a morada do coração perdido - casa mário de andrade

8
Saí desta morada que se chama O Coração Perdido e de repente não existi mais. A morada do coração perdido Casa Mário de Andrade Mário de Andrade mudou-se para a casa da rua Lopes Chaves em 1921. Sua mãe, já viúva, comprou o sobrado construído por Oscar Americano após vender a casa da família no largo do Paiçandu. A construção abrigava sob o mesmo teto três residências familiares, com uma única infraestrutura. A primeira residência - na rua Lopes Chaves, 108, hoje 546 - D. Maria Luísa reservou para si, com a irmã, Ana Francisca, a tia Nhanhã, madrinha do escritor, e a filha, Maria de Lourdes. A do meio deu ao filho Carlos e a terceira estava destinada a Mário de Andrade, que para aí se mudaria quando casasse, o que nunca aconteceu.

Upload: oficinas-culturais

Post on 24-Jul-2016

220 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Catálogo sobre a Exposição permanente "A morada do coração perdido", montada em 2015 na Oficina Cultural Casa Mário de Andrade. Ano que se recorda o 70º aniversário da morte do poeta. Saiba Mais

TRANSCRIPT

Page 1: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

Saí desta morada que se chama O Coração Perdido e de repente não existi mais.

A morada do coração perdidoCasa Mário de Andrade

Mário de Andrade mudou-se para a casa da rua Lopes Chaves em 1921. Sua mãe, já viúva, comprou o sobrado construído por Oscar Americano após vender a casa da família no largo do Paiçandu. A construção abrigava sob o mesmo teto três residências familiares, com uma única infraestrutura.

A primeira residência - na rua Lopes Chaves, 108, hoje 546 - D. Maria Luísa reservou para si, com a irmã, Ana Francisca, a tia Nhanhã, madrinha do escritor, e a filha, Maria de Lourdes. A do meio deu ao filho Carlos e a terceira estava destinada a Mário de Andrade, que para aí se mudaria quando casasse, o que nunca aconteceu.

Page 2: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

Mário era muito ligado na família - mãe, tia e irmã -, com quem vivia na Casa da Lopes Chaves. A forte personalidade dele impôs ao ambiente uma convivência harmo-niosa, não isenta de contradições, entre um lar de modesta clas-se-média e a residência de um intelectual ambicioso. Mário de Andrade, como não poderia deixar de ser, tinha gostos muito bem definidos e necessidades de sua vocação, que se refletiam na Casa onde viveu.

Inspirado nos móveis de Bruno Paul, que conheceu numa revista alemã de arte e deco-ração, desenhou, ele mesmo, e mandou executar no Liceu de Artes e Ofícios, em madeira de lei, os móveis de seu escritório. Agiu igualmente com relação às estantes necessárias para abrigar a sua enorme “livraria”. Estantes sólidas, de imbuia, que apre-sentavam proteção de vidro nas prateleiras, para evitar a expo-sição dos livros. À medida que a biblioteca se expandia natu-ralmente, as paredes iam sendo tomadas pelas estantes, que acabaram por se impor na Casa toda. Como os livros se distribu-íssem em seis salas, designadas

o mundo de que necessita: dócil, ordenado, ao alcance da mão e do olhar.”

O efeito que a Casa de Mário de Andrade provocava nas visitas, fossem elas escritores, jorna-listas, amigos ou gente que queria se aproximar do homem consa-grado, era impactante. Dele deram testemunho eloquente Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Francisco de Assis Barbosa, Justino Martins, Mário da Silva Brito, Rubens Borba de Moraes, Oneyda Alvarenga, em vida do escritor.

E depois dele já desaparecido, Alexandre Eulalio, ao penetrar “a residência do insofrido”, consta-tava que “a paisagem cotidiana que Mário construiu pouco a pouco ao redor de si, com os objetos e as peças que lhe eram mais caros, restitui, com inespe-rada força, a personalidade do autor de ‘Belazarte’. Toda sua complexa humanidade como que é comunicada de modo trans-posto por esses pertences, os quais, a seu jeito, reconstituem a força moral do poeta de Remate de males.”

Andrade, entidade que preservaria unidos o edifício e a sua valiosa coleção. Para isso, urgia manter indissolúvel a coleção de arte, livros e móveis. Um movimento articulado dos inúmeros amigos e admiradores de Mário de Andrade fez chegar ao SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a solicitação de tombar o “conjunto de obras de arte, manuscritos e livros do espólio”. O tombamento federal saiu em 1946, para surpresa geral, em vista do prazo recorde em que foi formalizado. No entanto, o projeto da Casa de Mário de Andrade gorou. A bandeira foi usada pelos políticos como retórica, enquanto o cadáver do morto ilustre ainda esfriava. Em seguida, abando-nada.

