a notÍcia jornalÍstica como fonte de leitura e · alunos, é preciso planejar diversas atividades...

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¹ Especialização em Língua Portuguesa pela Universidade Paranaense, Graduação em Letras pela Universidade Estadual de Maringá, Professora PDE da Rede Estadual de Ensino. ² Doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo, Mestrado em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Graduação em Letras pela Universidade Estadual de Maringá, Professora Adjunta da Universidade Estadual de Maringá.

A NOTÍCIA JORNALÍSTICA COMO FONTE DE LEITURA E ESTÍMULO À PRODUÇÃO TEXTUAL NA EJA

Marlene Patuzzo Peternela¹ Eliana Alves Greco²

RESUMO: Este artigo apresenta o relato da aplicação de uma proposta pedagógica desenvolvida com alunos da 1ª série do Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos (EJA) – no Centro Estadual de Educação de Educação Básica para Jovens e Adultos CEEBJA “Saada Mitre Abou Nabhan”, em Cianorte, Paraná. As atividades foram desenvolvidas por meio de unidade didática, evidenciando o gênero discursivo notícia, como fonte de leitura e estímulo à produção textual na EJA. O objetivo norteador da proposta foi desenvolver a habilidade de leitura e a competência da escrita, por meio da notícia jornalística, que, por sua relevância social e uso funcional na vida do educando, constituiu-se num produtivo material didático para ensinar leitura e produção textual. O conhecimento e o domínio da língua em situações reais de comunicação são imprescindíveis ao educando para o exercício da cidadania no âmbito da sociedade em que vive. Dessa forma, a metodologia proposta na implementação desta unidade didática mostrou-se eficaz no conhecimento e apropriação do gênero, ampliando a competência linguística do aluno, que demostrou possuir capacidade para ler, analisar e produzir textos do gênero.

Palavras-chave: Gênero discursivo. Notícia. Leitura. Produção Textual.

1. INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios educacionais da sociedade contemporânea é

a formação do educando no sentido de aprimorar sua competência linguística,

suas experiências e vivências socioculturais, de modo a torná-lo sujeito do

próprio conhecimento. Gerando conhecimentos significativos para a vida do

aluno, a escola poderá contribuir para torná-lo um cidadão consciente e capaz

de transformar a própria vida.

A escola deve trazer à tona e valorizar as mais diversas práticas sociais

que empregam a leitura e a escrita, ou seja, proporcionar as mais variadas

formas de letramento, valorizadas e desvalorizadas, universais, locais e

institucionalizadas, tendo sempre como meta levar o aluno a conhecer, a

apropriar-se das práticas valorizadas, universais e institucionalizadas, para que

ele possa ter acesso ao mundo globalizado. De acordo com Roxane Rojo, “um

dos objetivos principais da escola é justamente possibilitar que seus alunos

possam participar das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da

escrita (letramentos) na vida da cidade, de maneira ética, crítica e

democrática” (ROJO, 2009, p.107).

Para que isso aconteça, é preciso superar as práticas artificiais de leitura

e produção textual tão presentes no cotidiano escolar. O trabalho com os

gêneros textuais em sala de aula é uma forma de explorar a língua, em seus

mais diversos usos na vida diária. As atividades de leitura e de escrita precisam

reproduzir as ocasiões de uso sociopragmáticas da língua para que essa

atividade adquira sentido para o aluno.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica assim orientam:

O aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior propriedade se lhe for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o caráter dinâmico dos gêneros discursivos. O trânsito pelas diferentes esferas de comunicação possibilitará ao educando uma inserção social mais produtiva no sentido de poder formular seu próprio discurso e interferir na sociedade em que está inserido. (SEED, 2008, p. 53)

Os gêneros possuem características sociocomunicativas, definidas pelo

seu conteúdo, função e composição e, portanto, devem ser ensinados na

escola de forma prática, para que, indo além das suas características, os

alunos possam de fato aprender a ler e a produzir determinado gênero.

