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A missão da Igreja Introdução

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Page 1: A missão da Igreja Introdução. A missão aos povos a partir do Vaticano II A missionariedade do Concílio e o Ad Gentes: contextualização, gênese, configuração

A missão da Igreja

Introdução

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A missão aos povos A missão aos povos a partir do Vaticano IIa partir do Vaticano II

A missionariedade do Concílio e o Ad Gentes: contextualização, gênese,

configuração e perspectivas

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A missão aos povos A missão aos povos a partir do Vaticano IIa partir do Vaticano II

Ad Gentes: Carta Magna para a revitalização da imensa atividade missionária da Igreja. Merece uma atenção especial por parte de todos os fiéis.

Nos anos após o Concílio Vat II, a renovada consciência da natureza missionária da Igreja foi ainda corroborada pela Exortação Evangelii Nuntiandi, pela Encíclica Redemtoris Missio e ultimamente pela Exortação Apostílica Evangelii Gaudium.

O Card. Filoni, Prefeito da Congr. Para a Evangelização dos Povos, escrevendo aos ordinários das Circunscrições eclesiásticas disse ser muito importante recordar o seu conteúdo, à luz dos três documentos papais acima mencionados, em dois âmbitos: litúrgico (a nível diocesano ou paroquial) e formativo (um momento de estudo, reflexão e debate sobre o Decreto Ad Gentes com o clero, religiosos e leigos, colégios, seminários e Universidades).

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DECRETO CONCILIARDECRETO CONCILIAR 7/12/1965 – 7/12/2015 (50 Anos de sua promulgação por Paulo VI)

A LG, promulgada no ano anterior, destacou a teologia da missão, ou seja, a missão eclesial à luz da atividade de Jesus, ou como definido no parágrafo 17, “A índole missionária da Igreja”, e o Ad Gentes visou efetivar esta índole, apontando para as reflexões “pastorais” desta atividade missionária.

O Decreto Ad Gentes, se visto separadamente dos outros, pode parecer restrito à Missão od gentes, ou seja, voltado apenas aos povos estrangeiros, e contrário ao espírito do Concílio. No conjunto, faz ligação entre as reflexões teológicas e pastorais relacionadas à missão em geral.

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Decreto ConciliarDecreto Conciliar O Decreto Ad Gentes, embasado nos documentos LG, GS, DV, SC, NA, DH,

UR, AA, enfatiza que não somente os povos distantes ou isolados geograficamente que precisam ser evangelizados, mas que toda a Igreja precisa passar por uma metanóia (conversão), por um profundo processo de revisão eclesial para ser uma presença efetiva no mundo.

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DECRETO CONCILIARDECRETO CONCILIAR Poucos bispos tinham conhecimento das missões naquele tempo. Hoje é

diferente.

O Brasil tinha então poucos missionários fora da pátria. Hoje são ao redor de 2.000.

O Papa queria um Ano da Fé. O Concílio, mais do que um acontecimento, foi uma mudança radical. Também no campo da missão. Os leigos se encontram com a mesma responsabilidade do Papa, na Igreja, no posto em que ocupam.

O Papa com uma veia carismática, pensou num Concílio. Uma intuição carismática que marcou decisivamente o Sec. XX. Influenciou a Liturgia, a Música, a Teologia, a Espiritualidade, a Pastoral, a Missiologia...

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A missão aos povosA missão aos povos Ad Gentes (AG), “aos povos”, é o título do decreto sobre a atividade

missionária da Igreja do Concílio Ecumênico Vaticano II: “Ad Gentes Divinitus missa ...” [“Enviada por Deus às nações”].

O sujeito é a Igreja, que é enviada “obedecendo à ordem do seu Fundador” e “em virtude das exigências profundas de sua própria catolicidade” (AG 1), procurando incansavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens, delineando os princípios da atividade missionária.

Ad Gentes é o predicado, e significa “às nações”, “aos povos”, entendendo por “povos”, especificamente, as populações e os grupos humanos ainda não alcançados pelo testemunho de uma comunidade cristã e pelo anúncio do Evangelho.