A coleção tombada permaneceu na Casa por mais de vinte anos, como num museu, zelosamente guardada pela família de Mário até 1968, quando se efetivou a aquisição do acervo pelo Governo do Estado/Universidade de São Paulo e a transferência, em agosto desse ano, de móveis,

pelas letras do alfabeto, Mário criou um sistema de catalogação que possibilitava a sua incorpo-ração permanente.

Outra vertente incontornável da personalidade de Mário de Andrade foi a de colecionador de obras de arte – desenho, gravura, pintura –, de partituras, de discos, de imagens sacras, de arte popular. Apesar dos meios modestos de que dispunha, provenientes de seu trabalho de professor de música, jornalista e escritor, Mário acumulou acervo considerável e valioso.

Para Gilda Rocha de Mello e Souza, prima de Mário que viveu na casa dele enquanto estu-dante, o “colecionador” era o traço marcante do escritor múltiplo. Ele tinha compulsão em vestir o ambiente neutro da casa de elementos estéticos, antropoló-gicos, históricos, literários com os quais se identificava e que de certo modo constituíam o seu caráter. “São ‘testemunhos-lem-branças’ de um passado remoto ou recente, que agora repousam na ‘calma sapientíssima’ do estúdio. Está ali, bem protegido,

livros, gravuras, pinturas, escul-turas, objetos de arte popular, partituras para o Instituto de Estudos Brasileiros. Pouco antes da mudança, o IEB contratou a filmagem da Casa, executada por Thomaz Farkas, como registro silencioso de um universo que se desfazia.

A irmã de Mário de Andrade, já então idosa, mudou-se para um apartamento na rua Veiga Filho. A Casa vazia sofreu invasão; a placa de bronze em homenagem ao escritor foi roubada.

Desprovida de seu conteúdo, a Casa de Mário de Andrade tornou-se um fantasma em busca de nova configuração que lhe restituísse a energia e a vibração dos tempos antigos, em que vivia seu insubstituível morador. Mário de Andrade fizera de sua casa um “museu” vivo, a partir de uma coleção singular.

Em 1975, concluía-se o processo de tombamento da Casa por iniciativa do Condephaat. Sem qualidade arquitetônica visível, reconhecia-se seu valor histórico e simbólico.

Segundo depoimento de Décio de Almeida Prado, “a casa do Mário era uma casa relativamente modesta, mas que, ao mesmo tempo, dava a impressão de muito requintada, artisticamente. Ele tinha um número enorme de quadros, colocados por toda a parte.”

A Casa de Mário de Andrade era, portanto, mais que a edificação despretensiosa da rua Lopes Chaves, a sua coleção e a sua biblioteca espalhadas em toda a parte. Eis o motivo que levou os principais colaboradores dele a pretender preservar intacto o ambiente da Casa, após a morte do escritor.

Antonio Candido, Luiz Saia e Oneyda Alvarenga convenceram a família a não executar as determi-nações da carta-testamento que Mário deixara com o irmão pouco antes de se submeter a uma operação, em março de 1944. Nesse documento, ele delibera-damente dissolvia a sua coleção / biblioteca.

Após a morte súbita do escritor em 1945, o grupo ensaiou criar a Fundação Casa de Mário de

Page 3: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

Mário era muito ligado na família - mãe, tia e irmã -, com quem vivia na Casa da Lopes Chaves. A forte personalidade dele impôs ao ambiente uma convivência harmo-niosa, não isenta de contradições, entre um lar de modesta clas-se-média e a residência de um intelectual ambicioso. Mário de Andrade, como não poderia deixar de ser, tinha gostos muito bem definidos e necessidades de sua vocação, que se refletiam na Casa onde viveu.

Inspirado nos móveis de Bruno Paul, que conheceu numa revista alemã de arte e deco-ração, desenhou, ele mesmo, e mandou executar no Liceu de Artes e Ofícios, em madeira de lei, os móveis de seu escritório. Agiu igualmente com relação às estantes necessárias para abrigar a sua enorme “livraria”. Estantes sólidas, de imbuia, que apre-sentavam proteção de vidro nas prateleiras, para evitar a expo-sição dos livros. À medida que a biblioteca se expandia natu-ralmente, as paredes iam sendo tomadas pelas estantes, que acabaram por se impor na Casa toda. Como os livros se distribu-íssem em seis salas, designadas

o mundo de que necessita: dócil, ordenado, ao alcance da mão e do olhar.”

O efeito que a Casa de Mário de Andrade provocava nas visitas, fossem elas escritores, jorna-listas, amigos ou gente que queria se aproximar do homem consa-grado, era impactante. Dele deram testemunho eloquente Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Francisco de Assis Barbosa, Justino Martins, Mário da Silva Brito, Rubens Borba de Moraes, Oneyda Alvarenga, em vida do escritor.

