a nova lei dos direitos autorais

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  • 8/7/2019 A nova lei dos Direitos Autorais

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    A Nova Lei de Direitos Autorais Comentrios

    Plnio Cabral

    Nota explicativa

    Este trabalho , apenas, breve e modesta apreciao da nova Lei de Direitos Autorais, tendo

    em vista, principalmente, as modificaes apresentadas em face de novos conceitos e novasrealidades.

    Trata-se de um trabalho cujo objetivo dar alguns subsdios para aqueles que, em funode suas atividades, necessitam aplicar, desde logo, a nova lei.

    No houve, por isso mesmo, pretenso de um estudo mais aprofundado para o qual, semdvida, no faltaro os mais doutos na matria.

    Tanto quanto possvel os artigos foram reunidos em grupos segundo a prpria sistemticada Lei. Eles foram, assim, transcritos ao incio da pgina e, a seguir, analisados, com o que

    se procurou facilitar o trabalho do leitor.

    I - INTRODUO

    A OBRA DE CRIAO E O AUTOR

    O homem recria a realidade. Registra os fatos segundo seu ponto de vista.

    espantoso que o habitante da caverna certamente mais preocupado com a sobrevivncia

    fosse capaz de retratar, em pinturas, os fatos que compunham sua vida. Eis um exemplode abstrao da realidade e sua reproduo sobre uma base, a parede da caverna.

    Esse artista primitivo tinha uma viso do mundo. Era um poeta. Um criador. Possua opoder de fixar a realidade da sua vida, seus combates, suas caadas, as feras que oameaavam. Ver o fato, pensa-lo, abstrair e, novamente, materializa-lo numa pintura eisalgo extraordinrio.

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    E continua sendo extraordinrio.

    O instrumento rudimentar do artista primitivo transformou-se. E transformou-se o homem,senhor de tecnologia invejvel e altamente sofisticada.

    Mas o mistrio da criao persiste.A obra de arte manifestao nica. Ela reproduz a realidade. Mas e aqui seu mistrionotvel uma realidade que brota do interior do artista e a transforma, dando-lhe toqueespecial.

    Esse "toque especial" que faz a obra de arte, distingue o artista. E reclama proteo legal.

    H, desta forma, dois momentos, dois fatores: a vida exterior e a sensibilidade interior doartista. Ele realiza um trabalho marcante e marcado. Fala a sensibilidade. Transmitesensaes. E materializa essa viso exterior e interior de forma que possa transmiti-la a

    outros. algo seu, pessoal, particular e que ele oferece ao mundo, seja esse mundo grandeou pequeno, prximo ou distante.

    Dessa peculiaridade pessoal do ato criativo nasce um tipo tambm peculiar de propriedade:a propriedade sobre o produto da criao artstica que a lei e as convenes reconhecemcomo um bem mvel.

    algo feito pela mo do homem, um ato individual e nico que justifica, plenamente, aposse do objeto criado. Seria, no caso, a propriedade por excelncia, indiscutvel e nica,nascida do esprito do homem.

    O conceito geral de propriedade sofreu modificaes ao longo do tempo, at transformar-seem algo universal, especialmente aps a revoluo francesa e o advento da burguesiamercantil.

    A industrializao mudou a face do mundo. E mudou, tambm, o carter da propriedade.

    A criao artstica, entretanto, continuou sendo "do" artista. Na Roma antiga e escravagistao autor tinha o privilgio do reconhecimento publico, mesmo que ele fosse escravo e,portanto, apenas um instrumento de trabalho. A obra, ento, pertencia ao senhor. Mas aautoria e consequentemente a gloria do feito era do artista, como tal reconhecido efestejado.

    Essa caracterstica pessoal que levou, em Roma, a condenao pblica dos plagirios, queeram execrados. A prpria palavra j , em si, uma condenao. Plagiarius significaseqestrador, aquele que rouba algo muito pessoal, como se fora um ser humano.

    Mas a antigidade clssica, embora cultuasse o direito, lanando suas bases para um futuroto distante que chegou at nossos dias, no considerou a obra de arte como umapropriedade que pudesse integrar o ordenamento legal da poca.

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    compreensvel. Mesmo at bem pouco tempo os juristas divergiam sobre o carter dapropriedade intelectual. Alguns estudiosos entendiam que a obra de criao um bempblico, patrimnio da humanidade. Outros afirmavam que o autor tem apenas umprivilgio temporrio, uma propriedade limitada no tempo. E, finalmente, havia aqueles queconferiam ao autor um direito absoluto sobre sua obra, dela podendo dispor em qualquer

    tempo. compreensvel a controvrsia. A obra de arte, o produto da criao, peculiar. Gera uminteresse universal e, sem dvida alguma, um direito tambm especial: o direito que tem ocidado em qualquer tempo e em qualquer lugar de apreciar uma obra de arte.

    H, dessa forma, dois pontos:

    1) o autor, como proprietrio da obra que cria, dela pode dispor;

    2) mas essa obra , tambm, feita para o pblico. Sem ele perde-se a finalidade maior da

    obra. uma contradio que se acentua na medida em que a divulgao do produto artsticoadquire um carter de massas, atravs de uma distribuio ampla e universal..

    Na antigidade esse conceito no existia e nem tinha importncia. A pirmide era do Farae no de seu autor. Certamente o arteso recebia benesses. Mas a propriedade material daobra era do senhor.

    No necessrio ir to longe. O renascimento historicamente recente - foi o apogeu domecenato. Mas foi, tambm, o apogeu daquilo que, muito mais tarde, iramos chamar dedireitos morais do autor.

    O artista do renascimento era pago. Um agregado da corte. Era honrado e dignificado. Massua obra pertencia ao encomendante. O nome do artista, porm, ali ficava. E, comosabemos, ficou para sempre. A paternidade da obra dos renascentistas um ponto alto nosdireitos morais do autor chegou at ns. Seus patronos e pagantes desapareceram.

    O direito do autor sempre foi reconhecido. O que no se reconhecia era a sua propriedadematerial sobre as criaes do espirito.

    A obra de arte apresentava uma face curiosa que persiste em alguns casos: a dificuldadeem multiplica-las para o uso comum.

    Se isso era vlido para as obras de artes plsticas em geral, tambm o era para o livro, at oadvento do tipo mvel e do papel.

    O livro era imenso, copiado em peles de carneiro ou tbuas de madeira, enormes e detransporte difcil. O papiro o papel veio facilitar muito esse trabalho. Mas elecontinuava sendo uma cpia manual, demorada e, no raro, pouco confivel. O copista

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    confundia-se com o autor. Mesmo assim, o livro copiado teve longa durao: cerca de vintesculos.

    O desenvolvimento da tcnica facilitou a difuso das obras de arte, especialmente asmanifestaes escritas. Os tipos mveis de Gutenberg, que apareceram em 1.455, tornaram

    possvel a composio de livros e sua difuso em grande escala. Foi uma revoluo. E onascimento de uma nova industria.

    Era natural que isso, num mundo ainda sob o impacto das corporaes, dependesse delicena dos reis e poderosos da poca. Eram os privilgios. Como o prprio nome indica,tratava-se de uma concesso peculiar e particular. A histria registra essas concesses emostra, ao mesmo tempo, que elas representavam, inegavelmente, uma forma de controlesobre os autores e um protecionismo desmedido. Autores menos rebeldes e maisacomodados, dedicavam suas obras a bispos, reis, prncipes, duques enfim, aos poderososdo dia.

    As licenas para imprimir eram concedidas a tipografias, impressores e livreiros oseditores da poca.

    Um dos primeiros privilgios que se conhece foi concedido pela Repblica Veneziana a umtal de Giovani da Spira, que deteve o monoplio da edio de obras clssicas.

    Impressores e livreiros obtinham esse privilgio real para imprimir e vender qualquer obra,desde que aprovada pelos governantes.

    O autor, no caso, no tinha qualquer vantagem econmica . O sistema beneficiavaexclusivamente impressores e vendedores, chamados " stationers". O autor era figurasecundaria nesse pacto comercial.

    Dlia Lipszyc, em sua obra " Derechos de Autor y Derechos Conexos", referindo-se ahistria dos direitos autorais, diz:

    " Desde fins do sculo XVII foi tomando corpo um forte movimento de opinio favorvel aliberdade de imprensa e ao direitos dos autores os quais consideravam-se protegidos pelacommon law e contrrios aos Stationers Company, de Londres, poderosa corporao quedefendia os interesses dos impressores e livreiros que haviam recebido o privilegio decensurar as obras que publicavam."

    Esse privilegio real datava de 1557.

    A luta dos autores pelo direito de dispor de suas obras contra um privilegio real assinala osurgimento das modernas concepes sobre direitos autorais. No foi uma luta fcil, poisconfundia-se com a prpria luta pela liberdade de expresso.

    Com efeito, em 1710 surgiu na Inglaterra, oriundo do Parlamento, a lei que veio a serconhecida como " Estatuto da Rainha Ana" .

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    Com essa lei mudava a situao: agora os "stationers"- impressores e livreiros poderiamcontinuar imprimindo suas obras, mas deveriam adquiri-las de seus autores atravs de umcontrato de cesso.

    A partir desse momento o autor assume seu lugar como proprietrio do trabalho criativo

    que realiza, e detentor de um direito exclusivo: o direito autoral que viria, mais tarde, aconsolidar-se em varias leis e tratados internacionais, sendo o principal deles e basilarpara todo o sistema a Conveno de Berna.

    A CONVENO DE BERNA

    A partir do Estatuto da Rainha Ana vrios pases editaram leis protegendo os direitos deautor.

    Pode parecer estranho, a primeira vista, esse af governamental em proteger o autor,geralmente um rebelde . Acontece que a cultura e o conhecimento constituem patrimnionacional a ser estimulado e protegido, o que provocou a ao legal de quase todos os pasesda Europa.

    Mas, ao lado desse aspecto, preciso considerar que a arte no reconhece fronteiras. Suatendncia rompe-las. Sempre foi assim. A arte est acima das naes.

    claro que essa caracterstica teria, fatalmente, que criar problemas no momento dereivindicar direitos e aplicar a lei. Para resolve-los firmaram-se vrios tratados e convnios,os quais se multiplicaram de forma espantosa, tornando difcil sua prpriaoperacionalidade. A Frana, para citar apenas um aso, chegou a ter 24 tratados bilateraissobre direitos de autor.

    Eles chegaram a centenas, reclamando uma soluo que o governo da Sua chamou decivilizada, num apelo as naes do mundo em prol de um acordo geral sobre matria toampla e controvertida.

    Mas, alem dessa necessidade objetiva, a prpria revoluo industrial trazia, em seu bojo,idias de internacionalizao, tanto para o mercado como para as reivindicaes dostrabalhadores. curioso como o aspecto global do mundo sempre esteve presente tantopara os comerciantes como para os intelectuais...