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A missão aos povosA missão aos povos A “missão aos povos” diz respeito ao conjunto de

significados, articulações e tarefas específicas relativas à atividade missionária num contexto sócio-cultural “não-cristão”, que exige sempre dos agentes um deslocamento transcultural.

Trata-se de uma missão específica que deve ser necessariamente vinculada à natureza missionária da Igreja e que deve envolver a Igreja como um todo.

A missão ad gentes contribui a alimentar a missionariedade eclesial com a dimensão universal da qual é testemunha profética.

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Sinais dos temposDa missão como expansão à missão como encontro

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DescolonizaçãoDescolonização O Decreto Ad Gentes é promulgado em pleno período de

descolonização. João XXIII identificava nesse fenômeno um dos sinais dos tempos da época.

A descolonização é uma consequência da globalização nascente, celebrada pelo Concilio na estreita vinculação com a catolicidade da Igreja (cf. LG 1; AG 1).

A globalização, porém, gera fortes tensões porque gera uma desterritorizalização do cristianismo, com a superação do conceito de “países cristãos” e “países não-cristãos”, através da entrada da secularidade e da laicidade junto com a liberdade de religião.

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Igreja mundialIgreja mundial Internamente à Igreja Católica, se redesenham as tensões

tão antigas como sua história entre a exigência de um governo centralizado e a vida das Igrejas locais e regionais com sua diversidade cultural, sensibilidades, línguas, que compõem a catolicidade da Igreja e, hoje, também a globalização.

Para Karl Rahner, a própria realização do Vaticano II representa a primeira auto-afirmação oficial de uma Igreja mundial que se prepara a migrar de um âmbito culturalmente ocidental-europeu para um âmbito universal: quase uma reedição da passagem do cristianismo judaico ao cristianismo dos gentios.

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Repensar a missãoRepensar a missão O mandato missionário que a Igreja recebeu do

Ressuscitado assumiu formas sempre novas conforme os lugares, as situações e os períodos históricos.

O anúncio do Evangelho deve lidar hoje com as transformações socioculturais que atingem de maneira estrutural a própria percepção da realidade (cf. DGAE 2011, 25; EN 17).

Os cenários da atualidade nos provocam repensar a missão, para que seja sustentada por uma apropriada reflexão teológica, uma conversão interior, uma clareza de horizontes e uma ousada ação evangelizadora.

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Questões fundamentaisQuestões fundamentaisNesse processo, o próprio Concílio precisava recolocar em debate algumas questões fundamentais:

Qual seria o sentido de anunciar Jesus Cristo como “o mediador e a plenitude de toda revelação” (DV 2), diante da pluralidade das religiões e do direito à liberdade religiosa? (exclusivismo doutrinário)

Por que motivo precisaríamos afirmar a necessidade de pertencer à Igreja Católica (cf. LG 14), se as pessoas podem conseguir a salvação do mesmo jeito fora dela, podendo ser “de várias maneiras ordenadas ao povo de Deus” (LG 16)? (exclusivismo soteriológico)

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Questões fundamentaisQuestões fundamentais Porque atribuir valor aos sacramentos como meios que

“conferem a graça” (SC 59), quando esses não se tornam canais exclusivos, visto que elementos de “verdade e graça já estão presentes no meio dos povos, fruto de uma secreta presença divina” (AG 9)? (exclusivismo instrumental)

Porque falar ainda de “terras de missão” quando as pessoas, animadas pelo avanço do progresso, passam com muita facilidade a negar Deus ou a religião (cf. GS 7), sobretudo nos países de antiga tradição cristã, tornando assim o mundo todo uma imensa “terra de missão”? (exclusivismo geográfico)

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Questões fundamentaisQuestões fundamentais A missão da Igreja encontra sua razão de ser na

proclamação de um único e verdadeiro Deus e na adoção de meios específicos para a salvação, como os sacramentos e a pertença à Igreja.

Isso “não significa que a salvação se destina apenas àqueles que, de maneira explícita, creem em Cristo e entram na Igreja” (RMi 10).

Como então reafirmar essas convicções evitando qualquer fundamentalismo ou exclusivismo, diante de um mundo secularizado e pluricultural que nos desafia a esse respeito?