E depois dele já desaparecido, Alexandre Eulalio, ao penetrar “a residência do insofrido”, consta-tava que “a paisagem cotidiana que Mário construiu pouco a pouco ao redor de si, com os objetos e as peças que lhe eram mais caros, restitui, com inespe-rada força, a personalidade do autor de ‘Belazarte’. Toda sua complexa humanidade como que é comunicada de modo trans-posto por esses pertences, os quais, a seu jeito, reconstituem a força moral do poeta de Remate de males.”

Andrade, entidade que preservaria unidos o edifício e a sua valiosa coleção. Para isso, urgia manter indissolúvel a coleção de arte, livros e móveis. Um movimento articulado dos inúmeros amigos e admiradores de Mário de Andrade fez chegar ao SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a solicitação de tombar o “conjunto de obras de arte, manuscritos e livros do espólio”. O tombamento federal saiu em 1946, para surpresa geral, em vista do prazo recorde em que foi formalizado. No entanto, o projeto da Casa de Mário de Andrade gorou. A bandeira foi usada pelos políticos como retórica, enquanto o cadáver do morto ilustre ainda esfriava. Em seguida, abando-nada.

A coleção tombada permaneceu na Casa por mais de vinte anos, como num museu, zelosamente guardada pela família de Mário até 1968, quando se efetivou a aquisição do acervo pelo Governo do Estado/Universidade de São Paulo e a transferência, em agosto desse ano, de móveis,

pelas letras do alfabeto, Mário criou um sistema de catalogação que possibilitava a sua incorpo-ração permanente.

Outra vertente incontornável da personalidade de Mário de Andrade foi a de colecionador de obras de arte – desenho, gravura, pintura –, de partituras, de discos, de imagens sacras, de arte popular. Apesar dos meios modestos de que dispunha, provenientes de seu trabalho de professor de música, jornalista e escritor, Mário acumulou acervo considerável e valioso.

Para Gilda Rocha de Mello e Souza, prima de Mário que viveu na casa dele enquanto estu-dante, o “colecionador” era o traço marcante do escritor múltiplo. Ele tinha compulsão em vestir o ambiente neutro da casa de elementos estéticos, antropoló-gicos, históricos, literários com os quais se identificava e que de certo modo constituíam o seu caráter. “São ‘testemunhos-lem-branças’ de um passado remoto ou recente, que agora repousam na ‘calma sapientíssima’ do estúdio. Está ali, bem protegido,

livros, gravuras, pinturas, escul-turas, objetos de arte popular, partituras para o Instituto de Estudos Brasileiros. Pouco antes da mudança, o IEB contratou a filmagem da Casa, executada por Thomaz Farkas, como registro silencioso de um universo que se desfazia.

A irmã de Mário de Andrade, já então idosa, mudou-se para um apartamento na rua Veiga Filho. A Casa vazia sofreu invasão; a placa de bronze em homenagem ao escritor foi roubada.

Desprovida de seu conteúdo, a Casa de Mário de Andrade tornou-se um fantasma em busca de nova configuração que lhe restituísse a energia e a vibração dos tempos antigos, em que vivia seu insubstituível morador. Mário de Andrade fizera de sua casa um “museu” vivo, a partir de uma coleção singular.

Em 1975, concluía-se o processo de tombamento da Casa por iniciativa do Condephaat. Sem qualidade arquitetônica visível, reconhecia-se seu valor histórico e simbólico.

Segundo depoimento de Décio de Almeida Prado, “a casa do Mário era uma casa relativamente modesta, mas que, ao mesmo tempo, dava a impressão de muito requintada, artisticamente. Ele tinha um número enorme de quadros, colocados por toda a parte.”

A Casa de Mário de Andrade era, portanto, mais que a edificação despretensiosa da rua Lopes Chaves, a sua coleção e a sua biblioteca espalhadas em toda a parte. Eis o motivo que levou os principais colaboradores dele a pretender preservar intacto o ambiente da Casa, após a morte do escritor.

Antonio Candido, Luiz Saia e Oneyda Alvarenga convenceram a família a não executar as determi-nações da carta-testamento que Mário deixara com o irmão pouco antes de se submeter a uma operação, em março de 1944. Nesse documento, ele delibera-damente dissolvia a sua coleção / biblioteca.

Após a morte súbita do escritor em 1945, o grupo ensaiou criar a Fundação Casa de Mário de

Page 4: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

Memória da Casa de Mário de AndradeA relação de Mário de Andrade com sua Casa era umbilical. Ele sempre a celebrou em seus escritos, sem discriminação de gênero, em poemas, crônicas, cartas ou contos. Quando retornou do Rio de Janeiro, depois de dois anos de um exílio autoim-posto, Mário reencontrava uma “inefável felicidade lopeschávica”.