Partindo desses pressupostos, o gênero jornalístico notícia, que norteou

a aplicação da unidade didática relatada neste artigo, justifica-se por sua

relevância social e por seu uso funcional na vida do estudante. A redação a

partir de um gênero discursivo de circulação social exige que o aluno busque

informações e se empenhe na produção de um bom texto, adequado ao gênero

proposto, uma vez que esse texto terá uma finalidade prática: a reprodução ou

transmissão de informações. Assim, os alunos se sentirão motivados para ler,

buscar informações e produzir textos.

A opção por um gênero da esfera jornalística, a notícia, se fez em função

do público alvo escolhido para a aplicação da proposta: alunos da modalidade

EJA (Educação de Jovens e Adultos), do período noturno. São jovens e

adultos, em sua maior parte trabalhadores, que retornam ou procuram a escola

porque sentem a necessidade de concluir etapas da escolarização formal e,

assim, poder participar efetivamente da vida social e profissional como

cidadãos críticos e agentes. Ressalta-se aqui o fim prático do jornal, que se

constitui num mecanismo social de linguagem e, devido à sua relevância social

e ao seu uso funcional na vida do educando, torna-se um material que desperta

motivação nos alunos. A notícia é um gênero discursivo presente no cotidiano

da sociedade, com informações sobre fatos e acontecimentos atuais que fazem

parte da comunicação humana diariamente. Logo, quando ouve ou lê um

jornal, o cidadão passa a conhecer e participar do contexto social em que vive

e de outros locais.

Nosso objetivo maior foi o desenvolvimento de um trabalho com a leitura

e a produção textual, tendo em vista não somente os aspectos estruturais e

linguísticos, como também uma prática de uso da língua, por meio do gênero

notícia jornalística, que, por abordar fatos presentes no contexto social, é

amplamente usado nas interações diárias do educando, como família, trabalho,

religião e escola.

Pautados na dimensão sócio-interacionista da língua e fundamentados

em estudiosos como Ângela Kleinam, Izabel Solé, Luís Antônio Marcuschi,

João Wanderley Geraldi e nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná,

estabelecemos os objetivos e as estratégias de ação que nortearam a

produção e execução da proposta, elaborada com o formato de unidade

didática, cuja aplicação é relatada neste artigo.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A leitura e a escrita são as duas atividades que fundamentam o trabalho

do professor nas aulas de Língua Portuguesa. Sendo assim, toda a

aprendizagem escolar de um indivíduo está alicerçada nessas duas atividades,

que são essenciais para que ele exerça a cidadania. Conhecer os processos e

aspectos envolvidos na aquisição da leitura e escrita é fundamental para o

sucesso da ação pedagógica.

Durante anos, na escola brasileira, o conceito de leitura como

decodificação esteve presente e, muitas vezes, o aluno era orientado para uma

leitura apenas gramatical, tornando-se o texto pretexto para a proposição de

atividades gramaticais, independentemente do contexto.

Kleiman (1997, p.10) afirma que “a leitura é um ato social, entre dois

sujeitos – leitor e autor – que interagem entre si, obedecendo a objetivos e

necessidades socialmente determinados”. Essa dimensão interacionista-

discursiva do ato de ler é a que fundamenta este trabalho, porque considera

que a leitura é produção de sentido e não apenas extração. Na leitura, estão

presentes o sujeito autor e o sujeito leitor, com suas histórias, conhecimentos,

ideologias, vivências culturais e afetivas.

Nessa perspectiva, a leitura é concebida como processo que integra

tanto as informações explícitas presentes na página impressa quanto aquelas

que o leitor traz para o texto a partir de suas experiências de vida. Autor e leitor,

inseridos no processo sócio-histórico-ideológico, são co-produtores do sentido

do texto. Portanto, o leitor não é um recipiente de informações, e sim um sujeito

que participa da produção de sentido, percebendo os “ditos” e os “não ditos”,

as incompletudes e as ideologias existentes no texto.

