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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS SORAYA QUIXADÁ BEZERRA A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO EM CANINDÉ NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO DO CEARÁ (MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS) FORTALEZA – CEARÁ 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

SORAYA QUIXADÁ BEZERRA

A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO EM CANINDÉ

NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO DO CEARÁ

(MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS)

FORTALEZA – CEARÁ 2008

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ii

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

SORAYA QUIXADÁ BEZERRA

A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO EM CANINDÉ NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO DO CEARÁ

(MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Liduína Farias Almeida

da Costa

FORTALEZA – CEARÁ

2008

iii

SORAYA QUIXADÁ BEZERRA

A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO EM CANINDÉ

NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO DO CEARÁ (MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS)

Comissão Examinadora:

Prof.ª Orientadora Dr.ª Liduína Farias Almeida da Costa

Prof. Dr. Hermano Machado Ferreira Lima

Prof. Dr. Francisco Horácio da Silva Frota

Fortaleza, ____de _______________de 2008

iv

DEDICATÓRIA

A Deus, a minha família, aos meus amigos.

v

AGRADECIMENTOS

A Prof.ª Dr.ª Orientadora, Liduína Farias Almeida da Costa, braço amigo de todas

as etapas deste trabalho.

A minha família, pela confiança e motivação.

Aos amigos e colegas, pela força e pela vibração em relação a esta jornada.

Aos professores e colegas do Curso, pois juntos trilhamos uma etapa importante de

nossas vidas.

Aos participantes da pesquisa, pela concessão de informações valiosas para a

realização deste estudo.

A todos os que fazem o Centro de Formação de Condutores de Canindé.

A todos os que, com boa intenção, colaboraram para a realização e finalização

deste trabalho.

vi

...A estrada é longa e árdua, mas a fé

abrevia os caminhos do sofrimento.

Assim, pisam firme os devotos.

Eles não comunicam desalento, nem cansaço,

pois são impelidos pelo Sagrado, que é

fonte de esperança a cada

peregrinação.

Peregrinos de todos os tipos ali se

encontram, devotos de todas as raças

se amalgamam nas estradas que

deságuam na cidade da fé...

Marcelo Oliveira

vii

RESUMO

O presente trabalho consiste em um estudo aprofundado sobre municipalização do trânsito. O objetivo geral da pesquisa é avaliar as políticas e estratégias de ação dos órgãos, entidades públicas e organizações do Estado do Ceará, que trabalham em conjunto na área de trânsito, verificando as mudanças e permanências decorrentes da municipalização, especialmente quanto à qualidade de vida, nos municípios que implantaram a gestão administrativa do trânsito municipalizado, após a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro - CTB, em 23 de setembro de 1997 e entrada em vigor em janeiro de 1998. Como referências teóricas, na fase inicial da pesquisa, buscou-se embasamento em vários autores. Procedeu-se a pesquisa documental por meio dos documentos oficiais, mapas e fotografias. Na pesquisa de campo utilizou-se como instrumentos de coleta, o questionário, a entrevista semi-estruturada e o roteiro para a observação direta. Realizada algumas visitas preliminares a várias cidades do Ceará, objetivando selecionar uma delas para compor o campo empírico da presente pesquisa, e finalmente Canindé, foi a cidade escolhida para estudo de caso. A definição pela cidade de Canindé, foi devido a sua importância em fluxo de transportes em razão das romarias e, hoje, o intenso turismo religioso, sendo a segunda mais visitada por peregrinos devotos de São Francisco, o maior santuário franciscano da América Latina, pela sua localização geográfica e ainda pela grande quantidade de pessoas que visitam a cidade e aos cursos renovação de carteiras de habilitação (motorista) que mensalmente são ministrados aos condutores habilitados. Situada no sertão central do Estado, em uma região do semi-árido, com todas as intempéries da natureza, foi uma das que primeiro concretizou o processo de implantação da gestão da municipalização do trânsito, iniciado em novembro de 2001, favorecendo o ordenamento do trânsito, a geração emprego, com a criação de novos postos de trabalho e a melhoria da qualidade de vida da população, no seu processo de gestão municipalizada do trânsito. Como conclusões destacam-se: a) Os informantes consideram a municipalização do trânsito como forma de melhoria da qualidade de vida; b) Entretanto, não é possível afirmar que a municipalização do trânsito em si, seja determinante da dinamização dos fluxos de desenvolvimento. Ele acompanha e participa da modernização do Ceará, como área que também propicia empregos locais diretos e indiretos, assim como a segurança relativa no que diz respeito aos deslocamentos, más não é o único responsável pelas mudanças ocorridas.

Palavras chaves: Canindé. Avaliação de Políticas Públicas. Municipalização do Trânsito. Desenvolvimento Regional. Modernização do Ceará. Desenvolvimento Local.

viii

ABSTRACT

The detailed study about traffic municipal integration. The overall aim of the work consists on evaluating both the strategies and policies actions of all agencies, Public Entities and Organizations of the State of Ceará which connectedly work on the traffic branch, observing the changes and permanencies that come out of the municipal integration, especially those related to the standard of living in the towns that implemented the so-called Traffic Municipal Integration Administrative Management, soon after the Brazilian Traffic Code - BTC was signed on September 23, 1997, which started to work from January 1998 on. As theory sources, during the initial step of the research, many authors’ works were investigated. The documental research was based on legal documents, maps and photographs. During the field research some collection instruments were used, such as a series of questions, the semi-structured interview and some rules for the direct observation. Some preliminary visits to a large number of towns of the State of Ceara were made, whose purpose was to choose one of them to be part of the empirical branch of the present research, and finally, the town of Canindé was chosen as a sample to be studied. The town of Canindé was selected because of the intense influx of means of transportation due to the religious pilgrimages, and nowadays, the intense religious tourism, being the second most visited town of the state of Ceara by pilgrims devoted to San Francisco, for its geographical location as well as the driver’s licenses renovation (driver) courses that are offered to the habilitated motorists every month. Located in the central interior of the state, in a hot and semi-arid region, with all natural harsh weather conditions, it was one of the first ones that implemented the traffic municipal integration management which started in November 2001, favoring the rules of traffic laws, the generation of jobs with the creation of new workplaces and a significant improvement of the standards of living of the inhabitants in their traffic municipal integration management. It may be concluded that: a) the informants affirm that the traffic municipal integration brings a better standard of living; b) however, it’s not possible to assure that the traffic municipal integration itself is responsible for energizing the development levels; the traffic management follows and takes part in the modernization of the state of Ceará, as an area that also generates, locally, both direct and indirect jobs as well as the relative safety in relation to the displacements, but it is not the only source of the changes occurred. Key-words: Canindé, Public Policies Measurement. Traffic Municipal Integration. Regional Development. Modernization of Ceará. Local Development.

ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CETRAN Conselho Estadual de Trânsito CFC Centro de Formação de Condutores CONTRAN Conselho Nacional de Trânsito CREDES Centro Regional de Educação

CERES Centro Regional de Saúde CIRETRANS Circunscrição Regional de Trânsito CTB Código de Trânsito Brasileiro DENATRAN Departamento Nacional de Trânsito DETRAN Departamento de Trânsito DEMUTRAN Departamento Municipal de Trânsito IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Humano IDM Índice de Desenvolvimento Municipal IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará PIB Produto Interno Bruto RMF Região Metropolitana de Fortaleza SESA Secretaria da Saúde do Estado do Ceará SNT Sistema Nacional de Trânsito SEDUC Secretaria da Educação Básica do Estado do Ceará SEPLAN Secretaria do Planejamento e Coordenação SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. O CEARÁ E SUA MODERNIZAÇÃO

2.1 Aspectos históricos do Ceará na visão dos planos de governo ..........21

2.2 O desenvolvimento regional segundo o Plano de Governo do Estado do

Ceará – 2003 a 2006 – “Ceará Cidadania”: Crescimento com Inclusão Social”

................................................................... 26

2.3 A Regionalização do Estado .............................................................. 29

2.4 A Integração das Regiões ................................................................ 32

3. A MUNICIPALIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DO DEPARTAMENTO NACIONAL

DE TRÂNSITO

3.1 A municipalização das políticas públicas ...................................... 34

3.2 Municipalização do trânsito e a qualidade de vida ............................. 42

4. A EXPERIÊNCIA DE MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO EM CANINDÉ

4.1 Considerações gerais ........................................................................ 47

4.2 Canindé - aspectos históricos .............................................................. 49

4.3 Aspectos geográficos ........................................................................... 56

4.4 Aspectos econômicos, demográficos e sociais ................................... 58

4.5 A municipalização do trânsito na Cidade .......................................... 67

5. O TRÂNSITO MUNICIPALIZADO EM CANINDÉ: MUDANÇAS E

PERMANÊNCIAS

5.1 Perfil dos informantes .....................................................................74

5.2 Meios de transporte utilizados .......................................................... 75

5.3 Movimentação do trânsito na Cidade ................................................77

5.4 Compreensão acerca da Guarda Municipal ......................................78

5.5 A população e o conhecimento da municipalização ........................ 79

5.5.1 O trânsito antes do DEMUTRAN ..............................................80

5.5.2 Mudanças no trânsito após a municipalização .......................... 80

5.6 Relação entre o turismo e a municipalização do trânsito ................ 84

xi

5.7 Relação entre a municipalização do trânsito e qualidade de vida em

Canindé ..............................................................................................85

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 87

BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................91

APÊNDICE I

ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO

APÊNDICE II

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

ANEXO I

FOTOS DA CIDADE DE CANINDÉ-CE

ANEXO II

DOCUMENTOS OFICIAIS

12

1. INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Trânsito, aprovada em 15 de setembro de 2004,

integra um conjunto de ações que envolvem programas de capacitação e educação

para a cidadania no trânsito, possibilitando condições para a abordagem do trânsito

de forma integrada ao uso do solo, ao desenvolvimento urbano e regional, ao

transporte em suas diferentes modalidades, à educação, à saúde e ao meio

ambiente.

O período compreendido entre a promulgação da Constituição de 1988 e

a aprovação da Política Nacional do Trânsito coincide, no Ceará, com o que os

estudiosos e políticos convencionaram denominar como modernização do Estado

(do Ceará) ou “ciclo de mudança”.

A compreensão dos processos de municipalização em geral, e do

trânsito em particular, não pode ser deslocada do entendimento do referido “ciclo”,

uma vez que tais processos socorrem com a mediação das unidades federadas,

entretanto, é necessário compreender as singularidades de ambos.

Um dos períodos de maior evidência da municipalização do trânsito no

Ceará coincide com o de operacionalização do Plano de Governo (2003-2006)

intitulado “Ceará Cidadania: crescimento com inclusão social”1.

As concepções de desenvolvimento regional e inclusão social

constantes nesse plano de Governo, assim como o teor do Código de Trânsito

Brasileiro (CTB), que considera as possibilidades de melhoria da qualidade de vida

1Plano de Mudanças 1987-1991 Plano de Mudanças Ceará Melhor 1992-1995 Plano de Desenvolvimento Sustentável 1995-1998 Consolidando o Desenvolvimento no Ceará – Plano de Desenvolvimento Sustentável 1999-2002

13

da população e do desenvolvimento urbano, ocasionaram vários equívocos

interpretativos, entre eles o de que o trânsito municipalizado levaria ao

desenvolvimento.

O interesse pela temática relaciona-se à atividade pedagógica que se

desenvolve no Centro de Formação de Condutores – CFC, autorizado e

credenciado pelos órgãos executivos de trânsito dos estados – DETRANs,

Departamento Estadual de Trânsito.

Mensalmente, realizam-se viagens à cidade de Canindé-CE, desde o

ano de 2005, com o objetivo de ministrar cursos na área, especificamente os de

renovação de carteiras de habilitação para condutores, quando foram verificados

mais claramente vários aspectos, relacionados à municipalização do trânsito,

especialmente os que dizem respeito à política de desenvolvimento regional do

Ceará e ao desconhecimento da sociedade local quanto aos aspectos da gestão do

trânsito municipalizado.

A Lei nº 9.503, aprovada em 23 de setembro de 1997, referente ao

Código de Trânsito Brasileiro – CTB, em seu artigo 150, trata da formação dos

condutores a habilitação, para candidatos à Carteira Nacional de Habilitação, e

Resolução nº168, do Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e estabelece

requisitos para a renovação da Carteira Nacional de Habilitação. Determina que o

candidato, ao proceder à renovação dos exames, deverá fazer uma prova ou o

curso com as disciplinas Primeiros Socorros e Direção Defensiva, para aqueles que

não passaram pelo curso da 1ª habilitação, anterior ao ano de 1998.

No desempenho da função de instrutora pedagógica sobre legislação de

trânsito, durante os cursos ora citados, percebe-se a falta de conhecimento de

parcela significativa dos cidadãos acerca da nova legislação, levando-os a

responsabilizar apenas o Estado por intercorrências relacionadas ao trânsito, como

14

os acidentes, a falta de respeito, o mau uso do espaço urbano, cidadania e

educação, entre outros aspectos que também dizem respeito aos cidadãos.

A temática da presente pesquisa refere-se à relação entre a

municipalização do trânsito e o desenvolvimento regional local no Ceará.

O objetivo geral da pesquisa é avaliar as políticas e estratégias de ação

dos órgãos, entidades públicas e organizações do Estado do Ceará, que trabalham

em conjunto na área de trânsito, verificando as mudanças e permanências

decorrentes da municipalização, especialmente quanto à qualidade de vida.

Os objetivos específicos são direcionados para as ações a seguir

descritas:

1 conhecer a aplicabilidade do Código de Trânsito Brasileiro, referente a

gestão do trânsito municipalizado;

2 identificar no município cearense pesquisado, o seu ordenamento

espacial e o seu trânsito, após a municipalização, bem como os seus fatores de

desenvolvimento sócio econômicos; e

3 identificar a provável melhoria na qualidade de vida das pessoas, em

relação à segurança no trânsito no Município onde ocorreu a gestão da

municipalização.

Quanto aos aspectos metodológicos, optou-se pela realização de estudo

de caso. Segundo Yin (2001), os estudos de caso “podem transmitir informações

baseadas na pesquisa sobre um determinado fenômeno a uma gama de pessoas

que não possuem conhecimento sobre eles”. Possibilitam investigar um fenômeno

contemporâneo no contexto da vida real, no qual os comportamentos relevantes

não podem ser manipulados, mas podendo-se fazer observações diretas e

entrevistas.

15

Para outros autores, “o estudo de caso é uma caracterização abrangente

para designar uma diversidade de pesquisas que coletam e registram dados de um

caso particular ou de vários casos a fim de organizar um relatório ordenado de uma

experiência” (Chizzotti, 2003).

Ao considerar que o estudo de caso conjuga variados instrumentos foi

realizada pesquisa bibliográfica em autores relacionados ao tema, tais como: Becker (1994); Brasil (2004): Bassul (2005); Chizzotti (2003); Costa (2006); Elkin

(2003); Fleury (1996); Ferreira (2006); Franco (2004); Yin (2001); Guiducci (1980);

Legrand (2004); Lemenhe (1995); Minayo (2001); Martins (2006); Muller (2003);

Oliveira (2007); Pinsky (2003); Pinto (2003); Pontes,Almeida (2003); Silva (2001);

Spozati (1994); Souza (1995), dentre outros.

Procedeu-se também ao exame e análise de documentos conforme a

seguir: Lei Federal nº 9.503/97, Código de Trânsito Brasileiro, de 23 de setembro

de 1997; Resoluções do Conselho Nacional de Trânsito; Lei Orgânica do Município

de Canindé; Lei nº 1.719/01, de 28 de novembro de 2001 – Dispõe sobre a criação

do Departamento Municipal de Trânsito de Canindé; Lei nº 1.967/06, de 10 de

novembro de 2006 – Plano Diretor Participativo do Município de Canindé; e

documentos literários (livros, folhetos, filmes, documentário, jornais, CDs, DVDs,

revistas etc.), todos relacionados com o tema em questão. Muitos dados foram

levantados no Departamento Estadual de Transito, Departamento Municipal de

Trânsito, Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará e Biblioteca

Pública de Canindé.

Durante a pesquisa de campo propriamente dita, foram utilizados como

instrumentos de coleta o questionário, a entrevista gravada semi estruturada e o

roteiro para a observação direta.