Esse retorno reforça o sentimento de dependência, de necessidade, de disciplina: “A minha casa me defende, que sou, por mim, muito desprovido de defesas. E sobre-tudo a minha casa me moraliza, no mais vasto sentido desta palavra”, confessou em carta a Henriqueta Lisboa, de 1941.

alamandas, que fora compor seu buquê violento num balcão.

Na prosa ou na poesia dele, encontram-se elementos que permitem reconstituir, alusiva ou concretamente, a atmosfera e o ambiente físico dessa realidade poderosa que foi a Casa da rua Lopes Chaves.

Em Losango cáqui, livro de poemas escrito logo após a mudança da família para a Barra Funda, há um retrato sentimental da casa nova, que não descarta o valor iconográfico.

Minha casa... Tudo caiado de novo! É tão grande a manhã! É tão bom respirar! É tão gostoso gostar da vida!...

A própria dor é uma felicidade!.

Em referências, mais ou menos cifradas, em sua extensa obra, Mário vai deixando pistas sobre sua Casa e o ambiente que criou para proteção de sua intimidade.

Séries fotográficas, produ-zidas por profissionais (Germano Graeser para o IPHAN/SP e BJ Duarte para a Seção de Icono-grafia da Prefeitura) ou amadores (professor Victor Knoll) compõem um registro exaustivo da ambien-tação da Casa no tempo em que vivia seu morador. No entanto, o mais poderoso documento em termos de evocação da atmos-fera da casa foi produzido por Ruy Santos, que rodou um filme no aniversário de dez anos da morte do escritor. Guiada pelo texto de Gilda de Mello e Souza, elabo-rado sobre escritos do próprio autor, a câmara percorre sala por sala, vasculha cantos, penetra na geografia particular em busca dos traços da presença imanente de seu morador ausente.

Mário era sua casa e ela, extensão de seu corpo e tempe-ramento. Há poemas notáveis, em que o poeta fixa bem o lugar de onde emana o seu lirismo.

Mário de Andrade era grande poeta da sua cidade de São Paulo, da sua rua Lopes Chaves, de onde lançava uma mirada generosa em direção ao Brasil.

No conto “Peru de Natal”, Mário elabora em registro de ficção a própria realidade familiar, e, em “Idílio novo”, crônica, desenha o perfil da sua mãe nos afazeres modestos.

Naquele recanto de bairro a casa não era rica mas tinha seu parecer. Aí moravam uma senhora e seus filhos. Era paulista e já idosa, com bastante raça e tradição. Cultivava com pausa, cheia de manes que a estilizavam inconscientemente, o jardin-zinho de entrada e o silêncio de todo o ser. Suas mãos serenas davam rosas, manacás, consolos e, abril chegando, floresciam numa esplêndida trepadeira de

Em 2013, como prova de que o assunto não esmoreceu de todo, Luiz Bargmann, diretor do Laboratório Audiovisual da FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, concluiu o documentário “A Casa do Mário”, que passou a circular nos festi-vais.

O projeto de revalorização da Casa de Mário de Andrade só terá sucesso se conseguir de alguma forma recuperar esse sentimento de adesão ao escritor, pela iman-tação dos espaços em que viveu, que estiveram durante muito tempo sequestrados de qualquer carga simbólica ou histórica. E se puder reintroduzir a Casa de Mário de Andrade no itinerário cultural da cidade.

Descobrimento

Abancado à escrivaninha em São PauloNa minha casa da rua Lopes ChavesDe supetão senti um friúme por dentroFiquei trêmulo, muito comovidoCom o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! muito longe de mimNa escuridão ativa da noite que caiuUm homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu...

Reconhecimento de Nêmesis (final)

[...]É tarde. Vamos dormir.Amanhã escrevo o artigo,Respondo cartas, almoçoDepois tomo o bonde e sigoPara o trabalho... Depois...Depois o mesmo... Depois,Enquanto fora os malévolosSe preocupam com ele,Vorazes feito caprinos,Nesta rua Lopes ChavesTerá um homem concertandoAs cruzes do seu destino.

Lira Paulistana

Na rua Aurora eu nasciNa aurora de minha vidaE numa aurora cresci.

No largo do PaiçanduSonhei, foi luta renhida,Fiquei pobre e me vi nu.

Nesta rua Lopes ChavesEnvelheço, e envergonhadoNem sei quem foi Lopes Chaves.

Mamãe! me dá essa lua,Ser esquecido e ignoradoComo esses nomes da rua.

