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1 André Bernardes Moura Bruno Henrique Martins Fábio Moura e Oliveira Lucas Barbosa Amorim A NARRAÇÃO DE FUTEBOL NO RÁDIO E NA TELEVISÃO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS TRANSMISSÕES DA RÁDIO ITATIAIA E DA TV GLOBO MINAS Belo Horizonte Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC 2008

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André Bernardes Moura

Bruno Henrique Martins

Fábio Moura e Oliveira

Lucas Barbosa Amorim

A NARRAÇÃO DE FUTEBOL NO RÁDIO E NA TELEVISÃO: UMA

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS TRANSMISSÕES DA RÁDIO ITATIAIA E

DA TV GLOBO MINAS

Belo Horizonte

Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC

2008

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André Bernardes Moura

Bruno Henrique Martins

Fábio Moura e Oliveira

Lucas Barbosa Amorim

A NARRAÇÃO DE FUTEBOL NO RÁDIO E NA TELEVISÃO: UMA

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS TRANSMISSÕES DA RÁDIO ITATIAIA E

DA TV GLOBO MINAS

Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. Orientador: Antônio Marcelo de Melo Silva

Belo Horizonte

Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC

2008

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Universidade FUMEC

Faculdade de Ciências Econômicas

Monografia intitulada “A NARRAÇÃO DE FUTEBOL NO RÁDIO E NA TELEVISÃO:

uma análise comparativa entre as transmissões da Rádio Itatiaia e da TV Globo Minas”, de

autoria dos bacharelandos André Bernardes de Moura, Bruno Henrique Martins, Fábio Moura

e Oliveira e Lucas Barbosa Amorim, aprovada pela banca examinadora constituída pelos

seguintes professores:

__________________________________________

Prof. Antônio Marcelo de Melo Silva – orientador

__________________________________________

Prof. Aurélio José

__________________________________________

Prof. Luiz Henrique Barbosa

Belo Horizonte, 25 de novembro de 2008

4

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos nossos pais e familiares pelo apoio e incentivo durante esses quatro anos de

curso. Este trabalho é uma forma de mostrarmos o quanto foi importante este investimento.

Agradecemos à psicóloga Margarete Amorim pelos ensaios da apresentação e aos narradores,

Jota Jr., Marcos Leandro, Mário Henrique e Osvaldo Reis, pelas entrevistas.

Agradecemos também aos professores Fabrício Marques, Cláudia Fonseca, Luiz Henrique e

Déborah Pennachin pelas correções durante a elaboração do trabalho.

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RESUMO

No Brasil, o futebol é algo que inspira grandes paixões, por isso, a narração assume um papel

importantíssimo na história desse esporte. Tanto na rádio como na televisão, os narradores

ostentam uma posição de destaque; afinal são eles os responsáveis por explicar ao público o

que acontece ali. A transmissão no rádio, que seduz o ouvinte com sua emoção, e a

transmissão de televisão, que encanta os telespectadores com sua imagem, mesmo com todas

as diferenças conseguem atrair do mesmo modo o público. Por meio de análises comparativas

de partidas narradas pelo rádio e pela televisão, e entrevistas com narradores de ambos os

meios, observa-se que apesar de cada meio ter características próprias, não existe um padrão

de narração em cada meio, o que acontece é que cada narrador escolhe o melhor modo de

fazer sua narração.

Palavras-chave: Futebol, linguagem, narração, rádio, televisão, jornalismo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................8

1 AS LINGUAGENS E AS TEORIAS JORNALÍSTICAS NA NARRAÇÃO DE

FUTEBOL ...............................................................................................................................11

1.1 Newsmaking e Gatekeeper.................................................................................................12

1.1.1 A realidade de Kunczik....................................................................................................12

1.1.2 Mauro Wolf e os critérios de noticiabilidade...................................................................16

1.2 A escolha de notícias na cobertura de futebol................................................................18

1.2.1 O surgimento do “interesse” pelo futebol........................................................................18

1.2.2 A inovação da cobertura do futebol.................................................................................20

1.2.3 O que é notícia neste esporte............................................................................................23

1.3 A linguagem do jornalismo esportivo..............................................................................26

1.3.1 A linguagem de rádio.......................................................................................................26

1.3.2 A linguagem da TV..........................................................................................................28

1.3.3 Jornalismo esportivo e a narração do futebol ..................................................................29

2 A CRIATIVIDADE DO RÁDIO E A IMAGEM NA TV.................................................34

2.1 O futebol antes da TV.......................................................................................................35

2.1.1 A imaginação dos locutores esportivos............................................................................37

2.1.2 Caixa e Pequetito, a criatividade radiofônica...................................................................40

2.2 Contra imagens não há argumentos................................................................................46

2.2.1 Os narradores da imagem.................................................................................................48

2.2.2 A narração televisiva, segundo Jota Jr. e Marcos Leandro..............................................53

3 AS DIFERENÇAS DA NARRAÇÃO FUTEBOLÍSTICA NA RÁDIO ITATIAIA E

NA TV GLOBO MINAS........................................................................................................56

7

3.1 O momento do gol.............................................................................................................58

3.2 Os recursos da televisão....................................................................................................61

3.2.1 Replay, a melhor explicação............................................................................................61

3.2.2 Narração mais detalhada..................................................................................................63

3.2.3 A linguagem ilustrativa....................................................................................................65

3.3 As características de cada meio.......................................................................................68

3.3.1 Os apelidos, aumentativos e os excessos de verbos do narrador de rádio.......................68

3.3.2 Os advérbios de lugar da narração televisiva...................................................................70

3.4 Mais emoções no rádio e a imagem que objetiva a narração........................................71

CONCLUSÃO.........................................................................................................................74

REFERÊNCIAS......................................................................................................................77

ANEXO I..................................................................................................................................78

ANEXO II................................................................................................................................82

ANEXO III...............................................................................................................................87

ANEXO IV...............................................................................................................................94

ANEXO V................................................................................................................................99

ANEXO VI.............................................................................................................................103

ANEXO VII...........................................................................................................................106

8

INTRODUÇÃO

Pretende-se, neste trabalho, analisar o processo histórico da narração futebolística no Brasil,

traçando um paralelo da linguagem no rádio e na televisão, identificando suas principais

diferenças, os estilos e variações de acordo com o tempo. Acreditamos que a narração de

futebol brasileiro foi algo primordial para sua espetacularização. Por meio das transmissões,

os narradores criaram ídolos nacionais, bordões e estilos que contribuíram para transformar o

futebol em um esporte diferenciado, que envolve paixões e emoções, que afeta diretamente o

cotidiano de uma grande parcela da população brasileira. Mesmo existindo no Brasil, desde o

final do século XIX, o futebol só alcançou seu maior status em meados dos anos 30, quando o

rádio passou a transmitir o esporte. Com a consolidação da televisão, nos anos 1980, o rádio

foi perdendo espaço para a nova mídia, que trouxe uma característica que revolucionou a

linguagem das narrações: a imagem.

Mas qual a verdadeira importância do locutor esportivo para as transmissões do futebol?

Muito mais do que apenas um apresentador, o locutor esportivo assume o papel de um

especialista que decodifica o evento para o espectador. No rádio este papel é ainda mais

perceptível, uma vez que o locutor é a única fonte de informação sobre a partida, a partir de

suas palavras, ele incita a imaginação do receptor. Que torcedor nunca se emocionou ao ouvir

um gol do seu clube de coração, ou de um grande craque ou o grito de campeão na voz destes

maestros da voz. Quem não se lembra do grito de “tetra, é tetra...”, na voz de Galvão Bueno, o

narrador de maior audiência da televisão brasileira.

9

Porém, com a evolução tecnológica, a emoção teve que conviver com a pauta, informações

estatísticas: não basta apenas ter eloqüência ou ter uma voz audível, é preciso ser profissional.

Segundo o jornalista Paulo Vinicius Coelho, representante do estilo moderno de cobertura,

“entre a lenda e a verdade, a literatura vai sempre preferir a lenda. O jornalismo deve preferir

a verdade” (COELHO, 2006, pág. 18). Não foi só a TV que alterou o estilo da linguagem da

narração esportiva, mas a profissionalização dos narradores, como comunicadores.

A monografia apresentada está dividida em três capítulos. No capítulo 1 fizemos uma

pesquisa bibliográfica de conceitos estudados durante o período acadêmico, como

Newsmaking e Gatekeeper, com base nos autores Michael Kunczik e Mauro Wolf, para

entendermos a transição da linguagem futebolística. As duas teorias se encaixam dentro da

narração futebolística no rádio e na televisão, uma vez que o Newsmaking diz sobre a criação

e poder de reproduzir significados do profissional de narração. O Gatekeeper teoriza a seleção

dentro da comunicação, fato nas coberturas do futebol, como as escolhas dos jogos que redem

mais para as emissoras. Fizemos ainda uma análise histórica do rádio e da televisão, com base

em informações técnicas de autores como Heródoto Barbeiro, Luciana Bistane, Eduardo

Meditsch e outros. Embasamos em autores da área do jornalismo esportivo, como Paulo

Vinicius Coelho, Carlos Fernando Schinner, e Mauro Betting.

No capítulo 2 estudamos a linguagem da narração futebolística atual, visando discutir as

características e as evoluções da narração do rádio e da TV; além de uma retrospectiva dos

principais narradores da história desses dois meios de comunicação. Entrevistamos ainda

quatro narradores: Mário Henrique, da Rádio Itatiaia, Oswaldo Reis, da Rádio Globo Minas,

10

Marcos Leandro da TV Globo Minas e do Sportv, e Jota Júnior, do Sportv, que serviram como

fontes para este capítulo.

Para finalizar esse trabalho, fizemos no capítulo 3, uma comparação de três jogos gravados,

que foram transmitidos simultaneamente pela Rádio Itatiaia e pela TV Globo Minas, todos

válidos pelo Campeonato Brasileiro de 2008: Atlético-MG e Palmeiras; Santos e Cruzeiro; e

São Paulo x Cruzeiro. O objetivo foi fazer uma análise comparativa da linguagem usada pelos

narradores de Rádio e TV e observar as diferenças e as semelhanças entre os dois meios.

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1 AS LINGUAGENS E AS TEORIAS JORNALÍSTICAS NA NARRAÇÃO DE

FUTEBOL

O futebol é um esporte que chegou ao Brasil em 1894, trazido pelo paulista Charles Miller,

que, depois de estudar na Inglaterra, trouxe a primeira bola de futebol e as respectivas regras

deste jogo. A partir de Miller, o futebol começou a se difundir por todo país, com a criação de

times e torneios. Em 1919, o esporte se popularizou no país quando a seleção brasileira

enfrentou o Uruguai, pelo Campeonato Sul-Americano de Futebol, e o presidente Delfim

Moreira declarou ponto facultativo para o comércio e o setor público, consolidando o poder

deste esporte no país, que já começava a ocupar espaços nos impressos brasileiros. Segundo

Carlos Fernando Schinner (2004), em 19 de julho de 1931, o esporte foi transmitido pela

primeira vez, em tempo real, pelo locutor Nicolau Tuma, da rádio Educadora Paulista. “Desde

então, estas transmissões se consolidaram e ajudaram a transformar o esporte em uma paixão

do brasileiro” (SCHINNER, 2004, p.21). Para análise da narração de futebol no Brasil, antes é

necessário estudar alguns conceitos do jornalismo, que servirão de base para analisarmos o

interesse do público pela cobertura do futebol, como o Gatekeeper (seleção de notícias) e o

Newsmaking (produção de notícias).

1.1 Newsmaking e Gatekeeper

12

1.1.1 A realidade de Kunczik

Michael Kunczik (2001) analisa a “Produção de Notícias” orientada pelo autor Jurgen Wilken

(1984) que examinou, de maneira empírica, que os valores notícias variam de acordo com o

tempo. Wilken analisou dois jornais de Hamburgo entre os anos de 1622 e 1906. Segundo ele,

os leitores, em 1906, receberam cem vezes mais informações e materiais de leitura do que os

do ano de 1622. Neste ano, 75% das notícias tinham mais do que duas semanas e, com o

passar do tempo, começaram a ficar mais atualizadas e diversificadas, com informações

sociais, comerciais, culturais e jurídicas. Mas ele observa que, apesar da periodicidade e do

imediatismo de 1906, a seleção de notícias piorou com os avanços tecnológicos. As

informações eram selecionadas de acordo com a “realidade editorial” e não com a “realidade

dos acontecimentos”. O autor ainda critica a falta de continuidade:

Antes, os leitores do jornal se informavam menos, mas por outro lado se informavam de maneira mais contínua sobre cada evento. Depois, passou-se a informar mais, mas em geral, a informações tornou-se menos contínua. (WILKEN apud KUNCZIK, 2001, p.29).

O futebol pode ser inserido nas duas realidades; além de o esporte ser uma realidade dos

acontecimentos, ele é uma grande arma editorial. Por ser um esporte popular, a sua cobertura

é de grande valor para os meios de comunicação, pois essas notícias são rentáveis.

Kunczik (2001) analisa também que as notícias não são objetivas, geralmente para um fato há

diversos pontos de vista. De acordo com o autor, a objetividade nada mais é do que o ponto de

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vista do jornalista e/ou da empresa que trabalha. A reportagem, os artigos e as notícias terão

sempre a opinião daquele que a publica. No caso da cobertura futebolística, o jornalista tem

sempre uma objetividade própria, principalmente nas coberturas regionalizadas: a notícia e/ou

a transmissão de uma partida é direcionada, enfocada ao time daquela determinada região.

A seleção de notícias ou gatekeeper (guardião do portão, em português) se baseia no líder de

opinião, que pode ser o empresário, o editor ou mesmo o repórter que vai divulgar a notícia de

acordo com o ponto de vista dele. O termo é inserido, pela primeira vez, em 1947, na

Psicologia. Em 1950, ele é aplicado na comunicação pelo americano David Manning White.

Segundo White, as escolhas das notícias são quase sempre arbitrárias e subjetivas, de acordo

com os interesses do jornalista e do local onde trabalha. De acordo com o autor, o jornalista

tem o poder de decidir se bloqueia ou transmite a informação, só vira notícia aquilo que

passar por uma cancela ou portão (Gate, em Inglês):

A seleção de notícias equivale a restringir o volume de informações, significa que a seleção de assuntos é aquilo que alguém acha que merece ser publicado. Os ‘porteiros’ decidem quais acontecimentos serão divulgados e quais não serão, contribuindo assim para moldar a imagem que o receptor tem de sua sociedade e de seu mundo. (KUNCZIK, 2001, p. 231).

No futebol, será notícia aquilo que o meio de comunicação cobriu no treinamento, no jogo.

Nas transmissões em tempo real, o destaque da partida, as opiniões, o direcionamento do

acontecimento são de responsabilidade do locutor, que se transforma em líder de opinião. As

transmissões dos jogos de futebol são selecionadas de acordo com o interesse do patrocinador

14

e da audiência. No Brasil, destaca-se as coberturas do eixo Rio-São Paulo, cidades centrais

das grandes empresas, que patrocinam as transmissões.

Na contemporaneidade, os fatos publicados devem ser claros, deve haver elementos surpresa,

proximidade geográfica e deve causar impacto social; é o que Walter Lipmann (1922), citado

por Kunczik (2001), chama de “valores informativos”. Kunczik supõe que as notícias são

aquilo que interessa ou chama a atenção do público. De acordo com o autor, os jornalistas

“[...] realizam a seleção de notícias baseados em uma orientação local ou etnocêntrica de fatos

que não se encontram longe do passado [...]” (KUNCZIK, 2001, p. 247).

Com este tipo de seleção padronizada, o público não tem muito o que escolher, pois os

critérios de escolhas são os mesmos, indiferentes dos meios de comunicação. Assim, as

informações serão bastante semelhantes, independente do meio. As notícias serão escolhidas

por meio da resposta do receptor, ou seja, da audiência e das vendas. Desse modo, o efeito

publicitário comanda o critério de escolha das notícias. Fato é que, atualmente, as notícias

sobre futebol se assemelham, indiferente do meio, pois estas são mais rentáveis à empresa de

comunicação.

Kunczik (2001) explicita também que a construção da realidade é feita pelos jornalistas, ou

seja, a realidade não é verdadeiramente objetiva, porque não há consenso do que realmente

aconteceu, os receptores não tem “acesso primário”, a realidade verdadeira é aquilo que é

noticiado. Assim a notícia é o único testemunho autêntico dos acontecimentos “reais”. O

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receptor vai sempre receber informações de modo unilateral, de acordo com a linha editorial

do meio e não de maneira ampla. Segundo Walter Lippmann, “a seleção é aquilo que combina

com a opinião do jornalista e/ou da sala de redação” (LIPPMANN apud KUNCZIK, 2002, p.

255). No rádio, o locutor de futebol se torna um construtor da realidade, pois ele é responsável

pela emoção da partida, por entreter o ouvinte, ou seja, controla a audiência. Como as notícias

se tornaram ininterruptas, há um fluxo contínuo de informações, o jornalista se torna

dependente de uma elite social - no caso do jornalismo esportivo, a fontes são as mesmas.

Kunczik explica que as fontes principais são da elite, e que, para não perder informações

relevantes, os profissionais da notícia criam laços com algumas pessoas de influência.

Jogadores consagrados e dirigentes de clubes polêmicos serão as principais fontes dentro da

cobertura do futebol:

[...] porque é mais provável que tomem parte em eventos notáveis e porque é mais provável que suas opiniões e ações interessem a outros indivíduos, ou seja, os receptores. (KUNCZIK, 2001, p. 259).

O jornalista esportivo fica dependente de fontes específicas e por isso é necessária uma

relação harmônica com elas para boas transmissões:

[...] jornalistas adotam os pontos de vista das suas fontes, por outro lado, os informantes conseguem publicidade, o que significa poder estabelecer uma relação simbiótica entre jornalistas e os informantes. E se este contato se romper, o fluxo de informação fica fragilizado. (KUNCZIK, 2001, p. 260).

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Segundo a teoria do Making News (1978), “o jornalista tem o poder de criar, impor e

reproduzir significados sociais, de construir a realidade social” (TUCHMAN apud

KUNCZIK, 2001, p. 264). Kunczik alude à experiência de 10 anos de Gaye Tuchman em

trabalhos televisivos, em jornais impressos e na sala de imprensa de Nova Iorque. Nesta

análise, o autor menciona as “Redes de notícias”, tão importante para esta produção, em que

há locais regulares onde se encontram notícias regularmente, como em delegacias e nas cortes

de justiça. No jornalismo esportivo, os centros de treinamento de clubes de futebol são “Redes

de notícias”. Kunczik também classifica as notícias como as “suaves”, que chamamos de

frias, que não são atuais, e as “duras”, atualmente descritas como factuais, que são as notícias

inesperadas, novas e imediatas. Dentro desta factualidade se inserem as “últimas notícias”,

“contínuas” e as “em desenvolvimento”. As primeiras são aquelas imediatas, as segundas são

os fatos que continuam a se desenvolverem em período prolongado e a última é aquela que

ainda precisa de alguns detalhes para ser finalizada. No jornalismo esportivo esses tipos são

bastante usados pela TV, rádio e, principalmente, pela internet; já as matérias suaves são

raridades. Na narração do futebol, o profissional de locução tem a função de reproduzir

significados, do poder criação na mente do telespectador e principalmente no ouvinte.

1.1.2 Mauro Wolf e os critérios de noticiabilidade

Mauro Wolf (1985) faz uma resenha com as diversas teorias da comunicação e afirma que a

produção de informação tem dois lados: o da cultura profissional, com as táticas, códigos e

outras técnicas dos mass media e o lado dos jornalistas na sociedade, “[...] à concepção do

produto-notícia e às modalidades que superintendem à sua concepção” (WOLF, 1995, p. 170).

17

A afirmação é uma tradução de práticas profissionais - adotadas naturalmente pelos jornalistas

- que se tornam critérios de definição de cada acontecimento para se transformarem, ou não,

em notícia. Quando um acontecimento não ganha estatuto de notícia pelo meio de informação,

ele não irá fazer parte dos conhecimentos do mundo.

Pode também dizer-se que a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de escolher, cotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de fatos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias. (WOLF, 1985, p. 170).

“As notícias são aquilo que os jornalistas definem como tal” (WOLF, 1985, p. 171). O autor

afirma que o assunto raramente é explicitado, e que os acontecimentos são divulgados de

acordo com aquilo que estes profissionais e seus patrões achem relevantes. “[...] faz notícia

aquilo que, depois de tornado pertinente pela cultura profissional dos jornalistas, é suscetível

de ser trabalhado pelo órgão informativo” (WOLF, 1985, p. 171). Assim, torna-se notícia

aquilo que irá entreter o espectador, no entendimento do profissional transmissor de

informação.

Wolf (1995) define os valores/notícia como um componente da noticiabilidade. Eles são

constituídos pelos acontecimentos considerados interessantes, significativos e relevantes para

serem transformados em notícias:

[...] esses valores funcionam, na prática, de uma forma complementar. Na seleção dos acontecimentos a transformar em notícias, os critérios de relevância funcionam conjuntamente, em pacotes: são as diferentes relações e combinações que estabelecem entre os diferentes valores/notícias, que recomendam a seleção de um fato. (WOLF, 1985, p. 175).

18

Em outra consideração, Wolf analisa o caráter dinâmico dos valores/notícia. Segundo o autor,

há uma especialização temática nos meios de comunicação de acordo com o período histórico:

Assuntos que, há alguns anos, simplesmente não existiam, constituem atualmente, de uma forma geral, notícia, demonstrando a extensão gradual do número e do tipo de temas considerados noticiáveis. (WOLF, 1985, p. 175).

O conceito dos valores/notícia vai se redefinindo por meio de novos temas, setores,

argumentos ou assuntos que comecem a ser regularmente divulgados. Como todos os

acontecimentos, os assuntos do futebol também se modernizaram, os valores, as fontes e os

direcionamentos vão se transformando de acordo com o tempo.