    O pensamento filosfico proclamava-se universal. Auguste Conte colocava , em primeirolugar e acima das naes, a humanidade . Em 1848 aparecia o Manifesto Comunista , deMarx e Engels, que se dirigia ao proletariado de todo o mundo. Os chamados socialistasutpicos - Fourier e Saint Simon - pensavam em termos universais.

    Nada mais natural que os artistas da poca tambm encarassem a literatura e as artes acimadas fronteiras nacionais.

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    Em 1858 realizou-se, em Bruxelas, um congresso internacional sobre propriedadeintelectual. Foi uma reunio ampla, com a participao oficial e no oficial de muitospases, alem de escritores, professores, cientistas e jornalistas.

    Ele teve o mrito de lanar as sementes e as bases para uma apreciao internacional dos

    direitos de autor. Mas no teve continuidade e nem conseqncias imediatas.Em 1878 Victor Hugo presidiu um congresso literrio mundial. Surge a AssociaoLiterria Internacional que passa a trabalhar em prol de um documento em defesa dosdireitos universais do autor.

    Em setembro de 1886 realizou-se em Berna a terceira conferncia diplomtica sobredireitos autorais. A ata dessa conferncia que vem a ser, finalmente, a "Conveno deBerna para a proteo das obras Literrias e Artsticas."

    Trata-se de um documento notvel. Ele objetivo, preciso e, ao mesmo tempo, flexvel. o

    mais antigo tratado internacional em vigor e aplicado. Sofreu varias revises que tiverampor finalidade atualiza-lo em face de novas realidades sem, contudo, atingir sua espinhadorsal que a defesa e proteo dos direitos patrimoniais e morais do autor.

    Sua ltima reviso data de 24 de julho de 1971, com emendas de 28 de setembro de 1979,que o documento hoje em vigor.

    A Conveno estabelece:

    o que obra literria e artstica: todas as produes no campo literrio, cientfico eartstico, qualquer que seja o modo ou forma de expresso;

    estabelece os critrios para proteo: protege-se a manifestao concreta do espritocriador;

    define o que obra publicada: " aquelas que foram editadas com o consentimentodo autor qualquer que seja o modo de fabricao dos exemplares, sempre que aquantidade posta a disposio do pblico satisfaa razoavelmente suasnecessidades";

    declara que o "gozo e exerccio desses direitos no estaro subordinados a nenhumaformalidade"; o autor identificado perante os tribunais pelo seu nome aposto aobra, mesmo que seja um pseudnimo; ele est livre do controle governamental;

    fixa e define o pas de origem: "aquele em que a obra foi publicada pela primeiravez";

    assegura o direito de adaptao, traduo autorizada, os direitos sobre obrasdramticas e dramtico-musicais;

    fixa o prazo de vigncia dos direitos do autor aps sua morte: 50 anos. Mas garanteaos pases signatrios da Conveno o direito de aumentar esse prazo;

    a Conveno divide, claramente, os direitos de autor em patrimoniais e morais, estesirrenunciveis e inalienveis, mesmo quando o autor cede definitivamente sua obrapara explorao por terceiros;

    assegura o direito a paternidade da obra e o de impedir modificaes de qualquernatureza;

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    fixa as limitaes aos direitos do autor: cpias sem fins de lucros, citaes, noticiasde imprensa, divulgao dos fatos e informaes gerais so livres;

    assegura o chamado "direito de suite", ou seja, a participao do autor nos lucros daeventual revenda de sua obra qualquer que seja ela.

    Esse documento possui, ainda, um anexo especial sobre os pases subdesenvolvidos, aosquais concedido tratamento especial, desde que assim o requeiram.A Conveno de Berna, pela sua amplitude e constante atualidade, modelo que temservido de base para as legislaes sobre direitos autorais em vrios pases do mundo,inclusive no Brasil.

    OS DIREITOS AUTORAIS NO BRASILA 19 de fevereiro de 1998 foi sancionada uma nova Lei de Direitos Autorais, que recebeu onmero 9.610.Como todo diploma que consagra direitos, ela fruto de um longo processo de discusses,procurando refletir interesses nem sempre convergentes.A histria dos direitos autorais no Brasil vem de longa data. Pode-se, mesmo, dizer que onosso problema no reside na falta de diplomas legais, mas no seu cumprimento. ParaMonstesquieu " a lei, em geral, a razo humana, tanto que ela governa todos os povos daterra." Esse conceito, entretanto, nem sempre se aplica em nosso pas, onde os prpriospoderes pblicos colocam-se acima das leis incluindo-se naquela condenao histrica feitapor Maquivel, quando disse: " Com efeito, o exemplo mais funesto que pode haver, a meujuzo, o de criar uma lei e no cumpri-la, sobretudo quando sua no observncia se devequeles que a promulgaram."O Brasil criou, em 1827, pouco depois de sua independncia, os cursos jurdicos. E nelesassegurava, aos professores, o direito sobre suas obras. O artigo 7 dessa lei estipulava oseguinte:" Os lentes faro a escolha dos compndios da sua profisso, ou os arranjaro, no existindoj feito, contanto que as doutrinas estejam de acordo com o sistema jurado pela nao.Esses compndios, depois de aprovados pela Congregao, serviro interinamente,submetendo-se porm a aprovao da Assemblia Geral, e o governo far imprimir efornecer s escolas, competindo aos seus autores o privilgio exclusivo da obra por dezanos."Duas questes surgem desse artigo: a primeira diz respeito a preocupao do governo em"imprimir e fornecer as escolas" os livros necessrios. A segunda questo diz respeito aosdireitos autorais," competindo aos seus autores o privilgio da obra por dez anos."Mais tarde, em 1830, o Cdigo Criminal do Imprio estabeleceu penas para quem "imprimir, gravar, litografar ou introduzir quaisquer escritos ou estampas, que tiverem sidofeitos, compostos ou traduzidos por cidados brasileiros, enquanto estes viverem, e dezanos depois de sua morte se deixarem herdeiros."A pena era da perda dos exemplares ou pesada multa.Ao longo do tempo atravs de leis e decretos - o Estado brasileiro procurou sempreproporcionar, ao autor, o amparo legal para a defesa de suas obras.O Cdigo Civil, promulgado em janeiro de 1916, dedicou todo um capitulo a propriedadeliterria, cientfica e artstica, assegurando, de forma clara, os direitos do autor.Para a poca, o Cdigo Civil foi avanado e precursor aos fixar os direitos de autor e seuslimites.

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    Aps o advento do Cdigo Civil, extensa legislao foi editada para abordar diferentessetores onde autores e interpretes reclamavam proteo. Em 1973, finalmente, surgiu a lei5988 para regulamentar os direitos autorais. Foi um grande passo, pois consolidou toda alegislao existente.Ao lado do diploma civil, o cdigo penal vigente, em seu artigo 184, trata dos crimes contra

    a propriedade intelectual, estabelecendo penas bastante severas para os transgressores.Edita esse artigo:"Art. 184 Violar direito autoral:Penas: deteno de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, ou multa.Pargrafo 1 Se a violao consistir em reproduo por qualquer meio, com intuito delucro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem autorizao expressa do autor ou dequem o represente, ou constituir na reproduo de fonograma ou videofonograma, semautorizao do produtor ou de quem o represente:Pena: recluso de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa de CR$10.000,00 a CR$50.000,00.Pargrafo 2 Na mesma pena do pargrafo anterior incorre quem vende, expe venda,aluga, introduz no Pas, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depsito, com intuito delucro, original ou cpia de obra intelectual, fonograma ou videograma, produzidos oureproduzidos com violao de direito autoral.Pargrafo 3 Em caso de condenao, ao prolatar a sentena, o juiz determinar adestruio da produo ou reproduo criminosa."Deve-se considerar, tambm, que a Constituio Federal taxativa ao garantir os direitosdo autor a sua obra.Com efeito, o artigo 5, que trata dos direitos e garantias do cidado, diz em seu itemXXVII:" aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suasobras, transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar. "E o item seguinte, no apenas confirma esses direitos, estendendo-os aos participantes deobras coletivas, como garante s associaes dos autores o direito de fiscalizar oaproveitamento econmico de suas obras. Textualmente:"XXVIII so assegurados, nos termos da lei:a) a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da imagem evoz humanas, inclusive nas atividades desportivas;b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de queparticiparem aos criadores, aos intrpretes e s respectivas representaes sindicais eassociativas."Neste item a voz e a imagem, pelo que constituem, elevam-se a categoria de direitosconstitucionais. Mais ainda: no que diz respeito ao aproveitamento econmico da obra decriao, o autor pode fiscaliza-la atravs de suas associaes, o que confere a elas umenorme poder e fora objetiva para evitar abusos.A legislao brasileira, tanto no aspecto civil como penal, sempre procurou instituirmecanismos para proteger os direitos de autor.O problema nacional, entretanto, no e nunca foi a lei, mas a aplicao da lei.Como o mundo autoral brasileiro vem se regendo, desde 1973 portanto h um quarto desculo pela lei 5988, cabe examinar o que mudou com o advento de um novo diplomalegal, tanto a luz da realidade e dos problemas fticos, como a luz da Conveno de Bernaque, assinada e promulgada pelo Brasil, lei interna em plena vigncia e validade.

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    A OBRA DE CRIAO E O AUTOR

    O homem recria a realidade. Registra os fatos segundo seu ponto de vista.

    espantoso que o habitante da caverna certamente mais preocupado com a sobrevivncia

    fosse capaz de retratar, em pinturas, os fatos que compunham sua vida. Eis um exemplode abstrao da realidade e sua reproduo sobre uma base, a parede da caverna.

    Esse artista primitivo tinha uma viso do mundo. Era um poeta. Um criador. Possua opoder de fixar a realidade da sua vida, seus combates, suas caadas, as feras que oameaavam. Ver o fato, pensa-lo, abstrair e, novamente, materializa-lo numa pintura eisalgo extraordinrio.

    E continua sendo extraordinrio.

    O instrumento rudimentar do artista primitivo transformou-se. E transformou-se o homem,

    senhor de tecnologia invejvel e altamente sofisticada.Mas o mistrio da criao persiste.

    A obra de arte manifestao nica. Ela reproduz a realidade. Mas e aqui seu mistrionotvel uma realidade que brota do interior do artista e a transforma, dando-lhe toqueespecial.

    Esse "toque especial" que faz a obra de arte, distingue o artista. E reclama proteo legal.

    H, desta forma, dois momentos, dois fatores: a vida exterior e a sensibilidade interior do

    artista. Ele realiza um trabalho marcante e marcado. Fala a sensibilidade. Transmitesensaes. E materializa essa viso exterior e interior de forma que possa transmiti-la aoutros. algo seu, pessoal, particular e que ele oferece ao mundo, seja esse mundo grandeou pequeno, prximo ou distante.

    Dessa peculiaridade pessoal do ato criativo nasce um tipo tambm peculiar de propriedade:a propriedade sobre o produto da criao artstica que a lei e as convenes reconhecemcomo um bem mvel.

    algo feito pela mo do homem, um ato individual e nico que justifica, plenamente, aposse do objeto criado. Seria, no caso, a propriedade por excelncia, indiscutvel e nica,nascida do esprito do homem.

