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1 A multiplicidade do agir público: o caso do Programa Um Milhão de Cisternas Documento para su presentación en el VIII Congreso Internacional en Gobierno, Administración y Políticas Públicas GIGAPP. (Madrid, España) del 25 al 28 de septiembre de 2017. Maria Cecília Gomes Pereira Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP), Brasil [email protected] Resumo: Este artigo discute a multiplicidade do agir público a partir da análise de um programa de distribuição de água no semiárido brasileiro: o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). O P1MC é implementado por uma rede de organizações da sociedade civil por meio de parcerias com atores estatais e do mercado. Para analisá-lo, recorro ao conceito de ação pública que abrange não somente as atividades estatais, mas também as ações realizadas pelos membros do público, tanto colaborativas como de pressão. A partir de pesquisa qualitativa, com a adoção do método da praxiografia, conclui-se que o P1MC se constitui como uma ação pública do "público" para o "público" tanto colaborativa como de pressão que apresenta as seguintes características: fluidez, capilaridade e flexibilidade. Palavras chave: ação pública; agir público; acesso à água; semiárido brasileiro. 1. Introdução Este artigo discute a multiplicidade do agir público, explorando o conceito de ação pública a partir da análise de um programa de distribuição de água no semiárido brasileiro. O conceito de ação pública abrange não somente as atividades estatais, mas também as ações realizadas pelos membros do público, tanto colaborativas como de pressão (Dréze; Sen, 1989). O conceito engloba ações de governos para o "público", do "público" para o "público", e do "público" pressionando governos. Um dos princípios centrais deste texto é que o agir público não é monopólio do Estado. O programa aqui analisado é o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). O P1MC tem como objetivo promover o acesso à água potável para populações rurais difusas, por meio da construção de cisternas de placas para a captação de água de chuva,

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A multiplicidade do agir público: o caso do Programa Um Milhão de Cisternas

Documento para su presentación en el VIII Congreso Internacional en Gobierno,

Administración y Políticas Públicas GIGAPP. (Madrid, España) del 25 al 28 de

septiembre de 2017.

Maria Cecília Gomes Pereira

Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo

(FGV-EAESP), Brasil

[email protected]

Resumo:

Este artigo discute a multiplicidade do agir público a partir da análise de um programa

de distribuição de água no semiárido brasileiro: o Programa Um Milhão de Cisternas

(P1MC). O P1MC é implementado por uma rede de organizações da sociedade civil por

meio de parcerias com atores estatais e do mercado. Para analisá-lo, recorro ao conceito

de ação pública que abrange não somente as atividades estatais, mas também as ações

realizadas pelos membros do público, tanto colaborativas como de pressão. A partir de

pesquisa qualitativa, com a adoção do método da praxiografia, conclui-se que o P1MC

se constitui como uma ação pública do "público" para o "público" tanto colaborativa

como de pressão que apresenta as seguintes características: fluidez, capilaridade e

flexibilidade.

Palavras chave: ação pública; agir público; acesso à água; semiárido brasileiro.

1. Introdução

Este artigo discute a multiplicidade do agir público, explorando o conceito de

ação pública a partir da análise de um programa de distribuição de água no semiárido

brasileiro. O conceito de ação pública abrange não somente as atividades estatais, mas

também as ações realizadas pelos membros do público, tanto colaborativas como de

pressão (Dréze; Sen, 1989). O conceito engloba ações de governos para o "público", do

"público" para o "público", e do "público" pressionando governos. Um dos princípios

centrais deste texto é que o agir público não é monopólio do Estado.

O programa aqui analisado é o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). O

P1MC tem como objetivo promover o acesso à água potável para populações rurais

difusas, por meio da construção de cisternas de placas para a captação de água de chuva,

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abrangendo processos de formação e de mobilização. Desde sua criação, em 2000, o

programa já construiu 605.667 cisternas, beneficiando 2.464.789 pessoas em todo o

semiárido brasileiro (ASA, 2017).

O P1MC foi criado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), uma rede composta

por mais de 1000 organizações da sociedade civil, contando com o apoio de diversos atores do

mercado, do Estado e de organismos internacionais. O P1MC ganhou escala por meio de uma

parceria com o governo brasileiro, no âmbito de um programa de combate à pobreza.

Este estudo é baseado em uma pesquisa qualitativa e no método da praxiografia.

Praxiografia (praxiography), termo cunhado por Mol (2002), é uma abordagem de

pesquisa orientada pela prática. Práticas podem ser definidas como combinações de

atividades mentais e corporais, artefatos e conhecimentos implícitos (Bueger, 2014). O

pressuposto deste trabalho é que realidades não são explicadas pelas práticas e crenças,

mas sim produzidas por elas (Law, 2004).

Foi feita revisão bibliográfica, análise documental e entrevistas semiestruturadas

com atores-chave, entre 2013 e 2016. Além disso, foi realizada pesquisa de campo em

Apodi e Caraúbas, no estado do Rio Grande do Norte, entre agosto e setembro de 2015.

As técnicas de pesquisa adotadas foram: observação participante, conversas livres,

entrevistas abertas e semiestruturadas. Ao todo, 56 entrevistas abertas e

semiestruturadas foram realizadas e diversas conversas livres e observações de práticas

foram registradas em diários de pesquisa de campo.

2. Ação pública: a multiplicidade do agir público

O conceito de ação pública provém do campo de estudos do desenvolvimento

(Dréze; Sen, 1989; Mackintosh, 1992; Wield, 1999; Harriss, 2001) e também de parte

da literatura francesa e belga que questiona a hegemonia da ideia de política pública

(Thoenig, 1997, 2005; Laborier; Trom, 2003; Laborier, 2003; Delvaux, 2007;

Lascoumes; Galès, 2012), sendo incorporado e trabalhado por autores latino-americanos

(Cabrero-Mendoza, 2005; França Filho et al., 2006; Spink; Alves, 2008; Spink; Best,

2009; Ventura, 2010; Spink, 2013a, b; Spink; Silva, 2014).

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O ponto de partida do conceito de ação pública é que o público não é monopólio

estatal. Dréze e Sen (1989), no livro Hunger and Public Action, apresentam a seguinte

definição:

Por ação pública, nós definimos não apenas as atividades do Estado, mas

também ações sociais realizadas pelos membros do público - tanto

'colaborativas' (por meio de cooperação cívica) como 'de oposição'

(adversarial) (por meio de crítica social e oposição política). [...] o alcance da

ação pública vai muito além das ações do Estado, e envolve o que é feito pelo

público - não meramente para o público. Nós também argumentamos que a

natureza e a eficácia das atividades do Estado podem deteriorar-se muito

facilmente na ausência de vigilância e ativismo públicos (DRÉZE; SEN,

1989: vii).

Dréze e Sen (1989) destacam que o público não é uma entidade homogênea.