O questionário, segundo Oliveira (2007), “pode ser definido como uma

técnica para obtenção de informações sobre sentimentos crenças, expectativas,

16

situações vivenciadas e sobre todo e qualquer dado que o pesquisador deseja

registrar para atender os objetivos de seu estudo”. A entrevista é um excelente

instrumento de pesquisa, por permitir a interação do pesquisador com o

entrevistado, e a obtenção de descrições detalhadas sobre o que se está

pesquisando. É preciso que o entrevistador não interfira nas respostas do

entrevistado.

A entrevista, consoante Minayo (2001), é o procedimento mais usual no

trabalho de campo. Por seu intermédio, o pesquisador busca obter informes

contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa

e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos

atores, enquanto sujeitos-objetos da pesquisa que vivenciam determinada

realidade que está sendo focalizada.

Acerca da observação direta afirma-se, ainda com base em Minayo

(2001), que “se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno

observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus

próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação,

estabelece uma relação face a face com os observados”.

Quanto aos informantes, destacam-se dois grupos: o primeiro, escolhido

entre os alunos para os quais foram ministrados cursos no âmbito do CFC,

conforme mencionado. O segundo grupo é constituído das outras pessoas do

Município escolhido, cujas atividades são relacionadas, direta ou indiretamente,

com o trânsito, tais como comerciantes, agentes de trânsito e condutores de

veículos (incluídos moto táxis, táxis e transportes destinados ao frete), além de

moradores com histórico na Cidade, que poderiam contribuir de maneira mais

eficaz e com ligação direta com o objeto do estudo.

Convém realçar o fato de que a realização da pesquisa foi articulada em

diferentes momentos, nos quais foram usados instrumentos adequados aos

17

objetivos planejados. Durante a fase exploratória da pesquisa, objetivou-se buscar

uma explicação geral sobre o tema e se iniciou com a delimitação do estudo. Para

tanto, decidiu-se realizar levantamento bibliográfico, assim como leitura e análise

de documentos.

Na perspectiva de Oliveira (2007), “a pesquisa bibliográfica é uma

modalidade de estudo e análise de documentos de domínio científico tais como

livros, enciclopédias, periódicos, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos. A

pesquisa documental caracteriza-se pela busca de informações em documentos

que não receberam nenhum tratamento científico como relatórios, reportagens de

jornais, revistas, cartas, filmes, fotografias, entre outras matérias”.

Também foram realizadas algumas visitas preliminares a várias cidades

do Ceará, principalmente Sobral, Canindé, Pentecoste, Cascavel, Caucaia, Aracati

e Baturité, objetivando selecionar uma delas para compor o campo empírico da

presente pesquisa.

Essa fase engloba vários encontros e seminários sobre o tema,

registrando-se, então, como importantes para a escolha do município a ser

pesquisado, os seguintes eventos:

1) encontros regionais de orientação para prefeituras e câmaras

municipais, promovidos pelo Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do

Ceará, na cidade de Cascavel;

2) 2ª Conferência das Cidades, Reforma urbana: cidade para todos,

promovido pelo Ministério das Cidades em Caucaia-CE; e

3) Seminário sobre a Municipalização do Trânsito, Fortaleza-CE.

Mediante critérios estipulados tais como distância de Fortaleza,

viabilidade econômica para realização das viagens, (já que não se dispunha de

18

bolsa de pesquisa), tempo de municipalização do trânsito, características do

município receptor de romaria foi selecionada a cidade de Canindé.

Canindé situa-se na área do Sertão Central, distante a 108 km de

Fortaleza, contando uma população estimada de 73.878 habitantes (IBGE/IPECE,

2007). O acesso se dá pela rodovia BR 020. O clima é tropical, quente e semi

árido, predominando a vegetação de caatinga arbustiva aberta, caatinga arbustiva

densa e floresta. Localiza-se na Região Administrativa 7 (sete), composta pelos

Municípios de Canindé, Caridade, General Sampaio, Itatira, Paramoti e Santa

Quitéria, conforme detalhamento no corpo desta dissertação, em seu segundo

capítulo.

Considera-se como aspecto de maior relevância no Município

selecionado o fenômeno das romarias, como referencial de desenvolvimento e

organização urbana vinculada à regulamentação do trânsito. Com esta definição,

procedeu-se à pesquisa de campo, cujas amostras foram constituídas por

saturação (MINAYO, 2001). A primeira amostra, conforme descrito, é de alunos dos

cursos ministrados sistematicamente pela autora, e a segunda de pessoas da

cidade que mantêm alguma relação com o trânsito.

Na escolha dos dados contou-se com a ajuda de duas pessoas do CFC

de Canindé, as quais, mensalmente, compareciam à Cidade, para a aplicação e

recebimento dos questionários. No primeiro momento, o questionário fora aplicado

na sala de aula do curso de renovação de carteira de motorista e primeira

habilitação. Quanto à população não escolarizada ou sem condições de responder

o questionário, as informações foram transcritas para o questionário (Apêndice).

As entrevistas foram gravadas e em seguida transcritas por meio

eletrônico, com o segundo grupo constituinte da amostra (vinte informantes), dentre

eles agente de trânsito, instrutores de trânsito, comerciantes, radialista, religiosos

da igreja católica, taxista e empresário da área de hotelaria. Com um prévio contato

19

por telefone e pessoal, marcou-se encontro com os entrevistados em seus locais

de trabalho, para a realização das entrevistas. Não houve dificuldade nesta fase da

pesquisa, sendo bem aceita por todos. A observação direta foi realizada nas

viagens mensais a cidade de Canindé, desde o ano de 2005.

Esta dissertação está estruturada em seis capítulos, incluindo esta

introdução (1º) e as Considerações Finais (6).

O segundo módulo apresenta os aspectos gerais do Ceará o seu

processo de modernização, por meio dos planos de governo do Estado, bem como

sua importância para implantar a municipalização na gestão do trânsito.

O terceiro segmento trata da municipalização do trânsito na perspectiva

do DENATRAN, órgão máximo executivo da atividade, responsável pelo processo

de municipalização específico.

O quarto capítulo apresenta a experiência da municipalização do trânsito

em Canindé, dando ênfase ao histórico do Município, modo de vida, questão da

religiosidade, aspectos geográfico, econômico e social, dentre outros, e a gestão

da municipalização do trânsito.

O quinto módulo expressa o trânsito municipalizado na Cidade - mudanças e permanências - enfocando o resultado da pesquisa realizada, nos

instrumentos de coleta, como a observação direta, a aplicação do questionário e a

entrevista com a população local.

O sexto capítulo traz as conclusões do trabalho, com o intuito de

oferecer uma visão da gestão municipalizada do trânsito, no locus investigado.

20

A metodologia utilizada para realizar esta dissertação consistiu em

várias visitas ao Município objeto do presente estudo, observação direta, aplicação

de questionários e entrevistas gravadas. Faz-se comentário acerca do trabalho

realizado, no discorrer dos capítulos.

21

2 - O CEARÁ E SUA MODERNIZAÇÃO

2.1 Aspectos históricos do Ceará na visão dos planos de governo

Nas sociedades modernas, há uma busca constante por melhorias na

vida das pessoas, assim como a compreensão de que o Estado é um dos maiores

responsáveis por essas melhorias, principalmente no crescimento econômico-

social, com as condições viáveis de sustentabilidade.

Nos últimos anos, especialmente com origem em 1987, o Estado do

Ceará experimenta um processo dito de desenvolvimento e de mudanças, o qual,

conforme os grupos de poder e a mídia hegemônica, distancia-se da média

nacional.

Os investimentos em infraestrutura e a implementação de políticas

públicas, principalmente direcionadas à industrialização, resultaram de uma

percepção diferenciada das lideranças político-administrativas que ascenderam ao

poder desde então.

Os processos de modernização recentes, entretanto, têm antecedentes

históricos importantes e, no caso específico do Ceará, que, por muito tempo foi

referido como o Estado mais “encarniçadamente oligárquico”, não seria diferente

(OLIVEIRA, Apud, LEMENHE, 1995).

De colonização tardia, o Ceará, por muito tempo, dedicou-se à criação

de gado2. A cultura do algodão estava associada à criação bovina, propiciando a

2 Os currais ocuparam todo o interior do Ceará, principalmente nas regiões do semi árido, uma economia essencialmente pecuarista. O gado, além de ser uma mercadoria de valor, transportava a

22

indústria, mesmo que artesanal, um novo mercado de trabalho, atendendo as

necessidades básicas da população. Nas áreas produtoras de algodão, verificou-se

o surgimento de indústrias têxteis visando ao consumo dos excedentes da

produção algodoeira. Sem renovação da maquinaria, porém conjugada a outros

fatores de ordem estrutural, esta torna-se obsoleta e entra em crise (AMORA

APUD SOUZA,1995).

De fato, para Pontes e Almeida (2003), as políticas efetivas visando à

promoção do desenvolvimento do Nordeste do Brasil foram pela primeira vez

adotadas no início da década de 1960, com a criação da Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE, que pressupunha novas formas de

atuação do Governo Federal na Região e, deste modo, no Ceará, embora seus

processos de industrialização e modernização só tenham deslanchado

posteriormente aos dos Estados da Bahia e de Pernambuco.

Relacionado ao objeto de reflexão do presente capítulo, destacam-se o

chamado ciclo das mudanças no Ceará e o seu Plano de Mudanças, o qual cobria

o período de 1987 a 1991, cuja preocupação incluía o desenvolvimento do interior

cearense. Como anotou Pontes e Almeida,

Apontou-se, então, a necessidade da criação de mini-distritos industriais, nos municípios do interior, que deveriam destinar-se às micro e pequenas empresas – MPE´s. Essas empresas seriam a principal forma de promoção da industrialização, e consequentemente do desenvolvimento, do interior do estado sem, contudo, abandonar a prioridade aos grandes projetos (2003,p.44).

O Plano Plurianual – plano de mudanças que cobria o período

compreendido entre 1992 e 1995, priorizava o incentivo às micro e pequenas

empresas, em razão de crença quanto à capacidade de geração de empregos e de

si próprio, proporcionando o surgimento de núcleos urbanos e abrindo caminhos entre eles. A carne do gado era submetida a salga e secagem, o couro era utilizado desde a confecção de roupa a utensílios de uso pessoal e doméstico, atividade econômica industrial e comercial do Ceará. Em decorrência das secas, provocou a decadência desta economia (AMORA APUD SOUZA, 1995, p.121).

23

promoção do desenvolvimento do interior cearense.

O Plano de Desenvolvimento Sustentável, que passou a constituir meta

do Plano de Governo do Ceará no período de 1995 a 1998, enfatizava a

necessidade de uma estrutura mais adequada ao novo circuito do capital

globalizado. Incluía-se, dentre outros, um porto localizado fora do perímetro urbano

de Fortaleza. No período, foram iniciados estudos direcionados para implantação

de industriais em diferentes regiões do Estado.

Relativamente ao Plano de 1999 a 2002, não obstante fosse intitulado

“Consolidando o Desenvolvimento no Ceará – Plano de Desenvolvimento

Sustentável”, este conferia maior destaque à criação da cidade tecnológica, assim

como a operacionalização do Porto do Pecém-CE.

Como pode ser observado por meio dos diferentes planos de governo do

Ceará, ora mencionados, grande ênfase é dada à atração de investimentos

industriais, bem como à realização de obras destinadas à consolidação de infra-

estrutura física e social, destinada à garantia da sustentabilidade (PONTES;

ALMEIDA, 2003).

Neste sentido, por exemplo, as construções do açude do Castanhão e

do porto do Pecém são duas grandes obras relacionadas com o desenvolvimento

industrial do Estado, cuja justificativa é a necessidade de uma infraestrutura, com a

implantação de mais estabelecimentos e a consequente diversificação da

produção.

Considera-se importante enfatizar o fato de que o Estado do Ceará está

localizado na região Nordeste do Brasil, um pouco abaixo da linha do equador,

numa posição nitidamente tropical, entre 2º46'30'' e 7º52'15'' de latitude sul e

37º14'54'' e 41º24'45'' de longitude ocidental. O Ceará possui área de 148.825 km²,

24

correspondente a 1,74% da área do Brasil e 9,57% da nordestina e está dividido,

politicamente, em 184 municípios. Ocupa, em termos de extensão, a 17ª posição

dentre os estados brasileiros e a 4ª posição em relação aos estados do Nordeste

(CEARÁ, 2007).

Sua capital, Fortaleza, localiza-se numa planície na zona litorânea, entre

3º30' e 4º30'S e 38º39' WGR. O Ceará faz limites ao sul com Pernambuco, ao

Norte com o oceano Atlântico, ao oeste com o Piauí e ao leste com a Paraíba e o

Rio Grande do Norte (IBGE, 2005).

Fonte: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - 2008

25

O Estado tem 93% de seu território encravado na região do semi árido

nordestino, o que o torna vulnerável à ocorrência de secas e à escassez de

precipitações pluviométricas. Predomina o clima tropical quente e semi árido, que

representa 67,9% da área do Estado e a vegetação predominante é a caatinga,

típica do semi árido (CEARÁ, 2007).

A população do Ceará, no ano de 2006, segundo o IBGE, totalizou

8.238.204 habitantes, representando, aproximadamente, 15,9% da população

nordestina e 4,4% da população brasileira, sendo que 76,4% e 23,6% do total da

população residem na zona urbana e rural, respectivamente. A região

metropolitana de Fortaleza - RMF passou a representar 41,6% da população total

do Estado, estando o restante distribuído pelo território cearense (CEARÁ, 2007).

Acentua o IPECE (2008), com base no IBGE, que este processo refletiu

no grau de urbanização do Brasil, e o Ceará acompanhou a tendência nacional de

maior concentração populacional nas zonas urbanas, apresentando em 2006 um

grau de urbanização igual a 76,4%, maior do que o Nordeste como um todo, que

era de 71,4%. Esse processo de urbanização segue um padrão verificado nos

países desenvolvidos e em desenvolvimento, à medida que as atividades agrícolas

vão perdendo participação na economia, principalmente para o setor de serviços,

com efeitos indesejáveis ao processo de urbanização, principalmente no deficit da

oferta de serviços públicos e aumento do desemprego e/ou subemprego; podendo

impactar na demanda por bens e serviços providos à população, ou regulados, pelo

governo, além de exercer maior pressão sobre o mercado de trabalho local

(CEARÁ, 2008).

Segundo o IPECE (2008), “a região Metropolitana de Fortaleza,

apresentou uma taxa de crescimento populacional superior às registradas pelas

demais regiões e o fenômeno deveu-se ao fluxo migratório no sentido campo-

cidade. A população rural se deparou com uma expressiva redução de trabalho

local, em razão da política de priorização da indústria em detrimento das políticas

de desenvolvimento rural e, consequentemente, deslocou-se para Fortaleza,

26

concentrando-se, em grande proporção, em municípios da Região Metropolitana”.

As maiores cidades do Estado também receberam consideráveis contingentes

populacionais rurais.

2.2 O Desenvolvimento regional segundo o Plano de Governo do Estado do Ceará – 2003 a 2006 – “Ceará Cidadania: Crescimento com Inclusão Social”

Conforme pesquisa documental realizada no IPECE, o Ceará, nos

últimos anos, apresenta uma série de transformações econômicas e sociais

mediante nova visão, englobando vários fatores decisivos, como o aspecto

demográfico, migração, saúde e educação. O Governo do Estado está melhorando

as condições sociais da população, por meio de suas políticas e programas e, em

conseqüência, as condições de vida, trabalho e rendimento.

O Plano de Governo do Estado do Ceará no período 2003/2006

expressava o objetivo de redução das desigualdades sociais e regionais,

promovendo a inclusão social, contando com a colaboração da sociedade, com

ações que conduzem a mudanças para a população do Estado. O Plano “Ceará

Cidadania: Crescimento com Inclusão Social” (CEARÁ, 2003) apresentava as

expectativas em torno de transformações em todos os níveis, contemplando a

dinamização dos diversos setores da economia, promovendo também a inclusão

social com efetivação da justiça social para todos os cearenses.

O plano “Ceará Cidadania: Crescimento com Inclusão Social”, do

Governo do Estado, no período, privilegiava um novo ciclo de desenvolvimento

pautado na participação social e interação com a sociedade por meio da

27

valorização e incentivo aos espaços de diálogos (CEARÁ, 2003). Os quatro eixos

de articulação do plano estão apresentados da seguinte forma:

Eixo 1 – Ceará Empreendedor - ampliar as oportunidades de emprega e

renda com foco na competitividade e no território - Política de

Desenvolvimento Econômico.

