a mÚsica e a infÂncia: uma reflexÃo sobre … · contribuiÇÕes da mÚsica na educaÇÃo...

69
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA Aline Jezica da Paixão Cruz A MÚSICA E A INFÂNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL SALVADOR 2009

Upload: vonhan

Post on 18-Aug-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

CURSO DE PEDAGOGIA

Aline Jezica da Paixão Cruz

A MÚSICA E A INFÂNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SALVADOR 2009

ALINE JEZICA DA PAIXÃO CRUZ

A MÚSICA E A INFÂNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob a orientação da Profª Claudia Silva Santana.

SALVADOR

2009

ALINE JEZICA DA PAIXÃO CRUZ

A MÚSICA E A INFÂNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada ao curso de graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, para avaliação em 08/09/2009.

Orientadora:

Professora Claudia Silva de Santana Departamento de Educação - UNEB/Campus I

Banca: Profª. Mariana Santos Profª. Maria Celeste Silva

Dedico este trabalho a minha família querida amigos e namorado

AGRADECIMENTOS

A Deus em primeiro lugar por estar presente na minha vida em todos os momentos.

Aos meus pais Nevilma e Antônio, aos meus irmãos Anne e Lins, e a toda minha

família por acreditarem em mim e fazerem do meu sonho uma realidade possível. E

também ao meu companheiro de todos os instantes Chico, que esteve sempre

comigo nessa caminhada.

Ao meu namorado e grande incentivador Hugo, que esteve sempre presente, nos

momentos de cansaço e desânimo.

A todos os meus colegas do curso de Pedagogia da UNEB, em especial a Anália

Xisto, Leila Haynes e Simone Fidelis pelo companheirismo e amizade nesses quatro

anos. Valeu meninas! Também a Alane que nesse trabalho contribuiu com sua

gentileza e amizade. Valeu por todo apoio!

O meu obrigado também a todos os professores da UNEB que contribuíram para

minha formação profissional, em especial, neste último trabalho a minha orientadora

Claudia Silva Santana pela competência e profissionalismo.

Enfim agradeço a todos que fizeram parte do meu sonho e ajudaram a torná-lo

realidade.

“A educação é um processo social,

é desenvolvimento. Não é a preparação

para a vida, é a própria vida. ”

John Dewey

RESUMO

O presente trabalho faz uma reflexão a cerca das contribuições da música na educação infantil. Com o objetivo de investigar como essa linguagem é utilizada nas escolas que trabalham com crianças tanto da rede pública quanto particular, e perceber se que os professores consideram a música como uma aliada no processo de aprendizagem. Mostra que a música é uma linguagem importante na construção de conhecimento e favorece o desenvolvimento de diversos aspectos como cognitivo, motor, social e afetivo. Traz uma análise das contribuições da música no processo de desenvolvimento dos alunos da educação infantil. Onde por meio de pesquisas bibliográficas utilizando teóricos da área e entrevistas em escolas, foi possível perceber que os benefícios do contato da criança com essa linguagem contribuem de forma expressiva para o desenvolvimento infantil. Considerando aspectos como: uso da memória, do raciocínio, concentração, emoção, expressividade, movimento corporal, interação da criança com o meio, a comunicação e a linguagem. Este trabalho acadêmico discute o papel da música e inicia um processo de conscientização frisando a importância da música como disciplina no currículo da educação básica.

Palavras-chaves: arte, música, crianças, educação infantil, desenvolvimento infantil.

ABSTRACT

This work makes a reflection about the contributions of music in child education. To investigate how this language is used in schools who work with children in both the public network, and realize that teachers perceive music as an ally in the learning process. Shows that the music is an important language in the construction of knowledge and promotes the development of various aspects such as social, motor, cognitive and affectionate. Brings an analysis of the contributions of music in the development process of child education students. Where through bibliographic searches using theoretical and interviews in schools, it was possible to realize that the benefits of the child's contact with this language expressive contributors for child development. Whereas aspects such as: memory usage, reasoning, concentration, emotional expressiveness, body movement, children's interaction with the environment, communication and language. This term paper discusses the role of music and initiates a process of awareness, stressing the importance of music as a discipline in the curriculum of basic education. Key-words: art, music, children, child education, child development.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 10 2 ARTE: UMA COMPLEXA DEFINIÇÃO....................................................... 13

2.1 BREVE PERCURSO PELA HISTÓRIA DA ARTE....................................... 15

2.2 ENSINO DE ARTE ...................................................................................... 19

3 A MÚSICA E SUA DEFINIÇÃO.................................................................. 25

3.1 BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DE MÚSICA ........................................ 26

3.1.1 A influência de Villa Lobos no ensino de música no Brasil .................. 27

3.2 MÚSICA E EDUCAÇÃO ............................................................................. 28

3.3 MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ......................................................... 33

3.3.1 Um pouco sobre a infância ...................................................................... 33

3.3.2 A música e a criança ................................................................................ 35

4 AS CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............. 39

4.1 PERCURSOS PARA A ELABORAÇÃO DA PESQUISA............................. 45

4.2 O QUE NOS REVELAM AS PRÁTICAS COTIDIANAS DAS ESCOLAS EM

RELAÇÃO ÀS CONTRIBUIÇOES DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL?...... 48

5 CONSIDERAÇOES FINAIS ........................................................................ 59

REFERÊNCIAS ........................................................................................... 62

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista realizada com professores da rede pública e particular ..................................................................................... 66

1. INTRODUÇÃO

Essa pesquisa tem o intuito de ampliar a discussão sobre a importância da

educação musical no que tange ao desenvolvimento dos alunos da educação

infantil, visto que a música é uma grande incentivadora de associações cognitivas

assim como da auto-estima e da sensibilidade. Em contato com a música o

estudante pode desenvolver disciplina e concentração. Contribui também com outras

áreas do conhecimento como o embasamento matemático, harmonizações,

familiarizando-o com a idéia de simetria, distribuição lógica e exata. Ajuda

desenvolver, a coordenação motora e a relação da teoria com a prática.

O trabalho retrata ainda do papel da música na educação, não somente enquanto

experiência estética, mas, sobretudo como facilitadora no processo de

ensino/aprendizagem. Além de também ser um instrumento capaz de fazer do

ambiente escolar um lugar mais alegre e receptivo, propiciando o conhecimento

musical do aluno, uma vez que a música possui valor cultural não devendo dessa

forma estar ao alcance de apenas uma parte da sociedade. Sugere ainda que a

escola deva possibilitar aos alunos a convivência com diversos gêneros,

proporcionando assim uma análise reflexiva, contribuindo para que o aluno se torne

mais crítico.

A presente pesquisa tem como título a música e a infância: reflexão das

contribuições da música na educação infantil. E neste sentido emerge a seguinte

questão de pesquisa: quais as suas contribuições no processo de desenvolvimento

dos alunos da educação infantil?

A escolha do objeto dessa pesquisa foi devido à necessidade de entender a

importância que a música desempenha no meio educacional, especialmente na

educação infantil na qual ela está presente de maneira muito constante.

Neste trabalho buscou-se analisar as contribuições da música na educação infantil,

e investigar como essa linguagem é utilizada nas escolas que trabalham com

crianças. A fim de perceber se os professores consideram a música como uma

aliada no processo de aprendizagem e um auxílio na formação do indivíduo.

A música é a representação da identidade cultural de um povo, é o que se tem de

mais representativo quanto a um diagnóstico social, ou seja, a música que se ouve e

se produz reflete diretamente no intelectual e no auto-reconhecimento de uma

nação. Sendo uma manifestação potente capaz de formar pessoas.

Esta pesquisa é qualitativa de cunho exploratória, aludindo uma pesquisa

bibliográfica, documental, na qual foi realizada uma entrevista semi-estruturada com

dez professores da rede pública e particular.

Dos dados coletados foi realizada uma análise reflexiva a fim de confrontar as

respostas obtidas nas entrevistas com o embasamento teórico adquirido no decorrer

do trabalho, e então tecer opiniões com base nesses dados

Para uma melhor compreensão sobre o trabalho, é importante salientar que ele está

dividido em capítulos que discutem a importância da música na educação infantil.

Faz-se um breve percurso pelo conceito, história e ensino das artes, além de

também tratar da infância e do desenvolvimento infantil.

Como já foi citado o trabalho está dividido em três capítulos e subcapítulos para uma

melhor organização e compreensão dos assuntos aqui abordados, Cada seção foi

desenvolvida contendo entre 12 a 18 páginas.

No primeiro capítulo, foram contempladas informações referentes aos conceitos de

arte e também fazendo um breve percurso sobre sua história. Também apresenta o

ensino de arte, destacando as modificações ocorridas ao longo da história no

processo educacional brasileiro e também da sua importância para a educação. Os

autores que propiciaram este estudo foram: João Francisco Duarte Junior (1991),

Ana Mae Barbosa (2002), Célia Maria de C. Almeida (2001), Adriana Mendes

(2001), Glória Cunha (2001) entre outros.

No segundo capítulo, o conceito de música, passando brevemente pela sua

definição e breve histórico do ensino, na qual também é citada a contribuição de

Villa Lobos no ensino de música no Brasil. Apresenta uma discussão sobre Música e

Educação onde discute-se suas contribuições e importância no processo de ensino

aprendizagem a partir dos autores: Louis Porcher (1982), Alda Oliveira (2001), Rosa

Nereide Shilaro (1990), Teca Alencar de Brito (2003). Nesse segundo capítulo

também é tratado o tema Música e Educação Infantil, fazendo um percurso pela

história da infância baseado em Philippe Àreis (1986), Sandra Mara Corazza (2000),

Clarisse Conh (2005). Verificou-se também a relação entre a música e a criança.

No terceiro e último capítulo desse trabalho tenta-se responder a questão da

pesquisa que é justamente as contribuições da música na educação infantil. Dessa

forma é mostrado como a música contribui em diversas áreas do desenvolvimento

infantil como: o cognitivo, motor, afetivo e social, com base nas teorias de Jean

Piaget (1982), Lev Vigotsky (1989), Henri Wallon (1975) e outros. Ainda neste

capítulo trata dos caminhos para a realização da pesquisa e por fim a análise das

entrevistas.

Por fim são apresentadas as considerações finais, de modo a verificar se as

hipóteses levantadas puderam ser confirmadas, bem como fazendo as devidas

colocações referentes ao tema abordado.

2. ARTE : UMA COMPLEXA DEFINIÇÃO

Foto 01: Weaver autor Van Gogh Fonte: Domínio Público

Inicialmente é preciso buscar esclarecer o significado de Arte que de acordo com

dicionário Houaiss (s/d), a origem da palavra vem do Sânscrito "capacidade de

dominar a matéria, idéia básica (moldar, ajustar)", implica uma atividade

transformadora realizada pelo homem. Na sua acepção mais ampla, a ars ou artis

dos latinos "maneira de ser ou de agir, habilidade natural ou adquirida, arte,

conhecimento técnico tudo que é de indústria humana, ciência, ofício, instrução,

conhecimento, saber, profissão, destreza, perícia, habilidade, gênio, talento,

qualidades adquiridas e a kunst dos alemães davam idéia de perícia, de habilidade

adquirida em paciente exercício e voltada para um fim definido, fosse esse fim

estético, ético ou utilitário.

A arte se modifica de acordo com a sociedade epóca, assumindo diversas formas de

acordo com a motivação e necessidades de cada tempo e civilização, mas no

sentido orginial a arte é o uso da habilidade de lidar com produtos, (materiais e

métodos) com o conhecimentos nescessários para dar forma a expressões idéias e

sentimentos.

Para a Antropologia a arte possui vários conceitos, ela faz parte da cultura de um

povo, e sendo assim, cada povo desenvolve sua arte de acordo com a cultura na

qual está inserido.” O que é belo para determinado povo pode não sê-lo para outros.

Em suma, negar tudo isso é negar à arte sua condição de atividade cultural e social”

Luiz Gonzaga de Mello (2001 p. 430).

A arte aparece em todos os povos de todos os continentes em todas as épocas. A arte é a necessidade humana de se expressar de se comunicar com seu(s) deus(es), com seus semelhantes consigo mesmo, criar e mostrar seus mundos, mas seu desenvolvimento, como arte, depende da sociedade, do ambiente no qual o sujeito sonhante está imerso. MENDES E CUNHA (2004 p.80)

Em termos modernos a arte pode ser entendida como um produto da atividade

artística. Originalmente o termo arte exprimia uma especialidade ao lidar com essa

atividade, idéia essa que a partir do romantismo se modificou e passou valorizar o

sentimento acima do conheciemnto técnico puro, e a arte passou a ser vista como

“uma faculdade especial da mente humana”. Rompendo com o princípio platônico

que se mostra a seguir:

A concepção de arte de Platão repousa na própria concepção da reminiscência, isto é, na idéia de que o mundo real é a cópia ou simulacro do mundo ideal. Nesse caso a arte sendo uma espécie de cópia do mundo real (da natureza e da natureza transformada pela cultura) , seria inferior a este e este por seu turno inferior ao mundo ideal. (PLATÃO APUD MELLO, 2001 p.427-428)

Nesse sentido Platão não considerava a arte como manifestação plena da idéia.