Existem divisões relacionadas à classe, ocupação, gênero, comunidade e cultura. O

público é heterogêneo e a ação pública envolve conflitos cooperativos e disputas.

Adotar o conceito de ação pública, como destaca Spink (2013b:49), é

[...] uma maneira de reconhecer este horizonte mais amplo do agir público,

sua complexidade e também suas contradições - porque a distribuição de

quem recebe o que, onde e de qual maneira não é necessariamente igualitária

e muito menos equitativa.

Para Laborier e Trom (2003), a

ação pública é entendida num sentido amplo, de modo a cobrir a atividade

dos poderes públicos e, mais amplamente, qualquer atividade articulada num

espaço público e necessitando de uma referência a um bem comum

(Laborier; Trom, 2003: 11).

Os autores destacam que esta definição permite reunir dentro de um mesmo

quadro analítico as atividades relacionadas ao exercício do poder público e as atividades

de cidadãos que buscam agir em prol da vida coletiva e do bem comum (Laborier;

Trom, 2003). Mackintosh (1992), no entanto, define ação pública incluindo ações que

não necessariamente são para o bem comum, que podem partir, por exemplo, de

organizações do público que visam interesses privados e setoriais. Para o autor, a

manipulação coletiva e proposital do ambiente público para fins privados constitui ação

pública.

[...] usando uma ampla definição de ação pública. Nós incluímos na esfera

pública as ações não apenas de Estados e organizações que buscam promover

o bem público e assistir desfavorecidos, mas também grupos de poderosos

que buscam influenciar a esfera pública para seus próprios fins. Tais grupos

podem incluir partidos políticos, e também grupos de empresas (como

comerciantes colusivos) que buscam manipular estruturas de mercado para

vantagem própria. Manipulação coletiva e intencional do ambiente público

constitui ação pública, seja através de legislação, lobbying, auto organização

ou fraudar o mercado. Isso faz o conceito de ação pública consideravelmente

mais amplo que o de 'política pública' (policy) (Mackintosh, 1992:5).

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Thoenig (1997), por sua vez, define ação pública como a "maneira como uma

sociedade constrói e qualifica problemas coletivos e elabora respostas, conteúdos e

processos para abordá-los" (Thoenig, 1997: 28). A ênfase é dada à sociedade em geral e

não somente à esfera institucional do Estado.

Para Spink e Alves (2008), a ação pública é uma área de múltiplas interseções,

colaborativas e/ou conflituosas, entre ação governamental e política pública, por um

lado, e movimentos sociais e ação comunitária, por outro; e entre noções institucionais

de público e aquelas noções mais práticas que emergem de coletividades, comunidades

e movimentos de base. A ação pública é mais do que a mera junção de política pública e

ação social, já que existem várias noções de público e de ação ligadas a diferentes

formas de poder. Nessa perspectiva, a ação pública representa uma arena híbrida (Spink;

Alves, 2008). Arenas híbridas são "espaços compostos de elementos incongruentes e

desenhados a partir de fontes heterogêneas" (Spink; Best, 2009:7). Spink (2012) destaca

que cada vez mais o espaço de ação pública é híbrido, complexo e com muitos fios que

mal se conectam, apenas se intercruzam. Na ação pública estão presentes diversas

organizações com diferentes práticas organizacionais, lógicas de ação, modos de agir e

linguagens (Spink, 2012).

A ação pública, seguindo a definição de Dréze e Sen (1989), abrange formas de

pressão a governos, como protesto, ativismo público e manifestações. A pressão e o

ativismo públicos podem influenciar e até determinar ações de governos ao visibilizar

problemas negligenciados, apresentar demandas e propostas de ação, e cobrar para que

ações sejam executadas (Dréze; Sen, 1989).

Nessa linha, mas adotando o conceito de civic driven change, Fowler e Biekart

(2011, 2012) exploram como mudanças sociais ocorrem por meio da ação direta de

cidadãos, em diferentes domínios, para além da divisão Estado, sociedade civil e

mercado. Já Hirschman (1982), em seu livro intitulado "Shifting involvments: private

interest and public action", busca entender os processos de mudança no envolvimento

das pessoas em assuntos públicos e em interesses privados, definindo "[...] ação pública,

a ação no interesse público que se empenha para a felicidade pública – referindo-se a

ações na esfera política e ao envolvimento de cidadãos em assuntos comunitários e

cívicos" (Hirschman, 1982: 6).

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As ações feitas "pelo" público "para" o público também são uma forma de ação

pública (Dréze; Sen, 1989) e, inclusive, bastante antiga. Spink (2013b) cita, por

exemplo, as Santas Casas de Misericórdia que datam da chegada portuguesa no Brasil

no século XVI, e a Cruz Vermelha criada na segunda metade do século XIX.

Esse amplo escopo da ação pública possibilita refletir sobre novas práticas, que

ganharam visibilidade em processos de experimentação democrática, como redes,

parcerias e fóruns deliberativos (Spink; Alves, 2008; Spink, 2014). No Brasil, a partir da

Constituição Federal de 1988, mecanismos de participação, como, por exemplo, os

conselhos municipais e os orçamentos participativos proliferaram. No âmbito local,

houve a emergência de novos arranjos institucionais entre atores do Estado, da

sociedade civil e do setor privado na formulação e implementação de programas e

projetos para resolução de problemas coletivos (Farah, 2001). Considerando essas

dinâmicas e os diferentes arranjos e formas de ação sobre os assuntos públicos, Spink

(2013a) argumenta que:

Talvez uma maneira de ampliar o foco fosse relocalizar a temática da política

pública para a discussão sobre ação pública em geral, especialmente no

Terceiro Mundo, onde a multiplicidade das versões de ação é maior. Se

entendermos ação pública não somente em relação às atividades do setor

público, mas incluindo os diversos arranjos entre governo e sociedade

presentes na formulação e gestão do agir público e a pressão de novas

instâncias da sociedade civil e a provisão de serviços próprios pelas

comunidades (Spink; Best, 2009), segue que é aqui que precisamos

aprofundar nossas investigações (Spink, 2013a:180).

O conceito de ação pública diferencia-se do de política pública à medida que

amplia o campo de análise e engloba variadas possibilidades de ação para além da

governamental. Thoenig (1997) argumenta que a noção de política pública carrega uma

representação particular do mundo e dos fenômenos sociais: como se as autoridades

políticas e administrativas legítimas ocupassem uma posição, se não de monopólio, ao

menos hegemônica no tratamento dos problemas públicos.

Existem várias definições de política pública (Souza, 2006; Farah, prelo) e todas

elas têm como eixo central tratar de uma ação do Estado, apresentando, em linhas

gerais, as seguintes características: a política é elaborada ou decidida por autoridade

formal legalmente constituída; a política é um conjunto de decisões, relacionadas com a

escolha de fins e meios como resposta a problemas e necessidades coletivas; implica

ação ou inação, fazer ou não fazer, constituindo-se em um curso de ação e não apenas

uma decisão singular; e, por fim, são produtos de ação que têm efeitos no sistema

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político e social (Saravia, 2006; Farah, prelo). Em algumas definições é feita referência

a atores não estatais como participantes dos processos de políticas públicas (Subirats et

al., 2008; Farah, prelo).

Como objeto de investigação, a política pública geralmente se caracteriza pelo

estudo do trabalho de autoridades investidas de legitimidade institucional que são

responsáveis por atividades que vão desde a definição e seleção de prioridades de

intervenção até a tomada de decisões, implementação e avaliação (Thoenig, 1997),

embora este processo seja mais normativo que real, já que na prática é mais confuso

(Colebatch, 2006; Hill, 2006).

O conceito de política pública, seus pressupostos e boa parte de seus modelos de

análise foram produzidos nos EUA, apresentando, muitas vezes, limites quando

mobilizados para outros países. Colebatch (2006) chama a atenção para as diferenças

entre a abordagem mainstream de política pública de origem norte americana, com as

práticas que ocorrem em outros sistemas políticos. O autor destaca que há uma

desconexão entre as práticas e a literatura, isto é, entre o trabalho que faz a política e as

teorias (Colebatch, 2006). Spink (2013a) argumenta que o problema não é onde a noção

emergiu, pois ideias nascem em algum lugar e podem ser disseminadas e adaptadas.

O problema é outro: de cair no erro de presumir que, ao usarmos a expressão

"política pública", estaremos automaticamente falando de um país onde haja

uma democracia consolidada com direitos extensivos, uma prática de

representação efetiva e uma relação aberta entre Estado, sociedade e

comunidades de saber no que tange à discussão de ações governamentais. Em

outras palavras, nossa discussão sobre políticas públicas precisa incluir a

questão: o que quer dizer estudar e usar a linguagem de políticas públicas em

países como o Brasil, onde muitas dessas dimensões continuam bastante

frágeis? (Spink, 2013:168-169).

Já no contexto francês, Thoenig (1997) destaca que o conceito de ação pública

reflete certa insatisfação com o ponto de vista estreito, institucional e estado-centrista

que presidiu a ortodoxia da política pública. Segundo o autor, o surgimento da

expressão envolve o descobrimento empírico de que governos não têm o monopólio do

político, nem do trabalho em relação aos assuntos públicos, seu tratamento e gestão. O

autor, em texto mais recente, enfatiza que:

O serviço público na tradição da common law, bem como a administração

pública na perspectiva do direito romano não detêm o controle monopolístico

do manejo dos assuntos públicos, desde a lei e a ordem, a proteção contra

incêndios e as políticas ambientais até a educação, os usos da terra e os

benefícios sociais. Desenhos institucionais híbridos e estatutos legais vagos

são prática comum. [...] Algumas entidades não-governamentais, como

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empresas, associações ou grupos de cidadãos, têm papel importante no

fornecimento de bens coletivos, com grande freqüência sem disporem de

mandato formal para isso. O Estado está longe de ser senhor e deter o

controle exclusivo dos assuntos públicos, desde a definição do que deva ser

objeto de ação até o desenho e a implementação das ações em si (Thoenig,

2007:13).

Nesse sentido, Spink (2013a) propõe ir além da linguagem da política pública,

apresentando os seguintes questionamentos:

Devemos persistir no argumento implícito de que toda ação (feita e não feita)

deve ser enquadrada na linguagem da política pública? Ou devemos aceitar

que a linguagem da política pública seja somente uma entre uma

multiplicidade de ontologias que apresentam diferentes Estados e sociedades,

diversas relações e várias maneiras de performar o político? [...] Nesse

sentido, e como estratégia metodológica e analítica, optar pela cacofonia

performática poderia ser mais adequado do que aceitar a hegemonia

automática e articuladora da política pública. Caminhamos talvez para arenas

mais híbridas, nas quais diferentes linguagens de ação e diversas economias

políticas se entrecruzam, às vezes, dentro de uma postura de coabitação e,

outras vezes, de conflito direto (Spink, 2013a:179).

Spink e Silva (2014) argumentam que a política pública é apenas uma entre

muitas formas de discorrer sobre assuntos públicos. Embora seja uma expressão

presente em discursos, livros, jornais e artigos, até pouco tempo não era comum falar de

políticas públicas. O conceito começou a ser usado no Brasil somente a partir de

meados da década de 1980, mas ainda assim de maneira solta e incipiente (Spink; Silva,

2014). Também não era uma expressão usada na Inglaterra até 1970, nem na Espanha

até 1980 (Spink; Silva, 2014). Mesmo nos EUA, país onde se concentra grande parte da

produção acadêmica sobre o tema, a ideia de política pública tornou-se um eixo

articulador somente após a Segunda Guerra Mundial (Spink, 2013b). Contudo, isso não

significa que antes dessas datas governos não agiam com relação a assuntos públicos

(Spink; Silva, 2014; Farah, no prelo). Agiam, porém a linguagem do “fazer público” era

outra.

Spink e Silva (2014) propõem trabalhar com a ideia de linguagens de ação

pública para reconhecer as diferentes formas de lidar com assuntos públicos para além

da noção hegemônica de política pública. Nessa perspectiva, planejamento, orçamento,

direitos, participação, governança, mobilização, ações de caridade, filantropia,

protestos, entre outros conceitos são linguagens de ação pública. Entre as diversas

linguagens estão aquelas ligadas às ações do público para o público, e formas de pressão

a governos, seguindo definição de ação pública de Dréze e Sen (1989), assim como

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abarcam complexos arranjos entre governos, cidadãos, empresas e organizações da

sociedade civil.

As vantagens da abordagem de ação pública, segundo Spink (2014), são romper

com o modelo ordenado de ação governamental, que geralmente é retratado pelo uso

dominante da expressão política pública, e abrir para um campo de forças muito mais

dinâmico e não consensual que abarca ações de governos para cidadãos, ações de

cidadãos para cidadãos e ações de cidadãos pressionando governos. Desse modo,

chama-se a atenção para diferentes papéis e conexões possíveis entre organizações

(Spink, 2014). Cabrero-Mendoza (2005), por sua vez, destaca que a perspectiva de ação

pública permite explorar os pontos de interseção entre ação governamental e ação

social. Não reduz a visão de público apenas ao governamental e tampouco restringe a

visão de coletivo apenas à sociedade. É uma perspectiva que busca superar a

interpretação exclusiva do pertencimento institucional dos atores e tenta interpretar os

pontos de encontro e desencontro destes e suas diferentes formas de interação (Cabrero-

Mendoza, 2005).

É importante ressaltar que o conceito de ação pública não nega, nem busca

reduzir, o papel do Estado, mas reconhece a complexidade e os múltiplos atores

envolvidos nos problemas coletivos, destacando que nem tudo que é público se restringe

à ação estatal. O Estado tem sim papel chave em várias esferas de ação como na

redução da pobreza e das desigualdades e em outros âmbitos, como demonstram a

consolidação do Estado de Bem Estar Social na Europa pós Segunda Guerra Mundial e

a Constituição Federal de 1988 no Brasil (Spink, 2013b). No entanto, nem por isso o

público deixou de realizar suas possibilidades de ação, considerando a complexidade

das questões públicas, a invisibilidade de alguns temas e a inação estatal diante de

alguns problemas. A perspectiva de ação pública também não partilha dos pressupostos

neoliberais em relação ao papel do Estado, e tampouco propõe que a provisão de

serviços públicos deva ser realizada por organizações da sociedade civil. Igualmente

não nega o conceito de política pública. Apenas mostra um quadro mais amplo e as

diversas possibilidades de ação que não se limitam à linguagem da política pública

(Spink, 2013a).

O conceito de ação pública contempla diversas formas de agir público. No

entanto, não traz consigo uma teoria que permita analisar este escopo ampliado. Os

defensores desse conceito enfatizam a necessidade de ir além das ferramentas

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tradicionais da ciência política e da análise de políticas públicas, assim como recorrer a

conceitos e teorias de outras disciplinas. O ponto comum é evitar a adoção de modelos

simplificadores e lineares, mas não há um acordo sobre um quadro conceitual e teórico

para lidar com a complexidade e as diferentes formas de ação pública (Thoenig, 2005;

Delvaux, 2007).

3. O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC): uma ação pública do "publico"

para o "público"

O P1MC constituiu-se como uma ação pública do "público" para o "público",

com apoio do governo federal, por meio da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

Um conjunto de eventos possibilitou a sua criação, envolvendo diversas organizações,

materialidades e negociações.

O principal evento que impulsionou a criação do P1MC foi a realização do

Fórum Paralelo da Sociedade Civil à 3ª Conferência das Partes da Convenção de

Combate à Desertificação e à Seca (COP3) da Organização das Nações Unidas (ONU),

realizado em novembro de 1999, em Recife (PE). Durante esse fórum, as organizações

que constituíram a ASA promoveram várias atividades e debates sobre propostas de

políticas permanentes de convivência com o semiárido, incluindo o acesso à água. Na

área externa do evento, construíram, inclusive, uma cisterna de placas para demonstrar o

funcionamento do sistema de captação de água de chuva.

Em uma das atividades, as organizações convidaram o então Ministro do Meio

Ambiente (MMA) para participar do evento. Na ocasião, o ministro conheceu a cisterna

de placas, interessando-se muito pela tecnologia. As organizações da sociedade civil

propuseram uma ação de construção de cisternas de captação de água de chuva em todo

o semiárido. O ministro assumiu publicamente o compromisso de apoiar uma ação

experimental. A partir de então, começaram as negociações para o desenvolvimento de

uma ação colaborativa entre a recém criada ASA e o MMA. Os membros da ASA

começaram a discutir o que fariam, como relatou um entrevistado:

Já que nós temos o apoio, vamos fazer o seguinte: vamos fazer uma

campanha nacional para forçar o governo a fazer um programa de construção

de cisternas. Fazer uma campanha de publicidade, de televisão, etc., para

forçar o governo para ele fazer um programa de construir cisternas. Então, o

papel da gente seria somente induzir o governo a fazer o programa e o

governo faria o programa. Aí eu fui muito chato nessa hora com o pessoal

[...] O governo vai fazer qualquer coisa e vai inclusive estragar o

10

trabalho que nós estamos fazendo que é um trabalho de disseminar uma

prática de convivência com o semiárido. Uma prática de gestão de

recursos hídricos, não é uma cisterna só, é como você convive no

semiárido com dignidade, com progresso, etc. [...] Vamos fazer o seguinte:

vamos fazer nós, nós fazemos o projeto de construção de um milhão de

cisternas como se nós fossemos fazer o projeto com todas as

características e as idiossincrasias das ONGs, ou seja, nós vamos

trabalhar tudo. (Entrevistado 1, grifos nossos).

As decisões iniciais de criação do P1MC não foram realizadas em gabinetes de

governos, por autoridades administrativas e políticas legítimas, como políticos,

burocratas e outros atores estatais, mas sim por organizações da sociedade civil. Uma

característica importante do processo de criação do programa é que não havia um centro

decisório, mas sim um processo coletivo de decisões compartilhadas baseadas em

experiências anteriores e nas práticas das organizações. Não há um único ator com papel

central, mas sim diversos atores. Ninguém age sozinho (Mol, 2010). Como destaca

Latour (2005), uma ação envolve um coletivo híbrido, é um efeito relacional que não se

reduz à intenção de um único ator. Essa é uma das características constitutivas do

P1MC.

Pouco tempo depois houve uma reunião entre representantes da ASA e do

MMA, na qual foi acordada a realização de um projeto piloto de construção de 500

cisternas e também a elaboração de uma proposta de programa para todo o semiárido.

As organizações da sociedade civil integrantes da ASA começaram a construir as

cisternas e, ao mesmo tempo, a elaborar o P1MC por meio de várias reuniões, encontros

e seminários microrregionais e estaduais (ASA, 2002). O convênio com o MMA de 500

cisternas foi concluído com êxito em 2001. No mesmo ano, a Agência Nacional de

Águas (ANA) celebrou um novo convênio com a ASA para a construção de 12.400

cisternas, com início em agosto de 2001 e término em julho de 2003 (ANA, 2002). O

convênio com a ANA também abarcava a criação de uma Organização da Sociedade

Civil de Interesse Público (OSCIP) (ANA, 2002), com a finalidade de ser a figura

jurídica responsável pela execução do P1MC, sendo criada, em 2002, a Associação

Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC) (ASA, 2002).

Os convênios celebrados com o MMA e a ANA foram cruciais para a elaboração

do programa e a experimentação de processos, práticas e dinâmicas organizativas. O

P1MC foi sendo formulado enquanto era implementado. A versão final do programa

com a proposta completa, metodologia, desenho institucional, custos, etc., foi finalizada

em 2002 (ASA, 2002). Os processos de formulação e de implementação foram

11

simultâneos. As dinâmicas de criação do programa foram complexas, envolvendo

diferentes atores, com processos de idas e vindas, interdependências, e não uma

sequência bem ordenada, desde a formação da agenda até a implementação. O modelo

racional e a noção de ciclo de política pública são de pouca utilidade para a análise do

P1MC, uma vez que seus processos não foram lineares.

