a menina do capuchinho vermelho

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A Menina do Capuchinho Vermelho “Como estou farto de fazer de bobo!” Disse, cheio de fome, o senhor lobo. “Há quatro dias que não trinco osso, A avozinha vai ser o meu almoço.” Quando a avozinha lhe abriu a porta Com o susto tremeu e, meia morta, Fitou aqueles dentes a brilhar. “Ai, que o malvado me quer devorar!” A pobre senhora tinha razão Porque ele a comeu com sofreguidão. A avozinha era pequena e dura, O almoço não foi uma fartura. Ai, estou com uma fome aterradora, Pronto para comer outra senhora.” Foi procurar petiscos na cozinha Mas nada para roer o bicho tinha. “Vou-me sentar no colchão de folhelho À espera do Capuchinho Vermelho.” Disse o lobo enquanto se vestia Com as roupas que por ali havia. Saia de seda, botas de verniz, Chapéu de veludo foi o que quis. Escovou o pelo, as garras pintou, Bem disfarçado assim se sentou. Um pouco depois, em passo apressado, A moça chegou, toda de encarnado. *** “Ó minha avozinha, quero saber, As tuas orelhas estão a crescer?” “Sim, minha neta, para melhor te ouvir.” “Que grandes olhos tens, querida avó”, Disse a menina cheia de dó. “São para melhor te ver”, disse o lobo E pôs-se a pensar:” Não sou nenhum bobo, Esta bela menina vou papar, Que bom petisco para o meu jantar. Vai saber-me que nem um pão de ló,

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  • A Menina do Capuchinho Vermelho

    Como estou farto de fazer de bobo! Disse, cheio de fome, o senhor lobo. H quatro dias que no trinco osso, A avozinha vai ser o meu almoo. Quando a avozinha lhe abriu a porta Com o susto tremeu e, meia morta, Fitou aqueles dentes a brilhar. Ai, que o malvado me quer devorar! A pobre senhora tinha razo Porque ele a comeu com sofreguido. A avozinha era pequena e dura, O almoo no foi uma fartura. Ai, estou com uma fome aterradora, Pronto para comer outra senhora. Foi procurar petiscos na cozinha Mas nada para roer o bicho tinha. Vou-me sentar no colcho de folhelho espera do Capuchinho Vermelho. Disse o lobo enquanto se vestia Com as roupas que por ali havia. Saia de seda, botas de verniz, Chapu de veludo foi o que quis. Escovou o pelo, as garras pintou, Bem disfarado assim se sentou. Um pouco depois, em passo apressado, A moa chegou, toda de encarnado. *** minha avozinha, quero saber, As tuas orelhas esto a crescer? Sim, minha neta, para melhor te ouvir. Que grandes olhos tens, querida av, Disse a menina cheia de d. So para melhor te ver, disse o lobo E ps-se a pensar: No sou nenhum bobo, Esta bela menina vou papar, Que bom petisco para o meu jantar. Vai saber-me que nem um po de l,

  • No velha nem dura como a av. Mas avozinha, disse a menina, Tens um casaco de pele to fina. No, disse o lobo, Deves perguntar por que so os meus dentes de espantar. Bem, digas tu o que disseres Como-te sem prato nem talheres. A menina sorriu. Da camisola Sacou de imediato uma pistola E com uma certeira pontaria Pum, pum, pum, aquele lobo morria. *** Passaram os dias, passou um ms, Vi a menina no bosque outra vez, Mas sem o capuz, sem capa encarnada, Toda diferente, toda mudada. Sorrindo me explicou: Daquele bobo Fiz este casaco de pele de lobo.

    Lusa Ducla Soares, Histrias em verso para meninos perversos