Segundo ele apenas as coisas e objetos naturalmente forjados, teriam por si uma

referência de idéia original. Os objetos modificados pelo homem, como as obras de

arte, seriam um nível inferior de objetivação, não captando fielmente as formas

originais da idéia. Teriam da idéia original só o material do qual seriam feitos, como

por exemplo madeira ou tecido, sendo secundário sua função e significado prático

ou estético.

O trabalho do artista consiste em captar somente o essencial das coisas o que

permite uma transfusão, como vestir a pele e os sentidos do artista, é um tipo de

troca e experimentação extra-sensorial. Através dessa prática muito é transmitido.

Segundo Schoppenhauer (1991 p.25) “o artista nos permite contemplar o mundo por

seus olhos”.

A arte não obedece à lógica ou a razão, nela se permite tudo, tudo é rompido e

recriado, ela reconfigura um mundo de possibilidades fazendo pensar que dela algo

pode completar a vida.

Para Schoppenhauer (1991 p.17)

É a arte a obra do gênio. Ela reproduz as idéias eternas apreendidas mediante pura contemplação, o essencial e permanente de todos os fenômenos do mundo, e conforme a matéria em que ela reproduz, se constitui em artes plásticas, poesia ou música. Sua única origem é o conhecimento das idéias; seu único objetivo, a comunicação deste conhecimento.

Assim, quando o gênio depreende em sua obra o essencial, ele se serve de algo

que ao mesmo tempo possui uma característica individual e compartilhada por

todos, algo que é específico, mas que todos conhecem e a todos é acessível através

da imaginação. O essencial das coisas e experiências induz quem contempla a

transferir-se para a atmosfera criada pelo artista. Através desse senso comum do

artista, ou habilidade de lidar e representar emoções e sentimentos dos outros

qualquer um que se permita experimentar tal sensação sendo ela nova ou já vivida,

alcançará por meio simples de associação com as coisas já vistas.

De acordo com as definições aqui apresentadas percebe-se que a arte é dinâmica e

seu conceito plural, pois cada povo a manifesta de uma forma, através de sua

cultura, do seu tempo, do seu olhar.

2.1- BREVE HISTÓRIA DA ARTE

A arte existe desde que há indícios do ser humano na terra. E ao longo da história

assumiu diversas utilidades desde ilustrar até exteriorizar emoções, sentimentos,

idéias e explicar a história a própria história do homem.

Cada povo que habitou a terra manifestou suas aspirações através das práticas

artísticas. É importante saber que desde o início da humanidade a arte sempre

esteve presente e a mais antiga das suas manifestações são as pinturas rupestres

ainda do período pré-histórico assim como os as esculturas dos Muais na ilha da

páscoa, Stonehenge na Inglaterra, entre outras.

Na Antigüidade, os gregos e romanos classificavam como arte a pintura, a escultura,

a oratória, o teatro, a poesia, a música e a dança. O surgimento das artes está

diretamente relacionado com a evolução da espécie humana. Pintar, desenhar e

modelar são atividades de expressão criadora.

Para os gregos a arte representava a busca da perfeição, eles aspiravam

representar o mundo tal qual como era de fato o mais meticuloso e fiel possível. A

arte grega era voltada para o momento presente, visava comtemplar a natureza e

buscava representá-la com exatidão, exaltando sempre o amor a beleza e o

racionalismo.

Para os egípicios a arte tinha mais ligação com o espírito, com os deuses. O

processo criativo definido por padrões estéticos muito comuns entre todos os

artistas, buscava o divino.

Os escultores egípcios representavam os faraós e os deuses em posição serena,

quase sempre de frente, sem demonstrar nenhuma emoção. Pretendiam com isso

traduzir, na pedra, uma ilusão de imortalidade. Com esse objetivo ainda,

exageravam freqüentemente as proporções do corpo humano, dando às figuras

representadas uma impressão de força e de majestade. A arte egípcia era muito

destinada a mortuários e tumbas, também devido a sua obsessão pelo pós morte.

Durante a Idade Média com o domínio e crescimento estrondoso, a igreja católica,

usava seu poder pra reprimir os estudos, as ciências e produções artísticas a fim de

filtrar todo o conhecimento, apenas favorecendo as manifestações voltadas para o

religioso ou referindo-se a igreja e sua liturgia, sendo toda produção que não

seguisse tal rigor temático e ideológico duramente suprimida.

Nesse período houve um domínio da arte bizantina, uma arte cristã do império

romano do oriente que abrangia arquitetura (cúpula), pintura e mosaico com

caracteres bi-dimensionais e simbolismo. Além da arte gótica e românica, otoniana,

dentre outras.

E dentre os povos não cristãos e no oriente haviam diferentes manifestações

artísticas, que pode-se citar a arte islâmica, com suas mesquitas e palácios

geométricos, com seus padrões e o abstrato, um espiritualismo matemático, sem

figuras humanas nem antropomorfismos.

Também havia a arte dos povos germânicos de onde veio depois a surgir as idéias

iluministas, na Irlanda e Grã-Bretanha. Do século V ao século XII a razão e a ciência

eram muito valorizadas o que veio a solidificar um grande berço da cultura ocidental.

As características de sua arte eram também o abstracionismo e organicismo,

iluminura de caracteres ornamentais, elementos de zoomorfismo, ausência da figura

humana, e a matemática e geometria.

Durante a baixa Idade Média o mundo começou a vivenciar uma série de

transformações que culminaram no movimento conhecido como Renascimento que

caracterizou a transição da mentalidade medieval pra a moderna.

Nesse movimento renascentista, artistas como Da Vincci, Botticelli, Michelangelo e

Rafael lideraram um resgate estético ao período clássico da arte antiga, inspirando-

se nos gregos e seu antropomorfismo, e de certa forma, também o simbolismo e

gnosticismo e suas pinturas assumem aspectos ainda mais elevados, enquanto o

conhecimento e as ciências começam a aparecer novamente, mesmo ainda sendo

suprimidos.

Brotam de forma oculta com conspirações secretas contra a igreja católica, que viria

a culminar em uma grande libertação cultural e intelectual, mesmo sendo estes

artistas todos financiados pela própria igreja, e com pinturas que expressão

sentimento religioso cristão, mas ali estão ocultos conhecimentos diversos como a

astrologia, e metafísica. Estes artistas, principalmente Da Vincci, vieram a contribuir

de muitas maneiras, além da beleza de sua pintura, contribuiu para estudos de

anatomia, mecânica, hidráulica, dentre outras ciências, o que veio a colaborar

imensamente para o surgimento da modernidade.

A modernidade é um estilo de vida e uma organização social surgida na Europa a

partir do século XVII, logo ganhando proporções mundiais. Baseado em Marisa

Fonterrada (2008) a idade moderna, bastante influenciada pelo pensamento

cartesiano, deixa a obscuridade do período medieval, adotando atitudes de

questionamento constante, dúvida, reflexão e busca pela verdade. Nesse sentido o

homem passa a ser tido como o centro do universo e a subjetividade sede espaço a

objetividade e a clareza das idéias.

A arte nesse contexto assume também um caráter mais realista e racionalista na

qual há uma valorização da razão. Os artistas passam a se utilizar de novas formas

de expressão rompendo com as normas e tradições anteriores.

No Brasil esse processo de mordernização se deu de uma forma muito particular

acompanhando o movimento de reinvenção estrutural estética, o grande

responsável pelo modernismo no Brasil foi Villa Lobos, que trouxe uma tendência

folclórica e regionalista para sua música, rompendo com a estética européia, e

criando algo genuínamente brasileiro, enquando Carlos Gomes seguia fielmente a

influência européia, principalmente de Beethoven. Villa Lobos juntamente com com

Tacila do Amaral (nas artes plásticas), Osvald de Andrade (na poesia) e Glauber

Rocha (cinema), entre outros criaram o modernismo no Brasil que veio também a ter

grande impacto e absorção em todo o mundo. Em consequência veio o pós

modernismo através da qual as fronteiras estéticas se desfazem novamente.

Diante da civilização industrial que pretendia garantir por si mesma a produção de

bens materiais. Aquilo que tinha até então exceção, privilégio intelectual, se tornou

habitual. No século XX o artista toma para si a missão de expressar certas

dimensões privilegiadas da existência. Nesse período se formam tendências de

mercado e a arte se torna um produto, passando a ser distribuído e valorizado.

Formando assim uma indústria cultural de proporção mundial.

Fica estabelecido, dessa forma, um percurso pela história da arte em diversos

períodos, indo desde a antiguidade passando pelo período industrial até a

contemporaneidade, mostrando as diversas transformações sofridas em decorrência

das modificações do pensamento humano ao longo da história. A seguir adentra-se

no seguinte ponto: arte na educação, procurando situar essa rica linguagem como

uma área importante para a formação do indivíduo, mas destacando também as

dificuldades para ser inserida no currículo como uma disciplina necessária no

processo de desenvolvimento do sujeito.

2.2- ENSINO DE ARTE

O ensino de arte no Brasil durante um longo período esteve muito desvalorizada na

grade curricular. As atividades eram mais voltadas para a repetição ao passo que a

criatividade dos alunos estava sempre relegada a um plano secundário e dessa

forma se fazia pouco presente, ou seja, pouco trabalhada em sala de aula.

De acordo com revista Nova Escola (2009) o ensino de artes ao longo da história

passou por uma série de modificações e as principais tendências que influenciaram

esse ensino foram: A tradicional, a livre expressão e a sóciointeracionista. Segundo

informações dessa mesma revista tem-se abaixo as principais características de

cada tendência.

A tradicional influenciou a forma de ensinar durante o final do século XIX até a

década de 50, estando presente em muitas escolas. Seu foco é o aprendizado de

técnicas e desenvolvimento de habilidades manuais, coordenação motora e precisão

de movimentos para o preparo de um produto final. A repetição de atividades cópia

de modelos e a memorização são utilizadas para ensinar. O professor adota a

postura de transmissor de conhecimento e ao aluno cabe absorvê-lo sem

contestação.

A livre expressão nasceu por volta de 1960 sobre forte influência do movimento

escolanovista com suas idéias modernizadoras. Essa proposta visava romper total-

mente com o jeito anterior de trabalhar. Para esta o que importa não é o resultado,

mas o processo e, principalmente, a experiência. Há a valorização do

desenvolvimento criador e da iniciativa do aluno durante as atividades em classe. O

desenho livre e uso variado de materiais era utilizado a fim de permitir que a arte

surgisse naturalmente dos estudantes, de dentro para fora, sem interferência

externa que possa atrapalhar, não há um certo e um errado nesse fazer.

A sóciointeracionista é a atual tendência utilizada e a mais indicada por especialistas

para o ensino da disciplina. Essa permite que os alunos conheçam manifestações

culturais da humanidade, mas também soltem a imaginação e desenvolvam a

criatividade. Visa favorecer a formação do aluno por meio do ensino das quatro

linguagens da arte: dança, artes visuais, música e teatro. Nessa tendência a

experiência do aluno e o saber trazido de fora da escola são considerados

importantes e o professor deve fazer a intermediação entre eles. Segundo Ana Mãe

Barbosa (2002), o ensino é baseado no seguinte tripé: produção, apreciação e

reflexão sobre a arte, não devendo haver nenhuma priorização desses elementos.

Incluir a arte no currículo escolar foi sempre muito difícil visto que a arte é tratada

como algo supérfluo e não uma área de conhecimento importante no processo de

formação do indíviduo. Sua integração ao currículo enquanto disciplina obrigatória

se deu em 1971 com a Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692/71, como educação

artística, passando então a fazer parte do currículo escolar do ensino fundamental, e

em 1996 a LDB passa a considerar a arte como disciplina obrigatória da educação

básica. Muito embora isso não signifique dizer que a arte passou a ocupar um lugar

de destaque no currículo escolar, visto que ainda assim não era considerada como

uma disciplina “séria” e sim algo que estava ali para distrair o aluno, como lazer.

Segundo João Francisco Duarte Jr (2002 p. 74) “A arte-educação não deve

significar, a mera inclusão da “educação artística” nos currículos escolares, pois se

mantendo a atual estrutura das escolas, a arte se torna apenas uma disciplina a

mais entre tantas outras”.

O ensino de Arte é uma forma de obtenção de conhecimento que possibilita o

desenvolvimento da criatividade, criticidade, interação do homem com o meio. Um

ensino que se propõe a formar pessoas não estejam voltadas apenas para

interesses pessoais, mas que estejam também preocupados em contribuir para uma

sociedade critico-reflexiva, precisa propor um projeto educacional onde o ensino da

Arte possa está inserido em todos os períodos de formação escolar do indivíduo.