A criação do P1MC e a sua continuidade podem ser analisadas à luz dos

argumentos de Lindblom (1959) em The Science of "Muddling Through", no qual o

autor questiona a utilidade do modelo racional de decisão para lidar com problemas

complexos. O método racional é sequencial e caracteriza-se pela definição de objetivos

e valores, análise de meios e fins, seleção de soluções, análise de todas as variáveis

relevantes e baseia-se em teorias. Em contraste a esse método, Lindblom (1959)

argumenta que em situações complexas, o método de comparações limitadas sucessivas

(successive limited comparisons) é recorrentemente usado, consistindo em um processo

contínuo de construção a partir da situação atual, passo a passo, de forma gradativa,

considerando experiências anteriores e abrangendo ajustes e mudanças incrementais

(Lindblom, 1959). Estas características do método de comparações limitadas sucessivas

estão presentes no P1MC.

3.1 Desenho do programa, estrutura de execução e gestão

O desenho do P1MC foi inspirado em projetos anteriores de construção de

cisternas desenvolvidos por ONGs e Igrejas, englobando seis componentes:

mobilização, capacitação, controle social, comunicação, fortalecimento institucional e

construção de cisternas (ASA, 2002).

A cisterna é construída por pedreiros da região, bem como pela própria família

que a recebe. A participação da família na construção é a contrapartida no processo com

o objetivo de gerar maior apropriação da tecnologia.

Desde o início, a proposta era que o P1MC seria formulado, gerido e

implementado pela sociedade civil. Para tanto, a ASA estruturou um modelo de gestão e

execução descentralizado, envolvendo múltiplos atores, em diferentes momentos e

lugares do programa, conforme esboçado na Figura 1.

12

Figura 1 – Estrutura de gestão política e administrativa do P1MC

Fonte: FEBRABAN (2005, s/p).

A estrutura é composta por unidades de gestão e execução, subordinadas à

estrutura política da ASA, que compreende a ASA nacional e as ASAs estaduais. A

Unidade Gestora Central (UGC) é responsável pela captação de recursos, gestão e

prestação de contas, assim como pelo acompanhamento do P1MC em todo o semiárido,

respondendo técnica e juridicamente perante os financiadores. A UGC atua como um

elo entre as organizações envolvidas e os financiadores. A UGC é a AP1MC (ASA,

2002).

Para facilitar a captação de recursos públicos, a AP1MC se qualificou como

OSCIP, podendo, portanto, celebrar termos de parceria com o poder público. Logo

abaixo da AP1MC estão as Unidades Gestoras Microrregionais (UGMs) que

inicialmente eram responsáveis pela gestão e coordenação do programa em

microrregiões, acompanhando e supervisionando o trabalho das Unidades Executoras

Locais (UELs). As UGMs são ONGs, fóruns, dioceses, federações, clubes de serviços,

cooperativas, entre outras organizações da sociedade civil de base territorial com

experiência em execução de projetos.

Já no âmbito local, as Comissões Executivas Municipais (CEMs) são

responsáveis por escolher as comunidades e famílias a serem atendidas, bem como

supervisionar a execução do programa. As CEMs são compostas por representantes de

associações de agricultores/as, sindicatos de trabalhadores/as rurais, igrejas, ONGs,

13

movimentos de mulheres e outras organizações da sociedade civil de base local (ASA,

2002, 2003). As Unidades Executoras Locais (UELs), por sua vez, eram responsáveis

pela execução direta do programa no município, sendo uma das organizações

integrantes da CEM eleita para tal função (ASA, 2003).

Essa estrutura de execução descentralizada, envolvendo múltiplos atores locais e

territoriais é o que garante a capilaridade do P1MC, fazendo com que ele chegue em

muitos lugares e às mais diversas comunidades rurais dispersas.

O P1MC é uma ação pública, cujo conteúdo, processos e estrutura de execução e

gestão foram inteiramente formulados por organizações da sociedade civil, baseando-se

em experiências anteriores. Todo o programa foi construído em torno de uma solução já

validada e considerada exitosa – a captação de água de chuva em cisterna de placas –,

considerando os processos de mobilização e de formação. Esse desenho foi sendo

formulado, testado e adaptado a partir do que Lindblom (1959) denominou de método

de comparações sucessivas. Tal processo continuou à medida que o programa foi se

expandindo.

3.2. Do projeto piloto à implementação em todo o semiárido

Em 2003, foi lançado o Programa Fome Zero, sob coordenação do Ministério

Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e uma parte do

orçamento previsto para o programa foi destinado ao financiamento do P1MC. Contudo,

não era possível financiar a compra itens cruciais para a execução do programa como

computadores e veículos. Estes itens estavam previstos no componente de

fortalecimento institucional do programa.

O problema foi contornado por meio de parceria com a Federação Brasileira de

Bancos. A Federação disponibilizou recursos para a montagem de estrutura operacional

de 52 UGMs e da UGC, bem como para a construção de 10 mil cisternas. Além disso,

contratou uma empresa de consultoria para apoiar a ASA na estruturação inicial do

programa em termos de gestão financeira, contábil e administrativa, e na busca de

outros parceiros (Febraban, 2005).

O MESA celebrou o primeiro termo de parceria com a AP1MC, em julho de

2003. Com a criação do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), em 2004, em

14

sua substituição, foi designada a ação orçamentária “Construção de Cisternas para

Armazenamento de Água” no Plano Plurianual (PPA) 2004-2007 e o termo de parceria,

celebrado em 2003, foi continuado por meio de aditivos.

O P1MC foi crescendo gradativamente e ao mesmo tempo, a ASA expandiu suas

parcerias com diversas organizações tais como: Santander, Petrobras, Fundação Banco

do Brasil, Banco do Nordeste, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São

Francisco e do Parnaíba, Sebrae, Fundação Avina, Oxfam, Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento, Catholic Relief Service, Agência Espanhola de

Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, entre outras (ASA, 2011).

O P1MC foi se constituíndo como uma ação pública de natureza híbrida, uma

vez que estão envolvidas múltiplas organizações (Spink; Alves, 2008; Spink; Best,

2009; Spink, 2013a, 2014) e diversas materialidades, das quais destacam-se a água e a

cisterna de placas sendo, portanto, um coletivo híbrido no sentido atribuído por Latour

(1994, 2012).

3.3 A relação entre a ASA e o governo federal: mudanças incrementais no P1MC,

conflitos e disputas

A relação entre a ASA e o governo federal é cheia de idas e vindas, conflitos e

disputas. Ao longo do tempo, o programa foi passando por mudanças incrementais

(Lindblom, 1959) fruto da interferência de diversos órgãos governamentais, sobretudo

os de controle. Além disso, houve vários problemas e interrupções do programa,

principalmente em função de alterações das regras de repasse e uso de recursos públicos

para organizações da sociedade civil.

Uma delas ocorreu em 2005, quando foi feito o 6º aditivo ao 1º termo de

parceria, no qual foi estabelecida a necessidade de observar o Decreto nº 5.504, de

2005, que determinava que as OSCIPs deveriam realizar pregão eletrônico para a

aquisição de bens e serviços quando utilizassem recursos públicos (Brasil, 2005). A

ASA teve dificuldades em atender aos requisitos de licitação na modalidade de pregão

eletrônico, pois isso implicaria a centralização das compras de materiais pela AP1MC,

não podendo mais ser feita de forma descentralizada pelas UGMs e UELs, como

15

normalmente ocorria. Isso fez com que o programa ficasse paralisado por cerca de dois

meses (TCU, 2006).