Kleiman (1997) enfatiza também a importância do conhecimento prévio

do leitor, que lhe permite fazer previsões e inferências necessárias para a

construção do sentido do texto. Esse conhecimento prévio envolve o

conhecimento linguístico, o textual e o de mundo, que são ativados no

momento da leitura, para se chegar à compreensão textual. O conhecimento

linguístico é fundamental no processamento do texto; é o conhecimento

implícito, relativo aos mecanismos de funcionamento da língua, como

gramática, léxico, semântica. Sem esses conceitos linguísticos, não é possível

fazer as inferências necessárias ao entendimento do texto. O conhecimento

textual se refere à classificação de um texto como um tipo narrativo, descritivo,

expositivo, injuntivo, etc. De acordo com a autora, quanto mais amplo for o

repertório de tipos textuais que o indivíduo tiver, tanto mais fácil será sua

compreensão no ato da leitura. O conhecimento de mundo pode ser adquirido

formal ou informalmente. São acontecimentos atuais ou passados que ocorrem

na sociedade e na vida do indivíduo, presentes em sua memória e acionados a

partir de elementos fornecidos pelo texto. O sentido do texto somente se

constrói a partir da interação entre esses três níveis de conhecimentos, que

são acumulados em nossa memória semântica e ativados no momento da

leitura.

Solé (1998) sugere algumas estratégias a serem utilizadas a fim de

levantar o conhecimento prévio dos alunos e auxiliá-los a formular hipóteses.

Essas estratégias permitem que a leitura se torne uma atividade motivada e

desafiadora.

(...) para encontrar sentido no que devemos fazer – neste caso, ler – a criança tem que saber o que deve fazer – conhecer os objetivos que se pretende que alcance com sua atuação – sentir que é capaz de fazê-lo, que tem os recursos necessários e a possibilidade de pedir e receber ajuda precisa – e achar interessante o que se propõe que ela faça. (SOLÉ, 1998, p. 91)

O papel do professor é fundamental em todo esse processo. Para tanto,

a autora sugere o planejamento e a seleção do material pelo professor, o

estabelecimento de objetivos claros e definidos que conduzem à utilização de

diferentes estratégias de leitura. Não basta apenas apresentar o texto aos

alunos, é preciso planejar diversas atividades em situações que sirvam para

motivar a leitura. É necessário que o aluno esteja efetivamente envolvido no

processo para que os resultados sejam positivos.

Outro aspecto relevante apresentado por Kleiman é ter objetivos e

propósitos claros na leitura, estabelecidos previamente pelo leitor, bem como a

formulação de hipóteses. Estas são atividades de natureza “metacognitivas”

que pressupõem reflexão e controle consciente sobre o próprio processo de

compreensão.

Dentro do contexto escolar, torna-se difícil delinear objetivos específicos

para a atividade de leitura, que, em diversas situações, serve como pretexto

para a realização de outras tarefas do ensino da língua, como resumos,

análises sintáticas, resolução de questionários, etc. A delimitação e a

explicitação de objetivos facilitam a aprendizagem, visto que “... a leitura com

objetivos bem definidos permitirá lembrar mais e melhor aquilo lido” (KLEIMAN,

1997, p. 34).

Ter objetivos específicos permite que o leitor formule hipóteses, ou seja,

faça suposições a partir de elementos como título, ilustrações e estruturas. Tais

suposições vão sendo testadas por ele, para serem aceitas ou refutadas, à

medida que se vai lendo o texto.

A leitura, a compreensão e a produção de texto são atividades que

precisam estar atreladas no processo de ensino-aprendizagem. Quanto mais

amplo e variado for o universo textual a que o aluno tenha contato, mais

possibilidades terá de compreender, dominar a língua e, através dela, agir na

sociedade.

De acordo com Marcuschi (2005, p. 24), “... texto é uma entidade

concreta realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual”.

São os aspectos sócio-comunicativos e funcionais da língua que caracterizam

os gêneros textuais. Gêneros são, portanto, formas de uso concreto da língua

em situações reais de comunicação.

Segundo o autor,

Já se tornou trivial a idéia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. (MARCUSHI, 2005, p. 19)

O uso funcional que as pessoas fazem da língua nos mais diversos

contextos – família, igreja, escola, trabalho e outros – configura-se nos gêneros

textuais. Sua definição encontra-se nos propósitos funcionais de uso da língua

e não na forma, logo não são aspectos estruturais ou linguísticos que

caracterizam os gêneros do discurso, mas sim o uso prático que fazemos da

língua em situações cotidianas reais de comunicação. Nesse sentido, a

linguagem é entendida como forma de interação humana e, portanto, não se

pode separar linguagem de contexto social.