1.2 A escolha de notícias na cobertura de futebol

1.2.1 O surgimento do “interesse” pelo futebol

Antes de entrarmos na análise da cobertura futebolística no Brasil, abordaremos

sociologicamente a influência do futebol sobre a sociedade brasileira, embasado no

antropólogo Roberto DaMatta (1994), que escreveu o artigo “Antropologia do óbvio: notas

em torno do significado social do futebol brasileiro”. Segundo DaMatta, o futebol chegou ao

Brasil por meio dos ingleses, era um jogo de elite e foi se popularizando. A partir daí, ele faz

uma análise do sentido social do futebol para o povo brasileiro. Para o autor, o futebol é uma

19

atividade dotada de uma capacidade complexa que permite entendê-lo e vivê-lo

simultaneamente de muitos pontos de vista. Assim, embora este esporte seja uma atividade

moderna, um espetáculo pago, produzido e realizado por profissionais da indústria cultural,

dentro dos mais extremados objetivos capitalistas ou burgueses, ele, não obstante, também

possui características cívicas, valores culturais profundos e gostos individuais singulares.

A função do futebol no mundo moderno tem um pacto íntimo com dois aspectos

fundamentais da vida burguesa. Antigamente, os homens perdiam a honra num jogo de

esgotamento como os combates. Hoje, quando se assiste a um espetáculo esportivo,

internaliza-se uma mentalidade egoísta e concorrente, que vai estabelecer ou reafirmar os

melhores e os piores, os ganhadores e os perdedores, os primeiros e os últimos, dentro de um

quadro estratificado que o credo igualitário tende a mistificar e ocultar. No Brasil, o esporte

como um domínio associado à habilidade e ao uso desinibido corpo teve no futebol um

veículo de notável notoriedade. Talvez porque o futebol seja jogado em equipe, o que permite

retornar no nível simbólico a idéia de uma coletividade exclusiva, como a de uma casa ou

família, agrupamento com a qual se tem semelhanças insubstituíveis de simpatia, “sangue” ou

“raça” e amor.

É certamente por tudo isso que o futebol tem servido como um instrumento privilegiado de

dramatização de muitos aspectos da sociedade brasileira. Ele é um formidável código de

integração social. “De fato, este ajuda uma coletividade altamente dividida internamente a

afirmar-se como uma coletividade capaz de atuar de modo coordenado, corporalmente e de

eventualmente vencer.” (DAMATTA, 1994, p. 15). Finalmente, o futebol proporciona à

20

sociedade brasileira a experiência da igualdade e da justiça social. Por meio deste esporte, as

diferentes classes se igualam em patamar de entendimento, pois, produzimos um espetáculo

complexo, mas governado por regras simples que todos conhecem.

Foi, portanto, só com o futebol que conseguimos, no Brasil, somar estado nacional e sociedade, e, assim fazendo, sentir, pela avassaladora e formidável experiência de vitória em cinco Copas do Mundo, a confiança na nossa capacidade como povo criativo e generoso. (DAMATTA, 1994, p.17).

Betting (2005) nos coloca em contato com a história da narração futebolística. Inicialmente, o

autor tenta demonstrar a importância do aprimoramento dos jornalistas já que “qualquer

bípede pode comentar futebol no Brasil” (BETTING, 2005, p.16). Segundo ele:

Se os times passam a semana treinando, aprimorando fundamentos, ensaiando lances, executando estratégias, estudando os adversários, por que a imprensa não deve fazer o mesmo?(BETING, 2005, p.16).

Betting propõe menos “ladainha” e mais “determinação”. Poucos comentaristas vão a

treinamento das equipes, não vêem as movimentações, as alterações táticas, nem tem atenção

para ver a formação das equipes, “[...] Não se aprofundando porque não querem, porque não

sabem, porque ninguém manda, porque aborrece”. (BETTING, 2005, p.17).

1.2.2 A inovação da cobertura do futebol

Betting (2005) afirma que profissionais devem se apropriar de dados, de fatos, de fotos, de

observações e participar mais dos treinamentos; “o jornalista esportivo tem que ser um

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multimídia” (BETTING, 2005, p.17). Para ele, a inovação da linguagem na cobertura

futebolística começa nos anos de 1930, a partir de Mário Filho e o seu Jornal dos Sports, no

Rio de Janeiro. Até então, a linguagem de futebol era direcionada para a elite e ocupava

pouco espaço na mídia. Daí pra frente, a cobertura passa a ser não para a elite, mas para o

povo.

O texto parnasiano e dependente dos sportmens de origem elitistas do futebol, no início, foi perdendo terreno para a linguagem de botequim das arquibancadas. A popularização do jogo encheu o futebol de pobres. Antes disso, o futebol é para a elite. (BETTING, 2005, p. 19).

O jornalista Mário Filho foi responsável pela transformação das páginas de esportes, ao dar

mais espaço ao futebol; privilegiou os jornalistas que trabalhassem com o futebol, pagando

melhores salários. Primeiramente, Filho criou o diário Mundo Esportivo, em 1931, que durou

oito meses. Em 1936, comprou e refez o Jornal dos Sports. Sua frase “Um jornal não deve se

limitar a dar notícias, deve também produzir notícias que precisam ser a notícia” demonstra

como ele acabou criando o jornalismo futebolístico do futuro, ou seja, aquele que quer que a

notícia vá atrás dele, o artista.

O rádio desta época contribuiu bastante para a proeminência da narração futebolística, e o narrador brasileiro cria um estilo próprio, “tão nacional quanto o trato do boleiro tupiniquim” (BETTING, 2005, p. 20).

Esse estilo mudou pouco quando se adapta à televisão, em 1950. Só a partir dos anos 1970,

surgem inovações de linguagem e de método, quando o carisma e o charme pessoal do

jornalista se transformam em uma filosofia de trabalho, surgindo uma nova escola de grandes

locutores. O que vale é o locutor carro-chefe, não a equipe. Galvão Bueno é um exemplo

22

desse tipo de locutor. Também surge o jornalista que se prepara com qualidade, como os

profissionais de canais fechados, como Paulo Vinícius Coelho, da Espn e Milton Leite do

Sportv, que “nem precisam fazer tudo isso para brilhar” (BETTING, 2005, p.21). Há ainda

aquele jornalista que só gosta de aparecer: “o repórter metido a besta, como muitas bestas

metidas a repórter que infestaram a televisão nos últimos anos” (BETTING, 2005, p.21). Mas

o jornalismo futebolístico é mais do que isso. Deve vasculhar todo o tipo de informações em

todos os lugares possíveis. A nova geração tem uma atitude crítica com profissionais do

passado: “Parece briga entre ‘os românticos ofensivistas’ e os ‘pragmáticos defensivistas’.”

(BETTING, 2005, p. 23).

A briga entre os jornalista de diferentes estados foi um problema nos primeiros anos do

futebol brasileiro. Mas, com os anos, foi se depurando; as novas gerações foram mais abertas,

como o próprio mercado, que agora é mundial. O jornalismo tem que evitar o bairrismo, mas

não pode deixar de divulgar o sentimento que é próprio do futebol. O jornalista precisa se

preparar para ser cobrado nisso, deve buscar a imparcialidade e a isenção, ou seja, o futebol

tem que se sobressair sobre seu time. Isso deve ser um exercício diário do profissional, de ser

mais racional do que passional. Não quer dizer que ele tem que renegar o amor pelo seu time

preferido, apenas ser profissional. “Todo jornalista futebolístico é um torcedor, – quem não

for, insisto, pode ser jornalista, mas não de futebol.” (BETTING, 2005, p. 36).

O que interessa ao jornalista é o que pouco importa ao torcedor – a tática. Ele tem que ser

crítico e não o julgador. Ter responsabilidade para criticar e elogiar. Mas a cobertura esportiva

é cheia de pressões: a televisão quer o jogo na hora, os patrocinadores querem faturar de todas

23

maneiras, o que deixa em dúvida a lisura dos jornalistas esportivos e dos meios que cobrem

esses eventos: “A culpa não é do jornalista. É do jornal. É do rádio. É da TV. É do site. Do

negócio jornalístico que admite apenas a liberdade de empresa, não de imprensa.” (BETING,

2005, p. 35).

Há mais independência no texto e na palavra radiofônica do que nas “imagens compradas” da

televisão. É difícil uma imprensa independente econômica e politicamente, principalmente na

televisão.

1.2.3 O que é notícia neste esporte

Notícias de futebol são a maioria quando se trata de jornalismo esportivo, principalmente no

Brasil, onde esse é o esporte preferido da população. Noticiar futebol é lidar com a principal

diversão do povo, e é por isso que a notícia na cobertura jornalística de futebol possui, antes

de mais nada, um caráter de entretenimento. Ela é voltada principalmente para os torcedores e

apaixonados pelo esporte e, por isso, assume também um lado de prestação de serviços, afinal

são nas notícias que o torcedor se informa sobre seu clube e sobre seus jogos.

Ele [o jornalista] deve fazer o trajeto a caminho do evento e informar tudo o que vê que seja relevante para o torcedor, que também está a caminho e ávido por informações que vá lhe trazer mais comodidade. [...] boa parte dos torcedores procura informações úteis para o seu dia-a-dia, que resolvam problemas concretos. Preços dos ingressos, local de venda, horários dos jogos, mudanças de local/dia/horário, trânsito a caminho do estádio, transporte, acidentes, caminhos alternativos para cada torcida e até capacidade de público no local do evento. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 61)

24

Mesmo sendo tão popular, a cobertura de futebol sofre muitas vezes com a falta de notícias

diversificadas; pouca coisa, além de análises de jogos e notícias da cobertura diária dos times

(escalação, jogadores machucados e transferências), é apresentado ao público. Pode-se dizer

que a cobertura jornalística do futebol segue um cumprimento automático de pautas.

Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel (2006) afirmam que infelizmente a pauta na cobertura

do futebol virou refém da agenda. Segundo eles, o noticiário semanal acaba ficando

subjugado, aos jogos, treinamentos, e as entrevistas coletivas dos times de futebol.

Os jogos acontecem na quarta, quinta-feira, sábado e domingo, o time treina na segunda, terça, e sexta-feira, a televisão transmite tudo. Assim, as notícias resumem-se ao jogo que acontece amanhã, ou o que aconteceu ontem. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 26)

Para construir uma cobertura com mais qualidade e mais diversificada, o repórter deve,

sempre que puder, fugir da agenda. O jornalista Paulo Vinícius Coelho (2003) aponta o que

deve ser feito para melhorar a cobertura. Segundo ele, a falta de interesse por parte de alguns

jornalistas é que transforma a cobertura do futebol em algo rotineiro.

É cada dia mais comum ver técnicos, jogadores, preparadores físicos e fisiologistas reclamando do desconhecimento de profissionais que atuam em jornais em busca apenas de notícia. Que não buscam saber o que se passa dentro de um centro de treinamentos e das coisas que explicam esse ou aquele procedimento. (COELHO, 2003, p. 42)

25

Coelho (2003) diz ainda que é preciso sempre criar pautas inteligentes, e fugir do lugar-

comum, esforçar-se diariamente para conseguir uma pauta mais criativa. Deve-se prestar

atenção em pequenos detalhes, pois é ali que se encontra o diferencial, que vai tornar a notícia

de um veículo mais interessante que de outro.

Não há lugar, ainda mais em um grande clube brasileiro, em que não haja notícia. O repórter em questão é que não está conseguindo enxergá-la pela cultura do fato imediato. Vale a declaração bombástica, entrada mais forte de reserva em titular, discussão. Qualquer coisa que sirva para criar polêmica. (COELHO, 2003, p. 81).

Uma outra vertente peculiar da cobertura de futebol é a chamada política do esporte, os

assuntos de bastidores, das diretorias dos clubes, que interessam, e muito, aos torcedores.

Esses assuntos, em geral, não ganham muito espaço no noticiário diário, porém são de

extrema importância, pois é quase sempre nos bastidores da política do futebol que saem as

melhores informações, os chamados furos de reportagem. E é a partir desses furos que o

jornalista conseguirá matérias diferentes, que fujam da rotina da cobertura diária.

A política do esporte implica cobertura dos bastidores, antecipar decisões e procurar o que todo jornalista mais gosta, o furo, a informação inédita. Aí cabem as pautas e as reportagens especiais, a defesa do torcedor e do consumidor, as políticas públicas, a violência e as ações vinculadas à cidadania e ao terceiro setor. (BARBEIRO; RANGEL 2006, p.27).

26

1.3 A linguagem do jornalismo esportivo

Antes de falarmos diretamente da linguagem do jornalismo esportivo e da narração

futebolística, abordaremos as características gerais das linguagens radiofônicas e televisivas.

1.3.1 A linguagem de rádio

Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima (2001) fazem uma análise a respeito dos textos

de rádio. Os autores analizam o papel de cada membro envolvido na produção de uma notícia.

O texto de rádio difere do texto da imprensa escrita, pois o ouvinte só tem uma chance de

entender a informação. Portanto, a mensagem se dissolve no momento em que é levada ao ar.

Para que a missão de conquistar o ouvinte seja alcançada, o texto deve ser coloquial. O jornalista precisa ter em mente que está contando uma história para alguém, mas sem apelos à linguagem vulgar, e acima de tudo, respeitando as regras do idioma. (BARBEIRO; LIMA, 2001, p. 62).

Segundo eles, o que prende o ouvinte é a naturalidade como a informação é passada, a

naturalidade da fala, a simplicidade e principalmente a pronúncia correta das palavras.

A clareza que buscamos ao redigir um texto deve estar presente na fala. Não é um belo timbre de voz que prende a atenção do ouvinte, mas a naturalidade, a simplicidade e a pronúncia correta das palavras. (BARBEIRO; LIMA, 2001, p. 79).

27

A linguagem radiofônica é diferente da linguagem televisiva. Ela não pode ser considerada

como parte do universo audiovisual. Na televisão, o comunicador pode falar de certo fato

mostrando-o para o telespectador. Já no rádio isso não é possível, pois o ouvinte não está

vendo nada, ele apenas está recebendo uma informação auditiva. Eduardo Meditsch explica

assim:

[...] ao contrário do que afirma o senso comum, e tem sido sacralizado mais ou menos acriticamente pelos meios profissional e acadêmico, a linguagem do rádio não pode ser considerada como integrante do campo audiovisual e deve ser igualmente diferenciada da linguagem da fonografia. (MEDITSCH, 2001, p. 147).

A rapidez como a informação tem que ser dada no rádio leva os profissionais desse meio a

encaminhar ao ouvinte informações quentes, e talvez o profissional ainda não esteja preparado

para dar aquela informação. Por exemplo, quando o jornalista está transmitindo um fato ao

vivo,como um jogo de futebol, ele não sabe o que vai acontecer, por isso tem que usar uma

linguagem diferenciada, para não causar um certo alarde no ouvinte. Isso é diferente da

imprensa escrita, pois o profissional desta tem mais tempo para apurar melhor o fato.

A presunção da oralidade do rádio informativo, como referimos, tem servido de estratégia pedagógica que funciona como antítese em relação à linguagem escrita, para diferenciá-la do jornalismo impresso. (MEDITSCH, 2001, p. 147)

28

1.3.2 A linguagem da TV

Como confirma uma pesquisa do IBGE (2006)1, a televisão chega a 90% das residências

brasileiras, o que confirma o poder desse meio de comunicação e sua importância na

sociedade. Isso justifica a preocupação com a importância da linguagem televisiva em seu

conteúdo, mensagens e formas. A televisão brasileira tem pouco mais de meio século de

existência, é uma concessão pública, que pode ser explorada comercialmente, e que, por causa

da sua popularidade, avançou muito em tecnologia. E é exatamente por causa desta

notoriedade que a responsabilidade ética dos profissionais do jornalismo aumenta, devendo:

[...] privilegiar a boa informação, respeitar o interesse público e do público. É preciso buscar uma informação que sustente o senso crítico e permita identificar o que é uma notícia e a dimensão de um fato. [...] a agilidade é uma das características do telejornalismo e não deve servir de álibi para noticiários de má qualidade. (BISTANE; BACELLAR, 2005, p. 10).

A linguagem da televisão propõe ao jornalista um desafio diário, que é relatar com precisão e

síntese, transmitindo a relevância da informação de forma atraente e inteligível. O texto deve

sempre estar “casado” com a imagem, complementando e esclarecendo a informação visual,

sem ser uma mera descrição. Na televisão, não se deve usar palavras de difícil compreensão,

estas devem ser substituídas por termos que se empregam no dia-a-dia, como se estivesse

mantendo um diálogo com os telespectadores, de forma direta e com frases curtas para

1 Segundo o IBGE, foram pesquisados 53.114 domicílios brasileiros, 48.533 (91,4%) residências possuem aparelhos de televisão. Na região sudeste a porcentagem é ainda maior, das 23.801 casas pesquisadas, 22.874 (96,1%) possuem televisor. A pesquisa foi realizada entre os anos de 2005 e 2006.

29

facilitar o entendimento. O ideal é prender o telespectador já no início da matéria, como no

lead do jornal impresso.

O trabalho em televisão lembra o das linhas de montagem das fábricas, em que cada um é

responsável por uma fase da produção; o repórter nem sempre sabe qual vai ser a próxima

matéria. Antes de o repórter sair para uma externa ou atuar como narrador de um evento, são

checados a relevância dos temas, os dados, os fatos e as fontes pela produção.

Narradores, repórteres e cinegrafista devem conhecer aquilo que vão transmitir e para isso é

necessária uma boa interação entre os profissionais. Boa pauta, imagens bem feitas e um

repórter competente facilitam a transmissão e a edição, que pode ser usada nos compactos,

que são exibidos em outros programas.

Na transmissão de futebol, a televisão ainda conta com vários recursos da computação gráfica

que aumentam a interação com o telespectador e auxiliam na passagem mais clara da

mensagem, como as artes para a escalação, para os scouts, a linha de impedimento, o

congelamento de imagens e o replay.

Com a televisão, a narração esportiva tornou-se ainda mais um entretenimento, e assim o

jornalista futebolístico é cada vez mais polivalente. “É preciso colorir o jogo, dourar a pílula,

chumbar os olhos do telespectador”. (BETTING, 2005, p.24). A opinião quando é abalizada,

30

equilibrada, que mostra o outro lado, que possibilita crítica, mostra fatos e deixa espaço para a

opinião alheia deve ser condenada.

1.3.3 Jornalismo esportivo e a narração do futebol

O jornalista Mauro Betting afirma que, até os anos 1930, a linguagem esportiva era voltada

para a elite; portanto, tinha pouco espaço na mídia daquela época. Mário Filho, responsável

pela revolução da linguagem esportiva, percebeu que o esporte, principalmente o futebol,

estava se popularizando e seria necessário adotar uma linguagem simples, mais voltada para a

população pobre.

Nessa época, o rádio contribuiu bastante para o crescimento do jornalismo esportivo; com

isso, os narradores brasileiros criaram seus próprios estilos. Esses profissionais narravam os

jogos e tentavam empolgar e causar emoção no público. Eles distorciam totalmente o fato, ou

seja, exageravam na hora de narrar um lance do jogo. Durante as transmissões, eles usavam a

emoção, o excesso de bordões e as frases cômicas para isso. Como o espectador não podia ver

o que acontecia, ele era obrigado a acreditar em tudo o que o locutor dizia. Com o advento da

televisão, o espectador passou a acompanhar as transmissões de um modo diferente. Portanto,

esse surgimento da imagem, na década de 1950, acarretou em mudanças na linguagem do

jornalismo esportivo. O futebol passou a ser uma grande máquina de gerar audiência na

maioria das emissoras de televisão do país.

31

A importância para TV é tão grande, que até hoje, as maiores audiências das histórias do SBT, Bandeirantes e Rede Gazeta de televisão foram em jogos de futebol, em transmissões de Copa do Brasil, Mundial de Clubes e Libertadores das Américas. (BETTING, 2005, p. 20).

A narração esportiva tornou-se um grande entretenimento para o público. Com isso, o

jornalista que trabalha com o futebol passou a ter que ser mais polivalente, ou seja, ele tem

que passar para o telespectador muito mais que o conteúdo do jogo, precisa agilizar a

informação.

Hoje, o jornalista precisa detalhar a partida, ele tem que passar informações mais detalhadas

ao ouvinte, ao espectador. O jornalista tem que mostrar dados históricos das equipes,

estatísticas do jogo, dados dos jogadores.

Um jornalista-comentarista analisa o jogo dando o outro lado do espetáculo, a informação qualificada, a estatística da partida, os dados que o ‘boleirão’ não tem por que não quer ter, sobre a luz e a inspiração da ética jornalística, de comprometimentos com os dois lados (times) da questão. (BETTING, 2005, p. 38).

Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima (2001) abordam que a emoção se torna o grande

item de uma transmissão esportiva, mas, além dela, os narradores precisam conhecer mais as

regras dos esportes, buscar mais objetividade e evitarem exageros. Segundo eles, os exageros

podem transformar a informação em desinformação. Para os autores, as transmissões

esportivas estão seguindo o mesmo estilo de antigamente e isto precisa ser mudado. “As

transmissões esportivas seguem o mesmo estilo há 50 anos.” (BARBEIRO; LIMA, 2001, p.

76).

32

Carlos Fernando Schinner (2004) cita os maiores narradores esportivos da história do Brasil,

como Pedro Luiz, Edson Leite, Mário Morais, Jorge Curi, Fiori Gigliotti, Willy Gonser. Ele

fala um pouco sobre o estilo de narrar e sobre a linguagem usada por eles. Segundo Schinner,

Pedro Luiz era destaque na arte de narrar jogos:

Extremamente técnico, voz clara, estilo sóbrio e impecável, Pedro não ousava errar. E segurava tudo no gogó, numa época que não existiam as famosas vinhetas que dão um colorido especial às transmissões. (SCHINNER, 2004, p. 39).

Uma posição de bastante força no jornalismo esportivo é a dos comentaristas, pois eles

sempre tiveram muita credibilidade perante o público.

Os comentaristas sempre desfrutaram de enorme credibilidade junto ao público, unindo técnica, precisão, análise estatística e carisma. Os craques dos microfones usam esses aspectos como matéria prima. (SCHINNER, 2004, p. 62).