    O conceito geral de propriedade sofreu modificaes ao longo do tempo, at transformar-seem algo universal, especialmente aps a revoluo francesa e o advento da burguesiamercantil.

    A industrializao mudou a face do mundo. E mudou, tambm, o carter da propriedade.

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    A criao artstica, entretanto, continuou sendo "do" artista. Na Roma antiga e escravagistao autor tinha o privilgio do reconhecimento publico, mesmo que ele fosse escravo e,portanto, apenas um instrumento de trabalho. A obra, ento, pertencia ao senhor. Mas aautoria e consequentemente a gloria do feito era do artista, como tal reconhecido efestejado.

    Essa caracterstica pessoal que levou, em Roma, a condenao pblica dos plagirios, queeram execrados. A prpria palavra j , em si, uma condenao. Plagiarius significaseqestrador, aquele que rouba algo muito pessoal, como se fora um ser humano.

    Mas a antigidade clssica, embora cultuasse o direito, lanando suas bases para um futuroto distante que chegou at nossos dias, no considerou a obra de arte como umapropriedade que pudesse integrar o ordenamento legal da poca.

    compreensvel. Mesmo at bem pouco tempo os juristas divergiam sobre o carter dapropriedade intelectual. Alguns estudiosos entendiam que a obra de criao um bempblico, patrimnio da humanidade. Outros afirmavam que o autor tem apenas umprivilgio temporrio, uma propriedade limitada no tempo. E, finalmente, havia aqueles queconferiam ao autor um direito absoluto sobre sua obra, dela podendo dispor em qualquertempo.

    compreensvel a controvrsia. A obra de arte, o produto da criao, peculiar. Gera uminteresse universal e, sem dvida alguma, um direito tambm especial: o direito que tem ocidado em qualquer tempo e em qualquer lugar de apreciar uma obra de arte.

    H, dessa forma, dois pontos:

    1) o autor, como proprietrio da obra que cria, dela pode dispor;

    2) mas essa obra , tambm, feita para o pblico. Sem ele perde-se a finalidade maior daobra.

    uma contradio que se acentua na medida em que a divulgao do produto artsticoadquire um carter de massas, atravs de uma distribuio ampla e universal..

    Na antigidade esse conceito no existia e nem tinha importncia. A pirmide era do Farae no de seu autor. Certamente o arteso recebia benesses. Mas a propriedade material daobra era do senhor.

    No necessrio ir to longe. O renascimento historicamente recente - foi o apogeu domecenato. Mas foi, tambm, o apogeu daquilo que, muito mais tarde, iramos chamar dedireitos morais do autor.

    O artista do renascimento era pago. Um agregado da corte. Era honrado e dignificado. Massua obra pertencia ao encomendante. O nome do artista, porm, ali ficava. E, como

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    sabemos, ficou para sempre. A paternidade da obra dos renascentistas um ponto alto nosdireitos morais do autor chegou at ns. Seus patronos e pagantes desapareceram.

    O direito do autor sempre foi reconhecido. O que no se reconhecia era a sua propriedadematerial sobre as criaes do espirito.

    A obra de arte apresentava uma face curiosa que persiste em alguns casos: a dificuldadeem multiplica-las para o uso comum.

    Se isso era vlido para as obras de artes plsticas em geral, tambm o era para o livro, at oadvento do tipo mvel e do papel.

    O livro era imenso, copiado em peles de carneiro ou tbuas de madeira, enormes e detransporte difcil. O papiro o papel veio facilitar muito esse trabalho. Mas elecontinuava sendo uma cpia manual, demorada e, no raro, pouco confivel. O copistaconfundia-se com o autor. Mesmo assim, o livro copiado teve longa durao: cerca de vinte

    sculos.O desenvolvimento da tcnica facilitou a difuso das obras de arte, especialmente asmanifestaes escritas. Os tipos mveis de Gutenberg, que apareceram em 1.455, tornarampossvel a composio de livros e sua difuso em grande escala. Foi uma revoluo. E onascimento de uma nova industria.

    Era natural que isso, num mundo ainda sob o impacto das corporaes, dependesse delicena dos reis e poderosos da poca. Eram os privilgios. Como o prprio nome indica,tratava-se de uma concesso peculiar e particular. A histria registra essas concesses emostra, ao mesmo tempo, que elas representavam, inegavelmente, uma forma de controlesobre os autores e um protecionismo desmedido. Autores menos rebeldes e maisacomodados, dedicavam suas obras a bispos, reis, prncipes, duques enfim, aos poderososdo dia.

    As licenas para imprimir eram concedidas a tipografias, impressores e livreiros oseditores da poca.

    Um dos primeiros privilgios que se conhece foi concedido pela Repblica Veneziana a umtal de Giovani da Spira, que deteve o monoplio da edio de obras clssicas.

    Impressores e livreiros obtinham esse privilgio real para imprimir e vender qualquer obra,desde que aprovada pelos governantes.

    O autor, no caso, no tinha qualquer vantagem econmica . O sistema beneficiavaexclusivamente impressores e vendedores, chamados " stationers". O autor era figurasecundaria nesse pacto comercial.

    Dlia Lipszyc, em sua obra " Derechos de Autor y Derechos Conexos", referindo-se ahistria dos direitos autorais, diz:

  • 8/7/2019 A nova lei dos Direitos Autorais

    12/262

    " Desde fins do sculo XVII foi tomando corpo um forte movimento de opinio favorvel aliberdade de imprensa e ao direitos dos autores os quais consideravam-se protegidos pelacommon law e contrrios aos Stationers Company, de Londres, poderosa corporao quedefendia os interesses dos impressores e livreiros que haviam recebido o privilegio decensurar as obras que publicavam."

    Esse privilegio real datava de 1557.

    A luta dos autores pelo direito de dispor de suas obras contra um privilegio real assinala osurgimento das modernas concepes sobre direitos autorais. No foi uma luta fcil, poisconfundia-se com a prpria luta pela liberdade de expresso.

    Com efeito, em 1710 surgiu na Inglaterra, oriundo do Parlamento, a lei que veio a serconhecida como " Estatuto da Rainha Ana" .

    Com essa lei mudava a situao: agora os "stationers"- impressores e livreiros poderiam

    continuar imprimindo suas obras, mas deveriam adquiri-las de seus autores atravs de umcontrato de cesso.

    A partir desse momento o autor assume seu lugar como proprietrio do trabalho criativoque realiza, e detentor de um direito exclusivo: o direito autoral que viria, mais tarde, aconsolidar-se em varias leis e tratados internacionais, sendo o principal deles e basilarpara todo o sistema a Conveno de Berna.

    A CONVENO DE BERNA

    A partir do Estatuto da Rainha Ana vrios pases editaram leis protegendo os direitos deautor.

    Pode parecer estranho, a primeira vista, esse af governamental em proteger o autor,geralmente um rebelde . Acontece que a cultura e o conhecimento constituem patrimnionacional a ser estimulado e protegido, o que provocou a ao legal de quase todos os pasesda Europa.

    Mas, ao lado desse aspecto, preciso considerar que a arte no reconhece fronteiras. Suatendncia rompe-las. Sempre foi assim. A arte est acima das naes.

    claro que essa caracterstica teria, fatalmente, que criar problemas no momento dereivindicar direitos e aplicar a lei. Para resolve-los firmaram-se vrios tratados e convnios,os quais se multiplicaram de forma espantosa, tornando difcil sua prpriaoperacionalidade. A Frana, para citar apenas um aso, chegou a ter 24 tratados bilateraissobre direitos de autor.

    Eles chegaram a centenas, reclamando uma soluo que o governo da Sua chamou decivilizada, num apelo as naes do mundo em prol de um acordo geral sobre matria toampla e controvertida.

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    Mas, alem dessa necessidade objetiva, a prpria revoluo industrial trazia, em seu bojo,idias de internacionalizao, tanto para o mercado como para as reivindicaes dostrabalhadores. curioso como o aspecto global do mundo sempre esteve presente tantopara os comerciantes como para os intelectuais...

    O pensamento filosfico proclamava-se universal. Auguste Conte colocava , em primeirolugar e acima das naes, a humanidade . Em 1848 aparecia o Manifesto Comunista , deMarx e Engels, que se dirigia ao proletariado de todo o mundo. Os chamados socialistasutpicos - Fourier e Saint Simon - pensavam em termos universais.

    Nada mais natural que os artistas da poca tambm encarassem a literatura e as artes acimadas fronteiras nacionais.

    Em 1858 realizou-se, em Bruxelas, um congresso internacional sobre propriedadeintelectual. Foi uma reunio ampla, com a participao oficial e no oficial de muitospases, alem de escritores, professores, cientistas e jornalistas.

    Ele teve o mrito de lanar as sementes e as bases para uma apreciao internacional dosdireitos de autor. Mas no teve continuidade e nem conseqncias imediatas.

    Em 1878 Victor Hugo presidiu um congresso literrio mundial. Surge a AssociaoLiterria Internacional que passa a trabalhar em prol de um documento em defesa dosdireitos universais do autor.

    Em setembro de 1886 realizou-se em Berna a terceira conferncia diplomtica sobredireitos autorais. A ata dessa conferncia que vem a ser, finalmente, a "Conveno deBerna para a proteo das obras Literrias e Artsticas."

    Trata-se de um documento notvel. Ele objetivo, preciso e, ao mesmo tempo, flexvel. omais antigo tratado internacional em vigor e aplicado. Sofreu varias revises que tiverampor finalidade atualiza-lo em face de novas realidades sem, contudo, atingir sua espinhadorsal que a defesa e proteo dos direitos patrimoniais e morais do autor.

    Sua ltima reviso data de 24 de julho de 1971, com emendas de 28 de setembro de 1979,que o documento hoje em vigor.

    A Conveno estabelece:

    o que obra literria e artstica: todas as produes no campo literrio, cientfico eartstico, qualquer que seja o modo ou forma de expresso;

    estabelece os critrios para proteo: protege-se a manifestao concreta do espritocriador;

    define o que obra publicada: " aquelas que foram editadas com o consentimentodo autor qualquer que seja o modo de fabricao dos exemplares, sempre que aquantidade posta a disposio do pblico satisfaa razoavelmente suasnecessidades";

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    declara que o "gozo e exerccio desses direitos no estaro subordinados a nenhumaformalidade"; o autor identificado perante os tribunais pelo seu nome aposto aobra, mesmo que seja um pseudnimo; ele est livre do controle governamental;

    fixa e define o pas de origem: "aquele em que a obra foi publicada pela primeiravez";

    assegura o direito de adaptao, traduo autorizada, os direitos sobre obrasdramticas e dramtico-musicais; fixa o prazo de vigncia dos direitos do autor aps sua morte: 50 anos. Mas garante

    aos pases signatrios da Conveno o direito de aumentar esse prazo; a Conveno divide, claramente, os direitos de autor em patrimoniais e morais, estes

    irrenunciveis e inalienveis, mesmo quando o autor cede definitivamente sua obrapara explorao por terceiros;

    assegura o direito a paternidade da obra e o de impedir modificaes de qualquernatureza;

    fixa as limitaes aos direitos do autor: cpias sem fins de lucros, citaes, noticiasde imprensa, divulgao dos fatos e informaes gerais so livres;

    assegura o chamado "direito de suite", ou seja, a participao do autor nos lucros daeventual revenda de sua obra qualquer que seja ela.