Sobre arte-educação pontua Duarte Jr (2002, p.12):

Arte-educação não significa o treino para alguém se tornar um artista, não significa a aprendizagem de uma técnica, num dado ramo das artes. Antes, quer significar uma educação que tenha a arte como uma de suas principais aliadas. Uma educação que permita uma maior sensibilidade para com o mundo que cerca cada um de nós.

A criança desenvolve sua arte a partir da cultura na qual está inserida, e do que a

mesma observa nas suas experiências, idéias e impressões do mundo que a cerca.

Para Lev Vigotsky (1987 p.84) “o desenho que a criança desenvolve no seu contexto

educacional é um produto de sua atividade mental e reflete sua cultura e seu

desenvolvimento intelectual”.

No contexto educacional as artes é um importante fator da aprendizagem, quando

bem trabalhada desenvolve o raciocínio, criatividade e outras aptidões, por isso,

deve-se aproveitar esta tão rica atividade educacional dentro das salas de aula.

Jean Piaget (1954 p.68) levanta aspectos importantes quanto a importância da

educação para o desenvolvimento da linguagem artistística nas crianças.

A criança pequena começa espontaneamente a exteriorizar sua personalidade e suas experiências inter-individuais graças aos diferentes meios de expressão que está a sua disposição: desenho, modelagem, o simbolismo do jogo a representação teatral, o canto etc., mas sem uma educação apropriada que consiga cultivar esses meios de expressão e encorajar as primeiras manifestações estéticas, a ação do adulto, do meio familiar ou escolar tendem em geral a frear ou contrapor-se às tendências artísticas ao invés de enrriquêce-las.

A arte é uma espécie de recurso educativo1, capaz de transmitir mensagens,

conceitos e valores. Dessa forma, a arte na escola é um auxílio rico e diverso capaz

de ajudar os alunos a enfrentarem os desafios da vida, já que contribui com a

expressão oral, corporal e na exposição de sentimentos.

1 A Lei de Bases do Sistema Educativo, capítulo V, refere: 1 – Constituem recursos educativos todos

os meios materiais utilizados para conveniente realização da atividade educativa.

De acordo com Célia Maria de C. Almeida (2001, p. 32):

O trabalho com arte, em suma, proporciona às crianças a oportunidade de desenvolver sensibilidades que tornam possível o conhecimento estético do mundo e a expansão do repertório de habilidades e experiências estéticas que podem ser utilizadas para formar idéias e articular a expressão.

A arte desempenha um papel significativo no processo de desenvolvimento e

aprendizagem dos educandos, tais como: aprender a trabalhar em equipe, lidar bem

com o improviso, desenvolver a oralidade, a coordenação, o vocabulário, a

expressão corporal, a interpretação de textos e fatos.

A arte possibilita ao aluno uma enorme gama de aprendizados: A socialização, a

criatividade, a imaginação, a fantasia, o sentimento, os quais são agentes

facilitadores da aprendizagem, além de uma importante ponte para um

desenvolvimento saudável. Para Vygotsky (1998 p.69) a imaginação e a fantasia são

elementos fundamentais para o desenvolvimento da criança, pois através destas,

elas poderiam viajar entre o mundo real e o imaginário, partindo de suas vivências e

seus anseios na construção da sua realidade. Segundo Morin (1997) a vida real é

embebida do imaginário e o imaginário de vida real.

A escola muitas vezes utiliza a arte com um caráter meramente instrumental. Como

uma ilustração ou um passa-tempo. Segundo Almeida (2001 p.148) as atividades de

“passatempo” estão vinculadas à questão do prazer. Se o professor acredita que

toda criança desenha de forma prazerosa então a propõe com a expectativa de que

todos estarão felizes e envolvidos.

As atividades artísticas são necessárias porque constituem um poderoso fator de

desenvolvimento emocional e social das crianças. Mas apesar das suas

contribuições no desenvolvimento de habilidades, é preciso que esta também esteja

voltada para a formação geral do aluno.

Conforme Almeida, (2001 p.14).

A prática de certas ações, que, denominamos artísticas, pode contribuir para a formação mais completa, pois, ao conhecer e compreender melhor as artes, os alunos tornam-se pessoas mais sensíveis e capazes de perceber de modo acurado modificações do mundo físico e natural, e também de experimentar sentimentos de ternura, simpatia e compaixão.

A arte faz parte do patrimônio cultural da humanidade e é papel da escola,

compreender e preservar esta tão rica forma de expressão humana, visto que o

conhecimento do passado é essencial na formação da identidade de um povo.

Para todo o desenvolvimento, individual ou coletivo, é necessário uma síntese da

produção cultural e simbólica que antecede o momento atual e mesmo que as

tradições se modifiquem suas bases continuam as mesmas: a necessidade de um

indivíduo se expressar através de uma obra de arte, permanece regida pelos

mesmos motivos, que pode ser religioso ou contemplação da natureza ou uma

relação individual mais íntima, como a relação familiar ou ainda patriótica.

O ambiente escolar precisar ser um espaço rico e favorável ao trabalho

transformador da arte e é papel da escola entender essa finalidade e estimular essa

prática.

De acordo com as reflexões de Duarte Jr. (2002 p. 74)

A educação é, por certo, uma atividade profundamente estética e criadora em si própria. Ela tem o sentido do jogo, do brinquedo, em que nos envolvemos prazerosamente em busca de uma harmonia. Na educação joga-se com a construção do sentido - do sentido que deve fundamentar nossa compreensão do mundo e da vida que nele vivemos. No espaço educacional comprometemo-nos com a nossa "visão de mundo", com nossa palavra. Estamos ali em pessoa - uma pessoa que tem os seus pontos de vista, suas opiniões, desejos e paixões. Não somos apenas veículos para a transmissão de idéias de terceiros: repetidores de opiniões alheias, neutros e objetivos. A relação educacional é, sobretudo, uma relação de pessoa a pessoa, humana e envolvente.

Hoje já se sabe que muito, na vida do ser humano é construído, e os valores dessas

construções advêm da educação, através dela, experimentando, vivenciando

possibilidades e perspectivas, acumulando dados e informações. É papel dos pais e

da escola oferecer informações, guiar e sugerir caminhos ao indivíduo que mediante

essas informações construirá sua personalidade através de sua livre e espontânea

escolha.

Dessa forma, para que um bom trabalho seja desenvolvido é necessário além do

profissionalismo dos educadores um profundo senso de responsabilidade,

sensibilidade, paixão e altruísmos com o ser humano, não apenas uma transferência

de dados e de valores, mas acima de tudo, exemplos de ética, serenidade,

cidadania e humanidade.

3. A MÚSICA E SUA DEFINIÇÃO

Foto 02: Mural no lunette da série família e da educação por Charles Sprague Pearce Fonte: WIKIPEDIA (2009)

O significado da palavra música vem do grego μουσική τέχνη - musiké téchne que

quer dizer a arte das musas isso porque era atribuido às musas a inspiração do

artista e sua paixão lúdica, podendo corresponder de fato a uma figura feminina real

ou idealizada, ao qual se associa a idéia afetiva e passional, através da qual o amor

de criar algo de belo fosse justificado pela paixão, como se fora de fato dedicado a

uma musa, mesmo tendo uma temática divergente.

O Aurélio (2000, p. 477) define música como a arte e ciência de combinar os sons

de modo agradável ao ouvido. Falar em definição de música requer grande atenção

uma vez que esse é um meio de linguagem utilizada por povos de várias civilizações

desde os mais antigos até os contemporâneos, atendendo a utilidades diversas.

De acordo com Jota de Moraes (1986) a música é a sequência de sons e silêncio ao

longo de um tempo calculado e exato. Obtendo significado subjetivo que se alcança

através da percepção que essa sequência nos traz, o músico e compositor se utiliza

desses elementos como meio para alcançar seu objetivo de comunicar uma idéia.

3.1 BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DE MÚSICA

A linguagem da música esteve sempre presente desde as mais antigas tribos e

civilizações humanas reportadas pela história, e há muito vem sendo utilizada como

uma ferramenta educacional para crianças e adultos.

Nas antigas sociedades primitivas através da música e da dança, sentimentos como

tristezas e alegrias, identidade e vitalidade da comunidade eram expressos nos

grupos. A música era um elemento imprescindível, tendo diferentes aspectos e

variando de forma, as vezes alcançando sofisticação e outras vezes rústica, a

música sempre esteve representada nas manifestações e reuniões de grupos.

Dentre os povos antigos do ocidente, os gregos eram os que mais valorizavam a

arte das musas como era por eles denominado o termo música, e sua linguagem na

educação veio a influenciar também os romanos. Para os gregos a música era

fundamental para a formação dos indivíduos, assim como a filosofia e a matemática

e desde a infância os gregos eram instruídos nessas áreas.

O ensino da música, na Europa medieval, era reservado aos mosteiros, ficando a

cargo dos monges ministrarem esse ensino. Posteriormente foi introduzida a música

nos núcleos e escolas intelectuais, e junto com a aritmética, a geometria e a

astronomia formavam o quadrivium.2

Em seu livro educação musical para pré-escola, Nereide Shilaro (1990) fala que

durante o século XVII, surgiram duas tendências no ensino de música na Europa: o

racionalismo que enfatizava o ensino da teoria da música, e o sensorialismo que

defendia a prática musical. O sensorialismo deixou uma lacuna pedagógica, qual

apenas seria parcialmente resolvida no século seguinte, com uma série de

exercícios musicais criado pelo filosofo francês Jean-Jacques Rousseau, com o

intuito de popularizar o ensino de música, depois sendo aperfeiçoado pelo

matemático e músico o também francês Gabin.

2 (do latim quatro e vía: caminho, ou seja os "quatro caminhos") era o nome dado ao conjunto de

quatro matérias (aritmética, geometria, astronomia e música) ensinadas nas universidades medievais na fase mais avançada do percurso educativo.

3.1.1 A influência de Villa Lobos no ensino de música no Brasil

No século XIX o trabalho com a educação musical foi amplamente difundido na

França, através dos métodos e influências dos pensadores citados acima. E na

França mesmo, já no século XX que o Maestro Villa Lobos foi bastante influenciado

pelas idéias do músico e educador Kodály3. A exemplo do canto orfeônico,

desenvolvido com corais de crianças, prática essa em que buscava, facilitar a

aproximação das crianças com o canto e o meio musical, sendo esta, muito eficaz

como ferramenta educacional.

Villa Lobos trouxe essa prática para o Brasil e a pôs em exercício na década de 30

e 40 chegando até a executar grandes apresentações com as crianças, inclusive no

Maracanã, com uma grande quantidade de pessoas assistindo, sempre em datas

comemorativas, patrióticas. O trabalho de Villa Lobos foi amplamente apoiado pelo

então presidente Getúlio Vargas, e por esse mesmo fato, extinto após o fim da era

Vargas, por assumir tal caráter patriótico, foi confundido com a imagem política do

então presidente. Esse fato desapontou muito o maestro que foi obrigado a

abandonar o projeto por falta de incentivo do estado.

Além do canto orfeônico que foi difundido no Brasil exclusivamente por ele, em seu

trabalho como compositor, Villa Lobos deu grande ênfase às músicas e temas

folclóricos regionais, e em todo seu repertório se encontra essa proposta, também

influenciado por Kodály. Ele acreditava que o caminho para universalismo está em

traduzir os contos e lendas folclóricas regionais, além disso, ele agregou em seu

repertório um extenso trabalho de músicas infantis, e também se utilizou além da

estética da música européia, influências musicais de nossa rica cultura popular como

o choro, o samba, frevo, baião e outros ritmos brasileiros, o que para um músico

erudito tratava-se de um passo de amadurecimento, o que demonstra além de um

compromisso com a música, também um compromisso com o país.

Dessa maneira percebe-se que Villa lobos contribuiu de forma significativa com o

ensino de música para crianças. Para ele a música influencia o desenvolvimento e

3 Compositor, etnomusicólogo, educador, linguista e filósofo da Hungria.

ajuda na formação do indivíduo. Embora não vizasse a formação do músico

profissional, há via como uma grande incentivadora da criatividade.

3.2- MÚSICA E EDUCAÇÃO

Esse capítulo busca ampliar a discussão sobre a importância da música no processo

de ensino e aprendizagem, abordando os benefícios da mesma na educação, como

ela exerce a sua contribuição para a formação básica do ser humano.

A música se constitui como uma ferramenta modificadora incrível. De acordo com

Shilaro (1990) uma educação musical se adequada e bem trabalhada vai facilitar a

formação do sentimento de cidadania e contribuir para que o aluno crie a

consciência da importância de seu papel na sociedade.