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Da expansão ao encontroDa expansão ao encontro O Decreto Ad Gentes começa trilhar caminhos para

responder a questões que até hoje não estão resolvidas.

Podemos dizer que, a partir do Vaticano II, a teologia e a prática da missão sofreram uma mudança radical de entendimento e motivação. Essa mudança substituiu o conceito de missão como “expansão” pelo conceito de missão como “encontro”.

Ao contrário de visualizar as pessoas a serem catequizadas como “objetos” ou “alvos”, a teologia e a prática contemporâneas da missão travam uma luta (!) para compreendê-las como o “outro”.

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A missionariedade do Vaticano II

A redescoberta da natureza missionária da Igreja

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Um concílio missionárioUm concílio missionário O tema da missão está no centro fulcral do Vaticano II, enquanto revela

a sua inspiração inicial, a identidade, as instâncias e a dinâmica de seus documentos.

O Decreto Ad Gentes não pode ser lido sem uma abordagem integral ao evento conciliar e sem uma hermenêutica orgânica entre todos os documentos.

Com o Vaticano II a Igreja Católica procurou um próprio reposicionamento em relação ao mundo, inaugurando uma época de transição de uma cristandade fechada e autocomplacente para uma Igreja samaritana e missionária.

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A inspiraçãoA inspiração Não poderíamos entender o concílio sem ter presente

essa a figura de João XXIII.

Em seus pronunciamentos antes da abertura, podemos evidenciar três pontos nodais: o concílio como “novo Pentecostes”, como transição da Igreja

para uma época nova mediante “um salto adiante”; a distinção entre a substância do depositum fidei e suas

mutações históricas; o olhar para a humanidade à luz do grande mandato

missionário e o compromisso da Igreja de perscrutar os sinais dos tempos, de trabalhar pela paz, pela unidade dos cristãos e da família humana.

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A identidadeA identidade O mandato missionário de Mateus (cf. Mt 28,19), se torna

o lema programático do Vaticano II, a frase bíblica mais citada em todos seus documentos.

A partir desta frase, João XXIII traça os dois grandes eixos sobre os quais devem tomar forma os trabalhos: ad intra, o aggiornamento da Igreja “qual ela é” na sua estrutura interior; ad extra, a atitude pastoral diante das exigências e as necessidades dos povos.

Três imagens pode sintetizar a contribuição missionária do Vaticano II: a virada do altar “versus populum”; a assembleia episcopal mundial das sessões conciliares; o uso da língua vernácula.

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As instânciasAs instâncias A dimensão mistérica da mensagem cristã na forte acepção

bíblica e trinitária.

A natureza sacramental da Igreja em relação ao Reino: superamento de uma visão “essencialista” com um movimento hermenêutico de dentro para fora.

O ecumenismo visando o testemunho de unidade que a Igreja tem que dar ao mundo.

O diálogo com o mundo moderno: o grande pano de fundo e a principal motivação do Concílio.

O compromisso com a paz mundial.

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A dinâmicaA dinâmicaDei Verbum

Sacrosanctum Concilium

Gaudium et Spes

Ad Gentes

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Os âmbitosOs âmbitos

IGREJA POVOSSOCIEDADE

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Do De missionibus ao Ad Gentes

Gênese e configuração do Decreto conciliar sobre a atividade missionária da Igreja

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GestaçãoGestação Ad Gentes, decreto promulgado em 7 de dezembro de

1965, teve o maior número de aprovações, apesar de seu conturbado processo de elaboração: foram bem sete redações até chegar à reta final. o texto foi discutido entre os dias 7 e 13 de outubro, recebendo emendas e sufrágios, e sendo, finalmente, votado e promulgado no dia 7 de dezembro de 1965 (com 2394 votos a favor e apenas 5 contra – foi a votação mais alta de todas as realizadas no Concílio). Nascia, assim, o decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária da Igreja.

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GestaçãoGestação O caminho de construção de um novo consenso em

torno da missão foi lento: em debate girava em torno da relação entre missão e missões, natureza e contextos, fundamento teológico e dado sócio-antropológico.

O que emergiu foi a clara necessidade de uma nova teologia missionária que refundasse a missão aos povos dentro de um quadro global não-exclusivo.