    Esse documento possui, ainda, um anexo especial sobre os pases subdesenvolvidos, aosquais concedido tratamento especial, desde que assim o requeiram.A Conveno de Berna, pela sua amplitude e constante atualidade, modelo que temservido de base para as legislaes sobre direitos autorais em vrios pases do mundo,inclusive no Brasil.

    OS DIREITOS AUTORAIS NO BRASIL

    A 19 de fevereiro de 1998 foi sancionada uma nova Lei de Direitos Autorais, que recebeu onmero 9.610.

    Como todo diploma que consagra direitos, ela fruto de um longo processo de discusses,procurando refletir interesses nem sempre convergentes.

    A histria dos direitos autorais no Brasil vem de longa data. Pode-se, mesmo, dizer que onosso problema no reside na falta de diplomas legais, mas no seu cumprimento. ParaMonstesquieu " a lei, em geral, a razo humana, tanto que ela governa todos os povos daterra." Esse conceito, entretanto, nem sempre se aplica em nosso pas, onde os prpriospoderes pblicos colocam-se acima das leis incluindo-se naquela condenao histrica feitapor Maquivel, quando disse: " Com efeito, o exemplo mais funesto que pode haver, a meujuzo, o de criar uma lei e no cumpri-la, sobretudo quando sua no observncia se devequeles que a promulgaram."

    O Brasil criou, em 1827, pouco depois de sua independncia, os cursos jurdicos. E nelesassegurava, aos professores, o direito sobre suas obras. O artigo 7 dessa lei estipulava oseguinte:

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    " Os lentes faro a escolha dos compndios da sua profisso, ou os arranjaro, no existindoj feito, contanto que as doutrinas estejam de acordo com o sistema jurado pela nao.Esses compndios, depois de aprovados pela Congregao, serviro interinamente,submetendo-se porm a aprovao da Assemblia Geral, e o governo far imprimir efornecer s escolas, competindo aos seus autores o privilgio exclusivo da obra por dez

    anos."Duas questes surgem desse artigo: a primeira diz respeito a preocupao do governo em"imprimir e fornecer as escolas" os livros necessrios. A segunda questo diz respeito aosdireitos autorais," competindo aos seus autores o privilgio da obra por dez anos."

    Mais tarde, em 1830, o Cdigo Criminal do Imprio estabeleceu penas para quem "imprimir, gravar, litografar ou introduzir quaisquer escritos ou estampas, que tiverem sidofeitos, compostos ou traduzidos por cidados brasileiros, enquanto estes viverem, e dezanos depois de sua morte se deixarem herdeiros."

    A pena era da perda dos exemplares ou pesada multa.

    Ao longo do tempo atravs de leis e decretos - o Estado brasileiro procurou sempreproporcionar, ao autor, o amparo legal para a defesa de suas obras.

    O Cdigo Civil, promulgado em janeiro de 1916, dedicou todo um capitulo a propriedadeliterria, cientfica e artstica, assegurando, de forma clara, os direitos do autor.

    Para a poca, o Cdigo Civil foi avanado e precursor aos fixar os direitos de autor e seuslimites.

    Aps o advento do Cdigo Civil, extensa legislao foi editada para abordar diferentessetores onde autores e interpretes reclamavam proteo. Em 1973, finalmente, surgiu a lei5988 para regulamentar os direitos autorais. Foi um grande passo, pois consolidou toda alegislao existente.

    Ao lado do diploma civil, o cdigo penal vigente, em seu artigo 184, trata dos crimes contraa propriedade intelectual, estabelecendo penas bastante severas para os transgressores.Edita esse artigo:

    "Art. 184 Violar direito autoral:

    Penas: deteno de 3 (trs) meses a 1 (um) ano, ou multa.

    Pargrafo 1 Se a violao consistir em reproduo por qualquer meio, com intuito delucro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem autorizao expressa do autor ou dequem o represente, ou constituir na reproduo de fonograma ou videofonograma, semautorizao do produtor ou de quem o represente:

    Pena: recluso de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa de CR$10.000,00 a CR$50.000,00.

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    Pargrafo 2 Na mesma pena do pargrafo anterior incorre quem vende, expe venda,aluga, introduz no Pas, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depsito, com intuito delucro, original ou cpia de obra intelectual, fonograma ou videograma, produzidos oureproduzidos com violao de direito autoral.

    Pargrafo 3 Em caso de condenao, ao prolatar a sentena, o juiz determinar adestruio da produo ou reproduo criminosa."

    Deve-se considerar, tambm, que a Constituio Federal taxativa ao garantir os direitosdo autor a sua obra.

    Com efeito, o artigo 5, que trata dos direitos e garantias do cidado, diz em seu itemXXVII:

    " aos autores pertence o direito exclusivo de utilizao, publicao ou reproduo de suasobras, transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar. "

    E o item seguinte, no apenas confirma esses direitos, estendendo-os aos participantes deobras coletivas, como garante s associaes dos autores o direito de fiscalizar oaproveitamento econmico de suas obras. Textualmente:

    "XXVIII so assegurados, nos termos da lei:

    a) a proteo s participaes individuais em obras coletivas e reproduo da imagem evoz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

    b) o direito de fiscalizao do aproveitamento econmico das obras que criarem ou de que

    participarem aos criadores, aos intrpretes e s respectivas representaes sindicais eassociativas."

    Neste item a voz e a imagem, pelo que constituem, elevam-se a categoria de direitosconstitucionais. Mais ainda: no que diz respeito ao aproveitamento econmico da obra decriao, o autor pode fiscaliza-la atravs de suas associaes, o que confere a elas umenorme poder e fora objetiva para evitar abusos.

    A legislao brasileira, tanto no aspecto civil como penal, sempre procurou instituirmecanismos para proteger os direitos de autor.

    O problema nacional, entretanto, no e nunca foi a lei, mas a aplicao da lei.

    Como o mundo autoral brasileiro vem se regendo, desde 1973 portanto h um quarto desculo pela lei 5988, cabe examinar o que mudou com o advento de um novo diplomalegal, tanto a luz da realidade e dos problemas fticos, como a luz da Conveno de Bernaque, assinada e promulgada pelo Brasil, lei interna em plena vigncia e validade.

    II

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    A LEI 9.610 / 98

    Comentrios

    Principais modificaes

    A LEI 9.610 / 98: A NOVA LEI BRASILEIRA DE DIREITOS AUTORAIS

    A nova Lei de Direitos Autorais foi promulgada a 19 de fevereiro de 1998, depois de umalonga gestao e tomou o nmero 9.610

    Foram muitas as discusses e emendas ao projeto inicial. O longo tempo em que elepermaneceu no parlamento tirou-lhe bastante a atualidade esperada, especialmente emfuno de novas tcnicas de distribuio e comunicao do texto criativo ao pblico emgeral.

    O Brasil tem participado de varias conferncias diplomticas para discutir problemas que arevoluo tecnolgica trouxe para o campo do direto autoral e teria sido oportuno que onovo diploma legal contemplasse questes cruciais que esto na ordem do dia no mundojurdico e tem sido objeto de discusses e concluses bastante avanadas. Isto foi feitoparcialmente. Perdeu-se uma boa oportunidade.

    Alem disso, como sempre, o desejo de atender diferentes setores terminou fragmentando alei, prejudicando sua unidade e, sobretudo, a abordagem sistemtica e conseqente devrios problemas.

    Mas a nova lei tem virtudes e, embora de forma genrica, contempla algumas questes de

    palpitante atualidade. um avano aprecivel.Embora no texto as modificaes sejam pequenas, elas so, em muitos casos, decisivas esignificativas, impondo a necessidade de novas relaes jurdicas entre as partesinteressadas, tornando imprescindvel a anlise de seus diferentes artigos, o que se far aseguir.

    COMENTRIOS: O QUE MUDA

    Ttulo I

    Disposies preliminares

    Art. 1 Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominao os direitosde autor e os que lhes so conexos.

    Art. 2 Os estrangeiros domiciliados no exterior gozaro da proteo assegurada nosacordos, convenes e tratados em vigor no Brasil.

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    Pargrafo nico. Aplica-se o disposto nesta lei aos nacionais ou domiciliadas em pas queassegure aos brasileiros ou pessoas domiciliadas no Brasil a reciprocidade na proteo aosdireitos autorais ou equivalentes.

    Art. 3 Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens mveis.

    Art. 4 Interpretam-se restritivamente os negcios jurdicos sobre os direitos autorais.

    Estes quatro artigos so preambulares.

    O texto anterior, a lei 5.988/73, garantia os mesmos direitos aos aptridas, ou seja: aquelesque, em funo de acidentes e incidentes internacionais, no tinham ptria. Era umfenmeno comum aps a segunda guerra mundial e que o legislador brasileiro,generosamente, considerou. A lei atual deixou de lado esse aspecto. Mas considera oproblema das obras de estrangeiros, cujos interesses autorais so protegidos no Brasil. Paraestes a lei aplicvel a brasileira, seguindo a tradio que vem do nosso Cdigo Civil e

    consolidou-se na sua introduo, onde o artigo 12 determina que " competente aautoridade judiciria brasileira, quando for o ru domiciliado no Brasil ou aqui tiver de sercumprida a obrigao."

    Modifica-se o conceito de tratados e convenes aplicveis no Brasil. Antes a lei exigia queestes fossem apenas " ratificados pelo Brasil. " Agora o conceito se torna mais especfico: necessrio que as convenes e tratados estejam em vigor no Brasil. A diferena, pequenano texto, tem maior alcance. Uma lei em vigor significa sua aplicabilidade constante. Oscostumes, os precedentes, a jurisprudncia, o trabalho dos jurisconsultos, podem fazer comque uma lei, embora existente, no vigore mais. Neste sentido, tanto o Cdigo Civil como oCdigo Penal apresentam exemplos incontveis de dispositivos que existem, so letra delei, mas no vigoram. Alem disso, tratados e convenes podem ser ratificados e ter suavigncia adiada por razes tcnicas ou burocrticas.

    A nova lei, nesse sentido, foi mais precisa e, historicamente, mais objetiva.

    Os dois documentos consideram, com as mesmas palavras, os direitos autorais como " bensmveis".

    Este conceito o resultado de grandes discusses e debates que, no sculo passado,ocuparam juristas de renome.