No jornalismo esportivo nota-se muito o uso de uma linguagem bélica, ou seja, os

profissionais da área usam muitas metáforas para passar as informações para os amantes do

esporte. Na cobertura esportiva, quando um time vence o outro por uma grande diferença de

gols, essa vitória na linguagem esportiva é considerada um “massacre”. Não existe um

goleador no futebol, existe o “artilheiro”. Quando um jogador chuta a bola em direção ao gol

e esse chute sai muito forte, os profissionais da imprensa esportiva chamam esse chute de

“bomba”, “tiro”, “pancada”, “porrada”, “foguete”. Um jogo muito difícil, que vale vaga na

fase seguinte, é chamado de “batalha”, como o jogo entre Náutico e Grêmio, no Estádio dos

Aflitos, em Recife, que decidiu a Série B do Campeonato Brasileiro de 2005. Esse jogo ficou

conhecido como “A Batalha dos Aflitos”.

33

O uso do verbo é fluente, e os narradores do passado, de tão letrados que eram, chegavam a ser eruditos em suas transmissões. Era uma maneira de potencializar a veia poética por intermédio das metáforas [...]. (SCHINNER, 2004, p. 103).

Então o narrador é o principal elo entre o público e o meio de comunicação, por isso ele deve

usar uma linguagem simples, direta, objetiva, clara e sem rodeios. Caso contrário, pode perder

a simpatia do público: “[...] a mensagem se perde no ar no momento em que é transmitida. Ou

seja, se não conseguir entendê-la, o receptor talvez não dê a você uma segunda oportunidade.”

(SCHINNER, 2004, p.103); ainda mais quando se trata de uma transmissão ao vivo.

34

2 A CRIATIVIDADE DO RÁDIO E A IMAGEM NA TV

Antes de entrarmos na análise do nosso objeto, vamos fazer um histórico das transmissões de

rádio e de televisão no Brasil. Também faremos uma retrospectiva dos principais narradores

de futebol desses dois meios. Não é novidade que o narrador de rádio utiliza-se de uma

linguagem mais popular, descontraída e com palavras menos formais, até porque este meio é

voltado para o torcedor. Não é preciso comprovações para esta afirmação, quem acompanha

pouco o futebol dificilmente vai ouvir uma partida no rádio. Outra peculiaridade do rádio são

as transmissões regionais, com narrações mais parciais aos clubes do estado da determinada

empresa, como a Itatiaia em Minas Gerais, a Rádio Pampa no Rio Grande do Sul, a Rádio

Manchete no Rio de Janeiro e a Rádio Eldorado em São Paulo. Esses meios de comunicação

direcionam as transmissões aos times de seus estados e, com isso, os narradores torcem juntos

com os ouvintes.

[...] o estilo peculiar de transmitir uma partida faz dos locutores esportivos na transmissão radiofônica, parte do jogo. Essa narrativa do rádio parece ter sido incorporada ao espetáculo. Daí o torcedor levar o aparelho para os estádios, como uma “muleta” para “ver melhor” o jogo, ou optar por assistir a tv, mas se manter fiel ao áudio do rádio. (GUERRA, 2006, p. 3).

Já a televisão tem um público mais amplo, as transmissões de grande parte dos jogos passam

para todo o Brasil. O telespectador muitas vezes desconhece regras, os bordões e os jargões

próprios da linguagem de torcida de futebol. Por isso, o narrador televisivo tem que ter uma

linguagem mais didática, explicativa e informativa. E a imagem, em si, formaliza a linguagem

da narração. “O que muda é a maneira como as informações são transmitidas” (BISTANE;

BACELLAR, 2005, p. 41). Ou seja, Bistane e Bacellar (2005) afirmam que não tem como

35

inventar diante da imagem, ela dentro de uma transmissão futebolística subsidia a

compreensão do telespectador. Mas é claro, o narrador televisivo também usa do artifício da

emoção, sabendo colorir o jogo de acordo com a imagem, que muitas vezes também é

emocionante. Para ilustramos o capítulo em questão, entrevistamos quatro narradores: Marcos

Leandro, da TV Globo Minas; Jota Junior do canal pago Sportv; Mário Henrique, da Rádio

Itatiaia e Osvaldo Reis (Pequetito, como é conhecido) da Rádio Globo Minas. O interessante é

que todos eles já trabalharam no rádio e na televisão.

2.1 O futebol antes da TV

A relação do futebol com a mídia começou a ganhar força a partir do final da década de 1920,

quando as emissoras de rádio começaram a divulgar pequenas notícias sobre partidas de

futebol realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Quando começaram as primeiras

transmissões esportivas pelo Rádio, os jornais impressos é que tinham o dever de ajudar os

ouvintes a entender um pouco sobre táticas e colocação dos jogadores em campo.

Como não havia TV, eram os jornais que publicavam um esquema do campo de futebol, cheio de quadros, indicando a colocação dos jogadores. Este recurso serviu durante algum tempo para ajudar o ouvinte a “visualizar” as quatro linhas principais do campo e as subdivisões, além de permitir que acompanhasse a movimentação dos jogadores. (BAUM, 2004, p.7).

O futebol começou a ganhar força dentro da sociedade a partir do final da década de 1930

quando ocorreram as primeiras transmissões em rede nacional pelo rádio. A primeira Copa do

Mundo transmitida em rede nacional foi a de 1938, disputada na França. A transmissão foi

36

comandada por Leonardo Gagliano Neto, da Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro. O

acontecimento levava as pessoas a se aglomerarem em alguns locais para ouvir as

transmissões.

Quem não tinha rádio em casa, se aglomerava no Largo do Paissandu, em São Paulo. Por esse país afora, onde fosse viável, as pessoas se reuniam para não perder as transmissões ampliadas pelos alto-falantes que as emissoras espalhavam em lugares estratégicos, inclusive os estádios de futebol: os apaixonados pelo futebol não queriam perder a façanha dos craques patrícios nos campos franceses. (AMARAL, 2001).

Quando começaram essas transmissões de futebol, as condições técnicas eram muito precárias

e nem sempre a narração do jogo chegava ao destinatário, ou seja, o ouvinte, como explica o

escritor e narrador Carlos Fernando Schinner (2004): “Nos primórdios do rádio, as

transmissões esportivas eram heróicas, e nem sempre chegavam aos ouvidos do público por

intermédio dos enormes receptores de rádio” (SCHINNER, 2004, p. 21).

O avanço nas melhorias de transmissões nas partidas de futebol começou a partir de grandes

inovações tecnológicas. Antigamente o profissional de rádio transmitia o jogo todo, mas não

sabia se a transmissão havia ocorrido, ou seja, ele trabalhava incansáveis horas sem ter a

certeza de que o trabalho teria dado certo.

O locutor contava até dez e recebia uma ordem para iniciar a irradiação, como se falava na época. E como não havia o retorno de áudio, o jeito era sair do estádio após o jogo e ir correndo para o hotel para esperar a mensagem telegráfica confirmando a recepção. (SCHINNER, 2004, p. 22).

37

Nessa época o futebol não tinha tanta repercussão. Tanto que apenas uma empresa patrocinou

a primeira transmissão de uma Copa do Mundo, feita por uma emissora brasileira. Foi a

empresa Cassino da Urca. Na Copa de 1938, Leonardo Gagliano Neto foi o único profissional

da imprensa da América do Sul a trabalhar. O locutor enfrentou muitas dificuldades na

transmissão realizada em ondas curtas, e teve que narrar as partidas na beira do gramado ou,

quando possível, de algum telhado nas redondezas do estádio, e até da geral. “Gagliano era o

único radialista sul-americano em ação nos estádios franceses.” (AMARAL, 2001).

Ainda segundo Amaral, “naquele tempo, não existiam comentaristas, repórter de campo e

toda a equipe que atualmente participa de uma transmissão” (AMARAL, 2001). As grandes

equipes que hoje transmitem um jogo de futebol surgiram com o passar dos anos.

Antigamente apenas um narrador era responsável por toda a transmissão.

2.1.1 A imaginação dos locutores esportivos

As primeiras transmissões esportivas no Brasil foram feitas pelos profissionais Romeu Tuma

e Amador Santos. Com o passar do tempo foram surgindo estilos próprios de narração

esportiva. Para ilustrar o jogo para o ouvinte e conquistar sua audiência, os narradores

utilizam-se de formas criativas, inventam bordões e expressões para identificar o que estão

falando.

38

Durante mais de 70 anos de transmissões esportivas, o rádio brasileiro revelou grandes nomes

da narração. Em Minas, nas décadas de 1970 e 1980, os nomes mais lembrados são os de

Vilibaldo Alves, que teve uma passagem marcante pela Rádio Itatiaia e costumava anunciar o

gol com a palavra “Adivinhe”. Outro que marcou época foi o goiano Jota Júnior, que

comandava as transmissões da então líder de audiência daquela época, a Rádio Guarani,

pertencente ao Grupo Diários Associados. Jota, com seu estilo inconfundível, anunciava o gol

dizendo o nome do goleiro e pronunciando a frase “Vai buscar lá dentro, fulano” (LINO,

2003)

Com a saída de Vilibaldo Alves, a Rádio Itatiaia teve que buscar dois locutores que até hoje

fazem sucesso na emissora mineira com seus estilos irreverentes de comandar as transmissões

esportivas. Um deles já tinha uma passagem pela Rádio, mas estava trabalhando em outra

emissora. Era Alberto Rodrigues, que voltou para não mais sair. O “Vibrante”, como é

conhecido, conquistou a admiração da torcida cruzeirense com sua criatividade e imaginação.

Alberto criou um modo de conquistar os cruzeirenses, o de apelidar os jogadores do Cruzeiro.

Ao longo dos anos foram muitos os que ganharam uma pitada de bom humor do “Vibrante”.

O jogador Alex era chamado de “Talento Azul”, Ricardinho era o “Mosquitinho Azul”,

Ramires é chamado de “Perna longa Azul”, entre outros.

De Curitiba, veio aquele que é chamado de “O locutor esportivo mais completo do Brasil”,

Willy Gonser. Quando a Itatiaia decidiu que teria um narrador para cada time de Minas, Willy

foi escolhido para ser o narrador dos jogos do Atlético. Um marco, nesses quase 30 anos

narrando os jogos do Atlético, é a música do cantor Benito de Paula, que diz o seguinte: “É

39

gol, que felicidade. O meu time é alegria da cidade”. Quando essa música é tocada, Willy está

anunciando um gol do Atlético. Willy Gonser tem um grande feito na carreira. Já participou

da cobertura de 11 Copas do Mundo, em 55 anos de profissão. Outros grandes nomes da

narração esportiva em Minas são Milton Naves, Mário Henrique, Oswaldo Reis (o Pequetito)

e Jairo Anatólio Lima, um dos mais antigos narradores esportivos de Minas.

Em São Paulo um dos maiores nomes da narração foi Fiori Gigliotti, conhecido como

“locutor da torcida brasileira”. Fiori criou vários bordões durante a sua carreira como “abre a

cortina, começa o espetáculo”, “é fogo no boné do guarda” e “crepúsculo de jogo”. Outro

nome importante do rádio paulista foi Sílvio Luís. Sílvio migrou para a TV, e conseguiu

grande êxito, mesmo mantendo um pouco do estilo do rádio com a fala de bordões. Mas

nenhum é tão lembrado como Osmar Santos, chamado de “O pai da matéria”. Muitos

especialistas dizem que Osmar Santos chegava a pronunciar mais de 100 palavras por minuto

sem cometer erros. Nas transmissões Osmar Santos usava a sua criatividade para lançar

expressões como “ripa na chulipa” e “pimba na gorduchinha”.

Dirceu Maravilha seguiu um pouco do estilo de Osmar Santos e conquistou uma enorme

audiência no rádio de São Paulo. Entre as frases que surgiram da imaginação de Dirceu

Maravilha estão “Se for pro gol, me chama que eu vou”, “Estou sentindo o cheiro de gol”,

“com ele não tem talvez, ele foi pra rede outra vez” e “Tô por conta da galera”. O também

mineiro, José Silvério, é um dos mais ouvidos hoje em São Paulo. Ele é considerado por

muitos como um dos narradores mais dramáticos do rádio. Quando acontece um gol, Silvério

diz: “Eu vou descer pra te abraçar”.

40

No Rio de Janeiro, grandes nomes da narração esportiva são lembrados até hoje. Maurício

Menezes, Luiz Carlos Silva, Sérgio Morais, Airton Rabelo, Celso Garcia e José Carlos Araújo

(O Garotinho), que hoje é o principal narrador da Rádio Globo do Rio.

2.1.2 Caixa e Pequetito, a criatividade radiofônica

O estilo popular de narrar é bem característico da transmissão radiofônica de futebol, uma vez

que na televisão a transmissão assume uma postura mais descritiva e informativa, sendo

apenas um complemento para a imagem. Os narradores que usam o estilo popular de narrar

buscam facilitar a assimilação do torcedor e conquistar a sua audiência. Utilizando formas

criativas, inventam bordões e trazem da cultura popular, expressões que facilitem a

identificação do ouvinte com o que é dito por ele. A transmissão na rádio, por si só, já envolve

o ouvinte ao ponto de criar a sensação de estar dialogando com o emissor. E, exatamente por

isso, os locutores que usam uma fala carregada de bordões, sinonímias e expressões populares

conseguem atingir exatamente o público que gosta de futebol. Essa narrativa possibilita ao

espectador imaginar o que está acontecendo no estádio. E foi provavelmente por causa dessa

linguagem estereotipada, e cheia de clichês que esse tipo de narrador de rádio conseguiu seu

lugar dentro do próprio futebol, conquistando o “povão”, as pessoas de classes mais baixas,

que usam um linguajar mais coloquial. O torcedor começou então a perceber a transmissão

como parte do espetáculo. Ouvir uma narração esportiva feita por um narrador popular é ver

além do próprio futebol, é antes de qualquer coisa um espetáculo a parte.

41

O narrador de outrora não se limitava a acompanhar os eventos, tinha de fazer parte deles. Considerava-se personagem da ação que se desenrolava[...] sem ele o espetáculo não existia e as cortinas não se abriam, logo estavam incompletos. (BARBEIRO, 2006, p.48)

Ary Barroso é um ótimo exemplo de narrador popular e irreverente. Ele foi o precursor desse

tipo de narração no Brasil, e um dos primeiros a usar bordões e incrementar sua narração com

outros recursos; entre eles o uso de uma gaita que ele tocava na hora dos gols. Como já

falamos anteriormente, Waldir Amaral, Fiori Gigliotti, Oduvaldo Cozzi, Silvio Luiz e Osmar

Santos, entre outros, também são bons exemplos desse tipo de narração mais popular do rádio

brasileiro, tendo influenciado vários outros narradores que vieram depois.

A transmissão do futebol no rádio tem um marco divisório estudiosos do veículo, cronistas esportivos e torcedores habituados a ouvir as irradiações das partidas são unânimes em destacar que existe uma fase antes e outra depois de Osmar Santos. (GUERRA, 2006, p.6).

A “rádio de Minas”, como é conhecida a Rádio Itatiaia, é a principal rádio transmissora de

futebol em Minas Gerais. Mesmo não sendo voltada exclusivamente para o esporte, a Itatiaia

é referência quando se trata do assunto. Com uma audiência fiel, ela se destaca por possuir,

atrás dos microfones, locutores emocionantes e completamente parciais, que são aclamados

pelos torcedores mineiros, como Willy Gonser e Alberto Rodrigues. Eles são adorados pelos

torcedores que se identificam muito com o jeito popular de narrar adotado por ambos. A

equipe de narradores é composta ainda por Ênio Lima, Milton Naves e Mário Henrique da

Silva, esse último nos concedeu uma entrevista para esta pesquisa. Sobre a Itatiaia Mário diz o

seguinte:

42

A Itatiaia é uma parceira do torcedor mineiro, o cara que escuta Itatiaia fica mais seguro mais confiante. Às vezes você está fazendo jogo lá em Taguatinga e aparece um cara eu “sou lá do Barreiro, trabalho em uma empresa não sei onde” e o cara tem prazer de ouvir Itatiaia. A audiência da Itatiaia é uma coisa que impressiona até a gente mesmo, é uma coisa muito grande, eu nunca vi uma radio com o poder que tem a Itatiaia, a relação com o torcedor é muito grande. (ANEXO III).

Mário Henrique da Silva começou a trabalhar em rádio aos 15 anos. A primeira oportunidade

foi na rádio Três Pontas, em sua cidade natal. Mário ainda trabalhou na rádio Sentinela,

também em Três Pontas, antes de se mudar, em 1991, para Belo Horizonte para ser narrador

da Rádio Globo, que naquela época estava começando a transmitir futebol. Depois de dois

anos na Rádio Globo, Mário Henrique se transferiu em 1993 para a Rádio Itatiaia, na qual

permanece até hoje. Em seu currículo, Mário carrega três copas do mundo (1998, 2002, e

2006) e quatro Olimpíadas (1996, 2000, 2004 e 2008).

Influenciado principalmente por Villibaldo Alves, Oswaldo Maciel, José Carlos Araújo e Luiz

Penido, Mário Henrique adota um estilo “popular” de narrar, abusando de expressões

idiomáticas e bordões. A característica mais marcante de sua narração é o bordão “caixa”, que

é usado por ele para narrar um gol. O bordão é tão popular que virou inclusive o apelido do

narrador. Sobre o uso de tantas expressões e bordões, Mário Henrique comenta:

Eu sou bem popular, não sou muito de ficar “eu quero crer” não, eu vou é de “boca do gol”, “boca do balaio”, “chego o reio”. Umas coisas assim que o povão gosta. Eu não narro pro governador, eu narro é pro cara que foi de ônibus pro Mineirão, que é a maioria, e é daí que eu acho que vem a minha popularidade.(ANEXO III).

43

Ainda seguindo o estilo popular, entrevistamos também Osvaldo Reis, o “Pequetito” da Rádio

Globo AM de Belo Horizonte. Osvaldo começou na Rádio Progresso de Monte Santo de

Minas, depois passou para a rádio Difusora em São Sebastião do Paraíso, seguiu para a Rádio

Cultura, de Alfenas, depois Rádio Atenas, de Alfenas, Rádio Passos, de Passos, Rádio Minas

Liberdade, de Passos, Rádio Convenção, de Itu, Radio Nova Sumaré, na grande Campinas,

Rádio Inconfidência, CBN e está na Rádio Globo Minas desde 2002. Pequetito se diz

influenciado por Fiori Gigliotti, Alfredo Orlando, Jorge Cury, Valdir Amaral e principalmente

por Osmar Santos, que para ele é o melhor narrador que já escutou.

Osvaldo Reis vê o estilo popular de narrar como parte importante da partida; segundo ele,

quanto pior o jogo, melhor é para o narrador, pois é nesse momento que aparece a

oportunidade de mostrar o seu melhor e aprimorar o seu trabalho. “Não tem jogo ruim, você é

que tem que fazer o jogo ficar bom.” (ANEXO IV, 2008)

No modo mais popular é comum ver narradores fazendo comentários sobre o jogo, o que eles

mesmos consideram errado. Mário Henrique, por exemplo, afirma que é um erro narrador

comentar, mas se justifica dizendo que de vez em quando é difícil segurar um comentário:

Tem dia que o jogo está tão ruim, que você perde a paciência, você vai vendo tanta besteira em campo que não tem jeito. Mas eu tento me policiar, eu acho que isso atrapalha sim. Porque o torcedor já está ali xingando também, se você começa a falar demais na cabeça dele e o cara desanima. (ANEXO III)

44

Pequetito concorda com a afirmação de Mário Henrique e completa:

[...] eu procuro evitar, porque eu acho que narrador tem é que narrar, mas a gente comete esses erros sim, a gente dá muito pitaco, começa a dar opinião, começa querer forçar alguma coisa pra cima do comentarista... Mas é claro que em alguns lances a gente precisa comentar também. (ANEXO IV).

Osvaldo Reis e Mário Henrique tiveram experiências com narração televisiva, ambos pelo

canal pago Sportv. Mário Henrique de 2000 até 2003 e Osvaldo Reis no Campeonato Mineiro

de 2008. Os dois dizem gostar da narração televisiva, porém ambos afirmam que precisam

mudar o estilo de narrar quando estão na televisão. Osvaldo reclama da presença do diretor

falando na televisão: “Toda hora o diretor ficava no ponto pedindo mais calma, porque a bola

passava do meio de campo e eu já começava a falar mais alto” (ANEXO IV). Mário Henrique

explica que prefere o rádio por causa da liberdade: “[...] me sinto mais à vontade no rádio. Na

TV você fica com um coordenador no caminhão, um coordenador no Rio, o cara toda hora te

podando, não fala isso, não fala aquilo” (ANEXO III). Mário afirma ainda que acha o rádio

mais completo, por passar mais detalhadamente todas as informações do jogo:

[...] Tem jogo às seis horas da tarde e a gente começa a transmissão às duas horas da tarde, a gente fica falando “vai ser um jogão”, “os caras chegaram”, “olha o ônibus do Cruzeiro”, “olha o ônibus do Atlético”. Eu acho isso fundamental. (ANEXO III).

“Pequetito” e “Caixa”, no entanto, discordam sobre a necessidade de se passar pela rádio

antes de narrar na televisão. Mário Henrique acha que a televisão “estraga” os narradores de

rádio, e cita exemplos.

45

Você sente a diferença de quem narra no radio e na TV, o Luís Roberto [narrador da Rede Globo], por exemplo, ele veio do rádio, neste meio o acho genial, e na televisão fraco. Eder Luís é excelente no rádio, na televisão fraco, e é exatamente por isso, na TV o cara te poda tanto que você perde a graça. (ANEXO III).

Osvaldo Reis também cita exemplos, porém ele afirma ser importante a passagem pelo rádio

antes de narrar em televisão, pois o rádio dá uma boa base para o narrador.