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ProcessoProcesso O esquema chegou ao debate conciliar somente na terceira sessão, em

forma de simples proposições. Depois de um acalorado debate, o documento foi rejeitado pela maioria para dar vida a um novo.

A última redação, elaborada entre a terceira e a quarta sessão do Vaticano II, foi composta por diversas subcomissões, onde o trabalho de especialistas como Congar e Ratzinger foi determinante.

Passou enfim à avaliação da comissão oficial, composta por 25 padres conciliares, e sucessivamente à congregação geral, onde foram acolhidas centenas de emendas, para voltar de novo às subcomissões.

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AprovaçãoAprovaçãoO produto final desse processo, é o documento aprovado, que apresenta seis capítulos: fundamentação teológica (1), missão ad gentes (2-4) e cooperação missionária (5-6): Proêmio (AG 1)

1. Princípios doutrinais (AG 2-9);

2. A atividade missionária (AG 10-18);

3. As Igrejas locais (AG 19-22);

4. Os missionários (AG 23-27);

5. A articulação da atividade missionária (AG 28-34);

6. A cooperação (AG 35-41). Conclusão (AG 42)

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Fundamentação teológica

Passagens fundamentais

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1. Igreja sacramento1. Igreja sacramento A Igreja, enviada por Deus a todas as gentes para ser

«sacramento universal de salvação», por íntima exigência da própria catolicidade, obedecendo a um mandato do seu fundador, procura incansavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens (...)

No estado atual das coisas, de que surgem novas condições para a humanidade, a Igreja, que é sal da terra e luz do mundo, é com mais urgência chamada a salvar e a renovar toda a criatura, para que tudo seja instaurado em Cristo e n'Ele os homens constituam uma só família e um só Povo de Deus. (AG 1)

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1. Igreja sacramento1. Igreja sacramento O ponto de partida é a Lumem Gentium, com a definição

da Igreja como sacramento (LG 1; 9; 48) e a superação do eclesiocentrismo com a centralidade do Reino (LG 5).

“A Igreja não é fim em si mesma, mas está continuamente em caminho na história, rumo à meta última e maravilhosa que é o Reino dos céus, do qual a Igreja na terra é a semente e o início” (Francisco).

“Deus quis que os homens formassem uma só família, e se tratassem uns aos outros como irmãos (...) Criados à imagem e semelhança de Deus, todos são chamados a um só e mesmo fim, que é o próprio Deus” (GS 24).

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2. Missio Dei2. Missio Dei A Igreja peregrina é, por sua natureza,

missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na «missão» do Filho e do Espírito Santo. Este desígnio brota do «amor fontal», isto é, da caridade de Deus Pai, que, sendo o Princípio sem Princípio de quem é gerado o Filho e de quem procede o Espírito Santo pelo Filho, quis derramar e não cessa de derramar ainda a bondade divina, criando-nos livremente pela sua extraordinária e misericordiosa benignidade, e depois chamando-nos gratuitamente a partilhar da sua própria vida e glória (AG 2)

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2. Missio Dei2. Missio Dei “A Igreja e a sua missão evangelizadora têm sua origem

e sua fonte na Santíssima Trindade, segundo o plano do Pai, a obra do Filho e a missão do Espírito Santo. A Igreja continua esta missão do amor de Deus em nosso mundo” (Propositio 4).

“Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus, que quis chamar-nos para cooperar com Ele e impelir-nos com a força do seu Espírito” (EG 12).

Esses não são pequenos ajustes redacionais: são elementos teológicos relevantes e reveladores.

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3. Testemunho3. Testemunho O Senhor Jesus, logo desde o princípio

«chamou a Si alguns a quem Ele quis, e escolheu doze para andarem com Ele e para os mandar a pregar» (Mc. 3,13) (...) A Igreja, movida pelo Espírito Santo, deve seguir o mesmo caminho de Cristo: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação própria até à morte, morte de que Ele saiu vencedor pela sua ressurreição (AG 5).

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3. Testemunho3. Testemunho A pobreza não é apenas um meio incarnacional: é a

substância da missão de Deus, pois Ele veio não para ser servido, mas para servir (cf. Mc 10,45): “a pobreza é a verdadeira aparição divina da verdade” (Ratzinger).