    Com efeito, na medida em que se pretendia garantir um direito, oponvel "erga homnes",era necessrio conceituar materialmente esse direito e inclui-lo numa categoriadeterminada.

    Como pode existir uma propriedade sem que a lei a defina como tal?

    O saudoso Carlos Alberto Bittar disse:

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    "Na antigidade no se conhecia o direito de autor. Nem em Roma e nem na Grcia secogitou desse direito, inobstante o monumento jurdico legado plos romanos e a fora dopensamento e a expresso da arte dos gregos. Os romanos, que se aliceraram em suaclssica diviso do direito em direitos pessoais, reais e obrigacionais no seaperceberam do direito de autor, no sentido em que se o concebe nos dias atuais. " ( Bittar,

    in "Direito de Autor na obra sob encomenda", pgs.5 e 6)Mas o prprio pensamento romano terminou por influenciar o moderno direito de autor e,sobretudo, sua concepo como bem mvel.

    Piola Caselli, citado por Antnio Chaves ( " Criador na Obra Intelectual", pg.16) diz:

    "Denominar ou no "propriedade" o direito de autor no significa somente atribuir-lhe umadesignao que valha para distingui-lo de outros direitos, mas tem o sentido de conferir esteinstituto, antes de mais nada, grande categoria dos direitos patrimoniais de maneiraparticular, a subclasse de tal categoria que tem o nome de direitos reais - e, maisparticularmente ainda, importa a sua assimilao ao principal instituto jurdico da classedos direitos reais, o domnio ou propriedade: instituto que tem uma sua especial justificaomoral, econmica e social, um prprio principio informador que determina as suasfinalidades e tendncias e que, elaborado por sculos de doutrina e de prtica judiciria, trazconsigo um acervo enorme de regras, princpios, noes, definies e institutos jurdicosderivados."

    A obra do autor , portanto, uma propriedade. E neste sentido que o pensamento romanofoi importante, contribuindo para que os estudiosos chegassem a concluso de que osdireitos autorais " reputam-se, para efeitos legais, bens mveis."

    No a idia em si, a abstrao, que se protege. Mas sim essa idia quando toma formaconcreta, inserida num corpus mechanicum.

    Delia Lipszyc diz:

    "O direito de autor destina-se a proteger a forma representativa, a exteriorizao e seudesenvolvimento em obras concretas aptas para serem reproduzidas, representadas,executadas, exibidas, radiofonizadas etc., segundo o gnero a que pertenam." (In "Derechode autor y derechos conexos", pg. 62)

    No Brasil, desde cedo, firmou-se o conceito de que o direito autoral uma propriedade,portanto uma categoria a que se confere a condio de negociabilidade em todos osaspectos: compra, venda, concesso, cesso e sucesses mortis causa.

    Tanto a lei anterior como a atual informam que "interpretam-se restritivamente os negciosjurdicos sobre direitos autorais."

    A interpretao da lei e dos negcios jurdicos sempre foi a pedra de toque em qualquerordenamento legal.

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    O Imperador Justiniano proibiu a interpretao da lei, determinando: "Quem ousar tecercomentrios nossa compilao de leis cometer crime de falso, e as obras que compusersero apreendidas e destrudas."

    Essa idia imperial, em que pese o monumento que foi a compilao de Justiniano, no

    prosperou. O prprio direito romano tinha sua base na interpretao das leis, mesmoquando elas eram rgidas, como o foram no caso das Doze Tbuas.

    Ulpiano entretanto, no Digesto, livro 25, declara de forma taxativa:

    "Embora clarssimo o dito do pretor, no cabe descuidar de sua interpretao."

    A interpretao da lei a busca de seu sentido absoluto em relao aos fatos. A lei amesma, mas os fatos no seguem uma linha reta e nica. Eles tem nuanas, circunstncias ,enfim, um pano de fundo e um quadro social que se modifica constantemente. A sociedademodifica-se. Mas o ordenamento legal no pode flutuar ao sabor dos acontecimentos sob

    pena de romper a estabilidade social e permitir o caos. A lei se aplica a um complexo defatos e interesses eventualmente em conflito. Ela o fator permanente e estvel numasituao transitria e instvel.

    Se o legislador entende que a lei deve ser interpretada restritivamente, isto no significa quea interpretao esteja vedada, no melhor estilo imperial. Restringir, do latim restrictu,indica apenas que essa interpretao deve manter-se dentro de certos limites, especialmenteno que tange a seus resultados.

    A lei, portanto, entende que os negcios jurdicos tem seus limites nos termos de seusprprios objetivos, no se ampliam e no se confundem. O direito autoral um bem mvelem si e como tal deve ser interpretado quando for objeto de negcios jurdicos.

    Bittar, a esse respeito, em sua obra "Contornos Atuais do Direito do Autor", pg. 49, diz:

    "... o princpio de interpretao restrita de ordem pblica".

    E acentua:

    "Assim, com a aplicao do princpio geral, a conseqncia ltima ser a ineficincia purae simples do contrato que dispuser em contrrio. Com efeito, as partes no podem alterar ascitadas regras de interpretao, de conformidade com o princpio da predominncia daordem pblica."

    Os negcios jurdicos interpretaram-se restritivamente. Quando algum compra um livro,assiste uma pera, v um filme, adquiriu apenas um direito limitado de fruir, gozar eapreciar o trabalho do artista contido nos instrumentos de materializao do pensamentocriador. No caso o direito de propriedade ou posse no lhe autoriza a comercializar a obrade arte que adquiriu para seu lazer pessoal.

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    Art. 5 Para os efeitos desta lei, considera-se:

    I publicao o oferecimento de obra literria, artstica ou cientfica ao conhecimento dopublico, com o consentimento do autor, ou de qualquer outro titular de direito de autor, porqualquer forma ou processo;

    II - transmisso ou emisso a difuso de sons ou de sons e imagens, por meio de ondasradioeltricas; sinais de satlite; fio, cabo ou outro condutor; meios ticos ou qualquer outroprocesso eletromagntico;

    III - retransmisso a emisso simultnea da transmisso de uma empresa por outra;

    IV - distribuio a colocao disposio do pblico de original ou cpia de obrasliterrias, artsticas ou cientficas, interpretaes ou execues fixadas e fonogramas,mediante a venda, locao ou qualquer outra forma de transferncia de propriedade ouposse;

    V - comunicao ao pblico ato mediante o qual a obra colocada ao alcance do pblico,por qualquer meio ou procedimento e que no consista na distribuio de exemplares;

    VI - reproduo a cpia de um ou vrios exemplares de uma obra literria, artstica oucientfica ou de fonograma, de qualquer forma tangvel, incluindo qualquer armazenamentopermanente ou temporrio por meios eletrnicos ou qualquer outro meio de fixao quevenha a ser desenvolvido;

    VII - contrafao a reproduo no autorizada;

    VIII obra:a) em co-autoria quando criada em comum, por dois ou mais autores;

    b) annima quando no se indica o nome do autor, por sua vontade ou por serdesconhecido;

    c) pseudnima quando o autor se oculta sob nome suposto;

    d) indita a que no haja sido objeto de publicao;

    e) pstuma a que se publique aps a morte do autor;f) originria a criao primigena;

    g) derivada a que, constituindo criao intelectual nova, resulta da transformao de obraoriginria;

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    h) coletiva - a criada por iniciativa, organizao e responsabilidade de uma pessoa fsica oujurdica, que a publica sob seu nome ou marca e que constituda pela participao dediferentes autores, cujas contribuies se fundem numa criao autnoma;

    i) audiovisual a que resulta da fixao de imagens com ou sem som, que tenha a

    finalidade de criar, por meio de sua reproduo, a impresso de movimento,independentemente dos processos de sua captao, do suporte usado inicial ouposteriormente para fix-lo, bem como dos meios utilizados para sua veiculao;

    IX fonograma toda fixao de sons de uma execuo ou interpretao ou de outrossons, ou de uma representao de sons que no seja uma fixao includa em uma obraaudiovisual;

    X editor a pessoa fsica ou jurdica qual se atribui o direito exclusivo de reproduo daobra e o dever de divulg-la, nos limites previstos no contrato de edio;

    XI produtor a pessoa fsica ou jurdica que toma a iniciativa e tem a responsabilidadeeconmica da primeira fixao do fonograma ou da obra audiovisual, qualquer que seja anatureza do suporte utilizado;

    XII radiodifuso a transmisso sem fio, inclusive por satlites, de sons ou imagens esons ou das representaes desses, para recepo ao pblico e a retransmisso de sinaiscodificados, quando os meios de decodificao sejam oferecidos ao pblico pelo organismode radiodifuso ou com seu consentimento;

    XIII - artistas interpretes ou executantes todos os atores, cantores, msicos, bailarinos ououtras pessoas que representem um papel, cantem, recitem, declamem, interpretem ouexecutem em qualquer forma obras literrias ou artsticas ou expresses do folclore;

    Art. 6 No sero de domnio da Unio, dos Estados, do Distrito Federal ou dos municpiosas obras por eles simplesmente subvencionadas.

    O artigo 5 extenso e corresponde ao artigo 4 da lei anterior.

    Ao definir publicao, ele mais explcito e abrangente, pois fala em "oferecimento deobra literria, artstica ou cientfica ao conhecimento do publico, com o consentimento doautor, ou de qualquer outro titular de direito de autor, por qualquer forma ou processo;"

    Esse primeiro item corresponde o que estabelece a Conveno de Berna.

    Com efeito, o item trs do artigo terceiro dessa Conveno, diz o seguinte:

    "Entende-se por 'obras publicadas', as que tenham sido editadas com o consentimento deseus autores, qualquer que seja o modo de fabricao dos exemplares, sempre que aquantidade posta a disposio do pblico satisfaa razoavelmente suas necessidades,estimadas de acordo com a ndole da obra."

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    Esse texto da Conveno de Berna deixa claro trs coisas:

    1) Considera-se obra publicada quando exemplares em nmero suficiente para atender ademanda so colocados a disposio do pblico, segundo a ndole da obra. Um livrotcnico altamente especializado certamente ter um nmero limitado de leitores, mas ainda

    assim sua quantidade a disposio do pblico deve ser suficiente para atende-lo;2) a obra s pode ser comunicada ao pblico com o consentimento do autor, sem o que elaser uma contrafao,. Essa autorizao envolve, obviamente, o contrato entre as partesinteressadas;

    3) o terceiro ponto encerra um conceito moderno: a obra considera-se publicada seja qualfor o meio de fabricao. A lei anterior falava em "comunicao da obra ao pblico". A leiatual refere-se ao "oferecimento" das obras "ao conhecimento do pblico", com o quetemos um ato de disponibilidade muito mais amplo. Comunicao um ato que se esgotaem si mesmo. Feita a comunicao, conclui-se o processo, independente de qualquerreao. J o oferecimento uma disponibilidade que s se conclui com a ao reativa dopblico.