Eixo 2 – Ceará Vida Melhor – avançar na melhoria da qualidade de vida da

população – Política de Desenvolvimento Social.

Eixo 3 - Ceará Integração – promover o desenvolvimento local e regional –

Política de Desenvolvimento Regional.

Eixo 4 – Estado a Serviço do Cidadão – gerir o Estado com a participação

social – Política de fortalecimento da Governança.

O desenvolvimento regional, conforme mencionado, está inserido no

Eixo 3, referente às políticas de desenvolvimento regional, e seus objetivos são

favorecer a expansão das oportunidades de emprego e melhor qualidade de vida

nas cidades e no meio rural. Os indicadores sociais do Ceará, nas áreas de

habitação, educação e saúde, apresentam significativas mudanças, resultando nas

melhorias da infraestrutura e o desenvolvimento das regiões (CEARÁ, 2003).

Os programas e projetos do Governo do Estado induziram os novos

investimentos, com a finalidade de reduzir as desigualdades regionais,

consolidando os pólos industriais, localizados nas macrorregiões do Estado,

estimulando a mão-de-obra local. Neste programa de empreendimentos industriais,

há uma orientação para que as empresas assumam um compromisso social com

os municípios, visando a contribuir para a melhoria das condições de vida,

principalmente das comunidades carentes (CEARÁ, 2003).

Quanto ao eixo Ceará Empreendedor (CEARÁ, 2003), trata-se do

implemento do turismo, fortalecendo a imagem do Estado, na diversificação dos

28

produtos regionais, nos recursos naturais, da presença do setor privado,

melhorando e ampliando a infraestrutura e o apoio ao turismo regional e local.

Compreendendo a melhoria do comércio em geral, assim como dos transportes

aéreos, ferroviários, marítimos e terrestres, dentre outros. Várias linhas de ação

deveriam ser efetivadas para atender os objetivos, especificando-se as seguintes:

a consolidação e requalificação de destinos e produtos turísticos

atualmente no mercado;

o planejamento e criação de destinos e produtos, agregando valores às

potencialidades;

o planejamento do litoral para atender a diversidade do turismo;

a consolidação do processo de interiorização;

a atração de investimentos privados para o Estado;

o desenvolvimento de uma política de educação, em diversas áreas de

atuação; e

a participação das pequenas e microempresas (CEARÁ, 2003).

Outro objetivo estratégico do plano em referência é o fortalecimento da

infraestrutura, com a implementação de um Plano de Logística de Transporte,

englobando os diversos modais (rodoviários, ferroviários e aeroviários), e de maior

interação regional e nacional em relação à utilização das rodovias (CEARÁ, 2003).

Segundo a lógica desse plano, (CEARÁ, 2003), o crescimento

econômico e o desenvolvimento do Estado estão condicionados ao fortalecimento

da infraestrutura logística, entre elas, a conservação e construção de rodovias e

estradas interligando as diversas regiões do Estado. São previstas também

interligações entre os polos de desenvolvimento e os estados vizinhos, visando ao

escoamento de produtos e de matérias-primas estaduais para diversos fins. Seria

fortalecida, desse modo, a preservação de áreas, obras e serviços destinados à

fixação do homem no campo, intensificando o esforço de preservação de áreas

para deixar o homem no seu município de origem.

29

2.3 A Regionalização do Estado

Com tais propósitos, o Estado do Ceará, cujo território tem cerca de 148

mil km², está dividido em 184 (cento e oitenta e quatro) municípios e 783 distritos; 8

(oito) macrorregiões de planejamento e 20 (vinte) regiões administrativas com

características diversificadas, tais como: socioeconômicas, culturais, demográficas,

recursos naturais, com potencialidades e limitações do seu território

(CEARÁ,2004a). Como exemplo da divisão de região de planejamento, a Saúde –

CERES, a área de Educação tem CREDES, e o Trânsito – CIRETRANS,

objetivando melhor acompanhamento das atividades conforme a região. Cada

região tem uma sede desses órgãos/entidades, os quais proporcionariam melhor

atendimento a sociedade local, sem a necessidade de deslocamentos para

Fortaleza, sede do Governo Estadual.

30

Fonte: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - 2008

A regionalização do Estado do Ceará, conforme (CEARÁ, 2007),

compõe oito macrorregiões de planejamento e vinte regiões administrativas. No

que diz respeito aos aspectos físicos, geográficos e de estrutura produtiva, o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE dividiu o Estado em sete

mesorregiões e 33 Microrregiões geográficas, de acordo com o processo de

transformação do espaço nacional e estrutura produtiva (CEARÁ, 2004a).

31

As oito macrorregiões de planejamento do Estado do Ceará estão assim

delineadas, conforme CEARÁ (2007):

Macrorregião região de planejamento 1 REGIÃO METROPOLITANA DE

FORTALEZA 13 municípios.

Macrorregião região de planejamento 2 LITORAL OESTE 27

municípios.

Macrorregião região de planejamento 3 SOBRAL / IBIAPABA 29

municípios.

Macrorregião região de planejamento 4 INHAMUNS 16 municípios.

Macrorregião região de planejamento 5 SERTÃO CENTRAL 21

municípios.

Macrorregião região de planejamento 6 MACIÇO BATURITÉ 13 municípios.

Macrorregião região de planejamento 7 LITORAL LESTE / JAGUARIBE

23 municípios.

Macrorregião região de planejamento 8 CARIRI / CENTRO SUL 42

municípios.

A região delimitada para a pesquisa é a Macrorregião de

planejamento 5 do Sertão Central, e Região Administrativa 7, composta pelos

Municípios de Canindé, Caridade, General Sampaio, Itatira, Paramoti e Santa

Quitéria (CEARÁ,2007).

32

MACRORREGIÕES DE PLANEJAMENTO/ MICRORREGIÕES ADMINISTRATIVAS DO ESTADO

DO CEARÁ

Fonte: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - 2007

2.4 A Integração das Regiões

Conforme o (CEARÁ,2004a), a integração das regiões cearense objetiva

a promoção do desenvolvimento local e regional, no alinhamento das políticas

públicas, com a integração econômica dos mercados no âmbito regional,

desconcentrando o processo de urbanização, minimizando as disparidades entre a

Capital e o restante do Estado, propiciando oportunidades de trabalho e renda,

para um maior contingente populacional, tentando reduzir as desigualdades

regionais e a pobreza no Estado.

33

A estrutura das pequenas cidades não favorece o processo de

industrialização, para absorver a força de trabalho excedente do setor rural, visto

que há maior distorção na renda mensal do trabalhador do setor urbano, que é

quase o dobro da renda média do trabalhador do setor rural, favorecendo o

comércio e os serviços, sem uma mão-de-obra qualificada.

Com a implementação da logística, as regiões passam a adotar ações

baseadas em princípios que envolvem a autonomia local, em busca do

desenvolvimento sócio econômico, da organização institucional e da sociedade civil

do Município. O Governo estadual, segundo o (CEARÁ, 2004a), visa a assegurar

uma estrutura espacial mais equilibrada, estimulando o desenvolvimento das

potencialidades regionais com a participação da sociedade, dos pequenos

agricultores e dos pequenos empreendedores locais, dentre outros.

A municipalização do trânsito em Canindé tem início em 2001, portanto,

durante a vigência do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Ceará (1999 a

2002). Uma relativa consolidação do processo, entretanto, é perceptível nos anos

posteriores coincidentes com o período do Plano Ceará Cidadania, crescimento

com inclusão social (2003 a 2006).

34

3 - A MUNICIPALIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DO DEPARTAMENTO

NACIONAL DO TRÂNSITO

3.1 A Municipalização das políticas públicas

A participação institucionalizada, que é a participação dos cidadãos em

espaços públicos, legalmente instituídos pelo Poder Público, foi difundida pela

Constituição de 1988, e por meio de leis federais específicas, conforme cada

política pública - saúde, criança e adolescente, educação, assistência social,

gestão das cidades e trânsito e, o mais recente, a gestão das cidades.

Para fins do presente trabalho, a municipalização é entendida como

processo de descentralização, cuja principal característica é a ambiguidade visto

que, segundo Spozati (1994), pode ocorrer de duas formas: a conservadora ou

burocrática, que supõe a passagem de responsabilidade de uma instância para

outra, conforme hierarquia do Estado (entes federados); e a democrática, que

propicia formas renovadas de partilhar a gestão entre Estado e sociedade civil,

possibilitando a criação de mecanismos nas relações entre estas duas esferas da

organização social.

Com a Constituição de 1988, que descentralizou o poder do Estado, os

municípios brasileiros gozam de relativa autonomia política e financeira. Quanto às

responsabilidades do governo local, considerando cada especificidade, passou a

ser atribuição do município: cobrar tributos, fazer empréstimos; planejar e executar

as políticas e fomento ao desenvolvimento socioeconômico, político e cultural na

esfera local, bem como executar as políticas públicas vinculadas aos programas

federais e estaduais. A descentralização, conforme Francisco Oliveira (2003),

35

favoreceu o processo participativo no poder local. Em conformidade com a

perspectiva de Sposati (1994), anteriormente descrita, entretanto, o processo não

tem forma única ou resultado, podendo favorecer a simples desresponsabilização

de uma instância federativa e a passagem de responsabilidade para outra, seja

estadual ou municipal.

Na Constituição de 1988, o Estado brasileiro adotou a descentralização

na Administração Pública, resultando em várias responsabilidades para os

municípios. Em nome dessa novidade, eles passaram a ter maior autonomia na

gestão de programas e projetos locais; instaurou-se um novo pacto federativo no

País, recolocando os municípios como partes efetivas da Federação, reservando a

eles o lugar de destaque na definição de políticas públicas quase em geral,

incluídas as de transporte, trânsito e desenvolvimento urbano (BRASIL-

DENATRAN, 2004).

O artigo 18 da Constituição Federal dispõe: “A organização político-

administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados,

o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta

Constituição, desse dispositivo extrai-se que: tanto os Estados-membros como os

Municípios tem a sua autonomia garantida constitucionalmente, não como um

poder de autogoverno decorrente da Soberania Nacional, mas como um direito

público subjetivo de organizar o seu governo e prover a sua administração, nos

limites que a Lei Maior lhes traça” (MEIRELLES, apud MARTINS,1999)

Desta forma, tudo o que repercutir direta ou indiretamente na vida

municipal é de interesse do Município, principalmente no que toca a sua

autonomia: “o Município detém autonomia administrativa para legislar sobre tudo

quanto diga respeito a assuntos de interesse local, bem assim para organizar e

executar os serviços públicos de sua alçada” (MARTINS, 1999).

36

Dez anos após a promulgação da referida Constituição, a

municipalização do trânsito veio a se consolidar após a entrada em vigor do Código

de Trânsito Brasileiro - CTB em janeiro de 1998, que passou a considerar a União,

os estados, o Distrito Federal e os municípios como entes autônomos integrantes

de um sistema de administração compartilhada. Criou-se o Sistema Nacional de

Trânsito, pautado na mesma lógica do novo desenho federativo (TAVARES, 2008).

A gestão da municipalização das políticas públicas resultou em uma

maior autonomia local, demarcando uma série de transformações, sendo uma das

primeiras as atividades da Lei nº 8.142/90 que, regulamentando o Sistema Único

de Saúde, apontou a necessidade de respeito à participação da sociedade na área

de saúde nos quatro níveis da administração pública. Cita-se, ainda, a lei nº 8.069,

de 31 de julho de1990, ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, que orienta a

política da criança e do adolescente; a lei nº 8.742, de 07 de dezembro 1993,

LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social; a Lei de Responsabilidade Fiscal,

aprovada em 05 de maio de 2000, que fixa mecanismos de transparência da

Administração Pública e maior responsabilidade na gestão fiscal e, mais

recentemente, o Estatuto da Cidade – lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, cuja

finalidade é normatizar a propriedade, o uso do solo urbano e a participação

popular nas políticas públicas urbanas, que ordenam o pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade e da propriedade urbana.

Quanto, especificamente, à questão do trânsito, em 23 de setembro de

1997, o Congresso Nacional aprovou a Lei de nº 9.503 - Código de Trânsito

Brasileiro – CTB, o qual passou a vigorar em 22 de janeiro de 1998. Em seu artigo

5º, Disposições Gerais, define o Sistema Nacional de Trânsito como o conjunto de

órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios,

que tem por finalidade o exercício das atividades de planejamento; administração;

normatização; pesquisa; registro e licenciamento de veículos; formação; habilitação

e reciclagem de condutores; educação; engenharia; operação do sistema viário;

policiamento; fiscalização; julgamento de infrações e de recursos e aplicação de

37

penalidades, instituindo competência aos órgãos e entidades executivos de

trânsito dos municípios, no âmbito de suas circunscrições.

O trânsito em condições seguras é um direito de todos e dever dos

órgãos e entidades de Sistema Nacional de Trânsito, aos quais cabe adotar as

medidas necessárias para assegurar esse direito. Considera-se “trânsito” a

utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupo,

conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de

carga e descarga (art. 1º § 2º do CBT).

O artigo 6º do Código de Trânsito Brasileiro define os objetivos básicos

do Sistema Nacional de Trânsito, em seu inciso III - estabelecer a sistemática de

fluxos permanentes de informações entre os seus diversos órgãos e entidades, a

fim de facilitar o processo decisório e a integração do Sistema Nacional de

Trânsito.

Relativamente aos municípios, o Código em referência define em seu

artigo 24 as competências dos órgãos e entidades executivos de trânsito desses

entes federados no âmbito de sua circunscrição, estabelecendo a gestão

administrativa do trânsito. Com a publicação da Lei, os municípios passaram a

implantar e a se organizarem para a execução do processo da gestão do trânsito.

Em parceria com outros órgãos e entidades, promoveram a implementação da

política de trânsito, assumindo a responsabilidade pelo seu planejamento e

operação, além da fiscalização das infrações de circulação, estacionamento e

parada de veículos, a realização de campanhas e ações educativas, bem como

aprovação e manutenção dos órgãos municipais de trânsito.

Realça-se o fato de que o conceito de municipalização do trânsito foi

introduzido pelo Código de Trânsito Brasileiro e que a municipalização trânsito

tornou-se irreversível, demonstrando as questões relativas ao trânsito urbano, de

interesse direto das cidades e de seus habitantes. O Código introduziu direitos que,

38

se corretamente exercidos pela população, induzirão à maior qualidade dos

padrões de segurança no convívio dos usuários do sistema viário, estejam eles na

condição de motoristas ou de pedestres. Esta atitude exige dos órgãos a

descoberta das reais necessidades da população, procurando anteceder sua

demanda com ações preventivas (BRASIL-DENATRAN, 2000).

A gestão do trânsito urbano, prevista no artigo 24 do referido Código,

depende do relacionamento dos órgãos ou entidades municipais de trânsito, não só

com os outros do Sistema Nacional de Trânsito – SNT, mas também com vários

setores, como o Poder Judiciário, o Poder Legislativo, a imprensa, as organizações

não governamentais, entre outras, que precisam conhecer e participar dessa

gestão, mesmo que de forma indireta (BRASIL-DENATRAN, 2000).

Os municípios, para se integrarem ao Sistema Nacional de Trânsito e

exercer plenamente suas competências, precisam criar um órgão municipal

executivo de trânsito, previsto no artigo 8º, do CTB e Resolução nº 106/99 -

CONTRAN. Podem ser um novo órgão municipal ou ser parte de uma estrutura em

curso, proporcional ao tamanho da cidade (BRASIL-DENATRAN, 2004).

A estrutura do novo órgão executivo pode ser uma secretaria de trânsito

e transporte, um departamento ou coordenadoria subordinado a uma secretaria

existente, uma empresa pública de trânsito e transporte, ou ao gabinete do prefeito.

O órgão executivo de trânsito deve estar integrado às atividades de transporte

urbano (BRASIL-DENATRAN, 2004).

O artigo 24, capítulo II, seção II, do Código de Trânsito Brasileiro, refere-

se às competências dos órgãos e entidades executivos de trânsito dos municípios,

no âmbito de sua circunscrição (1987).

Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivas de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:

39

I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições; II - planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas; III - implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário; IV - coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre os acidentes de trânsito e suas causas; V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia ostensiva de trânsito, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito; VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito; VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada prevista neste Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; VIII - fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar; IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas; X - implantar, manter e operar sistema de estacionamento rotativo pago nas vias; XI - arrecadar valores provenientes de estada e remoção de veículos e objetos, e escolta de veículos de cargas superdimensionadas ou perigosas; XII - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de veículos, escolta e transporte de carga indivisível; XIII - integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à celeridade das transferências de veículos e de prontuários dos condutores de uma para outra unidade da Federação; XIV - implantar as medidas da Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito; XV - promover e participar de projetos e programas de educação e segurança de trânsito de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo CONTRAN; XVI - planejar e implantar medidas para redução da circulação de veículos e reorientação do tráfego, com o objetivo de diminuir a emissão global de poluentes; XVII - registrar e licenciar, na forma da legislação, ciclomotores, veículos de tração e propulsão humana e de tração animal, fiscalizando, autuando, aplicando penalidades e arrecadando multas decorrentes de infrações; XVIII - conceder autorização para conduzir veículos de propulsão humana e de tração animal; XIX - articular-se com os demais órgãos do Sistema Nacional de Trânsito no Estado, sob coordenação do respectivo CETRAN; XX - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruídos produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas de órgão ambiental local, quando solicitado; XXI - vistoriar veículos que necessitem de autorização especial para transitar e estabelecer os requisitos técnicos a serem observados para a circulação desses veículos.

§ 1º As competências relativas a órgão ou entidade municipal serão exercidas no Distrito Federal por seu órgão ou entidade executivos de trânsito. § 2º Para exercer as competências estabelecidas neste artigo, os Municípios deverão integrar-se ao Sistema Nacional de Trânsito, conforme previsto no art. 333 deste Código.

40

Atendidos os requisitos necessários para a integração do Município ao

Sistema Nacional de Trânsito, ele passa a assumir a responsabilidade pelo

planejamento, projeto, operação e fiscalização no perímetro urbano e nas rodovias

e estradas municipais, operacionalizando as atividades de sinalização, fiscalização,

aplicação das penalidades e promovendo a educação de trânsito (BRASIL-

DENATRAN, 2004).

O DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito, órgão máximo

executivo de trânsito, que tem por finalidade, dentre outras, a coordenação e a

supervisão dos órgãos, estabeleceu critérios que devem ser seguidos nas

cidades que pretendem administrar a gestão do trânsito, com a finalidade de

validar o exercício de suas competências, conforme a seguir:

1. definir a política de trânsito ideal para a cidade, com base no

Código de Trânsito Brasileiro;

2. escolher a estrutura em que funcionará o órgão executivo de

trânsito;

3. definir o planejamento fundamental da engenharia, da fiscalização

e da educação de trânsito;

4. enviar a lei municipal de criação do novo órgão, ou da ampliação

de órgão já existente;

5. criar a JARI – Junta Administrativa de Recursos de Infrações;

6. estabelecer formas de comunicação direta com os munícipes;

7. integrar o órgão no SNT - Sistema Nacional de Trânsito;

8. firmar convênios com outros órgãos, quando necessário;

9. estabelecer o procedimento de arrecadação de multas; e

10. Providenciar a inclusão da arrecadação e de outros recursos no

orçamento municipal. (BRASIL – DENATRAN, 2004).

Atendida as condições de acordo com o artigo 1º e 4º da Resolução nº

296, de 28/10/2008, do CONTRAN, e os critérios elencados acima, os órgãos e

41

entidades municipais executivos de trânsito, que dispunham de estrutura

organizacional e capacidade instalada para o exercício das atividades e

competências legais que lhes são próprias e disponibilizadas as condições, o

Município encaminhará ao Conselho Estadual de Trânsito - CETRAN os dados de

cadastro e documentação necessários. Ao receber a documentação, o CETRAN

promoverá inspeção técnica ao órgão municipal, objetivando verificar a sua

conformidade. Atendidos os requisitos, certificará a existência das condições

mínimas para o pleno exercício de suas competências legais ao município a ao

DENATRAN.

Para o DENATRAN, municipalizar é a forma de garantir ao administrador

municipal as condições de atender, de forma direta, as necessidades da

população. Assim sendo, o administrador teria, sob sua jurisdição, a implantação

de uma política de trânsito capaz de atender as demandas de segurança e fluidez,

assim como mais facilidade para a articulação das ações de trânsito, transporte

coletivo e de carga e o uso do solo. Tais ações seriam fundamentais para a

consecução de um projeto de cidade mais humana e adequada à convivência, com

melhor qualidade de vida (BRASIL-DENATRAN, 2000).

Ainda de acordo com o referido órgão, o município, mesmo de pequeno

porte, deve assumir o seu trânsito, visto ser a Prefeitura a instância pública

responsável pela autorização das construções que ensejam deslocamento de

pessoas e veículos, sendo, então, responsável pela situação criada no trânsito e

pela solução dos problemas daí decorrentes.

Outra justificativa para a responsabilização do município é a obrigação

de propiciar tratamento especial para a circulação segura dos pedestres, dos

veículos automotores, dos ciclistas ou dos veículos de tração animal. Não só a vida

da cidade, mas a própria vida das pessoas estariam relacionadas ao circular,

caminhar, parar e estacionar. Com a gestão municipal do trânsito, a população

passaria a ter vários benefícios, tais como: ruas limpas e sinalizadas; o fluxo

organizado e civilizado de pessoas e veículos; uma nova mentalidade da

42

população; a escola voltada para um trânsito mais humano, solidário e seguro.

Consequentemente, haveria uma redução dos acidentes de trânsito, e ainda a

criação de postos de trabalho nos órgãos municipais de trânsito. Assim, sendo,

A boa administração do trânsito é uma forma de aumentar a cidadania e

aproximar a administração municipal da população. O órgão executivo de

trânsito pode estimular discussões, sugestões e incentivar a participação

popular as questões que afetam a todos (BRASIL-DENATRAN,

2004,p.39).

Finalmente, sob a perspectiva do DENATRAN, a estruturação dos

órgãos executivos de trânsito enseja um trabalho mais organizado e amplo. As

ações recebem prioridades dentro do planejamento, projeto e implantação de

sinalização nas vias, estacionamentos, conversões e retornos, implantação de

rotatórias, de canalizações de trânsito, de semáforos, de separadores de pista, de

desvios para execução de obras ou eventos, de melhorias para o pedestre.

Em síntese, a gestão do trânsito não se resume a aplicar multa e

arrecadar valores, gerando recursos para o município, e suas ações podem ser

traduzidas em melhorias para a qualidade de vida da população, propiciando o

desenvolvimento urbano das cidades.

3.2 A Municipalização do trânsito e a qualidade de vida

Para os fins a que se propõe esta dissertação, considera-se qualidade

de vida tal qual a perspectiva de Rodríguez (1991). Para essa autora, conforme

citado por Ferreyra (2003), a qualidade de vida não é apenas o grau de satisfação

subjetiva de um indivíduo em um contexto, mas também o nível de recursos dos

quais o indivíduo, de fato, dispõe para poder controlar e dirigir sua vida.

43

Para Ferreyra (2003), o interesse na perspectiva individualizante da

qualidade de vida tem servido, no contexto do planejamento, a temática tão diversa

como saúde ou planejamento urbano.

Longe dos grandes centros, vivem pessoas que se locomovem sobre

lombos de animais, em carrocerias de pequenos veículos, a pé, em vias

inadequadas, muitas vezes sem condições mínimas de segurança. Este

deslocamento se dá pela necessidade de procurar melhores centros urbanos, na

busca de uma melhor qualidade de vida, saúde, e educação (BRASIL-DENATRAN,

2004).

Em várias passagens do Código de Trânsito Brasileiro, porém, encontra-

se referência ao fato. Em seus capítulos IV e V, que realçam o pedestre e o

cidadão, assim como a preocupação com o seu deslocamento, com segurança, é

enfatizada a perspectiva de uma melhor qualidade de vida.

O direito de ir e vir, de ocupar o espaço público e de conviver

socialmente nesse espaço são princípios fundamentais para compreender a

dimensão da palavra trânsito, principalmente a relação estabelecida entre as

pessoas e o espaço.

Há necessidade da adoção de medidas no desenvolvimento urbano e de

transporte, nas políticas públicas, haja vista a violência no trânsito, que leva à

redução da qualidade de vida.

A óptica sob a qual o (BRASIL-DENATRAN, 2004) justifica a

municipalização do trânsito conjugaria, de modo mais ou menos mecânico, a

relação entre a política nacional do trânsito municipalizado e o cotidiano dos

cidadãos.

44

Para o referido órgão, sob o ponto de vista do cidadão que busca melhor

qualidade de vida e o seu bem-estar social, o trânsito toma nova dimensão. Deixa

de estar associado, de forma preponderante, à ideia de fluidez, de ser relacionado

apenas aos condutores de veículos automotores e de ser considerado um

fenômeno exclusivo dos grandes centros urbanos, para incorporar as demandas de

mobilidade peculiares aos usuários mais frágeis do sistema, como crianças, os

portadores de necessidades especiais e os idosos (BRASIL-DENATRAN, 2004).

É ponto principal a ser considerado nas políticas de trânsito, de acordo

com o (BRASIL-DENATRAN, 2004), a mobilidade do cidadão no espaço social,

centrada nas pessoas que transitam, e não na maneira como transitam, de forma a

considerar a liberdade de ir e vir, de atingir o destino que se deseja, de satisfazer

as necessidades de trabalho, de lazer, saúde, educação e outras.

É de acordo com tal perspectiva que a Política Nacional do Trânsito é

considerada como instrumento de Política de Governo, tendo como macro-

objetivos os seguintes: o crescimento com geração de trabalho, emprego e renda,

ambientalmente sustentável e redutor de desigualdades regionais; inclusão social e

redução das desigualdades sociais; promoção e expansão da cidadania e

fortalecimento da democracia (BRASIL-DENATRAN, 2004).

É evidente que cada um desses macro-objetivos supõe um grande

elenco de ações, que estão muito além da mera Política de Trânsito, expressa na

Política de Governo no Plano Brasil para Todos do Governo Federal.

Na Política Nacional de Trânsito, por meio de planejamento e ações

integradas entre os diversos órgãos do Sistema Nacional de Trânsito, vê-se a

participação em ações referentes à procura de uma melhor qualidade de vida da

população, integrando a outros aspectos da gestão do trânsito, principalmente com

relação à segurança, à engenharia e à fiscalização.

45

O governo e a sociedade brasileira vêm se mostrando a cada dia mais sensível e atentos ao investimento e à participação em ações educativas de trânsito. A educação inclui a percepção da realidade e a adaptação, assimilação e incorporação de novos hábitos e atitudes frente ao trânsito – enfatizando a co-responsabilidade governo e sociedade, em busca da segurança e bem-estar (BRASIL-DENATRAN, 2004,p.15).

Diferentemente de algumas outras normas sociais, que podem ser

rompidas ou ignoradas sem que ninguém perceba, conforme (BRASIL-

DENATRAN, 2004), as normas de trânsito produzem um efeito imediato, levando

sua obediência ou não à manutenção da qualidade de vida do cidadão e da

coletividade, ou a resultados desastrosos. A dimensão de cidadania inserida no

trânsito configura uma situação básica de diferenças, diversidade, equidade,

tolerância e direitos humanos.

Um trânsito ruim e no limite criminoso, por falta de consciência dos seus

perigos e por falta de punição, aproxima-se da barbaria e do caos. Por outro lado,

um trânsito calmo, e previsível, estabelece um ambiente de civilidade e respeito às

leis, mostrando a internalização da norma básica da convivência democrática:

todos são iguais perante a lei e, em contrapartida, obedecê-las é dever de todos

(BRASIL-DENATRAN, 2004).

Segundo o DENATRAN, o investimento em fortalecimento e

desenvolvimento institucional não se restringe à gestão do trânsito, mais abrange

outras áreas da gestão municipal. Os municípios, de forma geral, necessitam

estruturar-se e capacitar-se para planejar e controlar o desenvolvimento dos

espaços urbanos. O crescimento, nessas áreas, ocorre em muitos casos sem

controle, com regulamentações sobre o uso e ocupação do solo precários ou

inexistentes, guiadas de acordo com as leis de mercado referentes aos valores da

terra e aos níveis relativos de acessibilidade. As áreas periféricas das cidades são,

frequentemente, ocupadas por população de baixa renda e são, em geral,

deficientes de serviços públicos, como educação, saúde e transporte coletivo, além

de existirem problemas ambientais relativos a erosão do solo, esgotamento

sanitários e outros. A gestão integrada do trânsito local é mais um fator

46

impulsionador da administração municipal eficaz já praticada nos municípios

brasileiros (BRASIL-DENATRAN, 2004).

Outro ponto destacado e necessário é a relação entre do uso do solo

com o trânsito e o transporte, pois cada edificação enseja uma necessidade

diferente de deslocamento, que deve ser atendida e, por outro lado, a

movimentação de veículos, pessoas e animais interfere na implantação e utilização

das edificações (BRASIL-DENATRAN, 2004).

47

4 - A EXPERIÊNCIA DE MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO EM

CANINDÉ

4.1 Considerações gerais

Destaca-se o fato de que, até o ano de 2008, dos 5.568 municípios

brasileiros, apenas 865 procederam à implantação e gestão do órgão de trânsito

municipal, corresponde a 15,54% do total (site:www.denatran.gov.br, acesso 2008).

Quanto ao Ceará, Tavares (2008) considera como um caso de sucesso

em termos de abrangência da municipalização do trânsito, segundo o autor:

Apesar do estado do Ceará ser considerado um caso de sucesso em

termos de abrangência da municipalização do trânsito em sua conjuntura

atual no Brasil, pois tem 25% dos seus municípios integrados ao SNT, que

beneficiam 63% da sua população e 82% da frota veicular, índices

superiores aos percentuais nacionais (Tavares, 2008).

Essa constatação é reforçada pelo fato de que vários municípios

assumiram de direito à gestão do trânsito, ao se integrarem formalmente ao órgão

competente.

O quadro abaixo relaciona os Municípios cearenses, que até o ano de

2008, procederam a municipalização efetiva da gestão do trânsito.

48

Quadro 1 - Cidades do Estado do Ceará - Trânsito Municipalizado.

CEARÁ

ARACATI FARIAS BRITO MORADA NOVA

BARBALHA FORTALEZA NOVA RUSSAS

BATURITÉ GUARACIABADO NORTE PACATUBA

BOA VIAGEM GUARAMIRANGA PARACURU

BREJO SANTO IBIAPINA PARAMBU

CANINDÉ ICÓ PEREIRO

CAMOCIM IGUATU QUIXADÁ

CARIRIAÇU IPU QUIXERAMOBIM

CARNAUBAL ITAPAJÉ RUSSAS

CASCAVEL ITAPIPOCA SANTA QUITÉRIA

CAUCAIA JARDIM SÃO BENEDITO

CHOROZINHO JUAZEIRO DO NORTE SOBRAL

CRATEÚS LIMOEIRO DO NORTE TAUÁ

CRATO MARACANAÚ TRAIRI

CROATÁ MARANGUAPE VARZEA ALEGRE

CRATEÚS MILAGRES VIÇOSA DO CEARÁ

Fonte: DENATRAN/2008

Observa-se um percentual muito pequeno dos municípios do Estado do

Ceará que implantaram a gestão do trânsito, significando que, no período de dez

anos, apenas 25% dos seus municípios concretizaram este processo. Alguns,

entretanto, já estão priorizando a gestão do trânsito, em virtude do aumento dos

acidentes, com a população local e tantas outras justificativas.

Conforme entrevista ao Diário do Nordeste, edição de 19/01/2008,

referente a municipalização do trânsito no Ceará, o superintendente do DETRAN,

João de Aguiar Pupo, esclareceu:

49

Percebemos que os municípios, que ficaram responsáveis pelo trânsito,

tiveram bons resultados, além de terem diminuído os acidentes. São

dados bastante positivo”. Esclareceu também: O Interesse em ter o

trânsito municipalizado, depende mais do município do que do Detran.

“Damos apoio, com os projetos de fiscalização, e temos material

disponível, para que os gestores dos municípios possam ser orientados.

Os municípios, interessados, devem procurar o Detran. Entregamos o kit

de projetos de engenharia e informamos ao DENATRAN a fim de que os

municípios não tenham prejuízo.