[...]Quando eu morrer quero ficar,Não contem aos meus inimigos,Sepultado em minha cidade, Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,No Paiçandu deixem meu sexo,Na Lopes Chaves, a cabeça Esqueçam.[...]As mãos atirem por aíQue desvivam como viveram,As tripas atirem pro Diabo,Que o espírito será de Deus, Adeus.

Page 5: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

Memória da Casa de Mário de AndradeA relação de Mário de Andrade com sua Casa era umbilical. Ele sempre a celebrou em seus escritos, sem discriminação de gênero, em poemas, crônicas, cartas ou contos. Quando retornou do Rio de Janeiro, depois de dois anos de um exílio autoim-posto, Mário reencontrava uma “inefável felicidade lopeschávica”.

Esse retorno reforça o sentimento de dependência, de necessidade, de disciplina: “A minha casa me defende, que sou, por mim, muito desprovido de defesas. E sobre-tudo a minha casa me moraliza, no mais vasto sentido desta palavra”, confessou em carta a Henriqueta Lisboa, de 1941.

alamandas, que fora compor seu buquê violento num balcão.

Na prosa ou na poesia dele, encontram-se elementos que permitem reconstituir, alusiva ou concretamente, a atmosfera e o ambiente físico dessa realidade poderosa que foi a Casa da rua Lopes Chaves.

Em Losango cáqui, livro de poemas escrito logo após a mudança da família para a Barra Funda, há um retrato sentimental da casa nova, que não descarta o valor iconográfico.

Minha casa... Tudo caiado de novo! É tão grande a manhã! É tão bom respirar! É tão gostoso gostar da vida!...

A própria dor é uma felicidade!.

Em referências, mais ou menos cifradas, em sua extensa obra, Mário vai deixando pistas sobre sua Casa e o ambiente que criou para proteção de sua intimidade.

Séries fotográficas, produ-zidas por profissionais (Germano Graeser para o IPHAN/SP e BJ Duarte para a Seção de Icono-grafia da Prefeitura) ou amadores (professor Victor Knoll) compõem um registro exaustivo da ambien-tação da Casa no tempo em que vivia seu morador. No entanto, o mais poderoso documento em termos de evocação da atmos-fera da casa foi produzido por Ruy Santos, que rodou um filme no aniversário de dez anos da morte do escritor. Guiada pelo texto de Gilda de Mello e Souza, elabo-rado sobre escritos do próprio autor, a câmara percorre sala por sala, vasculha cantos, penetra na geografia particular em busca dos traços da presença imanente de seu morador ausente.

Mário era sua casa e ela, extensão de seu corpo e tempe-ramento. Há poemas notáveis, em que o poeta fixa bem o lugar de onde emana o seu lirismo.

Mário de Andrade era grande poeta da sua cidade de São Paulo, da sua rua Lopes Chaves, de onde lançava uma mirada generosa em direção ao Brasil.

No conto “Peru de Natal”, Mário elabora em registro de ficção a própria realidade familiar, e, em “Idílio novo”, crônica, desenha o perfil da sua mãe nos afazeres modestos.

Naquele recanto de bairro a casa não era rica mas tinha seu parecer. Aí moravam uma senhora e seus filhos. Era paulista e já idosa, com bastante raça e tradição. Cultivava com pausa, cheia de manes que a estilizavam inconscientemente, o jardin-zinho de entrada e o silêncio de todo o ser. Suas mãos serenas davam rosas, manacás, consolos e, abril chegando, floresciam numa esplêndida trepadeira de

Em 2013, como prova de que o assunto não esmoreceu de todo, Luiz Bargmann, diretor do Laboratório Audiovisual da FAU – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, concluiu o documentário “A Casa do Mário”, que passou a circular nos festi-vais.

O projeto de revalorização da Casa de Mário de Andrade só terá sucesso se conseguir de alguma forma recuperar esse sentimento de adesão ao escritor, pela iman-tação dos espaços em que viveu, que estiveram durante muito tempo sequestrados de qualquer carga simbólica ou histórica. E se puder reintroduzir a Casa de Mário de Andrade no itinerário cultural da cidade.

Descobrimento

Abancado à escrivaninha em São PauloNa minha casa da rua Lopes ChavesDe supetão senti um friúme por dentroFiquei trêmulo, muito comovidoCom o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! muito longe de mimNa escuridão ativa da noite que caiuUm homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu...

Reconhecimento de Nêmesis (final)

[...]É tarde. Vamos dormir.Amanhã escrevo o artigo,Respondo cartas, almoçoDepois tomo o bonde e sigoPara o trabalho... Depois...Depois o mesmo... Depois,Enquanto fora os malévolosSe preocupam com ele,Vorazes feito caprinos,Nesta rua Lopes ChavesTerá um homem concertandoAs cruzes do seu destino.