Diante da identificação desse obstáculo, houve uma flexibilização das regras

relativas à aquisição de materiais por parte do MDS e da Secretaria do Tesouro

Nacional, do Ministério da Fazenda. Isto demonstra uma abertura por parte das

instituições governamentais para a revisão de regras de forma a viabilizar o

desenvolvimento de programas para um segmento da população tradicionalmente

excluído. Além disso, mostra as diferentes lógicas organizacionais e a tendência de que

as regras feitas para a administração pública sejam exigidas para as organizações da

sociedade civil, o que pode levar a inviabilização de processos. Essa foi uma das muitas

interrupções na transição entre aditivos e termos de parceria, gerando atrasos e

dificuldades na execução do programa.

À medida que o P1MC foi se expandindo, não apenas diversas organizações da

sociedade civil o moldavam, mas também diferentes atores governamentais. O

programa foi sendo (re)feito na relação com o governo federal, passando por ajustes e

mudanças incrementais, principalmente a partir da interferência dos órgãos de controle.

A partir de 2005, o TCU e a Controladoria Geral da União (CGU) começaram a

fiscalizar o P1MC. Entre agosto e novembro daquele ano, o TCU realizou uma auditoria

operacional em 28 municípios de nove estados do semiárido, identificando problemas,

melhorias proporcionadas pelas cisternas, e boas práticas. O TCU formulou um

conjunto de recomendações, prescrevendo alterações de processos e de práticas do

programa (TCU, 2007).

Entre as recomendações ao MDS, constavam realizar um levantamento para

dimensionar o número de famílias sem acesso à água, desenvolver estudos para definir

as regiões mais carentes e prioritárias para a construção de cisternas, e validar se as

famílias atendidas se enquadravam nos critérios do público-alvo da ação – famílias de

baixa renda elegíveis ao Programa Bolsa Família (TCU, 2006a).

Em outubro de 2007, chegou ao fim o primeiro termo de parceria celebrado em

2003, após vários aditivos. Para a assinatura de um novo termo, seria necessário que o

MDS analisasse as prestações de contas de todo o período, processo que poderia levar

meses, gerando uma longa interrupção e descontinuidade das ações do programa. Com o

objetivo de pressionar o governo federal para a viabilização de novo termo de parceria

16

em tempo hábil, a ASA realizou uma mobilização em novembro de 2007, em Feira de

Santana (BA). Cerca de 5.000 pessoas participaram, desde agricultoras/es, equipes de

organizações da sociedade civil, militantes de movimentos sociais, até representantes de

agências de cooperação internacional e políticos locais. A mobilização também tinha o

objetivo de celebrar a marca de mais de um milhão de pessoas atendidas pelo P1MC. O

então secretário da Sesan/MDS participou do evento e afirmou que até o final daquele

ano seria celebrado um novo termo de parceria (ASA, 2007).

Esse evento ilustra que o P1MC é uma ação pública tanto colaborativa como de

pressão (Dréze; Sen, 1989), característica esta que o fortalece. Essa foi a primeira

manifestação pública da ASA para pressionar o governo federal. O ato surtiu efeito na

viabilização de processos e, em dezembro de 2007, o MDS celebrou um novo termo de

parceria com a AP1MC. No entanto, pouco tempo depois, a CGU determinou que a

AP1MC deveria executar diretamente o programa, não podendo repassar recursos

públicos para que outras organizações da sociedade civil o fizessem. O modelo gerava

dificuldades na prestação de contas e não havia legislação que desse respaldo a esse

formato de rede, como relatou um ex-gestor da Sesan em entrevista realizada. Houve

outra tensão entre diferentes lógicas, da ASA e do órgão de controle interno.

Essa mudança nas regras levou à paralisação do P1MC por cerca de cinco meses

em 2008, gerando instabilidade e atrasos, assim como perda de pessoal qualificado,

como destacou um dos membros da coordenação executiva da ASA. Diante da

impossibilidade de a ASA seguir a recomendação da CGU, novamente houve

flexibilização das regras, mas com repercussões consideráveis no programa. A AP1MC

deveria selecionar e contratar as UGMs por meio de editais de chamada pública e essas

seriam as responsáveis pela gestão dos recursos e execução direta. A AP1MC teve que

mudar o seu estatuto e a estrutura de implementação do P1MC foi modificada. A figura

da UELs deixou de existir, embora as organizações da sociedade civil de base local

continuassem participando da Comissão Executiva Municipal (CEM) e dos processos

de implementação, porém não mais recebendo recursos para executar diretamente e

realizar procedimentos tais como a compra de materiais, contratação de pessoal, entre

outras atividades. Além disso, poderia ocorrer de a organização da sociedade civil

vencedora da chamada pública não ser integrante da ASA.

As mudanças e adaptações no arranjo do P1MC foram fruto, sobretudo, de

intervenções de órgãos de controle e menos de decisões de gestores da Sesan/MDS. A

17

atuação desses últimos era principalmente de mediação e convencimento para que

processos pudessem ser viabilizados dentro do governo federal, como relatado por um

ex-gestor das ações de acesso à água do MDS:

O trabalho da secretaria todo esse tempo..., porque o que acontece os gestores

mudam, os entendimentos mudam, o governo muda. Então, todo o trabalho

foi sempre, sempre de convencer os diversos órgãos, os órgãos de

controle, os órgãos internos, de convencer que a parceria é uma parceria

exitosa. [...] Hoje não, hoje parece que é uma coisa mais consensual, mas até

o início de 2011 era um pouco assim: 'olha, nem toda ONG é corrupta, nós

temos a nossa aqui que funciona e tal'. [...] Tem um processo de

convencimento interno. (Entrevista 4, grifos nossos).

A Sesan/MDS realizava um papel de mediação e de negociação com outros

órgãos governamentais e com a ASA para viabilizar o financiamento do P1MC. Afinal,

governos são formados por diversos atores com diferentes agendas, orientações,

prioridades e lógicas (Lindblom, 1959; Colebatch, 2006), de modo que negociações,

diálogo e busca de consensos mínimos são essenciais para que os processos possam se

desenrolar. Além disso, há uma questão importante que é o controle do uso de recursos

públicos repassados para organizações da sociedade civil. Há diversos atores envolvidos

direta ou indiretamente no P1MC, com suas lógicas, entendimentos, legitimidade e

capacidade de interferir no programa, gerando desdobramentos em sua execução na

ponta.