    O item II refere-se a transmisso. A lei 9.610 tambm aqui mais ampla, pois incluisatlites, fios, cabos, meios ticos ou " qualquer processo eletromagntico."

    O item III encerra modificao interessante e significativa. Na lei 5988 a retransmisso eradefinida como "a emisso, simultnea ou posterior, da transmisso de uma empresa deradiodifuso por outra."

    A lei atual muda o conceito, estabelecendo que retransmisso "a emisso simultnea datransmisso de uma empresa por outra."

    A retransmisso s ser considerada como tal se for feita simultaneamente. A palavra nodeixa dvidas. Para que se considere retransmisso h que se faze-la no mesmo momento,juntamente, simultaneamente, com a transmisso. Aqui o legislador seguiu a Conveno deRoma, que tratou do assunto e, na letra "g" do artigo 3 diz, textualmente:

    "retransmisso", a emisso simultnea de emisso de um organismo de radiodifuso,efetuada por outro organismo de radiodifuso."

    Curioso que a Conveno de Roma foi assinada a 26 de outubro de 1961, portanto 12anos antes de promulgada a lei 5.988 que, ao tratar do assunto, deu-lhe enfoque diferente edistorcido, o que agora se corrige.

    A retransmisso feita a posteriori outra emisso, portanto passvel de gerar novos direitose obrigaes.

    Dois itens novos esto elencados nesse artigo: a distribuio da obra e a sua comunicaoao pblico.

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    Distribuio , no caso, a colocao a disposio do publico das obras mediante "qualquerforma de transferncia da propriedade ou posse", o que pressupe, desde logo, toda a vastagama de negcios que a lei permite em torno de bens mveis.

    J no que tange a comunicao, esta definida como ato unilateral atravs do qual a obra

    colocada ao alcance do pblico " por qualquer meio ou procedimento e que no consista nadistribuio de exemplares." O legislador quis, aqui, preservar os diversos meios decomunicao, especialmente aqueles de que se valem artistas e interpretes, tanto assim queexclui, taxativamente, a distribuio de exemplares.

    O item VI trata da reproduo da obra.

    Na lei 5.988 reproduo era, apenas, "a cpia de obra literria, cientfica ou artstica, bemcomo de fonograma."

    A lei atual , novamente mais ampla. Ela considera reproduo a cpia feita de qualquer

    forma tangvel, " incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporrio por meioseletrnicos ou qualquer outro meio de fixao que venha a ser desenvolvido."

    Mais uma vez o legislador olhou o futuro, procurando assegurar os direitos de autor nareproduo por qualquer meio que venha a ser desenvolvido. Segue-se, no caso, a idiahoje predominante nas legislaes de quase todos os pases, que procuram assegurar avigncia dos direitos de autor, mesmo em face de transformaes tecnolgicas profundas nafixao, comunicao e distribuio das obras de criao.

    Na lei anterior, aos descrever os diferentes tipos de obra, havia referncia a obra emcolaborao.

    O termo colaborao prestava-se a diferentes interpretaes, pois o colaborador pode serapenas um auxiliar tcnico. E, neste caso, no seria autor.

    A lei atual cria duas figuras em substituio a esse termo: a obra em co-autoria e a obracoletiva.

    A co-autoria verifica-se, como a prpria lei diz, quando uma ou mais pessoas participam deum mesmo trabalho criativo. Dois profissionais podem, em conjunto, a quatro mos ,elaborar um tratado, um texto indivisvel.

    A obra coletiva diferente. Ela criada a partir da "iniciativa, organizao eresponsabilidade de uma pessoa fsica ou jurdica, que a pblica sob seu nome ou marca eque constituda pela participao de diferentes autores, cujas contribuies se fundemnuma criao autnoma."

    O exemplo mais expressivo seria um dicionrio ou enciclopdia.

    , tambm, o caso em que a pessoa jurdica pode ser titular originaria de direitos autorais.

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    No caso das obras em co-autoria h mudana significativa de uma palavra. A lei 5988utilizava o termo "obra em colaborao" para defini-la como aquela que "produzida emcomum" . Alem da impropriedade da palavra "colaborao", produzir no sinnimo decriar. Ao contrario: no meio editorial produo significa o conjunto de atividades prticasque cercam a feitura industrial do livro, do fonograma, do audiovisual. um trabalho

    tcnico.A lei 9.610 refere-se a co-autoria como a obra criada em comum, o que mais preciso ecorreto. Insere-se no contexto da Conveno de Berna que protege a criao da obra de artee no a atividade tcnica.

    Note-se, finalmente, que toda a sistemtica legal , a partir da Conveno de Berna, refere-seao direito autoral como o conjunto de normas jurdicas que se destina a proteger a obra decriao artstica e nunca a sua produo.

    Era muito pobre a conceituao de audiovisual. O termo utilizado era videograma , definidocomo "a fixao de imagem e som em suporte material".

    Agora o termo empregado audiovisual , abrangendo cinema e televiso ou, ainda,qualquer meio que d a impresso de movimento.

    A obra audiovisual , assim, "a que resulta da fixao de imagens com ou sem som, quetenha a finalidade de criar, por meio de sua reproduo, a impresso de movimento,independemente dos processos de sua captao, do suporte usado inicial ou posteriormentepara fixa-lo, bem como dos meios utilizados para sua veiculao."

    O exame desse texto interessante, porque ele amplo. Abrange toda a obra criada paratransmitir movimento, tenha ou no tenha som. Esta uma tendncia mundial. A expresso"audiovisual" hoje predominante em todas as legislaes do mundo.

    O processo de captao irrelevante. Pode ser uma filmadora antiga, cmera moderna,digital ou no, mesmo que essa captao venha a ser transformada mais tarde. Noimportam, ainda, os meios de transmisso. Pode ser um velho projetor ou pode, ainda, sermoderno computador transformando sinais enviados via internet. O direito autoral estaprotegido. uma obra de criao, seja qual for o meio utilizado para produzi-la ou exibi-la.

    A lei, pois, engloba no termo audiovisual tudo aquilo que crie a impresso de movimento.Cinema, televiso, computador e outros instrumentos do gnero, a se incluem, dosprimeiros filmes de Lumiere, at os efeitos especiais do Jurassic Park...

    O fonograma melhor definido. O item IX diz que ele " toda fixao de sons de umaexecuo ou interpretao ou de outros sons, ou de uma representao de sons que no sejauma fixao includa em uma obra audiovisual.

    No foram poucos os problemas gerados pela impreciso do texto anterior. Dizer quefonograma apenas a fixao, "exclusivamente sonora", muito pouco. Agora temos o

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    O mesmo acontece com o produtor " a pessoa fsica ou jurdica que toma a iniciativa etem a responsabilidade econmica da primeira fixao do fonograma ou da obraaudiovisual, qualquer que seja a natureza do suporte utilizado."

    A lei 5.988 fixou-se na empresa de radiodifuso. A nova lei abandonou esse critrio.

    Deixou de lado a empresa para fixar-se no meio, considerando apenas a radiodifuso em si. "a transmisso sem fio, inclusive por satlites, de sons ou imagens e sons ou dasrepresentaes desses, para recepo ao pblico e a transmisso de sinais codificados,quando os meios de decodificao sejam oferecidos ao pblico pelo organismo deradiodifuso ou com seu consentimento."

    Segundo esse critrio, radiodifuso obviamente no uma empresa, mas um sistema.

    Finalmente, mais correta a designao do que seja artista.

    A lei 5.988 falava apenas em artista, que uma coisa. Pelo novo diploma fala-se em

    "artistas interpretes ou executantes", o que coisa bem diferente.Artista, tomado em sentido geral, pode ser um pintor, escultor, cantor, musicista.

    A lei faz a distino, ao referir-se a " artistas interpretes ou executantes", aqueles "querepresentem um papel, cantem, recitem, declamem, interpretem ou executem em qualquerforma obras literrias ou artsticas ou expresses do folclore."

    O artigo seguinte trata de obras subvencionadas pelo Estado. Elas no caem em domniopblico. A subveno estatal no afeta o direito do autor sobre sua obra.

    Pertenciam a Unio, Estados e Municpios e ao Distrito Federal "os manuscritos de seusarquivos, bibliotecas ou reparties."

    Esse pargrafo do artigo 5 da lei 5.988 era uma anomalia. Confundia direito autoral compropriedade estatal sobre bens pblicos. um problema que pertence a rea do direitoadministrativo.

    No raro esse dispositivo criava embaraos para pesquisadores e estudiosos com proibiesabsurdas de determinadas reparties, invocando a proteo autoral que, agora, cai por terracom a nova lei. Pelo menos em tese os pesquisadores tem o campo mais livre para suasatividades junto a arquivos e bibliotecas do Estado.

    Ttulo II - Das Obras Intelectuais

    Captulo I

    Das Obras Protegidas

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    Art. 7 So obras intelectuais protegidas as criaes do esprito, expressas por qualquermeio ou fixadas em qualquer suporte, tangvel ou intangvel, conhecido ou que se inventeno futuro, tais como:

    I - os textos de obras literrias, artsticas ou cientficas;

    II - as conferncias, alocues, sermes e outras obras da mesma natureza;

    III as obras dramticas e dramtico-musicais;

    IV as obras coreogrficas e pantommicas, cuja execuo cnica se fixe por escrito ou poroutra qualquer forma;

    V as composies musicais, tenham ou no letra;

    VI as obras audiovisuais, sonorizadas ou no, inclusive as cinematogrficas;

    VII as obras fotogrficas e as produzidas por qualquer processo anlogo ao da fotografia;

    VIII as obras de desenhos, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cintica;

    IX - as ilustraes, cartas geogrficas e outras obras da mesma natureza;

    X - os projetos, esboos e obras plsticas concernentes geografia, engenharia, topografia,arquitetura, paisagismo, cenografia e cincia;

    XI - as adaptaes, tradues e outras transformaes de obras originais, apresentadas

    como criao intelectual nova;XII os programas de computador;

    XIII as coletneas ou compilaes, antologias, enciclopdias, dicionrios, bases de dadose outras obras, que, por sua seleo, organizao ou disposio de seu contedo, constituamuma criao intelectual.

    Pargrafo 1 Os programas de computador so objeto de legislao especfica, observadasas disposies desta Lei que lhes sejam aplicveis.

    Pargrafo 2 A proteo concedida no inciso XIII no abarca os dados ou materiais em simesmo e se entende sem prejuzo de quaisquer direitos autorais que subsistam a respeitodos dados ou materiais contidos nas obras.

    Pargrafo 3 No domnio das cincias, a proteo recair sobre a forma literria ou artstica,no abrangendo o seu contedo cientfico ou tcnico, sem prejuzo dos direitos queprotegem os demais campos da propriedade imaterial.

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    O artigo 7 refere-se as obras protegidas. Ele corresponde ao artigo 6 da lei 5.988. Agora mais amplo e mais completo, pois declara que as obras intelectuais protegidas so ascriaes do esprito " expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangvelou intangvel, conhecido ou que se invente no futuro,(...)"