Eu acho que vale a experiência adquirida no rádio, você pega os grandes narradores de TV, e vê que todos vieram do rádio, você pode pegar Luciano do Valle, Cléber Machado, Luis Roberto, todos esses vieram do rádio, então eu acho que é importante passar pelo rádio sim. (ANEXO IV)

Sobre serem formadores de opinião, ambos concordam que o poder que se consegue com o

microfone é forte, e que por isso deve-se sempre ter muito cuidado “a gente recebe muito e-

mail aqui do pessoal falando ‘eu concordo com você’[...] Temos uma responsabilidade junto

ao público que é forte, o pessoal confia muito na gente” (ANEXO III). Pequitito acredita que

o narrador tem que se policiar antes de se expressar: “acho que isso é muito perigoso, tem que

ter muito cuidado com o que vai falar; às vezes de brincadeira você pode falar uma coisa e o

torcedor se sentir ofendido (ANEXO IV). Osvaldo Reis ainda afirma que também é preciso

prestar atenção no que se fala, para não errar. Ele diz que tenta sempre levar em conta as

coisas que outras pessoas falam para ele na rua.

Hoje o torcedor é muito é muito ligado, acessa muito a internet, e muitas vezes sabem muito mais do que você. Nós somos muito corrigidos, ainda mais quem pensa que sabe tudo. (ANEXO IV).

Como já foi dito há alguns parágrafos anteriores, o narrador de rádio assume um lugar de

extrema importância na transmissão de uma partida. Osvaldo Reis afirma que no Brasil a

46

ligação das pessoas com os narradores de rádio é algo natural, principalmente os narradores

regionais; ele acha que o vínculo criado entre esses narradores e o público é imprescindível

para uma boa transmissão.

Acho que aqui em Belo Horizonte, é importante sim, você vê as crianças nas ruas imitando o Alberto Rodrigues, o Willy Gonzer, e isso tudo é muito importante pra criação, passa de pai pra filho. O futebol faz parte da nossa vida, e eu acho que a transmissão no rádio também. (ANEXO IV).

Mário Henrique, apesar de concordar com Osvaldo, diz que a importância do narrador é tanta,

que ele também é responsável pela supervalorização dos jogadores de futebol:

Nós somos culpados por esses altos salários de jogadores, porque colocamos os atletas como se fossem deuses. Acho que o trabalho nosso é de grande importância para o futebol, mas eles não reconhecem isso. [...] Eu queria ver, se todas as rádios ficassem um mês sem noticiar futebol, parar mesmo. Sei que isso nunca iria acontecer por causa da briga da audiência, mas se acontecesse, os dirigentes, jogadores e empresários passariam mal, tomariam um susto daqueles. Eles ficaram mal acostumados. (ANEXO III)

Henrique (2008) acredita que os meios de comunicação sustentam o futebol, sem eles o

esporte não teria esta dimensão, esta repercussão mundial.

2.2 Contra imagens não há argumentos

Segundo Guerra (2006), a televisão, mesmo com toda a evolução tecnológica, ainda não

chegou a uma narrativa própria do futebol. É verdade que os narradores de televisão vieram

47

do rádio, por isso a dificuldade de uma identidade própria de linguagem. Mas o que pouca

gente sabe, é que o mineiro de Leopoldina, Olavo Bastos Freire, foi o responsável pela

primeira transmissão televisiva no Brasil. Ele transmitiu para algumas pessoas da cidade Juiz

de Fora o jogo entre Tupi e Bangu, que ocorreu nesta mesma cidade. Freire era operador de

câmera e foi o responsável por todos os equipamentos da transmissão, todos criados por ele.

Ou seja, a transmissão televisiva no Brasil surge com uma partida de futebol e a linguagem da

narrativa televisiva ainda não tem uma identidade, parece contraditório, mas não é. Foi só nos

anos 1980 que a transmissão futebolística se consolidou na TV: “Durante os anos de 1980, a

televisão abriu o leque de coberturas esportivas com as transmissões de campeonatos de

futebol” (SCHINNER, 2004, p. 25).

Mesmo com o esporte ganhando espaço na televisão, até o final da década de 1970, as rádios

ainda dominavam, tinham um público maior e faturavam mais comercialmente. Para a

afirmação da transmissão do futebol na TV, Schinner (2004) explica:

[...] para que houvesse a consolidação de grandes projetos e a garantia das conquistas das fatias de audiência e de mercado, as emissoras se apoiaram em nomes consagrados do rádio. Isso porque eles carregam milhares de fãs, além, é claro, dos preciosos patrocinadores. [...] Da mesma maneira que os torcedores querem nomes famosos em seus clubes, as emissoras também apostam em nomes consagrados em seu elenco. (SCHINNER, 2004, p. 27).

A TV Bandeirantes é a principal responsável por esta consolidação, ao trazer nomes

consagrados do rádio como Sílvio Luiz e Luciano do Valle; este último era o principal

narrador da Rede Globo. “Em virtude do grande sucesso alcançado, a emissora passou a ser

chamada de ‘O Canal do Esporte’.” (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 68). Com esses

48

profissionais, a emissora investiu nas transmissões de campeonatos internacionais e não

deixava de cobrir os principais torneios no Brasil.

2.2.1 Os narradores da imagem

Com o aumento das transmissões de televisão, alguns narradores de rádio migraram para a

televisão e se destacaram pela inovação da linguagem. Osmar Santos foi o principal elo de

transição da linguagem radiofônica para a televisiva na narrativa futebolística. Com ele, a TV

Globo resolveu inovar e incorporou os bordões de Santos às vinhetas de programação. Osmar

Santos tinha uma linguagem bastante informal e jovem, continuando com os seus bordões

usados no rádio. “Osmar Santos transmitiu a Copa de 1986. [...] Foi o momento em que a TV

Globo começou a mudar a linguagem junto ao público- telespectador” (SCHINNER, 2004, p.

47). Apesar de os narradores virem do rádio, as transmissões televisivas tinham uma narrativa

mais descritiva, com menos emoção. Nomes como Fernando Solera, José Carlos Cicarelli,

Rui Viotti, entre outros, tinham estilos mais formais de narração.

Os críticos contumazes tentaram provar que o narrador de futebol era absolutamente desnecessário nas transmissões televisivas, devendo se manter discreto, apenas como um condutor das jogadas que estavam sendo mostradas no vídeo. (SCHINNER, 2004, p. 53)

Foi a partir de Osmar Santos que surgiram nomes consagrados, conhecidos pelo público como

Galvão Bueno, Luciano do Valle, Sílvio Luiz, Fernando Sasso, Cléber Machado, Luiz

Roberto, Rogério Côrrea e tantos outros.

49

Carlos Eduardo Santos Galvão Bueno ou simplesmente Galvão Bueno, é, sem dúvida, o mais

consagrado locutor esportivo do Brasil. Galvão é sinônimo de emoção para os torcedores

brasileiros, principalmente em época de Copa de Mundo. Ele é dono do grito de gol mais

conhecido nacionalmente: “Gooool. É... do Brasil”. E de narrativas próprias como “sai que é

sua Taffarel”, “Denílson neles”, “Pedala Robinho”. Além de enfatizar a letra “R”, ao gritar os

nomes dos principais jogadores do Brasil como Romário, Ronaldinho, Rivaldo, Ronaldinho

Gaúcho e Robinho. Antes de ser narrador televisivo - entrou para televisão em 1981 -, Galvão

era comentarista esportivo de rádio. Há 25 anos é o principal narrador da Rede Globo, e

possui um estilo de narrar peculiar, o de narrador-comentarista. Pelo poder alcançado – é o

narrador mais popular e por isso o de maior audiência -, Galvão extrapola nos comentários,

que é de função de outros profissionais, opina a todo o momento, além de criticar com

veemência alguns jogadores.

Nunca, em tempo algum, o país possuiu um comunicador com tanta audiência concentrada, principalmente nas transmissões exclusivas em que os concorrentes acusam a Globo de monopólio. Talvez essa ação da poderosa emissora nas últimas décadas tenha inibido o surgimento de concorrentes à altura. O que não tira os méritos do narrador, e que você goste dele ou não, há de reconhecer que Galvão Bueno é verdadeira voz do Brasil. (SCHINNER, 2004, p. 57).

Outro narrador que merece destaque é Luciano do Valle; como já falamos, ele é um dos

responsáveis pela consolidação da transmissão esportivas no Brasil. Luciano é dono de uma

narrativa emocionante, que tem por característica o grito de gol longo e a voz marcante.

Também pelo poder adquirido, pelos trabalhos marcantes na TV Globo, Bandeirantes e Rede

Record, Luciano exagera nos elogios e abraços aos amigos e patrocinadores.

50

Mesmo assim, ele continua sendo extremamente respeitado nos meios esportivos e consegue manter um público absolutamente fiel. Por sua credibilidade conquistada em décadas de profissão, muitos espectadores o têm como o melhor narrador da televisão brasileira. (SCHINNER, 2004, p. 55).

Atualmente, Luciano do Valle é o narrador número um da TV Bandeirantes; crítico, ele

repreendeu dois comentaristas em programa na própria emissora. Por ter trabalhado algum

tempo no Recife para uma afiliada da Bandeirantes, Luciano não gostou dos comentários de

dois profissionais da emissora, que criticaram um time pernambucano, antes da final da Copa

do Brasil de 2008. O narrador chamou os colegas de bairristas e ainda estendeu a crítica aos

cronistas esportivos paulistas.

Agora, o mais ousado dos narradores televisivos é Sílvio Luiz. Atualmente desempregado,

Sílvio é, sem dúvida, o dono de um arsenal de frases e expressões criativas da narração

esportiva brasileira como “Pelas barbas do profeta”, “Olho no Lance...”, “É mais um gol

brasileiro”, Foi, foi, foi ele”, “Pelo amor dos meus filhinhos”, “Minha Nossa Senhora!”, “Esse

até minha sogra fazia!” e tantos outros. Silvio Luiz é o mais espontâneo narrador de futebol da

televisão brasileira. Ele tem uma característica humorística diferenciada, mesclada com uma

voz grave e marcante.

Numa partida absolutamente enfadonha e chata [...] Sílvio não teve dúvidas: tirou do bolso uma receita de bolo e mandou ver [...]Algo absolutamente inusitado. Sem contar as brincadeiras e provocações feitas ao torcedor e jogadores. (SCHINNER, 2004, p.58).

Segundo Guerra (2006), Sílvio Luiz é o único narrador que encontrou a fórmula de transmitir

pela TV sem cair na mesmice.

51

Sílvio Luiz trouxe para a transmissão do futebol na TV, o comportamento do torcedor da arquibancada e do que vê o jogo pela televisão e comenta com quem está ao seu lado ou sozinho. Ele cria, inclusive, um diálogo com o telespectador. Ao contrário de descrever cada jogador que tocou na bola e de utilizar a redundância, já apontada neste trabalho como um aspecto negativo da narração televisiva, ele apresenta um estilo que foge ao óbvio. (GUERRA, 2006, p.5)

Filho de atriz, Sílvio Luiz trabalha como comunicador desde criança e na televisão,

especificamente, começou no ano de 1952, na TV Paulista, hoje TV Globo São Paulo. Um

dado curioso é que, em 1982, quando estava na Record, Sílvio não poderia narrar a Copa do

Mundo pela televisão, pois a Globo tinha exclusividade. Criativo, Sílvio transmitiu os jogos

pela rádio Record e lançou a campanha: “Veja a Copa na TV, mas ouça com o coração”.

Sílvio foi demitido da TV Bandeirantes em novembro de 2008.

Outros narradores que se destacam na televisão são: Cléber Machado, o principal narrador da

TV Globo São Paulo, área de medição do Ibope. Cléber começou como repórter de rádio e

televisão e em 1989 estreou como narrador de TV; Luiz Roberto, que é o principal narrador

dos jogos de rede (transmissão de maior amplitude no país) do Campeonato Brasileiro pela

TV Globo. Luiz também vem de uma escola radiofônica e por isso tem um estilo vibrante de

narração.

Em Minas Gerais, Fernando Sasso foi o narrador de televisão que mais se destacou. Famoso

por usar o bordão “Tá no filó”, em vez de gritar gol, Sasso trabalhou na TV Globo Minas

durante 15 anos, na década de 1980 e início de 1990. Antes, foi repórter de rádio e narrador da

extinta TV Itacolomi, de Minas Gerais. Depois, trabalhou como comentarista da Rádio

Itatiaia. Fernando Sasso, que faleceu em 2005, aos 68 anos, tinha uma voz inconfundível,

52

tranqüila, típica de mineiro. Narrava o jogo com uma voz estável, como se estivesse

comentando com o telespectador.

Outro destaque em Minas Gerais é Rogério Côrrea. Desde 2003, na TV Globo Minas,

Rogério é o quarto narrador de rede da emissora, participou de coberturas, como a Copa de

2006 e a Olimpíada de 2004 e 2008. Côrrea não foi narrador de rádio, trabalhou como

repórter no rádio e na televisão, além de apresentador de um programa esportivo de TV, antes

de ser convidado a trabalhar como narrador de futebol no canal pago PSN, em 2000. Rogério

tem um estilo de narrador-informante; nas transmissões gosta de informar estatísticas e

históricos. O narrador tem uma voz jovem, inovadora e bem-humorada.

Outro narrador com um estilo jovem de narração é Marcos Leandro da TV Globo Minas e dos

canais pagos Sportv e PFC. Ele e o experiente narrador Jota Júnior, do Sportv, foram

entrevistados nesta pesquisa, para analisarmos, um pouco mais, a narração televisiva do

futebol.

53

2.2.2 A narração televisiva, segundo Jota Jr. e Marcos Leandro

“Uma transmissão de futebol é muito dinâmica e envolvente, porque os espetáculos são

envolventes” (ANEXO I). O experiente narrador José Francischangelis Júnior, ou Jota Junior,

como é conhecido, acredita que o narrador não deve interferir na partida, não deve opinar,

porque, segundo ele, o espetáculo é muito maior do que isso. Aos 59 anos, atualmente no

canal pago Sportv, Jota Jr. tem sete Copas no Mundo e quatro Olimpíadas em seu currículo.

Apesar de não ser formado, Jota começou a trabalhar cedo como jornalista, em 1969,

escrevendo para um jornal de Americana, sua cidade natal e em seguida como locutor, em

uma rádio local.

Comecei, em 1969, escrevendo para um jornal da minha cidade e logo depois fui para o rádio. A paixão pelo rádio me despertou para a atividade. E também por gostar de esporte. (ANEXO I).

Jota explica que a TV foi circunstancial na carreira dele. Como trabalhava na rádio Gazeta,

ele foi deslocado para transmitir na televisão da mesma empresa. Desde 1983 trabalhando

neste meio, Jota acredita que a linguagem da narração televisiva tem que ser o mais simples

possível, pois o telespectador não gosta de palavras complicadas. “Não gosto de inventar. Até

pelo fato de que numa jornada de televisão, o mais importante não é o narrador, mas as

imagens do evento” (ANEXO I). Júnior ainda explica que o tom de voz de uma locução de

televisão deve aumentar apenas quando o lance é agudo, ou seja, nos lances que acontecem

dentro da grande área do jogo de futebol.

54

Marcos Leandro de Oliveira, da TV Globo Minas, concorda com Jota Júnior e afirma que o

narrador tem que entrar decidido para narrar um gol, momento máximo do futebol. Segundo

ele, quando o narrador está ligado na partida, o timbre de voz aumenta automaticamente nos

lances crucias. Leandro também trabalhou em rádio; segundo ele, a desenvoltura aprendida

neste meio o ajudou muito na desenvoltura e improvisação na narração de TV. “Quando sinto

o perigo de gol, automaticamente já vem a explosão, tem que segurar o gogó” (ANEXO II).

No rádio, Marcos Leandro de Oliveira trabalhou como apresentador de programas de músicas

em rádios populares, antes de se formar em jornalismo. Depois de formado, Leandro

ingressou para a Rede Minas, e lá começou a trabalhar com narração esportiva. Em 2005, foi

chamado para trabalhar como repórter da TV Globo Minas. Como o narrador principal da

emissora, Rogério Côrrea, faz trabalhos para a Globo rede – transmissão para todo o Brasil - ,

em 2006, Leandro teve a oportunidade de começar a narrar para os canais pagos da Globosat,

Sportv e PFC e em seguida para a TV Globo Minas, narrando jogos do Atlético-MG no

Campeonato Brasileiro da série B, em 2006.

Marcos Leandro, aos 32 anos, tem um estilo jovem de narração, inspirados em narradores de

rádio. “É um esporte popular, então se você ficar muito ‘carrancudão’ ali, não jogar um

sorriso, um gracejo na narração, não dá uma temperada, eu acho que fica aquela coisa”

(ANEXO II). Segundo ele, o narrador tem que um lado irreverente, deve usar um “sorriso” na

voz e cita alguns profissionais que possuem este estilo, como Mário Henrique do rádio e

Rogério Côrrea e Luiz Roberto, da TV, outros narradores da nova geração.

55

Jota Junior e Marcos Leandro concordam que a paixão pelo clube não pode influenciar em sua

narrações de maneira nenhuma.

Teve uma vez que eu narrei naquele esquema da Rede Minas – compacto – a final da Copa do Brasil entre Cruzeiro e Flamengo, ficou três a um para o Cruzeiro aqui no Mineirão. Neste jogo, o Cruzeiro foi campeão. Era só local, pois o compacto passaria só para Minas Gerais. No dia seguinte passou os melhores momentos no programa da tarde. Rapaz, o Cruzeiro fez três a zero, e no segundo tempo o Flamengo fez um gol. Mas eu narrei tão chocho, e eu ouvi aquilo no dia seguinte e me incomodou profundamente. (ANEXO II).

Segundo Jota, ele é favorecido por nunca ter sido fanático pelo clube que torce. O narrador

afirma que é frio diante das emoções do esporte, o que, segundo ele, é raro na área de

narração. “Tenho que respeitar todos os torcedores, de todas as agremiações. Não seria

honesto se puxasse para este ou aquele lado”. (ANEXO I).

Sobre as diferenças das narrações de rádio e televisão, Jota Jr. afirma que a linguagem no

rádio é mais liberal, mais íntima do ouvinte e a rádio não tem tanta repercussão quanto na

televisão. De acordo com o narrador, na TV tudo fica amplificado e repercute mais

fortemente; para ele, a televisão fica mais exposta às críticas e retaliações.

Marcos Leandro finaliza dizendo que o narrador “é uma ponte de entendimento para o que

está acontecendo dentro de campo”. Segundo ele, o narrador apenas deve auxiliar o público,

explicando o que está acontecendo nas quatro linhas. Leandro diz ainda que o desafio é

procurar a ”objetividade”, com informações e comparações interessantes, para incrementar a

transmissão de uma partida de futebol.

56

3 AS DIFERENÇAS DA NARRAÇÃO FUTEBOLÍSTICA NA RÁDIO ITATIAIA E

NA TV GLOBO MINAS

Atualmente, tanto na televisão como no rádio, o locutor de futebol precisa ser mais que um

mero relator das jogadas. Ele precisa atuar como o elo entre o jogo e o torcedor, pois é o

responsável por passar para o espectador tudo o que acontece no estádio, desde a

movimentação fora de campo, até o que se passa nas arquibancadas, tudo isto sem se esquecer

de transmitir toda a emoção da partida.

Inovações de linguagem e de método [...] devem-se muito mais ao carisma e ao charme pessoal que a uma filosofia de trabalho e a uma nova escola de narradores esportivos. (BETTING, 2005, p. 21).

Existem muitas diferenças das narrações de futebol no rádio e na televisão, praticamente todas

em função da vantagem da imagem. Por causa da transmissão das imagens, o locutor de

televisão não precisa ser tão detalhista em sua narração; ele deve apenas situar o telespectador

com qual jogador está a bola, e dar outras informações sobre o jogo. Na rádio, o locutor não

pode se calar em momento algum, o que é comum na televisão, uma vez que a imagem não

perde nenhum detalhe da partida.

Já o narrador de rádio deve criar imagens na mente do ouvinte e transportá-lo para o estádio. Muitas vezes a transmissão esportiva é tida como espetáculo porque, em sua maioria, se centra em uma única pessoa, o narrador. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 66).

57

Para uma análise comparativa das narrações do rádio e da televisão, gravamos três jogos

simultaneamente nas duas mídias. As empresas de comunicação escolhidas foram a Rádio

Itatiaia de Belo Horizonte e a TV Globo Minas, também de Belo Horizonte. A escolha se deu

pelo fato de as transmissões serem direcionadas ao ouvinte e telespectador de um mesmo

estado; no caso, Minas Gerais.

Anlisamos exclusivamente as características de cada narração, desprezando as participações

dos repórteres e comentaristas. Os jogos escolhidos foram Santos e Cruzeiro, realizado no dia

24 de agosto de 2008; São Paulo e Cruzeiro, que foi transmitido no dia 28 de setembro de

2008 e Palmeiras e Atlético – MG, do dia quatro de outubro. Todas essas partidas foram

válidas pelo Campeonato Brasileiro de 2008.

A partida entre Santos e Cruzeiro foi narrada por Marcos Leandro na TV Globo e por Milton

Naves na Rádio Itatiaia. Na partida entre São Paulo e Cruzeiro, a narração foi de Rogério

Côrrea pela Globo Minas e por Milton Naves na Itatiaia. Palmeiras e Atlético foi transmitida

pelo narrador Marcos Leandro da Globo e por Mário Henrique na Itatiaia. Segundo Schinner

(2006), o narrador esportivo é uma espécie de âncora, responsável por comandar a

transmissão e movimentar a sua equipe:

O narrador esportivo é o profissional de comunicação capacitado a descrever, contar, relatar, transmitir um evento ou conduzir uma transmissão, interagindo com seus ouvintes, espectadores ou assinantes. (SCHINNER, 2004, p. 75)

58

Para o estudo de caso, além da gravação das partidas, transcrevemos alguns lances das

partidas, incluindo todos os gols (em anexo), momento máximo de um jogo de futebol. “É só

usar o microfone e salientar o que há de bom, mostrar o que há de ruim. [...] Tudo o que

importa, afinal, é o show dos locutores e repórteres.” (COELHO, 2003, p. 64). Locutores que

serão avaliados e comparados nas diferentes mídias.

