seus prprios estilos. Na maturidade, fizeram um retorno
s formas prvias de suas obras e ao uso de temas recorrentes. Suas diferenas tambm so
apontadas, especialmente quanto s suas posies polticas e culturais, vistas como uma
conseqncia dentro da poca em que atuaram. Uma importante avaliao a de que quando
a msica violonstica de Villa-Lobos comea a ser mais executada nos anos 60
(imediatamente aps a morte de Villa-Lobos), Leo Brouwer emerge, e ento eles se tornam os
mais representativos compositores para violo do sculo, mesmo sendo de diferentes
geraes. Como um objetivo secundrio, tenta-se demonstrar que suas produes podem ser
entendidas como um exemplo considervel de identidade latino-americana.
ABSTRACT
This work is a comparative study between Heitor Villa-Lobos and Leo Brouwers
guitar music, which tries to prove their great value for guitar music in the 20th century. They
have got in common many features and experiences as popular music resonance; Nationalist
music; sense of patriotism; involvement with government departments, mainly Education and
Culture; vanguard approach (Villa-Lobos in Paris, Brouwer in Warsaw) but both decide to
keep following their own style. In the maturity age, they return to previous forms and
recurrent themes. Their differences are presented too, especially the political and cultural
positions of them, as a consequence inside of an epoch. An important evaluation is that when
Villa-Lobos guitar music begins to have more performers in the 60's (immediately Villa-
Lobos death), Leo Brouwer arises, and then they become the most representative composers
for guitar music of the century, even so they are from distinct generations. As a secondary
aim, this work try to demonstrate that their outputs can be understood as a considerable
example of the Latin-Americans identity.
SUMRIO
INTRODUO 1
CAPTULO 1 Contexto Histrico da Amrica Latina 11
1.1. Brasil: os temas nacionais 12
1.2. A inveno do outro 16
1.2.1. O ndio na Era Vargas 18
1.3. O segundo outro: o negro 21
1.4. Cuba: fatos histricos antecedentes a 1959 27
1.5. Democracia Racial (Brasil) e Fim do Racismo (Cuba) 31
1.6. Identidade Nacional 34
1.7. Cultura Popular 38
1.8. Modernidade e Ps-Modernidade 40
1.9. Um filho dileto da Revoluo 43
CAPTULO 2 O Violo no Brasil e em Cuba 51
CAPTULO 3 Biografia de Heitor Villa-Lobos 61
3.1. A obra para violo de Heitor Villa-Lobos 76
CAPTULO 4 Biografia de Leo Brouwer 87
4.1. A obra para violo de Leo Brouwer 101
CAPTULO 5 Anlise de peas de Villa-Lobos: a importncia do choro 113
5.1. Valsa-Choro da Sute Popular Brasileira 119
5.2. Chorinho da Sute Popular Brasileira 124
5.3. A fase inovadora dos 12 Estudos 129
5.4. Estudo 10 135
5.5. Estudo 11 142
5.6. A srie de 5 Preldios 147
5.7. Preldio 4 150
5.8. Preldio 5 153
CAPTULO 6 Anlise de peas de Leo Brouwer 157
6.1. Danza Caracterstica 160
6.2 Estdio 5 169
6.3. Canticum 177
6.4 La Espiral Eterna 188
6.5. Decameron Negro 201
6.6. Rito de los Orishas 214
CAPTULO 7 Comparaes entre Villa-Lobos e Brouwer 225
7.1. Nacionalismo 225
7.2. Vanguardas 234
7.3. Retorno 237
7.4. Poltica 238
7.5. Violo 244
CONCLUSO 249
BIBLIOGRAFIA 255
ANEXOS 266
1
INTRODUO.
Dentro da histria da msica, o nome de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) est ligado a
grandes acontecimentos da vida brasileira, dentre os quais Modernismo e Nacionalismo.
Nascido sob a gide das recm-criadas Abolio dos Escravos e Proclamao da Repblica,
Villa-Lobos ainda respirou a atmosfera europeizada do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em
que vivenciou os primeiros passos de uma nascente cultura urbana, participando ativamente
dos eventos vindouros da chamada Era Vargas.
Em termos de carreira, Villa-Lobos possui perodos distintos: o incio no Brasil, no
qual se inclui a participao na Semana de Arte Moderna de 1922; as duas viagens para a
Frana que o ajudaram a ser reconhecido; a volta ao Brasil, quando se empenhou na educao
musical; e o ltimo perodo, das muitas turns j como artista consagrado. Quanto s
caractersticas de seu trabalho, j foram apontados pelos pesquisadores traos de Chopin,
Puccini, Debussy, Rimsky-Korsakov, Tchaikovsky, comparaes com Stravinsky e Bartk, e,
ao mesmo tempo, demonstram-se traos da Amrica ndia, ibrica e africana. Nacionalismo,
local e universal, modernismo, vanguarda, neoclassicismo so termos associados sua
produo.
Sua obra perfaz um total de mais de mil opus. Pelo lado da composio de grandes
obras, h nos anos 20 a srie de 14 Choros e nos anos 30 as 9 Bachianas Brasileiras. Nas
formaes orquestrais, praticamente no h instrumento para o qual ele no tenha deixado
algum escrito, o que por muitas vezes apontado como um empecilho para uma constncia na
apresentao de suas sinfonias, pois demanda mais instrumentistas e muitos ensaios. Foram
ao todo 12 Sinfonias e alguns Poemas Sinfnicos como Uirapuru (comparado a O Pss