4.2 Canindé - aspectos históricos

Canindé era a denominação de uma tribo que habitava a região,

localizada na área do sertão central do Estado do Ceará. Etimologicamente,

significa “teu seio”, “tua cama” e “teu mato”.

No ano de 1762, instalou-se na região hoje conhecida por Baturité uma

missão dos índios canindés e jenipapos, A missão foi elevada à categoria de

freguesia, desmembrada da vila de Aquiráz. Em 1764, a freguesia tornou-se

oficialmente uma vila, com o nome de Real Vila de Monte-Mor, o Novo d’América,

região que compreende os sertões de Canindé, pouco habitados. As terras foram

loteadas por meio das sesmarias para a exploração de gado e várias dessas

sesmarias foram cedidas nos sertões de Canindé (PINTO, 2003).

Comenta Pinto (2003) que o historiador Thomaz Pompeu de Sousa

Brasil, em seu Ensaio Estatístico da Província do Ceará, afirma que em 1775,

neste sertão já ocupado por fazendeiros, foi construída uma capela dedicada a São

Francisco das Chagas. A capela foi situada nas terras denominadas de Salgado,

que teriam sido doadas, no século XVIII, não se podendo precisar a data, por

nunca ter sido localizado documento alusivo à doação. Sem documentação

50

comprobatória, fundamenta-se em outros dados. O que se segue é fundamentado

na tradição:

No ano de 1775, o sargento-mor português, Francisco Xavier de Medeiros,

historicamente reconhecido como fundador do povoado, estabeleceu-se

às margens do Rio Canindé, onde iniciou a construção da capela dedicada

a São Francisco das Chagas, contando com o auxílio de habitantes do

local. O terreno onde a capela já estava sendo erguida era situado em

terras não demarcadas, porém, teve posse reivindicada por três irmãos

fazendeiros, tendo de ser interditada por ordem judicial. Além disso, a

seca dos três sete, referente ao ano de 1777, também foi razão para a

interrupção das obras até 1793. Somente em 1796, a capela foi

inaugurada, tendo como primeiro responsável o padre João José Vieira.

Além disso, o Capitão Jerônimo Machado doou a imagem grande de São

Francisco, que foi trazida de Portugal. Por essa época, já era venerada em

Canindé a imagem primitiva, chamada "São Francisquinho", que ainda

hoje é conduzida solenemente na tradicional procissão do dia 4 de outubro

(Pompeu, 2003,apud Pinto).

No período que compreende o início e o fim da construção da capela,

concluída definitivamente em 1796, foram registradas enormes secas, fato que

fragilizaram a economia, que tinha na pecuária a principal atividade. Com a seca, o

sertão ficou esvaziado, muitos procuraram outras regiões e outros morreram com a

peste de varíola que assolou a região, tendo a província, ao final do flagelo, perdido

um terço de sua população. Depois de todas as calamidades na passagem para o

século XIX, a igreja de Canindé já era um templo construído, rica e imponente

(PINTO, 2003).

No início do século XIX, grandes romarias e festejos em homenagem a

São Francisco já eram tradicionais, impulsionando o povoado ao desenvolvimento.

Em razão da importância do culto à religião, no dia 30 de outubro de 1817, El Rei

D.João VI elevou a antiga capela à categoria de igreja matriz, da qual o primeiro

vigário foi Padre Francisco de Paula Barros (PINTO, 2003).

51

Com a criação do Município de Canindé, pela Lei nº 365, de 29 de julho

de 1846, desmembrando-o dos Municípios de Quixeramobim e Fortaleza, com

sede no núcleo de São Francisco das Chagas de Canindé, o povoado elevou-se à

categoria de vila e posteriormente passou a chamar-se simplesmente Canindé. Em

21 de junho de 1847, ocorreu na cidade de Baturité uma sessão da Câmara de

Vereadores, com o intuito de proclamar os vereadores eleitos pela primeira vez na

vila de Canindé, já que, no ano anterior, havia ocorrido a sua emancipação. A

sessão representou a separação das vilas de Baturité e Canindé que, a partir desta

data, passou a contar com a própria Câmara, funcionando em seu próprio território

(PINTO,2003).

A vila começou a prosperar, mesmo encravada em sertão árido, pouco

habitado e uma estrutura insuficiente. Os fazendeiros da região, manifestando

sinais de prosperidade em suas atividades agropastoris, começaram a construir

boas casas, principalmente próximo à matriz. Seguiram-se trinta anos de inverno,

não registrando nenhuma grande seca, que, para a região do sertão árido, era uma

bênção. Nesse período, a economia teve forte impulso, que foi decisivo para o

crescimento local. Nesta época o regime era monárquico, na administração de

Dom Pedro II. O poder era centralizado e no município não existia o Poder

Executivo, a Câmara era quem deliberava sobre a administração da vila, o

município não tinha autonomia (PINTO, 2003).

Foto1: Vila de Canindé

52

Com o aumento da população, passou-se a verificar algumas

necessidades na parte de infraestrutura, a exemplo da construção de um cemitério

(pois os mortos que eram sepultados na matriz), a construção de um mercado

público, o embelezamento da vila com a plantação de árvores resistentes às secas

e que pudessem dar sombra, em razão da crescente população flutuante dos

devotos de São Francisco.

Foto 2: Rua Monsenhor João Cruz Foto 3: Largo no centro

Com o advento da Proclamação da República, houve a separação da

Igreja/Estado os negócios da Igreja tomaram nova direção. A matriz de São

Francisco havia sido reformada e ampliada em 1888; com o número de romeiros se

multiplicando, houve necessidade de outra reforma com o aumento dos fiéis. A

reforma procurou ao máximo utilizar a mão-de-obra local e, no ano de 1915, foi

inaugurada a nova igreja de São Francisco. Em razão de coincidir com uma terrível

seca no Ceará, caravanas de retirantes surgiam de toda parte em busca de auxílio

na cidade de São Francisco (PINTO, 2003).

53

Foto 4 :Construção do Mercado Público

Os fatos que não encontraram explicações lógicas no plano terreno,

foram atribuídos a São Francisco das Chagas, (PINTO, 2003): ”as notícias dos

milagres se espalharam como rastilho de pólvora e as pessoas sempre que se

viam doentes ou com problemas da mais diversa natureza se valiam do taumaturgo

com fervorosa devoção, a cada dia mais fiéis alcançavam graças e criou-se entre

os devotos o hábito das promessas, de virem a Canindé agradecer pessoalmente

as benesses alcançadas por Deus, e trazer-lhe óbolos em penhor de seus

agradecimentos”. Existem registros dando conta de que no final do século XVIII as

romarias já eram uma realidade.

A demanda por padres era grande, pois a romaria a Canindé crescia a

cada ano e havia necessidade de trabalhos pastorais (batizado, casamento,

extrema-unção) nos distantes povoados, vilas e distritos que compunham o

município. As viagens eram feitas a cavalo, porém em 1942 o frade alemão, frei

Policarpo adquiriu uma motocicleta alemã, modelo NSU, ano 1938, a qual se

encontra exposta em museu da cidade mantido pela Casa de São Francisco. O

novo transporte deu um grande impulso ao trabalho missionário, visto que

possibilitava percorrer, com rapidez, os sertões de Canindé, de modo que os

paroquianos passaram a ter uma assistência religiosa mais eficaz (PINTO, 2003).

54

Foto 5 :Frei Policarpo Cornelius, de moto

A história, segundo Willekle (1962), a vida do povo, a cultura, e o

desenvolvimento de Canindé têm ligação profunda com a esplendida atuação dos

franciscanos nestes mais de 80 anos de caminhada nos sertões da região.

Canindé e sua gente não seriam o que são sem a família franciscana, seja na

atuação pastoral, no acolhimento ao irmão romeiro e no serviço social. Comenta

Pinto (2003) “que são escassos os registros dando conta das atividades dos

abnegados frades franciscanos ao longo de oito décadas e que, no ano de 1925, a

Santa Sé em Roma concedeu a graça especial à matriz da paróquia de Canindé,

com o título de Basílica Menor com os mesmos privilégios e honras, que segundo o

costume, competem às basílicas menores de Roma”.

Foto 6: Atração da festa de São Francisco (1909) automóvel Ford-T

55

Conforme Pinto (2003), Canindé é situada em uma região seca e pobre,

mas, mesmo assim, se destaca entre as cidades circunvizinhas. Existem regiões

do Estado onde ocorre situação idêntica, sendo que, via de regra, essas cidades se

salientam por serem politicamente articuladas, elegendo deputados estaduais e

federais, conseguindo através deles, benefícios que viabilizam o desenvolvimento

local. Não é o caso de Canindé, onde o fator diferencial do desenvolvimento é a

romaria, fomentada, assistida e desenvolvida por uma comunidade religiosa. Não

há, segundo o autor, como prescindir dessa assistência e desse trabalho

engrandecedor (PINTO, 2003).

A cidade de Canindé estava, (PINTO, 2003), predestinada a ser a Meca

nordestina. A terra teria sido escolhida por São Francisco para acolher seus

devotos, principalmente os pobres sertanejos, que jamais teriam condições de

viajar até Assis para render-lhe graças. A cada dia, mais fiéis alcançam graças com

o Santo e criou-se entre os devotos o hábito das promessas, de viajarem até a

cidade, para agradecer as bênçãos e graças alcançadas de Deus por intermédio de

São Francisco.

A cidade de Canindé-CE tornou-se a segunda do mundo mais visitada

por peregrinos devotos de São Francisco. É o maior santuário franciscano da

América Latina, sendo superada por Assis, na Itália, terra natal de São Francisco.

Durante todo o ano, a cidade recebe milhares de romeiros, vindos, principalmente,

da Região Nordeste. A peregrinação começa no mês de julho, coincidindo com o

período das férias escolares, principalmente com a festa de Santa Clara, dia 02 de

agosto e terminando em 04 de fevereiro, com a festa dos romeiros. Os peregrinos

são de todas as classes sociais, sendo a maioria de pessoas humildes. Eles vão

até a cidade pedir graças e pagar promessas feitas a São Francisco. Os romeiros

são acolhidos pelo Santo, que é admirado em todo o mundo pela lição de vida e

opção preferencial pelos pobres.

.

56

4.3 Aspectos geográficos

O Município de Canindé-Ce está situado na área do sertão central,

distante 108 quilômetros de Fortaleza, contando uma população estimada de

73.878 habitantes (IBGE/IPECE, 2007). O acesso se dá pela rodovia BR 020. O

município fica a 4º 21’ 32” de latitude sul e 38º 18’42” de longitude oeste, clima

tropical quente semi-árido, predominando a vegetação caatinga arbustiva aberta,

caatinga arbustiva densa e floresta. A microrregião de Canindé, formada pelos

municípios de Canindé, Caridade, Itatira e Paramoti, pertencendo à mesorregião

Norte Cearense, formada pela união de 36 municípios agrupados em oito

microrregiões. (IBGE, 2005).

CANINDÉ

Mapa do Ceará, destacando o Município de Canindé. Fonte: IPECE, 2008

57

O município apresenta uma extensão territorial de aproximadamente

3.218,42 km², tendo os seguintes distritos: Ubiraçu, Targinos, Bonito, Esperança,

Ipueiras dos Gomes, Monte Alegre, Capitão Pedro Sampaio e Iguaçu. Limita-se ao

norte com o Município de Caridade, ao leste com o Município de Itapiúna, ao sul

com o Município de Choró e ao oeste com o Município de Santa Quitéria.

Fonte: Distritos de Canindé – IPECE/2008

Em razão de pertencer ao Estado do Ceará, que apresenta

aproximadamente 80% de seu território no semi árido nordestino, Canindé também

padece da ocorrência de secas, de forma cíclica. Trata-se da ausência de chuvas

58

que inviabiliza a produção agrícola ou a chamada seca verde. Os recursos hídricos,

dos quais dispõe são os açudes: Ipueira da Vaca, Logradouro II, Salão e São

Mateus, todos da bacia do rio Curu, uma adutora e duzentos e vinte poços

(CEARÁ-IPECE, 2006).

4.4 Aspectos econômicos, demográficos e sociais

Parte da população do Município de Canindé sobrevive, basicamente,

da agricultura de subsistência. No entanto as principais fontes de renda da cidade

são as romarias ou o turismo religioso. O comércio é rico de imagens, símbolos

que remetem à de São Francisco em suas várias interpretações. Na época dos

festejos, a Cidade recebe um número muito grande de vendedores ambulantes de

todo tipo de produtos e suas ruas ficam apinhadas por vendedores ambulantes e

compradores durante vinte quatro horas, em espaços desordenados e sem

condições de deslocamento para os pedestres e condutores de veículos. Não

existe um disciplinamento para a colocação das barracas dos comerciantes. Os

comerciantes, com imóveis fixos, ocupam os espaços das calçadas com barracas

para expor os produtos para a venda. O comércio na época das festas é bastante

diversificado, englobando símbolos religiosos, alimentação, calçados, vestuário,

brinquedos, dentre outros.

As pousadas e hotéis estão passando por mudanças, visto que os

romeiros estão demorando um pouco mais, no mínimo, para visitar a Cidade,

exigindo melhores acomodações. Ainda existem, porém, os alojamentos sem

nenhuma infraestrutura, contando com banheiros é quartos coletivos. O romeiro,

contudo, aluga o espaço, independentemente da quantidade de pessoas. É

interessante perceber que, nas ruas, perto a matriz, onde ficam o comércio, os

hotéis e pousadas, os romeiros passam o dia inteiro caminhando no meio da via,

esperando horários das celebrações que ocorrem de hora em hora, quando pagam

234 567 8111

1 1 11112

59

suas promessas, e aproveitando para comprar objetos sagrados como recordação

da Cidade.

Foto 7: Comércio ambulantes Foto 8: Comércio Local

As romarias, assim como o turismo religioso da Cidade, constituem

atividades lucrativas e geradoras de emprego e renda, em virtude da grande

quantidade de visitantes a cidade, no período dos festejos de São Francisco.

Foto 9: Painel para fotografia

O Produto Interno Bruto per capita (R$ mil) do Município de Canindé,

referente ao ano de 2005, (IBGE/IPECE, 2008), corresponde em (R$ 1,00) a 2.799

60

(dois mil setecentos e noventa e nove), sendo distribuído por setor (%), 12,15% na

agropecuária, 12,12% na indústria e 75,73% nos serviços. A principal atividade são

os serviços, baseados no turismo religioso.

Quanto à atividade econômica relacionada à de prestação de serviços,

existe um total de 63 empresas, sendo três de transporte e armazenamento, três

de comunicação, 38 de alojamento e alimentação. As demais se situam como de

outros serviços (CEARÁ-IPECE, 2008).

A rede bancária é constituída de quatro estabelecimentos - Banco

Brasileiro de Descontos, Caixa Econômica, Banco do Nordeste e Banco do Brasil.

Foto 10: Instituição Financeira

A receita do Estado arrecadada no Município, no ano de 2006, conforme

a Secretaria da Fazenda, em valor corrente (R$ mil) de 3.119, sendo que a de

ICMS representou 2.210, correspondendo a 0,08% sobre o total do Estado. A

receita tributária do município, no mesmo período conforme o Tribunal de Contas

dos Municípios, em valor corrente (R$ mil) correspondeu 48.093 (CEARÁ-IPECE,

2008).

61

Relativamente ao comércio, trata-se, em sua totalidade do varejista,

especialmente produtos relacionados aos símbolos religiosos e recordação da

cidade.

Foto11: Comércio Local Foto 12: Comércio Local

O índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) mensura os níveis de

desenvolvimento alcançados pelos municípios do Ceará, adotando como base

quatro grupos de indicadores, variando entre zero e cem, classificados em quatro

grupos: fisiográficos, fundiários e agrícolas; demográficos e econômicos; de infra-

estrutura de apoio; e sociais. Segundo dados do SEBRAE (2002), quanto mais

próximo do indicador cem, mais desenvolvido o município se apresenta. O índice

de desenvolvimento Municipal (IDM) – Canindé, no ano de 2004, corresponde ao

valor 26,50 (CEARÁ-IPECE, 2004).

O índice de desenvolvimento humano (IDH) – Canindé, no ano de 2000,

corresponde ao valor 0,634. Os indicadores econômicos e sociais definem o Ceará

como um estado muito pobre em termos de indicadores de desenvolvimento, o qual

ainda não conseguiu melhorar a distribuição de renda, para melhorar a qualidade

de vida (CEARÁ-IPECE, 2004).