3.1 O momento do gol

Nos lances dos gols ocorridos nas partidas analisadas, notam-se algumas diferenças entre as

narrações no rádio e na televisão. No rádio, o narrador deve estar atento a tudo que está

acontecendo, tem que ser detalhista, narrar mais palavras. Já na televisão, o narrador muitas

vezes comenta outros assuntos e deixa a jogada desenvolver sem uma descrição, devido a

objetividade da imagem, que não deixa o telespectador perder nenhum lance de perigo.

A norma de transmissão no rádio se resume a uma narração mais descritiva, mostrando aos ouvintes detalhes dos uniformes dos times, da posição do campo e das jogadas. [...] na TV, por tradição e pelo sentido migratório dos profissionais de rádio, é, antes de mais nada, a supervalorização da imagem. (SCHINNER, 2004, p.103).

O gol é o ponto máximo de qualquer narração de futebol; é quando o narrador pode

demonstrar todo o seu potencial, seja com gritos potentes, com bordões criativos. Um gol bem

narrado é o que faz o narrador ser apreciado. Na narração do primeiro gol do Santos - partida

gravada no dia 24 de agosto, entre Santos e Cruzeiro – algumas diferenças são bastante

relevantes, ao comparar a Rede Globo com a Rádio Itatiaia. Primeiro é a supressão de nomes

59

feita pelo narrador da Rede Globo. Como ele é obrigado a acompanhar as imagens, por causa

da velocidade da jogada que resultou no gol, ele não tem tempo para falar o nome de todos os

jogadores que participaram da jogada, nem mesmo o do que fez o gol. Na narração da Rádio

Itatiaia, fala-se o nome de todos os jogadores que participam da jogada, e inclusive repete o

nome de Kleber Pereira - autor do gol - várias vezes.

Outra diferença perceptível é o fato de o narrador da Rede Globo, após gritar gol, não falar

qual time fez o gol, ele diz apenas “olha o gol. Gol. Gooool. Gol de artilheiro”. E na rádio

Itatiaia, junto com o grito de gol, o narrador diz que foi do Santos “Kleber bateu e é gol,

Gooool do Santos”. Tudo isso, tanto a repetição dos nomes, como falar qual equipe fez o gol,

é bem característico da rádio, e extremamente necessário, pois o ouvinte não tem a imagem

para se orientar. “As transmissões de televisão exigem menos do narrador, que não tem a

necessidade de preencher os vazios ocasionais da competição”. (BARBEIRO; RANGEL,

2006, p. 66).

O segundo gol do Santos apresenta ainda a diferença no próprio grito de gol. Enquanto na

narração da Rede Globo o grito de gol dura 11 segundos, na Rádio Itatiaia dura apenas três

segundos. Isso se deve por dois motivos: o primeiro é que na rádio a narração precisa ser mais

rápida para que a transmissão possa continuar, e segundo porque a Itatiaia é uma rádio

exclusivamente regional, e por isso acaba visando mais o time mineiro, pois pouco interessa

ao torcedor do Cruzeiro que se demore na narração do gol sofrido. Apesar da transmissão da

TV Globo ser também regionalizada para Minas Gerais, o narrador não pode se transformar

60

em um torcedor mineiro, pois há torcedores de outros clubes dentro do estado e a empresa é

nacional e não apenas estadual, como no caso da Itatiaia.

Na televisão é mais difícil independência para se transmitir um evento, é preciso ser sócio do poder constituído. No rádio não. Por isso, pode- se dizer, digamos, ‘independente’ no texto e na palavra radiofônica, que nas imagens compradas da televisão. Não é mérito das rádios, nem demérito das televisões. É apenas uma realidade comercial. (BETTING, 2005, p.23).

Após a narração do gol, ambos os meios explicam o gol de Kléber Pereir; porém o narrador

da Rádio Itatiaia faz referência ao que ele está vendo no estádio, e conta que ao lado da cabine

dele está o goleiro Fábio Costa, “que aplaude de pé o gol santista”. Ele ainda opina: “o gol

tinha praticamente matado o jogo”. Já o narrador da TV Globo descreve o replay do lance.

O grito de gol não é um susto. O narrador vai construindo a jogada a partir da defesa, passando pelo meio-de-campo e chegando ao ataque. A partir do momento em que surge a possibilidade do gol, tudo está devidamente articulado, sem atropelos. (SCHINNER, 2004, p. 188)

O único gol de um time mineiro entre as gravações aconteceram no jogo entre Palmeiras e

Atlético. Na TV Globo, o narrador Marcos Leandro gritou o gol do Atlético da mesma

maneira como narrou os outros três do Palmeiras. Mário Henrique, da Itatiaia, deixou-se levar

pela emoção e não economizou no volume da voz e no tempo da palavra que representa o

momento máximo do futebol. Foram 17 segundos narrando a palavra gol, logicamente ele

usou o seu tradicional bordão “caixa” para identificar o gol mineiro: “Caixa! Goooool. Renan

Oliveira no fundo do barbante [...]”. Após o gol, o narrador ainda falou por mais de um

minuto sobre o lance; foi o maior tempo dentre os gols analisados no rádio e na televisão,

mostrando o estilo narrador-torcedor. “Não existe jornalista de esportes, especialmente os que

61

trabalham com o futebol, que não tenha um time na infância”. (COELHO, 2003, p. 53). Mas

no caso de empresa nacional, como a TV Globo, o narrador deve ser imparcial, é o que

explica Barbeiro e Rangel (2006):

O jornalismo pressupõe um distanciamento crítico do acontecimento narrado. Portanto, se o narrador esportivo deixar transparecer seu entusiasmo por seu time de coração, seu trabalho provavelmente ficará comprometido. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 66)

Caso contrário, o narrador poderá ofender uma parte do público e isso reflete na audiência,

que influi nas vendas comerciais.

3.2 Os recursos da televisão

3.2.1 Replay, a melhor explicação

Como na televisão a descrição dos lances é menos detalhada, usa-se muito o recurso do replay

para explicar melhor as jogadas, principalmente os gols. O recurso é uma forma também de

explorar a espetacularização das partidas, mostrando imagens que chamam a atenção do

telespectador, com cenas em câmera lenta, que transforma um lance em cena cinematográfica.

Na partida entre São Paulo e o Cruzeiro, o narrador Rogério Côrrea, da TV Globo, narra da

seguinte maneira o primeiro gol do Jogo: “Olha o desvio. Goooool!”. Repare que, sem a

imagem, não podemos identificar nem qual time fez o gol. Mas, além da imagem, a televisão

tem o recurso do replay, que repete o lance e ajuda o narrador a descrever com clareza o

62

lance; observe: “Na cobrança de escanteio do Jorge Wagner, o desvio do André Dias na

pequena área, aos 35 minutos do segundo tempo, o São Paulo abre o placar”. A partir desta

repetição com a descrição do narrador, o lance fica mais claro para o telespectador.

Na partida entre Palmeiras e Atlético, a explicação do lance, com a repetição do primeiro gol,

chega a 56 segundos. O narrador Marcos Leandro conta da seguinte maneira: “Vibração do

torcedor atleticano no Palestra Itália. O zagueiro Maurício bobeou. Marques aproveitou muito

bem a falha do Maurício, pra tocar para o garoto Renan Oliveira. Sai o primeiro zero do

placar e o Atlético está na frente”. A narração vem a partir da imagem.

No lance do gol de empate do Palmeiras, podemos observar um fato interessante. Não é

possível ao narrador contar tudo o que aconteceu, pois a imagem é rápida. Quando ele fala

“Sobrou para o Élder Granja. Alex Mineiro procura um espaço. Bom toque para Leandro.

Gol, do Palmeiras”, não dá tempo de falar que o jogador Leandro chutou a bola. Apenas

depois, quando o replay é mostrado, é que o narrador diz que o jogador Alex Mineiro tocou

para o jogador Leandro, e este chutou a bola para marcar o gol.

O fato acima ocorre também no segundo e no terceiro gol do Palmeiras. O segundo gol

começa com uma jogada do atacante Denílson pelo lado esquerdo do campo. Ele dribla um

jogador adversário e cruza a bola, mas não dá tempo de o narrador dizer que ele cruzou a

bola; reparem que, no drible do jogador Denílson, ele já passa para o jogador Alex Mineiro

63

que estava dentro da área: “Muito habilidoso o Denílson, conseguiu o drible, deixou pra trás o

Rafael Aguiar. Alex Mineiro, dominou, bateu... Gol, do Palmeiras”.

Já no terceiro gol, a jogada começa pelo meio de campo, chega até o jogador Kleber que

chuta, o goleiro Juninho espalma a bola, que sobra para o jogador Denílson, autor do terceiro

gol do Palmeiras. Durante a narração, Marcos Leandro não fala que o jogador Denílson

chutou a bola. Ele passa da defesa do goleiro Juninho para o grito de gol. “Recuperação do

Palmeiras no meio-de-campo, Denílson na velocidade vai conduzindo. Bom toque para o

Kleber, bateu, Juninho. Sobrou... Gol do Palmeiras”. Só na repetição da jogada, que o

narrador confirma o autor do gol: “A jogada começou com Denílson. Ele acreditou e apareceu

pra finalizar, pra estufar as redes do Atlético.”

3.2.2 Narração mais detalhada

Como no rádio não há o recurso do replay, o narrador tem que se esforçar para detalhar as

jogadas. O narrador Mário Henrique, da Rádio Itatiaia, explicita bem o primeiro gol do

Atlético: “[...] Olha lá o zagueirão se complicando. Marques chegou, roubou. Olha o gol do

Galo. Ainda o Marques, rolou pra trás. Renan vai fazer. Caixa! Gooool” Repare a diferença da

narração na televisão: “Olha só a bobeada da defesa do Palmeiras. Marques rolou pra trás.

Renan... Gol do Atlético.”

Em um lance de perigo no jogo entre Cruzeiro e Santos, ocorrido aos quatro minutos e 56

segundo do segundo tempo, podemos observar que, no rádio, o narrador descreve

64

meticulosamente cada jogada: “Bola na direita, agora para Marquinhos Paraná, rolou próximo

da área para Bruno.” Já na televisão, o narrador apenas cita o nome dos jogadores envolvidos

na jogada: “Marquinhos Paraná, Bruno [...]”. Ainda em relação ao detalhamento, quando a

bola sai, o narrador da Rede Globo apenas diz “pra fora”, enquanto o locutor da Itatiaia é mais

detalhista e diz que a bola saiu “[...] pela linha de fundo, sem nenhum problema para o goleiro

Douglas”.

É comum os narradores de rádio errarem os nomes dos jogadores, devido ao dinamismo do

jogo de futebol e à falta de recursos. Às vezes, ele confunde o nome do jogador do time com

algum jogador do passado, por isso eles têm que ter um rápido raciocínio. Isso é mais raro na

televisão, pois o narrador tem tudo preparado, como, por exemplo, diversos monitores em sua

cabine, que mostram diferentes ângulos da partida.

No jogo entre São Paulo e Cruzeiro, o narrador Milton Naves, da Itatiaia, é traído pela falta de

recursos do rádio, como a falta de um monitor na cabine e o replay. O locutor erra o nome do

autor do segundo gol do São Paulo, que ocorre no final da partida: “Olha a falta batida... Gol

do São Paulo. Gooool, Jorge Wagner, na batida de falta, confesso que pegando todo mundo

de surpresa. A falta muito bem batida, Jorge Wagner no ângulo.” Na verdade, o autor do gol

foi Jancarlos; o repórter até tentou intervir, mas o narrador não escutou. Para piorar, após esse

lance, a partida terminou e Milton Naves finalizou com o erro, enfatizando erroneamente a

autoria do gol. De acordo com Schinner (2006), nesse caso o receptor pode ser lesado e talvez

não dê outra oportunidade ao narrador. Ou seja, o narrador de rádio não terá uma segunda

chance, caso descreva um lance incorretamente. Coelho (2003) acredita que os narradores não

65

devem se preocupar com os erros, pois os repórteres e comentaristas estão nas transmissões

para corrigi-lo:

Ele [ouvinte] se irrita mais pela superexposição dele [narrador] do que pelos supostos erros que comete. Ele [narrador] está lá para levar o torcedor ao delírio. O comentarista e o repórter é que tem obrigação de analisar friamente o que está ali, na cara do espectador. (COELHO, 2003, p. 64).

Coelho discorda de Schinner e acredita que os narradores de futebol têm a função apenas de

conduzir a partida, levar a emoção, relatar o jogo. Os erros deles podem ser retificados pelos

repórteres e comentaristas. No caso dessa partida, Milton Naves foi corrigido por um repórter

e essa intervenção foi ao ar.

3.2.3 A linguagem ilustrativa

Outra diferença que pode ser notada entre as narrações de Rádio e de TV é que no rádio a

todo o momento o narrador tem que ficar informando o placar e o tempo de jogo. A Rádio

Itatiaia tem até um bordão para este momento da partida: “A Itatiaia informa o tempo de

jogo”. Aí entra o narrador com as informações. Esse item não é necessário na TV, pois existe

no alto da tela um gerador de caracteres que informa os nomes das equipes que estão jogando,

o placar da partida e o tempo de jogo. Além disso, nos jogos pela televisão são introduzidos

outros geradores de caracteres durante a partida, com informações de cartões amarelos,

números de faltas, passes certos e errados e outros. Tais recursos favorecem ao narrador de

TV, que pode ou não narrar aquilo que é mostrado na tela:

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Hoje o placar na tela é tão imprescindível que, quando a emissora deixa de colocá-lo por algum motivo, você [telespectador] imediatamente sente falta. (SCHINNER, 2004, p. 144)

No rádio, o auxílio do repórter e do comentarista é primordial:

O locutor, distante das jogadas mais perigosas, próximas ao gol, chamava o repórter que estava atrás da meta para que ele tirasse suas dúvidas e do comentarista [...] o repórter tem a vantagem de estar dentro de campo, próximo ao acontecimento. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 65)

No início do lance do primeiro gol do jogo entre São Paulo e Cruzeiro, acontecem duas

substituições. Essa troca para os narradores de TV é bem mais tranqüila, pois neste momento

aparece o gerador de caracteres com as informações. No lance, o narrador da TV Globo,

Rogério Côrrea, conversa com o comentarista: “Os dois técnicos mexem praticamente ao

mesmo instante. No Cruzeiro, o Adílson tira o Tiago Ribeiro e tá aí o Maurinho na lateral-

direita. E o Jonathan que se vire para arrumar posição. Logicamente que estou brincando”.

(intervenção do comentarista).

No rádio não há tempo de um comentário tão longo e a ajuda do repórter é fundamental para

que a informação seja fidedigna. Nesse mesmo lance, na Rádio Itatiaia, o repórter faz uma

intervenção de quase vinte segundos para informar a substituição e volta para o narrador

Milton Naves, que tem pouco tempo para comentar a substituição: “Saiu Tiago Ribeiro, resta

saber se não tinha condição de continuar. Sai Tiago entra Maurinho na equipe celeste. Jogo

reiniciado.” Observe que ele já tem que voltar a narrar aquilo que ocorre dentro do campo de

67

jogo. Caso contrário, ele perderia o lance de origem do primeiro gol: “[...] Jancarlos levou

para a linha de fundo, tentou o cruzamento e bola saiu pela linha de fundo”. Na cobrança de

escanteio saiu o gol do São Paulo; se o narrador comentasse ou deixasse para o comentarista

analisar as substituições, talvez perdessem uma jogada de grande importância e lesariam o

ouvinte.

Em todos os gols dos jogos analisados da TV Globo Minas, após o lance, o gerador de

caracteres mostra o autor do gol, o número do jogador e o número de gols dele no

Campeonato. São quase cinco minutos de ilustração na tela. Com esse subsídio, o narrador

televisivo geralmente descreve a informação com o gerador de caracteres; diferentemente do

rádio, em que o narrador espera a intervenção de um profissional, chamado de plantonista,

que informa, após a narração do gol, os detalhes do autor gol e o número de gols da equipe no

campeonato. Esse mesmo profissional também repassa os resultados dos outros jogos da

rodada.

Na TV, os outros resultados também são por conta do narrador, como exemplo neste lance

narrado por Rogério Côrrea, no jogo entre São Paulo e Cruzeiro: “[...] Bola no alto, o Tiago

Ribeiro tava por lá, o Guilherme também e a bola saiu”. Neste momento aprece um gerador

caracteres com uma ilustração de uma bolinha, que representa que tem gol em outra partida e

Côrrea diz: “E esse gol no Brasileirão; é gol no clássico Atletiba, o Atlético paranaense

jogando no estádio do Coritiba faz um a zero.” Enquanto ele fala, aparece outro caractere,

com o placar do jogo a que ele se refere.

68

O resultado da competição é a informação mais importante. Muitas pessoas ligam o rádio ou a TV apenas para saber o andamento a disputa e nada mais. Na televisão isso é suprido com o resultado na tela. No rádio é preciso repetir sempre. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 71).

No rádio, como não há essa linguagem visual, o narrador tem a ajuda de outro profissional,

que tem a função de acompanhar as outras partidas da rodada e informar os gols, com

intervenções durante a partida transmitida. Caso contrário, o narrador radiofônico perderia o

foco na partida; pois, além de tudo, o narrador tem que repetir o resultado da partida

transmitida a todo o momento.

3.3 As características de cada meio

3.3.1 Os apelidos, aumentativos e os excessos de verbos do narrador de rádio

“[...] estica a perna ainda o Elicarlos, tenta retomar a posse de bola, não chegou a sair, entra

também na jogada o Bruno, o Eli sentiu, está valendo tudo isso. Então sai jogando time do

Santos [...]”. Nesta narração, anterior ao segundo gol da partida do Santos contra o Cruzeiro, o

narrador da Rádio Itatiaia, Milton Naves, mostra outra diferença de narração entre rádio e

televisão. O narrador chama o jogador Elicarlos de Eli; o uso de apelidos é bem particular da

transmissão de rádio, uma vez que na televisão tudo é mais formal. Em um lance, Milton

Naves, da Rádio Itatiaia, usa outro vício do rádio, o aumentativo, que é uma forma do locutor

enfatizar uma jogada: “Num presentaço do Bosco, na cobrança do tiro de meta. O Tiago

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entrou sozinho na área [...] poderia ter conduzido a bola um pouco mais”. Além de

presentaço, outras palavras no aumentativo são comuns no rádio, como chutaço, defesaça,

golaço, zagueirão, goleirão e outras expressões da linguagem coloquial, como disparo, que

significa chute; canhão, que significa chute forte; roubar a carteira, que significa desarmar; na

boca do gol, que significa próximo ao gol; no barbante, que significa na rede. Quando essas

palavras se tornam corriqueiras, o ouvinte fica incomodado, pois as narrações acabam caindo

em uma mesmice que entedia.

As gírias e outros recursos devem ser usados com moderação. O excesso pode motivar alguma simpatia no começo, mas logo cansa e cai na vulgaridade. É bom lembrar que as palavras de moda caem em desuso, e é preciso substituí-las, sob a pena de ser considerado um narrador ultrapassado. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p. 69).

Em outro lance da transmissão da Itatiaia do jogo Santos e Cruzeiro, percebe-se outra

característica da narração radiofônica, o excesso de verbos: “Elicarlos dominou, tentou,

passou, voltou.” Isso nada mais é do que uma forma de detalhar a jogada, devido à falta da

imagem. No jogo entre São Paulo e Cruzeiro, essa característica do narrador de rádio é

comprovada: “[...] abriu, soltou para Hugo. Hugo pisa na bola, caiu. É falta nele, marcou o

árbitro”. Só nessa passagem são cinco verbos, no total de 15 palavras. Neste lance do jogo

entre Palmeiras e Atlético, o narrador Mário Henrique exagera nos verbos, principalmente no

gerúndio: “[...] Léo Lima, dominava, vai tentando fazer a caminhada pro time do Palmeiras.

Rolando bola curtinha, chegando ali o jogador Kleber, dominou de fora da grande área,

ameaçou bater [...]. Segundo Schinner (2004), muitas vezes o excesso de verbos é uma

alternativa para agilizar a transmissão radiofônica:

70

Ser ágil não significa ser veloz ao extremo, atropelar as palavras e supervalorizar o jogo, como se todas as partidas fossem uma final de campeonato. Saiba dosar a emoção e a velocidade, comunique-se mais com seus ouvintes. (SCHINNER, 2004, p. 187).

Schinner explica que o narrador deve ser ágil, mas não pode ter problemas de dicção, pois a

narração deve ser clara ao público, que busca um entendimento da situação.

3.3.2 Os advérbios de lugar da narração televisiva

Os narradores de futebol de televisão se apóiam nos advérbios de lugar para uma melhor

compreensão do telespectador. Apesar de também ser usado no rádio, esse recurso de

linguagem é mais comum na TV. É uma maneira mais prática de leitura da imagem,

direcionando a narração para tal jogada.

No jogo entre São Paulo e Cruzeiro, o narrador Rogério Côrrea usa o advérbio aí para chamar

a atenção do espectador para o replay: “Olha aí de novo, um chute firme do Tiago, ele não

acredita que a bola saiu”. Ainda nessa partida o narrador usa o advérbio ali para mostar o que

o jogador em foco está fazendo: “O goleiro Fábio outra vez arruma a barreira, protegendo ali

o canto direito”.

Em outra jogada, o narrador usa o advérbio lá para enfatizar a posição em que o jogador se

encontra: “[...] e o São Paulo chega pelo meio, bola tocada para Hugo, lá com o Dagoberto”.

71

Segundo Schinner (2004), “essa é uma maneira de o narrador chamar a atenção para esse ou

aquele lance” (SCHINNER, 2004, p. 145). Esquerda e direita também se tornam advérbios de

lugar, como nesta narração deste lance do jogo entre Palmeiras e Atlético: “Vem o Atlético

com Marques, ele cruza. Olha o chute. À direita do goleiro Marcos.” Ou seja, foi a uma

descrição enfatizada daquilo que o telespectador viu pelas imagens.