    A lei protege as criaes do esprito, o que consenso universal. A obra criativa no seconfunde com a inveno tcnica, que recebe outra proteo legal. Anteriormente alegislao estendia a proteo a obras de espirito " de qualquer modo exteriorizadas."

    Na lei atual avana-se mais. Ela se refere as obras intelectuais "expressas por qualquer meioou fixadas em qualquer suporte, tangvel ou intangvel, conhecido ou que venha a serinventado." Portanto o material o corpus mechanicum no qual a obra venha a ser fixado,seja ele tangvel ou no, irrelevante. O texto pode ser colocado num disco, em CDRom,banco de dados ou numa biblioteca virtual para ser acessado pela internet sendo a obrauma "criao do esprito" estar protegida pela lei de direitos autorais.

    Fica bem claro que a lei protege a manifestao concreta da criao literria, cientfica ouartstica - a sua expresso formal, porm sem limites de formas ou meio de fixao,existentes ou que venham a existir no futuro.

    Diz Carlos Alberto Biltra a esse respeito ( "Direito de Autor", pg.18):

    "Com isto, pode-se verificar que nem todo o produto do intelecto interessa ao campo desseDireito ou nem toda a produo intelectual apartas j as obras "utilitrias" ou "industriais" ingressa em seu esquema lgico (como as criaes que respondem a consideraesreligiosas, polticas, de oficio pblico e outras)"

    No por acaso esse artigo da lei, ao indicar obras protegidas, o faz exemplificativamente.No se trata de "numerus clausus", j que a expresso "tais como" indica que a enumerao, apenas, exemplificativa. Comporta outras, alem do que ali se escreve. O campo dacriatividade imenso, infindvel e at mesmo desconhecido nas suas possibilidades.

    Nessa exemplificao o primeiro item aponta "os textos de obras literrias, artsticas oucientficas."

    H lgica nessa formulao. A lei anterior, nesse item, referia-se, no a textos, mas a livros.A modificao importante.

    Ora, se agora admitidos a fixao em qualquer base, mesmo intangvel, o conceito de livropassa a ser mais amplo. J no a brochura impressa, mas qualquer forma na qual se fixe otexto. O livro imortal. Sua forma que vem mudando constantemente.

    Nesse item a lei 5.988 inclua as cartas-missivas como obras protegidas.

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    Na verdade no se pode considerar uma carta como obra de arte. Ela pode s-lo. Mastambm pode ser apenas o envio de uma fatura, a remessa de uma encomenda ou umpedido de noticias

    Jos de Oliveira Asceno, em l980,na sua obra " Direito Autoral" pg. 22, refere-se as

    cartas, dizendo:"Enfim, mais longe ainda da figura da obra literria ou artstica est a carta-missiva. Esta um veculo, manuscrito ou no, e no se confunde com a obra que porventura encerra. Aproteo da lei uma proteo da pessoa do autor, que pode limitar faculdadesgenericamente reconhecidas. Disso se faz eco o artigo 33, proibindo a publicao dascartas-missivas sem permisso do autor, muito embora possam ser juntadas em autosoficiais. Parece que a figura da carta-missiva merece uma pormenorizao maior. Em todoo caso, ela deve ser feita a propsito do Direito da Personalidade, e no do Direito doAutor."

    Em boa hora o legislador retirou do campo das obras protegidas as cartas-missivas. Nofazia sentido.

    Mesmo assim ela aparece no artigo 34 da nova lei 9.610, informando: "As cartas-missivas,cuja publicao est condicionada permisso do autor, podero ser juntadas comodocumento em processos administrativos e judiciais."

    O texto no tem o menor sentido numa lei de Direito Autoral, alem de ser redundante. como afirmar que uma duplicata no paga pode instruir um processo de falncia...

    O item dois protege conferncias, alocues, sermes e outras obras da mesma natureza, oque compreensvel, pois tratam-se de expresses criativas.

    Ao proteger as obras coreogrficas a lei repete o mesmo texto da anterior: a execuocnica pode fixar-se por escrito ou por outra qualquer forma.

    So protegidas as composies musicais, tenham ou no letra.

    necessrio cautela na aplicao desse texto.

    Melodia, harmonia e ritmo constituem a base de uma composio musical, acompanhada daletra, quando for o caso. O legislador ptrio poderia ter sido mais explicito. Os tribunaisesto cheios de causas sobre plgios musicais.

    Dlia Lipszyc, em obra j citada, diz o seguinte:

    "A originalidade das obras musicais resulta do conjunto de seus elementos constitutivos.Entretanto, pode residir na melodia, na harmonia ou no ritmo. Para o direito do autor,porm, s se pode adquirir direitos exclusivos sobre a melodia. Ela eqivale a composio e

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    ao desenvolvimento da idia nas obras literrias, e no a idia mesma. A melodia umacriao formal."

    E mais adiante acentua, com muita preciso:

    "No se podem adquirir direitos exclusivos sobre a harmonia porque ela formada poracordes, cujo nmero limitado. Tambm no se pode adquirir direitos sobre o ritmo,porque no seria lgico conceder exclusividade sobre boleros, tangos, sambas, a bossa novaetc., do mesmo modo que no se podem adquirir direitos exclusivos sobre os gnerosliterrios: a poesia, a novela, o conto, o drama ou a comdia."

    J que a lei determina que os negcios jurdicos sobre direitos autorais interpretam-serestritivamente, o legislador deveria ter sido mais preciso no texto que se refere a proteode obras musicais. O sentido vago e genrico evidentemente no condiz com o propsitobsico da conduta expressa e determinada na prpria lei.

    A fotografia referida nesse artigo, embora a ela se dedique um capitulo na lei, o denmero IV, artigo 79 e pargrafos.

    Existe, entretanto, nesse item do artigo 7, diferena marcante em relao a lei anterior,cuja proteo autoral era concedida sob condio: desde que a fotografia "pela escolha deseu objeto e pelas condies de sua execuo possam ser consideradas criaes artsticas."(artigo 6, item VII, da lei 5988)

    Desnecessrio dizer que esse item da lei 5.988 deu origem a muitas questes e a intensotrabalho de peritos para avaliar se uma foto era, realmente, ou no, obra de criao artstica,algo inteiramente subjetivo.

    Newton Paulo Teixeira dos Santos, em seu livro "A fotografia e o direito do autor", tratoudo assunto, defendendo a tese de que a fotografia, seja ela qual for, deve ser protegida. Paraele uma violncia e um preconceito proteger apenas parcialmente a fotografia,especialmente quando o conceito de arte , hoje, ilimitado. Diz esse autor:

    "E at incrvel que se coloque o problema desse modo, quando o conceito de "arte" estinteiramente revolucionado. O que no arte? "

    O ponto de vista de que toda a fotografia deve ser protegida triunfou no novo texto legal. Oitem VII excluiu a expresso " desde que, pela escolha de seu objetivo e pelas condies desua execuo, possam ser consideradas criao artstica." Agora so protegidas "as obrasfotogrficas e as produzidas por qualquer processo anlogo ao da fotografia."

    O Brasil segue, nessa matria, a maioria das legislaes onde a fotografia protegida semcondies especiais.

    A matria comporta, ainda, pela sua natureza, o direito a imagem da pessoa fotografada, oque tratado no artigo 79 que se refere, justamente, a utilizao da fotografia.

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    O item VIII garante o direito do autor de obras de artes plsticas desenho, pintura,gravura, escultura, litografia e arte cintica, sendo esta ltima que uma expresso emmovimento, sem confundir-se com o audiovisual contribuio nova.

    As cartas geogrficas so protegidas. Os mapas sempre foram obras de arte. uma cincia

    que, ao reproduzir a realidade topogrfica, exige esprito criador.J o item X contempla projetos e esboos e acrescenta o paisagismo, reconhecendo suaimportncia que era praticamente nula. O paisagismo tornou-se importante em nossos dias.Nesse terreno h projetos de rara beleza, inegavelmente verdadeiras obras de arte que temautoria, originalidade e merecem, portanto, a proteo legal. Trata-se de uma inovaobrasileira, pois as legislaes em geral no contemplam especificamente o paisagismocomo obra de arte e engenho.

    Os setores abordados nesse item so importantes , pois permitem amplo exerccio do gniocriador. A cenografia base para expresso do cinema, teatro e televiso. Os esboos so,tambm, protegidos. O esboo , em si, uma obra de arte, como se pode ver do que noslegou Leonardo da Vinci. Seus esboos e rascunhos so obras magnificas, verdadeirasexpresses do gnio criador.

    As adaptaes, tradues e outras transformaes de obras recebem proteo. Mas aqui olegislador refere-se a obras originais, o que no correto. O termo originarias, utilizado nalei anterior, era mais preciso. Original, de originalidade, em criao tem outro sentido. Ele, inclusive, um requisito para que a obra de criao tenha proteo autoral.

    A lei anterior, nesse item, submetia adaptaes, transformaes e tradues a previaautorizao do autor, o que agora objeto do artigo 29, que trata dos direitos patrimoniais., tecnicamente, mais lgico.

    O texto ficou mais lgico. Aqui a lei trata do que obra de arte protegida. Depois, naseqncia ,trata dos direitos patrimoniais do autor.

    O item XIII refere-se a proteo concedida s coletneas, compilaes, dicionrios, base dedados, assegurando mas j no pargrafo terceiro os direitos dos participantes individuaisdessas obras tipicamente coletivas. Temos, desta forma, como comum, a proteo da obraem si, como um todo, e a proteo dos autores das partes que a integram.

    No domnio das cincias a proteo atinge apenas a forma, eventualmente artstica. Noabrange o invento em s, que objeto da Lei de Marcas e Patentes.

    A PROTEO AOS PROGRAMAS DE COMPUTADOR LEI 9.609

    Tanto o item XII como o pargrafo primeiro desse artigo referem-se aos programas decomputador. No primeiro caso para declarar que eles so protegidos como obras de criao

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    e, a seguir, para informar que tais programas "so objeto de legislao especfica,observadas as disposies desta lei que lhes sejam aplicveis."

    A lei 9.609, que protege a propriedade intelectual dos programas de computadores, poderiaconstituir um captulo da lei de direitos autorais. Seria mais lgico e harmonioso. O

    legislador brasileiro, entretanto, tem incrvel vocao legiferante, pouco importando aaplicao e o cumprimento das leis. Elaborada a lei, os poderes pblicos consideram oproblema resolvido...

    Nessa lei define-se programa de computador como "a expresso de um conjunto organizadode instrues em linguagem natural ou codificada".

    O regime de proteo autoral o mesmo conferido, segundo expressa o artigo 2, s obrasliterrias. Mas "no se aplicam aos programas de computador as disposies relativas aosdireitos morais, ressalvado, a qualquer tempo, o direito do autor de reivindicar apaternidade do programa de computador e o direito do autor de opor-se as alteraes noautorizadas, quando estas impliquem deformao, mutilao ou outra modificao doprograma de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputao."