Os gêneros surgiram e se multiplicaram condicionados a atividades

sociais, culturais e aos avanços tecnológicos que suscitam novas formas

discursivas para as ações humanas. Eles são formas de agir e interagir com o

mundo. A diversidade de gêneros existentes se amplia rapidamente no mundo

contemporâneo. À medida que a sociedade se desenvolve, ocorre uma

multiplicidade de novos gêneros, novas formas de comunicação, tanto na

oralidade como na escrita. Portanto depreende-se que não é possível definir

quantos e quais são os gêneros textuais.

Faz-se necessário distinguir ainda gênero textual de tipologia textual.

Marcuschi assim expõe uma definição dessas duas noções:

a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de seqüência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. (b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. (MARCUSCHI, 2005, p.22-23)

Enquanto o gênero se define em razão de sua funcionalidade e ação

prática como atividade sociodiscursiva, o tipo textual se define por

características linguísticas. São sequências linguísticas que organizam o

discurso, como a narração, a descrição, a argumentação, a injunção e a

exposição. Exemplos de gêneros seriam a carta pessoal, o bilhete, o romance,

a notícia, a receita, a piada, a carta eletrônica, a bula de remédio.

Os gêneros podem ser determinados ainda pelo suporte em que os

textos aparecem. Marcuschi define suporte como um portador, um elemento em

que o texto se fixa e que está encarregado de pôr o gênero em circulação.

Bonini (2006) cita o jornal como um suporte no qual circulam diversos gêneros.

Segundo ele, no jornal, um único texto pode apresentar mais de um gênero

diferente, já que a ocorrência dos gêneros presentes no jornal não se dá em

unidades estanques. Os gêneros, portanto, se misturam, se entrelaçam num só

texto, dependendo da estrutura de organização do jornal e do modo como a

enunciação acontece. O autor exemplifica com a reportagem, que “...

dependendo do material coletado, pode se parecer com uma notícia, com um

perfil ou com uma entrevista” (BONINI, 2006, p.66).

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do

Paraná, as diversas práticas discursivas que ocorrem nos gêneros textuais e

que fazem parte da vida dos educandos devem ser legitimadas na escola. Os

alunos, assim, compreenderão a língua não como uma unidade estanque, mas

como um mecanismo de ação social.

O ensino e a aprendizagem escolar da Língua Portuguesa, sob essa

perspectiva, visam levar o aluno a ampliar seus conhecimentos linguísticos, a

fim de que possa compreender os discursos presentes na sociedade em que

vive, para que, de posse de seu próprio discurso, seja capaz de agir e interferir

nessa sociedade. O aprimoramento da competência linguística é tarefa da

escola.

Assim como a leitura, a escrita tem um propósito funcional na vida das

pessoas, possibilitando atividades sociocomunicativas diversas nos mais

diferentes contextos sociais. As condições em que a produção textual ocorre

determinam o texto. Sendo assim, nas aulas de Língua Portuguesa, é preciso

desenvolver a prática da escrita de forma a considerar o destinatário e a

finalidade, ou seja, no processo da escrita, é preciso ter claro o que dizer, a

quem, com que finalidade e como fazê-lo, haja vista que “a escrita, na

diversidade de seus usos, cumpre funções comunicativas socialmente

específicas e relevantes” (ANTUNES, 2003, p. 47).

Nesse sentido, Geraldi (1997) aponta algumas condições necessárias

para que a produção de um texto adquira sentido. São elas:

a) se tenha o que dizer; b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer; d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz

para quem diz (o que implica responsabilizar-se, no processo, por suas falas); e) se escolhem as estratégias para realizar. (a), (b), (c) e (d). (GERALDI, 1997, p.160)

A abordagem a partir dos gêneros textuais permite que os itens acima

sejam recriados no ambiente escolar, para que se possa superar a

artificialidade das produções textuais tão presente nas aulas de Língua

Portuguesa. Os gêneros jornalísticos, por possuírem grande relevância social,

trazendo informação e abordando assuntos relacionados à vivência do

educando, contribuem para a formação de um aluno crítico e capaz de

posicionar-se frente às manifestações de massa que atingem a sociedade de

maneira geral. Esses gêneros são excelentes oportunidades para formar

leitores e escritores hábeis, uma vez que neles estão presentes diversas

tipologias textuais. No gênero notícia, aqui proposto, estão presentes a

exposição, a descrição e a narração.

3. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA

Iniciamos a aplicação da proposta pedagógica com uma conversa com a

turma para levantar o conhecimento prévio dos alunos a respeito do gênero

notícia, propondo oralmente as seguintes questões:

Você tem o hábito de assistir, ouvir ou ler jornais para se informar sobre

fatos do cotidiano que nos cercam?

Quais os assuntos noticiados pela mídia que mais lhe interessam?

Política? Esportes? Economia? Ciências? Artes? Variedades?

Cite algum fato recente que você se lembre de ter sido noticiado pela

imprensa escrita ou falada.

Você sente prazer em contar algum fato recentemente noticiado a

alguém que ainda não tem conhecimento do fato?

Em sua opinião, quais fatos ou acontecimentos podem se tornar notícias

jornalísticas.

Durante esta aula, os alunos tiveram oportunidade de falar, citaram

noticiários televisivos ou de rádio e ainda jornais impressos nos quais buscam

informações variadas. Ao final da conversa, a professora ponderou junto aos

alunos a respeito do objetivo de determinados jornais impressos ou falados

com a publicação de notícias trágicas ou sensacionalistas, que atraem muito a

atenção de um grande número de pessoas.

Para finalizar as discussões propostas com as questões acima, foi

realizada a leitura e a reflexão do texto “Os jornais”, de Rubem Braga. Nas

reflexões a respeito do texto, foi possível constatar que acontecimentos

cotidianos banais geralmente não se tornam notícias, pois há vários fatores

responsáveis pela transformação de um fato em notícia. Além de ter por

objetivo informar a respeito de fatos políticos, esportivos, culturais e

econômicos, entre outros, os jornalistas procuram provocar sensações,

despertando a curiosidade dos leitores. Sendo assim, o critério para a escolha

sobre o que será noticiado depende do interesse do público consumidor

ouvinte ou leitor a que a notícia se destina.

A próxima etapa da aplicação da proposta ocorreu na aula seguinte com

a exploração do jornal impresso pelos alunos. Para a realização dessa

atividade, a professora trouxe para a aula exemplares atuais de jornais locais e

regionais que foram distribuídos entre os alunos, organizados em duplas.

Utilizamos na atividade exemplares dos jornais Tribuna de Cianorte, Folha

Regional de Cianorte, Folha de Londrina, O Estado do Paraná. Estabeleceu-se

um tempo de aproximadamente 30 min para que os alunos explorassem

livremente os jornais e seus cadernos. Terminado o prazo, a professora

apresentou as questões que seguem para serem discutidas oralmente:

O que mais lhe interessou neste jornal?

Você reparou que o tipo e o tamanho das letras utilizadas ao longo do

jornal variam? Por que você acha que isso ocorre?

Além dos textos escritos, o que mais aparece no jornal?

O jornal se compõe de diversos cadernos ou seções organizados de

acordo com o assunto. Quais os cadernos presentes no jornal que você

explorou?

Há propagandas ou anúncios publicitários no jornal? Em que proporção

aparecem?

Em seguida, foi proposto um conhecimento mais amplo das

informações, ilustrações, fotos e gráficos contidos na primeira página e no

interior do jornal, com as atividades abaixo apresentadas para serem

respondidas no caderno:

a) Identifique a data e o local de publicação do jornal.

b) Quais as principais manchetes?

c) Que informações há na primeira página, além da manchete e das

chamadas para as principais notícias?

d) Qual o assunto predominante: política, esporte, economia, assuntos

policiais?

e) Há mais destaque para as notícias locais, regionais, nacionais ou

internacionais?

f) Há alguma notícia sensacionalista? Caso julgue necessário, consulte no

dicionário o significado de sensacionalismo.

g) Observe as ilustrações, fotos e gráficos presentes nas páginas dos

jornais. Eles estão acompanhados de legenda (frases que relacionam a

imagem à notícia) e crédito (nome do fotógrafo)?

h) Escolha uma das notícias anunciadas na primeira página, localize-a no

interior do jornal e faça a leitura completa. Em seguida anote as

informações que não constam na primeira página.