3.4 Mais emoções no rádio e a imagem que objetiva a narração

A emoção da narração do rádio não é novidade; os locutores radiofônicos muitas vezes

exageram nos lances, chegam até a inventar. Por isso analisamos algumas jogadas nas

transmissões da Itatiaia e da TV Globo Minas, para comprovarmos essa diferença. Observe

essa jogada que transcrevemos da narração de Mário Henrique, do jogo entre Palmeiras e

Atlético. “Aqui na direita a bola é lançada para Elder Granja. Ele bate na bola de primeira.

Tentativa na frente. Vai chegar no Kléber. Sai pra cima dele o Serginho, fez a proteção. A

bola não sai. Conseguiu dominar Diego Souza, na grande área. Rolou para trás. Bola batida.

Juninhooo! Salva o Galo Juninho.” É lógico que a transcrição não serve de base para

analisarmos a emoção de sua narração. O narrador aumenta o timbre de voz quando diz o

nome do goleiro do Atlético, Juninho, e transmite tanta emoção, que ativa a imaginação do

ouvinte.

Um perigo gerado pelo aspecto fantasioso da transmissão é levar o torcedor a sonhar com uma competição muito mais emocionante do que vista no estádio. Um jogo não pode parecer maravilhoso se na verdade é ruim. (BARBEIRO: RANGEL, 2006, p. 66).

72

Na verdade, a narração de Mário Henrique não foi tão exagerada, o lance foi realmente de

perigo e necessitou de um aumento no volume da voz para chamar a atenção do espectador.

“A forma radiofônica segue uma linha de narração mais veloz, com bordões e frases

repetitivas, e emoção extremada”(SCHINNER, 2004, p. 195). O mesmo lance narrado pela

TV é mais comedido. Como a imagem já causa impacto ao telespectador, o narrador não

precisa exagerar no seu timbre. “Boa chegada do Palmeiras. Olha o toque para que vem de

trás. Defesa do goleiro Juninho. Grande jogada da equipe do Palmeiras. O Atlético se safa.”

Foi assim a narração de Marcos Leandro na transmissão da Globo. É só ouvir para notarmos a

diferença.

Nas TVs abertas, a narração deve ser mais ilustrativa e o conteúdo, mais ancorado, de maneira com que você (narrador) vai conduzir a transmissão. Deixe a bola rolar e apenas siga os movimentos, usando todo o seu carisma e suas qualidades essenciais. (SCHINNER, 2004, p.181).

Um lance que chama mais a atenção na comparação das narrações foi o que originou o

segundo gol do São Paulo na partida contra o Cruzeiro. Como o jogo caminhava para o final,

o narrador da TV Globo, Rogério Côrrea, deixou o lance ser seguido apenas pela imagem.

Enquanto a jogada acontecia, o narrador global comentava sobre os outros jogos da rodada do

Campeonato Brasileiro: “[...] O Palmeiras vai assumindo a liderança do campeonato, com 50

pontos, já que vai empatando no Recife com o Náutico. O Grêmio tem 50 pontos, mas o

Grêmio ainda joga hoje, contra o Internacional. Também hoje à noite, o Santos e Portuguesa

na Vila Belmiro. Botafogo e Fluminense no Engenhão, no Rio de Janeiro.” Enquanto isso,

ocorria um lance de perigo, o jogador do São Paulo tinha sofrido uma falta. E ainda quando

Côrrea comentava, eram mostradas imagens por diversos ângulos da jogada de falta, por meio

do replay. Só depois que o jogador do time paulista foi para a cobrança da falta, é que

73

Rogério voltou a narrar: “O São Paulo vai vencendo o jogo e ainda tem uma falta para

cobrar.” E na cobrança saiu o segundo gol do São Paulo.

Talvez por isso houve uma mudança na transmissão televisiva e o locutor deixou de perseguir a bola – o que a câmera mostra bem – e a enriquecer a transmissão com outros atrativos. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.66).

Diferentemente da transmissão da TV Globo, Milton Naves narrou toda a jogada que originou

a falta: “O Cruzeiro demorou muito para bater o lateral. O São Paulo recupera, Jorge Wagner

abriu, soltou para Hugo. Hugo pisa na bola, caiu. É falta nele, marcou o árbitro. Falta no

Hugo, era tudo que o São Paulo queria, arrumar essa falta aí no finalzinho.” Como não há

imagem no rádio, é obrigação do narrador não perder nenhum lance.

Na TV, com o uso da imagem, a narração é descritiva. No rádio, a narração é discursiva, ou seja, usa-se a imagem-som. [...] A emoção, a animação e o encantamento ficam por conta do estilo e do talento de cada locutor. (SCHINNER, 2004, p.70).

Segundo Schinner (2006), o rádio deve ter uma linguagem diferenciada e mais descritiva. O

narrador tem que provocar o ouvinte, tem causar que impacto. Na TV, o narrador tem que

apenas descrever, relatar aquilo que a imagem mostra. De acordo com o autor a televisão é

imagem e entretenimento e o rádio é apenas o áudio, que deve ser mais emocionalmente

narrado.

74

CONCLUSÃO

A narração de uma partida de futebol é um espetáculo especialmente radiofônico, uma vez

que nesse meio é possível abusar da emoção, e passar ao ouvinte toda a paixão que esse

esporte carrega. Como o ouvinte não pode ver o que acontece em campo, o narrador de rádio

funciona como uma ponte entre o público e o que ocorre na partida, já que ele é a única fonte

de informação disponível. O narrador abusa de diversos artifícios como bordões, clichês e

sinonímias, tudo isso visando sempre criar uma imagem mental no ouvinte, o que o ajuda a

compreender melhor a narração.

Com o advento da imagem, proporcionado pela chegada da televisão, o espectador passou a

acompanhar as transmissões de um modo diferente. Como está vendo o que acontece em

cada lance, o espectador pode tirar conclusões e em muitas vezes até mesmo discordar do

narrador que, depois da TV, deixou de ser imprescindível e passou a ser apenas mais um

recurso de transmissão. Porém, como a emoção que acontece na transmissão rádio se tornou

parte do espetáculo, é impossível para o narrador de televisão não usar a emoção como

recurso. Com isso, os narradores precisaram adotar um novo estilo de narração, com mais

informações e dados estatísticos, sem fugir da emoção.

O narrador de TV passou a conversar com o público de maneira didática, agindo como uma

pessoa que pode explicar o que está acontecendo. Na TV, o uso de recursos de imagem como

75

arte, tira-teima, scout, replay, diferentes ângulos, etc., auxiliam o narrador na transmissão, que

pode inclusive dividir com o telespectador as suas dúvidas

Começamos o nosso trabalho tentando provar que a transmissão futebolística de rádio era

mais romântica e a da televisão mais objetiva; porém o que descobrimos é que isso não é

regra, e que é possível encontrar objetividade na transmissão de rádio, e emoção na

transmissão de televisão. Ou seja, há uma mescla de características entre os meios.

Para embasarmos teoricamente nossos estudos, relembramos alguns conceitos estudados ao

longo do curso de jornalismo, como Gatekeeper e Newsmaking, que tem uma ligação com a

narração, como o poder de criação do locutor e seleção dos jogos de futebol. A primeira

conclusão dessa análise é que não existe um padrão de narração específico para o rádio ou

para a TV. A variação é mais característica do profissional de narração e a presença da

imagem na televisão.

Nas análises que fizemos das narrações de televisão e de rádio, percebemos que existem

pequenas diferenças entre os dois meios, mas que não são padrões; no rádio, a falta de

imagem força o narrador a ter que falar o tempo inteiro, enquanto o narrador de televisão pode

ficar calado durante alguns períodos da narração, sem que isso cause maiores problemas. Por

ter que falar tanto, o narrador de rádio acaba passando mais informações sobre a partida do

que o narrador de televisão; ele ainda conta com o apoio de vários comentaristas e repórteres

de campo que completam as informações dele, o que caracteriza a objetividade. Tudo isto

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acaba tornando a transmissão do rádio mais completa. Ou seja, concluímos, que a falta da

imagem e de câmeras no rádio é substituída pela equipe de repórteres e comentaristas. Na

partida entre São Paulo e Cruzeiro, o narrador da rádio Itatiaia, Milton Naves, errou ao falar o

nome do autor do gol do São Paulo e quem o corrigiu foi o repórter de campo, que interveio

na transmissão.

Nessa mesma partida, antes da jogada do último gol do São Paulo, na transmissão da TV

Globo Minas, enquanto o lance ocorria, Rogério Côrrea informava sobre outras partidas, ou

seja, a imagem completa a narração na televisão. Isso nos permite concluir que muitas vezes o

narrador de televisão não precisa descrever as ações que acontecem o jogo.

Concluímos também que a narração futebolística atual é totalmente ligada ao jornalismo. As

técnicas de linguagem, pauta e pesquisa são fundamentais ao profissional, tanto no rádio

como na televisão. Apesar de todas as regras e formalidades da comunicação social, a

narração dentro do jornalismo permite uma singularidade do profissional. E, sem dúvida, a

cobertura do futebol, as transmissões dos jogos são fundamentais para a evolução e

valorização deste esporte.

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REFERÊNCIAS

BARBEIRO, Heródoto. LIMA, Paulo Rodolfo. Manual de radiojornalismo. Rio de Janeiro: Campus, 2001. 188p. BETTING, Mauro. Pago para Ver. In: BOAS, Sérgio Villas (org.) Formação e Informação Esportiva. São Paulo: Contexto, 2005. Cap. 1, p.13-42. BAUM, Ana (org.). Rádio e futebol: gritos de gol de Norte a Sul. 2004. Dissertação (Mestrado em radiojornalismo) – Universidade Federal de Florianópolis, Florianópolis. Disponível em: http: //www.locutor.info /Biblioteca/Radio%20e%20futebol%20gritos. Acesso em: 18 out. 2008. BISTANE, Luciana; BACELLAR, Luciane. Jornalismo de TV. São Paulo: Contexto, 2005. 141 p. COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo esportivo. São Paulo: Contexto, 2003. 120 p. DAMATTA, Roberto. Antropologia do óbvio: notas em torno do significado. Revista USP, São Paulo, n.22, p.10-17, ago.1994 GUERRA, Márcio de Oliveira. Rádio x TV: O jogo da narração. 2006. Dissertação (Graduação em jornalismo) – Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora. Disponível em: http:// www.intercom.org.br/ papers/nacionais/2006/resumos/R1438-1.pdf. Acesso em: 18 out. 2008. KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: Norte e Sul - Manual de Comunicação. São Paulo: EDUSP, 2001. 416 p. LINO, José. Futebol é bola no barbante. Belo Horizonte, 2003. Disponível em: http://www.itatiaia.com.br/rede_itasat/novidades_novidade.php?nk=78. Acesso em: 15 out. 2008. MEDITSCH, Eduardo. O Rádio na Era da Informação: Teoria e Técnica do novo Radiojornalismo. Florianópolis: Insular, 2001. 300 p. PATERNOSTRO, Vera Íris. O Texto na TV: Manual de Telejornalismo. 2 ed. rev. E aum. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 231 p. QUINTSLR, Márcia Maria Melo (org). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Síntese de Indicadores 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 271p. PRIMEIRA transmissão de Copa do Mundo. São Paulo: Adalberto Amaral, 2003. Disponível em: http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=1087. Acesso em: 25 out. 2008. SCHINNER, Carlos Fernando. Manual dos Locutores Esportivos. São Paulo: Panda Books, 2004. 278 p. WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 1985. 271 p.

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ANEXO I

ENTREVISTA COM O NARRADOR JOTA JUNIOR, DO CANAL SPORTV DE SÃO

PAULO

Nome completo: JOSÉ FRANCISCHANGELIS JÚNIOR

Idade: 59

Naturalidade: Americana - SP

Não é Formado em jornalismo

1 - Carreira: Quais os meios (empresas de comunicação) em que trabalhou?

Jota Jr.: Jornal O Liberal, Jornal Todo Dia, Rádio Clube, Rádio Notícia de Americana e

Rádio Azul Celeste, todos de Americana; Rádio Brasil e Rádio Luzes, de Santa Bárbara do

Oeste; Rádio Jornal, de Limeira; Rádio Brasil, de Campinas; Rádio e TV Gazeta, Rádio e TV

Bandeirantes e canais Sportv, tudo de São Paulo.

2- Principais coberturas:

J.J: Copas de 1978, 1982, 1986, 1990, 1994, 1998 e 2006. Olimpíadas de 1984, 1988, 1992 e

1996. Vários Sul-Americanos de vôlei e basquete. Mundiais de vôlei e basquete. Fórmula-1

pela rádio Bandeirantes, nas temporadas de 1980, 81 e 82. Fórmula Indy pela Band, além de

Eurocopa e Libertadores da América.

3 - Quando começou? Por quê? O que o influenciou?

J.J: Comecei, em 1969, escrevendo para um jornal da minha cidade e logo depois fui para o

rádio. A paixão pelo rádio me despertou para a atividade. E também por gostar de esporte.

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4 - Qual narrador o inspirou?

J.J: Nenhum especificamente. Sempre ouvi a todos os narradores, desde criança. Acho que

peguei um pouco de cada um.

5 - Por que a TV?

J.J: Televisão foi circunstancial na minha carreira. Na Gazeta eu fazia rádio e me colocaram

para algumas transmissões e VT’s. Na Bandeirantes, da mesma forma. Eu fazia rádio na Band

e fui deslocado para trabalhos na televisão, em 1983.

6 - Quais as técnicas de linguagem você usa para narrar uma partida?

J.J: Procuro utilizar a linguagem mais simples possível. Telespectador não gosta de nada

rebuscado, entendo assim. Principalmente em transmissões do esporte. Não gosto de inventar.

Até pelo fato de que numa jornada de televisão, o mais importante não é o narrador, mas as

imagens do evento.

7 - E o tom de voz? Qual o momento você vibra mais, além do gol?

J.J: A tonalidade deve crescer quando o lance é agudo, lances de área, bola na trave e etc.

Gritar numa troca de passes ou em um arremesso lateral, por exemplo, não é compatível com

o que todos estão vendo.

8 - A paixão pelo seu time influencia suas narrações?

J.J: Nunca me deixei levar. Sou favorecido por nunca ter sido fanático pelo clube da minha

simpatia. Sou frio para as emoções do esporte e talvez seja uma exceção na área. Mas essa

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frieza me ajudou e me ajuda a não me deixar influenciar. E tenho de respeitar a todos os

torcedores, de todas as agremiações. Não seria honesto se puxasse para esse ou aquele lado.

9 - E a paixão pelo futebol? Ajuda, atrapalha... Você costuma opinar em algumas

transmissões? Por quê?

J.J: Uma transmissão de futebol é muito dinâmica e envolvente, porque os espetáculos são

envolventes. Então, o narrador muitas vezes extrapola e invade a área do comentarista,

indevidamente. Não deve fazer isso, tecnicamente. Eu me policio muito, mas quando cometo

o deslize peço desculpas ao companheiro que está nos comentários.

10 - Quais as diferenças da linguagem da narração do rádio para a TV?

J.J: A linguagem no rádio é mais liberal, mais permissiva. Mais íntima do ouvinte. O que se

diz no rádio, muitas das vezes, passa batido. Na televisão tudo fica mais amplificado e

repercute mais fortemente. Entendo que a televisão amplia a opinião, ficando mais exposta a

críticas e retaliações.

12 - Qual a sua preferência? Rádio ou TV?

J.J: Gosto dos dois. Indistintamente.

13 - Você teve dificuldades, ou o rádio é uma base para a narração televisiva?

J.J: O rádio é importantíssimo para uma boa desenvoltura na televisão. Ele dá lastro ao

profissional. Mas há grandes narradores de televisão que não passaram pelo rádio nessa

atividade. Galvão Bueno, como exemplo, nunca narrou em rádio (ele foi comentarista de

rádio no início de carreira).

81

14 - Você acha que todo narrador de TV tem por obrigação passar pelo rádio?

J.J: Se puder ter passado pelo rádio, tanto melhor. Mas não é obrigatório.

15 - Qual a importância do narrador de futebol para este esporte? E qual a relação dele

com o torcedor? Você se considera um formador de opinião?

J.J: Entendo que o narrador não deveria ser formador de opinião, pois sua função é relatar as

jogadas, ilustrar a transmissão com dados estatísticos e conduzi-la apenas. Já o comentarista

tem esse papel de formar opinião. O narrador não é mais importante que o evento, que o

comentarista, não é mais importante que as imagens. Mas o que se vê no dia-a-dia é que os

torcedores consideram o narrador um formador de opinião. Sempre defendo que numa

transmissão de televisão, todos são muito importantes. O narrador é o que mais fica no ar

comunicando, mas não é sua função dar opinião e atravessar a área do comentarista. Mas nem

sempre a gente fica no papel fundamental de relatar. E erra por isso.

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ANEXO II

ENTREVISTA COM O NARRADOR MARCOS LEANDRO DA TV GLOBO MINAS

Nome: Marcos Leandro de Oliveira

Idade: 32 anos

Naturalidade: Rio de Janeiro, mas mora em Belo Horizonte desde os 12 anos de idade.

Formado em jornalismo pela UNI-BH

1 - Carreira:

Marcos Leandro: Comecei fazendo locução na rádio Extra, depois fui para rádio BH FM.

Depois de formado, em 2003, fui para a Rede Minas para fazer o programa Ação Total e

depois o Meio de Campo, onde comecei a narrar futebol. Depois fui chamado para trabalhar

na TV Globo Minas, em 2006. Contando com as narrações pelo Sportv e PFC (Canais a cabo

da Rede Globo), já narrei cerca de 250 jogos.

2 - Você foi influenciado por algum narrador?

M.L: Tem muita gente boa de serviço aqui em Minas Gerais. O Mário Henrique narra

demais, ele é muito bom. É espirituoso, tem presença de espírito, consegue colocar uma certa

irreverência na narração e propriedade nela ao mesmo tempo com profissionalismo, ele

consegue unir essas duas coisas. É um esporte popular, então se você ficar muito

“carrancudão” ali, não jogar um sorriso, um gracejo na narração, não dá uma temperada, eu

acho que fica aquela coisa. Não é fulano tocou pra fulano, porque isso ai é muito fácil. Acho

que o desafio é esse. Eu procuro estar aprendendo cada vez mais, está pegando essa

83

experiência, me espelhando em profissionais mais experientes. Misturando esse lado

irreverente, não irreverente demais, eu não sou um Silvio Luiz, embora eu admire o trabalho

dele. Mas assim dando umas pitadas mesmo. O Mário Henrique daqui, o Rogério Correia meu

colega de emissora, acho ele brilhante, um sujeito de uma capacidade enorme. Os narradores

da Rede Globo nacional também, o Galvão eu acho bom demais, o Cléber, o Luís Roberto,

que dessa questão de tempero popular pra narração esportiva. Acho o Luís o que melhor faz

isso, o que melhor trabalha isso, sabe esse sorriso na voz, essa simpatia, ele trabalha muito

bem isso. Mas além dele tem muita gente boa de serviço. No rádio, nem se fala, é uma

infinidade, o que não falta é gente para eu me inspirar, assim, porque eu acho isso importante.

3 - Você nunca narrou em rádio?

M.L: Eu nunca tive a oportunidade, eu toparia fazer, mas nunca tive oportunidade. A

narração pintou mesmo foi na TV, primeiro comecei a narrar Campeonato Brasileiro de

MotoCross na Rede Minas, na seqüência fiz o Campeonato Brasileiro de Moto Velocidade, e

a partir daí comecei a desenvolver nessa área. Também transmitir três finais de BH Tênis

Open, aqui em Belo Horizonte, também pela Rede Minas. O futebol, quando comecei foi bem

difícil, o meu primeiro jogo não foi para ar, no programa de esportes que apresentava aos

domingos, na Rede Minas, chamado “Meio de Campo”. Não rolou de ir, eu já tinha até

avisado para a galera, até pegar o esquema, é um ritmo continuo ali. Mas no segundo eu entrei

meio pressionado, eu fui ali pra decidir mesmo, eu falei tem que sair, tem que fazer, ai

consegui fazer, os primeiros sempre com dificuldade, mas foram indo e aos poucos fui

pegando o gancho da narração de futebol.O Guilherme Mendes, o jornalista – na época editor-

chefe do programa Globo Esporte Minas - que me trouxe para a TV globo, me falou uma

coisa que é muito interessante, narração é bagagem. É você estar fazendo, não é no primeiro,

no segundo, é lá para quinto ano que você ganha uma cancha legal, e vai aperfeiçoando.

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Porque é difícil de fazer, o Rogério Côrreia – outro narrado da TV Globo Minas- mesmo já

me falou isso, não é fácil fazer, você vai adquirindo aos poucos.

4 - Você tem alguma técnica de linguagem nas transmissões? E o momento do gol?

M.L: A locução em rádio me ajudou muito, a própria rapidez mesmo, eu sou da época do

rádio jovem, em que tinha que anunciar a música rápido, então essa desenvoltura, e a

improvisação me ajuda muito na televisão, é uma técnica que me serve muito bem para fazer

as minhas narrações. Na hora do gol, eu acho que tem entrar decidido. Porque ali é o

momento em que você vai subir, isso tem que entrar automaticamente. No início eu sofria um

pouco com isso, de desafinar. Às vezes você fica inseguro, então quando você sente que é

perigo de gol, que o gol está saindo, automaticamente já vem a explosão, tem é que segurar no

gogó.

5 - A paixão pelo clube de preferência ou Minas Gerais influencia em suas transmissões?

M.L: Teve uma vez que eu narrei naquele esquema da Rede Minas – compacto – a final da

Copa do Brasil entre Cruzeiro e Flamengo, ficou três a um para o Cruzeiro aqui no Mineirão.