    Apesar da pobreza redacional desse texto, com inmeras e desnecessrias repeties,parece claro que ele segue a orientao Norte Americana em relao a direitos autorais. Odireito patrimonial reconhecido, mas os direitos morais limitam-se a paternidade eintegridade da obra, o que, em ltima anlise, apenas um meio de reforar e destacar apropriedade material.

    Contraditoriamente, ao reconhecer o direito a paternidade e a integridade do "software", alei estabelece, sem dvida, dois dos mais importantes fundamentos dos direitos morais doautor.

    Embora afirmando que "a proteo aos direitos de que trata esta Lei independe de registro",logo a seguir, no artigo 3, indicam-se, minuciosamente, as medidas prticas para que talregistro se efetue. Trata-se de uma contradio e um atentado a Conveno de Berna e alegislao brasileira de direitos autorais. Um dos elementos fundamentais da proteo aosdireitos de autor , justamente, o fato de que ele no se subordina a qualquer registro ouformalidade.

    Segundo o artigo 4, "salvo estipulao em contrrio, pertencero exclusivamente aoempregador, contratante de servios ou rgo pblico, os direitos relativos ao programa decomputador, desenvolvido e elaborado durante a vigncia de contrato ou vnculoestatutrio, expressamente destinado a pesquisa e desenvolvimento, ou em que a atividadedo empregado, contratado de servio ou servidor seja prevista, ou, ainda, que decorra daprpria natureza dos encargos."

    A no ser que exista "ajuste em contrrio a compensao do trabalho ou servio prestadolimitar-se- remunerao ou ao salrio convencionado."

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    Mesmo os estagirios esto sujeitos a esta norma.

    Ao empregador, pois, cabe o resultado do trabalho de seu empregado na rea de programasde computador, salvo o que muito improvvel disposio em contrrio. O postulante aum emprego no tem fora para impor condies. No caso, a igualdade das partes

    contratantes inexiste.A lei assegura garantias ao usurio: prazo de validade tcnica da verso comercializada;assistncia tcnica durante esse perodo; contrato de licena ou, na sua ausncia, a validadecomo tal da prpria nota fiscal de compra.

    As penalidades para os infratores so rigorosas. Como comum, a ao da autoridade s seinicia mediante queixa. Mas e aqui vem uma inovao interessante e inusitada em direitoautoral o pargrafo 3 do artigo 12 que trata das infraes e penalidades- diz o seguinte:

    " Nos crimes previstos neste artigo somente se procede mediante queixa, salvo:

    I - quando, praticados em prejuzo de entidade de direito pblico, autarquia, empresapblica, sociedade de economia mista ou fundao instituda pelo poder pblico;

    II - quando, em decorrncia de ato delituoso, resultar sonegao fiscal, perda dearrecadao tributria ou prtica de quaisquer dos crimes contra a ordem tributria ou asrelaes de consumo.

    Pargrafo 4 No caso do inciso II do pargrafo anterior, a exigibilidade do tributo, oucontribuio social e qualquer acessrio, processar-se- independentemente derepresentao."

    a primeira vez que, diretamente, um caso de delito autoral transforma-se, em crime denatureza fiscal, com todas as suas conseqncias.

    Art. 8 No so objeto de proteo como direitos autorais de que trata esta lei:

    I as idias, procedimentos normativos, sistemas, mtodos, projetos ou conceitosmatemticos como tais;

    II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negcios;

    III os formulrios em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de informao,cientfica ou no, e suas instrues;

    IV - os textos de tratados, convenes, leis, decretos, regulamentos, decises judiciais edemais atos oficiais;

    V as informaes de uso comum tais como calendrios, agendas, cadastros ou legendas;

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    VI os nomes e ttulos isolados;

    VII - o aproveitamento industrial das idias contidas nas obras;

    Art. 9 A cpia de obra de arte plstica feita pelo prprio autor assegurada a mesma

    proteo de que goza o original.Art.10 - A proteo obra intelectual abrange o seu ttulo, se original e inconfundvel como de obra do mesmo gnero, divulgada anteriormente por outro autor.

    Pargrafo nico - O ttulo de publicaes peridicas, inclusive jornais, protegido at umano aps a saida do seu ltimo nmero, salvo se forem anuais, caso em que esse prazo seelevar a dois anos.

    No artigo 7 a lei procurou exemplificar alguns casos de proteo as obras de criao. J noartigo 8, pelo mesmo processo, elenca as produes intelectuais que no so objeto deproteo.

    Aqui, entretanto, o conceito muda. O enunciado taxativo: "no so objeto de proteocomo direitos autorais de que trata essa lei", passando, a enumerar aquilo que no recebe aproteo da lei de direitos autorais. So, tipicamente, "numerus clausus", devidamenteapontados. o que a lei no protege.

    A lei anterior, no artigo 11, que tratava desse assunto, era menos explicativa Abordavapoucos itens. Referia-se, apenas, a "tratados ou convenes, leis, decretos, regulamentos,

    decises judiciais e demais atos oficiais."Agora a lei tornou-se procurou abranger um universo maior de setores no protegidos,tornando-se mais explicita e restritiva, fechando em sete itens o elenco daquilo que no protegido pelo direito autoral.

    As idias no so objeto de proteo. Isto um conceito universalmente aceito. A leiprotege a manifestao concreta do pensamento criador, aquele que se concretiza numabase qualquer, que possa ser vista, ouvida, sentida e, sobretudo, apropriada como bemmvel.

    Mas evidente que a lei refere-se a obra de arte e que tenha tais caractersticas ou, ainda, oempenho intelectual na produo de algo original. A originalidade importante. Da porqueno se pode proteger, como obra de arte, um simples formulrio ou, mesmo, um papel embranco para ser preenchido.

    O ponto bsico do direito de autor a obra de arte como tal considerada.

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    A Conveno de Berna sempre teve o cuidado de, ao instituir um sistema de proteo, noimpedir a livre circulao de noticias e informaes. Diz o item 8 do artigo 2 daConveno:

    "A proteo da presente Conveno no se aplicar as noticias do dia, nem aos

    acontecimentos que tenham carter de simples informao de imprensa."Carlos Alberto Bittar esclarece isso muito bem, quando diz:

    "As obras protegidas so as destinadas sensibilizao ou transmisso de conhecimentos,a saber, as obras de carter esttico, que se inscrevem na literatura (escrito, poema,romance, conto), nas artes (pintura, escultura, projeto de arquitetura, filme cinematogrfico,fotografia), ou nas cincias (relato, tese, descrio de pesquisa, demonstrao escrita, bulamedicinal)"

    Mas necessrio considerar que qualquer produto pode receber um tratamento criativo,

    gerando, ento, direitos autorais. o caso, para exemplificar, de leis, decretos, decisesjudiciais. A lei no os protege. Seu uso livre. Mas quando um autor confere-lhes umtratamento especial, seja pela organizao, titulao, ndice, notas e comentrios, cria obranova que a lei protege. A mesma coisa se pode dizer de uma agenda. Trata-se, apenas, deum calendrio com espao para anotaes do dia a dia. Mas quando ela ilustrada,contendo outras informaes, trechos de obras, poesias, letras musicais o seu cartermuda. O calendrio pode ser a parte til operativamente, mas ele cercado, ornamentado, oque o transforma. Estamos, ento, diante de uma obra de criao e, como tal, protegida.

    O aproveitamento industrial de uma idia contida num livro digamos o funcionamentoespecial de uma geladeira no transforma essa pea domstica em obra de arte protegida.

    A idia contida no artigo 9, a seguir, visa assegurar ao autor o direito de reproduzir sua obrade arte plstica, evitando que ele seja vtima de especulao. uma salvaguarda,especialmente importante no caso de gravuras e esculturas. Hoje os gravuristas numeramsuas cpias. um exemplo interessante e at curioso, porque o original da gravura aprpria cpia.

    O ttulo de uma obra tem sido objeto de muitas discusses. Ocorre que, muitas vezes, ottulo demasiadamente genrico. Metamorfose, de Kafka, um ttulo que pode servir aoutras obras, assim como Chuva, Neve e outros tantas denominaes de elementos naturais.A proteo legal exige que o titulo seja original e inconfundvel com o de outra obra domesmo gnero anteriormente divulgada. Obra e ttulo constituem patrimnio do autor, tantodo ponto de vista material como moral.

    evidente que a originalidade ponto decisivo para o que autor exija seus direitos de usoexclusivo do ttulo. Diz o prof. Jos de Oliveira Asceno, analisando a lei anterior arespeito de ttulo e cujos conceitos so literalmente repetidos na lei atual:

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    " ... a lei estende a proteo ao ttulo se for "original e inconfundvel com o de obra, domesmo gnero, divulgada anteriormente por outro autor". So exigncias que se no fazema propsito de verdadeiras obras literrias e artsticas."

    E a seguir esse autoralista interroga:

    "Que significa a exigncia de que o ttulo seja original? No pode significar que se noconfunda com outro, pois essa uma segunda exigncia que a lei faz logo a seguir.Supomos que significa que o ttulo no se deve limitar a descrever uma matriaobjetivamente delimitada, como 'Noes de Direito' ou 'Histria Universal'; tampouco deveter sido retirado simplesmente da histria, da mitologia ou da fico: 'Tristo e Isolda','dipo': ou designar simplesmente a categoria em que se enquadra, como 'Pas-de-Deux'para uma dana, ou 'Contraluz' para uma fotografia."

    Enfim, para que o titulo se torne exclusivo deve refletir a obra, ter originalidade e noconfundir-se com outro do obra do mesmo gnero anteriormente publicado, alem de no serapenas a repetio de lugares comuns ou, ainda, nomes e situaes de uso geral.

    A lei protege os ttulos de jornais e revistas, o que no tem sentido. O ttulo, nesse caso, nodesigna uma obra de arte, mas um empreendimento industrial e comercial. Melhor andariano setor de marcas e patentes, onde, alis, todos esses ttulos so, invariavelmente,registrados.

    Captulo II

    Da autoria das Obras Intelectuais

    Art. 11 Autor a pessoa fsica criadora de obra literria, artstica ou cientfica.

    Pargrafo nico A proteo concedida ao autor poder aplicar-se s pessoas jurdicas noscasos previstos nesta lei.

    Art. 12 - Para se identificar como autor, poder o criador da obra literria, artstica oucientfica usar de seu nome civil, completo ou abreviado at por suas iniciais, depseudnimo ou qualquer outro sinal convencional.

    Art. 13 - Considera-se autor da obra intelectual, no havendo prova em contrrio, aqueleque, por uma das modalidades de identificao referidas no artigo anterior, tiver, emconformidade com o uso, indicada ou anunciada essa qualidade na sua utilizao.

    Art. 14 - titular de direitos de autor quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra cadano domnio pblico, no podendo opor-se a outra adaptao, arranjo, orquestrao outraduo, salvo se for cpia da sua.

    O artigo 11 define o