62

Segundo documento do IPECE, o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) foi criado, originalmente, para aferir o nível de desenvolvimento humano dos

países com base em indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrículas)

longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita) média,

enquanto a taxa combinada de matrícula é substituída pelo número de anos de

estudo da população adulta (CEARÁ-IPECE, 2007)³.

Segue o quadro abaixo, com IDH do Município de Canindé, que

corresponde 0,634, estando abaixo do IDH ideal.

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) E GRUPO DE INDICADORES – CANINDÉ

IDH ÍNDICE RANKING

EDUCAÇÃO 0,699 102

LONGEVIDADE 0,705 68

RENDA 0,498 99

GLOBAL 0,634 81

Fonte: IPECE-2008 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2000.

O Censo Demográfico do IBGE do ano de 2007, por estimativa,

conforme o IPECE, mostrou o Município de Canindé com uma população de

73.878 habitantes, dos quais 44.392 estavam na zona urbana (60.09%) e 29.486

na zona rural (39,91%), com uma densidade demográfica de 21,81 hab/km². A

população possui uma distribuição igualitária entre sexos, sendo 36.674 (49,64%)

homens e 37.052 mulheres (50,15%), população potencialmente ativa, a maioria

constituída de jovens, com 56,06% na faixa de idade entre 15 e 64 anos; A taxa

______________________ ³ O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH coloca-se entre os valores de 0 (zero) e 1(um). Quanto mais próximo de 1 (um), mais alto será o nível de desenvolvimento humano ou qualidade de vida de um país.

63

geométrica de crescimento anual é de 1,32% na zona urbana e taxa de

urbanização 56,86%

O número de domicílios com média de moradores é de 18.680, sendo

11.733 na zona urbana e 6.947 na zona rural, de acordo com a contagem da

população de 2007(IBGE).

Na área de saúde, o Município dispõe de 22 unidades ligadas ao

Sistema Único de Saúde, sendo vinte unidades públicas e duas unidades privadas.

Existe um hospital geral situado na Sede do Município, com 132 leitos, e postos de

saúde em localidades rurais.

Os casos de doenças mais graves são transferidos para Fortaleza. Entre

os indicadores de saúde destacam-se: 1,05 médico e 0,24 dentista para cada mil

habitantes, considerado pelas autoridades sanitárias um índice muito baixo. A taxa

de mortalidade infantil corresponde a 21,64 de mil nascidos (CEARÁ-SESA, 2006).

O Município possui 714 (setecentos e quatorze) salas de aulas, das

quais 100 são estaduais, 526 municipais e 88 particulares. Existe um total de 185

escolas públicas e 9 particulares, sendo duas instituições de ensino superior.

Existem 26 bibliotecas e quatro laboratórios de informática. Como indicador

educacional, destacam-se, conforme SEDUC/2006, a existência de 81,06% alunos

por sala de aula, com taxa de escolarização de 87,76% do ensino fundamental e

33,31% do ensino médio (CEARÁ-IPECE/SEDUC/2006).

Tem realce a existência de um Centro de Formação de Condutores (auto

escola), em conformidade com as Resoluções nº 74/98, de 19/11/98, e nº 198/06,

de 25/06/2006, do CONTRAN. São organizações credenciadas pelo órgão

executivo de trânsito do Estado, com salas de aulas teóricas mensais e,

diariamente, aulas práticas. Possui dois veículos de pequeno porte, um ônibus e

64

duas motocicletas. Os instrutores são preparados, regularizados e fiscalizados pelo

DETRAN.

Foto 13: Centro de Formação de Condutores (Auto Escola)

Outros indicadores, por meio dos quais se podem avaliar o perfil de

renda e determinados características do Município, são o consumo de energia

elétrica e o saneamento básico. Quanto ao primeiro, reflete tratar-se de município

com características urbanas, visto que o consumo de energia industrial e comercial

representa 20,72% do consumo total. O consumo rural é 8,10% e o urbano é

49,46% do total do Município em mwh. Segundo o IPECE, esses percentuais

demonstram um médio poder aquisitivo da população. É necessário relativizar essa

evolução acerca do consumo de energia e do poder aquisitivo, visto que os

principais consumidores são os comerciantes que, em grande parte do ano, abrem

seus comércios pela madrugada e prolongam abertos até à noite. Assim são os

templos religiosos, especialmente a Basílica de São Francisco.

65

. Foto 14: Basílica de São Francisco

Ainda em relação ao fornecimento de energia elétrica, havia, no ano

2006, 2.416.186 consumidores de energia elétrica no Município (60,2%),

cadastrados junto a COELCE (CEARÁ-IPECE/ 2006).

Quanto ao saneamento básico, dados da CAGECE/SEINFRA do ano

de 2006 mostram que 99,12% dos domicílios de Canindé estão ligados à rede de

abastecimento d’água. No que se refere a esgotamento sanitário, cerca de 36,51%

dos domicílios possuem instalações sanitárias. Relativamente à coleta de lixo,

apenas os domicílios da zona urbana na Sede municipal dispõem desse tipo de

serviço.

Referente aos serviços de comunicação, o Município possui cerca de

6,54 telefones instalados por 100 habitantes. Quanto às agências de correios,

correspondem a apenas 0,84 por 10 mil habitantes (CEARÁ-IPECE, 2006).

Finalmente, destaca-se que a rede rodoviária pavimentada na área do

Município corresponde a 0,040, com rodovias federal e estadual, e 0,873 de

veículos de carga por 100 habitantes (CEARÁ-IPECE,2006).

66

A frota do Município, de acordo com dados do IPECE/2007, corresponde

a 7.267 veículos, distribuídos em 1.622 automóveis, 387 camionetas, 4.331

motocicletas, 398 motonetas e 11 microônibus, regularizados no posto do DETRAN

em Canindé-Ce no ano de 2006.

Quanto ao tipo de combustível dos veículos, 6.133 a gasolina, 363 a

álcool, 639 a diesel, 24 a gás natural, 81 álcool/gás natural, e 27 definindo como

outros, não especificados (CEARÁ-IPECE, 2007).

Na época da romaria, principalmente no dia 04 de outubro, dia de São

Francisco, quando são encerradas as festividades, a média de 120 (cento e vinte

mil) romeiros encontra-se na cidade. Eles chegam de várias paragens, vindo a pé,

de motocicleta, ônibus e caminhões paus - de - arara e outros tipos de veículos. Os

hotéis e pousadas ficam superlotados e até mesmo o abrigo dos romeiros, que tem

a capacidade de acolher quatro mil pessoas, fica repleto, apesar de que cada

romeiro só pode permanecer ali até 24 horas, para ceder lugar a outros.

Foto15: Veículos Transportando os romeiros

67

Foto 16: Veículos Transportando os romeiros p/ estátua

4.4 A municipalização do trânsito na Cidade

O início da municipalização do trânsito em Canindé teve como marco a

aprovação da Lei nº 1.719, em 28.11.2001. Cria-se, então, o Departamento

Municipal de Trânsito – DEMUTRAN, baseado na Lei Federal nº 9.503, de 23 de

setembro de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro, que transferiu o gerenciamento

e administração das ações de trânsito para a alçada dos municípios.

Destaca-se o fato de que a Lei Orgânica do Município de Canindé fora

aprovada em 5 de abril de 1990 e que, de acordo com o Título I, Capítulo I das

suas Disposições Preliminares, artigo 8º, Inciso Primeiro, constituem objetivos

fundamentais do Município garantir o desenvolvimento das zonas urbanas e rurais.

Em seu capítulo II, nos artigos 13, 14 e 17, da referida Lei, encontram-

se as competências do Município relacionadas à política do trânsito em vários

incisos, conforme a seguir.

68

Art. 13 – Compete ao município:

IV – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão e permissão, entre outros, os seguintes serviços: a- Transporte coletivo urbano e intermunicipal, que terá caráter essencial; VII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso. Do parcelamento e da ocupação do solo urbano; XI – instituir a guarda municipal destinada a proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei; XVII – executar obras de: b) construção e conservação de estradas vicinais; XVIII – fixar: a – tarifas de serviços públicos, inclusive dos serviços de táxis; XIX – sinalizar as vias públicas urbanas e rurais; XX – regulamentar a utilização de vias e logradouros públicos; XXI – conceder licença para: e – prestação de serviços de táxis; XXX – estabelecer normas de edificações, de loteamento e zoneamento urbano, bem como assim designar, nas zonas rurais, as áreas destinadas a criação e à lavoura, obedecidos os princípios da lei federal; XXX – estabelecer normas de edificações, de loteamento e zoneamento urbano, bem assim designar, nas zonas rurais, as áreas destinadas a criação e à lavoura, obedecidos os princípios federais; XXXI – determinar o itinerário e os pontos de parada dos transportes coletivos, bem como os de estacionamento de táxis e demais veículos; XXXIII – disciplinar o horário dos serviços de carga e fixação de tonelagem máxima permitida a veículo que circular em vias públicas e estradas municipais; Art. 14 – É competência comum do Município, do Estado e da União: XII – estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito; Art. 17 – Fica a Prefeitura Municipal, responsável pela permanente conservação das estradas vicinais, priorizando às que ligam a sede do Município às sedes dos distritos. § 1º - Atender-se-á em segundo lugar, as regiões que tenham apresentado no ano civil anterior, relevante produção agrícola, leiteira e maior número de rebanhos, bovinos, caprinos, ouvinos e suíno. § 2º - Formar-se-ão turmas de homens das respectivas localidades para utilização do trabalho de conservação das estradas.

No capítulo VI, da Lei Orgânica do Município, referente ao título dos

transportes, há vários artigos relacionados ao desenvolvimento, por meio do

sistema trânsito.

Art. 229 – O transporte é um direito fundamental do cidadão sendo da responsabilidade do Poder Público Municipal, o planejamento, o gerenciamento, a concessão, a fiscalização e a operação dos diversos modos de transportes. Art. 230 – O Poder Público Municipal deverá efetuar o planejamento, a concessão, a fiscalização e a operação dos transportes inter-distritais, garantindo aos usuários tarifas acessíveis e boas condições de veículos.

69

§ 1º - O Executivo Municipal definirá, segundo o critério do plano diretor, o percurso, a freqüência e a tarifa do transporte coletivo local. § 2º - A operação e a execução do sistema serão feitas na forma direta ou por concessão ou permissão, nos termos da lei municipal. Art. 231 – O Poder Público Municipal disporá de planejamento técnico, respeitando o plano diretor e a realidade do município, objetivando ordenamento de estacionamento para o transporte de romeiros em períodos das festividades do padroeiro. Art. 232 – É dever do Poder Público Municipal fornecer um transporte com tarifa condizente com o poder aquisitivo da população, bem como assegurar a qualidade dos serviços. Art.233 – Fica assegurada a participação organizada no planejamento e operação dos transportes, bem como no acesso às informações sobre o sistema de transporte. Art. 234 – O Poder Público só permitirá a entrada em circulação de novos ônibus municipais desde que estejam adaptados para livre acesso e circulação das pessoas portadoras de deficiência física e motora. Art. 235 – Serão destinados, pelo menos cinqüenta por cento do produto de arrecadação do imposto do Estado sobre propriedade de veículos automotores licenciados no território do Município (art.158, III da Constituição Federal) para a conservação e recuperação das estradas vicinais do Município. Art. 236 – O Conselho de Transportes Urbanos do Município de Canindé, com atribuição de deliberar sobre a política de transporte coletivo do Município, é composta de entidades populares, representantes do Poder Executivo, entidades de classe e representantes do Poder Legislativo, escolhidos na forma da lei.

Com orientação e incentivo do DENATRAN, para o cumprimento das

determinações do Código de Trânsito e o apoio do DETRAN, o processo de

municipalização foi aprovado pela Lei Municipal nº 1.719/01, de 28 de novembro de

2001, sancionada pelo prefeito da época, o Sr. Antonio Glauber Gonçalves

Monteiro, que dispõe sobre a criação do DEMUTRAN e adota outras providências.

Após a provação da Lei de municipalização do trânsito, a Prefeitura

iniciou a estruturação do DEMUTRAN, constituído por um diretor geral e duas

coordenações: Coordenação Administrativa de Planejamento e Informática, com as

supervisões de Finanças e Controle de multas, vistorias e licenciamento,

supervisão de estatística de trânsito; outra Coordenação de Operacional de

Trânsito Engenharia e Sinalização, com a supervisão de controle do

estacionamento rotativo (zona azul), e supervisão de táxi, coletivos e transportes

alternativos (Organograma – Anexo II).

70

Conforme o art. 7º da Lei de municipalização, o policiamento de trânsito

será exercido por agentes de trânsito recrutados e treinados, do corpo da guarda

municipal de Canindé, por designação do chefe do Poder Executivo Municipal. Na

época, eram quarenta guardas municipais e em 2008 eram trinta e oito, consoantes

informações do chefe da Guarda Municipal. A recomendação do DENATRAN

(2000) é um agente para cada 1000-2000 veículos.

Foto 17: Agentes de trânsito de Canindé

Evidencia-se que, em conformidade com as leis mencionadas, o agente

de trânsito, além de ser fiscalizador, é também agente patrimonial e que os agentes

de trânsito de Canindé são conhecidos e chamados pela população local de

“guarda municipal”.

A municipalização do trânsito na Cidade fez com que ela passasse por

uma fase de melhoria na sinalização existente à época, assim como foi implantada

outra sinalização, vertical e horizontal, principalmente nos pontos críticos.

71

Fonte: Biblioteca Municipal Cruz Filho - Planta baixa anterior ao ano 2000

Fonte:Planta baixa www.gogleo.com.br, consulta março de 2008

No período da implantação do DEMUTRAN, foi realizado um trabalho de

esclarecimento da população, constando de campanhas educativas, por meio da

distribuição de panfletos e outras formas de divulgação, através dos meios de

comunicação local, com o intuito de esclarecer acerca da criação do Departamento

72

Municipal de Trânsito e do seu papel na sociedade, segundo informações da

população local.

Com a implantação do referido órgão, o trânsito da cidade passou por

certo ordenamento, visando à melhoria das condições de acesso às várias regiões

da Cidade. Com isso os agentes públicos da área esperavam que a população

passasse a ter conhecimento do papel do órgão e, em contrapartida, o seu papel

na sociedade e, como resultados dos benefícios da municipalização, a melhoria da

qualidade de vida, em razão das ruas sinalizadas e de um fluxo organizado que

propiciaria o desenvolvimento urbano da Cidade.

73

5 - O TRÂNSITO MUNICIPALIZADO EM CANINDÉ: MUDANÇAS E

PERMANÊNCIAS

Resultado da Pesquisa

Na avaliação da pesquisa dos resultados, adotamos o método de

pesquisa: estudo de caso; Segundo Becker (1994), o caso estudado em ciências

sociais é tipicamente não o de um indivíduo, mas sim de uma organização ou

comunidade.

Centrou-se a pesquisa, na coleta de informações que conjuga vários

instrumentos, a pesquisa bibliográfica, a observação direta, a aplicação do

questionário na sala do curso de renovação de carteira de habilitação e entrevistas

gravadas, brevemente agendadas, com pessoas adultas, com prévio

consentimento e esclarecida do fato a ser analisado, com a omissão do nome dos

participantes que se disponha a responder.

5.1 Perfil dos informantes

Entre os sessenta alunos que responderam ao questionário, quarenta e

cinco são do sexo masculino e quinze do sexo feminino.

O tempo de residência na cidade é variado. Cinco deles estão em

Canindé há menos de dez anos e 55 há mais de uma década.

74

As profissões do grupo que respondeu ao questionário são variadas,

tratando-se de comerciantes, vendedores, agentes de trânsito, professores,

motoristas de carro de horário, taxistas, moto taxistas, eletricistas, servidores

públicos estaduais, auxiliares de escritório, representantes comerciais, carpinteiros,

estudantes e aposentados.

O grau de instrução do sexo masculino também é variado: nove são de

nível superior, seis de nível fundamental e 30 de nível médio. Quanto aos do sexo

feminino, uma tem pós-graduação, nove possuem nível superior e cinco são de

nível médio.

