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REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 13

setembro I outubl"o 2010 - n," 18~,

inclusive, mUdança,da cultura pro-fissionai, a RBC cOnsuitou algunsespeciafistas, com ampla expe-riência em suas áreas, ,para queabordassem os conhecimentos, ashabilidades, as competências e asnecessídades atuais para a práticada profissão contábil no País.

Esta edição, traz a contribuiçãode sete respeitados profissionaisdas áreas de auditoria, contabilida-de gerencial, contabilidade pública,perícia contábil e de contabilidadedos fundos de pensão. Em ediçõesposteriores, a RBC publicará ava-iiações de especialistas de outrasáreas da Contabilidade.

das empresas brasileiras no mer~cada externo, ° setor de contabili-dade tornou-se estratégico para agestão dos negócios. Aliada a isso,a convergência das normas con-tábeis ao padrão Internatfonal Fi-nanciai Reporting Slandards (IFRS)- processo que vem ocorrendo en)nível mundial - está alcançandonão apenas as grandes compa"nhias, mas também a contabilidadedas Pequenas e Médias Empresas(PMEs), das empresas de auditoriae da administração pública.

Diante das novas qualificaçõesque estão sendo exigidas pelo mer~cado de trabalho, que envolvem,

De setor operacional para área e~traté:íca dentro d~S:e~~~e~a~,a· . . .• ,i',,',"" o',' _ o" - .,,' .' ,."-,~'-,",:-,.:,",-':'-,_ _ " -,' "",;,-' ,/',.. ,-",-\.<ó,,;>.;t\:,;;:'-,,-

mudol,f de status no mercado de trabalho graças a uma serie de fatores, :C: .

como () desenvolvimento da economia brasileira, o processo de globalizàçílo .econômica das nações, o aprimoramento das tecnologias da inforn'lação.éainternadonalização das normas contábeis, entre outros. A profissão 'está se .modernizando em ritmo acelerad{), tornando-se mais complexa e sofisticada,e-€Í.mercado de trabalho reclama profissionais à altura.

REPORTAGEM

Maristela Girotto

1 - hU p;/ /g1.glotlo.comkonc ursos"e-e iTIprcqo/nút icla/2010/11 (veja-dez-",( ea:;-em-q ue-faltam "profissiona ís-seglindo-recrurad ores. ht m I

Empresas de recrutamento en-contraram dificuldade, em 2010,para preencher determinados car-gos aJualmente considerados estra~tégicos pelas empresas brasileiras.Analistas ou coordenadores contá-beis, com inglês fluente, estão entreesses profissionais avaliados como"eScassos" por especialistas em re·crutamento de recursos humanosl .

A escassez de profissionaisqualíficados para atender às exi-gências atuais da área contábil éuma realidade que vem sendo per~cebida nos últimos anos. Com o for-talecimento da economia brasileirae ° crescimento da participação

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14 Reportagem: O que o mercado alu,ll ('spen) dosprorlssionili~ contábeis

Em relação à Contabilidade, os conhecimentos e as competênciasmínimas exigidas requerem que os profissionais se insiram no processoatual de convergência e adoção do padrão IFRS. Na área de auditoria,também de forma consistente, o profissional deve estar apto a lidar comas normas convergidas com a5 internacionais.

É muito importante lembrar que Contabilidade hoje requer conhe-cimento de negócios, de processos, de aspectos societários e outros.Certamente, a especialização por indústria e segmento também é ne-cessária e deve ser desenvolvida, mas é importante uma visão geral denegócio. Refiro-me a conhecimento de instituições financeiras, de teleco-municação, de petróleo e gás, etc. Recentemente, houve um debate noCongresso Mundial de Contadores, realizado em novembro na Malásia,a respeito das habilidades e competências dos contadores daqui a 10anos. Certamente, a formação irá requerer uma visão multidisciplinar e,inclusive, o trabalho do contador como especialista.

Contabilidade Financeira - Pedro Coelho Neto ir ";~',i'!1- ~_ .••-~-

o mercado gostaria de receber, para atuação na área da Contabi-lidade Financeira, um profissional polivalente, com sólidos conheci-mentos da Ciência Contábil e, especificamente, das normas interna-cionais da contabilidade (IFRS), atualmente em fase de implantaçãono nosso País.

É recomendável a familiarização com a legislação tributária municipal,estadual e federal, bem como possuir habilidade no uso da informáticae das ferramentas utilizadas nos processos administrativos e financeirosdas organizações.

Além dos requisitos técnicos, o profissional deve ser dotado da ca-pacidade de se comunicar, gostar de trabalhar em equipe, ter disposiçãopara agregar novos conhecimentos e possuir qualificações para colaborarcom a administração na tomada de decisões. A prática dos princípioséticos, como requisito primeiro para formação de um bom profissional,também deve ser perscrutada.

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'5. Em 40 anos, pouca coisa mudou no que se refere à maneira como o~ setor público emite suas demonstrações. Entretanto, desde a publicação~ das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público - edi-

tadas pelo CFC-, da Portaria MF n.o 184/2008, do Decreto n.O6.976/2009e da Portaria STN n.o 749/2009, o Brasil caminha para uma verdadeirarevolução na contabilidade pública em busca da convergência às normasinternacionais do setor público (Ipsas, na sigla em inglês). A principalmudança é que agora a contabilidade do setor público, que antes tinhafoco no orçamento, passa a contemplar com grande ênfase o controlepatrimonial. Com as alterações, a contabilidade nas entidades públicascontrolará os processos orçamentários, sem abandonar os controlespatrimoniais. Não se trata de um movimento isolado, mas, sim, de umatendência mundial. Tratawse de uma mudança importante que precisoude muito trabalho para ser concretizada.

Não obstante as Normas Brasileiras já estarem em vigor, os principaisalavancadores das mudanças serão a adoção do Plano de Contas Aplicado

ao Setor Público e as novas demonstrações contábeis, que têm prazo de implantação previsto até 2012para União, estados e Distrito Federal. Já os municípios têm até 2013 para se adequar. É bem verdade queo caminho deve ser mais longo do que o previsto nos normativos, exigindo, naturalmente, um prazo dedez a 15 anos para que as mudanças estejam aplicadas por completo e bem assimiladas.