“A pobreza da Igreja e de seus membros deve ser sinal e compromisso: sinal do valor inestimável do pobre aos olhos de Deus; compromisso de solidariedade com os que sofrem” (Medellín, A pobreza da Igreja, 7).

Isso significou para a Igreja da América Latina um deslocamento fundamental, uma radical saída de si, em termos de perceber e questionar a realidade do mundo do ponto de vista das vítimas.

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4. Contexto4. Contexto Esta tarefa é uma e a mesma em toda a parte, sejam

quais forem as condições, embora difira quanto ao exercício conforme as circunstâncias. Mas as diferenças que nesta atividade da Igreja se têm de reconhecer, não se originam na natureza íntima da «missão», mas nas condições em que essa «missão» se exerce (...)

O nome de «missões» dá-se geralmente àquelas atividades características com que os anunciadores do Evangelho, indo pelo mundo inteiro enviados pela Igreja, realizam o encargo de pregar o Evangelho e de implantar a mesma Igreja entre os povos ou grupos que ainda não crêem em Cristo. (AG 6)

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4. Contexto4. Contexto “A atividade missionária nasce de uma necessidade.

Observem bem. Não somente de uma necessidade de ordem prático e histórico, que é também uma necessidade poderosa: como é que se espalharia o Evangelho, se não houvesse as missões? Estranho fenômeno e digno de profunda reflexão: por que o Evangelho, que é a Verdade revelada, admirável e salvadora, não se espalha por si só?

A realidade é esta: a fé deve ser divulgada, deve ser anunciada pela viva voz: de pessoa para pessoa. A rede de comunicação da fé, inicialmente e em seguida normalmente, deve ser humana” (PAULO VI, 6/8/1969).

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5. Horizontes5. Horizontes A atividade missionária não é outra coisa, nem mais

nem menos, que a manifestação ou epifania dos desígnios de Deus e a sua realização no mundo e na sua história, na qual Deus, pela missão, manifestamente vai tecendo a história da salvação (...)

Tudo o que de verdade e de graça se encontrava já entre os povos como uma secreta presença de Deus, expurga-o de contaminações malignas e restitui-o ao seu autor, Cristo, que destrói o império do demônio e afasta toda a malícia dos pecados. O que de bom há no coração e no espírito dos homens ou nos ritos e culturas próprias dos povos, não só não se perde, mas é purificado, elevado e consumado para glória de Deus (AG 9)

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5. Horizontes5. Horizontes Os horizontes da missão são sempre geográficos e

escatológicos: os confins da terra e o fim do tempo. Crer no Evangelho e na missão é crer que não existem fronteiras irredutíveis para encontrar as pessoas.

A graça de Deus está presente nos povos, não apenas nos corações, mas também nos ritos e nas culturas. Se a missão fosse geográfica, cultural, étnica, social ou eclesialmente limitada, ela se tornaria excludente

Por outro, esse convite a uma catolicidade evangelica, fraternal e universal deve animar continuamente a missão em todos os tempos e lugares: uma missão sem fronteiras, sem exclusões, aberta a todos.

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Ação e cooperação missionária

Os caminhos e os sujeitos da atividade missionária propriamente ad gentes

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6. Inculturação6. Inculturação A fim de poder oferecer a todos o mistério de salvação e a

vida trazida por Deus, a Igreja deve inserir-se em todos esses agrupamentos, impelida pelo mesmo movimento que levou o próprio Cristo, na incarnação, a sujeitar-se às condições sociais e culturais dos homens com quem conviveu (AG 10)

Seus discípulos, profundamente imbuídos do Espírito de Cristo, tomem conhecimento dos homens no meio dos quais vivem, e conversem com eles, para que, através dum diálogo sincero e paciente, eles aprendam as riquezas que Deus liberalmente outorgou aos povos (AG 11)

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7. Igreja local7. Igreja local A igreja local, pela obrigação que tem de representar o

mais perfeitamente possível a Igreja universal, deve ter consciência que foi enviada aos habitantes do mesmo território que não creem em Cristo, a fim de ser, pelo testemunho da vida de cada um dos fiéis e de toda a comunidade, um sinal a mostrar-lhes Cristo (AG 20)