Quanto aos entrevistados, destacam-se: comerciantes, estudantes,

radialistas, professores, religiosos da igreja católica (frades), instrutores de trânsito,

agentes de trânsito, diretor do Departamento Municipal de Trânsito, taxistas,

empresário da área de hotelaria.

Dos vinte entrevistados, todos residem na cidade de Canindé há mais de

dez anos e, quanto à idade, prevalece uma faixa acima de trinta anos.

Relativamente ao grau de instrução dos entrevistados, fora identificados

pessoas com pós-graduação, nível superior, estudantes universitários e com nível

médio e fundamental.

5.2 Meios de transporte utilizados

Constatou-se que os principais meios de transporte utilizados pela

população local são os automóveis, motocicletas, camionetas e “carro-de-horário”.

A maioria possui transporte particular, prevalecendo à motocicleta. Esta é

75

predominante e seu uso é justificado pelos usuários por ser “leve, econômica,

muito prática e pequena”. (Quest. nº 3).

Em geral, há localidades com acesso através de estradas vicinais,

terrenos acidentados e também falta pavimentação, dificultando o acesso. Nesses

casos, os transportes utilizados são veículos de carga, adaptados para o transporte

de passageiros, autorizados e fiscalizados pelos órgãos competentes do Município,

conforme Resolução do Conselho Nacional de Trânsito nº 82/98. São conhecidos

como “carro-de-horário” e transportam passageiros e cargas, diariamente, dos

distritos à Sede do Município. A esse respeito diz um informante:

Tem trechos em interiores vizinhos que não tem linha de ônibus e não dar condições para ônibus trafegar e a má localização de estradas destioradas (Quest. nº 8).

É usado no dia-a-dia dos moradores da zona rural desse município, para o transporte de alunos do ensino médio, assim como dos aposentados e outro por não existir na maioria das localidades ônibus para fazer o serviço (Quest. nº 7).

Foto 18 : “Carro-de-horário”

76

Os veículos conhecidos e adaptados como paus-de-arara, mais comuns à

época das festas de São Francisco e no final do ano, transportam romeiros vindo

de locais distantes, principalmente de outros estados da região Nordeste.

5.3 Movimentação do trânsito na cidade

O movimento de veículos na cidade de Canindé prevalece a semana

toda, entretanto, conforme os informantes, é mais intenso nos dez primeiros dias

do mês, em virtude do pagamento das pensões e aposentadorias dos idosos, e nos

finais de semana, quando a Cidade recebe os fiéis que buscam São Francisco.

Prevalece também às segundas feiras e finais de semana. Os motivos da maior

movimentação são apresentados, conforme a seguir:

Nos dez primeiros dias de cada mês, motivado pelos pagamentos dos aposentados, cesta alimentação, vale gás, professores do Ensino Médio Rural e missa de São Francisco (Quest. nº 13).

A movimentação do trânsito, porém, é mais dinâmica e difícil na época

das festas, aumentando consideravelmente, quando uma média de hum milhão de

romeiros visitam a Cidade. No período ora descrito, o trânsito ganha

características peculiares, em virtude do aumento de veículos e pedestres e em

razão da enorme ampliação do comércio e serviços. Para os informantes, torna-se

difícil circular na Cidade, embora haja um bom trabalho dos órgãos públicos. As

falas a seguir são ilustrativas a esse respeito.

Horrível, muitas ruas ficam fechadas por barracas de vendas, e o resto da cidade se torna um grande estacionamento sem condição dos demais se locomoverem (Quest. nº 7). A movimentação aumenta bastante haja visto que é mais de hum milhão de pessoas, em relação a pedestre vários ônibus,vários carros de pequeno porte, várias motocicletas. Na romaria todos chegando nos dez primeiros dias, e muda a rotina da cidade, com a municipalização a cidade

77

ganha com respeito as travessias das vias e a organização da circulação dos veículos, a partir do momento que o guarda solicita para o veículo parar ele tem total respaldo e apoio por ser autoridade de trânsito daquele momento esta dando prioridade a pedestre, idosos crianças (Entrevista 4). O período de setembro a janeiro vivemos do comercio religioso onde recebemos quase um milhão de pessoas que nos visita de todo o canto do país e até da Europa, então esse período de setembro a multidão é muito grande e nesse período que mais nós precisamos de segurança em relação ao trânsito, tanto o governo do Estado e o governo municipal investe muito em prol da segurança do nosso turista nosso visitante (Entrevista nº 11).

Muito conturbado, apesar dos esforços empreendidos pelos órgãos de trânsito do município e do Estado (Quest. nº 57).

Fica difícil, porque algumas das ruas ficam tomadas de ambulantes, outras interditadas, restrita apenas para o trânsito de pedestre (Quest. nº 13). É feito um trabalho onde os guardas se preocupam em dar assistência para o pessoal das romarias, para ter o local de seus transportes e fica muito mais fácil, por que o trânsito não fica congestionado, fica dando suporte no centro, os guarda da cidade, por isso turismo da romaria ficou melhor com a guarda municipal da cidade, hoje sem ter os guardas da cidade na romaria seria uma tragédia, com o acostamento de veículo de carro muito grande na cidade então só vem a melhorar, só vem a melhorar está só veio a melhora (Entrev. nº 5). Na romaria é bem mais controlado temos bastante fiscalização a policia rodoviária se faz presente, os carros que tem trânsito livre estão com aviso com indicação, durante a romaria a coisa melhora bastante (Entrev. nº 13).

5.4 Compreensão dos entrevistados acerca da Guarda Municipal

Na visão dos usuários acerca da Guarda Municipal, os relatos que

seguem demonstram o entendimento da população no que tange ao papel da

guarda municipal. Tal papel é satisfatório, no sentido de resguardar o patrimônio

público, bem como organizar o trânsito. Pequena parcela acredita que a Guarda

deveria ser mais atuante e que ela precisa melhorar na forma de abordagem.

Apesar de ter pouco tempo de guarda em nossa cidade, aparentemente é um órgão muito importante em nossa cidade, para ter um trânsito mais calmo (Quest. nº 20). Educar o trânsito e fiscalizar e multa se tiver errado (Quest. nº 21).

78

É uma instituição que fiscaliza o trânsito com muito respeito (Quest. nº 22). É um serviço municipal estruturado para trabalhar o trânsito somado com o GSU que vem desenvolvendo um belo serviço junto à sociedade, atendendo não só a cidade mas todo o município (Quest. nº 23). Existe uma aproximação do órgão de trânsito com a população até porque o trânsito municipalizado os agentes são mais conhecidos da comunidade e ficam em local certo para a pessoa o cidadão recorrer a sua penalidade em contrapartida se fosse o Estado a pessoa teria que se deslocar até a capital Fortaleza para reaver seu veículo, para tentar saber alguma coisa em relação ao veículo ou até mesmo uma notificação (Entrevista nº 4).

Passei três anos fora cheguei há um mês e pouco, quase não notei diferença ao que via anteriormente e como está funcionando atualmente. Por isso não posso dizer se existe alguma diferença, pelo menos vi alguns semáforos a mais.Não deixa de ser um bom sinal. Determinadas ruas têm mão e contramão, as placas indicativas, me parece que melhorou alguma coisa (Entrevista nº 13).

5.5 A população e o conhecimento da municipalização

Os usuários mostraram-se conscientes acerca da criação do órgão de

trânsito municipal, isto é, da municipalização do trânsito. Informaram que na época

foi realizado um trabalho de esclarecimento com a população, constando de

campanhas educativas, por meio da distribuição de panfletos, desfile nas ruas da

Cidade e outras formas de divulgação pelos meios de comunicação local, como a

rádio, com o intuito de esclarecer acerca da criação do Departamento Municipal de

Trânsito e do seu papel na sociedade, segundo informações dos entrevistados.

Eles afirmaram:

A população acompanhou todo o processo de criação através das rádios locais e tão logo ficou pronta para funcionar aconteceu um desfile nas ruas da cidade mostrando a todos o tipo de trabalho que ia ser oferecido por eles (Quest. nº 31).

Foi um projeto junto a Prefeitura com bastante divulgação pelo Prefeito, com entrevistas nas rádios, e as inscrições para o concurso da guarda municipal (Quest. nº 32).

79

5.5.1 O trânsito antes do DEMUTRAN

Os usuários informaram que o trânsito, anteriormente ao projeto de

municipalização, não tinha um ordenamento correto. A responsabilidade era do

DETRAN e este mesmo só comparecia à Cidade na época da festa de São

Francisco ou para fiscalizarem em forma de blitz, quando apreendiam os veículos e

recolhiam as carteiras de habilitação, tornando difícil a sua regularização. A Cidade

ficava desprotegida, faltava sinalização, os usuários da via, como os pedestres, os

ciclistas, os motoristas e outros, não cumpriam as normas de trânsito,

principalmente os veículos de serviços remunerados. Remetendo a um tempo

passado, eles referem:

Era uma verdadeira bagunça (Quest. nº 34). Era muito irregular, motociclistas sem capacetes, muitas imprudências (Quest. nº 37). Era muito errado o trânsito (Quest. nº 39).

5.5.2 Mudanças no trânsito após a municipalização

A visão da maior parte dos informantes no tocante à melhoria do trânsito,

após a municipalização, é bastante otimista, procurando deixar clara a satisfação

de existir a Guarda Municipal, que contribuiu para melhorar a segurança local e a

organização do trânsito, assim como a facilidade com o acesso ao órgão de

trânsito do Município. Reportam-se, também, à regularização dos serviços

remunerados de transportes de aluguel, como táxis, moto táxis, “carros-de-horário”

e outros meios de transporte, que passaram a ser autorizados e fiscalizados pelo

Município por meio do DEMUTRAN. Os discursos a seguir são ilustrativos quanto

ao fato:

80

As pessoas pensam mais, antes de extrapolarem, ”bagunçarem” no trânsito (Quest. nº 47). A guarda, mesmo não sendo rigorosa, há um certo respeito (Quest. nº 53) Quanto à organização melhorou porque dá um aspecto mais tranqüilo para as pessoas poderem assim efetuar suas compras (Quest. nº 32). Além de desobstruir as vias de trânsito, houve também o aumento de turistas em nossa cidade, aumentando os rendimentos para os comerciantes (Quest. nº 35). Principalmente no centro da cidade que tem muitos comerciantes, a guarda municipal se encontra com mais facilidade (Quest. nº 44). Os motoristas estão mais atenciosos quanto às normas de trânsito, obedecendo aos sinais, às placas regulamentação (Quest. nº 40).

A cidade está sinalizada e muitos dos condutores mais conscientes de suas responsabilidades (Quest. nº 41). As ruas foram sinalizadas, semáforos, placas, etc. e os agentes de trânsito atuam diariamente (Quest. nº 49).

Muita gente anda de capacete e com muito respeito no trânsito (Quest. nº 56).

A municipalização é muito importante para gente. Depois que veio a guarda municipal para Canindé melhorou a situação de violência do pessoal que trafega sem habilitação, trafega sem o capacete. A guarda veio muito na hora certa para melhorar essa situação. Nós canindeense somos muito gratos a essa idéia do prefeito em relação a guarda. Melhorou e muito (Entrevista nº 11). Uma melhor organização. Agente ver uma cidade mais organizada quando existem os eventos a cidade se mobiliza, o fluxo de veículos é bastante intenso com eventos na praça, eventos religiosos, procissões, etc..com a municipalização esses eventos prioriza uma certa ação da organização. Imagine uma festa de São Francisco sem um órgão de trânsito como seria a bagunça com a municipalização não, existe. O trabalho fixo do agente de trânsito e o rotativo em algumas ruas interditadas para organizar o espaço do ciclista do pedestre como do condutor de veículo (Entrevista nº 4).

No que concerne à geração de emprego, conforme citados pelos

informantes do questionário, eles destacaram o concurso local para a Guarda

Municipal e os empregos indiretos, propiciados em razão da nova sistemática de

organização dos serviços na área, tais como operadores de microcomputadores

para digitação das notificações, recepcionistas, engenheiro, operadores para a

manutenção dos equipamentos e veículos, dentre outros; ressaltando, em relação

à realização do concurso, que na época foram abertas quarenta vagas, sendo hoje

81

apenas trinta e oito ocupadas, visto que os ocupantes destes dois cargos vagos

foram assumir empregos melhores através de concursos, em outros órgãos e

atividades. A este respeito, relatam alguns informantes:

Gerou emprego tanto para os agentes como também para servidores que trabalham administrativamente dentro da guarda (Quest. nº 48). Gerou emprego para as pessoas que organizam o trânsito o próprio DEMUTRAN e outros serviços (Quest. nº 50). Quase todos os guarda são canindeense (Quest. nº 51). Tenho um filho que é guarda, hoje através do emprego financiou uma casa (Quest. nº 59). Foi criada uma Secretaria na Prefeitura e acho que deu mais de 50 empregos diretos. Só tenho dúvida na lisura da escolha das pessoas que estão lá (Quest. nº 55). Empregou muita gente que estava desempregada (Quest. nº 58). Aconteceu uma seleção para os guardas de trânsito, com a criação do GSU (Quest. nº 60).

Vale mencionar que, segundo os informantes, também existem as falhas

dos serviços de trânsito, principalmente em relação à sinalização, que é precária.

Percebe-se também a cobrança, ao Estado, de apoio na infraestrutura de melhoria

para o trânsito, como veículos, equipamentos e melhoria do pavimento asfáltico,

dentre outros. Eles comentam:

A nossa sinalização é um pouco deficiente. Nós necessitamos de mais semáforos, placas, estacionamento para deficiente físico, uma série de coisas. Primeiro temos que melhorar a infra-estrutura da cidade, o asfalto está bastante desgastado, nós não podemos fazer uma sinalização enquanto o asfalto não for recuperado. Na parte vertical algumas ruas estão bem sinalizadas, mas alguns vândalos insistem em quebrar as placas, os barrotes, na medida do possível o Demutran esta repondo esta sinalização. Fica muito aquém de cidade bem educada e bem sinalizada (Entrevista nº 4). A sinalização é carente. Com a parceria do governo Estado com governo municipal a tendência é melhorar. Já existe promessa em relação a nosso Governador Cid Gomes, ele prometeu muito em ajeitar o trânsito aqui em Canindé, em relação a sinalização que não temos semáforo e tudo isso, e nós estamos ainda esperando, é claro, que ele iniciou o governo há mais ou menos, um ano menos por aí e nos estamos aqui esperando essa melhorias. Más, normalmente só vem no período de romaria a São

82

Francisco, até nos precisamos dar muita segurança ao nosso visitante, nós do comércio dependemos acima de tudo dos romeiros dos turistas que aqui vem visitar São Francisco (Entrevista 11). Suficiente não, mas as que já temos realmente dá um suporte. Precisam em outras áreas cruzamentos perigosos lombadas e também na parte da sinalização das ruas (Entrev. nº 1)

Não até agora não é suficiente. Acreditamos com a nova administração vai haver um empenho melhor dos gestores municipais para melhorar esta sinalização (Entrev. nº 3).

Ainda não é suficiente hoje, falta muito sobre a sinalização, não esta 100%. Acredito que melhorou muito hoje a sinalização em Canindé. Em várias partes da cidade já tem sinais, placas indicadoras de contramão, de proibido estacionar, não tinha antes, hoje tem 50% já melhorou, falta muito para chegar a melhorar o trânsito de Canindé (Entrev. nº 5).

As informações coletadas propiciaram emergir outra questão: a falta de

respeito entre as autoridades do Município e os agentes do trânsito. Um dos

informantes destaca, ainda, com uma visão mais crítica acerca da interferência

política nas ações dos órgãos de trânsito do Município e ressaltando que os

agentes de trânsito não concordam com essa interferência. O depoimento a seguir

é revelador desse problema. Dizem os informantes:

Fica muito chato o critério política que intervem muito nas ações do órgão e acaba desestimulando o agente e tentando desmoralizar. Não é só no município, é nacionalmente e nós não baixamos a cabeça para isso, mas o que piora com o trânsito municipalizado é justamente a política. Tem muitos políticos que tem a consciência e a mente bastante fútil e atrasada. Com a municipalização era para ser diferente, bastante organizado, bem mais desenvolvido, a exemplo de Sobral ou outras cidades modelos, que realmente a política não entra demais, não atribuem nas ações do poder municipal de trânsito. A gente ver o trânsito bastante educado e seguro (Entrevista nº 4). Os dirigentes, da guarda são desmoralizados pelas autoridades municipais (Quest. nº 15).