,No entanto, precisamos começar e encarar a mudança, assim como foi feito no reordenamento dasfinanças públicas brasileiras. O Brasil vem de um processo de aprimoramento constante e vigoroso, nasúltimas décadas, das finanças do :ietor público. É só lembrar que tínhamos hiperinflação em 1980, o quetornava a economia um caos, sem qualquer tipo de controle. Após 20 anos de reorganização, tendo comograndes marcos a criação do Tesouro Nacional (1986), do Sistema Integrado de Administração Fjnanceirado Governo Federal - Siafi (1987), Conta Única do Tesouro Nacional (1987) e a unificaçáo orçamentária apartir de 1989, entre outras iniciativas, foi somente em 2008 que o Brasil recebeu o prêmio por ter a casadas finanças arrumada. Recebeu o reconhecimento internacional quando as agências de risco declararamque o Brasil é um país "Grau de Investimento", portanto, um porto seguro para investimentos interna-cionais. Para um país que decretou a moratória da dívida externa em 1987, é, sem dúvida alguma, umagrande vitória. Agora o Brasil precisa arrumar a casa da contabilidade.

1. A Modernização passa por uma mudança de culturaA modernização da Contabilidade Pública brasileira irá permitir maior comparabilidade entre dife-

rentes países. Naturalmente, o setor público dá grande ênfase à parte orçamentária, que é uma peçaimportante de planejamento do Governo. assim como o primeiro instrumento de demonstração dosgastos. Mas não é o único. A Contabilidade evoluiu; somente a gestão financeira não é mais suficiente.É preciso ter um controle de contas a receber dos governos, por exemplo. Hoje, a receita de um tributoapenas é registrada no momento da entrada do dinheiro no caixa das instituições, tanto no enfoquepatrimonial quanto orçamentário. No futuro próximo, a receita sob o enfoque patrimonial (variaçãopatrimonial aumentativa) deverá ser reconhecida no momento do fato gerador, ou seja, no lançamentodo crédito tributário (competência) e a receita orçamentária continuará sendo registrada no momentoda sua arrecadação (caixa). Isso representa uma mudança na forma de pensamento dos contadore.s edos gestores públicos. Esse movimento vai permitir a manutenção das informações orçamentárias eagregar a visão patrimonial. É uma grande evolução.

Com a mudança de foco, ocorre também uma série de benefícios, como a possibilidade de elaboraçãode uma contabilidade de custos, a apuração adequada do valor do patrimônio e também das responsa-bilidades dos gestores públicos - que não decorrem única e exclusivamente do orçamento, mas tambémde uma gestão correta do patrimônio do Estado. d

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Rcport;lgun; o qll(, \l IH":!"."l':lo ;üllal ~'Spt'l;:t f'i{)~

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Tudo isso proporcionará à sociedade maior oportunidade de exercíciodo controle social. A "boa contabilidade" ampliará a visão dos Tribunaisde Contas. Será também um ~nstrumento para garantir a integridadedos recursos públicos (financeiros e não financeiros). Obviamente, sóessa nova metodologia não evitará a corrupção, mas é um controle amais. Com maior transparência e rastreamento, pretende-se inibir a máutilização dos recursos públicos. Quando ° sistema estiver plenamenteestabelecido, o cidadão poderá analisar as demonstrações dos governoscom muito mais transparência, de forma integral e levando em contatambém o médio e o longo prazo.

Quando se olha apenas o orçamento, enxerga~se somente aqueleexercício e, não, os reflexos que sua execução vai trazer sobre exercíciosseguintes. Na lógica orçamentária, é como se tudo se iniciasse em 1°de janeiro e terminasse em 31 de dezembro. E isso despreza um prin-cípio antigo da Contabilidade, que é o da continuidade. Os recursossão escassos e a população está cada vez mais consciente do papel doEstado, desejando que este ofereça o máximo de serviços públicos com omínimo de impostos a pagar. Essa combinação resulta em um raciocíniode custos: fazer mais com menOS.

No entanto, a realidade demonstra que ainda existe um desnivela-menta enorme em relação às práticas adotadas pela União, estados emunicíPLos. Portanto, não será uma implementação linear, Se, por umlado, a União e os maiores estados estão mais avançados, também é fatoque, neles, a implementação será muito mais complexa, com maior graude dificuldade. Apesar disso, os resuJtados, em termos de transparênCiae comparabilidade, certamente compensarão.

Um dos pilares da mudança é a aplicação dos principias de con-tabilidade também para o setor público, o que não deveria ser umamudança complexa, pois se trata de princípios. O esteio da mudançapassa principalmente pela aplicação, na íntegra, do regime de compe-tência e do princípio da oportunidade, que é algo inerente à forma-ção dos contadores nos cursos de graduação. No entanto, ê:l simplesaplicação desses princípios traz grande impacto na forma como as

instituições públicas fazem contabilidade. Assim, não será apenasuma mudança contábil, mas uma forte ruptura com o pensamento

atual, portanto, uma mudança de cultura. Muda-se a formade fazer contabilidade no setor público. Os profissionais daárea pública terão que abandonar velhos conceitos e passara adotar algo totalmente novo em suas rotinas, que, atu-almente" se preocupam basicamente com os controles dasfases do orçamento (previsão, arrecadação, recolhimento,

fixação, empenho, liquidação e pagamento).Nesse momento de transição, alguns pontos impor-

tantes devem receber atenção especial, separados emtrês pilares:

Pessoas - O impacto das mud.;1nças nào ficará restrito a(l!j

aspectos técnicos e à neccssidi."Lde de aprendi7ag~1ll por parle doscontadores públlco.s. Será uma mudança em urna cultura estahelecidahá quase meio século, que exigirá profissionais mais c"pacilados.