Observamos, durante o desenvolvimento dessa atividade, que a maioria

dos alunos se mostrou bastante entusiasmada em explorar o jornal. Alguns,

após uma primeira análise no exemplar que tinham em mãos, trocaram com

outras duplas a fim de conhecer outros jornais. Toda atividade foi feita com a

orientação da professora para o coletivo da sala e para as duplas

individualmente. O que mais chamou a atenção da turma, além da grande

quantidade de anúncios publicitários, principais manchetes e cadernos

temáticos, foram as diversas informações que constam na primeira página

como o cabeçalho, contendo nome e logotipo, endereço eletrônico, data e

local, valor, previsão do tempo, as chamadas de capa, a diagramação, os

diferentes tipos de letras, informações estas que, segundo relato dos alunos,

ainda não haviam sido percebidas por eles em contatos anteriores com o jornal

impresso.

Após essa etapa na qual exploramos o jornal impresso, propusemos aos

alunos a montagem de um jornal mural da notícia, que ficou exposto na escola

e foi alimentado constantemente com notícias anexadas pelo professor e pelos

próprios alunos da turma. O principal objetivo desse jornal mural foi a

socialização de informações atuais sobre assuntos diversos que circularam nos

jornais da região e do mundo.

Desse momento em diante, coube à professora a tarefa de selecionar

uma notícia num jornal impresso ou on line que era lida para a turma e

debatida sempre na primeira aula do dia. Percebemos então que o aluno

também passou a buscar a informações nos jornais, pois muitas vezes eram

eles que traziam a notícia para ser socializada com a turma e exposta no jornal

mural.

A leitura e a socialização de notícias, que ocorreram durante todo tempo

de aplicação da proposta didático-pedagógica, proporcionaram discussões

calorosas entre a turma, principalmente quando se tratavam de notícias sobre

fatos locais ou assuntos polêmicos. Havia entre os alunos um desejo de

manifestar a opinião, o ponto de vista a respeito do assunto em questão.

Nesses momentos, tornava-se difícil para a professora conter a empolgação

dos alunos, entretanto entendemos isso como um ponto positivo, de

desenvolvimento do senso de criticidade, além do desejo de manifestar e fazer

valer seu ponto de vista.

Na sequência das atividades de desenvolvimento do trabalho, foi feito

um estudo dos principais elementos da notícia com a turma:

Manchete

Título

Olho da notícia

Lead

Corpo da notícia

Foto e legenda

Dando continuidade, a professora expôs aos alunos, por meio do

projetor, a notícia “EUA: homem condenado à morte é inocentado após DNA”

(Tribuna de Cianorte, 30 de set. 2012). Fez-se a leitura e o reconhecimento dos

elementos em questão com a sala. Em seguida foi apresentada à turma outra

notícia “Biometria pode liberar eleitor para votar em qualquer seção” (Tribuna

de Cianorte, 30 set. 2012), cujo assunto era a utilização da biometria para

identificar os eleitores no momento da votação. O texto que tratava das

eleições, assunto polêmico e de interesse de todos, deixou a turma bastante

empolgada.

Após a leitura e exploração oral, momento em que os alunos citaram

situações diversas ocorridas na última eleição da cidade, foram propostos

exercícios escritos de identificação dos elementos da notícia. Nessa atividade,

que foi realizada individualmente pelos alunos, a professora foi solicitada para

auxiliar em algumas dúvidas, entretanto não houve dificuldades significativas

durante a realização da atividade.

Notamos que eles sentiam prazer em realizá-las, e, sendo assim,

constatamos que as considerações anteriores, feitas no coletivo, com a notícia

no projetor, auxiliaram no domínio pelos alunos das questões propostas.

Dando sequência às atividades, na aula seguinte, a professora

apresentou mais atividades para serem respondidas no caderno sobre a notícia

apresentada na aula anterior. Os exercícios abordavam a opinião dos alunos

fundamentada em argumentos e questões de análise linguística pertinentes ao

gênero textual notícia, como: o discurso citado, o uso de aspas, o emprego de

tempo, modo e pessoa verbais, a variedade linguística empregada. Na

realização desses exercícios de análise linguística, a turma encontrou

dificuldades nas atividades referentes ao discurso citado, modo e pessoas

verbais. A professora aproveitou a ocasião e retomou esses conteúdos no

quadro com os alunos a fim de esclarecer as dúvidas.