Lira Paulistana

Na rua Aurora eu nasciNa aurora de minha vidaE numa aurora cresci.

No largo do PaiçanduSonhei, foi luta renhida,Fiquei pobre e me vi nu.

Nesta rua Lopes ChavesEnvelheço, e envergonhadoNem sei quem foi Lopes Chaves.

Mamãe! me dá essa lua,Ser esquecido e ignoradoComo esses nomes da rua.

[...]Quando eu morrer quero ficar,Não contem aos meus inimigos,Sepultado em minha cidade, Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,No Paiçandu deixem meu sexo,Na Lopes Chaves, a cabeça Esqueçam.[...]As mãos atirem por aíQue desvivam como viveram,As tripas atirem pro Diabo,Que o espírito será de Deus, Adeus.

Page 6: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

A Sala de Estudos, que manteve igualmente a estante original, recebeu uma galeria de retratos de Mário de Andrade, acom-panhada de sua cronologia. Os nichos da estante de parede inteira abrigam aspectos da vida e obra do escritor de Macunaíma: objetos pessoais, retratos de família, viagens, cartões postais e correspondência recebidos na rua Lopes Chaves, Semana de Arte Moderna, capas de seus livros, imagens do fotógrafo amador, da sua Pauliceia, caricaturas, docu-mentos da atuação como diretor do Departamento de Cultura e funcionário do SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artís-tico Nacional. Junto à porta, foi instalada uma réplica do tele-fone 5.5460. Através da janela, se pode observar, no muro ao fundo, ampliação da fotografia Sombra minha, de 1927.

O visitante nessa sala ouvirá depoimentos de Décio de Almeida Prado, Gilda de Mello e Souza e Antonio Candido, seguidos de poemas e trechos de crônica, lidos por Pascoal da Conceição.

Mário voltou pra Casa.A exposição “A morada do coração perdido”, montada no ano em que se recorda o 70º aniversário da morte do poeta de Pauliceia desvairada, marca um encontro com Mário de Andrade, na Casa dele. Homem extraordinário, o mais completo intelectual da época, seu testemunho é indispensável para conhecermos o Brasil do século 20.

Carlos Augusto Calilabril de 2015

A exposição “A morada do coração perdido”A exposição não abrange toda a extensão da Casa de Mário de Andrade. Atividades da oficina cultural irão conviver ainda algum tempo com a proposta de museu-casa. Essa só atingirá sua plenitude com a desapropriação das residências geminadas, processo atualmente em curso.

A fachada da rua Margarida ganha uma silhueta do escritor, a partir do desenho da artista norte-americana Beatrix Sherman, imagem que igualmente inspira o totem implantado na entrada do jardim, que recebeu de volta seu canteiro de rosinhas e a trepa-deira alamanda.

Na varanda, um móbile com a caricatura mais icônica do poeta convida o visitante a entrar. No hol, à esquerda, deparamos

a chapeleira, pertencente ao mobiliário original da casa, que abriga retratos dos habitantes da “Morada do Coração Perdido”: a mãe, a tia-madrinha, a irmã, Bastiana, a cozinheira superdo-tada, e a prima Gilda de Morais Rocha, que se tornou Gilda de Mello e Souza quando se casou com o crítico Antonio Candido em 1943. Um smoking perten-cente ao irmão Carlos de Morais Andrade (1889-1971), devolvido recentemente por uma tintu-raria do bairro, confere presença tangível a uma evocação familiar.

A chapeleira expõe documentos pessoais do escritor e as fotos dele em sua casa. Um pequeno documentário cinematográfico, intitulado Felicidade lopeschávica, editado especialmente para a exposição, encerra o seu prólogo.

A parede em frente à chapeleira desvela a pintura original e seus elementos decorativos e restitui a tonalidade do ambiente. Nessa moldura, a máscara mortuária de Mário de Andrade em bronze devolve sua última presença física à morada. O poema “Quando eu morrer”, da Lira paulistana, serve de legenda ao rosto sereno do poeta, que “dorme sem necessi-dade de sonhar”.

A escada em dois lances volta a receber o busto de Mário de Andrade, esculpido por Joaquim Figueira, agora numa réplica. A parede do alto, que osten-tava o quadro Football, de Lhote, torna-se tela para a projeção das reproduções das obras de arte que vestiam as paredes da casa do escritor, combinados com imagens dele – retratos ou fotos – e versos e frases de seus escritos, a começar por: “Eu sou trezentos, trezentos-e-cinquenta”.

A sala do piano de candelabro, que conservou estantes originais e o instrumento em que Mário de Andrade avaliava seus alunos, foi reservada à música e à ativi-dade docente, no Conservatório Dramático e Musical ou em casa. Logo acima do piano, uma foto da sala na época em que vivia Mário, mostrando a gravura de Beethoven e o “Cristo de tran-cinhas”, de Brecheret, evocará o ambiente dinâmico em que convi-viam arte moderna e música clássica. Aí comparecem partituras, remi-niscências e fotos de alunos, retratos de Villa-Lobos e Chico Antônio, o genial cantador de cocos, ao som de uma trilha composta de músicas de sua discoteca particular. Debussy, Bach, Alessandro Scarlatti, Mozart, Beethoven, Chopin, Brahms, ao lado de Elsie Houston, Pixinguinha, Duke Ellington, cocos, pontos de macumba, a Praça Onze, oferecem um painel dos interesses diversificados do professor de Estética e História da Música.

Page 7: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

A Sala de Estudos, que manteve igualmente a estante original, recebeu uma galeria de retratos de Mário de Andrade, acom-panhada de sua cronologia. Os nichos da estante de parede inteira abrigam aspectos da vida e obra do escritor de Macunaíma: objetos pessoais, retratos de família, viagens, cartões postais e correspondência recebidos na rua Lopes Chaves, Semana de Arte Moderna, capas de seus livros, imagens do fotógrafo amador, da sua Pauliceia, caricaturas, docu-mentos da atuação como diretor do Departamento de Cultura e funcionário do SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artís-tico Nacional. Junto à porta, foi instalada uma réplica do tele-fone 5.5460. Através da janela, se pode observar, no muro ao fundo, ampliação da fotografia Sombra minha, de 1927.

O visitante nessa sala ouvirá depoimentos de Décio de Almeida Prado, Gilda de Mello e Souza e Antonio Candido, seguidos de poemas e trechos de crônica, lidos por Pascoal da Conceição.

Mário voltou pra Casa.A exposição “A morada do coração perdido”, montada no ano em que se recorda o 70º aniversário da morte do poeta de Pauliceia desvairada, marca um encontro com Mário de Andrade, na Casa dele. Homem extraordinário, o mais completo intelectual da época, seu testemunho é indispensável para conhecermos o Brasil do século 20.

Carlos Augusto Calilabril de 2015

A exposição “A morada do coração perdido”A exposição não abrange toda a extensão da Casa de Mário de Andrade. Atividades da oficina cultural irão conviver ainda algum tempo com a proposta de museu-casa. Essa só atingirá sua plenitude com a desapropriação das residências geminadas, processo atualmente em curso.

A fachada da rua Margarida ganha uma silhueta do escritor, a partir do desenho da artista norte-americana Beatrix Sherman, imagem que igualmente inspira o totem implantado na entrada do jardim, que recebeu de volta seu canteiro de rosinhas e a trepa-deira alamanda.

Na varanda, um móbile com a caricatura mais icônica do poeta convida o visitante a entrar. No hol, à esquerda, deparamos

a chapeleira, pertencente ao mobiliário original da casa, que abriga retratos dos habitantes da “Morada do Coração Perdido”: a mãe, a tia-madrinha, a irmã, Bastiana, a cozinheira superdo-tada, e a prima Gilda de Morais Rocha, que se tornou Gilda de Mello e Souza quando se casou com o crítico Antonio Candido em 1943. Um smoking perten-cente ao irmão Carlos de Morais Andrade (1889-1971), devolvido recentemente por uma tintu-raria do bairro, confere presença tangível a uma evocação familiar.

A chapeleira expõe documentos pessoais do escritor e as fotos dele em sua casa. Um pequeno documentário cinematográfico, intitulado Felicidade lopeschávica, editado especialmente para a exposição, encerra o seu prólogo.

A parede em frente à chapeleira desvela a pintura original e seus elementos decorativos e restitui a tonalidade do ambiente. Nessa moldura, a máscara mortuária de Mário de Andrade em bronze devolve sua última presença física à morada. O poema “Quando eu morrer”, da Lira paulistana, serve de legenda ao rosto sereno do poeta, que “dorme sem necessi-dade de sonhar”.

A escada em dois lances volta a receber o busto de Mário de Andrade, esculpido por Joaquim Figueira, agora numa réplica. A parede do alto, que osten-tava o quadro Football, de Lhote, torna-se tela para a projeção das reproduções das obras de arte que vestiam as paredes da casa do escritor, combinados com imagens dele – retratos ou fotos – e versos e frases de seus escritos, a começar por: “Eu sou trezentos, trezentos-e-cinquenta”.

A sala do piano de candelabro, que conservou estantes originais e o instrumento em que Mário de Andrade avaliava seus alunos, foi reservada à música e à ativi-dade docente, no Conservatório Dramático e Musical ou em casa. Logo acima do piano, uma foto da sala na época em que vivia Mário, mostrando a gravura de Beethoven e o “Cristo de tran-cinhas”, de Brecheret, evocará o ambiente dinâmico em que convi-viam arte moderna e música clássica. Aí comparecem partituras, remi-niscências e fotos de alunos, retratos de Villa-Lobos e Chico Antônio, o genial cantador de cocos, ao som de uma trilha composta de músicas de sua discoteca particular. Debussy, Bach, Alessandro Scarlatti, Mozart, Beethoven, Chopin, Brahms, ao lado de Elsie Houston, Pixinguinha, Duke Ellington, cocos, pontos de macumba, a Praça Onze, oferecem um painel dos interesses diversificados do professor de Estética e História da Música.

Page 8: A morada do coração perdido - Casa Mário de Andrade

Bibliografia/FilmografiaRuy Santos. A casa de Mário de Andrade. Filme, B/P. São Paulo, Rangel Filmes, 1955, 21 min. Texto de Gilda Rocha de Mello e Souza. Narração de Walter Foster.

Alexandre Eulalio, “Casa de Mário de Andrade ainda guarda sua presença sendo Museu do Modernismo”. Rio de Janeiro, O Globo, 3/8/1965, p. 9.

Oneyda Alvarenga. Mário de Andrade, um pouco. Rio de Janeiro, José Olympio; São Paulo, Conselho Estadual de Cultura, 1974.

Mário de Andrade. Entrevistas e depoimentos. Telê Porto Ancona Lopez, organização. São Paulo, T. A. Queiroz, editor, 1983.

Moacir Werneck de Castro. Mário de Andrade. Exílio no Rio. Rio de Janeiro, Rocco, 1989.

Mário de Andrade. Querida Henriqueta. Rio de Janeiro, José Olympio, 1990.

Cristiane Yamada Câmara. Mário na Lopes Chaves. São Paulo, Fundação Memorial da América Latina, 1996.

Rosângela Asche de Paula. “Mário de Andrade designer aprendiz ou os móveis batutas da rua Lopes Chaves.” D.O. Leitura. São Paulo, ano 19, n. 3, março 2001, pp. 14-21.

Eu sou trezentos, trezentos e cincoenta. Mário de Andrade visto por seus contemporâneos. Telê Porto Ancona Lopez, organização. Rio de Janeiro, Agir, 2008.

Thiago Arnoult Netto. Dossiê A casa do Mário. São Paulo, IEB/FAU USP, 2012.

Luiz Bargmann. A casa do Mário. Filme, 26 min., Cor. São Paulo, IEB/FAU USP, 2013.

Mário de Andrade. Poesias completas. Rio de Janeiro, Nova fronteira, 2013. Estabelecimento do texto: Telê Porto Ancona Lopez e Tatiana Longo Figueiredo.

A morada do coração perdidoCuradoria, pesquisa Carlos Augusto CalilCuradoria-adjunta, produção Regina Ponte Expografia Arte 3Pedro Mendes da RochaDébora Tellini CarpentieriBeatriz Christal Design 2 + 2 Darkon V Roque Valeria Marchesoni Clara Laurentiis Edição audiovisual Felipe BarrosEdição sonora Sandro Dalla CostaDesenho de luz Lux ProjetosRicardo Heder Juliana PongitorRestauro de pinturas Cristina AmaralRestauro em madeira Venísio e Carlos SanciniPesquisa fotográficaHenrique SiqueiraBibliografia Gênese de AndradeCatalogação Gabriela Souza QueirozTranscrição Aline NovaisImagem tratamento e impressãoMotivo - Jorge BastosEquipamentos som e vídeoValdecir AraújoFundição Artística Escola SENAI Nadir Dias de FigueiredoMarcelo Lopes da Silva Cenografia Artos com Móveis Rica CasaZan&ZanMontagemLee DawkinsEducativo Anny Christina Lima AcervosCarlos Augusto de Andrade Camargo e famíliaIEB - USPAna Luisa Escorel - Ouro sobre AzulMuseu da Cidade de São Paulo / Arquivo Histórico de São Paulo / Centro Cultural São Paulo / Theatro Municipal / Biblioteca Monteiro Lobato / Secretaria Municipal de Cultura IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico / Ministério da Cultura Fundação Energia e SaneamentoCarlos Augusto CalilMárcia Camargos

Saí desta morada que se chama O Coração Perdido e de repente não existi mais, perdi meu ser. Não é a humildade que me faz falar assim, mas que sou eu por entre os automóveis! Só na outra esquina tive um pouco mais de gratidão por meus pesares e me vi. Estava com dois embrulhos na mão. “O terno itinerário ou trecho de antologia”, crônica, 1931.