Processos - fu; rotinas do setor público deverao se adequar aesse novo modo de pensar o registl'O contábil. Um exemplo daroé o registro patrimonial do ativo imobilizado, da sua depredação

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periódica e o reconhecimento do crédito tributário. As instituiçôes deveráo ter processos novos para que ()registro Uln-

tábil ocorra corretamente.Sistemas - não será possível implantar essas mudanças sem que os atuais sistemas de informática dos órgãospúblicos sejam l11od~rnizadLJs e e,slejaJn adequados ao novo volume de infonnaçóes exigidas, bem como aonovo padrão contábil exigido pelo Plano de Contas Aplicado <'\0 Setor Público.

2. Qual profissional estará habilitado a trabalhar na contabilidade do setor público?

Diante de toda essa mudança, ficam algumas questões a serem respondidas: como está se preparando oprofissional que atuará no setor público? Quais as especialidades que esse profissional deverá dominar?

Tendo por base a experiência presente na maioria dos CUrsos de graduação em Ciências Contábeis,verifica~se que muito se tem a fazer para melhorar a capacitação dos profissionais que irão trabalhar naárea pública. Atualmente, é comum que o aluno da graduação em Ciências Contábeis tenha, ao longode todo o curso, apenas uma disciplina voltada para a área pública. Em muitos casos, a disciplina é atédenominada "Contabilidade Pública", mas o conteúdo é completamente voltado a orçamento público- isso quando o aluno dá a "sorte" de ter pelo menos uma matéria da área pública. Existem casos reaisem que o professor entra na sala e, no primeiro dia de curso, avisa aos alunos que ministrará a disciplinaContabilidade Pública, mas que não serão abordados os balanços do setor público. No final, verifica-seque o professor ministrou tópicos de "Administração Orçamentária e Financeira do Setor Público".

Para evitar essas situações e prover o desenvolvimento conceitual da contabilidade aplicada ao setorpúblico, é importante estabelecer o paradigma conceitual de diferenciar princípios de Contabilidade, deregras de Orçamento e de critérios de Estatísticas Fiscais (Resultado Primário, Resultado Nominal, etc.),também presentes nos conceitos e regras estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Esses são as-suntos que se correlacionam, mas, ao mesmo tempo, são interdependentes, quando se observa que cadaum deles pode ter objeto e propósito bem definidos.

O objeto da Contabilidade é o patrimônio e isso não significa que a Contabilidade deverá abandonaros controles orçamentários e fiscais, pois, dentro da função básica de provedora de informações para atomada de decisão, caberá à Contabilidade apoiar o processo de controle e avaliação do patrimônio, deacompanhamento do orçamento, de geração de informações para as estatísticas fiscais e instrumentalizaros procedimentos para cumprimento dos dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal.

1. Finanças PúblicasAntes de ter contato com temas mais específicos do setor público é importante que o profissional

conheça os aspectos gerais relacionados às atividades do setor público e seus reflexos sobre as finançaspúblicas. Assim, sem prejuízo de outros temas, nesta disciplina deveriam ser abordados:

<1) Objdivo~, mt:las, abrdIlgência lo' ddi.niçi:"io de Fin,lllças PúbliolS;

b) Vis,lo clássica das fUllçôes do Estado; evo1uçào das fUll\ÔeS do Governo;c) 1\ [unção do bem-estar, Polítict1s ,1IoeMivas, di:;:tribllli\'ilS e de est-lbililaçao;d) Bens públicos, scmipúblicos e priv'ldo,,;

e) Instrumentos (' recursos da economia públlc,1 (políticas l}s(<[I, regulatória il monctátia);f) CLFSiJ1C1Çiio das ne.-eit'l~; c PeSr,\~qo.; PÚbJiCl" ".egl1ndn ,1 tln,dldildc\ d l1,ltureza e o <"gente·

g) Hipóteses tcoric,\S do crCi'Cirnl'lIto dJ_~def;pcsils públicdS;

h) () iilEnKiólnentiJ dos gJt.tu~; publil'u':; - trihula(Ju ç 1Ih~idên(j;l Iribl1tária;

i) Principies [eóncos da tn1:'llléI.ÇÜO;lipn,~ I.k Lihulm; prugl"\ 'Ivic1:lde, rvgressivid;H.le ~ nelltl"<t!iDnc!f-;

m) C\1l1L:êlto de deiJcit púhJi<o; nn;-lilL'j,1illCnio do dt'iJ..:iLFVdlntniil (1<1dívilh\ públJ(,);O) LibtTJlí"lT!I) tic;':di e prl-':<lliL"ç~lo;';

p) Hn,mç,l" i'ubhu,s no Brasil expl"rié fiei;,::"lf(entcs ent.ic 1()/OI2Ül (]

11. Ol-çamento Público ou Administração On;amentária e FinanceiraConhecedor dos aspectos gerais que norteiam as finanças públicas, é fundamental que o profissional

entenda 0$ instrumentos de planejamento do setor público: Plano Plurianual. Diretrizes Orçamentáriase o Orçamento Anual. Neste tema, devem ser abordados não somente os requisitos de elaboração dos

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18 Rcport.\gcm: o que n l1lercldo ,\lual t:SpCT.l (I()~prolissíon,li~; conl;ibL'j~'

instrumentos, mas aspectos relacionados ao acompanhamento e controle da execução orçamentária efinanceira. Assim, alguns temas a serem abordados são:

a) .Instrumentos de Planejamento; Plano Plllrianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei ürça-mem:tria Amwl (IDA);

a) Orçamento Público e os parf\metros da política f1S(;'l1. Conceitos, princípios orçamentário!> e características doorçamento tradiciomll, do orçamento de base l.eIO, do orçamento de desempenho e do orçamento-pnlgrimlJ.

b) Orçamento e gestào das organi7"açôes do selor público; caractcristicas búskas de sistemd.'> orç,unentários mo-dernos: estrutura programática, econômica e orpulizdcional para iJlncaçáo de recursos (da:-sif1c0.çües orça

mentúrias); mensuração c controle orçalllent~írio;c) Classificaç.50 da receita e da despesa orçamentária brasileira. CIcio OI\aml'l1lálio. Créditos Adicionais;d) Execuçao da receita e da despesa orçamentária. Estágios da Receita e da Despesa Orçamentária;e) Programação orç,unentária e financeira. DescentraliLação de créditos orç<l.l11cnt.11iose recursos financeiros. Ela-

boração da programação fH1anceira. Contingenci<.lmento. Limih~de elTlpenho e de movimentação financeira;f} Regime de Adiantamento ou Suprimento de Fundos; eg) Encerramento do exercício: Restos a Pagar e Despesas de Exercícios Anteriores.

IJl. Contabilidade Aplicada ao Setor PúblicoUma vez entendido como O Governo administra as receitas e despesas orçamentárias, realiza o plane·

jamento de suas ações e o seu reflexo na política fiscal, estará o profissional balizado a entender o papelda Contabilidade do setor público na geração de informações econômicas, financeiras, orçamentárias epatrimoniais das entidades públicas. Dessa forma, são fundamentais que sejam abordados pelo menosos seguintes temas:

(1) Conceito, objeto e regimç, Princípios de Lont,bilidade sob persp~clív<.1do setor público, Campo de aplicação.Legislaçao básica;

b) Reconhecimento, mensuraçào e evidenciação de ativos e passives;c) Receita e Vadações Patrimoniais Alll11.entativas: conceito, dassificação c e~'tágios, aspectos patrimoniais, as-

pectos legais, contabilização, deduções, renúncta e destinação da receita, dívida ativaid) Despesa e Variações Patrimoniais Diminutivas: conceito, classificação e estágios, aspectos patrimoni~üs, aspec-

tos legais, contabilização, dívida pública, operações de crédito;e) Plano de Contas da Aplicado ao Setor Público: conceito, estruluras e contas do ativo, passivo, variações patri-

moniais diminutivas, variações patrimoniais aumentativas, controles orçamentários c diversos;f) Lançarnentos Contábeis Padronizados: conceito, estrutura e fundamenlos lógicos;g) Demonstrações Contábeis: balanço financeiro, patrimonial, orçamentário, Demonstrativo das Variações Patri-

moniais, Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração das Mulações do Patrimônio Líquido. Conceito$,aspectos legais, forma de apresentação, ehlboração, análise dos demonstraLivQs;

h} Regbtros c'ontábeis de operações típicas na área public.a: previsão da receita, dotação da despesa, descentralizaçãode créditos orçamentários e recursos fll1anceiros; empenho, liquidação e pngamento da despesa; arrecadação,recolhimento, destinação da receita orçamentária pública; retençôes tributárias; renúncia da receita, deduções dareceita, restos a pagar, despesa de exercícios anteriores, sLlprimento de fundos, operações de créditos;

i) Bens Públicos: De uso Especial, Dominiais e de uso Gerais. Conceitos, aspectos legais e contábeis. Inventá-rio c administração de material. Métodos de avaliação. Contabilização. Gestão patJimonial dós bens móveis,imóveis e intangíveis;

j) Registros !la contabilidade do setor público de "pectos patrimoniais, depreciações, amortiuwão e exau,tão;provisôes; apropriação da receita e da despesa pelo regime de competência, conlingênôas passivas, reservas,perdas, ajustes de exercícios anteriores; e

k) Tomada e prestaçao de contas. Diversos responsáveis. Procedimentos de encerramento do exercício.

IV Responsabilidade FiscalA grande novidade no setor público brasileiro no início do século XXIfoi a publicação da Leide Respon~

sabilidade Fiscal (LRF).No entanto, sob uma ótica acadêmica, houve tratamento equivocado da matérianos cursos de graduação, muitas vezes, até por falta de conhecimento aprofundado naquele momento

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REVISTA BRASILEIRA DE CDNTABILlDADE

sobre o assunto, suas interpretações e propósitos. Responsabilidade fiscal se relaciona fortemente como orçamento público e algumas questões contábeis, màs seus propósitos não se confundem. A LRFtraz regras de controle e avaliação da gestão fiscal, estabelecendo metas fiscais de resultado primário enominal, limites de expansão despesas obrigatórias, pessoal, concessão de garantias, dívida e endivida-mento. Algumas dessas regras influenciam práticas orçamentárias e contábeis, no entanto, a Lei tem opropósito fundamental de criar um ambiente de sustentabilidade da política fiscal. Ainda hoje é comumque os profissionais da área pública não entendam os conceitos da LRFe simplesmente preencham osDemonstrativos exigidos sem saber para que servem. São poucos os profissionais que conseguem analisaros números constantes do Relatório de Gestão Fiscal e Relatório Resumido da Execução Orçamentária.Nesse sentido, é importante tratar nesta disciplina, pelo menos, dos seguintes assuntos:

a) Lei Complementar n() 101, de 04 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal- LRF): Contexto histórico,principais conceitos, integração entre o Planejamento e o Orçamento Público;

b) Resultado Nominal, Resultado Primária, Receita Corrente Líquida;c) Anex.o de Riscos Fiscais e de Metas Fiscais;d) Critérios para transferências voluntárias, destinações de recursos públicos ao setor privado;e) Gestão Patrimonial: Regra para aplicação de recursos de alienação de bens;f) Dívida, endividamento público e operações de crédito: conceito, limite,~, vedações, regras de recondução,

regra de ouro;g) Pessoal: conceitos, limites e regras de recondução;h) Tnstrumentos de transparência e contnile da gestão pública; ei) Elaboração e análise dos demonstrativos orçamentários e fiscais: Relatório Resllmido da Execução Or-

çamentária e Relatório de Gestão Fiscal.

Pode-se afirmar que as quatro disciplinas acima são os pilares formadores dos conhecimentos básicospara o profissional que atuará col110contador de uma entidade pública. No entanto, em caráter comple-mentar, também se deve bUscar conhecimento em:

a) Normas Internacionais de Contabilidade: Nesta disciplina, é importante contextualizar o processo histó-rico de elaboração d8s normas para os setores privado e público. Diferenci8r a atuação dos principais orga-nismos internacionais: 1l1tc1"11ntional Accounti1'lg Standards BoarLÍ IASE (Comitê de Normas Internacio-nais de Contabibd,lde), que edita normas P",L1 o setor privado, e a Illlel"national F'ederatúm of ACC01/l'Jtants- IFAC (Fedemção Internacional dos Contadores), que edita normas para o setor público. Conhecer asprincipais diferenças entre as normas do setor privado e do setor público e sua aplicação no Brasil, dianleda legislaçáo e cultura loca!, tendo por base as normas convergidas, qlH' estão em processo de elaboraçâodas minulas pelo Cf C

b) Aula prática em Sistemas de Informações Contábeis do Setor Público: É fundamental o conhecimento teón-co e conceitual dos aspectos relacionados à contabilid3de aplicada ao setor público, entretanto, é importante queo profissional consiga aplicar os conceitos na prática. Assim, a utilização de sistemas informatizados aplicados tiórea pública ajudará o profissional a consolidar os conceitos e entender como se correlacionam na prática. Nestesentido, existem várias universidades no Distrito Federal que utiliz<U11{\Sistema Integrado de Administração Pi-nanceirn do Governo Federal (Siafi), na versão educacional, para ministrar ~H1la.<; prúticas em laboratório. Nessasauias, o alunnempcnha, liquida e paga a despesa; entende o funcionamento da tabela de eventos e do plano decontas, Com a p'K1.rol1iza~ãodos procedimentos que acontecerá quando todos os entes da Federaçáo estiveremutilizando o Piano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP), <.1 partir de 2013, essas aulas também podcriioter estl'utl.lra (;conküdos padroni7.ados.

c) Custos no Setor Público: A busca da melhoria da <110Gh;3.0 dos recursos públicos passa por criar a cultura dagestão de custos no setor público, com o objetivo de termos governos implantando políticas públicas eficazes,eficientes e efetivas. Os motivadores para gestão de custos no selor público são diferentes, em muitas situa-~'(5es,quando comparados C0111o selor privado, pois nem sempre () retorno do gasto público será econômico,podendo em muitas situações ter um retorno sociaL No entanlo, como buscar a excelência na prestaçao deserviços públicos "em sabet qU:1J1doeste serviço emt,\? A idéia dirundida na sociedade de que os serviçosprestados pelo govETno são gratuitos (por exemplo, num llOspitdl público ou escola pública), em nada auxilia

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na percepção de que estes serviços devem ser mais eficieules, A ,-lbordagem desse ten1a diante da perspediv;)de que os entes dever<'iobuscar implantar sislemas de custos, seja por questões de govermmça institucional oupor exigência legal, é algo que demandará profissional especializado no futLll'O próximo

É importante ressaltar que o profissional que deseja atuar na área de controle e auditoria do setor pú-blico deverá agregar, além dos conhecimentos citados, outros relacionados com auditoria interna, controleinterno e controle externo, de forma a entender como as principais entidades responsáveis pelo controleda gestão pública, no caso os Tribunais de Contas e Controladorias Gerais, desempenham suas funções eatribuições constitucionais e legais, bem como a forma como realizam suas auditorias~

3. Conclusão

Primeiramente, vale ressaltar que o texto não visa esgotar todas as áreas de conhecimento que o pro-fissional contábil deve ter, mas indicar aquelas consideradas essenciais para o nível de especialização deconhecimento que será exigido no futuro, por isso O enfoque nas disciplinas típicas da área pública.

Verifica-se que, cada vez mais, a ideia do contador público emitindo empenho, liquidando a des-pesa e fazendo o pagamento deve ficar no passado. Para aprender as regras de empenho, liquidação epagamento não precisa fazer curso de graduação ou pós~graduação, é suficiente um curso de extensãoem Administração Orçamentária e Financeira. A geração de informações confiáveis e tempestivas exigeque, cada vez mais, os sistemas de informações contábeis estejam próximos dos atos e fatos, e não queos fatos cheguem até o contador por meio de documentos. Neste sentido, o contador do futuro deveentender que a contabilidade não é dele, mas da entidade. Para isso, deverá atuar como um líder catali-sador das informações, responsável pela definição dos processos geradores dessas, sempre pensando naforma tempestiva de captura pelos sistemas de informações contábeis. Uma vez definidos os processose sistemas, caberá ao contador a parametrização e normatização das regras de mensuração e a melhorforma de evidenciação do fenômeno a ser registrado.

O contador que aplica tabelas com percentuais de depreciação e classifica a receita e despesa deacordo com b tipo de nota fiscal também ficará no passado. A aplicação do postulado da "essênciasobre a forma" exigirá também do contador público uma ~apacidade de análise e reflexão, pois, emvárias situações, ele será chamado a se posicionar sobre práticas e procedimentos que sejam maisadequados à entidade pela qual é responsável. Para isso" é importante que tenha uma boa base teórica,entendendo os fundamentos da Ciência Contábil, a exemplo dos pressupostos básicos (competênciae continuidade) e dos critérios de reconhecimento, mensuração e evidenciação a serem observadospara os ativos e passivos públicos.

Diante de tudo isso, verifica-se que o mercado exigirá do profissional que trabalhará no setor público,nível de conhecímento especíalizado, capacídade de condução de processos de mudanças e espírito deliderança - isso para aqueles que irão trabalhar diretamente com a Contabilidade. Para os professores degraduação e pós-graduação, a atualização é fundamental para a sobrevivência no mercado de trabalho,considerando seu papel de formador dos profissionais do futuro. Para os auditores, o desafio tambémé grande, pois os itens a serem observados e a avaliação da gestão contábil ganham novos horizontes.É preciso resgatar a auditoria contábil no setor público. A sociedade necessita de garantia de que as de-monstrações contábeis auditadas refletem a posição fiel do patrimônio público.

Por fim, toda essa mudança deve ser vista por todos que atuam direta ou indiretamente com a Contabi-lidade, como uma grande oportunidade de renovação do conhecimento e valorização da profissão contábil,pois, para continuar avançando, O Brasil precisará, cada vez mais, de profissionais especializados.

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,g Até a década de 90, a informação era um produto restrito, forne-

".!:P cido com qualidade somente nas melhores escolas e universidades,ci5 acessíveis a poucos, Quem frequentava essas instituições era esti-mulado a usar o lado esquerdo do cérebro, treinado à racionalidadeextrema. A moda era construir modelos matemáticos, estatísticos e deprevisibilidade para tudo. Essas eram as competências mais procuradasnos aspirantes a profissionais bem-sucedidos.

Com a evolução tecnológica, especialmente com o surgimentoda internet e do Google, ,a informação como- diferencial se tornouirrelevante. Atualmente, algu.mas instituições de ensino já disponibi-lizam Os conteúdos de seus cursos gratuitamente na web. Com tantainformação disponível a todos os profissionais, qual o potencial quepode fazer a diferença para conquistar destaque em um mercado detrabalho tão concorrido?

O mercado de trabalho requer, cada vez mais, profissionais quesaibam interpretar e harmonizar informações aparentemente des~

conexas e, ao mesmo tempo, que .tenham capacidade para comunicar sua visão de maneira clara,objetiva e motivadora. O profissional tende a se destacar mais pela capacidade de entender, analisare escolher a melhor alternativa para a organização do que saber tudo, algo que perdeu o sentidocom a Internet e o Google.

O que foi afirmado até o momento vale para todas as áreas de negócio, sejam elas públicas ouprivadas. No entanto, no tocante à atuação dos contadores na área pública, algumas particularidadesdevem ser mencionadas. •

A primeira delas diz respeito à conquista de uma vaga nesse mercado de trabalho (investidura emcargo público), que cresceu muito depois da aprovação da Lei Complementar n.o 101, de 4 de maio de2000, a denominada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)_

Há dois tipos de cargos públicos: ,os efetivos ou de carreira, cuja investidura se dá por meio de con-curso público, e os cargos de confiança (ou cargos comissionados), de livre nomeação e exoneração(ad nutum), 'cabendo aos detentores momentâneos do poder a iniciativa de indicar seus titulares. Oscargos de caráter definitivo só podem ser extintos por lei e, quando isso ocorre, os servidores devemser reaproveitados em cargos similares. Estes últimos, ao contrário, só admitem provimento em caráterprovisório, ou seja, quem o ocupa pode ser livremente dispensado se assim desejar o superior hierár-quico que o nomeou. Caso o cargo venha a ser extinto, desobriga o reaproveitamento do funcionárioem outro setor.

Assim, para os contadores que estão saindo das faculdades, ou para aqueles que já saíram e queoptarem por entrar na área pública, duas opções se apresentam: a primeira, e mais recomendável, ébuscar a aprovação em um concurso público. A segunda opção é buscar contatos pessoais e políticospara obter a indicação para um cargo de confiança (cargo em comissão). não se esquecendo de que,nesse caso, não há estabilidade e tanto a nomeaçao quanto a exoneração são faculdades do titular doórgão ou entidade.

Uma vez alcançada a aprovação em concurso público, a nomeação e a investidura no cargo públi-co, começa uma segunda fase. Com a posse no cargo, um novo desafio se apresenta. Será necessárioque o profissional da área contábil domine as ferramentas tecnológicas que o cercam e que conheçadetalhada mente as normas legais que dão sustentação a todos 05 atos praticados ou fatos ocorridos.Saber interpretar o produto gerado pela tecnologia da informação, ter feeling para produzir informaçõesconcisas e úteis no processo de tomada de decisão e, acima de tudo, ser ético e ter personalidade paraenfrentar situações que exigem postura profissional na defesa dos interesses públicos (e que, muitasvezes, contrariam interesses privados de gestores não muito bem intencionados) são atributos impres-cindíveis aos profissionais que desejam destaque na área pública.

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Não podemos esquecer, ainda, que estamos em constante interação com pessoas. Assim, liderança'e habilidades para a comunicaçao, escrita ou falada, são fundamentais. Aqueles que conseguem de-monstrar conhecimento na produção de pareceres e informações em processos administrativos, bemcomo na coordenação de reuniões de trabalho, cursos de capacitação e outros eventos com o públicointerno ou externo, via de regra, são os profissionais mais bem sucedidos na administração pública.

Portanto, o contabilista que desejar conquistar o seu espaço profissional e construir uma carreira dedestaque, tanto na iniciativa privada como na Administração Pública, deverá ficar atento às inovaçõestecnológicas e às rápidas mudanças no mundo dos negócios, sob pena de tornar-se um profissional co-mum. Obter um título de pós-graduação já é um bom começo. Contudo, somente isso não basta paragarantir o sucesso e provar a sua competência. O contabilista deve buscar continuamente atualizar osseus conhecimentos e buscar ser criativo no sentido de apresentar aos superiores soluções e alternativas,e não apenas problemas, comprometendo-se com o sucesso do órgão ou entidade em que trabalha,independentemente de comando político ou partidário.

A resposta à 'pergunta sobre o que a sociedade e o mercado detrabalho, especificamente na área de Perícia Contábil, esperam dosfuturos profissionais, em termos de habilidade, competências e conhe-cimentos necessários requer que se fale sobre a atuação profissionalcomo perito contábil.

A Perícia Contábil é uma função privativa dos contadores. É a formade demonstrar, por meio de trabalho especializado, materializado emrelatórios periciais contábeis (laudo ou parecer), a verdade dos fatos. Ocontador, como perito contábil, exerce função de grande interesse paraa sociedade e para os envolvidos nas demandas judiciais e extrajudiciais,nestas incluídas as de natureza arbitral.

O perito contábil prepara e fornece informações sobre matériacontábil relativa ao patrimônio de pessoas e sociedades; atende a umaclasse especial de tomadores de decisões, para subsidiar seus processosdecisórios. Na esfera judicial, o tomador de decisões é o juiz federal oUestadual, que conduz os processos de acordo com o Código de Proces-

so Civil. Sempre que o juiz se defrontar, no momento de suas decisões, com questões controversas denatureza patrimonial, para as quais não possui conhecimentos, se vale do auxílio do Perito Contábil. Naesfera extrajudicial, há os procedimentos arbitrais. Na esfera privada, estão as pessoas 'e as sociedadesinteressadas em resolver questões patrimoniais complexas.

Como nas demais alternativas profissionais ao alcance dos contadores, atuar como perito contábilpressupõe alguns requisitos. O profissional deve ser Bacharel em Ciências Contábeis e possuir o registroregular no Conselho Regional de Contabilidade. AJustiça de alguns estados possui instruções específicassobre como se habilitar, nas Unidadesjudiciárias, para exercera função pericial contábil. Na esfera federal,é preciso requerer a inclusão no rol de peritos das unidades judiciárias. É muito útil possuir experiênciaprofissional, acumulada com a passagem em organizações de setores, portes e origens variados.