Neste jogo, o Cruzeiro foi campeão. Era só local, pois o compacto passaria só para Minas

Gerais. No dia seguinte passou os melhores momentos no programa da tarde. Rapaz, o

Cruzeiro fez três a zero, e no segundo tempo o Flamengo fez um gol. Mas eu narrei tão

chocho, e eu ouvi aquilo no dia seguinte e me incomodou profundamente. A gente vai

ganhando maturidade com o decorrer do trabalho, e ali foi uma coisa que eu aprendi que era

erro, até que no caso de um Brasil tudo bem, eu acho que até é usável, mas de lá pra cá eu

tomei aquilo como exemplo e aprendi que não mais, gol é gol, independentemente de

qualquer time do Brasil. Eu sei que hoje isso é mais necessário, ainda mais, porque eu faço

narração pelo PFC – Pay-per-view da Globosat – e esses jogos vão para todo o Brasil e alguns

85

lugares do mundo. Então a mesma intensidade que é pra um é pra outro. E eu tomo muito

cuidado quando eu faço clássico, porque clássico é complicado, todo mundo critica. É um

cuidado redobrado. Eu já fui criticado pela torcida do Atlético, pela torcida do Cruzeiro, eu

sou um cara que procura estar se informando, gosto de acessar internet e analisar o que a

galera achou e tal. Mas eu passei a não dar muita importância, eu olho para entender as

críticas, porque é interessante também a gente não pode fechar os olhos pra tudo, porque

trabalho para as pessoas, a gente presta um serviço social, é uma coisa cultural, não tenho o

direito de narrar um gol do Cruzeiro que seja em um clássico mais alto ou com mais vibração

do que um gol do Atlético e vice-versa, o narrador é muito pequeno em vista da história de

um clube. Ninguém tem o direito de tomar partido pra lado nenhum, beleza que depois fique

triste, fique chateado, fique murmurando a derrota da equipe enfim, mas durante o trabalho a

gente tem que se ater aos fatos, é um desafio a todo o momento, é o que nos cabe enquanto

jornalistas, que tem um compromisso com a ética jornalística e com a ética profissional.

6 – E paixão pelo futebol ajuda? Você costuma opinar nas transmissões?

M.L: A paixão pelo futebol é o que move mesmo. Com a bagagem, que você vai ganhando

com tempo, vai te dando essa “cara-de-pau”, você começa a ficar solto. Você fica mais seguro

de chegar e fazer um comentário, mas esse comentário tem que ser com base naquilo que você

está vendo, sem querer extrapolar, só aquilo que você está enxergando. É lógico que a função

do comentarista é de enxergar aquilo que muita gente não está vendo, essa é a busca. Mais

sem querer inventar demais, acho que dar umas pitadas assim, até mesmo pra levantar a bola

para comentarista, é legal o narrador ter essa cancha, essa condição de levantar um tema e

jogar um “pitaco”, acho que isso não faz mal não, ajuda a temperar também.

7- O que você prefere: rádio ou TV?

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M.L: TV, mas como eu falei, não tenho predileção assim, gosto de todos os meios. Se

amanhã eu tiver de ir trabalhar no jornal “O Globo”, eu vou fácil. Voltaria a fazer rádio,

televisão é uma paixão, mas eu gosto de tudo, mas curto demais TV e espero que eu tenha

vida longa.

8 - Você acha que todo narrador de TV tem que passar pelo rádio?

M.L: Não necessariamente, o Rogério (Côrrea), por exemplo, não passou pelo rádio. O rádio

ajuda demais, tem me ajudado muito, mas não necessariamente.

9 - Qual a importância do narrador de futebol para o futebol?

M.L: Ele é uma ponte de entendimento para o que está acontecendo dentro de campo. Não

adianta a gente ficar em cima do óbvio, porque o receptor também entende um pouco, ele não

é “burro”. O narrador não tem que ser mais estrela, ele não tem que ser o dono do espetáculo,

o espetáculo é o que esta se passando dentro das quatro linhas. Acho que é ater mesmo, a

tentar passar da melhor maneira possível o que esta passando ali, nada além do que isso.

10 – Você se considera um formador de opinião?

M.L: A gente não deixa de ajudar na formação da opinião sobre determinado tipo de coisa

que venha a acontecer. O fato em si ele tem vários desdobramentos, por exemplo, se

aconteceu algum erro de arbitragem, algo polêmico, isso mesmo tem vários desdobramentos,

cada um vai ter uma opinião. Mas tem um de imediato, instantâneo, que já nasce junto com o

fato que aconteceu naquela hora e que depois vai ter desdobramentos, e isso faz parte. Então é

procurar a objetividade, embora ela não exista, e ir cercando, apurando, tentando levantar

coisas, por exemplo, comparações que sejam interessantes, pra tentar fazer aquilo que se

passou ser entendido, esse é o desafio.

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ANEXO III

ENTREVISTA COM O NARRADOR MÁRIO HENRIQUE, DA RÁDIO ITATIAIA

Nome: Mário Henrique da Silva

Idade: 35

Naturalidade: Três Pontas

Formado em Jornalismo pela UniBH, em 2004

1 - Quais as rádios que já trabalhou?

Mário Henrique: Rádio Três Pontas, Rádio Sentinela, Rádio Globo, Rádio Itatiaia.

2 - Quais as principais coberturas que você já fez?

M.H: As últimas três Copas do Mundo e as últimas quatro olimpíadas, todas pela Itatiaia.

3 - Como você começou no rádio? Porque o rádio?

M.H: Comecei na Rádio Três Pontas em 1988, com 15 anos. Gostava de futebol e de ouvir

rádio, eu ficava imitando o narrador da própria Rádio Três Pontas, quando apareceu uma

oportunidade lá mesmo. O mesmo narrador que eu imitava me chamou pra fazer um teste, foi

então que comecei e não parei mais. Sobre o rádio, e sempre gostei, desde criança ia aos jogos

e ouvia rádio, mas nunca imaginava que trabalharia com isso. Foi muito natural o que

aconteceu e nunca fiz outra coisa.

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4 - Você veio para Belo Horizonte quando?

M.H: Eu vim pra Belo Horizonte em 1991, fiquei sabendo que a Rádio Globo estava

começando futebol aqui com o Willian Jorge - ele era locutor da rádio BH FM. Fiz o contato

com ele e falei que era narrador e queria vir trabalhar em Belo Horizonte, precisava de

oportunidade na capital. Então, mandei um várias gravações de narrações minha, o Willian

gostou e me chamou para trabalhar na Rádio Globo.

5 - Você foi influenciado por algum narrador?

M.H: Escutava e me inspirava no Sá Mendonça, com quem trabalhei em Três Pontas. No meu

começo de carreira também ouvia muito Vilibaldo Alves da rádio Itatiaia e Oswaldo Maciel,

que é de São Paulo. Esses são teoricamente os que o que eu mais me inspirei, embora hoje eu

tenha o meu estilo próprio. No começo quando você começa a narrar, você mistura um tanto

de coisa, você pega um pouquinho de José Carlos Araújo, um pouquinho Luiz Penido, porque

na verdade você é fã dos caras, pois já são consagrados. Então você faz uma “mistureba

danada”, e com o passar do tempo você vai vendo que tem que encontrar seu estilo, que ficar

imitando não é o ideal. Mas hoje as coisas que eu falo, tudo, eu que inventei.

6 - Você usa alguma técnica de linguagem?

M.H: Eu sou bem popular, não sou muito de ficar “eu quero crer” não, eu vou é de “boca do

gol”, “boca do balaio”, “chego o reio”, umas coisas assim que o povo gosta. Eu não narro para

governador, eu narro é para o ouvinte que foi de ônibus para Mineirão, que é a maioria, e é

daí que eu acho que vem a minha popularidade.

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7 - E o tom de voz? Em que momento você vibra mais além do gol?

M.H: A minha narração é muito alta, aqui na rádio eu o Willy e o Milton narramos muito

alto, enquanto o Alberto Rodrigues entra na cabine e parece que não está nem narrando, ele

fala mais baixinho, eu quase que grito mesmo o tempo todo.

8 - Você mantém o mesmo ritmo durante toda a partida?

M.H: Não, bola da defesa até o meio campo você vai mais devagar, do meio do campo para

frente você dá uma esquentada.

9 - De onde veio o bordão “caixa”, usado no momento do gol?

M.H: O “caixa” eu que inventei, assim de uma hora para outra. Eu estava em uma roda de

amigos e falei “vou mudar esse gol”, ai eu inventei “caixa”. No começo eu enfrentei até

resistência, o pessoal falando que esse caixa não ia dar certo, e hoje eu sou mais conhecido

como “Caixa” do que como Mário Henrique, então é uma coisa que pegou mesmo, foi muita

sorte.

11- A paixão pelo seu time influencia suas narrações?

M.H: Não, não, eu sou bem profissional, pelo menos eu tento né.

12 - E a paixão pelo futebol? Ajuda, atrapalha..... Você costuma opinar nas

transmissões?

M.H: Tem hora que atrapalha, é um erro até, narrador não tem que ficar comentando. Mas

tem dia que o jogo está tão ruim que você perde a paciência, vai vendo tanta besteira em

campo que não tem jeito. Mas eu tenho que me policiar, acho que isso atrapalha sim. Porque o

90

torcedor já está ali xingando também, aí você começa a falar demais na cabeça dele e o cara

desanima.

13 - Você já teve alguma experiência em algum outro meio?

M.H: Eu fiquei no canal Sportv de 2000 a 2003, em 2003 entrou a Globo e o diretor que tinha

me levado foi demitido e acabei dançando. Foi uma experiência boa, porque a televisão vai

para o Brasil inteiro, cheguei a fazer final de Copa Sul-Minas, final de vôlei, mas no momento

que iria decolar, houveram algumas mudanças na estrutura do canal e acabei sobrando. Mas

televisão ainda é um projeto muito interessante que espero voltar a trabalhar.

14 - Qual a sua preferência, rádio ou TV?

M.H: Prefiro o rádio, me sinto mais a vontade neste. Na TV você fica com um coordenador

no caminhão, um coordenador no Rio, o cara toda hora te podando, não fala isso, não fala

aquilo. Eu estava narrando um Cruzeiro e Vasco, o Cruzeiro fez quatro gols e eu falei que o

Vasco tinha caído de quatro no Mineirão, tomei a maior bronca. No rádio eu fico mais a

vontade, na TV é mais complicado.

15 - E na Itatiaia, você já foi cerceado por alguma coisa que falou no ar?

M.H: Aqui, o Emanuel Carneiro (presidente da Itatiaia) dificilmente fala alguma coisa,

comigo então tem anos que ele na fala nada.

16- Qual a diferença de rádio pra TV?

M.H: É exatamente isso, a TV você não pode falar “boca do gol”, “bola no segundo pau” e

“bola na segunda trave”. Neste meio a linguagem é mais, digamos, formal, agora no rádio

você tem um leque maior, você pode inventar mais.

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17 - Você teve dificuldades para se adaptar à narração televisiva, ou o rádio serve como

base?

M.H: A narração na TV é mais devagar, não pode empurrar muito, falar muito rápido, e o

rádio é mais liberal. Eu não podia gritar “caixa”, porque o patrocínio era do Banco Real. Um

outro narrador do Sportv, Deva Pascovich gritava explode coração, e mandaram ele parar de

explodir coração, eu narrava vôlei e falava “olha o braço da Leila voando”, a equipe não

gostava e ainda comentavam ironicamente: “uai o braço da Leila ta saindo do corpo dele, ela

é leprosa?”. A TV é cheia desses negócios, no rádio eu gritava “o braço da Leila voa no

Mineirinho” e na televisão não podia. Você sente a diferença de quem narra no rádio e na TV.

O Luís Roberto, por exemplo, ele veio do rádio, e no rádio eu o acho genial, na televisão, ele

é fraco. Éder Luis, no rádio é sensacional, na televisão é fraco. É exatamente por isso, na TV

o cara te poda tanto, que você perde a graça.

17 - Você acha que todo narrador de TV tem por obrigação passar pela rádio?

M.H: Não necessariamente, o Cléber Machado (narrador da Rede Globo), por exemplo, não

fez rádio, mas se fez foi mal feito, porque eu acho que ele atrapalha o jogo. Acho ele um

“chato de galocha”, quando ele está narrando você tira o som do Cléber Machado e o jogo

melhora.

18 - Qual a importância do narrador de futebol para esse esporte?

M.H: Eu acho que nós, de rádio e de televisão fazemos tudo. Por exemplo, a Rádio Itatiaia

tem cinco programas de esporte, a gente fica falando o dia inteiro. Tem jogo às seis horas da

tarde, mas começamos a transmissão às duas horas da tarde. Sempre convocamos o torcedor e

passamos detalhes das partidas: “vai ser um jogão” “os caras chegaram” “olha o ônibus do

Cruzeiro” “olha o ônibus do Atlético”. Então, acho que a nossa importância é fundamental.

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Nós somos culpados por esses altos salários de jogadores, porque colocamos os atletas como

se fossem deuses. Acho que o trabalho nosso é grande importância para o futebol, mas eles

não reconhecem isso. O Levir Culpi não queria imprensa na Toca da Raposa (Centro de

treinamento do Cruzeiro), queria que a gente pegasse tudo na internet, de repente a gente tava

incomodado (risos). Eu queria ver, se todas as rádios ficassem um mês sem noticiar futebol,

parar mesmo. Sei que isso não nunca iria acontecer por causa da briga da audiência, mas se

acontecesse, os dirigentes, jogadores e empresários passariam mal, tomariam um susto

daqueles. Eles ficaram mal acostumados.

19 - Qual é a relação da rádio com o torcedor? Você acha que você influencia? Você se

considera um reflexo do torcedor?

M.H: A Itatiaia é uma parceira do torcedor mineiro, o cara que escuta Itatiaia fica mais

seguro e mais confiante. Às vezes você está fazendo jogo em Taguatinga e aparece um cara e

diz: “eu sou da região do Barreiro, trabalho em uma empresa não sei onde” e afirmar que tem

prazer de ouvir Itatiaia. A audiência da Rádio Itatiaia é uma coisa que impressiona até a gente

mesmo, é uma coisa muito grande, nunca vi uma rádio com o poder que tem a Itatiaia, a

relação com o torcedor é muito grande.

20 - Você se considera um formador de opinião?

M.H: Claro, com certeza, a gente recebe muito e-mail aqui do pessoal falando “eu concordo

com você”. Tenho uma responsabilidade junto ao publico que é forte, o pessoal confia muito

na gente.

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21 - Você tem algum problema com voz? Toma algum cuidado?

M.H: Não, nada. Eu vou ao fonoaudiólogo uma vez por ano só pra ver se está tudo bem. Eu

tomo gelado, mas quando vou narrar no domingo, sábado eu descanso, repouso. Mas é só, não

tem esse negócio de “comer rapadura é bom pra voz”, a única coisa que chega à voz é vapor

de água. Uma vez eu comi meia rapadura e não adiantou nada, é lenda. Voz é repouso e água,

mais nada.

22 - Você tem vontade de ser narrador de uma só torcida?

M.H: Não sei se vai continuar com isso aqui na Itatiaia. Mas, na verdade, eu tinha vontade de

fazer só um time, não vou falar qual aqui, mas vocês são pessoas inteligentes e devem saber

qual é? Mas é possível, até porque o Willy vai parar antes do Alberto, mas assim se tiver que

narrar para os dois times de Minas, ou os três, com o América, não tem problema nenhum, até

porque a gente tem que ser profissional.

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ANEXO IV

ENTREVISTA COM O NARRADOR PEQUETITO, DA RÁDIO GLOBO DE BELO

HORIZONTE

Nome completo: Francisco Osvaldo Pereira dos Reis “Pequetito”

Idade: 48

Naturalidade: Monte Santo de Minas

Não é formado

1 - Em quais meios já trabalhou?

Osvaldo Reis: Na comunicação eu fiz de tudo, rádio, televisão, jornal. Mas tenho mais tempo

de rádio

2 – Em quais rádios já trabalhou?

O.R: Rádio Progresso, em Monte Santo; Rádio Difusora, em São Sebastião do Paraíso; Rádio

Cultura, de Alfenas; Rádio Atenas, também de Alfenas; Rádio Passos, da cidade de Passos;

Rádio Minas, também de Passos; Rádio Convenção, de Itu; Radio Nova Sumaré, na grande

Campinas; Rádio Inconfidência, Radio Globo e CBN, todas de Belo Horizonte.

3 - Quais as principais coberturas que você já fez?

O.R: As três últimas Copas do Mundo, 1998, 2002 e 2006, duas finais da Liga de vôlei, aqui

no Brasil e a Liga Mundial, de 1995 e 2000.

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4 - Como você começou no rádio? Porque o rádio?

O.R: Desde criança, desde os cinco que minha mãe fala que eu já gostava da rádio. O pessoal

brincava no quintal e eu pegava uma latinha de massa de tomate e ficava brincando “Alô, alô,

alô, alô” e ai ficou, e desde os 12, 13 anos que gosto de ouvir rádio.

5 - Você foi influenciado por algum narrador?

O.R: Os primeiros que ouvi na minha região, que é o sul de Minas Gerais, eram de rádios

paulistas, como Fiori Giglitotti, que eu ouvi muito na Rádio Bandeirantes. Tinha o Alfredo

Orlando, rádio Tupi do Rio de Janeiro. Gostava também do Jorge Cury, Valdir Amaral. Mas,

na minha adolescência, eu ouvia muito era o Osmar Santos, que foi, na minha opinião, o

melhor narrador de todos os tempos.

6 - Você usa alguma técnica de linguagem?

O.R: Eu fiz alguns cursos de dicção de voz de postura, com fonoaudiólogas. Eu me cuido um

pouco, apesar de gostar de tomar gelado e fumar, de vez em quando.

7 - Você faz alguma preparação antes das partidas?

O.R: Eu faço um aquecimento de voz, uma exercícios básicos de cinco minutos, dez minutos

pra aquece-la.

8 – Durante as partidas, qual é o tom de voz? Em que momento você vibra mais além do

gol?

O.R: É difícil, por exemplo, domingo agora tem o Cruzeiro e Atlético, e esse é o jogo que

requer do narrador a maior atenção possível. Porque você não pode fazer uma transmissão

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tendenciosa, porque é polarizado, aqui em Minas, Atlético e Cruzeiro é bem dividido o

público, então você não pode entusiasmar muito. Na transmissão normal a partir do meio de

campo, da intermediária você vai crescendo um pouco o volume da voz.

9 - A paixão pelo seu time influencia suas narrações?

O.R: Não, eu por exemplo, como sou do sul de Minas gostava mais do Santos, quando era

moleque, por causa do Pelé. Mas depois que eu trabalhei muito tempo no interior, isso não

tinha tanto problema. Mas aqui, em Belo Horizonte, a cobrança é muito grande porque é aqui

é Cruzeiro e Atlético, então você jamais pode ser tendencioso.

10 - E a paixão pelo futebol? Ajuda, atrapalha...

O.R: Ajuda, às vezes quando jogo está ruim é que fica bom para narrador, e aí aparece a

oportunidade de mostrar sua paixão e melhorar seu trabalho. Não tem jogo ruim, você tem

que fazer o jogo ficar bom.

12 - Você costuma opinar nas transmissões?

O.R: Eu tenho feito alguma coisa sim, mas procuro evitar, porque acho que o narrador tem é

que narrar. Mas cometemos esses erros sim, a gente dá muito “pitaco”, começa a opinar,

forçamos alguma coisa para cima do comentarista. Isso ocorre demais, mas não acho que isso

é legal, temos é que narrar, procurar sempre narrar. Mas é claro que em alguns lances, a gente

precisa comentar também.

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13 - Você já teve alguma experiência em algum outro meio?

O.R: Trabalhei em TV, quando eu vim para Belo Horizonte, 1995, foi no canal 25, quando

começou a TV a cabo aqui, foi um experiência de dois anos. Depois eu trabalhei na TV

Manchete. Agora estou na TV Horizonte, onde apresento e comento em programa de esportes.

Este ano tive uma experiência Pay-Per-View, narrando alguns jogos do Campeonato Mineiro

pelo canal pago PFC.

14 - Existe alguma diferença entre rádio e TV?

O.R: A diferença é total. Toda hora o diretor fica no ponto pedindo mais calma, porque a bola

passava do meio de campo e eu já começava a falar mais alto, mais foi uma experiência muito

gratificante, acho que agora vou fazer de novo o Campeonato Mineiro do próximo ano.

15 - Qual a sua preferência, rádio ou TV?

O.R: Rádio, mas eu não desprezo a TV, Este meio tem grande visibilidade. Você faz um jogo

no Pay-Per-View e a resposta é muito grande.

16 - Você teve dificuldades para se adaptar à TV, ou o rádio é a base para a narração

televisiva? Você acha que todo narrador de TV tem por obrigação passar pela rádio?

O.R: No começo é mais difícil, porque você tem que ficar ligado no campo, no monitor, ter

atenção aos textos, as chamadas de texto, têm ainda as entradas interativas. Também é tudo

muito rápido, você quer dar a escalação e não dá tempo, porque você entra praticamente com

a bola rolando. Quando entra alguma informação, como o banco de reserva, a classificação,

você tem que ler aquilo rapidinho. Mas a gente acaba levando. Eu acho que vale a experiência

adquirida no rádio, você pega os grandes narradores de TV, e vê que todos vieram do rádio,

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você pode pegar Luciano do Valle, Galvão Bueno, Luis Roberto, todos esses vieram do rádio,

então eu acho que é importante passar pelo rádio sim.

17 - Qual a importância do narrador de futebol para este esporte?

O.R: Eu acho que, aqui em Belo Horizonte, é importante sim, você vê as crianças nas ruas

imitando o Alberto Rodrigues, o Willy Gonzer. Isso tudo é muito importante pra criação,

passa de pai pra filho. O futebol faz parte da nossa vida e acho que a transmissão no rádio

também.

18 - Você se considera um formador de opinião?

O.R: Às vezes sim, acho que isso é muito perigoso, tem que ter muito cuidado com o que vai

falar.

19 - Você leva em conta o que ouve na rua? Recebe muitas idéias das pessoas?