O próximo passo foi dar continuidade à exploração da linguagem da

notícia de forma sistematizada, uma vez que essa exploração já vinha

ocorrendo constantemente, no desenvolver das atividades anteriores. A

professora levou para a aula diferentes exemplares de jornais que foram

distribuídos entre os grupos para a realização das seguintes atividades:

Leitura de jornais diversos, comparando a mesma notícia, avaliando as

manchetes e os títulos a fim de apontar as diferenças na abordagem do

assunto.

Elaboração de títulos de notícias a partir de fatos sugeridos, dando

ênfase a um ou outro aspecto indicado.

Apresentação de fragmentos, títulos e lead para identificação de tipos de

letras e tempo verbais empregados.

Apresentação de notícias para análise da pessoa verbal empregada,

dando ênfase à informação, clareza e objetividade.

Apresentação de fragmentos de notícias contendo depoimentos e relatos

de pessoas envolvidas na notícia, colhidos pelo relator e apresentados

sobre a forma de discurso direto ou indireto, a fim de que os alunos

identificassem o discurso citado.

Durante a execução desses exercícios os alunos demonstraram-se

interessados e participativos e não encontraram problemas.

Na próxima etapa, a professora propôs atividades que visavam à

preparação dos alunos para a produção textual, na qual eles seriam os

relatores e elaborariam as próprias notícias. Foram propostos os seguintes

exercícios para serem realizados por escrito no caderno:

Produção de títulos e subtítulos a partir da apresentação de leads.

Elaboração do primeiro parágrafo contendo os elementos: o quê, quem,

onde, quando, como e por quê, a partir de títulos e subtítulos sugeridos.

Escrita de legendas para fotos apresentadas.

A etapa final do desenvolvimento da proposta foi a produção textual. O

professor, então, orientou os alunos sobre a necessidade de ficarem atentos

aos acontecimentos de seu bairro ou cidade, para a escolha de um fato de

interesse coletivo que poderia se tornar notícia, já que os leitores seriam os

alunos, professores e funcionários da escola.

Antes da produção, fez-se necessária a retomada de orientações sobre

a estrutura composicional da notícia: título, lead e corpo da notícia, contendo os

elementos já estudados. Assim, a partir dos conhecimentos adquiridos, os

alunos realizaram, em duplas, uma produção inicial de notícias. Foram

relatados fatos ocorridos na escola, na cidade e região, pois havia, na turma,

alunos residentes em outra cidade.

O momento da produção foi o de maior dificuldade encontrada pelos

alunos durante toda a aplicação da proposta. Acreditamos que essa dificuldade

foi decorrente das características específicas do gênero notícia e da falta de

habilidade em usar a linguagem de maneira impessoal, direta e objetiva.

Ressaltamos aqui que o trabalho da professora como mediadora de

conhecimentos e orientadora, retomando as características e a finalidade do

gênero, bem como a estrutura e a organização do texto foram fundamentais

para que se atingisse o objetivo final: a produção de um bom texto, coerente e

adequado às condições do gênero.

A professora recolheu os textos e, na próxima aula, entregou-os às

duplas para que fizessem uma avaliação e reestruturação das produções a

partir do seguinte roteiro apresentado pela professora para orientar o processo

de revisão:

O título é chamativo, curto e objetivo com o verbo empregado no tempo

presente?

O assunto é de interesse do público leitor?

A notícia apresenta o lead que sintetiza as informações e responde às

questões: o que, quem, onde, quando, como, por quê?

O relato dos fatos é feito em 3ª pessoa, procurando dar imparcialidade e

objetividade à notícia?

A notícia traz dados precisos ou depoimentos dos envolvidos para garantir a

confiabilidade dos fatos?

A notícia relata os fatos, separando-os em parágrafos para facilitar a leitura?

Você emprega recursos coesivos como marcadores temporais, pronomes,

preposições e conjunções de maneira adequada?

Existe uma relação harmônica entre o título, o lead e os demais parágrafos,

tornando o texto uma unidade de sentido coerente?

Há repetição de palavras?