A música usa diversos departamentos do conhecimento ao mesmo tempo, como a já

citada matemática e lógica, a linguagem poética, possivelmente literária, além dos

elementos que remetem à física como acústica, estudos das vibrações e outros.

Também de fatos históricos, geográficos e sociológicos, tendo algumas vezes

embasamento político além de dar margem ao estudo do ser e questões existenciais

como temáticas filosóficas.

O educador pode trabalhar a música em todas as demais áreas da educação: comunicação e expressão, raciocínio lógico matemático, Estudos Sociais, Ciências e Saúde, facilitando a aprendizagem, fixando assuntos relevantes, unindo o útil ao agradável. Para atingir esse objetivo, o professor pode utilizar músicas que envolvem temas específicos como números, datas comemorativas, poesias, folclore, gramática, história e geografia. Além dessas, há canções relacionadas a habilidades: análise, síntese, discriminação visual e auditiva, coordenação visomotora. (SHILARO, 1990 p. 21)

O estudioso Louis Porcher em seu livro “educação artística luxo ou necessidade?”

fala sobre o impasse que existe para a música ser de fato seriamente inserida na

educação em seu real contexto, visando o desenvolvimento cultural e outros

atributos formadores de consciência nos estudantes.

No livro pode-se observar que mesmo se tratando de outra nacionalidade, no caso a

França, o problema real do bloqueio que se faz impedindo um sério direcionamento

à educação musical nas escolas, bloqueios esses presentes tanto em países de

primeiro mundo, como no caso da já citada, França, possivelmente outros países da

Europa, quanto países emergentes como o Brasil.

Menciona um consenso antimusical relativamente inconsciente dos que participam:

pedagogos e pais, que tendem a relativizar a importância do aprendizado de música

a um mero aspecto da produção cultural, levando às crianças à surdez da ignorância

dos sentidos impedindo o acesso ao conhecer, analisar estruturalmente, reconhecer

padrões estéticos, absorver noções de simetria e conhecimento de harmonia.

Em relação a isso Porcher (1982 p. 67) criticando, tece o seguinte comentário: “Uma

pessoa é (nasce), dotada ou não para apreciar uma música. Seria esse um traço

natural, uma atribuição original, um arbítrio congênito e onipotente contra o qual

nada se pode fazer.”

Essa é uma das razões para o consenso antimusical, que vem da idéia de que o

gosto pela música seria algo indiscutível, cristalizado.

Ao trabalhar os gêneros musicais e tendências diversas, sobre as preferências

musicais, a idéia de que uma pessoa gosta de certo gênero e outro não, quando

analisamos, é em boa parte infundada. O que existe normalmente é um

condicionamento que direciona o indivíduo a buscar sempre o objeto de seu

conhecimento se fechando para outras formas de linguagens.

De acordo com Schopenhauer (1991, p.11) “[...] o conhecimento permanece sempre

sujeito a serviço da vontade”. Assim a vontade deve guiar o indivíduo para que

conheça mais, para que conheça o novo.

Se uma pessoa é acostumada a ouvir somente música popular, existe uma

tendência que ela só busque, compreenda e se identifique com isso, quando há um

contato com a música erudita, por exemplo, pelo fato de o indivíduo não estar

acostumado a ouvir esse tipo de música, a princípio se sentirá confuso e perdido,

por não haver referências. Mas na medida em que se vai conhecendo mais e

escutando mais daquele gênero, é que se entendem as minúcias desse código, ou

seja, na verdade é uma questão de aprender a ouvir, e chegando a um nível tal de

intimidade que se pode de fato começar a compreender e sentir a intenção do

compositor de criar algo assim.

De acordo com Shilaro (1990, p.21)

O ensino da música favorece o desenvolvimento do gosto estético e da expressão artística, além de promover o gosto e o senso musical. Formando o ser humano com uma cultura musical desde criança, estaremos educando adultos capazes de usufruir a música, de analisá-la e compreendê-la.

Pais e professores muitas vezes ignoram os valores da educação musical,

desinteressados por esses conhecimentos, tendem a deixar que apenas os mais

curiosos ou predispostos busquem por si esse tipo de envolvimento. O qual

defrontando-se com uma sociedade onde encontrará pouco reconhecimento e

compreensão da importância desse ofício, terá que ter uma força de vontade

imensurável e um espírito de luta contra esses paradigmas.

Pensar em educação musical é necessário vê-la pela ótica da interdisciplinaridade

que vise o desenvolvimento integral dos indivíduos. De acordo com Alda de Oliveira

(2001, p. 26) “A área de música, por ser uma arte, já contém na sua própria

natureza, os fundamentos básicos de integração, interdisciplinaridade e formação de

competências”. Deve-se dessa forma, levar em consideração o potencial da música

para desenvolver capacidades mentais, motoras, afetivas, sociais e culturais dos

indivíduos, a qual se caracteriza como um importante meio para atingir determinadas

finalidades educacionais.

Para Mendes e Cunha (2004, p. 84)

O aspecto interdisciplinar é também outro campo importante de ação para a música. Podemos por exemplo promover a integração com as ciências na forma de compreensão do fenômeno acústico, ou com o português e a história, na análise das poesias das canções. Pode também atuar junto com outras formas de expressão, como a utilização de imagens, palavras ou movimentos como pontos geradores de experimentação e criação musical.

Na educação que se proponha um envolvimento com a música precisa de um ponto

de ligação entre todas as disciplinas, e uma forma de externar e manifestar de uma

maneira criativa todo conhecimento prático e teórico. Através dessa forma de tão

pura e nobre comunicação, que permite ao aprendiz inserir-se em culturas e em

contextos diversos, que pelo prazer estético se absorve todo tipo de conhecimento e

experimentam-se tantas sensações e sentimentos.

Em se tratando de música enquanto componente curricular percebe-se que há um

grande impasse, pois diante do termo “ensino de artes”, existe uma variedade de

interpretação, ao qual a música não estava sendo devidamente contemplada, sendo

assim elaborado um projeto de lei, propondo a implantação gradativa da

obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.

O projeto que prevê alteração da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, em

andamento no Congresso Nacional, foi sancionado em 18 de Agosto de 2008.

Passando a vigorar a Lei nº 11.769.

Os acréscimos são os seguintes:

Art. 1

o O art. 26 da Lei n

o 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a

vigorar acrescido do seguinte § 6o:

¿Art. 26. .................................................................................. ............................................................................................ § 6

o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2

o deste artigo.¿ (NR)

Art. 2o (VETADO)

Art. 3o Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem

às exigências estabelecidas nos arts. 1o e 2

o desta Lei.

Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 18 de agosto de 2008; 187o da Independência e 120

o da República.

De acordo com dados do PLS 330/064 (2009) a lei prevê que tanto as escolas, os

professores, diretores e outros membros do sistema educacional estejam adaptados

as exigências dessa nova lei em ate três anos. A música que na rede de ensino foi

sempre tido como conteúdo optativo passa a ser uma disciplina obrigatória na grade

curricular.

De acordo com as orientações do Ministério de Educação e Cultura MEC (2009) a

partir dessas alterações recomenda algumas noções básicas para o ensino de

música, além dos cantos cívicos nacionais e dos sons de instrumentos de orquestra,

4 PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 330 de 2006 que Altera a Lei nº 9.394, de 1996, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica.

que os alunos aprendam cantos, ritmos, danças e sons de instrumentos regionais,

trabalhando dessa forma com a diversidade cultural do Brasil.

De acordo com Alda de Oliveira (1999, p. 37)

Além de ensinar música musicalmente, a educação geral e a educação musical devem objetivar a realização de transações musicais significativas, que combinem as experiências nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor com as relações socioculturais entre os vários contextos disponíveis, de forma que os alunos possam entender e sentir os diversos significados, assim sentirem satisfação no sentido social e cultural [...]

A aprendizagem musical contribui de forma significativa com o desenvolvimento

humano em várias áreas como, por exemplo: o cognitivo, psicomotor, emocional e

afetivo, ao mesmo tempo em que também favorece a construção de valores

pessoais e sociais dos indivíduos. Para Shilaro (1990, p.20) “pode-se dizer que a

música contribui sistemática e significativamente com o processo integral do

desenvolvimento do ser humano”.

O desafio que surge agora com essa nova lei diz respeito à formação de professores

Art. 2o (VETADO). De acordo com a proposta PLS 330/06 (2009) o ensino de música

deverá ser ministrado por professores com formação específica na área.

A partir das alterações na lei nº. 9.394, e utilizando-se das mais otimistas

perspectivas, é possível perceber que a música vai aos poucos ganhando espaço

nos currículos educacionais, visto que ela é uma prática social, que permite exercitar

várias capacidades no aluno, como a de ouvir, compreender, refletir, criar, respeitar

o outro.

Refletir sobre educação musical é, também, considerar o estágio em que se encontram nossas sociedades em virtude do desenvolvimento [...], das diferenças culturais, dos interesses e modo de pensar de nossas crianças e jovens, para, dentro deste amplo quadro, rever permanentemente o papel que a música tem a desempenhar. (OLIVEIRA 1999, p.41)

Nesse sentido, a educação musical no âmbito escolar não deve visar à formação do

músico profissional. Para Teca Alencar de Brito (2003, p.46) “um trabalho

pedagogico-musical deve se realizar em contextos educativos que entendam a

música como processo contínuo de construção, que envolve perceber, sentir,

experimentar, imitar, criar e refletir”. Sendo assim, possibilitar um entendimento das

diversas atividades musicais da nossa e de outras culturas.

3.3- MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ao longo dos tempos a música na Educação Infantil foi utilizada a fim de atender a

determinados propósitos onde sua função servia para determinar hábitos, para

disciplinar, entre outras funções. Apesar da influência do movimento escolanovista

no ensino de artes no Brasil na década de 50 esse modelo ainda mantém nos dias

de hoje resquícios na educação das crianças. Sobre a música na educação infantil

falaremos mais adiante. Antes, porém, será feito um breve percurso pela história da

infância a qual julgamos necessária para compreender esse complexo “fenômeno”

chamado criança.

3.3.1- Um pouco sobre a infância

A obra de Ariès caracteriza-se como pioneira ao citar certas particularidades

históricas da infância, situando-a como produto da história moderna. Antes tratada

com indiferença, a criança não era percebida como um ser que possui necessidades

diferentes do adulto.

De acordo com Sandra Mara Corazza (2000), a infância é um objeto recente e difícil,

na paisagem da pesquisa histórica a contribuição mais importante é atribuída ao

francês Philippe Áries, que não somente abriu um novo caminho de pesquisa acerca

da infância, bem como estabeleceu um conjunto de categorias para trabalhar este

novo objeto.

Baseado na obra de Áries (1986) nota-se que na sociedade antiga não havia a

“infância”, ou seja, nenhum espaço separado do mundo adulto. As crianças e

adolescentes estão ausentes dos testemunhos escrito por adultos de várias épocas

no que diz respeito as suas próprias experiências.

Essa grande ausência dessa parcela da população da história se dá simplesmente

porque da Antiguidade à Idade Media, não existia este objeto discursivo a que hoje

chamamos infância, nem essa figura social e cultural chamada criança. As crianças

de um modo geral eram vistas como estorvo, como um ser que precisava de

dominação, seres sem luz e submetidos a severos castigos.

Segundo Áries (1986) a iconografia alto-medieval desconhecia a criança porque não

a percebia e nem tentava representá-la ou ainda quando representava era sob forma

de um “homem em miniatura”. A criança era ignorada pela sociedade dos adultos,

não havendo nenhuma atenção ou cuidados específicos para com ela.

Segundo Cohn (2005) para conceituar infância, vai depender da compreensão da

criança a partir de suas relações com a sociedade na qual está vivendo e vinculadas

às suas interações com os sujeitos e com a cultura do grupo social no qual está

inserida. Essas relações são constituintes de sua forma de sentir, pensar e agir

sobre o mundo.

Estudar a infância requer dessa forma, antes de tudo, que seja especificado a

concepção de criança, suas especificidades, capacidades, seu desenvolvimento,

levando em consideração o contexto social no qual a mesma está inserida.

De acordo com Cohn (2005) a antropologia utilizada para o estudo da infância

precisa está relacionada com a história e a sociologia, visto que cultura, não é algo

comum a todos os povos. Ela busca saber como as crianças vivem e pensam o

mundo, respeitando seu contexto sócio-cultural.

A autora evidencia que a partir de sua interação com outras crianças e/ou adultos,

seja através de brincadeiras ou jogos as crianças começam a construir sua própria

identidade. Mostra como diferentes culturas lidam com a criança e o sentimento de

infância.

A idéia de uma antropologia da criança precisa levar em consideração a posição da

criança enquanto um ser que está em formação, mas também vê-la como “mentora”

na busca pela compreensão de suas relações, o que está evidenciado na seguinte

fala da Conh (2005, p. 42), “A criança não sabe menos, ela sabe outra coisa”. Logo

levar em conta o ponto de vista da criança é importante para entender como elas

entendem a si próprias e ao seu entorno.

Nesse sentido, Cohn (2005) cita algumas questões pré-concebidas, como a imagem

de que a criança é um ser incompleto, a ser formado e socializado. Reconhecê-la é

assumir que não se trata de um “adulto em miniatura” ou de alguém que se treina

para a vida adulta. É entender que, onde quer que esteja ela interage ativamente

com os adultos, com outras crianças e com o mundo, sendo parte importante na

consolidação dos papéis que assume e de suas relações.

3.3.2 – A música e a criança

A música é uma forma de linguagem muito utilizada pelo ser humano, ela está

presente no ambiente que nos rodeia, seja no canto de um pássaro, no barulho da

chuva, entre outros. E as crianças, desde muito pequenas, já convivem com essa

linguagem, a qual contribui de forma significativa para o seu desenvolvimento.

Através da música a criança relaciona-se com o mundo sonoro, o que a torna mais

curiosa e receptiva a participar de experiências musicais. Apreciar melodias, os sons

dos instrumentos, a conhecer diferentes tipos de música.

A música proporciona à criança uma grande satisfação, alegria e envolvimento. Visto

que possui além de tudo, um caráter lúdico, e dessa forma contribui para uma

aprendizagem mais prazerosa. Ela lida diretamente com os sentimentos e emoções

e sendo trabalhada com crianças deve-se desenvolver de forma a parecer com uma

brincadeira, onde possa apreender as estruturas musicais sugerindo coreografias

que previamente dão noções de ritmia, como as marchinhas, cirandas e valsas

infantis.

De acordo com Brito (2003, p.35)

A criança é um ser “brincante” e brincando, faz música, pois assim se relaciona com o mundo que descobre a cada dia. Fazendo música, ela vai metaforicamente, “transformando-se em sons”, num permanente exercício: receptiva e curiosa, a criança pesquisa materiais sonoros, “descobre instrumentos”, inventa e imita motivos melódicos e rítmicos e ouve com prazer a música de todos os povos.

Dessa maneira, o papel do professor na intermediação da criança com o universo

musical é de fundamental importância. O educador precisa incentivar o uso dessa

tão rica linguagem em sala de aula, seja através do canto, dos instrumentos, das

cantigas, cirandas, não de uma forma rígida, e nem apenas para realizar recreações,

mas onde o objetivo seja essencialmente a aproximação da criança com o ambiente

musical.

Conforme cita Shilaro (1990, p.18)

O professor deve compreender a essência da linguagem musical, e, a partir de sua própria experiência e de seu processo criador, facilitar o contato da criança com as diversas linguagens (plástica, corporal, etc.). Deve propiciar

situações em que a criança possa olhar o mundo e se expressar.

Ouvindo uma música, participando de brincadeiras rítmicas, as crianças são

estimuladas a desenvolverem o gosto por atividades que utilizam a música. Essas

atividades despertam e propiciam à criança uma vivência com essa linguagem tão

importante na educação infantil. Além de contribuir para que o ambiente esteja

sempre mais alegre e receptivo, quando questionadas a respeito da contribuição da

música as professoras apontaram a opção “deixar o ambiente mais agradável” como

um dos aspectos que a música contribui.

De acordo com Shilaro (1990, p. 17) “A educação musical proporciona a vivência da

linguagem musical como um dos meios de representação do saber construído pela

interação intelectual e afetiva da criança com o meio ambiente”.

A educação infantil possui um documento institucional que são os Referencias

curriculares Nacionais da Educação Infantil, RCNEI, ao qual não podemos nos furtar

de comentá-lo: De acordo com RCNEI (1998, p. 45) “A música é a linguagem que se

traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações,

sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo

entre o som e o silêncio.”

A música está presente de uma forma muito intensa no cotidiano das crianças, nas

atividades realizadas, tanto no ambiente familiar como no escolar, principalmente na

educação infantil na qual o uso da música acontece de forma constante. Na

pesquisa realizada nas escolas, quando as professoras foram questionadas se

utilizavam a música diariamente em suas atividades as respostas foram as

seguintes:

Professora A, D e H – responderam que não.

Professora B, C, G, I e J – responderam que sim.

Permitindo perceber que na maioria das vezes a música é utilizada nas atividades

diárias de uma sala de Educação Infantil. O que ocorre é que em muitos casos serve

como um “apoio” na realização das atividades.

Segundo o RCNEI (1998, vol. 3, p.47)

A música no contexto da educação infantil vem, ao longo de sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias dessa linguagem. Tem sido em muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol etc.; a realização de comemorações relativas ao calendário de eventos do ano letivo simbolizados no dia da árvore, dia do soldado, dia das mães etc.; a memorização de conteúdos relativos a números, letras do alfabeto, cores etc., traduzidos em canções.”

Mendes e Cunha (2004, p. 84) também citam:

No cotidiano das crianças de pré-escola e das séries iniciais do ensino fundamental usam-se muito as “musiquinhas de comando” para reforçar hábitos e atitudes, (lavar as mãos, anunciar a hora do lanche, a hora de entrada e saída etc.) e propiciar ao professor um maior domínio da classe.

Quanto a isso, percebeu-se na pesquisa realizada com as educadoras, que quando

questionadas a respeito da contribuição da música, a opção “auxílio nas atividades

cotidianas” foi apontada como um dos aspectos que a música contribui. Essa

postura que associa a música às atividades na Educação Infantil faz parte de uma

política que sugere padrões e hábitos no meio educativo, desvirtuando da linguagem

musical em si. Que visa apenas sugerir comportamentos através das letras e

coreografias, e não o amadurecimento perceptivo emocional da criança.

Portanto, muito embora esses procedimentos venham sendo lentamente

transformados, a linguagem musical ainda encontra muita dificuldade para se firmar

no contexto educacional enquanto uma ferramenta pedagógica importante no

desenvolvimento infantil, sendo muitas vezes utilizada como instrumento de

reprodução e não de criação e construção.

3. AS CONTRIBUIÇÕES DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL.

foto 03: Children-Schoolroom Fonte: WIKIPEDIA (2009)

Uma das funções básicas da escola é a de preparar os seus alunos para o futuro,

para que estes possam tornar-se adultos responsáveis com o seu papel na

sociedade. E a música nesse contexto escolar vai contribuir para tornar esse

ambiente mais propício à aprendizagem, afinal, conforme o RCNEI (1998, p.49): “A

linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do

equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de

integração social.”

Na sociedade moderna o ingresso das crianças as instituições de ensino vem

acontecendo ainda mais cedo. A criança passa, a partir de então, a fazer parte de

um grupo social novo, com outras características, diferentes do seu meio familiar.

Nesse novo contexto ela vai adequando-se de acordo com as suas exigências.

A criança tem inicialmente seu comportamento moldado conforme suas vivências

familiares e posteriormente, as escolares. Quando inicia sua vida escolar, este novo

relacionamento vai influenciar a sua formação enquanto um ser social. Dessa forma

é necessário que a escola ofereça meios para que elas possam aprimorar seus

conhecimentos e desenvolver-se.

Em se tratando de educação infantil, essa possui uma grande responsabilidade em

relação à formação do indivíduo, visto que esse é o primeiro contato da criança com

um novo grupo fora do seu meio familiar, e essa adequação requer um preparo para

lidar com esse sujeito que necessita desenvolver a capacidade de integrar-se com o

outro. Portanto, a Educação Infantil dastaca-se como um período importante no qual

a criança constrói os alicerces necessários à sua afetividade, socialização e

inteligência, proporcionando um desenvolvimento infantil integral e harmônico.

Nesse sentido será feita uma abordagem, procurando estabelecer a relação entre a

música, e o desenvolvimento da criança, suas influências e contribuições.

Antes, porém, é preciso mencionar o conceito de desenvolvimento. Que de acordo o

dicionário Aurélio (2000, p. 222) significa: progresso, crescimento, progredir

intelectualmente, aumentar qualidades morais, psicológicas [...]. Apesar de na

maioria das vezes a escola concentrar-se mais no desenvolvimento cognitivo das

crianças em detrimento de outros.

O educador que atua na educação infantil deve proporcionar às crianças formas

diversificadas e enriquecedoras de aprendizagem, para que essas possam

desenvolver-se integralmente.

Na perspectiva sociointeracionista, o desenvolvimento infantil, se dá a partir das

trocas, da interação do sujeito com o seu meio, e este é um processo dinâmico.

Assim o desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo, acontecem não

separadamente e sim de forma integrada. É a partir do contato que as crianças

estabelecem com outras crianças e/ou adultos que ela começa a desenvolver a

afetividade, a integração, a linguagem, a responsabilidade, entre outros.

Piaget (1975) aborda os aspectos do desenvolvimento cognitivo, emocional e moral

da criança baseando-se na sua interação com o objeto e nas aquisições de

informações específicas do ambiente.

Educar é adaptar a criança a um ambiente social adulto, em outras palavras é mudar a constituição psicobiológica do indivíduo em termos de totalidade das realidades coletivas às quais as comunidade conscientemente atribui um certo valor. Há, portanto dois termos na relação constituída pela educação: por um lado o indivíduo em crescimento; por outro os valores sociais, intelectuais e morais nos quais o educador está encarregado de iniciar o indivíduo. (PIAGET, 1975 p. 42)

Nesse sentido, as atividades envolvendo música possibilitam que a criança se

conheça melhor e também estabeleça relação com o outro. Onde a música se faz

presente, ela vai contribuir com o desenvolvimento da criança, seja na área

intelectual, social, motor e afetivo. De acordo com Oliveira (1999) o professor que se

proponha a trabalhar com música precisa conhecer a taxonomia dos objetivos

educacionais nos vários domínios (afetivo, cognitivo, psicomotor) adaptando essas

orientações teóricas à área de música.

O papel da música na melhoria do desenvolvimento cognitivo das crianças pode ser

trabalhado no aprendizado de um instrumento, ou pela apreciação de uma canção,

que fortalece a aprendizagem, principalmente no campo do raciocínio lógico-

espacial, da memória, entre outros. Na pesquisa realizada com as educadoras, a

questão “memória e raciocínio” foram apontadas como aspectos que a música

contribui.

Quando as crianças participam de experiências musicais, que pode ser ouvindo ou

cantando uma música, tocando um instrumento ou outras possibilidades, vai

favorecer o desenvolvimento dos seus sentidos. E é a partir de atividades como

estas, através das quais elas possam vivenciar de forma ativa, que há a

possibilidade de se desenvolver o seu intelecto. Para Shilaro (1990, p.16) “As

atividades do ensino de música devem oferecer à criança vivência de fatos musicais,

a fim de garantir que ela possa utilizar realmente linguagem musical”.

Trabalhar com os sons, por exemplo, vai propiciar que a criança aprimore sua

percepção auditiva e também a atenção. Além de permitir essa variedade de

estímulos, a música, por possuir também um caráter relaxante, pode estimular à

criança a absorver mais informações melhor compreendê-las e, conseqüentemente,

estimular a aprendizagem.

Falar nos benefícios que a música propicia no campo cognitivo remete a citar o

estudo do psicólogo americano Howard Gardner (1985), sobre a teoria das múltiplas

inteligências, dentre as quais é citada a inteligência musical, que diz respeito a

habilidades que algumas pessoas apresentam ao lidar com música. Embora essas

características, de acordo com esse estudo, se manifestem apenas em algumas

crianças, é importante que a escola estimule o uso dessa linguagem, pois além das

contribuições já citadas, também proporcionam maior concentração, pensamento

coeso, além de uma melhor capacidade com atividades lógico-matemática que ajuda

a formar estruturas lingüísticas, favorecer vínculos sócio-afetivos.

De acordo com Demerval Saviani (2000, p.40)

A música é um tipo de arte com imenso potencial educativo já que, a par de manifestação estética por excelência, explicitamente ela se vincula a conhecimentos científicos ligados à física e à matemática além de exigir habilidade motora e destreza manual que a colocam, sem dúvida, como um dos recursos mais eficazes na direção de uma educação voltada para o objetivo de se atingir o desenvolvimento integral do ser humano .

As atividades envolvendo música além de contribuir com o desenvolvimento

cognitivo da criança também é importante para o seu desenvolvimento motor uma

vez que oferece à criança a possibilidade para que estas possam mover-se

livremente e assim conhecer melhor seu próprio corpo.

O ritmo é importante para trabalhar a coordenação motora, pois vai contribuir com a

expressão corporal, permitindo que a criança exponha seus sentimentos

pensamentos e emoções. O movimento tem papel crucial no desenvolvimento

humano, através deles, vai-se adquirindo mais controle e equilíbrio do corpo. O

movimento aliado ao ritmo resulta num conjunto de atividades coordenadas.

De acordo com o RCNEI, vol. 3 (1998, p.61)

A realização musical implica tanto gesto como movimento porque o som é também gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimentos os diferentes sons que percebe. Os movimentos de flexão, balanceio, torção, estiramento etc. e os movimentos de locomoção, como andar, saltar, correr, galopar etc., estabelecem relações diretas com os diferentes gestos sonoros.

Ao se trabalhar atividades como: dançar, cantar, imitar, bater com as mãos ou com

os pés, pular e fazer gestos, a criança estará vivenciando experiências importantes,

uma vez que vão favorecer o desenvolvimento das noções de ritimia, da sua

coordenação motora, que são fatores importantes, pois vão contribuir também com o

processo de aquisição da leitura e da escrita.

Um campo também muito importante no processo de desenvolvimento da criança é

o que lida com a afetividade. Muitas vezes a escola não trabalha essa forma de

desenvolvimento com os seus alunos, e é justamente nessa área que os benefícios

da linguagem musical se mostram de maneira ainda mais nítida. Podendo ser

percebida especialmente, por quem trabalha diretamente com crianças.

Como já foi citado anteriormente, a música faz parte da vida das crianças desde

muito cedo. As canções de ninar, por exemplo, bastante utilizadas com os bebês,

possibilita que através desse contato com a música eles permaneçam mais calmos,

serenos e tranquilos. Conforme Shilaro (1990, p.19) “A música é uma linguagem

expressiva e as canções são veículos de emoções, e sentimentos, e podem fazer

com que a criança reconheça nelas seu próprio sentir”.

Para Henri Wallon (1995) o recém–nascido para estabelecer uma relação com o

mundo humano utiliza, antes mesmo da linguagem oral, a emoção para demonstrar

as suas vontades. Inicialmente buscam se expressar através dos movimentos de

expressão, os quais vão desenvolvendo-se até se tornarem comportamentos

afetivos mais elaborados, nas quais, a emoção vai aos poucos, cedendo lugar aos

sentimentos e posteriormente às atividades cognitivas.

As emoções são a exteriorização da afetividade [...]. Nelas que assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados. (WALLON, 1995, p. 143)

Dessa forma, a linguagem musical se constitui como uma área de conhecimento

muito importante e mesmo necessária de ser trabalhada na Educação Infantil. Pois

além da já citada contribuição no desenvolvimento afetivo das crianças, também no

desenvolvimento social se faz presente. Na pesquisa realizada com as educadoras,

quando questionadas a respeito da contribuição da música, a opção socialização

das crianças foi apontada como um dos aspectos que a música contribui.

De acordo com Vigotsky (1989) A aprendizagem nas relações sociais contribui para

a construção de conhecimentos que darão suporte ao desenvolvimento mental. É na

interação entre as pessoas que se constrói o pensamento que será posteriormente

intrapessoal, ou seja, compartilhado com o grupo.

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social, e sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social. (VYGOTSKY, 1989 p.76)

Como já se sabe as atividades coletivas favorecem a socialização entre as crianças.

Dessa maneira ela vai aos poucos construindo sua identidade, e na medida em que

percebe as diferenças com os outros do seu grupo busca também relacionar-se com

estes.

Trabalhar com atividades musicais contribui com desenvolvimento da socialização,

ao passo que estimula a coletividade, a compreensão, a participação, o

entrosamento e a cooperação entre as crianças, que dessa forma vai construindo a

idéia de grupo. Ao expressar-se musicalmente em atividades que lhe proporcionem

satisfação e prazer, como é o caso da música, a criança tem a possibilidade de

demonstrar seus sentimentos, extravasar suas emoções, e dessa forma desenvolver

sua autoconfiança. Com a música essa integração acontece de forma ainda mais

prazerosa, nesse caso a participação e intermediação do professor se fazem

necessárias para manter os alunos motivados.

Para Brito (2003, p.45)

[...] respeitar o processo de desenvolvimento da expressão musical infantil não deve se confundir com a ausência de intervenções educativas. Nesse sentido, o professor deve atuar sempre – como animador, estimulador, provedor de informações e vivências que irão enriquecer e ampliar a experiência e o conhecimento das crianças, não apenas do ponto de vista musical, mas integralmente, o que deve ser o objetivo prioritário de toda proposta pedagógica, especialmente na educação infantil.

Dessa maneira verifica-se que em todo processo de desenvolvimento infantil a

intervenção do professor é muito importante.

Ainda em relação as contribuições da música, quando perguntado às professoras

sobre sua importância na aprendizagem elas disseram:

Professora A, C, F e I – consideram que “a música tem contribuído com a

aprendizagem das crianças”.

Professora B, D, E, G, H e J – responderam que “tem contribuído muito”

Logo, percebe-se que de fato música é um elemento importante para a educação

infantil não só por proporcionar um ambiente mais prazeroso ou auxiliar as

atividades a serem realizadas, mas por contribuir de forma significativa com a

aprendizagem das crianças, o que se verifica na análise das respostas das

professoras. Assim, para a criança todas as situações vivenciadas no seu dia-a-dia

se caracterizam como uma fonte de conhecimento, quanto mais estímulos lhes

forem oferecidos melhor ainda ocorrerá seu desenvolvimento.

4.1 – PERCURSOS PARA A ELABORAÇÃO DA PESQUISA

Esta é uma pesquisa exploratória que de acordo com Antônio Carlos Gil (2002) tem

o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo

mais explícito além do aprimoramento das idéias. Este tipo de pesquisa envolve, na

maioria dos casos, levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram

a experiência prática e análise de dados que possam estimular uma melhor

compreensão do problema estudado.

Foi utilizada abordagem qualitativa que, segundo Menga Lüdke e Marli André

(1986), na área de educação é a que desperta maior interesse dos pesquisadores.

Através de uma coleta de dados a partir de entrevistas, foram obtidas informações

essenciais para a compreensão do problema que foi estudado.

Para a elaboração desse trabalho inicialmente foi realizada uma revisão de literatura

buscando uma maior apropriação e entendimento do objeto da pesquisa a ser

discutido.

A fundamentação teórica do trabalho foi desenvolvida, através de pesquisa

bibliográfica, onde foi-se traçando o quadro teórico que serviu de base para o

desenvolvimento da mesma.

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído especialmente de livros e artigos científicos [...] boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas [...] que tem a sua maior vantagem por permitir ao investigador a cobertura de uma série de fenômenos de maneira ampla. (GIL 2002, p.44-45)

Antes de ir a campo foi realizada a revisão literária buscando compreender esses

processos à luz da teoria. Para tal busquei apoiar-me em estudos de teóricos como

Louis Porcher (1982), Célia Maria de C. Almeida (2001), João Francisco Duarte

Junior (1991), Teca Alencar de Brito (2003), Alda Oliveira (2001), Jean Piaget

(1982), Lev Vigotsky (1989), Henri Wallon (1975), Demerval Saviani (2000), Nereide

Shilaro (1990), Philippe Áries (1986), Ana Mae Barbosa (2002), Clarisse Conh

(2005), Mara Corazza (2000), Marisa Fonterrada (2008), Howard Gardner (1995),

Liane Hentschke (1993) Adriana Mendes (2001), Glória Cunha (2001) entre outros

nomes.

Também foi feita consulta em documentos tais como leis, normas, regulamentos e

outros que, conforme Lüdke e André (1986, p.39) se constituem como uma

“poderosa fonte de onde podem ser retiradas evidências que fundamentem

afirmações e declarações do pesquisador”.

O contato com outros trabalhos monográficos, também foram utilizados, para que

dessa forma fossem esclarecidas constantes dúvidas quanto à estrutura do trabalho,

suas normas, exigências e outros.

Acessos a internet também foram realizados a fim de buscar materiais, artigos

importantes que contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento da

pesquisa, através de sites, bibliotecas virtuais, entre outros. Também foi feita uma

visita à escola de música da UFBA que possibilitou um acesso a materiais

importantes para o desenvolvimento da pesquisa.

As escolas onde se desenvolveu a pesquisa de campo, coleta de dados foram da

rede pública e particular por julgar necessário verificar semelhanças e/ou diferenças

entre ambas. As escolas foram escolhidas visando facilitar o acesso à mesma, visto

que já havia tido antes um contato e uma aproximação entre o pesquisador e o

pesquisado. Além de também ser um local propício para o desenvolvimento dessa

pesquisa.

Realizou-se a coleta de dados utilizando, entrevista semi-estruturada onde as

perguntas realizadas seguiam um roteiro pré-estabelecido. De acordo com Lori

Gressler (2004) a entrevista se caracteriza como uma técnica de pesquisa que visa

obter informações de interesse a uma investigação, onde o pesquisador elabora

perguntas orientadas, com objetivo definido. Dessa forma, o instrumento de coleta

de dados foi elaborado a fim de obter as informações necessárias para o

desenvolvimento da pesquisa.

Os dados coletados foram tabulados e interpretados para compor o trabalho

monográfico. O principal instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista, realizada

com 10 professores. Desenvolvido de forma clara e auto-explicativa, foi elaborado a

fim de criar estratégias que possibilitem comprovar se o que foi dito é verdadeiro.

A partir das orientações, elaborou-se cada capítulo, o qual foi desenvolvido

utilizando o material necessário para tratar do tema e do problema proposto, de uma

forma clara e concisa e com um bom embasamento teórico. Através da pesquisa

que foi realizada, tem-se a seguir a análise dos dados coletados nas escolas.

4.2 – O QUE NOS REVELAM AS PRÁTICAS COTIDIANAS DAS

ESCOLAS EM RELAÇÃO ÀS CONTRIBUIÇOES DA MÚSICA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL?

Foi realizada uma entrevista semi - estruturada com 10 professores que atuam na

Educação Infantil, sendo estes profissionais pertencentes tanto a rede pública como

também particular.

O questionário foi elaborado com o intuito de verificar se na prática dos professores

da educação infantil a música tem contribuído com o desenvolvimento das crianças.

O mesmo configurou-se como uma importante ferramenta da pesquisa e os seus

resultados encontram-se descritos abaixo em forma de tabela. A fim de preservar o

nome das professoras que participaram da pesquisa, elas serão identificadas na

tabela através de letras que vai de (A a J). As perguntas foram divididas em:

1- Formação docente:

O questionário iniciou-se buscando verificar a formação dos professores

pesquisados, conforme descrito na tabela 01. As respostas foram as seguintes:

FORMAÇÃO A B C D E F G H I J

Graduação/ Pedagogia x x x x x

Pós-graduação/ Letras x

Magistério x

Administração x x

Graduação em Ed. Física x

Não respondeu x

Tabela 01

A referida tabela mostra dessa forma que há uma predominância de profissionais

com formação em pedagogia, visto que dos 10 pesquisados, 5 responderam ser

graduada nessa área. Mesmo a maioria respondendo ser formada em pedagogia

percebe-se que ainda há professores atuando na Educação Infantil sem a formação

mínima exigida, e isso foi verificado especialmente com os profissionais da rede

particular. Essa análise possibilita perceber que mesmo com a promulgação da lei

de diretrizes e bases da educação Nacional Lei Federal nº 9394/96 Art. 62 que em

relação aos profissionais da educação, determina:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena em universidades e institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.

Observa-se, porém que a realidade das escolas nem sempre atendem a essa

exigência, visto que muitos professores formados em outras áreas ou sem

graduação estão em sala de aula. Compreende-se que por vezes é levado em

consideração o saber advindo da experiência prática ou o saber científico das

universidades. Mas estes precisam estar juntos, pois devem ser a base para a

construção de uma identidade docente.

2- Participação em cursos na área de música:

Baseado na tabela 02, é possível perceber, que a partir de então adentra-se mais

especificamente na questão da música na educação. Buscando verificar se os

professores têm alguma experiência na área de música. obtiveram-se as seguintes

respostas:

PARTICIPAÇÃO EM CURSOS NA ÁREA DE MÚSICA A B C D E F G H I J

Sim x x x x x

Não x x x x x

Tabela 02

Analisando essa tabela percebe-se que no que tange cursos na área de música o

resultado ficou dividido igualmente, pois entre as pesquisadas, 5 disseram já ter

participado e 5 informaram que nunca participaram de cursos nessa área.

O professor, ainda que não seja um especialista em música, precisa atentar-se para

a utilização dessa linguagem tão necessária na educação infantil. Nesse cenário é

importante que ele busque uma aproximação com esse conhecimento, não deixando

apenas a cargo de um profissional da área. Quanto a isso Fonterrada (2008, p. 276)

cita: “Sem dúvida, há muitas atividades que o professor não músico pode

desenvolver em sua classe, com o objetivo de estimular o gosto pela música [...]”.

Evidenciando dessa forma a importância do professor no trabalho com a música.

3- Preferência musical:

A tabela 03 sugere que os professores citem suas preferências musicais, foram

listados alguns estilos e dentre os mais citados estão:

PREFERÊNCIA MUSICAL A B C D E F G H I J

MPB x x x x x x x x

Rock x x

Forró x

Evangélicas x

Não respondeu x x

Tabela 03

Como mostra a tabela, a maioria dos professores responderam interessar-se por

MPB, embora outros estilos tenham sido também mencionados. Algumas das

professoras pesquisadas listaram mais de uma preferência como é o caso das

professoras D, H e I.

4- Utiliza atividade musical:

A tabela 04 foi elaborada a fim de perceber se os professores utilizam alguma

atividade musical com seus alunos em sala de aula e as respostas desse

questionamento podem ser vistas abaixo:

UTILIZA ATIVIDADE MUSICAL A B C D E F G H I J

Sim x x x x x

Não

As vezes x x x x x

Tabela 04

Conforme mostra a tabela, quando questionados sobre a utilização de atividades

musicais em sala de aula os 10 professores pesquisados responderam sim e as

vezes. Mostrando dessa forma que a escola tem se utilizado dessa linguagem para

trabalhar com as crianças na educação infantil. Conforme orientações dos RCNEI

(1998) o planejamento escolar precisa possibilitar à criança vivências com a música,

onde possam ouvir, discriminar, reproduzir sons, cantar, escutar, criar, brincar com a

música e uma série de outras possibilidades para “explorar” essa linguagem. Esse

direcionamento sendo seguido pelas escolas irá permitir melhor envolvimento das

crianças com a música.

5- Envolvimento dos alunos nas atividades com música

Na tabela 05 está demonstrado o resultado da questão referente às impressões dos

professores quanto ao envolvimento dos alunos com as atividades musicais, a qual

está disposta abaixo:

ENVOLVIMENTO DOS ALUNOS NAS ATIVIDADES COM MÚSICA A B C D E F G H I J

Ótimo x x x x

Bom x x x x x

Regular x

Ruim

Tabela 05

Analisando essa tabela é possível perceber que as impressões dos professores

quanto ao envolvimento dos alunos estão entre ótimo e bom. Para Shilaro (1990,

p.15) “A criança se envolve integralmente com a música e a modifica

constantemente transformando-a, pouco a pouco, numa resposta estruturada”.

Pode-se assim notar que as atividades musicais despertam o interesse dos alunos,

das quais eles participam ativamente, tendo a possibilidade de interagir e socializar-

se com os outros do seu grupo.

6- Contribuições da música

A tabela 06 retoma uma teoria que se faz presente no corpo desta pesquisa e diz

respeito à contribuição da música para se trabalhar de forma interdisciplinar em sala

de aula e referente a isso os pesquisados responderam da seguinte forma:

A MÚSICA CONTRIBUI PARA TRABALHAR DE FORMA INTERDISCIPLINAR A B C D E F G H I J

Muito x x x x x x x

Pouco

As Vezes x x

Outros x

Tabela 06

Nota-se, portanto, que a maioria dos professores consideraram que a música

contribui muito para trabalhar os conteúdos de forma integrada. Quanto a isso o

RCNEI (1998, p. 49) fala:

Deve ser considerado o aspecto da integração do trabalho musical às outras áreas, já que, por um lado, a música mantém contato estreito e direto com as demais linguagens expressivas (movimento, expressão cênica, artes visuais etc.), e, por outro, torna possível a realização de projetos integrados.

As artes, e de modo especial a música, tem caráter interdisciplinar, pois possibilita

trabalhar diversas áreas do conhecimento. Dessa forma, é necessário que o ensino

esteja voltado para a formação integral do ser humano.

Na tabela 07 está o resultado das respostas obtidas com a questão: Música e a

formação do indivíduo, na qual os professores consideraram as contribuições da

música nesse sentido.

A MÚSICA CONTRIBUI COM A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO A B C D E F G H I J

Contribui muito x x x

Contribui x x x x x x x

Contribui pouco

Tabela 07

Observando a tabela acima pode-se considerar que de acordo com a resposta da

maioria dos professores a música contribui com a formação do indivíduo, visto que

essa linguagem, se bem trabalhada possibilita a construção de conhecimentos

necessários ao desenvolvimento infantil. Quanto a isso Shilaro (1990) fala que a

música pode ser utilizada como uma maneira de representação de vida da criança e

sendo assim contribui sistemática e significativamente com o processo integral do

desenvolvimento do ser humano. Nesse sentido possui caráter bastante relevante

no que tange a sua formação.

Referente à interação dos alunos nas atividades envolvendo música extraiu-se o

resultado que compõe a tabela 08, logo abaixo:

A MÚSICA CONTRIBUI COM A INTERAÇÃO DOS ALUNOS A B C D E F G H I J

Contribui muito x x x x x x x x

contribui x

contribui pouco

Outros x

Tabela 08

Percebe-se dessa forma que grande parte dos professores pesquisados

responderam que a música contribui muito com a interação dos alunos. Essa

análise elucida a contribuição da música no processo de socialização entre as

crianças, a qual foi tratada nesse trabalho.

Socialização de um modo geral pode ser entendida como um processo onde se

desenvolvem formas de convivência com o outro e de comportamento social. Nesse

sentido, esta aproximação possibilita que os indivíduos estabeleçam relações

mútuas de respeito.

A música é um bem cultural e social. Para Vigotsky (1989) o processo de

socialização é aquele que capacita psicológica e culturalmente o indivíduo em

formação para que este possa ser um cidadão de uma coletividade e de uma

cultura. Daí a importância da música nesse sentido.

A linguagem musical se caracteriza como prática coletiva, visto que há uma

tendência de se formar grupos onde existe a necessidade de interação em alto grau

e isso incita a convivência, a troca de conhecimentos e cooperação recíproca,

gerando laços de parceria, amizade e companheirismo.

Outra questão também tratada nessa pesquisa é a que se refere às contribuições da

música na relação professor/aluno e as respostas encontram-se dispostas na tabela

09 que está abaixo:

A MÚSICA NA CONTRIBUI NA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO A B C D E F G H I J

Contribui muito x x x x

Contribui x x x x x x

Contribui pouco

Outros

Tabela 09

A referida tabela mostra que os professores consideraram que a música contribui

na relação professor/aluno, elucidando dessa forma o importante papel da música

nesse sentido.

As situações de aprendizagens na escola são diversas e o professor precisa está

atento a isso, para permitir à criança diversas formas de desenvolvimento. A música,

nesse sentido, contribui com a interação entre o professor e o aluno tornando as

relações mais agradáveis. E traz até a sala de aula uma sensibilidade que de outra

forma não seria tão natural, possibilitando assim melhor compreensão do outro e de

si mesmo.

A tabela 10 mostra se os professores acham que o uso da música é importante para

o desenvolvimento da criança, como pode ser notado abaixo:

O USO DA MÚSICA CONTRIBUI COM O DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA A B C D E F G H I J

Sim x x x x x x x x x x

Não

As vezes

Tabela 10

Percebe-se então, que, de forma unânime, os professores pesquisados

responderam que sim, deixando claro que como foi falado ao longo do trabalho, o

uso da música é realmente importante para a aprendizagem das crianças.

Visto que todas as professoras consideraram que a música contribui com o

desenvolvimento da criança, um questionamento se fez necessário: De que forma

isso acontece, ou seja quais são essas contribuições? As respostas foram as

seguintes:

CONTRIBUI COM A B C D E F G H I J

COORDENAÇÃO MOTORA x x x x x x x x

AFETIVIDADE x x x x

RACIOCÍNIO LÓGICO x x

ACUIDADE AUDITIVA x x x

LINGUAGEM x x x x x x x

CONCENTRAÇÃO

EXPRESSIVIDADE x x x

CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE x x

MEMÓRIA x x x x x x x x x

Tabela 11

Dessa forma pode-se notar algumas contribuições da música no processo de

desenvolvimento infantil. As quais foram livremente citadas pelas professoras que

falaram das suas impressões referentes a essa questão.

Com base em Shilaro (1990, p.21)

O período preparatório à alfabetização beneficia-se do ensino da linguagem musical quando as atividades propostas contribuem para o desenvolvimento da coordenação visomotora, da imitação de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do raciocínio, da inteligência, da linguagem e da expressão corporal. Essas funções psiconeurológicas envolvem aspectos psicológicos e cognitivos, que constituem as diversas maneiras de adquirir conhecimentos, ou seja, são as operações mentais que usamos para aprender, para raciocinar. A simples atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma série de aptidões importantes.

A visão da autora possibilita perceber o quanto o uso da música na educação é

importante uma vez que envolve diversas áreas no processo de desenvolvimento.

A análise dessa tabela retoma a teoria discutida nesse trabalho, foram mostradas

as contribuições da música em diversos aspectos do desenvolvimento infantil como:

cognitivo, motor, afetivo e social. O qual se reforça com a fala das professoras ao

atribuir a essa linguagem um potencial formador, que possibilita às crianças o

desenvolvimento de suas capacidades.

7- Satisfação quanto ao trabalho que realiza com música:

A tabela 12 demonstra o grau de satisfação das professoras quanto ao trabalho que

realizam com música em sala de aula:

GRAU DE SATISFAÇÃO COM O TRABALHO QUE REALIZA COM MÚSICA A B C D E F G H I J

Muito satisfeito x x x x

Satisfeito x x x x x

Pouco satisfeito x

Tabela 12

Quando perguntadas se estariam satisfeitas com o trabalho que realiza com música

a maioria das professoras responderam que se sentem satisfeitas, como pode-se

perceber na apresentação da tabela. Foi possível verificar um alto grau de satisfação

das professoras em relação ao seu próprio desempenho com o uso da música em

sala de aula. Embora, mesmo verificando tal satisfação dos professores com o

trabalho realizado, não há como se negar a problemática do uso da música como

um mero apoio nas atividades e para determinar hábitos e atitudes da criança como

discutido no corpus do trabalho. Mas é também importante pontuar que: todo e

qualquer contato com a música em si é importante e traz tanto para aluno como

professor uma sensação plena de alegria e entusiasmo.

8- Condições oferecidas pela escola:

Para se trabalhar com música na escola é necessário que a escola ofereça

condições mínimas ao professor para que essa atividade seja desenvolvida. Quanto

a este assunto elaborou-se uma questão que trata da satisfação dos professores

com as condições oferecidas pela escola, e a tabela 13 a seguir, mostra o resultado

obtido com esse questionamento.

CONDIÇÕES OFERECIDAS PELA ESCOLA A B C D E F G H I J

Muito satisfatória x x x

Satisfatória x x x

Pouco satisfatória x x x

Outros Fraca

Tabela 13

Analisando a tabela, verifica-se que a opinião da maioria dos professores quanto as

condições oferecidas pela escola para se trabalhar com música é satisfatória.

9- Satisfação quanto ao tempo disponibilizado para o trabalho com música:

Abaixo está a tabela 14, na qual está disposto o resultado da pesquisa referente ao

grau de satisfação dos professores quanto ao tempo que é disponibilizado para o

trabalho com música e quanto a isso eles responderam o seguinte:

GRAU DE SATISFAÇÃO COM O TEMPO A B C D E F G H I J

Muito satisfatório x x x

Satisfatório x x x x x

Pouco satisfatório x x

Outros

Tabela 14

Verificando a tabela percebe-se que a maioria dos professores consideram que o

tempo é satisfatório. Ainda referente ao tempo os professores responderam a outro

questionamento que foi sobre a carga horária, ou seja, quanto tempo em média a

escola disponibiliza para o trabalho com música? Quanto a isso pontua o RCNEI

(1998, p. 68) “As atividades que buscam valorizar a linguagem musical [...] podem

ser realizadas duas ou três vezes por semana, em períodos curtos de até vinte ou

trinta minutos, para as crianças maiores”. As respostas dos professores estão

listadas abaixo:

Professora A – fala que não tem um tempo determinado, “ocorre na hora da

recreação”.

Professora B, D e H – responderam que a escola disponibiliza “semanalmente 50

minutos para o trabalho com música”.

Professora C – informou que “ocorre entre uma atividade e outra”, não havendo

também um tempo determinado pela escola para tal.

Professora E – respondeu que “o tempo é o que ela julgar necessário”.

Professora F – relatou “não tenho conhecimento do tempo real”.

Professora G – não respondeu ao questionamento.

Professora I – respondeu que “é utilizado semanalmente 40 minutos para um

trabalho como música”.

Professora J – informou ser utilizado “semanalmente 30 minutos para se trabalhar

música na escola”.

As opções descritas acima foram citadas pelos próprios professores os quais

responderam a essa questão livremente, sem nenhuma alternativa.