A Igreja não está fundada verdadeiramente, nem vive plenamente, nem é o sinal perfeito de Cristo entre os homens se, com a hierarquia, não existe e trabalha um laicato autêntico. De fato, sem a presença ativa dos leigos, o Evangelho não pode gravar-se profundamente nos espíritos, na vida e no trabalho de um povo (AG 21)

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8. Missionários8. Missionários Os missionários, cooperadores de Deus ... (AG 15)

Embora a todo o discípulo de Cristo incumba a obrigação de difundir a fé conforme as suas possibilidades, Cristo Senhor chama sempre dentre os discípulos os que Ele quer para estarem com Ele e os enviar a evangelizar os povos (...) sejam eles autóctones ou estrangeiros (AG 23)

Todos os missionários sejam formados de maneira a estarem à altura das exigências do trabalho futuro. Tenham em grande apreço o seu patrimônio, língua e costumes. Importa sumamente que se apliquem aos estudos missiológicos (AG 26)

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9. Articulação9. Articulação A missão não pode ser realizada por indivíduos isolados:

por isso que existem os institutos missionários (AG 27).

A obra missionária e a cooperação missionária em nível mundial, são coordenadas pelo dicastério competente (AG 29).

Haverá uma coordenação também: em nível regional pelas conferências episcopais; entre os institutos missionários pelas conferências dos

religiosos; entre os institutos científicos (AG 30-34).

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10. Participação10. Participação Todos os filhos da Igreja tenham consciência viva das

suas responsabilidades para com o mundo, fomentem em si um espírito verdadeiramente católico e ponham as suas forças ao serviço da evangelização (AG 36).

A graça da renovação não pode crescer nas comunidades, a não ser que cada uma dilate o campo da sua caridade até aos confins da terra e tenha igual solicitude pelos que são de longe como pelos que são seus próprios membros (AG 37).

Todos os Bispos, como membros do corpo episcopal, são consagrados não só em benefício duma diocese mas para salvação de todo o mundo (AG 38).

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ConclusãoDas “missões” à “missão”: fim das missões

estrangeiras ... e agora?

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Ponto de repartidaPonto de repartida Pela primeira vez um Concílio debateu a questão

missionária: é um ponto de chegada e de repartida.

As tensões fundamentais sobre as pretensões exclusivistas não foram respondidas de maneira satisfatória: afinal, porque anunciar o Evangelho?

Sem dúvida, Ad Gentes e o Vaticano II resgatam a centralidade do Reino, a missio Dei, o sentido de salvação, a valorização das culturas, as igrejas locais ...

Mas muitas das orientações do decreto, porém, ficaram no plano das boas intenções: Ad Gentes não foi ainda bem assimilado pela igreja como um todo.

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Pedra de toquePedra de toque O próprio documento sofre ainda muito da não

integração entre o enfoque teológico e as questões práticas missionárias.

A parte missionária ainda é refém de uma eclesiologia essencialista, a plantatio ecclesiae.

Mas também os fundamentos teológicos acusam resquícios de certa hierarcologia (cf. AG 5).

Contudo, num caminho ainda marcado por avanços e resistências, a direção que Ad Gentes aponta é a passagem das “missões” à “missão”, decretando o fim das missões estrangeiras (mas não dos missionári@s!).

Page 49: A missão da Igreja Introdução. A missão aos povos a partir do Vaticano II A missionariedade do Concílio e o Ad Gentes: contextualização, gênese, configuração

E agora?E agora? O magistério pontifício pós-conciliar retomará várias

questões ainda indefinidas, dando passos importantes em tema de reflexão.

O fruto em termos de participação e de tomada de iniciativa das Igrejas locais ainda deixa a desejar.

Ad Gentes ainda desafia profeticamente a Igreja de todos os continentes no campo da cooperação e na responsabilidade com a dimensão universal da missão.

A pergunta que não quer calar é: o que é preciso ainda fazer para que as nossas Igrejas assumam sua vocação missionária ad gentes?