Em julho de 2011, o governo federal lançou o Programa Água para Todos com o

objetivo de universalizar o acesso à água nas áreas rurais, no âmbito do Plano Brasil

Sem Miséria (PBSM). A meta era atender 750 mil famílias, com acesso precário à água,

em todo o semiárido até o final de 2014. Para alcançar a meta, a cisterna foi eleita como

principal tecnologia. Contudo, seria necessário dobrar o número de cisternas de placas

construídas nos oito anos anteriores (Campos; Alves, 2014).

Para o alcance da meta em quatro anos, houve a decisão de distribuir cisternas de

plástico polietileno sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional (MI).

A ASA imediatamente se manifestou contrária a essa decisão do governo federal e

lançou, em novembro de 2011, a campanha "Cisterna de Plástico/PVC - Somos

Contra!" (ASA, 2011a). O principal argumento contrário à cisterna de plástico,

destacado em entrevistas e em documentos da ASA (2011a, b), é que ela reproduz a

lógica de combate à seca à medida que concentra recursos, não se adapta às

características da região, nem está calcada em um processo de formação e mobilização

para a convivência com o semiárido.

18

No final de 2011, o MDS decidiu interromper a parceria com a ASA, justamente

quando o governo federal se propôs a universalizar o acesso à água para consumo

humano no semiárido. Como havia outra alternativa tecnológica – a cisterna de plástico

– o Programa Água para Todos não deixaria de ser implementado.

Um dos termos de parceria entre a ASA e o MDS para execução do P1MC já

havia sido encerrado no início daquele ano e o outro termo estava próximo ao término.

Para a continuidade, era necessário celebrar um novo termo de parceria, seguindo as

novas regras, assim como avaliar as prestações de contas ainda não analisadas. Nesse

momento, o posicionamento do alto escalão do MDS foi que não iriam dar continuidade

à parceria com a ASA e que iriam priorizar o repasse de recursos para estados e

municípios construírem cisternas de placas. Um dos membros da ASA fez o seguinte

relato:

Nós da ASA tínhamos entregado a prestação de contas, agora o ministério

não tinha gente para analisar. Então, não analisou. Aí ao não analisar,

bloqueou a possibilidade de fazer novos convênios conosco, de acordo com o

decreto [Decreto nº 7.568/2011]. [...]. Nessa época, nós caracterizamos como

um rompimento, porque nós tivemos lá e o governo disse: 'nós não vamos

fazer mais ações de cisternas com vocês. Podemos reavaliar a questão no

próximo ano'. Rapaz, se é por aí, nós não queremos reavaliar, nós

queremos data, se não tem data para reavaliar, então para nós vocês

romperam a relação ASA e MDS. E jogamos na imprensa a perspectiva

do rompimento. E foi bom, porque fez com que o governo apressasse a

análise das prestações de contas e trabalhasse na criação de condições

internas para retomar o processo. Aí foram seis meses, sete meses, uma

coisa assim para retomar. (Entrevista 2, grifos nossos).

A ASA publicou uma nota, após reunião no MDS, tornando público que o

governo não iria continuar apoiando o P1MC (ASA, 2011c). A notícia do rompimento

do MDS com a ASA gerou bastante repercussão. A ASA se articulou com vários

aliados e parceiros em busca de reverter esse quadro. Em 20 de dezembro de 2011,

realizou uma manifestação na ponte sobre o Rio São Francisco que liga Petrolina (PE) a

Juazeiro (BA), reunindo cerca de 15 mil participantes, desde agricultores/as,

sindicalistas, membros de diversas organizações da sociedade civil, até aliados e

políticos locais. A manifestação tinha o objetivo de pressionar o governo federal a

retomar a parceria com a ASA e a não distribuir cisternas de plástico.

No mesmo dia, o MDS enviou um comunicado à ASA convocando seus

representantes para uma reunião. O MDS voltou atrás em sua decisão e retomou o apoio

à ASA, trabalhando para agilizar processos internos para celebrar novos termos de

parceria. No entanto, a decisão do governo federal de distribuir cisternas de plástico foi

19

mantida. A meta do Programa Água para Todos foi dividida da seguinte forma: 450 mil

cisternas de placas e 300 mil de polietileno.

Esse evento, assim como o de 2007, demonstra a importância de ações de

pressão no âmbito dessa ação pública. Dréze e Sen (1989) argumentam que a vigilância

e o ativismo públicos são maneiras de garantir a efetividade das ações do Estado.

A pressão política desempenha um papel importante na determinação de

ações empreendidas por governos [...]. O esclarecimento público pode, assim,

ter a função tanto de chamar atenção para problemas que de outra forma são

negligenciados, como apressar ações corretivas por parte de governos que

enfrentam pressão crítica. (Dréze; Sen, 1989, p. 19).

Pressionar e criticar o governo federal foi muito importante para a continuidade

do P1MC em 2012. As formas de pressão e ativismo público são mecanismos da ASA

para negociar com o governo e obter respostas, usando espaços públicos e sua

capacidade de mobilizar milhares de pessoas. O P1MC é uma ação pública que envolve

tanto relações colaborativas com o governo federal como relações de oposição e

pressão, conforme definição de Dréze e Sen (1989). Essa dupla característica do P1MC

é central para compreender a sua criação e continuidade ao longo do tempo.

O P1MC retomou suas atividades após cerca de sete meses de interrupção.

Enquanto isso teve início o processo de compra e distribuição de cisternas de plástico.

Entretanto, a chegada da cisterna de plástico envolveu resistências e conflitos, assim

como a própria tecnologia gerou efeitos não previstos. O que talvez o Ministério da

Integração Nacional (MI) não contava era que as cisternas de polietileno iriam entortar,

afundar e murchar após curto período de uso, em vários estados por onde foram

distribuídas. Muitas delas tiveram que ser substituídas. Embora o MI tenha enfatizado a

durabilidade e a qualidade do material das cisternas de plástico (MI, 2011, 2012), elas

geraram efeitos inesperados, colocando em xeque a sua viabilidade e adequação ao

semiárido.

A cisterna de placas e a de plástico tornaram-se duas materialidades em disputa

em discursos, propostas, documentos e práticas da ASA e do governo federal. O que

não se esperava é que a cisterna de plástico iria deformar e não resistir às condições

ambientais da região, apresentando reduzida durabilidade. Ela acabou não dando certo,

não se adaptando ao semiárido, embora isso não tenha sido reconhecido oficialmente

pelo governo federal.

20

Esse choque de materialidades no âmbito do Programa Água para Todos mostra

que materialidades estão envolvidas em escolhas, possibilitam que ações sejam

executadas, geram efeitos inesperados e tornam-se mediadoras inventivas, como destaca

Mol (2008).

3.4 Reflexões sobre o P1MC: arranjo e suas principais características

Em 2013, o governo federal instituiu o Programa Nacional de Apoio à Captação

de Água de Chuva e Outras Tecnologias Sociais de Acesso à Água – Programa

Cisternas (Lei nº 12.873/2013 e Decreto nº 8.038/2013). Desde 2003, havia ações

orçamentárias para celebração de termos de parceria com a ASA, mas não havia

nenhuma legislação específica.