Observe questões gramaticais como ortografia, pontuação, acentuação de

palavras, regência e concordância. Elas estão de acordo com a variedade

padrão? Caso necessite, consulte um dicionário ou uma gramática da

Língua Portuguesa.

Neste momento, os alunos já distantes do estado emocional gerado na

escrita da primeira versão do texto, puderam interagir com as próprias

produções, buscando aprimorá-las e adequá-las aos padrões exigidos pelo

gênero notícia. Após a reestruturação dos textos feita primeiramente pelos

próprios alunos, a professora realizou uma segunda correção e devolveu-os

aos alunos para a reescrita. Esclarecemos que não foi possível levar a turma

ao laboratório de informática da escola para digitarem a versão final da notícia,

uma vez que a maioria das máquinas encontrava-se com problemas técnicos.

Por isso, alguns textos foram entregues manuscritos, enquanto outros foram

digitados em casa pelo aluno e entregues ao professor. As notícias produzidas

foram afixadas no jornal mural da escola.

A somatória dos trabalhos foi positiva, trazendo a notícia para o contexto

escolar. Por meio do jornal mural, as informações foram socializadas e

divulgadas não apenas entre a turma que participou da aplicação dessa

proposta pedagógica, mas para todo o coletivo da escola, que pôde ler e

comentar as notícias afixadas durante o desenvolvimento da proposta e

também as produzidas pelos alunos na etapa final.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca por instrumentos metodológicos para dinamizar o processo de

ensino e aprendizagem deve ser uma constante em nossa atuação como

profissionais da educação. Temos em mãos a responsabilidade não apenas de

instruir e transmitir conhecimentos, mas de formar cidadãos letrados,

capacitados para atuarem no mundo que os cerca.

O trabalho com os gêneros textuais nas aulas de Língua Portuguesa

reproduz situações sóciopragmáticas de uso da língua no ambiente escolar,

capacitando os educandos para ler, compreender e produzir os gêneros

presentes em sua vivência cotidiana. Sendo assim, houve um envolvimento

efetivo dos alunos com as atividades, principalmente na produção dos textos,

pois os alunos tinham claro o que dizer, a quem, com que finalidade e como

fazê-lo.

A exploração de um gênero de circulação social mostrou-se bastante

eficaz e motivadora, pois possibilitou que a linguagem fosse explorada fora do

contexto escolar tradicional. As práticas de leitura, análise linguística e

produção textual pautadas no gênero notícia favoreceram a ampliação e o

domínio da capacidade linguística dos educandos, permitindo que fossem além

do cotidiano escolar, capacitando-os para agir e interagir no meio social em que

se encontram inseridos.

Durante a aplicação da proposta, pudemos constatar que os alunos

mostraram-se motivados e participativos, principalmente nas atividades de

leitura e discussão dos textos que conduziam a reflexões sobre a

informatividade e o contexto de produção. O estímulo pela busca de textos do

gênero notícia, a fim de manterem-se informados a respeito dos

acontecimentos locais e mundiais, foi também um aspecto positivo, pois

mostrou que nossos objetivos principais foram atingidos. Faz-se necessário

ressaltar que os alunos sentiam a necessidade de ouvir e debater os fatos

atuais, expondo suas próprias opiniões. Sendo assim, o gênero notícia

contribui também para a formação de leitores críticos.

A atividade de produção textual, realizada com um propósito claro e

definido, tornou-se uma atividade produtiva e prazerosa para os alunos. A

redação de notícias referentes ao ambiente e ao contexto no qual o aluno vive,

para ser lida por alunos, professores e funcionários da escola em que estudam,

incentivou-os a buscar, selecionar informações e solicitar orientações da

professora, para que pudessem produzir textos adequados às condições

exigidas pelo gênero.

Diante dos resultados positivos obtidos com os alunos, concluímos que o

jornal mostrou-se um recurso didático capaz de contribuir para o

desenvolvimento da habilidade de leitura, compreensão e produção textual,

colaborando para a superação de práticas artificiais e conservadoras de leitura

e escrita presentes no cotidiano escolar.

REFERÊNCIAS

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Campinas: Pontes, 1997. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros textuais e ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná. Curitiba: SEED, 2008. ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto alegre: Artes Médicas, 1998.