Alguns informantes, um grupo bem reduzido, comenta os valores das

multas cobradas, das arbitrariedades, e a respeito da falta de orientação que os

Agentes de trânsito poderiam propiciar. Eles dizem que eles apenam de imediato,

sem antes proceder a uma orientação ao usuário, tornando desagradáveis essas

atitudes.

83

Melhorou muito, embora ainda existam algumas arbitrariedades (Quest. nº 43). Procuram prejudicar e algumas pessoas em desagrado, mas por outro lado eles deveriam só orientar para depois fazer outro tipo de intimação no caso a multa, nos não tínhamos esta segurança já que esta chegando então acredito em primeiro lugar esta orientação para o usuário de moto e carro (Entrevista nº 01). Tem o lado capitalista da situação. O pobre anda com a moto atrasada não pode pagar, vai logo sendo detido. Uma pessoa que tem dinheiro, uma pessoa rica eles vem liberar. Acontece muito isso. Pobre sofre bastante nessa situação (Entrevista nº 10).

5.6 Relação entre o turismo e a municipalização do trânsito

Quanto à atenção dispensada aos turistas por parte da fiscalização, a

maioria dos usuários enfatiza que não tem diferença e que a relação tem

melhorado em virtude da presença do agente de trânsito, que favorece uma

relação de confiança entre o usuário e o agente de trânsito, em virtude de uma

melhor orientação no trânsito e na segurança. Dizem os informantes:

O turismo especificamente não. No caso de Canindé, o que melhorou foi à receptividade na organização do fluxo de veículos (Quest. nº 18). Com mais orientação dos guardas, os turistas e romeiros se sentem mais seguros (Quest. nº 20). Os problemas são resolvidos no próprio município e dá mais segurança aos turistas (Quest. nº 21). Deixa uma melhor impressão (Quest. nº 24). Quando implantou a guarda, teve mais tranqüilidade com o nosso turismo (Quest. nº 25). Todos os órgãos públicos, paróquia, trabalham juntos em beneficio do turismo religioso (Quest. nº 27). O turismo vem crescendo ano após ano, com maior divulgação do período festivo, com a transmissão pela televisão de Missa de São Francisco e com a melhoria das estradas de acesso ao município (Quest. nº 28).

84

Com a organização da guarda municipal, o turista de veículos particulares

ou escolares sente mais confiança e organização (Quest. nº 29).

5.7 Relação entre municipalização do trânsito e qualidade de vida em Canindé

O pensamento dos usuários acerca dos principais pontos que eles

consideram como melhorias da qualidade de vida são vários: eles foram enfáticos

em diversos aspectos, identificando, como elementos principais, a segurança, a

redução dos acidentes e a educação no trânsito. Esta influenciou na forma de

organização do trânsito, mas necessita melhorar.

A partir do momento que tem o trânsito seguro, a criança o jovem o idoso podem trafegar pelas ruas com segurança, A qualidade de vida com relação aos acidentes diminui bastante tudo isso depende de uma fiscalização mais rígida, mais operante em relação aos abusos de certas pessoas que usam seus veículos automotores para fazerem arruaça ou então até ocasionar acidentes. Então a gente espera uma fiscalização mais atuante a esses vândalos, a convivência no município fique mais em paz. O direito de ir vir de qualquer pessoa seja respeitado (Entrevista nº 4). Melhorou em relação à parte punitiva que muitos a acidentes ficavam impunes. A gente via muito adolescente transitando com veículos automotores. Os próprios pais apoiavam e tudo já com a municipalização não. Ficou mais restringido, não acabou, mas os órgãos fazem operações para que amenize esses abusos por parte de algumas pessoas que não são habilitadas e conduzem os veículos, pessoas que dirigem veículos estando alcoolizadas ou ingeridas entorpecentes. Esperamos combater com bastante rigor estas adversidades que quando a pessoa não habilitada possui um veículo automotor ela quer usar o veículo não como um transporte e sim como uma arma (Entrevista nº 3). O que melhorou na cidade uma organização. Agente vê uma cidade mais organizada. Quando existem os eventos a cidade se mobiliza, o fluxo de veículos é bastante intenso com eventos na praça, eventos religiosos, procissões, etc. Com a municipalização esses eventos priorizam uma certa ação da organização. Imagine uma festa de São Francisco sem um órgão de trânsito. Como seria a bagunça! Com a municipalização não existe o trabalho fixo do agente de trânsito e o rotativo em algumas ruas interditadas para organizar o espaço do ciclista do pedestre como do condutor de veículo (Entrevista nº 4). O trânsito e a educação caminham juntos. Educando de modo geral condutores facilitam muito, possibilitando uma melhoria, sendo educados os condutores terão menos acidente, menos violência tudo melhora na

85

segurança tudo no mesmo jogo. Educando, segurança e qualidade de vida caminham juntos (Entrevista nº 5).

Melhorou com respeito do povo ter mais cuidado de cometer algum erro, de beber no veículo de andar sem capacete, os veículos legalizados. Ficou melhor as coisas ficaram melhor. Hoje temos guarda, diariamente, dando uma organizada no trânsito. As coisas ficaram muito melhor, mais fácil, tomaram mais cuidado para não cometer infrações, melhorou muito até os acidentes diminuíram. Todos preocupados de legalizarem os seus veículos para andarem direito, a questão do município ficou muito melhor (Entrevista nº 5).

A qualidade de vida é uma coisa que a gente deve ter e a segurança também tem que ter. Faz parte da qualidade de vida, para ter qualidade de vida tem que ter segurança (Entrevista nº 9). Muito importante a qualidade de vida. Nós queremos uma ótima qualidade de vida. Isso influi em segurança porque você tendo um trânsito municipalizado com guardas na rua isso diminui restringe mais as brigas de trânsito acontece um pequeno furto eles põem agir em prender o marginal. Então é importante na qualidade de vida das pessoas, é muito importante (Entrevista nº 10).

Melhorou por que depois da municipalização temos a nossa guarda que faz um belíssimo trabalho. Sabemos que o contingente da guarda ainda é pequeno. Nós esperamos que nossos governantes, para nossa guarda ser mais ativa ainda para transformar a proteção do governo dos turistas tudo que tenha fiscalização principalmente os finais de semana. Melhorou muito depois da municipalização veio GSU que é o Socorro de Urgência, a pessoa liga para o número vai pegar em casa e leva para o hospital, depois vai deixar na residência, tem melhorado muito. Que foi o governo anterior, o prefeito que saiu, que levando este projeto que esta dando certo até hoje no nosso município (Entrevista nº 15).

Em síntese, para os informantes, a noção de qualidade de vida em virtude

da municipalização do trânsito engloba a tranquilidade do pedestre ao trafegar

pelas ruas; relações entre condutores de veículos e pedestres pautadas por leis,

cuja desobediência implica punição; a organização da Cidade durante os eventos

que mobilizam grande número de pessoas, a exemplo da festa de São Francisco; a

educação no trânsito e em geral; a presença dos agentes do trânsito nas ruas; e,

finalmente, a perspectiva de socorro em casos de acidentes.

86

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

A partir da vigência do CTB, cabe a responsabilidade aos municípios

procederem à implantação da gestão municipal do trânsito; não assumindo esta

responsabilidade por falta de conhecimento ou outras situações, como: a saúde, a

educação, infraestrutura, dentre outras, esquecendo-se de que trânsito também se

enquadra na mesma situação ou pior.

Municipalizar não é apenas gerenciar a frota de veículos, mas é também

propiciar segurança, educação e cidadania, possibilitando a perspectiva de uma

melhor qualidade de vida da população, concernente ao seu direito de ir e vir.

No Estado do Ceará, 25% dos municípios encontram-se organizados

administrativamente, no que se refere ao trânsito. A maior parte está em estudo

para implantação da gestão municipal do trânsito, ressaltando-se que, no plano

nacional, o Ceará está bem colocado no que diz respeito à implantação da gestão

do trânsito municipalizado.

Muitos dos resultados obtidos por meio desta pesquisa reafirmam as

idéias do DENATRAN acerca da municipalização do trânsito, como a melhoria das

vias, a aproximação da população com o órgão de trânsito no plano do município,

uma melhor educação para os pedestres, ciclistas, motoristas e demais usuários da

via, os quais obedecem por educação ou por temer penalidades.

Verificou-se também que, com atitudes simples e sem grandes

investimentos, como a criação e a implantação do órgão de trânsito, com os

agentes de trânsito, conforme recomendado pela Lei, uma infraestrutura já

existente ou a implantação de uma nova, seria o suficiente. A maior parte das

responsabilidades recai na Prefeitura, com verbas para implantar ou melhorar a

87

sinalização, e um projeto de Engenharia de Trânsito e fiscalização condizente com

a realidade local.

Por meio da observação direta e da pesquisa de campo, percebeu-se que a

população local sente necessidade de esclarecimento maior referente às

competências do Município no trânsito, como, por exemplo, o que o guarda

municipal pode fiscalizar e quais são seus deveres. Se, de acordo, com o Código

de Trânsito Brasileiro, cada órgão tem a sua competência na sua jurisdição de

atuação, então isto ainda está por ser assimilado pelos cidadãos em seu cotidiano.

Nas entrevistas, percebeu-se que o usuário se acha satisfeito com a

criação da Guarda Municipal, e que, em qualquer situação, os cidadãos podem

encontrar um agente que deve estar presente para solucionar determinados

problemas, melhorando a segurança da população.

Na época das festas, de setembro até dezembro, o aumento do fluxo de

veículos vindos de todos os lugares faz com que o trânsito fique caótico e a,

população local perca o seu espaço. Em razão disso, os órgãos de trânsito e

segurança pública do Estado favorecem o apoio no sentido de melhor atender a

sociedade local e os visitantes.

É consenso entre os informantes o fato de que houve melhoria da

qualidade de vida e segurança, como consequência da municipalização do trânsito

na cidade de Canindé, ao tempo em que uma dinâmica relacionada à questão

econômica e social é percebida mediante a modernização do Ceará e, mais

especificamente, a regionalização do Estado para fins do planejamento, conforme

descrito em capítulo anterior.

Ao mesmo tempo, há o fluxo peculiar da Cidade que se tornou a

segunda do mundo mais visitada por peregrinos devotos de São Francisco, sendo

88

o maior santuário franciscano da América Latina, superada apenas por Assis, na

Itália, terra natal de São Francisco. Durante todo o ano, a cidade recebe milhares

de romeiros vindos, principalmente, da região Nordeste. Os peregrinos são de

todas as classes sociais, sendo a maioria de pessoas humildes, que vão pedir

graças e pagar promessas feitas a São Francisco. Os romeiros são acolhidos pelo

Santo que é admirado em todo o mundo pela lição de vida e opção preferencial

pelos pobres. A devoção dos fiéis é tão forte que o Vaticano elevou a Igreja ao

status de Basílica, reservado apenas aos principais destinos de peregrinos cristãos

em todo o mundo.

Não é possível garantir, todavia, que a municipalização do trânsito, em

si, seja determinante da dinamização dos fluxos de desenvolvimento. Ele

acompanha e participa da modernização do Ceará, como área que também

propicia empregos locais diretos e indiretos, assim como a segurança relativa no

que diz respeito aos deslocamentos, ma não é o único responsável pelas

mudanças ocorridas.

Como sugestões do resultado da pesquisa, para o aperfeiçoamento do

processo de municipalização do trânsito em cidades interioranas, deixa-se os

seguintes:

- administração pública do Município, precisa intensificar o trabalho de

divulgação do processo de municipalização do trânsito;

- melhorar a infraestrutura do órgão de trânsito, nos municípios ora já

implantados com a gestão municipal do trânsito;

- intensificação da fiscalização, principalmente na época das festas;

- melhorar a sinalização da cidade municipalizada;

- garantir a mobilidade e acessibilidade com segurança e qualidade a

toda população;

- promover o exercício da cidadania, a participação e a comunicação

com a sociedade;

89

- definir espaço de estacionamento para os veículos de grande porte;

- disciplinar a circulação dos pedestres e demais veículos; e

- promover a educação para o trânsito.

90

BIBLIOGRAFIA

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95

APÊNDICE I

ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO

I. IDENTIFICAÇÃO

- SEXO

MASCULINO __ FEMININO __

- QUANTO TEMPO RESIDE NA CIDADE

MENOS 10 ANOS ___ DEZ ANOS ___ MAIS DE DEZ ANOS ___

- PROFISSÃO:

_______________________________________________________________

- GRAU DE INSTRUÇÃO

FUNDAMENTAL ___ MÉDIO ___ SUPERIOR ___ PÓS GRADUADO ___

II. PERGUNTAS

1. QUAL O TIPO DE TRANSPORTE QUE UTILIZA COM MAIOR FREGUÊNCIA

PARA O SEU DESLOCAMENTO?

COMENTÁRIOS:_____________________________________________________

_________________________________________________________

2. EXISTE UMA FREQUÊNCA DO VEÍCULO DE CARGA (FRETE, PAU-DE-

ARARA) TRANSPORTANDO PASSAGEIROS?

SIM ___ NÃO ___

COMENTÁRIOS:_____________________________________________________

_______________________________________________________________

3. QUAIS OS DIAS DE MAIOR MOVIMENTO DO TRÂNSITO?

________________________________________________________________

______________________________________________________________

4. O QUE VOCÊ ENTENDE DA GUARDA MUNICIPAL?

________________________________________________________________

______________________________________________________________

5. COMO A POPULAÇÃO DA CIDADE TOMOU CONHECIMENTO DA CRIAÇÃO

DA GUARDA MUNICIPAL?

COMENTÁRIOS: __________________________________________________________________________________________________________________________________

96

6. COMO ERA O TRÂNSTO, ANTES DA IMPLANTAÇÃO DO DEMUTRAN? COMENTÁRIOS:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. EXISTE DIFERENÇA HOJE?

SIM ____ NÃO___

COMENTÁRIOS:_____________________________________________________

__________________________________________________________________

8. NO PERÍODO DAS FESTAS, COMO É O TRÂNSITO?

COMENTÁRIOS:

__________________________________________________________________

_____________________________________________________________

9. VOCÊ CONSIDERA QUE A QUESTÃO DO TURISMO MELHOROU COM A

MUNICIPALIZAÇÃO?

SIM ___ NÃO ___

COMENTÁRIOS:__________________________________________________

______________________________________________________________

10. PARA OS COMERCIANTES, O TRÂNSITO MUNICIPALIZADO MELHOROU?

SIM ___ NÃO ___

COMENTÁRIOS:

11. A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO GEROU EMPREGO?

SIM ___ NÃO ___

COMENTÁRIOS:__________________________________________________

______________________________________________________________

12. A MUNICIPALIZAÇÃO DO TRÂNSITO INFLUÊNCIOU NA MELHORIA DA

CIDADE?

SIM ___ NÃO ___

COMENTÁRIOS:__________________________________________________

______________________________________________________________

97

APÊNDICE II

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

PERGUNTAS

1- O que é feito com a municipalização que não era feito com o Estado

2- O que os gestores municipais esperam do gestor máximo do Estado?

3- Qual a relação da municipalização com a qualidade de vida e a segurança?

4- O que melhorou na cidade e na qualidade de vida da população com a municipalização do trânsito?

5- O que melhorou na cidade e na segurança da população com a municipalização do trânsito?

6- O que piorou após a municipalização do trânsito?

7- O que ocorre no período de romaria na área de trânsito

8- A sinalização é eficiente?

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ANEXO I

FOTOS DA CIDADE DE CANINDÉ-CE

Foto 18: Rua Romeu Martins Foto 19: Centro da Cidade

Foto 20: Rua Tabelião Facundo Foto 21: Cruzamento com semáforo

Foto 22: Rua João Pinto Foto 23: Centro da Cidade

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Foto 24: Centro da Cidade Foto 25: Estacionamento de Motocicleta

Foto 24: Travessa Severiano Martins Foto 25: Rua Tabelião Facundo

Foto 26: Rua Joaquim Magalhães Foto 27: Centro da Cidade

100

Foto 28: Centro da Cidade Ponto de táxi Foto 29: Rua Romeu Martins

Foto 30: Centro da Cidade Foto 31: Alunos CFC

Foto 34: Agentes de trânsito Foto 35: Alunos do CFC

101

ANEXO II

DOCUMENTOS OFICIAIS

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo