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1 O jornalismo especializado no mundo fashion migra do papel para a web com ainda mais charme e inovação A moda em Páginas coloridas

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Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo orientado pela professora Laura Seligman Acadêmica: Suelen Figueiredo 2014-1 Disponível para Download. [email protected]

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O jornalismo especializado

no mundo fashion migra

do papel para a web com ainda

mais charme e inovação

A moda em Páginas coloridas

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A moda e todos os seus segmentos possuem um grande valor e importân-cia dentro de uma sociedade, de um contexto de identidade, expressão e criatividade. O seu sig-nificado no mundo é revelado tanto por meio do trabalho do estilista, pela sua capacidade intelec-tual de criação, como por suas habilidades comer-ciais, publicitárias e de marketing. Ela é influen-ciada por movimentos artísticos e sociais, pelo cinema, design, pela arquitetura e pela cultura. No livro Os Estilistas de Moda Mais Influentes do Mundo, o escritor Noël Palomo-Lovinski confir-ma que “A natureza efêmera da moda mostra que ela frequentemente reflete as mudanças na polí-tica, nas artes e na cultura, bem como no espíri-to de uma época, historicamente comprovado”.

Designers e estilistas usam o encantamento da indústria fashion e da mídia da moda para a autopromoção e divulgação, atribuindo status ao seu produto. O mercado da moda não se limita apenas à venda de vestuários, mas abrange todo o

mercado de objetos para casa, fragrâncias, aces-sórios e qualquer produto que leve a assinatura de algum estilista. A divulgação desses itens está li-gada às estratégias de marketing, de publicidade, jornalismo especializado e formas de divulgação como desfiles, editoriais de moda e campanhas.

Assim como a tecnologia se desenvolveu com o passar do tempo, as plataformas usadas para di-vulgação também precisaram evoluir. No início do século XIX, eram utilizados livros e revistas impressas para este fim; mas foi o despertar do século XX que trouxe mais transformações para o Ocidente: desprendimento da moral; inovação na literatura, arte e design; revolução nos pen-samentos, ideias e valores que tinham sido tão constantes no século XIX e a internet. O sécu-lo XXI trouxe novidades para o mundo eletrô-nico, além de sites e blogs, surgiram os livros, as revistas digitais e aplicativos para acessar o conteúdo através de dispositivos portáteis.

A construção da marca e a forma com que ela é mostrada ao consumidor são essenciais para o lucro. Nas décadas anteriores, os esti-listas e designers utilizavam basicamente ape-nas desfiles de moda amplamente divulga-dos para criar sua imagem, atualmente, com a renovação contínua e acelerada das mídias, eles estão perdendo cada vez mais impor-tância e é preciso acompanhar as evoluções.

Mostramos nesta reportagem um panorama de como esses novos meios trazem uma visão diferen-ciada da moda e constroem, de forma inovadora, novos conceitos que vão além de divulgar produtos.

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Revistas digitais Referências no Brasil e no Mundo

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ROMEUA ROMEU é uma revista conceitual voltada

para o público masculino, idealizada pelo editor e diretor criativo Rodolfo Ruben, com o intui-to de ser uma fonte de inspiração e expressão visual. O título, criado em 2012, já está no seu oitavo portfólio (como chamam suas edições) e cada seis publicações de portfólios online tri-mestrais são transformadas em um anuário im-

presso, direcionado ao público interessado e dis-tribuído estrategicamente. O conteúdo é reunido através de colaborações de artistas visuais, que propõem novas ideias compartilhadas nos por-tfólios online da Romeu Mag. A visualização online no portal Romeu é livre, compartilha-da em redes sociais e newsletters direcionadas.

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A U+MAG é uma revista independente publicada trimes-tralmente. A edição impressa só é comprada se solicitada individualmente. Ambas estão online e são escritas na lín-gua inglesa. Em novembro de 2012, junto com o lançamento da centésima edição, a primeira edição impressa, a revista pas-sou a ser paga. Os preços são 50,00 USD a versão impressa e 5,99 USD em PDF e digital. No mercado desde 2004, o espaço é dedicado a pessoas criativas, escritores, talentos emergentes, pensadores e apresenta uma vi-são moderna sobre o que já foi visto, o que está acontecendo e o que está por vir. Cada edição tem cerca de 200 páginas com entrevistas, editoriais e outros assuntos referentes à cultura contemporânea, vida e esti-lo. Como os próprios leitores definem, a identidade visual inovadora e única do periódi-co, desenvolvida por Romeu Silveira, fundador e diretor criativo da U+MAG, quebra as regras do projeto gráfico de revistas de moda de maneira original. A revista, que come-çou sendo apenas de colagens, atualmente está na sua 105ª

U+MAG MAGAZINE

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edição e também faz cobertu-ra de eventos como semanas de moda nacionais e interna-cionais. Outro projeto do fun-dador é o From Brazil With Love, trabalho artístico que se apropria de elementos já exis-tentes (imagens, sons, objetos, etc.) para recontextualizá-las e criar uma nova arte, a ciberarte.

BRAINSTORM MAGAZINE

A Brainstorm Magazine, fundada por Jonathan Wolpert, é uma revista online trimestral e tam-bém portal, que está na sua 13ª edição e abordam assuntos relacionados às artes digitais, arquitetu-ra, cinema, fotografia, literatura, moda, música e televisão. O diferencial do periódico é mostrar novos artistas através da visão de profissionais e estudantes dos assuntos tratados com uma lin-

guagem completa, além de realizar produções au-torais. A equipe de três profissionais surge como uma alternativa ao mercado cultural com a inten-ção de produzir projetos como campanhas, catá-logos, identidades visuais, layouts e lookbooks voltados para o mercado nacional e internacional.

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KINFOLK Ao contrário das revistas

anteriores, todas brasileiras, a Kinfolk Magazine é uma revis-ta norte-americana trimestral de entretenimento, fundada em 2011, que foi publicada inicial-mente online e que atualmente está na sua 11ª edição impressa. O periódico é formado por uma comunidade de artistas, escrito-res, estilistas, fotógrafos e co-zinheiros interessados em criar

conteúdo para jovens amantes de boa comida e encontros ca-suais. A Kinfolk descreve-se como um estilo de vida básico, discreto e equilibrado. Funda-da pelo casal Nathan e Kate Williams e seus amigos Doug e Paige Bischoff, a revista pos-sui uma equipe de designers, fotógrafos e filmmakers que faz com que cada elemento da revista – os recursos, a fotogra-

fia e a estética -, mostre a for-ma como eles se sentem sobre como o entretenimento deve ser: confortável, lento, divertido e envolvente. Devido ao grande interesse na publicação online e cópias impressas, que ini-cialmente eram publicadas de forma terceirizada, atualmen-te a Kinfolk é auto publicada.

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Um passo à frenteO diretor da revista U+MAG vê a moda com um olhar desafiador

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R omeu Silveira, 25, é diretor criativo e fundador da U+MAG, tam-bém possui o projeto de colagens FROM BRA-ZIL, WITH LOVE e faz trabalhos para revistas e marcas como diretor de arte freelancer. Foi no momento em que resolveu fazer da U+MAG uma revista, em 2006, que seu hobbie foi trans-formado em um projeto de verdade. A proposta principal da revista é a de dar espaço, selecionar, filtrar e exibir novos talentos com potencial. Vá-rios fotógrafos que fizeram parte de edições an-tigas do periódico, hoje estão colaborando com os principais títulos nacionais e internacionais.

O processo de criação de cada edição da U+MAG parte de um caminho, pautado pelos editores, que envolve muita pesquisa de imagens e inspirações para a seleção do tema. A interpre-tação deles e o que é adicionado neste procedi-mento é que fazem o resultado final da revista (que pode ser muito próximo, como também pode ser algo que foge totalmente da ideia ori-ginal), comunica e indica algo que está por vir. Nós vivemos em um momento em que as ima-gens são tratadas de maneira exagerada, quase plástica. Para fugir dessa realidade, diversas ve-zes dentro do processo de criação das edições da U+MAG, foi pedido para os fotógrafos diminuí-rem o tratamento das imagens ou até mesmo para a deixarem com o mínimo de retoque possível.

O maior desafio de uma revista indepen-dente é a falta de dinheiro, o resto faz parte do processo. É preciso usufruir de todo o recur-so possível para a elaboração do periódico. Ao ser questionado sobre o excesso de informação na internet, Romeu diz que “isso e a tecnologia somente nos coloca em uma posição de separar

o joio do trigo, ir selecionando o que é melhor e jogar fora e não perder tempo com o que é ruim, vazio ou que não representa muita coisa.”.

A moda utiliza a arte como uma fonte inesgo-tável de inspiração e renovação, por meio de par-cerias de estilistas e marcas com artistas conhe-cidos mundialmente ou até mesmo com outros nem tão reconhecidos assim. Nesta troca, tanto os artistas quanto as marcas e os consumidores saem ganhando. A arte, principalmente a con-temporânea, serve como radar do mundo em que vivemos. Ao entrarmos em contato com alguma dessas obras, saímos impactados. Nem toda obra precisa ser chocante ou polêmica, mas as reações das pessoas perante uma obra de arte são as mais diversas e isso é um dos objetivos fundamentais da arte: criar algum tipo de reflexão. É fácil de perceber que a moda perdeu o espaço para a tec-nologia quando analisamos todo o buzz em torno de celulares, tablets, televisores, computadores, streamings e etc. Atualmente, um jovem comum junta o dinheiro de meses de trabalho para com-prar um celular de última geração. Antigamen-te, o jovem guardava suas economias para com-prar uma calça jeans ou uma mochila de grife.

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Em uma conversa com Romeu, des-cobrimos um pouco sobre suas inspira-ções diárias e suas preferências pessoais:

ONDE VOCÊ ENCONTRA SUAS INSPI-RAÇÕES DIÁRIAS?

Qualquer coisa pode servir de inspira-ção dentro do meu processo de trabalho, des-de filmes, fotografia, músicas, revistas an-tigas, exposições, séries, documentários…

QUAL É O SEU MOVIMENTO ARTÍS-TICO PREFERIDO?

Gosto de vários movimentos, e tento absor-ver o melhor de cada um. No momento, estou devorando tudo que envolve o movimento de poesia concreta encabeçado pelo trio Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.

QUAL É A SUA EDIÇÃO PREFERIDA DA U+MAG? POR QUÊ?

Eu tenho umas edições preferidas, como a 100 (de aniversário) e a 103 (sobre imagens vagas x imagens claras), mas de verdade: a minha edição preferida é sempre a próxima. Isso faz com que eu não perca a animação em continuar fazendo a revista. Não gosto muito de ficar olhando pra trás.

IMPRESSIONAR UMA NOVA GERA-ÇÃO SIGNIFICA...?

(Tentar) estar sempre um passo à frente.

SE VOCÊ NÃO TIVESSE CRIADO A REVISTA E NÃO TRABALHASSE COM DIAGRAMAÇÃO, QUE OUTRA ÁREA ESCOLHERIA?

Eu não penso muito nisso, mas com cer-teza seria alguma coisa ligada à arte e criação.

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a sinestesia no mundo fashionA image maker Igi Ayedun revela sua fascinação pelo mundo da moda

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I gi Ayedun, 23, trabalha em tor-no da imagem de moda desde os primeiros pas-sos de produção, sempre esteve envolvida no ambiente jornalístico e atualmente se considera uma “image maker”, uma vez que expressa seu trabalho através de diversas mídias e formatos diferentes, não apenas como stylist ou uma es-pectadora do que está em voga. Igi também é diretora de moda da U+MAG e corresponden-te internacional da ELLE Brasil. Em conversa sobre o mercado de moda atual, acredita que a cada dia que passa fica mais difícil definir o im-pacto da moda na atualidade, porque “se trata de algo muito efêmero com proporções surreais”.

A moda é um reflexo figurativo da socieda-de em todas as escalas, mas hoje a sua difusão e consumo é cada dia maior, tornando complicado acompanhar cada passo. A definição mais ele-mentar de “moda” trata o conceito como tendên-cias de um costume de sociedade, mas para Igi, o significado da palavra é algo mais abrangente: “É muito mais uma desorganização perpendicular das coisas, do que simplesmente ondas de vai-e--vem.”. Ela considera impossível englobar tudo em apenas uma definição, principalmente porque hoje em dia os mercados são inúmeros e a rela-ção de integração entre eles é imensa e constante. Cada um é fundamentado em repertórios distintos.

Uma parte do mercado, principalmente em Paris, onde vive atualmente quando não está no Brasil, possui o fundamento absoluto da tradição, focando em mercados mais concisos, fechados e estáveis. “Eu vejo como uma insistência de identi-dade e aos poucos assisto outros movimentos de-

rivados desse mesmo princípio”. As marcas estão seguindo caminhos alternativos para o que a moda da estação dita, a fim de reforçar o poder de sua raiz, agindo independentemente, atraindo cliente-la que se identifique com o que a marca represen-ta e não simplesmente com as suas mercadorias.

Com todas as crises de vulnerabilidade da moda e a cultura exacerbada do fast fashion, movi-mento adaptado por lojas de departamento como Zara, Hering e C&A, onde acontecem produções rápidas e contínuas de novidades, é preciso uma mudança. A procura por uma identidade é como uma estratégia de distanciamento dos grandes su-permercados de roupa, que envolvem mais quali-dade de produto, tradição histórica de desenvol-vimento e a restrição contínua da cultura do luxo.

Por consequência da renovação frequente das mídias, os editoriais, campanhas e desfiles dentro do cenário da moda estão cada vez mais perden-do a importância, fazendo com que estas formas de expressão e divulgação não sejam mais obri-gatoriamente necessárias para os mesmos fins.

A Lei de Newton (ação e reação) também en-tra no contexto da moda quando se trata de cria-tividade, de acordo com Igi, ela sempre foi esgo-tada e todos que um dia pareceram mais criativos que os outros eram apenas instrumentos das mo-vimentações de contracultura. Segundo o livro O Que é Contracultura, de Carlos Pereira, a contra-cultura pode ser entendida tanto como movimen-to de crítica radical datado na década de 1960, nos Estados Unidos, portanto histórico, ou como qualquer postura contrária à cultura convencio-nal. Gilles Lipovetsky, no livro O império do efêmero, afirma que o surgimento da moda está associado a dois valores fundamentais da moder-nidade: a importância do novo e a expressão da in-dividualidade. Para Igi Ayedun, na prática a moda significa algo bastante pessoal: “Não consigo me

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distanciar da moda ao ponto de dizer o que ela significa porque existe um amor e uma fascinação muito grande por esse universo. Não sei dizer o significado de quem amo.”. A image maker falou ainda mais sobre o universo que tanto a fascina:

COMO VOCÊ ENCARA O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE EDITORIAIS DE MODA? O QUE TE INSPIRA?Não são muito diferentes dos processos criativos de outras áreas de criação, busco centenas de re-ferências, das mais sinestésicas às mais literais, uno elementos, transo mais elementos e partir disso vou criando uma história até que ela possa ser transfigurada dentro da moda. Me inspira a vida, pessoas nas ruas, cor de gengiva. Não sou muito de seguir artistas, galerias e vômitos con-ceituais. Até mesmo a minha calcinha pendura-da no chuveiro me inspira. Gosto de cotidiano.

O QUÊ VOCÊ QUER MOSTRAR PARA O MUNDO AO REALIZAR O SEU TRABA-LHO? QUAL O SEU DIFERENCIAL?Não sei o que eu faço de diferente, já tive uma fase bem mais exibicionista. Mas o que eu sempre desejei era tocar as pesso-as através das minhas imagens. O tipo de re-ação não me interessa, desde que provoque.

COMO VOCÊ DEFINIRIA A “BELEZA IDEAL”? Isso não existe mais, coisa de século XX.

QUAIS SÃO OS MAIORES PROBLEMAS NO MUNDO DA MODA?A moda tem problemas das mesmas proporções que todos os outros meios profissionais. Simples, des-de que envolvam pessoas e relacionamentos sem-pre haverá problemas, não existe maior ou menor.

VOCÊ VÊ A MODA APENAS COMO UM PRODUTO?Não, de jeito nenhum. O que moda menos é, é produto.

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O novo em focoO fotógrafo e editor da revista Brainstorm acredita que a novidade é essencial para manter uma revista viva

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A Brainstorm foi fundada em 2012, por Jonathan Wol-pert, fotógrafo de moda e edi-tor-chefe da revista, a partir da sua vontade de apresentar trabalhos de novas pessoas para o público formador de opinião. A revista representa o novo, o que está sempre se renovando e que repassa no-vidades; procura mostrar mo-delos new faces que vão estar em alta dentro de seis meses e estilistas de estados geografi-camente "menos centrais" em foco, por acreditar que todos que possuem um bom traba-lho merecem ser divulgados. A revista é criada a partir de uma ideia central que se ra-mifica em diversos briefings para a criação de cada edito-rial, com equipe escolhida a dedo. Embora a competição aumente com a tecnologia e o excesso de informações que existem na internet, Wolpert acredita que surjam como um auxílio no processo de produ-ção da revista e que o maior desafio é fazer as pessoas ve-rem a publicação como algo para todos, e não elitizado.

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ONDE VOCÊ ENCONTRA SUAS INSPIRAÇÕES DIÁ-RIAS? Eu assisto muitos filmes e todos os dias tento desco-brir pelo menos uma nova banda, para manter meu cé-rebro fresco e renovado.

CONTE-NOS O QUE MAIS MARCOU A SUA CARREI-RA ATÉ HOJE. Como editor, sem dúvidas foi ter a top Bruna Tenório na capa da edição 12, foi um gran-de momento ter aquela capa nos melhores sites do mundo.

QUAL É O SEU MOVI-MENTO ARTÍSTICO PRE-FERIDO? O movimento ultrarromântico sem dúvidas me influencia em muito do que faço, tanto como fotógrafo quanto como editor.

COMO VOCÊ DEFINIRIA E QUAL O IMPACTO DA ARTE NA ATUALIDADE? A arte hoje em dia chega como algo "fast", no bom sentido. Podemos ver arte no Tumblr, no Pinterest (redes sociais de compartilhamento de fotos), e apreciar em qualquer lugar do mundo, acho democrático.

MODA E ARTE NECESSA-RIAMENTE CAMINHAM JUNTAS? Definitivamente, desfiles de marcas como Céline e Given-chy estão aí pra nos mostrar isso, além de marcas como Comme Des Garçons e Mai-son Martin Margiela que são arte na pura essência.

QUAL É A SUA EDIÇÃO PREFERIDA DA BRAINS-TORM? POR QUÊ? A minha edição favorita é a edição que vai chegar online dentro de duas semanas, pois vamos trazer uma renovação visual imensa para a revista!

QUAIS SÃO OS FUTU-ROS PROJETOS PARA A BRAINSTORM? Uma renovação visual e concei-tual geral, e presença de nomes cada vez mais fortes (e novos).

VOCÊ CONSIDERA O MERCADO DA MODA DE-FASADO? HÁ TENDÊNCIA AO ESGOTAMENTO DA CRIATIVIDADE? Acho que há tendência ao esgo-tamento da criatividade por ser algo que sempre se renova, in-depende de cópias, já que pou-quíssimo se cria hoje em dia.

IMPRESSIONAR UMA NOVA GERAÇÃO SIGNIFI-CA...? Trazer aquilo novo que vá inspirar.

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O caminho aindaé segmentaREspecialista em Jornalismo de Revista diz que as especificidades chamam os amantes dos impressos

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M arília Scal-zo, jornalista e autora do livro Jornalismo de Revista (2004), escreve que “Por mais que se tente, às vezes não adianta querer reproduzir os recursos da Internet ou da tevê em papel, assim como não adianta querer fazer uma re-vista, no sentido tradicional do termo, no vídeo ou na tela do computador” por acreditar que re-vistas digitais devem ser diferentes das impres-sas. Ainda que o futuro desse tipo de veículo possa ser a web, as revistas digitais não devem reproduzir o modelo impresso. Em formato di-gital, ganham muitos recursos diferentes e é importante aproveitá-los da melhor maneira.

A Internet trouxe um questionamento sobre o mercado: será que em dez anos ainda vão existir revistas impressas? Marília Scalzo imagina que este se torne um mercado de nichos, de publica-ções muito específicas e voltadas especialmen-te para amantes de impressos, como mostram as iniciativas que valorizam objetos, revistas quase artesanais. As publicações de grande ti-ragem devem acabar no impresso e poderão sobreviver no digital se tiverem assuntos e pú-blicos bastante específicos. Para a jornalista, revistas semanais de informação, por exemplo, perdem totalmente o sentido no mundo digital.

Houve muitas mudanças no mercado desse ofício nos últimos dez anos. Vimos o surgimento do mundo digital e a dificuldade das empresas de comunicação de entrar nesse novo mundo. “Os jornais e revistas tradicionais, querendo sobrevi-ver, se pioraram (cortando custos, deixando de fazer reportagens, tentando parecer com a inter-net sem poder) e as revistas e jornais perderam

público e continuam perdendo”. O mercado pu-blicitário que ajudava a pagar a conta também mudou – hoje anuncia muito menos em jornais e revistas. O relatório do projeto Inter-Meios de abril de 2013 apontou que o faturamento acumu-lado no bimestre em revistas foi de R$ 188,42 mi-lhões, enquanto a web recebeu R$ 189,7 milhões.

As novas tecnologias ajudam e podem in-fluenciar positivamente, especialmente no modo de produção. Hoje, fazer uma revista não é mais uma operação tão cara como já foi, a tecnologia torna tudo mais fácil e mais possível de ser feito em escalas menores, um suspiro de sobrevivência para os impressos. Uma reportagem publicada na revista EXAME em setembro de 2013, reve-la que “Com o surgimento dos livros digitais, as edições impressas pareciam condenadas à morte. Mas, após a explosão inicial, a venda de e-books começa a desacelerar”. Este fenômeno aconte-ce porque sempre que há uma novidade, há um “boom” e leva um tempo para ajustar a novidade à realidade. Essas tecnologias para e-books estão sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas. A jornalis-ta acredita que as vendas devam crescer cada vez mais daqui para frente, entretanto, isso não quer dizer que o livro impresso vai acabar, mas o livro digital deve ocupar uma fatia maior do mercado.

No livro Jornalismo de Revista, Marília Scal-zo diz que “não dá para esquecer também que revistas são impressas e o que é impresso, histo-ricamente, parece mais verdadeiro do que aqui-lo que não é. Servem para confirmar, explicar e aprofundar a história já vista na tevê e ouvi-da no rádio”, porém esta realidade está em fase de transformações e os meios digitais estão ga-nhando cada vez mais credibilidade com o seu público. As revistas sofreram diversas alterações desde 1663 (ano em que a primeira revista foi publicada) até chegar a seu formato atual. As pri-meiras publicações pareciam livros e o segmento feminino ocupava a maior fatia do mercado. As revistas também tomam um papel importante na

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complementação da educação, relacionando-se intimamente com a ciência e a cultura. Elas podem ser chamadas de “supermercados culturais” por refletirem a cultura dos lugares e o estilo de vida.

Moda e publicidadeO jornalismo de moda, em muitos momentos,

estabeleceu uma relação dúbia com seu público, porque falava ao mesmo tempo com o leitor e com o anunciante, sendo que os públicos tinham interesses diferentes. Isso acontece (ou pode acontecer) também nos veículos digitais. Hoje em dia, como é mais fácil o acesso, qualquer um pode dizer qualquer coisa em um blog ou site, mas isso não significa credibilidade. A tendência é as revistas digitais se firmarem em vários seg-mentos e haver nesse mercado também uma se-leção determinada pela preferência dos leitores.

Embora o público consumidor tenha uma fixa-ção pelo familiar, ele possui uma obsessão por no-vidades, uma atração pelo rápido crescimento da tecnologia e globalização. No mercado atual, as empresas de vestuário vão além das suas confec-ções para vender, eles buscam criar imagens e for-mas e estratégias de marketing e publicidade para sobreviver no mercado. Nöel Palomo-Lovinski, no livro Os Estilistas de Moda Mais Influentes do Mundo (2010), afirma que técnicas de marketing e propaganda ajudaram os estilistas a se destacar em um mercado competitivo, essas práticas leva-ram o conceito da marca a ser um estilo de vida.

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Slow fashionA moda deve ser mais introspectiva

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A de-signer, fotógrafa e professora de ilustração e desenho de moda no curso de Design da Univer-sidade do Vale do Itajaí, Caroli-ne Santos, se aventura em todas as instâncias experimentais da moda. A designer possui vá-rios projetos paralelos como o “Carola” e o “Ato Autor”, onde apresenta suas experiências co-tidianas a partir de produções de vestuário, de acessórios e de joias. Com os projetos, ela ain-da realiza pesquisas em temas lifestyle que resultam em foto-livros sobre criadores e sobre o consumo autoral. Caroline Santos vem se envolvendo no universo da performance au-diovisual e corporal, além de participar de criações compar-tilhadas no Coletivo Efêmero, onde realiza trabalhos artísti-cos com seus amigos e alunos.

Como defensora do movi-mento Slow, ela prefere evitar o assunto comercial. Seu olhar está voltado para a parte mais experimental e sensorial da moda, para a relação emotiva intensa entre o criador e o usu-ário. Sobre o cenário atual da moda contemporânea, Caro-line objetiva: “O cenário está

mais alternativo, semanas de moda são só semanas de moda. O que realmente acontece são os eventos multiplicadores em que há material de música, arte, gastronomia, fotografia, cine-ma e audiovisual envolvidos, onde a moda é consequência, nada é forçado”. Ela acredita que o estilo da maneira con-temporânea seja o Vanguardis-ta, como o da designer gaúcha Helen Rodel, despojado sem deixar de ser sofisticado. Ela ainda adiciona que este público avant-garde é minoria no Bra-sil e faz parte da fatia de con-sumidores que não segue o que está na novela ou o que alguma blogueira dita. São personagens autênticos e únicos, bastante influenciadores na questão de comportamento e de liberdade.

Para a designer, é preciso

que ocorram algumas mudan-ças básicas como a implantação de leis ambientais sobre produ-ções industriais e também sobre pequenas empresas para que a moda possa continuar. É neces-sário que haja responsabilidade sobre tudo o que é distribuído em agua, terra, ar e fogo. “A matéria de moda é como se fos-se ouro, as pessoas não veem isso. Tem que ser tudo aprovei-tado, tudo mesmo. Toda essên-cia de trocas, brechós e bazares, além de sustentáveis, são even-tos de ligação entre as pessoas e reflexão sobre a utilização

da peça, essa é a tendência”.

O Movimento Slow, que prega uma vida mais devagar e menos consumista, pode me-lhorar a vida financeiramente, em relação há pequenos grupos regionais, relacionamentos, pa-trimônios imateriais e herança cultural. É importante valorizar o elemento e a ancestralidade. Para ela, algo que não podemos esquecer é a referência cultural (e pessoal) de cada um. Buscar suas raízes e não apenas crescer na frente da televisão, do com-putador ou grudado no celular, olhando apenas para baixo, em vez de para si. “Acho que todo mundo teve ou tem uma fase em que não consegue enxergar o es-sencial que está dentro de si e se colocar para o mundo de forma sincera e pura, mostrar seu jeito de ser”. Em tempos em que a obsessão com o material parece ser a parte mais importante do mundo fashion, mentes como a da designer surgem como um respiro de sobrevivência.

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Who Wants FashionO mundo sob novas perspectivas

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O amor que eu sinto pela estética, unido à ânsia de mostrar os meus conceitos artísticos para o mundo me fizeram idealizar o blog Who Wants Fashion. Indo con-tra o fluxo dos blogs e sites de moda atuais que se resumem em sua maioria a “looks do dia”, tendências e promoção pessoal, eu busquei compartilhar assuntos que despertassem a mi-nha curiosidade. Desde o dia 1º de setembro de 2011, o blog foi atualizado diariamente, abor-dando temas sobre fotógrafos, editoriais, campa-nhas, ensaios, lojas, sites, entrevistas e criações de artistas regionais divididos entre as catego-rias Arte, Cultura, Design, Fotografia e Moda.

Desde então, além de curar conteúdos e dis-seminar inspirações visuais, comecei a buscar parcerias com fotógrafos e modelos para de-senvolver produções autorais que expressassem valores estéticos e culturais. Ao todo, foram contabilizados 11 ensaios fotográficos e fashion films com temas específicos. O maior e mais re-percutido editorial foi o Let’s Just Be Roadies, inspirado no estilo de vida Gypset, uma relei-tura da cultura cigana. Misturamos etnias e no-madismo com a intenção de desvirtuar o caos da vida urbana e valorizar as coisas simples da vida, trazendo o espírito hippie dos anos 60 para a contemporaneidade. O ensaio contou com duas fotógrafas, um filmmaker e quatro modelos.

A atmosfera desapegada chamou a atenção de diversos veículos de comunicação como o Jornal de Santa Catarina e a OKO MAG, onde as fotos também foram publicadas. Uma das fotografias do ensaio chegou a ganhar o segundo lugar na categoria Fotografia dentro da modalidade Foto-grafia Autoral no prêmio Charles Chaplin de Co-

municação em 2012 e o blog alcançou o primeiro lugar na categoria Internet dentro da modalidade Blog. Outro motivo de orgulho para o Who Wants Fashion foi a parceria com o site Papo de Homem, espaço virtual destinado ao público masculino, que nos desafiou a dar vida a um ensaio sensual não apelativo. As imagens acabaram se transfor-mando em arte através da ilustração feita em aqua-rela pelo Estúdio Blanka e por fim virou estam-pa para as camisetas da marca Dealer Clothing.

Com o desenvolvimento das publicações, produções e divulgações em diversos veículos, o blog ganhou reconhecimento chegando a alcan-çar mais de mil curtidas na sua página do Face-book. Não mais que um ano depois da primeira publicação, recebi um e-mail da equipe do Sol Diário, com a proposta de inclusão da página em seu portal ClicRBS, onde atualmente está hospe-dado, embora desatualizado desde abril de 2013.

Eu continuamente vejo o mundo como uma obra de arte. Consigo usar a minha imagina-ção para construir diferentes narrativas para um mesmo momento e transformá-lo em produções artísticas, desde as mais simples. O minimalis-mo sempre me atraiu, sempre vi mais beleza no etéreo, visceral e cru, do que em uma pro-dução manipulada, impecável e sem defeitos. Eu queria que essa geração de talentos buscas-se novas formas de visualizar e expressar o que está em sua volta, que tenha em si o desejo de exercitar a criatividade para apresentar o seu ponto de vista sobre o mundo. Foi esta ânsia que me fez expor, nesta reportagem, a realida-de de quem produz revistas digitais de moda, o mundo em que vivem e suas percepções.

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ProduÇões autoraisEnsaios fashion exigem mais do que a técnica fotográfica. O site Who Wants Fashion apresenta seu trabalho

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A fim de enriquecer o portfólio, eu concebi o ensaio Primavera Morta, que como sugere o nome, expressa a primavera e suas tendências na moda de uma forma diferenciada. Em tons frios, com um semblante quase mórbido contrastan-do com o cenário urbano da cidade de Balneá-rio Camboriú, as modelos Brianne Lee e Isadora de Bona exibiram suas belezas através dos cli-ques do designer e fotógrafo Dennys Tormen.

Primavera Morta

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A primeira produção de cunho comercial foi em parceria com a loja Pax Acessórios de Brus-que. A campanha de verão foi fotografada no canto da praia de cabeçudas, em Itajaí. A modelo Luísa Steffens posou para as lentes da fotógra-fa Luiza Colzani com produção, make-up, hair e styling elaborados por mim. Duas estações depois, a equipe deu vida à campanha de inver-no da marca, onde a modelo Giulia Silvestre in-terage e exibe as peças em um cenário hípico.

PAX Acessórios Verão/Inverno

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O ano de 2012 foi marcado pelo suposto fim do mundo. Diversos designers e fotógra-fos de moda entraram na “brincadeira” e aproveitaram os rumores para desenvolver co-leções e explorar possibilidades. A equipe Who Wants Fashion, em parceria com a fo-tógrafa Tauana Sofia e a modelo Luiza Colzani criou o ensaio Legs Of Apocalypse, que remete a ideia de que o mundo teria de fato vindo ao fim e leva o espectador a outro planeta.

Legs Of Apocalypse

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As imagens produzidas para o ensaio Raw With Love explici-tam dois lados da personalidade feminina: o visceral e o frágil. A modelo Julia Rodrigues ora se apresenta de forma erótica e sem pudor; ora de forma deli-cada e inocente. A personagem conta a história dela mesma no cenário caótico de uma cons-trução inacabada e também faz referência ao caráter femi-nino. Como diria Frida Kahlo, “Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o as-sunto que conheço melhor”.

Raw With Love

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Let’s Just Be RoadiesTrouxemos o espírito hippie dos anos 60 para a contem-

poraneidade através do editorial Let’s Just Be Roadies, inspi-rado no estilo de vida Gypset, uma releitura da cultura cigana. Em um clima road trip, fizemos uma viagem imaginária para um local tranquilizante e vazio, longe do caos da vida urbana. Os quatro amigos se despedem da correria e praticam o desape-go material, desfrutando do prazer primitivo com muito senti-mento: pés descalços, roupas leves e o contato com a natureza.

A realização do ensaio contou com o apoio das lojas Yaca-mim e Mente Sã de Balneário Camboriú, cliques pelas fotógrafas Tauana Sofia e Luiza Colzani, vídeo do filmmaker Dennys Tor-men, styling por Andreia Bressan, minha produção e modelagem de Marcos Ribas, Nicolas Fresard, Bábara Muller e Ana Santos.

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A solidão feminina se camufla entre as cores do universo paralelo criado com projeções va-riadas para o ensaio Innerspace, produzido por mim e fotografado por Luiza Colzani. A mo-delo Maria Eduarda Loch é arrastada para uma dimensão onde interage com o intocável e ex-pressa sensualidade e timidez em um cenário surreal para o fashion film de Tulio Gonçalves.

Innerspace

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Simulacro da Arte

O pôr do sol da cidade de Bal-neário Camboriú iluminou o corpo da modelo Samanta Rosa para o en-saio sensual produzido para o site Papo de Homem. A proposta foi a de criar um editorial que mais tarde seria transformado em ilustração para a estampa de uma camiseta do PDH pela marca Dealer Clothing. A produção e o styling ficaram por minha responsabilidade, as ima-gens por Tauana Sofia e a arte pelo estúdio Blanka, de Blumenau.

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