Observando as respostas coletadas, foi possível perceber que o tempo destinado

ao trabalho com música na escola ainda varia muito, de escola para escola, de

professor para professor, permitindo articular que ainda não é algo comum nas

instituições de ensino, sejam elas públicas ou privadas, terem uma carga horária

determinada para se trabalhar com música, isso é feito muitas vezes informalmente,

ficando a cargo do próprio professor. Liane Hentschke (1993) cita que os problemas

enfrentados na área de música vão desde a falta e institucionalização e

reconhecimento até a falta de sistematização do ensino de música.

A partir das informações captadas através dos questionários foi possível perceber de

forma abrangente que as informações teóricas aqui apresentadas através das

pesquisas bibliográficas puderam ser confirmadas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa se propôs a verificar quais as contribuições da música no processo

de desenvolvimento dos alunos da educação infantil, através da qual se percebeu

que os benefícios do contato da criança com essa linguagem contribuem de forma

expressiva para o desenvolvimento cognitivo, motor, social e afetivo. Foram

considerados aspectos como: uso da memória, do raciocínio, concentração,

emoção, expressividade ao trabalhar tendências criativas, movimento corporal,

interação da criança com o meio favorecendo a comunicação e a linguagem e,

portanto a cooperação mútua, os quais contribuem para que o educando se conheça

melhor.

Por esse estudo, nota-se que a arte possui um conceito que pode variar de acordo

com a época, o autor, o lugar em que se desenvolve, pois ela faz parte da cultura e,

como tal, é dinâmica e diversificada. Esta esteve sempre presente na história do ser

humano desde a Antiguidade até os tempos modernos e pós-modernos, servindo a

finalidades diversas e se moldando ao longo dos tempos.

Conforme notado neste trabalho, a arte na educação ainda não ocupa uma posição

“privilegiada” enquanto área importante para a formação da criança. Percebe-se

que, apesar das muitas modificações sofridas, ainda continua sendo vista como

diversão e não como uma disciplina “séria”. Porém, vale ressaltar que o ensino de

artes contribui com o desenvolvimento da criatividade, criticidade, integração social,

o raciocínio, a linguagem, a fantasia, dentre outras. E dessa forma, nota-se o quanto

é importante e até mesmo necessária nos currículos da educação básica.

Ao falar em música pode-se perceber que esta se caracteriza como uma linguagem

universal, que faz parte da história da humanidade desde as mais antigas

civilizações. Ligando essa tão rica forma de comunicação à educação, verifica-se um

enorme potencial formador, pois com seu caráter interdisciplinar possibilita trabalhar

com diversas áreas do desenvolvimento humano. Por tal importância, sua inclusão

aos currículos de educação básica como disciplina obrigatória se põe a caminho, a

fim de legitimar que essa prática se faça presente nas escolas do Brasil.

Se tratando de música na educação infantil, nota-se que nesse contexto a mesma se

faz presente em muitos sentidos, mesmo porque, a criança relaciona-se com a

música de forma intensa e constante. Mas também ficou evidente o uso dessa

linguagem como um mero apoio na realização das atividades, em que, a partir de

comandos, as crianças realizam as tarefas cotidianas do ambiente escolar,

desviando-se, dessa maneira, do real objetivo do uso da música com as crianças,

que é o de proporcionar uma forma prazerosa de aprendizagem e contribuir com o

seu desenvolvimento.

Através dos estudos realizados nas fontes bibliográficas e a partir da entrevistas

com as colaboradoras, referente ao desenvolvimento infantil evidenciou-se que

essas podem ser estimuladas com a presença da música; uma vez que a música

pode ser entendida como uma linguagem potente, capaz de conjugar sentimentos,

emoções, comunicação e integração do indivíduo com o seu meio. Sendo assim, a

música se caracteriza como um recurso facilitador no processo educacional,

atendendo a diversos aspectos do desenvolvimento.

Entende-se, por meio desse trabalho, que a música proporciona o desenvolvimento

das habilidades e potencialidades dos alunos, pois trabalha com o corpo e com a

mente, além de também deixar o ambiente mais agradável produzindo um bem estar

nas crianças e no espaço escolar. Dessa maneira, é importante que os professores

despertem a conscientização para as várias possibilidades de se trabalhar a música

na educação infantil.

De maneira geral, como decorrência deste estudo, ratifica-se ainda mais a idéia de

que a música desempenha um papel de grande importância na educação Infantil,

muito embora ela ainda encontre dificuldades para se inserir nos currículos de

educação básica como uma disciplina formadora e não como um mero passa-tempo.

Dificuldade essa que vem sendo lentamente modificada, ao passo que já existe hoje

uma lei que determina que a música, dentro de até três anos, já faça parte da grade

curricular das escolas brasileiras. O que nos põe a caminho para um maior contato

dos estudantes com a linguagem musical, não com o intuito de formar futuros

músicos, mas para que a escola possa ser um espaço vivo, para o trabalho com

essa rica linguagem.

Então, o presente trabalho alcançou os objetivos gerais e específicos a que se

propôs, legitimando a importância e a necessidade da arte na educação,

evidenciando, principalmente, o papel da música na educação infantil como uma

linguagem que contribui de forma significativa em diversas áreas do

desenvolvimento humano.

REREFÊNCIAS

ALMEIDA, Célia Maria de C.: Concepções e práticas artísticas na escola. In: ________. O ensino das artes: construindo caminhos. Campinas. Ed. Papirus. São Paulo, 2001. p. 07 – 36. ALTET, Xavier Barral I. História da arte. Tradução: Paulo F. Anderson Dias. Campinas - SP, Papirus 1990. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. BARBOSA, Ana Mae. Arte educação no Brasil: 5. ed. São Paulo. Ed. Perspectiva, 2002. BRASIL. Lei nº 9394 de 20 de dezembro de1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, Senado Federal. Disponível em: http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102480 > Acesso em: 18 de ago de 2009.

BRASIL, Ministério da Educação – MEC. Ensino de música será obrigatório. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?id=1110&option=com_content &task=view > Acesso em: 22 de jul de 2009. BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da criança. 2. ed. São Paulo, Peirópolis, 2003. BRITO, Teca Alencar. “aprendendo a aprender com o aluno que ensinar”: metodologia para uma educação musical significativa. In: VIII encontro anual da associação brasileira de educação musical ABEM, 8 de out.1999, Curitiba. Anais... Curitiba, 1999. p. 39 - 47. CONH, Clarisse. Antropologia da Criança. Rio de janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2005. CORAZZA, Sandra Mara. História da infância sem fim. Rio Grande do Sul. UNIJUÍ, 2000. DUARTE, Jr. João-Francisco: Porque arte educação? 6. ed. Campinas- SP, Papirus, 1991.

FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário Aurélio. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 2000. FOTERRADA, Marisa Trench de Oliveira: De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. 2. ed. São Paulo, UNESP: Rio de Janeiro: Funarte, 2008. GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GRESSLER, Lori Alice. Entrevista. In: ________. Introdução à pesquisa: projetos e relatórios. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2004. p. 164-169. HENTSCHKE, Liane. Relações da prática com a teoria na educação musical. In: II encontro anual da associação brasileira de educação musical,1993, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Abem, 1993. p. 49 - 67. HOUAISS. Dicionário eletrônico Houaiss de língua portuguesa. Objetiva. (s/d) LIMA, Sonia Albano de. Interdisciplinaridade: uma prioridade para o ensino musical. Música Hodie, v. 7, n. 1. (FMCG/UNESP) 2007, p. 51-65. Disponível em: http://www.musicahodie.mus.br/7_1/Musica%20Hodie7-1%20(AlbanodeLima).pdf > Acesso em: 02 de ago. 2009.

LOPES, Heloísa. Introdução. In: NICOLAU, Marieta L. M. (coord.). A educação artística da criança: artes plásticas e música fundamentos e atividades. 5. ed. CIDADE Ed. Ática, 2004. p. 162- 163. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marlie E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MELLO, Luiz Gonzaga de. Artes. In: ________. Antropologia Cultural. Iniciação teorias e temas. 8. ed. Petrópolis, Vozes, 2001. cap. XVI. MENDES, Adriana; CUNHA, Glória. Um universo sonoro nos envolve. In: FERREIRA, Sueli. O ensino das artes: construindo caminhos. Campinas. Ed. Papirus. São Paulo, 2001. p.79 – 114.

MENEZES Mara Pinheiro. Educação musical no Brasil: uma análise contextualizada de três educadores do século XX. Dissertação de mestrado. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2005. Ministério da educação - MEC. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 3, 1998. MORAES, J. Jota de. O que é música. São Paulo: nova cultural: brasiliense, 1986. MORIN, Edgard. Cultura de Massa no Século XX. 9.ed. Rio de Janeiro: Ed. Brasileira, 1997. NUNES, Nadir Neves. O ingresso na pré- escola: uma leitura psicogenética. In: OLIVEIRA. Zilma M. R. de (org.). A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo. Ed. Cortez, 1995. p.105 – 120. OLIVEIRA, Alda de Jesus. Múltiplos espaços e novas demandas profissionais na educação musica: competências necessárias para desenvolver transações musicais significativas. In: X encontro anual da associação brasileira de educação musical, 2001, Uberlândia. Anais .... Uberlândia: Abem, 2001. p. 19 – 32. PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Tradução: Álvaro Cabral. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. PROJETO DE LEI DO SENADO N° 330, DE 2006. Altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional, Senado Federal. Disponível em: http://www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/gethtml.asp?t=12183 > Acesso em: 25 de mai 2009. PORCHER, Louis. Educação artística: luxo ou necessidade? Tradução: Yan Michalki. São Paulo: Ed. summus 1982. RODRIGUES, Raphael V. Filho (Org.). Orientações para apresentação de trabalhos acadêmicos: monografia de conclusão de curso. Salvador: UNEB, 2008. ROSA, Nereide Schilaro Santa. Educação musical para a pré-escola. São Paulo Ed. Ática, 1990.

SANTOMAURO, Beatriz. Conhecer a cultura. Soltar a imaginação. Revista Nova Escola. Editora Abril, ano XXIV, n. 220, p.66, mar.2009. SAVIANI, Demerval. A educação musical no contexto da relação entre currículo e sociedade . In: IX encontro anual da associação brasileira de educação musical. 2000 Belém. Anais..., Belém: Abem, 2000 p. 33-41. SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação, III parte. Tradução: Wolfgang Leo Maar e Maria Lúcia M. e O. C. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (Os pensadores). SWANWICK, Keith. Permanecendo fiel à música na educação musical. In: II encontro anual da associação brasileira de educação musical,1993, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Abem, 1993. p. 19 - 48. VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989. WALLON, Henri. Psicologia e educação da infância. Tradução: Ana Rabaça, Lisboa, Editorial Estampa Ltda., 1975.

APÊNDICE A

Roteiro de entrevista realizada com professores da rede pública e particular.

1- Qual seu nome? (opcional) 2. Formação: 3- Já participou de algum curso na área de música? ( )Sim ( )Não 4- Qual tipo de música você costuma ouvir? 5- Você utiliza alguma atividade musical em sala de aula? ( )Sim ( )Não ( )As vezes 6. Você utiliza a música diariamente em suas atividades? ( )Sim ( )Não ( )Outros 7- Suas observações sobre o envolvimento dos alunos com a utilização de atividades com música é: ( )Ótima ( )Boa ( )Regular ( )Ruim ( )Outros 8- Para você é importante a utilização da música na aprendizagem das crianças? ( )Sim ( )Não ( )As vezes

9- A utilização da música em sala de aula contribui para se trabalhar de forma interdisciplinar? ( )Muito ( )Pouco ( )As vezes ( )Outros 10- A música contribui com a interação entre os alunos? ( )Muito ( )Pouco ( )As vezes ( )Outros 11- Com o trabalho que realiza com música você se sente: ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Pouco satisfeito ( ) Não realiza ( ) Outros

12 – O trabalho envolvendo música contribui com o desenvolvimento das crianças? ( )Muito ( )Pouco ( )Não contribui ( )Outros 13- Quais são essas contribuições? 14 - Para você a música contribui com a formação do indivíduo?

( )Muito ( )Pouco ( )Não contribui ( )Outros 15- Você considera que o trabalho com música em sala de aula contribui na relação professor/aluno? ( ) Contribui muito ( ) Contribui ( ) Contribui pouco ( ) Outros

16- As condições oferecidas pela escola para trabalhar com música é? ( ) Muito satisfatório ( ) Satisfatório ( ) Pouco satisfatório ( ) Outros 17- Qual o tempo destinado ao trabalho com música na escola? 18- Você considera que o tempo destinado à atividades com música em sala de aula é: ( ) Muito satisfatório ( ) Satisfatório ( ) Pouco satisfatório ( ) Outros 19- A utilização da música em sala de aula contribui com: ( ) Socialização das crianças ( ) Deixar o ambiente mais agradável ( ) Com as tarefas cotidianas da classe que são realizadas ( ) com a memória ( ) Outros