O.R: Muito, muito mesmo. Até as expressões que eu uso, o “vai que eu tô te vendo” foi o

Reinaldo, ex-jogador do Atlético, que me passou em uma transmissão de Copa do Mundo que

fiz com ele. A gente pega essas expressões é do povo. Muitas vezes você está em um lugar e

chega uma pessoa para te falar alguma coisa, aí você passa a prestar mais atenção naquilo que

ele te falou. Hoje o torcedor é muito ligado, acessa muito a internet e muitas vezes sabem

muito mais do que você. Nós somos bastante corrigidos, ainda mais quem pensa que sabe

tudo.

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ANEXO V

TRANSCRIÇÃO DE LANCES DA PARTIDA ENTRE SANTOS E CRUZEIRO

Data da partida: 24/08/2008

Jogo válido pela 22ª rodada do Campeonato Brasileiro

TRANSMISSÃO DA TV GLOBO MINAS

Narração: Marcos Leandro

Comentarista: Bob Faria

Repórteres: Rogério Ferreira e Leonardo Zanotti

Primeiro gol: “Mais uma vez a bola voltando para o Santos. Jogada do Wendel. Rodrigo

dentro da área, o toque.Olha o gol. Gol, Goooool (Início da trilha) Gol de artilheiro (início do

replay). Cara-a-cara com o goleiro Fábio. Na entrada da pequena área, o artilheiro Kleber

Pereira. Pra levantar o torcedor do Santos, na Vila Belmiro. Sai na frente o peixe. Santos um,

cruzeiro zero. Bob Faria (Intervenção do comentarista)”

Tempo do comentário do lance: 24”

Tempo do grito de gol: 8”

Tempo do Gerador de Caracteres:5”

Segundo gol: “O Cruzeiro tenta partir, Elicarlos. Voltou para direita o Eli, tentou a

recuperação na base da vontade, da raça. Fica a disputa de bola na lateral, e o Santos levou a

melhor e puxa o contra-golpe. Perigoso por sinal. A bola é levantada para Kleber Pereira,

100

matou no peito, encheu o pé...E o gol, gooool do Santos (trilha). A bela jogada pela esquerda

(replay), o cruzamento na área. Matou no peito e bateu no canto direito do goleiro Fábio, o

Kleber Pereira. Santos dois, Cruzeiro zero. Bob Faria. (Intervenção do comentarista)”.

Tempo do comentário do lance: 30”

Tempo do grito de gol: 11”

Tempo do Gerador de Caracteres: 5”

4’53” do segundo tempo – Lance 1: “Marquinhos Paraná, Bruno... Mais atrás, Fabrício de

primeira jogando dentro da área do Santos, a cabeça do Gerson Magrão, pra fora. Bob Faria.

(Intervenção do comentarista)”

41’34 do segundo tempo – Lance 2: “Elicarlos, o chute de longe do Henrique... Vai pra fora.

Vamos ao gol do Ipatinga (corte para o gol do Ipatinga)”

TRANSMISSÃO DA RÁDIO ITATIAIA

Narração: Milton Naves

Comentarista: Júnior Brasil

Repórteres: Arthur Moraes e Emerson Romano

Primeiro gol: “41 minutos e 40, o Santos vem para o ataque, atenção estamos caminhando

para o final do primeiro tempo. Olha a bola do Rodrigo Souto, na direita Maicon cruzou,

Kleber bateu e é gol, Gooool (início trilha) do Santos, Kleber Pereira, ele é matador, ele é

artilheiro, não perde duas vezes. Cruzeiro melhor no jogo, leva o gol aqui na Vila Belmiro,

101

um gol que se desenhou, gol de Kleber Pereira, tá na rede, se tá na rede é gol, Kleber Pereira

aos 42, um para o Santos zero para o Cruzeiro. Arthur Morais. (Intervenção do repórter)”.

Tempo do comentário do lance: 37”

Tempo do grito de gol: 6”

Segundo gol: “Falta nele... Não, mandou tocar o árbitro, estica a perna ainda o Elicarlos, tenta

retomar a posse de bola, não chegou a sair, entra também na jogada o Bruno. O Eli sentiu, tá

valendo tudo isso... Então sai jogando time do Santos olha a velocidade, tenta colocar

velocidade Molina, Molina no cruzamento pro Kleber Pereira, matou no peito, ajeitou, bateu e

é gol. Gooool (trilha) do Santos, Kleber Pereira faz o segundo gol do Santos, matou no peito,

ajeitou, chutou cruzado e bateu pra fazer o segundo gol do Santos, aos 34 minutos. O goleiro

Fábio Costa que está aqui do nosso lado aplaude de pé o gol marcado por Kleber Pereira,

praticamente matando o jogo, dois para o Santos zero para o Cruzeiro. Arthur Morais

(Intervenção do repórter)”.

Tempo do comentário do lance: 36”

Tempo do grito de gol: 3”

4’53” do segundo tempo – Lance 1: “Bola na direita, agora para Marquinhos Paraná, rolou

próximo da área para Bruno, ajeitou para Fabrício. Fabrício vem para o cruzamento pro

Gerson Magrão, cabeceou pra fora, sai pela linha de fundo sem nenhum problema para o

goleiro Douglas, Arthur Morais. (Intervenção do repórter).”

102

41’34” do segundo tempo – Lance 2: Voltou para Elicarlos. Elicarlos dominou, tentou,

passou, voltou, pro disparo do Henrique de longe pra fora, pela linha de fundo, tiro de meta

Arthur Morais. (Intervenção do repórter).”

103

ANEXO VI

TRANSCRIÇÃO DE LANCES DA PARTIDA ENTRE SÃO PAULO E CRUZEIRO

Data da partida: 28/09/2008

Jogo válido pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro

TRANSMISSÃO DA TV GLOBO MINAS

Narrador: Rogério Côrrea

Comentarista: Bob Faria

Analista de arbitragem: Márcio Rezende Freitas

Repórteres: Rogério Ferreira e Marcelo Di Espanha

Primeiro gol: “Os dois técnicos mexem praticamente ao mesmo instante. No Cruzeiro, o

técnico Adílson tira Tiago Ribeiro e tá aí o Maurinho na lateral-direita. E Jonathan que se vire

para arrumar posição dele no campo. Logicamente que estou brincando (Intervenção do

comentarista Bob Faria). Foi driblado ali o Guilherme, e o São Paulo chega pelo meio. Bola

tocada do Hugo lá com o Dagoberto. Bola rasteira com o Hugo. Se apresenta para receber a

bola Hernanes. Hugo pára, demora para fazer o passe. O Cruzeiro deixa pra fazer a marcação

ali na entrada da área. (Silêncio por quatro segundos). Ameaça fazer o cruzamento Jeancarlos

e consegue ganhar o escanteio. Escanteio para o São Paulo pela direita. Temos 34 minutos, a

bola explodiu ali no Marquinhos Paraná (neste momento é mostrado o replay do lance).

Segundo tempo de jogo. São Paulo zero, Cruzeiro zero. Para as duas equipes, que têm sonhos

ambiciosos, o empate é pouco. Olha a disputa do Rodrigo com Espinoza. Tenta escapar ali o

Rodrigo, o Espinoza não deixa (zoom nos dois). Agora chega a ameaçar uma cabeçada, o

104

Rodrigo...Olha os desvio...Goooool (Início da trilha do hino São Paulo)- Três segundos sem

narração, apenas com imagem da torcida. Na cobrança de escanteio do Jorge Wagner, o

desvio do André Dias (Replay) na pequena área, aos 35 minutos do segundo tempo, o São

Paulo abre o placar (fim da trilha). Ficou debaixo do travessão o Fábio, e o André Dias

escapou da marcação pra meter de cabeça e fazer um para o São Paulo, zero para o Cruzeiro.”

Tempo do comentário do lance: 49”

Tempo do grito de gol: 6”

Tempo do Gerador de Caracteres: 5”

Segundo gol: “[...]o Cruzeiro é o terceiro, Flamengo é o quarto e o São Paulo é o quinto

colocado. E a falta marcada pelo árbitro. (Replay da falta por outro ângulo). O goleiro Fábio

outra vez organiza a barreira, protegendo ali o lado canto direito. O São Paulo fez o gol aos

35. Tem uma chance aí aos 47. Tomou distância ali o Jancarlos. Bateu por cima da

barreira...Gooool do São Paulo(Início da Trilha) - Imagem de três segundos da torcida, sem

narração). Jancarlos, número 16, aos 47 minutos, talvez o último lance do jogo. O São Paulo

sacramenta a vitória. Final de jogo. Vamos aos instantes finais de Náutico e Palmeiras. Cléber

Machado. (Corte para o jogo Náutico e Palmeiras)”.

Tempo do comentário do lance: 37”

Tempo do grito de gol: 11”

Tempo do Gerador de Caracteres: 5”

43’35” do primeiro tempo – Lance 1: “Toma ali o Jonathan. Fica o tempo todo cantando a

jogada (som ambiente) o técnico do Cruzeiro, ali ao lado do campo. Ramires com Jonathan,

105

ele faz o drible, consegue tocar ali pela direita com o Tiago Ribeiro. O Cruzeiro chegando,

entrando na área com o Tiago Ribeiro. Aí chegou dividindo a zaga. Tentou chegar brigando

pela bola de novo. Aí mostrou categoria o Jorge Wagner e a defesa do São Paulo consegue

afastar.”

17’49” do segundo tempo – Lance 2: “Guilherme; Jonathan. O Cruzeiro chega bem. Olha a

bola levantada pelo Fabrício. Bola no alto, o Tiago Ribeiro tava por lá, o Guilherme também,

e a bola saiu. (Neste momento, aparece o gerador de caracteres com a bolinha, que representa

gol em outro jogo). E esse gol no Brasileirão... É gol no clássico Atle-Tiba. O Atlético

paranaense jogando no estádio do Coritiba faz um a zero. Um a zero para o Atlético

paranaense. Daqui a pouco a gente informa quem fez. (Silêncio por dois segundos). Olha o

Cruzeiro chegando (o narrador aumenta o volume voz)... E a batida pra fora do Thiago

Ribeiro (Replay do lance). Abriu espaço, ele carregou, a bola quicou antes, ele bateu

firme(enfatiza) e a bola saiu à esquerda de Bosco. Talvez a grande chance do Cruzeiro até

agora no jogo. Olha aí de novo, num chute firme do Tiago, ele não acredita que a bola saiu.”

106

ANEXO VII

TRANSMISSÃO DA RÁDIO ITATIAIA

Narração: Milton Naves

Comentarista: Lélio Gustavo

Repórteres: Arthur Moraes e Emerson Romano

Primeiro gol: “Saiu Tiago Ribeiro, resta saber se não tinha condição de continuar. Sai Tiago

Ribeiro, entra Maurinho na equipe celeste. Jogo reiniciado. Jorge Wagner, Jancarlos, que

também já está em campo pelo São Paulo. Vem o Jorge Wagner, abriu, soltou, agora para

Hugo. Hugo domina pela esquerda, tem a passagem de Dagoberto, soltou para ele. Dagoberto

domina, de volta para Hugo. O São Paulo sempre perigoso, agora no ataque, aqui pelo lado

esquerdo. Bola para Hugo, pela meia-esquerda agora. Henrique ao encalço dele, chutou, abriu

pela ponta-direita. Chegando com perigo, o São Paulo. Dominou Jancarlos, levou para a linha

de fundo, tentou o cruzamento e a bola saiu pela linha de fundo. É escanteio, hein Emerson

Romano (Intervenção de 10 segundos do repórter). Jorge Wagner pela ponta direita, para

bater o escanteio para a equipe do São Paulo. Placar de zero a zero. Quase 35 minutos deste

segundo tempo. Segundo tempo de jogo. Jorge Wagner vai com capricho, vai para o

levantamento, para a cobrança de escanteio. Momento de perigo de novo, sempre que bate

escanteio. Jorge Wagner. Autoriza o árbitro Leonardo Gaciba. Finalmente Jorge Wagner na

bola. Olha o cruzamento perigoso... E o gol do São Paulo. Goooool. André. André Dias, o

capitão do time. Foi voando, foi lá em cima e meteu de cabeça pro fundo do gol. Aos 35 do

segundo tempo, André Dias faz o gol do São Paulo. Um para o São Paulo, zero para o

Cruzeiro. Emerson Romano (Intervenção do repórter).”

Tempo do comentário do lance: 45”

107

Tempo do grito de gol: 6”

Segundo gol: O Cruzeiro demorou muito para bater o lateral. O São Paulo recupera, Jorge

Wagner. Abriu, soltou para Hugo. Hugo pisa na bola, caiu. É falta nele, marcou o árbitro.

Falta no Hugo, era tudo que o São Paulo queria, arrumar essa falta aí no finalzinho, hein

Emerson Romano (Intervenção do repórter por 9 segundos). É falta para o São Paulo

(Intervenção de 3 segundos do outro repórter). Não dá pro Wagner, ta dizendo o Arthur

Moraes. Falta. O Cruzeiro então termina com dez. Olha a falta batida...Gol do São Paulo.

Gooooooooool (Intervenção do Repórter, que fala sobre o autor do gol). Jorge Wagner, na

batida de falta, confesso que pegando todo mundo de surpresa. A falta batida, Jorge Wagner

no ângulo. Quando o Fábio pensou em ir pra bola, já era tarde. Liquida, mata o jogo. Jorge

Wagner aos 48 (Intervenção do Repórter, que ao falar, corrige mais uma vez o narrador).

Termina. São Paulo dois a zero. Emerson Romano e Arthur Moraes.”

Tempo do comentário do lance: 32”

Tempo do grito de gol: 3”

43’35” do primeiro tempo – Lance 1: Bola para Guilherme. Guilherme pela direita, bola

para Jonathan. Jonathan, dominou, foi para o meio, passou, abriu para Fabrício. Perna

esquerda na bola, aí para o cruzamento forte. Bola pra fora. Domingos Sávio Baião. E a

vitória do Ipatinga, Baião. (Intervenção de nove segundos do analista de estatísticas). Bosco

batendo o tiro de meta. Olha ali, Fabrício cortou. A bola sobrou para Tiago Ribeiro. Entrou

pela área, bateu para o gol, pra fora (mais alto e enfatizado). Num presentaço do Bosco, na

cobrança do tiro de meta. O Tiago entro sozinho na área e poderia – aquela história, daqui de

108

cima é fácil falar – poderia ter conduzido a bola um pouco mais. Perdeu uma grande chance

para o Cruzeiro, Arthur Moraes. (Intervenção do repórter).”

17’49” do segundo tempo – Lance 2: “Entra Jonathan, cabeça nela, vai mandar. Jorge

Wagner ajeitou errado. Sobrou para Jonathan. Jonathan para Ramires. Ramires dominando

pela meia-direita desceu na ponta, pediu Jonathan, o passe para ele. Domina Jonathan, ainda

Jonathan, prendeu dois jogadores do São Paulo. Boa bola dele pela direita, pra chegada do

Henrique. Foi entrando Henrique (nome errado)...Perdeu. Entrou bem Jorge Wagner e tirou.

Do lado esquerdo, sai jogando o São Paulo.

109

TRANSCRIÇÃO DE LANCES DA PARTIDA ENTRE PALMEIRAS E ATLÉTICO-

MG

Data da partida: 04/10/2008

Jogo válido pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro

TRANSMISSÃO DA TV GLOBO MINAS

Narração: Marcos Leandro

Comentarista: Bob Faria

Repórteres: Rogério Ferreira e Abel Neto

Analista de arbitragem: Márcio Rezende Freitas

Primeiro gol: “Olha só a bobeada da defesa do Palmeiras. Marques rolou pra trás. Renan...

Gol do Atlético. Vibração do torcedor atleticano no Palestra Itália. O zagueiro Maurício

bobeou. Marques aproveitou e muito bem a falha do Maurício, pra tocar para o garoto Renan

Oliveira. Sai o primeiro zero do placar e o Atlético está na frente”.

Tempo do comentário do lance: 56”

Tempo do grito de gol: 9”

Tempo do Gerador de Caracteres: 5”

Segundo gol: “Kleber, caindo pela direita e marcado pelo Marcos. Tentou o cruzamento. A

bola está dentro da área do Atlético. Sobrou para o Élder Granja. Alex Mineiro procura um

espaço. Bom toque para Leandro. Gooool, do Palmeiras, Leandro Silva. A vibração agora é

110

do torcedor palmeirense. Alex Mineiro inteligentemente tocou pro Leandro, teve visão de

jogo. Chega ao empate a equipe do Palmeiras.”

Tempo do comentário do lance: 1`3”

Tempo do grito de gol:: 6”

Tempo do Gerador de Caracteres: 5”

Terceiro gol: “Muito habilidoso o Denílson, conseguiu o drible, deixou pra trás o Rafael

Aguiar. Alex Mineiro, dominou, bateu... Goooool do Palmeiras. Denílson fazendo a jogada

pela esquerda, marcado pelo atacante Rafael Aguiar, conseguiu jogar a bola no peito do Alex

Mineiro. Teve o trabalho de ajeitar para a conclusão o Alex, um dos artilheiros do

campeonato, chegando ao décimo sétimo gol o Alex Mineiro. O Palmeiras vira pra cima do

Atlético.”

Tempo do comentário do lance: 1’04”

Tempo do grito de gol: 9”

Tempo do Gerador de Caracteres: 5”

Quarto gol: Recuperação do Palmeiras no meio-de-campo, Denílson na velocidade vai

conduzindo. Bom toque para o Kleber, bateu, Juninho. Sobrou... Gooool do Palmeiras. Faz

mais um a equipe palmeirense. A jogada começou com o Denílson. Ele acreditou e apareceu

pra finalizar, pra estufar as redes do Atlético. Mais um do líder Palmeiras, Denílson. Três a

um no placar.

111

Tempo do comentário do lance: 48”

Tempo do grito de gol: 7”

Tempo do Gerador de Caracteres:5”

4’15” do 1° Tempo - Lance 1: Boa chegada do Palmeiras. Olha o toque pra quem vem de

trás. Defesa do goleiro Juninhooooo. Grande chegada da equipe do Palmeiras. O Atlético se

safa.

6’45” do 1º Tempo - Lance 2: Se manda o Palmeiras. Atacando Diego Souza. Bola rolada

pro Alex Mineiro. Olhou, bateu, ficou na marcação do Leandro Almeida.

TRANSMISSÃO DA RÁDIO ITATIAIA

Narração: Mário Henrique

Comentarista: Júnior Brasil

Repórteres: Roberto Abras e Thiago Reis

Primeiro gol: “Lançamento para Marques na ponta-esquerda. Marques correu, tentiva de

domínio do Marques. Olha lá o zagueirão se complicando. Marques chegou, roubou. Olha o

gol do Galo. Ainda o Marques, rolou para trás. Renan vai fazer! Caixa. Gooool (trilha) do

Galo. Renan Oliveira, no fundo do barbante. Na inteligência de Marques. O zagueirão cortou

pro lado esquerdo, Marques, com toda a sua experiência, adivinhou, roubou e dominou.

Renan Oliveira guardou no fundo do barbante. Aos 31 minutas da etapa inicial de jogo. Bica,

bica,bica eles Galo. Renan Oliveira vai rasgando que o Caixa vai costurando. No fundo do

gol. Olha o Galo aí na frente aqui em São Paulo. Roberto (intervenção do repórter)”

112

Tempo do comentário do lance: 1’04”

Tempo do grito de gol: 17”

Segundo gol: “Bola na direita para Kleber. Vai tentar girar. Cruzou na boca do gol. Alex

Mineiro tentou ajeitar pra trás pro Elder Granja. Ele domina, puxou a tabela pra Alex Mineiro.

Rolou na esquerda. Boa batida! Caixa. Goooool do Palmeiras. Leandro, na penetração pela

meia-esquerda. Na inteligência de Alex Mineiro, que rolou. Bateu forte no fundo do barbante

aos 43 minutos da etapa inicial de partida. Leandro para empatar o jogo. Thiago Reis

(intervenção do repórter).

Tempo do comentário do lance: 25”

Tempo do grito de gol: 3”

Terceiro gol: “Olha lá o Rafael Aguir lutando. A bola é batida na grande área. Alex Mineiro

bateu. Caixa. Goooool do Palmeiras. Jogada de Denílson na ponta-esquerda. O Rafael Aguiar

tentou inclusive a falta e não conseguiu. Cruzamento na grande área, Alex Mineiro ao seu

estilo. Dominou, bateu e marcou no canto. Não pôde fazer nada o goleiro Juninho, que já fez

grandes defesas nesta tarde-noite aqui em São Paulo. Aos 18 da etapa complementar o vira-

vira verde. Dois para o Palmeiras, um para o atlético. Roberto (intervenção do repórter).

Tempo do comentário do lance: 40”

Tempo do grito de gol: 4”

Quarto gol: “Olha o Kleber. Olha aí o que o nosso simpático César Prates arrumou.

Palmeiras na grande área. Caixa. Goooool do Palmeiras. O César Prates tentou reolver

113

sozinho aqui atrás. O Palmeiras roubou a bola. O Juninho fez uma defesa que a mão dele tá

pegando fogo até agora, de tão forte que foi o chute. Ela escapuliu, Denílson chegou e

guardou no fundo do barbante. É o terceiro do Palmeiras, aos 33 pode crer. Três para o

Palmeiras, um para o Galo. Ô Roberto. (Intervenção do repórter)”.

Tempo do comentário do lance: 32”

Tempo do grito de gol: 5”

4’15” do 1° Tempo - Lance 1: Aqui na direita a bola é lançada para Elder Granja. Ele bate na

bola de primeira. Tentativa na frente. Vai chegar no Kléber. Sai pra cima dele o Serginho, fez

a proteção. A bola não sai. Conseguiu dominar Diego Souza, na grande área. Rolou para trás.

Bola batida. Juninhooo! Salva o Galo Juninho.”

6’45” do 1º Tempo - Lance 2: “Olha o Palmeiras chegando com Diego Souza. Perigo!

Rolada pro Alex Mineiro. Tira o zagueirão do Galo, Leandro Almeida”.