O novo arcabouço foi construído pela Sesan/MDS em diálogo com a ASA e

outros parceiros. A nova legislação facilita os processos de celebração de parceria,

contratação, execução e prestação de contas. Uma das principais mudanças é a

possibilidade de formalizar contratos de prestação de serviços por dispensa de licitação

com entidades privadas sem fins lucrativos previamente credenciadas pelo MDS. É

formulado um edital e contrato uniformizado para construção de cisternas e outras

tecnologias de captação de água de chuva, seguindo a metodologia realizada pela ASA,

sendo determinado o valor unitário de cada tecnologia. Os valores variam entre os

estados do semiárido. A prestação de contas, por sua vez, tem foco em resultados

(Campos et al., 2015). Na Figura 2 é apresentado o esquema de execução a partir da Lei nº

12.873/2013.

21

Figura 2 – Forma de execução do Programa Cisternas a partir da Lei nº

12.873/2013

Fonte: Campos et al., 2015, p. 131.

Dentro dessa estrutura há diversas variações de estado para estado, de território

para território e de município para município. Essas variações são relacionadas às

dinâmicas organizativas da sociedade civil em cada lugar. Por exemplo, em Caraúbas

(RN) a UGM responsável pela execução do P1MC é a Diaconia. A CEM é o Fórum de

Associações Rurais de Caraúbas que congrega representantes de 57 associações rurais

do município e do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Caraúbas. A escolha das

comunidades é feita de forma coletiva nas reuniões do fórum. Já atividades como visita

às comunidades, apoio à seleção das famílias, acompanhamento da execução do

programa e controle da qualidade dos processos são realizadas por alguns representantes

do fórum, escolhidos para tal função. A escolha das famílias é feita pelas associações

comunitárias que também acompanham a execução do programa em suas localidades.

Já em Feira de Santana (BA), a UGM é o Movimento de Organização

Comunitária (MOC). O MOC se articula com as organizações da sociedade civil locais

para formar a CEM, cujos membros são representantes da Associação dos Pequenos

Agricultores, do Sindicato de Trabalhadores Rurais, do movimento de mulheres e de

Igrejas. Os processos de seleção das comunidades, famílias, planejamento da execução,

acompanhamento e supervisão dos processos são feitos pela CEM. Em algumas

ocasiões, o sindicato realiza capacitações nas comunidades em parceria com o MOC.

Duas características centrais do P1MC são a capilaridade e a adaptação às

dinâmicas organizativas locais. Embora haja uma estrutura organizacional de execução

e gestão e regras para o repasse de recursos, gestão e prestação de contas, há

flexibilidade suficiente para que o programa chegue em diversas localidades rurais

afastadas. Outra característica é o processo de mudança gradual, especialmente a partir

da parceria com o MDS, que desde 2003 abarcou adaptações, idas e vindas, e ajustes. O

P1MC está em constante movimento, mudança e adaptação às diferentes realidades

locais e às regras e dinâmicas do governo federal.

A estrutura de execução do P1MC é fluida, à medida que apresenta variações de

um lugar para o outro e diversas configurações. A noção topológica de espacialidade

fluida que inclui processos de mudança gradual, flexibilidade e variações de forma

22

(Law; Mol, 2001) é interessante para analisar o P1MC. As variações e mudanças

ajudam a fortalecer o programa e a garantir a sua continuidade. O programa flui em

diferentes configurações, adaptando-se aos diferentes locais.

O P1MC se constitui como uma ação pública tanto de natureza colaborativa, no

que concerne à relação com o governo federal, como de oposição e pressão, como

ilustram os conflitos de 2007 e, sobretudo, o de 2011, quando o governo rompe a

parceria com a ASA e entra em cena a cisterna de plástico. Os diversos órgãos

governamentais envolvidos na viabilização da parceria, financiamento e controle do uso

dos recursos públicos são atores importantes para que o P1MC se tornasse uma ação

pública com escala. Sem a parceria com o governo federal, dificilmente o programa

teria a abrangência que tem. Além disso, parte de suas características foi fruto dessa

interação com o governo federal, uma vez que o programa passou por ajustes e

mudanças incrementais, sendo moldado e remoldado ao longo do tempo. Contudo, esses

processos não foram harmoniosos, pelo contrário, houve tensões, negociações e

conflitos. Por outro lado, além dessas ações colaborativas, as ações de pressão da ASA

foram cruciais para a continuidade do programa.

O P1MC é uma ação pública constituída por múltiplos atores com distintas

inserções organizacionais, seja da sociedade civil, do Estado, do setor privado, seja de

cidadãos que ocupam diversas posições, para além dessa divisão em três setores. É uma

ação pública de natureza híbrida, na qual estão presentes organizações heterogêneas

com diferentes lógicas, linguagens e racionalidades que estabelecem conexões em

diferentes momentos e lugares. Nessas conexões e interações estão envolvidas diversas

materialidades, sendo a própria água a materialidade central, cujo acesso e distribuição

são promovidos por meio da cisterna de placas, outra materialidade importante para o

programa.

4 Considerações finais

Talvez seja mais produtivo e enriquecedor ir além da noção de política pública

para analisar a diversidade das formas de agir público existentes. O conceito de ação

pública pode ser um caminho viável ao ir além das ações de governos, incluindo formas

de pressão a governos e ações do "público" para o "público" (Dréze; Sen, 1989; Spink,

2013a, b, Spink; Silva, 2014). O conceito é amplo, solto e flexível, características que

podem ser consideradas sua fraqueza, mas que, no entanto, tornam-se sua vantagem ao

23

permitir que o/a pesquisador/a mobilize, adapte e formule estruturas analíticas

customizadas a seu objeto de estudo.

Ações públicas são feitas e moldadas a partir de elementos materiais e sociais.

Materialidades são importantes em ações públicas e devem ser levadas em

consideração, especialmente seus efeitos. Ignorá-las ou relegá-las para um segundo

plano é uma forma de negligenciar a complexidade e a natureza híbrida do social

(Latour, 2012).

O agir público pode ser considerado um campo de forças. Há um fluxo constante

de forças e relações que trabalham para produzir realidades (Law, 2004). A realidade

não é fixa, ela pode ser de outra forma uma vez que é performada em práticas.

Realidades são feitas e refeitas, de modo que as condições de possibilidade estão em

aberto (Mol, 1999). Cada forma de agir público performa práticas públicas de diferentes

maneiras criando realidades. Diferentes realidades se sobrepõem e interferem uma com

a outra. Diferentes versões sobre questões públicas, problemas e formas de resolvê-los

coexistem simultaneamente. O agir público é múltiplo, e reconhecer isso é uma forma

de lidar com a complexidade das questões de estudo e também das práticas. Ao mesmo

tempo é uma forma de ir além do fatalismo e da crítica pela crítica que não aponta

possibilidades.

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