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É preciso conhecer a legislação. Na esfera Cível, estão o Código de Processo Civil, o Código Civil, alegislação societária, a tributária (nas esferas federal, estadual e municipal) e outras específicas, a depen·der da matéria que será enfrentada. Na esfera trabalhista, é primordial conhecer a legislação pertinente.Os interessados em atuar nos casos de falência e recuperação de empresas (área, a meu ver, muito malexplorada pelos, peritos contábeis) devem dominar a legislação aplicável; e os interessados em exerceratividade pericial em procedimentos arbitrais precisam conhecer a Leide Arbitragem.

Exceto nas funções do serviço público (polícias Federal e Civil estaduais), atuar como perito contábil·requer a escolha entre ser profissional liberal ou empresário contábil. O interessado precisa ter ou de~senvolver um conjunto de habilidades, competências e conhecimentos para bem exercer a função. Osrequisitos necessários ao empreendedor ou empresár:io são mandatórios. É preciso capacidade de pla-nejamento e de administração do tempo (para lidar com vários casos ao mesmo tempo). habilidade decomunicação oral (para interlocução com pessoas ao longo do trabalho pericial) e escrita (para preparare apresentar laudos organizados, inteligíveis e agradáveis de ler). Os interessados em atuar em proce-dimentos arbitrais devem dominar um segundo idioma, pelo meno~ Q inglês, pois há tribunais arbitraisinternacionais cuidando de causas em nosso País.

Os interessados em exercer a função de perito contábil enfrentarão desafios técnicos variados. Épreciso estar em permahente educação continuada. Isso ocorre com a frequência em instituições deensino e entidades que oferecem cursos e palestras, pelo estudo dos temas a serem enfrentados, pelatroca de ideias com colegas e acompanhamento da legislação e das normas contábeis. Há alguns cursosde pós-graduação que, em meu entendimento, precisam de professores com preparo específico, alémde melhorias da grade de disciplinas, das atividades extrassalas e dos trabalhos de conclusão de curso.Os cursos que vierem a atender esses requisitos poderão oferecer uma melhor preparação dos futurosperitos contábeis e propiciar a reciclagem dos atuantes na função.

Salvo raras exceções, não há um plano de carreira para o perito contábil. O que se observa sãoprofissionais exercendo a função de forma individual, em parceria com peritos contábeis mais -expe-rientes (mentores ou formadores de novos profissionais), ou em (pouquíssimas) empresas de serviçoscontábeis que realizam atividades de natureza pericial. Com o passar do tempo, aliando o bom tra-balho e o relacionamento desenvolvido, o profissional poderá ser convidado a atuar como assistentetécnico indicado pelas partes de um processo, a elaborar pareceres para instruir processos judiciais eextrajudiciais, a realizar Perícia Contábil em Tribunais. Arbitrais ou a realizar exames periciais contra-tados por empresas.

A sociedade deve esperar e exigir que os peritos contábeis auxiliem os tomadores de decisões (juízesda esfera pública, presidentes de Tribunais Arbitrais na esfera privada, empresários, gestores de empresase pessoas físicas) com o resultado de seu trabalho. Os relatórios periciais contábeis (laudo e parecer)subsidiam decisões complexas, sobre a preservação, ou não, do patrimônio de pessoas e sociedades. Alémdo rigor técnico, a celeridade na realização do trabalho (sempre que possível), a imparcialidade, a éticae a clareza no entendimento do resultado do trabalho pericial são esperados do perito contábil.

Para finalizar, é preciso dizer que a sociedade e o mercado de trabalho podem e devem colaborar comeles mesmos em relação à Perícia Contábil. Sempre que em uma demanda se constatar a nomeação (noJudiciário) ou a indicação (na esfera extrajudiciária) de um não contador para realizar o exame pericialcontábil. é preciso alertar os envolvidos. É primordial requerer, pelos meios legais e regulamentares, asubstituição do profissional e a indicação de alguém habilitado. Nesse ponto em particular, os peritoscontábeis na função de assistentes técnicos têm uma grande responsabilidade, uma vez que, ao nãoalertarem seus clientes nessas circunstâncias, estarão legalmente impedidos de avaliar tecnicamente oque vier a ser produzido.

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24 Reportagem: O qm· o lllf'ICldO ~ltualc,~p.'radospl"Ol1ssiolldis ~:ontJbei.~

A área de Perícia Contábil foi desenvolvida apoiada no empirismo ena necessidade de se obterem ,informações precisas para esclareci mentosde fatos que demandavam conhecimento contábil apurado. Por essarazão, a atividade foi desenvolvida como se apenas a utilização comoprova em processo judicial fosse seu universo. Sim, pois a necessidade deesclarecimentos sobre fatos veio, como imposição, d,a regra do Códigode Processo Civil€, à míngua de normas préexistentes, a Perícia Contábilse desenvolveu quanto aos seus aspectos formais, sem contrapartida dedesenvolvimento de sua essência técnica.

Desse impulso externo, algumas faculdades de Ciências Contábeis,iniciaram as cadeiras de Perícia Contábil, ao que pude obter, na décadade 1970, mas tendo como centro de observação o exame das normasdo Código de Processo Civil. o que se espalha até hoje nos centros degraduação universitária. Portanto, passou~se a lecionar sobre a forma,mais que sobre a essência; daí porque muitos cursos dão ênfase à função

de perito judicial e, não, à profissão ou especialização de perito contador.a fato, porém, é que o mercado jamais se confundiu e jamais trocou a essência pela forma. a mercado

não se restringe à utilização como prova em processo judicial, mas abrange todas as necessidades de "exameinvestigativo integral de matéria que dependa de conhecimento da ciência contábil efetuado por contador edestin~do a esclarecer técnicos e leigos". Esse conceito, que tenho desenvolvido em todos os trabalhos e apre-sentações em núcleos de classe e universitários, permite que se entenda que, além de servir como instrumentode prova objetiva em processo civil,a Perícia Contábil é o trabalho destinado a esclarecer e informar; (i) o PoderJudiciário; (ii) os Tribunais Arbitrais; (iii)a Polícia Federal e as Polícias Estaduais; (iv) os Ministérios Públicos Fe-deral e Estaduais.; (v) as Pessoas, naturais ou jurídicas, que buscam seus direitos no Poder Judiciário ou peranteTribunais Arbitrais; (vi)os Contribuintes, perante os Tribunais Tributários Administrativos, os órgãos da admi-nistração tributária e para segurança interna dos principios tributários; e (vii)as Empresas, entidades em geral,administradores e gestores para detecção de falhas específicas de sistemas, de controles ou de pessoas.

Assim, os profissionais contadores já encontram e os profissionais do futuro encontrarão o..rnercado ca-rente de peritos contadores que assim se façam ser conhecidos pela prevalência da qualificação sobre a merahabilitação funcional e pela capacidade de apurar o fato exato e trazê~lo a lume, na sua essência técnica. amercado exigirá aprimoramento técnico constante dos peritos contadores e estes, por sua vez, obrigarão aodesenvolvímento das especializações, mestrados e doutorados em matérias técnicas, que se repetirão no dia adia de pessoas e empresas, com a finalidade de tornar esclarecidos fenômenos que se conhecem, hoje, apenasem decorrência de existirem. Haverá um avanço profissional e de mercado, pois haverá a ampliação do uso daPerícia Contábil em temas nos quais hoje se utilizam relatórios imperfeitos por suas ressalvas de escopo.

Evidentemente, a conseqüência desse avanço profissional e desse desenvolvimento científico será a retribui-ção aos usuários e, em especial, à prova pericial contábil pelo albergar da profissão durante quase um século,de premissas técnicas de consistência científica aprimorada de modo a eliminar uma importànte parcela dedivergências técnicas que ocorrem mais da falta de qualificação do que da existência de fatos controvertidos.

Nesse cenário, os profissionais deverão fazer seu desenvolvimento científico ser acompanhado de capa-cidade de comunicação em linguagem objetiva e compreensível, aprimorar sua capacidade de pensamentosistêmico, evoluir em mais de um idio"ma,desenvolver a competência de se comunicar em público e manter-sesempre em trabalho de aprimoramento pessoal, de modo a alcançar um saber que poderá sempre lhe permitirapresentar resultados que informem, de fato, aos interessados, sem se curvar aos objetivos desses interessadose sem se afogar na soberba de um conhecimento ou função efêmeros.

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A contabilidade dos fundos de pensão ê um segmento específico daCiência Contábil, o qual, por mais de 30 anos, vem sofrendo atualizaçõescom o objetivo de imprimir total transparência, coerência e fidedignidadedos controles contábeis, exigindo, com isso, vasto e sólido conhecimentodo profissional com relação à legislação que a norteia.

A identificação das competências do contador pode contribuir para odesenvolv~mento do profissional da Contabilidade no segmento fechadode previdência complementar brasileiro. Assim, o atual ambiente devertical crescimento que vive este segmento passa por exigir e construiras características do contador, cujas habilidades para atender, de formaeficiente, às demandas desse novo cenário são essenciais.

Este profissional deve entender do negócio da previdência comple-mentar, que passa pelo mercado de capitais, atuária, orçamento, plane-jamento e, principalmente, trabalho em equipe. Diante de tal exigência,deseja~se um profissional comprometido, em especial, com os princípioscontábeis, haja vista tratar-se de uma contabilidade que faz uso excessivo

das técnicas de mensuração de ~eus passivos e ativos. A interdisciplinaridade contribui sobremaneira paraque o contador dos fundos de pensão reúna as habilidades necessárias para interagir e compreender osreflexos das ações de todos os setores da entidade na Contabilidade.

É primordial que o contabilista se mantenha em constante observância e sintonia com os instrumentosnormativos baixados pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). já que tallegislação é o arcabouço para o desempenho de suas atividades no fundo de pensão.

Talafirmativa poderá ser perfeitamente comprovada por meio das significativas reformulações implantadas nosistema a partir do exercício 2009, apresentando como destaque a inclusão da contabilidade previdenciária nasNormas Brasileirasde Contabilidade (NBG-11), não deixando aqui de registrar o trabalho conjunto desenvolvidopelo Conselho Federalde Contabilidade (CFC);pela Previc, na atuação de seustécnicos, sob a coordenação do supe-rintendente Ricardo Pena Pinheiro; pela Associação Brasileiradas Entidades Fechadas de Previdência Complementar(Abrapp) e pela Associação Nacionaldos Contabilistas das Entidades de Previdência(Ancep),a qual procura colaborar,formar massa técnica e aperfeiçoar os profissionais por meio de seu ininterrupto programa de treinamento.

Nosso entendimento é que a parceria estabelecida entre a Ancep e as entidades norteadorase norma-tizadoras do sistema contábil na previdência complementar vem se fazendo cada vez mais intensa, não sóna divulgação do conhecimento para os contabilistas brasileiros, mas também por meio da possibilidade deconstituição de uma previdência complementar específica, contando com o apoio do Conselho Federal deContabilidade e respectivos Conselhos Regionais.

Se faz mister registrar que o patrimônio social dos 372 fundos brasileiros é de 516 bilhões de reais (17% doProduto Interno Bruto), contando com 1.107 planos previdenciais no universo de suas 2.150 patrocinadoras e468 instituidores, acolhendo uma população de 6,6 milhões de beneficiários, cujo crescimento vem se verifi-cando via planos de benefícios com foco nas entidades multipatrocinadas (fonte: apresentação do diretor daDIACE-Previc,Edevaldo Fernandes da Silva, disponível em www.ancep.org.br).

Enfim, o contador recém-formado carece de uma preparação mais ampla, na qual a melhoria em outras ha':.bilidades é condição n~cessária para este potencial candidato ao mercado de fundos de pensão. Neste mercado,a participação no processo decisório das entidades é um potencial espaço dedicado a este profissional, fazendocom que se torne capacitado na produção de informações consolidadas relevantes para a gestão da entidade.

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